06 - capítulo 3 - a qualidade da leitura

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Terceiro capítulo do livro "Técnica de Redação: O que é Preciso para Bem Escrever" de Lucília Helena do Carmo GARCEZ. O restante da obra se encontra na minha conta do Scribd.

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  • 7/17/2019 06 - Captulo 3 - A Qualidade Da Leitura

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    Captulo 3A qualidade da leitura1. O que leitura

    Como vimos, a escrita no pode ser considerada desvinculada da leitura. Nossaforma de ler e nossas experincias com textos de outros redatores influenciamde vrias maneiras nossos procedimentos de escrita. !ela leitura vamosconstruindo uma intimidade muito "rande com a ln"ua escrita, vamosinternali#ando as suas estruturas e as suas infinitas possi$ilidades estilsticas.Nosso convvio com a leitura de textos diversos consolida tam$m acompreenso do funcionamento de cada "nero em cada situa%o. Alm disso,a leitura a forma primordial de enriquecimento da mem&ria, do senso crtico edo con'ecimento so$re os diversos assuntos acerca dos quais se podeescrever.

    A leitura um processo complexo e a$ran"ente de decodifica%o de si"nos e de

    compreenso e intelec%o do mundo que fa# ri"orosas exi"ncias ao cre$ro, (mem&ria e ( emo%o. )ida com a capacidade sim$&lica e com a 'a$ilidade deintera%o mediada pela palavra. * um tra$al'o que envolve si"nos, frases,senten%as, ar"umentos, provas formais e informais, o$+etivos, inten%es, a%ese motiva%es. -nvolve especificamente elementos da lin"ua"em, mas tam$mos da experincia de vida dos indivduos.

    / 0*CNCA 2- -2A45OOs procedimentos de leitura podem variar de indivduo para indivduo e deo$+etivo para o$+etivo. 6uando lemos apenas para nos divertir, o procedimentode leitura $em espont7neo. No precisamos fa#er muito esfor%o para manter a

    aten%o ou para "ravar na mem&ria al"um item. 8as, em todas as formas deleitura, muito do nosso con'ecimento prvio exi"ido para que 'a+a umacompreenso mais exata do texto. 0rata9se de nosso con'ecimento prvioso$re:; a ln"ua; os "neros e os tipos de texto; o assunto-les so muito importantes para a compreenso de um texto. * precisocompreender simultaneamente o voca$ulrio e a or"ani#a%o das frasesatos, dados.; Como so tratadas as idias contrriasD e$atimento ou antecipa%o deoposi%es.

    Alm dessas, ' muitas outras per"untas que o leitor vai propondo ( medidaque l e de acordo com os seus o$+etivos. -sse dilo"o, essa intera%o entreleitor e texto exi"e a ativa%o de con'ecimentos que extrapolam a simplesdecodifica%o dos elementos constitutivos do texto. -ssas informa%espra"mticas vm iluminar e esclarecer os si"nificados e esta$elecer a coernciatextual do que lido.Caso essas per"untas no se+am respondidas de maneiraadequada, podemos incorrer em equvoco, interpretando mal oso$+etivos e conseqUentemente as informa%es e os si"nificados.

    A 6BA)2A2- 2A )-0BA

    'M !ercep%o da intertextualidade

    Bm texto tra# em si marcas de outros textos, explcitas ou implcitas. A esse

    fen=meno c'amamos intertextualidade. -ssa li"a%o entre textos pode ir de umasimples cita%o explcita a uma leve aluso, ou at mesmo a uma par&diacompleta, em que a estrutura do texto inicial utili#ada como $ase para o novotexto. -ssa associa%o prevista pelo autor e deve ser feita pelo leitor de formaespont7nea, na propor%o em que partil'e con'ecimentos com o autor. -mtextos mais complexos, a intensidade do esfor%o para compreender aintertextualidade pode variar e sempre depende de con'ecimentos prvioscomuns ao autor e ao leitor.

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    ?amos analisar um exemplo $em simples de intertextualidade:CON0A>XJB)A 2A CFAA - 2A >O8FA

    Adapta%o feita por 1edro Jandeira do texto do escritor portu"us Ant=nio A.Jatista

    A formi"a passava a vida naquela formi"a%o, aumentando o rendimento da sua

    capita e di#endo que estava contri$uindo para o crescimento do !rodutoNacional Jruto. Na tra$al'eira do investimento, sempre consultando as cota%esda Jolsa, vendendo na alta e comprando na $aixa, sempre atenta aos rateios e(s su$scri%es. >ec'ava contratos em )ondres + com um p no Joein" para>ranYfurt ou Fene$ra, para verificar os dividendos de suas contas numeradas.8as vivia tam$m roendo9se por dentro ao ver a ci"arra, comquem estudara no "insio, metida em s'oZs e $oates, sempre acompan'ada declientes li$idinosos do 8ercado Comum.- vivia a formi"a a di#er por dentro:

    A', a'E No inverno, voc ' de aparecer por aqui a mendi"ar o que no poupouno veroE - vai cair dura com a resposta que

    ten'o preparada para vocEuminando sua terrvel vin"an%a, voltava a formi"a a tesourar e entesourarinvestimentos e lucros, incutindo nos fil'os

    / 0*CNCA 2- -2A45O'$itos de poupan%a, consultando advo"ados e tomando vasodilatadores.Bm dia, quando voltava de um almo%o no )a 0am$ouille comos +aponeses da informtica, encontrou a ci"arra no s'oppin""uatemi, cantarolando como de costume.) vem ela dar a sua facada, pensou a formi"a. [A', a', c'e"oua min'a ve#E\8as a ci"arra aproximou9se s& querendo sa$er como estava ela e comoestavam todos no formi"ueiro.

    A formi"a, remordida, preparando o terreno para sua vin"an%a, comentou:A sen'ora andou cantando na tev todo este vero, no foi,dona Ci"arraD9 * claroE 9 disse a ci"arra. 9 0en'o um pro"rama semanal.

    A"ora no inverno que vai ser mau 9 continuou aformi"acom toda maldade na vo#. 9 A sen'ora no depositou nada no$anco, no D9 No fa# mal. Os meus discos no saem das paradas. - aca$ei de fec'ar umcontrato com o Ol]mpia de !aris por du#entos mil d&lares...O quDE exclamou aformi"a. 9 A sen'ora vai "an'ar du#entos mil d&lares noinvernoD

    9 No. sso s& em !aris. 2epois, tem a excurso a Nova ^orY, depois )ondres,depois Amsterdam...A a formi"a pensou no seu tra$al'o, nas suas a#ias, na sua vida terrivelmentecansativa e nas suas amea%as de enfarte, enquanto aquela inItil da ci"arra"an'ava tanto cantando e se divertindoE - per"untou:9 6uando a sen'ora em$arca para !arisDNa semana que vem...9 - pode me fa#er um favorD 6uando c'e"ar a !aris, procure l um tal )a

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    >ontaine. - di"a9l'e que eu quero que ele v parao raio que o partaE

    0rata9se de uma f$ula, ou se+a, uma 'istorieta de fic%o, de cun'o popular e de

    carter ale"&rico, destinada a ilustrar um preceito, uma sa$edoria. O pr&priottulo anuncia a inten%o. O autor parte do pressuposto de que seus leitorescon'ecem a f$ula da Ci"arra e da >ormi"a do autor francs )a

    A 6BA)2A2- 2A )-0B_/

    >ontaine e que recon'ecero imediatamente a sua par&dia. Btili#ando umasitua%o similar ( f$ula ori"inal, atuali#a suas circunst7ncias e modifica seufinal Lintertextualidade implcita na estruturaM. @e"undo sua posi%o crtica, 'o+eem dia, no mundo dominado pelos meios de comunica%o e pelo 'edonismo, osartistas podem c'e"ar a ser milionrios com mais rapide# e facilidade do quequem tra$al'a incansavelmente pensando exclusivamente no din'eiro, e a

    mensa"em ori"inal, contrria ao pra#er, no estaria mais funcionando. *tam$m um +u#o a favor da arte em oposi%o ( especula%o financeira.

    A 'ist&ria em si en"ra%ada, mas a aluso ( f$ula ori"inal Lna Iltima fala daformi"aM cria a intertextualidade explcita, + que remete ( li%o de moraltradicional e multiplica o 'umor do texto.

    1M 8onitoramento e concentra%o

    2urante a leitura podemos exercer um relativo controle consciente so$re asnossas atividades mentais, disciplinando9as e su$metendo9as aos nossosinteresses. -sse controle essencial para que a leitura se+a produtiva. -le no

    espont7neo e depende de treino e concentra%o. !or isso necessrio prestar$em aten%o no que fa#emos enquanto lemos para termos mais domnio so$reas nossas pr&prias 'a$ilidades de leitura.

    >idelidade ao plane+amento: antes de come%ar a ler um texto sempreesta$elecemos, consciente ou inconscientemente, uma espcie de roteiro: comovamos lerD para que vamos lerD -sse roteiro deve ser controlado e reavaliadodurante a leitura. Al"umas ve#es pode merecer reorienta%o. -stou mesmoperse"uindo meu o$+etivoD me distraD 8udei o meu tra+eto de leituraD Crieioutro o$+etivo no percursoD2etec%o de erros no processo de leitura: al"umas ve#es lemos muito

    rapidamente enquanto pensamos em/3

    // 0*CNCA 2- -2A45Ooutra coisa e, quando perce$emos a distra%o temos que ?oltar e reler aqueletrec'o. -sse um exemplo de como controlamos naturalmente os nossos errosde leitura. Outras ve#es, interpretamos mal uma passa"em e no decorrer daleitura perce$emos que as idias esto contradit&rias. ?oltamos, ento para

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    conferir a decodifica%o das palavras e a interpreta%o. -ssa capacidade deavaliar constantemente a pr&pria leitura precisa ser desenvolvida

    A+uste de velocidade. o leitor deve controlar a velocidade de leitura de acordocom as dificuldades que o texto oferece e com os o$+etivos da leitura. `s ve#es,podemos ler mais rapidamente: quando o assunto con'ecido, quando o trec'o

    fcil ou quando a leitura tem por o$+etivo a simples distra%o. Outras ve#es,temos que ler desaceleradament quando estudamos assuntos descon'ecidos,quando o texto denso e complexo ou quando contm muitos implcitos. !ara"arantir esse controle necessrio ter uma conscincia contnua dosprocedimentos que esto sendo utili#ados alm de uma disposi%o para avaliara qualidade da pr&pria leitura.

    0oler7ncia e pacincia: muitas ve#es, desistimos da leitura de um texto noprimeiro par"rafo. -sse procedimento precipitado. * preciso mer"ul'arprofundamente no texto para dar9l'e uma c'ance de ser $em @ucedido. Namaioria das ve#es, a leitura se torna, !ouco a !ouco, mais fcil e as dificuldadespreliminares ?o se resolvendo. -sse desconforto no incio de um texto muitocomum, pois natural que o come%o da compreenso se+a ainda uma idiadesfocada. A primeira leitura, com freqUncia no satisfat&ria, e precisoempreender uma se"unda com al"uma informa%o so$re o texto e com maisaten%o e concentra%o.

    A 6BA)2A2- 2A )-0BA /. Con'ecendo mel'or o processo de leituraComo vimos, a escrita depende de nosso con'ecimento do assunto, da ln"ua edos modelos de texto< para isso, a leitura fundamental. * um processocomplexo que exi"e do leitor uma srie de 'a$ilidades co"nitivas muitosofisticadas. Bma Inica leitura nem sempre suficiente< "eralmente

    necessrio voltar ao texto al"umas ve#es, conforme nossos o$+etivos. - so oso$+etivos que vo direcionar o tipo de leitura que vai ser reali#ado. -m qualquersitua%o de leitura utili#amos procedimentos que nos auxiliam a compreender einterpretar o texto. * importante desenvolver adequadamente essas estrat"iasde apoio tcnico, de simplifica%o e de monitora%o das atividades mentais deforma que possamos otimi#ar nosso esfor%o, ou se+a, conse"uir o mel'orresultado da maneira mais prtica e simples. Sa$ilidades que a"ili#em osprocedimentos contri$uem para que no 'a+a desperdcio de ener"ia e detempo, e tam$m para que a leitura se transforme, a cada dia, em um exercciomais pra#eroso. !ela leitura interiori#amos as estruturas da ln"ua, os "neros,os tipos de texto, os recursos estilsticos com mais eficcia que pelas aulas e

    exerccios "ramaticais. Assim, naturalmente, a leitura a+uda a escrever mel'or.. !rtica de leituraaM -scol'a um arti"o assinado do +ornal de sua preferncia. )eia uma ve#.eleia e responda mentalmente (s per"untas:6uem escreveD 6ue tipo de texto D A quem se destinaD Onde veiculadoD6ual o o$+etivoD Com que autoridadeD O que eu + sei so$re o temaD 6uais soos outros textos que esto sendo citadosD 6uais so as idias principaisD 6uaisso as partes do texto que apresentam: o$+etivos, conceitos, defini%es,

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    conclusesD 6uais so as rela%es entre essas partesD Com que ar"umentosas idias so defendidasD Onde e de que maneira a su$+etividade estevidenteD 6uais so as outras vo#es que perpassam o textoVD 6uais so ostestemun'os utili#adosD

    / 0*CNCA 2- -2A45O6uais so os exemplos citadosD Como so tratadas as idiascontrriasDcM -scol'a um texto dissertativo que ofere%a al"uma dificuldade de leitura paravoc. )eia, di#endo em vo# alta seus pensamentos para controlar a leitura.Frave em fita de udio tudo o que pensa enquanto l. Analise os procedimentosde leitura su"eridos neste captulo que voc + utili#a.dM -scol'a um texto de estudo e aplique as estrat"ias de leitura apresentadasneste captulo.