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FUNDAÇÃO GETúLIO VARGAS
INSTITUTO SUPERIOR DE ESTUDOS E PESQUISAS PSICOSSOCIAIS CENTRO DE P6S-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
TESTE ILLINOIS DE HABILIDADES PSICOLINGU1STICAS: ANÁLISE CRíTICA DO MODELO MEDIACIONAL E DE DIVERSOS ASPECTOS DA VALIDADE DO INSTRUMENTO.
MARIA ALICE DIAS DA SILVA BOGOSSIAN
FGV/ISOP/CPGP Praia de Botafogo, 190 sala 1108
Rio de Janeiro - Brasil
FUNDAÇÃO GETOLIO VARGAS INSTITUTO SUPERIOR DE ESTUDOS E PESQUISAS PSICOSSOCIAIS
CENTRO DE P6S-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
TESTE ILLINOIS DE HABILIDADES PSICOLINGUIsTICAS: ANÁLISE CRITICA DO
MODELO MEDIACIONAL E DE DIVERSOS ASPECTOS DA VALIDADE DO INSTRUMENTO.
por ~~
MARIA ALICE DIAS DA SILVA BOGOSSIAN
Tese submetida corno requisito parcial para obtenção do
grau de
DOUTOR EM PSICOLOGIA
Rio de Janeiro, dezembro de 1984
"La lutte elle-même vers les sommets
suffit à remplir un coeur d'homme".
Albert Camus
À minha mae.
À lembrança de meu pai.
a seus valores, crenças e
projetos.
A G R A D E C I M E N TOS
A Franco Lo Presti Seminério,
a Eva Ni ck,
a Maria Lucia do Eirado Silva,
a Maria Lucia Magalhães de Lamare,
a todos os meus professores, cujo camínhar segui para poder chegar~
aos funcionários do Centro de Pôs-Graduação em Psicologia.
Pelo saber compartilhado com afeto e paciência.
Pela tolerância em face das minhas fragilidades.
Pelo incentivo e apoio que me permitiram continuar.
Por todas as emoç6es que não consegui traduzir em
palavras.
Minha ternura e gratidão.
v
RESUMO
Este trabalho investiga basicamente a validade do
Teste Illinois de Habilidades PsicolingUísticas - ITPA - ins -
trumento' de avaliaçio do desenvolvimento da linguagem infan
til. Seus autores, S. Kirk e J.J. McCarthy (1961), utilizam o
referencial teórico proposto por C. Osgood (1957), a ele incor
porando o modelo derivado da Teoria da Informação, o que permi
te que, na prática clínica, o ITPA possa ser incluído no pro -
cesso psicodiagnóstico como instrumento de avaliaçio dos pro
blemas da comunicação em crianças entre três e dez anos.
Os objetivos que conduzem e orientam o trabalho a
presentado podem ser definidos em três níveis:
~ 1) O que trata dos constructos e suas interrelaç6es
- análise crítica da validade teóricado ITPA;
2) O que avalia sua condição de instrumento diagnó~
tico do desempenho escolar - sensibilidade discriminante do
rendimento acadêmico;
3) O que trata da eficácia da prática psicopedagógi
ca proposta pelo mesmo instrumento.
O estudo sobre a validade teórica foi realizado com
931 cri anças entre t rês e de z anos de idade, em pro ce sso de
vi
escolarização, freqUentando creches, jardins de infância ou
classes regulares da Rede de Ensino do Primeiro Grau no Muni
cípio do Rio de Janeiro. Utilizou-se a técnica da Análise Fa
torial, complementada por uma abordagem lógica que comprova -
ram algumas das dimensões propostas pelo referencial teórico
de Kirk e McCarthy.
Para a validade diagnóstica foram avaliadas 71 cri
anças com dificuldades no desempenho acadêmico, expressas a-
través de conceitos de insuficiência ou deficiência de rendi-
mento e seus resultados foram comparados com os de um subgru-
po, aleatoriamente constituído de crianças que participaram
do estudo anterior. Utilizou-se a técnica da Análise Discrimi
nante chegando-se ã seguinte conclusão: embora a validade de
constructo do IIPA não tenha sido completamente confirmada
num nível diagnóstico os resultados permitem identificar, com
baixa margem de erro, as crianças que pertencem a um ou outro
dos grupos de contraste.
Quanto ao terceiro nível, foi feita ampla . -reVlsao
bibliográfica sobre investigações efetuadas com este instru -
mento no Brasil e no Exterior. Visou-se avaliar a eficácia da
prática psicopedagógica utilizada quando desenvolvida ã luz
dos recursos de intervenção que o IIPA propõe. Concluiu-seque
as pesquisas, até o presente momento efetuadas, não são sufici
entes para formar um juízo mais seguro da praxis educativa des
tinada ã reabilitação das crianças com problemas da comunicação
- o que constitui impedimento a seu desempenho acadêmico - em
função das controvérsias que tais pesquisas apresentam.
vii
S U M M A R Y
Our main objective refers to the validation of S.
Kirk and McCarthy's (1961) Illinois Test of Psycholinguistic
Abilities-ITPA-which can be envisaged as a tool for
evaluating infantile linguistic development. Its authors
employ C. Osgood's (1957) theory as a foundation stone, but,
incorporating also the model derived from Information Theory,
argue that in clinicaI pratice the ITPA may be used as a ,
further instrument in a psychodiagnostic process aimed at
detecting communication problems in children between three
and then years.
Therefore, our investigation's purpose can be
defined in ter~s of three different leveIs of research:
1) The first, pertaining to constructs and their
interrelationships, i.e., a criticaI analysis of the ITPA's
theoretical validity~
2) The second, pertaining to diagnostic problems
ln the area of learning, i.e., an evaluation of the
instrument's sensitivity and discriminating power between
groups which differ with regard to academic achievement~
3) The third-last but not least-pertaining to
the practical results up to now achieved achieved-from a
psychopedagogic view-point-with strategies derived from the
aforementioned diagnostic tool.
viii
Our first aim led us to an empirical study of a
sample which we may describe, succintly, as follows: 931
children, between three and ten years, enrolled in nurseries,
kindergarden of formal schooling groups, belonging to the
Municipal Educational System of Rio de Janeiro's district, ln
the State of Rio de Janeiro, Brazil. The methodological tools
employed in our analysis were Factor-analytic techniques to
which we added a logical approach of the results obtained by
the former. Therefore, although unable to confirm, within the
limits of our methodological choice, alI dimensions proposed
by Kirk and McCarthy, at a theoretical leveI, nevertheless
some of them may be considered as proven.
The second purpose led us to another empirical
investigation of 7l' d1ildren who presented several difficul ties
with regard to academic achievement, i.e., insufficient or
deficient mastery of concepts, abilities and skills proposed
by educational authorities. These children'sITPA scores
were compared with the scores obtained by a second sub-group,
randomly selected from the sample of our first study, and
both were analyzed by means of a Discriminant Analysis,
leading to the following conclusion: Although the ITPA'S
construct validity has not been completely confirmed,
nevertheless, at a diagnostic leveI, the ITPA's scores enable
us to identify, with a low margin of error, the children who
belong to one or to the other of the contrasted subgroups.
ix
In order to attain the objective of assessing the
efficiency of learning strategies and schooling practices
derived from remedial interventions postulated by the IIPA's
utilization, we reviewed a great number of published
research results, both in Brazil and ln other countries,
which made use of the IIPA. Although not lacking both in
quantity and quality, these endeavours, at least up to the
present moment, lead to results which are still subject to
controversy, and cannot be relied upon, as a basis which
would enable us to evaluate properly, and with sufficient
confidence, intervention practices destined to rehabilitate
children with communicational problems which constitue a
hindrance to their academic achievement.
x
S U M Ã R I O
Agradecimentos --------------------- v
Resumo ----------------------------- VI
Summary ---------------------------- VIII
I - CONSIDERAÇOES INICIAIS --------------------------- 001
11 - FUNDAMENTOS TE6RICOS E EPISTEMOL6GICOS ----------- 006
1 - A Psicologia da Aprendizagem: Antecedentes
Históricos ----------------------------------- 008
2 - A Constituição da LingUística: Sincronia e
Diacronia ------------------------------------ 025
3 - A Teoria da Informação ----------------------- 045
4 - A PsicolingUística e sua Interdisciplinaridade- 047
111 - AS VERTENTES DO MODELO TE6RICO ------------------- 057
- A Mediação do Significado ---------------------- 069
IV - A INSTRUMENTAÇÃO --------------------------------- 077
1 - As Origens do ITPA --------------------------- 077
2 - O Atual Modelo de Aferição ------------------- 085
v - AS INVESTIGAÇOES COM O ITPA: PRINCIPAIS DIRETRIZES 102
1 - Estudos no Exterior --------------------------- 102
2 - Estudos no Brasil ----------------------------- 139
VI - A VALIDADE DO ITPA -------------------------------- 143
1 - Validade de Constructo ------------------------ 143
2 - Validade Diagnóstica -------------------------- 194
VII - DISCUSSÃO DOS RÊSULTADOS -------------------------- 205
VIII- CONCLUSÃO E SUGESTOES ----------------------------- 227
BIBLIOGRAFIA -------------------------------------------- 232
I - CONSIDERAÇOES INICIAIS
As deficiências da linguagem e comunicação consti
tuem interferência extremamente prejudicial no desenvolvimen
to psicossocial dos indivíduos. Não detectadas e atendidas
nas primeiras fases deste desenvolvimento,podem acarretar
perturbações sensíveis no plano da aprendizagem escolar, po
rém extensivas à aprendizagem global e ao ajustamento em ge
ral.
Os profissionais que trabalham na área da Educa
çao defrontam-se freqUentemente com crianças que exibem a
prendizagem lenta ou difícil, seja no rendimento global, se
ja em alguma habilidade especificar caracterizando um desemp~
nho rebaixado ou irregular.
Constata-se que uma comparaçao interindi vidual
global é,por vezes ,insuficiente para localizar as dificulda
des, impedindo um atendimento correto e oportuno.
No Brasil, onde o atendimento de base psicopedag~
gica nas escolas se encontra ainda incipiente, torna-se cada
vez mais flagrante a preocupação com recursos adequados para
diagnóstico e prognóstico de tais deficiências e para plani
ficação do atendimen to às mesmas. Note -se que, estando dispo-
níveis meios adequados de diagnóstico capazes de fornecer
2
indicações específicas sobre os tipos ou áreas de problemas,
a intervenção dos especialistas ligados ã ação psicopedagógi
ca - no que se refere à solução, por exemplo, das dificulda-
des de aprendizagem, em particular - poderia ser melhor orien
tada pois se saberia exatamente ° que remediar ou seja,não
se estaria, como acontece na maioria das vezes, apenas perc~
bendo uma dificuldade não localizada ou discriminada com pr~
cis ão.
Ressentimo-nos, portanto, nao apenas de atuação
corretiva para os problemas de desenvolvimento cognitivo,co
mo ainda de medidas preventivas e até mesmo avaliativas des-
tes problemas.
Os instrumentos de que dispomos para diagnóstico
sao poucos e nem sempre adaptados e padronizados para a nos
sa população. Além disso,são instrumentos ainda de natureza
meramente classificatória, de pouca utilidade para um diag -
nóstico diferencial.
A necessidade de colaboração interdisciplinar . -Ja
e uma constatação; necessitamos urgentemente de esforços con
juntos no sentido da estruturação de meios adequados a um/
diagnóstico precoce das deficiências que levam nossos escol~
res a apresentar prejuizo no rendimento e altos Índices de
evasao, o que torna a "escolarização obrigatória" incoerente
com sua própria definição.
3
Só tais meios permitiriam realmente atender uma
criança em início de escolarização, para que pudesse render
o máximo dentro de seus limites, de tal forma que o processo
de aprendizagem não fosse uma de suas primeiras frustrações.
Esta forma de encarar o diagnóstico, dando ênfase ao indiví
duo com suas características específicas, ao prognóstico e
aos pl anos de atendimento é um dos modos construtiivos de abordar e
tentar resolver algumas das dificuldades da Escola no Brasil.
Tendo em vista a necessidade de instrumentos des
sa natureza, foi feita a adaptação do 1TPA - 1llinois Test
of Psycholinguistic Abilities - instrumento diagnóstico-rem~
dial largamente utilizado SOD esta dupla finalidade nos Esta
dos Unidos.
o 1TPA é uma Bateria de testes que pretende ava
liar as habilidades psicolingUísticas que estão na base dos
processos de comunicação.
Elaborado por Kirk & McCarthy (1961), se fundamen
ta sobre o referencial teórico da psicolingliística neobeha -
viorista, cujo modelo será objeto de análise crítica em capi
tulo posterior, especialmente dedi-cado ao assunto.
o estudo da adaptação do 1TPA à língua portuguesa
foi realizado sobre a Edição Revisada, publicada em 1968.
4
A preocupaçao central se traduziu pela necessida
de de transpor adeqUadamente a estrutura lógica do teste, a
lém de seu formato e operacionalização para o ambiente brasi
leiro, população de origem cultural fundamentalmente diferen
te daquela para a qual o instrumento foi criado.
Integrou o trabalho de duas teses de Mestrado,ela
boradas em fases distintas por Bogossian (1975) e Santos
(1977), cujo detalhamento escapa aos objetivos desta investi
gaçao.
A proposta que concretizou o trabalho acima refe
rido - estudos complementares sobre a Bateria IIPA - ora em
discussão, se refere basicamente aos aspectos que a pesquisa
anterior não pode integrar.
Define-se como objetivo geral desta investigação
uma análise crítica do lIPA, ã luz dos seus fundamentos teó
ricos, verificando-se o modelo de construção, em termos de
sua adequação a estes fundamentos.
Como objetivos específicos, pretende-se, por um
lado, analisar aspectos particulares no tocante à caracteri
zaçao deste modelo em sua dimensão clínica, verificando sua
sensibilidade diagnóstica. De fato, este é um aspecto da
maior importância, do ponto de vista da utilidade do IIPA
já que,a partir desse tipo de estudo,é possível situá-lo na
5
perspectiva de um instrumento que responda por essa exigência
de preditibilidade, ideal pragmático das ciências.
Por outro lado, visa-se a rever criticamente os
estudos realizados sobre a possibilidade de utilizar o rrPA
no desenvolvimento psicolingUístico, fazendo-se do diagnósti
co um ponto de partida e não uma finalidade em si mesmo.
Assim, os objetivos delineiam a análise crítica do
rrPA em três níveis:
- o nível teórico, dos constructos que o funda~entam;
- o nível da pragmática, da caracterização do desenvolvimento
psicolingUístico e, portanto, sua condição de discriminação
típico-atfpico;
o nível da prática específica, de intervenção no próprio de
senvolvimento psicolingUístico.
6
II -FUNDAMENTOS TEORICOS E EPISTEMOLcJGICOS DA PSICOLING'ófSTICA
A psicolingUística nasce com data marcada e local
predeterminado. Durante a primeira metade deste século deli-
neia-se e emerge o interesse pelos fatos da linguagem, que
até o final do século passado permanecera orientado por duas
diretrizes principais: uma, de tradição mentalista,em que a
linguagem era a expressão do pensamento e outra, de caráter
normativo, filiada à gramática.
Movimentos de uma lingliística florescente, de uma
psicologia que destituíra a consciência, definiam objetivos
e delimitavam espaços, embora de forma nem sempre nítida.
Em 1951 o Conselho de Pesquisas em Ciências Soci-
ais congrega psicólogos e lingUistas num seminário de verão,
na Universidade de Cornell.
Este seminário segue a publicação do relatório "
"Um Panorama da LingUística e Disciplinas Afins" (1950), soli
citado pela Corporação Carnegie de New York,onde são discu
tidos os problemas metodológicos, sua posição e ligação com
disciplinas congêneres.
A proposta inicial era a de serem assentadas as
bases teóricas e os campos de aplicação desse novo sujeito
interdisciplinar.
7
Definiram-se os estatutos danascente psicolingUísti
ca,representada pela convergência de três contribuições pri~
cipais que se impunham ã época.
~
1) Coube a Psicologia da Aprendizagem estudar a linguagem c~ . ..
mo um comportamento aprendido, sujeito aos mesmos prlncl-
pios que explicam o comportamento animal e identificado
com os mesmos métodos de investigação.
2) A LingUística Estrutural ofereceu o enfoque sistêmico,en
fatizando as relações entre as partes como princípios in-
variantes que organizam os elementos. Constituído o estru
turalismo lingUístico, sua perspectiva epistemológica ul
trapassou os domínios de seu próprio objeto, fornecendo um
modelo teórico de mais ampla utilização.
3) A Teoria da Informação anexou o modelo da comunicação em
seu esquema mínimo. Valorizando o aspecto funcional da
linguagem, trata-a como mensagem, implicando uma fonte,
um canal, um t ransmi sor, um des tinatário. Tal mode 10 pe r-
mitiu considerar a linguagem como processo semiótico par-
ticular.
Esse é um primeiro corte, transversal, em que se
apresentam as contribuições que vão fornecer o re fe renci aI
teórico e metodológico da nascente psicolingUística.
Acrescenta-se um segundo corte, longitudinal, em
8
que se delineiam os antecedentes históricos que permitiram ã
Psicologia da Aprendizagem, ao Estruturalismo Lingtlístico e
ao Modelo Informacional constituirem-se, para, em seguida
fundamentar a PsicolingUística.
1- A Psicologia da Aprendizagem: Antecedentes Históricos
A psicologia torna-se "científica" perseguindo um
ideal de ciência numa época em que o estilo moderno de ciên
cia era o "empirista". Portanto,duas concepções articulam-se
quando se fala em psicologia científica: a concepção da psi
cologia como estudo científico do psiquismo humano e a conce:e.
ção de ciência do ponto de vista empirista. Para ser cientí
fica, a psicologia precisou, assim, seguir determinadas re
gras do trabalho científico, decorrentes destas concepçoes
sobre o que é um estudo científico, no estilo empirista.
Do ponto de vista histórico, o caráter científico
do conhecimento humano foi sendo construído sobre uma rela
ção fundamental entre o homem e o mundo: uma relação de sep~
raçao e até oposição. Conhecendo cientificamente, o homem s~
para-se do conjunto das "coisas", questiona, opõe-se a elas
ao questioná-las.
Na Grécia, pela primeira vez, dá-se esta oposição
entre o homem e o mundo. Nasce "o estudo dos fenômenos cósmi
9
cos enquanto tais, e por eles mesmos" (Koyré, 1973 , pp.77-78).
As coisas tornam-se "questões" para o homem, são problemati-
zadas e nao apenas observadas, quando os filósofos gregos
concebem e formulam" a exigência intelectual do saber teóri-
co: superar os fenômenos, quer dizer, formular uma teoria ex
plicativa do dado observável" ( ... ), "revelar, sob a desor -
dem aparente do dado imediato. urna unidade do real, ordenada
e in t e 1 i g í ve 1" fi b i d.) .
Já em Platão (428-347 A~C.), esta exigência se
mostra claramente, por sua maneira de pensar o mundo de um
ponto de vista "geometrizante". Assim, por exemplo, as for-
mas geométricas possibilitam entender o mundo de modo ordena
do, são princípios de inteligibilidade no real. No entanto,
é a alma humana, com suas reminiscências do Mundo das Idéias
- do qual o mundo complexo é apenas um reflexo - o lugar on-
de se dá o conhecimento verdadeiro. g preciso reencontrar na
alma estas "formas ideais" antes contempladas, para poder
ver, além das aparências do mundo, a realidade verdadeiraque
nele se reflete.
Com Aristóteles (384-322 A. C.). tanto a alma huma
na quanto as coisas concretas pertencem à "natureza". Não
existem dois planos de realidade; o mundo não e um reflexo,
possui um ser próprio; é mutável nos tempos e nos lugares,
mas justamente nesta mutabilidade é que é possível ver sua
natureza. O conhecimento verdadeiro, para Aristóteles, come-
10
ça com a percepçao das coisas mutáveis, contingentes. O ho
mem elabora esta percepção, distancia-se das coisas, imagina,
recorda-se e abstrai a forma das coisas de sua matéria. Pela
abstração o homem é capaz de fazer ciência, de chegar ao que
é necessário e universal, partindo do que é contingente e
particular. A alma humana, como "forma" do corpo, é separada
dele; mas o pensamento humano é capaz de operar uma supera -
ção completa do dado sensível de que parte.
O pensamento é um "intelecto agente", ato puro,
que se exerce sobre um "intelecto paciente", recepti vo, to
dos os dois pertencentes ao homem, enquanto processos racio
nais. O primeiro é "superior" ao segundo no referente ao co
nhecimento e, segundo Aristóteles, nos vem "de fora", é imor
tal e puro. Esta constituição do pensamento é problemática,
pois introduz um elemento imortal numa entidade mortal, que
é o homem formado de alma (forma) e corpo (matéria). Des lig~
da do corpo, a alma é um ser incompleto e, assim, não pode
ser ela, independente do corpo, a sede deste intelecto agen
te, imortal, puro ato, aspecto divino que identifica o pensa
mento humano ao Deus aristotélico - cuja existência, aliás,
é provada e não aceita como uma revelação.
O problema do conhecimento científico recebe, as
sim, dois tratamentos na Grécia Antiga: um, idealista (Platão)
e outro, racionalista-empirista (Aristót"eles). A segunda po
sição implica ainda a questão apontada: o caráter ativo do
11
pensamento leva a supor o "intelecto agente" que se situa
"fora" da constituição humana.
Na Idade Média,SantoTomás (1225-1274) procura re-
solver a questão: o homem pensa recebendo os dados sensíveis
e atuando sobre eles; o pensamento é tanto passivo quanto a
tivo e é de Deus que procede em nos este intelecto agente ,
índice da espiritualidade da nossa alma, a qual sobrevi ve ,
imortal, após a morte do corpo. Santo Tomás recorre à noção de
um Deus criador e de um mundo criado por ele para explicar a
inteligência humana, noções estranhas tanto a Aristóteles
quanto a Platão.
Transformados pela religião cristã, o aristotelis
mo e o platonismo puderam exercer, assim, sua influência du-
rante a Idade Média. O primeiro, muito mais que o segundo: a ','
pesar de ter chegado a ser proibida pela Igreja, por ensinar
noções contrárias a dogmas centrais (por exemplo, à idéia de
Deus criador), a obra de Aristóteles se impõe ao pensamento
medieval nas escolas e universidades (século XIII), como al-
go completo, não só por se dispor de todos os seus livros
traduzidos, mas pela sua intenção científica e extensão da
obra, cobrindo os mais 'diversos domínios do saber e ainda
por sua consistência, coerência, por sua lógica, enquanto que
o platonismo tem uma influência mais restrita, não tendo si-
do traduzida toda a sua obra; é estudado em ambientes dife -
rentes, como uma fonte de inspiração mística (Santo Agosti -
nho - 354 a 430 - reencontra Deus através dos textos platônicos) .
12
As questões tratadas no referente ao conhecimen-
to, ainda que transfiguradas pelo platonismo e pelo aristot~
lismo medievais, situam-se no plano das relações entre as i
déias e a realidade, por um lado, e entre a experiência sen
sível e o pensamento abstrato, por outro lado. Também duran
te a Idade Média, numa relação estreita com outras questões
e seguindo as concepções gregas, já no século XIII discute -
-se o problema do método científico, a nível epistemológico
e, em algumas ocasiões, tenta-se formular de modo incipiente
o método experimental. (Koyré, op.cit. pp.5l-75). A concepçao gr~
ga de aplicação das matemáticas e da geometria ao estudo do
cosmos (Platão} e ao estudo de certas áreas de fenômenos
(Aristóteles) expande-se nessas tentativas medievais.
No entanto, a ciência desenvolvida pelo mundo me-
dieval é fundamentalmente aristotélica, presa à física e -a
metafísica aristotélicas, de tal modo que, embora se traba -
lhem questões epistemológicas e até concepções de método ci-
entífico, num sentido mais "moderno" o trabalho científico de
verá passar por um outro momento histórico para sofrer uma
revolução.
o Renascimento cumpre es~a exigência, quando o do
mínio do saber é secularizado. As obras clássicas dos gregos,
cuja tradução é fomentada, são analisadas sob ângulos dife-
rentes, não mais subordinadas tão facilmente ao dogmatismo da
Igreja. Nicoláu de Cusa ()404-l464) abre o caminho, opondo-se
à concepção aristotélica de um cosmo físico onde cada coisa
13
tem um "lugar natural" dentro de uma "ordem natural" se
as coisas caem, por exemplo, é porque procuram seu lugar,
obedecendo a uma ordem; a terra, ocupa o centro do universo,
em razão da ordem deste universo. Ha uma hierarquia de luga
res naturais. Para Nicolau de Cusa, a terra e os céus perte~
cem ao mesmo plano de realidade; a terra é uma estrela como
todas as outras.
Para Copérnico, (14]3-1543) a queda dos corpos se
da sobre a Terra, e não sobre o centro, raciocinando em ter
mos de movimentos e forças físicas, e não mais em termos de
uma estrutura cósmica, metafísica. Consegue demonstrar a ina
dequação do sistema geocêntrico, substituindo-o pelo helio
cêntrico, o que representa, em termos de visão do mundo, uma
mudança radical, por onde segue o grande revolucionario que
foi Galileu (1564-1642).
Tycho Brahe (1546-l60l} contribui para a revolu
çao científica, preocupando-se com a precisão, com a medida,
e combatendo a idéia das esferas celestes; contudo, por nao
querer discordar da Igreja, propõe um sistema intermediario
em que a lua, o sol e as estrelas se movimentam em torno da
terra enquanto que outros planetas se movimentam em torno do
sol. g considerado como precursor das leis dos
planetarios de Kepler (157l-l63Q}.
movimentos
Esta grande revolução cientffica preparava-se du
rante o Renascimento e é concretizada no século XVII com Ga-
14
lileu, representando uma ruptura completa do pensamento cien
tífico em relação à ciência aristotélica medieval.
Galileu compreende a natureza, concebendo-a como
tendo uma estrutura matemática que fundamenta a possibilida
de de conhecê-la racionalmente.
Esta atitude de conhecimento representa o essen -
cial na sua revolução científica. A novidade está em provar
que os fenômenos naturais estão regidos pela lei dos numeroso
Esta possibilidade de matematização do objeto do
conhecimento encontra em Descartes (1596-1650) o referen -
cial necessário para sua aplicação sistemática.
A partir de Descartes as ciências dispõem de uma
lógica e um instrumental para projetar, no espaço, uma repr~
sentação dos fenômenos que possibilite tratá-los matematica
mente, assim como regras metodológicas que orientem o traba
lho científico, fundamentando-o racionalmente. A razão huma
na encontra, em seus próprios princípios e em sua forma de
produção própria, o fundamento para atingir o conhecimento
das leis matemáticas da na~ureza, as quais, para Galileu, es
tavam fundadas na constituição geométrica e matemática da
própria natureza (essencialismo). Assim,completa-se a revolu
ção científica do século XVII: a ordem do mundo não é mais
"revelada", obrigando-se o conhecimento a conformar-se à fé;
15
a concepçao aristotélica, física e metafísica, obstáculo -a
aplicação da matemática, é derrubada. A ordem do mundo depeg
de das leis que regem seus acontecimentos, leis cognoscíveis
em termos matemáticos, sendo a razão humana o critério e o
agente desse conhecimento. Instala-se a concepção racionali~
ta do mundo e do conhecimento científico sob uma dupla pers-
pectiva: a "essencialista", de Galileu, e a "hipotética", de
Descartes (as leis matemáticas são representações racionais,
não implicando a existência na matéria do que é descrito ma-
tematicamente) .
A obra de Newton ~loresce neste terreno (l642-
1727). Um instrumental lógico e matemático produzido por
Descartes e as concepções matemáticas de Galileu. seja dos
astros, seja dos corpos, possibilitam a enunciação formal,
matemática, das leis básicas da física moderna. Newton uti-
lizou um instrumental cartesiano. mas, de um ponto de vis
ta crítico, sustenta a.concepçao "essencialista" de Galileu
sobre estas leis: ... as leis newtonianas do movimento "
descrevem em linguagem matemática o estado de coisas devido às
propriedades inerentes da matéria: descrevem a natureza es-
sencial da matéri a" (Popper. 1935 - p. 3941. Es ta cons-
trução científica chega até o século XX, onde se completa
com a obra de Einstein (1879 - 19551. Existe à dis'posição
dos cientistas, a partir de Galileu, Descartes e Newton,
um modelo de ciência capaz de mostrar sua eficácia, consis-
tentemente válido em suas predições e aplicações. Este mode-
lo redimensiona as relações do homem com o mundo e reestrutu
16
ra as bases do conhecimento sobre o mundo. Demonstrando efi-
cácia, contribui decisivamente para a implantação, nas dive!
sas áreas do saber, dos seus critérios teóricos racionalis -
tas e experimentalistas, notando-se a subordinação do -pro-
prio experimento ao plano teórico: a experiência é condi cio-
nada como "experimento", ou seja, a observação dos dados ime
diatos da experiência é organizada, controlada pelas hipóte
ses teóricas, tendo a função de teste das hipóteses e não de
informação básica,para a formulação das leis e das hipóteses.
Neste modelo a produção da teoria depende muito menos da
experiência do que a sua verificação e, mesmo nesta, a expe-
tiência é trabalhada enquanto experimento.
Outras linhas de concepçao do conhecimento cientí
fico, no entanto, analisam o contexto de produção da teoria
científica corno fundado na experiência: Francis Bacon (1561-
1626), considera que a lei científica está fundada na obser-
vaçao. Entretanto, o que a observação fornece? Apreendemos
diretamente, nas experiências com as coisas, uma organização
tal que já apresenta uma regulação, lei inerente à rea1ida -
de? Na controvérsia sobre a "realidade" ou a "pura racionali
dade" das leis surge uma nova solução com o empirismo.
A concepçao empirista constitui-se em uma tentati
va de reco1ocar a questão do conhecimento científico: de on
de surge este conhecimento? Qual é o seu fundamento? Para r~
solver esta questão o empirismo inglês (séc. XVII) introduz,
17
a partir de Berkeley (1685-1753), a linha "instrumentalista"
da ciência contemporânea. E, com Hume (1711-1776), propõe um
ponto de vista propriamente psicológico no campo epistemoló-
gico. Tenta-se propor uma resposta, estudando como se formam
as idéias a partir da experiência sensível. O objeto a ser
conhecido nos fornece dados e estes são trabalhados, segun-
do certos princípios, resultando em idéias. Nesta análise,
os empiristas, sobretudo Hume, não encontram um suporte subs
tancial, no mundo, para as leis científicas. O que apreende-
mos no mundo são dados, imagens sensoriais, e nao organiza -
ções prontas; esses dados se associam segundo sua contigliid~
de temporal e espacial. Colocadas à parte outras concepçoes
de Hume sobre o "entendimento humano", estes princípios de
associação são absorvidos pela concepção empirista da ciên -
cia para se estabelecer a noção de causalidade em termos de
uma relação associativa entre fenômenos "antecedentes" e
"conseqUentes" (contigliidade temporal), o que leva à possibi
lidade de prescindir das suposições essencialistas, assim co
mo das propriamente racionalistas sobre as leis científicas.
A causalidade, noção central da enunciação das
leis, nao é nem a apreensão de uma relação inerente às coi-
sas (uma propriedade das coisas que determina "estados" de
uma em relação à outra) nem uma categoria inata da -razao
que determina uma descrição ordenada das coisas. g uma noção
construída pelo trabalho da mente a partir de como as coisas
se apresentam na observação direta. g a idéia que se forma a
18
partir do fato observado, de uma regularidade na apresenta -
ção dos fenômenos, em termos de um seguir-se ao outro. ~ evi
dente que esta "regularidade" não é necessária, ou seja, nao
se pode garantir que sempre um fenômeno se segue ao outro.
Por isso, as leis científicas, do ponto de vista empirista ,
ganham um caráter probabilístico.
De qualquer modo, todo o movimento crítico de re
visão e reestruturação do conhecimento científico não impede
que as ciências físicas e matemáticas continuem trabalhando
e ganhando terreno, alargando o campo de sua conquista expll
cativa.
g em defesa desta conquista incessante que Kant
(1724-1804) procura salvaguardar o caráter necessário das
leis científicas, fundamentando-o criticamente na sua conceQ
ção de que os fenômenos são necessariamente, já em sua apre
ensao, organizados como objetos, sendo o espaço e o tempo
"formas a priori" de toda a apreensão possível de objetos.
Segue-se que as afirmações feitas a respeito destes "obje
tos" demonstram um caráter "superior" ao que seria justific~
do pela simples experiência sensível; o homem diz "sempre"
porque seu entendimento dos "objetos" é tal que estabelece re
gras "a priori" sobre os acontecimentos, aplicáveis de modo
adequado à experiência, sendo exatamente o "a priori" a mar
ca da independência da razão frente ã experiência, o funda -
mento da necessidade e universalidade do conhecimento racio
nal.
19
Em meados do século XIX, outras duas correntes de
pensamento vão convergir para este movimento de definição do m~
delo de ciência que orienta a nascente psicologia científica :
o positivismo e o evolucionismo. O primeiro, reforçando o mode
lo físico de ciência da época, no sentido da evidência,ou da
experiência (concepção empirista), ou da experimentação (conce~
ção newtoniana), que leva à confirmação de que a observação dos
fatos é o primordial, excluindo neste modelo qualquer recurso
à explicação metafísica por não se conformar a este modelo de
explicação científica, notando-se, porém,que esta proposta nao
consegue proscrever, em definitivo, as concepções racionalis-
tas no domínio. E o segundo, permitindo reconhecer uma inteli
gência orientada em função do desenvolvimento orgânico e da
adaptação biológica em que o homem refaz sua relação com a na-
tureza, como um ser que com ela se identifica, emergindo
sua espécie evolutiva através das suas características
pria~ de organismo.
de
-pro-
Enquanto ser vivo ele pertence ao domínio biológico
e é regido pelas leis físico-mecânicas que respondem por uma re
gulação fisiológica. g parte do mecanismo universal. Assim,nas
ciências humanas, a dimensão da realidade humana é ampliada e,
ao mesmo tempo, adota-se o modelo das ciências físicas.
Enquanto visto como ser da consciência, que trans -
forma o mundo e se transforma, o homem é uma realidade não-fi-
sica; é a norma e a verdade do ser.
20
A perspectiva evolucionista exige a descentração do
sujeito racional e sua verdade passa a ser procurada numa int~
ligência construída pela natureza que lhe serve de suporte.
Em lugar de aceitar-se como início, torna-se neces-
sária a investigação dos fatores condicionantes da espécie hu
mana em sua continuidade. Assim como j á deixara de ser o cent ro
do universo, o homem descobre que não está no princípio; si-
tua-se num passado que o ultrapassa.
E a idéia de evolução passa a orientar as investig~
çoes de caráter comparado, visando às análises explicativas
tanto no modo de formação dos fenômenos quanto dos processos de
transformação que, ao longo das etapas evolutivas,irão config~
rar as condutas caracteristicamente humanas.
No entanto,persiste ainda uma dualidade de soluções
sobre a natureza do conhecimento; não apenas os sentidos, como
também a razão ,podem ser considerados como vias de acesso ao
conhecimento. A ênfase atribuída a um ou outro destes aspectos
vai servir de pano de fundo às posturas empiristas e raciona -
listas, constituindo-se no nficleo central das divergências te6
ricas, epistemol6gicas e metodol6~icas na psicologia (como
o foram nas ciências de um modo geral).
. -Ja
Essa dicotomia vai configurar a dualidade inatismo
-ambientalismo, o que, na constituição da psicologia como ciên
21
cia,vai orientar a delimitação do objeto, os métodos de inves
tigação e sua leitura e,ainda,a determinação dos processos fug
damentais - indutivos ou dedutivos - envolvidos na cognição.
Apesar dessa dualidade subjacente, o conhecimento
científico toma como necessário, segundo o modelo de ciência
do século XIX, a necessidade de excluir os conceitos metafísi
cos. Por isso, na psicologia, os resquícios do pensamento met~
físico precisariam sofrer urna crítica, que vai incidir funda -
mentalmente sobre a noção de consciência e sobre o método de
acesso à esta consciência. Torna-se imperioso destituí-la, e
também a introspecção, do domínio do psicológico, substituin -
do-as pelo fato observável, único capaz de assegurar a previ -
são, garantia da invariabilidade das leis naturais.
Esse processo orientador da investigação nas ciênci
as d~inatureza possibilita às ciências humanas a transição da
fase mentalista, da representação, para a fase da positividade,
em que o homem passa a objeto da experiência, reduzindo-se os
fenômenos psíquicos aos substratos orgânicos ou fisiológicos.
Na segunda metade do século XIX, reforçados pelo
clima de um positivismo impregnado das concepções eyolucionis
tas, as ciências humanas passam a exigir uma referência empír~
ca, pautada sobre critérios de quantificação que asseguram urna
pretensa inteligibilidade.
22
Nasce a psicofísica em fins do seco XIX, o que re
presenta o compromisso estrito com o reducionismo do psicológ!
co ao fisiológico e anatômico. A aparelhagem, o laboratório, o
fato biológico do sistema nervoso restituem à psicologia o es
paço que o positivismo lhe negara.
A experimentação substitui a proscrita introspecçã~
Os estudos sobre percepção conferem aos receptores sensoriais
a importância fundamental de constituição do real.
A psicologia experimental a partir de Wundt (1832-
-1920), em 1879, passa a se constituir como a ci~ncia do homem
concreto, de certo respaldada pela garantia do método da fÍsi
ca; apenas a conduta é passível de observação e verificação.
Desaparecem os limites entre o anima~ e o homem, a
criança e o adulto. o normal e o patológico. A continuidade bi~
lógica permite que se investiguem os mecanismos formadores do
compo rt amen to.
Imp re gnada por um radicalismo herdeiro do positivis-
mo a nascente psicologia vai buscar no empirismo a fundamenta
ção, nas teorias evolucionistas o suporte e na experimentação
o método.
Consolida-se com a reflexologia pavloviana que
Watson (18]8-19.58) adota nos EE.UU., circunscrevendo o domínio
da psicologia ao comportamento humano passível de observação.
23
o domínio da investigação é o fato psicológico re-
constituído como uma relação do comportamento com a situação
que o provoca e captavel através das modificações impostas -a
situação. Neste sentido,o comportamento é a resposta do sujei-
to observado ao estímulo que age sobre ele e o estudo deste
comportamento consiste em observar a'resposta à luz das modifi
cações no estímulo.
Neste modelo de variações concomitantes a observa -
çao fornece o elo funcional entre o dado de entrada e o de saí
da.
Sob essa perspectiva mecanicista as re gulari dades
constituem as leis e o organismo, transformado por Skinner
(1904 - ... ) em uma caixa preta, está interditado ao domínio
da investigação, é estudado apenas através de suas manifestações compor-" tamentais.
Adota o modelo S R como paradigma inicial, posi
ção essa que posteriormente acrescentará o organismo como va-
riável intermediária que o behaviorismo radical não conseguiu
pros crever.
Trilhando o caminho das ciências que lhe serviram
de modelo, constitui-se a psicologia da aprendizagem como o
terreno de sua cientificidade. O comportamento, objeto de estu
do da psicologia, é construído pela aprendizagem. Independent~
mente das controvérsias a respeito do modelo básico S -- R
24
organiza-se uma forma de pensamento sobre os fenômenos, cuj a
ênfase está nos processos formadores. A idéia de continuidade
herdada do evolucionismo passa a ser prevalente. g a partir
dessa idéia central que Piaget (1896 - 1980) consegue recons -
truir, pela investigação do desenvolvimento cognitivo indivi -
dual, os mecanismo formadores do conhecimento, que guardam uma
equivalência em relação à constituição da própria ciência em
sua evolução histórica.
A matemática forneceu o primeiro modo de pensar o
mundo, constituido-se em condição necessária para a consolida
ção das ciências físicas. Estas invalidaram o conhecimento fi
losófico, em suas teses metafísicas, expandindo o campo de in
vestigação da ciência ao destruirem a supremàcia do cosmos, or
dem celeste, generalizando a o~dem como inerente à natureza co
mo um todo.
Desse modo,a física impõe um único modelo de ciên -
cia, orientador do trabalho científico, podendo aplicar-se a
todos os fenômenos da natureza, inclusive à vida, o que possi
bilita ã biologia incluir-se neste círculo. Identificado como
um ser biológico que as teses evolucionistas confirmam, este
ser é o ponto ne partida de um processo, cujo desenvolvimento
mental vai ser objeto da psicologia. Esta, herda do realismo
biológico as tendências organicistas que intervêm na explica -
ção da vida mental. E acaba por explicar como as operaçoesmn~
titutivas das matemáticas e das físicas se dão.
"Assim, o universo, só é conhecido do homem através da lógica e da matemática, produto de seu es pírito, mas não pode compreender como construiu a matemática e a lógica, se não estudando-se a si mesmo psicológica e biologicamente, isto é, em função do universo inteiro". (Piaget, 1978, p. 113)
2- A Constituição da LingUistica: Sincronia e Diacronia
25
A idéia de que a linguagem é um dos atributos espe-
cíficos do ser humano é encontrada em alguns mitos da cri ação
do homem. Nestes mitos, a linguagem é dada juntamente com os
sentidos tornando-se uma das características inerentes à sua na
tureza, não apresentando uma função cultural ou social determi
nada. Mesmo como dádiva divina,essa perspectiva acentua a ori-
gem natural da linguagem humana.
Entre a perspectiva mitológica e a abordagem cientí
fica o estudo da linguagem pertenceu à filosofia, à gramática
e literatura, centralizadas sobre o grego e o latim.
b na Grécia que se encontram os fundamentos históri
cos da lingUística. Platão apresenta, no Cratilo, indagações so
bre a linguagem, como capaz de impor a realidade ao, pensamento ,
como resultante dos processos mentais ou ainda como vinculação
entre a idéia e a palavra que a designa. Com Aristóteles, a ori
entação é predominantemente normativa, visando ao estudo da gr~
26
mática como meio de desvendar a estrutura lingUística, já que
é o veículo de transmissão das verdades universais, torna-se im
perioso seu estudo. A contribuição aristotélica vai ser expres
sa no plano estético (estudo dos procedimentos de estilo), na
distinção entre partes do discurso, na enumeração das catego
rias gramaticais, na teoria da frase; enfim, a história da lin
gUística tem uma de suas fontes em Aristóteles. Enquanto que em
Platão prevalece a perspectiva filosófica do estudo da lingua
gem, em Aristóteles predomina a preocupaçao pela estrutura lin
gUística e constituição da gramática.
Os alexandrinos aperfeiçoaram as teorias gramati
cais. Com Dionísio de Trãcia (Séc. 11 - I A.C.) obteve-se um
corpo coerente de doutrinas, preservando-se,no entanto, duas ten
dências principai s: a analogis ta, que defende as manifes tações de
uma estrutura lingUística regular, e a anomalista, que enfatiza .. aspectos contraditórios às regularidades. Se,por um lado, a in -
tenção é basicamente normativa, por outro visa-se respeitar o
uso da linguagem.
No entanto, a India fornece a primeira contribuição
histórico-descritiva através do estudo do sâ1scrito. Panini (Sêc.
111 A. C.) desenvolve um tratamento descritivo exaustivo e a ten-
tativa de interpretação dos textos sagrados orienta este estudo,
que será posteriormente expandido no séc. XIX. A preocupaçao
central é o estudo do valor e do emprego das palavras, ponto de
partida para a criação de uma gramática comparada.
27
A orientação histórica vai proporcionar a base para
o estudo das línguas indo-européias e fundamentar a direção e o
prosseguimento do estudo da linguagem. Inicia-se a preocupaçao
com a etimologia visando ao estudo de troncos comuns, na tenta
tiva de buscar, através da expressão da cultura evidenciada pe-
la linguagem, o parentesco entre raças e povos geograficamente
dis tanci ados .
Posteriormente ã influência das conquistas do impé-
rio romano, os modelos da cultura grega sao absorvidos e os es
tudos nela iniciados têm continuidade, preservando-se seu méto-
do e suas regras.
Com o advento do cristianismo, a orientação se modi
fica e a interpretação do discurso bíblico passa a constituir a
preocupação fundamental, o que mantem o estudo da linguagem a-"'
fastado de uma proposta científica.
Na Idade Média pouco se pode acrescentar, exceto
que o interesse pela evangelização permite ampliar o campo da
pesquisa: não apenas surgem traduções dos textos bíblicos como
ainda disseminam-se os contatos com povos primitivos, favorecen
do o conhecimento de novos idiomas ou dialetos que o
trabalho de alguns missionários permite documentar.
paciente
A tradução da Bíblia em gótico no séc. IV, em arme
nio no Seco V, em eslavo no séc. IX poderia ter suscitado o pr~
28
blema das relações entre as línguas; no entanto, a concepçao
sobre os gentios impedia que a língua fosse objeto de reflexão
e de estudo. Permanecem inalteradas, não apenas as teorias gra
maticais como as controv6rsias anteriores: a oposição entre rea
listas (para quem as palavras são aticulações entre as idéias
e as coisas designadas) e nominalistas (que defendem a arbitra
riedade da vinculação do nome às coisas); a aceitação de uma es
trutura gramatical una e universal Cinerente a todas as línguas)
defende o aspecto normativo ao enfatizar as regras da gramáti
ca como independentes da particularidade de cada língua nas quais
estas regras encontram sua realização.
Nesse período o interesse pela linguagem se faz se~
tir como um movimento isolado com Dante Alighieri (1265-1321) .
A ele a Itália deve a primeira crítica filo~6gica de sua língua
e a identificações das ,qUártóze formas de dialetos italianos e as
relaçõ~s entre eles: sua obra "De Vulgari Eloquentia" pode ser
considerada como a de um precursor entre os romanistas. No en
tanto, sua contribuição se limita à Itália e as explicações so
bre a expansão de outras línguas na Europa se inspiram no mito
da Torre de Babel, tornando-se por conseguinte destituídas de
valor científico.
o fervor religioso incentiva a tradução de textos s~
grados, modificando-se a perspectíva atribuída anteriormente às
línguas vulgares, dos gentios. Embora o latim continue como lín
gua universal, as controv6rsias religiosas exigem o conhecimen
to do hebráico, língua semítica de estrutura diferente das euro
29
péias, o que suscita comparaçoes de ordem lingUística.
o ciclo das navegaçoes e conquistas e a expansao do
comércio reforçam a.troca de conhecimentos, trazendo novos fa -
tos lingUísticos que se tornam objeto de análise. Iniciam-se as
classificações em grupos aparentemente comuns, tentando-se refa
zer o parentesco a partir de critérios espaciais. g a tentativa
preliminar de classificação geográfica.
N~ séculos seguintes, nos quais desabrocha e se ex
pande o movimento renascentista, evidencia-se a preocupação pelo
recenseamento das línguas dos povos recém descobertos e ainda i
nicia-se o estudo das relações entre elas. Contudo, essa análise
busca explicar, através de uma concepção apriorística, a suprema
cia de determinadas línguas sobre outras.
Tentativas anteriores haviam sido feitas, desde
o Renascimento, buscando, conforme a difusão das religiões ou p~
vos, reivindicar para a própria língua a origem histórica das ou
tras e da própria humanidade. O que se percebe, sob este enfoque,
é a preocupação dos eruditos em acentuar a importância do hebrái
co, lírigua do Velho Testamento, atribuindo-lhe a anterioridade so
bre as línguas européias. Evidentemente tal concepção leva a uma
distorção, comprometendo a metodologia que passa a interpretar
semelhanças artificialmente provocadas. Esta orientação
as pesquisas durante mais de dois séculos.
conduz
30
No começo do séc. XVIII Leibniz (1646-1716) combate
com vigor a hipótese da origem do hebráico e o conformismo na a
ceitação da sua monogenia não é modificado. Propõe ele o estudo
dos "monumentos es cri tos das épocas antigas a fim de compará-los
às línguas modernas no seu estágio mais recente" (Leroy, 1967,
p. 23).
No entanto, Leibniz incide no mesmo tipo de orienta
çao: constrói um sistema genealógico, segundo o qual as línguas
da sua atualidade derivam de um protótipo comum.
Como se pode perceber, as diretrizes que orientam
os estudos sobre a linguagem até essa época são o princípio cla~
sificatôrio, apoiado na diversidade cada vez maior de línguas dos
povos descobertos, e areflexão sobre a natureza da linguagem huma
na na sua relação com o pensamento.
Em 1660 publica-se a "Grammaire Générale et
Raisonnée" de Port-Royal. Seu autor, Arnauld (1612-1694), discí
pulo de Descartes, mantém-se fiel à tradição da lógica e, no es
tudo da linguagem, vai da causa ao efeito, do raciocínio à 1ín -
gua. Durante dois séculos est a obra se constitui u no "vademecum"
gramatical, dominando os estudos nesse setor. A gramática de
Port-Roya1 (1662) quer explicar os fatos, demonstrar que a ori-
gem da linguagem é o pensamento, do qual ela é a imagem e se fun ,
damenta na razao. Tal orientação leva a um esquema de linguagem
que vai persistir até por volta do séc. XIX, quando os procedi -
31
mentos lógico-abstratos sao substituídos pelo método históri-
co, diante do conhecimento de línguas cada vez mais numerosas.
As tentativas especu1ativas - mas distanciadas de
uma análise dos fenômenos 1ingUísticos ou de suas evidências-
sao substituídas pelo método histórico que opera com a rea1i
dade,ta1 como se oferece ã observação. Destitui-se o apriori~
mo e se constitui a gramática comparada, que vai servir de ba
se ao pensamento 1inguístico contemporâneo.
-Se esses estudos preliminares nao representam con -
tribuições científicas valiosas, fornecem, para seus continu~
dores, grande volume de material, o que, ã luz de metodologia
rigorosa, permite constituir a história das principais lín-
guas civilizadas.
Na época moderna o denominador comum dos estudos de
ling'uística é o conceito de parentesco entre as línguas.
Retorna-se ao estudo do sânscrito, o que permite des
vendar a gramática hindu, no que toca à classificação dos fo
nemas, à teoria da raiz e formação de palavras. Estas formula
ções favorecem a retomada da/perspectiva comparatista, agora
apoiada em afinidades precisas. Em 1795. em Paris, a Escola
Nacional de Línguas Orientais Vivas é fundada e um grupo de sá
bios ensina as línguas e a literatura do Irã e da India. EsXe
núcleo desenvolve e assenta as bases do estudo científico das
32
famílias de línguas: a do parentesco e a do protótipo comum.
Atribui-se a Franz Bopp (1791 - 1867) a origem da
gramática comparada das línguas indo-européias. Em 1816, for-
mula uma doutrina oriunda das aproximações do sânscrito com
as línguas da Europa. Em 1833 publica-se a primeira obra no
gênero, incluindo-se o sânscrito, o grego, o latim, o persa,
o germânico (alemão e gótico), posteriormente completada em
1857 com o zend, o lituano e o armênio.
A obra de Bopp permite entrever a pretensão de re-
criar a língua pré-ariana original.
Tenta uma explicação genética para reconstituir um
estado de língua primitiva que explicaria a origem da lingua-
gem humana, cujas formas atuais representariam formas degrad~
das Jessa língua primitiva.
Ao nome de Bopp deve-se acrescentar o de Jacob Grimm
(1785 - 1863), cuj a importância se liga ã perspecti va históri
ca que coloca no estudo da fonética. Formula a primeira lei
fonética - a da mutação consonântica - em que se reconhece a
necessidade de um est/udo rigoroso que permita estabelecer re-
gras precisas. Esta preocupação orienta os estudos da -epoca,
promovendo o levantamento das línguas indo-européias e a in
vestigação sistemática de todas as suas manifestações.
33
Na segunda metade do século XIX surge uma Segunda
Geração de Comparatistas, dela destacando-se Augusto Schleicher,
cuja formação de botânico imprime a suas pesquisas, na tenta
tiva de utilizar o método das ciências naturais.
Considera as línguas como organismos que seguem o
ciclo vital: nascem, crescem, desenvolvem-se segundo regras
determinadas e morrem. A lingUística é uma ciência natural
cujas leis se sujeitam ao rigor do modelo da física e química,
e a cuja evolução se aplicam os princípios teóricos de Darwin
(1809 - 1882). Esta concepção naturalista leva-o ao exagero
na sistematização dos fatos, supondo que a comparaçao permiti
ria reconstituir uma língua primitiva que, por cisões sucessi
vas, teria originado os diferentes dialetos indo-europeus. Foi
sob forma de árvore genealógica que Schleicher expôs sua con
cepção da fragmentação do indo-europeu, propondo os princí ....
pios de uma teoria geral das transformações lingUísticas. a
partir de um critério morfológico evolutivo. Tal proposta peE
mite classificar as línguas do mundo numa tripartição segundo
sua estrutura interna: línguas isolantes. aglutinantes e fle-
xivas. As primeiras, de palavras justapostas, expressam rela
çoes gramaticais através da colocação das palavras, são histó
rica e evolutivamente anteriores; as aglutinantes apresentam
relações gramaticais expressas pela fusão de elementos diver
sos à raiz; finalmente. as flexivas evidenciam relações modi-
ficadoras da própria forma das palavras.
34
Schleicher utiliza essa tripartição como princípio
geral das transformações linguísticas, cujo desenvolvimento é
indicado por meio da flexão.
Uma análise sumária do trabalho de Schleicher perml
te verificar uma aparente,contradição entre dois momentos de
sua obra: primeiramente a convicção do evoluir linguístico co
mo uma degradação da língua primtiva ao longo do seu ciclo vi
tal e, posteriormente, a idéia de um progresso constante no de
senvolvimento das línguas a partir das modificações morfológl
cas do contínuo isolante-aglutinante-flexivo.
Apesar do rigor do método, Schleicher nao escapa a
certos apriorismos. Leroy (op. cito . p.43) coloca-o como um au
tor " ... preocupado em situar a teoria no começo da pesquisa
e impor aos fatos o espartilho de um esquema lógico, construí
do de antemão."
Ainda presos ã perspectiva de reconstituir o estado
primitivo e alcançar as origens da linguagem humana prosse
guem os estudos utilizando modelos que vão da onomatopéia às
teorias da aprendizagem da linguagem na criança. No entanto ,
permanece desconhecido, sem qualquer testemunho de comprova -
ção, o período em que a linguagem ainda não alcançara o está
gio escrito, permanecendo no domínio das conjeturas inverifi
cáveis, tornando impossível refazer sua trajetória evolutiva.
35
.. Essa preocupaçao orienta as pesquisas da epoca, ten
tando-se, contudo, vincular a linguagem ã natureza humana. Sob
essa ótica situa-se Wilhelm von Humboldt (1767 - 1835), que
considera a linguagem como manifestação do espírito
constituindo-se no órgão criador do pensamento.
humano,
Nesse sentido ,coloca a linguagem como capaz de ca-
racterizar o povo que a fala, desvendando a mentalidade dos
usuários. Esboça assim uma psicologia das raças que posterior
mente vai alicerçar as justificativas da supremacia de deter
minadas raças sobre outras. Este princípio vai apoiar a pers-
pectiva atual de Benjamim Whorf.
Apesar da influência pessoal que exerceu sobre a ci
ência alemã na primeira metade do Século XIX, a maior contri-
buição de Humboldt foi para o desenvolvimento da gramática
comparada. Sua tentativa de atingir uma ling~ística geral foi
considerada na época como uma especulação de caráter filosófi
co, sem cunho científico; ele mesmo se declarara c~tico a es-
se respeito. A tentativa de classificação psicológica das lín
gtias não consegue resistir i crítica.
A partir de 1870 a gramática comparada toma nova
orientação; modifica-se a concepção que norteou os últimos
anos de pesquisa, abandonando-se a busca da língua primitiva.
Centraliza-se a atenção soore as línguas vivas e adota-se um
enfoque radicalmente oposto ao de seus antecessores. Substi -
36
tui-se a concepçao de organismo natural da linguagem pela de
produto coletivo dos grupos humanos.
Essa escola, denominada neogramática, ligada " a
Universidade de Leipzig, adota a orientação positivista, vi
sando à constituição de uma teoria coerente em seu rigor e me
todo. Elabora leis fonéticas e sobre o trabalho iniciado por
Grimm (1785 - 1863)estabe1ece os princípios de correspondên -
cia fonética inter11nguas, salientando a regularidade destas
manifestações.
A preocupação com a precisão das observações e o
rigor do método enfatiza o uso das técnicas comparativas, le-
vando a pesquisa a uma orientação mecanicista, voltada apenas
para o que é imediata e materialmente controlável.
A crítica feita à escola dos neogramáticos é a de
que a preocupação excessiva pelos fatos em seus pormenores im
pediu-os de edificar uma teoria geral da linguagem; contudo ,
o mérito está no esforço fecundo que serviu de base para uma
total renovação da gramática comparada e da lingUística.
Ainda no final do Séc. XIX, a obs~rvância aos méto-
dos experimentais das ciências física e fisiológica .permite
produzir uma técnica instrumental de análise e de registro que
serve de base à Fonética Moderna. Iniciada por Rousselot,
(1846 - 1924), em tese publicada em 1891 "Les Modifications
37
Phonétiques du Langage btudiées dans le Ratois d'une Famille
de Cellefrouin". a investigação dos sons da linguagem. a par -
tir do fonetismo dos falantes. vai reforçar o conceito da re
gularidade das leis fonéticas e ainda permitr esboçar a hist~
ria das palavras e constituir-se numa geografia lingUística.
Em 1883. Ferdinand de Saussure (1857 - 1913) publi-
ca sua "Mémoire sur le Systeme Primitif des Voyelles dans les
Langues Indo-européennes". em que reforça a posição dos neogr~
maticos.
Busca encontrar a evolução do vocalismo fonético
abandonando a idéia de uma língua única original.
Nessa obra Saussure antecipa alguns princípios da
evolução fonética que serão comprovados somente após sua mor-.
te. quando for decifrada a língua hitita. fazendo-se remontar
o conhecimento do indo-europeu ao segundo milênio antes da
nossa era.
Devido ã grande importância de Saussure na formação
do método lingUístico. a ele retOrnar-se-á mais adiante. qua!!
do se falar da p~rspectiva estruturalista em que situou a lin
gUística.
Ainda em 1883 desdobra-se com Michel Bréal (1832-
1915) o domínio da semântica - termo por ele criado -,que a-
38
centua a evolução das signifi~ações e nao mais as relações
no plano fonético ou morfológico. Já Hermann Paul, em fins
do ~~~ulo XIX, havia estudado as evoluções semânticas, classi
ficadas segundo princípios lógicos da tradição aristotélica :
oposição do abstrato ao concreto, especialização, generaliza
ção, restrição e outros processos tomados de empréstimo à re
tórica.
Com.Bréal retomam-se algumas distinções terminológi
cas utilizadas por Hermann Paul, embora em outro quadro de r~
ferência: interessa-se pela evolução de sentido, definindo
princípios que asseguram não se poder falar dessa mesma evolu
çao como uma march.a em linha reta, sem flutuação nem desvio.
Tal posicionamento levanta. entre os opositores, a questão
do rigor do método, tornando dividida a acolhida que recebeu.
Enquanto, por um lado, é reconhecida a importância da semânti
ca pára as pesquisas etimológicas, por outro, destaca-se a
infalibilidade das leis fonéticas.
No entanto, a doutrina de Bréal é considerada por
ele próprio como um capítulo da lingUística histórica, e, du
rante mais de meio século, assim prevalece.
Outra tendência predomina nos neogramáticos no que
toca à evolução lingUística:é o conceito de progresso como
princípio explicativo. Provavelmente inspirado nas colocações
evolucionistas de Darwin, o dinamarques Otto Jespersen (1860 -
1943) contrapõe-se ao enfoque schleicheriano da supremacia
39
das línguas primitivas e sua conseqUente degradação históri -
ca. Propõe que a simplificação das formas atende a critérios
de economia, o que as torna mais práticas e aptas a expressar
todos os aspectos da civilização humana.
Progressivamente, a perspectiva da superioridade de
determinadas formas 1ingUísticas sobre outras vai se des10can
do dos cri térios internos "morfológicos ou fonéticos para os
cri térios externos. Es tes critérios des tacam o aspecto social,
e ,na medida em que a língua é um fato social a hierarquia
das línguas passa a ser determinada por este fato
ao 1ingUístico.
exterior
Durante o início do nosso século essa linha de pes
qUlsa persiste, embora sob orientação positivista, destacan -
do-se Antoine Mei11et (1866 - 1936) na França. Numa crítica
feita a um trabalho da época (1923), Mei11et escreve: "A exp~
riência mostra que u~ fato novo bem analisado contribui mais
para o desenvolvimento da ciência que dez volumes de princí - <ti
pios, ainda que bons". (in Leroy, op. cLt. p. 70)
Segundo Carro11 (1953), a publicação da obra de
Brugmann (1849 - 1919)/ e De1brUck (Out1ine of the Comparati ve
Grammar of the Indo-European Languages, 1890) parece esgotar
a 1ingUística comparativa indo-européia; no entanto, poste
riormente, tem algumas de suas conclusões preliminares altera
das, anexando informações oriundas de descobertas arqueológi
cas mais recentes.
40
o início deste século parece assinalar um marco de-
cisivo na constituição dessa disciplina. Bloomfield
1949) na sua obra "Linguistics" afirma:
"A fusão das duas correntes, a histórico-compativa e a filosófico-descritiva, tornou claros alguns princípios que não eram aparentes para os grandes indo-europeistas do séc. XIX representados, por exemplo; por Hermann Paul. Todo estudo histórico da linguagem se baseia na com paração de dois ou mais conjuntos de dados des cri ti vos. Pode ser tão acurado e tão completoapenas até onde o permitem esses dados" (1933, p. 19).
(1887 -
Analisando-se todo o passado que define a história
constitutiva da lingUística pode-se perceber que o ,princípio
que a orientou foi basicamente a necessidade de configurar um
quadro de referência. Ess a finalidade defini u duas abordagens
principais, uma das quais em busca do protótipo, comum a to
das as línguas e capaz de explicar as modificações que se su-."
cederam, e uma outra abordagem, voltando-se para os elementos
comuns capazes de explicar as correspondências, na atualidade
das línguas estudadas. Pode-se dizer que o processo de cons -
trução teórica se assenta sobre o confronto de semelhanças e
diferenças entre seus observáveis.
- A perspectiva estruturalista
g impossível falar-se da formação do método lingUí~
tico sem fazer referência ã contribuição de Ferdinand de
Saussure; com ele se inicia uma forma de investigação, em
41
que as questões colocadas vao dar fundamento à nova ciência
que se configura.
Pode-se localizar dois momentos principais em sua
obra, um dos quais relativo ao enfoque histórico com que de
senvolve a gramática comparada e a gramática normativa e se e~
pressa na obra "Mémoire sur le Systeme Primitif des Voyelles
dans les Langues Indo-européennes", j â referida, e um outro
momento, em 1916, quarenta anos após a publicação da "Mémoire",
o "Cours de Linguistique Générale", obra póstuma compilada,de
notas de aula, por dois de seus alunos, Charles Bally e Albert
Sechahaye que, fiéis aos ensinamentos do mestre, defendem os
princípios que caracterizam a Escola de Genebra.
g nesta obra que se define a lingUística moderna e
se alicerçam os fundamentos dessa nova disciplina, cuja abor
dagem Saussure modifica e integra.
Distingue duas perspectivas, independentes mas ~om
plementares: uma~ histórico-comparativa ou evolutiva, em que
se buscam os princípios determinantes das transformações que
operam sobre as línguas; outra, descritiva, que estuda a
constituição da linguagem, se~s sons, suas palavras, sua sin
taxe num dado momento. Saussure simboliza esta dupla perspec
tiva em planos cartesianos: o das abscissas é a simultaneida
de e o das ordenadas, a sucessão.
"0 eixo das simultaneidades CAB) concernente às relações entre coisas coexistentes, de onde to da a intervenção do tempo se exclui caracteri~ za a lingUística estática ou sincrônica. O eixo das sucessões (CD) sobre o qual não se pode considerar mais que uma coisa por vez, mas onde estão situadas todas as coisas do primeiro eixo com suas respectivas transformações carac teriza a lingUistica evolutiva ou diacr~nic~'7 CSaussure, 1916, p. 95)
42
Sob a perspectiva diacrônica a língua é vista como
uma realidade empírica, dinâmica, cabendo à lingUística, nes-
sa fase, conhecer as regras de funcionamento, as transforma -
ções e seu grau de evolução.
Sob a perspectiva sincrônica a língua é apreendida
como uma modelo estático; é um estado em que o valor dos ele
mentos é função de suas relações momentâneas ,no todo.
Ir sobretudo a distinção entre a língua e a fala que
vai orientar a delimitação do objeto e do método da lingUísti
ca: a língua é o conjunto de signos, que serve como comunica-
ção entre os membros de uma determinada comunidade; a fala -e
a expressão do uso individual da língua, sendo " ... a língua
um sistema cujos termos são solidários e o valor de um resul-
ta tão somente da presença simultânea de outros". Cop. cit.,
p. 133). enquanto que a fala é o ato concreto e individual da
utilização do sistema.
Estabelece a supremacia da língua sobre a fala. re
conhecendo a primeira como essencial e a segunda como acessó-
43
ria. Nesse sentido a língua é um sistema de signos e estes
formam um sistema de relações entre significantes e significa
dos, capazes de produzir um valor lingUístico. Este valor po
de ser determinado pela posição dos signos no interior do sis
tema.
Ao se analisar sucintamente a lingUística de Saussure
percebe-se que ela apresenta um caráter inovador. Parte do es
tudo das línguas, manifestações isoladas e casuais de lingua-
gem e busca encontrar um modelo que seja capaz de explicitar
sua estrutura e funcionamento; busca a forma mais que o con -
teúdo. Abandona o empirismo das ocorrências singulares para
dedicar-se à construção racional que ,posteriormente ,os fatos
lingUísticos consolidarão.
Embora a linguagem se defina como a capacidade huma
na de organizar um sistema semiolõgico,utilizando-se de
nos criados arbitrariamente pela comunidade social, cabe
sig-
-a
lingUística captar os elementos invariantes desse sistema. Sua
observação se faz a partir de identidades e diferenças, nouso
da língua, para captarem-se os traços universais que persis -
tem no uso.
E', sobretudo, através das difer'enças que a língua se
express a: "Na língua s õ exis tem diferenças" C ••• ) "Quer se co!!.
sidere o significado, quer o significante, a língua nao compor-
ta nem idéias nem sons preexistentes do sistema lingUístico
mas somente diferenças conceituais e diferenças fônicas, resul
44
tantes desse sistema" Cop.eit. p. 139).
A partir de Saussure define-se um outro espaço para
a disciplina que ,em ele se constitui. g,sobretudo,a aborda -
gem estrutural, com que trata a lingUística, que o torna um
pioneiro. Esta abordagem vai fundamentar novas correntes de
pensamento que ultrapassam os limites da Escola de Genebra.
Inspirados na proposta de Saussure. no Congresso In
ternacional de Haia (1928), R. Jakobson, S. Karcevskij e N.
Trubetzkoy apresentam a famosa "Proposição 22", que marca o
nascimento da disciplina Fonologia, redefinida como o estudo
dos sons da língua, distinção que Saussure fizera em relação
aos sons da fala.
o princípio de que "na língua só há diferenças" tor .,
na-se o fundamento básico da fonologia dos lingUistas do Cír
culo de Genebra.
Concebem as unidades distintivas de linguagem como
combinações de traços em relações de oposição que se encontram
nos sistemas lingUísticos e que têm um valor funcional defini
do.
Como se pode perceber, reedita-se o método e revig~
ra-se, na fonologia, a proposta central da lingUística saussu-
riana.
45
Com o trabalho inovador dalingUística saussuriana
abre-se a possibilidade de uma abordagem estruturalista apli
cável aos fenômenos humanos,de um modo geral, que vai apar~
cer na psicolingUística,já na perspectiva de Osgood,e se tor
na mais presente com Noam Chomsky.
3 - A Teoria da Informação
Tem sua origem no domínio das telecomunicações. El~
borada por Shannon & Weaver (1949), desfrutou de grande prestf
gio, sobretudo por tratar-se de um modelo utilizável em domí
nios bastante diversificados.
A comunicação ocorre sempre que um sistema - uma
fonte, influencia um outro sis tema - um des tinatário, uti li -
zando-se de sinais possíveis que podem ser transmitidos num
canal que os liga. g necessário, contudo, que um transmissor
transforme as mensagens (processos de codificação) de modo que
possam ser veiculadas no canal; complementarmente é necessá -
rio um receptor que possa transformar novamente esta informa
çao para que venha a ser recebida pelo destinatário (processo
de decodificação).
Sob a perspectiva descrita a informação tem um sig
nificado diferente da linguagem comum. Refere-se ã ocorrência
de um evento que trará tanto maior informação quanto maior
for a incerteza de sua realização e, inversamente, será tanto
46
mais redundante quanto maior for sua probabilidade de ocorren
cia.
Em sua obra "The Mathematical Theory of Comunication"
Shannon & Weaver propõem princípios quantitativos que perml -
tem calcular o montante de informação que uma mensagem trans
porta. Qualitativamente diz-se que a informação é igual à in
certeza prévia que esta mensagem anula e quantitativamente ela
é expressa com o número de escolhas binárias necessárias para
determinar o acontecimento de que se trata.
Transpondo-se à linguagem o modelo da comunicação
reconhece-se algumas características distintivas e específi -
caso As ocorrências fônicas não são equiprováveis (e portanto
não se sujeitam ao princípio matemático anteriormente expos -
to) e a informação que a mensagem veicula pode ser determina
da pela sucessão das ocorrências no contexto.
E, portanto, a redundância se expressa pelo fato de
que as unidades sucessivas não são independentes e de que a
ocorrência de determinada unidade será mais ou menos provável
depois de outra. Assim sendo, uma mensagem nao é inteiramente
imprevisível e, na linguagem escrita, tanto quanto na oral,
esta redundância tornará possível captar-se uma mensagem
mesmo quando ela é transmitida sob condições perceptivamente
incompletas ou insatisfat6rias.
47
Na aplicação do modelo da teoria da informação aos
fatos da lingUfstica este modelo funciona como refer~nciaAre
permite organizar o estudo da linguagem segundo o ponto I de
vista do processo de recepçao, organização e expressão da in
formação. Esta visão passa a ser central, na primeira defini
ção da psicolingUfstica, que, por sua ~nfase empirista, já se
conformava a tal modelo. Por outro lado, a teoria da informa-
çao propicia um instrumental matemático adequado aos primei -
ros estudos da psicolingUfstica.
4 - A PsicolingUfstica e sua Interdisciplinaridade
- Primeira definição
Em 1953, dois anos após o seminário de Cornell, a
comissão incumbida de redigir os estatutos da nascente disci
plina* delimita os objetivos deste sujeito interdisciplinar de
pesquisa e ,conseqUentemente , d'efinem-se suas bases metodológi
cas e os campos de aplicação.
Traçado o quadro conceitual comum, 'Osgood e Sebeok
publicam, com colaboradores, a monografia "Psychólinguis ti cs:
A Survey of Theory and Research Problems" (1954).
* Charles Osgood, Illinois; John Carroll, Harvard~ George Miller, Massachussets são os psicólogos e T~omas Sebeok , Indiana; Floyd Lounsbury, Yale são os lingfiistas desse empreendimento.
48
Já se delineiam suas áreas de investigação: Bilin -
~sno, Análise de Conteúdo, Processos de Associação no Compo~
tamento Verbal, Dimensões de Significado em estudos analíti
cos e experimentais; estilo, Afasia e Universais da Língua.
A análise da literatura das primeiras investigações
permite evidenciar que não há uma diretriz única; à luz de uma
nova e frutífera proposta as. pesquisas florescem em múltiplas
direções.
A primeira definição da psicolingliística supoe um
modelo básico da comunicação, tomando-se a linguagem como có-
digo (Peterfalvi, 1970).
Partindo-se do esquema de Shannon, Osgood reconhe -
ce-o' como . insuficiente· para,expli car· a ,linguagem,"humana., ... "uma
vez que a codificação e a decodificação, diferentemente do que
ocorre em outros sistemas semiológicos, são processos que po-
dem ocorrer num mesmo organismo, às vezes simultaneamente, c~
mo fonte e destinatário, transmissor e receptor, suj ei tos a
modificações através de mecanismos de retroalimentação.
Reconhecendo essa-característica que o modelo nao
abrangia, Osgood propõe uma modificação no esquema inicial
caracterizando a comunicação como aquela preparada para rece-
ber e transmitir mensagens.
49
Provenientes de uma fonte externa os "inputs", dados
de entrada, são recodificados sob forma de impulsos nervosos
sensoriais, integrados pelos receptores e decodificados em seu
destino; outras mensagens, escol,hidas por esta unidade de comu
nicação - fonte - são codificedti3 como impulsos nervosos motores
integrados e recodificadas - transmissores - em movimentos de
músculos vocais ou outros, que constituem as respostas, "outputs",
dado~ de saí da) .
Portanto, na entrada da informação, o receptor é um
sistema perceptivo que decodifica o estímulo; o transmissor co
difica, em forma de comportamento motor, o que constitui a saÍ
da do sistema. Fonte e destinatário representam o componente cog
nitivo e são englobados no conceito de "mediador".
Utilizando o esquema de base da comunica~ão,O~good
e colaboradores, em .1954, propoemuma prime_ira_definição _~ __ da
PsicoTingUística. seu limite com outras disciplinas e
ireas de atuação (i~ Peterfalvi, 1970).
suas
Fonética: Estuda as relações entre a unidade-fonte e os sons pr~
duzidos pelo organismo.
Psico-acústica: Estuda os recursos do organismo que pode perce
ber os sons.
MicrolingUística ou LingUística: Estuda as características do
código, enquanto mensagem propriamente dita, abstraindo-se as
características dos sujeitos que as emitem e recebem.
ExolingUística ou MetalingUística: Trata das relações entre a lingu!
gem e as características psicológicas e culturais dos seus usuários.
r- ---~
Exolingüística
Microlingüística
Fonética I Psico-acústica
Unidade fonte Un idade destinatário I NPUT -----I Receptor+Mediador+Transmlssor" Mensagem--+ Receptor-.Mediador-.Transmissor I " OUTPUT
Codificação I Descodificação
PSlcolingüística
"Ciências sociais It
Estudo das comunicações
Figura 1: Esquema Geral de Osgood e colo
V'I o
SI
Quanto ã Psicolingtiística, trata dos processos de codificação
e decodificação relacionando as características das mensagens
às dos interlocutores.
A ela superpoem-se dois domínios mais amplos: o das
Ciências Sociais, que estudam as características humanas que
influenciam a seleção e a interpretação das mensagens - hâbi-
tos, motivações, significações, atitutes, valores, papéis - e~
fatizados pelas óticas da Psicologia, Sociologia ou Antropolo
gia e, finalmente, o domínio das Ciências das Comunicações
que tratam dos processos semióticos em geral.
Complementando a delimitação do objeto de estudo dos
fenômenos psicolingUísticos, Osgood recorre à distinção propo~
ta por Saussure. A psicolingUística sincrônica analisa as rela
ções entre suj ei tos que comunicam e estados moment-âneo's--·· - das
mensagens; a seqUencial relaciona as transições entre as unida
des lingUísticas na mensagem e nas atividades dos sujeitos en
quanto a mensagem é transmitida.
A PsicolingUística diacrônica avalia, sob o aspecto
evolutivo, genético, a correspondência entre níveis distintos
da organização comportamental e suas diferenças na estrutura
das mensagens.
A análise desse quadro inicial, em que se delineiam
os estatutos de uma psicolingUística nascente,evidencia a ênfa
52
se que seus "redatores" colocam na comunicação dentro do qua -
dro global dos estudos sociais e humanos. Reconhecem que, na
medida em que a psicolingüística for capaz de explicar a natu
reza, o desenvolvimento e a função da linguagem, assim como p~
der produzir processos de mensuração adequados e precisos, re
velará um valor crescente para as ciências sociais em geral.
Sob essa diretriz metodológica, epistemológica e
axiológica se situa a psicolingliística, em sua primeira defini
çao.
- Segunda definição
A partir de 1957 as perspectivas se modificam e a
publicação de "Syntatic Structures" de Chomsky vem alterar to
do o enfoque da psicolingüística. Substitui-se o aprendido pe
lo inato; conseqUentemente,não há leis de aprendizagem; busca
se um modelo que explique essa aptidão especificamente humana
- a competência - capaz de produzir regras de gramatical idade
que utilizam, como critério, o juízo intuitivo.
Essa perspectiva, contudo, já pode ser vislumbrada
em Saussure (1916) ao afirmar ser a língua um "sistema gramati
cal virtualmente existente em cada cérebro ou mais exatamente
nos cérebros de um conjunto de indivíduos" (op.cit., p. 21)
53
Sob urna perspectiva racionalista,Chomsky acentua o
papel dos determinantes inatos nas estruturas e funções que ,
configuram o psiquismo. Quanto a linguagem, distingue a compe-
tência da performance, delegando à primeira o papel nuclear de
formador do juízo de gramaticalidade, aspecto intuitivo e res-
ponsável pelo desenvolvimento lingUistico. Sobre este arcabou
ço vao operar fatores capazes de produzir modalidades de desem
penho, gerando diferentes performances. Confirma-se, portanto,
sua posição radical em que a experiência originada do exterior
apenas fornece o conteúdo informacional. Quanto aos fatores
que determinam a performance incluem-se aspectos extralingtlis
ticos corno memória, percepção e ainda critérios pragmáticos.
Ao se tentar construir o modelo explicativo da per
formance - segundo Chomsky o objetivo central da psicolingUis
tica -'0 critério· de gramaticalidade se· torna insuficiente. Em
bora lhe sirva de base é preciso expandi-lo, incluindo o de a
ceitabilidade que implica a dimensão do social. Reconhece ser
necessário dividir-se a performance em dois grandes campos, o
da produção do discurso e o da percepçao, cabendo à psicolin -
gUística a responsabilidade na elaboração destes modelos.
Neste ponto Chomsky identifica-se à primeira delimi
tação do objeto da psicolingUistica: os processos que permitem
veicular a mensagem. Vale lembrar, contudo, que os funda -
mentos epistemológicos e metodológicos são inteiramente antinô
micos: é o inato contrapondo-se ao adquirido, justificando o
54
recurso à introspecção e à intuição. No modelo da psicolingUí~
tica de Cornell buscam-se os processos de condicionamento que,
mediante as leis da aprendizagem, acionam mecanismos de asso -
claçao capazes de explicar a recepção e a transmissão de mensa
gens.
Não se pode negar que a proposta da gramática gera-
tiva modificou ou ampliou o enfoque inicial e o campo de apli
cação da psicolingtlística de 1954. Segundo Miller (1965, "Some
preliminaries to psycholinguistics", American Psycholinguistic,
20, 15-20) ,alguns pontos preliminares devem servir de assento
teórico à sua área de investigação:
a significação de um enunciado se processa pelas relações en
tre suas partes; não é a soma das significações das palavras
que ele compreende;
• o modelo da linguagem nao é o de um repertório e sim o de um
sistema de regras que é adquirido através de uma predisposi-
çao do ser humano. A criança não aprende as combinações e
sim o sistema que gera as combinações possíveis em sua lín
gua;
... . a linguagem e especificamente humana e comporta,com toda pr~
babilidade,um componente biológico que lhe serve de suporte.
Constituída a psicolingUística, à luz dessesmovime~
tos em que se evidenciam propostas antagônicas, abre-se novo
55
campo de investigações ao qual confluem fatos psicológicos, l~
gicos e informacionais. Nesse sentido torna-se fundamental uma
análise epistemológica dessa disciplina, avaliando suas bases
e intenções fundamentais.
Considerando-se o aspecto de acabamento de seus mo
delos, colocam-se as teorias e concepções que enfatizam a im -
portância do inatismo, ou seja, da invariância de suas estrutu
ras no tempo; sob este ângulo, além dos clássicos modelos ina
tistas e racionalistas, em que as regras generativas consti
tuem os universais invariantes de uma sintaxe acabada, pode-se
situar o próprio modelo da teoria da informação, enquanto mod~
lo sintático, basicamente de relações. De fato, no primeiro c~
so, as mudanças de chamado transformacionalismo nao constroem
um modelo ao longo do tempo, mas, ao contrário, podem ser der!
vadas de um modelo acabado. No segundo caso o fluxo dos conteú
dos que transitam em qualquer sistema informacional, bem como
as réplicas do próprio modelo, de um nível para outro,não cons
tituem uma alteração da sintaxe: é apenas a semântica que se
altera, numa constante transição de mensagens, governada por
objetivos de uma exigência prática.
Em contrapartida a essas posições, os modelos que
valorizam a elaboração do aprendido dividem-se em duas signi
ficativas vertentes: os que valorizam a historicidade funcio
nal da aprendizagem - expressos no behaviorismo - e os que se
reportam a um processo de construção interna, tal como é esta-
belecida pela epistemologia genética e, neste caso,
da ação virtualizada como lógica.
56
partindo
Para os objetivos do trabalho aqui discutido serao
aprofundados apenas os que tratam da aprendizagem e,especifi
camente,da aprendizagem da linguagem, enquanto comportamento.
57
111 - AS VERTENTES DO MODELO TE6RICO
Situa-se Osgood numa posição neobehaviorista e, co-
mo tal,revela a aceitação de mecanismos mediacionais capazes
de atuar entre o estímulo e a resposta por ele desencadeada.
Uma análise dos antecedentes do neobehaviorismo pe~
mite evidenciar que o denominador comum dessa faixa teórica -e
o processo associativo, calcado sobre dois princípios alterna-
tivos: o da contigUidade e o do reforço.
O modo como se estabelece o critério que define a
associação configura dois grandes troncos na corrente behavio-
rista: um, de pura contigUidade espaço-temporal, apoiado na re
flexologia de Pavlov (1849 - 1936) e outro,motivacional, em
-que o reforço e definido por seu efeito e se apoia emThorndike
(1874 - 1949).
Na vertente da contigUidade os estímulos se associam
como proximidade espaço-temporal. ~ justamente no condiciona -
mento clássico, de Pavlov, que o behaviorismo de Watson vai
buscar apoio, ao propor como objeto de investig~ção do compor-
tamento os processos de formação e inibição de novas conexões.
Caracteriza as respostas condicionadas como aquelas
aprendidas, constituindo-se em respostas a estímulos neutros
58
que, associados aos específicos, acabam por determinar o apare
cimento das respostas que, por freqUência ou proximidade, a
eles se vinculam.
A possibilidade de associar estímulos inespecíficos
a respostas que se deseja desencadear amplia a importância que
se pode atribuir ao processo de condicionamento, permitindo dis
tinguir entre o condicionamento de primeira ordem, que exige
contigUidade com o estímulo absoluto e o de segunda ordem, em
que um segundo estímulo neutro é associado a outro, igualmente
neutro, mas que já apresenta características de condicionamen
to, tornando-se também capaz de explicitar a resposta específi
ca do estímulo absoluto.
A manutenção desses padrões associativos é garanti
da pela contigUidade; embora a produção das respostas possa
ser atribuída à excitação, sua extinção decorre da ausência do
estímulo reforçador. Ainda sob enfoque reflexológico Watson
reconhece a existência de dois princípios básicos, um do~quais
relativo à possibilidade de generalização da resposta a estím~
los semelhantes ao condicionado e,ainda,o da discriminação ou
capacidade de responder apenas ao estímulo associado a seqUên
cias reforçadoras.
Definidos os mecanismos que asseguram a formação de
novas conexões o condicionamento clássico passa a fundamentar
uma das vertentes das teorias de aprendizagem propostas pela
59
posição comportamentista.
E nesse sentido situa-se a contribuição de Watson
relativa à linguagem. Herdeiro da tradição positivista, ele
modifica a perspectiva wundtiana que atribuia à linguagem urna
função secundária aos processos mentais e inverte essa impor -
tância, convertendo por sua vez o pensamento em urna linguagem
subvocalizada que, corno tal, escapa à observação direta. En
quanto resposta implícita,é comparável a estímulos cenestési -
cos que correspondem a processos intermediários, seqüenciados
a partir de fragmentos de respostas.
Delineia-se nesta abordagem urna tendência mediacio
nal que será posteriormente desenvolvida por Clark Hull (1884 -
1952), ao reconhecer a existência de respostas antecipatórias
fracionárias.
Em relação à linguagem, a contribuição de Watson re
velou-se significativa pelas influências que exerceu sobre
pesquisas subseqüentes, inclusive no âmbito da lingUística,mas
altamente ambíguo e pouco definido em termos de um valor epis
temológico de maior alcance para a construção de urna teoria da
gênese e da natureza da linguagem.
Já antes de Watson, Pavlov tentara estender à lin -
guagem o modelo do condicionamento. Reconhecendo que apenas o
homem apresenta este comportamento, o que o diferencia dos anl
60
mais,torna-se impossível explicar sua aquisição pelo mecanismo
comum das respostas condicionadas, ao qual denomina primeiro
sistema de sinais. Propõe um segundo sistema de sinais, que
se caracteriza por prescindir dos estímulos sensoriais, in-
timamente relacionado com o primeiro sobre o qual se assenta .
Como características específicas deste segundo sistema desta -
cam-se a facilidade com que se estabelece a vinculação, pres -
cindindo de maior contigUidade, e a resistência ã extinção.
No entanto, é justamente esse aspecto que vai ser
alvo da crítica aos modelos associacionistas que explicam a a-
quisição da linguagem; o condicionamento de segunda ordem tem
revelado um enfraquecimento considerável em relação ao de pri-
meiro estágio, perdendo em eficácia; nao seria, portanto, ca-
paz de explicar a aquisição da linguagem uma vez que esta reve
la padrões poderosos e estabilizados. Torna-se difícil admitir
que um reforçamento de segunda ordem possa ser mantido a ponto
de suscitar e de orientar a continuidade da linguagem pela vi-
da toda. A argumentação dos associacionistas é a de que a lin-...
guagem e continuamente reforçada e que o reforçamento se faz
em padrões diários e constantes, tanto que, quando algum vocáb~
lo deixa de ser reforçado pelo uso, ele sai do repertório. No
entanto, experimentos relacionados a nível perceptual,mas nao
diretamente aos signos de linguagem, têm revelado um enfraquecl
mento e uma deterioração muito rápidos, o que de certo modo
contradiz,não apenas o condicionamento de segunda ordem, como
também assenta a crítica às características que Pavlov atribuI
ra ao segundo sistema de sinais.
61
Enquanto a teoria de Pavlov evolui no sentido de en
fatizar os aspectos associativos com base em contigüidade como
no condicionamento clássico surge, a partir de Clark Hull,
uma retomada do conceito, já elaborado por Thorndike, do efei
to como responsável pelo condicionamento. Pode-se dizer que to
do o behaviorismo venha ser, até certo ponto, uma seqUência de
investigações que visam a entender a aprendizagem e,conseqUen
temente,a fixação de hábitos a partir de um desses dois siste
mas: ou associação por contigUidade dos estímulos, ou associa
ção a partir de um efeito definido. Sob este ângulo, C. Hull
elabora e desenvolve a teoria da redução do "drive": o que peI.
mite fazer novas aprendizagens, novos nexos, novas asociações,
é o efeito que se desencadeia a partir da supressão do estímu
10 perturbador, que é percebido como uma necessidade e atua,
portanto, desencadeando um "dri ve", cuj a redução promove a apre~
dizagem, fixando essa nova fórmula de comportamento.
A perspectiva motivacional de Hull vai fundamentar
a posição neobehaviorist~ da qual ele é o mais significativo
expoente; a proposta de determinar a interferência dos fatores
intermediários que operam entre o estímulo e a resposta repre
senta uma profunda modificação no behaviorismo radical. Abre
um espaço para que se possa elevar a um nível constitutivo os
aspectos motivacionais que estão presentes em todas as variá -
veis que Hull atribui ao organismo. Mais do que uma simples co
nexão S-R, a aprendizagem é resultant~ de mfiltiplos determinan
tes: sua base de sustentação é o impulso; envolve um processo
62
de seleção de respostas que inicialmente se dão ao acaso e sao
fixadas desde que permitam reduzir o impulso, constituindo- se
em famílias de hábitos.
A esta perspectiva eminentemente motivacional, Hull
acrescenta o incentivo: cabe ao impulso a função eliciadora da
açao e ao incentivo a função de atuar sobre o hábito, dirigin
do e mantendo a ação. Esboça-se aí uma perspectiva palidamente
cognitiva em que expectativas de recompensas são capazes de a
tuar sobre um comportamento anterior a ele no tempo.
As vicissitudes da teoria da redução do "drive" sao
bastante conhecidas e,até certo ponto,a maioria dos behavioris
tas tem se voltado novamente para uma concepçao mais rigorosa
mente associacionista, chegando mesmo a desacreditar no papel
do "drive" como elemento constitutivo do comportamento humano,
sem lhe negar todavia o valor energizante. Esta é,também,a po
sição de Osgood, como será visto adiante.
o "drive", ainda que nao admitido num plano teórico
com esta denominação e nao considerado como um elemento de
teorização, vai aparecer de modo camuflado na concepção de
Skinner.
Skinner, em seu behaviorismo descritivo,não admiti -
ria discutir constructos ou componentes não observáveis, tal
como o "drive" poderia representar.
63
Todavia, o termo reforço envolve uma grande parte
do sentido atribuído pelos neobehavioristas à concepção do
"drive", uma vez que se vincula aos efeitos da conduta realiza
da mediante um ato operante.
Com Skinner modifica-se, portanto, o valor motiva -
cional presente na teoria do "drive reduction". Metodologica
mente considerado como um empirista radical, trabalha a nível
de organismo vazio ou caixa preta, mantendo-se fiel ã ortodo -
xia pavloviana e ao behaviorismo de Watson. Difere, contudo
em termos da distinção conceitual entre o condicionamento ope
rante e o clássico. Apesar de tentar negar a base epistemológi
ca da posição de Hull, indiretamente a aceita, na medida em
que reconhece como operante o comportamento que leva a um de-
terminado resultado.
o condicionamento operante implica numa organização
ativa do comportamento e se define pela açao que o organismo
realiza, cuja manifestação observável e freqUência é por ele
definida como reforço, abstendo-se, todavia, de explicações re
lativas à produção específica daquele ato. Suspende, portanto,
o julgamento sobre o mecanismo deflagrador do ato, limitando -
se a descrever as modificações da freq~ência como indicadores
daquilo que ele, num termo genérico, chama de reforço diante
de uma situação estimuladora.
Uma crítica epistemológica que poderia ser feita -a
64
posição skinnerianna é a de que isso poderia ser um sofisma
porque ele está analisando resultados e o próprio aumento da
freqUência de resultados implica que algum mecanismo possa es
tar produzindo-os e o fato de não querer considerar a presença
desse mecanismo não é suficiente para eliminá-lo. Qualquer me
canismo biológico tem efeitos que podem ser mensurados com va
riações de freqUências, não havendo razão para se admitir que
não haja um elemento que produza aquele aumento. Todavia poder
se-ia observar que Skinner nao se esquiva totalmente da idéia
de uma redução ou de algum efeito implicado na conduta operan
te, o que de uma certa forma delineia uma perspectiva de signl
ficação da conduta. Embora colocada sobre bases fortuitas a re
petição seria favorecida pelo efeito.
Fica bastante evidente que o condicionamento operan
te se apoia sobre respostas instrumentais e se o organismo, a
través de uma execução motora, consegue efetivamente a solução
buscada estabelecerá a aprendizagem.
Está aqui implícita a importância desse nexo, o que
o aprOXlma às teorias da aprendizagem pela redução das necessi
dades, pelo menos pelas implicações subjacentes a ambas posi
ções, visto que os estímulos nao se encadeiam por uma proximi
dade casual mas em função de certas conseqUências que decorrem
da resposta.
Tratando-se da linguagem, a colocação de Skinner re
vela-se uma extensão do modelo geral da aprendizagem.
65
Mesmo reconhecendo sua característica especificamen
te humana, o comportamento verbal submete-se ao mesmo esquema
e é inteiramente explicável como resultante das contmgências
do estímulo-resposta-reforço. Sua perspectiva é conseqUentemeg
te radical, excluindo todo e qualquer fator não comportamen!al.
Não cabem aí eventos mentalistas como idéias, regras ou signi
ficados.
No' condicionamento operante a resposta verbal, ca
racteristicamente motora, pode surgir sob algumas condiçõ~ prig
cipais: como imitação de um estímulo ouvido e recompensado
reação ecóica - caso seja similar ao original; como reação que
se inicia pela emissão ao acaso mas que é adequada pela satis-
fação de uma necessidade - mando; como reação que se estabe-
lece quando, mesmo arbitrariamente, se vincula um estímulo con
creto ao seu correspondente verbal, gratificando a 'emissão . da
resposta adequada - tato.
Essas características distintivas da condição esp~
cificamente humana da linguagem não alteram significantemente
o modelo de Skinner sob o ponto de vista epistemológico. Re
fletem apenas grupos de palavras que se vinculam ã base do com
portamento a que estão asso~iados, mais especificamente ã sua
utilização como elementos da comunicação interpessoal em que o
grupo social atua, ou como estímulo, ou como reforço.
Mandos e tatos submetem-se, portanto, aos mesmos me
66
canismos generativos de aprendizagem, embora distingam-se como
categorias de diferentes conteúdos de condicionamento operan -
te. Não correspondem a funções psíquicas diferenciadas; sao,
sobretudo, categorias descritivas, tanto quanto, de resto, a
concepção teórica de Skinner.
No desenvolvimento da linguagem prevalecem os prin
cípios da generalização e da discriminação, capazes de expli -
car as sucessivas cadeias de estímulos-respostas-reforços, que
se diferenciam desde as formas mais simples até suas constru
ções mais complexas.
g justamente esse aspecto que vai servir de alvo às
maiores críticas feitas à colocação skinneriana: seu modelo ~
e
singelo e o esquema proposto insuficiente. Suas formulações co
brem apenas as relações objetivas entre estímulos e reaçoes
verbais; no entanto,a significação das formas lingUísticas en
volvidas nas reações verbais não pode ser inteiramente explic~
da pelas contingências sob as quais estas reaçoes ocorrem.
Já para Osgood a preocupaçao principal se volta pa-
ra explicar o que ocorre no sujeito que elabora e articula a
própria linguagem. Ele tenta most~ar como é possível estabele-
cer a associação direta entre as propriedades físicas do mundo
que se oferece como estímulo e a resposta , qualquer que se-
ja o modelo. Mas essa ligação puramente mecânica S-R,entreuma
propriedade física e uma resposta, impediria qualquer tentati-
67
va de justificar modelos que envolvessem a significação ou a
generalizáção.
Para poder justificar a presença de funções signifi
cativas como a da linguagem tornou-se necessário recorrer a
um mecanismo mais elaborado e complexo do que a simples liga
ção do estímulo, propriedade do mundo físico decodificada pelo
sujeito,e a resposta, como atuação do organismo a esse estímu
lo.
Ainda sob a marca do behaviorismo, com Tolman U866-
1959) constitui-se sua vertente cognitiva. Preserva daquele e~
foque o rigor metodológico, caracterizado pela preocupação com
a objetividade e com a efetividade. No entanto, pela primeira
vez a significação é colocada em pauta como um determinante da
conduta, isto ê, ela não ê mais~ um efeito mecânico de associa
ções a partir de elementos recolhidos pela experiência. Há uma
construção de sentido, produto de interpretação que se opera
no agente do comportamento em face de sinais oferecidos pelo
mundo externo.
Tolman introduz o conceito de propositividade como
aspecto central na formação de conexões, deslocando o caráter
associativo, que constituía o mecanismo generativo da aprendi
zagem, para a formação de mapas cognitivos. Estes mapas sao
configurados a partir dos "sign-gestalt", indicadores que diri
gem e governam cada uma das operações subseqUentes da conduta.
68
E a aprendizagem passa a ser definida como a sinalização do
campo, com vistas à formação de pistas que permitam a consec~
ção de metas. E,nesse sentido,a conduta não é mais tão rigid~
mente estereotipada mas define-se como seletiva, ativa, per
sistente e adaptável a mudanças exercidas pelo meio.
Além da característica da propositividade do compo!
tamento, Tolman evidencia uma perspectiva mediacional, atri -
buindo às variáveis independentes um papel de destaque na
elicitação ou direção da conduta; entre estas variáveis Tol-
-man inclui a hereditariedade, que o behaviorismo havia exclui
do de sua área de investigação.
Sua colocação diverge pois de Watson. Skinner ou
mesmo Hull; é,sobretudo quanto ao valor concedido à motivação
que essa distinção se torna mais evidente. Com Tolman ela nao
é prescrita, como havia sido no behaviorismo watsoniano ou
skinneriano.,e também não é constitutiva da conduta, como prop~
sera Hul1.
Tratando-se a aprendizagem latente de modificaç6es
internas, nao observáveis, é por influência das press6es moti
vacionais que a apr€ndizagem vai se explicitar sob forma de
desempenho. Daí poder-se dizer que para Tolman a motivação não
é condição de aprendizagem, mas é um de seus agentes desenca-
deadores.
69
Na medida em que se aproxima de um enfoque gestal -
tista o papel do reforço se torna menos relevante e sobressa
em-se os aspectos perceptivos sobre os quais o organismo pla
neja e constr6i sua açio.
A valoração da significação, representada pelas pi~
tas gestálticas e mapas cognitivos, conduz a uma maior possi
bilidade de interpretaçio da conduta. O condicionamento passa
a se subordinar a um princípio cognitivo, de interpretação da
situação.
Com Tolman evidencia-se radical mudança na trajetó-
ria behaviorista: delineia-se a perspectiva que restitui ao
sujeito a possibilidade de interpretar sua conduta.
I - A Mediaçio do Significado
Como já se pode acentuar,é a partir do momento em
que Osgood reconhece a insuficiência do modelo de estágio ÚTIi
co para tratar, sobretudo, dos aspectos da organização perce~
tual, dos processos simbólicos e das habilidades motoras, que
se configura sua perspectiva mediacional.
Em sua opinião, a proposta tradicional deixara de
explicar esses fenômenos, em virtude da excessiva simplicida
de do esquema que se propusera utilizar.
70
Retornando à tese original de Pavlov de um segundo
sistema de sinais, que representa uma vertente econômica de
associações, numa ordem superior às associações diretas
Osgood desdobra em mais de um estágio o processo de associa -
çao.
Toma, como assento teórico, a perspectiva neurológi
ca de Donald Hebb (1949) que enfatiza, como centrais, dois
conceitos: um,primeiro,de mediação, evidenciando a interferêg
cia de processos intermediários, internos, responsáveis pelas
amplitudes de latências e um,segundo,que se centraliza no es
tudo da motivação inespecífica. Vale lembrar que. à essa épo
ca, havia sido descoberto o sistema reticular ascendente (Ma
goun e Moruzzi - 1949 ), o que viria modificar a importância
que se atribufra aos "drives", especificamente aos de fome
ou de sexo. Des16ca~se, portanto, para o nível de atividade -o-
valor que anteriormente concebera à teori a do "dri ve".
Reforçando, portanto. o conceito de mediador, com -
preendido como estímulo interno" Osgood o define como a reco
dificação neural do estímulo. A decodificação interna se tran~
forma em estímulo mediador. Entre o estímulo inicial e a res
posta motora total há estímulos intermediários que se conver-
tem em cadeias de associações provocando respostas parciais
que se comportam novamente como estímulos internos. Há uma
recodificação da informação.
71
g sobretudo no que toca à linguagem que se torna
mais evidente a insuficiência do estagio único, uma vez que
esta inclui, como aspectos básicos, os fenômenos da integra
ção perceptual de padrões de estímulos auditivos e visuais, a
execução de habilidades complexas de vocalização e, finalmente,
a utilização de processos simbólicos,incluindo-se fatores re-
presentacionais, generalizações de respostas, comportamentos
antecipatórios de meta e ainda o problema da significação.
Propõe, portanto, inicialmente, um modelo ao qual
chama estático, em que se evidencia profunda afinidade com o
en"foque neurológico de Heoo. Na área de projeção os estímulos
físicos são mapeados e isomorficamente conectados a seus cor
relatos neurais, sendo, por sua característica de imutabilida
de, de escasso interesse para o teórico do comportamento.
NíVEL
REPRESENTACIONAl
, NIVEL ---INTEGRATIVO
NIVEl PROJETIVO
EVENTOS NÃO NEURAis
-1-I I
_ /'n--~-Hn~ I
6n---'---·· ra rb rc rn
: -\- t-\- -t -
---+ ~\\\-\ Rab n
I I
Recodificoçãol- DECODIFIC ---.1- CODIFIC ---·1 Rec~dificação Sensorial Motora
Figura 2: Modelo Generalizado do Comportamento
,-
72
Carinhosamente designado como "O monstro", este es-
quema permite melhor explicar a relação do organismo com o
meio, possibilitando,ainda,entender a aprendizagem como o as-
pecto nucle ar dess a re 1 ação.
g importante lembrar que, à luz da teoria da infor-
maçao de Shannon e Weaver (1949),Osgood integra o modelo in
formacional e postula,como função básica da linguagem,a comu-
nicação interpessoal. Esta se faz em dois estágios: a decodi
ficação - processo pelo qual a energia física é interpretada
pe 10 organismo - e o outro - a codificação -, através do qual
as intenções do organismo sao expressas.
Através das informações que o meio proporciona (Sa'
Sb' Sn) os sinais sensoriais produzidos no nível projetivo
(Sa' sb' sn) ativam seus correlatos sensoriais no nível inte
grativo (sa' sb' sn)· Neste segundo nível de organização evi
denciam-se áreas de integração informacional. Tanto no que
toca à decodificação quanto ã codificação, Osgood reconhece a
importância das redundâncias da experiência do organismo. Ne~
se enfoque apela para o condicionamento, sugerindo que a con
tig~idade espaço-temporal seja a responsável pela formação das
conexoes.
Quanto às saídas motoras - e aí se fala de codifica
-çao - as autoestimulações podem se combinar no sistema in-
tegracional sensorial (5 • 5b , s ) para seleção das integra -a n
ções motoras previamente aprendidas Li-a' Tb , Tn )·
73
Nesse nível, portanto, a variável crítica é a redun
dância que,associada à proximidade ou à freqUência,permite re
lacionar estímulos (5-S) ou respostas (R-R) que estiveram a
copladas na experiência de entrada ou saída do organismo, fa
vorecendo a ativação recíproca de seus correlatos centrais.
Num terceiro nível - representacional -,a insufici
ência do modelo S-R de estágio único torna-se ainda mais evi
dente para explicar o problema da generalização semântica. R~
corre,então,ao modelo de dois estágios, em que se modificam
as bases do processo associativo; a contigliidade cede lugar à
similaridade aqui compreendida, não pelas características fr sicas entre os estímulos, mas pela similaridade das
implícitas a estes estímulos.
reaçoes
S principalmente-~em-relação "a "-este-'aspecto que a
cont~ibuição de Osgood se coloca em evidência; a preocupaçao
em explicar como se configuram as cadeias de significação vai
direcionar os trabalhos posteriores emque sebusca, corno diretriz,
as dimensões do significado.
Antes dele as concepções do processo de formação do
sinal haviam destacado como constitutivas as associações en~
tre os estímulos, a identidade das reações caracterizava a
cadeia de significação.
Da simples teoria da substituição, primeiro passo de
uma interpretação behaviorista do processo de sinal, e v olui t.l-S e
74
com Morris .(1938), que incorpora a noçao de tendência como 'uma
forma de relação entre o estímulo e a resposta. Postula que
é um sinal do objeto o estímulo que produz no organismo uma
disposição para executar qualquer das respostas provocadas
pelo próprio objeto. Fica ai evidente a característica repre
sentacional que vai servirde apoio à colocação de Osgood.
A ela,contudo, acrescenta o aspecto mediacional, o
que lhe permite, conforme anteriormente aludido, expandir o
modelo de aquisição de linguagem, de forma a poder incluir
além do signos verbais, o conceito de a - signos que se ligam
aos primeiros através da similaridade de suas signifi cações,
visto que podem estar consideravelmente afastados do contato
direto com os objetos que se supõe representarem.
Embora saliente as características do proc~sso de
medi'ação represen tacional, Osgood deixa em aberto a q ues tão da
natureza básica dos mediadores, que tanto podem ser neurais
como contrações musculares ou secreções glandulares; deixa
claro, no entanto,que têm as propriedades funcionais das rea
ções que produzem os estímulos. Numa primeira etapa a decodi
ficação consiste na associação dos signos aos mediadores re -
presentacionais, supondo uma recepç?o significada da informa
ção através da decodificação;· numa segunda etapa a codifica
ção supoe o vínculo entre a auto-estimulação mediacional e
as respostas instrumentais manifestas através do processo de
-expressa0.
75
A explici tação da característica de representação m~
diacional, em que os estímulos se tornam signos em virtude de
poderem desencadear ~a parte do comportamento total produzi
do em função de sua significação, torna possível integrar, ao
modelo estático, o que Osgood denomina dinâmica motivacional
na aprendizagem da linguagem.
Enquanto que motivação e reforço nao parecem desempenhar pa
pel de destaque nas ligações S_S ou R-R, o mesmo não se dá nas
associações S-R.
Dos desdobramentos sucessivos originam-se campos
associativos que permitem relacionar os estímulos em conjunto
que podem ser evocados a partir de significações congêneres ,
que num momento anterior tiveram um sentido "drive". Contudo,
o aspecto mõtivacional nãô -g~o constitutivo-; como -se pode
observar em Hull. Enquanto. para este último,o que produz a
associação é a própria cessaçao da necessidade, para Osgood
há uma energização dos efeitos, um aumento de força sobre as
hierarquias associativas em função do reforço a partir das ex
periências do passado.
Poder-se-ia dizer que onde há qualquer significação
"drive" o estímulo apresenta uma energização imediata e,por -
tanto,adquire valor de estimulação muito maior do que se nao
for acoplado a indicadores motivacionais. Embora não tenha um
valor primário,é o elemento que torna o estímulo suficiente -
76
mente poderoso para produzir as associações. Neste sentido, a
posição de Osgood é intermediária ã posição de Watson e de
Hull; dentro deste modelo a motivação é um dado que nos diver
sos níveis vai energizar o valor dos estímulos.
77
IV - A INSTRUMENTAÇÃO
1 - As Origens do ITPA
Trabalhando com crianças portadoras de deficiências
sensoriais severas que, em provas de nível mental,eram diag -
nosticadas como "retardadas", Samuel Kirk pode perceber que,
quando submetidas a treinamento específico e intensivo, obti
nham, nao apenas uma acentuada melhora quanto à área prejudi
-cada, como ainda,apresentavam aumento progressivo na area de
desempenho global. Corria o ano de 1949.
Ins trumen tos de di agnós tico da época -Stanford-Binet ,
Escala de Maturidade Social de Vineland. Pintner-Patterson
eram de pouca utilidade. proporcionando apenas medidas inter
individuai-soclassifi-Gat.õrias,.,Embora~válida.· ·es ta -abordagem~~-' ,
xigia avaliações complementares que possibilitassem dimensio -
nar as variações intraindividuais que a prática evidenciava co
mo irregularidades de desempenho. Tornava-se necessário um
instrumento de diagnóstico psicoeducacional que permitisse i
dentificar as várias funções psicológicas subjacentes dos pr~
cessos de pensamento, linguagem e percepção, capazes de asse-
gurar uma aprendizagem global funcional e cujo comprometimen-
to pudesse prejudicar a aprendizagem escolar ou mesmo a apre~
dizagem global adaptativa.
Tal preocupaçao visava a possibilitar uma orienta -
çao psicopedagõgica correta, determinando-se as áreas em que
78
o rendimento da criança indicasse dificuldades, e conseqUent~
mente apontando potencialidades residuais estimuláveis atra -
vés de planos educacionais adequados.
Tentativas foram feitas no intuito de formular esse
constructo hipotético, capaz de permitir uma abordagem siste
mática do comportamento na deficiência mental, o que, de cer
ta forma,reeditava o ideal de Binet quando trabalhava na for
mação de classes especiais.
Nesta época - 1950 - foram desenvolvidos testes pe~
ceptivos e de linguagem, através de técnicas de avaliação da
recepçao e da expressão verbal. A tentativa inicial consistia
em uma método de avaliação da linguagem receptiva em que a
criança era solicitada a apontar objetos e figuras após ins -
truções_-.-Verb ais.' A_habilidade _expressi va_ yocalera dimensi ona
da primariamente através de amostragem de tempo de conversa -
çao.
Segundo o próprio autor, (19681 estes esforços para
desenvolver um teste de diagnóstico clínico não frutificaram,
em parte por não se ter ainda encontrado um modelo teórico 50
bre o qual construir um teste de linguagem compreensiva. Ali
estava no entanto o embrião do ITPA.
Algum tempo depois, Osgood, do "Institute of
Communication of the University of Illinois'~ organiza o curso
79
"Experimental Communication Process" no qual desenvolve o mo
delo geral de comportamento e em 1957 publica "A behavioristic
analysis of perception and language as cogni ti ve phenomena".
Estendendo o modelo geral da comunicação aos proce~
sos psicolingUísticos surgiu o marco teórico que fundamentou
o teste que ora se descreve. Sua operacionalização exigiu,co~
tudo,algumas alterações e a ênfase colocada sobre determina -
das modalidades sensoriais,viso-motoras e audio~onéticas, vi
sou fundamentalmente à possibilidade de utilização no contex
to escolar.
Apresenta, conforme se pode perceber, três dimen
soes básicas, identificadas como canais, níveis e processos.
..J <t z O õ .... <t..J ~<t z~ I&J~ (1)_ 11.111.1 11:0 Q..z 11.10 11:0
..J 11.1 ,~ Z
o ~ ~ .... ~O O~ ~!;;t ~~ <t_
DECODIFICAÇÃO
CONCEITUAL
AUDITIVA
VISUAL ,
HAPTICA ~
ASSOCIAÇAO
AUDITIVO- VOCAL
AUDITIV.O- MOTORA
VISUAL- VOCAL
VISUAL- MOTORA
HÁPTIC,O.- VOCAL
HÁPTICO- MOTORA
AUTOMÁTICA E SEQUENCIAL
CLOSURA
~
CODIFICAÇÃO
CONCEITUAL
VOCAL
MOTORA
80
..J~
~ ~ DECODIFICAÇÃO PERCEPTUA/L z<t I&J~ ~~ aQ.. 11.111.1 (1)0 DISCRIMINAÇÃO
AUDITIVO - VOCAL
VISUAL - MOTORA
HÁPTICA ~ CODIFICAÇÃO IMITATIVA
11: ..JI&J I&JQ.. > .... '-z
-
AUDITIVA
VISUAL
HÁPTICA
AUDITIVA
VISUAL
HÁPTICA
- 0' •
~. ./ MEMÓRIA SEQUENCIAL
AUDITIVO - VOCAL
VISUAL - MOTORA
HÃPTICA
,
IMITAÇÃO
VOCAL
MOTORA
VOCAL
MOTORA
CANAIS SENSORIAIS CANAIS DE RESPOSTAS "INPUT" RETROALlMENTAçÃO "0UTPlJT"
~~ ______________ (_"_FE_E_D_B_AC_K_"_) ____________ ~J
Figura 3.: MODELO DO PROCESSO DE COMUNICAÇÃO
(1) Os canais de comunicação abrangem as modalidades
"input" sensorial auditivo, visual e háptico e os
81
de
meios
de expressão motor e vocal ,"output", utilizados nas tro -
cas informacionais.
(2) Os níveis de organização incluem, tal como no modelo de
Osgood, os dois níveis acima do sensório ou seja respect!
camente o de integração e o de representação. O de inte -
gração abrange as modalidades perceptivas de discrimina
ção, closura, memória seqUencial e imitação (utilizando
respos tas vocais e motoras). Nes te nível a organização dos
processos é perceptual e mnemônica; já no terceiro nível
coloca-se a dimensão conceitual e a ênfase é sobre os as
pectos semânticos. Enquanto a integração reúne processos
mais automáticos, o representacional envolve o simbólico
e opera com conceitos.
(3) Os processos psicoling~ísticos incluem a decodificação, a
codificação e, entre eles, um processo intermediário que
é a associação. Na figura são apresentadas seis associa -
ções intra e inter modalidades.
Em 1955. Dorothy Sievers, adotando o referencial de
Osgood/elabora um instrumento de diagnóstico "A language
facility test", cuja válidade é testada por MacCarthy (1957)
que afirma a utilidade do modelo geral mas reconhece que os
tes tes e lab orados s·ão multi dimens ionais e a cont aminação com
82
outros fatores impede a avaliação independente de cada habili
dade.
Kirk adapta então o modelo de Osgood in troduzindo
algumas modificações básicas: (1) tenta isolar .. habi lidades es
pecíficas, não contaminadas por outros canais, assimilando a
crítica proposta por McCarthy; (2) inclui outras funções como
memória seqUencial, avaliadas nos canais auditivo e visual cu
ja experiência clínica sugeria ser de importância com rela
ção às exigências escolares.
Segundo o próprio autor, ele sentia que a combinação
de um modelo teórico com a evidência empírica poderia produ -
zir um modelo clínico a partir do qual os testes seriam elabo
rados.
Surge a Edição Experimental, publicada em 1961 por
Mc Carthy e Kirk; nela são dimensionados nove fatores especí
ficos, eliminando-se a modalidade sensorial háptica e as fun
çoes de discriminação. Permanecem portanto no modelo de aferi
çao:
1) as modalidades sensoriais de "input" da audição e da visão;
2) os processos de decodificação auditiva e visual no
representacional;
nível
3) os processos de associação audi ti vo-vocal e viso-motora no
nível representacional;
83
4) os processos de codificação vocal e motora no nível repre-
sentacional;
5) a função auditivo-vocal automitica no nível automitico-se-
" . 1 quencla ;
6) as funções seqUenciais-memõria imediata, auditivo-vocais e
úso-rnotoras-no nível automitico seqUencial.
Em 1965, Kirk e McCarthy iniciam a revisão da Edi -
çao Experimental, visando ã inclusão de outras habilidades
cuja importância a pritica clínica havia evidenciado.
Em 1968 surge a Edição Revisada, com dez' subtestes
bisicos e dois suplementares.
Sua estrutura bisica mantem-se fiel, preservando- se
portanto os aspectos a seguir descri tos:
1) os canais de entrada e sarda, por serem os de maior relevân
cia na espécie humana, não apenas no que toca às aprendiz~
gens especÍficas,como também no que se refere às formas a-
daptativas em geral;
2) os processos, qualificados corno as unidades bisicas do mo-
delo informacional: receptor, mediador e transmissor. Como
processos psicolingUísticos avaliam-se as funções que ocor
rem na aquisição e uso da linguagem: a recepção,que é a
habilidade para r~conhecer ou compreender o que é visto ou
ouvido; a organização,que envolve as relações entre perceE
84
tos, símbolos e conceitos lingUísticos e,finalmente,a ex -
pressão,que é a habilidade para transmitir idéias utilizan
do-se das sardas verbal e gestUal;.
3) o nível representacional, avaliado pelos comportamentos que
requerem a utilização de símbolos que conduzem ao sentido
de um o b j e to.
As inclusões feitas à Edição Experimental produzi
ram modificações no nível automático, que passa a abranger:
1) a função da c1osura, dimensionada sob modalidade viso-motora
(Closura Visual);
2) os subtestes de Closura Auditiva e Combinação de Sons, su
plementando a informação produz~da pela função auditivo-vo
cal automática.
Alguns termos foram modificados para, segundo os
autores, "permitir aproximação mais usual às varias funções e
xaminadas" !
1) o termo "decodificação" foi substituído pelo termo "recep
ção"; "de codifi cação audi tiva" por "recepção audi ti va"; "de
codificação visual" por "recepção visual";
2) o termo "associação" foi substituído por "processo organi
zador", aplicado apenas ao processo organizador ao nível
da representação;
85
3) os te rmos "capacidade vis ual de seq\ienciar" e "capaci dade
auditiva de seqUenciar" foram substituídos por "memória se
qUencial visual" e "memória seq\.iencial auditiva";
4) o termo "nível automático seqUencial" foi substituído por
"nível automático". *
2 - O Atual Modelo de Aferição
Embora mantida a estrutura básica do ITPA, as modi-
ficações introduzidas permitem configurar,na Edição Revisada,
o di agrama a seguir descri to. Pode-se perceber a especificidade
das variáveis e também como se articulam os constructos postu
lados. À luz deste diagrama serao apresentados os subtestes e
suas definições operacionais.
* Kirk, S. A., Mc Carthy, J.J., Kirk, W. Examiner's Manual: Urb ana 111.: Uni versi ty of Illinois Press, 1968.
PROCESSO RECEPTIVO
TACIONAl
ESTíMULOS AUDITIVOS
, ESTIMUlOS
VISUAIS
PROCESSO ORGANIZACIONAL
PROCESSO
EXPRESSIVO
RESPOSTA VOCAL
86
RESPOSTA MOTORA
Figura 4: Modelo do Teste lllinois de Habilidades Psicolinguísticas I.T.P.A.
87
Os autores afirmam que, da independência entre as
dimensões básicas, resultam cinco funções psicolingUísticas
que operam sobre as modalidades audi ti vo-vocal e viso- motora,
constituindo,portanto,dez habilidades específicas .
. No Nível Representacional
a) O processo receptivo é dimensionado por dois sub-
testes que medem a habilidade para reconhecer e compreender
símbolos ou signos apresentados nos canais auditivo e visual.
- Recepção Auditiva (Subteste 1) - g um subtes te
que avalia a compreensão do vocabulário oral. Consta de 50
sentenças interrogativas, de sintaxe simples, que exigem o
conhecimento de palavras do vocabulário infantil. Supõe a ha
bilidadepara manejar relações --de significado~·-
Exemplos de itens:
1) Os cachorros comem?
3) As árvores voam?
- Recepção Visual (Subteste 2) - Avalia a habilida~
de para extrair significados a partir de símbolos de natureza
visual.
88
Embora seja uma capacidade complexa, multidimensio
nal, sujeita a variações e combinações de cor, forma, intensi
dade e número de elementos, o termo "recepção visual" está li
mitado à interpretação do significado de estímulos pictóri
cos' apresentados em preto-e-branco.
Este subteste compreende 40 itens, cada qual consis
tindo de uma figura-estímulo em uma página e quatro figuras
resposta como alternativas em outra página,sendo que uma de
las é mais similar, conceitualmente, à figura-estímulo aprese~
tada. As alternativas envolvem gravuras de objetos que variam
estrutural, mais do que funcionalmente, em relação à figura
estímulo.
A dificuldade dos itens se torna progressi vamente
crescente quando são incluídas alternativas semelhantes, quan
to ao aspecto formal, à figura-estímulo, mas não seme lhantes
conceitualmente entre si, exigindo como alternativa correta a
opção que é funcionalmente semelhante, mas formalmente dife -
rente da figura-estímulo.
Os dois subtestes acima descritos estão localizados
nos pontos de interseção do nível representacional e do pro -
cesso receptivo,utilizando as modalidades auditiva e visual.
b) O processo organizacional ou associativo é dime~
sionado pela habilidade para relacionar, organizar e manipu -
lar símbolos auditivos e visuais.
89
- Associação Auditiva (Subteste 4) - Avalia a habi
lidade para relacionar conceitos apresentados oralmente atra
vés de analogias verbais.
Compreende 42 analogias. em que o primeiro par de
elementos está associado mediante uma relação que deverá ser
apreendida para ser utilizada no segundo par, em que está pre
sente apenas o primeiro elemento.
Na tentativa de preservar a unidimensionalidade do
subteste, cada item é elaborado de tal modo que as exigências
dos outros processos são mantidas a um nível mínimo e o aumen
to da dificuldade dos itens se relaciona mais à complexidade
das relações apresentadas do que ã própria dificuldade de vo
cabulário. Ex.: "O cubo é quadrado; a esfera é (redonda)" a
present-aa mesma -relação--que "o dado- é--quadrado;---a bola--é {r~
doncÍa)"; contudo, a primeira analogia pode apresentar maior
dificuldade pela complexidade do vocabulário utilizado.
O conteGdo dos itens focaliza quatro aspectos prip-
cipais:
1) opostos, nos quais o termo final do primeiro par se opoe,
pelo sentido, à palavra que deverá ser suscitada (ex."O p~
pai é grande; o bebê é .............. );
2) função ou açao semelhante, na qual a função ou açao de um
objeto permite completar a função ou ação de outro objeto
90
(ex: "Um gatinho faz miau; um cachorrinho faz ......... ):
3) relações análogas, nas quais um objeto ou uma de suas par
tes é especificada no primeiro par e deverá ser reproduzi
da no segundo (ex: "Um metro tem centímetros; um minuto tem
. . . . . . . . . . . . . . ) ;
4) objetos associados, nos quais um objeto ou função associa
do a outro objeto ou função é explicitado no primeiro par,
permitindo, por similaridade, completar a analogia implíc~
ta no segundo (ex: "Eu como no prato; eu bebo no ....... ).
- Associação Visual (Sub teste 6) - O processo asso
ciativo nesse canal é avaliado através da habilidade para li
dar com analogias visuais. Descreve a capacidade para relaci~
nar es-tímulos visualmente Jecebidos __ atrawS-.-da.-compreensão _de- -
seu significado.
Tanto quanto o subteste precedente, procura tornar
mínimas as exigências dos processos receptivo e expressivo ,
enfatizando desta vez o canal visual, dentro do processo asso
ciativo.
Abrange dois grupos semelhantes de tarefas, um dos
quais, preliminar, compreende vinte itens, sendo o outro, de
complexidade maior. composto por vinte e duas analogias vi
suais.
91
No primeiro grupo aparecem um estímulo no centro
da página e quatro alternativas ao seu redor, entre as quais
deverá ser selecionada a que melhor se relaciona à figura-e~
tímulo através de uma relação determinada de significado.
No segundo grupo (comparável ao de analogias ver-
bais no teste anterior) há figuras de dois objetos que mantém
entre si determinada relação, a qual deverá ser reproduzida
entre a figura estímulo central e a alternativa correta que
mantém constante a relação já apreendida.
A tentativa de reduzir os efeitos dos fatores rece~
tivos se verifica através do emprego de figuras simples. que
exigem um nível de identificação bastante inferior ao da di
ficuldade de associação requerida.
Tanto quanto no subteste anterior, as analogias ap~
Iam para vários tipos de re lações (funcionais. todo-parte. si
milaridade. ação. etc ... ).
Os subtestes acima descritos estão localizados nos
pontos de interseção do nível representacional e do processo
associativo. recorrendo às modalidades auditiva e ~isual.
c) O processo expressivo. no nível represen taci onal ..
é avaliado pela habilidade para utilizar símbolos verbais ou
manuais na comunicação.
92
- Expressão Verbal (Subteste 8) - g a habilidade p~
ra expressar idéias através de conceitos verbais apresentados
oralmente. Esta função é avaliada por meio de respostas a
quatro questões - que fazem parte das experiências quotidia
nas infantis -.apresentadas na seqUência; bola - botão - env~
lope - cubo e escolhidas por suas características de simplici
dade, familiaridade e conveniência.
A expressa0 verbal é avaliada pela quantidade dos
conceitos emitidos segundo um sistema de classificação elabo
rado pelos autores. g composto de dez dimensões básicas a sa
ber:
- Classe ou denominação
Cor
Forma
- Composição
- Função
- Partes Principais
- Quantificação
- Outras Características
- Comparação
Pessoa. lugar ou coisa
Tem como finalidade favorecer a objetividade da av~
liação. permitindo expressar,nao apenas a quantidade de res -
postas emitidas,como ainda a diversificação das expressões.As
sim o aspecto quantitativo revela o número de conceitos rele-
93
vantes e aproximadamente factuais utilizados para descrever
objetos comuns e a diversificação expressa o número de categ~
rias utilizadas para descrevê-los.
Esse sistema, embora não considere o refinamento ou
a elegância gramatical, torna a avaliação mais objetiva, per
mitindo,não apenas atingir a habilidade para produzir idéias,
como também para expressá-las por meio de comportamentos ver-
bais.
- Expressão Manual (Subteste 10) - Avalia a habili-
dade para exprimir uma idéia através de gestos, utilizavdo a
pantomima como forma de expressão motora.
Permite,portanto,expressar conceitos por meio de
ges tos-e . açoes mot-oF-ascorrespondentes -.e-representa uma fun
ção mais ampla que envolve a expressa0 corporal e/ou facial
para transmitir idéias.
Na elaboração deste subteste, foram descartados ou-
tros segmentos da expressão motora, tais como dramatização de
est6rias, pantomimas de atividades ou mímica de conversaçoes,
por terem demonstrado -falta de objetividade na correçao, ou
ainda contaminação com outras funções. Limita-se a habilidade
aqui avaliada a tarefas puramente gestuais, restritas à mani
pulação de estímulos específicos e padronizados, apresentados
através da representação pict6rica de objetos de uso comum e
do domínimo infantil.
94
A representação do estímulo é complementada no ca -
nal auditivo por meio de instrução oral: "Mostre-me o que vo-
cê faz com ........... "
o subteste é composto por quinze ítens, cuja difi -
culdade crescente é determinada, não apenas pelo grau de fami
liaridade com os objetos, ·como ainda pela complexidade das
ações envolvidas na comunicação.
Para cada objeto apresentado há, na folha de regis-
-tro, comportamentos motores esperados, cuja presença ou ausen-
cia permitem obter um índice quantitativo revelador da habili
dade em questão.
Esses subtestes estão alocados nos pontos de inter
seçao do nível representacional e do processo expressivo op~
rand~. respectivamente, nos canais verbal e motor .
. No Nível Automático
Neste nível nao existe nenhum subteste ligado espe-
cificamente ao processo receptivo e ao expressivo.
Os subtestes sao basicamente de nível global, os
quais medem a habilidade para desempenhar tarefas automáti -
cas, não simbólicas. Dois aspectos são mensurados, um dos
quais é relativo ã closura e o outro ã memória seqUencial.
9S
Ambos se referem aos processos associativos e sao testados,
respectivamente,nos canais auditivo-verbal e visual.
a) Quanto ã closura: Os substestes verificam a habi
lidade para (1 9 ) encontrar as partes ausentes de uma figura
incompleta ou de uma expressão verbal e (2 9 ) integrar unida
des independentes num todo.
- Closura Visual CSubteste 7)- Avalia a capacidade
para identificar um estímulo comum a partir de uma apresen
tação visual incompleta.
Refere-se portanto ã habilidade para perceber estí
mulos visuais apresentados de forma incompleta ao fazer uso
das experiências prévias com estímulos visuais. Para o prop~
sito presente, "closura visual" é definida como a capacidade
para reconhecer o todo através de suas partes.
O subteste se compoe de quatro cenas, apresentadas
separadamente, cada qual contendo quatorze ou quinze obje
tos, conceitualmente semelhantes e representados pictorica -
mente. g primariamente uma prova de rapidez perceptiva, uma
vez que é aplicado dentro de um tempo limite ~specificado.
A forma atual representa a depuração de várias ten
tativas, tais como reconhecimento de figuras fora-de-foco
completamento de figuras de animais e objetos comuns, nos
96
quais há partes ausentes, síntese de partes dentro de um con
junto, etc.
A tarefa exige intervenção de processos receptivos
e expressivos (a um mínimo) e consiste em identificar estímu
los incompletos que a criança deverá apontar segregando-os
do contexto.
Na fase inicial de elaboração deste sub teste foram
criadas figuras de cenas, com um formato quadrado, nas quais
os objetos escondidos se encontravam distribuídos randomica
mente. A análise dos resultados em crianças testadas revelou
que elas obedeciam a um padrão circular. para a esquerda ou
para a direta. e concluiu-se que. usando uma faixa estreita
de papel, as respostas assinaladas se distribu[am mais regu
larmente.
- Closura Gramatical (Sub teste 9) - Avalia a habili
dade para fazer uso das redundâncias da linguagem oral na a
quisição de hábitos automáticos de sintaxe e inflexões gram~
ticais.
Consta de 33 i tens apresentados sob modalidade audi
tiva recorrendo,contudoJa gravuras às quais se referem as
questões propostas.
Dimensiona o conhecimento de aspectos morfológicos,
97
tais como flexões de genero, número, grau, formas verbais de
modo, tempo, pessoa e voz e ainda aspectos sintáticos da uti
lização de conectivos, pronomes etc.
- Closura Auditiva (Subteste 11) - Avalia a habili
dade para completar partes ausentes captadas através de a
presentação auditiva e formar uma palavra completa.
Consta de 30 questões, palavras do vocabulário in
fantil, às quais faltam fonemas ou síladas. Estas omissões são
iniciais, no meio ou no final das palavras, produzindo difi
culdades diferentes.
A tarefa consiste pois em identificar a palavra
completa, mesmo a partir da apresentação com partes omitidas.
- Combinação de Sons CSubteste 12) - Permite avali
ar a integração dos processos associativos que ocorrem, apa!
tir de estímulos considerados isoladamente, numa unidade de
tempo determinada.
Consta de três seçoes distintas: A seçao A, com se
te itens iniciais,utiliza palavras com significado,apresent~
das em fonemas ou sílabas separadas, recorrendo,contudo,a fi
guras que representam as palavras em questão; a seção ~ con~
ta de 17 palavras, também com significado,mas apresentadas
sem o recurso das figuras; e finalmente a seção C, com oito
98
estímulos sem significado, apresentados também sob forma de
fonemas.
Consiste pois na habilidade para integrar partes
isoladas em unidades completas dotadas ou não de significação.
Estes quatro subtestes sao representados pelos
pontos de interseção do nível automático e do processo asso
ciaciativo, envolvendo o canal visual lo primeiro) e o canal
auditivo (os três outros).
Há a considerar que as variáveis Closura Auditiva
e Combinação de Sons foram incluídas na última versão sem,
contudo,modificar a estrutura do modelo. São subtestes supl~
mentares e avaliam subdomínios da Closura Auditiva, que pas
sa então a ser a única habilidade avaliada por mais de uma
va;iável.
bl Quanto ã função de Memória SeqUencial: Compõe
se de dois subtestes destinados a avaliar a habilidade para re
produzir seqUências de estímulos auditivos ou visuais.
- Memória SeqUencial Auditiva LSubteste 5} - Ana
lisa a habilidade para reproduzir, de memória, seqUências de
dígitos progressivamente maiores.
Envolve a habilidade para reproduzir. de memória,
imediatamente após a apresentação, seqUências de estímulos re
99
cebidos via auditiva. Por motivos praticos este subteste
limita-se a utilizar parâmetros curtos, entre os quais a me
mória de dígitos possui algumas vantagens (por exemplo, a ar . -
ticulação imperfeita de crianças muito jovens poderia preju-
dicar a objetividade e a precisão na repetição de
sem sentido).
sílabas
Nesta habilidade sao possíveis diversas variações ,
tanto nos estímulos - palavras, dígitos ou sons - quanto em
extensão, complexidade, ausência de sentido e intervalos de
tempo de apresentação. O nível de dificuldade pode ser mani
pulado pela simples variação na extensão da seqUência.
Experimentações efetuadas por McCarthy e Olsen(1964)
permitem demonstrar que existe uma correlação acentuada en
tre os resultados obtidos quando são usadas palavras ou dí -
gitos.
Consta de vinte e oito seq~ências, que variam em
extensão de dois a oito dígitos, e são apresentadas ã razao
de dois por segundo.
Pode ser notado que o intervalo de tempo usado na
apresentação mantém, com o nível de dificuldade, uma relação
direta: quanto menor o intervalo menor a dificuldade e a
escolha de meio segundo por dígito emitido permite estender
sua utilização a crianças de faixas etárias mais altas.
100
Na seleção das seqUências apresentadas alguns fat~
res podem ser considerados: 1) os virios dígitos ocorrem com
a mesma freqüência e estão igualmente distribuídos por todo
o subteste; 2) dígitos consecutivos não são encontrados em
posições adjacentes, nem em ordem crescente ou decrescente;
3) o mesmo elemento não ocorre em sucessão imediata, exceto
em itens de transição usados por amostragem de itens na a-
plicação do subteste.
- Memória SeqUencial Visual (Subteste 3) - Avalia
a habilidade para reproduzir, de memória, seqUências de fig~
ras desprovidas de significado.
Por motivos priticos, "memória visual" aqui se res-
tringe à imediata, e assim como a memória auditiv.a,-8. varia-
bilidade potencial dos estímulos é virtualmente ilimitada.
Ao considerar estímulos visuais, entretanto, certos
fatores adicionais devem ser analisados:
1) a apresentação das unidades das seqüências pode
ser temporal, espacial ou ambas, isto é, as unidades podem
ser apresentadas simultaneamente ou uma unidade pode ser a
presentada e removida antes da apresentação da seguinte;
2) o arranjo dos estímulos no espaço pode variar no
sentido horizontal ou vertical; contudo, a linguagem escrita,
BfI3:_IOTcCA
fUNDACAO G':' TÚLJu VARGAa
101
no processo educacional, utiliza predominantemente o eixo ho
rizontal em apresentações simultâneas e cursivas. Por este
motivo julgou-se apropriada, na escolha dos estímulos, a
utilização de peças com representações pictóricas, abstra -
tas, cuja tarefa vai exigir a utilização do eixo horizontal;
esta escolha permite seu emprego também em crianças na fase
pré-escolar e o aumento progressivo de elementos possibilita
estender sua dificuldades até o nível desejado.
o uso de figuras abstratas e criadas especialmente
para o subteste permite o controle da tendência para rotular
os elementos, a partir de possível grau de familiaridade com
os mesmos.
o subteste Memória Seq~encial Visual utiliza 17 pe
ças e compreende 25 seqUências de elementos discretos e sem .
significado, variando em extensão de 2 a 8 figuras.
A seqUência é exibida durante 5 segundos e, depois,
retirada do alcance da visão; a tarefa consiste em reprodu -
zí-la imediatamente. na ausência do modelo.
Estes subtestes sao representados pelos pontos de
interseção do nível automático e do processo associativo, 0-
perando,respectivamente,nos canais auditivo e visual.
102
v - AS INVESTIGAÇOES COM O ITPA: PRINCIPAIS DIRETRIZES
1 - Estudos no Exterior
O ITPA tem toda uma tradição psicopedagógica e sua
origem está ligada ã necessidade de avaliação das funções que
são subjacentes às atividades da comunicação, fundamentaisno
desenvolvimento psicossocial dos indivíduos.
Foi também por essa via histórica que os primeiros
estudos foram feitos, visando provavelmente atender à neces-
sidade que criara tal instrumento.
Desenvolvido ã luz de uma abordagem psicométrica
clássica, o ITPA ampliou seus próprios objetivos de modo
po?sibilitaruma avaliação intraindividual complementar
a
-a
interindividual para,posteriormente;envolver uma 'proposta
preventiva ou de diagnóstico precoce e, finalmente, direcio
nar a prática pedagógica para o atendimento das dificuldades
levantadas pelo mesmo instrumento.
A extensa literatura sobre as duas versoes da Bate-
ria ITPA (Edição Experimental, 1961,e Edição Revisada, 1968)
demonstra o interesse que vem despertando nos profissionais
que se dedicam à avaliação, diagnóstico ou atendimento de
crianças com dificuldades ligadas à aquisição ou desenvolvi-
mento da linguagem. Acrescentem-se ainda as adaptações para
103
outras línguas e culturas - Dinamarca, Espanha, Romênia, Ja-
pao, além da adaptação à língua portuguesa, aqui em estudo
e na qual baseou-se uma primeira versao feitanaArgentina
e a sua utilização nos países de língua inglesa como Ingla -
terra, Irlanda, Austrália, Nova Zelândia.
o levantamento de aproximadamente 700 títulos per-
mitiu evidenciar duas diretrizes principais de investigação
ligadas, ou ao referencial teórico abrangendo,portanto,a va
lidade do modelo e outras características psicométricas, ou
à uma diretriz subseqUente orientada,principalmente,para o
treinamento das habilidades avaliadas pelo instrumento medi
ante programas especiais.
Entretanto, para os objetivos aqui em estudo -serao
discutidos alguns resultados referentes especialmente à vali
dade, em suas diferentes conotações.
A partir do objetivo definido pelos autores - diag-
nóstico-educacional - a revisão da literatura permite enfati
zar alguns aspectos relevantes em que se busca,basicamente,v~
rificar estas duas propostas.
1.1 - A proposta diagnóstica do ITPA
Desde sua publicação (1961) o corpo de investiga
çoes centralizou-se inicialmente sobre incapacidades e pre -
104
juízos no desempenho escolar, incluindo-se sua identificação
precoce, sobretudo no domínio da leitura, desordens da fala,
retardo mental, comprometimentos orgânicos, deficiências fí
sicas -em especial na área auditiva e visual - e ainda dife -
renças de desempenho em subgrupos culturalmente diversifica
dos. Como se pode perceber, a preocupação nuclear é a de in
vestigar a sensibilidade do instrumento na diferenciação dos
grupos em estudo para, à luz dos resultados, analisar os pr~
cessos que os determinam e, finalmente, conhecendo sua natu
reza, tentar atuar sobre eles.
E nesse sentido, o ITPA é utilizado,tanto em sua
forma integral - como medida global dos processos da comuni
caça0, como nos seus subtestes parciais - expressivos de
habilidades específicas que constituem tais processos.
No desempenho escolar
Vários estudos vêm sendo desenvolvidos com o ITPA
nas dificuldades escolares. Kass (1966) encontra relação en
tre as dificuldades no aprendizado da leitura e o desempenho
nos subtestes do nível automático, incluindo a percepção,cl~
sura e memória visual. g interessante observar-se que gS de
ficiências básicas apontadas pelo ITPA se referem às funções
do nível de integração, quando comparadas às suas habilida -
des do nível conceitual; nessa pesquisa os disléxicos apre -
sentaram como desempenho superior a habilidade para interpr~
105
tar cenas, o que sugere o recurso compensatório do manej o das
relações figurais, como pistas visuais auxiliares, em face
de suas dificuldades. Ragland (1964), Mc Lead (1965), Macio
ne (1969), segundo Kirk & Kirk (1972), confirmam os achados
de Kass.
Day & Wedell (1972) utilizam os subtestes de Memó -
ria Auditiva e Visual e associando-os ao teste de Reprodução
de Estruturas Rítmicas, de Stambak, não encontram diferenças
significativas nos resultados de ortografia em escolares in-
gleses, embora predominem determinados tipos de erros.
O' Grady 09J4) utiliza o ITPA em três grupos dis -
tintos: dificuldades de aprendizagem, distfirbios emocionais
e classes regulares, avaliando-se, contudo, o efeito do ..
nl-
vel mental e da classe social. Como um todo, os dois primei-
ros grupos não diferem entre si; contudo, seus resultados são
rebaixados quando comparados com os das classes regulares.As
habilidades totais se relacionam ao nível mental mas não a
classe social; esta parece determinar desempenhos superiores
nos subtestes auditivo-vocais enquanto que crianças com des-
vantagens culturais apresentam melhores resultados nos sub -
testes viso-motores.
Luick et alo (J9-82) confirmam as conclusões de O'
Grady, afirmando que a inferioridade no canal auditivo-vocal
€ acentuada pelos subtestes de Associação Auditiva e Closura
106
Gramatical. Tal fato 'sugere que os "deficits" de linguagem
oral possam estar referidos a um processo organizador cen-
traI. Também Stanley et aI. (1982) acentuam a relação do sub
teste de Associação Auditiva, além do Visual, num grupo de
crianças disléxicas.
Lesiak (1977) utiliza o ITPA juntamente com ou-
tros testes e reconhece, através da análise da regressão, a
supremacia do teste Gates-Mac Ginitie sobre a ITPA na predi
ção do sucesso na leitura em classes de alfabetização.
Um trabalho de relevo que não pode deixar de ser
mencionado é o de Newcomer & Hammi11 [1975) avaliando o ITPA
no desempenho acadêmico. Apresenta uma revisão crítica de
cinquenta estudos envolvendo validade concorrente, preditiva
e diagnóstica, sob a premissa básica de que as relações empi.
riéas entre os subtestes e as variáveis acadêmicas podem ser
demonstradas. Newcomer & Hammi11 levantam as características
que diferenciam tais traba1nos. como idade, natureza da amos
tra, controle do nível mental e testes de desempenho em 1ei-
tura. ortografia e matemática.
Sobre vali dade . concorrente ci tam vinte e quatro
estudos nos quais apenas seis controlar.am parcial ou total -
mente a influência do nível mental, avaliando crianças entre
5 e 14 anos, normais ou compromet idas. (J)
CJ)Poram ordenados os coeficientes de correlação e levantados os coeficientes medianos, considerando-se como relevantes os que apresenta -ram um r ~ O ,35 .
107
Citam-se: Barmatyne & Wichiarajote (1969) ,Bruininks *
(1969), Dillon (1966), E1kins (1973), Go1den & Steinst (1969),
Goodstein, Whitney & Cawley (1970), Guest (1971), Guthrie &
Go1dberg*' (1972), Hammill,Larsen, Parker, Bagley & Stanford*
(1974), Hammill, Parker & Newcomer* (1975), Haring and
Ridgeway (1967), Ikeda* (1917), Kiniry (1972), Mc Carthy and
Olson (1964), Mueller (1965), Rosenfield (1971) Sabatino &
Hayden (1970), Serwer & Badian (ND) , Sowe11 & Larsen (1974),
Sumner* (1966), Warden (1967), Washington & Teska (1970)
Wright (1969), e Zbinden (1970).
Mostraram-se relevanms em relação aos testes de le~
tura as variáveis Associação Auditiva (AA), Closura Gramati
cal (CG) , Combinação de Sons (CS) e o Escore Global; em re1a
ção aos testes de ortografia apenas a variável CG e com re
lação aos testes de aritmética as variáveis CG, AA e o Esco
re Global. Controlando-se o efeito do nível mental (os seis
estudos assinalados com asterisco) os coeficientes de valida
de decrescem, persistindo acima do valor limite apenas o sub
teste de Closura Gramatical, sugerindo que possa haver uma
dependência entre aquelas variáveis e a capacidade mental.
Em relação à validade preditiva, quatro estudos lon
gitudinais avaliaram sua eficácia, utilizando-se de outros
testes com um intervalo mínimo de nove meses entre as aplic~
ções. Não foi controlado o efeito do nível mental nem o dos
programas instrucionais. Egeland, Dinello & Carr (1970)
108
Hirshoren (1969), Mu~ller (1969) e Westinghouse Learning
Corporation (1969) apresentaram consensualmente apenas a va
riável AA como preditora eficaz de leitura. Quanto à ortogr~
fia e aritmética os resultados sao inconclusivos porque reve
laram-se contraditórios.
Quanto à validade diagnóstica do desempenho escolar,
vinte e dois estudos investigaram grupos divergentes no de
sempenho da leitura, sendo que dez controlaram o efeito do
nível mental.
Citam-se:
Bartin * (J97l), Bruininks et alo (1970), Bruininks
et alo (1971). Deese (1971), Elkins (1973), Elkins * (1973),
Es tes (1970), Go lden & Steiner* (1969), Goodstein et a1*(1970) ,
Graubard (1965), Hammill et aL * ()974) , Hammill et aI :(1975) ,
Hepburn * (1968), Hyatt (1968), Ikeda (1971), Kass (1966)
Kior (1963), Larsen et alo (1974), Macione (1969), Merlin*
(1971). Ragland (1964), Ruhly* (1971) ,Sears (1969), Sumner*
(1966) .
!al como nos estüdos anteriores, apenas as varIa
veis CS. CG e AA mostram-se discriminantes em leitura; entr~
tanto, controlando-se o nível mental os valores se tornam ir
relevantes.
109
Em função d'estes achados, Newcomer e Hammill (1975)
consideram o ITPA de limitado valor, desaconselhando o seu
uso corno instrumento de diagnóstico da leitura.
Embora este seja um trabalho de paciente investiga
çao, a crítica que a ele se pode fazer é a de ter utilizado
estudos que consideram cada variável independentemente, re
correndo a técnicas estatísticas que podem mascarar uma cor
reta interpretação dos resultados. O coeficiente de correla
ção mediano tem pouco valor informacional,especia1mente se
se considerar que, sob a premissa da singularidade de cada
variável, elas podem estar avaliando aspectos independentes
entre si, no que toca às medidas acadêmicas, e que estas são
medidas compósitas, em que cada variável pode, de "per si", a
presentar sua contribuição, embora pequena. Tal constatação
sugere que sejam utilizadas técnicas alternativas multivaria
das ou predições múltiplas que permitam incluir, numa avali~
çao conjunta, a contribuição relativa de cada variável.
Contrapondo-se a esse trabalho e apoiando a crítica
metodológica apresentada, Elkins & Sultinann (1981) utilizam
o ITPA em grupos de desempenho contrastante, empregando a
técnica da função "discriminante. Compõem diferentes conglom~
rados, conforme alguns dos constructos postulados, e encon -
tram resultados que atestam a sensibilidade discriminante do
IrPA na determinação do desempenho escolar. Pela importância
destes achados o estudo será objeto de análise mais detalha
da na réplica que será feita sob esta diretriz.
no
Cabe ainda assinalar, como dado complementar, a im
portância de identificação precoce das dificuldades de apre~
dizagem.
Sendo esta a vertente principal que orientou a cons
trução do ITPA, é de fundamental importância avaliar-se sua
condição de instrumento de diagnóstico precoce, não apenas
no que toca às faixas etárias mais elementares avaliadas pe
lo teste, como ainda no que diz respeito a detectar-se qual
quer dificuldade, tão logo apareça.
Haring e Rigdway ()967) pesquisam pré-escolares com
deficiências potenciais avaliando suas habilidades de perce~
ção visual, coordenação viso-motora, discriminação auditiva,
atenção visual e auditiva, lateralidade, coordenação muscu -
lar grossa e linguagem. Através da observação preliminar do
professor, crianças de "alto risco" são testadas e os resul
tados permitem concluir que há poucos padrões comuns identi
ficáveis quando avaliadas como grupo; desempenho físico e in
telectual têm baixo valor preditivo; a linguagem é a área de
maior relevo na prognose das dificuldades. Confirma-se a
maior importância do professor na triagem inicial dos compo!
tamentos individuais proble~ãticos.
Kirk, McCarthy e Kirk (1968) avaliam crianças com
baixo rendimento escolar centralizando-se sobre os resulta -
dos; acentuam a importância da variabilidade intra-teste co-
111
mo um elemento de desequilíbrio no desenvolvimento. Sugerem
que discrepâncias excessivas, produzindo perfis irregulares,
podem ser indicativas de dificuldades de aprendizagem.
Paraskevopoulos & Kirk (1969) postulam relação in
versa entre medidas de afastamento dos escores escalares de
cada subteste em relação ao escore mediano e o desenvolvimen
to da criança analisando sua ocorrência na população. Afir
mam que grande magnitude no afastamento expressa perfil atí
pico, estatística e psicologicamente significante.
Kirk & Elkins (1969) adotam o desvio médio absoluto
intraindividual como um índice de discrepância no desenvolvi
mento e estabelecem um valor crítico que possibilita identi
ficar dificuldades de aprendizagem com grande margem de acer
to.
Contrapondo-se a esta colocação, Lavine (1978) pro
poe o método d~s comparações emparelhadas; utiliza um mode
lo probabilístico baseado nas "mínimas diferenças significa!!.
tes" (Winer, 1971), de maior precisão e sensibilidade. permi
tindo localizar mais acuradamente áreas suspeitas de defici
ênci as.
Burns (1976) critica a utilização do desvio médio
como índice diagnóstico, na medida em que comprova que entre
QI e desvio médio a função é não linear. Acrescenta aindaq~
112
este modelo matemático é mais sensível no canal auditivo do
que no visual. A determinação da função quadrática permite
tratar diferencialmente afastamentos positivos e negativos.
. Nas desordens da fala
Relacionados com problemas articulatórios os estu -
dos de Ferrier (1966) e Foster (1963), in Kirk & Kirk (1972),
demonstram maior comprometimento do nível automático.
Tal corno os disléxicos de Kass, Ragland e McLeod
estes estudos confirmam a importância do nível de integração,
somando-se a contribuição deficiente da Expressão Verbal. Ca
be acrescentar que tambem Schmitt (1976) consolida estes re
sul tados, confi rmando a importância das variáveis Expressão
Verbal, Closura Gramatical e Combinação de Sons na determina
ção do desempenho articulatõrio em crianças de 7 a la anos .
. No retardo mental
Em relação a este aspecto mui tas pesquisas vem sendo
desenvolvidas, propondo-se basicamente responder a duas inda
gações fundamentais: uma primeira, relativa ao desenvolvime~
to lingUístico, retoma, portanto, a problemática do pensamen
to e linguagem e discute,não a sua anterioridade mas, princi
palmente, sua interdependência,e uma segunda investiga a
sensibilidade do rTPA na determinação dos perfis-critério,s~
113
ja através de cada umà das variáveis consideradas isoladamen
te, seja através dos seus constructos como processos, níveis
ou canais.
o ITPA vem sendo utilizado em crianças com retardo
leve, moderado ou severo, de etiologia orgânica ou cultural,
de etnia diversificada, de sexos diferentes, vivendo em lns
tituição ou no convívio familiar.
Há a considerar a importância das diferenças metod~
lógicas empregadas para que se possa fazer melhor avaliação
crítica do instrumento nesse grupo diagnóstico. Algumas aná
lises comparativas com grupos de inteligência normal empre -
gam como denominador comum a idade mental; outras, empare
lham a idade mental do grupo de retardo com a cronológica do
grupo normal; tais características metodológicas podem, de
certa forma, mascarar a sensibilidade diagnóstica do próprio
instrumento quando se pretende avaliar a sua eficácia na de
terminação dos perfis-critério dos grupos em questão.
Carr (1964) compara retardados com idade mental en
tre 5 e 7 anoS' com grupos normais de mesma idade cronológica
e encontra diferenças estatisticamente significativas no su~
teste de Memória SeqUencial Auditiva; Mueller & Weaver (1964)
comparam retardados institucionalizados com provenientes de
classes especiais e encontram maior deficiência na Closura
Gramatical e nas Memórias SeqUenciais em crianças provenien-
114
tes de instituições, embora confirme-se nos dois grupos a in
ferioridade da idade lingUística de, pelo menos, 18 meses.
McCarthy (1965) e Wiseman (1965), in Kirk & Kirk
(1972), encontram defici~ncias maiores no nível automitico,
sobretudo nas funções de Memória SeqU~ncial. Também Bateman
e Wetherell (1965) confirmam a tipicidade da defici~ncia no
nível automático.
Na Síndrome de Down, Bilovsky & Share (1965)eJeanne
McCarthy (1965) concluem que os mongolóides apresentam um
perfil intraindividual superior na Expressão Manual; McCarthy
acrescenta que os resultados se confirmam também em compara
ções interindividuais; contudo,.este grupo tem desempenho in
ferior nos subtestes de conhecimento de gramática.
Bateman & Wetherell (J96S), comparando diferentes
grupos de retardo,concluem pela existência de perfil típico,
cuja característica principal é a defici~ncia no nível auto
mático, em oposição ã integridade relativa no nível represen
tacional. Estes achados sao confirmados por Brown & Rice
(1967) e complementados com Roberts (1967) que estuda o de
sempenho diferencial navariáve} sexo e raça (branca e ne
gra). Não encontra diferença significativa quanto ã raça mas
os meninos demonstram desempenho superior ao das meninas
nos processos receptivo e expressivo. Também Caccamo &
Ya ter (1972) comparando branco e negros com Síndrome de
115
Down confirmam a semelhança dos perfis entre as raças.
G10vsky (1970) encontra diferenças mais acentuadas,
em retardados classificados como possíveis afásicos, nos sUQ
testes audi ti vo-vocais, à excecão de Memória SeqUencia1 Audi
tiva, quando estes retardados são comparados com outros nao
afásicos.
Ogland (1972) nao encontra superioridade em relação
ao nível sócio-econômico quando compara retardados provenie~
tes de classes especiais.
Marinosson (1974), na Inglaterra, compara dois gr~
pos de retardados - subnormais e severos - com normais e a
ponta diferenças mais marcantes em Memória SeqUencia1 Visual,
seguindo-se a Memória Auditiva, as quais alcançam significâ~
cia nos três grupos considerados. Recepção Auditiva, Recep -
çao Visual e Associação Auditiva revelam poder discriminante
apenas entre os normais e os severamente comprometidos.
Em contradição com a deficiência do nível automáti
co, evidenciada pelas pesquisas mencionadas, estão os estu -
dos de Semme11 , Barritt & Bennet ()970) e Goodstein / (1970)
nas tarefas que utilizam o comp1etamento das frases, buscan
do a palavra correta. Demonstram que os retardados conseguem
desempenhar com sucesso tarefas que envolvem a C10sura Audi
tiva, o que torna questionáveis as colocações anteriores so
bre a função avaliada pelo subteste de C10sura Gramatical.
116
Analisando-se estes resultados percebem-se constân
cias que podem ser expressas por um maior comprometimento do
nível automático, sendo o mais baixo rendimento nos subtes -
tes em que intervem o conhecimento do sistema gramatical; em
contrapartida, os retardados mentais obtem seu melhor desem
penho nas provas viso-motoras, quer se trate do processo re
ceptivo, de organização ou expressivo. Acrescente-se a supe
rioridade da Expressão Manual.
Estes dados corroboram os de outros pesquisadores
que estudaram a interferência dos meios culturais desprivile
giados sobre o desenvolvimento lingUístico: Weaver & Weaver
(1967), com crianças americanas; Jorstad (1971), com crian -
ças de origem mexicana; também Mitler (1969), Mitler & Ward
(1970), na Inglaterra; St. George (1972) confirma o rebaixa
mento no canal auditivo - vocal em crianças Maori; Teasdale
& Katz (1968) e Teasda1e (974), com crianças de etnia aborí
gene, na Austrália, acent'uam a prevalência da Expressão Ma
nual como meio de comunicação.
Tal achado, invariante nas culturas estudadas, per
mi te que se interprete a Expressão Verbal como o canal evo -
1uído da comunicação que. em caso de insuficiência ou defici
ência. é substituído' por uma forma mais arcáica, contudo
sob a mesma finalidade.
A constatação destes resultados, acentuadamente coe
117
rentes nos grupos de retardo mental, conduz ã consideração
de ordem mais geral: é a deficiência encontrada no nível au
tomático a expressa0 de um compromentimento específico no d~
senvolvimento da linguagem ou ela apenas reflete, na educa -
ção dos retardados, maior cuidado no que toca ao conteúdo se
mântico e aos aspectos pragmáticos da comunicação? E nesse
-sentido o prejuizo ~eria a resultante do menor acento sobre
a memorização, a automação das regras gramaticais e até da
percepção. Sob essa mesma colocação se enquadrariam os re-
sultados das crianças com baixa estimulação e privação cultu
ralo
No entanto, Bateman (1964), citado em Rondal (1977),
conclui,através de estudos com treinamento específico, que
o nível automático é mais influenciado pela aprendizagem es-
colar.
A importância desses achados reside, não apenas na
qualidade diagnóstica do rTPA mas, principalmente, na açao
educacional que um diagnóstico correto e precoce pode propo~
cionar como prática.
,
. Nos comprometimentos orgânicos
Sob este título estão definidas pesquisas que ten-
tam avaliar a interferência dos compromentimentos de nature
za orgânica sobre o desenvolvimento ou desempenho lingUÍsti-
118
co e como o ITPA e sensível a esses comprometimentos.
Embora possam estar presentes etiologias ou patoge
nias diversas, sio analisadas segundo a colocaçio especffica
de seus autores.
Myers (1965) 'compara paralisados cerebrais espásti
cos e atetóides e, segundo a localização das- estruturas com
prometidas, postula que os espásticos, pelo prejuízo de
áreas corticais, deverio apresentar melhor desempenho no ní
vel automático, enquanto que os atetóides, cujo comprometi -
mento é predominantemente subcortical, devem ter melhor pro
duçio no nível representacional. Os resultados confirmam as
hipóteses destacando nos espáticos a associaçio de nível au
tomático e nos atetóides as tarefas com sfmbolos lingUísti -
cos vinculadas a um modelo de referência com significado.
Como variáveis de relevo a técnica da análise dis -
criminante indica Closura Gramatical, Memória SeqUencial Au
ditiva e Visual e Expressio Manual.
Esses achados corroboram os de Dillon (J966) , in
Kirk & Kirk ()972) , e os do próprio Kirk (1957) antes da pu
blicação do ITPA, ao utilizar o teste de Sievers que lhe ser
viu de base.
Tsushima (1980) compara crianças com dificuldades de
119
aprendizagem. com suspeita ou nao de comprometimento cere
bral consequente a doença ou trauma (QBD - Questionable Brain
Disorders e NDB - No Brain Disorders), emparelhando-as quan
to ao nível mental e evidencia pelo ITPA acentuada diferen -
ciação entre os dois grupos, sendo mais marcantes os rebaixa
mentos do canal viso-motor.
Von Isser (1977) avalia cinqUenta cri anças epilépti
cas (vinte e duas com pequeno mal e vinte e oito com grandes
crises motoras) e cinqUenta crianças normais e compara seu
desempenho nas funções lingUísticas, cognitivas, perceptuais
e de memóri a.
Os resultados sugerem que, embora não significati -
vas as diferenças, os subtestes de Associação Auditiva e Vi
sual, Recepção Auditiva e Closura Gramatical apontam as me
lho~es discriminações, apenas entre normais e epilépticos
Tais resultados sugerem que a deterioração das funções, ref~
rida pela literatura especializada, pode ser conseqUencia de
sua condição terapêutica e que a epilepsia não é suficiente
para comprometer o processo educacional rotineiro .
. Nas deficiências sensoriais
Em perdas visuais moderadas (acuidade visual maior
que 20;200), Bateman (1963), in Kirk & Kirk (1972), conclui
que não foi encontrada inferioridade significativa no canal
120
viso-motor sugerindo que o ITPA mede predominantemente pro
cessos centrais sobre periféricos.
Em crianças com comprometimento auditivo,
(1960), Reichstein (1963) e Ham1in (1962), in Kirk &
(1962), evidenciam qualidades diferenciais no ITPA.
Olson
Kirk
01son
constata nos expressivos-afásicos um perfil instável e evi -
dencia no grupo de surdos desempenho superior, na Associação
Visual, ao grupo receptivo-afásico. Reischstein confirma os
achados de Olson, constatando a superioridade dos surdos so-
bre os afásicos nos subtestes de Memória SeqUencial
e Expressão Manual .
. Nas diferenças étnicas
Visual
Percebe-se, como uma das diretrizes básicas das Ci
ências Humanas, certa ênfase sobre estudos transculturais
tanto no que toca aos aspectos longitudinais, que podem for
necer as dimensões evolutivas e históricas, quanto no que se
refere aos estudos transversais, em que se procura evidenci
ar os determinantes ou invariantes do comportamento humano.
Mesmo sob a perspectiva behaviorista de aprendiza -
gem da linguagem, que fundamenta o ITPA, evidencia-se uma li
nha de investigação que busca verificar a interferência das
variáveis culturais sobre os comportamentos lingUísticos, ao
mesmo tempo em que tenta extrair os princípios que configu -
121
ram sua característica especificamente humana.
Além dos efeitos da privação cultural, referidos es
pecia1mente sobre o canal auditivo-vocal e sobre a função de
Expressão Manual já aludidos, destacam-se os estudos sobre
diferenças entre grupos de etnia, nível social, econômico ou
cultural diversificados.
Em 1966, Ryckman (in Ki rk & Ki rk, 1972) compara cri
anças negras de baixo e médio nível sócio-econômico e encon
tra resultados inferiores em todas as variáveis em crianças
de nível mais baixo, acentuando-se no canal auditivo a fun-
ção de Associação Auditiva e C10sura Gramatical e no canal
visual a função de Memória SeqUencia1. Em 1970, trabalhando
com a Edição Revisada, Lombardi compara indígenas Papago com
o grupo de padronização encontrando resultados inferiores nas
crianças fndias exceto na função de Memória SeqUencial Vi-
sual.
Levanthal (1~70) estuda estruturas diferenciais de
linguagem entre crianças de raça branca e negra com nível e
conômico discrepante e encontra que a raça ê elemento de di
ferenciação, na medida em que o desempenho das crianças bran
cas é superior em todas as variáveis. acentuando-se aquelas
em que intervem a linguagem. Tais dados podem ser complemen-
tados pelo trabalho de Sthephenson (1972). que estratifica
-em quatro níveis socio-econômicos crianças negras e brancas;
122
verifica que apenas as crianças brancas se diferenciam a pa~
tir do nível sócio-econômico, enquanto que as negras eviden
ciam desempenhos independentes de uma interferência sistemá-
tica do nível socio-econômico.
McNeil (1972) avalia o efeito da cultura sobre o d!
sempenho lingUístico e, em quatro sistemas de modernização,
em Serra Leoa, verifica seus efeitos sobre tais sis temas
(Village, Modernized village, Tribal urban, Creole urban). E~
contra diferenciação entre os sistemas utilizando a técnica
da Análise Discriminante .
. Ainda sob a mesma perspectiva metodológica, Lively-
Weiss & Koller (1973), confirmam a superioridade - . numerlca
nos resultados das funções de linguagem que utilizam infle -
xões sintáticas e morfológicas, em crianças brancas. de clas
se ~édia. No entanto, discutem a inferioridade numérica das
de raça negra. de cidade do interior, não exatamente como uma
deficiência mas como diferença entre registros lingUísticos.
Também Stewart ()9761 investiga os efeitos da etnia
e do sexo nos perfis do ITPA e do WISC, avaliando crianças
negras, méxico-americanas , anglo-americanas, de diferentes ní
veis·de desempenho acadêmico: normais, com dificuldades de
aprendizagem e retardadas. Interpreta como de pouca importân
cia, embora de relevância estatística, a contribuição das va
riáveis étnicas.
123
Kirk et aI. (1977) confirmam os achados de Stewart,
destacando contudo a superioridade dos anglo-americanos no
canal auditivo-vocal.
Avaliando crianças bilingUes hispano-americanas, Pe
rez (1980) compara seus resultados na versão original com
uma forma espanhola traduzida. Encontra, em crianças de Jar
dim de Infância, resultados semelhantes nas duas formas, ex
ceto em Recepção e Memória SeqUencial Auditiva que, na ver
são inglesa, proporcionam resultados mais elevados. Em con -
traste com as do Jardim, as crianças da 2a. série destacam-se,
na forma inglesa,na modalidade auditiva, também quando comp~
radas com a modalidade visual. Estes achados parecem confir
mar a suposição de que, no plano educacional, avaliações fel
tas com recursos auditivo-vocais e verbais tendem amascarar
ou prejudicar a qualidade dessas avaliações.
1.2 - A Estrutura Teórica do rTPA
Além dos aspectos anteriormente explicitados, gran
de corpo de investigações vem sendo desenvolvido sobre a es
trutura teórica do rTPA. Como objetivos principais, essas
pesquisas visam avaliar a correspondência entre o modelo de
comunicação postulado e a organização da linguagem, comprovar
a especificidade de cada uma das variáveis e, ainda, averi -
guar a natureza de cada uma das funções avaliadas em face dos
124
comportamentos por elas elicitados.
A análise das referências evidencia grande diversi
ficação de técnicas e procedimentos, o que,por vezes, torna
difícil a interpretação e a comparação.
No entanto, o trabalho aqui em discussão procura en
fatizar principalmente as técnicas de análise fatorial, na
medida em que estas servirão como diretriz metodológica e
suporte para sua interpretação.
Em 1969, Wisland, trabalhando com crianças de inte
ligência superior, identifica nove fatores de habilidades
mas interpreta apenas quatro, que não confirmam o esquema
proposto: um fator PsicolingUístico geral, um SeqUencial, um
Viso-motor e um Auditivo, que inclui o uso do vocabulário.
Meyers C1969) sintetiza diversos estudos classifi -
cando-os em três grupamentos principais: todos os subtestes
do ITPA com variáveis de referência; subtestes isolados, as
sociados a outros instrumentos, implementando hipóteses so
bre dimens'ões de habilidades, em grupos normais ou comprome
tidos; finalmente. um terceiro grupo de pesquisas, que conju
ga as variáveis do ITPA entre si, incluindo uma ou, quando
muito, três variáveis externas. g interessante observar- se
que Meyers complementa a sua interpretação valendo-se do re
ferencial de Guilford C)977), o que implica rejeitar o mode-
125
10 de Osgood ou, ao menos, sobrepor a ele uma perspecti va cog
nitiva.
No primeiro grupo destacam-se Center (1963),McCarthy
& Olson (1964), Meyers (1964), Strong (1964), Loeffler (1965),
Ryckman (1966), Haring & Ridgway (1967) e Horner (1964).
Sobre estes estudos Meyers interpreta sete fatores:
um, geral, de linguagem, envolvendo compreensão verbal e pa
recendo exigir cognição e inferência, o que permitiu inter -
pretá-lo como um fator Cognitivo-Convergente, de conteúdo s~
mântico. Os fatores 11 e 111 são predominantemente viso-mot~
res, utilizando material figurativo com significado, inter -
pretando-se, em função da natureza das variáveis envolvidas,
respectivamente como Produção Convergente e Cognição de Rela
ções Semânticas. O fator IV recorre ã Memória SeqUencial Vi
sual, sendo interpretado como Memória de Sistemas Figurais .
Os fatores V e VI expressam habilidades específicas confirma
das em outros estudos: um, de Memória SeqUencial Auditiva, o
que reforça a segregação da outra modalidade de memória, po
dendo. neste caso, ser interpretada como Memória de Sistemas
Simbólicos, e o outro, evidenciado através da Expressão Ver
bal e, portanto, definido como Atividade Divergente Semânti
ca. Já o fator VII, em que a Recepção Auditiva emerge, é in
terpretado como Cognição de Sistemas Semânticos.
No segundo grupamento citam-se: McCartin & Meyers
126
(1966), que identificam fatores de habilidade semântica e in
terpretam Associação Auditiva como Unidades Semânticas Con -
vergentes e Expressão Verbal como Produção Divergente de Uni
dades Semânticas; Carlson & Meyers (1968), que evidenciam um
fator de memória auditiva, distinto do de memória visual;
Sitkei & Meyers (1968), que destacam fatores de Unidades Se
mânticas Divergentes e Memória para Sistemas Simbólicos
Meyers, Sitkei & Watts (S.d.) confirmam os achados anterio -
res.
Finalmente, o terceiro grupamento, que emprega ape-
nas as variiveis do ITPA: McCarthy & Kirk (1963), Ryckman
(1966) e Queresh~ (1967); no ent anto Meyers inclui apenas
este último na interpretação geral que faz destes trabalhos.
Conclui o autor que o ITPA nao mede igualmente bem
as dimensões apontadas pelo modelo. Confirmam-se a compreen
são verbal de conteúdo semântico e a modalidade viso-motora;
no entanto, a função automitica e a memória seqUencial nao
parecem ter a mesma origem e também a distinção entre o ní
vel representacional e o automitico, tanto quanto entre os
processos, não fica integralmente consolidada.
Da mesma forma, Ryckman & Wiegerink (1969) retomam
os resultados de dezoito anilises fatoriais a partir das ma
trizes de intercorrelações dos resultados da amostra de pa -
dronização, em suas diferentes idades, além de incluir as de
J
127
Center, McCarthy & Olson, já referidas,e ainda as de Muel'ler
(1965) e Semmel & Mueller (1963). Utilizando um procedimento
único, Ryckman & Wiegerink constatam que o número de fatores
aumenta com a idade, sugerindo um princípio de diferenciação
que, contudo, não mantém nítidas as estruturas que emergem.
Finalmente, afirmam que nas faixas etárias superiores os re -
sultados se aproximam mais do modelo que nas inferiores. Qu~
to aos canais, o viso-motor é mais variável, mas ambos se en
contram presentes nos subtestes; quanto aos níveis, os auto-
res confirmamos achados de Meyers, invalidando a suposição
do nível automático e sugerindo que o representacional -nao
é uma dimensão única, mas um compôsito de interrelações;qu~
to aos processos, somente nas idades mais elevadas se dife -
renciam, o que torna o uso do rTPA,em crianças mais jovens,
objeto de prudente interpretação; finalmente, o conceito de
habilidades unidimensionais, expressivas nas funções do mode
10, não se comprova.
Smith & Marx ()97l) trabalhando com crianças de ní-
vel mental normal, identificam quatro fatores interpretados
como:
Fator r - Habilidade LingUística Geral, semelhante ao de
Meyers (J965), Horner ()96J) , Weener et aI. (1967),
Haring & Ridgway (1967). Envolve, contudo,proce~
sos, níveis e canais que não se conformam ao mode
lo;
128
Fator rr - Memória Auditiva Rotineira, interpretado como ha
bilidade de resposta ecóica imediata ao materi
al auditivo;
Fator rrr - Memória Mediata, envolve habilidade conceitual ,
memória e atenção, parecendo exigir a recupera -
ção do material significativo;
Fator rv Expressão Representacional, recorrendo às duas
modalidades expressivas. g semelhante ao de Hor
ner (1967) e de Hueftle (1967).
Mittler & Ward (1970) revêem os parâmetros da padr~
nização inglesa em crianças de baixa idade, comparando-os com
os originais americanos. Postulam o efeito da classe social,
mais marcante no canal auditivo que no visual, já referido,
contrariando os achados de Kirk (1963), que o considera irre
levante abaixo dos 6 anos de idade.
A estrutura fatorial evidencia três fatores, um dos
quais, LingUístico Geral, já descrito por Kirk; um segundo.
Associativo, envolvendo as duas modalidades, auditiva e vi
sual; e um terceiro, Auditivo-Vocal, identificável no nível
automático. Em outro estudo, Mittler (1969) analisa o desem
penho de gêmeos mono e dizigóticos e atribui à hereditarieda
de a prevalência do canal viso-motor nos escores totais do
rTPA em crianças de menor idade.
129
Uma outra vertente de estudos avalia as estruturas
fatoriais surgidas em crianças de desempenho comprometido,s~
ja mental, seja emocionalmente.
Horner (1967) encontra, em crianças com retardo, cin
co fatores: Habilidade LingUística Geral, Memória Imediata
da Símbolos Auditivos, Imitação de Atos Motores, Habilidade
para Responder por Gestos a um estímulo verbal e Compreensão
e/ou Expressão Verbal.
Estes achados sao confirmados por West & Wilborn
(1975/6) que, incluindo o WISC, identificam Memória Auditiva
e Visual, Organização e Compreensão de Símbolos - referido a
um fator lingUístico - e, adicionalmente, Retenção de Símbo
los Verbais.
Também Leton (1972) inclui o WISC e, analisando cri
anças com dificuldades de aprendizagem, encontra sete fato -
res:
Fator I - Identificado como Associação Verbal, envolve o as
pecto semântico e pode ser interpretado,à luz da
teoria de Guilford (J967), como Cognição de Unida
des Semânticas e Sistemas Semânticos;
Fator 11 - Identificado como Análise Visual e Associação Moto
ra,manifesta-se na percepção de figuras, análise
130
de suas relações e expressa0 manual e é interpr~
tado como Cognição de Unidades e Relações Figu -
rais;
Fator 111 - Definido como Compreensão de Semelhanças e Dife
renças,de natureza visual, é caracterizado como
Cognição e Produção Divergente de Relações Simbó
licas e Classes;
Fator IV - Memória Auditiva. expressa a dimensão de Memória
para Sistemas Simbólicos;
Fator V - SeqUência Viso-motora, é definido como Memória
para Sistemas e Relações Figurais;
Fator VI - Raciocínio Lógico, caracteriza-se como Cognição
de Relações Simbólicas e Sistemas Semânticos;
Fator VII - Identificado como Verbo-Educacional e, na teo -
ria de Guilford, envolve diversos processos. in
cluindo-se Memória e Cognição dos Aspectos Semân
ticos.
Os resultados encontrados sugerem ainda que os sub
testes não podem ser considerados como variáveis unidimensio
nais.
131
Utilizando os mesmos instrumentos, Stewart (1977)
busca padrões diferenciados em grupos distintos. Evidencia,
como fatores comuns entre crianças normais e com dificulda -
des de aprendizagem,um fator LingUístico Geral, um Viso-Mo -
tor e um fator Mediacional. No grupo de retardo, Stewart a
ponta tambem um fator Geral do IIPA, um do WISC e um fator
Expressivo.
Burns (1973) investiga as estruturas lingUísticas do
IIPA em crianças de baixo desempenho, sem incluir variáveis
de referência. Os cinco fatores emergentes não asseguram a
validade do modelo. Esses resultados corroboram a síntese de
Meyers, já referida: o nível automático e os processos rece~
tivo e associativo não encontram suporte empírico; dois fat~
res são viso-motores e três auditivo-vocais. Complementarme~
te as habilidades avaliadas não apresentam características de
unidimensionalidade.
Foggitt, Mangan ~ Law C1972} analisam as estruturas
cognitivas e psicolingUísticas em dois grupos étnicos austr~
lianos, aborígenes e europeus. Para cada grupo, extraem-se
quatro fatores,cuja convergência evidencia um fator Psicoli~
gtiístico Representacional, enfatizando o processo expressivo
no grupo europeu, enquanto que para os aborígenes parece exl
gir interpretação dos estímulos auditivos; um fator Percep -
to-Cognitivo, que se distribui através das variáveis nos dois
grupos considerados; um fator psicolingUístico, para os abo-
132
rígenes,Memória SeqUencia1 Automática e Processo Expressivo,
enquanto que para os europeus é definido como Recepção Audi
tiva; um outro fator - Memória LingUística - para os euro
peus, SeqUencia Auditivo-Vocal e para os aborígenes Expre~
são Verbal.
As estruturas diferenciais encontradas confirmam os
resultados de pesquisas anteriores, que sugerem maior desvan
tagem na utilização do canal auditivo-vocal em crianças des
privilegiadas culturalmente.
Um dos estudos de maior relevo para a determinação
da validade teórica do ITPA, já pela metodologia utilizada,
já pelas conclusões a que chegou, é o de Newcomer, Hare &
Hammi11 (1975).
o constructo foi investigado utilizando-se vinte tes
tes de critério, emparelhados, ou pelas variáveis em conteú
do modificado, ou diferentes em conteúdo mas mantidas nos ou
tros aspectos. Dos doze subtestes do ITPA quatro foram apli
cados integralmente e oito em versao reduzida, metade par; a
metade ímpar foi utilizada como critério. Em pesquisa ante -
rior Newcomer & Hammi11 (1974) haviam sugerido seu uso, sem
prejuizo considerável da fidedignidade.
Extraídos dez fatores, as variáveis originais do
ITPA se colocam de modo específico em cada fator, à exceçao
133
de um, interpretável como Compreensão do Significado da Lin
guagem, que congrega as variáveis de Recepção Auditiva e Vi
sual e Memória SeqUencial Visual; estas têm cargas signific~
tivas exclusivas neste fator.
Quatro fatores parecem confirmar os constructos de
Osgood: Associação Auditiva, Memória SeqUencial Auditiv~ Uso
da Linguagem Oral (~xpressão Verbal) e Closura Visual. Com -
plementarmente, dois destes fatores utilizam a modalidade au
ditivo-vocal e um o canal viso-motor, sugerindo,este último,
tratar-se de uma dimensão que se apresenta de forma singular.
Dos dez fatores, sete expressam níveis singulares
sendo quatro do automático e três representacionais.
Quanto aos processos, cinco caracterizam o aspecto
associativo e dois,o expressivo.
Os resultados, de um modo geral. insinuam a valida
de do constructo: nove su5testes medem habilidades unidimen -
sionais e, do modelo subjacente, duas dimensões básicas sao
consubstanciadas, isto é, níveis e processos. A modalidade
visual do canal de comunicação constituivno entanto, neste
estudo, o maior obstáculo ã validade.
134
1.3 - A proposta terapêutica
Considerando que a importância de um saber científi
co se configura por suas áreas de aplicação, bem se pode en
tender a relevância com que, ã luz de um diagnóstico precoce
e adequado, podem ser estabelecidas propostas de atendimento.
Construído segundo um modelo clínico, o ITPA tem
servido como diretriz para diversos programas de desenvolvi
mento lingUístico: Dunn & Smith (1966), Kirk & Kirk (1971)
Karnes (1972), Minskoff, Wiseman & Minskoff (1972) e Bush
& Giles (1977). Baseiam-se na suposição de que a linguagem
é a resultante de diversos componentes, pré-requisitos para
a aprendizagem, e que estes, quando deficientes, podem ser
dr' ';envol vidos por programas especiais de t re inamen to.
A revisão bibliográfica aqui apresentada se apoia
sobre quatro principais artigos que, de um modo geral, reco
brem o tema em questão e são seqUenciados em ordem cronológi
ca: Hammill & Larsen (1974) questionam a eficácia do treina
mento psicolingUístico e não comprovam sua validade; Lund,
Foster & McCall-Perez (1978) reavaliam o trabalho de Hammill
et alo criticando-o; Hammil1 & Larsen (1978) reafirmam sua
pos ição e manté'm a críti ca; Kavale (1978) propõe uma meta-a
nálise dos trabalhos anteriores: aponta as fragilidades meto
dológicas e afirma a incoerência de algumas conclusões.
135
Esses artigos serao objeto de análise mais detalha
da,tendo em vista a abrangência dos trabalhos, a importância
dos resultados e conclusões e o caráter polêmico com que o
tema é tratado.
Em 1974, Hammi 11 & Larsen (in Lund et aI., 1978)
apresentam uma revisão de trinta e nove pesquisas, enfocando
o desenvolvimento das funções psicolingUísticas, onde ques -
tionam a eficácia dos programas. Concluem que os resultados
'lleti vos dos estudos revistos não permitem confirmar as téc
ilicas de treinamento dos constructos psicolingUísticos.
Em 1978, Lund et aI. propoem uma reanálise dos mes-
mos estudos,visando confirmar as conclusões anteriores e re-
vêem vinte e quatro das trinta e oito pesquisas, separando -
as em três grupamentos distintos: os que comprovam resulta -
dos positivos em sete ou mais variáveis do ITPA, incluind~se
o escore total; os que nao apresentam qualquer resultado po-
sitivo e os que apresentam em menos que seis variáveis.
Do primeiro grupo de estudos citam-se: Bradley et
aI. (1966), no treinamento de crianças mentalmente retarda -
das; Smith (1962), com retardados educacionais; Hart (1963),
com paralisados cerebrais; Carter (1966) e Gray & Klauss
(1965), com crianças desprivilegiadas culturalmente; e ainda
McConne 1 et aI. (1969), também com cri anças compromet idas.
136
Na medida em que o treinamento foi acompanhado por
aumento nos resultados do critério, Lund et aI. afirmam que
as conclusões de Hammill & Larsen não podem ser mantidas.
Quanto ao conjunto dos estudos que nao atribui qual
quer ganho ao treinamen to ci tam-se: Blue (1970), Gazdic (1971) ,
Gibson (1967), Guess et aI. (1969), Hartman (1967), Hodges
& Spicker (1967), Lavin (1971), Leiss (1975). Saudargas et
aI. (1970) e Spollen & Ballif (1971). Lund confirma a corre
çao dos achados de Gazdic (1971) e Leiss & Proger (1973),mas
rebate outras conclusões argumentando pela inadequação da
analise: Guess (1969), Hodges (1967), Lavin (1971) e~Saudargas
(1970); pe la insufi ciênci a de dados: Hartman Cl967) e Spo llen
(1971); ou pela incorreção metodológica no plano da analise:
Gibson (1967) e Blue (1970).
Quanto ao grupo que alcançou mudanças em poucas va
riáveis citam-se: Blessing (1964), Painter (1966) e Wiseman
(1965), que treinam habilidades específicas, tais como Ex
pressa0 Manual e Associação Auditiva; os autores sugerem que
a falta de controles metodológicos torna a interpretação di
fícil (por exemplo, o treinamento em aritmética não favorece
os ganhos em leitura).
Dos estudos restantes citam-se Siders (J970),Minskoff
(1967). Karnes et aI. (J970) e Stearns (1967) que, por difi
culdades metodológicas diversas, não permitem informações con
clusivas.
137
Lund, Foster & Perez (1978) afirmam que esta reava
liação levanta muitas questões, sobretudo ao se considerar
que problemas complexos não podem ser respondidos de forma
tão simples, em que a validade não é uma questão de tudo-ou
nada; sugerem que estas colocações possam ajudar educadores
e pesquisadores a melhor atenderem aos interesses de crian -
ças que necessitam tratamento apropriado.
Outra abordagem de relevo é a de Kavale (1981), que
revê estudos anteriores e recentes sobre o treinamento das
funções psicolingUísticas. Analisa a complexidade das variá
veis envolvidas e sua possível interferência sobre os resul
tados, entre as quais a natureza das amostras, os tratamen
tos aplicados e os planos experimentais utilizados.
Retoma a crítica de Lund et aI. (1978) sobre a revi
sao de Hammi11 & Larsen (1974), incluindo ainda outro artigo
em que estes autores reafirmam sua posição inicial (Hammill
& Larson, 1978).
Recorre a um índice estatístico ES - Effect Size
proposto por Glass (1976 - 1977), que utiliza nessa meta-aná
lise,e lhe permite comparar os resultados/entre o grupo expe
rimental e o de controle. Este índice quantifica a magnitude
do efeito da intervenção, fornecendo uma medida comum e in-
·'terpretável a partir dos parâmetros da curva normal.
138
Kavale compara então as distribuições dos ES de ca
da subteste do ITPA e também do escore total (204 ES) e, ana
lisando as interferências dos planos e estratégias experime~
tais,observa a superioridade da intervenção prescritiva-indi
vidual sobre a global não individualizada; no que diz respei
to a programas específicos, o Peabody Developmental Language
Kits (PDLK) revela-se mais eficaz que o ITPA; comparações en
tre diferentes grupos mostram maior sensibilidade ao treina
mento nos grupos dos culturalmente desprivilegiados do que
nos de retardo e nestes os educáveis apresentam maiores ES.
·Efeitos da idade e do grau de escolarização não são observa-
':00S. O treinamento das habilidades específicas apresenta
) lior relevância no processo expressivo, destacando-se o au
:,-."';0 na Expressão Verbal para os desprivilegiados culturais
.1 Expressão Manual para o grupo com retardo mental, além
da~ habilidades associativas e de mem6ria automática; os me
nores efeitos se situam no processo receptivo.
Complementarmente, Kavale correlaciona as variáveis
concomitantes do plano de treinamento com o ES e encontra co
eficientes modestos.
Em face da metodologia utilizada, esta investágação
propicia a Kavale responder positivamente sobre a
do treinamento psicolingUístico.
Seus achados contradizem os de Hammill &
eficácia
Larsen
139
(1974, 1978) e diferem dos de Lund, Foster e McCall- Perez
(1978); no entanto, a evidência empírica, quantificada por
uma técnica correta e abrangente, permite ao autor abrir no
va perspectiva à possibilidade de atuar sobre as funções psi
colingUísticas e, ao mesmo tempo, promover seu desenvolvime~
~o mediante uma açio adequadamente respaldada por seu efeito.
2 - Estudos no Brasil
No Brasil as investigações com o ITPA apresentam
um caráter restrito. Considere-se que nosso país nio tem tra
dição de pesquisa e, principalmente na área das Ciências Hu
manas, o apoio é precário, seja no que se refere à formação
de pessoal neste domínio, interdisciplinar por sua própria
natureza, seja no que toca a recursos financeiros ou técni -
cos.
De uma forma geral, as universidades desenvolvem
predominantemente atividades de magistério e sobre estas e
xercem uma prática nem sempre compatível com a qualidade de
sejável. A partir desse círculo de causa-e-efeito não se in
centiva ou capacita pessoal, nio se mobilizam estruturas de
apoio e a parte de aplicaçio se restringe a movimentos isola
dos que representam interesse ou esforço individual.
Evidentemente a seqUência ideal produção do saber,
140
aplicação ou prática, investigação, divulgação e produção de
um novo saber, encontra em nosso país pontos de estrangula -
mento.
Acrescente-se que, no momento atual, a vertente edu
cacional nao parece constituir uma das metas prioritárias da
política nacional.
Diante deste quadro, a pesquisa, especialmente na
area das Ciências Humanas, continua sendo um desafio que po~
cos se propõem enfrentar em benefício de muitos.
Em 19]], o rTPA foi publicado e obteve alcance co -
mercial. Nesses sete anos não se teve notícia - e também não
são muito numerosos os veículos especializados de divulga
ção - de publicação sobre investigações efetuadas de modosis
temático; apenas esforços isolados em alguns locais do Bra
sil expressam interesse voltado predominantemente para a
práti ca profi ss ional (Bacellar, 1981, 1983).
Quanto ã atuação psicopedagógica um trabalho mere
ce destaque: "Uma pesquisa diagnóstico-terapêutica baseada
no rTPA" (Gonçalves, 1981), em que a autora de s creve um t ra
balho de intervenção fonoaudiológica efetuado na Fundação
Romão de Matos Duarte, instituição assistencial para crian
ças orfãs ou abandonadas. Foi realizado com trinta e uma cri
anças entre 4 e ] anos, sendo vinte e três oriundas da FRMD
e as outras provenientes de escolas públicas,
para tratamento fonoaudiológico.
141
encaminhadas
Foi desenvolvido por urna equipe de fonoaudiólogasna
Universidade de Fonoaudiologia UFN 11, do Instituto Helena
Antipoff, do Departamento Geral de Educação que, a partir da
constatação da problemática da linguagem oral, apresentada
em avaliação anterior, traçou as diretrizes da terapia.
A autora verifica que houve evolução psicolingUísti
ca e que essa atuação abre "um novo caminho para o tratamen
to dos problemas da linguagem. Caminho que parece estar bem
alicerçado no Modelo Tridimensional do ITP~' (Gonçalves,lg81,
pesquisa não publicada, do IHA).
Uma análise crítica dos estudos anteriormente recen
seados demonstra várias falhas metodológicas, tais como, a
mostras insuficientes, "designs" inadequados, escolha impró
pria de instrumental estatístico, natureza dos grupos estuda
dos- no sentido da insuficiência dos controles sobre as va -
riáveis subjacentes aos mesmOS7 assim como a heterogeneidade
extrema das modalidades de atendimento,. tornam de difícil
comparação os resultados neste tipo de estudo.
Apesar dessas limitações, as investigações citadas
proporcionam um quadro de referência, até mesmo metodológica,
por indicarem soluções alternativas possíveis que, critica -
142
mente analisadas, orientam os pesquisadores em seu trabalho~
Também do ponto de vista das conclusões atingidas ressal
tam-se algumas constatações de importincia para um dimensio
nF~~nto da utilidade do ITPA.
Do ponto de vista diagn6stico nota-se a abrang~n -
cia de suas aplicações, nitidamente dirigidas para a área da
aprendizagem escolar, revelando a sensibilidade do instrumen
to na identificação das irregularidades do desenvolvimento in
di vi dual.
Quanto a sua estrutura teórica percebe-se, como d~
nominador comum das conclusões, a falta de correspond~ncia i~
tegral do modelo com a evid~ncia empírica.
Na vertente terapêutica, de um modo geral, ficou i~
sinuada - e não propriamente comprovada - a eficácia do ins
trumento enquanto ponto de partida de programas psicopedag6-
gicos.
Alguns estudos têm um valor especial, tendo
destacados ao longo da revisão e,inclusive,utilizados
refer~ncias metodol6gicas para o presente trabalho.
sido
como
143
VI - A VALIDADE DO ITPA
1 - Validade de Constructo
- Procedimentos Metodológicos
Neste estudo foram avaliadas 931 crianças, de fai
Áa etária compreendida entre 3 e 10 anos, freqUentando clas
~es comuns de Jardins de Infância ou Escolas da Rede de Ensi
"lO de 1 9 Grau.*
'Como características de homogeneização do grupo
:.::<olhido destacam-se o processo de socialização e escolari
ao e o critério operacional de normalidade, aqui definido
C \0 ausência de comportamentos capazes de sugerir ao pro -
fc;,sor deficiências sensoriais. percepto-motoras ou emocio-
n·; s evidentes. Acrescente-se também como cri tério de inclu-
5 U no grupo a ausência de suspeita de retardo mental.
A aplicação da Bateria foi feita por alunos de
Psicologia que receberam treinamento, observando-se rigoros~
mente as instruções constantes do Manual do Examinador.
C*) Escolas que participaram da pesquisa: Casa de M:!.ter, Chez 1 'Enfant , Escola lliristiano Hamarm, Escola Integrada Madalena Cardoso. fundação Romão Duarte, Escola Gastão M:ütinho, Escola Grécia, Escola Gru mete, Educandário Irmã Angela, Liceu Santa Rita de Cássia, Escola -Montenegro, Escola Porto Rico, Escola da Providência, Colégio Sale siano, Escola Santo Tomás de Aquino, Escola Sergipe. -
144
.Plano de Amostragem
Pode ser considerado como um plano polietápico
ab, ngendo escolas da Cidade do Rio de Janeiro e Grande Rio,
tot 'tizando dezesseis escolas.
Na primeira etapa a seleção das escolas obedeceu
a um critério de conveniência que incluiu os fatores custo
disponibilidade de tempo e autorização da direção da escolap~
ra desenvolver a pesquisa.
Em etapas posteriores foram selecionadas, por pro
cesso aleatório ,as turmas pertencentes às classes comuns e a
inda, dentro de cada turma, foram selecionadas, pelo mesmo pr~
cesso, as crianças a serem avaliadas.
Foram descartadas da amostra aquelas que não com
pletaram a Bateria, seja por não estarem presentes no dia pl~
nejado (crianças de 3 e 4 anos são testadas em duas sessões),
seja por terem manifestado, espontaneamente, desejo de inter
romper.
A amostra foi classificada por nível sócio-cultu
ral, a partir da ocupação dos pais, adaptando-se a escala pro
posta por Hutchinson (1956}. Tal modificação consistiu em com
binar as seis categorias,de modo a produzir uma qualificação
apenas dicotômica e assim constituída:
145
Nfve1 2 - Ocupaç6es profissionais e de alta administração de
gerência e executivas. Ocupaç6es de inspeção, supe!
visão e outras nao manuais de nfve1 técnico. Ocupa-
ç6es de rotina nao manuais .
. ~. 1 Ocupaç6es manuais semi-especializadas e nao especia-
lizadas.
Tabela 1: Distribuição das faixas etárias, por nfve1
s óci o-e conômi co.
3a 4a 5a 6a 7a 8a 9a 10a
N2 46 94 115 122 136 85 92 59
Nl 06 25 30 36 25 40 08 12
52 119 145 158 161 125 100 71
749
182
93
Concluída a aplicação da Bateria iniciou-se a co~
reçao e a preparação dos dados para processamento eletrônico
~ti1izou-se o programa SPSS/DOS- 6,01 11/75).
Foram constituídos três grupamentos etários, um
primeiro, de crianças de 3 anos, um segundo,de crianças de 4
a 6 anos e um te rcei ro, de cri anças de 7 a 10 anos.
146
Embora os autores afirmem que os fatores dimensi~
nados pelos subtestes são consistentes através das idades qua!!.
do se utilizam escores padronizados - escores escalares
(Paraskevopoulos & Kirk, 1969) decidiu-se trabalhar com es
tes três grupos etários em função dos próprios objetivos des
te estudo: não apenas validar o modelo, como também permitir
a análise comparativa das estruturas surgidas, o que de certa
forma viria acrescentar a perspectiva de aprendizagem, conso-
lidando a proposta epistemológica deste modelo.
A configuração dos três agrupamentos obedeceu a
linhas gerais que definem pontos de referência no desenvolvi
mento lingUístico.
3 anos - caracteriza a fase de transição em que
a linguagem se liberta de seu contexto situacional e ultra -
passa a ação presente.
Da pré-conceitualização que se expressa numa in -
terpretação imagÍstica da realidade, a criança começa a recor
rer a uma ligação específica em que a função semiótica permi-
te evocar significantes capazes de substiturros objetos por
eles significados.
Embora este grupo tenha apenas 52 crianças, o que
torna questionável a fidedignidade de tais resultados, há a
considerar que nesta faixa etária a aplicação individual -e
147
mais demorada, o que, se nao melhora a qualidade dos resulta
dos,pelo menos justifica sua inclusão, ainda que sob tal res
t rição.
4 a 6 anos - caracteriza-se por ser um período de
acelerada expansão do vocabulário, acompanhado por evolução de
regras rudimentares de combinação. Nesta fase observa-se como
importante a inter-relação do vocabulário/da morfologia e da
sintaxe e,ainda nesta faixa, o processo de escolarização vai
enfatizar os aspectos perceptivos, cognitivos e de conceitua
lização que implementam a prontidão para a aprendizagem.
7 a 10 anos - caracteriza-se pela utilização dife
renciada dos elementos da frase e neste período, sobretudo em
sua fase inicial, acentua-se, através do treinamento, a orga
nização oral, expressiva e compreensiva. Não se pode esquecer
que a criança desenvolve a habilidade da leitura,que passa -a
ser nova forma de compreensão verbal, tornando-se o veículo
pr~dominante de informação que a escola passa a utilizar.
Aplicada integralmente a Bateria às 931 crianças,
os subtestes foram avaliados obedecendo-se às instruções que
determinam o emprego do nível-base e do nível-teto como normas
de aplicação. Os resultados foram processados em graus brutos.
RECEPÇÃO RECEPÇÃO AUDITIVA VISUAL
- 16,3461 8,2115 X
3a S 8,3099 3,9623
-4- X 27,8886 13,5782
6a
S 8,6480 5,4361
-7- X 37,8512 20,3107
10a
S 5,7063 6,4274
Tabela 2: Distri: : '" 'J elOS ::'esu1 tados nos grupamentos etários .'_ ,::1.
: .. ~},:
ASSOCIA- ASSOCIA EXPRES- EXPRES- CLOSURA CLOSURA COMBINA- CLOSURA MEMjRIA ÇÃOAUDI ÇÃO VI-=- SÃO VER- SÃO MA- GRAMATI AUDITIVA ÇÃO SONS VISUAL SEQuENCI-
TIVA SUAL BAL NUAL CAL AL AUDIT.
9,9231 5,2885 8,9808 14,5962 9,4423 10,6346 11 ,5192 7,6346 10,8645
4,7023 3,6264 3,7703 4,8719 4,7005 5,9968 6,2857 4,2381 4,9191
17,7749 14,6090 15,0640 19,5924 16,8104 18,7370 19,6991 15,8365 18,0853
7,2662 6,6090 5,6852 4,5839 5,8519 5,6907 10,8598 6,5333 7,7234
28,2538 23,2670 22,5689 24,1597 25,1838 25,4770 33,9387 26,6214 28,0394
6,5136 5,7852 6,8185 5,4256 4,5775 3,3436 17,5508 9,5758 8,4313
MEMjRIA SE QuENCIAL -
VISUAL
7,2308
4,1897
13,2014
4,8301
19,0459
4,3619
~ .j:>.
00
149
A título ilustrativo apresentam-se os resultados
dos subtestes nos três grupos considerados. (Tabela 2)
Como se pode verificar, ao aumento nas faixas etá
rias corresponde um aumento efetivo nos desempenhos entre os
subtestes, o mesmo não ocorre com as variãncias; se, poruml~
do, este aspecto assegura o efeito da aprendizagem, por ou-
tro lado acentua a importância da escolarização como fator
de homogeneização entre os grupos .
. Embora a diferença de idade seja menor do primei-"-
ro para o segundo grupamento do que deste para o terceiro, o
que justificaria resultados proporcionalmente mais próximos
nos dois primeiros, tal fato nao ocorre, o que pode expres -
sar ser a faixa etária dos 4 aos 6 anos, aquela em que ocor-
rem os maiores progressos nas funções mensuradas pelos sub -
testes.
Quanto ã estabilização das variâncias 1 0corre em
todos os subtestes. à exceção de Combinação de Sons, o que
pode sugerir ser esta variável a mais sensível às manifesta-
ções individuais.
De um modo geral, a observação das distribuições
mostra que, nas primeiras idades. é mais evidente o efei to das
diferenças individuais, sejam elas a expressão de caracterís
ticas culturalmente determinadas ou de "disposições para as-
sociar", que um behaviorismo radical não conseguiria explicar.
ISO
Validade - Constitui-se no aspecto nuclear da in-
vestigação científica, exigindo correspondência empírica en-
tre as relações hipotetizadas e os eventos observados. Nunnally
(1978) distingue como funções das medidas psicológicas: est~
belecer uma relação estatística com uma variável particular-
e se caracteriza a validade preditiva; representar um univer
so específico de conteúdo - e se define a validade lógica
medir traços psicológicos - e se constitui a validade de cons
tructo. Kerlinger (1964) diz ser impossível estudar a valida
de, sem questionar a natureza da realidade, e daí o seu cara I
ter complexo, controverso e particularmente importante.
Thorndike (1977) afirma ser a validade a eficácia de uma me
dida para representar, descrever ou prognosticar o atributo.
Magnusson (1972) confirma ser a validade de um método a exa-
tidão com que se obtém medidas significativas e adequadas no
sentido de que expresse o que se pensou medir. Ghiselli 0964)
diz que o termo pertence ã natureza dos traços medidos pelas
operaçoes desenvolvidas a partir de suas definições.
Como denominador comum dessas colocações situa-se
o pronunciamento da American Psychological Association, con-
densado por Cronbach ~ Meehl (J9.SS) in Wainerman (1976), que
reúne uma distinção conceitual entre os diversos significa -
dos e os procedimentos específicos para sua determinação.
151
1.1 - Análise Fatorial
A revisão da literatura especializada, já aprese~
tada em páginas anteriores (ver A Estrutura Teórica do ITPA),
refere grande número de investigações feitas, empregando- se
a técnica da Análise Fatorial, em amostras bastante diversi
ficadas. Como se pode observar os resultados são inconclusi
vos ou inconsistentes - sobretudo em função de achados apa -
rentemente contraditórios - ou mesmo de comparação difícil ,
tendo-se em vista a multiplicidade de procedimentos utiliza-
dos.
Uma análise crítica permite salientar, como possí
veis interferências, particularidades metodológicas relati
vas aos sujeitos, procedimentos e técnicas utilizadas.
- Do instrumento
Quanto ao instrumento. a forma utilizada diversi
ficou-se em Experimental e Edição Revisada, ambas publicadas
pela University of Illinois Press em 1961 e 1968, respectiv~
mente. Embora diferentes, basicamente quanto ao formato e nú
mero de dimensões. comparações entre resultados das duas for
mas, efetuadas por Waugh (J9J3), evidenciam correlações cuj a
magnitude é semelhante ã das obtidas em cada edição, como me
dida de estabilidades Cteste-retestel. No entanto, para o pro
pósi to em questão, a variação no número de dimensões Cde 9 para
152
12) se torna relevante, desde que poderá influi r no numero de
fatores que a técnica fará emergir.
Dos critérios
Alguns estudos efetuados empregam a Análise Fato
rial sem o recurso de testes de referência, valendo-se apenas
dos subtestes descritos pelo modelo .
. De um modo geral~esta técnica evidencia a existên
cia de fatores amplos que explicam a maior parte das intercor
reI açõe s.
As pesquisas referidas neste modelo interpretam
seus resultados como indicativos da existência de um fator
psicolingUístico geral, o que compromete basicamente a especi
ficidade postulada.
Outros estudos incluem testes ou avaliações já p~
dronizadas e vali dadas. contudo de baixa vinculação teórica às
variáveis do ITPA,tais como inteligência geral, desempenho es
colar, desenvolvimento~so-motor e etc. Sob tais critérios os
fatores que surgem podem, de certo modo, direcionar a forma -
çao das estruturas, permitindo a emergência de fatores que po
dem refletir as variáveis de critério.
, 153
- Dos sujeitos
A diversificação das características dos sujeitos,
evidenciada na revisão bibliográfica, aparece nas faixas etá
rias ou ainda nas amplitudes etárias e na natureza dos gru
pos estudados, envolvendo retardo mental, dificuldades de a
prendizagem ou acadêmicas e grupos normais.
Percebe-se que se busca, fundamentalmente, a emer
gência de configurações diferenciais que permitam explicar o
comprometimento das estruturas psicolingUísticas nos grupos
considerados.
- Da técni ca
Quanto ao aspecto da técnica de Análise Fatorial,
a reVlsao crítica permite evidenciar o emprego do modelo dos
Componentes Principais ou dos Fatores Principais, como técni -
cas de extração dos fatores e da solução ortogonal ,como pro -
posta de rotação para fatores independentes, adotando-se a
Varimax como critério de rotação. Sob este aspecto não há di
vergências na literatura consultada, embora se reconheça que
a Varimax (bus ca tornar "máximas" as vari ânci as das vari áveis
no menor número possível de fatores) visa ao critério da "es
trutura simples" de Thurstone, o que poderia insinuar estrutu
Tas fatorialmente econômicas ou simplificadas.
154
Mesmo. levando-se em conta as especificações meto
dológicas apontadas,poucos estudos têm assegurado a correspo~
dência integral entre o modelo teórico e os achados empíricas.
A investigação aqui descrita utiliza, na Análise
Fatorial, apenas os subtestes do IrPA, sem recorrer a variá -
veis de referência.
Os supostos teóricos que orientarnas diretrizes
metodológicas dos procedimentos de validação constituem as hi
póteses de trabalho a seguir descritas:
(1 9 ) O modelo do IrPA postula a existência de
três dimensões básicas e independentes:
níveis: representacional e automático
processos: receptivo, organizacional e expressivo
canais: de entrada e saída da mensagem, configurando as modali
dades auditivo~vocal e viso-motora~
(2 9 ) Os subtestes estão colocados na convergência
de um nível, um processo e um canal, abrangendo, portanto , doze
habilidades~ contudo,apenas dez são específicas ,uma vez que
os dois subtestes suplementares - Closura Auditiva e Combina
ção de Sons - avaliam segmentos de um mesmo domínio, j á aferi
do pelo subteste Closura Gramatical.
155
(3 Q ) Cada um dos dez subtestes fundamentais tem,
com cada outro, duas fontes de variância comum e urna específi
ca;
(4 Q ) Cada subteste do modelo tenta isolar um as
pecto específico, apresentando unidimensionalidade em seu con
teúdo.
Estas hipóteses de trabalho permitem configurar a
estrutura teórica abaixo referida:
Quadro 1: Estrutura teórica dos subtestes fundamentais
Níveis Processos Canais
Repres. Aut. Recep. Org. Expr. Aud;Voc. Vis-~t.
I II III IV V VI VII
Re cepção Audi ti va X X X
Recenção Visual X X X
Associação Auditiva X X X
Associação Visual X X X
Expressão Verbal X X X
Expressão Manual X X X
Closura Gramatical X X X
Closura Visual X X X
~mória Seq . Auditivé X X X
~mória Seq. Visual X X X
156
À luz desta estrutura teórica adotaram-se os segui~
Les procedimentos técnicos:
(1 9 ) Extrair sete fatores, verificando sua corres -
pondência lógica e significância estatística;
(2 9 ) Utilizar a rotação ortogonal, tendo em vista a
proposta independência entre os fatores;
()9) Recorrer ã solução Varimax que, segundo Kaiser
(1958) e Harman (J960)J oferece estruturas fatoriais mais está
veis que outros métodos de rotação.
157
Tabelas 3: Estruturas fatoriais preliminares
Tabela 3.1
3 anos - I II III IV V VI VII
Recepção Auditiva .46446 .41401 .42360
Recepção Visual .68015
Associação Auditiva .82487
Associação Visual .40328 .54564
Expressão Verbal .51502 .42143 .41656
Expressão Manual .67597
Closura Gramatical .80234
Closura Visual .77534
Mennria Seqfuncia1 Auditiva .75411
~mória SeqUencia1 Visual .68742
Tabela 3.2
4 a 6 anos
,
Recepção Audi ti va
Recepção Visual
Associação Auditiva
Associação Visual
Expressão Verbal
Expressão Manual
Closura Gramatical
Closura Visual
Nemória SeqUencial uditiva A
móri a SeqUenci aI ~
V isual
I
.70771
.53305
.47055
.47310
158
I! lI! IV V VI VI!
.42279
.51139
.47060
52914 .42477
.70351
.54662
.59079
.60270
.47929
159
Tabela 3.3
7 a 10 anos
I II III IV V VI VII
Re cepção Audi ti va .66098
Recepção Visual .44292
Associação Auditiva .48530
Associação Visual .39947 .43844
Expressão Verbal .45331
Expressão Manual .78396
Closura Gramatical .40331 .46848 .42069
Closura Visual .67837
M=mória SeqUencial .70222 Auditiva
M=mória SeqUencial .63567 Visual
160
Observe-se que sao objeto de estudo apenas as car
gas fatoriais da matriz pós-rotação cuj os valores foram iguais
ou maiores que 0,4000. Este é o limite mínimo que Nunnally
(1967) propõe corno regra de interpretação.
Extraídos os fatores e submetidos à rotação propos
ta as matrizes fatoriais não corresponderam às estruturas hi
potetizadas em qualquer dos grupamentos etários considerados.
As cargas fatoriais não se proj etararn nos fatores hipotetizados.
Por exemplo, o subteste de Recepção Auditiva (ver tabela 3.1.,
3 anos) apresenta-se em três fatores (11, IV, VII), enquanto
o de Recepção Visual em apenas um (IV). Em contraste, o sub -
teste de Associação Audi ti va apresenta-se em um fator (1) e
o de Associação Visual em dois (11, IV). Nos outros grupos e
tárias a configuração vetorial modifica-se de urna forma que,
em termos psicológicos, não encontraria fundamentos nos prin
cípios do desenvolvimento. Acrescente-se ainda que, em cada
um destes grupos, o número de fatores significativos é dife -
rente, o que leva a supor que, por determinação da técnica, e~
ta se tenha tornado um "Leito de Procustes" das variáveis,pr~
duzindo soluções artificiais, tornando praticamente impossí -
vel urna interpretação que possa dar conta integralmente do
sentido psicológico dessas variáveis.
A partir desta colocação foi adotada a seguinte se
qUência metodológica: procedeu-se à urna análise complementar,
recorrendo-se à solução dos componentes principais, o que pe~
161
mitiu avaliar a contribuição relativa de cada fator expressa
por seu "eigenvalue"~ desta vez foram acrescentados aos sub -
testes principais os dois suplementares, desde que a especifl
cidade de cada variável não havia sido assegurada pela prova
éiuterior.
Comparando-se os três grupos etários decidiu-se
para a análise seguinte, extrair cinco fatores
à dupla exigência comum aos três grupos: terem
que atenderam
obtido
"eigenvalues" maiores do que 0,60 e apresentarem urna contri -
buição relativa de, pelo menos, 5% para a variância total.
Após esta decisão recorreu-se à nova fatorização,
utilizando-se o modelo dos fatores principais. As comunalida
des foram estimadas através do coeficiente de determinaçãomú!
tipla, estabilizadas por processo de iteração.
Fixado em cinco o número de fatores a serem extraí
dos, Ja se configurava a falta de evidência empírica da estru
tura proposta pelo referencial teórico. A principal diretriz
passou a ser a de determinar quais as dimensões subjacentes às
variáveis descritas pelo modelo, assim corno explicitar sua n~
tureza, levando-se em consideração a perspectiva de aprendiz~
gem que é a intenção central deste modelo.
162
. Análise e interpretação dos resultados
A técnica utilizada permitiu a emergência das ma
trizes fatoriais a seguir apresentadas e descritas.
Manteve-se o critério de significância estatísti
ca das cargas fatoriais, proposto por Nunna11y, para inter -
pretação.
Tabela 4.1: Estrutura Fatorial pós Rotação
FATORES 3 ANOS
I 11 111 IV V
Recepção Auditiva .7421 .3716 - .1833 .1012 .0032
Recepção Visual .6214 .0754 .2358 .0863 .1423
Associação Auditiva .6708 .1557 .0841 .4863 .1107
Associação Visual .6869 .3499 .2082 .1466 -.0922
Expressão Verbal .1430 .5498 .3471 .0085 .4134
Expressão Manual .0917 .7221 - .0925 .1136 .0808
C10sura Gramatical .5174 .2275 .1663 .7952 .0809
C10sura Auditiva .6185 .0207 .1211 .3909 .1076
Corrt>inação de Sons .4734 -.1705 .2966 .2047 .2183
C10sura Visual .1970 -.0054 .8056 .1036 .0128
Memória SeqUencia1 Auditiva .0998 .1208 .0040 .0621 .6913
Memória Seqüencial Visual .5454 -.0425 .2138 .1818 .1735
163
A análise da matriz fatorial evidencia a importân
cia de um fator de cognição empírica, fator I, abrangente, e~
volvendo os aspectos comunicativos com a realidade exterior ~
través de características receptivas,onde se representa urna
interpretação elementar do mundo dos eventos ,em termos de um
sentido que o sujeito lhe pode atribuir.
Corno se observa,as funções, neste fator, nao se a
presentam corno o modelo postula: as habilidades recobrem ca -
nais, níveis e processos psicolingUísticos diversificados; v~
rifica-se, contudo, que apenas o processo expressivo está ex
cluido dessa dimensão.
g importante notar que a modalidade de memória,prl
vilegiada nesse fator, é a visual.
Em sintese, poder-se-ia interpretá-lo corno um fa
tor de decodificação figuraI do sentido da realidade.
o fator 11 é de natureza nitidamente expressiva
envolvendo as duas modalidades propostas pelo referencial teó
rico. Pode ser interpretado corno a habilidade para fazer
uso da linguagem gestual e verbal corno formas de resposta. Ob
serve-se que, nesse grupo etário, a contribuição relativa da
variável Expressão Manual prevalece sobre a da Expressão Ver
bal. Ao se considerar as perspectivas filo e ontogenética pe!
cebe-se que, efetivamente, a comunicação gestual é anterior,
164
recorrendo à açao corno modo de representação do real, presen
te mesmo nos níveis evolutivos que não possuem linguagem.
Nessa faixa etária o fator 111 parece ser predomi-
nantemente perceptivo-figurativo. A análise das modalidades
de "input" em processos ou níveis diferentes, ainda que em
cargas fatoriais pouco expressivas,permite sugerir que se tra
ta de um fator de natureza visual. Considere-se ainda que a
variável Closura Visual, de carga mais elevada no fator, re-
corre a utilização de um princípio de seletividade figuraI
que faz convergir estímulos para organizações dotadas de sig
nificação, mesmo quando estes estímulos são apresentados de
forma incompleta. Acrescente-se que a variável Combinação de
Sons, definida sob modalidade auditiva,recorre, em seus itens
iniciais - Seção A -,à utilização de pistas auxiliares de mo
dalidade visual, quando são apresentados, à ·vista de figuras
de objetos familiares, os fonemas sucessivos dos nomes desses
objetos.
o fator IV é caracteristicamente auditivo e ..
reune
duas variáveis que recorrem à utilização do vocabulário, tan-
to em suas relações de significado,quanto de morfologia ou
sintaxe. Observe-se que o subteste de maior relevo para o fa-
tor, Closura Grmatical, enfatiza em seus itens iniciais, por-
tanto específicos dessa faixa etária, a utilização das re-
gras elementares da gramática.
, 165
Já o fator V é de modalidade auditivo-vocal e pela
natureza das variáveis envolvidas parece tratar-se de um fa
tor mnêmico, tanto em seu aspecto de estocagem e evocaçao a
curto prazo, e portanto mem6ria imediata, quanto em seu aspe~
to de recuperação de material estocado, mem6ria mediata. E im
portante lembrar que Expressão Verbal é um subteste de conteú
do informacional sobre atributos de determinados objetos.
4 - 6 anos FATORES
I II III IV V
Recepção Audi ti va .6617 .1633 .2760 .1190 -.0956
Recepção Visual .3562 .1933 .4530 .0796 .0903
Associação Auditiva .7391 .1990 .3446 .1698 -.0213
Associação Visual .5358 .2364 .5422 .1068 -.0286
Expressão Verbal .3141 .7406 .1490 .0155 -.1596
Expressão Manual .1128 .5649 .2800 .0577 .2007
C10sura Gramatical .7017 .2911 .2570 .2222 .2024
C10sura Auditiva .7276 .2503 .1673 .3152 -.0150
Combinação de Sons .2393 .0094 .1385 .6054 .0124
C10sura Visual .2183 .3161 .4993 .3071 -.0878
M=mória SeqUencia1 Auditiva .5197 .1085 .1852 .2330 .0407
M=m6ria SeqUencia1 Visual .3362 .2435 .4482 .2430 .0612
Tabela 4.2: Estrutura Fatorial P6s-Rotação
, l6b
A análise desta matriz fatorial evidencia constân-
cias que sugerem a existência de estruturas invariantes, inde
pendentemente do desenvolvimento etário.
Contudo, a constatação de algumas diferenças, -as
quais se pode atribuir uma perspectiva de aprendizagem, mos -
tra coerência com a colocação da proposta epistemológica so-
bre a qual se assenta a posição neobehaviorista do modelo em
questão.
Como principal, fator I, permanece o fator lingUí~
tico, envolvendo a cognição como processo básico de decodifi-
cação e interpretação do significado do real. Percebe-se, co~
tudo, certa diferenciação das modalidades auditiva e visual,
aumentando neste fator a contribuição relativa do canal audi-
tivo. Este dado é solidário com a perspectiva ontogenética
que atribui, ao canal auditivo, a base para a fonação nas re-
gl~1ações que vão permitir o surgimento da linguagem.
Observe-se ainda que, a nível de filogênese, o ca
n~l auditivo-vocal já representa uma evolução da escala in-
{(a-humana, servindo de consti tuinte básico da comunicação ve!.
balo
Como fator 11 permanece o expressivo, já evidenci~
do no grupo etário inferior; no entanto,a prevalência da Ex-
pressão Verbal sugere que esta modalidade seja desenvolvida
167
a incentivada pelas exigências acadêmico-educacionais que, ne~
sa fase etária, estimulam a conceitualização.
Observe-se que, ao nível da tarefa solicitada, o
subteste de Expressão Manual avalia a ação motora que repre -
senta o modo comum de utilizar determinados objetos, enquanto
que o subteste de Expressão Verbal dimensiona a capacidade
de expressar conceitualmente os atributos que caracterizam o
conhecimento de outros determinados objetos.
Em face de desenvolvimento acelerado da conceitua
lização, a modalidade verbal acentua sua contribuição, desta
cando-se sobre a manual, apresentando-se como habilidade mais
complexa que a outra forma de expressão.
Esses resultados consolidam os anteriormente des
critos: enquanto que aos 3 anos prevalece a ação, de 4 aos 6
anos esta ação já cede lugar ã linguagem, internalizando-se.
Apenas a título ilustrativo cabe informar que, em
outro trabalho (Bogossian, 1975), estudou-se o aspecto evolut!
vo da utilização desses atributos. No entanto,a inclusão des
ses resultados escapa aos objetivos do presente trabalho.
Fator 111 - Surge, sob configuração nítida, o fa
tor que já se esboçara na faixa dos 3 anos, evidenciando sua
característica visual. Cabe salientar que todas as variáveis
168
em questão utilizam material que é apresentado sob forma fig~
ral, tanto no nível representacional quanto no automático. En
quanto que no grupo etário inferior destaca-se a Closura Vi
sual, no grupo 4 a 6 anos sua contribuição se diferencia em
outros componentes acentuando-se, ligeiramente, o aspecto as
sociativo das relações entre os estímulos.
No fator IV destaca-se a variável Combinação de
Sons, de modalidade auditiva, que no grupo etário anterior
vinculara-se ao fator I, de Compreensão Geral, e esboçara- se
também no fator 11. Sabe-se que este subteste é composto de
três seções distintas: uma primeira série, de sons isolados a
partir de estímulos com significado e apresentadas com mate -
rial de apoio visual, característica já referida no grupo in
ferior; uma segunda seção, também com significado mas sem o
recurso do conteúdo figuraI, e uma terceira, de estímulos sem
significado. Pode-se supor que a habilidade exigida para o de
sell!penho das seções iniciais - específicas dessa faixa etá
ria - envolva a identificação da palavra a partir de algum
fOlL;:ia corretamente percebido, coadjuvado, no entanto, pela pi~
ta \'~ual.
A análise das saturações, ainda que estatisticame~
te pouco expressivas, permite inferir que se trata de um fa
tor que propicia o reconhecimento dos estímulos. ~ importante
lembrar que todas as variáveis apelam à Closura, o que supoe
um princípio organizador que conduz ao significado,mesmo qua~
169
~
do o material e apresentado sob transformações.
o fator V nao apresenta contribuição de relevo e
sua emergência é justificada apenas como exigência imposta à
tecnica.
Comparando-se os dois últimos fatores extraídos em
cada grupo etário analisado, onde se percebem suas especifici
dades, pode-se insinuar um princípio hiernrquico que progressi
vamente integra as habilidades, transformando-as em habilida-
des mais complexas. Exemplificando, o fator associativo, org~
nizacional, que aos 3 anos emerge como dimensão independente,
se torna implícito como um aspecto mais específico da cogni-
-çao.
Entretanto, essas colocações são apenas suposições
que os dados oferecem ã interpretação.
170
Tabela 4.3: Estrutura Fatorial Pós Rotação
FATORES 7 - 10 anos
I 11 111 IV V
Recepção Auditiva .0492 .6254 .1592 .0494 .1480
Recepção Visual .1848 .4374 .0638 .1978 -.0510 .
Associação Auditiva .2125 .6465 .3075 .2436 -.0375
Associação Visual .37l5 .4473 .0850 .367l .3447
Expressão Verbal .1536 .3779 .2614 .3035 -.0896
Expressão Manual .7244 .2872 .0492 .1404 -.1039
C10sura Gramatical .3260 .5628 .4489 .0888 .1075
C10sura Auditiva .0561 .5311 .5012 .0984 .0169
Combinação de Sons .3672 .0815 .5586 .1134 .0168
C10sura Visual .7294 .1630 .2575 -.0074 .1634
~mória Seq\.encial Auditiva .0426 .2398 .6666 .0950 .0161
~mória Seq\.encia1 Visual .0376 .1509 .1035 .67l7 .0297
171
A análise dos resultados neste grupo etário evi
dencia sensfveis modificaç6es,quando sio comparados isestru
turas fatoriais anteriormente descritas e interpretadas.
o fator de decodificaçio geral da informaçio nao
apresenta a mesma relevância dos grupos etários anteriores.
A observaçio das cargas das variáveis no fator mos
tra que o aspecto expressivo, embora nio alcance o valor limi
te, vem se insinuar junto ao receptivo-associativo, consti
tuindo-se numa modalidade audio-fonética integrada que serve
de suporte i cogniçio.
o fator I,de maior importância neste grupo, também
utiliza a modalidade integrada mas de natureza viso-motora
tal dado corrobora o anterior, confirmando a convergência pa
ra uma modalidade única, provavelmente alimentada por mecanis
mos de "feedback".
Considerando-se que onto e filogeneticamente a mo
dalidade viso-motora é evolutivamente mais arcáica nao se p~
deria,em princfpio, justificar esta aparente incoerência.
Contudo, estudos sobre a aprendizagem da leitura
e da escrita evidenciam a importância de mecanismos percepti
vos e motores, de globalizaçio e sfntese}que o treinamento es
colar deve desenvolver. Sup6e-se portanto que o domínio do có
172
digo gráfico para leitura e escrita recorra a habilidades pa-
-ra perceber seqUencialmente o que e visto ou ouvido e reprod~
zir essa seqUência através da açao motora, ou ainda supõe- se
que estejam envolvidas habilidades perceptivas que permitam
o reconhecimento de formas gráficas, identificadas ou como
partes do todo - sílabas e fonemas - ou como um percepto glo
bal que representa o todo, em função da identificação de suas
partes.
Nesse sentido1
0s resultados sugerem que o processo
educacional, instrumentalizado pela leitura e pela escrita,r~
corra, pelo menos em suas etapas iniciais, aos aspectos viso-
motores para fundamentar tais desempenhos.
Como terceiro f~orsurge uma dimensão aparentemen-
te nova que engloba variáveis de modalidades auditiva no
vel automático.
No entanto,já se havia observado no grupo de 4 a
6 anos que o fator IV esboçara essa configuração sem, contu -
do, alcançar relevância estatística. Deduz-se que se trata de
um fator de utilização das regras da sintaxe, operando sobre
os aspectos mais elementares da comunicação.
E interessante verificar que, embora esse conjunto
se constitua no nível automático proposto pelo modelo, a va
riável Closura Visual se mantém independente, tanto quanto a
173
Mem6ria SeqUencial Visual, o que caracteriza a modalidade au
ditiva, já anteriormente apontada.
No fator IV s6 aparece uma habilidade de relevo
que é a Mem6ria Seqüencial Visual. A inspeção das satura-
ções mostra que se trata de um fator de modalidade visual
que opera sobre relações entre estimulos visuais com signif!
cado.
S interessante acrescentar que outros estudos , em
que se investiga a natureza dos processos envolvidos na exe
cução dessa tarefa, demonstram que crianças dessa faixa eta-
ria recorrem a estratégias de memorização onde se empregam
"r6tulos" facilitadores da atribuição de significado às fig~
ras utilizadas na tarefa. A retenção da imagem passa a recor
rer a pistas auxiliares que são mediadores verbais (Bowen et
aI, 1978).
Crianças brasileiras, em pesquisa anterior, corr~
boraram estes achados: é possível que a habilidade de Mem6 -
ria SeqUencial Visual "exija que os sujeitos derivem um modo
significativo de organizar e evocar o material, envolvendo m~
di adores ve rbélis e vi s uais" (Bogos s i an, 1975, pp. 144 -14 5) .
Tal suposição parece confirmada pela exclusão da
variável Closura Visual predominantemente perceptiva - figu
raI, para cujo desempenho independe o recurso à interpreta -
174
çao do significado conceitual.
o fator V nao tem contribuição de destaque e, tal
como no grupo etário anterior, sua emergência é uma condição
previamente determinada.
A avaliação desses resultados conduz necessaria -
mente a uma indagação de caráter mais geral. Serão esses a
chados especificos de uma determinada cultura ou grupo - e
aí se justificariam as propostas predominantemente ambienta-
listas - ou as regularidades encontradas destacariam aspec -
tos invariantes que poderiam denunciar condições pré-formis-
tas que a aprendizagem apenas operaria?
Num primeiro nível de indagação propoe-se uma ten
tativa de identificar os aspectos -comuns, emergentes as di-
versas culturas estudadas.
Cabe,no entanto, considerar que tais achados se
submetem às características da técnica utilizada - Análise Fa
torial em rotação ortogonal com critério Varimax - o que po
de, de certo modo, orientar na busca do critério de estrutu-
ra simples de Thurstone. Este será~portanto,o denominador co
mum das comparações efetuadas.
o fator mais amplo encontrado nas três faixas e
tárias já havia sido identificado pela quase totalidade das
175
investigações, em grupos de desempenho normal ou comprometi
do, em idades variadas e culturas diversificadas, exemplifi
cando-se: Center (1963),McCarthy & Olson (1963),Myers (1965),
Ryckman & Wiegerink (1969), Smith & Marx (1971), Foggitt et
alo (1972), a e le se at ri buindo urna caracterís ti ca lingUís ti
ca ou cognitiva.
Também o proces so expres si vo já havi a sido identifi:.
cadoeinterpretado corno Expressão Representacional por Smith
& Marx (1971), Horner (1967) e Hueftle (1967) citados por
Smi th.
Os canais, especificamente auditivo e visual, ou
ainda as modalidades integradas ,também haviam sido obj eto de
inúmeras interpretações. entre as quais a de Wis land (969),
Leton (1972),Newcommer et aI (1975). entre outros.
O fator de memória, abrangendo a imediata e a medi:.
ata, esta definida como recuperação da informação estocada ,
já havia sido identificado por Foggitt et aI (1972), enfati
zando a via expressiva vocal.
Nos grupos etários superiores observa-se a emer -
gência do fator de Closura Auditiva, também reconhecido por
Foggitt Copo cit.) ,que lhe atribui características maturacio
nais e educacionais.
176
E, finalmente, o fator de Memória Visual, identifi
cado por Meyers (1969) e Leton (1972) e também descrito por
Bowen et a!. (1978).
De um modo geral pode-se supor que, apesar das
flutuações quanto às estruturas evidenciadas em cada grupo
etirio, permanecem certas constincias que parecem insensf
veis aos efeitos das culturas. No entanto,esses sao apenas
sinalizadores iniciais que outras investigações - especial -
mente nesse país continental que é o Brasil - poderão reve -
lar.
1.2 - Abordagem lógica a validade
Uma avaliação crítica das investigações feitas s~
bre a validade do constructo do ITPA torna, em sua maioria,
sem suporte empfrico o modelo postulado. Tal constatação le-
va necessariamente a uma indagação: efetivamente os subtes -
tes do ITPA deixam de ajustar-se à estrutura proposta ou, de
algum modo, correspondem, mas a técnica de validação utiliza
da é insensível a esta correspondência?
Doughtie e Wakefield (1974) afirmam que, segundo
Harman (1970), os padrões de fator obtido por métodos analíti
cos de rotação podem falhar especialmente quando - e este -e
o caso do ITPA - o modelo propõe uma distribuição uniforme de
C
A
N
A
S
177
pontos no espaço, mais do que conglomerados de pontos. Em
particular~a solução Varimax é a mais sensível podendo prov~
car distorções~ uma outra possibilidade é a de que, caso os
fatores sejam correlacionadosl "a rotação ortogonal possa en-
contrar apenas uma ou duas dimensões da estrutura e fracasse
na indicação das outras" (Doughtie e Wakefield, 1974, p. 411).
Propõe-se então, como outra aproximação à validade,
um estudo das relações entre as variáveis do modelo utili
zando-se como diretriz metodológica o trabalho acima citado.
De modo a testar a correspondência dos sub testes
do IrPA com seu referencial te5rico é necessário considerar
relações entre pares de subtestes em termos de distâncias en
tre os pontos na configuração espacial.
Esta proposta remete à representação gráfica do
modelo:
PROCESSOS:
RECEPTIVO ORGANIZACIONAL EXPRESSIVO
AUDITIVO
VISUA L
l~ __________________________________ _
Figura 5: Modelo teórico do nível representacional
178
Cabe considerar que apenas o nível representacio
nal se ajusta a este tipo de indagação uma vez que, no auto
rnático,os subtestes se colocam no processo associativo mas
são considerados como de "nível total" (Paraskevopoulos &
Kirk, 1969), não permitindo portanto a abordagem diferencial
que aqui se pretende investigar.
-O gráfico completo contem 15 linhas e sua estrutu
ra retangular produz conseqUenternente diferentes tamanhos
que caracterizam as distâncias entre os pontos.
Destas linhas sete são curtas e conectam pontos
que estão no mesmo canal e em processos adjacentes ou num
mesmo processo mas em diferentes canais. Quatro linhas sao
diagonais curtas e ligam processos adj acentes em canais dif~
rentes~ duas linhas são laterais longas e ligam pontos que
estão num mesmo canal, e, finalmente, duas diagonais longas
ligam pontos que estão em diferentes canais e processos nao
adj acentes.
De modo a estabelecer uma hierarquia de distânci-
as que permita recorrer ã analogia do modelo sao utiliza-
dos os seguintes pressupostos: La) variáveis que se identifi
cam nos processos ou canais devem estar mais associadas do
que as que se explicitam,ou em processos adjacentes e canais
diferentes,ou em processos nao adjacentes mas numa mesma mo-
dalidade~ Lb) estas últimas, que envolvem um aspecto comum
l~
- processos ou canais - devem estar mais associadas do que as
que conectam pontos sem qualquer dimensão comum.
Se avaliamos, como Campbell & Fiske (l959),que os
canais podem ser considerados diferentes métodos de medir os
três constructos teóricos: recepção, organização e -expressa0,
justifica-se que estes dois métodos possam ser diferentes
como artefatos da medida e , colocar juntas estas duas medi -
das de cada constructo~pode confirmar a efetividade dos três
processos.
As quinze distâncias interpontos sao classificá -
veis como curtas, médias ou longas - de acordo com o modelo
proposto ~ e estas distâncias deverão ser objetivadas atra -
vés da magnitude dos coeficientes de correlação que analogi-
camente expressam essa proximidade.
Assim cada linha curta deverá ter os pontos que
as definem mais próximos entre si do que as linhas caracteri
zadas como médias e estas deverão também ser menores do que
as linhas ditas longas. ConseqUentemente ,utilizando-se o pre~
suposto ordinal da transitividade as linhas curtas deverão
ter seus valores menores do que as linhas longas.
Operacionalmente o modelo analógico supoe que
quanto maior a proximidade entre as variáveis maior sua fon
te de variância comum e., conseqUentemente.,mais intensa a sua
180
associação, o que justifica trabalhar-se com o coeficiente de
determinação, expressão desta variância comum.
Os procedimentos que permitem avaliar esta aproxl - ~ maçao a validade do constructo são comparações entre os coe-
ficientes de determinação, à luz das colocações teóricas an-
teriores.
Utilizaram-se os mesmos grupos etários cuja carac
terização já foi anteriormente justificada e compararam-seos
coeficientes obtidos a partir das matrizes de intercorrela -
ções, tal como se apresentam nos diagramas a seguir apresen-
tados.
Figura 6: Diagrama das relações do nível
representaciona1
6.1 - Grupo 1: 3 anos
.27558
R.A .62342 A.A .28304
.53197 .31637
.09593
6.2 - Grupo 2: 4-6 anos
.38872
E.V
R.A .63476 A.A .43982 E. v
6.3
LI')
N N o '<:t .
-
'<:t r-t N o I"'l .
----------------~~
.46693
Grupo 3 : 7-10 anos
R.A .51256
.33736
---------------------
.35964
.30384
.32734
A.A .41418 E.~
LI')
!'-'<:t
'<:t . A.V
.42364
.29232
181
. t.N ~ N t.N ~
. N ~ t.N -.J o
Tabela 5: Relações de ordem das distâncias derivadas do Modelo
De DM DM
RA-RV RA-AV RA-AV
RA-AA RV-AA RV-AA
AA-AV AV-EV AV-EV
RV-AV AA-EM AA-EM
AA-EV RV-EM RV-EM
AV-EM RA-EV RA-EV
EV-EM
De - Distâncias curtas (7)
DM - Distâncias medias (6)
DL - Distâncias longas (2)
DL De DL
RA-AV
RA-AA
RA-EM AA-AV RA-EM
RV-EV RV~AV RV-EV
AA-EV
AV-EM
EV-EM
182
As matrizes a seguir apresentadas expressam as rela -
çoes obtidas (observe-se que, conforme referido, são coeficien
tes de determinação em valores percentuais).
Tabela 6: Análise comparativa das relações do modelo
6.1 - Grupo de 3 anos
a} Curtas e medias
RA RV RA AA AA -. AV RV - AV M
RA AV
RV AA
AV EV
AA EM
RV EM
RA EV 08 08 08
AA - EV AV - EM
08
EV - EM
15
~
00 t.N
RA - AV L
RA EM
. RV EV 08
RA - RV RA L
RA EM
RV EV
b) medias e lohgas
RV AA AV - EV
c) curtas e longas
RV AA - AV RV
AA - EM RV - EM RA
AV AA - EV AV - EM
EM
AV EM
~
00 ~
Tabela 6.2: Grupo de 4 - 6 anos
c) Curtas e médias
RA - RV RA AA AA AV M
RA AV
RV AA
EV EV
AA EM
RV EM
RA EV 15
RV - AV AA EV
15
AV - EM EV - EM
22
~
00 VI
b) Medias e longas
RA - AV RV - AA AV - EV AA - EM' RV
RA EM
RV EV
c) Curtas e longas
RA - RV RA - AA AA - AV RV - AV AA - EV
RA EM
RV EV
EM RA - EV
AV - EM EV EM
~
00 C]\
RA RA - RV
RV AA
RV AA
AV EV
AA EM
RV EM
RA EV 11
Tabela 6.3 - Grupo de 7 - 10 anos
a) Curtas e medias
RA - AA AA - AV RV
11
AV AA - EV AV - EM
11
EV - EM
~
co "-J
RA - AV L
RA EM
RV EV
L RA - RV RA
RA EM
RV EV
b) Médias e longas
RV AA AV - EV AA - EM
c) Curtas e longas
AA AA - AV RV - AV
RV - EM RA - EV
AA - EV AV - EM EV EM
09
....... 00 00
189
Os coeficientes expressivos dessas distâncias foram
comparados entre si e,em caso de se ajustarem às relações hip~
tetizadas pelo modelo,foi atribuído um sinal positivo. Para fa
ci1itar a interpretação a tabela abaixo sintetiza estes da-
I dos.
RJ\ - AV
RV-M
EV-EV
M-EM
RV-EM
RA-EV
RV-EV
+
+
+
+
+
+
+
Tabela 7: Concordância entre as ordenações postul~
res e as obtidas
Tabela 7.1: Grupos de 3 anos
+ + + RA-AV +
+ RV-M + +
+ + + + AV-EV +
+ + + + + + M-EM
+ + + + + RV-EM
+ + + + + RA-EV
c)Curtas X Longas
+ + +
+ + +
lconsiderou-se concordante quando a diferença foi~ 2%
190
Tabela 7.2: Grupo de 4 a 6 anos
a) Curtas X Médias b) Médias X Longas
AA-RVJ RA-M\M-AVI RV-AV/M-EV/AV-fl.1/EV-fl.1 M LfAA-EMIRV-EV
RA-AV + + RA-AV + +
RV-M + + RV-M + +
AV-EV + + + + AV-EV + +
M-fl.1 + + + + + + + M-fl.1 +
RV-fl.1 + + + + + + + RV-fl.1 +
RA-EV + + + + + RA-EV + +
c) Curtas X Longas
~RA-RVIRA-MIM-AVIRV-AVIM-EVIAV-FMIEV-FM
RA-fl.1 + + + + + + +
RV-EV + + + + + + +
191
Tabela 7.3: Grupo de 7 a 10 anos
I a) Curtas X Médias b) Médias e Lonllas
NRA-EM[RV-EM RA-RV/RA-M/M-EVI RV-AV/M-EV/AV-FMIEV-EM
RA-AV + + RA-AV + +
RV-M + + + RV-M + +
EV-EV + + + + AV-EV + +
M-EM + + + + + RV-EM
RA-EV + + + + RA-EV + +
b) Curtas X Longas
RA-EM + + + + + + +
RV-EV + + + + +
192
. Análise e interpretação dos resultados
Como se pode observar, uma primeira inspeção insi
nua q~e o número de concordâncias ultrapassa de muito as di~
cordâncias evidenciadas; contudo, o exame destas relações, à
luz do modelo proposto, permite complementar a interpretação
dos resultados.
Na faixa etária dos 3 anos observa-se que,no que
toca aos processos de recepção e organização, estes são os
mais interligados,independentemente da modalidade sensorial
utilizada; contudo, ao se levar em consideração que ... e no pr~
cesso associativo que esta relação é mais pregnante pode- se
supor que habilidades sejam determinados por um aspecto mais
geral, cognitivo, de interpretação do significado da informa
ção, independentemente do seu conteúdo.
Complementarmente,cabe considerar que o aspecto
expressivo é o mais independente, tanto no que toca à codifi
cação propriamente dita quanto no que se' refere à modalidade
utilizada - verbal ou manual.
As integrações auditivo-vocais e viso-motoras ain
da nao podem ser comprovadas.
Nas faixas etárias superiores observa-se acentua-
da modificação que, de certa forma, justifica a adoção desse
modelo. Complementarmente persistem algumas invariâncias que
192
. Análise e interpretação dos resultados
Como se pode observar, uma primeira inspeção insi
nua q~e o número de concordâncias ultrapassa de muito as di~
cordâncias evidenciadas; contudo, o exame destas relações, à
luz do modelo proposto, permite complementar a interpretação
dos resultados.
Na faixa etária dos 3 anos observa-se que,no que
toca aos processos de recepção e organização, estes são os
mais interligados,independentemente da modalidade sensorial
utilizada; contudo, ao se levar em consideração que -e no pr~
cesso associativo que esta relação é mais pregnante pode- se
supor que habilidades sejam determinados por um aspecto mais
geral, cognitivo, de interpretação do significado da informa
ção, independentemente do seu conteúdo.
Complementarmente,cabe considerar que o aspecto
expressivo é o mais independente, tanto no que toca à codifi
cação propriamente dita quanto no que se refere à modalidade
utilizada - verbal ou manual.
As integrações auditivo-vocais e viso-motoras ain
da nao podem ser comprovadas.
Nas faixas etárias superiores observa-se acentua-
da modificação que, de certa forma, justifica a adoção desse
modelo. Complementarmente persistem algumas invariâncias que
193
confirmam o que já se interpretou.
Aos 4 - 6 anos a matriz de intercorrelações evi -
dencia acentuado movimento na direção do modelo, sugerindo
que as variáveis se tornam mais especificas, sobretudo no que
toca aos processos; persiste ainda como aspecto predominante
a relação Recepção - Organização, embora já se evidencie mai
or integração com o processo Expressivo.
Ainda se mantêm as trocas informacionais intramo
dalidades o que pode corroborar a importância de um fator co.&.
nitivo, cuja atribuição principal poderia ser entendida como
a de compreensão das relações entre os eventos. Ressalte- se
que também o processo expressivo passa a utilizar, de modo
mais integrado, as modalidades verbal e manual como forma de
comunicação.
Na faixa etária mais elevada - 8 a 10 anos - a a
nálise dos resultados evidencia que as funções em canais ad
jacentes estão mais intimamente relacionad·as e que o processo
associativo - organizacional é efetivamente o elemento de
"trat amento" ou e laboração da informação. Es te dado, denomin~
dor comum de todos os grupos analisadosTenfatiza o aspecto
cognitivo que parece servir de suporte as funções. da comuni
caça0.
Em síntese, essa aproximação i validade demonstra
que as estruturas apresentam certa estabilidade, tendendo ao
194
modelo proposto. E~no entantoJnos processos adjacentes que
a distinção é menos nítida, sugerindo que a comunicação pos
sa fazer uso da combinação de d~ferentes modalidades. Obser
ve-se que nas três matrizes de intercorrelações a via Recep
ção Auditiva - Associação Visual - Expressão Verbal mostra
se pregnante, sugerindo a existência de um processo auxiliar,
de representação icônica do material auditivamente recebido.
De um modo geral,pode-se avaliar como promissores
os dados de validade que esta técnica permitiu evidenciar.
2 - Validade diagnóstica
Complementando a análise crítica da construçãote~
rica do ITPA situa-se um segundo nível de análise, desta vez
sobre uma de suas áreas de aplicação que é a sensibilidade
preditiva das informações produzidas.
Também quanto a este aspecto, o trabalho que aquí
se discute tem, em nosso país, um caráter pioneiro.
Retomando-se a diretriz inicial que formalizou o
teste postula-se que, em seu modelo de comunicação, o ITPA a
v::Jlia funções que interferem no desempenho escolar e. porta!!.
LO, as deficiências neste desempenho podem ser detectadas p~
lo rebaixamento dos perfis de habilidades; sob um modelo pr~
babilístico é possível avaliar quantitativamente o que se a-
195
fasta do desempenho típico e estabelecer limites que as dif~
renças individuais expliquem. ConseqUentemente, é possível,
ainda sob o mesmo modelo, designar o atípico e determinar a
confiança que se coloca sobre tal julgamento.
No intuito de.operaciona1izar as relações acima
formalizadas observou-se a metodologia a seguir descrita.
- Procedimentos metodológicos
Foram comparados dois grupos de crianças identifi
cados por diferentes níveis de desempenho escolar, entre 8 e
10 anos de idade, freqUentando a Rede de Ensino do Primeiro
Grau;
Um deles, qualificado como de aprendizagem lenta,
cursando a Segunda Série do Primeiro Grau, é repetente pelo
menos uma vez, apresenta dificuldades no aprendizado e se ca
racteriza por um conceito acadêmico insuficiente ou deficien
te. Não há diagnóstico de retardo mental ou deficiência sen
sorial comprovada. Foram selecionados por processo nao alea
tório das classes de aprendizagem lenta.
Outro grupo de igual tamanho, emparelhado apenas
quanto à idade, foi selecionado por processos gerador de nú
meros aleatórios, constituindo-se numa subamostra do grupo
submetido ao estudo sobre a validade teórica. Seu critério a
cadêmico foi o de não repetência.
196
o lIPA foi aplicado integralmente aos dois grupos.
Para controlar o efeito diferencial da variável idade utili
zaram-se os Escores Escalares derivados dos estudos prelimi
nares de padronização eBogossian, 1975 e Santos, 1977) .
. Hipóteses de trabalho
Além das hipóteses diagnósticas, já explicitadas,
foram propostas questões suplementares referentes às rela-
çoes . ,. ..... . lntr~nsecas entre as varlavelS e seus constructos, ou
seja, buscou-se verificar a sensibilidade diagnóstica de ca-
da um desses grupamentos propostos pelo modelo: lIPA inte
gral eJ a 12); subtestes fundamentais () ala); nível repre
sentacional (J, 2, 4, 6, 8 e lU1 e automático (3. 5, 7, 9,
11 e 12); modalidade- auditivo-vocal eJ, 4, 5, 8, 9. 11 e 121
e viso-motora (2, 3, 6, 7 e 101 e subtestes suplementares UI
e 12).
Complementarmente, em caráter exploratório, efet~
ou-se uma análise dis criminante uti li.zando-se a técnica
"SIEPWlSE", cujo objetivo foi o de determinar, atendendo ao
princípio da parcimônia, a composição linear mais eficaz na
predição do grupo de baixo desempenho acadêmico.
C om o t é cn i c a e s t a t í s t i c a u til i z ou - s e a An á 1 i s e Dis
criminante - SPSS Subprogram Discriminant eNie et aI., 1975 ,
in Elkins, 1981).
197
Esta técnica se justifica por ser uma abordagem
multivariada em que se combinam múltiplas medidas da variá
vel independente, de modo a determinar os valores da regres
sao que tornam máxima a discriminação entre os membros dos
grupos de refer~ncia (Kerlinger & Pedhazur, 1973).
As oito "análises da função discriminante sao apre
sentadas nas Tabelas 8, 9 ela.
Pode ser verificado que as analises mostram exce
lente discriminação, tornando-se difícil determinar um cri
tério de utilidade que permita ordena-las segundo o princí -
pio de efici~ncia de prognóstico.
Ao se considerar os grupamentos determinados a
prioristicamente pelos constructos destaca-se, quanto ao ní
vel, o representacional e, quanto aos demais, a modalidade
auditivo-vocal.
Complementando as informações anteriores, a Tabe
la 9 sintetiza as equações de prognóstico que, por elas mes
mas, dispensam interpretações adicionais.
A Tabela la exibe a classificação preditiva das
variaveis implicadas nas funções. Como se pode observar, to
mando-se o percentual de classificações corretas, as funções
expressivas do constructo se ordenam principalmente como Ba
teria Completa, Nível Representacional e Modalidade Auditi -
vo-Vocal.
'~'abela 8: Parâmetros das Análises Discriminantes
--~.
ANÁLISE GRUPO GRUPO C/ SUBTESTES DQ\1INIO LAMBDA DE NORMAL BAIXO DE ITPA PSICOLINGUIS "EI GENVALUE" WILKS
SEMPENHO TICO
BATERIA SUBTESTES 1 71 71 FUNDAt"1H{TAI S 3,90791 0,2008 COMPLETA
SrJ~~M~RES 2 71 71 1-10 SUBTESTES 3,86362 0,2056 FUNDAMENfAIS
3 71 71 1,2,4,6,8, NrVEL REPRE 3,42678 0,2259 SENfACIONAL 10
4 71 71 3,5,7,9,11, NrVEL AliO- 1,68198 0,3729 MÁTICO 12
5 71 71 1,4,5,8,9, CANAL AUDI- 3,51006 0,2217 11,12 TIVO
6 71 71 2,3,6,7,10 CANAL 1,32037 0,4310 VISUAL
7 71 71 11 e 12 SUBTESTES 0,66701 0,5999 SUPLFMENfA-RES
8 71 71 TECNlCA STEPWISE 3,96414 0,2014 1,9,10,6,7,11,8,2,12
X2 CORRELAÇÃO CANCNlCA
215.103 0,894
213.541 0,891
203.811 0,880
135.158 0,792
205.611 0,882
115.737 0,754
71.033 0,633
217.103 0,894
G.L.
12
10
6
6
7
5
2
9
SIGNIFI CÂNCIA-
P < .001
P < .001
P ,(.001
P < .001
P <.001 I
P <.001
P < .001
P < .001
!-' \.O 00
SUBTESTES ITPA
RECEPÇÃO AUDITIVA (1)
RECEPÇÃO VISUAL (2)
ASSOCIAÇÃO AUDITIVA (4)
ASSOCIAÇÃO VISUAL (6)
EXPRESSÃO VERBAL (8)
EXPRESSÃO MANUAL (10)
CLOSURA GRAMATICAL (9)
CLOSURA VISUAL (7)
MEM.SEQ.AUDITIVA (5)
MEM.SEQ. VISUAL (3)
CLOSURA AUDITIVA (11)
COMBINAÇÃO DE SONS (12)
Tabela 9: COEFICIENTES DAS FUNÇOES DISCRIMINANTES (PADRONIZADOS)
PARA AS VARIÁVEIS EM CADA ANÁLISE
I~ NÚMERO DA ANÁLISE
1 2 3 4 5 6
.36584 -.40128 -.54083 .44561
.01839 -.01611 -.01962 -.15234
-.01463 .01294 -.00440 .00215
.07655 -.089p6 -.11144 -.54343
.07270 -.06632 . -.08629 .08966
.06031 -.09311 -.11321 -.15676
.12658 -.13084 .46915 .17475
-.05708 .05477 -.04778 -.01594
-.00082 -.00388 .04996 -.00076
-.04280 .06863 .17713 -.17174
-.06374 t" :
-.02253 -.11188
.03651 -.00602 .03893
7
.82755
.36051
8
.41917
.09628
.08318
.07133
.14588
-.06229
-.05217
-.07237
.04014
~
\O \O
200
Tabela 10: CLASSIFICAÇÃO PREDITIVA DE CASOS BASEADA NOS SUBTES
TES DO ITPA
(índice de sensibilidade -S- e especificidade -E-)
SUBTESTES CLASSIFICAÇÃO PREDITA PELA ANÁLISE ITPA GRUPO ATUAL N9 FUNÇÃO DISCRIMINANTE
GRUPO 1 I GRUPO 2
BATERIA GRUPO 1 71 70 1
COMPLETA NORMAL 98,6 (E) 1,4 1 GRUPO 2 71 4 67
BAIXO DESEM PENHO - 5,6 94,4 (S)
PERCENTUAL DE CLASSIFICAÇÃO CORRETA: 96,48
SUBTESTES GRUPO 1 71 70 1 FUNDAMENTAIS NORMAL 98,6 (E) 1,4
GRUPO 2 71 7 64 2 1 - 10 BAIXO DESEM
PENHO - 9,9 90,1 (S)
PERCENTUAL DE CLASSIFICAÇÃO CORRETA: 94,37
NTVEL. GRUPO 1 71 70 1 REPRESENTA CIONAL - NORMAL 98,6 (E) 1,4
3 1,2,4,6, GRUPO 2 71 5 66 8,10 BAIXO DESEM
PENHO - 7,0 93,0 (S)
PERCENTUAL DE CLASSIFICAÇÃO CORRETA: 95,77
NrVEL GRUPO 1 71 66 5 AurOMÃTICO NORMAL 93,0 (E) 7,0
4 3,5,7,9, . GRUPO 2 71 8 63 11,12 BAIXO DESEM -PENHO 11,3 88,7 (S)
PERCENTUAL DE CLASSIFICAÇÃO CORRETA: 90,85
continua
BIBliOTECA f\lKDACAO Gc.TÚLIO VARGAI
201
.Tabela 10: (Continuação)
SUBTESTES CLASSIFICAÇÃO PREDITA PELA ANÃLISE GRUPO ATUAL N9 FUNÇÃO DISCRIMINANTE ITPA
I GRUPO 1 GRUPO 2
M)DALI DADE GRUPO 1 71 69 2 AUDITI VO-VO NORMAL 97,2 (E) 2,8 CAL -
5 1,4,5,8,9, GRUPO 2 71 5 66 11,12 BAIXO DESEM -PENHO 7,0 93,0 (S)
PERCENTUAL DE CLASSIFICAÇÃO CORRETA: 95,07
MJDALIDADE GRUPO 1 71 65 6 VISO-MJTORA NORMAL 91,5 (E) 8,5
6 2,3,6,7, GRUPO 2 71 11 60 10 BAIXO DESEM
PENHO - 15,5 85,5 (S)
PERCENTUAL DE CLASSIFICAÇÃO CORRETA: 88,03
SUBTESTES GRUPO 1 71 62 9 SUPLEMENf ARES
NORMAL 87,3 (E) 12,7
7 11 e 12 GRUPO 2 71 22 49
BAIXO DESEM PENHO 31,0 69,0 (S)
PERCENTUAL DE CLASSIFICAÇÃO CORRETA: 78,17
GRUPO 1 71 70 1
NORMAL 98,6 (E) 1,4
8 'ffiCNlCA GRUPO 2 71 5 66
STEPWISE· BAIXO DESEM PENHO - 7,0 93,0 (S)
PERCENTUAL DE CLASSIFICAÇÃO CORRETA: 95,77
202
Complementarmente a essa indicação calcularam
se os coeficientes de Sensibilidade e Especificidade propos
tos por Dixon & Massey (1961).
A sensibilidade se refere ã concordância entre o
progn6stico fornecido pelo teste e o critErio; no caso, ase~
sibilidade do teste se refere ã concordância entre apresen -
tar baixo desempenho na escola e ser diagnosticado do mesmo
modo pelo teste. A especificidade se refere ã concordância
entre não apresentar a caracterfstica em questão, no crit€
rio e no teste; no caso, nao ter dificuldades acad~micas e
ser classificado como normal pelo teste.
Como se pode perceber, assegura-se a eficicia de
um instrumento de diagnóstico quando ele atende a este duplo
crit€rio apresentando valores elevados em amnos. Este E exa.L
tamente o caso que aqui se discute.
Al€m da anilise discriminante dos constructos po~
tulados, a t€cnica "STEPWISE" permite evidenciar que, com d~
cr€scimo mfnimo da qualidade preditiva, se obtém um grupame~
to eficaz que congrega nove das doze variáveis do modelo, a
saber (na seqU~ncia em que foram inclufdas na anilise): Re
cepçao Auditiva, Closura Gramatical, Expressão Manual, Asso
claçao Visual, Closura Visual, Closura Auditiva, Expressão Ver
bal, Mem6ria SeqUencial Visual e Combinação de Sons.
203
Apenas como aspecto ilustrativo incluem-se os re
sultados (m~dias aritm~ticas ~ desvios-padrão) nos dois gru-
pos de referência (Tabela 11).
No entanto, toda essa evidência empírica qu~ .. a
primeira vista. responde às questões formuladas deve ser in-
terpretada com prudência. Utilizou-se um grupo com comprome
timento no desempenho acadêmico - este ~ o fato objetivo-m~
pode-se supor que se esteja diante de um grupo heterogêneo
quanto aos determinantes deste baixo rendimento; algum pre -
juízo mental, embora não objetivamente avaliado, com caren -
cia cultural, comprometimento neurológico ou funcional, ou
mesmo associação entre alguns destes determinantes, aos_quais
poder-se-ia, secundariamente, incluir ainda um componente
emocional. De todo modo, embora o ITPA tenha, inegavelmente,
demonstrado um alto valor preditivo quanto ao desempenho es-
colar, sugere-se que a "caixa preta" sej a aberta e que se po~
sá. trabalhar também a nível de processos e não somente a ní-
vel de resultados.
E ar poder-se-ia propor utilização mais esnecífi
ca dos resultados das funções discriminantes que forneceriam
informações diagnóstico-diferenciais e não apenas a triagem
típico-atípico que este estudo pode. sem dúvida. revelar.
204
Tabela 11: Resultados dos subtestes nos grupos de referência
RECEPÇÃO AUDITIVA
RECEPÇÃO VISUAL
ASSOCIAÇÃO AUDITIVA
ASSOCIAÇÃO VISUAL
EXPRESSÃO VERBAL
EXPRESSÃO MANUAL
CLOSURA GRAMATICAL
CLOSURA VI SUAL
MEMúRIA SEQUENCIAL AUDITIVA
MEMúRIA SEQUENCIAL VISUAL
CLOSURA AUDITIVA
COMBINAÇÃO DE SONS
GRUPO NORMAL
x
35,0854.
37,9296
35,9296
37,6761
35,8451
37,1690
37,7746
40,6338
36,6761
38,3239
33,9155
38,0986
S
4,4554.
4,8473
5,2191
3,9125
4,3217
4,0321
3,6183
5,7502
4,7050
4,3649
5,1983
4,8820
GRUPO j BAIXO DESEMPENHO
17,2958.
32,0845
23,5775
27,2535
28,0704
33,0704
27,7887
36,6901
29,7887
30,1972
23,6761
33,5332
6,3006.
4,0700
7,3614
6,0374
4,4250
4,6517
4,9278
6,1496
5,1629
6,7963
7,8025
5,4087
205
VIl- DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Os resultados que a técnica da Análise Fatorial pe!
mitiu evidenciar, complementados pela abordagem lógica do mod~
10, no proposto nível representacional e ainda a sensibilidade
discriminatória dos seus achados ,no que toca à previsão dos dese!!!
penhos escolares, abre ao debate as questões que concernem a
validade deste instrumento.
Uma avaliação crítica destes aspectos remete conse-
qUentemente 'a algumas indagações de caráter mais geral.
Os resultados revelam certa coerência entre as es-
truturas, permitindo identificar regularidades que ,se não cor
respondem integralmente ao modelo do lTPA,também não o invali-
dam totalmente. Poder-se-ia levantar pois, a questão do que
efetivamente esta Bateria de testes mede. O que se pode compr~
var é o acentuado poder preditivo do desempenho acadêmico, o
que permite assegurar a relevância das funções avaliadas pelos
subtestes sem necessariamente conseguir explicitar sua nature
za.
A interpretação inicial dos achados do lTPA sugere
tratar-se de uma organização semelhante a dos antigos testes de
Binet os quais embora tenham sido combatidos como modelo mate ,
mâtico - no que se refere ao QI de razão -,têm se revelado, do
206
ponto de vista prático, os melhores preditores pedagógicos até
a presente data.
Com efeito, de há muito, especialistas no assunto
têm assinalado que testes não fatorialmente "puros" possuem
maior validade preditiva em relação aos que pretendem medir
um so fator no domínio do desempenho em tarefas re I acionadas
com o processo ensino-aprendizagem, o que não exclui a possibi
lidade de elaboração de Baterias de testes cujos resultados
quando analisados, devidamente ponderados e correlacionados po~
teriormente com critérios múltiplos tamb;m ponderados, possam
vir a superar as Baterias até hoje existentes.
A discussão em torno desta questão leva a crer que
este tipo de instrumento avalia tarefas simuladoras das condu
tas elementares que estão presentes em qualquer atuação esco -
lar. ConseqUentemente:pode ser interpretado como um conj unto
de estímulos que representa uma amostra de comportamentos evi
denciados na prática escolar, possivelmente determinantes des
ta prática,tais como habilidade de segmentação silábica, per -
cepção de semelhanças e diferenças de elementos gráficos ou so
noros,ou ainda focalização sobre a tarefa, etc, reunidas atra
vés de composição multimodal, mas não necessariamente determi
nadas pelas funções psicolingUisticas que o modelo sugere.
Supõe-se, portanto, que o conjunto de aprendizagens
seja explicado por fatores que podem não ser aqueles definidos
pelo modelo ou ainda não terem sido identificados com preci
sao.
207
Parece claro que, diante da utilidade que a prática
consagra, cabe arriscar uma reinterpretação das variáveis do
modelo, de forma a melhor explicitar os fatores subjacentes aos
resultados encontrados, determinar a natureza destes fatores e
suas interrelações.
Propõe-se, portanto, reavaliar a nível,não apenas
teórico,mas também,epistemológico o constructo do lIPA à luz
destes estudos de validade, tomando-se como ponto de partida a
proposta neobehaviorista mediacional.
Revendo epistemologicamente esta posição levanta
se a questão de que a ocorrência de uma acentuada invariância
entre as idades chegaria a sugerir a presença de princípios
psíquicos permanentes ou funções inatas. Considerando que os
resultados não apoiam a invariância e,de certa maneira,reafir
mando o que o suporte teórico do lIPA exige, os dados sugerem
que não se trata de estruturas que ° pré-formismo possa expli
car mas de aprendizagens determinadas por um princípio básico
que é o associacionismo. No entanto, reconhecer este princípio
não seria admitir uma pré-condição associativa-organizacional,
capaz de explicar a cognição?
Nesta indagação impõe-se a necessidade de pressu-
208
por uma condição do indivíduo, prévia ã sua experiência, mas,
sobretudo, organizadora desta experiência e, destacando esta
propriedade ,explicitar o modo pelo qual as definições associa
cionistas mais radicais costumam dar conta de tal propriedade.
Interpretam-na como produzida pela propria experiência do indi
víduo: uma primeira associação entre estímulo e resposta é a
base para explicar,tanto esta organização'liado o estímulo (S)
tem-se a resposta (R)"quanto as substituições entre estímulos
que eliciem a mesma resposta e que vão produzir novas organiza
ções e padrões de respostas. Deste modo,constituem-se as signi
ficações a partir da experiência e a associação nunca é vista
como produzida por outra condição que não seja a aprendizagem.
No entanto,é justamente a própria aprendizagem a formação des
tas associações, capaz de operar o significado da experiência,
a qual fornece os conteúdos informacionais que, por mecanismos
de regulação, vão sendo incorporados, complexificando o proce~
sarnento destes conteúdos. Esta colocação remete i antiga ques
tão entre o empirismo e o racionalismo; embora o tema tenha si do abordado previamente - ver capítulo 11 - e aqui tratado com
mais detalhe por trazer valor de reflexão aos pontos que esta
análi se levant a.
Para os seguidores da corrente empirista como J.
Locke (1632-1704), o qual, como assinala Preposiet (1973), a
firma que "nada existe de inato no espírito humano" (pp. 90-91)
e este ,originariamente ,nada mais é senão uma "tabula rasa" que
aguarda as impressões da experiência,e para os adeptos da posi
209
çao racionalista, como G.W. Leibniz (1646-1716), para quem,
ao célebre axioma "nada existe no intelecto que não tenha pa~
sado antes pelos sentidos", acrescenta, como crítica: "exceto
o próprio intelecto"; cabe contudo ressaltar que ,se Locke ad
mite a experiência interna cuja fonte é a reflexão, e no mÍni
mo atribui ao ser humano a capacidade de pensar ou refletir,
reforça-se, assim, a tese do inatismo virtual de Leibniz.
Ji em 1972, Wertheimer, procurando identificar as
indagações cruciais da psicologia, incluiu a questão acima
citada: empirismo versus racionalismo em suas versões mais re
centes e tenta explicitar seu pensamento a respeito da possi
bilidade de fusão destas duas posições extremas.
Este trabalho, contudo, dirige o questionamento,
nao para as possibilidades já tentadas a aceitas de sínteses
reconhecidamente parciais mas para o fato comprovado e cu -
rioso de que, na psicologia, velhas questões ressurgem em va
riadas épocas, mesmo que disfarçadas com novas roupagens.
E então se indaga se o trabalho ora em discussão
reGne esforços para apenas voltar a trilhar veredas tantas vê
zes percorridas. Serão tais questões - sempre retomadas - sinal
de que a psicologia ainda está presa a paradigmas antigos, empenh~
da no que Kuhn apelida "Ciência Normal", sem poder oferecer
210
uma verdadeira "revolução científica", à espera de novos pen
sadores?
Retomando o enfoque neobehaviorista que representa
a diretriz central deste trabalho, já se observam algumas mo-
dificações, no sentido de incluir, em suas propostas teóricas
mais recentes, a dimensão cognitiva como aspecto organ iz ador
da própria aprendizagem.
Destaca-se, como ilustração desta perspectiva, a co-
locação de Slobin (1972) de interesse para este trabalho,
pelo tema de que trata - estudo do desenvolvimento da lingua -
. -gem infan ti 1 -, J a pe 10 aspe cto renovador com que aborda a
questão·. Ele mesmo coloca: "Trabalhos recentes têm focalizado
as intenções semânticas da criança e os meios pelos quais ela
decifra a fala de seus interlocutores" CSlobin, op. cit.p. 227).
Sob este aspecto central o autor revê algumas das tendências
mais atuais de interrelacionar o desenvolvimento cognitivo ao
lingUístico, visando a definir "aiguns dos componentes do meca
nismo de aquisição de linguagem" Libid.)
Reconhece que, desde as primeiras tentativas de for
mar uma linguagem para comunicar-se com seu ambiente, mesmo
utilizando enunciados de duas palavras, a criança apresenta r~
gularidades que revelam dimensões semânticas independentes das
estruturas lingUisticas em que estas relações se dão. Tal fato
sugere que a criança opera a linguagem utilizando formas ver-
211
bais como marcadores de funções seminticas ji implícitas no
uso verbal durante o estigio não marcado e que os significados
que utiliza - operações bisicas de referência - são mais dive!
sificados do que as formas superficiais dos enunciados (Brown,
1972,in Slobin,op. cito pp. 228-231).
Outras pesquisas demonstram estratégias específicas
de compreensão do significado da linguagem (Bever 1970, Clark
1972, in Slobin, op. cito pp. 232-234), em que efetivamente se
destaca a anterioridade da cognição sobre as estruturas
gUísticas.
lin-
Trazendo esta contribuição para a anilise dos resul
tados do ITPA pode-se interpretar como artificiais as separa -
ções previstas entre os processos receptivo e associativo, uma
vez que se dispõe de elementos teóricos que permitem reinter -
pretar a evidência empírica da não diferenciação entre estes
processos: a informação ji é recebida em função de elementos
organizadores que, por hipótese, podem ser "relações seminti -
cas"J tais como as encontradas nos estudos citados por Slobin.
Estes elementos são caracteristicamente cognitivos, operadores
de significado e considerados anteriores,em termos de desenvol
vimento,aos elementos propriamente lingUísticos, cuja aquisi -
çao é orientada pelos primeiros,não necessariamente no senti
do de serem inatos.
A situação atual dos conhecimentos no campo da psi-
212
colingUfstica abre, portanto, possibilidades de reinterpreta -
ção do modelo estudado, abrangendo dimensões novas que poderão
enriquecer ou modificar explicações por ele buscadas.
No entanto, retornando às origens do ITPA, ã adoção
do modelo da comunicação de Osgood e,mais ainda, revendo-se a
primeira definição da psicolingUfstica já se acentua o fator
cognitivo que preside ao ato da comunicação. Retomando-se,por-
tanto,a primeira definição de Osgood e colaboradores, em 1954,
citada nesse trabalho (Peterfalvi, 1970), destinatário e fonte*l,
esquema de base do ato da comunicação "são agora englobados no
termo único 'mediador' que, na comunicação humana representa,
grosso modo;a função cognitiva existente nos interlocutores "
(op. cito p. 29).
A aceitação desse modelo geral e mais especialmente
a elaboração que dele faz Osgood, em 1957, constitui para os
autores do ITPA o enquadre teórico que buscavam. Embora, como
j á se referiu, tenham introduzido modificações que permi tiram f~
zer face à experi~ncia e à sua própria prática,os mttores definem-
no como um modelo clfnico das habilidades da comunicação, man
tendo-se fiéis à primeira definição do objeto da psicolingUf~
tica. Referindo-se ao modelo Paraskevoponlos f Kirk (1969) a
fi rmam:
"Ele tenta interrelacionar os processos que oco r rem,por exemplo, quando uma pessoa recebe uma mensagem, interpreta-a, ou se torna a fonte de um novo sinal a ser transmitido. Lida com as
*1 Ver figura 1, ã página 50 deste trabalho.
funções psicológicas do indivíduo que operam nas atividades da comunicação" (p. 11)
213
Como se pode depreenderr a proposta do modelo media
cional, já insinuada em Hull e operacionalizado em Osgood, in-
troduz a noção do significado, o que vai permitir explicar o
princípio da seletividade dos conteúdos informacionais que o
simples mecanismo associativo não consegue esgotar.
PareceJPortant~ clara a intenção de Kirk e McCarthy
ao pretenderem avaliar os processos psicológicos que possibili
tam operar os fenômenos da linguagem.
Esta afirmação torna inconsistente a crítica dirigi
da à natureza mental e não lingUística das funções do
por Carroll (19]2); no entanto,reafirma-se que os autores
pretenderam dissociar o lingUístico do psicológico e este
éoponto central desta análise.
IrPA,
-nao
-nao
o que surge como malS importante é a possibilidade
de reinterpretar estes resultados à luz de uma proposta alter-
nativa que permita melhor explicitar as relações entre os ele-
mentos do modelo ou até mesmo desvendar seus aspectos constitu
tivos.
Várias semelhanças conceituais podem ser observadas e!!
tre o modelo do IrPA e o modelo da estrutura do intelecto de
Guilford (1956a; l056b,in Guilford, 1967). Estas afinidades
214
jã haviam sido identificadas por Mayers (1972) e Leton (1969)
que recorreram à proposta de Guilford corno modelo explicativo
das relações encontradas.
Sob este paralelismo identifica-se a dimensão ca-
nais a dos conteúdos ,ou seja,a modalidade visual se confunde
com o conteúdo figuraI e a modalidade auditiva se desdobra em
conteudo simbólico e semântico. Evidentemente,este aspecto co-
mum pode caracterizar a via sensorial que permite o acesso do
material informacional aos princípios interpretativos.
Além desta afinidade destaca-se a dos processos, r~
lacionados à dimensão operações: recepção, identificada a ava
liação, associação à produção convergente e expressão à produ-
ção divergentee,no proposto nível automãtico,a closura equiva
le à cognição e a memória seqUencial à memória imediata.
Em relação ao modo da utilização do material a di-
-mensao produtos pode ser encontrada sob forma de unidades,clas
ses,relações, sistemas ou ainda transformações.
Cumpre acrescentar, no entanto, que esta propost a
alternativa constitui,no momento, apenas uma sugestão.
o que ressalta desta alternativa de reinterpretação
e a necessidade de dispor de definições dos componentes previ~
t os por Kirk e Mc Carthy, sob novos ângulos, capazes de est abe-
lecer relações mais consistentes entre os dados empíricos, a
215
operacionalização destes componentes por meio dos subtestes e
um modelo teórico geral.
E neste ponto a teoria de Guilford parece consti
tuir uma melhor forma de explicitação das variáveis, permitin
do maior ajustamento do modelo teórico ao seu campo de aplica
çao.
A seguir, cada subteste do rrPA e revisto tomando
se por base, nao apenas a suposta natureza dos processos psic~
lógicos subjacentes ao seu desempenho, como também a reavalia
ção dessas habilidades, em face dos achados que as técnicas de
validação utilizadas permitiram evidenciar ou mesmo consolidar.
Recepção Auditiva
Está supostamente vinculada ã compreensao de mate
rial verbal com significado; no entanto,não há evidência empí
rica de que meça um processo receptivo isolado; parece dimensio
nar o processo associativo - organizacional.
Pela natureza das questões envolvidas, em que se p~
de ã criança que responda a frases gramaticalmente coretas mas
semanticamente possíveis ou absurdas Cex; - as cadeiras voam?))
parece tratar-se de uma habilidade que exige,não apenas o co
nhecimento do vocabulário mas ainda que, conhecendo o signifi-
216
cado aderido ao conceito, a criança formule um julgamento sobre
a factualidade das relações propostas e emita uma opinião. Es
te julgamento implica na 'Avaliação das Relações de Significado"
propostas no enunciado. Parece familiar à colocação de Guilford
(1967):
"A avaliação se define como um processo para com parar um produto de informação conhecida segun~ do critérios lógicos para estabelecer uma decisão relativa à satisfação do critério" (p.224)
Recepção Visual
Diferencia-se do anterior apenas pelo canal senso -
rial; no entanto tambem não se distingue do processo associati
vo.
A tarefa eXIge que, depois de ver uma figura-estlm~
10,a criança escolha - longe da vista do estímulo - uma, den
tre quatro alternativas, semelhante à figura estímulo quanto a
um aspecto determinado. A dificuldade consiste em associar mais
de um aspecto às semelhanças do estímulo, relacionando classes
(ex.: sapato-sapato, bola-bola, menino correndo e sorrindo -me
nina correndo e sorrindo), semelhanças funcionais (ex.: ampu-
lheta - relógio. luneta - microscópio), ou utilização de ummes
mo princípio (ex.: alavanca).
Este subteste parece exigir, portanto, na proposta
decodificação visual,a atenção aos detalhes do estímulo, a me-
217
m6ria imediata do material com significaç~o e a conceitualiza
ção deste material obtida por semelhanças. Note-se que estas
exig~ncias nio sao uniformes e,dada sua natureza divel"Sa, par~
cem recorrer a funç6es diferentes, ji identificadas em outros
estudos como Cognição de Classes Figurais, Memória de Classes
ou Relaç6es Figurais ,ou ainda,Avaliação de Relaç6es
(Guilford, 1967).
Associação Auditiva
Figurais
Envolve o processo organizacional e ê das variiveis
mais saturadas no fator ao qual se vincula. Recorre à habilid~
de para relacionar conceitos apresentados pela via auditiva
utilizando analogias verbais que, segundo Kirk, "cobrem um am
plo campo e provavelmente abrangem muito do que referimos como
raciocínio, pensamento crítico e solução de problemas" (Kirk &
Kirk, 1972, p. 143).
Esta habilidade é complexa e parece recorrer à memó
ria mediata, ao manejo de relaç6es e à conceitualização.
Levinson & Carpenter (1975) analisam este subteste
e reconhecem que as analogias verbais parecem diferenciar inte
ligencia normal e subnormal e sugere terem sido incluidos por
Kirk "mais por sua condição de discriminar entre categorias
diagnósticas ou grupos de idade do que por sua importância pa-
218
ra urna teoria da inteligência ou competência linguÍstica".
(Levinson & Carpenter, 1975, p. 326).
Analisando o que o teste prescreve, estes autores
propoem que não se trata de um raciocínio analógico ..
genulno
(não há proporcionalidade entre os termos) mas de "quase - ana
logias" em que o princípio básico ê o associativo.
De todo modo, parece claro que se recorre ã avalia-
ção do significado, deduzindo a relação apropri ada ent re os
dois elementos do primeiros par, de modo a suprir o elemento
ausente do segundo par.
Sua característica parece ser fundamentalmente cog-
ni ti va.
Associação Visual
Segundo sua própria definiçãoJdiverge do subteste
anterior apenas quanto ao modo de entrada da informação, o que
a análise fatorial confirma nos três grupos estudados.
No entantoJnas faixas etárias mais baixas parece
desdobrar-se em um componente de percepção figuraI que se esbo
ça aos 3 anos e se manifesta, de forma explícita, aos 4 - 6 a-
nos (ver fator 111).
219
Há dois tipos de itens: um tipo (20 itens) consis
te em uma figura-estímulo central, circundada Dor quatro alte!
nativas, das quais a criança deverá selecionar a que "combina",
ou seja, a que se associa, predominantemente por uma relação de
uso (ex. chapéu-cabeça, mesa-cadeira);o outro tipo (22 itens)
recorre a analogias visuais em que inclui, ao formato anterior,
um par de estímulos, cuja relação deve ser inferida para ser
aplicada ao estímulo central e uma das alternativas, formando
novo par.
.tenis ) ;
Utilizam-se relações de uso (ex.: raquete-bola de
todo-parte (ex.: pinheiro-pinha, pé de milho - espiga);
relações por semelhanças ou diferenças (ex.: quadrado grande
listrado-qúadrado pequeno liso, círculo grande listrado-círcu
lo pequeno liso).
Como se pode verificar, a habilidade de associa -
çao visual parece recorrer a um princípio de natureza cogniti
va extraído dos componentes perceptivos que o estímulo oferece.
Expressão Verbal
Essa habilidade para se expressar por meio de pa
lavras é, juntamente com a modalidade manual, uma das dimen
sões do modelo que a análise fatorial permite destacar em dois
dos grupos estudados.
220
A tarefa exige que a criança, pela instrução: "di-
ga tudo o que sabe sobre isso" (ex.: prego, bola, botão) reco!
ra à informação estocada na memória e emita respostas que ex-
pressem sua produção verbal. Esta produção pode ser dimensiona
da por dois aspectos complementares: um, o número de atributos
corretamente enunciados sobre o objeto e o outro a diversifica
ção de categorias ou conceitos utilizados para descrever tais
objetos, sugerindo tratar-se respectivamente de fluência, ex-
pressa pela quantidade e flexibilidade, pela variedade.
Parece referir-se à "Produção Divergente de Unidades
Semânticas",vinculando-se ao aspecto manual,nos grupos inferi-
ores para, no grupo etário superior, constituir-se numa modali
dade integrada.
Expressão Manual
Como processo expressivo a modalidade manual recor-
re a gestos ou expressão facial como forma de comunicação. Se-
gundo seus autores "requer certo grau de habilidade manipulati:.
va e controle central dos atos de rotina do movimento do cor -
"() . po ... e eXlge "um envolvimento central, não uma habi lidade
motora periférica (Kirk & Kirk, 19]2, p. 110).
Parece exigir uma habilidade mais simples do que a
expressa0 verbal,uma vez que a tarefa solicita a representação
221
gestual do modo comum de fazer uso de determinados objetos
(ex.: martelo, jarra e xícara de café) ,enquanto que,na verbal,
esta categoria, chamada Função ou Ação é uma, entre outras nove,
através das quais se pode conceitualizar determinado objeto.
Envolve,portanto,os movimentos volunt~rios organiz!
dos intencionalmente para representar esse modo de utilização.
Enquanto que nas faixas etárias mais baixas consoli
da, juntamente com a Expressão Verbal, o modo expressivo da c~
municação, dos 7 anos em diante o canal manual aparece integr!
do ao canal visual, constituindo a modalidade viso-motora.
Closura Gramatical
~ um dos segmentos da dimensão Closura Auditiva, e~
pressa pelo modelo; avalia a percepção de regularidades que
justificam a utilização intuitiva das regras da sintaxe, a pa!
tir de enunciados incompletos. A tarefa exige que a criança
complete sentenças truncadas que lhe são apresentadas a vista
de figuras que representam estes enunciados, envolvendo o co
nhecimento ,por exemplo, de gênero e numero (regular e irregu
lar), grau dos substantivos, sufixos, voz ativa e passiva, etc.
A análise fatorial evidencia ser esta uma habilida
de complexa, com saturações em mais de um fator,sugerindo que
de 3 a 6 anos a vari~vel se vincule ao fator geral de cogniç~o
e ainda caracterize uma das dimensões do canal auditivo; dos 7
aos la anos parece depender de um fator de aprendizagem acadê-
mica que envolve o aspecto normativo do uso da gramátjca. Po
de-se caracteriz~-lo como a habilidade para manipular morfemas,
de acordo com a lingua nativa, expressa como capacidade de in-
fletir e derivar estruturas gramaticais apropriadas.
Note-se que crianças culturalmente desprivilegiadas
apresentam registros diferenciados, avaliados como incorretos,
que a aprendizagem escolar tende a homogeneizar. Este dado su-
gere que a função medida se refira ao uso apropriado do siste
ma lingüístico e não ã habilidade para aprender regras. Este
dado é confirmado por vários autores (Grill & Bartel, 1977
Arnold & Reed, 1976 e Weber, 1982).
Closura Auditiva
Utiliza outro segmento da mesma habilidade exigindo
que a criança complete palavras apresentadas oralmente,ãs quais
faltam um ou mais grupos fonéticos colocados em posições di-
ferenciais: no início (- oiabada, - aracol), meio (cani - ete,
paI - anal ou fim (cava -).
A habilidade exigida parece recorrer ã identifica -
ção do estímulo (sintese auditiva] "comparando-o" a elementos
arquivados, contudo de forma completa.
A análise fatorial evidencia não ser esta uma habi-
lidade simples,mas complexa, evoluindo através das id~des no
sentido de se enriquecer atravis da aprendizagens; supoe,por -
tanto,que dependa de um principio cognitivo, utilize a modali-
dade auditiva e se expanda pela escolarização.
Combinação de Sons
Pelas características do subteste, em suas três se-
çoes, os oito primeiros itens utilizam, como já foi referido,
estimulos visuais que representam os objetos que são nomeados,
utilizando-se sons isolados para nomeá-los. A habilidade con -
siste em sintetizar estes sons formando palavras. ContudoJne~
ta primeira seção,a closura propriamente dita fica relegada a
um segundo plano,uma vez que se apresenta o material sob forma
figuraI e a tendência a nomear, caracteristicamente infantil,pQ
de até prescindir da apresentação auditiva. Na segunda e na
terceira seções a modalidade é exclusivamente auditiva, pare -
cendo exigir um principio de organização que modifica o inter-
valo das apresentações isoladas (~eqtiência temporal), buscando
formar sinteses. Observe-se que a seção B utiliza palavras com
significado e apenas a seção C não recorre ã significação. As
análises fatoriais sugerem que, inicialmente, depende do fator
geral, que lhe serve de suporte, para posteriormente evoluir
224
em direção a urna maior especificidade, na closura, constituin
do-se em variável de relevo para o uso normativo da linguagem.
Acrescente-se que algumas investigações demonstram
a importância destes componentes corno variáveis de prontidãop~
ra leitura. No Brasil citam-se os trabalho de t-10raes (1972) e
Popovic (1971), in Cabral (1976)·
Closura Visual
S definida corno a habilidade para identificar um
estímulo apresentado de forma incompleta. Parece exigir que a
criança, em fundo apropriado ao estímulo (peixes-fundo do mar;
garrafas de refrigerante-mesa de festa de aniversário), encon-
tre a figura - discriminação visual - mesmo quando esta lhe
apresentada de modo parcial.
Evidentemente, apela à percepção para identificação
do estímulo, envolvendo um fator de atribuição de significado
que opera destacando a figura do fundo.
-e
Nas faixas etárias inferiores parece servir de base
a cognição tornando-se mais específico, até que na faixa supe-
rior constitui-se numa dimensão integrada que vai apoiar as
aprendizagens da leitura e da escrita.
225
Mem6ria SeqUencial Auditiva
Evidentemente, corno memória imediata, supõe a esto
cagem da informação e sua recuperação em prazo curto.
Trabalha com material simbólicc~seqUências de díei
tos progressivamente maiores - envolvendo a discriminação audl
tiva, a capacidade de internalizar a sucessão e reproduzi-la de
forma direta.
Corno dado invariante nos três grupos estudados, di~
tingue-se da modalidade visual,sugerindo a utilização de recur
sos diferenciados para sua execução.
Este resultado é encontrado por outros pesquisado -
res (Meyers, 1969) mesmo em estudos que não utilizam o ITPA.
Mem6ria SeqUencial Visual
Também definido como memória imediata, recorre à dis
criminação visual dos estímulos. A tarefa exige que estes estÍ
mulos, combinações de linhas sem significado, sejam seqUencia
dos na ordem de apresentação, fora da vista do modelo, da es -
querda para direita, imediatamente após apresentação.
Estudos fatoriais vem demonstrando que este subtes-
226
te utiliza mecanismos diferentes dos de Memória SeqUencial Au
ditiva e algumas investigações têm observado que crianças que
utilizam estratégias mnemônicas baseadas em "rótulos" para as
figuras obtêm resultados acentuadamente superiores e que estes
rótulos podem ser considerados como componentes dos processos
de memorização (Bowen et al., 1978).
Estes estudos sao confirmados por Ryckman (1969),qu~
do propõe o uso dos mediadores verbais como estratégias mnemô
nicas,e também no Brasil~como já se referiu, por Bogossian
(1975) .
-A comparaçao das matrizes fatoriais evidencia cer -
tas modificações que ocorrem nesta variável. No grupo etário
inferior vincula-se fundamentalmente ao fator geral, insinuan -
do-se, contudo, para a modalidade visual, o que emerge de for-
ma nítida no grupo de 4 a 6 anos. Neste grupamento a Memória
SeqUencial Visual não se vincula ao fator geral, ganhando em
especificidade. No grupo de 7 a la anos se constitui de forma
independente provavelmente pelos motivos anteriormente aludi -
dos.
227
VIII - CONCLUSOES E SUGESTOES
Todas as considerações tecidas convergem para a re~
valiação do enquadre teórico inicial. Uma série de possibilid~
des pode ser levantada ao se tentar compreender porque o mod~
lo proposto pelos autores do instrumento estudado pode ser ap~
nas parcialmente superposto aos achados empíricos do presente
estudo e,também,da maioria dos trabalhos aqui revisados.
Em primeiro lugar coloca-se a questão da instrumen-
talidade de todo modelo frente aos fenômenos que se pretende
sejam compreendidos por seu intermédio. Em princÍpio,um modelo
tem um lugar, na construção das teorias científicas, que se d~
fine como "representação esquemática do objeto" de investiga -
ção (objeto modelo) apoiada em uma teoria científica (modelo
teórico) sendo estes modelos construções que tentam uma articu
lação entre uma teoria geral e o campo de fenômenos que este
pretende explicar. Ou seja, é um "objeto científico" (Nick &
Rodrigues, 1977) que tem a função de ligar uma teoria geral -a
realidade dos fatos por ela abrangidos, implicando um recorte
e uma interpretação destes fatos.
Uma teoria geral formulada em determinado campo ci
entífico pode ser emprestada para outro campo,constituindo- se
deste outro modo como "modelo" para construção de uma teoria
particular no segundo campo. Neste caso estabelecem-se relaT
228
çoes isomorficas entre as duas construções teóricas, isto e,
estabelecem-se que elementos do primeiro sistema teórico sao
isomórficos a que elementos do segundo. Assim, produz-se um
objeto científico em determinado domínio (por exemplo psicoli~
gUístico) ,articulando certas propriedades dos comportamentos
dos indivíduos nos termos de urna teoria específica (teoria de
Osgood, nesse caso) .. a qual, por sua vez, é constituída Isomor
ficamente a urna teoria geral de outro campo (teoria da informa
ção). O que subentende esta construção científica? Basicamente,
que a teoria geral é capaz de "i luminar" os fenômenos que se
quer explicar e é adequada à explicação dos mesmos. Tal adequ~
ção se justifica:primeiro,definindo-se relações de isomorfismo
entre as propriedades gerais de um sistema de informação e as
propriedades específicas de um sistema em particular,no caso,
o" sistema recepção/tratamento/emissão de mensagens
sistema psicolingUístico, e , segundo, através desta
humanas,
inclusão
do sistema particular como caso do sistema geral, organizando
se um esquema de interrelação das propriedades dos comportame~
tos observados. Neste primeiro nível de análise pode-se pergu~
tar até que ponto é,de fato,efetivada a adequação pretendida -
entre teoria geral e teoria específica e, conseqUentemente, e~
tre este nexo teórico e as configurações concretas dos compo!
tamentos estudados.
Sabe-se que as construções científicas aSSIm feitas
são sempre aproximações à re ali dade. Os "obj et os cient ífi cos "
são, neste sentido, tentativas de explicação, interpretações
229
provisórias, podendo-se apenas exigir que apresentem um certo
grau de adequação até que novas construções demonstrem atin -
gir um maior grau de integração. Isto porque, sendo reJes lógi
cas lançadas sobre a realidade, sua tecitura necessariamente
deixa escapar uma parte da realidade, sendo preciso progressi-
vamente reestrutura-las para que esgotem cada vez mais os
fenômenos a que se referem. Deste modo, os testes empíricos dos
modelos e o desenvolvimento de novas teorias, no campo conside
rado, representam os fatores potencialmente capazes de provo -
car mudanças nas construções vigentes.
No presente trabalho, teste empírico do modelo que
fundamenta o ITPA, identificaram-se tanto distorções na aproxi
mação possibilitada por este modelo aos fenômenos avaliados p~
los subtestes,quanto novas perspectivas teóricas capazes de
constituir uma aproximação mais adequada (como anteriormente
discutido). Isto significa que o emprego do ITPA, cuja valida-
de diagnóstica e confirmada, pode beneficiar-se com a reestru-
turação do seu modelo, no sentido de permitir uma interpreta -
-çao mais exaustiva ou que possibilite uma melhor compreensao
dos processos em jogo nas respostas dos sujeitos a nível psic~
.lógico, prescindindo de separações possivelmente artificiais
entre variáveis impostas pelo modelo original e ainda, ao con
trário, de superposições indevidas de variáveis.
Percebe-se que a maior fragilidade deste modelo es
tá no distanciamento entre as definições teóricas dele depen -
230
dentes e as funções que os subtestes pretendem eliciar e ava -
liar. Suas definições originais são genéricas e parecem expre~
sar mais os componentes do modelo do que as propriedades dos
fenômenos, como rótulos vagos que não permitem apontar para
a especificidade dos fenômenos. Pode-se supor que tal fato pr~
vavelrnente decorra da necessidade, antes apontada, de justifi
car '~d hod'as construções formuladas previamente i adequação do
modelo.
Em síntese, o que toda essa discussão permite evi
denciar caracteriza o ponto de maior fragilidade da elaboração
do modelo. No período em que se desenvolveu sua construção, a
Teoria da Informação parecia fornecer o modelo explicativo ge
ral, representando uma inovação vista como capaz de explicar um
conjunto amplo de fenômenos em diversos domínios. Trazia uma
perspectiva econômica, que servia à psicologia para manter seu
estatuto científico, perseguido pelo behaviorismo. Os autores
do ITPA procuravam um enquadre teorico para integrar a evidên
cia empírica que acumulavam na prática com seu instrumental
Pode-se perceber que, dada sua grande generalidade, o modelo
adotado parecia satisfazer as necessidades dos autores. No en
tanto, justamente por esta generalidade, impediu uma melhor
discriminação das funções envolvidas e forçou articulações in~
dequadas entre OS componentes no modelo que finalmente adota
ram.
Finalmente,estas considerações indicamanecessidade
231
de uma compreensão do modelo, em termos de suas propriedades
formais e de suas relações com os objetos de referência.
A nível de aplicação prática sugere-se, portanto,
que cada subteste do lIPA seja reestruturado, tomando-se como
ponto de partida a análise das funções cognitivas e lingUísti
cas subjacentes ao desempenho nestes subtestes, enfatizando
conseqUentemente os processos e não apenas os produtos.
A nível de procedimento propoe-se que sejam rede
finidas as relações entre as funçoes hipotetizadas, incluind~
se outras variáveis de domínio mais específico e melhor defi
nido,que permitam, ã luz de um novo conjunto de dados, subme
ter ã prova as hipóteses modificadas.
ConseqUentemente,estas estratggias permitem esta
belecer redes nomológicas que possibilitam revelar a natureza,
os modos de articulação e a interpretação das funções do lIPA;
a esta nova colocação teórica devem ser acrescentadas alterna
tivas tgcnico-metodológicas a ela adequadas.
Vale ressaltar o caráter transitório das "verda
des" científicas, interpretáveis apenas como melhores aproxi
mações à realidade empírica.
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A Tese "TESTE ILLINOIS DE HABILIDADE PSICOLINGUTS
TICAS; ANÁLISE CRTTICA DO MODELO MEDIACIONAL E DE DIVERSOS AS
PECTOS DA VALIDADE DO INSTRUMENTO" foi considerada ~7"'::>"/\ú.DC\..
Rio de Janeiro, 12 de dezembro de 1984
--------F;~o Lo Presti Seminério Professor Orientador
~~ 24 ID~ .-",~ Eliezer Schneider
Membro da Comiss~o Examinadora
Eva Nick \ Membro da Comiss~o Examinadora
,
!HY~ I~ ~f)fiÀ JJv. lU-
Maria Helena Novaes Mira Membro da Comiss~o Examinadora
/ ,
/ /
\
, . I . )
------------------~~-----------~~<~~~~
Olivia da Silva Pereira Membro da Comiss~o Examinadora
/