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RESUMO EXPANDIDO: REDAÇÃO E NORMALIZAÇÃO
Fábio José Rauen
Resumo: Este ensaio apresenta orientações para a redação e normalização de resumos expandidos e integra o Projeto de Promoção de Produção Científica em Cursos de Licenciatura do Plano Nacional de Formação de Professores da Universidade do Sul de Santa Catarina – PARFOR/UNISUL.
Palavras-chave: Resumo Expandido. Redação Científica. Normalização.
1 Introdução
O relato dos resultados é a etapa final de uma pesquisa. A produtividade
intelectual de um pesquisador é medida pela quantidade de publicações que ele produz, fato
que é resumido pela máxima “Publique ou pereça!” (Publish or perish!, em inglês). É
justamente neste ponto que produção científica e comunicação científica interconectam-se, ou
seja, a medida do que é ser um bom cientista passa pela competência desse cientista em
redigir adequadamente produtos escritos aceitos pela academia.
Não são poucos os gêneros textuais acadêmicos. Há monografias, dissertações e
teses, consideradas trabalhos de conclusão de curso; relatórios científicos, considerados
relatos de pesquisa; livros, coletâneas e folhetos, considerados textos de consolidação do
conhecimento; artigos em periódicos científicos, ensaios, papers, comunicações científicas,
resumos expandidos, pôsteres e resenhas críticas, considerados, cada um a seu modo,
produtos emergentes em ciência; e currículos e memoriais descritivos, considerados textos
sobre a trajetória acadêmica e profissional de um pesquisador.
Neste texto, está-se interessado nos resumos expandidos. Conforme Rauen (2013,
no prelo), por resumo expandido “define-se um texto de três páginas no máximo, que resume
um texto acadêmico de maior extensão com o objetivo de difundir publicamente a pesquisa e
de ser publicado em anais de eventos”. Um resumo expandido, a rigor, é um texto que traduz,
em menor extensão, a estrutura dos textos de que se originam.
Orientações para a redação e normalização de resumos expandidos como parte do Projeto de Promoção de Produção Científica em cursos de licenciatura do Plano Nacional de Formação de Professores da Universidade do Sul de Santa Catarina.
Docente do PARFOR/UNISUL. Coordenador e Docente do Programa de Pós-graduação em Ciências da Linguagem da UNISUL. Mestre e Doutor em Linguística pela Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: [email protected].
Essa caracterização põe em evidência dois aspectos relevantes de um resumo
expandido. De um lado, ele pode ser visto como uma expansão de um resumo informativo ou
abstract; de outro, ele é uma compressão de um texto original mais extenso, em geral um
artigo científico ou paper. Em função dessa caracterização, apresenta-se neste texto o que
caracteriza um resumo ou abstract e um artigo ou paper para então dar conta da
caracterização de um resumo expandido, destacando sua normalização.
2 RESUMOS OU ABSTRACTS
Por resumo ou abstract define-se um texto curto que consiste numa “apresentação
concisa de pontos relevantes de um texto” (NBR 6028) na forma de uma sequência corrente
de frases.1 Motta-Roth e Hendges (2010, p. 152) afirmam que um resumo encapsula a
essência do trabalho e “serve para sumarizar, indicar e predizer, em um parágrafo curto, o
conteúdo e a estrutura do texto integral que segue.” Um resumo é, portanto, um texto de único
parágrafo que visa a apresentar o conteúdo de uma pesquisa o mais condensado possível.
Um resumo serve como documento primário, quando remete diretamente a artigos
e outras partes de revistas, relatórios, teses, monografias, anais ou atas de congressos e
patentes; como documento secundário, quando integra publicações de indexação e análise,
prospectos e catálogos de editoras e livrarias; ou como elemento de bases de dados.
Quando se publica um resumo em cadernos de resumos de eventos, o texto visa a
fornecer informações importantes para o participante decidir se participará da respectiva
comunicação. Quando se publica um resumo em base de dados, o texto serve para o leitor
decidir se deve ou não adquirir e ler o texto integral. Quando se publica um resumo em anais
ou periódicos, o resumo fornece acesso rápido ao conteúdo do texto que acompanha. Um
resumo, portanto, representa ou está no lugar de um texto mais extenso.
O resumo é um texto na forma de um parágrafo, o mais curto possível, cuja
extensão se mensura em quantidade de palavras. Recomenda-se que os resumos tenham as
seguintes extensões: em notas e comunicações até 50 palavras; em monografias e artigos até
125 palavras; em relatórios e dissertações até 250 palavras; e em teses até 500 palavras.
Um resumo informativo traduz em um parágrafo a estrutura do texto completo.
Em geral, apresenta objetivo, método, resultados e conclusões da pesquisa. O objetivo é
1 A rigor, entretanto, é possível reconhecer quatro tipos de resumo: indicativo, quando apenas indica os elementos essenciais de um texto; informativo, quando auxilia o leitor a decidir se vale a pena ler o texto integral e, nesse caso, é um texto condensado do texto de base (o tipo destacado neste ensaio); informativo/indicativo, quando é uma mescla dos tipos anteriores; e crítico, quando se propõe a ser uma interpretação do texto original (trata-se de uma resenha ou recensão desse texto, portanto).
2
transcrito; o método deve ser conciso, destacando-se novas técnicas, o núcleo da metodologia
e a ordem das operações; os resultados devem ressaltar fatos novos, descobertas, contradições
frente a teorias anteriores, relações e efeitos novos; e as conclusões podem incluir
consequências dos resultados, interações dos resultados com os objetivos, recomendações,
aplicações, sugestões, novas relações e hipóteses corroboradas ou refutadas.
De uma forma prática, um resumo informativo pode ser construído em três
períodos linguísticos, conforme a seguinte formulação: objetivo geral – ‘Este trabalho teve
como objetivo x’; metodologia (coleta e análise) – ‘Para tanto foi feito x’; resultados e/ou
conclusões – ‘Os resultados são x’, ‘Conclui-se x’. 2
3 O ARTIGO CIENTÍFICO OU PAPER
Definição. Por artigo define-se um texto breve, entre cinco e dez mil palavras,
que publica os resultados de uma investigação científica em seções principais de periódicos
especializados (jornais, revistas, anais ou outro órgão de divulgação científica).3 Trata-se de
um “texto com autoria declarada que apresenta e discute ideias, métodos, técnicas, processos
e resultados nas diversas áreas do conhecimento.” (ABNT, NBR 6022).
Redação. A redação de um artigo científico não diverge do esquema tradicional
que divide o texto em três grupos de categorias principais: introdução, desenvolvimento e
conclusão. Apesar disso, é sabido que diferentes comunidades discursivas constroem ao longo
do tempo diferentes formas de organização dos textos. Ciências humanas e sociais tendem a
eleger esquemas mais próximos da estrutura convencional dos textos. Ciências exatas e
biológicas tendem a eleger esquemas mais adequados aos interesses de pesquisa que
defendem.4 A despeito das diferenças, é possível destacar dois grandes esquemas de
organização textual de artigos: o modelo convencional, em geral mais aceito em ciências
humanas e sociais, e o modelo IMRAD, em geral mais aceito em ciências exatas e biológicas.
3.1 MODELO CONVENCIONAL
2 Para uma análise mais completa sobre o tema, ver Motta-Roth e Hendges (2006) e Rauen (2013, no prelo)3 Por periódico define-se “uma publicação em qualquer tipo de suporte, editada em unidades físicas (ou
virtuais) sucessivas com designações numéricas e/ou cronológicas, destinada a ser continuada indefinidamente” (ABNT, NBR 6022, acréscimo do autor), dedicada à publicação de estudos de natureza acadêmica e científica, em especial, artigos originais.
4 Mesmo que assim não fosse, vale reconhecer que um artigo que se refere a uma pesquisa bibliográfica deve demandar uma estrutura diferente daquela que uma pesquisa experimental demanda, ou que uma pesquisa qualitativa deve demandar itens textuais diferentes daqueles demandados por uma pesquisa quantitativa.
3
Caracterização. No modelo convencional, o artigo é dividido em introdução,
desenvolvimento e conclusão (o esquema básico de um trabalho bibliográfico).
Costumeiramente, o desenvolvimento de um artigo se subdivide em três seções próprias:
fundamentação teórica, metodologia e análise de dados ou achados.
Introdução. A seção de introdução engloba desde a delimitação de um tema e a
prospecção de um problema até a definição de objetivos no interior de um quadro que captura
a relevância da investigação. Para cumprir seu caráter introdutório, costuma-se indicar em
quantas seções o artigo está dividido e, em resumo, do que cada seção dará conta.5
Em geral, todos os elementos que configuram a introdução estão redigidos no
respectivo projeto de pesquisa. Todavia, não se trata apenas de copiá-los para o texto, porque
entre a projeção da pesquisa e sua realização, há mudanças que decorrem do amadurecimento
das reflexões, do cotejo de perspectivas e evidências e da retroalimentação ou impacto das
conclusões sobre as ideias iniciais que geraram o projeto. Conforme estas alterações, a mera
transposição da introdução do projeto no trabalho final pode gerar incoerências entre o que se
planejou e o que se obteve na pesquisa.
Além disto, é preciso rever o texto da introdução do projeto em seus aspectos
mais formais. Por exemplo, a introdução de um projeto é prospectiva, e os verbos estão
conjugados no futuro. O trabalho final é retrospectivo: é um relato da pesquisa já realizada.
Neste caso, os verbos tendem a ser conjugados nos tempos do relato, tais como o pretérito
perfeito simples (fez) ou composto (tem feito) ou, minimamente, no presente da narrativa
(faz).
Há inúmeras formas de conduzir o texto de uma introdução. Uma alternativa
viável é iniciar o texto, do mais amplo para o mais específico, sempre observando que os
argumentos que justificam a relevância da pesquisa devem fazer parte de toda introdução. Em
primeiro lugar, deve-se delimitar o tema da pesquisa, considerando o assunto do qual ele foi
obtido. Em seguida, vale destacar o problema ou as questões de pesquisa no interior deste
tema. Com base neste tema, segue-se a apresentação do(s) objetivo(s) da pesquisa e, conforme
o caso, de como se pretende atingi-lo(s). A redação da introdução se encerra, então, indicando
o conteúdo das seções que compõe o texto.
Fundamentação Teórica. A fundamentação teórica consiste na revisão criteriosa
da literatura pertinente como base para a compreensão do objeto de pesquisa e dos métodos de
coleta e de análise dos dados. Há diferentes formas de redigi-la. No caso de pesquisas
bibliográficas, ela própria é o desenvolvimento da pesquisa. Em muitos artigos, a revisão
5 Trata-se de uma operação desnecessária em resumos expandidos.
4
pode ser diluída em todas as seções. No caso de pesquisas de teoria embasada, ela é
desenvolvida concomitantemente à análise. Quanto mais complexo for o tratamento teórico,
por hipótese, maior será a necessidade de dividir o texto em seções à parte.
Metodologia. A metodologia dá conta do processo de coleta e de análise dos
dados, podendo conter, conforme o desenho da pesquisa, a proposição de hipóteses ou de
questões de pesquisa e respectivas variáveis, bem como seus possíveis tratamentos.6
Prototipicamente, vale iniciar a seção pela definição do desenho de pesquisa,
seguida pela discussão de hipóteses e variáveis ou questões de pesquisa para, em seguida,
explicitar os procedimentos de obtenção, tratamento, análise e discussão de dados ou achados.
Como se trata de uma seção que compõe o projeto de pesquisa, as mesmas
ressalvas da introdução servem para a metodologia, pois as ações são prospectivas nos
projetos e retrospectivas nos trabalhos finais. Por exemplo, não cabe reproduzir cronograma e
orçamento, mas relatar como as ações cumpriram o cronograma estabelecido ou como foram
empregados os recursos.
Análise. A análise consiste na dissecação crítica dos dados ou achados conforme
o método descritivo e explanatório escolhido. Do ponto de vista textual, há duas formas de
conduzir este processo. A seção pode ser denominada de análise e interpretação dos dados,
sugerindo que o texto será dividido em duas subseções pelo menos, a primeira dedicada à
descrição dos dados e a segunda à interpretação. Neste caso, cabe ainda uma seção formal de
conclusão. Alternativamente, como costuma acontecer em ciências humanas, análise e
interpretação são redigidas concomitantemente, cabendo à conclusão enfeixar os resultados.
Conclusões. As conclusões ou considerações finais refletem um processo de
síntese onde os resultados da pesquisa são cotejados com o quadro mais amplo de onde surgiu
o problema ou as questões de pesquisa.7
Segue-se um roteiro de itens para a elaboração desta seção: recapitulação de
problema, questões de pesquisa ou objetivos do trabalho para que o leitor possa atualizar as
metas da investigação; resumo dos principais aspectos teóricos considerados, caso pertinente;
resumo dos procedimentos de coleta e de análise dos dados, enfatizando as hipóteses,
conforme o caso; resumo dos principais resultados descritivos e interpretativos da pesquisa,
6 Vale destacar que há casos onde as hipóteses e as questões de pesquisa são antecipadas na introdução, a metodologia é implícita ou se torna irrelevante, como é o caso de pesquisas bibliográficas, ou a metodologia é suficientemente simples, de modo que os procedimentos de coleta e de análise compõem uma seção introdutória da seção da análise dos dados.
7 A expressão ‘conclusões’ é mais adequada a pesquisas quantitativas, pois elas delimitam uma questão objetiva a ser respondida, e a expressão ‘considerações finais’ é mais adequada para pesquisas qualitativas, pois elas pressupõem que não há como estabelecer quaisquer conclusões definitivas para questões sociais.
5
determinando que hipótese foi corroborada, que questões de pesquisa foram respondidas ou
que objetivos foram alcançados, conforme o caso; apresentação de limitações das conclusões,
ou seja, que variáveis ou fatores podem ter interferido na qualidade das conclusões;
apresentação de sugestões para futuros trabalhos na área, ou seja, que contribuições a pesquisa
fornece para quem quer progredir no mesmo tema; recomendação de utilização dos
resultados, reafirmando as finalidades da pesquisa; encerramento do texto.
3.2 MODELO IMRAD
Definição. Por esquema IMRAD define-se a sigla da sequência textual que
organiza os artigos acadêmicos em seções denominadas introduction, methods and materials,
results e discussion (introdução, materiais e métodos, resultados e conclusões), que foi
estabelecida pelo International Comitee of Medical Journals Editors – ICMJE (Comitê
Internacional de Editores de Revistas Médicas).
Caracterização. Neste esquema, a seção de introdução consiste na apresentação
de fatos conhecidos, resumo de estudos prévios, generalizações sobre o conhecimento
partilhado e na indicação da importância do assunto para a área em direção à identificação de
um problema a ser estudado. A seção de metodologia consiste na descrição dos materiais e
procedimentos usados no trabalho para estudar o problema. A seção de resultados consiste na
apresentação das informações decorrentes da coleta e da análise dos dados ou achados. A
seção de discussão, por fim, consiste na interpretação dos resultados em relação ao que se
alcançou no conhecimento do problema.
Lógica. Conforme Day (2001, p. 7), a lógica do esquema IMRAD pode ser
definida conforme as respostas a quatro interrogações norteadoras: a introdução responde à
pergunta Qual questão (problema) foi estudada?; os métodos respondem à pergunta Como o
problema foi estudado?; os resultados respondem à pergunta Quais foram as descobertas?; e
a discussão responde à pergunta O que estas descobertas significam?.
Habilidades. Para Motta-Roth e Hendges (2010, p. 68-69), o autor de um artigo
deve demonstrar habilidade para selecionar referências bibliográficas relevantes; refletir sobre
estudos anteriores da área; delimitar um problema ainda não totalmente estudado na área;
elaborar uma abordagem para o exame deste problema; delimitar e analisar um corpus
representativo do universo sobre o qual se quer alcançar generalizações; apresentar e discutir
os detalhes da análise do corpus; e concluir, elaborando generalizações a partir destes
resultados, conectando-as aos estudos prévios dentro da área de conhecimento em questão.
6
Delimitação/ampliação. Segundo as autoras (2010, p. 68ss), o modelo IMRAD
pode ser descrito por dois triângulos espelhados. O primeiro triângulo, representado pela
seção de introdução, exibe a passagem da amplitude do campo ou da disciplina em direção a
um nicho no conhecimento onde há um problema específico ainda não resolvido. O segundo
triângulo, representado especialmente pela seção de discussão, exibe a passagem dos
resultados obtidos pela pesquisa para implicações mais amplas do campo ou da disciplina.
Entre os dois triângulos estão a metodologia e a apresentação dos resultados da pesquisa
como instância particular de (a) e como suporte necessário de (b).
Figura 1 – O artigo científico
Fonte: Adaptação de Motta-Roth e Hendges, 2010, p. 69, com base em Soppelsa e West, 1982, p. 335.
Dois argumentos. Volpato (2011) considera que um artigo científico comporta
dois argumentos. Ele defende que a introdução consiste num primeiro argumento, e as demais
seções consistem num segundo argumento, cada qual contendo premissas e conclusão.
Na introdução, as premissas consistem em proposições que fundamentam o
objetivo do estudo, que funciona como conclusão destes juízos. Em outras palavras, o
esquema de uma introdução consiste em apresentar um conjunto de proposições que
fundamentam o objetivo da pesquisa. Volpato propõe escrever a introdução do artigo, retirar o
objetivo e fornecer o texto remanescente a um leitor. Se o texto da introdução estiver
adequadamente escrito, então será fácil para o leitor deduzir dele o objetivo da pesquisa.
Nas demais seções, métodos, resultados e comparação dos resultados entre si e
dos resultados com a literatura funcionam como premissas de um segundo argumento, e a
seção de conclusões funciona como conclusão deste argumento. Em outras palavras, dada a
Introdução
Delimitação
Metodologia
Resultados
Ampliação
Discussão
7
comparação dos resultados entre si e dos resultados com a literatura, e tendo sido estes
resultados obtidos com base em determinados métodos, então se seguem dedutivamente as
conclusões obtidas. Mais uma vez, se as três seções do artigo estiverem bem redigidas, então
será fácil para o leitor deduzir delas as conclusões do trabalho.
Introdução. A introdução do artigo visa a fornecer dados que permitam ao leitor
compreender e avaliar os resultados e estabelecer a relevância do estudo. O autor deve
esclarecer o propósito do texto. A maior parte da introdução deve ser escrita no tempo
presente, dado que ela se refere ao problema do estudo e ao conhecimento anterior à pesquisa,
daí a importância de uma adequada escolha de fundamentos teóricos.
Conforme Rey (2003, p. 211), é na introdução que se apresentam a natureza e o
objetivo do trabalho, situando-os em relação a outros textos já publicados no mesmo campo.
O autor deve indicar o estado de arte em que se encontra o problema investigado. Para ele, a
introdução também pode reapresentar, no todo ou em parte, dados anteriormente publicados
pelo mesmo autor, caso a pesquisa atual seja a continuação de uma série de estudos, se ela
confirma observações de outros autores ou se contém elementos novos.
Segundo Day (2001, p. 34), para escrever uma introdução, o autor deve esclarecer
a natureza do assunto que o problema investiga; rever a literatura necessária para orientar o
leitor; estabelecer o método de investigação e, se necessário, incluir as razões para escolha de
um método particular; estabelecer os principais resultados da investigação; e apresentar as
principais conclusões sugeridas pelos resultados, de modo que o leitor não fique em suspense
e possa seguir o desenvolvimento da evidência.
Materiais e métodos. A seção de materiais e métodos, escrita no pretérito, visa a
descrever (por vezes, a defender) o desenho metodológico. Isto implica a descrição minuciosa
de equipamentos, sujeitos e demais detalhes da pesquisa. Além disso, os procedimentos
devem ser apresentados cronologicamente, os materiais utilizados devem ser corretamente
caracterizados, e a descrição dos métodos usados deve ser breve. Cabe atenção especial à
correção da terminologia e à precisão linguística nesta seção.
Rey (2003, p. 211) destaca que processos e técnicas já publicados devem ser
citados, mas toda modificação introduzida pelos autores deve ser registrada com detalhes
indispensáveis à sua realização. Ele recomenda que o autor submeta o texto a um colega,
questionando-o se ele estaria em condições de repetir a experiência com os dados fornecidos.
Resultados. A seção de resultados visa a expor os resultados obtidos na pesquisa,
ou seja, as informações novas que o pesquisador fornece ao meio científico. Trata-se do
núcleo ou essência do trabalho, razão pela qual os dados ou achados de pesquisa devem ser
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apresentados com maior acuidade possível. Contudo, em função das constrições de páginas
em periódicos científicos, vale mencionar que nem todos os resultados precisam ser
destacados em artigos, os quais devem conter apenas as informações relevantes.
Na seção de resultados, dados ou achados devem ser apresentados com o mínimo
indispensável de discussão ou interpretação e ilustrados por tabelas, quadros ou gráficos
simples e suas respectivas estatísticas, sempre que pertinentes.
Discussão. A seção de discussão visa estabelecer uma análise crítica dos
resultados obtidos confrontando com demais estudos. Conforme Day (2001, p. 44), na seção
de discussão ou de conclusão de artigos científicos, o autor resume e interpreta os resultados
da pesquisa. Em seguida, ele coteja resultados e interpretação com pesquisas prévias,
avaliando suas causas, pondera implicações teóricas e/ou aplicações práticas, apresenta
evidências para a conclusão e recomenda aprofundamentos futuros das questões discutidas no
trabalho, abrindo espaço para novas pesquisas.
Conforme Motta-Roth e Hendges (2006, p. 78), a discussão é mais do que um
sumário dos resultados. Mais do que mera apresentação dos dados, a seção deve ser mais
teórica, abstrata, geral, integrada ao campo do conhecimento, conectada ao mundo exterior,
focalizada nas implicações e aplicações dos resultados.
Conforme Rey (2003, p. 212), sempre restrito ao exame dos dados obtidos e dos
resultados alcançados, o autor deve ligar os resultados aos conhecimentos anteriores; destacar
como os resultados concordam com ou divergem de outros resultados já publicados,
chamando a atenção para fatos novos ou excepcionais, para a ausência de correlação ou para a
falta de determinadas informações; apresentar suas conclusões; discutir as implicações
teóricas ou práticas dos resultados; e finalizar a seção, analisando a significação da pesquisa.
Segundo Day (2001, p. 46), os componentes de uma discussão são os seguintes:
apresentação de princípios, relações e generalizações indicadas nos resultados, de modo que
eles são discutidos e não apenas recapitulados; indicação de qualquer exceção ou falta de
correlação e definição de pontos não estabelecidos, nunca escondendo ou, pior, falsificando
dados que não estão bastante estabelecidos; demonstração de como resultados e interpretação
concordam ou contrastam com trabalhos publicados anteriormente; discussão de implicações
teóricas e de aplicações práticas possíveis; estabelecimento de conclusões tão claramente
quanto possível; e resumo das evidências para cada conclusão.
Rey (2003, p. 212) destaca três preocupações a serem consideradas na discussão
dos resultados de uma pesquisa: evitar hipóteses ou generalizações que não se baseiem nos
resultados quando o autor apresentar perspectivas novas para o estudo; evitar oferecer
9
argumentos ou provas que se baseiem em comunicações privadas ou publicações de caráter
restrito; e verificar se os argumentos da seção são necessários e pertinentes, uma vez que, tal
como ocorre nas introduções, os autores podem exagerar, repetir e prolongar comentários ou
até tentar compensar insegurança ou pobreza das contribuições do estudo com divagações e
circunlóquios onde procuram inutilmente esconder-se da crítica.
Conclusões. No modelo IMRAD, não há necessidade de redigir uma seção
específica de conclusões, uma vez que elas constituem os resultados da pesquisa, são
destacadas na discussão e fazem parte do resumo dos artigos. Deste modo, a seção é uma
tautologia. Em trabalhos de maior fôlego, contudo, pode ser que uma seção de conclusões ou
considerações se imponha como forma de resumir a argumentação que se espalhou por um
conjunto considerável de páginas. Além disto, é possível que essa seção seja exigida pelos
cursos ou eventos aos quais o trabalho se destina.
1.1.3 REDAÇÃO BACKWARD
A forma como se lê um texto não reflete necessariamente a ordem como este texto
foi redigido. Terminada a pesquisa e ainda antes de iniciar a redação, Volpato (2007, 2011)
sugere que o autor analise seus dados, elabore conclusões e exponha seu estudo oralmente
para um colega. Somente depois que esta apresentação for automática e coerente é que o autor
deve iniciar a redação. Para o autor, “escreve claro quem pensa claro.”
Magnusson (1996, p. 88) sugere cinco regras simples para a redação de trabalhos
acadêmicos, a saber: a) escrever as conclusões do estudo, de modo que elas indiquem
claramente a direção que o texto tomará; b) apresentar somente os resultados necessários e
indispensáveis para se chegar às conclusões; c) apresentar somente os métodos necessários e
indispensáveis para se chegar aos resultados que fundamentam as conclusões; d) discutir
somente as informações que se referem às suas conclusões (por exemplo, a revisão de
literatura que modifica, amplia, contradiz ou confirma as conclusões); e) escrever a
introdução somente com as informações mínimas necessárias para apresentar a questão.
Segundo o autor, ao escrever de trás para frente, os autores se concentram nos
pontos centrais do estudo, começando pelas conclusões que são apoiadas pelos resultados
pertinentes (resultados estes apoiados pelos métodos pertinentes), para, em seguida, discutir
estas conclusões e elaborar uma introdução coerente. Este método gera um artigo enxuto e
limpo em que cada parte é plena de significados.
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Volpato (2011), ao desenvolver as ideias de Magnusson, sugere que o primeiro
texto prévio a ser escrito seja o resumo, uma vez que este exercício obriga o autor a ter uma
visão de conjunto do estudo. Para ele, a essência de um trabalho científico é sua conclusão,
razão pela qual este é segundo texto prévio.
Com base nestes dois exercícios prévios, a próxima etapa é escrever o argumento
das conclusões. Para fazê-lo, o primeiro passo é selecionar quais os resultados da pesquisa
que são necessários para sustentar as conclusões. A partir desta seleção, escreve-se a seção de
resultados, escolhendo a melhor forma de apresentação: figura, tabela ou texto, conforme o
caso. Segue-se a consideração de procedimentos, ou seja, que materiais e métodos foram
necessários para se obterem os resultados que fundamentam as conclusões. O resultado desta
seleção é a seção de materiais e métodos. Por fim, leva-se em consideração a discussão, ou
seja, por que, em função de determinados procedimentos, resultados e literatura pertinente,
emergiram as conclusões, para que o leitor seja convencido de que esta cadeia sustenta as
conclusões e, por decorrência, aceite as conclusões.
Fechado o argumento central do estudo, pode-se dedicar ao argumento de partida,
apresentando o objetivo do trabalho. Volpato (2011) ressalva que há textos em que a
apresentação do objetivo dá lugar às próprias conclusões. Somente depois é que se considera
o melhor título para o texto integral.
4. ESTRUTURA DO RESUMO EXPANDIDO
Com base nas seções anteriores, é possível compreender agora que um resumo
expandido, definido como um texto de três páginas (em torno de mil palavras no máximo),
não pode ser reduzido a um parágrafo, como é o caso do resumo clássico, nem ser cópia do
artigo, algo em torno de 15 a 20 páginas. Desse modo, ele deve assumir a concisão necessária
de um resumo e demonstrar a estrutura do artigo de que foi origem.
Justamente por essa última característica, dois modelos de resumo expandido
serão apresentados neste ensaio, o modelo convencional e o modelo IMRAD. Vale destacar,
entretanto, que os autores podem estabelecer ajustes necessários. Por exemplo, pode ser o
caso de se abrir uma seção de conclusões no modelo IMRAD, ou podem ser inclusas seções
separadas para análise dos dados e interpretação dos dados no modelo convencional. Em
outras palavras, o que aqui se propõe deve ser entendido plasticamente.
Seguem os elementos para a elaboração de um resumo expandido.
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Título. Trata-se da expressão que identifica o trabalho. Em geral, deve dar conta
do tema da pesquisa. A redação do título deve ser concisa e compreensível. De um lado,
sugere-se evitar títulos excessivamente extensos com detalhamentos locativos e temporais; de
outro, deve-se tomar cuidado para não gerar títulos excessivamente curtos que não destacam
adequadamente os detalhes da pesquisa. Os títulos devem ser escritos com letras maiúsculas
(exceto nomes científicos, que também devem conter itálicos), em negrito, alinhamento
centralizado, espaço 1,5 e fonte tamanho 12.
Autores e orientadores. Segue-se uma lista de autores que realizaram a pesquisa
e redigiram o resumo. Quando se trata de mais de um autor, o primeiro autor é o responsável
pelo argumento principal da discussão. Quando se trata de autores e orientadores, os primeiros
nomes são os dos autores, seguido dos orientadores. Após o nome dos orientadores, segue-se
a expressão orientador(a) entre parênteses. Em nota de rodapé, seguem as seguintes
informações: credenciais profissionais, credenciais acadêmicas e endereço de e-mail. O nome
dos autores e orientadores é digitado à direita em fonte normal, tamanho 12.
Palavras-chave. Consiste na apresentação de três palavras identificadoras. Cada
palavra é uma sentença separada da outra por ponto final (a primeira letra é maiúscula).
Texto no modelo convencional bibliográfico. O texto é dividido minimamente
em três seções dedicadas à introdução, desenvolvimento e conclusão. A introdução consiste
na descrição do tema, definição dos objetivos do trabalho e apresentação da relevância da
pesquisa. No modelo PIBIC/Unisul, ao final da introdução, deve-se acrescentar uma seção
reservada a objetivos. O desenvolvimento apresenta os desdobramentos da pesquisa
bibliográfica. As conclusões ou considerações finais consistem na síntese da pesquisa.
Texto no modelo convencional ampliado.8 O texto é dividido geralmente em
cinco seções dedicadas à introdução, fundamentação teórica, metodologia e conclusão. A
introdução consiste na descrição do tema, definição dos objetivos do trabalho e apresentação
da relevância da pesquisa. No modelo PIBIC/Unisul, ao final da introdução, deve-se
acrescentar uma seção reservada a objetivos. A fundamentação teórica, quando pertinente,
apresenta a descrição das bases teóricas sobre as quais a pesquisa se organiza. A metodologia
refere-se à descrição dos procedimentos de coleta e de análise dos dados. A análise dos dados
consiste na descrição e interpretação dos dados. As conclusões ou considerações finais
consistem na síntese da pesquisa.
8 Para detalhamento dos itens, retomar a seção 3.1.
12
Texto no modelo IMRAD9 O texto dividido em quatro seções dedicadas à
introdução, métodos, resultados e discussão. A introdução consiste na descrição do tema,
definição dos objetivos do trabalho e apresentação da relevância da pesquisa. No modelo
PIBIC/Unisul, ao final da introdução, deve-se acrescentar uma seção reservada a objetivos. Os
métodos consistem na descrição sucinta dos procedimentos de coleta e de análise dos dados.
Os resultados consistem na apresentação dos resultados da pesquisa. A discussão consiste na
análise crítica dos resultados em relação à literatura e aos objetivos da pesquisa.
Eventualmente, é possível fechar o texto com uma seção de conclusões.
Referências. Lista das referências mais consultadas no Padrão ABNT.
Fomento. Quando pertinente, indicação de órgãos de fomento.
4. NORMALIZAÇÃO E EXEMPLIFICAÇÃO
Para dar conta da normalização de resumos expandidos, Rauen (2013) elaborou
três modelos de digitação denominados, respectivamente: “Modelo de Resumo Expandido
Bibliográfico”, “Modelo de Resumo Expandido Convencional” e “Modelo de Resumo
Expandido IMRAD”. Esses modelos foram disponibilizados no sítio do Programa de Pós-
graduação em Ciências da Linguagem.10 Para digitar os resumos, basta baixar o modelo e
trocar o texto previamente digitado pelo texto do trabalho em elaboração.
Para uma visualização de como se dá um resumo expandido nos modelos
convencional e IMRAD, seguem-se dois exemplos nos anexos deste ensaio.
O primeiro texto trata-se de uma pesquisa, intitulada: “Processos ostensivo-
inferenciais em compra de produto em sites brasileiros de lojas de departamentos: análise com
base na teoria da relevância”. Este trabalho foi desenvolvido pela estudante Yuhanna Mendes
Ferreira Ramos e orientado pelo professor Dr. Fábio José Rauen.
O segundo texto trata-se de uma pesquisa, intitulada “Análise da citologia de
escarro em pacientes portadores de tuberculose pulmonar, no sul do estado de Santa
Catarina”. Este trabalho foi desenvolvido por Gregório Wrublevski Pereira e Volnei David
Pereira e foi orientado pela professora Dra. Rosemeri Maurici da Silva.
9 Para detalhamento dos itens, retomar a seção 3.2.10 Endereço: <http://linguagem.unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/servi/mode.htm>.
13
Considerações finais.
Este texto visou a apresentar orientações mínimas para a elaboração e
normalização de resumos expandidos. Definiu-se resumo expandido como um texto de três
páginas no máximo (em torno de mil palavras), que resume um texto acadêmico maior,
difunde a pesquisa e se propõe a ser publicado em anais de eventos. Noutros termos, trata-se
de um texto que representa a estrutura dos textos originais em menor extensão. Dado que um
resumo expandido é uma expansão de um resumo convencional e uma contração de um artigo
científico, esses dois gêneros foram revisados, destacando dois modelos de produção de
artigos: o modelo convencional, mais afeito as ciências humanas e sociais e o modelo
IMRAD, mais afeito às ciências exatas e biológicas. Com base nesses dois modelos, foi
possível descrever a estrutura de três modelos de resumos expandidos, com os quais se pode
dar conta desde pesquisas bibliográficas até modelos experimentais mais complexos. Por fim,
elaboraram-se três modelos de digitação e apresentaram-se dois exemplos de resumos. Com
base nessa construção, espera-se, docentes e estudantes do PARFOR/UNISUL podem
encontrar orientações seguras para a elaboração de futuros trabalhos acadêmicos na forma de
resumos expandidos.
AGRADECIMENTOS
O autor agradece ao apoio institucional do Programa de Cursos de Licenciatura do
Plano Nacional de Formação de Professores da Universidade do Sul de Santa Catarina –
PARFOR/UNISUL. Seguem também os agradecimentos aos autores das pesquisas que
compõem os exemplos de resumo expandido.
ABSTRACT
Title: Extended abstracts: writing and normalization
Author: Fábio José Rauen
Abstract: This paper presents guidelines for the writing and normalization of
extended abstracts, and integrates the Project of Promotion of Scientific Production in
undergraduate courses of National Training Plan for Basic Education Teachers at the
University of Southern Santa Catarina – PARFOR/UNISUL.
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Keywords: Expanded abstracts. Scientific Writing. Normalization.
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6022: artigos. Rio de Janeiro, 1994.
______. NBR 6028: resumos. Rio de Janeiro, 1990.
DAY, R. A. Como escrever e publicar um artigo científico. 5. ed. São Paulo: Santos, 2001.
MAGNUSSON, W. E. How to write backwards. Bulletin of the Ecological Society of America, v. 77, n. 2, p. 88, 1996.
MOTTA-ROTH, D.; HENDGES, G. H. Produção textual na universidade. São Paulo: Parábola Editorial, 2010.
______ (Org.). Redação acadêmica: princípios básicos. 5. ed. Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria, 2006.
PEREIRA, G. W. Análise da citologia de escarro em pacientes portadores de tuberculose pulmonar no sul do estado de Santa Catarina, 2012. 3 f. Resumo Expandido, Graduação em Medicina, Universidade do Sul de Santa Catarina, 2012.
RAMOS, Y. M. F. Processos ostensivo-inferenciais em compra de produto em sites brasileiros de lojas de departamentos: análise com base na teoria da relevância, 2012. 3f. Resumo Expandido, Graduação em Administração, Universidade do Sul de Santa Catarina, 2012.
RAUEN, Fábio José. Roteiros de iniciação à pesquisa. Palhoça: Ed. da Unisul, 2013.
REY, Luís. Planejar e redigir trabalhos científicos. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: E. Blücher, 2003.
VOLPATO, Gilson Luiz. Como escrever um artigo científico. Anais da Academia Pernambucana de Ciência Agronômica, v. 4, p. 97-115, 2007.
______. Curso de redação científica. Botucatu: UNESP, [2011]. Disponível em: <http://propgdb.unesp.br/redacao_cientifica/>. Acesso em: 20 out. 2011.
ANEXOS – RESUMOS EXPANDIDOS NO MODELO CONVENCIONAL E NO
MODELO IMRAD
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PROCESSOS OSTENSIVO-INFERENCIAIS EM COMPRA
DE PRODUTO EM SITES BRASILEIROS DE LOJAS DE DEPARTAMENTOS:
ANÁLISE COM BASE NA TEORIA DA RELEVÂNCIA
Yuhanna Mendes Ferreira Ramos
Dr. Fábio José Rauen (orientador)
PALAVRAS-CHAVE: Sites de Varejo. Eficiência cognitiva. Teoria da Relevância.
INTRODUÇÃO
Com o incremento da internet, tornou-se possível a aquisição de produtos e
serviços on-line. As lojas de departamentos não ficaram alheias a esse movimento, elaborando
sites específicos para venda virtual. Do ponto de vista da administração, uma das questões que
podem ser analisadas é a eficiência desses sites no sentido de diminuir o dispêndio de energia
necessário para concretizar uma compra. Um site de vendas será mais eficiente quanto menos
custos cognitivos promover para uma compra ótima. Do ponto de vista da comunicação, um
estímulo comunicacional ostensivo será mais relevante quanto mais benefícios cognitivos for
capaz de gerar e quanto menos custos de processamento exigir do usuário. A teoria da
relevância é justamente uma abordagem pragmático-cognitiva que opera com essa mesma
lógica de custos e benefícios. Nesta pesquisa, que se estabelece numa interface entre essas
duas áreas do conhecimento, propôs-se a usuários uma situação de compra e procedeu-se à
verificação on-line das estratégias utilizadas para efetivar a transação, analisando, desse
modo, como as empresas administram o processo de oferta on-line ostensiva de produtos.
OBJETIVOS
O objetivo geral desta pesquisa foi o de “analisar, com base na Teoria da
Relevância de Sperber e Wilson (1986, 1995, 2001), os processos ostensivo-inferenciais na
compra de um produto em sites brasileiros de lojas de departamentos”. Mais especificamente,
a pesquisa visou: (a) identificar estratégias utilizadas pelos usuários para a interpretação da
Estudante de Administração pela Unisul; Estudante de Tecnologia de Recursos Humanos pelo SENAC; Bolsista do Programa PIBIC/Unisul; E-mail: [email protected].
Docente e Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Linguagem da Unisul; Docente do Curso de Letras da Unisul; Doutor em Letras/Linguística pela UFSC; E-mail: [email protected].
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situação-problema da compra do produto; (b) analisar os estímulos ostensivos para a
disponibilização e venda do produto nos diferentes sites; (c) observar as estratégias
inferenciais utilizadas pelos usuários para a efetivação da compra do produto; e (d) analisar a
eficiência dos sites para a venda do produto, a partir do desempenho dos usuários.
METODOLOGIA
Esta pesquisa analisou o desempenho de cinco sites brasileiros de lojas de
departamentos, definidos como estabelecimentos comerciais on-line especializados na venda
de produtos no varejo: ‘Casas Bahia’, ‘Lojas Americanas’, ‘Magazine Luiza’, ‘Shoptime’ e
‘Submarino’. A pesquisa foi realizada com 25 (vinte e cinco) universitários sendo 5 (cinco)
usuários por loja de departamento. A tarefa consistiu em comprar um barbeador Philips com a
função seco e molhado, na faixa de R$ 300,00, que, supostamente, pertencia a uma lista
fechada de presentes de casamento. A tarefa de compra foi organizada em quatro etapas:
sorteio do site, leitura em voz alta da situação-problema; compra do produto com verbalização
das ações (protocolo verbal); e emissão de opinião sobre a compra. Os dados foram gravados
em vídeo, e os resultados foram analisados quantitativamente e qualitativamente
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Os resultados, do ponto de vista quantitativo podem ser assim resumidos:
a) no que se refere à média de tempo de pesquisa para a compra do barbeador,
desde a abertura do site até o clique que identifica a decisão de compra, houve o seguinte
desempenho em ordem crescente: Casas Bahia, 68 segundos; Submarino, 80 segundos;
Shoptime, 83 segundos; Magazine Luiza, 125 segundos; e Lojas Americanas, 185 segundos.
O tempo médio foi de 108,2 segundos;
b) no que se refere à média de cliques para a compra do barbeador, houve o
seguinte desempenho em ordem crescente: Submarino, 2,2 cliques médios; Casas Bahia e
Shoptime, 2,6 cliques médios; Magazine Luiza, 3 cliques médios; e Lojas Americanas, 5,4
cliques médios. A média de cliques foi de 3,16;
c) no que se refere ao total de correções de pesquisa, houve o seguinte
desempenho em ordem crescente: Casas Bahia, nenhum erro; Shoptime e Submarino, um
erro; Magazine Luiza, dois erros; e Lojas Americanas, seis erros
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Esses resultados quantitativos foram corroborados pelas opiniões expressas pelos
sujeitos de pesquisa. Somente o site das Lojas Americanas recebeu críticas, embora todos
considerassem, ao final a compra, ter sido relativamente fácil encontrar e comprar o produto.
CONCLUSÕES
Conforme os achados, o site das Casas Bahia possui maior eficiência, enquanto o
site das Lojas Americanas possui menor eficiência. Embora o número de cliques necessários
para a compra do barbeador seja igual do site da loja Shoptime, o site das Casas Bahia
viabilizou a compra em menor tempo, e não houve erros durante a tarefa de compra.
Supostamente, uma das razões de sua eficiência, é que o site das Casas Bahia possui a barra
de digitação que complementa os dados digitados, sugerindo alternativas ao consumidor.
Outro fator que auxilia a pesquisa, é o menu lateral na página principal do site.
REFERÊNCIA
SPERBER, Dan; WILSON, Deirdre. Relevância: comunicação e cognição. Lisboa: Fundação Galouste Gulbenkian, 2001.
FOMENTO
Bolsa de Pesquisa do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica
(PIBIC), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
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ANÁLISE DA CITOLOGIA DE ESCARRO EM PACIENTES PORTADORES DE
TUBERCULOSE PULMONAR, NO SUL DO ESTADO DE SANTA CATARINA
Gregório Wrublevski Pereira; Volnei David Pereira
Dra. Rosemeri Maurici da Silva (orientadora)
PALAVRAS-CHAVE
Citologia de escarro. Tuberculose. HIV.
INTRODUÇÃO
A tuberculose (TB) é uma das doenças transmissíveis mais antigas do mundo,
sendo que nenhum outro mal incitou tantos estudiosos, entre médicos, juristas,
administradores públicos, religiosos, escritores de ficção, artistas e pesquisadores em geral. A
TB é considerada uma infecção microbacteriana crônica – causada belo Bacilo de Koch –
caracterizada pela presença de granulomas nos tecidos acometidos, assim como por
hipersensibilidade mediada por células. Apesar de o principal órgão acometido ser o pulmão,
é considerada uma doença sistêmica que pode cursar com a morte. A lesão granulomatosa é
característica da TB, sendo o granuloma constituído por células gigantes, derivadas dos
macrófagos, e por linfócitos T, e ao centro do granuloma maduro, observam-se células
epitelióides e células gigantes de Langerhan’s e, em seu envoltório, linfócitos T. A TB é a
doença mais prevalente em pacientes infectados pelo vírus da imunodeficiência humana
(HIV), acelerando a progressão do HIV para doença, sendo o contrário também verdadeiro,
ocasionando uma taxa de morbimotalidade elevada.
OBJETIVOS
O objetivo do presente estudo foi avaliar os achados citológicos em pacientes com
tuberculose pulmonar, associada ou não ao HIV, atendidos nos centro de atendimento
especializado em saúde de Tubarão e Criciúma.
Acadêmico de Medicina da Unisul. Bolsista PIBIC/Unisul. Médico patologista. Professora em Ciências Pneumológicas. Coordenadora do Programa de Mestrado em Ciências da Saúde da
Unisul. E-mail: [email protected]
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MÉTODOS
Participaram do estudo 31 indivíduos portadores de TB pulmonar, atendidos nos
Centro de Atendimento Especializado em Saúde (CAES) de Tubarão ou Criciúma, entre
Junho 2010 e maio 2011. Incluiu-se todos os portadores de TB pulmonar, maiores de 18 anos,
que iniciaram a terapêutica no máximo por 15 dias, e que assinaram o termo de consentimento
livre e esclarecido (TCLE). Foram excluídos aqueles que não puderam – independente do
motivo - produzir escarro espontâneo para coleta, ou que fossem portadores de alguma
comorbidade pulmonar - aguda ou crônica. Realizou-se a coleta de uma amostra espontânea
de escarro, de 5 ml, através de esforço da tosse, em um pote plástico descartável, transparente,
limpo, de boca larga, com tampa de rosca e capacidade de cerca de 50 ml. Após a coleta, a
amostra foi levada ao serviço de citopatologia, dentro de um prazo de 2 horas. A amostra foi
homogeneizada e, posteriormente, dividida em 3 porções para 3 protocolos de colorações
diferentes: Papanicolau, Romanowsky e Ziehl-Nielsen (ZN). A técnica de leitura adotada das
lâminas foi a de Turret (barra grega). A análise estatística foi realizada com auxílio do
programa SPSS 16.0. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade do Sul de Santa Catarina sob protocolo nº 10.411.4.01.III.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dentre as 31 citologias, encontrou-se 6,5% das amostras com limitações de baixa
celularidade, evidenciando boa qualidade do conjunto pré-laudo. Em relação à graduação dos
achados, estes foram agregados em ausentes (Ø) leves ou escassos (L), moderados ou
frequentes (M), e acentuados ou abundantes (A).
As células escamosas, cilíndricas, metaplásicas, displásicas, cardíacas, de poeira,
histiócitos, neutrófilos e linfócitos estiveram presentes nas respectivas formas: 12,9% L,
54,8% M, 32,3% A; 35,5% Ø, 54,8% L, 9,7% M; 83,9% Ø, 6,5% L, 9,7% M; 96,8% Ø, 3,2%;
32,3% Ø, 41,9% L, 25,8% M; 29% Ø, 58,1% L, 12,9% M; 6,5% Ø, 54,8% L, 38,7 M; 3,2%
Ø, 32,3 L, 35,5 M, 29% A e 9,7% Ø, 51,6% L, 32,3 M e 6,5% A; sendo esses achados
indicativos de alterações benignas reativas e processos inflamatórios.
Os achados secundários; muco, hemácias, cocos, diplococos, estreptococos,
fungos graduaram-se respectivamente: 9,7% Ø, 71% M, 19,4% A; 96,8% Ø, 3,2% M; 9,7%
Ø, 19,4% L, 58,1% M, 12,9 A; 9,7% Ø, 32,3% L, 51,6% M, 6,5% A; 96,8% Ø, 3,2% L; 29%
Ø, 9,7% L, 32,3% M, 29% A; sendo estes achados indicativos de acometimento fúngico.
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Em relação às bactérias álcool-ácidos resistentes (BAAR), encontrou-se: 12,9%
Ø, 54,8% L, 22,6% M e 9,7% A; indicando um bom rendimento da coloração de ZN para a
detecção de BAAR.
CONCLUSÕES
Os achados citológicos indicaram a presença de atividade inflamatória reacional à
presença do Mycobacterium tuberculosis, e um bom rendimento da coloração de ZN para a
detecção de BAAR no escarro.
REFERÊNCIAS
CAMPOS, H. S. Etiopatologia da tuberculose e formas clínicas. Pulmão, Rio de Janeiro, v.15, n. 1, p. 29-35, 2006.
FLYNN, J. L.; CHAN, J. Immunology of tuberculosis. Ann Rev Immunol, v. 19, p. 93-129, 2001.
MILBURN, H. J. Primary tuberculosis. Curr Opin Pulm Med, v. 7, p. 133-141, 2001.
POWERS, C. L. Diagnosis of Infectious Diseases: a Cytopathologist’s Perspective. Clin Microbiol Rev, v. 11, n. 2, p. 341–365, 1998.
RIVAS-SANTIAGO, B.; VIEYRA-REYES, P., ARAUJO, Z. The cellular immune response in Pulmonary Tuberculosis. Invest Clin, v.46, n. 4, p. 391-412, 2005.
ROSENTHAL, D. L. Cytopathology of pulmonary disease. Los Angeles: Karger, 1988.
SILVA, R. M.; STOCCO, P.; BAZZO, M. L.; CHAGAS, M. Sputum cellularity in pulmonary tuberculosis: a comparative study between HIV-positive and HIV-negative individuals. J Aids and HIV Res, v.2, n. 2, p.17–23, 2010.
FOMENTO
Bolsa do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O trabalho teve o
apoio técnico do Centro de Atendimento Especializado em Saúde (CAES) de Tubarão e
Criciúma, e de Volnei Serviços de Anatomia Patológica Ltda.
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