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CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL 3ª SECRETARIA – DIRETORIA LEGISLATIVA DIVISÃO DE TAQUIGRAFIA E APOIO AO PLENÁRIO SETOR DE TAQUIGRAFIA NOTAS TAQUIGRÁFICAS Data Horário Início Sessão/Reunião Página 17 10 2017 9h AUDIÊNCIA PÚBLICA 1 MESTRE DE CERIMÔNIAS – Senhoras e senhores, bom dia. O Cerimonial da Câmara Legislativa solicita a todos que ocupem seus lugares para o início da reunião pública, bem como tenham a gentileza de desligar os sinais sonoros dos aparelhos celulares. Obrigado. Senhoras e senhores, sejam bem-vindos à Câmara Legislativa do Distrito Federal, nesta oportunidade para participar da reunião pública com a finalidade de debater a logística reversa do vidro, de iniciativa dos Exmos. Srs. Deputados Joe Valle e Chico Vigilante. Convidamos para tomar posição à mesa e presidir os trabalhos o Presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal, Deputado Joe Valle. (Palmas.) PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – Sob a proteção de Deus, tenho a honra de declarar aberta a presente reunião pública da Câmara Legislativa do Distrito Federal para debater a logística reversa do vidro. Convido a tomar assento à mesa os seguintes participantes: o Secretário de Estado do Meio Ambiente do Distrito Federal, Sr. André Lima; o Subsecretário de Acompanhamento Ambiental e Políticas de Saneamento da Secretaria de Estado de Infraestrutura e Serviços Públicos – Sinesp, Sr. Diego Lopes Bergamaschi; o Defensor Público do Núcleo dos Direitos Humanos da Defensoria Pública do Distrito Federal, Dr. Werner Rech; o Presidente da Rede Alternativa de Catadores e de Materiais Recicláveis, Sr. Gilmar Clementino da Silva; o Diretor Técnico do SLU – Serviço de Limpeza Urbana, Sr. Paulo Celso dos Reis. (Palmas.) PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – Nós temos a extensão da mesa, que fica aqui ao lado. Então, nós gostaríamos de chamar para compor a Mesa o Superintendente de Resíduos Sólidos da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal – ADASA, Sr. Sílvo Goes de Alcântara; a

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MESTRE DE CERIMÔNIAS – Senhoras e senhores, bom dia. O Cerimonial da Câmara Legislativa solicita a todos que ocupem seus lugares para o início da reunião pública, bem como tenham a gentileza de desligar os sinais sonoros dos aparelhos celulares.

Obrigado.Senhoras e senhores, sejam bem-vindos à Câmara Legislativa do

Distrito Federal, nesta oportunidade para participar da reunião pública com a finalidade de debater a logística reversa do vidro, de iniciativa dos Exmos. Srs. Deputados Joe Valle e Chico Vigilante.

Convidamos para tomar posição à mesa e presidir os trabalhos o Presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal, Deputado Joe Valle. (Palmas.)

PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – Sob a proteção de Deus, tenho a honra de declarar aberta a presente reunião pública da Câmara Legislativa do Distrito Federal para debater a logística reversa do vidro.

Convido a tomar assento à mesa os seguintes participantes: o Secretário de Estado do Meio Ambiente do Distrito Federal, Sr. André Lima; o Subsecretário de Acompanhamento Ambiental e Políticas de Saneamento da Secretaria de Estado de Infraestrutura e Serviços Públicos – Sinesp, Sr. Diego Lopes Bergamaschi; o Defensor Público do Núcleo dos Direitos Humanos da Defensoria Pública do Distrito Federal, Dr. Werner Rech; o Presidente da Rede Alternativa de Catadores e de Materiais Recicláveis, Sr. Gilmar Clementino da Silva; o Diretor Técnico do SLU – Serviço de Limpeza Urbana, Sr. Paulo Celso dos Reis. (Palmas.)

PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – Nós temos a extensão da mesa, que fica aqui ao lado. Então, nós gostaríamos de chamar para compor a Mesa o Superintendente de Resíduos Sólidos da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal – ADASA, Sr. Sílvo Goes de Alcântara; a Diretora da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, Seção Distrito Federal, Sra. Andrea Portugal; a Gerente de Relações de Governo da Abividro, Sra. Ana Paula Bernardes.

Estamos aguardando o Deputado Chico Vigilante, que vai chegar em breve e tomar assento à Mesa.

Grande parte das pessoas que estão aqui sabem que temos uma proposição que está para ser votada, de autoria do Deputado Chico Vigilante, que foi colocada para votação ainda no final do semestre passado. Essa proposição teve alguns detalhes na confecção, e o Deputado Chico Vigilante resolveu aguardar um pouco – nós fizemos um

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pedido a ele –, a fim de que pudéssemos amadurecer um pouco mais o processo, e esta audiência pública faz parte desse amadurecimento.

Aqui, de público, eu quero agradecer pelo bom senso e pela maturidade costumeira do Deputado Chico Vigilante, que tem feito um grande trabalho ao longo de sua carreira política, especialmente dando essas oportunidades de diálogo, entendendo que o diálogo e os processos internos desta Casa, com a participação das pessoas, sempre enriquecem todos os projetos que passam por ela. Então, o Deputado Chico Vigilante logo vai chegar e assumir a direção desta audiência.

Nós temos um modelo de trabalho em que, inicialmente, vamos ouvir uma palestra, vamos ver o trabalho. Se as pessoas quiserem se inscrever para falar, as inscrições já estão abertas. Nós ouvimos primeiramente o público e, depois, os membros da Mesa.

No dia de hoje nós vamos ouvir muitas pessoas da Mesa que também vão falar um pouco sobre o problema, vão contextualizar o problema. Vamos ouvir as falas intercaladas: fala uma pessoa da plateia e, depois, uma pessoa da Mesa. Vamos intercalando para conseguirmos chegar ao final e termos todas as anotações necessárias para que a gente avance nessa discussão.

Nós temos que ressaltar todas as regras antes porque, apesar de o tempo ser pouco, é o tempo que a pessoas organizam na cabeça o resumo do trabalho para que todos tenham a oportunidade de falar. Então, será aberto o microfone por três minutos para cada intervenção, que é o tempo regimental aqui desta Casa.

Vamos trabalhar isso. Entendo que muitas vezes o assunto é um pouco mais longo, mas peço às pessoas que irão fazer uso da palavra resumir suas colocações nesse tempo de três minutos para que a gente possa enriquecer o debate.

Quem vai abrir essas falas é a Sra. Ana Paula Bernardes, que vai fazer uma pequena apresentação. Eu já a ouvi falando: “Em três minutos não consigo”. Mas o mínimo possível, Ana Paula. Os três minutos são para as intervenções.

SRA. ANA PAULA BERNARDES – Deputado, três minutos é só para agradecer, não é?

Eu queria, em primeiro lugar, agradecer o esforço do Deputado Joe Valle e da Comissão da Frente Parlamentar de Meio Ambiente aqui da Câmara Legislativa em ajudar o processo de construção desta audiência pública.

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Agradeço ao Deputado Chico Vigilante por ter aberto essa possibilidade de contribuirmos e, quem sabe, fazer um processo de construção em que esse projeto de lei tenha uma abrangência que ajude a emular políticas públicas que apresentem soluções efetivas para a questão da logística reversa do vidro.

Eu também queria agradecer aqui ao Secretário de Meio Ambiente do Distrito Federal e à secretaria, que tem nos ajudado bastante na construção desse processo de envolvimento da cadeia, que é uma cadeia muito complexa, para poder solucionar a questão do vidro aqui no Distrito Federal.

Não posso deixar de agradecer também, na figura do representante presente, à SLU que disponibilizou a sua equipe técnica para que a Abividro pudesse fazer um levantamento efetivo, real do que está acontecendo.

Em primeiro lugar, queria mostrar para vocês de que material nós estamos falando, porque é importante que, nesta audiência pública, os Parlamentares, os agentes públicos, quem constrói política pública saiba o que está fazendo, saiba sobre o que está legislando. Então, eu vou fazer uma apresentação.

Peço gentileza ao Deputado para que me dê um pouco mais de tempo. Vou tentar ser o mais breve possível.

Nós estamos falando de uma embalagem, em primeiro lugar, 100% reciclável. A única que começa, e depois vocês vão ver, que nasce embalagem, descarta em embalagem e, quando volta para a indústria, ela vira embalagem outra vez. Nem com o alumínio se faz isso. Ele vai virar outra coisa. A única embalagem em que vidro vira vidro é a embalagem de vidro.

Em segundo lugar, nós estamos falando de uma embalagem que é constituída basicamente de areia e calcário. É uma embalagem inerte. Ela não contamina o produto e logo ela não contamina o lugar onde está sendo descartada. Estou defendendo que ela seja descartada inadequadamente? Lógico que não. Mas ela, se jogada num lugar, não vai formar uma ilha de plástico e matar tartaruga. Vai crescer peixinho dentro, vai crescer coral em cima. Ela é uma embalagem inerte porque ela é uma pedra absolutamente natural. Tem a menor pegada de carbono. Por quê? Porque se a gente medir a confecção do vidro de berço a berço, o que significa isso? Da extração da areia até o descarte da embalagem, nós estamos falando da embalagem mais sustentável existente hoje. Se a gente for comparar, se tirar o vidro do mercado, ele vai ser substituído pelo quê? Ou pelo alumínio ou pelo plástico. O plástico derivado do

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petróleo, o alumínio derivado da extração da bauxita. Vamos comparar os ciclos de vida se estamos preocupados com uma questão ambiental.

Além disso, eu vou falar especificamente da reciclagem de vidro. A indústria de vidro hoje está com déficit, com demanda reprimida de caco de vidro para reciclagem. Nós estamos desesperados por caco! Por quê? Porque se eu jogar 10% de caco no meu forno, eu tenho de 2 a 4% de economia de energia. Sabe o que isso significa, do ponto de vista ambiental? Eu tenho 5% de redução de CO2. O que significa isso? Eu, para atingir hoje a Política Nacional de Mudanças Climáticas, preciso reciclar. Se eu não reciclar, eu não consigo atingir os índices que a política de redução de gases de efeito estufa hoje me pede.

Uma tonelada de caco representa economia de 1,2 tonelada de matéria-prima. Representa menos circulação de areia, menos emissão de gases CO2 – porque o modal de transporte brasileiro é rodoviário. Ou seja, nós estamos falando de uma embalagem absolutamente sustentável.

Eu vou pular o processo de fabricação – para vocês entenderem como o caco entra na produção –; depois, com calma, vocês olhem.

Vamos falar da logística reversa propriamente dita. Como funciona a logística reversa hoje e qual é o nó dela? Eu fabrico embalagem. Quem escolhe colocar no vidro? O fabricante de produto e o envasador. Ele vai à porta da minha fábrica e compra a embalagem. Esse é um modal de logística chamado Free on Board. Eu fabrico e entrego à porta da fábrica.

Eu não sei para onde vai essa embalagem. Se a Piriroca da Serra coloca a água ou o refrigerante ou a cerveja dela no vidro, é porque comprou à porta da minha fábrica e vai distribuir para o Brasil inteiro. Eu tenho fábrica no Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco, mas se você for hoje ao Xingu, você vai achar – eu brinco com isso – Coca-Cola e cigarro Marlboro! Porque é um problema de distribuição!

Esse cidadão que escolhe a embalagem de vidro e é o dono do produto vai escolher as praças de distribuição, vai negociar com as redes de varejo o mix de produtos que vai colocar lá, e o consumidor vai entrar na loja e vai consumir! Tudo isso está absolutamente resolvido, até o consumidor. Por que está absolutamente resolvido? Porque isso está dentro do preço do produto. O produto já tem dentro dele o valor da distribuição.

Mas aí começa um problema. Qual é? O consumidor descarta. Precisa coletar! Pela 11.445, que é a Lei de Saneamento, o serviço de coleta e manejo de resíduos é tarefa do município. Então, o município tem que coletar o resíduo e disponibilizar para a logística reversa.

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Aqui começa a logística reversa. Esse resíduo tem que ser triado, afinal de contas, a gente faz a coleta seletiva com tudo junto. Ele vai ter que ser beneficiado. No caso do vidro, eu fabrico o vasilhame de vidro – a minha garrafinha não está aqui, está ali; eu a trouxe justamente por isso. Eu fabrico o vasilhame de vidro. Ele vira embalagem na hora que entra naquele segundo cidadão: vai entrar produto dentro, o vasilhame vai ser decorado, vai ganhar tampa, gargalo, isso tudo. Isso tudo não é vidro! Eu preciso beneficiar e separar isso tudo para colocar o vidro para reciclagem. Aí ele volta para a minha fábrica.

Se vocês prestarem atenção nos outros materiais, eles vão para um uso secundário: vai fazer vassoura, vai fazer linguete, vai fazer qualquer outra coisa. O meu vai fazer vidro. Tem que voltar para a minha fábrica! Eu ocupo dois papéis na cadeia, mas dois papéis que estão absolutamente na ponta. Eu dependo que um meio aconteça aqui para poder reciclar esse vidro.

Por que é que tem esse problema todo? Porque o preço da logística reversa não está embutido no produto, gente! E isso fica jogado, por acordo setorial, porque a lei é deficiente.

A lei fala em responsabilidade compartilhada, encadeada e individualizada. Boi que tem duas mães morre de fome! A lei não diz o seguinte: fulano precisa pegar o resíduo ali, transportar e colocar ali, ele tem que pagar essa conta; beltrano tem que fazer não sei o que, não sei o que lá... Pela nossa interpretação e pelo que juridicamente a gente entende, e é feito no mundo inteiro, a responsabilidade da indústria de vidro é a destinação final ambientalmente adequada. Mas eu só destino aquilo que chega! Se não se coletar o vidro, não tem logística reversa, gente!

E aí qual é a minha surpresa? Aqui está a viabilidade econômica do vidro: eu consigo atingir 85% dos locais para fazer logística reversa, se coletar... (Falha na gravação.)

Aqui está o mapa de coleta e de registro do vidro. No primeiro mapa eu colocoo mapa de coleta e de registro do vidro. No primeiro mapa eu coloco todos os municípios do Brasil ali fixados: processo colonial brasileiro, litoral, as grandes cidades concentradas todas para cá.

No segundo mapa eu apresento quantos municípios preencheram o SNIS – Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, ou seja, o programa do governo, para a gente controlar a questão do saneamento no Brasil. No terceiro mapa é onde tem coleta seletiva no Brasil hoje. Aí, senhores, eu vou mostrar o que acontece com o vidro e onde tem coleta

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seletiva. Onde tem coleta seletiva é o mapa da esquerda; onde tem reciclagem de vidro é o mapa da direita; onde tem logística reversa de vidro é o mapa da direita. Sobrepõem um mapa sobre o outro que vocês vão ver que onde tem vidro coletado tem logística reversa. Eu preciso de 25 toneladas aqui em Brasília. O vidro é uma equação entre distância, qualidade, quantidade e escala. Aqui em Brasília nós não estamos exigindo nem qualidade; aqui em Brasília estamos exigindo quantidade: juntou 25 toneladas, sai uma carreta e vem buscar. Deem uma olhada ali porque eu quero, senhores, que os senhores fiquem com esse mapa na cabeça. Em Porto Alegre a coleta seletiva recolhe 10 mil toneladas de vidro por mês. Nós reciclamos hoje entre rejeito, o que é tirado e o que chega as nossas fábricas... O índice de reciclagem em Porto Alegre é 60%, é um índice europeu. Eles recolhem o vidro. A coleta seletiva tem vinte anos lá. A gente consegue reciclar 60% do vidro de Porto Alegre. O que estamos defendendo hoje para o Brasil? A Abividro hoje tem um projeto que vai em três frentes: primeiro, o vidro que está absolutamente perto da minha fábrica e que se resolve pelo valor do material. Ele representa cerca de 60%, não é o caso de Brasília. O caso de Brasília é polo de acumulação. Eu preciso ter vidro acumulado. Onde vocês acumularem 25 toneladas de vidro, a gente vem buscar. Existe uma carta que a Abividro enviou para a SLU se comprometendo e dizendo que a gente recolhe 100% do vidro que estiver aqui acumulado e coletado em 25 toneladas. A gente entregou cópia desta carta para a Secretaria Estadual de Meio Ambiente, porque durante o processo em que a gente estava negociando um projeto de logística reversa, nós fomos surpreendidos com um folheto nas autarquias de Brasília, que diz para descartar o vidro no lixo indiferenciado. A gente demora quantos anos para educar uma população, gente? Para ter um descarte adequado de resíduo, para fazer as coisas, para aprender, para educar a população? Em cinco minutos, um folheto deseduca o cara, porque ele pega o vidro que é absolutamente reciclável, que se juntado aqui poderia ser reciclado, e joga no lixo comum. Já é uma baita dificuldade!

Eu costumo dizer e brincar que o Silvano Silvério tem um problema pessoal com vidro. Eu brinco com ele, eu falo: “Silvano, só pode ser problema pessoal seu, porque em São Paulo você constrói um monte de central de triagem e não tria vidro, onde eu tenho quatro pontas de reciclagem”. Aí você vem para Brasília, eu fico animada. Pô, conheço o Silvano, vamos ver, mas não faz um telefonema para a gente, na Abividro, para dizer o seguinte: “escuta, vamos construir um sistema aqui. O que tecnicamente vocês precisam para que a gente consiga juntar a coleta com a logística reversa?” Eu não sei, sinceramente eu não entendi. Hoje, do que a gente precisa? O que a Abividro está se propondo a fazer? Nós vamos montar um centro de inteligência... Já montamos um comitê de

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logística reversa do vidro, que vai ser um centro de inteligência que vai ficar estudando soluções. Esse comitê de logística reversa já esteve aqui, apresentou à SLU, que foi extremamente solícita, colocou a sua equipe técnica a nosso favor. Nós fizemos um relatório, mostramos qual deveria ser o sistema aqui e agora estamos dependendo de uma política (falha na gravação) a estimular a cadeia a participar. Eu, indústria de vidro – lembra lá –, estou numa ponta e estou na outra. Eu me disponho a vir buscar 25 toneladas. Juntaram 25 toneladas, eu venho buscar. Como vai se juntar essas 25 toneladas, aí é uma decisão do SLU com a Secretaria, com os parlamentares, que podem ajudar com uma lei que induza a cadeia inteira a participar. Porque proibir o vidro, gente, é mais ou menos o seguinte: eu descubro que o paciente está com câncer, em vez de eu pegar uma segunda opinião, chamar a minha junta médica, propor quimioterapia, eu digo assim: “cara, vai para casa que você vai morrer”.

Então, hoje o meu desafio é o seguinte... E outra coisa, proibir o vidro aqui não vai resolver o problema, gente. Não vai resolver o problema, porque vai continuar vindo o vinho, a vodga, o perfume... O que vai ser feito com isso? Nós vamos desencarnar? Perfume não tem logística reversa, whisky não tem logística reversa. Aliás, whisky só tem logística reversa para cadeia de falsificação. Eu brinco que, quando chego à cooperativa, vejo um monte de garrafinha de whisky separada, Deputado, e eu acho que isto é um desafio para a Assembleia Legislativa: ajudar a gente com leis que credenciem, que vigiem as cooperativas, porque, hoje, é vendida uma garrafa de whisky dentro da caixa, com dosador, por oito reais. Eu chego à cooperativa e, quando vejo a garrafa inteira, eu digo: vocês estão fazendo logística reversa para a Escócia? Essa garrafa vai ser vendida para o mercado clandestino de falsificação de bebida.

Então, gente, é uma política pública, é uma coisa complexa e eu tenho certeza de que agora que a gente sentou à mesa, SLU, Câmara Legislativa, agora que o Deputado Chico Vigilante puxou essa conversa toda, a Sema está dando essa assessoria, eu acho que agora a gente consegue construir um sistema que funcione, que atenda o meio ambiente e atenda uma coisa que a gente chama de sustentabilidade: o pilar econômico, o pilar social e o pilar ambiental da questão do vidro aqui em Brasília.

Obrigada e desculpe, pois eu me estendi. Se vocês precisarem de mais dados, estou à disposição na Abividro.

PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – Muito obrigado. Eu queira chamar o Sr. José Eustáquio, da Fecomércio, para fazer uso da palavra. (Palmas.)

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Eu queria chamar para tomar assento à nossa Mesa estendida a Sra. Aline Sousa, da Centcoop.

SR. JOSÉ EUSTÁQUIO – Caríssimo Sr. Presidente da Câmara Legislativa, Deputado Joe Valle, na sua pessoa cumprimento os demais participantes da Mesa.

Nós da Federação, aqui em Brasília como representante do sistema CNC, representamos e trabalhamos no grupo técnico de trabalho de meio ambiente. Eu especialmente estou ligado a essa parte de resíduos sólidos.

Quanto à logística reversa, a própria lei diz que quem fabrica o produto ou quem entrega a embalagem é obrigado a recebê-lo de volta. Só que a lei também é clara quando diz que precisa de acordos setoriais para que todos da cadeia assumam o compromisso de receber.

Já temos o exemplo das lâmpadas florescentes, que já têm ponto de coleta no Carrefour Norte, porque foi feito um acordo setorial com as associações que reúnem fabricantes. No caso do vidro, o que sabemos é que vidro estava no grupo de discussão, grupo de embalagens, e, quando se estava trabalhando no acordo setorial, a Abividro saiu porque havia algumas coisas, provavelmente em função dessa cadeia diferente em relação às outras embalagens, ela saiu. Então, ela está só hoje.

Então, tudo isso que a representante da Abividro que me falha o nome... vai acontecer o seguinte: será necessário fazer o acordo setorial, porque, senão, não adianta nada, vai fechar. Esse acordo setorial é: fabricantes com a associação que os representa, mais o Ministério, mais a CNC; e o que tem acontecido hoje é que uma ONG, uma instituição sem fins lucrativos, entra no processo para providenciar os coletores, buscar os pontos. No nosso caso de embalagens, tem na Reciclos, que está no Brasil inteiro fazendo isso em nome dos fabricantes, em nome de quem vai receber esses produtos de volta.

Então, o nosso trabalho é exatamente nesse aspecto, nós estamos no processo e nós vamos chegar ao seguinte: nós concordamos, vamos participar do acordo setorial, mas, no caso aqui, para nós, o problema hoje é: Quem retira? Porque, se eu tenho o fabricante responsável por recolher e ele não recolhe, não adianta você, no meio da cadeia, tomar uma atitude unilateral. Significa que, se alguém recolhe e não há quem retire, não adianta nada, vai parar. Vai acontecer isso com alguns produtos. Então, se alguém recebe o vidro lá no seu estabelecimento, para nós é preciso que, nesse processo, seja dito para nós quem vai retirar do estabelecimento dele, porque ele não é responsável na cadeia. Ele compra, ele vende e ele recebe, desde que alguém retire, porque, senão, ele terá que criar espaço, vai ter que investir para poder armazenar uma

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coisa, quando isso não está escrito na lei e também não está na logística reversa. Então, nós estamos atentos a isso.

Há alguns casos bastante complicados porque, no meio do processo, se rompe e volta de novo, mas a gente está trabalhando sempre numa parceria muito boa com as associações, com o Ministério e com a CNC. Nós aqui em Brasília representamos a CNC e estamos trabalhando junto com o quem está envolvido agora com o pessoal de lâmpadas e, certamente, vamos nos envolver com o pessoal de vidros, virão medicamentos e outros produtos, como lâmpadas. Ainda faltam outras lâmpadas, porque não foram todas as lâmpadas. Terão que vir por etapas, porque você não pode misturar as coisas. Isso é outro detalhe que precisa ficar muito claro, e que ficou bem claro aqui no caso do vidro. Então, todos os produtos têm a sua característica. Então, isso precisa ser analisado direitinho. E o plenário desse grupo de trabalho, nesse grupo da CNC, é fantástico. Ele tem gente de todo o País, de todas as associações, de todos fabricantes. Embalagens, a não ser vidros, já estão resolvidas.

Era isso. Nós estamos à disposição aqui, em Brasília, na Federação. Eu sou o José Eustáquio Moreira de Carvalho. Eu sou assessor

econômico da Fecomércio, aqui, no Distrito Federal. Muito obrigado. (Palmas.)PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – José Eustáquio, vocês são a

favor efetivamente de quê? Porque estamos discutindo aqui a logística reversa e uma lei que

proíbe o uso do vidro aqui. Então, qual é o posicionamento? Só para termos uma ideia. Porque estamos realizando uma audiência pública e será gerado documento. Então, precisamos ter uma certa certeza nesse processo.

SR. JOSÉ EUSTÁQUIO MOREIRA DE CARVALHO – Em princípio, qualquer coisa que seja forçado, porque eu concordo com a Abividro: não dá para proibir o uso de vidro. Primeiro, porque há vários tipos de vidros, vários tipos de produtos que vão dentro do vidro. E não vai ter como você proibir a utilização de vidro. A não ser que você crie um problema seriíssimo em toda uma cadeia produtiva que usa vidro.

PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – Perfeito. SR. JOSÉ EUSTÁQUIO MOREIRA DE CARVALHO – Você vai criar

problema de toda ordem: econômico, trabalhista e etc. PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – Perfeito.

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Obrigado. Neste momento, eu gostaria de agradecer a presença do Sr.

Cristiano Monteiro, que é representante do Deputado Federal Izalci. Cristiano, obrigado pela presença. Mande um abraço para o nosso amigo.

Eu gostaria de agradecer a presença da Sra. Renata Caram, Chefe da Assessoria Internacional do GDF.

Eu gostaria de agradecer a presença da Sra. Mirtes Boralli, Coordenadora do Saneamento Ambiental da Sema. Agradeço também a presença do Sr. Ronaldo Alves, nosso amigo do Conselho do Desenvolvimento Econômico Social do Distrito Federal. Ronaldo, obrigado pela presença. É sempre bom tê-lo como participante. Agradeço também a presença da Sra. Clarissa Jahns, representado a Codeplan.

Neste momento, convido, para fazer uso da palavra, o Sr. Cleusimar Andrade, da Reciclavida Vidro.

SR. CLEUSIMAR ANDRADE – Bom dia. Eu sou Presidente de uma cooperativa de catadores. Ela se chama

Reciclavida. Nós funcionamos na Ceilândia. E eu queria contar um pouquinho a nossa experiência da cooperativa de catadores, em relação ao vidro. Nós fomos contratados pelo Governo do Distrito Federal para fazer a coleta seletiva de uma rota em Samambaia, e, mesmo com a instrução do SLU de que o vidro tem que ser colocado no rejeito, algumas pessoas não acreditam nisso ou, até por falta de informação, acabam colocando o vidro no lixo reciclável. Então, isso acaba chegando à nossa cooperativa.

Por uma questão de consciência ambiental, a gente não destina esse vidro ao rejeito, até contrariando uma orientação do próprio SLU, que fala que tem que ser rejeito. Mas, na nossa cooperativa, mesmo que ainda em um trabalho meio ultrapassado, a gente separa o vidro que vem da coleta seletiva e o destina para a fábrica. Esse vidro chega lá, na hora da triagem em que a gente faz uma classificação dos resíduos, a gente pega esse vidro e o coloca em big bags – eu digo que isso é um trabalho atrasado, mas é a maneira que a gente tem – quebra e, quando a gente tem acima de quatorze toneladas – já chegamos a mandar trinta e uma toneladas numa carreta –, a gente destina esse vidro para uma indústria.

Existe uma fábrica com a qual a gente tem contato direto e, tirando o dinheiro do frete, ela chega a pagar até R$ 0,05 (cinco centavos) pelo quilo do vidro.

Alguns acham que é interessante porque a própria fábrica fala: “Não. Estou pagando R$ 0.05 (cinco reais) independentemente de

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qualquer despesa”. Só que a gente tem o trabalho de quebrar o vidro, a gente tem o big bag, que chega a custar até R$ 8,00 (oito reais), a gente já teve episódio de, ao carregar o caminhão, na saída da própria Recicla Vidro, os big bags tombarem na pista. A gente teve de sair correndo com vassoura, com pá, para limpar esse vidro da pista. Então, quer dizer, é um trabalho que a gente faz para tentar não destinar esse vidro para o aterro, mas nenhuma sobra desse dinheiro acaba ficando para os catadores.

É um pouco complicado porque hoje a gente pega um quilo de PET e vende para a indústria por R$ 2,00 (dois reais), ou seja, uma tonelada de garrafa PET, e a cooperativa vende por R$ 2.000,00 (dois mil reais). O vidro a gente consegue vender, no máximo, por R$ 140,00 (cento e quarenta reais) e o caminhoneiro cobra R$ 150,00 (cento e cinquenta reais) para levar. Então, ninguém quer trabalhar o vidro, por todos os problemas de risco, de corte e de não sei o quê, mas o catador precisa de dinheiro. Não tem como eu vender um vidro por 140 e pagar 150 para o caminhoneiro levar. Então, essa é a nossa experiência.

Nós já tivemos uma viagem bancada pela própria AB Vidros. Ela financiou uma viagem minha e da Mônica para São Paulo, e nós achávamos que voltaríamos com a solução para o vidro. Conhecemos uma cooperativa, na beirada do Tietê, que faz a separação. A gente foi numa empresa que separa o vidro por cor, tira o gargalo, não sei o quê. Faz um montão de coisas. Conhecemos os tipos de tratores que têm que ser usados com pneu maciço, um monte de coisa. E achamos que voltaríamos com a solução do vidro para Brasília – poxa, vamos compartilhar com todo mundo, e está resolvido. Só que a gente descobriu que o vidro tem essa problemática.

A siderúrgica, as indústrias pagam muito pouco pelo vidro, apesar de a moça ter dito ser 100% reciclável, não sei o quê, precisa e tal. Mas ela disse – olhe a diferença – que uma garrafa pet, dois mil reais a tonelada, e um vidro, centro e quarenta reais a tonelada. Então, é muito longe, e não funciona.

Estamos em conversação com a própria AB Vidros, que nos procurou através da nossa rede para fazer a gestão do vidro no Distrito Federal. Estão oferecendo caçambas com roll on roll off a serem disponibilizadas nas cooperativas, e estamos em conversação. Ainda não tem nada fechado, não tem nada assinado, mas eles nos procuraram.

A gente tem um espaço lá que pode ser utilizado para tentar dar uma (falha na gravação) no Distrito Federal. – Eu vou concluir.

Então, essa é a nossa experiência.

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Só para concluir, Ana Paula, quando você fala que chega nas cooperativas que têm garrafas de uísque, não sei o quê, eu acho interessante você falar qual é a cooperativa que faz isso, porque, quando você fala nas cooperativas, dá a impressão de que catador é tudo trambiqueiro, e não é. Há os trambiqueiros, realmente – inclusive há em outros locais que não são cooperativas, onde o pessoal pega o vidro mesmo e falsifica. O próprio azeite de não sei o quê, aquela coisa toda.

Para você ter uma ideia, a gente tem um trabalho com a Boticário, que destina todos os vidros que eles têm para a gente. Mas por quê? Eles destinam à nossa cooperativa, porque eles sabem que nós vamos dar a destinação correta a eles, que esses vidros não vão chegar às mãos de pessoas para serem falsificados. Eles vão chegar à indústria, vão ter uma destinação correta.

Então, eu acho importante, porque existem cooperativas sérias, de verdade, e a gente está buscando uma forma de montar essa parceria para ter uma logística de vidro de verdade.

Obrigado. (Palmas.)PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – Cleusimar, só uma pergunta:

o vidro que você recolhe na coleta seletiva você recebe do SLU pela tonelada dele que você coleta?

SR. CLEUSIMAR ANDRADE – É. O SLU, hoje, paga para gente por rota. As empresas recebem por tonelada, pela coleta. As quatro cooperativas que foram contratadas recebem por rota. Então, independe se vou trazer muito ou pouco peso.

PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – Entendi. Por rota. Obrigado.Eu gostaria de chamar o Sr. Paulo Mello.SR. PAULO MELLO – Bom dia a todos. Sou o Paulo. Represento aqui

o instituto É Cozinha, que é uma entidade civil privada de interesse público, sem fins lucrativos.

O É Cozinha nasceu a partir do surgimento do PGRS. Quando fomos estudar o PGRS para os restaurantes, descobrimos que éramos grandes geradores, e por que éramos grandes geradores? Porque todo mundo que produz hoje acima de 120 litros de lixo indiferenciado por dia é taxado como um grande gerador.

Fiquei preocupado com isso. E, como eu já tinha um trabalho ambiental feito dentro do restaurante, fui refazer o meu quantitativo e o meu qualitativo do lixo, ou melhor, dos resíduos – desculpe, não se usa mais o termo lixo. O que a gente descobriu? Que, dentro do meu indiferenciado, existiam o orgânico e o vidro. E, evidentemente, em

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qualquer lixo, em qualquer pastelaria que tiver vidro e orgânico dentro, ele vai estar acima de 120 litros por dia, e vai ser um grande gerador. Então, ele vai ter que contratar uma empresa para gerar o lixo dele e vai pagar caro por isso.

Fiquei preocupado com essa situação e fui resolver essas duas frações do nosso lixo, que são as principais – o orgânico e o vidro. O orgânico é muito fácil. Estamos fazendo uma estação de compostagem e vamos conseguir desviar do aterro sanitário tudo que produzimos nos restaurantes.

Como eu não entendia nada do vidro, eu resolvi ir até a fábrica de Porto Ferreira para entender o que era o processo do vidro. Chegando lá – fui muito bem recebido, passei o dia inteiro lá –, fiquei surpreendido, porque tinha uma montanha de vidro acumulado na entrada, e o gerente que me recebeu já foi explicando: “Esse vidro que você está vendo aqui é o vidro que compro por 220 a 260 reais a tonelada, dependendo do tipo de vidro. Ele pode ser transparente, misturado ou colorido. Cada um vai ter um preço”.

E o vidro, para minha primeira surpresa, não tinha nada de selecionado. Ele tinha rótulo, estava sujo. Perguntei: “Mas esse vidro não tem que ser limpo?” Ele respondeu: “Não, isso é um mito que se fala e que acaba dificultando o processo de coleta. Aqui, a gente recebe esse vidro, e entendendo o processo, e isso não atrapalha a reciclagem do vidro”.

Fui andando com ele pela fábrica. O vidro passa por uma esteira, cai num triturador gigante e do outro lado há uma montanha que parece ser de areia, mas são caquinhos de vidro. O vidro está ali pronto, é matéria-prima básica para se fazer um novo vidro. Achei aquilo interessante e muito simples.

Fomos para dentro da fábrica que era muito grande. O primeiro lugar em que ele entrou foi onde se acumula a matéria-prima básica primária para a fabricação de um novo vidro. Havia lá, como disse a Paula: areia, calcário, bauxita, feldspato, barrilha, que são os minérios utilizados para a fabricação do vidro. Desculpe, falei errado. Bom, são os minérios. Se não me engano, 70% da composição do vidro é areia e 30% divididos entre os outros minérios.

Ele falou: “É aqui que eu fabrico o vidro”. Eu falei: “Beleza. E onde entra o caco? Ele disse: “Vamos ali, onde está sendo, nesse momento, produzida uma garrafa de Velho Barreiro”. E lá havia uma montanha de cacos de vidro. Ele falou: “Tá vendo essa montanha de cacos de vidro? Foi exatamente o caco de vidro que você viu lá atrás, aquele triturado. O que eu vou fazer com ele? Eu vou pegar 30% desse caco e juntar com os 70% daquela matéria-prima básica que está ali atrás”. Já me chamou atenção

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como empresário. Eu falei: “Por que 30%?” Ele: “Porque eu tenho 30%”. Eu falei: “Se você tivesse mais, você usaria mais?” Ele falou: “Usaria mais”. Perguntei: “Até quanto”? Ele falou: “Usaria até 80%. Poderia chegar a 100% se eu estivesse fabricando um vidro de qualidade inferior, que é possível. Usaria 100% de vidro para fabricar um novo vidro”. Mas, nessa fábrica específica, eles usam até 20% de matéria-prima básica primária, que são a areia e os minérios, e 80% de caco. Eu falei: “Por que você não tem 80% de caco?” Ele respondeu: “Porque ninguém traz”. Eu falei: “Por que ninguém traz o vidro aqui?”

Do ponto de vista ambiental, não vou me estender muito nisso, porque a Paula já explicou muito bem, se você chega a 80% do caco de vidro, você vai tirar muito menos minério da natureza e vai gastar muito menos energia para produzir o vidro. Então, do ponto de vista ambiental não se discute. Ele é absolutamente sustentável.

Só que eu fiquei preocupado com uma palavra que eu escuto sempre aqui, Presidente Deputado Joe Valle, que o vidro é inviável economicamente para reciclagem. Eu sempre me preocupei muito com isso e pensei: Como pode um produto tão puro ser inviável economicamente? Perguntei para ele: “Por que é inviável economicamente?” Ele falou: “Porque eu te pago, se você trouxer o vidro aqui, eu te pago, em média, 220 reais a tonelada. Mas se eu for buscar esse vidro lá em Brasília, ele vai ficar mais caro do que a areia. Então, eu prefiro usar a areia”.

Resposta de empresário. Claro, é uma fábrica. E eu disse: “Bom, e quanto você acha que eu gastaria para trazer o vidro para você?” E ele disse: “Olha, pela nossa experiência aqui, você vai gastar em média entre 200 e 250 reais a tonelada”. Eu apertei a mão dele e disse assim: “Então, negócio fechado!”

Vocês entenderam? Se eu represento uma empresa que não visa lucro e o transporte até lá é bancado pelo valor que ele está comprando o meu vidro, eu resolvi o problema do vidro. E é dessa forma que nós estamos agindo dentro de um pequeno mercado de restaurantes para dar o exemplo, para saber que é muito possível levar o vidro para reciclagem. Não estou nem falando ainda do absurdo que é jogar o vidro no aterro sanitário! É uma coisa que não tem o menor cabimento!

A mesma coisa com o orgânico. Não se pode jogar o orgânico no aterro sanitário. Isso é fato. (Palmas.)

Muito obrigado. O apoio popular é fundamental nesse momento. (Risos.)

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Então, gente, essa é uma luta que a gente está tendo. Nós estamos falando hoje aqui da logística reversa do vidro. Nós somos totalmente a favor da logística reversa. Eu acho importante essa discussão em torno da lei para poder trazer toda essa matéria à tona, para que a gente possa chegar a uma solução. A solução evidentemente não passa pela proibição do vidro. Muito pelo contrário, a gente tem que lutar para que o vidro seja muito usado, porque ele é uma matéria-prima perfeita para uso, para a saúde, como matéria inerte e como material para ser reciclável.

Então, do ponto de vista da sustentabilidade não tem nem o que dizer, está provado cientificamente que ele é o principal produto para reciclagem.

Deputado Joe Valle, qual a solução que nós trouxemos para nós mesmos, para nos livrarmos de ser taxados como grandes geradores dentro do restaurante... Se eu retiro o orgânico e retiro o vidro... Num restaurante como o meu, que é um estabelecimento de porte médio para grande, que trabalha bem, que serve almoço e jantar, sete dias por semana, o lixo diário é de setenta litros por dia, o meu diferenciado. Então, eu sou um pequeno gerador. Se eu pego todo esse lixo orgânico, mais o vidro, faço um bolo só, eu faço todo o trabalho, como mandou o PGRS, de separação. Contrata-se uma empresa de gestão que vai lá e junta tudo de novo. Olha do que nós estamos falando: nós vamos separar o lixo para todo mundo juntar o lixo de novo e vamos jogar no aterro sanitário? Além de toda perda ambiental que estamos tendo aí, do ponto de vista nosso, dentro do comércio, eu teria que pagar hoje R$1.700,00 (um mil e setecentos reais) por mês para fazer a gestão desse lixo. Da maneira como eu estou fazendo hoje, eu vou pagar R$400,00 (quatrocentos reais) para quê? Para um cara que está lá dentro do terreno dele fazendo compostagem. Então, ao invés de pagar R$1.700,00 (um mil e setecentos reais) para fazer a coisa errada, eu vou pagar R$400,00 (quatrocentos reais) para fazer a coisa certa, do ponto de vista ambiental, e do ponto de vista econômico nem se fala!

Então, o que a gente quer hoje? O que eu pretendo fazer hoje? Fizemos um projeto-piloto já. A gente está criando os bunkers, como a gente chama, que nada mais são que PEVs – Pontos de Entrega Voluntária.

O grande problema da logística, que a gente está discutindo aqui hoje, ou o primeiro problema é o acúmulo. A gente tem que saber como nós vamos acumular esse vidro. Eu acho que isso é muito mais fácil do que o que a gente está discutindo aqui na Mesa: basta que a gente tenha um bunker na ponta de cada quadra, onde esse vidro vai ser depositado. Um bunker. Para quem quiser visitar um, a Dona Lenha, na 202 Sul, tem um bunker já instalado lá.

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Estamos em negociação para que isso seja uma coisa legal. Nós fizemos isso como um projeto-piloto, para mostrar que é possível. Em vez de pedir autorização para fazer, eu resolvi primeiro fazer, e depois falar: “Gente, olha aqui, pode autorizar?” E nós estamos negociando; estamos tendo muito apoio do SLU, da Agefis, da Vigilância Sanitária, estamos conversando com todo mundo, mas ainda não tem nada resolvido.

O que seria isso? Nós temos os bunkers lá dentro, e o gerente de um restaurante tem a chave. Todo dia, às 16h, todos os restaurantes da rua pegam o seu vidro e depositam lá dentro. Quem não chegar às 16h vai ter que acumular o vidro dentro do restaurante, não vai para a rua, não está em espaço público. Quem chegar às 16h já ajuda na organização, coloca tudo lá dentro.

Aquilo está cheio, esse bag está cheio? Muito fácil: a gente ia, por conta própria, contratar um caminhão, após acumular 25 toneladas. Por quê, gente? Porque 25 toneladas é o que torna viável economicamente o transporte do vidro. Então, fazendo esse acúmulo, nós mesmos dos restaurantes, por conta própria, com recursos próprios, contrataríamos um caminhão de transporte e levaríamos até a fábrica. A fábrica ia pagar para a gente e a gente pagaria o transporte. Estaria resolvido o problema.

A gente precisa de quê? Incentivar esse tipo de política. Em países como a Alemanha, por exemplo – a gente tem que usar esses países; vamos olhar para onde a coisa já é vencedora –, os bunkers distribuídos pelas ruas até estimulam a separação por cores de vidro. Você tem o privilégio de pegar o seu vidro branco, transparente, e falar: “Opa! Aqui é só vidro verde, não é aqui que eu coloco”. E coloca no local para vidro branco, porque ele tem valor diferente.

Então, a solução é fácil. A gente tem que buscar alternativas para acumular esse vidro nos pontos-chave de Brasília, pontos estratégicos, e empresas logísticas.

Eu até me perdi agora, porque eu falei que a gente faria isso, mas nesse meio tempo uma das empresas de logística que atua em Brasília, cadastrada pelo SLU, já sabendo que estava perdendo – claro, com todo esse processo – um pouco de movimento... Esse é o empresário que está um pouco ligado na economia e não quer perder mercado – tem caminhões novos, tem estrutura. Ele falou: “Olha, vidro é negócio para mim”. E ele me procurou e falou assim: “Paulo, como eu posso te ajudar?”

Eu contei a história para ele, e falei assim: “O meu problema hoje é alguém que leve esse vidro para mim”. Ele, então, falou: “Olha, se você me der a exclusividade de todos os restaurantes que estão entrando para o seu instituto, eu me encarrego de pegar o seu vidro”. Nem isso eu preciso ter mais! A fábrica vai comprar dele. Ele vai pegar, à porta dos

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restaurantes, e vai levar para lá. Então, o vidro, para a gente, está resolvido.

É assim que temos que levar essa política. Nós temos que incentivar o acúmulo correto para uma logística de transporte.

Agora vamos para o último ponto: vamos supor que esse vidro continuasse indo para o aterro. Quanto custa a tonelada do aterro sanitário hoje? Noventa e dois reais. Mais a logística, seriam duzentos e poucos reais. É esse valor que o vidro custa para ir para a fábrica.

Obrigado. (Palmas.)PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – Obrigado.Eu gostaria de chamar, e já agradecer a presença, Zilda Maria Faria

Veloso, que é Diretora de Qualidade Ambiental e Gestão de Resíduos, do Ministério do Meio Ambiente.

Informo que a nossa audiência pública está sendo transmitida pela TV Câmara. Temos alguns milhares de pessoas assistindo.

SRA. ZILDA MARIA FARIA VELOSO – Bom dia, Deputado Joe Valle, Deputado Chico Vigilante e demais membros.

Eu queria parabenizá-los por esta iniciativa e por essa discussão. Estamos aqui com um público razoável de pessoas discutindo o vidro.

A política de resíduos sólidos é de 2010. Nós tivemos, em 2011, a instalação de grupos de trabalhos temáticos para construir acordos setoriais. Eu diria que dos cinco grupos criados talvez o mais complexo tenha sido o de embalagens, pelo impacto substancial que ele tem na cadeia de catadores e junto aos municípios.

Quando se teve a conclusão das propostas em 2012, não se logrou êxito para que a cadeia do vidro participasse da assinatura do acordo setorial por uma série de razões. A Ana Paula já colocou parte delas aqui: complexidade da cadeia, o peso do vidro, o que ele onera em transporte. Então, não foi possível o vidro participar da assinatura do acordo.

O Ministério do Meio Ambiente, sensibilizado com a importância que a embalagem de vidro tem para os produtos que todos nós consumimos no dia a dia e a importância do vidro, pela sua reciclabilidade, principalmente, resolveu abrir uma mesa de negociação com o setor de vidros para que a gente pudesse ter um termo de compromisso. Algumas propostas já foram mandadas, devolutivas foram feitas, e nós ainda não temos um termo de compromisso de vidro. Eu acredito que as ações que tiveram desdobramentos aqui no Distrito Federal, como a decisão do SLU de colocar o vidro na cadeia de

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indiferenciados, poderia ter colocado na cadeia de rejeitos também... O meu entendimento foi que o SLU procurou toda a cadeia – não foi só o vidro – de embalagens para ter um termo de compromisso, um acordo mais específico, e não conseguiu. Essa foi a leitura que eu fiz.

No setor de embalagens eu sei que isso foi feito porque eu cheguei a participar de algumas reuniões com o SLU. Foi essa a tentativa feita com o setor de embalagens. É o que o Ministério do Meio Ambiente almeja para os acordos setoriais, porque eles têm um detalhamento local. A consequência também é o projeto de lei do Deputado Chico Vigilante, em que ele coloca a obrigatoriedade de que sejam comercializadas as embalagens de vidro retornáveis. É uma possibilidade. Uma aventada foi ser classificado como rejeito, que foi um dos indiferenciados que o SLU colocou na coleta seletiva. E isso tem um impacto direto no comércio. O Sr. José Eustáquio esteve aqui representando a Federação Distrital do Comércio e falou das obrigações... E nós temos discutido isso com a CNC, mas aí, quem vai levar esse rebatimento é o comércio, porque, pelo que li no projeto de lei, a multa vai ser para quem comercializa, porque tem que comercializar embalagem retornável. Portanto, supermercado, comércio, restaurante, todos vão ser penalizados se tiverem algum tipo de embalagem que não for retornável. Então, vejam a complexidade dessa cadeia. Todos os entes que estamos aqui discutindo... E a solução também não é fácil. Eu vim aqui mais para expor uma preocupação do que propriamente uma solução. Eu acho que a cadeia do vidro é importante e tem particularidades que a gente precisa aventar. Ótimo! E pelo que vi, o Governo do Distrito Federal agora está evoluindo para ter um acordo específico com vidro. Em que bases eu ainda não sei. Tomara que isso evolua, porque eu acho que isso não faz com que a política de resíduos sólidos local não aja como um regulador de mercado econômico. A gente quer para algumas coisas, mas talvez não para o vidro, para algumas coisas que sejam descartáveis, mas talvez não para o vidro, ou para o alumínio, ou para a lata, ou para o plástico.

Nós estamos agora em processo de consulta pública de um termo de compromisso de embalagens de aço. As latas já estão num acordo setorial. As embalagens de aço estão em consulta pública. Desejamos fazer o mesmo para o vidro, na expectativa da Abividro... (Falha na gravação.)

A complexidade da cadeia nos leva a crer que a proposta do Deputado Chico Vigilante talvez trouxesse – eu vou ser bem objetiva, porque lá no Ministério estamos acostumados a avaliar alguns projetos de lei – isso para uma condicionante, enquanto não temos um acordo setorial, enquanto não temos uma logística reversa do vidro. Eu acho que ela pode ser uma solução. Ela funciona como uma espada. Você não tem um

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acordo setorial, então você vai ter que colocar ali só embalagens retornáveis para que o resíduo não seja gerado. Acho que essa pode ser uma solução, uma solução legalmente possível. Porque se a gente consegue construir o acordo setorial e a proposta... e a proposta... Ficaria desnecessária, vamos dizer assim. Se há um acordo setorial, se há um acordo para as embalagens descartáveis, a proposta... Mas ela pode funcionar como uma segunda via para quando não há uma solução objetiva para o vidro.

A questão das retornáveis e descartáveis foi pensada, dentro do Ministério do Meio Ambiente, como coordenador de uma política, como uma segunda etapa. A preocupação dos primeiros acordos setoriais era a estruturação da cadeia e como ela operaria. Qual o papel do fabricante importador, do comércio, do distribuidor? Como chega essa informação ao consumidor? E, num segundo momento, porque isso tá num capítulo que trata da logística reversa na lei, se pensaria na possibilidade de colocar no mercado embalagens com menor percentual de materiais, embalagens retornáveis, embalagens que possam ser facilmente reutilizáveis, com a aplicação do art. 9º da lei.

Era esse o comentário que eu gostaria de fazer muito brevemente, para podermos ouvir os demais convidados.

Obrigada. (Palmas.)PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – Muito obrigado, Zilda.O Deputado Chico Vigilante acaba de chegar. Pergunto se S.Exa.

quer fazer uso da palavra agora. (Pausa.)Então, eu passo a palavra para Andréa Portugal, diretora da Abes.SRA. ANDRÉA PORTUGAL – Bom dia a todos e a todas. Bom dia,

Deputados. Primeiro, eu quero parabenizar pela publicação, pela intenção do projeto de lei, porque acima de tudo ele trouxe para a discussão uma coisa que estava adormecida, como se não existisse o problema. Então, só de ter a Casa aqui, hoje, discutindo, eu acho que já é um ganho.

Eu gostei muito da fala da Zilda, porque ela coloca... Houve um acordo setorial de embalagens, e o vidro simplesmente se absteve, não se fez presente e deixou a questão correr.

Quando a Ana Paula fala da Abividro... Abividro é uma parte. Quando a gente fala da logística reversa, a gente tem todos os atores envolvidos, não é só a indústria. A gente tem a indústria, a gente tem o comércio, a gente tem o distribuidor e tem o consumidor. Não é justo que eu consuma e o outro pague a minha conta. Era o que estava acontecendo com o vidro. Não é justo que só um comércio, como a iniciativa do Dona

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Lenha, pague a conta de todos, deixando a indústria e o distribuidor fora. Eu acho que uma parte da logística tem que ser realmente implementada e tem que ser feita, tem que ser estudada, tem que ser colocada.

Quando chega aos catadores, o que a Ana Paula até questionou, “Ah, mas é um absurdo não estar na coleta seletiva”... Eu também acho. Eu acho um absurdo. Dói, dói fundo, quando a gente chega e vê um material com 100% de potencial de ser reciclável não poder estar na coleta seletiva. E aí a gente vê as cooperativas recebendo quilos e mais quilos, toneladas de vidro que cortam a mão do catador e não geram lucro nenhum, só trabalho.

Então, eu acho que a gente tem que rever, sim. É um momento de repensar, rever como pode ser feito. E outra coisa: o projeto de lei não proíbe o vidro; ele coloca, de uma forma sustentável, o uso do vidro neste momento, que a gente chegue e possa usar como retornável, continua sendo vidro.

Eu gostei muito da colocação da Zilda. No momento em que houver um acordo setorial, um termo de compromisso, alguma coisa que eu tenho certeza que (ininteligível) está trabalhando, que isso possa ser revisto dentro da lei, mas hoje, efetivamente, o vidro não tem viabilidade econômica e é criminoso a gente fazer toda a população pagar por um material que está sendo lucro só de alguns e prejuízo de todos. É isso. (Palmas.)

PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – Obrigado, Andréa.Na realidade, a gente vai pagar de qualquer forma, porque é o

consumidor sempre quem paga essa conta. O consumidor está pagando já, as lojas estão pagando, os restaurantes estão pagando a logística até chegar, vai pagar agora a logística até voltar. A discussão é sempre muito rica.

Quero agradecer a presença do Amauri Pessoa, representando o Deputado Cláudio Abrantes.

Quero também só fazer uma observação: não conheço nenhuma indústria de vidros, estou conhecendo a Andrea agora. Não tenho relação nenhuma com indústria de vidro, nem com nenhuma indústria. Só faço essa observação, porque, às vezes, as pessoas são muito maldosas nos comentários sem nos conhecer.

Convido o Sr. Jael Antônio da Silva a fazer uso da palavra.SR. JAEL ANTÔNIO DA SILVA – Bom dia, Presidente Joe Valle,

Deputado Chico Vigilante, Secretário André. Aqui estou falando em nome do Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes de Brasília e também em

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nome da Abrasel – Associação de Bares e Restaurantes de Brasília. Estou também representando aqui meu amigo Rodrigo Freire.

Desde o primeiro momento em que surgiu a obrigatoriedade de resolver os resíduos sólidos em Brasília, em função das leis que foram aprovadas aqui nesta Casa, nós temos participado intensivamente de todas as discussões. Em todas elas, estivemos presentes e, desde o primeiro momento, nossa preocupação principal era exatamente com o ônus decorrente da aplicação dessa lei, que iria cair, mais uma vez, sobre os ombros do empresariado de hotéis, bares e restaurantes da cidade.

Hoje nós somos mais de dez mil estabelecimentos no Distrito Federal. Dentre eles, pelo menos 80% são pequenos empresários, que têm uma série de dificuldades em se manter no seu próprio negócio, em função dos altíssimos custos que nos alcançam, além dos pesadíssimos impostos e taxas tributárias principalmente, porque todos nós sabemos como anda o comércio na nossa cidade, sobrevivendo a duras penas.

Então, nossa preocupação sempre foi esta desde o primeiro momento: com a questão ambiental. Nós nunca estivemos desligados dessa questão. Pelo contrário, existem, inclusive, iniciativas não só as que foram apresentadas aqui, por um grupo de donos de bares e restaurantes, como outras, de grandes geradoras de resíduos sólidos, que já apresentaram, cada um por si só, a solução individual para as suas questões.

A gente tem que, realmente, louvar essas iniciativas, mas elas não vão resolver o problema, no conjunto, do nosso setor, especificamente falando aqui da hospedagem e da alimentação fora do lar de uma maneira geral.

Neste caso, nós já tínhamos, inclusive... vamos dizer... feito um convite, para a própria associação, Abividro, juntamente com a Brasel e outras entidades, e já fizemos uma reunião – se não me falhe a memória –, há dois ou três meses, na sede do nosso sindicato, tentando achar uma solução.

Já naquela oportunidade, a solução estava, mais ou menos, resolvida, nós já tínhamos as questões praticamente resolvidas, porque, Deputado Chico Vigilante, esse projeto de lei não atende essas questões, ele vai atender uma parte insignificante do problema, que é a questão das bebidas, basicamente.

Nós temos uma produção de vidro muito mais significativa do que apenas essa questão da bebida. A parte alimentar dos bares e restaurantes gera uma quantidade enorme de outros tipos de vidros.

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Todos vocês sabem: são embalagens diversas e que não têm prevista nenhuma solução para elas e nós precisamos ter uma solução.

Em uma das últimas reuniões que a gente teve, no próprio SLU, eu tive a oportunidade de fazer uma proposta para o SLU ou para Estado, vamos dizer assim, que até agora se apresenta omisso nessas situações e não está participando com absolutamente nada, a não ser o peso da lei em cima do empresário.

Essa solução é uma solução simplista, é uma solução muito fácil, a lei manda e quem vai pagar é o empresário, que, por sua vez, vai transferir para o contribuinte final, para o seu cliente.

Já está difícil levar o cliente para dentro da casa dele. Agora, quando ele vai computar os preços, que não fui eu que disse, foi dito pelo Paulinho, do Dona Lenha, quanto vai custar isso mês? Para quem achar uma solução razoável, fica muito preocupante, realmente, essa questão econômica.

Qual é a solução que nós apresentamos para o SLU naquela oportunidade? É um ponto de coleta para vidros. Foi dito por todo mundo aqui. Todo mundo concorda que essa é uma solução. Por quê? Empresas interessadas no recolhimento do vidro! Fomos procurados, no sindicato, por umas dez que têm interesse em fazer isso, sem custo nenhum praticamente. Só pelo fato de ter essa coleta centralizada e daí fazer essa coleta e levar para o destino final, que seriam as fábricas de reciclagem de vidro.

Então, eu acho que essa audiência teve realmente esse intuito de mostrar que nós apresentamos aqui, hoje, a solução, Deputado. Inclusive, tivemos a oportunidade de estar presentes no gabinete do Deputado Chico Vigilante, e apresentamos uma proposta de emenda à lei dele. Estivemos também, com o Deputado e Presidente desta Casa, Joe Valle, mostrando que seria possível a solução e a solução é essa que foi apresentada aqui. A Abividro se encarrega, as cooperativas se encarregam de buscar os vidros desde que estejam em pontos de coleta. Muito simples.

Obrigado. (Palmas.)PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – Obrigado, Jael.Eu gostaria de registrar a presença dos alunos e professores do CEF

Dra. Zilda Arns, do Itapoã. Obrigado pela presença. Eles estão participando do Projeto Cidadão do Futuro, promovido pela nossa Escola do Legislativo. Sejam muito bem-vindos!

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Estamos numa audiência pública para discutir a questão da logística reversa do vidro. Esse vidro que está em todas as embalagens: de azeite, azeitona e bebidas.

Eu gostaria de passar a palavra ao Sr. Pedro Ivo, assessor do nosso coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista, o Deputado Chico Leite. (Pausa.)

SR. PEDRO IVO – Bom dia a todos e a todas. Primeiro, eu gostaria de saudar a iniciativa do Deputado Joe Valle e

do Deputado Chico Vigilante, desta audiência, que eu acho muito importante.

Eu gostaria de saudar os membros da Mesa; o André Lima, que está representando a Secretária do Meio Ambiente.

Bem, o Chico não pôde estar aqui porque está numa outra reunião de Comissão de Constituição e Justiça. Estamos aqui o representando e também representando a Frente Parlamentar Ambientalista. A Frente apoiou esta iniciativa. O Joe é um dos fundadores da Frente e foi o Presidente até bem pouco tempo. A gente apoiou esse processo de debate e tivemos reunião com o pessoal da cadeia do vidro, na Frente.

Quero aqui estar à disposição inclusive do Deputado Chico Vigilante para a gente poder conversar, aprofundar. Eu acho que o mais importante é que os Parlamentares da Casa possam ter uma posição consensuada sobre esse tema, que é muito relevante para Brasília e para o meio ambiente. Nós, da Frente Ambientalista, obviamente somos totalmente favoráveis à logística reversa do vidro. Vidro, para nós, é reciclável. É fundamental que se recicle, e apoiamos essas iniciativas, inclusive da sociedade civil, que já está acontecendo aqui e em vários lugares do mundo. Na Escandinávia, por exemplo, com a sua realidade diferente da nossa, não se fala de lixo. É resíduo zero, inclusive o do próprio vidro!

Então, há maneiras, há formas, e a gente tem que estimular que o Estado elabore políticas públicas que consigam fazer com que a reciclagem seja a mais completa possível. A iniciativa privada também tem que cumprir o seu papel. Os cidadãos têm que ter uma atitude de consumidor consciente e também precisam participar desse processo. E a Casa Legislativa tem que ajudar em todo esse processo.

Eu espero que a gente consiga sair daqui com uma agenda bacana e que a gente possa trabalhar juntos. Espero que possamos incluir o vidro na coleta seletiva. Nós não podemos perder essa possibilidade! Primeiro, ela é ambientalmente correta. Socialmente é justa, porque você pode incluir inclusive os catadores no processo do vidro. Economicamente há questionamento, se é viável ou não. Bom, não há atividade econômica que

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não seja viável! Você tem que criar as condições para elas serem viáveis! Inicialmente se dizia que o alumínio não era viável, e hoje há reciclagem do alumínio, há reciclagem da latinha e outras mais. Inicialmente se dizia que a agricultura orgânica não era viável. Inicialmente se dizia que tantas coisas não eram viáveis, e hoje há uma empresa brasileira que descobriu uma compostagem de uma hora, por meio de um processo moderno! Inclusive virou atenção do Brasil na Globo, quando o Shopping Eldorado pegou essa máquina e está fazendo horta urbana, dentro do shopping!

Às vezes fico preocupado, porque as pessoas dizem que a economia acordou de mal humor, porque a economia... Mas a economia é construção humana, é relação humana! A economia não é uma entidade das nossas relações! Então vamos criar instrumentos econômicos, buscar instrumentos econômicos que fortaleçam isso! E, com isso, todo mundo vai sair ganhando. Ninguém perde. Na reciclagem ninguém perde. E, acima de tudo, preservamos a natureza.

Eu quero deixar à disposição, para os senhores, para as senhoras, para os Parlamentares, para todos os parceiros, a Frente Parlamentar Ambientalista, presidida pelo Deputado Chico Leite, que tem o mandato para colaborar, para ajudar nesse processo. E espero – já que está sendo proveitosa esta audiência – que daqui possamos fazer uma síntese, combinar algo que garanta a incorporação de todos os setores da reciclagem (...) (falha na gravação.)

Obrigado. (Palmas.)PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – Muito obrigado, Pedro Ivo.Eu gostaria de passar a palavra agora ao Sr. Diego Lopes,

Subsecretário de Acompanhamento Ambiental e Políticas de Saneamento da Secretaria de Estado de Infraestrutura e Serviços Públicos, SINESP.

SR. DIEGO LOPES BERGAMASCHI – Bom dia a todos. Eu solicitei ao Presidente que pudesse rapidamente passar mais avisos. Na verdade, peço desculpas por não entrarmos neste momento exatamente na discussão. Eu queria, antecipadamente, parabenizar a todos pelo debate e pela proposta. Eu acho que o projeto de lei faz emergir o debate. E percebemos o quanto está complexo achar a solução. Mas eu imagino que encontremos uma solução para isso, porque é indispensável. Não dá para destinar isso ao aterro sanitário, e há o custo que se paga. O vidro tem uma massa muito significativa, e também é caro fazer a disposição no aterro sanitário de Brasília. Mas também há dificuldades, como os catadores já colocaram, de que isso seja rentável também para a separação deles.

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Então, existe um caminho que também tem sido vislumbrado pela área de restaurante diante da necessidade de encontrar um caminho que realmente é o que a logística reversa faz, a construção de uma cadeia de responsabilidades que inclui o poder público no que couber. Mas também, e especialmente, os produtores de vidro.

Eu peço desculpas por fazer uma breve interrupção na discussão específica de logística reversa. Eu queria apresentar alguns pontos rapidamente, para que uma plateia que tem envolvimento em resíduos, da área de saneamento, possa saber o que está acontecendo no Distrito Federal, porque muitos que podem estar interessados

Eu falo em nome do Secretário de Infraestrutura, a quem os serviços públicos do Distrito Federal, na área de saneamento, estão vinculados: água e esgoto via Caesb; resíduos, o SLU está aqui representado pelo PC; e também drenagem urbana pela Novacap.

Primeiro quero informar ao Presidente desta Casa e ao Deputado Chico Vigilante que o Plano Distrital de Saneamento Básico e o Plano Distrital de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, ambos obrigações previstas na legislação federal, foram concluídos pelo governo agora, no final de setembro, e por determinação da Lei Orgânica do Distrito Federal, os planos de saneamento serão encaminhados a esta Casa, como projetos de lei, conforme previsão na Lei Orgânica do Distrito Federal, art. 332. Então, o Governo do Distrito Federal cumpre a obrigação legal de ter um plano distrital, o primeiro Plano Distrital de Saneamento Básico do Distrito Federal, e, ao mesmo tempo, um Plano Distrital de Gestão Integrada de Resíduos, passando por todo o processo de discussão com a sociedade, inclusive fazem parte da discussão de logística reversa no documento.

Além disso, eu queria informar que há uma discussão antiga no Distrito Federal no que se refere a resíduos da construção civil. Há uma demanda da sociedade civil, sempre uma demanda do empresariado, de que não haveria áreas para implantação de áreas de transbordo, triagem e reciclagem dos resíduos da construção civil. O que nós decidimos foi oferecer áreas por cessão onerosa do Governo do Distrito Federal para a implantação de ATTRs. O primeiro edital está na praça. Então, é o edital de uma área de 40.000 m2 que fica próxima ao aterro sanitário de Brasília e que tem a exclusiva opção de operar uma área de transbordo, triagem e reciclagem dos resíduos da construção civil.

Somado a isso, só para vocês terem uma ideia da importância também para a logística de reutilização desse material, hoje as obras de infraestrutura do Distrito Federal precisam buscar cascalhos no Entorno do Distrito Federal. Nós buscamos cascalho em Santo Antônio do Descoberto, pagando uma distância média de transporte altíssima e esse material,

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após reciclagem, poderia ser utilizado no subleito da pavimentação com muita tranquilidade.

Além disso, o governo está lançando – e já está em capacitação dos transportadores – um sistema informatizado de transporte de resíduos da construção civil. Então, esses caçambeiros das nossas obras – obras públicas como privadas – vão ter que ter cadastro no Distrito Federal, vão ser controlados e monitorados on line: para onde ele se destina, onde ele coletou. Certo? Então, é um processo sistematizado, organizado de controle dos transportadores, tentando lutar contra mil pontos sujos de resíduos da construção civil que estão mapeados no Distrito Federal.

Então, é um processo importante que o Distrito Federal está fazendo. A capacitação já iniciou. O cadastramento começa no dia 1º de novembro e o sistema começa a operar no dia 1º de dezembro, no âmbito do Serviço de Limpeza Urbana – SLU.

Por fim, um convite a todos, pela importância dos que estão aqui representados. O Governo do Distrito Federal criou, pelo Decreto nº 38.485, o Conselho Distrital de Saneamento Básico, um conselho composto por 22 representantes, conforme já falei, para tratar de água, esgoto, drenagem e resíduos sólidos no que se refere à limpeza urbana e ao manejo dos resíduos sólidos urbanos e é paritário. Então, há 11 representantes do governo e 11 da sociedade civil. A decisão foi abrir uma eleição e uma chama pública para aqueles que tiverem interesse em compor o conselho. Ele está aberto, desde sexta-feira. Ontem se iniciaram as inscrições. Qualquer informação, para aquele que tiver interesse em participar do Conselho Distrital de Saneamento Básico, pode acessar o site da Secretaria de Infraesturutra. Então, há espaço para ONGs, institutos de pesquisa, interesses difusos, representantes de usuários, indústrias e tudo mais.

Novamente peço desculpa de ter feito uma ruptura na discussão da logística reversa, mas imagino que os assuntos tratados são relevantes para o conjunto de atores que estão aqui.

Então, eu queria agradecer ao Presidente.Infelizmente, eu tenho uma reunião pré-agendada exatamente

agora para tratar do Sol Nascente, em Vicente Pires. Mas agradeço e o parabenizo por toda a discussão.

Particularmente, Sr. Presidente, faço questão de fazer a leitura final do que foi discutido. E a Sinesp vai se incorporar nessa discussão, porque, obviamente, a política de logística reversa é focada na Secretaria de Meio Ambiente, mas pelo fato de o SLU ser vinculado, nós vamos nos aproximar

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mais na discussão para que a gente ajude a encontrar uma solução para o caso.

Obrigado. (Palmas.)PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – Ok. Muito obrigado pela

participação.Concedo a palavra agora ao Deputado Chico Vigilante, autor da Lei.DEPUTADO CHICO VIGILANTE – Oi, pessoal. Bom dia a todas e a

todos.Quero pedir desculpas pelo atraso. Eu estava numa reunião no

Ministério Público do Trabalho, tratando um problema envolvendo os trabalhadores vigilantes do Distrito Federal. Centenas de trabalhadores estão sendo demitidos por empresas que não cumprem o que está no edital de licitação do qual eles participaram, sabendo as regras e agora estão demitindo os trabalhadores, coisa que eles não podem fazer.

Mas eu fico muito feliz com essa proposta feita pelo Deputado Joe Valle, juntamente comigo, para que a gente realize esta audiência pública. Pelo que eu vi aqui, o projeto de lei está servindo para uma coisa importante: levantar o debate sobre o que fazer com o vidro do Distrito Federal – uma coisa que estava esquecida.

Todo mundo fala em meio ambiente. Estamos todos nós agora com um problema sério em Brasília. Tem gente que está indo a quatro lugares para conseguir tomar um banho – daqui a pouco, vai ter que ir a oito –, porque está faltando água. E a gente não se preocupa com as garrafas.

Por que eu apresentei esse projeto? Ele não é da minha cabeça, nós discutimos com especialistas. Porque a economia hoje é globalizada. A maior multinacional de cerveja, a Ambev, age no mundo todo. Só quero que eles tenham, no Brasil, o mesmo comportamento que eles têm na União Europeia, onde eles são responsáveis pelas garrafas que produzem. Não quero nada mais, nada menos que isso. O filho é da Ambev! Cuide! Eu não posso pagar por uma coisa que eu não gerei.

Eu já tenho 63 anos de idade. Algumas pessoas aqui já estavam tomando cervejas na década de 80, época em que não tínhamos esse problema. Valorizávamos tanto as garrafas, guardávamos em casa, limpinhas, e, na hora de ir ao bar, levávamos as nossas garrafas. Ou não era assim? Um engradado de cerveja valia muita coisa, né? A gente fazia até mais amizade com o vizinho para tomar emprestado o casco, para levar ao bar, ao restaurante.

Aí, é engraçado: o europeu vem de lá, chega ao Brasil, toma as piriguetes, e não tem preocupação nenhuma com onde elas vão parar. Eu

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pergunto: alguém tem uma estimativa de quantos anos vai durar esse aterro sanitário se ficar acumulando todos os vidros do Distrito Federal? E onde vamos encontrar terrenos para fazer mais aterros sanitários?

Portanto, o que eu quero? Produziu as suas garrafas? Recolha! Não conheço as indústrias de vidros, mas estive conversando com quem as conhece. Parece-me muito interessante uma outra coisa: as garrafas estão sendo desgastadas, e nós estamos tirando mais areia para fazer mais garrafas, quando poderíamos usar essas garrafas e impedir que mais areia fosse retirada para se fazer mais garrafas.

Além disso, há a questão dos garis que constantemente se acidentam, porque o cara, depois que toma umas, já está meio... Geralmente, quebra o diabo da garrafa, joga dentro do saco de lixo, e não bota uma plaquinha para o gari, dizendo que aquele lixo é perigoso, que ele pode cortar as mãos. Com o pessoal da reciclagem deve acontecer a mesma coisa.

Portanto, o que eu quero saber é o seguinte: estão dispostos a fazer uma discussão séria sobre a destinação do vidro no Distrito Federal? Toda vez que você apresenta alguma coisa positiva, determinados segmentos dizem: “Não, está querendo dificultar a economia...” Eu não quero dificultar nada! Eu quero é facilitar a vida do povo, de nós, contribuintes.

Acho muito importante o posicionamento do pessoal do Dona Lenha – conversei bastante com eles; não conheço o restaurante –, só que é limitado. Quantos botecos na Ceilândia vendem garrafas? Quantos mercados no Gama, em Planaltina, em todo canto? São quantas mil toneladas de garrafas que são descartadas?

Alguém está dizendo: “Oh, Chico, por que você apresentou só para cerveja”? É um projeto-piloto. Eu quero avançar para toda a cadeia do vidro: vinho, cerveja, cachaça, vidro de azeite. Eu quero pegar tudo, mas primeiro tinha que apresentar algum. Estou começando pelas garrafas de cerveja; depois, à medida que o debate for avançando, nós vamos chegar aos outros também.

Aí, eu acho que nós, de Brasília, chamada a Capital do Terceiro Milênio, vamos dar o exemplo de como se defende o meio ambiente, a partir da Capital da República. Se depois, no futuro, fizerem um acordo, fizerem uma lei mais ampla e tudo, ok! A minha deixa de valer, mas quem sabe a iniciativa de Brasília não vai estimular outros estados e a União a fazerem a mesma coisa?

Portanto, alguém tinha de ter a iniciativa. E nós tivemos a iniciativa e estou muito feliz com ela. Atendemos ao apelo do Deputado Joe Valle,

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aprovamos a lei no primeiro turno e, se quiséssemos tê-la aprovado no segundo turno, teríamos aprovado. Quero que saia frutos dos debates. Mas que nós vamos aprovar a lei, nós vamos, porque ela é fundamental para Brasília e para o Brasil. Não tenho dúvida alguma. É isso que eu quero para o Distrito Federal e é para isso que estou lutando.

Obrigado. (Palmas.)PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – Muito obrigado, Deputado

Chico Vigilante. Quero agradecer a presença aqui do Sr. Jorge Artur Oliveira, que é Subsecretário de Resíduos Sólidos da Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Distrito Federal.

Eu passo a palavra agora para a Sra. Mônica Mendes, Coordenadora da Associação Recicle a Vida.

SRA. MÔNICA MENDES – Bom dia a todos; bom dia à Mesa; bom dia, Deputado Joe Valle.

A questão da iniciativa do vidro pela Recicle a Vida deu uma parada justamente quando veio a lei dos grandes geradores. A gente estava recebendo, como diz mesmo o Cleusimar, e a gente achou que não deveria mais, porque, aí, a solução dos bares e restaurantes era deixar o vidro lá. E quem pagava a conta, com certeza, eram os catadores. O Cleusimar falou aqui da questão do big bag, e o Deputado Chico Vigilante falou sobre a questão dos acidentes, mas a gente tem, de uma forma muito arcaica... Aí a gente coloca os óculos no catador, um avental, e mesmo assim ele se corta.

Então, gostei muito das palavras da Zilda. Eu acho que a questão do vidro é complexa, e o que eu vou dizer é o que precisa para todos: precisa-se de investimento. Não é justo um ser humano trabalhar com um objeto tão cortante e tão perigoso para ele mesmo. E aí, quando vocês falam de pagar a conta, essa conta está sendo paga há muito tempo por cada cidadão.

Quando veio a questão da coleta seletiva, que a Recicle a Vida foi contratada, e foi o folheto, eu fui uma das que mais discutiram – a Andrea estava lá. Eu falei: “Eu preciso falar com a diretora”. Como eu, uma pedagoga, vou chegar a uma escola e dizer que o vidro não é reciclado? É um absurdo! Eu não vou fazer isso. E aí a diretora do SLU falou: “Olha, vocês ainda têm uma iniciativa – como o Dona Lenha ali – tímida, mas limitada, porque vocês não têm investimento”. E a gente paga para a empresa que coleta o lixo convencional x – que eu acho que era oitenta e nove, não me lembro na época. E aí, para a coleta seletiva, a gente paga cento e cinquenta. Aí a gente diz lá que o vidro é reciclável, manda isso para as cooperativas, que devolvem para o rejeito. Então, eu estou

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pagando duas vezes. Então, essa conta é paga por cada cidadão. E aí ela falou: “Olha, se o SLU não consegue resolver, a gente não consegue colocar uma indústria, eu tenho que pelo menos provocar, proibir”. Foi aí que eu comecei a entender que era um absurdo, fora que o SLU, na época, estava com um índice de trezentos funcionários com acidentes. E aí nós falamos assim: “Ah, Cleusimar, nós vamos, então, derrubar um caminhão de vidro lá em frente ao Ministério do Meio Ambiente, vamos provocar eles”. Porque não é justo nós termos que pagar isso daí. Foi justamente quando, dos nossos caminhões, caíram uns bags. Tivemos que ir para o meio da pista e limpar os vidros para receber seiscentos reais de dois catadores que trabalharam dias ensacando vidro. Não é justo!

Quando nós fomos a São Paulo, pela Abividros, vimos que as indústrias também não tinham ajuste há mais de quatro anos. “Mas por que vocês não aumentam, já que estão precisando do caco?” “Não, porque aí a areia fica mais barata; então, nós podemos tirar a areia do que pegar o caco”. Então, eu falo que, se a reciclagem não começar a vir dos fabricantes, uma obrigatoriedade de uso de um percentual do reciclado no vidro, não adianta querer solucionar cada ponta com catador ou com o comerciante. Eu falo que uma das soluções é a questão do investimento, de estar com os moinhos, de estar com as caçambas, impedir que o ser humano tenha contato direto com isso. Outra questão que veio... A Associação de Vidros chegou para mim e disse assim: “Ah, mas agora vocês vão receber pelo serviço prestado, o vidro é denso, o SLU já está pagando 91.92 e vocês comercializam isso e tiram um pouco da despesa”. Não, porque esse benefício já é do catador, não tem que colocar na conta do vidro. E aí eu falei: “Olha, Stefani, não dá, não dá para a gente colocar isso na conta do catador. E mesmo assim, os contratos com o SLU são limitados. A Recicle a Vida, por exemplo, são duzentas toneladas. E duzentas toneladas a gente já produz”. Se hoje a gente abrir a boca para dizer que recebe o vidro, os bares e restaurantes vão estar todos despejando lá. A Capital Reciclável já despejou lá. E a gente não dá conta, porque o manuseio manual é inviável. Nós estamos falando de seres humanos tratando do vidro. E aí vocês falam do acúmulo com o aterro, que quem paga a conta é o consumidor. Não, quem está pagando a conta há muito tempo somos nós. Infelizmente, a gente está aprendendo pela dor o que devia ser pelo amor, mas eu falo que a gente só aprende pela dor. Depois que veio a lei dos grandes geradores, o comércio se preocupou e as indústrias começaram também a se preocupar porque não vai mais vir vidro para Brasília.

Então, está de parabéns porque a gente precisava de uma discussão dessa e, no finalzinho, estava sobrando ou para o gari ou para o catador e a população pagando sem saber o que estava pagando. Era um

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contrato da gestão anterior, totalmente errado, no qual os catadores recebem um material muito sujo da coleta seletiva. Chegava lá e ainda tinha de pagar de novo para transportar esse vidro que a maioria das cooperativas não recicla porque não tem viabilidade econômica. O Dona Lenha tem a sua viabilidade econômica no restaurante. E o nosso negócio, o negócio dos catadores é a comercialização. É disso que eles sobrevivem. Então, se o vidro não vai dar nada, nem uma viabilidade, como nós vamos trabalhar com isso? Tem que haver uma obrigatoriedade de as empresas recicladoras usarem um percentual reciclado para que isso comece lá de cima, e não da ponta para cima, aí, sim, eu acho que a gente conseguiria.

Aqui em Brasília faltam investimentos. É o que eu falei com a Stefani, Ana Paula: “olha, precisamos de investimentos”. Não dá para trabalhar, a Recicla Vida não pode dizer que ela faz a reciclagem porque o que temos é muito limitado e não tem viabilidade.

Muito obrigada.PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – Passo a palavra ao Sr. Edmar

Antônio da Silva, Ascar-DF.SR. EDMAR ANTÔNIO DA SILVA – Bom dia a todos. Faço parte da

Associação dos Carregadores do Ceasa e a gente vê também a mesma dificuldade em relação ao próprio governo, em fazer o que já deveria ter feito. O próprio Ceasa já deveria ter cuidado de seu lixo, o próprio SLU já deveria ter cuidado como foi comentado pelo Secretário: “Ah, o resíduo a gente está montando, está fazendo algo que já deveria ter sido feito há muito tempo”. O que a gente está falando aqui na minha mente funciona normalmente.

A gente pensa o catador, a gente vê as pessoas falando, a gente ouve os próprios presidentes das cooperativas comentando, mas a gente percebe que falta um pouco de visão, falta um pouco de empreendedorismo, falta querer transformar esse lixo, porque eu acho que todo o resíduo pode ser transformado, e falta união. Eu percebo que falta união no seguinte sentido:

A gente ouve nos bastidores, a gente tem participado de algumas questões. Se esse vidro fosse triturado aqui no DF, a capacidade de levar para outro lugar seria bem maior. Se eu tivesse 250 reais, como foi dito aqui pelo rapaz do restaurante, se eu trituro esse lixo aqui mesmo, se eu coloco num bitrem, minha capacidade de logística aumenta e, então, vou ter um ganho nesse processo. São pequenas soluções, soluções fáceis. Eu não vejo uma solução difícil em termos trituradores aqui mesmo. Se eu não consigo ter uma indústria, também não sei por quê. Estamos na Capital Federal, nós temos vários empresários e não sei por quê. Na minha mente isso funciona de forma simples, isso não é complicado de se fazer.

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Então, novamente: eu creio que, se as cooperativas se unissem, se deixassem de vaidade, se deixassem de que querer defender o seu... indiretamente eu creio que as cooperativas têm que ganhar o seu, mas a lógica da própria cooperativa tinha que ser resolver o problema do resíduo sólido primeiro e, por consequência, ganhar dinheiro. A partir daí, você vai dar o exemplo para o próprio governo, que já deveria estar fazendo e ainda não fez ou não está dando a infraestrutura para isso acontecer. Se houver esse planejamento, se houver um pouco de união, se vocês puderem levar essa palavra “união” para as cooperativas... como as cooperativas vão cuidar de uma gestão do lixo se elas não unem? Como vocês vão dar exemplo? Como vão conseguir tirar uma empresa para colocar cooperativas se elas não são unidas? Se vocês não se unirem, vocês vão ficar lutando desse jeito. Sabem por que vocês não têm força para comprar um moinho? Porque só tem um gritando. Agora, se houver cinquenta gritando, é outra coisa: “Eu preciso de um moinho para moer o vidro!” Se tiver que levar para São Paulo, então eu vou levar. Para mim isso é simples. Isso é gestão. Falta gestão, falta um pouco de vontade, diminuir as vaidades de cada um, a gente tem que querer perder.

Há poucos dias me ofereceram um emprego pagando 3 mil reais, e eu disse “não”. Vou catar lixo. Por quê? Porque eu não vou me calar. Eu comento nos lugares aonde eu vou, como um capitalista vai derrubar um regime capitalista? Não tem como. Nós não vamos conseguir fazer nada se só pensarmos em dinheiro.

Automaticamente, quando alguém vir que a gente fez não por dinheiro, vai dar dinheiro para a gente. Porque vai perceber que a gente fez uma coisa que melhorou a vida de todos.

Eu acho que fica essa mensagem para todos. Espero ter contribuído. (Palmas.)

PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – Obrigado.Passo a palavra ao Dr. Paulo Celso dos Reis, Diretor Técnico do

Serviço de Limpeza Urbana – SLU.SR. PAULO CELSO DOS REIS – Bom dia a todos e a todas.Agradeço o convite do Deputado Chico Vigilante para participar

desta audiência pública.Como os demais, eu quero parabenizar a iniciativa da Câmara

Legislativa do Distrito Federal, de fazer esta discussão da lei numa audiência pública.

Como já foi dito aqui, se o SLU não tivesse colocado o vidro como rejeito, se o Deputado Chico Vigilante não tivesse feito a proposta de lei,

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nós não teríamos trazido para cá os empresários, os fabricantes e a Abividro para discutir isso de forma resolutiva.

A Zilda tem essa experiência no Brasil inteiro. Os acordos setoriais estão ficando no papel. Eles não estão saindo do papel para se tornar realidade.

A questão do vidro é muito simples. A pergunta é: quem vai pagar a conta? Já falaram aqui que a solução é simples: é botar um bunker, é botar um ponto de entrega voluntária. Quem vai pagar a conta? Essa conta, hoje em dia, quem paga é o cidadão. Na economia, a gente fala que isso é uma “externalidade negativa”. O fabricante não coloca, dentro do ciclo dele, dentro da planilha de custos, do plano de negócios dele, o custo envolvido no retorno do material na logística reversa.

As mesmas fábricas que estão aqui – Coca-Cola, Ambev e todas elas – estão na Europa, nos Estados Unidos e no Japão. Lá elas pagam. Por que não querem pagar aqui no Brasil? A discussão é essa.

Então, esse custo não pode ser socializado. Ele não é público. Não pode ser colocado na conta de cada cidadão. Quem não consome embalagens de vidro não pode pagar, por elas, no imposto. E é o que acontece, hoje em dia, porque quem paga todo o sistema é o SLU. E o sistema do SLU é financiado em quase 80% pelo imposto, pela Fonte 100. Então, tem que sair da conta pública e tem que sair da área privada.

As iniciativas do Paulo, da Dona Lenha, são fantásticas. É a ponta da cadeia, o último comerciante. Mas, antes dele, há o distribuidor; antes dele, há o fabricante e antes dele, há a indústria do vidro. Então, todo mundo tem que estar envolvido.

A Política Distrital de Meio Ambiente é uma lei de autoria do Deputado Joe Valle e fala da responsabilidade compartilhada. Falou-se muito dela aqui, hoje. Mas há uma linha de baixo – de que você não falou, Ana Paula – que é a responsabilidade pós-consumo do produto. A responsabilidade pós-consumo é do produtor. Quem tem que cuidar do produto é o produtor. O ciclo de vida do produto deixa bem claro que o responsável pelo final do ciclo de vida de um produto é quem o produziu. Então, não pode pegar esse custo e jogar para a iniciativa pública e para todo cidadão.

Só para dar uns números para vocês: cerca de 4% do lixo de Brasília é vidro. A última (ininteligível) foi feita no ano passado pelos próprios catadores a fim de fazer o Plano Distrital, como o Diego falou aqui. Quatro por cento, em média, é vidro. Isso custa para os cofres públicos, o manejo desse resíduo, aproximadamente 2 milhões de reais

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por ano. Quem paga a conta são os cidadãos com os seus impostos. Essa conta não deveria ser pública; deveria ser privada.

Se a gente pegar o que tem no Lixão de Brasília hoje em dia.... O Lixão tem, hoje em dia, aproximadamente 40 milhões de toneladas de lixo enterrado. Desses 40 milhões de toneladas, cerca de 60% é lixo, é resíduo sólido domiciliar, e 40% é resíduo da construção civil. Então, são 24 milhões de toneladas de resíduos enterrados lá naquela montanha. Se a gente pegar que 3% é vidro, a gente está falando de 750 mil toneladas aproximadamente. Isso custou, aos cofres públicos, 150 milhões de reais nos últimos 40 anos.

A questão aqui é econômica, porque viabilidade técnica para reciclar o vidro, tem. Recife recicla porque tem uma fábrica de vidro lá, assim como São Paulo, Belo Horizonte. O Centro-Oeste não tem uma indústria de reciclagem de vidro. Então, a cadeia tem que se organizar: ou para viabilizar a logística reversa – o nome já fala: logística reversa é a logística de coletar e levar esse material para ser reciclado – ou para colocar uma fábrica aqui, mais próxima.

Eu louvo muito a iniciativa do Legislativo, porque existem três possíveis soluções para a questão do vidro. A primeira solução é essa que está no projeto de lei do Deputado: proibir a comercialização de vidro que não seja retornável em Brasília. Você acaba com o problema, você não deixa entrar o vidro que não seja retornável em Brasília. Isso é uma solução.

A segunda solução é a que é feita na Europa e nos Estados Unidos: as empresas e os fabricantes de vidro colocam, no custo do seu produto, alguns centavos a mais para custear toda a cadeia. É um fundo público-privado que vai ser gerenciado por uma ONG ou pelo governo, e esse fundo vai financiar a logística reversa. A logística é paga ou pelo SLU ou por uma ONG, uma instituição privada, ou pelos catadores... não interessa, mas alguém tem que pagar.

(Intervenção fora do microfone.)SR. PAULO CELSO DOS REIS – Eu não estou dizendo que a Abividro

tem que fazer isso. A cadeia tem que fazer isso. A terceira opção, se não for esse fundo que está no produto, é você

sobretaxar o vidro. Em vez de você proibir, pode comercializar vidro aqui, em Brasília, que não seja retornável, mas com uma sobretaxa, que é o imposto que vai custear. Então, já que a cadeia não quer, de forma voluntária, fazer esse fundo, você a obriga e cria uma sobretaxa para esse fundo.

São as três soluções possíveis.

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A quarta solução é deixar como está, e eu acho que ninguém que está reunido hoje aqui tem essa intenção. O vidro está enterrado. Quatro por cento do que se está enterrando hoje em dia é vidro. São trezentos garis que se acidentam por ano, a maioria nos membros inferiores, nas pernas e nos pés, ao manejar ou coletar esse vidro. Não temos o número de catadores nas cooperativas, mas a gente imagina. Como o quantitativo é similar, nós temos em torno de quatro mil garis na cidade, em torno de quatro mil catadores. A gente imagina que deve ser pelo menos o dobro de acidentes com catadores, pois eles manuseiam muito mais o vidro. Estamos falando de seiscentos a setecentos acidentes por ano com catadores ao manusear o vidro. Quando eu falo em acidentes, são acidentes graves, não são acidentes ao dar um cortinho na mão e enrolar um band-aid, não. São acidentes graves, de ter que ir ao hospital para dar ponto, de ter que passar dois ou três dias trabalhando com dor, porque os catadores e os garis não param de trabalhar, senão eles vão ter uma diminuição na renda.

Então, a discussão aqui – se me permite levar – é muito clara. A solução é simples, é colocar ponto de entrega voluntária, fazer a coleta separada. Quem vai pagar a conta? Na visão do SLU – e acredito que na visão da Casa Legislativa –, essa conta tem que ser paga pela iniciativa privada, que é quem fabrica e comercializa os vidros.

Acho fundamental a ideia do acordo setorial que a Secretaria de Meio Ambiente está levando à frente para estabelecer as obrigações do setor produtivo em relação ao vidro. E que fique claro quem vai pagar essa conta e como essa conta vai ser paga para se viabilizar. Hoje em dia, se você falar para os catadores que, se eles separarem o vidro, eles vão receber algum recurso em relação a essa separação, que é muito mais perigosa – como disse a Mônica, por causa dos acidentes –, eles vão ter interesse em fazer a separação e em participar desse ciclo de reciclagem. Mas tem que haver dinheiro, o trabalho deles tem que ser remunerado. Você não pode colocar os catadores para trabalhar de graça, separar o material e mandar o material. Isso é uma iniciativa louvável dos comerciantes. E a gente está aplaudindo de pé. Mas os catadores sobrevivem da renda que eles tiram do serviço de triagem que eles prestam. Quem tem que remunerar esse serviço, na nossa visão – e estamos aqui para discutir –, é a cadeia produtiva do vidro.

Muito obrigado, Deputado.PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – Obrigado.Convido a fazer uso da palavra o Sr. Ronei Alves da Silva,

Coordenador do Movimento Nacional de Catadores.SR. RONEI ALVES DA SILVA – Bom dia a todas e a todos.

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Parabenizo o Deputado Chico Vigilante pela iniciativa; o Presidente da Casa; a Defensoria Pública; a Secretaria de Meio Ambiente.

Eu, como catador de material reciclável, venho discutindo isso há alguns anos pelo Movimento Nacional de Catadores. Acredito que a responsabilidade não é tão simples assim. Quem é que vai pagar a conta? Porque essa discussão tinha que ter sido feita lá atrás, na Política Nacional de Resíduos. E lá na Política Nacional de Resíduos, a gente vê que tem uma responsabilidade compartilhada, desde quem fabrica, quem comercializa, quem utiliza e assim por diante. Essa responsabilidade tem que ser de todos, e esse problema só vai ser resolvido se for por todos.

Eu acredito que não há como, única e exclusivamente, responsabilizar aqueles que produzem pelo simples motivo de que, se hoje uma garrafa de cerveja custa, sei lá, três, dois reais, se você for fazer, nessa perspectiva, uma garrafa de cerveja aqui no Distrito Federal, ela vai custar oito, porque o custo impreterivelmente vai acabar caindo na mão do consumidor.

Existe uma parte na Política Nacional de Resíduos que fala dos incentivos econômicos. Desde 2010 para cá, nada, efetivamente nada foi feito com relação aos incentivos econômicos. Há algum tempo a gente esteve na Sudeco, que é o Fundo de Desenvolvimento do Centro-Oeste. Eu acredito que só tem como resolvermos esse problema se nós efetivamente tivermos uma indústria que faça a reutilização do vidro no Centro-Oeste, e aí com o apoio do Poder Público, com o apoio das indústrias, do comerciante e principalmente do consumidor, porque é preciso separar as embalagens para que voltem para a cadeia produtiva.

Sem uma indústria no Centro-Oeste, isso não vai acontecer, porque não existe viabilidade econômica de se transportar uma carreta com 30, 40, 50 toneladas de caco de vidro para o litoral pelo simples motivo de que tudo que ela está carregando não paga o frete. Não paga! Se você colocar o litro do diesel no valor que está, o custo do pneu, o custo de pedágio, isso não tem viabilidade econômica! Não vai ser feito! A gente vai fazer a discussão, vai proibir a embalagem de vidro, e a embalagem de vidro efetivamente é um dos problemas, mas não é o problema total. Se essa vidraça se quebra, ela pode ir para o lixão, mas uma garrafa long neck não pode.

Então, essa discussão não pode ser tão simplória assim – Não. Não faz, então vamos proibir! –, porque o consumidor final, o cidadão, é que vai responder! Eu acredito que a gente precisa discutir isso profundamente para buscar uma solução efetiva, e a solução efetiva perpassa pelo poder público, pelos catadores, pela indústria, pelo

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comércio e por todo um setor. Aí, sim, nós vamos conseguir resolver o problema.

Para encerrar, quero dizer o seguinte: nós precisamos unir toda a cadeia produtiva, o consumidor e todo o poder público. E a gente quer aqui, o Movimento Nacional de Catadores, dizer que a gente parabeniza a Abividro. Acredito que a Abividro não tem como fazer tudo só, mas ela vem tentando fazer, vem tentando buscar relação. A gente tem visto, em outros Estados, o que a Abividros e o movimento nacional conseguiram fazer ações extremamente efetivas. Então, acredito que a gente pode sim.

Aqui em Brasília, a gente tem o problema da distância, mas ele pode ser resolvido. Aí a gente propõe sentar para discutir isso juntos, para que possamos trazer uma solução juntos.

Muito obrigado a todos e a todas. (Palmas.)PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – Obrigado, Ronei. (Palmas.)Eu gostaria de chamar para fazer parte da nossa Mesa aqui a Aline.

Há espaço e assim a gente faz uma Mesa mais diversa. Aline, por favor.Passo a palavra ao Superintendente de Resíduos Sólidos da

Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal, Sr. Sílvo Góes de Alcântara. (Pausa.)

SR. SILVO GÓES DE ALCÂNTARA – Bom dia. Eu gostaria de cumprimentar o Deputado Joe Valle, o Deputado

Chico Vigilante e os demais representantes de órgãos e entidades, enfim, a todos.

Primeiro, eu gostaria de esclarecer. É sempre bom a gente dizer qual a função da Adasa. A gente tem lá a competência de regular e fiscalizar o uso dos recursos hídricos do Distrito Federal, regular a prestação dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário, os serviços de drenagem de águas pluviais, o serviço de gás canalizado, que hoje ainda está incipiente no Distrito Federal. O que nos interessa aqui no momento é o serviço de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos aqui do Distrito Federal.

Acho importante realmente essa abertura do Poder Legislativo para participação de todos. Prova disso é a Lei nº 5.610, em que o Deputado Joe Valle abriu a oportunidade de participação e conseguiu, com isso, ter um texto que atenda bem, inovou com conceitos de resíduos indiferenciados que vieram, de uma maneira geral, a meu ver, facilitar um pouco para os geradores, visto que fez com que os resíduos recicláveis, os

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resíduos secos, e no caso incluem o vidro, fossem serem coletados pelo Serviço de Limpeza Urbana – SLU, pelo serviço público.

O Paulo Celso praticamente não deixou mais nada para eu falar, porque o que eu pensava em falar, ele falou, que a responsabilidade é de toda a cadeia.

A gente viu aqui a apresentação da Abividro, em que foi colocado que todo resíduo é reciclável. Mas a gente percebe que realmente não há a participação de toda a cadeia. Não adianta só a Abividro querer fazer, só a Abividro querer receber esse resíduo lá para reciclar, se não houver a participação dos demais entes, dos demais participantes da cadeia, dos invasadores, dos comerciantes e dos próprios consumidores.

A Adasa tem se preocupado, nas resoluções que a gente tem publicado – há duas resoluções, além da resolução de grandes geradores, que, aliás, vai entrar a audiência pública novamente para a questão dos valores –, a questão exatamente da logística reversa. O Poder Público também tem uma responsabilidade aí, porém, o que a política nacional de resíduos sólidos diz? Diz que sempre que houver a participação do Poder Público no gerenciamento de resíduos que não é de sua responsabilidade, o Poder Público tem que ser remunerado. Em virtude disso, a Adasa incluiu, na Resolução nº 21, de 2016 e na Resolução nº 5, de 2017, que sempre que o SLU fizer alguma atividade da logística reversa, ela deve ser feita mediante contrato. Contrato com quem? Com quem estiver representando aquela cadeia de resíduos. Deve haver alguém que representa ou próprio fabricante ou, se não houver alguém específico, vai haver, a partir daí, esse contrato, que precisa remunerar o serviço público. Por quê? Porque o SLU, no caso, hoje, contrata o catador. Não adianta a gente pensar que o catador tem que receber o valor que não remunera adequadamente o seu trabalho. O seu trabalho é importante. Ele é uma pessoa integrante da cadeia produtiva deste País e ele tem que receber adequadamente.

O SLU tem contratado cooperativas para prestarem serviço de triagem, e está remunerando por tonelada. Porém, os catadores já apontaram – já fomos aqui consultados sobre isso – que o preço não estaria adequado. Ok, vamos analisar, vamos rever. Só que não adianta só poder público rever a sua parte, arcar... (Falha na gravação.) Se o catador triar 5 toneladas de resíduos de vidro, ele será remunerado pelo SLU. Porém, se ele não receber, também do outro lado, a remuneração adequada... É preciso, conforme foi dito aqui, que o preço do produto inclua o gerenciamento dos resíduos por ele gerado.

Nesse sentido, o projeto do Deputado é interessante, mas temos que observar uma coisa: se proibirmos o vidro, vem garrafa PET. Se a

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garrafa PET também não estiver qualificada da mesma forma, o que o produtor, que antes comprava a embalagem de vidro, vai fazer? Vai passar para a embalagem PET. E se essa embalagem PET não for triada, ela vai para onde? Ela vai para o aterro sanitário. E no aterro sanitário ela não será decomposta tão facilmente. Continua sendo custo para o poder público o que não é da responsabilidade do poder público.

Eu gostaria de fazer uma observação no tocante à palavra do Paulo Celso, porque ele falou em um custo de 2 milhões de reais para gerenciar os 4% de resíduos de vidro que são gerados. Fazendo uma conta bem simples: se o custo, apenas da coleta, transporte, tratamento e disposição final de resíduos de característica domiciliar – não considerando os resíduos de limpeza urbana, as demais atividades de limpeza urbana –, gira por volta de quase 200 milhões por ano, então, o gerenciamento dos 4% não é de 2 milhões, é de 8 milhões. O negócio é mais feio! O buraco é mais embaixo.

Precisamos realmente achar uma solução. Eu aqui, como técnico da agência, neste momento representando a Superintendência de Resíduos Sólidos e a Adasa, nos colocamos, com os nossos técnicos, à disposição tanto do Poder Legislativo e como das demais entidades, porque essa participação é importante – a participação de técnicos e a participação da sociedade como um todo.

Basicamente, é essa a minha colocação. Estamos à disposição e prontos para discutir e tentar achar as melhores alternativas.

Quero reforçar que parabenizo realmente a iniciativa do Deputado Chico Vigilante e do Deputado Joe Valle no sentido de estarem aqui ouvindo a todos, tentando encontrar a solução para o problema.

Obrigado. (Palmas.)PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – Muito obrigado, Sílvo. DEPUTADO CHICO VIGILANTE – Sr. Presidente, solicito o uso da

palavra.PRESIDENTE (DEPUTADO JOE VALLE) – Concedo a palavra a V.Exa.DEPUTADO CHICO VIGILANTE (PT. Sem revisão do orador.) – Sr.

Presidente, nós estamos aqui com um grupo de trabalhadoras, o Coletivo de Mulheres da CUT. Elas vieram à Câmara Legislativa para entregar um documento para cada um dos 24 Deputados.

Eu queria convidá-las a virem aqui entregar o documento a V.Exa., Presidente da Câmara Legislativa.

(Entrega do documento.)

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(Assume a Presidência o Deputado Chico Vigilante.)DEPUTADO CHICO VIGILANTE (PT. Sem revisão do orador.) – O

Presidente Joe Valle teve que sair e eu estou assumindo a Presidência.Está presente o coletivo de mulheres da CUT. Lembro que o Dia 12

de Outubro é o Dia Nacional de Luta por Creches, uma situação muito grave que vivem as mães e os pais de família no Distrito Federal pela falta de creches. Elas vieram até aqui para entregar um documento aos parlamentares, especialmente ao Presidente da Câmara, pedindo apoio.

Passo a palavra ao Presidente da Rede Alternativa de Catadores de Materiais Recicláveis, Sr. Gilmar Clementino da Silva.

SR. GILMAR CLEMENTINO DA SILVA – Bom dia a todos.Começo agradecendo a Deus por mais essa oportunidade e à Casa

por levantar esse tema tão difícil aqui no Distrito Federal. Acredito que o Deputado Chico Vigilante acertou em provocar essa situação que está acontecendo aqui.

Eu quero dizer que eu vim pensando que ia ganhar um presente, porque hoje faz 32 anos que sou catador de material reciclável. Mas já ganhei um presente só de saber que há pessoas comprometidas com o trabalho.

Não vou estender muito a minha fala, porque muitos já falaram. Realmente, não é só o problema das indústrias, mas acredito que

seja um problema de todos. O que nós, catadores, podemos fazer, e acredito que já estamos fazendo há mais de quarenta anos, é trabalhando e tirando esse vidro. Muitas vezes, como a Mônica e o Cleusimar colocaram, e várias cooperativas fazem isso, tirando simplesmente para não agredir mais a natureza, sem recurso nenhum. Então, deu para entender que tudo isso custa dinheiro e é por isso esse problema todo em torno do vidro. Custa dinheiro e ninguém quer pagar a conta. Mas a gente não veio questionar quem vai pagar a conta ou deixar de pagar. Nós viemos dizer que os catadores do Distrito Federal também estão unidos. Com certeza, todos os lugares têm suas diferenças. Somos parceiros e queremos ajudar, mas, infelizmente, só podemos fazer mais do que estamos fazendo se houver uma estrutura. Foi o que foi pedido aí. Muitas vezes, a gente já teve algum debate com a Abividro, com várias indústrias, e a logística disse que não compensa.

Então, o que a gente quer dizer para as indústrias, para os fabricantes, para os comerciantes, para a população é que somos parceiros, mas, para ser parceiro, tem que ser bom para os dois lados. Isso é o que a gente está fazendo há muito tempo. O que pode melhorar esse

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trabalho é a gente ter um parceiro comprometido com a gente, dando essa estrutura e dizendo como a gente deve fazer, porque, sem catador, você pode ter certeza de que não vai ter via nenhuma para o vidro, porque a gente sabe fazer a reciclagem. Não é à toa que está mudando muito. Acredito que muitos, há alguns anos, viam o catador como um coitadinho, um mendigo, um sujo. Hoje em dia, muitas pessoas veem um catador como um empresário. É isso que a gente quer ser. É aí aonde a gente quer chegar. Por quê? Porque ser coitadinho não vai sustentar a nossa família.

Então, a gente mostra o que a gente sabe fazer, a gente veio e está mostrando o que a gente sabe fazer. Basta de um ficar jogando para o outro. Peguei a fala do rapaz, esqueci o nome dele, que disse sobre a união, a união tem que ser de todos, de todos, sem exceção. Quem vem lá da indústria para cá tem que ser unido e não ficar jogando a peteca para o lado. Eu, desde os 7 anos de idade, sou catador e tinha vidro. Não sei se estou errado. Se estiver, me corrija. Mas a proporção foi aumentando. Não estamos aqui para julgar e ser julgado. Somos parceiros. Se quiserem incluir os catadores nesse grupo, estamos aí e, com toda certeza, a gente não fala besteira. Sem valor econômico, a gente não vai fazer. É igual alguém chegar e falar para você: “Você vai trabalhar, mas não vai receber. Você vai querer”? O catador é deste jeito: coloca na cabeça do catador que ele tem que tirar a garrafa de vidro do lixo e fala para ele que isso vai melhorar o ambiente em que seus netos e seus bisnetos vão viver. Coloque isso na cabeça dele.

Então, a gente não está aqui para falar asneira, a gente está aqui para falar que ou a gente se junta para resolver o problema ou a gente pega o nosso livrinho e vai embora, mas tem que ter essa união de todos.

Muito obrigado.PRESIDENTE (DEPUTADO CHICO VIGILANTE) – Muito obrigado ao Sr.

Gilmar Clementino da Silva, que já tinha me comunicado que teria de sair agora, porque está com a esposa no hospital, mais do que justo acompanhar a esposa no hospital.

Passo a palavra à Presidente do Centro de Cooperativas do Distrito Federal, Sra. Aline Souza.

SRA. ALINE SOUZA – Bom dia a todos. Eu gostaria de agradecer aos Deputados pela iniciativa, em especial ao Sr. Presidente da Casa, Deputado Joe Valle. Para nós é de extrema importância trazer essa discussão, esse debate, a público, principalmente dando a garantia aos catadores, os maiores autores, manipuladores desses resíduos, de ter a oportunidade de contemplar as nossas atividades no que tange a esse tipo de resíduos.

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Eu gostaria de agradecer à Mesa; à Secretaria de Meio Ambiente, na pessoa de André Lima; ao Deputado Chico Vigilante; à Defensoria; à Diretora Zilda Veloso, grande parreira dos catadores, que reconhece o nosso trabalho, reconhece as responsabilidades devidas e nos traz como autores nessa discussão.

Primeiramente, eu gostaria de dizer, como presidente de uma central de 24 empreendimentos, com quatro mil pessoas, pais e mães de famílias, eu gostaria de dizer que nós somos totalmente contrários a qualquer tipo de aterramento de qualquer tipo de material reciclável produzido em todo o País. Então, jamais iríamos consentir, tanto como trabalhadores desse resíduo, quanto como cidadãos, o aterramento desse material. Foi dito aqui, por várias pessoas, o grau de reciclabilidade desse resíduo. Reconhecemos esse grau. Também reconhecemos os custos e os desafios dos custos com relação à viabilidade econômica desse resíduo. Porém, diante da ferramenta oferecida pelo Ministério do Meio Ambiente para implementar a Política Nacional de Resíduos na responsabilidade compartilhada... essa ferramenta, para muitos, não é a melhor, mas foi um pontapé e um modelo para que muitos municípios e até o Distrito Federal implementem e busquem um acordo.

Na regulamentação da própria política, ela cita três formas de você buscar a implementação dessa política no que tange à logística reversa.

Então, você pode regulamentar, você pode fazer termos de responsabilidade, termos de compromissos e você pode fazer... deixa eu dar uma olhadinha aqui, são três formas: acordos, o que foi buscado, o que foi feito pelo Governo Federal. Durante todos esses anos, nós não vimos nenhuma dessas iniciativas ditas pela lei implementadas e buscadas pelo Governo do Distrito Federal.

O que está em discussão hoje, aqui, é um projeto de lei que joga o problema para debaixo do tapete, na minha opinião, porque a gente precisa buscar projetos de lei para garantir esse retorno desse resíduo e não para trazer a invisibilidade desse resíduo. Então, a responsabilidade realmente não é de um nem de outro, a responsabilidade é de todos. Então, a partir do momento em que você traz mesas de diálogo para trazer as fabricantes, o poder público, os consumidores, as cooperativas, você vai, num momento como este, garantir – ver que quem é responsável pelo quê – que esse resíduo tenha o seu retorno correto.

Para nós é um crime consentir com nomes dados a resíduos, principalmente o vidro, que foi dito com um nome diferenciado. Para nós, quanto mais facilitada for a comunicação entre nós que tratamos, o poder público, que é o gestor, e a sociedade, que é o consumidor, quanto mais facilidade tivermos na hora dessa educação ambiental, na hora dessa

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conscientização ambiental, mais certa a garantia do devido tratamento desses resíduos.

A partir do momento em que você dá um nome diferenciado e a sociedade ainda não está bem conscientizada diante das ineficientes campanhas que não existem ou que existem, você não consegue ter êxito num processo de retorno do devido material, do devido resíduo. Então, na minha opinião, o resíduo já tem nome, ele é o vidro, ele é 100% reciclável e ele tem que ter o devido tratamento.

Como foi dito também, a Política Nacional de Resíduos fala que os resíduos têm que esgotar todas as suas possibilidades de tratamento. E fala também da questão da viabilidade econômica.

O vidro não pode ter, por conta da questão da realidade da região Centro-Oeste, viabilidade econômica, mas as diretrizes, dentro dos acordos, das formas de implementação dentro da política, elas podem trazer essa viabilidade econômica para o vidro. É fazer acordo com todos esses atores responsáveis para arcar com a sua logística, para arcar com a sua estrutura, porque está lá, tem que arcar com a estrutura. As cooperativas hoje, como todo mundo sabe, não têm condições de arcar com essa estrutura, com esse tratamento específico do vidro.

São máquinas específicas, são EPIs específicos, são carros também disponibilizados específicos. Então, toda essa estrutura hoje, para as cooperativas prestarem esse serviço específico, tem que ser custeada por esses atores que vão ter que dialogar nesta Mesa.

As cooperativas têm que ser remuneradas desse resíduo não pela venda desse produto, mas pelo serviço prestado porque, assim que sentarmos, como foi dito aqui pelo Cleusimar, não paga a logística de recolhimento desses resíduos e também não paga nem os maquinários, nem ele recebendo, na base dele, não paga nem os maquinários que vão fazer o tratamento desse resíduo para mandar para a indústria. Então, a gente tem que ser ressarcido pelo serviço prestado quanto a esse tipo de resíduos.

Eu gostaria de falar também que todas as embalagens, dentro de um processo de educação ambiental, não têm como jogar essa conta para um ou outro autor custear. Principalmente hoje, o que a gente, enquanto o movimento, está vendo, Deputado, é que essa conta está sempre sendo jogada para alguém, que paga a conta. Porém, sempre a gente sabe muito bem de quem é o interesse de querer receber por um serviço prestado hoje pelos catadores. Quem recebe esses resíduos são os catadores, quem separa grande quantidade de rejeito e orgânico são os catadores, então, quem deveria receber, por esses resíduos, são os catadores. Então, hoje o que a gente consegue ver, dentro dos diálogos que existem, é que essa

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conta ou é do Poder Público ou é dos fabricantes e os catadores vão ficar sempre tendo que lidar, com os atravessadores, nessa parte econômica.

Fora que nós, catadores... muitos interpretam o nosso posicionamento só pelo viés econômico e nós não temos apenas uma visão econômica do resíduo, da gestão pública de resíduos. Temos também o conhecimento do viés ambiental, a gente não só recicla porque sobrevivemos disso. A gente recicla porque é o correto a se fazer para se garantir as próximas gerações.

Então, quando a gente briga para que o resíduo tenha a rota correta, o destino correto, é também para garantir a vida do planeta, menos extração dos nossos recursos naturais.

Brasília está enfrentando um problema gravíssimo, com a crise hídrica, que nossos lençóis freáticos não sejam contaminados com o aterramento desses resíduos. Não basta ditar um nome, para um tipo de resíduo, para resolver um problema x e, mais à frente, acarretar um problema pior, que é você minimizar custo... Para resolver um problema de um resíduo, você aumentar custo tanto econômicos quanto naturais, para você fugir de um problema que tem que ser revisto, não para ir para baixo do tapete, mas para que tenha, de fato, o destino correto.

A minha preocupação também... venho trazer aqui, para aproveitar o momento, não é só com relação ao vidro, mas há outros muitos materiais que passam pelas cooperativas, por hoje não haver um tipo de fiscalização, mesmo esse resíduo não sendo passível de reciclagem. Isso deveria ser provido, com projetos de leis, para buscar a devida atenção. Tem materiais que são fabricados hoje e que passam pelas cooperativas e que a gente não tem condições de mandar para ser reaproveitado. Esse tipo de projeto de lei de fiscalização pode ser buscado para garantir que esses materiais que sejam produzidos tenham, de fato, retorno, tenham a possibilidade de serem reciclados.

Uma das dificuldades, em relação a esse tipo de resíduo, é a bitributação. Com essa questão de você pagar duas vezes o imposto por um produto, não são dados incentivos para que esse produto tenha o retorno, para que se cumpra o ciclo produtivo dele. Então, a bitributação é um problema e é uma pauta que esta Casa deve puxar para que todos os atores se sintam responsáveis e comprometidos com relação a responsabilidade por esse produto.

Com relação às problemáticas que a gente está tendo em relação aos contratos de prestações de serviços, o vidro é um dos produtos... Já foi dito aqui: gera 4%. Acredito que é mais porque a quantidade de bares e restaurantes que produz é muito grande, fora a questão do consumo residencial. A gente tem esse produto, em estoque, nas bases. Só que

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esse resíduo, a partir do momento em que se tem um orçamento em que se pode receber apenas “tanto” e, mesmo você tendo esse estoque, por não poder apresentar nota de venda dele, você vai continuar com esse produto estocado na base.

Então, é preciso buscar garantir que esses contratos relacionados ao vidro sejam, de fato, direcionados para as cooperativas, seja para revestimento em garantia de melhores estruturas, seja para ressarcir seu custo logístico, seja para o que for, mas que vá para as cooperativas. O formato de contrato que o Distrito Federal tem, de R$ 92,00 (noventa e dois reais) a tonelada, não garante nem custear essa viabilidade econômica da logística, nem do tratamento em si, com os devidos equipamentos.

Então, essa questão está sendo bem discutida entre nós, principalmente agora que fomos procurados também pela Abividro e por uma empresa chamada Glass is Good, que trouxe uma luz no fim do túnel para o tratamento do vidro. Então, a gente está vendo a possibilidade – com as novas discussões que estamos fazendo com todos os atores responsáveis, com a cadeia produtiva do Distrito Federal da área de recicláveis – de buscar formas de garantir menos custo para o transporte desses materiais para fora, no caso Minas ou São Paulo. E, para isso, a gente precisa buscar, Deputado, diálogos e fomentar parcerias – que é uma das ferramentas ditas pela própria regulamentação da política – com essas empresas de logística, sejam as empresas de ferrovia, sejam as empresas de transporte ou as próprias indústrias fabricantes. Sem trazer esses atores para a mesa de diálogo, a gente não vai conseguir buscar formas de garantir que esse material vá para fora, uma vez que já ouvi que é quase impossível implantar uma indústria aqui em Brasília para evitar esse custo. Então, que a gente busque diálogos com esses atores, para a gente garantir que esse vidro vá para outros estados, em grande escala, e de forma que ele seja feito com menos custos tributários possíveis.

Eu gostaria de parabenizar os senhores por esse diálogo aberto, e que venham mais diálogos abertos com relação ao vidro, porque os diálogos não podem ser fechados. E temos um plano para ser executado brevemente. Que esse plano dê a devida atenção para esse resíduo, e que não seja o aterro sanitário de Brasília nem o Entorno de Brasília, porque, se verificarmos que esse resíduo vai ser aterrado e não vai ter o devido tratamento, iremos buscar a intervenção do Ministério Público.

Obrigada. (Palmas.)PRESIDENTE (DEPUTADO CHICO VIGILANTE) – Muito obrigado, Aline.

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Passo a palavra ao Defensor Público do Núcleo dos Direitos Humanos da Defensoria Pública do Distrito Federal, Sr. Werner Rech.

SR. WERNER RECH – Bom dia a todos. Eu queria pedir desculpas ao Presidente da Mesa, Deputado Chico Vigilante, por quebrar o protocolo. Cumprimento todos os presentes e os membros da Mesa na pessoa da Presidente do Centro de Cooperativas – CENTCOOP, Sra. Aline Sousa, que é representante das pessoas que mais são utilizadas em toda a cadeia dos resíduos sólidos e as menos remuneradas em todo esse processo. Deixo claro aqui que a Defensoria Pública, dentro do Legislativo, no momento em que os projetos de lei estão sendo preparados, ela é apenas uma observadora e mediadora, até porque a nossa capacidade de atuação se realiza apenas quando a lei é publicada e de fato finalizada.

Mas, de qualquer forma, quero já agradecer ao Presidente da Casa, Deputado Joe Valle, e ao Deputado Chico Vigilante por trazer esta discussão. Obviamente, uma lei sem amplo debate aqui, no Poder Legislativo, não vai ter um efeito objetivo quando for publicada. Esse é o maior mote aqui.

Obviamente, a Defensoria Pública não tem como se posicionar contra os ideais das cooperativas dos catadores, até porque são eles a essência do nosso trabalho na Defensoria Pública. Então, obviamente, a proibição do uso do vidro no Distrito Federal não aparenta ser, pelo menos ao Núcleo de Direitos Humanos, a resposta adequada ao problema. Obviamente, cabe ao Poder Legislativo decidir se é ou não a resposta adequada, mas deixo aqui a opinião do Núcleo dos Direitos Humanos da Defensoria Pública do Distrito Federal: proibir a entrada do vidro, de forma organizada, pelo comércio dentro do Distrito Federal não seria uma resposta adequada, até pelas limitações territoriais que o Distrito Federal tem. É uma porção muito pequena de terra para ser limitada por barreiras comerciais.

A entrada do vidro de forma desorganizada poderia ocorrer de qualquer forma e, ainda assim, teríamos que aterrar esse vidro no Distrito Federal, o que também não é uma solução viável exatamente pela resposta de termos um território limitado. A vida útil do aterro sanitário que temos hoje, e dos futuros aterros sanitários, obviamente vai sofrer um impacto significativo e um dispêndio de dinheiro público de forma desordenada, sem impor o custo a quem realmente faz uso desses produtos.

Dessa forma, a logística reversa é uma solução adequada para o problema, mas ela tem que ser debatida de uma forma muito apurada, até mesmo porque os atores mais demandados e menos remunerados de todo o processo são os que sofrerão os maiores impactos: os catadores.

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Obviamente, a ideia que foi colocada aqui de a produção do vasilhame não ser o produto em si no final, ela tem seus fundamentos, mas, de qualquer forma, é uma indústria que produz e lucra com isso. Se há um custo que faz com que o vidro não retorne até ela, é porque talvez o preço do vasilhame não esteja adequado. Como o próprio diretor do SLU aqui colocou, existe um local onde o dinheiro está e ele tem que ser compartilhado com todos os atores, para que os custos cheguem às pessoas que realmente utilizam esses produtos. Obviamente, quem tem condições financeiras vai comprar esses produtos, independentemente do preço. Como a mão invisível do mercado vai atuar no caso, vai fazer com que talvez a lucratividade diminua, mas a questão é: a gente está aqui pensando no meio ambiente ou na lucratividade das empresas? Acho que esse é o maior mote aqui. E também o questionamento. Não falo só da indústria que produz o vasilhame, mas também de toda a cadeia. Em outros países, as empresas pagam esses preços e embutem esse valor no preço final. Aqui no Brasil, elas preferem não fazer um acordo ou não fechar um acordo para resolver esse problema. Lembrando que, diferente do que foi dito na tribuna, o acordo setorial não é o único instrumento para resolver o problema. Obviamemnte, Poder Executivo pode impor a solução do problema.

Nós temos aí uma política nacional de resíduos sólidos que foi publicada em 2010 e decretos que regulamentaram a logística reversa, também de 2010. Então, a gente já está falando de quase oito anos sem uma resolução para esse problema nesse setor específico, enquanto outros setores rapidamente já se acertaram nos acordos setoriais, mas é óbvio que o Estado não pode ficar parado, vendo a situação ocorrer, degradando o meio ambiente.

Eu entendo a posição do governo, que aponta o vidro como um material a ser aterrado porque economicamente não está disponível a solução para o problema dentro do Distrito Federal, mas ao mesmo tempo essa solução não pode ser eterna da forma como é hoje. Ela tem que ser revista e em breve, até porque a gente está falando também de uma mercadoria que, se reinserida na cadeia econômica, vai gerar lucratividade para o Distrito Federal, arrecadação de impostos e toda cadeia normal de um produto que tem que ser reaproveitado.

Então, óbvio, hoje, falando de projeto de lei, a Defensoria Pública não tem uma atuação objetiva a ser proposta, mas o diálogo está disponível para mediações com as cooperativas, com o Poder Público, com o Legislativo. Acredito que este, talvez, seja um dos melhores caminhos para a solução do problema: fazer um acordo, ter os atores envolvidos nessa discussão, para que se chegue a uma solução adequada para o

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problema e não a imposição de um decreto distrital para revolver o problema no Distrito Federal.

Com essas considerações, Presidente, a gente encerra a fala do Núcleo de Direitos Humanos e da Defensoria Pública do Distrito Federal.

Agradeço mais uma vez a oportunidade de estar aqui.PRESIDENTE (DEPUTADO CHICO VIGILANTE) – Muito obrigado.Concedo a palavra ao Secretário de Estado do Meio Ambiente do

Distrito Federal, Sr. André Lima. SR. ANDRÉ LIMA – Amigos, primeiro quero agradecer a

oportunidade de estar aqui hoje. Falar por último tem os seus ônus e bônus. Muita gente já foi

embora, mas eu tenho a possibilidade de poder incorporar as diferentes visões que foram colocadas aqui, altamente qualificadas.

Começo saudando o Deputado Joe Valle pela iniciativa e também o Deputado Chico Vigilante, que está permitindo que possamos nos sentar em torno de uma mesa para buscar a solução mais apropriada para a cidade.

A logística reversa, como já foi dito por muitos aqui – e eu não sou um dos mais especialistas nessa matéria –, traz uma série de desafios para todos nós. Eu tentei sintetizar o veio de cada uma das falas, para a gente entender qual é a miríade de interesses que está envolvida na busca de solução. Nós estamos discutindo viabilidade econômica e isso envolve todo o segmento empresarial de uma cadeia inteira. Estamos falando de responsabilidade compartilhada, e responsabilidade compartilhada pressupõe, sobretudo, conteúdo, boa vontade e disposição para definir a parte da responsabilidade de cada um. Ela não é necessariamente simétrica, ou seja, não dá simplesmente para dividir o bolo todo em partes iguais, cada um tem um peso na responsabilidade. Estamos falando de inclusão socioprodutiva que é, na minha visão hoje, talvez, o maior desafio para a gente fechar a conta da questão de resíduos aqui no Distrito Federal, porque estamos prestes a encerrar as atividades no Lixão e ainda não encontramos uma solução adequada e apropriada para essa equação. Estamos falando em aumentar a vida útil do nosso aterro sanitário. Disse ao Governador que não temos de comemorar o primeiro aterro sanitário do Distrito Federal, temos de comemorar, se possível, o último aterro sanitário do Distrito Federal, porque enterrar lixo não é solução.

Quando o PC coloca uma pergunta, que eu acho bem pertinente, que é “quem vai pagar a conta?”, eu agrego a essa pergunta: para quem

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estamos pagando a conta? Porque todos estamos pagando a conta! Agora, quem hoje está ganhando com isso é quem está gerenciando aterro sanitário, porque quanto menos a gente recicla, quanto menos a gente repõe no ciclo produtivo, mais a gente enterra. Não precisa ser um gestor público assim muito inteligente ou acima da média para saber que quem está ganhando com isso é quem enterra resíduo.

Portanto, aumentar a vida útil do nosso aterro é um grande desafio da nossa política. A redução das emissões de gás de efeito estufa e a extração de minério, outro grande desafio colocado aqui; ter uma coleta seletiva bastante efetiva e eficiente, também é um grande desafio nosso.

Nós não podemos deseducar para depois reeducar. Eu não consigo! Sinceramente, falando agora como cidadão, e não como Secretário – não sei se é possível dividir isso, porque eu sou Secretário porque eu sou um cidadão, senão não o seria –, eu não consigo pegar a minha garrafinha, e eu quase não tenho garrafinha, mas eu tenho vidro de azeite, de azeitona e tal, eu não consigo jogar o vidro no lixo orgânico, já que eu não tenho uma terceira opção lá, diferenciada.

Eu não vou dizer que é uma briga, mas é uma divergência que eu tenho com a menina que trabalha lá em casa. Ela pega os vidros e joga tudo no orgânico, e eu digo que não é por aí.

Então, nós não podemos deseducar a sociedade para depois educar. Isso é contraditório, essa é uma coisa em que tem que evoluir no debate.

Na questão tributária a gente precisa entrar também, porque é preciso trabalhar outras ferramentas e outros instrumentos, não só o comando e o controle, mas também o incentivo e o desincentivo. Incentivar quem está fazendo correto. E quem é que vai pagar a conta? Aquele que não está fazendo o correto. Não é simples, do ponto de vista operacional, mas a gente tem que enfrentar isso.

Tendo resumido um pouco a leitura que eu fiz dos diferentes segmentos, Deputado, quero saudar a sua iniciativa. Eu gostaria muito de dizer hoje, aqui, que sou favorável ao projeto de lei. Por quê? Porque eu acho que ele tem um propósito justo, um propósito de interesse social, um propósito que busca resolver o problema, o propósito de chamar os atores à mesa para que assumam a sua parte na responsabilidade. Então, ele tem muitos méritos. Muitos méritos! Porque ele traz os atores ao debate.

Eu me lembro, e faço aqui um paralelo rápido, da política de combate ao desmatamento na Amazônia. É uma outra escala, uma escala continental, mas que envolve vários segmentos. Enquanto a gente só proibia – é proibido o desmatamento aqui; é proibido o desmatamento

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acolá; é proibido não sei o quê –, nós estávamos chamando para o poder público, na verdade, à responsabilidade, porque ele teria que ter e desenvolver condições para fiscalizar isso.

Isso tem um custo para o Estado. Nós estamos onerando o Estado! Porque, sem uma fiscalização efetiva, nós não vamos conseguir que a lei se cumpra; ela vai ser uma carta de boas intenções. Mas o propósito dela é salutar. O propósito é salutar, por quê? Porque funciona, digamos assim, como um torniquete, ele pressiona.

No caso do desmatamento da Amazônia, fizemos algo parecido. Quando a gente colocou para a cadeia produtiva, por exemplo, responsabilidade sobre os frigoríficos e produtores que compravam carnes oriundas de desmatamento ilegal, como nós fizemos isso? Cortamos os créditos de quem fazia ilegalmente, mas não se proibiu! Caiu em 80% o desmatamento. Então, proibir não é a solução. Não tem bala de prata nesses assuntos de alta complexidade para a sociedade. Agora, se tensiona para que haja um acordo.

Então, Deputado, eu até consultei V.Exa. rapidamente sobre isso. Talvez, o que a gente pudesse ter como solução ao projeto de lei fosse um dispositivo transitório nele. Conforme o senhor colocou, eu estou partindo do pressuposto de que o projeto de lei será aprovado, ainda que haja objeções, inclusive, eventualmente, do próprio governo. Mas, se for aprovado, é fundamental que contenha um dispositivo dizendo que entrará em vigor num prazo que dê condição para a gente chegar a um acordo; com esse dispositivo transitório dizendo que, chegando-se a um acordo setorial em vigor, ele terá força de lei. Ele passa a ter força de lei e, portanto, passa a ser, inclusive judicialmente, cobrado.

Assim, não será um acordo só entre privados. Ele passa a ser chancelado pelo Estado e passa a ter força de lei. Aí, estaremos, necessariamente, “forçando” que os segmentos se coloquem e se apresentem.

Agora, se no prazo estabelecido nós não formos bem-sucedidos na tentativa de mediação e validação de um acordo, faça-se a lei. Cumpra-se a lei, que não será, necessariamente, positiva para todos os setores.

Então, eu vejo o projeto de lei como positivo no sentido de obrigar, de trazer e de forçar a que as partes acordem nos dois sentidos. Tem gente dormindo aí... E está dormindo porque não tem interesse em resolver. Vamos despertar e vamos sentar para fazer esse acordo setorial.

Aí, sim, Brasília sai na frente como um exemplo, como um modelo que depois poderá ser seguido pelo resto do País, porque soube sentar-se à mesa, mediar, dialogar e achar uma solução.

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Então, Deputado, eu acho que este é mais um daqueles assuntos que não é um assunto político, não é governo, não é oposição. É um assunto que fere e interfere em toda a sociedade. Então, eu acho que a gente tem condição de, nesse aspecto, nos unir, como foi dito e colocado por aqui, estabelecer um prazo para que este acordo seja celebrado. E, se por um acaso, não formos bem-sucedidos nesse acordo, aí sim, faça-se a lei e aí sim se estabeleçam as sanções e as punições. E não só para um único segmento. Então, eu quero trazer essa proposta. Claro que eu ainda não a tenho formatada em artigo de lei, porque, na verdade, ela é fruto – e aí a validade de uma audiência pública como esta – exatamente desta oitiva. Quer dizer, não dá para a gente resolver o problema, imputando a responsabilidade só para um lado ou para outro. A gente tem que trazer todos à mesa. O seu projeto de lei tem essa virtude de forçar a negociação, e o Estado tem a responsabilidade de mediar e trazer a solução. Eu acho que estabelecendo um prazo razoável de cento e oitenta dias, a gente vai buscar colocar toda a energia para trazer uma solução, inclusive, apresentar aqui na Câmara Legislativa do Distrito Federal. Claro que um acordo não tem que ser aprovado por lei, mas ele pode ser considerado por esta lei como tendo força de lei. Isso é importante e isso vai, inclusive, fortalecer o próprio Poder Público no sentido de cobrar a sua implementação.

Então, eu parabenizo V.Exa. por esta iniciativa. A Secretaria de Meio Ambiente está totalmente imbuída aqui no esforço de tentar chegar a uma solução adequada para o problema. E eu me coloco, Deputado, à disposição para a gente buscar depois uma redação adequada que possa fortalecer a iniciativa, reconhecendo a sua validade nesse sentido.

Parabéns a todos! Agradeço ao Jorge Arthur e à Mirtes, da equipe da Secretaria de Meio Ambiente, que vem participando desse processo e conduzindo todo esse processo em nome da Secretaria de Meio Ambiente.

Muito grato a todos e boa tarde a todos.Muito obrigado. (Palmas.)PRESIDENTE (DEPUTADO CHICO VIGILANTE) – Muito obrigado,

Secretário José Lima. Estamos caminhando para o encerramento. Quero registrar aqui uma carta do Deputado Robério Negreiros, que diz:

“Excelentíssimos Senhores Deputados Joe Valle e Chico Vigilante, prezados senhores e senhoras, somos, hoje, legatários das conquistas e realizações de nossos antepassados. Ao longo da história da humanidade, inventamos ferramentas, descobrimos métodos e aprimoramos novas técnicas de produção. O conhecimento diverso deu ao ser humano uma outra perspectiva de vida e de mundo. Em tempos de praticar a conscientização ambiental, a logística reversa do vidro está entre esses

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temas de debate. Parabenizo a iniciativa dos nobres Deputados em debater o assunto em busca de soluções para combater as dificuldades encontradas para colocar em prática essa técnica de sustentabilidade.

Muito obrigado a todos e um grande abraço.”Muito obrigado ao Deputado Robério negreiros.A discussão que estamos travando aqui neste momento é muito

parecida com a Lei do Silêncio, porque eu fui autor do projeto da Lei do Silêncio. Nós buscamos um núcleo de estudos que tem na Universidade Católica de Brasília. São três professores. Eles buscaram, inspirados na legislação de Lisboa, em Portugal... Nós apresentamos essa lei aqui em Brasília. Por acaso, como era da minha autoria, os Deputados não quiseram aprovar a Lei do Silêncio, na época do Wilson Lima. Em seguida, no outro ano, ele pegou o mesmo projeto, não alterou nenhuma vírgula, reapresentou e foi aprovado. Virou lei e eu aplaudi, porque o que eu queria era a Lei do Silêncio. E essa lei, hoje, é muito combatida, dizendo que ela gera desemprego. Ela não gera desemprego. Ela traz bem-estar para a população do Distrito Federal. E é uma lei moderna, muito atual. Eu luto e luto muito para que ela continue existindo. A mesma coisa agora, com relação aos vidros. Eu estava vendo as discussões aqui: “Não, vai aumentar os preços”. Nós já prestamos atenção, todos nós, a que a população mais pobre quase nunca compra long neck? E que nas festas a que a população mais pobre comparece, o que é vendido é a latinha de cerveja? Não é assim? Geralmente, aquele balde de long neck é servido nos restaurantes mais chiques, onde as pessoas não querem tomar latinhas e pedem aquele balde com dez, doze cervejinhas. É bonito, é chique ter aquilo na mesa. E vão tomando. Depois, sobra pra quem? Para nós! Para a população do Distrito Federal, que paga o preço. Sobra para o gari, que corta as mãos, cortar o corpo. E sobra para vocês, recicladores, que recicla uma coisa que não tem valor nenhum. Tem que separar sem receber nada. Portanto, queremos dar a responsabilidade. Na Europa, eles são responsáveis pelo que produzem. Na hora em que dissermos que está proibida a venda delas aqui no Distrito Federal, eles imediatamente vão procurar uma maneira de continuar no mercado. Daí, certamente, vão remunerar os recicladores para incorporarem a garrafa como reciclável também. Alguém falou: “Chico, por que você não colocou o Velho Barreiro, não colocou também a Ipioca”? E eu falei que estava pegando primeiro a cerveja. “E os vinhos”? Depois, vamos ver os vinhos. Podemos ampliar, depois, para o whisky também. Mas tínhamos que começar.

Portanto, eu acho que o debate aqui foi muito produtivo. É bom que se diga que esse projeto está aprovado em primeiro turno e nós abrimos a

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possibilidade do debate em segundo turno. E eu vou fazer uma proposta, fruto do que eu colhi aqui das intervenções.

Eu gostei muito da intervenção do Paulo Celso. Ele coloca três possibilidades. De uma eu gostei muito, Paulo, que é a de responsabilizar a indústria. Na hora em que os responsabilizarmos... Podemos até não proibir, mas eles vão ficar responsáveis pelas garrafas que enviam para o Distrito Federal. Assim, alcançamos o nosso objetivo.

Portanto, eu quero propor neste momento que você, o André, o gabinete do Deputado Joe Valle, o meu gabinete, por meio do Willemann, que foi quem escreveu o projeto, inspirado no pessoal da Adasa – foi o Montenegro que apresentou –, e o Montenegro, que esteve nesta comissão... para que façamos o substitutivo, que façamos o substitutivo a ser aprovado este ano.

Eu não abro da aprovação desse projeto neste ano. E não é um projeto de um Deputado de Oposição, é um projeto de um cidadão que buscou a Adasa e o SLU para nos ajudar na elaboração. Buscamos a Adasa e o SLU que entendem disso e o escrevemos. Ele está bom, tanto é que está dando todo esse debate que está acontecendo.

Se a indústria está preocupada, se ela acha que... É bom que esteja mesmo, porque isso aqui, per capita, é o maior mercado de bebida do Brasil. Todo mundo sabe que Brasília é o lugar onde mais se bebe. E aí não são só as garrafas, vêm os acidentes, vem tudo.

Eu acho engraçado que as pessoas acham chique ir para os Estados Unidos e, quando chegam lá, não podem andar com bebidas na rua. Aqui eles acham que é normal, mas lá não podem.

Eu estava na Argentina uma vez e, quando deu onze horas, o pessoal do restaurante – a gente estava num restaurante embaixo do hotel – chegou e perguntou: “Querem mais alguma coisa da cozinha?” Onze horas! Eu falei: “Não. Daqui a pouquinho, a gente pede.” Ele disse: “Não. Tem que pedir agora, porque, às onze meia, a gente não atende mais nenhum pedido para comida.” Quando deu onze e meia, eles chegaram e falaram: “Querem mais alguma bebida? Se quiserem, peçam agora porque, à meia noite, encerramos.” E encerram mesmo à meia noite. Tudo.

Aqui no Brasil, achamos normal deixar tudo funcionando até às 2h, 3h da madrugada, virar noite adentro. Não é isso? Agora, acham chique ir para Buenos Aires e todo mundo se submete à legislação de lá.

Fico imaginando quantas vidas se salvaram lá.

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9h AUDIÊNCIA PÚBLICA 54

Portanto, o objetivo do projeto está alcançado, que era exatamente levantar o debate; agora, que vai ser transformado em lei, vai.

Eu estou propondo esta comissão para que ela possa se reunir de imediato, para que a gente possa aprovar até o dia 15 de dezembro. O projeto vai virar lei até o dia 15 de dezembro, esse é o nosso objetivo.

Agradeço ao gabinete do Deputado Joe Valle, ao meu gabinete, ao Cerimonial, ao Carlos, ao Paulinho, à Verônica, ao Toninho, do som, à Ruth, da copa, à Polícia Legislativa, aos vigilantes e brigadistas pela cooperação que deram para que esta sessão acontecesse.

Agradeço às demais autoridades e convidados que honraram a Câmara Legislativa do Distrito Federal com suas presenças.

Nada mais havendo a tratar, declaro encerrada esta audiência pública.

(Levanta-se a reunião às 11h52min.)