histarq.files.wordpress.com  · web viewfoi a do lúcio costa, que, aproveitando o relevo da...

8
AULA 20 – URBANISMO IV: O PENSAMENTO FUNCIONAL E A CRÍTICA ANTROPOLÓGICA DE BRASÍLIA (1956). Plano |Piloto de Brasília (1956) Lúcio Costa. Brasília nasceu como parte de uma agenda política de descentralização do país, impulsionando o desenvolvimento para o oeste. O Plano Piloto de Brasília, no Distrito Federal, foi produto de um concurso no qual a proposta ganhadora foi a do Lúcio Costa, que, aproveitando o relevo da região, adequou-o ao projeto do lago Paranoá, concebido em 1893 pela Missão Cruls. A cidade começou a ser planejada e desenvolvida em 1956 por Lúcio Costa e pelo arquiteto Oscar Niemeyer. Inaugurada em 21 de abril de 1960, pelo então presidente Juscelino Kubitschek, Brasília tornou-se formalmente a terceira capital do Brasil, após Salvador e Rio de Janeiro. O formato da área é comparado ao de um avião. Consistiu basicamente no Eixo Residencial no sentido norte-sul, e Eixo Monumental no sentido leste- oeste. O planejamento utiliza fielmente e intensamente os recursos do Movimento Moderno, focada na ideia de eficiência. Recursos como a identificação de usos aos espaços (zoneamento) e a priorização dos fluxos

Upload: dangdung

Post on 24-Jul-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: histarq.files.wordpress.com  · Web viewfoi a do Lúcio Costa, que, aproveitando o relevo da região, adequou-o ao projeto do lago Paranoá, concebido em 1893 pela Missão Cruls

AULA 20 – URBANISMO IV: O PENSAMENTO FUNCIONAL E A CRÍTICA ANTROPOLÓGICA DE BRASÍLIA (1956).

Plano |Piloto de Brasília (1956) Lúcio Costa.

Brasília nasceu como parte de uma agenda política de descentralização do país, impulsionando o desenvolvimento para o oeste.

O Plano Piloto de Brasília, no Distrito Federal, foi produto de um concurso   no qual a proposta ganhadora foi a do Lúcio Costa, que, aproveitando o relevo da região, adequou-o ao projeto do lago Paranoá, concebido em 1893 pela Missão Cruls. A cidade começou a ser planejada e desenvolvida em 1956 por Lúcio Costa e pelo arquiteto Oscar Niemeyer. Inaugurada em 21 de abril de 1960, pelo então presidente Juscelino Kubitschek, Brasília tornou-se formalmente a terceira capital do Brasil, após Salvador e Rio de Janeiro. O formato da área é comparado ao de um avião. Consistiu basicamente no Eixo Residencial  no sentido norte-sul, e Eixo Monumental no sentido leste-oeste.O planejamento utiliza fielmente e intensamente os recursos do Movimento Moderno, focada na ideia de eficiência. Recursos como a identificação de usos aos espaços (zoneamento) e a priorização dos fluxos dos veículos (circulação), aparecem claramente como o princípio do traçado geométrico da cidade, e podem ser percebidos desde os primeiros croquis de Lúcio Costa.

Trata-se de uma sorte de relógio aonde toda peça esta calculada e engrenada dentro do conjunto funcional. Uma “maquina para viver”, agora na escala urbana. 

Page 2: histarq.files.wordpress.com  · Web viewfoi a do Lúcio Costa, que, aproveitando o relevo da região, adequou-o ao projeto do lago Paranoá, concebido em 1893 pela Missão Cruls

Croqui da malha urbana de Brasília , Lúcio Costa para o concurso de 1956.

Croqui de Brasília feito por Lúcio Costa para o concurso em 1956. Observa-se uma sequência de raciocínios lógicos, próprios do “pensamento-máquina”, os usos têm uma clara delimitação espacial, fluxos do transporte rodado têm prioridade, e evitam ser interrompidos por cruzamentos. 

Foto aérea da construção de Brasília (1974).

Page 3: histarq.files.wordpress.com  · Web viewfoi a do Lúcio Costa, que, aproveitando o relevo da região, adequou-o ao projeto do lago Paranoá, concebido em 1893 pela Missão Cruls

A- As redes de circulação.

Elas estão planejadas para dar continuidade e funcionar de forma eficiente, recorrendo a estratégias como:

o Balão de Retornoo Cul-de-Sac (rua sem saída)o Vias de alta velocidade

B- Zoneamento:Os usos se encontram ligados a uma delimitação espacial como premissa de projeto. Evitam-se usos mistos ou similares. A estrutura geométrica começa com uma diferenciação relacionada com os usos: o “eixo monumental” e o “eixo residencial”.

Vista aérea de Brasília nos dias atuais.

No eixo Monumental:Nos extremos do eixo aparecem os pontos com mais poder simbólico com:

o Praça dos 3 Podereso Esplanadas dos Ministérioso O Memorial JK

No cruzamento dos eixos, aparecem os serviços e equipamento:

o Hotéiso Comércioo Saúde

Page 4: histarq.files.wordpress.com  · Web viewfoi a do Lúcio Costa, que, aproveitando o relevo da região, adequou-o ao projeto do lago Paranoá, concebido em 1893 pela Missão Cruls

o Transporte : a rodoviária, situada justo no centro, uma rotula articuladora que traz e leva aos trabalhadores para a as zonas periféricas, fora do “plano piloto”, gerando um fluxo centrípeto e centrifugo a diário.

No Eixo Residencial, se diferencia entre duas tipologias:

Vista área do eixo residencial. Nas superquadras 60% da área é livre.

1. Faixa de casas unifamiliares enfileiradas

Eixo residencial. Vista da faixa de casas unifamiliares enfileiradas.

2. Faixa de unidades de vizinhança

2.1 Quatro superquadras, que alojam os serviços mais elementares como bancas de jornal, etc.

2.2 Uma entrequadra, onde se encontram situados os equipamentos, tais como igreja, clube social, cinema, atividades esportivas, etc.

Page 5: histarq.files.wordpress.com  · Web viewfoi a do Lúcio Costa, que, aproveitando o relevo da região, adequou-o ao projeto do lago Paranoá, concebido em 1893 pela Missão Cruls

A “Igrejinha”, desenhada por Niemeyer, na entrequadra, destinadas a alojar equipamento.

2.3 Uma faixa comercial, onde se encontram comercio de médio porte, tais como supermercado, posto de gasolina, livraria, etc.

Vista da faixa de comercio local, situadas entre duas superquadras.

A noção de superquadra   responde a ideia de criar unidades funcionais semi-autônomas de moradias com seus serviços mais básicos dentro de um quarteirão de 280 x 280 metros. Dentro de este se implantam entre 8 a 1 blocos laminares de  6 andares. Os edifícios se encontram todos, por norma, levantado sobre pilares ou pilotis, sendo todas as áreas externas, inclusive o piso por debaixo dos blocos laminares, de propriedade pública -os moradores pertencem à quadra, mas a quadra não lhes pertence (e é essa a grande diferença entre   entre superquadra e condomínio).

Page 6: histarq.files.wordpress.com  · Web viewfoi a do Lúcio Costa, que, aproveitando o relevo da região, adequou-o ao projeto do lago Paranoá, concebido em 1893 pela Missão Cruls

Croqui de uma superquadra desenhada por Lúcio Costa.

 “No caso das superquadras, adotou-se o acesso viário feito através de uma única rua sem saída, de realização bem mais simples do ponto de vista técnico e bem mais barato do ponto de vista econômico. De tal modo que, são servidas por trevos rodoviários apenas pelo lado do eixo residencial, garantindo-lhes uma relação bem mais articulada com seu entorno imediato em comparação com aquela das áreas centrais da cidade.” Lúcio Costa.

Interior da superquadra 308 (a única desenhada por Niemeyer por inteiro). Os blocos se encontram suspensos sobre pilares, liberando toda a área do térreo, que é considerada propriedade pública.

Page 7: histarq.files.wordpress.com  · Web viewfoi a do Lúcio Costa, que, aproveitando o relevo da região, adequou-o ao projeto do lago Paranoá, concebido em 1893 pela Missão Cruls

Configuração geométrica da área residencial. Quatro superquadras (A) formam uma “unidade de vizinhança”, completado por uma faixa de comércio (b) e uma entrequadra (c)

Dentro do esquema Lucio Costa denota certa preocupaão por questões sociais. Para evitar criar uma cidade com uma excessiva pulverização funcional, formada por unidades quase independentes, estipulou que, no “eixo residencial”,  cada entrequadra e faixa comercial deveriam pertencer a duas unidades de vizinhança, incitando o encontro social; uma sorte de condensador social, um “tecido de entendimento” entre os cidadãos.

A crítica antropológica de Brasília após BrasíliaNuma revisão desde a visão pós-moderna, Brasília e vista como uma cidade aonde a prioridade esta dada para as questões funcionais e matérias, deixando em segundo (ou completamente esquecido, no olhar de alguns sociólogos) o tema antropológico -social.

Em termos concretos, Brasília é uma cidade no qual a rua, no sentido tradicional de encontro social  -aonde os usos se misturam- não encontra lugar. A “rua morre” no projeto de Lucio Costa.

Na geometria das superquadras, as esquinas se desvanecem, não aparecem regularmente ocupadas devido a que os blocos laminares tendem –é devem, por norma- afastar-se do alinhamento frente à rua. Nesta configuração, o visitante da cidade se sente normalmente profundamente desorientado.O resultado do excesso racional-funcional, e o que os sociólogos chamam do efeito de “desfamiliarização”: o cidadão não se identifica

Page 8: histarq.files.wordpress.com  · Web viewfoi a do Lúcio Costa, que, aproveitando o relevo da região, adequou-o ao projeto do lago Paranoá, concebido em 1893 pela Missão Cruls

com a cidade, ele é um elemento alieno a uma maquinaria urbana, que denota, porém, uma grande  eficácia em termos funcionais.

Sobre a crítica de Brasília desde o olhar antropológico, consultar o estudo clássico de: Holston, James, The modernist city. Chicago: University of Chicago Press, 1989.