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    S Y L V I O ROMRO^ DA ACADEMIA PERNAMBUCANA DE LETTRAS _j

    EVOLUOI D O

    . R E C I F Eyp, de J. B. Ed e l b r o c k antiga casa L A E M M E R T

    4 R U A M A R Q U E Z DE O L I N D A 4\ 1 9 0 5

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    M/f ^^ f i ^ ^ p i -

    zadozas do dois' atandes esct i -ptotx .cffeteepfusLv-^o- J(o-n.Cslr-O-.

    M o, Novcmbrv 190k.

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    EVOLUO DO LYRISMO BRASILEIRO

    W m qu ad ro co m pleto da poesia brasi le i ra ,em seu secular desenvolvimento, deveria seraberto pela apreciao das graas e donairesda m us a pop ular . A l l i qu e se vo pren deras ra zes mais profundas da es thesia ptr ia ,o qu e nel la verd ade iram ente naciona l . A opovo, com suas t radies, com suas lendas,c om sua s c a n t iga s impro visa da s , c om se usinfant is con tos da lare i ra, qu e pertencema s nota s ma is in te nsa s , porque s o a s quesa e m di re c ta me nte da s e spe ra n a s ou dosdes alento s da raa . A na ture za deste ensaiove da -nos a e nt ra da a mpla ne sse te mplo de

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    nossas phantas ias auonymas, que, fe l izmente ,n 'outros escr ip tos j t ivemos ensejo de descrever e admirar. (*)Iy imitar-nos-hem os agora a pou cas palavras. Foi no correr dos dous pr imeiros scu lo s d a co n q u is ta e d o p o v o am en to q u e o sco lo n o s e m areau tes p o r tu g u eze s can taramneste paiz os imaginosos romances, as saud o s as xdcaras, as doces serranilhas, asm a g o a d a s trovas soltas d e s eu a b u n d a n t e 'cancioneiro . A o desbra var dos terrenos , aoderr ibar das mat tas , no duro cor te do pobrasil, e no pre pa ro dos ei tos pa ra o plant io das can nas nas roas , ne gro s e ndiosescravizados ouviram as pr imeiras melopasna l ngua de Cames.No seu t rabalho e has suas fes tas tambmcan tava m elles as tosc as can es de seu srepertr ios selvagens . E nt re os colonoshou ve logo desde o comeo bon s lnguasdas fallas i nd g en as e dos diale cto s africanos, bem como entre os escravos das duasraas mui tos foram pres tes ass imilando oid io m a d o v en ced o r. N as lo n g as n o i tad a s

    (') Vide Cantos populares dn Brasil, Contos Populares do Brasile Estados sobre a Poesia Popular Brasileira, p e l o a u e t o r .

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    do s en ge nh os e fazendas nas sol ides bra-s i l ic a s , qua ndo nossa s pr inc ipa e s c ida de sno passavam de insignif icantes a ldeias e asaldeias e vi l las no exist iam ainda, a ausncia de toda a diverso, o receio das ferase dos assal tos de ndios bravos, o medo depos sveis a taq ues de ex tran ge iros affoitos ,forariam o acon cheg o d e todo s em torn odo s chefes e sen hor es como a reg ra gera l ,e , ento, comprehende-se com quanta avidezdeveriam ser ouvidas quaesquer notas fes t i vas, cantos ou contos , que viessem acasoque bra r a monotonia e o t dio nos rs t ic ossolares de no sso s avo eng os. Fo i ass im qu ese iniciou e produzio a fuso das trez almasqu e no s formaram. E por isso qu e emnossos c a ntos e c ontos popula re s o c oncurso dos t rez povos i r recusvel na l ngua,nos the ma s , nos mythos , na c onte xtura detodos el les.E por isso f inalmente que na evoluosecular de nosso lyr ismo, porque toda anossa poesia , digamo-lo desde j , essencia lmente lyr ica , mesmo quando se met te aquerer ser pica ou dramt ica , nunca fa l toucerta -tendncia popular, campestre, alde,espcie de revivescencia das origens t radi-cionaes plebas, de que el le dimanou.

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    a evoluo des te lyr ismo que nos importa ass ignalar , caracter izando-o nas form as cap i tes q u e tem as s u m id o , q u a l u m aespcie de o rga nism o vivo, -que passa sse America e nel la se desenvolvesse .

    XX

    A poesia no Bras i l durante os l t imosdecennios do sculo XVI, in ic ia-se t imidam ente , porm im itan do as formas m aisn o tv e is q u e j h av ia a t t in g id o em P o rt u g a l .O grande poema de Cames era ento av erd ad ei ra cu lm in n cia n as l e t t ras p o r tu g u e-zas. O esplendido es ty lo dos Lusadasdesprendia br i lhos , que chegavam at A m e r i c a .G an d av o , o m ais an t ig o h i s to r iad o r d o sfastos brasi leiros, era am igo -part icu lar doincom paravel pico , desde os p r im ord iosuma fora na evoluo do Brasi l espiri tual .

    B E N T O T E I X E I R A P I N T O adopta a o i tavar ima, ao gosto camoneano, copia- lhe a maneira, chegando at a ci tal-o, no fim d 'uma

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    e s t rophe . O tom de no sso lyr i sm o e nt oc e r ta me nte a c a nha do; por m j re ve la a notvel qual idade de descrever a natureza dopaiz. A ProsopOpa no se esquece detrazer a descripo do po rto do R ecife . A sprim eiras m anifestaes da m us a no Brasi ldo, pois , t e s te munho de sua a dmira o a nteos e nc a n tos na tu ra e s da te rra . I mp oss ve l toma r- lhe o t imbre , o e moc iona nte tomdos primitivos accordes, sem ouvil-a*.

    E ' este porto tal, por estar po sta Uma cinta de pedra inculta e viva,Ao longo da soberba e larga costa,0*nde quebra Neptuno a fria esquivaEntre a praia e a pedra descompostaO estanha do elemento se derivaCom tanta mansido, que uma fateixaBasta ter fatal Argds anneixa.Em meio desta obra alpestre e duraUma bocca rompeu o mar inchado,Que na l ingua dos brbaros escuraParanambuco de todos chamado:D e Paranque mar , puca,rotura;Feita com fria deste mar salgado,Q ue , sem no derivar, commetter mingua,Cova do mar se chama em nossa l ingua.. . (x)

    (*l Edio de 1873Rio de Janeiro.

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    10 -U m t r e c h o d a h e r i c a t e r r a p e r n a m b u c a n afoi, j se v , quem mereceu as pr imicias dam usa bras i le i ra . E j desde aqui , repet im os,temos nascida a mais ant iga e es t imavelqual idade de nossa poesia : a descr ipo car inhosa da natureza. . Era a pr imeira aff i r -mao do nacionalismo, q u e n u n c a m a i s aarte p tria ha via de aba ndo nar , e , ao cont rario, ter ia de color i r e abr i lhantar no decorrer dos sculos, sem pre qu e a poe sia t i vesse de ser s incera comsigo mesma e d ignados superiores des t inos de que havia de sera in terprete querida.Passando Bahia , essa tendncia no sede sm en tio ; e as effuses do s po etas foramap en as co m o q u e a rep e t io ry th m ad a d asbel las paginas dos Dilogos das grandezasdo Brasil, que, sm duvida, corr iam portodas as m os . O es ty lo a ind a fundam en ta lm en te o m es m o , t en d o -s e ly ra d o scantore s junc tad o, a m ais , cer ta no ta re li giosa e, de vez em qu an do , a severa cordaem que, desde ento, fal iam tambm emnossa a lma as cruc iantes dores , as fundasm ag o as q u e s o em p ro d u zi r o s m ag n o s p ro b lem as d o d es t in o h u m an o . E p o r i s s o q u ea poesia em M A N O E L B O T E L H O D E O L I V E I R A cantp as bellezas da Ilha da Mar e

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    11 em F R E I M A N O E L D E S A N T A M A R I A de screve os encantos da Ilha de Itaparica, e,n o p o e m a Eustachidos a de s t ru i o deJe rusa l m e os torme ntos e horrore s do inferno.O lyrismo nacional is ta ento a inda puramente descript ivo e , ta lvez , menos do queisso, m e ra m e nte e num e ra t ivo . Bote lho eSa n ta M a r ia l imi ta m -se a e num e ra r os a c -cidentes geographicos e as bellas e raras formas das plantas e animaes das paragens quede sc re ve m.

    O tom ' a ind a em essncia o m esm o deBe nto T e ix e i r a ; se nte -se j c e rto sur to ly-rico que havia de ir de mais em mais crescendo, avolumando-se , a ponto de vir a produzir as formas do gnero mais perfei tasta lvez qu e j foram can tadas em q ualq uerl in gu a hu m an a. D isse Botelho de Oliveira ,fa l la ndo de sua i lha :E' como a concha tosca e deslustrosa,Que dentro cria a prola formosa.Erguem-se nel la outeiros.Com soberbas de montes altaneiros,Que os valles por humildes despresando,A s presum pes do mundo esto mo strandoE querendo ser prncipes* subidosFicam os valles a seus ps rendidos.

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    12 E passa o poeta , em tom ver dad eiram enterealis ta, a en um era r tu do q ue de raro empeixe s, planta s, fructas, se lhe an tol ha emsu del ic iosa manso, no se esquecendo deos comparar aos de Portugal , dando preferenc ia aos de su a terra. (x)Fre i M an o el d e San ta M ar ia I t ap ar ica a inda m ais exp ress ivo. A descr ipo dailha, de qu e o frade tom ou o nom e, umquadro de gnero em que mui to , para otempo, ha a adm irar . N o fa l lando j noque se l nel la, no que concerne s arvores,f ru c to s e an im aes in s u lan o s , en u m erad o scom maior v igor do que os de Botelho naIlha da Mar, basta o quadro da pesca dabala para dar a esse pedao da velha poes ia b ras i le i ra u m cu n h o s in g u la rm en te n o tvel :

    Monstro do mar, gigante do profundo,Uma torre nas ondas sossobrada ,Que, parece, em todo mbito rotundo,Jamais besta to grande foi creada;Os mares despedaa furibundoCo'a barbatana s vezes levantada;Cujos membros teterrimos e broncosFazem a Thet is dar gemidos roncos . .(') VieFlorilegio da Poesia Brasileira, de K. A.Varnhagen,1850 : 1. pag. 134 e segs.

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    13 Tanto que chega o tempo decretado,Que este peixe do vento Austro movido,Estando vis ta de terra j chegado,Cujos signaes Neptuno d ferido,Em um porto desta i lha assignalado,E de todo o precioso prevenido,Esto umas lanchas leves e veleiras ,Que se fazem com remos mais ligeiras.

    Os riautas so ethiopes robustos,E outros mais do sangue misturado,Alguns mestios em a cr adustos,Cada qual pelo esforo assignalado;Outro alli vai tambm, que sem ter sustosLeva o harpo da corda pendurado,T am bm um , que no oficio a Glauco offusca,E para isto Brasilo se busca.,.

    Impossvel a longar a c i tao de to vivascefla que vae num crescendo realist ico ato f inal. Prec isam os de po up ar o espao.E , c omo noss o e m pe nh o se ut i r a pe na sde sd e j o tom e a cr da poes ia nac iona lem seus a lbores para ass ignalar- lhe as t ransformaes evolu t ivas , no in t i l lemb rarao le i tor que no deixe despercebidos osla os qne pre nde m o t rova r de Fre i Sa ntaM aria I taparic a ao dos seus predecesso resc i ta dos .

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    14No te a t en d n cia d es cr ip t iv a p o r en u m erao, o en thu sia sm o pela terra , a o i tavar ima camoneana, o sabor c lss ico do verso ,ao lado de cer tos amaneirados dos seiscen-t is tas , cousas to das es tas , que lhe sal taroaos olhos, se os passar por sobre todos os

    versos das apenas indicadas descr ipes d'AIlha de Itaparica, d'A Ilha da M ar e d'AProsopopa,E para que, desde j , f iquem pa ten tescertas dist inces de estylo, certo vigor det intas da novel poesia brasi leira, ainda nainfncia, na boc ca do frade poeta, ou a -seesta estrophe da descripo do Inferno:Ardente serpe de sulfureas chammasO centro gira deste alvergue umbroso,So as fascas horridas escamas,E o fumo negro dente venenoso.As lavaredas das volantes fiammasAzas compem ao monstro tenebroso;Que quanto queima, despedaa e come,Isso mesmo alimenta, que consome. (*)

    Tomemos nota des te a lento da forma ep r o s i g a m o s .

    HnritrgiH cit . I . p a c 174.

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    . - 1 5Quem assim, ainda na infncia, j mostrapor te t o se guro e os te nta roupa ge ns t ovis tosas , com alguns passos adeante , haveriade ser uma celeste creatura envol ta em ethe-re a s e ro a ga nte s ve s te s .Ma s a poe s ia , c omo tudo que huma no,

    u m a filha d a terra, po r m ais q u e a faam os fugir para o cu de no sso s devaneios ,para o azulado infini to de nossas aspiraes;e, como filha da terra, tem de luctar e soffrera nosso . lado, tem que gemer as nossasdores e carpir as nossas magoas.E p o s t o n ' e s t a s p a g i n a s t e n h a m o s m a i sque vr a poesia do que os poetas, a artecomo alguma cousa de funccional de que ospoetas so apena s rg os occasiona es, nopod erem os pass ar sem reparo o referver depaix es, dios e coleras de qu e G R E G O R I O

    D E M A T T O S foi , na epocha que vimos passando, a expresso mais n t ida .Pa ra bem term os a idia do qu e era aBa hia na se g un da m e ta de do s c ulo X V I I ,devemos lembrar j fazer mais de sculo quese havia erigido al l i o governo geral doB ra s i l ; t e r Po r tug a l j pe rdido de todo a sespe ran as na nd ia , e feito con verg ir seuesforo e interesse exclusivamente para suasc o n q u i s t a s d ' A m e r i c a ; h a v e r em - s e j g r a n -

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    -- 16 -dem ente desen volvido o com m ercio , a lavoura e a r iqueza. A sociedade, es t im ula dap o r g o v ern ad o res g an an cio s o s , p o r p ad res em ag is t rad o s co b er to s d e p re ten es , s ed en to sd e r iq u ezas , o s ten tav a j m u i tas d as m cu las que ento carcomiam a velha metrpole .

    O s cu lo X V I I , ap o g eu d o reg io ab s o lu -t ismo, fo i no mundo occidental um perodonota velm ente v ic iado. A capi ta l bras i le i ra ,valhaco i to de ave nture i ros de toda a cas ta ,os tentava tantas mazel las quantas L, isba.Quasi sempre, porm, os per odos de v iolentas paixes so tambm epochas de notvel lavor espir i tual .A Bahia achav a-se n 'es te es tado. E bas tad izer q u e ra ram en te a lg u m p er o d o d e n o s s ah is to r ia co n to u n ' u m cen t ro q u a lq u e r h o m en sco m o Eu s eb io d e M at to s , s eu i rm o G reg o -rio, Antnio Viei ra , seu i rmo Bernardo,R ocha Pi t ta , B otelho de Ol iveira e t r in taoutros de quasi egual merecimento .No s : deve-se a t aff i rmar que nuncam ais s e d eu ig u a l p h en o m en o , p o rq u an to n avida espir i tual luso-americana no exis temd o is A n to n io s V ie i ras e n em d o is G reg o r io sde M at tos . E s ta s ing ula r e terr vel fi^gura , j por ns duas vezes es tudada comesmero, no pde aqui ter mais que uma ra-

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    1 7 -4pida, po rm signif ica t iva m eno. Fo i ognio . sa tyrico mais poderoso de nossa l inguaat h o je ; foi o ret rato de sua epocha, porel le profl igad a de sap ied ad am en te; , ac imade tudo , um do c um e nto por onde se podere c ons t ru i r o qua dro dos c os tume s do te mpo.G ra nd e s e pe que n os , b i spos , gov e rna dore s ,c one gos , ma gis t ra dos , nobre s e p le be us ,tod os soffreram as pa nca da s de seu lateg oimpla c ve l .E t inha gra a o i ra c undo c e nsor . (l) E mmeia dzia de versos pintava uma s i tuao

    cmica, digna de soffrer o Jouet da satyra.E is com o a m us a faceta bah iana j emple no s c ulo XVI I de bic a va c om a s pa rvoa sd e s a v e n t u r a s d e u m pernstico c a nta dor demodinhas :Uma grave entoaoTe cantaram, Braz Luiz,Segundo se conta e dizFoi solfa de f bordo.Pelo compasso da moEm que a valia se apura ;Parecia solfa escura; Pois a mo nunca parava ! . . .Nem no ar, nem no cho davaSempre em cima da figura !. ..

    I1) Vide Historia da Litteratura Brasileira e Historia do Brasilpela biographia de seus heres.

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    1A p o es ia ly rica n es te d iv erg en te m o s t raos evidentes s ign aes qu e a pre nd em des eu s co n tem p o rn eo s .

    IIIMas a v ida que, ao f indar do sculo XVIIe n as p r im ei ras d cad as d o X V I I I , j e raintensa na Bahia, Recife, S. L,uiz e Belm, epara sabel-o bastante lr as Cartas d e A n tnio Vieira, a Cultura e Opulencia doBrasil, de Andreoni , ou a Historia daAmerica Portuguesa, de Pit ta, n o faliando j nos Dilogos das Grandezas doBrasil, ou na Historia do Brasil, de Vicente do Salvador , por serem dois docu

    mentos bem mais ant igos , a v ida social eraen to tam b m in ten s a n o R io d e J an e i ro eem S. Pau lo, e t in h a desde esse tem po irrompido pelos ser tes mineiros .E p o r is s o q u e d u ra n te a s e g u n d a m etade do sculo de Vo l ta i re e R ous sea u,as c idades das M inas , no m ead am ente Vi l laR ica, so verd ade iros focos intel le ctu aes emque a intel l igencia colonial faz verdadeiros

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    - I V -pro dgio s . Os nom e s de Sa n ta R i ta D ur o,Basi l io da Gama, Cludio da Costa , ThomazGonz a ga , Alva re nga Pe ixoto s o a inda hojedos mais i l lustres da poesia brasi leira.Pouco importa o haverem todos e l les ido velha m etrpo le colher as luzes da cultur a. L,evavam n'alm a ps bons ge rme ns ,hauridos na ptr ia , os nobres es t mulos quen o m orre m nun c a . E ra i s to indispe ns ve lpara que apurassem all i o ouro de lei daboa l inguagem, que deveriam de vol ta , comomil l ionarios , espalhar entre os patr c ios .

    Se a m e-patr ia nos reenviou pol idos Gon- -zaga, Cludio, Basi l io , os Alvarengas; nsd mos- lhe fe i to o e xt ra ordin r io e ine xc e -divel Vieira, a mais colossal figura de suasle t t ras depois de Cam es. E ' qu e na Bahiata mb m ha via um sa nc tua r io da boa e e loq en te l in gu ag em e, se ,os poetas m ineirosm u ito deveram ao R eino p ara a formaode seu 'gnio, no menos certo que muitolhes en tro u n 'a lm a a gra nd e t radio da es-c hola ba hia na . S A N T A R I T A D U R O comoum lao que une as duas escholas , o t raoqu e l iga frei S an ta M aria I tap aric a a Cludio, a os \ A lva re ng a s e a Gonz a ga . N e mde ve mos e sque c e r te r pa ssa do e s te . u l t imo am e ninic e e pr ime i ra m oc ida de e m Pe rn a m -

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    20 buco e Bahia , c i rcumstancia de grande valorno caso.O autor do Caramur, a s s u m p t o t o m a d o h is to r ia b ah ian a , u m San ta M ar ia I t ap ar icau m p o u co m ais d es en v o lv id o e accen tu ad o -N'el le como em Basi l io , como em Cludio ,co m o em G o n zag a , co m o n o s d o is Alv aren gas, q u er n o f lu m in en s e (Alv aren g a Pe ix o to ) ,que foi viver em Minas, quer no mineiro,que veio habi tar o Rio de Janeiro (Si lvaAlvarenga) , a poes ia nacional encontrou a l gu m as de suas no tas m ais verdadeiras , maiseloqentes , mais profundas , mais or ig inaes .A i n d a h o j e q u a n d o s e n t i m o s s a u d a d e s d ad iv in a m en s ag ei ra p r in c ip a lm e n te n ' es tesseis grand es m estres m orto s que no s imo ssaciar. ass im que ouvimos a ronda p h a n t a s -t ica das t radies chorar as magoas da gent i lMoema:

    E' fama ento que a muttido formosaDas damas, que Diogo pretendiam,Vendo avanar-se a no na via undosa,E que a esperana de o alcanar perdiam,Entre as ondas com anci furiosaNadando, o esposo pelo mar seguiam;E nem tanta gua que fluetua vagaO ardor que o peito tem, banhando apaga.

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    21Copiosa multido da no francezaCorre a ver o espectaculo assombrada;E ignorando a razo da estranha empresa,Pas m a d a tur ba feminil, que n ad a :Uma, que as mais precede em genti leza,No vinha menos bella do que irada:Era Moema, que de inveja geme,E j vis inha no se apega ao leme.Brbaro, a bella diz, t igre e no homem...Porem o tigre, por cruel que brame,A cha foras am or, que emfim o domem :S a ti no domou, por mais que eu te ameFrias, raios, coriscos, que o ar consomem,Como no consumis aquelle infame?Mas pagar tanto amor, com tdio e asco. . .Ah! que o corisco s tu. . . raio. . . penhasco!

    Bem puderas, cruel, ter sido esquivo,Quando eu a f rendia ao teu engano;Nem m e offenderas a escutar-m e altiv o,Que favor, dado a temp o, um deseng ano :Porm deixando o corao captivoCom fazer-te a meus rogos sempre humanoFugiste-me, traidor, e desta sortePa ga meu fino a mo r to c rua morte ?

    To dura ingrat ido menos sentira,E este fado cruel doce me fora,Se a meu despeito triumphar no viraE ssa ind igna , essa infame, essa traido ra ;

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    22Por serva por escrava te seguira,Se no temera de chamar senhoraA vil Paragua, que sem qe creia,Sobre ser-me inferior nscia e... feia.

    Emfim, tens corao de ver-me afflicta,Fluctuar moribunda entre estas ondas;Nem o passado amor teu peito incitaA um ai som ente, com que aos me us resp ond as :Brbaro, se esta f teu peito irrita,Disse vendo-o tugir, ah! no te escondas,Dispara sobre mim teu cruel raio. . .E indo a dizer mais , cae num desmaio.

    Perde o lume dos olhos, pasm a e treme ,Pallida a cr, o aspecto moribundo,Com mo j sem vigor, soltando leme,E ntre as salsas e spum as d esce ao fundo ;Mas na onda do mar, que irado freme,Tornando a apparecer desde o profundo: A h! Diogo cruel! Disse com ma gua,E sem mais vis ta ser, sorveu-se n 'agua.

    Choraram da Bahia as nymfas bellas,Que nadando a Moema acompanhavam ;E vendo que sem dr navegam dellas .A bra nca praia com furor to rna ram :. Nem p de o claro Here sem pen a v el-as,Com tantas provas que de amor lhe davam ;Nem mais lhe lembra o nome de Moema,Sem que o amante chore, ou grato gema.

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    2 A e volu o pa te nte ; a ve lha poe s ia bra s ilei ra , dos s c ulos X V I , X V I I e X V I I I , dePe rna mbuc o e Ba hia , os dous gra nde s c e nt ro s esp ir i tuaes d 'on de a vida m ental i r radiou por tod o o norte , e tamb m pelo suldo Brasil , pa ssan do pelo R io de Jan eiro e

    S. Pau lo, a velh a poe sia brasi leira, qu an doveio a florescer nos sertes mineiros na seg u n da m etade do sculo passado , no desm ent ia a sua origem . V ibrava a inda as pr i mi t iva s c orda s da de sc r ip o da s pa iz a ge nsamericanas; sabia achar accordes para asdores e esperanas nacionaes e no era mudad e a n t e d o s p r o b l e m a s h u m a n o s . M a s q u eesplendida florao ! q u e h a r m o n i o s o d e s e n v o l v i m e n t o ! N o s a na tu re z a e xte r iorque fa l ia imaginat iva dos poetas; o homemtambm comea a capt ival-a ; as varias raase c la sse s da popula o de spe r ta m-lhe sym-pa thia s . O inter io r das a lm as comea a serp e r s c r u t a d o .A frma te m-se e nr ique c ido; a m t r ic a mais variada, mais flexvel , mais ducti l ; oestylo tem-se tornado mais f i rme, mais br i lha n te , m a is c he io de p la s tic ida de . T u d ois to, porque o pe nsa me nto ma is a mplo ,m ais con sciente , m ais profu ndo . E,m B A S I L IO D A G A M A , e m Pe ixoto , pr inc ipa lme nte

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    24 em Go nzag a e Cludio , a psy ch olog ia d ossent imentos j tem o que es tudar e def in i r .A a lm a d o b ran co , d o co n q u is tad o r n o a nica que se ju lga capaz de nobresaces; a do selvagem t i rada do esquecim ento e m ostra da a toda a luz . E porisso que ainda hoje a bel la e t r is te Lindoyaco n t in u a a s e r u m a d as m ais en ca n tad o rasf i lhas da phantas ia de nossos poetas , umm ix to d e am o r e s au d ad e q u e b r i lh a n a g aler ia de nossos typos ideaes .O scenario d igno da heroina e impe-se admirao :

    Entram emfim na mais remota e internaParte do antigo bosque, escuro e negro,Onde ao p de uma lapa cavernosaCorre uma rouca fonte, que murmura,Curva latada de jasmins e rosas.Este logar delicioso e triste,Cansada de viver, tinha escolhidoPara morrer a misera Lindoya.L reclinada, como que dormia,Na branda relva e nas mimosas flores,Tinha a face na mo, e a mo no troncoDe um fnebre cypreste, que espalhavaM elancholica som bra. M ais de pertoDescobrem que se enrola no seu corpoVerde serpente, e lhe passeia e cingePescoo e braos, e lhe lambe o seio.Fogem de a vr assim, sobresaltados,

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    25 E param cheios de temor ao longe ;E nem se atrevem a chamal-a e tememQue disperte assustada e i rr i te o monstro,E fuja e apresse no fugir a morte.Porm o dextro Caitut, que tremeDo perigo da irman, sem mais demoraDobrou as pontas do arco, e quiz trs vezesSoltar o tiro, e vacillou trs vezesE ntre a ira e o temor. Emfim sa cod eO arco e faz voar a aguda setta,Que toca o peito de Lindoya, e fereA serpe na testa, e a bocca e os dentesDeixa cravados no vizinho tronco.Aouta o campo co'a l igeira caudaO irado monstro, e em tortuosos girosSe enrosca no cypreste e verte envoltoEm negro sangue o l ivido veneno.Leva nos braos a infeliz LindoyaO desgraado irmo, que ao despertal-aConhece, com que dr! no frio rostoOs signaes do veneno e v feridoPelo dente subtil o brando peito.Os olhos em que amor reinara um dia,Cheios de m orte ; e mud a aqu ella ling ua,Que ao surdo vento e aos chos tantas vezesContou a larga historia de seus males.Nos olhos Caitut no soffre o prantoE rompe em profundssimos suspiros,Lendo na testa da fronteira grutaDe sua mo j t remula gravadoO alheio crime e a voluntria morte.E' por todas as partes repetidoO suspirado nome de Cacambo.

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    2 >Inda conserva o pallido semblanteUm no-sei-que de magoado e tr is teQue os coraes mais duros enternece.T an to era bella no seu ro sto a mo rte !

    Bell issimo surto potico, mais lyrico doqu e pico, po sto seja u m a folha ar ran ca daa um poema herico ! E' que, desde os tempos de Basil io, nossa ndole de meridio-naes e mestios ia mais e mais seleccio-na nd o com o a frma es thet ica , qu e m elho rnos quadra , o lyr ism o. E , d 'ento a t hoje,os maiores lyr icos , da l ingua nos per tencem.Como entre todos os povos jovens , ou emvia de formao, o lyrismo brasi leiro quasisempre meramente descr ip t ivo, por vezescontemplat ivo, e quasi nunca se e leva p intura de s i tuaes caracter s t icas da v ida,d ' a lm a h u m an a n o s d o lo ro s o s t ran s es daex is tn c ia . A s s im co m o a ev o lu o s u p rem ado drama, da comedia e do romance apintura completa, por vezes terrvel , doscaracteres , creando os typos immortaes davasta galer ia das paixes , tambm o desenvolvimento completo da lyr ica o desenhoexacto das s i tuaes do espir i to .N o bas ta descrever a paizagem, ou ex-halar ,a dmiraes ou queixumes deante dosp h en o m en o s h u m an o s ; p rec is o ir a t ao s

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    - 2 1 recessos do corao e de l trazer a photo-graphia exacta das crises d'alma individualou collectiva.E por isso que o Sino, de Schiller, oCantor, de Goethe, a Filha da Albergueira,de Uhland, so typos magistraes do eternolyrismo de todos os tempos.Na escola mineira no tinha a musa nacional chegado plenamente quelle apuro;mas ainda assim j se nos antolham alliprofundas expresses d'uma poesia exemplar.Pelos lbios de CLUDIO DA COSTA eiscomo o gnero dedilha as cordas do corao :

    No se passa, meu bem, na noite e diaUma hora s que a msera lembranaTe no tenho presente na mudanaQue fez, para meu mal, minha alegria.Mil imagens debuxa a phantasia,Com que mais me atormenta e mais me cansa...Pois, se to longe estou de uma esperana,Que allivio pde dar-me esta porfia ?Tyranno foi commigo o fado ingratoQue crendo, em te roubar, pouca victoria,M e- deixou para sempre o teu retrato...Eu me alegrara da passada gloria,Se, quando me faltou teu doce trato,Me faltara tambm delle a memria

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    28 Em muitas outras notas, como esta, pelabocca do immaculado inconfidente, a almadolorida da poesia brasileira exhalou-se repetidas vezes. A evoluo se accentuavacada vez mais; no era s o velho Cludioque sentia o est Deus in nobis; outros recebiam eguaes favores, e as lacrimae rerumeram choradas por outros olhos.O gnio altivo de ALVARENGA PEIXOTOtinha s vezes palavras destas:

    No cedas, corao ; pois nesta empresa0 brio s domina; o cego mandoDo ingrato amor seguir no deves, quandoJ no podes amar sem vil baixeza.Rompa-se o forte lao, que fraquezaCeder a amor, o brio deslustrando ;Vena-te o brio, pelo amor cortando,Que honra, que valor, que fortaleza.Foge de vr Alla; mas se a viresPor que no venhas, outra vez a amal-a,Apaga o fogo, assim que a presentires.E se inda assim o teu valor se abala,No lh'o mostres no rosto; oh! no suspires!Calado geme, soffre, morre, estala!

    Mas onde este outro inconfidente foi verdadeiramente admirvel, pela intuio ntidade nossa situao em fins do sculo XVIII,

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    29 -foi no afamado Canto Genethliaco, di r ig idoa o f ilho de D . R od r igo de M e ne ze s , gove rna do r de M inas, nascid o no Brasi l. A l li ,c om o j um a vez d isse mo s , c om pre h e nde uel le a posio e thnica dos brasi le i ros e vioclaro o no sso futuro, tendo , dem ais , umbra do de a lento pa ra os m seros escravos.O Canto Genethliaco uma como revela o ; n'el le est o poeta com todos os seuse n thu s ia sm os e toda s a s sua s e spe ra n a s .Contrape a Portugal o Brasi l rude, certo,m as r ico e cheio de po rvir ; n 'aqu el les versoso sent imento rea l , o espir i to brasi le i ro osalenta , , a ff irmando no ssas prer og at ivas . Q uefi rmeza de tons, que lyr ismo espontneo nasla rga s frma s d 'e s ta s e s t r op he s! . . . O u a m :

    Esses part idos morros escalvados,Que enchem de horror a vis ta delicada,Em soberbos palcios levantadosDesde os primeiros annos empregada,Negros e extensos bosques to fechados,Que at ao mesmo sol negam a entrada,E do agres te paiz habi tadoresBrba ros hom ens de d iversas cores ;

    Is to, que Europa barbar ia chama,Do seio de delicias to diverso,Quo differente para quem amaOs ternos laos de seu ptrio bero!

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    - 30 -O pastor louro, que meu peito inflamma,Dar novos alentos a meu verso,Para mostrar de nosso here na boccaComo em grandezas tanto horror se troca.Aquellas serras, na apparencia feias,Dirs , por certo, oh! quanto so formosas!Elias conservam nas occultas veiasA fora das potncias magestos-is ;Tm as r icas entranhas todas cheiasDe prata, ouro e pedras preciosas ;Aquellas brutas , escalvadas serrasFazem as pazes, do calor s guerras .

    Aquelles morros negros e fechados,Que occupam quasi a regio dos ares,So os que em edifcios respeitadosRepartem raios pelos crespos mares.Os corynthios palcios levantados,Dos ricos templos jonicos al tares ,So obras feitas desses lenhos duros,Filhos destes sertes, feios e escuros.A c'roa d'ouro, que na festa brilha,E o sceptro que empunha na mo justa,Do augusto Jos a herica filha,Nossa rainha soberana augusta,E Lisboa de Europa maravilha,Cuja riqueza a todo mundo assusta,Estas terras a fazem respeitada,Barbara terra, mas abenoada!. . .

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    31 -Esses homens, de vrios accidentes,Pardos, pretos, t inctos e tostados,So os escravos duros e valentes.A os penosos servios co stumado s :EUes mudam aos rios as correntes,Rasgam as serras , tendo sempre armadosDa pesada alavanca e duro malhoOs fortes braos feitos ao trabalho.

    H o u v e , n o s c u l o X I X , u m m o m e n t o e mqu e a poesia se torno u t r ibunic ia , vest io ablu sa do o peraria to e verbe rou os abus osdos re is , es ty gm atizo u os soffrimentos dopovo te c e ndo hymnos s e spe ra n a s da s de sprotegidas c lasses sociaes .No haver uma i l luso da cri t ica, se el lanotar nas bellas oi tavas que acabam de serouv ida s a lgu m a c ousa que um pre se nt i -me nto de t o e xpre ss ivos a rdore s huma nose pa tr it ic os . Po dem os avan ar ser i sso averdade ; e bem claro se ter visto como sefoi en co rd oa nd o a lyra de nossa poesia . A 'c orda da de sc r ip o n a tura l i s ta , ju nc tou -sea rel igiosa e mais a satyrica e mais a pessoal e sub jectiva e m ais a pa trit ic a e hu m a ni t r ia . T e m os j a ga m m a c omple ta ,fa l tando a inda, por certo, a dex teridad equ asi p erfei ta da ex ecu o e a or igin al idad ee profundeza quasi inexcediveis dos tons.

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    32 - o que s ha de vir com o tempo, a poucoe pouco, em o decorrer do sculo que vaid as Lyras d e u m T. A N T N I O G O N Z A G A(1792) aos Broqueis d e u m C ru z e So u za(1893).O desdi toso amante de Marilia, o m ag o a d o Dirceu, ainda estava no Brasi l , d 'ondes ah io d eg red ad o p ara as Ped ras d e An g o ch e ,em frica, em fins de Septembro de 1793,quando em Lisboa apparecia a pr imeira edio das Lyras, no anno anter ior .Apezar da g lor ia que o celebrizou desdelogo, no deixou de ser condemuado, comoenvolvido na Inconfidncia mineira, e deamargurar os dias em frica at 1809.N est e inconfidente a poesia aff i rm ou-seco m o a lg u m a co u s a d e s o n o ro s o e can tan teque cahia na a lm a em ocio nad a do povo.Dep o is d o s Lusadas d e C a m e s n e n h u mlivro tem sido mais amado por ns do que aM arilia de Dirceu. E com razo. queall i esto muitas das notas mais s inceram ente sent idas que j um a vez foram m od u lad as em l in g u a p o r tu g u eza .O lyr ismo pessoal e n t imo, se no chegas maiores profundezas do gnero, doce eacaric iante, cheio de do na ire s e finezas, e,s o b re tu d o , t e rn am en te m ag o ad o . E i s co m o

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    - 33 a lyra en to fal ia a l in gu ag em selecta dosa p a i x o n a d o s :Propunha-me dormir no teu regaoAs quentes horas da comprida ssta,Escrever teus louvores nos olmeirosToucar-te de papoulas na floresta;Julgou o justo cu que no convinhaQue a tanto gro subisse a gloria minha.A h ! minha bella, se a fortuna volta,Se o bem que j perdi, alcano e provo,Por essas brancas mos, por essas faces,T e juro renascer um homem novo ;Romper a nuvem que os meus olhos cerra,Amar no cu a Jove e a ti na terra...Ns iremos pescar na quente sstaCom c an as e com ce stos os p eixinhos ;Ns iremos caar nas manhs friasCom a va ra envisg ada os passarinh os ;Para nos divert ir faremos quantoReputa o varo sbiohonesto e santo.Nas noites de sero nos sentaremosC o s . filhos, se os tivermos, fogueira ;Entre as falsas historias que contares,Lhes contars a minha verdadeira ; ,Pasm ado s te o uviro ; eu, en tretanto,Ainda o rosto banharei de pranto. . .

    A poesia em Gonzaga teve, alm de suavssimas notas lyricas, de caracter pessoal e3

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    34 psycholog ico, bel los sur tos descr ip t ivos ereal is tas da natureza e da sociedade.Nos versos c i tados , como em todos os daMarilia, ha um caracters t ico tom de affago,de brandura, de meiguice, sem affectao,sempre real, verdadeiro, capaz, s por si , dedar a me dida do cam inho perc orr ido peloespiri to brasi leiro, no terreno da arte, durante t rez sculos .

    ITTA p as s ag em d e G o n zag a p ara S I L V A A L

    V A R E N G A natura l iss ima . U m teve suaMarilia e outro a sua Glaura; ambos poetas ly rico s, e am b o s am an tes ap a ix o n ad o s ;am b o s co n tem p o rn eo s e am ig o s . S i lv aAlv aren g a s erv e p ara p len am en te m o s t ra r atransio da poesia mineira para o Rio deJ an e i ro e d o s cu lo X V I I I p ara o X I X . Opoeta veio fixar-se, depois de formado, nacapital da colnia, onde dedicou-se advocacia e ao m ag istr io, e on de falleceu em1814. Ainda aqui , na ra de 1863, conhecemos a lguns velhos que t inham s ido d is-

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    3 5 cipulos do notabi l iss imo cantor de Glaura.O l ivro de m adr igae s e ron d s d 'esse ext raordinrio poeta , que consideramos o maiordo s tem pos coloniaes , appareceu em 180 1.A br io-se a ss im br i lha n te m e nte na poe s ia osculo X I X no Brasi l. O l ivro de Glaura,como forma e bri lhant ismo de estylo, superior ao de Marilia. A poesia foi diffe-ren te no s do us cu l tores ; em Si lva A lvarenga, mestio em regra, ella foi acima detudo a arte da palavra, da frma sonora, dor y t h m o m u s i c a l. T e m p e r a m e n t o m e r i d io n a l,am igo dos t rop os caden ciados, del ic iava-senas cambiantes dos sons, no susurro, dasr i m as . As del icadezas da ar te chegavam aeste poeta principalmente pelo ouvido; anatureza era para e l le um marulho lan-guido, perdendo-se longe, bem longe, no inf i n i t o .

    G on zag a era o poeta das im agen s exter i o r e s , da s frma s opule nta s , dos qua drosde s lumbra nte s : a poe s ia v inha - lhe pr inc ipa l m en te pela vis ta . E m A lvarenga ha sempre os gemidos, os marulhos da lympha, ossusurros das folhas e das brisas , os sons dalyra , o canto das aves; em Gonzaga vm asflores, os mares, as nuvens, as estrel las, asauroras, e tudo isto ainda pouco para for-

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    3 o necer as cores com qu e o poe ta po ssa ret ra tar a sua amada.Ha, por outro lado, na poesia de SilvaAlvaienga mais ta lvez do que na de Gonzaga, pron un ciad o bras i le i r ismo, e umbras i le i r ismo no consis tente em descr ipes ,como j o t inh am feito outr os , do hom emam ericano, o selvagem , o ca bo clo ; s im umbrasi leir ismo, que se prazia, como o primit ivo, em apreciar o torro ptrio.D'ahi a cr natural de seus quadros , ques e p as s am d e o rd in r io s en t re as m an g u ei ras, os cajueiros, os coqueiros, os pssaros,os bei ja-flores, nas bel las tardes americanasaos reflexos rut i lantes do sol t ropical .E es ses q u ad ro s n a tu raes s e rv em ap en asde mo ldura a um a poesia subjectiva, in t ima,pessoal , auto-psychologica, qual a que teria-mos de vr entre as geraes de romnticos, 'que r europ os, que r brasi leiros, a da tar de1820 a 1870.O u am o s - lh e a lg u m as n o tas p ara b em s abermos em que a l tura nos achamos e nortearm os bem a nossa ro ta . E is um a:

    Se eu conseguisse um dia ser mudadoEm verde beija-flor, oh que ventura!Desprezara a ternuraDas bellas flores no risonho prado.

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    37 Alegre e namorado,Me verias , oh Glaura, em novos giros,Exhalar mi l suspiros ;Roubando em tua face melindrosaO doce nectar de purpurea rosa.

    E bello is to : m as eis o qu e talvez sejama is be l lo :

    No desprezes, oh Glaura, entre estas flores,Com que os prados matiza a bella Flora,O jambo que os amoresColhero ao surgir a branca aurora,A dryade suspira, geme e choraAfflicta e desgraada.

    Ella foi despojada... os ais lhe escuto...Vers neste t r ibuto,Que por sorte feliz nasceu primeiro,Ou frcto que roubou da rosa o cheiro,Ou rosa transformada em doce fructo.A lva re n ga Pe ixo to , a da ta r de 1777, a nn oem qu e se f ixou n o R io de Jane iro, na tura lmente se const i tuio o centro em torno aoqual se haviam de mover os espr i tos in-te l l igen tes , qu e abri lh anta ram a velha capita l do s v ice-re is du ran te as du as ul t im as

    dcadas do sculo passad o e as du as pri meiras do sculo prestes a f indar . SousaCaldas, S. Carlos , Sam paio, R odo valho , M a-

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    38 r iano J . Perei ra da Fon seca, Ja nu r io daC u n h a B arb o s a , m o n s en h o r P izar ro e Ara jo ,p ad re L u iz G o n alv es d o s San to s , m o n s en h o r tN et to p ad re J o s M au r c io e o p r p r io M o n -fA lv ern e , q u e j t in h a t r in ta an n o s q u a n d oA lvarenga fal leceu, so desse nu m ero . Apoesia n 'esse meio , a que se v ieram junctarpouco mais tarde Vil lela Barbosa e Bonifciode A nd rad e era cer tam ente ' a velha poesia daphase clssica, a del icada fi lha do Renascim en to , a d i lec ta d i s c ip l in a d o h u m an is m o ,porm ' re juvenescida ao sol d 'A m erica . Aquem sabe ler com amor e sentir com abundncia d 'a lma a poesia em algu m as pa gin asescolhidas de Cludio , de Peixoto , de Gonzaga, de Silva Alvarenga, de Duro, de Basi l io da Gama, de Sousa Caldas e s quaesn o fo ra t a lv ez ex a g g e rad o ju n c ta r u m asp o u cas d e Nat iv id ad e Sa ld an h a e d o v ig r ioFerre i ra Barret t to , de Pe rnam bu co, n 'essetem po e de frei Bastos B ara n a da B ahia nam es m a ep o ch a , e d e T en re i ro A ran h a , n oPar, em egu al pariodo , a quem , sabe lrcom amor e sent i r com ab un dn cia d 'a lm aa poesia em algumas paginas selectas d 'es tesescr ip tores mostra j todas as in tu ies capi tes que v ieram a ser pelos romnt icost ransformad as em svstem as com tend nc ias

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    39 exclusivis tas e dadas por novidades origi-naes de sua do utr in a . A quem s sabeenx erg ar na l i t tera tu ra brasi le ira e na dasAmricas em geral meras copias das le t t raseuropas, de forma a no ser cada perodonovo o de se nvolvim e nto na tu ra l do a ntec e dente, e sim apenas a cpia servil d 'alguma,phase corre la t iva do pensamento d 'a lmAtlnt ico, a evoluo de nossa poesia , comoa de qualquer outra manifestao de nossaenergia espir i tual , torna-se um enigma inso-luvel . M as este sys tem a dep rim ente absolutamente absurdo e no tem o apoio dosfactos. A s qu atro ou cinco ou, se quizerem ,seis notas capi tes do romant ismo brasi le i rono so mais do que o desenvolvimentonatural e evolut ivo de intuies j exis tentes no se io do velho lyr ismo dos nossosclssicos. Vejam os essas cinco ou seisno tas tn icas e ind iqu em os a evoluo. Onosso roma nt i smo, logo no se u pr ime i romomento, mostrou t rez coloraes princi-paes , qu e se t ransform aram em trez syste-mas, e m t re z e sc hola s : t e nd nc ia religiosao u crente, t e nd nc ia indiana ou america-nista, t e nd nc ia campestre ou costumeira;a pr ime i ra pre dominou e m Ma ga lh e s , pr inc ipa lme nte ns se us Suspiros Poticos e

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    40 Saudades, nos seus Mvsterios e CantosFnebres; a s eg u n d a em G o n alv es Dias ,em alguns de seus Cantos e nos Tymbiras;a terceira em Porto Alegre em varias des u a s Brasiliadas.Ora, quem desconhecer a or igem da pr i meira na velha intuio rel igiosa, j to vib ran te em E u zeb io d e M at to s, , em San taMaria I tapar ica , o cautor de Santo Eus-tachio, e che gad a ao apog o em So usaCaldas, nas suas poesias originaes, alm dabel la t raduco dos Psalmos, e em frei S.Carlos, no poema Assumpo da Virgem?Para que desprezar as inf luencias naturaesde casa e so nh ar apenas com es t m ulos "ex-t ran h o s ?N o s : a in tu io inianista, americana, indgena, ou como lhe queiram chamar, que teve em Gonalves Dias apenassua especial perfeio, vinh a, in in te rr up ta m ente de Basilio da G ama, de Sa nta R itaDuro e dos poetas menores que lhes suc-cederam at os tempos do pr imeiro re inadoe da regncia, bastando ci tar , entre outrosexem plos, a famosa nenia Nictheroy, d eFirm ino R odrig ues Si lva. A tercei ra , con-junctamentei ou na sua dupla face descr i -ptiva das scenas da naturega e descr i -

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    41 pt iva dos costumes populares, n o m e a d a -m e nte _os c os tum e s p i ttore sc os do s c a mpo -nios, dos aldees e das classes plebas, ous e p a r a d a m e n t e n u m a o u n o u t r a d e s t a s d u a stendncias , nossa velha conhecida em pagin as de Bo telho de O liveira, de S an taM aria I taparic a, .de Cludio, de Silva A va-re nga , de Alva re nga Pe ixoto , de Gonz a ga eat de S. Ca rlos e, em sen tido m uit o geral ,do prpr io Be nto T e ixe i ra P in to . A ind am a i s : o roma nt i smo, e m sua se gunda pha se ,qu an do en trou a gem er e a lamu riar , emum a pa la vra , qu a nd o a rvorou a melan-cholia em deusa predominante da poesia ,no tem grande penetrao his trica , fa l ta-lhe o senso da intu io dos temp os, se , pr in c ipa lme nte e m Si lva Alva re nga , Thoma zG on sag a e sob retud o em Cludio, no selhe depararem paginas, que poderiam sera ss igna da s pe los se us ma is la ma r t in ia nos ouby ronia n os poe ta s . E a inda m a i s : a notapatritica e a social, que vieram, na escholacon dore ira, a fechar a epo cha rom ntica ,andam, em ambas as suas manifestaes,esparsas em toda a velha poesia clssica,ba stan do lembrar , de Si lva A lvarenga, om est io genia l , as o d e s: a Affonso de Albuquerque, A' M ocidade P ortuguesa e o

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    42 p o em eto As Artes, e d 'outro mest io deg ran d e ta len to o s h y m n o s q u e d ed ico u acada um dos heres da guerra hol landeza, op e r n a m b u c a n o N a t i v i d a d e S a l d a n h a .D e s f a r t e c o m p r e h e n d e - s e o a n d a r n o r m a ldos factos e a poesia, bem como a arte e al i t tera tura em geral , perde aquel le caracterforasteiro e advnticio, para assumir as feies de uma funco que se desenvolve porseleco natural , por heredi tar iedade e adaptao a nov os meios . N o i s to desconhecer a aco da influencia europa, nemam es q u in h ar o v a lo r d o ro m an t i s m o e d o ss y s tem as q u e o s u b s t i tu ram .Bem ao cou trario . A vida esp iri tual noBras i l comeou por importao do VelhoM u n d o ; m as es ta im p lan tao n o se fezap en as a d a ta r d o ro m an t i s m o . T in h a- s efeito trez sculos antes, de frma que, aoiniciar-se a rom nt ica , j enc on trou en trens todos aquel les germens de que e l la prpr ia ter ia de brotar nas terras t ransat lnt i cas, e, assim veio a ser, antes e acima det udo , u m b ro to es p o n tn eo d e an t ig o s t ro n cos, alm de ser tambm es t im ulad a pelasinf luencias europas .

    Por outro s te rm os : nossa terra , ha trezsculos a esta parte, uma part icipe da cultura

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    43 occidental , onde' , portanto, esto depositadastodas as foras e energ ias que a cons t i tuem .A evoluo vai-se, pois, fazendo aqui e almcom os mesmos e lementos e sob idnt icospr inc p ios . Pd e a E ur op a i r a de a nte emc e rt o s a s s u m p t o s ; p o r m n ' o u t r o s n o d ee xt ra nha r que lhe tome m o pa sso a Ame ric aou a A us trl ia , ou a t a frica e a pr priasia , quando tambm estas acabaram por seco ns t i tui r em n aes de typo europo. E odest ino do mundo e e l le se ha de cumprir .

    TTMa s a pre c ie mos a e volu o do roma nt i s m o, indicando as t ransformaes da poesia . (x)N o es te o logar m ais pr prio paraainda uma vez discut i r a indole e a naturezada famosa evoluo l i t teraria e art st ica, que

    (1) Sobre o significado da revoluo rom ntica e analyse das diversa s theorias que tm apparecido a esse respeito, veja-se Historia da Litteratura Brasileira, livro IV, capitulo I, pag. 683 a691. Sobre as relaes do nosso rom antismo com a litteraturacolonial, vejam-se .\ovos Estudos de Litteratura Contemporn ea,pag. 300.

    http://ovos/http://ovos/
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    44 s o b o n o m e d e ro m an t i s m o , eu ch eu q u as ito d a a v id a es p i r i tu a l d o s cu lo X I X .I n d icad as as p h as es p r in c ip aes q u e a t ra vessou em nosso paiz , como se l nas l inhasac im a e m ais in d ev id u ald am en te n o q u ad rosynopt ico deixado paginas a t raz , lembradoso com o e o po rqu e se prend em todas assua s escholas a ger m ens ex is ten tes na l i t tera tu ra colonial , re s ta-n os caracter izar oss eu s p r in c ip aes rep res en tan tes . T aes caracter s t icas no podem deixar de ser t raosrapidss imos, as mais das vezes s imples notaes , apenas esboadas .

    D O M I N G O S J O S G O N A L V E S D E M A G A L H E S (1811 18 82 ), pelo qu e diz resp eito frma, ao estylo, s roupagens da poesia,por certo nada adeanto.u aos escriptores dasul t im as dcadas do sculo passa do. H a inq u es t io n av elm en te m ais m im o s d e f rm a,m ais bellezas na tur ae s e esp on tne as no sversos de G onz aga e Cludio e de Si lvaA lvaren ga do que nos do auc tor dos Suspiros Poticos.A esthe tica de M agalh es, leva, porm ,van tagem aos seus predec essores na var iedade, g ran d eza e s o len n id ad e d o s as s u m -ptos . V-se bem que o poeta, tendo feitoviagem ao velho mundo e es tudado a l i t te-

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    45 - -ra tura e urop a , de ixou-se impre ss iona r porgra nd es factos e gran des scenas do ant igom un do . Sem espir i to ref lexivo pro cur ouconscientemente agir na reforma da poesia ,na creao do theatro e no estudo da phi-l o s c p h i a e n t r e n s .T a l o i n t u i t o d o s Suspiros Poticos, deAntnio Jos ou o poeta e a Inquisio edos Factos do Espirito Hum ano.Se a poesia em M agalhes no po ssu e agraciosidade, a delicadeza de tons, os milsegredos acaric iautes da frma; se no nosd em notas inolvidaveis nem a paizagem>nem o viver int im o das a lmas, no im po rtai s to ne ga r- lhe c e r to v igor nos bons mome n-/ t o s . Eis como a musa n 'e l le fa l ia de Na-pole o, pe rdido na sua u l t ima ba ta lha :

    Sim, aqui estava o gnio das victorias,M edindo o campo com seus olhos d'aguia !O infernal retintim do embate d'armas,Os troves dos canhes que ribombavam,O sibillo das balas que gemiam,O horror, a confuso, gritos, suspiros,Eram como uma orches t ra a seus ouvidos!Nada o turbava ! Abbadas de balas ,Pelo inimigo aos centos disparadas,A seus ps se curvavam respeitosas,Q uaes subm issos lee s; e, nem ousandoTocal-o, ao seu ginete os ps lambiam..

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    4 6 - -A lyrica, em um poeta como o auctor dosSuspiros, de Urania e dos Cantos Fnebres, t em s em p re cer ta en v erg ad u ra p h i lo -sophica, expresso de um expir i to pensador .O a mo r n 'u m a alma dessas um a espciede em anao das foras e terna s que regem

    o unive rso . A sua am ada desce- lhe do seiod o in f in i to :Alto saber proclama a Natureza,Proclama alto poderD'aquella Eterna Fonte de bellezaQue brilha em todo ser.E quanto a vasta immensidade encerraO louv a sem cessar ;O dia, a noite, o co, o mar, a terraO ho de sempre amar.E por tudo que eu via o adorava,Q ue EU e tudo criou ;M a s , por m ais um p rodigio eu esp erav a :

    E um Anjo a' mim baixou.Um Anjo pareceu-me que desciaDa clica manso, NTanto seu divo aspecto me infundiaAmor e devoo.N unca to pulcKra, em todo o jrm am en to ,

    Estrella reluzio;Nunca to bella, sobre o salso argento,Aurora resurgio !

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    47 Nunca em viso potica arroubadoDelicia igual senti,Como nesse momento afortunado,Em que seu rosto vi.Absorto vi seu rosto peregrino,E o seu ros to era o teu !Sim, era o teu ! E que outro m ais d ivinoMe mostraria o cu ?...

    V-se, em todo caso, que as boas tradies do sculo an terior foram con serv ada sem Magalhes uos fe l izes momentos.E m M A N O E L D E A R A J O P O R T O A L E G R E(18061879) o mesmo se deu, isto , tevepulso bastante para no desment i r a le i dae volu o.O lyrismo n 'e l le , se no um progressosobre o da eschola mineira , no m os tra s i-

    gna e s de re t roc e sso; se n o os te nta muipro nu nc ia do s m imos , de lica de z as , d o ura sde frma, em compensao est cheio degra nde s qua dros , be l la s p in tura s da na tureza que do c laros s ignaes de sua a lmaenrgica e vigorosa .N a s Brasilianas n o e xis te m a most ra s depoesia pessoal , int ima, psychologica; tudos o sc e na s do mundo e xte r ior ou da h is tor ia da hu m a nid a de . Se M a ga lh e s pde

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    - - 48ser considerado um a espcie de pre cu rsorentre ns da poesia scientif ica, P or to -A legre um antecipad or da poesia h is t rica, a poesia que se praz na apreciao dosvrios cyclos das luctas da civi l izao.Neste sent ido caracter s t ico o poemeto

    escripto em 1835, o Canto sobre as ruinasde Cumas, d e n o m i n a d o A Vos da natu-resa. alguma cousa que lembra os pequenos poemas da Lenda dos Sculos d eV . H u g o , m as m u i to an ter io r . A m u s afalia pela voz do Horisonte, do Circeum,de Gaeta, do Oceano, de Tubero, d e u m aColumna Dorica, de um Rouxinol, dePontia, de PandataHa, do Amphitheatro,de Pithecusa, de Rochyta, de Caprea, doVisuvio, etc. co m o o ento ar de um co roimmenso em que cantam as dores e as saud ad es d e to d o s . D iz u m a d as v o / e s :Toca a hora : silencio ! A hora saEm que o globo inflammado,Que o dia terra mostra,Do ethereo oceano ao fundo rola,E das celestes vagas j levantaAs gotas luminosas que borrifamO vasto Armamento.

    Salve, estrellante noite,Que do Bero da aurora resurgindoDe um manto adamantino te apavonas

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    49 N as ceruleas cam pinas !Vagai na immensidade, ardentes cirios,Que s a immensidade ora me encanta,Mesquinha mente a terra me parece.Mysticos sonhos, clica harmonia,Adejai vossas azas,Resoai no infinito ;

    Sombras de amor, passai, passai ligeiras,Danai e repeti em muda linguaO nome que idolatro.A poesia em Porto Alegre tem duas notascapi tes: uma lhe era minis t rada por certain tu i o pa nthe is ta que t ra nsuda de toda

    essa bel la symphonia A Vos da Natureza,e tambm se evola de muitas das melhores paginas do Colombo ; a outra era origin ad a de scen as da paizagem brasi leira.De s te u l t imo c unho s o a Destruio dasFlorestas, o Corcovado, o Harpoador. N oseu brasileirismo entrou mais , mui to maiso solo, a terra, do qu e o hom em . E ste raram en te appareceu , e o poeta, por isto, a inda um ge n uino c on t inua do r da poes iaclssica do sculo antece den te. M as, emsentido geral, elle o precursor, si no ofundador, da eschola ser tanis ta e campesinade nossa poesia, porque delia teve o pre- _sen t im ento , sem que a levasse plenam entea effeito. 4

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    5(1Tin h a d e cab er a A N T N I O G O N A L V E SD I A S (1823 1864) a fuuc o de pre enc heras lacunas dos dous mestres anter iores dor o m a n t i s m o . N e s t e e x t r a o r d i n r i o m e s t i otoda s as cord as da lyra v ibraram uu iso na s .Fundo e frma, a natureza e o homem, v ida

    civil izada e vid^ selvagem, scenas das cidades e scenas da roa, tudo, tudo se apuroue refulgio, passando pela voz desse vate in-s i g u e .Tem-se dicto que el le foi pura e s implesmente o cantor dos selvagens, o poeta dosndios. E certo que o que se veio a cham ar o indianismo fora, em tempo, o momento capital de seu poetar, ou, pelo menos,foi por essa face que elle mais impressionouos contem porne os . M as a verdade quesua palleta era muito mais variada em t in-c t a s ; o s imples indianismo era por si sincap az de exp licar um caracter to comple xo , com o foi o poeta d'O Gigante dePedra, o d ram at i s ta d e Leonor de M endona. Este s im, fez avanar e muito aherana recebida dos proto-romant icos da es-chola mineira. Apreciemos a poesia nel le emrpida s i lhouete .

    O autor de Marab, da Me d'agna, doIleito de folhas verdes, do Gigante de

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    51 Pedra, do Y Juc-Pirama, do s Tymbiras,que tambm o auctor das Sextilhas deFrei Anto, isto , o auctor do que existede mais nacional e do que ha de mais por-tu gu ez em no ssa l i t tera tura , j o tem osdicto mais de uma vez, um dos mais nt idos e xe mpla re s do povo, do ge nuno povobrasi le i ro. E o typo do m est io physicoe mo ral, encarna o com pleta do caracterp trio. G on alve s D ias era filho de po r-tug ue z e m ameluca, o qu e vale dizer qu edescendia das t rez raas que const i tu ram apop ula o na c iona l e re pre se nta va - lhe s a sprincip aes tend ncias . A os africanos deveuaquel la expansibi l idade de que era dotado,aquel la ponta de a legria que no o deixoujamais e que especia lmente se nota em suascartas . Aos ndios , as melanchol ias sbi tas ,a re s igna o, a pa ss iv ida de c om que su p-portava os factos e acontecimentos, deixando -se i r ao sabor delles. A os po rtug uez es, obom senso, a ni t idez e clareza das idas, are l ig ios ida de que nunc a o a ba ndonou, aene rgia da von tade, as precau es ph an ta-s i s t as , um certo ideal ismo indefinido, im -palpavel . Ju n ct ae a tud o is to fortes impre ss es de luz e de cores, de v ida e demovime nto , forne c ida s pe la na ture z a t ropi -

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    cal, que se expande pela regio em fora quevai de Caxias a S. Luiz; junctae a inda asscenas mar t imas da pr imeira v iagem a Portu g a l ; n o esq u ea is o s q u a d ro s d a n a tu reza e da v ida provinciana no velho re ino,e n em to p o u co o s p an o ram as in d es cr ip t i -veis do R io de Jane iro e regio c i rcumvi-zi nh a; t razei a esse c on cu rso de factos eci rcumstancias as le i turas dos -poetas ant i gos e modernos , o es tudo das chronicascoloniaes , e tere is os e lementos predominantes e const i tu t ivos do ta lento ar t i s t ico dessevalente e mimoso lyr is ta .

    Os chefes do romant ismo portuguez, nosl t imos annos (18431845) passados peloescr ip tor maranhense em Coimbra, j t inhampublicado suas obras principaes, e a evoluo da poesia en tre os epgo nos, havia at-t ing ido a ph as e do sen tim eu tal ism o affe-ctadp e esteri l izante.O nos so poeta, j de s i ba sta nte m elau-chol ico , aprendeu aquel la maneira e deixou-se e ivar da mo ls tia geral O seu t im en ta-l ismo , de sfa rte, u m a das notas m ais inte nsas do seu trov ar ; m as preciso ser su rd op ara n o o u v i r q u e u m in ten s o n a tu ra l i s m oamericano, um certo mysticismo rel igioso, ocalor e a effuso lyricas ju n c ta m s no ta s

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    53 montona s da que l le se nt ime nta l i smo a s vo-latas e fanfarras d 'u m a poesia variada, am pla, serena, m eiga, em briag ado ra. A voltado poeta para o Brasil , sua nova estada noMa ra nh o, sua subse que nte pa r t ida pa ra oR io de Jan eiro entram como factores naformao de seu talento.Sob a aco de to variados est mulos, claro que o poeta no podia ficar no circuloestrei to do melancholismo e nem to poucoem o mbito apertado do indianismo. Averdade que esse i l lustre lyrico, sem planos preconcebidos, espontaneamente , semim pu lsos do utr in rio s , s pela fora nat ivade sua intel l igencia, seleccionada pelas cir-cumstancias , deixou-se inf luenciar pela vidados se lvagens, como em Y Juc Pirama edez outras composies; pelas t radies por-tugue z a s , c omo na s Sextilhas de FreiAnto e em Leonor de M endona; pelossoffrimentos do s escravo s pretos, como naEscrava e n a Meditao; pelos sent imentos e phantasias dos mest ios, como emMarab. E toda s e s tas nota s n o e x go t ta mainda a complexidade do sent i r do poeta . m is te r jun c ta r - lh e s a poe s ia pe ssoale sub jectiva e a poesia ex terio r e paiza-gis ta . v

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    54 E m s u m m a : a m u s a s a g r o u n e s t e h o m e mum poeta e poeta lyr ico . D eu -lhe a v ibra-t i l idade das sensaes , a ideao prompta emobi l , a l inguagem f lu ida, sonora e cadente ,o espir i to sonhador e contemplat ivo, a imagina o sem pre p ro m pta a desferi r o vo.No era da raa dos que confundem apoesia com a eloqncia, a m usic a d 'almacom o s s o n s d e u m in s t ru m en to . T a l opoe ta; e no poe ta o lyr is ta d is t in gu ia-sepela jus teza do sent imento , a doura dasimagens, a del icadeza das t inctas, a faci l i dade das idas, a espontaneidade da frma,

    o vo sereno de, todas as foras espir i tuaes .E p o r i s so q u e m u i tas d e s u as p ro d u c-es so bell issimas poesias e das mais encan tad o ras d a l in g u a p o r tu g u eza .E is aqui a lgu m a cousa que pde bemclaro mostrar a distancia percorrida pela ly-r ica nacional em t rez sculos ; comparem-sees tas es t rophes cantantes , a ladas , levss imas ,es ta musica de palavras que des l isam fulgi -das e m acias, com as oi tava s de B entoTeixeira, ou de Santa Maria I taparica, ou deS a n t a R i ta D u r o ; c o m p a r e m - n ' a s c o m a ses t rophes de Gregorio de Mat tos , ou deBotelho de Oliveira, e at de Cludio, deG o n z a g a e d e A l v a re n g a P e i x o t o :

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    55Eu vivo ssinha; ningum me procura.Acaso feituraNo sou de Tup ?Se algum d'en tre os home ns de mim no se esconde Tu s , me responde, T u s, M a ra b !

    Meus olhos so garos, so cor das saphiras,T eem luz da s estrellas, teem m eigo brilhar ;Imitam as nuvens de um cu anilado,As cores imitam das vagas do mar.

    Se algum dos guerreiros no foge a m eus pass os :Teus olhos so garos,Responde ano jado : mas s M arab : Q uero an tes uns olhos bem pretos, luzentes,

    t U ns olhos fulgentes. Bem p retos, retintos, n o cr de anaj!

    E' alvo o meu rosto, da alvura dos lyrios,Da cr das aras bat idas do mar;As aves mais brancas, as conchas mais purasNo teem mais alvura, no tem mais brilhar.

    Se aind a me escuta meu s ag ros delrios : E 's alva de lyriosSorrindo responde : mas s M arab : Q uero antes um rosto de jambo^ corado, Um ros to cres tado, Do sol do deserto, no flor de ca j !

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    5 6 M eu, collo de neve se curv a eng raad oComo haste a pend ente de cactos em flor ;Mimosa, indolente, resvalo no prado,Como um soluado suspiro de amor!. . .

    E in t i l p ro s eg u i r . C er to es t ev id e n te :com es te poeta o rom an t ism o j es t deposse de sua s pr inc ipaes arm as. A evoluo vai cont inuar , mostrando outras facesdos factos e das idas : porm raro excedera poesia dos Cantos, como frma e com ofundo. D epois do t r ium vira to in ic ia l daphase romnt ica , podemos passar em s i lencio a aco dos epgonos, que se acercaramd e l l e s : Teixeira e Sousa, N orberto Silva,Dutra e M ello, Francisco Octaviano, JooCardoso de M eneses e Sousa, ^JoaquimJos Teixeira, Manoel Pessoa da Silva,Torres B andeira, padre Correia de Almeida, Felix M artins, Jos M aria Velhoda Silva e outro s . N ad a inf lu ram na evoluo da poesia entre ns .Seria poss ivel abr i r uma excepo paraFrancisco Octaviano, se a pol t ica no ot ivesse feito ab an do na r de todo a arte, co nf inando-o no terreno safaro do jornal ismop ar t id r io e d a e lo q n cia p ar lam en tar . E mtodo caso, ju s t o dar- lh e um dis t inc tologar na poesia nacional , por a lgumas pro-

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    57 duc e s o r ig ina e s e pr inc ipa lm e nte por su a sbel las t raduces de v poetas inglezes e al le-m es . Me n o d is t inc ta me re c e r ia ta mb mDutra e Me l lo .A e lle e a ou tro s de seu s con tem por neo s j f izemos jus t i a na Historia daLitteratura Brasileira. ndole de s ta me mria obriga-nos a insis t i r apenas nos chefes de fi la , os abridores de caminho, guiasd e g r u p o s .

    T 7 " I

    Entre o t r iumvira to da pr ime i ra pha se dor o m a n t i s m o e o t r i u m v i r a t o m u s s e t i s t a ebyronia no de sua se gunda pha se , t e mos deabri r espao p ara qu atro poetas dos m aisnotveis do Brazi l , que no podem ser chama dos me ros d isc pulos dos pr ime i ros ne mdos se gu nd os . S o : M oniz Ba rre to , M a cie lMonte i ro , Jos Ma r ia do Ama ra l e La ur indoR a b e l l o .Os dous pr ime i ros e ra m ma is ve lhos quePor to Ale gre , o ma is a nt igo da t r inda deinic ia l do o m an t is m o ; o terceiro era daedad e de M agalhes, e o qu arto era an te-

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    58 -rior um pouco a Gonalves Dias, o maismoo do grupo. No , porm, por este motivo que so collocados parte; que seutrovar foi deveras divergente. FRANCISCOM O N I Z BARRETO (18041868) foi educadona velha poesia clssica ao gosto e geitode muitos outros poetas do comeo do sculo XIX. No foi propriamente um lyrico;no tinha nem imaginao nem sentimentopara isto. O que lhe garante um logar nahistoria litteraria o seu raro e verdadeiramente phenomenal talento de repentista. Ei suma amostra:

    Ver. . . e do que se v logo abrazadoSentir o corao de um fogo ardente,De prazer um suspiro de repenteExhalar, e aps elle um ai magoado;Aquillo que no foi inda logrado,Nem o ser talvez, lograr na mente;Do rosto a cr mudar continuamente,Ser feliz e ser logo desgraado ;Desejar tanto mais quo mais se prive,Calmar o ardor que pelas veias corre,J querer, j buscar que elle se active ;O que isto , a todos ns occorre : Isto amor, e deste amor se vive ;Isto amor, e deste amor se morre,. ,

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    59 Bell iss im o son eto e adm irvel com o repe nte . D 'e s te s o poe ta im prov isou c e nte -n a r e s .A poesia em A N T N I O P E R E G R I N O M A

    C I E L M O N T E I R O (18041868) foi part icularmente notvel pelo bri lho das imagens, ocolorido da ph rase . O poeta h ab i tou Pa rizde 1822 a 1829, conc luin do a ll i os es tud ospre p a ra tr ios e form a ndo-se em me dic ina .A ss is t io , por ta n to , a c ol s gra n de s luc ta sdo rom a nt i sm o, sob a d i re c o de Vic torH ug o, La m a rt ine , Sa in te Be uve , -Vigny econsocios . Em 1830 j se achava de vol tano Brasi l , sendo deputado e minis t ro no per odo re ge nc ia l. U m hom e m d 'e s te s , m a isve lho que Ma ga lh e s , c onhe c e dor da v idapar is ien se t reze ann os antes delle, espir i tom ui to m a is v iva c e, t e s te m un ha d ire c ta da smuta e s l i t t e ra r ia s ope ra da s e m Fra n a durante o terceiro decennio deste sculo, not inha a esperar que o poeta f luminense , espir i to m ui to m ais tardo, c lssico em perradoainda em 1832 nas Poesias Avulsas, fosse Europa e nos e nvia sse de l os SuspirosPoticos em 1836, para comprehender eseg uir a no va eschola . Crem os que os pr i me i ros ve rsos rom nt ic os e sc r ip tos por bra s i le i ros foram de Macie l Monteiro.

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    6(1 Cada ci tao, rpida que seja, que vamosfazendo, pura e s implesmente para mostraras frmas divers as qu e a poe sia vai ass um indo e ass im sorp rehe nde r em f lagrante osp as s o s d a ev o lu o . E m M acie l M o n te i roa arte da poesia reveste uma lucidez, uma

    transparncia de roupagens , como raras vezestem acontecido na l ingu a po rtug ue za . om ais an t ig o p o e ta h u g o an o d o p t r io id io m an o s d o u s h em is p h er io s . E i s u m a p ro v a ,d ' e n t r e m u i t a s :Gnio! gnio! inda mais: supremo esforoD as m os de D eus no ard or do enthusiasm o !E's anjo ou s mulher, tu que nos roubasD o culto o am or, o extasis do pasmo ?Na pujana do vo a guia soberbaT enta o co dev assar, exh austa pra : Nas azas do lyrismo, tu de GehvaAo templo chegas e te prostras n'ara.Ahi, c'roada de fulgente aureola,No concerto dos anjos te mixturas;E, se cantas da terra, so teus hymnosHarmonias que ouviste nas alturas.Ahi aspiras o lustrai perfumeQue das u rnas sag rada s se evapora ;[vis porque tua voz parece ungidaDos olores da flor que orvalha a aurora.

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    61Ahi do corao na harpa animadaAs cordas descobristc de oiro extreme,Que se vibram de amor, ateiam n'almaPaixo que goza e soffre, canta e geme.Ahi o idioma typico aprendesteQ ue en tendem todo s e que. tudo exprime :E' assim teu olhar o verbo vivo,E ' teu gesto a linguag em mais sublime.Mysterio augusto que do Eterno ao fiatSu rgiste qu al viso que attrah e, fascina ;. Si da mu lher teu corpo ve ste a frma,Arde no gnio teu chamma divina. . .

    Ha n 'es te es tylo certo arroubamento, quede nunc ia um'a r te se nhora de s i me sma ,conscia de seus recursos.D 'indo le, porm , bem dive rsa era o docepoe ta r de Jos Ma r ia do Ama ra l (1811-1887) .Se fossemos a fi l iar o espiri to deste poetano esp iri to de algu m , este hav ia de ser odo velho incon fidente Cludio da Costa .H a n e s t e s d o u s h o m e n s a l g u n s p o n t o sde co uta cto n a vida, e pelo lado m en tal si-m i l h a u a s p r o f u n d a s . E m a m b o s o l y r is m o uma re vive sc e nc ia de uma qua l ida de e th-nica; em am bos o lyr ism o tem a frma e os a b o r d o v e l h o l y r i s m o p o r t u g u e z . A m a r a ln o e xe rc e u uma inf lue nc ia profunda napoes ia brasi le i ra , po rqu e -passan do os m e-

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    62 lhore s an no s de su a vida fora do paiz, m ui topoucas publ icaes l i t terar ias fez entre ns .Nen h u m d o s p o e tas n ac io n aes d e s eu tem p oteve em mais al to gro aquella doura,aquella del icadeza de impresses, nem aquellev ag o d o p en s am en to e aq u el la em b r iag u ezd o d es co n h ecid o , ex t rav as ad o s n u m a l in g u ag em o n d u lan te e cap r ich o s a , n in g u m m aisdo que el le teve aqui esse caracters t icoro m n t ico .Tinha a faculdade de ouvir a monodia ' deextranhos mundos e sent i r o prazer das so-l ides in terminas do mar:

    Aos mares outra vez, vamos aos mares,N as vagas embalar os sonhos d 'alma ;No inquieto balouar d'inquietas ondasVamos da vida sacudir os nojos.Solta o velame, nauta, aos sopros d'alva,Acima o ferro, ao horizonte a proa,Leva-me longe a errar por essas guas,Abre-me a vastido que as brisas correm;Quero entornar minh'alma em tanto espao,Quero em tanta grandeza engrandecl-a.Nem ptria o bardo tem nem tem am ores ;Canta como alcio, como elle vaDe vaga em vaga s bordas do infinito,De brisa em brisa esfolha a vida em hymnos,A ' terra um s adeus ; partam os, nau ta,Aos mares outra vez, vamos acs mares,Nas vagas embalar os sonhos d 'alma.

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    - - ( > 3 - --So versos es tes do tempo da mocidade.Ent o o poe ta n o se nt ia a inda o pungi r deacerbas dores moraes , que o assediaram navelhice e exhalaram-se em cerca de oi to-c e ntos sone tos dos ma is se nt idos que juma vez sairam de penna d'homem. (*)Nos qua t ro d ive rge nte s de que imos t ra -ctan do , a m u sa da alegria, qu e s e praz emfes ta s e impro visos , e nc a rnou -se e m M onizB a rre to ; a m usa vo lup tuo sa qu e fareja abel leza das mulheres i rmanou-se com a a lmade M a cie l M on te i ro ; a m us a t r i s te e m e -

    la nc hol ic a do s de sc on sola dos de u a m o aJ o s M a r i a d o A m a r a l .Q u a n t o a L A R I N D O R A B E L L O (1820 1864), se a musa brejeira dos espri tos ga-lhofeiros vis i tava-o por vezes , no menosve rda de te r s ido sua c ompa nhe i ra ma isc o n s t a n t e a m a g o a d a i n s p i r a d o r a d o a u c t o rde Veroni.E por i sso La r indo e Jos Ma r ia s o osdous maiores e legacos do Brasi l .La r indo Ra be l lo se d i s t ingue pe la c omple xida de de se u te mpe ra m e nto . T r i s te ,profun da m e nte m e la nc hol ic o , j por ndole

    (>) Vide Historia da litteratura Brasileira I , p a g . Wl\ e s e g .

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    04 - -e j pelas- con die s de sua exis tnc ia, m asrobusto, forte, sadio, dotado, alm do maisd e u m a e x t r a o r d i n r i a e s p o n t a n e i d a d e d epensar e produ zir , no se l im i tou em suavida a exhalar profundas e s inceras magoas;a satyra, a i ronia, a chalaa foram muitasvezes a ex pre ss o na tur al de seu sentir .Tinha e las t ic idade bas tante para a galhofa ,a p i lhr ia , o improviso , a pornographia ,m as no fundo l es tava a nota p lan gen ted o s d es co n s o lad o s .Eis um trecho da deprecao, bem se pode r dizer d a prece, que dirig io su a irm ,depois de morta.

    Que tens, mimosa saudade ?A ssim bra nca quem te fez ?Quem te poz to desmaiada,Minha flor ? que pallidez !Ah ! talvez n u m peito varioE mblem a foste de amor :O peito mudou de affectoE tu mudaste de cr . . .Quem sabe . . . (Oh! meu Deus , no se ja ,No seja essa ida van!)Si em ti no foi transformadaA alma de minha irm?

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    6 5 M inh'a lma toda sau dade s ,D e s a u d a d e s m o r r e r e i . . . Disse-me quando a minh'almaEm saudades lhe deixei .

    E a gora e s t a s a uda deTo triste e pallida, assimComo a saudade que gemePor ella den tro de mim ;

    A namorar-me os sent idos ,A fascinar-me a razo. . .Julgo que sinto a voz d'ellaFallar-me no corao!

    E xulta, m inh'alma, exulta !A os m eus lb ios, flor loua. . .No meu peito. . . Toma um beijo,Outro beijo, minh a irm !

    ' Outro beijo, que estes beijosN o t 'os prohibe o p udor :Sou teu irmo, no te manchamO s be i j os do me u a mor . . .

    De sne c e ss r io c i ta r ma is . Ousa mos c onvidar o le i tor a examinar a caracter s t ica ,po r n s c on sag rad a a es te gr an de lyr ico em5

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    n o s s a Historia da Litteratura, u m a d a sque alli foram feitas com mais amor.

    T7-II

    En t re tan to a ev o lu o p rb s eg u ia . Dep o isde haver tomado a colorao rel igiosa eemanuelica, a indiana e paizagista, a poesiaromntica t inha de, por assim dizer, syste-m atizar o desg osto da vida, dr dom u n d o , a Weltschmers dos espri tos aByron, Vigny, Musset e outros i l lus t res c-r ip h e u s d o p es s im is m o . J o s M ar ia e L a r in d o s o s im p les m en te e leg aco s ; Alv aresd e Azev ed o e s eu s co m p an h ei ro s Au re l ian oLe ssa e Berna rdo Gu ima res (es tes dousmuito menos) foram, por vezes, verdadeirosdesesperados . ,

    E m M A N O E L A N T N I O A L V A R E S D E A Z E V E D O (18311852), que se deve considerar,d ep o is d e G o n alv es D ias e J o s d e A len car, a mais al ta f igura do romantismo bras i le i ro , a poesia complicou-se de problemasnov os. O moo au ctor o typo represei!-

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    t a t ivo do home m mode rno, do filho do sculo no Bra s il .Na serie da evoluo l i t feraria el le noo pr ime i ro , m a s o m a is a c c e ntua do e xe m plo, ve rda de i ra me nte i l lus t re , de um produ-cto puramente local , de um fi lho de academ ia brasi le ira . Sabe m os qu e a lg un s poetas ,ora dore s sa gra do s , m sic os e p inc tore s do ste mpos c olonia e s n o sa hi ra m nu nc a doB rasi l ; aqu i f izeram-se o qu e foram ; mas,alm de terem sido a excepo, accresce quesua in tu i o e m ge ra l pe rma ne c e u qua s i pur a m e n t e p o r t u g u e z a - no s t o n s f u n d a m e n t a e s .Sabemos ainda que, j no sculo a findar,a lguns bons ta lentos se formaram, antes deAz e ve do, que se a c ha ra m na s me sma s c ondies de seu s p rede cesso res coloniaes, e d 'entre os nomes j apreciados l inhas ac imao caso de Moniz Barre to, de Dutra e Mel lo,de Fra nc isc o O c ta via no, de La r in do R a bello e vrios o u tr o s ; porm alm de noco ns t i tu re m a reg ra gera l, cum pre confessar qu e tod os esses no cheg aram inte i ramente a l ibertar-se da inf luencia da ant igam e -pa t r ia .

    Por to-Ale gre , Ma ga lh e s , Ma c ie l Monte i ro ,Jos Ma r ia do Ama ra l e Gon a lve s Dia svia jaram muito e completaram sua educao

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    68 l fora. A creao, com o j um a vez pon dermos, das academias brasi leiras foi deu m a lcan ce in te l lec tu a l ex t rao rd in r io ; lo g ona esph era pol t ica e ad m inis t r a t iv a com em o s a t e r h o m en s , co m o Eu s eb io , Nab u co ,Zacarias , Cotegipe, Rio Branco e c incoentaou tros, f i lhos de faculda des nac iona es, ea lg u n s d e l les n o p u zeram jam ais o s p s n a. Eu ro p a , o u o s p u zeram rap id am en te , eforam sem pre os m elhores . O m esm o sefoi d an d o n a l i t t e r a tu ra : Pen n a , L a r in d o ,Octaviano, Macedo, Azevedo, Lessa , Bern ard o G u im ares , A len car, A g rr io , J u n queira Frei re , Varel la , Teixeira de Mel lo ,M ach ad o d e As s i s , To b ias B arre t to , C as t roAlves , Luiz Delfino so fi lhos das eschqlasbras i le i ras e com el les tu do o qu e ho uv ede mais i l lus t re em nossa v ida espir i tual nosculo que finda.Pe nna s foi ao velho m un do colher amorte e Alencar apressal -a , j o d issemosalg u res .Com Alvares de Azevedo, o t rabalho comeado pelos pr imeiros romnt icos para arran car -n o s d a in f lu en c ia p o r tu g u eza , p ro g rediu cons iderav elm ente. O m oo poeta, edu

    cado pelos al lemes Pla nitz, a prin cipio , e,m ais t a rd e Tau tp h o eu s n o C o l leg io d e

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    - 69 Pe dro I I , c os tumou-se a o lha r pa ra o gra ndem u n d o das let tra s e da poes ia e a lr osgran des m estres greg os, la t inos, inglezes ,al lemes, hespanhes e francezes.O poeta da Lyra dos vinte annos foium ta le nto possa nte numa orga niz a o de m asiado franzina . N o pod ia viver m uito,era doentio, e era melancholico. I s to pode -se d 'el le dizer, p or qu e a verd ade m anifestada em \sua v ida e em seus escriptos.Essa na ture z a nota ve lme nte in te l l ige nte eidealis ta , n 'u m org anism o m rbido e desequi l ibra do, tornou-se s ingula rme nte a gi ta dapelo es tud o e pela le i tura dos son had oresdo tem po . N o foi anjo nem dem nio, qu ala teem ju lg ad o do us part ido s oppos,tos quema l o c om pre he nde ra m . T om ou por c e rto ,parte n 'a lgumas d 'esss brincadeiras prpriasde estudantes, essa poesia practica da vidaque bem se desfructa na quadra da moci-dade no perodo acadmico. N o teveporm, nem ensejo nem temp o de t ravaralgum amor ser io, a lguma paixo s incera eprofunda.

    Precoce em tudo, extranhava que esseaffecto no lhe t ivesse ainda chegado.D 'ahi o dua l ismo qu e se no ta nas suascomposies lyr icas de gnero amoroso.

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    Ora um lyr ismo idyl l ico , todo confiantee p u ra m en te id ea l ; o ra a am arg u ra d eq u em n o en co n t ro u a in d a u m co rao q u eo co m p reh en d es s e , o u a p in c tu ra d ' a lg u m ascena lasciva.Outro dual ismo d-se nas opinies , crenas e do utr ina s do poeta. Ide alis ta e cren tepor ndole , educado n 'um regimen re l ig ioso ,o sopro de sculo abalou-o em metade.Essa revoluo no se fez por in termdioda sciencia e de idas po si t i va s; fez-se p ormeio da po esia e da l i t tera tu ra rom nt ica .D'ahi , esse desequil brio, esse cambalear,essas du as facetas do g nio e das ins pir aes do m oo escrip tor. Po si o al is com-m u m a u m g ran d e n u m ero d e es p r i to s emnosso sculo , cheio de to rpidas renovaes e mutaes in te l lectuaes .Vida quasi toda subject iva, agitada peladesordenada lei tura, no teve, repetimos, ensejo de am ar, nem de go zar farta. D 'ahi,o desanimo, a exci tao, a impotncia dav o n tad e .Sua melanchol ia , ingeni ta e desenvolvidapela vacil lao das idas no proveio de injus t i as soffridas, de luc tas sociaes ou deproblemas scient i f icos em desharmonia coms eu s s en t im e n to s . N o tev e u m can to d e

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    71 alegria pelo am or sat isfei to e retr ibu do ,nem de desespero pelo am or t rahid o. T ev ese mpre que ixa s de n o ha ve r podido e nc ont r a r m u l h e r e s p u r a s e s o m e n t e m e s s a l i n a s . . .Foi s incero n ' is to, t ragicamente s incero.N o foi um viciado, um l ibert in o qu e fizesse a poesia de seus vcios, nem to poucoum'a lma c ndida e v i rge m que se most ra ssevic iada por systema.

    Foi um imaginoso, um t r is te , um lyricoqu e enfraqueceu as energias da vo ntad e eos fortes impulsos da vida no estudo e enfe rmou o e spi r ito na le i tura tum ul tu a r iados rom nt ico s a Byron, Shel ley, H eine ,M u s s e t e S a n d .

    Quanto ao valor de sua obra, deve sedizer que n'el le temos um poeta lyrico e oesboo d 'um conteur, d 'um dra ma t i s ta ed 'um cri t ico; o poeta , de qu e som ente orat ra tamos, superior a todas as mais manifestaes de seu talento.

    O lyrism o do jov en ar t is ta no o s imple s lyr i smo me la nc hol ic o a L ma rt ine .Ha n 'e l le gra nde va r ie da de , in t roduz ida

    por es t m ulo s object ivis tas , por scenas decostumes, preoccupaes pol t icas , por pass a g e n s h u m o r s t i c a s .

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    E ' um enga no su pp or ter s ido e l le umlacry m o s o p er en n e; h a em s u a o b ra p a g i nas , e das me lhores , de um com pleto ob -j e c t i v i s m o : Pedro Ivo, Theresa, Can tigado sertanejo, Na minha terra, Crepsculono mar, Crepsculo nas montanhas em u i tas o u t ras o p ro v am . E m Gloria moribunda, Cadver de poeta, Sombra deD. Juan, Bohem ios, Poem as do frade, eConde Lopo h a m u i to d ' es se s a tan is m o sd'esse desprazer terrvel da vida em queveio a dar certa ram ificao do ro m an t i s m o .Ha apenas mais ta lento do que em Bau-d e la i re ; p o rq u e , d e m ix tu ra co m o s d es a t i n o s , e ex t rav ag n cia s d o g n ero , em A zevedo apparecem m anifes taes de so e op ulento lyr ismo, que to e loqentes no possua o famoso po eta das Flores do Mal,

    l ivro posterior, al is , morte do nosso compatr io ta .O lyr ismo n 'es te amvel sonh ad or daLyra dos vinte annos p de soffrer u m ad iv is o cap i ta l : idealismo e humorismo.N ' u m e n ' o u t ro ex is tem n o ta s p es s o aes egeraes . Leiam-se Anima M ea, Harmonia,Tarde de vero, Saudades, Virgem mortaSpleen e charutos, M eu desejo, Lagrimas

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    73 da vida, M alva maan, Nam oro a cavalloe out ra s .Julgamol-o mais aprecivel na sua frmaseria e idealis ta , po sto reco nh eam os ser onosso poeta o prim eiro a usa r em l ingu a,p o r t u g u e z a d o humour, essa bella manifestao da a lma moderna.O homour ingleza e al lem ns noo t nha mos ja ma is c ul t iva do ne m no Bra s i lnem em Portugal , e convm no o confundir com a chalaa , a velha pi lhria lus i tan a;esta t ivemo l-a sempre, e sem pre a pos suioo re ino. Pa ra con cluir com este gran dss im opoe ta : uma qua l ida de de se u lyr i smo, e queo dis t i ng ue do d 'aquel les q ue o precederam, certa frescura das imagens.Em Ma ga lh e s , Por to Ale gre , Moniz Ba rreto, e a t em Gonalves Dias , Macie l Monteiro, L a r ind o R a be l lo e Jos M a r ia doAma ra l ha um c e r to tour na frma quelembra o velho c lassismo.N o p o e t a d a Lyra dos vinte annos acousa outra e a impresso bem diversa;o tom novo; v-se ni t idamente que seest a t rac tar com um genuno enfant dusicle. E como m ister sen t i r aqui mesm oa meiguice d 'esse estylo, quando el le traduzos bons sent imentos do poeta , no nos fur-

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    tamos ao prazer de, ao menos, ler as quatroprimeiras es t rophes da bel l i ss ima poesia d i r ig ida pelo mal logrado moo a sua me:E's t, a lma divina, essa Madona,Que nos embala na manh da vida,Que ao amor indolente se abandonaE beija uma criana adormecida.No leito solitrio s t quem vela,Tremulo o corao que a dr anceia,Nos ais do soffrimento inda mais bella,Pranteando sobre um'alma que pranteia.E, si pallida sonhas na venturaO affecto virginal, da gloria o brilho,Dos sonhos no luar, a mente puraS delira ambies pelo teu filho.Pensa em mim, como em ti saudoso penso,Quando a lua no mar se vae doirando;Pensamento de me como o incensoQue o s anjos do Senhor beijam pa ss an do . . .

    Como is to acar ic iante e doce! Como jsabia nes te desventurado jovem a poesiavasar n um a l ing uag em de o i ro as m aisfundas emoes d 'a lma!Mas Alvares de Azevedo no es tava s .Uma pleiade notabi l iss ima de moos arden-

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    " 75 tes pelo sa be r e pela g loria o cercava. Operodo que ns chamamos a primeira es-chola de S. Paulo (18451855) mereceriaum estudo especial em que, derredor o moopoeta, __ fossem estudados os typos de Octaviano, Jos de Alencar Lessa , Bernardo Guimares, Jos Bonifcio, Silveira de Sousa,Fe l ix da Cunh a , Fe rre i ra Via nna , D ua