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GESTÃO DOS RECURSOS NATURAIS POR MEIO DO REAPROVEITAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS EM COMUNIDADES RURAIS DO RIO GRANDE DO NORTE. MANAGEMENT OF NATURAL RESOURCES THROUGH THE REUSE OF SOLID WASTE IN RURAL COMMUNITIES OF RIO GRANDE DO NORTE. RESUMO Adotar o respeito ao uso sustentável dos recursos naturais deve ser um trabalho constante nas populações que habitam ou que trabalham em áreas urbanas ou rurais. Este artigo teve por objetivo propor ações de sustentabilidade socioambiental, a partir da gestão dos resíduos por meio de ciclos de oficinas na comunidade de Jucurí, pertencente ao município de Mossoró (RN), semiárido brasileiro. Quanto às técnicas de coleta de dados, foram realizadas observações diretas em oficinas propostas para discutir práticas de ações ambientais abordando à comunidade rural, além de análise documental e registro fotográfico das atividades. Os resultados apresentaram que a comunidade vem de forma gradativa adotando práticas que possibilitam a formação de uma consciência ambiental. Durante as oficinas constatou-se que as participantes mostraram-se mais interessadas em buscar parcerias e projetos que priorizam ações relacionadas com o uso sustentável dos recursos naturais locais. Espera-se que as ações desenvolvidas contribuam para o direcionamento de atividades econômicas que visem o desenvolvimento sustentável de comunidades rurais, bem como para se pensar em políticas públicas, no sentido de fortalecer as atividades que já vem sendo desenvolvidas, garantindo com isso o uso sustentável dos recursos naturais. Palavras chaves: sustentabilidade, gestão participativa, coleta seletiva, reciclagem, recursos naturais. ABSTRACT Adopt respect to the sustainable use of natural resources should be a constant work in people living or working in urban or rural areas. This article aims to propose actions for environmental sustainability, from waste management through cycles of workshops in the community Jucurí, belonging to the municipality of Mossoró (RN), Brazilian semiarid region. The techniques of data collection, direct observations were made in workshops to discuss proposed actions addressing environmental practices of the rural community, as well as document analysis and photographic record of activities. The results showed that the community has been gradually adopting

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GESTÃO DOS RECURSOS NATURAIS POR MEIO DO REAPROVEITAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS EM

COMUNIDADES RURAIS DO RIO GRANDE DO NORTE.

MANAGEMENT OF NATURAL RESOURCES THROUGH THE REUSE OF SOLID WASTE IN RURAL COMMUNITIES OF RIO GRANDE DO NORTE.

RESUMO

Adotar o respeito ao uso sustentável dos recursos naturais deve ser um trabalho constante nas populações que habitam ou que trabalham em áreas urbanas ou rurais. Este artigo teve por objetivo propor ações de sustentabilidade socioambiental, a partir da gestão dos resíduos por meio de ciclos de oficinas na comunidade de Jucurí, pertencente ao município de Mossoró (RN), semiárido brasileiro. Quanto às técnicas de coleta de dados, foram realizadas observações diretas em oficinas propostas para discutir práticas de ações ambientais abordando à comunidade rural, além de análise documental e registro fotográfico das atividades. Os resultados apresentaram que a comunidade vem de forma gradativa adotando práticas que possibilitam a formação de uma consciência ambiental. Durante as oficinas constatou-se que as participantes mostraram-se mais interessadas em buscar parcerias e projetos que priorizam ações relacionadas com o uso sustentável dos recursos naturais locais. Espera-se que as ações desenvolvidas contribuam para o direcionamento de atividades econômicas que visem o desenvolvimento sustentável de comunidades rurais, bem como para se pensar em políticas públicas, no sentido de fortalecer as atividades que já vem sendo desenvolvidas, garantindo com isso o uso sustentável dos recursos naturais.

Palavras chaves: sustentabilidade, gestão participativa, coleta seletiva, reciclagem, recursos naturais.

ABSTRACT

Adopt respect to the sustainable use of natural resources should be a constant work in people living or working in urban or rural areas. This article aims to propose actions for environmental sustainability, from waste management through cycles of workshops in the community Jucurí, belonging to the municipality of Mossoró (RN), Brazilian semiarid region. The techniques of data collection, direct observations were made in workshops to discuss proposed actions addressing environmental practices of the rural community, as well as document analysis and photographic record of activities. The results showed that the community has been gradually adopting practices that enable the formation of an environmental conscience. During the workshops it was found that the participants were more interested in pursuing partnerships and projects that prioritize actions related to the sustainable use of local natural resources. It is hoped that the actions taken contribute to the targeting of economic activities aimed at sustainable development of rural communities as well as to think about public policy, to strengthen the activities already being undertaken in securing the sustainable use of natural resources.

Key words: sustainability, participatory management, selective collection, recycling, natural resources.

INTRODUÇÃO

A partir da década de 1970 a sociedade passou a tomar consciência, que as

raízes dos problemas ambientais deveriam ser buscadas nas modalidades de

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desenvolvimento tecnológico e econômico e de que não seria tornaria possível confrontá-

los, sem uma reflexão e uma ação sobre essas modalidades de desenvolvimento. Nos dias

atuais muito se tem questionado sobre a possível insustentabilidade ambiental do atual

modelo civilizatório de desenvolvimento, devido aos problemas ambientais causados pelo

uso intensivo dos recursos naturais em várias regiões do mundo (ROCHA, 2012).

O vínculo entre desenvolvimento sustentável e protagonismo local significa,

antes de tudo, partir da descoberta, do reconhecimento e da valorização das competências

locais, isto é, das potencialidades e dos vínculos que podem ser ativados a partir de cada

território. Considerando que o “local” não é um dado, e sim uma construção, trata-se de um

processo de auto instituição territorial, o que significa fazer das necessidades uma rede, um

encontro entre lugar e fluxos e um território. Também é nesse sentido que o

desenvolvimento local é entendido como processo construído de “baixo para cima” e de

“fora para dentro”. A despeito disto, os títulos de uso dos recursos naturais disponíveis nas

comunidades e nos países em geral são em grande parte da terra, direito de posse ao invés

de direito de propriedade o que periga a capacidade de suporte do ambiente (NGUIRAZA,

2008).

A modificação das regras de gestão dos recursos naturais constitui um dos

componentes de reorientação. Pelo conceito de gestão integrada, afirma-se a preocupação

de se superar uma dicotomia antiga entre as análises ambientais focalizando, por um lado,

os fenômenos de degradação e as ações corretivas ou reparadoras a serem empreendidas,

e, por outro, as análises centradas na disponibilidade de recursos para a satisfação das

necessidades da produção e do consumo humanos (GODARD, 1997).

O controle dos recursos naturais também está relacionado com controle político

sobre outras pessoas, que por sua vez pode afetar as estratégias de subsistência que

requerem coordenação do trabalho de um certo número de pessoas. Nessa direção, no

campo da formulação e execução de politicas ambientais tem-se enfatizado a ampliação dos

mecanismos de participação dos diversos atores sociais envolvidos com a gestão dos

recursos naturais.

Com relação ao papel do cidadão é preciso que este seja um aliado na tomada

de decisões, tanto no que diz respeito a possíveis utilizações dos recursos que estão a sua

volta como na busca de alternativas para os problemas ambientais que a sua localidade já

está enfrentando. É preciso ainda, considerar que as estratégias de desenvolvimento

regional deverão levar em conta, tanto a geração atual, como as futuras (ROCHA, 2012).

Não há como retroceder a trajetória tecnológica a qual a sociedade moderna

está inserida. O uso da tecnologia em praticamente todos os setores da vida humana é uma

realidade constante nos últimos anos, a busca do modelo “americanizado” de se viver,

baseado no consumismo e na utilização desenfreada dos recursos ambientais,

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provavelmente, levará o planeta Terra ao seu esgotamento. Chega-se com isto a um dilema:

as sociedades menos desenvolvidas estarão destinadas a permanecerem sem acesso aos

benefícios da modernidade que já estão plenamente incorporadas no cotidiano da

sociedade dos países ricos; ou surgirão novas fontes de recursos capazes de aliar esta

trajetória à sustentabilidade do planeta? (ROCHA, 2012).

A gestão dos recursos naturais objetiva, a utilização adequada dos recursos

naturais e dos ecossistemas, de modo a respeitar sua capacidade de reprodução e de carga

e sua utilização de forma sustentável. O manejo dos recursos naturais varia segundo os

tipos de recursos, mas se compõe de vários tipos de restrições - de acesso aos recursos

naturais em certos períodos, de uso de certos equipamentos ou tecnologia. Porém, não se

trata de combater o progresso econômico regional, mas sim harmonizar esse

desenvolvimento com as potencialidades e limitações naturais de modo a minimizar os

prejuízos ao meio ambiente. Ou seja, os recursos naturais devem ser utilizados de forma

que os benefícios que trazem ao desenvolvimento do ser humano, não prejudiquem o bem

estar dos sistemas locais e globais. A mudança do pensamento da população nas últimas décadas em relação ao

uso dos recursos naturais significou uma alteração de comportamento das sociedades

humanas frente à natureza. Houve uma modificação na concepção de meio ambiente,

passando de um todo orgânico e interligado para uma simples ideia mecanicista,

fragmentada e materialista, que produziu efeitos existentes notadamente, sobre a atitude

das pessoas em relação à natureza (ROCHA, 2012).

Foi a partir dessa ideia consumista que a sociedade passa a preocupa-se

apenas em produzir e acumular riquezas, para alimentar esse desejo consumista que nascia

e crescia com uma força inigualável na humanidade, ficando o meio ambiente em segundo

plano.

Os problemas deixados por esse pensamento encontram-se ainda hoje e, como

se não bastasse, estão mais em evidência e devastadores. Dentro dessas questões

ambientais a problemática dos resíduos sólidos vem sendo considerada um dos maiores

desafio de ordem socioambiental, na sociedade contemporânea, sendo primordial a adoção

de um sistema de gestão que ofereça um tratamento adequado aos dejetos das atividades

humanas.

O avanço da consciência ambiental em nível global determinou que a ameaça

da geração indiscriminada de resíduos sólidos estivesse pautada na agenda resolutiva de

grupos ecológicos e dos movimentos sociais (MANO, PACHECO, BONELLI, 2005). Assim,

na esteira das mobilizações que agitaram Rio -92, a questão dos resíduos sólidos ganhou

destaque em documentos ambientais globais, como exemplo o caso da agenda 21.

Metodologicamente, sua inspiração centrou-se na revisão dos padrões ditos não

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sustentáveis de utilização dos recursos naturais, proposição básica para reverter à crise

ambiental, ampliando a vida útil dos materiais e mitigando os impactos provocados no meio

ambiental (WALDMAN, 2010).

O descarte inadequado dos resíduos sólidos por sua vez é um problema tanto

urbano como rural. Todavia, em áreas rurais a problemática pode ser tornar maior por na

maioria dos casos não haver coleta regular que atenda toda zona rural do município, como

também a inexistência da consciência de alguns moradores em gerenciar esses resíduos.

Por sua vez os resíduos sólidos são geradores de impactos muitas vezes

irreversíveis ao meio ambiente e a vida das pessoas que ali vivem, atrelado a isto, vem o

aumento da poluição do solo das águas subterrâneas, de superfície, e do ar, levando a um

contínuo e acelerado processo de deterioração do nosso ambiente, com uma série de

implicações na qualidade de vida de seus habitantes e nos seus bens naturais.

A crise ambiental tem encostado a sociedade de consumo contra a parede,

impondo a revisão da “cultura” da descartabilidade, incentivando o resgate de práticas

profundamente encontradas no próprio teatro temporal da modernidade. A atividade

recicladora, pondo em marcha uma recuperação de materiais que alivia a pressão sobre os

recursos da natureza, conquistou, pois merecido prestigio junto ao imaginário social

(WALDMAN, 2010).

Os estudos sobre a atividade de reciclagem apontam para conclusões

divergentes no que tange a sua efetiva relevância no contexto socioeconômico atual.

Caneloi (2010) destaca que há um grupo de pesquisadores que sustentam que a reciclagem

se revela verdadeira solução para os problemas da poluição ambiental, da degradação

ambiental e da disponibilidade de recursos naturais, ao passo que outro grupo contrário

defende a existência de limitações econômicas, físicas e sociológicas a essa atividade, que

fazem com que a mesma, embora necessária, não se desenvolva a ponto de vir a se tornar

efetivamente relevante no contexto capitalista.

Embora possam existir posicionamentos diversos em relação ao papel da

reciclagem, pode-se, contudo, afirmar que ela é atividade essencial no que tange ao

gerenciamento dos resíduos sólidos, ao lado da reutilização e da redução da geração dos

mesmos.

As alterações ambientais geradas pela disposição inadequada dos resíduos

domésticos em pequenas comunidades ou na zona rural, apesar de serem de uma

magnitude menor que aquelas produzidas nos “lixões” das grandes cidades, podem,

também, constituir impactos ambientais negativos, principalmente porque, passam a ocupar

um espaço físico ainda não ocupado pelo homem, ao contrário do que ocorre nas cidades

(COLLARES et al., 2007).

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O consumo de produtos que não eram utilizados antes no campo facilita

atualmente o descarte de embalagens nocivas à fauna e à flora, como, por exemplo, PET’s,

sacolas plásticas, latas de refrigerantes e outros, que estão agora agregados às suas novas

preferências. Esse “novo lixo” acarreta uma forma considerável de agredir o meio ambiente.

O descarte desse material é feito como antes nos quintais das suas casas, na beira dos

riachos e nas nascentes (RIBEIRO et al., 2010).

A reciclagem na zona rural surge com uma ação favorável para uma medida

sustentável e um melhor aproveitamento do lixo, pois os moradores desenvolvem ações

mitigadoras na utilização dos recursos naturais, tendo em vista que é necessário preservar

para que se tenha o equilíbrio, que consequentemente poderá acarretará em uma melhor

qualidade de vida.

Deve-se reconhecer que nos dias atuais os resíduos são considerados como um

problema ambiental ganhando inclusive espaço de debate nas discussões dos grandes

temas que envolvem o homem e seus dilemas, embora em grande maioria seja visto o valor

econômico e poder aquisitivo que esse comércio pode trazer ao individuo. Entretanto, é

utilizar isso a favor da preservação dos recursos naturais, desenvolvendo ações de

conscientização, abordando uma forma de percepção onde todos são agentes

modificadores no processo de degradação ou conservação da natureza, devemos conhecer

a diferença entre materiais que normalmente são jogados indiscriminadamente no lixo, como

por exemplo: vidros; papéis; plásticos; garrafas; baterias; entre outros (WALKER, JARDIM,

HARLEY, 2010).

Torna-se assim, imprescindível para o desenvolvimento humano um consumo

mais consciente como a atitude de descartar seletivamente os resíduos sólidos e entregá-lo

à reciclagem, essa ação torna-se um fator importante na conservação e preservação do

meio ambiente. Não se deve deixar que a situação torne-se irreversível aos nossos olhos, e

nem permanecermos com o velho hábito de culparmos o governo pelo os nossos erros, isso

vem dificultar ainda mais o processo evolutivo do homem, enquanto ser consciente

(WALDMAN, 2010).

Sabe-se que a reciclagem é uma prática importante e necessária, e por mais

que a coleta seletiva não seja tão habitual entre a população, ela vem apresentando

benefícios como: a geração de renda e empregos, a conservação dos recursos naturais

como também a otimização dos recursos públicos.

Portanto, a coleta seletiva vem a ser um instrumento concreto de incentivo a

redução, a reutilização e a separação do material para a reciclagem, buscando uma

mudança de comportamento, principalmente em relação aos desperdícios inerentes à

sociedade de consumo. Dessa forma, compreende-se que é preciso minimizar a produção

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de rejeitos e maximizar a reutilização, além de diminuir os impactos ambientais negativos

decorrentes da geração de resíduos sólidos (WALKER, JARDIM, HARLEY, 2010).

Os projetos de coleta seletiva justificam-se ainda sobre um aspecto atual de

nossa economia, que é o desemprego, podendo ser utilizada na geração de postos de

trabalho, absorvendo os “colaboradores” dentro de uma atividade mais rentável e com

condições de salubridade controlada. São justamente esses profissionais que alimentam os

setores industriais com matéria-prima, aliviam os custos da limpeza pública com cada

tonelada de material que retiram das ruas e asseguram o equilíbrio ambiental.

Concretamente, a integração dos colaboradores na gestão dos resíduos pode contribuir

decisivamente para racionalizar e aperfeiçoar a reciclagem e a coleta seletiva dos resíduos

sólidos (POLI, SAÚDE, EDUCAÇÃO, TRABALHO; 2012).

Conforme os objetivos previstos na Política Nacional de Resíduos Sólidos (2010)

são necessários estabelecer um melhor gerenciamento dos resíduos sólidos, reduzir a

quantidade e a nocividade desses; formar uma consciência comunitária sobre a importância

da opção pelo consumo de produtos e serviços que não afrontem o meio ambiente e com

menor geração de resíduos sólidos e de seu adequado manejo; eliminar os prejuízos à

saúde pública e à qualidade do meio ambiente, causados pela geração de resíduos; além de

gerar benefícios sociais e econômicos aos municípios que se dispuserem a licenciar, em

seus territórios, instalações que atendam aos programas de tratamento e disposição final de

resíduos industriais, minerais, radioativos, de serviços e tecnológicos.

O gerenciamento dos resíduos sólidos passa, indiscutivelmente, pela

conscientização da população em relação aos padrões de consumo, da importância da

reutilização de diversos materiais e da prática da coleta seletiva. A educação ambiental deve

estar presente e em consonância com as políticas públicas de redução e destinação final

dos resíduos, segundo a Política Nacional de Resíduos Sólidos no Capítulo II nas definições

menciona que: VII - destinação final ambientalmente adequada: destinação de resíduos que

inclui a reutilização, a reciclagem, a compostagem, a recuperação e o aproveitamento

energético ou outras destinações admitidas pelos órgãos competentes do Sistema Nacional

do Meio Ambiente (SISNAMA) do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS) e do

Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (SUASA), entre elas a disposição

final, observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à

saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos.

Para Kazubek (2010) existe uma ineficiência no sistema de coleta rural, sendo

os resíduos descartados no meio ambiente, queimados, na maioria dos casos, mas o

questionamento é do porquê de tal problema, já que os sistemas de coleta deveriam atender

a toda população, entretanto, é possível pensar num sistema de coleta suficiente para esses

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moradores, que se tornam obrigados a tais atos, realidade esta que ocorre em diversos

meios rurais de cidades brasileiras.

O fato é que comunidades rurais enfrentam problemas com destinação final dos

resíduos, sem locais apropriados ou uma coleta regular, a geração de resíduos sólidos

torna-se uma questão socioambiental ligada à saúde pública. É possível encontrar, nas

comunidades rurais dos municípios, os resíduos sendo queimados, ou simplesmente

descartados a céu aberto, pela falta da coleta e seleção, isso tudo contamina o solo, a água,

causa impacto visual e auxilia na proliferação de doenças (KAZUBEK, 2010).

Portanto, desenvolver um trabalho preventivo para a preservação dos recursos

naturais, sobretudo se for associado a essa crescente produção de resíduos sólidos ao

consumo desenfreado, e que esses conceitos precisam ser revistos, leis colocadas em

execução, proporcionando a educação com acesso a todos, torna a questão ambiental o

foco principal das discussões e trabalhando-a de forma continuada.

Com base nessas reflexões neste artigo objetivou-se identificar as ações

ambientais que vem sendo desenvolvidas na comunidade rural de Jucurí, localizada no

município de Mossoró (RN), semiárido brasileiro, bem como propor ações por meio de um

ciclo de oficinas, abordando as possibilidades de contribuir para sustentabilidade

socioambiental em áreas rurais, através da gestão dos resíduos. Cabe ressaltar que esta

pesquisa faz parte do projeto Sociedade, Ambiente e Economia: uma análise sobre as

dimensões da sustentabilidade no Território Açu-Mossoró (RN), edital PPP nº. 005/2011 -

FAPERN/CNPq.

METODOLOGIA

Caracterização da área de estudo

Adotou-se como unidade empírica de referência a comunidade rural do Jucurí,

pertencente ao município de Mossoró-RN, está encontra-se localizada à margem da

Rodovia BR- 405 a 17 quilômetros da cidade-sede do município de Mossoró. De acordo com

informações coletadas diretamente no posto de saúde básica da comunidade, estima-se que

em Jucurí residem aproximadamente 400 famílias perfazendo um total de 1.600 habitantes,

quando se somam aos assentamentos circunvizinhos chega-se a mais de 5.000 pessoas.

A comunidade conta com 14 assentamentos, saber: Cabelo de Negro, Solidão,

Vingt-Un Rosado, Barreira, Barreira Vermelha, Santa Rita de Cássia, Bela Vista, Guarajá,

São José I, São José II, São Cristóvão, São José Comunidade, Pedra Branca e

Independência.

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Cabe mencionar que a comunidade não conta com saneamento básico, os

moradores utilizam a fossa séptica e a maioria das residências é abastecida com água

vindas de poços artesanais, perfazendo um total de 17 poços para o Jucurí e seus

assentamentos. A coleta municipal dos resíduos é realizada duas vezes por semana,

contudo por não atender a todos os assentamentos, persiste ainda com a queima de lixo em

seus quintais.

Procedimento Metodológico

Entre as técnicas utilizadas para coleta de dados foram adotadas: a observação

direta livre. Segundo Michel, (2009) oficinas com observações direta e livre são forma de

verificar como a teoria estudada e as variáveis propostas se comportam em situações

concretas e no ambiente real onde os fatos ocorrem, utiliza os sentidos na obtenção de

determinados aspectos da realidade; consiste não apenas ver e ouvir, mas também em

examinar fatos ou fenômenos que se deseja estudar; permite perceber aspectos que os

indivíduos não têm consciência, mas manifestam involuntariamente.

Cabe aqui destacar que foram realizadas 05 (cinco) oficinas na comunidade do

Jucurí, estas tiveram por objetivos instruir e contribuir para formação de um Grupo composto

por mulheres, que desenvolvem um programa de coleta seletiva de materiais recicláveis na

comunidade, para que fosse despertado a necessidade de sociabilizar os conhecimentos

adquiridos com os demais moradores da comunidade, sobretudo, a cerca da importância da

gestão sustentável dos recursos naturais, além de subsidiar uma orientação voltada para

mudança de pensamentos e atitudes relacionados, com a melhoria da qualidade ambiental,

principalmente no que se refere ao reaproveitamento dos resíduos, discutindo práticas de

reciclagem, reuso e reaproveitamento de materiais, com vista à práticas de educação

ambiental, visando o fortalecimento do Grupo, e contribuindo para ocupação e geração de

renda dentro de uma perspectiva de sustentabilidade, ambiental, econômica e social.

Referente às ações desenvolvidas no Jucurí, as oficinas (Quadro 01) foram

realizadas no período de novembro de 2012 a agosto de 2013, com duração de 8

horas/cada. Todas as atividades desenvolvidas foram registradas em caderno de campo e

analisadas posteriormente. Silva (2009) expõe a importância dos registros realizados em

cadernos de campo, segundo a autora as impressões dos membros dos grupos estudados

podem aprimorar a percepção, refinar a sensibilidade e os ampliar horizontes de

compreensão do pesquisador, portanto, os registros das experiências e das práticas

comunitárias são de suma importância na análise da pesquisa que adotam uma abordagem

qualitativa.

Quadro 01 – Oficinas Desenvolvidas na Comunidade Rural do Jucurí

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Oficinas Atividades Desenvolvidas Materiais Utilizados

Puff de Pneus Confecção de Puffs com

pneus velhos, expondo ao

Grupo a importância do

reaproveitamento de materiais

recicláveis, através da

reutilização.

Pneus, esponjas, tecidos, tintas

spray e um pedaço de tabua de

madeira.

Materiais

Recicláveis

Confecção de produtos

através de materiais

recicláveis advindos das

coletas seletivas realizadas na

comunidade.

Garrafas PET, tampinhas de

garrafas, recipientes plásticos de

sorvetes, caixas de papelão,

tecidos.

Sabão e

Sabonete

Produção de sabão e

sabonete a partir do

reaproveitamento de rejeitos

como o óleo residual e

glicerina.

Óleo Residual e Glicerina.

Autogestão Orientação através de

dinâmicas, para que as

mulheres despertassem a

capacidade de autogerir as

atividades desempenhadas

pelo Grupo.

Vídeos, barbante, papel madeira

e revistas usadas.

Educação

Ambiental

Orientação e apresentação ao

grupo o histórico dos resíduos

sólidos, os principais

problemas, durabilidade,

degradação, composição,

destinação final, sua gestão e

reciclagem para que tenham

um maior conhecimento sobre

o trabalho que praticam na

comunidade. Orientação ao

Grupo sobre a Educação

Ambiental e como

transvesaliza-las em suas

práticas, com vistas a

Palestra, vídeos, revistas usadas,

papel madeira, visita a uma

associação de catadores de lixo

do município.

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conscientizar a comunidade.

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

Ademais foi também realizada uma análise documental, assim foram vistos

atas de reunião, projetos e relatórios de atividades já desenvolvidas nas comunidades por

organizações não governamentais (ONGs), a exemplo da Visão Mundial, que já estava

desenvolvendo um diagnóstico dos materiais recicláveis produzidos na comunidade, antes

da realização das ações desta pesquisa. Concomitante, a realização das oficinas foi

realizada uma amostra fotográfica das atividades realizadas.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

As oficinas foram pensadas visando dialogar as experiências e as práticas do

grupo denominado: Grupo de Reciclagem das Mulheres do Jucurí, (que realiza um trabalho

de coleta seletiva na comunidade), com os ensinamentos e recomendações dos mediadores

das oficinas. Esta preocupação se encontra em consonância com a possibilidade do

reaproveitamento e da reciclagem dos materiais, com vistas à busca de mercados

consumidores, fator este considerado desafiador para consolidar a atividade do Grupo na

comunidade.

Com a necessidade de existir uma renda complementar e considerando que esta

seria uma forma de orientação ao Grupo, houve a realização de oficinas para a reutilização

dos resíduos recicláveis, transformando-os em produtos artesanais, possibilitando com isso

um descarte adequado, melhores vivências para o Grupo, contribuir com o trabalho de

conscientização e buscar caminhos para o desenvolvimento rural sustentável.

A elaboração das atividades com matérias recicláveis em trabalhos manuais veio

apresentar a variedade do que é possível fazer mediante as transformações com materiais

reaproveitáveis, através da confecção de caixas decorativas, puff de garrafa PET, descanso

de prato com tampinhas de garrafas, puff de pneus, sabão e sabonetes decorativos.

A primeira oficina foi a de utilização de pneus para fabricação de puffs (Figura

01), observou-se participação ativa das mulheres do Grupo. Verificou-se por meio dos

relatos que as participantes consideraram a importância da atividade para o ambiente e para

o Grupo, como oportunidade de aprender a trabalhar com pneus, podendo utilizá-los para

confeccionar objetos decorativos e utilizar tais peças em suas residências. Contudo, não foi

observado durante a oficina interesse das participantes em fabricá-los com a finalidade de

comercializarão, neste caso torna-se necessário intensificar as discussões acerca do

reaproveitamento dos resíduos sólidos e destacar a variável econômica da atividade.

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Figura 01 – Oficina de Puff de Pneus

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

A segunda oficina foi realizada com matérias recicláveis (Figura 02) na sua

maioria desenvolvida com materiais recolhidos durante as coletas do Grupo, via o programa

de coleta seletiva da comunidade, mas houve a necessidade de comprar materiais como

tecidos e colas, para a fabricação de algumas peças.

Nessa oficina foi elaborado um material didático pela mediadora, entre as peças

confeccionadas o puff de garrafa PET (Polietileno Tereftalato) foi a de maior destaque. No

decorrer da montagem, as participantes foram apresentando mais ideias e aprimorando o

acabamento do puff, expondo interesse na atividade. Por meio das observações notou-se

que as participantes por morarem afastadas das cidades e viverem no campo, já fazem uso

de práticas de reaproveitamento em suas residências; em relato uma das participantes

mencionou que com as oficinas podiam aprender mais técnicas para aprimorarem suas

ideias, com isso diminuiriam a quantidade de resíduos sendo destinados aos lixões ou a

fábricas de reciclagem.

Essa mesma discussão é apresentada por Montibeller-Filho (2008) ao

mencionar que a reciclagem de materiais é um processo de transformação; quando não

transforma, é reuso de produto. Transformar implica utilizar mais energia, novos materiais e

outros insumos e recursos. Além disso, tem-se que no curso dessas transformações, a

energia é degradada. Isto significa que, passo a passo, a capacidade de reelaboração é

consumida definitivamente. Por isso viu-se a necessidade de reuso do produto em

praticamente todas as oficinas.

Durante a realização dessa oficina constatou-se contradições, entre as

propostas teóricas que orientavam o Projeto e as práticas desenvolvidas, pois o objetivo de

diálogo entre a mediadora da oficina e as mulheres do Grupo, visando à criação de produtos

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a partir dos resíduos recicláveis, provenientes de suas coletas e de recursos locais foi

parcialmente alcançado, uma vez que o uso de materiais externos as comunidades, como

tecidos, linhas, entre outros aviamentos, apresentados pela mediadora foram aceitos. Cabe

lembrar que em momentos anteriores foi discutido com o Grupo que fosse utilizados

recursos locais, provenientes de suas coletas, para se internalizar a ideia de

reaproveitamento dos recursos renováveis e assim se buscar caminhos para um

desenvolvimento rural mais sustentável.

É interessante trazer para esta reflexão a discussão de que o Grupo utilizava

estratégias de adaptação, ou seja, adaptavam novas técnicas ao que fora ensinado; assim

as sugestões ensinadas pela mediadora da oficina, eram reelaboradas pelos membros do

grupo. Segundo Silva (2009) é possível proporcionar um diálogo equilibrado entre os

saberes que a comunidade detém e as contribuições que a academia pode oferecer na

intenção de ampliar e fortalecer saberes, valores e concepções locais além de possibilitar o

fortalecimento da identidade local. Essa é a postura mais aconselhável a ser adotada

quando se realiza um trabalho comunitário, no lugar de conceber a comunidade como “alvo”

de projetos, ser como “receptoras” de padrões e valores produzidos externamente, e de

concepções que se encontram fora do contexto.

É importante ressaltar que a tendência de criação de novos produtos, a partir

dos resíduos recicláveis, almeja atender ás expectativas do mercado consumidor, porém

vem a ser um desafio, pensar as possibilidades de comercialização. No entanto, mesmo

sendo perceptível a participação e o interesse do Grupo, mostrando-se participativas com

contribuições ofertadas na oficina, foi percebido que a possibilidade em comercializar os

produtos criados, não era prioridade, mas sim o consumo próprio.

Sendo assim, foi proposta, posteriormente, uma oficina de autogestão no tocante

a organização e condução das atividades que serão necessárias para a continuidade dos

processos almejados, objetivando o fortalecimento do Grupo de mulheres e as

possibilidades de comercialização dos produtos confeccionados, via mercado solidário,

espera-se que com esse momento as integrantes possam refletir sobre as

responsabilidades de fortalecimento do grupo.

Figura 02 – Oficina de Materiais Recicláveis

Page 13:  · Web viewEsta preocupação se encontra em consonância com a possibilidade do reaproveitamento e da reciclagem dos materiais, com vistas à busca de mercados consumidores, fator

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

A terceira oficina realizada foi à produção de sabão e sabonete (Figura 03) a

partir de óleo residual, enfocando o lado ambiental, social e econômico do processo de

reciclagem desse material. Verificou-se que durante a oficina uma das integrantes mostrou-

se participativa, em virtude da mesma já conhecer o processo produtivo. Apresentou

sugestões a cerca do processo e das embalagens e trouxe informações juntamente com o

ministrante da oficina.

Observou-se que durante essa atividade ocorreu maior interação entre o

mediador e o Grupo, havendo o estímulo para o Grupo participar de forma mais ativa da

atividade, as participantes puderam por em prática as orientações que tinham sido

ministradas. Ao fim da oficina o mediador reforçou a ideia de utilizar a fabricação do

sabão/sabonete de forma que as envolvidas pudessem ter uma fonte de renda alternativa,

além de ser uma escolha viável no sentido de minimizar o impacto do descarte inadequado

desse tipo de resíduo no ambiente, pois se sabe que o óleo residual é considerado causador

de poluição ambiental, gerando graves problemas de higiene e mau cheiro, além de causar

o entupimento de redes de esgoto, sendo alvo de debates e preocupações das

comunidades, haja vista os prejuízos causados pela ação danosa do homem na natureza,

tornando-se uma questão ambiental (CASCINO, 1999).

Figura 03 - Oficina de sabão e sabonete

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Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

A quarta oficina foi a de autogestão (Figura 04) no intuito de despertar a

capacidade de autogerir as atividades desempenhadas pelo Grupo foi realizada uma

dinâmica chamada teia de aranha, na qual as participantes formavam um círculo e

passavam um barbante entre elas expondo as metas almejadas. Observou-se entre as

metas mais citados, a união, o fortalecimento, a continuidade, prosperidade e compreensão

no Grupo.

É importante reforçar a relevância da reflexão sobre os próprios objetivos e

inclinações para conquista do sucesso do Grupo, o barbante representou a união entre os

membros, tendo em vista que não se conquista os objetivos individualmente. Saber ouvir o

que as outras pessoas têm a dizer, ser atencioso às ideias dos demais, assim como

desenvolver o diálogo entre o Grupo são estratégias essenciais para o fortalecimento do

mesmo.

Posteriormente foi apresentado um vídeo titulado: "Vida Maria" ano 2012, um

curta produzido por Márcio Ramos, com a duração de oito minutos e trinta e seis segundos,

que expõe a triste situação socioeconômica vivida por muitas gerações. O vídeo despertou

nas mulheres sentimentos e experiências das suas próprias vidas e gerou discussões

positivas no sentido de construção de um futuro melhor.

Logo após foi desenvolvido a segunda dinâmica denominada construção do

boneco. Inicialmente foi divido o Grupo em duas equipes, a primeira equipe construiu um

boneco utilizando materiais como, revistas, jornais, cola, tesoura, lápis e cartolina de forma

conjunta. Já a outra equipe construiu um boneco, de forma mais individualista, cada

componente construindo uma parte do corpo. Como produto dessa dinâmica foi construído

dois bonecos. Foi possível identificar que mesmo, os grupos sendo trabalhado de forma

diferente o produto final, no caso os bonecos produzidos saíram de forma proporcionais,

isso nos levou a concluir que já existe um senso de união entre o Grupo, mas que este deve

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ser bem trabalhado para o fortalecimento. Foram discutidas também as dificuldades

enfrentadas pelo Grupo, sendo citadas pelas integrantes três dificuldades principais: a falta

de um local para o armazenamento do material reciclável, a necessidade de formação de

uma associação e a falta de equipamentos de proteção individual – EPI.

Por fim, foi apresentado um texto no qual ressaltava a importância da iniciativa

individual para a construção do coletivo, ressaltando a necessidade de constituição de uma

associação ou de uma cooperativa, para formalização do grupo, tendo em vista perspectivas

futuras.

Figura 04 – Oficina de Autogestão

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

E para finalizar o ciclo de oficinas foi realizada uma oficina com o objetivo de

proporcionar ao Grupo uma compreensão sobre o que é a educação ambiental, e como ela

pode ser desenvolvida de forma transversal, tendo em vista a necessidade e importância de

conscientização da sociedade na busca pela conservação ambiental, assim possibilitando

um desenvolvimento sustentável. Durante essa atividade foi realizada uma visita técnica ao

assentamento Milagres no município de Apodi-RN (este assentamento tornou-se modelo de

desenvolvimento sustentável local no RN, sobretudo, devido ser o único que conta com o

saneamento básico), para que fosse realizada uma troca de experiência entre as

comunidades rurais, a fim de buscar exemplos de uso sustentável dos recursos naturais.

Constatou-se que as participantes ao terem essa experiência mostraram-se mais

interessadas em buscar parcerias e projetos que priorizem ações relacionadas com o uso

dos recursos naturais na comunidade. Vale ressaltar que a busca de parcerias já foi iniciada

e problemas como o transporte do material para venda já foi superado, por meio de uma

parceria realizada com a Prefeitura Municipal de Mossoró, via Gerência de Meio Ambiente,

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que cedeu o caminhão para duas vezes por semana recolher o material da coleta seletiva e

transportar para o local e venda.

É interessante ressaltar que, as economias rurais abertas não requerem grandes

avanços tecnológicos de capital, mas sim uma inovação nos sistemas de organização de

produção (melhoria de técnicas práticas) e de relações comerciais. Essas inovações trazem

a capacidade das pequenas unidades produtivas rurais de competir no mercado, e estão

relacionadas com a capacidade de gerar empregos, principalmente o auto-emprego, como

ocorre nas unidades familiares.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A posição atual da comunidade rural estudada com relação às práticas voltadas

para a questão ambiental nas realizações das oficinas podem incorporar conceitos para os

grupos trabalhados, no entanto desafios ainda são encontrados, as mudanças só ocorrerão

quando o Grupo já estiver consolidado e amadurecido, acontecendo provavelmente no

decorrer do tempo.

Foi possível identificar que mulheres do Grupo da reciclagem possuem

conhecimento empírico sobre a problemática dos resíduos sólidos. Ao enfatizar a

problemática desses na comunidade rural do Jucurí, o Grupo reconheceu os recursos

renováveis, recolhidos em suas coletas, como sendo um trabalho realizado para colaborar

com a problemática ambiental, este também considerado como uma fonte de renda, no

entanto ainda não possuem uma organização sólida para a comercialização dos produtos

criados nas oficinas realizadas, utilizando-os somente para uso próprio.

As oficinas tornaram-se fundamentais para que despertassem a necessidade de

repassar os conhecimentos adquiridos para a comunidade em geral, a cerca da importância

de uma forma mais sustentável em lidar com os recursos naturais. Todavia, é evidente que

a incorporação desta nova noção de desenvolvimento sustentável rural nas discussões

políticas, econômicas e sociais reflete a atual tendência das nações, desenvolvidas ou em

desenvolvimento, de atentarem com maior interesse e consciência para o fato da

imprescindibilidade das questões referentes ao meio ambiente, seja no seu aspecto mais

restrito local, seja no seu aspecto global.

Torna-se evidente a importância de trabalhar a temática meio ambiente, seja no

âmbito formal ou não formal, pois permite uma melhor integridade entre a população e estes

com as temáticas nos quais estão inseridos. Além de fornecer uma mudança de

pensamentos e atitudes voltados para uma melhoria da qualidade ambiental, principalmente

no que se refere ao reaproveitamento dos resíduos sólidos, como no caso da comunidade

citada.

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Portanto, a atividade de coleta seletiva, poderá contribuir para o direcionamento

de atividades econômicas que visem o desenvolvimento sustentável em comunidades

rurais, bem como se pensar em politicas públicas no sentido de fortalecer as atividades que

já vem sendo desenvolvidas.

AGRADECIMENTOS

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES),

pela concessão da bolsa de estudos na modalidade Mestrado, através da qual foi viabilizada

a elaboração deste artigo. À FAPERN/CNPq, edital PPP nº. 005/2011, pelo financiamento

da pesquisa.

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