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    MAIQUEL RHRIG

    ALEGORIAS DO MUNDO EM SARAMAGO

    PORTO ALEGRE2011

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SULINSTITUTO DE LETRAS

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM LETRASESTUDOS DE LITERATURALITERATURA COMPARADA

    ALEGORIAS DO MUNDO EM SARAMAGO

    Maiq !" R#$%i&

    O%i!'(a)*%a+ P%*, . D% . Ri(a T!%!/i'$a S $ i)(

    Dissertao de Mestrado em LiteraturaComparada, apresentada comorequisito parcial para obteno do ttulode Mestre pelo Programa de Ps-Graduao em Letras da Uni ersidade!ederal do "io Grande do #ul$

    PORTO ALEGRE2011

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    AGRADECIMENTOS

    % pro&essora Dr'$ "ita (ere)in*a #c*midt, pela orientao epaci+ncia$

    %s pro&essoras e pro&essores, por tudo que me ensinaram$

    os amigos e colegas, por e istirem$

    o .e&erson e ao /enrique, por serem meus mel*ores amigos$

    % min*a me, porque a amo$

    % M0nica, por ser to especial$

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    RESUMO

    1ste trabal*o de literatura comparada interpreta as obras Ensaiosobre a cegueira 234456, A caverna 278886 eEnsaio sobre a lucidez 278896 a partirde uma perspecti a interdisciplinar sustentada por apro ima:es interte tuaisentre literatura e &iloso&ia$ Meu ob;eti o < analisar como a &ico de #aramagodialoga com a Alegoria da caverna, de Plato, ressigni&icando-a por meio de umdeslocamento do idealismo plat0nico para o campo do materialismo mar ista$

    Para tanto, propon*o uma leitura alegrica, interte tual e interdisciplinar$ literatura, parte inalien= el da cultura, permitiu a #aramago apro imar o idealismoplat0nico do materialismo mar ista e, atra trabal*o analtico toma como re&erenciais !$ .ameson 234476, ?$@en;amin 234A96e B$ M

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    A STRACT

    (*is EorF o& comparati e literature presents an interpretati e readingo&Blindness 234456,The Cave 278886 andSeeing 278896 &rom an interdisciplinarperspecti e supported b t*e dialogue betEeen literature and p*ilosop* $ (*eob;ecti e is to anal )e *oE t*e &iction o& #aramago reErites PlatoHs Allegory of the

    cave $ (o t*is end, B propose an allegorical, interte tual and interdisciplinarreading$ (*e anal tical EorF taFes as re&erence !$ .ameson 234476, ?$@en;amin234A96 and B$ M

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    SUM3RIO

    RESUMO...............................................................................................................................4INTRODUO.....................................................................................................................61 CRTICA AO SISTEMA DE SOCIOMETABOLISMO DO CAPITAL .........................21

    1.1 Aspect s !e"#$s %e A C#&e"'#...................................................................................211.2 O t"#(#)* e+ A c#&e"'#...........................................................................................251.3 Aspect s !e"#$s % E's#$ s ("e # ce!,e$"# .............................................................3-

    1.4 Os )$+$tes e #(s,"% s %# "# / ..................................................................................311.5 Aspect s !e"#$s % E's#$ s ("e # ),c$%e ................................................................301.6 O Est#% ' E's#$ s ("e # ),c$%e ..........................................................................3

    2 REPRESENTAO ALE RICA DO MUNDO...........................................................442.1 As #)e! "$#s %e S#"#+#! ..........................................................................................402.2 A' )$se c +p#"#t$ % s p"$'c$p#$s e)e+e't s %#s '#""#t$s...................................5

    2.2.1 A p"ess/ %#s pe"s '#!e's...............................................................................54

    2.2.2 O esp# p"ess " c + #)e! "$# % +,'% .....................................................612.2.3 Os e e$t s e #s c#,s#s %# ce!,e$"#.....................................................................022.2.3.1 C 'ce$t %e $%e ) !$#.....................................................................................05

    2.2.3.2 A p" ()e+ t$c# %# $%e ) !$# '#s '#""#t$s %e S#"#+#! .........................72.2.4 Asce's/ # 8+,'% s,pe"$ ".....................................................................................762.2.5 A "esp 's#($)$%#%e % 8$),+$'#% ..............................................................................73 A PROBLEM9TICA DO :NERO................................................................................ 5

    3.1 As +,)*e"es ' E's#$ s ("e # ce!,e$"#................................................................... 73.2 As +,)*e"es ' E's#$ s ("e # ),c$%e ...................................................................1-63.3 As +,)*e"es e+ A c#&e"'# .....................................................................................1-7

    CONSIDERA;ES

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    INTRODUO

    .os< #aramago tornou-se &amoso a partir de 34A8 com a publicaodo romance Levantado do cho. 1m 3445 recebeu o pr+mio Cam:es e, tr+s anosdepois, o obel de Literatura$ !alecido aos AK anos, em ;un*o de 7838, dei ouuma obra asta, em sua maioria escrita aps os sessenta anos de idade, e queabarca di&erentes g+neros te tuais, destacando-se suas narrati as longas

    2romances e no elas6$ #aramago escre eu at< os ltimos dias de sua ida, eusou a pala ra como a arma de sua luta contra a desigualdade, a opresso e a*ipocrisia$ #eus te tos t+m cada e) mais despertado a ateno depesquisadores do mundo todo, e o @rasil no < e ceo, pro a disso < o granden mero de artigos, disserta:es e teses que analisam sua obra$ 1sta dissertaointerpreta tr+s de suas narrati as e pretende acrescentar signi&icados aostrabal*os sobre a &ico deste que < um dos maiores escritores de nossa lngua$

    Para reali)ar esta interpretao, &ao uma leitura interte tualcomparando3 os te tos de #aramago com a Alegoria da caverna , de Plato$ interte tualidade, incluso de um te to a outro, para e&eitos de reproduo outrans&ormaoN 2O B, 788 , p$ 37 6, < uma re&er+ncia ou uma incorporao deum elemento discursi o a outroN 2id $, p$ 3736$ #egundo (Qnia Car al*al,

    a in estigao das *ipteses interte tuais, o e ame dos modos deabsoro ou trans&ormao 2como um te to ou um sistema incorpora

    elementos al*eios ou os re;eita6, permite que se obser em os processosde assimilao criati a dos elementos, &a orecendo no s ocon*ecimento da peculiaridade de cada te to, mas tamb

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    discutir a necessidade da interdisciplinaridade nas ci+ncias sociais, !rigotto a&irmaque no *= ra):es de ordem ontolgica e epistemolgica para cindirautonomamente esta ou aquela pr=tica socialN 2788A, p$ 9 6$ #egundo ele, asegmentao do con*ecimento ocorre porque, sob as rela:es de produo

    *umana capitalistas e&eti a-se di&erentes processos de alienao e de cisoN 2id $,ib$6, os quais pretendo e itar$

    (al como em .ameson, aqui a obra indi idual < apreendidaessencialmente como ato si b!lico N 23447, p$ S46, e a interpretao abismo temporal que separa Plato e Mar < to grande quantoaquele criado pelo rompimento de Mar com a tradio &ilos&ica idealista$ >mar ismo abandonou a ideia do pensador isolado do mundo, capa) de abstrair-seda ida para alcanar a iluminao da erdade, e desen ol eu uma teoriasegundo a qual o *omem constitui suas ideias e a si mesmo a partir damaterialidade do mundo e das rela:es sociais com os outros *omens$ 1nquanto

    Plato acredita a na superioridade intelectual de uma aristocracia mantida pelaspr=ticas do escra ismo e da e plorao do trabal*o al*eio, Mar luta a pelaeliminao de&initi a das classes sociais e das in;ustias decorrentes de suae ist+ncia$

    &iloso&ia plat0nica inscre e-se na tradio idealista que assenta nacrena de uma realidadeN superior mat,e # "ec"$# / %# Alegoria p,%esse se" e?p)$c#%# #t"#&@s % $'c 'sc$e'te= sse c + pe's , It#) C#)&$' 2--0= p.1- s ("e c) ss$c s= # $"+#'% >,e 8e?e"ce+ ,+# $' ), 'c$# p#"t$c,)#" >,#'% se $+p e+ c + $'es>,ec &e$s ,t#+(@+ >,#'% se c,)t#+ '#s % ("#s %# +e+F"$#= +$+et$ #'% Gse c + $'c 'sc$e'te c )et$& ,$'%$&$%,#)H= sse c + te "$ # ,e c 'ce"'e # >,e c*#+ , %e 8$'c 'sc$e'te p ) t$c

    #+es ' +#'te&eGse c + "e e"e'c$#) teF"$c = +#s c 's$%e"#'% ,t"#s >,est es %$sc,t$%#s e+ s,# ("#= p$c , c)#" >,e S#"#+#! esc )*e, c 'sc$e'te+e'te s e)e+e't s >,e #p 't#+ t#'t p#"# # Alegoria da

    Caverna >,#'t p#"# +#te"$#)$s+ %e M#"?. E+( "# e, pe'se >,e te"+ 8$'c 'sc$e'teH %# e?p"ess/8$'c 'sc$e'te p ) t$c H seJ# ,+# c#t#c"ese te"+ ,t$)$ #% '# #)t# %e ,t" +#$s #%e>,#% = '/ se "e e"# #)! %e >,e #,t " '/ t + , c 'sc$ 'c$# ' + +e't %# esc"$t#= +#s # #)! >,e e)e #pe'#s '/ %e$?#e?p) c$t = p"e e"$ '/ ,t$)$ #" est# c#te! "$# #'#) t$c#. N c#s %e S#"#+#! = # # $"+#" >,e e)e c"$# '

    ("#s #>,$ #'#)$s#%#s #)e! "$#s= c 'c "% c + K#'se' 1 76= p. 2 = >,#'% este esc"e&e >,e= 8est t$c#%$' +$c#= %esc"$t$ , '#""#t$= # #)e! "$# @ p" ce%$+e't $'te'c$ '#) % #,t " % %$sc,"s ... H.3 P)#t/ #c"e%$t# >,e # #)+# %#s c"$#t,"#s p ss, # ,+# &$%# #'te"$ " &$%# te""est"e= &$&$%# #%e,ses= ' M,'% I'te)$! &e). O c '*ec$+e't se"$# ,+# "e+$'$sc 'c$# %ess# &$%#.

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    que *= dois mundos o mundo is el, ao alcance dos nossos sentidos, e o mundointelig el, no qual reside o con*ecimento puro, alcanado atra s prisioneiros s

    t+m acesso s sombras do mundo, seu con*ecimento < parcial$ Para alcanar aplenitude e o con*ecimento puro, < preciso ascender ao mundo intelig el$ >Mundo Bntelig el no < outro mundo, < o mundo iluminado, atingido na suasigni&icao pela ati idade do pensamentoN 2M B"1, 3443, p$ 36$ 1, acima detudo, igora a ideia do @em, para todos a causa de quanto *= de ;usto e beloN2PL (V>, 7888, p$ 73 6$

    Plato, propondo-se a resol er a discusso entre /er=clito eParm+nides4, dedicou-se seriamente dial

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    e plica a ida em sociedade pelas necessidades estas, com e&eito, nopodem ser satis&eitas pelo indi duo isoladoY a colaborao < umanecessidade quase natural, que permite ao *omem, originalmentedespro ido, &a)er &rente s e ig+ncias itais mais elementaresY o&enmeno natural da ida social reside por conseguinte na di iso dotrabal*oY esta cria a unidade, a *ierarquia, a solidariedade de seresdesiguais e dissemel*antes, de &acto como de direitoY Plato re;eita

    portanto qualquer tentati a de igualitarismo 2M B"1,op. cit $, p$ 55-5S6$1m A rep"blica, Plato aconsel*a a a igualdade entre *omens e

    mul*eres e sugeria a abolio da &amlia$ 1m As leis, por,op. cit. , p$ 3846$ Mas esta *ierarquia no < *eredit=ria, podeacontecer que do ouro nasa uma prole arg+ntea, e da prata, uma =urea, e assimtodos os restantesN 2id. , ib$6$ Cada classe de e ser &eli) con&orme a sua nature)a,e a ;ustia consiste em cada um &a)er o seu trabal*o de acordo com a sua classe,assim como cada membro de nosso corpo de e reali)ar seu trabal*o con&ormesua &uno$

    > platonismo marcou a &iloso&ia ocidental durante dois mil+nios emeio, e continua a in&luenciar pessoas do mundo todo5$ Plato < o primeiro

    &ilso&o cu;a obra &oi preser ada das intemp

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    Mar in erteu a lgica da dial

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    ideali)ada, o socialismo de Mar , embora se;a tamb

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    mar ista etc$, de&endendo o que c*amou de cesura epistemolgicaN2 L(/U##1", 34K46, termo que designa o incio de uma &ormulao cient&icaN eabandono das &ormula:es ideolgicasN, ou se;a, o surgimento do materialismodial

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    opinio, no se e imindo da responsabilidade de pensar a realidade de seutempo$ Contudo, suas narrati as no so teses S, elas apresentam ideias sobre omundo, mas de modo &iccional, na acepo que dese;a a 1ngels, citado porLuF=cs 234SA, p$ A6 considero que a tese de a brotar da situao e da ao,

    sem que a ela se &aa re&er+ncia de maneira e plcita, e o poeta Wentenda-seautor de &icoX no est= obrigado a p0r nas mos do leitor ;= pronta a soluo*istrica para os con&litos *istricos por +le descritos$N

    escol*a das obras a serem estudadas e da perspecti a quenorteia este estudo preenc*e inten:es pessoais, no sendo, de modo algum,uma escol*a neutra$

    1m qualquer estudo acad+mico selecionamos os ob;etos e m , 7883, p$ 7486$

    seleo das obras liter=rias a serem analisadas &oi determinadapela presena dos elementos b=sicos da estrutura da Alegoria da Caverna , bemcomo algumas categorias &undamentais do pensamento de Mar , cu;o&uncionamento nas narrati as era complementar aos constituintes da Alegoria $ >ponto de ista adotado tentar= mostrar a interpenetrao entre a literatura de#aramago e a sociedade em que i emos, como a &ico recria e representa arealidade num mo imento dial, 7838, p$ 96, e, portanto,como #aramago, ao criticar a sociedade, tamb,e se p %e %e%, $" #c$)+e'te %>,e $ #t@ * Je. O >,e e, '/ "e ,t @ $st Q se e, est , $%e ) !$c#+e'te %ete"+$'#% ,c#"#cte"$ #% %e ,+# ce"t# +#'e$"#= se s , ,+# pess # c,J +,'% est "!#'$ #% t#+(@+ e+

    ,' / %e ,+ ce"t e'te'%$+e't %# K$stF"$# , %# s c$e%#%e , % ,'c$ '#+e't %#s " #ss c$#$s= e't/ e, c"e$ >,e= +es+ >,e e, '/ esteJ# # %$ e" '#>,$) >,e esc"e& $ P#"t$% = @ #c )$+ # )e$t " #te't e'te'%e" >,e #,t " >,e e)e est # )e" pe's# %e ,+# +#'e$"%ete"+$'#%# REIS=apud PEREIRA LACERDA= p. 3 .

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    sociedade, &a)endo do te to uma representao especial da realidadee teriorY 2 6 ao passarem de \&ato\ a \assunto\, os traos da realidadee terior se organi)am num sistema di&erente, com possibilidadescombinatrias mais limitadas, que denota a sua depend+ncia em relao

    realidadeY 296 *= portanto uma de&ormao criadora, de ida tensoentre o dese;o de reprodu)ir e o dese;o de in entarY 256 esta de&ormaodepende em parte da discrepQncia entre o intuito do autor e a atuao de

    &oras por assim di)er mais &ortes do que ele, que moti am a constituiode um subsolo debai o da camada aparente de signi&icadoY 2S6 tais&oras determinantes se prendem sobretudo s estruturas mentais dosgrupos e classes sociais a que o autor pertence, e que se caracteri)ampor um certo modo de er o mundoY 2K6 o elemento indi idual pu a ae presso est

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    outros eleitores6 e sucessos K$

    > Ensaio sobre a cegueira trou e para o centro da interpretao,tambs &atos de apenas umamul*er no ter cegado durante a epidemia que a&etou a populao de um pasinteiro e de outra mul*er ter incendiado o manic0mio no podem ser ignorados,mais do que isso, merecem ateno especial$ "esponder s perguntas 236 porque mul*eres e 276 por que uma < a mul*er do m,e $ss p %e"$# s$!'$ $c#" p#"# e)es= s ("et,% p ">,e M#"t# est !" &$%#. N Ensaio sobre a cegueira # s$t,# / sF +e)* "# %$#s #pFs $'c '%$ %+#'$cV+$ = e s s,cess s %# +,)*e" % +@%$c )$+$t#+Gse $'$c$#)+e'te "!#'$ # / %e s,# c#+#"#t#%ep $s #)$+e't# / % pe>,e' !",p !,$#% p " e)#= e'>,#'t ' Ensaio sobre a lucidez s,cess % s& t#'tes @ pe"+#'ece"e+ $"+es #pFs #s #t" c$%#%es % ! &e"' .

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    uma mul*er comumN, atra

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    de sociometabolismo do capitalA$ #egundo min*a an=lise, cada uma concentrasua crtica em um dos &undamentos do sistema$ o Ensaio sobre a cegueira,#aramago en&oca as rela:es sociais entre os indi duos, as quais se mostrampren*es de um racionalismo que coloca as pessoas umas contra as outras como

    competidoras egostas, incapa)es de agir de modo solid=rio$ Procuro demonstrarque #aramago cria uma dicotomia entre personagens masculinas e &emininas, demodo a opor um modelo patriarcal a uma espMM1", 34496$ alegoria possui dupla temporalidade uma oltada ao seutempo e outra direcionada a todos os temposN 2M>"1B" G M , 78386$ Deste

    modo, embora os te tos de #aramago se;am &ic:es, apro imam-se tamb,e $+p e est# s,( "%$'# / = #t"#&@s % 8c 't" )e est#t#) #)$e'#% %+e$ s %e p" %, / e %# c 'c +$t#'te e p )$t$c#+e'te c +p,)s$ e?t"# / % t"#(#)* e?ce%e'teH id., p.0 . Neste se't$% = >,e c*#+#+ s %e 8s c$#)$s+ "e#)+e'te e?$ste'teH @= '# &e"%#%e= ,+# "+# espec%e s$ste+# %e s c$ +et#( )$s+ % c#p$t#). T#'t ' c#p$t#)$s+ >,#'t 'este 8s c$#)$s+ H= t"#(#)* * +e+ '/ @ ,+# +#'$ est# / %e s$= e s$+ ,+# "+# %e #)$e'# / .

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    >utro conceito terico discutido no segundo captulo < o deideologia$ Procurei manter-me &iel de&inio de Mar , discordando, por isso, emalguns pontos, no amente, da interpretao equi ocada que l*e deu lt*usser, eamparando min*a an=lise nas considera:es de M

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    saber=s, gora ;= no estou to certa, (er=s ento de ler doutra maneira,Como, o ser e a mesma para todos, cada um in enta a sua, a que l*e&or prpria, *= quem le e a ida inteira a ler sem nunca ter conseguido iral

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    1 CR4TICA AO SISTEMA DE SOCIOMETA OLISMO DO CAPITAL

    ntes de proceder comparao das obras no que se re&ere aoselementos em comum entre elas e a Alegoria da Caverna , ;ulgo necess=rioapresentar as especi&icidades no modo como cada uma critica o capitalismo,demonstrando como #aramago reali)a o desmascaramento de sua lgica deopresso e barb=rie$ 1m A caverna o al o da crtica < o modo de produo

    capitalista, enquanto em Ensaio sobre a lucidez < o 1stado, e, em Ensaio sobre acegueira, o modo egosta como as pessoas se relacionam umas com as outras$

    este captulo, portanto, me ocupo com as di&erenas4$

    1.1 A56! (*5 &!%ai5 )! A Caverna

    1sta &ico, publicada no ano 7888, al,#'t ' s Ensaios '/ * "e e" 'c$#s p" %, / %e +e"c#% "$#s.

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    ela est= contido menos trabal*o, menos trabal*o pago e menos no-pagoN2M "Z, 34AAa, p$ 3K56$ Bsso no ocorre na modesta e primiti a olaria, onde no*= m=quinas, o &orno < antigo 2a ideia de comprar um no o logo se mostrouimpratic= el6, o trabal*o no possui &ragmentao nem *ierarquia$ luta da

    concorr+ncia < condu)ida por meio do barateamento das mercadorias$ barate)adas mercadorias depende W$$$X da produti idade do trabal*o, esta pors capitais maiores derrotam portanto os menoresN 2M "Z, 34A5

    7, p$ 34S6$

    1stando as louas de barro derrotadas pelo pl=stico, Marta, a &il*ade Cipriano, sugere-l*e a &abricao de bonecos$ Mo ido por esta no aesperana, o oleiro atira-se pesquisa das &ormas, e produ) suas no asmercadorias no como um oleiro, mas como um deus moldando suas criaturas$Cipriano no se relaciona com o produto de seu trabal*o de &orma &etic*i)ada,como se &osse apenas uma coisa, nem alienada, pois se recon*ece no seutrabal*o e o alori)a como e presso do seu eu$ > Centro, ao contr=rio,relaciona-se com os &ornecedores e produtores como com ob;etos$ o caso deCipriano, o Centro no tem nen*um escr pulo em e igir-l*e e clusi idade,impedindo-o de ender a qualquer outro comprador, e depois suspender a compra

    de sua loua, o que se repetir= em relao a seus bonecos$

    >s nomes de alguns personagens so constantemente repetidosnesta obra, e possuem nomes prprios aqueles que so e&eti amente su;eitos,no estando na condio de representar personi&ica:es de categoriasecon0micas, portadoras de determinadas rela:es de classe e interessesN2M "Z, 34A5 3, p$ 3386$ Cipriano lgor 33, i o de .usta Bsasca, no < um

    prolet=rio comum, um trabal*ador alienado que se submete ao sistema e trabal*aapenas por um sal=rio 2c*amo-o prolet=rio porque, embora possua meios deproduo, sua relao com o Centro < de prolet=rio com burgu+s6$ os S9 anos,conser a as mos sens eis para moldar o barro, e seu ser inteiro reside nadignidade de er-se a si mesmo no trabal*o que reali)a, como di) Maral paraMarta

    1- E+ #)!,+#s c$t# es %# ("#O capital pte$ pe)# t"#%, / %e Re!$'#)% S#'tWA''#= e'>,#'t e+ ,t"#s p"e e"$ # %e Re!$s B#"( s# e ,e= se!,D$c$ ' "$ A,"@)$ = #)! " s$!'$ $c#Q 8

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    este momento, o mais importante para o teu pai < o trabal*o que &a),no a utilidade que ten*a, se l*e tirares o trabal*o, qualquer trabal*o,tirar-l*e-=, de certa maneira, uma ra)o de i er, e se l*e disseres que oque ele est= a &a)er no ser e para nada, o mais pro = el, mesmo que ae id+ncia do &acto l*e este;a a rebentar os ol*os, ser= no acreditar,simplesmente por no poder 2p$ 7 76$

    Cipriano no gosta a de Maral tanto quanto este gosta a deCiprianoY ;usti&ica-o porque o rapa) queria le ar-l*e a &il*a, na erdade le ara-l*a ;= ao casar com elaN 2p$ 38S6, e no o toma a s

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    pensou apesar da distQncia podiam ler-se as pala ras do gigantesco an ncioque l= esta a a&i ado,T>C ] > >##> M1L/>" CLB1 (1, M #, P>" ! T>", V> >T_ DBO1" > #1U TBOB />$ W$$$X a Maral surpreendeu-o um pensamento, Di ertem-se nossa custaN 2p$ 7 K6$ Maral no &ora querido pelos pais, e seu pai esta a

    b+bado quando ele &oi gerado, o que o &a) sentir-se &il*o de outro *omem$ ogosta nem de seu pai nem de sua me, lembrando-se de contar-l*es que Martaest= gr= ida s muito tempo depois de receber a notcia$ 1le se nega a le =-los amorar no Centro, no obstante a insist+ncia dos dois$ o +-lo pela primeira e),

    > co c*ado no gostou de MaralN 2p$ 3856$ c*ado no gosta a de &ardasmas, ao longo da narrati a, intuindo a trans&ormao que &e) do rapa) tolo um*omem, o co o recon*ece, e Maral se abraou a ele como pessoa a quem

    mais amasseN 2p$ 737-73 6$ > co e o sogro recon*eceram a mudana de Maral,e ambos gostaram dela$

    i a Bsaura 1studiosa, ou Bsaura Madruga 2nome de solteira6,entra na trama quando &ala ao oleiro que a ala do cQntaro que dele comprarapartira-se$ Cipriano disp:e-se a dar-l*e um cQntaro no o, e &=-lo realmente$ 1la,ao despedir-se, abraa-se ao cQntaro, gesto cu;o signi&icado se re elar= no &inalda narrati a, aps ela e Cipriano terem declarado e estarem a i er seu amor

    quando apertei aquele cQntaro contra o peito, realmente era preciso que &osses*omem para no compreenderes que te esta a a apertar a tiN 2p$ 9A6$

    /= ainda dois personagens nomeados$ > co c*ado recebe estenome porque &oi encontrado no quintal da casa debai o da amoreira$ Ciprianoprocurou por seu dono em toda a ila, at< que Bsaura disse-l*e que parasse, pois,se continuasse, estar= a ir contra a ontade do animal, lembre-se de que ele quis

    escol*er outra casa para morar W$$$XN 2p$ S 6$ Marta e Cipriano a&eioam-se ao cologo de incio, e so correspondidos, o que no acontece com Maral, que sobt outro personagem < o Centro,um gigantesco pr

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    >utros personagens aparecem na trama designados por suaspro&iss:es, dois deles e ercendo os paps personagens sem nomeN&uncionam como personi&ica:es de categorias econ0micas, portadoras de

    determinadas rela:es de classe e interessesN, con&orme citado acima$

    1.2 O (%a7a"$* ! A a8!%'a

    Para Mar o trabal*o no < apenas um meio pelo qual produ)imosmercadorias, < o modo como nos tornamos su;eitos, uma condio de e ist+nciado *omem, independente de todas as &ormas de sociedade, eterna necessidadenatural de mediao do metabolismo entre *omem e nature)a e, portanto, da ida*umanaN 2M "Z, 34A5 3, p$ 586$ o se trata de reali)ar uma tare&a parasimplesmente ser recompensado com um sal=rio, o trabal*o < uma mani&estaode siN, a qual &ica, por

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    bonecos pelo oleiro e a criao dos *umanos pelos deuses, o que d= no adimenso dignidade de Cipriano *= quem diga que todos nascemos com odestino traado, mas o que est= ista < que s alguns ieram a este mundopara &a)erem do barro ad:es e e as ou multiplicarem os pes e os pei esN 2p$

    3K 6$ [uando Cipriano, noite, son*a que a encomenda seria cancelada peloCentro, ao acordar Pensou em muitas coisas, pensou que o seu trabal*o setornara de&initi amente in til, que a e ist+ncia da sua pessoa dei ara de ter ;usti&icao su&iciente e medianamente aceit= elN 2p$ 34A6$ imin+ncia de &icarsem trabal*o &=-lo sentir-se um estor o, ou mel*or, sente-se como seu trabal*oin til$

    Mar traa a lin*a conceitual de demarcao entre (%a7a"$*como

    \Lebens3usserung 2mani&estao de ida6 e como \Lebensent3usserung2alienao da ida6$ >(%a7a"$* 9 \Lebensent3usserung quando \eutrabal*o para i er, para produ)ir um meio de ida, mas meu trabal*ono < ida, em si\Y isto ,e te"+$' , se+p"e , c + ,+# t"#'s "+# /

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    l*e do nen*uma ateno

    Cipriano lgor tin*a as mos a tremer, ol*a a em redor, perple o, a pedira;uda, mas s leu desinteresse nas caras dos tr+s condutores que*a iam c*egado depois dele$ pesar disso, tentou apelar solidariedade de classe , Te;am esta situao, um *omem tra) aqui o

    produto do seu trabal*o, ca ou o barro, amassou-o, modelou a louaque o encomendaram, co)eu-a no &orno, e agora di)em-l*e que s &icamcom a metade do que &e) e que l*e o de ol er o que est= noarma) pro;eto dos bonecos < apresentado por Cipriano ao c*e&e, queaceita o recebimento de algumas peas para ser irem a um inqu

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    completamente di&erente da olaria, ou se;a, de completa &ragmentao

    organi)ao do Centro &ora concebida e montada segundo um modelode estrita compartimentao das di ersas acti idades e &un:es, asquais, embora no &ossem nem pudessem ser totalmente estanques, spor canais nicos, no raro di&ceis de destrinar e identi&icar, podiam

    comunicar entre si 2p$ 46Y l, (" C V>1ZCLU#BT , BC > MU D>, C>MP"1 ._ #U 1 (" D N 2p$ 586$

    problem=tica do trabal*o no < re&erida apenas quanto a Ciprianoe Maral, personagens secund=rios tamb

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    Di)-se que a paisagem < um estado de alma, que a paisagem de &ora aemos com os ol*os de dentro, ser= porque esses e traordin=rios rgos

    interiores de iso no souberam er estas &=bricas e estes *angares,estes &umos que de oram o cs trabal*adores das Cinturas grcola e Bndustrial desempen*amum trabal*o alienado, e o pessimismo do narrador e de Cipriano quanto a estetipo de ati idade ecoa na representao da paisagem$ alienao no < umconceito abstrato, tal como na &iloso&ia idealista$ 1m Mar , a alienao est= ligadaaos &atores ob;eti os do trabal*o$ #egundo M ponto de con erg+ncia dos aspectos *eterog+neos da alienao < anoo de trabal*oN 2 Arbeit 6$ os $anuscritos de ()**, o trabal*o seu car=ter estran*o resulta isi elmente do &ato de se &ugir do trabal*o,como da peste, logo que no e iste nen*uma compulso &sica ou dequalquer outro tipo$ !inalmente, a e terioridade do trabal*o para otrabal*ador transparece no &ato de que ele no < o seu trabal*o, mas ode outro, no &ato de que no l*e pertence, de que no trabal*o ele nopertence a si mesmo, mas a outro 2 id., p$ 3396$

    1.: A56! (*5 &!%ai5 )* Ensaio sobre a cegueira

    Ensaio sobre a cegueira 234456 narra uma epidemia de cegueirabranca em um pas imagin=rio$ ntes que a populao inteira cegue, cerca de 7S8pessoas so isoladas em quarentena no pr

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    ladr:es esta am, pro ocando com isso a destruio do pr

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    orador a gritar, 1stou cego, estou cego, le aram os ;ornais, a r=dio e atele iso, quase todos, a dei arem de ocupar-se de tais iniciati as,e ceptuando-se o discreto e a todos os ttulos lou = el comportamentode certos rgos de comunicao que, i endo custa desensacionalismos de todo o tipo, das graas e desgraas al*eias, noesta am dispostos a perder nen*uma ocasio que aparecesse de relatarao i o, com a dramaticidade que a situao ;usti&ica a, a cegueira

    s bita, por e emplo, de um catedr=tico de o&talmologia 2p$ 3796$> racionalismo nega o sentimento, enaltece o egosmo e desden*a da

    solidariedade$ [uero di)er que temos sentimentos a menos Wdisse a mul*er doms soldados&i)eram de conta que no tin*am ou ido, as ordens que o sargentorecebera de um capito que por ali tin*a passado em ista de inspecoeram peremptrias, clarssimas, #e eles se matarem uns aos outros,mel*or, menos &icam 2p$ 3 46$

    mul*er do m

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    *igiene e in&raestrutura, e cu;o atendente do minist

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    ou ir, antes o insulto 2p$ 3S76$

    [uando os cegos mal ados e igem mais din*eiro, os cegose plorados mostram-se to tolos que ao in

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    contra a esposa, mas < pro a elmente o nico recurso, se queremos i erN 2p$3SK6$ cena da iol+ncia contra a sua esposa ser= uma das mais marcantesdemonstra:es de brutalidade$ ps transar com a rapariga dos culos escuros, older dos mal ados ordena que a mul*er do mu c*upas, ou na tua camarata nuncamais entrar= uma migal*a de po, ai l= di)er-l*es que se no comerem< porque te recusaste a c*upar-me, e depois olta para me contares oque sucedeu$ mul*er do m

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    > el*o da enda preta a impede de &alar 2como ele soube e comopercebeu que ela &alaria isso no sabemos6$ ] ele quem di) que < *ora de os*omens irem buscar a comida, e mant

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    roubado boca dos outros, e se l*es roubamos de mais acabamos por causar-l*es a morte, no &undo somos todos mais ou menos assassinosN 2p$ 74A6$

    > uso desmesurado da ra)o, a subutili)ao dos sentimentos, oegosmo so tamb#, 34A3, p$ 3 3-3 76$

    1.= A56! (*5 &!%ai5 )* E'5ai* 5*7%! a " i)!/

    Ensaio sobre a lucidez 278896 retoma o pas, situa:es epersonagens do Ensaio anterior 2a *istria ocorre quatro anos aps a epidemia decegueira6, mas de modo bem di erso$ oEnsaio sobre a Cegueira < uma pessoaque + e, atra

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    ota em branco nas elei:es municipais$ "eali)ada uma segunda otao, oresultado se repete$ > go erno toma medidas en medo que o go erno tenta incutir nos cidados a &imde que estes recon*eam que ele < necess=rio no obt

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    circunstQncias dadas 2o 1stado agindo como pode, segundo os el*osparadigmas da soberania, e a populao negando-se a alienar-se e a submeter-se6 ningu, 7833, p$ 736$ o 1nsaiosobre a lucidez e nas outras duas narrati as no &oi poss el resol er os con&litos$ ndr< @ueno, re&erindo-se trilogia in olunt=riaN re&erida na introduo, d=-nosuma e plicao que creio aler para o des&ec*o deste Ensaio% os relatos da

    Trilogia permanecem no meio da crise sem indicar qualquer sada, sugerindo umceticismo aplicado prpria condio *umana como uma mistura de medo,ruindade e indi&erenaN 27887, p$ A6$ > prprio #aramago di)-nos algumaspala ras para a situao espec&ica deste Ensaio, na prpria obra

    ] di&cil dar a um tal isto ou aquilo uma resposta capa) de satis&a)ertotalmente esse leitor Wum leitor atento aos meandros do relato, um leitordaqueles analticos que de tudo esperam uma e plicao cabalNX$ #al ose o narrador ti esse a inslita &ranque)a de con&essar que nunca este e

    muito seguro de como le ar a bom termo esta nunca ista *istria deuma cidade que decidiu otar em branco W$$$X 2p$ 3A96

    1.> O E5(a)* '* Ensaio sobre a lucidez

    /= nesta obra duas personi&ica:es alegricas, da cegueira e dalucide), mas elas no esto associadas ao masculino ou ao &eminino,di&erentemente do que ocorre no outroEnsaio. qui a alegoria concentra-se no

    antagonismo entre os otantes tradicionaisN 2aqueles que escol*eram entre umdos tr+s partidos polticos estabelecidos, da direita, do meio e da esquerda6 e oseleitores que otaram em branco, recusando-se a aceitar a &arsa do ;ogo eleitoral$>s brancosos, als eleitores tradicionais acreditam que a bomba que matou 9pessoas no metr0 &oi um ato dos brancosos, e por isso tentam &ugir da cidade$

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    Bmpedidos pelo go erno e con encidos por ele a retornarem aos lares paraproteger suas casas do &urto de que as emissoras de r=dio noticia am ser timas2os go enantes mandaram di)er que os brancosos apro eita am sua retiradapara le ar-l*es os bens6, deparam-se, ao contr=rio, com os i)in*os a aguardar

    diante dos pr

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    lguns WeleitoresX sugeriam que &osse um grupo &alar com o presidenteda cQmara municipal, o&erecer leal colaborao, e plicar que asinten:es das pessoas que *a iam otado em branco no eram deitarabai o o sistema e tomar o poder, que ali=s no saberiam que &a)erdepois com ele, que se *a iam otado como otaram era porqueesta am desiludidos e no encontra am outra maneira de que sepercebesse de uma e) at< onde a desiluso c*ega a, que poderiam ter

    &eito uma re oluo, mas com certe)a iria morrer muita gente, e isso noqueriam, que durante toda a ida, pacientemente, tin*am ido le ar seusotos s urnas e os resultados esta am ista, Bsto no < democracia

    nem nada, sen*or presidente da cQmara 2p$ 3836$

    ] regra in ari= el do poder que, s cabeas, o mel*or ser= cort=-las antes que comecem a pensar, depois pode ser demasiado tardeN 2p$ 33S6$ >sgo ernantes se apegaram esperana de que *a eria um modo de re erter asituao$ #uas pr=ticas, compreendidas como alegoria, nos con encem de que gamben est= certo quando a&irma que a estrita oposio democracia`ditadura s go ernantes tentam impor seus dese;os alendo-se dasinstitui:es do 1stado, neste Ensaio destacando-se a lei, a imprensa e a polcia,os dois primeiros, aparel*os ideolgicos do 1stado, o ltimo, aparel*o repressi o2 lt*usser, 34A56$

    lei est= ao lado dos poderosos e contra os oprimidos, e, quando

    no < assim, os go ernantes do um ;eito para que se;a$ > oto em branco < umdireito legtimo, mas nunca passara pela cabea de ningu

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    os eleitores que otaram em branco$ [uin*entas pessoas so detidas parainterrogatrio, e as perguntas de eriam ser respondidas con&orme o interesse dospoliciais e dos ;u)es$

    a ns no incomoda nada que in ente as respostas que entender, comtempo e paci+ncia, mais a aplicao adequada de certas t 1stado cria a lei, e quando a lei que criou < &al*a, deturpa-a, nega-a, in&ringe-a ou in enta outra$ > comiss=rio &ala mul*er do m aspecto normati o do direito pode ser,assim, impunemente eliminado e contestado por uma iol+nciago ernamental que, ao ignorar no Qmbito e terno o direito internacional eprodu)ir no Qmbito interno um estado de e ceo permanente, pretende,no entanto, ainda aplicar o direito 27889, p$ 3 36$

    imprensa < respons= el pelo trabal*o de into icao do p blicoN2p$ 846$ >s ;ornais, a tele iso e as r=dios, todas as mdias seguem asdetermina:es do go erno, agindo no interesse dos poderosos e,parado almente, contra a populao que as l+, ou e e assiste$ [uando os ;ornais

    publicam a &otogra&ia do grupo da mul*er do m

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    na cabea da populao$ > comiss=rio resol e a;udar a mul*er do m

    go erno, quando sabe do artigo, manda recol*er os ;ornais$ Mas alguns ;= *a iamsido endidos, e a populao &a) &otocpias e as distribui$ Como se +, adesesperada tentati a do go erno de in entar um rosto para uma conspiraoine istente alcanar= o mesmo &racasso das estrat comiss=rio pre&eriu ser demitido, receoso deque isso no seria tudo$ Dissera-l*e o ministro do interior sobre a in estigaoque ordenara sobre a mul*er do m

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    2 REPRESENTAO ALEGRICA DO MUNDO

    ?alter @en;amin resgatou a importQncia do estudo e dainterpretao alegrica na obra 'rige do dra a barroco ale o. #eu principalob;eti o era alori)ar o perodo @arroco, uma e) que este &ora desden*ado pelo"omantismo, sobretudo atra

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    os te tos de Plato e #aramago no < e atamente isso o queacontece$ > deslocamento da an=lise do @arroco para os te tos aqui estudadose ige dilatar as possibilidades da alegoria, conceito que < nesta dissertaoutili)ado como

    representao concreta de uma id(/1, 34AS, p$ 486$

    >u se;a, alegoria signi&ica di)er o outroN 2id $, p$ K6$ este sentido,#aramago escre e algo que &unciona no n el te tual mas que tamb,e p ss#+ s c*e!#" # 8>,#)>,e" ,t"#H $'te"p"et# / = p $s= e+( "# *#J# p ss$($)$%#%es ,t"#s= * $'te"p"et# es & )$%#s e ,t"#s '/ .

    1 P#"t % p"ess,p st %e >,e "e#) p ss,$ %$&e"s#s c#+#%#s. N# c#+#%# +#$s p" ,'%#= "e#) @

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    mais barroco que se;a, que no ten*a uma contrapartida nesse mundoN2@1 . MB , op. cit. , p$ 7996, sem esquecer que de emos ter consci+ncia darelao arbitr=ria e de&ormante que o trabal*o artstico estabelece com arealidade, mesmo quando pretende obser =-la e transp0-la rigorosamente, pois a

    mimese < sempre uma &orma de poieseN 2C DBD>, 7838, p$ 776$ alegoria,con&orme Jot*e, < sin,e ses ("ep e+= * $'te"p"et# es % s e&e't s >,e s "ep"ese't#+ #t"#&@s %e ,+# %ete"+$'#%# )$'!,#!e+= e @ ,+# %est#s c#+#%#s >,e S#"#+#! se "e e"e.

    N# ("# %e S#"#+#! "e#) "e e"eGse # + +e't *$stF"$c p " >,e p#ss#+ #s pess #s %e #)!,'s p# ses c$%e't#$s= ' s >,#$s #s p" t$c#s %e p" %, / s/ "e#)$ #%#s %e #c "% c + # )F!$c# c#p$t#)Est#% @ "!#'$ #% c ' "+e + %e) e+ >,e s c$%#%/ s e)e!e+ "ep"ese't#'tes >,e= p " !e"$"e+ ,+Est#% c#p$t#)$st#= ! &e"'#+ %e #c "% c + # )F!$c# % s % +$'#'tes e e+ p s$ / # s $'te"esses %# +>,e s e)e!e+. Est# $%e$# %e "e#) '/ c ""esp '%e c#+#%# % e&e't = +#s # ,+# $'te"p"et# / = ' c#s"e#)$ #%# s ( ,+ &$@s +#"?$st#.

    #+es ' # $"+# 8>,e # K$stF"$# '/ @ ,+ te?t = , ,+# '#""#t$= +est"# , '/ = +#s >,e= c +c#,s# #,se'te= @G' s #cess &e) #pe'#s s ( # "+# te?t,#)= e >,e ' ss# #( "%#!e+ %e)# e % p"Fp"$ Re# p#ss# 'ecess#"$#+e'te p " s,# te?t,#)$ # / p"@&$#= s,# '#""#t$&$ # / ' $'c 'sc$e'te p ) t$c H 1 232 . N/ te+ s #cess # "e#) e'>,#'t e&e't = #pe'#s c + ,+# '#""#t$.

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    o tempo de sua produo e para todos os tempos, possuindo, ainda, um car=tereducati oN, medida que, enquanto metonmia do real, imp:e uma re&le o

    sobre o mundo$

    2.1 A5 a"!&*%ia5 )! Sa%a a&*

    >s seis elementos &undamentais da Alegoria da Caverna aparecemnos tr+s te tos de #aramago, entretanto seu &uncionamento apresentaespeci&icidades, pois a alegoria representa o mundo, mas o modo como o mundo< representado em cada um dos te tos no < e atamente o mesmo$ 1m ista

    disso, cada um dos componentes requer ateno pormenori)ada, o que &arei nosquadros a seguir$ ntes, para en&ati)ar que #aramago apropria-se, de &ato,consciente ente , do te to de Plato, dei ando marcas disso em suas narrati as, ;ulguei con eniente incluir bre es obser a:es a respeito$

    ordem de publicao das obras < Ensaio sobre a cegueira 234456, A caverna 278886 e Ensaio sobre a lucidez 278896, mas comearei com osegundo, para &acilitar a comparao com os doisEnsaios.

    > ttulo antecipa as re&er+ncias Alegoria da caverna , que de &atoso =rias$ Por ora, &iquemos nas re&er+ncias e plcitas, que iniciam na epgra&e,um di=logo e trado de A rep"blica [ue estran*a cena e que estran*osprisioneiros, #o iguais a ns$N

    1ntre as p=ginas 34 e 34A Cipriano lgor tem um son*o em que seencontra dentro do &orno no o que con;eturara comprar pensando em moderni)ara olaria caso a enda dos bonecos desse certo$ 1ra um &orno grande e, dentrodele, Cipriano iu, surpreso, um banco de pedra igual quele em que senta a, aoar li re, para pensar, e de que Cipriano lgor s pode er a parte de tr=s dorecosto, porquanto, insolitamente, este banco est= irado para a parede do &undo,a no mais de cinco palmos delaN 2p$ 3496$ > oleiro entra no &orno e senta-se nobanco$ T+ pro;etada contra a parede uma sombra, e ou e uma ordem de Maraldi)endo o ale a pena acenderes o &ornoN 2id$, ib$6$ Cipriano no gosta domodo como o genro l*e &ala, !e) um mo imento para oltar-se e perguntar porque moti o no alia a pena acender o &orno e que em a ser isso de me tratares

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    por tu, mas no conseguiu irar a cabeaN 2p$ 3456, e no o consegue poispercebe-se preso, atado sem cordas nem cadeias, mas atadoN 2p$ 345-34S6$Depois, Maral retorna e d=-l*e a notcia de que &ora promo ido a guardaresidente, portanto, iro todos mudar-se para o Centro$ inda complementa que

    Cipriano, por sua e), entender= o &ato de a olaria &ec*ar, e, inoportuno,acrescenta mais tarde ou mais cedo teria de acontecer, portanto saia da, acamioneta ;= est= porta W$$$X, mal empregado o din*eiro que se gastou nesse&ornoN 2p$ 34S6$ 1m seguida aparece a sombra do c*e&e do departamento decompras a di)er-l*e que a encomenda dos bonecos &ora cancelada, e que, se eleest= l= dentro do &orno para imolar-se, que saiba que o Centro no pagar= nadada de&uno, < que no &altaria mais, irem culpar-nos a ns dos suicdios

    cometidos por pessoas incompetentes e le adas &al+ncia por no terem sidocapa)es de perceber as regras do mercadoN 2p$ 34A6$ este momento Ciprianosabia que o son*o terminara$ > pesadelo o dei a em estado de perple idadementalN, mas, depois de um tempo acordado, tem a ideia de &a)er os bonecos, aoin ,e P)#t/ est#(e)ece c +p#"#'% este %e,s # ,+ #"t $ce #p)$c#G (e+ # C$p"$#' = e'#)tece'% s,# #t$&$%#%e. 8O >,e @ esse De+$,"! Z A s,# ,' / %e $'e c +p)et#+e'te se, se"Q e)e @ O("e$" >,e + )%# # +#t@"$# $+#!e+ % I'te)$! &e) >,e se"&e %e + %e) ... H id., ib . .

    21 Os ( 'ec s= , est#t,et#s= s/ s$+(F)$c s= ,+# &e >,e e"# $st >,e &$#+ s #c ""e't#% s % te?t %P)#t/ . N +es+ se't$% = @ t#+(@+ s$+(F)$c# # est",t,"# % Ce't" = c + &e"e+ s ' [,#%" 1.

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    mul*eres, as mesmas cordas a at=-los, o mesmo banco de pedra, amesma parede em &rente, #e no so os outros, uma e) que eles noe istiram, quem so estes, perguntou Maral, o sei W$$$X 2p$ 6$

    Cipriano pede que Maral altere a posio de um dos &ocos de lu) een erga o que &alta a para o cen=rio estar completo estgios de uma &ogueira$

    Dei ou de aler a pena perguntar se eles e istiram ou no, disse Cipriano lgor,as pro as esto aqui, cada qual tirar= as conclus:es que ac*ar ;ustas, eu ;= tireias min*asN 2p$ - 96$

    #abemos as conclus:es de Cipriano quando ele conta o que ira &il*a, e plicando o porqu+ de o Centro reali)ar tanta igilQncia a ossos atados

    #e ti esses descido comigo compreenderias, ali=s ainda est= a tempo

    de ir l= abai o, Dei e-se de ideias, o < &=cil dei ar-se de ideias depoisde se ter isto o que eu i, Q ! ,*i q ! 8i B q ! 5s ttulos dos dois Ensaios 77 ;= so alegricos por si mesmos, epoderamos di)er que cegueira e lucide) apontam para os dois e tremos daalegoria de Plato os prisioneiros e aquele que alcanou a liberdade$

    s re&er+ncias diretas ao te to de Plato so relati amente poucas,mas muito claras, no Ensaio sobre a cegueira , e apenas meta&ricas no Ensaiosobre a lucidez $ o primeiro o m

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    podes ol*ar, +$ #e podes er, reparaN$ 1 mais durante toda a narrati a, os cegosmant+m o uso do erbo er ainda *= bocado, quando tropecei, tu meperguntaste se eu no ia onde pun*a os p &en0meno dos

    cegos que eemN < destacado pelo narrador quando conta as pesquisasempreendidas pelo mcego a&irmara categoricamente que ia, ressal e-se tamb

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    e real, disse o m

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    o sangue do soldado, e &oi o medo que o &e) apontar a arma e disparar umara;ada queima-roupaN 2p$ A86$ > medo cega, disse a rapariga dos culosescuros, #o pala ras certas, ;=

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    interlocutor do di=logo responder= a&irmati amente6 se, oltando o prisioneiro ca erna,

    se l*e &osse necess=rio ;ulgar daquelas sombras em competio com osque tin*am estado sempre prisioneiros W$$$X acaso no causaria o riso, eno diriam dele que, por ter subido ao mundo e terior, estragara a ista,e que no alia a pena tentar a ascenso 1 a quem tentasse solt=-los econdu)i-los at< cima, se pudessem agarr=-lo e mat=-lo, no matariam2p$ 7376

    este Ensaio, logo na primeira p=gina *= a descrio de uma dasse:es eleitorais, cu;a apar+ncia em muito nos lembra a ca erna, e dentro daqual os membros da mesa que cuidaro da otao e os representantes de cadaum dos tr+s partidos esto sem poder sair de ido a uma c*u a torrencial l

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    ningu 3 as personagensA)e! "$# %#C#&e"'#

    K +e's e +,)*e"es #)!e+#% s %es%e # $' 'c$# p#"e%e %e ,+# c#&e"'#= c + s pesc s $+ ($)$ #% s %e + % >,e )*e+ ',+# ^'$c# %$"e / = '# >,#) &ee+ #ss +("#s %e est t,#s= p" Jet#%#s p " ,+# !,e$"#= t"#'sp "t#%#s s ("e # c#(e # %e* +e's p#ss#'% #t" s %e ,+ +," . De&$% c ' $!,"# / % ce' "$ = pe's#+ >,e #ss +("#s s/ # "e#)$%#%e.

    E. s ("e #ce!,e$"#

    K +e's e +,)*e"es t"#'c#% s ',+ +#'$cV+$ = +#'t$% s e+ >,#"e'te'#= ce! s %e,+# ce!,e$"# ("#'c#= ep$%e+$# >,e se #)#st"# pe) p# s $'te$" .

    A c#&e"'# K +e's e +,)*e"es p"$+$% s pe) + % %e p" %, / c#p$t#)$st#= c,J# +#te"$#)$ # /@ # &$%# e+ ,+ !"#'%e p"@%$ Ce't" c,J s #p#"t#+e't s J se e'c 't"#++ ($)$#% s t + " ,p# %e c#+#= ) , #= etc. p#"# '%e se +,%#+ #pe'#s #s pess #s=>,e %e&e+ +#'te" #s J#'e)#s se+p"e ec*#%#s= +,$t#s %#s >,#$s '/ %/ &$st# #e?te"$ "= pe"+$t$'% >,e &eJ#+ #pe'#s ,t" s esp# s % p"Fp"$ Ce't" .

    E. s ("e #),c$%e

    C$%#%/ s c ' $'#% s '# c#p$t#) % p# s= $+pe%$% s %e s#$" %e&$% $'st#,"# /est#% %e s t$ . O ! &e"' = #t"#&@s %# $+p"e's#= p" c,"# )$+$t#" # &$s/ % s c$%#$+p '% G)*es # &e"%#%e >,e )*e c '&@+ p "@+= 'este te?t = # +#$ "$# % s c$%#%'/ se %e$?# e'!#'#".

    a super&cie do te to, o aprisionamento

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    &isicamente presos desde a in&Qncia$ >s te tos de #aramago o sugerir quedesde a in&Qncia seus personagens esto ideologicamente prisioneiros, enquantoseu aprisionamento &sico, materiali)ao do outro que ocorre desde seunascimento, < &ruto, contudo, de uma situao e traordin=ria e tempor=ria 2no

    Ensaio sobre a lucidez sua temporalidade &ica inde&inida6$

    > aprisionamento, em A caverna, apresenta um &uncionamentobastante comple o e ariado$ >s moradores do Centro i em em apartamentosonde m eis e eletrodom

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    subtilmente, as de&esas interiores resultantes da consci+ncia da suaprpria personalidade, aquelas que antes, se alguma e) e istiu umantes intacto, l*e proporcionaram, embora precariamente, uma certapossibilidade de resist+ncia e autodomnio 2p$ 7986$

    Maral guardaque ele < quer compartil*ar do mesmo espao daquelas pessoas que des&rutamdo mundo sem precisar sair do prs moradores do Centro no recebem o) prpria na narrati a, maspodemos ou i-la principalmente atra

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    &ec*amento da cidade, o go erno &ederal < quem mais so&re os e&eitos doaprisionamento ideolgico de que so timas desde que nasceram$

    Da mesma &orma que os prisioneiros da ca erna de Plato matariam oiluminadoN, os go ernantes, acostumados desde a in&Qncia aos trQmites do que

    considera am democracia, no podiam aceitar que a populao en ergasse demodo di&erente$ Con&rontados com a opinio discrepante da massa, ac*aram-nauma )ombaria, e, &orados por uma situao que os poderia obrigar a er de outromodo a realidade, prenderam, torturaram, mentiram, mataram$

    parcela da populao que otou em um dos tr+s partidosconcorrentes, igualmente con encida desde a in&Qncia de que a democracia

    consiste no &ato de escol*er entre os partidos um no qual otar, manti era-seal*eia lucide) dos brancosos, recriminando-os e temendo-os$ [uando l*espareceu surgir uma c*ance, estes eleitores tradicionaisN tentaram &ugir da cidade,plano &rustrado graas ao do go erno, que temia *a er entre eles insurrectos,os quais poderiam alastrar a peste brancaN para outras cidades e`ou outrospases$

    imprensa, por sua e), como parel*o Bdeolgico do 1stado,mante e-se do lado do go erno, reprodu)indo as notcias do modo comocon in*a aos ministros e ao presidente$ (enta, &er orosamente, dissuadir osbrancosos, condenando sua atitude como uma traio p=tria e busca, atra

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    cega, aprisionada dentro dos limites das &ronteiras$

    1m todos os te tos, os prisioneiros eem imagens que no so reais,mas que os iludem como se &ossem a prpria realidade$ o te to de Plato, eemas sombras, pro;etadas por uma &ogueira, de estatuetas de *omens e deanimais, de pedra e de madeira, de toda a esp mundo em que isce;a a nature)a iluminadapelo #ol que tudo dirige no mundo is elN 2p$ 7376 l*es < completamenteignorado$

    o Ensaio sobre a cegueira, ao contr=rio dos prisioneiros da ca erna,no < a &alta de lu) que os impede de er, mas a presena dela somente$

    antagem de que go)a am estes cegos era o que se poderia c*amar ailuso da lu)$ W$$$X os cegos sempre esta am rodeados dumaresplandecente brancura, como o sol dentro do ne oeiro$ Para estes, acegueira no era i er banalmente rodeado de tre as, mas no interior deuma glria luminosa 2p$ 496$

    > que eles no iam era sua gradati a desumani)ao 2en&ati)ada em=rias passagens em que o narrador os compara a animais6 e o egosmo que os

    encamin*a barb=rie$

    a obra A caverna Cipriano lgor luta para manter-se l cido, capa) deer as iniquidades do sistema$ Maral, no incio, < incapa) de perceb+-las, ao

    contr=rio, dese;a ir i er no lugar que < a materiali)ao da opresso do sistemacapitalista$ > que Maral + < um mundo muito di&erente daquele contra o qualCipriano luta$

    perspecti a de Maral no incio da trama 2ressalte-se no amente quesua iso de mundoN mudou6 coaduna-se com a dos moradores do Centro eseus c*e&es$ Para eles, o Centro < uma reali)ao monumental, uma mara il*ada modernidade$ #endo o Centro uma alegoria do mundo capitalista, o quedei am de er no < a opresso de um pr

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    cada e) menos combati osN$

    Cipriano, ao contr=rio, + nesta mara il*aN uma priso$ o suporta aideia de ol*ar o mundo arti&icial que o Centro reprodu) em suas atra:es, talcomo as estu&as da Cintura grcola desgostam-no pela arti&icialidade daproduo de alimentos$ [uando ai embora do Centro, pergunta a si mesmo

    como &oi poss el que se ti esse dei ado encerrar durante tr+s semanas sem ero sol e as estrelas, a no ser, torcendo o pescoo, de um trig que ningu que os go ernantes eem < um mundo que no pode mudar, no qual a atitudedos brancosos representa um perigo ao status 0uo, consequentemente, ao seupoder$ > que eles dei am de er < a *istoricidade do sistema que de&endem,incapa)es de conceber que um modo de ida que te e incio possa ter, tamb

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    re elador de sua bai e)a e brutalidade$ # o que conseguem er < o quebene&icia a si mesmos e legitima e perpetua seu poder$

    >s brancosos, e aqueles que, ao longo da narrati a, compreendem oque estes pensa am 2o presidente da cQmara, os ministros da cultura e da ;ustiae o comiss=rio de polcia6, eem a democracia no que esta tem de &al*a,en ergam que *ou e, tal como escre eu Pilger, citado por M

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    2.2.2 O !56a * *6%!55*% * * a"!&*%ia )* ')*

    [U D"> 7 o cen=rioA)e! "$# %# C#&e"'# A c#&e"'#.E. s ("e # ce!,e$"# O +#'$cV+$ .

    A c#&e"'# _ O Ce't"_ A s c$e%#%e c#p$t#)$st#.E. s ("e # ),c$%e _ A c#p$t#) % p# s

    _ O Est#% %e+ c" t$c %e $%e ) !$# ^'$c#.

    a Alegoria da caverna o di=logo tra ado entre #crates e Glaucore&ere-se ao assunto educao$ Para Plato, a educao < o instrumento pormeio do qual as pessoas podem alcanar a iluminao$ 1nquanto #cratesdescre e o ambiente e as personagens, Glauco obser a 1stran*o quadro eestran*os prisioneiros so esses de que tu &alasN, ao que #crates responde

    #emel*antes a nsN 2p$ 7386$ (ratando-se no de um te to essencialmenteliter=rio, e sim com inten:es &ilos&icas, o prprio Plato nos e plica a alegoria,dei ando claro seu sentido

    este quadro W$$$X de e agora aplicar-se W$$$X comparando o mundo is elatra

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    1stado di&erentes o 1stado e terior ao manic0mio, e dois 1stados alegricos&ormados no interior dele$ >s estados alegricos do interior do manic0mio so,por um lado, democr=tico 2camarata da mul*er do m 1stado e terior < mais inclinado para tirQnico do que para

    democr=tico, pois, embora os go ernantes se;am eleitos pelo po o, nodemonstram nen*uma compai o para com os in&ectados pela cegueira branca,tratando-os como animais peon*entos, para os quais mesmo o mnimo s go ernantes pensam que t+m o direito no s de banir os cegos docon io com os outros, como tamb

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    o perceberem a necessidade de organi)arem-se, os cegos dacamarata da mul*er do ms guardas t+m no somente a &uno deproteger a propriedade, mas tamb

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    em espaos a elas proibidos *= andares e corredores restritos apenas a pessoasautori)adas$

    > capital < representado pelas rela:es entre o Centro, seus&uncion=rios e seus &ornecedores, todos estruturalmente subordinados ao capital$ o in

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    Pois, parado almente, o pilar material &undamental de suporte do capitalno < o 1stado, mas o trabal*o em sua contnua depend+ncia estruturaldo capital 2id., p$ S886$

    > 1stado, por sua e), < representado pelo poder do Centro naimposio das regras do ;ogo, como sen*or absoluto nas negocia:es < ele que

    &a) a lei, < ele que d= as cartas$ Para antecipar uma re&er+ncia ideologiaemanadaN pelo Centro 2o que e plicarei no quadro 6, registro mais um e emplo

    para legitimar a interpretao de que o Centro representa o 1stado capitalistaCipriano lgor contesta diante do c*e&e do departamento de compras a regrasegundo a qual os &ornecedores do Centro no podem ender a mais ningu

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    e #, 788 , p$ 38 6$

    s &un:es legais e polticas do 1stado so apro&undadas no 1nsaiosobre a lucidez, obra na qual o poder de represso da polcia e do e

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    com que, desde muito ;o ens, nossa condio sel agem se;a amansada,tornando-nos dceis para podermos i er na sociedade, um grande parque quee ige de ns a su;eio a suas regras, ao seu conceito de ordem e a sua polticacomo condio para nele i er$ Mar e 1ngels 27883, p$ S76 escre eram um

    pouco di&erente, embora mencionem a pala ra adestramento, no relacionaramos *omens a animais, disseram que cultura W$$$X < para a imensa maioriaapenas um adestramento para agir como m=quinaN$ #loterdi;F, dialogando com

    iet)sc*e, e plica que,

    Da perspecti a de Oaratustra, os *omens da atualidade so acima detudo uma coisa bem-sucedidos criadores que conseguiram &a)er do*omem sel agem o ltimo *omem$ ] b io que tal &eito no poderia serreali)ado s com m

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    se torna assim a lei moral algo como uma &aculdade imperscrut= el NJant c*ama de respeitoN a esta condio de quem se encontra i endosob uma lei que igora sem signi&icar, sem portanto, prescre er nem

    etar nen*um &im determinado 2 a moti ao que um *omem pode terantes que um certo &im l*e ten*a sido proposto no podemani&estamente ser outra seno a prpria lei atra

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    desta e), no acontece com os brancosos$ Para no &icar apenas emconsidera:es mar istas, acrescento ainda o que di) !oucault

    em toda sociedade a produo do discurso < ao mesmo tempocontrolada, selecionada, organi)ada e redistribuda por certo n mero deprocedimentos que t+m por &uno con;urar seus poderes e perigos,dominar seu acontecimento aleatrio, esqui ar sua pesada e tem elmaterialidade 23444, p$ A-46$

    imprensa utili)a estes procedimentosN para manipular a erdade,criando uma mentira e inculcando-a como se &osse a prpria realidade re estidade imparcialidadeN$

    Para M 1stado < essencialmente uma estrutura hier-r0uica de co ando $Como tal, e trai sua problem=tica legitimidade no de sua alegada

    constitucionalidadeN 2que in aria elmente < inconstitucionalN em suaconstituio original6, mas de sua capacidade de i por as demandasapresentadas a ele 2M]#O_">#, 7889, p$ 346$

    #obre a soberania, segundo gamben

    Contrariamente ao que ns modernos estamos *abituados arepresentar-nos como espao da poltica em termos de direitos docidado, de li re-arbtrio e de contrato social, do ponto de ista dasoberania, autentica ente pol4tica / so ente a vida nua $ Por isso, em/obbes, o &undamento do poder soberano no de e ser buscado nacesso li re, da parte dos s ditos, do seu direito natural, mas, sobretudo,na conser ao, da parte do soberano, de seu direito natural de &a)erqualquer coisa em relao a qualquer um, que se apresenta ento comodireito de punir$ 1ste < o &undamentoN ^ escre e /obbes ^ daqueledireito de punir que < e ercitado em todo estado, pois que os s ditos noderam esse direito ao soberano, mas apenas, ao abandonar os prprios,deram-l*e o poder de usar o seu no modo que ele considerasseoportuno para a preser ao de todosY de modo que o direito no &oidado , mas dei#ado a ele, e ^ e cluindo os limites &i ados pela lei natural

    ^ de um modo to completo, como no puro estado de nature)a e deguerra de cada um contra o prprio i)in*oN 2788K, p$ 33 6$

    utili)ao plena, arbitr=ria e brutal do poder do 1stado ocorre nomomento em que declara o estado de stio, radicali)ao das medidas tomadasno estado de e ceo, a partir do qual suspenderam-se di ersos direitos doscidados$ Por

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    cidados deste pas o saud= el costume de e igir o regular cumprimento dosdireitos que a constituio l*es outorga a, era lgico, era mesmo natural que noti essem c*egado a dar-se conta de que l*os *a iam suspendidoN 2p$ 546$ pesardo termo utili)ado no Ensaio ser estado de stioN, no re&erencial terico

    pesquisado a de&inio que o e plica da mel*or maneira < estado de e ceoN$a legislao, tratam-se de duas coisas di&erentes, mas o conceito terico de

    estado de e ceo e plica mais satis&atoriamente o estado de stioN i ido pelaspersonagens do te to$

    Por 1stado de 1 ceo compreende-se, aqui, a organi)ao polticaque, apesar de resguardar semel*anas estruturais com o W$$$X 1stado deDireito, distancia-se deste em alguns aspectos &undamentais$ > 1stadode 1 ceo reali)a ;ustamente uma suspenso da caracterstica&undante do 1stado de Direito, qual se;a a e ist+ncia e o e erccio dosdireitos polticos, ci is e sociais$ ] atra momento c*a e para sua constituio &oi o oto embranco massi o$ 1ste momento < uma ocasio caracteri)ada sobretudo porcircunstQncias particulares nas quais o e erccio da cidadania outorgada pelo1stado de Direito < considerado \inadequado\N 2*istoriae*istoria$com$br6$Bnadequado porque se c*oca contra os interesses deste 1stado$

    Percebe-se, assim, uma disposio, por parte do 1stado, da ida dosindi duos que comp:em a sociedade$ Bsto porque, tendo em ista queeste 1stado, quando 1stado de Direito, constitui o indi duo como su;eitopoltico 2cidado6 atra

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    assim considerado apropriado 2id., ib. 6$

    > estado de e ceo, segundo gamben, pro u, como radicali)aram Mar e 1ngels no$anifesto , osso direito < apenas a ontade da ossa classe erigida em lei,

    ontade cu;o conte do < determinado pelas condi:es materiais de e ist+ncia daossa classeN 27883, p$ S 6$

    > estado de e ceo < uma es&era-limite do agir *umanoN, uma e)que 1sta es&era < a da deciso soberana, que suspende a lei no estado dee ceo e assim implica nele a ida nuaN 2 G M@1 , 788K, p$ 486$ Para gamben, na modernidade, a ida se coloca sempre mais claramente no centroda poltica estatal 2que se tornou, nos termos de !oucault, biopoltica6N, e, destemodo, todos os cidados apresentam-se irtualmente como ho ines sacri N 2id.,p$ 33K6$ >u se;a, legitima-se a possibilidade de algu estado de e ceo < o limite maior da democracia, uma e) que20 P#"# e?e+p)$ $c#"Q '#s s c$e%#%es + %e"'#s=homo sacer @ t#+(@+ s,spe$t + "t ',+# pe"se!,$ / p )$c$#) ' p)#' %# '#""#t$ e+ >,est/ = t % s s c$%#%/ s #ss#ss$'#% s pe) ! &e"' s/homo sacer .

    01

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    ela prpria autori)a suas iniquidades no seu mais sagrado documento aConstituio$ #o os corpos absolutamente mat= eis dos s ditos que &ormam ono o corpo poltico do >cidenteN 2id., p$ 3 36, o que #aramago denuncia de modoe plcito em um di=logo entre o primeiro ministro e o ministro do interior

    #e em a saber-se que aquela bomba &oi mandada p0r por ns, daremosaos que otaram em branco a ltima ra)o que l*es &alta a, W$$$X 1u ten*ocon&iana, sen*or primeiro-ministro, um estado organi)ado no podeperder uma batal*a destas, seria o &im do mundo, >u o comeo doutro2p$ 3 8-3 36$

    2.2.: O5 !,!i(*5 ! a5 a 5a5 )a !& !i%a

    [U D"> cegueiraA)e! "$# %# C#&e"'# P" & c#%#

    _ pe) #+($e'te e+ >,e &$&e+ #p"$s$ '#% s_ pe)# #)t# %e c '*ec$+e't .

    E. s ("e # ce!,e$"# P" & c#%# pe)#_ 8ce!,e$"# ("#'c#H_ $%e ) !$#

    A c#&e"'# P" & c#%#_ pe) + % %e p" %, / #)$e'#'te % c#p$t#)$s+ e p " s,#c 'se>,e'te $%e ) !$#

    E. s ("e # ),c$%e P" & c#%#= ' >,e c 'ce"'e # ! &e"' = p " s,# 'ecess$%#%e %e+#'te" status quo = #sse!,"#'% se, p %e" ' >,e c 'ce"'e p#"ce)# %# p p,)# / >,e '/ & t , e+ ("#'c = pe) p %e" %#$%e ) !$#= "e " #% pe) 8t"#(#)* %e $'t ?$c# / % p^()$c H3-5 "e#)$ #% pe)# $+p"e's#.

    as tr+s primeiras narrati as ocorre de &ato uma limitao isual, &sica$a Alegoria da caverna os prisioneiros t+m sua iso limitada pela escurido da

    ca erna, pelos gril*:es que os prendem, pelo muro, en&im, por toda a

    con&igurao do cen=rio criado por Plato$ oEnsaio sobre a cegueira ospersonagens &icam cegos, uma cegueira que, embora branca, e no preta comooutras,

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    Plato e plica que o e&eito pro ocado pela limitao isual qual estosubmetidos os prisioneiros da ca erna < a ignorQnciaY presos que esto simagens do mundo is el que t+m diante dos ol*os, s conseguem distinguir assombras que des&ilam diante de si$ [uando #crates di) para Glauco que os

    prisioneiros so semel*antes a nsN, e idencia o car=ter alegrico da imagem,dei ando igualmente claro que o que emos do mundo no < o mundo em si, poiseste s < acess el atra

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    ambiente que os oprimia$ o bastou matar os opressores, &oi preciso libertar oscorpos da priso em que se encontra am, para, &inalmente, terem condi:es dee perimentar um pouco de liberdade, ainda que esta liberdade s se re&ira a umpequeno grupo 2os seis que acompan*am a mul*er do m

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    um dos te tos, teremos de acompan*ar com ateno$

    2.2.:.1 C*' !i(* )! i)!*"*&ia

    > escra o romano esta a preso por correntes a seu propriet=rio,o trabal*ador assalariado o est= por &ios in is eisN 2M "Z,34A5 7, p$ 35A6$

    lt*usser < sempre &igura da qual no se pode escapar aoteori)armos sobre ideologia, menos ainda ao nos re&erirmos aos B1\s 2 parel*osBdeolgicos do 1stado6$ o estou em con&ormidade com ele em sua leitura doconceito de ideologia em Mar $ 1m min*a opinio, trata-se de uma interpretao

    equi ocada$ pesar disso, concordo com parte de sua de&inio$ Por outro lado,estou de acordo com a integralidade de sua elaborao sobre os B1\s$

    lt*usser a&irmou que a ideologia recebeu de Mar uma de&inioque no era mar ista, e sim contin*a uma iso positi ista$ 1 plicou da seguintemaneira

    ideologia < concebida como pura iluso, puro son*o, ou se;a, nada$

    (oda a sua realidade est= &ora dela$ ideologia < portanto pensadacomo uma construo imagin=ria cu;o estatuto < e atamente o mesmoestatuto terico do son*o nos autores anteriores a !reud$ W$$$X a ideologiano < nada mais do que puro son*o 2&abricada no se sabe por quepoder a no ser pela alienao da di iso do trabal*o W$$$X6 234A5, p$ A96$

    Penso que esta interpretao < inapropriada, uma e) que Marsempre en&ati)ou a origem material da ideologia, nada tendo ela a er com puroson*oN, muito pelo contr=rio, a ideologia < produto das condi:es materiais e dasrela:es de produo e istentes nas pr=ticas *umanas$ lt*usser no percebeu

    isso, embora en&ati)asse esta mesma materialidade considerando os B1\s umaideologia e iste sempre em um aparel*o e em sua pr=tica ou pr=ticas$ 1stae ist+ncia < materialN 2id $, p$ A46$ Mar e 1ngels, mesmo quando &ala am sobrealgo aparentemente abstrato como produo das ideias, a&irma am que

    produo das id

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    etc$, mas os *omens reais, atuantes, tais como so condicionados porum determinado desen ol imento de suas &oras produti as e dasrela:es que a elas correspondem, inclusi e as mais amplas &ormas queestas podem tomar$ consci+ncia nunca pode ser mais que o serconscienteY e o ser dos *omens < o seu processo de ida real$ 1, se, emtoda a ideologia, os *omens e suas rela:es nos aparecem de cabeapara bai o como em uma cQmara escura, esse &en0meno decorre de seu

    processo de ida *istrico, e atamente como a in erso dos ob;etos naretina decorre de seu processo de ida diretamente &sico 2M "ZY1 G1L#, 34A4, p$ 78-736$

    @aF*tin, seguindo o pensamento de Mar , escre er= anos depoisque um produto ideolgico pode no apenas representar o mundo de &ormain ertida, como num re&le o, podendo tamb

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    uma mani&estao da ignorQncia, tampouco est= presente apenas na ida dosprolet=rios, em nossas sociedades tudo est= \impregnado de ideologia\, quer apercebamos, quer noN 2M]#O_">#, 7889, p$ 5K6$ 1la est= em toda a parte e emtodas as classes$

    a ideologia no < iluso nem superstio religiosa de indi duos mal-orientados, mas uma &orma espec&ica de consci+ncia social,materialmente ancorada e sustentada$ W$$$X #ua persist+ncia se de e ao&ato de ela ser constituda ob;eti amente 2e constantementereconstituda6 como consci1ncia pr-tica inevit-vel das sociedades declasse , relacionada com a articulao de con;untos de alores eestrat,$ c$t#% s c + A)t*,sse" et #)$$=s\%.

    00

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    .ameson 27887, p$ 76, por sua e), a&irmou categoricamente todaci+ncia < tamb

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    que e iste entre o nosso pensamento e o mundo, o elemento que Platodescon*ecia por crer que o con*ecimento podia alcanar a pure)a e,consequentemente, a per&eio74$ 1m ra)o de as rela:es sociais no capitalismoestarem subordinadas ao capital, e portanto de as reali)a:es *umanas no

    terem como &inalidade o ser *umano, e sim o capital, a ideologia emanada destesistema deturpa a realidade de modo a ser ir aos interesses do capital$ Parae plicar essa particularidade podemos apelar para termos como re&le o,re&ratado, in ertido etc$, termos meta&ricos para a percepo equi ocada que setem do mundo de ido mediao da ideologia produ)ida, repito, pelamaterialidade do sistema e pelas rela:es sociais e istentes no interior da lgicade produo capitalita$

    >s e&eitos da ideologia incidem tanto sobre os dominantes quantosobre os dominados, constituindo-os enquanto tais, e estes ltimos aplicamcategorias construdas do ponto de ista dos dominantes s rela:es dedominao, &a)endo-as assim ser istas como naturaisN 2@>U"DB1U, 7884, p$9S6$ uma sociedade de classes, a ideologia < o elo atra ,e *#&$# ,+ +e%$#% " e't"e +,'% se's &e) e +,'% $'te)$! &e)Q # #)+#. M##)+#= % + % c + $)Fs # c 'ce$t,#= e+ '#%# se p#"ece c + # $%e ) !$#.

    3- O )e$t " %e&e te" pe"ce($% >,e= %e #c "% c + # %e $'$ / #c$+#= c 'ce$t %e $%e ) !$# @ ,t$)%e + % +,$t "est"$t = t "'#'% "e%,'%#'te ,+# e?p"ess/ c + 8$%e ) !$# % +$'#'teH= p $s= se $%e )@ e e$t %e p" t$c#s s c$#$s= est#'% est#s $'se"$%#s ' s$ste+# c#p$t#)$st#= '/ * ,t"# $%e ) !$#Q se?$st$" ,t"#s $%e$#s= ,t"# $%e ) !$# sF p %e s,"!$" c + e e$t %e ,+ s$ste+# s c$#) %$ e"e'te.

    0

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    li remente sociali)ados, ela &icar sob seu controle consciente e plane;adoN234A5 3, p$ KS6$

    1m relao aos B1\s, estou de acordo com a de&inio de lt*usser, eme re&iro especi&icamente imprensa3$ #egundo ele, (odos os aparel*osideolgicos de 1stado, quaisquer que se;am, concorrem para o mesmo &im areproduo das rela:es de produo, isto

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    sero respons= eis pela alienao de Maral, dos outros &ornecedores, dosconsumidores e dos moradores do Centro, iludidos todos pela ideologia daliberdade

    o indi duo/ interpelado co o su7eito

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    mani&estao material produ)ida, conscientemente, para manipular e absor er acumplicidade inconscienteN da cidade$ 1la possui, outrossim, um car=ter

    dial

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    lucide) contamina o prprio comiss=rio de polcia encarregado de in estigar amul*er do m

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    satis&ao de suas necessidades indi iduais ocorre em consequ+ncia da perda dadignidade de outrem$ #eu comportamento pode ser entendido sob a tica dodarEinismo social, considerando que a regulao de suas idas d=-se mediante aimposio dos mais &ortes sobre os mais &racos$ presentei no quadro 7 os dois

    grupos de cegos sendo um 2aquele da mul*er do m

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    [uanto ao que c*amamos &alta de solidariedade de classeN, citada porCipriano e pelo narrador em A caverna , e presente nos dois Ensaios nas atitudesde algumas personagens, como re&erido acima 2os cegosY os otantestradicionais6, di)-nos M

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    o te to de Plato, ao postular a possibilidade de um dos prisioneirosser libertado, #crates con;etura as consequ+ncias de sua sada da ca erna eascenso ao mundo superior$ sada da ca erna no poderia ser r=pida,tampouco o prisioneiro poderia ol*ar imediatamente para a realidade luminosa do

    e terior$ Pelo contr=rio, de eria acostumar-se gradati amente lu), obser andoprimeiro as sombras, depois a imagem das coisas e seres pro;etada na =gua, por

    ltimo, ol*=-los diretamente$ ascenso ao mundo superior, em Plato, < subidaao plano das ideias, ao mundo em que imperam as &ormas puras e belas, ou se;a,o mundo ideal$

    o Ensaio sobre a cegueira a mul*er do m

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    1m A caverna o iluminadoN < o *umilde Cipriano lgor, mas sua &il*aMarta e Bsaura 1studiosa possuem uma sagacidade igualmente pri ilegiada$ >oleiro criado por #aramago no < dotado de erudio, entretanto, tampouco ,e e'?e"!#= #J,%#" ' >,e p %e= p" c,"#'% #"t$c,)#" ,+ + % %e &$%# %e+ c" t$c e *,+#' = e+

    p s$ / t$"#'$# $+p st# pe) s ce! s %# ,t"# c#+#"#t# e (est$#)$%#%% s ,t" s ce! s >,#se t % s = >,e se est/ t"#'s "+#'% e+ #'$+#$s=8p$ " #$'%#= e+ #'$+#$s ce! sH p. 134 . ApFs *,+$)*# es e?t"e+#s=+#t# ) %e" % s ce! s +#)% s.

    A c#&e"'# A)! " te't# +#'te" s,# %$!'$%#%e e+ %et"$+e't %#s p"ess es %s$ste+#= p" c,"# se's$($)$ #" c*e e e s,(c*e e % Ce't" = (e+ c +

    s ,t" s %# s,# c)#sse. e'% Gse %e!"#%#% = &$&e'% #p"$s$ '#% ',+#+($e'te #"t$ $c$#)= %ec$%e & )t#" p#"# c#s# e "et +#" c 't" )e %e s,#&$%#. A'tes %e p#"t$"= c '&e"s# c + # $)*# e !e'" = %e$?#'% G)*es)$&"es p#"# #c +p#'*#"e+G' , $c#"e+ ' Ce't" Q 8 c s %ec$%$"/ #& ss# &$%#= e, & ,G+e e+( "#H p. 335 .

    E. s ("e # ),c$%e N/ * ,&e >,e+ te't#sse c '&e'ce" s %e+#$s # & t#" e+ ("#'c = s,"t %e ),c$%e '/ $ p" & c#% p " ,+ $'%$& %, , ,+ !",p = $,+# +#'$ est# / esp 't 'e#Q 8est#+ %es$),%$% s e '/ e'c 't"#+

    ,t"# +#'e$"# %e >,e se pe"ce(esse %e ,+# &e #t@ '%e # %es$),s/c*e!#H p. 1-1 . A #t$t,%e % s ("#'c s s c ) c#G s e+ c ' " 't c +

    s p ) t$c s e s ,t" s e)e$t "es.

    [U D"> S &racassos e sucessos do iluminadoNA)e! "$# %# C#&e"'#O '#""#% " # $"+# >,e= se p"$s$ 'e$" "et "'#sse= se"$# + "t pe) s%e+#$s= p $s estes '/ #%+$t$"$#+ >,e +,'% >,e se+p"e pe's#"#+e?$st$" '/ p#ss# %e ,+# $),s/ .

    E. s ("e # ce!,e$"# A +,)*e" % +@%$c c 'se!,e e's$'#" #)!,'s ce! s # c,$%#" %# *$!$e'e=+#s se, s,cess @ pe>,e' c +p#"#% s,Je$"# >,e se #c,+,)#. Dep $s%e e' "+es s "$+e't s $+p st s pe) s ce! s +#)% s= #ss#ss$'# ) %e"% s t$"#' s. Os ,t" s ce! s s,!e"e+ e't"e!#" # #ss#ss$'# # s +#)% ss ("e&$&e'tes= p#"#= c + $ss = 8se"e+ pe"% #% sH e c 't$',#"e+ &$&e'%% + % c + est#+.

    A c#&e"'# A)! " "#c#ss# '# s,# te't#t$ %e + st"#" # c*e e e # s,(c*e e #$'$>,$%#%e % Ce't" = s,# "e)# / $'J,st# c + s "'ece% "es= (e+c + "#c#ss# '# te't#t$ %e "ece(e" %estes ^)t$+ s ,+ !est %e #+p#">,#'% se & %esespe"#% . [,#'t #+ )$#= p"$+e$" "#c#ss ,= '/c 'se!,$'% + st"#"G)*es >,e se +,%#"e+ p#"# Ce't" e"# ,+ e"" .Dep $s= +es+ se+ te't#"= G) s #(#'% '#" ) c#)= >,e @ ,+ s,cess (e+ p#"c$#)= ,+# &e >,e '/ s#(e+ c + $"/ &$&e" %# e+ %$#'te.

    E. s ("e # ),c$%e A ),t# e't"e # ),c$%e % s ("#'c s s e+p#t# c + # $+p s$ / % s$ste+#.O $'#) %# ("# s,!e"e= p " ,+ )#% = ,+# &$tF"$#Q #"t$! % c +$ss "$est e+ t %# # p#"te= t c p$#% e %$st"$(, % pe) s )^c$% s p " ,t)#% = ,+# %e"" t#Q %$ ) ! e't"e % $s ce! s #)$&$#% s p ">,e ,+ t$"c#)#"# c/ >,e ,$.

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    Plato, pelas pala ras de #crates, a&irma que o *omem ao qual &oiconcedida a liberdade, aps ter acesso ao mundo superior, tem o de er deretonar ca erna para sal ar os demais$ #eus colegas, por estran*amento seria to grande a ponto de eles oquererem matar caso insistisse em libert=-los$

    (al como o personagem liberto de Plato, os libertosN de #aramagosentem-se respons= eis pelos demais, e, tendo acesso ao mundo superiorN, noconseguiro con&ormar-se ida nas tre as da ca ernaN, por isso, con&rontar-se-o com os prisioneirosN$ o entanto, responsabilidade e con&ronto ocorrem demodos di&erentes em cada narrati a e em relao a cada personagem$

    Cipriano lgor tem uma percepo pri ilegiada, tal como a &il*a, masesta no percebe de imediato a importQncia que o trabal*o, a casa e a olaria t+mpara si mesma 2le ar= um tempo at< que ela entenda6$ lgor, ao contr=rio, pore perimentar diretamente a recusa de seu trabal*o e a in;ustia do sistema,desde sempre recon*ece a ilania do Centro, mesmo quando era ainda um

    pacato &ornecedor, pois as esperanas do genro de ser promo ido a guardaresidente e mudar-se com a esposa le ando consigo o sogro ;amais oentusiasmaram, ao contr=rio, ele sempre re;eitara a o&erta$ Cipriano recon*ece odireito da &il*a de ir morar aonde o marido &or, mas no cala sua contrariedade, domesmo modo que no se cala &rente aos absurdos do Centro$ #eus di=logos como c*e&e e os subc*e&es so no incio acalorados, depois, ele serena e passa atratar com eles num n el at< &ilos&ico$ lgor &racassa em sua tentati a de

    permanecer em sua casa, mas por pouco tempoY pors ministros da cultura e da ;ustia, no Ensaio sobre a lucidez, t+mseu momento de iluminao ao demitirem-se aps uma discusso em que tentam

    ponderar os absurdos do go erno$ > presidente da cQmara de ereadores, porsua e), recebe maior ateno na narrati a, iluminando-seN aos poucos enquanto

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    re&lete sobre a eleio, as atitudes do go erno e a serenidade da populao$ 1lepressente uma trag

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    querer ser cega para tornar-me igual aos outros, para no ter mais obriga:es doque elesN 2p$ 74 6$ 1stas suas obriga:es no so impostas seno por seu sensode responsabilidade a responsabilidade de ter ol*os quando todos os perderam$

    1u continuo a er, !eli)mente para ti, &eli)mente para o teu marido, paramim Wa rapariga dos culos escurosX, para os outros, mas no sabes secontinuar=s a er, no caso de ires a cegar tornar-te-=s igual a ns,acabaremos todos como a i)in*a de bai o Wque comia animais crusX,/o;e < *o;e, aman* ser= aman*, < *o;e que ten*o a responsabilidade,no aman*, se esti er cega, "esponsabilidade de qu+, responsabilidade de ter ol*os quando os outros os perderam, o podesguiar nem dar de comer a todos os cegos do mundo, De eria, Mas nopodes, ;udarei no que esti er ao meu alcance 2p$ 7936$

    > &ato de ter ol*os &ar= da mul*er do m

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    no &a) muito rudo$ Uma tesoura ainda menos, pensou a mul*er dom

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    : A PRO LEM3TICA DO G NERO

    an=lise de g+nero &oi moti ada sobretudo pela personagem mul*erdo m

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    consequente in;ustia e desigualdade sob o domnio do capital, ;amais se poder=conceder igualdade substanti a a quem quer que se;a, tampouco s mul*eres,uma e) que o capital a;uda a liberar as mul*eres para mel*or poder e plor=-lascomo membros de uma &ora de trabal*o muito mais ariada e con enientemente

    R&le elHN 2M]#O_">#, 7887, p$ A876$

    Bmplorar a um sistema de reproduo sociometablica pro&undamenteper erso ^ baseado na perniciosa di iso *ier=rquica do trabal*o ^ aconcesso de oportunidades iguaisN para as mul*eres 2ou para otrabal*ador6, quando ele < estrutural ente incapaz de &a)er isso, U"DB1U, 7884, p$ 37 6, portanto no *= qualquer

    coisa que se possa considerar como peculiaridades &emininasN ou, no outroe tremo, masculinas$

    Como ponto de partida de uma teoria social do g+nero W$$$X, a concepouni ersal da pessoa < deslocada pelas posi:es *istricas ouantropolgicas que compreendem o g+nero como uma rela&o entresu;eitos socialmente constitudos, em conte tos especi&ic= eis$ 1steponto de ista relacional ou conte tual sugere que o que a pessoa

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    sentimentos, e que en&ati)a a necessidade de uma sociedade altrusta, emoposio lgica do capitalismo$

    este sentido, as personagens &emininas do Ensaio sobre acegueira so personi&ica:es de atitudes que #aramago atribuiu s mul*eres paraen&ati)ar as di&erenas em relao quilo que a *istria registrou como atitudesmasculinasN$ a obra este binarismo < &undamental medida que o passado e opresente *istricos correspondem barb=rie representada pela alegoria, esuperar a barb=rie pressup:e uma atitude radicalmente di&erente, sem a qual,repito, no *a er= nen*uma esperana$

    :.1 A5 "$!%!5 '* E'5ai* 5*7%! a !& !i%a

    primeira mul*er da narrati a surge logo no incio do te to, quando oprimeiro cego ainda est= parado no sem=&oro$ 1nquanto os condutores dos outros

    eculos bu)inam &uriosos e os pedestres obser am com curiosidade, algunsbatendo no idro para saber o que est= acontecendo, ela se apro imaa&etuosamente, consola-o di)endo Bsso passa, ai er que isso passa, s e)esso ner osN, e sugere que se de ia c*amar uma ambulQncia, transportar opobre)in*o ao *ospitalN 2p$ 376$ solidariedade e a compai o desta primeirapersonagem &eminina sero traos constantes e reiterados nas mul*eres desteEnsaio $

    segunda < a esposa do primeiro cego$ o c*egar em casa irrita-secom a ;arra que o esposo quebrara e cu;os cacos ainda esta am espal*ados pelo

    c*o, mas, ao apro imar-se do marido reparou no leno manc*ado de sangue, oseu agastamento apagou-se num instante, Pobre)in*o, como &oi que teaconteceu isto, pergunta a compadecida W$$$XN 2p$ 3K6$ ] a segunda mul*er que otrata maternalmente 2 pobre)in*oN6$ 1sta personagem so&rer= uma mudana deatitude ao longo da narrati a o narrador nos in&ormar= de sua submisso aomarido 2 dcil e respeitadoraN6 para intensi&icar a &ora do ato que a libertar=, pelomenos temporariamente, como eremos$ ote-se que, ao contr=rio da mul*er dom

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    me do rapa)in*o estr=bico < uma e ceo, mostra-se di&erente dasoutras no pequeno trec*o em que aparece protesta quando o m

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    o sei como estaro os meus pais, disse, esta sincera preocupaomostra como so a&inal in&undados os preconceitos dos que negam apossibilidade da e ist+ncia de sentimentos &ortes, incluindo o sentimento&ilial, nos casos, in&eli)mente abundantes, de comportamentosirregulares, mormente no plano da moralidade p blica 2p$ 737-73 6$

    mul*er do m

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    qualidade ancestral do matriarcado, por oposio ao milenar egosmo dopatriarcado W$$$XN 2@U1 >, 7887, p$ 3S6$

    1sta personagem e a rapariga dos culos escuros desde o incio daquarentena assemel*am-se uma outra nas atitudes que tomam, e por isso seapro imaro a&eti amente, mantendo uma ami)ade que no ser= abalada sequerpelo &ato de a rapariga transar com o o&talmologista diante da esposa$ mbosagiram estimulados por um dese;o, digamos, cego$ mul*er do m

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    itrias so pequenas, mas marcantes$

    #e no &ormos capa)es de i er inteiramente como pessoas, ao menos&aamos tudo para no i er inteiramente como animais, tantas e)es orepetiu, que o resto da camarata acabou por trans&ormar em m= ima, emsentena, em doutrina, em regra de ida, aquelas pala ras, no &undo

    simples e elementares 2p$ 3346$>rgani)ao < quase uma obsesso do m

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    mul*er do primeiro cego i er= tr+s momentos distintos na narrati aprimeiro uma atitude maternal com o esposoY depois, quando este tenta submet+-la s suas ordens, protesta e age de acordo com sua prpria ontadeY por ltimo,o narrador sugere um retorno submisso$ [uando *omens e mul*eres

    discutiam se elas iriam ou no aceitar pagar pela comida transando com os cegosmal ados, ela briga com o marido, que no admitia que ela &osse entregar-se

    #ou tanto como as outras, &ao o que elas &i)erem, # &a)es o que eumandar, interrompeu o marido, Dei a-te de autoridades, aqui no teser em de nada, est=s to cego como eu, ] uma indec+ncia, 1st= na tuamo no seres indecente, a partir de agora no comas, &oi esta a cruelresposta, inesperada em pessoa que at< *o;e se mostrara dcil erespeitadora do seu marido 2p$ 3SA6$

    (amb

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    contr=rio, insiste na sua el*ice como empecil*o ao relacionamento de ambos,dese;ando inclusi e que continuassem cegos para tamb

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    tentam esganar o inimigo e acrescentar um morto ao morto$N Matam mais dois$ mul*er do mscegos esto sempre em guerra, sempre esti eram em guerra WelarespondeX, (ornar=s a matar, #e ti er de ser, dessa cegueira ;= no meli rarei 2p$ 3A46$

    e idente derrota na batal*a dos cegos &amintos contra os mal adosbem alimentados desencadeia o aparecimento de outra personagem, desta e)designada simplesmente como mul*er$ 1la entra em sua camarata, a segundado lado direitoN, procura um pequeno ob;eto e sai no amente, enquanto todospermanecem como )ang:es en&urnados em suas camaratas, ingu

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    ps este ritual de autoimolao, em pouco tempo o pr

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    plano elaborado pelos go ernantes contra os eleitores que otaram em branco$Contudo, nesta narrati a o principal antagonismo est= desde o princpio centradonos otantes da capital, de um lado a minoria que continua escol*endo entre ospartidos e, do outro, a maioria que opta pelo oto em branco$ Deste modo, *=

    tamb

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    municipal so obrigados pelo go erno a &a)erem gre e$ Diante destacircunstQncia, as mul*eres resol em tomar uma atitude, e, da mesma &orma queocorreu o oto em branco, sem discursos, sem coment=rios, simplesmenteagiram$ 1 esta ao produ)iu e&eitos inclusi e nos trabal*adores, os quais

    abdicaram da gre e$

    meio-dia e acto era, de todas as casas da cidade saram mul*eresarmadas de assouras, baldes e p=s, e, sem uma pala ra, comearam a

    arrer as testadas dos pr,e )e # pe'# +e'c$ '#". Oc +$ss "$ est # c '&e"s#" c + + t "$st# % t ?$ >,e t +#"#. E)es c +e't#+ # ' t c$# % J "'#$'&e't#%# pe) ! &e"' = %e >,e # +,)*e" % +@%$c @ # ) %e" %# 8c 'sp$"# / H % & t e+ ("#+ t "$st# '/ #c"e%$t# >,e e)# '/ te'*# ce!#% '# ep$%e+$# %e >,#t" #' s #t" s= #c*# >,e @ *$stF"$# p#&e'%e" J "'#$s= e c +$ss "$ pe"!,'t#Q

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    &e"e+ s c + $st #c#(#" = [,#'% *$stF"$# se )*e #c#(#" s,+ = $'&e't#"/ ) ! ,t"# p2 4G2 5 .

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    quais uma en&ermeira, que receber= ateno peculiar$

    questo do g+nero < s e)es re&erida em um tom bem *umorado,como podemos er nas pala ras de Marta da citao abai o

    Calma, no te preocupes, disse Cipriano lgor Wpara MaralX, mesmo queaos ol*os de qualquer pessoa o pudesse parecer, entre a tua mul*er emim nunca seria uma )anga real, Pois no, mas *= ocasi:es em que med= ontade de l*e bater, ameaou Marta sorrindo, e ol*em que a partirde agora ser= pior, ten*am os dois muito cuidado comigo, segundo metem constado as mul*eres gr= idas passam &acilmente por mudanasbruscas de *umor, roupantes de mau g

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    porqu+ o *omem e no a mul*er, porqu+ um e no os dois$N 1nto, > barro damul*er amassou-se sobre o barro do *omem, so outra e) um barro sN 2p$ 3K 6$

    #e essas cita:es apontassem para uma negao da di&erena deg+nero, caberia ainda mais uma an=lise deste aspecto, uma e) que o quemerecesse ser negado pelo narrador, maior ateno mereceria do leitor$ Mas no< isso que o narrador est= &a)endo$ 1mbora com atitudes di&erentes