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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DIRETORIA DE PESQUISA PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO Período: Fevereiro/2015 a Agosto/2015 ( ) PARCIAL (X) FINAL IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO Título do Projeto de Pesquisa: Mudanças Sociais, Modernização e Conflitos: novas dinâmicas na regulação da terra ena expansão de agronegócio no corredor da Br-163 e considerando a construção da Hidrelétrica de Belo Monte. Nome do Orientador:Edna Maria Ramos de Castro Titulação do Orientador:Doutora em Ciências Sociais Faculdade: Ciências Sociais Unidade: Núcleo de Altos Estudos Amazônicos – NAEA Título do Plano de Trabalho: Análise do discurso fotográfico utilizado pelos maiores veículos de informação impresso do Brasil e de Belém sobre as hidrelétricas localizadas na Amazônia brasileira nos últimos 2 anos. Nome do Bolsista: Gabriela Laroca Araújo

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁPRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

DIRETORIA DE PESQUISAPROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO

Período: Fevereiro/2015 a Agosto/2015( ) PARCIAL(X) FINAL

IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO

Título do Projeto de Pesquisa: Mudanças Sociais, Modernização e Conflitos: novas dinâmicas na regulação da terra ena expansão de agronegócio no corredor da Br-163 e considerando a construção da Hidrelétrica de Belo Monte.

Nome do Orientador:Edna Maria Ramos de Castro

Titulação do Orientador:Doutora em Ciências Sociais

Faculdade: Ciências Sociais

Unidade: Núcleo de Altos Estudos Amazônicos – NAEA

Título do Plano de Trabalho: Análise do discurso fotográfico utilizado pelos maiores veículos de informação impresso do Brasil e de Belém sobre as hidrelétricas localizadas na Amazônia brasileira nos últimos 2 anos.

Nome do Bolsista: Gabriela Laroca Araújo

Tipo de Bolsa: ( X ) PIBIC/CNPq ( ) PIBIC/UFPA( ) PIBIC/INTERIOR( ) PIBIC/FAPESPA( ) PARD( ) PARD - renovação( ) Bolsistas PIBIC do edital CNPq 001/2007

1. Introdução

Devido sua grande riqueza natural a Amazônia brasileira tem sido considerada, no

âmbito das políticas governamentais, dos interesses das elites nacionais e pela mídia,

como de grande importância para o abastecimento energético do país. O explicito

aumento do interesse manifesto nos planos governamentais pela exploração dos

recursos naturais da região para além de suas fronteiras políticas torna a Amazônia

brasileira um espaço central na geopolítica nacional.

Os Planos de Aceleração da Economia (PAC I e II) e a IIRSA, com projetos de

infraestrutura de energia (hidrelétricas), estradas e comunicação, assumem a mesma

orientação de integração competitiva, adotando um modelo de modernização com base

em megaprojetos de investimentos. No plano continental, expressam dinâmicas

socioterritoriais irreversíveis e representam interesses comuns do Brasil e dos demais

países, via modelo dominante de expansão da fronteira amazônica a partir dos anos 70

do século XX.

Populações locais, com sua percepção práticas sociais e saberes relativos ao

território, têm produzido leituras desse processo, a partir de movimentos sociais e

étnicos que tem mostrado que estão em curso novos processos de dominação

incorporados ao modo de implantação dos projetos de infraestrutura e às práticas de

agentes que violam direitos sociais e étnicos, provocando a desterritorialização de

grupos de população tradicional na extensão amazônica.

O grande potencial hídrico da região está na enorme quantidade de água que se

encontra em bacias hidrográficas formadas por grandes rios, como o Amazonas e o

Tocantins e seus inúmeros afluentes; e também pelas inúmeras quedas topográficas nos

rios. Transformando a região em principal alvo para a construção de hidrelétricas de

grande porte. O discurso sobre essas hidrelétricas tende a subestimar os impactos sociais

e ambientais e superestimar os benefícios socioeconômicos dessas represas.

O aumento de políticas desenvolvimentistas para a Amazônia, principalmente no

que tange a construção de hidrelétricas, gera um debate bastante polêmico dentro do

território nacional entre aqueles que defendem o desenvolvimento sustentável,

defendem a floresta, a sua biodiversidade e as populações tradicionais que nela vivem e

aqueles que prezam pelo desenvolvimento econômico e urbano, ignorando o impacto

ambiental e social advindos dele.

Tendo como foco as grandes hidrelétricas localizadas na região amazônica

brasileira a grande mídia impressa, muitas vezes pautada em determinados interesses,

tem conduzido o debate público sobre o assunto no Brasil. Pretende-se aqui entender

como os principais veículos de informação impressos, por conseguinte, grandes

formadores de opiniões públicas, mostram, representam as hidrelétricas através das

fotografias utilizadas nas reportagens. O que esse discurso fotográfico enfoca e a

mudança ou permanência desse discurso ao longo dos últimos dois anos.

Nos primeiros meses de minha bolsa de iniciação cientifica foram feitas várias

atividades e entre elas mudanças que eram necessárias ao meu plano de trabalho.

Mudanças, essas, que tinham a ver com a construção de um sub-projeto de pesquisa

integrado ao projeto da profª Edna Castro. Esses ajustes foram realizados com o

objetivo de unir os interesses acadêmicos de ambas as partes envolvidas no projeto.

Essa união foi proposta pela orientadora, a qual eu achei muito interessante, já que me

daria a oportunidade de estudar algo que eu tenho interesse.

Houve inicialmente a adequação do tema, mantivemos o foco nos estudos sobre

as hidrelétricas, mas sob um recorte específico; o objetivo é entender e interpretar o uso

da fotografia no jornalismo impresso e sua associação com a formação do imaginário

social nacional sobre o tema das hidrelétricas na Amazônia brasileira. Logo, um estudo

de relação imagem e imaginário. Por conseguinte, vieram a adequação dos demais

tópicos do projeto ao novo tema proposto. Portanto, neste relatório eu descrevo os

tópicos que compõem o meu sub-projeto, tais como justificativa, metodologia entre

outros.

2. Justificativa

2.1. Hidrelétricas na Amazônia: contextualização.

Uma usina hidrelétrica ou central hidrelétrica se resume a um conjunto

arquitetônico que objetiva a geração de energia elétrica a partir do aproveitamento da

força hidráulica de um rio. (VARGAS, SOUZA e LOCH, 2004, p. 2 apud RODRIGUES,

2013, p.10)

O planejamento para a construção de hidrelétricas no Brasil, principalmente na

região Amazônica, iniciou-se com o plano de emancipação econômica desenvolvido no

período de ditadura militar no Brasil, mais especificamente na década de 70. O objetivo

era integrar a região amazônica ao restante do país. E Para tanto, vieram, entre outros,

os planos Polamazônia1, Desenvolvimento Rural Integrado, Grande Carajás, Estratégias

de Desenvolvimento Sustentável no Âmbito do Programa Piloto (PPG-7), Avança

Brasil e o atual Plano de Aceleração do Crescimento (PAC).

As primeiras hidrelétricas a serem construídas na Amazônia foram: Coaracy

Nunes no Estado do Amapá, com capacidade instalada de 78 MW; e Curuá-Una no

Pará, com capacidade instalada de 30 MW. Coaracy Nunes foi inaugurada oficialmente

em 13 de janeiro de 1976 pelo então presidente da República Ernesto Geisel. E Curuá-

Una em 19 de agosto de 1977 pelo mesmo presidente.

O “Plao 2010” liberado para domínio público em 1987 contém a plena extensão

das hidrelétricas planejadas para a Amazônia brasileira. O plano previu 68 barragens no

bioma, independente do tempo da construção de cada uma. De acordo com o biólogo

Philip Fearnside essas represas inundariam 10 milhões de hectares, aproximadamente

3% da porção brasileira da floresta amazônica (FEARNSIDE, 2014: 3).

Portanto o tema se tornou muito debatido dentro do território nacional e

internacionalmente, devido aos imensos danos que esses projetos provocam no bioma

da região, danos que são incontáveis e irreparáveis. Dentre todos os impactos das

barragens estão os efeitos catastróficos sobre os povos indígenas, a maior parte das

hidrelétricas planejadas, construídas e que estão em fase de construção estão localizadas

na parte da região amazônica que mais possui incidência de populações indígenas. Só a

barragem de Tucuruí inundou parte de três reservas. Entre os impactos nessas

populações estão: a perda dos recursos advindos do rio, do território de caça, da aldeia,

entre muitos outros.

Os efeitos podem ser sentidos também em populações tradicionais não-índigenas,

como ribeirinhos que vivem a jusante dos rios afetados por barragens, que perdem sua

maior fonte de subsistência e sofrem com a consequente seca do rio. Os impactos

podem ser voltados também à saúde dessas populações, como o aumento da incidência

de vetores de doenças endêmicas. E há também a emissão de gases que provocam o

efeito estufa, como o CO², o óxido nitroso e o metano, isso devido à floresta que é

submergida que acaba morrendo e entra em processo de decomposição.

Portanto, vê-se que esses projetos desenvolvimentistas são marcados pelo

desconhecimento do bioma e a intolerância face às populações locais (RODRIGUES, 2013:

303), fazendo do Estado alvo de questionamentos por parte da população. Os projetos

também suscitaram o aumento do debate sobre impactos socioambientais na Amazônia e

nas populações que nela vivem.

O Brasil possui forte potencial para desenvolver outras formas de geração de energia

(como a eólica, solar e biomassa) que são consideradas sustentáveis e que não acarretam

problemas tão profundos na sociedade e no meio ambiente, mas ainda assim e perante todas

as manifestações sociais contrárias aos projetos hidroelétricos, o governo federal permanece

surdo e alheio a tais manifestações, consentindo licenças prévias á revelia da sociedade e

das populações primordialmente e diretamente afetadas por tais projetos.

2.2. Hidrelétrica de Belo Monte: uma aproximação

O projeto da Usina Hidrelétrica de Belo Monte origina-se na década de 1970,

período em que a Eletronorte (recém-criada) inicia os estudos do Inventário Hidrelétrico

da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu, o estudo foi concluído em 1980. O projeto integra,

portanto, a gama de projetos desenvolvimentistas autoritários (MELLO, 2013) que

visavam a integração nacional da Amazônia no período do governo ditatorial no Brasil

dito anteriormente. Estes projetos de geração de energia, como as construções de

hidrelétricas na Amazônia, visavam atender a demanda energética de setores como a

indústria, a agricultura intensiva e a expansão dos grandes centros urbanos (CASTRO,

ALONSO, NASCIMENTO, CARREIRA E CORREA; 2014). A UHE de Belo Monte

passou a ser, então, nos dois governos Lula e no atual governo Dilma obra de extrema

relevância no PAC.

A licença prévia para o inicio das obras da UHE de Belo Monte foi concedida

alheia as denuncias de irregularidades nos estudos técnicos sobre os impactos

ambientais da construção da barragem, em 2012, deste então formou-se um cenário

intrinsecamente polêmico e controverso sobre a sua construção de repercussão nacional

e internacional. Populações locais se manifestaram (e ainda se manifestam, tendo em

vista as obras continuam) para que suas demandas fossem/sejam atendidas e seus

direitos políticos e sociais fossem/sejam respeitados, entretanto suas pautas não foram

atendidas e nem levadas em consideração em relatórios oficiais do projeto (CASTRO,

ALONSO, NASCIMENTO, CARREIRA E CORREA; 2014).

A Hidrelétrica será construída no rio Xingu adjacente a cidades de Altamira,

Vitória do Xingu, Brasil Novo, Anapu e Senador José Porfírio e terá capacidade

instalada de “11.181 MW, mas a energia firme equivale a 4.719 MW médios anuais na

Casa de Força Principal e 77 MW na Casa de Força Complementar” (CASTRO,

ALONSO, NASCIMENTO, CARREIRA E CORREA; 2014). O projeto da usina prevê

uma barram principal localizada na localidade de Sítio Pimentel, uma segunda barragem

na localidade de Sítio Bela vista, uma casa de força principal na comunidade Belo

Monte e um canal de derivação e diques; o projeto implica em diversas obras em

diferentes trechos do Rio Xingu e terá um reservatório de 516 km² formado a partir do

desvio do Rio Xingu (conhecido como a volta grande do Xingu) até a localidade de

Sítio Pimentel (FLEURY, 2014).

Entretanto, devido a suspensão do plano da UHE de Belo Monte em 1989 após o

Primeiro Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, o projeto foi alterado pela

Eletronorte com intuito de agradar ambientalistas e populações locais, o que resultou na

diminuição da área do reservatório, ou seja, reduziu-se a área de inundação (PEREIRA,

2014). A área do reservatório diminuiria de 1.225 km² para 400 km² e, além disso,

“projetou-se a construção de uma usina a fio d’água, com turbinas bulbo, tecnologia

supostamente mais eficiente e menos impactante” (MELLO, 2013). De acordo com

Mello (2013) essa mudança, aparentemente positiva, impactaria de maneira negativa

tanto quanto a área anterior do reservatório: os povos indígenas, ao invés de terem suas

terras alagadas, viveriam na margem de um rio esvaziado.

A construção da hidrelétrica de BM possui um fator singular: pela primeira vez

dentro do cenário regional, o Governo Federal repassa para o setor privado a construção

e a gestão de um empreendimento hidrelétricoTrata-se de uma (nova) logística coerente com as estratégias da economia flexível, de mercado, que pressiona a liberalização dos serviços em países em desenvolvimento, observando-se na esfera mundial, o crescimento do interesse privado nos serviços básicos tradicionalmente mantidos e assegurados à sociedade pelo Estado. (CASTRO, ALONSO, NASCIMENTO, CARREIRA E CORREA; 2014).

O cenário em torno dessa construção é muito amplo, como se pode ver, e envolve

uma multiplicidade de atores sociais/políticos e ainda questões relativas ao meio

ambiente. A obra segue em fase de construção, e o governo ainda permanece alheio às

críticas feitas por especialistas, estudiosos, pesquisadores e pelas populações étnicas

atingidas social, cultural e fisicamente pela construção.

2.3. A fotografia como objeto de estudo

A primeira fotografia da história foi tirada há 188 anos atrás pelo inventor francês

Joseph Nicéphore Niépce (HACKING, 2012), porém sua maior utilização e propagação

só foi possível com o avanço tecnológico moderno que possibilitou instrumentos

eficazes, simples e baratos. Atualmente somos todos potenciais produtores e

consumidores de imagens fotográficas.

A fotografia, entretanto, ainda é tida como uma mera e simples mimese do real,

colada numa posição subalterna quando comparada com a escrita; ignora-se o fato dela

ser um é um instrumento de comunicação, formulada (e pensada) por um remetente, que

visa um destinatário (que também pensa) e contém em si uma mensagem codificada

(JUCHEM, 2009: 328). A fotografia, inventada dentro de uma época positivista – primeirasdécadas do século XIX – criou e referendou sua posição como espelhodo real, mimese de um mundo sem nenhuma interferência de um olho pensante, a falsa ideia de um registro documental isento: prova de umdiscurso oral ou escrito. (Persichetti, 2008: 208)

É sobre essa ideia, de uma fotografia sem importância, que as ciências sociais vêm

tentando combater e mostrar que dela provem efeitos de sentidos únicos que produzem,

reproduzem e refazem o imaginário social. O objetivo é considerá-la como um

“documento por si só, portadora de uma narrativa própria criada dentro de

circunstâncias sociais” (PERSICHETTI, 2008: 209).

Para compreender uma imagem fotográfica deve-se entender a relação que existe

entre todos os seus componentes, sejam eles internos (o próprio fazer fotográfico e a sua

mensagem codificada) e externos (tidos como o seu contexto existencial, sua realidade

factual). Portanto, o que será analisado aqui não são fatores relativos à técnica

fotográfica, mas sim ao seu aspecto simbólico. E é neste aspecto que repousa a

importância de estudar os fenômenos fotográficos, principalmente quando utilizados

pela mídia, onde aparentemente esses componentes simbólicos são ignorados, mas seus

efeitos de sentido existem e contribuem para a formação de imaginários socialmente

compartilhados e individuais.

3. Objetivos

3.1. Objetivo Geral:

Identificar, através da análise crítica das fotografias utilizadas nas reportagens,

qual é o discurso fotográfico utilizado pelos grandes jornais impressos do Brasil e de

Belém sobre a Usina Hidrelétrica de Belo Monte e projetos hidrelétricos em geral na

região amazônica brasileira de 2013 a 2014.

3.2. Objetivos Específicos

Fazer o levantamento do acervo dos jornais impressos selecionados para a

pesquisa que abordaram o tema da UHE de Belo Monte principalmente e hidrelétricas

em geral, na Amazônia no período de 2013 a 2014;

Complementar a bibliografia relativa à sociologia da fotografia e da imagem;

Complementar a bibliografia relativa à construção de grandes hidrelétricas na

região amazônica;

Divulgar os resultados da pesquisa entre o meio acadêmico através de trabalhos

e artigos em eventos científicos.

Produção de dois relatórios, sendo um parcial e outro final.

4. Metodologia

Partimos do pressuposto que: As imagens, independente dos suportes ou veículos em que se encontrem, devem ser tomadas, reconhecidas e entendidas como entidades autônomas, ou seja, como presenças significantes em si mesmas. (CAMARGO, 2005: 12)

Portanto, nenhuma imagem se configura como neutra, muito menos quando

difundida por um veículo de informação impresso que tende a defender discursos

pautados em seus interesses. Ela, independente do discurso literário que – quase sempre

– vem acompanhada, produz efeitos de sentido próprios. Lembramos também que

imagens são “produtos e produtoras de imaginários” (ROCHA, 2012: 78) e este é mais

um motivo que exalta sua importância como objeto de estudo. Assim, tomamos como

ponto de partida das nossas reflexões as fotografias utilizadas em reportagens que

abordam questões relativas às hidrelétricas na Amazônia brasileira e, principalmente e

especificamente, à construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, a fim de expandir

os horizontes dos estudos sobre essa questão.

A análise foi feita sobre essas fotografias para identificar quais as direções que a

mídia impressa tende a dar para esse debate, o que fala fotograficamente sobre esse

assunto e, por conseguinte, deduzir o que essas imagens podem estar provocando no

imaginário nacional sobre o cenário conflitante das construções hidroelétricas que

envolvem diversos atores e agentes sociais na região amazônica.

Os jornais foram selecionados mediante sua importância nacional e no Pará. O site

da Associação Latino-Americana de Publicidade (Alap) forneceu uma lista dos 50

maiores jornais do Brasil de acordo com uma pesquisa realizada em janeiro de 2014.

Selecionamos os dois primeiros, que são: Folha de S. Paulo, O Globo (Rio de Janeiro).

Essa lista contém um jornal paraense que está colocado na 40ª posição que é o Diário do

Pará e que entra no nosso corpus também. Portanto, são dois jornais de importância

nacional e um de importância regional.

O arquivo analisado foi o encontrado nos últimos dois anos, no caso 2013 e 2014.

Houve também a seleção de uma amostra estabelecida na alternância dos meses do ano

com o intuito de percorrer todo o ano de 2013 e 2014. Os meses submetidos à pesquisa

foram: janeiro, março, maio, julho, setembro e novembro. E lembramos que foram

selecionadas apenas as reportagens que vieram contidas fotografias e abordaram o tema

de hidrelétricas na Amazônia brasileira, tendo como foco majoritariamente a UHE de

Belo Monte.

As reportagens foram armazenadas para a formação do corpus ampliado, como

momento inicial da pesquisa. Após esse processo o material passou pela fase de

classificação, para formar o corpus final da pesquisa. Esse corpus final foi o objeto das

nossas analises.

4.1. Fotojornalismo: a função da fotografia no jornal

Inicialmente se faz necessário uma caracterização do jornal. Este se configura

como uma plataforma de informações sobre a atualidade e que possuem interesse

público (KARAN, 2004). Para que um determinado tema adquira o atributo de “noticia”

é necessário que ele prescreva certos requisitos, a saber: de verdade, de objetividade e

de interesse, além de ser atual. Portanto, a fotografia jornalística deve se enquadrar

nestes aspectos também.

A fotografia, portanto, dentro de um jornal possui objetivos pragmáticos, como

afirma Karan (2004), tendo utilização secundária dentro do ato jornalístico. Porém, essa

utilização até então secundária participa de maneira intima da interpretação por parte do

leitor da informação passada, provocando a partir de si mesma maneiras especificas de

sentido.

A imagem fotográfica no jornal e a sua relação com outros componentes

simbólicos, seja o próprio texto escrito e outros, é fundamental para as representações

ou juízos que o jornal produz, ou quer produzir. Possui também componentes internos,

que dizem respeito à sua produção e a sua formação física. E os componentes externos

que se caracteriza pela sua capacidade de intertextualização, ou seja, os componentes

externos a ela que participam ou que agregam efeitos de sentido. A fotografia como tal é

algo mais do que uma mera ilustração, é uma forma de congregar e localizar o agente

central na configuração visual e cognitiva dos fatos (CIAVATTA et al, 2004).

4.2. O Corpus

O corpus está anexado ao relatório após o parecer da orientadora.

5. Resultados

5.2. A pesquisa

Inicialmente constatou-se a escassa abordagem sobre o tema nos jornais

selecionados entre o período definido. Tanto que em dois anos apenas 21 reportagens

foram encontradas no total, incluindo os três jornais, sendo 9 delas especificas sobre a

UHE de Melo Monte e 12 sobre hidrelétricas em geral, como já foi dito, nossa atenção

será para as reportagens sobre BM.

Pode-se separar as fotografias encontradas em dois tipos predominantes. O

primeiro tipo é a fotografia que retrata o espaço físico da hidrelétrica propriamente,

mostrando ela em funcionamento ou o espaço da sua construção. O segundo tipo de

fotografias são as que retratam indígenas. Foram encontrados também outros dois tipos

que não são predominantes, representações que apareceram em duas fotografias cada: o

exército e fotografias que congregam aspectos que permeiam o imaginário social

nacional sobre a Amazônia – retratam o rio, a floresta, os ribeirinhos e canoas.

As reportagens que integram o corpus da UHE de Belo Monte, demonstra que o

cenário conflituoso que se formou com o inicio do inventário do potencial hidráulico do

Rio Xingu, ou seja, no inicio de tudo, perdura até hoje. As populações tradicionais

permanecem à margem do pólo central das tomadas de decisões, tendo que optar por

intervir de maneira direta, como ocupar o canteiro de obras. A posição alheia a tal

problema do governo contribui para que este cenário se configure até hoje.

6. Publicações

Um produto do projeto foi aprovado no Congresso Brasileiro de sociologia com o

título “Análise da representação imagética utilizada pelos maiores veículos de

informação impresso do Brasil e de Belém sobre as Hidrelétricas localizadas na região

Amazônica no período de 10 anos” na categoria Sociólogos do Futuro (única destinada

a graduandos) no formato de pôster.

7. Conclusão

Concluímos, então, que o jornal faz um recorte na realidade dos fatos e seleciona

o que julgam ser de interesse e que preencham aqueles pré requisitos para sem

veiculados como “notícia”, esse recorte excluí uma extensa gama de fatos que impede

que o leitor (o receptor) compreenda a totalidade do contexto sociopolítico/ambiental

que envolve as construções dessas barragens.

As fotografias jornalísticas não são inocentes: elas traduzem um acontecimento, construindo-o. Recortam uma realidade, são notícia e transmitem informação. Além disso, funcionam, assim como o jornal e seus textos, como mediadoras e peças importantes para a construção de uma imagem (no sentido de um imaginário) sobre algo específico; sobre uma realidade específica. (TAVARES & VAZ , 2005)

O arquivo encontrado reafirma a fotografia como espaço dado ao imaginário

humano, seja ela estética ou documental. A polissemia fotográfica transcende os

suportes ou veículos em que se encontram, gerando sentidos que vão além desses

aparatos para tornar-se autônoma de um discurso escrito ou oral.

8. Bibliografia

____________. Os 50 maiores jornais do Brasil Jan/14.

<http://www.alap.com.br/noticias/os-50-maiores-jornais-do-brasil-jan14>, acessado em

29 de janeiro de 2015, ás 23:15.

CAMARGO, Isaac Antonio. Imagem e mídia: apresentação, contextos e relações.

Discursos Fotográficos, Londrina, v.1, p.11-22, 2005.

CASTRO, Edna; ALONSO, Sara; Nascimento, Sabrina; Carreira, Larissa; CORREA

Simy. HIDRELÉTRICAS NA AMAZÔNIA E GRANDES DILEMAS POSTOS À

SOCIEDADE NO SÉCULO XXI. Papers do NAEA nº 343. Belém/2014.

CIAVATTA, Maria et al. A leitura de imagens na pesquisa social: história,

comunicação e educação. São Paulo: Corteza, 2004.

FEARNSIDE, P.M. 2014. Análisis de

losPrincipalesProyectosHidroEnergéticosenlaRegión Amazónica. Derecho,

Ambiente y Recursos Naturales (DAR) Lima, Peru & Centro Latinoamericano de

Ecología Social (CLAES), Montevideo, Uruguay. (no prelo).

FLEURY, Lorena Cândido. O CONFLITO EM TORNO DA CONSTRUÇÃO DA USINA HIDRELÉTRICA DE BELO MONTE SOB O IDIOMA DA COPRODUÇÃO. 38º Encontro Anual da ANPOCS. Caxambu-MG/2014.

TAVARES, Frederico de Mello Brandão; VAZ, Paulo Bernardo. Fotografia jornalística e mídia impressa: formas de apreensão. Revista FAMECOS, Porto Alegre, nº 27. Agosto/2005.

GURAN, Milton. Considerações sobre a constituição e a utilização de um corpus

fotográfico na pesquisa antropológica. Discursos Fotográficos, Londrina, v.7, n.10,

p.77-106, jan./jun. 2011.

HACKING, Juliet. Tudo sobre fotografia. Prefácio: David Campany [tradução de

Fabiano Morais, Fernanda Abreu e Ivo Korytowski]. Rio de Janeiro: Sextante, 2012.

JUCHEM, Marcelo. LINGUAGEM FOTOGRÁFICA: UMA POSSIBILIDADE DE

LEITURA DE FOTOGRAFIAS. Linguagens - Revista de Letras, Artes e

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MELLO, Cecília Campello de Amaral. Se houvesse equidade: a percepção dos

grupos indígenas e ribeirinhos da região da Altamira sobre o projeto da Usina

Hidrelétrica de Belo Monte. In Revista Novos Cadernos NAEA, v.16, n.1, p.127-149.

Jun/2013.

PERSICHETTI, Simonetta. Documento do imaginário social. Discursos Fotográficos,

Londrina, v.4, n.5, p.207-210, jul./dez. 2008.

ROCHA, R. M. Morin e Flusser: a teoria da imagem como aventura antropológica

e matemática imaginária.Galaxia (São Paulo, Online), n. 25, p. 74-84, jun. 2013.

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SAMAIN, Etienne. Antropologia de uma “imagem sem importância”. ILHA: v.5,

n.1, p. 47-64. Julho de 2003, Florianópolis.

SWITKES, Glenn. Águas turvas: alertas sobre as conseqüências de barrar o maior

afluente do Amazonas. Organizador: Patrícia Bonilha. São Paulo: International Rivers,

2008.

9. Dificuldades

No decorrer do desenvolvimento da pesquisa o jornal carioca O Globo bloqueou o

acesso ao seu acervo para não cadastrados e pagantes, então o período que pôde ser

contabilizado foi o início do ano de 2013. A substituição do jornal não foi feita, pois

não encontramos um jornal que tivesse a mesma abrangência nacional que o mesmo.

10. Parecer da orientadora: Aprovado, mas ainda estará sujeito a continuar o

trabalho de analise do corpus da pesquisa.

DATA : 17/08/2015

_________________________________________

ASSINATURA DO ORIENTADOR

ASSINATURA DO ALUNO

Hidrelétrica de Belo MonteDiário do Pará

Data Caderno Título Autor(a) (se tiver)

Resumo

08/01/2013

Cidade Índios param obras em Belo Monte

Kátia Brasil

10/01/2013

Cidade Obras de Belo Monte são retomadas após acordo.

Não informa Após a paralisação do dia 8 de janeiro a Norte Energia faz acordo com lideranças indígenas e as obras são retomadas.

26/03/2013

Cidade Força Nacional vai para Belo Monte

Não informa Devido a segunda invasão indígena nos canteiros das obras e a conseqüente paralisação das mesmas o governo decide mandar tropas de força nacional para garantir incolumidade para as pessoas e o patrimônio e se fazer firmar a ordem pública no

local.12/05/2013

Cidade As agruras de uma história sem fim

Luiza Mello A reportagem faz um histórico sobre os problemas e polêmicas da construção da usina de BM.

31/05/2013

Tapajós MPF pede diálogo com índios que ocupam Belo Monte

Não informa Índios ocupam canteiro de obra em BM e a Norte Energia pede reintegração de posse. Indígenas pedem a presença do Ministro Gilberto Carvalho para negociações e que haja o comprimento da constituição, e suas opiniões e demandas sejam ouvidas e atendidas.

Folha de São Paulo

Data Caderno Título Autor(a) Resumo

11/03/

2013

folhainvest Com obras atrasadas,

Belo Monte amplia

contratações

Aguirre Talento

(confirmar)

Com o cronograma atrasado, a construção da UHE de BM terá 5 mil operários a mais para o pico da obra, chegando a 28 mil homens. O objetivo é encerrar o ano com metade do projeto concluído.

O Globo

Data Caderno Título Autor(a) Resum

o

22/03/ Economia Índios paralisam obras de Belo Monte Bruno Rosa -

2013

05/03/

2013

Economia Belo Monte: Alojamentos são

incendiados

Não informa -

Hidrelétricas em Geral

Diário do ParáData Caderno Título Autor Resumo

17/07/2013 Cidade Índios vão discutir impactos ambientais

Michel Garcia Indígenas de Marabá vão para reunião na sede da Eletronorte em Brasília para discutir um pré-estudo antes do licenciamento prévio da construção da UHE de Marabá, visando principalmente debater os impactos ambientais e sociais sob a floresta e a população indígena.

12/09/2013 Diário de Carajás

Hidrelétrica de Marabá só sai com eclusas

Chagas Filho Discussão provocada pelo deputado Tião Miranda (PSDB) que pede que eclusas sejam integradas ao projeto da UHE de Marabá, pois essas eclusas diminuem impactos sobre as populações indígenas e sobre o meio ambiente.

15/09/2013 Economia BNDS libera R$ 11 bi para as hidrelétricas

Wellington Bahnemann -

19/03/2014 principal Governo tranqüiliza empresário do setor

Ae e folhapress Governo convocou cerca de 20 associações do setor elétrico para reiterar que o risco de racionamento de energia no país é baixo.

10/07/2014 Economia Elétricas ganham prazo para pagar R$ 1,3 bilhão

Danilo Fariello ANEEL prorrogou até o dia 31 de julho o pagamento de R$ 1,3 bilhão que as distribuidoras de energia elétrica deveriam fazer para honrar dividas perante o mercado de curto prazo referente a maio.

29/07/2014 Economia Condições dos reservatórios reduzem custo da energia

Nielmar de Oliveira

Folha de São Paulo

Data Caderno Título Autor(a) Resumo

05/01/2013 Mercado ‘Trabalhadores precisam de

mais direitos’, diz sociólogo

Eleonora de

Lucena

Entrevista com o sociólogo Ruy Braga sobre o atual cenário

Anexo 2

Reportagens sobre Belo Monte

Diário do Pará

Ano: 2013

Folha de São Paulo

Ano: 2013

O Globo

Ano: 2013

Hidrelétricas em geral Diário do Pará

Ano 2013:

Ano: 2014

Folha de São Paulo

Ano: 2013

Ano: 2014

O Globo

Ano: 2013