002 externalidades

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1 Maria da Conceição Sampaio de Sousa 1. Introdução Sob determinadas condições, os mercados privados não asseguram uma alocação de recursos eficiente no sentido de Pareto. Em particular, em presença de externalidades – negativas e positivas – e de bens públicos, os preços de mercado não refletem, de forma adequada, o problema da escolha em condições de escassez que permeia a questão econômica. Abrese, assim, espaço para a intervenção do governo na economia de forma a restaurar as condições de eficiência no sentido de Pareto 1 . Nesse contexto, uma questão importante é definir qual o papel do governo na produção e/ou provisão de bens e serviços. No que se segue, detalharemos esse ponto. 2. Externalidades Bens públicos e quasepúblicos não constituem as únicas exceções que comprometem a validade do Teorema Fundamental da Economia do BemEstar 2 . A presença de externalidades, uma outra categoria de falha de mercado, também contribui para explicar porque os mercados privados são ineficientes para alocar os recursos. No que se segue, examinaremos, em detalhes, essa questão. Externalidades ocorrem quando o consumo e/ou a produção de um determinado bem afetam os consumidores e/ou produtores, em outros mercados, e esses impactos não são considerados no preço de mercado do bem em questão. Notese que essas externalidades podem ser positivas (benefícios externos) ou negativas (custos externos). Assim, por exemplo, uma empresa de fundição de cobre, ao provocar chuvas ácidas, prejudica a colheita dos agricultores da vizinhança. Esse tipo de poluição representa um custo externo porque é a agricultura, e não a indústria poluidora, que sofre os danos causados pelas chuvas ácidas. Estes danos não são considerados no cálculo dos custos industriais, que inclui itens como matériaprima, salários e juros. Portanto, os custos privados, nesse caso, são inferiores aos 1 O conceito de eficiência no sentido de Pareto, criado pelo economista italiano VilFredo Pareto (1848-1923), refere-se a situações em que não é possível melhorar a situação de um agente econômico sem piorar a situação de pelo menos um dos demais agentes. Modificações que envolvem melhorias na situação de pelo menos um agente econômico sem piorar a dos demais agentes representam Melhorias de Pareto. Portanto, se uma determinada alocação de recursos é eficiente no sentido de Pareto, não é possível fazer melhorias de Pareto a partir dessa alocação. 2 O Primeiro Teorema Geral da Teoria do Bem–Estar afirma que, na ausência de falhas de mercado, alocação de recursos produzida pelo equilíbrio competitivo é eficiente, no sentido de Pareto. 2 custos impostos à coletividade e, por consequência, o nível de produção da indústria é maior do que aquele que seria socialmente desejável. Já a educação gera externalidades positivas porque os membros de uma sociedade e, não somente os estudantes, auferem os diversos benefícios gerados pela existência de uma população mais educada e que não são contabilizados pelo mercado. Assim, por exemplo, vários estudos, baseados em diferentes metodologias mostram que a educação contribui para melhorar os níveis de saúde de uma determinada população. Em particular, níveis mais elevados de escolaridade materna reduzem as taxas de mortalidade infantil. Outros trabalhos mostram também que a educação concorre para reduzir a criminalidade. Todos esses benefícios indiretos da educação por não serem apreçados não são computados nos benefícios privados. Portanto, os benefícios sociais são superiores aos benefícios privados, que incluem apenas as vantagens pessoais da educação, como por exemplo, os salários obtidos em função do nível de escolaridade. Notese, ainda, que os produtores podem causar externalidades sobre consumidores e viceversa. Assim, por exemplo, a poluição provocada pela indústria de cobre aumenta a incidência de tuberculose entre a população. Também, os fumantes contribuem para a disseminação de doenças entre os não fumantes (fumantes passivos) e, nesse caso, temos a geração de externalidade de consumidores para consumidores. Por fim, o uso de automóveis privados congestiona o tráfego e contribui para reduzir a velocidade do transporte de mercadorias e, portanto, representa um exemplo de custos externos para os produtores gerados pelos consumidores. Vamos agora considerar o impacto dessas externalidades sobre a alocação de recursos. As externalidades levam os agentes, não diretamente envolvidos na atividade geradora da externalidade, a usarem recursos para corrigir os efeitos dos custos (benefícios) externos, e isso provoca distorções na alocação de recursos. Assim, por exemplo, os custos de internações hospitalares, decorrentes de doenças relacionadas à poluição, embora representem, efetivamente, gastos para os doentes, não são contabilizados nos custos da empresa de fundição de cobre. Ou ainda, os inúmeros benefícios para a humanidade decorrentes da descoberta da vacina contra a poliomielite não são inteiramente apropriados pelo seu inventor, o cientista Dr. Albert Sabin, e dificilmente podem ser apreçados. O Quadro 1 resume esses aspectos e define os benefícios e custos privados e sociais. Quadro 1: Benefícios e Custos, Privados, Externos e Sociais Benefícios Externos Privados Sociais 3 e Custos (A) (B) [(A)+(B)] Benefícios A totalidade dos agentes beneficiados pelas externalidades positivas não paga por essas vantagens Os ganhos são auferidos apenas pelos agentes que os financiam Soma dos benefícios privados e externos Custos Os agentes que sofrem as externalidades negativas não são compensados Os custos são pagos pelos agentes beneficiados Soma dos custos privados e externos Nesse contexto, como o mercado não é capaz de levar em conta todos os elementos constante do Quadro 1, estamos em presença das chamadas falhas de mercado. O fato de os agentes econômicos ignorarem os custos (benefícios) externos, decorrentes de suas decisões de produção e/ou consumo e, somente computarem os custos que eles desembolsam ou os benefícios que eles auferem, faz com que a alocação de recursos, produzida pelo equilíbrio de mercado seja ineficiente. Isto porque, no caso das externalidades negativas, os custos privados subestimam os custos sociais conduzindo, assim, a uma produção maior do que aquela que seria socialmente desejável. No caso das externalidades positivas, como os benefícios privados são inferiores aos benefícios sociais, o nível de produção correspondente à alocação dos mercados privados ficará aquém daquele que seria ótimo, do ponto de vista da sociedade. As curvas de oferta e de demanda podem ajudar a analisar o impacto das externalidades sobre a atividade econômica. Para tal, vamos considerar que o preço representa a disponibilidade a pagar pelo bem e, portanto, pode ser visto como o benefício decorrente do consumo de uma unidade adicional do bem ou serviço, isto é o benefício marginal privado. Podemos, então, renomear a curva de demanda de mercado como a curva de benefício marginal privado. A curva de oferta envolve os insumos exigidos para a produção dos bens e serviços e, portanto, pode ser interpretada como a curva de custo privado por unidade produzida (custo marginal) .3 A regra de equilíbrio de mercado exige que a oferta seja igual à demanda e, portanto, que os custos privados sejam iguais aos benefícios privados. No gráfico 1, isso implica que a quantidade Q 0 é produzida ao preço P 0 . Nesse ponto, os custos e benefícios privados se igualam. 3 O custo marginal de um determinado bem corresponde à variação nos custos totais decorrente da decisão de produzir uma unidade adicional desse bem. 4 Gráfico 1: Equilíbrio dos Mercados Privados 2.1 Externalidades Negativas Vamos agora considerar o caso de um bem ou serviço que envolva a geração de externalidades negativas. Esse é o caso, por exemplo, dos custos da empresa de fundição de cobre, que não está levando em conta os efeitos negativos da poluição. O custo total dessa atividade, para a sociedade, inclui tanto os custos privados da produção de cobre como os danos causados pelas externalidades (custos externos) aos agricultores e cidadãos. O gráfico 2 ilustra esse ponto. Nele, para cada nível de quantidade, o custo externo (custo associado a externalidade) é acrescentado ao custo privado (CMP) para formar o custo social (CMS). Assim, a diferença vertical entre as duas curvas representa os custos externos (CE), por unidade produzida. Gráfico 2: Externalidades Negativas (Custos Externos) em Mercados Competitivos O (custo marginal privado) D (benefício marginal privado) Eo Po Qo D (benefício marginal privado) Quantidade Preço 5 As curvas de oferta e demanda consideram apenas os custos e benefícios privados excluindo aqueles associados a terceiros. Nesse caso, no equilíbrio de mercado, a combinação preçoquantidade é P m e Qm. Esse equilíbrio não reflete a totalidade dos custos para a sociedade porque não considera os custos externos. Quando se contabiliza o custo adicional imposto aos agricultores, o preço e a quantidade transacionada de cobre deveriam ser, respectivamente, P * e Q * . A falha de mercado fica evidenciada pelo fato de o mercado gerar uma superprodução de cobre e avaliála a preços inferiores aos seus custos totais de oportunidade. 2.2 Externalidades Positivas Em presença de externalidades positivas, os níveis de produção, associados ao equilíbrio de mercado, são inferiores àqueles que seriam socialmente ótimos. Assim, por exemplo, a expansão da educação básica gera benefícios para a sociedade que extrapolam os benefícios auferidos pelos estudantes e suas famílias. Esses benefícios externos não são considerados na decisão privada de frequentar a escola porque os estudantes não são compensados pelas vantagens usufruídas pelo resto da coletividade, decorrente de sua decisão de estudar. Em termos do instrumental da oferta e da demanda, a curva de benefício marginal para os estudantes situase abaixo da curva de benefício social e, portanto, o nível de escolaridade correspondente ao equilíbrio de mercado, Q m é inferior àquele que seria escolhido caso fossem considerados os benefícios externos dessa atividade (Q * ). Gráfico 3: Externalidades Positivas (Benefícios Externos) em Mercados Competitivos Demanda (benefício marginal) EM P* Q* Custo marginal social = custo marginal privado + CE C E Preço Quantidade E* QM PM Oferta (Custo marginal privado) 6 2.3 O Problema dos Recursos Comunitários (The Tragedy of Commons) Um caso particular de externalidades é aquele que envolve os recursos comunitários, cuja propriedade não é individualizada. Um exemplo clássico desse problema é o caso dos pássaros silvestres, muitos deles, como o galodecampina (cardeal do nordeste), hoje ameaçados de extinção, em razão de uma caça predatória no passado. Para um caçador individual é vantajoso prender um desses animais, cujo preço de revenda é elevado. Porém, se todos assim o fizerem, este procedimento conduzirá à extinção da espécie. Por outro lado, não adianta muito se um só caçador resolver poupálos porque um pássaro que ele não captura será aprisionado por um outro caçador e, portanto, o benefício será ínfimo. Nessa situação, tornase evidente o conflito entre interesses públicos e privados já que o benefício marginal privado (preço de mercado do pássaro) é superior ao benefício marginal social (que deveria levar em conta o impacto sobre o futuro da espécie). Do ponto de vista do país, e mesmo dos caçadores como um grupo, a estratégia ótima seria limitar a captura para garantir, assim, a existência dessas aves silvestres. A razão do problema aqui é o fato de ninguém deter a propriedade sobre esses animais, sendo assim, considerados um recurso “livre” Nesse caso, as pessoas não consideram todos os custos e benefícios derivados de suas ações e, portanto, não têm incentivos a usar esses recursos de forma eficiente. A propriedade conjunta dos recursos conduz, pois, ao seu uso indiscriminado. A solução para esse tipo de problema requer que o governo atue como se fosse o proprietário desses recursos. Nesse caso, por meio de esquemas regulatórios (ver Seção 3.4.2), o governo pode Oferta (custo marginal privado) Demanda (benefício marginal privado) EM PM QM E* Q* P* Preço Quantidade B E Benefício marginal social = Benefício marginal privado – Benefício de Externalidade (BE)

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  • 1

    MariadaConceioSampaiodeSousa

    1.Introduo

    Sob determinadas condies, os mercados privados no asseguram uma alocao de

    recursoseficientenosentidodePareto.Emparticular,empresenadeexternalidadesnegativas

    e positivas e de bens pblicos, os preos de mercado no refletem, de forma adequada, o

    problemadaescolhaemcondiesdeescassezquepermeiaaquestoeconmica.Abrese,assim,

    espao para a interveno do governo na economia de forma a restaurar as condies de

    eficincianosentidodePareto1.Nessecontexto,umaquestoimportantedefinirqualopapel

    dogovernonaproduoe/ouprovisodebenseservios.Noquesesegue,detalharemosesse

    ponto.

    2.Externalidades

    Benspblicosequasepblicosno constituemasnicasexceesque comprometema

    validade do Teorema Fundamental da Economia doBemEstar2.A presena de externalidades,

    umaoutra categoriade falhademercado, tambmcontribuiparaexplicarporqueosmercados

    privadosso ineficientesparaalocarosrecursos.Noquesesegue,examinaremos,emdetalhes,

    essaquesto.

    Externalidades ocorrem quando o consumo e/ou a produo de um determinado bem

    afetam os consumidores e/ou produtores, em outros mercados, e esses impactos no so

    consideradosnopreodemercadodobememquesto.Notesequeessasexternalidadespodem

    serpositivas(benefciosexternos)ounegativas(custosexternos).

    Assim, por exemplo, uma empresa de fundio de cobre, ao provocar chuvas cidas,

    prejudica a colheita dos agricultores da vizinhana. Esse tipo de poluio representa um custo

    externoporqueaagricultura,enoa indstriapoluidora,que sofreosdanos causadospelas

    chuvascidas.Estesdanosnosoconsideradosnoclculodoscustosindustriais,queincluiitens

    comomatriaprima,salriosejuros.Portanto,oscustosprivados,nessecaso,soinferioresaos

    1 O conceito de eficincia no sentido de Pareto, criado pelo economista italiano VilFredo Pareto (1848-1923), refere-se a situaes em que no possvel melhorar a situao de um agente econmico sem piorar a situao de pelo menos um dos demais agentes. Modificaes que envolvem melhorias na situao de pelo menos um agente econmico sem piorar a dos demais agentes representam Melhorias de Pareto. Portanto, se uma determinada alocao de recursos eficiente no sentido de Pareto, no possvel fazer melhorias de Pareto a partir dessa alocao. 2 O Primeiro Teorema Geral da Teoria do BemEstar afirma que, na ausncia de falhas de mercado, alocao de recursos produzida pelo equilbrio competitivo eficiente, no sentido de Pareto.

    2

    custos impostoscoletividadee,porconsequncia,onveldeproduoda indstriamaiordo

    queaquelequeseriasocialmentedesejvel.

    Jaeducaogeraexternalidadespositivasporqueosmembrosdeumasociedadee,no

    somenteosestudantes,auferemosdiversosbenefciosgeradospelaexistnciadeumapopulao

    maiseducadaequeno so contabilizadospelomercado.Assim,porexemplo,vriosestudos,

    baseadosemdiferentesmetodologiasmostramqueaeducaocontribuiparamelhorarosnveis

    de sade de uma determinada populao. Em particular, nveismais elevados de escolaridade

    materna reduzem as taxas de mortalidade infantil. Outros trabalhos mostram tambm que a

    educaoconcorreparareduziracriminalidade.Todosessesbenefciosindiretosdaeducaopor

    noseremapreadosnosocomputadosnosbenefciosprivados.Portanto,osbenefciossociais

    sosuperioresaosbenefciosprivados,que incluemapenasasvantagenspessoaisdaeducao,

    comoporexemplo,ossalriosobtidosemfunodonveldeescolaridade.

    Notese, ainda, que os produtores podem causar externalidades sobre consumidores e

    viceversa. Assim, por exemplo, a poluio provocada pela indstria de cobre aumenta a

    incidncia de tuberculose entre a populao. Tambm, os fumantes contribuem para a

    disseminao de doenas entre os no fumantes (fumantes passivos) e, nesse caso, temos a

    gerao de externalidade de consumidores para consumidores. Por fim, o uso de automveis

    privadoscongestionaotrfegoecontribuiparareduziravelocidadedotransportedemercadorias

    e, portanto, representa um exemplo de custos externos para os produtores gerados pelos

    consumidores.

    Vamosagoraconsideraroimpactodessasexternalidadessobreaalocaoderecursos.As

    externalidades levam os agentes, no diretamente envolvidos na atividade geradora da

    externalidade,ausaremrecursosparacorrigirosefeitosdoscustos (benefcios)externos,e isso

    provoca distores na alocao de recursos. Assim, por exemplo, os custos de internaes

    hospitalares, decorrentes de doenas relacionadas poluio, embora representem,

    efetivamente,gastosparaosdoentes,nosocontabilizadosnoscustosdaempresadefundio

    de cobre.Ou ainda, os inmeros benefcios para a humanidade decorrentes da descoberta da

    vacinacontraapoliomieliteno so inteiramenteapropriadospeloseu inventor,ocientistaDr.

    AlbertSabin,edificilmentepodemserapreados.OQuadro1resumeessesaspectosedefineos

    benefciosecustosprivadosesociais.

    Quadro1:BenefcioseCustos,Privados,ExternoseSociais

    Benefcios Externos Privados Sociais

    3

    eCustos (A) (B) [(A)+(B)]

    Benefcios Atotalidadedosagentes

    beneficiadospelas

    externalidadespositivasno

    pagaporessasvantagens

    Osganhosso

    auferidosapenas

    pelosagentesqueos

    financiam

    Somados

    benefciosprivados

    eexternos

    Custos Osagentesquesofremas

    externalidadesnegativasno

    socompensados

    Oscustossopagos

    pelosagentes

    beneficiados

    Somadoscustos

    privadoseexternos

    Nesse contexto, como omercado no capaz de levar em conta todos os elementos

    constante doQuadro1, estamos em presena das chamadas falhas demercado.O fato de os

    agenteseconmicos ignoraremoscustos (benefcios)externos,decorrentesdesuasdecisesde

    produo e/ou consumo e, somente computarem os custos que eles desembolsam ou os

    benefciosqueeles auferem, faz comque a alocaode recursos,produzidapeloequilbriode

    mercado seja ineficiente. Istoporque,no casodasexternalidadesnegativas,oscustosprivados

    subestimamoscustossociaisconduzindo,assim,aumaproduomaiordoqueaquelaqueseria

    socialmente desejvel. No caso das externalidades positivas, como os benefcios privados so

    inferiores aosbenefcios sociais,onveldeproduo correspondente alocaodosmercados

    privadosficaraqumdaquelequeseriatimo,dopontodevistadasociedade.

    Ascurvasdeofertaededemandapodemajudaraanalisaro impactodasexternalidades

    sobreaatividadeeconmica.Paratal,vamosconsiderarqueopreorepresentaadisponibilidade

    apagarpelobeme,portanto,podeservistocomoobenefciodecorrentedoconsumodeuma

    unidade adicional do bem ou servio, isto o benefcio marginal privado. Podemos, ento,

    renomearacurvadedemandademercadocomoacurvadebenefciomarginalprivado.Acurva

    deofertaenvolveosinsumosexigidosparaaproduodosbenseserviose,portanto,podeser

    interpretadacomoacurvadecustoprivadoporunidadeproduzida(customarginal).3Aregrade

    equilbriodemercadoexigequeaofertasejaigualdemandae,portanto,queoscustosprivados

    sejamiguaisaosbenefciosprivados.Nogrfico1, issoimplicaqueaquantidadeQ0produzida

    aopreoP0.Nesseponto,oscustosebenefciosprivadosseigualam.

    3 O custo marginal de um determinado bem corresponde variao nos custos totais decorrente da deciso de produzir uma unidade adicional desse bem.

    4

    Grfico1:EquilbriodosMercadosPrivados

    2.1ExternalidadesNegativas

    Vamos agora considerar o caso de um bem ou servio que envolva a gerao de

    externalidades negativas. Esse o caso, por exemplo, dos custos da empresa de fundio de

    cobre, que no est levando em conta os efeitos negativos da poluio. O custo total dessa

    atividade,paraasociedade,incluitantooscustosprivadosdaproduodecobrecomoosdanos

    causadospelasexternalidades (custosexternos)aosagricultoresecidados. Ogrfico2 ilustra

    esseponto.Nele,paracadanveldequantidade,ocustoexterno(custoassociadoaexternalidade)

    acrescentado ao custo privado (CMP) para formar o custo social (CMS). Assim, a diferena

    verticalentreasduascurvasrepresentaoscustosexternos(CE),porunidadeproduzida.

    Grfico2:ExternalidadesNegativas(CustosExternos)emMercadosCompetitivos

    O (custo marginal privado)

    D (benefcio marginal privado)

    Eo Po

    Qo

    D (benefcio marginal privado)

    Quantidade

    Preo

    5

    As curvas de oferta e demanda consideram apenas os custos e benefcios privados

    excluindo aqueles associados a terceiros.Nesse caso, no equilbrio demercado, a combinao

    preoquantidadePmeQm.Esseequilbrionorefleteatotalidadedoscustosparaasociedade

    porqueno consideraos custosexternos.Quando se contabilizao custo adicional imposto aos

    agricultores,opreoeaquantidadetransacionadadecobredeveriamser,respectivamente,P*e

    Q*. A falhademercado ficaevidenciadapelo fatodeomercadogeraruma superproduode

    cobreeavalilaapreosinferioresaosseuscustostotaisdeoportunidade.

    2.2ExternalidadesPositivas

    Empresenadeexternalidadespositivas,osnveisdeproduo,associadosaoequilbriode

    mercado,soinferioresquelesqueseriamsocialmentetimos.Assim,porexemplo,aexpanso

    daeducaobsicagerabenefciosparaasociedadequeextrapolamosbenefciosauferidospelos

    estudantesesuasfamlias.Essesbenefciosexternosnosoconsideradosnadecisoprivadade

    frequentaraescolaporqueosestudantesnosocompensadospelasvantagensusufrudaspelo

    restodacoletividade,decorrentedesuadecisodeestudar.Emtermosdoinstrumentaldaoferta

    e da demanda, a curva de benefciomarginal para os estudantes situase abaixo da curva de

    benefciosociale,portanto,onveldeescolaridadecorrespondenteaoequilbriodemercado,Qm

    inferior quele que seria escolhido caso fossem considerados os benefcios externos dessa

    atividade(Q*).

    Grfico3:ExternalidadesPositivas(BenefciosExternos)emMercadosCompetitivos

    Demanda (benefcio marginal)

    EM

    P*

    Q*

    Custo marginal social = custo marginal privado + CEC

    E

    Preo

    Quantidade

    E*

    QM

    PM

    Oferta (Custo marginal privado)

    6

    2.3OProblemadosRecursosComunitrios(TheTragedyofCommons)

    Umcasoparticulardeexternalidadesaquelequeenvolveosrecursoscomunitrios,cuja

    propriedadeno individualizada.Umexemploclssicodesseproblemao casodospssaros

    silvestres, muitos deles, como o galodecampina (cardeal do nordeste), hoje ameaados de

    extino,emrazodeumacaapredatrianopassado.Paraumcaador individualvantajoso

    prenderumdessesanimais,cujopreoderevendaelevado.Porm,se todosassimofizerem,

    esteprocedimentoconduzirextinodaespcie.Poroutro lado,noadiantamuitoseums

    caadorresolverpouplosporqueumpssaroqueelenocapturaseraprisionadoporumoutro

    caadore,portanto,obenefciosernfimo.

    Nessasituao,tornaseevidenteoconflitoentre interessespblicoseprivados jqueo

    benefciomarginalprivado(preodemercadodopssaro)superioraobenefciomarginalsocial

    (quedeveria levaremcontao impactosobreofuturodaespcie). Dopontodevistadopas,e

    mesmodos caadorescomoumgrupo,aestratgiatima seria limitara capturaparagarantir,

    assim,aexistnciadessasavessilvestres.

    Arazodoproblemaaquiofatodeningumdeterapropriedadesobreessesanimais,

    sendoassim, consideradosum recurso livreNesse caso,aspessoasno consideram todosos

    custosebenefciosderivadosdesuasaese,portanto,notmincentivosausaressesrecursos

    deformaeficiente.Apropriedadeconjuntadosrecursosconduz,pois,aoseuusoindiscriminado.

    A soluoparaesse tipodeproblema requerqueogovernoatuecomo se fosseoproprietrio

    dessesrecursos.Nessecaso,pormeiodeesquemasregulatrios(verSeo3.4.2),ogovernopode

    Oferta (custo marginal privado)

    Demanda (benefcio marginal privado)

    EM PM

    QM

    E*

    Q*

    P*

    Preo

    Quantidade

    B

    E

    Benefcio marginal social = Benefcio marginal privado Benefcio de Externalidade (BE)

  • 7

    restringiraquantidadedeaves silvestresquepode ser apreendidaevitando,assim,aextino

    dessesanimais.

    2.4SoluesparaasExternalidades

    A anlise desenvolvida nas sees anteriores aponta para a existncia de distores na

    alocaoderecursosquegeram ineficinciastantonaproduocomonoconsumo.Fazse,pois,

    necessrio implementar mecanismos capazes de corrigir tais externalidades. Essas solues

    podem ser pblicas e privadas e implicam, no jargo dos economistas, a internalizar as

    externalidades.Noque seseguediscutiremos,emdetalhes,asdiferentessoluesprivadase

    pblicasparaoproblema.

    2.4.1SoluesPrivadas

    Nesta subseo discutiremos de que modo o setor privado pode atuar na correo das

    externalidades. Nesse sentido, discutiremos a internalizao das externalidades por meio de

    fuses, sanes sociaisepelanegociaodeCoase. Em seguida, faremosumabrevedigresso

    sobreoslimitesdessaformadecontroledeexternalidade.

    FusesUma forma clssica de solucionar o problema das externalidades consiste na sua

    internalizaopormeiodacoordenaodasdecisesentreaspartesenvolvidas.Assim,sea

    empresa de fundio de cobre decidisse adquirir o controle das exploraes agrcolas

    prejudicadaspelapoluio,ento,odanocausadopelaschuvascidasseriaagorasuportadopela

    indstria.Nessecaso,oscustosexternos,derivadosdaproduoexcessivadecobre,aoinvsde

    serem transferidos para os agricultores, seriam pagos pela nova empresa, composta dos

    segmentosagrcolae industrial,reduzindo,assim,seus lucros.Nessasituao,noh incentivo

    paraqueadecisodeproduzircobree/oubensagrcolassejafeitaseparadamente, jqueuma

    influenciaaoutra.Istoporqueaproduoexcessivadecobreacarretariaumaquedanoslucrose,

    portanto, na oferta do segmento agrcola. Mais precisamente, os responsveis pela nova

    empresa produziriam cobre at o ponto em que os benefcios marginais gerados por essa

    produofossemiguaisaoscustosadicionaisincidentessobresuassubsidiriasagrcolas.

    8

    Essainternalizaodasexternalidadessolucionaria,pois,oproblemadasuperproduode

    cobre, responsvelpelaproduodosefeitosexternosnegativos.De fato, a rigor sequeresse

    problema seria referido comoexternalidade jque tratarseiadeumproblemaenvolvendoa

    tomadadedecisesdentrodeumanicafirma.

    SanesSociaisUma outra forma de implementar a internalizao das externalidade pode ser feita por

    meiodesanessociaisapropriadasquepenalizemosagentesresponsveispelasexternalidades

    negativasepremiemaquelesquegeramexternalidadespositivas.Assim,porexemplo,emmuitas

    sociedades, sujar locais pblicos considerado um comportamento reprovvel e contrrio ao

    exercciodaboacidadania.Nessassociedadesaprendese,desdecriana,queemborasejamais

    fcil jogar,porexemplo,cascasdebananaeembalagensdiversasnocho, istonoaceitvel.

    Devese,pois,carreglasatencontrarocestodelixomaisprximo.NoJapo,pessoasresfriadas

    que no usammscaras de gaze para proteger os demais do vrus da gripe so severamente

    criticadas.Atmesmoas religies tmpreceitosmoraisque induzemaspessoasa levaremem

    contaoscustosebenefciosexternosdesuasatividades.Istoestbemsumariadonaregraurea

    do cristianismo Tudo quanto queres que os outros faam para ti, fazeo tambm para eles,

    includanosensinamentosdoSermodaMontanha.

    Essa censura (ou aprovao) social contribui, em muitos casos, para inibir (estimular) os

    comportamentoscausadoresdeexternalidadesnegativa(positiva)eestimulaaadoodeatitudes

    queconsideramobemestardacoletividadeeliminando,assim,asineficinciasdadecorrentes.

    DireitosdePropriedadeeoTeoremadeCoaseAs externalidades proliferam, particularmente, em situaes em que os direitos de

    propriedadenoestobemestabelecidos.Essesdireitoscorrespondemaoconjuntodenormasou

    regrassociais(definidaslegalmente,ouno)querestringemasaesindividuaisparapreservaro

    bemestarda comunidade.Aexistncia desse sistemade normaspermite,pois, parte lesada

    recorreraosistemalegalparaobtercompensaopordanoscausadosporterceiros.Quantomais

    definidosforemessesdireitosdepropriedade,maisacomunidadeestarprotegidadeeventuais

    efeitosexternosnegativos.Assim,porexemplo,regrasclaramenteestabelecidasnaconvenode

    condomnio dos edifcios residenciais, referentes ao uso de instrumentos musicais, podem

    proteger osmoradores contra a atividade noturna de um enrgico e insone baterista,mesmo

    talentoso. Por outro lado, quando ningum detm os direitos de propriedade, no existem

    9

    incentivosparaosagenteseconmicosadotaremcomportamentoseficientes,jquenohcomo

    punilos pela adoo de atitudes predatrias. No exemplo anterior, uma conveno de

    condomniopoucoclaranotocanteaosossegodeixariaosmoradoresmercdo jovemmsico

    e/outransformariaocondomnioemummundohobbesiano,emquesomenteosmaisviolentos

    (ouosmaisespertos)conseguiriamcalaroimportunomsico.

    Nesse contexto, a internalizao das externalidades pode se fazer pormeio da soluo

    proposta por Coase (1980). Desde que os direitos de propriedade estejam bem definidos,

    independentementedequemosdetenha, possvel solucionaroproblemadasexternalidades

    negativas,comoasacimaexemplificadas,pormeiodanegociaoentreaspartesenvolvidas,sem

    requereraparticipaodegoverno,comopodercoercitivo.Esseresultadoconhecidocomoo

    TeoremadeCoase(RonaldCoase(1960)).Elepodeser ilustradodaseguinteforma. Imagineque

    aoviajarparaParis,acompanhiareaextraviasuabagagemesadevolvenoBrasil.Aofazlo,

    ela lhe impesrios inconvenientes(externalidadesnegativas),particularmente,seaviagemfor

    no inverno.Comoaconvenoda IATA,que regeos transportesareos internacionais,garante

    que a companhia area deve transportloe a sua bagagem, nos limites depesopreviamente

    definidos, fica claro que cabe companhia compenslo (definio clara dos direitos de

    propriedade).Acompanhiareapode, inicialmente,propor indenizlocomobasenoestipulado

    pelamesmaconveno,quenamaioriadoscasossequerrepeovalordocontedodabagagem.

    Vocdecideno aceitare fazuma contraproposta:eladeve lhe reembolsar todasasdespesas

    feitasemParisparasubstituirocontedodamalaeaindalhedarduaspassagensdecortesiano

    mesmo trecho. Depois de algum tempo de negociao o acordo fechado, com apenas uma

    passagemreasdecortesia.EsseexemploumcasoondeoTeoremadeCoaseseaplicaporque

    os custos de transao so baixos, existem apenas duas partes envolvidas e os direitos de

    propriedadeestoclaramentedefinidos.

    Porm,essetipodesoluonofuncionabemquandoaspartesenvolvidassonumerosas.

    Para grandes grupos, as dificuldades de organizlos para tomar medidas legais so grandes,

    particularmente,emrazodoproblemadocarona(freerider).Nessecaso,custosdetransao

    elevados podem comprometer a soluo demercado para o problema das externalidades em

    razo da impossibilidade de firmar os contratos estveis entre aqueles que causam e os que

    sofremos efeitos externos.Assim,porexemplo, quando as externalidades so provocadas por

    bens (males) pblicos, como a poluio, que envolvem milhes de agentes, virtualmente

    impossvelquenegociaesdotiposugeridoporCoasepossamchegaraumacordosatisfatrio,

    acustosrelativamentebaixos.

    10

    Porfim,oTeoremadeCoasesupequepossvelidentificaraorigemdosdanosexternose

    atribulosadeterminado(s)agente(s).Elenoseaplicariapoisnoscasosemqueaexternalidade

    estassociada impossibilidadedeexcluso (indivisibilidade)comoocaso,porexemplo,que,

    dosrecursoscomunitriosedosbenspblicospuros.

    Os limitesdas soluesprivadas anteriormentediscutidasdecorremdapresenadevrios

    fatores.Emparticular,quandoaexternalidadeenvolvebenspblicospuros,aimpossibilidadede

    excluso(esuaindesejabilidade)exigeapresenadeumaforacoercitivaquepossaassegurara

    provisodobemou servioemquesto.Poroutro lado,aausnciadedireitosdepropriedade

    bemestabelecidoscomoocasodosrecursoscomunitrios fazcomasoluoprivadano

    seja eficiente no sentido de Pareto justificando, assim, a interveno do estado. Por fim a

    existnciadeinformaoimperfeitaedecustosdetransaoelevadospode,tambm,inviabilizar

    acorreodasexternalidadessemintervenodogoverno.

    2.4.2SoluesPblicas

    Dentreassoluespblicasparacorrigirasexternalidadesdestacamseatributaocorretiva

    (impostosesubsdios)econtroledosefeitosexternosmedianteousodeesquemasregulatriose

    multas.Noquesesegue,descreveremos,brevemente,essassolues.

    ImpostoseSubsdiosCorretivos(Pigouvianos)A correo das externalidades pode se fazermediante o uso da tributao corretiva. Essa

    formade correo conhecida como tributaopigouviana,em razo de ter sido inicialmente

    propostaporArthurCecilPigou(18771959),economista inglsresponsvelpeladistinoentre

    custos e benefcios sociais e privados e pela ideia de que o governo,mediante o uso de uma

    combinaoapropriadadeimpostosesubsdios,poderiacorrigiressetipodefalhademercado.

    Nessecaso,ogoverno,aopenalizarosagentescausadoresdasexternalidadespormeioda

    cobrana de impostos (subsdios, no caso de externalidades positivas) , aumentar os custos

    dessesagentes fazendo,assim,comqueelesconsideremosefeitosexternosdesuasaes.Em

    termosdogrfico2,istoequivaleadeslocaracurvadecustomarginal(benefciomarginal)para

    cimaeparaaesquerda(paracimaeparaadireita).Dessaforma,possvelidentificaronvelde

    impostos (subsdios), exigido para que a curva de custo marginal (ou de benefcio marginal)

    privado coincida com a curva de custo (benefcio) marginal da sociedade corrigindo, assim, o

    problemadeeficinciadecorrentedapresenadeexternalidades(grficos4e5).

    11

    Grfico4:CorreodeExternalidadesNegativas(CustosExternos),emMercadosCompetitivos,

    MedianteoUsodeumImposto,

    Naausnciade tributaocorretiva,as firmasproduziroemQm,ondeocustomarginal

    privado igualaobenefciomarginal.A introduode impostoporunidadedepoluio (custo

    marginaldepoluio),CB,representaumcustoadicionalparaosprodutores,obrigandoosalevar

    emcontaosprejuzoscausadossociedadepelasexternalidadenegativas.Nessecasopossvel

    atingir o ponto eficiente em que o custo marginal social igualase ao benefcio marginal; a

    produoreduzidaparaQ*.Napresenadeexternalidadespositivas,associadasaoconsumode

    um determinado bem, o benefcio marginal social excede o benefcio marginal privado e o

    consumodessebemser inferiorquelequeseriasocialmentedesejvel.Seogovernosubsidia

    essa atividade, pagando por cada unidade consumida, a diferena entre o benefcio marginal

    Demanda (benefcio marginal social)

    EM C

    Q*

    Custo marginal social (incluindo o custo marginal de poluio) Preo

    Quantidade

    E*

    QM

    B

    Custo Marginal Privado

    Imposto por unidade sobre a poluio (custo marginal da poluio)

    12

    socialeobenefciomarginalprivado,CB,oconsumodessebempassaraserQ*,quecorresponde

    quantidadesocialmenteeficiente.

    Grfico5::CorreodeExternalidadesPositivas(BenefciosExternos),emMercados

    Competitivos,MedianteoUsodeSubsdios

    RegulaeseMultasUmaoutraformadeogovernolidarcomexternalidadesnegativas,comoapoluio,por

    meio da fixao de esquemas regulatrios. Nesse caso, o agente que provoca a poluio

    obrigadoareduziraproduodaatividadequegeraapoluio,paraosnveisquecorrespondam

    quantidadesocialmenteeficiente(Q*,nogrfico6);casocontrrioterdeenfrentarassanes

    legais que podem ir desde o pagamento de vultosas multas at a proibio de continuar

    funcionando.Oproblemaidentificarqualonveldepoluiosocialmentetimo.Essenvelexige

    queselevememcontatodososcustosassociadosreduodapoluiobemcomoosbenefcios

    dessareduoporexemplo,adiminuiodosdanosaomeioambiente.

    Oferta

    Demanda

    E*

    Q*

    C

    Preo

    Quantidade

    Benefcio marginal social B

    Subsdio por unidade

    produzida

  • 13

    Oscustosdereduoincluemaquelesrequeridosparareduzirapoluio,taiscomofiltros

    antipoluentes,bemcomooscustosadicionaisdeseutilizar tecnologiaslimpaseoscustosem

    termos da reduo dos lucros decorrente da decisode reduzir a poluio. Esses custos esto

    sumariadosnacurvadecustomarginaladicionaldapoluio(Grfico6).J,acurvadebenefcio

    marginaldereduodapoluiomostraovalordecadaunidadedereduodepoluio,expresso

    emtermosdosbenefciosexternos,associadosreduodosdanoscausadospelapoluio.Esses

    danos incluem as perdas dos agentes econmicos afetados adversamente pela produo de

    externalidades negativas, incluindose a, consumidores e produtores, o custo das medidas

    tomadasporessesagentesparaatenuaresses impactosnegativos.Supondoseque acurvade

    customarginaladicionalcrescenteequeacurvadebenefciomarginaldecrescenteonvelde

    reduodepoluiotimoaqueleemqueBMG=CMA,queocorrenoquandoasduascurvasse

    interceptam,nopontoQ*.

    Grfico6:EficincianaProduoemPresenadeExternalidadesPositivas(BenefciosExternos)

    emMercadosCompetitivos

    3.BensPblicos

    Osbenspblicospurosou,simplesmente,benspblicos,constituemumexemploextremo

    deexternalidade.Defato,aexemplodosrecursoscomunitrios,apropriedadedessesbensno

    pode ser individualizada em razo desse bem ou servio no ser divisvel. Alm disso,

    contrariamente, aos bens privados, o ato de consumir o bem pblico no reduz a quantidade

    disponvelparaoconsumodasoutraspessoas.Portanto,osbenspblicospurosapresentamduas

    importantescaractersticas:oconsumodessesbensnoexcludenteenorival.

    Oferta

    Benefcio marginal privado de reduo de poluio

    E*

    Q*

    C

    Custo de reduo de Poluio

    Quantidade de reduo de poluio

    Benefcio marginal social de reduo de poluio

    B

    Custo marginal privado de reduo da poluio

    QM

    EM

    14

    Aimpossibilidadedeexcluso(ouadificuldade,geradaporcustoselevados)implicaqueos

    indivduosnopodem serprivadosdosbenefciosdousufrutodobeme/ou servio,mesmo se

    no tiverem contribudo para o seu financiamento. Um exemplo de bem que apresenta essa

    caractersticaumespetculopirotcnico,quepodeservistopelaspessoasdequintais,jardinse

    praaspblicas.Istodificultaaprovisoprivadadessetipodeeventoporqueaimpossibilidadede

    excluso impedequesejamcobrados ingressosparafinanciaroscustos, incluindoseaos lucros

    do organizador. Afinal, porque pagaramos por esse show, se podemos vlo gratuitamente?

    Portanto,nenhumempresrioprivadoseinteressariapelasuaproduoe,ento,apesardaforte

    demanda,oespetculopoderianoserproduzido.Aimpossibilidadedeexcluso,aoinviabilizaro

    uso do sistema de preo para racionar o consumo, reduz os incentivos para o pagamento

    voluntriodosbenspblicos.Essarelutnciaemcontribuir,voluntariamente,parafinanciaresses

    bensconhecidacomooproblemadocarona(freerider).

    Anorivalidadenoconsumooutracaractersticadobempblico. Isto implicaqueuma

    vezqueobemestdisponvel,ocustomarginaldeprovlo,paraumindivduoadicional,nulo.

    Considere, por exemplo, o caso do espetculo pirotcnico. O custo do espetculo, uma vez

    determinado,noalteradopelofatodeumgrupoadicionaldeturistasdecidirvlo.Ademais,

    essadecisodosturistasemnadareduzousufrutodoeventopeloshabitanteslocais.Portanto,o

    custo marginal de proviso do espetculo para esses espectadores adicionais zero. Isso

    representaumfrancocontrastecomosbensprivados,quesecaracterizampornveiselevadosde

    rivalidade no consumo.De fato, quando ocupamos um lugar, por exemplo, no cinema ou no

    teatro,estelugardeixadeestardisponvelparaoutraspessoas.

    Outrosexemplosdebenspblicospurossoosistemadedefesanacional,oconhecimento

    cientfico,ummeioambientesaudvel,egovernoseficientes.Emcomum,essesbenstmofato

    deseuconsumosernoexcludenteenorival.

    3.2 BensQuasePblicos

    Adefinio debem pblico, anteriormente discutida,no absoluta,mas varia com as

    condiesdeuso,demercadoe comoestadoda tecnologia.Vejamosporexemplo,o casoda

    energiaeltrica.Esseservio,quandousadonosdomicliosprivados,umbememinentemente

    privado:casoacontadeenergianosejapaga,oserviosuspensoe,portanto,osusuriosso

    excludosdoseuconsumo.Poroutrolado,tratasedeumbemcujoconsumorival.Quandoeu

    consumo uma determinada quantidade de quilowatts, ela j nomais est disponvel para os

    demais consumidores. Por outro lado, quando essa energia usada para iluminar os locais

    15

    pblicos,elatornaseumbempblicopuro.Istoporqueimpossvelexcluiralgumdobenefcio

    da iluminao pblica, alm de desnecessrio; o custo de prover esse servio para passantes

    adicionaiszero.Umoutroexemplomenosextremoocasodasestradasderodagem.Assim,o

    usodeumaestradavicinal,semideserta,podesernorivalnamedidaemque,nela,otrfego

    muito inferior a sua capacidade e, portanto, o custo marginal de utilizao por um veculo

    adicionalmuitobaixo.Poroutro lado,emborasejapossvelexcluirosveculosdeseuusopor

    meio da introduo de um pedgio, provavelmente os custos de instalao e de manuteno

    dessepedgioserosuperioresarrecadaoe,porconseguinte,novalerapenaintroduzilo.

    Porm,quandoaestrada,porexemplo,aViaDutra,queligaSoPauloaoRiodeJaneiro,alm

    do custo de excluso ser compensatrio, a rivalidade no consumo se expressa por meio do

    congestionamento.Nessecaso,essarodoviapodeservistacomoumbemprivado.

    Podemos, assim, pensar que grande parte dos bens satisfaz, apenas parcialmente, as

    condiesde impossibilidade de excluso e norivalidade no consumo.Os bens que atendem

    parcialou totalmenteapelomenosumadessascaractersticas sochamadosdebenspblicos

    impurosoubensquasepblicos.UtilizandoodiagramapropostoporStiglitz (1987),oGrfico1

    mostra,noeixohorizontal,apossibilidadedeexclusoe,noeixovertical,arivalidadenoconsumo

    (customarginaldeproviso),tornaseclaroque,aoinvsdeumaseparaobemmarcada,existe

    umcontinuumentrebenspblicoseprivados.Nocantoinferioresquerdodessediagrama,esto

    osbenspblicospuros,paraosquaisoscustosdeexclusosoinfinitosenoexisterivalidadeno

    consumo.No canto superiordireitoencontramseosbensprivados,paraosquaisaexcluso

    possvelabaixoscustoseocustomarginaldeprovisoelevado.Osbenspblicosimpuros(bens

    quasepblicos)situamseentreessesextremos.

    Grfico7BensPblicosPuroseImpuros

    16

    Assim, servios de sade pblica, tais como vacina contra doenas infectocontagiosas,

    beneficiamnosomenteaspessoasvacinadas,masapopulaocomoumtodo,jqueprevinemo

    surgimentodeepidemias.Ademais,ocustomarginaldavacinaopositivoeaexclusodeno

    pagantespossvel.Porm,nopossvelexcluirdosbenefciosaliadosreduodasepidemias

    (nem cobrar por tais benefcios) aqueles que no se vacinaram. Isso torna esses servios bens

    pblicos impuroseporessa razo,muitosgovernosmantmprogramasgratuitosdevacinao

    paraencorajar,eatmesmoobrigar,aimunizaomaciadapopulao.

    Umoutroexemplodebensquasepblicososerviodebombeiros.Nessecaso,existe,

    claramente,rivalidadenoconsumojqueumaequipequesaiparaatenderumaocorrncia,deixa,

    imediatamente, de estar disponvel para outros casos. Portanto, o customarginal de proviso

    desse serviopositivoepode serbastanteelevado.Porm,na formaatualdemoradia,onde

    partesignificativadaspessoasviveemgrandesaglomeraesurbanaseemcondomniosverticais,

    esse servio apresenta, tambm, dificuldades de excluir os que no contribuem para o seu

    financiamento. Ele perde, assim, parte do seu carter privado sendo por isso, namaioria dos

    pases, oferecido pelos governos e o seu custo financiado, compulsoriamente, por meio de

    impostosetaxas.

    17

    Podemosagoraentoresumirnossaargumentaosugerindoquealgunsbensquasepblicos

    devem ser, prioritariamente, ofertados pelo estado. Quais desses bens enquadramse nessa

    categoriaumaquestoaberta,jqueafronteiraentreelesestlongedeserconsensual.

    3.3 IneficinciasAssociadasProvisoPrivadadeBensPblicos

    Voltemos agora ao exemplo da defesa nacional. A questo saber qual ser o nvel

    eficientedeprovisodessebempblicopuro.Suponhamosque, comexceodospacifistas, a

    maioria da populao concorde com a necessidade da existncia de um sistema de defesa do

    territrio. Porm, dentre aqueles que o defendem, existem dois grupos distintos: aqueles que

    acreditam em ataques externos iminentes e os que imaginam que no sero atacados. Os

    primeirosestarodispostosacontribuirparafinanciarasforasarmadasgarantindo,assim,queo

    passejadefendidoemcasodeataqueexterno.Josqueimaginamqueapossibilidadedeserem

    atacados pequena tendero a pensar que gastos com servios de defesa nacional no so

    prioritrios e, portanto, se recusaro a contribuir com o necessrio para a proviso desses

    servios.Casoelesfossemfinanciadosporessetipodecontribuiovoluntria,razovelsupor

    que o montante arrecadado no seria suficiente para custear um sistema de defesa nacional

    eficiente,no sentidodedissuadiros inimigosexternos.Osnveisde segurananacional seriam,

    pois, inferiores queles que seriam obtidos por meio da proviso pblica, financiada

    compulsoriamentepormeiodetributos.

    A ineficincia da proviso privada de bens pblicos puros pode, ainda, ser ilustrada

    utilizandoseoexemplodaestradavicinalpoucofrequentada.Vimosqueocustomarginaldeuso

    dessa estrada, para um veculo adicional, praticamente nulo e, portanto, no faz sentido

    racionar a sua utilizao. Podemos ilustrar esse problema Supondose que o governo decida

    terceirizaraadministraodessaestradaparauma firmaprivada,quecobrarpedgiopeloseu

    uso,essa cobranadesencorajaro trfegode veculos (jque agoraprecisopagarpelouso

    dessa via) conduzindo, assim, subutilizao da estrada vicinal. Essa restrio desnecessria

    representaumcusto,emtermosdebemestar,paraasociedade.nessesentidoqueafirmamos

    queaprovisoprivadadessesserviossocialmenteineficiente.

    4.Concluso

    Nestecaptulo,examinamososcasosemqueaintervenodogovernonosmercados,ao

    ajudararestaurarascondiesdeeficinciamedianteascorreesdasfalhasdemercadoem

    particularaquelasdecorrentesdaexistnciadebenspblicoseexternalidades.Notese,porm,

    queaprpriaaodogoverno tambmpodegerar ineficincias conhecidas comofalhasde

    18

    governoe,nessesentido,importantelevaremconta,namedidadopossvel,essescustosda

    intervenogovernamentalquandodacorreodofuncionamentodosmercadosprivados.

    Stiglitz,J.A(1988)EconomicsofthePublicSector.NewYork:NortonBooks.