05 - adi, adc, adpf

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LFG CONSTITUCIONAL Aula 05 Prof. Marcelo Novelino Intensivo I 24/03/2009

Observao da aula passada: Eu havia dito que no havia lei especfica e que no era necessrio observar o quorum de 2/3 para o controle difuso concreto. Realmente no existe lei, mas o Supremo tem aplicado, por analogia, o quorum de 2/3 do controle concentrado abstrato, para fazer a modulao temporal no controle difuso.I CARACTERSTICAS COMUNS ENTRE AS TRS AES DE CONTROLE CONCENTRADO ABSTRATO: ADI, ADC E ADPF.1.COMPETNCIA PARA EXERCER O CONTROLE

Apenas para constar, esta talvez seja a pergunta mais fcil que algum possa fazer em prova de concurso sobre esse assunto, com relao competncia para exercer esse controle. Por se tratar de um controle concentrado, j vimos, a competncia vai se concentrar, ela reservada apenas a dois rgos do Poder Judicirio: STF Quando o parmetro for a Constituio da Repblica

TJs Quando o parmetro for a Constituio Estadual

S que vamos analisar apenas ao controle feito no mbito federal. O controle no mbito estadual ser dado por Pedro Taques.

A competncia, pois, do STF.

2.LEGITIMIDADE ATIVA

Como essas aes, so aes de controle abstrato, cuja finalidade principal defender a supremacia da constituio, proteger a ordem constitucional objetiva, s vo ter legitimidade aquelas pessoas previstas na Constituio. Essa previso est no art. 103, da Constituio. O art. 103 no fala da ADPF, mas o art. 2, da lei da ADPF diz que os legitimados para a ADPF so os mesmos do art. 103.

A Constituio e a lei no fazem qualquer diferena entre os legitimados, mas o STF tem feito uma distino, estabelecendo duas categorias de legitimados: os

legitimados ativos universais e

legitimados ativos especiais.

Qual a diferena entre os dois? O legitimado ativo especial precisa demonstrar a chamada pertinncia temtica para ter legitimidade. J os universais podem propor a ao questionando qualquer objeto.

Pertinncia temtica uma relao, um nexo de causalidade entre aquele objeto que est sendo impugnado (aquela lei ou ato normativo) e os interesses daquela categoria defendida pelos legitimados. Ento, a relao entre o objeto impugnado e os interesses que aquele legitimado representa.

O Conselho Federal de Medicina, por exemplo, legitimado especial. Para propor uma dessas aes, tem que demonstrar que aquela lei ou aquele ato normativo questionado por ele, viola interesse da classe que ele representa, que a classe mdica. Se ele no demonstrar essa relao, no ser considerado legitimado para propor a ao.

A mesma coisa, o Governado de Estado. Ele tem que demonstrar que aquela lei ou ato viola o interesse do Estado que ele representa. Se no conseguir demonstrar isso, no ser admitido como legitimado.

DICA: Para guardar quem so os legitimados especiais e universais vcs podem usar a seguinte tcnica: os universais vcs podem associar Unio. Todas as autoridades da Unio (federais) sero legitimados universais. Especiais vcs podem associar a Estado. Todas as autoridades estaduais, sero legitimados especiais.

Universal Unio

Especial - EstadoO estudo deve ser feito de forma organizada, fazendo a correlao de idias, porque chega na prova, vc sabe que estudou, mas no tem organizado na cabea. Vc pode fazer um quadro: Poder Executivo, Poder Legislativo, Pode Judicirio, Ministrio Pblico e Outros. Poder Executivo S mais alta autoridade do Poder Executivo, tanto na esfera federal quanto na esfera estadual quem ter legitimidade para propor as trs aes. Na esfera federal, o Presidente da Repblica e na esfera estadual, o Governador do Estado e Governador do DF. Ento, Chefe do Executivo Federal, legitimado universal, Chefe do Executivo Estadual, legitimado especial.Poder Legislativo Quem pode propor essas aes no mbito do Legislativo? Na esfera federal, os legitimados universais so a Mesa da Cmara e a Mesa do Senado (podem propor separadamente, no precisa ser conjuntamente). No mbito estadual, ser a Mesa da Assemblia Legislativa ou do DF, cujo Poder Legislativo se chama Cmara Legislativa. E por que se chama Cmara Legislativa? No DF, como no existem municpios (porque a CF veda a diviso do DF em municpios), o Legislativo l tem tanto as competncias municipais das Cmaras Municipais, quanto as competncias estaduais, da Assemblia Legislativa. Ento, o Legislativo do DF, ganhou um rgo que representa essas duas Casas: Cmara (de Cmara Municipal) Legislativa (de Assemblia Legislativa).

Poder Judicirio (NO!) existe algum rgo que tenha legitimidade para propor ADC, ADI e ADPF? Vcs tem que se lembrar do princpio da inrcia da Jurisdio. Da, vcs vo riscar o Poder Judicirio. Nenhum rgo do Judicirio pode propor essa ao. rgo do Judicirio est fora do rol dos legitimados.

Ministrio Pblico Isso cai literalmente em prova de primeira etapa. E cai muito. Chefe do Ministrio Pblico da Unio o PGR. Ele poder propor ADI, ADC e ADPF. H vrias correntes sobre o MP. Uns dizem que rgo do Poder Judicirio, outros que rgo do Poder Executivo, outros dizem que o Quarto Poder e h os que digam, melhor corrente para o professor, que instituio constitucional autnoma. Na esfera federal, o PGJ tem legitimidade para propor essas aes? No! Somente o PGR. O PGJ, perante o STF, no tem legitimidade para propor essas aes. Outros legitimados so os partidos polticos com representao no Congresso Nacional; Conselho Federal da OAB. A OAB a nica entidade de classe prevista expressamente e que legitimada ativa universal (todas as demais so especiais). Os especiais so as Confederaes Sindicais e entidade de classe de mbito nacional. Vamos ver agora alguns aspectos especficos em relao a esses legitimados. Se vcs ficarem na dvida sobre se aquela entidade ou no legitimada, vcs tem que ter o seguinte raciocnio: essa norma excepcional. Normas excepcionais tem que ter interpretadas restritivamente. Ficou na dvida, interpreta restritivamente.

At a CF88 somente o PGR podia propor a representao de inconstitucionalidade. Depois de 1988, para ampliar o debate, o rol foi ampliado.

O Vice (vice-presidente e vice-governador) tem legitimidade para propor essas aes? Interpretao restritiva. A Constituio no fala em vice, assim, ele no possui legitimidade para propor essas aes. Se o vice estiver no lugar do titular, vamos supor, o Presidente viajou, o Vice-Presidente viajou. Enquanto ele estiver na Presidncia, ele tem legitimidade. O Vice-Presidente, enquanto estiver no exerccio da Presidncia, tem legitimidade. claro que se ele prope e o titular retorna, a ao no extinta. Ela continua at o final. Se no momento da propositura ele estava no cargo de titular, pode ser admitida.

Outra questo que pode ser cobrada: Mesa do Congresso Nacional tem legitimidade? Eu disse que tm legitimidade a Mesa da Cmara e a Mesa do Senado. A mesa do Congresso formada por membros da Mesa da Cmara e por membros da Mesa do Senado. Interpretao restritiva: A CF no fala em Mesa do Congresso. Fala em Mesa da Cmara e do Senado. Mesa do Congresso, no pode.

PGR pode delegar algumas competncias a outros Procuradores da Repblica. Ser que ele poderia delegar tambm a propositura da ADI, ADC e ADPF? No. Nenhum dos legitimados pode delegar sua legitimidade. O PGR pode delegar a legitimidade para a propositura de uma ao penal, no de uma dessas aes.

Muita ateno para o que eu vou dizer porque houve mudana de entendimento do STF. Vou falar do entendimento antigo e do atual. At agosto de 2004, o STF entendia que se o partido poltico ajuizasse uma dessas aes e antes do julgamento perdesse os seus legitimados, os seus representantes do Congresso, a ao deveria ser extinta por perda da legitimidade ativa. Hoje esse entendimento foi alterado:

A legitimidade do partido poltico deve ser aferida no momento da propositura da ao. Se durante o processo e julgamento dessa ao, ele perde o nico representante que tinha, a ao no extinta por perda de legitimidade.

Outro entendimento que o Supremo mudou, na mesma poca. O antigo: o STF no admitia que entidades formadas por pessoas jurdicas pudessem ajuizar essas aes que so as associaes formadas por outras associaes. A partir de agosto de 204 alterou esse posicionamento. Hoje admite:

O STF admite a legitimidade das associaes de associaes. Associaes compostas por outras associaes, por pessoas jurdicas e no por pessoas fsicas.

Confederao Sindical entidade de mbito nacional. A Confederao nada mais do que a organizao sindical no mbito nacional. Quando se trata de organizao no mbito regional chamada de federao sindical. Quando a CF fala em Confederao apenas a organizao sindical de mbito nacional que pode ajuizar essas aes. O art. 5, LXX fala na legitimidade das organizaes sindicais para impetrar MS coletivo (que pode ser impetrado por sindicato, federao ou confederao). A pode ser por qualquer tipo de organizao sindical. Neste caso da ADI, ADC e ADPF, no.

Entidade de Classe de mbito Nacional segundo a jurisprudncia do STF, este caso clssico de mbito nacional aquela que est presente em, pelo menos, 1/3 dos Estados da Federao. Se ela estiver presente em menos de 1/3 dos Estados no considerada entidade de mbito nacional. Assim, tem que estar presente em, pelo menos, 9 Estados, sob pena de no ser admitida como entidade de classe de mbito nacional.

Ento, estes so os legitimados para propor ADI, ADC e ADPF. a mesma legitimidade ativa universal em todas as aes de controle concentrado abstrato.

Ns vamos tratar agora do ponto que talvez seja o ponto mais complexo que vimos at agora . Vc vai ter que entender e analisar cada caso especfico para saber se pode ou no pode ser objeto de ADI e ADC.

3.OBJETO DA ADI e DA ADC

No vamos tratar, neste momento do objeto da ADPF. Faremos um estudo separado porque o objeto da ADPF totalmente diferente.

Em relao ao objeto, teremos que fazer a anlise de trs aspectos.

3.1.Com relao NATUREZA do objeto

O que significa natureza? essncia. Se perguntarem numa prova: Um decreto ou uma portaria pode ser objeto de ADI ou ADC? Sim, mas vc vai ter que analisar a natureza daquele decreto ou daquela portaria para saber se ela poder ser objeto ou no.

Com relao natureza quais so os aspectos que teremos analisar?

a)Ato normativo primrio s pode ser objeto de ADI e ADC se for ato normativo primrio. O ato normativo primrio aquele que est ligado diretamente Constituio. Ela o fundamento de validade direto deste ato. Somente atos ligados diretamente Constituio que podem ser objetos dessas aes. Se for ato normativo secundrio nos no poder ser objeto. Se entre o ato e a Constituio houver um ato intermedirio, no poder ser objeto de ADI e ADC.

b)Controvrsia suscitada em abstrato O STF s admitia um ato como objeto de ADI e ADC se alm de ser primrio o ato fosse tambm geral e abstrato. Agora muita ateno porque em meados do ano passado, este entendimento foi alterado e um entendimento muito relevante para fins de concurso. Ele foi alterado e, um ms depois, j teve prova do Cespe cobrando isso. Antes, o STF s admitia como objeto dessas aes, atos que tivessem a caracterstica da generalidade e da abstrao. Ento, por exemplo: Leis Oramentrias de efeitos concretos. Apesar de serem leis, apesar de serem atos normativos primrios, apesar de ligadas diretamente Constituio, como no tinham efeitos concretos, o Supremo no admitia que fossem objeto de ADI e ADC. O PSDB ajuizou uma ADI (est no material ADI 4.048) questionando seis MPs editadas pelo Lula tratando de questes oramentrias. At ento, o STF no admitia, mas nessa ADI 4048 ele fez uma reviso da sua jurisprudncia. Hoje o entendimento o seguinte:

No importa se o ato geral ou especfico, se abstrato ou concreto. O importante que a controvrsia constitucional tenha sido suscitada em abstrato.

O importante vcs saberem quais so as caractersticas do ato especfico e no do no me que ele recebe. Por exemplo: um decreto pode ser objeto de ADI? Depende. Se ele estiver regulamentando uma lei, ele ser um decreto regulamentar. Este decreto regulamentar no poder ser objeto de controle na ADI e na ADC porque entre ele e a Constituio existe uma lei. Ateno com o seguinte porque eu j vi professor de constitucional explicar errado: se este decreto regulamentar exorbita os limites da regulamentao legal (regulamenta a lei e vai alm, trata dos assuntos que no esto na lei). Esta parte do decreto pode ser objeto de ADI ou ADC? No interessa se esta parte est prevista ou no na lei. O que interessa que regulamentar, ainda que tenha exorbitados os limites. Assim, no pode ser objeto nem de ADI e nem de ADC, nem na parte que exorbita a regulamentao legal porque ele um ato normativo secundrio.

Se o Presidente faz um decreto ligado diretamente Constituio, o decreto vira ato normativo primrio. Ou ento, uma Portaria feita por um Ministro, tratando de assunto previsto diretamente na Constituio, essa portaria pode ser objeto de ADC e ADI. Houve um caso em que um Ministro editou uma Portaria que tratava da liberdade de reunio dentro do Ministrio. No havia lei e nem decreto que falasse sobre isso. O STF admitiu que aquela Portaria fosse objeto de ADI. Analisem a natureza!

Para facilitar a vida, vamos ver alguns atos sobre os quais o Supremo j se manifestou.

STF: o que no pode ser objeto

O STF no admite como objeto de ADI ou ADC:a) Atos tipicamente regulamentares Eu disse ato e no decreto. Se tipicamente regulamentar, significa que no est ligando diretamente CF, mas est regulamentando um ato primrio. Assim, no pode ser objeto.

b) Questes interna corporis so aquelas questes que devem ser resolvidas internamente, dentro do corpo daquele Poder e no por outros Poderes. Elas so conhecidas como questes prprias de regimento interno. Se uma questo prpria do regimento interno daquele poder, ela tem que ser resolvida no mbito prprio daquele poder. Elas no se submetem apreciao do Poder Judicirio. Esse o entendimento da jurisprudncia. No estando, esse entendimento vem sendo relativizado. Se a questo no for exclusivamente interna corporis, mas envolver tambm um direito consagrado na Constituio, o STF tem relativizado: neste caso, pode ser a apreciao do Judicirio. Se a questo envolve violao de direito constitucional, deduz-se que no exclusivamente interna corporis. Exemplo: Cassao de um deputado pela Cmara. O STF no pode analisar o mrito de uma cassao ou no cassao. Se a Cmara entendeu que houve quebra de decoro, algo que deve ser resolvida internamente, no podendo o STF se meter nisso.

Questo de prova (magistratura/MG): A norma constante de um regimento interno de um tribunal, pode ser objeto de controle de constitucionalidade? Eu no disse que norma de regimento interno no pode ser objeto. Eu disse que questes interna corporis no podem ser objeto. Se a norma do regimento for exclusivamente interna corporis, no pode ser objeto de ADI ou ADC. Mas se tratar de outro assunto que no seja exclusivamente interna corporis, ela pode ser questionada. Se a norma do regimento interno exclusivamente interna corporis, no pode ser objeto. Do contrrio, admite-se a sua impugnao. c) Normas Constitucionais Originrias O poder constituinte originrio no encontra limites no plano jurdico. Ele pode colocar, juridicamente, o que bem entender na Constituio, apesar de encontrar legitimaes fora do direito, o que vamos ver depois. J o poder constituinte derivado (ou derivado reformador), no. Para fazer uma emenda, encontra limites. o processo de elaborao de emenda. A emenda constitucional pode ser objeto de ADI ou ADC, desde que no respeite clusulas ptreas ou limites formais. Agora, se uma norma originria, prevista na CF/88, desde 5 de outubro, no pode ser impugnada, no pode ser objeto de controle. Qual o princpio que afasta a possibilidade de uma norma originria ser objeto de controle, o limite da unidade da Constituio. Uma norma originria no pode ser questionada em face de outra em razo desse princpio. Todas esto no mesmo nvel. Eu vou dar um exemplo: O PSC, recentemente, levantou isso no STF. O PSC questionava o seguinte: dizia que a norma da Constituio que probe a eleio de analfabetos violava princpios superiores da Constituio, como o princpio da igualdade, da no discriminao e o princpio do sufrgio universal. A norma que no permite que o analfabeto seja eleito incompatvel com princpios superiores. Ento, o PSC questionou isso. Se essa norma tivesse sido feita por emenda, tudo bem. No entanto, a norma que probe a eleio de analfabeto foi feita pelo poder constituinte originrio que foi o mesmo poder que consagrou os prefalados princpios. Ento, no h sentido em questionar isso. O princpio da unidade diz que no h hierarquia nesse caso.d) Leis revogadas

e) Leis suspensas pelo Senado (art. 52, X) hiptese que vimos na aula passada.

f) Medidas provisrias revogadas, havidas por prejudicadas ou rejeitadas - E se ela foi convertida em lei? Ela continua sendo objeto? Imagine a seguinte situao: proposta uma ADI e durante seu processo e julgamento, essa MP convertida em lei. O que acontece com a ADI, se essa MP for convertida em lei? Se aquele objeto da MP questionado foi rejeitado, vai ser extinta por perda de objeto, mas se aquele dispositivo for convertido em lei, no h perda do objeto. A ao continua. Basta que o legitimado faa uma emenda na inicial. No precisa propor outra ao, caso o ponto questionado seja convertido em lei. Basta o aditamento da inicial.g) Leis temporrias aps o trmino da vigncia enquanto elas estiverem no perodo de vigncia, podem ser objeto. Terminado o perodo de vigncia, no mais.Por que esses atos (d a g) no podem ser objeto? Vimos que a ADI e a ADC so instrumentos de controle abstrato, com pretenso deduzida em juzo atravs de um processo constitucional objetivo, cujo principal objetivo assegurar a supremacia da CF, proteger a ordem constitucional objetiva. Uma lei que j foi revogada, que j no mais est no mundo jurdico, ameaa a ordem constitucional objetiva? No. A mesma coisa a MP revogada, prejudicada ou rejeitada, j que no faz mais parte do ordenamento. Este raciocnio s vale para a ADI e para a ADC.

3.2.Limite espacial

Aqui ns vamos ver uma diferena entre a ADI e a ADC. ACD A Constituio diz que s pode ser objeto dessa ao lei ou ato normativo emanados de uma esfera, apenas da esfera federal. Estadual, no.

ADI O objeto mais amplo. A Constituio admite que seja lei ou ato normativo tanto da esfera federal quanto da esfera estadual.

Por que existe essa diferena? uma questo que gostam de perguntar, qual o objeto de um e de outro. Quando a ADC foi criada, s havia quatro legitimados para prop-la e eram s autoridades federais: Presidente, PGR, Mesa da Cmara e Mesa do Senado. No havia autoridades estaduais como legitimados. O seu objeto era apenas a lei ou ato normativo federal. Com a EC-45, veio a proposta de igualar a ADI e a ADC, tanto com relao aos efeitos da deciso (como foi alterado na CF), como em relao aos legitimados (como foi alterado na CF), quanto em relao ao objeto. L na proposta que deu origem Emenda 45, tinha tambm a previso de que o objeto da ADC passaria a ser tambm o da ADI. S que nesta parte, teve emenda do Senado e teve que retornar para a Cmara. a PEC 29/2000, que est em votao na Cmara dos Deputados. Essa PEC 29/00 uma parte da EC-45 que voltou para a Cmara novamente e criou essa distoro no sistema. Na verdade, a inteno da EC-45 era igualar as duas aes. Na ADI, tambm deveria ser ato normativo federal ou estadual. Quando essa PEC for aprovada, isso vai ser idntico.

3.3.Limite temporal

Aqui tambm importante lembrar das classificaes das inconstitucionalidades. Quanto ao momento, vimos que a inconstitucionalidade pode ser originria ou superveniente. A inconstitucionalidade superveniente no admitida no Brasil. Um ato anterior CF no considerado inconstitucional. A doutrina o considera no recepcionado e a jurisprudncia do Supremo, como se fosse revogado pela CF/88. Como no existe inconstitucionalidade superveniente no direito brasileiro, um ato s pode ser objeto de ADI ou ADC se for posterior Constituio, ou seja, posterior a 05 de outubro de 1988. se for anterior a essa data, ele no pode ser objeto nem de ADI e nem de ACD porque nesse caso ser revogado ou no recepcionado.

Posterior a 5 de outubro quando o parmetro norma originria. Se o parmetro uma emenda, neste caso, a lei dever ser posterior ao parmetro constitucional invocado. Se o parmetro tiver sido modificado por emenda, dever ser posterior. Se a lei constitucional e deixa de ser por supervenincia daquele novo parmetro (Emenda), no hiptese de inconstitucionalidade.

Um aspecto interessante: parte da doutrina sustenta que no caso da ADC, como foi criada por emenda Constitucional (03/93), em razo do princpio da no retroatividade, o objeto da ADC teria que ser posterior a essa data 17/03/93. O STF no faz essa exigncia. Ele admite que seja objeto, desde que seja posterior a 05/10/88. A ADC 01, por exemplo, tinha como objeto uma lei de 1991. foi criada antes da ADC. Mas o STF no faz a exigncia dessa limitao temporal.

Numa prova subjetiva, vale colocar os dois entendimentos. No caso da objetiva, vale o entendimento do Supremo. Vamos falar agora sobre algumas figuras dentro do controle concentrado abstrato.4.ATUAO DOS LEGITIMADOS NO CONTROLE CONCENTRADO ABSTRATO

4.1.O Procurador Geral da Repblica - PGR

A atuao do Procurador Geral no controle de constitucionalidade est prevista no art. 103, 1, da Constituio. O PGR atua em TODOS os processos de competncia do STF. No caso especfico do controle concentrado abstrato, vai atuar na ADI, vai atuar na ADC e vai atuar na ADPF. Ele vai ser intimado a se manifestar.

A pessoa, quando l o dispositivo se assusta:Art. 103. Podem propor a ao direta de inconstitucionalidade e a ao declaratria de constitucionalidade: VI - o Procurador-Geral da Repblica; 1 - O Procurador-Geral da Repblica dever ser previamente ouvido nas aes de inconstitucionalidade e em todos os processos de competncia do Supremo Tribunal Federal.Mas como que o PGR vai atuar em TODOS os processos que esto no STF? O STF interpreta esse dispositivo da seguinte maneira: O PGR no precisa ser formalmente intimado de cada um dos processos. Basta que ele tenha conhecimento da tese jurdica que est sendo discutida. Basta que ele tenha conhecimento da tese jurdica, ele no precisa se manifestar formalmente em cada um dos processos.

Qual a funo do PGR no controle concentrado abstrato? Ele desempenha que papel? Ele vai atuar como custos constitutionis. Nos processos ordinrios o MP atua como custos legis. Aqui, ele atua como custos legis, que aqui a Constituio. Da, custos constitucionis, termo mais especfico do que legis, mas o objetivo o mesmo. Essa a atuao do PGR.Ele tambm legitimado para propor a ADI, ADC e ADPF. Quando ele prope, ainda assim tem que dar parecer? Mesmo quando ele prope a ao ele tem que se intimado para se manifestar como custos constitutionis.

Ele pode propor a ao e dela desistir porque mudou o seu entendimento? No pode haver desistncia. ADI, ADC e ADPF no cabe desistncia. Ningum pode desistir delas porque no cabe desistncia no controle concentrado abstrato.

Mas ele pode dar parecer em sentido contrrio a ao que ele mesmo ajuizou? Sim. So duas as situaes: ele prope a ao e na hora de dar o parecer como custos legis, muda de opinio. difcil ocorrer? . Mas j ocorreu. Quando Seplveda Pertence era PGR, antes de ser Ministro do Supremo, j houve caso de ele propor uma ADI e depois se arrependeu e deu parecer em sentido contrrio. Isso pode. O que no pode desistir da ao. Hiptese mais corriqueira aquela do PGR que ajuza a ao e o outro que o substitui tem entendimento diferente.

Alguns sustentam que esse parecer no poderia ser dado pelo prprio PGR, mas pelo Subprocurador. S que h divergncia. No entendimento pacfico no prprio MPF. 4.2.O Advogado-Geral da Unio - AGUSegunda figura importantssima no controle concentrado abstrato. Quem for fazer prova da AGU, muita ateno com relao a essa participao. Foi questo da ltima prova da AGU e foi cobrada duas vezes na ltima prova de procurador federal. A atuao dele est prevista no art. 103, 3.O AGU no vai atuar em todas as aes, como acontece com o PGR. Ele s atua em UMA ao de controle concentrado abstrato. Qual ao essa? Apenas na ADI. Ele no atua no controle difuso concreto, no atua na ADC e na ADPF. Ele s atua na ao direta de constitucionalidade. Para a gente entender essa participao, bom falar da funo geral que ele desempenha. No art. 131, esto as atribuies do AGU, que so diferentes da funo que ele vai exercer no controle de constitucionalidade. Uma coisa a participao da AGU no controle. Outra coisa diferente a funo geral que ele desempenha. Na sua funo geral, o AGU atua como Chefe da Advocacia-Geral da Unio e, como Chefe da AGU, representa os interesses do Executivo, ele como se fosse um advogado do Presidente da Repblica. Tem, inclusive, status de Ministro de Estado. FHC, via MP, conferiu status de Ministro de Estado ao AGU. Se ele pratica um crime comum, por exemplo, ele julgado pelo STF. Como Ministro de Estado, o AGU subordinado ao Presidente da Repblica. Esta funo que vamos analisar aqui, no controle de constitucionalidade, no a funo geral que ele desempenha. uma funo especial. Essa atribuio prevista no art. 103, 3 diferente da funo geral, ela uma funo especial.Qual ser essa funo especial? Ele atua como o qu? No controle concentrado abstrato, na ADI, sua funo de DEFENSOR LEGIS, ou seja, ele vai defender a constitucionalidade da lei. Ele vai ser o curador da lei. Ele vai zelar pelo princpio de presuno de constitucionalidade. Vai ser o curador de presuno de constitucionalidade das leis. A funo dele essa. Ele dever defender aquele ato impugnado. Duas questes se colocam: a)Quando a ao for ajuizada pelo Presidente da Repblica, imagine a seguinte hiptese: O Presidente pede que o AGU ajuze uma ADI como advogado do Presidente. Nessa hiptese, ele ser obrigado a defender a lei que ele mesmo ajuizou a mando do Presidente da Repblica? O Presidente da Repblica, mesmo que ele tenha ajuizado a ADI, o AGU obrigado a defender a constitucionalidade do ato. Mas ele no estaria quebrando a hierarquia? Porque, neste caso, vejam bem, ele no est exercendo a funo geral, de Chefe da AGU. Ele no est defendendo a constitucionalidade da lei como Chefe da AGU, mas desempenhando uma funo especial que a Constituio lhe atribuiu. Ento, ele obrigado a defender. Por que ele obrigado a defender? Como aqui o processo abstrato, no existe a tese e a anttese para o juiz corporificar o processo dialtico. Ento, o AGU que vai trazer os argumentos em sentido contrrio: a constitucionalidade da lei, para que o Supremo possa decidir. O AGU contribui para a deciso do STF.(Fim da 1 parte da aula)

b)O AGU obrigado a defender a constitucionalidade de leis estaduais? Ou s ir defender a constitucionalidade de leis federais? o raciocnio que se deve ter aqui o mesmo para o Presidente da Repblica. Ele no atua como Chefe da AGU, mas como defensor legis. No importa se a lei federal ou estadual. Ele est obrigado a defender tanto lei federal, quanto lei estadual. No h qualquer exceo em relao a lei estadual.

Questo da AGU: O AGU sempre obrigado a defender a lei ou o ato impugnado? Em qualquer hiptese? Vamos analisar o dispositivo, antes de continuar: 3 - Quando o Supremo Tribunal Federal apreciar a inconstitucionalidade, em tese, de norma legal ou ato normativo, citar, previamente, o Advogado-Geral da Unio, que defender o ato ou texto impugnado.

Em tese (controle abstrato). No controle concreto, o AGU no participa e nem na ADC porque no precisa, j que o pedido de constitucionalidade. A Constituio no disse que poder defender o ato impugnado. Disse que defender o ato impugnado. Em princpio, ele estaria obrigado, diante de uma interpretao literal, a defender qualquer tipo de ato impugnado, em qualquer hiptese. No entanto, o STF tem uma ressalva com relao a este entendimento. Faz um temperamento desse entendimento:

Para o STF, o AGU no est obrigado a defender uma tese jurdica j considerada inconstitucional pelo STF.

Se o Supremo j disse que uma determinada tese jurdica incompatvel com a CF, o AGU, neste nico caso, no est obrigado a defender a constitucionalidade daquela tese. Exemplo: imaginem que uma determinada lei tenha sido objeto de controle difuso concreto e tenha chegado ao Supremo via RE. A lei foi analisada e a deciso no controle difuso, como vimos, em regra, interpartes. Ento, a lei continua sendo vlida. Pode ser que esta mesma lei que o Supremo j disse que inconstitucional com efeito interpartes seja depois objeto de uma ADI do STF. Neste caso, o AGU, se ele quiser defender a constitucionalidade da lei, ele pode. Mas no est obrigado a isso. 4.3.Amicus Curiae

Figura tambm de extrema importncia e que vem sendo cobrado. um dos temas que merece ser aprofundado. So to importantes que os que esto mais avanados no estudo devem buscar coisas especficas porque cai muito e caem coisas profundas.

Vamos traduzir essa expresso de forma literal: Amigo do Juzo ou Amigo da Cria, ou Amigo da Corte. Essa expresso interessante porque j d uma idia do que faz o amicus curiae, que auxiliar o tribunal a decidir.

Questo cobrada pela Esaf: A figura do amicus curiae foi introduzida no direito brasileiro pela Lei 9.868/99 ou j existia antes? Essa figura muito conhecida no sistema da common law e nos tribunais internacionais, mas no Brasil ficou conhecida quando a Lei 9.868/99 consagrou a figura no art. 7, 2. Apesar disso, a figura j existia desde a dcada de 70, na Lei 6.385/76, no art. 31, que trata da CVM e na Lei 8.884/94 (Lei do CADE), no art. 89. Por se tratarem de leis muito especficas, a figura do amicus curiae no era muito conhecida no direito brasileiro. Ela s se tornou realmente conhecida a partir da lei 9.868/99 que prev a figura do amicus curiae apenas para a ADI. No prev para a ADC. Mas a Lei 9.868/99 no a mesma que regulamenta a ADI e a ADC? Por que prev apenas para a ADI? Existiu no texto original previso para as duas aes, mas o Presidente da Repblica vetou para a ADC e disse nas razes do veto: apesar de estar vetando para a ADC, no significa que o STF no possa admitir a participao dele. Se assim, por que vetou?

Alm disso, a prpria Lei 9.868 introduziu no art. 482, 3 a figura do amicus curiae no controle difuso de constitucionalidade. Ento, ele pode atuar no controle difuso e na ADI.

admissvel a atuao do amicus curiae na ADPF e na ADC, mesmo sem previso legal especfica? A jurisprudncia do STF tem admitido tanto na ADC quanto na ADPF. Mesmo sem previso legal. Com base em qu? O Supremo, com base na analogia, tem admitido isso. Como se chama esse tipo de analogia? Aplicao de uma norma a um outro caso semelhante no regulamentado? Legis ou iuris? a legis. Hiptese em que se aplica a norma legal a outro caso legal no regulamentado. Na iuris quando o tribunal usa os princpios gerais do direito que, na verdade, acaba no sendo uma analogia de verdade. Aqui seria o procedimento autntico de analogia.

Natureza do amicus curiae O primeiro entendimento o de que o amicus curiae seria um auxiliar do juzo. o entendimento de Fredie Didier. algum que vai auxiliar o juzo. Ele no defende interesse prprio. A funo do amicus curiae no controle abstrato essa: contribuir para a deciso do tribunal.

Edgar Bueno entende que essa participao seria uma espcie de assistncia qualificada. Ele diz: O Regimento Interno do Supremo no admite, mas o amicus curiae seria uma exceo a essa regra. O terceiro entendimento, que o predominante no STF, aquele de que a participao do amicus curiae seria hiptese de interveno de terceiros. Seria uma exceo regra de que no seria admitida interveno de terceiro. No d para afirmar que o entendimento da maioria porque eu s achei no voto de 5 ministros comentando em seus votos que no admitida a interveno de terceiro, salvo o amicus curiae. Dentre esses ministros esto Celso de Mello, Marco Aurlio, Ricardo Lewandovsky, Joaquim Barbosa e Ellen Gracie. Gilmar Mendes, por sua vez, j disse que amicus curiae no se confunde com interveno de terceiro.

Requisitos do amicus curiae

A lei 9868/99 prev no art. 7, 2, dois requisitos:

a)Requisito objetivo Relevncia da matria. No qualquer matria que esteja sendo discutida que possa ter a participao do amicus curiae.

b)Requisito subjetivo Representatividade do Postulante. Para que ele tenha legitimidade ele tem que ter uma representatividade.

A entidade pode postular essa participao e o STF vai admitir ou no ou ele pode ser convidado pelo Supremo.

Exemplo interessante: HC impetrado por uma pessoa do RS que tinha livros de contedo nazista e uma editora nazista. Esse HC tratava do seguinte: se o crime de antissemitismo, preconceito contra os judeus, seria ou no crime de racismo. Se fosse considerado racismo, era imprescritvel, caso contrrio, o crime j estaria prescrito. Na poca, foi considerado o julgamento mais importante dos ltimos 20 anos. Os Ministros entenderam que o conceito de raa no era biolgico, mas social e que, nesse sentido, so uma raa, sendo o crime imprescritvel. O STF convidou o Celso Lafer, que uma autoridade mundialmente conhecida sobre o assunto, para atuar como amicus curiae.

Atualmente, o STF tem exigido mais dois requisitos subjetivos:

c)Pertinncia temtica igual existe nos legitimados especiais, o STF tem exigido demonstrao de pertinncia temtica. Ao fazer isso, deixa claro que considera o amicus curiae um terceiro interveniente.

d)S rgos e entidades a lei fala em rgos ou entidades. Poder admitir a participao de rgos e entidades. Alguns relatores entendem que rgos e entidades no abarcam pessoas fsicas e que, portanto, pessoas fsicas, como ocorreu no caso do Celso Lafer, no poderiam atuar como amicus curiae, j que a lei fala em outros rgos ou entidades.

Quem analisa todos esses requisitos o relator. Isso no visto pelo pleno. O relator, atravs de despacho que a lei chama de irrecorrvel, que admitir ou no a participao do amicus curiae. Fica nas mos do relator decidir isso. A CNBB, por exemplo, postulou atuar como amicus curiae naquele caso da anencefalia (ADPF 54). O relator era Marco Aurlio que no admitiu a postulao da CNBB, dizendo que ela no iria contribuir para a deciso do Supremo. J na ADI 3510 (clulas-tronco), Csar Peluso admitiu a participao da CNBB. Quem decide o relator e dessa deciso no cabe recurso.

2 da Lei 9868: O relator, considerando a relevncia da matria e a representatividade dos postulantes, poder, por despacho irrecorrvel, admitir, observado o prazo fixado no pargrafo anterior (foi vetado), a manifestao de outros rgos ou entidades.

Sustentao oral Questo que tem sido cobrada (v.g. Esaf). Admite-se sustentao oral do amicus curiae? O STF tem admitido sustentao oral do amicus curiae.

O amicus curiae tem uma importncia no controle abstrato. Se vc pensar que o STF formado por 11 Ministros que no foram eleitos, que foram escolhidos pelo Presidente da Repblica e estes 11 podem retirar do ordenamento jurdico uma lei que foi feita por 513 deputados e 81 senadores, por representantes da maioria do povo. Ento o STF, assim como o Judicirio de uma forma geral, exerce o papel contramajoritrio. Como o Legislativo e o Executivo foram eleitos pelo povo, a tendncia que exeram sempre a vontade da maioria. O Judicirio, por no ser eleito, tem a funo de exercer esse papel contramajoritrio e defender, tambm os interesses da maioria. Hoje, a democracia no seu sentido substancial no s a vontade da maioria, mas a vontade da maioria + proteo de direitos, inclusive direitos da minoria. O STF tem esse papel. No s o Supremo, mas o Judicirio. S que, aparentemente, haveria um dficit de legitimidade da deciso do Supremo.

A figura do amicus curiae importante porque ela pluraliza o debate constitucional, tornando-o mais democrtico. Confere maior legitimidade deciso.

Sociedade aberta de intrpretes Quando o STF permite que representantes da sociedade com representatividade social participem do debate d maior legitimidade sua deciso e essa figura pode ser associada chamada sociedade aberta de intrpretes. No estudo de hermenutica constitucional vamos falar mais detidamente sobre isso, que defendida pelo alemo Peter Hberle. A idia dele a seguinte: a doutrina tradicional considera que a interpretao da CF teria efeito apenas para um crculo fechado de intrpretes, apenas para aqueles que tivessem uma compreenso prvia da Constituio. No seria qualquer pessoa da sociedade que poderia fazer uma interpretao constitucional. O que Hberle prope uma democratizao da interpretao, que toda sociedade seja considerada uma legtima interprete da Constituio. Ele prope uma abertura da Constituio. Quando se permite a participao do amicus curiae uma abertura na interpretao constitucional. O intrprete final ser sempre o Judicirio, mas a sociedade um pr-intrprete. Como a sociedade vai viver a Constituio se no a interpreta? Ento vcs podem fazer a associao do amicus curiae com esse raciocnio de Hberle. II A AO DECLARATRIA DE CONSTITUCIONALIDADE

Quando a ADC foi criada, gerou uma grande polemica, principalmente entre os processualistas. A OAB juntou uma comisso de notveis, que tinha, dentre outros, a professora Ada Pelegrini, e essa comisso fez um parecer, dizendo que a ADC era inconstitucional porque violava vrios princpios (contraditrio, ampla defesa, duplo grau...). Mas a, j vimos que por no ser uma ao de ndole objetiva, no est sujeita aos princpios do processo. E o princpio do devido do processo legal, se aplica? Sim. O processo, previsto para essas aes, tem que ser observado.

Um outro questionamento feito foi em relao ao princpio de presuno de constitucionalidade se existe essa presuno, por que uma ao para declarar aquilo que j se presume? No teria sentido. Para que a ADC no se transformasse num simples instrumento de consulta do STF, a Lei 9.868 passou a exigir um requisito para que a ADC fosse admitida, um requisito em razo dessa presuno de constitucionalidade. Qual esse requisito para que se admita a ADC?

Existncia de controvrsia judicial relevante para que o STF no vire rgo de consulta dos destinados, s se justifica a provocao do STF se existir uma controvrsia judicial relevante, que justifique essa provocao, se houver vrios rgos do Judicirio proferindo decises divergentes.

Plano Collor - Na poca, vrias aes judiciais foram propostas para liberao do dinheiro. Uns juzes entendiam que a medida era constitucional e no liberaram. Outros liberaram. E ficou nessa, at a deciso do Supremo que veio anos depois, favorvel ao Plano Collor e aqueles que conseguiram a liberao prvia do dinheiro tiveram que pagar honorrios altssimos para a Fazenda Pblica. Para evitar essa demora, at o STF se manifestar, para abreviar o tempo de pronncia do STF, foi criada a ADC. No caso do Plano Collor, ajuizada a ADC, todas as aes em trmite que discutiam o problema seriam suspensas e o Supremo iria dizer que era ou no constitucional.

E para que no exista esse simples carter de consulta, a lei exige controvrsia judicial relevante no art. 14, III. Isso requisito de admissibilidade da inicial. Se ele no demonstrar na inicial, a ao no ser admitida.

Caso interessante: Quando FHC editou a MP do apago, vrias aes foram ajuizadas questionando a medida. FHC ajuizou uma ADC no Supremo, proposta pelo AGU. Para demonstrar a controvrsia judicial relevante, Gilmar Mendes juntou 6 ou 7 aes. E o Supremo disse: isso no caracteriza controvrsia judicial relevante. E mandou emendar a inicial. Gilmar juntou mais um monte de aes. A a coisa valeu. preciso que seja uma questo debatida em vrios rgos.

Carter dplice ou ambivalente da ADI e da ADC por que elas tm carter dplice? Essas duas aes tem a mesma natureza. O que muda apenas o sinal. Uma ADI, julgada procedente a mesma coisa que um a ADC julgada improcedente e vice-versa. Isso est previsto de forma bastante clara no art. 24, da Lei 9.868/99. Os efeitos da deciso so idnticos nas duas aes, seja julgando procedente, seja julgando improcedente:

Art. 24. Proclamada a constitucionalidade, julgar-se- improcedente a ao direta ou procedente eventual ao declaratria; e, proclamada a inconstitucionalidade, julgar-se- procedente a ao direta ou improcedente eventual ao declaratria.

O que vai mudar apenas o sinal. Os efeitos da deciso so os mesmos. Tanto que podemos ter a seguinte situao: uma mesma lei pode ser objeto de uma ADC e de vrias ADIs, por exemplo. Cada legitimado prope uma ADI questionando aquela lei, o Presidente prope uma ADC, dizendo que constitucional e a o que o STF faz? Ele vai reunir todas essas aes, a ADC e as ADIs e decidir em conjunto. A deciso vai ser: julgando uma procedente e outra improcedente. Este o carter dplice ou ambivalente.

No restante, a ADC se assemelha ADI, com exceo do requisito controvrsia judicial relevante em razo da presuno de constitucionalidade. este aspecto e aquelas limitaes circunstanciais que so as diferenas fundamentais. So trs diferenas principais para recordar:1) Objeto ADC s federal. ADI federal e estadual

2) AGU s participa na ADI (no participa na ADC)

3) S existe na ADC: controvrsia judicial relevante.

III ARGUIO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL - ADPF

A ADPF prevista no art. 102, da Constituio da Repblica e regulamentada pela Lei 9.882/99. Ela tem muitos pontos diferentes da ADI e da ADC.

Para comear: a ADPF no uma ao de inconstitucionalidade. Ela uma arguio de descumprimento. A noo de descumprimento da Constituio mais ampla do que a noo de inconstitucionalidade. Vc pode ter um descumprimento como pode ter uma inconstitucionalidade. Toda inconstitucionalidade vai ser um descumprimento, mas a recproca, nem sempre ser verdadeira.

Exemplo: Uma lei anterior Constituio no pode ser considerada inconstitucional. Mas se eu aplico um alei anterior CF, considerando essa lei recepcionada e essa lei incompatvel com a Constituio, ocorrer um descumprimento da CF. Ento, lei anterior pode ser objeto de ADPF, mas no pode ser objeto de ADI e nem de ADC. H atos que no podem ser objetos de controle de constitucionalidade, mas podem ser objeto de ADPF.

No qualquer norma da CF que serve de parmetro para essa ao. Essa uma ao de descumprimento de preceito fundamental. Para propositura da ADPF, somente preceito fundamental que serve de parmetro. Somente quando h violao de preceito fundamental.

No confundam parmetro (norma constitucional violada) com objeto (norma infectada)!Na ADPF 01, O Ministro Nri da Silveira disse que somente o STF, como guardio da Constituio que pode dizer quais so os preceitos fundamentais. Ele j deixou claro, na primeira ADPF que quem vai dizer o que so preceitos fundamentais o Supremo. A Constituio no fala e a lei tambm no fala. H alguns que so, inegavelmente, preceitos fundamentais. Exemplos de preceitos fundamentais

Vou colocar aqui alguns exemplos de preceitos fundamentais e no significa dizer que sejam apenas estes: Princpios fundamentais do Ttulo I, da Constituio (arts. 1 e 4) So princpios fundamentais que tem que ser considerados tambm preceitos fundamentais. Alis, preceito no se confunde com princpio. Preceito sinnimo de norma. E norma pode ser tanto princpio quanto regra. Ento, eu posso ter uma regra que pode ser considerada preceito fundamental. Direitos fundamentais espalhados por toda a Constituio. No se restringem ao Ttulo II. Uma ADPF (101) foi proposta questionando a importao de pneus usados e l, a Ministra Carmen Lucia admitiu como direitos fundamentais dois direitos que no esto no Ttulo II, da Constituio. O preceito fundamental violado foi o direito sade, mas no mais o art. 6. O art. Invocado foi o art. 196 e o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. O objeto impugnado nesta ADPF foi deciso judicial. Uma deciso judicial no pode ser objeto de ADI ou de ADC, mas de ADPF pode. Princpios Constitucionais Sensveis (art. 34, VII) - O STF j disse que so preceitos fundamentais.

Clusulas Ptreas (forma federativa de Estado, separao dos Podres, direitos e garantias individuais) no so apenas as do art. 60, IV. H aquelas que so implcitas fora do art. 60, IV.

O carter subsidirio da ADPF

Outro ponto importante em relao ADPF: na ADPF necessrio que seja observado o carter subsidirio. Esse carter est previsto na lei 9882/99, no art. 4, 1. Carter subsidirio no significa a inexistncia de outro meio, mas a inexistncia de outro meio eficaz para sanar a necessidade. Ento, no basta a mera existncia, em tese de outro meio. Se esse meio for ineficaz que caber a ADPF. Este meio, para ser considerado eficaz tem que ser um meio de controle concentrado ou poderia ser um meio difuso? O STF no exige que o instrumento seja de controle concentrado para ser considerado eficaz. Ele diz o seguinte: tem que ser a mesma efetividade, imediaticidade e amplitude da ADPF. S que, dificilmente, um instrumento que no seja de controle concentrado vai ter essas mesmas caractersticas. Se, eventualmente, algum outro meio tiver a efetividade, a imediaticidade e a amplitude, poder ser usado.Hipteses de cabimento da ADPF

A jurisprudncia do STF e parte da doutrina prevem duas hipteses de cabimento (h autores que falam em trs, como Alexandre de Moraes).

ADPF autnoma (Lei 9.882/99, art. 1, caput) tem como objeto atos do Poder Pblico e haveria uma outra ADPF,

ADPF incidental (Lei 9.882/99, art. 1, nico) a lei fala que o objeto ser lei ou ato normativo das espcies federal, estadual e at municipal (pode ser de qualquer esfera).S para lembrar:

ADC Federal ADI Federal e Estadual

ADPF Federal, Estadual e Municipal

E no caso da ADPF, no apenas atos posteriores Constituio podem ser objeto dessa ao. Admite-se como objeto atos anteriores Constituio. STF no faz distino entre os objetos das duas aes (lei, ato normativo ou ato do poder pblico federal, estadual ou municipal, anterior ou posterior. tudo a mesma coisa). Vcs podem compreender como se fosse um objeto s. Ele diz que na ADPF autnoma pode ser ato do poder pblico, lei ou ato normativo, federal, estadual ou municipal, anterior ou posterior Constituio e na ADPF incidental, a mesma coisa.

Ato do poder pblico essa expresso muito mais amplo do que lei e ato normativo. Uma deciso judicial no lei ou ato normativo, mas o Supremo considera como ato do poder pblico. Como a expresso ato do poder pblico muito ampla, eu vou citar pra vcs alguns atos que o Supremo no considera como atos do poder pblico:

1. Proposta de Emenda Constitucional STF j rejeitou uma ADPF por falta de objeto por no ser um ato completo e acabado. ato que est em formao.

2. Smula Tambm no pode ser objeto de ADPF.

3. Veto a questo do veto curiosa. H duas ADPFs (n. 01 e 73) em que o Supremo expressamente diz que veto no pode ser objeto de ADPF, por ser ato de natureza poltica, discricionria do Presidente da Repblica. No entanto, a ADPF n. 45, o veto foi objeto da ADPF e o relator no fez qualquer ressalva com relao a isso. Ele admitiu a ADPF, s no julgou porque depois o Presidente apresentou um projeto de lei com o mesmo contedo que ele tinha vetado e o projeto de lei foi aprovado (ento, perdeu o objeto). E o Ministro no disse nada quanto ao veto ser objeto da ADPF. Estranho porque viola um entendimento que o STF adotava. Entendimento expresso de que veto no pode ser objeto de ADPF. Eu acho que quem tem um posicionamento correto sobre isso, o professor Gustavo B. (da UERJ): Ele distingue o veto poltico do veto jurdico. O poltico tem natureza poltica (interesse pblico, no precisa explicar), mas o jurdico tem que trazer as razes. Se ele diz que veta por inconstitucional, ele tem que dizer o por qu. Nesse caso, do veto jurdico, o Judicirio poderia ser analisado. Mas o STF nunca fez essa ressalva.Quando falamos do objeto da ADI e da ADC eu disse que lei ou ato normativo estadual pode ser objeto de ADI. E lei do DF, pode ser objeto de ADI? Ela tem uma natureza hbrida. Tanto contedo de lei estadual, quanto de contedo municipal. Se essa lei tiver contedo de lei estadual, pode. Se tiver contedo de lei municipal, no pode. Isso aqui na ADI e no na ADPF. que esqueci de comentar. Tem uma Sumula do STF, sobre isso: Smula 642. ADPF autnoma ao autnoma. Um dos legitimados do art. 103 vai l perante o Supremo e prope.

ADPF incidental diferente. Existe um caso concreto que foi levado ao Judicirio e um dos legitimados do art. 103, ao tomar conhecimento do caso, o considera relevante e leva a questo constitucional para o STF. Observem o seguinte: neste caso, ocorre uma ciso entre as questes fticas (do caso concreto) e as questes constitucionais. O STF s analisa a parte constitucional. Esse caso aconteceu na ADPF 54 (na internet tem um link Caso Severina interessante porque mostra os trs aspectos: a situao da me grvida de feto anenceflico, a anlise mdica da questo e os Ministros do Supremo debatendo a questo forte. Mostra at o parto da criana. http://www.youtube.com/watch?v=hioCpsFVLvw). Quando a confederao nacional dos trabalhadores na rea da sade viu essa discusso, resolveu levar para o Supremo dada a relevncia. No o caso Severina, mas a possibilidade de antecipao teraputica do parto no caso de feto anenceflico. Ento, o que o Supremo est julgado no caso da anencefalia aborto ou se seria apenas uma antecipao teraputica do parto. discusso em tese. O caso Severina acabou porque o Supremo suspendeu a liminar e no julgou a tempo (ela teve a criana). Mas teoricamente o que deveria te acontecido: O processo ficaria suspenso, aguardando a deciso do Supremo que diria se pode ou no ser realizado o aborto e essa deciso do STF, como ela tem efeito vinculante (igual na ADI e ADC), valeria tanto para a deciso da Severina quanto para os demais casos de gravidezes comprovadas de fetos anenceflicos. Aqui o raciocnio parecido com a clusula da reserva de plenrio. Na clusula da reserva de plenrio vimos que o rgo fracionrio vai julgar o caso concreto mas ele submete a questo constitucional ao pleno que decide abstratamente. Aqui, o raciocnio o mesmo, s que um juiz de primeiro grau que julga o caso concreto e a questo constitucional levada ao STF para decidir em abstrato e depois essa deciso passa a valer para todos os casos concretos. A diferena que l, na clusula da reserva de plenrio, existe uma vinculao apenas horizontal (dentro do prprio tribunal). Aqui a vinculao vertical, atinge todos os rgos do Judicirio.PAGE 60