· web viewpara alcançar os objetivos de análise da pesquisa opta-se pela pesquisa qualitativa...
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FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM SERVIÇO SOCIAL EM BELÉM/PA SOB AS
NOVAS DIRETRIZES CURRICULARES: ESTUDO DA DIMENSÃO TÉCNICO-
OPERATIVA.1
Karina Camille Marques Cezar2
Reinaldo Nobre Pontes3
RESUMO: O presente artigo apresenta os resultados do plano de trabalho intitulado Formação profissional em Serviço Social em Belém - Pará: estudo da dimensão técnico operativa na implantação das diretrizes curriculares de 2002. Objetiva analisar a apreensão da dimensão técnico-operativa em assistentes sociais formados sob as novas diretrizes curriculares de serviço social, utilizando o método histórico dialético e a pesquisa qualitativa com base em entrevistas com sujeitos significantes. As principais conclusões são: - avanço na compreensão da importância da relação teoria/prática; - compreensão dos elementos que compõem a dimensão técnico-operativa e fragilidade no conhecimento sobre o instrumental técnico profissional.Palavras chave: Formação profissional; Diretrizes Curriculares; Dimensão técnico-operativa; Relação teoria-prática.
ABSTRACT:This article presents the results of the work plan entitled Vocational training in Social Work in Belem - Para: study of operative technical dimension in the implementation of curriculum guidelines 2002. It aims to analyze the apprehension of technical and operational dimension trained social workers under the new curriculum guidelines for social service, using historical dialectic method and qualitative research based on interviews with significant subject. The main conclusions are: - advance in the understanding of the importance of the theory / practice; - Understanding of the elements that make up the technical-operative size and fragility in knowledge about instrumental professional technician.
O presente artigo apresenta os
resultados e análises da pesquisa de
iniciação cientifica vinculada à pesquisa
Formação profissional em Serviço Social
na região metropolitana de Belém - Pará:
estudo da implantação das diretrizes
curriculares de 2002 e seus impactos na
qualidade da formação do assistente social
coordenada pelo Professor Doutor Reinaldo
Nobre Pontes - coordenador do Grupo de
1 Trabalho desenvolvido com o apoio do Programa PIBIC/UFPA2 Graduanda do curso de Serviço Social da Universidade Federal do Pará. Bolsista PIBIC/FAPESPA. Email: [email protected] 3 Docente da Faculdade de Serviço Social e do Programa de Pós-graduação – mestrado em Serviço Social. Universidade Federal do Pará. Email: [email protected]
Estudos e Pesquisas em Serviço Social,
Política Social e Formação Profissional
(GEPSS) que faz parte do Programa de Pós-
graduação em Serviço Social - Mestrado
em Serviço Social da Universidade Federal
do Pará (UFPA).
As décadas de 80 e 90
estabeleceram-se como terrenos propícios
para o avanço de políticas neoliberais que
provocaram desmontes nas então
estabelecidas políticas sociais, provocando
assim uma regressão de tais conquistas.
Esse modelo de acumulação capitalista vem
transformando até hoje o mundo do
trabalho e provocando refrações nas
políticas sociais e de proteção social.
Daremos destaca no presente trabalho para
uma dessas políticas, a de educação na sua
particularidade superior.
Sob orientação do neoliberalismo o
Estado passa a dividir com setores da
sociedade civil a responsabilidade, antes
exclusiva a ele, de executores da política
educacional. Aproveitando-se disso os
setores privatistas tornou a educação um
serviço comercializável e lucrativo. Dahmer
(2008) aponta que por meio da
operacionalização e naturalização da
relação público-privado efetiva-se o
reordenamento das especificidades do
Estado.
O Serviço Social, enquanto
profissão que intervém junto as expressões
da questão social, lidando diretamente com
as refrações causadas por todas as
transformações no mundo contemporâneo,
sente a necessidade de pensar sua formação
profissional procurando, assim, melhorar
suas perspectivas críticas buscando melhor
aprendizagem das abordagens teórico-
metodológicas, ético-políticas e técnico-
operativa construídas até o presente
momento para assim formar profissionais
que na sua prática consigam intervir de
forma crítica e qualitativa em seus
múltiplos espaços sócio-ocupacionais.
Nesse trabalho enfatizaremos a
dimensão técnico-operativa como foco de
análise sem, no entanto, deixar descola-la
das duas outras dimensão da formação
profissional. A pergunta norteadora desse
trabalho é: Como os assistentes sociais,
formados pós Diretrizes Curriculares de
1996 (ABEPSS), compreende teórica e
praticamente a dimensão técnico-operativa?
Para isso utilizaremos a pesquisa
qualitativa, por meio de entrevistas semi-
estruturada com assistentes sociais que
atuam na área de segurança pública em
Belém/Pa. Esse processo foi realizado sobre
à luz do método crítico-dialético, que busca
compreender na sua dinâmica contraditória
elementos que nos proporcione entender as
nuances desse processo.
1. FORMAÇÃO EM SERVIÇO
SOCIAL E AS
METAMORFOSES DA
EDUCAÇÃO
CONTEMPORANEA.
O Serviço Social surge como
profissão no final do século XX na fase do
capitalismo monopolista, em meia à crise
do capitalismo industrial, passando a
ingressar a divisão social e técnica do
trabalho. Estabeleceu-se então como
profissão fortemente integrada à reprodução
da força de trabalho, na prestação de
serviços sociais as instituições públicas e
privadas, sob claro domínio de uma visão
humanista conservadora.
O Serviço Social, em seu início,
surge em meio à crise do capital industrial
como forma estratégica de controle aos
levantes operários que provocavam tensões
na dinâmica social, os agentes sociais eram
criados com o objetivo de atender aos
problemas encarando-os como originários
do caráter do indivíduo, procurando assim
um reajustamento deste a sociedade
buscando reestabelecer o equilíbrio social.
Em busca de uma solução para as novas
demandas emergidas da crise a burguesia,
em sua parceria com o Estado, coloca a
política de assistência sob a lógica da
filantropia e da caridade impulsionando,
assim, a ação de entidades, como a Igreja,
que desenvolvem trabalhos que buscam
amenizar as tensões provocadas pelas
desigualdades sociais. O Serviço Social
Fetichizado misticamente como uma prática a serviço da classe trabalhadora, o Serviço Social era, pois, na verdade, um importante instrumento da burguesia, que tratou de imediato de consolidar sua identidade atribuída, afastando-se da trama das relações sociais, do espaço social mais amplo da luta de classes e das contradições eu as engendra e são por ela engendradas (MARTINELLI, 2000, p. 67).
Da união entre Estado, burguesia e
Igreja surgi em 1869 a Sociedade de
Organização da Caridade na cidade de
Londres que dentro dos padrões acima
estabelecido normatiza a prática e forma
novos agentes sociais diante das diretrizes
caritativas. Segundo Netto (2006) na
passagem do século do XIX para o século
XX o Serviço Social sofre mudanças.
[...] a constituição da profissão seria o resultado de um processo cumulativo, cujo ponto de arranque estaria na ‘organização’ da filantropia e cuja culminação se localiza na gradual incorporação, pelas atividades filantrópicas já ‘organizadas’, de parâmetros teórico-científico e no afinamento de um instrumental operativo de natureza técnica (NETTO, 2006, p. 69).
As primeiras escolas de Serviço
Social foram criadas com o objetivo de
qualificar os agentes sociais, nesse início
Mary Richmond teve papel de destaque no
processo. Ela defendia a especializados para
esse trabalho e apontava o inquérito,
instrumental criado por ela, como
instrumento necessário para o
desenvolvimento do diagnostico social. Em
1898 Richmond ministra um curso na
cidade de Nova Iorque falando sobre a
aplicação científica da filantropia, no ano
seguinte inaugura a Escola de Filantropia
Aplicada na mesma cidade contribuindo
assim para a sistematização do ensino em
Serviço Social. As escolas se espalharam
pela Europa e pelos Estados Unidos da
América e o Estado é o principal
empregador desses novos agente sociais.
Em 1908 a Universidade de Birmingham
incorpora em sua grade curricular o curso
de Serviço Social, ainda não assim
denominado. Mesmo com as
transformações propostas por Richmond a
prática profissional ainda se estabelecia
sobre os padrões caritativos e de controle
social, atribuindo ao caráter do indivíduo a
causa dos problemas por ele vividos.
Posterior a essa mudanças dentro da
formação dos agentes sociais, com a criação
de escolas de filantropia com perspectivas
científicas e incorporação dessas a
universidade, há um amadurecimento da
vertente metodológica da profissão. Em
consequência disse houve um
distanciamento entre os ideários europeus e
norte-americanos.
No Brasil, em 1932 é criado o
Centro de Estudo e Ação Social (CEAS)
que destinava-se ao ensino do exercício da
ação social pautados nas encíclicas papais
Rerum Novarum de 1891 criado pelo então
papa Leão XIII e a Quadragesimo Anno de
1931 do papa Pio XI. Ao longo da década
de 30, principalmente depois da
Constituição de 37, impõe severos limites à
influência católica no Brasil.
A incorporação do instrumental de
inquérito aliada a inserção da sociologia na
grade curricular possibilitou agregar à
prática profissional dos assistentes sociais
brasileiros uma visão científica e técnica do
fazer profissional junto aos problemas
sociais a partir de elementos empíricos
possibilitando nova leitura social
(Iamamoto e Carvalho, 2014).
A partir dos aspectos materiais de sua intervenção, o Serviço Social deixa de ser uma forma de distribuição controlada da exígua caridade particular das classes dominantes, para constitui-se numa das engrenagens de execução das políticas sociais do Estado e corporações empresariais (IAMAMOTO E CARVALHO, 2014, p. 328 grifo do autor).
Impulsionado pela
internacionalização da economia e pela
Guerra Fria o Serviço Social brasileiro
entra em contato com o Serviço Social
norte-americano a partir da década de 1950.
Dessa união nasce uma relação com as
vertentes funcionalistas de Durkheim, a
formação passa a incorporar como matéria a
sociologia, psicologia, moral e higiene além
da metodologia de caso, grupo e
comunidade, bem como técnicas de
pesquisa social e administração. A década
de 60 trouxe para o cenário brasileiro o
período da ditadura militar que estabeleceu
a modernização conservadora da economia
nacional, em sintonia com a abertura do
capital estrangeiro. Mesmo nesse período a
profissão tem acesso, através do
pensamento de esquerda, às ideias
marxistas. Essas ainda não eram ideias do
próprio Marx e sim de autores que o
interpretavam, mas ainda assim
favoreceram o nascimento do pensamento
crítico na profissão (Netto 2011).
O movimento de Reconceituação é
o ponto culminante de um movimento mais
antigo de insatisfação dentro da categoria
profissional com suas bases teóricas e
práticas que não respondiam as demandas
de seus usuários. Portanto era necessário
reavaliar o perfil profissional, bem como a
formação. Entre as correntes apresentadas e
colocadas em debate durante o período de
Reconceituação, ao longo das décadas de
70, 80 e 90, a que teve maior destaque e
aceitação da categoria profissional foi a
corrente que apontava para a ruptura crítica
do pensamento conservador baseando-se no
materialismo histórico dialético que tem em
Marx seu fundador (Netto, 2006). O
pensamento baseado na visão sistêmica e na
perspectiva fenomenológica, também
compuseram o cenário da Reconceituação
brasileira.
As diretrizes proposto pela
ABEPSS em 1996 pauta-se em discursos
mais aprofundados e revisados sobre as
diretrizes estabelecidas no currículo
anterior a ele, o de 1982. Ambos os
currículos trazem a discursão crítica sobre
as estruturas sociais e em defesa da
democracia, liberdade, igualdade e outros
valores humanistas. Tais valores
contrastavam com teorias críticas mas que
ainda não aprofundavam o conhecimento
sobre as mediações que envolvem os
complexos fenômenos sociais. Na década
de 1990 é elaborada, pela entidade
representativa do Serviço Social a
Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa
em Serviço Social (ABEPSS), o documento
intitulado Proposta de Diretrizes Gerais
para o curso de Serviço Social (1996) fruto
de uma ampla revisão curricular que
objetivava estabelecer diretrizes críticas a
formação de novos assistentes sociais
comprometidos com a mudança social sob a
luz do pensamento crítico dialético. O
processo de revisão curricular representa
não apenas a superação do currículo
anterior mais um avanço nas discursões
sobre o mundo contemporâneo, elaborando
novas formas de enfrentamento as
expressões da ‘questão social’.
A proposta traz princípios como o
pluralismo e a flexibilidade de adaptação
dos conteúdos ministrados a realidades
locais e regionais, rigor no trato teórico,
histórico e metodológico, ética como
princípio normativo bem como a adoção de
uma teoria social crítica. No processo de
Reconceituação do Serviço Social latino-
americano ficou clara a adoção da teoria
social crítica expressa no documento da
ABEPSS com clara orientação para análise
da ‘questão social’ mesmo sendo
estabelecidas discursões sobre o pluralismo
teórico dentro da construção profissional.
Compõem ainda a proposta um conjunto de
conhecimentos indissociáveis organizados
em núcleos. São eles o Núcleo de
fundamentos da formação sócio-histórica,
Núcleo de fundamentos do trabalho
profissional e Núcleo de fundamentos
teórico-metodológicos da vida social. O
documento proposto é levado ao Ministério
da Educação (MEC) em 1997 e apenas
aprovado em 2002 e colocado em vigor na
Universidade Federal do Pará em 2006.
Sob a orientação neoliberal, o
mundo passou e passa por reordenamentos
políticos e sociais. Entre esses
reordenamentos encontra-se a
desresponsabilização do Estado para com as
políticas sociais, sendo assim se estabelece
a parceria entre Estado e sociedade civil e
Estado e empresas privadas. Como
resultado dessa parceria o Estado divide
com esses dois parceiros as
responsabilidades pela administração e
execução de políticas sociais a exemplo da
educação. Caputi (2014) aponta dois
principais pontos para a privatização da
política educacional “[...] expansão de
instituições privadas com a liberação dos
serviços educacionais; e a privatização
interna das instituições públicas” (p. 20).
Chamamos atenção aqui para a
naturalização da relação público-privada
que no caso da educação toma forma
através de investimentos públicos em
empresas privadas e vice-versa, como
exemplo temos o Programa Universidade
Para Todos (PROUNI), Financiamento
estudantil (FIES), entre outros.
Sob influencia de tal orientação
política as universidades públicas sofreram
com a precarização das instituições bem
como no quadro docente, porem aumentou-
se consideravelmente o número de vagas
para o ingresso de estudantes o que
possibilitou que mais alunos, de diferentes
classes sociais, tivessem acesso ao ensino
superior público.
Passaremos agora para a discursão
sobre as dimensões profissionais que se
constitui como base primária da formação e
prática em Serviço Social englobando
conhecimentos que levaram a construção de
um perfil de profissional crítico e preparado
para o enfrentamento das configurações
sociais contemporâneas que produzem
novas expressões da ‘questão social’.
AS DIMENSÕES DO SERVIÇO
SOCIAL: O ENFOQUE DO
ENTENDIMENTO DA DIMENSÃO
TÉCNICO-OPERATIVA.
As dimensões teórico-
metodológicas, ético-políticas e técnico-
operativa são elementos que subsidiam o
desenvolvimento do trabalho e formação
profissional (PONTES, 2010,
INTRODUÇÃO.).
Para a compreensão da dimensão
teórico-metodológica Yasbek (2000) aponta
que devemos analisa-la a partir de suas
principais matrizes teóricas. No inicio do
Serviço Social o referencial teórico era
ditado pela Doutrina Social da Igreja e seus
postulados cristãos, e como já vimos, o
contato com as ideias funcionalistas
trouxeram novos referencias para a prática
profissional.
Os anos 60 trouxe ao Serviço
Social latino-americano o contato com
outras vertentes teóricas proporcionando a
profissão um amplo conhecimento sobre
diferentes vertentes de pensamento o que
refletiu, portanto, em uma revisão da
dimensão teoria-prática. Desse movimento
é trazido para o Serviço Social a orientação
teórica do marxismo de Marx e autores
como Gramsci e Lukács que apresenta o ser
social em suas mediações e determinações
tendo no trabalho, a relação homem-
natureza, o eixo central das interações
sociais que vivem em constantes
transformações dialéticas formando a
dimensão da totalidade.
Segundo Yasbek (2000) as
transformações sociais ocorridas em
decorrência do neoliberalismo iram
encontrar um Serviço Social maduro e com
significativo avanço crítico, apoiado em um
projeto ético-político profissional
construído através de debates dentro da
categoria profissional. Ao adotar uma
direção metodológica e teórica a profissão
influencia diretamente o rumo de seus
fundamentos ético e políticos. Ao
analisarmos a dimensão ético-política
estamos abordando o conhecimento sobre o
código de ética da profissão e o Projeto
ético-político que tem início sua elaboração
no bojo do movimento de Reconceituação
abrangendo entendimentos de elementos
como os projetos societários e profissionais.
Segundo Netto (2009) os projetos
societários são ligados a estruturas sociais
dicotômicas onde há um direcionamento
político de classe, aponta ainda que a defesa
de projetos societários que privilegiem a
classe trabalhadora encontra resistência nos
projetos de sociedade da classe dominante.
Dentro das discursões de projetos
societários encontram-se os projetos
profissionais que apresentam a auto-
imagem da profissão e estabelecem
objetivos e funções que a profissão se
propõem materializar.
No caso particular do Serviço
Social adora-se o direcionamento político
em defesa da classe proletária e se
estabelece como fim último a
transformação social. Portanto, os
profissionais formados sob as orientações
pós-Reconceituação devem desenvolver
suas práticas pautas em uma metodologia
crítica, em defesa dos direitos de seus
usuários e visando a mudança de sociedade.
Tais pressupostos são estabelecidos no
último Código de Ética do Serviço Social
elaborado em 1993 que pauta-se numa
perspectiva de compromisso com valores
como a liberdade, igualdade, fraternidade e
democracia, direcionando à defesa
intransigente de direitos dos trabalhadores.
Sobre a dimensão técnico-operativa
podemos inferir que essa tem nos
instrumentais e técnicas profissionais sua
base para o desenvolvimento da prática,
porem além desses dois elementos o
assistente social deve compreender e
interpretar em sua prática o entendimento
sobre a instrumentalidade do Serviço
Social, sendo assim, deve desenvolver
habilidade de interpretação das mediações
sociais e das dimensões da particularidade-
singularidade-totalidade da realidade social.
Segundo a percepção dialética
marxista de intervenção na realidade,
devemos ultrapassar as camadas do
imediato, articulando com a legalidade
social (universalidade), em busca das
mediações e determinações que constroem
o ser social buscando dessa forma
compreender a totalidade que o cerca.
[...] o conhecimento da totalidade concreta se dá essencialmente através de um processo sintético, no qual a razão teórica reproduz, no plano do pensamento, o concreto, como ‘concreto pensado’ e não mais como aquela primeira representação caótica do todo (PONTES, 2010, p. 71).
Segundo Guerra (2007) define
instrumentalidade como capacidade ou
propriedade constitutiva do Serviço Social
que vem sendo construída e reconstruída no
processo sócio-histórico da profissão. A
instrumentalidade se constrói como
categoria dentro do Serviço Social por, ao
mesmo tempo, atender as necessidades
imediatas da intervenção do assistente
social e proporcionar a este a reflexão
crítica da sua intervenção, a
instrumentalidade não tem fim em si
mesma, ela transcende a singularidade e
entre no campo da particularidade, da
mediação.
Guerra (2007) estabelece três níveis
a partir da inserção do Serviço Social na
divisão sócio-técnica do trabalho: o
primeiro o primeiro diz respeito a
instrumentalidade do Serviço Social frente
ao projeto de sociedade burguesa o que
significa a capacidade do assistente social
em se subjugar e virar mero instrumento em
meio a ordem burguesa; o segundo refere-
se a instrumentalidade em meio as respostas
profissionais, como peculiaridade
instrumental-operativo e por último a
instrumentalidade em sua dimensão
enquanto mediação.
Assim, a instrumentalidade como categoria constitutiva do Serviço Social permite pensar os indicativos teórico-práticos de intervenção imediata (entendido como os instrumentos teórico, políticos e técnicos), bem como vinculá-los aos objetivos, finalidades e valores profissionais e humano-genérico (COSTA, 2008).
A mediação enquanto categoria de
análise dentro da instrumentalidade passa
da racionalidade formal-abstrata para a
razão crítico-dialética. A instrumentalidade
quando considerada dentro da
particularidade da profissão pode ser
entendida como campo de mediação, fora
disso a instrumentalidade enquanto
condição da singularidade teria fim em si
mesma, já que a teoria marxista nos propõe
a conhecer as particularidade, campo das
mediações, e universalidade do objeto
voltando, dialeticamente, ao singular
olhando agora para o objeto como concreto
pensado, mediado e não mais imediato.
Além disso, a instrumentalidade enquanto
campo da mediação estabelece padrões de
racionalidade para que ações instrumentais
se processam. Racionalidade, segundo a
autora, é característica central daquilo que é
racional, que deduz razão. Razão, por sua
vez, é entendida como:
[...] condição ou momento do pensamento que busca apreender a realidade como movimento e por isso tem que caminhar de abstrações mais simples [...] Atinge seu ápice ao encontrar o substrato material, que é a realidade (COSTA, p.44).
Segundo COSTA (2008, p.43) a
instrumentalidade no Serviço Social:
[...] como capacidade de mobilização e articulação dos instrumentos necessários à consecução das respostas às demandas postas pela sociedade, comporta por um conjunto de referências teóricas e metodológicas, valores e princípios, instrumentos, técnicas e estratégias que deêm conta da totalidade da profissão e da realidade social, mesmo de forma parcial, mas com sucessivas aproximações.
Sarmento (1994) diferencia técnica
de instrumento pensando-os a partir da
perspectiva crítica marxiana na qual o
instrumento é o meio pelo qual o homem se
utiliza para mediar sua relações com o
natureza e a técnica é o elemento pelo qual
o homem pensa seus práticas e ações dentro
das relações sociais. Segundo SANTOS,
FILHO E BACKX (2012) os instrumentos
e técnicas “[...] são elementos que efetivam
tanto as finalidades como a direção social
das ações pré-definidas pelos profissionais.
Não se constituem, portanto, nas respostas
profissionais em si” (idem, p.22). Seguem
ainda afirmando que “[...] os instrumentos e
o conjunto do instrumental técnico-
operativo colocam em movimento as
demais dimensões do exercício
profissional” (idem).
Permeando todas essas discursões
sobre instrumento, instrumentalidade e
técnica temos a compreensão sobre a
relação teoria/prática que ainda hoje vem
proporcionando dentro da categoria
profissional e acadêmica discursões sobre
sua não distinção já que ainda hoje estudos
apontam para o alarmante número de
profissionais que permanecem repercutindo
a falsa dicotomia entre teoria/prática.
Na medida em que os agentes profissionais recolhem as mediações postas nas objetividades sociais que produzem no plano interventivo, recriando, ao nível do pensamento, a dinâmica dos fenômenos e processos sore os quais intervêm, estão inteligindo sobre suas ações. Quando este procedimento reflexivo se traduz em mediações para a intervenção, então materializando uma racionalidade ou forma de conceber a realidade.Nesse sentido, as racionalidades do Serviço Social podem ser tomadas como um conduto de passagem e eixo articulador entre teoria e prática (GUERRA, 2011, p. 35 grifos do autor).
Santos, Filho e Backy (2012)
ressaltam ser necessário destacar a
importância da
[...] qualificação da intervenção para além do simples manejo dos instrumentos e técnicas que usualmente o assistente social emprega em seu trabalho [...] pensar e, preferencialmente, discutir, com o conjunto dos profissionais da organização, o trabalho
sistematicamente realizado, por pensar o trabalho faz parte da busca de superação do instituído no cotidiano profissional (idem, p.18).
Partiremos agora para a análise dos
dados coletados ao longo da pesquisa
desenvolvida, cujo foco é a dimensão
técnico-operativa.
2. PERCEPÇÃO DA DIMENSÃO
TÉCNICO-OPERATIVA PARA
OS SUJEITOS DA PESQUISA.
Para alcançar os objetivos de
análise da pesquisa opta-se pela pesquisa
qualitativa para dar profundidade, junto
com a análise de conteúdo, no trato com os
dados empíricos coletados. Pois tal
pesquisa preocupa-se com o
aprofundamento da compreensão sobre o
assunto abordado (Goldenberg, 2004).
O conhecimento teórico é
reprodução ideal do movimento real do
objeto pelo pesquisador. “[...] pela teoria, o
sujeito reproduz em seu pensamento a
estrutura e a dinâmica do objeto que
pesquisa” (NETTO, 2009, p.5). As
conclusões sobre o fenômeno estudado são
provisórias, pois a realidade é sempre
dinâmica não sendo acompanhado, na
mesma velocidade, pela racionalidade
humana “[...] toda teoria é na verdade o
resultado de um complexo movimento da
abstração, reproduzindo, no plano do
intelecto, o processo ontológico de
constituição do ser, no seu movimento
imanente” (PONTES, 2010, p. 165).
Como metodologia de análise
iremos utilizar a análise de conteúdo que
segundo Bardin (2011, p.45):
[...] um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando a obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.
Além disso a análise de conteúdo é
uma técnica metodológica aplicável tanto
em pesquisas qualitativas quando
quantitativas ou mesmo mista. Nessa
metodologia o pesquisador busca
compreender as características e estruturas
que encontram-se através das
falas/mensagens do pesquisado. Vista a
complexidade do método e metodologia
descritos acima, bem como do fenômeno
pesquisado, a escolha da técnica e pesquisa
deve acompanhar e dar subsídios para que
se consiga chegar a profundidade analítica
proposta aqui. Para tanto optamos pela
entrevista semiestruturada como
instrumento de coleta de dados por
acreditar estre instrumento contemple a
investigação in locus, proporcionando o
aprofundamento analítico.
Como sujeitos da pesquisa
escolhemos profissionais formados antes e
depois da implantação das Diretrizes
Curriculares de 1996 para nos proporcionar
um breve comparativo entre as falas.
Elencamos, ainda, outros critérios de
seleção dos sujeitos, o primeiro foi a
escolha das instituições de formação desses
profissionais e a área de atuação.
As instituições universitárias
selecionadas foram as que oferecessem, até
o início dessa pesquisa, o ensino presencial
em Serviço Social, uma no âmbito público
e outra no âmbito privado. Sendo assim as
entidades que condiziam com os critérios
foram a Universidade Federal do Pará
(UFPA) no âmbito público e a
Universidade da Amazônia (UNAMA) no
privado. O projeto de revisão curricular da
UFPA teve aprovação em 2005 após um
amplo movimento que incorporou
estudantes e professores, a revisão da
UNAMA foi aprovada em 2004 e ambas
seguem os parâmetros estabelecidos no
documento elaborado pela ABEPSS em
1996. A escolha pela área da Segurança
Pública em Belém/PA ocorreu por estar
mais próxima da realidade da pesquisadora
por ser o local de estágio curricular
possibilitando dessa forma uma
aproximação com tal realidade, dando
assim mais subsídios para as análises. Para
apresentarmos os sujeitos iremos
previamente contextualizar seus locais de
trabalho e como se deu a inserção do
Serviço Social em uma área tão pouco
explorada e recente como é o caso da
Segurança Pública.
Como primeiro passo metodológico
temos a pesquisa bibliográfica aprofundada
sobre o tema para melhor compreender o
objeto aqui abordado. Após isso demos
início a elaboração do instrumental de
coleta de dados afim de elabora um
questionário de entrevista semi-estruturado
levando em consideração a complexidade
do objeto. Em seguida entramos em contato
através de ofício com o Programa Defesa e
Paz Social, localizado na UFPA e vinculado
ao programa de extensão da mesma
universidade. Dessa forma conseguimos os
contatos dos possíveis sujeitos da pesquisa.
Após isso partimos para o contato com os
profissionais e posterior pesquisa de campo
com a efetuação das entrevistas.
Os sujeitos da pesquisa são
majoritariamente mulheres assistentes
sociais que atuam a mais de 06 meses na
área de Segurança Pública. A profissional
A1 cursou Serviço Social na UFPA e se
formou no ano de 1999, sendo assim sua
formação seguia as diretrizes estabelecidas
no currículo anterior ao de 1996. Des de
então vem atuando em municípios
interioranos do Pará e há cinco anos
trabalha em uma delegacia especializada no
setor psicossocial atendendo os casos de
disque denuncia. A sujeito A2 formou-se
pela UNAMA no ano de 2012, sua
formação segue as novas diretrizes, atua em
uma delegacia em um bairro periférico de
Belém e está atuando em tal instituição a
um ano. Segundo a entrevistada este é seu
primeiro trabalho depois de formada. Nossa
ultima entrevistada é formada pela UFPA
no ano de 2012, está atuando desde Abril de
2014 em uma delegacia especializada em
Belém.
Na pesquisa realizada perguntamos
as profissionais suas ponderações sobre sua
formação acadêmica, o objetivo é entender
o processo de formação discente das
entrevistadas. A entrevistada A3 destaca os
estágios e monitorias a que teve acesso no
período de formação acadêmica. A
assistente social A2 aponta que não sentiu
nenhum tipo de dificuldade no período de
formação, questionamos então se a sua
formação lhe deu subsídios para atuação
prática “[...] em relação à teoria eu não vi
diferença nenhuma na prática, eu consegui
fazer esse link entre a teoria e a prática que
eu escutava muito na minha época de
estudante” (idem). A profissional aponta
ainda alguns elementos negativos de sua
formação.
[...] a nossa formação acaba sendo muito especializada pra uma área, por exemplo: se tu faz estagio na área da segurança pública, praticamente tudo que tu faz na universidade até o teu Trabalho de Conclusão de Curso é nessa área. Então tu acaba tendo uma gama de conhecimento nessa área mas nas outras áreas ficam muito a desejar. E não te garante que quanto tu for trabalhar, tu vai trabalhar nessa área (idem).
A profissional A1 expoe:
[...] Com relação a conhecimento a gente pega uma base geral na faculdade, das minorias, da metodologia, na legislação [...] Só que depois que você forma muitas coisas mudam e você passa a ter muitas outras leis e o profissional em Serviço Social tem que tá o tempo inteiro pensando nessas leis [...] A gente aprende o “geralzão” na faculdade mas mesmo depois que forma ainda tem que estuda muito.
Com base nas falas percebemos que
cada acadêmica teve em seu processo de
formação particularidades que contribuíram
para a construção profissional. A assistente
social A3 destaca os estágios não
obrigatórios, bolsa de monitoria e
intercambio o que nos leva a perceber que
esses elementos foram, para ela, etapas de
construção acadêmica que contribuíram
para uma compreensão profissional além da
sala de aula. A profissional A2 prefere
expor em sua fala sua opinião sobre a
formação “especializada” pontuando o que
para ela é uma falha no seu processo de
formação. A profissional A1 destaca a
continuidade da formação, destacando as
mudanças como ocorridas no mundo como
impulsionador dessa continuidade.
Partindo dessa primeira
aproximação aprofundamos as perguntar
ponderando o conhecimento das
profissionais sobre as dimensões do Serviço
Social. Uma das entrevistadas pontuou
sobre a indissociabilidade das dimensões na
formação e prática profissional. “[...] tem o
técnico-operativo, o técnico-metodológico e
o ético-político, que são os três que são
tripé e carro chefe da formação profissional
de Serviço Social, na ABEPSS [...] como
base da formação do assistente social”
(assistente social A2).
Isso demonstra que a profissional
compreendeu que na formação
acadêmica/profissional há uma interligação
e complementação entre as três dimensões
que constroem a profissão assim como é
estabelecido nas Diretrizes Curriculares
(1996). Porem, a entrevistada continua sua
fala expondo que “[...] as vezes eu me
embaralho com isso porque isso meio que
se mistura” (idem). SANTOS (2011, p.53-
54) aponta que:
As informações oferecidas sobre o projeto de formação profissional em vigor indicam que, de meados da década de 1980 até nossos dias, há também uma terceira posição, a qual consiste em situar os instrumentos de forma não isolada, não
fragmentada, mas sim como um dos elementos que constitui a dimensão técnico-operativa do Serviço Social. Esta, por sua vez, é concebida em uma relação de unidade com as demais dimensões necessárias à prática interventiva do Serviço Social, quais sejam, a dimensão teórico-metodológica e ético-política. Contraditoriamente, a meu ver, os profissionais defendem a relação de unidade entre as três dimensões, mas não conhecem suas diferenças (grifo meu).
A fala da entrevista A2 confirma o
que Santos (2011) discorre em seus estudos,
as profissionais reconhecem esta unidade,
mas acabam não identificando as
particularidades de cada dimensão,
deixando de perceber a identidade
particular de cada dimensão profissional.
Porem, GUERRA (2012, p.53) traz um
contraponto afirmando que “[...] há os
profissionais que mesmo não retornando à
universidade têm uma intervenção social,
militância política e até partidária, e nesse
contexto refletem sobre sua prática
profissional”. Esta fala demonstra que o
afastamento do profissional da vivencia
acadêmica não significa que este irá recair
em uma prática não reflexiva, apesar da fala
nos demonstrar que o afastamento causa
certa limitação de pensamentos, o assistente
social mesmo afastada das atividades
acadêmicas pode refletir criticamente sobre
sua prática.
As Diretrizes Curriculares (1996)
aponta como um de seus princípios o rigor
teórico, histórico e metodológico que iram,
juntos, possibilitar a compreensão sobre a
realidade social ajudando assim intervenção
junto aos usuários. Questionadas sobre a
dimensão teórico-metodológica na
formação acadêmica apenas uma
entrevistadas relacionou o conhecimento
teórico acadêmico com a leitura da
realidade na intervenção. “[...] condições de
construir pensamentos para realização de
diálogo com esses pensamentos/teorias,
bem como, reconhecer/conhecer/identificar
os problemas sociais e os fenômenos das
relações sociais” (assistente social A1).
A assistente social A2 relacionou a
dimensão com a prática de mediação de
conflitos, mostrando confusão na
denominação método “[...] mediação de
conflitos, é o método que eu utilizo pra
chegar ao objetivo que eu quero que é o
acordo entre as parte”. Mas reconhece “[...]
a metodologia é o meio pelo qual tu vai
agir”. A profissional atribui sua confusão ao
afastamento acadêmico reconhecendo que
há uma necessidade de continuidade na
formação. A observação da profissional nos
mostra que sem um conhecimento
permanente da realidade, baseando-se em
leituras críticas, poderá haver um prejuízo
na interpretação dessa realidade e na
intervenção profissional sobre ela. A
profissional formada antes apenas das
Diretrizes Curriculares de 1996 reconheceu
a importância da dimensão teórico-
metodológica e afirmou ter compreendido
na sua formação.
As Diretrizes apontam sobre a
dimensão ético-política a adoção de uma
teoria social crítica que nos de elementos
para a compreensão da totalidade social
bem como suas dimensões de
universalidade, particularidade e
singularidade. Esta dimensão perpassa toda
a formação acadêmica do discente sendo
passado a esse indivíduo elementos que lhe
auxiliaram no desenvolvimento de sua
prática, apontando também o
direcionamento político da profissão. Sob o
referencial teórico marxista o atual código
de ética pensam tais valores éticos a partir
do desenvolvimento da práxis, onde esta
última tem no trabalho seu elemento
fundante. Fundamentando-se na ontologia
do ser social podemos compreender a ética
como parte constitutiva da práxis isso,
diante da relação de trabalho, o homem
necessita de valores que direcionem suas
ações.
Com relação à entrevista a
assistente social A2 apontou que “[...]
Durante a formação, em relação ao projeto
ético-político foi mais a questão do
professor debatendo isso na sala com a
gente”, continua sua fala dando enfoque
para o estágio curricular como meio para
entendimento do projeto profissional. “E
assim, a gente sempre fazia essa ligação
com o estágio, porque? Era algo que você
estava na prática no momento da formação,
unindo teoria e prática naquele momento”.
A assistente social A1 expos que
anteriormente ao ingresso na faculdade já
desenvolvia trabalho voluntario onde
colocava em prática, segundo ela,
princípios estabelecidos no código de ética
profissional, “[...] tinha capacidade humana
para desenvolver as relações sociais e assim
garantir a democracia, a igualdade, a
liberdade, a solidariedade e a vida digna do
cidadão”. Mas reconhece que tais valores
eram visto a partir de um ponto de vista de
senso comum, porem ela continua
discursando que seu período de “[...]
graduação me trouxe as dimensões da
prática profissional [...] foi
necessário/primordial a apropriação e a
identificação, para que assim pudesse
contextualizar os fenômenos sociais na vida
dos sujeitos” (assistente social A1).
As respostas profissionais
perpassam sobre elementos que constroem
a dimensão ético-político, porem
percebemos elementos importantes como
transformação do espaço de trabalho,
valores como dignidade, democracia e
liberdade que demonstra um avanço
significativo da visão profissão sobre os
elementos éticos e políticos.
Sobre a dimensão técnico-operativa
a profissional A1 enfatiza a aprendizagem
dos instrumentais “[...] logo, tive contato
com os instrumentais e técnicas no
atendimento social, onde pude definir esses
instrumentais operativos para intervir na
realidade social, necessários a execução
deste processo de conhecimento”
(assistente social A1). A assistente social
A2 coloca em sua a importância da
compreensão metodológica e suas bases
sobre o pensamento marxista para pensar a
prática, “[...] a minha formação me deu esse
subsídio [...] de que forma você vai
operacionalizar sua prática [...] quando você
vem pra cá, dentro da instituição, você tem
que fazer o seu trabalho procurando não
cair em contradição”. A profissional
formada antes das diretrizes apenas afirma
que compreendeu tal dimensão no período
de formação mas não discorre sobre o
assunto.
Visto nos itens acima o profissional
para compreender todas as mediações, a
importância da intervenção profissional e o
papel da profissão dentro da produção e
reprodução da dinâmica social deve estar
munido de fundamentos teóricos para
submeter criticamente o senso comum.
Segundo Guerra (2012) a dimensão técnico-
operativa é responsável pela visibilidade
profissional do Serviço Social, emana a
imagem da profissão diante da divisão
social e técnica do trabalho e agrega
representatividade na sociedade. Esta
visibilidade apenas se torna possível
quando apoiada em bases ideológicas e
políticas construídas ao longo da história da
profissão dentro da sociedade capitalista.
Chamamos atenção para o
recorrente erro em reduzir o fazer
profissional apenas ao nível técnico-
instrumental tirando da prática profissional
a reflexão sobre a ação, proporcionando
uma ruptura entre os meios e os fins
fortalecendo a ideia de que os meios não
importam desde que os fins sejam
alcançados. Tal processo possibilita que o
profissional caia no pragmatismo onde
apenas buscam-se resultados quantitativos.
Segundo Guerra (2012) este reducionismo é
possível pois o cotidiano é um espaço de
respostas rápidas e eficientes além da
precarização no ambiente de trabalho onde
priorizam-se a produtividade sem qualidade
de intervenção afim de alcançar metas de
atendimentos e ainda pela necessidade de
respostas funcionais que podem recorrer na
alienação da intervenção profissional
possibilitando a reprodução dessa
alienação.
Indagamos as entrevistadas sobre a
importância dos instrumentais na prática
profissional e as respostas nos mostraram
que as profissionais reconhecem o elemento
discursivo e reflexivo na prática dentro das
instituições, destacando que a prática não
deve ser apenas numérica e sim reflexiva.
Podemos perceber essa analise nas seguinte
falas “[...] quando você não se utiliza
daquilo que você recebeu de conhecimento
acaba sendo uma profissional pragmática
[...]” (assistente social A2) e “[...] é
necessário/importante o conhecimento das
dimensões interventivas e investigativas da
prática profissional” (assistente social A1).
A formada antes da recente diretriz
curricular consegue fazer o movimento de
interpretação da realidade para se chegar ao
concreto pensado, desvendando as
mediações que complexificam o indivíduo.
“[...] as situações chegam [...] ti mostram
uma situação [...] vais atrás desmistificar
aquela situação e tu vais passar a encher
outras coisas vê outras demandas ali além
do que foi já apresentado” (assistente social
A3).
Porem, quando indagadas sobre a
instrumentalidade as entrevistadas não
souberam expor o entendimento sobre a
dimensão mostrando com isso uma falha na
formação dessas profissionais.
Vimos até aqui que não há
distinção sobre a relação teoria/prática já
que os elementos teorizados são retirados
da realidade vivida, apenas são levados ao
mundo da abstração para reflexão e
voltando para o real conseguem interpreta-
la e a realidade se apresenta em constante
transformação não sendo possível que a
teoria lhe acompanhe na mesma velocidade.
Porem, mesmo sendo elementos que se
complementam existe neles suas
especificidades. A profissional A2 discorre
em sua fala que “[...] elas se misturam sim,
se integram, elas se ligam [...] quando você
chaga na prática você consegue trazer a
teoria para dentro dela”. Podemos inferir
que a profissional faz o movimento de
perceber na prática os elementos teóricos
aprendidos na formação profissional
quando ela fala sobre integração da
teoria/prática demonstra que consegue
perceber a indissociabilidade existente. Mas
ainda não consegue perceber os elementos
que as diferenciam.
3. CONCLUSÃO.
Os resultados da pesquisa aqui
apresentada nos proporcionaram entender
melhor os elementos que constroem a
dimensão técnico-operativa do Serviço
Social, bem como a história profissional
que levou a essa construção. Sendo o
Serviço Social uma profissão
interventiva/investigativa os elementos que
constroem sua formação e prática
profissional devem oferecer bases críticas
que lhe serviram de alicerce para alcançar
os objetivos postos pela própria profissão,
assim como superar os obstáculos e
conseguir intervir/interpretar as novas
formas de expressão da ‘questão social’.
Sendo assim, a pesquisa nos
revelou que as Diretrizes Curriculares de
1996 proposta pela ABEPSS trouxeram
para a formação um enorme avanço. Os
dados da pesquisa com as profissionais nos
mostram que, diferente de antes, agora há
uma compreensão da importância teoria
dentro da prática profissional, também é
visto que as assistentes sociais conseguem
perceber que as mudanças sociais ocorridas
no mundo contemporâneo necessitam de
respostas rápidas porem, essas respostas
não podem ser acríticas, elas devem ser
acompanhadas de uma reflexão sobre o
fazer profissional sua relação com as
mudanças ocorridas. Dessa maneira, houve
significativo avanço no atendimento
oferecido aos usuários do Serviço Social.
Vimos ainda que as entrevistadas veem os
instrumentos como forma de contato com a
realidade mas que por si só não provocam
mudanças.
Destacamos dois pontos
importantes: o primeiro é o reconhecimento
da continuidade na formação, buscando o
aprimoramento dos conhecimento recebidos
na formação acadêmica. Essa continuidade
é necessária pois, como colocado por uma
das entrevistadas, a realidade vive em
constante mudança por isso o profissional
deve acompanha-la e para isso devem
sempre estar em constante procura de novas
leituras críticas sobre essas nova realidade.
Outro ponto é a limitação na compreensão
da dimensão instrumental da profissão. Para
uma entendimento melhor sobre esse ponto
seria relevante uma pesquisa mais
aprofundada, o que indica uma
continuidade desta pesquisa, não cabendo
aqui apontar os motivos para essa
incompreensão.
Portanto, concluímos com esta
pesquisa que os avanços são incontestáveis,
os dados nos mostram que os novos
profissionais formados sob orientação de
diretriz curricular sob a inspiração do
pensamento crítico dialético estão
conseguindo fazer as reflexões críticas
sobre as realidades a eles apresentadas,
fazendo uma intervenção que não fica
apenas no aparente, que vai em busca do
concreto pensado fazendo com que o
atendimento aos usuários não fique apenas
na solução aparente. Mas reconhecemos
que ainda há muito que avançar na
formação acadêmica, principalmente sobre
a compreensão de instrumentalidade
técnica.
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Capacitação em Serviço Social e Política
Social. In: Serviço Social: Direitos Sociais
e Competências Profissionais. Brasília.
CFESS/ABEPSS/CEAD/UnB. 2000.
PARECER DO ORIENTADOR:
Progrediu claramente nas habilidades de pesquisa. O artigo (final) demonstra seu desenvolvimento e revela suas potencialidades. Tem potencial para pos-graduação stricto senso. Necessita melhorar a redação e sistematização do texto acadêmico. .Aprovo a bolsista.
DATA : ____17/___08____/__2015__
__________________________________
ASSINATURA DO ORIENTADOR