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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 006.188/2009-6

GRUPO I – CLASSE I – Segunda CâmaraTC 006.188/2009-6Natureza: Pedido de ReexameEntidade: Departamento de Polícia Federal - DPFRecorrentes: Departamento de Polícia Federal, representado por seu Diretor, Sr. Luiz Fernando Corrêa, Ana Maria da Costa e Silva Monteiro (CPF 092.986.571-53), Gedimar Pereira Passos (CPF 119.588.201-72) e João Batista Lourenço Dias (CPF 062.159.712-00)Interessado: Francisco de Assis Correia Gomes (CPF 271.752.940-34)Advogado: Celso Luiz Braga de Lemos (OAB/DF 17.338) e Léo Rocha Miranda (OAB/DF 10.889)

SUMÁRIO: PEDIDO DE REEXAME. APOSENTADORIA ESPECIAL DE POLICIAL. CONCESSÃO COM FUNDAMENTO NA LEI COMPLEMENTAR 51/1985. NOVO ENTENDIMENTO DESTE TRIBUNAL DE CONTAS. CONTAGEM FICTA DE TEMPO DE SERVIÇO PRESTADO DURANTE A VIGÊNCIA DA LEI 3.313/1957. IMPOSSIBILIDADE. NEGADO PROVIMENTO.

RELATÓRIO

Adoto como relatório a instrução da Secretaria de Recursos – Serur (fls. 80/95, anexo 1), acolhida pelo representante do Ministério Público, Procurador Marinus Eduardo De Vries Marsico (fl. 96v, anexo 1) :

“I. HISTÓRICO PROCESSUALTratam-se de Pedidos de Reexame, interpostos pelo Departamento de Polícia Federal e por

ex-servidores da autarquia, Sra. Ana Maria da Costa e Silva Monteiro, Sr. Gedimar Pereira Passos e Sr. João Batista Lourenço Dias, pelo qual contestam o Acórdão n. 4725/2009, prolatado na Sessão Extraordinária da 2.a Câmara realizada em 8/9/2009 (fls. 28-29, v. principal).2. Por intermédio do citado aresto, o colegiado considerou ilegais as aposentadorias dos recorrentes ex-servidores, uma vez que houve a contagem ficta de tempo de serviço prestado sob a égide da Lei n. 3.371/57, correspondente a 20% do tempo efetivamente trabalhado quando da vigência desta lei, sendo que os servidores não haviam atingido os requisitos para a aposentadoria ainda quando de sua vigência. II – DO EXAME DE ADMISSIBILIDADE3. Reiteram-se os exames preliminares de admissibilidade (fls. 74-75, anexo 1; fls. 20-21, anexo 2; fls. 20-21, anexo 3; fls. 21-22, anexo 4), ratificados à fl. 77, anexo 1, fl. 23, anexo 2, e fl. 23, anexo 4, pelo Exmo. Sr. Ministro Benjamin Zymler, que entendeu pelo conhecimento dos recursos, uma vez que preenchidos os requisitos do art. 48 da Lei n. 8.443/92, suspendendo-se os efeitos em relação aos itens 9.1 e 9.3.1 do Acórdão n. 4725/2009 - TCU -2ª Câmara, que dispõem, in verbis:

9.1. julgar ilegais os atos de aposentadorias dos servidores indicados no item 3 deste Acórdão; (...)9.3.1. com fundamento nos arts. 71, inciso IX, da Constituição Federal e 262 do Regimento Interno, faça cessar, no prazo de 15 (quinze) dias, a contar da ciência desta deliberação, o pagamento

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decorrente dos atos ora considerados ilegais, sob pena de responsabilidade solidária da autoridade administrativa omissa;

4. O Acórdão n. 4725/2009-TCU-2.a Câmara também julgou ilegal a aposentadoria do Sr. Francisco de Assis Correia Gomes. Quanto a este ex-servidor do DPF, o Ofício n. 162/2010-CRH/DGP/DPF (fl. 31, v. principal), encaminhado à Secretaria de Fiscalização de Pessoal, informou que não houve sua notificação porque a entidade aguarda orientações da Sefip sobre a exclusão da contagem de tempo ficto para servidores que trabalharam sob a égide da Lei n. 3.313/57 e que integram o pólo ativo da ação judicial referente aos autos do Processo n. 2002.82.00.002598-2, em tramitação na Justiça Federal no Estado da Paraíba, conforme o Ofício n. 1757/2009-CRH/DGP/DPF, de 10/11/2009 (fl. 32, v. principal).5. Quanto ao Sr. Francisco, entende-se que o DPF deve notificá-lo, independente da circunstância de ser pólo ativo em ação judicial que trata de questão também objeto deste processo. Entretanto, cabe ao próprio ex-servidor da autarquia, vez que diretamente atingido pelo Acórdão n. 4725/2009-TCU-2.a Câmara, decidir que providência adotar a respeito da decisão do TCU, ainda que seja optar por quedar-se inerte. 6. Propõe-se, então, seja reiterada a determinação objeto do item 9.3.2 do acórdão recorrido, no sentido de que o DPF proceda à notificação do interessado, alertando a entidade que o descumprimento da determinação pode ensejar a aplicação de multa, nos termos do art. 268, VII, do Regimento Interno/TCU. III - DA ANÁLISE DE MÉRITO7. O recurso apresentado pelo Departamento de Polícia Federal compõe o anexo 1 dos autos, enquanto que os recursos interpostos por Ana Maria da Costa e Silva Monteiro, Gedimar Pereira Passos e João Batista Lourenço Dias, formam, respectivamente, os anexos 2, 3 e 4.8. Observa-se que os recursos em nome dos ex-servidores do DPF foram subscritos pelo mesmo advogado, Dr. Celso Luiz Braga de Lemos, e são idênticos em seu teor. Além disso, os pontos aventados também o foram no Pedido de Reexame apresentado pelo próprio DPF, podendo ser examinados em conjunto. 9. A seguir passa-se a analisar os argumentos trazidos aos autos pelos recorrentes.RECEPCIONALIDADE DA LEI COMPLEMENTAR N. 51 DE 20/12/1985Departamento de Polícia Federal 10. Foi apresentado o histórico da evolução normativa da aposentadoria especial dos servidores policiais. Citou-se que, na evolução constitucional brasileira, figurou a proteção às aposentadorias de categorias diferenciadas. Acrescenta que a Lei Complementar n. 51/85 tem o condão de dar efetividade ao Princípio da Isonomia.11. Houve a afirmação de que o Poder Executivo, a jurisprudência e a doutrina, quanto à análise da aposentadoria especial dos servidores policiais, concluíram pela plena vigência desta lei. Salienta que o Tribunal de Contas da União, analisando incidente de uniformização de jurisprudência nos autos do TC 010.598/2006-6, acerca da vigência da aposentadoria especial policial, posicionou-se a favor da recepção da citada lei pela CF/88. Faz referência, ainda, aos MS n. 26.165/DF e Adin n. 3.817 do STF que entenderam pela recepção da LC 51/85.Análise12. Sobre a Lei Complementar n. 51/85, o Tribunal de Contas da União, de fato, decidiu por sua eficácia, em incidente de uniformização de jurisprudência, no Acórdão n. 379/2009 - Plenário:

SumárioPESSOAL. INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA. LEI COMPLEMENTAR 51/1985. APOSENTADORIA ESPECIAL DE POLICIAL FEDERAL AOS 30 ANOS DE SERVIÇO E COM O EXERCÍCIO MÍNIMO DE 20 ANOS EM CARGO DE NATUREZA ESTRITAMENTE POLICIAL. NORMA RECEPCIONADA PELA EC N. 20/1998. 1. A Lei Complementar 51/85 não

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apresenta nenhuma incompatibilidade ou conflito em relação à Constituição e suas respectivas emendas, essa norma foi por ela recepcionada e persiste no mundo jurídico. 2. Em homenagem ao princípio da continuidade da ordem jurídica, até que venha nova regulamentação sobre a matéria, persiste a aposentadoria especial prevista na LC 51/85, vez que as normas editadas sob a égide da Constituição anterior permanecem válidas e eficazes(...)ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão Plenária, com fulcro no art. 91 do Regimento Interno – TCU, em:9.1. firmar o entendimento no sentido de que a Lei Complementar 51, de 1985, foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988, e pelas Emendas Constitucionais n.s 20, de 1998, 41, de 2003, e 47, de 2005, continuando, por conseguinte, válida e eficaz, enquanto não for ab-rogada, derrogada ou modificada por nova lei complementar federal, subsistindo, portanto, a regra de previsão de aposentadoria especial de que trata a referida lei complementar;

13. Entretanto as aposentadorias dos interessados, Sra. Ana Maria da Costa e Silva Monteiro, Sr. Gedimar Pereira Passos, Sr. João Batista Lourenço Dias e Sr. Francisco Assis Correa Gomes, foram julgadas ilegais não porque se aplicou a Lei Complementar n. 51/85, mas porque houve o cômputo de tempo ficto de serviço, correspondente a 20% do tempo efetivamente trabalhado sob a égide da Lei n. 3.313/57, sendo que os servidores não haviam atingido os requisitos para a aposentadoria ainda quando de sua vigência. TEMPO FICTODepartamento de Polícia Federal/Ana Maria da Costa e Silva Monteiro/Gedimar Pereira Passos/João Batista Lourenço Dias 14. Afirmou-se que os 20% de tempo de serviço contados a mais na transição da Lei n. 3.313/57 para a LC n. 51/85 se mostra razoável em face da expectativa de direito de quem se encontrava na iminência de completar o requisito legal de 25 anos, anteriormente previsto, e teve que se sujeitar ao regime de 30 anos de serviço. Dizem que, nessa transição, houve orientação expedida pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, por meio do Ofício n. 784/2003, para contagem de tempo com acréscimo de 20% por ano trabalhado na vigência da Lei n. 3.313/1957. 15. Foi declarado que, antes da EC n. 20/98, era admissível a existência de tempo ficto, ainda mais no sentido de resguardar o direito adquirido dos policiais, os quais tiveram sua legítima expectativa frustrada sem a edição de uma regra de transição.16. Em outra alegação, foi dito que a citada emenda estabeleceu que nenhuma forma de contribuição fictícia seria considerada como contagem de tempo para fins de aposentadoria, entretanto, assegurou, no art. 3º, a concessão de aposentadorias e pensões que, até a data de publicação, tivessem cumprido os requisitos para a obtenção do benefício. Dizem que, segundo o doutrinador Hely Lopes Meirelles, o tempo de serviço considerado pela legislação para efeito de aposentadoria é contado, até que nova lei discipline a matéria.17. Houve a menção de que o Poder Judiciário instado a se manifestar sobre o tema, por meio de execução de sentença contra a Fazenda Pública n. 2002.82.00.002598-2, em trâmite na 1a Vara Federal da Seção Judiciária da Paraíba, proposto pelo Sindicato dos Policiais Federais no Estado da Paraíba, entendeu favoravelmente a contagem dos 20%.18. Também foi alegado que o STJ possui opinião diversa ao TCU quanto ao tema, de acordo com o Recurso Especial n. 869.874-PB, em que é parte recorrida o Sindicato dos Policiais Federais da Paraíba, e citam trechos do voto do Ministro-Relator.Análise19. A despeito do Resp n. 869.874-PB, o próprio STJ tem jurisprudência de que o cômputo de tempo de serviço fictício correspondente a 20% do tempo cumprido sob a égide da Lei n. 3.313/1957, quando o servidor se aposentou na vigência da Lei Complementar n. 51/85, é ilegal,

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conforme ementa do Recurso Especial n. 412.127 – SC, da relatoria da Ministra Maria Thereza de Assis Moura:

EMENTARECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. SÚMULA 284/STF. POLICIAL FEDERAL. APOSENTADORIA. LEIS 3.313/57 E 4.878/65. SUPERVENIÊNCIA DA LEI COMPLEMENTAR 51/85. CÔMPUTO PROPORCIONAL DE 20%. IMPOSSIBLIDADE. LEI VIGENTE À ÉPOCA EM QUE PREENCHIDOS OS REQUISITOS.1. Se o recorrente limita-se a transcrever as normas que entende violadas, estas transcrições não se apresentam suficientes para empreender a necessária fundamentação do recurso especial, incidindo, assim, a Súmula 284/STF. 2. Este Tribunal, na linha do entendimento do Supremo Tribunal Federal, entende que a aposentadoria deve se regular pela lei vigente à época em que o servidor preencheu os requisitos. 3. Destarte, se o policial federal não preenchia os requisitos para aposentadoria quando entrou em vigor a LC 51/85, não tem direito à se aposentar nos termos das legislações revogadas e nem mesmo parcialmente por estas leis, mesmo que vigentes durante certo período da carreira do servidor. 4. Recurso especial provido. (grifos acrescidos).

20. O Supremo Tribunal Federal firmou sua jurisprudência no sentido de que servidor público não tem direito adquirido a regime jurídico, como nos RE 602029 AgR/MG, AI 774377 AgR/PR, AI 720887 AgR/PR e no AI 703865 AgR/PR.21. Ademais, o Tribunal de Contas da União possui reiterada jurisprudência de que esta contagem é ilegal, como os recentes Acórdãos n.s 157, 313, 599 e 1.054 todos de 2010 - Segunda Câmara. Também foi nesta linha que o Exmo. Ministro Aroldo Cedraz prolatou seu voto no Acórdão 870/2010 - Segunda Câmara:

Voto do Ministro Relator2. Conforme consignado pelo Parquet especializado, o Tribunal, em diversas assentadas, entendeu que é indevida a contagem ficta de tempo de serviço prestado sob a égide da Lei 3.313/1957, proporcional ao aumento do tempo de serviço para aposentadoria implementado pela Lei Complementar 51/1985.3. A Lei 3.313/1957 estabeleceu, como requisito para fins de aposentadoria com proventos integrais, o cumprimento de 25 anos de serviço prestado em atividade estritamente policial. Esse requisito para inativação foi majorado por força da Lei Complementar nº 51/1985, a qual passou a exigir, como requisito de aposentadoria voluntária, 30 anos de serviço, desde que, desse total, 20 anos fossem prestados em cargo de natureza estritamente policial.4. A jurisprudência deste Tribunal é pacífica no sentido de que o direito à aposentadoria é regido pela lei em vigor na ocasião em que o servidor implementou todos os requisitos necessários para a obtenção do benefício, inclusive o temporal. Por sua vez, a jurisprudência do Poder Judiciário, em especial a do Supremo Tribunal Federal está consolidada no sentido de que não há direito adquirido a regime jurídico.5. Assim, somente pode ser reconhecido direito adquirido ao regime de aposentadoria instituído pela Lei 3.313/1957 ao servidor que tenha cumprido os requisitos necessários para a concessão da aposentadoria na época em que se verificou a alteração legislativa referida no item 2 acima.6. Portanto, os servidores inativos do Departamento de Polícia Rodoviária Federal cujos atos ora se examinam não têm direito à fórmula de contagem de tempo de serviço prevista na Lei 3.313/1957, porquanto por ocasião das respectivas inativações a referida norma legal já se encontrava revogada e os servidores não haviam preenchido as condições necessárias para a aposentadoria na vigência daquele diploma legal.

CONTAGEM DE TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO DOS SERVIDORES APOSENTADOS NA INATIVIDADEDepartamento de Polícia Federal /Ana Maria da Costa e Silva Monteiro/Gedimar Pereira Passos/João Batista Lourenço Dias22. Houve a defesa de que, pela nova ordem constitucional, a implementação da aposentadoria depende de tempo de contribuição, não havendo mais o critério tempo de serviço, e cita que os

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servidores aposentados continuam contribuindo. Portanto, caso o Tribunal entenda por bem excluir os 20% resultantes da alteração da Lei n. 3.313/57 pela LC n. 51/85, afirmam que se deverá computar o tempo de contribuição dos servidores aposentados na inatividade.23. Foi dito, ainda, que a Lei n. 8.112/90 traz, em seu artigo 103, que o tempo em que o servidor esteve aposentado deverá ser considerado para uma eventual nova aposentadoria e que a Súmula 74 do TCU dispõe que se admite a contagem do tempo de serviço de inatividade, com o objetivo de suprir lacuna deixada pela exclusão de tempo de serviço não computável, quando este for anterior à publicação da EC n. 20.24. Outro ponto citado foi que o Decreto n. 3.048/99 dispõe: ‘Art. 60. Até que lei específica discipline a matéria, são contados como tempo de contribuição, entre outros: (...) III - o período em que o segurado esteve recebendo auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez, entre períodos de atividade’ e que a Orientação Normativa SPS n. 3 de 3/8/2004 indica que não pode ser considerado tempo ficto quando haja pelo servidor contribuição ou prestação de serviço.Análise25. Quanto à contagem do tempo de inatividade para nova aposentadoria, a Emenda Constitucional 20/98 incluiu no art. 40 da CF/88 o §10 que dispõe: ‘A lei não poderá estabelecer qualquer forma de contagem de tempo de contribuição fictício’. A aplicação da Súmula 74 do TCU só é para aqueles que tenham adquirido o direito antes da promulgação da Emenda Constitucional n. 20/1998 (Acórdãos 815/2008 – 2ª Câmara, 960/2008- 1ª Câmara e 957/2008 – 1ª Câmara). Quanto a este tema, o Plenário acolheu o voto do Exmo. Ministro Benjamin Zymler, por meio do Acórdão 1.072/2007, que tratou de consulta da Câmara dos Deputados sobre a aplicação do enunciado n. 74 da súmula de jurisprudência do TCU após o advento da EC n. 41/2003:

(...)Assim, claro está que a situação do inativo diverge da situação do ativo, no tocante ao quesito contribuição social. Em primeiro lugar, porque a União não contribui em relação ao servidor inativo. Em segundo lugar, conforme apontado pela Sefip, a contribuição paga é menor que a do ativo, por conta do limite de isenção previsto no art. 5º daquela norma, nos seguintes termos:‘Art. 5º Os aposentados e os pensionistas de qualquer dos Poderes da União, incluídas suas autarquias e fundações, contribuirão com 11% (onze por cento), incidentes sobre o valor da parcela dos proventos de aposentadorias e pensões concedidas de acordo com os critérios estabelecidos no art. 40 da Constituição Federal e nos arts. 2º e 6º da Emenda Constitucional nº 41, de 19 de dezembro de 2003, que supere o limite máximo estabelecido para os benefícios do regime geral de previdência social.’De ver que a contribuição do inativo não se presta a garantir individualmente sua aposentação ou eventual benefício pensional, mas possui como objetivo maior assegurar a viabilidade do sistema como um todo. É dizer, atende ao caráter solidário estipulado no caput do art. 40 da Constituição Federal. Por conseguinte, o fato de haver contribuição do inativo é irrelevante, por si só, para assegurar o cômputo do período de inatividade. Para que isso fosse possível, seria necessário que houvesse norma legal dispondo sobre a contribuição da União e sobre a complementação dos valores pagos a menor pelo servidor, enquanto na inatividade.Não pode a Corte suprimir essa lacuna legal por meio do Enunciado n.º 74, cuja aplicação tem ficado restrita aos períodos anteriores à EC n.º 20/1998, ou estipular condições outras não previstas em lei para o pagamento do tributo.Dessarte, a resposta ao questionamento formulado - ‘nos casos de retorno à atividade, por qualquer razão, após a edição das Emendas Constitucionais n.º 20, de 1998, e 41, de 2003, o tempo de contribuição como inativo poderá ser computado para a concessão de nova aposentadoria?’ - deve ser negativa.

26. Deste modo, como os recorrentes ex-servidores se aposentaram todos em 2003, não há mais como haver a contagem fictícia de tempo de serviço. Além disso, o citado inciso do Decreto n. 3.048/99 não se aplica ao caso em análise porque aborda auxílio-doença e aposentadoria por invalidez.

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CRITÉRIOS DE CÁLCULO DA APOSENTADORIA ESPECIAL DOS SERVIDORES POLICIAIS Departamento de Polícia Federal 27. Afirmou que o Acórdão recorrido diverge da Decisão Plenária do TC 010.568/2006-6 que homologou aposentadorias especiais com paridade e integralidade e com outras decisões do TCU.28. Defende que o art. 40 da Constituição Federal de 1988 prevê a existência de dois regimes jurídicos de aposentadoria dos servidores públicos: o comum, regido pelo § 1º, e o especial, previsto no § 4º, no qual a categoria dos servidores policiais se enquadra, que deve ser tratado por Lei Complementar, adotando requisitos e critérios diferenciados. 29. Foram citados os doutrinadores Carlos Maximiliano, que dispõe sobre direito comum e singular e a necessidade de normas especiais, e Noberto Bobbio, que ensina que a lei específica é aplicada em detrimento da norma geral.30. Houve a alegação de que a Lei n. 10.887/2004, que trata do regime geral de cálculo das aposentadorias, não se aplica aos policiais, tendo em vista que a Constituição remeteu à Lei Complementar a competência para disciplinar suas aposentadorias.31. Mencionou-se ainda, que a própria Lei n. 10.887/2004 refere-se aos regimes de cálculos do § 3º do art. 40 da CF/88, não enquadrando o § 4º, e que dispositivo que inseria os regimes previstos nos §§ 3º e 4º na citada lei não prosperou por ser inconstitucional. Salienta que a regra de excepcionalidade do § 4º alcança a inteireza do art. 40 da Constituição Federal e não apenas o regime referido em seus §§ 1º e 3º.32. A Lei Complementar n. 51/85, em seu art. 1º, inciso I, foi citada para defender que garante o pagamento com proventos integrais:

Art.1º - O funcionário policial será aposentado:I - voluntariamente, com proventos integrais, após 30 (trinta) anos de serviço, desde que conte, pelo menos 20 (vinte) anos de exercício em cargo de natureza estritamente policial;33. A Lei n. 4.878/65, que trata do atual regime disciplinar do policial federal, segundo alegado, trouxe disposição específica no tocante à paridade do policial:Art. 38. O provento do policial inativo será revisto sempre que ocorrer:a) modificação geral dos vencimentos dos funcionários policiais civis em atividade; oub) reclassificação do cargo que o funcionário policial inativo ocupava ao aposentar-se.

34. Houve a defesa, ainda, de que a Lei n. 4.878/65, apesar de ordinária, foi recepcionada pela ordem constitucional estabelecida em 1988, pelo seu conteúdo, como norma de caráter complementar, como ocorre com o Código Tributário Nacional. Afirmou que a CF/46 determinava a edição de lei ordinária sobre o tema, que foi tratado pela citada lei, já a CF/67 estabeleceu que este assunto seria tratado por lei complementar. Completam, afirmando, que os regimes constitucionais subsequentes recepcionam as normas infraconstitucionais anteriores, desde que haja compatibilidade material, com a natureza jurídica que a nova ordem constitucional lhes imprime, mesmo que mais rígida.35. Deste modo, a conclusão foi no sentido de que o regime geral tratado pelo art. 40 da CF/88 é regulamentado pela Lei n. 10.887/2004 e o regime especial e excepcional, disposto no § 4º, é tratado pelas LC 51/85 e Lei n. 4.878/65.36. O Tribunal de Contas do Distrito Federal foi citado, pois em consulta do Diretor Geral da Polícia Civil do DF, posicionou-se pela inaplicabilidade da Lei n. 10.887/04 aos servidores aposentados sobre as regras da LC n. 51/85.37. Defendeu que há incompatibilidade entre a Lei n. 11.358/2006, que dispõe sobre a remuneração dos integrantes da carreira policial por subsídio, e a Lei n. 10.887/2004, pois esta apenas excepcionalmente vem sendo aplicada aos integrantes da carreira da Polícia Federal, nas aposentadoria com proventos proporcionais, quando não há enquadramento pela LC n. 51/85.

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38. Houve a defesa da tese de que o cálculo dos proventos de aposentadoria especial deve receber tratamento diferenciado foi reforçada pelo Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão quando determinou, por meio da Nota Técnica 203/2009/COGES/DENOP/SRH/MP, que fosse aplicado o denominador 30 avos nos cálculos de aposentadoria proporcional de servidores policiais homens, entendimento amparado por decisões do TCU.Análise39. Quanto a esta matéria, esta Corte de Contas decidiu por intermédio do Acórdão 582/2009-Plenário:

9.1.3. a aplicação da Lei Complementar n. 51/1985 não afasta a incidência da regra geral relativa aos cálculos dos proventos insculpida no § 3º do art. 40 da Constituição Federal, salvo para os policiais que implementaram os requisitos legais de inativação até 19.2.2004, véspera da publicação da Medida Provisória n. 167/2004, convertida na Lei n. 10.887/2004;

40. Conforme se observa, o TCU levou em consideração que o servidor aposentado excepcionado no § 4º do art. 40 da CF/88 estava submetido à metodologia de cálculo prevista no § 3º do mesmo artigo. Todavia os recorrentes alegam que, de acordo com a própria Constituição, esses servidores, quando aposentados, estão submetidos a outro método de cálculo.41. Desta forma, necessário é interpretar qual a intenção da Constituição. Conforme Paulo Bonavides, a interpretação das normas jurídicas ‘trata-se evidentemente de operação lógica, de caráter técnico mediante a qual se investiga o significado exato de uma norma jurídica, nem sempre clara ou precisa. Busca a interpretação, portanto estabelecer o sentido objetivamente válido de uma regra de direito.’ (Bonavides, 2009). 42. Existem vários métodos de interpretação constitucional, todavia, conforme Luís Roberto Barroso, ‘toda interpretação jurídica deve partir do texto da norma, da revelação do conteúdo semântico das palavras’ (Barroso, 2009), ou seja, da interpretação gramatical. A Constituição Federal dispõe em seu art. 40:

Art. 40. Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime de previdência de caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo. § 3º Para o cálculo dos proventos de aposentadoria, por ocasião da sua concessão, serão consideradas as remunerações utilizadas como base para as contribuições do servidor aos regimes de previdência de que tratam este artigo e o art. 201, na forma da lei. § 4º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de aposentadoria aos abrangidos pelo regime de que trata este artigo, ressalvados, nos termos definidos em leis complementares, os casos de servidores: I portadores de deficiência; II que exerçam atividades de risco; III cujas atividades sejam exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física. (grifos acrescidos).

43. Entende-se que os servidores policiais se enquadram tanto no inciso II, quanto no inciso III do § 4º. De acordo com a leitura do artigo e parágrafos acima, verifica-se que a Constituição ressalva, claramente, dos requisitos e critérios gerais do § 3º, os servidores enquadrados no § 4º. 44. Outro método de hermenêutica ensinada pelos doutrinadores e aplicável ao caso em análise, é a interpretação histórica que, conforme Barroso, ‘consiste na busca do sentido da lei através dos precedentes legislativos, dos trabalhos preparatórios e da occasio legis.’ (Barroso, 2009).45. Conforme mencionado pelo Departamento de Polícia Federal (fls. 3/4, anexo 1), a categoria policial sempre mereceu tratamento diferenciado nas normas constitucionais:

Constituição de 1937

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Art. 156 - O Poder Legislativo organizará o Estatuto dos Funcionários Públicos, obedecendo aos seguintes preceitos desde já em vigor: (...)d) serão aposentados compulsoriamente com a idade de sessenta e oito anos; a lei poderá reduzir o limite de idade para categorias especiais de funcionários, de acordo com a natureza do serviço. (grifos acrescidos)Constituição de 1967Art. 100 - O funcionário será aposentado:§ 2º - Atendendo à natureza especial do serviço, a lei federal poderá reduzir os limites de idade e de tempo de serviço, nunca inferiores a sessenta e cinco e vinte e cinco anos, respectivamente, para a aposentadoria compulsória e a facultativa, com as vantagens do item I do art. 101. (grifos acrescidos)Emenda Constitucional n. 1/1969Art. 103. Lei complementar, de iniciativa exclusiva do Presidente da República, indicará quais as exceções às regras estabelecidas, quanto ao tempo e natureza de serviço, para aposentadoria, reforma, transferência para a inatividade e disponibilidade. (grifos acrescidos)

46. Além disto, a revogada Lei n. 3.313/57 garantia aos servidores do Departamento Federal de Segurança Pública, em seu art. 1º, inciso II, aposentaria com vencimentos integrais ao completarem 25 anos de serviço. Desse modo, essa categoria sempre foi tratada de forma diferenciada.47. Observa-se, ainda, que a Constituição Federal de 1988 delegou à Lei Complementar a normatização de requisitos e critérios para a concessão de aposentadoria aos policiais. Como o TCU já firmou entendimento que a Lei Complementar n. 51/85 foi recepcionada pelo ordenamento constitucional vigente, a integralidade dos proventos dos policiais aposentados está garantida pelo art. 1º, inciso I:

Art.1º - O funcionário policial será aposentado:I - voluntariamente, com proveitos integrais, após 30 (trinta) anos de serviço, desde que conte, pelo menos 20 (vinte) anos de exercício em cargo de natureza estritamente policial; (grifos acrescidos)

48. O Ministro-Relator Valmir Campelo proferiu voto revisor nos autos do TC 020.225/2006-7 no sentido de que, já que a Lei Complementar 51/85 foi totalmente recepcionada pela CF/88, os policiais aposentados têm direito aos proventos integrais, conforme art. 1º, inciso I. 49. Acrescenta que o STF, por intermédio do MS 26.165 interposto contra decisões desta Corte de Contas, decidiu que a Constituição, desde sua redação original, admite a adoção, por meio de lei complementar, de requisitos e critérios diferenciados para concessão de aposentadoria aos servidores públicos que exerçam atividades perigosas e que a EC n. 20/1998 não afastou essa possibilidade, mantida na EC n. 47/2005 e que, deste modo, o art. 1º, inciso I, da LC n. 51/85 foi recebido pela Constituição do Brasil, bem como pelas emendas que alteraram a matéria. Conclui, assim, que o § 3º do art. 40 da CF/88 e a Lei n. 10.887/2004, que o regulamenta, não se aplicam aos servidores policiais.50. Quanto à paridade de proventos, o Departamento de Polícia Federal alega que a Lei n. 4.878/65, que dispõe sobre o regime jurídico peculiar dos funcionários policiais civis da União e do Distrito Federal, foi recepcionada, nesta parte, como Lei Complementar:

Art. 38. O provento do policial inativo será revisto sempre que ocorrer:a) modificação geral dos vencimentos dos funcionários policiais civis em atividade; oub) reclassificação do cargo que o funcionário policial inativo ocupava ao aposentar-se. (grifos acrescidos)

51. Quanto ao fenômeno da recepção, Alexandre de Morais ensina que ‘consiste no acolhimento que uma nova constituição posta em vigor dá às leis e atos normativos editados sob a égide da Carta anterior, desde que compatíveis consigo’. (Morais, 2009). Em relação à possibilidade de recepção de lei ordinária, como complementar o doutrinador completa ‘O fenômeno da recepção, além de receber materialmente as leis e atos normativos compatíveis com a nova Carta, também

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garante a sua adequação à nova sistemática legal’ (Morais, 2009). Desse modo, quando lei anterior é ordinária e trata de assunto que a nova Constituição remete à Lei Complementar, é recepcionada como se dessa natureza fosse.52. No que concerne à citada decisão do Tribunal de Contas do Distrito Federal, que tratou de consulta formulada pelo Diretor-Geral da Polícia Civil do Distrito Federal acerca da possibilidade de manter a regra da paridade aos proventos dos servidores que foram aposentados por invalidez na vigência da Emenda Constitucional n. 41/2003, decerto determinou a aplicação do Regime Jurídico disciplinado pela Lei n. 4.878/1965, conforme segue:

Decisão 4852/2007O Tribunal, por maioria, acolhendo voto do Revisor, Conselheiro RENATO RAINHA, fs. 125-161, com o qual concorda a Conselheira MARLI VINHADELI, pelos fundamentos expressos em seu voto de vista datado de 14 de agosto último, fs. 194-215, decidiu: I - tomar conhecimento da consulta em apreço; II - esclarecer ao órgão consulente que: a) em relação à paridade: a.1) deixou de ter sede ordinária e passou a ter sede constitucional, em face da expressa revogação do parágrafo único do art. 6º da Emenda Constitucional n. 41/2003, pelo art. 5º da Emenda Constitucional n. 47/2005; a.2) é aplicável: a.2.1) ao servidor admitido até 16.12.1998 (data de vigência da Emenda Constitucional n. 20/1998), que poderá se inativar com proventos integrais com fundamento no art. 3º e parágrafo único da Emenda Constitucional n. 47/2005;a.2.2) ao servidor admitido no serviço público até 31.12.2003 (data de vigência da Emenda Constitucional n. 41/2003), que poderá se aposentar com proventos integrais com fundamento nos arts. 6º e 7º da Emenda Constitucional n. 41/2003, c/c o art. 2º da Emenda Constitucional n. 47/2005; a.2.3) às concessões que tenham por fundamento o disposto no art. 3º da Emenda Constitucional n. 41/2003, o que preserva o direito adquirido daqueles que tenham atendido os pressupostos estabelecidos na legislação então vigente;b) no tocante à integralidade: b.1) é aplicável: b.1.1) aos que ingressaram no serviço público até 16.12.1998, nos termos do art. 3º da Emenda Constitucional n. 47/2005; b.1.2) aos que ingressaram no serviço público até 31.12.2003, de acordo com previsão contida no art. 2º da Emenda Constitucional n. 47/2005, c/c o art. 6º da Emenda Constitucional n. 41/2003; b.2) não é aplicável: b.2.1) aos que se aposentarem por invalidez permanente não decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável, especificada em lei;c) ao servidor público admitido após a data de vigência da Emenda Constitucional n. 41/2003 (31.12.2003) não se aplicam a paridade e a integralidade, excetuados, na segunda hipótese, os casos de incapacidade decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável, especificada em lei, aos quais é garantida a integralidade na forma da lei (art. 40, § 1º, inciso I, da Constituição Federal, com a redação que lhe deu a Emenda Constitucional n. 41/2003);d) permanece em vigor a Lei Complementar n. 51/1985, enquanto não revogada ou modificada por outra lei complementar, consoante estabelece o § 4º do art. 40 da Constituição Federal, com a redação dada pela Emenda Constitucional n. 47/2005, tendo em vista ser compatível com as novas regras estabelecidas para aposentadoria comum, em razão do caráter especial atribuído às aposentadorias dos servidores que exercem atividades em condições de risco à saúde e a integridade física, prevista naquele dispositivo constitucional; e) devem continuar sendo observados os termos da Decisão n. 6.868/2006 (aplicação do Regime Jurídico disciplinado pela Lei n. 4.878/1965, e, subsidiariamente, daquele estabelecido pela Lei n.

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8.112/1990), pois que seus fundamentos não se revelam incompatíveis com a recente reforma previdenciária; (grifos acrescidos)(...)

53. O Secretário da Sefip, em parecer nos autos do TC 020.320/2007-4, que trata de assunto semelhante ao destes autos, ratificou entendimento quanto à legalidade do pagamento da integralidade baseada no art. 1º, inciso I, da Lei Complementar n. 51/85. No que concerne à paridade, baseado no art. 38 da Lei n. 4.878/65, o Exmo. Secretário conclui pela sua plena validade e legalidade tendo em vista que não foi verificado junto ao STJ ou STF existência de qualquer decisão que pudesse comprometer a eficácia do art. 38 e que o STJ entendeu que a Lei n. 4.878/65 não foi revogada pela Lei 8.112/90, em razão de esta ser de caráter geral e aquela de caráter específico.54. Sendo assim, diante de todo exposto, conclui-se que os policiais regidos pela Lei Complementar n. 51/85 não se sujeitam ao disposto na Lei n. 10.887/2004, pois possuem regime próprio de aposentadoria.IMPOSSIBILIDADE DE SERVIDORES APOSENTADOS RETORNAREM À ATIVA E SEGURANÇA JURÍDICADepartamento de Polícia Federal 55. Diz que devem ser resguardadas, no mínimo, as situações dos servidores aposentados há mais de 5 anos, em homenagem ao princípio da segurança jurídica e da teoria do fato consumado, amplamente adotado no âmbito do STJ.56. Afirma que a não aplicação dos institutos da paridade e integralidade, contemplados na LC n. 51/85 e na Lei n. 4.878/65, poderia instalar o caos na segurança pública, pois afetaria não somente a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal, mas também as polícias nos estados da Federação. Menciona que não haveriam vagas disponíveis para os servidores inativos retornarem ao exercício do cargo até o implemento dos requisitos de idade, necessários à obtenção do direito de paridade e integralidade segundo as regras de transição da EC n. 41/03 e, por outro lado, a Administração não poderia exonerar os últimos servidores que se submeteram às diversas etapas do concurso público, tendo em vista o número limitado de cargos públicos, somente alterável mediante lei.57. Menciona que interpretação equivocada da LC n. 51/85 geraria a necessidade, quase impossível, de revisão de todos os atos de aposentaria baseados nela. Acrescenta que a Administração, quando do retorno dos servidores aposentados, teria que os treinar para adequá-los às novas técnicas de trabalho e se valer de uma força de trabalho já diminuída em face da idade. Cita que as atribuições da atividade policial tem riscos que, sem o treinamento adequado, pode submeter a risco de vida o servidor e a população.58. Expõe que a aposentadoria é um ato complexo, e, por gerar direitos e obrigações desde seu nascedouro é que, em nome do princípio da segurança jurídica, não é razoável que, após tantos anos, os servidores tenham que arcar com o ônus da mora administrativa e retornar à atividade, sem sequer passar por um processo onde lhe tenham sido assegurados o contraditório e a ampla defesa.59. Cita que a teoria do fato consumado consiste na estabilização dos atos jurídicos pelo transcurso do tempo e inércia do próprio Estado e que sua aplicação decorre da prevalência, no caso concreto, da segurança jurídica, da boa fé e da dignidade da pessoa humana em detrimento do princípio da legalidade estrita. 60. Diz ainda que o custo de um treinamento e novos profissionais na Academia Nacional de Polícia é de 35 a 45 mil reais por aluno. Menciona que a Polícia Federal concedeu em 2009 aproximadamente 300 aposentadorias aos seus servidores e que, ao longo dos anos, se teria em torno de 3000 aposentadorias em confronto com a Lei n. 10.887/04.

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Ana Maria da Costa e Silva Monteiro/Gedimar Pereira Passos/João Batista Lourenço Dias 61. Afirmam que se encontram aposentados de longa data e citam trecho de parecer de ex-Consultor-Geral da República, que diz que a demora excessiva para julgamento final de aposentadoria fere a Segurança Jurídica. Citam o Mandados de Segurança n.s 24.448 e 25.116 que versam sobre o mesmo tema e o direito à razoável duração do processo. 62. Dizem que a alternativa permitida pela Coordenação de Recursos Humanos da Polícia Federal de retorno à atividade parte do sofisma de que os recorrentes estejam em condições de atenderem ao chamamento para o exercício do cargo público, o que pode não ser verdadeiro. Menciona, ainda, que o retorno à atividade, lhes oneraria, pois deixaria de ter o ganho pecuniário sem o respectivo trabalho e atrapalharia possíveis projetos pessoais decorrentes da condição de aposentado. Deste modo, expõe que a suspensão do pagamento ou o retorno à atividade feririam o princípio jurídico ex facto oritur jus que impõe a observância das normas jurídicas para a conservação e desenvolvimento do indivíduo e da sociedade.Análise 63. O STF tem jurisprudência assentada (MS 24.997-8/DF, MS 24.958-7/DF e MS 25.015-1/DF), corroborada pelo TCU (Acórdãos n.s 241/2006 – Plenário; 5680/2008 e 3978/2009 da 2ª Câmara; e 523/2006, 3123/2007, 952/2008, 1196/2008 e 3471/2009 da 1ª Câmara), de que o ato de aposentadoria, por ser de natureza complexa, somente se aperfeiçoa, se iniciando o prazo para sua anulação, com o exame pelo Tribunal de Contas, nos termos do art. 71, III, da Constituição Federal.64. Ademais, o STF e TCU têm concedido registro aos atos de pessoal ilegais somente com mais de 10 anos entre a emissão do ato e o julgamento pelo TCU, em atenção ao princípio da Segurança Jurídica (Acórdãos TCU n.s 6221, 6222, 6.226 e 6227 todos de 2009 – 1ª Câmara e 868/2010 – Plenário e MS/STF ns. 26.117 e 28.150). O citado MS 25.448, excepcionalmente, diz que devem ser resguardadas as aposentadorias com mais de 5 anos, todavia, no âmbito desta Corte tem prevalecido, como visto, a manutenção das situações jurídicas estabelecidas no mínimo há 10 anos. 65. Quanto à ofensa aos princípios do contraditório e da ampla defesa, o TCU e o Supremo Tribunal Federal entendem que nos processos de apreciação da legalidade de atos de aposentadoria o não chamamento do interessado não configura afronta a esses, tendo em vista que eles podem ser ouvidos na fase recursal, conforme Súmula Vinculante n. 3 do STF:

Nos processos perante o tribunal de contas da união asseguram-se o contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou revogação de ato administrativo que beneficie o interessado, excetuada a apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma e pensão.

66. Em relação ao eventual retorno dos interessados à ativa provavelmente implicaria em algum transtorno, com mudança de suas rotinas e necessidade de readaptação à atividade laboral. Também para o Departamento de Polícia Federal haveria claras implicações, podendo ocorrer algumas dificuldades, como até mesmo a falta de espaço físico para receber novamente os ex-servidores. Porém, segundo as informações constantes dos autos, a par de tais dificuldades para a autarquia e os ex-servidores, o seu retorno à ativa não é de todo impossível. 67. Neste ponto é oportuno tecer algumas considerações. 68. Há no presente processo um claro conflito entre dois princípios jurídicos de evidente relevância; de um lado o Princípio da Legalidade e, de outro, o Princípio da Segurança Jurídica. 69. Uma vez observado o Princípio da Legalidade, estaria resguardado o Erário, pois que os interessados voltariam à atividade laborativa, contribuindo para a Previdência Social pelo tempo que lhes resta para cumprir os 30 anos de serviço da Lei Complementar n. 51/1985. Além disso, o Estado poderia novamente contar com sua força de trabalho. Por outro lado, os interessados teriam que retornar ao labor após cerca de 7 anos do início da vigência de suas aposentadorias, em afronta ao Princípio da Segurança Jurídica, segundo alguns julgados do STF.

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70. Por sua vez, caso privilegiado o Princípio da Segurança Jurídica, ter-se-ia que os interessados seriam dispensados da volta ao trabalho no DPF, evitando-se o retorno de servidores que já se encontram há longo período de tempo afastados da atividade profissional. No entanto, o pagamento de proventos calculados a partir de interpretação equivocada de normas legais se propagaria no tempo, além de o Estado não poder usufruir do resultado de seu labor. 71. No presente caso seriam, então, por assim dizer, dois os empecilhos para prosperarem as aposentadorias dos interessados nos moldes em que foram concedidas pelo Departamento de Polícia Federal: a contagem de tempo ficto após a promulgação da EC n. 20/98 e a ausência de recolhimento de contribuições relativas a este período.72. Diante desse quadro, e analisando as discriminações dos tempos de serviço e averbações dos interessados (fls. 4, 9, 14, 19, v. principal), observa-se que, desconsiderados os tempos relativos aos 20% da Lei n. 3.313/57, os ex-servidores do DPF teriam que voltar à atividade laboral por períodos que variam entre aproximadamente 10 e 18 meses, para, então, poderem ser aposentados com fulcro no art. 1.o, inciso I, da Lei Complementar n. 51/85, vez que preenchem o requisito de terem no mínimo 20 anos de atividade estritamente policial, mas ainda não completaram os 65 anos de idade previstos no inciso II do citado artigo para lograrem aposentar-se ao menos com proventos proporcionais.Interessado/Tempos (a) Tempo de

Serviço para Aposentadoria

(b) 20% da Lei n. 3.313/57

(c) = (a) - (b) 30a - (c)

Ana Maria da Costa e Silva Monteiro

30a 03m 26d 1a 10m 02d 28a 05m 24d 1a 06m 06d

Gedimar Pereira Passos 31a 01m 03d 2a 01m 09d 28a 11m 24d 1a 06dJoão Batista Lourenço Dias

30a 03m 1a 03 m 10d 28a 11m 20d 1a 10d

Francisco Assis Correa Gomes

31a 00m 05d 1a 10m 02d 29a 02m 03d 9m 27d

73. Em relação à falta do labor dos interessados entende-se que os argumentos trazidos pelo DPF, bem como, pelos próprios recorrentes, são suficientes para no mínimo suscitarem dúvidas sobre a conveniência de seu retorno ao trabalho, por períodos que variam entre cerca de 10 e 18 meses, embora, como visto anteriormente, segundo as informações que se extraem dos autos não há qualquer óbice intransponível ao seu retorno ao trabalho no DPF. 74. Neste particular cabe citar o Acórdão n. 2563/2010-TCU-1.a Câmara, que também versou sobre Pedido de Reexame apresentado pelo mesmo DPF. No caso, foi dispensado o retorno de um aposentado à ativa, embora por período de apenas cerca de 2 meses, enquanto no caso em exame se verifica lacuna de até 18 meses, cabendo ao colegiado julgador no Tribunal avaliar a pertinência do julgamento pela legalidade das aposentadorias dos interessados que figuram na tabela do item 72. 75. Em relação à ausência de recolhimento de contribuições relativas ao período considerado como tempo ficto não se vislumbra solução viável juridicamente. 76. Em algumas situações o TCU tem aceitado o recolhimento de contribuições relativas a períodos trabalhados em momento pretérito, a exemplo do Acórdão n. 6727/2009-TCU-2.a Câmara, sobre serviço prestado na condição de aluno-aprendiz, entretanto, no presente caso, por se tratar de tempo ficto de serviço, não houve a sua efetiva prestação pelos ex-servidores do DPF. 77. Tampouco haveria fundamentação legal para que a União aceitasse a complementação das contribuições que vêm sendo realizadas após a inativação dos interessados, como analisado no voto condutor do Acórdão 1.072/2007-TCU-Plenário (item 25). Do mesmo modo, talvez ainda mais inviável o simples recolhimento por assim dizer ‘adiantado’ de contribuições relativas aos períodos que ainda restam para os interessados completarem os 30 anos de serviço exigidos pela LC n. 51/85, sem a posterior prestação do serviço.

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78. Enfim, de acordo com a análise realizada considerou-se que a Lei Complementar n. 51/85 foi recepcionada pela CF/88, e teve-se como legal a paridade e a integralidade. Porém, entendeu-se não ser possível a contagem de tempo de contribuição na inatividade e restou ilegal o cômputo do tempo ficto relativo à Lei n. 3.313/57, além de, segundo a jurisprudência do TCU, não ter havido afronta ao Princípio da Segurança Jurídica. 79. Nesse passo, restam ilegais as concessões de aposentaria em favor da Sra. Ana Maria da Costa e Silva Monteiro, bem como dos Srs. Gedimar Pereira Passos, João Batista Lourenço Dias e Francisco Assis Correa Gomes, não havendo como prosperar os Pedidos de Reexame ora em análise. IV - DA PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO

Pelo exposto, submete-se o presente processo à consideração superior, propondo a adoção das seguintes medidas:a) conhecer dos Pedidos de Reexame do Acórdão n. 4725/2009-TCU- 2ª Câmara interpostos pelo Departamento de Polícia Federal e pelos interessados Sra. Ana Maria da Costa e Silva Monteiro e Srs. Gedimar Pereira Passos e João Batista Lourenço Dias com base no art. 48 da Lei n. 8.443/92, para, no mérito, considerá-los improcedentes; b) determinar ao Departamento de Polícia Federal que comunique ao Sr. Francisco Assis Correa Gomes o teor do Acórdão n. 4725/2009-TCU-2.a Câmara, assim como da decisão que vier a ser proferida acerca dos Pedidos de Reexame interpostos, alertando a entidade que o descumprimento da determinação pode ensejar a aplicação de multa, nos termos do art. 268, VII, do Regimento Interno/TCU. c) dar ciência da decisão que vier a ser proferida nestes autos aos recorrentes.”

É o Relatório.

VOTO

Cuidam os autos de atos de aposentadoria de ex-servidores do Departamento de Polícia Federal, apreciados por esta Corte de Contas por meio do Acórdão nº 4.725/2009 – 2ª Câmara, que julgou ilegais os atos de aposentadoria da Sra. Ana Maria da Costa e Silva Monteiro e dos Srs. Francisco de Assis Correia Gomes, Gedimar Pereira Passos e João Batista Lourenço Dias em face do acréscimo indevido de 20% sobre o tempo de serviço, decorrente da contagem ficta de atividade prestada sob a égide da Lei nº 3.313/1957. 2. Examina-se, nesta oportunidade, os Pedidos de Reexame interpostos pela Sra. Ana Maria da Costa e Silva Monteiro (fls. 1/17, anexo 2) e pelos Srs. Gedimar Pereira Passos (fls. 1/17, anexo 3) e João Batista Lourenço Dias (fls. 1/18, anexo 4) e pelo Departamento de Polícia Federal, por meio de seu Diretor-Geral (fls. 1/72, anexo 1). 3. A Secretaria de Recursos - Serur efetuou o exame de admissibilidade dos recursos às fls. 20/21, anexo 2; fls. 20/21, anexo 3; fls. 21/22, anexo 4; e fls. 74/75, anexo 1, respectivamente, que ora ratifico, para conhecer desses Pedidos de Reexame. 4. A Sra. Ana Maria da Costa e Silva Monteiro e os Srs. Francisco de Assis Correia Gomes, Gedimar Pereira Passos e João Batista Lourenço Dias aposentaram-se com fundamento no art. 1º, inciso I, da Lei Complementar nº 51/1985 e, excluído o tempo de serviço prestado sob a vigência da Lei nº 3.313/1957, computado com o acréscimo de 20%, os ex-servidores não contariam tempo de

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serviço suficiente para a concessão de aposentadoria integral, o que levou ao julgamento pela ilegalidade dos atos de concessão de aposentadoria.5. As concessões de aposentadorias especiais de servidores policiais fundamentadas na Lei Complementar nº 51/1985 – que permite a aposentadoria com proventos integrais após 30 anos de serviço, desde que ao menos 20 anos sejam de exercício em cargo de natureza estritamente policial –, mormente aquelas deferidas após a Emenda Constitucional nº 20/1998 – que estabeleceu o regime de previdência de caráter contributivo e a necessidade de cumprimento de idade mínima para a aposentadoria voluntária –, durante muito tempo foram consideradas ilegais por esta Corte de Contas em face do entendimento de que essa lei complementar não fora recepcionada pela Constituição Federal de 1988. 6. Essa questão, no entanto, restou pacificada por meio do Acórdão nº 379/2009 - Plenário, quando, apreciando-se Incidente de Uniformização de Jurisprudência, foi firmado entendimento no sentido de que “a Lei Complementar 51, de 1985, foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988, e pelas Emendas Constitucionais nºs 20, de 1998, 41, de 2003, e 47, de 2005, continuando, por conseguinte, válida e eficaz, enquanto não for ab-rogada, derrogada ou modificada por nova lei complementar federal, subsistindo, portanto, a regra de previsão de aposentadoria especial de que trata a referida lei complementar”.7. Outro ponto controvertido nas concessões fundamentadas na Lei Complementar nº 51/1985 dizia respeito à incidência ou não da regra insculpida no art. 40, §§3º e 17, da Constituição Federal, com a redação dada pela Emenda Constitucional nº 41/2003, regulamentada pela Lei nº 10.887/2004, segundo a qual os proventos devem ser calculados com base na média das remunerações utilizadas para o cálculo das contribuições previdenciárias recolhidas a partir de julho de 1994. 8. Os órgãos de segurança pública e as entidades representativas dos servidores policiais sustentavam a incidência do regime especial de aposentadoria contemplado no art. 40, §4º, da Constituição Federal, que teria recepcionado os institutos da integralidade dos proventos, assegurada aos policiais pelo art. 1º da Lei Complementar nº 51/1985, bem como sua paridade com a remuneração dos servidores ativos, por força das Leis nºs 4.878/1965 e 11.358/2006, que previram o recebimento dos proventos na modalidade de subsídio e fixou as tabelas de valores correspondentes. 9. Essa matéria também teve sua apreciação pacificada por este Tribunal de Contas da União, por meio do Acórdão nº 2.835/2010 – Plenário, proferido nos seguintes termos:

“9.2. firmar os seguintes entendimentos:9.2.1. a Lei Complementar nº 51/1985, recepcionada pela Constituição Federal de 1988 e

pelas Emendas Constitucionais nºs 20/1998, 41/2003 e 47/2005 - conforme reconhecido pelo TCU, mediante o Acórdão nº 379/2009-Plenário, e pelo STF, por meio da ADI nº 3.817 -, estabelece os requisitos e os critérios diferenciados para a aposentadoria especial dos policiais, garantidos pelo § 4º do art. 40 da Constituição Federal, com a redação dada pela EC nº 47/2005, devendo ser entendidas como requisitos as condicionantes para a existência do direito, e compreendida como critério a forma de cálculo do valor devido;

9.2.2. a aposentadoria fundamentada na Lei Complementar nº 51/1985 não sofre a incidência da regra geral prevista no § 3º do art. 40 da Constituição Federal, com a redação dada pela EC nº 41/2003, regulamentada pela Lei nº 10.887/2004, que é norma de caráter geral (cálculo dos proventos pela média das remunerações);

9.2.3. prevalece na espécie a Lei Complementar nº 51/1985, que é norma de natureza especial, regulamentadora do § 4º do art. 40 da CF, devendo ser adotado, para fins de aplicação da aludida LC nº 51/1985, o sentido que sempre teve o termo ‘com proventos integrais’, nela contido (art. 1º, inciso I), significando que os proventos corresponderão à totalidade da remuneração do servidor no cargo efetivo em que se der a aposentadoria, conceito que vem sendo preservado pelo legislador desde a Constituição Federal de 1946 (art. 191, § 2º) até hoje, passando

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por outros 14 dispositivos constitucionais ou infraconstitucionais, a saber: art. 178 da Lei 1.711/1952; art. 1º, inciso II, da Lei 3.313/1957; art. 101, inciso I, da CF/1967; art. 102, inciso I, da EC nº 1/1969; art. 1º, inciso I, da Lei Complementar nº 51/1985; art. 40, incisos I e III - "a" e "b" (redação original), art.93, inciso VI (redação original), e art. 53 do ADCT, todos da CF/1988; arts. 186, 189 e 195 da Lei nº 8.112/1990; art. 40, § 3º, com a redação dada pela EC nº 20/1998, da CF/1988; art. 6º da EC nº 41/2003; e art. 3º da EC nº 47/2005, respeitado o disposto no inciso XI do art. 37 da Constituição Federal;

9.2.4. ante o reconhecimento da vigência do art. 38 do estatuto jurídico dos policiais civis da União e do Distrito Federal - a Lei especial nº 4.878/1965, que prevalece sobre a Lei geral nº 10.887/2004 -, está legalmente assegurada a paridade plena entre os proventos dos inativos e a remuneração dos policiais em atividade, existindo o direito a que seja estendida aos aposentados toda revisão promovida na remuneração dos ativos, inclusive quaisquer benefícios ou vantagens que lhes forem posteriormente concedidas, mesmo quando decorrentes da reclassificação do cargo em que se deu a aposentadoria;”

10. A ilegalidade dos atos de aposentadoria da Sra. Ana Maria da Costa e Silva Monteiro e dos Srs. Francisco de Assis Correia Gomes, Gedimar Pereira Passos e João Batista Lourenço Dias está calcada na indevida utilização do tempo de atividade prestado sob a égide da Lei nº 3.313/1957 e computado com o acréscimo de 20%. 11. A Lei nº 3.313/1957 assegurava aos servidores do Departamento Federal de Segurança Pública, que exercessem atividade estritamente policial, o direito à aposentadoria com proventos integrais aos 25 anos de serviço. Esse dispositivo foi alterado pela Lei Complementar nº 51/1985, que garante ao funcionário policial a aposentadoria com proventos integrais após 30 anos de serviço, desde que ao menos 20 anos sejam no exercício de cargo de natureza estritamente policial. Diante do aumento do tempo necessário para a concessão da aposentadoria com proventos integrais de 25 para 30 anos, o tempo de serviço prestado durante a vigência da Lei nº 3.313/1957 passou a ser computado com o acréscimo de 20%. 12. Com relação aos argumentos utilizados no recurso, acolho a análise realizada pela Serur na instrução transcrita no Relatório que acompanha este Voto. Não procede a argumentação de que o acréscimo de 20% de tempo de serviço contado a mais na transição da Lei nº 3.313/1957 para a Lei Complementar nº 51/1985 seja razoável por ser uma medida para garantir a expectativa de direito de quem se encontrava na iminência de complementar os requisitos para se aposentar. 13. Não há de se falar em violação à expectativa de direito, pois a Constituição Federal garante o direito adquirido e não a mera expectativa de direito. Assim, somente aqueles policiais que já computavam tempo de serviço necessário à concessão de aposentadoria à época da publicação da Lei Complementar 51/1985 poderiam se aposentar com proventos integrais com apenas 25 anos de tempo de atividade policial. 14. Com relação ao argumento de violação da segurança jurídica - visto tratarem-se de atos de aposentadoria expedidos em 2003 - não há como esse argumento prosperar, uma vez que o Supremo Tribunal Federal pacificou o entendimento no sentido de que este Tribunal de Contas da União tem cinco anos, contados da data do ingresso do processo administrativo nesta Corte de Contas, para fazer o exame da aposentadoria sem a participação do Interessado e, se ultrapassado esse período, o servidor passaria a ter o direito ao contraditório e à ampla defesa. 15. Esse entendimento restou consolidado neste Tribunal de Contas da União por meio do Acórdão nº 587/2011 – Plenário. No presente caso, os atos de aposentadoria Sra. Ana Maria da Costa e Silva Monteiro e dos Srs. Francisco de Assis Correia Gomes, Gedimar Pereira Passos e João Batista Lourenço Dias ingressaram nesta Corte de Contas em 2008 (informação extraída do Sisacnet), não havendo que se falar, portanto, em instauração de prévio contraditório para manifestação do Interessado.

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16. Os Recorrentes ainda questionaram a possibilidade de contagem do período entre a aposentadoria e a apreciação do ato. Em relação a esse tema, entendo que as alegações foram devidamente analisadas e refutadas pela Unidade Técnica em sua instrução, razão pela qual não se fazem necessárias novas considerações de minha parte. 17. Assim, entendo que deverá ser negado provimento aos Pedidos de Reexame interpostos pela Sra. Ana Maria da Costa e Silva Monteiro e pelos Srs. Gedimar Pereira Passos e João Batista Lourenço Dias e pelo Departamento de Polícia Federal, mantendo-se em seus exatos termos o Acórdão nº 4.725/2009 – 2ª Câmara.

Ante o exposto, VOTO no sentido de que o Tribunal adote a deliberação que ora submeto ao Colegiado.

TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 28 de junho de 2011.

UBIRATAN AGUIAR Relator

ACÓRDÃO Nº 4442/2011 – TCU – 2ª Câmara

1. Processo nº TC-006.188/2009-6 2. Grupo I – Classe I – Assunto: Pedido de Reexame3. Recorrentes: Departamento de Polícia Federal, representado por seu Diretor, Sr. Luiz Fernando Corrêa, Ana Maria da Costa e Silva Monteiro (CPF 092.986.571-53), Gedimar Pereira Passos (CPF 119.588.201-72) e João Batista Lourenço Dias (CPF 062.159.712-00).3.1. Interessado: Francisco de Assis Correia Gomes (CPF 271.752.940-34)4. Entidade: Departamento de Polícia Federal - DPF.5. Relator: Ministro Ubiratan Aguiar.5.1. Relator da deliberação recorrida: Ministro Aroldo Cedraz.6. Representante do Ministério Público: Procurador Marinus Eduardo De Vries Marsico.7. Unidades Técnicas: Secretaria de Fiscalização de Pessoal (Sefip) e Secretaria de Recursos (Serur)8. Advogados constituídos nos autos: Celso Luiz Braga de Lemos (OAB/DF 17.338) e Léo Rocha Miranda (OAB/DF 10.889).

9. Acórdão:VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Pedidos de Reexame interpostos pela Sra.

Ana Maria da Costa e Silva Monteiro e pelos Srs. Gedimar Pereira Passos e João Batista Lourenço Dias, e pela Polícia Federal, representado por seu Diretor-Geral, Sr. Luiz Fernando Corrêa, contra o Acórdão nº 4.725/2009 - 2ª Câmara, que considerou ilegais os atos de aposentadoria desses Recorrentes e do Sr. Francisco de Assis Correia Gomes em virtude do acréscimo indevido de 20% sobre o tempo de serviço,

ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão Extraordinária da 2ª Câmara, diante das razões expostas pelo Relator, em:

9.1. conhecer os presentes Pedidos de Reexame, nos termos do art. 48 da Lei nº 8.443/1992, para, no mérito, negar-lhes provimento;

9.2. enviar cópia do presente Acórdão, bem como do Relatório e do Voto que o fundamentam, aos Recorrentes.

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10. Ata n° 22/2011 – 2ª Câmara.11. Data da Sessão: 28/6/2011 – Extraordinária.12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-4442-22/11-2.13. Especificação do quorum:13.1. Ministros presentes: Augusto Nardes (Presidente), Ubiratan Aguiar (Relator), Aroldo Cedraz, Raimundo Carreiro e José Jorge.13.2. Ministro que não participou da votação: José Jorge.13.3. Ministros-Substitutos presentes: Augusto Sherman Cavalcanti e André Luís de Carvalho.

(Assinado Eletronicamente)AUGUSTO NARDES

(Assinado Eletronicamente)UBIRATAN AGUIAR

Presidente Relator

Fui presente:

(Assinado Eletronicamente)PAULO SOARES BUGARIN

Subprocurador-Geral

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