© fotografia de miguel nogueira eduardo lourenÇo

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Filósofo, escritor, crítico literário, ensaísta, professor, várias vezes galardoado e distinguido, nacional (Prémio Camões 1996, Prémio Pessoa 2011) e internacionalmente (Prémio Europeu de Ensaio Charles Veillon, 1988; Legião de Honra, França, 2002; Prémio Extremadura a la Creación, 2006). Em 2019, a Câmara Municipal do Porto, no contexto da Feira do Livro, prestou-lhe homenagem com um programa de colóquios e a atribuição simbólica de uma tília nos jardins do Palácio de Cristal. Eduardo Lourenço é tido como um dos mais prestigiados intelectuais europeus, que marcou durante mais de meio século o pensamento português (com especial destaque no pós-25 de Abril). A sua voz exercia um grande e consensual fascínio, surpreendendo pela “capacidade de ser portador de um olhar sempre diferente e inquietante sobre os problemas de que se ocupa”, espantando pela “pluralidade de interesses, a imensidão de uma cultura que não se entrincheira em redutos de erudição, o jogo ilimitado das referências”, conforme escreveu Eduardo Prado Coelho em “Eduardo Lourenço: Um Rio Luminoso”, in “A Mecânica dos Fluídos”. Além de nos ter ajudado a ler Pessoa, Antero ou Eugénio de Andrade, devemos a Eduardo Lourenço uma obra e uma visão que nos ajudaram a entender o que é o país enquanto “ideia, projeto e destino.” Os seus textos estão marcados pela sua formação filosófica, pela vastidão de uma cultura humanística e por um profundo conhecimento histórico. “A maior das minhas paixões é a História. A História como a ficção suprema da humanidade”, confessou um dia ao jornal Público. Intérprete maior das questões da cultura portuguesa e universal, da sua vasta obra - disseminada em cerca de meia centena de livros abarcando áreas tão diversas como a literatura, crítica literária, filosofia, teoria política, história, cultura e ensaísmo - destacam-se reflexões sobre a cultura portuguesa. Revisitar a sua obra é essencial para compreender o que é ser português, e para nos inspirar a encontrar novos caminhos para o futuro. Obrigada, Eduardo Lourenço! In Jornal Público e Infopédia [Em linha] D CINCO LIVROS DE EDUARDO LOURENÇO Labirinto da Saudade: psicanálise mítica do destino português (1978) Somos, enfim, quem sempre quisemos ser. E todavia, não estando já na África, nem na Europa, onde nunca seremos o que sonhámos, emigrámos todos, coletivamente, para Timor. É lá que brilha, segundo a nova ideologia nacional veiculada noite e dia pela nossa televisão, o último raio do império que durante séculos nos deu a ilusão de estarmos no centro do mundo. E, se calhar, é verdade. BMAG 821-4 LOUe | BPMP 3a 003854 EDUARDO LOURENÇO 1923 2020 © fotografia de Miguel Nogueira

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Filósofo, escritor, crítico literário, ensaísta, professor, várias vezes galardoado e distinguido, nacional (Prémio Camões 1996, Prémio Pessoa 2011) e internacionalmente (Prémio Europeu de Ensaio Charles Veillon, 1988; Legião de Honra, França, 2002; Prémio Extremadura a la Creación, 2006). Em 2019, a Câmara Municipal do Porto, no contexto da Feira do Livro, prestou-lhe homenagem com um programa de colóquios e a atribuição simbólica de uma tília nos jardins do Palácio de Cristal.

Eduardo Lourenço é tido como um dos mais prestigiados intelectuais europeus, que marcou durante mais de meio século o pensamento português (com especial destaque no pós-25 de Abril). A sua voz exercia um grande e consensual fascínio, surpreendendo pela “capacidade de ser portador de um olhar sempre diferente e inquietante sobre os problemas de que se ocupa”, espantando pela “pluralidade de interesses, a imensidão de uma cultura que não se entrincheira em redutos de erudição, o jogo ilimitado das referências”, conforme escreveu Eduardo Prado Coelho em “Eduardo Lourenço: Um Rio Luminoso”, in “A Mecânica dos Fluídos”.

Além de nos ter ajudado a ler Pessoa, Antero ou Eugénio de Andrade, devemos a Eduardo Lourenço uma obra e uma visão que nos ajudaram a entender o que é o país enquanto “ideia, projeto e destino.” Os seus textos estão marcados pela sua formação filosófica, pela vastidão de uma cultura humanística e por um profundo conhecimento histórico. “A maior das minhas paixões é a História. A História como a ficção suprema da humanidade”, confessou um dia ao jornal Público.

Intérprete maior das questões da cultura portuguesa e universal, da sua vasta obra - disseminada em cerca de meia centena de livros abarcando áreas tão diversas como a literatura, crítica literária, filosofia, teoria política, história, cultura e ensaísmo - destacam-se reflexões sobre a cultura portuguesa.

Revisitar a sua obra é essencial para compreender o que é ser português, e para nos inspirar a encontrar novos caminhos para o futuro.

Obrigada, Eduardo Lourenço!In Jornal Público e Infopédia [Em linha]

D CINCO LIVROS DE EDUARDO LOURENÇO

Labirinto da Saudade: psicanálise mítica do destino português (1978)Somos, enfim, quem sempre quisemos ser. E todavia, não estando já na África, nem na Europa, onde nunca seremos o que sonhámos, emigrámos todos, coletivamente, para Timor. É lá que brilha, segundo a nova ideologia nacional veiculada noite e dia pela nossa televisão, o último raio do império que durante séculos nos deu a ilusão de estarmos no centro do mundo. E, se calhar, é verdade.

BMAG 821-4 LOUe | BPMP 3a 003854

EDUARDO LOURENÇO

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A Europa desencantada: para uma mitologia europeia (1994)Uma utopia europeia assumida só é digna de ser vivida como vitória da Europa sobre a Europa, da ficção de si mesma que, consciente ou inconscientemente, tem condicionado o seu destino, contra a sua realidade.

BMAG 32 LOUEe | BPMP 32 LOURe

O esplendor do caos (1988)«[...] incorporámos o inferno no quotidiano do mais fascinante e atroz dos séculos. Basta passar em revista o imaginário deste fim de século - da ficção à música, do cinema ao teatro, da biologia à tecnologia - para ter uma ideia do ponto a que chegou um mundo onde o horror se tornou invisível, consumido como pura virtualidade, para ter uma ideia da metamorfose da cultura humana. Pode discutir-se se a desordem em que estamos mergulhados - desde a económica até à da legalidade e da ética - releva ou não, em sentido próprio, do conceito de caos. Do que não há dúvidas é de que o habitamos como se fosse o próprio esplendor.»

BMAG 821 LOUEe | BPMP 3a 000935

A nau de Ícaro ; seguido de Imagem e miragem da lusofonia (1999)É um livro que assenta sobre dois mundos - um mundo contemporâneo, em rápida transformação, e um outro mais antigo, onde a história de uma velha fábrica se cruza com a de uma família numerosa, recém-chegada de África. A aproximá-los caminha desde a primeira página a figura de uma rapariga singular que, na simplicidade do seu juízo, acabará por obrigar os outros à revelação de si mesmos. Figura central, o seu olhar desprevenido sobre a vida, o bem e o mal e a avaliação que faz deste mundo, constituem a essência deste romance.

BPMP 8a 001838

A morte de Colombo. Metamorfose e fim do Ocidente como mito (2005)«Recusando-se a celebrar Colombo no quinto aniversário da sua chegada às Antilhas, o continente por ele “descoberto” reescreve a sua própria História e remete-a para a hora-zero de uma “outra História”. Prefere ser o continente nu que era antes da chegada de Colombo e de Cabral no momento mesmo em que o Ocidente vestido só se não despe por razões de clima, empenhado como está em inventar uma inocência que nunca conheceu. Ao fim e ao cabo esta ocultação ressentida de Colombo tanto pode ser tida como “morte de Colombo” e de um Ocidente que tinha nele o seu Ulisses planetário, como a sua autêntica ressurreição, pois o que ele buscava era mesmo o Paraíso.»

BPMP 1a 001792

D OUTROS LIVROS QUE NOS DEIXOU

Heterodoxia I e IIEduardo LourençoBMAG 821 LOUEh BPMP 1 LOUR1h

O complexo de Marx ou o fim do desafio portuguêsEduardo LourençoBMAG 32 LOUEc

Tempo e poesiaEduardo LourençoBMAG 821.09 LOUEt BPMP R7-2-68[3]

Fernando, rei da nossa Baviera Eduardo LourençoBMAG 821.09 PESFl BPMP O6-5-5[75]

O espelho imaginário : pintura, anti-pintura, não-pinturaEduardo LourençoBMAG 75 LOUEe BPMP 75 LOURe

Nós e a Europa, ou as duas razõesEduardo LourençoBPMP 821 LOUR1n

D SOBRE EDUARDO LOURENÇO

Portugal como destino seguido de mitologia da saudadeEduardo LourençoBMAG 008(469) LOUEp BPMP 8a 001643

A mecânica dos fluídos : literatura, cinema, teoriaEduardo Prado CoelhoBMAG 821-4 COEE BPMP 821.09 COEL1mL

O lugar do anjo : ensaios pessoanosEduardo LourençoBMAG 821.09 PESFl

Antero ou a noite intacta Eduardo LourençoBMAG 82.09 LOUE

O labirinto da saudade [ Registo vídeo]realização, argumento Miguel Gonçalves Mendes; dir. fotografia Lee FuzetaBMAG 929 LOUE

Paraíso sem meditação : breves ensaios sobre Eugénio de AndradeEduardo LourençoBMAG 821-4 LOUEp BPMP 8b 010598

As saias de Elvira : e outros ensaiosEduardo Lourenço; rev. Luís MilheiroBMAG 821.09 LOUEs BPMP 8a 014768

Os militares e o poder; seguido de O fim de todas as guerras e a guerra sem fimEduardo LourençoBMAG 32 LOUEm BPMP 3a 006131

Do colonialismo como nosso impensadoEduardo Lourenço; org. e pref. Margarida Calafate RibeiroBMAG 32 LOUEd BPMP 3a 006432

A esquerda na encruzilhada ou fora da história? : ensaios políticosEduardo LourençoBMAG 32 LOUEe BPMP 3a 004720

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Ninguém pode dizer que a morte não assuste. Mas, curiosamente, com o tempo, a morte vai ser aceite, não só como inevitável, mas pode adquirir... mudar de signo, mudar de sinal, se essa morte é a morte do outro. Ninguém vive a sua morte. A nossa morte não é vivida. É sempre qualquer coisa que nos é imposta, em absoluto, de fora para dentro.

Eduardo Lourenço