TEMPERATURAS EXTREMAS (CALOR E FRIO)

Diversas atividades profissionais expõem os trabalhadores a temperaturas ambientais muito elevadas ou muito baixas. Conforme ocorre a interação térmica entre o organismo humano e o meio ambiente, o homem pode vir a ganhar ou perder calor para esse ambiente o que pode vir a desencadear diversos problemas para sua saúde.

Os órgãos vitais do corpo humano devem manter uma temperatura dentro de limites estreitos para seu perfeito funcionamento. O homem pode tolerar temperaturas internas abaixo de 35ºC ou acima de 41ºC por apenas curtos períodos de tempo. Para manter a temperatura interna dentro destes limites, desenvolveu respostas fisiológicas ao estresse térmico muito eficientes e em alguns casos muito especializadas. Estes mecanismos para facilitar a conservação, produção ou eliminação do calor corpóreo envolvem uma bem controlada coordenação de diversos sistemas do corpo.

TROCAS TÉRMICAS ENTRE O HOMEM E O MEIO AMBIENTE

As trocas térmicas do organismo com o ambiente são realizadas por quatro mecanismos distintos, os quais são efetivados somente quando existe diferença de temperatura entre a superfície do corpo e o meio ambiente. Quanto maior a diferença entre as temperaturas, mais acentuada será a troca de calor.

Condução É a transferência de calor que ocorre quando dois corpos sólidos ou

fluídos que não estão em movimento, a diferentes temperaturas, são colocados em contato. Então, o calor do corpo de maior temperatura se transfere para o de menor temperatura. Ex: aquecimento de uma barra de ferro.

ConvecçãoÉ a transferência de calor igual ao anterior, só que a transferência se

realiza através de fluído em movimento. Ex: aquecimento de um Becker com água.

Radiação Quando há transferência de calor sem suporte material. A energia

radiante passa através do ar sem aquecê-lo apreciavelmente e aquecerá a superfície atingida. Ex: forno elétrico.

Evaporação É a passagem de um líquido, a certa temperatura, para a fase

gasosa. Esta evaporação será tanto maior quanto menor for a umidade

relativa do ar. O fenômeno ainda depende da temperatura do ar e da velocidade do ar. Ex: suor emanado após uma atividade física.

CALOR

Forma de energia que se transfere de um sistema para outro em virtude de uma diferença de temperatura entre os mesmos.

Nas indústrias siderúrgicas, do vidro, têxtil, da borracha entre outras são utilizados processos que geram a liberação de grandes quantidades de energia térmica, bem como em algumas atividades executadas ao ar livre tais como a agricultura e a construção civil.

Quando o organismo é exposto a altas temperaturas ou calor, ocorre um aumento na temperatura corporal. Para evitar esta hipertermia, mecanismos de defesa são ativados com a finalidade de aumentar a perda de calor. Entre eles podemos citar a vasodilatação periférica.

EFEITOS DO CALOR NO ORGANISMO

Vasodilatação PerifericaQuando o calor perdido pelo organismo é menor do que o calor ganho

ou gerado pelo metabolismo, o organismo promove como ação corretiva a vasodilatação periférica. O calor do núcleo do corpo é conduzido para sua superfície através do fluxo sangüíneo o que gera um aumento na temperatura da pele resultando em um aumento nas trocas térmicas.

Sudorese As glândulas sudoríparas são ativadas provocando um aumento na

perda de calor através da mudança do estado físico do suor de líquido para vapor. Teoricamente, é possível perder para o meio ambiente 600 Kcal/hora, pela produção de 1 litro de sudorese por hora.

Caso estes mecanismos não sejam suficientes para promover a perda adequada de calor ou deixem de funcionar adequadamente podem ocorrer diversos distúrbios tais como:

- Fadiga;- Exaustão do calor;- Desidratação;- Cãibras do calor;- Intermação.

FATORES QUE INFLUEM NAS TROCAS TÉRMICAS ENTRE O MEIO AMBIENTE E O CORPO HUMANO

Entre os diversos fatores que influem nas trocas térmicas entre o corpo humano e o meio ambiente, cinco deles são levados em consideração

quando é realizada a quantificação da sobrecarga térmica. A seguir, veremos esses fatores.

Temperatura do ar É necessário que haja um gradiente de temperatura para que se

viabilizem os mecanismos de troca térmica: condução, convecção e radiação. Desse modo, o sentido de transmissão de calor dependerá da defasagem positiva ou negativa entre a temperatura do ar e a da pele. Se a temperatura do ar for maior que a da pele, o organismo ganhará calor; e se for menor, o organismo perderá calor. A quantidade de calor ganhada ou perdida é diretamente proporcional à defasagem entre as temperaturas.

Umidade relativa do ar Este parâmetro influi na troca térmica entre o organismo e o ambiente

pelo mecanismo de evaporação. Desse modo, a perda de calor no organismo por evaporação dependerá da umidade relativa do ar, isto é, da quantidade de água presente numa determinada quantidade de ar.

Sabe-se que o organismo humano perde em média 600Kcal/h pela evaporação do suor, isto se a umidade relativa for 0%. Quanto maior a umidade relativa (maior saturação de água no ar), menor será a perda de calor por evaporação.

Velocidade do ar A velocidade do ar no ambiente pode alterar as trocas tanto na

condução e convecção como na evaporação.Quando há aumento da velocidade do ar no ambiente, ocorre

aceleração da troca de camadas de ar mais próximas ao corpo, aumentando desse modo o fluxo de calor entre este e o ar. Se aumentar a velocidade do ar, dá-se a substituição mais rápida das camadas de ar mais saturadas com água e a substituição por outras menos saturadas, favorecendo então a evaporação.

É importante verificar o sentido de transmissão de calor, pois o aumento da velocidade do ar poderá favorecer ou desfavorecer o ganho de calor pelo organismo, independente se o gradiente de temperatura é positivo ou negativo. Assim, se a temperatura do ar for menor que a do corpo, o aumento da velocidade do ar favorecerá o aumento da perda de calor do corpo para o meio. Caso contrário, o corpo ganharia mais calor com o aumento da velocidade do ar.

No caso de evaporação, o aumento da velocidade do ar sempre favorecerá a evaporação.

Calor radiante Quando um indivíduo se encontra em presença de fontes apreciáveis

de calor radiante, o organismo ganha calor pelo mecanismo de radiação. Caso não haja fontes de calor radiante ou se as mesmas forem controladas, o organismo humano poderá perder calor pelo mesmo mecanismo.

Tipo de atividadeQuanto mais intensa a atividade muscular realizada pelo indivíduo,

maior será o calor produzido pelo metabolismo.

TEMPERATURA CORPORAL

Estado orgânico Temperatura (ºC) Regulação térmicaÓbito 44

IneficienteLesão CerebralConvulsões 42

Estado Febril 40 AlteradaExercício Intenso 38

EficienteRepouso 36

LIMITE DE TOLERÂNCIA

No Brasil a Portaria 3.214, de 08/07/78, através da NR 15, em seu anexo 3, estabelece que a exposição ao calor deve ser avaliada através do Índice de Bulbo Úmido – Termômetro de Globo (IBUTG) e estabelece os limites de tolerância.

MEDIDAS DE CONTROLE

Medidas relativas ao ambiente Procura-se diminuir a quantidade de calor que o organismo produz ou

recebe e aumentar sua capacidade de dissipá-lo.

Medida adotada Fator alteradoInsuflação de ar fresco no local onde permanece o trabalhador e revestimento adequado das tubulações condutoras de fluido térmico.

Temperatura do ar

Maior circulação do ar no local de trabalho.

Velocidade do ar

Exaustão dos vapores d’água emanados de um processo.

Umidade relativa

Utilização de barreiras refletoras (alumínio polido, aço inoxidável) ou absorventes (ferro ou aço) de radiação infravermelha, colocados entre a fonte e o trabalhador.

Calor radiante

Automatização do processo. Calor produzido pelo metabolismo

Medidas relativas ao pessoal

- Aclimatação: É uma medida imprescindível que consiste na adaptação lenta e progressiva ao trabalho em local quente. Pode ser alcançada por exposição passiva a ambiente quente e úmido por um período de 8 a 10 dias. Cessando a exposição ao calor, a aclimatação é perdida em aproximadamente duas semanas.

Um trabalhador exposto bruscamente a este tipo de trabalho provavelmente apresentará sintomas como mal-estar, tonturas, náuseas, avermelhamento da face, além de péssima disposição para o trabalho. Com a adaptação, que ocorre tanto no plano fisiológico como no psicológico, o indivíduo sente-se melhor, e os sintomas citados não assumem proporções significativas, podendo executar normalmente suas tarefas.

- Limitação do tempo de exposição: Consiste em adotar um período de descanso, visando reduzir a sobrecarga térmica a níveis compatíveis com o organismo humano.

- Reposição de água e eletrólitos: O déficit mineral decorrente da sudorese excessiva pode ser importante em indivíduos não aclimatados uma vez que a concentração de sódio no suor pode ser três ou quatro vezes maior do que entre pessoas aclimatadas. A suplementação pode ser feita de forma líquida como caldo de carne, suco de tomate, etc. A melhor forma de reidratação se dá com a ingestão de água pura. A reposição de eletrólitos deverá ser realizada sob supervisão médica e nutricionista.

- Exames médicos: Realizados de acordo com o Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional (PCMSO).

- Equipamentos de proteção individual (EPI): Óculos de proteção com lentes especiais que tenham capacidade de reter 95% da radiação infravermelha incidente (sempre que existirem fontes apreciáveis de calor radiante), luvas, mangotes, aventais e capuzes para proteção de partes expostas do corpo confeccionadas em materiais que evite a absorção de calor.

- Educação e treinamento: São de fundamental importância a educação e o treinamento dos trabalhadores expostos ao calor intenso: a orientação quanto à prática correta de suas tarefas pode, por exemplo, evitar esforços físicos desnecessários ou longos tempos de permanência próximos a fonte. Deve-se conscientizar o trabalhador sobre o risco que representa a exposição ao calor intenso, educando-o quanto ao uso correto dos equipamentos de proteção individual, alertando-o sobre a importância de asseio pessoal e promovendo a utilização e manutenção correta das medidas de proteção no ambiente.

FRIO

A exposição ocupacional ao frio pode ser observada em várias regiões de grandes altitudes e de clima frio, ou como resultado de uma exposição acidental, envolvendo dificuldade para evadir-se do local com baixas temperaturas ou por imersão em água com baixa temperatura.

Fora das atividades ao ar livre, o frio intenso é encontrado em diversos tipos de indústrias que possuem e utilizam câmaras frigoríficas.

O desequilíbrio térmico (exposição ao frio) pode causar hipotermia. O aspecto mais importante da hipotermia, e que poderá trazer a morte, é a queda da temperatura profunda do corpo. Deve-se proteger os trabalhadores do submetimento ao frio, de modo que a temperatura profunda do corpo não caia a menos de 36,0 oC.

EFEITOS DO FRIO NO ORGANISMO

Quando o calor cedido ao meio ambiente é superior ao calor recebidos ou mesmo produzido pelo metabolismo, a temperatura corporal tende a reduzir-se podendo provocar uma hipotermia. Os principais mecanismos de defesa acionados pelo organismo para evitar que isso ocorra são:

Vasoconstrição periférica O fluxo sangüíneo na superfície corporal é reduzido em proporção direta

com a queda da temperatura ambiental, ocorrendo redução da freqüência cardíaca, pressão arterial e taxa metabólica.

Tremores Produção de calor através de contrações musculares.

Consumo de gorduras armazenadasTransformação química de lipídios em glicídios de metabolização direta.

Caso a produção de calor permaneça insuficiente para manter o equilíbrio, a temperatura corporal vai declinando o que resulta em uma hipotermia. À medida que este fenômeno progride ocorre:

- Mal-estar;- Diminuição da destreza manual;- Congelamento das extremidades;- Confusão mental;- Coma;- Morte.

Além da hipotermia, vários outros estados patológicos, conhecidos como lesões do frio, podem afetar o trabalhador. Dentre elas destacam-se:

- Enregelamento dos membros que poderá levar à gangrena e amputação.- Pés de imersão: quando os trabalhadores permanecem com os membros umedecidos ou imersos em água fria por longos períodos, provocando estagnação do sangue, paralisação dos pés e pernas.- Ulcerações do frio: feridas, bolhas, rachaduras e necrose que poderão ocorrer devido à exposição ao frio intenso.- Além disso, o frio interfere na eficiência do trabalho e incidência de acidentes, além de desencadear inúmeras doenças reumáticas e respiratórias.

TEMPERATURA CORPORAL

Estado Orgânico Temperatura (ºC) Regulação TérmicaRepouso 36 Eficiente

Ambiente Frio 34

PrejudicadaDeficiente 32

30Lesão de Órgãos Vitais 28

Óbito (?) 24 Perdida

LIMITES DE TOLERÂNCIA

A Legislação brasileira não fixa limites de tolerância para o frio, estabelecendo que as atividades ou operações executadas no interior de câmaras frigoríficas ou em locais que apresentam condições similares, que exponham os trabalhadores ao frio, sem proteção adequada, sejam consideradas insalubres em decorrência de laudo de inspeção realizada em local de trabalho.

Outro dispositivo legal e relativo à exposição ao frio é o estabelecido no art. 253 da CLT, referente a serviços frigoríficos:

“Para os empregados que trabalham no interior de câmaras frigoríficas e para os que movimentam mercadorias do ambiente quente ou normal para o frio e vice-versa, depois de uma hora e quarenta minutos (01h40min) de trabalho continuo será assegurado um período de vinte minutos (20 min.) de repouso, computado esse intervalo como de trabalho efetivo”.

MEDIDAS DE CONTROLE

As medidas de controle aplicam-se tanto no ambiente como no indivíduo. Diversas medidas de caráter ambiental podem ser adotadas para minorar a intensidade do frio. Barreiras, toldos e quando as operações permitirem ambientes totalmente fechados e cobertos podem ser utilizados para proteger os trabalhadores do vento, da chuva e das condições climáticas desfavoráveis. Tendas infláveis e diversos outros tipos de abrigos pré-fabricados, facilmente desmontáveis, podem ser utilizados em serviços ao ar livre, que exigem mobilidade periódica.

As medidas relativas ao pessoal devem ser adotadas sempre, no caso do frio intenso. Entre as principais incluem-se:

- Vestimentas pesadas e isolantes do frio;- Exames médicos pré-admissionais e periódicos;- Alimentação apropriada, constituída por alimentos de elevado conteúdo calórico, além da ingestão freqüente de líquidos quentes;- Educação dos trabalhadores sobre as medidas preventivas a serem adotadas;- Proteção contra a umidade, através do uso de vestimentas e calçados impermeáveis, e através da dosagem da quantidade exata de roupas, que

mantenham a transpiração do individuo num mínimo, reduzindo desta forma o resfriamento do corpo por evaporação do suor.