002 - ciclo insano

5
CÍCLO INSANO Eu costumava sair, religiosamente do serviço, as 18h00min, mas naquele dia, estranhamente, os computadores foram todos queimados por um raio de uma tempestade bem estranha que tinha acontecido à tarde, já era próximo da meia-noite e eu tinha o hábito de ir trabalhar a pé, naquela noite, estava sozinho; e fui caminhando pela avenida vazia e sombria. Nenhum carro era visto, nem mesmos os gatos no cio estavam pelos muros, fui apertando o passo, queria chegar o mais rápido possível em casa, minhas pernas começaram a ter câimbras, impedindo que meus passos fossem mais rápidos. Uma folha seca rolou pela calçada, me assustando, dei um sorriso do meu próprio medo, olhei a frente e vi um vulto, parado, com dentes afiados que escorriam sangue. Meus olhos se esbugalharam, mas não era nada, era apenas um boneco do posto de gasolina, porém eu continuava a ter uma sensação arrepiante de que estava sendo observado, pensei em correr, mesmo com as câimbras eu corri e finalmente cheguei à minha casa; fiquei extremamente aliviado. Acendi as luzes, pois pensava que assim aquele encosto pudesse ir embora, em cima da mesa de centro, um livro da Lei de Alester Crowley, joguei-o por baixo da toalhinha de enfeite, não queria saber daquelas coisas, pelo menos não neste dia. Olhei para a parede, o quadro do menino triste estava ali, mas eu havia jogado-o fora naquela mesma manhã, como ele havia parado ali? Enquanto estava a pensar, uma neblina tomou conta de toda a cidade e uma chuva fina começou a cair; alguns minutos depois; a chuva fina tornou-se uma chuva torrencial, dissipando a neblina. Novamente, aquela sensação de perseguição tomou conta da minha alma, voltei-me para a porta da cozinha, um homem gordo e careca com um sobretudo preto me observava, balancei a cabeça, pois podia ser alguma coisa da minha imaginação, mas lá estava aquele homem, parado a minha frente, então com muito medo, perguntei: -Quem é você? -Eu sou aquele que venho profetizar a confusão do imponente Hórus! – Respondeu o homem tranquilamente. Suas mãos começaram a brilhar num verde bem claro e brilhante e soltou um raio que me jogou ao chão, fiquei paralisado, não conseguia nem fechar os olhos, aquele homem se aproximou do quadro e disse palavras demasiadamente estranhas. Consegui olhar para o quadro, mas ele estava vazio, senti algumas gotas de água levemente salgada cair sobre meu rosto,

Upload: amadeu-paes

Post on 07-Nov-2014

31 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: 002 - Ciclo Insano

CÍCLO INSANO

Eu costumava sair, religiosamente do serviço, as 18h00min, mas naquele dia, estranhamente, os computadores foram todos queimados por um raio de uma tempestade bem estranha que tinha acontecido à tarde, já era próximo da meia-noite e eu tinha o hábito de ir trabalhar a pé, naquela noite, estava sozinho; e fui caminhando pela avenida vazia e sombria. Nenhum carro era visto, nem mesmos os gatos no cio estavam pelos muros, fui apertando o passo, queria chegar o mais rápido possível em casa, minhas pernas começaram a ter câimbras, impedindo que meus passos fossem mais rápidos.

Uma folha seca rolou pela calçada, me assustando, dei um sorriso do meu próprio medo, olhei a frente e vi um vulto, parado, com dentes afiados que escorriam sangue.

Meus olhos se esbugalharam, mas não era nada, era apenas um boneco do posto de gasolina, porém eu continuava a ter uma sensação arrepiante de que estava sendo observado, pensei em correr, mesmo com as câimbras eu corri e finalmente cheguei à minha casa; fiquei extremamente aliviado.

Acendi as luzes, pois pensava que assim aquele encosto pudesse ir embora, em cima da mesa de centro, um livro da Lei de Alester Crowley, joguei-o por baixo da toalhinha de enfeite, não queria saber daquelas coisas, pelo menos não neste dia.

Olhei para a parede, o quadro do menino triste estava ali, mas eu havia jogado-o fora naquela mesma manhã, como ele havia parado ali?

Enquanto estava a pensar, uma neblina tomou conta de toda a cidade e uma chuva fina começou a cair; alguns minutos depois; a chuva fina tornou-se uma chuva torrencial, dissipando a neblina.

Novamente, aquela sensação de perseguição tomou conta da minha alma, voltei-me para a porta da cozinha, um homem gordo e careca com um sobretudo preto me observava, balancei a cabeça, pois podia ser alguma coisa da minha imaginação, mas lá estava aquele homem, parado a minha frente, então com muito medo, perguntei:

-Quem é você?-Eu sou aquele que venho profetizar a confusão do imponente Hórus! –

Respondeu o homem tranquilamente.Suas mãos começaram a brilhar num verde bem claro e brilhante e soltou um

raio que me jogou ao chão, fiquei paralisado, não conseguia nem fechar os olhos, aquele homem se aproximou do quadro e disse palavras demasiadamente estranhas.

Consegui olhar para o quadro, mas ele estava vazio, senti algumas gotas de água levemente salgada cair sobre meu rosto, dirigi meu olhar mais retamente, era o menino tristonho chorando, ele tinha uma serra de carpinteiro nas mãos.

Em meu estado catatônico não consegui nem gritar por socorro, ele começou a serrar minha cabeça, o sangue escorria por entre meus olhos e rosto, eu sentia uma dor infinita, mas aquele menino não sentia piedade, continuou a serrar até que tirou o tampo de minha cabeça.

Começou a remexer meus miolos, até que dado momento, aquele homem careca pediu para que parasse, reclinou seu rosto para mim e disse bem baixinho:

-Vamos ver que segredos você esconde!A dor era muito grande, não pude suportar e desmaiei...

oooAcordei num lugar que parecia ser uma caverna úmida, estava numa penumbra

não tão densa, pus a mão em minha cabeça e parecia estar tudo no lugar, estava me sentindo bem, apesar de estar com muito medo, comecei a caminhar, procurando entender onde eu estava.

Não demorou muito senti uma vontade incontrolável de fazer sexo, comecei a suar frio, meu membro estava rígido, tirei-o para fora e comecei a me masturbar; enquanto estava aliviando minha libido, uma mulher de corpo escultural, seios fartos e

Page 2: 002 - Ciclo Insano

cabelos castanhos esvoaçantes se aproximou de mim, pois a mão no meu membro, se ajoelhou e começou a sugá-lo. A principio estava muito deleitoso, mas comecei a sentir-me incomodado, pois ela não parava; eu já tinha tido o gozo por duas vezes, puxei seus cabelos e ela abriu os olhos, meu coração se encheu de terror, eram olhos escarlates macabros, larguei-a e corri para mais fundo daquela caverna.

Ela começou a correr atrás de mim, me alcançou, seus dentes caninos eram pontiagudos, suas unhas começaram a rasgar minha carne dos braços, não sei o que acontecia, mas meu membro voltou a ficar rígido, ela o encaixou em sua genitália e começou a movimentá-lo, mas ao mesmo tempo, ela me mordia arrancando grandes tufos de carnes, mordeu minha bochecha, peito, braços, eu gritava de infinita dor.

Toda a minha força de vida se esvaziava, quando num repente, aquela vampira energética me largou, havia se assustado com alguma coisa, me levantei, ainda estava tentando recuperar minhas forças, nem queria saber o porquê de estar naquele local.

Pressenti que algo com uma força poderosa estava se aproximando, estava sem noção de direção, fui-me arrastando para mais fundo da caverna, estava esgotado física e mentalmente, deparei-me num abismo, olhei para baixo, era uma escuridão sem fim, comecei a chorar e a implorar o perdão de Deus.

Ao chorar ouvi o som de uma criança chorando, segui até umas penhas próximas de mim, lá estava o menino tristonho do quadro, ele se levantou e tinha uma faca afiada nas mãos, ainda, não sei como, consegui um pouco de forças, eram minhas ultimas forças, consegui pegá-lo no pescoço e o joguei no abismo, finalmente tive um momento de glória e dei um grito de vitória.

Mas mal tive tempo de comemorar, um laço havia se formado em meus pés, e antes mesmo de entender o que estava acontecendo, fui arrastado e assim fui indo por um bom caminho, não tinha idéia de quem era o meu captor.

Fui levado a um vale apavorante, onde arvores com faces de homens gemendo habitavam, plantas carnívoras que escorriam sangue pela boca completava aquele bosque dos infernos, ao menos, era um pouco mais iluminado, tanto que consegui ver o rosto de meu captor.

Era um humanóide com cabeça de crocodilo, ele me amarrou numa das arvores, tive quase a certeza que ia morrer, então tomei ousadia e perguntei:

-Onde estou?-Você está no entre morte, dependendo de sua prova você terá três caminhos

a seguir! – Respondeu com voz ecoante e rouca-Que caminhos são estes? – Perguntei quase sem voz.-Se você foi um bom homem irá para o paraíso, se não fez nem bem e nem

mau, volta para tua existência, mas se foi mal irá padecer eternamente em tormentos constantes que aumentam a cada dia, como estas árvores que vê.

-Quem irá me julgar? -Silêncio! –Gritou o homem-crocodilo. – O mestre deste eon está presente.Vários gárgulas começaram a sobrevoar aquele vale sinistro, umas

sanguessugas gigantes com mais de um metro de comprimento, começaram a me circundar, elas esperavam entrar nas minhas entranhas; e eu pressenti que algo de ruim iria acontecer comigo.

Sons de trombetas tremulam e ecoantes soavam, tocadas por pequenos duendes verdes e vermelhos, com dentes pontiagudos; as arvores que continham os homens encravados começaram a gemer cada vez mais alto, então o homem careca que estava em minha casa se aproximou no centro daquele espetáculo macabro, com as mãos pediu para que todos se silenciassem.

Um silêncio infernal se instalou!Ele não estava mais com o sobretudo preto, agora estava com um terno preto

altamente alinhado e começou a discursar:

Page 3: 002 - Ciclo Insano

-Como todos sabem sou o profeta de Hórus, meu nome, Alester Crowley; estamos aqui para testemunhar o destino da alma deste homem. – Apontou o dedo para mim e continuou ritmicamente e a cada palavra ia aumentando o seu entusiasmo. –E somente o próprio Hórus, tem o poder de julgar tal destino, por isso todos vós lacaios e almas perdidas, ajoelhem-se ante a presença indelével de Hórus.

As trombetas infernais voltam a tocar e outro ser humanóide, de quase dois metros de altura e cabeça de falcão, com um cajado que na ponta tinha uma chave com formato de cruz de cor âmbar, andou lentamente para o centro e conforme ele passava; ia machucando, aquelas árvores, que pediam clemência.

Parou a minha frente e meu coração gelou, o suor corria de meu rosto, minha garganta secou e minha voz sumiu; a visão de Hórus, era esplendorosa e ao mesmo tempo aterrorizadora, olhou-me bem no fundo de meus olhos e disse em sua voz rouca e potente:

-Você está aqui, por que mexeu com o que não devia, agora deve pagar o preço de sua petulância.

Nisso toda aquela horda começou a gritar, pedindo o meu sangue, e Hórus continuou:

-Devo julgar se teu pecado é passível de morte eterna ou se te darei uma nova chance, mas com certeza você não irá para o paraíso.

Mais berros e mais pedidos pelo meu sangue, as sanguessugas começaram a subir pelo meu corpo, e Hórus continuou:

-Devo agora arrancar teu coração e verei como ele está, tudo o que você fez na vida está gravado no teu coração.

E mais berros pelo meu sangue ecoavam, então, Hórus, se aproximou de mim, e com suas unhas pontudas, rasgou o meu peito, meus olhos subiram, estava tendo um choque encefálico, pois o oxigênio não chegava mais ao meu cérebro.

Ele começou a remexer todo o meu interior e arrancou meu coração para fora, levantou-o para a horda, e meu coração começou a brilhar com uma luz dourada.

Todas as cenas da minha vida se passaram, inclusive coisas que eu havia se esquecido, tudo que eu havia feito de mau e bem, estavam ali, sendo desnudados, após alguns instantes, Hórus, devolveu meu coração para o meu peito e voltei à vida. Ele se afastou de mim e ficou pensativo por vários minutos, então olhou para Crowley e foi-se embora, deixando a todos, então Crowley divulgou o veredito:

-Este homem nem bem e nem mal causou na sua patética existência, por este mesmo motivo será devolvido a sua tediosa existência.

Percebi que houve certa decepção com os lacaios que queriam o meu sangue, porém após algumas chicotadas, cada um foi voltando a seu covil, enquanto isso, Crowley, se aproximou de mim e apertou minha garganta e fui ficando sem ar, até que desmaiei ou morri...?

oooUm trovão me despertou, estava no CPD da minha empresa, estava

assustado, olhei-me e vi que estava tudo em ordem com meu corpo, “graças a Deus”, foi o que pensei, acho que cochilei, os computadores haviam queimado devido à tempestade que tinha dado à tarde.

Estava muito vivida à lembrança do meu sonho, tudo pareceu tão real, me fez refletir sobre minha vida e uma das coisas que iria fazer, assim que chegasse a casa, era jogar aquele quadro e livro fora, pois eles não estavam me ajudando em nada.

Ao terminar de pensar nisso, uma sensação de dejá-vu estava ao meu redor, era uma estranha sensação de estar sendo observado, olhei para o relógio, era quase meia noite, fiquei ressabiado e um pequeno temor tomou conta de mim; e agora, o que fazer?

“Subir ou não subir a rua escura?”