000771522

Upload: ezequiel-martins

Post on 16-Oct-2015

35 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 1

    MONISSA MATTOS

    PROPOSTA DE MACRO E MICROESTRUTURA PARA

    UM DICIONRIO ESPECIAL DE LOCUES VERBAIS PORTUGUS/ESPANHOL

    PORTO ALEGRE

    2010

  • 2

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

    INSTITUTO DE LETRAS

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM LETRAS

    REA: ESTUDOS DA LINGUAGEM

    ESPECIALIDADE: TEORIAS LINGUSTICAS DO LXICO

    PROPOSTA DE MACRO E MICROESTRUTURA PARA

    UM DICIONRIO ESPECIAL DE LOCUES VERBAIS

    PORTUGUS/ESPANHOL

    MONISSA MATTOS

    ORIENTADORA: PROFa. DRa. CLECI REGINA BEVILACQUA

    Dissertao de Mestrado em

    Teorias Lingusticas do Lxico, apresentada como requisito parcial para a obteno do ttulo de Mestre

    em Estudos da Linguagem pelo Programa de Ps-Graduao em

    Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

    PORTO ALEGRE 2010

  • 3

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

    INSTITUTO DE LETRAS

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM LETRAS

    REA: ESTUDOS DA LINGUAGEM

    ESPECIALIDADE: TEORIAS LINGUSTICAS DO LXICO

    PROPOSTA DE MACRO E MICROESTRUTURA PARA

    UM DICIONRIO ESPECIAL DE LOCUES VERBAIS

    PORTUGUS/ESPANHOL

    MONISSA MATTOS

    ORIENTADORA: PROFa. DRa. CLECI REGINA BEVILACQUA

    Dissertao de Mestrado em Teorias Lingusticas do Lxico,

    apresentada como requisito parcial para a obteno do ttulo de Mestre em Estudos da Linguagem pelo

    Programa de Ps-Graduao em Letras da Universidade Federal do

    Rio Grande do Sul.

    PORTO ALEGRE 2010

  • 4

    MONISSA MATTOS

    PROPOSTA DE MACRO E MICROESTRUTURA PARA

    UM DICIONRIO BILNGUE-ATIVO DE LOCUES

    VERBAIS PORTUGUS/ESPANHOL

    Dissertao de Mestrado em Teorias Lingusticas do Lxico,

    apresentada como requisito parcial para a obteno do ttulo de Mestre

    em Estudos da Linguagem pelo Programa de Ps-Graduao em Letras da Universidade Federal do

    Rio Grande do Sul.

    Aprovado em 20 de dezembro de 2011

    BANCA EXAMINADORA

    Prof Dr ngela Marina Chaves Ferreira - UERJ

    Prof Dr Maria da Graa Grieger - UNISINOS

    Prof. Dr Sabrina Pereira de Abreu - UFRGS

  • 5

    A meus pais, Newton e Salete,

    que me mostraram o caminho da educao, aos quais devo todo

    meu amor e gratido.

  • 6

    AGRADECIMENTOS

    A meus pais, pela dedicao e pelo apoio em todos os momentos de minha vida;

    por tornarem possvel minha formao acadmica; pelo amor incondicional, pelas

    palavras de alento, por nunca me deixarem desistir e por acreditarem em mim acima de

    tudo.

    A meus irmos, Fabrcio e Camila, pelos momentos de descontrao e por me

    mostrarem o valor da famlia, sem a qual nenhum esforo faria sentido.

    A minha av (in memoriam) por sempre acreditar em mim e pelas palavras de

    otimismo que continuaro me incentivando.

    Ao Andr, pelo amor dedicado a mim, por compreender e viabilizar minha total

    dedicao a este estudo e por sempre apoiar minhas decises.

    Aos amigos queridos, por entenderem meus momentos de ausncia, por torcerem

    por mim e pelas palavras de conforto.

    A minha orientadora, Prof. Dr. Cleci Bevilacqua, quem me mostrou a riqueza da

    esfera idiomtica das lnguas e me incentivou aos estudos na rea da Fraseologia. Meus

    sinceros agradecimentos por no medir esforos para que este trabalho se realizasse, por

    todo empenho e ateno dedicados a mim e por ser, acima de tudo, uma grande

    professora, competente e exemplar.

  • 7

    RESUMO

    A importncia da lngua espanhola cresce cada vez mais no Brasil devido a interesses

    econmicos e culturais. Igualmente, o ensino do idioma, no pas, aumenta na mesma

    proporo. Esse desenvolvimento do ensino e aprendizagem de lngua espanhola como

    lngua estrangeira requer muito mais do que meros conhecimentos lingusticos e domnio

    de regras gramaticais. Exige um conhecimento cultural e social, que possibilite ao falante

    da lngua estrangeira comunicar-se em diferentes situaes, sendo capaz de interagir por

    meio de expresses tpicas da lngua. Isto , o falante de uma lngua estrangeira, que

    almeja fluncia no idioma, deve dominar, ademais de aspectos puramente gramaticais, a

    esfera idiomtica da lngua. Diante da necessidade de compreender-se e produzir-se

    palavras em seus contextos, evidenciamos a relevncia de uma disciplina, cujos estudos

    so ainda recentes, mas que assume grande importncia no processo de ensino e

    aprendizagem de uma lngua: a Fraseologia. Soma-se a isso, a importncia das obras

    lexicogrficas como instrumentos de auxlio para quem aprende uma lngua estrangeira e,

    mais do que isso, para quem pretende produzir uma expresso tpica do idioma. Por essa

    razo, este trabalho insere-se nos estudos fraseolgicos e na sua relao com a

    Lexicografia, na medida em que objetiva apresentar, com base nos estudos tericos que

    oferece, somados aos fundamentos da Metalexicografia, critrios essenciais para

    elaborao de um dicionrio bilngue que d conta das fraseologias mais

    especificamente das locues verbais do portugus e do espanhol. A partir da anlise do

    dicionrio bilngue Santillana e, considerando as perspectivas tericas mencionadas, foi

    possvel perceber que h a necessidade de dedicar-se uma maior ateno ao tratamento de

    fraseologias em obras lexicogrficas, por essa razo que o objetivo desta dissertao

    apresentar parmetros para elaborao de um dicionrio bilngue de locues verbais do

    portugus e espanhol, com vistas produo lingustica.

    PALAVRAS-CHAVE: Ensino e Aprendizagem de Espanhol/LE; Fraseologia;

    Lexicografia Pedaggica; Dicionrio Bilngue.

  • 8

    RESUMEN

    La importancia de la lengua espaola crece cada vez ms en Brasil debido a

    intereses econmicos y culturales. Del mismo modo, la enseanza del idioma en este pas

    aumenta en la misma proporcin. Ese desarrollo de la enseanza y del aprendizaje de la

    lengua espaola como lengua extranjera requiere mucho ms que meros conocimientos

    lingusticos y dominio de reglas gramaticales. Exige un conocimiento cultural y social,

    que posibilite al hablante de la lengua extranjera comunicarse en distintas situaciones,

    permitindole interaccionar por medio de expresiones tpicas de la lengua. Es decir, el

    hablante de una lengua extranjera, que anhela fluencia en el idioma, debe dominar,

    adems de aspectos puramente gramaticales, la esfera idiomtica de la lengua. Ante la

    necesidad de comprenderse y producirse palabras en sus contextos, evidenciamos la

    relevancia de una disciplina, cuyos estudios son an recientes, pero que asume gran

    importancia en el proceso de enseanza y aprendizaje de una lengua: la Fraseologa. Se

    agrega a eso, la importancia de las obras lexicogrficas como instrumentos de auxilio

    para el que aprende una lengua extranjera y, ms que eso, para el que pretende producir

    una expresin tpica del idioma. Por esa razn, este trabajo se incluye en los estudios

    fraseolgicos y en sus relaciones con la Lexicografa, a medida en que objetiva presentar,

    en base al marco terico que ofrece, sumados a los fundamentos de la Metalexicografa,

    criterios esenciales para la elaboracin de un diccionario bilngue que d cuenta de las

    fraseologas ms especficamente de las locuciones verbales del portugus y del

    espaol. A partir del anlisis del diccionario bilngue Santillana y, considerando las

    perspectivas tericas mencionadas anteriormente, fue posible percibir que hay la

    necesidad de dedicarse una mayor atencin al tratamiento de fraseologa en obras

    lexicogrficas, y es por esa razn que el objetivo de esta disertacin es presentar

    parmetros para la elaboracin de un diccionario bilngue de locuciones verbales del

    portugus y del espaol, con vistas a la produccin lingustica.

    PALABRAS CLAVE: Enseanza y aprendizaje de Espaol/LE; Fraseologa;

    Lexicografa; Diccionario Bilngue.

  • 9

    LISTA DE ILUSTRAES

    Esquema 1: Proposta de classificao das UFs por Corpas Pastor........34

    Esquema 2: Nveis de convencionalidade de acordo com Tagnin....................................37

    Esquema 3: Taxonomia de adjetivos proposta por Beneduzi............................................40

    Quadro 1: Sntese das concepes de fraseologia dos autores revisados..........................41

    Grfico 1: Anlise quantitativa do registro de locues no Santillana..............................44

    Quadro 2: Sntese da classificao das locues por Corpas Pastor..................................48

    Quadro 3: Sntese da classificao das locues verbais por Corpas Pastor.....................49

    Esquema 4: Classificao de locues proposta por Casares............................................53

    Esquema 5: Sntese da classificao lingustica terica de dicionrios de Haensch.........81

    Quadro 4: Exemplo de verbete de dicionrio monolngue e de dicionrio bilngue.........89

    Quadro 5: Exemplos de locues verbais na direo ativa do Satillana.........................132

    Quadro 6: Marcaes lexicogrficas do intervalo lemtico A-D do Santillana..............141

    Esquema 6: Classificao do Marco em nveis de conhecimento...................................149

    Figura 1: Exemplo de verbete para a expresso a vaca foi para o brejo.........................158

    Quadro 7: Exemplo do sistema de remissivas.................................................................160

    Figura 2: Exemplo de verbete para a expresso cair como uma luva..............................161

    Figura 3: Exemplo de verbete para a expresso dar bola................................................164

    Figura 4: Exemplo de verbete para a expresso morder-se de inveja..............................167

    Figura 5: Exemplo de verbete para a expresso estar com a bola toda...........................170

    Figura 6: Exemplo de verbete para a expresso dar brao a torcer................................173

    Figura 7: Exemplo de verbete para a expresso dar uma mo........................................175

    Quadro 8: Sistema de marcao diassistmica do dicionrio de locues verbais..........177

    Figura 8: Exemplo de verbete para a expresso estar de saco cheio...............................179

    Figura 9: Exemplo de verbete para a expresso cair na armadilha................................182

    Figura 10: Exemplo de verbete para a expresso colocar chifre.....................................182

    Figura 11: Exemplo de verbete para a expresso pendurar as chuteiras........................185

    Figura 12: Exemplo de verbete para a expresso quebrar a cabea...............................187

  • 10

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    adj. adjetivo

    adv. advrbio

    Arg. Argentina

    CELU Certificado del Espaol Lengua y Uso

    cf. conforme

    DB dicionrio bilngue

    DBP dicionrio bilngue pedaggico

    ELE espanhol como lngua estrangeira

    esp. espanhol

    etc. et cetera e outros

    expr. expresso

    fam. familiar

    fig. figurado

    frm. frmula

    fr. frase

    L2 segunda lngua

    LC lngua comum

    LE lngua estrangeira

    LEsp lngua especializada

    LM lngua materna

    LP Lexicografia Pedaggica

    loc adj. locuo adjetiva

    loc adv. locuo adverbial

    loc conj. locuo conjuntiva

    loc prep. locuo prepositiva

    loc verb. locuo verbal

    Mx. Mxico

  • 11

    OD objeto direto

    OI objeto indireto

    p. pgina

    port. portugus

    prnl. pronominal

    RAE Real Academia Espaola

    subst. substantivo

    verb. verbo

    UF unidade fraseolgica

  • 12

    LISTA DE ABREVIATURA DOS DICINRIOS CITADOS

    DILE Diccionario Ideolgico de la Lengua Espaola (1992)

    DFC Dictionnaire du Franais Contemporain (1967)

    DFEM Diccionario Fraseolgico del Espaol Moderno (1994)

    DRAE Diccionario de la Real Academia (1992)

    DUE Diccionario de Uso del Espaol (1998)

    GDLE Gran Diccionario de la Lengua Espaola (1985)

    LDPL Larrousse Diccionario Prctico de Locuciones (1995)

  • 13

    SUMRIO

    INTRODUO................................................................................................................16

    1 REVISO DA LITERATURA: A FRASEOLOGIA DA LNGUA COMUM .......21

    1.1 Contribuies de diferentes autores a respeito da fraseologia...............................21

    1.1.1 Saussure (1988; 2006).......................................................22

    1.1.2 Bally (1951)..............................................................................................................24

    1.1.3 Zuluaga (1975)..........................................................................................................27

    1.1.4 Corpas Pastor (1996).................................................................................................30

    1.1.5 Tagnin (2005)............................................................................................................35

    1.1.6 Beneduzi (2008)........................................................................................................38

    1.2 As Locues................................................................................................................43

    1.2.1 Concepo de Casares (1992)...................................................................................45

    1.2.2 Concepo de Corpas Pastor (1996).........................................................................49

    1.3 Uma concepo de locuo verbal............................................................................55

    2 A FRASEOLOGIA NO ENSINO DE LNGUA ESTRANGEIRA..........................58

    2.1 Mtodos e enfoques para o ensino de lngua estrangeira.......................................58

    2.2 A importncia da fraseologia no ensino e aprendizagem de LE...........................62

    3 LEXICOLOGIA, LEXICOGRAFIA E METALEXICOGRAFIA..........................72

    3.1 A interface entre Lexicologia, Lexicografia e Metalexicografia............................73

    3.2 Classificao das obras lexicogrficas ......................................................................79

    3.2.1 O ponto de vista da Lingustica Terica...................................................................80

    3.2.2 Critrio histrico-cultural..........................................................................................83

    3.2.3 Critrios prticos.......................................................................................................86

    3.3 O Dicionrio Bilngue (DB).......................................................................................96

    3.3.1 O usurio...................................................................................................................99

  • 14

    3.3.2 A funo da obra.......................................................................................................99

    3.3.3 Direo do dicionrio..............................................................................................100

    3.3.4 A macroestrutura e a microestrutura do dicionrio bilngue..................................103

    3.3.5 O anissomorfismo...................................................................................................105

    4 A FRASEOLOGIA NOS DICIONRIOS...............................................................107

    4.1 A fraseologia e os dicionrios concepes de alguns autores............................108

    4.1.1 As unidades fraseolgicas na macroestrutura e sua lematizao............................114

    4.1.2 As unidades fraseolgicas e as informaes da microestrutura..............................119

    5 LOCUES VERBAIS: UMA ANLISE DE DICIONRIO BILNGUE

    GERAL...........................................................................................................................123

    5.1. Santillana e as locues verbais.............................................................................123

    6 PROPOSTA DE MACRO E MICROESTRUTURA PARA UM DICIONRIO

    DE LOCUES VERBAIS - PORTUGUS-ESPANHOL......................................147

    6.1 Taxonomia do dicionrio.........................................................................................148

    6.2 A macroestrutura do dicionrio bilngue-ativo de locues verbais

    portugus/espanhol........................................................................................................157

    6.2.1 A seleo das locues verbais...............................................................................158

    6.2.3 O lema das locues verbais...................................................................................161

    6.3 A microestrutura do dicionrio bilngue-ativo de locues verbais

    portugus/espanhol........................................................................................................174

    6.3.1 Os equivalentes.......................................................................................................175

    6.3.2 A marcao lexicogrfica dos equivalentes............................................................177

    6.3.2.1. Marcao gramatical..........................................................................................178

    6.3.2.2. Marcao diassistmica......................................................................................182

    6.3.3. Forma cannica......................................................................................................187

    6.3.4 A variao...............................................................................................................188

  • 15

    6.3.5 Consideraes adicionais e exemplos.....................................................................190

    CONCLUSO................................................................................................................197

    REFERNCIAS.............................................................................................................201

  • 16

    INTRODUO

    Conhecer e estudar as expresses tpicas de um idioma fundamental para se

    adquirir um desempenho lingustico fluente, j que conhecimentos gramaticais no so o

    bastante para se dominar uma lngua estrangeira. Ao aprendermos um novo idioma, o

    estudo das expresses idiomticas possibilita uma aprendizagem ao mesmo tempo

    lingustica e cultural; por meio dessas expresses o homem fala de seus costumes, de seus

    pensamentos e ideologias, resultado da histria de cada povo.

    O problema que constatamos que, alm das dvidas dos aprendizes referentes

    a unidades fraseolgicas, muitas vezes, os prprios professores da lngua estrangeira

    desconhecem o significado dessas expresses, e os livros didticos, que so repletos

    dessas unidades, poucas vezes trazem o equivalente na lngua materna do aluno. Diante

    desses fatos, no difcil perceber que professores e alunos recorrem a dicionrios

    bilngues com o objetivo de compreender essas expresses que so to idiomticas e de

    difcil compreenso. Entretanto, geralmente, esses dicionrios deixam a desejar, pois no

    apresentam critrios de seleo dessas unidades fraseolgicas, nem metodologia para um

    tratamento adequado das mesmas. Desse modo, o que deveria servir para orientar, acaba

    deixando o consulente com as mesmas dvidas ou mais confuso ainda do que quando

    iniciou sua busca.

    Podemos dizer que os problemas que livros didticos, dicionrios e outras obras

    lexicogrficas apresentam com relao ao tratamento das fraseologias ocorrem, em

    grande parte, devido sua complexidade e, consequentemente, insuficincia de estudos

    mais rigorosos sobre a natureza dessas expresses. Alm disso, no podemos deixar de

    considerar que a discusso sobre a incluso de elementos fraseolgicos em obras

    lexicogrficas ainda recente.

    Portanto, por toda diversidade de estruturas e de denominaes, e por suas

    especificidades, a fraseologia um dos elementos de maior dificuldade para quem estuda

    um idioma e/ou trabalha com uma lngua estrangeira. Um dos maiores empecilhos para a

  • 17

    compreenso do que a fraseologia e do que ela trata encontra-se na grande quantidade

    de variao denominativa referente a estruturas muito semelhantes conceitualmente. At

    mesmo os especialistas tm conscincia de que difcil achar um limite que diferencie

    todos os tipos de combinatrias de uma lngua.

    Considerando que nem sempre o professor est preparado ou tem

    conhecimentos suficientes acerca do vasto conjunto de fraseologias que contm a lngua

    estrangeira que ensina, e que o aluno que a estuda precisa saber se comunicar nos

    diferentes contextos discursivos, os quais exigiro, em algum momento, o domnio de

    expresses tpicas da lngua, e tendo em vista a dificuldade de reconhecimento de

    fraseologias e a diversidade de designaes existentes, nos propomos a fazer uma reviso

    da literatura especializada na rea da Fraseologia, para identificarmos as caractersticas

    desse fenmeno lingustico, entend- lo melhor e buscar uma delimitao conceitual

    adequada para o nosso objeto de estudo: as locues verbais.

    Portanto, temos como um objetivo reconhecer e identificar as estruturas

    sintagmticas conhecidas como locues verbais. Optamos por estudar esse tipo de

    locuo devido ao grau de figuratividade ou no transparncia que a maioria apresenta e

    por serem expresses que, devido a sua idiomaticidade1, no permitem uma traduo

    literal, fato que justifica a sua complexidade e implica dificuldades no processo de

    aprendizagem de uma lngua estrangeira, principalmente, no momento da produo.

    Assim, propomos-nos a fazer uma aproximao entre as locues da lngua portuguesa e

    da lngua espanhola, idioma com o qual trabalhamos e o qual lecionamos.

    Sendo assim, a ideia desse trabalho surgiu em decorrncia de meus estudos

    durante a graduao e devido a minha prtica como professora de espanhol lngua

    estrangeira (E/LE). Tive meu primeiro contado com a Fraseologia ao trabalhar como

    monitora junto ao Setor de Espanhol da UFRGS, onde auxiliei na realizao de um

    1 Idiomaticidade entendida aqui nos termos de Tagnin (2005): como sinnimo de significando no

    transparenteou opaco, na qual a soma dos constituintes da unidade no justifica o significado da

    expresso, que depreendido pelo conjunto.

  • 18

    trabalho de traduo de provrbios do espanhol para o portugus 2. Posteriormente,

    realizei meu trabalho de concluso de curso na mesma rea, intitulado El uso de

    proverbios en la enseanza de ELE. Durante um ano, tive a oportunidade de participar do

    projeto Termisul, junto ao pr-projeto Identificao e descrio das combinatrias

    lxicas especializadas da gesto ambiental em lngua portuguesa e em lngua

    espanhola3, que tinha como objetivo a busca, descrio e anlise de unidades

    fraseolgicas especializadas.

    Depois que efetivamente entrei em contato com o ensino e aprendizagem do

    espanhol, ao ministrar aulas de lngua espanhola, deparei-me com questionamentos dos

    alunos do tipo: Como se diz po duro; caiu a ficha; sem p nem cabea; de cabelo em p;

    s escondidas; onde o diabo perdeu as botas, etc., em espanhol? Frente a esses

    questionamentos to legtimos, me vi completamente envolvida pelo fenmeno

    fraseolgico das lnguas e diante de uma tarefa rdua: compreender a faceta idiomtica da

    lngua espanhola e motivar os alunos a entender e a produzir expresses tpicas da lngua.

    Naturalmente, recorri a dicionrios e a livros didticos, com a certeza de que essas

    obras poderiam ajudar-nos a compreender e produzir expresses idiomticas da lngua

    espanhola. O que verifiquei que, na maioria das vezes, essas obras deixam a desejar ao

    tratar de fraseologias. Muitas vezes, tive dificuldades de entender o uso de alguma

    unidade e, at mesmo, evidenciei a falta de registro de unidades corriqueiras nas lnguas.

    Diante da dificuldade de se denominar e se delimitar as fraseologias de uma

    lngua e da decorrente incoerncia no tratamento dado s combinaes de palavras dentro

    de obras lexicogrficas, surgiu a ideia de elaborarem-se parmetros para construo de

    um dicionrio fraseolgico. Com este trabalho, portanto, esperamos (minha orientadora,

    Cleci Bevilacqua, e eu) contribuir para o processo de ensino e aprendizagem de uma

    lngua estrangeira, na medida em que nosso objetivo principal apresentar uma macro e

    microestrutura de um dicionrio de locues verbais portugus/espanhol que procura

    dar conta das particularidades dos fraseologismos e busca auxiliar o aprendiz do espanhol

    2 Coordenado pela professora Maria Lcia Machado de Lorenci.

    3 Coordendo pela professora Cleci Bevilacqua.

  • 19

    na sua produo lingustica, alm de fornecer subsdios ao professor de lngua estrangeira

    na sua prtica docente.

    No intento de alcanarmos nossos objetivos, estruturamos este trabalho de modo

    que pudssemos construir, ao longo dos estudos, uma fundamentao terica, alm de

    estratgias e critrios, para elaborao de uma obra realmente eficaz. O trabalho divide-se

    conforme expomos a seguir.

    No primeiro captulo, tendo em vista os diferentes tratamentos dado ao fenmeno

    fraseolgico e diversidade de denominaes que existem, apresentamos uma reviso

    das contribuies acerca da fraseologia da Lngua Comum feita por diferentes autores ao

    longo dos estudos lexicolgicos, a fim de identificar os aspectos que caracterizam ditas

    combinaes. Nesse captulo, so estudados autores como Saussure, Bally, Casares,

    Corpas Pastor, entre outros. Por meio das contribuies dos autores, foi possvel traar

    nossa concepo de locuo verbal, que serviu para cumprirmos os objetivos dos

    prximos captulos.

    No segundo captulo, por meio de abordagens tericas, mtodos e enfoques acerca

    do processo de aquisio de lnguas, evidenciamos a importncia das expresses

    idiomticas no cenrio de ensino e aprendizagem de uma lngua estrangeira,

    considerando que, mediante o estudo das expresses tpicas de uma lngua, expe-se o

    aluno a um ambiente de aprendizagem repleto de questes socioculturais decorrentes da

    carga cultural atrelada s expresses, alm de propiciar atividades que envolvam um

    estudo ao mesmo tempo lingustico e cultural do idioma.

    No terceiro captulo, apresentamos um breve panorama das duas disciplinas que

    fundamentam nossos parmetros para a elaborao de um dicionrio - a Lexicografia e a

    Metalexicografia, incluindo-se o seu enfoque pedaggico. Nesse captulo, estudamos a

    classificao de obras lexicogrficas, conforme a bibliografia especializada, a fim de

    detalhar as caractersticas de um dicionrio bilngue e seus elementos constituintes

    presentes na macroestrutura e na microestrutura.

    No quarto captulo, aps verificarmos as propriedades gerais de um dicionrio

    bilngue e os problemas comumente encontrados nessa obra, identificamos os critrios

  • 20

    geralmente utilizados para insero de fraseologias em dicionrios, e o tratamento dado a

    essas estruturas complexas da lngua na Lexicografia. Destacamos aspectos relativos

    delimitao e lematizao dos fraseologismos, bem como a informaes microestruturais,

    a fim de estabelecer, posteriormente, nossos prprios critrios.

    Dedicamos o quinto captulo anlise do tratamento dado s locues verbais das

    lnguas portuguesa e espanhola no dicionrio bilngue Santillana (2008). Primeiramente,

    verificamos como feita a delimitao das unidades que compem a macroestrutura e

    analisamos os critrios de insero das expresses, e, logo aps, evidenciamos o

    tratamento dado aos equivalentes e s informaes na microestrutura do dicionrio. Esse

    captulo destina-se a uma reflexo do fazer lexicogrfico para que possamos, no captulo

    seguinte, elaborar os nossos critrios de construo de um dicionrio bilngue de

    fraseologias.

    No sexto captulo, aps termos delimitado e definido nosso objeto de estudo (as

    locues verbais) e com base nas discusses lexicogrficas apresentadas ao longo do

    trabalho, apresentamos nossos parmetros para elaborao de uma macro e

    microestrutura de um dicionrio bilngue-ativo de locues verbais portugus/espanhol,

    que busca realmente cumprir com sua funo de auxiliar na produo de espanhol como

    lngua estrangeira, mais especificamente, na produo de expresses idiomticas da

    lngua.

    Por fim, apresentamos nossas consideraes finais, com a esperana de haver

    colaborado para o processo de ensino e aprendizagem da lngua espanhola.

  • 21

    1 REVISO DA LITERATURA: A FRASEOLOGIA DA LNGUA COMUM

    A fraseologia ainda objeto de poucos estudos no Brasil, sendo que os primeiros

    estudos realizados nessa rea foram feitos em relao Lngua Comum (LC) 4. De modo

    geral, pode-se entender por unidade fraseolgica as combinatrias de mais de uma

    palavra, de carter estvel e tpicas de uma determinada lngua ou rea especializada (po

    duro; reciclar resduos). No entanto, diversos autores tratam desse fenmeno lingustico

    evidenciando diferentes posies com relao ao seu critrio de formao e a suas

    caractersticas. Por essa razo, este captulo apresenta, num primeiro momento, algumas

    contribuies de diversos autores sobre a fraseologia; em seguida, busca-se caracterizar

    as locues verbais de acordo com autores como Casares e Corpas Pastor,visto que essas

    expresses so o foco desta pesquisa. Posteriormente, apresentamos uma proposta de

    definio de locuo verbal.

    1.1 Contribuies de diferentes autores a respeito da fraseologia

    Tendo em vista os diferentes tratamentos dado s combinaes de palavras de

    uma lngua e a diversidade de denominaes que existem, ser apresentado, a seguir, um

    estudo das contribuies acerca da fraseologia da LC feita por diferentes autores ao longo

    dos estudos lexicolgicos a fim de identificar os aspectos que caracterizam ditas

    combinaes. O leitor encontrar, nesta seo, autores como Saussure (1988; 2006),

    Bally (1951); Zuluaga (1975), Casares (1992). Corpas Pastor (1996), Tagnin (2005) e

    Beneduzi (2008). Esses autores sero retomados, ao longo deste trabalho, pois servem de

    4Lngua Co mum d iferencia-se da Lngua Especializada (LEsp) devido situao em que utilizada. Apesar

    de ambas fazerem uso do mesmo sistema fonolgico, morfolgico e sinttico, a primeira utilizada para

    o intercmbio de ndole geral, sem orientao especfica dada por algum campo do saber. Seus usurios

    so os falantes de uma comunidade lingustica e a situao comunicacional informal (BEVILACQUA,

    p.18, 1996), enquanto que a LE tp ica de uma determinada rea especializada, como por exemplo :

    proteger o meio ambiente, politicamente correto, etc. e utilizada por especialistas , geralmente em

    situaes formais.

  • 22

    subsdio terico para identificarmos e compreendermos o fenmeno fraseolgico. A

    presena dos dois primeiros se explica devido sua importncia para os estudos

    lingusticos e fraseolgicos e por serem os primeiros pesquisadores a tratarem

    efetivamente da fraseologia. So desses autores que resgatamos as principais

    caractersticas desse fenmeno, como a noo sintagmtica observada por Saussure j nos

    primrdios do sculo XX, e a existncia de graus de fixao reconhecida por Bally;

    caractersticas essas que so retomadas por autores posteriores: Zuluaga e Corpas Pastor.

    Esses, por sua vez, so importantes autores para a fraseologia espanhola, por isso tornam-

    se importantes para este trabalho. Alm disso, esses pesquisadores apresentam

    caractersticas das unidades fraseolgicas do espanhol que nos ajudam a entender as

    locues que so analisadas aqui.

    Por outro lado, Tagnin e Beneduzi so autoras modernas, que tratam do fenmeno

    fraseolgico de maneira didtica e por meio de uma classificao que permite

    diferenciarmos os tipos de fraseologia existentes, como faz Tagnin (2005) ao explicar a

    fraseologia atravs de trs nveis: o sinttico, o pragmtico e o semntico. As autoras so

    importantes, ainda, pois realizaram pesquisas que dialogam com a proposta deste

    trabalho; ambas analisam o fenmeno fraseolgico e seu tratamento em obras

    lexicogrficas. Por fim, Casares o autor que norteia este trabalho, uma vez que

    apresenta uma definio clara e completa das locues verbais, considerando as

    principais classes de palavras para identific- las, fato que torna esse autor didtico e

    compreensvel. Alm disso, esse autor estuda, mais especificamente, as expresses da

    lngua espanhola, unidades para as quais o nosso dicionrio foi pensado.

    1.1.1 Saussure (1988; 2006)

    Apesar de Saussure no ser frequentemente citado nos estudos fraseolgicos, no

    podemos deixar de considerar que ele foi um dos primeiros linguistas que refletiu acerca

    do carter sintagmtico da lngua: o sintagma se compe sempre de duas ou mais

  • 23

    unidades consecutivas (por exemplo: re-ler, contra todos; a vida humana; se fizer bom

    tempo, sairemos etc.) (SAUSSURE, 2006, p. 142).

    Qualquer frase, para esse autor, uma sequncia de signos, na qual a soma de

    todos os signos colabora para o significado do todo. Os signos, portanto, esto ordenados

    de uma determinada maneira a fim de ocasionar significao especfica. Fica claro

    perceber, que Saussure j trazia a ideia de que as palavras se juntam para formar um

    significado global especfico, diferente da soma do significado de cada palavra.

    Saussure (1988) afirma que existe um grande nmero de frases feitas pertencentes

    lngua, as quais o uso impede qualquer modificao, como exemplo, o autor cita de que

    adianta; estar de lua (p. 144), entre outros. Segundo o autor, essas expresses so

    fornecidas pela tradio e, portanto, no podem ser improvisadas, de onde podemos

    depreender o carter estvel e cultural dessas unidades.

    Embora Saussure trate, mais precisamente, da formao morfolgica das palavras

    simples, ou compostas, seu princpio tambm pode ser aplicado a unidades maiores,

    assim como afirma Bevilacqua (1996), ao analisar a proposta de Saussure:

    Embora possamos considerar sua proposta como um princpio constitutivo dos sintagmas e que, portanto, vale para unidades mnimas, tambm pode ser aplicado s unidades maiores; ela representa, de certa forma, uma restrio para a anlise dos agrupamentos, pois limita-se s regras da lngua e desconsidera a liberdade expressiva que ocorre na fala ou em determinado discurso. (BEVILACQUA, 1996, p. 21).

    Saussure reconhece que a lngua apresenta unidades que no esto em uma

    relao sintagmtica, como podemos ver em sim; no; obrigado (p.149); no entanto, de

    acordo com o autor esse fato no suficiente para compreender o princpio geral:

    Via de regra, no falamos por signos isolados, mas por grupos de signos, por massas organizadas, que so elas prprias signos. Na lngua tudo se reduz a agrupamentos. Esse mecanismo que consiste num jogo de termos sucessivos, se assemelha ao funcionamento de uma mquina cujas peas tenham todas uma

  • 24

    ao recproca, se bem que estejam dispostas numa s dimenso. (SAUSSURE, 1988, p.149).

    Essa noo de agrupamento, de relao sintagmtica, de que no falamos por

    palavras isoladas, aparecer nas abordagens de outros autores que tratam, mais

    diretamente, de fraseologia. Podemos perceber, portanto, que, apesar de Saussure no ser

    muito citado na bibliografia especializada, ele foi um dos primeiros linguistas que tratou

    de questes que sero retomadas por outros autores ao se referirem s caractersticas e

    definies das unidades fraseolgicas (UFs)5.

    1.1.2 Bally (1951)

    Bally, discpulo de Saussure, afirmou que a assimilao dos fatos de linguagem se

    faz por associaes e agrupamentos, assim como j havia constatado Saussure. Bally

    tenta deixar claro que nossa memria retm muito melhor as palavras em grupos do que

    as palavras isoladas, pois nunca poderamos conservar, nem empregar todas as palavras

    que sabemos da lngua materna, se tivssemos de aprend- las separadamente 6 (ibid., p.

    67). Desse modo, para este autor, a associao de palavras o principal motivo da rpida

    assimilao do idioma materno. Logo, se as combinaes de palavras de uma lngua so

    importantes para assimilarmos a lngua materna, podemos depreender que, sem dvida

    alguma, elas tambm so importantes para o aprendizado de uma lngua estrangeira e, por

    isso, torna-se to importante estud- las.

    Segundo Bally, os agrupamentos podem ser passageiros, nesse caso, eles se

    separam logo aps serem formados; ou, devido repetio, podem ter mais fixidez,

    receber um carter usual e formar unidades indissolveis, tornando-se mais estveis:

    5 Esse termo, unidade fraseolgica, utilizado por Corpas Pastor e ser utilizado neste trabalho para se

    referir a fenmenos fraseolgicos de todos os tipos, por ser um termo genrico e bastante utilizado na

    Europa continental, a antiga URSS e os demais pases do Leste, conforme Corpas Pastor, 1996, p. 18. 6 Orig inal: jamais nous ne pourrions conserver ni employer tous les mots que nous savons de la lan gue

    maternelle, si nous devions les apprendre sparment.

  • 25

    Pode-se, portanto, dizer que a combinao das palavras entre elas varia de aspecto nos limites formados por dois casos extremos: 1) a associao se desintegra imediatamente aps sua formao, e as palavras que a compunham recobrem sua inteira liberdade de se agrupar de outra maneira; 2) as palavras, fora de serem empregadas em conjunto para a expresso de uma mesma idia, perdem toda a autonomia, no podem mais se separar e s tm sentido pela sua unio.

    7 (BALLY, 1951, p. 68).

    No entanto, de acordo com o autor, h, ainda, outros grupos intermedir ios

    situados entre esses dois casos extremos, os quais so chamados de:

    - sries fraseolgicas ou agrupamentos usuais: h srie ou agrupamento usual

    quando os componentes do grupo, isoladamente, conservam sua autonomia, mas sempre

    mostrando no conjunto uma afinidade que os aproxima; como exemplo o autor cita as

    palavras malade (doente) e gravement (gravemente), que so palavras independentes no

    seu emprego, mas que, para indicar a intensidade da doena, se agrupam, formando uma

    srie fraseolgica. Dessa forma, o uso consagrou um certo nmero de advrbios para

    combinar-se com malade: srieusement (seriamente), gravement (gravemente),

    dangereusement (perigosamente), todos significando na combinao gravemente

    doente. Nesse caso, o grau de coeso relativo;

    - unidades fraseolgicas (UFs): as palavras que compem a unidade perdem

    totalmente sua significao quando separadas do conjunto; somente atravs do

    conjunto, portanto, que se obtm uma significao e no pela soma de seus constituintes,

    o sentido se impe com mais fora e o grupo se reproduz tal qual a cada repetio 8

    (ibid., p. 75). So exemplos desse tipo as locues verbais e adverbiais, como sem cessar;

    mais ou menos, etc. Nesse caso, o grau de coeso absoluto.

    As UFs, segundo Bally, so identificadas por: 7 Orig inal: On peut donc dire que la combinaision des mots entre eux varie daspect dans ls limites

    formes par deux cs extremes: 1) lassociation se dsagrge aussitt aprs as formation, et les mots qui la

    composaient recouvrent leur entire libert de se grouper autrement; 2) les mots force d'tre employs

    ensemble pour l'expression d'une mme ide, perdent toute autonomie, ne peuvent plus se sparer et nont de sens que par leur runion. 8 Original: le sens total simpose avec plus de force et le groupe se reproduit tel quel chanque rptition.

  • 26

    a) ndices exteriores (relacionados forma dos agrupamentos): a unidade

    formada por vrias palavras separadas pela escrita; a ordem das palavras

    invarivel e no podem ser separadas por outras; impossibilidade de

    substituio de alguma palavra do grupo.

    O autor adverte, no entanto, que essas condies podem no ser suficientes para

    caracterizar uma UF e que h locues perfeitamente caracterizadas, mas que no

    respondem a essas condies (toujours sempre , por exemplo, escrita em uma s

    palavra). Assim, para Bally, os verdadeiros ndices para se reconhecer um agrupamento

    fraseolgico no so os ndices exteriores, mas sim os que vm a seguir:

    b) ndices interiores: relacionados ao modo como os falantes entendem os

    agrupamentos. Equivalncia da locuo a uma palavra nica; o

    esquecimento do sentido dos elementos (o falante no pensa nas palavras

    isoladas); presena, na locuo, de arcasmos (apesar de no serem mais

    utilizados na linguagem corrente os arcasmos so retomados em algumas

    unidades), e de elipse.

    Enfim, segundo Bally, temos na lngua unidades na qual a coeso dos termos

    absoluta, enquanto em outras a coeso relativa. Assim, a relao entre o fato do

    pensamento e o fato de linguagem fica gravada na memria e tende a ser reproduzida na

    linguagem; quando a associao alcana o seu mais alto grau de coeso, o grupo

    consagrado pelo uso. Bally chama esses grupos consagrados pelo uso de locues

    fraseolgicas.

    Considerando a complexidade do fenmeno fraseolgico e a escassez de estudos

    nessa rea na poca em que Bally trouxe suas ponderaes acerca das unidades

    fraseolgicas, podemos consider-lo um autor importante para o estudo da fraseologia,

    posto que ele foi o primeiro estudioso a falar em graus de fixao dos grupos de palavras

    ou seja, ele se deu conta de que algumas palavras tendem a se combinar mais

    intimamente do que outras , alm de propor de forma precursora ndices para

  • 27

    reconhecimento dessas unidades, os quais sero retomados por outros autores ao longo

    dos estudos fraseolgicos, como veremos.

    1.1.3 Zuluaga (1975)

    Zuluaga trata da fraseologia a partir da lingustica funcional, a qual, segundo ele,

    apresenta duas distines fundamentais: a tcnica do discurso, que abarca as unidades

    lingusticas, os elementos e as regras que so necessrias para a sua combinao no falar;

    e o texto repetido constitudo pelas unidades formadas por combinao fixa de duas ou

    mais palavras (1975, p.1). Segundo o autor, essas expresses fixas podem ser chamadas

    de ditos, modismos, frmulas, frases feitas, refres, etc.

    Zuluaga afirma que as regras que formam ditas expresses, por serem fixas, no

    so as mesmas que formam as unidades livres. Dessa forma, a caracterstica fundamental

    das expresses fraseolgicas para o autor a estabilidade, decorrente da fixao. Essas

    unidades so reproduzidas pelos falantes que as utilizam, sem alter-las ou suprimir

    algum componente, de modo que essas expresses so repetidas sempre da mesma forma,

    por isso, so unidades de texto repetido.

    Zuluaga analisa as caractersticas dessas unidades que ele chama de expresses

    fixas. Primeiramente o autor divide a fixao em quatro tipos:

    1. Inalterabilidade da ordem dos componentes (comn y corriente / *corriente y

    comnn)9.

    2. Invariabilidade de alguma categoria gramatical (pagar los platos rotos /

    *pagar el plato roto)10.

    3. No admisso da operao de insero (poner pies en polvorosa / *poner

    ambos pies en polvorosa 11.

    4. Impossibilidade de substituio dos componentes da unidade (a brazo partido

    / *a brazo quebrado) 12.

    9 Habitual comum e corrente.

    10 Ser castigado injustamente por um ato que no cometeu pagar o pato.

    11 Fugir, escapar dar no p.

  • 28

    Para Zuluaga, as expresses fixas pertencem fala: so produtos de instncias

    de discurso no sentido de Benveniste13 , que logo se repetem sem ser alterados

    (Zuluaga, 1975, p.5) 14. O autor afirma que a fixao arbitrria, j que no h nenhuma

    explicao semntica ou sinttica que justifique, por exemplo, o fato de a expresso

    buenas noches ser fixada no plural, enquanto em portugus est fixada no singular (boa

    noite). Essas expresses, portanto, tm uma determinada forma devido ao uso repetido

    dos falantes.

    Assim como Bally, Zuluaga tambm faz algumas observaes acerca dos graus de

    fixao. Segundo o autor, h vrias escalas de fixao dentro de uma lngua; no entanto, o

    importante distinguir as combinaes fixas das que no so fixas e determinar os tipos

    de fixao que apresentam. Dessa forma, apresenta casos em que o grau de fixao da

    expresso no absoluto:

    intercalao na expresso fraseolgica de elementos que no pertencem a ela

    (todo queda en familia; todo queda, como quien dice, en familia)15. A intercalao

    permite identificar certa autonomia dos componentes dentro da unidade. Esse tipo de

    expresso no apresenta coeso absoluta entre seus constituintes, mas deve apresentar

    outro tipo de fixao (como impossibilidade de substituio dos componentes, por

    exemplo), caso contrrio, no ser uma expresso fraseolgica;

    alterao da ordem dos elementos componentes: como ocorre com a expresso

    caer gordo para qu gordo me caen los gringos16;

    transferncia real de toda expresso fraseolgica: afirmacin falsa la

    falsedad de la afirmacin; tomar el pelo tomador de pelo17.

    12

    Com muita fora, garra, perseverana com todas as foras. 13

    Segundo Beveniste (1988), instncias dos discursos so os atos discretos e cada vez nicos pelos quais a lngua atualizada em forma de palavra pelo locutor (p. 277). Para Beveniste , o indivduo, ao colocar a lngua em funcionamento, a transforma em discurso, e esse discurso considerado pelo autor como uma

    instncia inteiramente histrica e social. 14

    Orig inal: son productos de instancias de discurso- en el sentido de Benveniste - , que luego se repiten sin ser alterados. 15

    Tudo fica entre pouca gente e entre pessoas prximas, de confiana, ntimas tudo fica em famlia. 16

    Resultar desagradvel, antiptico; no simpatizar com algum. 17

    informao falsa a falsidade da informao; tirar sarro tirador de sarro.

  • 29

    Ao tratar dos graus de fixao, Zuluaga reconhece, ainda, que h casos de

    expresses variantes, fenmeno que ocorre quando uma expresso permite substituir um

    elemento por outro, sem alterar o significado. No entanto, o autor adverte que

    importante saber diferenciar uma expresso variante de uma pseudovariante. As

    expresses pseudovariantes so as que, em comparao, apresentam uma mudana de

    significado, ou uma mudana categorial, como no caso de tomar el pelo tomadura del

    pelo18; ou, ainda, que apresentam estruturas e componentes totalmente diferentes, mesmo

    que tenham o mesmo significado, como tomar las de Villadiego poner pies en

    polvorosa, devendo ser consideradas sinnimas. Tampouco devemos considerar como

    variantes expresses como pasar varias noches en vela pasar dos noches en vela, pois

    estamos diante de variaes livres, as quais so necessrias para a adaptao s

    necessidades do discurso. Expresses comumente chamadas de variantes regionais e

    variantes socioculturais so, tambm, pseudovariantes, j que temos, no primeiro caso,

    duas lnguas funcionais diferentes e, no segundo caso, temos nveis de linguagem

    distintos me importa un chorizo na Colombia, por exemplo, uma variante popular de

    me importa un bledo19.

    Diante das transformaes que as expresses fraseolgicas costumam sofrer,

    Zuluaga define algumas caractersticas que expresses variantes devem apresentar para

    que sejam autnticas:

    devem ser consideradas dentro de uma mesma lngua funcional;

    no podem apresentar diferenas de sentido;

    no dependem do contexto;

    a substituio parcial, uma vez que se substitui apenas uma parte, ou um

    elemento da expresso;

    a prpria substituio dever ser fixa, j que o elemento substitudo e o

    substituinte esto previamente estabelecidos, assim em todo queda en casa, apenas o

    elemento casa pode ser substitudo, e casa s pode ser substitudo por famlia e no por

    hogar, por exemplo. Desse modo, a substituio quando permitida j est fixada.

    18

    tirar sarro (loc. verbal) t irada de sarro (loc. nominal). 19

    No sentido de no me importo nem um pouco.

  • 30

    Verificamos que algumas expresses fraseolgicas podem apresentar variao

    formal e semntica sem perder seu carter de fixa; sem que haja uma variao semntica

    de toda a expresso, ou a decomposio do significado. Zuluaga retoma, portanto, a ideia

    de variao de graus de fixao das unidades j apresentada por Bally. Alm disso, a

    noo de variante apresentada pelo autor, que ser retomada por Corpas Pastor, pode nos

    ajudar ao pensarmos na composio de um dicionrio, no momento de selecionarmos as

    expresses consideradas sinnimas em uma mesma lngua funcional.

    1.1.4 Corpas Pastor (1996)

    Buscando amenizar a impreciso de termos utilizados para definir os diferentes

    tipos de combinaes de palavras de uma lngua e no intento de encontrar uma

    denominao que contivesse as caractersticas mais sobressalentes de ditas unidades,

    Corpas Pastor (1996) opta pela denominao unidade fraseolgica20, por consider- lo um

    termo genrico e bem aceito nos lugares onde mais se tem pesquisado sobre os sistemas

    fraseolgicos das lnguas21.

    A partir de trabalhos j escritos sobre o tema22, a autora identifica as principais

    caractersticas das unidades fraseolgicas e conclui:

    As unidades fraseolgicas objeto de estudo da fraseologia so unidades lxicas formadas por mais de duas palavras grficas em seu limite inferior, cujo limite superior se situa no nvel da orao composta. Ditas unidades se caracterizam por sua alta frequncia de uso, e de coapario de seus elementos integrantes; por sua institucionalizao, entendidas em termos de fixao e especializao semntica; por usa idiomaticidade e variao potenciais; assim como pelo grau no qual se do todos esses aspectos nos diferentes tipos. (ibid., p. 20)

    23.

    20

    unidad fraseolgica em espanhol. 21

    Estes lugares so a Europa continental, a antiga URSS e os demais pases do Leste. 22

    De autores como Casares, 1992; Cowie, 1995; Glser, 1986b; Braasch,1988; Gross, 1988; entre outros. 23

    Original: Las unidades fraseolgicas objeto de estudio de la fraseologa son unidades lxicas formadas por ms de dos palabras grficas en su lmite inferior, cuyo lmite superior se sita en el nivel de la oracin compuesta. Dichas unidades se caracterizan por su alta frecuencia de uso, y de coaparicin de sus elementos integrantes; por su institucionalizacin, entendida en

  • 31

    Corpas Pastor apresenta brevemente esses aspectos, propondo, assim, as

    caractersticas da combinatria lxica:

    a) Frequncia: apresenta duas vertentes. A primeira chamada de frequncia de

    coapario (os elementos constituintes de uma UFs apresentam uma frequncia de

    apario conjunta maior do que a frequncia de apario de cada palavra sozinha) e a

    segunda chamada de frequncia de uso (alta frequncia de apario das expresses

    fixas em geral). A frequncia torna-se uma caracterstica sobressalente, posto que

    quanto mais usada for uma combinao, mais chances ter de se consolidar como

    expresso fixa.

    b) Institucionalizao: o uso frequente das UFs pode culminar em sua

    institucionalizao, ou convencionalidade. Nesse caso, a repetio conduz fixao

    da expresso, ficando excludas outras formas que tambm poderiam ser usadas,

    segundo o sistema lingustico. De acordo com Corpas Pastor, a institucionalizao

    caracteriza as produes lingusticas dos falantes, uma vez que eles, de modo geral,

    no criam suas prprias combinaes de palavras, mas utilizam combinaes pr-

    fabricadas, ou seja, j criadas e reproduzidas no discurso. Isso justifica a importncia

    de essas combinaes serem registradas em dicionrios, uma vez que func ionam

    como unidades do lxico mental, ou seja, armazenam-se e usam-se como entidades

    completas em maior ou menor grau 24 (CORPAS PASTOR, 1996, p. 22).

    c) Estabilidade: essa caracterstica abarca fenmenos de institucionalizao e de

    lexicalizao. A institucionalizao compreende duas caractersticas essenciais:

    - a fixao/estabilidade formal: trata-se de uma estabilidade arbitrria,

    estabelecida pelo uso. A fixao pode ser interna ou externa. A fixao interna pode

    ser de dois tipos: material, como a impossibilidade de reordenao, de insero,

    supresso, etc.; e de contedo, o qual abarca as peculiaridades semnticas. A fixao

    externa compreende vrios subtipos, que abarcam desde unidades lingusticas

    utilizadas em determinadas situaes sociais (como Encantado en conocerle) at trminos de fijacin y especializacin semntica; por su idiomaticidad y variacin potenciales; as como

    por el grado en el cual se dan todos estos aspectos en los distintos tipos. 24

    Orig inal: unidades del lexicn mental, es decir, se almacenan y se usan como entidades completas en

    mayor o menor grado.

  • 32

    unidades usadas em determinadas posies na formao de textos (como despedidas

    de cartas, por exemplo).

    - especializao semntica/lexicalizao: A comunidade falante ao estabelecer

    uma associao direta e homognea entre a UF e a interpretao de seu contedo

    semntico, possibilita que a unidade esteja pronta para sofrer uma mudana

    semntica. A especializao semntica compreende duas vertentes. A primeira se

    adquire como resultado da soma do significado25, e a segunda o resultado da

    supresso de significado26. Segundo Corpas Pastor, primeiro ocorre a fixao e,

    posteriormente, pode haver uma mudana semntica.

    d) Idiomaticidade: essa caracterstica traz consigo a ideia de que o sentido unitrio da

    unidade no se justifica pelo significado individual de cada constituinte. De acordo

    com Corpas Pastor , o termo idiomtico foi empregado tanto no sentido etimolgico de

    ser peculiar a uma lngua, quanto no sentido de caracterstica prpria de certas

    combinaes fixas (opacidade semntica). As UFs podem apresentar dois tipos de

    significado denotativo o literal e o figurativo (idiomtico). O significado

    denotativo figurativo resultado de processos metafricos e/ou metonmicos. De onde

    podemos depreender que algumas fraseologias so produtos de metforas e

    metonmias utilizadas pelos falantes.

    e) Variao: essa caracterstica est relacionada com a ideia de que a fixao das UFs

    relativa27:

    A variao fraseolgica constitui um universal lingstico (Dobrovolski, 1988:159), a partir do qual se pode medir o grau de regularidade de um sistema fraseolgico dado: quantas mais variaes, transformaes e modificaes apresentem os

    25

    Corpas Pastor cita como exemplo a expresso poner el dedo en la llaga (acertar com a verdadeira origem

    do mal, com aquilo que mais afeta a uma determinada pessoa, DILE Diccionario Ilustrado de la Lengua Espaola). Podemos pensar na expresso por o dedo na ferida em portugus. 26

    Corpas Pastor cita como exemplo a expresso hacer alusin = aludir. Podemos pensar em levar em

    considerao = considerar em portugus. 27

    A autora cita como exemplo a expresso alzarse/cargar con el santo y la lismona (apropriar-se do que

    pertence a algum, e, ademais, ao alheio, LDPL (Larrousse Diccionario Prctico de Locuciones ). Ao

    falarmos em fixao relat iva podemos pensar em portugus na unidade colocar/pr lenha na fogueira.

  • 33

    fraseologismos de uma lngua, mais regular seu sistema fraseolgico (CORPAS PASTOR, 1996, p.28).

    28

    f) Variantes: Carpos Pastor retoma as reflexes sobre variantes de Zuluaga. A autora

    concorda com Zuluaga quando ele afirma que as UFs podem ser consideradas

    variantes quando: fizerem parte de uma mesma lngua funcional; no apresentarem

    significados diferentes; serem independentes dos contextos onde aparecem; serem

    parecidas em sua estrutura e em seus componentes; e serem fixas no sentido de serem

    estveis29. A autora chama ateno para o fato de que as variantes se diferem das

    variaes por derivao (ser un culo/culillo de mal asiento pessoa que muda muito

    de emprego, residncia, Diccionario de uso del Espaol DUE), e das

    transformaes (metedura de pata a partir de meter la pata intervir em alguma

    coisa com ditos ou feitos inoportunos, Diccionario de la Real Academia DRAE).

    g) Modificaes: no devem confundir-se com variantes. Segundo Corpas Pastor, quanto

    maior for o grau de fixao de uma UF, maiores so as suas chances de sofrer uma

    modificao no discurso, e de essa modificao ser reconhecida pelos falantes. A

    autora explica esse fato mediante o conceito de palavra potencial das autoras russas

    Alexandrova e Ter-Minasova, as quais acreditam que os constituintes das UFs

    funcionam como palavras potenciais que obtm um novo significado devido ao

    significado global da unidade, como por exemplo, ter um ar de, em que o significado

    potencial de ar passa a ser aparncia.

    h) Gradao: essa caracterstica se refere ao fato de as UFs apresentarem vrias das

    caractersticas anteriores em graus diferentes. H, portanto, uma escala gradual que se

    d tanto na estrutura semntica, como em outras caractersticas (institucionalizao,

    variao e fixao). Essa caracterstica considerada muito importante entre os

    28

    Original: La variacin fraseolgica constituye un universal lingustico (Dobrovolski, 1988:159), a partir del cual se puede medir el grado de regularidad de un sistema fraseolgico dado: cuantas ms variaciones, transformaciones y modificaciones presenten los fraseologismos de una lengua, ms regular es su sistema fraseolgico.. 29

    Como exemplo a autora cita as variantes todo queda en casa e todo queda en familia (resolver um

    assunto sem que transcenda do mbito familiar, LDPL) . Adverte ainda que a unidade *todo queda en hogar

    no usada. Em portugus podemos pensar nas variantes soltar o verbo e soltar os cachorros, mas no em

    *soltar o substantivo ou *soltar os gatos.

  • 34

    estudiosos de fraseologias, servindo, at mesmo, como parmetro para classificao

    das unidades.

    A partir do levantamento dessas caractersticas e de estudos sobre concepes de

    fraseologia de diversos autores, Corpas Pastor apresenta sua proposta de classificao das

    unidades fraseolgicas em espanhol. Sua classificao pode nos ajudar a entender o lugar

    que as locues do espanhol ocupam para essa autora.

    Ela estabelece dois grupos de UFs: as que no constituem enunciados completos,

    e as que so enunciados completos (orao simples ou composta). O primeiro grupo

    abarca unidades que precisam se combinar com outros signos lingusticos, j que no

    constituem ato de fala, nem enunciado. Divide-se esse grupo em duas esferas esfera I

    (UFs fixadas pela norma30) e esfera II (compreende UFs do sistema). De acordo com

    Corpas Pastor, as locues se encaixam na esfera II do sistema; portanto, so

    consideradas livres, formadas por regras, mas apresentam uma fixao demarcada pelo

    uso. O segundo grupo (enunciados completos), por outro lado, compreende as UFs que

    pertencem exclusivamente ao acervo scio-cultural da comunidade falante (ou seja, so

    unidades da fala)31 (Corpas Pastor, 1996, p.51).

    UFS

    - enunciado + enunciado [- ato de fala] [+ ato de fala]

    fix. norma fix. sistema fix. fala

    ESFERA I ESFERA II ESFERA III

    colocaes locues enunciados fraseolgicos

    Esquema 1: Proposta de classificao das UFs por Corpas Pastor (1996, p. 52).

    30

    Os conceitos j estabelecidos por Saussure entre lngua sistema abstrato e fala realizao concreta

    desse sistema so aprofundados por Coseriu (1980) que estuda a lngua a partir de trs nveis: o sistema (conjunto de todas as possibilidades de uma lngua), a norma ( um subconjunto de realizaes que o

    sistema possibilita; modelos abstratos de como deve funcionar; so imposies sociais que favorecem o uso

    de determinadas possibilidades do sistema em detrimento de outras); a fala (a realizao dessas

    possibilidades do sistema da lngua; manifestaes concretas, variadas e variveis, dos fatos lingusticos). 31

    Orig inal: pertenencen exclusivamente al acervo scio-cultural de la comunidad hablante (es decir, son

    unidades del habla).

  • 35

    Nota-se que Corpas Pastor busca definir o que so unidades fraseolgicas e

    apresenta o lugar que elas ocupam na lngua, amenizando sua impreciso, j que

    identifica suas principais caractersticas. Para tanto, retoma ideias de outros autores,

    como a noo de variao, que est associada ideia de fixao j apresentada por Bally,

    ou a noo de variantes, j tratada anteriormente por Zuluaga. O fato que, sintetizando o

    que h de mais importante no que os autores dizem sobre fraseologia, Corpas Pastor

    chega a uma definio mais ampla e clara de unidade fraseolgica, apresentando

    caractersticas que nos auxiliam na hora de identificar essas expresses.

    1.1.5 Tagnin (2005)

    Tagnin se refere s unidades fraseolgicas da lngua como o jeito que se diz e

    usa o termo expresses idiomticas para denominar essas unidades. Ao falar em

    expresses idiomticas a autora fala de conveno, daquilo que aceito por todos:

    As convenes lingusticas so os jeitos aceitos pela comunidade que fala determinada lngua. Assim, podemos chamar de convencionalidade o aspecto que caracteriza a forma peculiar de expresso numa dada lngua ou comunidade lingustica. (TAGNIN, 2005, p. 14).

    Tagnin explica o fenmeno fraseolgico mediante o conceito de

    convencionalidade32: a mesma noo de conveno pode se aplicar lngua, tanto no

    nvel social, isto , deve-se saber quando dizer algo, quanto no nvel lingustico, ou seja,

    saber como diz- lo (ibid, p. 15).

    Segundo a autora, existem expresses que so convencionais por estarem

    relacionadas a um fato social; por outro lado, h outras expresses em que o que

    convencional a sua forma. Tagnin exemplifica o primeiro caso com a expresso Feliz

    Natal, que convencional por estar relacionada celebrao do Natal. Como exemplo do

    segundo caso, cita a unidade mundos e fundos que se consolidou como expresso, pois se

    32

    A autora entende por convencionalidade aquilo que de uso ou de praxe; consolidado pelo uso ou pela

    prticaou que obedece a padres aceitos; no original, comum(HOUAISS)

  • 36

    convencionou combinar as palavras mundos e fundos e no universos e profundidades,

    por exemplo. Alm disso, conforme explica a autora, a ordem na qual as palavras

    aparecem tambm foi convencionada; no se diz, por exemplo, fundos e mundos. Fica

    claro perceber que Tagnin, embora no use os mesmos termos dos outros autores citados

    nesse trabalho, ao tratar de fenmenos fraseolgicos, tambm apresenta caractersticas

    que revelam a fixao, a estabilidade e a institucionalizao dessas unidades.

    A conveno tambm pode estar no nvel do significado, e, neste caso, estamos no

    campo da idiomaticidade:

    Dizemos que uma expresso idiomtica apenas quando seu significado no transparente, isto , quando o s ignificado da expresso toda no corresponde somatria do significado de cada um de seus elementos. Assim, bater as botas no significa dar pancadas com calado que envolve o p e parte da perna, mas quer dizer morrer. (TAGNIN, 2005, p. 16).

    Assim, Tagnin chega concluso de que a expresso idiomtica sempre

    convencional, mas que nem toda a expresso convencional sempre idiomtica, j que

    existem expresses que so convencionais e transparentes, portanto, no idiomticas

    (como o caso de Feliz Natal).

    A convencionalidade das expresses idiomticas pode realizar-se em diversos

    nveis da lngua: no nvel sinttico, semntico e pragmtico. O nvel sinttico se refere

    combinabilidade dos elementos, sua ordem e sua gramaticalidade (ibid., p. 17):

    - combinabilidade: diz respeito ao fato de algumas palavras se combinarem com

    determinadas palavras de forma to natural. Como exemplo, temos o caso do coroca que

    co-ocorre preferencialmente com velha, formando a expresso idiomtica velha coroca.

    A nica explicao possvel para fenmenos como esse a de que essa associao seja

    consequncia do uso;

    - ordem: a ordem dos elementos constituintes de uma expresso idiomtica

    tambm pode ser resultado de conveno. Sempre dizemos, por exemplo, cama, mesa e

    banho, nessa ordem;

  • 37

    - gramaticalidade: h expresses que no esto de acordo com padres

    gramaticais, mas que so aceitas pelos falantes, o caso da expresso em ingls by and

    large33, que combina uma expresso com um adjetivo, sendo que, em estruturas com and,

    as unidades lingusticas devem ser da mesma classe gramatical. Em portugus podemos

    pensar na expresso que nem, usada no sentido de comparao, no lugar do como

    (causar alvoroo que nem mata-mosquito em convento).

    No nvel semntico observa-se a convencionalidade na relao no motivada

    entre uma expresso e seu significado (TAGNIN, 2005, p.19), como o caso de bater as

    botas significando morrer. O significado de uma imagem tambm pode ser

    convencionado, como na cultura ocidental, na qual tudo que para cima considerado

    bom e o que para baixo considerado ruim.

    J o nvel pragmtico compreende o uso da lngua em diferentes situaes

    comunicativas. Nesse caso, a situao exige um determinado comportamento social e a

    expresso que deve ser empregada na ocasio, como por exemplo, quando se recebe algo

    de algum, a situao exige um agradecimento como muito obrigado ou simplesmente

    obrigado.

    Para resumir os nveis de convencionalidade, Tagnin apresenta o seguinte

    esquema:

    Situao

    Pragmtico

    Expresso verbal

    Sign ificado da forma

    Convencionalidade Semntico

    Sign ificado da imagem

    Gramaticalidade

    Sinttico Ordem

    Combinabilidade

    Esquema 2: Nveis de convencionalidade de acordo com Tagnin (2005)

    33

    O mesmo que em geral, geralmente.

  • 38

    Consideramos Tagnin uma autora importante para o entendimento do que a

    Fraseologia, uma vez que apresenta de maneira didtica os diferentes tipos de unidades,

    denominadas por ela de expresses idiomticas, por serem especficas de um idioma e

    no transparentes. A relevncia desse tema j est explcita no ttulo de sua obra: O jeito

    que a gente diz. Se quisermos aprender um idioma, nos expressar nessa lngua e entender

    o interlocutor, temos de saber o jeito como se diz, ou seja, conhecer e entender como se

    comunicam os falantes dessa lngua.

    A autora evidencia uma caracterstica importante dessas expresses: a

    convencionalidade, que pode se dar no nvel pragmtico, semntico, ou sinttico. Sendo

    assim, a forma como utilizamos a lngua, sua estrutura e o sentido que damos a ela e as

    suas expresses so frutos de uma conveno. Consegue, desse modo, explicar de forma

    clara os tipos de fraseologias da lngua e os seus usos.

    1.1.7 Beneduzi (2008)

    Em seu trabalho de dissertao de mestrado, Beneduzi (2008) trata de questes

    fraseolgicas, mais especificamente das colocaes. A autora busca apresentar uma

    definio mais abrangente para o fenmeno lxico das colocaes, identificando os

    principais elementos que o caracterizam, j que acredita que no h na bibliografia

    especializada uma delimitao unvoca para essas combinaes. Destaca, ainda, a falta de

    materiais que auxiliam no ensino-aprendizagem dessas unidades e apresenta estratgias

    para a representao lexicogrfica das fraseologias.

    As combinaes lxicas, as quais Beneduzi analisa quantitativa, qualitativa e

    constrativamente, so formadas a partir de substantivos e adjetivos. Primeiramente, a

    autora seleciona os candidatos colocao por meio de um corpus, pela frequncia de

    coapario; posteriormente, o seu reconhecimento feito a partir do contraste das

    unidades nas lnguas portuguesa e espanhola. Em seguida, elabora propostas para o

    tratamento lexicogrfico dessas combinaes.

  • 39

    Tendo em vista a bibliografia especializada, Beneduzi (2008, p. 57) identifica

    cinco caractersticas das colocaes recorrentes nas teorias apresentadas:

    a) so unidades da norma, correspondem a estruturas pr-fabricadas que aparecem

    entre combinaes livres (situadas na fala) e fixas (situadas na norma);

    b) possuem uma restrio varivel, j que em alguns casos permitem a substituio

    de um elemento por um grupo restrito de elementos;

    c) so frequentes;

    d) apresentam diferena de status entre os elementos, uma vez que um determina a

    ocorrncia do outro;

    e) possuem significado transparente.

    Como as caractersticas arroladas pela autora so resultado de diferentes teorias,

    ela se baseou em diferentes abordagens para o reconhecimento das colocaes. Alm de

    uma anlise quantitativa, por meio de estudo de frequncia de co-ocorrncia das

    combinaes em corpus, a autora, mediante estudo lingustico, realizou uma anlise

    qualitativa das unidades, identificando as relaes estabelecidas entre o adjetivo e o

    substantivo a fim de delimitar os tipos de adjetivos que tendem a formar colocaes. Para

    isso, a autora apresentou uma proposta de classificao dos adjetivos, tendo em vista a

    relao semntica entre os vocbulos, que pode ser sintetizada pelo esquema apresentado

    por ela, na pgina 104:

  • 40

    Esquema 3: Taxonomia de adjetivos proposta por Beneduzi (2008)

    Por ltimo, Beneduzi analisou as combinaes por meio de um estudo contrastivo

    entre as lnguas espanhola e portuguesa, levando em conta suas diferenas e semelhanas.

    Segundo a autora, quando as combinaes apresentam divergncia constituem-se em

    exemplos de colocao entre duas lnguas. Mediante um modelo de anlise contrastivo, a

    autora buscou identificar as combinaes do portugus e do espanhol, tendo em vista que

    no h uma equivalncia absoluta, e chegou s seguintes constataes:

    - a maioria das combinaes apresenta uma conformao lxica semelhante entre

    as lnguas portuguesa e espanhola (p. 130). Como exemplo cita, entre outros: mayora

    aplastante maioria esmagadora / crtica feroz crtica feroz;

    - algumas apresentam divergncia na ordem: ao prximo prximo ano;

    - h casos de seleo idiossincrtica do colocado: error maysculo erro gritante

    (mesmo que as duas lnguas possuam o mesmo adjetivo, ambas selecionam um diferente

    para se combinar ao substantivo);

    Adjetivos

    determinativos qualificativos

    relacionais situacionais particpios qualificativos

    stricto sensu

    antepostos pospostos intensionais eventivos presente passado

    intensificadores qualificadores espao-

    temporais

    modais

    quantitativos qualitativos

    LEGENDA No consideramos na anlise No tende a formar colocaes Tendem a formar colocaes

  • 41

    - algumas apresentam diferenas morfolgicas em sua estrutura: exitoso plan

    plano de sucesso (o portugus seleciona outro adjetivo precedido de preposio);

    - h casos particulares ao idioma, em que no h uma combinao correspondente

    na outra lngua: amistad entraable amizade [muito profunda].

    Apesar de Beneduzi tratar de um tipo de fraseologia diferente da que ser tratada

    neste trabalho (trabalha com combinaes transparentes da lngua), interessante

    conhecer a sua pesquisa, uma vez que traz questionamentos na rea da lexicografia, mais

    especificamente sobre o tratamento de fraseologia em obras lexicogrficas, visando um

    pblico aprendiz de espanhol como lngua estrangeira. Seus questionamentos vm,

    portanto, ao encontro do objetivo deste trabalho, que , justamente, apresentar uma

    proposta de tratamento de locues verbais do espanhol em um dicionrio para

    aprendizes de espanhol LE. Em funo disso, consideramos Beneduzi uma autora

    importante para a presente pesquisa.

    Diante da bibliografia especializada acerca do fenmeno fraseolgico, possvel

    identificar caractersticas que so comuns a todos os autores, e outras que so especficas

    de cada pesquisador. No entanto, as concepes apresentadas at o momento nos ajudam

    a compreender, distinguir e identificar fraseologias de uma lngua; as caractersticas

    arroladas pelos autores apoiaro nossa pesquisa pela busca de expresses idiomticas do

    portugus e do espanhol.

    Assim, julgamos importante sintetizar os autores estudados neste captulo, a fim

    de estabelecer o que h de comum e de peculiar entre eles, e evidenciar as caractersticas

    apresentadas por eles:

    AUTOR DENOMINAO CONCEITO CARACTERSTICAS

    Saussure

    Sintagma

    Combinao de elementos

    solidrios, que s tem valor pela

    sua ao recproca em uma

    unidade superior.

    - fornecidas pela tradio;

    - esto em relao sintagmt ica;

    - o uso impede qualquer

    modificao.

  • 42

    Bally

    Unidades

    fraseolgicas

    Expresses em que as palavras que

    as compem perdem totalmente

    sua significao quando separadas

    do todo; somente pelo conjunto,

    que se obtm uma significao e

    no pela soma de seus

    constituintes.

    - so estveis;

    - possuem diferentes graus de

    fixao;

    - equivale a uma nica palavra;

    Zuluaga

    Expresses fixas

    Expresses formadas por

    combinao fixa de duas ou mais

    palavras; que pertencem fala,

    produtos de instncias do discurso,

    que se repetem sem serem

    alterados.

    - estabilidade;

    - inalterabilidade da ordem dos

    componentes;

    - invariabilidade de alguma

    categoria gramatical;

    - no admisso da operao de

    insero;

    - impossibilidade de

    substituio.

    Corpas

    Pastor

    Unidade

    fraseolgica

    Unidades lxicas formadas por

    mais de duas palavras grficas em

    seu limite inferio r, cujo limite

    superior se situa no nvel da orao

    composta.

    - alta frequncia de uso e de

    coapario;

    - institucionalizao (fixao e

    especializao semntica);

    - id iomaticidade;

    - estabilidade;

    - gradao (graus de fixao).

    Tagnin

    Expresses

    idiomticas

    Convenes lingusticas de duas ou

    mais palavras, aceitas pela

    comunidade de determinada

    lngua.

    - so convencionais;

    - so idiomticas;

    - esto relacionadas a um fato

    social.

    Beneduzzi

    Colocao

    Combinaes estveis que

    apresentam divergncias de ordem

    sinttica ou morfolgica com

    relao a outra lngua.

    - restrio varivel;

    - so frequentes;

    - apresentam diferena de status

    entre os elementos, pois um

    determina a ocorrncia do outro;

    - possuem significado

    transparente.

    Quadro 1: Sntese das concepes de fraseologia dos autores revisados

  • 43

    Como podemos perceber, os autores trazem muitos pontos em comum, fato que

    evidencia caractersticas importantes da unidade fraseolgica. Todos esto de acordo que

    a UF uma combinao de palavras (duas ou mais), que s ganha sentido no todo e que,

    quando separadas do conjunto, perdem seu sentido global. Outro ponto em comum entre

    as consideraes dos autores o fato de elas serem estveis, aparecerem sempre na

    mesma coapario e possurem pouca autonomia com relao a sua ordem, substituio

    ou insero, fato que as torna mais ou menos fixas, configurando-lhes graus de fixao

    diversos. Alguns deles, como Tagnin, mencionam, ainda, o carter idiomtico de ditas

    expresses, caracterstica essencial para este trabalho, uma vez que temos por objetivo

    analisar e trabalhar com as locues verbais, que, como veremos adiante, possuem

    significado no-transparente.

    1.2 As Locues

    Dentre os diferentes tipos de fraseologias existentes em uma lngua, tratamos mais

    especificamente das locues, pois so exemplos tpicos de combinao estvel, de duas

    ou mais palavras, com sentido no literal e com certo grau de fixao, alm de serem

    combinaes muito recorrentes em uma lngua. Dentro dessas expresses, temos como

    foco analisar as locues do tipo verbal, que, como veremos, se difere das nominais, das

    adjetivas, das pronominais, etc. Optamos por esse tipo de locuo por serem expresses

    muito produtivas de uma lngua, j que so as que mais aparecem em um texto oral, ou

    escrito. Colado (2004) em seus estudos, ao definir e classificar as locues da lngua

    espanhola, observa que as verbais resultam no tipo mais recorrente de locues, como

    bem afirma: as locues verbais constituem o grupo mais numeroso e refletem todas as

    possibilidades que a gramtica permite. Ademais, o registro em obras lexicogrficas

    desse tipo de expresso mais frequente do que o das demais locues adverbiais,

    adjetivas, nominais, etc., como exemplifica o estudo quantitativo, feito por ns, dessas

    expresses no dicionrio Santillana (2008).

  • 44

    Locues - Esp/Port

    L. Verbais

    L. Adverbiais

    L. Adjetivas

    L. Nominais

    l. Participiais

    Locues - Port/Esp

    L. Verbais

    L. Adverbiais

    L. Adjetivas

    L. Nominais

    L. Participiais

    Grfico 1: Anlise quantitativa do registro de locues no Santillana

    Na obra analisada, verificamos que o registro de locues verbais muito

    maior do que o das demais locues, somando na direo Esp/Port um total de

    69,7% de locues verbais registradas e 30,3% dos outros tipos e 79,7% de locues

    verbais e 20,3% das demais na direo Port/Esp. Diante desses dados, fica evidente

    que o registro de locues verbais em dicionrios da LC muito maior do que o dos

    demais tipos, indcio de que esse tipo de expresso mais frequente na lngua e, por

    isso, constitui-se para ns como objeto mais produtivo para estudo. Noimann (2007)

    j havia feito uma anlise quantitativa e qualitativa do registro dessas unidades no

    Santillana, chegando a resultados similares ao da nossa pesquisa.

    Locues - Esp/Port

    L. Verbais

    L. Adverbiais

    L. Adjetivas

    L. Nominais

    l. Participiais

  • 45

    A partir de agora, apresentaremos as contribuies acerca das locues feitas

    por dois autores, Corpas Pastor e Casares. Consideramos esses autores essenciais para

    o entendimento desse tipo de UFs, pois apresentam uma definio clara e completa de

    locuo verbal, alm de darem conta dos diferentes tipos de locues, considerando as

    principais classes de palavras que as constituem. Ademais, no mbito da Lingustica

    Espanhola, a primeira tipologia classificatria de locues foi proposta por Casares j

    em 1950 e continua sendo de grande importncia para os estudos de UFs, razo pela

    qual estudiosos como Zuluaga (1980), Trist (1985), entre outros o tomam como

    ponto de partida para suas classificaes.

    Posteriormente, com base em Casares e Corpas Pastor, apresentamos a nossa

    definio de locuo.

    1.2.1 Concepo de Casares (1992)

    Casares utiliza o termo locuo para designar as combinaes de vocbulos

    que oferecem sentido unitrio e uma disposio formal inaltervel 34 (CASARES,

    1992, p. 167). Define locuo da seguinte maneira:

    Combinao estvel de dois ou mais termos, que funciona como elemento oracional e cujo sentido unitrio consabido no se justifica, sem mais nem menos, como uma soma do significado normal dos componentes. [...] Noche toledeana locuo, porque o fato de conectar a noche com Toledo no justifica que com ambos vocbulos se designe uma noite na qual no possvel dormir. (ibid., p. 170). 35

    Segundo o autor, uma expresso definida como locuo quando no se pode

    trocar nenhuma das palavras da unidade por outra, nem se pode trocar a ordem dos

    elementos sem destruir o sentido, o qual se resume em um s conceito, a exemplo: a

    cencerros tapados = disimuladamente36.

    34

    Original: combinaciones de vocablos que ofrecen sentido unitario y una disposicin formal inalterable. 35

    Original: Combinacin estable de dos o ms trminos, que funciona como elemento oracional y cuyo sentido no se justifica, sin ms, como una suma del significado normal de los componentes. [...]

    Noche toledana es locucin, porque el hecho de conectar la noche con Toledo no justifica que con

    ambos vocablos se designe una noche en la que no es posible dormir. 36

    dissimuladamente em portugus.

  • 46

    Casares acrescenta s caractersticas comumente aceitas entre fraselogos

    (inalterabilidade e unidade de sentido) a ideia de que as palavras da locuo podem

    formar orao (nomeovides37 nome de uma planta). Assim, ao contrrio do que se

    costuma pensar sobre locues, o autor acredita que apenas as locues adverbiais

    no formam orao cabal, pois equivalem a advrbios e no tm funo independente;

    por outro lado, existem locues isoladas que so verdadeiras oraes, como

    correveidile (corre, ve y dile)38 que serve para despachar um mensageiro.

    Casares classifica os tipos de locuo segundo critrios morfolgicos e

    funcionais, distinguindo as locues significantes, que so formadas por um ou mais

    elemento significante, ou seja, por palavras as quais corresponde uma representao

    mental, ideia ou conceito (como noche, oscura, gato, etc.) das locues

    conexivas, formadas por partculas vazias de contedo semntico (con tal que39).

    Assim, dentro das conexivas se enquadram as locues conjuntivas y prepositivas, e a

    classe de locues, chamada de significantes, compreende as seguintes locues (p.

    172-181):

    1. Nominais - equivalem a um nome:

    a) locues denominativas nomeiam uma pessoa, coisa ou animal (ave

    del Paraso40). Admitem artigo definido ou indefinido; podem ser

    usadas no singular ou plural e funcionam na orao como sujeito ou

    como objeto direto (OD) e/ou indireto (OI) ([...] la vecina desprecia al

    nio gtico OD41).

    b) as locues singulares se parecem mais ao nome prprio do que ao

    substantivo comum (el huevo de Coln42). Diferentemente das

    denominativas, este tipo de locuo admite apenas o artigo definido

    com funo individualizante e, por ser uma representao especfica, o

    plural ser inusitado (el cuento de nunca acabar43). Funcionam na

    37

    no me olvides = no me esquece. 38

    corre, v e diz a ele/ela em portugus. 39

    contanto queem portugus. 40

    ave do Parasoem portugus. 41

    Traduo: a vizinha despreza o menino gtico. 42

    Co isa que aparenta ter muita d ificuldade, mas resulta fcil ao conhecer seu artifcio cf DRAE. 43

    Ser uma histria cf. wordreference.

  • 47

    orao como predicados nominais, limitando-se ao papel de um termo

    de comparao (el invento de Lucas es la carabina de Ambrosio 44).

    c) as locues infinitivas: nesse caso, os substantivos so nomes

    infinitivos; assim, os verbos que as compem no recebem forma

    pessoal, o que as diferencia das locues verbais (coser y cantar

    expressa a facilidade do ato ou situao). Essas expresses podem

    aparecer nas oraes como complementos verbais (todo el tiempo lo

    gasta en tejer y destejer 45)

    2. Adjetivas: possuem valor de adjetivo e geralmente no admitem

    modificaes (de uma regio polar no se pode dizer que mais ou menos

    polar que outra, ou que muito polar). Sua funo principal servir de

    complemento ao nome (uma empresa de altos vuelos46)

    3. Verbais: so constitudas por um verbo e tm valor de uma orao, que

    pode ser transitiva, intransitiva ou predicativa (hacer guas = urinar)

    4. Participiais: comeam com o particpio hecho/a e servem como

    complemento nominal (hecho una sopa, pidi pasada para pasar la

    noche47).

    5. Adverbiais: correspondem a um advrbio e podem dividir-se em tantos

    tipos quanto essa classe gramatical:

    a) tempo de maana (de manh); en un santiamn (em um

    instante);

    b) lugar a dos pasos (a dois passos); en derredor (ao redor);

    c) quantidade con cuentagotas (a conta-gotas);

    d) afirmao e negao en efecto (efetivamente) ; no en mis dias

    (no nos meus dias);

    e) interrogao - Qu tal? (Como vai?)

    6. Pronominais: so constitudas por pronomes alguno que otro (um que

    outro).

    7. Exclamativas: equivale a uma interjeio Santo cielo! (Santo cu!)

    44

    Essa locuo significa que o invento a carabina de Ambrosio, ou seja, no serve para nada. 45

    Sign ifica que perde todo o tempo em fazer e desfaze