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Os Jovens Portuguesesno Contexto

da Ibero-AméricaJosé Machado Pais

Cícero Roberto Pereira(coordenadores)

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Capa e concepção gráfica: João SeguradoRevisão: Soares de Almeida

Impressão e acabamento: Manuel Barbosa & Filhos, Lda. Depósito legal: 418791/16

1.ª edição: Dezembro de 2016

Imprensa de Ciências Sociais

Instituto de Ciências Sociaisda Universidade de Lisboa

Av. Prof. Aníbal de Bettencourt, 91600-189 Lisboa - Portugal

Telef. 21 780 47 00 – Fax 21 794 02 74

www.ics.ulisboa.pt/imprensaE-mail: [email protected]

Instituto de Ciências Sociais — Catalogação na Publicação

Os jovens portugueses no contexto da Ibero-América / coord. José Machado Pais, Cícero Roberto Pereira. -

Lisboa : Imprensa de Ciências Sociais, 2016ISBN 978-972-671-379-1

CDU 316.3

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ÍndiceOs autores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21José Machado Pais

Parte IValores, atitudes e perceções

Capítulo 1Valores e atitudes perante temas socialmente sensíveis . . . . . . . . . . . . 33Cícero Roberto Pereira

Capítulo 2Perceções de violência social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53Simone Tulumello e Cláudia Casimiro

Capítulo 3Sexualidade e métodos contracetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75Sofia Aboim

Parte IIConfiança nas instituições democráticas e participação

Capítulo 4A participação social e política . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93Pedro Moura Ferreira

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Capítulo 5Os jovens frente à democracia e às suas instituições . . . . . . . . . . . . . . 109Marcelo Camerlo e Andrés Malamud

Parte IIIEducação, trabalho e futuro

Capítulo 6Educação e inserções profissionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121Vítor Sérgio Ferreira e Jussara Rowland

Capítulo 7Uso de novas tecnologias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141Ana Nunes de Almeida e Ana Delicado

Capítulo 8Diagnóstico do presente, expetativas sobre o futuro . . . . . . . . . . . . . . 155Sérgio Moreira

Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173

Anexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 179Questionário A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 181Questionário B . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 191

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Índice de quadros e figuras

Quadros

1.1 Ordenação média e desvios-padrão dos problemas que os jovens consideram mais importantes .......................................................................... 38

1.2 Coeficientes de regressão multinível que representam os pesos dos fatoresexplicativos nas dimensões organizadoras das preocupações dos jovens ibero-americanos ............................................................................................... 42

1.3 Médias e desvios-padrão das atitudes dos jovens em relação a temas socialmente sensíveis......................................................................................... 44

1.4 Coeficientes de regressão multinível que representam os pesos dos fatoresexplicativos das dimensões das atitudes dos jovens ibero-americanos em relação a temas socialmente sensíveis........................................................ 47

1.5 Indicadores contextuais usados como fatores explicativos nos modelos de regressão multinível...................................................................................... 51

2.1 Mortalidade por homicídio voluntário em função do género (%) ............... 582.2 Correlacoes bivariadas entre a percecao de violencia e indicadores

socioeconomicos, de percecao de vitimizacao social e de inseguranca........ 632.3 Perceções sobre a situação económica do país relativa à situação

antes do 25 de abril (%) .................................................................................... 652.4 Perceções de violência urbana (%) ................................................................... 682.5 Correlações bivariadas entre ter presenciado a ocorrência de brigas

com uso de armas e indicadores socioeconómicos........................................ 682.6 Perceção de violência familiar nos últimos doze meses (%).......................... 702.7 Correlações bivariadas entre a perceção de violência doméstica

e indicadores socioeconómicos ..................................................................... 723.1 Médias e modas da idade da primeira relação sexual entre os jovens

dos 15 aos 29 anos por sexo e país/grupos de países...................................... 783.2 Coeficientes de regressão estandardizados que representam a relação

entre a idade da primeira relação sexual e os indicadores sociais.................. 81

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3.3 Coeficientes de regressão logística não estandardizados que representama relação entre não ter relações sexuais e os indicadores sociais.................... 83

3.4 Jovens que indicaram ter usado métodos contracetivos na primeira relação sexual (%).......................................................................... 85

3.5 Jovens que indicaram a razão de usar preservativo (%) ................................. 874.1 Participação organizada por sexo, escolaridade e situação perante

o emprego (%) ................................................................................................... 994.2 Associativismo dos jovens segundo os países (%) .......................................... 1024.3 Pertença associativa dos jovens por sexo, idade, escolaridade

e ocupação (%) .................................................................................................. 1034.4 Razões da não participação (%) ....................................................................... 1054.5 Jovens que indicaram participação em redes sociais (%) ............................... 1075.1 Coeficientes de regressão não estandardizados dos preditores

da confiança na democracia e nas suas instituições ....................................... 1155.2 Confiança dos jovens na democracia e suas instituições............................... 1187.1 Modo principal de uso da internet por grupos de países (%)........................ 1447.2 Modo principal de uso da internet em Portugal por escalões etários (%) ....... 1447.3 Modo principal de uso da internet em Portugal por nível de escolaridade

completo (%) ..................................................................................................... 1457.4 Modo principal de uso da internet em Portugal por condição perante

o trabalho (%).................................................................................................... 1457.5 Principais usos da internet por grupos de países (%)...................................... 1477.6 Principais usos da internet (combinação) por grupos de países (%) ............. 1487.7 Principais usos da internet em Portugal por sexo (%) .................................... 1487.8 Principais usos da internet (combinação) em Portugal por sexo (%)............ 1487.9 Principais usos da internet em Portugal por escalões etários (%) .................. 1497.10 Principais usos da internet (combinação) em Portugal por escalões

etários (%) .......................................................................................................... 1497.11 Principais usos da internet em Portugal por nível de escolaridade

completo (%) ..................................................................................................... 1507.12 Principais usos da internet (combinação) em Portugal por nível

de escolaridade completo (%) .......................................................................... 1507.13 Principais usos da internet em Portugal por condição perante

o trabalho (%).................................................................................................... 151

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7.14 Principais usos da internet (combinação) em Portugal por condição perante o trabalho (%) ...................................................................................... 151

7.15 Principais usos da internet em Portugal por tipologia familiar (%)............... 1517.16 Principais usos da internet (combinação) em Portugal por tipologia

familiar (%) ........................................................................................................ 1528.1 Itens (percentagens/médias e desvios-padrão) das variáveis em análise............. 1588.2 Itens das perceções sobre a atualidade e sobre o futuro em Portugal ........... 1598.3 Médias, desvios-padrão e número das perceções sobre a atualidade e sobre

o futuro para a amostra global ......................................................................... 1608.4 Médias e desvios-padrão das perceções sobre a atualidade e sobre

o futuro para a Espanha.................................................................................... 1628.5 Coeficientes de regressão estandardizados dos fatores explicativos

da perceção da atualidade e do futuro em Portugal ....................................... 1658.6 Coeficientes de regressão estandardizados dos fatores explicativos

da perceção da atualidade e do futuro noutros países.................................... 1668.7 Coeficientes de regressão estandardizados dos fatores explicativos

da perceção da atualidade e do futuro em Espanha....................................... 167

Figuras

1.1 Hierarquia das principais preocupações dos jovens ....................................... 361.2 Dimensões organizadoras das preocupações dos jovens ............................... 391.3 Representação das médias da concordância dos jovens com os temas-alvo

de atitudes socialmente sensíveis ..................................................................... 441.4 Dimensões organizadoras das atitudes dos jovens face a temas

socialmente sensíveis......................................................................................... 462.1 Homicídios voluntários por cada 100 000 habitantes, 2000-2012................ 572.2 Taxa de homicídios voluntários por sexo e faixa etária em Portugal

no ano de 2010.................................................................................................. 582.3 Perceção dos problemas mais importantes que afetam os jovens (%) .......... 602.4 Médias da perceção de violência...................................................................... 612.5 Linhas de regressão a representar a relação entre perceção de violência

e taxa de homicídios ......................................................................................... 64

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2.6 Perceções negativas sobre a situação económica do país relativa à situação antes do 25 de abril por escalão etário (%)...................................................... 66

3.1 Rapazes em cada grupo etário que indicaram a idadeda primeira relação sexual (%) ........................................................................................................... 79

3.2 Raparigas em cada grupo etário que indicaram a idade da primeira relação sexual (%) ........................................................................................................... 79

3.3 Jovens que indicaram ainda não ter relações sexuais por sexo e país/gruposde países (%) ...................................................................................................... 82

3.4 Jovens portugueses que indicaram ter feito uso do preservativo e da pílula contracetiva em cada categoria de idade da primeira relação sexual (%)...... 86

3.5 Jovens que indicaram não ter usado contracetivos na primeira relação sexual (%) ........................................................................................................... 88

5.1 Valores médios da confiança na democracia por país/região ........................ 1115.2 Representação da mediana e da dispersão da confiança dos jovens

portugueses nas instituições democráticas ...................................................... 1115.3 Valores médios da confiança dos jovens ibero-americanos

nas instituições políticas ................................................................................... 1135.4 Valores médios da confiança dos jovens ibero-americanos nas instituições

não estatais ......................................................................................................... 1136.1 Nível de escolaridade por país/região (%)....................................................... 1236.2 Total de estudantes por país/região (%) ............................................................ 1256.3 Condição de estudante por nível de vida subjetivo em Portugal (%)........... 1266.4 Razões de abandono escolar antes de completar o ensino secundário

por país/região (%) ............................................................................................ 1266.5 Médias da perceção sobre a escola por país/região ........................................ 1286.6 Perceções sobre a escola em Portugal (%)........................................................ 1286.7 Médias das percecoes sobre a escola por nivel de vida subjetivo

em Portugal........................................................................................................ 1296.8 «Tive uma boa educação secundária» por país/região (%) ............................. 1306.9 «Por que considera ter tido uma boa educação secundária?»

por país/região (%) (resposta multipla)............................................................ 1306.10 «Está a trabalhar atualmente?» por país/região (%) ........................................ 1326.11 Jovens que não estão atualmente a trabalhar e se encontram à procura

de trabalho por país/região (%)........................................................................ 133

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6.12 Procura de trabalho por nível de vida subjetivo em Portugal (%)................. 1346.13 Jovens trabalhadores incritos na segurança social por país/região (%) ......... 1346.14 Importância atribuída aos descontos da segurança social para obter

uma pensão/reforma no final da vida laboral por país/região (%) ............... 135615 Perceções sobre condicionantes de inserção no mercado de trabalho

por país/região (%) ............................................................................................ 1366.16 Perceções sobre condicionantes de inserção no mercado de trabalho

por condição de estudante em Portugal (%) ................................................... 1366.17 Perceções sobre condicionantes de inserção no mercado de trabalho

por grupo etário em Portugal (%) .................................................................... 1386.18 Perceções sobre condicionantes de inserção no mercado de trabalho

por nível de vida subjetivo em Portugal (%)................................................... 1386.19 Perceções sobre condicionantes de inserção no mercado de trabalho

por procura de trabalho em Portugal (%)........................................................ 1397.1 Modo principal de uso da internet em Portugal (%)...................................... 1437.2 Principais usos da internet em Portugal (%).................................................... 1467.3 Principais usos da internet (combinação do uso 1 e uso 2) em Portugal (%).. 1468.1 Representação das médias das perceções sobre a atualidade e sobre

o futuro em Portugal......................................................................................... 1598.2 Médias das perceções sobre a atualidade e sobre o futuro noutros

países (O) comparados com Portugal (PT)...................................................... 1618.3 Médias das perceções sobre a atualidade e sobre o futuro

em Espanha (ES) comparada com Portugal (PT)............................................ 162

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Os autoresAna Delicado é investigadora auxiliar do Instituto de Ciências Sociais da Uni-versidade de Lisboa (ICS-ULisboa). Doutorada em Sociologia, trabalha princi-palmente na área dos estudos sociais da ciência. Tem desenvolvido investigaçãosobre museus e cultura científica, risco ambiental, mobilidade científica, asso-ciações científicas, energia e alterações climáticas. É vice-coordenadora do OBSERVA – Observatório de Ambiente, Território e Sociedade.

Ana Nunes de Almeida é socióloga e investigadora coordenadora do ICS-ULis-boa, onde é também presidente do conselho científico. Coordena o programade doutoramento interuniversitário em Sociologia, OpenSoc (Sociologia – Co-nhecimento para Sociedades Abertas e Inclusivas). Áreas de investigação maisrecentes: família e escola, crianças e crise, crianças e novos media, crianças e ca-tástrofes.

Andrés Malamud, doutorado em Ciência Política pelo Instituto UniversitárioEuropeu, Florença, é investigador auxiliar no ICS-ULisboa e professor visitantenas Universidades de Buenos Aires, Católica de Milão e Salamanca. Tem obrapublicada sobre integração regional comparada, instituições de governo, políticalatino-americana e migrações transatlânticas.

Cícero Roberto Pereira é investigador auxiliar no ICS-ULisboa. Doutorou-seem Psicologia Social Experimental pelo Instituto Universitário de Lisboa(ISCTE--IUL). A sua investigação analisa o modo como diferentes tipos de jus-tificações são usados pelos atores sociais para legitimar ações e políticas discri-minatórias contra grupos minoritários e a função identitária dessa legitimaçãonas sociedades democráticas contemporâneas.

Cláudia Casimiro, doutorada em Ciências Sociais, na especialização de Socio-logia Geral, pelo ICS-ULisboa, é, atualmente, membro integrada do CentroInterdisciplinar de Estudos de Género (CIEG/ISCSP-ULisboa) e professora au-xiliar convidada no ISCSP-ULisboa. Os seus domínios de investigação: socio-logia da família, género, tecnologias de informação e comunicação, relaciona-

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mentos online, metodologias qualitativas, violências na intimidade, violênciafeminina e violência familiar.

José Machado Pais é investigador coordenador do ICS-ULisboa. Foi coorde-nador do Observatório Permanente da Juventude e vice-presidente do Diretórioda Juventude do Conselho da Europa. Tem uma extensa obra publicada, daqual se destacam os seguintes livros: A Prostituição e a Lisboa Boémia; Artes deAmar da Burguesia; Culturas Juvenis; Sousa Martins e Suas Memórias Sociais. Socio-logia de Uma Crença Popular; Consciência Histórica e Identidade; Sociologia da VidaQuotidiana; Ganchos, Tachos e Biscates. Jovens, Trabalho e Futuro; Nos Rastos da So-lidão. Deambulações Quotidianas; Lufa-Lufa Quotidiana. Ensaios sobre Cidade, Cul-tura e Vida Urbana; Sexualidade e Afectos Juvenis; Enredos Sexuais, Tradição e Mu-dança: as Mães, os Zecas e os Sedutores de Além-Mar.

Jussara Rowland é doutoranda em Sociologia no ISCTE-IUL e foi investiga-dora no Observatório Permanente da Juventude do ICS-ULisboa entre 2010 e2015. Já trabalhou como investigadora em vários projetos de investigação ecomo consultora na área da responsabilidade social empresarial. Atualmente ébolseira de investigação no projeto CUIDAR – Culturas de Resiliência à Ca-tástrofe entre Crianças e Jovens financiado pelo programa Horizon 2020.

Marcelo Camerlo é coordenador do Presidential Cabinets Project (com CeciliaMartínez-Gallardo) e atualmente responsável pelo workshop em política com-parada e relações internacionais do doutoramento em Políticas Comparadas doICS-ULisboa. Doutorado em Ciência Política pela Universidade de Florença,especialista em políticas sociais e licenciado em Comunicação Social pela Uni-versidade de Buenos Aires. Foi investigador auxiliar no Centro de Estudos deEstado e Sociedade (CEDES), docente na Universidade de Buenos Aires e in-vestigador convidado no Helen Kellogg Institute for International Studies daUniversidade de Notre Dame.

Pedro Moura Ferreira, doutorado em Sociologia pelo ISCTE-IUL, investi-gador do ICS-ULisboa e membro do Instituto do Envelhecimento da mesmauniversidade, é atualmente responsável pelo Arquivo Português de Informa-ção Social. Desenvolve investigação nas áreas do envelhecimento, curso devida e género. Tem como publicações mais recentes os livros As Sexualidadesem Portugal: Comportamentos e Riscos e Mulheres e Narrativas Identitárias: Mapasde Trânsito da Violência Conjugal. Tem atualmente em curso dois projetos deinvestigação: «Processos de envelhecimento em Portugal: usos do tempo,redes sociais e condições de vida» e «Informação sobre saúde da população

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Os autores

portuguesa: conhecimentos e qualidade percecionada das fontes de informa-ção sobre saúde».

Sérgio Moreira é licenciado em Psicologia pela Faculdade de Psicologia daUniversidade de Lisboa e doutorado pelo ISCTE-IUL em Psicologia Social.Tem experiência em investigação fundamental na área da cognição social, emparticular no estudo de ilusões de memória e da maleabilidade dos estereótipos.Tem coordenado e executado projetos de caracterização das perceções das co-munidades sobre grandes alterações ambientais, promoção da comunicação denovos empreendimentos e participação pública. Atualmente é professor auxiliarconvidado das disciplinas de Estatística na FPUL e, paralelamente, exerce ati-vidade como consultor em psicologia do ambiente.

Simone Tulumello, doutorado em Planeamento Urbano e Regional pela Uni-versidade de Palermo com uma tese sobre os sentimentos de medo do crimeem planeamento urbano, é, desde janeiro de 2013, investigador pós-doc noICS-ULisboa. O seu projeto principal visa questionar criticamente as políticasde segurança urbana na prática institucional de planeamento urbano. Os seusinteresses abrangem: teorias e culturas de planeamento; estudos críticos sobresegurança urbana; poder e políticas de planeamento; estudos de futuros, TICs e governança territorial; tendências urbanas neoliberais; cidades do Sul da Europa; a geografia da crise. É autor de Fear, Space and Urban Planning (2017,Springer).

Sofia Aboim, doutorada em Sociologia (ISCTE-IUL, 2004), é investigadoraauxiliar no ICS- ULisboa e membro do GEXcel − International Collegium forAdvanced Transdisciplinary Gender Studies, sediado nas Universidades de Lin-köping, Karlstad e Örebro, na Suécia. Os seus interesses de investigação têmvindo crescentemente a incluir temas como género, sexualidade e cidadania.Tem publicado livros e artigos sobre estas temáticas, coordenando atualmenteo projeto «TRANSRIGHTS – Gender citizenship and sexual rights in Europe:transgender lives from a transnational perspective», financiado pelo EuropeanResearch Council.

Vitor Sérgio Ferreira, doutorado em Sociologia, na especialidade de Sociologiada Comunicação, Cultura e Educação, pelo ISCTE-IUL (2006) é investigadorauxiliar no ICS-ULisboa, coordenador do grupo de investigação LIFE – Per-cursos de Vida, Desigualdades e Solidariedades: Práticas e Políticas do ICS--ULisboa, vice-coordenador do Observatório Permanente da Juventude do ICS-ULisboa e docente no doutoramento em Sociologia – Conhecimento

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para Sociedades Abertas e Inclusivas (programa interuniversitário Open-Soc).Tem desenvolvido e coordenado vários projetos de investigação, nacionais einternacionais, na área das culturas juvenis e das transições para a vida adulta.Entre as várias publicações, destacam-se os livros Jovens e Rumos (ICS, 2011),Tempos e Transições de Vida: Portugal ao Espelho da Europa (ICS, 2010) e Marcasque Demarcam. Tatuagem, Body Piercing e Culturas Juvenis (ICS, 2008). Tem publi-cado em revistas internacionais de referência na área da juventude, como Youth& Society e Young – Nordic Journal of Youth Research.

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Simone TulumelloCláudia Casimiro

Capítulo 2

Perceções de violência social*

Introdução: violência e perceções de violência

Este capítulo debruça-se sobre a perceção que os jovens ibero-americanostêm acerca da violência física injustificada contra outrem, com referência a duasdimensões espaciais: a violência urbana e a violência familiar. Debate-se a vio-lência em Portugal e na Ibero-América partindo de três pontos de vista: a di-mensão institucional e histórica, dando atenção às tardias transições democrá-ticas que caracterizam as regiões em análise; a dimensão geográfico-contextualem escalas múltiplas; a dimensão social em relação a diferenças de grupos.

O termo «violência» provém do adjetivo latino violentus, que resulta da jun-ção de vis (força, vigor) com a terminação -ulentus, que indica um excesso. Diz--se violentus de alguém que faz um uso excessivo da força contra outrem oucom o objetivo de oprimir ou coagir alguém. O conceito de violência tem entãouma raiz material, física, tangível. Contudo, o modo como pode ser definidotem variado com o decorrer dos tempos e com a sua aplicação aos mais diversoscampos e situações. A noção de violência tem vindo a ser utilizada para carac-terizar qualquer influência intolerável que uma pessoa possa usar sobre outra,quer diretamente numa confrontação face-a-face, ou anonimamente através dasligações e influências de uma instituição (Marsh et al. 1978). O conceito assumiusignificados mais abrangentes e pode, por exemplo, ser utilizado para designarcasos ou situações que em épocas passadas não seriam consideradas como vio-lência (Casimiro 2011). Podem também distinguir-se tipos diferentes de vio-lência: indireta ou direta, pró-ativa e criminal (ilegítima) ou legítima (violênciaestadual ou em legítima defesa). A conceção de violência estendeu-se hoje acampos considerados até abstratos e dificilmente mensuráveis: fala-se em vio-lência psicológica, violência metafórica, violência virtual.

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* Os autores agradecem a Sérgio Moreira pela análise estatística dos resultados do inquérito epelo suporte na sua interpretação e a Ekaterina Gorbunova e Pedro Magalhães pela disponibili-zação dos dados do inquérito «40 anos do 25 de Abril», ainda não publicados integralmente.

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Neste capítulo adotámos o conceito de violência para nos referirmos à vio-lência física injustificada contra outrem, com referência a duas dimensões espa-ciais: por um lado, a violência urbana, o crime violento nas cidades; por outrolado, a violência familiar, a agressão física exercida no espaço doméstico. Todavia,é de salientar que o conceito de violência contra uma pessoa, nas sociedadescontemporâneas, está imbuído de dimensões imateriais e intangíveis, em virtudede a violência, enquanto fenómeno social, ser um fenómeno multifacetado,complexo e politicamente conflituoso. A sua complexidade reflete-se na dificul-dade, entre outros aspetos, em ter certezas absolutas de cariz quantitativo, ou seja,em conseguir apurar a diferença entre crimes cometidos e crimes registados –as dark figures do crime. É justamente neste sentido que as tentativas de aproxi-mação à «verdade» sobre o crime constituem uma das maiores preo cupações dacriminologia (van Dijk 2009). A problemática de «medir» a violência criminal éuma das dimensões de cariz político-conflitual desta. Lembre-se, por exemplo,que a ideia de segurança como direito universal de não ser vítima de violênciainjustificada é muito recente, tendo as suas raízes na conceção do Estado comodetentor do monopólio legítimo da força física, elaborada na época modernapor pensadores como Thomas Hobbes e Max Weber. A proclamação oficial dodireito à segurança individual é ainda mais recente, surgindo apenas com a De-claração Universal dos Direitos Humanos, em 1948. A dimensão mais eviden-temente político-conflitual deve-se às relações entre a violência enquanto factoe as perceções que existem a seu respeito. A capacidade de as representações me-diáticas influenciarem e exacerbarem as perceções públicas do crime é um temaexplorado (Heath e Gilbert 1996; Glassner 1999). A capacidade para manipularas perceções da violência criminal, instaurando o medo e influenciando assim aopinião pública, refletiu-se na utilização de discursos sobre o crime para moldaro consenso político e justificar políticas repressivas ou de exclusão (Bialasiewicz2006; Schermans e De Maesschalk 2010). O exemplo mais evidente numa escalaglobal talvez seja a forma como os discursos sobre a violência terrorista foramcapazes de justificar políticas de redução dos direitos civis após Setembro de2001 (Oza 2007). Recentemente, os estudos urbanos têm explorado a forma pelaqual os discursos sobre as perceções de violência têm vindo a reestruturar as po-líticas e o espaço urbano nas cidades globais (Graham 2010) e nas cidades «or-dinárias» (Tulumello 2015).

De que modo podem os resultados de um inquérito ajudar-nos na construçãode uma melhor compreensão da violência enquanto fenómeno social, espaciale político? Esperar aproximarmo-nos da «verdade» quantitativa da violênciaseria uma ilusão: tentaremos, em vez disso, compreender algumas dimensõesimateriais da violência, ou seja, indagar como os jovens portugueses e ibero--americanos percecionam a violência, como se sentem em relação a ela de um

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ponto de vista pessoal e social. Há três dimensões que nos propomos explorar.Primeiro, o cariz generalista do inquérito permitir-nos-á estudar a violência emrelação a outras extensões da vida dos entrevistados. Segundo, questionaremosas relações entre perceções e pertença a diferentes contextos – institucionais,geográficos, sociais. Esta dimensão é especialmente significativa em relação ao«espaço» português: ver-se-á como os jovens portugueses, que vivem nos con-textos menos violentos da região ibero-americana, serão os que mais violênciapercecionam e questionar-nos-emos sobre as razões deste paradoxo. Terceiro, erelacionado com o segundo ponto, o inquérito permitir-nos-á pesquisar, numaperspetiva temporal, como os jovens veem a evolução futura da violência.

Com o fim de explorar estas três dimensões, o capítulo está organizado emcinco secções. Na primeira, através de uma revisão de literatura, debate-se a vio-lência em Portugal e na Ibero-América partindo de três pontos de vista: a di-mensão institucional e histórica; a dimensão geográfico-contextual em escalasmúltiplas; a dimensão social em relação a diferenças de idade, género, grupossociais e étnicos. Na segunda secção apresentam-se os resultados do inquéritopara debater a perceção da violência nas duas perspetivas: sociais (fatores queinfluenciam a perceção individual) e culturais (os paradoxos da perceção e in-terpretação da violência). Nas duas secções seguintes, específicas para o casoportuguês, a relação entre violência factual e a sua perceção no espaço urbanoe no espaço doméstico serão analisadas criticamente. Uma discussão sobre opassado, o presente, e o futuro é apresentada na conclusão do capítulo.

Violência ibero-americana: uma perspetiva comparada

As teorias institucionalistas recentes ajudam a reconsiderar as relações entreas instituições e a violência. Nessa perspetiva, a capacidade do Estado em man-ter o monopólio sobre o uso da violência está intrinsecamente ligada aos pro-cessos de abertura das sociedades modernas (North et al. 2009). Democratização,sistemas judiciais imparciais e desenvolvimento económico estarão, assim, naraiz da redução da violência criminal. Efetivamente, hoje em dia, os índicesmais baixos de violência criminal encontram-se nas áreas do mundo onde osprocessos democráticos estão mais consolidados, ou seja, nos países ocidentaise no Japão (van Dijk et al. 2007; ICPC 2012). O contexto ibero-americano,quando confrontado com grande parte dos países ocidentais, é caracterizadopor processos de democratização tardios. Portugal e a Espanha, nos anos 70,foram os últimos países da Europa ocidental a conquistar a democracia e aAmérica Latina fê-lo somente a partir dos anos 80. Contudo, a relação entredemocratização e redução de violência parece não ser direta nem automática.

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Na maioria dos países ocidentais, o crime violento aumentou nos anos 70 e 80e diminuiu desde inícios dos anos 90, enquanto em Portugal, apesar de existi-rem índices de violência relativamente baixos, os crimes registados crescem atéinícios dos anos 2000 para diminuírem depois (Tulumello 2017). Ferreira (2003)sugere que a redução da violência deve associar-se à consolidação da democra-tização: é assim possível interrogarmo-nos se se tratará de um «efeito retardado».Na América Latina, onde se concentram alguns dos maiores focos globais deviolência, essas teorias, elaboradas a partir do estudo do mundo ocidental, pa-recem não se aplicar tão claramente e é menos fácil observar correlações posi-tivas entre democratização e diminuição da violência.

Para avançar algumas hipóteses é necessário complementar o olhar históricocom uma visão geográfico-comparativa, discernindo uma primeira dualidadeentre a Península Ibérica e a América Latina. Nos anos 90, enquanto em Portu-gal e em Espanha se registam índices relativamente residuais de violência, as-siste-se a um incremento generalizado da mesma na América Latina. Muitas in-terpretações foram apresentadas para este facto. A abordagem clássica deNeapolitan (1994), que procurava as razões na subcultura violenta do «ma-chismo», não resiste a análises aprofundadas (Chon 2011). A violência queocorre nos anos 90 na América Latina é interpretada como tendo por base fa-tores estruturais de pobreza, desigualdades, iliteracia (Chon 2011; Loureiro eSilva 2012) e, portanto, correlacionada com a emergência de políticas neolibe-rais (Sanchez 2006). Críticos como Seymour (2014) sugerem que o projeto neo-liberal é intrinsecamente caracterizado pela promoção de sistemas pós-demo-cráticos, ou seja, onde o processo democrático está subordinado às razõeseconómicas. Nesta perspetiva, a recrudescência da violência na América Latinanum período de afirmação de processos pós-democráticos confirma a correlaçãoentre democratização e redução da violência. Mas as tendências desde iníciosdo milénio contam histórias mais complexas.

Com o objetivo de comparar algumas dimensões da violência criminal recentena região ibero-americana, utilizámos os dados UNODC (United Nations Of-fice on Drugs and Crime) sobre homicídio voluntário1 referentes à populaçãoem geral e agregados pelas regiões utilizadas na análise do inquérito sobre a ju-ventude ibero-americana (figura 2.1). Utilizámos o homicídio voluntário por serconsiderado a fonte mais fiável nas comparações internacionais e o crime comvolumes menores de dark figures (LaFree e Drass 2002; van Dijk 2009).

A agregação regional evidencia quatro tipologias em relação à violência ho-micida: a Península Ibérica, que se caracteriza por ter as taxas mais baixas nomundo; o México, até 2007, e o Cone Sul, caracterizados por taxas médias com

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1 Disponíveis em www.unodc.org/gsh/en/data.html (consultado em setembro de 2014).

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tendência para a estabilidade ou redução; o Brasil, caracterizado por taxas altasmas com uma relativa estabilidade; o México, desde 2007, a América Central ea Região Andina, caracterizados por taxas altas ou altíssimas e grande instabili-dade. No México, a explosão recente de violência homicida relaciona-se coma guerra pelo controle de vastas áreas territoriais entre os cartéis do narcotráficoe o Estado. A extrema variabilidade das outras regiões é explicável pelas ten-dências em alguns países-chave. Na América Central destacam-se os volumesrelativamente baixos de violência na Nicarágua (entre 9 e 14) e o boom das Hon-duras (50,9 em 2000 e 90,4 em 2012). Na Região Andina, ao decréscimo ex-pressivo da Colômbia (68,9 em 2002 e 30,8 em 2012) opõe-se o boom de vio-lência na Venezuela (32,9 em 2000 e 53,7 em 2012).

É útil complementar a análise histórico-geográfica com algumas notas sobre adistribuição social da violência homicida. A prevalência da mortalidade por ho-micídio entre homens jovens e jovens/adultos é uma constante (Gawryszewski etal. 2012), aliás com fortes diferenças regionais. Na América Latina o rácio entrevítimas de homicídio do sexo masculino e feminino tem valores entre 5 e 10

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Figura 2.1 – Homicídios voluntários por cada 100 000 habitantes, 2000-2012

Elaboração dos autores a partir de dados UNODC.* Faltam os dados da Bolívia.** Faltam os dados até 2006.*** Retirado nos anos em que faltam os dados do Chile (2002-2002 e 2004) e da Argentina (2011-2012).

45

40

35

30

25

20

15

10

05

00

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Portugal

Espanha

México

America Central

Região Andina*

Brasil**

Cone Sul***

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(quadro 2.1). É evidente a correlação entre taxas maiores de homicídios e pro-porções maiores de vítimas do sexo masculino. Este facto sugere que a violênciacontra as mulheres tem uma maior estabilidade temporal, enquanto aquela queé realizada contra os homens é mais sensível a variações abruptas ou conjunturais.Esta última afirmação deve-se entender em relação à prevalência generalizada devítimas entre os 15 e os 39 anos: nesta faixa etária as taxas de mortalidade por ho-micídio rondam o dobro das médias nacionais (Gawryszewski et al. 2012). As ra-

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Quadro 2.1 – Mortalidade por homicídio voluntário em função do género (%)

Região H* M* H/M* Taxa homicídios**

Portugal 70,2% 29,8% 2,4 1,2Espanha 65,7% 34,3% 1,9 0,8México 89,3% 10,7% 8,3 21,5América Central 91,3% 8,7% 10,4 36,6Região Andina 90,6% 9,4% 9,7 28,9Brasil 89,8% 10,2% 8,8 25,2Cone Sul 83,8% 16,2% 5,2 5,5***

Elaboração dos autores a partir de dados UNODC. Dados referentes ao triénio 2009-2012, com exceção dataxa de homicídios, referente a 2012 (Cone Sul, 2010).

Figura 2.2 – Taxa de homicídios voluntários por sexo e faixa etária em Portugal no ano de 2010

H M HM

3,5

3

2,5

2

1,5

1

0,5

0

0-14 15-24 25-39 40-59 Total> 60

Elaboração dos autores a partir de dados do Institute for Health Metrics and Evaluation (http://vizhub.health- data.org/gbd-cause-patterns/) e do INE (www.ine.pt).

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zões são procuradas nos modelos culturais de género, consumo de álcool e drogas,escolarização e inserção no mercado de trabalho, questões socioeconómicas e es-truturais (Gawry szewski et al. 2012; Souza et al. 2012).

Em Portugal e Espanha o rácio entre mortalidade masculina e feminina éconsideravelmente mais baixo (quadro 2.1). Também a distribuição etária, emPortugal, revela algumas diferenças substanciais nas dinâmicas da violência ho-micida (figura 2.2). A faixa etária mais afetada em ambos os sexos é a dos jovensadultos (25-39), seguida pelos adultos (40-59) e jovens (15-24). Em geral, e emcomparação com os países latino-americanos, a distribuição da violência ho-micida é mais homogénea entre as faixas etárias, o que se pode explicar com aincidência dos homicídios de carácter familiar ou passional: em 2010, em cada100 homicídios, 32 ocorreram no seio de relações familiares e atribui-se umamotivação passional a 41% dos casos (SSI 2011).

Perceção de violência entre os jovens ibero-americanos

Antes de apresentar os resultados do inquérito com o objetivo de percebercomo os jovens ibero-americanos percecionam a presença e o impacto da vio-lência criminal é necessário sublinhar as potencialidades e limitações relacio-nadas com as características do inquérito e da amostra selecionada. A procurade uma interpretação estatística sobre as perceções de violência, apesar de ali-ciante, é um trabalho árduo e o próprio desenho das perguntas pode influenciaros resultados. Gray et al. (2008), por exemplo, sublinham que as perguntas típi-cas dos inquéritos sobre o medo do crime podem sobrerrepresentar os senti-mentos de insegurança; perguntas como «sente-se seguro à noite no seu bairro?»,ao não terem em consideração a frequência com que os sentimentos de medose verificam, podem levar a resultados que sobrepõem o número de indivíduosque se sentem inseguros quotidianamente ao número dos que se sentem inse-guros muito esporadicamente. Outro problema difícil de contornar prende-secom os vários significados que o termo «violência» assume. A expressão podeser empregue para referir aspetos desiguais entre si, sendo que, por vezes, astaxas ou os índices de violência variam (entre regiões, entre géneros, entre ge-rações), mas pode variar também o modo como o fenómeno é percecionadopelo inquirido2 (Casimiro 2013).

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2 É sabido, por exemplo, que os indivíduos do sexo masculino, devido a sentimentos de receio,humilhação, vergonha e vulnerabilidade, ou ainda pelo não reconhecimento de certos atos comoviolência, respondem aos inquéritos sobre violência doméstica negando o facto de serem alvodessa violência e efetuam também muito menos denúncias e queixas do que os indivíduos dosexos feminino.

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No caso do inquérito em análise existem dois tipos de perguntas: gerais, quecolocam violência e criminalidade em relação a outros temas, e específicas, queindagam se o inquirido tem assistido a fenómenos de violência. Assim, pode-remos procurar relações entre perceções gerais de violência e presença de vio-lência no contexto do inquirido com limitação a atos de violência juvenil (ban-dos de jovens, brigas) e a atos de violência física ocorridos no âmbito familiar.Por outro lado, sendo a amostra limitada a jovens em contextos urbanos, torna--se impossível verificar se a urbanização tem ou não algum efeito sobre a vio-lência e a sua perceção.

Os jovens ibero-americanos consideram a «delinquência e violência» o maisimportante de entre os problemas que os afetam (figura 2.3). A única exceçãosão os jovens portugueses, para quem o (des)emprego e a economia se consti-tuem como as preocupações principais. Este resultado parece ser coerente como facto de Portugal ser, juntamente com a Espanha, o país mais «seguro» naamostra. Todavia, estudos precedentes mostram os portugueses como sendoum dos povos mais preocupados com o crime (Crucho de Almeida 1998; van

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Figura 2.3 – Perceção dos problemas mais importantes que afetam os jovens (%)

100%

90%

80%

70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%

Global Portugal Espanha Brasil México AméricaCentral

ConeSul

RegiãoAndina

Delinquência e violência

Problemas com o emprego

Problemas económicos

Dependência e acoolismo

Acesso à educação de qualidade

Acesso à justiça

Acesso a serviços de saúde

Não responde

Respostas à pergunta «quais são os dois problemas mais importantes que afetam os jovens do teu país?» (%). Jovens que indicam o problema como primeira ou segunda escolha.

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Perceções de violência social

Dijk et al. 2007; Tulumello 2017). Efetivamente, ao analisar o diagnóstico queos jovens fazem sobre a violência, descobrimos que os jovens portugueses sãoos que avaliam pior a situação do próprio país (figura 2.4).

Realizámos então um conjunto de análises bivariadas (quadro 2.2) onde aavaliação da situação em relação à violência fosse comparada com outras di-mensões. A referência ao desenho metodológico foi um trabalho realizadosobre a Argentina, Brasil e Chile (Dammert e Malone 2006). Neste estudo, omedo da violência e crime é comparado com indicadores socioeconómicos,um indicador de vitimização, alguns indicadores sobre a vida social e um indi-cador sobre outras perceções de insegurança individual e social. Este desenhometodológico foi ajustado aos dados disponíveis. A constante é a pergunta re-lativa à opinião geral sobre a situação com a violência.

Os indicadores socioeconómicos disponíveis foram: nível de escolaridade –de nenhuma educação a ensino universitário; sexo; autoavaliação da condiçãoeconómica; idade. Utilizou-se também uma variável para discriminar entre re-sidentes nas capitais e residentes noutras áreas urbanas. Na ausência de pergun-tas sobre a vitimização, utilizaram-se como variáveis as respostas às perguntassobre experiência de violência juvenil urbana («apercebes-te da presença de ban-dos no teu bairro?»), familiar («no teu contexto familiar houve algum episódiode violência física nos últimos doze meses?») e escolar («o ambiente escolar é

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Figura 2.4 – Médias da perceção de violência

Respostas à pergunta «opinião em relação à situação atual... a violência». Escala: 1 = «é mau» a 10 = «é bom».

10,00

9,00

8,00

7,00

6,00

5,00

4,00

3,00

2,00

1,00

Global Portugal Espanha Brasil México AméricaCentral

ConeSul

RegiãoAndina

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violento: concordas?»). A taxa de homicídios foi utilizada como variável con-textual para uma comparação à escala regional entre perceção de violência eviolência homicida.

Finalmente, duas variáveis que sintetizam a perceção da atualidade à escalaindividual (saúde, educação, qualidade de vida, a própria vida em geral, parti-cipação dos jovens, emprego estável) e social (pobreza, corrupção da sociedade,consciência ecológica, desigualdades no país, direitos dos imigrantes)3 foramutilizadas para correlacionar a perceção de violência com outras inseguranças.Verifica-se que os indicadores socioeconómicos tiveram pouco ou nenhumefeito sobre a preocupação com a violência. Os níveis de educação, o sexo e aidade dos inquiridos são insignificantes em todas as regiões. A condição eco-nómica tem significância e um impacto muito modesto em Espanha e no ConeSul, mas com resultados opostos: no Cone Sul os inquiridos mais prósperossão os que se revelam mais preocupados com a violência, enquanto em Espanhasão-no os mais pobres. No caso do Cone Sul podemos conjeturar como causauma sociedade mais polarizada, na qual as classes prósperas se sentem maisameaçadas,4 enquanto no caso espanhol o resultado, embora contraintuitivo,é compatível com o facto de as classes menos privilegiadas serem as mais viti-mizadas (Shirlow e Pain 2003). A variável geográfica tem significância em quasetodas as regiões, com impacto muito modesto e variável: no Brasil e na RegiãoAndina, os habitantes das capitais estão menos preocupados com a violência,sucedendo o inverso em Espanha, no México e no Cone Sul.

Como expetável, a taxa de homicídio tem uma significativa correlação coma preocupação com a violência, embora de impacto muito modesto. O impactoseria bem maior se Portugal não fosse contemplado, onde a par de uma taxa dehomicídios muito baixa (1,2) persiste uma preocupação elevada com a violência(figura 2.5).

O facto de se experienciar cenas e/ou episódios de violência parece ter efeitosalgo contraditórios. A presença de bandos no bairro em que se habita tem umefeito significante mas muito modesto no incremento da preocupação com aviolência na amostra global e junto dos inquiridos do Cone Sul. Já em Espanha,e de forma contraintuitiva, o efeito é o oposto. A experiência de violência fa-miliar não é significativa com exceção da Espanha e do Brasil, onde é correla-cionada, outra vez de forma contraintuitiva, com uma menor preocupação coma violência. A experiência de violência escolar tem significância e impacto emPortugal, Espanha e México. Em Portugal os que experienciam violência escolarestão mais preocupados com a violência, enquanto em Espanha e no México

3 V. Moreira, neste volume, para as questões de método na construção dos indicadores.4 V. Sanchez (2006) sobre a privatização da segurança na América Latina.

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Perceções de violência social

os resultados são contraintuitivos. O caso da Espanha, onde as três variáveisdão resultados contraintuitivos, pode talvez explicar-se partindo da hipótese deque existe uma relutância em admitir experiências de violência ou, em alterna-tiva, pode ser considerado uma anomalia estatística.

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Quadro 2.2 – Correlacoes bivariadas entre a percecao de violencia e indicadores socioeconomicos, de percecao de vitimizacao social e de inseguranca

Variável Global Portugal Espanha Brasil México A. Central Cone Sul Região Andina

Educação1 (nenhuma) –0,01 –0,02 –0,04 0,03 –0,05 –0,03* –0,01 –0,06**a 4 (universitária)

Sexo1 (homem) –0,04**–0,06 –0,03 –0,06* 0,03 –0,06** –0,03* –0,04**e 2 (mulher)

Condição económica1 (AB) a 4 (C)

0,01 –0,03 –0,13** 0,00 –0,06* –0,01 0,09** 0,01

IdadeIdade em rank

–0,01 –0,04 0,06 –0,06* 0,00 –0,03* 0,01 –0,01

Localidade1 (capital urbana) 0,00 0,04 –0,13** 0,12** –0,09** –0,01 –0,11** 0,09**e 2 (urbana não capital)

Perceção da atualidadeDimensões individuais 0,22** 0,43** 0,53** 0,23** 0,47** 0,16** 0,31** 0,23** 1 (mau) a 10 (bom)

Perceção da atualidade Dimensões sociais 0,67** 0,61** 0,64* 0,27** 0,73** 0,66** 0,65** 0,72**1 (mau) a 10 (bom)

Homicídios cada100 000 habitantes (a) –0,10** (b)

Perceção de gangues1 (sim) e 2 (não)

0,08** 0,05 –0,11* 0,05 0,08 0,06** 0,14** 0,06**

Violência familiar1 (sim) e 2 (não) –0,03** 0,05 –0,24** –0,13** –0,05 0,03 –0,01 0,00

O ambiente escolar é violento?1 (discorda totalmente) 0,06 –0,20** 0,10** 0,00 0,20** –0,01 –0,04* 0,00

a 5 (concorda totalmente)

Perceção de violência: respostas à pergunta «opinião, em relação à situação atual... a violência». Escala: 1 (mau)a 10 (bom); * p < 0,05; ** p < 0,01. (a) Dados UNODC; (b) a variável é constante nos outros casos.

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Os Jovens Portugueses no Contexto da Ibero-América

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Figura 2.5 – Linhas de regressão a representar a relação entre perceção de violência e taxa de homicídios

7,00

6,00

5,00

4,00

3,00

2,00

1,00Perc

epçã

o de

vio

lênc

ia (

1 =

mau

; 10

= b

om)

Homicídios/100 000 habitantes

4000 05 10 15 20 25 30 35

Linear (série com Portugal)

Portugal

Espanha

BrasilMéxico

AméricaCentral

Cone Sul

RegiãoAndina

Linear (série sem Portugal)

As outras perceções da atualidade são, de longe, os mais poderosos preditoresde preocupação com a violência, especialmente as dimensões sociais. As variá-veis são significativas em todos os contextos geográficos e têm impactos médios,altos ou muito altos (entre 0,16 e 0,79). As dimensões individuais são especial-mente impactantes em Espanha (0,53), no México (0,47) e em Portugal (0,43).As dimensões sociais impactam em todos os contextos com valores superioresa 0,60, com exceção do Brasil (0,27).

No caso português, as variáveis significativas são a presença de violência es-colar (–0,20) e, sobretudo, as perceções de atualidade – individuais (0,43) e sociais(0,64). Nem as dimensões socioeconómicas nem a localização geográfica na ca-pital – que, sendo a única grande cidade do país, mostra os maiores volumes decriminalidade – contribuem para explicar a preocupação dos jovens portuguesesem relação à violência. Estes resultados, por um lado, deveriam sugerir umamaior atenção em relação aos episódios de bullying nas escolas 5 e, por outro,confirmam as evidências de Crucho de Almeida (1998) que relacionam o medodo crime em Portugal com generalizados sentimentos de falta de confiança nofuturo.

Os jovens portugueses, pese embora o facto de serem os que pior avaliam asituação em relação à violência, são também os únicos que não a consideram o

5 Para um debate sobre bullying e violência escolar, v. Sebastião (2013).

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Perceções de violência social

problema principal das suas vidas, facto que poderá eventualmente decorrer docontexto de crise económica vivida nos últimos anos. Os jovens portuguesestêm sido afetados de forma especialmente intensa pelos efeitos da crise, em par-ticular pelo aumento estrondoso das taxas de desemprego, facto que pode con-tribuir para explicar a prioridade dos problemas da economia e do trabalho.

A dimensão temporal, ao caracterizar a maneira como os jovens portuguesesse veem em relação ao passado e ao futuro, pode ajudar-nos a melhor percebera forma como os jovens portugueses avaliam a situação em relação à violência.Em 2014 assinalaram-se os 40 anos da revolução dos cravos e, pela ocasião, lan-çou-se um inquérito que visava explorar como os portugueses avaliam as mu-danças que decorreram até hoje (quadro 2.3). Os portugueses consideram quea democratização foi especialmente positiva para o nível de vida e de educaçãoe moderadamente positiva para a situação económica em geral e a convivênciasocial e o civismo. Uma maioria acha que as coisas pioraram em relação às de-sigualdades sociais e uma esmagadora maioria, quatro em cada cinco, pensaque as coisas pioraram em relação ao desemprego, criminalidade e insegurança.Embora sejam mais otimistas por comparação com a amostra global, tambémos jovens e jovens adultos consideram que as coisas estão piores em relação aocrime e à insegurança (figura 2.6).

O inquérito sobre a juventude ibero-americana, aliás, permite averiguar queos portugueses são os que menos otimismo demonstram em relação ao futuro,especialmente em relação à violência, sendo que não esperam que a situaçãomelhore (Moreira, neste volume). Estes resultados confirmam os recentes in-quéritos Delphi que mostram como os jovens portugueses temem que a criseeconómica venha a comportar o agravamento das condições de vida, especial-mente nas áreas urbanas mais desfavorecidas, e, consequentemente, uma recru-descência da violência criminal (Perista et al. 2012, 8).

O facto de os jovens portugueses se destacarem, no contexto da juventudeibero-americana, como aqueles que avaliam com mais preocupação a situação

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Quadro 2.3 – Peerceções sobre a situação económica do país relativa à situação antes do 25 de abril (%)

Criminalidade Situação Nível Convivência Desemprego Desigualdades Educação e insegurança económica de vida social e civismo sociais

Melhor 5,1 42,4 56,8 41,7 7,3 24,5 69,3Na mesma 8,0 11,9 11,2 19,2 7,9 28,7 10,1Pior 80,8 36,6 25,5 28,2 78,8 37,8 14,5NS/NR 6,1 9,1 6,5 10,9 5,9 9,0 6,1

Resultados do inquérito «40 anos do 25 de abril», realizado pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidadede Lisboa e semanário Expresso, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian; amostra de 8563 indivi-duais.

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com a violência, sendo, apesar disso, os menos afetados por ela, merecerá dis-cussão ulterior. Nas próximas duas secções deste capítulo debruçaremos, assim,a nossa atenção de forma mais detalhada sobre o caso português nas duas di-mensões, a urbana e a familiar, que demonstraram ter relações inesperadas coma preocupação com a violência.

Violência urbana e suas perceções em PortugalA urbanização é um processo especialmente avançado nas sociedades oci-

dentais. O espaço urbano e o espaço público constituem o palco por excelênciada vida coletiva nas suas dimensões sociais, económicas, políticas, culturais.Assim, a dimensão urbana resulta crucial para uma compreensão da violênciae suas perceções sociais. Entre as características do espaço urbano é importantesalientar que a cidade é o lugar onde as diferenças se concentram e têm as suasexpressões visíveis, especialmente numa época marcada pela mobilidade e imi-gração global (Sassen 1998). A presença visível das diferenças pode gerar senti-mentos de insegurança, especialmente em populações, como as idosas, quepodem perceber as mudanças sociais como uma ameaça ao seu espaço vital.Sandercock (2002), porém, sublinha a incapacidade das instituições, especial-mente locais, em lidar com a presença das diferenças e, mais em geral, com ossentimentos de insegurança.

Assim, as anotações com que abrimos o capítulo sobre a dificuldade de medire interpretar a violência e as suas perceções, por um lado, e a relevância das di-

Os Jovens Portugueses no Contexto da Ibero-América

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Figura 2.6 – Perceções negativas sobre a situação económica do país relativa à situação antes do 25 de abril por escalão etário (%)

Elaboração dos autores sobre os resultados do inquérito «40 anos do 25 de abril».

Criminalidadee insegurança

Situaçãoeconómica

Nível de vida

Convivênciasocial e civismo

Desemprego

15/24 anos 25/34 anos Amostra

00 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Educação

Desigualdadessociais

Acham a situação pior do que antes do 25 de abril

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Perceções de violência social

mensões políticas na geração dos sentimentos de insegurança, por outro, resul-tam especialmente significativas em relação ao contexto urbano. Nas últimasduas décadas, aliás, as cidades e metrópoles ocidentais foram caracterizadas poruma generalizada diminuição dos crimes violentos mas, ao mesmo tempo, apreocupação com a violência generalizava-se e assumia um papel crucial nasagendas políticas e mediáticas (van Dijk et al. 2007; ICPC 2012). Este paradoxofoi explorado desde perspetivas diferentes: Epstein (1998) critica o urbanismode cariz modernista pela produção de espaços urbanos que podem gerar medo;Sandercock (2002) sugere um olhar para as economias políticas do medo docrime urbano; Abu-Orf (2013) propõe uma teoria para as relações entre medono espaço urbano e políticas de planeamento.

Estes paradoxos parecem ter uma relevância especial no caso português, porser este um país que apresenta taxas especialmente baixas de criminalidade vio-lenta no espaço urbano quando comparadas internacionalmente (van Dijk etal. 2007; Tulumello 2017). Foi anteriormente notado como, distintamente doque aconteceu noutros países ocidentais, em Portugal os anos 90 e o início dosanos 2000 são caracterizados por um incremento dos crimes: trata-se de peque-nos roubos e assaltos, ou seja, de uma «relativa saturação de crimes, mas [...]cada vez menos violentos» (Ferreira 2003, 41). Ainda por cima, os inquéritosde vitimização mostram, na mesma época, uma redução de vítimas de crime(van Dijk et al. 2007) e um incremento das querelas (id., ibid., 110): este factosugere que, mais do que por um incremento de violência, essa década caracte-riza-se por um incremento de eficácia das medidas de repressão. Com certeza,a última década é caracterizada por diminuições significativas nas taxas de cri-minalidade violenta (Tulumello 2017). Também o envolvimento de jovens ematos criminais é um fenómeno em redução (Perista et al. 2012).

Duas perguntas do inquérito permitem avançar algumas reflexões sobre a di-mensão urbana da violência juvenil, nomeadamente a presença de bandos egangues e brigas violentas com utilização de armas (quadro 2.4). Pouco maisde um jovem português em cada oito apercebeu-se da presença de bandos dejovens no seu bairro, um valor significativamente inferior ao das outras regiões(13%, contra 23% na amostra global), enquanto quase um em cada três declarater presenciado pelo menos uma briga violenta no ano precedente, um resul-tado ligeiramente superior à média da amostra e significativamente superior aoda vizinha Espanha (29% contra 21%). Uma análise multivariada foi utilizadapara estudar se a presença de brigas tem variação em diferentes contextos so-cioeconómicos e geográficos (quadro 2.5).

Educação, sexo e condição económica dos inquiridos não estão correlacio-nados de forma significativa com a presença de brigas violentas. A localizaçãogeográfica demonstra significância e um impacto leve: os inquiridos que não

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residem em Lisboa presenciaram mais brigas violentas do que os residentes nacapital. Numa análise superficial, este resultado pode parecer contraintuitivoporque Lisboa é o município com as taxas maiores de crime no país. Mas deve--se lembrar que a população efetivamente presente em Lisboa triplica quotidia-namente por causa das comutações para trabalho. Similarmente, Lisboa é des-tino das movimentações nocturnas de milhares de jovens, especialmente nosbairros históricos do Bairro Alto, Cais do Sodré e Santos. A câmara municipaltem recentemente demonstrado alguma preocupação com os bairros da vidanocturna, preocupações que tiveram concretização no Bairro Alto, sob a formade medidas restritivas para os bares e instalação de um sistema de videovigilân-cia. Um outro sistema de vigilância deve vir a cobrir, entre outras áreas, o Caisdo Sodré. É, de qualquer forma, importante sublinhar como estas grandes con-centrações de jovens, embora tenham causado alguma conflitualidade com aspopulações residentes, não resultaram em taxas de crimes violentos superiores

Os Jovens Portugueses no Contexto da Ibero-América

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Quadro 2.4 – Perceções de violência urbana (%)

Global Portugal Espanha Brasil México A. Central Cone Sul Região Andina

Apercebeste-te dapresença de bandos 23% 13% 19% 27% 17% 24% 20% 27%no teu bairro?

Presenciaste umabriga com faca ouarmas de fogo nos

27% 29% 21% 53% 23% 23% 24% 31%

últimos doze meses?

Inquiridos que respondem afirmativamente.

Quadro 2.5 – Correlações bivariadas entre ter presenciado a ocorrência de brigas com uso de armas e indicadores socioeconómicos

Variável Portugal Global

Educação –0,07** 0,061 (nenhuma) a 4 (universitária)

Sexo 0,03 0,001 (homem) e 2 (mulher)

Condição económica 1 (AB) a 4 (C) 0,04** 0,02

Localidade –0,12* 0,031 (capital urbana) e 2 (urbana não capital)

Constante: respostas à pergunta «presenciaste uma briga com faca ou armas de fogo nos últimos doze meses?».Escala: 1 (sim) e 2 (não).* p < 0,05; ** p < 0,01.

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Perceções de violência social

às das outras áreas da cidade: assim, as políticas de vigilância parecem orientadasmais para tranquilizar do que para prevenir os escassos crimes (Tulumello 2013).

É, portanto, importante sublinhar como as concentrações de jovens, assimcomo alguns seus excessos, têm relações complexas e não diretas, seja com aconcentração de atos criminais, seja, mais em geral, com os fenómenos de vio-lência. Ferreira (2003) enfatiza duas questões. Por um lado, os fenómenos desegregação e exclusão urbana costumam gerar – para além de algumas situaçõesviolentas – reações identitárias, como movimentos sociais e subculturas des-viantes, mas não necessariamente criminais; por outro lado, existe e é generali-zada uma representação dos jovens como ameaças, especialmente dos perten-centes a grupos minoritários e provenientes das áreas suburbanas. Aliás, apresença de atividades desviantes e incivilidades geralmente associadas aos jo-vens – vandalismo e graffitis –, apesar de não ser diretamente correlacionadacom o perigo de vitimização, é uma das causas dos sentimentos de insegurançaurbana: van Dijk et al. (2007) explicam os sentimentos de insegurança especial-mente altos nas cidades portuguesas exatamente com a visibilidades destas ati-vidades, juntamente com a presença de tráfico de droga.

Finalmente, é necessário sublinhar o papel da comunicação social na perce-ção da violência urbana em termos de espetacularização da violência. Não sepode esquecer, por exemplo, que o diário mais vendido em Portugal, o Correioda Manhã,6 é um tabloide sensacionalista que dedica especial atenção à crimi-nalidade violenta. É significativo o caso do verão de 2008. Nesse ano, o incre-mento anual do número de crimes violentos – embora inserido na tendênciade diminuição que se iniciou em 2004 – e uma concentração de alguns crimesespecialmente violentos na região de Lisboa no mês de agosto7 foram utilizadospara construir uma campanha mediática sobre crime, insegurança e imigração(Machado e Santos 2009). A campanha foi capaz de gerar um boom nas perce-ções de segurança, favorecendo uma reformulação repressiva da política nacio-nal de segurança (Tulumello 2017).

Violência familiar e suas perceções em Portugal

As perceções sobre a violência familiar podem constituir-se como importan-tes indicadores da existência (ou não) de uma consciência social sobre este fe-nómeno (Cardoso et al. 2008). Embora, em termos teóricos, tendamos a con-

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6 Que, com mais de 110 000 cópias vendidas diariamente, detém mais de 50% do mercadonacional de jornais diários. Seguem-se o Diário de Notícias, com cerca de 60 000 cópias diárias, eo Público, com menos de 20 000. [cf. www.publico.pt/sociedade/noticia/em-2013-venderamse-menos-17800-jornais-por-dia-1626560 (consultado em setembro de 2014)].

7 Especialmente uma série de carjackings e o roubo armado de um banco com reféns.

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Os Jovens Portugueses no Contexto da Ibero-América

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cordar com o argumento, na prática, no caso da violência em geral e particu-larmente no que concerne à violência doméstica, algumas cautelas se impõemna análise destas perceções.

Reforçando a ideia atrás mencionada, a «verdade» quantitativa da violêncianem sempre corresponde à consciência social manifestada pelos atores sociais.Prova disso é-nos dada pelos resultados da pergunta sobre episódios de violênciafísica no seu contexto familiar (quadro 2.6).

De todos os jovens dos vários países abrangidos pelo inquérito, somente 2%dos portugueses respondem afirmativamente, sem que se registem diferençasde género.8 Esta percentagem contrasta com outras bastante mais significativas,como é o caso da Espanha (21%) ou do Brasil (37%). Estes resultados têm fra-quíssima correspondência com o número de pedidos de apoio de vítimas diretasde crime em Portugal – por exemplo, das 20 642 vítimas que, em 2013, solici-taram apoio à Associação Portuguesa de Apoio à Vítima,9 mais de 84,2% foram

Quadro 2.6 – Perceção de violência familiar nos últimos doze meses (%) Global Portugal Espanha Brasil México A. Central Cone Sul Região Andina

No teu contexto familiar houve algum episódio de 7% 2% 21% 37% 17% 10% 13% 15% violência física nos últimos doze meses?

Apercebeste-te da existência de episódios deviolência física na

19% 12% 20% 30% 17% 15% 16% 26%

vida de casal dos teus amigos?

Inquiridos que respondem afirmativamente.

8 A baixa ocorrência de respostas afirmativas impede averiguar através de uma análise multiva-riada a existência de diferenças de género. Contudo, é de salientar que a literatura demonstra, deforma persistente e abundante, que as mulheres tendem a conceber mais atos como sendo vio-lentos. Este facto aumenta a sua vulnerabilidade e a sua preocupação em relação à violência e con-duz também a que a sua perceção sobre a ocorrência da mesma seja, por norma, mais elevada doque a dos homens. Estes tendem, principalmente no que respeita a atos severos de violência física,a desvalorizar os acontecimentos, não os considerando tão graves quanto as mulheres, ou mesmonão os reconhecendo sequer como violência (Edleson e Brygger 1986; Schmidtgal 2005). Os dadosdeste inquérito relativos à Espanha, onde 21% dos inquiridos respondem afirmativamente à per-gunta sobre se existiu violência doméstica no seu ambiente familiar, apontam para essa tendência,já que 17% mais de mulheres do que homens respondem afirmativamente à questão.

9 V. http://apav.pt/apav_v2/images/pdf/Estatisticas_APAV_Relatorio_Anual_2013.pdf (con-sultado em setembro de 2014).

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Perceções de violência social

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alvo de violência doméstica. E este é apenas o número de indivíduos que soli-citam ajuda. Por outro lado, embora apenas 2% dos jovens relatem ter assistidoa um episódio de violência doméstica no seio da sua família, tal não significaque haja necessariamente uma ausência de consciência social do fenómeno.Dados do Eurobarómetro revelam até um aumento da percentagem de portu-gueses que declaram ter já ouvido falar de violência doméstica sobre as mulheres(de 91%, em 1999, para 96%, em 2010).10

Tendo presentes as estatísticas que nos aproximam daquilo que é a realidadeda existência de violência doméstica em Portugal, como explicar então estes re-sultados? Mais do que respostas definitivas, tecemos hipóteses interpretativascom o fito de sugerir pistas para futura investigação.

Com a consolidação da democracia, a consagração pública de direitos, liber-dades e garantias fundamentais, bem como a intensificação de campanhas deprevenção e alerta e ainda a cada vez mais intensa divulgação nos media de si-tuações de violência familiar, ao mesmo tempo que se assiste a uma maior sen-sibilização para o fenómeno, verifica-se uma diminuição dos níveis de tolerânciapara com o mesmo. Algumas vítimas podem sentir-se mais protegidas do pontode vista policial e legal, o que contribui para o aumento do número de queixas.Porém, e justamente porque o fenómeno é socialmente menos tolerado, podedar-se o caso de outras vítimas sentirem mais vergonha, tendendo, assim, o fe-nómeno a permanecer silenciado.

Por outro lado, e apesar de globalmente se verificar uma crescente intolerânciapara com os atos de violência praticados no espaço doméstico, a verdade é queeste é um fenómeno social enraizado na cultura portuguesa (Casimiro 2011).Para um país onde até há pouco tempo se ouviam ditados como «entre maridoe mulher ninguém mete a colher», muitas situações, ainda hoje, tenderão a nãoser reconhecidas como agressões. Apesar da mudança de mentalidades, esta per-meabilidade à violência verifica-se também entre as camadas mais jovens da po-pulação que, segundo alguns autores, continuam a percecionar como não vio-lentos atos já passíveis de serem considerados crimes. A este propósito, Cardosoet al. (2008, 1) referem que «vários autores alertam para o facto de ser precisa-mente na adolescência que [...] se consolida a aceitação da violência como umaversão do amor, ou que se adere mais facilmente a alguns ‘mitos culturais’ sobreas relações íntimas, como, por exemplo, associar o amor ao sofrimento subja-cente no célebre provérbio ‘quanto mais me bates, mais gosto de ti’».

Outro aspeto a ter em consideração é que no inquérito aos jovens ibero-ame-ricanos as duas questões colocadas remetem para uma dimensão específica da

10 V. http://ec.europa.eu/public_opinion/archives/ebs/ebs_344_en.pdf (consultado em setem-bro de 2014).

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Os Jovens Portugueses no Contexto da Ibero-América

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violência – a física. Sobre isso, importa sublinhar que, pese embora a sobreva-lorização dos media de episódios mais dramáticos e violentos, o que poderiasugerir um aumento da violência física, a verdade é que entre 1995 e 2007 severificou até uma melhoria global na prevalência da violência doméstica, con-cretamente na violência exercida sobre as mulheres (Lisboa et al. 2009). Estedado poderá, em certa medida, contribuir para explicar a baixa percentagem deindivíduos a reportar a ocorrência de episódios de violência física no seu con-texto familiar.

Já no que respeita à perceção que os jovens têm sobre a violência domésticaocorrida junto de casais amigos verifica-se que, especificamente para o caso por-tuguês, a percentagem dos que referem ter conhecimento dessas ocorrências émaior (situa-se nos 12%) do que a dos inquiridos que respondem afirmativamenteà questão sobre a ocorrência de violência no seu ambiente familiar (quadro 2.6).Este dado, que confirma, por exemplo, os resultados do Eurobarómetro,11 parecesugerir a necessidade, entre os portugueses, de procurar transmitir uma imagemem conformidade com a normalidade social, com a ideia de uma história de vidalímpida, parecendo pouco tentados a reconhecer ser a violência doméstica umproblema que os afete.

Equacionámos que, por hipótese, poder-se-ia verificar uma correlação entrea perceção da ocorrência de violência e o nível de educação e condição econó-mica, ou seja, quanto mais elevados os níveis de escolaridade e a condição eco-nómica, maior a sensibilidade em relação ao fenómeno da violência e, conse-quentemente, maiores as probabilidades de aumentarem as respostas positivasà questão da ocorrência de violência no seio de casais amigos. Contudo, a aná-

Quadro 2.7 – Correlações bivariadas entre a perceção de violência doméstica e indicadores socioeconómicos

Variável Portugal Global

Educação1 (nenhuma) a 4 (universitária) –0,05** 0,00

Sexo1 (homem) e 2 (mulher) –0,02 –0,03

Condição económica1 (AB) a 4 (C) 0,05** –0,06

Constante: respostas à pergunta «tens-te apercebido da existência de episódios de violência física na vida decasal dos teus amigos nos últimos doze meses?». Escala: 1 (sim) e 2 (não).* p < 0,05; ** p < 0,01.

11 http://ec.europa.eu/public_opinion/archives/ebs/ebs_344_en.pdf (consultado em setembrode 2014).

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Perceções de violência social

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lise multivariada realizada (quadro 2.7), revela que, apesar de haver alguma cor-relação, ela não é significativa. É provável que estes resultados pudessem sermais expressivos caso o número de inquiridos a responder afirmativamente àsquestões sobre violência fosse mais elevado.

Conclusões

Neste capítulo explorámos a violência e suas perceções numa perspetiva com-parativa entre Portugal e os outros países da região ibero-americana. Iniciámospor caracterizar as tendências gerais de violência nos diferentes contextos geo-gráficos em relação às dinâmicas institucionais, temporais, sociais. Embora sejaevidente uma grande variabilidade geográfica e temporal – lembre-se, por exem-plo, o caso do boom da violência no México –, pode salientar-se uma dualidadede grande escala entre a Península Ibérica e a América Latina, por ser a primeiraum dos contextos menos violentos do globo.

A análise dos resultados do inquérito, porém, demonstra como é difícil en-contrar relações diretas entre a violência como facto e as suas perceções. En-contramos pouquíssimas correlações robustas entre a forma como os jovenspercecionam a violência e a sua efetiva presença, assim como com as caracteri-zações sociais – idade, condições socioeconómicas, sexo, níveis de educação.Ao invés, a existência de perceções gerais de insegurança – relativas a dimensõessociais ou individuais, como o trabalho, a saúde, a qualidade de vida – resultouser o único preditor de perceções de insegurança relativo à violência. Estes re-sultados confirmam as evidências de Dammert e Malone (2006) sobre o medodo crime no Brasil, na Argentina e no Chile, estendem-nas aos jovens ibero--americanos e confirmam que as hipóteses mais frequentemente utilizadas nodebate público em relação à preocupação com o crime (condição económica,sexo, presença de crime) são pouco ou nada eficazes para explicar as perceçõesda gravidade da violência. Assim, como sugerem Dammert e Malone (2006,37), lidar com o crime violento em si pode não ser suficiente para diminuir apreocupação com a violência e a atenção deve ser dirigida também para outrasfontes de insegurança sentidas pelos indivíduos.

Portugal destacou-se como o contexto onde é mais difícil encontrar preditoresde perceções de violência que não sejam perceções de outras inseguranças. Como objetivo de procurar outras explicações, decidimos indagar duas dimensõesespaciais do tema da violência, nomeadamente a violência urbana e a violênciafamiliar. Ao longo desta exploração foi-se construindo uma imagem bem maiscomplexa de Portugal, um contexto caracterizado por uma multiplicidade dedimensões que reverberam umas com as outras, resumíveis em dois grandestemas. Primeiro, à escala urbana, embora seja caracterizado por taxas de violên-

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cia residuais, Portugal apresenta uma dimensão muito especifica de tendênciasglobais que vêm empolar o tema da criminalidade – e a comunicação socialportuguesa parece não ser alheia a estes processos. Segundo, o processo de con-solidação democrática, assim como dimensões culturais e suas evoluções no es-paço familiar, sugerem que possa existir uma reduzida tolerância aos fenómenosde violência que pode resultar de um progressivo incremento de consciênciacivil.

Mas queremos concluir enfatizando, uma vez mais, o modo como se vis-lumbram, entre o povo português, e nos jovens, perceções generalizadas de in-segurança. Parece-nos manifesto, enfim, como, através da perspetiva da violên-cia, tivemos algumas evidências de que os jovens portugueses anseiam porcondições para uma renovada confiança no seu passado, presente e futuro. E que essa confiança não pode senão ser construída através de uma abordagemholística aos problemas de coesão social, económica e cultural à escala local,nacional e, no contexto da crise económica, europeia.

Os Jovens Portugueses no Contexto da Ibero-América

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