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O INVENTORINTELIGENTE

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Copyright © 2000, virtualbooks.com.brTodos os direitos reservados a Editora Virtual BooksOnline M&M Editores Ltda.É proibida a reprodução doconteúdo deste livro em qualquer meio de comunica-ção, eletrônico ou impresso, sem autorização escritada Editora.

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O INVENTOR INTELIGENTE

Num profundo bosque, no ponto onde Ásia e Europase juntam, viviam, há muito, muito tempo, trêsirmãos e uma irmã.Pertenciam a uma raça muito estranha. Nunca sehavia conhecido ninguém parecido com eles, porquenão eram seres humanos, e sim terríveis duendes.Os irmãos se chamavam Cospe-Fogo, Relâmpago-Veloz, Fala-Longe, e a irmã, Olhos-Brilhantes. Seusnomes correspondiam as suas qualidades.Cospe-Fogo, o mais velho, era um gigantãoselvagem, que dia e noite só fazia soltar chamas efumaça pela boca. Fazia isto com tamanha força,que em sua volta tudo voava, e ninguém se atreviaa chegar perto dele. Sua alimentação consistiaexclusivamente em carvão de pedra e troncos deárvores.Relâmpago-Veloz tinha, em vez de pernas, doisraios ardentes, que terminavam em rodas. Estendiapor toda parte fortes arames, e sobre eles movia-secom tanta rapidez que nenhum animal da terra nempássaro do céu podia competir em velocidade comele. Num minuto era capaz de dar a volta ao mundointeiro, e regressar de novo ao seu bosque.Fala-Longe era um estranho anão, que possuía umahabilidade maravilhosa: era capaz de emitir

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qualquer um dos sons que se ouvem sobre a terra.Podia imitar as vozes dos homens e a dos animais.A pessoa pensava que estava ouvindo um amigo,ou um parente, mas não; era Fala-Longe que osimitava. Além disto podia fazer sua voz chegar aoslugares mais afastados do mundo; de modo que,mesmo estando do outro lado do globo, ele se faziaouvir perfeitamente por quem quisesse.A irmã, Olhos-Brilhantes, era uma moça de pernascurtas e de olhos que pareciam duas chamas.Daqueles olhos brotavam uma luz que iluminavatoda a região, como se fosse um fogo mágico. Mas,se ela voltasse as suas pupilas para um serhumano, este ficava completamente cego.Assim eram os quatro duendes. Viviam juntos, umajudava o outro com grande fidelidade, e por issopodiam fazer tudo o que desejavam.Mas o comportamento deles era sempre ruim, eprejudicavam as criaturas boas.Cospe-Fogo, servindo-se do seu hálito abrasador, sedivertia fazendo voar as pessoas e os animais queencontrava. Quando as suas infelizes vítimascaíam, se machucavam muito, quebrando uma pernaou um braço, e chorando de dor.Relâmpago-Veloz, com suas pernas cintilantes,voava de um lado do mundo para outro, roubandotudo o que encontrava, e antes que alguémpudesse dizer �Jesus!�, ele já estava de volta aoseu bosque, com o que havia saqueado.Fala-Longe praticava outra espécie de maldades:torturava miseravelmente os pobres que viviamperto de seu refúgio. Sentava-se junto do fogo edali falava com os outros. Enganava-os imitando a

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voz de algum amigo ou de algum parente.Certa vez duas crianças estavam sentadas a portade sua casa, esperando os pais. De repente ouvirama voz do pai, que dizia:- Filhinhos, venham até o bosque. Fiz paravoces uma grande torta, e poderão comê-la estanoite. Venham depressa, porque tenho de ir e nãoposso perder tempo!Alegremente as crianças correram para o bosque,mas nele não encontraram nenhuma torta! Porquenão era o papai quem estava chamando, era o Fala-Longe, que as fez afastarem-se de sua casa, edeixou que os lobos as comessem, de modo que aspobres criancinhas nunca mais puderam voltar paracasa!Estas e muitas outras coisas ruins fez Fala- Longe,até que todo o mundo se aborreceu com ele.Olhos-Brilhantes se comportava tão mal quantoseus três irmãos, pois seu coração, assim como osdeles, só guardava ódio. Com seus olhos de fogoela atraía os viajantes, durante a noite, para ospantanos, onde os infelizes se afogavammiseravelmente.Por fim, os seres humanos resolveram declararguerra aos quatro monstros e expulsá-los daquelaterra, para que não continuassem a prejudicar osoutros.Chefiados pelo seu Rei, marcharam para o escurobosque. Quando chegaram junto dele, cercaram-no,para não deixar que os quatro duendesescapassem. Só um pequeno grupo, enviado pelosoberano, entrou na selva, disposto a prende-los.Mas os duendes sabiam perfeitamente o pe-

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rigo que os ameaçava, e prepararam tudo paravencer seus inimigos.Relâmpago-Veloz esticou seus arames por todoo bosque e começou a correr por eles, com as rodi-nhas que lhe serviam de pés. Aqui fazia cair umguerreiro, ali esmagava outro. Mas sempre quealguém pretendia segurá-lo, desaparecia num abrire fechar de olhos. Os soldados berravamenfurecidos.De repente os que cercavam o bosque ouviramsurgir do meio dos árvores a voz do Rei:- Fujam todos, e salve-se quem puder! Estamosperdidos!Mas não era o Rei, era Fala-Longe, que imitava avoz dele!Ao ouvi-la, os guerreiros que estavam fora dobosque fugiram para as suas casas. Dentro dafloresta só ficaram o monarca e os poucos que oseguiam. Naquele momento se dirigiam para umaluz que parecia brilhar no horizonte, e não sabiamque aquela luz era a das pupilas de Olhos-Brilhantes, que os atraía para o lugar onde oterrível Cospe-Fogo estava escondido.Mal chegaram ali os soldados e o Rei, um furacãoabrasador os levantou na direção do céu.No fim de muito tempo eles caíram ao chão,queimados e em pedaços. Não regressou um só,nem mesmo o Rei, do campo de batalha.0 povo chorou muito a morte do seu soberano edesistiu de lutar contra os duendes, convencido deque não adiantava fazer nada contra eles.Mas naquela terra vivia um rapaz de cabelosvermelhos, e muito desembaraçado, cujo cérebro

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estava sempre trabalhando. De seus olhos sedesprendia inteligência, sabedoria e bondade. Seunome era Inventor.Um dia ele se apresentou aos seus concidadãos edisse:- Deixem-me ir sozinho ao bosque, porque tenho acerteza de que derrotarei os monstros.Apesar de sua dor, o povo não pode deixar de rir, etodos responderam:- Os duendes já fizeram muitas vítimas, entre nós.Tu és muito inteligente e muito útil, para morreres.E os pais dele, com seus corações cheios detristeza ao ouvirem o que ele falava, disseram:- Fica aqui conosco, filho querido! Temos desuportar esses duendes tal como suportamos osTerremotos e o vento, a considerá-los um castigodivino.A noiva dele se prendeu ao seu braço e sussurrou:- Não me abandones, Inventor! Que nos importamos monstros? Nós queremos é ser felizes em nossolar, onde ninguém nos fará mal!- Não! - exclamou o moço. - É uma covardia e umavergonha nos conformarmos deste modo com o male a crueldade! Tu talvez possas suportá-los, mas eunão! Prefiro atirar-me do campanário mais alto quehouver, e acabar assim com minha vida, pois prefiroa morte a desonra!Quando o ouviram falar e perceberam que suadecisão era mesmo firme, todos consentiram emque ele fosse ao bosque. Assim, em meio do prantoe dos lamentos de todo o povo, Inventor começousua viagem. Carregou com ele um saco cheio de lãmuito fina, uns óculos pretos, um rolo de arame e

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quatro cordas.Quando se aproximou do bosque, embrulhou - setodo na lã e colocou duas bolinhas dela nosouvidos. Depois, valentemente, penetrou no selva.Dali a pouco apareceu na sua frente o terrívelCospe-Fogo.O monstro soltou ruidosa gargalhada, e uma nuvemde fumaça lhe brotou da boca. O rapaz viu-searremessado ao ar como uma flecha. Mas quandocaiu não se machucou nem um pouco, porque a lãlhe serviu de colchão. O único dano que sofreu foificar um pouco moreno, por causa do fogo.Continuou no chão e fingiu que estava morto, poisachou que era a coisa melhor que podia fazer. Oduende o examinou por todos os lados.- Como ficaste tostadinho, ser humano! - exclamouele. - Vou descansar um pouco, e depois te levopara a minha irmã, para que sirvas de jantar.Quanto a mim, mesmo que sejas muito bemtemperado, não me apeteces. Prefiro carvão depedra!Meteu a mão no bolso e a tirou cheia de carvãonegro, que levou a boca. Até muito longe podia-seouvir o monstro mastigar a antracite e a hulha.Quando acabou de comer, caiu no chão e dali apoucos minutos roncava ruidosamente, enchendo deecos todo o bosque.Com grande cuidado, Inventor tirou a lã que oenvolvia, se aproximou do monstro adormecido elhe encheu a boca com grossas bolas de lã, demodo que seu hálito não pudesse sair; depois, comuma das cordas, amarrou-lhe os pés e as mãos,caminhando em seguida para o interior do bosque.

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Quando Cospe-Fogo acordou, viu-se amarrado ecom a boca cheia de lã. Então se torceu todo,tentando soltar-se, chocou-se com as árvores e osrochedos, fazendo um estrondo ensurdecedor.Fala-Longe quis correr em socorro do irmão e, derepente, a voz do pai de Inventor disse a este:- Volta depressa para casa, meu filho! Tua mãe estámorrendo! Ela quer ver-te antes de fechar os olhospara sempre! Não percas nem um segundo, senãonunca mais a verás viva!E a voz da noiva do Inventor murmurou:- Acorde-me, meu amado! Estão me raptando! Vemsalvar-me, senão estou perdido!Mas o rapaz continuou alegremente seu caminho,porque não podia ouvir nada! As bolas de lã que lhetapavam os ouvidos não deixavam penetrar nenhumsom.Por fim chegou a cabana onde vivia Fala-Longe, queestava tremendo de medo.- Estás seguro, malvado! - gritou Inventor. Puxou asegunda corda e num minuto amarrou a uma mesaFala-Longe, que não pode mais fazer o menormovimento.Naquele instante brilhou uma luz a distância e oiluminou em cheio. Rápido como uma faísca,Inventor voltou a cabeça para outro lado, tirou dobolso os óculos escuros e as colocou. Depois sedirigiu para a luz. Quando a alcançou, estendeu amão e agarrou com força a irmã dos duendes.Olhos-Brilhantes lutou em vão. Inventor a levou atéum carvalho, virou o rosto dela para o tronco, eamarrou-a com a terceira corda.Em seguida se preparou para segurar Relâmpago-

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Veloz, o último duende.Este se achava num país distante, roubando tudo oque encontrava por onde passava. Inventor prendeuseu rolo de arame naquele que Relâmpago-Velozestava usando naquela ocasião, para deslizar, e olevou até um charco. Depois se escondeu entre osarbustos e esperou.Súbito chegou assobiando o duende. Junto de suacasa percebeu, com grande surpresa, que o arameseguia outra direção, mas antes de voltar a si doassombro, e devido a rapidez de sua marcha, se viudentro d�água.Inventor saiu depressa do seu esconderijo e gritou:Duende perverso! Queres render-te? Se não ofizeres virão os seres humanos e te matarão, comsuas lanças e espadas!Relâmpago-Veloz compreendeu que não haviasalvação possível, e, submissamente, estendeu asmãos e os pés, que Inventor amarrou com a quartacorda. Feito isto, o rapaz foi embora, deixando oprisioneiro dentro d�água.Voltou para o povoado e anunciou a todos que porfim estavam livres das terríveis criaturas.Todos ficaram muito contentes e o nomearam seuherói e seu libertador. Em seguida correram aobosque, com espadas e mosquetes, a fim dematarem os inimigos. Mas Inventor os fez parar:ergueu mais a cabeça e em seus olhos brilhou a luzda sabedoria.- Não, - ordenou - não os assassinem, embora eureconheça que eles merecem mil vezes a morte.Mas não vão pagar seus crimes com a morte, e simcom uma eterna escravidão! Eles torturaram as

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criaturas humanas; pois bem: de agora em diantelhes serão úteis. Vão trabalhar para os homens, eser úteis com sua força.- Como podem esses monstros ser de algumautilidade para nós? - perguntou o povo.- Podem deixá-los comigo, e lhes mostrarei. Masantes metam numa carroça os prisioneiros etragam-nos para o cárcere da cidade.Eles assim fizeram, e todos esperaram impacienteso resultado das experiências de Inventor. Dia enoite se escutava em sua oficina o bater do martelona bigorna, o ranger da serra, o chiar da lima e ozumbir da perfuratriz.Um dia Inventor reuniu seus concidadãos na amplapraça defronte de sua casa.- Tragam os prisioneiros - ordenou.Guerreiros armados foram buscá-los. Enquanto istoele abriu de par em par as portas de sua oficina, eseus aprendizes tiraram de 1á quatro estranhosobjetos.O primeiro foi um caixão de carvalho, cheio deenfeites dourados, parafusos e pregos de diversascores. Dele saía uma espécie de buzina preta, e deum lado se via pendurado a um gancho um tubo queparecia de ébano.- Dentro deste caixão colocaremos o malvado Fala-Longe - explicou Inventor. - Daqui por diante eleimitará a voz que qualquer pessoa desejar ouvir, pormuito longe que ela esteja. Este aparelho serábatizado com o nome de �Telefone�!- Aqui temos outra caixa feita de madeira branca deá1amo, e cheia de arame de cobre. De hoje emdiante Relâmpago-Veloz viverá dentro dela, e

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quando lhe ordenarem ele sairá correndo pelosarames que esticaremos de uma cidade para outra,de uma ponta do globo a outra, através dosoceanos e ultrapassando as montanhas, e levaráminhas mensagens e entregará minhas ordens.Vamos chamá-lo de �Telegrafo�!- Para ti, Olhos-Brilhantes, eu tenho esta jaula devidro. Daqui por diante esta será tua casa. Sempreque alguém apertar este botão preto, tu abrirás osolhos e darás luz aos seres humanos, a fim de quesuas ruas e suas casas não fiquem mais no escuro.E tu chamarás �Luz Elétrica�.- Agora é a tua vez, Cospe-Fogo. A tua tarefa serámuito maior. Aprendizes, tragam-me a outra caixa.Os aprendizes tiraram da oficina um enormeengenho de ferro, com rodas, engrenagens e umaenorme chaminé.- Entra aí, Cospe-Fogo! - ordenou Inventor. - Agorasolta o vapor com todas as suas forças, e assimminha máquina se moverá. Depois prenderei a elaos vagões, onde as pessoas poderão entrar e viajarpor todo o mundo, graças ao vapor e a fumaça. Tute chamarás �Locomotiva a vapor�, e se trabalharesbem e cumprires com tua obrigação, receberás paracomer todo o carvão que quiseres. E agora, quemvai viajar de trem? Vamos, subam todos!- Muito bem! - gritou o povo, prorrompendo emaplausos ao inteligente Inventor, que haviatransformado os malvados duendes em coisas úteispara a humanidade!

FIM