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03-07-22 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 1 O «problema oriental» do Ocidente (1) A ideia estabelecida entre nós de uma supremacia europeia baseia-se nos avanços da Renascença, da revolução científica do séc. XVII e do Iluminismo, que permitem explicar, nesse sentido, a ênfase no conhecimento, na razão, no poder e no comércio. Considerava-se tradicionalmente que as sementes destes acontecimentos tinham origem num passado remoto, na estrutura da própria cultura, na herança dos Gregos e na adopção do cristianismo.

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O «problema oriental» do Ocidente (1)

• A ideia estabelecida entre nós de uma supremacia europeia baseia-se nos avanços da Renascença, da revolução científica do séc. XVII e do Iluminismo, que permitem explicar, nesse sentido, a ênfase no conhecimento, na razão, no poder e no comércio.

• Considerava-se tradicionalmente que as sementes destes acontecimentos tinham origem num passado remoto, na estrutura da própria cultura, na herança dos Gregos e na adopção do cristianismo.

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O «problema oriental» do Ocidente (2)

• O contraste entre Ásia e Europa, com a respectiva desvalorização do Oriente, tem uma origem antiga na história do Ocidente.

• O conflito entre Gregos e Persas (década de 490 a. C. e 480-79 a.C.) fez com que os asiáticos fossem associados a uma autoridade despótica e «à imagem de um esplendor bárbaro» [Goody].

• Na Política, Aristóteles considerou-os mais servis que os outros povos e Montesquieu (1689-1755) opôs o «génio da liberdade» europeu ao espírito da servidão asiático.

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O «problema oriental» do Ocidente (3)

• No seguimento da expansão do comércio europeu, nos sécs. XVII e XVIII, este antagonismo foi posto em causa.

• O conhecimento mais aprofundado da realidade Oriental permitido pelo contacto dos jesuítas com a China e dos mercadores, viajantes e administradores com a Índia não abalou, porém, a crença de superioridade ocidental.

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O «problema oriental» do Ocidente (4)• Com o advento da Revolução Industrial o contraste político

tomou um matiz mais económico, impulsionado pelos grandes economistas britânicos.

• Adam Smith (1723-1790) considerava, n’ A Riqueza das Nações que a pobreza das massas tem origem no facto de a economia não se poder desenvolver ao mesmo ritmo que o crescimento demográfico.

• A China «permanecia estacionária, negligenciando os recursos naturais da liberdade em favor de regulações artificiais que refreavam o progresso do comércio.» [Goody]

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O «problema oriental» do Ocidente (5)

• Karl Marx (1818-1883) igualmente realçou o estado imóvel em que se encontrava a Ásia: uma economia agrícola assente na irrigação e uma classe camponesa servil dominada por um poder despótico.

• No entender de Marx, por motivos insondáveis, os povos asiáticos não conseguiam acompanhar o processo de desenvolvimento que os conduziria da sociedade arcaica ao feudalismo, desta ao capitalismo e, por fim ao socialismo.

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O «problema oriental» do Ocidente (6)• Em finais do século XVIII, a Europa Ocidental encetou

um período de crescimento auto-sustentado, o que fez com que, comparativamente, a Ásia parecesse estática.

• Achou-se, portanto, que esta vantagem comparativa consubstanciava uma diferença social de longa duração.

• O Oriente não havia experimentado o crescimento do feudalismo e o desenvolvimento dos centros de comércio medievais, as comunas (cidade emancipada) que se expandiram a partir do Norte de Itália e que prenunciaram o surgimento de uma sociedade civil.

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O «problema oriental» do Ocidente (7)

• No século XIX, a ideia de Singularidade do Ocidente consolidou-se com a expansão do capitalismo competitivo.

• Julgava-se que a natureza estática da economia da sociedade oriental se devia ao facto de ela carenciar de sistemas apropriados de racionalidade, de parentesco ou de capacidades empreendedoras, consideradas características exclusivas do Ocidente.

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O «problema oriental» do Ocidente (8)

• Max Weber (1864-1920), sociólogo, pensava que a Europa tinha sistemas próprios de racionalidade e de ética económica que favoreceram o fomento do capitalismo.

• Ainda segundo o mesmo autor, na Ásia o desenvolvimento do capitalismo foi tolhido pelo sistema de castas e de parentesco, bem como pela ética religiosa.

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O «problema oriental» do Ocidente (9)

• Estes argumentos - que pretendem ser o Ocidente possuidor de uma vantagem de longa duração - não conseguiram, contudo, explicar porque é que na Idade Média o Oriente se revelou superior ao Ocidente em inúmeros domínios.

• Aliás recentemente o crescimento acelerado das economias, da tecnologia e dos sistemas de conhecimento primeiro no Japão e, na actualidade, em vários países da região (e. g. China), vieram subverter esta teoria.

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O «problema oriental» do Ocidente (10)

• A China nunca (até muito recentemente!) desenvolveu o capitalismo, só conseguindo industrializar-se através do comunismo que conseguiu libertá-la da dependência do capitalismo externo.

• Mas o Japão é já há algumas décadas uma das nações mais desenvolvidas do mundo…

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Fig. 7: A guerra do ópio (1ª Guerra: 1839-42; 2ª Guerra:1856-60)

Fonte: ve.kalipedia.com

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O «problema oriental» do Ocidente (11)• Tal singularidade era explicável, segundo alguns autores,

devido «às grandes orientações ético-religiosas do Japão anterior à restauração Meiji» [Goody],

• Tais orientações constituíram um estímulo ao desenvolvimento económico e social japonês comparável ao do protestantismo no Ocidente.

• Outros autores consideraram que na Ásia Oriental, que era incapaz de proceder à nossa maneira, se tinha formado um tipo original de capitalismo (colectivista) característico de regimes não democráticos e culturas não-individualistas.

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O «problema oriental» do Ocidente (12)

• Para Goody, as grandes realizações do Ocidente não devem continuar a ser vistas como aspectos de longa duração ou mesmo eternos das culturas ocidentais, mas antes «movimentos pendulares que ao longo do último milénio têm afectado essas sociedades.»

• Em consequência deste domínio, os sistemas europeus nas áreas da produção industrial, da actividade intelectual (escolas e universidades), da saúde, do governo burocrático e - em alto grau - a cultura em geral, estabeleceram-se com adaptações, pelo mundo inteiro.

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O «problema oriental» do Ocidente (13)

• Autores têm atribuído à Europa uma capacidade de modernização que outras regiões teriam somente copiado.

• Porém, a economia da Europa medieval floresceu devido, não tanto à sua capacidade de invenção, mas pela sua capacidade de aprender, de imitar, de dominar certas utensílios e técnicas de outras regiões do mundo, de as tornar mais eficazes ou de utilizá-las para fins diversos.

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O «problema oriental» do Ocidente (14)

• Nenhuma região do mundo dispõe de características singulares e perenes que lhe permitam, por si só, inventar ou adoptar as evoluções cruciais da humanidade.

• As mesmas explicações devem ser usadas para analisar quer a antiga superioridade do Oriente, quer os sucessos mais recentes do Ocidente.

• Um certo etnocentrismo levou autores ocidentais a empolar o papel das determinantes sócio-culturais profundas, a despeito das provas existentes.

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O «problema oriental» do Ocidente (15)

• O confucionismo (sistema filosófico chinês) outrora considerado um entrave ao progresso, é hoje visto como um seu motor.

• Determinados elementos da tradição ocidental «um activismo notável, uma capacidade racional de inovação e um sentido de autodisciplina» são agora tomados como pertencendo à civilização do Extremo Oriente.

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O «problema oriental» do Ocidente (16)

• Por vezes existe a tendência (errada) de considerar só dois tipos de sociedade: modernas e tradicionais, avançadas e primitivas; sociedades que adoptaram o capitalismo industrializado e aquelas que se quedaram por um capitalismo pré-industrializado.

• De igual modo, não se deve incluir as grandes sociedades asiáticas e africanas numa mesma categoria, «tanto do ponto de vista do desenvolvimento contemporâneo, como da história das culturas.» [Goody]

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O Oriente no Ocidente (1)

• Uma análise comparativa falsa entre Oriente e Ocidente pode prejudicar igualmente a compreensão que o Ocidente tem de si próprio.

• Pode-se ver a história do território euroasiático de duas maneiras: sublinhando a divisão entre os dois continentes, com duas tradições eminentemente diferentes: a ocidental e a oriental. Ou colocando a tónica na herança comum da Idade do Bronze.

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O Oriente no Ocidente (2)

• A tradição ocidental deriva, como já vimos, da herança clássica das sociedades mediterrânicas da Grécia e de Roma, que terão sido sublimadas com o Renascimento, a Reforma, o Iluminismo e a Revolução Industrial da Europa Ocidental.

• Na Ásia, segundo os orientalistas, o tribalismo prevaleceria arraigado nos povos.

• Porém, para Goody, pode-se valorizar uma herança comum aos dois espaços da Eurásia desde a revolução urbana da Idade do Bronze (3000 a.C.-1300-700 a.C.).

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Fig. 8 – EurásiaFonte: wikipédia

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O Oriente no Ocidente (3)

• Nessa Era introduziram-se novos meios de comunicação (a palavra escrita), novos meios de produção (uma agricultura e um artesanato evoluídos com a metalurgia, o uso do arado, etc.).

• Assim, ainda segundo Goody, a linha de separação entre Europa e Ásia foi sobrevalorizada ocorrendo a uma série de deformações e de distorções na compreensão do Oriente e do próprio Ocidente.

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O Oriente no Ocidente (4)

• É impossível explicar o avanço temporário – modernização - atribuindo vantagens permanentes a cada um dos lados.

• O processo de modernização ocidental, como vimos, teria ficado ligado à emergência de um modelo de cidade politicamente organizada, que assegurou algumas liberdades aos seus habitantes e distinguiu esfera privada de esfera pública.

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O Oriente no Ocidente (5)

• Igualmente a cidade foi o lugar onde triunfou a racionalidade, tanto a nível jurídico como económico. Tendo-se preparado o caminho, na Idade Média, para uma primeira forma de capitalismo.

• O primeiro modelo de cidade aqui aduzido estabeleceu-se com a comuna do Norte de Itália no século IX, e foi posteriormente difundido por toda a Europa Ocidental.

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O Oriente no Ocidente (6)

• Não obstante, na Índia, Ahmadabad, já possuía o essencial das características supostamente exclusivas das congéneres europeias.

• Algumas cidades indianas e chinesas ofereciam já um ambiente adequado à expansão das trocas comerciais e «um futuro terreno de aterragem para a produção manufactureira e o saber ocidentais»[Goody].

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O Oriente no Ocidente (7)

• No que diz respeito ao desenvolvimento proto-industrial, algumas regiões do extenso Império Chinês estavam bem mais avançadas nos finais da Idade Média do que a Europa.

• Quando Marco Polo, no séc. XIII, chegou à capital do sul da China, julgou que Hang-chou era a maior cidade do mundo, uma cidade onde o progresso económico não era em nada comparável ao que era conhecido na Europa.

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As viagens de Marco PoloFonte: wikipédia

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O Oriente no Ocidente (8)

• Na China, a horticultura estava muito desenvolvida, bem como os rituais, os espectáculos e as artes em geral, mas também as suas pesquisas técnicas e científicas (e.g. invenção da bússola, pólvora, imprensa).

• Ainda que tenham limitado a sua participação no comércio marítimo depois das grandes viagens do séc. XV (por todo o Oceano Índico e a África Oriental), os Chineses beneficiavam de um mercado interno mais vasto do que a Europa.

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O Oriente no Ocidente (9)

• A intensidade da produção de tecidos, sobretudo rural, de uma mão-de-obra doméstica e assalariada é representativa da riqueza chinesa.

• Assim sendo, a produção asiática estava longe de passar por um momento de estagnação. Antes do século XV já existiam oficinas e fábricas, muitas delas organizadas pelo Estado.

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O Oriente no Ocidente (10)

• Durante a dinastia Tang (618-907) e Sung (960-1279), era o governo que recrutava trabalhadores no mercado livre.

• Enquanto indústrias como a do armamento estavam nas mão do governo, outras como a da exploração mineira e siderurgia eram amiúde privadas.

• A indústria têxtil chinesa que, no caso das sedas de maior qualidade, era exercida por artesãos e trabalhadores das cidades foi uma actividade sazonal secundária exercida durante mais de 2000 anos.

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Pintura chinesa do século XII mostrando mulheres fabricando seda

Fonte: wikipédia

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O Oriente no Ocidente (11)

• A cultura comercial do algodão foi introduzida na China nos finais do séc. XII. A produção era desigual de região para região.

• O mercado dos tecidos de algodão estava centrado em Xangai, sendo posteriormente os produtos distribuídos para as regiões mais remotas do país, através de agentes locais e de mercadores itinerantes que acumulavam um capital avultado.

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O Oriente no Ocidente (13)

• Cerca de 1730, as exportações de algodão chegaram à Europa e à América do Norte e do Sul, antes que a concorrência da indústria europeia, em 1833, redundasse no seu declínio drástico.

• De acordo com Goody, «os saberes e as artes da China e do Japão estavam ao mesmo nível do Ocidente, grosso modo até pelo menos ao século XV e, em certos domínios, estavam mais desenvolvidos.»

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O Oriente no Ocidente (14)• Assim, as realizações da Antiguidade não forneceram

ao Ocidente uma vantagem permanente até à época contemporânea.

• Os mil anos que constituíram a Idade Média, testemunharam um recuo da Europa em diversos domínios: conhecimento, artes e economia.

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O Oriente no Ocidente (15)

• A longo prazo, verificou-se uma alternância nos progressos (movimento pendular) ou evoluções comparáveis (que podiam ser adoptadas ou ocorrer em paralelo) decorrentes dos conhecimentos comuns adquiridos nas duas regiões durante a Idade do Bronze.

• Existiam factores que impediam ou favoreciam os avanços.

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O Oriente no Ocidente (16)

• Os obstáculos podiam ser: uma invasão exterior, convulsões internas, interferência da Igreja ou Estado ou, tão-só força da inércia.

• Os progressos podiam ser favorecidos por novos meios de produção ou de comunicação, novos avanços nos conhecimentos teóricos ou práticos, novos recursos, etc.

• O movimento pendular continua ainda nos nossos dias: o Oriente está na iminência de se tornar o farol da economia mundial.

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O Oriente no Ocidente (17)

• A China testemunhou progressos a nível da botânica, produzindo inúmeras espécies de plantas ornamentais (que só posteriormente seriam introduzidas no Ocidente), graças a técnicas de horticultura intensiva.

• No séc. IV, a botânica chinesa era aproximadamente igual (pelo menos em número de espécies identificadas) à de Teofrasto, discípulo de Aristóteles.

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O Oriente no Ocidente (18)• Na Alta Idade Média (410-1050), o conhecimento da

botânica no Ocidente estagnou e declinou, só chegando ao nível oriental com os botânicos alemães do séc. XV.

• O estudo das estruturas matemáticas inicia-se com as civilizações da Mesopotâmia, China e Índia. Como tal não lhes faltava a mentalidade matemática!

• Na matemática registaram-se avanços paralelos, ainda que distintos, no Oriente e no Ocidente que contribuíram para o desenvolvimento de outras ciências.

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O Oriente no Ocidente (19)

• Quanto à geometria, o seu desenvolvimento inicial aconteceu na Mesopotâmia e no Egipto, ainda que esta disciplina só se tenha imposto e sistematizado no mundo grego. A primeira geometria chinesa não chegou ao apuro atingido pela civilização grega.

• Todavia, as matemáticas chinesas, nos primeiros séculos da Idade Média, eram as mais avançadas do mundo e o seu declínio posterior é um enigma.

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O Oriente no Ocidente (20)

• O que terá subjazido ao êxito do Ocidente terá sido «o desenvolvimento de uma perspectiva científica única» [Goody] ou mesmo possivelmente uma mentalidade.

• Existe alguma discussão quanto ao local e ao momento da revolução do conhecimento na Europa.

• Os medievalistas ressalvam a importância do século XIII, os historiadores da época moderna, valorizam o Renascimento e períodos sequentes. Os filósofos enfatizariam o desenvolvimento do ensino na Época das Luzes.

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O Oriente no Ocidente (21)

• Até à aparição da ciência moderna, a China estava muito mais avançada do que a Europa em domínios como a matemática e a astronomia, a teoria das marés, a geografia humana, a cartografia quantitativa e a paleontologia.

• Na Europa, a Reforma implicou uma emancipação dos actores sociais e culturais em relação aos contrangimentos (explícitos: censura/ implícitos: controlo dos sistemas de conhecimento) impostos pelo regime estabelecido.

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O Oriente no Ocidente (22)

• A rejeição da autoridade papal, traduziu-se para a Inglaterra e Holanda, na possibilidade de afrontar os monopólios comerciais que o Papa tinha atribuído a Espanha e Portugal, na África Ocidental e em outras regiões.

• Os mercadores destes países deixaram de estar sob tutela eclesiástica e ficaram livres para vender qualquer mercadoria, não importando em que região. Criou-se assim tanto na Ásia como na Europa uma cultura mercantil específica.

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O Oriente no Ocidente (23)

• No século XIV, a China dispunha de máquinas de fiar cânhamo que podiam ser accionadas pelo homem, pelo animal ou por uma roda hidráulica.

• O facto da revolução industrial não ter sucedido antes na China deve-se, segundo Elvin (apud Goody) à «paralisia no ponto de equilíbrio do nível elevado atingido.»

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O Oriente no Ocidente (24)

• Certos autores explicam também o sucesso do Ocidente opondo a escrita alfabética grega (morfologicamente mais desenvolvida) aos sistemas logográficos chineses (menos flexíveis).

• Contudo, tanto uma escrita como a outra permitiram a «acumulação, sintetização e a formalização de saberes» [Goody].

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O Oriente no Ocidente (25)

• O facto de tanto na Europa, como na Ásia terem prosperado, nas sociedades urbanas da Idade do Bronze, a escrita, a agricultura e o artesanato, contrasta com África.

• Este último continente não tinha neste período nem agricultura avançada nem escrita (excepto nas regiões sob a influência do Islão.)

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O Oriente no Ocidente (26)

• O aparecimento de culturas específicas permitido pela diferenciação hierárquica que decorre da obtenção de lucro numa economia excedentária e da diferenciação de acesso aos recursos, levou a que a sociedade se complexificasse (vd. Módulo 1).

• Estas contradições não ocorrem em sociedades sem escrita, como em África, permanecendo implícitas, enquanto que nas sociedades euro-asiáticas elas são vertidas na palavra escrita «atingindo uma proeminência e um poder reflexivo muito maiores.»

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O Oriente no Ocidente (27)• A Renascença testemunha uma grande expansão da

actividade mercantil da Europa.

• Seguiu-se, no séc. XVIII, o desenvolvimento de um capitalismo industrial de grande escala (i.e. uma produção em massa baseada na utilização de máquinas hidráulicas e a vapor) no Ocidente.

• Os historiadores, porém, situam o início do capitalismo em Veneza, depois do século XII. Mas o comércio aí praticado não diferia muito da actividade levada, durante séculos, a cabo por outras comunidades (inclusive chinesas.)

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O Oriente no Ocidente (28)

• O fundamental da ciência dos Gregos, não se prende com o facto de terem sido eles a inventar a medicina, as matemáticas ou a astronomia (o que de resto não é verdade).

• Os Gregos foram sim os primeiros no Ocidente, a envolverem-se «numa reflexão sobre os estatutos, os métodos e a fundação da investigação científica, os primeiros a levantar questões de ‘segundo grau’.» [Lloyd apud Goody]

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O Oriente no Ocidente (29)• A reflexão científica foi promovida pela escrita que

favoreceu uma auto consciência e um processo de explicitação do implícito.

• As dificuldades inerentes à escrita cuneiforme mesopotâmica podem ter desencorajado reflexões discursivas sobre os métodos anteriores à civilização grega.

• A auto consciência tem, indubitavelmente, muitas raízes na cultura grega. A argumentação explícita, vai ser favorecida pelo uso da escrita, do alfabeto e do papiro.

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Fig. 9 – Escrita cuneiforme e alfabeto gregoFonte: http://www.moodle.univ-ab.pt

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O Oriente no Ocidente (30)

• A noção de demonstração exacta, segundo Lloyd (citado por Goody), pelo menos na geometria, foi uma invenção grega.

• Os Indianos também desenvolveram uma geometria, para erigirem os seus templos, actividade na qual revelaram um verdadeiro domínio dos «problemas relacionados com as superfícies dos quadrados, dos rectângulos, dos trapézios e dos triângulos rectos.»

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O Oriente no Ocidente (31)

• Os sulbasutras (tratados indianos redigidos entre 500 a.C. e 100 a. C.), estavam preocupados com os resultados práticos, pelo que não versaram os métodos de demonstração;

• Os Indianos não conseguiram distinguir resultados aproximativos de um resultado exacto.

• De acordo com Lloyd, os gregos teriam estabelecido uma distinção explícita entre os enunciados metafóricos e os enunciados literais.

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O Oriente no Ocidente (32)• Os Egípcios, os Babilónios, os Indianos e os Chineses

teriam desenvolvido uma protociência.

• Platão e Aristóteles ao rejeitar a metáfora (através do silogismo em Aristóteles) teriam fundado um novo estilo de investigação.

• Outras diferenças seriam a ênfase dada pelos gregos à dialéctica (arte do diálogo, da contraposição e contradição de ideia que leva a outras ideias) «sobre a lógica formal nos modos de argumentação, ou da investigação empírica sobre a teorização especulativa abstracta.» [Goody]

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O Oriente no Ocidente (33)• As diferenças espelhariam uma herança e uma

experiência politica diferentes.

• As similitudes entre China e Grécia: o mesmo grande interesse pela moral, pela filosofia natural, pelas matemáticas, medicina, astronomia, por certos aspectos da lógica, da epistemologia e da crítica literária.

• Da história chinesa poderíamos também referir - com Lloyd - outras semelhanças: os raciocínios derivados da reflexão, o eclodir de tradições de pensamento críticas e cépticas, e de uma procura explícita da inovação,etc.

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O Oriente no Ocidente (34)

• Tais similitudes resultarão do facto de ambas as sociedades terem beneficiado das consequências da revolução da Idade do Bronze. No âmbito intelectual essas consequências derivam do desenvolvimento da escrita.

• Do ponto em cima descrito decorreria a explicitação do implícito levando o indivíduo a confrontar-se com as suas próprias palavras.

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O Oriente no Ocidente (35)

• Como já vimos, as causas aduzidas pelos investigadores para explicar as diferenças de evolução destas sociedades foram atribuídas a uma série de factores tidos como exclusivamente ocidentais.

• Estes factores foram: o individualismo, uma racionalidade específica, o espírito de iniciativa empresarial e um determinado tipo de estrutura familiar.

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O Oriente no Ocidente (36)

• Contudo, segundo Goody, uma boa parte do desenvolvimento económico indiano deveu-se a firmas familiares, o que levou a falar-se de um capitalismo colectivista distinto do capitalismo individualista ocidental.

• Para Goody porém a participação de um círculo de parentesco alargado numa mesma empresa económica revelou-se muitas vezes um trunfo.

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• Porém, na sociologia germano-americana houve uma forte tendência para considerar a família como uma «realidade corroída da modernidade» [Goody].

• A modernidade teria testemunhado uma substituição das redes de parentesco pelos laços fundados nas trajectórias individuais.

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O Oriente no Ocidente (38)

• Para Goody, antropólogo, os avanços mais relevantes da modernização económica, prenderam-se com uma produção extensiva de mercadorias – daí derivando as carências da África Negra, cujo volume de produção sempre foi e continua a ser assaz limitado.

• Estes avanços estiveram ligados aos progressos da informação e da tecnologia , eles próprios dependentes de uma acumulação de conhecimentos, permitida pelas mutações dos meios de comunicação (i. e. representação gráfica das palavras)

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• O capitalismo mercantil teve vários inícios: na China, entre os Semitas (e.g. árabes e judeus), Indianos e católicos italianos.

• Não se deve, contudo, confundir os elementos sociais e culturais que permitiram uma industrialização avançada (que aconteceu no Ocidente) e aqueles que autorizaram o seu primeiro impulso.

• O factor decisivo é a capacidade de utilizar uma nova tecnologia e não tanto a sua invenção (e.g. empréstimo inglês da tecnologia do ferro alemã do séc. XVI.)