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Page 1:  · Web viewSoma-se a isso a crescente necessidade percebida pelas organizações do Terceiro Setor de contar com profissionais engajados, proativos e capacitados para enfrentar este

TÍTULO: O impacto da capacitação técnica de equipes multidisciplinares nos

resultados sociais de organizações sem fins lucrativos

ÁREA TEMÁTICA: (4) Civil society / third sector institutionalization, training and

fortification

FORMATO: Paper

RESUMO

OBJETIVOS: Realizar pesquisa quantitativa e qualitativa com profissionais de

organizações sociais brasileiras para avaliar, no cenário atual do país, a importância da

capacitação de funcionários e voluntários e o progresso da profissionalização das

instituições brasileiras ao longo dos últimos anos. HIPÓTESE: O investimento em

capacitação para funcionários e voluntários que atuam nas organizações sem fins

lucrativos do Brasil gera processos de trabalho mais bem estruturados e melhora os

resultados atingidos. Consequentemente, também gera mais impactos positivos na

sociedade. METODOLOGIA: No mês de fevereiro de 2015, realizamos uma pesquisa

quantitativa, enviada virtualmente para uma base de 36.380 pessoas envolvidas em

organizações do Terceiro Setor brasileiras, das seguintes áreas de atuação: educação,

assistência social, meio ambiente, saúde, gestão, direitos humanos, arte e cultura,

criança e adolescente e outros. Os participantes receberam um questionário virtual,

desenvolvido com o aplicativo Google Forms, contendo 14 perguntas de múltipla

escolha relacionadas a número de colaboradores, orçamento anual, investimento em

capacitação e formação dos profissionais, assim como duas perguntas abertas, com

espaço para desenvolvimento da resposta. Paralelamente, realizamos uma pesquisa

qualitativa com 131 profissionais experientes da área, que atuam como professores e

palestrantes nas seguintes áreas: captação de recursos, legislação, gestão, comunicação,

voluntariado, auditoria, tecnologia, contabilidade, assessoramento e sustentabilidade.

Estes participantes receberam virtualmente um formulário desenvolvido também com o

aplicativo Google Forms responderam a uma pergunta aberta sobre a importância da

capacitação no trabalho desenvolvido pelo Terceiro Setor. As respostas às questões de

múltipla escolha foram tabuladas para a criação de gráficos estatísticos, e as questões

abertas foram estudadas para a análise do cenário observado. PRINCIPAIS

RESULTADOS: Das 223 respostas obtidas na pesquisa quantitativa no período do

estudo, 74 organizações (33%) investem em capacitação para funcionários; 74 (33%)

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investem em capacitação para funcionários e voluntários; 38 (17%) não investem em

capacitação, mas planejam investir nos próximos 3 anos; e 17 (8%) não investem e nem

pretendem investir nos próximos 3 anos. Os profissionais que mais recebem capacitação

são os professores e educadores, assim como os gestores e área de recursos humanos

(35%), seguidos pelos captadores de recursos (30% e assistentes sociais (27%). Já os

que menos recebem capacitação são os contadores e advogados (7%). Em termos de

faturamento médio anual das ONGs participantes, 57% (n=127) têm receita de até R$

500 mil por ano, e uma minoria dos respondentes (8%) tem receita de mais de R$ 10

milhões. Na pesquisa qualitativa, enviada a 131 profissionais e professores de diferentes

áreas do Terceiro Setor, das 35 respostas recebidas, todas exaltaram a importância da

capacitação de equipes e voluntários para o trabalho mais eficiente nas organizações

sem fins lucrativos. Ao analisarmos o universo total da pesquisa, observamos que 64%

dos participantes considerou que, após o investimento em capacitação, os projetos

conseguiram captar mais recursos e parceiros. Ao fazer um recorte das ONGS que

investem no mínimo R$ 5 mil por ano em capacitações, 85% delas observaram os

impactos positivos desta ação. FONTES DE INFORMAÇÃO: para sustentar nossa

hipótese, analisamos a pesquisa As Fundações Privadas e Associações Sem Fins

Lucrativos no Brasil (FASFIL), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE) que indica, entre outros fatores, a quantidade de colaboradores com

formação superior por ramo de atividade da organização e níveis salariais, assim como o

Censo realizado pela Associação Brasileira de Captadores de Recursos, focado na

formação e na capacitação deste profissional. Outras referências, como livros da área de

recursos humanos e artigos publicados, também foram utilizadas.

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INTRODUÇÃO

O cenário da atuação das organizações sociais no Brasil tem se tornado cada vez mais

abrangente, tanto em termos geográficos quanto quando se trata de áreas de trabalho.

Segundo a última pesquisa Fundações Privadas e Associações Sem Fins Lucrativos no

Brasil (Fasfil), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em

2010, havia no Brasil 556,8 mil entidades sem fins lucrativos, sendo 290,7 mil

fundações privadas e associações sem fins lucrativos (Fasfil), classificadas como

religiosas (28,5%); associações patronais e profissionais (15,5%); desenvolvimento e

defesa de direitos (14,6%); cultura e recreação (12,7%); assistência social (10,5%);

outros (9,2%); educação e pesquisa (6,1%); saúde (2,1%); meio ambiente e proteção

animal (0,8%) e habitação (0,1%).

O trabalho realizado por essas instituições tem um impacto direto nos

indicadores de desenvolvimento no país, pois, em parceria com o governo e com a

iniciativa privada, as ações realizadas pela sociedade civil em prol de causas como a

infância e a adolescência, o meio ambiente, os direitos humanos, a saúde e a educação,

entre outras, alteram as realidades dos locais de atuação, levando mais desenvolvimento

a realidades regionais e ao país como um todo.

Nos países desenvolvidos, como os da Europa e os da América do Norte, o

trabalho realizado pelas organizações sociais é bastante amadurecido, e sua gestão já

parte do princípio de ser similar àquela realizada em empresas idôneas do segundo setor

– visando à eficiência das ações, com o lucro das atividades sendo revertido em

investimentos para a própria causa. O impacto do setor sem fins lucrativos na economia

norte-americana é grande. Em 2009, havia mais de 1,9 milhões de organizações do

Terceiro Setor nos Estados Unidos, somando 70 milhões de trabalhadores remunerados

e voluntários. A mão-de-obra empregada e remunerada no Terceiro Setor naquele país,

de 13,5 milhões de pessoas, só perde para o varejo e a indústria (SALAMON, 2012). No

Brasil e em outros países em desenvolvimento este caminho ainda está sendo

percorrido, e a percepção das instituições quanto à necessidade da capacitação de seus

profissionais e voluntários já se torna mais presente.

A profissionalização da gestão e, principalmente, dos profissionais que atuam

nas instituições do Terceiro Setor, é primordial para que fatores como transparência, boa

prestação de contas, gestão de pessoas e eficiência das ações possam ser atingidos de

forma satisfatória. Acredita-se que o investimento em capacitação especializada para

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funcionários e voluntários que atuam nas diferentes áreas das organizações sem fins

lucrativos do Brasil gera processos de trabalho mais bem estruturados e melhora os

resultados atingidos. Consequentemente, também gera mais impactos positivos na

sociedade.

O Censo ABCR, realizado pela Associação Brasileira de Captadores de

Recursos (ABCR), é um mapeamento dos profissionais que atuam no Terceiro Setor

brasileiro com captação, mobilização de recursos e desenvolvimento institucional. Sua

segunda edição, divulgada em 2014, mostrou que, em termos de formação, além dos

meios de comunicação e conhecimento autodidatas, como sites, livros e revistas, a

maioria tem interesse por eventos (75%) e cursos (63%). Porém, é baixa a porcentagem

de profissionais que se envolve em grupos de interesse e afinidade (5%), ou seja, o

trabalho em rede ainda não é muito fortalecido. Ainda segundo o Censo ABCR, a

maioria dos profissionais de captação consultados acredita que o cenário brasileiro para

a atuação deste profissional é positivo (77%), contra 20% que considera a realidade

estável, sem muitas mudanças.

Segundo a última Fasfil, 2,1 milhões de pessoas estão registradas como

trabalhadoras assalariadas nas 290,7 mil associações, representando cerca de ¼ (23%)

do total dos empregados na administração pública no mesmo ano (2010), e 73,5% do

total do emprego formal no universo total das 556,8 mil entidades sem fins lucrativos.

Em relação ao nível de escolaridade, 33% dos assalariados da Fasfil possuem nível

superior, e esta participação é relativamente constante em todas as regiões do país,

variando de 30,7%, no Norte, a 34.2%, no Sul.

OBJETIVO

O objetivo deste estudo é o de demonstrar, por meio de uma pesquisa

quantitativa e uma pesquisa qualitativa envolvendo profissionais de diversas

organizações sociais do Brasil, a importância da capacitação e o progresso da

profissionalização das instituições ao longo dos últimos anos.

MÉTODOS

Pesquisa quantitativa e pesquisa qualitativa realizadas pelo Instituto Filantropia,

organização brasileira constituída em 2012 que atua pela democratização da gestão e de

informações técnicas para ONGs do país e da América Latina por meio de canais de

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comunicação e treinamentos. O Instituto Filantropia possui um banco de dados

atualizado periodicamente, incluindo gestores e profissionais de diversas áreas das

organizações, como contabilidade, voluntariado, comunicação, jurídico, recursos

humanos, atendimento, captação de recursos, entre outras.

Pesquisa quantitativa

Em fevereiro de 2015, uma pesquisa quantitativa, com 14 perguntas de múltipla

escolha e duas perguntas abertas, foi enviada por comunicação eletrônica a uma base de

36.380 pessoas envolvidas com organizações do Terceiro Setor no Brasil nas seguintes

áreas de atuação: educação, assistência social, meio ambiente, saúde, gestão, direitos

humanos, arte e cultura, criança e adolescente e outros. Todas as pessoas a quem a

pesquisa foi enviada fazem parte do mailing do Instituto Filantropia, atualizado

periodicamente.

Até o momento da análise dos resultados, foram obtidas 223 respostas para as

seguintes perguntas: “Quantos funcionários registrados têm sua ONG?”; “Quantos

voluntários têm sua ONG?”; “Sua ONG investe em capacitação de Recursos

Humanos?”; “Se sim, qual é a frequência, em média?”; “Qual é o valor investido na

capacitação dos funcionários por ano, em média?”; “Quais são os profissionais que mais

recebem capacitação?”; “Qual a quantidade de funcionários na sua ONG com: pós-

doutorado / doutorado / pós-graduação / ensino superior completo / ensino superior

incompleto / ensino médio / ensino fundamental / sem escolaridade”; “Qual é a

principal área de atuação da sua ONG?”; “Qual é o faturamento médio anual da sua

organização?”; “Há quanto tempo existe a sua organização”; “Qual das seguintes frases

é mais apropriada à sua organização: Trabalhamos muito, mas o impacto na sociedade

ainda é pequeno / Temos relativo impacto na causa em que trabalhamos, mas ainda é

muito aquém do que planejamos / Nosso impacto na sociedade é grande, mas ainda há

muito o que crescer / Nosso trabalho é bem focado e estamos atingindo 100% do que

objetivamos”; “Sua ONG faz planejamento estratégico anual?”; “Você acha que os

treinamentos e capacitações realizados à sua equipe: Não fizemos nenhuma

capacitação / Não adiantaram nada e estamos com os mesmos problemas / Resolveram

alguns problemas, mas ainda não encontramos solução para outros tantos / A eficiência

da equipe melhorou bastante nas áreas em que se investiu em capacitação / Não há

sucesso sem preparo. Não atuamos com equipe despreparada”; “Depois de capacitar sua

equipe, você sentiu que seu projeto conseguiu captar mais recursos e/ou parceiros?”.

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As duas perguntas abertas foram: “De 10 anos para cá, você sentiu avanço ou

retrocesso na sua iniciativa social? Como a capacitação de equipes influenciou nesta

trajetória?”; “Fale de conquistas (financeiras, materiais, parceiros etc.) após ter

investido em capacitação para sua equipe”.

Pesquisa qualitativa

Paralelamente, foi realizada uma pesquisa qualitativa, enviada por meio

eletrônico a 131 profissionais experientes nas diferentes áreas da gestão, ou seja,

professores e palestrantes que lecionam os seguintes temas: captação de recursos,

legislação, gestão, comunicação, voluntariado, auditoria, tecnologia, contabilidade,

assessoramento e sustentabilidade. Das 131 pesquisas enviadas, obtivemos resposta de

35 profissionais, que responderam a somente uma pergunta aberta sobre a importância

da capacitação no trabalho desenvolvido pelo Terceiro Setor: O que você acha - e qual é

o grau de importância - de gestores sociais investirem em capacitação para suas

equipes?

Ambas as pesquisas foram criadas e respondidas no aplicativo Google Forms.

As respostas às questões de múltipla escolha foram tabuladas para a criação de gráficos

estatísticos, e as questões abertas foram estudadas para a análise do cenário observado.

A identidade dos respondentes permaneceu anônima e, por esse motivo, não houve a

necessidade da assinatura de termo de consentimento para participação.

RESULTADOS

Das 223 organizações que responderam a pesquisa quantitativa no período do

estudo, 44,4% atuavam na área da assistência social; 35%, na área da educação; 28,7%,

na área da criança e da adolescente; 22,4% atuavam no campo da saúde; 17,5% eram do

campo da arte e cultura; 14,3%, do meio ambiente; 12,1%, dos direitos humanos; e

9,4% trabalhavam com gestão (os resultados excedem os 100% pois era possível

escolher mais de uma opção de atuação).

Além disso, a maior parte das instituições respondentes está consolidada, pois

funciona há mais de 10 anos: 26,5% (n=82) funcionam há 11 a 20 anos, e 36,8% (n=82)

funcionam há mais de 20 anos. Somente 3,1% existem há menos de um ano.

Ainda no universo total dos respondentes, 60,6% (n=135) têm até 20

funcionários; 14,3% (n=32) têm de 20 a 50 funcionários; 8,1% (n=18) têm de 50 a 100

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funcionários; 12,1% (n=27) têm de 100 a 500 funcionários; e 5,4% (n=12) têm mais de

500 funcionários registrados. Conforme demonstrado no Gráfico 1, demonstrou-se que

7,6% (n=17) não investiu e nem vai investir em capacitação nos próximos 3 anos;

porém, a grande maioria das respostas envolvia o planejamento neste investimento nos

próximos 3 anos (17%) ou o investimento já existente (66.4%).

Gráfico 1. Respostas à pergunta: sua ONG investe em capacitação de recursos

humanos?

A frequência de investimentos das instituições consultadas demonstrou que mais

da metade (56,5% / n=126 instituições) investe de uma a quatro vezes por ano; 13,9%

(n=31) investem de uma a quatro vezes por semestre; e 5,8% (n=13) investem de uma a

quatro vezes por mês. Somente 23,8% (53 instituições) não investem em capacitação.

Em relação ao valor investido, a quantia média investida por ano em capacitações foi de

até R$ 5.000 pela maioria das instituições: 16,1% investiram até R$ 500; 16,6%

investiram de R$ 500 a R$ 1.000; e 21,5% investiram de R$ 1.000 a R$ 5.000. O

Gráfico 2 demonstra os detalhes de investimento das 223 instituições participantes.

Gráfico 2. Respostas à pergunta: Qual é o valor investido na capacitação de

funcionários por ano, em média?

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Os profissionais que mais recebem capacitação são os professores e educadores,

assim como os gestores e a área de recursos humanos (35%), seguidos pelos captadores

de recursos (30%) e assistentes sociais (27%). Já os que menos recebem capacitação são

os contadores e advogados (7%) (Gráfico 3).

Gráfico 3. Profissionais que mais recebem capacitação nas organizações

Em termos de faturamento médio anual das instituições participantes, 57%

(n=127) têm receita de até R$ 500 mil por ano, e a minoria dos respondentes (8%) tem

receita de mais de R$ 10 milhões (Gráfico 4). Ao analisarmos o universo total da

pesquisa, observamos que 64% dos participantes considerou que, após o investimento

em capacitação, os projetos conseguiram captar mais recursos e parceiros. Ao fazer um

recorte das ONGS que investem no mínimo R$ 5 mil por ano em capacitações, 85%

delas observaram os impactos positivos desta ação.

Gráfico 4. Faturamento médio das organizações participantes.

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Percepção de sucesso

Quando perguntados sobre o impacto de suas ações na sociedade, percebe-se que

ainda uma minoria considera que o trabalho é bem focado e atinge 100% dos objetivos

(5,8%). A maioria (45,3%) analisa que o impacto na sociedade é grande, mas ainda há

muito a crescer. Da mesma forma, 29,6% tem relativo impacto na causa, mas ainda

muito aquém do planejado. Os mais pessimistas (19,3%) consideram que o impacto na

sociedade ainda é pequeno, o que demonstra que as organizações já percebem a

necessidade de capacitar-se para atingir melhor seus objetivos.

Em termos de planejamento estratégico anual, um número significativo (22,4% /

n=50) não o faz, e somente 16,6% relatou cumprir de 80 a 100% do planejado. Sobre os

treinamentos e capacitações realizados, somente 1,3% (n=3) disseram não adiantar

nada, já que os problemas continuam existindo. Por outro lado, 33,2% reportaram

melhorias na eficiência da equipe nas áreas em que houve capacitação (Gráfico 5).

Gráfico 5. Percepção do impacto das capacitações nas organizações

Após o investimento em capacitação, 52,9% (n=118) das ONGs considera que

os resultados em termos de captação de recursos e parceiros melhoraram um pouco, e

10,8% (n=24) consideram que melhorou muito, ou seja, mais da metade dos

respondentes enxergou na capacitação uma ferramenta de melhoria na área de captação

de recursos.

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Ao fazer um recorte comparando o grupo de organizações que investem em

capacitação para seus funcionários e/ou voluntários (Grupo A) e o grupo de

organizações que não investem neste fim (Grupo B), o Grupo A tem percepção de

impacto social positivo bem maior (62,2%) do que o Grupo B (19,3%) (Tabela 1). Ao

mesmo tempo, o Grupo B representa o maior número de respostas com impacto

negativo – ou seja, acreditam que sua instituição tem baixo ou nenhum impacto na

sociedade: 80,6% do Grupo B contra 37,8% do Grupo A. É interessante avaliar que

100% das organizações que investem mais de R$ 50 mil/ano (n=8) tiveram respostas

positivas.

Tabela 1. Comparativo das respostas com percepção positiva e negativa entre as

ONGs que investem em capacitação e as que não investem

Qual das frases abaixo você considera mais apropriada à sua organização?

UNIVERSO TOTAL

GRUPO A (organizações que investem em

capacitação)

GRUPO B (organizações que não investem em

capacitação)

Percepção NEGATIVA de

impacto

Trabalhamos muito, mas o impacto na sociedade ainda é pequeno

43 19,3% 18 11,5%

37,8%

25 40,3%

80,6%Temos relativo impacto na causa que trabalhamos, mas ainda é muito aquém do que planejamos

66 29,6% 41 26,3% 25 40,3%

Percepção POSITIVA de

impacto

Nosso impacto na sociedade é grande, mas ainda há muito o que crescer

101 45,3% 87 55,8%

62,2%

9 14,5%

19,3%Nosso trabalho é bem focado e estamos atingindo 100% do que objetivamos

13 5,8% 10 6,4% 3 4,8%

Total 223 156 62

Quando consideramos novamente as instituições do Grupo A e do Grupo B,

cruzamos as respostas sobre a realização e cumprimento de um planejamento

estratégico anual (Tabela 2) e encontramos os seguintes resultados: no Grupo A, 50%

não faz planejamento, ou o faz e cumpre no máximo 50% do que foi planejado. Os

outros 50% fazem o planejamento e cumprem de 50% a 100% do planejado. No Grupo

B, somente 14,5% das instituições conseguem cumprir ao menos metade do

planejamento estratégico, contra 85,5% que não o faz ou não cumpre o que planeja. É

interessante observar que mais de 1/3 das organizações que não investem em

capacitação sequer realizam o planejamento estratégico.

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Tabela 2. Comparativo das ONGs em termos de planejamento estratégico

Sua ONG faz planejamento estratégico anual?

UNIVERSO TOTAL

GRUPO A (organizações que investem em

capacitação)

GRUPO B (organizações que não investem em

capacitação)

Não faz ou não cumpre

Planejamento Estratégico

Não faz Planejamento 50 22,4% 29 18,6%

50,0%

21 33,9%

85,5%Sim, mas raramente é cumprido

27 12,1% 11 7,1% 16 25,8%

Sim, mas menos de 50% é cumprido

56 25,1% 38 24,4% 16 25,8%

Faz e cumpre planejamento

Sim, de 50% a 80% é cumprido 53 23,8% 43 27,6%

50,0%

7 11,3%

14,5%Sim, de 80% a 100% é cumprido 37 16,6% 35 22,4% 2 3,2%

Total 223 156 62

Pesquisa qualitativa

Na pesquisa qualitativa, enviada a 131 profissionais e professores de diferentes

áreas do Terceiro Setor, das 35 respostas recebidas, todas exaltaram a importância da

capacitação de equipes e voluntários para o trabalho mais eficiente nas organizações

sem fins lucrativos. Algumas das respostas foram: “Acho de fundamental importância

pois a Legislação muda frequentemente e a cada capacitação é possível enxergar novas

possibilidades”; “O investimento em capacitação é primordial na medida em que se

pretende profissionalizar o Terceiro Setor. A evolução da legislação tem caminhado

para a remuneração de dirigentes, o que permitirá a existência de equipes capacitadas

para desenvolver um novo conceito de gestão no Terceiro Setor”; “Acho fundamental

que as organizações sociais comecem a enxergar como a capacitação dos profissionais

é um investimento certeiro para o seu desenvolvimento e sustentabilidade. No meu

trabalho, constantemente me deparo com instituições que estão perdendo dinheiro e

oportunidades por simples falta de conhecimento de suas possibilidades (inclusive

tributárias) e de seu potencial de mobilização de recursos e pessoas. Sem capacitação

não conseguem, muitas vezes, enxergar a importância de itens básicos de comunicação

com a sociedade, de trabalhar sua credibilidade, de destacar seu trabalho essencial”;

“Fundamental, desde que exista um planejamento para isso, o investimento em

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capacitação para as equipes tem que ter o objetivo da formação do profissional, mas de

criar um repositório de conhecimento para a instituição/empresa. Não deve existir

nenhuma capacitação, sem a mesma estar atrelada aos objetivos e metas das

instituições/empresas dentro de um planejamento de educação corporativa, que

contemple a continuidade e gestão do conhecimento”.

DISCUSSÃO

No ano de 2015, o Brasil tem passado por momentos de crise econômica, fato

que impacta diretamente na atuação das organizações privadas com e sem fins

lucrativos. Segundo dados coletados pela Federação das Indústrias do Estado de São

Paulo (FIESP), e revisados em março deste ano, há um aumento significativo do risco

da contração do PIB em 2015. Da mesma forma, o aumento dos impostos e das tarifas

públicas vai afetar a renda disponível, além de prejudicar a confiança dos empresários e

consumidores devido ao ambiente de incertezas. A FIESP também revisou sua projeção

de crescimento, que era de 0,5%, para uma retração de 1,7% em 2015.

Soma-se a isso a crescente necessidade percebida pelas organizações do Terceiro

Setor de contar com profissionais engajados, proativos e capacitados para enfrentar este

cenário, ou seja, a importância atribuída ao desenvolvimento de pessoal tende a

continuar crescendo. Para Chiavenato (2004), “o treinamento de pessoas na

organização deve ser uma atividade contínua, constante e ininterrupta. Mesmo quando

as pessoas apresentam excelente desempenho, alguma orientação e melhoria das

habilidades sempre devem ser introduzidas ou incentivadas”.

Os profissionais do Terceiro Setor consultados na pesquisa qualitativa analisada

neste estudo fizeram colocações que demonstram a importância da capacitação para a

atividade das instituições. Declarações como “Acho fundamental que as organizações

sociais comecem a enxergar como a capacitação dos profissionais é um investimento

certeiro para o seu desenvolvimento e sustentabilidade” e “Acho de fundamental

importância, pois a Legislação muda frequentemente e a cada capacitação é possível

enxergar novas possibilidades” foram constantes nas respostas, que, com unanimidade,

demonstraram o quão fundamental é a capacitação e a participação em treinamentos.

Na pesquisa quantitativa realizada neste estudo, dentre as organizações que

investem pelo menos R$ 5.000 por ano em capacitações, 85% são capazes de perceber

os impactos positivos desta ação. Além disso, demonstrou-se que após realizarem

investimentos em capacitação, 52,9% das organizações viram melhorias na captação de

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recursos e parceiros, e 10,8% perceberam significativa melhora; ou seja, mais da metade

dos entrevistados viu a capacitação como uma ferramenta útil para atingir seus

objetivos. Considerando o universo total dos entrevistados (n=223), a grande maioria

(78,9% / n=176) já pôde observar melhoria na performance da equipe, assim como

63,7% já conseguiu captar mais recursos e parceiros após tal investimento.

Segundo a pesquisa O Retrato do Treinamento no Brasil 2013/2014, realizada

pela Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento (ABTD), que entrevistou

193 organizações de diversos segmentos, porém, sendo a maioria (69,7%) da iniciativa

privada, em 33% das organizações da pesquisa todos os funcionários participaram, ao

longo do ano de 2014, em pelo menos um programa de treinamento. A pesquisa

descobriu também que 55% das organizações possuem um executivo-sênior dedicado às

estratégias de treinamento, gestão do conhecimento ou de capital humano. Ou seja, em

um estudo cuja maioria dos participantes é composta de membros da iniciativa privada,

percebe-se que o foco na capacitação está presente. Esta realidade no Terceiro Setor

ainda está em desenvolvimento, porém, segundo os resultados apresentados nesta

pesquisa, aqueles que já realizam esta estratégia percebem o retorno positivo.

De acordo com Boog (1999), “um processo de mudança deve contemplar o

desenvolvimento do ser humano e da empresa em todos os níveis (identidade, relações,

processos e recursos). A empresa só se desenvolve se as pessoas que as compõem se

desenvolverem, e vice-versa”. Corroborando esta máxima, o resultado desta pesquisa

demonstrou que, de fato, o grupo de organizações que investem em capacitação para

seus funcionários e voluntários tem uma percepção maior do impacto social positivo de

suas ações (62,2%) em relação ao grupo de instituições que não fazem tal investimento

– 80,6% dos respondentes deste segundo grupo também acreditam que sua instituição

tem baixo ou nenhum impacto na sociedade, enquanto somente 37,8% dos respondentes

dentro do grupo de instituições que investem em capacitações consideram seu impacto

baixo.

Pode-se perceber que o desenvolvimento e o cumprimento de um plano

estratégico – itens importantes para o resultado positivo das ações – estão mais

presentes dentre as instituições que realizam capacitações e, consequentemente, estão

mais preparadas para atuar de forma organizada. No grupo de organizações que não

realizam capacitações aos seus funcionários e/ou voluntários, somente 14,5%

conseguem cumprir ao menos metade do seu planejamento estratégico, contra 85,5%

que não o faz ou não cumpre o planejado.

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CONCLUSÃO

Com a realização desta pesquisa, e considerando o cenário atual de crise que

vivenciamos sendo um país em desenvolvimento, pode-se concluir que o investimento

em capacitação e treinamento para funcionários e/ou voluntários de instituições do

Terceiro Setor gera impactos positivos no trabalho e, consequentemente, leva mais

eficiência aos resultados alcançados.

A percepção deste impacto pelas instituições participantes foi significativa em

termos de novas parcerias, captação de recursos e performance da equipe. Ao mesmo

tempo, das instituições que atualmente não investem em capacitação, somente 17

(7,6%) relataram não pensar em investir, enquanto 17% afirmaram planejar investir nos

próximos três anos, fato que também demonstra que tal investimento pode se

transformar em prioridade para aquelas que ainda não o fazem.

Em um mundo globalizado, que passa por transformações constantemente, o

aprimoramento da equipe e o investimento na atualização do quadro de colaboradores

torna-se fator primordial para a continuidade e a melhoria das ações implementadas em

prol de causas sociais, culturais e ambientais.

REFERÊNCIAS

ABTD T&D INTELIGÊNCIA CORPORATIVA. O Retrato do Treinamento no Brasil 2013/2014. Edição 181, 2014.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CAPTADORES DE RECURSOS. ABCR. Censo ABCR. Disponível em: http://captacao.org/recursos/censo-abcr/1323-censo-abcr-2014-o-perfil-do-captador-de-recursos-no-brasil. Acesso em julho de 2015.

BOOG, Gustavo. Manual de treinamento e desenvolvimento. 3ª edição. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 1999.

CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de pessoas: é o novo papel dos recursos humanos nas

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FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE SÃO PAULO. Revisão de Cenário: Incorporando Choques. Disponível em: http://www.fiesp.com.br/indices-pesquisas-e-publicacoes/cenario-economico-para-2015/. Acesso em julho de 2015.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. IBGE. As Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos no Brasil. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/fasfil/2010/. Acesso em julho de 2015.

Page 15:  · Web viewSoma-se a isso a crescente necessidade percebida pelas organizações do Terceiro Setor de contar com profissionais engajados, proativos e capacitados para enfrentar este

SALAMON, Lester. America’s Nonprofit Sector: A Primer. 3ª edição: Foundation Center, 2012.