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9 UNIVERSIDADE TIRADENTES ALEX PINTO SOARES ESTUDO DA RESPONSABILIDADE CRIMINAL EM DIREITOS AUTORAIS PELA DECORRÊNCIA DA CÓPIA DE LIVRO PARA USO PRÓPRIO

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9

UNIVERSIDADE TIRADENTES

ALEX PINTO SOARES

ESTUDO DA RESPONSABILIDADE CRIMINAL EM DIREITOS AUTORAIS PELA DECORRÊNCIA DA

CÓPIA DE LIVRO PARA USO PRÓPRIO

10

Aracaju2010

ALEX PINTO SOARES

ESTUDO DA RESPONSABILIDADE CRIMINAL EM DIREITOS AUTORAIS PELA DECORRÊNCIA DA

CÓPIA DE LIVRO PARA USO PRÓPRIO

Monografia apresentada à Universidade Tiradentes como um dos pré-requisitos para obtenção do grau de bacharel em Ciências Jurídicas.

ORIENTADORA: Priscila Formigheri Feldens.

11

Aracaju2010

ALEX PINTO SOARES

ESTUDO DA RESPONSABILIDADE CRIMINAL EM DIREITOS AUTORAIS PELA DECORRÊNCIA DA CÓPIA DE

LIVRO PARA USO PRÓPRIO

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade Tiradentes – UNIT, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Ciências Jurídicas.

Aprovada em ____/______/______.

Banca examinadora

_______________________________________________________Orientadora

Universidade Tiradentes

_______________________________________________________Professor

Universidade Tiradentes

12

_______________________________________________________Professor

Universidade Tiradentes

À Deus, pois sem ele, não estaria nesse momento concretizando esse sonho.

13

AGRADECIMENTOS

A realização deste trabalho só foi possível graças:

À Deus;

À Universidade Tiradentes, pelo ensino de qualidade a mim ministrado

durante todo o curso e a todo o corpo docente desta Universidade que procuraram

transferir seus conhecimentos proporcionando assim o pontapé inicial da minha

jornada de vida no mundo profissional.

À minha família, em especial aos meus pais, tudo que tenho de mais

sagrado.

À minha querida noiva Fabiana, pelo carinho e companheirismo

incondicional dedicado por todo o período acadêmico.

À minha professora Priscila Formigheri Feldens, pelo apoio de pronto, em

orientar naquilo que, de fato, me traria prazer em escrever.

Àos funcionários da Copiadora Tiradentes, pelo apoio e dedicação em

sustentarem essa empresa nas horas em que mais precisei me ausentar devido os

estudos.

A todos os meus amigos e amigas que, de alguma forma me ajudaram na

elaboração deste trabalho.

Durante essa primeira parte da jornada muitas lições foram aprendidas e o

que eu tenho a dizer a todos que participaram dela é registrar meu muito obrigado.

14

Quando nos deixamos conduzir pelos sonhos podemos reescrever nossa história e construir janelas inconscientes que arejam nossa emoção [...] as montanhas se

15

tornam pedras diminutas e os vales, pequenas depressões.

Augusto Cury

RESUMO

O presente trabalho possui como objetivo, traçar um estudo sobre a

Responsabilidade Criminal em Direitos Autorais pela decorrência da cópia de livro

para uso próprio, abordando pontos extremamente relevantes e controversos na

doutrina. A criação de um autor é resguardada de forma que lhe sejam assegurados

os direitos patrimoniais e morais sobre sua obra intelectual. A legislação dos direitos

autorais assegura ao autor, por exemplo, a proteção de suas obras, o direito de

obter os créditos por sua criação, de não ter suas obras alteradas sem autorização

prévia e de ser remunerado por terceiros que queiram utilizar as obras produzidas.

Nessa ótica é que podemos deduzir que a tutela que incide sobre os Direitos

Autorais, que a fria letra da Lei que regula o tema, trata como crime a cópia para uso

privado do copista sem fins lucrativos, acontece que estas práticas são por demais

corriqueiras e causam um enorme impacto positivo em qualquer sociedade que é o

acesso ao conhecimento, não podendo ser concebido que por mera formalidade e

falta de vontade do legislador seja barrado o pensamento por uma lei obsoleta.

Diante deste arcabouço de informações buscar-se-á de forma sistemática traçar

algumas considerações sobre o tema a fim de esclarecer determinados pontos

controvertidos na aplicação de pena para os que efetuam cópia para uso próprio.

Dessa forma, tem-se como principal objetivo ao elaborar esse trabalho, esclarecer

16

melhor para a população brasileira o conceito, a finalidade, a importância e a

aplicação dos Direitos Autorais, da responsabilidade criminal e dos princípios

constitucionais penais.

Palavras Chave: Direito autoral, propriedade, intelectual.

ABSTRACT

The present work has as objective to outline a study on Liability in Criminal Copyright

result of the copy of the book for their own use, addressing points are extremely

relevant and controversial doctrine. The creation of an author is guarded so that you

are guaranteed the rights and moral about their intellectual work. The laws of

copyright assures the author, for example, the protection of their works, the right to

take credit for creating it, not having their works altered without prior consent and be

rewarded by others who want to use the works produced. From this perspective we

can deduce that the authority charged on Copyright, the cold letter of the law

regulating the subject, is a crime to copy for private copyright nonprofit happens that

these practices are too mundane and cause an enormous positive impact on any

company which is the access to knowledge and can not be conceived that a mere

formality and lack of will of the legislature is barred by law thinking obsolete. Given

this framework of information seeking will consistently draw some considerations

about the issue in order to clarify certain points at issue in the application of penalty

for effecting a copy for personal use. Thus, it has as main objective to develop this

work further clarify for the Brazilian population the concept, purpose, importance and

application of the Copyright, criminal responsibility and the constitutional principles of

criminal law.

Keywords: Copyright, ownership, intellectual.

17

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................9

2 DIREITOS AUTORAIS NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA.....................................12

2.1 Histórico e conceito...........................................................................................12

2.2 Finalidade e natureza jurídica...........................................................................18

3 RESPONSABILIDADE CRIMINAL E DIREITOS AUTORAIS...............................21

3.1 Histórico e conceito...........................................................................................21

3.2 Finalidade e natureza jurídica...........................................................................25

4 DIREITO PENAL INEFETIVADOR DO DIREITO FUNDAMENTAL À PROPRIEDADE INTELECTUAL...............................................................................29

4.1. Direito penal e constituição.............................................................................30

4.2 Aplicação dos princípios constitucionais.......................................................32

5 ESTUDO DA RESPONSABILIDADE CRIMINAL EM DIREITOS AUTORAIS PELA DECORRÊNCIA DA CÓPIA DE LIVRO PARA USO PRÓPRIO..............................40

5.1 As limitações do Direito Autoral na legislação brasileira no tocante a cópia de livro para uso próprio.........................................................................................40

5.2 Tipicidade da cópia de livro para uso próprio................................................44

6 CONCLUSÃO.........................................................................................................48

18

7 REFERÊNCIAS......................................................................................................51

ANEXO 1 54

1 INTRODUÇÃO

Os Direitos Autorais são um conjunto de prerrogativas exclusivas que a lei

reconhece a todo o criador sobre suas obras intelectuais de alguma valia,

abrangendo faculdades tanto de ordem pessoal como de ordem patrimonial.

Em linhas gerais podemos entender que os Direitos Autorais são os

mecanismos legais que obtém os criadores de obras intelectuais sob os aspectos

morais e os aspectos patrimoniais, cabendo a estes exclusivamente a deliberação

de como serão usadas as suas obras.

Nessa ótica é que podemos deduzir que a tutela que incide sobre os

Direitos Autorais que a fria letra da Lei que regula o tema, trata como crime a cópia

para uso privado do copista sem fins lucrativos, acontece que estas práticas são por

demais corriqueiras e causam um enorme impacto positivo em qualquer sociedade

que é o acesso ao conhecimento, não podendo ser concebido que por mera

formalidade e falta de vontade do legislador seja barrado o pensamento por uma lei

obsoleta.

Destarte, não interessa apenas ponderar as limitações sob o prisma de

defesa de interesses privados, ou de serem estas um instrumento de acesso à

19

cultura e ao conhecimento, deve ser feito muito mais, o Direito Penal ao caso

concreto do presente estudo estaria por inefetivizar a propriedade intelectual.

Assim, em decorrência do crescente número de aplicadores do direito que

vem distorcendo, em decorrência de uma legislação falha e pouco técnica que não

acompanhou a sociedade a contento, surgem alguns questionamentos, dentre eles:

Será que aplicação de pena a um estudante que tira cópia de um livro para uso

próprio com o fito exclusivo de agregar conhecimento estaria em consonância com o

verdadeiro senso de justiça? Será que os valores ínfimos, na maioria das vezes

centavos, justificaria que o copista de livro para uso próprio entrasse no rol dos

culpados e respondesse a processo criminal?

Diante deste arcabouço de informações buscar-se-á de forma sistemática

traçar algumas considerações sobre o tema com o escopo de esclarecer

determinados pontos controvertidos na aplicação de pena para os que efetuam

cópia para uso próprio.

Dessa forma, tem-se como principal objetivo ao elaborar esse trabalho,

esclarecer melhor para a população brasileira o conceito, a finalidade, a importância,

e a aplicação dos Direitos Autorais, da responsabilidade criminal e dos princípios

constitucionais penais.

Nesta esteira, o trabalho monográfico em questão fora dividido em seis

capítulos, os quais foram escritos de forma dissertativa. O primeiro cuida de uma

introdução. O segundo trás uma abordagem histórica e conceitual sobre os Direitos

Autorais, tecendo alguns comentários relevantes, condizentes a sua origem,

demonstrando como surgiu a necessidade do instituto para a sociedade; conceito,

finalidade, natureza jurídica, evolução e aplicabilidade.

20

O terceiro capítulo aborda uma temática relacionada a responsabilidade

criminal e os Direitos Autorais, tecendo alguns comentários relevantes, condizentes

a sua origem, demonstrando como surgiu a necessidade do instituto para a

sociedade; conceito, finalidade, natureza jurídica, evolução e aplicabilidade

O quarto capítulo tergiversa sobre o Direito Penal com Infetivador da

Propriedade intelectual, trazendo em seu bojo uma dialeticidade entre o Direito

Penal e a Constituição, abordando ainda uma base principiológica, onde elenca

alguns dos mais importantes princípios aplicáveis ao caso, quais sejam:

proporcionalidade da pena, ultima ratio, legalidade, insignificância e adequação

social. Frise-se que a compreensão dos mesmos é de primordial relevância a

perfeita compreensão sobre o tema.

O quinto capítulo aborda alguns aspectos sobre os pontos controvertidos

sobre o Estudo da responsabilidade criminal em direitos autorais pela decorrência da

cópia de livro para uso próprio, e ainda versa sobre as limitações do Direito Autoral

na legislação brasileira no tocante a cópia de livro para uso próprio, e, mais a frente

sobre a Tipicidade da cópia de livro para uso próprio

O sexto capítulo, por seu turno, tece considerações finais sobre o tema

deste trabalho, fazendo ponderações e reflexões sobre o bom uso do tema, bem

como, enaltecendo a importância da sua correta aplicação.

Saliente-se ainda, que esta pesquisa utiliza-se do método (maneira

utilizada pelo autor para desenvolver a sua tese) indutivo, este método observa o

fenômeno, qual seja a responsabilidade criminal para aquele que faz cópia de livro

para uso próprio; analisando a necessidade deste instituto, estudando dentro da

perspectiva do ordenamento jurídico, resolvendo assim a problemática que envolve

o tema.

21

Valendo-se ainda de uma técnica (consiste nos instrumentos utilizados

pelo autor para obter informações, argumentos e idéias desenvolvidas) documental,

onde para a pesquisa dos dados utilizou-se de livros, legislações, internet,

anotações em sala de aula, vídeos e dados estatísticos.

2 DIREITOS AUTORAIS NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

2.1 Histórico e conceito

Realizando uma análise histórica, observa-se facilmente que a

preocupação com a tutela dos direitos de autores de obras intelectuais é bastante

recente. Na Antiguidade e na maior parte da Idade Média as dificuldades inerentes

aos processos de reprodução dos originais, por si só, já exerciam um poderoso

controle da divulgação de idéias, pois o número de cópias de cada obra era

naturalmente limitado pelo trabalho manual dos copistas, e, essa limitação ao longo

do tempo se perpetuou em decorrência da restrição da literatura para as grandes

massas1.

Em decorrência desta privação ao acesso à informação e a cultura

contida nas obras intelectuais, não se tinha preocupação com os direitos autorais,

que apenas veio a ganhar força com o aumento do poder da indústria cultural,

1 Definição de Direitos Autorais. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Direitos_autorais> . Acesso em: 10 mar. 2010.

22

porque até então, por decendência da cultura inglesa, a maior preocupação era com

o controle dos escritos, que passou a ser conhecido como copyright2.

O momento em que se percebe na história mundial que o Direito Autoral

passa a ser tutelado por normas jurídicas data de pouco mais de dois séculos, que

teve como forte motivação a evolução gigantesca dos mecanismos de comunicação

de uma forma geral, justamente quando passou a se explorar comercial e

economicamente a produção artística literária3.

Enquanto em várias nações européias e nos Estados Unidos da América

as discussões sobre a matéria aconteciam ininterruptamente, gerando inúmeras

legislações e, posteriormente, constantes convenções de abrangência internacional,

no Brasil, mesmo após a declaração da Independência, manteve-se o sistema de

privilégios, que só seria extinto com a Proclamação da República, demonstrando a

inicial falta de preocupação de nosso país como o tema abordado4 (NUNES, 2010, p.

6).

Segundo Maria Elisabeth Nunes (2010, p.7-8), a primeira manifestação de

proteção aos Direitos Autorais no Brasil foi em 11 de agosto de 1827, quando foram

criados os cursos jurídicos “Crêa dous Cursos de sciencias jurídicas e sociaes , um

na cidade de São Paulo e outro na cidade de Olinda” onde eram assegurados aos

professores os direitos sobre suas obras.

A primeira norma do ordenamento jurídico pátrio que veio a fixar uma

pena para a utilização da obra autoral quando o autor ainda estivesse vivo ou dez

anos após a sua morte caso houvesse deixado herdeiro, foi ainda na época do

2 Ibdem. 20103 Definição de Direitos Autorais. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Direitos_autorais >. Acesso em: 10 mar. 2010.4 NUNES, Maria Elizabeth da Silva. Direitos Autorais: a experiência brasileira na fundação Biblioteca Nacional. STF. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/arquivo/sijed/02.pdf>. Acesso em: 26 mar. 2010.

23

código criminal do império do ano de 1830, porém não era uma norma que

acompanhava pari passo a evolução jurídica mundial sobre o tema.

Apenas 60 anos mais tarde, é que surge uma norma mais especial para a

tutela do Direito Autoral no Brasil, com a promulgação do Decreto n 847, de 11 de

outubro de 1890, que instituiu o Código Penal da República, norma esta que passa a

rezar pela punição aos crimes de contrafação e plágio, com a inovação de que se

impusessem também penas pecuniárias ao infrator, tendo ainda, os exemplares

confiscados 5.

No ano seguinte, a Constituição de 24 de fevereiro de 1891 garantiu aos

autores de obras literárias e artísticas (as obras científicas ainda não tinham seu

direito reconhecido) o direito exclusivo de reproduzi-las pela imprensa ou qualquer

outro processo mecânico, deixando aos herdeiros o gozo destes direitos pelo tempo

que a lei determinasse (NUNES, 2010, p. 8).

Enfim, em 1 de agosto de 1898, foi promulgada a Lei n 496, que

define e garante os direitos autorais de obras nacionais. Baseava-se em projeto

de autoria de Augusto Montenegro e foi denominada Medeiros e Albuquerque,

em homenagem ao seu relator. Garantia os direitos de brasileiros e estrangeiros

residentes no Brasil e considerava o registro da obra, que era feito na Biblioteca

Nacional, como uma formalidade constitutiva do Direito Autoral. Em 17 de

janeiro de 1912, a Lei n 496/1898 foi alterada, passando a proteger, também,

além das nacionais, todas as obras estrangeiras. Essa Lei trouxe importantes e

modernos dispositivos, muitos dos quais encontram se presentes em nossa

legislação atual6.

5 NUNES, 2010, p. 8

6 Ibidem.2010

24

O Código Civil Brasileiro que entrou em vigor em 1917 na opinião de

Maria Elizabeth (2010, p.10), consolidou o Direito de Autor, circunscrevendo-o

entre o instituto do Direito das Coisas e do Direito das Obrigações. O registro

tornou-se facultativo, convertendo-se em declarativo de direito e não mais

constitutivo.

Desde a elaboração do Código Civil de 1916, até o ano de edição do atual

Código de Processo Civil, teve-se uma intensa produção legislativa tentando tutelar

de uma melhor forma os Direitos Autorais, que culminou em uma condensação em

apenas uma Lei, a Lei Federal 5.988/73, que criou o Sistema Autoral Brasileiro, que

se apoiava no Conselho Nacional de Direito Autoral / CNDA, mas que não durou

muito tempo, pois fora desfeito em 1990 (NUNES, 2010, p. 10).

A legislação vigente sobre o tema sub ocoli, qual seja, a regulamentação

dos Direitos Autorais é a Lei Federal nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que ao

ver de alguns críticos não acompanhou a evolução já iniciada pela Lei Federal

5.988/73, todavia para outros, foi quem trouxe significativas vitórias na tutela desses

direitos.

Antes de adentrarmos propriamente nas conceituações do que vem a ser

o Direito Autoral, mister que se esclareça uma consideração entre as expressões

direito autoral e propriedade intelectual, para que se possa de forma mais didática

entender o assunto, que embora pareçam duas coisas distintas, nada mais são do

que sinônimos.

Mister que se faça também um suscinto esclarecimento sobre a

dificuldade de alguns em tecer uma conceituação sobre Direitos Autorais. Tal

dificuldade se apresenta justamente por haver uma divergência do que vem a ser o

direito do autor no ambito mundial. Preliminarmente, é necessário enfatizar que

25

referidos direitos, sob o prisma jurídico global, podem ser enfocados de duas formas

diferentes (Carlos Rattmann, 2004).

A mais antiga delas é o copyright, de origem britânica, centrada no direito

de reprodução da obra; sucedida historicamente pelo direito de autor (droit d’auteur)

que surgiu na França pós-revolucionária, arrimando-se no criador da obra de

espírito. Neste diapasão Carlos Rattmann (2004), vislumbra que, no Brasil, a

doutrina jurídica e os legisladores inclinaram-se à Escola Francesa.

Tânia Yasuko Hirata7 conceitua os Direitos Autorais caracterizando-os

pela tutela jurídica que engloba a relação entre o autor e a obra intelectual

produzida, inserindo-se, ainda, no âmbito de proteção autoral os direitos morais,

patrimoniais e os direitos conexos aos direitos autorais.

No mesmo espeque Rogério Sanches Cunha8 define Direitos Autorais

como sendo um Conjunto de prerrogativas exclusivas que a lei reconhece a todo o

criador sobre suas obras intelectuais de alguma valia, abrangendo faculdades tanto

de ordem pessoal como de ordem patrimonial.

Para alguns o Direito Autoral é parte integrante do conceito de

propriedade intelectual de natureza sui generis, visto que é presente na lei brasileira,

salvo raras exceções, o autor deve ser pessoa física. A doutrina contemporânea tem

criticado este conceito, sob o fundamento de que associar os direitos autorais à idéia

de propriedade visa tão somente justificar o monopólio privado de distribuição de

obras intelectuais9.

7 TAKAO, Tânia Yasuko Hirata. A violação dos direitos autorais na Internet: a regulamentação do meio eletrônico diante das inovações tecnológicas. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=2870>. Acesso em: 27mar.2010.8 CUNHA, Rogério Sanches. Direito Penal: parte especial. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008.9 Definição de Direitos Autorais. Disponível em:< http://pt.wikipedia.org/wiki/Direitos_autorais> . Acesso em: 10 mar. 2010.

26

É válido frisar que embora muitas pessoas achem que os Direitos

Autorais sejam um monopólio e não um privilégio, esse pensamento com a devida

vênia, não pode ser dissiminado pelo simples fato de que as prerrogativas

conferidas ao Autor da obra, não o tornam detentor absoluto do direito de escrever

sobre determinado assunto, mas o confere o poder de usar, gozar e dispor sobre a

sua produção intelectual (Carlos Rattmann, 2004).

Em decorrência de o legislador infra constitucional nao ter precisado no

novo diploma que regula os Direitos autorais, Carlos Rattmann10 observa que Lei

Federal nº 9.610, de 19/02/1998 limita-se, apenas, em seu artigo 1º, a estabelecer a

compreensão de sua denominação para o arcabouço jurídico nacional, sem que

trouxesse uma conceituação que fosse didática o bastante para o bom entendimento

do assunto.

Vejamos a literalidade do artigo supracitado da nova Lei11 que regula os

Direitos Autorais no país:

Art. 1º. Esta Lei regula os direitos autorais, entendendo-se sob esta denominação os direitos do autor e os que lhe são conexos.

Também merece destaque a conceituação o festejado jurista Antônio

Chaves12, que em claras palavras pontua que “podemos definí-lo como o conjunto de

prerrogativas que a lei reconhece a todo criador intelectual sobre suas produções

literárias, artísticas ou científicas, de alguma originalidade: de ordem

extrapecuniária, em princípio, sem limitação de tempo; e de ordem patrimonial, ao

10 RATTMANN, Carlos Alberto. Direitos Autorais no e-commerce Via Internet. Centro Universitário Positivo: Curitiba, 200411 BRASIL. LEI Nº 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998. Altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Leis/L9610.htm>. Acesso em: 21 mar. 2010.12 CHAVES, Antônio, in Criador da Obra Intelectual, São Paulo: LTR, 1995, pág. 28

27

autor, durante toda a sua vida, com o acréscimo, para os sucessores indicados na

lei, do prazo por ela fixado”.

Válido trazer a baila os ensinamentos de Direitos Autorais de Flávia

Lubieska N. Kischelewski13, que une simplicidade e precisão ao tratar da

conceituação sobre Direitos Autorais, in verbis:

Direito autoral diz respeito a um conjunto de prerrogativas que visam a proteção dos direitos do autor e daqueles ligados a ele. A criação de um autor é resguardada de forma que lhe sejam assegurados os direitos patrimoniais e morais sobre sua obra intelectual. A legislação dos direitos autorais assegura ao autor, por exemplo, a proteção de suas obras, o direito de obter os créditos por sua criação, de não ter suas obras alteradas sem autorização prévia e de ser remunerado por terceiros que queiram utilizar as obras produzidas (KISCHELEWSKI, 2010).

Em linhas gerais podemos entender que os Direitos Autorais são os

mecanismos legais que obtém os criadores de obras intelectuais sob os aspectos

morais e os aspectos patrimoniais, cabendo a estes exclusivamente a deliberação

de como serão usadas as suas obras.

2.2 Finalidade e natureza jurídica

A finalidade dos Direitos Autorais no ordenamento jurídico pátrio é muito

mais abrangente do que aparenta ser. Ela desenvolve uma via de mão dupla com a

sociedade, afinal além de fornecer um emaranhado de situações que possibilitem o

criador de determinada obra usar, gozar, fruir e dispor desta obra como bem

13 KISCHELEWSKI, Flávia Lubieska N. Entenda o Direito Autoral. Positivo Informática S.A. Disponível em: < http://www.educacional.com.br/pesquisa/swf/DireitoAutoral.pdf>. Acesso em: 29 mar. 2010.

28

entender, observando sempre, é claro, as nuances contidas na legislação

competente, a finalidade dos Direitos Autorais também se apresenta como grande

disseminador do conhecimento14.

Ainda sobre a finalidade dos Direitos Autorais, Eliane Yachou Abrão15

comenta sobre a real finalidade da existência dos Direitos Autorais:

A grande finalidade do direito autoral é a de incrementar a difusão da cultura e do conhecimento, contemplando uma classe especial de pessoas, os artistas, os cientistas, os pensadores, os criadores em geral, conferindo-lhes um privilégio temporário para poderem explorar economicamente, e com exclusividade, o fruto da sua criação. Esse privilégio, no entanto, está limitado à obra criada, porque todos têm o direito de criar e, portanto, o direito de usufruir cada qual do resultado de sua criação.

A citação elencada acima nos mostra com claridade solar uma questão

elementar que é bastante controversa nas rodas de debates jurídicos e que será

tomado como um dos pilares deste singelo estudo, que nada mais é que o direito de

explorar a obra economicamente com exclusividade por parte do Autor.

Henrique Gandelman em sua obra “De Gutemberg à Internet: direitos

autorais na era digital” é bastante feliz quando se propõe a escrever sobre a

finalidade dos Direitos Autorais, pois com objetividade ensina que sua finalidade

nada mais é do que “a proteção legal da própria obra criada e fixada em qualquer

suporte físico, ou veículo material” (GANDELMAN, 2001, p. 72)

No que tange a natureza jurídica dos Direitos Autorais, pode-se afirmar

com certeza que o tema é de longe pacífico, sendo que das teorias que se

apresentam na pontuação da natureza jurídica dos Direitos Autorais, a que tem

14 Definição de Direitos Autorais. Disponível em:< http://pt.wikipedia.org/wiki/Direitos_autorais >. Acesso em: 10 mar. 2010.

15 ABRÃO, Eliane Yachou. O que é e o que não é Direito Autoral. Mercado Global. São Paulo, 2002, p. 64-71.

29

maior força e logicidade é a teoria dualista, até mesmo por ser esta a teoria que

exterioriza a mens legis da Lei Federal nº 9.610/98 (Lei do Direito Autoral).

Nesta esteira, Carlos Rattmann (2004) coloca que, no momento em que o

autor transfere sua concepção do plano das idéias (abstrato, imaterial, incorpóreo)

para o plano material (corpus mechanicum) surgem duas ordens de direitos

diferentes: pessoal (moral) e patrimonial, explicando melhor este pensamento,

pontua:

O direito de ordem pessoal (moral) prende-se ao foro íntimo do criador da obra intelectual, diz respeito ao seu âmago, portanto está ligado à sua personalidade. Apesar de imaterial reveste-se, neste caso, de caráter real para efeitos de reconhecimento e proteção no âmbito jurídico, sendo imprescritível, inalienável, impenhorável e irrenunciável (Carlos Rattmann, 2004).

E completa o seu pensamento aduzindo que “o direito patrimonial traduz-

se na fruição econômica total ou parcial da obra pelo autor, em geral, com formas

previstas em lei. Possui limitação temporal, sendo transmissível aos sucessores”.

Destarte, fica clara a natureza dúplice dos Direitos Autorais, afinal, a

proteção de nosso ordenamento jurídico para os Direitos do Autor, não apenas se

restringe a salvaguardar as idéias intelectuais do Autor, mas também coibir a

vantagem pecuniária de terceiros sobre a produção intelectual. Daí o porquê de se

utilizar com mais tecnicidade a nomenclatura “Direitos Autorias” no plural.

30

3 RESPONSABILIDADE CRIMINAL E DIREITOS AUTORAIS

Ao nos propormos ao estudo da responsabilidade, pode-se constatar em

linhas gerais que esta é a obrigação a responder pelas próprias ações,

independentemente da conseqüência gerada, e, por seu turno pressupõe que as

mesmas se apóiam em razões ou motivos16.

O tema Responsabilidade Criminal e Direitos Autorais é bastante

controverso em nosso ordenamento jurídico, em decorrência de uma técnica

legislativa não tão apurada que fez com que a evolução da Lei não acompanhasse a

evolução de toda a sociedade.

3.1 Histórico e conceito

A responsabilidade pode incidir de várias formas, basta à prática de um

ato lesivo para se responder por ele com a indenização, a recomposição do bem

lesado ou até mesmo com a imposição de uma pena. Desta forma, responsabilizar

alguém pelo seu ato danoso é uma maneira de evitar que este volte a praticar o ato

causador de prejuízos. Como ela pode se manifestar de várias formas e conforme a

lesão que causar, ela é desmembrada e é diferenciada nos vários ramos jurídicos

(SALOMÃO, 2010).

16 Definição de Direitos Autorais. Disponível em:<http://pt.wikipedia.org/wiki/Responsabilidade>. Acesso em: 10 mar. 2010.

31

Para Salomão (2010), é nesta concepção que a responsabilidade social

se desmembra e dá origem a varias espécies de responsabilidade jurídica, a

exemplo da responsabilidade tributária, da responsabilidade civil, da

responsabilidade trabalhista, da responsabilidade criminal, dentre outras.

A responsabilidade social e moral está baseada na própria consciência.

Muitas vezes "aquele a quem sua consciência nada reprova pode ser declarado

civilmente responsável" (José de Aguiar Dias). Segundo Salomão (2010), ao ocorrer

infração de uma norma jurídica, que cause danos na esfera privada ou pública,

haverá responsabilização jurídica, que por sua vez, nada mais é do que a atribuição

de dever a alguém pelo cometimento de alguma conduta que possa ou não ter

causado danos a outrem.

Antes de adentrarmos propriamente na esfera da responsabilidade

criminal, um dos objetos desse presente estudo, importante ressaltar que a

responsabilidade criminal bastante se assemelha a responsabilidade civil porque

tanto uma como outra possuem com base na opinião de Lídia Salomão (2010) a

mesma base, ou seja, o restabelecimento da ordem social.

A responsabilidade criminal incide face à transgressão de um tipo penal,

caracterizando um crime ou contravenção. O Direito Penal cuida dos ilícitos

considerados mais graves e lesivos à sociedade como um todo. Por isso as normas

penais são consideradas de direito público. Neste caso, não haverá reparação e sim

a aplicação de uma pena pessoal e intransferível ao transgressor, em virtude da

gravidade de sua infração, pois a finalidade neste caso é dupla: a reparação da

ordem social e a punição (SALOMÃO, 2010).

32

É imperioso ressaltar que sendo o Direito Penal “se manifesta o interesse

dos cidadãos, interpretado pelo Estado, na previsão e definição dos fatos puníveis e

respectivas sanções, bem como na aplicação de princípios e regras de proteção aos

bens jurídicos fundamentais à convivência social” 17.

Nessa linha de raciocínio René Ariel Dotti ensina que o Direito Penal ao

externar o seu cunho sancionatório, se evidencia que suas normas incriminadoras

são dotadas de sanções específicas a serem aplicadas quando e tão somente

houver violação dos bens que são objeto de sua tutela, condicionando assim, a uma

limitação do Direito Penal pela sua subsidiariedade no tocante a proteção de bens

jurídicos e o dever de justificar o poder de punir estatal pela gravidade da lesão

(DOTTI, 2005).

Vejamos importante consideração de Lídia Salomão18 sobre a prática de

ato ilícito tipificado, para que possa por sua vez gerar a responsabilização criminal:

O ato ilícito penal é tipificado pelo Direito Penal, ou seja, só pratica o ato ilícito penal gerador da responsabilidade penal o indivíduo que contraria o tipo penal específico. Vale lembrar que tipo penal é a descrição legal de uma conduta definida como crime. Quem diz que um fato é crime e estabelece uma pena para a prática deste é o legislador (SALOMÃO, 2010).

No que concerne a história da responsabilização criminal, Julio Fabbrini

Mirabete (MIRABETE, 2009) ensina que no Direito Penal da Antiguidade, a

responsabilidade criminal decorria, contudo, do simples fato lesivo, sem que se

indagasse da culpa do autor da conduta. Percebeu-se, porém, no decorrer da

evolução cultural, que somente podem ser aplicadas sanções ao homem causador

17 DOTTI, René Ariel. Curso de Direito Penal:parte geral. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2005, p. 48.18 SALOMÃO, Lídia. A responsabilidade civil e a responsabilidade penal. Jurisway. Disponível em: <http://www.jurisway.org.br/v2/curso_estrutura.asp?id_curso=828>.Acesso em: 10 mar. 2010.

33

do resultado lesivo se, com seu comportamento, poderia tê-lo evitado, para que

assim se verificasse a intenção, ou seja, dolo e culpa do autor da conduta.

Ao escrever que a culpabilidade é um fundamento essencial para a

responsabilização criminal, René Ariel Dotti (DOTTI, 2005) explica que um dos

generosos princípios da ciência penal consiste no reconhecimento de que não pode

haver pena criminal sem culpabilidade: nulla poen sine culpa. Assim, complementa

Dotti que a medida da culpa deve ser a medida da pena, mostrando-se dessa forma

primordial a apreciação da culpabilidade para uma correta responsabilização

criminal.

É de bom alvitre que se analise a frase da professora Lídia Salomão

acerca da intensidade da culpabilidade para que haja ou não uma responsabilização

criminal no que diz respeito aos Direitos Autorais:

A presença da culpa no ato ilícito civil é diferente da do ato ilícito penal. Naquele, havendo a presença da culpa (ainda que levíssima), há o dever de reparação. Neste, para que o indivíduo o pratique e seja condenado à reparação, a culpa deve ter certo grau ou intensidade (SALOMÃO, 2010).

De grande valia o pensamento supracitado da autora, afinal, no tema em

testilha, deve-se ater para aqueles que estariam cometendo crime pelo simples fato

de fazerem uma cópia para uso próprio, sem algum intuito direto ou indireto de

obtenção de lucro.

É bem verdade a responsabilidade criminal em decorrência da utilização

ilícita dos Direitos Autorais não sofreu grandes avanços ao decorrer do tempo,

demonstrando, de certo, a essência de responsabilização civil pelo cometimento do

ilícito.

34

O primeiro registro que se tem de uma norma penal que atribua

responsabilidade criminal pelo uso indevido dos Direitos Autorais foi o Código

Criminal do Império, no ano de 1830, sucedido pelo Código Penal da República, no

ano de 1891, que passou a tratar mais especificamente sobre os delitos de

contrafação e plágio (NUNES, 2010).

Atualmente a norma penal em branco contida no corpo do art. 184 do

Código Penal Brasileiro, é quem traz as sanções relacionadas ao cometimento de

ilícito na seara dos Direitos Autorais, todavia, apresenta-se como uma norma

bastante imprecisa, com vários pontos dúbios.

No tocante a essa imprecisão da norma penal do art.184 do Código

Penal, pontua Túlio Lima Vianna (2005), que esta norma se trata de um tipo penal

vago, vejamos:

O delito de ‘violação de direitos de autor’ é um tipo penal vago, fundamentado em um bem jurídico indeterminado. É uma verdadeira afronta ao princípio constitucional da taxatividade, pois reúne sob o rótulo de ‘propriedade intelectual’ uma gama de interesses tão diversos quanto: o direito de atribuição de autoria, o direito de assegurar a integridade da obra (ou de modificá-la), o direito de conservar a obra inédita, entre outros direitos morais, e os direitos de edição, reprodução (copyright) e outros patrimoniais (VIANNA, 2005).

3.2 Finalidade e natureza jurídica

A finalidade da responsabilidade criminal seria exatamente a de

responsabilizar um determinado indivíduo que cometeu ilícito penal com a imposição

de uma pena, como preconiza o art. 32 do Código Penal brasileiro ao explicitar que

as penas serão:

35

I - privativas de liberdade;

II - restritivas de direitos;

III - de multa.

No caso específico do cometimento do crime contra a propriedade

intelectual, a finalidade específica, seria primeiro a de coibir as infrações desta

natureza, e, em segundo plano seria fazer com o que, na proporção do ato

praticado, cumprisse alguma das penas previstas no rol do art. 32 do Código Penal.

A responsabilização pelo cometimento de crime contra a propriedade

intelectual, seguindo o princípio da proporcionalidade da pena, vai variar de acordo

com a natureza do ato praticado, podendo ainda ser responsabilizado pelos

institutos contidos da Lei Federal 9.099/95, a exemplo da conciliação e da transação

penal.

Com simples observação literal ao art. 184 do Código Penal19, vislumbra-

se a tamanha desproporcionalidade e variação de penas, ficando visível mais uma

vez a carência deste dispositivo legal:

Art. 184. Violar direitos de autor e os que lhe são conexos:

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.

§ 1o Se a violação consistir em reprodução total ou parcial, com intuito de lucro direto ou indireto, por qualquer meio ou processo, de obra intelectual, interpretação, execução ou fonograma, sem autorização expressa do autor, do artista intérprete ou executante, do produtor, conforme o caso, ou de quem os represente:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

§ 2o Na mesma pena do § 1o incorre quem, com o intuito de lucro direto ou indireto, distribui, vende, expõe à venda, aluga, introduz no País, adquire, oculta, tem em depósito, original ou cópia de obra intelectual ou fonograma reproduzido com violação do direito de autor, do direito de artista intérprete ou executante ou do direito do produtor de fonograma, ou, ainda, aluga

19 BRASIL. Decreto-Lei No 2.848, De 7 De Dezembro De 1940. Código Penal. Disponível em: <http http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Decreto-Lei/Del2848.htm>. Acesso em: 21 mar. 2010.

36

original ou cópia de obra intelectual ou fonograma, sem a expressa autorização dos titulares dos direitos ou de quem os represente.

§ 3o Se a violação consistir no oferecimento ao público, mediante cabo, fibra ótica, satélite, ondas ou qualquer outro sistema que permita ao usuário realizar a seleção da obra ou produção para recebê-la em um tempo e lugar previamente determinados por quem formula a demanda, com intuito de lucro, direto ou indireto, sem autorização expressa, conforme o caso, do autor, do artista intérprete ou executante, do produtor de fonograma, ou de quem os represente:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

§ 4o O disposto nos §§ 1o, 2o e 3o não se aplica quando se tratar de exceção ou limitação ao direito de autor ou os que lhe são conexos, em conformidade com o previsto na Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, nem a cópia de obra intelectual ou fonograma, em um só exemplar, para uso privado do copista, sem intuito de lucro direto ou indireto.

A natureza jurídica da responsabilização criminal pelo cometimento do

crime contra a propriedade intelectual não é outra senão a de protetora dos bens

morais e materiais que englobam os Direitos Autorais.

Como ensina Luiz Flávio Gomes (2006), em seu artigo Juízo de

desaprovação da conduta, o tipo penal nos crimes dolosos (de acordo com a teoria

constitucionalista do delito que adotamos) é a soma da tipicidade formal (ou objetiva)

+ tipicidade material (ou normativa) + tipicidade subjetiva.

Em continuidade a sua lição o doutrinador nos passa a idéia de que da

tipicidade material fazem parte três juízos valorativos distintos: juízo de

desaprovação da conduta, juízo de desaprovação do resultado jurídico e juízo de

imputação objetiva do resultado.

Assim, quis dizer o jurista que antes de passarmos a atribuir

responsabilidade criminal a alguém pelo cometimento de algum ato tido ou

imaginado como crime, devem ser antes de tudo observadas as regras básicas do

juízo de desaprovação ou desvaloração da conduta, frise-se, mesmo que

determinada conduta já seja tipificada.

37

Acerca do tema Luiz Flávio Gomes elenca um rol com várias regras a

serem observadas, dentre as quais se aproveita a nona regra, objeto do presente

estudo:

[...] não há desaprovação da conduta quando ela é tolerada (ou seja, quando o risco criado ou incrementado é tolerado ou aceito amplamente pela comunidade): aqui, seja por força do juízo de desaprovação da conduta, seja em razão da teoria da adequação social (que será examinada em detalhes na seção seguinte), o fato é atípico. Exemplo: manutenção de motel. Formalmente, essa conduta é típica (CP, art. 229). Mas cuida-se de ato amplamente aceito e tolerado (aliás, pode-se dizer até necessário, em razão da insegurança vigente no país) (GOMES, 2006).

Destarte, pode-se concluir que de fato para que se possa alguém ser

imputado de responsabilidade criminal pelo cometimento de algum ato tido ou

imaginado como crime, antes de tudo, devem ser observadas as regras básicas do

juízo de desaprovação ou desvaloração da conduta, sempre em exegese com os

princípios gerais de direito.

38

4 DIREITO PENAL INEFETIVADOR DO DIREITO FUNDAMENTAL À PROPRIEDADE INTELECTUAL

Como é sabido, o Direito é uma ciência que regula as relações entre os

indivíduos para que viva em harmonia com a sociedade, desta forma, o Direito deve

acompanhar a evolução social para que as normas jurídicas continuem sendo

cumpridas e alcançadas em sua finalidade maior que é o fim social. Este é o motivo

pelo qual o Direito e especificamente as suas normas devem ser dotadas de uma

dinamicidade.

Nesse mesmo sentido, em decorrência desta dinamicidade percebe-se

uma modificação constante na valoração dos bens jurídicos, de modo a incrementar

o movimento de descriminalização e criminalização de condutas e a fixação de

penas mais brandas ou mais rigorosas e, ainda, a determinar a utilização de regras

processuais diferenciadas conforme a gravidade do delito praticado. São exemplos

recentes na nossa legislação a Lei dos Crimes Hediondos, a Lei dos Juizados

Especiais Criminais e o Código de Trânsito, mostrando a modificação da valoração

dos bens jurídicos de acordo com as mudanças sociais (GIANPAOLO, 2004.)

Segundo Gianpaolo (2004) O Direito Penal é resultado de escolhas

políticas influenciadas pelo tipo de Estado em que a sociedade está organizada. O

direito de punir é uma manifestação do poder de supremacia do Estado nas relações

com os cidadãos, principalmente na relação indivíduo-autoridade. A situação

histórica, portanto, condiciona o conceito de crime e, consequentemente, o conceito

de bem jurídico e a sua importância para o Direito Penal.

39

Ainda sobre o tema, percebe-se que segundo a definição de Zaffaroni

(2002, p. 462) “Bem Jurídico penalmente tutelado é a relação de disponibilidade de

um indivíduo com um objeto, protegido pelo Estado, que revela seu interesse

mediante a tipificação penal de condutas que o afetam”.

Assim, apenas os fatos que provocassem realmente danos graves

deveriam sentir o pulso forte do Estado através do seu poder punitivo, o que faz com

que se encontre a noção de bem jurídico penal, como aquela espécie de bem

jurídico cuja importância fosse considerada vital para a manutenção da sociedade e

que é objeto da proteção das leis penais. Essa noção de bem jurídico penal é

verdadeiramente limitadora do poder estatal de aplicar a sanção penal, e é uma das

garantias fundamentais dos cidadãos, que não poderá ser abandonada em um

Estado Democrático de Direito conforme opinião do professor Gianpaolo (2004).

Com essas breves considerações, somadas a aplicação dos princípios

constitucionais explícitos e implícitos aplicáveis ao Direito Penal, se cria o esboço da

idéia de que o Direito Penal é inefetivador do direito fundamental à propriedade

intelectual. Afinal, o que inicialmente aparenta ser uma antinomia de normas

constitucionais, se mostra de forma bastante clara a prevalência pela ausência de

tutela por parte do Direito Penal em detrimento da propriedade intelectual quando o

assunto é cópia de livro para uso próprio.

4.1. Direito penal e constituição

40

A norma maior de um Estado Democrático de Direito é a sua

Constituição, que disciplinará sobre as mais variadas temáticas e ramos do Direito,

assim, podemos dizer que todos os seguimentos do Direito brasileiro emanam da

Constituição da República.

Nesse sentido ensina Roque de Brito Alves 20:

O Direito Penal é potencialmente criado ou oriundo da Constituição pois a Lei Maior determina os seus fundamentos assim como fixa os seus limites, portanto é inegável a necessidade de elaboração e exposição de princípios penais constitucionais em função de suas bases constitucionais. Em consequência, o jus puniendi do Estado mais “um poder de punir” do que “um direito de punir” estatal, em nossa compreensão é limitado pelo próprio limite que a Constituição estabelece para o Estado.

Notadamente que a Constituição Federal por sua vez não tem o condão

de criar valores por ser essa função do anseio social, sendo a sua precípua função

como pontuou Gianpaolo Poggio Smanio 21: “exercer importante papel de limitação

da perspectiva social do bem jurídico, estabelecendo os princípios normativos que

deverão nortear o legislador penal na tipificação das condutas.”

Ainda sobre o poder de impor limites na atividade legislativa quanto da

escolha dos bens jurídicos penais, Gianpaolo observa que:

A Constituição Federal, além de impor limites ao legislador ordinário na escolha dos bens jurídicos penais, impõe ao legislador penal a obrigação de incriminar a ofensa de determinados bens jurídicos ou determina a exclusão de benefícios, ou até mesmo a espécie de pena a ser aplicada em certos crimes (2004).

A este passo é que não se pode esquecer que o fundamento pelo qual o

texto constitucional prega limitações será indubitavelmente a importância do bem

20 ALVES, Roque de Brito. Constituição e Direito Penal. Busca legis. Disponível em:< http://www.buscalegis.ufsc.br/revistas/index.php/buscalegis/article/viewFile/12642/12206>.Acesso em: 10 abr. 2010.21 Promotor de Justiça da Cidadania de São Paulo (SP), professor do Complexo Jurídico Damásio de Jesus e da Faculdade de Direito Professor Damásio de Jesus.

41

jurídico, os costumes e os anseios sociais, transpostos em uma normatização de

bens jurídicos tutelados pelo Direito Penal.

4.2 Aplicação dos princípios constitucionais

Etimologicamente, princípio deriva do grego ‘αρχη’ equivalente ao latim

principium (de princeps, aquele que ocupa o primeiro lugar).

Dentre os significados de princípio, enumerados por Aristóteles,22

destacam-se os seguintes:

O ponto de partida de um movimento, por exemplo, de uma linha ou de um caminho;

Melhor ponto de partida, como, por exemplo, o que facilita aprender uma coisa;

Ponto de partida efetivo de uma produção, como, por exemplo, a quilha de um navio ou os alicerces de uma casa;

Causa externa de um processo ou de um movimento, como, por exemplo, um insulto que provoca uma briga;

Aquilo que, com sua decisão, determina movimentos ou mudanças, como, por exemplo, o governo ou as magistraturas de uma cidade;

Aquilo de que parte um processo de conhecimento, como, por exemplo, as premissas de uma demonstração.

22 Filósofo macedônio, nascido em Estagira (384 a.C – 322 a.C), preceptor de Alexandre, o Grande fundador e fundador da escola peripatética. Seu sistema se baseia em uma concepção do universo onde a diversibilidade daquilo que o constitui, exprime uma unidade, que o filósofo, dotado de saber enciclopédico, deve demonstrar, com um discurso rigoroso. Aristóteles, considerado o fundador da lógica formal, e autor de inúmeros tratados sobre a matéria, além de obras a respeito de Política, de História Natural, de Física e de Metafísica, influenciou a filosofia e a Teologia da Idade Média, no Ocidente, e diversos filósofos, no Oriente.

42

Além desses pontos destacados por Aristóteles, o mesmo coloca a

‘causa’ como tendo igual significado, pois todas as causas seriam princípios. Desta

forma, a noção filosófica clássica entende que princípio é o ponto de partida do ser

ou do dever ser.

Já para Miguel Reale (1964, p. 54), princípios são “verdades ou juízos

fundamentais, que servem de alicerce ou de garantia de certeza a um conjunto de

juízos, ordenados em um sistema de conceitos relativos a dada porção da

realidade”.

O autor complementa o seu raciocínio dizendo que em outras situações

pode-se entender como princípios “certas proposições que, apesar de não serem

evidentes ou resultante de evidências, são assumidas como fundantes da validez de

um sistema particular de conhecimentos, como seus pressupostos necessários”

(REALE, 1964 p. 54).

Neste sentido, José Cretella Neto (2002, p.5) corrobora para o perfeito

entendimento do assunto colocando que o estudo da palavra princípio “é suscetível

de ser empregado em mais de um sentido, sendo certo de que todos os sentidos

estão ligados por pelo menos um ponto comum. Assim é que a noção de princípio

está sempre ligada à de ponto de partida”.

Neste diapasão, é que se fará uma análise perfunctória dos principais

princípios constitucionais aplicáveis ao presente estudo.

O princípio da Ultima Ratio, como preconiza Cezar Roberto Bitencourt23

em sua obra Tratado de Direito Penal, também conhecido como princípio da

intervenção mínima “orienta e limita o poder incriminador do Estado, preconizando

23 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral 1. São Paulo: Saraiva, 2009, p.13

43

que a criminalização de uma conduta só se legitima se constituir meio necessário

para a proteção de determinado bem jurídico”.

Neste sentido é que deve o legislador se atentar ao criar ou até mesmo

regular as normas penais incriminadoras para que venha a tutelar apenas como bem

jurídico protegido pelo Direito Penal aquelas situações em que os outros ramos do

Direito não conseguiram resolver, daí o nome júris do princípio.

Sobre essa atuação restritiva do Direito Penal preconiza Bitencourt que:

Se outras formas de sanção ou outros meios de controle social revelarem-se suficientes para a tutela desse bem, a sua criminalização é inadequada e não recomendável. Se para o restabelecimento da ordem jurídica violada forem suficientes medidas civis ou administrativas, são estas que devem ser empregadas e não as penais. Por isso, o Direito Penal deve ser a ultima ratio, isto é, deve atuar somente quando os demais ramos do Direito revelarem-se incapazes de dar uma devida tutela a bens relevantes como a vida do indivíduo e da própria sociedade.

Desta forma, evidencia-se com o didático conceito supra colacionado o

que vem a ser o princípio da ultima ratio ou princípio da intervenção mínima do

Estado. Não obstante a clara elucidação do conceito e da finalidade do referido

princípio para o Direito Penal, trazemos também a lição de Fernando Capez 24,

vejamos in verbis:

Somente haverá Direito Penal naqueles raros episódios típicos em que a lei descreve um fato como crime; ao contrário, quando ela nada disser, não haverá espaço para a atuação criminal. Nisso, aliás, consiste a principal proteção política do cidadão em face do poder punitivo estatal, qual seja, a de que somente poderá ter invadida sua esfera de liberdade, se realizar uma conduta descrita em um daqueles raros pontos onde a lei definiu a existência de uma infração penal.

24 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte geral. 12 ed. São Paulo: Saraiva, 2008, pag. 17.V1.

44

Nota-se que a lição de Fernando Capez (2008, p.19) faz ilação à limitação

do poder de punir do Estado quando as normas penais já se encontram tipificadas, o

que não faz com que a mesma atenção deva ser tida pelo legislador ao pontuar no

arcabouço jurídico bens jurídicos tutelados pelo Direito Penal, como o mesmo coloca

em seu Curso de Direito Penal – Parte Geral:

Ao legislador o princípio exige cautela no momento de eleger as condutas que merecerão punição criminal, abstendo-se de incriminar qualquer comportamento. Somente aqueles que, segundo comprovada experiência anterior, não puderam ser convenientemente contidos pela aplicação de outros ramos do direito deverão ser catalogados como crimes em modelos descritivos legais.

Além dessas observâncias que devem feitas pelo legislador na criação de

normas penais, a mens legis destas leis penais não pode ser influenciada pela

opinião pública que na maioria das vezes culminam no Direito Penal simbólico e não

o Direito Penal instrumental, como leciona Julio Fabbrini Mirabete 25:

O ordenamento positivo, pois, deve ter como excepcional a previsão de sanções penais e não se apresentar como um instrumento de satisfação de situações contingentes e particulares, muitas vezes servindo apenas a interesses políticos do momento para aplacar o clamor público exacerbado pela propaganda. Além disso, a sanção penal estabelecida para cada delito deve ser aquela “necessária e suficiente para a reprovação e prevenção do crime” (na expressão acolhida pelo art. 59 do CP), evitando-se o excesso punitivo sobretudo com a utilização da pena privativa de liberdade.

O princípio da insignificância, assim como o princípio da ultima ratio, tem

como maiores anseios o alcance dos objetivos sociais do Estado Democrático de

Direito que consequentemente norteiam as novas políticas criminais.

25 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal: parte geral. 25 ed. São Paulo: Atlas, 2009.V1.

45

Esse princípio passou a vigorar no ordenamento jurídico pátrio no ano de

1964, quando foi proposto pelo jurista Claus Roxin 26, que em linhas gerais quer

dizer que mesmo um fato sendo definido como típico, não se poder conceber a sua

penalização se não houver causado algum tipo de lesão ao bem jurídico.

Cezar Roberto Bitencourt 27 expressa muito bem a necessidade de

gravidade na ofensa aos bens jurídicos tutelados para que se enquadrem na

tipicidade penal, vejamos in litteris:

A tipicidade penal exige uma ofensa de alguma gravidade aos bens jurídicos protegidos, pois nem sempre qualquer ofensa a esses bens ou interesses é suficiente para configurar o injusto típico. Segundo esse princípio, que Claus Tiedemann chamou de princípio da bagatela, é imperativa uma efetiva proporcionalidade entre a gravidade da conduta que se amoldam a determinado tipo penal, sob o ponto de vista formal, não apresentam nenhuma relevância material. Nessas circunstâncias, pode-se afastar liminarmente a tipicidade penal porque em verdade o bem jurídico não chegou a ser lesado (BITENCOURT, 2009, p. 21).

Ora, fica evidente com a lição acima esposada que não há motivo para

que o Estado imponha o seu Ius Puniendi em uma determinada pessoa se ela não

chegou sequer a lesionar um bem juridicamente tutelado pelo Direito Penal.

Outra ponderação importante sobre o princípio da insignificância ou

bagatela como também é conhecido é o fato de que no ordenamento jurídico pátrio,

o princípio da razoabilidade é uma diretriz de senso comum, ou mais exatamente, de

bom-senso, aplicada ao Direito. Esse bom-senso jurídico se faz necessário à medida

26 Claus Roxin (Hamburgo, 15 de maio de 1931) é um jurista alemão. Ele é um dos mais influentes dogmáticos do direito penal alemão, tendo conquistado reputação nacional e internacional neste ramo. É detentor de doutorados honorários conferidos por 17 universidades no mundo.Claus Roxin foi o introdutor do Princípio da bagatela, em 1964, no sistema penal. Claus Roxin foi o desenvolvedor do Princípio da Alteridade ou Transcendentalidade no Direito Penal. Segundo tal princípio, se proíbe a incriminação de atitude meramente interna, subjetiva do agente, e que, por essa razão, revela-se incapaz de lesionar o bem jurídico. Ninguém pode ser punido por ter feito a si mesmo.27 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal:parte geral 1. São Paulo: Saraiva, 2009, pag.21.

46

que as exigências formais que decorrem do princípio da legalidade tendem a

reforçar mais o texto das normas, a palavra da lei, que o seu espírito 28.

A aplicação do referido princípio demonstra a verdadeira essência do que

vem a ser justiça, uma vez que ele faz com que uma norma posta seja analisada

caso a caso, sendo utilizado o bom senso para uma correta hermenêutica da norma

penal.

Insta colacionar os ensinamentos de Lorena Pinheiro Barros29 sobre o

princípio da razoabilidade, vejamos:

O Princípio Constitucional da Razoabilidade se baseia nos princípios gerais da justiça e liberdade. Busca o justo equilíbrio entre o exercício do poder e a preservação dos direitos dos cidadãos, trazendo uma harmonia e bem estar sociais, evitando dessa forma atos arbitrários. O razoável traduz-se na conformidade com razão, moderação, equilíbrio e harmonia. Este princípio visa auferir a justiça como valor máximo conferido pelo ordenamento jurídico (BARROS, 2009).

Desta feita, com clareza se constata que deve incidir mais fortemente o

principio em comento no estudo e aplicação de responsabilidade criminal aos que

fazem copias de livros para uso próprio.

O princípio da adequação social é aquele princípio que prega que a

tipicidade deve ser afastada caso o fato tenha aceitação da coletividade, ou seja, um

fato descrito como típico não seja considerado criminoso caso haja uma aceitação

social para aquele fato, é o caso, por exemplo, da mãe que fura a orelha do seu

bebê, seria uma lesão corporal, mas não pode ser tal ato criminalizado.

28 JUSBRASIL. Definição de princípio da razoabilidade. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/topicos/292526/principio-da-razoabilidade>. Acesso em: 12 abr. 2010.29 BARROS, Lorena Pinheiro; BORGHOLM, Danielle. O princípio da razoabilidade como parâmetro de mensuração do dano moral. Disponível em: < http://www.lfg.com.br/public_html/article.php?story=20090505153557272&mode=print>. Acesso em: 29 mar. 2010.

47

Sobre o tema, Eugenio Raúl Zaffaroni 30 e José Henrique Pierangeli

destacam que:

A partir da premissa de que o direito penal somente tipifica condutas que têm certa "relevância social", posto que do contrário não poderiam ser delitos, deduz-se, como consequência, que há condutas que, por sua "adequação social", não podem ser consideradas como tal (Welzel). Esta é a essência da chamada teoria da "adequação social da conduta": as condutas que se consideram "socialmente adequadas" não podem ser delitos, e, portanto, devem ser excluídas do âmbito da tipicidade (ZAFFARONI, 2004, p.535).

Válido observar também a lição de Julio Fabbrini Mirabete 31 sobre o

princípio da adequação social, por fazer menção não apenas a relevância social,

mas também a relevância jurídica “a ação é a conduta socialmente relevante,

dominada ou dominável pela vontade humana. A relevância social da ação é o

critério conceitual comum a todas as formas de comportamento e, portanto, também

ao crime”.

O pensamento de Mirabete se completa na idéia de que o

"comportamento" é a resposta do homem a uma exigência posta em determinada

situação conhecida, ou pelo menos passível de ser conhecida, constituindo-se na

realização de uma possibilidade de reação, de que ele dispõe em razão de sua

liberdade. Como o Direito Penal só comina pena as condutas socialmente danosas e

como socialmente relevantes é toda conduta que afeta a relação do indivíduo para

com o seu meio, sem relevância social não há relevância jurídico-penal. Só haverá

fato típico, portanto, segundo a relevância social da ação (MIRABETE, p. 105).

30 ZAFFARONI, Eugenio Raúl, PIERANGELI, José Henrique. Manual de direito penal brasileiro: parte geral. 5. ed. São Paulo: RT, 2004, p. 535. 31 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal: parte geral.25. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.V1.

48

Destarte evidencia-se a total aplicação dos princípios constitucionais

penais para uma aplicação pari passu com o senso de justiça. Sendo que estes não

auxiliam apenas o Estado enquanto aplicador das penas, mas orienta também o

Estado no tocante a sua função legislativa.

5 ESTUDO DA RESPONSABILIDADE CRIMINAL EM DIREITOS AUTORAIS PELA DECORRÊNCIA DA CÓPIA DE LIVRO PARA USO PRÓPRIO

49

5.1 As limitações do Direito Autoral na legislação brasileira no tocante a cópia de livro para uso próprio

A discussão acerca da cópia privada gira em torno da dicotomia

redução/flexibilização das limitações aos direitos autorais, como instrumento à

ponderação dos interesses do autor sobre a obra, e do interesse da coletividade de

usufruir a mesma 32.

Neste contexto, são notórios movimentos, capitaneados por organismos

da sociedade civil, no sentido de reavaliar o papel da propriedade intelectual, e das

limitações a esta, para dar efetividade ao princípio constitucional da função social da

propriedade, como instrumento à possibilidade de acesso ao conhecimento e à

cultura 33.

Quando o legislador encontra-se diante de um ente e tem interesse em

tutelá-lo, é porque o valora. Sua valoração do ente traduz-se em uma norma, que

eleva o ente à categoria de bem jurídico. Quando quer dar uma tutela penal a esse

bem jurídico, com base na norma elabora um tipo penal e o bem jurídico passa a ser

penalmente tutelado 34.

A função de garantia individual exercida pelo princípio da legalidade

estaria seriamente comprometida se as normas que definem os crimes não

dispusessem de clareza denotativa na significação de seus elementos, inteligíveis

por todos os cidadãos. Formular tipos penais "genéricos ou vazios", valendo-se de

32 QUEIROZ, Daniel Pessoa Campello. As limitações aos direitos autorais na legislação brasileira e a questão da cópia privada – análise e reflexões no sentido do aprimoramento legislativo da matéria. Revista Jus Vigilantibus. Disponível em: <http://jusvi.com/artigos/27763/2>. Acesso em: 07 mai. 2010.33 Ibidem34 ZAFFARONI, Eugenio Raúl. PIERANGELI, José Henrique. Manual de direito penal brasileiro: parte geral. p.455

50

"cláusulas gerais" ou "conceitos indeterminados" ou "ambíguos" equivale

teoricamente a nada formular, mas é prática e, politicamente, muito mais nefasto e

perigoso 35.

Vejamos o que se passa com um pouco mais de clareza: o legislador

encontra-se diante do ente "vida humana" e tem interesse em tutelá-la, porque a

valora (a considera positiva boa, necessária, digna de respeito etc.). Este interesse

jurídico em tutelar o ente "vida humana" deve ser traduzido em norma; quando se

pergunta "como tutelá-lo?", a única resposta é: "proibindo matar". Esta é a norma

proibitiva "não matarás" 36.

Nesse diapasão, aflora-se um aparente conflito entre os autores - ou os

detentores dos direitos patrimoniais sobre a obra -, e a coletividade; de modo que a

discussão acerca do tema das limitações permeia-se pela necessidade de se criar

uma estrutura técnico-jurídica que, por um lado, dê garantias ao autor quanto a seu

direito de propriedade, consubstanciado na Constituição da República; e, de outro,

estabeleça critérios que possibilitem aumentar o acesso da coletividade ao

conhecimento 37.

Nesse escopo é que o legislador passa a tecer certas limitações ao

Direito do Autor quando se fala em cópia para o uso privado. Exemplo vivo é o

preconizado na Lei Federal 9.610/98, lei que busca fundamento de validade na

Constituição da República, de 1988, que, por meio do artigo 5º, inciso XXVII,

estabelece a garantia aos autores do direito exclusivo à utilização, publicação e

reprodução de suas obras 38:

35 BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao Direito Penal Brasileiro. p. 7836 ZAFFARONI, Eugenio Raúl. PIERANGELI, José Henrique. Manual de direito penal brasileiro: parte geral. p.45537 QUEIROZ, Daniel Pessoa Campello. As limitações aos direitos autorais na legislação brasileira e a questão da cópia privada – análise e reflexões no sentido do aprimoramento legislativo da matéria. Revista Jus Vigilantibus. Disponível em: <http://jusvi.com/artigos/27763/2>. Acesso em: 07 mai. 2010.38 Ibidem.

51

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos seguintes termos:

XXVII – aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras, transmissíveis aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar.

De outro lado, é importante destacar que uma norma também com força

constitucional no inciso XIV, do mesmo artigo 5º, assegura aos indivíduos o direito à

informação:

XIV – é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional;[...]

Segundo Daniel Queiroz (2010), esses preceitos constitucionais foram

regulamentados pela legislação infra-constitucional em dois momentos. Primeiro, por

meio da recepção à Lei Federal 5.988, de 1973, que tratava o tema das limitações

nos artigos 49 a 51. Posteriormente, a Lei Federal 5.988 foi revogada pela Lei

Federal 9.610, de 1998; sendo certo que, apesar de o advento da nova lei haver sido

motivado pela necessidade de se adaptar a legislação às novas tecnologias, no que

pertine à cópia privada, as alterações representaram poucos avanços, e até mesmo

alguns retrocessos.

A questão controvérsia do que vem a ser pequenos trechos, é

regulamentado pela Lei Federal 9.610/98:

Art. 46. Não constitui ofensa aos direitos autorais:II - a reprodução, em um só exemplar de pequenos trechos, para uso privado do copista, desde que feita por este, sem intuito de lucro;

52

A redação do inciso II, artigo 46, da LDA em vigor, é a responsável por

boa parte das polêmicas e debates no tema das limitações aos direitos de autor.

Já a Lei Federal 5.988/73, antigo diploma que regulava os direitos

autorais traz o seguinte:

Art. 49. Não constitui ofensa aos direitos do autor:II – A reprodução, em um só exemplar, de qualquer obra, contando que não se destine à utilização com intuito de lucro;

Ao confrontar o inciso II do art. 46 da lei atual com o que fazia o mesmo

papel na lei de 73 – inciso II do art. 49 – verifica-se que a lei anterior era bastante

flexível, uma vez que possibilitava a utilização coletiva da cópia, ainda que somente

sem intuito de lucro. Dessa forma, em que pese o fato de a reprodução somente

pudesse ser feita em um único exemplar, não havia qualquer limitação pessoal à

utilização de tal exemplar, já que não havia a previsão expressa do uso privado do

copista 39.

5.2 Tipicidade da cópia de livro para uso próprio

Antes de adentramos ao tema da tipicidade da cópia de livro para uso

próprio, primordial que se estabeleça uma breve conceituação do que vem a ser a

tipicidade na Lição de René Ariel Dotti 40 a tipicidade é a adequação do fato humano

ao tipo de ilícito contido na norma incriminadora.

39 Ibidem40 DOTTI, René Ariel. Curso de Direito Penal: parte geral. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2005, pag. 311.

53

Em outras palavras seria a conformidade do fato à imagem diretriz

traçada na lei, a característica que apresenta quando realiza concretamente o tipo

legal.

Zaffaroni traz claramente a diferenciação entre tipo e tipicidade ao dizer

que tipo é uma figura que deriva da imaginação do legislador, enquanto o juízo de

tipicidade é a averiguação que sobre uma conduta se efetua para saber se

apresenta os caracteres imaginados pelo legislador 41.

Queiroz (2010) cita que de fato, recentes alterações no Código Penal

brasileiro, mais precisamente no art. 184 consubstanciam a idéia de que o termo

“pequenos trechos” foi uma opção bastante infeliz do legislador de 1998, tendo em

vista que destituiu do patamar de ilícito penal a extração de cópia integral de uma

obra, para uso privado do copista.

É inconteste a necessidade de se analisar a questão por outro prisma, no

sentido de que o real intuito do copista seja contemplado, de modo a aferir-se se sua

conduta é de fato ofensiva aos direitos do autor, isto é, se a mesma ultrapassa o

limite estabelecido como premissa nas limitações aos direitos autorais.

Estabelecendo-se como ponto de partida que as limitações são criadas para

beneficiar a sociedade em função de um benefício que pela mesma foi dado ao

autor para sua criação, o limite à cópia privada deve estar margeado pelo intuito com

que a referida cópia foi extraída.

Nesta linha, valido ressaltar a idéia de Henrique Gandelman 42, em que

tece uma coerente síntese à dialética que envolve a questão:

41 ZAFFARONI, Eugenio Raúl. PIERANGELI, José Henrique. Manual de direito penal brasileiro: parte geral. p.17242 GANDELMAN, Henrique. De Gutemberg à Internet: direitos autorais na era digital. 4 ed. ampliada e atualizada. Rio de Janeiro: Record, 2001, p.77.

54

Os indivíduos voltados para o dia-a-dia da vida burocrática e administrativa de escritórios privados, de empresas, de repartições públicas – que necessitam documentar correspondência, atos e papéis legais, alimentar arquivos, e para tal fim se utilizam de máquinas copiadoras – não são evidentemente os que infringem direitos autorais. Como também os estudantes e pesquisadores que se utilizam de uma única cópia para sua própria informação. Ou ainda as bibliotecas públicas que armazenam em microfilmes ou microfichas grossos volumes de publicações com o único intuito de economia de espaço. O problema da reprografia surge quando se multiplicam ilegalmente cassetes de música (verdadeira indústria caseira conhecida como pirataria sonora); ou se produzem apostilas para venda comercial; ou ainda quando se utiliza imagem protegida (pôsteres), e em outras situações facilmente identificáveis como sendo de má-fé.

Deste modo, segundo Daniel Pessoa Campello Queiroz (2007) mais

coerente, ao que parece, não é a discussão se a lei permite ou não a cópia integral

da obra, uma vez que esta polêmica não têm tido consequências práticas positivas.

Sendo por seu turno, na idéia do autor, mais coerente seria avaliar o intuito de uso

da cópia produzida, a boa ou má-fé da reprodução, e, sobretudo, se há ou não

intuito comercial da prática; reflexão que teria como conseqüência evitar-se a

reprodução - sem autorização prévia e remuneração necessária - com intuito

lucrativo, ou fim comercial, e não a cópia para a informação, pesquisa e

engrandecimento intelectual do copista privado.

Neste sentido, é de se salientar o entendimento do genial doutrinador

português José de Oliveira Ascensão 43, no sentido de que a reprodução para uso

privado sequer deveria ser tida como uma limitação aos direitos autorais:

É o que se passa com item II desse artigo (referência ao artigo 49 da lei de 73), em que se permite a utilização, em um só exemplar, de qualquer obra, contanto que não se destine à obtenção de lucro.Na realidade, aqui não há mais que uma manifestação do princípio da liberdade do uso privado. Está particularmente implicado o direito de reprodução, mas (...) é livre a reprodução para o uso privado. Isto é mera decorrência de o direito patrimonial se reduzir a um exclusivo de exploração econômica da obra. A restrição final do artigo, ‘contanto que não se destine à utilização com intuito de lucro’, já não visa à reprodução especificamente e

43 ASCENSÃO, José de Oliveira. Direito Autoral, 2a edição, Renovar, 1997, p.257

55

é, aliás, inútil, pois nenhuma obra alheia pode ser utilizada com intuito de lucro sem autorização.

Desta forma, para Daniel Queiroz, sequer haveria que se falar em

limitação ao direito de autor, uma vez que assim como não há uma propriedade

absoluta, também é errôneo partir do pressuposto de um direito de autor ilimitado. O

fato, entretanto, é que a LDA/98 não abarcou o entendimento do citado autor,

reduzindo, como salientado, a abrangência aposta na Lei de 73, e mitigando

sobremaneira o princípio da liberdade do uso privado.

Afinal, existe um precedente doutrinário oriundo do direito norte

americano chamado de fair use, que é justamente a possibilidade de se fazer uso da

obra para os fins de crítica, comentário, reportagem, ensino, estudos, pesquisa e

paródia. Esses fins ou usos são os considerados justos por esta doutrina 44.

Segundo Daniel Pessoa Campelo deve-se ainda analisar, no tocante a

cópia de livro para uso próprio e mais especificadamente, no que diz respeito ao

“propósito e caráter do uso”, são levados em conta três aspectos: ser o uso para fim

educacional ou comercial; ser o propósito do uso a crítica, comentário, reportagem,

ensino, estudos ou pesquisa; e ser o uso transformativo – este no sentido de se

verificar se o uso da obra protegida se deu para evitar a compra do material.

Assim, não se pode conceber que um estudante universitário seja pólo

passivo de uma ação criminal pelo simples fato de querer disseminar o

conhecimento sem finalidade lucrativa alguma, sendo totalmente desproporcional, e

irrazoável, fora do senso de justiça que busca a sociedade, ou seja, mostrando

totalmente inócua a sua responsabilização criminal.

44 Ibidem

56

6 CONCLUSÃO

Diante dos Direitos Autorais na legislação brasileira, fazendo uma estreita

relação entre a Responsabilidade Criminal e os Direitos Autorais, Direito Penal

Inefetivador do Direito à Propriedade Intelectual, levando-se em conta o Direito

Penal e a Constituição, a aplicação dos princípios constitucionais penais, bem como

os jurisdicionados, percebe-se a necessidade de imediata reforma no atual

57

panorama em que se encontra nossa legislação, dos dispositivos que criminalizam

aquele que faz cópia de livro para uso próprio com o fim educacional e não lucrativo.

Ao efetuar um estudo detalhado e depurado sobre os conceitos desses

institutos, sua origem e verdadeira finalidade, pode-se constatar a grande relevância

para a descriminalização da cópia de livro para uso próprio, pois está se colocando

uma norma na contra-mão de toda a sociedade que busca apenas o acesso ao

conhecimento neste mundo tão globalizado.

Para que isso aconteça, este debate merece uma outra dimensão, precisa

ultrapassar e se consolidar no âmbito científico para que ocorram as mudanças

precisas na lei, tanto em razão da descriminalização quanto na regulação das

limitações. O que se percebe é que ainda são debates tímidos, e, na maioria das

vezes capitaneados por defensores dos interesses de classes e não de toda a

coletividade.

Evidente que não existe iniciativa real para uma alteração objetivando

conferir um sentido de dar à lei sua real função no Estado de Direito, qual seja o de

disciplinar as relações, refletindo as necessidades da sociedade, de modo a aplacar

as divergências causadas por redações que dão possibilidade de interpretação

dúbia, e alterar as regras que não refletem a real ponderação necessária entre os

interesses do autor e os da coletividade.

A fria letra da Lei que regula o tema trata como crime a cópia para uso

privado do copista sem fins lucrativos, acontece que estas práticas são por demais

corriqueiras e causam um enorme impacto positivo em qualquer sociedade que é o

acesso ao conhecimento, não podendo ser concebido que por mera formalidade e

falta de vontade do legislador seja barrado o pensamento por uma lei obsoleta.

58

Destarte, não interessa apenas ponderar as limitações sob o prisma de

defesa de interesses privados, ou de serem estas um instrumento de acesso à

cultura e ao conhecimento, deve ser feito muito mais, o Direito Penal ao caso

concreto do presente estudo estaria por inefetivizar a propriedade intelectual.

Existe um anseio muito grande para que haja regulamentação de

atividades, tanto por parte dos copistas, como daqueles que promovem as cópias,

donos de copiadoras, afinal seria irrazoável esperar que cada indivíduo que

necessitasse de uma cópia de algum livro precisasse ter uma máquina copiadora em

sua residência, no sentido de que as limitações possam se refletir na prática,

dissipando-se as dúvidas e a possibilidade de ingerências possibilitadas por estas

indefinições.

O intuito deste trabalho não é fazer com que seja excluída a

responsabilidade por qualquer tipo de prejuízo causado ao detentor dos direitos

autorais, mas que seja feita uma urgente releitura dos artigos 184 do CP e 12 da Lei

9.610/98 pelos Tribunais, declarando a inconstitucionalidade à tutela penal dos

direitos patrimoniais de autor, seja pela inobservância do princípio constitucional da

taxatividade, ultima ratio, proporcionalidade da pena, insignificância, ou ainda, seja

pela inobservância da vedação constitucional à prisão por dívidas.

Pensar contrário a esse estudo e insistir na criminalização dos que

efetuam cópias de livro para uso próprio é solidificar a instrumentalização do Direito

Penal como meio de coerção ao pagamento de dívidas civis e de intervenção

econômica para a garantia de monopólios privados.

59

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ANEXO 1

(Documento datado de 1899 da Biblioteca Nacional que registra a Lei nº 496, que define e garante os direitos autorais de obras nacionais)

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