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12/03/2016 :: Le Monde Diplomatique Brasil :: http://diplomatique.org.br/print.php?tipo=ac&id=3191 1/9 Imprimir página « Voltar DEMOCRACIA E PARTICIPAÇÃO A guerra das ideias: a disputa das narrativas A agenda imposta pelos interesses do sistema financeiro e das grandes corporações busca ocupar o centro do debate político com temas que não questionam sua hegemonia e seus interesses, por Silvio Caccia Bava Estado mínimo ou Estado de bemestar social? Controle democrático da política econômica ou liberdade de ação para as empresas transnacionais em um mercado oligopolizado? Estímulo à industrialização do país ou abertura do mercado interno para produtos estrangeiros? Juros altos para beneficiar o setor financeiro ou juros baixos para dinamizar o investimento produtivo, a industrialização, o emprego e o mercado interno? Política tributária regressiva ou distributiva? Controle da evasão fiscal ou leniência com os sonegadores? Aumento do salário mínimo para dinamizar o mercado interno e melhorar a vida dos trabalhadores ou redução do salário mínimo e da cobertura da Seguridade Social para aumentar a competitividade brasileira em relação à concorrência internacional? Essas questões estão interditadas ao crivo do debate público e democrático. Não interessa a discussão dessas opções sobre o modelo de desenvolvimento brasileiro e quem se beneficia dele. A agenda imposta pelos interesses do sistema financeiro e das grandes corporações busca ocupar o centro do debate político com temas que não questionam sua hegemonia e seus interesses, e atacam o governo e a capacidade reguladora do Estado democrático. O que ocupa as páginas centrais dos principais jornais do país? A acusação da incapacidade gerencial do governo, a corrupção e o aparelhamento da máquina do Estado por interesses partidários, o “desperdício” de recursos públicos com as políticas sociais, a violência e a criminalidade, o anúncio de uma crise sem fim que prejudica a todos, a criminalização dos protestos e movimentos sociais. Recentes pesquisas de opinião mostram que a campanha midiática atinge seus objetivos e a agenda das elites ganha a adesão da opinião pública. A mais recente pesquisa Datafolha (nov. 2015) coloca no topo das preocupações

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DEMOCRACIA E PARTICIPAÇÃO

A guerra das ideias: a disputa das narrativasA agenda imposta pelos interesses do sistema financeiro e das grandes corporações busca ocupar o centro do debatepolítico com temas que não questionam sua hegemonia e seus interesses,

por Silvio Caccia Bava

Estado mínimo ou Estado de bemestar social? Controle democrático da política econômica ou liberdade de açãopara as empresas transnacionais em um mercado oligopolizado? Estímulo à industrialização do país ou abertura domercado interno para produtos estrangeiros? Juros altos para beneficiar o setor financeiro ou juros baixos paradinamizar o investimento produtivo, a industrialização, o emprego e o mercado interno? Política tributária regressivaou distributiva? Controle da evasão fiscal ou leniência com os sonegadores? Aumento do salário mínimo paradinamizar o mercado interno e melhorar a vida dos trabalhadores ou redução do salário mínimo e da cobertura daSeguridade Social para aumentar a competitividade brasileira em relação à concorrência internacional?

Essas questões estão interditadas ao crivo do debate público e democrático. Não interessa a discussão dessasopções sobre o modelo de desenvolvimento brasileiro e quem se beneficia dele. A agenda imposta pelos interessesdo sistema financeiro e das grandes corporações busca ocupar o centro do debate político com temas que nãoquestionam sua hegemonia e seus interesses, e atacam o governo e a capacidade reguladora do Estadodemocrático.

O que ocupa as páginas centrais dos principais jornais do país? A acusação da incapacidade gerencial do governo,a corrupção e o aparelhamento da máquina do Estado por interesses partidários, o “desperdício” de recursospúblicos com as políticas sociais, a violência e a criminalidade, o anúncio de uma crise sem fim que prejudica atodos, a criminalização dos protestos e movimentos sociais.

Recentes pesquisas de opinião mostram que a campanha midiática atinge seus objetivos e a agenda das elitesganha a adesão da opinião pública. A mais recente pesquisa Datafolha (nov. 2015) coloca no topo das preocupações

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da população, pela primeira vez, o tema da corrupção, com 34% dos respondentes considerando o mais graveproblema do Brasil; entre os mais ricos, esse índice chega a 49%.

A manufatura do consenso, nos termos de Noam Chomsky, neste caso, é a capacidade de as elites convenceremboa parte da sociedade de que o principal problema do Brasil é a corrupção, e não os altíssimos juros pagos com oserviço da dívida pública. Direcionar a preocupação da população para o tema da corrupção serve para ocultar quepouco menos da metade dos impostos arrecadados pelo governo federal vai para o pagamento dos juros da dívidapública, impondo cortes nos orçamentos da saúde e da educação, entre outros.

Essa habilidade com que as elites e as classes médias altas dominam o que Chomsky chama de “o mercado dasideias” permite a esses estratos sociais influenciarem, ou mesmo moldarem, a percepção da sociedade como umtodo sobre a realidade política e limitarem as possibilidades de mudanças políticas e sociais.

Vários importantes analistas políticos, como Jacques Rancière, identificam que o essencial para a construção dahegemonia dos interesses do capital é ter o poder de determinar a agenda. Se a agenda puder ser limitada àsambiguidades (como a má administração), aos abusos e fracassos (como a corrupção), e à violência e criminalidade(entendidas como transgressões), então seus interesses estão preservados e seus opositores, desarmados. Tratase de interditar o debate, barrar o dissenso e ocultar os fatos indesejados, enquanto se estimula um vivo debatesobre temas que estão no âmbito dos limites permitidos.

Impor ao conjunto da sociedade uma visão de mundo, uma interpretação do real, é uma tarefa complexa e dinâmicaque busca tornar a subordinação do conjunto da sociedade interiorizada e imperceptível. Para isso, as formas decontrole político – e as narrativas que o sustentam – devem ser continuamente renovadas, recriadas, defendidas emodificadas, capazes de responder às pressões que questionam e desafiam sua dominação[i].

Podemos detectar essa ofensiva ideológica neoliberal a partir dos anos 1990, iniciativa que se originou deorganismos multilaterais, tendo à frente o Banco Mundial e a Organização para a Cooperação e o DesenvolvimentoEconômico, um think tank criado por 34 dos países mais ricos e que trabalha em defesa do livre mercado.

Atentos às manifestações sociais crescentes de críticas ao processo de globalização dos mercados e ao aumentoda desigualdade e da pobreza no mundo, manifestações essas que ganharam maior importância a partir dosprotestos em Seattle, em 1999, quando da reunião da Organização Mundial do Comércio, e a partir do primeiroFórum Social Mundial (FSM), em 2001, esses organismos multilaterais buscaram processar tais críticas e reelaborarcontinuamente seus discursos para absorvêlas e neutralizálas[ii]. Não é casual que o Banco Mundial tenha mudadoseu objetivo maior, antes definido como de apoio ao desenvolvimento, depois reciclado para o combate à pobreza,agora trabalhando o tema da desigualdade e da sustentabilidade ambiental.

A globalização desses novos discursos foi um processo que envolveu importantes instituições que os legitimaram.Considerando os relatórios anuais do Banco Mundial, o “World Development Report”, as agências das NaçõesUnidas, em especial o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, incorporaram o discurso daquelaentidade. E os relatórios anuais dessas agências passaram também a ser referência para centros de produção dopensamento conservador, como a London School of Economics (Inglaterra), a Harvard Kennedy School ofGovernment (Estados Unidos), a Fondation SaintSimon (França), a Deutsche Bank Fondation (Alemanha), entreoutros.

Com a legitimação desse importante conjunto de instituições, a narrativa neoliberal da conjuntura deu sustentaçãopara que governos nacionais viessem a pôr em prática as políticas sugeridas, com destaque para as propostaselaboradas no Consenso de Washington. É o que justifica neste momento os sacrifícios impostos a países comoPortugal, Grécia, Espanha e Itália, para que paguem suas dívidas públicas em mãos de bancos privadosinternacionais. Os mesmos ajustes fiscais e reformas estruturais impostos à América Latina nos anos 1980 sãopropostos a esses países como o amargo remédio para sair da crise.

É com base nessa produção teórica e política conservadora que se abre um novo campo de disputas e começa abatalha da comunicação: a tradução dessas narrativas para professores e estudantes das universidades, paraformadores de opinião e para o público em geral. Jornais, revistas e televisão levam essa visão de mundo,simplificada, para a opinião pública.

Há uma importante mobilização de recursos intelectuais e financeiros para construir uma narrativa, ou narrativas,que são “de uma temporalidade una, única, linear, contínua, progressiva e despojada de alternativas históricasreais”.[iii]

Essa desigualdade na guerra das ideias em favor dos interesses do capital só tende a aumentar no século XXI. Pararesponder às críticas dirigidas à globalização financeira, ao aumento da desigualdade e da pobreza, e à degradaçãodo meio ambiente, os setores neoliberais, além dos organismos já citados, dotaramse de novos e poderosos

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instrumentos de produção de conhecimentos e de intervenção social e política: os think tanks. São centros deelaboração teórica, de pesquisa aplicada, de promoção de debates, de difusão e disseminação de ideias, propostase políticas públicas. Disputam as ideias na sociedade, servem de conselheiros para os governos reorientarem suaspolíticas e em alguns casos participam da desestabilização de governos progressistas. Eles respondem ànecessidade de alimentar a guerra das ideias em nível regional e nacional, tratando as agendas dos conflitos noterritório.

Globalmente os think tanks existem há algum tempo. Os primeiros surgiram depois da Segunda Guerra Mundial,mas multiplicaramse depois, na esteira das crises mundiais, e ganharam impulso como uma reação conservadoraàs crescentes manifestações da cidadania contra a globalização financeira e a submissão das sociedades àslógicas dos mercados na última década do século XX[iv].

Na América Latina assistimos ao seu crescimento como uma reação à eleição de governos progressistas em váriosimportantes países do continente e à proposta de construção do “socialismo do século XXI”, expressa por Chávez,então presidente da Venezuela, no FSM de 2005. Eles surgiram também em função de uma avaliação de que asuniversidades públicas teriam se tornado centros de produção de conhecimento com uma perspectiva progressista ede esquerda.

No Brasil, esse fenômeno também ocorreu. Embora não se tenha uma avaliação do número de entidades nem doimpacto social e político de seus trabalhos, vários think tanks de defesa do livre mercado passaram a atuar emconsonância com diversas instituições, como Sociedade Mont Pèlerin, CATO Institute, Heritage Foundation, AtlasFoundation, Fraser Institute, Liberty Fund e Institute of Economic Affairs, que estão entre as mais importantesreferências internacionais do pensamento neoliberal.

Na esteira do Instituto Liberal (IL), criado no Rio de Janeiro em 1983, nos anos mais recentes surgiram institutosanálogos em capitais de seis estados brasileiros e no Distrito Federal. O IL constituiu núcleos municipais no interiorde diferentes estados, articulados aos respectivos institutos das capitais estaduais, e opera com um princípiofederativo.

Em 2004, o IL do Rio Grande do Sul transformouse no Instituto Liberdade, mantendo até hoje seus vínculos com oInstituto Liberal. Localizado em Porto Alegre, o Instituto Liberdade integra uma rede de quarenta think tanksdistribuídos pela América Latina e o Caribe. Entre seus curadores estão luminares do pensamento neoliberalmilitante, como Milton Friedman, Friedrich Hayek e outros integrantes da Sociedade Mont Pèlerin[LM1] , com sedena Suíça.

A partir de 2007, o leque de think tanks conservadores se ampliou com a criação de diversos outros institutos, comoo Instituto Mises Brasil, o Instituto de Formação de Líderes, o Instituto Millenium, o Instituto Liberal do Nordeste, oInstituto Ordem Livre e o Estudantes pela Liberdade, todos parceiros institucionais do IL.

Financiado, entre outros, pelos irmãos Koch, donos das Koch Industries, nos Estados Unidos, o Estudantes para aLiberdade, por exemplo, é a expressão brasileira de uma organização internacional que tem dezenas de milhares deintegrantes – estudantes já formados, estudantes universitários e secundaristas – espalhados pelo mundo. OStudents for Liberty, a organização internacional, declara ter 1.773 grupos ativos de estudantes distribuídos portodos os continentes.

A construção da hegemonia não é apenas uma guerra de ideias, ela requer centros públicos e privados de produçãode conhecimento, de análise da conjuntura, de produção de inovações, que absorvam e processem o mapa dosconflitos e trabalhem para ressignificálos. O intuito é criar “um conjunto de dispositivos práticos com o objetivo deanular a realidade desta luta de classes [...] é tomar todos os temas e projetos das oposições e invertêlos ponto porponto, apresentando essa inversão como um projeto generalizador não só para a classe dominante, mas para toda aNação. A partir desse projeto, definese[LM2] o que é o Estado e quem deve dirigilo”.[v]

Esses conhecimentos produzidos alimentam a batalha da comunicação. Revistas e grandes jornais são a principalfrente de combate, buscando sensibilizar os formadores de opinião. A TV se encarrega de popularizar osargumentos, criando versões simplificadas que atingem toda a população. Nunca é demais lembrar que, embora oscanais de TV sejam concessões públicas, os grandes grupos de comunicação são empresas privadas estreitamentevinculadas ao pensamento dominante, conservador e neoliberal.

Enfrentar o poder das oligarquias financeiras, das grandes empresas e de outras elites dos negócios – e questionar oque elas definem por “interesse nacional” – é custoso e difícil. Requer “desvendar a história como luta de classes”,fazer a análise crítica de alto nível dos acontecimentos e políticas, produzir uma agenda positiva e inovadora, edesenvolver uma capacidade de comunicação com a sociedade que, em geral, as oposições precisam conquistar.As eleições de governos progressistas na América Latina, e agora em alguns países da Europa, demonstram queisso é possível, mas mesmo assim, mais recentemente, enfrentando o contínuo ataque da agenda conservadora,

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esses governos perdem a popularidade e o apoio social.

Organizando a resistência

Não é a pobreza e a necessidade apenas que mobilizam os despossuídos, é também a indignação em face dadesigualdade; é a compreensão de que a desigualdade e a pobreza não são um fenômeno natural, são produzidaspor políticas públicas, são políticas praticadas pelas classes dominantes que beneficiam apenas as elites; étambém a crença em uma utopia de um mundo melhor.

Vivemos em um cenário novo, no qual a democracia foi capturada pelo poder econômico e as elites econômicasquerem rasgar a Constituição de 1988, eliminar os direitos sociais por ela assegurados. O Estado transita de umEstado democrático para um Estado de controle da sociedade. E esses processos têm uma dimensão global, nãoocorrem só no Brasil. Há um ataque também aos valores da democracia liberal. A lei de combate ao terrorismo, noCongresso para aprovação, ataca as liberdades civis, coloca todos sob suspeita, dá ao Estado uma enorme margemde arbítrio para criminalizar quem ele queira, para perseguir politicamente seus opositores. Não vivemos mais umademocracia, mas ainda não sabemos que nome dar a esta nova ordem política.[vi]

Este cenário, conservador e reacionário, é dominante, mas não é monolítico. E, da mesma forma como as eleiçõespresidenciais levaram ao governo forças populares em muitos países da América Latina nas duas décadaspassadas, novas mobilizações sociais podem mudar essa correlação de forças. São o que Cândido Grzybowskichama de “os movimentos irresistíveis”.

Nunca é demais lembrar que foram as eleições que levaram as forças populares aos governos. E as eleições sãoparte fundamental da democracia liberal, assim como a liberdade de expressão e protesto, o debate público, a livreorganização social e política dos cidadãos.

O arcabouço institucional da democracia liberal e seu funcionamento efetivo – as eleições, a existência de partidospolíticos, a autonomia dos poderes – são condições para o avanço das lutas sociais. E é a pressão social que podetornar efetivos os mecanismos democráticos de negociação dos conflitos sociais. A reapropriação pelos cidadãos doseu sistema político, radicalizando a democracia e socializando poder, é uma proposta que parte da existência dademocracia liberal e luta para transformála.

“Somente a partir do momento em que o discurso democrático esteja disponível para articular as diversas formas deresistência à subordinação é que existirão as condições que tornam possível a luta contra os diferentes tipos dedesigualdades.”[vii]

Politizar o social, isto é, transformar as demandas sociais em propostas de políticas públicas, é, portanto, um dosdois grandes desafios que se colocam para os movimentos sociais e as instituições que os apoiam – sindicatos,associações, ONGs, entidades, redes e fóruns de vários tipos. A descoberta de que os problemas vividos na vidaprivada são problemas coletivos e requerem soluções coletivas é crucial. É a passagem da esfera da vida privadapara a esfera da vida pública. Emprego, saúde, educação, transportes coletivos, moradia, segurança e recentementeo fornecimento de água são demandas sociais que se politizaram e abrem espaço para mobilizações sociais, comoas recentes greves contra demissões, as ocupações de escolas públicas e as manifestações contra o aumento dastarifas de transportes.

Junho de 2013 é um marco da politização do social. Naquele momento houve uma solidariedade de amplos setoressociais com o movimento pela redução das tarifas de transportes, que se deu principalmente em reação à violentarepressão policial que se abateu sobre aqueles que, nas ruas, defendiam seu direito à mobilidade. O direito demanifestação, a legitimidade de o cidadão ir às ruas mostrandose contra o aumento das tarifas, foi o elementounificador que levou milhões de brasileiros e brasileiras às ruas para protestar e reafirmar esse direito. O CongressoNacional foi cercado, assim como o Palácio do Planalto; milhões de pessoas saíram às ruas em dezenas decidades brasileiras. A luta pela redução das tarifas se transformou em uma luta contra a mercantilização dosserviços públicos, em defesa dos bens públicos comuns, da democracia, da livre manifestação.

No entanto, essas mobilizações enfrentam um Estado repressor, capturado pelos interesses do capital, que nega odiálogo, que não se dispõe a negociar e a fazer concessões, que criminaliza e combate os movimentos sociais, quenão se dispõe, ou não consegue, promover uma distribuição mais equitativa da riqueza social. Sem isentar osdemais entes da federação, são especialmente os governos estaduais, que controlam a polícia militar, a expressãomaior do autoritarismo e da repressão.

As conquistas sociais de 2013, quando dezenas de governos municipais voltaram atrás no aumento das tarifas, sãouma vitória pontual. O aumento nas tarifas de transportes públicos praticado recentemente levou os jovens e

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despossuídos novamente às ruas, para um novo momento de enfrentamento.

É evidente que, com o sistema político atual e a correlação de forças que se estabeleceu nas últimas eleições, aspossibilidades de fazer vingar uma agenda de defesa de direitos são muito limitadas. Mais de 90% do atualCongresso Nacional foi financiado, em suas campanhas eleitorais, por grandes grupos empresariais que asseguram,dessa forma, a predominância de seus interesses no âmbito da política institucional. O sistema político – partidos eParlamento – está capturado pelo poder econômico.

Socializar a política é o segundo grande desafio da cidadania. Tratase da reapropriação da política pelos cidadãos ecidadãs. A política não é só para os políticos, é para todos os cidadãos, que são portadores de direitos e queremparticipação nas decisões que os afetam.

Em 2014, uma vasta rede de entidades da sociedade civil organizou uma consulta popular nacional sobre anecessidade de uma reforma política, com uma Constituinte independente, isto é, sem a participação do atualCongresso, com delegados eleitos diretamente pela população e exclusivamente para esse fim. O resultado foi que7,46 milhões de brasileiros votaram e 97% se expressaram a favor dessa iniciativa. É mais que a população doParaguai, do Uruguai e de muitos outros países. A imprensa abafou a iniciativa e o sistema político ignorou essamanifestação cidadã.

Junho de 2013, a consulta popular pela reforma política, as greves pela reintegração de demitidos na indústria, arecente marcha das jovens mulheres negras em Brasília, a greve dos professores do Paraná, as ocupaçõesurbanas, o movimento das mulheres camponesas e inúmeras outras importantes mobilizações sociais por todo opaís, que a imprensa invisibiliza, mostram a riqueza da organização social brasileira. Esse capital social, no sentidode Pierre Bourdieu, é enorme. É uma conquista que começa a ser construída na luta contra a ditadura e continua sefortalecendo neste novo cenário mais democrático.

Novos e velhos atores se empenham na construção do espaço público, em afirmar a legitimidade de ir às ruas etransformar problemas sociais em questões políticas. E a primeira das questões políticas é assegurar e ampliar ademocracia, garantir os direitos dos que não têm para disputar os recursos públicos e o sentido do desenvolvimento.

Houve um momento, em 2002, em que toda essa força social canalizou sua vontade para eleger um governopopular. E elegeu. E depositou nele as expectativas e um voto de confiança de que ele iria operar as mudanças.Como era de esperar, muitos dos melhores quadros das entidades da sociedade civil foram assumir cargos nogoverno. As entidades se fragilizaram e, de certa forma, por terem seus próprios quadros dentro do governo, abrirammão da crítica, da análise, da produção de conhecimentos. Essa paralisia da esquerda, que, comprometida com ogoverno, abriu mão da crítica, deu espaço para a onda conservadora, a qual avançou sobre um terreno semresistência.

A análise da conjuntura feita, por exemplo, por Vladimir Safatle, não atribui a situação atual apenas à competênciados setores conservadores. Ele levanta a questão: “Seria interessante se perguntar se o fenômeno que vemos hojeé realmente uma onda conservadora ou simplesmente a decomposição radical do que poderíamos chamar de campodas esquerdas”.[viii] Segundo Chico de Oliveira, “assistimos à transformação gradativa da socialdemocracia departeira da transformação para o socialismo em elemento de funcionalização do capital”[ix].

Esse questionamento não se funda na ausência de movimentos sociais, que eclodem por toda parte. Sãomovimentos contra a expulsão pelo agronegócio dos agricultores familiares, contra a discriminação e o genocídio dajuventude negra, contra o extermínio das populações indígenas, contra a violência e a discriminação sofridas pelasmulheres, contra a degradação ambiental, contra a gentrificação das cidades e o apartheid imposto aos pobres, emuitos outros. O questionamento diz respeito à incapacidade de as esquerdas realizarem a tarefa da crítica aomodelo de desenvolvimento e às políticas atuais e oferecerem um projeto de sociedade alternativo ao neoliberal,uma nova agenda de debates públicos fundada em uma utopia capaz de galvanizar corações e mentes, “pensar emmovimentos contrários a essa forma de polarização entre a riqueza e a pobreza, a essa forma de destituição da falae do espaço da política, que nos permitam reafirmar um projeto de sociedade com equidade, justiça, democracia,com novos paradigmas”[x].

A tarefa da crítica

Em setembro de 2015 foi criada a Frente Brasil Popular (FBP). Representantes de movimentos populares, sindicais,partidos políticos e pastorais, indígenas e quilombolas, negros e negras, LGBT, mulheres e juventude se uniram“para defender nossos direitos e aspirações, para defender a democracia e outra política econômica, para defender asoberania nacional e a integração regional, para defender transformações profundas em nosso país”[xi].

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Segundo o Manifesto de fundação da FBP, essa iniciativa representa, acima de tudo, uma tentativa da esquerda deresponder, da forma mais unitária possível, à ofensiva conservadora em curso.

Seus propósitos estão sintetizados em cinco pontos, ainda segundo seu Manifesto:

“Combater a política econômica adotada pelo governo e o sequestro da agenda governamental pelos interesses docapital financeiro.

Defender os direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras: melhorias das condições de vida, emprego, salário,aposentadoria, moradia, saúde, educação, terra e transporte público.

Ampliar a democracia e a participação popular nas decisões sobre o presente e o futuro de nosso país.

Promover reformas estruturais, para construir um projeto nacional de desenvolvimento democrático e popular:reforma do Estado, reforma política, reforma do Poder Judiciário, reforma na segurança pública com adesmilitarização das polícias militares, democratização dos meios de comunicação e da cultura, reforma urbana,reforma agrária, consolidação e universalização do Sistema Único de Saúde, reforma educacional e reformatributária!

Defender a soberania nacional. O povo é o dono das riquezas naturais, que não podem ser entregues àstransnacionais e seus sócios!”.

Cada um dos pontos dessa agenda abre um campo de disputas e a necessidade de elaboração da crítica àspolíticas atuais. A capacidade de articulação e mobilização dos movimentos sociais e entidades integrantes da FBP,assim como de ampliação de sua base social, depende da produção de conhecimentos, da análise crítica darealidade atual e da construção de novas narrativas que desvendem a luta de classes em cada caso concreto eapontem novos caminhos para a solução dos problemas.

E é justamente ao fazer frente a essas disputas que esse campo político popular e democrático encontraimportantes limites e não dá conta de enfrentar a onda conservadora. Há um reconhecimento por parte de muitosanalistas de uma “carência acentuada de instituições ou think tanks que cumpram o papel de reunir as informaçõese as ideias indispensáveis para o estudo e a escolha de alternativas”.[xii]

No entanto, a construção de um projeto alternativo não é uma tarefa acadêmica, apenas para intelectuais. É umprocesso de articulação de lutas e de demandas, que possam pôr em alianças, como propõe a FBP, distintos atorescoletivos para se complementarem na formação de uma frente política portadora de um movimento de resistência àdestituição de direitos e um projeto alternativo de sociedade.

Há experiências interessantes que demonstram a possibilidade e a eficácia dessas iniciativas de articulação dedistintos atores em coletivos para a defesa de direitos. Um dos importantes exemplos atuais é a Plataforma dePolíticas Sociais[xiii], uma rede constituída há cerca de dois anos que hoje soma cerca de trezentos intelectuaisprogressistas engajados na tarefa de elaborar uma crítica ao modelo de desenvolvimento e às políticas públicasderivadas dele. São profissionais que atuam em mais de uma centena de universidades, centros de pesquisa,órgãos do governo, entidades da sociedade civil e núcleos do movimento social. Além de contar com a contribuiçãode dezenas de destacados especialistas internacionais.

Nas palavras da Plataforma, “estamos tentando pavimentar o difícil percurso de construir uma frente de debatesaberta e democrática voltada para o intercâmbio de ideias sobre a superação do secular atraso social do Brasil,reunindo e consolidando ideias, propostas e alianças no campo progressista. A Plataforma convive com apluralidade de ideias políticas e acadêmicas e não exerce veto de nenhuma natureza. Nossa atuação visa fortaleceralianças com os movimentos sociais e organizações da sociedade civil, em sua luta por uma sociedade mais justa einclusiva”.

Como um esforço coletivo liderado pela Fundação Perseu Abramo, no qual a Plataforma também esteve envolvida,juntamente com outras organizações e articulações, como Brasil Debate, Le Monde Diplomatique Brasil, Fórum 21,Rede Desenvolvimentista, Centro Celso Furtado, foi elaborada uma crítica ao ajuste fiscal e à narrativa que acaboupor impor um terrorismo na avaliação da conjuntura econômica que cobrava o ajuste sem que houvesse necessidadedele. O documento “Por um Brasil justo e democrático”, que já foi lançado e debatido em mais de quinze capitaisbrasileiras, é um exemplo de produção de conhecimento e de construção de uma narrativa que dá combate aodiscurso neoliberal, e apresenta alternativas de desenvolvimento[xiv].

A Plataforma é uma das iniciativas mais recentes, mas existem organizações da sociedade civil, como o Ibase, noRio de Janeiro, que trabalham no mesmo sentido há muitos anos. Várias dessas entidades se reúnem naAssociação Brasileira de ONGs, a Abong, que organiza um seminário que antecede sua assembleia geral, em

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março, com o tema de como organizar a resistência para a defesa de direitos e a defesa dos bens comuns.

“O Ibase se pensa mais como ator na sociedade civil, autônomo e público, do que como instituição. Seucompromisso intelectual e prático fundante e sempre renovado é pela radicalização da democracia como modo devida em sociedade. Define sua missão como de uma organização de cidadania ativa, que produz e formulaconhecimentos, análises, questões e propostas como argumentos para a ação democrática transformadora. Seucampo prioritário de ação é o espaço público. Analisar e propor, debater e agir, trabalhar em rede e construir fórunscoletivos, tudo visando movimentos políticos e culturais irresistíveis, que tenham os direitos, a cidadania, ademocracia e a sustentabilidade socioambiental como suas agendas, é o rumo que orienta o Ibase desde a suafundação.”[xv]

Os esforços de articulação desse capital social existente na sociedade brasileira têm ainda mais razão de ser porconta da desconstrução programática do Partido dos Trabalhadores, que nas décadas de 1980 e 1990 foi o espaçode confluência e articulação desse campo político popular e democrático.

A inflexão neoliberal do atual governo Dilma, capturado pelo poder econômico depois de ter ganho as eleições de2014 com 54 milhões de votos e um programa de transformação social, distanciou do governo e do PT milhões deeleitores, mas especialmente centenas de milhares de pessoas comprometidas com uma visão de transformaçãosocial com inspiração socialista. São justamente os mais críticos, os mais necessários para enfrentar a guerra dasideias e o pensamento neoliberal. Eles existem e estão à procura de alternativas para se engajarem em coletivos dedefesa de direitos.

Tecendo os fios da resistência

Em meio a toda essa luta política a que se assiste no plano do Congresso, da mídia e dos partidos políticos, tornase menos visível a fermentação na sociedade de uma crescente insatisfação popular. Os altos índices dereprovação do governo e do desempenho do Congresso são apenas um de muitos indicadores. Muitasmanifestações eclodem localmente, sem que a imprensa dê notícia. É a violenta repressão policial contra asmobilizações mais expressivas, como a luta atual contra o aumento das tarifas do transporte público, que provoca asolidariedade da sociedade para com os manifestantes. No que essa insatisfação vai dar não se sabe, é oimponderável. Mas Junho de 2013 não está tão longe e os problemas não fizeram mais do que se agravar. E Junhotraz como experiência a ação direta, a ocupação das ruas, a mobilização da juventude, a politização dosmovimentos sociais, a pressão sobre as instituições democráticas.

A cartografia dos conflitos mostra a cidadania mobilizada em variadas frentes: a disputa pelo direito à cidade, pelodireito à terra, pelo direito ao trabalho, contra as discriminações de todo gênero, pela preservação do meio ambiente,contra a mercantilização dos serviços públicos, pela universalização da saúde, da educação, pelo acesso à cultura,pela segurança pública etc.

Há uma diversidade de novos e velhos atores que ocupam o espaço público e apresentam suas demandas e seusquestionamentos. Mobilizados por questões específicas, eles expressam a capacidade de organização e deexpressão autônoma de atores coletivos na cena pública. E o Brasil se destaca pela riqueza de sua organizaçãosocial, pela grande quantidade de associações e entidades de defesa de direitos.

Esse capital social é o conjunto das associações de moradores, grupos de teatro na periferia, ONGs, sindicatos,associações profissionais, organizações de base de igrejas, movimentos de moradia, saraus da periferia e inúmerasoutras iniciativas de criação de coletivos diversos, como os feministas, do movimento negro, que, em conjunturasparticulares, se somam, criam formas de articulação, ampliam e politizam o questionamento do Estado e daspolíticas que este pratica. São frentes de resistência à destituição de direitos que, por exemplo, lutam contra asprivatizações, as quais sacrificam conquistas e bens públicos comuns em favor dos interesses do mercado.

A luta por direitos é também a luta contra a desigualdade e requer narrativas que desvendem as formas deexploração e opressão e tornem ilegítimas as políticas promotoras da desigualdade. Mas não bastam as denúncias;essas mobilizações precisam também trazer a público propostas afirmativas para a reconstrução de uma área socialespecífica, como é o caso da tarifa zero nas mobilizações contra o aumento das tarifas. A disputa pelos recursos epor novas políticas públicas é uma disputa concreta, ponto a ponto, que precisa de alternativas concretas paracontrapor a lógica dos direitos à lógica do mercado.

No caso da tarifa zero, não se trata de negociar apenas um valor menor para a tarifa, e sim de estimular o imagináriosocial com uma proposta que subverte o quadro institucional e apresenta uma ruptura: contrapõe a defesa de benspúblicos comuns à lógica dos serviços públicos como mercadoria.

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Sob a bandeira de luta contra a mercantilização dos serviços públicos e a defesa dos bens públicos comuns seagregam muitas lutas. É uma bandeira unificadora que, para ter força, precisa manter e reforçar relações concretascom as demandas sociais diretas da população. É uma proposta que combina dois propósitos: enfrentar ascarências atuais e oferecer ao imaginário social um projeto de sociedade em que essa utopia dos bens públicoscomuns se concretize.

Outras importantes frentes agregadoras das lutas sociais são: a questão do meio ambiente, da poluição, daescassez de água, do saneamento e das epidemias; os movimentos de juventude, como a ocupação das escolaspúblicas; os movimentos de defesa dos direitos da mulher e pela igualdade racial, entre outros. Em todas essasfrentes de conflito, a cidadania se organizou para a defesa de direitos, criando redes e fóruns que articulamentidades e movimentos locais e regionais para potenciar sua capacidade de intervenção.

Na soma da variada gama de seus participantes, essas redes e fóruns têm demonstrado a capacidade de elaborarnarrativas para a defesa de direitos, atuar na guerra das ideias, promover importantes manifestações públicas.Muitas delas reúnem sindicatos, movimentos sociais, acadêmicos, ONGs, associações profissionais e entidades devariados tipos. Cada um desses atores aporta sua contribuição para o conjunto. Uns oferecem seu trabalho depesquisa e análise das políticas públicas; outros, as bases sociais de suas organizações; um terceiro, o empenhona organização das manifestações etc. E sob a bandeira do direito à cidade, por exemplo, todos cooperam, secomplementam e se mobilizam.

O período pósditadura abriu espaço para as organizações de defesa da cidadania construírem suas articulaçõesregionais, nacionais e mesmo internacionais. As centrais sindicais são um exemplo. A Associação Brasileira deONGs, outro exemplo. Os movimentos de mulheres, de moradia, de defesa do meio ambiente, as lutas contra asdiscriminações de raça, diversidade sexual, os movimentos de juventude são todos atores coletivos que seconstituíram ou se fortaleceram nesse período e passaram a incidir na cena política.

Mas os tempos são outros. Não há mais a polarização ditadurademocracia, o que desafia esses movimentos aabrigarem novas utopias, a articularem essa diversidade numa luta conjunta por uma nova sociedade e ao mesmotempo a reforçarem suas mobilizações por demandas concretas.

Silvio Caccia Bava

Diretor e editorchefe do Le Monde Diplomatique Brasil

[i] Marilena Chauí, Conformismo e resistência, 4. ed., Fundação Perseu Abramo, São Paulo, 2014, p. 26. (Coleção Escritosde Marilena Chauí, organizada por Homero Santiago.)

[ii] Silvio Caccia Bava, “A produção da agenda social: uma discussão sobre contextos e conceitos”, Cadernos Gestão Públicae Cidadania, v. 31, Fundação Getulio Vargas, São Paulo, 2003.

[iii] Marilena Chauí, “História a contrapelo”. In: Edgar De Decca, 1930 – O silêncio dos vencidos, Brasiliense, São Paulo,1981.

Foto: Fernando Frasão/ Agência Brasil

[iv]Stephen Boucher e Martine Royo, Les think tanks – Cerveaux de la guerre des idées, Éditions du Félin, Paris, 2009.

[v] Marilena Chauí, “História a contrapelo”, op. cit.

[vi]Wendy Brown, “Neoliberalism and the end of liberal democracy”, Theory & Event 7:1, 2003.

[vii] Ernesto Laclau e Chantal Mouffe, Hegemonía y estrategia socialista, Siglo XXI, Madrid, 1987.

[viii] Vladimir Safatle, “A falsa onda conservadora”, Folha de S.Paulo, 25 dez. 2015.

[ix] Francisco de Oliveira, “Oração a São Paulo – A tarefa da crítica”. In: Cibele Saliba Rizek e Wagner de Melo Romão(orgs.), Francisco de Oliveira – A tarefa da crítica, Ed. UFMG, Belo Horizonte, 2006.

[x] Silvio Caccia Bava, “Francisco de Oliveira, um militante”. In: Cibele Saliba Rizek e Wagner de Melo Romão (orgs.),Francisco de Oliveira – A tarefa da crítica, op. cit.

[xi] Manifesto de lançamento da Frente Brasil Popular, 9 set. 2015.

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[xii] José Luís Fiori, “Brasil: geopolítica e desenvolvimento”. In: História, estratégia e desenvolvimento, Boitempo, São Paulo,2014.

[xiii] www.plataformapoliticasocial.com.br

[xiv] Ver o documento em www.plataformapoliticasocial.com.br

[xv] www.ibase.br

Palavras chave: cemocracia, participação, regulação, interesses, política, movimentos sociais, mobilização