0164600-33.2008.5.03.0007-data-20091207-seq-8027844- sentença pejotização trt mg

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  • PODER JUDICIRIOJUSTIA DO TRABALHOTRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO 3 REGIO

    7 VARA DO TRABALHO DE BELO HORIZONTE/MG PROCESSO N 01646-2008-007-03-00-8 1

    TERMO DE AUDINCIA

    Aos sete dias do ms de dezembro de 2009, na

    e. 7 Vara do Trabalho de Belo Horizonte/MG, presente a

    Exma. Sra. Juza do Trabalho, THASA SANTANA SOUZA, que

    ao final assina, para audincia relativa aos autos n

    01646-2008-007-03-00-8, entre as partes:

    RECLAMANTE: DIGENES AMORIM LEITE

    RECLAMADA: DTS LATIN AMERICA SOFTWARE E CONSULTORIA LTDA.

    s 16h02, aberta a audincia, foram as

    partes apregoadas por ordem da MM. Juza, ausentes.

    Submetida a lide a julgamento, foi proferida

    a seguinte SENTENA.

    RELATRIO

    Digenes Amorim Leite, devidamente

    qualificado fl. 03, ajuizou a presente ao perante DTS

    Latin America Software e Consultoria Ltda, alegando, em

    sntese, que: foi admitido na cidade de So Paulo, no dia

    01/10/2002 para gerenciar os negcios da reclamada,

    desenvolvendo projetos de sistema da informao para o

    banco Bradesco e empresas do grupo, tendo sido dispensado

    em 19/01/2007; recebia salrio fixo no importe de R$

    7.000,00 acrescido de comisses; na ocasio de sua

    admisso foi obrigado pela reclamada a constituir uma

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    7 VARA DO TRABALHO DE BELO HORIZONTE/MG PROCESSO N 01646-2008-007-03-00-8 2

    pessoa jurdica, com o objetivo de fraudar seus direitos

    trabalhistas; no teve sua CTPS assinada, razo pela qual

    no recebeu os direitos trabalhistas pelo perodo

    laborado, tampouco as verbas rescisrias a que faz jus;

    laborou nas dependncias da reclamada, com subordinao

    aos empregados desta; em meados de julho de 2006 foi

    transferido para Belo Horizonte onde continuou

    trabalhando com subordinao reclamada, no tendo

    recebido o adicional de transferncia; na ocasio de sua

    transferncia para Belo Horizonte passou a receber

    salrio fixo de R$ 7.350,00, contudo as comisses

    recebidas foram suprimidas; o intervalo intrajornada no

    foi regularmente concedido pelo perodo em trabalhou na

    cidade de So Paulo.

    Em conseqncia, pleiteou as parcelas

    elencadas s fls. 09/10. Deu causa o valor de R

    $20.000,00. Juntou documentos e procurao (fls. 11/296).

    Regularmente notificada e aps rejeitada a

    tentativa de conciliao, a reclamada apresentou defesa

    escrita, com documentos, arguindo, inicialmente a

    impossibilidade jurdica do pedido e sua ilegitimidade

    passiva e, no mrito, sustentou, em sntese, que: no h

    vnculo de emprego com o reclamante, uma vez que houve

    apenas um contrato de prestao de servios com a empresa

    que tem como um dos scios o autor; referida empresa foi

    constituda no ano de 1998, no prosperando a alegao de

    que o reclamante foi obrigado a abri-la para sua

    contratao; no havia pessoalidade e subordinao; a

    empresa constituda pelo reclamante no prestava servios

    exclusivos reclamada; no so devidos direitos

    trabalhistas, ante a ausncia de vnculo de emprego; o

    intervalo intrajornada foi devidamente concedido; no

    havia pagamento de comisses; a transferncia do

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    7 VARA DO TRABALHO DE BELO HORIZONTE/MG PROCESSO N 01646-2008-007-03-00-8 3

    reclamante para Belo Horizonte se deu por convenincia de

    ambas as partes, em especial em razo do autor ter sido

    acometido por problemas de sade. Requer a compensao de

    valores j pagos ao reclamante sob o mesmo ttulo.

    Na audincia inicial, foram ouvidos o

    reclamante e o preposto da reclamada.

    Determinada a expedio de carta precatria

    para oitiva das testemunhas cujos depoimentos encontram-

    se s fls. 382/385.

    Na derradeira audincia foi ouvida uma

    testemunha do reclamante e, sem mais provas, encerrou-se

    a instruo processual.

    Recusada a ltima tentativa de conciliao.

    Razes orais finais pelas partes.

    Tudo visto e examinado.

    o relatrio.

    A DECISO E SEUS FUNDAMENTOS

    I Impugnao aos Documentos

    O reclamado impugnou os documentos juntados

    por no condizerem com a realidade e no possurem

    fundamentao tcnica.

    No h razo para referida impugnao, uma

    vez que tais documentos juntados aos autos no ilidem

    qualquer eventual prova em sentido contrrio, alm de que

    sequer houve impugnao especfica acerca do seu

    contedo.

    No h, ademais, qualquer prejuzo s

    partes, motivo pelo qual rejeito a impugnao em tela.

    II - Impossibilidade Jurdica do Pedido

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    7 VARA DO TRABALHO DE BELO HORIZONTE/MG PROCESSO N 01646-2008-007-03-00-8 4

    A reclamada alegou a impossibilidade

    jurdica do pedido, sob o fundamento de que inexiste

    vnculo empregatcio.

    Sem razo, uma vez que s h que se falar em

    impossibilidade jurdica do pedido quando existe veto

    expresso no ordenamento jurdico, o que certamente no

    o caso.

    Rejeito.

    III Ilegitimidade Passiva

    Sem razo a preliminar em tela eriada pela

    reclamada, uma vez que se adota na ordem jurdica

    nacional a Teoria da Assero, sendo suficiente a

    afirmao juridicamente coerente para restarem presentes

    as condies da ao.

    Assim, legtima para figurar no plo passivo

    a parte que, em tese, a partir simplesmente das

    afirmaes contidas na petio inicial, pode vir a

    responder pelas pretenses deduzidas.

    No caso em tela, o reclamante pleiteia o

    reconhecimento do vnculo de emprego com a reclamada, ao

    argumento de que houve fraude na sua contratao, sendo o

    que basta para estar configurada a legitimidade para

    figurar no plo passivo da presente demanda.

    Rejeito.

    IV - Da relao havida entre as partes e consectrios

    O reclamante pleiteia o reconhecimento do

    vnculo de emprego com a reclamada ao fundamento de que

    prestou servios na forma dos artigos 2 e 3 da CLT,

    sendo condio para sua contratao a constituio de

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    pessoa jurdica, com quem a reclamada firmou contrato de

    prestao de servios.

    A reclamada, por sua vez, aduz que firmou

    contrato de prestao de servios com a empresa DEB

    Informtica Ltda., que possui o reclamante como um dos

    scios, no havendo que se falar em relao de emprego.

    Pois bem.

    No presente caso, em que a reclamada alegou

    a prestao de servios pelo reclamante de forma

    autnoma, por meio de empresa interposta cujo quadro

    societrio era composto pelo reclamante, a ela cabia o

    nus de prova, uma vez que no Direito do Trabalho reina a

    presuno de que, admitida a prestao de servios, esta

    se deu sob a forma empregatcia.

    Assim, competia reclamada comprovar a

    inexistncia de relao de emprego entre as partes, nus

    do qual, a meu sentir, no se desincumbiu, seno vejamos.

    Analisando a prova oral, verifico que as

    testemunhas ouvidas pelo reclamante comprovaram as

    alegaes exordiais, ao passo que a testemunha ouvida a

    rogo da reclamada prestou informaes imprecisas, no se

    prestando o depoimento ao convencimento deste juzo.

    Com efeito, assim afirmaram as testemunhas

    ouvidas:

    que trabalhou na reclamada de fevereiro de

    2001 a julho de 2006, na funo de diretora

    de RH; que a depoente trabalhou com o

    reclamante na cidade de So Paulo; que

    trabalhou com o reclamante de outubro de 2002

    at a sada da depoente; que em julho de 2006

    o reclamante foi transferido para a cidade de

    Belo Horizonte; que o reclamante atuava como

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    7 VARA DO TRABALHO DE BELO HORIZONTE/MG PROCESSO N 01646-2008-007-03-00-8 6

    gerente comercial, sendo que na cidade de So

    Paulo atendia o cliente Bradesco; que o

    reclamante era subordinado ao diretor da rea

    de projetos, Sr. Tadeu Portas; que o

    reclamante comparecia todos os dias

    reclamada, das 08:00 s 17:30 horas,

    aproximadamente, com uma hora de intervalo

    para refeio, de segunda sexta-feira; que

    o reclamante recebia por ms atravs da

    emisso de nota fiscal de servio; que o

    reclamante recebia um fixo de R$ 7.000,00

    mais um valor varivel de acordo com o

    faturamento do cliente, em mdia, de R$

    2.500,00 a 3.000,00 mensais; que o reclamante

    foi transferido para BH para ser gerente de

    contas, mas a depoente no teve mais contato

    direto com o mesmo; que o reclamante no

    podia mandar outro gerente para trabalhar em

    seu lugar; que o reclamante no desenvolvia

    programas na reclamada, sendo que na cidade

    de So Paulo apenas fazia gesto do contrato

    com o Bradesco; que havia uma equipe

    desenvolvendo programas de software na

    reclamada; que o reclamante no vendia

    produtos para a reclamada na cidade de So

    Paulo; que a depoente no tinha registro em

    CTPS; que para ser admitido na reclamada a

    pessoa tinha que ter uma empresa, isso

    ocorrendo para todas as funes, exceo

    dos servios de limpeza que eram

    terceirizados; que alguns funcionrios eram

    registrados por exigncia do cliente, como o

    banco Bradesco, por exemplo, em caso de a

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    7 VARA DO TRABALHO DE BELO HORIZONTE/MG PROCESSO N 01646-2008-007-03-00-8 7

    pessoa permanecer dentro das dependncias do

    cliente; que o reclamante ficava nas

    dependncias da reclamada, embora se

    dirigisse, constantemente, ao banco Bradesco;

    que quem determinava os prazos de contratos

    para serem cumpridos era a assessoria

    tcnica; que o material e equipamento de

    trabalho utilizado pelo reclamante era da

    reclamada e no dele prprio; que a

    manuteno dos computadores era feita pela

    reclamada; que no tem conhecimento se o

    reclamante prestou servios para outras

    empresas no mesmo perodo em que trabalhou

    para a reclamada, esclarecendo que, ao que

    sabe, isso no ocorreu; que no havia

    cobrana de resultados do reclamante

    (...) (1 testemunha do reclamante fls.

    382/383 grifos acrescidos)

    que a depoente trabalhou com o reclamante de

    2002 a 2006; que o reclamante foi subordinado

    ao diretor, Sr. Jos Tadeu, em So Paulo, e

    em BH ao diretor Sr. Lus Carlos Prestes; que

    o reclamante atuava como gerente comercial,

    controlando todo o faturamento, projetos,

    data de entrega; que na cidade de So Paulo o

    reclamante gerenciava o cliente Bradesco e

    empresas coligadas; (...) que poca a

    depoente era subordinada ao reclamante e

    antes desse ser admitido, a depoente era

    subordinada ao departamento financeiro; (...)

    que se o reclamante precisasse se ausentar

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    7 VARA DO TRABALHO DE BELO HORIZONTE/MG PROCESSO N 01646-2008-007-03-00-8 8

    tinha que justificar as faltas com o Sr. Jos

    Tadeu; que o reclamante no desenvolvia

    programas de software na reclamada; que o

    reclamante no vendia produtos da reclamada;

    (...) que a depoente teve trs tipos de

    contratao na reclamada, inicialmente foi

    contratada como celetista, depois passou trs

    anos como cooperada e depois foi registrada

    novamente como celetista; que outras pessoas

    que tambm trabalhavam na reclamada tambm

    eram registradas em CTPS, dependo da

    exigncia do cliente; (...) que o reclamante

    e outros funcionrios tiveram a exigncia de

    possuir empresa para serem admitidos; que

    quem controlava o horrio de trabalho da

    depoente era o reclamante; que quem

    controlava os horrios do reclamante eram os

    diretores da reclamada, sendo que eram

    enviados relatrios de controle de jornada

    aos mesmos; que o reclamante tinha cobrana

    de resultados, a qual era feita pelo Sr. Jos

    Tadeu, em So Paulo; que a depoente continuou

    tendo contato com o reclamante aps sua

    transferncia para BH; que quem fazia o

    faturamento era a depoente; que o reclamante

    ficava em escritrio aberto pela reclamada na

    cidade de BH; que o reclamante foi

    transferido para cuidar desse escritrio na

    cidade de BH; que o reclamante mudou para a

    cidade de BH com toda a sua famlia; (...)

    que o reclamante trabalhava na sede da

    reclamada em So Paulo, e saa para fazer

    visitas ao cliente Bradesco... (2

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    7 VARA DO TRABALHO DE BELO HORIZONTE/MG PROCESSO N 01646-2008-007-03-00-8 9

    testemunha do reclamante fls. 383/384

    grifos acrescidos)

    que possui uma pessoa jurdica em seu nome

    desde 1999; que comeou a prestar servios

    para a reclamada apenas no ano de 2003, sendo

    que possua pessoa jurdica em seu nome desde

    1999 (...); que o reclamante era gerente de

    contas do cliente Bradesco; que trabalhava no

    mesmo andar que o reclamante; que o

    reclamante tambm possua pessoa jurdica em

    seu nome; que o reclamante comeou a prestar

    servios reclamada antes da entrada da

    depoente, mas tem conhecimento que isso

    ocorreu no ano de 2002; que teve conhecimento

    que a contratao do reclamante foi feita por

    meio de pessoa jurdica, que na poca

    prestava servios ao banco Bradesco, sendo

    que a reclamada assumiu todas as pessoas que

    possuam pessoas jurdica constituda,

    dispensado aqueles que possuam vnculo

    celetista e no concordaram em constituir

    pessoa jurdica; que o nome da pessoa

    jurdica que foi absorvida pela reclamada foi

    a PL Alcoran; que o reclamante era

    subordinado ao diretor da rea de tecnologia

    da reclamada, Sr. Jos Tadeu Portas; que era

    a prpria reclamada quem fornecia todo o

    material de trabalho ao reclamante; que o

    reclamante tinha empregados a ele

    subordinado; que todos esses subordinados

    eram empregados com carteira assinada pela

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    reclamada; que o reclamante podia contratar e

    demitir funcionrios da reclamada, sempre com

    suporte do RH; que o reclamante nunca vendeu

    produtos de informtica para a reclamada; que

    a pessoa jurdica do reclamante atua na rea

    de prestao de servios de gerenciamento de

    projetos, sendo que esses servios eram

    prestados em prol da reclamada; que esses

    servios eram prestados exclusivamente para o

    banco Bradesco, cliente da DTS; que o

    reclamante nunca desenvolveu nenhum programa

    de computador; que aproximadamente em junho

    de 2006 o reclamante foi transferido para

    Belo Horizonte; que essa transferncia se deu

    em virtude da reclamada ter aberto uma filial

    nesta cidade, colocando o reclamante como

    responsvel pela referida filial; que nessa

    poca o reclamante passou a ser subordinado

    ao diretor comercial da reclamada Luiz

    Carlos Prestes; que havia outras pessoas que

    prestavam os mesmos servios que o reclamante

    para outros clientes da reclamada, sendo que

    todas essas pessoas tambm possuam pessoa

    jurdica constituda em seu nome; que a sada

    do reclamante da reclamada se deu

    posteriormente ao desligamento da depoente;

    (...) que o reclamante possua autonomia

    total no tocante a realizao e consecuo do

    projeto a ser entregue ao banco Bradesco,

    sendo que o Sr. Jos Tadeu Portas apenas

    fiscalizava a efetiva entrega do projeto, no

    dando ao reclamante ordens de execuo do

    projeto; que o reclamante, de fato, possua

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    autonomia para dispensar empregados da

    reclamada, sendo que apenas a

    operacionalizao da dispensa era feita pelo

    RH da reclamada; que a transferncia do

    reclamante para Belo Horizonte teve carter

    definitivo (testemunha do reclamante fls.

    396/397 grifos acrescidos)

    que a depoente trabalhou no mesmo local com

    o reclamante no perodo de 2004 at a

    transferncia do mesmo para BH; que o

    reclamante atuava como representante

    comercial junto ao Bradesco, alavancando

    vendas de servios de consultoria; que a

    reclamada contratou o reclamante para essa

    atividade porque o mesmo j tinha experincia

    prestando servios ao Bradesco; que a

    depoente no via o reclamante todos os dias

    na reclamada; que o reclamante comparecia

    para participar de reunies; que a depoente

    no participava de tais reunies; (...) que o

    reclamante foi transferido aps retornar ao

    trabalho, por volta de julho de 2006, para BH

    por interesse prprio porque tinha famlia no

    local e disse depoente que tambm pretendia

    uma melhor qualidade de vida; (...) que o

    reclamante continuou prestando servios de

    vendas de consultoria em BH para a empresa

    GVC; que todas as pessoas que entram na

    reclamada tm que passar um crach

    eletrnico, inclusive visitantes; que a

    depoente tem registro em CTPS; que outros

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    7 VARA DO TRABALHO DE BELO HORIZONTE/MG PROCESSO N 01646-2008-007-03-00-8 12

    funcionrios tm registro em CTPS; que as

    pessoas que atuam na rea comercial

    geralmente no tm registro em CTPS, uma vez

    que atuam como representantes comerciais; que

    o reclamante j tinha empresa aberta quando

    contratado pela reclamada, uma vez que quem

    indicou o mesmo foi o prprio banco Bradesco;

    que o reclamante tinha cobrana de resultados

    e quando foi para BH no conseguiu as metas

    exigidas pela reclamada; que por esse motivo

    houve o rompimento da prestao de servios,

    uma vez que no houve faturamento que

    justificasse a continuidade de escritrio na

    cidade de BH; que o rompimento mencionado

    ocorreu entre o reclamante e a reclamada; que

    o reclamante no desenvolvia projetos de

    software, sendo que existe uma equipe interna

    na reclamada para esse fim; que o reclamante

    vendia esses produtos; que havia uma equipe

    que acompanhava o cumprimento de projeto e

    no o reclamante; que se no se engana, um

    dos responsveis pela equipe era o Sr. Joo

    Eduardo; que desconhece se o reclamante

    recebia ordens de algum da reclamada; que

    desde que a depoente foi admitida j existia

    o controle de acesso na reclamada, atravs da

    catraca eletrnica; que ao que sabe o

    reclamante no tinha horrio a cumprir na

    reclamada; que ao que sabe o reclamante no

    precisa justificar ausncia na reclamada; que

    o reclamante dividia uma sala com outras

    pessoas, onde havia mesas e computadores; que

    no sabe informar se havia uma mesa de

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    7 VARA DO TRABALHO DE BELO HORIZONTE/MG PROCESSO N 01646-2008-007-03-00-8 13

    trabalho para o reclamante; que as mesas e os

    computadores eram da prpria reclamada; que

    acredita que o reclamante usava o telefone da

    reclamada quando estava no local; que se

    encontrava com o reclamante, em mdia, 2 a 3

    vezes por semana na reclamada; que o Sr. Jos

    Roberto Rocco tambm exerceu as mesmas

    funes que o reclamante por volta de 3 a 4

    anos, mas no sabe informar se ambos

    exerceram a funo concomitantemente; que o

    reclamante fazia visitas ao banco Bradesco,

    mas a depoente no via quanto tempo o mesmo

    permanecia no local; que desconhece se o

    reclamante prestou servios para outras

    empresas no perodo em que trabalhou para a

    reclamada (testemunha da reclamada fl. 384

    grifos acrescidos)

    Como se v dos depoimentos supratranscritos,

    as testemunhas ouvidas a rogo do reclamante foram firmes

    ao afirmar que este prestou servios reclamada no no

    atendimento e elaborao/venda de projetos para o Banco

    Bradesco, como alegado em defesa, mas sim como gerente

    comercial, podendo inclusive admitir ou dispensar

    empregados da empresa, restando patente a sua integrao

    dinmica empresarial.

    As testemunhas tambm afirmaram a existncia

    da subordinao, j que o reclamante tinha de se reportar

    diretamente a superiores hierrquicos da empresa durante

    sua jornada, havia controle de horrio e imposio de

    metas, bem como impossibilidade de substituio desse por

    outra pessoa.

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    Tambm restou provado que a reclamada

    contratava outros empregados com CTPS assinada, conforme

    exigncia dos clientes, o que evidencia a fraude

    perpetrada, j que a anotao em CTPS e a regularizao

    da relao de emprego decorre de norma imperativa, no

    podendo depender seu reconhecimento pelo empregador da

    mera exigncia de clientes, que no coadunam com esse

    procedimento irregular.

    Corroborando a prova testemunhal, o

    documento de fl. 344 demonstra a existncia de inqurito

    civil instaurado pelo Ministrio Pblico do Trabalho para

    apurao de irregularidades na conduta da reclamada,

    pelos mesmos fatos ora provados.

    Lado outro, a testemunha trazida pela

    reclamada foi evasiva, prestando informaes imprecisas

    ao juzo. Com efeito, essa disse que no via o

    reclamante todos os dias na reclamada, que desconhece se

    o reclamante recebia ordens de empregados da empresa, que

    ao que sabe este no tinha horrio a cumprir, que no

    sabe informar se havia uma mesa de trabalho para o

    reclamante, que desconhece se o autor prestou servios

    para outras empresas no perodo em que trabalhou para a

    reclamada (ata de fls. 384/385).

    Assim, com base nas provas produzidas nos

    autos, percebo que a reclamada apenas buscou fraudar

    direitos trabalhistas, uma vez que possua verdadeiros

    empregados, dentre eles o reclamante, exercendo sobre

    eles o seu poder diretivo, mas sem ofertar as condies

    previstas na legislao trabalhista.

    Portanto, declaro a nulidade do contrato de

    prestao de servios firmado entre a empresa DEB

    Informtica Ltda e a reclamada e, conseqentemente,

    reconheo a existncia da relao de emprego entre as

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    partes, que perdurou de 01/10/2002 a 19/02/2007 (projeo

    do aviso prvio indenizado OJ 82, SDI-I), vez que

    incontroverso o perodo.

    Em conseqncia, determino que a reclamada

    proceda anotao do vnculo empregatcio na CTPS do

    reclamante, com admisso em 01/10/2002, dispensa em

    19/02/2007 e funo de gerente de negcios, no prazo de

    oito dias a contar do trnsito em julgado desta deciso,

    sendo que na sua omisso tais anotaes podero ser

    efetivadas pela Secretaria deste Juzo, com posterior

    remessa de ofcio para a DRT.

    No havendo prova nos autos de quitao do

    acerto rescisrio, defiro ao reclamante, j considerada a

    projeo do aviso prvio indenizado (OJ 82 da SDI-I do C.

    TST):

    - aviso prvio;

    - 13 salrio integral dos anos de 2003,

    2004, 2005 e 2006;

    - 03/12 de 13 salrio do ano de 2002;

    - 02/12 de 13 salrio do ano de 2007;

    - frias em dobro referente aos perodos de

    2002/2003, 2003/2004 e 2004/2005 + 1/3;

    - frias simples referente ao perodo de

    2005/2006 + 1/3;

    - 05/12 de frias proporcionais + 1/3;

    - FGTS e multa de 40%;

    - multa do art. 477 da CLT.

    A reclamada dever entregar as guias CD/SD

    para percepo do seguro desemprego, caso preenchido os

    requisitos, sob pena de arcar com indenizao

    substitutiva caso o autor deixe de receber a

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    integralidade dos benefcios por culpa exclusiva da

    reclamada.

    A reclamada dever entregar, ainda, as guias

    TRCT no cdigo 01, ressaltando que no houve depsitos no

    curso do contrato de trabalho, razo pela qual j foi

    deferido o pagamento integral do FGTS e da multa

    fundiria, sendo que o TRCT servir apenas para fins, se

    for o caso, de recebimento de seguro-desemprego pelo

    reclamante.

    V Diferenas de Comisses. Integrao ao Salrio

    O reclamante alegou que recebia,

    habitualmente, alm, da parcela fixa da remunerao,

    valores a ttulo de comisses, as quais foram suprimidas

    quando da sua transferncia para Belo Horizonte, fazendo

    jus, portanto, ao pagamento das diferenas, bem como

    integrao de tais parcelas sua remunerao. A

    reclamada, por sua vez, negou o pagamento da parcela.

    Pois bem.

    A testemunha Mrcia Regina de Souza

    (depoimento de fl. 382) corroborou a tese exordial de que

    o autor recebia salrio fixo no importe de R$ 7.000,00,

    acrescido de comisses que atingiam, em mdia, o valor de

    R$ 2.500,00/R$3.000,00, ao passo que as demais

    testemunhas ouvidas nada disseram acerca da remunerao

    percebida pelo autor.

    Assim, entendo que o reclamante logrou

    provar o recebimento de valores a ttulo de comisso,

    ficando, pois, deferido o pedido de diferenas salariais

    no importe de R$ 2.500,00, suprimido a partir de julho de

    2006, quando o reclamante foi transferido, desde ento

    at a resciso contratual, bem como os reflexos dessas

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    comisses, por todo o contrato de trabalho, em 13

    salrio, frias mais 1/3, FGTS + 40% e aviso prvio.

    Para fins de liquidao, fixo o salrio do

    reclamante no valor mensal de R$ 9.500,00 (valor fixo de

    R$ 7.000,00, acrescido do valor das comisses ora

    fixado), o qual servir como base de clculo para todas

    as parcelas deferidas neste decisum, bem como dever

    perdurar durante todo o contrato de trabalho do

    reclamante, tendo em vista o princpio da

    irredutibilidade salarial.

    Esclareo que no prospera a tese defensiva

    no tocante ao reequilbrio econmico do contrato, uma

    vez que o valor do salrio ora delimitado restou provado

    nos autos, devendo o empregador, ademais, assumir todos

    os riscos da atividade econmica.

    VI Intervalo Intrajornada

    O prprio reclamante confessou em depoimento

    pessoal (fl. 298) que trabalhava de 08:00 s 17:00 horas,

    com uma hora de intervalo para alimentao.

    Ante a confisso real do reclamante quanto

    ao integral gozo do descanso intervalar, indefiro o

    pedido de pagamento de horas extras pela no concesso do

    mesmo e, consequentemente, todos os reflexos postulados a

    esse ttulo.

    VII Adicional de Transferncia

    O reclamante alega que em julho de 2006 foi

    transferido para Belo Horizonte, contudo no recebeu o

    adicional de transferncia a que faria jus. A reclamada,

    por sua vez, aduz que a transferncia se deu por

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    convenincia das partes, e que o reclamante exercia cargo

    de confiana, no sendo devido o adicional.

    Inicialmente deve ser esclarecido que, nos

    termos da OJ n 113 da SDI-I do C. TST, o adicional

    devido pelo simples fato de a transferncia ser

    provisria, limitando-se a esse fato a anlise do acervo

    probatrio.

    E, analisando a prova oral, verifico que

    todas as testemunhas ouvidas se manifestaram no sentido

    de que o reclamante foi transferido para Belo Horizonte

    com a finalidade de gerenciar os negcios de uma nova

    filial da reclamada aberta naquela cidade, com inteno

    de levar toda a sua famlia para essa capital, o que j

    levaria a concluso de que referida transferncia teria

    carter definitivo.

    Ademais, consta expressamente do depoimento

    da testemunha Ftima (fls. 396/397) que a transferncia

    do reclamante para Belo Horizonte se deu em carter

    definitivo.

    Assim, indefiro o pedido.

    VIII Compensao

    Nada a compensar ou deduzir, uma vez que as

    parcelas deferidas nunca foram pagas ao reclamante.

    IX Ofcios

    Tendo em vista as irregularidades

    constatadas neste processo, determino que, aps o

    trnsito em julgado, seja oficiado o Ministrio Pblico

    do Trabalho, para as providncias cabveis, no havendo

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    fatos ensejadores para envio de ofcios ao outros rgo

    informados na petio inicial.

    DISPOSITIVO

    POR TODO O EXPOSTO, nos autos da Ao

    Trabalhista que DIGENES AMORIM LEITE move em face de DTS

    LATIN AMERICA SOFTWARE E CONSULTORIA LTDA, rejeito a

    impugnao aos documentos, bem como as preliminares de

    impossibilidade jurdica do pedido e ilegitimidade

    passiva e, no mrito, julgo parcialmente procedentes os

    pedidos, nos termos da fundamentao que integra este

    dispositivo, para, reconhecendo a relao de emprego

    entre o reclamante e reclamada pelo perodo de 01/10/2002

    a 19/02/2007, conden-la, a pagar ao reclamante, a partir

    do trnsito em julgado da presente ao:

    - aviso prvio;

    - 13 salrio integral dos anos de 2003,

    2004, 2005 e 2006;

    - 03/12 de 13 salrio do ano de 2002;

    - 02/12 de 13 salrio do ano de 2007;

    - frias em dobro referente aos perodos de

    2002/2003, 2003/2004 e 2004/2005, acrescidas do tero

    constitucional;

    - frias simples referente ao perodo de

    2005/2006, acrescida do tero;

    - 05/12 de frias proporcionais + 1/3;

    - FGTS e multa de 40%;

    - multa do art. 477 da CLT;

    - diferenas salariais, em razo das

    comisses suprimidas, no importe de R$ 2.500,00 por ms,

    a partir de julho de 2006 at a resciso contratual;

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    - reflexos das comisses, cujo valor mensal

    de R$2.500,00, por todo o contrato de trabalho, em 13

    salrio, frias mais 1/3, FGTS + 40% e aviso prvio.

    Determino que a reclamada proceda anotao

    do vnculo empregatcio na CTPS do reclamante, com

    admisso em 01/10/2002, dispensa em 19/02/2007, funo de

    gerente de negcios, salrio fixo no importe de R

    $7.000,00 acrescido de comisses no valor mdio de R

    $2.500,00, no prazo de oito dias a contar do trnsito em

    julgado desta deciso, sendo que na sua omisso tais

    anotaes podero ser efetivadas pela Secretaria deste

    Juzo, com posterior remessa de ofcio para a DRT.

    A reclamada dever, ainda, entregar as guias

    CD/SD para percepo do seguro desemprego, caso

    preenchido os requisitos, sob pena de arcar com

    indenizao substitutiva caso o autor deixe de receber a

    integralidade dos benefcios por culpa exclusiva da

    reclamada.

    A reclamada dever entregar, por fim, as

    guias TRCT no cdigo 01, ressaltando que no houve

    depsitos no curso do contrato de trabalho, razo pela

    qual j foi deferido o pagamento integral do FGTS e da

    multa fundiria, sendo que o TRCT servir apenas para

    fins, se for o caso, de recebimento de seguro-desemprego

    pelo reclamante.

    Liquidao por meros clculos.

    Para fins de liquidao de sentena, dever

    ser observado o salrio do reclamante no importe de R

    $9.500,00.

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    Correo monetria a partir do primeiro dia

    til do ms subseqente ao vencido e juros a partir do

    ajuizamento da ao.

    Em ateno ao art. 832, pargrafo 3, da

    CLT, declara-se que possuem natureza salarial: 13

    salrio, aviso prvio, comisses e reflexos em aviso

    prvio e 13 salrio, sobre os quais devem incidir os

    recolhimentos previdencirios e fiscais, conforme art.

    28, da Lei 8212/91 e na forma da Smula 368 do C. TST. As

    demais parcelas deferidas possuem natureza indenizatria.

    Custas pela reclamada, no importe de R$

    1.000,00, calculadas sobre o valor ora arbitrado

    condenao, R$ 50.000,00.

    Aps o trnsito em julgado, oficie-se o

    Ministrio Pblico do Trabalho, para as providncias

    cabveis.

    Ciente o reclamante (S. 197, C. TST).

    Intime-se a reclamada.

    Intime-se a Unio, ao final.

    Nada mais.

    Encerrou-se.

    THASA SANTANA SOUZA

    Juza do Trabalho