03 períca contábil em matéria trabalhista

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 ARTIGO Título: PERÍCIA CONTÁBIL EM MATÉRIA TRABALHISTA Autor: Prof. Remo Dalla Zanna (MS) Data: 09 de Maio de 2005 I - PROLOGÔMENOS I-1 - A Perícia Contábil em matéria Trabalhista lida com dois atores: o Empregado que, no Processo Trabalhista, geralmente, figura na condição de Reclamante e o Empregador, chamad o de Reclamado, ente que organiza os meios de produção nos quais se insere o Empregado. Portanto temos que o Empregador se organiza e o Empregado é desorganizado, pois não dispõe de registros pessoais que possam servir, no futuro de prova suficiente em Processo Trabalhista. O Empregado tem “desproteção organizativa”; ao contrário, o Empregador tem o dever e a obrigação de manter registros contábeis relacionados com a sua função de empresário ou de contratante dos serviços do Empregado. I-2 - O Processo Trabalhi sta procura eqüalizar os direitos, pois, apesar dos Sindicatos, o Empregado não possui poder algum e, ao contrário, o Empregador tem poder econômico, social e político. Diante desta realidade, as leis protegem o trabalhador contra a estrutura organizativa do Empregador convertendo as disputas em questões jurídicas. A autonomia da vontade se exerce entre iguais e, no caso das relações de trabalho não há autonomia da vontade pelo fato de serem desiguais o Empregado e o Empregador. No momento que o Empregado recorre à Justiça apresenta-se em situação de inferioridade perante o Empregador, seja na sua condição social bem como econômica; além disso, quando comparece na condição de desempregado estará com seu ânimo e amor próprio feridos. Uma das formas de equilibrar a situação econômica é a de conceder a prestação jurisdicional de forma gratuita. I-3 - Considerando que o contrato de trabalho é uma relação de convivência continuada e considerando que o Empregador é o ente organizado, cabe ao Perito buscar na documentação e na escrituração contábil do mesmo, as informações necessárias para cumprimento de sua missão. No caso de o Empregador não dispor dos documentos e registros contábeis em base aos quais o Perito possa atuar prof issi onal men te, ou na hip óte se de lhe serem sone gada s tais informa ções , presu me- se que tudo aqu ilo que o Emprega do afirmou nos autos do processo, é verdadeiro . Nestas condições, os documentos juntad os aos autos, os testemunhos e, por fim e mais importante, a decisão judicial prolatada, servirão de base para os cálculos trabalhistas. I-4 - O Processo do Trabalho é um universo de pretensões incertas que só podem se tornar verdades insofismáveis mediante o trabalho pericial na fase de conhecimento. Já o montante a que tem direito o empregado só pode ser conhecido calculando os direitos sentenciados. Por outro lado, tem-se como certo que os documentos juntados aos autos, geralmente pela empresa Reclamada, são incompletos. Esta situação exige que o perito proceda às diligências necessárias para conhecer os documentos necessários à conclusão de seus cálculos. Por outro lado, espera-se que o perito junte a quantidade de provas documentais absolutamente imprescindíveis para fundamentar os seus cálculos, mesmo porque, o que se lhe exige, é uma prova contábil e não documental. O que se espera do Perito são cálculos corretos que revelem o crédito trabalhista do Reclamante, o crédito previdenciário do INSS e o crédito da CEF relativo ao FGTS, que será, no repassado ao próprio Reclamante pois a ele pertence e a quantia de I.R.R.F cabente ao Tesouro Nacional. I-5 – Como se vê, a ação judicial trabalhista não termina com a sentença, pois não sendo líquida, ou seja, não sendo mencionado, em seu texto, o valor a pagar ao empregado, requer a atuação do perito contador que fará os calculados dos direitos atribuídos que, pela sua homologação, torná-la-á líquida, ou seja, deverá pagar, a Parte perdedora, o valor homologado.. I-6 – Em resumo, o papel do perito contador, no Processo Trabalh ista, é apresentar os cálculos que quantificam, monetariamente, o valor dos direito s sentenciados. Ou seja, espera-se do perito contador o conhecimento do “quant um debeatur” a que faz jus o Reclamante, face aos direitos que obteve em sentença. Além disso, espera-se que determine quanto é devido à Previdência Social, ao FGTS e à Receita Federal em termos de Imposto de Renda Retido na Fonte. II - CONCEITOS E DEFINIÇÕES II-1 - O Processo Trabalhista é a maneira pela qual são conciliados ou julgados os dissídios individuais e coletivos entre empregados e empregadores, chamados no processo de Reclamantes e Reclamados. Presta-se também para dirimir demais controvérsias decorrentes das relações trabalhistas regidas pelo Direito do Trabalho e capituladas na CLT. O Processo Trabalhista, em primeira instância, acontece nas VARAS DO TRABALHO ex-Juntas de Conciliação e Julgamento - JCJ - de âmbito federal e, nas localidades onde ainda não foram instaladas, nas Varas da Justiça Estadual.  II-2 - São Partes no Processo Trabalhista: II-2.1 - o Reclamante – o que faz a reclamação sendo, via de regra, o trabalhador, II-2.2 - a Reclamada - quem sofre a reclamação sendo, geralmente, a pessoa (física ou jurídica) empregadora. II-3 - O Processo Trabalhista se encerra em duas hipóteses: II-3.1 - Conciliação entre as Partes - nesta hipótese, o valor a ser pago é ajustado entre as Partes mediante acordo que, depois de homologado pelo magis trado, constitui-se em decisão irrecorrível. Este acordo, quando acontece na fase de conhecimento ou logo após as partes apresentarem suas memórias de cálculo, não gera trabalho para o peri to contador. Todavia , qua ndo ocorre após o “exp ert” ter apre sent ado seu Laud o, seus honorários estar ão garantidos, conforme valor arbitrado pelo magistrado. II-3.2 - Sentença Judicial Transitada em Julgado - é a decisão judicial que põe fim à etapa litig iosa da fase de conhecimento (instrução do processo), da qual não cabe mais recurso relacionado com esta fase probatória. III - FASES DO PROCESSO TRABALHISTA E A INSERÇÃO DA PERÍCIA COMO ELEMENTO DE PROVA III-1 - Um ex-funcionário ou um funcionário ainda na ativa na empresa ou pessoa física empregadora, o Reclamante, propõe, pelo seu advogado, uma ação contra a pessoa (física ou jurídica) para a qual trabalhou ou está trabalhando no momento, a Reclamada. Isto é feito mediante a apresentação da peça “Inicial” na qual relata os motivos da Reclamação Trabalhista. O caso é protocolado na Justiça do Trabalho que, mediante sorteio, encaminha para uma das Varas do Trabalho da Comarca. III-2 - Após o recebimento da “Inicial” o magistrado determina que a Reclamada (pessoa física ou jurídica) seja notificada a apresentar sua defesa. A pessoa recebe uma cópia da “Inicial” pelo correio e a informação que determina a data e a hora para o comparecimento em audiência. 1

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ARTIGO

Título: PERÍCIA CONTÁBIL EM MATÉRIA TRABALHISTA

Autor: Prof. Remo Dalla Zanna (MS)

Data: 09 de Maio de 2005

I - PROLOGÔMENOS

I-1 - A Perícia Contábil em matéria Trabalhista lida com dois atores: o Empregado que, no Processo Trabalhista, geralmente, figura nacondição de Reclamante e o Empregador, chamado de Reclamado, ente que organiza os meios de produção nos quais se insere o

Empregado. Portanto temos que o Empregador se organiza e o Empregado é desorganizado, pois não dispõe de registros pessoaisque possam servir, no futuro de prova suficiente em Processo Trabalhista. O Empregado tem “desproteção organizativa”; ao contrário,o Empregador tem o dever e a obrigação de manter registros contábeis relacionados com a sua função de empresário ou decontratante dos serviços do Empregado.

I-2 - O Processo Trabalhista procura eqüalizar os direitos, pois, apesar dos Sindicatos, o Empregado não possui poder algum e, aocontrário, o Empregador tem poder econômico, social e político. Diante desta realidade, as leis protegem o trabalhador contra aestrutura organizativa do Empregador convertendo as disputas em questões jurídicas. A autonomia da vontade se exerce entre iguaise, no caso das relações de trabalho não há autonomia da vontade pelo fato de serem desiguais o Empregado e o Empregador. Nomomento que o Empregado recorre à Justiça apresenta-se em situação de inferioridade perante o Empregador, seja na sua condiçãosocial bem como econômica; além disso, quando comparece na condição de desempregado estará com seu ânimo e amor próprioferidos. Uma das formas de equilibrar a situação econômica é a de conceder a prestação jurisdicional de forma gratuita.

I-3 - Considerando que o contrato de trabalho é uma relação de convivência continuada e considerando que o Empregador é o enteorganizado, cabe ao Perito buscar na documentação e na escrituração contábil do mesmo, as informações necessárias paracumprimento de sua missão. No caso de o Empregador não dispor dos documentos e registros contábeis em base aos quais o Peritopossa atuar profissionalmente, ou na hipótese de lhe serem sonegadas tais informações, presume-se que tudo aquilo que oEmpregado afirmou nos autos do processo, é verdadeiro. Nestas condições, os documentos juntados aos autos, os testemunhos e,por fim e mais importante, a decisão judicial prolatada, servirão de base para os cálculos trabalhistas.

I-4 - O Processo do Trabalho é um universo de pretensões incertas que só podem se tornar verdades insofismáveis mediante otrabalho pericial na fase de conhecimento. Já o montante a que tem direito o empregado só pode ser conhecido calculando os direitossentenciados. Por outro lado, tem-se como certo que os documentos juntados aos autos, geralmente pela empresa Reclamada, sãoincompletos. Esta situação exige que o perito proceda às diligências necessárias para conhecer os documentos necessários àconclusão de seus cálculos. Por outro lado, espera-se que o perito junte a quantidade de provas documentais absolutamenteimprescindíveis para fundamentar os seus cálculos, mesmo porque, o que se lhe exige, é uma prova contábil e não documental. Oque se espera do Perito são cálculos corretos que revelem o crédito trabalhista do Reclamante, o crédito previdenciário do INSS e ocrédito da CEF relativo ao FGTS, que será, no repassado ao próprio Reclamante pois a ele pertence e a quantia de I.R.R.F cabenteao Tesouro Nacional.

I-5 – Como se vê, a ação judicial trabalhista não termina com a sentença, pois não sendo líquida, ou seja, não sendo mencionado, emseu texto, o valor a pagar ao empregado, requer a atuação do perito contador que fará os calculados dos direitos atribuídos que, pelasua homologação, torná-la-á líquida, ou seja, deverá pagar, a Parte perdedora, o valor homologado..

I-6 – Em resumo, o papel do perito contador, no Processo Trabalhista, é apresentar os cálculos que quantificam, monetariamente, ovalor dos direitos sentenciados. Ou seja, espera-se do perito contador o conhecimento do “quantum debeatur” a que faz jus oReclamante, face aos direitos que obteve em sentença. Além disso, espera-se que determine quanto é devido à Previdência Social,ao FGTS e à Receita Federal em termos de Imposto de Renda Retido na Fonte.

II - CONCEITOS E DEFINIÇÕES

II-1 - O Processo Trabalhista é a maneira pela qual são conciliados ou julgados os dissídios individuais e coletivos entre empregadose empregadores, chamados no processo de Reclamantes e Reclamados. Presta-se também para dirimir demais controvérsiasdecorrentes das relações trabalhistas regidas pelo Direito do Trabalho e capituladas na CLT. O Processo Trabalhista, em primeirainstância, acontece nas VARAS DO TRABALHO ex-Juntas de Conciliação e Julgamento - JCJ - de âmbito federal e, nas localidadesonde ainda não foram instaladas, nas Varas da Justiça Estadual. II-2 - São Partes no Processo Trabalhista:

II-2.1 - o Reclamante – o que faz a reclamação sendo, via de regra, o trabalhador,

II-2.2 - a Reclamada - quem sofre a reclamação sendo, geralmente, a pessoa (física ou jurídica) empregadora.

II-3 - O Processo Trabalhista se encerra em duas hipóteses:II-3.1 - Conciliação entre as Partes - nesta hipótese, o valor a ser pago é ajustado entre as Partes mediante acordoque, depois de homologado pelo magistrado, constitui-se em decisão irrecorrível. Este acordo, quando acontece nafase de conhecimento ou logo após as partes apresentarem suas memórias de cálculo, não gera trabalho para operito contador. Todavia, quando ocorre após o “expert” ter apresentado seu Laudo, seus honorários estarãogarantidos, conforme valor arbitrado pelo magistrado.II-3.2 - Sentença Judicial Transitada em Julgado - é a decisão judicial que põe fim à etapa litigiosa da fase deconhecimento (instrução do processo), da qual não cabe mais recurso relacionado com esta fase probatória.

III - FASES DO PROCESSO TRABALHISTA E A INSERÇÃO DA PERÍCIA COMO ELEMENTO DE PROVA

III-1 - Um ex-funcionário ou um funcionário ainda na ativa na empresa ou pessoa física empregadora, o Reclamante, propõe, pelo seuadvogado, uma ação contra a pessoa (física ou jurídica) para a qual trabalhou ou está trabalhando no momento, a Reclamada. Isto éfeito mediante a apresentação da peça “Inicial” na qual relata os motivos da Reclamação Trabalhista. O caso é protocolado na Justiçado Trabalho que, mediante sorteio, encaminha para uma das Varas do Trabalho da Comarca.

III-2 - Após o recebimento da “Inicial” o magistrado determina que a Reclamada (pessoa física ou jurídica) seja notificada a apresentar sua defesa. A pessoa recebe uma cópia da “Inicial” pelo correio e a informação que determina a data e a hora para o comparecimentoem audiência.

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III-3 - Na data designada e - geralmente - na hora fixada, acontece a Audiência. Caso a Reclamada esteja ausente o magistradoaplica a pena de revelia - confissão tácita - ou seja, tudo o que foi pleiteado pelo Reclamante é considerado como verdadeiro. No casodo não comparecimento do trabalhador, o processo é extinto no ato. Este fato - a extinção deste processo -, não cancela os direitosdo trabalhador pois não impede que volte a pleitear, mediante novo processo, tudo o que havia requerido naquele e mais outrosdireitos que julga serem seus. Ocorre que o procurador do Reclamante, às vezes, se esquece de pleitear alguns direitos dotrabalhador e, para não perde-los, prefere que seu cliente não compareça à audiência gerando, assim, a extinção daquele processo epossibilitando, mediante a abertura de outro, o pleito de todos os direitos anteriores e mais o esquecidos.

III-4 - Quando as Partes - Reclamante e Reclamada - estiverem presente à audiência, o magistrado busca o entendimento entre elas.Ocorrendo a conciliação de interesses, o juiz homologa o acordo e, com seu cabal cumprimento, o processo é encerrado. Neste caso,cabe aos advogados - do Reclamante e da Reclamada - peticionar informando que o acordo foi cumprido.

III-5 - Não ocorrendo o acordo, inicia-se a fase probatória. Nesta fase são:- ouvidas as testemunhas e o preposto da Reclamada,

- ouvidas as testemunhas do Reclamante,- determinadas as várias perícias necessárias para elucidar o caso em si, tais como: perícia médica, perícia de engenharia desegurança, perícia contábil e outras que o magistrado julgar necessárias para a comprovação das alegações feitas peloReclamante. Para a produção das provas periciais o magistrado nomeia pessoas de sua confiança e portadoras dasprerrogativas profissionais condizentes com o tipo de perícia a ser apresentada.

 III-6 - Para a produção das provas periciais, as Partes são instadas a formular quesitos e indicar, cada qual, seu Assistente Técnico.

III-7 - Os peritos do juízo, cada qual segundo sua especialidade, apresentarão seus laudos, no prazo determinado pelo magistrado,cabendo, quando necessário, o pedido de prorrogação deste prazo, segundo as circunstâncias. A apresentação do Laudo é feita,preferencialmente, diretamente na Vara do Trabalho na qual o processo tem curso.

III-8 - É muito comum os laudos serem contestados pela Parte que não se sentiu justiçada com as suas conclusões, ou por ambas.Neste caso o magistrado determina que o(s) Perito(s) responda(m) às impugnações e esclareça(m) os pontos que ficaram duvidososou pouco claros para o seu entendimento.

III-9 - Concluída a fase probatória, encontrando-se o processo devidamente instruído, o juiz, face às provas documentais e periciaisapresentadas e face aos depoimentos prestados pelas testemunhas, exara a sua sentença.

III-10 - Da sentença prolatada cabe recurso. Qualquer uma das Partes pode requerer revisão da sentença mediante a apresentaçãode “Embargos Declaratórios”. Tal pleito significa que o magistrado teria omitido um ou mais itens em sua sentença ou, ao contrario,teria sentenciado mais itens do que realmente cabem, por justiça, ao Reclamante. Trata-se de um recurso ordinário mediante o qualos advogados pleiteiam a reforma da sentença prolatada.

III-11 - Nesta fase o processo estanca e fica no aguardo do julgamento do Recurso Ordinário pelo Tribunal Regional do Trabalho. Como julgamento surge o Acórdão e, com base nele, a sentença de primeira instância poderá ser modificada ou mantida em seus termos.

III-12 - Concluída esta fase processual e estando definida a sentença, passa-se à fase da execução da sentença a qual, por óbvio,deverá respeitar o venerando acórdão proferido pelo egrégio Tribunal Regional do Trabalho.

III-13 - Nesta fase o Reclamante apresenta a sua memória de cálculo do total que pretende receber. Havendo concordância por parte

da Reclamada, o magistrado homologa os valores e determina seu pagamento. Neste caso não há necessidade de perícia judicialpois as Partes concordaram com os cálculos apresentados que geraram um acordo de liquidação de sentença. Mas a Reclamadapode não concordar com os valores apresentados pelo Reclamante e, neste caso, apresenta contestação e junta sua memória decálculo, segundo seu ponto de vista. Nesta fase o Reclamante, até por necessidade financeira, poderá concordar com os valoresapresentados pela Reclamada ensejando, assim, a homologação dos valores pelo MM Juiz que, mediante sentença, determinará opagamento das quantias. É certo que o perito, no exercício da função de Assistente Técnico, é solicitado pela Parte que o contratoupara elaborar a memória de cálculo supra citada e objeto de apresentação, nos autos do processo, pelo advogado. Há muitos colegasque trabalham apenas na função de Assistentes Técnicos junto aos escritórios de advocacia, efetuando os cálculos para uso dossenhores advogados.

III-14 - Dos cálculos apresentados pelos senhores advogados cabe contestação. Ocorrendo a discordância surge a necessidade derevisão dos valores apresentados. Assim, na fase da execução da sentença, quando as Partes não concordam com os valoresapresentados por uma e pela outra, acontece a perícia judicial contábil em matéria trabalhista.

III-15 - Nesta fase, a da execução da sentença, segue-se o mesmo ritual pericial aplicável à fase de instrução do processo, ou seja:as Partes são instadas a apresentarem quesitos, o que raramente é feito e, no momento presente, o i. magistrados tem-nos indeferidopor entenderem que são ações meramente procrastinadoras; e indicarem Assistentes Técnicos para acompanhar os trabalhos do

perito oficial. O Laudo Pericial Contábil em Matéria Trabalhista apresentado pelo “expert” poderá ser objeto de contestação e depedido de esclarecimentos. Ocorrendo a impugnação e o pedido de esclarecimentos o magistrado determinará que o Perito Oficialatenda ao quanto solicitado de forma a aclarar os pontos obscuros, revisar seus cálculos e, no final, confirmar os valoresprecedentemente apresentados ou reapresenta-los modificados em função da derradeira revisão a que procedeu.

III-16 - Apurado e conhecido o “quantum debeatur”, o magistrado homologa o Laudo Pericial, fixa os honorários e manda pagar, emCartório, o total devido pela Reclamada. Se perdedora da ação, basicamente, pagará:

- o valor devido ao Reclamante,- o valor devido à Previdência Social,- o valor devido ao FGTS que reverte em benefício do Reclamante,- os honorários advocatícios da Parte vencedora,

- as custas processuais nas quais se incluem os honorários do perito oficial.

III-17 - Duas situações podem ocorrer diante da sentença do juiz:a) a Reclamada paga o total devido, ou,b) propõe EMBARGOS Á EXECUÇÃO. Caso ocorra esta segunda situação, o processo retorna ao Tribunal Regional do

Trabalho para decisão de segunda instância. Da decisão do TRT cabe recurso ao TST e, em seguida, ao STF.

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IV - CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL PARA ATUARCOMO PERITO EM MATÉRIA TRABALHISTA

Para que o profissional se capacite para atuar como perito contador em matéria trabalhista, além dos aspectos contábeis ligados aocontrole e à contabilização dos salários normais, horas extras, adicionais por trabalho noturno e/ou por insalubridade, comissões,participação nos lucros, etc. e respectivos encargos sociais; é necessário adquirir experiência relacionada como o Direito do Trabalho,com o Processo Trabalhista e com a Legislação Previdenciária. Como se vê, trata-se de uma especialização profissional no campo daperícia contábil e, como tal, requer que o profissional enriqueça sua formação básica mediante o estudo de:

o Constituição Federal sobre o trabalho e o emprego,o Legislação específica sobre o trabalho: Leis, Decretos-Lei e Medidas Provisórias, Jurisprudência, Regulamentos e Portarias

relacionados com a Justiça Trabalhista,o Livros, revistas e jornais especializados em processo trabalhista e Justiça do Trabalho,

o

Ter acesso a softwares especializados tais como o “Sistema JVP de Cálculos Judiciais Trabalhistas” do economista JuarezVarallo Pont.

V - OBJETIVO DO LAUDO PERICIAL CONTÁBILEM MATÉRIA TRABALHISTA

Como já foi visto nos itens III-13, III-14 e III-15 acima, há que se considerar que a sentença, antes de ser objeto de cálculos pelo“expert”, pode ser corrigida quando o magistrado concordar com a(s) Parte(s) de que houver erro ou omissão por ocasião de suaprolação. Ocorrendo a discordância do magistrado em rever a sua sentença, cabe Recurso Ordinário ou Recurso de Revista aoTribunal Regional de Segunda Instância ou até de Instância Superior. O objetivo dos senhores advogados é obter a modificação dasentença de primeira instância. Concluídos os trâmites judiciais e definidos, por fim, os termos da sentença, cabe ao Reclamanteapresentar, em 10 dias, os cálculos de liquidação, devidamente atualizados. A respeito dos cálculos apresentados pelo Reclamantecabe contestação pela Reclamada que, por sua vez apresentará outros cálculos, divergentes dos primeiros. Ante a divergência, oMM. Juiz determina a realização de perícia contábil e, nesta oportunidade, nomeia o perito de sua confiança. Em seguida,fundamentado na sentença transitada em julgado, o “expert” apresenta seus cálculos. A sentença passa a ser lei entre as Partes noque se refere à questão ventilada nos autos do processo.

Assim sendo, o objetivo do Laudo Pericial Contábil em Matéria Trabalhista é o de dar atendimento ao disposto na r. Sentençaprolatada pelo MM. Juiz

VI - CRITÉRIOS ADOTADOS NA ELABORAÇÃO DO LAUDO PERICIAL CONTÁBIL EM MATÉRIA TRABALHISTA

VI.1 - Critérios Legais

Entendem-se por Critérios Legais a aplicação prática das normas constitucionais, legais e jurisprudenciais aplicáveis ao caso para acorreta apuração das verbas determinadas em sentença, como segue:

VI.1.1 - Período de abrangência. Por exemplo:a) data de admissão: 10 de junho de 1993,b) data da rescisão: 09 de janeiro de 1995,c) data da propositura da ação: 10 de fevereiro de 1996.

VI.1.2 - Atualização Monetária dos créditos trabalhistas em conformidade com:a) Art. 1º da Lei n.º 6.899/81, regulamentada pelo Art. 1º do Decreto n.º 86.649, de 25.11.81;b) Art. 6º, inciso V, da Lei n.º 7.738, de 09.03.1989 que foi promulgada em decorrência da Medida Provisória n.º 38, de

03.02.1989,c) Art. 39, § 2º da Lei n.º 8.177, de 01.03.1991,d) Orientação Jurisprudencial n.º 124 do Colendo TST (a partir de julho de 2000), ou seja: atualizar os créditos pelo

índice do mês seguinte ao da prestação do serviço.

VI.1.3 - Juros de mora em conformidade com o Art. 1º da Lei n.º 8.177/91.

VI.1.4 - Diferença do Adicional de Periculosidade de conformidade com a sentença. Vide Arts. 192 e 193 da CLT.

VI.1.5 - Incidência reflexiva nas verbas postuladas conforme r. sentença, tais como: horas extras, férias, terço constitucional de férias,13º salário, DSR, FGTS que pode ser com multa de 40% (atualmente 50%) ou sem multa nos casos em que a rescisão contratualtiver ocorrido por tempo de serviço, ou seja, aposentadoria.

VI.1.5.1 - Reflexos da diferença do adicional de periculosidade em DSR, de acordo com o Enunciado n.º 172 do C.TST.

VI.1.5.2 - Reflexos da diferença do adicional de periculosidade em 13º Salário, de acordo com o Enunciado n.º 45 doC. TST.

VI.1.5.3 - Reflexos da diferença do adicional de periculosidade em Férias e Abono de 1/3 das Férias, de acordo com oEnunciado n.º 151 do C. TST.

VI.1.5.4 - Reflexos da diferença do adicional de periculosidade em outras verbas rescisórias, de acordo com osEnunciados n.º 94 e 291 do C. TST.

VI.1.5.5 - Reflexos da diferença do adicional de periculosidade no FGTS, de acordo com o Enunciado n.º 63 do C.TST.

VI.1.5.6 - Reflexos da diferença do adicional de periculosidade em Horas Extras, de acordo com a OrientaçãoJurisprudencial TST SDI 102.

VI.2 - Critérios Operacionais

Por critérios operacionais entendem-se os procedimentos adotados pelo perito para apresentar os cálculos o que é feito, mediante aelaboração de tabelas conforme o software adotado em seu microcomputador. A planilha básica revela os salários efetivamente

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pagos ao Reclamante. As demais planilhas se prestam para demonstrar as verbas não pagas ao Reclamante, ao INSS e ao FGTS;inclusive o IRRF que deverá ser descontado do Reclamada. Assim sendo, dependendo de cada caso, poderá apresentar:

a) Levantamento dos salários pagos,b) Apuração do Adicional de Insalubridade,c) Apuração do Adicional de Periculosidade,d) Diferença entre os salários pagos e os salários deferidos em sentença,e) Demonstrativo do salário-hora correspondendo ao salário sentenciado dividido por 220 horas mensais,f) Relatório das horas-extras não pagas tomando-se por base que a quantidade de horas normais semanais, salvo acordo

sindical, é de, no máximo, 44 horas,g) Aplicação do adicional de horas-extras segundo a categoria profissional ou acordo sindical,h) E assim sucessivamente, até que todas as verbas salariais sejam apresentados em tabelas, tais como:i) Apuração da incidência dos depósitos fundiários sobre as verbas de natureza salarial conforme apuradas acima na base de

8% mais a multa determinada por lei,

 j) Multas previstas em lei,k) Vale transporte,l) Contribuição previdenciária,m) Imposto de renda retido na fonte,n) e, no final, na forma de RESUMO GERAL, será apresentado o total que a Reclamada deve pagar, a quem deve efetuar os

pagamentos e as deduções de responsabilidade do Reclamado, como o INSS e o IRRF que, todavia, face aos termos dasentença, podem ser imputadas à Reclamada.

Havendo quesitos, estes serão respondidos pelo Perito na seguinte ordem:1º - quesitos do Magistrado,2º - quesitos do Reclamante, e3º - quesitos da Reclamada.

Um exemplo das planilhas que compõem um Laudo Pericial Contábil em Matéria Trabalhista é o seguinte:• Capa,• Índice,• Planilha de horas dispendidas pelo perito e cálculo dos honorários periciais,• Metodologia aplicada na elaboração do laudo,• Demonstrativo n.º 01 - Levantamento Salarial,• Demonstrativo n.º 02 - Levantamento de horas extras,• Demonstrativo n.º 03 - Reflexos de horas extras em DSRs,• Demonstrativo n.º 04 - Reflexos de horas extras e DSR em 13º salário,• Demonstrativo n.º 05 - Reflexos de horas extras e DSR em Férias e respectivo Abono,• Demonstrativo n.º 06 - Saldo de Salários,• Demonstrativo n.º 07 - Férias Vencidas,• Demonstrativo n.º 08 - Verbas Rescisórias: integração de horas extras e DSR ao Salário, para apuração de Aviso Prévio,

13º Salário e Férias proporcionais,• Demonstrativo n.º 09 - FGTS acrescido de multa (40% o a que for aplicável segundo a época dos eventos objeto de ação

 judicial),• Demonstrativo n.º 10 - FGTS em atraso,• Demonstrativo n.º 11 - Resumo Geral• Demonstrativo 12 - Resposta aos quesitos.

Nota final: o profissional que desejar atuar como perito contábil na Justiça do Trabalho deve trabalhar como auxiliar de outro perito doqual obterá a prática dos cálculos trabalhistas nas mais variadas situações. Esta prática só pode ser adquirida exercitando-se nestaprofissão sob a supervisão de um “expert” que já esteja atuando há alguns anos nas Varas do Trabalho. A prática assim adquirida,fortalecida com os conhecimentos teóricos enunciados acima, fará com que o profissional sinta-se seguro para atuar autonomamenteo que deverá ser feito, por uma questão de gratidão, em Varas do Trabalho nas quais o seu “mestre” não esteja atuando.

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