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Vitor Ramil escreve sobre seu novo álbum, Campos Neutrais. Saiba mais sobre os Campos Neutrais históricos e sobre o disco, que apresenta quinze composições inéditas e um songbook homônimo (lançamento simultâneo).

Leia também sobre a campanha de nanciamento coletivo que viabilizou parte da produção.

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A H I S T Ó R I AA H I S T Ó R I A

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No Tratado de Santo Ildefonso, assinado no ano de 1777 pelos reinos de Portugal e Espanha, foi denida uma área neutral. Segundo o historiador Tau Golin, tratava-se originalmente de uma faixa-fronteira que atravessava o Rio Grande do Sul no sentido sudeste-noroeste. Uma linha dessa faixa corria junto às nascentes de rios que corriam para o Rio de la Plata; a outra, junto às nascentes dos rios que corriam para o mar. A primeira delimitava o território pertencente a Espanha; a segunda, o de Portugal. Como o critério não se aplicava à costa, xou-se como zona neutra a extensa planície que hoje compreende, aproximadamente, os municípios de Santa Vitória do Palmar e Chuí, incluindo as lagoas Mirim e Mangueira, as línguas de terra entre elas e a costa do mar. Segundo o acordo, os espanhóis não passariam os arroios Chuí e São Miguel, ao norte. O limite ao sul para os portugueses seria o arroio Taim - linha reta até o mar. Com os anos, essa espécie de terra sem

dono no extremo sul do Brasil viria a se tornar conhecida como Campos Neutrais.

Os Campos Neutrais, atraindo para si toda a mística dos “espaços neutroz”, conforme grafado no Tratado, entraram para a história como uma zona que, nos dizeres de Tau Golin, sofreu “confusa e criativa ocupaçao”, pois o considerável espaço que, segundo o Tratado, deveria ser de ninguém, transformou-se logo “em atrativo, principalmente para aventureiros de diversas origens (gauder ios, caboclos, sertanejos) e pobres do campo em geral que nela passaram a transitar, prear o gado alçado, ou a se estabele-cer, em contato com grupos indig enas que centenariamente ja estavam na regiao. Nesta intrusao , destacaram-se os gauc hos lusos e castelhanos e os paulistas”.

Outro historiador, Anselmo F. Amaral, chama atenção para “o acerto que zeram as autori-dades portuguesas e castelhanas quanto aos

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escravos que nos Campos Neutrais se estabe-lecessem, fugindo aos maus tratos dos patrões. Deveriam merecer eles proteção das autorida-des, tanto do Taim como do Chuí”.

Ainda segundo o autor, os Campos Neutrais também foram lugar de refúgio e atividade para o changador - “homem sem Deus, sem Rei e sem Lei” - que, apesar de ser tido como matreiro, bandido, abigeatário ou contrabandista, é consi-derado o gaúcho primitivo - lho de espanhóis ou portugueses com as índias - tipo lendário que “agia sempre atendendo à sua condição de homem telúrico. Sempre só - tão somente ele na imensa pradaria! - estaria, assim, obrigado a adquirir uma concepção innita de liberdade”. O espírito dos Campos Neutrais e o modo de vida dos primeiros gaúchos - a mítica combinação de

vida campeira livre e aventuresca com aversão à autoridade - tinham, portanto, a mais completa anidade.

Graças à rica mistura humana, ocorrida em grande parte à revelia das determinações ociais dos reinos envolvidos, os Campos Neutrais tornaram-se emblemáticos da condição de fronteira do Rio Grande do Sul e do tempera-mento de seu povo. Na geograa, são hoje simbolizados principalmente pela reserva ecoló-gica do Taim e seu entorno. No imaginário con-temporâneo, abrigam ideias como liberdade, diversidade humana e linguística, miscigenação, comunhão, criatividade, fantasia e realidade, anti-ocialismo, anti-xenofobismo, inconformismo ou subversão, armando-se dessa forma também como uma reserva ecológica cultural.

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O Á L B U M

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Foi com a intenção de corresponder a esse signicado dos Campos Neutrais que reuni as quinze canções do álbum. As letras foram escritas em por-tuguês, mas há uma em espanhol e outra em inglês. O espanhol e o inglês também aparecem naturalmente (e digo assim porque sua presença no repertório geral é anterior ao conceito do disco) em frases ou palavras de algumas das canções em português, como Satolep Fields Forever ou Duerme, Montevideo. Por coincidência, as canções que acabo de citar são milongas. Mas não por coincidência não há um gênero musical que perpasse todo o reper-tório. Pelo contrário, a ideia foi de que as canções se abrissem para uma síntese de gêneros que se zesse sentir tanto na forma de construção dos acordes e de sua execução ao violão como nos arranjos de percussão e metais.

O primeiro som que se escuta em Campos Neutrais, a música de abertura, é o de um berimbau tocado com arco. Logo somam-se a este mais dois berimbaus, tocados à maneira tradicional. Um bombo leguero soa alguns compassos adiante. A combinação de um instrumento emblemático da Bahia com outro da Argentina, no entanto, não resulta em clichê de fusão cultural, mas numa síntese em essência. Se ao ostinato hipnótico dos berimbaus o leguero abre janelas para uma zamba argentina, os metais, escritos a partir da percussão e do violão, adicionam a essa sobreposição de

paisagens populares os entalhes construtivos da música contemporânea. Então, de repente tudo é popular e tudo é contemporâneo. A percussão, com outros tambores e efeitos, ainda vai além, sempre muito além, abrindo-se a outras culturas e transcendendo-as, sempre de modo que possamos acompanhá-la enquanto ela nos acompanha. Sob tudo, os violões, quase sempre dois, simétricos e abertos no estéreo, são uma planície cujas nuances harmônicas e rítmicas alimentam a elaboração de todo o resto.

A percussão esteve toda a cargo do argentino Santiago Vazquez (meu colaborador desde o disco Tambong). Os arranjos de metais são do porto-alegrense Vagner Cunha (em meu disco Longes, 2004, já havia um arranjo de cordas escrito por ele, mas nossa colaboração iniciou em 1999 com a Orquestra de Câmara Theatro São Pedro). Os dois são geniais. Não posso dizer menos do que isso sobre eles. O trabalho de ambos em Campos Neutrais é grandioso, fala por si só. Os metais foram tocados pelo Quinteto Porto Alegre, formação alternativa de músicos da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre: Elieser Fernandes Ribeiro (trompete), Tiago Linck (trompete), Nadabe Tomás (trompa), José Milton Vieira (trombone) e Wilthon Matos (tuba). São um assombro. No primeiro ensaio fui logo dizendo que neste trabalho eles seriam protagonistas. Todos me olharam com cara de quem

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é protagonista sempre, em qualquer circunstância. Estão, a rigor, da primeira à última música. O último som que se escuta no último fade-out é deles. Levei-os o mais longe que pude. Eles zeram o mesmo comigo.

A descrição que z da música Campos Neutrais, pode servir para as demais canções e respectivos arranjos. A paisagem total sugere o mapa da América de cabeça pra baixo do artista uruguaio Joaquín Torres García, que justicou o desenho dizendo: “porque nuestro norte es el Sur". Assim, do outro extremo do Brasil, Norte e Nordeste, três parceiros “subiram” até as planícies sulinas dos Campos Neutrais: Chico César, Zeca Baleiro e Joãozinho Gomes. Com Chico compus Olho d’água, água d’olho, uma canção em que a fusão em essência parece ter se repetido, já que, tendo eu escrito a letra e meu parceiro a música, quem ouve pensa que se deu ao contrário. Depois dividimos o canto, como já zemos muitas vezes em casa ou nos palcos. Com Zeca compus Labirinto. Fiz a música em Buenos Aires e ele escreveu em São Paulo uma letra em inglês, que terminamos recriando juntos em português a meu pedido, pois a melodia carregava um páthos que só poderia se consumar em nosso próprio idioma. Joãozinho Gomes, poeta paraense, durante uma temporada de trabalho e descanso em Macapá (quase lá no Oiapoque, para onde “desci” vindo quase do Chuí), me deu o poema Contraposto. Musiquei-o totalmente inuenciado pelo som e pela

rítmica melancólica dos tambores de marabaixo, ainda que, no resultado nal, os tambores e o ritmo sejam outros. O Zeca, que é parceiro do Joãozinho, cantou comigo.

Os Campos Neutrais acolheram também a música e a poesia de Bob Dylan, do poeta português António Botto e do galego Xöel Lopez. Do primeiro verti o clássico Sara, do álbum Desire (1976). Em português cou Ana, nome da minha mulher (Dylan compôs para a mulher dele à época). De Botto, Se eu fosse alguém (Cantiga) tornou-se melodia de um samba de corte clássico. Para cantá-lo convidei minha sobrinha Gutcha, cantora, percussionista e violinista. Gutcha canta sambas muito bem e tem um timbre marcante. Pedi a ela que cantasse à capela porque foi assim que compus a melodia, sem harmonia. Eu queria que o canto descarnado soasse como uma espécie de eco de voz ancestral e que o samba, que já se evidencia na melodia, casse apenas sugerido num contexto em que os gêneros musicais não são tipicados individualmente para não formar um conjunto eclético e sim apontar para uma linguagem síntese. A própria Gutcha, conhecedora de ritmos afro-brasileiros, observou esse propósito em Contraposto, em que muitas tradições se insinuam, mas que, grosso modo, é um samba (a percussão só em breve momento deixa o samba dar as caras explicitamente ao bater o surdo no segundo tempo do compasso). Tierra, de Xöel Lopez, em português cou Terra. Tentamos buscar

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outro nome, para não haver confusão com o clássico de Caetano Veloso, mas não encontramos alternativa melhor. A canção de Xöel sempre me levou às lagrimas, pela música, talvez pela letra, nunca entendi direito. Isso me fez querer cantá-la. Na hora de gravar a voz, chorei copiosamente, é claro.

Se esses parceiros e obras vieram de tão longe, a poeta pelotense Angélica Freitas, querida vizinha, precisou andar apenas uma quadra. Já musiquei quinze poemas dela. Pretendo gravar um disco dedicado à sua poesia. Para esse álbum quis antecipar nossa colaboração, até porque não conseguiria car muito tempo mais sem gravar uma das minhas preferidas, Stradivarius, nascida de um poema que, ao ler, me fez intuir que faríamos muitas canções juntos.

Os únicos músicos participantes que não tocam percussão ou metais são o violonista argentino Carlos Moscardini e o guitarrista porto-alegrense Felipe Zancanaro. Fiz questão de que participassem porque sabia que dariam a pincelada de expressão certa nas canções escolhidas para eles. Carlos tocou em Contraposto. Recebeu com certo espanto aquele “samba”, mas logo entendeu que eu não queria que ele me “acompanhasse”, no sentido convencional, e sim que se colocasse no arranjo como o compositor extraordinário que é. Tudo no disco é muito elaborado. Santiago e Vagner também são grandes compositores e isso transparece em suas

participações. Moscardini, com seu violão cheio de argentinidade, interioridade e silêncios, teria que estabelecer um diálogo transcendente com a música de rua brasileira que não quer calar em Contraposto. Tem uma milonga soando aí, não?, observou o Zeca Baleiro ao escutar o arranjo nalizado. Moscardini transcendeu. Já Felipe em Palavra Desordem não fez por menos. Era ligado na canção desde sempre. Quando escutou-a com a percussão explosiva de Santiago reconheceu-a como a própria casa. E cou à vontade ao ponto de muitas vezes levar o ouvinte a se perguntar o que é do Felipe e o que é do Santiago. Felipe queimou os navios, como diz a letra, para levar a canção ainda mais alto com o imenso repertório de texturas, ruídos e atmosferas de sua guitarra. Inspirado demais.

Comentei en passant ou citei algumas canções até aqui. Não mencionei Isabel, talvez a minha favorita, que compus para minha lha; Palavra Desordem, através da qual, apesar da retórica de convocação geral, propus uma revolução criativa e de mentalidade para mim mesmo; Angel Station, escrita em Londres depois que vi uma camiseta com a inscrição fuck the gap na referida estação de metrô; Lado Montaña, lado mar composta no período em que morei com Ana em Barcelona e que surgiu das expressões que os locais usam para se orientarem em cada lado das ruas; e, nalmente, Hermenegildo, não por acaso situada no extremo do roteiro, já que é o nome de uma praia do extremo-sul, a penúltima

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O projeto gráco é do designer carioca Felipe Taborda, meu colaborador em muitos trabalhos anteriores. Inicialmente cogitamos usar um conjunto de imagens com certo impressionismo e predomínio do branco. Mas quando o disco tomou forma, o rigor conceitual avançou para corresponder a uma exuberância sonora que pedia todas as cores do branco. Ao mesmo tempo, a pungência dos textos e da história dos Campos Neutrais impunha a presença humana vista com objetividade. Além disso, como zera ao nomear o álbum délibáb com uma palavra húngara e utilizar na capa uma foto dos arranha-céus de Buenos Aires, abrindo dessa forma o leque de signicados do trabalho, quis usar a mesma estratégia em Campos Neutrais. A música Satolep Fields Forever, cuja letra diz que “tudo é sonho, tudo é real”, deu a deixa de cenário e partimos para enfocar, em vez dos vastos campos despovoados, a rica mistura humana citada anteriormente, as pessoas, suas ações e realizações, tudo através das fotos urbanas de Marcelo Soares, em sua quase maioria feitas na cidade de Pelotas (Satolep), onde vivo, também no extremo sul do Brasil. O olhar compositivo e humano do Marcelo foi a justa tradução visual da música que criamos em Campos Neutrais.

(ou a segunda) praia brasileira. Geogracamente, o extremo-sul do Brasil é também o limite ao sul dos Campos Neutrais. Cheguei a cogitar tirar a canção do disco, por seu signicado íntimo. Foi composta num verão e tendo como personagem uma guarita de salva-vidas que me fazia pensar num bicho-robô de algum cenário pós-futurista fadado ao desaparecimento. No verão seguinte uma grande ressaca destruiu muitas estruturas à beira-mar, mais de trinta casas e todas as guaritas. Com isso, não pude deixar a música de fora.

Exceto pela percussão de Santiago Vazquez e pelo violão de Carlos Moscardini, gravados em Buenos Aires, o disco foi gravado em Porto Alegre. É o primeiro que gravo na minha terra. Aconteceu graças ao surgimento do estúdio Audio Porto, super equipado e com uma sala espetacular. O engenheiro de som Moogie Canazio veio dos EUA para pilotar as gravações e o fez com requintes de mestre. Depois ele mesmo mixou o trabalho em Los Angeles. André Dias, que fez uma masterização primorosa, comentou em um post: “Masterizando o incrível Campos Neutrais, de Vitor Ramil. Até agora nāo consegui encontrar um adjetivo para descrever o que o Moogie Canazio fez nesse álbum. É tāo extraor-dinário que nada chega próximo. Uma verdadeira aula de tudo.” Faço minhas as palavras dele.

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O S O N G B O O K

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O álbum duplo Foi no mês que vem, que lancei em 2013, teve como motivação inicial ilustrar o songbook que estava sendo produzido sobre o meu trabalho. As pessoas em geral se queixavam da diculdade de tocar minhas canções, fato que, por si só, já justicaria a ideia do Vagner Cunha de realizar o livro. Foi uma experiência incrível para mim, tanto produzir o disco como depois topar com muitos músicos, prossionais ou amadores, a tocar as minhas composições a partir do songbook.

Ao conceber Campos Neutrais z o caminho inverso: pensei num livro que ilustrasse o disco. Convidei Fabrício Gambogi, guitarrista e compositor, que trabalhara com o Vagner no songbook anterior, para se encarregar do desao. O Fabrício tem muito conhecimento e é muito sério, por isso o livro tem alto nível de realização. Nele estão todas as canções do

álbum, transcritas em partituras e tablaturas. Na capa e no miolo, as mesmas fotos de Satolep usadas o disco. Em breve texto de apresentação na orelha do livro, o compositor, professor e crítico musical Celso Loureiro Chaves observa: “A geograa, a moldura, as cercanias desses Campos Neutrais é Satolep e não só. A Catalunha, a Galícia, os países do Prata, o pampa são lugares possíveis. Mas nada esconde que o repertório de agora é sul-atlântico, apoiado no passado histórico da canção de abertura do álbum, Campos Neutrais, e - no outro extremo - da canção que o fecha, Hermenegildo. O repertório de agora, apesar dessas miradas, é plenamente deste século na sua vasta rede de relações e lembranças, vasta rede ultramoderna com pontes que se abrem para o inexplorado e pontes lançadas para poetas, compositores, culturas.”

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O F I N A N C I A M E N T O

C O L E T I V O

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Em 2012 recorri ao pensamento de Sérgio Buarque de Holanda ao apresentar o nancia-mento coletivo a que daríamos início, eu e minha equipe, para viabilizar o álbum duplo Foi no mês que vem (2013). Segundo o autor de Raízes do Brasil, as atividades coletivas dos brasileiros não seriam marcadas pela cooperação constante e disciplinada. Nosso povo teria, sim, o gosto pelos mutirões ou mobilizações pontuais em torno de determinadas causas. Fiz a citação por achar que ela explicava em boa medida o começo promissor das campanhas de nanciamento coletivo no Brasil, alternativa de produção cultural democrá-tica e transparente que só poderia ter surgido nesses tempos de ampla comunicação virtual.Os que se engajaram na nossa campanha e os que só depois de sua realização se inteiraram do

acontecido sabem que a experiência foi das mais bem sucedidas do país. O êxito não se limitou ao fato de termos atingido e superado a meta de nanciamento pretendida. Ganhos subjetivos e imensuráveis foram os que caram como o melhor de tudo: os apoiadores trocaram a passividade de público consumidor para se tornarem agentes de uma produção em que acreditavam, foram decisivos para que um projeto artístico se concretizasse; os artistas corresponderam a esse voto de conança direcionando a força e o signi-cado da mobilização a suas performances. Para mim foi particularmente positivo e transformador criar algo ao mesmo tempo em que expunha ao público minhas tentativas e erros ou contava histórias ou ainda pensava em voz alta sobre o que se passava em nossos corações e mentes.

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Durante as gravações e depois eu me comuniquei com o público através de vídeos, gravados ou ao vivo na Internet, e de relatos que escrevi sobre os trabalhos, os colaboradores ou o repertório, entre outros assuntos. Músicos, cantores e técnicos en-volvidos também se manifestaram nas redes so-ciais. Campos Neutrais é resultado do trabalho e da mobilização de muita gente. Não foi exatamente uma “confusa e criativa ocupaçao”, como a que ocorreu nos Campos Neutrais históricos, até porque tudo foi realizado com muito planejamento e organização. Mas a rica mistura humana voltou a se repetir.

No ensaio A estética do frio (2004), escrevi que no Rio Grande do Sul não estamos à margem de um centro, mas no centro de uma outra história. Treze anos depois, Campos Neutrais é, artística, cultural, espiritual e geogracamente, minha melhor ilustração dessa ideia.

Agora, 2017, cinco anos e muitas histórias depois, revivemos a experiência do nanciamento coletivo para realizar a produção de Campos Neutrais. Oitocentas e três pessoas de quatro países (Brasil, Argentina, França e Portugal) participaram da ação, número parecido com o da campanha anterior e muito signicativo em tempos de incertezas e desmobilizações, o que só conrma a ecácia do crowdfunding como alternativa aos nanciamentos públicos ou patrocínios empresariais.

Nossos apoiadores optaram por contrapartidas como downloads do disco, vídeos das sessões de gravação, discos físicos, songbooks (o novo e o anterior), camisetas, exemplares do livro Satolep e da primeira edição do ensaio A estética do frio - Conferência de Genebra, letras manuscritas e workshops individuais.

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Lançamento e distribuição

Preço sugeridoCD Campos Neutrais: R$ 35,00Songbook Campos Neutrais: R$ 45,00

ProduçãoBRANCA RAMIL LINHARESRamil e Uma Produções Artísticas+(55-21) 25425956 / 25428304

[email protected]@terra.com.br

Distribuição, informações,

vendas pela internetANA MAIASatolep Music+(55-53) 991294425

[email protected]/ramilongostwitter.com/vitorramil

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Design editorial: Valder Valeirão - Nativu Design | Fotos: Marcelo Soares | Foto Vitor Ramil (com Moogie Canazio, estúdio Audio Porto) Guilherme Bragança