002 externalidades
DESCRIPTION
sobre externalidadesTRANSCRIPT
-
1
MariadaConceioSampaiodeSousa
1.Introduo
Sob determinadas condies, os mercados privados no asseguram uma alocao de
recursoseficientenosentidodePareto.Emparticular,empresenadeexternalidadesnegativas
e positivas e de bens pblicos, os preos de mercado no refletem, de forma adequada, o
problemadaescolhaemcondiesdeescassezquepermeiaaquestoeconmica.Abrese,assim,
espao para a interveno do governo na economia de forma a restaurar as condies de
eficincianosentidodePareto1.Nessecontexto,umaquestoimportantedefinirqualopapel
dogovernonaproduoe/ouprovisodebenseservios.Noquesesegue,detalharemosesse
ponto.
2.Externalidades
Benspblicosequasepblicosno constituemasnicasexceesque comprometema
validade do Teorema Fundamental da Economia doBemEstar2.A presena de externalidades,
umaoutra categoriade falhademercado, tambmcontribuiparaexplicarporqueosmercados
privadosso ineficientesparaalocarosrecursos.Noquesesegue,examinaremos,emdetalhes,
essaquesto.
Externalidades ocorrem quando o consumo e/ou a produo de um determinado bem
afetam os consumidores e/ou produtores, em outros mercados, e esses impactos no so
consideradosnopreodemercadodobememquesto.Notesequeessasexternalidadespodem
serpositivas(benefciosexternos)ounegativas(custosexternos).
Assim, por exemplo, uma empresa de fundio de cobre, ao provocar chuvas cidas,
prejudica a colheita dos agricultores da vizinhana. Esse tipo de poluio representa um custo
externoporqueaagricultura,enoa indstriapoluidora,que sofreosdanos causadospelas
chuvascidas.Estesdanosnosoconsideradosnoclculodoscustosindustriais,queincluiitens
comomatriaprima,salriosejuros.Portanto,oscustosprivados,nessecaso,soinferioresaos
1 O conceito de eficincia no sentido de Pareto, criado pelo economista italiano VilFredo Pareto (1848-1923), refere-se a situaes em que no possvel melhorar a situao de um agente econmico sem piorar a situao de pelo menos um dos demais agentes. Modificaes que envolvem melhorias na situao de pelo menos um agente econmico sem piorar a dos demais agentes representam Melhorias de Pareto. Portanto, se uma determinada alocao de recursos eficiente no sentido de Pareto, no possvel fazer melhorias de Pareto a partir dessa alocao. 2 O Primeiro Teorema Geral da Teoria do BemEstar afirma que, na ausncia de falhas de mercado, alocao de recursos produzida pelo equilbrio competitivo eficiente, no sentido de Pareto.
2
custos impostoscoletividadee,porconsequncia,onveldeproduoda indstriamaiordo
queaquelequeseriasocialmentedesejvel.
Jaeducaogeraexternalidadespositivasporqueosmembrosdeumasociedadee,no
somenteosestudantes,auferemosdiversosbenefciosgeradospelaexistnciadeumapopulao
maiseducadaequeno so contabilizadospelomercado.Assim,porexemplo,vriosestudos,
baseadosemdiferentesmetodologiasmostramqueaeducaocontribuiparamelhorarosnveis
de sade de uma determinada populao. Em particular, nveismais elevados de escolaridade
materna reduzem as taxas de mortalidade infantil. Outros trabalhos mostram tambm que a
educaoconcorreparareduziracriminalidade.Todosessesbenefciosindiretosdaeducaopor
noseremapreadosnosocomputadosnosbenefciosprivados.Portanto,osbenefciossociais
sosuperioresaosbenefciosprivados,que incluemapenasasvantagenspessoaisdaeducao,
comoporexemplo,ossalriosobtidosemfunodonveldeescolaridade.
Notese, ainda, que os produtores podem causar externalidades sobre consumidores e
viceversa. Assim, por exemplo, a poluio provocada pela indstria de cobre aumenta a
incidncia de tuberculose entre a populao. Tambm, os fumantes contribuem para a
disseminao de doenas entre os no fumantes (fumantes passivos) e, nesse caso, temos a
gerao de externalidade de consumidores para consumidores. Por fim, o uso de automveis
privadoscongestionaotrfegoecontribuiparareduziravelocidadedotransportedemercadorias
e, portanto, representa um exemplo de custos externos para os produtores gerados pelos
consumidores.
Vamosagoraconsideraroimpactodessasexternalidadessobreaalocaoderecursos.As
externalidades levam os agentes, no diretamente envolvidos na atividade geradora da
externalidade,ausaremrecursosparacorrigirosefeitosdoscustos (benefcios)externos,e isso
provoca distores na alocao de recursos. Assim, por exemplo, os custos de internaes
hospitalares, decorrentes de doenas relacionadas poluio, embora representem,
efetivamente,gastosparaosdoentes,nosocontabilizadosnoscustosdaempresadefundio
de cobre.Ou ainda, os inmeros benefcios para a humanidade decorrentes da descoberta da
vacinacontraapoliomieliteno so inteiramenteapropriadospeloseu inventor,ocientistaDr.
AlbertSabin,edificilmentepodemserapreados.OQuadro1resumeessesaspectosedefineos
benefciosecustosprivadosesociais.
Quadro1:BenefcioseCustos,Privados,ExternoseSociais
Benefcios Externos Privados Sociais
3
eCustos (A) (B) [(A)+(B)]
Benefcios Atotalidadedosagentes
beneficiadospelas
externalidadespositivasno
pagaporessasvantagens
Osganhosso
auferidosapenas
pelosagentesqueos
financiam
Somados
benefciosprivados
eexternos
Custos Osagentesquesofremas
externalidadesnegativasno
socompensados
Oscustossopagos
pelosagentes
beneficiados
Somadoscustos
privadoseexternos
Nesse contexto, como omercado no capaz de levar em conta todos os elementos
constante doQuadro1, estamos em presena das chamadas falhas demercado.O fato de os
agenteseconmicos ignoraremoscustos (benefcios)externos,decorrentesdesuasdecisesde
produo e/ou consumo e, somente computarem os custos que eles desembolsam ou os
benefciosqueeles auferem, faz comque a alocaode recursos,produzidapeloequilbriode
mercado seja ineficiente. Istoporque,no casodasexternalidadesnegativas,oscustosprivados
subestimamoscustossociaisconduzindo,assim,aumaproduomaiordoqueaquelaqueseria
socialmente desejvel. No caso das externalidades positivas, como os benefcios privados so
inferiores aosbenefcios sociais,onveldeproduo correspondente alocaodosmercados
privadosficaraqumdaquelequeseriatimo,dopontodevistadasociedade.
Ascurvasdeofertaededemandapodemajudaraanalisaro impactodasexternalidades
sobreaatividadeeconmica.Paratal,vamosconsiderarqueopreorepresentaadisponibilidade
apagarpelobeme,portanto,podeservistocomoobenefciodecorrentedoconsumodeuma
unidade adicional do bem ou servio, isto o benefcio marginal privado. Podemos, ento,
renomearacurvadedemandademercadocomoacurvadebenefciomarginalprivado.Acurva
deofertaenvolveosinsumosexigidosparaaproduodosbenseserviose,portanto,podeser
interpretadacomoacurvadecustoprivadoporunidadeproduzida(customarginal).3Aregrade
equilbriodemercadoexigequeaofertasejaigualdemandae,portanto,queoscustosprivados
sejamiguaisaosbenefciosprivados.Nogrfico1, issoimplicaqueaquantidadeQ0produzida
aopreoP0.Nesseponto,oscustosebenefciosprivadosseigualam.
3 O custo marginal de um determinado bem corresponde variao nos custos totais decorrente da deciso de produzir uma unidade adicional desse bem.
4
Grfico1:EquilbriodosMercadosPrivados
2.1ExternalidadesNegativas
Vamos agora considerar o caso de um bem ou servio que envolva a gerao de
externalidades negativas. Esse o caso, por exemplo, dos custos da empresa de fundio de
cobre, que no est levando em conta os efeitos negativos da poluio. O custo total dessa
atividade,paraasociedade,incluitantooscustosprivadosdaproduodecobrecomoosdanos
causadospelasexternalidades (custosexternos)aosagricultoresecidados. Ogrfico2 ilustra
esseponto.Nele,paracadanveldequantidade,ocustoexterno(custoassociadoaexternalidade)
acrescentado ao custo privado (CMP) para formar o custo social (CMS). Assim, a diferena
verticalentreasduascurvasrepresentaoscustosexternos(CE),porunidadeproduzida.
Grfico2:ExternalidadesNegativas(CustosExternos)emMercadosCompetitivos
O (custo marginal privado)
D (benefcio marginal privado)
Eo Po
Qo
D (benefcio marginal privado)
Quantidade
Preo
5
As curvas de oferta e demanda consideram apenas os custos e benefcios privados
excluindo aqueles associados a terceiros.Nesse caso, no equilbrio demercado, a combinao
preoquantidadePmeQm.Esseequilbrionorefleteatotalidadedoscustosparaasociedade
porqueno consideraos custosexternos.Quando se contabilizao custo adicional imposto aos
agricultores,opreoeaquantidadetransacionadadecobredeveriamser,respectivamente,P*e
Q*. A falhademercado ficaevidenciadapelo fatodeomercadogeraruma superproduode
cobreeavalilaapreosinferioresaosseuscustostotaisdeoportunidade.
2.2ExternalidadesPositivas
Empresenadeexternalidadespositivas,osnveisdeproduo,associadosaoequilbriode
mercado,soinferioresquelesqueseriamsocialmentetimos.Assim,porexemplo,aexpanso
daeducaobsicagerabenefciosparaasociedadequeextrapolamosbenefciosauferidospelos
estudantesesuasfamlias.Essesbenefciosexternosnosoconsideradosnadecisoprivadade
frequentaraescolaporqueosestudantesnosocompensadospelasvantagensusufrudaspelo
restodacoletividade,decorrentedesuadecisodeestudar.Emtermosdoinstrumentaldaoferta
e da demanda, a curva de benefciomarginal para os estudantes situase abaixo da curva de
benefciosociale,portanto,onveldeescolaridadecorrespondenteaoequilbriodemercado,Qm
inferior quele que seria escolhido caso fossem considerados os benefcios externos dessa
atividade(Q*).
Grfico3:ExternalidadesPositivas(BenefciosExternos)emMercadosCompetitivos
Demanda (benefcio marginal)
EM
P*
Q*
Custo marginal social = custo marginal privado + CEC
E
Preo
Quantidade
E*
QM
PM
Oferta (Custo marginal privado)
6
2.3OProblemadosRecursosComunitrios(TheTragedyofCommons)
Umcasoparticulardeexternalidadesaquelequeenvolveosrecursoscomunitrios,cuja
propriedadeno individualizada.Umexemploclssicodesseproblemao casodospssaros
silvestres, muitos deles, como o galodecampina (cardeal do nordeste), hoje ameaados de
extino,emrazodeumacaapredatrianopassado.Paraumcaador individualvantajoso
prenderumdessesanimais,cujopreoderevendaelevado.Porm,se todosassimofizerem,
esteprocedimentoconduzirextinodaespcie.Poroutro lado,noadiantamuitoseums
caadorresolverpouplosporqueumpssaroqueelenocapturaseraprisionadoporumoutro
caadore,portanto,obenefciosernfimo.
Nessasituao,tornaseevidenteoconflitoentre interessespblicoseprivados jqueo
benefciomarginalprivado(preodemercadodopssaro)superioraobenefciomarginalsocial
(quedeveria levaremcontao impactosobreofuturodaespcie). Dopontodevistadopas,e
mesmodos caadorescomoumgrupo,aestratgiatima seria limitara capturaparagarantir,
assim,aexistnciadessasavessilvestres.
Arazodoproblemaaquiofatodeningumdeterapropriedadesobreessesanimais,
sendoassim, consideradosum recurso livreNesse caso,aspessoasno consideram todosos
custosebenefciosderivadosdesuasaese,portanto,notmincentivosausaressesrecursos
deformaeficiente.Apropriedadeconjuntadosrecursosconduz,pois,aoseuusoindiscriminado.
A soluoparaesse tipodeproblema requerqueogovernoatuecomo se fosseoproprietrio
dessesrecursos.Nessecaso,pormeiodeesquemasregulatrios(verSeo3.4.2),ogovernopode
Oferta (custo marginal privado)
Demanda (benefcio marginal privado)
EM PM
QM
E*
Q*
P*
Preo
Quantidade
B
E
Benefcio marginal social = Benefcio marginal privado Benefcio de Externalidade (BE)
-
7
restringiraquantidadedeaves silvestresquepode ser apreendidaevitando,assim,aextino
dessesanimais.
2.4SoluesparaasExternalidades
A anlise desenvolvida nas sees anteriores aponta para a existncia de distores na
alocaoderecursosquegeram ineficinciastantonaproduocomonoconsumo.Fazse,pois,
necessrio implementar mecanismos capazes de corrigir tais externalidades. Essas solues
podem ser pblicas e privadas e implicam, no jargo dos economistas, a internalizar as
externalidades.Noque seseguediscutiremos,emdetalhes,asdiferentessoluesprivadase
pblicasparaoproblema.
2.4.1SoluesPrivadas
Nesta subseo discutiremos de que modo o setor privado pode atuar na correo das
externalidades. Nesse sentido, discutiremos a internalizao das externalidades por meio de
fuses, sanes sociaisepelanegociaodeCoase. Em seguida, faremosumabrevedigresso
sobreoslimitesdessaformadecontroledeexternalidade.
FusesUma forma clssica de solucionar o problema das externalidades consiste na sua
internalizaopormeiodacoordenaodasdecisesentreaspartesenvolvidas.Assim,sea
empresa de fundio de cobre decidisse adquirir o controle das exploraes agrcolas
prejudicadaspelapoluio,ento,odanocausadopelaschuvascidasseriaagorasuportadopela
indstria.Nessecaso,oscustosexternos,derivadosdaproduoexcessivadecobre,aoinvsde
serem transferidos para os agricultores, seriam pagos pela nova empresa, composta dos
segmentosagrcolae industrial,reduzindo,assim,seus lucros.Nessasituao,noh incentivo
paraqueadecisodeproduzircobree/oubensagrcolassejafeitaseparadamente, jqueuma
influenciaaoutra.Istoporqueaproduoexcessivadecobreacarretariaumaquedanoslucrose,
portanto, na oferta do segmento agrcola. Mais precisamente, os responsveis pela nova
empresa produziriam cobre at o ponto em que os benefcios marginais gerados por essa
produofossemiguaisaoscustosadicionaisincidentessobresuassubsidiriasagrcolas.
8
Essainternalizaodasexternalidadessolucionaria,pois,oproblemadasuperproduode
cobre, responsvelpelaproduodosefeitosexternosnegativos.De fato, a rigor sequeresse
problema seria referido comoexternalidade jque tratarseiadeumproblemaenvolvendoa
tomadadedecisesdentrodeumanicafirma.
SanesSociaisUma outra forma de implementar a internalizao das externalidade pode ser feita por
meiodesanessociaisapropriadasquepenalizemosagentesresponsveispelasexternalidades
negativasepremiemaquelesquegeramexternalidadespositivas.Assim,porexemplo,emmuitas
sociedades, sujar locais pblicos considerado um comportamento reprovvel e contrrio ao
exercciodaboacidadania.Nessassociedadesaprendese,desdecriana,queemborasejamais
fcil jogar,porexemplo,cascasdebananaeembalagensdiversasnocho, istonoaceitvel.
Devese,pois,carreglasatencontrarocestodelixomaisprximo.NoJapo,pessoasresfriadas
que no usammscaras de gaze para proteger os demais do vrus da gripe so severamente
criticadas.Atmesmoas religies tmpreceitosmoraisque induzemaspessoasa levaremem
contaoscustosebenefciosexternosdesuasatividades.Istoestbemsumariadonaregraurea
do cristianismo Tudo quanto queres que os outros faam para ti, fazeo tambm para eles,
includanosensinamentosdoSermodaMontanha.
Essa censura (ou aprovao) social contribui, em muitos casos, para inibir (estimular) os
comportamentoscausadoresdeexternalidadesnegativa(positiva)eestimulaaadoodeatitudes
queconsideramobemestardacoletividadeeliminando,assim,asineficinciasdadecorrentes.
DireitosdePropriedadeeoTeoremadeCoaseAs externalidades proliferam, particularmente, em situaes em que os direitos de
propriedadenoestobemestabelecidos.Essesdireitoscorrespondemaoconjuntodenormasou
regrassociais(definidaslegalmente,ouno)querestringemasaesindividuaisparapreservaro
bemestarda comunidade.Aexistncia desse sistemade normaspermite,pois, parte lesada
recorreraosistemalegalparaobtercompensaopordanoscausadosporterceiros.Quantomais
definidosforemessesdireitosdepropriedade,maisacomunidadeestarprotegidadeeventuais
efeitosexternosnegativos.Assim,porexemplo,regrasclaramenteestabelecidasnaconvenode
condomnio dos edifcios residenciais, referentes ao uso de instrumentos musicais, podem
proteger osmoradores contra a atividade noturna de um enrgico e insone baterista,mesmo
talentoso. Por outro lado, quando ningum detm os direitos de propriedade, no existem
9
incentivosparaosagenteseconmicosadotaremcomportamentoseficientes,jquenohcomo
punilos pela adoo de atitudes predatrias. No exemplo anterior, uma conveno de
condomniopoucoclaranotocanteaosossegodeixariaosmoradoresmercdo jovemmsico
e/outransformariaocondomnioemummundohobbesiano,emquesomenteosmaisviolentos
(ouosmaisespertos)conseguiriamcalaroimportunomsico.
Nesse contexto, a internalizao das externalidades pode se fazer pormeio da soluo
proposta por Coase (1980). Desde que os direitos de propriedade estejam bem definidos,
independentementedequemosdetenha, possvel solucionaroproblemadasexternalidades
negativas,comoasacimaexemplificadas,pormeiodanegociaoentreaspartesenvolvidas,sem
requereraparticipaodegoverno,comopodercoercitivo.Esseresultadoconhecidocomoo
TeoremadeCoase(RonaldCoase(1960)).Elepodeser ilustradodaseguinteforma. Imagineque
aoviajarparaParis,acompanhiareaextraviasuabagagemesadevolvenoBrasil.Aofazlo,
ela lhe impesrios inconvenientes(externalidadesnegativas),particularmente,seaviagemfor
no inverno.Comoaconvenoda IATA,que regeos transportesareos internacionais,garante
que a companhia area deve transportloe a sua bagagem, nos limites depesopreviamente
definidos, fica claro que cabe companhia compenslo (definio clara dos direitos de
propriedade).Acompanhiareapode, inicialmente,propor indenizlocomobasenoestipulado
pelamesmaconveno,quenamaioriadoscasossequerrepeovalordocontedodabagagem.
Vocdecideno aceitare fazuma contraproposta:eladeve lhe reembolsar todasasdespesas
feitasemParisparasubstituirocontedodamalaeaindalhedarduaspassagensdecortesiano
mesmo trecho. Depois de algum tempo de negociao o acordo fechado, com apenas uma
passagemreasdecortesia.EsseexemploumcasoondeoTeoremadeCoaseseaplicaporque
os custos de transao so baixos, existem apenas duas partes envolvidas e os direitos de
propriedadeestoclaramentedefinidos.
Porm,essetipodesoluonofuncionabemquandoaspartesenvolvidassonumerosas.
Para grandes grupos, as dificuldades de organizlos para tomar medidas legais so grandes,
particularmente,emrazodoproblemadocarona(freerider).Nessecaso,custosdetransao
elevados podem comprometer a soluo demercado para o problema das externalidades em
razo da impossibilidade de firmar os contratos estveis entre aqueles que causam e os que
sofremos efeitos externos.Assim,porexemplo, quando as externalidades so provocadas por
bens (males) pblicos, como a poluio, que envolvem milhes de agentes, virtualmente
impossvelquenegociaesdotiposugeridoporCoasepossamchegaraumacordosatisfatrio,
acustosrelativamentebaixos.
10
Porfim,oTeoremadeCoasesupequepossvelidentificaraorigemdosdanosexternose
atribulosadeterminado(s)agente(s).Elenoseaplicariapoisnoscasosemqueaexternalidade
estassociada impossibilidadedeexcluso (indivisibilidade)comoocaso,porexemplo,que,
dosrecursoscomunitriosedosbenspblicospuros.
Os limitesdas soluesprivadas anteriormentediscutidasdecorremdapresenadevrios
fatores.Emparticular,quandoaexternalidadeenvolvebenspblicospuros,aimpossibilidadede
excluso(esuaindesejabilidade)exigeapresenadeumaforacoercitivaquepossaassegurara
provisodobemou servioemquesto.Poroutro lado,aausnciadedireitosdepropriedade
bemestabelecidoscomoocasodosrecursoscomunitrios fazcomasoluoprivadano
seja eficiente no sentido de Pareto justificando, assim, a interveno do estado. Por fim a
existnciadeinformaoimperfeitaedecustosdetransaoelevadospode,tambm,inviabilizar
acorreodasexternalidadessemintervenodogoverno.
2.4.2SoluesPblicas
Dentreassoluespblicasparacorrigirasexternalidadesdestacamseatributaocorretiva
(impostosesubsdios)econtroledosefeitosexternosmedianteousodeesquemasregulatriose
multas.Noquesesegue,descreveremos,brevemente,essassolues.
ImpostoseSubsdiosCorretivos(Pigouvianos)A correo das externalidades pode se fazermediante o uso da tributao corretiva. Essa
formade correo conhecida como tributaopigouviana,em razo de ter sido inicialmente
propostaporArthurCecilPigou(18771959),economista inglsresponsvelpeladistinoentre
custos e benefcios sociais e privados e pela ideia de que o governo,mediante o uso de uma
combinaoapropriadadeimpostosesubsdios,poderiacorrigiressetipodefalhademercado.
Nessecaso,ogoverno,aopenalizarosagentescausadoresdasexternalidadespormeioda
cobrana de impostos (subsdios, no caso de externalidades positivas) , aumentar os custos
dessesagentes fazendo,assim,comqueelesconsideremosefeitosexternosdesuasaes.Em
termosdogrfico2,istoequivaleadeslocaracurvadecustomarginal(benefciomarginal)para
cimaeparaaesquerda(paracimaeparaadireita).Dessaforma,possvelidentificaronvelde
impostos (subsdios), exigido para que a curva de custo marginal (ou de benefcio marginal)
privado coincida com a curva de custo (benefcio) marginal da sociedade corrigindo, assim, o
problemadeeficinciadecorrentedapresenadeexternalidades(grficos4e5).
11
Grfico4:CorreodeExternalidadesNegativas(CustosExternos),emMercadosCompetitivos,
MedianteoUsodeumImposto,
Naausnciade tributaocorretiva,as firmasproduziroemQm,ondeocustomarginal
privado igualaobenefciomarginal.A introduode impostoporunidadedepoluio (custo
marginaldepoluio),CB,representaumcustoadicionalparaosprodutores,obrigandoosalevar
emcontaosprejuzoscausadossociedadepelasexternalidadenegativas.Nessecasopossvel
atingir o ponto eficiente em que o custo marginal social igualase ao benefcio marginal; a
produoreduzidaparaQ*.Napresenadeexternalidadespositivas,associadasaoconsumode
um determinado bem, o benefcio marginal social excede o benefcio marginal privado e o
consumodessebemser inferiorquelequeseriasocialmentedesejvel.Seogovernosubsidia
essa atividade, pagando por cada unidade consumida, a diferena entre o benefcio marginal
Demanda (benefcio marginal social)
EM C
Q*
Custo marginal social (incluindo o custo marginal de poluio) Preo
Quantidade
E*
QM
B
Custo Marginal Privado
Imposto por unidade sobre a poluio (custo marginal da poluio)
12
socialeobenefciomarginalprivado,CB,oconsumodessebempassaraserQ*,quecorresponde
quantidadesocialmenteeficiente.
Grfico5::CorreodeExternalidadesPositivas(BenefciosExternos),emMercados
Competitivos,MedianteoUsodeSubsdios
RegulaeseMultasUmaoutraformadeogovernolidarcomexternalidadesnegativas,comoapoluio,por
meio da fixao de esquemas regulatrios. Nesse caso, o agente que provoca a poluio
obrigadoareduziraproduodaatividadequegeraapoluio,paraosnveisquecorrespondam
quantidadesocialmenteeficiente(Q*,nogrfico6);casocontrrioterdeenfrentarassanes
legais que podem ir desde o pagamento de vultosas multas at a proibio de continuar
funcionando.Oproblemaidentificarqualonveldepoluiosocialmentetimo.Essenvelexige
queselevememcontatodososcustosassociadosreduodapoluiobemcomoosbenefcios
dessareduoporexemplo,adiminuiodosdanosaomeioambiente.
Oferta
Demanda
E*
Q*
C
Preo
Quantidade
Benefcio marginal social B
Subsdio por unidade
produzida
-
13
Oscustosdereduoincluemaquelesrequeridosparareduzirapoluio,taiscomofiltros
antipoluentes,bemcomooscustosadicionaisdeseutilizar tecnologiaslimpaseoscustosem
termos da reduo dos lucros decorrente da decisode reduzir a poluio. Esses custos esto
sumariadosnacurvadecustomarginaladicionaldapoluio(Grfico6).J,acurvadebenefcio
marginaldereduodapoluiomostraovalordecadaunidadedereduodepoluio,expresso
emtermosdosbenefciosexternos,associadosreduodosdanoscausadospelapoluio.Esses
danos incluem as perdas dos agentes econmicos afetados adversamente pela produo de
externalidades negativas, incluindose a, consumidores e produtores, o custo das medidas
tomadasporessesagentesparaatenuaresses impactosnegativos.Supondoseque acurvade
customarginaladicionalcrescenteequeacurvadebenefciomarginaldecrescenteonvelde
reduodepoluiotimoaqueleemqueBMG=CMA,queocorrenoquandoasduascurvasse
interceptam,nopontoQ*.
Grfico6:EficincianaProduoemPresenadeExternalidadesPositivas(BenefciosExternos)
emMercadosCompetitivos
3.BensPblicos
Osbenspblicospurosou,simplesmente,benspblicos,constituemumexemploextremo
deexternalidade.Defato,aexemplodosrecursoscomunitrios,apropriedadedessesbensno
pode ser individualizada em razo desse bem ou servio no ser divisvel. Alm disso,
contrariamente, aos bens privados, o ato de consumir o bem pblico no reduz a quantidade
disponvelparaoconsumodasoutraspessoas.Portanto,osbenspblicospurosapresentamduas
importantescaractersticas:oconsumodessesbensnoexcludenteenorival.
Oferta
Benefcio marginal privado de reduo de poluio
E*
Q*
C
Custo de reduo de Poluio
Quantidade de reduo de poluio
Benefcio marginal social de reduo de poluio
B
Custo marginal privado de reduo da poluio
QM
EM
14
Aimpossibilidadedeexcluso(ouadificuldade,geradaporcustoselevados)implicaqueos
indivduosnopodem serprivadosdosbenefciosdousufrutodobeme/ou servio,mesmo se
no tiverem contribudo para o seu financiamento. Um exemplo de bem que apresenta essa
caractersticaumespetculopirotcnico,quepodeservistopelaspessoasdequintais,jardinse
praaspblicas.Istodificultaaprovisoprivadadessetipodeeventoporqueaimpossibilidadede
excluso impedequesejamcobrados ingressosparafinanciaroscustos, incluindoseaos lucros
do organizador. Afinal, porque pagaramos por esse show, se podemos vlo gratuitamente?
Portanto,nenhumempresrioprivadoseinteressariapelasuaproduoe,ento,apesardaforte
demanda,oespetculopoderianoserproduzido.Aimpossibilidadedeexcluso,aoinviabilizaro
uso do sistema de preo para racionar o consumo, reduz os incentivos para o pagamento
voluntriodosbenspblicos.Essarelutnciaemcontribuir,voluntariamente,parafinanciaresses
bensconhecidacomooproblemadocarona(freerider).
Anorivalidadenoconsumooutracaractersticadobempblico. Isto implicaqueuma
vezqueobemestdisponvel,ocustomarginaldeprovlo,paraumindivduoadicional,nulo.
Considere, por exemplo, o caso do espetculo pirotcnico. O custo do espetculo, uma vez
determinado,noalteradopelofatodeumgrupoadicionaldeturistasdecidirvlo.Ademais,
essadecisodosturistasemnadareduzousufrutodoeventopeloshabitanteslocais.Portanto,o
custo marginal de proviso do espetculo para esses espectadores adicionais zero. Isso
representaumfrancocontrastecomosbensprivados,quesecaracterizampornveiselevadosde
rivalidade no consumo.De fato, quando ocupamos um lugar, por exemplo, no cinema ou no
teatro,estelugardeixadeestardisponvelparaoutraspessoas.
Outrosexemplosdebenspblicospurossoosistemadedefesanacional,oconhecimento
cientfico,ummeioambientesaudvel,egovernoseficientes.Emcomum,essesbenstmofato
deseuconsumosernoexcludenteenorival.
3.2 BensQuasePblicos
Adefinio debem pblico, anteriormente discutida,no absoluta,mas varia com as
condiesdeuso,demercadoe comoestadoda tecnologia.Vejamosporexemplo,o casoda
energiaeltrica.Esseservio,quandousadonosdomicliosprivados,umbememinentemente
privado:casoacontadeenergianosejapaga,oserviosuspensoe,portanto,osusuriosso
excludosdoseuconsumo.Poroutrolado,tratasedeumbemcujoconsumorival.Quandoeu
consumo uma determinada quantidade de quilowatts, ela j nomais est disponvel para os
demais consumidores. Por outro lado, quando essa energia usada para iluminar os locais
15
pblicos,elatornaseumbempblicopuro.Istoporqueimpossvelexcluiralgumdobenefcio
da iluminao pblica, alm de desnecessrio; o custo de prover esse servio para passantes
adicionaiszero.Umoutroexemplomenosextremoocasodasestradasderodagem.Assim,o
usodeumaestradavicinal,semideserta,podesernorivalnamedidaemque,nela,otrfego
muito inferior a sua capacidade e, portanto, o custo marginal de utilizao por um veculo
adicionalmuitobaixo.Poroutro lado,emborasejapossvelexcluirosveculosdeseuusopor
meio da introduo de um pedgio, provavelmente os custos de instalao e de manuteno
dessepedgioserosuperioresarrecadaoe,porconseguinte,novalerapenaintroduzilo.
Porm,quandoaestrada,porexemplo,aViaDutra,queligaSoPauloaoRiodeJaneiro,alm
do custo de excluso ser compensatrio, a rivalidade no consumo se expressa por meio do
congestionamento.Nessecaso,essarodoviapodeservistacomoumbemprivado.
Podemos, assim, pensar que grande parte dos bens satisfaz, apenas parcialmente, as
condiesde impossibilidade de excluso e norivalidade no consumo.Os bens que atendem
parcialou totalmenteapelomenosumadessascaractersticas sochamadosdebenspblicos
impurosoubensquasepblicos.UtilizandoodiagramapropostoporStiglitz (1987),oGrfico1
mostra,noeixohorizontal,apossibilidadedeexclusoe,noeixovertical,arivalidadenoconsumo
(customarginaldeproviso),tornaseclaroque,aoinvsdeumaseparaobemmarcada,existe
umcontinuumentrebenspblicoseprivados.Nocantoinferioresquerdodessediagrama,esto
osbenspblicospuros,paraosquaisoscustosdeexclusosoinfinitosenoexisterivalidadeno
consumo.No canto superiordireitoencontramseosbensprivados,paraosquaisaexcluso
possvelabaixoscustoseocustomarginaldeprovisoelevado.Osbenspblicosimpuros(bens
quasepblicos)situamseentreessesextremos.
Grfico7BensPblicosPuroseImpuros
16
Assim, servios de sade pblica, tais como vacina contra doenas infectocontagiosas,
beneficiamnosomenteaspessoasvacinadas,masapopulaocomoumtodo,jqueprevinemo
surgimentodeepidemias.Ademais,ocustomarginaldavacinaopositivoeaexclusodeno
pagantespossvel.Porm,nopossvelexcluirdosbenefciosaliadosreduodasepidemias
(nem cobrar por tais benefcios) aqueles que no se vacinaram. Isso torna esses servios bens
pblicos impuroseporessa razo,muitosgovernosmantmprogramasgratuitosdevacinao
paraencorajar,eatmesmoobrigar,aimunizaomaciadapopulao.
Umoutroexemplodebensquasepblicososerviodebombeiros.Nessecaso,existe,
claramente,rivalidadenoconsumojqueumaequipequesaiparaatenderumaocorrncia,deixa,
imediatamente, de estar disponvel para outros casos. Portanto, o customarginal de proviso
desse serviopositivoepode serbastanteelevado.Porm,na formaatualdemoradia,onde
partesignificativadaspessoasviveemgrandesaglomeraesurbanaseemcondomniosverticais,
esse servio apresenta, tambm, dificuldades de excluir os que no contribuem para o seu
financiamento. Ele perde, assim, parte do seu carter privado sendo por isso, namaioria dos
pases, oferecido pelos governos e o seu custo financiado, compulsoriamente, por meio de
impostosetaxas.
17
Podemosagoraentoresumirnossaargumentaosugerindoquealgunsbensquasepblicos
devem ser, prioritariamente, ofertados pelo estado. Quais desses bens enquadramse nessa
categoriaumaquestoaberta,jqueafronteiraentreelesestlongedeserconsensual.
3.3 IneficinciasAssociadasProvisoPrivadadeBensPblicos
Voltemos agora ao exemplo da defesa nacional. A questo saber qual ser o nvel
eficientedeprovisodessebempblicopuro.Suponhamosque, comexceodospacifistas, a
maioria da populao concorde com a necessidade da existncia de um sistema de defesa do
territrio. Porm, dentre aqueles que o defendem, existem dois grupos distintos: aqueles que
acreditam em ataques externos iminentes e os que imaginam que no sero atacados. Os
primeirosestarodispostosacontribuirparafinanciarasforasarmadasgarantindo,assim,queo
passejadefendidoemcasodeataqueexterno.Josqueimaginamqueapossibilidadedeserem
atacados pequena tendero a pensar que gastos com servios de defesa nacional no so
prioritrios e, portanto, se recusaro a contribuir com o necessrio para a proviso desses
servios.Casoelesfossemfinanciadosporessetipodecontribuiovoluntria,razovelsupor
que o montante arrecadado no seria suficiente para custear um sistema de defesa nacional
eficiente,no sentidodedissuadiros inimigosexternos.Osnveisde segurananacional seriam,
pois, inferiores queles que seriam obtidos por meio da proviso pblica, financiada
compulsoriamentepormeiodetributos.
A ineficincia da proviso privada de bens pblicos puros pode, ainda, ser ilustrada
utilizandoseoexemplodaestradavicinalpoucofrequentada.Vimosqueocustomarginaldeuso
dessa estrada, para um veculo adicional, praticamente nulo e, portanto, no faz sentido
racionar a sua utilizao. Podemos ilustrar esse problema Supondose que o governo decida
terceirizaraadministraodessaestradaparauma firmaprivada,quecobrarpedgiopeloseu
uso,essa cobranadesencorajaro trfegode veculos (jque agoraprecisopagarpelouso
dessa via) conduzindo, assim, subutilizao da estrada vicinal. Essa restrio desnecessria
representaumcusto,emtermosdebemestar,paraasociedade.nessesentidoqueafirmamos
queaprovisoprivadadessesserviossocialmenteineficiente.
4.Concluso
Nestecaptulo,examinamososcasosemqueaintervenodogovernonosmercados,ao
ajudararestaurarascondiesdeeficinciamedianteascorreesdasfalhasdemercadoem
particularaquelasdecorrentesdaexistnciadebenspblicoseexternalidades.Notese,porm,
queaprpriaaodogoverno tambmpodegerar ineficincias conhecidas comofalhasde
18
governoe,nessesentido,importantelevaremconta,namedidadopossvel,essescustosda
intervenogovernamentalquandodacorreodofuncionamentodosmercadosprivados.
Stiglitz,J.A(1988)EconomicsofthePublicSector.NewYork:NortonBooks.