· distinção entre brasileiros natos e naturalizados para ocupar determinados cargos, esta...

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WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR UNIMAR ANDRÉ LUIS QUICOLI LEI COMPLEMENTAR nº 135/10 “FICHA LIMPA” E SUA NOVA HIPÓTESE DE INELEGIBILIDADE PREVISTA NO ARTIGO 2º, INCISO I, ALÍNEA “E” MARÍLIA 2011

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UNIMAR

ANDREacute LUIS QUICOLI

LEI COMPLEMENTAR nordm 13510 ldquoFICHA LIMPArdquo E SUA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE PREVISTA NO ARTIGO 2ordm

INCISO I ALIacuteNEA ldquoErdquo

MARIacuteLIA

2011

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ANDREacute LUIS QUICOLI

LEI COMPLEMENTAR nordm 13510 ldquoFICHA LIMPArdquo E SUA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE PREVISTA NO ARTIGO 2ordm

INCISO I ALIacuteNEA ldquoErdquo

Trabalho de conclusatildeo de curso apresentado ao Curso de Direito da Universidade de Mariacutelia para obtenccedilatildeo do Tiacutetulo de Bacharel em Direito sob orientaccedilatildeo do Prof Ms Marcelo Brandatildeo Fontana

MARIacuteLIA

2011

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Autor ANDREacute LUIS QUICOLI

LEI COMPLEMENTAR nordm 13510 ldquoFICHA LIMPArdquo

E SUA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE PREVISTA NO ARTIGO 2ordm

INCISO I ALIacuteNEA ldquoErdquo

Trabalho de conclusatildeo de curso apresentado ao Curso de Direito da Universidade

de Mariacutelia como requisito parcial para obtenccedilatildeo do Tiacutetulo de Bacharel em Direito

sob orientaccedilatildeo do Prof Ms Marcelo Brandatildeo Fontana

Aprovado pela Banca Examinadora em _______________

____________________________________________________

Prof Ms Marcelo Brandatildeo Fontana

Orientador

____________________________________________________

Profa Ms Regina Ceacutelia de Carvalho M Rocha

____________________________________________________

Profa Dra Walkiria Martinez Heinrich Ferrer

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Agradeccedilo a Deus que me fez agrave sua imagem e semelhanccedila e possibilitou-me agrave vitoacuteria

Aos meus pais Celccedilo e Maria Cristina que me servem de exemplo e moral para continuar minha caminhada A minha querida filha Maysa meu irmatildeo Paulo pela sua

amizade as minhas avoacutes Wilma e Dalva Agradeccedilo ainda a meus amigos e colegas de classe

Agradeccedilo a meu ilustre orientador Professor Marcelo Brandatildeo Enfim agradeccedilo a todos que de alguma forma ajudaram na conclusatildeo deste

objetivo

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ldquoPosso natildeo concordar com nenhuma das palavras que vocecirc disser mas defenderei ateacute a

morte o direito de vocecirc dizecirc-las (Voltaire)rdquo

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LEI COMPLEMENTAR nordm 13510 ldquoFICHA LIMPArdquo E SUA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE PREVISTA NO ARTIGO 2ordm

INCISO I ALIacuteNEA ldquoErdquo

RESUMO Com a aprovaccedilatildeo da Lei Complementar nordm 1352010 que teve sua origem no Projeto de Lei Complementar nordm 5182009 de iniciativa popular criou-se uma nova espeacutecie de inelegibilidade que visa impedir a candidatura de poliacuteticos condenados a partir da segunda instacircncia ou por oacutergatildeo judicial colegiado mesmo que natildeo tenha transitado em julgado esta decisatildeo Esta nova inelegibilidade prevista na aliacutenea ldquoerdquo do inciso I do artigo 2ordm da Lei Complementar nordm 1352010 esta em confronto com o disposto no inciso LVII do artigo 5ordm da Constitucional Federal que estabelece o princiacutepio da natildeo-culpabilidade tambeacutem conhecido como princiacutepio da presunccedilatildeo de inocecircncia que eacute uma verdadeira garantia constitucional do indiviacuteduo contra o Estado O presente trabalho tem o intuito de analisar a constitucionalidade ou inconstitucionalidade desta nova hipoacutetese de inelegibilidade frente ao princiacutepio da natildeo-culpabilidade para tanto percorreraacute os conceitos existentes de elegibilidade e inelegibilidades presentes no ordenamento juriacutedico baseando-se na doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncia paacutetria Palavras-chave Elegibilidade Inelegibilidade Princiacutepio da natildeo-culpabilidade

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SUMAacuteRIO 1 INTRODUCcedilAtildeO 07

2 DA ELEGIBILIDADE 09

21 CONCEITO DE ELEGIBILIDADE 09

22 CONDICcedilOtildeES DE ELEGIBILIDADE 09

23 NACIONALIDADE BRASILEIRA 10

24 PLENO EXERCIacuteCIO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS 11

25 ALISTAMENTO ELEITORAL 12

26 DOMICIacuteLIO ELEITORAL 12

27 FILIACcedilAtildeO PARTIDAacuteRIA 13

28 IDADE MIacuteNIMA 14

3 DA INELEGIBILIDADE 15

31 CONCEITO DE INELEGIBILIDADE 15

32 ESPEacuteCIES DE INELEGIBILIDADE 15

33 INELEGIBILIDADE CONSTITUCIONAL 16

34 INELEGIBILIDADE INFRACONSTITUCIONAL 18

4 DA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE 22 41 ORIGEM DA LEI COMPLEMENTAR Nordm 1352010 22

42 AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EM JULGADO 23

43 PRINCIacutePIO CONSTITUCIONAL DA NAtildeO-CULPABILIDADE 25

5 CONCLUSAtildeO 30

6 REFEREcircNCIAS 32

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1 INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho apresenta um tema atual e de grande relevacircncia e

repercussatildeo tornando imprescindiacutevel um amplo debate

Refere-se agrave Lei Complementar nordm 13510 denominada ldquoLei da Ficha Limpardquo

decorrente do Projeto de Lei nordm 5182009 de iniciativa popular que instituiu uma

nova espeacutecie de inelegibilidade visando impedir a candidatura de poliacuteticos

condenados a partir da segunda instacircncia ou por oacutergatildeo judicial colegiado mesmo

que natildeo tenha transitado em julgado esta decisatildeo

Sendo assim avaliaremos a relevacircncia do princiacutepio constitucional da natildeo-

culpabilidade sobre a oacutetica desta nova hipoacutetese de inelegibilidade ressaltando-se

que os estudos apresentados se baseiam em doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncia

paacutetria

O trabalho desenvolveu-se sobre o seguinte problema de pesquisa se estaacute

nova hipoacutetese de inelegibilidade eacute constitucional ou inconstitucional

O trabalho foi divido em 5 capiacutetulos sendo eles assim tratados

O primeiro capiacutetulo baseia-se na INTRODUCcedilAtildeO do respectivo trabalho

O segundo capiacutetulo trata da ELEGIBILIDADE seu conceito e requisitos

O terceiro capiacutetulo trata das INELEGIBILIDADES no ordenamento juriacutedico

brasileiro sendo elas constitucionais e infraconstitucionais

O quarto capiacutetulo trata especificamente desta NOVA HIPOacuteTESE DE

INELEGIBILIDADE trazendo a origem da Lei Complementar nordm 1352010 sua nova

hipoacutetese de inelegibilidade que dispensa o tracircnsito em julgado e o confronto com o

princiacutepio da natildeo-culpabilidade

O quinto e uacuteltimo capiacutetulo aborda especificamente a CONCLUSAtildeO

Como ponto de partida abordamos a mateacuteria geral ou seja as causas de

inelegibilidade e inelegibilidades existentes no ordenamento juriacutedico atual

caminhando para o caso particular que neste trabalho eacute apresentado pela nova

hipoacutetese de inelegibilidade criada pela Lei Complementar nordm 1352010

Jaacute como meacutetodo de procedimento foi utilizado a teacutecnica de procedimento

monograacutefico que estuda em profundidade determinado fato sob todos os seus

aspectos buscando quanto ao possiacutevel esgotar as duacutevidas surgidas sobre o tema

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O tipo de pesquisa ou fonte de informaccedilatildeo utilizada foi o bibliograacutefico por

utilizar como base de estudo os ensinamentos de doutrina legislaccedilatildeo e

jurisprudecircncia

Por fim a anaacutelise conjunta desses fatos nos mostraraacute de forma esclarecedora

a inconstitucionalidade da aliacutenea ldquoerdquo do inciso I do artigo 2ordm da Lei Complementar nordm

1352010 frente ao princiacutepio constitucional da natildeo-culpabilidade

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2 DA ELEGIBILIDADE 21 CONCEITO DE ELEGIBILIDADE

Pode-se conceituar elegibilidade como sendo a capacidade de ser eleito isto

eacute a qualidade de determinada pessoa ser elegiacutevel nas condiccedilotildees permitidas pela

legislaccedilatildeo Assim conceitua o Tribunal Superior Eleitoral sobre inelegibilidade A elegibilidade eacute na restrita precisatildeo legal o direito do cidadatildeo de ser escolhido mediante votaccedilatildeo direta ou indireta para representante do povo ou da comunidade segundo as condiccedilotildees estabelecidas pela Constituiccedilatildeo e pela legislaccedilatildeo eleitoral1

Joseacute Afonso da Silva na ilustre obra Curso de Direito Constitucional Positivo

doutrinariamente leciona A elegibilidade agrave capacidade de ser eleito observa que goza de elegibilidade todo cidadatildeo que preencha as condiccedilotildees exigidas para concorrer a um mandato eletivo consistindo a mesma no direito de postular a designaccedilatildeo pelos eleitores a um mandato poliacutetico no Legislativo ou no Executivo2

Alexandre de Moraes em sua excelente obra de Direto Constitucional define

da seguinte maneira a elegibilidade ldquoElegibilidade eacute a capacidade eleitoral passiva

consistente na possibilidade de o cidadatildeo pleitear determinados mandatos poliacuteticos

mediante eleiccedilatildeo popular desde que preenchidos certo requisitosrdquo 3

Djalma Pinto com a obra intitulada Direito Eleitoral assim define elegibilidade

ldquoElegibilidade eacute o credenciamento do cidadatildeo para postulaccedilatildeo do registro de sua

candidatura Representa o primeiro estaacutegio a ser percorrido por algueacutem para

exercitar o seu direito a ser votadordquo 4

Em siacutentese preenchidos os requisitos de elegibilidade eacute necessaacuterio que o

cidadatildeo natildeo se encontre em alguma hipoacutetese de inelegibilidade que constitui

impedimento agrave capacidade eleitoral passiva

22 CONDICcedilOtildeES DE ELEGIBILIDADE

Trata-se do conjunto de condiccedilotildees pessoais necessaacuterias agrave habilitaccedilatildeo do

cidadatildeo para pleitear determinados mandatos poliacuteticos mediante eleiccedilatildeo popular

As condiccedilotildees de elegibilidade estatildeo previstas na Constituiccedilatildeo Federal no

artigo 14 sect 3ordm e compreendem a nacionalidade brasileira pleno exerciacutecio dos

1 Disponiacutevel em lthttpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermoselegibilidadehtmgt Acesso em 22 jul 2011 2 SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 p 365 3 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 Ed Satildeo Paulo Atlas 2006 p 215 4 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 Ed Satildeo Paulo Atlas 2008 p 157

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direitos poliacuteticos alistamento eleitoral domiciacutelio eleitoral na circunscriccedilatildeo filiaccedilatildeo

partidaacuteria e idade miacutenima para cargos poliacuteticos

Com estes requisitos a Constituiccedilatildeo Federal vem a limitar quem pode e quem

natildeo pode concorrer para algum cargo poliacutetico

23 NACIONALIDADE BRASILEIRA

A nacionalidade brasileira eacute a primeira condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no

artigo 14 sect 3ordm inciso I da Constituiccedilatildeo Federal

Classifica-se a nacionalidade brasileira em brasileiro nato e brasileiro

naturalizado para tanto eacute necessaacuterio distinguirmos a diferenccedila entre um e outro

Brasileiros natos satildeo aqueles nascidos na Repuacuteblica Federativa do Brasil

ainda que de paiacutes estrangeiros desde que estes natildeo estejam a serviccedilo de seu paiacutes

os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou matildee brasileira desde que qualquer

deles esteja a serviccedilo da Repuacuteblica Federativa do Brasil os nascidos no estrangeiro

de pai brasileiro ou de matildee brasileira desde que sejam registrados em reparticcedilatildeo

brasileira competente ou venham a residir na Repuacuteblica Federativa do Brasil e

optem em qualquer tempo depois de atingida a maioridade pela nacionalidade

brasileira

Brasileiros naturalizados satildeo aqueles que na forma da lei adquiram a

nacionalidade brasileira exigidas aos originaacuterios de paiacuteses de liacutengua portuguesa

apenas residecircncia por um ano ininterrupto e idoneidade moral os estrangeiros de

qualquer nacionalidade residentes na Repuacuteblica Federativa do Brasil haacute mais de

quinze anos ininterruptos e sem condenaccedilatildeo penal desde que requeiram a

nacionalidade brasileira

A Lei tambeacutem distingue a nacionalidade em primaacuteria e secundaacuteria A

nacionalidade primaacuteria tambeacutem denominada de originaacuteria eacute conferida aos

brasileiros natos sendo adquirida no momento do nascimento pelo ius sanguinis

(direito de sangue) ou pelo ius soli (direito de solo) jaacute a nacionalidade secundaacuteria

tambeacutem denominada nacionalidade adquirida eacute conferida aos brasileiros

naturalizados aquela se adquire por vontade proacutepria apoacutes o nascimento e em regra

geral pela naturalizaccedilatildeo

Por fim o sect 2ordm do artigo 12 da Constituiccedilatildeo Federal descreve ldquoA lei natildeo

poderaacute estabelecer distinccedilatildeo entre brasileiros natos e naturalizados salvo nos casos

previstos nesta Constituiccedilatildeordquo com isto fica vedado qualquer tratamento desigual

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entre brasileiro nato e naturalizado salvo disposiccedilatildeo em contraacuterio na Constituiccedilatildeo

Federal

A exceccedilatildeo citada no sect 2ordm do artigo 12 da Constituiccedilatildeo Federal permite a

distinccedilatildeo entre brasileiros natos e naturalizados para ocupar determinados cargos

esta exceccedilatildeo estaacute disposta no artigo 12 sect 3ordm da Constituiccedilatildeo Federal que permite

que alguns cargos sejam privativos de brasileiro nato natildeo permitindo que os

naturalizados venham a ocupar tais posiccedilotildees

Esta exceccedilatildeo restringe-se para os cargos privativos de Presidente e Vice-

Presidente da Repuacuteblica Presidente da Cacircmara dos Deputados Presidente do

Senado Federal Ministro do Supremo Tribunal Federal carreira diplomaacutetica de

oficial das Forccedilas Armadas e de Ministro de Estado da Defesa

24 PLENO EXERCIacuteCIO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS

O pleno exerciacutecio dos direitos poliacuteticos eacute a segunda condiccedilatildeo de elegibilidade

prevista no artigo 14 sect 3ordm inciso II da Constituiccedilatildeo Federal o Tribunal Superior

Eleitoral assim o conceitua Direitos poliacuteticos eacute o conjunto dos direitos atribuiacutedos ao cidadatildeo que lhe permite atraveacutes do voto do exerciacutecio de cargos puacuteblicos ou da utilizaccedilatildeo de outros instrumentos constitucionais e legais ter efetiva participaccedilatildeo e influecircncia nas atividades de governo Estar no gozo dos direitos poliacuteticos significa pois estar habilitado a alistar-se eleitoralmente habilitar-se a candidaturas para cargos eletivos ou a nomeaccedilotildees para certos cargos puacuteblicos natildeo eletivos participar de sufraacutegios votar em eleiccedilotildees plebiscitos e referendos apresentar projetos de lei pela via da iniciativa popular e propor accedilatildeo popular 5

Djalma Pinto em sua obra intitulada ldquoDireito eleitoral ndash Improbidade

Administrativa e Responsabilidade Fiscalrdquo dispotildee sobre esta condiccedilatildeo de

elegibilidade O pleno exerciacutecio dos direitos poliacuteticos eacute condiccedilatildeo essencial para a configuraccedilatildeo de elegibilidade A plenitude dos direitos poliacuteticos se expressa pela aptidatildeo para votar e ser votado Sem encontrar-se apto a seu exerciacutecio natildeo eacute possiacutevel ao indiviacuteduo nem se alistar nem tampouco se filiar partido requisitos imprescindiacuteveis agrave configuraccedilatildeo da elegibilidade 6

Sendo assim o pleno exerciacutecio dos direitos poliacuteticos eacute requisito essencial

para o cidadatildeo estar na condiccedilatildeo de elegibilidade Aquele que perder ou tiver seus 5 Disponiacutevel em lthttpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermosdireitos_politicoshtmgt Acesso em 22 jul 2011 6 PINTO Djalma Direito eleitoral ndash improbidade administrativa e Responsabilidade Fiscal 3 Ed Satildeo Paulo Atlas 2006

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direitos poliacuteticos suspensos ou cancelados ficaraacute impedido de exercer a capacidade

eleitoral passiva

A Constituiccedilatildeo Federal prevecirc no artigo 15 causas de perda ou suspensatildeo dos

direitos poliacuteticos que podem ocorrer devido ao cancelamento da naturalizaccedilatildeo por

sentenccedila judicial transitada em julgado condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado

enquanto durarem seus efeitos recusa de cumprir obrigaccedilatildeo a todos imposta ou

prestaccedilatildeo alternativa nos termos do art 5ordm VIII improbidade administrativa nos

termos do art 37 sect 4ordm

25 ALISTAMENTO ELEITORAL

O alistamento eleitoral eacute a terceira condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo

14 sect 3ordm inciso III da Constituiccedilatildeo Federal o Tribunal Superior Eleitoral assim o

conceitua Eacute a primeira fase do processo eleitoral Eacute um procedimento administrativo cartoraacuterio e compreende dois atos inconfundiacuteveis a qualificaccedilatildeo e a inscriccedilatildeo do eleitor A qualificaccedilatildeo eacute a prova de que o cidadatildeo satisfaz as exigecircncias legais para exercer o direito de voto enquanto que a inscriccedilatildeo faz com que o mesmo passe a integrar o Cadastro Nacional de Eleitores da Justiccedila Eleitoral O ato de alistamento eacute feito por meio de processamento eletrocircnico e se perfaz pelo preenchimento do requerimento de alistamento eleitoral (RAE) na forma da resoluccedilatildeo do TSE e da legislaccedilatildeo eleitoral Eacute a forma pela qual o cidadatildeo adquire seus direitos poliacuteticos tornando-se titular de direito poliacutetico ativo (capacidade para votar) e possibilitando sua elegibilidade e filiaccedilatildeo partidaacuteria apoacutes a expediccedilatildeo do respectivo tiacutetulo eleitoral 7

Portanto para o cidadatildeo ser eleitor eacute preciso que ele se aliste e para ele ser

elegiacutevel eacute preciso que ele jaacute seja eleitor

26 O DOMICIacuteLIO ELEITORAL NA CIRCUNSCRICcedilAtildeO

O domiciacutelio eleitoral eacute a quarta condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14

sect 3ordm inciso IV da Constituiccedilatildeo Federal

Domiciacutelio eleitoral eacute o lugar da residecircncia ou moradia do requerente agrave

inscriccedilatildeo eleitoral assim dispotildee o artigo 42 paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo Eleitoral

que Para efeito de inscriccedilatildeo eacute domiciacutelio eleitoral o lugar de residecircncia ou moradia

do requerente e verificado ter o alistando mais de uma considerar-se-aacute domiciacutelio

qualquer delas

7Disponiacutevel em lthttpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermosalistamento_eleitoralhtmgt Acesso em 22 jul 2011

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Djalma Pinto acerca do domiciacutelio eleitoral assevera ldquoO domicilio eleitoral por

sua vez eacute o lugar da residecircncia ou moradia onde o cidadatildeo formaliza seu

alistamentordquo 8

A legislaccedilatildeo requer que o candidato a um cargo eletivo natildeo incorra em

incompatibilidades ou inelegibilidades e possua domicilio eleitoral na circunscriccedilatildeo a

qual deseja concorrer Sobre a circunscriccedilatildeo eleitoral o Tribunal Superior Eleitoral

assim o define Espaccedilo geograacutefico onde se trava determinada eleiccedilatildeo Assim o paiacutes na eleiccedilatildeo do presidente e vice-presidente da Repuacuteblica o estado nas eleiccedilotildees para governador e vice-governador deputados federais e estaduais e senadores o municiacutepio nas eleiccedilotildees de prefeito e vereadores e o distrito onde e quando se realiza a eleiccedilatildeo pelo sistema distrital 9

Para concorrer as eleiccedilotildees o candidato deveraacute possuir domiciacutelio eleitoral na

respectiva circunscriccedilatildeo pelo prazo de pelo menos um ano antes do pleito e estar

com a filiaccedilatildeo deferida pelo partido no mesmo prazo eacute o que dispotildee o artigo 9deg da

Lei 950497

27 FILIACcedilAtildeO PARTIDAacuteRIA

A filiaccedilatildeo partidaacuteria eacute a quinta condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14

sect 3ordm inciso V da Constituiccedilatildeo Federal

Eacute o ato formal e solene o pelo qual um eleitor aceita e adota o programa de

um partido poliacutetico viacutenculo que se estabelece entre o poliacutetico e o partido Eacute condiccedilatildeo

de elegibilidade conforme disposto no artigo 14 sect3ordm inciso V da Constituiccedilatildeo

Federal Nos termos do artigo 16 da Lei dos Partidos Poliacuteticos Lei nordm 909695 soacute

pode filiar-se a partido o eleitor que estiver no pleno gozo de seus direitos poliacuteticos

Todavia a exceccedilotildees sobre a filiaccedilatildeo partidaacuteria como no caso de candidatura

de magistrados membros dos Tribunais de Contas Ministeacuterio Puacuteblico e militares

como exemplo vejamos a exceccedilatildeo dos militares estes querendo concorrer a cargo

puacuteblico eletivo possuindo menos de dez anos de serviccedilo deveraacute solicitar

afastamento definitivo da atividade atraveacutes de demissatildeo ou licenciamento ex-officio

caso venha a possuir mais de dez anos de serviccedilo deveraacute ser agregado pela

8 PINTO Djalma Direito eleitoral ndash improbidade administrativa e Responsabilidade Fiscal 3 Ed Satildeo Paulo Atlas 2006 9 Disponiacutevel em httpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermoscircunscricao_eleitoralhtmgt Acesso em 22 jul 2011

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autoridade superior e se eleito passaraacute automaticamente no ato da diplomaccedilatildeo

para a inatividade

28 IDADE MIacuteNIMA

Idade miacutenima eacute a uacuteltima condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14 sect 3ordm

inciso VI da Constituiccedilatildeo Federal

Para o cargo de Presidente e Vice-Presidente da Repuacuteblica e para Senadores

e suplentes a idade miacutenima de 35 anos para o cargo de Governado e Vice-

Governador de Estado ou do Distrito Federal idade miacutenima de 30 anos para os

cargos de Deputado Federal Estadual Distrital Prefeito e Vice-Prefeito e Juiz de

paz a idade miacutenima de 21 anos e por fim para o cargo de vereador a idade

miacutenima de 18 anos

Dispotildee a Lei 95041997 artigo 11 sect 2ordm que a verificaccedilatildeo da idade seraacute feita

na data da posse no respectivo cargo pressupotildee que um menor de 17 anos de

idade possa se candidatar ao cargo de vereador bastando que na data da posse

conte com 18 anos completos

Alguns doutrinadores entretanto discordam dessa interpretaccedilatildeo entendendo

que natildeo poderia o legislador infra-constitucional dizer a mais do que a proacutepria

Constituiccedilatildeo estabeleceu assim leciona o Gilmar Mendes em sua obra Curso de

Direito Constitucional Natildeo haacute que se falar em momento da posse como aceitaacutevel para se perfazer a condiccedilatildeo de elegibilidade no tocante a idade miacutenima pois a Constituiccedilatildeo jaacute determinou que o momento da afericcedilatildeo para elegibilidade deve ser o do registro da candidatura 10

Tem prevalecido a verificaccedilatildeo da idade miacutenima na data da posse

10 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 Ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 p803

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3 DA INELEGIBILIDADE 31 CONCEITO DE INELEGIBILIDADE

Joseacute Afonso da Silva em sua ilustre obra Curso de Direito Constitucional

Positivo doutrinariamente leciona que ldquoa inelegibilidade obsta a elegibilidade

revelando um impedimento ao direito de ser votado que eacute a capacidade eleitoral

passivardquo 11

A inelegibilidade resulta no impedimento parcial ou seja temporaacuterio da

capacidade eleitoral passiva restringindo o cidadatildeo de ser votado nas hipoacuteteses

previstas na Lei Complementar nordm 641990 Lei Complementar nordm 1352010 e na

Constituiccedilatildeo Federal

Sua finalidade tem por objetivo a probidade administrativa a normalidade

para o exerciacutecio do mandato considerada a vida pregressa do candidato e a

normalidade e a legitimidade das eleiccedilotildees contra a influecircncia do poder econocircmico ou

o abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo cargo ou emprego na administraccedilatildeo direta ou

indireta

A inelegibilidade pode ser absoluta proibindo a candidatura agraves eleiccedilotildees em

geral ou relativa impossibilitando a postulaccedilatildeo a determinado mandato eletivo

Sendo assim o cidadatildeo que almeja se candidatar a cargo eletivo deve

atender as condiccedilotildees de elegibilidade e natildeo incorrer em nenhuma causa de

inelegibilidade

32 ESPEacuteCIES DE INELEGIBILIDADE

As espeacutecies de inelegibilidade podem ser constitucionais e

infraconstitucionais as constitucionais dividem-se em absoluta e relativa

A inelegibilidade constitucional absoluta consiste no impedimento eleitoral

que restringe o cidadatildeo de concorrer a qualquer cargo eletivo refere-se a

determinada caracteriacutestica do indiviacuteduo ou seja eacute de caraacuteter pessoal sendo

11 SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 Ed Satildeo Paulo Malheiros 012004 p 387

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taxativamente prevista pela Constituiccedilatildeo Federal e a inelegibilidade constitucional

relativa compreende o impedimento eleitoral que restringe o cidadatildeo de concorrer a

determinados cargos em determinada eleiccedilatildeo refere-se a situaccedilotildees especiais e

momentacircneas tais como motivos funcionais de casamento de parentescos

A inelegibilidade infraconstitucional eacute disciplinada na Lei Complementar ndeg

641990 alterada pela Lei Complementar ndeg 1352010

Eacute relevante a distinccedilatildeo entre as inelegibilidades constitucionais e

infraconstitucionais como bem ressaltado por Joseacute Jairo Gomes A distinccedilatildeo que se faz entre inelegibilidades constitucionais e legais natildeo eacute cerebrina apresentando inegaacutevel relevacircncia praacutetica Basta dizer que natildeo haacute preclusatildeo quanto agraves primeiras as quais podem ser arguumlidas na fase do registro de candidatura ou posteriormente antes ou depois das eleiccedilotildees A arguumliccedilatildeo posterior pode ser feita no RCED (CE art 262 I) Jaacute as inelegibilidades legais sujeitam-se agrave preclusatildeo se natildeo forem levantadas na fase de registro de candidatura Ultrapassado esse momento natildeo mais poderatildeo ser discutidas salvo se supervenientes 12

33 INELEGIBILIDADE CONSTITUCIONAL

A inelegibilidade constitucional dividi-se em absoluta e relativa

A inelegibilidade constitucional absoluta estabelecida no sect 4deg do artigo 14 da

Constituiccedilatildeo Federal prevecirc que satildeo inelegiacuteveis os inalistaacuteveis e os analfabetos

A inelegibilidade decorrente da inalistabilidade abrange todos que natildeo se

encontram na situaccedilatildeo de alistabilidade tambeacutem aqueles que se encontram em

estado definitivo ou temporariamente privados de seus direitos poliacuteticos por fim

atinge aqueles que natildeo sabem exprimir-se na liacutengua nacional e os estrangeiros

A inelegibilidade decorrente do analfabetismo natildeo permite que o analfabeto

seja elegiacutevel mas permite que ele seja alistaacutevel exercendo assim a sua capacidade

de votar mas nunca a de ser votado

Estas hipoacuteteses restringem ao cidadatildeo se candidatarem a qualquer cargo

eletivo em qualquer eleiccedilatildeo enquanto perdurar esta situaccedilatildeo restritiva

As hipoacuteteses de inelegibilidades constitucionais relativas referem-se a

situaccedilotildees especiais separando-as por motivos funcionais motivos parentais motivos

militares e encontram-se dispostas no artigo 14 sectsect 5deg ao 9deg da Constituiccedilatildeo Federal

12 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131

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A inelegibilidade por motivo funcional eacute decorrente de o cidadatildeo estar em

exerciacutecio de alguma funccedilatildeo puacuteblica Satildeo previstas duas situaccedilotildees

A primeira declara ser inelegiacutevel para o mesmo cargo em terceiro periacuteodo

subsequumlente o Presidente da Repuacuteblica os Governadores de Estado e do DF os

Prefeitos e quem os houver sucedido ou substituiacutedo nos seis meses antes das

eleiccedilotildees Eacute o que dispotildee o sect 5deg do artigo 14 na redaccedilatildeo da Emenda Constitucional

161997

Portanto soacute eacute permitida uma reconduccedilatildeo ou seja eacute permitida a reeleiccedilatildeo de

Chefes do Executivo ou seus substitutos para apenas um periacuteodo subsequumlente

A segunda situaccedilatildeo considera que satildeo inelegiacuteveis para concorrer a outros

cargos o Presidente da Repuacuteblica os Governadores de Estado e do DF e os

Prefeitos salvo se tiverem se desincompatibilizado com a renuacutencia do cargo ateacute

seis meses antes do pleito Eacute o que prevecirc o sect 6deg do artigo 14 da Constituiccedilatildeo

Federal

Os servidores puacuteblicos que ocuparem algum cargo de livre nomeaccedilatildeo

demissiacuteveis ad nutum seratildeo exonerados para que possam concorrer a cargo

eletivo ou seja natildeo poderatildeo manter qualquer viacutenculo com a entidade na qual

desempenhava suas funccedilotildees

Os servidores puacuteblicos concursados ao contraacuterio dos servidores ocupantes

de cargos de livre nomeaccedilatildeo natildeo seratildeo exonerados ou demitidos apenas se

afastaratildeo de suas funccedilotildees para se candidatar a cargo puacuteblico

A inelegibilidade por motivo de parentesco tambeacutem denominada de

inelegibilidade reflexa estaacute relacionada a condiccedilotildees inerentes ao parentesco

sanguumliacuteneo soacutecio-afetivo ou condiccedilatildeo matrimonial

Assim conforme previsto no sect 7ordm do artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal estas

mesmas pessoas impedidas para determinados cargos podem concorrer para outros

cargos que se processem em territoacuterio de outra circunscriccedilatildeo

A inelegibilidade reflexa aproxima-se da inelegibilidade absoluta a diferenccedila

ocorre que na reflexa pode cessar por vontade das pessoas envolvidas um exemplo

claro eacute a renuacutencia seis meses antes do pleito do Presidente da Repuacuteblica

Assim temos que a inelegibilidade por motivo de parentesco ou reflexa visa a

impedir a formaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do poder poliacutetico em matildeos de uma determinada

famiacutelia

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A inelegibilidade por motivos militares visa que o militar enquanto em serviccedilo

ativo natildeo pode estar filiado a partidos poliacuteticos entretanto a Constituiccedilatildeo Federal

em seu artigo 14 relata que atendidas certas condiccedilotildees o militar alistaacutevel se torna

elegiacutevel sendo estas as condiccedilotildees se contar com menos de dez anos de serviccedilo

deveraacute afastar-se da atividade e se contar com mais de dez ano de serviccedilo seraacute

agregado pela autoridade superior e se eleito passaraacute automaticamente no ato da

diplomaccedilatildeo para a inatividade

34 INELEGIBILIDADE INFRACONSTITUCIONAL

Por se tratar de inuacutemeras hipoacuteteses de inelegibilidades infraconstitucionais

natildeo seraacute possiacutevel tratar todos os casos previstos em lei para tanto adentraremos a

anaacutelise de algumas hipoacuteteses dispostas na Lei Complementar nordm 641990

As inelegibilidades infraconstitucionais satildeo instituiacutedas por Lei Complementar

que estabeleceraacute outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim

de proteger a probidade administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato

considerado vida pregressa do candidato e a normalidade e legitimidade das

eleiccedilotildees contra a influecircncia do poder econocircmico ou o abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo

cargo ou emprego na administraccedilatildeo direta ou indireta

As causas de inelegibilidade infraconstitucionais estatildeo previstas no artigo 1ordm

da Lei Complementar nordm 641990 alterado dentre outras atraveacutes da recente Lei

Complementar ndeg 1352010 conhecida como a Lei da Ficha Limpa

Dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquobrdquo da Lei Complementar nordm 641990 que os

membros do Congresso Nacional das Assembleacuteias Legislativas da Cacircmara

Legislativa e das Cacircmaras Municipais que hajam perdido os respectivos mandatos

por infringecircncia do disposto nos incisos I e II do art 55 da Constituiccedilatildeo Federal dos

dispositivos equivalentes sobre perda de mandato das Constituiccedilotildees Estaduais e

Leis Orgacircnicas dos Municiacutepios e do Distrito Federal para as eleiccedilotildees que se

realizarem durante o periacuteodo remanescente do mandato para o qual foram eleitos e

nos oito anos subsequumlentes ao teacutermino da legislatura

Sendo assim satildeo inelegiacuteveis os parlamentares cujo procedimento for

declarado incompatiacutevel com o decoro parlamentar e desde a expediccedilatildeo do diploma

firmar ou manter contrato com pessoa juriacutedica de direito puacuteblico autarquia empresa

puacuteblica sociedade de economia mista ou empresa concessionaacuteria de serviccedilo

puacuteblico salvo quando o contrato obedecer a claacuteusulas uniformes aceitar ou exercer

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cargo funccedilatildeo ou emprego remunerado inclusive os de que sejam demissiacuteveis ad

nutum nas entidades constantes da aliacutenea anterior e desde a posse ser

proprietaacuterios controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente

de contrato com pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou nela exercer funccedilatildeo

remunerada ocupar cargo ou funccedilatildeo de que sejam demissiacuteveis ad nutum nas

entidades referidas no inciso I a patrocinar causa em que seja interessada

qualquer das entidades a que se refere o inciso I a ser titulares de mais de um

cargo ou mandato puacuteblico eletivo

Portando o parlamentar que infringir o disposto no artigo 54 teraacute seu mandato

cassado Jaacute no inciso II do artigo 55 o Deputado ou Senador perderaacute o mandato

quando o procedimento for declarado incompatiacutevel com o decoro parlamentar A

Constituiccedilatildeo Federal prevecirc como falta de decoro o disciplinado no artigo 55 sect 1ordm

Por fim eacute incompatiacutevel com o decoro parlamentar os casos definidos no regimento

interno

Assim dispotildee o artigo 1ordm Inciso I aliacutenea ldquocrdquo da Lei Complementar nordm 641990

Governador e o Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal e o Prefeito e o

Vice-Prefeito que perderem seus cargos eletivos por infringecircncia a dispositivo da

Constituiccedilatildeo Estadual da Lei Orgacircnica do Distrito Federal ou da Lei Orgacircnica do

Municiacutepio para as eleiccedilotildees que se realizarem durante o periacuteodo remanescente e

nos 8 (oito) anos subsequentes ao teacutermino do mandato para o qual tenham sido

eleitos

Tal dispositivo busca evitar que os chefes do poder executivos retornem a

vida puacuteblica no mandato seguinte e nas eleiccedilotildees para as demais esferas Este

dispositivo preserva a moralidade puacuteblica O prazo de 8 anos de inabilitaccedilatildeo seraacute

contado a partir da data que tiver sido proferida a decisatildeo por crime de

responsabilidade

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquodrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tenham contra sua pessoa representaccedilatildeo julgada procedente pela Justiccedila

Eleitoral em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo colegiado em

processo de apuraccedilatildeo de abuso do poder econocircmico ou poliacutetico para a eleiccedilatildeo na

qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como para as que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes

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Primeiramente eacute necessaacuterio conceituar o que eacute abuso de poder econocircmico de

abuso de poder poliacutetico

Abuso de poder econocircmico consiste na utilizaccedilatildeo de bens ou serviccedilos de

empresas particulares ou recursos proacuteprios do candidato gerando assim uma

desproporccedilatildeo entre os candidatos exemplo Se um candidato eacute proprietaacuterio de uma

grande empresa e faz uso dela para custear sua campanha sem realizar doaccedilatildeo de

campanha prevista na Lei 950497

Abuso do poder poliacutetico consiste no emprego de serviccedilos ou bens

pertencentes a administraccedilatildeo puacuteblica com o objetivo de propiciar a eleiccedilatildeo de

determinado candidato

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquofrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que forem declarados indignos do oficialato ou com ele incompatiacuteveis pelo prazo

de 8 (oito) anos

Oficialato eacute o cargo ou dignidade de oficial seja das forccedilas armadas poliacutecia

militar ou corpo de bombeiros A competecircncia para apreciar e declarar a indignidade

do oficialato seraacute do Superior Tribunal Militar

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquogrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tiverem suas contas relativas ao exerciacutecio de cargos ou funccedilotildees puacuteblicas

rejeitadas por irregularidade insanaacutevel que configure ato doloso de improbidade

administrativa e por decisatildeo irrecorriacutevel do oacutergatildeo competente salvo se esta houver

sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciaacuterio para as eleiccedilotildees que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes contados a partir da data da decisatildeo aplicando-se o

disposto no inciso II do art 71 da Constituiccedilatildeo Federal a todos os ordenadores de

despesa sem exclusatildeo de mandataacuterios que houverem agido nessa condiccedilatildeo

Esta decisatildeo eacute administrativa e traraacute a consequumlecircncia de inelegibilidade para

isso a irregularidade tem de ser insanaacutevel

A competecircncia para julgar estas irregularidades compete ao Poder

Legislativo seja no acircmbito federal estadual ou municipal

A analise desta insanabilidade poderaacute caber a Justiccedila Eleitoral como por

exemplo no pedido de registro de candidatura por algueacutem que teve suas contas

rejeitadas

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquohrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os detentores de cargo na administraccedilatildeo puacuteblica direta indireta ou fundacional que

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beneficiarem a si ou a terceiros pelo abuso do poder econocircmico ou poliacutetico que

forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial

colegiado para a eleiccedilatildeo na qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como

para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes

Aqui natildeo se trata de cargo eletivo mas sim de cargos por concurso puacuteblico ou

por provimento em comissatildeo

A finalidade eacute por fim a reeleiccedilatildeo para aqueles que estatildeo em cargos de chefia

do poder executivo que tenham cometido abuso do poder econocircmico ou poliacutetico

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquoirdquo da Lei Complementar nordm 641990)

os que em estabelecimentos de creacutedito financiamento ou seguro que tenham sido

ou estejam sendo objeto de processo de liquidaccedilatildeo judicial ou extrajudicial hajam

exercido nos 12 (doze) meses anteriores agrave respectiva decretaccedilatildeo cargo ou funccedilatildeo

de direccedilatildeo administraccedilatildeo ou representaccedilatildeo enquanto natildeo forem exonerados de

qualquer responsabilidade

O que a lei busca nesta situaccedilatildeo eacute deixar aquele que administrou os referidos

estabelecimentos fora de qualquer participaccedilatildeo poliacutetica enquanto natildeo forem

apurados todos os fatos que levaram a insolvecircncia

Portanto o maior objetivo desta causa de inelegibilidade eacute assegurar que o

ex-administrado de estabelecimento de creacutedito financiamento ou seguro natildeo venha

a eleger-se a cargo eletivo sem antes ter sido apurada sua participaccedilatildeo para

insolvecircncia

Outras causas de inelegibilidades incluiacutedas pela Lei Complementar nordm

1352010 estatildeo previstas nos incisos j a q da referida Lei

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4 DA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE 41 ORIGEM DA LEI COMPLEMENTAR Nordm 1352010

Com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o Brasil passa a ser um

Estado Democraacutetico de Direito inaugurando uma democracia participativa

Esta democracia participativa permite ao cidadatildeo desde que preenchidos

determinados requisitos dar iniacutecio a um projeto de Lei atraveacutes da chamada Iniciativa

Popular A origem da Lei Complementar nordm 1352010 decorreu do Projeto de Lei nordm

5182009 sob a coordenaccedilatildeo do Movimento de Combate a Corrupccedilatildeo Eleitoral ndash

MCCE que teve iniacutecio em abril de 2008 com o objetivo de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos a finalidade eacute que os criteacuterios de inelegibilidades sejam

mais rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos

Esta Lei Complementar dita que pessoas condenadas por um colegiado

independente do tracircnsito em julgado satildeo inelegiacuteveis portanto podem ter seus

registros de candidaturas negados alem de incluir parlamentares que renunciaram

ao cargo para assim evitar uma possiacutevel abertura de processo por quebra de decoro

ou por desrespeito agrave Constituiccedilatildeo com a finalidade uacutenica de evitar possiacuteveis

puniccedilotildees

A Lei Complementar 1352010 traacutes inuacutemeros confrontos com a Constituiccedilatildeo

Federal sendo dois os mais relevantes primeiro a natildeo observacircncia do princiacutepio da

anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal e segundo

o desrespeito ao princiacutepio da natildeo-culpabilidade tambeacutem estabelecido na

Constituiccedilatildeo federal no artigo 5ordm inciso LVII

Sobre o primeiro ponto que trata da aplicabilidade da Lei Complementar nordm

1352010 para as eleiccedilotildees de 2010 restou soberana a decisatildeo do Supremo

Tribunal Federal ao resolver o conflito afirmando que o artigo 16 da Constituiccedilatildeo

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Federal ao submeter a alteraccedilatildeo legal do processo eleitoral agrave regra da anualidade

constitui uma garantia fundamental para o pleno exerciacutecio de direitos poliacuteticos

Esta pacificaccedilatildeo se deu no julgamento da Accedilatildeo Declaratoacuteria de

Inconstitucionalidade nordm 3685 13 onde atuou como Relatora a Ministra Ellen Gracie

que identificou como uma garantia fundamental do cidadatildeo-eleitor do cidadatildeo-

candidato e dos partidos poliacuteticos o artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal

A Ministra Ellen Gracie utilizou-se de uma analogia com o julgamento da

Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade 939 que teve como relator Ministro Sydnei

Sanches com a garantia da anterioridade tributaacuteria fixada no artigo 150 III b no

sentido de que se o princiacutepio da anterioridade tributaacuteria constitui uma garantia do

cidadatildeo-contribuinte o princiacutepio da anterioridade eleitoral tambeacutem eacute uma garantia do

cidadatildeo do eleitor do candidato e dos partidos poliacuteticos

Desta forma restou consolidado a garantia prevista no artigo 16 da

Constituiccedilatildeo Federal como forma de um devido processo legal eleitoral

O devido processo visa que se atinja uma decisatildeo conforme a Justiccedila

prestigiando a eacutetica da legalidade ressaltando-se que ele possui um duplo

significado de processo necessaacuterio e processo adequado para tanto COMOGLIO

afirma Que as garantias decorrentes do devido processo legal querem dizer natildeo apenas direito a um processo mas a um justo processo compreendendo a correccedilatildeo e efetividade dos instrumentos disponiacuteveis em juiacutezo e a efetividade e adequaccedilatildeo da proacutepria tutela finalrdquo 14

A Constituiccedilatildeo brasileira de 1988 traz a garantia exarada no seu artigo 5ordm

Art 5ordm - () LIV ndash ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal LV ndash aos litigantes em processo judicial e administrativo e aos acusados em geral seratildeo assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa com os meios de recurso a ela inerentes

Sobre o segundo ponto controverso mateacuteria deste trabalho tem o conflito tem

o conflito entre a Lei Complementar nordm 13510 contra uma garantia constitucional

denominado princiacutepio da natildeo-culpabilidade que eacute inseparaacutevel do conceito de

13 Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011 14 Luigi Paolo COMOGLIO Giuridizione e processo nel quadro delle garanzie constituzionali Rivista Trimestrale di Diritto e Procedura Civile 4 p 1070

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democracia A Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5ordm inciso LVII estabelece uma das

maiores garantias dos indiviacuteduos contra o autoritarismo do Estado afirmando que

ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

condenatoacuteriardquo fixando explicitamente o princiacutepio da natildeo-culpabilidade entre os

direitos fundamentais

42 AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EM JULGADO

A Lei Complementar nordm 1352010 em sua aliacutenea ldquoerdquo do inciso I do artigo 2ordm

possui a seguinte redaccedilatildeo e) os que forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial colegiado desde a condenaccedilatildeo ateacute o transcurso do prazo de 8 (oito) anos apoacutes o cumprimento da pena pelos crimes (Redaccedilatildeo dada pela Lei Complementar nordm 135 de 2010)

Esta aliacutenea visa impedir a candidatura de poliacuteticos condenados a partir da

segunda instacircncia e mesmo que natildeo tenha transitado em julgado Ela defende que

haja uma condenaccedilatildeo criminal no entanto deixa de exigir a configuraccedilatildeo do tracircnsito

em julgado do ato decisoacuterio para que ocorra a inelegibilidade A antiga lei previa que

o candidato soacute seria inelegiacutevel se tivesse condenaccedilatildeo definitiva

As alteraccedilotildees da Lei Complementar nordm 1352010 objetiva atender a um senso

comum do eleitorado afirmando que uma pessoa condenada natildeo deve poder ser

votada isto eacute natildeo deve ter mandato Em seus dizeres trata que a inelegibilidade

natildeo pressupotildee culpa formada natildeo deve haver discussatildeo sobre presunccedilatildeo da

inocecircncia Pode haver inelegibilidade por parentesco por ocupar cargo puacuteblico falta

de domiciacutelio eleitoral ou filiaccedilatildeo partidaacuteria causas que natildeo tecircm nada a ver com

condenaccedilatildeo criminal

A contradiccedilatildeo do argumento da Lei Complementar eacute se a Constituiccedilatildeo em

face do princiacutepio da natildeo-culpabilidade admite a cominaccedilatildeo de inelegibilidade para

quem ainda tem recursos pendentes de julgamento

Caso esta hipoacutetese seja admitida temos que um indiviacuteduo que tenha sido

condenado criminalmente em segunda instacircncia e interponha recurso especial ou

extraordinaacuterio para anular o processo caso natildeo consiga uma medida liminar

suspendendo os efeitos ficaria impedido de concorrer na eleiccedilatildeo

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Imagine-se que ao final da accedilatildeo o cidadatildeo que ficou impedido de concorrer

nas eleiccedilotildees obtivesse vitoacuteria em seu recurso obtendo assim a nulidade da accedilatildeo

bem como da decisatildeo que o condenou com ficaria a situaccedilatildeo deste cidadatildeo

O que se quer com a Lei Complementar nordm 1352010 eacute instituir um moralismo

eleitoral que se sobrepotildee a Constituiccedilatildeo Federal e seu principio constitucional da

natildeo-culpabilidade que eacute a garantia individual contra o Estado

Outro argumento utilizado pelos defensores da constitucionalidade da Lei

Complementar nordm 1352010 satildeo as prisotildees cautelares e que no final o sujeito

acaba sebdo absolvido Ora cabe lembrar-lhes que a prisatildeo cautelar natildeo eacute

antecipaccedilatildeo de pena cumpre ela uma funccedilatildeo processual clara e limitada agrave garantia

da ordem puacuteblica da ordem econocircmica por conveniecircncia da instruccedilatildeo criminal ou

para assegurar a aplicaccedilatildeo da lei penal quando houver prova da existecircncia do crime

e indiacutecio suficiente de autoria

Portanto temos que o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees enquanto natildeo

sobrevier decisatildeo judicial transitada em julgado

O proacuteprio Supremo na Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental

144 jaacute decidiu natildeo barrar candidaturas sem condenaccedilatildeo transitada em julgado

A Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental 144 15 foi votada

em agosto de 2008 antes das eleiccedilotildees municipais Na ocasiatildeo o Supremo Tribunal

Federal decidiu que natildeo poderiam ser barradas candidaturas de poliacuteticos

condenados na primeira instacircncia por conta da presunccedilatildeo de inocecircncia

Em 6 de agosto de 2008 haacute menos de trecircs anos o Supremo Tribunal Federal

julgou improcedente a Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental nordm

144 ajuizada pela Associaccedilatildeo dos Magistrados Brasileiros em voto do ministro

Celso de Mello vencidos os ministros Carlos Ayres e Joaquim Barbosa exatamente

porque O postulado consagrador da garantia de inocecircncia irradia os seus efeitos para aleacutem dos limites dos processos penais de natureza condenatoacuteria impedindo desse modo que situaccedilotildees processuais anda natildeo definidas por sentenccedilas transitadas em julgado provoquem em decorrecircncia das exigecircncias de probidade administrativa e demoralidade a que se refere o sect 9ordm do artigo 14 da Coinstituiccedilatildeo Federal a inelegibilidade dos cidadatildeos ou obstem candidaturas para mandatos eletivos

15Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011

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Portanto ficou definido que Lei Complementar sendo editada para casos de

inelegibilidades esta deveraacute respeitar o princiacutepio da natildeo-culpabilidade Ocorre que

foi editada a Lei Complementar nordm 1352010 que atendeu aos reclamos populares

mas preferiu a um soacute tempo violar a Constituiccedilatildeo Federal e desrespeitar a recente

decisatildeo do Supremo Tribunal Federal mesmo que na eacutepoacuteca desta decisatildeo natildeo

havia lei formal para tal situaccedilatildeo

43 PRINCIacutePIO CONSTITUCIONAL DA NAtildeO-CULPABILIDADE

O princiacutepio da natildeo-culpabilidade eacute direito fundamental previsto na

Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5deg inciso LVII ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute

o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

Isto eacute enquanto natildeo sobrevier uma decisatildeo judicial condenatoacuteria transitada

em julgado o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees em seu patrimocircnio ou em sua

liberdade Caso sobrevenha duacutevida quanto a culpabilidade esta resolveraacute sempre

em favor do reacuteu ou seja aplicando-se o princiacutepio in duacutebio pro reo

Assim disciplina Nelson Nery Juacutenior sobre o princiacutepio da natildeo-culpabilidade ldquoO inteacuterprete deve buscar a aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre tendo como pressuposto o exame da Constituiccedilatildeo Federal Depois sim deve consultar a legislaccedilatildeo infraconstitucional a respeito do temardquo 16

Sendo assim a Constituiccedilatildeo Federal no capiacutetulo sobre os Direitos e Deveres

Individuais e Coletivos em seu artigo 5ordm inciso LVII afirma que ldquoningueacutem seraacute

considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute considerar o

indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila A doutrina e a

jurisprudecircncia aclamam este princiacutepio como vaacuterios nomes como princiacutepio da

presunccedilatildeo de inocecircncia princiacutepio da natildeo-culpabilidade ou simplesmente princiacutepio da

inocecircncia

Joseacute Afonso da Silva em seu livro Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo

disciplina assim esta garantia A norma constitucional do inciso LVII agora sob nosso exame garante a presunccedilatildeo de inocecircncia por meio de um enunciado negativo universal lsquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria Usa-se de uma forma

16 NERY JUacuteNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20

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negativa para outorgar uma garantia positiva Na verdade o texto brasileiro natildeo significa outra coisa senatildeo que fica assegurada a todos a presunccedilatildeo de inocecircncia ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria O tracircnsito em julgado se daacute quando a decisatildeo natildeo comporta mais recurso ordinaacuterio especial ou extraordinaacuterio 17

Nesse sentido o indiviacuteduo acusado natildeo pode ser presumidamente culpado

mas sim inocente Tal princiacutepio visa a tutelar a liberdade pessoal de modo que o

Estado nos mais diferentes segmentos deve abster-se de considerar culpado

aquele que ainda natildeo foi submetido agrave definitividade da atuaccedilatildeo jurisdicional Em se tratando de suspensatildeo dos direitos poliacuteticos a Constituiccedilatildeo Federal

garante que a suspensatildeo somente se daraacute por ldquocondenaccedilatildeo criminal transitada em

julgado enquanto durarem seus efeitosrdquo

Julgamento neste sentido REPRESENTACcedilAtildeO SUSPENSAtildeO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS EM VIRTUDE DE SENTENCcedilA PENAL CONDENATOacuteRIA TRANSITADA EM JULGADO AUTO-APLICABILIDADE DOS ARTIGOS 14 sect 3ordm II E 15 III DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL PROCEDEcircNCIA A suspensatildeo dos direitos poliacuteticos do condenado independe de lei regulamentadora bem como de processo especial de cogniccedilatildeo e de anaacutelise de meacuterito para a execuccedilatildeo da medida no juiacutezo eleitoral posto natildeo se tratar de sanccedilatildeo penal mas de efeito natildeo-penal de condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado e decorrente de mandamento constitucional Comprovado o tracircnsito em julgado da sentenccedila penal condenatoacuteria decreta-se automaticamente a suspensatildeo dos direitos poliacuteticos ativo e passivo do representado ou seja o direito de votar e ser votado com a consequumlente exclusatildeo de seu nome da folha de votaccedilatildeo e declaraccedilatildeo de sua inelegibilidade 18

Logo infere-se que a condenaccedilatildeo criminal sem o tracircnsito em julgado natildeo

desqualifica o condenado a votar e a eventualmente concorrer a qualquer cargo

eletivo

O Colendo Tribunal Superior Eleitoral enfrentou esta questatildeo ao apreciar

pedido de registro de candidatura valendo registrar os seguintes julgados RECURSO ESPECIAL RECEBIDO COMO ORDINAacuteRIO REGISTRO DE CANDIDATURA DEFERIMENTO INELEGIBILIDADE NAtildeO-OCORREcircNCIA Condenaccedilatildeo criminal sem tracircnsito em julgado natildeo eacute apta a ensejar inelegibilidade (precedente do TSE acoacuterdatildeo 536 rel Min Fernando Neves publicado em sessatildeo de 882002) Recurso natildeo provido 19

17 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006 p 155 18 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbrgt TRESCndashAcoacuterdatildeo nordm 13324 de 071094 rel Juiz Nilson B Filho Acesso em 16 set 2011 19 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbr gt TSE- REspEl nordm 20247 de 19902 rel Min Sepuacutelveda Pertence Acesso em 16 set 2011

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INELEGIBILIDADE CONDENACcedilAtildeO CRIMINAL NAtildeO TRANSITADA EM JULGADO CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA ART 14 sect 9deg SUacuteMULA Ndeg 13 DO TSE 1 A existecircncia de sentenccedila criminal condenatoacuteria sem o tracircnsito em julgado natildeo eacute suficiente para ocasionar inelegibilidade 2 O art 14 sect 9deg da Constituiccedilatildeo natildeo eacute auto-aplicaacutevel 3 Necessidade de lei complementar estabelecendo os casos em que a vida pregressa do candidato poderaacute levar agrave sua inelegibilidade bem como os prazos de sua cessaccedilatildeo 4 Recurso provido para julgar improcedente a impugnaccedilatildeo e deferir o registro da candidatura 20

Insculpido na Constituiccedilatildeo Federal o principio da natildeo-culpabilidade deve ser

respeitado por toda lei infraconstitucional alguns doutrinadores como Aristides

Junqueira e Antocircnio Bandeira de Mello em carta publica no sitio do Movimento de

Combate agrave Corrupccedilatildeo Eleitoral21 entendem que neste presente caso natildeo deve ser

aplicado o princiacutepio da natildeo-culpabilidade a inelegibilidade pois esta natildeo eacute pena

mas medida preventiva

Estes juristas se acham alicerccedilados pelo que expressamente estatui o sect 9deg do

artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal em que Lei complementar estabeleceraacute outros

casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim de proteger a probidade

administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato considerada a vida

pregressa do candidato afirmam que uma vez que a proacutepria Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica expressamente permite que o legislador estipule quais elementos da vida

pregressa dos candidatos podem afastaacute-los dos pleitos

Independente desta posiccedilatildeo minoritaacuteria encontra-se que o princiacutepio da natildeo-

culpabilidade eacute prevista em diversos ordenamentos juriacutedicos e tratados como se

veraacute a seguir

Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo da Franccedila de 1789 o art

9da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) de 1948 dispotildee ldquoTodo acusado eacute

considerado inocente ateacute ser declarado culpado e se julgar indispensaacutevel prendecirc-lo

todo o rigor desnecessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deveraacute ser severamente

reprimido pela leirdquo22

20 Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrgt TSE-REspEl nordm 18047 de 2992000 rel Min Fernando Neves da Silva Acesso em 16 set 2011 21 Disponiacutevel em lthttpwwwmcceorgbrsitesdefaultfilescartajuristaspdfgt Acesso em 3 jul 2011 22 Disponiacutevel em lthttppfdcpgrmpfgovbratuacao-e-conteudos-de-apoiolegislacaodireitoshuma nosdeclar_dir_ homem_cidadaopdfgt Acesso em 13 set 2011

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Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos de 1948 diz ldquoToda pessoa

acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocecircncia enquanto natildeo se

comprove legalmente sua culpardquo23

A origem histoacuterica que foi referida teve uma grande importacircncia para se

chegar a um status constitucional conforme eacute citado por Mirabete Existe apenas uma tendecircncia agrave presunccedilatildeo de inocecircncia ou mais precisamente um estado de inocecircncia um estado juriacutedico no qual o acusado eacute inocente ateacute que seja declarado culpado por uma sentenccedila transitada em julgado Por isso a nossa Constituiccedilatildeo Federal natildeo presume a inocecircncia mas declara que ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria (art 5deg LVII) ou seja que o acusado eacute inocente durante o desenvolvimento do processo e seu estado soacute se modifica por uma sentenccedila final que o declare culpado 24

Por fim o princiacutepio da natildeo-culpabilidade visa a proteccedilatildeo do reacuteu para que

este tenha um julgamento justo devendo ser provada sua verdadeira culpa antes

que seja considerado culpado

23 Disponiacutevel em lthttpwwwagugovbrsistemassiteTemplateImagemTextoThumbaspxidConteu do=113927ampordenacao=1ampid_site=4922gt Acesso em 12 set 2011 24 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252

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5 CONCLUSAtildeO Apoacutes as anaacutelises da doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncias pertinentes a este

trabalho verifica-se que a Lei Complementar nordm 1352010 ao instituir nova hipoacutetese

de inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado esta em pleno conflito com o princiacutepio da natildeo-culpabilidade insculpido no

artigo 5ordm inciso LVII da Constituiccedilatildeo Federal o que torna esta nova hipoacutetese

absolutamente inconstitucional

O objetivo da Lei Complementar nordm 1352010 eacute o de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos para que os criteacuterios de inelegibilidades sejam mais

rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos Inicialmente eacute compreensiacutevel a

preocupaccedilatildeo de qualificar o perfil dos candidatos a cargos eletivos atraveacutes da vida

pregressa isto significa querer se representar por candidatos idocircneos

Ocorre que eacute necessaacuterio impor tantas restriccedilotildees para que o cidadatildeo possa

concorrer a determinado pleito natildeo eacute mais correto permitir que o proacuteprio povo

detentor soberano do poder para escolher seus representantes defina seus criteacuterios

de escolha

Quanto ao aspecto juriacutedico vejamos que o legislativo ao criar novas hipoacuteteses

de inelegibilidade deve-se atentar para as garantias jaacute consagradas em nosso

ordenamento principalmente quando esta garantia esta insculpida na Constituiccedilatildeo

Federal garantia esta referente ao principio da natildeo-culpabilidade que reza que

ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

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condenatoacuteria trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute

considerar o indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila

Ocorre que a criaccedilatildeo da Lei Complementar nordm 1352010 nasceu conflitante

com a Constituiccedilatildeo Federal em 2 aspectos primordiais primeiro a natildeo observacircncia

do princiacutepio da anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo

Federal pacificado pela Accedilatildeo Declaratoacuteria de Inconstitucionalidade nordm 3685

afirmando que deve-se respeitar ao principio da anualidade e segundo a

inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado

O segundo conflito origina-se diante da garantia constitucional do princiacutepio da

presunccedilatildeo da natildeo-culpabilidade o qual disciplina que somente poderaacute ser

considerado culpado o acusado de determinado crime quando ocorrer o tracircnsito em

julgado da decisatildeo

Portanto temos que uma decisatildeo de um oacutergatildeo colegiado quando recorriacutevel

ainda natildeo eacute o momento que se consumativo da culpabilidade do acusado pois natildeo

podemos antecipar a puniccedilatildeo de um cidadatildeo com a perda de algum direito pelo

simples fato de estar respondendo a algum processo

A aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre teraacute como pressuposto o

exame da Constituiccedilatildeo Federal que estabelece o princiacutepio da natildeo-culpabilidade

tambeacutem chamado de princiacutepio da presunccedilatildeo de inocecircncia que eacute uma verdadeira

garantia constitucional do indiviacuteduo contra o Estado Portanto deve-se respeitar este

princiacutepio basilar do Estado Democraacutetico de Direito nos mais diferentes segmentos

devendo qualquer Lei abster-se de considerar culpado aquele que ainda natildeo teve

sua decisatildeo transitada em julgado

Assim a Lei Complementar nordm 1352010 eacute contraacuterio ao disposto no texto

constitucional pois de forma antecipada retira do cidadatildeo o direito de disputar ao

pleito de forma igualitaacuteria bem como retira do povo um de seus maiores direitos o

de poder escolher seus representantes

Portanto para fortalecimento do Estado Democraacutetico de Direito se faz

necessaacuterio que as garantias constitucionais prevaleccedilam com isto deve-se

preponderar a presunccedilatildeo de natildeo culpabilidade ateacute o tracircnsito em julgado de da

sentenccedila condenatoacuteria

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REFEREcircNCIAS BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicao_ConstituiccedilaoCompiladohtmgt Acesso em 2 jun 2011 BRASIL Tribunal Superior Eleitoral Coacutedigo eleitoral Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrinternetjurisprudenciacodigo_eleitoralcodigo_eleitoralhtmlgt Acesso em 5 mai 2011 BRASIL Supremo Tribunal Federal Jurisprudecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudenciapesquisarJurisprudenciaaspgt Acesso em 15 mai 2011 BRASIL Projeto de Lei Complementar nordm 518 de 17 de setembro de 2009 Altera a Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 que estabelece de acordo com o sect 9ordm do art 14 da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias para incluir hipoacuteteses de inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no exerciacutecio do mandato Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbrsfatividademateriadetalhesaspp_cod_mate=96850gt Acesso em 19 mai 2011

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BRASIL Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 Estabelece de acordo com o art 14 sect 9ordm da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03LeisLCPLcp64htmgt Acesso em 15 mai 2011 COSTA Adriano Soares Instituiccedilotildees de Direito Eleitoral Ed Del Rey 2006 DI PIETRO Maria Sylvia Zanella Direito Administrativo 9 Ed Satildeo Paulo Atlas 1998 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131 LEAL Saul Tourinho Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt MELLO Celso Antonio Bandeira Curso de Direito Administrativo 24 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2007 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 ed Satildeo Paulo Atlas 2006 Movimento de Combate agrave Corrupccedilatildeo Disponiacutevel em ltwwwmcceorgbrgt Acesso em 3 jul 2011 NERY JUacuteBNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20 PEREIRA Erick Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt Acesso em 30 jun 2011 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2008

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PIRES Maacutercio Rodrigo Kaio Carvalho Abuso do poder poliacutetico nas eleiccedilotildees Jus Navigandi Teresina ano 15 n 2677 30 out 2010 Disponiacutevel em lthttpjusuolcombrrevistatexto17741gt Acesso em 27 jun 2011 RAMAYANA Marcos Direito Eleitoral Impetus Niteroacutei 2006 RESENHA ELEITORAL - Nova Seacuterie v9 n1 (janjun 2002) Disponiacutevel em lt httpwwwtre-scgovbrsiteinstitucionalpublicacoesartigos-doutrinariospublicados- na-resenha-eleitoralresenhasv9-n1-janjun-2002abuso-do-podereconomico- ou-de-autoridadeindexhtmlgt SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006

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ANDREacute LUIS QUICOLI

LEI COMPLEMENTAR nordm 13510 ldquoFICHA LIMPArdquo E SUA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE PREVISTA NO ARTIGO 2ordm

INCISO I ALIacuteNEA ldquoErdquo

Trabalho de conclusatildeo de curso apresentado ao Curso de Direito da Universidade de Mariacutelia para obtenccedilatildeo do Tiacutetulo de Bacharel em Direito sob orientaccedilatildeo do Prof Ms Marcelo Brandatildeo Fontana

MARIacuteLIA

2011

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Autor ANDREacute LUIS QUICOLI

LEI COMPLEMENTAR nordm 13510 ldquoFICHA LIMPArdquo

E SUA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE PREVISTA NO ARTIGO 2ordm

INCISO I ALIacuteNEA ldquoErdquo

Trabalho de conclusatildeo de curso apresentado ao Curso de Direito da Universidade

de Mariacutelia como requisito parcial para obtenccedilatildeo do Tiacutetulo de Bacharel em Direito

sob orientaccedilatildeo do Prof Ms Marcelo Brandatildeo Fontana

Aprovado pela Banca Examinadora em _______________

____________________________________________________

Prof Ms Marcelo Brandatildeo Fontana

Orientador

____________________________________________________

Profa Ms Regina Ceacutelia de Carvalho M Rocha

____________________________________________________

Profa Dra Walkiria Martinez Heinrich Ferrer

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Agradeccedilo a Deus que me fez agrave sua imagem e semelhanccedila e possibilitou-me agrave vitoacuteria

Aos meus pais Celccedilo e Maria Cristina que me servem de exemplo e moral para continuar minha caminhada A minha querida filha Maysa meu irmatildeo Paulo pela sua

amizade as minhas avoacutes Wilma e Dalva Agradeccedilo ainda a meus amigos e colegas de classe

Agradeccedilo a meu ilustre orientador Professor Marcelo Brandatildeo Enfim agradeccedilo a todos que de alguma forma ajudaram na conclusatildeo deste

objetivo

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ldquoPosso natildeo concordar com nenhuma das palavras que vocecirc disser mas defenderei ateacute a

morte o direito de vocecirc dizecirc-las (Voltaire)rdquo

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LEI COMPLEMENTAR nordm 13510 ldquoFICHA LIMPArdquo E SUA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE PREVISTA NO ARTIGO 2ordm

INCISO I ALIacuteNEA ldquoErdquo

RESUMO Com a aprovaccedilatildeo da Lei Complementar nordm 1352010 que teve sua origem no Projeto de Lei Complementar nordm 5182009 de iniciativa popular criou-se uma nova espeacutecie de inelegibilidade que visa impedir a candidatura de poliacuteticos condenados a partir da segunda instacircncia ou por oacutergatildeo judicial colegiado mesmo que natildeo tenha transitado em julgado esta decisatildeo Esta nova inelegibilidade prevista na aliacutenea ldquoerdquo do inciso I do artigo 2ordm da Lei Complementar nordm 1352010 esta em confronto com o disposto no inciso LVII do artigo 5ordm da Constitucional Federal que estabelece o princiacutepio da natildeo-culpabilidade tambeacutem conhecido como princiacutepio da presunccedilatildeo de inocecircncia que eacute uma verdadeira garantia constitucional do indiviacuteduo contra o Estado O presente trabalho tem o intuito de analisar a constitucionalidade ou inconstitucionalidade desta nova hipoacutetese de inelegibilidade frente ao princiacutepio da natildeo-culpabilidade para tanto percorreraacute os conceitos existentes de elegibilidade e inelegibilidades presentes no ordenamento juriacutedico baseando-se na doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncia paacutetria Palavras-chave Elegibilidade Inelegibilidade Princiacutepio da natildeo-culpabilidade

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SUMAacuteRIO 1 INTRODUCcedilAtildeO 07

2 DA ELEGIBILIDADE 09

21 CONCEITO DE ELEGIBILIDADE 09

22 CONDICcedilOtildeES DE ELEGIBILIDADE 09

23 NACIONALIDADE BRASILEIRA 10

24 PLENO EXERCIacuteCIO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS 11

25 ALISTAMENTO ELEITORAL 12

26 DOMICIacuteLIO ELEITORAL 12

27 FILIACcedilAtildeO PARTIDAacuteRIA 13

28 IDADE MIacuteNIMA 14

3 DA INELEGIBILIDADE 15

31 CONCEITO DE INELEGIBILIDADE 15

32 ESPEacuteCIES DE INELEGIBILIDADE 15

33 INELEGIBILIDADE CONSTITUCIONAL 16

34 INELEGIBILIDADE INFRACONSTITUCIONAL 18

4 DA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE 22 41 ORIGEM DA LEI COMPLEMENTAR Nordm 1352010 22

42 AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EM JULGADO 23

43 PRINCIacutePIO CONSTITUCIONAL DA NAtildeO-CULPABILIDADE 25

5 CONCLUSAtildeO 30

6 REFEREcircNCIAS 32

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1 INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho apresenta um tema atual e de grande relevacircncia e

repercussatildeo tornando imprescindiacutevel um amplo debate

Refere-se agrave Lei Complementar nordm 13510 denominada ldquoLei da Ficha Limpardquo

decorrente do Projeto de Lei nordm 5182009 de iniciativa popular que instituiu uma

nova espeacutecie de inelegibilidade visando impedir a candidatura de poliacuteticos

condenados a partir da segunda instacircncia ou por oacutergatildeo judicial colegiado mesmo

que natildeo tenha transitado em julgado esta decisatildeo

Sendo assim avaliaremos a relevacircncia do princiacutepio constitucional da natildeo-

culpabilidade sobre a oacutetica desta nova hipoacutetese de inelegibilidade ressaltando-se

que os estudos apresentados se baseiam em doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncia

paacutetria

O trabalho desenvolveu-se sobre o seguinte problema de pesquisa se estaacute

nova hipoacutetese de inelegibilidade eacute constitucional ou inconstitucional

O trabalho foi divido em 5 capiacutetulos sendo eles assim tratados

O primeiro capiacutetulo baseia-se na INTRODUCcedilAtildeO do respectivo trabalho

O segundo capiacutetulo trata da ELEGIBILIDADE seu conceito e requisitos

O terceiro capiacutetulo trata das INELEGIBILIDADES no ordenamento juriacutedico

brasileiro sendo elas constitucionais e infraconstitucionais

O quarto capiacutetulo trata especificamente desta NOVA HIPOacuteTESE DE

INELEGIBILIDADE trazendo a origem da Lei Complementar nordm 1352010 sua nova

hipoacutetese de inelegibilidade que dispensa o tracircnsito em julgado e o confronto com o

princiacutepio da natildeo-culpabilidade

O quinto e uacuteltimo capiacutetulo aborda especificamente a CONCLUSAtildeO

Como ponto de partida abordamos a mateacuteria geral ou seja as causas de

inelegibilidade e inelegibilidades existentes no ordenamento juriacutedico atual

caminhando para o caso particular que neste trabalho eacute apresentado pela nova

hipoacutetese de inelegibilidade criada pela Lei Complementar nordm 1352010

Jaacute como meacutetodo de procedimento foi utilizado a teacutecnica de procedimento

monograacutefico que estuda em profundidade determinado fato sob todos os seus

aspectos buscando quanto ao possiacutevel esgotar as duacutevidas surgidas sobre o tema

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O tipo de pesquisa ou fonte de informaccedilatildeo utilizada foi o bibliograacutefico por

utilizar como base de estudo os ensinamentos de doutrina legislaccedilatildeo e

jurisprudecircncia

Por fim a anaacutelise conjunta desses fatos nos mostraraacute de forma esclarecedora

a inconstitucionalidade da aliacutenea ldquoerdquo do inciso I do artigo 2ordm da Lei Complementar nordm

1352010 frente ao princiacutepio constitucional da natildeo-culpabilidade

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2 DA ELEGIBILIDADE 21 CONCEITO DE ELEGIBILIDADE

Pode-se conceituar elegibilidade como sendo a capacidade de ser eleito isto

eacute a qualidade de determinada pessoa ser elegiacutevel nas condiccedilotildees permitidas pela

legislaccedilatildeo Assim conceitua o Tribunal Superior Eleitoral sobre inelegibilidade A elegibilidade eacute na restrita precisatildeo legal o direito do cidadatildeo de ser escolhido mediante votaccedilatildeo direta ou indireta para representante do povo ou da comunidade segundo as condiccedilotildees estabelecidas pela Constituiccedilatildeo e pela legislaccedilatildeo eleitoral1

Joseacute Afonso da Silva na ilustre obra Curso de Direito Constitucional Positivo

doutrinariamente leciona A elegibilidade agrave capacidade de ser eleito observa que goza de elegibilidade todo cidadatildeo que preencha as condiccedilotildees exigidas para concorrer a um mandato eletivo consistindo a mesma no direito de postular a designaccedilatildeo pelos eleitores a um mandato poliacutetico no Legislativo ou no Executivo2

Alexandre de Moraes em sua excelente obra de Direto Constitucional define

da seguinte maneira a elegibilidade ldquoElegibilidade eacute a capacidade eleitoral passiva

consistente na possibilidade de o cidadatildeo pleitear determinados mandatos poliacuteticos

mediante eleiccedilatildeo popular desde que preenchidos certo requisitosrdquo 3

Djalma Pinto com a obra intitulada Direito Eleitoral assim define elegibilidade

ldquoElegibilidade eacute o credenciamento do cidadatildeo para postulaccedilatildeo do registro de sua

candidatura Representa o primeiro estaacutegio a ser percorrido por algueacutem para

exercitar o seu direito a ser votadordquo 4

Em siacutentese preenchidos os requisitos de elegibilidade eacute necessaacuterio que o

cidadatildeo natildeo se encontre em alguma hipoacutetese de inelegibilidade que constitui

impedimento agrave capacidade eleitoral passiva

22 CONDICcedilOtildeES DE ELEGIBILIDADE

Trata-se do conjunto de condiccedilotildees pessoais necessaacuterias agrave habilitaccedilatildeo do

cidadatildeo para pleitear determinados mandatos poliacuteticos mediante eleiccedilatildeo popular

As condiccedilotildees de elegibilidade estatildeo previstas na Constituiccedilatildeo Federal no

artigo 14 sect 3ordm e compreendem a nacionalidade brasileira pleno exerciacutecio dos

1 Disponiacutevel em lthttpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermoselegibilidadehtmgt Acesso em 22 jul 2011 2 SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 p 365 3 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 Ed Satildeo Paulo Atlas 2006 p 215 4 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 Ed Satildeo Paulo Atlas 2008 p 157

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direitos poliacuteticos alistamento eleitoral domiciacutelio eleitoral na circunscriccedilatildeo filiaccedilatildeo

partidaacuteria e idade miacutenima para cargos poliacuteticos

Com estes requisitos a Constituiccedilatildeo Federal vem a limitar quem pode e quem

natildeo pode concorrer para algum cargo poliacutetico

23 NACIONALIDADE BRASILEIRA

A nacionalidade brasileira eacute a primeira condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no

artigo 14 sect 3ordm inciso I da Constituiccedilatildeo Federal

Classifica-se a nacionalidade brasileira em brasileiro nato e brasileiro

naturalizado para tanto eacute necessaacuterio distinguirmos a diferenccedila entre um e outro

Brasileiros natos satildeo aqueles nascidos na Repuacuteblica Federativa do Brasil

ainda que de paiacutes estrangeiros desde que estes natildeo estejam a serviccedilo de seu paiacutes

os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou matildee brasileira desde que qualquer

deles esteja a serviccedilo da Repuacuteblica Federativa do Brasil os nascidos no estrangeiro

de pai brasileiro ou de matildee brasileira desde que sejam registrados em reparticcedilatildeo

brasileira competente ou venham a residir na Repuacuteblica Federativa do Brasil e

optem em qualquer tempo depois de atingida a maioridade pela nacionalidade

brasileira

Brasileiros naturalizados satildeo aqueles que na forma da lei adquiram a

nacionalidade brasileira exigidas aos originaacuterios de paiacuteses de liacutengua portuguesa

apenas residecircncia por um ano ininterrupto e idoneidade moral os estrangeiros de

qualquer nacionalidade residentes na Repuacuteblica Federativa do Brasil haacute mais de

quinze anos ininterruptos e sem condenaccedilatildeo penal desde que requeiram a

nacionalidade brasileira

A Lei tambeacutem distingue a nacionalidade em primaacuteria e secundaacuteria A

nacionalidade primaacuteria tambeacutem denominada de originaacuteria eacute conferida aos

brasileiros natos sendo adquirida no momento do nascimento pelo ius sanguinis

(direito de sangue) ou pelo ius soli (direito de solo) jaacute a nacionalidade secundaacuteria

tambeacutem denominada nacionalidade adquirida eacute conferida aos brasileiros

naturalizados aquela se adquire por vontade proacutepria apoacutes o nascimento e em regra

geral pela naturalizaccedilatildeo

Por fim o sect 2ordm do artigo 12 da Constituiccedilatildeo Federal descreve ldquoA lei natildeo

poderaacute estabelecer distinccedilatildeo entre brasileiros natos e naturalizados salvo nos casos

previstos nesta Constituiccedilatildeordquo com isto fica vedado qualquer tratamento desigual

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entre brasileiro nato e naturalizado salvo disposiccedilatildeo em contraacuterio na Constituiccedilatildeo

Federal

A exceccedilatildeo citada no sect 2ordm do artigo 12 da Constituiccedilatildeo Federal permite a

distinccedilatildeo entre brasileiros natos e naturalizados para ocupar determinados cargos

esta exceccedilatildeo estaacute disposta no artigo 12 sect 3ordm da Constituiccedilatildeo Federal que permite

que alguns cargos sejam privativos de brasileiro nato natildeo permitindo que os

naturalizados venham a ocupar tais posiccedilotildees

Esta exceccedilatildeo restringe-se para os cargos privativos de Presidente e Vice-

Presidente da Repuacuteblica Presidente da Cacircmara dos Deputados Presidente do

Senado Federal Ministro do Supremo Tribunal Federal carreira diplomaacutetica de

oficial das Forccedilas Armadas e de Ministro de Estado da Defesa

24 PLENO EXERCIacuteCIO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS

O pleno exerciacutecio dos direitos poliacuteticos eacute a segunda condiccedilatildeo de elegibilidade

prevista no artigo 14 sect 3ordm inciso II da Constituiccedilatildeo Federal o Tribunal Superior

Eleitoral assim o conceitua Direitos poliacuteticos eacute o conjunto dos direitos atribuiacutedos ao cidadatildeo que lhe permite atraveacutes do voto do exerciacutecio de cargos puacuteblicos ou da utilizaccedilatildeo de outros instrumentos constitucionais e legais ter efetiva participaccedilatildeo e influecircncia nas atividades de governo Estar no gozo dos direitos poliacuteticos significa pois estar habilitado a alistar-se eleitoralmente habilitar-se a candidaturas para cargos eletivos ou a nomeaccedilotildees para certos cargos puacuteblicos natildeo eletivos participar de sufraacutegios votar em eleiccedilotildees plebiscitos e referendos apresentar projetos de lei pela via da iniciativa popular e propor accedilatildeo popular 5

Djalma Pinto em sua obra intitulada ldquoDireito eleitoral ndash Improbidade

Administrativa e Responsabilidade Fiscalrdquo dispotildee sobre esta condiccedilatildeo de

elegibilidade O pleno exerciacutecio dos direitos poliacuteticos eacute condiccedilatildeo essencial para a configuraccedilatildeo de elegibilidade A plenitude dos direitos poliacuteticos se expressa pela aptidatildeo para votar e ser votado Sem encontrar-se apto a seu exerciacutecio natildeo eacute possiacutevel ao indiviacuteduo nem se alistar nem tampouco se filiar partido requisitos imprescindiacuteveis agrave configuraccedilatildeo da elegibilidade 6

Sendo assim o pleno exerciacutecio dos direitos poliacuteticos eacute requisito essencial

para o cidadatildeo estar na condiccedilatildeo de elegibilidade Aquele que perder ou tiver seus 5 Disponiacutevel em lthttpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermosdireitos_politicoshtmgt Acesso em 22 jul 2011 6 PINTO Djalma Direito eleitoral ndash improbidade administrativa e Responsabilidade Fiscal 3 Ed Satildeo Paulo Atlas 2006

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direitos poliacuteticos suspensos ou cancelados ficaraacute impedido de exercer a capacidade

eleitoral passiva

A Constituiccedilatildeo Federal prevecirc no artigo 15 causas de perda ou suspensatildeo dos

direitos poliacuteticos que podem ocorrer devido ao cancelamento da naturalizaccedilatildeo por

sentenccedila judicial transitada em julgado condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado

enquanto durarem seus efeitos recusa de cumprir obrigaccedilatildeo a todos imposta ou

prestaccedilatildeo alternativa nos termos do art 5ordm VIII improbidade administrativa nos

termos do art 37 sect 4ordm

25 ALISTAMENTO ELEITORAL

O alistamento eleitoral eacute a terceira condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo

14 sect 3ordm inciso III da Constituiccedilatildeo Federal o Tribunal Superior Eleitoral assim o

conceitua Eacute a primeira fase do processo eleitoral Eacute um procedimento administrativo cartoraacuterio e compreende dois atos inconfundiacuteveis a qualificaccedilatildeo e a inscriccedilatildeo do eleitor A qualificaccedilatildeo eacute a prova de que o cidadatildeo satisfaz as exigecircncias legais para exercer o direito de voto enquanto que a inscriccedilatildeo faz com que o mesmo passe a integrar o Cadastro Nacional de Eleitores da Justiccedila Eleitoral O ato de alistamento eacute feito por meio de processamento eletrocircnico e se perfaz pelo preenchimento do requerimento de alistamento eleitoral (RAE) na forma da resoluccedilatildeo do TSE e da legislaccedilatildeo eleitoral Eacute a forma pela qual o cidadatildeo adquire seus direitos poliacuteticos tornando-se titular de direito poliacutetico ativo (capacidade para votar) e possibilitando sua elegibilidade e filiaccedilatildeo partidaacuteria apoacutes a expediccedilatildeo do respectivo tiacutetulo eleitoral 7

Portanto para o cidadatildeo ser eleitor eacute preciso que ele se aliste e para ele ser

elegiacutevel eacute preciso que ele jaacute seja eleitor

26 O DOMICIacuteLIO ELEITORAL NA CIRCUNSCRICcedilAtildeO

O domiciacutelio eleitoral eacute a quarta condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14

sect 3ordm inciso IV da Constituiccedilatildeo Federal

Domiciacutelio eleitoral eacute o lugar da residecircncia ou moradia do requerente agrave

inscriccedilatildeo eleitoral assim dispotildee o artigo 42 paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo Eleitoral

que Para efeito de inscriccedilatildeo eacute domiciacutelio eleitoral o lugar de residecircncia ou moradia

do requerente e verificado ter o alistando mais de uma considerar-se-aacute domiciacutelio

qualquer delas

7Disponiacutevel em lthttpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermosalistamento_eleitoralhtmgt Acesso em 22 jul 2011

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Djalma Pinto acerca do domiciacutelio eleitoral assevera ldquoO domicilio eleitoral por

sua vez eacute o lugar da residecircncia ou moradia onde o cidadatildeo formaliza seu

alistamentordquo 8

A legislaccedilatildeo requer que o candidato a um cargo eletivo natildeo incorra em

incompatibilidades ou inelegibilidades e possua domicilio eleitoral na circunscriccedilatildeo a

qual deseja concorrer Sobre a circunscriccedilatildeo eleitoral o Tribunal Superior Eleitoral

assim o define Espaccedilo geograacutefico onde se trava determinada eleiccedilatildeo Assim o paiacutes na eleiccedilatildeo do presidente e vice-presidente da Repuacuteblica o estado nas eleiccedilotildees para governador e vice-governador deputados federais e estaduais e senadores o municiacutepio nas eleiccedilotildees de prefeito e vereadores e o distrito onde e quando se realiza a eleiccedilatildeo pelo sistema distrital 9

Para concorrer as eleiccedilotildees o candidato deveraacute possuir domiciacutelio eleitoral na

respectiva circunscriccedilatildeo pelo prazo de pelo menos um ano antes do pleito e estar

com a filiaccedilatildeo deferida pelo partido no mesmo prazo eacute o que dispotildee o artigo 9deg da

Lei 950497

27 FILIACcedilAtildeO PARTIDAacuteRIA

A filiaccedilatildeo partidaacuteria eacute a quinta condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14

sect 3ordm inciso V da Constituiccedilatildeo Federal

Eacute o ato formal e solene o pelo qual um eleitor aceita e adota o programa de

um partido poliacutetico viacutenculo que se estabelece entre o poliacutetico e o partido Eacute condiccedilatildeo

de elegibilidade conforme disposto no artigo 14 sect3ordm inciso V da Constituiccedilatildeo

Federal Nos termos do artigo 16 da Lei dos Partidos Poliacuteticos Lei nordm 909695 soacute

pode filiar-se a partido o eleitor que estiver no pleno gozo de seus direitos poliacuteticos

Todavia a exceccedilotildees sobre a filiaccedilatildeo partidaacuteria como no caso de candidatura

de magistrados membros dos Tribunais de Contas Ministeacuterio Puacuteblico e militares

como exemplo vejamos a exceccedilatildeo dos militares estes querendo concorrer a cargo

puacuteblico eletivo possuindo menos de dez anos de serviccedilo deveraacute solicitar

afastamento definitivo da atividade atraveacutes de demissatildeo ou licenciamento ex-officio

caso venha a possuir mais de dez anos de serviccedilo deveraacute ser agregado pela

8 PINTO Djalma Direito eleitoral ndash improbidade administrativa e Responsabilidade Fiscal 3 Ed Satildeo Paulo Atlas 2006 9 Disponiacutevel em httpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermoscircunscricao_eleitoralhtmgt Acesso em 22 jul 2011

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autoridade superior e se eleito passaraacute automaticamente no ato da diplomaccedilatildeo

para a inatividade

28 IDADE MIacuteNIMA

Idade miacutenima eacute a uacuteltima condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14 sect 3ordm

inciso VI da Constituiccedilatildeo Federal

Para o cargo de Presidente e Vice-Presidente da Repuacuteblica e para Senadores

e suplentes a idade miacutenima de 35 anos para o cargo de Governado e Vice-

Governador de Estado ou do Distrito Federal idade miacutenima de 30 anos para os

cargos de Deputado Federal Estadual Distrital Prefeito e Vice-Prefeito e Juiz de

paz a idade miacutenima de 21 anos e por fim para o cargo de vereador a idade

miacutenima de 18 anos

Dispotildee a Lei 95041997 artigo 11 sect 2ordm que a verificaccedilatildeo da idade seraacute feita

na data da posse no respectivo cargo pressupotildee que um menor de 17 anos de

idade possa se candidatar ao cargo de vereador bastando que na data da posse

conte com 18 anos completos

Alguns doutrinadores entretanto discordam dessa interpretaccedilatildeo entendendo

que natildeo poderia o legislador infra-constitucional dizer a mais do que a proacutepria

Constituiccedilatildeo estabeleceu assim leciona o Gilmar Mendes em sua obra Curso de

Direito Constitucional Natildeo haacute que se falar em momento da posse como aceitaacutevel para se perfazer a condiccedilatildeo de elegibilidade no tocante a idade miacutenima pois a Constituiccedilatildeo jaacute determinou que o momento da afericcedilatildeo para elegibilidade deve ser o do registro da candidatura 10

Tem prevalecido a verificaccedilatildeo da idade miacutenima na data da posse

10 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 Ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 p803

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3 DA INELEGIBILIDADE 31 CONCEITO DE INELEGIBILIDADE

Joseacute Afonso da Silva em sua ilustre obra Curso de Direito Constitucional

Positivo doutrinariamente leciona que ldquoa inelegibilidade obsta a elegibilidade

revelando um impedimento ao direito de ser votado que eacute a capacidade eleitoral

passivardquo 11

A inelegibilidade resulta no impedimento parcial ou seja temporaacuterio da

capacidade eleitoral passiva restringindo o cidadatildeo de ser votado nas hipoacuteteses

previstas na Lei Complementar nordm 641990 Lei Complementar nordm 1352010 e na

Constituiccedilatildeo Federal

Sua finalidade tem por objetivo a probidade administrativa a normalidade

para o exerciacutecio do mandato considerada a vida pregressa do candidato e a

normalidade e a legitimidade das eleiccedilotildees contra a influecircncia do poder econocircmico ou

o abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo cargo ou emprego na administraccedilatildeo direta ou

indireta

A inelegibilidade pode ser absoluta proibindo a candidatura agraves eleiccedilotildees em

geral ou relativa impossibilitando a postulaccedilatildeo a determinado mandato eletivo

Sendo assim o cidadatildeo que almeja se candidatar a cargo eletivo deve

atender as condiccedilotildees de elegibilidade e natildeo incorrer em nenhuma causa de

inelegibilidade

32 ESPEacuteCIES DE INELEGIBILIDADE

As espeacutecies de inelegibilidade podem ser constitucionais e

infraconstitucionais as constitucionais dividem-se em absoluta e relativa

A inelegibilidade constitucional absoluta consiste no impedimento eleitoral

que restringe o cidadatildeo de concorrer a qualquer cargo eletivo refere-se a

determinada caracteriacutestica do indiviacuteduo ou seja eacute de caraacuteter pessoal sendo

11 SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 Ed Satildeo Paulo Malheiros 012004 p 387

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taxativamente prevista pela Constituiccedilatildeo Federal e a inelegibilidade constitucional

relativa compreende o impedimento eleitoral que restringe o cidadatildeo de concorrer a

determinados cargos em determinada eleiccedilatildeo refere-se a situaccedilotildees especiais e

momentacircneas tais como motivos funcionais de casamento de parentescos

A inelegibilidade infraconstitucional eacute disciplinada na Lei Complementar ndeg

641990 alterada pela Lei Complementar ndeg 1352010

Eacute relevante a distinccedilatildeo entre as inelegibilidades constitucionais e

infraconstitucionais como bem ressaltado por Joseacute Jairo Gomes A distinccedilatildeo que se faz entre inelegibilidades constitucionais e legais natildeo eacute cerebrina apresentando inegaacutevel relevacircncia praacutetica Basta dizer que natildeo haacute preclusatildeo quanto agraves primeiras as quais podem ser arguumlidas na fase do registro de candidatura ou posteriormente antes ou depois das eleiccedilotildees A arguumliccedilatildeo posterior pode ser feita no RCED (CE art 262 I) Jaacute as inelegibilidades legais sujeitam-se agrave preclusatildeo se natildeo forem levantadas na fase de registro de candidatura Ultrapassado esse momento natildeo mais poderatildeo ser discutidas salvo se supervenientes 12

33 INELEGIBILIDADE CONSTITUCIONAL

A inelegibilidade constitucional dividi-se em absoluta e relativa

A inelegibilidade constitucional absoluta estabelecida no sect 4deg do artigo 14 da

Constituiccedilatildeo Federal prevecirc que satildeo inelegiacuteveis os inalistaacuteveis e os analfabetos

A inelegibilidade decorrente da inalistabilidade abrange todos que natildeo se

encontram na situaccedilatildeo de alistabilidade tambeacutem aqueles que se encontram em

estado definitivo ou temporariamente privados de seus direitos poliacuteticos por fim

atinge aqueles que natildeo sabem exprimir-se na liacutengua nacional e os estrangeiros

A inelegibilidade decorrente do analfabetismo natildeo permite que o analfabeto

seja elegiacutevel mas permite que ele seja alistaacutevel exercendo assim a sua capacidade

de votar mas nunca a de ser votado

Estas hipoacuteteses restringem ao cidadatildeo se candidatarem a qualquer cargo

eletivo em qualquer eleiccedilatildeo enquanto perdurar esta situaccedilatildeo restritiva

As hipoacuteteses de inelegibilidades constitucionais relativas referem-se a

situaccedilotildees especiais separando-as por motivos funcionais motivos parentais motivos

militares e encontram-se dispostas no artigo 14 sectsect 5deg ao 9deg da Constituiccedilatildeo Federal

12 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131

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A inelegibilidade por motivo funcional eacute decorrente de o cidadatildeo estar em

exerciacutecio de alguma funccedilatildeo puacuteblica Satildeo previstas duas situaccedilotildees

A primeira declara ser inelegiacutevel para o mesmo cargo em terceiro periacuteodo

subsequumlente o Presidente da Repuacuteblica os Governadores de Estado e do DF os

Prefeitos e quem os houver sucedido ou substituiacutedo nos seis meses antes das

eleiccedilotildees Eacute o que dispotildee o sect 5deg do artigo 14 na redaccedilatildeo da Emenda Constitucional

161997

Portanto soacute eacute permitida uma reconduccedilatildeo ou seja eacute permitida a reeleiccedilatildeo de

Chefes do Executivo ou seus substitutos para apenas um periacuteodo subsequumlente

A segunda situaccedilatildeo considera que satildeo inelegiacuteveis para concorrer a outros

cargos o Presidente da Repuacuteblica os Governadores de Estado e do DF e os

Prefeitos salvo se tiverem se desincompatibilizado com a renuacutencia do cargo ateacute

seis meses antes do pleito Eacute o que prevecirc o sect 6deg do artigo 14 da Constituiccedilatildeo

Federal

Os servidores puacuteblicos que ocuparem algum cargo de livre nomeaccedilatildeo

demissiacuteveis ad nutum seratildeo exonerados para que possam concorrer a cargo

eletivo ou seja natildeo poderatildeo manter qualquer viacutenculo com a entidade na qual

desempenhava suas funccedilotildees

Os servidores puacuteblicos concursados ao contraacuterio dos servidores ocupantes

de cargos de livre nomeaccedilatildeo natildeo seratildeo exonerados ou demitidos apenas se

afastaratildeo de suas funccedilotildees para se candidatar a cargo puacuteblico

A inelegibilidade por motivo de parentesco tambeacutem denominada de

inelegibilidade reflexa estaacute relacionada a condiccedilotildees inerentes ao parentesco

sanguumliacuteneo soacutecio-afetivo ou condiccedilatildeo matrimonial

Assim conforme previsto no sect 7ordm do artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal estas

mesmas pessoas impedidas para determinados cargos podem concorrer para outros

cargos que se processem em territoacuterio de outra circunscriccedilatildeo

A inelegibilidade reflexa aproxima-se da inelegibilidade absoluta a diferenccedila

ocorre que na reflexa pode cessar por vontade das pessoas envolvidas um exemplo

claro eacute a renuacutencia seis meses antes do pleito do Presidente da Repuacuteblica

Assim temos que a inelegibilidade por motivo de parentesco ou reflexa visa a

impedir a formaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do poder poliacutetico em matildeos de uma determinada

famiacutelia

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A inelegibilidade por motivos militares visa que o militar enquanto em serviccedilo

ativo natildeo pode estar filiado a partidos poliacuteticos entretanto a Constituiccedilatildeo Federal

em seu artigo 14 relata que atendidas certas condiccedilotildees o militar alistaacutevel se torna

elegiacutevel sendo estas as condiccedilotildees se contar com menos de dez anos de serviccedilo

deveraacute afastar-se da atividade e se contar com mais de dez ano de serviccedilo seraacute

agregado pela autoridade superior e se eleito passaraacute automaticamente no ato da

diplomaccedilatildeo para a inatividade

34 INELEGIBILIDADE INFRACONSTITUCIONAL

Por se tratar de inuacutemeras hipoacuteteses de inelegibilidades infraconstitucionais

natildeo seraacute possiacutevel tratar todos os casos previstos em lei para tanto adentraremos a

anaacutelise de algumas hipoacuteteses dispostas na Lei Complementar nordm 641990

As inelegibilidades infraconstitucionais satildeo instituiacutedas por Lei Complementar

que estabeleceraacute outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim

de proteger a probidade administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato

considerado vida pregressa do candidato e a normalidade e legitimidade das

eleiccedilotildees contra a influecircncia do poder econocircmico ou o abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo

cargo ou emprego na administraccedilatildeo direta ou indireta

As causas de inelegibilidade infraconstitucionais estatildeo previstas no artigo 1ordm

da Lei Complementar nordm 641990 alterado dentre outras atraveacutes da recente Lei

Complementar ndeg 1352010 conhecida como a Lei da Ficha Limpa

Dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquobrdquo da Lei Complementar nordm 641990 que os

membros do Congresso Nacional das Assembleacuteias Legislativas da Cacircmara

Legislativa e das Cacircmaras Municipais que hajam perdido os respectivos mandatos

por infringecircncia do disposto nos incisos I e II do art 55 da Constituiccedilatildeo Federal dos

dispositivos equivalentes sobre perda de mandato das Constituiccedilotildees Estaduais e

Leis Orgacircnicas dos Municiacutepios e do Distrito Federal para as eleiccedilotildees que se

realizarem durante o periacuteodo remanescente do mandato para o qual foram eleitos e

nos oito anos subsequumlentes ao teacutermino da legislatura

Sendo assim satildeo inelegiacuteveis os parlamentares cujo procedimento for

declarado incompatiacutevel com o decoro parlamentar e desde a expediccedilatildeo do diploma

firmar ou manter contrato com pessoa juriacutedica de direito puacuteblico autarquia empresa

puacuteblica sociedade de economia mista ou empresa concessionaacuteria de serviccedilo

puacuteblico salvo quando o contrato obedecer a claacuteusulas uniformes aceitar ou exercer

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cargo funccedilatildeo ou emprego remunerado inclusive os de que sejam demissiacuteveis ad

nutum nas entidades constantes da aliacutenea anterior e desde a posse ser

proprietaacuterios controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente

de contrato com pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou nela exercer funccedilatildeo

remunerada ocupar cargo ou funccedilatildeo de que sejam demissiacuteveis ad nutum nas

entidades referidas no inciso I a patrocinar causa em que seja interessada

qualquer das entidades a que se refere o inciso I a ser titulares de mais de um

cargo ou mandato puacuteblico eletivo

Portando o parlamentar que infringir o disposto no artigo 54 teraacute seu mandato

cassado Jaacute no inciso II do artigo 55 o Deputado ou Senador perderaacute o mandato

quando o procedimento for declarado incompatiacutevel com o decoro parlamentar A

Constituiccedilatildeo Federal prevecirc como falta de decoro o disciplinado no artigo 55 sect 1ordm

Por fim eacute incompatiacutevel com o decoro parlamentar os casos definidos no regimento

interno

Assim dispotildee o artigo 1ordm Inciso I aliacutenea ldquocrdquo da Lei Complementar nordm 641990

Governador e o Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal e o Prefeito e o

Vice-Prefeito que perderem seus cargos eletivos por infringecircncia a dispositivo da

Constituiccedilatildeo Estadual da Lei Orgacircnica do Distrito Federal ou da Lei Orgacircnica do

Municiacutepio para as eleiccedilotildees que se realizarem durante o periacuteodo remanescente e

nos 8 (oito) anos subsequentes ao teacutermino do mandato para o qual tenham sido

eleitos

Tal dispositivo busca evitar que os chefes do poder executivos retornem a

vida puacuteblica no mandato seguinte e nas eleiccedilotildees para as demais esferas Este

dispositivo preserva a moralidade puacuteblica O prazo de 8 anos de inabilitaccedilatildeo seraacute

contado a partir da data que tiver sido proferida a decisatildeo por crime de

responsabilidade

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquodrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tenham contra sua pessoa representaccedilatildeo julgada procedente pela Justiccedila

Eleitoral em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo colegiado em

processo de apuraccedilatildeo de abuso do poder econocircmico ou poliacutetico para a eleiccedilatildeo na

qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como para as que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes

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Primeiramente eacute necessaacuterio conceituar o que eacute abuso de poder econocircmico de

abuso de poder poliacutetico

Abuso de poder econocircmico consiste na utilizaccedilatildeo de bens ou serviccedilos de

empresas particulares ou recursos proacuteprios do candidato gerando assim uma

desproporccedilatildeo entre os candidatos exemplo Se um candidato eacute proprietaacuterio de uma

grande empresa e faz uso dela para custear sua campanha sem realizar doaccedilatildeo de

campanha prevista na Lei 950497

Abuso do poder poliacutetico consiste no emprego de serviccedilos ou bens

pertencentes a administraccedilatildeo puacuteblica com o objetivo de propiciar a eleiccedilatildeo de

determinado candidato

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquofrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que forem declarados indignos do oficialato ou com ele incompatiacuteveis pelo prazo

de 8 (oito) anos

Oficialato eacute o cargo ou dignidade de oficial seja das forccedilas armadas poliacutecia

militar ou corpo de bombeiros A competecircncia para apreciar e declarar a indignidade

do oficialato seraacute do Superior Tribunal Militar

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquogrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tiverem suas contas relativas ao exerciacutecio de cargos ou funccedilotildees puacuteblicas

rejeitadas por irregularidade insanaacutevel que configure ato doloso de improbidade

administrativa e por decisatildeo irrecorriacutevel do oacutergatildeo competente salvo se esta houver

sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciaacuterio para as eleiccedilotildees que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes contados a partir da data da decisatildeo aplicando-se o

disposto no inciso II do art 71 da Constituiccedilatildeo Federal a todos os ordenadores de

despesa sem exclusatildeo de mandataacuterios que houverem agido nessa condiccedilatildeo

Esta decisatildeo eacute administrativa e traraacute a consequumlecircncia de inelegibilidade para

isso a irregularidade tem de ser insanaacutevel

A competecircncia para julgar estas irregularidades compete ao Poder

Legislativo seja no acircmbito federal estadual ou municipal

A analise desta insanabilidade poderaacute caber a Justiccedila Eleitoral como por

exemplo no pedido de registro de candidatura por algueacutem que teve suas contas

rejeitadas

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquohrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os detentores de cargo na administraccedilatildeo puacuteblica direta indireta ou fundacional que

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beneficiarem a si ou a terceiros pelo abuso do poder econocircmico ou poliacutetico que

forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial

colegiado para a eleiccedilatildeo na qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como

para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes

Aqui natildeo se trata de cargo eletivo mas sim de cargos por concurso puacuteblico ou

por provimento em comissatildeo

A finalidade eacute por fim a reeleiccedilatildeo para aqueles que estatildeo em cargos de chefia

do poder executivo que tenham cometido abuso do poder econocircmico ou poliacutetico

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquoirdquo da Lei Complementar nordm 641990)

os que em estabelecimentos de creacutedito financiamento ou seguro que tenham sido

ou estejam sendo objeto de processo de liquidaccedilatildeo judicial ou extrajudicial hajam

exercido nos 12 (doze) meses anteriores agrave respectiva decretaccedilatildeo cargo ou funccedilatildeo

de direccedilatildeo administraccedilatildeo ou representaccedilatildeo enquanto natildeo forem exonerados de

qualquer responsabilidade

O que a lei busca nesta situaccedilatildeo eacute deixar aquele que administrou os referidos

estabelecimentos fora de qualquer participaccedilatildeo poliacutetica enquanto natildeo forem

apurados todos os fatos que levaram a insolvecircncia

Portanto o maior objetivo desta causa de inelegibilidade eacute assegurar que o

ex-administrado de estabelecimento de creacutedito financiamento ou seguro natildeo venha

a eleger-se a cargo eletivo sem antes ter sido apurada sua participaccedilatildeo para

insolvecircncia

Outras causas de inelegibilidades incluiacutedas pela Lei Complementar nordm

1352010 estatildeo previstas nos incisos j a q da referida Lei

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4 DA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE 41 ORIGEM DA LEI COMPLEMENTAR Nordm 1352010

Com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o Brasil passa a ser um

Estado Democraacutetico de Direito inaugurando uma democracia participativa

Esta democracia participativa permite ao cidadatildeo desde que preenchidos

determinados requisitos dar iniacutecio a um projeto de Lei atraveacutes da chamada Iniciativa

Popular A origem da Lei Complementar nordm 1352010 decorreu do Projeto de Lei nordm

5182009 sob a coordenaccedilatildeo do Movimento de Combate a Corrupccedilatildeo Eleitoral ndash

MCCE que teve iniacutecio em abril de 2008 com o objetivo de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos a finalidade eacute que os criteacuterios de inelegibilidades sejam

mais rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos

Esta Lei Complementar dita que pessoas condenadas por um colegiado

independente do tracircnsito em julgado satildeo inelegiacuteveis portanto podem ter seus

registros de candidaturas negados alem de incluir parlamentares que renunciaram

ao cargo para assim evitar uma possiacutevel abertura de processo por quebra de decoro

ou por desrespeito agrave Constituiccedilatildeo com a finalidade uacutenica de evitar possiacuteveis

puniccedilotildees

A Lei Complementar 1352010 traacutes inuacutemeros confrontos com a Constituiccedilatildeo

Federal sendo dois os mais relevantes primeiro a natildeo observacircncia do princiacutepio da

anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal e segundo

o desrespeito ao princiacutepio da natildeo-culpabilidade tambeacutem estabelecido na

Constituiccedilatildeo federal no artigo 5ordm inciso LVII

Sobre o primeiro ponto que trata da aplicabilidade da Lei Complementar nordm

1352010 para as eleiccedilotildees de 2010 restou soberana a decisatildeo do Supremo

Tribunal Federal ao resolver o conflito afirmando que o artigo 16 da Constituiccedilatildeo

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Federal ao submeter a alteraccedilatildeo legal do processo eleitoral agrave regra da anualidade

constitui uma garantia fundamental para o pleno exerciacutecio de direitos poliacuteticos

Esta pacificaccedilatildeo se deu no julgamento da Accedilatildeo Declaratoacuteria de

Inconstitucionalidade nordm 3685 13 onde atuou como Relatora a Ministra Ellen Gracie

que identificou como uma garantia fundamental do cidadatildeo-eleitor do cidadatildeo-

candidato e dos partidos poliacuteticos o artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal

A Ministra Ellen Gracie utilizou-se de uma analogia com o julgamento da

Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade 939 que teve como relator Ministro Sydnei

Sanches com a garantia da anterioridade tributaacuteria fixada no artigo 150 III b no

sentido de que se o princiacutepio da anterioridade tributaacuteria constitui uma garantia do

cidadatildeo-contribuinte o princiacutepio da anterioridade eleitoral tambeacutem eacute uma garantia do

cidadatildeo do eleitor do candidato e dos partidos poliacuteticos

Desta forma restou consolidado a garantia prevista no artigo 16 da

Constituiccedilatildeo Federal como forma de um devido processo legal eleitoral

O devido processo visa que se atinja uma decisatildeo conforme a Justiccedila

prestigiando a eacutetica da legalidade ressaltando-se que ele possui um duplo

significado de processo necessaacuterio e processo adequado para tanto COMOGLIO

afirma Que as garantias decorrentes do devido processo legal querem dizer natildeo apenas direito a um processo mas a um justo processo compreendendo a correccedilatildeo e efetividade dos instrumentos disponiacuteveis em juiacutezo e a efetividade e adequaccedilatildeo da proacutepria tutela finalrdquo 14

A Constituiccedilatildeo brasileira de 1988 traz a garantia exarada no seu artigo 5ordm

Art 5ordm - () LIV ndash ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal LV ndash aos litigantes em processo judicial e administrativo e aos acusados em geral seratildeo assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa com os meios de recurso a ela inerentes

Sobre o segundo ponto controverso mateacuteria deste trabalho tem o conflito tem

o conflito entre a Lei Complementar nordm 13510 contra uma garantia constitucional

denominado princiacutepio da natildeo-culpabilidade que eacute inseparaacutevel do conceito de

13 Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011 14 Luigi Paolo COMOGLIO Giuridizione e processo nel quadro delle garanzie constituzionali Rivista Trimestrale di Diritto e Procedura Civile 4 p 1070

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democracia A Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5ordm inciso LVII estabelece uma das

maiores garantias dos indiviacuteduos contra o autoritarismo do Estado afirmando que

ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

condenatoacuteriardquo fixando explicitamente o princiacutepio da natildeo-culpabilidade entre os

direitos fundamentais

42 AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EM JULGADO

A Lei Complementar nordm 1352010 em sua aliacutenea ldquoerdquo do inciso I do artigo 2ordm

possui a seguinte redaccedilatildeo e) os que forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial colegiado desde a condenaccedilatildeo ateacute o transcurso do prazo de 8 (oito) anos apoacutes o cumprimento da pena pelos crimes (Redaccedilatildeo dada pela Lei Complementar nordm 135 de 2010)

Esta aliacutenea visa impedir a candidatura de poliacuteticos condenados a partir da

segunda instacircncia e mesmo que natildeo tenha transitado em julgado Ela defende que

haja uma condenaccedilatildeo criminal no entanto deixa de exigir a configuraccedilatildeo do tracircnsito

em julgado do ato decisoacuterio para que ocorra a inelegibilidade A antiga lei previa que

o candidato soacute seria inelegiacutevel se tivesse condenaccedilatildeo definitiva

As alteraccedilotildees da Lei Complementar nordm 1352010 objetiva atender a um senso

comum do eleitorado afirmando que uma pessoa condenada natildeo deve poder ser

votada isto eacute natildeo deve ter mandato Em seus dizeres trata que a inelegibilidade

natildeo pressupotildee culpa formada natildeo deve haver discussatildeo sobre presunccedilatildeo da

inocecircncia Pode haver inelegibilidade por parentesco por ocupar cargo puacuteblico falta

de domiciacutelio eleitoral ou filiaccedilatildeo partidaacuteria causas que natildeo tecircm nada a ver com

condenaccedilatildeo criminal

A contradiccedilatildeo do argumento da Lei Complementar eacute se a Constituiccedilatildeo em

face do princiacutepio da natildeo-culpabilidade admite a cominaccedilatildeo de inelegibilidade para

quem ainda tem recursos pendentes de julgamento

Caso esta hipoacutetese seja admitida temos que um indiviacuteduo que tenha sido

condenado criminalmente em segunda instacircncia e interponha recurso especial ou

extraordinaacuterio para anular o processo caso natildeo consiga uma medida liminar

suspendendo os efeitos ficaria impedido de concorrer na eleiccedilatildeo

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Imagine-se que ao final da accedilatildeo o cidadatildeo que ficou impedido de concorrer

nas eleiccedilotildees obtivesse vitoacuteria em seu recurso obtendo assim a nulidade da accedilatildeo

bem como da decisatildeo que o condenou com ficaria a situaccedilatildeo deste cidadatildeo

O que se quer com a Lei Complementar nordm 1352010 eacute instituir um moralismo

eleitoral que se sobrepotildee a Constituiccedilatildeo Federal e seu principio constitucional da

natildeo-culpabilidade que eacute a garantia individual contra o Estado

Outro argumento utilizado pelos defensores da constitucionalidade da Lei

Complementar nordm 1352010 satildeo as prisotildees cautelares e que no final o sujeito

acaba sebdo absolvido Ora cabe lembrar-lhes que a prisatildeo cautelar natildeo eacute

antecipaccedilatildeo de pena cumpre ela uma funccedilatildeo processual clara e limitada agrave garantia

da ordem puacuteblica da ordem econocircmica por conveniecircncia da instruccedilatildeo criminal ou

para assegurar a aplicaccedilatildeo da lei penal quando houver prova da existecircncia do crime

e indiacutecio suficiente de autoria

Portanto temos que o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees enquanto natildeo

sobrevier decisatildeo judicial transitada em julgado

O proacuteprio Supremo na Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental

144 jaacute decidiu natildeo barrar candidaturas sem condenaccedilatildeo transitada em julgado

A Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental 144 15 foi votada

em agosto de 2008 antes das eleiccedilotildees municipais Na ocasiatildeo o Supremo Tribunal

Federal decidiu que natildeo poderiam ser barradas candidaturas de poliacuteticos

condenados na primeira instacircncia por conta da presunccedilatildeo de inocecircncia

Em 6 de agosto de 2008 haacute menos de trecircs anos o Supremo Tribunal Federal

julgou improcedente a Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental nordm

144 ajuizada pela Associaccedilatildeo dos Magistrados Brasileiros em voto do ministro

Celso de Mello vencidos os ministros Carlos Ayres e Joaquim Barbosa exatamente

porque O postulado consagrador da garantia de inocecircncia irradia os seus efeitos para aleacutem dos limites dos processos penais de natureza condenatoacuteria impedindo desse modo que situaccedilotildees processuais anda natildeo definidas por sentenccedilas transitadas em julgado provoquem em decorrecircncia das exigecircncias de probidade administrativa e demoralidade a que se refere o sect 9ordm do artigo 14 da Coinstituiccedilatildeo Federal a inelegibilidade dos cidadatildeos ou obstem candidaturas para mandatos eletivos

15Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011

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Portanto ficou definido que Lei Complementar sendo editada para casos de

inelegibilidades esta deveraacute respeitar o princiacutepio da natildeo-culpabilidade Ocorre que

foi editada a Lei Complementar nordm 1352010 que atendeu aos reclamos populares

mas preferiu a um soacute tempo violar a Constituiccedilatildeo Federal e desrespeitar a recente

decisatildeo do Supremo Tribunal Federal mesmo que na eacutepoacuteca desta decisatildeo natildeo

havia lei formal para tal situaccedilatildeo

43 PRINCIacutePIO CONSTITUCIONAL DA NAtildeO-CULPABILIDADE

O princiacutepio da natildeo-culpabilidade eacute direito fundamental previsto na

Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5deg inciso LVII ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute

o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

Isto eacute enquanto natildeo sobrevier uma decisatildeo judicial condenatoacuteria transitada

em julgado o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees em seu patrimocircnio ou em sua

liberdade Caso sobrevenha duacutevida quanto a culpabilidade esta resolveraacute sempre

em favor do reacuteu ou seja aplicando-se o princiacutepio in duacutebio pro reo

Assim disciplina Nelson Nery Juacutenior sobre o princiacutepio da natildeo-culpabilidade ldquoO inteacuterprete deve buscar a aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre tendo como pressuposto o exame da Constituiccedilatildeo Federal Depois sim deve consultar a legislaccedilatildeo infraconstitucional a respeito do temardquo 16

Sendo assim a Constituiccedilatildeo Federal no capiacutetulo sobre os Direitos e Deveres

Individuais e Coletivos em seu artigo 5ordm inciso LVII afirma que ldquoningueacutem seraacute

considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute considerar o

indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila A doutrina e a

jurisprudecircncia aclamam este princiacutepio como vaacuterios nomes como princiacutepio da

presunccedilatildeo de inocecircncia princiacutepio da natildeo-culpabilidade ou simplesmente princiacutepio da

inocecircncia

Joseacute Afonso da Silva em seu livro Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo

disciplina assim esta garantia A norma constitucional do inciso LVII agora sob nosso exame garante a presunccedilatildeo de inocecircncia por meio de um enunciado negativo universal lsquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria Usa-se de uma forma

16 NERY JUacuteNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20

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negativa para outorgar uma garantia positiva Na verdade o texto brasileiro natildeo significa outra coisa senatildeo que fica assegurada a todos a presunccedilatildeo de inocecircncia ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria O tracircnsito em julgado se daacute quando a decisatildeo natildeo comporta mais recurso ordinaacuterio especial ou extraordinaacuterio 17

Nesse sentido o indiviacuteduo acusado natildeo pode ser presumidamente culpado

mas sim inocente Tal princiacutepio visa a tutelar a liberdade pessoal de modo que o

Estado nos mais diferentes segmentos deve abster-se de considerar culpado

aquele que ainda natildeo foi submetido agrave definitividade da atuaccedilatildeo jurisdicional Em se tratando de suspensatildeo dos direitos poliacuteticos a Constituiccedilatildeo Federal

garante que a suspensatildeo somente se daraacute por ldquocondenaccedilatildeo criminal transitada em

julgado enquanto durarem seus efeitosrdquo

Julgamento neste sentido REPRESENTACcedilAtildeO SUSPENSAtildeO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS EM VIRTUDE DE SENTENCcedilA PENAL CONDENATOacuteRIA TRANSITADA EM JULGADO AUTO-APLICABILIDADE DOS ARTIGOS 14 sect 3ordm II E 15 III DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL PROCEDEcircNCIA A suspensatildeo dos direitos poliacuteticos do condenado independe de lei regulamentadora bem como de processo especial de cogniccedilatildeo e de anaacutelise de meacuterito para a execuccedilatildeo da medida no juiacutezo eleitoral posto natildeo se tratar de sanccedilatildeo penal mas de efeito natildeo-penal de condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado e decorrente de mandamento constitucional Comprovado o tracircnsito em julgado da sentenccedila penal condenatoacuteria decreta-se automaticamente a suspensatildeo dos direitos poliacuteticos ativo e passivo do representado ou seja o direito de votar e ser votado com a consequumlente exclusatildeo de seu nome da folha de votaccedilatildeo e declaraccedilatildeo de sua inelegibilidade 18

Logo infere-se que a condenaccedilatildeo criminal sem o tracircnsito em julgado natildeo

desqualifica o condenado a votar e a eventualmente concorrer a qualquer cargo

eletivo

O Colendo Tribunal Superior Eleitoral enfrentou esta questatildeo ao apreciar

pedido de registro de candidatura valendo registrar os seguintes julgados RECURSO ESPECIAL RECEBIDO COMO ORDINAacuteRIO REGISTRO DE CANDIDATURA DEFERIMENTO INELEGIBILIDADE NAtildeO-OCORREcircNCIA Condenaccedilatildeo criminal sem tracircnsito em julgado natildeo eacute apta a ensejar inelegibilidade (precedente do TSE acoacuterdatildeo 536 rel Min Fernando Neves publicado em sessatildeo de 882002) Recurso natildeo provido 19

17 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006 p 155 18 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbrgt TRESCndashAcoacuterdatildeo nordm 13324 de 071094 rel Juiz Nilson B Filho Acesso em 16 set 2011 19 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbr gt TSE- REspEl nordm 20247 de 19902 rel Min Sepuacutelveda Pertence Acesso em 16 set 2011

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INELEGIBILIDADE CONDENACcedilAtildeO CRIMINAL NAtildeO TRANSITADA EM JULGADO CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA ART 14 sect 9deg SUacuteMULA Ndeg 13 DO TSE 1 A existecircncia de sentenccedila criminal condenatoacuteria sem o tracircnsito em julgado natildeo eacute suficiente para ocasionar inelegibilidade 2 O art 14 sect 9deg da Constituiccedilatildeo natildeo eacute auto-aplicaacutevel 3 Necessidade de lei complementar estabelecendo os casos em que a vida pregressa do candidato poderaacute levar agrave sua inelegibilidade bem como os prazos de sua cessaccedilatildeo 4 Recurso provido para julgar improcedente a impugnaccedilatildeo e deferir o registro da candidatura 20

Insculpido na Constituiccedilatildeo Federal o principio da natildeo-culpabilidade deve ser

respeitado por toda lei infraconstitucional alguns doutrinadores como Aristides

Junqueira e Antocircnio Bandeira de Mello em carta publica no sitio do Movimento de

Combate agrave Corrupccedilatildeo Eleitoral21 entendem que neste presente caso natildeo deve ser

aplicado o princiacutepio da natildeo-culpabilidade a inelegibilidade pois esta natildeo eacute pena

mas medida preventiva

Estes juristas se acham alicerccedilados pelo que expressamente estatui o sect 9deg do

artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal em que Lei complementar estabeleceraacute outros

casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim de proteger a probidade

administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato considerada a vida

pregressa do candidato afirmam que uma vez que a proacutepria Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica expressamente permite que o legislador estipule quais elementos da vida

pregressa dos candidatos podem afastaacute-los dos pleitos

Independente desta posiccedilatildeo minoritaacuteria encontra-se que o princiacutepio da natildeo-

culpabilidade eacute prevista em diversos ordenamentos juriacutedicos e tratados como se

veraacute a seguir

Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo da Franccedila de 1789 o art

9da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) de 1948 dispotildee ldquoTodo acusado eacute

considerado inocente ateacute ser declarado culpado e se julgar indispensaacutevel prendecirc-lo

todo o rigor desnecessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deveraacute ser severamente

reprimido pela leirdquo22

20 Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrgt TSE-REspEl nordm 18047 de 2992000 rel Min Fernando Neves da Silva Acesso em 16 set 2011 21 Disponiacutevel em lthttpwwwmcceorgbrsitesdefaultfilescartajuristaspdfgt Acesso em 3 jul 2011 22 Disponiacutevel em lthttppfdcpgrmpfgovbratuacao-e-conteudos-de-apoiolegislacaodireitoshuma nosdeclar_dir_ homem_cidadaopdfgt Acesso em 13 set 2011

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Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos de 1948 diz ldquoToda pessoa

acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocecircncia enquanto natildeo se

comprove legalmente sua culpardquo23

A origem histoacuterica que foi referida teve uma grande importacircncia para se

chegar a um status constitucional conforme eacute citado por Mirabete Existe apenas uma tendecircncia agrave presunccedilatildeo de inocecircncia ou mais precisamente um estado de inocecircncia um estado juriacutedico no qual o acusado eacute inocente ateacute que seja declarado culpado por uma sentenccedila transitada em julgado Por isso a nossa Constituiccedilatildeo Federal natildeo presume a inocecircncia mas declara que ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria (art 5deg LVII) ou seja que o acusado eacute inocente durante o desenvolvimento do processo e seu estado soacute se modifica por uma sentenccedila final que o declare culpado 24

Por fim o princiacutepio da natildeo-culpabilidade visa a proteccedilatildeo do reacuteu para que

este tenha um julgamento justo devendo ser provada sua verdadeira culpa antes

que seja considerado culpado

23 Disponiacutevel em lthttpwwwagugovbrsistemassiteTemplateImagemTextoThumbaspxidConteu do=113927ampordenacao=1ampid_site=4922gt Acesso em 12 set 2011 24 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252

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5 CONCLUSAtildeO Apoacutes as anaacutelises da doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncias pertinentes a este

trabalho verifica-se que a Lei Complementar nordm 1352010 ao instituir nova hipoacutetese

de inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado esta em pleno conflito com o princiacutepio da natildeo-culpabilidade insculpido no

artigo 5ordm inciso LVII da Constituiccedilatildeo Federal o que torna esta nova hipoacutetese

absolutamente inconstitucional

O objetivo da Lei Complementar nordm 1352010 eacute o de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos para que os criteacuterios de inelegibilidades sejam mais

rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos Inicialmente eacute compreensiacutevel a

preocupaccedilatildeo de qualificar o perfil dos candidatos a cargos eletivos atraveacutes da vida

pregressa isto significa querer se representar por candidatos idocircneos

Ocorre que eacute necessaacuterio impor tantas restriccedilotildees para que o cidadatildeo possa

concorrer a determinado pleito natildeo eacute mais correto permitir que o proacuteprio povo

detentor soberano do poder para escolher seus representantes defina seus criteacuterios

de escolha

Quanto ao aspecto juriacutedico vejamos que o legislativo ao criar novas hipoacuteteses

de inelegibilidade deve-se atentar para as garantias jaacute consagradas em nosso

ordenamento principalmente quando esta garantia esta insculpida na Constituiccedilatildeo

Federal garantia esta referente ao principio da natildeo-culpabilidade que reza que

ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

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condenatoacuteria trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute

considerar o indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila

Ocorre que a criaccedilatildeo da Lei Complementar nordm 1352010 nasceu conflitante

com a Constituiccedilatildeo Federal em 2 aspectos primordiais primeiro a natildeo observacircncia

do princiacutepio da anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo

Federal pacificado pela Accedilatildeo Declaratoacuteria de Inconstitucionalidade nordm 3685

afirmando que deve-se respeitar ao principio da anualidade e segundo a

inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado

O segundo conflito origina-se diante da garantia constitucional do princiacutepio da

presunccedilatildeo da natildeo-culpabilidade o qual disciplina que somente poderaacute ser

considerado culpado o acusado de determinado crime quando ocorrer o tracircnsito em

julgado da decisatildeo

Portanto temos que uma decisatildeo de um oacutergatildeo colegiado quando recorriacutevel

ainda natildeo eacute o momento que se consumativo da culpabilidade do acusado pois natildeo

podemos antecipar a puniccedilatildeo de um cidadatildeo com a perda de algum direito pelo

simples fato de estar respondendo a algum processo

A aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre teraacute como pressuposto o

exame da Constituiccedilatildeo Federal que estabelece o princiacutepio da natildeo-culpabilidade

tambeacutem chamado de princiacutepio da presunccedilatildeo de inocecircncia que eacute uma verdadeira

garantia constitucional do indiviacuteduo contra o Estado Portanto deve-se respeitar este

princiacutepio basilar do Estado Democraacutetico de Direito nos mais diferentes segmentos

devendo qualquer Lei abster-se de considerar culpado aquele que ainda natildeo teve

sua decisatildeo transitada em julgado

Assim a Lei Complementar nordm 1352010 eacute contraacuterio ao disposto no texto

constitucional pois de forma antecipada retira do cidadatildeo o direito de disputar ao

pleito de forma igualitaacuteria bem como retira do povo um de seus maiores direitos o

de poder escolher seus representantes

Portanto para fortalecimento do Estado Democraacutetico de Direito se faz

necessaacuterio que as garantias constitucionais prevaleccedilam com isto deve-se

preponderar a presunccedilatildeo de natildeo culpabilidade ateacute o tracircnsito em julgado de da

sentenccedila condenatoacuteria

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REFEREcircNCIAS BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicao_ConstituiccedilaoCompiladohtmgt Acesso em 2 jun 2011 BRASIL Tribunal Superior Eleitoral Coacutedigo eleitoral Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrinternetjurisprudenciacodigo_eleitoralcodigo_eleitoralhtmlgt Acesso em 5 mai 2011 BRASIL Supremo Tribunal Federal Jurisprudecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudenciapesquisarJurisprudenciaaspgt Acesso em 15 mai 2011 BRASIL Projeto de Lei Complementar nordm 518 de 17 de setembro de 2009 Altera a Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 que estabelece de acordo com o sect 9ordm do art 14 da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias para incluir hipoacuteteses de inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no exerciacutecio do mandato Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbrsfatividademateriadetalhesaspp_cod_mate=96850gt Acesso em 19 mai 2011

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BRASIL Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 Estabelece de acordo com o art 14 sect 9ordm da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03LeisLCPLcp64htmgt Acesso em 15 mai 2011 COSTA Adriano Soares Instituiccedilotildees de Direito Eleitoral Ed Del Rey 2006 DI PIETRO Maria Sylvia Zanella Direito Administrativo 9 Ed Satildeo Paulo Atlas 1998 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131 LEAL Saul Tourinho Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt MELLO Celso Antonio Bandeira Curso de Direito Administrativo 24 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2007 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 ed Satildeo Paulo Atlas 2006 Movimento de Combate agrave Corrupccedilatildeo Disponiacutevel em ltwwwmcceorgbrgt Acesso em 3 jul 2011 NERY JUacuteBNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20 PEREIRA Erick Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt Acesso em 30 jun 2011 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2008

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PIRES Maacutercio Rodrigo Kaio Carvalho Abuso do poder poliacutetico nas eleiccedilotildees Jus Navigandi Teresina ano 15 n 2677 30 out 2010 Disponiacutevel em lthttpjusuolcombrrevistatexto17741gt Acesso em 27 jun 2011 RAMAYANA Marcos Direito Eleitoral Impetus Niteroacutei 2006 RESENHA ELEITORAL - Nova Seacuterie v9 n1 (janjun 2002) Disponiacutevel em lt httpwwwtre-scgovbrsiteinstitucionalpublicacoesartigos-doutrinariospublicados- na-resenha-eleitoralresenhasv9-n1-janjun-2002abuso-do-podereconomico- ou-de-autoridadeindexhtmlgt SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006

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Autor ANDREacute LUIS QUICOLI

LEI COMPLEMENTAR nordm 13510 ldquoFICHA LIMPArdquo

E SUA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE PREVISTA NO ARTIGO 2ordm

INCISO I ALIacuteNEA ldquoErdquo

Trabalho de conclusatildeo de curso apresentado ao Curso de Direito da Universidade

de Mariacutelia como requisito parcial para obtenccedilatildeo do Tiacutetulo de Bacharel em Direito

sob orientaccedilatildeo do Prof Ms Marcelo Brandatildeo Fontana

Aprovado pela Banca Examinadora em _______________

____________________________________________________

Prof Ms Marcelo Brandatildeo Fontana

Orientador

____________________________________________________

Profa Ms Regina Ceacutelia de Carvalho M Rocha

____________________________________________________

Profa Dra Walkiria Martinez Heinrich Ferrer

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Agradeccedilo a Deus que me fez agrave sua imagem e semelhanccedila e possibilitou-me agrave vitoacuteria

Aos meus pais Celccedilo e Maria Cristina que me servem de exemplo e moral para continuar minha caminhada A minha querida filha Maysa meu irmatildeo Paulo pela sua

amizade as minhas avoacutes Wilma e Dalva Agradeccedilo ainda a meus amigos e colegas de classe

Agradeccedilo a meu ilustre orientador Professor Marcelo Brandatildeo Enfim agradeccedilo a todos que de alguma forma ajudaram na conclusatildeo deste

objetivo

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ldquoPosso natildeo concordar com nenhuma das palavras que vocecirc disser mas defenderei ateacute a

morte o direito de vocecirc dizecirc-las (Voltaire)rdquo

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LEI COMPLEMENTAR nordm 13510 ldquoFICHA LIMPArdquo E SUA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE PREVISTA NO ARTIGO 2ordm

INCISO I ALIacuteNEA ldquoErdquo

RESUMO Com a aprovaccedilatildeo da Lei Complementar nordm 1352010 que teve sua origem no Projeto de Lei Complementar nordm 5182009 de iniciativa popular criou-se uma nova espeacutecie de inelegibilidade que visa impedir a candidatura de poliacuteticos condenados a partir da segunda instacircncia ou por oacutergatildeo judicial colegiado mesmo que natildeo tenha transitado em julgado esta decisatildeo Esta nova inelegibilidade prevista na aliacutenea ldquoerdquo do inciso I do artigo 2ordm da Lei Complementar nordm 1352010 esta em confronto com o disposto no inciso LVII do artigo 5ordm da Constitucional Federal que estabelece o princiacutepio da natildeo-culpabilidade tambeacutem conhecido como princiacutepio da presunccedilatildeo de inocecircncia que eacute uma verdadeira garantia constitucional do indiviacuteduo contra o Estado O presente trabalho tem o intuito de analisar a constitucionalidade ou inconstitucionalidade desta nova hipoacutetese de inelegibilidade frente ao princiacutepio da natildeo-culpabilidade para tanto percorreraacute os conceitos existentes de elegibilidade e inelegibilidades presentes no ordenamento juriacutedico baseando-se na doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncia paacutetria Palavras-chave Elegibilidade Inelegibilidade Princiacutepio da natildeo-culpabilidade

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SUMAacuteRIO 1 INTRODUCcedilAtildeO 07

2 DA ELEGIBILIDADE 09

21 CONCEITO DE ELEGIBILIDADE 09

22 CONDICcedilOtildeES DE ELEGIBILIDADE 09

23 NACIONALIDADE BRASILEIRA 10

24 PLENO EXERCIacuteCIO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS 11

25 ALISTAMENTO ELEITORAL 12

26 DOMICIacuteLIO ELEITORAL 12

27 FILIACcedilAtildeO PARTIDAacuteRIA 13

28 IDADE MIacuteNIMA 14

3 DA INELEGIBILIDADE 15

31 CONCEITO DE INELEGIBILIDADE 15

32 ESPEacuteCIES DE INELEGIBILIDADE 15

33 INELEGIBILIDADE CONSTITUCIONAL 16

34 INELEGIBILIDADE INFRACONSTITUCIONAL 18

4 DA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE 22 41 ORIGEM DA LEI COMPLEMENTAR Nordm 1352010 22

42 AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EM JULGADO 23

43 PRINCIacutePIO CONSTITUCIONAL DA NAtildeO-CULPABILIDADE 25

5 CONCLUSAtildeO 30

6 REFEREcircNCIAS 32

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1 INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho apresenta um tema atual e de grande relevacircncia e

repercussatildeo tornando imprescindiacutevel um amplo debate

Refere-se agrave Lei Complementar nordm 13510 denominada ldquoLei da Ficha Limpardquo

decorrente do Projeto de Lei nordm 5182009 de iniciativa popular que instituiu uma

nova espeacutecie de inelegibilidade visando impedir a candidatura de poliacuteticos

condenados a partir da segunda instacircncia ou por oacutergatildeo judicial colegiado mesmo

que natildeo tenha transitado em julgado esta decisatildeo

Sendo assim avaliaremos a relevacircncia do princiacutepio constitucional da natildeo-

culpabilidade sobre a oacutetica desta nova hipoacutetese de inelegibilidade ressaltando-se

que os estudos apresentados se baseiam em doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncia

paacutetria

O trabalho desenvolveu-se sobre o seguinte problema de pesquisa se estaacute

nova hipoacutetese de inelegibilidade eacute constitucional ou inconstitucional

O trabalho foi divido em 5 capiacutetulos sendo eles assim tratados

O primeiro capiacutetulo baseia-se na INTRODUCcedilAtildeO do respectivo trabalho

O segundo capiacutetulo trata da ELEGIBILIDADE seu conceito e requisitos

O terceiro capiacutetulo trata das INELEGIBILIDADES no ordenamento juriacutedico

brasileiro sendo elas constitucionais e infraconstitucionais

O quarto capiacutetulo trata especificamente desta NOVA HIPOacuteTESE DE

INELEGIBILIDADE trazendo a origem da Lei Complementar nordm 1352010 sua nova

hipoacutetese de inelegibilidade que dispensa o tracircnsito em julgado e o confronto com o

princiacutepio da natildeo-culpabilidade

O quinto e uacuteltimo capiacutetulo aborda especificamente a CONCLUSAtildeO

Como ponto de partida abordamos a mateacuteria geral ou seja as causas de

inelegibilidade e inelegibilidades existentes no ordenamento juriacutedico atual

caminhando para o caso particular que neste trabalho eacute apresentado pela nova

hipoacutetese de inelegibilidade criada pela Lei Complementar nordm 1352010

Jaacute como meacutetodo de procedimento foi utilizado a teacutecnica de procedimento

monograacutefico que estuda em profundidade determinado fato sob todos os seus

aspectos buscando quanto ao possiacutevel esgotar as duacutevidas surgidas sobre o tema

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O tipo de pesquisa ou fonte de informaccedilatildeo utilizada foi o bibliograacutefico por

utilizar como base de estudo os ensinamentos de doutrina legislaccedilatildeo e

jurisprudecircncia

Por fim a anaacutelise conjunta desses fatos nos mostraraacute de forma esclarecedora

a inconstitucionalidade da aliacutenea ldquoerdquo do inciso I do artigo 2ordm da Lei Complementar nordm

1352010 frente ao princiacutepio constitucional da natildeo-culpabilidade

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2 DA ELEGIBILIDADE 21 CONCEITO DE ELEGIBILIDADE

Pode-se conceituar elegibilidade como sendo a capacidade de ser eleito isto

eacute a qualidade de determinada pessoa ser elegiacutevel nas condiccedilotildees permitidas pela

legislaccedilatildeo Assim conceitua o Tribunal Superior Eleitoral sobre inelegibilidade A elegibilidade eacute na restrita precisatildeo legal o direito do cidadatildeo de ser escolhido mediante votaccedilatildeo direta ou indireta para representante do povo ou da comunidade segundo as condiccedilotildees estabelecidas pela Constituiccedilatildeo e pela legislaccedilatildeo eleitoral1

Joseacute Afonso da Silva na ilustre obra Curso de Direito Constitucional Positivo

doutrinariamente leciona A elegibilidade agrave capacidade de ser eleito observa que goza de elegibilidade todo cidadatildeo que preencha as condiccedilotildees exigidas para concorrer a um mandato eletivo consistindo a mesma no direito de postular a designaccedilatildeo pelos eleitores a um mandato poliacutetico no Legislativo ou no Executivo2

Alexandre de Moraes em sua excelente obra de Direto Constitucional define

da seguinte maneira a elegibilidade ldquoElegibilidade eacute a capacidade eleitoral passiva

consistente na possibilidade de o cidadatildeo pleitear determinados mandatos poliacuteticos

mediante eleiccedilatildeo popular desde que preenchidos certo requisitosrdquo 3

Djalma Pinto com a obra intitulada Direito Eleitoral assim define elegibilidade

ldquoElegibilidade eacute o credenciamento do cidadatildeo para postulaccedilatildeo do registro de sua

candidatura Representa o primeiro estaacutegio a ser percorrido por algueacutem para

exercitar o seu direito a ser votadordquo 4

Em siacutentese preenchidos os requisitos de elegibilidade eacute necessaacuterio que o

cidadatildeo natildeo se encontre em alguma hipoacutetese de inelegibilidade que constitui

impedimento agrave capacidade eleitoral passiva

22 CONDICcedilOtildeES DE ELEGIBILIDADE

Trata-se do conjunto de condiccedilotildees pessoais necessaacuterias agrave habilitaccedilatildeo do

cidadatildeo para pleitear determinados mandatos poliacuteticos mediante eleiccedilatildeo popular

As condiccedilotildees de elegibilidade estatildeo previstas na Constituiccedilatildeo Federal no

artigo 14 sect 3ordm e compreendem a nacionalidade brasileira pleno exerciacutecio dos

1 Disponiacutevel em lthttpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermoselegibilidadehtmgt Acesso em 22 jul 2011 2 SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 p 365 3 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 Ed Satildeo Paulo Atlas 2006 p 215 4 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 Ed Satildeo Paulo Atlas 2008 p 157

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direitos poliacuteticos alistamento eleitoral domiciacutelio eleitoral na circunscriccedilatildeo filiaccedilatildeo

partidaacuteria e idade miacutenima para cargos poliacuteticos

Com estes requisitos a Constituiccedilatildeo Federal vem a limitar quem pode e quem

natildeo pode concorrer para algum cargo poliacutetico

23 NACIONALIDADE BRASILEIRA

A nacionalidade brasileira eacute a primeira condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no

artigo 14 sect 3ordm inciso I da Constituiccedilatildeo Federal

Classifica-se a nacionalidade brasileira em brasileiro nato e brasileiro

naturalizado para tanto eacute necessaacuterio distinguirmos a diferenccedila entre um e outro

Brasileiros natos satildeo aqueles nascidos na Repuacuteblica Federativa do Brasil

ainda que de paiacutes estrangeiros desde que estes natildeo estejam a serviccedilo de seu paiacutes

os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou matildee brasileira desde que qualquer

deles esteja a serviccedilo da Repuacuteblica Federativa do Brasil os nascidos no estrangeiro

de pai brasileiro ou de matildee brasileira desde que sejam registrados em reparticcedilatildeo

brasileira competente ou venham a residir na Repuacuteblica Federativa do Brasil e

optem em qualquer tempo depois de atingida a maioridade pela nacionalidade

brasileira

Brasileiros naturalizados satildeo aqueles que na forma da lei adquiram a

nacionalidade brasileira exigidas aos originaacuterios de paiacuteses de liacutengua portuguesa

apenas residecircncia por um ano ininterrupto e idoneidade moral os estrangeiros de

qualquer nacionalidade residentes na Repuacuteblica Federativa do Brasil haacute mais de

quinze anos ininterruptos e sem condenaccedilatildeo penal desde que requeiram a

nacionalidade brasileira

A Lei tambeacutem distingue a nacionalidade em primaacuteria e secundaacuteria A

nacionalidade primaacuteria tambeacutem denominada de originaacuteria eacute conferida aos

brasileiros natos sendo adquirida no momento do nascimento pelo ius sanguinis

(direito de sangue) ou pelo ius soli (direito de solo) jaacute a nacionalidade secundaacuteria

tambeacutem denominada nacionalidade adquirida eacute conferida aos brasileiros

naturalizados aquela se adquire por vontade proacutepria apoacutes o nascimento e em regra

geral pela naturalizaccedilatildeo

Por fim o sect 2ordm do artigo 12 da Constituiccedilatildeo Federal descreve ldquoA lei natildeo

poderaacute estabelecer distinccedilatildeo entre brasileiros natos e naturalizados salvo nos casos

previstos nesta Constituiccedilatildeordquo com isto fica vedado qualquer tratamento desigual

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entre brasileiro nato e naturalizado salvo disposiccedilatildeo em contraacuterio na Constituiccedilatildeo

Federal

A exceccedilatildeo citada no sect 2ordm do artigo 12 da Constituiccedilatildeo Federal permite a

distinccedilatildeo entre brasileiros natos e naturalizados para ocupar determinados cargos

esta exceccedilatildeo estaacute disposta no artigo 12 sect 3ordm da Constituiccedilatildeo Federal que permite

que alguns cargos sejam privativos de brasileiro nato natildeo permitindo que os

naturalizados venham a ocupar tais posiccedilotildees

Esta exceccedilatildeo restringe-se para os cargos privativos de Presidente e Vice-

Presidente da Repuacuteblica Presidente da Cacircmara dos Deputados Presidente do

Senado Federal Ministro do Supremo Tribunal Federal carreira diplomaacutetica de

oficial das Forccedilas Armadas e de Ministro de Estado da Defesa

24 PLENO EXERCIacuteCIO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS

O pleno exerciacutecio dos direitos poliacuteticos eacute a segunda condiccedilatildeo de elegibilidade

prevista no artigo 14 sect 3ordm inciso II da Constituiccedilatildeo Federal o Tribunal Superior

Eleitoral assim o conceitua Direitos poliacuteticos eacute o conjunto dos direitos atribuiacutedos ao cidadatildeo que lhe permite atraveacutes do voto do exerciacutecio de cargos puacuteblicos ou da utilizaccedilatildeo de outros instrumentos constitucionais e legais ter efetiva participaccedilatildeo e influecircncia nas atividades de governo Estar no gozo dos direitos poliacuteticos significa pois estar habilitado a alistar-se eleitoralmente habilitar-se a candidaturas para cargos eletivos ou a nomeaccedilotildees para certos cargos puacuteblicos natildeo eletivos participar de sufraacutegios votar em eleiccedilotildees plebiscitos e referendos apresentar projetos de lei pela via da iniciativa popular e propor accedilatildeo popular 5

Djalma Pinto em sua obra intitulada ldquoDireito eleitoral ndash Improbidade

Administrativa e Responsabilidade Fiscalrdquo dispotildee sobre esta condiccedilatildeo de

elegibilidade O pleno exerciacutecio dos direitos poliacuteticos eacute condiccedilatildeo essencial para a configuraccedilatildeo de elegibilidade A plenitude dos direitos poliacuteticos se expressa pela aptidatildeo para votar e ser votado Sem encontrar-se apto a seu exerciacutecio natildeo eacute possiacutevel ao indiviacuteduo nem se alistar nem tampouco se filiar partido requisitos imprescindiacuteveis agrave configuraccedilatildeo da elegibilidade 6

Sendo assim o pleno exerciacutecio dos direitos poliacuteticos eacute requisito essencial

para o cidadatildeo estar na condiccedilatildeo de elegibilidade Aquele que perder ou tiver seus 5 Disponiacutevel em lthttpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermosdireitos_politicoshtmgt Acesso em 22 jul 2011 6 PINTO Djalma Direito eleitoral ndash improbidade administrativa e Responsabilidade Fiscal 3 Ed Satildeo Paulo Atlas 2006

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direitos poliacuteticos suspensos ou cancelados ficaraacute impedido de exercer a capacidade

eleitoral passiva

A Constituiccedilatildeo Federal prevecirc no artigo 15 causas de perda ou suspensatildeo dos

direitos poliacuteticos que podem ocorrer devido ao cancelamento da naturalizaccedilatildeo por

sentenccedila judicial transitada em julgado condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado

enquanto durarem seus efeitos recusa de cumprir obrigaccedilatildeo a todos imposta ou

prestaccedilatildeo alternativa nos termos do art 5ordm VIII improbidade administrativa nos

termos do art 37 sect 4ordm

25 ALISTAMENTO ELEITORAL

O alistamento eleitoral eacute a terceira condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo

14 sect 3ordm inciso III da Constituiccedilatildeo Federal o Tribunal Superior Eleitoral assim o

conceitua Eacute a primeira fase do processo eleitoral Eacute um procedimento administrativo cartoraacuterio e compreende dois atos inconfundiacuteveis a qualificaccedilatildeo e a inscriccedilatildeo do eleitor A qualificaccedilatildeo eacute a prova de que o cidadatildeo satisfaz as exigecircncias legais para exercer o direito de voto enquanto que a inscriccedilatildeo faz com que o mesmo passe a integrar o Cadastro Nacional de Eleitores da Justiccedila Eleitoral O ato de alistamento eacute feito por meio de processamento eletrocircnico e se perfaz pelo preenchimento do requerimento de alistamento eleitoral (RAE) na forma da resoluccedilatildeo do TSE e da legislaccedilatildeo eleitoral Eacute a forma pela qual o cidadatildeo adquire seus direitos poliacuteticos tornando-se titular de direito poliacutetico ativo (capacidade para votar) e possibilitando sua elegibilidade e filiaccedilatildeo partidaacuteria apoacutes a expediccedilatildeo do respectivo tiacutetulo eleitoral 7

Portanto para o cidadatildeo ser eleitor eacute preciso que ele se aliste e para ele ser

elegiacutevel eacute preciso que ele jaacute seja eleitor

26 O DOMICIacuteLIO ELEITORAL NA CIRCUNSCRICcedilAtildeO

O domiciacutelio eleitoral eacute a quarta condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14

sect 3ordm inciso IV da Constituiccedilatildeo Federal

Domiciacutelio eleitoral eacute o lugar da residecircncia ou moradia do requerente agrave

inscriccedilatildeo eleitoral assim dispotildee o artigo 42 paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo Eleitoral

que Para efeito de inscriccedilatildeo eacute domiciacutelio eleitoral o lugar de residecircncia ou moradia

do requerente e verificado ter o alistando mais de uma considerar-se-aacute domiciacutelio

qualquer delas

7Disponiacutevel em lthttpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermosalistamento_eleitoralhtmgt Acesso em 22 jul 2011

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Djalma Pinto acerca do domiciacutelio eleitoral assevera ldquoO domicilio eleitoral por

sua vez eacute o lugar da residecircncia ou moradia onde o cidadatildeo formaliza seu

alistamentordquo 8

A legislaccedilatildeo requer que o candidato a um cargo eletivo natildeo incorra em

incompatibilidades ou inelegibilidades e possua domicilio eleitoral na circunscriccedilatildeo a

qual deseja concorrer Sobre a circunscriccedilatildeo eleitoral o Tribunal Superior Eleitoral

assim o define Espaccedilo geograacutefico onde se trava determinada eleiccedilatildeo Assim o paiacutes na eleiccedilatildeo do presidente e vice-presidente da Repuacuteblica o estado nas eleiccedilotildees para governador e vice-governador deputados federais e estaduais e senadores o municiacutepio nas eleiccedilotildees de prefeito e vereadores e o distrito onde e quando se realiza a eleiccedilatildeo pelo sistema distrital 9

Para concorrer as eleiccedilotildees o candidato deveraacute possuir domiciacutelio eleitoral na

respectiva circunscriccedilatildeo pelo prazo de pelo menos um ano antes do pleito e estar

com a filiaccedilatildeo deferida pelo partido no mesmo prazo eacute o que dispotildee o artigo 9deg da

Lei 950497

27 FILIACcedilAtildeO PARTIDAacuteRIA

A filiaccedilatildeo partidaacuteria eacute a quinta condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14

sect 3ordm inciso V da Constituiccedilatildeo Federal

Eacute o ato formal e solene o pelo qual um eleitor aceita e adota o programa de

um partido poliacutetico viacutenculo que se estabelece entre o poliacutetico e o partido Eacute condiccedilatildeo

de elegibilidade conforme disposto no artigo 14 sect3ordm inciso V da Constituiccedilatildeo

Federal Nos termos do artigo 16 da Lei dos Partidos Poliacuteticos Lei nordm 909695 soacute

pode filiar-se a partido o eleitor que estiver no pleno gozo de seus direitos poliacuteticos

Todavia a exceccedilotildees sobre a filiaccedilatildeo partidaacuteria como no caso de candidatura

de magistrados membros dos Tribunais de Contas Ministeacuterio Puacuteblico e militares

como exemplo vejamos a exceccedilatildeo dos militares estes querendo concorrer a cargo

puacuteblico eletivo possuindo menos de dez anos de serviccedilo deveraacute solicitar

afastamento definitivo da atividade atraveacutes de demissatildeo ou licenciamento ex-officio

caso venha a possuir mais de dez anos de serviccedilo deveraacute ser agregado pela

8 PINTO Djalma Direito eleitoral ndash improbidade administrativa e Responsabilidade Fiscal 3 Ed Satildeo Paulo Atlas 2006 9 Disponiacutevel em httpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermoscircunscricao_eleitoralhtmgt Acesso em 22 jul 2011

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autoridade superior e se eleito passaraacute automaticamente no ato da diplomaccedilatildeo

para a inatividade

28 IDADE MIacuteNIMA

Idade miacutenima eacute a uacuteltima condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14 sect 3ordm

inciso VI da Constituiccedilatildeo Federal

Para o cargo de Presidente e Vice-Presidente da Repuacuteblica e para Senadores

e suplentes a idade miacutenima de 35 anos para o cargo de Governado e Vice-

Governador de Estado ou do Distrito Federal idade miacutenima de 30 anos para os

cargos de Deputado Federal Estadual Distrital Prefeito e Vice-Prefeito e Juiz de

paz a idade miacutenima de 21 anos e por fim para o cargo de vereador a idade

miacutenima de 18 anos

Dispotildee a Lei 95041997 artigo 11 sect 2ordm que a verificaccedilatildeo da idade seraacute feita

na data da posse no respectivo cargo pressupotildee que um menor de 17 anos de

idade possa se candidatar ao cargo de vereador bastando que na data da posse

conte com 18 anos completos

Alguns doutrinadores entretanto discordam dessa interpretaccedilatildeo entendendo

que natildeo poderia o legislador infra-constitucional dizer a mais do que a proacutepria

Constituiccedilatildeo estabeleceu assim leciona o Gilmar Mendes em sua obra Curso de

Direito Constitucional Natildeo haacute que se falar em momento da posse como aceitaacutevel para se perfazer a condiccedilatildeo de elegibilidade no tocante a idade miacutenima pois a Constituiccedilatildeo jaacute determinou que o momento da afericcedilatildeo para elegibilidade deve ser o do registro da candidatura 10

Tem prevalecido a verificaccedilatildeo da idade miacutenima na data da posse

10 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 Ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 p803

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3 DA INELEGIBILIDADE 31 CONCEITO DE INELEGIBILIDADE

Joseacute Afonso da Silva em sua ilustre obra Curso de Direito Constitucional

Positivo doutrinariamente leciona que ldquoa inelegibilidade obsta a elegibilidade

revelando um impedimento ao direito de ser votado que eacute a capacidade eleitoral

passivardquo 11

A inelegibilidade resulta no impedimento parcial ou seja temporaacuterio da

capacidade eleitoral passiva restringindo o cidadatildeo de ser votado nas hipoacuteteses

previstas na Lei Complementar nordm 641990 Lei Complementar nordm 1352010 e na

Constituiccedilatildeo Federal

Sua finalidade tem por objetivo a probidade administrativa a normalidade

para o exerciacutecio do mandato considerada a vida pregressa do candidato e a

normalidade e a legitimidade das eleiccedilotildees contra a influecircncia do poder econocircmico ou

o abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo cargo ou emprego na administraccedilatildeo direta ou

indireta

A inelegibilidade pode ser absoluta proibindo a candidatura agraves eleiccedilotildees em

geral ou relativa impossibilitando a postulaccedilatildeo a determinado mandato eletivo

Sendo assim o cidadatildeo que almeja se candidatar a cargo eletivo deve

atender as condiccedilotildees de elegibilidade e natildeo incorrer em nenhuma causa de

inelegibilidade

32 ESPEacuteCIES DE INELEGIBILIDADE

As espeacutecies de inelegibilidade podem ser constitucionais e

infraconstitucionais as constitucionais dividem-se em absoluta e relativa

A inelegibilidade constitucional absoluta consiste no impedimento eleitoral

que restringe o cidadatildeo de concorrer a qualquer cargo eletivo refere-se a

determinada caracteriacutestica do indiviacuteduo ou seja eacute de caraacuteter pessoal sendo

11 SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 Ed Satildeo Paulo Malheiros 012004 p 387

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taxativamente prevista pela Constituiccedilatildeo Federal e a inelegibilidade constitucional

relativa compreende o impedimento eleitoral que restringe o cidadatildeo de concorrer a

determinados cargos em determinada eleiccedilatildeo refere-se a situaccedilotildees especiais e

momentacircneas tais como motivos funcionais de casamento de parentescos

A inelegibilidade infraconstitucional eacute disciplinada na Lei Complementar ndeg

641990 alterada pela Lei Complementar ndeg 1352010

Eacute relevante a distinccedilatildeo entre as inelegibilidades constitucionais e

infraconstitucionais como bem ressaltado por Joseacute Jairo Gomes A distinccedilatildeo que se faz entre inelegibilidades constitucionais e legais natildeo eacute cerebrina apresentando inegaacutevel relevacircncia praacutetica Basta dizer que natildeo haacute preclusatildeo quanto agraves primeiras as quais podem ser arguumlidas na fase do registro de candidatura ou posteriormente antes ou depois das eleiccedilotildees A arguumliccedilatildeo posterior pode ser feita no RCED (CE art 262 I) Jaacute as inelegibilidades legais sujeitam-se agrave preclusatildeo se natildeo forem levantadas na fase de registro de candidatura Ultrapassado esse momento natildeo mais poderatildeo ser discutidas salvo se supervenientes 12

33 INELEGIBILIDADE CONSTITUCIONAL

A inelegibilidade constitucional dividi-se em absoluta e relativa

A inelegibilidade constitucional absoluta estabelecida no sect 4deg do artigo 14 da

Constituiccedilatildeo Federal prevecirc que satildeo inelegiacuteveis os inalistaacuteveis e os analfabetos

A inelegibilidade decorrente da inalistabilidade abrange todos que natildeo se

encontram na situaccedilatildeo de alistabilidade tambeacutem aqueles que se encontram em

estado definitivo ou temporariamente privados de seus direitos poliacuteticos por fim

atinge aqueles que natildeo sabem exprimir-se na liacutengua nacional e os estrangeiros

A inelegibilidade decorrente do analfabetismo natildeo permite que o analfabeto

seja elegiacutevel mas permite que ele seja alistaacutevel exercendo assim a sua capacidade

de votar mas nunca a de ser votado

Estas hipoacuteteses restringem ao cidadatildeo se candidatarem a qualquer cargo

eletivo em qualquer eleiccedilatildeo enquanto perdurar esta situaccedilatildeo restritiva

As hipoacuteteses de inelegibilidades constitucionais relativas referem-se a

situaccedilotildees especiais separando-as por motivos funcionais motivos parentais motivos

militares e encontram-se dispostas no artigo 14 sectsect 5deg ao 9deg da Constituiccedilatildeo Federal

12 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131

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A inelegibilidade por motivo funcional eacute decorrente de o cidadatildeo estar em

exerciacutecio de alguma funccedilatildeo puacuteblica Satildeo previstas duas situaccedilotildees

A primeira declara ser inelegiacutevel para o mesmo cargo em terceiro periacuteodo

subsequumlente o Presidente da Repuacuteblica os Governadores de Estado e do DF os

Prefeitos e quem os houver sucedido ou substituiacutedo nos seis meses antes das

eleiccedilotildees Eacute o que dispotildee o sect 5deg do artigo 14 na redaccedilatildeo da Emenda Constitucional

161997

Portanto soacute eacute permitida uma reconduccedilatildeo ou seja eacute permitida a reeleiccedilatildeo de

Chefes do Executivo ou seus substitutos para apenas um periacuteodo subsequumlente

A segunda situaccedilatildeo considera que satildeo inelegiacuteveis para concorrer a outros

cargos o Presidente da Repuacuteblica os Governadores de Estado e do DF e os

Prefeitos salvo se tiverem se desincompatibilizado com a renuacutencia do cargo ateacute

seis meses antes do pleito Eacute o que prevecirc o sect 6deg do artigo 14 da Constituiccedilatildeo

Federal

Os servidores puacuteblicos que ocuparem algum cargo de livre nomeaccedilatildeo

demissiacuteveis ad nutum seratildeo exonerados para que possam concorrer a cargo

eletivo ou seja natildeo poderatildeo manter qualquer viacutenculo com a entidade na qual

desempenhava suas funccedilotildees

Os servidores puacuteblicos concursados ao contraacuterio dos servidores ocupantes

de cargos de livre nomeaccedilatildeo natildeo seratildeo exonerados ou demitidos apenas se

afastaratildeo de suas funccedilotildees para se candidatar a cargo puacuteblico

A inelegibilidade por motivo de parentesco tambeacutem denominada de

inelegibilidade reflexa estaacute relacionada a condiccedilotildees inerentes ao parentesco

sanguumliacuteneo soacutecio-afetivo ou condiccedilatildeo matrimonial

Assim conforme previsto no sect 7ordm do artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal estas

mesmas pessoas impedidas para determinados cargos podem concorrer para outros

cargos que se processem em territoacuterio de outra circunscriccedilatildeo

A inelegibilidade reflexa aproxima-se da inelegibilidade absoluta a diferenccedila

ocorre que na reflexa pode cessar por vontade das pessoas envolvidas um exemplo

claro eacute a renuacutencia seis meses antes do pleito do Presidente da Repuacuteblica

Assim temos que a inelegibilidade por motivo de parentesco ou reflexa visa a

impedir a formaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do poder poliacutetico em matildeos de uma determinada

famiacutelia

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A inelegibilidade por motivos militares visa que o militar enquanto em serviccedilo

ativo natildeo pode estar filiado a partidos poliacuteticos entretanto a Constituiccedilatildeo Federal

em seu artigo 14 relata que atendidas certas condiccedilotildees o militar alistaacutevel se torna

elegiacutevel sendo estas as condiccedilotildees se contar com menos de dez anos de serviccedilo

deveraacute afastar-se da atividade e se contar com mais de dez ano de serviccedilo seraacute

agregado pela autoridade superior e se eleito passaraacute automaticamente no ato da

diplomaccedilatildeo para a inatividade

34 INELEGIBILIDADE INFRACONSTITUCIONAL

Por se tratar de inuacutemeras hipoacuteteses de inelegibilidades infraconstitucionais

natildeo seraacute possiacutevel tratar todos os casos previstos em lei para tanto adentraremos a

anaacutelise de algumas hipoacuteteses dispostas na Lei Complementar nordm 641990

As inelegibilidades infraconstitucionais satildeo instituiacutedas por Lei Complementar

que estabeleceraacute outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim

de proteger a probidade administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato

considerado vida pregressa do candidato e a normalidade e legitimidade das

eleiccedilotildees contra a influecircncia do poder econocircmico ou o abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo

cargo ou emprego na administraccedilatildeo direta ou indireta

As causas de inelegibilidade infraconstitucionais estatildeo previstas no artigo 1ordm

da Lei Complementar nordm 641990 alterado dentre outras atraveacutes da recente Lei

Complementar ndeg 1352010 conhecida como a Lei da Ficha Limpa

Dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquobrdquo da Lei Complementar nordm 641990 que os

membros do Congresso Nacional das Assembleacuteias Legislativas da Cacircmara

Legislativa e das Cacircmaras Municipais que hajam perdido os respectivos mandatos

por infringecircncia do disposto nos incisos I e II do art 55 da Constituiccedilatildeo Federal dos

dispositivos equivalentes sobre perda de mandato das Constituiccedilotildees Estaduais e

Leis Orgacircnicas dos Municiacutepios e do Distrito Federal para as eleiccedilotildees que se

realizarem durante o periacuteodo remanescente do mandato para o qual foram eleitos e

nos oito anos subsequumlentes ao teacutermino da legislatura

Sendo assim satildeo inelegiacuteveis os parlamentares cujo procedimento for

declarado incompatiacutevel com o decoro parlamentar e desde a expediccedilatildeo do diploma

firmar ou manter contrato com pessoa juriacutedica de direito puacuteblico autarquia empresa

puacuteblica sociedade de economia mista ou empresa concessionaacuteria de serviccedilo

puacuteblico salvo quando o contrato obedecer a claacuteusulas uniformes aceitar ou exercer

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cargo funccedilatildeo ou emprego remunerado inclusive os de que sejam demissiacuteveis ad

nutum nas entidades constantes da aliacutenea anterior e desde a posse ser

proprietaacuterios controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente

de contrato com pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou nela exercer funccedilatildeo

remunerada ocupar cargo ou funccedilatildeo de que sejam demissiacuteveis ad nutum nas

entidades referidas no inciso I a patrocinar causa em que seja interessada

qualquer das entidades a que se refere o inciso I a ser titulares de mais de um

cargo ou mandato puacuteblico eletivo

Portando o parlamentar que infringir o disposto no artigo 54 teraacute seu mandato

cassado Jaacute no inciso II do artigo 55 o Deputado ou Senador perderaacute o mandato

quando o procedimento for declarado incompatiacutevel com o decoro parlamentar A

Constituiccedilatildeo Federal prevecirc como falta de decoro o disciplinado no artigo 55 sect 1ordm

Por fim eacute incompatiacutevel com o decoro parlamentar os casos definidos no regimento

interno

Assim dispotildee o artigo 1ordm Inciso I aliacutenea ldquocrdquo da Lei Complementar nordm 641990

Governador e o Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal e o Prefeito e o

Vice-Prefeito que perderem seus cargos eletivos por infringecircncia a dispositivo da

Constituiccedilatildeo Estadual da Lei Orgacircnica do Distrito Federal ou da Lei Orgacircnica do

Municiacutepio para as eleiccedilotildees que se realizarem durante o periacuteodo remanescente e

nos 8 (oito) anos subsequentes ao teacutermino do mandato para o qual tenham sido

eleitos

Tal dispositivo busca evitar que os chefes do poder executivos retornem a

vida puacuteblica no mandato seguinte e nas eleiccedilotildees para as demais esferas Este

dispositivo preserva a moralidade puacuteblica O prazo de 8 anos de inabilitaccedilatildeo seraacute

contado a partir da data que tiver sido proferida a decisatildeo por crime de

responsabilidade

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquodrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tenham contra sua pessoa representaccedilatildeo julgada procedente pela Justiccedila

Eleitoral em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo colegiado em

processo de apuraccedilatildeo de abuso do poder econocircmico ou poliacutetico para a eleiccedilatildeo na

qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como para as que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes

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Primeiramente eacute necessaacuterio conceituar o que eacute abuso de poder econocircmico de

abuso de poder poliacutetico

Abuso de poder econocircmico consiste na utilizaccedilatildeo de bens ou serviccedilos de

empresas particulares ou recursos proacuteprios do candidato gerando assim uma

desproporccedilatildeo entre os candidatos exemplo Se um candidato eacute proprietaacuterio de uma

grande empresa e faz uso dela para custear sua campanha sem realizar doaccedilatildeo de

campanha prevista na Lei 950497

Abuso do poder poliacutetico consiste no emprego de serviccedilos ou bens

pertencentes a administraccedilatildeo puacuteblica com o objetivo de propiciar a eleiccedilatildeo de

determinado candidato

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquofrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que forem declarados indignos do oficialato ou com ele incompatiacuteveis pelo prazo

de 8 (oito) anos

Oficialato eacute o cargo ou dignidade de oficial seja das forccedilas armadas poliacutecia

militar ou corpo de bombeiros A competecircncia para apreciar e declarar a indignidade

do oficialato seraacute do Superior Tribunal Militar

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquogrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tiverem suas contas relativas ao exerciacutecio de cargos ou funccedilotildees puacuteblicas

rejeitadas por irregularidade insanaacutevel que configure ato doloso de improbidade

administrativa e por decisatildeo irrecorriacutevel do oacutergatildeo competente salvo se esta houver

sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciaacuterio para as eleiccedilotildees que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes contados a partir da data da decisatildeo aplicando-se o

disposto no inciso II do art 71 da Constituiccedilatildeo Federal a todos os ordenadores de

despesa sem exclusatildeo de mandataacuterios que houverem agido nessa condiccedilatildeo

Esta decisatildeo eacute administrativa e traraacute a consequumlecircncia de inelegibilidade para

isso a irregularidade tem de ser insanaacutevel

A competecircncia para julgar estas irregularidades compete ao Poder

Legislativo seja no acircmbito federal estadual ou municipal

A analise desta insanabilidade poderaacute caber a Justiccedila Eleitoral como por

exemplo no pedido de registro de candidatura por algueacutem que teve suas contas

rejeitadas

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquohrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os detentores de cargo na administraccedilatildeo puacuteblica direta indireta ou fundacional que

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beneficiarem a si ou a terceiros pelo abuso do poder econocircmico ou poliacutetico que

forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial

colegiado para a eleiccedilatildeo na qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como

para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes

Aqui natildeo se trata de cargo eletivo mas sim de cargos por concurso puacuteblico ou

por provimento em comissatildeo

A finalidade eacute por fim a reeleiccedilatildeo para aqueles que estatildeo em cargos de chefia

do poder executivo que tenham cometido abuso do poder econocircmico ou poliacutetico

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquoirdquo da Lei Complementar nordm 641990)

os que em estabelecimentos de creacutedito financiamento ou seguro que tenham sido

ou estejam sendo objeto de processo de liquidaccedilatildeo judicial ou extrajudicial hajam

exercido nos 12 (doze) meses anteriores agrave respectiva decretaccedilatildeo cargo ou funccedilatildeo

de direccedilatildeo administraccedilatildeo ou representaccedilatildeo enquanto natildeo forem exonerados de

qualquer responsabilidade

O que a lei busca nesta situaccedilatildeo eacute deixar aquele que administrou os referidos

estabelecimentos fora de qualquer participaccedilatildeo poliacutetica enquanto natildeo forem

apurados todos os fatos que levaram a insolvecircncia

Portanto o maior objetivo desta causa de inelegibilidade eacute assegurar que o

ex-administrado de estabelecimento de creacutedito financiamento ou seguro natildeo venha

a eleger-se a cargo eletivo sem antes ter sido apurada sua participaccedilatildeo para

insolvecircncia

Outras causas de inelegibilidades incluiacutedas pela Lei Complementar nordm

1352010 estatildeo previstas nos incisos j a q da referida Lei

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4 DA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE 41 ORIGEM DA LEI COMPLEMENTAR Nordm 1352010

Com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o Brasil passa a ser um

Estado Democraacutetico de Direito inaugurando uma democracia participativa

Esta democracia participativa permite ao cidadatildeo desde que preenchidos

determinados requisitos dar iniacutecio a um projeto de Lei atraveacutes da chamada Iniciativa

Popular A origem da Lei Complementar nordm 1352010 decorreu do Projeto de Lei nordm

5182009 sob a coordenaccedilatildeo do Movimento de Combate a Corrupccedilatildeo Eleitoral ndash

MCCE que teve iniacutecio em abril de 2008 com o objetivo de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos a finalidade eacute que os criteacuterios de inelegibilidades sejam

mais rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos

Esta Lei Complementar dita que pessoas condenadas por um colegiado

independente do tracircnsito em julgado satildeo inelegiacuteveis portanto podem ter seus

registros de candidaturas negados alem de incluir parlamentares que renunciaram

ao cargo para assim evitar uma possiacutevel abertura de processo por quebra de decoro

ou por desrespeito agrave Constituiccedilatildeo com a finalidade uacutenica de evitar possiacuteveis

puniccedilotildees

A Lei Complementar 1352010 traacutes inuacutemeros confrontos com a Constituiccedilatildeo

Federal sendo dois os mais relevantes primeiro a natildeo observacircncia do princiacutepio da

anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal e segundo

o desrespeito ao princiacutepio da natildeo-culpabilidade tambeacutem estabelecido na

Constituiccedilatildeo federal no artigo 5ordm inciso LVII

Sobre o primeiro ponto que trata da aplicabilidade da Lei Complementar nordm

1352010 para as eleiccedilotildees de 2010 restou soberana a decisatildeo do Supremo

Tribunal Federal ao resolver o conflito afirmando que o artigo 16 da Constituiccedilatildeo

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Federal ao submeter a alteraccedilatildeo legal do processo eleitoral agrave regra da anualidade

constitui uma garantia fundamental para o pleno exerciacutecio de direitos poliacuteticos

Esta pacificaccedilatildeo se deu no julgamento da Accedilatildeo Declaratoacuteria de

Inconstitucionalidade nordm 3685 13 onde atuou como Relatora a Ministra Ellen Gracie

que identificou como uma garantia fundamental do cidadatildeo-eleitor do cidadatildeo-

candidato e dos partidos poliacuteticos o artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal

A Ministra Ellen Gracie utilizou-se de uma analogia com o julgamento da

Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade 939 que teve como relator Ministro Sydnei

Sanches com a garantia da anterioridade tributaacuteria fixada no artigo 150 III b no

sentido de que se o princiacutepio da anterioridade tributaacuteria constitui uma garantia do

cidadatildeo-contribuinte o princiacutepio da anterioridade eleitoral tambeacutem eacute uma garantia do

cidadatildeo do eleitor do candidato e dos partidos poliacuteticos

Desta forma restou consolidado a garantia prevista no artigo 16 da

Constituiccedilatildeo Federal como forma de um devido processo legal eleitoral

O devido processo visa que se atinja uma decisatildeo conforme a Justiccedila

prestigiando a eacutetica da legalidade ressaltando-se que ele possui um duplo

significado de processo necessaacuterio e processo adequado para tanto COMOGLIO

afirma Que as garantias decorrentes do devido processo legal querem dizer natildeo apenas direito a um processo mas a um justo processo compreendendo a correccedilatildeo e efetividade dos instrumentos disponiacuteveis em juiacutezo e a efetividade e adequaccedilatildeo da proacutepria tutela finalrdquo 14

A Constituiccedilatildeo brasileira de 1988 traz a garantia exarada no seu artigo 5ordm

Art 5ordm - () LIV ndash ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal LV ndash aos litigantes em processo judicial e administrativo e aos acusados em geral seratildeo assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa com os meios de recurso a ela inerentes

Sobre o segundo ponto controverso mateacuteria deste trabalho tem o conflito tem

o conflito entre a Lei Complementar nordm 13510 contra uma garantia constitucional

denominado princiacutepio da natildeo-culpabilidade que eacute inseparaacutevel do conceito de

13 Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011 14 Luigi Paolo COMOGLIO Giuridizione e processo nel quadro delle garanzie constituzionali Rivista Trimestrale di Diritto e Procedura Civile 4 p 1070

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democracia A Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5ordm inciso LVII estabelece uma das

maiores garantias dos indiviacuteduos contra o autoritarismo do Estado afirmando que

ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

condenatoacuteriardquo fixando explicitamente o princiacutepio da natildeo-culpabilidade entre os

direitos fundamentais

42 AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EM JULGADO

A Lei Complementar nordm 1352010 em sua aliacutenea ldquoerdquo do inciso I do artigo 2ordm

possui a seguinte redaccedilatildeo e) os que forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial colegiado desde a condenaccedilatildeo ateacute o transcurso do prazo de 8 (oito) anos apoacutes o cumprimento da pena pelos crimes (Redaccedilatildeo dada pela Lei Complementar nordm 135 de 2010)

Esta aliacutenea visa impedir a candidatura de poliacuteticos condenados a partir da

segunda instacircncia e mesmo que natildeo tenha transitado em julgado Ela defende que

haja uma condenaccedilatildeo criminal no entanto deixa de exigir a configuraccedilatildeo do tracircnsito

em julgado do ato decisoacuterio para que ocorra a inelegibilidade A antiga lei previa que

o candidato soacute seria inelegiacutevel se tivesse condenaccedilatildeo definitiva

As alteraccedilotildees da Lei Complementar nordm 1352010 objetiva atender a um senso

comum do eleitorado afirmando que uma pessoa condenada natildeo deve poder ser

votada isto eacute natildeo deve ter mandato Em seus dizeres trata que a inelegibilidade

natildeo pressupotildee culpa formada natildeo deve haver discussatildeo sobre presunccedilatildeo da

inocecircncia Pode haver inelegibilidade por parentesco por ocupar cargo puacuteblico falta

de domiciacutelio eleitoral ou filiaccedilatildeo partidaacuteria causas que natildeo tecircm nada a ver com

condenaccedilatildeo criminal

A contradiccedilatildeo do argumento da Lei Complementar eacute se a Constituiccedilatildeo em

face do princiacutepio da natildeo-culpabilidade admite a cominaccedilatildeo de inelegibilidade para

quem ainda tem recursos pendentes de julgamento

Caso esta hipoacutetese seja admitida temos que um indiviacuteduo que tenha sido

condenado criminalmente em segunda instacircncia e interponha recurso especial ou

extraordinaacuterio para anular o processo caso natildeo consiga uma medida liminar

suspendendo os efeitos ficaria impedido de concorrer na eleiccedilatildeo

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Imagine-se que ao final da accedilatildeo o cidadatildeo que ficou impedido de concorrer

nas eleiccedilotildees obtivesse vitoacuteria em seu recurso obtendo assim a nulidade da accedilatildeo

bem como da decisatildeo que o condenou com ficaria a situaccedilatildeo deste cidadatildeo

O que se quer com a Lei Complementar nordm 1352010 eacute instituir um moralismo

eleitoral que se sobrepotildee a Constituiccedilatildeo Federal e seu principio constitucional da

natildeo-culpabilidade que eacute a garantia individual contra o Estado

Outro argumento utilizado pelos defensores da constitucionalidade da Lei

Complementar nordm 1352010 satildeo as prisotildees cautelares e que no final o sujeito

acaba sebdo absolvido Ora cabe lembrar-lhes que a prisatildeo cautelar natildeo eacute

antecipaccedilatildeo de pena cumpre ela uma funccedilatildeo processual clara e limitada agrave garantia

da ordem puacuteblica da ordem econocircmica por conveniecircncia da instruccedilatildeo criminal ou

para assegurar a aplicaccedilatildeo da lei penal quando houver prova da existecircncia do crime

e indiacutecio suficiente de autoria

Portanto temos que o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees enquanto natildeo

sobrevier decisatildeo judicial transitada em julgado

O proacuteprio Supremo na Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental

144 jaacute decidiu natildeo barrar candidaturas sem condenaccedilatildeo transitada em julgado

A Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental 144 15 foi votada

em agosto de 2008 antes das eleiccedilotildees municipais Na ocasiatildeo o Supremo Tribunal

Federal decidiu que natildeo poderiam ser barradas candidaturas de poliacuteticos

condenados na primeira instacircncia por conta da presunccedilatildeo de inocecircncia

Em 6 de agosto de 2008 haacute menos de trecircs anos o Supremo Tribunal Federal

julgou improcedente a Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental nordm

144 ajuizada pela Associaccedilatildeo dos Magistrados Brasileiros em voto do ministro

Celso de Mello vencidos os ministros Carlos Ayres e Joaquim Barbosa exatamente

porque O postulado consagrador da garantia de inocecircncia irradia os seus efeitos para aleacutem dos limites dos processos penais de natureza condenatoacuteria impedindo desse modo que situaccedilotildees processuais anda natildeo definidas por sentenccedilas transitadas em julgado provoquem em decorrecircncia das exigecircncias de probidade administrativa e demoralidade a que se refere o sect 9ordm do artigo 14 da Coinstituiccedilatildeo Federal a inelegibilidade dos cidadatildeos ou obstem candidaturas para mandatos eletivos

15Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011

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Portanto ficou definido que Lei Complementar sendo editada para casos de

inelegibilidades esta deveraacute respeitar o princiacutepio da natildeo-culpabilidade Ocorre que

foi editada a Lei Complementar nordm 1352010 que atendeu aos reclamos populares

mas preferiu a um soacute tempo violar a Constituiccedilatildeo Federal e desrespeitar a recente

decisatildeo do Supremo Tribunal Federal mesmo que na eacutepoacuteca desta decisatildeo natildeo

havia lei formal para tal situaccedilatildeo

43 PRINCIacutePIO CONSTITUCIONAL DA NAtildeO-CULPABILIDADE

O princiacutepio da natildeo-culpabilidade eacute direito fundamental previsto na

Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5deg inciso LVII ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute

o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

Isto eacute enquanto natildeo sobrevier uma decisatildeo judicial condenatoacuteria transitada

em julgado o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees em seu patrimocircnio ou em sua

liberdade Caso sobrevenha duacutevida quanto a culpabilidade esta resolveraacute sempre

em favor do reacuteu ou seja aplicando-se o princiacutepio in duacutebio pro reo

Assim disciplina Nelson Nery Juacutenior sobre o princiacutepio da natildeo-culpabilidade ldquoO inteacuterprete deve buscar a aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre tendo como pressuposto o exame da Constituiccedilatildeo Federal Depois sim deve consultar a legislaccedilatildeo infraconstitucional a respeito do temardquo 16

Sendo assim a Constituiccedilatildeo Federal no capiacutetulo sobre os Direitos e Deveres

Individuais e Coletivos em seu artigo 5ordm inciso LVII afirma que ldquoningueacutem seraacute

considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute considerar o

indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila A doutrina e a

jurisprudecircncia aclamam este princiacutepio como vaacuterios nomes como princiacutepio da

presunccedilatildeo de inocecircncia princiacutepio da natildeo-culpabilidade ou simplesmente princiacutepio da

inocecircncia

Joseacute Afonso da Silva em seu livro Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo

disciplina assim esta garantia A norma constitucional do inciso LVII agora sob nosso exame garante a presunccedilatildeo de inocecircncia por meio de um enunciado negativo universal lsquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria Usa-se de uma forma

16 NERY JUacuteNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20

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negativa para outorgar uma garantia positiva Na verdade o texto brasileiro natildeo significa outra coisa senatildeo que fica assegurada a todos a presunccedilatildeo de inocecircncia ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria O tracircnsito em julgado se daacute quando a decisatildeo natildeo comporta mais recurso ordinaacuterio especial ou extraordinaacuterio 17

Nesse sentido o indiviacuteduo acusado natildeo pode ser presumidamente culpado

mas sim inocente Tal princiacutepio visa a tutelar a liberdade pessoal de modo que o

Estado nos mais diferentes segmentos deve abster-se de considerar culpado

aquele que ainda natildeo foi submetido agrave definitividade da atuaccedilatildeo jurisdicional Em se tratando de suspensatildeo dos direitos poliacuteticos a Constituiccedilatildeo Federal

garante que a suspensatildeo somente se daraacute por ldquocondenaccedilatildeo criminal transitada em

julgado enquanto durarem seus efeitosrdquo

Julgamento neste sentido REPRESENTACcedilAtildeO SUSPENSAtildeO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS EM VIRTUDE DE SENTENCcedilA PENAL CONDENATOacuteRIA TRANSITADA EM JULGADO AUTO-APLICABILIDADE DOS ARTIGOS 14 sect 3ordm II E 15 III DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL PROCEDEcircNCIA A suspensatildeo dos direitos poliacuteticos do condenado independe de lei regulamentadora bem como de processo especial de cogniccedilatildeo e de anaacutelise de meacuterito para a execuccedilatildeo da medida no juiacutezo eleitoral posto natildeo se tratar de sanccedilatildeo penal mas de efeito natildeo-penal de condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado e decorrente de mandamento constitucional Comprovado o tracircnsito em julgado da sentenccedila penal condenatoacuteria decreta-se automaticamente a suspensatildeo dos direitos poliacuteticos ativo e passivo do representado ou seja o direito de votar e ser votado com a consequumlente exclusatildeo de seu nome da folha de votaccedilatildeo e declaraccedilatildeo de sua inelegibilidade 18

Logo infere-se que a condenaccedilatildeo criminal sem o tracircnsito em julgado natildeo

desqualifica o condenado a votar e a eventualmente concorrer a qualquer cargo

eletivo

O Colendo Tribunal Superior Eleitoral enfrentou esta questatildeo ao apreciar

pedido de registro de candidatura valendo registrar os seguintes julgados RECURSO ESPECIAL RECEBIDO COMO ORDINAacuteRIO REGISTRO DE CANDIDATURA DEFERIMENTO INELEGIBILIDADE NAtildeO-OCORREcircNCIA Condenaccedilatildeo criminal sem tracircnsito em julgado natildeo eacute apta a ensejar inelegibilidade (precedente do TSE acoacuterdatildeo 536 rel Min Fernando Neves publicado em sessatildeo de 882002) Recurso natildeo provido 19

17 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006 p 155 18 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbrgt TRESCndashAcoacuterdatildeo nordm 13324 de 071094 rel Juiz Nilson B Filho Acesso em 16 set 2011 19 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbr gt TSE- REspEl nordm 20247 de 19902 rel Min Sepuacutelveda Pertence Acesso em 16 set 2011

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INELEGIBILIDADE CONDENACcedilAtildeO CRIMINAL NAtildeO TRANSITADA EM JULGADO CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA ART 14 sect 9deg SUacuteMULA Ndeg 13 DO TSE 1 A existecircncia de sentenccedila criminal condenatoacuteria sem o tracircnsito em julgado natildeo eacute suficiente para ocasionar inelegibilidade 2 O art 14 sect 9deg da Constituiccedilatildeo natildeo eacute auto-aplicaacutevel 3 Necessidade de lei complementar estabelecendo os casos em que a vida pregressa do candidato poderaacute levar agrave sua inelegibilidade bem como os prazos de sua cessaccedilatildeo 4 Recurso provido para julgar improcedente a impugnaccedilatildeo e deferir o registro da candidatura 20

Insculpido na Constituiccedilatildeo Federal o principio da natildeo-culpabilidade deve ser

respeitado por toda lei infraconstitucional alguns doutrinadores como Aristides

Junqueira e Antocircnio Bandeira de Mello em carta publica no sitio do Movimento de

Combate agrave Corrupccedilatildeo Eleitoral21 entendem que neste presente caso natildeo deve ser

aplicado o princiacutepio da natildeo-culpabilidade a inelegibilidade pois esta natildeo eacute pena

mas medida preventiva

Estes juristas se acham alicerccedilados pelo que expressamente estatui o sect 9deg do

artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal em que Lei complementar estabeleceraacute outros

casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim de proteger a probidade

administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato considerada a vida

pregressa do candidato afirmam que uma vez que a proacutepria Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica expressamente permite que o legislador estipule quais elementos da vida

pregressa dos candidatos podem afastaacute-los dos pleitos

Independente desta posiccedilatildeo minoritaacuteria encontra-se que o princiacutepio da natildeo-

culpabilidade eacute prevista em diversos ordenamentos juriacutedicos e tratados como se

veraacute a seguir

Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo da Franccedila de 1789 o art

9da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) de 1948 dispotildee ldquoTodo acusado eacute

considerado inocente ateacute ser declarado culpado e se julgar indispensaacutevel prendecirc-lo

todo o rigor desnecessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deveraacute ser severamente

reprimido pela leirdquo22

20 Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrgt TSE-REspEl nordm 18047 de 2992000 rel Min Fernando Neves da Silva Acesso em 16 set 2011 21 Disponiacutevel em lthttpwwwmcceorgbrsitesdefaultfilescartajuristaspdfgt Acesso em 3 jul 2011 22 Disponiacutevel em lthttppfdcpgrmpfgovbratuacao-e-conteudos-de-apoiolegislacaodireitoshuma nosdeclar_dir_ homem_cidadaopdfgt Acesso em 13 set 2011

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Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos de 1948 diz ldquoToda pessoa

acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocecircncia enquanto natildeo se

comprove legalmente sua culpardquo23

A origem histoacuterica que foi referida teve uma grande importacircncia para se

chegar a um status constitucional conforme eacute citado por Mirabete Existe apenas uma tendecircncia agrave presunccedilatildeo de inocecircncia ou mais precisamente um estado de inocecircncia um estado juriacutedico no qual o acusado eacute inocente ateacute que seja declarado culpado por uma sentenccedila transitada em julgado Por isso a nossa Constituiccedilatildeo Federal natildeo presume a inocecircncia mas declara que ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria (art 5deg LVII) ou seja que o acusado eacute inocente durante o desenvolvimento do processo e seu estado soacute se modifica por uma sentenccedila final que o declare culpado 24

Por fim o princiacutepio da natildeo-culpabilidade visa a proteccedilatildeo do reacuteu para que

este tenha um julgamento justo devendo ser provada sua verdadeira culpa antes

que seja considerado culpado

23 Disponiacutevel em lthttpwwwagugovbrsistemassiteTemplateImagemTextoThumbaspxidConteu do=113927ampordenacao=1ampid_site=4922gt Acesso em 12 set 2011 24 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252

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5 CONCLUSAtildeO Apoacutes as anaacutelises da doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncias pertinentes a este

trabalho verifica-se que a Lei Complementar nordm 1352010 ao instituir nova hipoacutetese

de inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado esta em pleno conflito com o princiacutepio da natildeo-culpabilidade insculpido no

artigo 5ordm inciso LVII da Constituiccedilatildeo Federal o que torna esta nova hipoacutetese

absolutamente inconstitucional

O objetivo da Lei Complementar nordm 1352010 eacute o de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos para que os criteacuterios de inelegibilidades sejam mais

rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos Inicialmente eacute compreensiacutevel a

preocupaccedilatildeo de qualificar o perfil dos candidatos a cargos eletivos atraveacutes da vida

pregressa isto significa querer se representar por candidatos idocircneos

Ocorre que eacute necessaacuterio impor tantas restriccedilotildees para que o cidadatildeo possa

concorrer a determinado pleito natildeo eacute mais correto permitir que o proacuteprio povo

detentor soberano do poder para escolher seus representantes defina seus criteacuterios

de escolha

Quanto ao aspecto juriacutedico vejamos que o legislativo ao criar novas hipoacuteteses

de inelegibilidade deve-se atentar para as garantias jaacute consagradas em nosso

ordenamento principalmente quando esta garantia esta insculpida na Constituiccedilatildeo

Federal garantia esta referente ao principio da natildeo-culpabilidade que reza que

ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

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condenatoacuteria trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute

considerar o indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila

Ocorre que a criaccedilatildeo da Lei Complementar nordm 1352010 nasceu conflitante

com a Constituiccedilatildeo Federal em 2 aspectos primordiais primeiro a natildeo observacircncia

do princiacutepio da anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo

Federal pacificado pela Accedilatildeo Declaratoacuteria de Inconstitucionalidade nordm 3685

afirmando que deve-se respeitar ao principio da anualidade e segundo a

inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado

O segundo conflito origina-se diante da garantia constitucional do princiacutepio da

presunccedilatildeo da natildeo-culpabilidade o qual disciplina que somente poderaacute ser

considerado culpado o acusado de determinado crime quando ocorrer o tracircnsito em

julgado da decisatildeo

Portanto temos que uma decisatildeo de um oacutergatildeo colegiado quando recorriacutevel

ainda natildeo eacute o momento que se consumativo da culpabilidade do acusado pois natildeo

podemos antecipar a puniccedilatildeo de um cidadatildeo com a perda de algum direito pelo

simples fato de estar respondendo a algum processo

A aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre teraacute como pressuposto o

exame da Constituiccedilatildeo Federal que estabelece o princiacutepio da natildeo-culpabilidade

tambeacutem chamado de princiacutepio da presunccedilatildeo de inocecircncia que eacute uma verdadeira

garantia constitucional do indiviacuteduo contra o Estado Portanto deve-se respeitar este

princiacutepio basilar do Estado Democraacutetico de Direito nos mais diferentes segmentos

devendo qualquer Lei abster-se de considerar culpado aquele que ainda natildeo teve

sua decisatildeo transitada em julgado

Assim a Lei Complementar nordm 1352010 eacute contraacuterio ao disposto no texto

constitucional pois de forma antecipada retira do cidadatildeo o direito de disputar ao

pleito de forma igualitaacuteria bem como retira do povo um de seus maiores direitos o

de poder escolher seus representantes

Portanto para fortalecimento do Estado Democraacutetico de Direito se faz

necessaacuterio que as garantias constitucionais prevaleccedilam com isto deve-se

preponderar a presunccedilatildeo de natildeo culpabilidade ateacute o tracircnsito em julgado de da

sentenccedila condenatoacuteria

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REFEREcircNCIAS BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicao_ConstituiccedilaoCompiladohtmgt Acesso em 2 jun 2011 BRASIL Tribunal Superior Eleitoral Coacutedigo eleitoral Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrinternetjurisprudenciacodigo_eleitoralcodigo_eleitoralhtmlgt Acesso em 5 mai 2011 BRASIL Supremo Tribunal Federal Jurisprudecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudenciapesquisarJurisprudenciaaspgt Acesso em 15 mai 2011 BRASIL Projeto de Lei Complementar nordm 518 de 17 de setembro de 2009 Altera a Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 que estabelece de acordo com o sect 9ordm do art 14 da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias para incluir hipoacuteteses de inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no exerciacutecio do mandato Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbrsfatividademateriadetalhesaspp_cod_mate=96850gt Acesso em 19 mai 2011

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BRASIL Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 Estabelece de acordo com o art 14 sect 9ordm da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03LeisLCPLcp64htmgt Acesso em 15 mai 2011 COSTA Adriano Soares Instituiccedilotildees de Direito Eleitoral Ed Del Rey 2006 DI PIETRO Maria Sylvia Zanella Direito Administrativo 9 Ed Satildeo Paulo Atlas 1998 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131 LEAL Saul Tourinho Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt MELLO Celso Antonio Bandeira Curso de Direito Administrativo 24 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2007 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 ed Satildeo Paulo Atlas 2006 Movimento de Combate agrave Corrupccedilatildeo Disponiacutevel em ltwwwmcceorgbrgt Acesso em 3 jul 2011 NERY JUacuteBNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20 PEREIRA Erick Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt Acesso em 30 jun 2011 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2008

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PIRES Maacutercio Rodrigo Kaio Carvalho Abuso do poder poliacutetico nas eleiccedilotildees Jus Navigandi Teresina ano 15 n 2677 30 out 2010 Disponiacutevel em lthttpjusuolcombrrevistatexto17741gt Acesso em 27 jun 2011 RAMAYANA Marcos Direito Eleitoral Impetus Niteroacutei 2006 RESENHA ELEITORAL - Nova Seacuterie v9 n1 (janjun 2002) Disponiacutevel em lt httpwwwtre-scgovbrsiteinstitucionalpublicacoesartigos-doutrinariospublicados- na-resenha-eleitoralresenhasv9-n1-janjun-2002abuso-do-podereconomico- ou-de-autoridadeindexhtmlgt SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006

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Agradeccedilo a Deus que me fez agrave sua imagem e semelhanccedila e possibilitou-me agrave vitoacuteria

Aos meus pais Celccedilo e Maria Cristina que me servem de exemplo e moral para continuar minha caminhada A minha querida filha Maysa meu irmatildeo Paulo pela sua

amizade as minhas avoacutes Wilma e Dalva Agradeccedilo ainda a meus amigos e colegas de classe

Agradeccedilo a meu ilustre orientador Professor Marcelo Brandatildeo Enfim agradeccedilo a todos que de alguma forma ajudaram na conclusatildeo deste

objetivo

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ldquoPosso natildeo concordar com nenhuma das palavras que vocecirc disser mas defenderei ateacute a

morte o direito de vocecirc dizecirc-las (Voltaire)rdquo

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LEI COMPLEMENTAR nordm 13510 ldquoFICHA LIMPArdquo E SUA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE PREVISTA NO ARTIGO 2ordm

INCISO I ALIacuteNEA ldquoErdquo

RESUMO Com a aprovaccedilatildeo da Lei Complementar nordm 1352010 que teve sua origem no Projeto de Lei Complementar nordm 5182009 de iniciativa popular criou-se uma nova espeacutecie de inelegibilidade que visa impedir a candidatura de poliacuteticos condenados a partir da segunda instacircncia ou por oacutergatildeo judicial colegiado mesmo que natildeo tenha transitado em julgado esta decisatildeo Esta nova inelegibilidade prevista na aliacutenea ldquoerdquo do inciso I do artigo 2ordm da Lei Complementar nordm 1352010 esta em confronto com o disposto no inciso LVII do artigo 5ordm da Constitucional Federal que estabelece o princiacutepio da natildeo-culpabilidade tambeacutem conhecido como princiacutepio da presunccedilatildeo de inocecircncia que eacute uma verdadeira garantia constitucional do indiviacuteduo contra o Estado O presente trabalho tem o intuito de analisar a constitucionalidade ou inconstitucionalidade desta nova hipoacutetese de inelegibilidade frente ao princiacutepio da natildeo-culpabilidade para tanto percorreraacute os conceitos existentes de elegibilidade e inelegibilidades presentes no ordenamento juriacutedico baseando-se na doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncia paacutetria Palavras-chave Elegibilidade Inelegibilidade Princiacutepio da natildeo-culpabilidade

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SUMAacuteRIO 1 INTRODUCcedilAtildeO 07

2 DA ELEGIBILIDADE 09

21 CONCEITO DE ELEGIBILIDADE 09

22 CONDICcedilOtildeES DE ELEGIBILIDADE 09

23 NACIONALIDADE BRASILEIRA 10

24 PLENO EXERCIacuteCIO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS 11

25 ALISTAMENTO ELEITORAL 12

26 DOMICIacuteLIO ELEITORAL 12

27 FILIACcedilAtildeO PARTIDAacuteRIA 13

28 IDADE MIacuteNIMA 14

3 DA INELEGIBILIDADE 15

31 CONCEITO DE INELEGIBILIDADE 15

32 ESPEacuteCIES DE INELEGIBILIDADE 15

33 INELEGIBILIDADE CONSTITUCIONAL 16

34 INELEGIBILIDADE INFRACONSTITUCIONAL 18

4 DA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE 22 41 ORIGEM DA LEI COMPLEMENTAR Nordm 1352010 22

42 AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EM JULGADO 23

43 PRINCIacutePIO CONSTITUCIONAL DA NAtildeO-CULPABILIDADE 25

5 CONCLUSAtildeO 30

6 REFEREcircNCIAS 32

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1 INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho apresenta um tema atual e de grande relevacircncia e

repercussatildeo tornando imprescindiacutevel um amplo debate

Refere-se agrave Lei Complementar nordm 13510 denominada ldquoLei da Ficha Limpardquo

decorrente do Projeto de Lei nordm 5182009 de iniciativa popular que instituiu uma

nova espeacutecie de inelegibilidade visando impedir a candidatura de poliacuteticos

condenados a partir da segunda instacircncia ou por oacutergatildeo judicial colegiado mesmo

que natildeo tenha transitado em julgado esta decisatildeo

Sendo assim avaliaremos a relevacircncia do princiacutepio constitucional da natildeo-

culpabilidade sobre a oacutetica desta nova hipoacutetese de inelegibilidade ressaltando-se

que os estudos apresentados se baseiam em doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncia

paacutetria

O trabalho desenvolveu-se sobre o seguinte problema de pesquisa se estaacute

nova hipoacutetese de inelegibilidade eacute constitucional ou inconstitucional

O trabalho foi divido em 5 capiacutetulos sendo eles assim tratados

O primeiro capiacutetulo baseia-se na INTRODUCcedilAtildeO do respectivo trabalho

O segundo capiacutetulo trata da ELEGIBILIDADE seu conceito e requisitos

O terceiro capiacutetulo trata das INELEGIBILIDADES no ordenamento juriacutedico

brasileiro sendo elas constitucionais e infraconstitucionais

O quarto capiacutetulo trata especificamente desta NOVA HIPOacuteTESE DE

INELEGIBILIDADE trazendo a origem da Lei Complementar nordm 1352010 sua nova

hipoacutetese de inelegibilidade que dispensa o tracircnsito em julgado e o confronto com o

princiacutepio da natildeo-culpabilidade

O quinto e uacuteltimo capiacutetulo aborda especificamente a CONCLUSAtildeO

Como ponto de partida abordamos a mateacuteria geral ou seja as causas de

inelegibilidade e inelegibilidades existentes no ordenamento juriacutedico atual

caminhando para o caso particular que neste trabalho eacute apresentado pela nova

hipoacutetese de inelegibilidade criada pela Lei Complementar nordm 1352010

Jaacute como meacutetodo de procedimento foi utilizado a teacutecnica de procedimento

monograacutefico que estuda em profundidade determinado fato sob todos os seus

aspectos buscando quanto ao possiacutevel esgotar as duacutevidas surgidas sobre o tema

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O tipo de pesquisa ou fonte de informaccedilatildeo utilizada foi o bibliograacutefico por

utilizar como base de estudo os ensinamentos de doutrina legislaccedilatildeo e

jurisprudecircncia

Por fim a anaacutelise conjunta desses fatos nos mostraraacute de forma esclarecedora

a inconstitucionalidade da aliacutenea ldquoerdquo do inciso I do artigo 2ordm da Lei Complementar nordm

1352010 frente ao princiacutepio constitucional da natildeo-culpabilidade

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2 DA ELEGIBILIDADE 21 CONCEITO DE ELEGIBILIDADE

Pode-se conceituar elegibilidade como sendo a capacidade de ser eleito isto

eacute a qualidade de determinada pessoa ser elegiacutevel nas condiccedilotildees permitidas pela

legislaccedilatildeo Assim conceitua o Tribunal Superior Eleitoral sobre inelegibilidade A elegibilidade eacute na restrita precisatildeo legal o direito do cidadatildeo de ser escolhido mediante votaccedilatildeo direta ou indireta para representante do povo ou da comunidade segundo as condiccedilotildees estabelecidas pela Constituiccedilatildeo e pela legislaccedilatildeo eleitoral1

Joseacute Afonso da Silva na ilustre obra Curso de Direito Constitucional Positivo

doutrinariamente leciona A elegibilidade agrave capacidade de ser eleito observa que goza de elegibilidade todo cidadatildeo que preencha as condiccedilotildees exigidas para concorrer a um mandato eletivo consistindo a mesma no direito de postular a designaccedilatildeo pelos eleitores a um mandato poliacutetico no Legislativo ou no Executivo2

Alexandre de Moraes em sua excelente obra de Direto Constitucional define

da seguinte maneira a elegibilidade ldquoElegibilidade eacute a capacidade eleitoral passiva

consistente na possibilidade de o cidadatildeo pleitear determinados mandatos poliacuteticos

mediante eleiccedilatildeo popular desde que preenchidos certo requisitosrdquo 3

Djalma Pinto com a obra intitulada Direito Eleitoral assim define elegibilidade

ldquoElegibilidade eacute o credenciamento do cidadatildeo para postulaccedilatildeo do registro de sua

candidatura Representa o primeiro estaacutegio a ser percorrido por algueacutem para

exercitar o seu direito a ser votadordquo 4

Em siacutentese preenchidos os requisitos de elegibilidade eacute necessaacuterio que o

cidadatildeo natildeo se encontre em alguma hipoacutetese de inelegibilidade que constitui

impedimento agrave capacidade eleitoral passiva

22 CONDICcedilOtildeES DE ELEGIBILIDADE

Trata-se do conjunto de condiccedilotildees pessoais necessaacuterias agrave habilitaccedilatildeo do

cidadatildeo para pleitear determinados mandatos poliacuteticos mediante eleiccedilatildeo popular

As condiccedilotildees de elegibilidade estatildeo previstas na Constituiccedilatildeo Federal no

artigo 14 sect 3ordm e compreendem a nacionalidade brasileira pleno exerciacutecio dos

1 Disponiacutevel em lthttpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermoselegibilidadehtmgt Acesso em 22 jul 2011 2 SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 p 365 3 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 Ed Satildeo Paulo Atlas 2006 p 215 4 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 Ed Satildeo Paulo Atlas 2008 p 157

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direitos poliacuteticos alistamento eleitoral domiciacutelio eleitoral na circunscriccedilatildeo filiaccedilatildeo

partidaacuteria e idade miacutenima para cargos poliacuteticos

Com estes requisitos a Constituiccedilatildeo Federal vem a limitar quem pode e quem

natildeo pode concorrer para algum cargo poliacutetico

23 NACIONALIDADE BRASILEIRA

A nacionalidade brasileira eacute a primeira condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no

artigo 14 sect 3ordm inciso I da Constituiccedilatildeo Federal

Classifica-se a nacionalidade brasileira em brasileiro nato e brasileiro

naturalizado para tanto eacute necessaacuterio distinguirmos a diferenccedila entre um e outro

Brasileiros natos satildeo aqueles nascidos na Repuacuteblica Federativa do Brasil

ainda que de paiacutes estrangeiros desde que estes natildeo estejam a serviccedilo de seu paiacutes

os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou matildee brasileira desde que qualquer

deles esteja a serviccedilo da Repuacuteblica Federativa do Brasil os nascidos no estrangeiro

de pai brasileiro ou de matildee brasileira desde que sejam registrados em reparticcedilatildeo

brasileira competente ou venham a residir na Repuacuteblica Federativa do Brasil e

optem em qualquer tempo depois de atingida a maioridade pela nacionalidade

brasileira

Brasileiros naturalizados satildeo aqueles que na forma da lei adquiram a

nacionalidade brasileira exigidas aos originaacuterios de paiacuteses de liacutengua portuguesa

apenas residecircncia por um ano ininterrupto e idoneidade moral os estrangeiros de

qualquer nacionalidade residentes na Repuacuteblica Federativa do Brasil haacute mais de

quinze anos ininterruptos e sem condenaccedilatildeo penal desde que requeiram a

nacionalidade brasileira

A Lei tambeacutem distingue a nacionalidade em primaacuteria e secundaacuteria A

nacionalidade primaacuteria tambeacutem denominada de originaacuteria eacute conferida aos

brasileiros natos sendo adquirida no momento do nascimento pelo ius sanguinis

(direito de sangue) ou pelo ius soli (direito de solo) jaacute a nacionalidade secundaacuteria

tambeacutem denominada nacionalidade adquirida eacute conferida aos brasileiros

naturalizados aquela se adquire por vontade proacutepria apoacutes o nascimento e em regra

geral pela naturalizaccedilatildeo

Por fim o sect 2ordm do artigo 12 da Constituiccedilatildeo Federal descreve ldquoA lei natildeo

poderaacute estabelecer distinccedilatildeo entre brasileiros natos e naturalizados salvo nos casos

previstos nesta Constituiccedilatildeordquo com isto fica vedado qualquer tratamento desigual

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entre brasileiro nato e naturalizado salvo disposiccedilatildeo em contraacuterio na Constituiccedilatildeo

Federal

A exceccedilatildeo citada no sect 2ordm do artigo 12 da Constituiccedilatildeo Federal permite a

distinccedilatildeo entre brasileiros natos e naturalizados para ocupar determinados cargos

esta exceccedilatildeo estaacute disposta no artigo 12 sect 3ordm da Constituiccedilatildeo Federal que permite

que alguns cargos sejam privativos de brasileiro nato natildeo permitindo que os

naturalizados venham a ocupar tais posiccedilotildees

Esta exceccedilatildeo restringe-se para os cargos privativos de Presidente e Vice-

Presidente da Repuacuteblica Presidente da Cacircmara dos Deputados Presidente do

Senado Federal Ministro do Supremo Tribunal Federal carreira diplomaacutetica de

oficial das Forccedilas Armadas e de Ministro de Estado da Defesa

24 PLENO EXERCIacuteCIO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS

O pleno exerciacutecio dos direitos poliacuteticos eacute a segunda condiccedilatildeo de elegibilidade

prevista no artigo 14 sect 3ordm inciso II da Constituiccedilatildeo Federal o Tribunal Superior

Eleitoral assim o conceitua Direitos poliacuteticos eacute o conjunto dos direitos atribuiacutedos ao cidadatildeo que lhe permite atraveacutes do voto do exerciacutecio de cargos puacuteblicos ou da utilizaccedilatildeo de outros instrumentos constitucionais e legais ter efetiva participaccedilatildeo e influecircncia nas atividades de governo Estar no gozo dos direitos poliacuteticos significa pois estar habilitado a alistar-se eleitoralmente habilitar-se a candidaturas para cargos eletivos ou a nomeaccedilotildees para certos cargos puacuteblicos natildeo eletivos participar de sufraacutegios votar em eleiccedilotildees plebiscitos e referendos apresentar projetos de lei pela via da iniciativa popular e propor accedilatildeo popular 5

Djalma Pinto em sua obra intitulada ldquoDireito eleitoral ndash Improbidade

Administrativa e Responsabilidade Fiscalrdquo dispotildee sobre esta condiccedilatildeo de

elegibilidade O pleno exerciacutecio dos direitos poliacuteticos eacute condiccedilatildeo essencial para a configuraccedilatildeo de elegibilidade A plenitude dos direitos poliacuteticos se expressa pela aptidatildeo para votar e ser votado Sem encontrar-se apto a seu exerciacutecio natildeo eacute possiacutevel ao indiviacuteduo nem se alistar nem tampouco se filiar partido requisitos imprescindiacuteveis agrave configuraccedilatildeo da elegibilidade 6

Sendo assim o pleno exerciacutecio dos direitos poliacuteticos eacute requisito essencial

para o cidadatildeo estar na condiccedilatildeo de elegibilidade Aquele que perder ou tiver seus 5 Disponiacutevel em lthttpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermosdireitos_politicoshtmgt Acesso em 22 jul 2011 6 PINTO Djalma Direito eleitoral ndash improbidade administrativa e Responsabilidade Fiscal 3 Ed Satildeo Paulo Atlas 2006

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direitos poliacuteticos suspensos ou cancelados ficaraacute impedido de exercer a capacidade

eleitoral passiva

A Constituiccedilatildeo Federal prevecirc no artigo 15 causas de perda ou suspensatildeo dos

direitos poliacuteticos que podem ocorrer devido ao cancelamento da naturalizaccedilatildeo por

sentenccedila judicial transitada em julgado condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado

enquanto durarem seus efeitos recusa de cumprir obrigaccedilatildeo a todos imposta ou

prestaccedilatildeo alternativa nos termos do art 5ordm VIII improbidade administrativa nos

termos do art 37 sect 4ordm

25 ALISTAMENTO ELEITORAL

O alistamento eleitoral eacute a terceira condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo

14 sect 3ordm inciso III da Constituiccedilatildeo Federal o Tribunal Superior Eleitoral assim o

conceitua Eacute a primeira fase do processo eleitoral Eacute um procedimento administrativo cartoraacuterio e compreende dois atos inconfundiacuteveis a qualificaccedilatildeo e a inscriccedilatildeo do eleitor A qualificaccedilatildeo eacute a prova de que o cidadatildeo satisfaz as exigecircncias legais para exercer o direito de voto enquanto que a inscriccedilatildeo faz com que o mesmo passe a integrar o Cadastro Nacional de Eleitores da Justiccedila Eleitoral O ato de alistamento eacute feito por meio de processamento eletrocircnico e se perfaz pelo preenchimento do requerimento de alistamento eleitoral (RAE) na forma da resoluccedilatildeo do TSE e da legislaccedilatildeo eleitoral Eacute a forma pela qual o cidadatildeo adquire seus direitos poliacuteticos tornando-se titular de direito poliacutetico ativo (capacidade para votar) e possibilitando sua elegibilidade e filiaccedilatildeo partidaacuteria apoacutes a expediccedilatildeo do respectivo tiacutetulo eleitoral 7

Portanto para o cidadatildeo ser eleitor eacute preciso que ele se aliste e para ele ser

elegiacutevel eacute preciso que ele jaacute seja eleitor

26 O DOMICIacuteLIO ELEITORAL NA CIRCUNSCRICcedilAtildeO

O domiciacutelio eleitoral eacute a quarta condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14

sect 3ordm inciso IV da Constituiccedilatildeo Federal

Domiciacutelio eleitoral eacute o lugar da residecircncia ou moradia do requerente agrave

inscriccedilatildeo eleitoral assim dispotildee o artigo 42 paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo Eleitoral

que Para efeito de inscriccedilatildeo eacute domiciacutelio eleitoral o lugar de residecircncia ou moradia

do requerente e verificado ter o alistando mais de uma considerar-se-aacute domiciacutelio

qualquer delas

7Disponiacutevel em lthttpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermosalistamento_eleitoralhtmgt Acesso em 22 jul 2011

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Djalma Pinto acerca do domiciacutelio eleitoral assevera ldquoO domicilio eleitoral por

sua vez eacute o lugar da residecircncia ou moradia onde o cidadatildeo formaliza seu

alistamentordquo 8

A legislaccedilatildeo requer que o candidato a um cargo eletivo natildeo incorra em

incompatibilidades ou inelegibilidades e possua domicilio eleitoral na circunscriccedilatildeo a

qual deseja concorrer Sobre a circunscriccedilatildeo eleitoral o Tribunal Superior Eleitoral

assim o define Espaccedilo geograacutefico onde se trava determinada eleiccedilatildeo Assim o paiacutes na eleiccedilatildeo do presidente e vice-presidente da Repuacuteblica o estado nas eleiccedilotildees para governador e vice-governador deputados federais e estaduais e senadores o municiacutepio nas eleiccedilotildees de prefeito e vereadores e o distrito onde e quando se realiza a eleiccedilatildeo pelo sistema distrital 9

Para concorrer as eleiccedilotildees o candidato deveraacute possuir domiciacutelio eleitoral na

respectiva circunscriccedilatildeo pelo prazo de pelo menos um ano antes do pleito e estar

com a filiaccedilatildeo deferida pelo partido no mesmo prazo eacute o que dispotildee o artigo 9deg da

Lei 950497

27 FILIACcedilAtildeO PARTIDAacuteRIA

A filiaccedilatildeo partidaacuteria eacute a quinta condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14

sect 3ordm inciso V da Constituiccedilatildeo Federal

Eacute o ato formal e solene o pelo qual um eleitor aceita e adota o programa de

um partido poliacutetico viacutenculo que se estabelece entre o poliacutetico e o partido Eacute condiccedilatildeo

de elegibilidade conforme disposto no artigo 14 sect3ordm inciso V da Constituiccedilatildeo

Federal Nos termos do artigo 16 da Lei dos Partidos Poliacuteticos Lei nordm 909695 soacute

pode filiar-se a partido o eleitor que estiver no pleno gozo de seus direitos poliacuteticos

Todavia a exceccedilotildees sobre a filiaccedilatildeo partidaacuteria como no caso de candidatura

de magistrados membros dos Tribunais de Contas Ministeacuterio Puacuteblico e militares

como exemplo vejamos a exceccedilatildeo dos militares estes querendo concorrer a cargo

puacuteblico eletivo possuindo menos de dez anos de serviccedilo deveraacute solicitar

afastamento definitivo da atividade atraveacutes de demissatildeo ou licenciamento ex-officio

caso venha a possuir mais de dez anos de serviccedilo deveraacute ser agregado pela

8 PINTO Djalma Direito eleitoral ndash improbidade administrativa e Responsabilidade Fiscal 3 Ed Satildeo Paulo Atlas 2006 9 Disponiacutevel em httpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermoscircunscricao_eleitoralhtmgt Acesso em 22 jul 2011

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autoridade superior e se eleito passaraacute automaticamente no ato da diplomaccedilatildeo

para a inatividade

28 IDADE MIacuteNIMA

Idade miacutenima eacute a uacuteltima condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14 sect 3ordm

inciso VI da Constituiccedilatildeo Federal

Para o cargo de Presidente e Vice-Presidente da Repuacuteblica e para Senadores

e suplentes a idade miacutenima de 35 anos para o cargo de Governado e Vice-

Governador de Estado ou do Distrito Federal idade miacutenima de 30 anos para os

cargos de Deputado Federal Estadual Distrital Prefeito e Vice-Prefeito e Juiz de

paz a idade miacutenima de 21 anos e por fim para o cargo de vereador a idade

miacutenima de 18 anos

Dispotildee a Lei 95041997 artigo 11 sect 2ordm que a verificaccedilatildeo da idade seraacute feita

na data da posse no respectivo cargo pressupotildee que um menor de 17 anos de

idade possa se candidatar ao cargo de vereador bastando que na data da posse

conte com 18 anos completos

Alguns doutrinadores entretanto discordam dessa interpretaccedilatildeo entendendo

que natildeo poderia o legislador infra-constitucional dizer a mais do que a proacutepria

Constituiccedilatildeo estabeleceu assim leciona o Gilmar Mendes em sua obra Curso de

Direito Constitucional Natildeo haacute que se falar em momento da posse como aceitaacutevel para se perfazer a condiccedilatildeo de elegibilidade no tocante a idade miacutenima pois a Constituiccedilatildeo jaacute determinou que o momento da afericcedilatildeo para elegibilidade deve ser o do registro da candidatura 10

Tem prevalecido a verificaccedilatildeo da idade miacutenima na data da posse

10 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 Ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 p803

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3 DA INELEGIBILIDADE 31 CONCEITO DE INELEGIBILIDADE

Joseacute Afonso da Silva em sua ilustre obra Curso de Direito Constitucional

Positivo doutrinariamente leciona que ldquoa inelegibilidade obsta a elegibilidade

revelando um impedimento ao direito de ser votado que eacute a capacidade eleitoral

passivardquo 11

A inelegibilidade resulta no impedimento parcial ou seja temporaacuterio da

capacidade eleitoral passiva restringindo o cidadatildeo de ser votado nas hipoacuteteses

previstas na Lei Complementar nordm 641990 Lei Complementar nordm 1352010 e na

Constituiccedilatildeo Federal

Sua finalidade tem por objetivo a probidade administrativa a normalidade

para o exerciacutecio do mandato considerada a vida pregressa do candidato e a

normalidade e a legitimidade das eleiccedilotildees contra a influecircncia do poder econocircmico ou

o abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo cargo ou emprego na administraccedilatildeo direta ou

indireta

A inelegibilidade pode ser absoluta proibindo a candidatura agraves eleiccedilotildees em

geral ou relativa impossibilitando a postulaccedilatildeo a determinado mandato eletivo

Sendo assim o cidadatildeo que almeja se candidatar a cargo eletivo deve

atender as condiccedilotildees de elegibilidade e natildeo incorrer em nenhuma causa de

inelegibilidade

32 ESPEacuteCIES DE INELEGIBILIDADE

As espeacutecies de inelegibilidade podem ser constitucionais e

infraconstitucionais as constitucionais dividem-se em absoluta e relativa

A inelegibilidade constitucional absoluta consiste no impedimento eleitoral

que restringe o cidadatildeo de concorrer a qualquer cargo eletivo refere-se a

determinada caracteriacutestica do indiviacuteduo ou seja eacute de caraacuteter pessoal sendo

11 SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 Ed Satildeo Paulo Malheiros 012004 p 387

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taxativamente prevista pela Constituiccedilatildeo Federal e a inelegibilidade constitucional

relativa compreende o impedimento eleitoral que restringe o cidadatildeo de concorrer a

determinados cargos em determinada eleiccedilatildeo refere-se a situaccedilotildees especiais e

momentacircneas tais como motivos funcionais de casamento de parentescos

A inelegibilidade infraconstitucional eacute disciplinada na Lei Complementar ndeg

641990 alterada pela Lei Complementar ndeg 1352010

Eacute relevante a distinccedilatildeo entre as inelegibilidades constitucionais e

infraconstitucionais como bem ressaltado por Joseacute Jairo Gomes A distinccedilatildeo que se faz entre inelegibilidades constitucionais e legais natildeo eacute cerebrina apresentando inegaacutevel relevacircncia praacutetica Basta dizer que natildeo haacute preclusatildeo quanto agraves primeiras as quais podem ser arguumlidas na fase do registro de candidatura ou posteriormente antes ou depois das eleiccedilotildees A arguumliccedilatildeo posterior pode ser feita no RCED (CE art 262 I) Jaacute as inelegibilidades legais sujeitam-se agrave preclusatildeo se natildeo forem levantadas na fase de registro de candidatura Ultrapassado esse momento natildeo mais poderatildeo ser discutidas salvo se supervenientes 12

33 INELEGIBILIDADE CONSTITUCIONAL

A inelegibilidade constitucional dividi-se em absoluta e relativa

A inelegibilidade constitucional absoluta estabelecida no sect 4deg do artigo 14 da

Constituiccedilatildeo Federal prevecirc que satildeo inelegiacuteveis os inalistaacuteveis e os analfabetos

A inelegibilidade decorrente da inalistabilidade abrange todos que natildeo se

encontram na situaccedilatildeo de alistabilidade tambeacutem aqueles que se encontram em

estado definitivo ou temporariamente privados de seus direitos poliacuteticos por fim

atinge aqueles que natildeo sabem exprimir-se na liacutengua nacional e os estrangeiros

A inelegibilidade decorrente do analfabetismo natildeo permite que o analfabeto

seja elegiacutevel mas permite que ele seja alistaacutevel exercendo assim a sua capacidade

de votar mas nunca a de ser votado

Estas hipoacuteteses restringem ao cidadatildeo se candidatarem a qualquer cargo

eletivo em qualquer eleiccedilatildeo enquanto perdurar esta situaccedilatildeo restritiva

As hipoacuteteses de inelegibilidades constitucionais relativas referem-se a

situaccedilotildees especiais separando-as por motivos funcionais motivos parentais motivos

militares e encontram-se dispostas no artigo 14 sectsect 5deg ao 9deg da Constituiccedilatildeo Federal

12 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131

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A inelegibilidade por motivo funcional eacute decorrente de o cidadatildeo estar em

exerciacutecio de alguma funccedilatildeo puacuteblica Satildeo previstas duas situaccedilotildees

A primeira declara ser inelegiacutevel para o mesmo cargo em terceiro periacuteodo

subsequumlente o Presidente da Repuacuteblica os Governadores de Estado e do DF os

Prefeitos e quem os houver sucedido ou substituiacutedo nos seis meses antes das

eleiccedilotildees Eacute o que dispotildee o sect 5deg do artigo 14 na redaccedilatildeo da Emenda Constitucional

161997

Portanto soacute eacute permitida uma reconduccedilatildeo ou seja eacute permitida a reeleiccedilatildeo de

Chefes do Executivo ou seus substitutos para apenas um periacuteodo subsequumlente

A segunda situaccedilatildeo considera que satildeo inelegiacuteveis para concorrer a outros

cargos o Presidente da Repuacuteblica os Governadores de Estado e do DF e os

Prefeitos salvo se tiverem se desincompatibilizado com a renuacutencia do cargo ateacute

seis meses antes do pleito Eacute o que prevecirc o sect 6deg do artigo 14 da Constituiccedilatildeo

Federal

Os servidores puacuteblicos que ocuparem algum cargo de livre nomeaccedilatildeo

demissiacuteveis ad nutum seratildeo exonerados para que possam concorrer a cargo

eletivo ou seja natildeo poderatildeo manter qualquer viacutenculo com a entidade na qual

desempenhava suas funccedilotildees

Os servidores puacuteblicos concursados ao contraacuterio dos servidores ocupantes

de cargos de livre nomeaccedilatildeo natildeo seratildeo exonerados ou demitidos apenas se

afastaratildeo de suas funccedilotildees para se candidatar a cargo puacuteblico

A inelegibilidade por motivo de parentesco tambeacutem denominada de

inelegibilidade reflexa estaacute relacionada a condiccedilotildees inerentes ao parentesco

sanguumliacuteneo soacutecio-afetivo ou condiccedilatildeo matrimonial

Assim conforme previsto no sect 7ordm do artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal estas

mesmas pessoas impedidas para determinados cargos podem concorrer para outros

cargos que se processem em territoacuterio de outra circunscriccedilatildeo

A inelegibilidade reflexa aproxima-se da inelegibilidade absoluta a diferenccedila

ocorre que na reflexa pode cessar por vontade das pessoas envolvidas um exemplo

claro eacute a renuacutencia seis meses antes do pleito do Presidente da Repuacuteblica

Assim temos que a inelegibilidade por motivo de parentesco ou reflexa visa a

impedir a formaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do poder poliacutetico em matildeos de uma determinada

famiacutelia

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A inelegibilidade por motivos militares visa que o militar enquanto em serviccedilo

ativo natildeo pode estar filiado a partidos poliacuteticos entretanto a Constituiccedilatildeo Federal

em seu artigo 14 relata que atendidas certas condiccedilotildees o militar alistaacutevel se torna

elegiacutevel sendo estas as condiccedilotildees se contar com menos de dez anos de serviccedilo

deveraacute afastar-se da atividade e se contar com mais de dez ano de serviccedilo seraacute

agregado pela autoridade superior e se eleito passaraacute automaticamente no ato da

diplomaccedilatildeo para a inatividade

34 INELEGIBILIDADE INFRACONSTITUCIONAL

Por se tratar de inuacutemeras hipoacuteteses de inelegibilidades infraconstitucionais

natildeo seraacute possiacutevel tratar todos os casos previstos em lei para tanto adentraremos a

anaacutelise de algumas hipoacuteteses dispostas na Lei Complementar nordm 641990

As inelegibilidades infraconstitucionais satildeo instituiacutedas por Lei Complementar

que estabeleceraacute outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim

de proteger a probidade administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato

considerado vida pregressa do candidato e a normalidade e legitimidade das

eleiccedilotildees contra a influecircncia do poder econocircmico ou o abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo

cargo ou emprego na administraccedilatildeo direta ou indireta

As causas de inelegibilidade infraconstitucionais estatildeo previstas no artigo 1ordm

da Lei Complementar nordm 641990 alterado dentre outras atraveacutes da recente Lei

Complementar ndeg 1352010 conhecida como a Lei da Ficha Limpa

Dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquobrdquo da Lei Complementar nordm 641990 que os

membros do Congresso Nacional das Assembleacuteias Legislativas da Cacircmara

Legislativa e das Cacircmaras Municipais que hajam perdido os respectivos mandatos

por infringecircncia do disposto nos incisos I e II do art 55 da Constituiccedilatildeo Federal dos

dispositivos equivalentes sobre perda de mandato das Constituiccedilotildees Estaduais e

Leis Orgacircnicas dos Municiacutepios e do Distrito Federal para as eleiccedilotildees que se

realizarem durante o periacuteodo remanescente do mandato para o qual foram eleitos e

nos oito anos subsequumlentes ao teacutermino da legislatura

Sendo assim satildeo inelegiacuteveis os parlamentares cujo procedimento for

declarado incompatiacutevel com o decoro parlamentar e desde a expediccedilatildeo do diploma

firmar ou manter contrato com pessoa juriacutedica de direito puacuteblico autarquia empresa

puacuteblica sociedade de economia mista ou empresa concessionaacuteria de serviccedilo

puacuteblico salvo quando o contrato obedecer a claacuteusulas uniformes aceitar ou exercer

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cargo funccedilatildeo ou emprego remunerado inclusive os de que sejam demissiacuteveis ad

nutum nas entidades constantes da aliacutenea anterior e desde a posse ser

proprietaacuterios controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente

de contrato com pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou nela exercer funccedilatildeo

remunerada ocupar cargo ou funccedilatildeo de que sejam demissiacuteveis ad nutum nas

entidades referidas no inciso I a patrocinar causa em que seja interessada

qualquer das entidades a que se refere o inciso I a ser titulares de mais de um

cargo ou mandato puacuteblico eletivo

Portando o parlamentar que infringir o disposto no artigo 54 teraacute seu mandato

cassado Jaacute no inciso II do artigo 55 o Deputado ou Senador perderaacute o mandato

quando o procedimento for declarado incompatiacutevel com o decoro parlamentar A

Constituiccedilatildeo Federal prevecirc como falta de decoro o disciplinado no artigo 55 sect 1ordm

Por fim eacute incompatiacutevel com o decoro parlamentar os casos definidos no regimento

interno

Assim dispotildee o artigo 1ordm Inciso I aliacutenea ldquocrdquo da Lei Complementar nordm 641990

Governador e o Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal e o Prefeito e o

Vice-Prefeito que perderem seus cargos eletivos por infringecircncia a dispositivo da

Constituiccedilatildeo Estadual da Lei Orgacircnica do Distrito Federal ou da Lei Orgacircnica do

Municiacutepio para as eleiccedilotildees que se realizarem durante o periacuteodo remanescente e

nos 8 (oito) anos subsequentes ao teacutermino do mandato para o qual tenham sido

eleitos

Tal dispositivo busca evitar que os chefes do poder executivos retornem a

vida puacuteblica no mandato seguinte e nas eleiccedilotildees para as demais esferas Este

dispositivo preserva a moralidade puacuteblica O prazo de 8 anos de inabilitaccedilatildeo seraacute

contado a partir da data que tiver sido proferida a decisatildeo por crime de

responsabilidade

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquodrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tenham contra sua pessoa representaccedilatildeo julgada procedente pela Justiccedila

Eleitoral em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo colegiado em

processo de apuraccedilatildeo de abuso do poder econocircmico ou poliacutetico para a eleiccedilatildeo na

qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como para as que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes

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Primeiramente eacute necessaacuterio conceituar o que eacute abuso de poder econocircmico de

abuso de poder poliacutetico

Abuso de poder econocircmico consiste na utilizaccedilatildeo de bens ou serviccedilos de

empresas particulares ou recursos proacuteprios do candidato gerando assim uma

desproporccedilatildeo entre os candidatos exemplo Se um candidato eacute proprietaacuterio de uma

grande empresa e faz uso dela para custear sua campanha sem realizar doaccedilatildeo de

campanha prevista na Lei 950497

Abuso do poder poliacutetico consiste no emprego de serviccedilos ou bens

pertencentes a administraccedilatildeo puacuteblica com o objetivo de propiciar a eleiccedilatildeo de

determinado candidato

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquofrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que forem declarados indignos do oficialato ou com ele incompatiacuteveis pelo prazo

de 8 (oito) anos

Oficialato eacute o cargo ou dignidade de oficial seja das forccedilas armadas poliacutecia

militar ou corpo de bombeiros A competecircncia para apreciar e declarar a indignidade

do oficialato seraacute do Superior Tribunal Militar

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquogrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tiverem suas contas relativas ao exerciacutecio de cargos ou funccedilotildees puacuteblicas

rejeitadas por irregularidade insanaacutevel que configure ato doloso de improbidade

administrativa e por decisatildeo irrecorriacutevel do oacutergatildeo competente salvo se esta houver

sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciaacuterio para as eleiccedilotildees que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes contados a partir da data da decisatildeo aplicando-se o

disposto no inciso II do art 71 da Constituiccedilatildeo Federal a todos os ordenadores de

despesa sem exclusatildeo de mandataacuterios que houverem agido nessa condiccedilatildeo

Esta decisatildeo eacute administrativa e traraacute a consequumlecircncia de inelegibilidade para

isso a irregularidade tem de ser insanaacutevel

A competecircncia para julgar estas irregularidades compete ao Poder

Legislativo seja no acircmbito federal estadual ou municipal

A analise desta insanabilidade poderaacute caber a Justiccedila Eleitoral como por

exemplo no pedido de registro de candidatura por algueacutem que teve suas contas

rejeitadas

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquohrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os detentores de cargo na administraccedilatildeo puacuteblica direta indireta ou fundacional que

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beneficiarem a si ou a terceiros pelo abuso do poder econocircmico ou poliacutetico que

forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial

colegiado para a eleiccedilatildeo na qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como

para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes

Aqui natildeo se trata de cargo eletivo mas sim de cargos por concurso puacuteblico ou

por provimento em comissatildeo

A finalidade eacute por fim a reeleiccedilatildeo para aqueles que estatildeo em cargos de chefia

do poder executivo que tenham cometido abuso do poder econocircmico ou poliacutetico

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquoirdquo da Lei Complementar nordm 641990)

os que em estabelecimentos de creacutedito financiamento ou seguro que tenham sido

ou estejam sendo objeto de processo de liquidaccedilatildeo judicial ou extrajudicial hajam

exercido nos 12 (doze) meses anteriores agrave respectiva decretaccedilatildeo cargo ou funccedilatildeo

de direccedilatildeo administraccedilatildeo ou representaccedilatildeo enquanto natildeo forem exonerados de

qualquer responsabilidade

O que a lei busca nesta situaccedilatildeo eacute deixar aquele que administrou os referidos

estabelecimentos fora de qualquer participaccedilatildeo poliacutetica enquanto natildeo forem

apurados todos os fatos que levaram a insolvecircncia

Portanto o maior objetivo desta causa de inelegibilidade eacute assegurar que o

ex-administrado de estabelecimento de creacutedito financiamento ou seguro natildeo venha

a eleger-se a cargo eletivo sem antes ter sido apurada sua participaccedilatildeo para

insolvecircncia

Outras causas de inelegibilidades incluiacutedas pela Lei Complementar nordm

1352010 estatildeo previstas nos incisos j a q da referida Lei

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4 DA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE 41 ORIGEM DA LEI COMPLEMENTAR Nordm 1352010

Com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o Brasil passa a ser um

Estado Democraacutetico de Direito inaugurando uma democracia participativa

Esta democracia participativa permite ao cidadatildeo desde que preenchidos

determinados requisitos dar iniacutecio a um projeto de Lei atraveacutes da chamada Iniciativa

Popular A origem da Lei Complementar nordm 1352010 decorreu do Projeto de Lei nordm

5182009 sob a coordenaccedilatildeo do Movimento de Combate a Corrupccedilatildeo Eleitoral ndash

MCCE que teve iniacutecio em abril de 2008 com o objetivo de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos a finalidade eacute que os criteacuterios de inelegibilidades sejam

mais rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos

Esta Lei Complementar dita que pessoas condenadas por um colegiado

independente do tracircnsito em julgado satildeo inelegiacuteveis portanto podem ter seus

registros de candidaturas negados alem de incluir parlamentares que renunciaram

ao cargo para assim evitar uma possiacutevel abertura de processo por quebra de decoro

ou por desrespeito agrave Constituiccedilatildeo com a finalidade uacutenica de evitar possiacuteveis

puniccedilotildees

A Lei Complementar 1352010 traacutes inuacutemeros confrontos com a Constituiccedilatildeo

Federal sendo dois os mais relevantes primeiro a natildeo observacircncia do princiacutepio da

anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal e segundo

o desrespeito ao princiacutepio da natildeo-culpabilidade tambeacutem estabelecido na

Constituiccedilatildeo federal no artigo 5ordm inciso LVII

Sobre o primeiro ponto que trata da aplicabilidade da Lei Complementar nordm

1352010 para as eleiccedilotildees de 2010 restou soberana a decisatildeo do Supremo

Tribunal Federal ao resolver o conflito afirmando que o artigo 16 da Constituiccedilatildeo

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Federal ao submeter a alteraccedilatildeo legal do processo eleitoral agrave regra da anualidade

constitui uma garantia fundamental para o pleno exerciacutecio de direitos poliacuteticos

Esta pacificaccedilatildeo se deu no julgamento da Accedilatildeo Declaratoacuteria de

Inconstitucionalidade nordm 3685 13 onde atuou como Relatora a Ministra Ellen Gracie

que identificou como uma garantia fundamental do cidadatildeo-eleitor do cidadatildeo-

candidato e dos partidos poliacuteticos o artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal

A Ministra Ellen Gracie utilizou-se de uma analogia com o julgamento da

Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade 939 que teve como relator Ministro Sydnei

Sanches com a garantia da anterioridade tributaacuteria fixada no artigo 150 III b no

sentido de que se o princiacutepio da anterioridade tributaacuteria constitui uma garantia do

cidadatildeo-contribuinte o princiacutepio da anterioridade eleitoral tambeacutem eacute uma garantia do

cidadatildeo do eleitor do candidato e dos partidos poliacuteticos

Desta forma restou consolidado a garantia prevista no artigo 16 da

Constituiccedilatildeo Federal como forma de um devido processo legal eleitoral

O devido processo visa que se atinja uma decisatildeo conforme a Justiccedila

prestigiando a eacutetica da legalidade ressaltando-se que ele possui um duplo

significado de processo necessaacuterio e processo adequado para tanto COMOGLIO

afirma Que as garantias decorrentes do devido processo legal querem dizer natildeo apenas direito a um processo mas a um justo processo compreendendo a correccedilatildeo e efetividade dos instrumentos disponiacuteveis em juiacutezo e a efetividade e adequaccedilatildeo da proacutepria tutela finalrdquo 14

A Constituiccedilatildeo brasileira de 1988 traz a garantia exarada no seu artigo 5ordm

Art 5ordm - () LIV ndash ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal LV ndash aos litigantes em processo judicial e administrativo e aos acusados em geral seratildeo assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa com os meios de recurso a ela inerentes

Sobre o segundo ponto controverso mateacuteria deste trabalho tem o conflito tem

o conflito entre a Lei Complementar nordm 13510 contra uma garantia constitucional

denominado princiacutepio da natildeo-culpabilidade que eacute inseparaacutevel do conceito de

13 Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011 14 Luigi Paolo COMOGLIO Giuridizione e processo nel quadro delle garanzie constituzionali Rivista Trimestrale di Diritto e Procedura Civile 4 p 1070

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democracia A Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5ordm inciso LVII estabelece uma das

maiores garantias dos indiviacuteduos contra o autoritarismo do Estado afirmando que

ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

condenatoacuteriardquo fixando explicitamente o princiacutepio da natildeo-culpabilidade entre os

direitos fundamentais

42 AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EM JULGADO

A Lei Complementar nordm 1352010 em sua aliacutenea ldquoerdquo do inciso I do artigo 2ordm

possui a seguinte redaccedilatildeo e) os que forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial colegiado desde a condenaccedilatildeo ateacute o transcurso do prazo de 8 (oito) anos apoacutes o cumprimento da pena pelos crimes (Redaccedilatildeo dada pela Lei Complementar nordm 135 de 2010)

Esta aliacutenea visa impedir a candidatura de poliacuteticos condenados a partir da

segunda instacircncia e mesmo que natildeo tenha transitado em julgado Ela defende que

haja uma condenaccedilatildeo criminal no entanto deixa de exigir a configuraccedilatildeo do tracircnsito

em julgado do ato decisoacuterio para que ocorra a inelegibilidade A antiga lei previa que

o candidato soacute seria inelegiacutevel se tivesse condenaccedilatildeo definitiva

As alteraccedilotildees da Lei Complementar nordm 1352010 objetiva atender a um senso

comum do eleitorado afirmando que uma pessoa condenada natildeo deve poder ser

votada isto eacute natildeo deve ter mandato Em seus dizeres trata que a inelegibilidade

natildeo pressupotildee culpa formada natildeo deve haver discussatildeo sobre presunccedilatildeo da

inocecircncia Pode haver inelegibilidade por parentesco por ocupar cargo puacuteblico falta

de domiciacutelio eleitoral ou filiaccedilatildeo partidaacuteria causas que natildeo tecircm nada a ver com

condenaccedilatildeo criminal

A contradiccedilatildeo do argumento da Lei Complementar eacute se a Constituiccedilatildeo em

face do princiacutepio da natildeo-culpabilidade admite a cominaccedilatildeo de inelegibilidade para

quem ainda tem recursos pendentes de julgamento

Caso esta hipoacutetese seja admitida temos que um indiviacuteduo que tenha sido

condenado criminalmente em segunda instacircncia e interponha recurso especial ou

extraordinaacuterio para anular o processo caso natildeo consiga uma medida liminar

suspendendo os efeitos ficaria impedido de concorrer na eleiccedilatildeo

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Imagine-se que ao final da accedilatildeo o cidadatildeo que ficou impedido de concorrer

nas eleiccedilotildees obtivesse vitoacuteria em seu recurso obtendo assim a nulidade da accedilatildeo

bem como da decisatildeo que o condenou com ficaria a situaccedilatildeo deste cidadatildeo

O que se quer com a Lei Complementar nordm 1352010 eacute instituir um moralismo

eleitoral que se sobrepotildee a Constituiccedilatildeo Federal e seu principio constitucional da

natildeo-culpabilidade que eacute a garantia individual contra o Estado

Outro argumento utilizado pelos defensores da constitucionalidade da Lei

Complementar nordm 1352010 satildeo as prisotildees cautelares e que no final o sujeito

acaba sebdo absolvido Ora cabe lembrar-lhes que a prisatildeo cautelar natildeo eacute

antecipaccedilatildeo de pena cumpre ela uma funccedilatildeo processual clara e limitada agrave garantia

da ordem puacuteblica da ordem econocircmica por conveniecircncia da instruccedilatildeo criminal ou

para assegurar a aplicaccedilatildeo da lei penal quando houver prova da existecircncia do crime

e indiacutecio suficiente de autoria

Portanto temos que o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees enquanto natildeo

sobrevier decisatildeo judicial transitada em julgado

O proacuteprio Supremo na Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental

144 jaacute decidiu natildeo barrar candidaturas sem condenaccedilatildeo transitada em julgado

A Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental 144 15 foi votada

em agosto de 2008 antes das eleiccedilotildees municipais Na ocasiatildeo o Supremo Tribunal

Federal decidiu que natildeo poderiam ser barradas candidaturas de poliacuteticos

condenados na primeira instacircncia por conta da presunccedilatildeo de inocecircncia

Em 6 de agosto de 2008 haacute menos de trecircs anos o Supremo Tribunal Federal

julgou improcedente a Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental nordm

144 ajuizada pela Associaccedilatildeo dos Magistrados Brasileiros em voto do ministro

Celso de Mello vencidos os ministros Carlos Ayres e Joaquim Barbosa exatamente

porque O postulado consagrador da garantia de inocecircncia irradia os seus efeitos para aleacutem dos limites dos processos penais de natureza condenatoacuteria impedindo desse modo que situaccedilotildees processuais anda natildeo definidas por sentenccedilas transitadas em julgado provoquem em decorrecircncia das exigecircncias de probidade administrativa e demoralidade a que se refere o sect 9ordm do artigo 14 da Coinstituiccedilatildeo Federal a inelegibilidade dos cidadatildeos ou obstem candidaturas para mandatos eletivos

15Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011

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Portanto ficou definido que Lei Complementar sendo editada para casos de

inelegibilidades esta deveraacute respeitar o princiacutepio da natildeo-culpabilidade Ocorre que

foi editada a Lei Complementar nordm 1352010 que atendeu aos reclamos populares

mas preferiu a um soacute tempo violar a Constituiccedilatildeo Federal e desrespeitar a recente

decisatildeo do Supremo Tribunal Federal mesmo que na eacutepoacuteca desta decisatildeo natildeo

havia lei formal para tal situaccedilatildeo

43 PRINCIacutePIO CONSTITUCIONAL DA NAtildeO-CULPABILIDADE

O princiacutepio da natildeo-culpabilidade eacute direito fundamental previsto na

Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5deg inciso LVII ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute

o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

Isto eacute enquanto natildeo sobrevier uma decisatildeo judicial condenatoacuteria transitada

em julgado o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees em seu patrimocircnio ou em sua

liberdade Caso sobrevenha duacutevida quanto a culpabilidade esta resolveraacute sempre

em favor do reacuteu ou seja aplicando-se o princiacutepio in duacutebio pro reo

Assim disciplina Nelson Nery Juacutenior sobre o princiacutepio da natildeo-culpabilidade ldquoO inteacuterprete deve buscar a aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre tendo como pressuposto o exame da Constituiccedilatildeo Federal Depois sim deve consultar a legislaccedilatildeo infraconstitucional a respeito do temardquo 16

Sendo assim a Constituiccedilatildeo Federal no capiacutetulo sobre os Direitos e Deveres

Individuais e Coletivos em seu artigo 5ordm inciso LVII afirma que ldquoningueacutem seraacute

considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute considerar o

indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila A doutrina e a

jurisprudecircncia aclamam este princiacutepio como vaacuterios nomes como princiacutepio da

presunccedilatildeo de inocecircncia princiacutepio da natildeo-culpabilidade ou simplesmente princiacutepio da

inocecircncia

Joseacute Afonso da Silva em seu livro Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo

disciplina assim esta garantia A norma constitucional do inciso LVII agora sob nosso exame garante a presunccedilatildeo de inocecircncia por meio de um enunciado negativo universal lsquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria Usa-se de uma forma

16 NERY JUacuteNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20

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negativa para outorgar uma garantia positiva Na verdade o texto brasileiro natildeo significa outra coisa senatildeo que fica assegurada a todos a presunccedilatildeo de inocecircncia ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria O tracircnsito em julgado se daacute quando a decisatildeo natildeo comporta mais recurso ordinaacuterio especial ou extraordinaacuterio 17

Nesse sentido o indiviacuteduo acusado natildeo pode ser presumidamente culpado

mas sim inocente Tal princiacutepio visa a tutelar a liberdade pessoal de modo que o

Estado nos mais diferentes segmentos deve abster-se de considerar culpado

aquele que ainda natildeo foi submetido agrave definitividade da atuaccedilatildeo jurisdicional Em se tratando de suspensatildeo dos direitos poliacuteticos a Constituiccedilatildeo Federal

garante que a suspensatildeo somente se daraacute por ldquocondenaccedilatildeo criminal transitada em

julgado enquanto durarem seus efeitosrdquo

Julgamento neste sentido REPRESENTACcedilAtildeO SUSPENSAtildeO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS EM VIRTUDE DE SENTENCcedilA PENAL CONDENATOacuteRIA TRANSITADA EM JULGADO AUTO-APLICABILIDADE DOS ARTIGOS 14 sect 3ordm II E 15 III DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL PROCEDEcircNCIA A suspensatildeo dos direitos poliacuteticos do condenado independe de lei regulamentadora bem como de processo especial de cogniccedilatildeo e de anaacutelise de meacuterito para a execuccedilatildeo da medida no juiacutezo eleitoral posto natildeo se tratar de sanccedilatildeo penal mas de efeito natildeo-penal de condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado e decorrente de mandamento constitucional Comprovado o tracircnsito em julgado da sentenccedila penal condenatoacuteria decreta-se automaticamente a suspensatildeo dos direitos poliacuteticos ativo e passivo do representado ou seja o direito de votar e ser votado com a consequumlente exclusatildeo de seu nome da folha de votaccedilatildeo e declaraccedilatildeo de sua inelegibilidade 18

Logo infere-se que a condenaccedilatildeo criminal sem o tracircnsito em julgado natildeo

desqualifica o condenado a votar e a eventualmente concorrer a qualquer cargo

eletivo

O Colendo Tribunal Superior Eleitoral enfrentou esta questatildeo ao apreciar

pedido de registro de candidatura valendo registrar os seguintes julgados RECURSO ESPECIAL RECEBIDO COMO ORDINAacuteRIO REGISTRO DE CANDIDATURA DEFERIMENTO INELEGIBILIDADE NAtildeO-OCORREcircNCIA Condenaccedilatildeo criminal sem tracircnsito em julgado natildeo eacute apta a ensejar inelegibilidade (precedente do TSE acoacuterdatildeo 536 rel Min Fernando Neves publicado em sessatildeo de 882002) Recurso natildeo provido 19

17 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006 p 155 18 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbrgt TRESCndashAcoacuterdatildeo nordm 13324 de 071094 rel Juiz Nilson B Filho Acesso em 16 set 2011 19 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbr gt TSE- REspEl nordm 20247 de 19902 rel Min Sepuacutelveda Pertence Acesso em 16 set 2011

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INELEGIBILIDADE CONDENACcedilAtildeO CRIMINAL NAtildeO TRANSITADA EM JULGADO CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA ART 14 sect 9deg SUacuteMULA Ndeg 13 DO TSE 1 A existecircncia de sentenccedila criminal condenatoacuteria sem o tracircnsito em julgado natildeo eacute suficiente para ocasionar inelegibilidade 2 O art 14 sect 9deg da Constituiccedilatildeo natildeo eacute auto-aplicaacutevel 3 Necessidade de lei complementar estabelecendo os casos em que a vida pregressa do candidato poderaacute levar agrave sua inelegibilidade bem como os prazos de sua cessaccedilatildeo 4 Recurso provido para julgar improcedente a impugnaccedilatildeo e deferir o registro da candidatura 20

Insculpido na Constituiccedilatildeo Federal o principio da natildeo-culpabilidade deve ser

respeitado por toda lei infraconstitucional alguns doutrinadores como Aristides

Junqueira e Antocircnio Bandeira de Mello em carta publica no sitio do Movimento de

Combate agrave Corrupccedilatildeo Eleitoral21 entendem que neste presente caso natildeo deve ser

aplicado o princiacutepio da natildeo-culpabilidade a inelegibilidade pois esta natildeo eacute pena

mas medida preventiva

Estes juristas se acham alicerccedilados pelo que expressamente estatui o sect 9deg do

artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal em que Lei complementar estabeleceraacute outros

casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim de proteger a probidade

administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato considerada a vida

pregressa do candidato afirmam que uma vez que a proacutepria Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica expressamente permite que o legislador estipule quais elementos da vida

pregressa dos candidatos podem afastaacute-los dos pleitos

Independente desta posiccedilatildeo minoritaacuteria encontra-se que o princiacutepio da natildeo-

culpabilidade eacute prevista em diversos ordenamentos juriacutedicos e tratados como se

veraacute a seguir

Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo da Franccedila de 1789 o art

9da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) de 1948 dispotildee ldquoTodo acusado eacute

considerado inocente ateacute ser declarado culpado e se julgar indispensaacutevel prendecirc-lo

todo o rigor desnecessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deveraacute ser severamente

reprimido pela leirdquo22

20 Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrgt TSE-REspEl nordm 18047 de 2992000 rel Min Fernando Neves da Silva Acesso em 16 set 2011 21 Disponiacutevel em lthttpwwwmcceorgbrsitesdefaultfilescartajuristaspdfgt Acesso em 3 jul 2011 22 Disponiacutevel em lthttppfdcpgrmpfgovbratuacao-e-conteudos-de-apoiolegislacaodireitoshuma nosdeclar_dir_ homem_cidadaopdfgt Acesso em 13 set 2011

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Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos de 1948 diz ldquoToda pessoa

acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocecircncia enquanto natildeo se

comprove legalmente sua culpardquo23

A origem histoacuterica que foi referida teve uma grande importacircncia para se

chegar a um status constitucional conforme eacute citado por Mirabete Existe apenas uma tendecircncia agrave presunccedilatildeo de inocecircncia ou mais precisamente um estado de inocecircncia um estado juriacutedico no qual o acusado eacute inocente ateacute que seja declarado culpado por uma sentenccedila transitada em julgado Por isso a nossa Constituiccedilatildeo Federal natildeo presume a inocecircncia mas declara que ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria (art 5deg LVII) ou seja que o acusado eacute inocente durante o desenvolvimento do processo e seu estado soacute se modifica por uma sentenccedila final que o declare culpado 24

Por fim o princiacutepio da natildeo-culpabilidade visa a proteccedilatildeo do reacuteu para que

este tenha um julgamento justo devendo ser provada sua verdadeira culpa antes

que seja considerado culpado

23 Disponiacutevel em lthttpwwwagugovbrsistemassiteTemplateImagemTextoThumbaspxidConteu do=113927ampordenacao=1ampid_site=4922gt Acesso em 12 set 2011 24 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252

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5 CONCLUSAtildeO Apoacutes as anaacutelises da doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncias pertinentes a este

trabalho verifica-se que a Lei Complementar nordm 1352010 ao instituir nova hipoacutetese

de inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado esta em pleno conflito com o princiacutepio da natildeo-culpabilidade insculpido no

artigo 5ordm inciso LVII da Constituiccedilatildeo Federal o que torna esta nova hipoacutetese

absolutamente inconstitucional

O objetivo da Lei Complementar nordm 1352010 eacute o de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos para que os criteacuterios de inelegibilidades sejam mais

rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos Inicialmente eacute compreensiacutevel a

preocupaccedilatildeo de qualificar o perfil dos candidatos a cargos eletivos atraveacutes da vida

pregressa isto significa querer se representar por candidatos idocircneos

Ocorre que eacute necessaacuterio impor tantas restriccedilotildees para que o cidadatildeo possa

concorrer a determinado pleito natildeo eacute mais correto permitir que o proacuteprio povo

detentor soberano do poder para escolher seus representantes defina seus criteacuterios

de escolha

Quanto ao aspecto juriacutedico vejamos que o legislativo ao criar novas hipoacuteteses

de inelegibilidade deve-se atentar para as garantias jaacute consagradas em nosso

ordenamento principalmente quando esta garantia esta insculpida na Constituiccedilatildeo

Federal garantia esta referente ao principio da natildeo-culpabilidade que reza que

ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

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condenatoacuteria trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute

considerar o indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila

Ocorre que a criaccedilatildeo da Lei Complementar nordm 1352010 nasceu conflitante

com a Constituiccedilatildeo Federal em 2 aspectos primordiais primeiro a natildeo observacircncia

do princiacutepio da anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo

Federal pacificado pela Accedilatildeo Declaratoacuteria de Inconstitucionalidade nordm 3685

afirmando que deve-se respeitar ao principio da anualidade e segundo a

inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado

O segundo conflito origina-se diante da garantia constitucional do princiacutepio da

presunccedilatildeo da natildeo-culpabilidade o qual disciplina que somente poderaacute ser

considerado culpado o acusado de determinado crime quando ocorrer o tracircnsito em

julgado da decisatildeo

Portanto temos que uma decisatildeo de um oacutergatildeo colegiado quando recorriacutevel

ainda natildeo eacute o momento que se consumativo da culpabilidade do acusado pois natildeo

podemos antecipar a puniccedilatildeo de um cidadatildeo com a perda de algum direito pelo

simples fato de estar respondendo a algum processo

A aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre teraacute como pressuposto o

exame da Constituiccedilatildeo Federal que estabelece o princiacutepio da natildeo-culpabilidade

tambeacutem chamado de princiacutepio da presunccedilatildeo de inocecircncia que eacute uma verdadeira

garantia constitucional do indiviacuteduo contra o Estado Portanto deve-se respeitar este

princiacutepio basilar do Estado Democraacutetico de Direito nos mais diferentes segmentos

devendo qualquer Lei abster-se de considerar culpado aquele que ainda natildeo teve

sua decisatildeo transitada em julgado

Assim a Lei Complementar nordm 1352010 eacute contraacuterio ao disposto no texto

constitucional pois de forma antecipada retira do cidadatildeo o direito de disputar ao

pleito de forma igualitaacuteria bem como retira do povo um de seus maiores direitos o

de poder escolher seus representantes

Portanto para fortalecimento do Estado Democraacutetico de Direito se faz

necessaacuterio que as garantias constitucionais prevaleccedilam com isto deve-se

preponderar a presunccedilatildeo de natildeo culpabilidade ateacute o tracircnsito em julgado de da

sentenccedila condenatoacuteria

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REFEREcircNCIAS BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicao_ConstituiccedilaoCompiladohtmgt Acesso em 2 jun 2011 BRASIL Tribunal Superior Eleitoral Coacutedigo eleitoral Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrinternetjurisprudenciacodigo_eleitoralcodigo_eleitoralhtmlgt Acesso em 5 mai 2011 BRASIL Supremo Tribunal Federal Jurisprudecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudenciapesquisarJurisprudenciaaspgt Acesso em 15 mai 2011 BRASIL Projeto de Lei Complementar nordm 518 de 17 de setembro de 2009 Altera a Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 que estabelece de acordo com o sect 9ordm do art 14 da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias para incluir hipoacuteteses de inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no exerciacutecio do mandato Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbrsfatividademateriadetalhesaspp_cod_mate=96850gt Acesso em 19 mai 2011

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BRASIL Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 Estabelece de acordo com o art 14 sect 9ordm da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03LeisLCPLcp64htmgt Acesso em 15 mai 2011 COSTA Adriano Soares Instituiccedilotildees de Direito Eleitoral Ed Del Rey 2006 DI PIETRO Maria Sylvia Zanella Direito Administrativo 9 Ed Satildeo Paulo Atlas 1998 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131 LEAL Saul Tourinho Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt MELLO Celso Antonio Bandeira Curso de Direito Administrativo 24 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2007 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 ed Satildeo Paulo Atlas 2006 Movimento de Combate agrave Corrupccedilatildeo Disponiacutevel em ltwwwmcceorgbrgt Acesso em 3 jul 2011 NERY JUacuteBNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20 PEREIRA Erick Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt Acesso em 30 jun 2011 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2008

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PIRES Maacutercio Rodrigo Kaio Carvalho Abuso do poder poliacutetico nas eleiccedilotildees Jus Navigandi Teresina ano 15 n 2677 30 out 2010 Disponiacutevel em lthttpjusuolcombrrevistatexto17741gt Acesso em 27 jun 2011 RAMAYANA Marcos Direito Eleitoral Impetus Niteroacutei 2006 RESENHA ELEITORAL - Nova Seacuterie v9 n1 (janjun 2002) Disponiacutevel em lt httpwwwtre-scgovbrsiteinstitucionalpublicacoesartigos-doutrinariospublicados- na-resenha-eleitoralresenhasv9-n1-janjun-2002abuso-do-podereconomico- ou-de-autoridadeindexhtmlgt SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006

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ldquoPosso natildeo concordar com nenhuma das palavras que vocecirc disser mas defenderei ateacute a

morte o direito de vocecirc dizecirc-las (Voltaire)rdquo

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LEI COMPLEMENTAR nordm 13510 ldquoFICHA LIMPArdquo E SUA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE PREVISTA NO ARTIGO 2ordm

INCISO I ALIacuteNEA ldquoErdquo

RESUMO Com a aprovaccedilatildeo da Lei Complementar nordm 1352010 que teve sua origem no Projeto de Lei Complementar nordm 5182009 de iniciativa popular criou-se uma nova espeacutecie de inelegibilidade que visa impedir a candidatura de poliacuteticos condenados a partir da segunda instacircncia ou por oacutergatildeo judicial colegiado mesmo que natildeo tenha transitado em julgado esta decisatildeo Esta nova inelegibilidade prevista na aliacutenea ldquoerdquo do inciso I do artigo 2ordm da Lei Complementar nordm 1352010 esta em confronto com o disposto no inciso LVII do artigo 5ordm da Constitucional Federal que estabelece o princiacutepio da natildeo-culpabilidade tambeacutem conhecido como princiacutepio da presunccedilatildeo de inocecircncia que eacute uma verdadeira garantia constitucional do indiviacuteduo contra o Estado O presente trabalho tem o intuito de analisar a constitucionalidade ou inconstitucionalidade desta nova hipoacutetese de inelegibilidade frente ao princiacutepio da natildeo-culpabilidade para tanto percorreraacute os conceitos existentes de elegibilidade e inelegibilidades presentes no ordenamento juriacutedico baseando-se na doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncia paacutetria Palavras-chave Elegibilidade Inelegibilidade Princiacutepio da natildeo-culpabilidade

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SUMAacuteRIO 1 INTRODUCcedilAtildeO 07

2 DA ELEGIBILIDADE 09

21 CONCEITO DE ELEGIBILIDADE 09

22 CONDICcedilOtildeES DE ELEGIBILIDADE 09

23 NACIONALIDADE BRASILEIRA 10

24 PLENO EXERCIacuteCIO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS 11

25 ALISTAMENTO ELEITORAL 12

26 DOMICIacuteLIO ELEITORAL 12

27 FILIACcedilAtildeO PARTIDAacuteRIA 13

28 IDADE MIacuteNIMA 14

3 DA INELEGIBILIDADE 15

31 CONCEITO DE INELEGIBILIDADE 15

32 ESPEacuteCIES DE INELEGIBILIDADE 15

33 INELEGIBILIDADE CONSTITUCIONAL 16

34 INELEGIBILIDADE INFRACONSTITUCIONAL 18

4 DA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE 22 41 ORIGEM DA LEI COMPLEMENTAR Nordm 1352010 22

42 AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EM JULGADO 23

43 PRINCIacutePIO CONSTITUCIONAL DA NAtildeO-CULPABILIDADE 25

5 CONCLUSAtildeO 30

6 REFEREcircNCIAS 32

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1 INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho apresenta um tema atual e de grande relevacircncia e

repercussatildeo tornando imprescindiacutevel um amplo debate

Refere-se agrave Lei Complementar nordm 13510 denominada ldquoLei da Ficha Limpardquo

decorrente do Projeto de Lei nordm 5182009 de iniciativa popular que instituiu uma

nova espeacutecie de inelegibilidade visando impedir a candidatura de poliacuteticos

condenados a partir da segunda instacircncia ou por oacutergatildeo judicial colegiado mesmo

que natildeo tenha transitado em julgado esta decisatildeo

Sendo assim avaliaremos a relevacircncia do princiacutepio constitucional da natildeo-

culpabilidade sobre a oacutetica desta nova hipoacutetese de inelegibilidade ressaltando-se

que os estudos apresentados se baseiam em doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncia

paacutetria

O trabalho desenvolveu-se sobre o seguinte problema de pesquisa se estaacute

nova hipoacutetese de inelegibilidade eacute constitucional ou inconstitucional

O trabalho foi divido em 5 capiacutetulos sendo eles assim tratados

O primeiro capiacutetulo baseia-se na INTRODUCcedilAtildeO do respectivo trabalho

O segundo capiacutetulo trata da ELEGIBILIDADE seu conceito e requisitos

O terceiro capiacutetulo trata das INELEGIBILIDADES no ordenamento juriacutedico

brasileiro sendo elas constitucionais e infraconstitucionais

O quarto capiacutetulo trata especificamente desta NOVA HIPOacuteTESE DE

INELEGIBILIDADE trazendo a origem da Lei Complementar nordm 1352010 sua nova

hipoacutetese de inelegibilidade que dispensa o tracircnsito em julgado e o confronto com o

princiacutepio da natildeo-culpabilidade

O quinto e uacuteltimo capiacutetulo aborda especificamente a CONCLUSAtildeO

Como ponto de partida abordamos a mateacuteria geral ou seja as causas de

inelegibilidade e inelegibilidades existentes no ordenamento juriacutedico atual

caminhando para o caso particular que neste trabalho eacute apresentado pela nova

hipoacutetese de inelegibilidade criada pela Lei Complementar nordm 1352010

Jaacute como meacutetodo de procedimento foi utilizado a teacutecnica de procedimento

monograacutefico que estuda em profundidade determinado fato sob todos os seus

aspectos buscando quanto ao possiacutevel esgotar as duacutevidas surgidas sobre o tema

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O tipo de pesquisa ou fonte de informaccedilatildeo utilizada foi o bibliograacutefico por

utilizar como base de estudo os ensinamentos de doutrina legislaccedilatildeo e

jurisprudecircncia

Por fim a anaacutelise conjunta desses fatos nos mostraraacute de forma esclarecedora

a inconstitucionalidade da aliacutenea ldquoerdquo do inciso I do artigo 2ordm da Lei Complementar nordm

1352010 frente ao princiacutepio constitucional da natildeo-culpabilidade

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2 DA ELEGIBILIDADE 21 CONCEITO DE ELEGIBILIDADE

Pode-se conceituar elegibilidade como sendo a capacidade de ser eleito isto

eacute a qualidade de determinada pessoa ser elegiacutevel nas condiccedilotildees permitidas pela

legislaccedilatildeo Assim conceitua o Tribunal Superior Eleitoral sobre inelegibilidade A elegibilidade eacute na restrita precisatildeo legal o direito do cidadatildeo de ser escolhido mediante votaccedilatildeo direta ou indireta para representante do povo ou da comunidade segundo as condiccedilotildees estabelecidas pela Constituiccedilatildeo e pela legislaccedilatildeo eleitoral1

Joseacute Afonso da Silva na ilustre obra Curso de Direito Constitucional Positivo

doutrinariamente leciona A elegibilidade agrave capacidade de ser eleito observa que goza de elegibilidade todo cidadatildeo que preencha as condiccedilotildees exigidas para concorrer a um mandato eletivo consistindo a mesma no direito de postular a designaccedilatildeo pelos eleitores a um mandato poliacutetico no Legislativo ou no Executivo2

Alexandre de Moraes em sua excelente obra de Direto Constitucional define

da seguinte maneira a elegibilidade ldquoElegibilidade eacute a capacidade eleitoral passiva

consistente na possibilidade de o cidadatildeo pleitear determinados mandatos poliacuteticos

mediante eleiccedilatildeo popular desde que preenchidos certo requisitosrdquo 3

Djalma Pinto com a obra intitulada Direito Eleitoral assim define elegibilidade

ldquoElegibilidade eacute o credenciamento do cidadatildeo para postulaccedilatildeo do registro de sua

candidatura Representa o primeiro estaacutegio a ser percorrido por algueacutem para

exercitar o seu direito a ser votadordquo 4

Em siacutentese preenchidos os requisitos de elegibilidade eacute necessaacuterio que o

cidadatildeo natildeo se encontre em alguma hipoacutetese de inelegibilidade que constitui

impedimento agrave capacidade eleitoral passiva

22 CONDICcedilOtildeES DE ELEGIBILIDADE

Trata-se do conjunto de condiccedilotildees pessoais necessaacuterias agrave habilitaccedilatildeo do

cidadatildeo para pleitear determinados mandatos poliacuteticos mediante eleiccedilatildeo popular

As condiccedilotildees de elegibilidade estatildeo previstas na Constituiccedilatildeo Federal no

artigo 14 sect 3ordm e compreendem a nacionalidade brasileira pleno exerciacutecio dos

1 Disponiacutevel em lthttpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermoselegibilidadehtmgt Acesso em 22 jul 2011 2 SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 p 365 3 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 Ed Satildeo Paulo Atlas 2006 p 215 4 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 Ed Satildeo Paulo Atlas 2008 p 157

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direitos poliacuteticos alistamento eleitoral domiciacutelio eleitoral na circunscriccedilatildeo filiaccedilatildeo

partidaacuteria e idade miacutenima para cargos poliacuteticos

Com estes requisitos a Constituiccedilatildeo Federal vem a limitar quem pode e quem

natildeo pode concorrer para algum cargo poliacutetico

23 NACIONALIDADE BRASILEIRA

A nacionalidade brasileira eacute a primeira condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no

artigo 14 sect 3ordm inciso I da Constituiccedilatildeo Federal

Classifica-se a nacionalidade brasileira em brasileiro nato e brasileiro

naturalizado para tanto eacute necessaacuterio distinguirmos a diferenccedila entre um e outro

Brasileiros natos satildeo aqueles nascidos na Repuacuteblica Federativa do Brasil

ainda que de paiacutes estrangeiros desde que estes natildeo estejam a serviccedilo de seu paiacutes

os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou matildee brasileira desde que qualquer

deles esteja a serviccedilo da Repuacuteblica Federativa do Brasil os nascidos no estrangeiro

de pai brasileiro ou de matildee brasileira desde que sejam registrados em reparticcedilatildeo

brasileira competente ou venham a residir na Repuacuteblica Federativa do Brasil e

optem em qualquer tempo depois de atingida a maioridade pela nacionalidade

brasileira

Brasileiros naturalizados satildeo aqueles que na forma da lei adquiram a

nacionalidade brasileira exigidas aos originaacuterios de paiacuteses de liacutengua portuguesa

apenas residecircncia por um ano ininterrupto e idoneidade moral os estrangeiros de

qualquer nacionalidade residentes na Repuacuteblica Federativa do Brasil haacute mais de

quinze anos ininterruptos e sem condenaccedilatildeo penal desde que requeiram a

nacionalidade brasileira

A Lei tambeacutem distingue a nacionalidade em primaacuteria e secundaacuteria A

nacionalidade primaacuteria tambeacutem denominada de originaacuteria eacute conferida aos

brasileiros natos sendo adquirida no momento do nascimento pelo ius sanguinis

(direito de sangue) ou pelo ius soli (direito de solo) jaacute a nacionalidade secundaacuteria

tambeacutem denominada nacionalidade adquirida eacute conferida aos brasileiros

naturalizados aquela se adquire por vontade proacutepria apoacutes o nascimento e em regra

geral pela naturalizaccedilatildeo

Por fim o sect 2ordm do artigo 12 da Constituiccedilatildeo Federal descreve ldquoA lei natildeo

poderaacute estabelecer distinccedilatildeo entre brasileiros natos e naturalizados salvo nos casos

previstos nesta Constituiccedilatildeordquo com isto fica vedado qualquer tratamento desigual

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entre brasileiro nato e naturalizado salvo disposiccedilatildeo em contraacuterio na Constituiccedilatildeo

Federal

A exceccedilatildeo citada no sect 2ordm do artigo 12 da Constituiccedilatildeo Federal permite a

distinccedilatildeo entre brasileiros natos e naturalizados para ocupar determinados cargos

esta exceccedilatildeo estaacute disposta no artigo 12 sect 3ordm da Constituiccedilatildeo Federal que permite

que alguns cargos sejam privativos de brasileiro nato natildeo permitindo que os

naturalizados venham a ocupar tais posiccedilotildees

Esta exceccedilatildeo restringe-se para os cargos privativos de Presidente e Vice-

Presidente da Repuacuteblica Presidente da Cacircmara dos Deputados Presidente do

Senado Federal Ministro do Supremo Tribunal Federal carreira diplomaacutetica de

oficial das Forccedilas Armadas e de Ministro de Estado da Defesa

24 PLENO EXERCIacuteCIO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS

O pleno exerciacutecio dos direitos poliacuteticos eacute a segunda condiccedilatildeo de elegibilidade

prevista no artigo 14 sect 3ordm inciso II da Constituiccedilatildeo Federal o Tribunal Superior

Eleitoral assim o conceitua Direitos poliacuteticos eacute o conjunto dos direitos atribuiacutedos ao cidadatildeo que lhe permite atraveacutes do voto do exerciacutecio de cargos puacuteblicos ou da utilizaccedilatildeo de outros instrumentos constitucionais e legais ter efetiva participaccedilatildeo e influecircncia nas atividades de governo Estar no gozo dos direitos poliacuteticos significa pois estar habilitado a alistar-se eleitoralmente habilitar-se a candidaturas para cargos eletivos ou a nomeaccedilotildees para certos cargos puacuteblicos natildeo eletivos participar de sufraacutegios votar em eleiccedilotildees plebiscitos e referendos apresentar projetos de lei pela via da iniciativa popular e propor accedilatildeo popular 5

Djalma Pinto em sua obra intitulada ldquoDireito eleitoral ndash Improbidade

Administrativa e Responsabilidade Fiscalrdquo dispotildee sobre esta condiccedilatildeo de

elegibilidade O pleno exerciacutecio dos direitos poliacuteticos eacute condiccedilatildeo essencial para a configuraccedilatildeo de elegibilidade A plenitude dos direitos poliacuteticos se expressa pela aptidatildeo para votar e ser votado Sem encontrar-se apto a seu exerciacutecio natildeo eacute possiacutevel ao indiviacuteduo nem se alistar nem tampouco se filiar partido requisitos imprescindiacuteveis agrave configuraccedilatildeo da elegibilidade 6

Sendo assim o pleno exerciacutecio dos direitos poliacuteticos eacute requisito essencial

para o cidadatildeo estar na condiccedilatildeo de elegibilidade Aquele que perder ou tiver seus 5 Disponiacutevel em lthttpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermosdireitos_politicoshtmgt Acesso em 22 jul 2011 6 PINTO Djalma Direito eleitoral ndash improbidade administrativa e Responsabilidade Fiscal 3 Ed Satildeo Paulo Atlas 2006

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direitos poliacuteticos suspensos ou cancelados ficaraacute impedido de exercer a capacidade

eleitoral passiva

A Constituiccedilatildeo Federal prevecirc no artigo 15 causas de perda ou suspensatildeo dos

direitos poliacuteticos que podem ocorrer devido ao cancelamento da naturalizaccedilatildeo por

sentenccedila judicial transitada em julgado condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado

enquanto durarem seus efeitos recusa de cumprir obrigaccedilatildeo a todos imposta ou

prestaccedilatildeo alternativa nos termos do art 5ordm VIII improbidade administrativa nos

termos do art 37 sect 4ordm

25 ALISTAMENTO ELEITORAL

O alistamento eleitoral eacute a terceira condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo

14 sect 3ordm inciso III da Constituiccedilatildeo Federal o Tribunal Superior Eleitoral assim o

conceitua Eacute a primeira fase do processo eleitoral Eacute um procedimento administrativo cartoraacuterio e compreende dois atos inconfundiacuteveis a qualificaccedilatildeo e a inscriccedilatildeo do eleitor A qualificaccedilatildeo eacute a prova de que o cidadatildeo satisfaz as exigecircncias legais para exercer o direito de voto enquanto que a inscriccedilatildeo faz com que o mesmo passe a integrar o Cadastro Nacional de Eleitores da Justiccedila Eleitoral O ato de alistamento eacute feito por meio de processamento eletrocircnico e se perfaz pelo preenchimento do requerimento de alistamento eleitoral (RAE) na forma da resoluccedilatildeo do TSE e da legislaccedilatildeo eleitoral Eacute a forma pela qual o cidadatildeo adquire seus direitos poliacuteticos tornando-se titular de direito poliacutetico ativo (capacidade para votar) e possibilitando sua elegibilidade e filiaccedilatildeo partidaacuteria apoacutes a expediccedilatildeo do respectivo tiacutetulo eleitoral 7

Portanto para o cidadatildeo ser eleitor eacute preciso que ele se aliste e para ele ser

elegiacutevel eacute preciso que ele jaacute seja eleitor

26 O DOMICIacuteLIO ELEITORAL NA CIRCUNSCRICcedilAtildeO

O domiciacutelio eleitoral eacute a quarta condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14

sect 3ordm inciso IV da Constituiccedilatildeo Federal

Domiciacutelio eleitoral eacute o lugar da residecircncia ou moradia do requerente agrave

inscriccedilatildeo eleitoral assim dispotildee o artigo 42 paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo Eleitoral

que Para efeito de inscriccedilatildeo eacute domiciacutelio eleitoral o lugar de residecircncia ou moradia

do requerente e verificado ter o alistando mais de uma considerar-se-aacute domiciacutelio

qualquer delas

7Disponiacutevel em lthttpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermosalistamento_eleitoralhtmgt Acesso em 22 jul 2011

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Djalma Pinto acerca do domiciacutelio eleitoral assevera ldquoO domicilio eleitoral por

sua vez eacute o lugar da residecircncia ou moradia onde o cidadatildeo formaliza seu

alistamentordquo 8

A legislaccedilatildeo requer que o candidato a um cargo eletivo natildeo incorra em

incompatibilidades ou inelegibilidades e possua domicilio eleitoral na circunscriccedilatildeo a

qual deseja concorrer Sobre a circunscriccedilatildeo eleitoral o Tribunal Superior Eleitoral

assim o define Espaccedilo geograacutefico onde se trava determinada eleiccedilatildeo Assim o paiacutes na eleiccedilatildeo do presidente e vice-presidente da Repuacuteblica o estado nas eleiccedilotildees para governador e vice-governador deputados federais e estaduais e senadores o municiacutepio nas eleiccedilotildees de prefeito e vereadores e o distrito onde e quando se realiza a eleiccedilatildeo pelo sistema distrital 9

Para concorrer as eleiccedilotildees o candidato deveraacute possuir domiciacutelio eleitoral na

respectiva circunscriccedilatildeo pelo prazo de pelo menos um ano antes do pleito e estar

com a filiaccedilatildeo deferida pelo partido no mesmo prazo eacute o que dispotildee o artigo 9deg da

Lei 950497

27 FILIACcedilAtildeO PARTIDAacuteRIA

A filiaccedilatildeo partidaacuteria eacute a quinta condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14

sect 3ordm inciso V da Constituiccedilatildeo Federal

Eacute o ato formal e solene o pelo qual um eleitor aceita e adota o programa de

um partido poliacutetico viacutenculo que se estabelece entre o poliacutetico e o partido Eacute condiccedilatildeo

de elegibilidade conforme disposto no artigo 14 sect3ordm inciso V da Constituiccedilatildeo

Federal Nos termos do artigo 16 da Lei dos Partidos Poliacuteticos Lei nordm 909695 soacute

pode filiar-se a partido o eleitor que estiver no pleno gozo de seus direitos poliacuteticos

Todavia a exceccedilotildees sobre a filiaccedilatildeo partidaacuteria como no caso de candidatura

de magistrados membros dos Tribunais de Contas Ministeacuterio Puacuteblico e militares

como exemplo vejamos a exceccedilatildeo dos militares estes querendo concorrer a cargo

puacuteblico eletivo possuindo menos de dez anos de serviccedilo deveraacute solicitar

afastamento definitivo da atividade atraveacutes de demissatildeo ou licenciamento ex-officio

caso venha a possuir mais de dez anos de serviccedilo deveraacute ser agregado pela

8 PINTO Djalma Direito eleitoral ndash improbidade administrativa e Responsabilidade Fiscal 3 Ed Satildeo Paulo Atlas 2006 9 Disponiacutevel em httpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermoscircunscricao_eleitoralhtmgt Acesso em 22 jul 2011

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autoridade superior e se eleito passaraacute automaticamente no ato da diplomaccedilatildeo

para a inatividade

28 IDADE MIacuteNIMA

Idade miacutenima eacute a uacuteltima condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14 sect 3ordm

inciso VI da Constituiccedilatildeo Federal

Para o cargo de Presidente e Vice-Presidente da Repuacuteblica e para Senadores

e suplentes a idade miacutenima de 35 anos para o cargo de Governado e Vice-

Governador de Estado ou do Distrito Federal idade miacutenima de 30 anos para os

cargos de Deputado Federal Estadual Distrital Prefeito e Vice-Prefeito e Juiz de

paz a idade miacutenima de 21 anos e por fim para o cargo de vereador a idade

miacutenima de 18 anos

Dispotildee a Lei 95041997 artigo 11 sect 2ordm que a verificaccedilatildeo da idade seraacute feita

na data da posse no respectivo cargo pressupotildee que um menor de 17 anos de

idade possa se candidatar ao cargo de vereador bastando que na data da posse

conte com 18 anos completos

Alguns doutrinadores entretanto discordam dessa interpretaccedilatildeo entendendo

que natildeo poderia o legislador infra-constitucional dizer a mais do que a proacutepria

Constituiccedilatildeo estabeleceu assim leciona o Gilmar Mendes em sua obra Curso de

Direito Constitucional Natildeo haacute que se falar em momento da posse como aceitaacutevel para se perfazer a condiccedilatildeo de elegibilidade no tocante a idade miacutenima pois a Constituiccedilatildeo jaacute determinou que o momento da afericcedilatildeo para elegibilidade deve ser o do registro da candidatura 10

Tem prevalecido a verificaccedilatildeo da idade miacutenima na data da posse

10 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 Ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 p803

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3 DA INELEGIBILIDADE 31 CONCEITO DE INELEGIBILIDADE

Joseacute Afonso da Silva em sua ilustre obra Curso de Direito Constitucional

Positivo doutrinariamente leciona que ldquoa inelegibilidade obsta a elegibilidade

revelando um impedimento ao direito de ser votado que eacute a capacidade eleitoral

passivardquo 11

A inelegibilidade resulta no impedimento parcial ou seja temporaacuterio da

capacidade eleitoral passiva restringindo o cidadatildeo de ser votado nas hipoacuteteses

previstas na Lei Complementar nordm 641990 Lei Complementar nordm 1352010 e na

Constituiccedilatildeo Federal

Sua finalidade tem por objetivo a probidade administrativa a normalidade

para o exerciacutecio do mandato considerada a vida pregressa do candidato e a

normalidade e a legitimidade das eleiccedilotildees contra a influecircncia do poder econocircmico ou

o abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo cargo ou emprego na administraccedilatildeo direta ou

indireta

A inelegibilidade pode ser absoluta proibindo a candidatura agraves eleiccedilotildees em

geral ou relativa impossibilitando a postulaccedilatildeo a determinado mandato eletivo

Sendo assim o cidadatildeo que almeja se candidatar a cargo eletivo deve

atender as condiccedilotildees de elegibilidade e natildeo incorrer em nenhuma causa de

inelegibilidade

32 ESPEacuteCIES DE INELEGIBILIDADE

As espeacutecies de inelegibilidade podem ser constitucionais e

infraconstitucionais as constitucionais dividem-se em absoluta e relativa

A inelegibilidade constitucional absoluta consiste no impedimento eleitoral

que restringe o cidadatildeo de concorrer a qualquer cargo eletivo refere-se a

determinada caracteriacutestica do indiviacuteduo ou seja eacute de caraacuteter pessoal sendo

11 SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 Ed Satildeo Paulo Malheiros 012004 p 387

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taxativamente prevista pela Constituiccedilatildeo Federal e a inelegibilidade constitucional

relativa compreende o impedimento eleitoral que restringe o cidadatildeo de concorrer a

determinados cargos em determinada eleiccedilatildeo refere-se a situaccedilotildees especiais e

momentacircneas tais como motivos funcionais de casamento de parentescos

A inelegibilidade infraconstitucional eacute disciplinada na Lei Complementar ndeg

641990 alterada pela Lei Complementar ndeg 1352010

Eacute relevante a distinccedilatildeo entre as inelegibilidades constitucionais e

infraconstitucionais como bem ressaltado por Joseacute Jairo Gomes A distinccedilatildeo que se faz entre inelegibilidades constitucionais e legais natildeo eacute cerebrina apresentando inegaacutevel relevacircncia praacutetica Basta dizer que natildeo haacute preclusatildeo quanto agraves primeiras as quais podem ser arguumlidas na fase do registro de candidatura ou posteriormente antes ou depois das eleiccedilotildees A arguumliccedilatildeo posterior pode ser feita no RCED (CE art 262 I) Jaacute as inelegibilidades legais sujeitam-se agrave preclusatildeo se natildeo forem levantadas na fase de registro de candidatura Ultrapassado esse momento natildeo mais poderatildeo ser discutidas salvo se supervenientes 12

33 INELEGIBILIDADE CONSTITUCIONAL

A inelegibilidade constitucional dividi-se em absoluta e relativa

A inelegibilidade constitucional absoluta estabelecida no sect 4deg do artigo 14 da

Constituiccedilatildeo Federal prevecirc que satildeo inelegiacuteveis os inalistaacuteveis e os analfabetos

A inelegibilidade decorrente da inalistabilidade abrange todos que natildeo se

encontram na situaccedilatildeo de alistabilidade tambeacutem aqueles que se encontram em

estado definitivo ou temporariamente privados de seus direitos poliacuteticos por fim

atinge aqueles que natildeo sabem exprimir-se na liacutengua nacional e os estrangeiros

A inelegibilidade decorrente do analfabetismo natildeo permite que o analfabeto

seja elegiacutevel mas permite que ele seja alistaacutevel exercendo assim a sua capacidade

de votar mas nunca a de ser votado

Estas hipoacuteteses restringem ao cidadatildeo se candidatarem a qualquer cargo

eletivo em qualquer eleiccedilatildeo enquanto perdurar esta situaccedilatildeo restritiva

As hipoacuteteses de inelegibilidades constitucionais relativas referem-se a

situaccedilotildees especiais separando-as por motivos funcionais motivos parentais motivos

militares e encontram-se dispostas no artigo 14 sectsect 5deg ao 9deg da Constituiccedilatildeo Federal

12 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131

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A inelegibilidade por motivo funcional eacute decorrente de o cidadatildeo estar em

exerciacutecio de alguma funccedilatildeo puacuteblica Satildeo previstas duas situaccedilotildees

A primeira declara ser inelegiacutevel para o mesmo cargo em terceiro periacuteodo

subsequumlente o Presidente da Repuacuteblica os Governadores de Estado e do DF os

Prefeitos e quem os houver sucedido ou substituiacutedo nos seis meses antes das

eleiccedilotildees Eacute o que dispotildee o sect 5deg do artigo 14 na redaccedilatildeo da Emenda Constitucional

161997

Portanto soacute eacute permitida uma reconduccedilatildeo ou seja eacute permitida a reeleiccedilatildeo de

Chefes do Executivo ou seus substitutos para apenas um periacuteodo subsequumlente

A segunda situaccedilatildeo considera que satildeo inelegiacuteveis para concorrer a outros

cargos o Presidente da Repuacuteblica os Governadores de Estado e do DF e os

Prefeitos salvo se tiverem se desincompatibilizado com a renuacutencia do cargo ateacute

seis meses antes do pleito Eacute o que prevecirc o sect 6deg do artigo 14 da Constituiccedilatildeo

Federal

Os servidores puacuteblicos que ocuparem algum cargo de livre nomeaccedilatildeo

demissiacuteveis ad nutum seratildeo exonerados para que possam concorrer a cargo

eletivo ou seja natildeo poderatildeo manter qualquer viacutenculo com a entidade na qual

desempenhava suas funccedilotildees

Os servidores puacuteblicos concursados ao contraacuterio dos servidores ocupantes

de cargos de livre nomeaccedilatildeo natildeo seratildeo exonerados ou demitidos apenas se

afastaratildeo de suas funccedilotildees para se candidatar a cargo puacuteblico

A inelegibilidade por motivo de parentesco tambeacutem denominada de

inelegibilidade reflexa estaacute relacionada a condiccedilotildees inerentes ao parentesco

sanguumliacuteneo soacutecio-afetivo ou condiccedilatildeo matrimonial

Assim conforme previsto no sect 7ordm do artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal estas

mesmas pessoas impedidas para determinados cargos podem concorrer para outros

cargos que se processem em territoacuterio de outra circunscriccedilatildeo

A inelegibilidade reflexa aproxima-se da inelegibilidade absoluta a diferenccedila

ocorre que na reflexa pode cessar por vontade das pessoas envolvidas um exemplo

claro eacute a renuacutencia seis meses antes do pleito do Presidente da Repuacuteblica

Assim temos que a inelegibilidade por motivo de parentesco ou reflexa visa a

impedir a formaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do poder poliacutetico em matildeos de uma determinada

famiacutelia

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A inelegibilidade por motivos militares visa que o militar enquanto em serviccedilo

ativo natildeo pode estar filiado a partidos poliacuteticos entretanto a Constituiccedilatildeo Federal

em seu artigo 14 relata que atendidas certas condiccedilotildees o militar alistaacutevel se torna

elegiacutevel sendo estas as condiccedilotildees se contar com menos de dez anos de serviccedilo

deveraacute afastar-se da atividade e se contar com mais de dez ano de serviccedilo seraacute

agregado pela autoridade superior e se eleito passaraacute automaticamente no ato da

diplomaccedilatildeo para a inatividade

34 INELEGIBILIDADE INFRACONSTITUCIONAL

Por se tratar de inuacutemeras hipoacuteteses de inelegibilidades infraconstitucionais

natildeo seraacute possiacutevel tratar todos os casos previstos em lei para tanto adentraremos a

anaacutelise de algumas hipoacuteteses dispostas na Lei Complementar nordm 641990

As inelegibilidades infraconstitucionais satildeo instituiacutedas por Lei Complementar

que estabeleceraacute outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim

de proteger a probidade administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato

considerado vida pregressa do candidato e a normalidade e legitimidade das

eleiccedilotildees contra a influecircncia do poder econocircmico ou o abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo

cargo ou emprego na administraccedilatildeo direta ou indireta

As causas de inelegibilidade infraconstitucionais estatildeo previstas no artigo 1ordm

da Lei Complementar nordm 641990 alterado dentre outras atraveacutes da recente Lei

Complementar ndeg 1352010 conhecida como a Lei da Ficha Limpa

Dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquobrdquo da Lei Complementar nordm 641990 que os

membros do Congresso Nacional das Assembleacuteias Legislativas da Cacircmara

Legislativa e das Cacircmaras Municipais que hajam perdido os respectivos mandatos

por infringecircncia do disposto nos incisos I e II do art 55 da Constituiccedilatildeo Federal dos

dispositivos equivalentes sobre perda de mandato das Constituiccedilotildees Estaduais e

Leis Orgacircnicas dos Municiacutepios e do Distrito Federal para as eleiccedilotildees que se

realizarem durante o periacuteodo remanescente do mandato para o qual foram eleitos e

nos oito anos subsequumlentes ao teacutermino da legislatura

Sendo assim satildeo inelegiacuteveis os parlamentares cujo procedimento for

declarado incompatiacutevel com o decoro parlamentar e desde a expediccedilatildeo do diploma

firmar ou manter contrato com pessoa juriacutedica de direito puacuteblico autarquia empresa

puacuteblica sociedade de economia mista ou empresa concessionaacuteria de serviccedilo

puacuteblico salvo quando o contrato obedecer a claacuteusulas uniformes aceitar ou exercer

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cargo funccedilatildeo ou emprego remunerado inclusive os de que sejam demissiacuteveis ad

nutum nas entidades constantes da aliacutenea anterior e desde a posse ser

proprietaacuterios controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente

de contrato com pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou nela exercer funccedilatildeo

remunerada ocupar cargo ou funccedilatildeo de que sejam demissiacuteveis ad nutum nas

entidades referidas no inciso I a patrocinar causa em que seja interessada

qualquer das entidades a que se refere o inciso I a ser titulares de mais de um

cargo ou mandato puacuteblico eletivo

Portando o parlamentar que infringir o disposto no artigo 54 teraacute seu mandato

cassado Jaacute no inciso II do artigo 55 o Deputado ou Senador perderaacute o mandato

quando o procedimento for declarado incompatiacutevel com o decoro parlamentar A

Constituiccedilatildeo Federal prevecirc como falta de decoro o disciplinado no artigo 55 sect 1ordm

Por fim eacute incompatiacutevel com o decoro parlamentar os casos definidos no regimento

interno

Assim dispotildee o artigo 1ordm Inciso I aliacutenea ldquocrdquo da Lei Complementar nordm 641990

Governador e o Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal e o Prefeito e o

Vice-Prefeito que perderem seus cargos eletivos por infringecircncia a dispositivo da

Constituiccedilatildeo Estadual da Lei Orgacircnica do Distrito Federal ou da Lei Orgacircnica do

Municiacutepio para as eleiccedilotildees que se realizarem durante o periacuteodo remanescente e

nos 8 (oito) anos subsequentes ao teacutermino do mandato para o qual tenham sido

eleitos

Tal dispositivo busca evitar que os chefes do poder executivos retornem a

vida puacuteblica no mandato seguinte e nas eleiccedilotildees para as demais esferas Este

dispositivo preserva a moralidade puacuteblica O prazo de 8 anos de inabilitaccedilatildeo seraacute

contado a partir da data que tiver sido proferida a decisatildeo por crime de

responsabilidade

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquodrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tenham contra sua pessoa representaccedilatildeo julgada procedente pela Justiccedila

Eleitoral em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo colegiado em

processo de apuraccedilatildeo de abuso do poder econocircmico ou poliacutetico para a eleiccedilatildeo na

qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como para as que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes

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Primeiramente eacute necessaacuterio conceituar o que eacute abuso de poder econocircmico de

abuso de poder poliacutetico

Abuso de poder econocircmico consiste na utilizaccedilatildeo de bens ou serviccedilos de

empresas particulares ou recursos proacuteprios do candidato gerando assim uma

desproporccedilatildeo entre os candidatos exemplo Se um candidato eacute proprietaacuterio de uma

grande empresa e faz uso dela para custear sua campanha sem realizar doaccedilatildeo de

campanha prevista na Lei 950497

Abuso do poder poliacutetico consiste no emprego de serviccedilos ou bens

pertencentes a administraccedilatildeo puacuteblica com o objetivo de propiciar a eleiccedilatildeo de

determinado candidato

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquofrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que forem declarados indignos do oficialato ou com ele incompatiacuteveis pelo prazo

de 8 (oito) anos

Oficialato eacute o cargo ou dignidade de oficial seja das forccedilas armadas poliacutecia

militar ou corpo de bombeiros A competecircncia para apreciar e declarar a indignidade

do oficialato seraacute do Superior Tribunal Militar

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquogrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tiverem suas contas relativas ao exerciacutecio de cargos ou funccedilotildees puacuteblicas

rejeitadas por irregularidade insanaacutevel que configure ato doloso de improbidade

administrativa e por decisatildeo irrecorriacutevel do oacutergatildeo competente salvo se esta houver

sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciaacuterio para as eleiccedilotildees que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes contados a partir da data da decisatildeo aplicando-se o

disposto no inciso II do art 71 da Constituiccedilatildeo Federal a todos os ordenadores de

despesa sem exclusatildeo de mandataacuterios que houverem agido nessa condiccedilatildeo

Esta decisatildeo eacute administrativa e traraacute a consequumlecircncia de inelegibilidade para

isso a irregularidade tem de ser insanaacutevel

A competecircncia para julgar estas irregularidades compete ao Poder

Legislativo seja no acircmbito federal estadual ou municipal

A analise desta insanabilidade poderaacute caber a Justiccedila Eleitoral como por

exemplo no pedido de registro de candidatura por algueacutem que teve suas contas

rejeitadas

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquohrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os detentores de cargo na administraccedilatildeo puacuteblica direta indireta ou fundacional que

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beneficiarem a si ou a terceiros pelo abuso do poder econocircmico ou poliacutetico que

forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial

colegiado para a eleiccedilatildeo na qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como

para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes

Aqui natildeo se trata de cargo eletivo mas sim de cargos por concurso puacuteblico ou

por provimento em comissatildeo

A finalidade eacute por fim a reeleiccedilatildeo para aqueles que estatildeo em cargos de chefia

do poder executivo que tenham cometido abuso do poder econocircmico ou poliacutetico

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquoirdquo da Lei Complementar nordm 641990)

os que em estabelecimentos de creacutedito financiamento ou seguro que tenham sido

ou estejam sendo objeto de processo de liquidaccedilatildeo judicial ou extrajudicial hajam

exercido nos 12 (doze) meses anteriores agrave respectiva decretaccedilatildeo cargo ou funccedilatildeo

de direccedilatildeo administraccedilatildeo ou representaccedilatildeo enquanto natildeo forem exonerados de

qualquer responsabilidade

O que a lei busca nesta situaccedilatildeo eacute deixar aquele que administrou os referidos

estabelecimentos fora de qualquer participaccedilatildeo poliacutetica enquanto natildeo forem

apurados todos os fatos que levaram a insolvecircncia

Portanto o maior objetivo desta causa de inelegibilidade eacute assegurar que o

ex-administrado de estabelecimento de creacutedito financiamento ou seguro natildeo venha

a eleger-se a cargo eletivo sem antes ter sido apurada sua participaccedilatildeo para

insolvecircncia

Outras causas de inelegibilidades incluiacutedas pela Lei Complementar nordm

1352010 estatildeo previstas nos incisos j a q da referida Lei

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4 DA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE 41 ORIGEM DA LEI COMPLEMENTAR Nordm 1352010

Com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o Brasil passa a ser um

Estado Democraacutetico de Direito inaugurando uma democracia participativa

Esta democracia participativa permite ao cidadatildeo desde que preenchidos

determinados requisitos dar iniacutecio a um projeto de Lei atraveacutes da chamada Iniciativa

Popular A origem da Lei Complementar nordm 1352010 decorreu do Projeto de Lei nordm

5182009 sob a coordenaccedilatildeo do Movimento de Combate a Corrupccedilatildeo Eleitoral ndash

MCCE que teve iniacutecio em abril de 2008 com o objetivo de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos a finalidade eacute que os criteacuterios de inelegibilidades sejam

mais rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos

Esta Lei Complementar dita que pessoas condenadas por um colegiado

independente do tracircnsito em julgado satildeo inelegiacuteveis portanto podem ter seus

registros de candidaturas negados alem de incluir parlamentares que renunciaram

ao cargo para assim evitar uma possiacutevel abertura de processo por quebra de decoro

ou por desrespeito agrave Constituiccedilatildeo com a finalidade uacutenica de evitar possiacuteveis

puniccedilotildees

A Lei Complementar 1352010 traacutes inuacutemeros confrontos com a Constituiccedilatildeo

Federal sendo dois os mais relevantes primeiro a natildeo observacircncia do princiacutepio da

anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal e segundo

o desrespeito ao princiacutepio da natildeo-culpabilidade tambeacutem estabelecido na

Constituiccedilatildeo federal no artigo 5ordm inciso LVII

Sobre o primeiro ponto que trata da aplicabilidade da Lei Complementar nordm

1352010 para as eleiccedilotildees de 2010 restou soberana a decisatildeo do Supremo

Tribunal Federal ao resolver o conflito afirmando que o artigo 16 da Constituiccedilatildeo

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Federal ao submeter a alteraccedilatildeo legal do processo eleitoral agrave regra da anualidade

constitui uma garantia fundamental para o pleno exerciacutecio de direitos poliacuteticos

Esta pacificaccedilatildeo se deu no julgamento da Accedilatildeo Declaratoacuteria de

Inconstitucionalidade nordm 3685 13 onde atuou como Relatora a Ministra Ellen Gracie

que identificou como uma garantia fundamental do cidadatildeo-eleitor do cidadatildeo-

candidato e dos partidos poliacuteticos o artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal

A Ministra Ellen Gracie utilizou-se de uma analogia com o julgamento da

Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade 939 que teve como relator Ministro Sydnei

Sanches com a garantia da anterioridade tributaacuteria fixada no artigo 150 III b no

sentido de que se o princiacutepio da anterioridade tributaacuteria constitui uma garantia do

cidadatildeo-contribuinte o princiacutepio da anterioridade eleitoral tambeacutem eacute uma garantia do

cidadatildeo do eleitor do candidato e dos partidos poliacuteticos

Desta forma restou consolidado a garantia prevista no artigo 16 da

Constituiccedilatildeo Federal como forma de um devido processo legal eleitoral

O devido processo visa que se atinja uma decisatildeo conforme a Justiccedila

prestigiando a eacutetica da legalidade ressaltando-se que ele possui um duplo

significado de processo necessaacuterio e processo adequado para tanto COMOGLIO

afirma Que as garantias decorrentes do devido processo legal querem dizer natildeo apenas direito a um processo mas a um justo processo compreendendo a correccedilatildeo e efetividade dos instrumentos disponiacuteveis em juiacutezo e a efetividade e adequaccedilatildeo da proacutepria tutela finalrdquo 14

A Constituiccedilatildeo brasileira de 1988 traz a garantia exarada no seu artigo 5ordm

Art 5ordm - () LIV ndash ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal LV ndash aos litigantes em processo judicial e administrativo e aos acusados em geral seratildeo assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa com os meios de recurso a ela inerentes

Sobre o segundo ponto controverso mateacuteria deste trabalho tem o conflito tem

o conflito entre a Lei Complementar nordm 13510 contra uma garantia constitucional

denominado princiacutepio da natildeo-culpabilidade que eacute inseparaacutevel do conceito de

13 Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011 14 Luigi Paolo COMOGLIO Giuridizione e processo nel quadro delle garanzie constituzionali Rivista Trimestrale di Diritto e Procedura Civile 4 p 1070

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democracia A Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5ordm inciso LVII estabelece uma das

maiores garantias dos indiviacuteduos contra o autoritarismo do Estado afirmando que

ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

condenatoacuteriardquo fixando explicitamente o princiacutepio da natildeo-culpabilidade entre os

direitos fundamentais

42 AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EM JULGADO

A Lei Complementar nordm 1352010 em sua aliacutenea ldquoerdquo do inciso I do artigo 2ordm

possui a seguinte redaccedilatildeo e) os que forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial colegiado desde a condenaccedilatildeo ateacute o transcurso do prazo de 8 (oito) anos apoacutes o cumprimento da pena pelos crimes (Redaccedilatildeo dada pela Lei Complementar nordm 135 de 2010)

Esta aliacutenea visa impedir a candidatura de poliacuteticos condenados a partir da

segunda instacircncia e mesmo que natildeo tenha transitado em julgado Ela defende que

haja uma condenaccedilatildeo criminal no entanto deixa de exigir a configuraccedilatildeo do tracircnsito

em julgado do ato decisoacuterio para que ocorra a inelegibilidade A antiga lei previa que

o candidato soacute seria inelegiacutevel se tivesse condenaccedilatildeo definitiva

As alteraccedilotildees da Lei Complementar nordm 1352010 objetiva atender a um senso

comum do eleitorado afirmando que uma pessoa condenada natildeo deve poder ser

votada isto eacute natildeo deve ter mandato Em seus dizeres trata que a inelegibilidade

natildeo pressupotildee culpa formada natildeo deve haver discussatildeo sobre presunccedilatildeo da

inocecircncia Pode haver inelegibilidade por parentesco por ocupar cargo puacuteblico falta

de domiciacutelio eleitoral ou filiaccedilatildeo partidaacuteria causas que natildeo tecircm nada a ver com

condenaccedilatildeo criminal

A contradiccedilatildeo do argumento da Lei Complementar eacute se a Constituiccedilatildeo em

face do princiacutepio da natildeo-culpabilidade admite a cominaccedilatildeo de inelegibilidade para

quem ainda tem recursos pendentes de julgamento

Caso esta hipoacutetese seja admitida temos que um indiviacuteduo que tenha sido

condenado criminalmente em segunda instacircncia e interponha recurso especial ou

extraordinaacuterio para anular o processo caso natildeo consiga uma medida liminar

suspendendo os efeitos ficaria impedido de concorrer na eleiccedilatildeo

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Imagine-se que ao final da accedilatildeo o cidadatildeo que ficou impedido de concorrer

nas eleiccedilotildees obtivesse vitoacuteria em seu recurso obtendo assim a nulidade da accedilatildeo

bem como da decisatildeo que o condenou com ficaria a situaccedilatildeo deste cidadatildeo

O que se quer com a Lei Complementar nordm 1352010 eacute instituir um moralismo

eleitoral que se sobrepotildee a Constituiccedilatildeo Federal e seu principio constitucional da

natildeo-culpabilidade que eacute a garantia individual contra o Estado

Outro argumento utilizado pelos defensores da constitucionalidade da Lei

Complementar nordm 1352010 satildeo as prisotildees cautelares e que no final o sujeito

acaba sebdo absolvido Ora cabe lembrar-lhes que a prisatildeo cautelar natildeo eacute

antecipaccedilatildeo de pena cumpre ela uma funccedilatildeo processual clara e limitada agrave garantia

da ordem puacuteblica da ordem econocircmica por conveniecircncia da instruccedilatildeo criminal ou

para assegurar a aplicaccedilatildeo da lei penal quando houver prova da existecircncia do crime

e indiacutecio suficiente de autoria

Portanto temos que o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees enquanto natildeo

sobrevier decisatildeo judicial transitada em julgado

O proacuteprio Supremo na Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental

144 jaacute decidiu natildeo barrar candidaturas sem condenaccedilatildeo transitada em julgado

A Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental 144 15 foi votada

em agosto de 2008 antes das eleiccedilotildees municipais Na ocasiatildeo o Supremo Tribunal

Federal decidiu que natildeo poderiam ser barradas candidaturas de poliacuteticos

condenados na primeira instacircncia por conta da presunccedilatildeo de inocecircncia

Em 6 de agosto de 2008 haacute menos de trecircs anos o Supremo Tribunal Federal

julgou improcedente a Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental nordm

144 ajuizada pela Associaccedilatildeo dos Magistrados Brasileiros em voto do ministro

Celso de Mello vencidos os ministros Carlos Ayres e Joaquim Barbosa exatamente

porque O postulado consagrador da garantia de inocecircncia irradia os seus efeitos para aleacutem dos limites dos processos penais de natureza condenatoacuteria impedindo desse modo que situaccedilotildees processuais anda natildeo definidas por sentenccedilas transitadas em julgado provoquem em decorrecircncia das exigecircncias de probidade administrativa e demoralidade a que se refere o sect 9ordm do artigo 14 da Coinstituiccedilatildeo Federal a inelegibilidade dos cidadatildeos ou obstem candidaturas para mandatos eletivos

15Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011

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Portanto ficou definido que Lei Complementar sendo editada para casos de

inelegibilidades esta deveraacute respeitar o princiacutepio da natildeo-culpabilidade Ocorre que

foi editada a Lei Complementar nordm 1352010 que atendeu aos reclamos populares

mas preferiu a um soacute tempo violar a Constituiccedilatildeo Federal e desrespeitar a recente

decisatildeo do Supremo Tribunal Federal mesmo que na eacutepoacuteca desta decisatildeo natildeo

havia lei formal para tal situaccedilatildeo

43 PRINCIacutePIO CONSTITUCIONAL DA NAtildeO-CULPABILIDADE

O princiacutepio da natildeo-culpabilidade eacute direito fundamental previsto na

Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5deg inciso LVII ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute

o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

Isto eacute enquanto natildeo sobrevier uma decisatildeo judicial condenatoacuteria transitada

em julgado o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees em seu patrimocircnio ou em sua

liberdade Caso sobrevenha duacutevida quanto a culpabilidade esta resolveraacute sempre

em favor do reacuteu ou seja aplicando-se o princiacutepio in duacutebio pro reo

Assim disciplina Nelson Nery Juacutenior sobre o princiacutepio da natildeo-culpabilidade ldquoO inteacuterprete deve buscar a aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre tendo como pressuposto o exame da Constituiccedilatildeo Federal Depois sim deve consultar a legislaccedilatildeo infraconstitucional a respeito do temardquo 16

Sendo assim a Constituiccedilatildeo Federal no capiacutetulo sobre os Direitos e Deveres

Individuais e Coletivos em seu artigo 5ordm inciso LVII afirma que ldquoningueacutem seraacute

considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute considerar o

indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila A doutrina e a

jurisprudecircncia aclamam este princiacutepio como vaacuterios nomes como princiacutepio da

presunccedilatildeo de inocecircncia princiacutepio da natildeo-culpabilidade ou simplesmente princiacutepio da

inocecircncia

Joseacute Afonso da Silva em seu livro Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo

disciplina assim esta garantia A norma constitucional do inciso LVII agora sob nosso exame garante a presunccedilatildeo de inocecircncia por meio de um enunciado negativo universal lsquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria Usa-se de uma forma

16 NERY JUacuteNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20

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negativa para outorgar uma garantia positiva Na verdade o texto brasileiro natildeo significa outra coisa senatildeo que fica assegurada a todos a presunccedilatildeo de inocecircncia ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria O tracircnsito em julgado se daacute quando a decisatildeo natildeo comporta mais recurso ordinaacuterio especial ou extraordinaacuterio 17

Nesse sentido o indiviacuteduo acusado natildeo pode ser presumidamente culpado

mas sim inocente Tal princiacutepio visa a tutelar a liberdade pessoal de modo que o

Estado nos mais diferentes segmentos deve abster-se de considerar culpado

aquele que ainda natildeo foi submetido agrave definitividade da atuaccedilatildeo jurisdicional Em se tratando de suspensatildeo dos direitos poliacuteticos a Constituiccedilatildeo Federal

garante que a suspensatildeo somente se daraacute por ldquocondenaccedilatildeo criminal transitada em

julgado enquanto durarem seus efeitosrdquo

Julgamento neste sentido REPRESENTACcedilAtildeO SUSPENSAtildeO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS EM VIRTUDE DE SENTENCcedilA PENAL CONDENATOacuteRIA TRANSITADA EM JULGADO AUTO-APLICABILIDADE DOS ARTIGOS 14 sect 3ordm II E 15 III DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL PROCEDEcircNCIA A suspensatildeo dos direitos poliacuteticos do condenado independe de lei regulamentadora bem como de processo especial de cogniccedilatildeo e de anaacutelise de meacuterito para a execuccedilatildeo da medida no juiacutezo eleitoral posto natildeo se tratar de sanccedilatildeo penal mas de efeito natildeo-penal de condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado e decorrente de mandamento constitucional Comprovado o tracircnsito em julgado da sentenccedila penal condenatoacuteria decreta-se automaticamente a suspensatildeo dos direitos poliacuteticos ativo e passivo do representado ou seja o direito de votar e ser votado com a consequumlente exclusatildeo de seu nome da folha de votaccedilatildeo e declaraccedilatildeo de sua inelegibilidade 18

Logo infere-se que a condenaccedilatildeo criminal sem o tracircnsito em julgado natildeo

desqualifica o condenado a votar e a eventualmente concorrer a qualquer cargo

eletivo

O Colendo Tribunal Superior Eleitoral enfrentou esta questatildeo ao apreciar

pedido de registro de candidatura valendo registrar os seguintes julgados RECURSO ESPECIAL RECEBIDO COMO ORDINAacuteRIO REGISTRO DE CANDIDATURA DEFERIMENTO INELEGIBILIDADE NAtildeO-OCORREcircNCIA Condenaccedilatildeo criminal sem tracircnsito em julgado natildeo eacute apta a ensejar inelegibilidade (precedente do TSE acoacuterdatildeo 536 rel Min Fernando Neves publicado em sessatildeo de 882002) Recurso natildeo provido 19

17 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006 p 155 18 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbrgt TRESCndashAcoacuterdatildeo nordm 13324 de 071094 rel Juiz Nilson B Filho Acesso em 16 set 2011 19 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbr gt TSE- REspEl nordm 20247 de 19902 rel Min Sepuacutelveda Pertence Acesso em 16 set 2011

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INELEGIBILIDADE CONDENACcedilAtildeO CRIMINAL NAtildeO TRANSITADA EM JULGADO CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA ART 14 sect 9deg SUacuteMULA Ndeg 13 DO TSE 1 A existecircncia de sentenccedila criminal condenatoacuteria sem o tracircnsito em julgado natildeo eacute suficiente para ocasionar inelegibilidade 2 O art 14 sect 9deg da Constituiccedilatildeo natildeo eacute auto-aplicaacutevel 3 Necessidade de lei complementar estabelecendo os casos em que a vida pregressa do candidato poderaacute levar agrave sua inelegibilidade bem como os prazos de sua cessaccedilatildeo 4 Recurso provido para julgar improcedente a impugnaccedilatildeo e deferir o registro da candidatura 20

Insculpido na Constituiccedilatildeo Federal o principio da natildeo-culpabilidade deve ser

respeitado por toda lei infraconstitucional alguns doutrinadores como Aristides

Junqueira e Antocircnio Bandeira de Mello em carta publica no sitio do Movimento de

Combate agrave Corrupccedilatildeo Eleitoral21 entendem que neste presente caso natildeo deve ser

aplicado o princiacutepio da natildeo-culpabilidade a inelegibilidade pois esta natildeo eacute pena

mas medida preventiva

Estes juristas se acham alicerccedilados pelo que expressamente estatui o sect 9deg do

artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal em que Lei complementar estabeleceraacute outros

casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim de proteger a probidade

administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato considerada a vida

pregressa do candidato afirmam que uma vez que a proacutepria Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica expressamente permite que o legislador estipule quais elementos da vida

pregressa dos candidatos podem afastaacute-los dos pleitos

Independente desta posiccedilatildeo minoritaacuteria encontra-se que o princiacutepio da natildeo-

culpabilidade eacute prevista em diversos ordenamentos juriacutedicos e tratados como se

veraacute a seguir

Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo da Franccedila de 1789 o art

9da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) de 1948 dispotildee ldquoTodo acusado eacute

considerado inocente ateacute ser declarado culpado e se julgar indispensaacutevel prendecirc-lo

todo o rigor desnecessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deveraacute ser severamente

reprimido pela leirdquo22

20 Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrgt TSE-REspEl nordm 18047 de 2992000 rel Min Fernando Neves da Silva Acesso em 16 set 2011 21 Disponiacutevel em lthttpwwwmcceorgbrsitesdefaultfilescartajuristaspdfgt Acesso em 3 jul 2011 22 Disponiacutevel em lthttppfdcpgrmpfgovbratuacao-e-conteudos-de-apoiolegislacaodireitoshuma nosdeclar_dir_ homem_cidadaopdfgt Acesso em 13 set 2011

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Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos de 1948 diz ldquoToda pessoa

acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocecircncia enquanto natildeo se

comprove legalmente sua culpardquo23

A origem histoacuterica que foi referida teve uma grande importacircncia para se

chegar a um status constitucional conforme eacute citado por Mirabete Existe apenas uma tendecircncia agrave presunccedilatildeo de inocecircncia ou mais precisamente um estado de inocecircncia um estado juriacutedico no qual o acusado eacute inocente ateacute que seja declarado culpado por uma sentenccedila transitada em julgado Por isso a nossa Constituiccedilatildeo Federal natildeo presume a inocecircncia mas declara que ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria (art 5deg LVII) ou seja que o acusado eacute inocente durante o desenvolvimento do processo e seu estado soacute se modifica por uma sentenccedila final que o declare culpado 24

Por fim o princiacutepio da natildeo-culpabilidade visa a proteccedilatildeo do reacuteu para que

este tenha um julgamento justo devendo ser provada sua verdadeira culpa antes

que seja considerado culpado

23 Disponiacutevel em lthttpwwwagugovbrsistemassiteTemplateImagemTextoThumbaspxidConteu do=113927ampordenacao=1ampid_site=4922gt Acesso em 12 set 2011 24 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252

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5 CONCLUSAtildeO Apoacutes as anaacutelises da doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncias pertinentes a este

trabalho verifica-se que a Lei Complementar nordm 1352010 ao instituir nova hipoacutetese

de inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado esta em pleno conflito com o princiacutepio da natildeo-culpabilidade insculpido no

artigo 5ordm inciso LVII da Constituiccedilatildeo Federal o que torna esta nova hipoacutetese

absolutamente inconstitucional

O objetivo da Lei Complementar nordm 1352010 eacute o de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos para que os criteacuterios de inelegibilidades sejam mais

rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos Inicialmente eacute compreensiacutevel a

preocupaccedilatildeo de qualificar o perfil dos candidatos a cargos eletivos atraveacutes da vida

pregressa isto significa querer se representar por candidatos idocircneos

Ocorre que eacute necessaacuterio impor tantas restriccedilotildees para que o cidadatildeo possa

concorrer a determinado pleito natildeo eacute mais correto permitir que o proacuteprio povo

detentor soberano do poder para escolher seus representantes defina seus criteacuterios

de escolha

Quanto ao aspecto juriacutedico vejamos que o legislativo ao criar novas hipoacuteteses

de inelegibilidade deve-se atentar para as garantias jaacute consagradas em nosso

ordenamento principalmente quando esta garantia esta insculpida na Constituiccedilatildeo

Federal garantia esta referente ao principio da natildeo-culpabilidade que reza que

ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

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condenatoacuteria trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute

considerar o indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila

Ocorre que a criaccedilatildeo da Lei Complementar nordm 1352010 nasceu conflitante

com a Constituiccedilatildeo Federal em 2 aspectos primordiais primeiro a natildeo observacircncia

do princiacutepio da anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo

Federal pacificado pela Accedilatildeo Declaratoacuteria de Inconstitucionalidade nordm 3685

afirmando que deve-se respeitar ao principio da anualidade e segundo a

inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado

O segundo conflito origina-se diante da garantia constitucional do princiacutepio da

presunccedilatildeo da natildeo-culpabilidade o qual disciplina que somente poderaacute ser

considerado culpado o acusado de determinado crime quando ocorrer o tracircnsito em

julgado da decisatildeo

Portanto temos que uma decisatildeo de um oacutergatildeo colegiado quando recorriacutevel

ainda natildeo eacute o momento que se consumativo da culpabilidade do acusado pois natildeo

podemos antecipar a puniccedilatildeo de um cidadatildeo com a perda de algum direito pelo

simples fato de estar respondendo a algum processo

A aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre teraacute como pressuposto o

exame da Constituiccedilatildeo Federal que estabelece o princiacutepio da natildeo-culpabilidade

tambeacutem chamado de princiacutepio da presunccedilatildeo de inocecircncia que eacute uma verdadeira

garantia constitucional do indiviacuteduo contra o Estado Portanto deve-se respeitar este

princiacutepio basilar do Estado Democraacutetico de Direito nos mais diferentes segmentos

devendo qualquer Lei abster-se de considerar culpado aquele que ainda natildeo teve

sua decisatildeo transitada em julgado

Assim a Lei Complementar nordm 1352010 eacute contraacuterio ao disposto no texto

constitucional pois de forma antecipada retira do cidadatildeo o direito de disputar ao

pleito de forma igualitaacuteria bem como retira do povo um de seus maiores direitos o

de poder escolher seus representantes

Portanto para fortalecimento do Estado Democraacutetico de Direito se faz

necessaacuterio que as garantias constitucionais prevaleccedilam com isto deve-se

preponderar a presunccedilatildeo de natildeo culpabilidade ateacute o tracircnsito em julgado de da

sentenccedila condenatoacuteria

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REFEREcircNCIAS BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicao_ConstituiccedilaoCompiladohtmgt Acesso em 2 jun 2011 BRASIL Tribunal Superior Eleitoral Coacutedigo eleitoral Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrinternetjurisprudenciacodigo_eleitoralcodigo_eleitoralhtmlgt Acesso em 5 mai 2011 BRASIL Supremo Tribunal Federal Jurisprudecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudenciapesquisarJurisprudenciaaspgt Acesso em 15 mai 2011 BRASIL Projeto de Lei Complementar nordm 518 de 17 de setembro de 2009 Altera a Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 que estabelece de acordo com o sect 9ordm do art 14 da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias para incluir hipoacuteteses de inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no exerciacutecio do mandato Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbrsfatividademateriadetalhesaspp_cod_mate=96850gt Acesso em 19 mai 2011

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BRASIL Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 Estabelece de acordo com o art 14 sect 9ordm da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03LeisLCPLcp64htmgt Acesso em 15 mai 2011 COSTA Adriano Soares Instituiccedilotildees de Direito Eleitoral Ed Del Rey 2006 DI PIETRO Maria Sylvia Zanella Direito Administrativo 9 Ed Satildeo Paulo Atlas 1998 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131 LEAL Saul Tourinho Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt MELLO Celso Antonio Bandeira Curso de Direito Administrativo 24 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2007 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 ed Satildeo Paulo Atlas 2006 Movimento de Combate agrave Corrupccedilatildeo Disponiacutevel em ltwwwmcceorgbrgt Acesso em 3 jul 2011 NERY JUacuteBNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20 PEREIRA Erick Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt Acesso em 30 jun 2011 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2008

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PIRES Maacutercio Rodrigo Kaio Carvalho Abuso do poder poliacutetico nas eleiccedilotildees Jus Navigandi Teresina ano 15 n 2677 30 out 2010 Disponiacutevel em lthttpjusuolcombrrevistatexto17741gt Acesso em 27 jun 2011 RAMAYANA Marcos Direito Eleitoral Impetus Niteroacutei 2006 RESENHA ELEITORAL - Nova Seacuterie v9 n1 (janjun 2002) Disponiacutevel em lt httpwwwtre-scgovbrsiteinstitucionalpublicacoesartigos-doutrinariospublicados- na-resenha-eleitoralresenhasv9-n1-janjun-2002abuso-do-podereconomico- ou-de-autoridadeindexhtmlgt SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006

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LEI COMPLEMENTAR nordm 13510 ldquoFICHA LIMPArdquo E SUA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE PREVISTA NO ARTIGO 2ordm

INCISO I ALIacuteNEA ldquoErdquo

RESUMO Com a aprovaccedilatildeo da Lei Complementar nordm 1352010 que teve sua origem no Projeto de Lei Complementar nordm 5182009 de iniciativa popular criou-se uma nova espeacutecie de inelegibilidade que visa impedir a candidatura de poliacuteticos condenados a partir da segunda instacircncia ou por oacutergatildeo judicial colegiado mesmo que natildeo tenha transitado em julgado esta decisatildeo Esta nova inelegibilidade prevista na aliacutenea ldquoerdquo do inciso I do artigo 2ordm da Lei Complementar nordm 1352010 esta em confronto com o disposto no inciso LVII do artigo 5ordm da Constitucional Federal que estabelece o princiacutepio da natildeo-culpabilidade tambeacutem conhecido como princiacutepio da presunccedilatildeo de inocecircncia que eacute uma verdadeira garantia constitucional do indiviacuteduo contra o Estado O presente trabalho tem o intuito de analisar a constitucionalidade ou inconstitucionalidade desta nova hipoacutetese de inelegibilidade frente ao princiacutepio da natildeo-culpabilidade para tanto percorreraacute os conceitos existentes de elegibilidade e inelegibilidades presentes no ordenamento juriacutedico baseando-se na doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncia paacutetria Palavras-chave Elegibilidade Inelegibilidade Princiacutepio da natildeo-culpabilidade

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SUMAacuteRIO 1 INTRODUCcedilAtildeO 07

2 DA ELEGIBILIDADE 09

21 CONCEITO DE ELEGIBILIDADE 09

22 CONDICcedilOtildeES DE ELEGIBILIDADE 09

23 NACIONALIDADE BRASILEIRA 10

24 PLENO EXERCIacuteCIO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS 11

25 ALISTAMENTO ELEITORAL 12

26 DOMICIacuteLIO ELEITORAL 12

27 FILIACcedilAtildeO PARTIDAacuteRIA 13

28 IDADE MIacuteNIMA 14

3 DA INELEGIBILIDADE 15

31 CONCEITO DE INELEGIBILIDADE 15

32 ESPEacuteCIES DE INELEGIBILIDADE 15

33 INELEGIBILIDADE CONSTITUCIONAL 16

34 INELEGIBILIDADE INFRACONSTITUCIONAL 18

4 DA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE 22 41 ORIGEM DA LEI COMPLEMENTAR Nordm 1352010 22

42 AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EM JULGADO 23

43 PRINCIacutePIO CONSTITUCIONAL DA NAtildeO-CULPABILIDADE 25

5 CONCLUSAtildeO 30

6 REFEREcircNCIAS 32

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1 INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho apresenta um tema atual e de grande relevacircncia e

repercussatildeo tornando imprescindiacutevel um amplo debate

Refere-se agrave Lei Complementar nordm 13510 denominada ldquoLei da Ficha Limpardquo

decorrente do Projeto de Lei nordm 5182009 de iniciativa popular que instituiu uma

nova espeacutecie de inelegibilidade visando impedir a candidatura de poliacuteticos

condenados a partir da segunda instacircncia ou por oacutergatildeo judicial colegiado mesmo

que natildeo tenha transitado em julgado esta decisatildeo

Sendo assim avaliaremos a relevacircncia do princiacutepio constitucional da natildeo-

culpabilidade sobre a oacutetica desta nova hipoacutetese de inelegibilidade ressaltando-se

que os estudos apresentados se baseiam em doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncia

paacutetria

O trabalho desenvolveu-se sobre o seguinte problema de pesquisa se estaacute

nova hipoacutetese de inelegibilidade eacute constitucional ou inconstitucional

O trabalho foi divido em 5 capiacutetulos sendo eles assim tratados

O primeiro capiacutetulo baseia-se na INTRODUCcedilAtildeO do respectivo trabalho

O segundo capiacutetulo trata da ELEGIBILIDADE seu conceito e requisitos

O terceiro capiacutetulo trata das INELEGIBILIDADES no ordenamento juriacutedico

brasileiro sendo elas constitucionais e infraconstitucionais

O quarto capiacutetulo trata especificamente desta NOVA HIPOacuteTESE DE

INELEGIBILIDADE trazendo a origem da Lei Complementar nordm 1352010 sua nova

hipoacutetese de inelegibilidade que dispensa o tracircnsito em julgado e o confronto com o

princiacutepio da natildeo-culpabilidade

O quinto e uacuteltimo capiacutetulo aborda especificamente a CONCLUSAtildeO

Como ponto de partida abordamos a mateacuteria geral ou seja as causas de

inelegibilidade e inelegibilidades existentes no ordenamento juriacutedico atual

caminhando para o caso particular que neste trabalho eacute apresentado pela nova

hipoacutetese de inelegibilidade criada pela Lei Complementar nordm 1352010

Jaacute como meacutetodo de procedimento foi utilizado a teacutecnica de procedimento

monograacutefico que estuda em profundidade determinado fato sob todos os seus

aspectos buscando quanto ao possiacutevel esgotar as duacutevidas surgidas sobre o tema

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O tipo de pesquisa ou fonte de informaccedilatildeo utilizada foi o bibliograacutefico por

utilizar como base de estudo os ensinamentos de doutrina legislaccedilatildeo e

jurisprudecircncia

Por fim a anaacutelise conjunta desses fatos nos mostraraacute de forma esclarecedora

a inconstitucionalidade da aliacutenea ldquoerdquo do inciso I do artigo 2ordm da Lei Complementar nordm

1352010 frente ao princiacutepio constitucional da natildeo-culpabilidade

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2 DA ELEGIBILIDADE 21 CONCEITO DE ELEGIBILIDADE

Pode-se conceituar elegibilidade como sendo a capacidade de ser eleito isto

eacute a qualidade de determinada pessoa ser elegiacutevel nas condiccedilotildees permitidas pela

legislaccedilatildeo Assim conceitua o Tribunal Superior Eleitoral sobre inelegibilidade A elegibilidade eacute na restrita precisatildeo legal o direito do cidadatildeo de ser escolhido mediante votaccedilatildeo direta ou indireta para representante do povo ou da comunidade segundo as condiccedilotildees estabelecidas pela Constituiccedilatildeo e pela legislaccedilatildeo eleitoral1

Joseacute Afonso da Silva na ilustre obra Curso de Direito Constitucional Positivo

doutrinariamente leciona A elegibilidade agrave capacidade de ser eleito observa que goza de elegibilidade todo cidadatildeo que preencha as condiccedilotildees exigidas para concorrer a um mandato eletivo consistindo a mesma no direito de postular a designaccedilatildeo pelos eleitores a um mandato poliacutetico no Legislativo ou no Executivo2

Alexandre de Moraes em sua excelente obra de Direto Constitucional define

da seguinte maneira a elegibilidade ldquoElegibilidade eacute a capacidade eleitoral passiva

consistente na possibilidade de o cidadatildeo pleitear determinados mandatos poliacuteticos

mediante eleiccedilatildeo popular desde que preenchidos certo requisitosrdquo 3

Djalma Pinto com a obra intitulada Direito Eleitoral assim define elegibilidade

ldquoElegibilidade eacute o credenciamento do cidadatildeo para postulaccedilatildeo do registro de sua

candidatura Representa o primeiro estaacutegio a ser percorrido por algueacutem para

exercitar o seu direito a ser votadordquo 4

Em siacutentese preenchidos os requisitos de elegibilidade eacute necessaacuterio que o

cidadatildeo natildeo se encontre em alguma hipoacutetese de inelegibilidade que constitui

impedimento agrave capacidade eleitoral passiva

22 CONDICcedilOtildeES DE ELEGIBILIDADE

Trata-se do conjunto de condiccedilotildees pessoais necessaacuterias agrave habilitaccedilatildeo do

cidadatildeo para pleitear determinados mandatos poliacuteticos mediante eleiccedilatildeo popular

As condiccedilotildees de elegibilidade estatildeo previstas na Constituiccedilatildeo Federal no

artigo 14 sect 3ordm e compreendem a nacionalidade brasileira pleno exerciacutecio dos

1 Disponiacutevel em lthttpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermoselegibilidadehtmgt Acesso em 22 jul 2011 2 SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 p 365 3 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 Ed Satildeo Paulo Atlas 2006 p 215 4 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 Ed Satildeo Paulo Atlas 2008 p 157

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direitos poliacuteticos alistamento eleitoral domiciacutelio eleitoral na circunscriccedilatildeo filiaccedilatildeo

partidaacuteria e idade miacutenima para cargos poliacuteticos

Com estes requisitos a Constituiccedilatildeo Federal vem a limitar quem pode e quem

natildeo pode concorrer para algum cargo poliacutetico

23 NACIONALIDADE BRASILEIRA

A nacionalidade brasileira eacute a primeira condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no

artigo 14 sect 3ordm inciso I da Constituiccedilatildeo Federal

Classifica-se a nacionalidade brasileira em brasileiro nato e brasileiro

naturalizado para tanto eacute necessaacuterio distinguirmos a diferenccedila entre um e outro

Brasileiros natos satildeo aqueles nascidos na Repuacuteblica Federativa do Brasil

ainda que de paiacutes estrangeiros desde que estes natildeo estejam a serviccedilo de seu paiacutes

os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou matildee brasileira desde que qualquer

deles esteja a serviccedilo da Repuacuteblica Federativa do Brasil os nascidos no estrangeiro

de pai brasileiro ou de matildee brasileira desde que sejam registrados em reparticcedilatildeo

brasileira competente ou venham a residir na Repuacuteblica Federativa do Brasil e

optem em qualquer tempo depois de atingida a maioridade pela nacionalidade

brasileira

Brasileiros naturalizados satildeo aqueles que na forma da lei adquiram a

nacionalidade brasileira exigidas aos originaacuterios de paiacuteses de liacutengua portuguesa

apenas residecircncia por um ano ininterrupto e idoneidade moral os estrangeiros de

qualquer nacionalidade residentes na Repuacuteblica Federativa do Brasil haacute mais de

quinze anos ininterruptos e sem condenaccedilatildeo penal desde que requeiram a

nacionalidade brasileira

A Lei tambeacutem distingue a nacionalidade em primaacuteria e secundaacuteria A

nacionalidade primaacuteria tambeacutem denominada de originaacuteria eacute conferida aos

brasileiros natos sendo adquirida no momento do nascimento pelo ius sanguinis

(direito de sangue) ou pelo ius soli (direito de solo) jaacute a nacionalidade secundaacuteria

tambeacutem denominada nacionalidade adquirida eacute conferida aos brasileiros

naturalizados aquela se adquire por vontade proacutepria apoacutes o nascimento e em regra

geral pela naturalizaccedilatildeo

Por fim o sect 2ordm do artigo 12 da Constituiccedilatildeo Federal descreve ldquoA lei natildeo

poderaacute estabelecer distinccedilatildeo entre brasileiros natos e naturalizados salvo nos casos

previstos nesta Constituiccedilatildeordquo com isto fica vedado qualquer tratamento desigual

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entre brasileiro nato e naturalizado salvo disposiccedilatildeo em contraacuterio na Constituiccedilatildeo

Federal

A exceccedilatildeo citada no sect 2ordm do artigo 12 da Constituiccedilatildeo Federal permite a

distinccedilatildeo entre brasileiros natos e naturalizados para ocupar determinados cargos

esta exceccedilatildeo estaacute disposta no artigo 12 sect 3ordm da Constituiccedilatildeo Federal que permite

que alguns cargos sejam privativos de brasileiro nato natildeo permitindo que os

naturalizados venham a ocupar tais posiccedilotildees

Esta exceccedilatildeo restringe-se para os cargos privativos de Presidente e Vice-

Presidente da Repuacuteblica Presidente da Cacircmara dos Deputados Presidente do

Senado Federal Ministro do Supremo Tribunal Federal carreira diplomaacutetica de

oficial das Forccedilas Armadas e de Ministro de Estado da Defesa

24 PLENO EXERCIacuteCIO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS

O pleno exerciacutecio dos direitos poliacuteticos eacute a segunda condiccedilatildeo de elegibilidade

prevista no artigo 14 sect 3ordm inciso II da Constituiccedilatildeo Federal o Tribunal Superior

Eleitoral assim o conceitua Direitos poliacuteticos eacute o conjunto dos direitos atribuiacutedos ao cidadatildeo que lhe permite atraveacutes do voto do exerciacutecio de cargos puacuteblicos ou da utilizaccedilatildeo de outros instrumentos constitucionais e legais ter efetiva participaccedilatildeo e influecircncia nas atividades de governo Estar no gozo dos direitos poliacuteticos significa pois estar habilitado a alistar-se eleitoralmente habilitar-se a candidaturas para cargos eletivos ou a nomeaccedilotildees para certos cargos puacuteblicos natildeo eletivos participar de sufraacutegios votar em eleiccedilotildees plebiscitos e referendos apresentar projetos de lei pela via da iniciativa popular e propor accedilatildeo popular 5

Djalma Pinto em sua obra intitulada ldquoDireito eleitoral ndash Improbidade

Administrativa e Responsabilidade Fiscalrdquo dispotildee sobre esta condiccedilatildeo de

elegibilidade O pleno exerciacutecio dos direitos poliacuteticos eacute condiccedilatildeo essencial para a configuraccedilatildeo de elegibilidade A plenitude dos direitos poliacuteticos se expressa pela aptidatildeo para votar e ser votado Sem encontrar-se apto a seu exerciacutecio natildeo eacute possiacutevel ao indiviacuteduo nem se alistar nem tampouco se filiar partido requisitos imprescindiacuteveis agrave configuraccedilatildeo da elegibilidade 6

Sendo assim o pleno exerciacutecio dos direitos poliacuteticos eacute requisito essencial

para o cidadatildeo estar na condiccedilatildeo de elegibilidade Aquele que perder ou tiver seus 5 Disponiacutevel em lthttpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermosdireitos_politicoshtmgt Acesso em 22 jul 2011 6 PINTO Djalma Direito eleitoral ndash improbidade administrativa e Responsabilidade Fiscal 3 Ed Satildeo Paulo Atlas 2006

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direitos poliacuteticos suspensos ou cancelados ficaraacute impedido de exercer a capacidade

eleitoral passiva

A Constituiccedilatildeo Federal prevecirc no artigo 15 causas de perda ou suspensatildeo dos

direitos poliacuteticos que podem ocorrer devido ao cancelamento da naturalizaccedilatildeo por

sentenccedila judicial transitada em julgado condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado

enquanto durarem seus efeitos recusa de cumprir obrigaccedilatildeo a todos imposta ou

prestaccedilatildeo alternativa nos termos do art 5ordm VIII improbidade administrativa nos

termos do art 37 sect 4ordm

25 ALISTAMENTO ELEITORAL

O alistamento eleitoral eacute a terceira condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo

14 sect 3ordm inciso III da Constituiccedilatildeo Federal o Tribunal Superior Eleitoral assim o

conceitua Eacute a primeira fase do processo eleitoral Eacute um procedimento administrativo cartoraacuterio e compreende dois atos inconfundiacuteveis a qualificaccedilatildeo e a inscriccedilatildeo do eleitor A qualificaccedilatildeo eacute a prova de que o cidadatildeo satisfaz as exigecircncias legais para exercer o direito de voto enquanto que a inscriccedilatildeo faz com que o mesmo passe a integrar o Cadastro Nacional de Eleitores da Justiccedila Eleitoral O ato de alistamento eacute feito por meio de processamento eletrocircnico e se perfaz pelo preenchimento do requerimento de alistamento eleitoral (RAE) na forma da resoluccedilatildeo do TSE e da legislaccedilatildeo eleitoral Eacute a forma pela qual o cidadatildeo adquire seus direitos poliacuteticos tornando-se titular de direito poliacutetico ativo (capacidade para votar) e possibilitando sua elegibilidade e filiaccedilatildeo partidaacuteria apoacutes a expediccedilatildeo do respectivo tiacutetulo eleitoral 7

Portanto para o cidadatildeo ser eleitor eacute preciso que ele se aliste e para ele ser

elegiacutevel eacute preciso que ele jaacute seja eleitor

26 O DOMICIacuteLIO ELEITORAL NA CIRCUNSCRICcedilAtildeO

O domiciacutelio eleitoral eacute a quarta condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14

sect 3ordm inciso IV da Constituiccedilatildeo Federal

Domiciacutelio eleitoral eacute o lugar da residecircncia ou moradia do requerente agrave

inscriccedilatildeo eleitoral assim dispotildee o artigo 42 paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo Eleitoral

que Para efeito de inscriccedilatildeo eacute domiciacutelio eleitoral o lugar de residecircncia ou moradia

do requerente e verificado ter o alistando mais de uma considerar-se-aacute domiciacutelio

qualquer delas

7Disponiacutevel em lthttpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermosalistamento_eleitoralhtmgt Acesso em 22 jul 2011

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Djalma Pinto acerca do domiciacutelio eleitoral assevera ldquoO domicilio eleitoral por

sua vez eacute o lugar da residecircncia ou moradia onde o cidadatildeo formaliza seu

alistamentordquo 8

A legislaccedilatildeo requer que o candidato a um cargo eletivo natildeo incorra em

incompatibilidades ou inelegibilidades e possua domicilio eleitoral na circunscriccedilatildeo a

qual deseja concorrer Sobre a circunscriccedilatildeo eleitoral o Tribunal Superior Eleitoral

assim o define Espaccedilo geograacutefico onde se trava determinada eleiccedilatildeo Assim o paiacutes na eleiccedilatildeo do presidente e vice-presidente da Repuacuteblica o estado nas eleiccedilotildees para governador e vice-governador deputados federais e estaduais e senadores o municiacutepio nas eleiccedilotildees de prefeito e vereadores e o distrito onde e quando se realiza a eleiccedilatildeo pelo sistema distrital 9

Para concorrer as eleiccedilotildees o candidato deveraacute possuir domiciacutelio eleitoral na

respectiva circunscriccedilatildeo pelo prazo de pelo menos um ano antes do pleito e estar

com a filiaccedilatildeo deferida pelo partido no mesmo prazo eacute o que dispotildee o artigo 9deg da

Lei 950497

27 FILIACcedilAtildeO PARTIDAacuteRIA

A filiaccedilatildeo partidaacuteria eacute a quinta condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14

sect 3ordm inciso V da Constituiccedilatildeo Federal

Eacute o ato formal e solene o pelo qual um eleitor aceita e adota o programa de

um partido poliacutetico viacutenculo que se estabelece entre o poliacutetico e o partido Eacute condiccedilatildeo

de elegibilidade conforme disposto no artigo 14 sect3ordm inciso V da Constituiccedilatildeo

Federal Nos termos do artigo 16 da Lei dos Partidos Poliacuteticos Lei nordm 909695 soacute

pode filiar-se a partido o eleitor que estiver no pleno gozo de seus direitos poliacuteticos

Todavia a exceccedilotildees sobre a filiaccedilatildeo partidaacuteria como no caso de candidatura

de magistrados membros dos Tribunais de Contas Ministeacuterio Puacuteblico e militares

como exemplo vejamos a exceccedilatildeo dos militares estes querendo concorrer a cargo

puacuteblico eletivo possuindo menos de dez anos de serviccedilo deveraacute solicitar

afastamento definitivo da atividade atraveacutes de demissatildeo ou licenciamento ex-officio

caso venha a possuir mais de dez anos de serviccedilo deveraacute ser agregado pela

8 PINTO Djalma Direito eleitoral ndash improbidade administrativa e Responsabilidade Fiscal 3 Ed Satildeo Paulo Atlas 2006 9 Disponiacutevel em httpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermoscircunscricao_eleitoralhtmgt Acesso em 22 jul 2011

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autoridade superior e se eleito passaraacute automaticamente no ato da diplomaccedilatildeo

para a inatividade

28 IDADE MIacuteNIMA

Idade miacutenima eacute a uacuteltima condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14 sect 3ordm

inciso VI da Constituiccedilatildeo Federal

Para o cargo de Presidente e Vice-Presidente da Repuacuteblica e para Senadores

e suplentes a idade miacutenima de 35 anos para o cargo de Governado e Vice-

Governador de Estado ou do Distrito Federal idade miacutenima de 30 anos para os

cargos de Deputado Federal Estadual Distrital Prefeito e Vice-Prefeito e Juiz de

paz a idade miacutenima de 21 anos e por fim para o cargo de vereador a idade

miacutenima de 18 anos

Dispotildee a Lei 95041997 artigo 11 sect 2ordm que a verificaccedilatildeo da idade seraacute feita

na data da posse no respectivo cargo pressupotildee que um menor de 17 anos de

idade possa se candidatar ao cargo de vereador bastando que na data da posse

conte com 18 anos completos

Alguns doutrinadores entretanto discordam dessa interpretaccedilatildeo entendendo

que natildeo poderia o legislador infra-constitucional dizer a mais do que a proacutepria

Constituiccedilatildeo estabeleceu assim leciona o Gilmar Mendes em sua obra Curso de

Direito Constitucional Natildeo haacute que se falar em momento da posse como aceitaacutevel para se perfazer a condiccedilatildeo de elegibilidade no tocante a idade miacutenima pois a Constituiccedilatildeo jaacute determinou que o momento da afericcedilatildeo para elegibilidade deve ser o do registro da candidatura 10

Tem prevalecido a verificaccedilatildeo da idade miacutenima na data da posse

10 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 Ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 p803

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3 DA INELEGIBILIDADE 31 CONCEITO DE INELEGIBILIDADE

Joseacute Afonso da Silva em sua ilustre obra Curso de Direito Constitucional

Positivo doutrinariamente leciona que ldquoa inelegibilidade obsta a elegibilidade

revelando um impedimento ao direito de ser votado que eacute a capacidade eleitoral

passivardquo 11

A inelegibilidade resulta no impedimento parcial ou seja temporaacuterio da

capacidade eleitoral passiva restringindo o cidadatildeo de ser votado nas hipoacuteteses

previstas na Lei Complementar nordm 641990 Lei Complementar nordm 1352010 e na

Constituiccedilatildeo Federal

Sua finalidade tem por objetivo a probidade administrativa a normalidade

para o exerciacutecio do mandato considerada a vida pregressa do candidato e a

normalidade e a legitimidade das eleiccedilotildees contra a influecircncia do poder econocircmico ou

o abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo cargo ou emprego na administraccedilatildeo direta ou

indireta

A inelegibilidade pode ser absoluta proibindo a candidatura agraves eleiccedilotildees em

geral ou relativa impossibilitando a postulaccedilatildeo a determinado mandato eletivo

Sendo assim o cidadatildeo que almeja se candidatar a cargo eletivo deve

atender as condiccedilotildees de elegibilidade e natildeo incorrer em nenhuma causa de

inelegibilidade

32 ESPEacuteCIES DE INELEGIBILIDADE

As espeacutecies de inelegibilidade podem ser constitucionais e

infraconstitucionais as constitucionais dividem-se em absoluta e relativa

A inelegibilidade constitucional absoluta consiste no impedimento eleitoral

que restringe o cidadatildeo de concorrer a qualquer cargo eletivo refere-se a

determinada caracteriacutestica do indiviacuteduo ou seja eacute de caraacuteter pessoal sendo

11 SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 Ed Satildeo Paulo Malheiros 012004 p 387

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taxativamente prevista pela Constituiccedilatildeo Federal e a inelegibilidade constitucional

relativa compreende o impedimento eleitoral que restringe o cidadatildeo de concorrer a

determinados cargos em determinada eleiccedilatildeo refere-se a situaccedilotildees especiais e

momentacircneas tais como motivos funcionais de casamento de parentescos

A inelegibilidade infraconstitucional eacute disciplinada na Lei Complementar ndeg

641990 alterada pela Lei Complementar ndeg 1352010

Eacute relevante a distinccedilatildeo entre as inelegibilidades constitucionais e

infraconstitucionais como bem ressaltado por Joseacute Jairo Gomes A distinccedilatildeo que se faz entre inelegibilidades constitucionais e legais natildeo eacute cerebrina apresentando inegaacutevel relevacircncia praacutetica Basta dizer que natildeo haacute preclusatildeo quanto agraves primeiras as quais podem ser arguumlidas na fase do registro de candidatura ou posteriormente antes ou depois das eleiccedilotildees A arguumliccedilatildeo posterior pode ser feita no RCED (CE art 262 I) Jaacute as inelegibilidades legais sujeitam-se agrave preclusatildeo se natildeo forem levantadas na fase de registro de candidatura Ultrapassado esse momento natildeo mais poderatildeo ser discutidas salvo se supervenientes 12

33 INELEGIBILIDADE CONSTITUCIONAL

A inelegibilidade constitucional dividi-se em absoluta e relativa

A inelegibilidade constitucional absoluta estabelecida no sect 4deg do artigo 14 da

Constituiccedilatildeo Federal prevecirc que satildeo inelegiacuteveis os inalistaacuteveis e os analfabetos

A inelegibilidade decorrente da inalistabilidade abrange todos que natildeo se

encontram na situaccedilatildeo de alistabilidade tambeacutem aqueles que se encontram em

estado definitivo ou temporariamente privados de seus direitos poliacuteticos por fim

atinge aqueles que natildeo sabem exprimir-se na liacutengua nacional e os estrangeiros

A inelegibilidade decorrente do analfabetismo natildeo permite que o analfabeto

seja elegiacutevel mas permite que ele seja alistaacutevel exercendo assim a sua capacidade

de votar mas nunca a de ser votado

Estas hipoacuteteses restringem ao cidadatildeo se candidatarem a qualquer cargo

eletivo em qualquer eleiccedilatildeo enquanto perdurar esta situaccedilatildeo restritiva

As hipoacuteteses de inelegibilidades constitucionais relativas referem-se a

situaccedilotildees especiais separando-as por motivos funcionais motivos parentais motivos

militares e encontram-se dispostas no artigo 14 sectsect 5deg ao 9deg da Constituiccedilatildeo Federal

12 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131

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A inelegibilidade por motivo funcional eacute decorrente de o cidadatildeo estar em

exerciacutecio de alguma funccedilatildeo puacuteblica Satildeo previstas duas situaccedilotildees

A primeira declara ser inelegiacutevel para o mesmo cargo em terceiro periacuteodo

subsequumlente o Presidente da Repuacuteblica os Governadores de Estado e do DF os

Prefeitos e quem os houver sucedido ou substituiacutedo nos seis meses antes das

eleiccedilotildees Eacute o que dispotildee o sect 5deg do artigo 14 na redaccedilatildeo da Emenda Constitucional

161997

Portanto soacute eacute permitida uma reconduccedilatildeo ou seja eacute permitida a reeleiccedilatildeo de

Chefes do Executivo ou seus substitutos para apenas um periacuteodo subsequumlente

A segunda situaccedilatildeo considera que satildeo inelegiacuteveis para concorrer a outros

cargos o Presidente da Repuacuteblica os Governadores de Estado e do DF e os

Prefeitos salvo se tiverem se desincompatibilizado com a renuacutencia do cargo ateacute

seis meses antes do pleito Eacute o que prevecirc o sect 6deg do artigo 14 da Constituiccedilatildeo

Federal

Os servidores puacuteblicos que ocuparem algum cargo de livre nomeaccedilatildeo

demissiacuteveis ad nutum seratildeo exonerados para que possam concorrer a cargo

eletivo ou seja natildeo poderatildeo manter qualquer viacutenculo com a entidade na qual

desempenhava suas funccedilotildees

Os servidores puacuteblicos concursados ao contraacuterio dos servidores ocupantes

de cargos de livre nomeaccedilatildeo natildeo seratildeo exonerados ou demitidos apenas se

afastaratildeo de suas funccedilotildees para se candidatar a cargo puacuteblico

A inelegibilidade por motivo de parentesco tambeacutem denominada de

inelegibilidade reflexa estaacute relacionada a condiccedilotildees inerentes ao parentesco

sanguumliacuteneo soacutecio-afetivo ou condiccedilatildeo matrimonial

Assim conforme previsto no sect 7ordm do artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal estas

mesmas pessoas impedidas para determinados cargos podem concorrer para outros

cargos que se processem em territoacuterio de outra circunscriccedilatildeo

A inelegibilidade reflexa aproxima-se da inelegibilidade absoluta a diferenccedila

ocorre que na reflexa pode cessar por vontade das pessoas envolvidas um exemplo

claro eacute a renuacutencia seis meses antes do pleito do Presidente da Repuacuteblica

Assim temos que a inelegibilidade por motivo de parentesco ou reflexa visa a

impedir a formaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do poder poliacutetico em matildeos de uma determinada

famiacutelia

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A inelegibilidade por motivos militares visa que o militar enquanto em serviccedilo

ativo natildeo pode estar filiado a partidos poliacuteticos entretanto a Constituiccedilatildeo Federal

em seu artigo 14 relata que atendidas certas condiccedilotildees o militar alistaacutevel se torna

elegiacutevel sendo estas as condiccedilotildees se contar com menos de dez anos de serviccedilo

deveraacute afastar-se da atividade e se contar com mais de dez ano de serviccedilo seraacute

agregado pela autoridade superior e se eleito passaraacute automaticamente no ato da

diplomaccedilatildeo para a inatividade

34 INELEGIBILIDADE INFRACONSTITUCIONAL

Por se tratar de inuacutemeras hipoacuteteses de inelegibilidades infraconstitucionais

natildeo seraacute possiacutevel tratar todos os casos previstos em lei para tanto adentraremos a

anaacutelise de algumas hipoacuteteses dispostas na Lei Complementar nordm 641990

As inelegibilidades infraconstitucionais satildeo instituiacutedas por Lei Complementar

que estabeleceraacute outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim

de proteger a probidade administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato

considerado vida pregressa do candidato e a normalidade e legitimidade das

eleiccedilotildees contra a influecircncia do poder econocircmico ou o abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo

cargo ou emprego na administraccedilatildeo direta ou indireta

As causas de inelegibilidade infraconstitucionais estatildeo previstas no artigo 1ordm

da Lei Complementar nordm 641990 alterado dentre outras atraveacutes da recente Lei

Complementar ndeg 1352010 conhecida como a Lei da Ficha Limpa

Dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquobrdquo da Lei Complementar nordm 641990 que os

membros do Congresso Nacional das Assembleacuteias Legislativas da Cacircmara

Legislativa e das Cacircmaras Municipais que hajam perdido os respectivos mandatos

por infringecircncia do disposto nos incisos I e II do art 55 da Constituiccedilatildeo Federal dos

dispositivos equivalentes sobre perda de mandato das Constituiccedilotildees Estaduais e

Leis Orgacircnicas dos Municiacutepios e do Distrito Federal para as eleiccedilotildees que se

realizarem durante o periacuteodo remanescente do mandato para o qual foram eleitos e

nos oito anos subsequumlentes ao teacutermino da legislatura

Sendo assim satildeo inelegiacuteveis os parlamentares cujo procedimento for

declarado incompatiacutevel com o decoro parlamentar e desde a expediccedilatildeo do diploma

firmar ou manter contrato com pessoa juriacutedica de direito puacuteblico autarquia empresa

puacuteblica sociedade de economia mista ou empresa concessionaacuteria de serviccedilo

puacuteblico salvo quando o contrato obedecer a claacuteusulas uniformes aceitar ou exercer

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cargo funccedilatildeo ou emprego remunerado inclusive os de que sejam demissiacuteveis ad

nutum nas entidades constantes da aliacutenea anterior e desde a posse ser

proprietaacuterios controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente

de contrato com pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou nela exercer funccedilatildeo

remunerada ocupar cargo ou funccedilatildeo de que sejam demissiacuteveis ad nutum nas

entidades referidas no inciso I a patrocinar causa em que seja interessada

qualquer das entidades a que se refere o inciso I a ser titulares de mais de um

cargo ou mandato puacuteblico eletivo

Portando o parlamentar que infringir o disposto no artigo 54 teraacute seu mandato

cassado Jaacute no inciso II do artigo 55 o Deputado ou Senador perderaacute o mandato

quando o procedimento for declarado incompatiacutevel com o decoro parlamentar A

Constituiccedilatildeo Federal prevecirc como falta de decoro o disciplinado no artigo 55 sect 1ordm

Por fim eacute incompatiacutevel com o decoro parlamentar os casos definidos no regimento

interno

Assim dispotildee o artigo 1ordm Inciso I aliacutenea ldquocrdquo da Lei Complementar nordm 641990

Governador e o Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal e o Prefeito e o

Vice-Prefeito que perderem seus cargos eletivos por infringecircncia a dispositivo da

Constituiccedilatildeo Estadual da Lei Orgacircnica do Distrito Federal ou da Lei Orgacircnica do

Municiacutepio para as eleiccedilotildees que se realizarem durante o periacuteodo remanescente e

nos 8 (oito) anos subsequentes ao teacutermino do mandato para o qual tenham sido

eleitos

Tal dispositivo busca evitar que os chefes do poder executivos retornem a

vida puacuteblica no mandato seguinte e nas eleiccedilotildees para as demais esferas Este

dispositivo preserva a moralidade puacuteblica O prazo de 8 anos de inabilitaccedilatildeo seraacute

contado a partir da data que tiver sido proferida a decisatildeo por crime de

responsabilidade

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquodrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tenham contra sua pessoa representaccedilatildeo julgada procedente pela Justiccedila

Eleitoral em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo colegiado em

processo de apuraccedilatildeo de abuso do poder econocircmico ou poliacutetico para a eleiccedilatildeo na

qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como para as que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes

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Primeiramente eacute necessaacuterio conceituar o que eacute abuso de poder econocircmico de

abuso de poder poliacutetico

Abuso de poder econocircmico consiste na utilizaccedilatildeo de bens ou serviccedilos de

empresas particulares ou recursos proacuteprios do candidato gerando assim uma

desproporccedilatildeo entre os candidatos exemplo Se um candidato eacute proprietaacuterio de uma

grande empresa e faz uso dela para custear sua campanha sem realizar doaccedilatildeo de

campanha prevista na Lei 950497

Abuso do poder poliacutetico consiste no emprego de serviccedilos ou bens

pertencentes a administraccedilatildeo puacuteblica com o objetivo de propiciar a eleiccedilatildeo de

determinado candidato

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquofrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que forem declarados indignos do oficialato ou com ele incompatiacuteveis pelo prazo

de 8 (oito) anos

Oficialato eacute o cargo ou dignidade de oficial seja das forccedilas armadas poliacutecia

militar ou corpo de bombeiros A competecircncia para apreciar e declarar a indignidade

do oficialato seraacute do Superior Tribunal Militar

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquogrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tiverem suas contas relativas ao exerciacutecio de cargos ou funccedilotildees puacuteblicas

rejeitadas por irregularidade insanaacutevel que configure ato doloso de improbidade

administrativa e por decisatildeo irrecorriacutevel do oacutergatildeo competente salvo se esta houver

sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciaacuterio para as eleiccedilotildees que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes contados a partir da data da decisatildeo aplicando-se o

disposto no inciso II do art 71 da Constituiccedilatildeo Federal a todos os ordenadores de

despesa sem exclusatildeo de mandataacuterios que houverem agido nessa condiccedilatildeo

Esta decisatildeo eacute administrativa e traraacute a consequumlecircncia de inelegibilidade para

isso a irregularidade tem de ser insanaacutevel

A competecircncia para julgar estas irregularidades compete ao Poder

Legislativo seja no acircmbito federal estadual ou municipal

A analise desta insanabilidade poderaacute caber a Justiccedila Eleitoral como por

exemplo no pedido de registro de candidatura por algueacutem que teve suas contas

rejeitadas

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquohrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os detentores de cargo na administraccedilatildeo puacuteblica direta indireta ou fundacional que

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beneficiarem a si ou a terceiros pelo abuso do poder econocircmico ou poliacutetico que

forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial

colegiado para a eleiccedilatildeo na qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como

para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes

Aqui natildeo se trata de cargo eletivo mas sim de cargos por concurso puacuteblico ou

por provimento em comissatildeo

A finalidade eacute por fim a reeleiccedilatildeo para aqueles que estatildeo em cargos de chefia

do poder executivo que tenham cometido abuso do poder econocircmico ou poliacutetico

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquoirdquo da Lei Complementar nordm 641990)

os que em estabelecimentos de creacutedito financiamento ou seguro que tenham sido

ou estejam sendo objeto de processo de liquidaccedilatildeo judicial ou extrajudicial hajam

exercido nos 12 (doze) meses anteriores agrave respectiva decretaccedilatildeo cargo ou funccedilatildeo

de direccedilatildeo administraccedilatildeo ou representaccedilatildeo enquanto natildeo forem exonerados de

qualquer responsabilidade

O que a lei busca nesta situaccedilatildeo eacute deixar aquele que administrou os referidos

estabelecimentos fora de qualquer participaccedilatildeo poliacutetica enquanto natildeo forem

apurados todos os fatos que levaram a insolvecircncia

Portanto o maior objetivo desta causa de inelegibilidade eacute assegurar que o

ex-administrado de estabelecimento de creacutedito financiamento ou seguro natildeo venha

a eleger-se a cargo eletivo sem antes ter sido apurada sua participaccedilatildeo para

insolvecircncia

Outras causas de inelegibilidades incluiacutedas pela Lei Complementar nordm

1352010 estatildeo previstas nos incisos j a q da referida Lei

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4 DA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE 41 ORIGEM DA LEI COMPLEMENTAR Nordm 1352010

Com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o Brasil passa a ser um

Estado Democraacutetico de Direito inaugurando uma democracia participativa

Esta democracia participativa permite ao cidadatildeo desde que preenchidos

determinados requisitos dar iniacutecio a um projeto de Lei atraveacutes da chamada Iniciativa

Popular A origem da Lei Complementar nordm 1352010 decorreu do Projeto de Lei nordm

5182009 sob a coordenaccedilatildeo do Movimento de Combate a Corrupccedilatildeo Eleitoral ndash

MCCE que teve iniacutecio em abril de 2008 com o objetivo de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos a finalidade eacute que os criteacuterios de inelegibilidades sejam

mais rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos

Esta Lei Complementar dita que pessoas condenadas por um colegiado

independente do tracircnsito em julgado satildeo inelegiacuteveis portanto podem ter seus

registros de candidaturas negados alem de incluir parlamentares que renunciaram

ao cargo para assim evitar uma possiacutevel abertura de processo por quebra de decoro

ou por desrespeito agrave Constituiccedilatildeo com a finalidade uacutenica de evitar possiacuteveis

puniccedilotildees

A Lei Complementar 1352010 traacutes inuacutemeros confrontos com a Constituiccedilatildeo

Federal sendo dois os mais relevantes primeiro a natildeo observacircncia do princiacutepio da

anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal e segundo

o desrespeito ao princiacutepio da natildeo-culpabilidade tambeacutem estabelecido na

Constituiccedilatildeo federal no artigo 5ordm inciso LVII

Sobre o primeiro ponto que trata da aplicabilidade da Lei Complementar nordm

1352010 para as eleiccedilotildees de 2010 restou soberana a decisatildeo do Supremo

Tribunal Federal ao resolver o conflito afirmando que o artigo 16 da Constituiccedilatildeo

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Federal ao submeter a alteraccedilatildeo legal do processo eleitoral agrave regra da anualidade

constitui uma garantia fundamental para o pleno exerciacutecio de direitos poliacuteticos

Esta pacificaccedilatildeo se deu no julgamento da Accedilatildeo Declaratoacuteria de

Inconstitucionalidade nordm 3685 13 onde atuou como Relatora a Ministra Ellen Gracie

que identificou como uma garantia fundamental do cidadatildeo-eleitor do cidadatildeo-

candidato e dos partidos poliacuteticos o artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal

A Ministra Ellen Gracie utilizou-se de uma analogia com o julgamento da

Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade 939 que teve como relator Ministro Sydnei

Sanches com a garantia da anterioridade tributaacuteria fixada no artigo 150 III b no

sentido de que se o princiacutepio da anterioridade tributaacuteria constitui uma garantia do

cidadatildeo-contribuinte o princiacutepio da anterioridade eleitoral tambeacutem eacute uma garantia do

cidadatildeo do eleitor do candidato e dos partidos poliacuteticos

Desta forma restou consolidado a garantia prevista no artigo 16 da

Constituiccedilatildeo Federal como forma de um devido processo legal eleitoral

O devido processo visa que se atinja uma decisatildeo conforme a Justiccedila

prestigiando a eacutetica da legalidade ressaltando-se que ele possui um duplo

significado de processo necessaacuterio e processo adequado para tanto COMOGLIO

afirma Que as garantias decorrentes do devido processo legal querem dizer natildeo apenas direito a um processo mas a um justo processo compreendendo a correccedilatildeo e efetividade dos instrumentos disponiacuteveis em juiacutezo e a efetividade e adequaccedilatildeo da proacutepria tutela finalrdquo 14

A Constituiccedilatildeo brasileira de 1988 traz a garantia exarada no seu artigo 5ordm

Art 5ordm - () LIV ndash ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal LV ndash aos litigantes em processo judicial e administrativo e aos acusados em geral seratildeo assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa com os meios de recurso a ela inerentes

Sobre o segundo ponto controverso mateacuteria deste trabalho tem o conflito tem

o conflito entre a Lei Complementar nordm 13510 contra uma garantia constitucional

denominado princiacutepio da natildeo-culpabilidade que eacute inseparaacutevel do conceito de

13 Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011 14 Luigi Paolo COMOGLIO Giuridizione e processo nel quadro delle garanzie constituzionali Rivista Trimestrale di Diritto e Procedura Civile 4 p 1070

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democracia A Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5ordm inciso LVII estabelece uma das

maiores garantias dos indiviacuteduos contra o autoritarismo do Estado afirmando que

ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

condenatoacuteriardquo fixando explicitamente o princiacutepio da natildeo-culpabilidade entre os

direitos fundamentais

42 AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EM JULGADO

A Lei Complementar nordm 1352010 em sua aliacutenea ldquoerdquo do inciso I do artigo 2ordm

possui a seguinte redaccedilatildeo e) os que forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial colegiado desde a condenaccedilatildeo ateacute o transcurso do prazo de 8 (oito) anos apoacutes o cumprimento da pena pelos crimes (Redaccedilatildeo dada pela Lei Complementar nordm 135 de 2010)

Esta aliacutenea visa impedir a candidatura de poliacuteticos condenados a partir da

segunda instacircncia e mesmo que natildeo tenha transitado em julgado Ela defende que

haja uma condenaccedilatildeo criminal no entanto deixa de exigir a configuraccedilatildeo do tracircnsito

em julgado do ato decisoacuterio para que ocorra a inelegibilidade A antiga lei previa que

o candidato soacute seria inelegiacutevel se tivesse condenaccedilatildeo definitiva

As alteraccedilotildees da Lei Complementar nordm 1352010 objetiva atender a um senso

comum do eleitorado afirmando que uma pessoa condenada natildeo deve poder ser

votada isto eacute natildeo deve ter mandato Em seus dizeres trata que a inelegibilidade

natildeo pressupotildee culpa formada natildeo deve haver discussatildeo sobre presunccedilatildeo da

inocecircncia Pode haver inelegibilidade por parentesco por ocupar cargo puacuteblico falta

de domiciacutelio eleitoral ou filiaccedilatildeo partidaacuteria causas que natildeo tecircm nada a ver com

condenaccedilatildeo criminal

A contradiccedilatildeo do argumento da Lei Complementar eacute se a Constituiccedilatildeo em

face do princiacutepio da natildeo-culpabilidade admite a cominaccedilatildeo de inelegibilidade para

quem ainda tem recursos pendentes de julgamento

Caso esta hipoacutetese seja admitida temos que um indiviacuteduo que tenha sido

condenado criminalmente em segunda instacircncia e interponha recurso especial ou

extraordinaacuterio para anular o processo caso natildeo consiga uma medida liminar

suspendendo os efeitos ficaria impedido de concorrer na eleiccedilatildeo

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Imagine-se que ao final da accedilatildeo o cidadatildeo que ficou impedido de concorrer

nas eleiccedilotildees obtivesse vitoacuteria em seu recurso obtendo assim a nulidade da accedilatildeo

bem como da decisatildeo que o condenou com ficaria a situaccedilatildeo deste cidadatildeo

O que se quer com a Lei Complementar nordm 1352010 eacute instituir um moralismo

eleitoral que se sobrepotildee a Constituiccedilatildeo Federal e seu principio constitucional da

natildeo-culpabilidade que eacute a garantia individual contra o Estado

Outro argumento utilizado pelos defensores da constitucionalidade da Lei

Complementar nordm 1352010 satildeo as prisotildees cautelares e que no final o sujeito

acaba sebdo absolvido Ora cabe lembrar-lhes que a prisatildeo cautelar natildeo eacute

antecipaccedilatildeo de pena cumpre ela uma funccedilatildeo processual clara e limitada agrave garantia

da ordem puacuteblica da ordem econocircmica por conveniecircncia da instruccedilatildeo criminal ou

para assegurar a aplicaccedilatildeo da lei penal quando houver prova da existecircncia do crime

e indiacutecio suficiente de autoria

Portanto temos que o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees enquanto natildeo

sobrevier decisatildeo judicial transitada em julgado

O proacuteprio Supremo na Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental

144 jaacute decidiu natildeo barrar candidaturas sem condenaccedilatildeo transitada em julgado

A Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental 144 15 foi votada

em agosto de 2008 antes das eleiccedilotildees municipais Na ocasiatildeo o Supremo Tribunal

Federal decidiu que natildeo poderiam ser barradas candidaturas de poliacuteticos

condenados na primeira instacircncia por conta da presunccedilatildeo de inocecircncia

Em 6 de agosto de 2008 haacute menos de trecircs anos o Supremo Tribunal Federal

julgou improcedente a Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental nordm

144 ajuizada pela Associaccedilatildeo dos Magistrados Brasileiros em voto do ministro

Celso de Mello vencidos os ministros Carlos Ayres e Joaquim Barbosa exatamente

porque O postulado consagrador da garantia de inocecircncia irradia os seus efeitos para aleacutem dos limites dos processos penais de natureza condenatoacuteria impedindo desse modo que situaccedilotildees processuais anda natildeo definidas por sentenccedilas transitadas em julgado provoquem em decorrecircncia das exigecircncias de probidade administrativa e demoralidade a que se refere o sect 9ordm do artigo 14 da Coinstituiccedilatildeo Federal a inelegibilidade dos cidadatildeos ou obstem candidaturas para mandatos eletivos

15Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011

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Portanto ficou definido que Lei Complementar sendo editada para casos de

inelegibilidades esta deveraacute respeitar o princiacutepio da natildeo-culpabilidade Ocorre que

foi editada a Lei Complementar nordm 1352010 que atendeu aos reclamos populares

mas preferiu a um soacute tempo violar a Constituiccedilatildeo Federal e desrespeitar a recente

decisatildeo do Supremo Tribunal Federal mesmo que na eacutepoacuteca desta decisatildeo natildeo

havia lei formal para tal situaccedilatildeo

43 PRINCIacutePIO CONSTITUCIONAL DA NAtildeO-CULPABILIDADE

O princiacutepio da natildeo-culpabilidade eacute direito fundamental previsto na

Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5deg inciso LVII ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute

o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

Isto eacute enquanto natildeo sobrevier uma decisatildeo judicial condenatoacuteria transitada

em julgado o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees em seu patrimocircnio ou em sua

liberdade Caso sobrevenha duacutevida quanto a culpabilidade esta resolveraacute sempre

em favor do reacuteu ou seja aplicando-se o princiacutepio in duacutebio pro reo

Assim disciplina Nelson Nery Juacutenior sobre o princiacutepio da natildeo-culpabilidade ldquoO inteacuterprete deve buscar a aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre tendo como pressuposto o exame da Constituiccedilatildeo Federal Depois sim deve consultar a legislaccedilatildeo infraconstitucional a respeito do temardquo 16

Sendo assim a Constituiccedilatildeo Federal no capiacutetulo sobre os Direitos e Deveres

Individuais e Coletivos em seu artigo 5ordm inciso LVII afirma que ldquoningueacutem seraacute

considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute considerar o

indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila A doutrina e a

jurisprudecircncia aclamam este princiacutepio como vaacuterios nomes como princiacutepio da

presunccedilatildeo de inocecircncia princiacutepio da natildeo-culpabilidade ou simplesmente princiacutepio da

inocecircncia

Joseacute Afonso da Silva em seu livro Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo

disciplina assim esta garantia A norma constitucional do inciso LVII agora sob nosso exame garante a presunccedilatildeo de inocecircncia por meio de um enunciado negativo universal lsquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria Usa-se de uma forma

16 NERY JUacuteNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20

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negativa para outorgar uma garantia positiva Na verdade o texto brasileiro natildeo significa outra coisa senatildeo que fica assegurada a todos a presunccedilatildeo de inocecircncia ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria O tracircnsito em julgado se daacute quando a decisatildeo natildeo comporta mais recurso ordinaacuterio especial ou extraordinaacuterio 17

Nesse sentido o indiviacuteduo acusado natildeo pode ser presumidamente culpado

mas sim inocente Tal princiacutepio visa a tutelar a liberdade pessoal de modo que o

Estado nos mais diferentes segmentos deve abster-se de considerar culpado

aquele que ainda natildeo foi submetido agrave definitividade da atuaccedilatildeo jurisdicional Em se tratando de suspensatildeo dos direitos poliacuteticos a Constituiccedilatildeo Federal

garante que a suspensatildeo somente se daraacute por ldquocondenaccedilatildeo criminal transitada em

julgado enquanto durarem seus efeitosrdquo

Julgamento neste sentido REPRESENTACcedilAtildeO SUSPENSAtildeO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS EM VIRTUDE DE SENTENCcedilA PENAL CONDENATOacuteRIA TRANSITADA EM JULGADO AUTO-APLICABILIDADE DOS ARTIGOS 14 sect 3ordm II E 15 III DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL PROCEDEcircNCIA A suspensatildeo dos direitos poliacuteticos do condenado independe de lei regulamentadora bem como de processo especial de cogniccedilatildeo e de anaacutelise de meacuterito para a execuccedilatildeo da medida no juiacutezo eleitoral posto natildeo se tratar de sanccedilatildeo penal mas de efeito natildeo-penal de condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado e decorrente de mandamento constitucional Comprovado o tracircnsito em julgado da sentenccedila penal condenatoacuteria decreta-se automaticamente a suspensatildeo dos direitos poliacuteticos ativo e passivo do representado ou seja o direito de votar e ser votado com a consequumlente exclusatildeo de seu nome da folha de votaccedilatildeo e declaraccedilatildeo de sua inelegibilidade 18

Logo infere-se que a condenaccedilatildeo criminal sem o tracircnsito em julgado natildeo

desqualifica o condenado a votar e a eventualmente concorrer a qualquer cargo

eletivo

O Colendo Tribunal Superior Eleitoral enfrentou esta questatildeo ao apreciar

pedido de registro de candidatura valendo registrar os seguintes julgados RECURSO ESPECIAL RECEBIDO COMO ORDINAacuteRIO REGISTRO DE CANDIDATURA DEFERIMENTO INELEGIBILIDADE NAtildeO-OCORREcircNCIA Condenaccedilatildeo criminal sem tracircnsito em julgado natildeo eacute apta a ensejar inelegibilidade (precedente do TSE acoacuterdatildeo 536 rel Min Fernando Neves publicado em sessatildeo de 882002) Recurso natildeo provido 19

17 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006 p 155 18 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbrgt TRESCndashAcoacuterdatildeo nordm 13324 de 071094 rel Juiz Nilson B Filho Acesso em 16 set 2011 19 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbr gt TSE- REspEl nordm 20247 de 19902 rel Min Sepuacutelveda Pertence Acesso em 16 set 2011

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INELEGIBILIDADE CONDENACcedilAtildeO CRIMINAL NAtildeO TRANSITADA EM JULGADO CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA ART 14 sect 9deg SUacuteMULA Ndeg 13 DO TSE 1 A existecircncia de sentenccedila criminal condenatoacuteria sem o tracircnsito em julgado natildeo eacute suficiente para ocasionar inelegibilidade 2 O art 14 sect 9deg da Constituiccedilatildeo natildeo eacute auto-aplicaacutevel 3 Necessidade de lei complementar estabelecendo os casos em que a vida pregressa do candidato poderaacute levar agrave sua inelegibilidade bem como os prazos de sua cessaccedilatildeo 4 Recurso provido para julgar improcedente a impugnaccedilatildeo e deferir o registro da candidatura 20

Insculpido na Constituiccedilatildeo Federal o principio da natildeo-culpabilidade deve ser

respeitado por toda lei infraconstitucional alguns doutrinadores como Aristides

Junqueira e Antocircnio Bandeira de Mello em carta publica no sitio do Movimento de

Combate agrave Corrupccedilatildeo Eleitoral21 entendem que neste presente caso natildeo deve ser

aplicado o princiacutepio da natildeo-culpabilidade a inelegibilidade pois esta natildeo eacute pena

mas medida preventiva

Estes juristas se acham alicerccedilados pelo que expressamente estatui o sect 9deg do

artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal em que Lei complementar estabeleceraacute outros

casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim de proteger a probidade

administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato considerada a vida

pregressa do candidato afirmam que uma vez que a proacutepria Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica expressamente permite que o legislador estipule quais elementos da vida

pregressa dos candidatos podem afastaacute-los dos pleitos

Independente desta posiccedilatildeo minoritaacuteria encontra-se que o princiacutepio da natildeo-

culpabilidade eacute prevista em diversos ordenamentos juriacutedicos e tratados como se

veraacute a seguir

Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo da Franccedila de 1789 o art

9da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) de 1948 dispotildee ldquoTodo acusado eacute

considerado inocente ateacute ser declarado culpado e se julgar indispensaacutevel prendecirc-lo

todo o rigor desnecessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deveraacute ser severamente

reprimido pela leirdquo22

20 Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrgt TSE-REspEl nordm 18047 de 2992000 rel Min Fernando Neves da Silva Acesso em 16 set 2011 21 Disponiacutevel em lthttpwwwmcceorgbrsitesdefaultfilescartajuristaspdfgt Acesso em 3 jul 2011 22 Disponiacutevel em lthttppfdcpgrmpfgovbratuacao-e-conteudos-de-apoiolegislacaodireitoshuma nosdeclar_dir_ homem_cidadaopdfgt Acesso em 13 set 2011

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Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos de 1948 diz ldquoToda pessoa

acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocecircncia enquanto natildeo se

comprove legalmente sua culpardquo23

A origem histoacuterica que foi referida teve uma grande importacircncia para se

chegar a um status constitucional conforme eacute citado por Mirabete Existe apenas uma tendecircncia agrave presunccedilatildeo de inocecircncia ou mais precisamente um estado de inocecircncia um estado juriacutedico no qual o acusado eacute inocente ateacute que seja declarado culpado por uma sentenccedila transitada em julgado Por isso a nossa Constituiccedilatildeo Federal natildeo presume a inocecircncia mas declara que ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria (art 5deg LVII) ou seja que o acusado eacute inocente durante o desenvolvimento do processo e seu estado soacute se modifica por uma sentenccedila final que o declare culpado 24

Por fim o princiacutepio da natildeo-culpabilidade visa a proteccedilatildeo do reacuteu para que

este tenha um julgamento justo devendo ser provada sua verdadeira culpa antes

que seja considerado culpado

23 Disponiacutevel em lthttpwwwagugovbrsistemassiteTemplateImagemTextoThumbaspxidConteu do=113927ampordenacao=1ampid_site=4922gt Acesso em 12 set 2011 24 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252

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5 CONCLUSAtildeO Apoacutes as anaacutelises da doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncias pertinentes a este

trabalho verifica-se que a Lei Complementar nordm 1352010 ao instituir nova hipoacutetese

de inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado esta em pleno conflito com o princiacutepio da natildeo-culpabilidade insculpido no

artigo 5ordm inciso LVII da Constituiccedilatildeo Federal o que torna esta nova hipoacutetese

absolutamente inconstitucional

O objetivo da Lei Complementar nordm 1352010 eacute o de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos para que os criteacuterios de inelegibilidades sejam mais

rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos Inicialmente eacute compreensiacutevel a

preocupaccedilatildeo de qualificar o perfil dos candidatos a cargos eletivos atraveacutes da vida

pregressa isto significa querer se representar por candidatos idocircneos

Ocorre que eacute necessaacuterio impor tantas restriccedilotildees para que o cidadatildeo possa

concorrer a determinado pleito natildeo eacute mais correto permitir que o proacuteprio povo

detentor soberano do poder para escolher seus representantes defina seus criteacuterios

de escolha

Quanto ao aspecto juriacutedico vejamos que o legislativo ao criar novas hipoacuteteses

de inelegibilidade deve-se atentar para as garantias jaacute consagradas em nosso

ordenamento principalmente quando esta garantia esta insculpida na Constituiccedilatildeo

Federal garantia esta referente ao principio da natildeo-culpabilidade que reza que

ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

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condenatoacuteria trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute

considerar o indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila

Ocorre que a criaccedilatildeo da Lei Complementar nordm 1352010 nasceu conflitante

com a Constituiccedilatildeo Federal em 2 aspectos primordiais primeiro a natildeo observacircncia

do princiacutepio da anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo

Federal pacificado pela Accedilatildeo Declaratoacuteria de Inconstitucionalidade nordm 3685

afirmando que deve-se respeitar ao principio da anualidade e segundo a

inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado

O segundo conflito origina-se diante da garantia constitucional do princiacutepio da

presunccedilatildeo da natildeo-culpabilidade o qual disciplina que somente poderaacute ser

considerado culpado o acusado de determinado crime quando ocorrer o tracircnsito em

julgado da decisatildeo

Portanto temos que uma decisatildeo de um oacutergatildeo colegiado quando recorriacutevel

ainda natildeo eacute o momento que se consumativo da culpabilidade do acusado pois natildeo

podemos antecipar a puniccedilatildeo de um cidadatildeo com a perda de algum direito pelo

simples fato de estar respondendo a algum processo

A aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre teraacute como pressuposto o

exame da Constituiccedilatildeo Federal que estabelece o princiacutepio da natildeo-culpabilidade

tambeacutem chamado de princiacutepio da presunccedilatildeo de inocecircncia que eacute uma verdadeira

garantia constitucional do indiviacuteduo contra o Estado Portanto deve-se respeitar este

princiacutepio basilar do Estado Democraacutetico de Direito nos mais diferentes segmentos

devendo qualquer Lei abster-se de considerar culpado aquele que ainda natildeo teve

sua decisatildeo transitada em julgado

Assim a Lei Complementar nordm 1352010 eacute contraacuterio ao disposto no texto

constitucional pois de forma antecipada retira do cidadatildeo o direito de disputar ao

pleito de forma igualitaacuteria bem como retira do povo um de seus maiores direitos o

de poder escolher seus representantes

Portanto para fortalecimento do Estado Democraacutetico de Direito se faz

necessaacuterio que as garantias constitucionais prevaleccedilam com isto deve-se

preponderar a presunccedilatildeo de natildeo culpabilidade ateacute o tracircnsito em julgado de da

sentenccedila condenatoacuteria

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REFEREcircNCIAS BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicao_ConstituiccedilaoCompiladohtmgt Acesso em 2 jun 2011 BRASIL Tribunal Superior Eleitoral Coacutedigo eleitoral Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrinternetjurisprudenciacodigo_eleitoralcodigo_eleitoralhtmlgt Acesso em 5 mai 2011 BRASIL Supremo Tribunal Federal Jurisprudecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudenciapesquisarJurisprudenciaaspgt Acesso em 15 mai 2011 BRASIL Projeto de Lei Complementar nordm 518 de 17 de setembro de 2009 Altera a Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 que estabelece de acordo com o sect 9ordm do art 14 da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias para incluir hipoacuteteses de inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no exerciacutecio do mandato Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbrsfatividademateriadetalhesaspp_cod_mate=96850gt Acesso em 19 mai 2011

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BRASIL Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 Estabelece de acordo com o art 14 sect 9ordm da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03LeisLCPLcp64htmgt Acesso em 15 mai 2011 COSTA Adriano Soares Instituiccedilotildees de Direito Eleitoral Ed Del Rey 2006 DI PIETRO Maria Sylvia Zanella Direito Administrativo 9 Ed Satildeo Paulo Atlas 1998 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131 LEAL Saul Tourinho Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt MELLO Celso Antonio Bandeira Curso de Direito Administrativo 24 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2007 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 ed Satildeo Paulo Atlas 2006 Movimento de Combate agrave Corrupccedilatildeo Disponiacutevel em ltwwwmcceorgbrgt Acesso em 3 jul 2011 NERY JUacuteBNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20 PEREIRA Erick Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt Acesso em 30 jun 2011 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2008

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PIRES Maacutercio Rodrigo Kaio Carvalho Abuso do poder poliacutetico nas eleiccedilotildees Jus Navigandi Teresina ano 15 n 2677 30 out 2010 Disponiacutevel em lthttpjusuolcombrrevistatexto17741gt Acesso em 27 jun 2011 RAMAYANA Marcos Direito Eleitoral Impetus Niteroacutei 2006 RESENHA ELEITORAL - Nova Seacuterie v9 n1 (janjun 2002) Disponiacutevel em lt httpwwwtre-scgovbrsiteinstitucionalpublicacoesartigos-doutrinariospublicados- na-resenha-eleitoralresenhasv9-n1-janjun-2002abuso-do-podereconomico- ou-de-autoridadeindexhtmlgt SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006

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SUMAacuteRIO 1 INTRODUCcedilAtildeO 07

2 DA ELEGIBILIDADE 09

21 CONCEITO DE ELEGIBILIDADE 09

22 CONDICcedilOtildeES DE ELEGIBILIDADE 09

23 NACIONALIDADE BRASILEIRA 10

24 PLENO EXERCIacuteCIO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS 11

25 ALISTAMENTO ELEITORAL 12

26 DOMICIacuteLIO ELEITORAL 12

27 FILIACcedilAtildeO PARTIDAacuteRIA 13

28 IDADE MIacuteNIMA 14

3 DA INELEGIBILIDADE 15

31 CONCEITO DE INELEGIBILIDADE 15

32 ESPEacuteCIES DE INELEGIBILIDADE 15

33 INELEGIBILIDADE CONSTITUCIONAL 16

34 INELEGIBILIDADE INFRACONSTITUCIONAL 18

4 DA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE 22 41 ORIGEM DA LEI COMPLEMENTAR Nordm 1352010 22

42 AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EM JULGADO 23

43 PRINCIacutePIO CONSTITUCIONAL DA NAtildeO-CULPABILIDADE 25

5 CONCLUSAtildeO 30

6 REFEREcircNCIAS 32

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1 INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho apresenta um tema atual e de grande relevacircncia e

repercussatildeo tornando imprescindiacutevel um amplo debate

Refere-se agrave Lei Complementar nordm 13510 denominada ldquoLei da Ficha Limpardquo

decorrente do Projeto de Lei nordm 5182009 de iniciativa popular que instituiu uma

nova espeacutecie de inelegibilidade visando impedir a candidatura de poliacuteticos

condenados a partir da segunda instacircncia ou por oacutergatildeo judicial colegiado mesmo

que natildeo tenha transitado em julgado esta decisatildeo

Sendo assim avaliaremos a relevacircncia do princiacutepio constitucional da natildeo-

culpabilidade sobre a oacutetica desta nova hipoacutetese de inelegibilidade ressaltando-se

que os estudos apresentados se baseiam em doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncia

paacutetria

O trabalho desenvolveu-se sobre o seguinte problema de pesquisa se estaacute

nova hipoacutetese de inelegibilidade eacute constitucional ou inconstitucional

O trabalho foi divido em 5 capiacutetulos sendo eles assim tratados

O primeiro capiacutetulo baseia-se na INTRODUCcedilAtildeO do respectivo trabalho

O segundo capiacutetulo trata da ELEGIBILIDADE seu conceito e requisitos

O terceiro capiacutetulo trata das INELEGIBILIDADES no ordenamento juriacutedico

brasileiro sendo elas constitucionais e infraconstitucionais

O quarto capiacutetulo trata especificamente desta NOVA HIPOacuteTESE DE

INELEGIBILIDADE trazendo a origem da Lei Complementar nordm 1352010 sua nova

hipoacutetese de inelegibilidade que dispensa o tracircnsito em julgado e o confronto com o

princiacutepio da natildeo-culpabilidade

O quinto e uacuteltimo capiacutetulo aborda especificamente a CONCLUSAtildeO

Como ponto de partida abordamos a mateacuteria geral ou seja as causas de

inelegibilidade e inelegibilidades existentes no ordenamento juriacutedico atual

caminhando para o caso particular que neste trabalho eacute apresentado pela nova

hipoacutetese de inelegibilidade criada pela Lei Complementar nordm 1352010

Jaacute como meacutetodo de procedimento foi utilizado a teacutecnica de procedimento

monograacutefico que estuda em profundidade determinado fato sob todos os seus

aspectos buscando quanto ao possiacutevel esgotar as duacutevidas surgidas sobre o tema

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O tipo de pesquisa ou fonte de informaccedilatildeo utilizada foi o bibliograacutefico por

utilizar como base de estudo os ensinamentos de doutrina legislaccedilatildeo e

jurisprudecircncia

Por fim a anaacutelise conjunta desses fatos nos mostraraacute de forma esclarecedora

a inconstitucionalidade da aliacutenea ldquoerdquo do inciso I do artigo 2ordm da Lei Complementar nordm

1352010 frente ao princiacutepio constitucional da natildeo-culpabilidade

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2 DA ELEGIBILIDADE 21 CONCEITO DE ELEGIBILIDADE

Pode-se conceituar elegibilidade como sendo a capacidade de ser eleito isto

eacute a qualidade de determinada pessoa ser elegiacutevel nas condiccedilotildees permitidas pela

legislaccedilatildeo Assim conceitua o Tribunal Superior Eleitoral sobre inelegibilidade A elegibilidade eacute na restrita precisatildeo legal o direito do cidadatildeo de ser escolhido mediante votaccedilatildeo direta ou indireta para representante do povo ou da comunidade segundo as condiccedilotildees estabelecidas pela Constituiccedilatildeo e pela legislaccedilatildeo eleitoral1

Joseacute Afonso da Silva na ilustre obra Curso de Direito Constitucional Positivo

doutrinariamente leciona A elegibilidade agrave capacidade de ser eleito observa que goza de elegibilidade todo cidadatildeo que preencha as condiccedilotildees exigidas para concorrer a um mandato eletivo consistindo a mesma no direito de postular a designaccedilatildeo pelos eleitores a um mandato poliacutetico no Legislativo ou no Executivo2

Alexandre de Moraes em sua excelente obra de Direto Constitucional define

da seguinte maneira a elegibilidade ldquoElegibilidade eacute a capacidade eleitoral passiva

consistente na possibilidade de o cidadatildeo pleitear determinados mandatos poliacuteticos

mediante eleiccedilatildeo popular desde que preenchidos certo requisitosrdquo 3

Djalma Pinto com a obra intitulada Direito Eleitoral assim define elegibilidade

ldquoElegibilidade eacute o credenciamento do cidadatildeo para postulaccedilatildeo do registro de sua

candidatura Representa o primeiro estaacutegio a ser percorrido por algueacutem para

exercitar o seu direito a ser votadordquo 4

Em siacutentese preenchidos os requisitos de elegibilidade eacute necessaacuterio que o

cidadatildeo natildeo se encontre em alguma hipoacutetese de inelegibilidade que constitui

impedimento agrave capacidade eleitoral passiva

22 CONDICcedilOtildeES DE ELEGIBILIDADE

Trata-se do conjunto de condiccedilotildees pessoais necessaacuterias agrave habilitaccedilatildeo do

cidadatildeo para pleitear determinados mandatos poliacuteticos mediante eleiccedilatildeo popular

As condiccedilotildees de elegibilidade estatildeo previstas na Constituiccedilatildeo Federal no

artigo 14 sect 3ordm e compreendem a nacionalidade brasileira pleno exerciacutecio dos

1 Disponiacutevel em lthttpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermoselegibilidadehtmgt Acesso em 22 jul 2011 2 SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 p 365 3 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 Ed Satildeo Paulo Atlas 2006 p 215 4 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 Ed Satildeo Paulo Atlas 2008 p 157

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direitos poliacuteticos alistamento eleitoral domiciacutelio eleitoral na circunscriccedilatildeo filiaccedilatildeo

partidaacuteria e idade miacutenima para cargos poliacuteticos

Com estes requisitos a Constituiccedilatildeo Federal vem a limitar quem pode e quem

natildeo pode concorrer para algum cargo poliacutetico

23 NACIONALIDADE BRASILEIRA

A nacionalidade brasileira eacute a primeira condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no

artigo 14 sect 3ordm inciso I da Constituiccedilatildeo Federal

Classifica-se a nacionalidade brasileira em brasileiro nato e brasileiro

naturalizado para tanto eacute necessaacuterio distinguirmos a diferenccedila entre um e outro

Brasileiros natos satildeo aqueles nascidos na Repuacuteblica Federativa do Brasil

ainda que de paiacutes estrangeiros desde que estes natildeo estejam a serviccedilo de seu paiacutes

os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou matildee brasileira desde que qualquer

deles esteja a serviccedilo da Repuacuteblica Federativa do Brasil os nascidos no estrangeiro

de pai brasileiro ou de matildee brasileira desde que sejam registrados em reparticcedilatildeo

brasileira competente ou venham a residir na Repuacuteblica Federativa do Brasil e

optem em qualquer tempo depois de atingida a maioridade pela nacionalidade

brasileira

Brasileiros naturalizados satildeo aqueles que na forma da lei adquiram a

nacionalidade brasileira exigidas aos originaacuterios de paiacuteses de liacutengua portuguesa

apenas residecircncia por um ano ininterrupto e idoneidade moral os estrangeiros de

qualquer nacionalidade residentes na Repuacuteblica Federativa do Brasil haacute mais de

quinze anos ininterruptos e sem condenaccedilatildeo penal desde que requeiram a

nacionalidade brasileira

A Lei tambeacutem distingue a nacionalidade em primaacuteria e secundaacuteria A

nacionalidade primaacuteria tambeacutem denominada de originaacuteria eacute conferida aos

brasileiros natos sendo adquirida no momento do nascimento pelo ius sanguinis

(direito de sangue) ou pelo ius soli (direito de solo) jaacute a nacionalidade secundaacuteria

tambeacutem denominada nacionalidade adquirida eacute conferida aos brasileiros

naturalizados aquela se adquire por vontade proacutepria apoacutes o nascimento e em regra

geral pela naturalizaccedilatildeo

Por fim o sect 2ordm do artigo 12 da Constituiccedilatildeo Federal descreve ldquoA lei natildeo

poderaacute estabelecer distinccedilatildeo entre brasileiros natos e naturalizados salvo nos casos

previstos nesta Constituiccedilatildeordquo com isto fica vedado qualquer tratamento desigual

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entre brasileiro nato e naturalizado salvo disposiccedilatildeo em contraacuterio na Constituiccedilatildeo

Federal

A exceccedilatildeo citada no sect 2ordm do artigo 12 da Constituiccedilatildeo Federal permite a

distinccedilatildeo entre brasileiros natos e naturalizados para ocupar determinados cargos

esta exceccedilatildeo estaacute disposta no artigo 12 sect 3ordm da Constituiccedilatildeo Federal que permite

que alguns cargos sejam privativos de brasileiro nato natildeo permitindo que os

naturalizados venham a ocupar tais posiccedilotildees

Esta exceccedilatildeo restringe-se para os cargos privativos de Presidente e Vice-

Presidente da Repuacuteblica Presidente da Cacircmara dos Deputados Presidente do

Senado Federal Ministro do Supremo Tribunal Federal carreira diplomaacutetica de

oficial das Forccedilas Armadas e de Ministro de Estado da Defesa

24 PLENO EXERCIacuteCIO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS

O pleno exerciacutecio dos direitos poliacuteticos eacute a segunda condiccedilatildeo de elegibilidade

prevista no artigo 14 sect 3ordm inciso II da Constituiccedilatildeo Federal o Tribunal Superior

Eleitoral assim o conceitua Direitos poliacuteticos eacute o conjunto dos direitos atribuiacutedos ao cidadatildeo que lhe permite atraveacutes do voto do exerciacutecio de cargos puacuteblicos ou da utilizaccedilatildeo de outros instrumentos constitucionais e legais ter efetiva participaccedilatildeo e influecircncia nas atividades de governo Estar no gozo dos direitos poliacuteticos significa pois estar habilitado a alistar-se eleitoralmente habilitar-se a candidaturas para cargos eletivos ou a nomeaccedilotildees para certos cargos puacuteblicos natildeo eletivos participar de sufraacutegios votar em eleiccedilotildees plebiscitos e referendos apresentar projetos de lei pela via da iniciativa popular e propor accedilatildeo popular 5

Djalma Pinto em sua obra intitulada ldquoDireito eleitoral ndash Improbidade

Administrativa e Responsabilidade Fiscalrdquo dispotildee sobre esta condiccedilatildeo de

elegibilidade O pleno exerciacutecio dos direitos poliacuteticos eacute condiccedilatildeo essencial para a configuraccedilatildeo de elegibilidade A plenitude dos direitos poliacuteticos se expressa pela aptidatildeo para votar e ser votado Sem encontrar-se apto a seu exerciacutecio natildeo eacute possiacutevel ao indiviacuteduo nem se alistar nem tampouco se filiar partido requisitos imprescindiacuteveis agrave configuraccedilatildeo da elegibilidade 6

Sendo assim o pleno exerciacutecio dos direitos poliacuteticos eacute requisito essencial

para o cidadatildeo estar na condiccedilatildeo de elegibilidade Aquele que perder ou tiver seus 5 Disponiacutevel em lthttpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermosdireitos_politicoshtmgt Acesso em 22 jul 2011 6 PINTO Djalma Direito eleitoral ndash improbidade administrativa e Responsabilidade Fiscal 3 Ed Satildeo Paulo Atlas 2006

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direitos poliacuteticos suspensos ou cancelados ficaraacute impedido de exercer a capacidade

eleitoral passiva

A Constituiccedilatildeo Federal prevecirc no artigo 15 causas de perda ou suspensatildeo dos

direitos poliacuteticos que podem ocorrer devido ao cancelamento da naturalizaccedilatildeo por

sentenccedila judicial transitada em julgado condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado

enquanto durarem seus efeitos recusa de cumprir obrigaccedilatildeo a todos imposta ou

prestaccedilatildeo alternativa nos termos do art 5ordm VIII improbidade administrativa nos

termos do art 37 sect 4ordm

25 ALISTAMENTO ELEITORAL

O alistamento eleitoral eacute a terceira condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo

14 sect 3ordm inciso III da Constituiccedilatildeo Federal o Tribunal Superior Eleitoral assim o

conceitua Eacute a primeira fase do processo eleitoral Eacute um procedimento administrativo cartoraacuterio e compreende dois atos inconfundiacuteveis a qualificaccedilatildeo e a inscriccedilatildeo do eleitor A qualificaccedilatildeo eacute a prova de que o cidadatildeo satisfaz as exigecircncias legais para exercer o direito de voto enquanto que a inscriccedilatildeo faz com que o mesmo passe a integrar o Cadastro Nacional de Eleitores da Justiccedila Eleitoral O ato de alistamento eacute feito por meio de processamento eletrocircnico e se perfaz pelo preenchimento do requerimento de alistamento eleitoral (RAE) na forma da resoluccedilatildeo do TSE e da legislaccedilatildeo eleitoral Eacute a forma pela qual o cidadatildeo adquire seus direitos poliacuteticos tornando-se titular de direito poliacutetico ativo (capacidade para votar) e possibilitando sua elegibilidade e filiaccedilatildeo partidaacuteria apoacutes a expediccedilatildeo do respectivo tiacutetulo eleitoral 7

Portanto para o cidadatildeo ser eleitor eacute preciso que ele se aliste e para ele ser

elegiacutevel eacute preciso que ele jaacute seja eleitor

26 O DOMICIacuteLIO ELEITORAL NA CIRCUNSCRICcedilAtildeO

O domiciacutelio eleitoral eacute a quarta condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14

sect 3ordm inciso IV da Constituiccedilatildeo Federal

Domiciacutelio eleitoral eacute o lugar da residecircncia ou moradia do requerente agrave

inscriccedilatildeo eleitoral assim dispotildee o artigo 42 paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo Eleitoral

que Para efeito de inscriccedilatildeo eacute domiciacutelio eleitoral o lugar de residecircncia ou moradia

do requerente e verificado ter o alistando mais de uma considerar-se-aacute domiciacutelio

qualquer delas

7Disponiacutevel em lthttpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermosalistamento_eleitoralhtmgt Acesso em 22 jul 2011

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Djalma Pinto acerca do domiciacutelio eleitoral assevera ldquoO domicilio eleitoral por

sua vez eacute o lugar da residecircncia ou moradia onde o cidadatildeo formaliza seu

alistamentordquo 8

A legislaccedilatildeo requer que o candidato a um cargo eletivo natildeo incorra em

incompatibilidades ou inelegibilidades e possua domicilio eleitoral na circunscriccedilatildeo a

qual deseja concorrer Sobre a circunscriccedilatildeo eleitoral o Tribunal Superior Eleitoral

assim o define Espaccedilo geograacutefico onde se trava determinada eleiccedilatildeo Assim o paiacutes na eleiccedilatildeo do presidente e vice-presidente da Repuacuteblica o estado nas eleiccedilotildees para governador e vice-governador deputados federais e estaduais e senadores o municiacutepio nas eleiccedilotildees de prefeito e vereadores e o distrito onde e quando se realiza a eleiccedilatildeo pelo sistema distrital 9

Para concorrer as eleiccedilotildees o candidato deveraacute possuir domiciacutelio eleitoral na

respectiva circunscriccedilatildeo pelo prazo de pelo menos um ano antes do pleito e estar

com a filiaccedilatildeo deferida pelo partido no mesmo prazo eacute o que dispotildee o artigo 9deg da

Lei 950497

27 FILIACcedilAtildeO PARTIDAacuteRIA

A filiaccedilatildeo partidaacuteria eacute a quinta condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14

sect 3ordm inciso V da Constituiccedilatildeo Federal

Eacute o ato formal e solene o pelo qual um eleitor aceita e adota o programa de

um partido poliacutetico viacutenculo que se estabelece entre o poliacutetico e o partido Eacute condiccedilatildeo

de elegibilidade conforme disposto no artigo 14 sect3ordm inciso V da Constituiccedilatildeo

Federal Nos termos do artigo 16 da Lei dos Partidos Poliacuteticos Lei nordm 909695 soacute

pode filiar-se a partido o eleitor que estiver no pleno gozo de seus direitos poliacuteticos

Todavia a exceccedilotildees sobre a filiaccedilatildeo partidaacuteria como no caso de candidatura

de magistrados membros dos Tribunais de Contas Ministeacuterio Puacuteblico e militares

como exemplo vejamos a exceccedilatildeo dos militares estes querendo concorrer a cargo

puacuteblico eletivo possuindo menos de dez anos de serviccedilo deveraacute solicitar

afastamento definitivo da atividade atraveacutes de demissatildeo ou licenciamento ex-officio

caso venha a possuir mais de dez anos de serviccedilo deveraacute ser agregado pela

8 PINTO Djalma Direito eleitoral ndash improbidade administrativa e Responsabilidade Fiscal 3 Ed Satildeo Paulo Atlas 2006 9 Disponiacutevel em httpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermoscircunscricao_eleitoralhtmgt Acesso em 22 jul 2011

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autoridade superior e se eleito passaraacute automaticamente no ato da diplomaccedilatildeo

para a inatividade

28 IDADE MIacuteNIMA

Idade miacutenima eacute a uacuteltima condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14 sect 3ordm

inciso VI da Constituiccedilatildeo Federal

Para o cargo de Presidente e Vice-Presidente da Repuacuteblica e para Senadores

e suplentes a idade miacutenima de 35 anos para o cargo de Governado e Vice-

Governador de Estado ou do Distrito Federal idade miacutenima de 30 anos para os

cargos de Deputado Federal Estadual Distrital Prefeito e Vice-Prefeito e Juiz de

paz a idade miacutenima de 21 anos e por fim para o cargo de vereador a idade

miacutenima de 18 anos

Dispotildee a Lei 95041997 artigo 11 sect 2ordm que a verificaccedilatildeo da idade seraacute feita

na data da posse no respectivo cargo pressupotildee que um menor de 17 anos de

idade possa se candidatar ao cargo de vereador bastando que na data da posse

conte com 18 anos completos

Alguns doutrinadores entretanto discordam dessa interpretaccedilatildeo entendendo

que natildeo poderia o legislador infra-constitucional dizer a mais do que a proacutepria

Constituiccedilatildeo estabeleceu assim leciona o Gilmar Mendes em sua obra Curso de

Direito Constitucional Natildeo haacute que se falar em momento da posse como aceitaacutevel para se perfazer a condiccedilatildeo de elegibilidade no tocante a idade miacutenima pois a Constituiccedilatildeo jaacute determinou que o momento da afericcedilatildeo para elegibilidade deve ser o do registro da candidatura 10

Tem prevalecido a verificaccedilatildeo da idade miacutenima na data da posse

10 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 Ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 p803

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3 DA INELEGIBILIDADE 31 CONCEITO DE INELEGIBILIDADE

Joseacute Afonso da Silva em sua ilustre obra Curso de Direito Constitucional

Positivo doutrinariamente leciona que ldquoa inelegibilidade obsta a elegibilidade

revelando um impedimento ao direito de ser votado que eacute a capacidade eleitoral

passivardquo 11

A inelegibilidade resulta no impedimento parcial ou seja temporaacuterio da

capacidade eleitoral passiva restringindo o cidadatildeo de ser votado nas hipoacuteteses

previstas na Lei Complementar nordm 641990 Lei Complementar nordm 1352010 e na

Constituiccedilatildeo Federal

Sua finalidade tem por objetivo a probidade administrativa a normalidade

para o exerciacutecio do mandato considerada a vida pregressa do candidato e a

normalidade e a legitimidade das eleiccedilotildees contra a influecircncia do poder econocircmico ou

o abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo cargo ou emprego na administraccedilatildeo direta ou

indireta

A inelegibilidade pode ser absoluta proibindo a candidatura agraves eleiccedilotildees em

geral ou relativa impossibilitando a postulaccedilatildeo a determinado mandato eletivo

Sendo assim o cidadatildeo que almeja se candidatar a cargo eletivo deve

atender as condiccedilotildees de elegibilidade e natildeo incorrer em nenhuma causa de

inelegibilidade

32 ESPEacuteCIES DE INELEGIBILIDADE

As espeacutecies de inelegibilidade podem ser constitucionais e

infraconstitucionais as constitucionais dividem-se em absoluta e relativa

A inelegibilidade constitucional absoluta consiste no impedimento eleitoral

que restringe o cidadatildeo de concorrer a qualquer cargo eletivo refere-se a

determinada caracteriacutestica do indiviacuteduo ou seja eacute de caraacuteter pessoal sendo

11 SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 Ed Satildeo Paulo Malheiros 012004 p 387

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taxativamente prevista pela Constituiccedilatildeo Federal e a inelegibilidade constitucional

relativa compreende o impedimento eleitoral que restringe o cidadatildeo de concorrer a

determinados cargos em determinada eleiccedilatildeo refere-se a situaccedilotildees especiais e

momentacircneas tais como motivos funcionais de casamento de parentescos

A inelegibilidade infraconstitucional eacute disciplinada na Lei Complementar ndeg

641990 alterada pela Lei Complementar ndeg 1352010

Eacute relevante a distinccedilatildeo entre as inelegibilidades constitucionais e

infraconstitucionais como bem ressaltado por Joseacute Jairo Gomes A distinccedilatildeo que se faz entre inelegibilidades constitucionais e legais natildeo eacute cerebrina apresentando inegaacutevel relevacircncia praacutetica Basta dizer que natildeo haacute preclusatildeo quanto agraves primeiras as quais podem ser arguumlidas na fase do registro de candidatura ou posteriormente antes ou depois das eleiccedilotildees A arguumliccedilatildeo posterior pode ser feita no RCED (CE art 262 I) Jaacute as inelegibilidades legais sujeitam-se agrave preclusatildeo se natildeo forem levantadas na fase de registro de candidatura Ultrapassado esse momento natildeo mais poderatildeo ser discutidas salvo se supervenientes 12

33 INELEGIBILIDADE CONSTITUCIONAL

A inelegibilidade constitucional dividi-se em absoluta e relativa

A inelegibilidade constitucional absoluta estabelecida no sect 4deg do artigo 14 da

Constituiccedilatildeo Federal prevecirc que satildeo inelegiacuteveis os inalistaacuteveis e os analfabetos

A inelegibilidade decorrente da inalistabilidade abrange todos que natildeo se

encontram na situaccedilatildeo de alistabilidade tambeacutem aqueles que se encontram em

estado definitivo ou temporariamente privados de seus direitos poliacuteticos por fim

atinge aqueles que natildeo sabem exprimir-se na liacutengua nacional e os estrangeiros

A inelegibilidade decorrente do analfabetismo natildeo permite que o analfabeto

seja elegiacutevel mas permite que ele seja alistaacutevel exercendo assim a sua capacidade

de votar mas nunca a de ser votado

Estas hipoacuteteses restringem ao cidadatildeo se candidatarem a qualquer cargo

eletivo em qualquer eleiccedilatildeo enquanto perdurar esta situaccedilatildeo restritiva

As hipoacuteteses de inelegibilidades constitucionais relativas referem-se a

situaccedilotildees especiais separando-as por motivos funcionais motivos parentais motivos

militares e encontram-se dispostas no artigo 14 sectsect 5deg ao 9deg da Constituiccedilatildeo Federal

12 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131

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A inelegibilidade por motivo funcional eacute decorrente de o cidadatildeo estar em

exerciacutecio de alguma funccedilatildeo puacuteblica Satildeo previstas duas situaccedilotildees

A primeira declara ser inelegiacutevel para o mesmo cargo em terceiro periacuteodo

subsequumlente o Presidente da Repuacuteblica os Governadores de Estado e do DF os

Prefeitos e quem os houver sucedido ou substituiacutedo nos seis meses antes das

eleiccedilotildees Eacute o que dispotildee o sect 5deg do artigo 14 na redaccedilatildeo da Emenda Constitucional

161997

Portanto soacute eacute permitida uma reconduccedilatildeo ou seja eacute permitida a reeleiccedilatildeo de

Chefes do Executivo ou seus substitutos para apenas um periacuteodo subsequumlente

A segunda situaccedilatildeo considera que satildeo inelegiacuteveis para concorrer a outros

cargos o Presidente da Repuacuteblica os Governadores de Estado e do DF e os

Prefeitos salvo se tiverem se desincompatibilizado com a renuacutencia do cargo ateacute

seis meses antes do pleito Eacute o que prevecirc o sect 6deg do artigo 14 da Constituiccedilatildeo

Federal

Os servidores puacuteblicos que ocuparem algum cargo de livre nomeaccedilatildeo

demissiacuteveis ad nutum seratildeo exonerados para que possam concorrer a cargo

eletivo ou seja natildeo poderatildeo manter qualquer viacutenculo com a entidade na qual

desempenhava suas funccedilotildees

Os servidores puacuteblicos concursados ao contraacuterio dos servidores ocupantes

de cargos de livre nomeaccedilatildeo natildeo seratildeo exonerados ou demitidos apenas se

afastaratildeo de suas funccedilotildees para se candidatar a cargo puacuteblico

A inelegibilidade por motivo de parentesco tambeacutem denominada de

inelegibilidade reflexa estaacute relacionada a condiccedilotildees inerentes ao parentesco

sanguumliacuteneo soacutecio-afetivo ou condiccedilatildeo matrimonial

Assim conforme previsto no sect 7ordm do artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal estas

mesmas pessoas impedidas para determinados cargos podem concorrer para outros

cargos que se processem em territoacuterio de outra circunscriccedilatildeo

A inelegibilidade reflexa aproxima-se da inelegibilidade absoluta a diferenccedila

ocorre que na reflexa pode cessar por vontade das pessoas envolvidas um exemplo

claro eacute a renuacutencia seis meses antes do pleito do Presidente da Repuacuteblica

Assim temos que a inelegibilidade por motivo de parentesco ou reflexa visa a

impedir a formaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do poder poliacutetico em matildeos de uma determinada

famiacutelia

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A inelegibilidade por motivos militares visa que o militar enquanto em serviccedilo

ativo natildeo pode estar filiado a partidos poliacuteticos entretanto a Constituiccedilatildeo Federal

em seu artigo 14 relata que atendidas certas condiccedilotildees o militar alistaacutevel se torna

elegiacutevel sendo estas as condiccedilotildees se contar com menos de dez anos de serviccedilo

deveraacute afastar-se da atividade e se contar com mais de dez ano de serviccedilo seraacute

agregado pela autoridade superior e se eleito passaraacute automaticamente no ato da

diplomaccedilatildeo para a inatividade

34 INELEGIBILIDADE INFRACONSTITUCIONAL

Por se tratar de inuacutemeras hipoacuteteses de inelegibilidades infraconstitucionais

natildeo seraacute possiacutevel tratar todos os casos previstos em lei para tanto adentraremos a

anaacutelise de algumas hipoacuteteses dispostas na Lei Complementar nordm 641990

As inelegibilidades infraconstitucionais satildeo instituiacutedas por Lei Complementar

que estabeleceraacute outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim

de proteger a probidade administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato

considerado vida pregressa do candidato e a normalidade e legitimidade das

eleiccedilotildees contra a influecircncia do poder econocircmico ou o abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo

cargo ou emprego na administraccedilatildeo direta ou indireta

As causas de inelegibilidade infraconstitucionais estatildeo previstas no artigo 1ordm

da Lei Complementar nordm 641990 alterado dentre outras atraveacutes da recente Lei

Complementar ndeg 1352010 conhecida como a Lei da Ficha Limpa

Dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquobrdquo da Lei Complementar nordm 641990 que os

membros do Congresso Nacional das Assembleacuteias Legislativas da Cacircmara

Legislativa e das Cacircmaras Municipais que hajam perdido os respectivos mandatos

por infringecircncia do disposto nos incisos I e II do art 55 da Constituiccedilatildeo Federal dos

dispositivos equivalentes sobre perda de mandato das Constituiccedilotildees Estaduais e

Leis Orgacircnicas dos Municiacutepios e do Distrito Federal para as eleiccedilotildees que se

realizarem durante o periacuteodo remanescente do mandato para o qual foram eleitos e

nos oito anos subsequumlentes ao teacutermino da legislatura

Sendo assim satildeo inelegiacuteveis os parlamentares cujo procedimento for

declarado incompatiacutevel com o decoro parlamentar e desde a expediccedilatildeo do diploma

firmar ou manter contrato com pessoa juriacutedica de direito puacuteblico autarquia empresa

puacuteblica sociedade de economia mista ou empresa concessionaacuteria de serviccedilo

puacuteblico salvo quando o contrato obedecer a claacuteusulas uniformes aceitar ou exercer

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cargo funccedilatildeo ou emprego remunerado inclusive os de que sejam demissiacuteveis ad

nutum nas entidades constantes da aliacutenea anterior e desde a posse ser

proprietaacuterios controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente

de contrato com pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou nela exercer funccedilatildeo

remunerada ocupar cargo ou funccedilatildeo de que sejam demissiacuteveis ad nutum nas

entidades referidas no inciso I a patrocinar causa em que seja interessada

qualquer das entidades a que se refere o inciso I a ser titulares de mais de um

cargo ou mandato puacuteblico eletivo

Portando o parlamentar que infringir o disposto no artigo 54 teraacute seu mandato

cassado Jaacute no inciso II do artigo 55 o Deputado ou Senador perderaacute o mandato

quando o procedimento for declarado incompatiacutevel com o decoro parlamentar A

Constituiccedilatildeo Federal prevecirc como falta de decoro o disciplinado no artigo 55 sect 1ordm

Por fim eacute incompatiacutevel com o decoro parlamentar os casos definidos no regimento

interno

Assim dispotildee o artigo 1ordm Inciso I aliacutenea ldquocrdquo da Lei Complementar nordm 641990

Governador e o Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal e o Prefeito e o

Vice-Prefeito que perderem seus cargos eletivos por infringecircncia a dispositivo da

Constituiccedilatildeo Estadual da Lei Orgacircnica do Distrito Federal ou da Lei Orgacircnica do

Municiacutepio para as eleiccedilotildees que se realizarem durante o periacuteodo remanescente e

nos 8 (oito) anos subsequentes ao teacutermino do mandato para o qual tenham sido

eleitos

Tal dispositivo busca evitar que os chefes do poder executivos retornem a

vida puacuteblica no mandato seguinte e nas eleiccedilotildees para as demais esferas Este

dispositivo preserva a moralidade puacuteblica O prazo de 8 anos de inabilitaccedilatildeo seraacute

contado a partir da data que tiver sido proferida a decisatildeo por crime de

responsabilidade

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquodrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tenham contra sua pessoa representaccedilatildeo julgada procedente pela Justiccedila

Eleitoral em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo colegiado em

processo de apuraccedilatildeo de abuso do poder econocircmico ou poliacutetico para a eleiccedilatildeo na

qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como para as que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes

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Primeiramente eacute necessaacuterio conceituar o que eacute abuso de poder econocircmico de

abuso de poder poliacutetico

Abuso de poder econocircmico consiste na utilizaccedilatildeo de bens ou serviccedilos de

empresas particulares ou recursos proacuteprios do candidato gerando assim uma

desproporccedilatildeo entre os candidatos exemplo Se um candidato eacute proprietaacuterio de uma

grande empresa e faz uso dela para custear sua campanha sem realizar doaccedilatildeo de

campanha prevista na Lei 950497

Abuso do poder poliacutetico consiste no emprego de serviccedilos ou bens

pertencentes a administraccedilatildeo puacuteblica com o objetivo de propiciar a eleiccedilatildeo de

determinado candidato

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquofrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que forem declarados indignos do oficialato ou com ele incompatiacuteveis pelo prazo

de 8 (oito) anos

Oficialato eacute o cargo ou dignidade de oficial seja das forccedilas armadas poliacutecia

militar ou corpo de bombeiros A competecircncia para apreciar e declarar a indignidade

do oficialato seraacute do Superior Tribunal Militar

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquogrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tiverem suas contas relativas ao exerciacutecio de cargos ou funccedilotildees puacuteblicas

rejeitadas por irregularidade insanaacutevel que configure ato doloso de improbidade

administrativa e por decisatildeo irrecorriacutevel do oacutergatildeo competente salvo se esta houver

sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciaacuterio para as eleiccedilotildees que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes contados a partir da data da decisatildeo aplicando-se o

disposto no inciso II do art 71 da Constituiccedilatildeo Federal a todos os ordenadores de

despesa sem exclusatildeo de mandataacuterios que houverem agido nessa condiccedilatildeo

Esta decisatildeo eacute administrativa e traraacute a consequumlecircncia de inelegibilidade para

isso a irregularidade tem de ser insanaacutevel

A competecircncia para julgar estas irregularidades compete ao Poder

Legislativo seja no acircmbito federal estadual ou municipal

A analise desta insanabilidade poderaacute caber a Justiccedila Eleitoral como por

exemplo no pedido de registro de candidatura por algueacutem que teve suas contas

rejeitadas

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquohrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os detentores de cargo na administraccedilatildeo puacuteblica direta indireta ou fundacional que

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beneficiarem a si ou a terceiros pelo abuso do poder econocircmico ou poliacutetico que

forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial

colegiado para a eleiccedilatildeo na qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como

para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes

Aqui natildeo se trata de cargo eletivo mas sim de cargos por concurso puacuteblico ou

por provimento em comissatildeo

A finalidade eacute por fim a reeleiccedilatildeo para aqueles que estatildeo em cargos de chefia

do poder executivo que tenham cometido abuso do poder econocircmico ou poliacutetico

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquoirdquo da Lei Complementar nordm 641990)

os que em estabelecimentos de creacutedito financiamento ou seguro que tenham sido

ou estejam sendo objeto de processo de liquidaccedilatildeo judicial ou extrajudicial hajam

exercido nos 12 (doze) meses anteriores agrave respectiva decretaccedilatildeo cargo ou funccedilatildeo

de direccedilatildeo administraccedilatildeo ou representaccedilatildeo enquanto natildeo forem exonerados de

qualquer responsabilidade

O que a lei busca nesta situaccedilatildeo eacute deixar aquele que administrou os referidos

estabelecimentos fora de qualquer participaccedilatildeo poliacutetica enquanto natildeo forem

apurados todos os fatos que levaram a insolvecircncia

Portanto o maior objetivo desta causa de inelegibilidade eacute assegurar que o

ex-administrado de estabelecimento de creacutedito financiamento ou seguro natildeo venha

a eleger-se a cargo eletivo sem antes ter sido apurada sua participaccedilatildeo para

insolvecircncia

Outras causas de inelegibilidades incluiacutedas pela Lei Complementar nordm

1352010 estatildeo previstas nos incisos j a q da referida Lei

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4 DA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE 41 ORIGEM DA LEI COMPLEMENTAR Nordm 1352010

Com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o Brasil passa a ser um

Estado Democraacutetico de Direito inaugurando uma democracia participativa

Esta democracia participativa permite ao cidadatildeo desde que preenchidos

determinados requisitos dar iniacutecio a um projeto de Lei atraveacutes da chamada Iniciativa

Popular A origem da Lei Complementar nordm 1352010 decorreu do Projeto de Lei nordm

5182009 sob a coordenaccedilatildeo do Movimento de Combate a Corrupccedilatildeo Eleitoral ndash

MCCE que teve iniacutecio em abril de 2008 com o objetivo de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos a finalidade eacute que os criteacuterios de inelegibilidades sejam

mais rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos

Esta Lei Complementar dita que pessoas condenadas por um colegiado

independente do tracircnsito em julgado satildeo inelegiacuteveis portanto podem ter seus

registros de candidaturas negados alem de incluir parlamentares que renunciaram

ao cargo para assim evitar uma possiacutevel abertura de processo por quebra de decoro

ou por desrespeito agrave Constituiccedilatildeo com a finalidade uacutenica de evitar possiacuteveis

puniccedilotildees

A Lei Complementar 1352010 traacutes inuacutemeros confrontos com a Constituiccedilatildeo

Federal sendo dois os mais relevantes primeiro a natildeo observacircncia do princiacutepio da

anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal e segundo

o desrespeito ao princiacutepio da natildeo-culpabilidade tambeacutem estabelecido na

Constituiccedilatildeo federal no artigo 5ordm inciso LVII

Sobre o primeiro ponto que trata da aplicabilidade da Lei Complementar nordm

1352010 para as eleiccedilotildees de 2010 restou soberana a decisatildeo do Supremo

Tribunal Federal ao resolver o conflito afirmando que o artigo 16 da Constituiccedilatildeo

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Federal ao submeter a alteraccedilatildeo legal do processo eleitoral agrave regra da anualidade

constitui uma garantia fundamental para o pleno exerciacutecio de direitos poliacuteticos

Esta pacificaccedilatildeo se deu no julgamento da Accedilatildeo Declaratoacuteria de

Inconstitucionalidade nordm 3685 13 onde atuou como Relatora a Ministra Ellen Gracie

que identificou como uma garantia fundamental do cidadatildeo-eleitor do cidadatildeo-

candidato e dos partidos poliacuteticos o artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal

A Ministra Ellen Gracie utilizou-se de uma analogia com o julgamento da

Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade 939 que teve como relator Ministro Sydnei

Sanches com a garantia da anterioridade tributaacuteria fixada no artigo 150 III b no

sentido de que se o princiacutepio da anterioridade tributaacuteria constitui uma garantia do

cidadatildeo-contribuinte o princiacutepio da anterioridade eleitoral tambeacutem eacute uma garantia do

cidadatildeo do eleitor do candidato e dos partidos poliacuteticos

Desta forma restou consolidado a garantia prevista no artigo 16 da

Constituiccedilatildeo Federal como forma de um devido processo legal eleitoral

O devido processo visa que se atinja uma decisatildeo conforme a Justiccedila

prestigiando a eacutetica da legalidade ressaltando-se que ele possui um duplo

significado de processo necessaacuterio e processo adequado para tanto COMOGLIO

afirma Que as garantias decorrentes do devido processo legal querem dizer natildeo apenas direito a um processo mas a um justo processo compreendendo a correccedilatildeo e efetividade dos instrumentos disponiacuteveis em juiacutezo e a efetividade e adequaccedilatildeo da proacutepria tutela finalrdquo 14

A Constituiccedilatildeo brasileira de 1988 traz a garantia exarada no seu artigo 5ordm

Art 5ordm - () LIV ndash ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal LV ndash aos litigantes em processo judicial e administrativo e aos acusados em geral seratildeo assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa com os meios de recurso a ela inerentes

Sobre o segundo ponto controverso mateacuteria deste trabalho tem o conflito tem

o conflito entre a Lei Complementar nordm 13510 contra uma garantia constitucional

denominado princiacutepio da natildeo-culpabilidade que eacute inseparaacutevel do conceito de

13 Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011 14 Luigi Paolo COMOGLIO Giuridizione e processo nel quadro delle garanzie constituzionali Rivista Trimestrale di Diritto e Procedura Civile 4 p 1070

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democracia A Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5ordm inciso LVII estabelece uma das

maiores garantias dos indiviacuteduos contra o autoritarismo do Estado afirmando que

ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

condenatoacuteriardquo fixando explicitamente o princiacutepio da natildeo-culpabilidade entre os

direitos fundamentais

42 AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EM JULGADO

A Lei Complementar nordm 1352010 em sua aliacutenea ldquoerdquo do inciso I do artigo 2ordm

possui a seguinte redaccedilatildeo e) os que forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial colegiado desde a condenaccedilatildeo ateacute o transcurso do prazo de 8 (oito) anos apoacutes o cumprimento da pena pelos crimes (Redaccedilatildeo dada pela Lei Complementar nordm 135 de 2010)

Esta aliacutenea visa impedir a candidatura de poliacuteticos condenados a partir da

segunda instacircncia e mesmo que natildeo tenha transitado em julgado Ela defende que

haja uma condenaccedilatildeo criminal no entanto deixa de exigir a configuraccedilatildeo do tracircnsito

em julgado do ato decisoacuterio para que ocorra a inelegibilidade A antiga lei previa que

o candidato soacute seria inelegiacutevel se tivesse condenaccedilatildeo definitiva

As alteraccedilotildees da Lei Complementar nordm 1352010 objetiva atender a um senso

comum do eleitorado afirmando que uma pessoa condenada natildeo deve poder ser

votada isto eacute natildeo deve ter mandato Em seus dizeres trata que a inelegibilidade

natildeo pressupotildee culpa formada natildeo deve haver discussatildeo sobre presunccedilatildeo da

inocecircncia Pode haver inelegibilidade por parentesco por ocupar cargo puacuteblico falta

de domiciacutelio eleitoral ou filiaccedilatildeo partidaacuteria causas que natildeo tecircm nada a ver com

condenaccedilatildeo criminal

A contradiccedilatildeo do argumento da Lei Complementar eacute se a Constituiccedilatildeo em

face do princiacutepio da natildeo-culpabilidade admite a cominaccedilatildeo de inelegibilidade para

quem ainda tem recursos pendentes de julgamento

Caso esta hipoacutetese seja admitida temos que um indiviacuteduo que tenha sido

condenado criminalmente em segunda instacircncia e interponha recurso especial ou

extraordinaacuterio para anular o processo caso natildeo consiga uma medida liminar

suspendendo os efeitos ficaria impedido de concorrer na eleiccedilatildeo

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Imagine-se que ao final da accedilatildeo o cidadatildeo que ficou impedido de concorrer

nas eleiccedilotildees obtivesse vitoacuteria em seu recurso obtendo assim a nulidade da accedilatildeo

bem como da decisatildeo que o condenou com ficaria a situaccedilatildeo deste cidadatildeo

O que se quer com a Lei Complementar nordm 1352010 eacute instituir um moralismo

eleitoral que se sobrepotildee a Constituiccedilatildeo Federal e seu principio constitucional da

natildeo-culpabilidade que eacute a garantia individual contra o Estado

Outro argumento utilizado pelos defensores da constitucionalidade da Lei

Complementar nordm 1352010 satildeo as prisotildees cautelares e que no final o sujeito

acaba sebdo absolvido Ora cabe lembrar-lhes que a prisatildeo cautelar natildeo eacute

antecipaccedilatildeo de pena cumpre ela uma funccedilatildeo processual clara e limitada agrave garantia

da ordem puacuteblica da ordem econocircmica por conveniecircncia da instruccedilatildeo criminal ou

para assegurar a aplicaccedilatildeo da lei penal quando houver prova da existecircncia do crime

e indiacutecio suficiente de autoria

Portanto temos que o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees enquanto natildeo

sobrevier decisatildeo judicial transitada em julgado

O proacuteprio Supremo na Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental

144 jaacute decidiu natildeo barrar candidaturas sem condenaccedilatildeo transitada em julgado

A Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental 144 15 foi votada

em agosto de 2008 antes das eleiccedilotildees municipais Na ocasiatildeo o Supremo Tribunal

Federal decidiu que natildeo poderiam ser barradas candidaturas de poliacuteticos

condenados na primeira instacircncia por conta da presunccedilatildeo de inocecircncia

Em 6 de agosto de 2008 haacute menos de trecircs anos o Supremo Tribunal Federal

julgou improcedente a Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental nordm

144 ajuizada pela Associaccedilatildeo dos Magistrados Brasileiros em voto do ministro

Celso de Mello vencidos os ministros Carlos Ayres e Joaquim Barbosa exatamente

porque O postulado consagrador da garantia de inocecircncia irradia os seus efeitos para aleacutem dos limites dos processos penais de natureza condenatoacuteria impedindo desse modo que situaccedilotildees processuais anda natildeo definidas por sentenccedilas transitadas em julgado provoquem em decorrecircncia das exigecircncias de probidade administrativa e demoralidade a que se refere o sect 9ordm do artigo 14 da Coinstituiccedilatildeo Federal a inelegibilidade dos cidadatildeos ou obstem candidaturas para mandatos eletivos

15Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011

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Portanto ficou definido que Lei Complementar sendo editada para casos de

inelegibilidades esta deveraacute respeitar o princiacutepio da natildeo-culpabilidade Ocorre que

foi editada a Lei Complementar nordm 1352010 que atendeu aos reclamos populares

mas preferiu a um soacute tempo violar a Constituiccedilatildeo Federal e desrespeitar a recente

decisatildeo do Supremo Tribunal Federal mesmo que na eacutepoacuteca desta decisatildeo natildeo

havia lei formal para tal situaccedilatildeo

43 PRINCIacutePIO CONSTITUCIONAL DA NAtildeO-CULPABILIDADE

O princiacutepio da natildeo-culpabilidade eacute direito fundamental previsto na

Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5deg inciso LVII ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute

o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

Isto eacute enquanto natildeo sobrevier uma decisatildeo judicial condenatoacuteria transitada

em julgado o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees em seu patrimocircnio ou em sua

liberdade Caso sobrevenha duacutevida quanto a culpabilidade esta resolveraacute sempre

em favor do reacuteu ou seja aplicando-se o princiacutepio in duacutebio pro reo

Assim disciplina Nelson Nery Juacutenior sobre o princiacutepio da natildeo-culpabilidade ldquoO inteacuterprete deve buscar a aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre tendo como pressuposto o exame da Constituiccedilatildeo Federal Depois sim deve consultar a legislaccedilatildeo infraconstitucional a respeito do temardquo 16

Sendo assim a Constituiccedilatildeo Federal no capiacutetulo sobre os Direitos e Deveres

Individuais e Coletivos em seu artigo 5ordm inciso LVII afirma que ldquoningueacutem seraacute

considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute considerar o

indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila A doutrina e a

jurisprudecircncia aclamam este princiacutepio como vaacuterios nomes como princiacutepio da

presunccedilatildeo de inocecircncia princiacutepio da natildeo-culpabilidade ou simplesmente princiacutepio da

inocecircncia

Joseacute Afonso da Silva em seu livro Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo

disciplina assim esta garantia A norma constitucional do inciso LVII agora sob nosso exame garante a presunccedilatildeo de inocecircncia por meio de um enunciado negativo universal lsquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria Usa-se de uma forma

16 NERY JUacuteNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20

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negativa para outorgar uma garantia positiva Na verdade o texto brasileiro natildeo significa outra coisa senatildeo que fica assegurada a todos a presunccedilatildeo de inocecircncia ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria O tracircnsito em julgado se daacute quando a decisatildeo natildeo comporta mais recurso ordinaacuterio especial ou extraordinaacuterio 17

Nesse sentido o indiviacuteduo acusado natildeo pode ser presumidamente culpado

mas sim inocente Tal princiacutepio visa a tutelar a liberdade pessoal de modo que o

Estado nos mais diferentes segmentos deve abster-se de considerar culpado

aquele que ainda natildeo foi submetido agrave definitividade da atuaccedilatildeo jurisdicional Em se tratando de suspensatildeo dos direitos poliacuteticos a Constituiccedilatildeo Federal

garante que a suspensatildeo somente se daraacute por ldquocondenaccedilatildeo criminal transitada em

julgado enquanto durarem seus efeitosrdquo

Julgamento neste sentido REPRESENTACcedilAtildeO SUSPENSAtildeO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS EM VIRTUDE DE SENTENCcedilA PENAL CONDENATOacuteRIA TRANSITADA EM JULGADO AUTO-APLICABILIDADE DOS ARTIGOS 14 sect 3ordm II E 15 III DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL PROCEDEcircNCIA A suspensatildeo dos direitos poliacuteticos do condenado independe de lei regulamentadora bem como de processo especial de cogniccedilatildeo e de anaacutelise de meacuterito para a execuccedilatildeo da medida no juiacutezo eleitoral posto natildeo se tratar de sanccedilatildeo penal mas de efeito natildeo-penal de condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado e decorrente de mandamento constitucional Comprovado o tracircnsito em julgado da sentenccedila penal condenatoacuteria decreta-se automaticamente a suspensatildeo dos direitos poliacuteticos ativo e passivo do representado ou seja o direito de votar e ser votado com a consequumlente exclusatildeo de seu nome da folha de votaccedilatildeo e declaraccedilatildeo de sua inelegibilidade 18

Logo infere-se que a condenaccedilatildeo criminal sem o tracircnsito em julgado natildeo

desqualifica o condenado a votar e a eventualmente concorrer a qualquer cargo

eletivo

O Colendo Tribunal Superior Eleitoral enfrentou esta questatildeo ao apreciar

pedido de registro de candidatura valendo registrar os seguintes julgados RECURSO ESPECIAL RECEBIDO COMO ORDINAacuteRIO REGISTRO DE CANDIDATURA DEFERIMENTO INELEGIBILIDADE NAtildeO-OCORREcircNCIA Condenaccedilatildeo criminal sem tracircnsito em julgado natildeo eacute apta a ensejar inelegibilidade (precedente do TSE acoacuterdatildeo 536 rel Min Fernando Neves publicado em sessatildeo de 882002) Recurso natildeo provido 19

17 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006 p 155 18 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbrgt TRESCndashAcoacuterdatildeo nordm 13324 de 071094 rel Juiz Nilson B Filho Acesso em 16 set 2011 19 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbr gt TSE- REspEl nordm 20247 de 19902 rel Min Sepuacutelveda Pertence Acesso em 16 set 2011

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INELEGIBILIDADE CONDENACcedilAtildeO CRIMINAL NAtildeO TRANSITADA EM JULGADO CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA ART 14 sect 9deg SUacuteMULA Ndeg 13 DO TSE 1 A existecircncia de sentenccedila criminal condenatoacuteria sem o tracircnsito em julgado natildeo eacute suficiente para ocasionar inelegibilidade 2 O art 14 sect 9deg da Constituiccedilatildeo natildeo eacute auto-aplicaacutevel 3 Necessidade de lei complementar estabelecendo os casos em que a vida pregressa do candidato poderaacute levar agrave sua inelegibilidade bem como os prazos de sua cessaccedilatildeo 4 Recurso provido para julgar improcedente a impugnaccedilatildeo e deferir o registro da candidatura 20

Insculpido na Constituiccedilatildeo Federal o principio da natildeo-culpabilidade deve ser

respeitado por toda lei infraconstitucional alguns doutrinadores como Aristides

Junqueira e Antocircnio Bandeira de Mello em carta publica no sitio do Movimento de

Combate agrave Corrupccedilatildeo Eleitoral21 entendem que neste presente caso natildeo deve ser

aplicado o princiacutepio da natildeo-culpabilidade a inelegibilidade pois esta natildeo eacute pena

mas medida preventiva

Estes juristas se acham alicerccedilados pelo que expressamente estatui o sect 9deg do

artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal em que Lei complementar estabeleceraacute outros

casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim de proteger a probidade

administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato considerada a vida

pregressa do candidato afirmam que uma vez que a proacutepria Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica expressamente permite que o legislador estipule quais elementos da vida

pregressa dos candidatos podem afastaacute-los dos pleitos

Independente desta posiccedilatildeo minoritaacuteria encontra-se que o princiacutepio da natildeo-

culpabilidade eacute prevista em diversos ordenamentos juriacutedicos e tratados como se

veraacute a seguir

Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo da Franccedila de 1789 o art

9da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) de 1948 dispotildee ldquoTodo acusado eacute

considerado inocente ateacute ser declarado culpado e se julgar indispensaacutevel prendecirc-lo

todo o rigor desnecessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deveraacute ser severamente

reprimido pela leirdquo22

20 Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrgt TSE-REspEl nordm 18047 de 2992000 rel Min Fernando Neves da Silva Acesso em 16 set 2011 21 Disponiacutevel em lthttpwwwmcceorgbrsitesdefaultfilescartajuristaspdfgt Acesso em 3 jul 2011 22 Disponiacutevel em lthttppfdcpgrmpfgovbratuacao-e-conteudos-de-apoiolegislacaodireitoshuma nosdeclar_dir_ homem_cidadaopdfgt Acesso em 13 set 2011

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Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos de 1948 diz ldquoToda pessoa

acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocecircncia enquanto natildeo se

comprove legalmente sua culpardquo23

A origem histoacuterica que foi referida teve uma grande importacircncia para se

chegar a um status constitucional conforme eacute citado por Mirabete Existe apenas uma tendecircncia agrave presunccedilatildeo de inocecircncia ou mais precisamente um estado de inocecircncia um estado juriacutedico no qual o acusado eacute inocente ateacute que seja declarado culpado por uma sentenccedila transitada em julgado Por isso a nossa Constituiccedilatildeo Federal natildeo presume a inocecircncia mas declara que ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria (art 5deg LVII) ou seja que o acusado eacute inocente durante o desenvolvimento do processo e seu estado soacute se modifica por uma sentenccedila final que o declare culpado 24

Por fim o princiacutepio da natildeo-culpabilidade visa a proteccedilatildeo do reacuteu para que

este tenha um julgamento justo devendo ser provada sua verdadeira culpa antes

que seja considerado culpado

23 Disponiacutevel em lthttpwwwagugovbrsistemassiteTemplateImagemTextoThumbaspxidConteu do=113927ampordenacao=1ampid_site=4922gt Acesso em 12 set 2011 24 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252

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5 CONCLUSAtildeO Apoacutes as anaacutelises da doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncias pertinentes a este

trabalho verifica-se que a Lei Complementar nordm 1352010 ao instituir nova hipoacutetese

de inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado esta em pleno conflito com o princiacutepio da natildeo-culpabilidade insculpido no

artigo 5ordm inciso LVII da Constituiccedilatildeo Federal o que torna esta nova hipoacutetese

absolutamente inconstitucional

O objetivo da Lei Complementar nordm 1352010 eacute o de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos para que os criteacuterios de inelegibilidades sejam mais

rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos Inicialmente eacute compreensiacutevel a

preocupaccedilatildeo de qualificar o perfil dos candidatos a cargos eletivos atraveacutes da vida

pregressa isto significa querer se representar por candidatos idocircneos

Ocorre que eacute necessaacuterio impor tantas restriccedilotildees para que o cidadatildeo possa

concorrer a determinado pleito natildeo eacute mais correto permitir que o proacuteprio povo

detentor soberano do poder para escolher seus representantes defina seus criteacuterios

de escolha

Quanto ao aspecto juriacutedico vejamos que o legislativo ao criar novas hipoacuteteses

de inelegibilidade deve-se atentar para as garantias jaacute consagradas em nosso

ordenamento principalmente quando esta garantia esta insculpida na Constituiccedilatildeo

Federal garantia esta referente ao principio da natildeo-culpabilidade que reza que

ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

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condenatoacuteria trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute

considerar o indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila

Ocorre que a criaccedilatildeo da Lei Complementar nordm 1352010 nasceu conflitante

com a Constituiccedilatildeo Federal em 2 aspectos primordiais primeiro a natildeo observacircncia

do princiacutepio da anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo

Federal pacificado pela Accedilatildeo Declaratoacuteria de Inconstitucionalidade nordm 3685

afirmando que deve-se respeitar ao principio da anualidade e segundo a

inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado

O segundo conflito origina-se diante da garantia constitucional do princiacutepio da

presunccedilatildeo da natildeo-culpabilidade o qual disciplina que somente poderaacute ser

considerado culpado o acusado de determinado crime quando ocorrer o tracircnsito em

julgado da decisatildeo

Portanto temos que uma decisatildeo de um oacutergatildeo colegiado quando recorriacutevel

ainda natildeo eacute o momento que se consumativo da culpabilidade do acusado pois natildeo

podemos antecipar a puniccedilatildeo de um cidadatildeo com a perda de algum direito pelo

simples fato de estar respondendo a algum processo

A aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre teraacute como pressuposto o

exame da Constituiccedilatildeo Federal que estabelece o princiacutepio da natildeo-culpabilidade

tambeacutem chamado de princiacutepio da presunccedilatildeo de inocecircncia que eacute uma verdadeira

garantia constitucional do indiviacuteduo contra o Estado Portanto deve-se respeitar este

princiacutepio basilar do Estado Democraacutetico de Direito nos mais diferentes segmentos

devendo qualquer Lei abster-se de considerar culpado aquele que ainda natildeo teve

sua decisatildeo transitada em julgado

Assim a Lei Complementar nordm 1352010 eacute contraacuterio ao disposto no texto

constitucional pois de forma antecipada retira do cidadatildeo o direito de disputar ao

pleito de forma igualitaacuteria bem como retira do povo um de seus maiores direitos o

de poder escolher seus representantes

Portanto para fortalecimento do Estado Democraacutetico de Direito se faz

necessaacuterio que as garantias constitucionais prevaleccedilam com isto deve-se

preponderar a presunccedilatildeo de natildeo culpabilidade ateacute o tracircnsito em julgado de da

sentenccedila condenatoacuteria

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REFEREcircNCIAS BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicao_ConstituiccedilaoCompiladohtmgt Acesso em 2 jun 2011 BRASIL Tribunal Superior Eleitoral Coacutedigo eleitoral Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrinternetjurisprudenciacodigo_eleitoralcodigo_eleitoralhtmlgt Acesso em 5 mai 2011 BRASIL Supremo Tribunal Federal Jurisprudecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudenciapesquisarJurisprudenciaaspgt Acesso em 15 mai 2011 BRASIL Projeto de Lei Complementar nordm 518 de 17 de setembro de 2009 Altera a Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 que estabelece de acordo com o sect 9ordm do art 14 da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias para incluir hipoacuteteses de inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no exerciacutecio do mandato Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbrsfatividademateriadetalhesaspp_cod_mate=96850gt Acesso em 19 mai 2011

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BRASIL Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 Estabelece de acordo com o art 14 sect 9ordm da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03LeisLCPLcp64htmgt Acesso em 15 mai 2011 COSTA Adriano Soares Instituiccedilotildees de Direito Eleitoral Ed Del Rey 2006 DI PIETRO Maria Sylvia Zanella Direito Administrativo 9 Ed Satildeo Paulo Atlas 1998 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131 LEAL Saul Tourinho Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt MELLO Celso Antonio Bandeira Curso de Direito Administrativo 24 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2007 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 ed Satildeo Paulo Atlas 2006 Movimento de Combate agrave Corrupccedilatildeo Disponiacutevel em ltwwwmcceorgbrgt Acesso em 3 jul 2011 NERY JUacuteBNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20 PEREIRA Erick Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt Acesso em 30 jun 2011 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2008

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PIRES Maacutercio Rodrigo Kaio Carvalho Abuso do poder poliacutetico nas eleiccedilotildees Jus Navigandi Teresina ano 15 n 2677 30 out 2010 Disponiacutevel em lthttpjusuolcombrrevistatexto17741gt Acesso em 27 jun 2011 RAMAYANA Marcos Direito Eleitoral Impetus Niteroacutei 2006 RESENHA ELEITORAL - Nova Seacuterie v9 n1 (janjun 2002) Disponiacutevel em lt httpwwwtre-scgovbrsiteinstitucionalpublicacoesartigos-doutrinariospublicados- na-resenha-eleitoralresenhasv9-n1-janjun-2002abuso-do-podereconomico- ou-de-autoridadeindexhtmlgt SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006

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1 INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho apresenta um tema atual e de grande relevacircncia e

repercussatildeo tornando imprescindiacutevel um amplo debate

Refere-se agrave Lei Complementar nordm 13510 denominada ldquoLei da Ficha Limpardquo

decorrente do Projeto de Lei nordm 5182009 de iniciativa popular que instituiu uma

nova espeacutecie de inelegibilidade visando impedir a candidatura de poliacuteticos

condenados a partir da segunda instacircncia ou por oacutergatildeo judicial colegiado mesmo

que natildeo tenha transitado em julgado esta decisatildeo

Sendo assim avaliaremos a relevacircncia do princiacutepio constitucional da natildeo-

culpabilidade sobre a oacutetica desta nova hipoacutetese de inelegibilidade ressaltando-se

que os estudos apresentados se baseiam em doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncia

paacutetria

O trabalho desenvolveu-se sobre o seguinte problema de pesquisa se estaacute

nova hipoacutetese de inelegibilidade eacute constitucional ou inconstitucional

O trabalho foi divido em 5 capiacutetulos sendo eles assim tratados

O primeiro capiacutetulo baseia-se na INTRODUCcedilAtildeO do respectivo trabalho

O segundo capiacutetulo trata da ELEGIBILIDADE seu conceito e requisitos

O terceiro capiacutetulo trata das INELEGIBILIDADES no ordenamento juriacutedico

brasileiro sendo elas constitucionais e infraconstitucionais

O quarto capiacutetulo trata especificamente desta NOVA HIPOacuteTESE DE

INELEGIBILIDADE trazendo a origem da Lei Complementar nordm 1352010 sua nova

hipoacutetese de inelegibilidade que dispensa o tracircnsito em julgado e o confronto com o

princiacutepio da natildeo-culpabilidade

O quinto e uacuteltimo capiacutetulo aborda especificamente a CONCLUSAtildeO

Como ponto de partida abordamos a mateacuteria geral ou seja as causas de

inelegibilidade e inelegibilidades existentes no ordenamento juriacutedico atual

caminhando para o caso particular que neste trabalho eacute apresentado pela nova

hipoacutetese de inelegibilidade criada pela Lei Complementar nordm 1352010

Jaacute como meacutetodo de procedimento foi utilizado a teacutecnica de procedimento

monograacutefico que estuda em profundidade determinado fato sob todos os seus

aspectos buscando quanto ao possiacutevel esgotar as duacutevidas surgidas sobre o tema

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O tipo de pesquisa ou fonte de informaccedilatildeo utilizada foi o bibliograacutefico por

utilizar como base de estudo os ensinamentos de doutrina legislaccedilatildeo e

jurisprudecircncia

Por fim a anaacutelise conjunta desses fatos nos mostraraacute de forma esclarecedora

a inconstitucionalidade da aliacutenea ldquoerdquo do inciso I do artigo 2ordm da Lei Complementar nordm

1352010 frente ao princiacutepio constitucional da natildeo-culpabilidade

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2 DA ELEGIBILIDADE 21 CONCEITO DE ELEGIBILIDADE

Pode-se conceituar elegibilidade como sendo a capacidade de ser eleito isto

eacute a qualidade de determinada pessoa ser elegiacutevel nas condiccedilotildees permitidas pela

legislaccedilatildeo Assim conceitua o Tribunal Superior Eleitoral sobre inelegibilidade A elegibilidade eacute na restrita precisatildeo legal o direito do cidadatildeo de ser escolhido mediante votaccedilatildeo direta ou indireta para representante do povo ou da comunidade segundo as condiccedilotildees estabelecidas pela Constituiccedilatildeo e pela legislaccedilatildeo eleitoral1

Joseacute Afonso da Silva na ilustre obra Curso de Direito Constitucional Positivo

doutrinariamente leciona A elegibilidade agrave capacidade de ser eleito observa que goza de elegibilidade todo cidadatildeo que preencha as condiccedilotildees exigidas para concorrer a um mandato eletivo consistindo a mesma no direito de postular a designaccedilatildeo pelos eleitores a um mandato poliacutetico no Legislativo ou no Executivo2

Alexandre de Moraes em sua excelente obra de Direto Constitucional define

da seguinte maneira a elegibilidade ldquoElegibilidade eacute a capacidade eleitoral passiva

consistente na possibilidade de o cidadatildeo pleitear determinados mandatos poliacuteticos

mediante eleiccedilatildeo popular desde que preenchidos certo requisitosrdquo 3

Djalma Pinto com a obra intitulada Direito Eleitoral assim define elegibilidade

ldquoElegibilidade eacute o credenciamento do cidadatildeo para postulaccedilatildeo do registro de sua

candidatura Representa o primeiro estaacutegio a ser percorrido por algueacutem para

exercitar o seu direito a ser votadordquo 4

Em siacutentese preenchidos os requisitos de elegibilidade eacute necessaacuterio que o

cidadatildeo natildeo se encontre em alguma hipoacutetese de inelegibilidade que constitui

impedimento agrave capacidade eleitoral passiva

22 CONDICcedilOtildeES DE ELEGIBILIDADE

Trata-se do conjunto de condiccedilotildees pessoais necessaacuterias agrave habilitaccedilatildeo do

cidadatildeo para pleitear determinados mandatos poliacuteticos mediante eleiccedilatildeo popular

As condiccedilotildees de elegibilidade estatildeo previstas na Constituiccedilatildeo Federal no

artigo 14 sect 3ordm e compreendem a nacionalidade brasileira pleno exerciacutecio dos

1 Disponiacutevel em lthttpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermoselegibilidadehtmgt Acesso em 22 jul 2011 2 SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 p 365 3 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 Ed Satildeo Paulo Atlas 2006 p 215 4 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 Ed Satildeo Paulo Atlas 2008 p 157

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direitos poliacuteticos alistamento eleitoral domiciacutelio eleitoral na circunscriccedilatildeo filiaccedilatildeo

partidaacuteria e idade miacutenima para cargos poliacuteticos

Com estes requisitos a Constituiccedilatildeo Federal vem a limitar quem pode e quem

natildeo pode concorrer para algum cargo poliacutetico

23 NACIONALIDADE BRASILEIRA

A nacionalidade brasileira eacute a primeira condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no

artigo 14 sect 3ordm inciso I da Constituiccedilatildeo Federal

Classifica-se a nacionalidade brasileira em brasileiro nato e brasileiro

naturalizado para tanto eacute necessaacuterio distinguirmos a diferenccedila entre um e outro

Brasileiros natos satildeo aqueles nascidos na Repuacuteblica Federativa do Brasil

ainda que de paiacutes estrangeiros desde que estes natildeo estejam a serviccedilo de seu paiacutes

os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou matildee brasileira desde que qualquer

deles esteja a serviccedilo da Repuacuteblica Federativa do Brasil os nascidos no estrangeiro

de pai brasileiro ou de matildee brasileira desde que sejam registrados em reparticcedilatildeo

brasileira competente ou venham a residir na Repuacuteblica Federativa do Brasil e

optem em qualquer tempo depois de atingida a maioridade pela nacionalidade

brasileira

Brasileiros naturalizados satildeo aqueles que na forma da lei adquiram a

nacionalidade brasileira exigidas aos originaacuterios de paiacuteses de liacutengua portuguesa

apenas residecircncia por um ano ininterrupto e idoneidade moral os estrangeiros de

qualquer nacionalidade residentes na Repuacuteblica Federativa do Brasil haacute mais de

quinze anos ininterruptos e sem condenaccedilatildeo penal desde que requeiram a

nacionalidade brasileira

A Lei tambeacutem distingue a nacionalidade em primaacuteria e secundaacuteria A

nacionalidade primaacuteria tambeacutem denominada de originaacuteria eacute conferida aos

brasileiros natos sendo adquirida no momento do nascimento pelo ius sanguinis

(direito de sangue) ou pelo ius soli (direito de solo) jaacute a nacionalidade secundaacuteria

tambeacutem denominada nacionalidade adquirida eacute conferida aos brasileiros

naturalizados aquela se adquire por vontade proacutepria apoacutes o nascimento e em regra

geral pela naturalizaccedilatildeo

Por fim o sect 2ordm do artigo 12 da Constituiccedilatildeo Federal descreve ldquoA lei natildeo

poderaacute estabelecer distinccedilatildeo entre brasileiros natos e naturalizados salvo nos casos

previstos nesta Constituiccedilatildeordquo com isto fica vedado qualquer tratamento desigual

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entre brasileiro nato e naturalizado salvo disposiccedilatildeo em contraacuterio na Constituiccedilatildeo

Federal

A exceccedilatildeo citada no sect 2ordm do artigo 12 da Constituiccedilatildeo Federal permite a

distinccedilatildeo entre brasileiros natos e naturalizados para ocupar determinados cargos

esta exceccedilatildeo estaacute disposta no artigo 12 sect 3ordm da Constituiccedilatildeo Federal que permite

que alguns cargos sejam privativos de brasileiro nato natildeo permitindo que os

naturalizados venham a ocupar tais posiccedilotildees

Esta exceccedilatildeo restringe-se para os cargos privativos de Presidente e Vice-

Presidente da Repuacuteblica Presidente da Cacircmara dos Deputados Presidente do

Senado Federal Ministro do Supremo Tribunal Federal carreira diplomaacutetica de

oficial das Forccedilas Armadas e de Ministro de Estado da Defesa

24 PLENO EXERCIacuteCIO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS

O pleno exerciacutecio dos direitos poliacuteticos eacute a segunda condiccedilatildeo de elegibilidade

prevista no artigo 14 sect 3ordm inciso II da Constituiccedilatildeo Federal o Tribunal Superior

Eleitoral assim o conceitua Direitos poliacuteticos eacute o conjunto dos direitos atribuiacutedos ao cidadatildeo que lhe permite atraveacutes do voto do exerciacutecio de cargos puacuteblicos ou da utilizaccedilatildeo de outros instrumentos constitucionais e legais ter efetiva participaccedilatildeo e influecircncia nas atividades de governo Estar no gozo dos direitos poliacuteticos significa pois estar habilitado a alistar-se eleitoralmente habilitar-se a candidaturas para cargos eletivos ou a nomeaccedilotildees para certos cargos puacuteblicos natildeo eletivos participar de sufraacutegios votar em eleiccedilotildees plebiscitos e referendos apresentar projetos de lei pela via da iniciativa popular e propor accedilatildeo popular 5

Djalma Pinto em sua obra intitulada ldquoDireito eleitoral ndash Improbidade

Administrativa e Responsabilidade Fiscalrdquo dispotildee sobre esta condiccedilatildeo de

elegibilidade O pleno exerciacutecio dos direitos poliacuteticos eacute condiccedilatildeo essencial para a configuraccedilatildeo de elegibilidade A plenitude dos direitos poliacuteticos se expressa pela aptidatildeo para votar e ser votado Sem encontrar-se apto a seu exerciacutecio natildeo eacute possiacutevel ao indiviacuteduo nem se alistar nem tampouco se filiar partido requisitos imprescindiacuteveis agrave configuraccedilatildeo da elegibilidade 6

Sendo assim o pleno exerciacutecio dos direitos poliacuteticos eacute requisito essencial

para o cidadatildeo estar na condiccedilatildeo de elegibilidade Aquele que perder ou tiver seus 5 Disponiacutevel em lthttpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermosdireitos_politicoshtmgt Acesso em 22 jul 2011 6 PINTO Djalma Direito eleitoral ndash improbidade administrativa e Responsabilidade Fiscal 3 Ed Satildeo Paulo Atlas 2006

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direitos poliacuteticos suspensos ou cancelados ficaraacute impedido de exercer a capacidade

eleitoral passiva

A Constituiccedilatildeo Federal prevecirc no artigo 15 causas de perda ou suspensatildeo dos

direitos poliacuteticos que podem ocorrer devido ao cancelamento da naturalizaccedilatildeo por

sentenccedila judicial transitada em julgado condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado

enquanto durarem seus efeitos recusa de cumprir obrigaccedilatildeo a todos imposta ou

prestaccedilatildeo alternativa nos termos do art 5ordm VIII improbidade administrativa nos

termos do art 37 sect 4ordm

25 ALISTAMENTO ELEITORAL

O alistamento eleitoral eacute a terceira condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo

14 sect 3ordm inciso III da Constituiccedilatildeo Federal o Tribunal Superior Eleitoral assim o

conceitua Eacute a primeira fase do processo eleitoral Eacute um procedimento administrativo cartoraacuterio e compreende dois atos inconfundiacuteveis a qualificaccedilatildeo e a inscriccedilatildeo do eleitor A qualificaccedilatildeo eacute a prova de que o cidadatildeo satisfaz as exigecircncias legais para exercer o direito de voto enquanto que a inscriccedilatildeo faz com que o mesmo passe a integrar o Cadastro Nacional de Eleitores da Justiccedila Eleitoral O ato de alistamento eacute feito por meio de processamento eletrocircnico e se perfaz pelo preenchimento do requerimento de alistamento eleitoral (RAE) na forma da resoluccedilatildeo do TSE e da legislaccedilatildeo eleitoral Eacute a forma pela qual o cidadatildeo adquire seus direitos poliacuteticos tornando-se titular de direito poliacutetico ativo (capacidade para votar) e possibilitando sua elegibilidade e filiaccedilatildeo partidaacuteria apoacutes a expediccedilatildeo do respectivo tiacutetulo eleitoral 7

Portanto para o cidadatildeo ser eleitor eacute preciso que ele se aliste e para ele ser

elegiacutevel eacute preciso que ele jaacute seja eleitor

26 O DOMICIacuteLIO ELEITORAL NA CIRCUNSCRICcedilAtildeO

O domiciacutelio eleitoral eacute a quarta condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14

sect 3ordm inciso IV da Constituiccedilatildeo Federal

Domiciacutelio eleitoral eacute o lugar da residecircncia ou moradia do requerente agrave

inscriccedilatildeo eleitoral assim dispotildee o artigo 42 paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo Eleitoral

que Para efeito de inscriccedilatildeo eacute domiciacutelio eleitoral o lugar de residecircncia ou moradia

do requerente e verificado ter o alistando mais de uma considerar-se-aacute domiciacutelio

qualquer delas

7Disponiacutevel em lthttpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermosalistamento_eleitoralhtmgt Acesso em 22 jul 2011

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Djalma Pinto acerca do domiciacutelio eleitoral assevera ldquoO domicilio eleitoral por

sua vez eacute o lugar da residecircncia ou moradia onde o cidadatildeo formaliza seu

alistamentordquo 8

A legislaccedilatildeo requer que o candidato a um cargo eletivo natildeo incorra em

incompatibilidades ou inelegibilidades e possua domicilio eleitoral na circunscriccedilatildeo a

qual deseja concorrer Sobre a circunscriccedilatildeo eleitoral o Tribunal Superior Eleitoral

assim o define Espaccedilo geograacutefico onde se trava determinada eleiccedilatildeo Assim o paiacutes na eleiccedilatildeo do presidente e vice-presidente da Repuacuteblica o estado nas eleiccedilotildees para governador e vice-governador deputados federais e estaduais e senadores o municiacutepio nas eleiccedilotildees de prefeito e vereadores e o distrito onde e quando se realiza a eleiccedilatildeo pelo sistema distrital 9

Para concorrer as eleiccedilotildees o candidato deveraacute possuir domiciacutelio eleitoral na

respectiva circunscriccedilatildeo pelo prazo de pelo menos um ano antes do pleito e estar

com a filiaccedilatildeo deferida pelo partido no mesmo prazo eacute o que dispotildee o artigo 9deg da

Lei 950497

27 FILIACcedilAtildeO PARTIDAacuteRIA

A filiaccedilatildeo partidaacuteria eacute a quinta condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14

sect 3ordm inciso V da Constituiccedilatildeo Federal

Eacute o ato formal e solene o pelo qual um eleitor aceita e adota o programa de

um partido poliacutetico viacutenculo que se estabelece entre o poliacutetico e o partido Eacute condiccedilatildeo

de elegibilidade conforme disposto no artigo 14 sect3ordm inciso V da Constituiccedilatildeo

Federal Nos termos do artigo 16 da Lei dos Partidos Poliacuteticos Lei nordm 909695 soacute

pode filiar-se a partido o eleitor que estiver no pleno gozo de seus direitos poliacuteticos

Todavia a exceccedilotildees sobre a filiaccedilatildeo partidaacuteria como no caso de candidatura

de magistrados membros dos Tribunais de Contas Ministeacuterio Puacuteblico e militares

como exemplo vejamos a exceccedilatildeo dos militares estes querendo concorrer a cargo

puacuteblico eletivo possuindo menos de dez anos de serviccedilo deveraacute solicitar

afastamento definitivo da atividade atraveacutes de demissatildeo ou licenciamento ex-officio

caso venha a possuir mais de dez anos de serviccedilo deveraacute ser agregado pela

8 PINTO Djalma Direito eleitoral ndash improbidade administrativa e Responsabilidade Fiscal 3 Ed Satildeo Paulo Atlas 2006 9 Disponiacutevel em httpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermoscircunscricao_eleitoralhtmgt Acesso em 22 jul 2011

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autoridade superior e se eleito passaraacute automaticamente no ato da diplomaccedilatildeo

para a inatividade

28 IDADE MIacuteNIMA

Idade miacutenima eacute a uacuteltima condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14 sect 3ordm

inciso VI da Constituiccedilatildeo Federal

Para o cargo de Presidente e Vice-Presidente da Repuacuteblica e para Senadores

e suplentes a idade miacutenima de 35 anos para o cargo de Governado e Vice-

Governador de Estado ou do Distrito Federal idade miacutenima de 30 anos para os

cargos de Deputado Federal Estadual Distrital Prefeito e Vice-Prefeito e Juiz de

paz a idade miacutenima de 21 anos e por fim para o cargo de vereador a idade

miacutenima de 18 anos

Dispotildee a Lei 95041997 artigo 11 sect 2ordm que a verificaccedilatildeo da idade seraacute feita

na data da posse no respectivo cargo pressupotildee que um menor de 17 anos de

idade possa se candidatar ao cargo de vereador bastando que na data da posse

conte com 18 anos completos

Alguns doutrinadores entretanto discordam dessa interpretaccedilatildeo entendendo

que natildeo poderia o legislador infra-constitucional dizer a mais do que a proacutepria

Constituiccedilatildeo estabeleceu assim leciona o Gilmar Mendes em sua obra Curso de

Direito Constitucional Natildeo haacute que se falar em momento da posse como aceitaacutevel para se perfazer a condiccedilatildeo de elegibilidade no tocante a idade miacutenima pois a Constituiccedilatildeo jaacute determinou que o momento da afericcedilatildeo para elegibilidade deve ser o do registro da candidatura 10

Tem prevalecido a verificaccedilatildeo da idade miacutenima na data da posse

10 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 Ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 p803

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3 DA INELEGIBILIDADE 31 CONCEITO DE INELEGIBILIDADE

Joseacute Afonso da Silva em sua ilustre obra Curso de Direito Constitucional

Positivo doutrinariamente leciona que ldquoa inelegibilidade obsta a elegibilidade

revelando um impedimento ao direito de ser votado que eacute a capacidade eleitoral

passivardquo 11

A inelegibilidade resulta no impedimento parcial ou seja temporaacuterio da

capacidade eleitoral passiva restringindo o cidadatildeo de ser votado nas hipoacuteteses

previstas na Lei Complementar nordm 641990 Lei Complementar nordm 1352010 e na

Constituiccedilatildeo Federal

Sua finalidade tem por objetivo a probidade administrativa a normalidade

para o exerciacutecio do mandato considerada a vida pregressa do candidato e a

normalidade e a legitimidade das eleiccedilotildees contra a influecircncia do poder econocircmico ou

o abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo cargo ou emprego na administraccedilatildeo direta ou

indireta

A inelegibilidade pode ser absoluta proibindo a candidatura agraves eleiccedilotildees em

geral ou relativa impossibilitando a postulaccedilatildeo a determinado mandato eletivo

Sendo assim o cidadatildeo que almeja se candidatar a cargo eletivo deve

atender as condiccedilotildees de elegibilidade e natildeo incorrer em nenhuma causa de

inelegibilidade

32 ESPEacuteCIES DE INELEGIBILIDADE

As espeacutecies de inelegibilidade podem ser constitucionais e

infraconstitucionais as constitucionais dividem-se em absoluta e relativa

A inelegibilidade constitucional absoluta consiste no impedimento eleitoral

que restringe o cidadatildeo de concorrer a qualquer cargo eletivo refere-se a

determinada caracteriacutestica do indiviacuteduo ou seja eacute de caraacuteter pessoal sendo

11 SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 Ed Satildeo Paulo Malheiros 012004 p 387

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taxativamente prevista pela Constituiccedilatildeo Federal e a inelegibilidade constitucional

relativa compreende o impedimento eleitoral que restringe o cidadatildeo de concorrer a

determinados cargos em determinada eleiccedilatildeo refere-se a situaccedilotildees especiais e

momentacircneas tais como motivos funcionais de casamento de parentescos

A inelegibilidade infraconstitucional eacute disciplinada na Lei Complementar ndeg

641990 alterada pela Lei Complementar ndeg 1352010

Eacute relevante a distinccedilatildeo entre as inelegibilidades constitucionais e

infraconstitucionais como bem ressaltado por Joseacute Jairo Gomes A distinccedilatildeo que se faz entre inelegibilidades constitucionais e legais natildeo eacute cerebrina apresentando inegaacutevel relevacircncia praacutetica Basta dizer que natildeo haacute preclusatildeo quanto agraves primeiras as quais podem ser arguumlidas na fase do registro de candidatura ou posteriormente antes ou depois das eleiccedilotildees A arguumliccedilatildeo posterior pode ser feita no RCED (CE art 262 I) Jaacute as inelegibilidades legais sujeitam-se agrave preclusatildeo se natildeo forem levantadas na fase de registro de candidatura Ultrapassado esse momento natildeo mais poderatildeo ser discutidas salvo se supervenientes 12

33 INELEGIBILIDADE CONSTITUCIONAL

A inelegibilidade constitucional dividi-se em absoluta e relativa

A inelegibilidade constitucional absoluta estabelecida no sect 4deg do artigo 14 da

Constituiccedilatildeo Federal prevecirc que satildeo inelegiacuteveis os inalistaacuteveis e os analfabetos

A inelegibilidade decorrente da inalistabilidade abrange todos que natildeo se

encontram na situaccedilatildeo de alistabilidade tambeacutem aqueles que se encontram em

estado definitivo ou temporariamente privados de seus direitos poliacuteticos por fim

atinge aqueles que natildeo sabem exprimir-se na liacutengua nacional e os estrangeiros

A inelegibilidade decorrente do analfabetismo natildeo permite que o analfabeto

seja elegiacutevel mas permite que ele seja alistaacutevel exercendo assim a sua capacidade

de votar mas nunca a de ser votado

Estas hipoacuteteses restringem ao cidadatildeo se candidatarem a qualquer cargo

eletivo em qualquer eleiccedilatildeo enquanto perdurar esta situaccedilatildeo restritiva

As hipoacuteteses de inelegibilidades constitucionais relativas referem-se a

situaccedilotildees especiais separando-as por motivos funcionais motivos parentais motivos

militares e encontram-se dispostas no artigo 14 sectsect 5deg ao 9deg da Constituiccedilatildeo Federal

12 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131

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A inelegibilidade por motivo funcional eacute decorrente de o cidadatildeo estar em

exerciacutecio de alguma funccedilatildeo puacuteblica Satildeo previstas duas situaccedilotildees

A primeira declara ser inelegiacutevel para o mesmo cargo em terceiro periacuteodo

subsequumlente o Presidente da Repuacuteblica os Governadores de Estado e do DF os

Prefeitos e quem os houver sucedido ou substituiacutedo nos seis meses antes das

eleiccedilotildees Eacute o que dispotildee o sect 5deg do artigo 14 na redaccedilatildeo da Emenda Constitucional

161997

Portanto soacute eacute permitida uma reconduccedilatildeo ou seja eacute permitida a reeleiccedilatildeo de

Chefes do Executivo ou seus substitutos para apenas um periacuteodo subsequumlente

A segunda situaccedilatildeo considera que satildeo inelegiacuteveis para concorrer a outros

cargos o Presidente da Repuacuteblica os Governadores de Estado e do DF e os

Prefeitos salvo se tiverem se desincompatibilizado com a renuacutencia do cargo ateacute

seis meses antes do pleito Eacute o que prevecirc o sect 6deg do artigo 14 da Constituiccedilatildeo

Federal

Os servidores puacuteblicos que ocuparem algum cargo de livre nomeaccedilatildeo

demissiacuteveis ad nutum seratildeo exonerados para que possam concorrer a cargo

eletivo ou seja natildeo poderatildeo manter qualquer viacutenculo com a entidade na qual

desempenhava suas funccedilotildees

Os servidores puacuteblicos concursados ao contraacuterio dos servidores ocupantes

de cargos de livre nomeaccedilatildeo natildeo seratildeo exonerados ou demitidos apenas se

afastaratildeo de suas funccedilotildees para se candidatar a cargo puacuteblico

A inelegibilidade por motivo de parentesco tambeacutem denominada de

inelegibilidade reflexa estaacute relacionada a condiccedilotildees inerentes ao parentesco

sanguumliacuteneo soacutecio-afetivo ou condiccedilatildeo matrimonial

Assim conforme previsto no sect 7ordm do artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal estas

mesmas pessoas impedidas para determinados cargos podem concorrer para outros

cargos que se processem em territoacuterio de outra circunscriccedilatildeo

A inelegibilidade reflexa aproxima-se da inelegibilidade absoluta a diferenccedila

ocorre que na reflexa pode cessar por vontade das pessoas envolvidas um exemplo

claro eacute a renuacutencia seis meses antes do pleito do Presidente da Repuacuteblica

Assim temos que a inelegibilidade por motivo de parentesco ou reflexa visa a

impedir a formaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do poder poliacutetico em matildeos de uma determinada

famiacutelia

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A inelegibilidade por motivos militares visa que o militar enquanto em serviccedilo

ativo natildeo pode estar filiado a partidos poliacuteticos entretanto a Constituiccedilatildeo Federal

em seu artigo 14 relata que atendidas certas condiccedilotildees o militar alistaacutevel se torna

elegiacutevel sendo estas as condiccedilotildees se contar com menos de dez anos de serviccedilo

deveraacute afastar-se da atividade e se contar com mais de dez ano de serviccedilo seraacute

agregado pela autoridade superior e se eleito passaraacute automaticamente no ato da

diplomaccedilatildeo para a inatividade

34 INELEGIBILIDADE INFRACONSTITUCIONAL

Por se tratar de inuacutemeras hipoacuteteses de inelegibilidades infraconstitucionais

natildeo seraacute possiacutevel tratar todos os casos previstos em lei para tanto adentraremos a

anaacutelise de algumas hipoacuteteses dispostas na Lei Complementar nordm 641990

As inelegibilidades infraconstitucionais satildeo instituiacutedas por Lei Complementar

que estabeleceraacute outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim

de proteger a probidade administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato

considerado vida pregressa do candidato e a normalidade e legitimidade das

eleiccedilotildees contra a influecircncia do poder econocircmico ou o abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo

cargo ou emprego na administraccedilatildeo direta ou indireta

As causas de inelegibilidade infraconstitucionais estatildeo previstas no artigo 1ordm

da Lei Complementar nordm 641990 alterado dentre outras atraveacutes da recente Lei

Complementar ndeg 1352010 conhecida como a Lei da Ficha Limpa

Dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquobrdquo da Lei Complementar nordm 641990 que os

membros do Congresso Nacional das Assembleacuteias Legislativas da Cacircmara

Legislativa e das Cacircmaras Municipais que hajam perdido os respectivos mandatos

por infringecircncia do disposto nos incisos I e II do art 55 da Constituiccedilatildeo Federal dos

dispositivos equivalentes sobre perda de mandato das Constituiccedilotildees Estaduais e

Leis Orgacircnicas dos Municiacutepios e do Distrito Federal para as eleiccedilotildees que se

realizarem durante o periacuteodo remanescente do mandato para o qual foram eleitos e

nos oito anos subsequumlentes ao teacutermino da legislatura

Sendo assim satildeo inelegiacuteveis os parlamentares cujo procedimento for

declarado incompatiacutevel com o decoro parlamentar e desde a expediccedilatildeo do diploma

firmar ou manter contrato com pessoa juriacutedica de direito puacuteblico autarquia empresa

puacuteblica sociedade de economia mista ou empresa concessionaacuteria de serviccedilo

puacuteblico salvo quando o contrato obedecer a claacuteusulas uniformes aceitar ou exercer

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cargo funccedilatildeo ou emprego remunerado inclusive os de que sejam demissiacuteveis ad

nutum nas entidades constantes da aliacutenea anterior e desde a posse ser

proprietaacuterios controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente

de contrato com pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou nela exercer funccedilatildeo

remunerada ocupar cargo ou funccedilatildeo de que sejam demissiacuteveis ad nutum nas

entidades referidas no inciso I a patrocinar causa em que seja interessada

qualquer das entidades a que se refere o inciso I a ser titulares de mais de um

cargo ou mandato puacuteblico eletivo

Portando o parlamentar que infringir o disposto no artigo 54 teraacute seu mandato

cassado Jaacute no inciso II do artigo 55 o Deputado ou Senador perderaacute o mandato

quando o procedimento for declarado incompatiacutevel com o decoro parlamentar A

Constituiccedilatildeo Federal prevecirc como falta de decoro o disciplinado no artigo 55 sect 1ordm

Por fim eacute incompatiacutevel com o decoro parlamentar os casos definidos no regimento

interno

Assim dispotildee o artigo 1ordm Inciso I aliacutenea ldquocrdquo da Lei Complementar nordm 641990

Governador e o Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal e o Prefeito e o

Vice-Prefeito que perderem seus cargos eletivos por infringecircncia a dispositivo da

Constituiccedilatildeo Estadual da Lei Orgacircnica do Distrito Federal ou da Lei Orgacircnica do

Municiacutepio para as eleiccedilotildees que se realizarem durante o periacuteodo remanescente e

nos 8 (oito) anos subsequentes ao teacutermino do mandato para o qual tenham sido

eleitos

Tal dispositivo busca evitar que os chefes do poder executivos retornem a

vida puacuteblica no mandato seguinte e nas eleiccedilotildees para as demais esferas Este

dispositivo preserva a moralidade puacuteblica O prazo de 8 anos de inabilitaccedilatildeo seraacute

contado a partir da data que tiver sido proferida a decisatildeo por crime de

responsabilidade

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquodrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tenham contra sua pessoa representaccedilatildeo julgada procedente pela Justiccedila

Eleitoral em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo colegiado em

processo de apuraccedilatildeo de abuso do poder econocircmico ou poliacutetico para a eleiccedilatildeo na

qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como para as que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes

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Primeiramente eacute necessaacuterio conceituar o que eacute abuso de poder econocircmico de

abuso de poder poliacutetico

Abuso de poder econocircmico consiste na utilizaccedilatildeo de bens ou serviccedilos de

empresas particulares ou recursos proacuteprios do candidato gerando assim uma

desproporccedilatildeo entre os candidatos exemplo Se um candidato eacute proprietaacuterio de uma

grande empresa e faz uso dela para custear sua campanha sem realizar doaccedilatildeo de

campanha prevista na Lei 950497

Abuso do poder poliacutetico consiste no emprego de serviccedilos ou bens

pertencentes a administraccedilatildeo puacuteblica com o objetivo de propiciar a eleiccedilatildeo de

determinado candidato

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquofrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que forem declarados indignos do oficialato ou com ele incompatiacuteveis pelo prazo

de 8 (oito) anos

Oficialato eacute o cargo ou dignidade de oficial seja das forccedilas armadas poliacutecia

militar ou corpo de bombeiros A competecircncia para apreciar e declarar a indignidade

do oficialato seraacute do Superior Tribunal Militar

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquogrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tiverem suas contas relativas ao exerciacutecio de cargos ou funccedilotildees puacuteblicas

rejeitadas por irregularidade insanaacutevel que configure ato doloso de improbidade

administrativa e por decisatildeo irrecorriacutevel do oacutergatildeo competente salvo se esta houver

sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciaacuterio para as eleiccedilotildees que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes contados a partir da data da decisatildeo aplicando-se o

disposto no inciso II do art 71 da Constituiccedilatildeo Federal a todos os ordenadores de

despesa sem exclusatildeo de mandataacuterios que houverem agido nessa condiccedilatildeo

Esta decisatildeo eacute administrativa e traraacute a consequumlecircncia de inelegibilidade para

isso a irregularidade tem de ser insanaacutevel

A competecircncia para julgar estas irregularidades compete ao Poder

Legislativo seja no acircmbito federal estadual ou municipal

A analise desta insanabilidade poderaacute caber a Justiccedila Eleitoral como por

exemplo no pedido de registro de candidatura por algueacutem que teve suas contas

rejeitadas

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquohrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os detentores de cargo na administraccedilatildeo puacuteblica direta indireta ou fundacional que

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beneficiarem a si ou a terceiros pelo abuso do poder econocircmico ou poliacutetico que

forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial

colegiado para a eleiccedilatildeo na qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como

para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes

Aqui natildeo se trata de cargo eletivo mas sim de cargos por concurso puacuteblico ou

por provimento em comissatildeo

A finalidade eacute por fim a reeleiccedilatildeo para aqueles que estatildeo em cargos de chefia

do poder executivo que tenham cometido abuso do poder econocircmico ou poliacutetico

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquoirdquo da Lei Complementar nordm 641990)

os que em estabelecimentos de creacutedito financiamento ou seguro que tenham sido

ou estejam sendo objeto de processo de liquidaccedilatildeo judicial ou extrajudicial hajam

exercido nos 12 (doze) meses anteriores agrave respectiva decretaccedilatildeo cargo ou funccedilatildeo

de direccedilatildeo administraccedilatildeo ou representaccedilatildeo enquanto natildeo forem exonerados de

qualquer responsabilidade

O que a lei busca nesta situaccedilatildeo eacute deixar aquele que administrou os referidos

estabelecimentos fora de qualquer participaccedilatildeo poliacutetica enquanto natildeo forem

apurados todos os fatos que levaram a insolvecircncia

Portanto o maior objetivo desta causa de inelegibilidade eacute assegurar que o

ex-administrado de estabelecimento de creacutedito financiamento ou seguro natildeo venha

a eleger-se a cargo eletivo sem antes ter sido apurada sua participaccedilatildeo para

insolvecircncia

Outras causas de inelegibilidades incluiacutedas pela Lei Complementar nordm

1352010 estatildeo previstas nos incisos j a q da referida Lei

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4 DA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE 41 ORIGEM DA LEI COMPLEMENTAR Nordm 1352010

Com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o Brasil passa a ser um

Estado Democraacutetico de Direito inaugurando uma democracia participativa

Esta democracia participativa permite ao cidadatildeo desde que preenchidos

determinados requisitos dar iniacutecio a um projeto de Lei atraveacutes da chamada Iniciativa

Popular A origem da Lei Complementar nordm 1352010 decorreu do Projeto de Lei nordm

5182009 sob a coordenaccedilatildeo do Movimento de Combate a Corrupccedilatildeo Eleitoral ndash

MCCE que teve iniacutecio em abril de 2008 com o objetivo de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos a finalidade eacute que os criteacuterios de inelegibilidades sejam

mais rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos

Esta Lei Complementar dita que pessoas condenadas por um colegiado

independente do tracircnsito em julgado satildeo inelegiacuteveis portanto podem ter seus

registros de candidaturas negados alem de incluir parlamentares que renunciaram

ao cargo para assim evitar uma possiacutevel abertura de processo por quebra de decoro

ou por desrespeito agrave Constituiccedilatildeo com a finalidade uacutenica de evitar possiacuteveis

puniccedilotildees

A Lei Complementar 1352010 traacutes inuacutemeros confrontos com a Constituiccedilatildeo

Federal sendo dois os mais relevantes primeiro a natildeo observacircncia do princiacutepio da

anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal e segundo

o desrespeito ao princiacutepio da natildeo-culpabilidade tambeacutem estabelecido na

Constituiccedilatildeo federal no artigo 5ordm inciso LVII

Sobre o primeiro ponto que trata da aplicabilidade da Lei Complementar nordm

1352010 para as eleiccedilotildees de 2010 restou soberana a decisatildeo do Supremo

Tribunal Federal ao resolver o conflito afirmando que o artigo 16 da Constituiccedilatildeo

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Federal ao submeter a alteraccedilatildeo legal do processo eleitoral agrave regra da anualidade

constitui uma garantia fundamental para o pleno exerciacutecio de direitos poliacuteticos

Esta pacificaccedilatildeo se deu no julgamento da Accedilatildeo Declaratoacuteria de

Inconstitucionalidade nordm 3685 13 onde atuou como Relatora a Ministra Ellen Gracie

que identificou como uma garantia fundamental do cidadatildeo-eleitor do cidadatildeo-

candidato e dos partidos poliacuteticos o artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal

A Ministra Ellen Gracie utilizou-se de uma analogia com o julgamento da

Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade 939 que teve como relator Ministro Sydnei

Sanches com a garantia da anterioridade tributaacuteria fixada no artigo 150 III b no

sentido de que se o princiacutepio da anterioridade tributaacuteria constitui uma garantia do

cidadatildeo-contribuinte o princiacutepio da anterioridade eleitoral tambeacutem eacute uma garantia do

cidadatildeo do eleitor do candidato e dos partidos poliacuteticos

Desta forma restou consolidado a garantia prevista no artigo 16 da

Constituiccedilatildeo Federal como forma de um devido processo legal eleitoral

O devido processo visa que se atinja uma decisatildeo conforme a Justiccedila

prestigiando a eacutetica da legalidade ressaltando-se que ele possui um duplo

significado de processo necessaacuterio e processo adequado para tanto COMOGLIO

afirma Que as garantias decorrentes do devido processo legal querem dizer natildeo apenas direito a um processo mas a um justo processo compreendendo a correccedilatildeo e efetividade dos instrumentos disponiacuteveis em juiacutezo e a efetividade e adequaccedilatildeo da proacutepria tutela finalrdquo 14

A Constituiccedilatildeo brasileira de 1988 traz a garantia exarada no seu artigo 5ordm

Art 5ordm - () LIV ndash ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal LV ndash aos litigantes em processo judicial e administrativo e aos acusados em geral seratildeo assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa com os meios de recurso a ela inerentes

Sobre o segundo ponto controverso mateacuteria deste trabalho tem o conflito tem

o conflito entre a Lei Complementar nordm 13510 contra uma garantia constitucional

denominado princiacutepio da natildeo-culpabilidade que eacute inseparaacutevel do conceito de

13 Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011 14 Luigi Paolo COMOGLIO Giuridizione e processo nel quadro delle garanzie constituzionali Rivista Trimestrale di Diritto e Procedura Civile 4 p 1070

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democracia A Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5ordm inciso LVII estabelece uma das

maiores garantias dos indiviacuteduos contra o autoritarismo do Estado afirmando que

ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

condenatoacuteriardquo fixando explicitamente o princiacutepio da natildeo-culpabilidade entre os

direitos fundamentais

42 AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EM JULGADO

A Lei Complementar nordm 1352010 em sua aliacutenea ldquoerdquo do inciso I do artigo 2ordm

possui a seguinte redaccedilatildeo e) os que forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial colegiado desde a condenaccedilatildeo ateacute o transcurso do prazo de 8 (oito) anos apoacutes o cumprimento da pena pelos crimes (Redaccedilatildeo dada pela Lei Complementar nordm 135 de 2010)

Esta aliacutenea visa impedir a candidatura de poliacuteticos condenados a partir da

segunda instacircncia e mesmo que natildeo tenha transitado em julgado Ela defende que

haja uma condenaccedilatildeo criminal no entanto deixa de exigir a configuraccedilatildeo do tracircnsito

em julgado do ato decisoacuterio para que ocorra a inelegibilidade A antiga lei previa que

o candidato soacute seria inelegiacutevel se tivesse condenaccedilatildeo definitiva

As alteraccedilotildees da Lei Complementar nordm 1352010 objetiva atender a um senso

comum do eleitorado afirmando que uma pessoa condenada natildeo deve poder ser

votada isto eacute natildeo deve ter mandato Em seus dizeres trata que a inelegibilidade

natildeo pressupotildee culpa formada natildeo deve haver discussatildeo sobre presunccedilatildeo da

inocecircncia Pode haver inelegibilidade por parentesco por ocupar cargo puacuteblico falta

de domiciacutelio eleitoral ou filiaccedilatildeo partidaacuteria causas que natildeo tecircm nada a ver com

condenaccedilatildeo criminal

A contradiccedilatildeo do argumento da Lei Complementar eacute se a Constituiccedilatildeo em

face do princiacutepio da natildeo-culpabilidade admite a cominaccedilatildeo de inelegibilidade para

quem ainda tem recursos pendentes de julgamento

Caso esta hipoacutetese seja admitida temos que um indiviacuteduo que tenha sido

condenado criminalmente em segunda instacircncia e interponha recurso especial ou

extraordinaacuterio para anular o processo caso natildeo consiga uma medida liminar

suspendendo os efeitos ficaria impedido de concorrer na eleiccedilatildeo

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Imagine-se que ao final da accedilatildeo o cidadatildeo que ficou impedido de concorrer

nas eleiccedilotildees obtivesse vitoacuteria em seu recurso obtendo assim a nulidade da accedilatildeo

bem como da decisatildeo que o condenou com ficaria a situaccedilatildeo deste cidadatildeo

O que se quer com a Lei Complementar nordm 1352010 eacute instituir um moralismo

eleitoral que se sobrepotildee a Constituiccedilatildeo Federal e seu principio constitucional da

natildeo-culpabilidade que eacute a garantia individual contra o Estado

Outro argumento utilizado pelos defensores da constitucionalidade da Lei

Complementar nordm 1352010 satildeo as prisotildees cautelares e que no final o sujeito

acaba sebdo absolvido Ora cabe lembrar-lhes que a prisatildeo cautelar natildeo eacute

antecipaccedilatildeo de pena cumpre ela uma funccedilatildeo processual clara e limitada agrave garantia

da ordem puacuteblica da ordem econocircmica por conveniecircncia da instruccedilatildeo criminal ou

para assegurar a aplicaccedilatildeo da lei penal quando houver prova da existecircncia do crime

e indiacutecio suficiente de autoria

Portanto temos que o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees enquanto natildeo

sobrevier decisatildeo judicial transitada em julgado

O proacuteprio Supremo na Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental

144 jaacute decidiu natildeo barrar candidaturas sem condenaccedilatildeo transitada em julgado

A Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental 144 15 foi votada

em agosto de 2008 antes das eleiccedilotildees municipais Na ocasiatildeo o Supremo Tribunal

Federal decidiu que natildeo poderiam ser barradas candidaturas de poliacuteticos

condenados na primeira instacircncia por conta da presunccedilatildeo de inocecircncia

Em 6 de agosto de 2008 haacute menos de trecircs anos o Supremo Tribunal Federal

julgou improcedente a Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental nordm

144 ajuizada pela Associaccedilatildeo dos Magistrados Brasileiros em voto do ministro

Celso de Mello vencidos os ministros Carlos Ayres e Joaquim Barbosa exatamente

porque O postulado consagrador da garantia de inocecircncia irradia os seus efeitos para aleacutem dos limites dos processos penais de natureza condenatoacuteria impedindo desse modo que situaccedilotildees processuais anda natildeo definidas por sentenccedilas transitadas em julgado provoquem em decorrecircncia das exigecircncias de probidade administrativa e demoralidade a que se refere o sect 9ordm do artigo 14 da Coinstituiccedilatildeo Federal a inelegibilidade dos cidadatildeos ou obstem candidaturas para mandatos eletivos

15Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011

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Portanto ficou definido que Lei Complementar sendo editada para casos de

inelegibilidades esta deveraacute respeitar o princiacutepio da natildeo-culpabilidade Ocorre que

foi editada a Lei Complementar nordm 1352010 que atendeu aos reclamos populares

mas preferiu a um soacute tempo violar a Constituiccedilatildeo Federal e desrespeitar a recente

decisatildeo do Supremo Tribunal Federal mesmo que na eacutepoacuteca desta decisatildeo natildeo

havia lei formal para tal situaccedilatildeo

43 PRINCIacutePIO CONSTITUCIONAL DA NAtildeO-CULPABILIDADE

O princiacutepio da natildeo-culpabilidade eacute direito fundamental previsto na

Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5deg inciso LVII ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute

o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

Isto eacute enquanto natildeo sobrevier uma decisatildeo judicial condenatoacuteria transitada

em julgado o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees em seu patrimocircnio ou em sua

liberdade Caso sobrevenha duacutevida quanto a culpabilidade esta resolveraacute sempre

em favor do reacuteu ou seja aplicando-se o princiacutepio in duacutebio pro reo

Assim disciplina Nelson Nery Juacutenior sobre o princiacutepio da natildeo-culpabilidade ldquoO inteacuterprete deve buscar a aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre tendo como pressuposto o exame da Constituiccedilatildeo Federal Depois sim deve consultar a legislaccedilatildeo infraconstitucional a respeito do temardquo 16

Sendo assim a Constituiccedilatildeo Federal no capiacutetulo sobre os Direitos e Deveres

Individuais e Coletivos em seu artigo 5ordm inciso LVII afirma que ldquoningueacutem seraacute

considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute considerar o

indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila A doutrina e a

jurisprudecircncia aclamam este princiacutepio como vaacuterios nomes como princiacutepio da

presunccedilatildeo de inocecircncia princiacutepio da natildeo-culpabilidade ou simplesmente princiacutepio da

inocecircncia

Joseacute Afonso da Silva em seu livro Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo

disciplina assim esta garantia A norma constitucional do inciso LVII agora sob nosso exame garante a presunccedilatildeo de inocecircncia por meio de um enunciado negativo universal lsquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria Usa-se de uma forma

16 NERY JUacuteNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20

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negativa para outorgar uma garantia positiva Na verdade o texto brasileiro natildeo significa outra coisa senatildeo que fica assegurada a todos a presunccedilatildeo de inocecircncia ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria O tracircnsito em julgado se daacute quando a decisatildeo natildeo comporta mais recurso ordinaacuterio especial ou extraordinaacuterio 17

Nesse sentido o indiviacuteduo acusado natildeo pode ser presumidamente culpado

mas sim inocente Tal princiacutepio visa a tutelar a liberdade pessoal de modo que o

Estado nos mais diferentes segmentos deve abster-se de considerar culpado

aquele que ainda natildeo foi submetido agrave definitividade da atuaccedilatildeo jurisdicional Em se tratando de suspensatildeo dos direitos poliacuteticos a Constituiccedilatildeo Federal

garante que a suspensatildeo somente se daraacute por ldquocondenaccedilatildeo criminal transitada em

julgado enquanto durarem seus efeitosrdquo

Julgamento neste sentido REPRESENTACcedilAtildeO SUSPENSAtildeO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS EM VIRTUDE DE SENTENCcedilA PENAL CONDENATOacuteRIA TRANSITADA EM JULGADO AUTO-APLICABILIDADE DOS ARTIGOS 14 sect 3ordm II E 15 III DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL PROCEDEcircNCIA A suspensatildeo dos direitos poliacuteticos do condenado independe de lei regulamentadora bem como de processo especial de cogniccedilatildeo e de anaacutelise de meacuterito para a execuccedilatildeo da medida no juiacutezo eleitoral posto natildeo se tratar de sanccedilatildeo penal mas de efeito natildeo-penal de condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado e decorrente de mandamento constitucional Comprovado o tracircnsito em julgado da sentenccedila penal condenatoacuteria decreta-se automaticamente a suspensatildeo dos direitos poliacuteticos ativo e passivo do representado ou seja o direito de votar e ser votado com a consequumlente exclusatildeo de seu nome da folha de votaccedilatildeo e declaraccedilatildeo de sua inelegibilidade 18

Logo infere-se que a condenaccedilatildeo criminal sem o tracircnsito em julgado natildeo

desqualifica o condenado a votar e a eventualmente concorrer a qualquer cargo

eletivo

O Colendo Tribunal Superior Eleitoral enfrentou esta questatildeo ao apreciar

pedido de registro de candidatura valendo registrar os seguintes julgados RECURSO ESPECIAL RECEBIDO COMO ORDINAacuteRIO REGISTRO DE CANDIDATURA DEFERIMENTO INELEGIBILIDADE NAtildeO-OCORREcircNCIA Condenaccedilatildeo criminal sem tracircnsito em julgado natildeo eacute apta a ensejar inelegibilidade (precedente do TSE acoacuterdatildeo 536 rel Min Fernando Neves publicado em sessatildeo de 882002) Recurso natildeo provido 19

17 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006 p 155 18 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbrgt TRESCndashAcoacuterdatildeo nordm 13324 de 071094 rel Juiz Nilson B Filho Acesso em 16 set 2011 19 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbr gt TSE- REspEl nordm 20247 de 19902 rel Min Sepuacutelveda Pertence Acesso em 16 set 2011

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INELEGIBILIDADE CONDENACcedilAtildeO CRIMINAL NAtildeO TRANSITADA EM JULGADO CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA ART 14 sect 9deg SUacuteMULA Ndeg 13 DO TSE 1 A existecircncia de sentenccedila criminal condenatoacuteria sem o tracircnsito em julgado natildeo eacute suficiente para ocasionar inelegibilidade 2 O art 14 sect 9deg da Constituiccedilatildeo natildeo eacute auto-aplicaacutevel 3 Necessidade de lei complementar estabelecendo os casos em que a vida pregressa do candidato poderaacute levar agrave sua inelegibilidade bem como os prazos de sua cessaccedilatildeo 4 Recurso provido para julgar improcedente a impugnaccedilatildeo e deferir o registro da candidatura 20

Insculpido na Constituiccedilatildeo Federal o principio da natildeo-culpabilidade deve ser

respeitado por toda lei infraconstitucional alguns doutrinadores como Aristides

Junqueira e Antocircnio Bandeira de Mello em carta publica no sitio do Movimento de

Combate agrave Corrupccedilatildeo Eleitoral21 entendem que neste presente caso natildeo deve ser

aplicado o princiacutepio da natildeo-culpabilidade a inelegibilidade pois esta natildeo eacute pena

mas medida preventiva

Estes juristas se acham alicerccedilados pelo que expressamente estatui o sect 9deg do

artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal em que Lei complementar estabeleceraacute outros

casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim de proteger a probidade

administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato considerada a vida

pregressa do candidato afirmam que uma vez que a proacutepria Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica expressamente permite que o legislador estipule quais elementos da vida

pregressa dos candidatos podem afastaacute-los dos pleitos

Independente desta posiccedilatildeo minoritaacuteria encontra-se que o princiacutepio da natildeo-

culpabilidade eacute prevista em diversos ordenamentos juriacutedicos e tratados como se

veraacute a seguir

Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo da Franccedila de 1789 o art

9da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) de 1948 dispotildee ldquoTodo acusado eacute

considerado inocente ateacute ser declarado culpado e se julgar indispensaacutevel prendecirc-lo

todo o rigor desnecessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deveraacute ser severamente

reprimido pela leirdquo22

20 Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrgt TSE-REspEl nordm 18047 de 2992000 rel Min Fernando Neves da Silva Acesso em 16 set 2011 21 Disponiacutevel em lthttpwwwmcceorgbrsitesdefaultfilescartajuristaspdfgt Acesso em 3 jul 2011 22 Disponiacutevel em lthttppfdcpgrmpfgovbratuacao-e-conteudos-de-apoiolegislacaodireitoshuma nosdeclar_dir_ homem_cidadaopdfgt Acesso em 13 set 2011

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Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos de 1948 diz ldquoToda pessoa

acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocecircncia enquanto natildeo se

comprove legalmente sua culpardquo23

A origem histoacuterica que foi referida teve uma grande importacircncia para se

chegar a um status constitucional conforme eacute citado por Mirabete Existe apenas uma tendecircncia agrave presunccedilatildeo de inocecircncia ou mais precisamente um estado de inocecircncia um estado juriacutedico no qual o acusado eacute inocente ateacute que seja declarado culpado por uma sentenccedila transitada em julgado Por isso a nossa Constituiccedilatildeo Federal natildeo presume a inocecircncia mas declara que ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria (art 5deg LVII) ou seja que o acusado eacute inocente durante o desenvolvimento do processo e seu estado soacute se modifica por uma sentenccedila final que o declare culpado 24

Por fim o princiacutepio da natildeo-culpabilidade visa a proteccedilatildeo do reacuteu para que

este tenha um julgamento justo devendo ser provada sua verdadeira culpa antes

que seja considerado culpado

23 Disponiacutevel em lthttpwwwagugovbrsistemassiteTemplateImagemTextoThumbaspxidConteu do=113927ampordenacao=1ampid_site=4922gt Acesso em 12 set 2011 24 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252

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5 CONCLUSAtildeO Apoacutes as anaacutelises da doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncias pertinentes a este

trabalho verifica-se que a Lei Complementar nordm 1352010 ao instituir nova hipoacutetese

de inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado esta em pleno conflito com o princiacutepio da natildeo-culpabilidade insculpido no

artigo 5ordm inciso LVII da Constituiccedilatildeo Federal o que torna esta nova hipoacutetese

absolutamente inconstitucional

O objetivo da Lei Complementar nordm 1352010 eacute o de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos para que os criteacuterios de inelegibilidades sejam mais

rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos Inicialmente eacute compreensiacutevel a

preocupaccedilatildeo de qualificar o perfil dos candidatos a cargos eletivos atraveacutes da vida

pregressa isto significa querer se representar por candidatos idocircneos

Ocorre que eacute necessaacuterio impor tantas restriccedilotildees para que o cidadatildeo possa

concorrer a determinado pleito natildeo eacute mais correto permitir que o proacuteprio povo

detentor soberano do poder para escolher seus representantes defina seus criteacuterios

de escolha

Quanto ao aspecto juriacutedico vejamos que o legislativo ao criar novas hipoacuteteses

de inelegibilidade deve-se atentar para as garantias jaacute consagradas em nosso

ordenamento principalmente quando esta garantia esta insculpida na Constituiccedilatildeo

Federal garantia esta referente ao principio da natildeo-culpabilidade que reza que

ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

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condenatoacuteria trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute

considerar o indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila

Ocorre que a criaccedilatildeo da Lei Complementar nordm 1352010 nasceu conflitante

com a Constituiccedilatildeo Federal em 2 aspectos primordiais primeiro a natildeo observacircncia

do princiacutepio da anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo

Federal pacificado pela Accedilatildeo Declaratoacuteria de Inconstitucionalidade nordm 3685

afirmando que deve-se respeitar ao principio da anualidade e segundo a

inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado

O segundo conflito origina-se diante da garantia constitucional do princiacutepio da

presunccedilatildeo da natildeo-culpabilidade o qual disciplina que somente poderaacute ser

considerado culpado o acusado de determinado crime quando ocorrer o tracircnsito em

julgado da decisatildeo

Portanto temos que uma decisatildeo de um oacutergatildeo colegiado quando recorriacutevel

ainda natildeo eacute o momento que se consumativo da culpabilidade do acusado pois natildeo

podemos antecipar a puniccedilatildeo de um cidadatildeo com a perda de algum direito pelo

simples fato de estar respondendo a algum processo

A aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre teraacute como pressuposto o

exame da Constituiccedilatildeo Federal que estabelece o princiacutepio da natildeo-culpabilidade

tambeacutem chamado de princiacutepio da presunccedilatildeo de inocecircncia que eacute uma verdadeira

garantia constitucional do indiviacuteduo contra o Estado Portanto deve-se respeitar este

princiacutepio basilar do Estado Democraacutetico de Direito nos mais diferentes segmentos

devendo qualquer Lei abster-se de considerar culpado aquele que ainda natildeo teve

sua decisatildeo transitada em julgado

Assim a Lei Complementar nordm 1352010 eacute contraacuterio ao disposto no texto

constitucional pois de forma antecipada retira do cidadatildeo o direito de disputar ao

pleito de forma igualitaacuteria bem como retira do povo um de seus maiores direitos o

de poder escolher seus representantes

Portanto para fortalecimento do Estado Democraacutetico de Direito se faz

necessaacuterio que as garantias constitucionais prevaleccedilam com isto deve-se

preponderar a presunccedilatildeo de natildeo culpabilidade ateacute o tracircnsito em julgado de da

sentenccedila condenatoacuteria

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REFEREcircNCIAS BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicao_ConstituiccedilaoCompiladohtmgt Acesso em 2 jun 2011 BRASIL Tribunal Superior Eleitoral Coacutedigo eleitoral Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrinternetjurisprudenciacodigo_eleitoralcodigo_eleitoralhtmlgt Acesso em 5 mai 2011 BRASIL Supremo Tribunal Federal Jurisprudecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudenciapesquisarJurisprudenciaaspgt Acesso em 15 mai 2011 BRASIL Projeto de Lei Complementar nordm 518 de 17 de setembro de 2009 Altera a Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 que estabelece de acordo com o sect 9ordm do art 14 da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias para incluir hipoacuteteses de inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no exerciacutecio do mandato Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbrsfatividademateriadetalhesaspp_cod_mate=96850gt Acesso em 19 mai 2011

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BRASIL Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 Estabelece de acordo com o art 14 sect 9ordm da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03LeisLCPLcp64htmgt Acesso em 15 mai 2011 COSTA Adriano Soares Instituiccedilotildees de Direito Eleitoral Ed Del Rey 2006 DI PIETRO Maria Sylvia Zanella Direito Administrativo 9 Ed Satildeo Paulo Atlas 1998 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131 LEAL Saul Tourinho Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt MELLO Celso Antonio Bandeira Curso de Direito Administrativo 24 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2007 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 ed Satildeo Paulo Atlas 2006 Movimento de Combate agrave Corrupccedilatildeo Disponiacutevel em ltwwwmcceorgbrgt Acesso em 3 jul 2011 NERY JUacuteBNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20 PEREIRA Erick Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt Acesso em 30 jun 2011 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2008

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PIRES Maacutercio Rodrigo Kaio Carvalho Abuso do poder poliacutetico nas eleiccedilotildees Jus Navigandi Teresina ano 15 n 2677 30 out 2010 Disponiacutevel em lthttpjusuolcombrrevistatexto17741gt Acesso em 27 jun 2011 RAMAYANA Marcos Direito Eleitoral Impetus Niteroacutei 2006 RESENHA ELEITORAL - Nova Seacuterie v9 n1 (janjun 2002) Disponiacutevel em lt httpwwwtre-scgovbrsiteinstitucionalpublicacoesartigos-doutrinariospublicados- na-resenha-eleitoralresenhasv9-n1-janjun-2002abuso-do-podereconomico- ou-de-autoridadeindexhtmlgt SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006

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O tipo de pesquisa ou fonte de informaccedilatildeo utilizada foi o bibliograacutefico por

utilizar como base de estudo os ensinamentos de doutrina legislaccedilatildeo e

jurisprudecircncia

Por fim a anaacutelise conjunta desses fatos nos mostraraacute de forma esclarecedora

a inconstitucionalidade da aliacutenea ldquoerdquo do inciso I do artigo 2ordm da Lei Complementar nordm

1352010 frente ao princiacutepio constitucional da natildeo-culpabilidade

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2 DA ELEGIBILIDADE 21 CONCEITO DE ELEGIBILIDADE

Pode-se conceituar elegibilidade como sendo a capacidade de ser eleito isto

eacute a qualidade de determinada pessoa ser elegiacutevel nas condiccedilotildees permitidas pela

legislaccedilatildeo Assim conceitua o Tribunal Superior Eleitoral sobre inelegibilidade A elegibilidade eacute na restrita precisatildeo legal o direito do cidadatildeo de ser escolhido mediante votaccedilatildeo direta ou indireta para representante do povo ou da comunidade segundo as condiccedilotildees estabelecidas pela Constituiccedilatildeo e pela legislaccedilatildeo eleitoral1

Joseacute Afonso da Silva na ilustre obra Curso de Direito Constitucional Positivo

doutrinariamente leciona A elegibilidade agrave capacidade de ser eleito observa que goza de elegibilidade todo cidadatildeo que preencha as condiccedilotildees exigidas para concorrer a um mandato eletivo consistindo a mesma no direito de postular a designaccedilatildeo pelos eleitores a um mandato poliacutetico no Legislativo ou no Executivo2

Alexandre de Moraes em sua excelente obra de Direto Constitucional define

da seguinte maneira a elegibilidade ldquoElegibilidade eacute a capacidade eleitoral passiva

consistente na possibilidade de o cidadatildeo pleitear determinados mandatos poliacuteticos

mediante eleiccedilatildeo popular desde que preenchidos certo requisitosrdquo 3

Djalma Pinto com a obra intitulada Direito Eleitoral assim define elegibilidade

ldquoElegibilidade eacute o credenciamento do cidadatildeo para postulaccedilatildeo do registro de sua

candidatura Representa o primeiro estaacutegio a ser percorrido por algueacutem para

exercitar o seu direito a ser votadordquo 4

Em siacutentese preenchidos os requisitos de elegibilidade eacute necessaacuterio que o

cidadatildeo natildeo se encontre em alguma hipoacutetese de inelegibilidade que constitui

impedimento agrave capacidade eleitoral passiva

22 CONDICcedilOtildeES DE ELEGIBILIDADE

Trata-se do conjunto de condiccedilotildees pessoais necessaacuterias agrave habilitaccedilatildeo do

cidadatildeo para pleitear determinados mandatos poliacuteticos mediante eleiccedilatildeo popular

As condiccedilotildees de elegibilidade estatildeo previstas na Constituiccedilatildeo Federal no

artigo 14 sect 3ordm e compreendem a nacionalidade brasileira pleno exerciacutecio dos

1 Disponiacutevel em lthttpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermoselegibilidadehtmgt Acesso em 22 jul 2011 2 SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 p 365 3 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 Ed Satildeo Paulo Atlas 2006 p 215 4 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 Ed Satildeo Paulo Atlas 2008 p 157

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direitos poliacuteticos alistamento eleitoral domiciacutelio eleitoral na circunscriccedilatildeo filiaccedilatildeo

partidaacuteria e idade miacutenima para cargos poliacuteticos

Com estes requisitos a Constituiccedilatildeo Federal vem a limitar quem pode e quem

natildeo pode concorrer para algum cargo poliacutetico

23 NACIONALIDADE BRASILEIRA

A nacionalidade brasileira eacute a primeira condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no

artigo 14 sect 3ordm inciso I da Constituiccedilatildeo Federal

Classifica-se a nacionalidade brasileira em brasileiro nato e brasileiro

naturalizado para tanto eacute necessaacuterio distinguirmos a diferenccedila entre um e outro

Brasileiros natos satildeo aqueles nascidos na Repuacuteblica Federativa do Brasil

ainda que de paiacutes estrangeiros desde que estes natildeo estejam a serviccedilo de seu paiacutes

os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou matildee brasileira desde que qualquer

deles esteja a serviccedilo da Repuacuteblica Federativa do Brasil os nascidos no estrangeiro

de pai brasileiro ou de matildee brasileira desde que sejam registrados em reparticcedilatildeo

brasileira competente ou venham a residir na Repuacuteblica Federativa do Brasil e

optem em qualquer tempo depois de atingida a maioridade pela nacionalidade

brasileira

Brasileiros naturalizados satildeo aqueles que na forma da lei adquiram a

nacionalidade brasileira exigidas aos originaacuterios de paiacuteses de liacutengua portuguesa

apenas residecircncia por um ano ininterrupto e idoneidade moral os estrangeiros de

qualquer nacionalidade residentes na Repuacuteblica Federativa do Brasil haacute mais de

quinze anos ininterruptos e sem condenaccedilatildeo penal desde que requeiram a

nacionalidade brasileira

A Lei tambeacutem distingue a nacionalidade em primaacuteria e secundaacuteria A

nacionalidade primaacuteria tambeacutem denominada de originaacuteria eacute conferida aos

brasileiros natos sendo adquirida no momento do nascimento pelo ius sanguinis

(direito de sangue) ou pelo ius soli (direito de solo) jaacute a nacionalidade secundaacuteria

tambeacutem denominada nacionalidade adquirida eacute conferida aos brasileiros

naturalizados aquela se adquire por vontade proacutepria apoacutes o nascimento e em regra

geral pela naturalizaccedilatildeo

Por fim o sect 2ordm do artigo 12 da Constituiccedilatildeo Federal descreve ldquoA lei natildeo

poderaacute estabelecer distinccedilatildeo entre brasileiros natos e naturalizados salvo nos casos

previstos nesta Constituiccedilatildeordquo com isto fica vedado qualquer tratamento desigual

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entre brasileiro nato e naturalizado salvo disposiccedilatildeo em contraacuterio na Constituiccedilatildeo

Federal

A exceccedilatildeo citada no sect 2ordm do artigo 12 da Constituiccedilatildeo Federal permite a

distinccedilatildeo entre brasileiros natos e naturalizados para ocupar determinados cargos

esta exceccedilatildeo estaacute disposta no artigo 12 sect 3ordm da Constituiccedilatildeo Federal que permite

que alguns cargos sejam privativos de brasileiro nato natildeo permitindo que os

naturalizados venham a ocupar tais posiccedilotildees

Esta exceccedilatildeo restringe-se para os cargos privativos de Presidente e Vice-

Presidente da Repuacuteblica Presidente da Cacircmara dos Deputados Presidente do

Senado Federal Ministro do Supremo Tribunal Federal carreira diplomaacutetica de

oficial das Forccedilas Armadas e de Ministro de Estado da Defesa

24 PLENO EXERCIacuteCIO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS

O pleno exerciacutecio dos direitos poliacuteticos eacute a segunda condiccedilatildeo de elegibilidade

prevista no artigo 14 sect 3ordm inciso II da Constituiccedilatildeo Federal o Tribunal Superior

Eleitoral assim o conceitua Direitos poliacuteticos eacute o conjunto dos direitos atribuiacutedos ao cidadatildeo que lhe permite atraveacutes do voto do exerciacutecio de cargos puacuteblicos ou da utilizaccedilatildeo de outros instrumentos constitucionais e legais ter efetiva participaccedilatildeo e influecircncia nas atividades de governo Estar no gozo dos direitos poliacuteticos significa pois estar habilitado a alistar-se eleitoralmente habilitar-se a candidaturas para cargos eletivos ou a nomeaccedilotildees para certos cargos puacuteblicos natildeo eletivos participar de sufraacutegios votar em eleiccedilotildees plebiscitos e referendos apresentar projetos de lei pela via da iniciativa popular e propor accedilatildeo popular 5

Djalma Pinto em sua obra intitulada ldquoDireito eleitoral ndash Improbidade

Administrativa e Responsabilidade Fiscalrdquo dispotildee sobre esta condiccedilatildeo de

elegibilidade O pleno exerciacutecio dos direitos poliacuteticos eacute condiccedilatildeo essencial para a configuraccedilatildeo de elegibilidade A plenitude dos direitos poliacuteticos se expressa pela aptidatildeo para votar e ser votado Sem encontrar-se apto a seu exerciacutecio natildeo eacute possiacutevel ao indiviacuteduo nem se alistar nem tampouco se filiar partido requisitos imprescindiacuteveis agrave configuraccedilatildeo da elegibilidade 6

Sendo assim o pleno exerciacutecio dos direitos poliacuteticos eacute requisito essencial

para o cidadatildeo estar na condiccedilatildeo de elegibilidade Aquele que perder ou tiver seus 5 Disponiacutevel em lthttpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermosdireitos_politicoshtmgt Acesso em 22 jul 2011 6 PINTO Djalma Direito eleitoral ndash improbidade administrativa e Responsabilidade Fiscal 3 Ed Satildeo Paulo Atlas 2006

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direitos poliacuteticos suspensos ou cancelados ficaraacute impedido de exercer a capacidade

eleitoral passiva

A Constituiccedilatildeo Federal prevecirc no artigo 15 causas de perda ou suspensatildeo dos

direitos poliacuteticos que podem ocorrer devido ao cancelamento da naturalizaccedilatildeo por

sentenccedila judicial transitada em julgado condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado

enquanto durarem seus efeitos recusa de cumprir obrigaccedilatildeo a todos imposta ou

prestaccedilatildeo alternativa nos termos do art 5ordm VIII improbidade administrativa nos

termos do art 37 sect 4ordm

25 ALISTAMENTO ELEITORAL

O alistamento eleitoral eacute a terceira condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo

14 sect 3ordm inciso III da Constituiccedilatildeo Federal o Tribunal Superior Eleitoral assim o

conceitua Eacute a primeira fase do processo eleitoral Eacute um procedimento administrativo cartoraacuterio e compreende dois atos inconfundiacuteveis a qualificaccedilatildeo e a inscriccedilatildeo do eleitor A qualificaccedilatildeo eacute a prova de que o cidadatildeo satisfaz as exigecircncias legais para exercer o direito de voto enquanto que a inscriccedilatildeo faz com que o mesmo passe a integrar o Cadastro Nacional de Eleitores da Justiccedila Eleitoral O ato de alistamento eacute feito por meio de processamento eletrocircnico e se perfaz pelo preenchimento do requerimento de alistamento eleitoral (RAE) na forma da resoluccedilatildeo do TSE e da legislaccedilatildeo eleitoral Eacute a forma pela qual o cidadatildeo adquire seus direitos poliacuteticos tornando-se titular de direito poliacutetico ativo (capacidade para votar) e possibilitando sua elegibilidade e filiaccedilatildeo partidaacuteria apoacutes a expediccedilatildeo do respectivo tiacutetulo eleitoral 7

Portanto para o cidadatildeo ser eleitor eacute preciso que ele se aliste e para ele ser

elegiacutevel eacute preciso que ele jaacute seja eleitor

26 O DOMICIacuteLIO ELEITORAL NA CIRCUNSCRICcedilAtildeO

O domiciacutelio eleitoral eacute a quarta condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14

sect 3ordm inciso IV da Constituiccedilatildeo Federal

Domiciacutelio eleitoral eacute o lugar da residecircncia ou moradia do requerente agrave

inscriccedilatildeo eleitoral assim dispotildee o artigo 42 paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo Eleitoral

que Para efeito de inscriccedilatildeo eacute domiciacutelio eleitoral o lugar de residecircncia ou moradia

do requerente e verificado ter o alistando mais de uma considerar-se-aacute domiciacutelio

qualquer delas

7Disponiacutevel em lthttpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermosalistamento_eleitoralhtmgt Acesso em 22 jul 2011

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Djalma Pinto acerca do domiciacutelio eleitoral assevera ldquoO domicilio eleitoral por

sua vez eacute o lugar da residecircncia ou moradia onde o cidadatildeo formaliza seu

alistamentordquo 8

A legislaccedilatildeo requer que o candidato a um cargo eletivo natildeo incorra em

incompatibilidades ou inelegibilidades e possua domicilio eleitoral na circunscriccedilatildeo a

qual deseja concorrer Sobre a circunscriccedilatildeo eleitoral o Tribunal Superior Eleitoral

assim o define Espaccedilo geograacutefico onde se trava determinada eleiccedilatildeo Assim o paiacutes na eleiccedilatildeo do presidente e vice-presidente da Repuacuteblica o estado nas eleiccedilotildees para governador e vice-governador deputados federais e estaduais e senadores o municiacutepio nas eleiccedilotildees de prefeito e vereadores e o distrito onde e quando se realiza a eleiccedilatildeo pelo sistema distrital 9

Para concorrer as eleiccedilotildees o candidato deveraacute possuir domiciacutelio eleitoral na

respectiva circunscriccedilatildeo pelo prazo de pelo menos um ano antes do pleito e estar

com a filiaccedilatildeo deferida pelo partido no mesmo prazo eacute o que dispotildee o artigo 9deg da

Lei 950497

27 FILIACcedilAtildeO PARTIDAacuteRIA

A filiaccedilatildeo partidaacuteria eacute a quinta condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14

sect 3ordm inciso V da Constituiccedilatildeo Federal

Eacute o ato formal e solene o pelo qual um eleitor aceita e adota o programa de

um partido poliacutetico viacutenculo que se estabelece entre o poliacutetico e o partido Eacute condiccedilatildeo

de elegibilidade conforme disposto no artigo 14 sect3ordm inciso V da Constituiccedilatildeo

Federal Nos termos do artigo 16 da Lei dos Partidos Poliacuteticos Lei nordm 909695 soacute

pode filiar-se a partido o eleitor que estiver no pleno gozo de seus direitos poliacuteticos

Todavia a exceccedilotildees sobre a filiaccedilatildeo partidaacuteria como no caso de candidatura

de magistrados membros dos Tribunais de Contas Ministeacuterio Puacuteblico e militares

como exemplo vejamos a exceccedilatildeo dos militares estes querendo concorrer a cargo

puacuteblico eletivo possuindo menos de dez anos de serviccedilo deveraacute solicitar

afastamento definitivo da atividade atraveacutes de demissatildeo ou licenciamento ex-officio

caso venha a possuir mais de dez anos de serviccedilo deveraacute ser agregado pela

8 PINTO Djalma Direito eleitoral ndash improbidade administrativa e Responsabilidade Fiscal 3 Ed Satildeo Paulo Atlas 2006 9 Disponiacutevel em httpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermoscircunscricao_eleitoralhtmgt Acesso em 22 jul 2011

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autoridade superior e se eleito passaraacute automaticamente no ato da diplomaccedilatildeo

para a inatividade

28 IDADE MIacuteNIMA

Idade miacutenima eacute a uacuteltima condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14 sect 3ordm

inciso VI da Constituiccedilatildeo Federal

Para o cargo de Presidente e Vice-Presidente da Repuacuteblica e para Senadores

e suplentes a idade miacutenima de 35 anos para o cargo de Governado e Vice-

Governador de Estado ou do Distrito Federal idade miacutenima de 30 anos para os

cargos de Deputado Federal Estadual Distrital Prefeito e Vice-Prefeito e Juiz de

paz a idade miacutenima de 21 anos e por fim para o cargo de vereador a idade

miacutenima de 18 anos

Dispotildee a Lei 95041997 artigo 11 sect 2ordm que a verificaccedilatildeo da idade seraacute feita

na data da posse no respectivo cargo pressupotildee que um menor de 17 anos de

idade possa se candidatar ao cargo de vereador bastando que na data da posse

conte com 18 anos completos

Alguns doutrinadores entretanto discordam dessa interpretaccedilatildeo entendendo

que natildeo poderia o legislador infra-constitucional dizer a mais do que a proacutepria

Constituiccedilatildeo estabeleceu assim leciona o Gilmar Mendes em sua obra Curso de

Direito Constitucional Natildeo haacute que se falar em momento da posse como aceitaacutevel para se perfazer a condiccedilatildeo de elegibilidade no tocante a idade miacutenima pois a Constituiccedilatildeo jaacute determinou que o momento da afericcedilatildeo para elegibilidade deve ser o do registro da candidatura 10

Tem prevalecido a verificaccedilatildeo da idade miacutenima na data da posse

10 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 Ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 p803

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3 DA INELEGIBILIDADE 31 CONCEITO DE INELEGIBILIDADE

Joseacute Afonso da Silva em sua ilustre obra Curso de Direito Constitucional

Positivo doutrinariamente leciona que ldquoa inelegibilidade obsta a elegibilidade

revelando um impedimento ao direito de ser votado que eacute a capacidade eleitoral

passivardquo 11

A inelegibilidade resulta no impedimento parcial ou seja temporaacuterio da

capacidade eleitoral passiva restringindo o cidadatildeo de ser votado nas hipoacuteteses

previstas na Lei Complementar nordm 641990 Lei Complementar nordm 1352010 e na

Constituiccedilatildeo Federal

Sua finalidade tem por objetivo a probidade administrativa a normalidade

para o exerciacutecio do mandato considerada a vida pregressa do candidato e a

normalidade e a legitimidade das eleiccedilotildees contra a influecircncia do poder econocircmico ou

o abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo cargo ou emprego na administraccedilatildeo direta ou

indireta

A inelegibilidade pode ser absoluta proibindo a candidatura agraves eleiccedilotildees em

geral ou relativa impossibilitando a postulaccedilatildeo a determinado mandato eletivo

Sendo assim o cidadatildeo que almeja se candidatar a cargo eletivo deve

atender as condiccedilotildees de elegibilidade e natildeo incorrer em nenhuma causa de

inelegibilidade

32 ESPEacuteCIES DE INELEGIBILIDADE

As espeacutecies de inelegibilidade podem ser constitucionais e

infraconstitucionais as constitucionais dividem-se em absoluta e relativa

A inelegibilidade constitucional absoluta consiste no impedimento eleitoral

que restringe o cidadatildeo de concorrer a qualquer cargo eletivo refere-se a

determinada caracteriacutestica do indiviacuteduo ou seja eacute de caraacuteter pessoal sendo

11 SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 Ed Satildeo Paulo Malheiros 012004 p 387

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taxativamente prevista pela Constituiccedilatildeo Federal e a inelegibilidade constitucional

relativa compreende o impedimento eleitoral que restringe o cidadatildeo de concorrer a

determinados cargos em determinada eleiccedilatildeo refere-se a situaccedilotildees especiais e

momentacircneas tais como motivos funcionais de casamento de parentescos

A inelegibilidade infraconstitucional eacute disciplinada na Lei Complementar ndeg

641990 alterada pela Lei Complementar ndeg 1352010

Eacute relevante a distinccedilatildeo entre as inelegibilidades constitucionais e

infraconstitucionais como bem ressaltado por Joseacute Jairo Gomes A distinccedilatildeo que se faz entre inelegibilidades constitucionais e legais natildeo eacute cerebrina apresentando inegaacutevel relevacircncia praacutetica Basta dizer que natildeo haacute preclusatildeo quanto agraves primeiras as quais podem ser arguumlidas na fase do registro de candidatura ou posteriormente antes ou depois das eleiccedilotildees A arguumliccedilatildeo posterior pode ser feita no RCED (CE art 262 I) Jaacute as inelegibilidades legais sujeitam-se agrave preclusatildeo se natildeo forem levantadas na fase de registro de candidatura Ultrapassado esse momento natildeo mais poderatildeo ser discutidas salvo se supervenientes 12

33 INELEGIBILIDADE CONSTITUCIONAL

A inelegibilidade constitucional dividi-se em absoluta e relativa

A inelegibilidade constitucional absoluta estabelecida no sect 4deg do artigo 14 da

Constituiccedilatildeo Federal prevecirc que satildeo inelegiacuteveis os inalistaacuteveis e os analfabetos

A inelegibilidade decorrente da inalistabilidade abrange todos que natildeo se

encontram na situaccedilatildeo de alistabilidade tambeacutem aqueles que se encontram em

estado definitivo ou temporariamente privados de seus direitos poliacuteticos por fim

atinge aqueles que natildeo sabem exprimir-se na liacutengua nacional e os estrangeiros

A inelegibilidade decorrente do analfabetismo natildeo permite que o analfabeto

seja elegiacutevel mas permite que ele seja alistaacutevel exercendo assim a sua capacidade

de votar mas nunca a de ser votado

Estas hipoacuteteses restringem ao cidadatildeo se candidatarem a qualquer cargo

eletivo em qualquer eleiccedilatildeo enquanto perdurar esta situaccedilatildeo restritiva

As hipoacuteteses de inelegibilidades constitucionais relativas referem-se a

situaccedilotildees especiais separando-as por motivos funcionais motivos parentais motivos

militares e encontram-se dispostas no artigo 14 sectsect 5deg ao 9deg da Constituiccedilatildeo Federal

12 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131

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A inelegibilidade por motivo funcional eacute decorrente de o cidadatildeo estar em

exerciacutecio de alguma funccedilatildeo puacuteblica Satildeo previstas duas situaccedilotildees

A primeira declara ser inelegiacutevel para o mesmo cargo em terceiro periacuteodo

subsequumlente o Presidente da Repuacuteblica os Governadores de Estado e do DF os

Prefeitos e quem os houver sucedido ou substituiacutedo nos seis meses antes das

eleiccedilotildees Eacute o que dispotildee o sect 5deg do artigo 14 na redaccedilatildeo da Emenda Constitucional

161997

Portanto soacute eacute permitida uma reconduccedilatildeo ou seja eacute permitida a reeleiccedilatildeo de

Chefes do Executivo ou seus substitutos para apenas um periacuteodo subsequumlente

A segunda situaccedilatildeo considera que satildeo inelegiacuteveis para concorrer a outros

cargos o Presidente da Repuacuteblica os Governadores de Estado e do DF e os

Prefeitos salvo se tiverem se desincompatibilizado com a renuacutencia do cargo ateacute

seis meses antes do pleito Eacute o que prevecirc o sect 6deg do artigo 14 da Constituiccedilatildeo

Federal

Os servidores puacuteblicos que ocuparem algum cargo de livre nomeaccedilatildeo

demissiacuteveis ad nutum seratildeo exonerados para que possam concorrer a cargo

eletivo ou seja natildeo poderatildeo manter qualquer viacutenculo com a entidade na qual

desempenhava suas funccedilotildees

Os servidores puacuteblicos concursados ao contraacuterio dos servidores ocupantes

de cargos de livre nomeaccedilatildeo natildeo seratildeo exonerados ou demitidos apenas se

afastaratildeo de suas funccedilotildees para se candidatar a cargo puacuteblico

A inelegibilidade por motivo de parentesco tambeacutem denominada de

inelegibilidade reflexa estaacute relacionada a condiccedilotildees inerentes ao parentesco

sanguumliacuteneo soacutecio-afetivo ou condiccedilatildeo matrimonial

Assim conforme previsto no sect 7ordm do artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal estas

mesmas pessoas impedidas para determinados cargos podem concorrer para outros

cargos que se processem em territoacuterio de outra circunscriccedilatildeo

A inelegibilidade reflexa aproxima-se da inelegibilidade absoluta a diferenccedila

ocorre que na reflexa pode cessar por vontade das pessoas envolvidas um exemplo

claro eacute a renuacutencia seis meses antes do pleito do Presidente da Repuacuteblica

Assim temos que a inelegibilidade por motivo de parentesco ou reflexa visa a

impedir a formaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do poder poliacutetico em matildeos de uma determinada

famiacutelia

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A inelegibilidade por motivos militares visa que o militar enquanto em serviccedilo

ativo natildeo pode estar filiado a partidos poliacuteticos entretanto a Constituiccedilatildeo Federal

em seu artigo 14 relata que atendidas certas condiccedilotildees o militar alistaacutevel se torna

elegiacutevel sendo estas as condiccedilotildees se contar com menos de dez anos de serviccedilo

deveraacute afastar-se da atividade e se contar com mais de dez ano de serviccedilo seraacute

agregado pela autoridade superior e se eleito passaraacute automaticamente no ato da

diplomaccedilatildeo para a inatividade

34 INELEGIBILIDADE INFRACONSTITUCIONAL

Por se tratar de inuacutemeras hipoacuteteses de inelegibilidades infraconstitucionais

natildeo seraacute possiacutevel tratar todos os casos previstos em lei para tanto adentraremos a

anaacutelise de algumas hipoacuteteses dispostas na Lei Complementar nordm 641990

As inelegibilidades infraconstitucionais satildeo instituiacutedas por Lei Complementar

que estabeleceraacute outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim

de proteger a probidade administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato

considerado vida pregressa do candidato e a normalidade e legitimidade das

eleiccedilotildees contra a influecircncia do poder econocircmico ou o abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo

cargo ou emprego na administraccedilatildeo direta ou indireta

As causas de inelegibilidade infraconstitucionais estatildeo previstas no artigo 1ordm

da Lei Complementar nordm 641990 alterado dentre outras atraveacutes da recente Lei

Complementar ndeg 1352010 conhecida como a Lei da Ficha Limpa

Dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquobrdquo da Lei Complementar nordm 641990 que os

membros do Congresso Nacional das Assembleacuteias Legislativas da Cacircmara

Legislativa e das Cacircmaras Municipais que hajam perdido os respectivos mandatos

por infringecircncia do disposto nos incisos I e II do art 55 da Constituiccedilatildeo Federal dos

dispositivos equivalentes sobre perda de mandato das Constituiccedilotildees Estaduais e

Leis Orgacircnicas dos Municiacutepios e do Distrito Federal para as eleiccedilotildees que se

realizarem durante o periacuteodo remanescente do mandato para o qual foram eleitos e

nos oito anos subsequumlentes ao teacutermino da legislatura

Sendo assim satildeo inelegiacuteveis os parlamentares cujo procedimento for

declarado incompatiacutevel com o decoro parlamentar e desde a expediccedilatildeo do diploma

firmar ou manter contrato com pessoa juriacutedica de direito puacuteblico autarquia empresa

puacuteblica sociedade de economia mista ou empresa concessionaacuteria de serviccedilo

puacuteblico salvo quando o contrato obedecer a claacuteusulas uniformes aceitar ou exercer

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cargo funccedilatildeo ou emprego remunerado inclusive os de que sejam demissiacuteveis ad

nutum nas entidades constantes da aliacutenea anterior e desde a posse ser

proprietaacuterios controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente

de contrato com pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou nela exercer funccedilatildeo

remunerada ocupar cargo ou funccedilatildeo de que sejam demissiacuteveis ad nutum nas

entidades referidas no inciso I a patrocinar causa em que seja interessada

qualquer das entidades a que se refere o inciso I a ser titulares de mais de um

cargo ou mandato puacuteblico eletivo

Portando o parlamentar que infringir o disposto no artigo 54 teraacute seu mandato

cassado Jaacute no inciso II do artigo 55 o Deputado ou Senador perderaacute o mandato

quando o procedimento for declarado incompatiacutevel com o decoro parlamentar A

Constituiccedilatildeo Federal prevecirc como falta de decoro o disciplinado no artigo 55 sect 1ordm

Por fim eacute incompatiacutevel com o decoro parlamentar os casos definidos no regimento

interno

Assim dispotildee o artigo 1ordm Inciso I aliacutenea ldquocrdquo da Lei Complementar nordm 641990

Governador e o Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal e o Prefeito e o

Vice-Prefeito que perderem seus cargos eletivos por infringecircncia a dispositivo da

Constituiccedilatildeo Estadual da Lei Orgacircnica do Distrito Federal ou da Lei Orgacircnica do

Municiacutepio para as eleiccedilotildees que se realizarem durante o periacuteodo remanescente e

nos 8 (oito) anos subsequentes ao teacutermino do mandato para o qual tenham sido

eleitos

Tal dispositivo busca evitar que os chefes do poder executivos retornem a

vida puacuteblica no mandato seguinte e nas eleiccedilotildees para as demais esferas Este

dispositivo preserva a moralidade puacuteblica O prazo de 8 anos de inabilitaccedilatildeo seraacute

contado a partir da data que tiver sido proferida a decisatildeo por crime de

responsabilidade

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquodrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tenham contra sua pessoa representaccedilatildeo julgada procedente pela Justiccedila

Eleitoral em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo colegiado em

processo de apuraccedilatildeo de abuso do poder econocircmico ou poliacutetico para a eleiccedilatildeo na

qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como para as que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes

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Primeiramente eacute necessaacuterio conceituar o que eacute abuso de poder econocircmico de

abuso de poder poliacutetico

Abuso de poder econocircmico consiste na utilizaccedilatildeo de bens ou serviccedilos de

empresas particulares ou recursos proacuteprios do candidato gerando assim uma

desproporccedilatildeo entre os candidatos exemplo Se um candidato eacute proprietaacuterio de uma

grande empresa e faz uso dela para custear sua campanha sem realizar doaccedilatildeo de

campanha prevista na Lei 950497

Abuso do poder poliacutetico consiste no emprego de serviccedilos ou bens

pertencentes a administraccedilatildeo puacuteblica com o objetivo de propiciar a eleiccedilatildeo de

determinado candidato

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquofrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que forem declarados indignos do oficialato ou com ele incompatiacuteveis pelo prazo

de 8 (oito) anos

Oficialato eacute o cargo ou dignidade de oficial seja das forccedilas armadas poliacutecia

militar ou corpo de bombeiros A competecircncia para apreciar e declarar a indignidade

do oficialato seraacute do Superior Tribunal Militar

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquogrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tiverem suas contas relativas ao exerciacutecio de cargos ou funccedilotildees puacuteblicas

rejeitadas por irregularidade insanaacutevel que configure ato doloso de improbidade

administrativa e por decisatildeo irrecorriacutevel do oacutergatildeo competente salvo se esta houver

sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciaacuterio para as eleiccedilotildees que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes contados a partir da data da decisatildeo aplicando-se o

disposto no inciso II do art 71 da Constituiccedilatildeo Federal a todos os ordenadores de

despesa sem exclusatildeo de mandataacuterios que houverem agido nessa condiccedilatildeo

Esta decisatildeo eacute administrativa e traraacute a consequumlecircncia de inelegibilidade para

isso a irregularidade tem de ser insanaacutevel

A competecircncia para julgar estas irregularidades compete ao Poder

Legislativo seja no acircmbito federal estadual ou municipal

A analise desta insanabilidade poderaacute caber a Justiccedila Eleitoral como por

exemplo no pedido de registro de candidatura por algueacutem que teve suas contas

rejeitadas

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquohrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os detentores de cargo na administraccedilatildeo puacuteblica direta indireta ou fundacional que

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beneficiarem a si ou a terceiros pelo abuso do poder econocircmico ou poliacutetico que

forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial

colegiado para a eleiccedilatildeo na qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como

para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes

Aqui natildeo se trata de cargo eletivo mas sim de cargos por concurso puacuteblico ou

por provimento em comissatildeo

A finalidade eacute por fim a reeleiccedilatildeo para aqueles que estatildeo em cargos de chefia

do poder executivo que tenham cometido abuso do poder econocircmico ou poliacutetico

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquoirdquo da Lei Complementar nordm 641990)

os que em estabelecimentos de creacutedito financiamento ou seguro que tenham sido

ou estejam sendo objeto de processo de liquidaccedilatildeo judicial ou extrajudicial hajam

exercido nos 12 (doze) meses anteriores agrave respectiva decretaccedilatildeo cargo ou funccedilatildeo

de direccedilatildeo administraccedilatildeo ou representaccedilatildeo enquanto natildeo forem exonerados de

qualquer responsabilidade

O que a lei busca nesta situaccedilatildeo eacute deixar aquele que administrou os referidos

estabelecimentos fora de qualquer participaccedilatildeo poliacutetica enquanto natildeo forem

apurados todos os fatos que levaram a insolvecircncia

Portanto o maior objetivo desta causa de inelegibilidade eacute assegurar que o

ex-administrado de estabelecimento de creacutedito financiamento ou seguro natildeo venha

a eleger-se a cargo eletivo sem antes ter sido apurada sua participaccedilatildeo para

insolvecircncia

Outras causas de inelegibilidades incluiacutedas pela Lei Complementar nordm

1352010 estatildeo previstas nos incisos j a q da referida Lei

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4 DA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE 41 ORIGEM DA LEI COMPLEMENTAR Nordm 1352010

Com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o Brasil passa a ser um

Estado Democraacutetico de Direito inaugurando uma democracia participativa

Esta democracia participativa permite ao cidadatildeo desde que preenchidos

determinados requisitos dar iniacutecio a um projeto de Lei atraveacutes da chamada Iniciativa

Popular A origem da Lei Complementar nordm 1352010 decorreu do Projeto de Lei nordm

5182009 sob a coordenaccedilatildeo do Movimento de Combate a Corrupccedilatildeo Eleitoral ndash

MCCE que teve iniacutecio em abril de 2008 com o objetivo de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos a finalidade eacute que os criteacuterios de inelegibilidades sejam

mais rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos

Esta Lei Complementar dita que pessoas condenadas por um colegiado

independente do tracircnsito em julgado satildeo inelegiacuteveis portanto podem ter seus

registros de candidaturas negados alem de incluir parlamentares que renunciaram

ao cargo para assim evitar uma possiacutevel abertura de processo por quebra de decoro

ou por desrespeito agrave Constituiccedilatildeo com a finalidade uacutenica de evitar possiacuteveis

puniccedilotildees

A Lei Complementar 1352010 traacutes inuacutemeros confrontos com a Constituiccedilatildeo

Federal sendo dois os mais relevantes primeiro a natildeo observacircncia do princiacutepio da

anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal e segundo

o desrespeito ao princiacutepio da natildeo-culpabilidade tambeacutem estabelecido na

Constituiccedilatildeo federal no artigo 5ordm inciso LVII

Sobre o primeiro ponto que trata da aplicabilidade da Lei Complementar nordm

1352010 para as eleiccedilotildees de 2010 restou soberana a decisatildeo do Supremo

Tribunal Federal ao resolver o conflito afirmando que o artigo 16 da Constituiccedilatildeo

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Federal ao submeter a alteraccedilatildeo legal do processo eleitoral agrave regra da anualidade

constitui uma garantia fundamental para o pleno exerciacutecio de direitos poliacuteticos

Esta pacificaccedilatildeo se deu no julgamento da Accedilatildeo Declaratoacuteria de

Inconstitucionalidade nordm 3685 13 onde atuou como Relatora a Ministra Ellen Gracie

que identificou como uma garantia fundamental do cidadatildeo-eleitor do cidadatildeo-

candidato e dos partidos poliacuteticos o artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal

A Ministra Ellen Gracie utilizou-se de uma analogia com o julgamento da

Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade 939 que teve como relator Ministro Sydnei

Sanches com a garantia da anterioridade tributaacuteria fixada no artigo 150 III b no

sentido de que se o princiacutepio da anterioridade tributaacuteria constitui uma garantia do

cidadatildeo-contribuinte o princiacutepio da anterioridade eleitoral tambeacutem eacute uma garantia do

cidadatildeo do eleitor do candidato e dos partidos poliacuteticos

Desta forma restou consolidado a garantia prevista no artigo 16 da

Constituiccedilatildeo Federal como forma de um devido processo legal eleitoral

O devido processo visa que se atinja uma decisatildeo conforme a Justiccedila

prestigiando a eacutetica da legalidade ressaltando-se que ele possui um duplo

significado de processo necessaacuterio e processo adequado para tanto COMOGLIO

afirma Que as garantias decorrentes do devido processo legal querem dizer natildeo apenas direito a um processo mas a um justo processo compreendendo a correccedilatildeo e efetividade dos instrumentos disponiacuteveis em juiacutezo e a efetividade e adequaccedilatildeo da proacutepria tutela finalrdquo 14

A Constituiccedilatildeo brasileira de 1988 traz a garantia exarada no seu artigo 5ordm

Art 5ordm - () LIV ndash ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal LV ndash aos litigantes em processo judicial e administrativo e aos acusados em geral seratildeo assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa com os meios de recurso a ela inerentes

Sobre o segundo ponto controverso mateacuteria deste trabalho tem o conflito tem

o conflito entre a Lei Complementar nordm 13510 contra uma garantia constitucional

denominado princiacutepio da natildeo-culpabilidade que eacute inseparaacutevel do conceito de

13 Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011 14 Luigi Paolo COMOGLIO Giuridizione e processo nel quadro delle garanzie constituzionali Rivista Trimestrale di Diritto e Procedura Civile 4 p 1070

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democracia A Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5ordm inciso LVII estabelece uma das

maiores garantias dos indiviacuteduos contra o autoritarismo do Estado afirmando que

ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

condenatoacuteriardquo fixando explicitamente o princiacutepio da natildeo-culpabilidade entre os

direitos fundamentais

42 AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EM JULGADO

A Lei Complementar nordm 1352010 em sua aliacutenea ldquoerdquo do inciso I do artigo 2ordm

possui a seguinte redaccedilatildeo e) os que forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial colegiado desde a condenaccedilatildeo ateacute o transcurso do prazo de 8 (oito) anos apoacutes o cumprimento da pena pelos crimes (Redaccedilatildeo dada pela Lei Complementar nordm 135 de 2010)

Esta aliacutenea visa impedir a candidatura de poliacuteticos condenados a partir da

segunda instacircncia e mesmo que natildeo tenha transitado em julgado Ela defende que

haja uma condenaccedilatildeo criminal no entanto deixa de exigir a configuraccedilatildeo do tracircnsito

em julgado do ato decisoacuterio para que ocorra a inelegibilidade A antiga lei previa que

o candidato soacute seria inelegiacutevel se tivesse condenaccedilatildeo definitiva

As alteraccedilotildees da Lei Complementar nordm 1352010 objetiva atender a um senso

comum do eleitorado afirmando que uma pessoa condenada natildeo deve poder ser

votada isto eacute natildeo deve ter mandato Em seus dizeres trata que a inelegibilidade

natildeo pressupotildee culpa formada natildeo deve haver discussatildeo sobre presunccedilatildeo da

inocecircncia Pode haver inelegibilidade por parentesco por ocupar cargo puacuteblico falta

de domiciacutelio eleitoral ou filiaccedilatildeo partidaacuteria causas que natildeo tecircm nada a ver com

condenaccedilatildeo criminal

A contradiccedilatildeo do argumento da Lei Complementar eacute se a Constituiccedilatildeo em

face do princiacutepio da natildeo-culpabilidade admite a cominaccedilatildeo de inelegibilidade para

quem ainda tem recursos pendentes de julgamento

Caso esta hipoacutetese seja admitida temos que um indiviacuteduo que tenha sido

condenado criminalmente em segunda instacircncia e interponha recurso especial ou

extraordinaacuterio para anular o processo caso natildeo consiga uma medida liminar

suspendendo os efeitos ficaria impedido de concorrer na eleiccedilatildeo

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Imagine-se que ao final da accedilatildeo o cidadatildeo que ficou impedido de concorrer

nas eleiccedilotildees obtivesse vitoacuteria em seu recurso obtendo assim a nulidade da accedilatildeo

bem como da decisatildeo que o condenou com ficaria a situaccedilatildeo deste cidadatildeo

O que se quer com a Lei Complementar nordm 1352010 eacute instituir um moralismo

eleitoral que se sobrepotildee a Constituiccedilatildeo Federal e seu principio constitucional da

natildeo-culpabilidade que eacute a garantia individual contra o Estado

Outro argumento utilizado pelos defensores da constitucionalidade da Lei

Complementar nordm 1352010 satildeo as prisotildees cautelares e que no final o sujeito

acaba sebdo absolvido Ora cabe lembrar-lhes que a prisatildeo cautelar natildeo eacute

antecipaccedilatildeo de pena cumpre ela uma funccedilatildeo processual clara e limitada agrave garantia

da ordem puacuteblica da ordem econocircmica por conveniecircncia da instruccedilatildeo criminal ou

para assegurar a aplicaccedilatildeo da lei penal quando houver prova da existecircncia do crime

e indiacutecio suficiente de autoria

Portanto temos que o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees enquanto natildeo

sobrevier decisatildeo judicial transitada em julgado

O proacuteprio Supremo na Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental

144 jaacute decidiu natildeo barrar candidaturas sem condenaccedilatildeo transitada em julgado

A Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental 144 15 foi votada

em agosto de 2008 antes das eleiccedilotildees municipais Na ocasiatildeo o Supremo Tribunal

Federal decidiu que natildeo poderiam ser barradas candidaturas de poliacuteticos

condenados na primeira instacircncia por conta da presunccedilatildeo de inocecircncia

Em 6 de agosto de 2008 haacute menos de trecircs anos o Supremo Tribunal Federal

julgou improcedente a Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental nordm

144 ajuizada pela Associaccedilatildeo dos Magistrados Brasileiros em voto do ministro

Celso de Mello vencidos os ministros Carlos Ayres e Joaquim Barbosa exatamente

porque O postulado consagrador da garantia de inocecircncia irradia os seus efeitos para aleacutem dos limites dos processos penais de natureza condenatoacuteria impedindo desse modo que situaccedilotildees processuais anda natildeo definidas por sentenccedilas transitadas em julgado provoquem em decorrecircncia das exigecircncias de probidade administrativa e demoralidade a que se refere o sect 9ordm do artigo 14 da Coinstituiccedilatildeo Federal a inelegibilidade dos cidadatildeos ou obstem candidaturas para mandatos eletivos

15Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011

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Portanto ficou definido que Lei Complementar sendo editada para casos de

inelegibilidades esta deveraacute respeitar o princiacutepio da natildeo-culpabilidade Ocorre que

foi editada a Lei Complementar nordm 1352010 que atendeu aos reclamos populares

mas preferiu a um soacute tempo violar a Constituiccedilatildeo Federal e desrespeitar a recente

decisatildeo do Supremo Tribunal Federal mesmo que na eacutepoacuteca desta decisatildeo natildeo

havia lei formal para tal situaccedilatildeo

43 PRINCIacutePIO CONSTITUCIONAL DA NAtildeO-CULPABILIDADE

O princiacutepio da natildeo-culpabilidade eacute direito fundamental previsto na

Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5deg inciso LVII ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute

o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

Isto eacute enquanto natildeo sobrevier uma decisatildeo judicial condenatoacuteria transitada

em julgado o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees em seu patrimocircnio ou em sua

liberdade Caso sobrevenha duacutevida quanto a culpabilidade esta resolveraacute sempre

em favor do reacuteu ou seja aplicando-se o princiacutepio in duacutebio pro reo

Assim disciplina Nelson Nery Juacutenior sobre o princiacutepio da natildeo-culpabilidade ldquoO inteacuterprete deve buscar a aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre tendo como pressuposto o exame da Constituiccedilatildeo Federal Depois sim deve consultar a legislaccedilatildeo infraconstitucional a respeito do temardquo 16

Sendo assim a Constituiccedilatildeo Federal no capiacutetulo sobre os Direitos e Deveres

Individuais e Coletivos em seu artigo 5ordm inciso LVII afirma que ldquoningueacutem seraacute

considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute considerar o

indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila A doutrina e a

jurisprudecircncia aclamam este princiacutepio como vaacuterios nomes como princiacutepio da

presunccedilatildeo de inocecircncia princiacutepio da natildeo-culpabilidade ou simplesmente princiacutepio da

inocecircncia

Joseacute Afonso da Silva em seu livro Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo

disciplina assim esta garantia A norma constitucional do inciso LVII agora sob nosso exame garante a presunccedilatildeo de inocecircncia por meio de um enunciado negativo universal lsquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria Usa-se de uma forma

16 NERY JUacuteNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20

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negativa para outorgar uma garantia positiva Na verdade o texto brasileiro natildeo significa outra coisa senatildeo que fica assegurada a todos a presunccedilatildeo de inocecircncia ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria O tracircnsito em julgado se daacute quando a decisatildeo natildeo comporta mais recurso ordinaacuterio especial ou extraordinaacuterio 17

Nesse sentido o indiviacuteduo acusado natildeo pode ser presumidamente culpado

mas sim inocente Tal princiacutepio visa a tutelar a liberdade pessoal de modo que o

Estado nos mais diferentes segmentos deve abster-se de considerar culpado

aquele que ainda natildeo foi submetido agrave definitividade da atuaccedilatildeo jurisdicional Em se tratando de suspensatildeo dos direitos poliacuteticos a Constituiccedilatildeo Federal

garante que a suspensatildeo somente se daraacute por ldquocondenaccedilatildeo criminal transitada em

julgado enquanto durarem seus efeitosrdquo

Julgamento neste sentido REPRESENTACcedilAtildeO SUSPENSAtildeO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS EM VIRTUDE DE SENTENCcedilA PENAL CONDENATOacuteRIA TRANSITADA EM JULGADO AUTO-APLICABILIDADE DOS ARTIGOS 14 sect 3ordm II E 15 III DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL PROCEDEcircNCIA A suspensatildeo dos direitos poliacuteticos do condenado independe de lei regulamentadora bem como de processo especial de cogniccedilatildeo e de anaacutelise de meacuterito para a execuccedilatildeo da medida no juiacutezo eleitoral posto natildeo se tratar de sanccedilatildeo penal mas de efeito natildeo-penal de condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado e decorrente de mandamento constitucional Comprovado o tracircnsito em julgado da sentenccedila penal condenatoacuteria decreta-se automaticamente a suspensatildeo dos direitos poliacuteticos ativo e passivo do representado ou seja o direito de votar e ser votado com a consequumlente exclusatildeo de seu nome da folha de votaccedilatildeo e declaraccedilatildeo de sua inelegibilidade 18

Logo infere-se que a condenaccedilatildeo criminal sem o tracircnsito em julgado natildeo

desqualifica o condenado a votar e a eventualmente concorrer a qualquer cargo

eletivo

O Colendo Tribunal Superior Eleitoral enfrentou esta questatildeo ao apreciar

pedido de registro de candidatura valendo registrar os seguintes julgados RECURSO ESPECIAL RECEBIDO COMO ORDINAacuteRIO REGISTRO DE CANDIDATURA DEFERIMENTO INELEGIBILIDADE NAtildeO-OCORREcircNCIA Condenaccedilatildeo criminal sem tracircnsito em julgado natildeo eacute apta a ensejar inelegibilidade (precedente do TSE acoacuterdatildeo 536 rel Min Fernando Neves publicado em sessatildeo de 882002) Recurso natildeo provido 19

17 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006 p 155 18 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbrgt TRESCndashAcoacuterdatildeo nordm 13324 de 071094 rel Juiz Nilson B Filho Acesso em 16 set 2011 19 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbr gt TSE- REspEl nordm 20247 de 19902 rel Min Sepuacutelveda Pertence Acesso em 16 set 2011

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INELEGIBILIDADE CONDENACcedilAtildeO CRIMINAL NAtildeO TRANSITADA EM JULGADO CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA ART 14 sect 9deg SUacuteMULA Ndeg 13 DO TSE 1 A existecircncia de sentenccedila criminal condenatoacuteria sem o tracircnsito em julgado natildeo eacute suficiente para ocasionar inelegibilidade 2 O art 14 sect 9deg da Constituiccedilatildeo natildeo eacute auto-aplicaacutevel 3 Necessidade de lei complementar estabelecendo os casos em que a vida pregressa do candidato poderaacute levar agrave sua inelegibilidade bem como os prazos de sua cessaccedilatildeo 4 Recurso provido para julgar improcedente a impugnaccedilatildeo e deferir o registro da candidatura 20

Insculpido na Constituiccedilatildeo Federal o principio da natildeo-culpabilidade deve ser

respeitado por toda lei infraconstitucional alguns doutrinadores como Aristides

Junqueira e Antocircnio Bandeira de Mello em carta publica no sitio do Movimento de

Combate agrave Corrupccedilatildeo Eleitoral21 entendem que neste presente caso natildeo deve ser

aplicado o princiacutepio da natildeo-culpabilidade a inelegibilidade pois esta natildeo eacute pena

mas medida preventiva

Estes juristas se acham alicerccedilados pelo que expressamente estatui o sect 9deg do

artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal em que Lei complementar estabeleceraacute outros

casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim de proteger a probidade

administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato considerada a vida

pregressa do candidato afirmam que uma vez que a proacutepria Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica expressamente permite que o legislador estipule quais elementos da vida

pregressa dos candidatos podem afastaacute-los dos pleitos

Independente desta posiccedilatildeo minoritaacuteria encontra-se que o princiacutepio da natildeo-

culpabilidade eacute prevista em diversos ordenamentos juriacutedicos e tratados como se

veraacute a seguir

Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo da Franccedila de 1789 o art

9da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) de 1948 dispotildee ldquoTodo acusado eacute

considerado inocente ateacute ser declarado culpado e se julgar indispensaacutevel prendecirc-lo

todo o rigor desnecessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deveraacute ser severamente

reprimido pela leirdquo22

20 Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrgt TSE-REspEl nordm 18047 de 2992000 rel Min Fernando Neves da Silva Acesso em 16 set 2011 21 Disponiacutevel em lthttpwwwmcceorgbrsitesdefaultfilescartajuristaspdfgt Acesso em 3 jul 2011 22 Disponiacutevel em lthttppfdcpgrmpfgovbratuacao-e-conteudos-de-apoiolegislacaodireitoshuma nosdeclar_dir_ homem_cidadaopdfgt Acesso em 13 set 2011

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Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos de 1948 diz ldquoToda pessoa

acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocecircncia enquanto natildeo se

comprove legalmente sua culpardquo23

A origem histoacuterica que foi referida teve uma grande importacircncia para se

chegar a um status constitucional conforme eacute citado por Mirabete Existe apenas uma tendecircncia agrave presunccedilatildeo de inocecircncia ou mais precisamente um estado de inocecircncia um estado juriacutedico no qual o acusado eacute inocente ateacute que seja declarado culpado por uma sentenccedila transitada em julgado Por isso a nossa Constituiccedilatildeo Federal natildeo presume a inocecircncia mas declara que ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria (art 5deg LVII) ou seja que o acusado eacute inocente durante o desenvolvimento do processo e seu estado soacute se modifica por uma sentenccedila final que o declare culpado 24

Por fim o princiacutepio da natildeo-culpabilidade visa a proteccedilatildeo do reacuteu para que

este tenha um julgamento justo devendo ser provada sua verdadeira culpa antes

que seja considerado culpado

23 Disponiacutevel em lthttpwwwagugovbrsistemassiteTemplateImagemTextoThumbaspxidConteu do=113927ampordenacao=1ampid_site=4922gt Acesso em 12 set 2011 24 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252

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5 CONCLUSAtildeO Apoacutes as anaacutelises da doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncias pertinentes a este

trabalho verifica-se que a Lei Complementar nordm 1352010 ao instituir nova hipoacutetese

de inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado esta em pleno conflito com o princiacutepio da natildeo-culpabilidade insculpido no

artigo 5ordm inciso LVII da Constituiccedilatildeo Federal o que torna esta nova hipoacutetese

absolutamente inconstitucional

O objetivo da Lei Complementar nordm 1352010 eacute o de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos para que os criteacuterios de inelegibilidades sejam mais

rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos Inicialmente eacute compreensiacutevel a

preocupaccedilatildeo de qualificar o perfil dos candidatos a cargos eletivos atraveacutes da vida

pregressa isto significa querer se representar por candidatos idocircneos

Ocorre que eacute necessaacuterio impor tantas restriccedilotildees para que o cidadatildeo possa

concorrer a determinado pleito natildeo eacute mais correto permitir que o proacuteprio povo

detentor soberano do poder para escolher seus representantes defina seus criteacuterios

de escolha

Quanto ao aspecto juriacutedico vejamos que o legislativo ao criar novas hipoacuteteses

de inelegibilidade deve-se atentar para as garantias jaacute consagradas em nosso

ordenamento principalmente quando esta garantia esta insculpida na Constituiccedilatildeo

Federal garantia esta referente ao principio da natildeo-culpabilidade que reza que

ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

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condenatoacuteria trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute

considerar o indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila

Ocorre que a criaccedilatildeo da Lei Complementar nordm 1352010 nasceu conflitante

com a Constituiccedilatildeo Federal em 2 aspectos primordiais primeiro a natildeo observacircncia

do princiacutepio da anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo

Federal pacificado pela Accedilatildeo Declaratoacuteria de Inconstitucionalidade nordm 3685

afirmando que deve-se respeitar ao principio da anualidade e segundo a

inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado

O segundo conflito origina-se diante da garantia constitucional do princiacutepio da

presunccedilatildeo da natildeo-culpabilidade o qual disciplina que somente poderaacute ser

considerado culpado o acusado de determinado crime quando ocorrer o tracircnsito em

julgado da decisatildeo

Portanto temos que uma decisatildeo de um oacutergatildeo colegiado quando recorriacutevel

ainda natildeo eacute o momento que se consumativo da culpabilidade do acusado pois natildeo

podemos antecipar a puniccedilatildeo de um cidadatildeo com a perda de algum direito pelo

simples fato de estar respondendo a algum processo

A aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre teraacute como pressuposto o

exame da Constituiccedilatildeo Federal que estabelece o princiacutepio da natildeo-culpabilidade

tambeacutem chamado de princiacutepio da presunccedilatildeo de inocecircncia que eacute uma verdadeira

garantia constitucional do indiviacuteduo contra o Estado Portanto deve-se respeitar este

princiacutepio basilar do Estado Democraacutetico de Direito nos mais diferentes segmentos

devendo qualquer Lei abster-se de considerar culpado aquele que ainda natildeo teve

sua decisatildeo transitada em julgado

Assim a Lei Complementar nordm 1352010 eacute contraacuterio ao disposto no texto

constitucional pois de forma antecipada retira do cidadatildeo o direito de disputar ao

pleito de forma igualitaacuteria bem como retira do povo um de seus maiores direitos o

de poder escolher seus representantes

Portanto para fortalecimento do Estado Democraacutetico de Direito se faz

necessaacuterio que as garantias constitucionais prevaleccedilam com isto deve-se

preponderar a presunccedilatildeo de natildeo culpabilidade ateacute o tracircnsito em julgado de da

sentenccedila condenatoacuteria

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REFEREcircNCIAS BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicao_ConstituiccedilaoCompiladohtmgt Acesso em 2 jun 2011 BRASIL Tribunal Superior Eleitoral Coacutedigo eleitoral Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrinternetjurisprudenciacodigo_eleitoralcodigo_eleitoralhtmlgt Acesso em 5 mai 2011 BRASIL Supremo Tribunal Federal Jurisprudecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudenciapesquisarJurisprudenciaaspgt Acesso em 15 mai 2011 BRASIL Projeto de Lei Complementar nordm 518 de 17 de setembro de 2009 Altera a Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 que estabelece de acordo com o sect 9ordm do art 14 da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias para incluir hipoacuteteses de inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no exerciacutecio do mandato Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbrsfatividademateriadetalhesaspp_cod_mate=96850gt Acesso em 19 mai 2011

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BRASIL Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 Estabelece de acordo com o art 14 sect 9ordm da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03LeisLCPLcp64htmgt Acesso em 15 mai 2011 COSTA Adriano Soares Instituiccedilotildees de Direito Eleitoral Ed Del Rey 2006 DI PIETRO Maria Sylvia Zanella Direito Administrativo 9 Ed Satildeo Paulo Atlas 1998 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131 LEAL Saul Tourinho Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt MELLO Celso Antonio Bandeira Curso de Direito Administrativo 24 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2007 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 ed Satildeo Paulo Atlas 2006 Movimento de Combate agrave Corrupccedilatildeo Disponiacutevel em ltwwwmcceorgbrgt Acesso em 3 jul 2011 NERY JUacuteBNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20 PEREIRA Erick Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt Acesso em 30 jun 2011 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2008

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PIRES Maacutercio Rodrigo Kaio Carvalho Abuso do poder poliacutetico nas eleiccedilotildees Jus Navigandi Teresina ano 15 n 2677 30 out 2010 Disponiacutevel em lthttpjusuolcombrrevistatexto17741gt Acesso em 27 jun 2011 RAMAYANA Marcos Direito Eleitoral Impetus Niteroacutei 2006 RESENHA ELEITORAL - Nova Seacuterie v9 n1 (janjun 2002) Disponiacutevel em lt httpwwwtre-scgovbrsiteinstitucionalpublicacoesartigos-doutrinariospublicados- na-resenha-eleitoralresenhasv9-n1-janjun-2002abuso-do-podereconomico- ou-de-autoridadeindexhtmlgt SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006

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2 DA ELEGIBILIDADE 21 CONCEITO DE ELEGIBILIDADE

Pode-se conceituar elegibilidade como sendo a capacidade de ser eleito isto

eacute a qualidade de determinada pessoa ser elegiacutevel nas condiccedilotildees permitidas pela

legislaccedilatildeo Assim conceitua o Tribunal Superior Eleitoral sobre inelegibilidade A elegibilidade eacute na restrita precisatildeo legal o direito do cidadatildeo de ser escolhido mediante votaccedilatildeo direta ou indireta para representante do povo ou da comunidade segundo as condiccedilotildees estabelecidas pela Constituiccedilatildeo e pela legislaccedilatildeo eleitoral1

Joseacute Afonso da Silva na ilustre obra Curso de Direito Constitucional Positivo

doutrinariamente leciona A elegibilidade agrave capacidade de ser eleito observa que goza de elegibilidade todo cidadatildeo que preencha as condiccedilotildees exigidas para concorrer a um mandato eletivo consistindo a mesma no direito de postular a designaccedilatildeo pelos eleitores a um mandato poliacutetico no Legislativo ou no Executivo2

Alexandre de Moraes em sua excelente obra de Direto Constitucional define

da seguinte maneira a elegibilidade ldquoElegibilidade eacute a capacidade eleitoral passiva

consistente na possibilidade de o cidadatildeo pleitear determinados mandatos poliacuteticos

mediante eleiccedilatildeo popular desde que preenchidos certo requisitosrdquo 3

Djalma Pinto com a obra intitulada Direito Eleitoral assim define elegibilidade

ldquoElegibilidade eacute o credenciamento do cidadatildeo para postulaccedilatildeo do registro de sua

candidatura Representa o primeiro estaacutegio a ser percorrido por algueacutem para

exercitar o seu direito a ser votadordquo 4

Em siacutentese preenchidos os requisitos de elegibilidade eacute necessaacuterio que o

cidadatildeo natildeo se encontre em alguma hipoacutetese de inelegibilidade que constitui

impedimento agrave capacidade eleitoral passiva

22 CONDICcedilOtildeES DE ELEGIBILIDADE

Trata-se do conjunto de condiccedilotildees pessoais necessaacuterias agrave habilitaccedilatildeo do

cidadatildeo para pleitear determinados mandatos poliacuteticos mediante eleiccedilatildeo popular

As condiccedilotildees de elegibilidade estatildeo previstas na Constituiccedilatildeo Federal no

artigo 14 sect 3ordm e compreendem a nacionalidade brasileira pleno exerciacutecio dos

1 Disponiacutevel em lthttpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermoselegibilidadehtmgt Acesso em 22 jul 2011 2 SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 p 365 3 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 Ed Satildeo Paulo Atlas 2006 p 215 4 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 Ed Satildeo Paulo Atlas 2008 p 157

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direitos poliacuteticos alistamento eleitoral domiciacutelio eleitoral na circunscriccedilatildeo filiaccedilatildeo

partidaacuteria e idade miacutenima para cargos poliacuteticos

Com estes requisitos a Constituiccedilatildeo Federal vem a limitar quem pode e quem

natildeo pode concorrer para algum cargo poliacutetico

23 NACIONALIDADE BRASILEIRA

A nacionalidade brasileira eacute a primeira condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no

artigo 14 sect 3ordm inciso I da Constituiccedilatildeo Federal

Classifica-se a nacionalidade brasileira em brasileiro nato e brasileiro

naturalizado para tanto eacute necessaacuterio distinguirmos a diferenccedila entre um e outro

Brasileiros natos satildeo aqueles nascidos na Repuacuteblica Federativa do Brasil

ainda que de paiacutes estrangeiros desde que estes natildeo estejam a serviccedilo de seu paiacutes

os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou matildee brasileira desde que qualquer

deles esteja a serviccedilo da Repuacuteblica Federativa do Brasil os nascidos no estrangeiro

de pai brasileiro ou de matildee brasileira desde que sejam registrados em reparticcedilatildeo

brasileira competente ou venham a residir na Repuacuteblica Federativa do Brasil e

optem em qualquer tempo depois de atingida a maioridade pela nacionalidade

brasileira

Brasileiros naturalizados satildeo aqueles que na forma da lei adquiram a

nacionalidade brasileira exigidas aos originaacuterios de paiacuteses de liacutengua portuguesa

apenas residecircncia por um ano ininterrupto e idoneidade moral os estrangeiros de

qualquer nacionalidade residentes na Repuacuteblica Federativa do Brasil haacute mais de

quinze anos ininterruptos e sem condenaccedilatildeo penal desde que requeiram a

nacionalidade brasileira

A Lei tambeacutem distingue a nacionalidade em primaacuteria e secundaacuteria A

nacionalidade primaacuteria tambeacutem denominada de originaacuteria eacute conferida aos

brasileiros natos sendo adquirida no momento do nascimento pelo ius sanguinis

(direito de sangue) ou pelo ius soli (direito de solo) jaacute a nacionalidade secundaacuteria

tambeacutem denominada nacionalidade adquirida eacute conferida aos brasileiros

naturalizados aquela se adquire por vontade proacutepria apoacutes o nascimento e em regra

geral pela naturalizaccedilatildeo

Por fim o sect 2ordm do artigo 12 da Constituiccedilatildeo Federal descreve ldquoA lei natildeo

poderaacute estabelecer distinccedilatildeo entre brasileiros natos e naturalizados salvo nos casos

previstos nesta Constituiccedilatildeordquo com isto fica vedado qualquer tratamento desigual

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entre brasileiro nato e naturalizado salvo disposiccedilatildeo em contraacuterio na Constituiccedilatildeo

Federal

A exceccedilatildeo citada no sect 2ordm do artigo 12 da Constituiccedilatildeo Federal permite a

distinccedilatildeo entre brasileiros natos e naturalizados para ocupar determinados cargos

esta exceccedilatildeo estaacute disposta no artigo 12 sect 3ordm da Constituiccedilatildeo Federal que permite

que alguns cargos sejam privativos de brasileiro nato natildeo permitindo que os

naturalizados venham a ocupar tais posiccedilotildees

Esta exceccedilatildeo restringe-se para os cargos privativos de Presidente e Vice-

Presidente da Repuacuteblica Presidente da Cacircmara dos Deputados Presidente do

Senado Federal Ministro do Supremo Tribunal Federal carreira diplomaacutetica de

oficial das Forccedilas Armadas e de Ministro de Estado da Defesa

24 PLENO EXERCIacuteCIO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS

O pleno exerciacutecio dos direitos poliacuteticos eacute a segunda condiccedilatildeo de elegibilidade

prevista no artigo 14 sect 3ordm inciso II da Constituiccedilatildeo Federal o Tribunal Superior

Eleitoral assim o conceitua Direitos poliacuteticos eacute o conjunto dos direitos atribuiacutedos ao cidadatildeo que lhe permite atraveacutes do voto do exerciacutecio de cargos puacuteblicos ou da utilizaccedilatildeo de outros instrumentos constitucionais e legais ter efetiva participaccedilatildeo e influecircncia nas atividades de governo Estar no gozo dos direitos poliacuteticos significa pois estar habilitado a alistar-se eleitoralmente habilitar-se a candidaturas para cargos eletivos ou a nomeaccedilotildees para certos cargos puacuteblicos natildeo eletivos participar de sufraacutegios votar em eleiccedilotildees plebiscitos e referendos apresentar projetos de lei pela via da iniciativa popular e propor accedilatildeo popular 5

Djalma Pinto em sua obra intitulada ldquoDireito eleitoral ndash Improbidade

Administrativa e Responsabilidade Fiscalrdquo dispotildee sobre esta condiccedilatildeo de

elegibilidade O pleno exerciacutecio dos direitos poliacuteticos eacute condiccedilatildeo essencial para a configuraccedilatildeo de elegibilidade A plenitude dos direitos poliacuteticos se expressa pela aptidatildeo para votar e ser votado Sem encontrar-se apto a seu exerciacutecio natildeo eacute possiacutevel ao indiviacuteduo nem se alistar nem tampouco se filiar partido requisitos imprescindiacuteveis agrave configuraccedilatildeo da elegibilidade 6

Sendo assim o pleno exerciacutecio dos direitos poliacuteticos eacute requisito essencial

para o cidadatildeo estar na condiccedilatildeo de elegibilidade Aquele que perder ou tiver seus 5 Disponiacutevel em lthttpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermosdireitos_politicoshtmgt Acesso em 22 jul 2011 6 PINTO Djalma Direito eleitoral ndash improbidade administrativa e Responsabilidade Fiscal 3 Ed Satildeo Paulo Atlas 2006

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direitos poliacuteticos suspensos ou cancelados ficaraacute impedido de exercer a capacidade

eleitoral passiva

A Constituiccedilatildeo Federal prevecirc no artigo 15 causas de perda ou suspensatildeo dos

direitos poliacuteticos que podem ocorrer devido ao cancelamento da naturalizaccedilatildeo por

sentenccedila judicial transitada em julgado condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado

enquanto durarem seus efeitos recusa de cumprir obrigaccedilatildeo a todos imposta ou

prestaccedilatildeo alternativa nos termos do art 5ordm VIII improbidade administrativa nos

termos do art 37 sect 4ordm

25 ALISTAMENTO ELEITORAL

O alistamento eleitoral eacute a terceira condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo

14 sect 3ordm inciso III da Constituiccedilatildeo Federal o Tribunal Superior Eleitoral assim o

conceitua Eacute a primeira fase do processo eleitoral Eacute um procedimento administrativo cartoraacuterio e compreende dois atos inconfundiacuteveis a qualificaccedilatildeo e a inscriccedilatildeo do eleitor A qualificaccedilatildeo eacute a prova de que o cidadatildeo satisfaz as exigecircncias legais para exercer o direito de voto enquanto que a inscriccedilatildeo faz com que o mesmo passe a integrar o Cadastro Nacional de Eleitores da Justiccedila Eleitoral O ato de alistamento eacute feito por meio de processamento eletrocircnico e se perfaz pelo preenchimento do requerimento de alistamento eleitoral (RAE) na forma da resoluccedilatildeo do TSE e da legislaccedilatildeo eleitoral Eacute a forma pela qual o cidadatildeo adquire seus direitos poliacuteticos tornando-se titular de direito poliacutetico ativo (capacidade para votar) e possibilitando sua elegibilidade e filiaccedilatildeo partidaacuteria apoacutes a expediccedilatildeo do respectivo tiacutetulo eleitoral 7

Portanto para o cidadatildeo ser eleitor eacute preciso que ele se aliste e para ele ser

elegiacutevel eacute preciso que ele jaacute seja eleitor

26 O DOMICIacuteLIO ELEITORAL NA CIRCUNSCRICcedilAtildeO

O domiciacutelio eleitoral eacute a quarta condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14

sect 3ordm inciso IV da Constituiccedilatildeo Federal

Domiciacutelio eleitoral eacute o lugar da residecircncia ou moradia do requerente agrave

inscriccedilatildeo eleitoral assim dispotildee o artigo 42 paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo Eleitoral

que Para efeito de inscriccedilatildeo eacute domiciacutelio eleitoral o lugar de residecircncia ou moradia

do requerente e verificado ter o alistando mais de uma considerar-se-aacute domiciacutelio

qualquer delas

7Disponiacutevel em lthttpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermosalistamento_eleitoralhtmgt Acesso em 22 jul 2011

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Djalma Pinto acerca do domiciacutelio eleitoral assevera ldquoO domicilio eleitoral por

sua vez eacute o lugar da residecircncia ou moradia onde o cidadatildeo formaliza seu

alistamentordquo 8

A legislaccedilatildeo requer que o candidato a um cargo eletivo natildeo incorra em

incompatibilidades ou inelegibilidades e possua domicilio eleitoral na circunscriccedilatildeo a

qual deseja concorrer Sobre a circunscriccedilatildeo eleitoral o Tribunal Superior Eleitoral

assim o define Espaccedilo geograacutefico onde se trava determinada eleiccedilatildeo Assim o paiacutes na eleiccedilatildeo do presidente e vice-presidente da Repuacuteblica o estado nas eleiccedilotildees para governador e vice-governador deputados federais e estaduais e senadores o municiacutepio nas eleiccedilotildees de prefeito e vereadores e o distrito onde e quando se realiza a eleiccedilatildeo pelo sistema distrital 9

Para concorrer as eleiccedilotildees o candidato deveraacute possuir domiciacutelio eleitoral na

respectiva circunscriccedilatildeo pelo prazo de pelo menos um ano antes do pleito e estar

com a filiaccedilatildeo deferida pelo partido no mesmo prazo eacute o que dispotildee o artigo 9deg da

Lei 950497

27 FILIACcedilAtildeO PARTIDAacuteRIA

A filiaccedilatildeo partidaacuteria eacute a quinta condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14

sect 3ordm inciso V da Constituiccedilatildeo Federal

Eacute o ato formal e solene o pelo qual um eleitor aceita e adota o programa de

um partido poliacutetico viacutenculo que se estabelece entre o poliacutetico e o partido Eacute condiccedilatildeo

de elegibilidade conforme disposto no artigo 14 sect3ordm inciso V da Constituiccedilatildeo

Federal Nos termos do artigo 16 da Lei dos Partidos Poliacuteticos Lei nordm 909695 soacute

pode filiar-se a partido o eleitor que estiver no pleno gozo de seus direitos poliacuteticos

Todavia a exceccedilotildees sobre a filiaccedilatildeo partidaacuteria como no caso de candidatura

de magistrados membros dos Tribunais de Contas Ministeacuterio Puacuteblico e militares

como exemplo vejamos a exceccedilatildeo dos militares estes querendo concorrer a cargo

puacuteblico eletivo possuindo menos de dez anos de serviccedilo deveraacute solicitar

afastamento definitivo da atividade atraveacutes de demissatildeo ou licenciamento ex-officio

caso venha a possuir mais de dez anos de serviccedilo deveraacute ser agregado pela

8 PINTO Djalma Direito eleitoral ndash improbidade administrativa e Responsabilidade Fiscal 3 Ed Satildeo Paulo Atlas 2006 9 Disponiacutevel em httpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermoscircunscricao_eleitoralhtmgt Acesso em 22 jul 2011

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autoridade superior e se eleito passaraacute automaticamente no ato da diplomaccedilatildeo

para a inatividade

28 IDADE MIacuteNIMA

Idade miacutenima eacute a uacuteltima condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14 sect 3ordm

inciso VI da Constituiccedilatildeo Federal

Para o cargo de Presidente e Vice-Presidente da Repuacuteblica e para Senadores

e suplentes a idade miacutenima de 35 anos para o cargo de Governado e Vice-

Governador de Estado ou do Distrito Federal idade miacutenima de 30 anos para os

cargos de Deputado Federal Estadual Distrital Prefeito e Vice-Prefeito e Juiz de

paz a idade miacutenima de 21 anos e por fim para o cargo de vereador a idade

miacutenima de 18 anos

Dispotildee a Lei 95041997 artigo 11 sect 2ordm que a verificaccedilatildeo da idade seraacute feita

na data da posse no respectivo cargo pressupotildee que um menor de 17 anos de

idade possa se candidatar ao cargo de vereador bastando que na data da posse

conte com 18 anos completos

Alguns doutrinadores entretanto discordam dessa interpretaccedilatildeo entendendo

que natildeo poderia o legislador infra-constitucional dizer a mais do que a proacutepria

Constituiccedilatildeo estabeleceu assim leciona o Gilmar Mendes em sua obra Curso de

Direito Constitucional Natildeo haacute que se falar em momento da posse como aceitaacutevel para se perfazer a condiccedilatildeo de elegibilidade no tocante a idade miacutenima pois a Constituiccedilatildeo jaacute determinou que o momento da afericcedilatildeo para elegibilidade deve ser o do registro da candidatura 10

Tem prevalecido a verificaccedilatildeo da idade miacutenima na data da posse

10 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 Ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 p803

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3 DA INELEGIBILIDADE 31 CONCEITO DE INELEGIBILIDADE

Joseacute Afonso da Silva em sua ilustre obra Curso de Direito Constitucional

Positivo doutrinariamente leciona que ldquoa inelegibilidade obsta a elegibilidade

revelando um impedimento ao direito de ser votado que eacute a capacidade eleitoral

passivardquo 11

A inelegibilidade resulta no impedimento parcial ou seja temporaacuterio da

capacidade eleitoral passiva restringindo o cidadatildeo de ser votado nas hipoacuteteses

previstas na Lei Complementar nordm 641990 Lei Complementar nordm 1352010 e na

Constituiccedilatildeo Federal

Sua finalidade tem por objetivo a probidade administrativa a normalidade

para o exerciacutecio do mandato considerada a vida pregressa do candidato e a

normalidade e a legitimidade das eleiccedilotildees contra a influecircncia do poder econocircmico ou

o abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo cargo ou emprego na administraccedilatildeo direta ou

indireta

A inelegibilidade pode ser absoluta proibindo a candidatura agraves eleiccedilotildees em

geral ou relativa impossibilitando a postulaccedilatildeo a determinado mandato eletivo

Sendo assim o cidadatildeo que almeja se candidatar a cargo eletivo deve

atender as condiccedilotildees de elegibilidade e natildeo incorrer em nenhuma causa de

inelegibilidade

32 ESPEacuteCIES DE INELEGIBILIDADE

As espeacutecies de inelegibilidade podem ser constitucionais e

infraconstitucionais as constitucionais dividem-se em absoluta e relativa

A inelegibilidade constitucional absoluta consiste no impedimento eleitoral

que restringe o cidadatildeo de concorrer a qualquer cargo eletivo refere-se a

determinada caracteriacutestica do indiviacuteduo ou seja eacute de caraacuteter pessoal sendo

11 SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 Ed Satildeo Paulo Malheiros 012004 p 387

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taxativamente prevista pela Constituiccedilatildeo Federal e a inelegibilidade constitucional

relativa compreende o impedimento eleitoral que restringe o cidadatildeo de concorrer a

determinados cargos em determinada eleiccedilatildeo refere-se a situaccedilotildees especiais e

momentacircneas tais como motivos funcionais de casamento de parentescos

A inelegibilidade infraconstitucional eacute disciplinada na Lei Complementar ndeg

641990 alterada pela Lei Complementar ndeg 1352010

Eacute relevante a distinccedilatildeo entre as inelegibilidades constitucionais e

infraconstitucionais como bem ressaltado por Joseacute Jairo Gomes A distinccedilatildeo que se faz entre inelegibilidades constitucionais e legais natildeo eacute cerebrina apresentando inegaacutevel relevacircncia praacutetica Basta dizer que natildeo haacute preclusatildeo quanto agraves primeiras as quais podem ser arguumlidas na fase do registro de candidatura ou posteriormente antes ou depois das eleiccedilotildees A arguumliccedilatildeo posterior pode ser feita no RCED (CE art 262 I) Jaacute as inelegibilidades legais sujeitam-se agrave preclusatildeo se natildeo forem levantadas na fase de registro de candidatura Ultrapassado esse momento natildeo mais poderatildeo ser discutidas salvo se supervenientes 12

33 INELEGIBILIDADE CONSTITUCIONAL

A inelegibilidade constitucional dividi-se em absoluta e relativa

A inelegibilidade constitucional absoluta estabelecida no sect 4deg do artigo 14 da

Constituiccedilatildeo Federal prevecirc que satildeo inelegiacuteveis os inalistaacuteveis e os analfabetos

A inelegibilidade decorrente da inalistabilidade abrange todos que natildeo se

encontram na situaccedilatildeo de alistabilidade tambeacutem aqueles que se encontram em

estado definitivo ou temporariamente privados de seus direitos poliacuteticos por fim

atinge aqueles que natildeo sabem exprimir-se na liacutengua nacional e os estrangeiros

A inelegibilidade decorrente do analfabetismo natildeo permite que o analfabeto

seja elegiacutevel mas permite que ele seja alistaacutevel exercendo assim a sua capacidade

de votar mas nunca a de ser votado

Estas hipoacuteteses restringem ao cidadatildeo se candidatarem a qualquer cargo

eletivo em qualquer eleiccedilatildeo enquanto perdurar esta situaccedilatildeo restritiva

As hipoacuteteses de inelegibilidades constitucionais relativas referem-se a

situaccedilotildees especiais separando-as por motivos funcionais motivos parentais motivos

militares e encontram-se dispostas no artigo 14 sectsect 5deg ao 9deg da Constituiccedilatildeo Federal

12 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131

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A inelegibilidade por motivo funcional eacute decorrente de o cidadatildeo estar em

exerciacutecio de alguma funccedilatildeo puacuteblica Satildeo previstas duas situaccedilotildees

A primeira declara ser inelegiacutevel para o mesmo cargo em terceiro periacuteodo

subsequumlente o Presidente da Repuacuteblica os Governadores de Estado e do DF os

Prefeitos e quem os houver sucedido ou substituiacutedo nos seis meses antes das

eleiccedilotildees Eacute o que dispotildee o sect 5deg do artigo 14 na redaccedilatildeo da Emenda Constitucional

161997

Portanto soacute eacute permitida uma reconduccedilatildeo ou seja eacute permitida a reeleiccedilatildeo de

Chefes do Executivo ou seus substitutos para apenas um periacuteodo subsequumlente

A segunda situaccedilatildeo considera que satildeo inelegiacuteveis para concorrer a outros

cargos o Presidente da Repuacuteblica os Governadores de Estado e do DF e os

Prefeitos salvo se tiverem se desincompatibilizado com a renuacutencia do cargo ateacute

seis meses antes do pleito Eacute o que prevecirc o sect 6deg do artigo 14 da Constituiccedilatildeo

Federal

Os servidores puacuteblicos que ocuparem algum cargo de livre nomeaccedilatildeo

demissiacuteveis ad nutum seratildeo exonerados para que possam concorrer a cargo

eletivo ou seja natildeo poderatildeo manter qualquer viacutenculo com a entidade na qual

desempenhava suas funccedilotildees

Os servidores puacuteblicos concursados ao contraacuterio dos servidores ocupantes

de cargos de livre nomeaccedilatildeo natildeo seratildeo exonerados ou demitidos apenas se

afastaratildeo de suas funccedilotildees para se candidatar a cargo puacuteblico

A inelegibilidade por motivo de parentesco tambeacutem denominada de

inelegibilidade reflexa estaacute relacionada a condiccedilotildees inerentes ao parentesco

sanguumliacuteneo soacutecio-afetivo ou condiccedilatildeo matrimonial

Assim conforme previsto no sect 7ordm do artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal estas

mesmas pessoas impedidas para determinados cargos podem concorrer para outros

cargos que se processem em territoacuterio de outra circunscriccedilatildeo

A inelegibilidade reflexa aproxima-se da inelegibilidade absoluta a diferenccedila

ocorre que na reflexa pode cessar por vontade das pessoas envolvidas um exemplo

claro eacute a renuacutencia seis meses antes do pleito do Presidente da Repuacuteblica

Assim temos que a inelegibilidade por motivo de parentesco ou reflexa visa a

impedir a formaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do poder poliacutetico em matildeos de uma determinada

famiacutelia

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A inelegibilidade por motivos militares visa que o militar enquanto em serviccedilo

ativo natildeo pode estar filiado a partidos poliacuteticos entretanto a Constituiccedilatildeo Federal

em seu artigo 14 relata que atendidas certas condiccedilotildees o militar alistaacutevel se torna

elegiacutevel sendo estas as condiccedilotildees se contar com menos de dez anos de serviccedilo

deveraacute afastar-se da atividade e se contar com mais de dez ano de serviccedilo seraacute

agregado pela autoridade superior e se eleito passaraacute automaticamente no ato da

diplomaccedilatildeo para a inatividade

34 INELEGIBILIDADE INFRACONSTITUCIONAL

Por se tratar de inuacutemeras hipoacuteteses de inelegibilidades infraconstitucionais

natildeo seraacute possiacutevel tratar todos os casos previstos em lei para tanto adentraremos a

anaacutelise de algumas hipoacuteteses dispostas na Lei Complementar nordm 641990

As inelegibilidades infraconstitucionais satildeo instituiacutedas por Lei Complementar

que estabeleceraacute outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim

de proteger a probidade administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato

considerado vida pregressa do candidato e a normalidade e legitimidade das

eleiccedilotildees contra a influecircncia do poder econocircmico ou o abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo

cargo ou emprego na administraccedilatildeo direta ou indireta

As causas de inelegibilidade infraconstitucionais estatildeo previstas no artigo 1ordm

da Lei Complementar nordm 641990 alterado dentre outras atraveacutes da recente Lei

Complementar ndeg 1352010 conhecida como a Lei da Ficha Limpa

Dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquobrdquo da Lei Complementar nordm 641990 que os

membros do Congresso Nacional das Assembleacuteias Legislativas da Cacircmara

Legislativa e das Cacircmaras Municipais que hajam perdido os respectivos mandatos

por infringecircncia do disposto nos incisos I e II do art 55 da Constituiccedilatildeo Federal dos

dispositivos equivalentes sobre perda de mandato das Constituiccedilotildees Estaduais e

Leis Orgacircnicas dos Municiacutepios e do Distrito Federal para as eleiccedilotildees que se

realizarem durante o periacuteodo remanescente do mandato para o qual foram eleitos e

nos oito anos subsequumlentes ao teacutermino da legislatura

Sendo assim satildeo inelegiacuteveis os parlamentares cujo procedimento for

declarado incompatiacutevel com o decoro parlamentar e desde a expediccedilatildeo do diploma

firmar ou manter contrato com pessoa juriacutedica de direito puacuteblico autarquia empresa

puacuteblica sociedade de economia mista ou empresa concessionaacuteria de serviccedilo

puacuteblico salvo quando o contrato obedecer a claacuteusulas uniformes aceitar ou exercer

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cargo funccedilatildeo ou emprego remunerado inclusive os de que sejam demissiacuteveis ad

nutum nas entidades constantes da aliacutenea anterior e desde a posse ser

proprietaacuterios controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente

de contrato com pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou nela exercer funccedilatildeo

remunerada ocupar cargo ou funccedilatildeo de que sejam demissiacuteveis ad nutum nas

entidades referidas no inciso I a patrocinar causa em que seja interessada

qualquer das entidades a que se refere o inciso I a ser titulares de mais de um

cargo ou mandato puacuteblico eletivo

Portando o parlamentar que infringir o disposto no artigo 54 teraacute seu mandato

cassado Jaacute no inciso II do artigo 55 o Deputado ou Senador perderaacute o mandato

quando o procedimento for declarado incompatiacutevel com o decoro parlamentar A

Constituiccedilatildeo Federal prevecirc como falta de decoro o disciplinado no artigo 55 sect 1ordm

Por fim eacute incompatiacutevel com o decoro parlamentar os casos definidos no regimento

interno

Assim dispotildee o artigo 1ordm Inciso I aliacutenea ldquocrdquo da Lei Complementar nordm 641990

Governador e o Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal e o Prefeito e o

Vice-Prefeito que perderem seus cargos eletivos por infringecircncia a dispositivo da

Constituiccedilatildeo Estadual da Lei Orgacircnica do Distrito Federal ou da Lei Orgacircnica do

Municiacutepio para as eleiccedilotildees que se realizarem durante o periacuteodo remanescente e

nos 8 (oito) anos subsequentes ao teacutermino do mandato para o qual tenham sido

eleitos

Tal dispositivo busca evitar que os chefes do poder executivos retornem a

vida puacuteblica no mandato seguinte e nas eleiccedilotildees para as demais esferas Este

dispositivo preserva a moralidade puacuteblica O prazo de 8 anos de inabilitaccedilatildeo seraacute

contado a partir da data que tiver sido proferida a decisatildeo por crime de

responsabilidade

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquodrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tenham contra sua pessoa representaccedilatildeo julgada procedente pela Justiccedila

Eleitoral em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo colegiado em

processo de apuraccedilatildeo de abuso do poder econocircmico ou poliacutetico para a eleiccedilatildeo na

qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como para as que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes

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Primeiramente eacute necessaacuterio conceituar o que eacute abuso de poder econocircmico de

abuso de poder poliacutetico

Abuso de poder econocircmico consiste na utilizaccedilatildeo de bens ou serviccedilos de

empresas particulares ou recursos proacuteprios do candidato gerando assim uma

desproporccedilatildeo entre os candidatos exemplo Se um candidato eacute proprietaacuterio de uma

grande empresa e faz uso dela para custear sua campanha sem realizar doaccedilatildeo de

campanha prevista na Lei 950497

Abuso do poder poliacutetico consiste no emprego de serviccedilos ou bens

pertencentes a administraccedilatildeo puacuteblica com o objetivo de propiciar a eleiccedilatildeo de

determinado candidato

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquofrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que forem declarados indignos do oficialato ou com ele incompatiacuteveis pelo prazo

de 8 (oito) anos

Oficialato eacute o cargo ou dignidade de oficial seja das forccedilas armadas poliacutecia

militar ou corpo de bombeiros A competecircncia para apreciar e declarar a indignidade

do oficialato seraacute do Superior Tribunal Militar

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquogrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tiverem suas contas relativas ao exerciacutecio de cargos ou funccedilotildees puacuteblicas

rejeitadas por irregularidade insanaacutevel que configure ato doloso de improbidade

administrativa e por decisatildeo irrecorriacutevel do oacutergatildeo competente salvo se esta houver

sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciaacuterio para as eleiccedilotildees que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes contados a partir da data da decisatildeo aplicando-se o

disposto no inciso II do art 71 da Constituiccedilatildeo Federal a todos os ordenadores de

despesa sem exclusatildeo de mandataacuterios que houverem agido nessa condiccedilatildeo

Esta decisatildeo eacute administrativa e traraacute a consequumlecircncia de inelegibilidade para

isso a irregularidade tem de ser insanaacutevel

A competecircncia para julgar estas irregularidades compete ao Poder

Legislativo seja no acircmbito federal estadual ou municipal

A analise desta insanabilidade poderaacute caber a Justiccedila Eleitoral como por

exemplo no pedido de registro de candidatura por algueacutem que teve suas contas

rejeitadas

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquohrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os detentores de cargo na administraccedilatildeo puacuteblica direta indireta ou fundacional que

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beneficiarem a si ou a terceiros pelo abuso do poder econocircmico ou poliacutetico que

forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial

colegiado para a eleiccedilatildeo na qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como

para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes

Aqui natildeo se trata de cargo eletivo mas sim de cargos por concurso puacuteblico ou

por provimento em comissatildeo

A finalidade eacute por fim a reeleiccedilatildeo para aqueles que estatildeo em cargos de chefia

do poder executivo que tenham cometido abuso do poder econocircmico ou poliacutetico

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquoirdquo da Lei Complementar nordm 641990)

os que em estabelecimentos de creacutedito financiamento ou seguro que tenham sido

ou estejam sendo objeto de processo de liquidaccedilatildeo judicial ou extrajudicial hajam

exercido nos 12 (doze) meses anteriores agrave respectiva decretaccedilatildeo cargo ou funccedilatildeo

de direccedilatildeo administraccedilatildeo ou representaccedilatildeo enquanto natildeo forem exonerados de

qualquer responsabilidade

O que a lei busca nesta situaccedilatildeo eacute deixar aquele que administrou os referidos

estabelecimentos fora de qualquer participaccedilatildeo poliacutetica enquanto natildeo forem

apurados todos os fatos que levaram a insolvecircncia

Portanto o maior objetivo desta causa de inelegibilidade eacute assegurar que o

ex-administrado de estabelecimento de creacutedito financiamento ou seguro natildeo venha

a eleger-se a cargo eletivo sem antes ter sido apurada sua participaccedilatildeo para

insolvecircncia

Outras causas de inelegibilidades incluiacutedas pela Lei Complementar nordm

1352010 estatildeo previstas nos incisos j a q da referida Lei

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4 DA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE 41 ORIGEM DA LEI COMPLEMENTAR Nordm 1352010

Com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o Brasil passa a ser um

Estado Democraacutetico de Direito inaugurando uma democracia participativa

Esta democracia participativa permite ao cidadatildeo desde que preenchidos

determinados requisitos dar iniacutecio a um projeto de Lei atraveacutes da chamada Iniciativa

Popular A origem da Lei Complementar nordm 1352010 decorreu do Projeto de Lei nordm

5182009 sob a coordenaccedilatildeo do Movimento de Combate a Corrupccedilatildeo Eleitoral ndash

MCCE que teve iniacutecio em abril de 2008 com o objetivo de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos a finalidade eacute que os criteacuterios de inelegibilidades sejam

mais rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos

Esta Lei Complementar dita que pessoas condenadas por um colegiado

independente do tracircnsito em julgado satildeo inelegiacuteveis portanto podem ter seus

registros de candidaturas negados alem de incluir parlamentares que renunciaram

ao cargo para assim evitar uma possiacutevel abertura de processo por quebra de decoro

ou por desrespeito agrave Constituiccedilatildeo com a finalidade uacutenica de evitar possiacuteveis

puniccedilotildees

A Lei Complementar 1352010 traacutes inuacutemeros confrontos com a Constituiccedilatildeo

Federal sendo dois os mais relevantes primeiro a natildeo observacircncia do princiacutepio da

anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal e segundo

o desrespeito ao princiacutepio da natildeo-culpabilidade tambeacutem estabelecido na

Constituiccedilatildeo federal no artigo 5ordm inciso LVII

Sobre o primeiro ponto que trata da aplicabilidade da Lei Complementar nordm

1352010 para as eleiccedilotildees de 2010 restou soberana a decisatildeo do Supremo

Tribunal Federal ao resolver o conflito afirmando que o artigo 16 da Constituiccedilatildeo

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Federal ao submeter a alteraccedilatildeo legal do processo eleitoral agrave regra da anualidade

constitui uma garantia fundamental para o pleno exerciacutecio de direitos poliacuteticos

Esta pacificaccedilatildeo se deu no julgamento da Accedilatildeo Declaratoacuteria de

Inconstitucionalidade nordm 3685 13 onde atuou como Relatora a Ministra Ellen Gracie

que identificou como uma garantia fundamental do cidadatildeo-eleitor do cidadatildeo-

candidato e dos partidos poliacuteticos o artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal

A Ministra Ellen Gracie utilizou-se de uma analogia com o julgamento da

Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade 939 que teve como relator Ministro Sydnei

Sanches com a garantia da anterioridade tributaacuteria fixada no artigo 150 III b no

sentido de que se o princiacutepio da anterioridade tributaacuteria constitui uma garantia do

cidadatildeo-contribuinte o princiacutepio da anterioridade eleitoral tambeacutem eacute uma garantia do

cidadatildeo do eleitor do candidato e dos partidos poliacuteticos

Desta forma restou consolidado a garantia prevista no artigo 16 da

Constituiccedilatildeo Federal como forma de um devido processo legal eleitoral

O devido processo visa que se atinja uma decisatildeo conforme a Justiccedila

prestigiando a eacutetica da legalidade ressaltando-se que ele possui um duplo

significado de processo necessaacuterio e processo adequado para tanto COMOGLIO

afirma Que as garantias decorrentes do devido processo legal querem dizer natildeo apenas direito a um processo mas a um justo processo compreendendo a correccedilatildeo e efetividade dos instrumentos disponiacuteveis em juiacutezo e a efetividade e adequaccedilatildeo da proacutepria tutela finalrdquo 14

A Constituiccedilatildeo brasileira de 1988 traz a garantia exarada no seu artigo 5ordm

Art 5ordm - () LIV ndash ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal LV ndash aos litigantes em processo judicial e administrativo e aos acusados em geral seratildeo assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa com os meios de recurso a ela inerentes

Sobre o segundo ponto controverso mateacuteria deste trabalho tem o conflito tem

o conflito entre a Lei Complementar nordm 13510 contra uma garantia constitucional

denominado princiacutepio da natildeo-culpabilidade que eacute inseparaacutevel do conceito de

13 Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011 14 Luigi Paolo COMOGLIO Giuridizione e processo nel quadro delle garanzie constituzionali Rivista Trimestrale di Diritto e Procedura Civile 4 p 1070

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democracia A Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5ordm inciso LVII estabelece uma das

maiores garantias dos indiviacuteduos contra o autoritarismo do Estado afirmando que

ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

condenatoacuteriardquo fixando explicitamente o princiacutepio da natildeo-culpabilidade entre os

direitos fundamentais

42 AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EM JULGADO

A Lei Complementar nordm 1352010 em sua aliacutenea ldquoerdquo do inciso I do artigo 2ordm

possui a seguinte redaccedilatildeo e) os que forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial colegiado desde a condenaccedilatildeo ateacute o transcurso do prazo de 8 (oito) anos apoacutes o cumprimento da pena pelos crimes (Redaccedilatildeo dada pela Lei Complementar nordm 135 de 2010)

Esta aliacutenea visa impedir a candidatura de poliacuteticos condenados a partir da

segunda instacircncia e mesmo que natildeo tenha transitado em julgado Ela defende que

haja uma condenaccedilatildeo criminal no entanto deixa de exigir a configuraccedilatildeo do tracircnsito

em julgado do ato decisoacuterio para que ocorra a inelegibilidade A antiga lei previa que

o candidato soacute seria inelegiacutevel se tivesse condenaccedilatildeo definitiva

As alteraccedilotildees da Lei Complementar nordm 1352010 objetiva atender a um senso

comum do eleitorado afirmando que uma pessoa condenada natildeo deve poder ser

votada isto eacute natildeo deve ter mandato Em seus dizeres trata que a inelegibilidade

natildeo pressupotildee culpa formada natildeo deve haver discussatildeo sobre presunccedilatildeo da

inocecircncia Pode haver inelegibilidade por parentesco por ocupar cargo puacuteblico falta

de domiciacutelio eleitoral ou filiaccedilatildeo partidaacuteria causas que natildeo tecircm nada a ver com

condenaccedilatildeo criminal

A contradiccedilatildeo do argumento da Lei Complementar eacute se a Constituiccedilatildeo em

face do princiacutepio da natildeo-culpabilidade admite a cominaccedilatildeo de inelegibilidade para

quem ainda tem recursos pendentes de julgamento

Caso esta hipoacutetese seja admitida temos que um indiviacuteduo que tenha sido

condenado criminalmente em segunda instacircncia e interponha recurso especial ou

extraordinaacuterio para anular o processo caso natildeo consiga uma medida liminar

suspendendo os efeitos ficaria impedido de concorrer na eleiccedilatildeo

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Imagine-se que ao final da accedilatildeo o cidadatildeo que ficou impedido de concorrer

nas eleiccedilotildees obtivesse vitoacuteria em seu recurso obtendo assim a nulidade da accedilatildeo

bem como da decisatildeo que o condenou com ficaria a situaccedilatildeo deste cidadatildeo

O que se quer com a Lei Complementar nordm 1352010 eacute instituir um moralismo

eleitoral que se sobrepotildee a Constituiccedilatildeo Federal e seu principio constitucional da

natildeo-culpabilidade que eacute a garantia individual contra o Estado

Outro argumento utilizado pelos defensores da constitucionalidade da Lei

Complementar nordm 1352010 satildeo as prisotildees cautelares e que no final o sujeito

acaba sebdo absolvido Ora cabe lembrar-lhes que a prisatildeo cautelar natildeo eacute

antecipaccedilatildeo de pena cumpre ela uma funccedilatildeo processual clara e limitada agrave garantia

da ordem puacuteblica da ordem econocircmica por conveniecircncia da instruccedilatildeo criminal ou

para assegurar a aplicaccedilatildeo da lei penal quando houver prova da existecircncia do crime

e indiacutecio suficiente de autoria

Portanto temos que o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees enquanto natildeo

sobrevier decisatildeo judicial transitada em julgado

O proacuteprio Supremo na Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental

144 jaacute decidiu natildeo barrar candidaturas sem condenaccedilatildeo transitada em julgado

A Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental 144 15 foi votada

em agosto de 2008 antes das eleiccedilotildees municipais Na ocasiatildeo o Supremo Tribunal

Federal decidiu que natildeo poderiam ser barradas candidaturas de poliacuteticos

condenados na primeira instacircncia por conta da presunccedilatildeo de inocecircncia

Em 6 de agosto de 2008 haacute menos de trecircs anos o Supremo Tribunal Federal

julgou improcedente a Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental nordm

144 ajuizada pela Associaccedilatildeo dos Magistrados Brasileiros em voto do ministro

Celso de Mello vencidos os ministros Carlos Ayres e Joaquim Barbosa exatamente

porque O postulado consagrador da garantia de inocecircncia irradia os seus efeitos para aleacutem dos limites dos processos penais de natureza condenatoacuteria impedindo desse modo que situaccedilotildees processuais anda natildeo definidas por sentenccedilas transitadas em julgado provoquem em decorrecircncia das exigecircncias de probidade administrativa e demoralidade a que se refere o sect 9ordm do artigo 14 da Coinstituiccedilatildeo Federal a inelegibilidade dos cidadatildeos ou obstem candidaturas para mandatos eletivos

15Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011

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Portanto ficou definido que Lei Complementar sendo editada para casos de

inelegibilidades esta deveraacute respeitar o princiacutepio da natildeo-culpabilidade Ocorre que

foi editada a Lei Complementar nordm 1352010 que atendeu aos reclamos populares

mas preferiu a um soacute tempo violar a Constituiccedilatildeo Federal e desrespeitar a recente

decisatildeo do Supremo Tribunal Federal mesmo que na eacutepoacuteca desta decisatildeo natildeo

havia lei formal para tal situaccedilatildeo

43 PRINCIacutePIO CONSTITUCIONAL DA NAtildeO-CULPABILIDADE

O princiacutepio da natildeo-culpabilidade eacute direito fundamental previsto na

Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5deg inciso LVII ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute

o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

Isto eacute enquanto natildeo sobrevier uma decisatildeo judicial condenatoacuteria transitada

em julgado o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees em seu patrimocircnio ou em sua

liberdade Caso sobrevenha duacutevida quanto a culpabilidade esta resolveraacute sempre

em favor do reacuteu ou seja aplicando-se o princiacutepio in duacutebio pro reo

Assim disciplina Nelson Nery Juacutenior sobre o princiacutepio da natildeo-culpabilidade ldquoO inteacuterprete deve buscar a aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre tendo como pressuposto o exame da Constituiccedilatildeo Federal Depois sim deve consultar a legislaccedilatildeo infraconstitucional a respeito do temardquo 16

Sendo assim a Constituiccedilatildeo Federal no capiacutetulo sobre os Direitos e Deveres

Individuais e Coletivos em seu artigo 5ordm inciso LVII afirma que ldquoningueacutem seraacute

considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute considerar o

indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila A doutrina e a

jurisprudecircncia aclamam este princiacutepio como vaacuterios nomes como princiacutepio da

presunccedilatildeo de inocecircncia princiacutepio da natildeo-culpabilidade ou simplesmente princiacutepio da

inocecircncia

Joseacute Afonso da Silva em seu livro Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo

disciplina assim esta garantia A norma constitucional do inciso LVII agora sob nosso exame garante a presunccedilatildeo de inocecircncia por meio de um enunciado negativo universal lsquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria Usa-se de uma forma

16 NERY JUacuteNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20

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negativa para outorgar uma garantia positiva Na verdade o texto brasileiro natildeo significa outra coisa senatildeo que fica assegurada a todos a presunccedilatildeo de inocecircncia ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria O tracircnsito em julgado se daacute quando a decisatildeo natildeo comporta mais recurso ordinaacuterio especial ou extraordinaacuterio 17

Nesse sentido o indiviacuteduo acusado natildeo pode ser presumidamente culpado

mas sim inocente Tal princiacutepio visa a tutelar a liberdade pessoal de modo que o

Estado nos mais diferentes segmentos deve abster-se de considerar culpado

aquele que ainda natildeo foi submetido agrave definitividade da atuaccedilatildeo jurisdicional Em se tratando de suspensatildeo dos direitos poliacuteticos a Constituiccedilatildeo Federal

garante que a suspensatildeo somente se daraacute por ldquocondenaccedilatildeo criminal transitada em

julgado enquanto durarem seus efeitosrdquo

Julgamento neste sentido REPRESENTACcedilAtildeO SUSPENSAtildeO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS EM VIRTUDE DE SENTENCcedilA PENAL CONDENATOacuteRIA TRANSITADA EM JULGADO AUTO-APLICABILIDADE DOS ARTIGOS 14 sect 3ordm II E 15 III DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL PROCEDEcircNCIA A suspensatildeo dos direitos poliacuteticos do condenado independe de lei regulamentadora bem como de processo especial de cogniccedilatildeo e de anaacutelise de meacuterito para a execuccedilatildeo da medida no juiacutezo eleitoral posto natildeo se tratar de sanccedilatildeo penal mas de efeito natildeo-penal de condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado e decorrente de mandamento constitucional Comprovado o tracircnsito em julgado da sentenccedila penal condenatoacuteria decreta-se automaticamente a suspensatildeo dos direitos poliacuteticos ativo e passivo do representado ou seja o direito de votar e ser votado com a consequumlente exclusatildeo de seu nome da folha de votaccedilatildeo e declaraccedilatildeo de sua inelegibilidade 18

Logo infere-se que a condenaccedilatildeo criminal sem o tracircnsito em julgado natildeo

desqualifica o condenado a votar e a eventualmente concorrer a qualquer cargo

eletivo

O Colendo Tribunal Superior Eleitoral enfrentou esta questatildeo ao apreciar

pedido de registro de candidatura valendo registrar os seguintes julgados RECURSO ESPECIAL RECEBIDO COMO ORDINAacuteRIO REGISTRO DE CANDIDATURA DEFERIMENTO INELEGIBILIDADE NAtildeO-OCORREcircNCIA Condenaccedilatildeo criminal sem tracircnsito em julgado natildeo eacute apta a ensejar inelegibilidade (precedente do TSE acoacuterdatildeo 536 rel Min Fernando Neves publicado em sessatildeo de 882002) Recurso natildeo provido 19

17 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006 p 155 18 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbrgt TRESCndashAcoacuterdatildeo nordm 13324 de 071094 rel Juiz Nilson B Filho Acesso em 16 set 2011 19 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbr gt TSE- REspEl nordm 20247 de 19902 rel Min Sepuacutelveda Pertence Acesso em 16 set 2011

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INELEGIBILIDADE CONDENACcedilAtildeO CRIMINAL NAtildeO TRANSITADA EM JULGADO CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA ART 14 sect 9deg SUacuteMULA Ndeg 13 DO TSE 1 A existecircncia de sentenccedila criminal condenatoacuteria sem o tracircnsito em julgado natildeo eacute suficiente para ocasionar inelegibilidade 2 O art 14 sect 9deg da Constituiccedilatildeo natildeo eacute auto-aplicaacutevel 3 Necessidade de lei complementar estabelecendo os casos em que a vida pregressa do candidato poderaacute levar agrave sua inelegibilidade bem como os prazos de sua cessaccedilatildeo 4 Recurso provido para julgar improcedente a impugnaccedilatildeo e deferir o registro da candidatura 20

Insculpido na Constituiccedilatildeo Federal o principio da natildeo-culpabilidade deve ser

respeitado por toda lei infraconstitucional alguns doutrinadores como Aristides

Junqueira e Antocircnio Bandeira de Mello em carta publica no sitio do Movimento de

Combate agrave Corrupccedilatildeo Eleitoral21 entendem que neste presente caso natildeo deve ser

aplicado o princiacutepio da natildeo-culpabilidade a inelegibilidade pois esta natildeo eacute pena

mas medida preventiva

Estes juristas se acham alicerccedilados pelo que expressamente estatui o sect 9deg do

artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal em que Lei complementar estabeleceraacute outros

casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim de proteger a probidade

administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato considerada a vida

pregressa do candidato afirmam que uma vez que a proacutepria Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica expressamente permite que o legislador estipule quais elementos da vida

pregressa dos candidatos podem afastaacute-los dos pleitos

Independente desta posiccedilatildeo minoritaacuteria encontra-se que o princiacutepio da natildeo-

culpabilidade eacute prevista em diversos ordenamentos juriacutedicos e tratados como se

veraacute a seguir

Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo da Franccedila de 1789 o art

9da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) de 1948 dispotildee ldquoTodo acusado eacute

considerado inocente ateacute ser declarado culpado e se julgar indispensaacutevel prendecirc-lo

todo o rigor desnecessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deveraacute ser severamente

reprimido pela leirdquo22

20 Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrgt TSE-REspEl nordm 18047 de 2992000 rel Min Fernando Neves da Silva Acesso em 16 set 2011 21 Disponiacutevel em lthttpwwwmcceorgbrsitesdefaultfilescartajuristaspdfgt Acesso em 3 jul 2011 22 Disponiacutevel em lthttppfdcpgrmpfgovbratuacao-e-conteudos-de-apoiolegislacaodireitoshuma nosdeclar_dir_ homem_cidadaopdfgt Acesso em 13 set 2011

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Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos de 1948 diz ldquoToda pessoa

acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocecircncia enquanto natildeo se

comprove legalmente sua culpardquo23

A origem histoacuterica que foi referida teve uma grande importacircncia para se

chegar a um status constitucional conforme eacute citado por Mirabete Existe apenas uma tendecircncia agrave presunccedilatildeo de inocecircncia ou mais precisamente um estado de inocecircncia um estado juriacutedico no qual o acusado eacute inocente ateacute que seja declarado culpado por uma sentenccedila transitada em julgado Por isso a nossa Constituiccedilatildeo Federal natildeo presume a inocecircncia mas declara que ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria (art 5deg LVII) ou seja que o acusado eacute inocente durante o desenvolvimento do processo e seu estado soacute se modifica por uma sentenccedila final que o declare culpado 24

Por fim o princiacutepio da natildeo-culpabilidade visa a proteccedilatildeo do reacuteu para que

este tenha um julgamento justo devendo ser provada sua verdadeira culpa antes

que seja considerado culpado

23 Disponiacutevel em lthttpwwwagugovbrsistemassiteTemplateImagemTextoThumbaspxidConteu do=113927ampordenacao=1ampid_site=4922gt Acesso em 12 set 2011 24 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252

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5 CONCLUSAtildeO Apoacutes as anaacutelises da doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncias pertinentes a este

trabalho verifica-se que a Lei Complementar nordm 1352010 ao instituir nova hipoacutetese

de inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado esta em pleno conflito com o princiacutepio da natildeo-culpabilidade insculpido no

artigo 5ordm inciso LVII da Constituiccedilatildeo Federal o que torna esta nova hipoacutetese

absolutamente inconstitucional

O objetivo da Lei Complementar nordm 1352010 eacute o de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos para que os criteacuterios de inelegibilidades sejam mais

rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos Inicialmente eacute compreensiacutevel a

preocupaccedilatildeo de qualificar o perfil dos candidatos a cargos eletivos atraveacutes da vida

pregressa isto significa querer se representar por candidatos idocircneos

Ocorre que eacute necessaacuterio impor tantas restriccedilotildees para que o cidadatildeo possa

concorrer a determinado pleito natildeo eacute mais correto permitir que o proacuteprio povo

detentor soberano do poder para escolher seus representantes defina seus criteacuterios

de escolha

Quanto ao aspecto juriacutedico vejamos que o legislativo ao criar novas hipoacuteteses

de inelegibilidade deve-se atentar para as garantias jaacute consagradas em nosso

ordenamento principalmente quando esta garantia esta insculpida na Constituiccedilatildeo

Federal garantia esta referente ao principio da natildeo-culpabilidade que reza que

ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

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condenatoacuteria trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute

considerar o indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila

Ocorre que a criaccedilatildeo da Lei Complementar nordm 1352010 nasceu conflitante

com a Constituiccedilatildeo Federal em 2 aspectos primordiais primeiro a natildeo observacircncia

do princiacutepio da anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo

Federal pacificado pela Accedilatildeo Declaratoacuteria de Inconstitucionalidade nordm 3685

afirmando que deve-se respeitar ao principio da anualidade e segundo a

inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado

O segundo conflito origina-se diante da garantia constitucional do princiacutepio da

presunccedilatildeo da natildeo-culpabilidade o qual disciplina que somente poderaacute ser

considerado culpado o acusado de determinado crime quando ocorrer o tracircnsito em

julgado da decisatildeo

Portanto temos que uma decisatildeo de um oacutergatildeo colegiado quando recorriacutevel

ainda natildeo eacute o momento que se consumativo da culpabilidade do acusado pois natildeo

podemos antecipar a puniccedilatildeo de um cidadatildeo com a perda de algum direito pelo

simples fato de estar respondendo a algum processo

A aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre teraacute como pressuposto o

exame da Constituiccedilatildeo Federal que estabelece o princiacutepio da natildeo-culpabilidade

tambeacutem chamado de princiacutepio da presunccedilatildeo de inocecircncia que eacute uma verdadeira

garantia constitucional do indiviacuteduo contra o Estado Portanto deve-se respeitar este

princiacutepio basilar do Estado Democraacutetico de Direito nos mais diferentes segmentos

devendo qualquer Lei abster-se de considerar culpado aquele que ainda natildeo teve

sua decisatildeo transitada em julgado

Assim a Lei Complementar nordm 1352010 eacute contraacuterio ao disposto no texto

constitucional pois de forma antecipada retira do cidadatildeo o direito de disputar ao

pleito de forma igualitaacuteria bem como retira do povo um de seus maiores direitos o

de poder escolher seus representantes

Portanto para fortalecimento do Estado Democraacutetico de Direito se faz

necessaacuterio que as garantias constitucionais prevaleccedilam com isto deve-se

preponderar a presunccedilatildeo de natildeo culpabilidade ateacute o tracircnsito em julgado de da

sentenccedila condenatoacuteria

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REFEREcircNCIAS BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicao_ConstituiccedilaoCompiladohtmgt Acesso em 2 jun 2011 BRASIL Tribunal Superior Eleitoral Coacutedigo eleitoral Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrinternetjurisprudenciacodigo_eleitoralcodigo_eleitoralhtmlgt Acesso em 5 mai 2011 BRASIL Supremo Tribunal Federal Jurisprudecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudenciapesquisarJurisprudenciaaspgt Acesso em 15 mai 2011 BRASIL Projeto de Lei Complementar nordm 518 de 17 de setembro de 2009 Altera a Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 que estabelece de acordo com o sect 9ordm do art 14 da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias para incluir hipoacuteteses de inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no exerciacutecio do mandato Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbrsfatividademateriadetalhesaspp_cod_mate=96850gt Acesso em 19 mai 2011

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BRASIL Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 Estabelece de acordo com o art 14 sect 9ordm da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03LeisLCPLcp64htmgt Acesso em 15 mai 2011 COSTA Adriano Soares Instituiccedilotildees de Direito Eleitoral Ed Del Rey 2006 DI PIETRO Maria Sylvia Zanella Direito Administrativo 9 Ed Satildeo Paulo Atlas 1998 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131 LEAL Saul Tourinho Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt MELLO Celso Antonio Bandeira Curso de Direito Administrativo 24 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2007 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 ed Satildeo Paulo Atlas 2006 Movimento de Combate agrave Corrupccedilatildeo Disponiacutevel em ltwwwmcceorgbrgt Acesso em 3 jul 2011 NERY JUacuteBNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20 PEREIRA Erick Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt Acesso em 30 jun 2011 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2008

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PIRES Maacutercio Rodrigo Kaio Carvalho Abuso do poder poliacutetico nas eleiccedilotildees Jus Navigandi Teresina ano 15 n 2677 30 out 2010 Disponiacutevel em lthttpjusuolcombrrevistatexto17741gt Acesso em 27 jun 2011 RAMAYANA Marcos Direito Eleitoral Impetus Niteroacutei 2006 RESENHA ELEITORAL - Nova Seacuterie v9 n1 (janjun 2002) Disponiacutevel em lt httpwwwtre-scgovbrsiteinstitucionalpublicacoesartigos-doutrinariospublicados- na-resenha-eleitoralresenhasv9-n1-janjun-2002abuso-do-podereconomico- ou-de-autoridadeindexhtmlgt SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006

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direitos poliacuteticos alistamento eleitoral domiciacutelio eleitoral na circunscriccedilatildeo filiaccedilatildeo

partidaacuteria e idade miacutenima para cargos poliacuteticos

Com estes requisitos a Constituiccedilatildeo Federal vem a limitar quem pode e quem

natildeo pode concorrer para algum cargo poliacutetico

23 NACIONALIDADE BRASILEIRA

A nacionalidade brasileira eacute a primeira condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no

artigo 14 sect 3ordm inciso I da Constituiccedilatildeo Federal

Classifica-se a nacionalidade brasileira em brasileiro nato e brasileiro

naturalizado para tanto eacute necessaacuterio distinguirmos a diferenccedila entre um e outro

Brasileiros natos satildeo aqueles nascidos na Repuacuteblica Federativa do Brasil

ainda que de paiacutes estrangeiros desde que estes natildeo estejam a serviccedilo de seu paiacutes

os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou matildee brasileira desde que qualquer

deles esteja a serviccedilo da Repuacuteblica Federativa do Brasil os nascidos no estrangeiro

de pai brasileiro ou de matildee brasileira desde que sejam registrados em reparticcedilatildeo

brasileira competente ou venham a residir na Repuacuteblica Federativa do Brasil e

optem em qualquer tempo depois de atingida a maioridade pela nacionalidade

brasileira

Brasileiros naturalizados satildeo aqueles que na forma da lei adquiram a

nacionalidade brasileira exigidas aos originaacuterios de paiacuteses de liacutengua portuguesa

apenas residecircncia por um ano ininterrupto e idoneidade moral os estrangeiros de

qualquer nacionalidade residentes na Repuacuteblica Federativa do Brasil haacute mais de

quinze anos ininterruptos e sem condenaccedilatildeo penal desde que requeiram a

nacionalidade brasileira

A Lei tambeacutem distingue a nacionalidade em primaacuteria e secundaacuteria A

nacionalidade primaacuteria tambeacutem denominada de originaacuteria eacute conferida aos

brasileiros natos sendo adquirida no momento do nascimento pelo ius sanguinis

(direito de sangue) ou pelo ius soli (direito de solo) jaacute a nacionalidade secundaacuteria

tambeacutem denominada nacionalidade adquirida eacute conferida aos brasileiros

naturalizados aquela se adquire por vontade proacutepria apoacutes o nascimento e em regra

geral pela naturalizaccedilatildeo

Por fim o sect 2ordm do artigo 12 da Constituiccedilatildeo Federal descreve ldquoA lei natildeo

poderaacute estabelecer distinccedilatildeo entre brasileiros natos e naturalizados salvo nos casos

previstos nesta Constituiccedilatildeordquo com isto fica vedado qualquer tratamento desigual

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entre brasileiro nato e naturalizado salvo disposiccedilatildeo em contraacuterio na Constituiccedilatildeo

Federal

A exceccedilatildeo citada no sect 2ordm do artigo 12 da Constituiccedilatildeo Federal permite a

distinccedilatildeo entre brasileiros natos e naturalizados para ocupar determinados cargos

esta exceccedilatildeo estaacute disposta no artigo 12 sect 3ordm da Constituiccedilatildeo Federal que permite

que alguns cargos sejam privativos de brasileiro nato natildeo permitindo que os

naturalizados venham a ocupar tais posiccedilotildees

Esta exceccedilatildeo restringe-se para os cargos privativos de Presidente e Vice-

Presidente da Repuacuteblica Presidente da Cacircmara dos Deputados Presidente do

Senado Federal Ministro do Supremo Tribunal Federal carreira diplomaacutetica de

oficial das Forccedilas Armadas e de Ministro de Estado da Defesa

24 PLENO EXERCIacuteCIO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS

O pleno exerciacutecio dos direitos poliacuteticos eacute a segunda condiccedilatildeo de elegibilidade

prevista no artigo 14 sect 3ordm inciso II da Constituiccedilatildeo Federal o Tribunal Superior

Eleitoral assim o conceitua Direitos poliacuteticos eacute o conjunto dos direitos atribuiacutedos ao cidadatildeo que lhe permite atraveacutes do voto do exerciacutecio de cargos puacuteblicos ou da utilizaccedilatildeo de outros instrumentos constitucionais e legais ter efetiva participaccedilatildeo e influecircncia nas atividades de governo Estar no gozo dos direitos poliacuteticos significa pois estar habilitado a alistar-se eleitoralmente habilitar-se a candidaturas para cargos eletivos ou a nomeaccedilotildees para certos cargos puacuteblicos natildeo eletivos participar de sufraacutegios votar em eleiccedilotildees plebiscitos e referendos apresentar projetos de lei pela via da iniciativa popular e propor accedilatildeo popular 5

Djalma Pinto em sua obra intitulada ldquoDireito eleitoral ndash Improbidade

Administrativa e Responsabilidade Fiscalrdquo dispotildee sobre esta condiccedilatildeo de

elegibilidade O pleno exerciacutecio dos direitos poliacuteticos eacute condiccedilatildeo essencial para a configuraccedilatildeo de elegibilidade A plenitude dos direitos poliacuteticos se expressa pela aptidatildeo para votar e ser votado Sem encontrar-se apto a seu exerciacutecio natildeo eacute possiacutevel ao indiviacuteduo nem se alistar nem tampouco se filiar partido requisitos imprescindiacuteveis agrave configuraccedilatildeo da elegibilidade 6

Sendo assim o pleno exerciacutecio dos direitos poliacuteticos eacute requisito essencial

para o cidadatildeo estar na condiccedilatildeo de elegibilidade Aquele que perder ou tiver seus 5 Disponiacutevel em lthttpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermosdireitos_politicoshtmgt Acesso em 22 jul 2011 6 PINTO Djalma Direito eleitoral ndash improbidade administrativa e Responsabilidade Fiscal 3 Ed Satildeo Paulo Atlas 2006

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direitos poliacuteticos suspensos ou cancelados ficaraacute impedido de exercer a capacidade

eleitoral passiva

A Constituiccedilatildeo Federal prevecirc no artigo 15 causas de perda ou suspensatildeo dos

direitos poliacuteticos que podem ocorrer devido ao cancelamento da naturalizaccedilatildeo por

sentenccedila judicial transitada em julgado condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado

enquanto durarem seus efeitos recusa de cumprir obrigaccedilatildeo a todos imposta ou

prestaccedilatildeo alternativa nos termos do art 5ordm VIII improbidade administrativa nos

termos do art 37 sect 4ordm

25 ALISTAMENTO ELEITORAL

O alistamento eleitoral eacute a terceira condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo

14 sect 3ordm inciso III da Constituiccedilatildeo Federal o Tribunal Superior Eleitoral assim o

conceitua Eacute a primeira fase do processo eleitoral Eacute um procedimento administrativo cartoraacuterio e compreende dois atos inconfundiacuteveis a qualificaccedilatildeo e a inscriccedilatildeo do eleitor A qualificaccedilatildeo eacute a prova de que o cidadatildeo satisfaz as exigecircncias legais para exercer o direito de voto enquanto que a inscriccedilatildeo faz com que o mesmo passe a integrar o Cadastro Nacional de Eleitores da Justiccedila Eleitoral O ato de alistamento eacute feito por meio de processamento eletrocircnico e se perfaz pelo preenchimento do requerimento de alistamento eleitoral (RAE) na forma da resoluccedilatildeo do TSE e da legislaccedilatildeo eleitoral Eacute a forma pela qual o cidadatildeo adquire seus direitos poliacuteticos tornando-se titular de direito poliacutetico ativo (capacidade para votar) e possibilitando sua elegibilidade e filiaccedilatildeo partidaacuteria apoacutes a expediccedilatildeo do respectivo tiacutetulo eleitoral 7

Portanto para o cidadatildeo ser eleitor eacute preciso que ele se aliste e para ele ser

elegiacutevel eacute preciso que ele jaacute seja eleitor

26 O DOMICIacuteLIO ELEITORAL NA CIRCUNSCRICcedilAtildeO

O domiciacutelio eleitoral eacute a quarta condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14

sect 3ordm inciso IV da Constituiccedilatildeo Federal

Domiciacutelio eleitoral eacute o lugar da residecircncia ou moradia do requerente agrave

inscriccedilatildeo eleitoral assim dispotildee o artigo 42 paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo Eleitoral

que Para efeito de inscriccedilatildeo eacute domiciacutelio eleitoral o lugar de residecircncia ou moradia

do requerente e verificado ter o alistando mais de uma considerar-se-aacute domiciacutelio

qualquer delas

7Disponiacutevel em lthttpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermosalistamento_eleitoralhtmgt Acesso em 22 jul 2011

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Djalma Pinto acerca do domiciacutelio eleitoral assevera ldquoO domicilio eleitoral por

sua vez eacute o lugar da residecircncia ou moradia onde o cidadatildeo formaliza seu

alistamentordquo 8

A legislaccedilatildeo requer que o candidato a um cargo eletivo natildeo incorra em

incompatibilidades ou inelegibilidades e possua domicilio eleitoral na circunscriccedilatildeo a

qual deseja concorrer Sobre a circunscriccedilatildeo eleitoral o Tribunal Superior Eleitoral

assim o define Espaccedilo geograacutefico onde se trava determinada eleiccedilatildeo Assim o paiacutes na eleiccedilatildeo do presidente e vice-presidente da Repuacuteblica o estado nas eleiccedilotildees para governador e vice-governador deputados federais e estaduais e senadores o municiacutepio nas eleiccedilotildees de prefeito e vereadores e o distrito onde e quando se realiza a eleiccedilatildeo pelo sistema distrital 9

Para concorrer as eleiccedilotildees o candidato deveraacute possuir domiciacutelio eleitoral na

respectiva circunscriccedilatildeo pelo prazo de pelo menos um ano antes do pleito e estar

com a filiaccedilatildeo deferida pelo partido no mesmo prazo eacute o que dispotildee o artigo 9deg da

Lei 950497

27 FILIACcedilAtildeO PARTIDAacuteRIA

A filiaccedilatildeo partidaacuteria eacute a quinta condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14

sect 3ordm inciso V da Constituiccedilatildeo Federal

Eacute o ato formal e solene o pelo qual um eleitor aceita e adota o programa de

um partido poliacutetico viacutenculo que se estabelece entre o poliacutetico e o partido Eacute condiccedilatildeo

de elegibilidade conforme disposto no artigo 14 sect3ordm inciso V da Constituiccedilatildeo

Federal Nos termos do artigo 16 da Lei dos Partidos Poliacuteticos Lei nordm 909695 soacute

pode filiar-se a partido o eleitor que estiver no pleno gozo de seus direitos poliacuteticos

Todavia a exceccedilotildees sobre a filiaccedilatildeo partidaacuteria como no caso de candidatura

de magistrados membros dos Tribunais de Contas Ministeacuterio Puacuteblico e militares

como exemplo vejamos a exceccedilatildeo dos militares estes querendo concorrer a cargo

puacuteblico eletivo possuindo menos de dez anos de serviccedilo deveraacute solicitar

afastamento definitivo da atividade atraveacutes de demissatildeo ou licenciamento ex-officio

caso venha a possuir mais de dez anos de serviccedilo deveraacute ser agregado pela

8 PINTO Djalma Direito eleitoral ndash improbidade administrativa e Responsabilidade Fiscal 3 Ed Satildeo Paulo Atlas 2006 9 Disponiacutevel em httpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermoscircunscricao_eleitoralhtmgt Acesso em 22 jul 2011

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autoridade superior e se eleito passaraacute automaticamente no ato da diplomaccedilatildeo

para a inatividade

28 IDADE MIacuteNIMA

Idade miacutenima eacute a uacuteltima condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14 sect 3ordm

inciso VI da Constituiccedilatildeo Federal

Para o cargo de Presidente e Vice-Presidente da Repuacuteblica e para Senadores

e suplentes a idade miacutenima de 35 anos para o cargo de Governado e Vice-

Governador de Estado ou do Distrito Federal idade miacutenima de 30 anos para os

cargos de Deputado Federal Estadual Distrital Prefeito e Vice-Prefeito e Juiz de

paz a idade miacutenima de 21 anos e por fim para o cargo de vereador a idade

miacutenima de 18 anos

Dispotildee a Lei 95041997 artigo 11 sect 2ordm que a verificaccedilatildeo da idade seraacute feita

na data da posse no respectivo cargo pressupotildee que um menor de 17 anos de

idade possa se candidatar ao cargo de vereador bastando que na data da posse

conte com 18 anos completos

Alguns doutrinadores entretanto discordam dessa interpretaccedilatildeo entendendo

que natildeo poderia o legislador infra-constitucional dizer a mais do que a proacutepria

Constituiccedilatildeo estabeleceu assim leciona o Gilmar Mendes em sua obra Curso de

Direito Constitucional Natildeo haacute que se falar em momento da posse como aceitaacutevel para se perfazer a condiccedilatildeo de elegibilidade no tocante a idade miacutenima pois a Constituiccedilatildeo jaacute determinou que o momento da afericcedilatildeo para elegibilidade deve ser o do registro da candidatura 10

Tem prevalecido a verificaccedilatildeo da idade miacutenima na data da posse

10 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 Ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 p803

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3 DA INELEGIBILIDADE 31 CONCEITO DE INELEGIBILIDADE

Joseacute Afonso da Silva em sua ilustre obra Curso de Direito Constitucional

Positivo doutrinariamente leciona que ldquoa inelegibilidade obsta a elegibilidade

revelando um impedimento ao direito de ser votado que eacute a capacidade eleitoral

passivardquo 11

A inelegibilidade resulta no impedimento parcial ou seja temporaacuterio da

capacidade eleitoral passiva restringindo o cidadatildeo de ser votado nas hipoacuteteses

previstas na Lei Complementar nordm 641990 Lei Complementar nordm 1352010 e na

Constituiccedilatildeo Federal

Sua finalidade tem por objetivo a probidade administrativa a normalidade

para o exerciacutecio do mandato considerada a vida pregressa do candidato e a

normalidade e a legitimidade das eleiccedilotildees contra a influecircncia do poder econocircmico ou

o abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo cargo ou emprego na administraccedilatildeo direta ou

indireta

A inelegibilidade pode ser absoluta proibindo a candidatura agraves eleiccedilotildees em

geral ou relativa impossibilitando a postulaccedilatildeo a determinado mandato eletivo

Sendo assim o cidadatildeo que almeja se candidatar a cargo eletivo deve

atender as condiccedilotildees de elegibilidade e natildeo incorrer em nenhuma causa de

inelegibilidade

32 ESPEacuteCIES DE INELEGIBILIDADE

As espeacutecies de inelegibilidade podem ser constitucionais e

infraconstitucionais as constitucionais dividem-se em absoluta e relativa

A inelegibilidade constitucional absoluta consiste no impedimento eleitoral

que restringe o cidadatildeo de concorrer a qualquer cargo eletivo refere-se a

determinada caracteriacutestica do indiviacuteduo ou seja eacute de caraacuteter pessoal sendo

11 SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 Ed Satildeo Paulo Malheiros 012004 p 387

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taxativamente prevista pela Constituiccedilatildeo Federal e a inelegibilidade constitucional

relativa compreende o impedimento eleitoral que restringe o cidadatildeo de concorrer a

determinados cargos em determinada eleiccedilatildeo refere-se a situaccedilotildees especiais e

momentacircneas tais como motivos funcionais de casamento de parentescos

A inelegibilidade infraconstitucional eacute disciplinada na Lei Complementar ndeg

641990 alterada pela Lei Complementar ndeg 1352010

Eacute relevante a distinccedilatildeo entre as inelegibilidades constitucionais e

infraconstitucionais como bem ressaltado por Joseacute Jairo Gomes A distinccedilatildeo que se faz entre inelegibilidades constitucionais e legais natildeo eacute cerebrina apresentando inegaacutevel relevacircncia praacutetica Basta dizer que natildeo haacute preclusatildeo quanto agraves primeiras as quais podem ser arguumlidas na fase do registro de candidatura ou posteriormente antes ou depois das eleiccedilotildees A arguumliccedilatildeo posterior pode ser feita no RCED (CE art 262 I) Jaacute as inelegibilidades legais sujeitam-se agrave preclusatildeo se natildeo forem levantadas na fase de registro de candidatura Ultrapassado esse momento natildeo mais poderatildeo ser discutidas salvo se supervenientes 12

33 INELEGIBILIDADE CONSTITUCIONAL

A inelegibilidade constitucional dividi-se em absoluta e relativa

A inelegibilidade constitucional absoluta estabelecida no sect 4deg do artigo 14 da

Constituiccedilatildeo Federal prevecirc que satildeo inelegiacuteveis os inalistaacuteveis e os analfabetos

A inelegibilidade decorrente da inalistabilidade abrange todos que natildeo se

encontram na situaccedilatildeo de alistabilidade tambeacutem aqueles que se encontram em

estado definitivo ou temporariamente privados de seus direitos poliacuteticos por fim

atinge aqueles que natildeo sabem exprimir-se na liacutengua nacional e os estrangeiros

A inelegibilidade decorrente do analfabetismo natildeo permite que o analfabeto

seja elegiacutevel mas permite que ele seja alistaacutevel exercendo assim a sua capacidade

de votar mas nunca a de ser votado

Estas hipoacuteteses restringem ao cidadatildeo se candidatarem a qualquer cargo

eletivo em qualquer eleiccedilatildeo enquanto perdurar esta situaccedilatildeo restritiva

As hipoacuteteses de inelegibilidades constitucionais relativas referem-se a

situaccedilotildees especiais separando-as por motivos funcionais motivos parentais motivos

militares e encontram-se dispostas no artigo 14 sectsect 5deg ao 9deg da Constituiccedilatildeo Federal

12 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131

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A inelegibilidade por motivo funcional eacute decorrente de o cidadatildeo estar em

exerciacutecio de alguma funccedilatildeo puacuteblica Satildeo previstas duas situaccedilotildees

A primeira declara ser inelegiacutevel para o mesmo cargo em terceiro periacuteodo

subsequumlente o Presidente da Repuacuteblica os Governadores de Estado e do DF os

Prefeitos e quem os houver sucedido ou substituiacutedo nos seis meses antes das

eleiccedilotildees Eacute o que dispotildee o sect 5deg do artigo 14 na redaccedilatildeo da Emenda Constitucional

161997

Portanto soacute eacute permitida uma reconduccedilatildeo ou seja eacute permitida a reeleiccedilatildeo de

Chefes do Executivo ou seus substitutos para apenas um periacuteodo subsequumlente

A segunda situaccedilatildeo considera que satildeo inelegiacuteveis para concorrer a outros

cargos o Presidente da Repuacuteblica os Governadores de Estado e do DF e os

Prefeitos salvo se tiverem se desincompatibilizado com a renuacutencia do cargo ateacute

seis meses antes do pleito Eacute o que prevecirc o sect 6deg do artigo 14 da Constituiccedilatildeo

Federal

Os servidores puacuteblicos que ocuparem algum cargo de livre nomeaccedilatildeo

demissiacuteveis ad nutum seratildeo exonerados para que possam concorrer a cargo

eletivo ou seja natildeo poderatildeo manter qualquer viacutenculo com a entidade na qual

desempenhava suas funccedilotildees

Os servidores puacuteblicos concursados ao contraacuterio dos servidores ocupantes

de cargos de livre nomeaccedilatildeo natildeo seratildeo exonerados ou demitidos apenas se

afastaratildeo de suas funccedilotildees para se candidatar a cargo puacuteblico

A inelegibilidade por motivo de parentesco tambeacutem denominada de

inelegibilidade reflexa estaacute relacionada a condiccedilotildees inerentes ao parentesco

sanguumliacuteneo soacutecio-afetivo ou condiccedilatildeo matrimonial

Assim conforme previsto no sect 7ordm do artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal estas

mesmas pessoas impedidas para determinados cargos podem concorrer para outros

cargos que se processem em territoacuterio de outra circunscriccedilatildeo

A inelegibilidade reflexa aproxima-se da inelegibilidade absoluta a diferenccedila

ocorre que na reflexa pode cessar por vontade das pessoas envolvidas um exemplo

claro eacute a renuacutencia seis meses antes do pleito do Presidente da Repuacuteblica

Assim temos que a inelegibilidade por motivo de parentesco ou reflexa visa a

impedir a formaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do poder poliacutetico em matildeos de uma determinada

famiacutelia

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A inelegibilidade por motivos militares visa que o militar enquanto em serviccedilo

ativo natildeo pode estar filiado a partidos poliacuteticos entretanto a Constituiccedilatildeo Federal

em seu artigo 14 relata que atendidas certas condiccedilotildees o militar alistaacutevel se torna

elegiacutevel sendo estas as condiccedilotildees se contar com menos de dez anos de serviccedilo

deveraacute afastar-se da atividade e se contar com mais de dez ano de serviccedilo seraacute

agregado pela autoridade superior e se eleito passaraacute automaticamente no ato da

diplomaccedilatildeo para a inatividade

34 INELEGIBILIDADE INFRACONSTITUCIONAL

Por se tratar de inuacutemeras hipoacuteteses de inelegibilidades infraconstitucionais

natildeo seraacute possiacutevel tratar todos os casos previstos em lei para tanto adentraremos a

anaacutelise de algumas hipoacuteteses dispostas na Lei Complementar nordm 641990

As inelegibilidades infraconstitucionais satildeo instituiacutedas por Lei Complementar

que estabeleceraacute outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim

de proteger a probidade administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato

considerado vida pregressa do candidato e a normalidade e legitimidade das

eleiccedilotildees contra a influecircncia do poder econocircmico ou o abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo

cargo ou emprego na administraccedilatildeo direta ou indireta

As causas de inelegibilidade infraconstitucionais estatildeo previstas no artigo 1ordm

da Lei Complementar nordm 641990 alterado dentre outras atraveacutes da recente Lei

Complementar ndeg 1352010 conhecida como a Lei da Ficha Limpa

Dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquobrdquo da Lei Complementar nordm 641990 que os

membros do Congresso Nacional das Assembleacuteias Legislativas da Cacircmara

Legislativa e das Cacircmaras Municipais que hajam perdido os respectivos mandatos

por infringecircncia do disposto nos incisos I e II do art 55 da Constituiccedilatildeo Federal dos

dispositivos equivalentes sobre perda de mandato das Constituiccedilotildees Estaduais e

Leis Orgacircnicas dos Municiacutepios e do Distrito Federal para as eleiccedilotildees que se

realizarem durante o periacuteodo remanescente do mandato para o qual foram eleitos e

nos oito anos subsequumlentes ao teacutermino da legislatura

Sendo assim satildeo inelegiacuteveis os parlamentares cujo procedimento for

declarado incompatiacutevel com o decoro parlamentar e desde a expediccedilatildeo do diploma

firmar ou manter contrato com pessoa juriacutedica de direito puacuteblico autarquia empresa

puacuteblica sociedade de economia mista ou empresa concessionaacuteria de serviccedilo

puacuteblico salvo quando o contrato obedecer a claacuteusulas uniformes aceitar ou exercer

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cargo funccedilatildeo ou emprego remunerado inclusive os de que sejam demissiacuteveis ad

nutum nas entidades constantes da aliacutenea anterior e desde a posse ser

proprietaacuterios controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente

de contrato com pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou nela exercer funccedilatildeo

remunerada ocupar cargo ou funccedilatildeo de que sejam demissiacuteveis ad nutum nas

entidades referidas no inciso I a patrocinar causa em que seja interessada

qualquer das entidades a que se refere o inciso I a ser titulares de mais de um

cargo ou mandato puacuteblico eletivo

Portando o parlamentar que infringir o disposto no artigo 54 teraacute seu mandato

cassado Jaacute no inciso II do artigo 55 o Deputado ou Senador perderaacute o mandato

quando o procedimento for declarado incompatiacutevel com o decoro parlamentar A

Constituiccedilatildeo Federal prevecirc como falta de decoro o disciplinado no artigo 55 sect 1ordm

Por fim eacute incompatiacutevel com o decoro parlamentar os casos definidos no regimento

interno

Assim dispotildee o artigo 1ordm Inciso I aliacutenea ldquocrdquo da Lei Complementar nordm 641990

Governador e o Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal e o Prefeito e o

Vice-Prefeito que perderem seus cargos eletivos por infringecircncia a dispositivo da

Constituiccedilatildeo Estadual da Lei Orgacircnica do Distrito Federal ou da Lei Orgacircnica do

Municiacutepio para as eleiccedilotildees que se realizarem durante o periacuteodo remanescente e

nos 8 (oito) anos subsequentes ao teacutermino do mandato para o qual tenham sido

eleitos

Tal dispositivo busca evitar que os chefes do poder executivos retornem a

vida puacuteblica no mandato seguinte e nas eleiccedilotildees para as demais esferas Este

dispositivo preserva a moralidade puacuteblica O prazo de 8 anos de inabilitaccedilatildeo seraacute

contado a partir da data que tiver sido proferida a decisatildeo por crime de

responsabilidade

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquodrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tenham contra sua pessoa representaccedilatildeo julgada procedente pela Justiccedila

Eleitoral em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo colegiado em

processo de apuraccedilatildeo de abuso do poder econocircmico ou poliacutetico para a eleiccedilatildeo na

qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como para as que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes

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Primeiramente eacute necessaacuterio conceituar o que eacute abuso de poder econocircmico de

abuso de poder poliacutetico

Abuso de poder econocircmico consiste na utilizaccedilatildeo de bens ou serviccedilos de

empresas particulares ou recursos proacuteprios do candidato gerando assim uma

desproporccedilatildeo entre os candidatos exemplo Se um candidato eacute proprietaacuterio de uma

grande empresa e faz uso dela para custear sua campanha sem realizar doaccedilatildeo de

campanha prevista na Lei 950497

Abuso do poder poliacutetico consiste no emprego de serviccedilos ou bens

pertencentes a administraccedilatildeo puacuteblica com o objetivo de propiciar a eleiccedilatildeo de

determinado candidato

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquofrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que forem declarados indignos do oficialato ou com ele incompatiacuteveis pelo prazo

de 8 (oito) anos

Oficialato eacute o cargo ou dignidade de oficial seja das forccedilas armadas poliacutecia

militar ou corpo de bombeiros A competecircncia para apreciar e declarar a indignidade

do oficialato seraacute do Superior Tribunal Militar

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquogrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tiverem suas contas relativas ao exerciacutecio de cargos ou funccedilotildees puacuteblicas

rejeitadas por irregularidade insanaacutevel que configure ato doloso de improbidade

administrativa e por decisatildeo irrecorriacutevel do oacutergatildeo competente salvo se esta houver

sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciaacuterio para as eleiccedilotildees que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes contados a partir da data da decisatildeo aplicando-se o

disposto no inciso II do art 71 da Constituiccedilatildeo Federal a todos os ordenadores de

despesa sem exclusatildeo de mandataacuterios que houverem agido nessa condiccedilatildeo

Esta decisatildeo eacute administrativa e traraacute a consequumlecircncia de inelegibilidade para

isso a irregularidade tem de ser insanaacutevel

A competecircncia para julgar estas irregularidades compete ao Poder

Legislativo seja no acircmbito federal estadual ou municipal

A analise desta insanabilidade poderaacute caber a Justiccedila Eleitoral como por

exemplo no pedido de registro de candidatura por algueacutem que teve suas contas

rejeitadas

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquohrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os detentores de cargo na administraccedilatildeo puacuteblica direta indireta ou fundacional que

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beneficiarem a si ou a terceiros pelo abuso do poder econocircmico ou poliacutetico que

forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial

colegiado para a eleiccedilatildeo na qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como

para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes

Aqui natildeo se trata de cargo eletivo mas sim de cargos por concurso puacuteblico ou

por provimento em comissatildeo

A finalidade eacute por fim a reeleiccedilatildeo para aqueles que estatildeo em cargos de chefia

do poder executivo que tenham cometido abuso do poder econocircmico ou poliacutetico

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquoirdquo da Lei Complementar nordm 641990)

os que em estabelecimentos de creacutedito financiamento ou seguro que tenham sido

ou estejam sendo objeto de processo de liquidaccedilatildeo judicial ou extrajudicial hajam

exercido nos 12 (doze) meses anteriores agrave respectiva decretaccedilatildeo cargo ou funccedilatildeo

de direccedilatildeo administraccedilatildeo ou representaccedilatildeo enquanto natildeo forem exonerados de

qualquer responsabilidade

O que a lei busca nesta situaccedilatildeo eacute deixar aquele que administrou os referidos

estabelecimentos fora de qualquer participaccedilatildeo poliacutetica enquanto natildeo forem

apurados todos os fatos que levaram a insolvecircncia

Portanto o maior objetivo desta causa de inelegibilidade eacute assegurar que o

ex-administrado de estabelecimento de creacutedito financiamento ou seguro natildeo venha

a eleger-se a cargo eletivo sem antes ter sido apurada sua participaccedilatildeo para

insolvecircncia

Outras causas de inelegibilidades incluiacutedas pela Lei Complementar nordm

1352010 estatildeo previstas nos incisos j a q da referida Lei

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4 DA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE 41 ORIGEM DA LEI COMPLEMENTAR Nordm 1352010

Com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o Brasil passa a ser um

Estado Democraacutetico de Direito inaugurando uma democracia participativa

Esta democracia participativa permite ao cidadatildeo desde que preenchidos

determinados requisitos dar iniacutecio a um projeto de Lei atraveacutes da chamada Iniciativa

Popular A origem da Lei Complementar nordm 1352010 decorreu do Projeto de Lei nordm

5182009 sob a coordenaccedilatildeo do Movimento de Combate a Corrupccedilatildeo Eleitoral ndash

MCCE que teve iniacutecio em abril de 2008 com o objetivo de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos a finalidade eacute que os criteacuterios de inelegibilidades sejam

mais rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos

Esta Lei Complementar dita que pessoas condenadas por um colegiado

independente do tracircnsito em julgado satildeo inelegiacuteveis portanto podem ter seus

registros de candidaturas negados alem de incluir parlamentares que renunciaram

ao cargo para assim evitar uma possiacutevel abertura de processo por quebra de decoro

ou por desrespeito agrave Constituiccedilatildeo com a finalidade uacutenica de evitar possiacuteveis

puniccedilotildees

A Lei Complementar 1352010 traacutes inuacutemeros confrontos com a Constituiccedilatildeo

Federal sendo dois os mais relevantes primeiro a natildeo observacircncia do princiacutepio da

anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal e segundo

o desrespeito ao princiacutepio da natildeo-culpabilidade tambeacutem estabelecido na

Constituiccedilatildeo federal no artigo 5ordm inciso LVII

Sobre o primeiro ponto que trata da aplicabilidade da Lei Complementar nordm

1352010 para as eleiccedilotildees de 2010 restou soberana a decisatildeo do Supremo

Tribunal Federal ao resolver o conflito afirmando que o artigo 16 da Constituiccedilatildeo

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Federal ao submeter a alteraccedilatildeo legal do processo eleitoral agrave regra da anualidade

constitui uma garantia fundamental para o pleno exerciacutecio de direitos poliacuteticos

Esta pacificaccedilatildeo se deu no julgamento da Accedilatildeo Declaratoacuteria de

Inconstitucionalidade nordm 3685 13 onde atuou como Relatora a Ministra Ellen Gracie

que identificou como uma garantia fundamental do cidadatildeo-eleitor do cidadatildeo-

candidato e dos partidos poliacuteticos o artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal

A Ministra Ellen Gracie utilizou-se de uma analogia com o julgamento da

Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade 939 que teve como relator Ministro Sydnei

Sanches com a garantia da anterioridade tributaacuteria fixada no artigo 150 III b no

sentido de que se o princiacutepio da anterioridade tributaacuteria constitui uma garantia do

cidadatildeo-contribuinte o princiacutepio da anterioridade eleitoral tambeacutem eacute uma garantia do

cidadatildeo do eleitor do candidato e dos partidos poliacuteticos

Desta forma restou consolidado a garantia prevista no artigo 16 da

Constituiccedilatildeo Federal como forma de um devido processo legal eleitoral

O devido processo visa que se atinja uma decisatildeo conforme a Justiccedila

prestigiando a eacutetica da legalidade ressaltando-se que ele possui um duplo

significado de processo necessaacuterio e processo adequado para tanto COMOGLIO

afirma Que as garantias decorrentes do devido processo legal querem dizer natildeo apenas direito a um processo mas a um justo processo compreendendo a correccedilatildeo e efetividade dos instrumentos disponiacuteveis em juiacutezo e a efetividade e adequaccedilatildeo da proacutepria tutela finalrdquo 14

A Constituiccedilatildeo brasileira de 1988 traz a garantia exarada no seu artigo 5ordm

Art 5ordm - () LIV ndash ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal LV ndash aos litigantes em processo judicial e administrativo e aos acusados em geral seratildeo assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa com os meios de recurso a ela inerentes

Sobre o segundo ponto controverso mateacuteria deste trabalho tem o conflito tem

o conflito entre a Lei Complementar nordm 13510 contra uma garantia constitucional

denominado princiacutepio da natildeo-culpabilidade que eacute inseparaacutevel do conceito de

13 Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011 14 Luigi Paolo COMOGLIO Giuridizione e processo nel quadro delle garanzie constituzionali Rivista Trimestrale di Diritto e Procedura Civile 4 p 1070

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democracia A Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5ordm inciso LVII estabelece uma das

maiores garantias dos indiviacuteduos contra o autoritarismo do Estado afirmando que

ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

condenatoacuteriardquo fixando explicitamente o princiacutepio da natildeo-culpabilidade entre os

direitos fundamentais

42 AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EM JULGADO

A Lei Complementar nordm 1352010 em sua aliacutenea ldquoerdquo do inciso I do artigo 2ordm

possui a seguinte redaccedilatildeo e) os que forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial colegiado desde a condenaccedilatildeo ateacute o transcurso do prazo de 8 (oito) anos apoacutes o cumprimento da pena pelos crimes (Redaccedilatildeo dada pela Lei Complementar nordm 135 de 2010)

Esta aliacutenea visa impedir a candidatura de poliacuteticos condenados a partir da

segunda instacircncia e mesmo que natildeo tenha transitado em julgado Ela defende que

haja uma condenaccedilatildeo criminal no entanto deixa de exigir a configuraccedilatildeo do tracircnsito

em julgado do ato decisoacuterio para que ocorra a inelegibilidade A antiga lei previa que

o candidato soacute seria inelegiacutevel se tivesse condenaccedilatildeo definitiva

As alteraccedilotildees da Lei Complementar nordm 1352010 objetiva atender a um senso

comum do eleitorado afirmando que uma pessoa condenada natildeo deve poder ser

votada isto eacute natildeo deve ter mandato Em seus dizeres trata que a inelegibilidade

natildeo pressupotildee culpa formada natildeo deve haver discussatildeo sobre presunccedilatildeo da

inocecircncia Pode haver inelegibilidade por parentesco por ocupar cargo puacuteblico falta

de domiciacutelio eleitoral ou filiaccedilatildeo partidaacuteria causas que natildeo tecircm nada a ver com

condenaccedilatildeo criminal

A contradiccedilatildeo do argumento da Lei Complementar eacute se a Constituiccedilatildeo em

face do princiacutepio da natildeo-culpabilidade admite a cominaccedilatildeo de inelegibilidade para

quem ainda tem recursos pendentes de julgamento

Caso esta hipoacutetese seja admitida temos que um indiviacuteduo que tenha sido

condenado criminalmente em segunda instacircncia e interponha recurso especial ou

extraordinaacuterio para anular o processo caso natildeo consiga uma medida liminar

suspendendo os efeitos ficaria impedido de concorrer na eleiccedilatildeo

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Imagine-se que ao final da accedilatildeo o cidadatildeo que ficou impedido de concorrer

nas eleiccedilotildees obtivesse vitoacuteria em seu recurso obtendo assim a nulidade da accedilatildeo

bem como da decisatildeo que o condenou com ficaria a situaccedilatildeo deste cidadatildeo

O que se quer com a Lei Complementar nordm 1352010 eacute instituir um moralismo

eleitoral que se sobrepotildee a Constituiccedilatildeo Federal e seu principio constitucional da

natildeo-culpabilidade que eacute a garantia individual contra o Estado

Outro argumento utilizado pelos defensores da constitucionalidade da Lei

Complementar nordm 1352010 satildeo as prisotildees cautelares e que no final o sujeito

acaba sebdo absolvido Ora cabe lembrar-lhes que a prisatildeo cautelar natildeo eacute

antecipaccedilatildeo de pena cumpre ela uma funccedilatildeo processual clara e limitada agrave garantia

da ordem puacuteblica da ordem econocircmica por conveniecircncia da instruccedilatildeo criminal ou

para assegurar a aplicaccedilatildeo da lei penal quando houver prova da existecircncia do crime

e indiacutecio suficiente de autoria

Portanto temos que o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees enquanto natildeo

sobrevier decisatildeo judicial transitada em julgado

O proacuteprio Supremo na Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental

144 jaacute decidiu natildeo barrar candidaturas sem condenaccedilatildeo transitada em julgado

A Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental 144 15 foi votada

em agosto de 2008 antes das eleiccedilotildees municipais Na ocasiatildeo o Supremo Tribunal

Federal decidiu que natildeo poderiam ser barradas candidaturas de poliacuteticos

condenados na primeira instacircncia por conta da presunccedilatildeo de inocecircncia

Em 6 de agosto de 2008 haacute menos de trecircs anos o Supremo Tribunal Federal

julgou improcedente a Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental nordm

144 ajuizada pela Associaccedilatildeo dos Magistrados Brasileiros em voto do ministro

Celso de Mello vencidos os ministros Carlos Ayres e Joaquim Barbosa exatamente

porque O postulado consagrador da garantia de inocecircncia irradia os seus efeitos para aleacutem dos limites dos processos penais de natureza condenatoacuteria impedindo desse modo que situaccedilotildees processuais anda natildeo definidas por sentenccedilas transitadas em julgado provoquem em decorrecircncia das exigecircncias de probidade administrativa e demoralidade a que se refere o sect 9ordm do artigo 14 da Coinstituiccedilatildeo Federal a inelegibilidade dos cidadatildeos ou obstem candidaturas para mandatos eletivos

15Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011

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Portanto ficou definido que Lei Complementar sendo editada para casos de

inelegibilidades esta deveraacute respeitar o princiacutepio da natildeo-culpabilidade Ocorre que

foi editada a Lei Complementar nordm 1352010 que atendeu aos reclamos populares

mas preferiu a um soacute tempo violar a Constituiccedilatildeo Federal e desrespeitar a recente

decisatildeo do Supremo Tribunal Federal mesmo que na eacutepoacuteca desta decisatildeo natildeo

havia lei formal para tal situaccedilatildeo

43 PRINCIacutePIO CONSTITUCIONAL DA NAtildeO-CULPABILIDADE

O princiacutepio da natildeo-culpabilidade eacute direito fundamental previsto na

Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5deg inciso LVII ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute

o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

Isto eacute enquanto natildeo sobrevier uma decisatildeo judicial condenatoacuteria transitada

em julgado o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees em seu patrimocircnio ou em sua

liberdade Caso sobrevenha duacutevida quanto a culpabilidade esta resolveraacute sempre

em favor do reacuteu ou seja aplicando-se o princiacutepio in duacutebio pro reo

Assim disciplina Nelson Nery Juacutenior sobre o princiacutepio da natildeo-culpabilidade ldquoO inteacuterprete deve buscar a aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre tendo como pressuposto o exame da Constituiccedilatildeo Federal Depois sim deve consultar a legislaccedilatildeo infraconstitucional a respeito do temardquo 16

Sendo assim a Constituiccedilatildeo Federal no capiacutetulo sobre os Direitos e Deveres

Individuais e Coletivos em seu artigo 5ordm inciso LVII afirma que ldquoningueacutem seraacute

considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute considerar o

indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila A doutrina e a

jurisprudecircncia aclamam este princiacutepio como vaacuterios nomes como princiacutepio da

presunccedilatildeo de inocecircncia princiacutepio da natildeo-culpabilidade ou simplesmente princiacutepio da

inocecircncia

Joseacute Afonso da Silva em seu livro Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo

disciplina assim esta garantia A norma constitucional do inciso LVII agora sob nosso exame garante a presunccedilatildeo de inocecircncia por meio de um enunciado negativo universal lsquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria Usa-se de uma forma

16 NERY JUacuteNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20

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negativa para outorgar uma garantia positiva Na verdade o texto brasileiro natildeo significa outra coisa senatildeo que fica assegurada a todos a presunccedilatildeo de inocecircncia ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria O tracircnsito em julgado se daacute quando a decisatildeo natildeo comporta mais recurso ordinaacuterio especial ou extraordinaacuterio 17

Nesse sentido o indiviacuteduo acusado natildeo pode ser presumidamente culpado

mas sim inocente Tal princiacutepio visa a tutelar a liberdade pessoal de modo que o

Estado nos mais diferentes segmentos deve abster-se de considerar culpado

aquele que ainda natildeo foi submetido agrave definitividade da atuaccedilatildeo jurisdicional Em se tratando de suspensatildeo dos direitos poliacuteticos a Constituiccedilatildeo Federal

garante que a suspensatildeo somente se daraacute por ldquocondenaccedilatildeo criminal transitada em

julgado enquanto durarem seus efeitosrdquo

Julgamento neste sentido REPRESENTACcedilAtildeO SUSPENSAtildeO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS EM VIRTUDE DE SENTENCcedilA PENAL CONDENATOacuteRIA TRANSITADA EM JULGADO AUTO-APLICABILIDADE DOS ARTIGOS 14 sect 3ordm II E 15 III DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL PROCEDEcircNCIA A suspensatildeo dos direitos poliacuteticos do condenado independe de lei regulamentadora bem como de processo especial de cogniccedilatildeo e de anaacutelise de meacuterito para a execuccedilatildeo da medida no juiacutezo eleitoral posto natildeo se tratar de sanccedilatildeo penal mas de efeito natildeo-penal de condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado e decorrente de mandamento constitucional Comprovado o tracircnsito em julgado da sentenccedila penal condenatoacuteria decreta-se automaticamente a suspensatildeo dos direitos poliacuteticos ativo e passivo do representado ou seja o direito de votar e ser votado com a consequumlente exclusatildeo de seu nome da folha de votaccedilatildeo e declaraccedilatildeo de sua inelegibilidade 18

Logo infere-se que a condenaccedilatildeo criminal sem o tracircnsito em julgado natildeo

desqualifica o condenado a votar e a eventualmente concorrer a qualquer cargo

eletivo

O Colendo Tribunal Superior Eleitoral enfrentou esta questatildeo ao apreciar

pedido de registro de candidatura valendo registrar os seguintes julgados RECURSO ESPECIAL RECEBIDO COMO ORDINAacuteRIO REGISTRO DE CANDIDATURA DEFERIMENTO INELEGIBILIDADE NAtildeO-OCORREcircNCIA Condenaccedilatildeo criminal sem tracircnsito em julgado natildeo eacute apta a ensejar inelegibilidade (precedente do TSE acoacuterdatildeo 536 rel Min Fernando Neves publicado em sessatildeo de 882002) Recurso natildeo provido 19

17 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006 p 155 18 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbrgt TRESCndashAcoacuterdatildeo nordm 13324 de 071094 rel Juiz Nilson B Filho Acesso em 16 set 2011 19 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbr gt TSE- REspEl nordm 20247 de 19902 rel Min Sepuacutelveda Pertence Acesso em 16 set 2011

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INELEGIBILIDADE CONDENACcedilAtildeO CRIMINAL NAtildeO TRANSITADA EM JULGADO CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA ART 14 sect 9deg SUacuteMULA Ndeg 13 DO TSE 1 A existecircncia de sentenccedila criminal condenatoacuteria sem o tracircnsito em julgado natildeo eacute suficiente para ocasionar inelegibilidade 2 O art 14 sect 9deg da Constituiccedilatildeo natildeo eacute auto-aplicaacutevel 3 Necessidade de lei complementar estabelecendo os casos em que a vida pregressa do candidato poderaacute levar agrave sua inelegibilidade bem como os prazos de sua cessaccedilatildeo 4 Recurso provido para julgar improcedente a impugnaccedilatildeo e deferir o registro da candidatura 20

Insculpido na Constituiccedilatildeo Federal o principio da natildeo-culpabilidade deve ser

respeitado por toda lei infraconstitucional alguns doutrinadores como Aristides

Junqueira e Antocircnio Bandeira de Mello em carta publica no sitio do Movimento de

Combate agrave Corrupccedilatildeo Eleitoral21 entendem que neste presente caso natildeo deve ser

aplicado o princiacutepio da natildeo-culpabilidade a inelegibilidade pois esta natildeo eacute pena

mas medida preventiva

Estes juristas se acham alicerccedilados pelo que expressamente estatui o sect 9deg do

artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal em que Lei complementar estabeleceraacute outros

casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim de proteger a probidade

administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato considerada a vida

pregressa do candidato afirmam que uma vez que a proacutepria Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica expressamente permite que o legislador estipule quais elementos da vida

pregressa dos candidatos podem afastaacute-los dos pleitos

Independente desta posiccedilatildeo minoritaacuteria encontra-se que o princiacutepio da natildeo-

culpabilidade eacute prevista em diversos ordenamentos juriacutedicos e tratados como se

veraacute a seguir

Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo da Franccedila de 1789 o art

9da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) de 1948 dispotildee ldquoTodo acusado eacute

considerado inocente ateacute ser declarado culpado e se julgar indispensaacutevel prendecirc-lo

todo o rigor desnecessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deveraacute ser severamente

reprimido pela leirdquo22

20 Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrgt TSE-REspEl nordm 18047 de 2992000 rel Min Fernando Neves da Silva Acesso em 16 set 2011 21 Disponiacutevel em lthttpwwwmcceorgbrsitesdefaultfilescartajuristaspdfgt Acesso em 3 jul 2011 22 Disponiacutevel em lthttppfdcpgrmpfgovbratuacao-e-conteudos-de-apoiolegislacaodireitoshuma nosdeclar_dir_ homem_cidadaopdfgt Acesso em 13 set 2011

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Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos de 1948 diz ldquoToda pessoa

acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocecircncia enquanto natildeo se

comprove legalmente sua culpardquo23

A origem histoacuterica que foi referida teve uma grande importacircncia para se

chegar a um status constitucional conforme eacute citado por Mirabete Existe apenas uma tendecircncia agrave presunccedilatildeo de inocecircncia ou mais precisamente um estado de inocecircncia um estado juriacutedico no qual o acusado eacute inocente ateacute que seja declarado culpado por uma sentenccedila transitada em julgado Por isso a nossa Constituiccedilatildeo Federal natildeo presume a inocecircncia mas declara que ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria (art 5deg LVII) ou seja que o acusado eacute inocente durante o desenvolvimento do processo e seu estado soacute se modifica por uma sentenccedila final que o declare culpado 24

Por fim o princiacutepio da natildeo-culpabilidade visa a proteccedilatildeo do reacuteu para que

este tenha um julgamento justo devendo ser provada sua verdadeira culpa antes

que seja considerado culpado

23 Disponiacutevel em lthttpwwwagugovbrsistemassiteTemplateImagemTextoThumbaspxidConteu do=113927ampordenacao=1ampid_site=4922gt Acesso em 12 set 2011 24 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252

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5 CONCLUSAtildeO Apoacutes as anaacutelises da doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncias pertinentes a este

trabalho verifica-se que a Lei Complementar nordm 1352010 ao instituir nova hipoacutetese

de inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado esta em pleno conflito com o princiacutepio da natildeo-culpabilidade insculpido no

artigo 5ordm inciso LVII da Constituiccedilatildeo Federal o que torna esta nova hipoacutetese

absolutamente inconstitucional

O objetivo da Lei Complementar nordm 1352010 eacute o de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos para que os criteacuterios de inelegibilidades sejam mais

rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos Inicialmente eacute compreensiacutevel a

preocupaccedilatildeo de qualificar o perfil dos candidatos a cargos eletivos atraveacutes da vida

pregressa isto significa querer se representar por candidatos idocircneos

Ocorre que eacute necessaacuterio impor tantas restriccedilotildees para que o cidadatildeo possa

concorrer a determinado pleito natildeo eacute mais correto permitir que o proacuteprio povo

detentor soberano do poder para escolher seus representantes defina seus criteacuterios

de escolha

Quanto ao aspecto juriacutedico vejamos que o legislativo ao criar novas hipoacuteteses

de inelegibilidade deve-se atentar para as garantias jaacute consagradas em nosso

ordenamento principalmente quando esta garantia esta insculpida na Constituiccedilatildeo

Federal garantia esta referente ao principio da natildeo-culpabilidade que reza que

ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

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condenatoacuteria trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute

considerar o indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila

Ocorre que a criaccedilatildeo da Lei Complementar nordm 1352010 nasceu conflitante

com a Constituiccedilatildeo Federal em 2 aspectos primordiais primeiro a natildeo observacircncia

do princiacutepio da anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo

Federal pacificado pela Accedilatildeo Declaratoacuteria de Inconstitucionalidade nordm 3685

afirmando que deve-se respeitar ao principio da anualidade e segundo a

inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado

O segundo conflito origina-se diante da garantia constitucional do princiacutepio da

presunccedilatildeo da natildeo-culpabilidade o qual disciplina que somente poderaacute ser

considerado culpado o acusado de determinado crime quando ocorrer o tracircnsito em

julgado da decisatildeo

Portanto temos que uma decisatildeo de um oacutergatildeo colegiado quando recorriacutevel

ainda natildeo eacute o momento que se consumativo da culpabilidade do acusado pois natildeo

podemos antecipar a puniccedilatildeo de um cidadatildeo com a perda de algum direito pelo

simples fato de estar respondendo a algum processo

A aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre teraacute como pressuposto o

exame da Constituiccedilatildeo Federal que estabelece o princiacutepio da natildeo-culpabilidade

tambeacutem chamado de princiacutepio da presunccedilatildeo de inocecircncia que eacute uma verdadeira

garantia constitucional do indiviacuteduo contra o Estado Portanto deve-se respeitar este

princiacutepio basilar do Estado Democraacutetico de Direito nos mais diferentes segmentos

devendo qualquer Lei abster-se de considerar culpado aquele que ainda natildeo teve

sua decisatildeo transitada em julgado

Assim a Lei Complementar nordm 1352010 eacute contraacuterio ao disposto no texto

constitucional pois de forma antecipada retira do cidadatildeo o direito de disputar ao

pleito de forma igualitaacuteria bem como retira do povo um de seus maiores direitos o

de poder escolher seus representantes

Portanto para fortalecimento do Estado Democraacutetico de Direito se faz

necessaacuterio que as garantias constitucionais prevaleccedilam com isto deve-se

preponderar a presunccedilatildeo de natildeo culpabilidade ateacute o tracircnsito em julgado de da

sentenccedila condenatoacuteria

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REFEREcircNCIAS BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicao_ConstituiccedilaoCompiladohtmgt Acesso em 2 jun 2011 BRASIL Tribunal Superior Eleitoral Coacutedigo eleitoral Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrinternetjurisprudenciacodigo_eleitoralcodigo_eleitoralhtmlgt Acesso em 5 mai 2011 BRASIL Supremo Tribunal Federal Jurisprudecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudenciapesquisarJurisprudenciaaspgt Acesso em 15 mai 2011 BRASIL Projeto de Lei Complementar nordm 518 de 17 de setembro de 2009 Altera a Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 que estabelece de acordo com o sect 9ordm do art 14 da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias para incluir hipoacuteteses de inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no exerciacutecio do mandato Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbrsfatividademateriadetalhesaspp_cod_mate=96850gt Acesso em 19 mai 2011

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BRASIL Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 Estabelece de acordo com o art 14 sect 9ordm da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03LeisLCPLcp64htmgt Acesso em 15 mai 2011 COSTA Adriano Soares Instituiccedilotildees de Direito Eleitoral Ed Del Rey 2006 DI PIETRO Maria Sylvia Zanella Direito Administrativo 9 Ed Satildeo Paulo Atlas 1998 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131 LEAL Saul Tourinho Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt MELLO Celso Antonio Bandeira Curso de Direito Administrativo 24 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2007 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 ed Satildeo Paulo Atlas 2006 Movimento de Combate agrave Corrupccedilatildeo Disponiacutevel em ltwwwmcceorgbrgt Acesso em 3 jul 2011 NERY JUacuteBNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20 PEREIRA Erick Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt Acesso em 30 jun 2011 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2008

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PIRES Maacutercio Rodrigo Kaio Carvalho Abuso do poder poliacutetico nas eleiccedilotildees Jus Navigandi Teresina ano 15 n 2677 30 out 2010 Disponiacutevel em lthttpjusuolcombrrevistatexto17741gt Acesso em 27 jun 2011 RAMAYANA Marcos Direito Eleitoral Impetus Niteroacutei 2006 RESENHA ELEITORAL - Nova Seacuterie v9 n1 (janjun 2002) Disponiacutevel em lt httpwwwtre-scgovbrsiteinstitucionalpublicacoesartigos-doutrinariospublicados- na-resenha-eleitoralresenhasv9-n1-janjun-2002abuso-do-podereconomico- ou-de-autoridadeindexhtmlgt SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006

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entre brasileiro nato e naturalizado salvo disposiccedilatildeo em contraacuterio na Constituiccedilatildeo

Federal

A exceccedilatildeo citada no sect 2ordm do artigo 12 da Constituiccedilatildeo Federal permite a

distinccedilatildeo entre brasileiros natos e naturalizados para ocupar determinados cargos

esta exceccedilatildeo estaacute disposta no artigo 12 sect 3ordm da Constituiccedilatildeo Federal que permite

que alguns cargos sejam privativos de brasileiro nato natildeo permitindo que os

naturalizados venham a ocupar tais posiccedilotildees

Esta exceccedilatildeo restringe-se para os cargos privativos de Presidente e Vice-

Presidente da Repuacuteblica Presidente da Cacircmara dos Deputados Presidente do

Senado Federal Ministro do Supremo Tribunal Federal carreira diplomaacutetica de

oficial das Forccedilas Armadas e de Ministro de Estado da Defesa

24 PLENO EXERCIacuteCIO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS

O pleno exerciacutecio dos direitos poliacuteticos eacute a segunda condiccedilatildeo de elegibilidade

prevista no artigo 14 sect 3ordm inciso II da Constituiccedilatildeo Federal o Tribunal Superior

Eleitoral assim o conceitua Direitos poliacuteticos eacute o conjunto dos direitos atribuiacutedos ao cidadatildeo que lhe permite atraveacutes do voto do exerciacutecio de cargos puacuteblicos ou da utilizaccedilatildeo de outros instrumentos constitucionais e legais ter efetiva participaccedilatildeo e influecircncia nas atividades de governo Estar no gozo dos direitos poliacuteticos significa pois estar habilitado a alistar-se eleitoralmente habilitar-se a candidaturas para cargos eletivos ou a nomeaccedilotildees para certos cargos puacuteblicos natildeo eletivos participar de sufraacutegios votar em eleiccedilotildees plebiscitos e referendos apresentar projetos de lei pela via da iniciativa popular e propor accedilatildeo popular 5

Djalma Pinto em sua obra intitulada ldquoDireito eleitoral ndash Improbidade

Administrativa e Responsabilidade Fiscalrdquo dispotildee sobre esta condiccedilatildeo de

elegibilidade O pleno exerciacutecio dos direitos poliacuteticos eacute condiccedilatildeo essencial para a configuraccedilatildeo de elegibilidade A plenitude dos direitos poliacuteticos se expressa pela aptidatildeo para votar e ser votado Sem encontrar-se apto a seu exerciacutecio natildeo eacute possiacutevel ao indiviacuteduo nem se alistar nem tampouco se filiar partido requisitos imprescindiacuteveis agrave configuraccedilatildeo da elegibilidade 6

Sendo assim o pleno exerciacutecio dos direitos poliacuteticos eacute requisito essencial

para o cidadatildeo estar na condiccedilatildeo de elegibilidade Aquele que perder ou tiver seus 5 Disponiacutevel em lthttpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermosdireitos_politicoshtmgt Acesso em 22 jul 2011 6 PINTO Djalma Direito eleitoral ndash improbidade administrativa e Responsabilidade Fiscal 3 Ed Satildeo Paulo Atlas 2006

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direitos poliacuteticos suspensos ou cancelados ficaraacute impedido de exercer a capacidade

eleitoral passiva

A Constituiccedilatildeo Federal prevecirc no artigo 15 causas de perda ou suspensatildeo dos

direitos poliacuteticos que podem ocorrer devido ao cancelamento da naturalizaccedilatildeo por

sentenccedila judicial transitada em julgado condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado

enquanto durarem seus efeitos recusa de cumprir obrigaccedilatildeo a todos imposta ou

prestaccedilatildeo alternativa nos termos do art 5ordm VIII improbidade administrativa nos

termos do art 37 sect 4ordm

25 ALISTAMENTO ELEITORAL

O alistamento eleitoral eacute a terceira condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo

14 sect 3ordm inciso III da Constituiccedilatildeo Federal o Tribunal Superior Eleitoral assim o

conceitua Eacute a primeira fase do processo eleitoral Eacute um procedimento administrativo cartoraacuterio e compreende dois atos inconfundiacuteveis a qualificaccedilatildeo e a inscriccedilatildeo do eleitor A qualificaccedilatildeo eacute a prova de que o cidadatildeo satisfaz as exigecircncias legais para exercer o direito de voto enquanto que a inscriccedilatildeo faz com que o mesmo passe a integrar o Cadastro Nacional de Eleitores da Justiccedila Eleitoral O ato de alistamento eacute feito por meio de processamento eletrocircnico e se perfaz pelo preenchimento do requerimento de alistamento eleitoral (RAE) na forma da resoluccedilatildeo do TSE e da legislaccedilatildeo eleitoral Eacute a forma pela qual o cidadatildeo adquire seus direitos poliacuteticos tornando-se titular de direito poliacutetico ativo (capacidade para votar) e possibilitando sua elegibilidade e filiaccedilatildeo partidaacuteria apoacutes a expediccedilatildeo do respectivo tiacutetulo eleitoral 7

Portanto para o cidadatildeo ser eleitor eacute preciso que ele se aliste e para ele ser

elegiacutevel eacute preciso que ele jaacute seja eleitor

26 O DOMICIacuteLIO ELEITORAL NA CIRCUNSCRICcedilAtildeO

O domiciacutelio eleitoral eacute a quarta condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14

sect 3ordm inciso IV da Constituiccedilatildeo Federal

Domiciacutelio eleitoral eacute o lugar da residecircncia ou moradia do requerente agrave

inscriccedilatildeo eleitoral assim dispotildee o artigo 42 paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo Eleitoral

que Para efeito de inscriccedilatildeo eacute domiciacutelio eleitoral o lugar de residecircncia ou moradia

do requerente e verificado ter o alistando mais de uma considerar-se-aacute domiciacutelio

qualquer delas

7Disponiacutevel em lthttpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermosalistamento_eleitoralhtmgt Acesso em 22 jul 2011

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Djalma Pinto acerca do domiciacutelio eleitoral assevera ldquoO domicilio eleitoral por

sua vez eacute o lugar da residecircncia ou moradia onde o cidadatildeo formaliza seu

alistamentordquo 8

A legislaccedilatildeo requer que o candidato a um cargo eletivo natildeo incorra em

incompatibilidades ou inelegibilidades e possua domicilio eleitoral na circunscriccedilatildeo a

qual deseja concorrer Sobre a circunscriccedilatildeo eleitoral o Tribunal Superior Eleitoral

assim o define Espaccedilo geograacutefico onde se trava determinada eleiccedilatildeo Assim o paiacutes na eleiccedilatildeo do presidente e vice-presidente da Repuacuteblica o estado nas eleiccedilotildees para governador e vice-governador deputados federais e estaduais e senadores o municiacutepio nas eleiccedilotildees de prefeito e vereadores e o distrito onde e quando se realiza a eleiccedilatildeo pelo sistema distrital 9

Para concorrer as eleiccedilotildees o candidato deveraacute possuir domiciacutelio eleitoral na

respectiva circunscriccedilatildeo pelo prazo de pelo menos um ano antes do pleito e estar

com a filiaccedilatildeo deferida pelo partido no mesmo prazo eacute o que dispotildee o artigo 9deg da

Lei 950497

27 FILIACcedilAtildeO PARTIDAacuteRIA

A filiaccedilatildeo partidaacuteria eacute a quinta condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14

sect 3ordm inciso V da Constituiccedilatildeo Federal

Eacute o ato formal e solene o pelo qual um eleitor aceita e adota o programa de

um partido poliacutetico viacutenculo que se estabelece entre o poliacutetico e o partido Eacute condiccedilatildeo

de elegibilidade conforme disposto no artigo 14 sect3ordm inciso V da Constituiccedilatildeo

Federal Nos termos do artigo 16 da Lei dos Partidos Poliacuteticos Lei nordm 909695 soacute

pode filiar-se a partido o eleitor que estiver no pleno gozo de seus direitos poliacuteticos

Todavia a exceccedilotildees sobre a filiaccedilatildeo partidaacuteria como no caso de candidatura

de magistrados membros dos Tribunais de Contas Ministeacuterio Puacuteblico e militares

como exemplo vejamos a exceccedilatildeo dos militares estes querendo concorrer a cargo

puacuteblico eletivo possuindo menos de dez anos de serviccedilo deveraacute solicitar

afastamento definitivo da atividade atraveacutes de demissatildeo ou licenciamento ex-officio

caso venha a possuir mais de dez anos de serviccedilo deveraacute ser agregado pela

8 PINTO Djalma Direito eleitoral ndash improbidade administrativa e Responsabilidade Fiscal 3 Ed Satildeo Paulo Atlas 2006 9 Disponiacutevel em httpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermoscircunscricao_eleitoralhtmgt Acesso em 22 jul 2011

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autoridade superior e se eleito passaraacute automaticamente no ato da diplomaccedilatildeo

para a inatividade

28 IDADE MIacuteNIMA

Idade miacutenima eacute a uacuteltima condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14 sect 3ordm

inciso VI da Constituiccedilatildeo Federal

Para o cargo de Presidente e Vice-Presidente da Repuacuteblica e para Senadores

e suplentes a idade miacutenima de 35 anos para o cargo de Governado e Vice-

Governador de Estado ou do Distrito Federal idade miacutenima de 30 anos para os

cargos de Deputado Federal Estadual Distrital Prefeito e Vice-Prefeito e Juiz de

paz a idade miacutenima de 21 anos e por fim para o cargo de vereador a idade

miacutenima de 18 anos

Dispotildee a Lei 95041997 artigo 11 sect 2ordm que a verificaccedilatildeo da idade seraacute feita

na data da posse no respectivo cargo pressupotildee que um menor de 17 anos de

idade possa se candidatar ao cargo de vereador bastando que na data da posse

conte com 18 anos completos

Alguns doutrinadores entretanto discordam dessa interpretaccedilatildeo entendendo

que natildeo poderia o legislador infra-constitucional dizer a mais do que a proacutepria

Constituiccedilatildeo estabeleceu assim leciona o Gilmar Mendes em sua obra Curso de

Direito Constitucional Natildeo haacute que se falar em momento da posse como aceitaacutevel para se perfazer a condiccedilatildeo de elegibilidade no tocante a idade miacutenima pois a Constituiccedilatildeo jaacute determinou que o momento da afericcedilatildeo para elegibilidade deve ser o do registro da candidatura 10

Tem prevalecido a verificaccedilatildeo da idade miacutenima na data da posse

10 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 Ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 p803

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3 DA INELEGIBILIDADE 31 CONCEITO DE INELEGIBILIDADE

Joseacute Afonso da Silva em sua ilustre obra Curso de Direito Constitucional

Positivo doutrinariamente leciona que ldquoa inelegibilidade obsta a elegibilidade

revelando um impedimento ao direito de ser votado que eacute a capacidade eleitoral

passivardquo 11

A inelegibilidade resulta no impedimento parcial ou seja temporaacuterio da

capacidade eleitoral passiva restringindo o cidadatildeo de ser votado nas hipoacuteteses

previstas na Lei Complementar nordm 641990 Lei Complementar nordm 1352010 e na

Constituiccedilatildeo Federal

Sua finalidade tem por objetivo a probidade administrativa a normalidade

para o exerciacutecio do mandato considerada a vida pregressa do candidato e a

normalidade e a legitimidade das eleiccedilotildees contra a influecircncia do poder econocircmico ou

o abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo cargo ou emprego na administraccedilatildeo direta ou

indireta

A inelegibilidade pode ser absoluta proibindo a candidatura agraves eleiccedilotildees em

geral ou relativa impossibilitando a postulaccedilatildeo a determinado mandato eletivo

Sendo assim o cidadatildeo que almeja se candidatar a cargo eletivo deve

atender as condiccedilotildees de elegibilidade e natildeo incorrer em nenhuma causa de

inelegibilidade

32 ESPEacuteCIES DE INELEGIBILIDADE

As espeacutecies de inelegibilidade podem ser constitucionais e

infraconstitucionais as constitucionais dividem-se em absoluta e relativa

A inelegibilidade constitucional absoluta consiste no impedimento eleitoral

que restringe o cidadatildeo de concorrer a qualquer cargo eletivo refere-se a

determinada caracteriacutestica do indiviacuteduo ou seja eacute de caraacuteter pessoal sendo

11 SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 Ed Satildeo Paulo Malheiros 012004 p 387

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taxativamente prevista pela Constituiccedilatildeo Federal e a inelegibilidade constitucional

relativa compreende o impedimento eleitoral que restringe o cidadatildeo de concorrer a

determinados cargos em determinada eleiccedilatildeo refere-se a situaccedilotildees especiais e

momentacircneas tais como motivos funcionais de casamento de parentescos

A inelegibilidade infraconstitucional eacute disciplinada na Lei Complementar ndeg

641990 alterada pela Lei Complementar ndeg 1352010

Eacute relevante a distinccedilatildeo entre as inelegibilidades constitucionais e

infraconstitucionais como bem ressaltado por Joseacute Jairo Gomes A distinccedilatildeo que se faz entre inelegibilidades constitucionais e legais natildeo eacute cerebrina apresentando inegaacutevel relevacircncia praacutetica Basta dizer que natildeo haacute preclusatildeo quanto agraves primeiras as quais podem ser arguumlidas na fase do registro de candidatura ou posteriormente antes ou depois das eleiccedilotildees A arguumliccedilatildeo posterior pode ser feita no RCED (CE art 262 I) Jaacute as inelegibilidades legais sujeitam-se agrave preclusatildeo se natildeo forem levantadas na fase de registro de candidatura Ultrapassado esse momento natildeo mais poderatildeo ser discutidas salvo se supervenientes 12

33 INELEGIBILIDADE CONSTITUCIONAL

A inelegibilidade constitucional dividi-se em absoluta e relativa

A inelegibilidade constitucional absoluta estabelecida no sect 4deg do artigo 14 da

Constituiccedilatildeo Federal prevecirc que satildeo inelegiacuteveis os inalistaacuteveis e os analfabetos

A inelegibilidade decorrente da inalistabilidade abrange todos que natildeo se

encontram na situaccedilatildeo de alistabilidade tambeacutem aqueles que se encontram em

estado definitivo ou temporariamente privados de seus direitos poliacuteticos por fim

atinge aqueles que natildeo sabem exprimir-se na liacutengua nacional e os estrangeiros

A inelegibilidade decorrente do analfabetismo natildeo permite que o analfabeto

seja elegiacutevel mas permite que ele seja alistaacutevel exercendo assim a sua capacidade

de votar mas nunca a de ser votado

Estas hipoacuteteses restringem ao cidadatildeo se candidatarem a qualquer cargo

eletivo em qualquer eleiccedilatildeo enquanto perdurar esta situaccedilatildeo restritiva

As hipoacuteteses de inelegibilidades constitucionais relativas referem-se a

situaccedilotildees especiais separando-as por motivos funcionais motivos parentais motivos

militares e encontram-se dispostas no artigo 14 sectsect 5deg ao 9deg da Constituiccedilatildeo Federal

12 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131

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A inelegibilidade por motivo funcional eacute decorrente de o cidadatildeo estar em

exerciacutecio de alguma funccedilatildeo puacuteblica Satildeo previstas duas situaccedilotildees

A primeira declara ser inelegiacutevel para o mesmo cargo em terceiro periacuteodo

subsequumlente o Presidente da Repuacuteblica os Governadores de Estado e do DF os

Prefeitos e quem os houver sucedido ou substituiacutedo nos seis meses antes das

eleiccedilotildees Eacute o que dispotildee o sect 5deg do artigo 14 na redaccedilatildeo da Emenda Constitucional

161997

Portanto soacute eacute permitida uma reconduccedilatildeo ou seja eacute permitida a reeleiccedilatildeo de

Chefes do Executivo ou seus substitutos para apenas um periacuteodo subsequumlente

A segunda situaccedilatildeo considera que satildeo inelegiacuteveis para concorrer a outros

cargos o Presidente da Repuacuteblica os Governadores de Estado e do DF e os

Prefeitos salvo se tiverem se desincompatibilizado com a renuacutencia do cargo ateacute

seis meses antes do pleito Eacute o que prevecirc o sect 6deg do artigo 14 da Constituiccedilatildeo

Federal

Os servidores puacuteblicos que ocuparem algum cargo de livre nomeaccedilatildeo

demissiacuteveis ad nutum seratildeo exonerados para que possam concorrer a cargo

eletivo ou seja natildeo poderatildeo manter qualquer viacutenculo com a entidade na qual

desempenhava suas funccedilotildees

Os servidores puacuteblicos concursados ao contraacuterio dos servidores ocupantes

de cargos de livre nomeaccedilatildeo natildeo seratildeo exonerados ou demitidos apenas se

afastaratildeo de suas funccedilotildees para se candidatar a cargo puacuteblico

A inelegibilidade por motivo de parentesco tambeacutem denominada de

inelegibilidade reflexa estaacute relacionada a condiccedilotildees inerentes ao parentesco

sanguumliacuteneo soacutecio-afetivo ou condiccedilatildeo matrimonial

Assim conforme previsto no sect 7ordm do artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal estas

mesmas pessoas impedidas para determinados cargos podem concorrer para outros

cargos que se processem em territoacuterio de outra circunscriccedilatildeo

A inelegibilidade reflexa aproxima-se da inelegibilidade absoluta a diferenccedila

ocorre que na reflexa pode cessar por vontade das pessoas envolvidas um exemplo

claro eacute a renuacutencia seis meses antes do pleito do Presidente da Repuacuteblica

Assim temos que a inelegibilidade por motivo de parentesco ou reflexa visa a

impedir a formaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do poder poliacutetico em matildeos de uma determinada

famiacutelia

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A inelegibilidade por motivos militares visa que o militar enquanto em serviccedilo

ativo natildeo pode estar filiado a partidos poliacuteticos entretanto a Constituiccedilatildeo Federal

em seu artigo 14 relata que atendidas certas condiccedilotildees o militar alistaacutevel se torna

elegiacutevel sendo estas as condiccedilotildees se contar com menos de dez anos de serviccedilo

deveraacute afastar-se da atividade e se contar com mais de dez ano de serviccedilo seraacute

agregado pela autoridade superior e se eleito passaraacute automaticamente no ato da

diplomaccedilatildeo para a inatividade

34 INELEGIBILIDADE INFRACONSTITUCIONAL

Por se tratar de inuacutemeras hipoacuteteses de inelegibilidades infraconstitucionais

natildeo seraacute possiacutevel tratar todos os casos previstos em lei para tanto adentraremos a

anaacutelise de algumas hipoacuteteses dispostas na Lei Complementar nordm 641990

As inelegibilidades infraconstitucionais satildeo instituiacutedas por Lei Complementar

que estabeleceraacute outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim

de proteger a probidade administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato

considerado vida pregressa do candidato e a normalidade e legitimidade das

eleiccedilotildees contra a influecircncia do poder econocircmico ou o abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo

cargo ou emprego na administraccedilatildeo direta ou indireta

As causas de inelegibilidade infraconstitucionais estatildeo previstas no artigo 1ordm

da Lei Complementar nordm 641990 alterado dentre outras atraveacutes da recente Lei

Complementar ndeg 1352010 conhecida como a Lei da Ficha Limpa

Dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquobrdquo da Lei Complementar nordm 641990 que os

membros do Congresso Nacional das Assembleacuteias Legislativas da Cacircmara

Legislativa e das Cacircmaras Municipais que hajam perdido os respectivos mandatos

por infringecircncia do disposto nos incisos I e II do art 55 da Constituiccedilatildeo Federal dos

dispositivos equivalentes sobre perda de mandato das Constituiccedilotildees Estaduais e

Leis Orgacircnicas dos Municiacutepios e do Distrito Federal para as eleiccedilotildees que se

realizarem durante o periacuteodo remanescente do mandato para o qual foram eleitos e

nos oito anos subsequumlentes ao teacutermino da legislatura

Sendo assim satildeo inelegiacuteveis os parlamentares cujo procedimento for

declarado incompatiacutevel com o decoro parlamentar e desde a expediccedilatildeo do diploma

firmar ou manter contrato com pessoa juriacutedica de direito puacuteblico autarquia empresa

puacuteblica sociedade de economia mista ou empresa concessionaacuteria de serviccedilo

puacuteblico salvo quando o contrato obedecer a claacuteusulas uniformes aceitar ou exercer

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cargo funccedilatildeo ou emprego remunerado inclusive os de que sejam demissiacuteveis ad

nutum nas entidades constantes da aliacutenea anterior e desde a posse ser

proprietaacuterios controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente

de contrato com pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou nela exercer funccedilatildeo

remunerada ocupar cargo ou funccedilatildeo de que sejam demissiacuteveis ad nutum nas

entidades referidas no inciso I a patrocinar causa em que seja interessada

qualquer das entidades a que se refere o inciso I a ser titulares de mais de um

cargo ou mandato puacuteblico eletivo

Portando o parlamentar que infringir o disposto no artigo 54 teraacute seu mandato

cassado Jaacute no inciso II do artigo 55 o Deputado ou Senador perderaacute o mandato

quando o procedimento for declarado incompatiacutevel com o decoro parlamentar A

Constituiccedilatildeo Federal prevecirc como falta de decoro o disciplinado no artigo 55 sect 1ordm

Por fim eacute incompatiacutevel com o decoro parlamentar os casos definidos no regimento

interno

Assim dispotildee o artigo 1ordm Inciso I aliacutenea ldquocrdquo da Lei Complementar nordm 641990

Governador e o Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal e o Prefeito e o

Vice-Prefeito que perderem seus cargos eletivos por infringecircncia a dispositivo da

Constituiccedilatildeo Estadual da Lei Orgacircnica do Distrito Federal ou da Lei Orgacircnica do

Municiacutepio para as eleiccedilotildees que se realizarem durante o periacuteodo remanescente e

nos 8 (oito) anos subsequentes ao teacutermino do mandato para o qual tenham sido

eleitos

Tal dispositivo busca evitar que os chefes do poder executivos retornem a

vida puacuteblica no mandato seguinte e nas eleiccedilotildees para as demais esferas Este

dispositivo preserva a moralidade puacuteblica O prazo de 8 anos de inabilitaccedilatildeo seraacute

contado a partir da data que tiver sido proferida a decisatildeo por crime de

responsabilidade

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquodrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tenham contra sua pessoa representaccedilatildeo julgada procedente pela Justiccedila

Eleitoral em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo colegiado em

processo de apuraccedilatildeo de abuso do poder econocircmico ou poliacutetico para a eleiccedilatildeo na

qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como para as que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes

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Primeiramente eacute necessaacuterio conceituar o que eacute abuso de poder econocircmico de

abuso de poder poliacutetico

Abuso de poder econocircmico consiste na utilizaccedilatildeo de bens ou serviccedilos de

empresas particulares ou recursos proacuteprios do candidato gerando assim uma

desproporccedilatildeo entre os candidatos exemplo Se um candidato eacute proprietaacuterio de uma

grande empresa e faz uso dela para custear sua campanha sem realizar doaccedilatildeo de

campanha prevista na Lei 950497

Abuso do poder poliacutetico consiste no emprego de serviccedilos ou bens

pertencentes a administraccedilatildeo puacuteblica com o objetivo de propiciar a eleiccedilatildeo de

determinado candidato

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquofrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que forem declarados indignos do oficialato ou com ele incompatiacuteveis pelo prazo

de 8 (oito) anos

Oficialato eacute o cargo ou dignidade de oficial seja das forccedilas armadas poliacutecia

militar ou corpo de bombeiros A competecircncia para apreciar e declarar a indignidade

do oficialato seraacute do Superior Tribunal Militar

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquogrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tiverem suas contas relativas ao exerciacutecio de cargos ou funccedilotildees puacuteblicas

rejeitadas por irregularidade insanaacutevel que configure ato doloso de improbidade

administrativa e por decisatildeo irrecorriacutevel do oacutergatildeo competente salvo se esta houver

sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciaacuterio para as eleiccedilotildees que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes contados a partir da data da decisatildeo aplicando-se o

disposto no inciso II do art 71 da Constituiccedilatildeo Federal a todos os ordenadores de

despesa sem exclusatildeo de mandataacuterios que houverem agido nessa condiccedilatildeo

Esta decisatildeo eacute administrativa e traraacute a consequumlecircncia de inelegibilidade para

isso a irregularidade tem de ser insanaacutevel

A competecircncia para julgar estas irregularidades compete ao Poder

Legislativo seja no acircmbito federal estadual ou municipal

A analise desta insanabilidade poderaacute caber a Justiccedila Eleitoral como por

exemplo no pedido de registro de candidatura por algueacutem que teve suas contas

rejeitadas

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquohrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os detentores de cargo na administraccedilatildeo puacuteblica direta indireta ou fundacional que

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beneficiarem a si ou a terceiros pelo abuso do poder econocircmico ou poliacutetico que

forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial

colegiado para a eleiccedilatildeo na qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como

para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes

Aqui natildeo se trata de cargo eletivo mas sim de cargos por concurso puacuteblico ou

por provimento em comissatildeo

A finalidade eacute por fim a reeleiccedilatildeo para aqueles que estatildeo em cargos de chefia

do poder executivo que tenham cometido abuso do poder econocircmico ou poliacutetico

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquoirdquo da Lei Complementar nordm 641990)

os que em estabelecimentos de creacutedito financiamento ou seguro que tenham sido

ou estejam sendo objeto de processo de liquidaccedilatildeo judicial ou extrajudicial hajam

exercido nos 12 (doze) meses anteriores agrave respectiva decretaccedilatildeo cargo ou funccedilatildeo

de direccedilatildeo administraccedilatildeo ou representaccedilatildeo enquanto natildeo forem exonerados de

qualquer responsabilidade

O que a lei busca nesta situaccedilatildeo eacute deixar aquele que administrou os referidos

estabelecimentos fora de qualquer participaccedilatildeo poliacutetica enquanto natildeo forem

apurados todos os fatos que levaram a insolvecircncia

Portanto o maior objetivo desta causa de inelegibilidade eacute assegurar que o

ex-administrado de estabelecimento de creacutedito financiamento ou seguro natildeo venha

a eleger-se a cargo eletivo sem antes ter sido apurada sua participaccedilatildeo para

insolvecircncia

Outras causas de inelegibilidades incluiacutedas pela Lei Complementar nordm

1352010 estatildeo previstas nos incisos j a q da referida Lei

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4 DA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE 41 ORIGEM DA LEI COMPLEMENTAR Nordm 1352010

Com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o Brasil passa a ser um

Estado Democraacutetico de Direito inaugurando uma democracia participativa

Esta democracia participativa permite ao cidadatildeo desde que preenchidos

determinados requisitos dar iniacutecio a um projeto de Lei atraveacutes da chamada Iniciativa

Popular A origem da Lei Complementar nordm 1352010 decorreu do Projeto de Lei nordm

5182009 sob a coordenaccedilatildeo do Movimento de Combate a Corrupccedilatildeo Eleitoral ndash

MCCE que teve iniacutecio em abril de 2008 com o objetivo de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos a finalidade eacute que os criteacuterios de inelegibilidades sejam

mais rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos

Esta Lei Complementar dita que pessoas condenadas por um colegiado

independente do tracircnsito em julgado satildeo inelegiacuteveis portanto podem ter seus

registros de candidaturas negados alem de incluir parlamentares que renunciaram

ao cargo para assim evitar uma possiacutevel abertura de processo por quebra de decoro

ou por desrespeito agrave Constituiccedilatildeo com a finalidade uacutenica de evitar possiacuteveis

puniccedilotildees

A Lei Complementar 1352010 traacutes inuacutemeros confrontos com a Constituiccedilatildeo

Federal sendo dois os mais relevantes primeiro a natildeo observacircncia do princiacutepio da

anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal e segundo

o desrespeito ao princiacutepio da natildeo-culpabilidade tambeacutem estabelecido na

Constituiccedilatildeo federal no artigo 5ordm inciso LVII

Sobre o primeiro ponto que trata da aplicabilidade da Lei Complementar nordm

1352010 para as eleiccedilotildees de 2010 restou soberana a decisatildeo do Supremo

Tribunal Federal ao resolver o conflito afirmando que o artigo 16 da Constituiccedilatildeo

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Federal ao submeter a alteraccedilatildeo legal do processo eleitoral agrave regra da anualidade

constitui uma garantia fundamental para o pleno exerciacutecio de direitos poliacuteticos

Esta pacificaccedilatildeo se deu no julgamento da Accedilatildeo Declaratoacuteria de

Inconstitucionalidade nordm 3685 13 onde atuou como Relatora a Ministra Ellen Gracie

que identificou como uma garantia fundamental do cidadatildeo-eleitor do cidadatildeo-

candidato e dos partidos poliacuteticos o artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal

A Ministra Ellen Gracie utilizou-se de uma analogia com o julgamento da

Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade 939 que teve como relator Ministro Sydnei

Sanches com a garantia da anterioridade tributaacuteria fixada no artigo 150 III b no

sentido de que se o princiacutepio da anterioridade tributaacuteria constitui uma garantia do

cidadatildeo-contribuinte o princiacutepio da anterioridade eleitoral tambeacutem eacute uma garantia do

cidadatildeo do eleitor do candidato e dos partidos poliacuteticos

Desta forma restou consolidado a garantia prevista no artigo 16 da

Constituiccedilatildeo Federal como forma de um devido processo legal eleitoral

O devido processo visa que se atinja uma decisatildeo conforme a Justiccedila

prestigiando a eacutetica da legalidade ressaltando-se que ele possui um duplo

significado de processo necessaacuterio e processo adequado para tanto COMOGLIO

afirma Que as garantias decorrentes do devido processo legal querem dizer natildeo apenas direito a um processo mas a um justo processo compreendendo a correccedilatildeo e efetividade dos instrumentos disponiacuteveis em juiacutezo e a efetividade e adequaccedilatildeo da proacutepria tutela finalrdquo 14

A Constituiccedilatildeo brasileira de 1988 traz a garantia exarada no seu artigo 5ordm

Art 5ordm - () LIV ndash ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal LV ndash aos litigantes em processo judicial e administrativo e aos acusados em geral seratildeo assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa com os meios de recurso a ela inerentes

Sobre o segundo ponto controverso mateacuteria deste trabalho tem o conflito tem

o conflito entre a Lei Complementar nordm 13510 contra uma garantia constitucional

denominado princiacutepio da natildeo-culpabilidade que eacute inseparaacutevel do conceito de

13 Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011 14 Luigi Paolo COMOGLIO Giuridizione e processo nel quadro delle garanzie constituzionali Rivista Trimestrale di Diritto e Procedura Civile 4 p 1070

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democracia A Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5ordm inciso LVII estabelece uma das

maiores garantias dos indiviacuteduos contra o autoritarismo do Estado afirmando que

ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

condenatoacuteriardquo fixando explicitamente o princiacutepio da natildeo-culpabilidade entre os

direitos fundamentais

42 AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EM JULGADO

A Lei Complementar nordm 1352010 em sua aliacutenea ldquoerdquo do inciso I do artigo 2ordm

possui a seguinte redaccedilatildeo e) os que forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial colegiado desde a condenaccedilatildeo ateacute o transcurso do prazo de 8 (oito) anos apoacutes o cumprimento da pena pelos crimes (Redaccedilatildeo dada pela Lei Complementar nordm 135 de 2010)

Esta aliacutenea visa impedir a candidatura de poliacuteticos condenados a partir da

segunda instacircncia e mesmo que natildeo tenha transitado em julgado Ela defende que

haja uma condenaccedilatildeo criminal no entanto deixa de exigir a configuraccedilatildeo do tracircnsito

em julgado do ato decisoacuterio para que ocorra a inelegibilidade A antiga lei previa que

o candidato soacute seria inelegiacutevel se tivesse condenaccedilatildeo definitiva

As alteraccedilotildees da Lei Complementar nordm 1352010 objetiva atender a um senso

comum do eleitorado afirmando que uma pessoa condenada natildeo deve poder ser

votada isto eacute natildeo deve ter mandato Em seus dizeres trata que a inelegibilidade

natildeo pressupotildee culpa formada natildeo deve haver discussatildeo sobre presunccedilatildeo da

inocecircncia Pode haver inelegibilidade por parentesco por ocupar cargo puacuteblico falta

de domiciacutelio eleitoral ou filiaccedilatildeo partidaacuteria causas que natildeo tecircm nada a ver com

condenaccedilatildeo criminal

A contradiccedilatildeo do argumento da Lei Complementar eacute se a Constituiccedilatildeo em

face do princiacutepio da natildeo-culpabilidade admite a cominaccedilatildeo de inelegibilidade para

quem ainda tem recursos pendentes de julgamento

Caso esta hipoacutetese seja admitida temos que um indiviacuteduo que tenha sido

condenado criminalmente em segunda instacircncia e interponha recurso especial ou

extraordinaacuterio para anular o processo caso natildeo consiga uma medida liminar

suspendendo os efeitos ficaria impedido de concorrer na eleiccedilatildeo

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Imagine-se que ao final da accedilatildeo o cidadatildeo que ficou impedido de concorrer

nas eleiccedilotildees obtivesse vitoacuteria em seu recurso obtendo assim a nulidade da accedilatildeo

bem como da decisatildeo que o condenou com ficaria a situaccedilatildeo deste cidadatildeo

O que se quer com a Lei Complementar nordm 1352010 eacute instituir um moralismo

eleitoral que se sobrepotildee a Constituiccedilatildeo Federal e seu principio constitucional da

natildeo-culpabilidade que eacute a garantia individual contra o Estado

Outro argumento utilizado pelos defensores da constitucionalidade da Lei

Complementar nordm 1352010 satildeo as prisotildees cautelares e que no final o sujeito

acaba sebdo absolvido Ora cabe lembrar-lhes que a prisatildeo cautelar natildeo eacute

antecipaccedilatildeo de pena cumpre ela uma funccedilatildeo processual clara e limitada agrave garantia

da ordem puacuteblica da ordem econocircmica por conveniecircncia da instruccedilatildeo criminal ou

para assegurar a aplicaccedilatildeo da lei penal quando houver prova da existecircncia do crime

e indiacutecio suficiente de autoria

Portanto temos que o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees enquanto natildeo

sobrevier decisatildeo judicial transitada em julgado

O proacuteprio Supremo na Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental

144 jaacute decidiu natildeo barrar candidaturas sem condenaccedilatildeo transitada em julgado

A Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental 144 15 foi votada

em agosto de 2008 antes das eleiccedilotildees municipais Na ocasiatildeo o Supremo Tribunal

Federal decidiu que natildeo poderiam ser barradas candidaturas de poliacuteticos

condenados na primeira instacircncia por conta da presunccedilatildeo de inocecircncia

Em 6 de agosto de 2008 haacute menos de trecircs anos o Supremo Tribunal Federal

julgou improcedente a Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental nordm

144 ajuizada pela Associaccedilatildeo dos Magistrados Brasileiros em voto do ministro

Celso de Mello vencidos os ministros Carlos Ayres e Joaquim Barbosa exatamente

porque O postulado consagrador da garantia de inocecircncia irradia os seus efeitos para aleacutem dos limites dos processos penais de natureza condenatoacuteria impedindo desse modo que situaccedilotildees processuais anda natildeo definidas por sentenccedilas transitadas em julgado provoquem em decorrecircncia das exigecircncias de probidade administrativa e demoralidade a que se refere o sect 9ordm do artigo 14 da Coinstituiccedilatildeo Federal a inelegibilidade dos cidadatildeos ou obstem candidaturas para mandatos eletivos

15Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011

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Portanto ficou definido que Lei Complementar sendo editada para casos de

inelegibilidades esta deveraacute respeitar o princiacutepio da natildeo-culpabilidade Ocorre que

foi editada a Lei Complementar nordm 1352010 que atendeu aos reclamos populares

mas preferiu a um soacute tempo violar a Constituiccedilatildeo Federal e desrespeitar a recente

decisatildeo do Supremo Tribunal Federal mesmo que na eacutepoacuteca desta decisatildeo natildeo

havia lei formal para tal situaccedilatildeo

43 PRINCIacutePIO CONSTITUCIONAL DA NAtildeO-CULPABILIDADE

O princiacutepio da natildeo-culpabilidade eacute direito fundamental previsto na

Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5deg inciso LVII ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute

o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

Isto eacute enquanto natildeo sobrevier uma decisatildeo judicial condenatoacuteria transitada

em julgado o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees em seu patrimocircnio ou em sua

liberdade Caso sobrevenha duacutevida quanto a culpabilidade esta resolveraacute sempre

em favor do reacuteu ou seja aplicando-se o princiacutepio in duacutebio pro reo

Assim disciplina Nelson Nery Juacutenior sobre o princiacutepio da natildeo-culpabilidade ldquoO inteacuterprete deve buscar a aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre tendo como pressuposto o exame da Constituiccedilatildeo Federal Depois sim deve consultar a legislaccedilatildeo infraconstitucional a respeito do temardquo 16

Sendo assim a Constituiccedilatildeo Federal no capiacutetulo sobre os Direitos e Deveres

Individuais e Coletivos em seu artigo 5ordm inciso LVII afirma que ldquoningueacutem seraacute

considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute considerar o

indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila A doutrina e a

jurisprudecircncia aclamam este princiacutepio como vaacuterios nomes como princiacutepio da

presunccedilatildeo de inocecircncia princiacutepio da natildeo-culpabilidade ou simplesmente princiacutepio da

inocecircncia

Joseacute Afonso da Silva em seu livro Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo

disciplina assim esta garantia A norma constitucional do inciso LVII agora sob nosso exame garante a presunccedilatildeo de inocecircncia por meio de um enunciado negativo universal lsquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria Usa-se de uma forma

16 NERY JUacuteNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20

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negativa para outorgar uma garantia positiva Na verdade o texto brasileiro natildeo significa outra coisa senatildeo que fica assegurada a todos a presunccedilatildeo de inocecircncia ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria O tracircnsito em julgado se daacute quando a decisatildeo natildeo comporta mais recurso ordinaacuterio especial ou extraordinaacuterio 17

Nesse sentido o indiviacuteduo acusado natildeo pode ser presumidamente culpado

mas sim inocente Tal princiacutepio visa a tutelar a liberdade pessoal de modo que o

Estado nos mais diferentes segmentos deve abster-se de considerar culpado

aquele que ainda natildeo foi submetido agrave definitividade da atuaccedilatildeo jurisdicional Em se tratando de suspensatildeo dos direitos poliacuteticos a Constituiccedilatildeo Federal

garante que a suspensatildeo somente se daraacute por ldquocondenaccedilatildeo criminal transitada em

julgado enquanto durarem seus efeitosrdquo

Julgamento neste sentido REPRESENTACcedilAtildeO SUSPENSAtildeO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS EM VIRTUDE DE SENTENCcedilA PENAL CONDENATOacuteRIA TRANSITADA EM JULGADO AUTO-APLICABILIDADE DOS ARTIGOS 14 sect 3ordm II E 15 III DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL PROCEDEcircNCIA A suspensatildeo dos direitos poliacuteticos do condenado independe de lei regulamentadora bem como de processo especial de cogniccedilatildeo e de anaacutelise de meacuterito para a execuccedilatildeo da medida no juiacutezo eleitoral posto natildeo se tratar de sanccedilatildeo penal mas de efeito natildeo-penal de condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado e decorrente de mandamento constitucional Comprovado o tracircnsito em julgado da sentenccedila penal condenatoacuteria decreta-se automaticamente a suspensatildeo dos direitos poliacuteticos ativo e passivo do representado ou seja o direito de votar e ser votado com a consequumlente exclusatildeo de seu nome da folha de votaccedilatildeo e declaraccedilatildeo de sua inelegibilidade 18

Logo infere-se que a condenaccedilatildeo criminal sem o tracircnsito em julgado natildeo

desqualifica o condenado a votar e a eventualmente concorrer a qualquer cargo

eletivo

O Colendo Tribunal Superior Eleitoral enfrentou esta questatildeo ao apreciar

pedido de registro de candidatura valendo registrar os seguintes julgados RECURSO ESPECIAL RECEBIDO COMO ORDINAacuteRIO REGISTRO DE CANDIDATURA DEFERIMENTO INELEGIBILIDADE NAtildeO-OCORREcircNCIA Condenaccedilatildeo criminal sem tracircnsito em julgado natildeo eacute apta a ensejar inelegibilidade (precedente do TSE acoacuterdatildeo 536 rel Min Fernando Neves publicado em sessatildeo de 882002) Recurso natildeo provido 19

17 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006 p 155 18 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbrgt TRESCndashAcoacuterdatildeo nordm 13324 de 071094 rel Juiz Nilson B Filho Acesso em 16 set 2011 19 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbr gt TSE- REspEl nordm 20247 de 19902 rel Min Sepuacutelveda Pertence Acesso em 16 set 2011

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INELEGIBILIDADE CONDENACcedilAtildeO CRIMINAL NAtildeO TRANSITADA EM JULGADO CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA ART 14 sect 9deg SUacuteMULA Ndeg 13 DO TSE 1 A existecircncia de sentenccedila criminal condenatoacuteria sem o tracircnsito em julgado natildeo eacute suficiente para ocasionar inelegibilidade 2 O art 14 sect 9deg da Constituiccedilatildeo natildeo eacute auto-aplicaacutevel 3 Necessidade de lei complementar estabelecendo os casos em que a vida pregressa do candidato poderaacute levar agrave sua inelegibilidade bem como os prazos de sua cessaccedilatildeo 4 Recurso provido para julgar improcedente a impugnaccedilatildeo e deferir o registro da candidatura 20

Insculpido na Constituiccedilatildeo Federal o principio da natildeo-culpabilidade deve ser

respeitado por toda lei infraconstitucional alguns doutrinadores como Aristides

Junqueira e Antocircnio Bandeira de Mello em carta publica no sitio do Movimento de

Combate agrave Corrupccedilatildeo Eleitoral21 entendem que neste presente caso natildeo deve ser

aplicado o princiacutepio da natildeo-culpabilidade a inelegibilidade pois esta natildeo eacute pena

mas medida preventiva

Estes juristas se acham alicerccedilados pelo que expressamente estatui o sect 9deg do

artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal em que Lei complementar estabeleceraacute outros

casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim de proteger a probidade

administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato considerada a vida

pregressa do candidato afirmam que uma vez que a proacutepria Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica expressamente permite que o legislador estipule quais elementos da vida

pregressa dos candidatos podem afastaacute-los dos pleitos

Independente desta posiccedilatildeo minoritaacuteria encontra-se que o princiacutepio da natildeo-

culpabilidade eacute prevista em diversos ordenamentos juriacutedicos e tratados como se

veraacute a seguir

Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo da Franccedila de 1789 o art

9da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) de 1948 dispotildee ldquoTodo acusado eacute

considerado inocente ateacute ser declarado culpado e se julgar indispensaacutevel prendecirc-lo

todo o rigor desnecessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deveraacute ser severamente

reprimido pela leirdquo22

20 Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrgt TSE-REspEl nordm 18047 de 2992000 rel Min Fernando Neves da Silva Acesso em 16 set 2011 21 Disponiacutevel em lthttpwwwmcceorgbrsitesdefaultfilescartajuristaspdfgt Acesso em 3 jul 2011 22 Disponiacutevel em lthttppfdcpgrmpfgovbratuacao-e-conteudos-de-apoiolegislacaodireitoshuma nosdeclar_dir_ homem_cidadaopdfgt Acesso em 13 set 2011

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Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos de 1948 diz ldquoToda pessoa

acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocecircncia enquanto natildeo se

comprove legalmente sua culpardquo23

A origem histoacuterica que foi referida teve uma grande importacircncia para se

chegar a um status constitucional conforme eacute citado por Mirabete Existe apenas uma tendecircncia agrave presunccedilatildeo de inocecircncia ou mais precisamente um estado de inocecircncia um estado juriacutedico no qual o acusado eacute inocente ateacute que seja declarado culpado por uma sentenccedila transitada em julgado Por isso a nossa Constituiccedilatildeo Federal natildeo presume a inocecircncia mas declara que ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria (art 5deg LVII) ou seja que o acusado eacute inocente durante o desenvolvimento do processo e seu estado soacute se modifica por uma sentenccedila final que o declare culpado 24

Por fim o princiacutepio da natildeo-culpabilidade visa a proteccedilatildeo do reacuteu para que

este tenha um julgamento justo devendo ser provada sua verdadeira culpa antes

que seja considerado culpado

23 Disponiacutevel em lthttpwwwagugovbrsistemassiteTemplateImagemTextoThumbaspxidConteu do=113927ampordenacao=1ampid_site=4922gt Acesso em 12 set 2011 24 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252

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5 CONCLUSAtildeO Apoacutes as anaacutelises da doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncias pertinentes a este

trabalho verifica-se que a Lei Complementar nordm 1352010 ao instituir nova hipoacutetese

de inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado esta em pleno conflito com o princiacutepio da natildeo-culpabilidade insculpido no

artigo 5ordm inciso LVII da Constituiccedilatildeo Federal o que torna esta nova hipoacutetese

absolutamente inconstitucional

O objetivo da Lei Complementar nordm 1352010 eacute o de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos para que os criteacuterios de inelegibilidades sejam mais

rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos Inicialmente eacute compreensiacutevel a

preocupaccedilatildeo de qualificar o perfil dos candidatos a cargos eletivos atraveacutes da vida

pregressa isto significa querer se representar por candidatos idocircneos

Ocorre que eacute necessaacuterio impor tantas restriccedilotildees para que o cidadatildeo possa

concorrer a determinado pleito natildeo eacute mais correto permitir que o proacuteprio povo

detentor soberano do poder para escolher seus representantes defina seus criteacuterios

de escolha

Quanto ao aspecto juriacutedico vejamos que o legislativo ao criar novas hipoacuteteses

de inelegibilidade deve-se atentar para as garantias jaacute consagradas em nosso

ordenamento principalmente quando esta garantia esta insculpida na Constituiccedilatildeo

Federal garantia esta referente ao principio da natildeo-culpabilidade que reza que

ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

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condenatoacuteria trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute

considerar o indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila

Ocorre que a criaccedilatildeo da Lei Complementar nordm 1352010 nasceu conflitante

com a Constituiccedilatildeo Federal em 2 aspectos primordiais primeiro a natildeo observacircncia

do princiacutepio da anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo

Federal pacificado pela Accedilatildeo Declaratoacuteria de Inconstitucionalidade nordm 3685

afirmando que deve-se respeitar ao principio da anualidade e segundo a

inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado

O segundo conflito origina-se diante da garantia constitucional do princiacutepio da

presunccedilatildeo da natildeo-culpabilidade o qual disciplina que somente poderaacute ser

considerado culpado o acusado de determinado crime quando ocorrer o tracircnsito em

julgado da decisatildeo

Portanto temos que uma decisatildeo de um oacutergatildeo colegiado quando recorriacutevel

ainda natildeo eacute o momento que se consumativo da culpabilidade do acusado pois natildeo

podemos antecipar a puniccedilatildeo de um cidadatildeo com a perda de algum direito pelo

simples fato de estar respondendo a algum processo

A aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre teraacute como pressuposto o

exame da Constituiccedilatildeo Federal que estabelece o princiacutepio da natildeo-culpabilidade

tambeacutem chamado de princiacutepio da presunccedilatildeo de inocecircncia que eacute uma verdadeira

garantia constitucional do indiviacuteduo contra o Estado Portanto deve-se respeitar este

princiacutepio basilar do Estado Democraacutetico de Direito nos mais diferentes segmentos

devendo qualquer Lei abster-se de considerar culpado aquele que ainda natildeo teve

sua decisatildeo transitada em julgado

Assim a Lei Complementar nordm 1352010 eacute contraacuterio ao disposto no texto

constitucional pois de forma antecipada retira do cidadatildeo o direito de disputar ao

pleito de forma igualitaacuteria bem como retira do povo um de seus maiores direitos o

de poder escolher seus representantes

Portanto para fortalecimento do Estado Democraacutetico de Direito se faz

necessaacuterio que as garantias constitucionais prevaleccedilam com isto deve-se

preponderar a presunccedilatildeo de natildeo culpabilidade ateacute o tracircnsito em julgado de da

sentenccedila condenatoacuteria

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REFEREcircNCIAS BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicao_ConstituiccedilaoCompiladohtmgt Acesso em 2 jun 2011 BRASIL Tribunal Superior Eleitoral Coacutedigo eleitoral Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrinternetjurisprudenciacodigo_eleitoralcodigo_eleitoralhtmlgt Acesso em 5 mai 2011 BRASIL Supremo Tribunal Federal Jurisprudecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudenciapesquisarJurisprudenciaaspgt Acesso em 15 mai 2011 BRASIL Projeto de Lei Complementar nordm 518 de 17 de setembro de 2009 Altera a Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 que estabelece de acordo com o sect 9ordm do art 14 da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias para incluir hipoacuteteses de inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no exerciacutecio do mandato Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbrsfatividademateriadetalhesaspp_cod_mate=96850gt Acesso em 19 mai 2011

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BRASIL Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 Estabelece de acordo com o art 14 sect 9ordm da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03LeisLCPLcp64htmgt Acesso em 15 mai 2011 COSTA Adriano Soares Instituiccedilotildees de Direito Eleitoral Ed Del Rey 2006 DI PIETRO Maria Sylvia Zanella Direito Administrativo 9 Ed Satildeo Paulo Atlas 1998 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131 LEAL Saul Tourinho Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt MELLO Celso Antonio Bandeira Curso de Direito Administrativo 24 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2007 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 ed Satildeo Paulo Atlas 2006 Movimento de Combate agrave Corrupccedilatildeo Disponiacutevel em ltwwwmcceorgbrgt Acesso em 3 jul 2011 NERY JUacuteBNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20 PEREIRA Erick Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt Acesso em 30 jun 2011 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2008

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PIRES Maacutercio Rodrigo Kaio Carvalho Abuso do poder poliacutetico nas eleiccedilotildees Jus Navigandi Teresina ano 15 n 2677 30 out 2010 Disponiacutevel em lthttpjusuolcombrrevistatexto17741gt Acesso em 27 jun 2011 RAMAYANA Marcos Direito Eleitoral Impetus Niteroacutei 2006 RESENHA ELEITORAL - Nova Seacuterie v9 n1 (janjun 2002) Disponiacutevel em lt httpwwwtre-scgovbrsiteinstitucionalpublicacoesartigos-doutrinariospublicados- na-resenha-eleitoralresenhasv9-n1-janjun-2002abuso-do-podereconomico- ou-de-autoridadeindexhtmlgt SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006

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direitos poliacuteticos suspensos ou cancelados ficaraacute impedido de exercer a capacidade

eleitoral passiva

A Constituiccedilatildeo Federal prevecirc no artigo 15 causas de perda ou suspensatildeo dos

direitos poliacuteticos que podem ocorrer devido ao cancelamento da naturalizaccedilatildeo por

sentenccedila judicial transitada em julgado condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado

enquanto durarem seus efeitos recusa de cumprir obrigaccedilatildeo a todos imposta ou

prestaccedilatildeo alternativa nos termos do art 5ordm VIII improbidade administrativa nos

termos do art 37 sect 4ordm

25 ALISTAMENTO ELEITORAL

O alistamento eleitoral eacute a terceira condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo

14 sect 3ordm inciso III da Constituiccedilatildeo Federal o Tribunal Superior Eleitoral assim o

conceitua Eacute a primeira fase do processo eleitoral Eacute um procedimento administrativo cartoraacuterio e compreende dois atos inconfundiacuteveis a qualificaccedilatildeo e a inscriccedilatildeo do eleitor A qualificaccedilatildeo eacute a prova de que o cidadatildeo satisfaz as exigecircncias legais para exercer o direito de voto enquanto que a inscriccedilatildeo faz com que o mesmo passe a integrar o Cadastro Nacional de Eleitores da Justiccedila Eleitoral O ato de alistamento eacute feito por meio de processamento eletrocircnico e se perfaz pelo preenchimento do requerimento de alistamento eleitoral (RAE) na forma da resoluccedilatildeo do TSE e da legislaccedilatildeo eleitoral Eacute a forma pela qual o cidadatildeo adquire seus direitos poliacuteticos tornando-se titular de direito poliacutetico ativo (capacidade para votar) e possibilitando sua elegibilidade e filiaccedilatildeo partidaacuteria apoacutes a expediccedilatildeo do respectivo tiacutetulo eleitoral 7

Portanto para o cidadatildeo ser eleitor eacute preciso que ele se aliste e para ele ser

elegiacutevel eacute preciso que ele jaacute seja eleitor

26 O DOMICIacuteLIO ELEITORAL NA CIRCUNSCRICcedilAtildeO

O domiciacutelio eleitoral eacute a quarta condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14

sect 3ordm inciso IV da Constituiccedilatildeo Federal

Domiciacutelio eleitoral eacute o lugar da residecircncia ou moradia do requerente agrave

inscriccedilatildeo eleitoral assim dispotildee o artigo 42 paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo Eleitoral

que Para efeito de inscriccedilatildeo eacute domiciacutelio eleitoral o lugar de residecircncia ou moradia

do requerente e verificado ter o alistando mais de uma considerar-se-aacute domiciacutelio

qualquer delas

7Disponiacutevel em lthttpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermosalistamento_eleitoralhtmgt Acesso em 22 jul 2011

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Djalma Pinto acerca do domiciacutelio eleitoral assevera ldquoO domicilio eleitoral por

sua vez eacute o lugar da residecircncia ou moradia onde o cidadatildeo formaliza seu

alistamentordquo 8

A legislaccedilatildeo requer que o candidato a um cargo eletivo natildeo incorra em

incompatibilidades ou inelegibilidades e possua domicilio eleitoral na circunscriccedilatildeo a

qual deseja concorrer Sobre a circunscriccedilatildeo eleitoral o Tribunal Superior Eleitoral

assim o define Espaccedilo geograacutefico onde se trava determinada eleiccedilatildeo Assim o paiacutes na eleiccedilatildeo do presidente e vice-presidente da Repuacuteblica o estado nas eleiccedilotildees para governador e vice-governador deputados federais e estaduais e senadores o municiacutepio nas eleiccedilotildees de prefeito e vereadores e o distrito onde e quando se realiza a eleiccedilatildeo pelo sistema distrital 9

Para concorrer as eleiccedilotildees o candidato deveraacute possuir domiciacutelio eleitoral na

respectiva circunscriccedilatildeo pelo prazo de pelo menos um ano antes do pleito e estar

com a filiaccedilatildeo deferida pelo partido no mesmo prazo eacute o que dispotildee o artigo 9deg da

Lei 950497

27 FILIACcedilAtildeO PARTIDAacuteRIA

A filiaccedilatildeo partidaacuteria eacute a quinta condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14

sect 3ordm inciso V da Constituiccedilatildeo Federal

Eacute o ato formal e solene o pelo qual um eleitor aceita e adota o programa de

um partido poliacutetico viacutenculo que se estabelece entre o poliacutetico e o partido Eacute condiccedilatildeo

de elegibilidade conforme disposto no artigo 14 sect3ordm inciso V da Constituiccedilatildeo

Federal Nos termos do artigo 16 da Lei dos Partidos Poliacuteticos Lei nordm 909695 soacute

pode filiar-se a partido o eleitor que estiver no pleno gozo de seus direitos poliacuteticos

Todavia a exceccedilotildees sobre a filiaccedilatildeo partidaacuteria como no caso de candidatura

de magistrados membros dos Tribunais de Contas Ministeacuterio Puacuteblico e militares

como exemplo vejamos a exceccedilatildeo dos militares estes querendo concorrer a cargo

puacuteblico eletivo possuindo menos de dez anos de serviccedilo deveraacute solicitar

afastamento definitivo da atividade atraveacutes de demissatildeo ou licenciamento ex-officio

caso venha a possuir mais de dez anos de serviccedilo deveraacute ser agregado pela

8 PINTO Djalma Direito eleitoral ndash improbidade administrativa e Responsabilidade Fiscal 3 Ed Satildeo Paulo Atlas 2006 9 Disponiacutevel em httpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermoscircunscricao_eleitoralhtmgt Acesso em 22 jul 2011

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autoridade superior e se eleito passaraacute automaticamente no ato da diplomaccedilatildeo

para a inatividade

28 IDADE MIacuteNIMA

Idade miacutenima eacute a uacuteltima condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14 sect 3ordm

inciso VI da Constituiccedilatildeo Federal

Para o cargo de Presidente e Vice-Presidente da Repuacuteblica e para Senadores

e suplentes a idade miacutenima de 35 anos para o cargo de Governado e Vice-

Governador de Estado ou do Distrito Federal idade miacutenima de 30 anos para os

cargos de Deputado Federal Estadual Distrital Prefeito e Vice-Prefeito e Juiz de

paz a idade miacutenima de 21 anos e por fim para o cargo de vereador a idade

miacutenima de 18 anos

Dispotildee a Lei 95041997 artigo 11 sect 2ordm que a verificaccedilatildeo da idade seraacute feita

na data da posse no respectivo cargo pressupotildee que um menor de 17 anos de

idade possa se candidatar ao cargo de vereador bastando que na data da posse

conte com 18 anos completos

Alguns doutrinadores entretanto discordam dessa interpretaccedilatildeo entendendo

que natildeo poderia o legislador infra-constitucional dizer a mais do que a proacutepria

Constituiccedilatildeo estabeleceu assim leciona o Gilmar Mendes em sua obra Curso de

Direito Constitucional Natildeo haacute que se falar em momento da posse como aceitaacutevel para se perfazer a condiccedilatildeo de elegibilidade no tocante a idade miacutenima pois a Constituiccedilatildeo jaacute determinou que o momento da afericcedilatildeo para elegibilidade deve ser o do registro da candidatura 10

Tem prevalecido a verificaccedilatildeo da idade miacutenima na data da posse

10 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 Ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 p803

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3 DA INELEGIBILIDADE 31 CONCEITO DE INELEGIBILIDADE

Joseacute Afonso da Silva em sua ilustre obra Curso de Direito Constitucional

Positivo doutrinariamente leciona que ldquoa inelegibilidade obsta a elegibilidade

revelando um impedimento ao direito de ser votado que eacute a capacidade eleitoral

passivardquo 11

A inelegibilidade resulta no impedimento parcial ou seja temporaacuterio da

capacidade eleitoral passiva restringindo o cidadatildeo de ser votado nas hipoacuteteses

previstas na Lei Complementar nordm 641990 Lei Complementar nordm 1352010 e na

Constituiccedilatildeo Federal

Sua finalidade tem por objetivo a probidade administrativa a normalidade

para o exerciacutecio do mandato considerada a vida pregressa do candidato e a

normalidade e a legitimidade das eleiccedilotildees contra a influecircncia do poder econocircmico ou

o abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo cargo ou emprego na administraccedilatildeo direta ou

indireta

A inelegibilidade pode ser absoluta proibindo a candidatura agraves eleiccedilotildees em

geral ou relativa impossibilitando a postulaccedilatildeo a determinado mandato eletivo

Sendo assim o cidadatildeo que almeja se candidatar a cargo eletivo deve

atender as condiccedilotildees de elegibilidade e natildeo incorrer em nenhuma causa de

inelegibilidade

32 ESPEacuteCIES DE INELEGIBILIDADE

As espeacutecies de inelegibilidade podem ser constitucionais e

infraconstitucionais as constitucionais dividem-se em absoluta e relativa

A inelegibilidade constitucional absoluta consiste no impedimento eleitoral

que restringe o cidadatildeo de concorrer a qualquer cargo eletivo refere-se a

determinada caracteriacutestica do indiviacuteduo ou seja eacute de caraacuteter pessoal sendo

11 SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 Ed Satildeo Paulo Malheiros 012004 p 387

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taxativamente prevista pela Constituiccedilatildeo Federal e a inelegibilidade constitucional

relativa compreende o impedimento eleitoral que restringe o cidadatildeo de concorrer a

determinados cargos em determinada eleiccedilatildeo refere-se a situaccedilotildees especiais e

momentacircneas tais como motivos funcionais de casamento de parentescos

A inelegibilidade infraconstitucional eacute disciplinada na Lei Complementar ndeg

641990 alterada pela Lei Complementar ndeg 1352010

Eacute relevante a distinccedilatildeo entre as inelegibilidades constitucionais e

infraconstitucionais como bem ressaltado por Joseacute Jairo Gomes A distinccedilatildeo que se faz entre inelegibilidades constitucionais e legais natildeo eacute cerebrina apresentando inegaacutevel relevacircncia praacutetica Basta dizer que natildeo haacute preclusatildeo quanto agraves primeiras as quais podem ser arguumlidas na fase do registro de candidatura ou posteriormente antes ou depois das eleiccedilotildees A arguumliccedilatildeo posterior pode ser feita no RCED (CE art 262 I) Jaacute as inelegibilidades legais sujeitam-se agrave preclusatildeo se natildeo forem levantadas na fase de registro de candidatura Ultrapassado esse momento natildeo mais poderatildeo ser discutidas salvo se supervenientes 12

33 INELEGIBILIDADE CONSTITUCIONAL

A inelegibilidade constitucional dividi-se em absoluta e relativa

A inelegibilidade constitucional absoluta estabelecida no sect 4deg do artigo 14 da

Constituiccedilatildeo Federal prevecirc que satildeo inelegiacuteveis os inalistaacuteveis e os analfabetos

A inelegibilidade decorrente da inalistabilidade abrange todos que natildeo se

encontram na situaccedilatildeo de alistabilidade tambeacutem aqueles que se encontram em

estado definitivo ou temporariamente privados de seus direitos poliacuteticos por fim

atinge aqueles que natildeo sabem exprimir-se na liacutengua nacional e os estrangeiros

A inelegibilidade decorrente do analfabetismo natildeo permite que o analfabeto

seja elegiacutevel mas permite que ele seja alistaacutevel exercendo assim a sua capacidade

de votar mas nunca a de ser votado

Estas hipoacuteteses restringem ao cidadatildeo se candidatarem a qualquer cargo

eletivo em qualquer eleiccedilatildeo enquanto perdurar esta situaccedilatildeo restritiva

As hipoacuteteses de inelegibilidades constitucionais relativas referem-se a

situaccedilotildees especiais separando-as por motivos funcionais motivos parentais motivos

militares e encontram-se dispostas no artigo 14 sectsect 5deg ao 9deg da Constituiccedilatildeo Federal

12 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131

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A inelegibilidade por motivo funcional eacute decorrente de o cidadatildeo estar em

exerciacutecio de alguma funccedilatildeo puacuteblica Satildeo previstas duas situaccedilotildees

A primeira declara ser inelegiacutevel para o mesmo cargo em terceiro periacuteodo

subsequumlente o Presidente da Repuacuteblica os Governadores de Estado e do DF os

Prefeitos e quem os houver sucedido ou substituiacutedo nos seis meses antes das

eleiccedilotildees Eacute o que dispotildee o sect 5deg do artigo 14 na redaccedilatildeo da Emenda Constitucional

161997

Portanto soacute eacute permitida uma reconduccedilatildeo ou seja eacute permitida a reeleiccedilatildeo de

Chefes do Executivo ou seus substitutos para apenas um periacuteodo subsequumlente

A segunda situaccedilatildeo considera que satildeo inelegiacuteveis para concorrer a outros

cargos o Presidente da Repuacuteblica os Governadores de Estado e do DF e os

Prefeitos salvo se tiverem se desincompatibilizado com a renuacutencia do cargo ateacute

seis meses antes do pleito Eacute o que prevecirc o sect 6deg do artigo 14 da Constituiccedilatildeo

Federal

Os servidores puacuteblicos que ocuparem algum cargo de livre nomeaccedilatildeo

demissiacuteveis ad nutum seratildeo exonerados para que possam concorrer a cargo

eletivo ou seja natildeo poderatildeo manter qualquer viacutenculo com a entidade na qual

desempenhava suas funccedilotildees

Os servidores puacuteblicos concursados ao contraacuterio dos servidores ocupantes

de cargos de livre nomeaccedilatildeo natildeo seratildeo exonerados ou demitidos apenas se

afastaratildeo de suas funccedilotildees para se candidatar a cargo puacuteblico

A inelegibilidade por motivo de parentesco tambeacutem denominada de

inelegibilidade reflexa estaacute relacionada a condiccedilotildees inerentes ao parentesco

sanguumliacuteneo soacutecio-afetivo ou condiccedilatildeo matrimonial

Assim conforme previsto no sect 7ordm do artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal estas

mesmas pessoas impedidas para determinados cargos podem concorrer para outros

cargos que se processem em territoacuterio de outra circunscriccedilatildeo

A inelegibilidade reflexa aproxima-se da inelegibilidade absoluta a diferenccedila

ocorre que na reflexa pode cessar por vontade das pessoas envolvidas um exemplo

claro eacute a renuacutencia seis meses antes do pleito do Presidente da Repuacuteblica

Assim temos que a inelegibilidade por motivo de parentesco ou reflexa visa a

impedir a formaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do poder poliacutetico em matildeos de uma determinada

famiacutelia

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A inelegibilidade por motivos militares visa que o militar enquanto em serviccedilo

ativo natildeo pode estar filiado a partidos poliacuteticos entretanto a Constituiccedilatildeo Federal

em seu artigo 14 relata que atendidas certas condiccedilotildees o militar alistaacutevel se torna

elegiacutevel sendo estas as condiccedilotildees se contar com menos de dez anos de serviccedilo

deveraacute afastar-se da atividade e se contar com mais de dez ano de serviccedilo seraacute

agregado pela autoridade superior e se eleito passaraacute automaticamente no ato da

diplomaccedilatildeo para a inatividade

34 INELEGIBILIDADE INFRACONSTITUCIONAL

Por se tratar de inuacutemeras hipoacuteteses de inelegibilidades infraconstitucionais

natildeo seraacute possiacutevel tratar todos os casos previstos em lei para tanto adentraremos a

anaacutelise de algumas hipoacuteteses dispostas na Lei Complementar nordm 641990

As inelegibilidades infraconstitucionais satildeo instituiacutedas por Lei Complementar

que estabeleceraacute outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim

de proteger a probidade administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato

considerado vida pregressa do candidato e a normalidade e legitimidade das

eleiccedilotildees contra a influecircncia do poder econocircmico ou o abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo

cargo ou emprego na administraccedilatildeo direta ou indireta

As causas de inelegibilidade infraconstitucionais estatildeo previstas no artigo 1ordm

da Lei Complementar nordm 641990 alterado dentre outras atraveacutes da recente Lei

Complementar ndeg 1352010 conhecida como a Lei da Ficha Limpa

Dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquobrdquo da Lei Complementar nordm 641990 que os

membros do Congresso Nacional das Assembleacuteias Legislativas da Cacircmara

Legislativa e das Cacircmaras Municipais que hajam perdido os respectivos mandatos

por infringecircncia do disposto nos incisos I e II do art 55 da Constituiccedilatildeo Federal dos

dispositivos equivalentes sobre perda de mandato das Constituiccedilotildees Estaduais e

Leis Orgacircnicas dos Municiacutepios e do Distrito Federal para as eleiccedilotildees que se

realizarem durante o periacuteodo remanescente do mandato para o qual foram eleitos e

nos oito anos subsequumlentes ao teacutermino da legislatura

Sendo assim satildeo inelegiacuteveis os parlamentares cujo procedimento for

declarado incompatiacutevel com o decoro parlamentar e desde a expediccedilatildeo do diploma

firmar ou manter contrato com pessoa juriacutedica de direito puacuteblico autarquia empresa

puacuteblica sociedade de economia mista ou empresa concessionaacuteria de serviccedilo

puacuteblico salvo quando o contrato obedecer a claacuteusulas uniformes aceitar ou exercer

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cargo funccedilatildeo ou emprego remunerado inclusive os de que sejam demissiacuteveis ad

nutum nas entidades constantes da aliacutenea anterior e desde a posse ser

proprietaacuterios controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente

de contrato com pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou nela exercer funccedilatildeo

remunerada ocupar cargo ou funccedilatildeo de que sejam demissiacuteveis ad nutum nas

entidades referidas no inciso I a patrocinar causa em que seja interessada

qualquer das entidades a que se refere o inciso I a ser titulares de mais de um

cargo ou mandato puacuteblico eletivo

Portando o parlamentar que infringir o disposto no artigo 54 teraacute seu mandato

cassado Jaacute no inciso II do artigo 55 o Deputado ou Senador perderaacute o mandato

quando o procedimento for declarado incompatiacutevel com o decoro parlamentar A

Constituiccedilatildeo Federal prevecirc como falta de decoro o disciplinado no artigo 55 sect 1ordm

Por fim eacute incompatiacutevel com o decoro parlamentar os casos definidos no regimento

interno

Assim dispotildee o artigo 1ordm Inciso I aliacutenea ldquocrdquo da Lei Complementar nordm 641990

Governador e o Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal e o Prefeito e o

Vice-Prefeito que perderem seus cargos eletivos por infringecircncia a dispositivo da

Constituiccedilatildeo Estadual da Lei Orgacircnica do Distrito Federal ou da Lei Orgacircnica do

Municiacutepio para as eleiccedilotildees que se realizarem durante o periacuteodo remanescente e

nos 8 (oito) anos subsequentes ao teacutermino do mandato para o qual tenham sido

eleitos

Tal dispositivo busca evitar que os chefes do poder executivos retornem a

vida puacuteblica no mandato seguinte e nas eleiccedilotildees para as demais esferas Este

dispositivo preserva a moralidade puacuteblica O prazo de 8 anos de inabilitaccedilatildeo seraacute

contado a partir da data que tiver sido proferida a decisatildeo por crime de

responsabilidade

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquodrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tenham contra sua pessoa representaccedilatildeo julgada procedente pela Justiccedila

Eleitoral em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo colegiado em

processo de apuraccedilatildeo de abuso do poder econocircmico ou poliacutetico para a eleiccedilatildeo na

qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como para as que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes

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Primeiramente eacute necessaacuterio conceituar o que eacute abuso de poder econocircmico de

abuso de poder poliacutetico

Abuso de poder econocircmico consiste na utilizaccedilatildeo de bens ou serviccedilos de

empresas particulares ou recursos proacuteprios do candidato gerando assim uma

desproporccedilatildeo entre os candidatos exemplo Se um candidato eacute proprietaacuterio de uma

grande empresa e faz uso dela para custear sua campanha sem realizar doaccedilatildeo de

campanha prevista na Lei 950497

Abuso do poder poliacutetico consiste no emprego de serviccedilos ou bens

pertencentes a administraccedilatildeo puacuteblica com o objetivo de propiciar a eleiccedilatildeo de

determinado candidato

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquofrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que forem declarados indignos do oficialato ou com ele incompatiacuteveis pelo prazo

de 8 (oito) anos

Oficialato eacute o cargo ou dignidade de oficial seja das forccedilas armadas poliacutecia

militar ou corpo de bombeiros A competecircncia para apreciar e declarar a indignidade

do oficialato seraacute do Superior Tribunal Militar

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquogrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tiverem suas contas relativas ao exerciacutecio de cargos ou funccedilotildees puacuteblicas

rejeitadas por irregularidade insanaacutevel que configure ato doloso de improbidade

administrativa e por decisatildeo irrecorriacutevel do oacutergatildeo competente salvo se esta houver

sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciaacuterio para as eleiccedilotildees que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes contados a partir da data da decisatildeo aplicando-se o

disposto no inciso II do art 71 da Constituiccedilatildeo Federal a todos os ordenadores de

despesa sem exclusatildeo de mandataacuterios que houverem agido nessa condiccedilatildeo

Esta decisatildeo eacute administrativa e traraacute a consequumlecircncia de inelegibilidade para

isso a irregularidade tem de ser insanaacutevel

A competecircncia para julgar estas irregularidades compete ao Poder

Legislativo seja no acircmbito federal estadual ou municipal

A analise desta insanabilidade poderaacute caber a Justiccedila Eleitoral como por

exemplo no pedido de registro de candidatura por algueacutem que teve suas contas

rejeitadas

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquohrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os detentores de cargo na administraccedilatildeo puacuteblica direta indireta ou fundacional que

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beneficiarem a si ou a terceiros pelo abuso do poder econocircmico ou poliacutetico que

forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial

colegiado para a eleiccedilatildeo na qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como

para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes

Aqui natildeo se trata de cargo eletivo mas sim de cargos por concurso puacuteblico ou

por provimento em comissatildeo

A finalidade eacute por fim a reeleiccedilatildeo para aqueles que estatildeo em cargos de chefia

do poder executivo que tenham cometido abuso do poder econocircmico ou poliacutetico

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquoirdquo da Lei Complementar nordm 641990)

os que em estabelecimentos de creacutedito financiamento ou seguro que tenham sido

ou estejam sendo objeto de processo de liquidaccedilatildeo judicial ou extrajudicial hajam

exercido nos 12 (doze) meses anteriores agrave respectiva decretaccedilatildeo cargo ou funccedilatildeo

de direccedilatildeo administraccedilatildeo ou representaccedilatildeo enquanto natildeo forem exonerados de

qualquer responsabilidade

O que a lei busca nesta situaccedilatildeo eacute deixar aquele que administrou os referidos

estabelecimentos fora de qualquer participaccedilatildeo poliacutetica enquanto natildeo forem

apurados todos os fatos que levaram a insolvecircncia

Portanto o maior objetivo desta causa de inelegibilidade eacute assegurar que o

ex-administrado de estabelecimento de creacutedito financiamento ou seguro natildeo venha

a eleger-se a cargo eletivo sem antes ter sido apurada sua participaccedilatildeo para

insolvecircncia

Outras causas de inelegibilidades incluiacutedas pela Lei Complementar nordm

1352010 estatildeo previstas nos incisos j a q da referida Lei

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4 DA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE 41 ORIGEM DA LEI COMPLEMENTAR Nordm 1352010

Com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o Brasil passa a ser um

Estado Democraacutetico de Direito inaugurando uma democracia participativa

Esta democracia participativa permite ao cidadatildeo desde que preenchidos

determinados requisitos dar iniacutecio a um projeto de Lei atraveacutes da chamada Iniciativa

Popular A origem da Lei Complementar nordm 1352010 decorreu do Projeto de Lei nordm

5182009 sob a coordenaccedilatildeo do Movimento de Combate a Corrupccedilatildeo Eleitoral ndash

MCCE que teve iniacutecio em abril de 2008 com o objetivo de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos a finalidade eacute que os criteacuterios de inelegibilidades sejam

mais rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos

Esta Lei Complementar dita que pessoas condenadas por um colegiado

independente do tracircnsito em julgado satildeo inelegiacuteveis portanto podem ter seus

registros de candidaturas negados alem de incluir parlamentares que renunciaram

ao cargo para assim evitar uma possiacutevel abertura de processo por quebra de decoro

ou por desrespeito agrave Constituiccedilatildeo com a finalidade uacutenica de evitar possiacuteveis

puniccedilotildees

A Lei Complementar 1352010 traacutes inuacutemeros confrontos com a Constituiccedilatildeo

Federal sendo dois os mais relevantes primeiro a natildeo observacircncia do princiacutepio da

anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal e segundo

o desrespeito ao princiacutepio da natildeo-culpabilidade tambeacutem estabelecido na

Constituiccedilatildeo federal no artigo 5ordm inciso LVII

Sobre o primeiro ponto que trata da aplicabilidade da Lei Complementar nordm

1352010 para as eleiccedilotildees de 2010 restou soberana a decisatildeo do Supremo

Tribunal Federal ao resolver o conflito afirmando que o artigo 16 da Constituiccedilatildeo

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Federal ao submeter a alteraccedilatildeo legal do processo eleitoral agrave regra da anualidade

constitui uma garantia fundamental para o pleno exerciacutecio de direitos poliacuteticos

Esta pacificaccedilatildeo se deu no julgamento da Accedilatildeo Declaratoacuteria de

Inconstitucionalidade nordm 3685 13 onde atuou como Relatora a Ministra Ellen Gracie

que identificou como uma garantia fundamental do cidadatildeo-eleitor do cidadatildeo-

candidato e dos partidos poliacuteticos o artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal

A Ministra Ellen Gracie utilizou-se de uma analogia com o julgamento da

Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade 939 que teve como relator Ministro Sydnei

Sanches com a garantia da anterioridade tributaacuteria fixada no artigo 150 III b no

sentido de que se o princiacutepio da anterioridade tributaacuteria constitui uma garantia do

cidadatildeo-contribuinte o princiacutepio da anterioridade eleitoral tambeacutem eacute uma garantia do

cidadatildeo do eleitor do candidato e dos partidos poliacuteticos

Desta forma restou consolidado a garantia prevista no artigo 16 da

Constituiccedilatildeo Federal como forma de um devido processo legal eleitoral

O devido processo visa que se atinja uma decisatildeo conforme a Justiccedila

prestigiando a eacutetica da legalidade ressaltando-se que ele possui um duplo

significado de processo necessaacuterio e processo adequado para tanto COMOGLIO

afirma Que as garantias decorrentes do devido processo legal querem dizer natildeo apenas direito a um processo mas a um justo processo compreendendo a correccedilatildeo e efetividade dos instrumentos disponiacuteveis em juiacutezo e a efetividade e adequaccedilatildeo da proacutepria tutela finalrdquo 14

A Constituiccedilatildeo brasileira de 1988 traz a garantia exarada no seu artigo 5ordm

Art 5ordm - () LIV ndash ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal LV ndash aos litigantes em processo judicial e administrativo e aos acusados em geral seratildeo assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa com os meios de recurso a ela inerentes

Sobre o segundo ponto controverso mateacuteria deste trabalho tem o conflito tem

o conflito entre a Lei Complementar nordm 13510 contra uma garantia constitucional

denominado princiacutepio da natildeo-culpabilidade que eacute inseparaacutevel do conceito de

13 Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011 14 Luigi Paolo COMOGLIO Giuridizione e processo nel quadro delle garanzie constituzionali Rivista Trimestrale di Diritto e Procedura Civile 4 p 1070

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democracia A Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5ordm inciso LVII estabelece uma das

maiores garantias dos indiviacuteduos contra o autoritarismo do Estado afirmando que

ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

condenatoacuteriardquo fixando explicitamente o princiacutepio da natildeo-culpabilidade entre os

direitos fundamentais

42 AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EM JULGADO

A Lei Complementar nordm 1352010 em sua aliacutenea ldquoerdquo do inciso I do artigo 2ordm

possui a seguinte redaccedilatildeo e) os que forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial colegiado desde a condenaccedilatildeo ateacute o transcurso do prazo de 8 (oito) anos apoacutes o cumprimento da pena pelos crimes (Redaccedilatildeo dada pela Lei Complementar nordm 135 de 2010)

Esta aliacutenea visa impedir a candidatura de poliacuteticos condenados a partir da

segunda instacircncia e mesmo que natildeo tenha transitado em julgado Ela defende que

haja uma condenaccedilatildeo criminal no entanto deixa de exigir a configuraccedilatildeo do tracircnsito

em julgado do ato decisoacuterio para que ocorra a inelegibilidade A antiga lei previa que

o candidato soacute seria inelegiacutevel se tivesse condenaccedilatildeo definitiva

As alteraccedilotildees da Lei Complementar nordm 1352010 objetiva atender a um senso

comum do eleitorado afirmando que uma pessoa condenada natildeo deve poder ser

votada isto eacute natildeo deve ter mandato Em seus dizeres trata que a inelegibilidade

natildeo pressupotildee culpa formada natildeo deve haver discussatildeo sobre presunccedilatildeo da

inocecircncia Pode haver inelegibilidade por parentesco por ocupar cargo puacuteblico falta

de domiciacutelio eleitoral ou filiaccedilatildeo partidaacuteria causas que natildeo tecircm nada a ver com

condenaccedilatildeo criminal

A contradiccedilatildeo do argumento da Lei Complementar eacute se a Constituiccedilatildeo em

face do princiacutepio da natildeo-culpabilidade admite a cominaccedilatildeo de inelegibilidade para

quem ainda tem recursos pendentes de julgamento

Caso esta hipoacutetese seja admitida temos que um indiviacuteduo que tenha sido

condenado criminalmente em segunda instacircncia e interponha recurso especial ou

extraordinaacuterio para anular o processo caso natildeo consiga uma medida liminar

suspendendo os efeitos ficaria impedido de concorrer na eleiccedilatildeo

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Imagine-se que ao final da accedilatildeo o cidadatildeo que ficou impedido de concorrer

nas eleiccedilotildees obtivesse vitoacuteria em seu recurso obtendo assim a nulidade da accedilatildeo

bem como da decisatildeo que o condenou com ficaria a situaccedilatildeo deste cidadatildeo

O que se quer com a Lei Complementar nordm 1352010 eacute instituir um moralismo

eleitoral que se sobrepotildee a Constituiccedilatildeo Federal e seu principio constitucional da

natildeo-culpabilidade que eacute a garantia individual contra o Estado

Outro argumento utilizado pelos defensores da constitucionalidade da Lei

Complementar nordm 1352010 satildeo as prisotildees cautelares e que no final o sujeito

acaba sebdo absolvido Ora cabe lembrar-lhes que a prisatildeo cautelar natildeo eacute

antecipaccedilatildeo de pena cumpre ela uma funccedilatildeo processual clara e limitada agrave garantia

da ordem puacuteblica da ordem econocircmica por conveniecircncia da instruccedilatildeo criminal ou

para assegurar a aplicaccedilatildeo da lei penal quando houver prova da existecircncia do crime

e indiacutecio suficiente de autoria

Portanto temos que o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees enquanto natildeo

sobrevier decisatildeo judicial transitada em julgado

O proacuteprio Supremo na Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental

144 jaacute decidiu natildeo barrar candidaturas sem condenaccedilatildeo transitada em julgado

A Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental 144 15 foi votada

em agosto de 2008 antes das eleiccedilotildees municipais Na ocasiatildeo o Supremo Tribunal

Federal decidiu que natildeo poderiam ser barradas candidaturas de poliacuteticos

condenados na primeira instacircncia por conta da presunccedilatildeo de inocecircncia

Em 6 de agosto de 2008 haacute menos de trecircs anos o Supremo Tribunal Federal

julgou improcedente a Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental nordm

144 ajuizada pela Associaccedilatildeo dos Magistrados Brasileiros em voto do ministro

Celso de Mello vencidos os ministros Carlos Ayres e Joaquim Barbosa exatamente

porque O postulado consagrador da garantia de inocecircncia irradia os seus efeitos para aleacutem dos limites dos processos penais de natureza condenatoacuteria impedindo desse modo que situaccedilotildees processuais anda natildeo definidas por sentenccedilas transitadas em julgado provoquem em decorrecircncia das exigecircncias de probidade administrativa e demoralidade a que se refere o sect 9ordm do artigo 14 da Coinstituiccedilatildeo Federal a inelegibilidade dos cidadatildeos ou obstem candidaturas para mandatos eletivos

15Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011

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Portanto ficou definido que Lei Complementar sendo editada para casos de

inelegibilidades esta deveraacute respeitar o princiacutepio da natildeo-culpabilidade Ocorre que

foi editada a Lei Complementar nordm 1352010 que atendeu aos reclamos populares

mas preferiu a um soacute tempo violar a Constituiccedilatildeo Federal e desrespeitar a recente

decisatildeo do Supremo Tribunal Federal mesmo que na eacutepoacuteca desta decisatildeo natildeo

havia lei formal para tal situaccedilatildeo

43 PRINCIacutePIO CONSTITUCIONAL DA NAtildeO-CULPABILIDADE

O princiacutepio da natildeo-culpabilidade eacute direito fundamental previsto na

Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5deg inciso LVII ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute

o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

Isto eacute enquanto natildeo sobrevier uma decisatildeo judicial condenatoacuteria transitada

em julgado o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees em seu patrimocircnio ou em sua

liberdade Caso sobrevenha duacutevida quanto a culpabilidade esta resolveraacute sempre

em favor do reacuteu ou seja aplicando-se o princiacutepio in duacutebio pro reo

Assim disciplina Nelson Nery Juacutenior sobre o princiacutepio da natildeo-culpabilidade ldquoO inteacuterprete deve buscar a aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre tendo como pressuposto o exame da Constituiccedilatildeo Federal Depois sim deve consultar a legislaccedilatildeo infraconstitucional a respeito do temardquo 16

Sendo assim a Constituiccedilatildeo Federal no capiacutetulo sobre os Direitos e Deveres

Individuais e Coletivos em seu artigo 5ordm inciso LVII afirma que ldquoningueacutem seraacute

considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute considerar o

indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila A doutrina e a

jurisprudecircncia aclamam este princiacutepio como vaacuterios nomes como princiacutepio da

presunccedilatildeo de inocecircncia princiacutepio da natildeo-culpabilidade ou simplesmente princiacutepio da

inocecircncia

Joseacute Afonso da Silva em seu livro Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo

disciplina assim esta garantia A norma constitucional do inciso LVII agora sob nosso exame garante a presunccedilatildeo de inocecircncia por meio de um enunciado negativo universal lsquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria Usa-se de uma forma

16 NERY JUacuteNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20

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negativa para outorgar uma garantia positiva Na verdade o texto brasileiro natildeo significa outra coisa senatildeo que fica assegurada a todos a presunccedilatildeo de inocecircncia ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria O tracircnsito em julgado se daacute quando a decisatildeo natildeo comporta mais recurso ordinaacuterio especial ou extraordinaacuterio 17

Nesse sentido o indiviacuteduo acusado natildeo pode ser presumidamente culpado

mas sim inocente Tal princiacutepio visa a tutelar a liberdade pessoal de modo que o

Estado nos mais diferentes segmentos deve abster-se de considerar culpado

aquele que ainda natildeo foi submetido agrave definitividade da atuaccedilatildeo jurisdicional Em se tratando de suspensatildeo dos direitos poliacuteticos a Constituiccedilatildeo Federal

garante que a suspensatildeo somente se daraacute por ldquocondenaccedilatildeo criminal transitada em

julgado enquanto durarem seus efeitosrdquo

Julgamento neste sentido REPRESENTACcedilAtildeO SUSPENSAtildeO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS EM VIRTUDE DE SENTENCcedilA PENAL CONDENATOacuteRIA TRANSITADA EM JULGADO AUTO-APLICABILIDADE DOS ARTIGOS 14 sect 3ordm II E 15 III DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL PROCEDEcircNCIA A suspensatildeo dos direitos poliacuteticos do condenado independe de lei regulamentadora bem como de processo especial de cogniccedilatildeo e de anaacutelise de meacuterito para a execuccedilatildeo da medida no juiacutezo eleitoral posto natildeo se tratar de sanccedilatildeo penal mas de efeito natildeo-penal de condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado e decorrente de mandamento constitucional Comprovado o tracircnsito em julgado da sentenccedila penal condenatoacuteria decreta-se automaticamente a suspensatildeo dos direitos poliacuteticos ativo e passivo do representado ou seja o direito de votar e ser votado com a consequumlente exclusatildeo de seu nome da folha de votaccedilatildeo e declaraccedilatildeo de sua inelegibilidade 18

Logo infere-se que a condenaccedilatildeo criminal sem o tracircnsito em julgado natildeo

desqualifica o condenado a votar e a eventualmente concorrer a qualquer cargo

eletivo

O Colendo Tribunal Superior Eleitoral enfrentou esta questatildeo ao apreciar

pedido de registro de candidatura valendo registrar os seguintes julgados RECURSO ESPECIAL RECEBIDO COMO ORDINAacuteRIO REGISTRO DE CANDIDATURA DEFERIMENTO INELEGIBILIDADE NAtildeO-OCORREcircNCIA Condenaccedilatildeo criminal sem tracircnsito em julgado natildeo eacute apta a ensejar inelegibilidade (precedente do TSE acoacuterdatildeo 536 rel Min Fernando Neves publicado em sessatildeo de 882002) Recurso natildeo provido 19

17 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006 p 155 18 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbrgt TRESCndashAcoacuterdatildeo nordm 13324 de 071094 rel Juiz Nilson B Filho Acesso em 16 set 2011 19 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbr gt TSE- REspEl nordm 20247 de 19902 rel Min Sepuacutelveda Pertence Acesso em 16 set 2011

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INELEGIBILIDADE CONDENACcedilAtildeO CRIMINAL NAtildeO TRANSITADA EM JULGADO CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA ART 14 sect 9deg SUacuteMULA Ndeg 13 DO TSE 1 A existecircncia de sentenccedila criminal condenatoacuteria sem o tracircnsito em julgado natildeo eacute suficiente para ocasionar inelegibilidade 2 O art 14 sect 9deg da Constituiccedilatildeo natildeo eacute auto-aplicaacutevel 3 Necessidade de lei complementar estabelecendo os casos em que a vida pregressa do candidato poderaacute levar agrave sua inelegibilidade bem como os prazos de sua cessaccedilatildeo 4 Recurso provido para julgar improcedente a impugnaccedilatildeo e deferir o registro da candidatura 20

Insculpido na Constituiccedilatildeo Federal o principio da natildeo-culpabilidade deve ser

respeitado por toda lei infraconstitucional alguns doutrinadores como Aristides

Junqueira e Antocircnio Bandeira de Mello em carta publica no sitio do Movimento de

Combate agrave Corrupccedilatildeo Eleitoral21 entendem que neste presente caso natildeo deve ser

aplicado o princiacutepio da natildeo-culpabilidade a inelegibilidade pois esta natildeo eacute pena

mas medida preventiva

Estes juristas se acham alicerccedilados pelo que expressamente estatui o sect 9deg do

artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal em que Lei complementar estabeleceraacute outros

casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim de proteger a probidade

administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato considerada a vida

pregressa do candidato afirmam que uma vez que a proacutepria Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica expressamente permite que o legislador estipule quais elementos da vida

pregressa dos candidatos podem afastaacute-los dos pleitos

Independente desta posiccedilatildeo minoritaacuteria encontra-se que o princiacutepio da natildeo-

culpabilidade eacute prevista em diversos ordenamentos juriacutedicos e tratados como se

veraacute a seguir

Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo da Franccedila de 1789 o art

9da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) de 1948 dispotildee ldquoTodo acusado eacute

considerado inocente ateacute ser declarado culpado e se julgar indispensaacutevel prendecirc-lo

todo o rigor desnecessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deveraacute ser severamente

reprimido pela leirdquo22

20 Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrgt TSE-REspEl nordm 18047 de 2992000 rel Min Fernando Neves da Silva Acesso em 16 set 2011 21 Disponiacutevel em lthttpwwwmcceorgbrsitesdefaultfilescartajuristaspdfgt Acesso em 3 jul 2011 22 Disponiacutevel em lthttppfdcpgrmpfgovbratuacao-e-conteudos-de-apoiolegislacaodireitoshuma nosdeclar_dir_ homem_cidadaopdfgt Acesso em 13 set 2011

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Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos de 1948 diz ldquoToda pessoa

acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocecircncia enquanto natildeo se

comprove legalmente sua culpardquo23

A origem histoacuterica que foi referida teve uma grande importacircncia para se

chegar a um status constitucional conforme eacute citado por Mirabete Existe apenas uma tendecircncia agrave presunccedilatildeo de inocecircncia ou mais precisamente um estado de inocecircncia um estado juriacutedico no qual o acusado eacute inocente ateacute que seja declarado culpado por uma sentenccedila transitada em julgado Por isso a nossa Constituiccedilatildeo Federal natildeo presume a inocecircncia mas declara que ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria (art 5deg LVII) ou seja que o acusado eacute inocente durante o desenvolvimento do processo e seu estado soacute se modifica por uma sentenccedila final que o declare culpado 24

Por fim o princiacutepio da natildeo-culpabilidade visa a proteccedilatildeo do reacuteu para que

este tenha um julgamento justo devendo ser provada sua verdadeira culpa antes

que seja considerado culpado

23 Disponiacutevel em lthttpwwwagugovbrsistemassiteTemplateImagemTextoThumbaspxidConteu do=113927ampordenacao=1ampid_site=4922gt Acesso em 12 set 2011 24 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252

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5 CONCLUSAtildeO Apoacutes as anaacutelises da doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncias pertinentes a este

trabalho verifica-se que a Lei Complementar nordm 1352010 ao instituir nova hipoacutetese

de inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado esta em pleno conflito com o princiacutepio da natildeo-culpabilidade insculpido no

artigo 5ordm inciso LVII da Constituiccedilatildeo Federal o que torna esta nova hipoacutetese

absolutamente inconstitucional

O objetivo da Lei Complementar nordm 1352010 eacute o de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos para que os criteacuterios de inelegibilidades sejam mais

rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos Inicialmente eacute compreensiacutevel a

preocupaccedilatildeo de qualificar o perfil dos candidatos a cargos eletivos atraveacutes da vida

pregressa isto significa querer se representar por candidatos idocircneos

Ocorre que eacute necessaacuterio impor tantas restriccedilotildees para que o cidadatildeo possa

concorrer a determinado pleito natildeo eacute mais correto permitir que o proacuteprio povo

detentor soberano do poder para escolher seus representantes defina seus criteacuterios

de escolha

Quanto ao aspecto juriacutedico vejamos que o legislativo ao criar novas hipoacuteteses

de inelegibilidade deve-se atentar para as garantias jaacute consagradas em nosso

ordenamento principalmente quando esta garantia esta insculpida na Constituiccedilatildeo

Federal garantia esta referente ao principio da natildeo-culpabilidade que reza que

ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

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condenatoacuteria trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute

considerar o indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila

Ocorre que a criaccedilatildeo da Lei Complementar nordm 1352010 nasceu conflitante

com a Constituiccedilatildeo Federal em 2 aspectos primordiais primeiro a natildeo observacircncia

do princiacutepio da anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo

Federal pacificado pela Accedilatildeo Declaratoacuteria de Inconstitucionalidade nordm 3685

afirmando que deve-se respeitar ao principio da anualidade e segundo a

inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado

O segundo conflito origina-se diante da garantia constitucional do princiacutepio da

presunccedilatildeo da natildeo-culpabilidade o qual disciplina que somente poderaacute ser

considerado culpado o acusado de determinado crime quando ocorrer o tracircnsito em

julgado da decisatildeo

Portanto temos que uma decisatildeo de um oacutergatildeo colegiado quando recorriacutevel

ainda natildeo eacute o momento que se consumativo da culpabilidade do acusado pois natildeo

podemos antecipar a puniccedilatildeo de um cidadatildeo com a perda de algum direito pelo

simples fato de estar respondendo a algum processo

A aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre teraacute como pressuposto o

exame da Constituiccedilatildeo Federal que estabelece o princiacutepio da natildeo-culpabilidade

tambeacutem chamado de princiacutepio da presunccedilatildeo de inocecircncia que eacute uma verdadeira

garantia constitucional do indiviacuteduo contra o Estado Portanto deve-se respeitar este

princiacutepio basilar do Estado Democraacutetico de Direito nos mais diferentes segmentos

devendo qualquer Lei abster-se de considerar culpado aquele que ainda natildeo teve

sua decisatildeo transitada em julgado

Assim a Lei Complementar nordm 1352010 eacute contraacuterio ao disposto no texto

constitucional pois de forma antecipada retira do cidadatildeo o direito de disputar ao

pleito de forma igualitaacuteria bem como retira do povo um de seus maiores direitos o

de poder escolher seus representantes

Portanto para fortalecimento do Estado Democraacutetico de Direito se faz

necessaacuterio que as garantias constitucionais prevaleccedilam com isto deve-se

preponderar a presunccedilatildeo de natildeo culpabilidade ateacute o tracircnsito em julgado de da

sentenccedila condenatoacuteria

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REFEREcircNCIAS BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicao_ConstituiccedilaoCompiladohtmgt Acesso em 2 jun 2011 BRASIL Tribunal Superior Eleitoral Coacutedigo eleitoral Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrinternetjurisprudenciacodigo_eleitoralcodigo_eleitoralhtmlgt Acesso em 5 mai 2011 BRASIL Supremo Tribunal Federal Jurisprudecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudenciapesquisarJurisprudenciaaspgt Acesso em 15 mai 2011 BRASIL Projeto de Lei Complementar nordm 518 de 17 de setembro de 2009 Altera a Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 que estabelece de acordo com o sect 9ordm do art 14 da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias para incluir hipoacuteteses de inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no exerciacutecio do mandato Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbrsfatividademateriadetalhesaspp_cod_mate=96850gt Acesso em 19 mai 2011

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BRASIL Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 Estabelece de acordo com o art 14 sect 9ordm da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03LeisLCPLcp64htmgt Acesso em 15 mai 2011 COSTA Adriano Soares Instituiccedilotildees de Direito Eleitoral Ed Del Rey 2006 DI PIETRO Maria Sylvia Zanella Direito Administrativo 9 Ed Satildeo Paulo Atlas 1998 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131 LEAL Saul Tourinho Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt MELLO Celso Antonio Bandeira Curso de Direito Administrativo 24 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2007 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 ed Satildeo Paulo Atlas 2006 Movimento de Combate agrave Corrupccedilatildeo Disponiacutevel em ltwwwmcceorgbrgt Acesso em 3 jul 2011 NERY JUacuteBNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20 PEREIRA Erick Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt Acesso em 30 jun 2011 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2008

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PIRES Maacutercio Rodrigo Kaio Carvalho Abuso do poder poliacutetico nas eleiccedilotildees Jus Navigandi Teresina ano 15 n 2677 30 out 2010 Disponiacutevel em lthttpjusuolcombrrevistatexto17741gt Acesso em 27 jun 2011 RAMAYANA Marcos Direito Eleitoral Impetus Niteroacutei 2006 RESENHA ELEITORAL - Nova Seacuterie v9 n1 (janjun 2002) Disponiacutevel em lt httpwwwtre-scgovbrsiteinstitucionalpublicacoesartigos-doutrinariospublicados- na-resenha-eleitoralresenhasv9-n1-janjun-2002abuso-do-podereconomico- ou-de-autoridadeindexhtmlgt SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006

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Djalma Pinto acerca do domiciacutelio eleitoral assevera ldquoO domicilio eleitoral por

sua vez eacute o lugar da residecircncia ou moradia onde o cidadatildeo formaliza seu

alistamentordquo 8

A legislaccedilatildeo requer que o candidato a um cargo eletivo natildeo incorra em

incompatibilidades ou inelegibilidades e possua domicilio eleitoral na circunscriccedilatildeo a

qual deseja concorrer Sobre a circunscriccedilatildeo eleitoral o Tribunal Superior Eleitoral

assim o define Espaccedilo geograacutefico onde se trava determinada eleiccedilatildeo Assim o paiacutes na eleiccedilatildeo do presidente e vice-presidente da Repuacuteblica o estado nas eleiccedilotildees para governador e vice-governador deputados federais e estaduais e senadores o municiacutepio nas eleiccedilotildees de prefeito e vereadores e o distrito onde e quando se realiza a eleiccedilatildeo pelo sistema distrital 9

Para concorrer as eleiccedilotildees o candidato deveraacute possuir domiciacutelio eleitoral na

respectiva circunscriccedilatildeo pelo prazo de pelo menos um ano antes do pleito e estar

com a filiaccedilatildeo deferida pelo partido no mesmo prazo eacute o que dispotildee o artigo 9deg da

Lei 950497

27 FILIACcedilAtildeO PARTIDAacuteRIA

A filiaccedilatildeo partidaacuteria eacute a quinta condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14

sect 3ordm inciso V da Constituiccedilatildeo Federal

Eacute o ato formal e solene o pelo qual um eleitor aceita e adota o programa de

um partido poliacutetico viacutenculo que se estabelece entre o poliacutetico e o partido Eacute condiccedilatildeo

de elegibilidade conforme disposto no artigo 14 sect3ordm inciso V da Constituiccedilatildeo

Federal Nos termos do artigo 16 da Lei dos Partidos Poliacuteticos Lei nordm 909695 soacute

pode filiar-se a partido o eleitor que estiver no pleno gozo de seus direitos poliacuteticos

Todavia a exceccedilotildees sobre a filiaccedilatildeo partidaacuteria como no caso de candidatura

de magistrados membros dos Tribunais de Contas Ministeacuterio Puacuteblico e militares

como exemplo vejamos a exceccedilatildeo dos militares estes querendo concorrer a cargo

puacuteblico eletivo possuindo menos de dez anos de serviccedilo deveraacute solicitar

afastamento definitivo da atividade atraveacutes de demissatildeo ou licenciamento ex-officio

caso venha a possuir mais de dez anos de serviccedilo deveraacute ser agregado pela

8 PINTO Djalma Direito eleitoral ndash improbidade administrativa e Responsabilidade Fiscal 3 Ed Satildeo Paulo Atlas 2006 9 Disponiacutevel em httpwwwtsejusbrhotSitesglossario-eleitoraltermoscircunscricao_eleitoralhtmgt Acesso em 22 jul 2011

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autoridade superior e se eleito passaraacute automaticamente no ato da diplomaccedilatildeo

para a inatividade

28 IDADE MIacuteNIMA

Idade miacutenima eacute a uacuteltima condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14 sect 3ordm

inciso VI da Constituiccedilatildeo Federal

Para o cargo de Presidente e Vice-Presidente da Repuacuteblica e para Senadores

e suplentes a idade miacutenima de 35 anos para o cargo de Governado e Vice-

Governador de Estado ou do Distrito Federal idade miacutenima de 30 anos para os

cargos de Deputado Federal Estadual Distrital Prefeito e Vice-Prefeito e Juiz de

paz a idade miacutenima de 21 anos e por fim para o cargo de vereador a idade

miacutenima de 18 anos

Dispotildee a Lei 95041997 artigo 11 sect 2ordm que a verificaccedilatildeo da idade seraacute feita

na data da posse no respectivo cargo pressupotildee que um menor de 17 anos de

idade possa se candidatar ao cargo de vereador bastando que na data da posse

conte com 18 anos completos

Alguns doutrinadores entretanto discordam dessa interpretaccedilatildeo entendendo

que natildeo poderia o legislador infra-constitucional dizer a mais do que a proacutepria

Constituiccedilatildeo estabeleceu assim leciona o Gilmar Mendes em sua obra Curso de

Direito Constitucional Natildeo haacute que se falar em momento da posse como aceitaacutevel para se perfazer a condiccedilatildeo de elegibilidade no tocante a idade miacutenima pois a Constituiccedilatildeo jaacute determinou que o momento da afericcedilatildeo para elegibilidade deve ser o do registro da candidatura 10

Tem prevalecido a verificaccedilatildeo da idade miacutenima na data da posse

10 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 Ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 p803

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3 DA INELEGIBILIDADE 31 CONCEITO DE INELEGIBILIDADE

Joseacute Afonso da Silva em sua ilustre obra Curso de Direito Constitucional

Positivo doutrinariamente leciona que ldquoa inelegibilidade obsta a elegibilidade

revelando um impedimento ao direito de ser votado que eacute a capacidade eleitoral

passivardquo 11

A inelegibilidade resulta no impedimento parcial ou seja temporaacuterio da

capacidade eleitoral passiva restringindo o cidadatildeo de ser votado nas hipoacuteteses

previstas na Lei Complementar nordm 641990 Lei Complementar nordm 1352010 e na

Constituiccedilatildeo Federal

Sua finalidade tem por objetivo a probidade administrativa a normalidade

para o exerciacutecio do mandato considerada a vida pregressa do candidato e a

normalidade e a legitimidade das eleiccedilotildees contra a influecircncia do poder econocircmico ou

o abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo cargo ou emprego na administraccedilatildeo direta ou

indireta

A inelegibilidade pode ser absoluta proibindo a candidatura agraves eleiccedilotildees em

geral ou relativa impossibilitando a postulaccedilatildeo a determinado mandato eletivo

Sendo assim o cidadatildeo que almeja se candidatar a cargo eletivo deve

atender as condiccedilotildees de elegibilidade e natildeo incorrer em nenhuma causa de

inelegibilidade

32 ESPEacuteCIES DE INELEGIBILIDADE

As espeacutecies de inelegibilidade podem ser constitucionais e

infraconstitucionais as constitucionais dividem-se em absoluta e relativa

A inelegibilidade constitucional absoluta consiste no impedimento eleitoral

que restringe o cidadatildeo de concorrer a qualquer cargo eletivo refere-se a

determinada caracteriacutestica do indiviacuteduo ou seja eacute de caraacuteter pessoal sendo

11 SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 Ed Satildeo Paulo Malheiros 012004 p 387

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taxativamente prevista pela Constituiccedilatildeo Federal e a inelegibilidade constitucional

relativa compreende o impedimento eleitoral que restringe o cidadatildeo de concorrer a

determinados cargos em determinada eleiccedilatildeo refere-se a situaccedilotildees especiais e

momentacircneas tais como motivos funcionais de casamento de parentescos

A inelegibilidade infraconstitucional eacute disciplinada na Lei Complementar ndeg

641990 alterada pela Lei Complementar ndeg 1352010

Eacute relevante a distinccedilatildeo entre as inelegibilidades constitucionais e

infraconstitucionais como bem ressaltado por Joseacute Jairo Gomes A distinccedilatildeo que se faz entre inelegibilidades constitucionais e legais natildeo eacute cerebrina apresentando inegaacutevel relevacircncia praacutetica Basta dizer que natildeo haacute preclusatildeo quanto agraves primeiras as quais podem ser arguumlidas na fase do registro de candidatura ou posteriormente antes ou depois das eleiccedilotildees A arguumliccedilatildeo posterior pode ser feita no RCED (CE art 262 I) Jaacute as inelegibilidades legais sujeitam-se agrave preclusatildeo se natildeo forem levantadas na fase de registro de candidatura Ultrapassado esse momento natildeo mais poderatildeo ser discutidas salvo se supervenientes 12

33 INELEGIBILIDADE CONSTITUCIONAL

A inelegibilidade constitucional dividi-se em absoluta e relativa

A inelegibilidade constitucional absoluta estabelecida no sect 4deg do artigo 14 da

Constituiccedilatildeo Federal prevecirc que satildeo inelegiacuteveis os inalistaacuteveis e os analfabetos

A inelegibilidade decorrente da inalistabilidade abrange todos que natildeo se

encontram na situaccedilatildeo de alistabilidade tambeacutem aqueles que se encontram em

estado definitivo ou temporariamente privados de seus direitos poliacuteticos por fim

atinge aqueles que natildeo sabem exprimir-se na liacutengua nacional e os estrangeiros

A inelegibilidade decorrente do analfabetismo natildeo permite que o analfabeto

seja elegiacutevel mas permite que ele seja alistaacutevel exercendo assim a sua capacidade

de votar mas nunca a de ser votado

Estas hipoacuteteses restringem ao cidadatildeo se candidatarem a qualquer cargo

eletivo em qualquer eleiccedilatildeo enquanto perdurar esta situaccedilatildeo restritiva

As hipoacuteteses de inelegibilidades constitucionais relativas referem-se a

situaccedilotildees especiais separando-as por motivos funcionais motivos parentais motivos

militares e encontram-se dispostas no artigo 14 sectsect 5deg ao 9deg da Constituiccedilatildeo Federal

12 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131

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A inelegibilidade por motivo funcional eacute decorrente de o cidadatildeo estar em

exerciacutecio de alguma funccedilatildeo puacuteblica Satildeo previstas duas situaccedilotildees

A primeira declara ser inelegiacutevel para o mesmo cargo em terceiro periacuteodo

subsequumlente o Presidente da Repuacuteblica os Governadores de Estado e do DF os

Prefeitos e quem os houver sucedido ou substituiacutedo nos seis meses antes das

eleiccedilotildees Eacute o que dispotildee o sect 5deg do artigo 14 na redaccedilatildeo da Emenda Constitucional

161997

Portanto soacute eacute permitida uma reconduccedilatildeo ou seja eacute permitida a reeleiccedilatildeo de

Chefes do Executivo ou seus substitutos para apenas um periacuteodo subsequumlente

A segunda situaccedilatildeo considera que satildeo inelegiacuteveis para concorrer a outros

cargos o Presidente da Repuacuteblica os Governadores de Estado e do DF e os

Prefeitos salvo se tiverem se desincompatibilizado com a renuacutencia do cargo ateacute

seis meses antes do pleito Eacute o que prevecirc o sect 6deg do artigo 14 da Constituiccedilatildeo

Federal

Os servidores puacuteblicos que ocuparem algum cargo de livre nomeaccedilatildeo

demissiacuteveis ad nutum seratildeo exonerados para que possam concorrer a cargo

eletivo ou seja natildeo poderatildeo manter qualquer viacutenculo com a entidade na qual

desempenhava suas funccedilotildees

Os servidores puacuteblicos concursados ao contraacuterio dos servidores ocupantes

de cargos de livre nomeaccedilatildeo natildeo seratildeo exonerados ou demitidos apenas se

afastaratildeo de suas funccedilotildees para se candidatar a cargo puacuteblico

A inelegibilidade por motivo de parentesco tambeacutem denominada de

inelegibilidade reflexa estaacute relacionada a condiccedilotildees inerentes ao parentesco

sanguumliacuteneo soacutecio-afetivo ou condiccedilatildeo matrimonial

Assim conforme previsto no sect 7ordm do artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal estas

mesmas pessoas impedidas para determinados cargos podem concorrer para outros

cargos que se processem em territoacuterio de outra circunscriccedilatildeo

A inelegibilidade reflexa aproxima-se da inelegibilidade absoluta a diferenccedila

ocorre que na reflexa pode cessar por vontade das pessoas envolvidas um exemplo

claro eacute a renuacutencia seis meses antes do pleito do Presidente da Repuacuteblica

Assim temos que a inelegibilidade por motivo de parentesco ou reflexa visa a

impedir a formaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do poder poliacutetico em matildeos de uma determinada

famiacutelia

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A inelegibilidade por motivos militares visa que o militar enquanto em serviccedilo

ativo natildeo pode estar filiado a partidos poliacuteticos entretanto a Constituiccedilatildeo Federal

em seu artigo 14 relata que atendidas certas condiccedilotildees o militar alistaacutevel se torna

elegiacutevel sendo estas as condiccedilotildees se contar com menos de dez anos de serviccedilo

deveraacute afastar-se da atividade e se contar com mais de dez ano de serviccedilo seraacute

agregado pela autoridade superior e se eleito passaraacute automaticamente no ato da

diplomaccedilatildeo para a inatividade

34 INELEGIBILIDADE INFRACONSTITUCIONAL

Por se tratar de inuacutemeras hipoacuteteses de inelegibilidades infraconstitucionais

natildeo seraacute possiacutevel tratar todos os casos previstos em lei para tanto adentraremos a

anaacutelise de algumas hipoacuteteses dispostas na Lei Complementar nordm 641990

As inelegibilidades infraconstitucionais satildeo instituiacutedas por Lei Complementar

que estabeleceraacute outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim

de proteger a probidade administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato

considerado vida pregressa do candidato e a normalidade e legitimidade das

eleiccedilotildees contra a influecircncia do poder econocircmico ou o abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo

cargo ou emprego na administraccedilatildeo direta ou indireta

As causas de inelegibilidade infraconstitucionais estatildeo previstas no artigo 1ordm

da Lei Complementar nordm 641990 alterado dentre outras atraveacutes da recente Lei

Complementar ndeg 1352010 conhecida como a Lei da Ficha Limpa

Dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquobrdquo da Lei Complementar nordm 641990 que os

membros do Congresso Nacional das Assembleacuteias Legislativas da Cacircmara

Legislativa e das Cacircmaras Municipais que hajam perdido os respectivos mandatos

por infringecircncia do disposto nos incisos I e II do art 55 da Constituiccedilatildeo Federal dos

dispositivos equivalentes sobre perda de mandato das Constituiccedilotildees Estaduais e

Leis Orgacircnicas dos Municiacutepios e do Distrito Federal para as eleiccedilotildees que se

realizarem durante o periacuteodo remanescente do mandato para o qual foram eleitos e

nos oito anos subsequumlentes ao teacutermino da legislatura

Sendo assim satildeo inelegiacuteveis os parlamentares cujo procedimento for

declarado incompatiacutevel com o decoro parlamentar e desde a expediccedilatildeo do diploma

firmar ou manter contrato com pessoa juriacutedica de direito puacuteblico autarquia empresa

puacuteblica sociedade de economia mista ou empresa concessionaacuteria de serviccedilo

puacuteblico salvo quando o contrato obedecer a claacuteusulas uniformes aceitar ou exercer

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cargo funccedilatildeo ou emprego remunerado inclusive os de que sejam demissiacuteveis ad

nutum nas entidades constantes da aliacutenea anterior e desde a posse ser

proprietaacuterios controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente

de contrato com pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou nela exercer funccedilatildeo

remunerada ocupar cargo ou funccedilatildeo de que sejam demissiacuteveis ad nutum nas

entidades referidas no inciso I a patrocinar causa em que seja interessada

qualquer das entidades a que se refere o inciso I a ser titulares de mais de um

cargo ou mandato puacuteblico eletivo

Portando o parlamentar que infringir o disposto no artigo 54 teraacute seu mandato

cassado Jaacute no inciso II do artigo 55 o Deputado ou Senador perderaacute o mandato

quando o procedimento for declarado incompatiacutevel com o decoro parlamentar A

Constituiccedilatildeo Federal prevecirc como falta de decoro o disciplinado no artigo 55 sect 1ordm

Por fim eacute incompatiacutevel com o decoro parlamentar os casos definidos no regimento

interno

Assim dispotildee o artigo 1ordm Inciso I aliacutenea ldquocrdquo da Lei Complementar nordm 641990

Governador e o Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal e o Prefeito e o

Vice-Prefeito que perderem seus cargos eletivos por infringecircncia a dispositivo da

Constituiccedilatildeo Estadual da Lei Orgacircnica do Distrito Federal ou da Lei Orgacircnica do

Municiacutepio para as eleiccedilotildees que se realizarem durante o periacuteodo remanescente e

nos 8 (oito) anos subsequentes ao teacutermino do mandato para o qual tenham sido

eleitos

Tal dispositivo busca evitar que os chefes do poder executivos retornem a

vida puacuteblica no mandato seguinte e nas eleiccedilotildees para as demais esferas Este

dispositivo preserva a moralidade puacuteblica O prazo de 8 anos de inabilitaccedilatildeo seraacute

contado a partir da data que tiver sido proferida a decisatildeo por crime de

responsabilidade

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquodrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tenham contra sua pessoa representaccedilatildeo julgada procedente pela Justiccedila

Eleitoral em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo colegiado em

processo de apuraccedilatildeo de abuso do poder econocircmico ou poliacutetico para a eleiccedilatildeo na

qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como para as que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes

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Primeiramente eacute necessaacuterio conceituar o que eacute abuso de poder econocircmico de

abuso de poder poliacutetico

Abuso de poder econocircmico consiste na utilizaccedilatildeo de bens ou serviccedilos de

empresas particulares ou recursos proacuteprios do candidato gerando assim uma

desproporccedilatildeo entre os candidatos exemplo Se um candidato eacute proprietaacuterio de uma

grande empresa e faz uso dela para custear sua campanha sem realizar doaccedilatildeo de

campanha prevista na Lei 950497

Abuso do poder poliacutetico consiste no emprego de serviccedilos ou bens

pertencentes a administraccedilatildeo puacuteblica com o objetivo de propiciar a eleiccedilatildeo de

determinado candidato

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquofrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que forem declarados indignos do oficialato ou com ele incompatiacuteveis pelo prazo

de 8 (oito) anos

Oficialato eacute o cargo ou dignidade de oficial seja das forccedilas armadas poliacutecia

militar ou corpo de bombeiros A competecircncia para apreciar e declarar a indignidade

do oficialato seraacute do Superior Tribunal Militar

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquogrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tiverem suas contas relativas ao exerciacutecio de cargos ou funccedilotildees puacuteblicas

rejeitadas por irregularidade insanaacutevel que configure ato doloso de improbidade

administrativa e por decisatildeo irrecorriacutevel do oacutergatildeo competente salvo se esta houver

sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciaacuterio para as eleiccedilotildees que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes contados a partir da data da decisatildeo aplicando-se o

disposto no inciso II do art 71 da Constituiccedilatildeo Federal a todos os ordenadores de

despesa sem exclusatildeo de mandataacuterios que houverem agido nessa condiccedilatildeo

Esta decisatildeo eacute administrativa e traraacute a consequumlecircncia de inelegibilidade para

isso a irregularidade tem de ser insanaacutevel

A competecircncia para julgar estas irregularidades compete ao Poder

Legislativo seja no acircmbito federal estadual ou municipal

A analise desta insanabilidade poderaacute caber a Justiccedila Eleitoral como por

exemplo no pedido de registro de candidatura por algueacutem que teve suas contas

rejeitadas

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquohrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os detentores de cargo na administraccedilatildeo puacuteblica direta indireta ou fundacional que

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beneficiarem a si ou a terceiros pelo abuso do poder econocircmico ou poliacutetico que

forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial

colegiado para a eleiccedilatildeo na qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como

para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes

Aqui natildeo se trata de cargo eletivo mas sim de cargos por concurso puacuteblico ou

por provimento em comissatildeo

A finalidade eacute por fim a reeleiccedilatildeo para aqueles que estatildeo em cargos de chefia

do poder executivo que tenham cometido abuso do poder econocircmico ou poliacutetico

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquoirdquo da Lei Complementar nordm 641990)

os que em estabelecimentos de creacutedito financiamento ou seguro que tenham sido

ou estejam sendo objeto de processo de liquidaccedilatildeo judicial ou extrajudicial hajam

exercido nos 12 (doze) meses anteriores agrave respectiva decretaccedilatildeo cargo ou funccedilatildeo

de direccedilatildeo administraccedilatildeo ou representaccedilatildeo enquanto natildeo forem exonerados de

qualquer responsabilidade

O que a lei busca nesta situaccedilatildeo eacute deixar aquele que administrou os referidos

estabelecimentos fora de qualquer participaccedilatildeo poliacutetica enquanto natildeo forem

apurados todos os fatos que levaram a insolvecircncia

Portanto o maior objetivo desta causa de inelegibilidade eacute assegurar que o

ex-administrado de estabelecimento de creacutedito financiamento ou seguro natildeo venha

a eleger-se a cargo eletivo sem antes ter sido apurada sua participaccedilatildeo para

insolvecircncia

Outras causas de inelegibilidades incluiacutedas pela Lei Complementar nordm

1352010 estatildeo previstas nos incisos j a q da referida Lei

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4 DA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE 41 ORIGEM DA LEI COMPLEMENTAR Nordm 1352010

Com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o Brasil passa a ser um

Estado Democraacutetico de Direito inaugurando uma democracia participativa

Esta democracia participativa permite ao cidadatildeo desde que preenchidos

determinados requisitos dar iniacutecio a um projeto de Lei atraveacutes da chamada Iniciativa

Popular A origem da Lei Complementar nordm 1352010 decorreu do Projeto de Lei nordm

5182009 sob a coordenaccedilatildeo do Movimento de Combate a Corrupccedilatildeo Eleitoral ndash

MCCE que teve iniacutecio em abril de 2008 com o objetivo de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos a finalidade eacute que os criteacuterios de inelegibilidades sejam

mais rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos

Esta Lei Complementar dita que pessoas condenadas por um colegiado

independente do tracircnsito em julgado satildeo inelegiacuteveis portanto podem ter seus

registros de candidaturas negados alem de incluir parlamentares que renunciaram

ao cargo para assim evitar uma possiacutevel abertura de processo por quebra de decoro

ou por desrespeito agrave Constituiccedilatildeo com a finalidade uacutenica de evitar possiacuteveis

puniccedilotildees

A Lei Complementar 1352010 traacutes inuacutemeros confrontos com a Constituiccedilatildeo

Federal sendo dois os mais relevantes primeiro a natildeo observacircncia do princiacutepio da

anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal e segundo

o desrespeito ao princiacutepio da natildeo-culpabilidade tambeacutem estabelecido na

Constituiccedilatildeo federal no artigo 5ordm inciso LVII

Sobre o primeiro ponto que trata da aplicabilidade da Lei Complementar nordm

1352010 para as eleiccedilotildees de 2010 restou soberana a decisatildeo do Supremo

Tribunal Federal ao resolver o conflito afirmando que o artigo 16 da Constituiccedilatildeo

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Federal ao submeter a alteraccedilatildeo legal do processo eleitoral agrave regra da anualidade

constitui uma garantia fundamental para o pleno exerciacutecio de direitos poliacuteticos

Esta pacificaccedilatildeo se deu no julgamento da Accedilatildeo Declaratoacuteria de

Inconstitucionalidade nordm 3685 13 onde atuou como Relatora a Ministra Ellen Gracie

que identificou como uma garantia fundamental do cidadatildeo-eleitor do cidadatildeo-

candidato e dos partidos poliacuteticos o artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal

A Ministra Ellen Gracie utilizou-se de uma analogia com o julgamento da

Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade 939 que teve como relator Ministro Sydnei

Sanches com a garantia da anterioridade tributaacuteria fixada no artigo 150 III b no

sentido de que se o princiacutepio da anterioridade tributaacuteria constitui uma garantia do

cidadatildeo-contribuinte o princiacutepio da anterioridade eleitoral tambeacutem eacute uma garantia do

cidadatildeo do eleitor do candidato e dos partidos poliacuteticos

Desta forma restou consolidado a garantia prevista no artigo 16 da

Constituiccedilatildeo Federal como forma de um devido processo legal eleitoral

O devido processo visa que se atinja uma decisatildeo conforme a Justiccedila

prestigiando a eacutetica da legalidade ressaltando-se que ele possui um duplo

significado de processo necessaacuterio e processo adequado para tanto COMOGLIO

afirma Que as garantias decorrentes do devido processo legal querem dizer natildeo apenas direito a um processo mas a um justo processo compreendendo a correccedilatildeo e efetividade dos instrumentos disponiacuteveis em juiacutezo e a efetividade e adequaccedilatildeo da proacutepria tutela finalrdquo 14

A Constituiccedilatildeo brasileira de 1988 traz a garantia exarada no seu artigo 5ordm

Art 5ordm - () LIV ndash ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal LV ndash aos litigantes em processo judicial e administrativo e aos acusados em geral seratildeo assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa com os meios de recurso a ela inerentes

Sobre o segundo ponto controverso mateacuteria deste trabalho tem o conflito tem

o conflito entre a Lei Complementar nordm 13510 contra uma garantia constitucional

denominado princiacutepio da natildeo-culpabilidade que eacute inseparaacutevel do conceito de

13 Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011 14 Luigi Paolo COMOGLIO Giuridizione e processo nel quadro delle garanzie constituzionali Rivista Trimestrale di Diritto e Procedura Civile 4 p 1070

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democracia A Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5ordm inciso LVII estabelece uma das

maiores garantias dos indiviacuteduos contra o autoritarismo do Estado afirmando que

ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

condenatoacuteriardquo fixando explicitamente o princiacutepio da natildeo-culpabilidade entre os

direitos fundamentais

42 AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EM JULGADO

A Lei Complementar nordm 1352010 em sua aliacutenea ldquoerdquo do inciso I do artigo 2ordm

possui a seguinte redaccedilatildeo e) os que forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial colegiado desde a condenaccedilatildeo ateacute o transcurso do prazo de 8 (oito) anos apoacutes o cumprimento da pena pelos crimes (Redaccedilatildeo dada pela Lei Complementar nordm 135 de 2010)

Esta aliacutenea visa impedir a candidatura de poliacuteticos condenados a partir da

segunda instacircncia e mesmo que natildeo tenha transitado em julgado Ela defende que

haja uma condenaccedilatildeo criminal no entanto deixa de exigir a configuraccedilatildeo do tracircnsito

em julgado do ato decisoacuterio para que ocorra a inelegibilidade A antiga lei previa que

o candidato soacute seria inelegiacutevel se tivesse condenaccedilatildeo definitiva

As alteraccedilotildees da Lei Complementar nordm 1352010 objetiva atender a um senso

comum do eleitorado afirmando que uma pessoa condenada natildeo deve poder ser

votada isto eacute natildeo deve ter mandato Em seus dizeres trata que a inelegibilidade

natildeo pressupotildee culpa formada natildeo deve haver discussatildeo sobre presunccedilatildeo da

inocecircncia Pode haver inelegibilidade por parentesco por ocupar cargo puacuteblico falta

de domiciacutelio eleitoral ou filiaccedilatildeo partidaacuteria causas que natildeo tecircm nada a ver com

condenaccedilatildeo criminal

A contradiccedilatildeo do argumento da Lei Complementar eacute se a Constituiccedilatildeo em

face do princiacutepio da natildeo-culpabilidade admite a cominaccedilatildeo de inelegibilidade para

quem ainda tem recursos pendentes de julgamento

Caso esta hipoacutetese seja admitida temos que um indiviacuteduo que tenha sido

condenado criminalmente em segunda instacircncia e interponha recurso especial ou

extraordinaacuterio para anular o processo caso natildeo consiga uma medida liminar

suspendendo os efeitos ficaria impedido de concorrer na eleiccedilatildeo

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Imagine-se que ao final da accedilatildeo o cidadatildeo que ficou impedido de concorrer

nas eleiccedilotildees obtivesse vitoacuteria em seu recurso obtendo assim a nulidade da accedilatildeo

bem como da decisatildeo que o condenou com ficaria a situaccedilatildeo deste cidadatildeo

O que se quer com a Lei Complementar nordm 1352010 eacute instituir um moralismo

eleitoral que se sobrepotildee a Constituiccedilatildeo Federal e seu principio constitucional da

natildeo-culpabilidade que eacute a garantia individual contra o Estado

Outro argumento utilizado pelos defensores da constitucionalidade da Lei

Complementar nordm 1352010 satildeo as prisotildees cautelares e que no final o sujeito

acaba sebdo absolvido Ora cabe lembrar-lhes que a prisatildeo cautelar natildeo eacute

antecipaccedilatildeo de pena cumpre ela uma funccedilatildeo processual clara e limitada agrave garantia

da ordem puacuteblica da ordem econocircmica por conveniecircncia da instruccedilatildeo criminal ou

para assegurar a aplicaccedilatildeo da lei penal quando houver prova da existecircncia do crime

e indiacutecio suficiente de autoria

Portanto temos que o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees enquanto natildeo

sobrevier decisatildeo judicial transitada em julgado

O proacuteprio Supremo na Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental

144 jaacute decidiu natildeo barrar candidaturas sem condenaccedilatildeo transitada em julgado

A Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental 144 15 foi votada

em agosto de 2008 antes das eleiccedilotildees municipais Na ocasiatildeo o Supremo Tribunal

Federal decidiu que natildeo poderiam ser barradas candidaturas de poliacuteticos

condenados na primeira instacircncia por conta da presunccedilatildeo de inocecircncia

Em 6 de agosto de 2008 haacute menos de trecircs anos o Supremo Tribunal Federal

julgou improcedente a Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental nordm

144 ajuizada pela Associaccedilatildeo dos Magistrados Brasileiros em voto do ministro

Celso de Mello vencidos os ministros Carlos Ayres e Joaquim Barbosa exatamente

porque O postulado consagrador da garantia de inocecircncia irradia os seus efeitos para aleacutem dos limites dos processos penais de natureza condenatoacuteria impedindo desse modo que situaccedilotildees processuais anda natildeo definidas por sentenccedilas transitadas em julgado provoquem em decorrecircncia das exigecircncias de probidade administrativa e demoralidade a que se refere o sect 9ordm do artigo 14 da Coinstituiccedilatildeo Federal a inelegibilidade dos cidadatildeos ou obstem candidaturas para mandatos eletivos

15Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011

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Portanto ficou definido que Lei Complementar sendo editada para casos de

inelegibilidades esta deveraacute respeitar o princiacutepio da natildeo-culpabilidade Ocorre que

foi editada a Lei Complementar nordm 1352010 que atendeu aos reclamos populares

mas preferiu a um soacute tempo violar a Constituiccedilatildeo Federal e desrespeitar a recente

decisatildeo do Supremo Tribunal Federal mesmo que na eacutepoacuteca desta decisatildeo natildeo

havia lei formal para tal situaccedilatildeo

43 PRINCIacutePIO CONSTITUCIONAL DA NAtildeO-CULPABILIDADE

O princiacutepio da natildeo-culpabilidade eacute direito fundamental previsto na

Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5deg inciso LVII ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute

o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

Isto eacute enquanto natildeo sobrevier uma decisatildeo judicial condenatoacuteria transitada

em julgado o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees em seu patrimocircnio ou em sua

liberdade Caso sobrevenha duacutevida quanto a culpabilidade esta resolveraacute sempre

em favor do reacuteu ou seja aplicando-se o princiacutepio in duacutebio pro reo

Assim disciplina Nelson Nery Juacutenior sobre o princiacutepio da natildeo-culpabilidade ldquoO inteacuterprete deve buscar a aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre tendo como pressuposto o exame da Constituiccedilatildeo Federal Depois sim deve consultar a legislaccedilatildeo infraconstitucional a respeito do temardquo 16

Sendo assim a Constituiccedilatildeo Federal no capiacutetulo sobre os Direitos e Deveres

Individuais e Coletivos em seu artigo 5ordm inciso LVII afirma que ldquoningueacutem seraacute

considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute considerar o

indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila A doutrina e a

jurisprudecircncia aclamam este princiacutepio como vaacuterios nomes como princiacutepio da

presunccedilatildeo de inocecircncia princiacutepio da natildeo-culpabilidade ou simplesmente princiacutepio da

inocecircncia

Joseacute Afonso da Silva em seu livro Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo

disciplina assim esta garantia A norma constitucional do inciso LVII agora sob nosso exame garante a presunccedilatildeo de inocecircncia por meio de um enunciado negativo universal lsquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria Usa-se de uma forma

16 NERY JUacuteNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20

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negativa para outorgar uma garantia positiva Na verdade o texto brasileiro natildeo significa outra coisa senatildeo que fica assegurada a todos a presunccedilatildeo de inocecircncia ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria O tracircnsito em julgado se daacute quando a decisatildeo natildeo comporta mais recurso ordinaacuterio especial ou extraordinaacuterio 17

Nesse sentido o indiviacuteduo acusado natildeo pode ser presumidamente culpado

mas sim inocente Tal princiacutepio visa a tutelar a liberdade pessoal de modo que o

Estado nos mais diferentes segmentos deve abster-se de considerar culpado

aquele que ainda natildeo foi submetido agrave definitividade da atuaccedilatildeo jurisdicional Em se tratando de suspensatildeo dos direitos poliacuteticos a Constituiccedilatildeo Federal

garante que a suspensatildeo somente se daraacute por ldquocondenaccedilatildeo criminal transitada em

julgado enquanto durarem seus efeitosrdquo

Julgamento neste sentido REPRESENTACcedilAtildeO SUSPENSAtildeO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS EM VIRTUDE DE SENTENCcedilA PENAL CONDENATOacuteRIA TRANSITADA EM JULGADO AUTO-APLICABILIDADE DOS ARTIGOS 14 sect 3ordm II E 15 III DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL PROCEDEcircNCIA A suspensatildeo dos direitos poliacuteticos do condenado independe de lei regulamentadora bem como de processo especial de cogniccedilatildeo e de anaacutelise de meacuterito para a execuccedilatildeo da medida no juiacutezo eleitoral posto natildeo se tratar de sanccedilatildeo penal mas de efeito natildeo-penal de condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado e decorrente de mandamento constitucional Comprovado o tracircnsito em julgado da sentenccedila penal condenatoacuteria decreta-se automaticamente a suspensatildeo dos direitos poliacuteticos ativo e passivo do representado ou seja o direito de votar e ser votado com a consequumlente exclusatildeo de seu nome da folha de votaccedilatildeo e declaraccedilatildeo de sua inelegibilidade 18

Logo infere-se que a condenaccedilatildeo criminal sem o tracircnsito em julgado natildeo

desqualifica o condenado a votar e a eventualmente concorrer a qualquer cargo

eletivo

O Colendo Tribunal Superior Eleitoral enfrentou esta questatildeo ao apreciar

pedido de registro de candidatura valendo registrar os seguintes julgados RECURSO ESPECIAL RECEBIDO COMO ORDINAacuteRIO REGISTRO DE CANDIDATURA DEFERIMENTO INELEGIBILIDADE NAtildeO-OCORREcircNCIA Condenaccedilatildeo criminal sem tracircnsito em julgado natildeo eacute apta a ensejar inelegibilidade (precedente do TSE acoacuterdatildeo 536 rel Min Fernando Neves publicado em sessatildeo de 882002) Recurso natildeo provido 19

17 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006 p 155 18 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbrgt TRESCndashAcoacuterdatildeo nordm 13324 de 071094 rel Juiz Nilson B Filho Acesso em 16 set 2011 19 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbr gt TSE- REspEl nordm 20247 de 19902 rel Min Sepuacutelveda Pertence Acesso em 16 set 2011

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INELEGIBILIDADE CONDENACcedilAtildeO CRIMINAL NAtildeO TRANSITADA EM JULGADO CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA ART 14 sect 9deg SUacuteMULA Ndeg 13 DO TSE 1 A existecircncia de sentenccedila criminal condenatoacuteria sem o tracircnsito em julgado natildeo eacute suficiente para ocasionar inelegibilidade 2 O art 14 sect 9deg da Constituiccedilatildeo natildeo eacute auto-aplicaacutevel 3 Necessidade de lei complementar estabelecendo os casos em que a vida pregressa do candidato poderaacute levar agrave sua inelegibilidade bem como os prazos de sua cessaccedilatildeo 4 Recurso provido para julgar improcedente a impugnaccedilatildeo e deferir o registro da candidatura 20

Insculpido na Constituiccedilatildeo Federal o principio da natildeo-culpabilidade deve ser

respeitado por toda lei infraconstitucional alguns doutrinadores como Aristides

Junqueira e Antocircnio Bandeira de Mello em carta publica no sitio do Movimento de

Combate agrave Corrupccedilatildeo Eleitoral21 entendem que neste presente caso natildeo deve ser

aplicado o princiacutepio da natildeo-culpabilidade a inelegibilidade pois esta natildeo eacute pena

mas medida preventiva

Estes juristas se acham alicerccedilados pelo que expressamente estatui o sect 9deg do

artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal em que Lei complementar estabeleceraacute outros

casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim de proteger a probidade

administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato considerada a vida

pregressa do candidato afirmam que uma vez que a proacutepria Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica expressamente permite que o legislador estipule quais elementos da vida

pregressa dos candidatos podem afastaacute-los dos pleitos

Independente desta posiccedilatildeo minoritaacuteria encontra-se que o princiacutepio da natildeo-

culpabilidade eacute prevista em diversos ordenamentos juriacutedicos e tratados como se

veraacute a seguir

Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo da Franccedila de 1789 o art

9da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) de 1948 dispotildee ldquoTodo acusado eacute

considerado inocente ateacute ser declarado culpado e se julgar indispensaacutevel prendecirc-lo

todo o rigor desnecessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deveraacute ser severamente

reprimido pela leirdquo22

20 Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrgt TSE-REspEl nordm 18047 de 2992000 rel Min Fernando Neves da Silva Acesso em 16 set 2011 21 Disponiacutevel em lthttpwwwmcceorgbrsitesdefaultfilescartajuristaspdfgt Acesso em 3 jul 2011 22 Disponiacutevel em lthttppfdcpgrmpfgovbratuacao-e-conteudos-de-apoiolegislacaodireitoshuma nosdeclar_dir_ homem_cidadaopdfgt Acesso em 13 set 2011

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Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos de 1948 diz ldquoToda pessoa

acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocecircncia enquanto natildeo se

comprove legalmente sua culpardquo23

A origem histoacuterica que foi referida teve uma grande importacircncia para se

chegar a um status constitucional conforme eacute citado por Mirabete Existe apenas uma tendecircncia agrave presunccedilatildeo de inocecircncia ou mais precisamente um estado de inocecircncia um estado juriacutedico no qual o acusado eacute inocente ateacute que seja declarado culpado por uma sentenccedila transitada em julgado Por isso a nossa Constituiccedilatildeo Federal natildeo presume a inocecircncia mas declara que ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria (art 5deg LVII) ou seja que o acusado eacute inocente durante o desenvolvimento do processo e seu estado soacute se modifica por uma sentenccedila final que o declare culpado 24

Por fim o princiacutepio da natildeo-culpabilidade visa a proteccedilatildeo do reacuteu para que

este tenha um julgamento justo devendo ser provada sua verdadeira culpa antes

que seja considerado culpado

23 Disponiacutevel em lthttpwwwagugovbrsistemassiteTemplateImagemTextoThumbaspxidConteu do=113927ampordenacao=1ampid_site=4922gt Acesso em 12 set 2011 24 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252

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5 CONCLUSAtildeO Apoacutes as anaacutelises da doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncias pertinentes a este

trabalho verifica-se que a Lei Complementar nordm 1352010 ao instituir nova hipoacutetese

de inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado esta em pleno conflito com o princiacutepio da natildeo-culpabilidade insculpido no

artigo 5ordm inciso LVII da Constituiccedilatildeo Federal o que torna esta nova hipoacutetese

absolutamente inconstitucional

O objetivo da Lei Complementar nordm 1352010 eacute o de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos para que os criteacuterios de inelegibilidades sejam mais

rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos Inicialmente eacute compreensiacutevel a

preocupaccedilatildeo de qualificar o perfil dos candidatos a cargos eletivos atraveacutes da vida

pregressa isto significa querer se representar por candidatos idocircneos

Ocorre que eacute necessaacuterio impor tantas restriccedilotildees para que o cidadatildeo possa

concorrer a determinado pleito natildeo eacute mais correto permitir que o proacuteprio povo

detentor soberano do poder para escolher seus representantes defina seus criteacuterios

de escolha

Quanto ao aspecto juriacutedico vejamos que o legislativo ao criar novas hipoacuteteses

de inelegibilidade deve-se atentar para as garantias jaacute consagradas em nosso

ordenamento principalmente quando esta garantia esta insculpida na Constituiccedilatildeo

Federal garantia esta referente ao principio da natildeo-culpabilidade que reza que

ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

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condenatoacuteria trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute

considerar o indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila

Ocorre que a criaccedilatildeo da Lei Complementar nordm 1352010 nasceu conflitante

com a Constituiccedilatildeo Federal em 2 aspectos primordiais primeiro a natildeo observacircncia

do princiacutepio da anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo

Federal pacificado pela Accedilatildeo Declaratoacuteria de Inconstitucionalidade nordm 3685

afirmando que deve-se respeitar ao principio da anualidade e segundo a

inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado

O segundo conflito origina-se diante da garantia constitucional do princiacutepio da

presunccedilatildeo da natildeo-culpabilidade o qual disciplina que somente poderaacute ser

considerado culpado o acusado de determinado crime quando ocorrer o tracircnsito em

julgado da decisatildeo

Portanto temos que uma decisatildeo de um oacutergatildeo colegiado quando recorriacutevel

ainda natildeo eacute o momento que se consumativo da culpabilidade do acusado pois natildeo

podemos antecipar a puniccedilatildeo de um cidadatildeo com a perda de algum direito pelo

simples fato de estar respondendo a algum processo

A aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre teraacute como pressuposto o

exame da Constituiccedilatildeo Federal que estabelece o princiacutepio da natildeo-culpabilidade

tambeacutem chamado de princiacutepio da presunccedilatildeo de inocecircncia que eacute uma verdadeira

garantia constitucional do indiviacuteduo contra o Estado Portanto deve-se respeitar este

princiacutepio basilar do Estado Democraacutetico de Direito nos mais diferentes segmentos

devendo qualquer Lei abster-se de considerar culpado aquele que ainda natildeo teve

sua decisatildeo transitada em julgado

Assim a Lei Complementar nordm 1352010 eacute contraacuterio ao disposto no texto

constitucional pois de forma antecipada retira do cidadatildeo o direito de disputar ao

pleito de forma igualitaacuteria bem como retira do povo um de seus maiores direitos o

de poder escolher seus representantes

Portanto para fortalecimento do Estado Democraacutetico de Direito se faz

necessaacuterio que as garantias constitucionais prevaleccedilam com isto deve-se

preponderar a presunccedilatildeo de natildeo culpabilidade ateacute o tracircnsito em julgado de da

sentenccedila condenatoacuteria

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REFEREcircNCIAS BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicao_ConstituiccedilaoCompiladohtmgt Acesso em 2 jun 2011 BRASIL Tribunal Superior Eleitoral Coacutedigo eleitoral Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrinternetjurisprudenciacodigo_eleitoralcodigo_eleitoralhtmlgt Acesso em 5 mai 2011 BRASIL Supremo Tribunal Federal Jurisprudecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudenciapesquisarJurisprudenciaaspgt Acesso em 15 mai 2011 BRASIL Projeto de Lei Complementar nordm 518 de 17 de setembro de 2009 Altera a Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 que estabelece de acordo com o sect 9ordm do art 14 da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias para incluir hipoacuteteses de inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no exerciacutecio do mandato Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbrsfatividademateriadetalhesaspp_cod_mate=96850gt Acesso em 19 mai 2011

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BRASIL Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 Estabelece de acordo com o art 14 sect 9ordm da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03LeisLCPLcp64htmgt Acesso em 15 mai 2011 COSTA Adriano Soares Instituiccedilotildees de Direito Eleitoral Ed Del Rey 2006 DI PIETRO Maria Sylvia Zanella Direito Administrativo 9 Ed Satildeo Paulo Atlas 1998 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131 LEAL Saul Tourinho Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt MELLO Celso Antonio Bandeira Curso de Direito Administrativo 24 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2007 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 ed Satildeo Paulo Atlas 2006 Movimento de Combate agrave Corrupccedilatildeo Disponiacutevel em ltwwwmcceorgbrgt Acesso em 3 jul 2011 NERY JUacuteBNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20 PEREIRA Erick Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt Acesso em 30 jun 2011 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2008

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PIRES Maacutercio Rodrigo Kaio Carvalho Abuso do poder poliacutetico nas eleiccedilotildees Jus Navigandi Teresina ano 15 n 2677 30 out 2010 Disponiacutevel em lthttpjusuolcombrrevistatexto17741gt Acesso em 27 jun 2011 RAMAYANA Marcos Direito Eleitoral Impetus Niteroacutei 2006 RESENHA ELEITORAL - Nova Seacuterie v9 n1 (janjun 2002) Disponiacutevel em lt httpwwwtre-scgovbrsiteinstitucionalpublicacoesartigos-doutrinariospublicados- na-resenha-eleitoralresenhasv9-n1-janjun-2002abuso-do-podereconomico- ou-de-autoridadeindexhtmlgt SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006

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autoridade superior e se eleito passaraacute automaticamente no ato da diplomaccedilatildeo

para a inatividade

28 IDADE MIacuteNIMA

Idade miacutenima eacute a uacuteltima condiccedilatildeo de elegibilidade prevista no artigo 14 sect 3ordm

inciso VI da Constituiccedilatildeo Federal

Para o cargo de Presidente e Vice-Presidente da Repuacuteblica e para Senadores

e suplentes a idade miacutenima de 35 anos para o cargo de Governado e Vice-

Governador de Estado ou do Distrito Federal idade miacutenima de 30 anos para os

cargos de Deputado Federal Estadual Distrital Prefeito e Vice-Prefeito e Juiz de

paz a idade miacutenima de 21 anos e por fim para o cargo de vereador a idade

miacutenima de 18 anos

Dispotildee a Lei 95041997 artigo 11 sect 2ordm que a verificaccedilatildeo da idade seraacute feita

na data da posse no respectivo cargo pressupotildee que um menor de 17 anos de

idade possa se candidatar ao cargo de vereador bastando que na data da posse

conte com 18 anos completos

Alguns doutrinadores entretanto discordam dessa interpretaccedilatildeo entendendo

que natildeo poderia o legislador infra-constitucional dizer a mais do que a proacutepria

Constituiccedilatildeo estabeleceu assim leciona o Gilmar Mendes em sua obra Curso de

Direito Constitucional Natildeo haacute que se falar em momento da posse como aceitaacutevel para se perfazer a condiccedilatildeo de elegibilidade no tocante a idade miacutenima pois a Constituiccedilatildeo jaacute determinou que o momento da afericcedilatildeo para elegibilidade deve ser o do registro da candidatura 10

Tem prevalecido a verificaccedilatildeo da idade miacutenima na data da posse

10 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 Ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 p803

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3 DA INELEGIBILIDADE 31 CONCEITO DE INELEGIBILIDADE

Joseacute Afonso da Silva em sua ilustre obra Curso de Direito Constitucional

Positivo doutrinariamente leciona que ldquoa inelegibilidade obsta a elegibilidade

revelando um impedimento ao direito de ser votado que eacute a capacidade eleitoral

passivardquo 11

A inelegibilidade resulta no impedimento parcial ou seja temporaacuterio da

capacidade eleitoral passiva restringindo o cidadatildeo de ser votado nas hipoacuteteses

previstas na Lei Complementar nordm 641990 Lei Complementar nordm 1352010 e na

Constituiccedilatildeo Federal

Sua finalidade tem por objetivo a probidade administrativa a normalidade

para o exerciacutecio do mandato considerada a vida pregressa do candidato e a

normalidade e a legitimidade das eleiccedilotildees contra a influecircncia do poder econocircmico ou

o abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo cargo ou emprego na administraccedilatildeo direta ou

indireta

A inelegibilidade pode ser absoluta proibindo a candidatura agraves eleiccedilotildees em

geral ou relativa impossibilitando a postulaccedilatildeo a determinado mandato eletivo

Sendo assim o cidadatildeo que almeja se candidatar a cargo eletivo deve

atender as condiccedilotildees de elegibilidade e natildeo incorrer em nenhuma causa de

inelegibilidade

32 ESPEacuteCIES DE INELEGIBILIDADE

As espeacutecies de inelegibilidade podem ser constitucionais e

infraconstitucionais as constitucionais dividem-se em absoluta e relativa

A inelegibilidade constitucional absoluta consiste no impedimento eleitoral

que restringe o cidadatildeo de concorrer a qualquer cargo eletivo refere-se a

determinada caracteriacutestica do indiviacuteduo ou seja eacute de caraacuteter pessoal sendo

11 SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 Ed Satildeo Paulo Malheiros 012004 p 387

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taxativamente prevista pela Constituiccedilatildeo Federal e a inelegibilidade constitucional

relativa compreende o impedimento eleitoral que restringe o cidadatildeo de concorrer a

determinados cargos em determinada eleiccedilatildeo refere-se a situaccedilotildees especiais e

momentacircneas tais como motivos funcionais de casamento de parentescos

A inelegibilidade infraconstitucional eacute disciplinada na Lei Complementar ndeg

641990 alterada pela Lei Complementar ndeg 1352010

Eacute relevante a distinccedilatildeo entre as inelegibilidades constitucionais e

infraconstitucionais como bem ressaltado por Joseacute Jairo Gomes A distinccedilatildeo que se faz entre inelegibilidades constitucionais e legais natildeo eacute cerebrina apresentando inegaacutevel relevacircncia praacutetica Basta dizer que natildeo haacute preclusatildeo quanto agraves primeiras as quais podem ser arguumlidas na fase do registro de candidatura ou posteriormente antes ou depois das eleiccedilotildees A arguumliccedilatildeo posterior pode ser feita no RCED (CE art 262 I) Jaacute as inelegibilidades legais sujeitam-se agrave preclusatildeo se natildeo forem levantadas na fase de registro de candidatura Ultrapassado esse momento natildeo mais poderatildeo ser discutidas salvo se supervenientes 12

33 INELEGIBILIDADE CONSTITUCIONAL

A inelegibilidade constitucional dividi-se em absoluta e relativa

A inelegibilidade constitucional absoluta estabelecida no sect 4deg do artigo 14 da

Constituiccedilatildeo Federal prevecirc que satildeo inelegiacuteveis os inalistaacuteveis e os analfabetos

A inelegibilidade decorrente da inalistabilidade abrange todos que natildeo se

encontram na situaccedilatildeo de alistabilidade tambeacutem aqueles que se encontram em

estado definitivo ou temporariamente privados de seus direitos poliacuteticos por fim

atinge aqueles que natildeo sabem exprimir-se na liacutengua nacional e os estrangeiros

A inelegibilidade decorrente do analfabetismo natildeo permite que o analfabeto

seja elegiacutevel mas permite que ele seja alistaacutevel exercendo assim a sua capacidade

de votar mas nunca a de ser votado

Estas hipoacuteteses restringem ao cidadatildeo se candidatarem a qualquer cargo

eletivo em qualquer eleiccedilatildeo enquanto perdurar esta situaccedilatildeo restritiva

As hipoacuteteses de inelegibilidades constitucionais relativas referem-se a

situaccedilotildees especiais separando-as por motivos funcionais motivos parentais motivos

militares e encontram-se dispostas no artigo 14 sectsect 5deg ao 9deg da Constituiccedilatildeo Federal

12 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131

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A inelegibilidade por motivo funcional eacute decorrente de o cidadatildeo estar em

exerciacutecio de alguma funccedilatildeo puacuteblica Satildeo previstas duas situaccedilotildees

A primeira declara ser inelegiacutevel para o mesmo cargo em terceiro periacuteodo

subsequumlente o Presidente da Repuacuteblica os Governadores de Estado e do DF os

Prefeitos e quem os houver sucedido ou substituiacutedo nos seis meses antes das

eleiccedilotildees Eacute o que dispotildee o sect 5deg do artigo 14 na redaccedilatildeo da Emenda Constitucional

161997

Portanto soacute eacute permitida uma reconduccedilatildeo ou seja eacute permitida a reeleiccedilatildeo de

Chefes do Executivo ou seus substitutos para apenas um periacuteodo subsequumlente

A segunda situaccedilatildeo considera que satildeo inelegiacuteveis para concorrer a outros

cargos o Presidente da Repuacuteblica os Governadores de Estado e do DF e os

Prefeitos salvo se tiverem se desincompatibilizado com a renuacutencia do cargo ateacute

seis meses antes do pleito Eacute o que prevecirc o sect 6deg do artigo 14 da Constituiccedilatildeo

Federal

Os servidores puacuteblicos que ocuparem algum cargo de livre nomeaccedilatildeo

demissiacuteveis ad nutum seratildeo exonerados para que possam concorrer a cargo

eletivo ou seja natildeo poderatildeo manter qualquer viacutenculo com a entidade na qual

desempenhava suas funccedilotildees

Os servidores puacuteblicos concursados ao contraacuterio dos servidores ocupantes

de cargos de livre nomeaccedilatildeo natildeo seratildeo exonerados ou demitidos apenas se

afastaratildeo de suas funccedilotildees para se candidatar a cargo puacuteblico

A inelegibilidade por motivo de parentesco tambeacutem denominada de

inelegibilidade reflexa estaacute relacionada a condiccedilotildees inerentes ao parentesco

sanguumliacuteneo soacutecio-afetivo ou condiccedilatildeo matrimonial

Assim conforme previsto no sect 7ordm do artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal estas

mesmas pessoas impedidas para determinados cargos podem concorrer para outros

cargos que se processem em territoacuterio de outra circunscriccedilatildeo

A inelegibilidade reflexa aproxima-se da inelegibilidade absoluta a diferenccedila

ocorre que na reflexa pode cessar por vontade das pessoas envolvidas um exemplo

claro eacute a renuacutencia seis meses antes do pleito do Presidente da Repuacuteblica

Assim temos que a inelegibilidade por motivo de parentesco ou reflexa visa a

impedir a formaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do poder poliacutetico em matildeos de uma determinada

famiacutelia

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A inelegibilidade por motivos militares visa que o militar enquanto em serviccedilo

ativo natildeo pode estar filiado a partidos poliacuteticos entretanto a Constituiccedilatildeo Federal

em seu artigo 14 relata que atendidas certas condiccedilotildees o militar alistaacutevel se torna

elegiacutevel sendo estas as condiccedilotildees se contar com menos de dez anos de serviccedilo

deveraacute afastar-se da atividade e se contar com mais de dez ano de serviccedilo seraacute

agregado pela autoridade superior e se eleito passaraacute automaticamente no ato da

diplomaccedilatildeo para a inatividade

34 INELEGIBILIDADE INFRACONSTITUCIONAL

Por se tratar de inuacutemeras hipoacuteteses de inelegibilidades infraconstitucionais

natildeo seraacute possiacutevel tratar todos os casos previstos em lei para tanto adentraremos a

anaacutelise de algumas hipoacuteteses dispostas na Lei Complementar nordm 641990

As inelegibilidades infraconstitucionais satildeo instituiacutedas por Lei Complementar

que estabeleceraacute outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim

de proteger a probidade administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato

considerado vida pregressa do candidato e a normalidade e legitimidade das

eleiccedilotildees contra a influecircncia do poder econocircmico ou o abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo

cargo ou emprego na administraccedilatildeo direta ou indireta

As causas de inelegibilidade infraconstitucionais estatildeo previstas no artigo 1ordm

da Lei Complementar nordm 641990 alterado dentre outras atraveacutes da recente Lei

Complementar ndeg 1352010 conhecida como a Lei da Ficha Limpa

Dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquobrdquo da Lei Complementar nordm 641990 que os

membros do Congresso Nacional das Assembleacuteias Legislativas da Cacircmara

Legislativa e das Cacircmaras Municipais que hajam perdido os respectivos mandatos

por infringecircncia do disposto nos incisos I e II do art 55 da Constituiccedilatildeo Federal dos

dispositivos equivalentes sobre perda de mandato das Constituiccedilotildees Estaduais e

Leis Orgacircnicas dos Municiacutepios e do Distrito Federal para as eleiccedilotildees que se

realizarem durante o periacuteodo remanescente do mandato para o qual foram eleitos e

nos oito anos subsequumlentes ao teacutermino da legislatura

Sendo assim satildeo inelegiacuteveis os parlamentares cujo procedimento for

declarado incompatiacutevel com o decoro parlamentar e desde a expediccedilatildeo do diploma

firmar ou manter contrato com pessoa juriacutedica de direito puacuteblico autarquia empresa

puacuteblica sociedade de economia mista ou empresa concessionaacuteria de serviccedilo

puacuteblico salvo quando o contrato obedecer a claacuteusulas uniformes aceitar ou exercer

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cargo funccedilatildeo ou emprego remunerado inclusive os de que sejam demissiacuteveis ad

nutum nas entidades constantes da aliacutenea anterior e desde a posse ser

proprietaacuterios controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente

de contrato com pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou nela exercer funccedilatildeo

remunerada ocupar cargo ou funccedilatildeo de que sejam demissiacuteveis ad nutum nas

entidades referidas no inciso I a patrocinar causa em que seja interessada

qualquer das entidades a que se refere o inciso I a ser titulares de mais de um

cargo ou mandato puacuteblico eletivo

Portando o parlamentar que infringir o disposto no artigo 54 teraacute seu mandato

cassado Jaacute no inciso II do artigo 55 o Deputado ou Senador perderaacute o mandato

quando o procedimento for declarado incompatiacutevel com o decoro parlamentar A

Constituiccedilatildeo Federal prevecirc como falta de decoro o disciplinado no artigo 55 sect 1ordm

Por fim eacute incompatiacutevel com o decoro parlamentar os casos definidos no regimento

interno

Assim dispotildee o artigo 1ordm Inciso I aliacutenea ldquocrdquo da Lei Complementar nordm 641990

Governador e o Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal e o Prefeito e o

Vice-Prefeito que perderem seus cargos eletivos por infringecircncia a dispositivo da

Constituiccedilatildeo Estadual da Lei Orgacircnica do Distrito Federal ou da Lei Orgacircnica do

Municiacutepio para as eleiccedilotildees que se realizarem durante o periacuteodo remanescente e

nos 8 (oito) anos subsequentes ao teacutermino do mandato para o qual tenham sido

eleitos

Tal dispositivo busca evitar que os chefes do poder executivos retornem a

vida puacuteblica no mandato seguinte e nas eleiccedilotildees para as demais esferas Este

dispositivo preserva a moralidade puacuteblica O prazo de 8 anos de inabilitaccedilatildeo seraacute

contado a partir da data que tiver sido proferida a decisatildeo por crime de

responsabilidade

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquodrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tenham contra sua pessoa representaccedilatildeo julgada procedente pela Justiccedila

Eleitoral em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo colegiado em

processo de apuraccedilatildeo de abuso do poder econocircmico ou poliacutetico para a eleiccedilatildeo na

qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como para as que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes

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Primeiramente eacute necessaacuterio conceituar o que eacute abuso de poder econocircmico de

abuso de poder poliacutetico

Abuso de poder econocircmico consiste na utilizaccedilatildeo de bens ou serviccedilos de

empresas particulares ou recursos proacuteprios do candidato gerando assim uma

desproporccedilatildeo entre os candidatos exemplo Se um candidato eacute proprietaacuterio de uma

grande empresa e faz uso dela para custear sua campanha sem realizar doaccedilatildeo de

campanha prevista na Lei 950497

Abuso do poder poliacutetico consiste no emprego de serviccedilos ou bens

pertencentes a administraccedilatildeo puacuteblica com o objetivo de propiciar a eleiccedilatildeo de

determinado candidato

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquofrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que forem declarados indignos do oficialato ou com ele incompatiacuteveis pelo prazo

de 8 (oito) anos

Oficialato eacute o cargo ou dignidade de oficial seja das forccedilas armadas poliacutecia

militar ou corpo de bombeiros A competecircncia para apreciar e declarar a indignidade

do oficialato seraacute do Superior Tribunal Militar

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquogrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tiverem suas contas relativas ao exerciacutecio de cargos ou funccedilotildees puacuteblicas

rejeitadas por irregularidade insanaacutevel que configure ato doloso de improbidade

administrativa e por decisatildeo irrecorriacutevel do oacutergatildeo competente salvo se esta houver

sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciaacuterio para as eleiccedilotildees que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes contados a partir da data da decisatildeo aplicando-se o

disposto no inciso II do art 71 da Constituiccedilatildeo Federal a todos os ordenadores de

despesa sem exclusatildeo de mandataacuterios que houverem agido nessa condiccedilatildeo

Esta decisatildeo eacute administrativa e traraacute a consequumlecircncia de inelegibilidade para

isso a irregularidade tem de ser insanaacutevel

A competecircncia para julgar estas irregularidades compete ao Poder

Legislativo seja no acircmbito federal estadual ou municipal

A analise desta insanabilidade poderaacute caber a Justiccedila Eleitoral como por

exemplo no pedido de registro de candidatura por algueacutem que teve suas contas

rejeitadas

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquohrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os detentores de cargo na administraccedilatildeo puacuteblica direta indireta ou fundacional que

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beneficiarem a si ou a terceiros pelo abuso do poder econocircmico ou poliacutetico que

forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial

colegiado para a eleiccedilatildeo na qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como

para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes

Aqui natildeo se trata de cargo eletivo mas sim de cargos por concurso puacuteblico ou

por provimento em comissatildeo

A finalidade eacute por fim a reeleiccedilatildeo para aqueles que estatildeo em cargos de chefia

do poder executivo que tenham cometido abuso do poder econocircmico ou poliacutetico

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquoirdquo da Lei Complementar nordm 641990)

os que em estabelecimentos de creacutedito financiamento ou seguro que tenham sido

ou estejam sendo objeto de processo de liquidaccedilatildeo judicial ou extrajudicial hajam

exercido nos 12 (doze) meses anteriores agrave respectiva decretaccedilatildeo cargo ou funccedilatildeo

de direccedilatildeo administraccedilatildeo ou representaccedilatildeo enquanto natildeo forem exonerados de

qualquer responsabilidade

O que a lei busca nesta situaccedilatildeo eacute deixar aquele que administrou os referidos

estabelecimentos fora de qualquer participaccedilatildeo poliacutetica enquanto natildeo forem

apurados todos os fatos que levaram a insolvecircncia

Portanto o maior objetivo desta causa de inelegibilidade eacute assegurar que o

ex-administrado de estabelecimento de creacutedito financiamento ou seguro natildeo venha

a eleger-se a cargo eletivo sem antes ter sido apurada sua participaccedilatildeo para

insolvecircncia

Outras causas de inelegibilidades incluiacutedas pela Lei Complementar nordm

1352010 estatildeo previstas nos incisos j a q da referida Lei

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4 DA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE 41 ORIGEM DA LEI COMPLEMENTAR Nordm 1352010

Com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o Brasil passa a ser um

Estado Democraacutetico de Direito inaugurando uma democracia participativa

Esta democracia participativa permite ao cidadatildeo desde que preenchidos

determinados requisitos dar iniacutecio a um projeto de Lei atraveacutes da chamada Iniciativa

Popular A origem da Lei Complementar nordm 1352010 decorreu do Projeto de Lei nordm

5182009 sob a coordenaccedilatildeo do Movimento de Combate a Corrupccedilatildeo Eleitoral ndash

MCCE que teve iniacutecio em abril de 2008 com o objetivo de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos a finalidade eacute que os criteacuterios de inelegibilidades sejam

mais rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos

Esta Lei Complementar dita que pessoas condenadas por um colegiado

independente do tracircnsito em julgado satildeo inelegiacuteveis portanto podem ter seus

registros de candidaturas negados alem de incluir parlamentares que renunciaram

ao cargo para assim evitar uma possiacutevel abertura de processo por quebra de decoro

ou por desrespeito agrave Constituiccedilatildeo com a finalidade uacutenica de evitar possiacuteveis

puniccedilotildees

A Lei Complementar 1352010 traacutes inuacutemeros confrontos com a Constituiccedilatildeo

Federal sendo dois os mais relevantes primeiro a natildeo observacircncia do princiacutepio da

anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal e segundo

o desrespeito ao princiacutepio da natildeo-culpabilidade tambeacutem estabelecido na

Constituiccedilatildeo federal no artigo 5ordm inciso LVII

Sobre o primeiro ponto que trata da aplicabilidade da Lei Complementar nordm

1352010 para as eleiccedilotildees de 2010 restou soberana a decisatildeo do Supremo

Tribunal Federal ao resolver o conflito afirmando que o artigo 16 da Constituiccedilatildeo

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Federal ao submeter a alteraccedilatildeo legal do processo eleitoral agrave regra da anualidade

constitui uma garantia fundamental para o pleno exerciacutecio de direitos poliacuteticos

Esta pacificaccedilatildeo se deu no julgamento da Accedilatildeo Declaratoacuteria de

Inconstitucionalidade nordm 3685 13 onde atuou como Relatora a Ministra Ellen Gracie

que identificou como uma garantia fundamental do cidadatildeo-eleitor do cidadatildeo-

candidato e dos partidos poliacuteticos o artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal

A Ministra Ellen Gracie utilizou-se de uma analogia com o julgamento da

Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade 939 que teve como relator Ministro Sydnei

Sanches com a garantia da anterioridade tributaacuteria fixada no artigo 150 III b no

sentido de que se o princiacutepio da anterioridade tributaacuteria constitui uma garantia do

cidadatildeo-contribuinte o princiacutepio da anterioridade eleitoral tambeacutem eacute uma garantia do

cidadatildeo do eleitor do candidato e dos partidos poliacuteticos

Desta forma restou consolidado a garantia prevista no artigo 16 da

Constituiccedilatildeo Federal como forma de um devido processo legal eleitoral

O devido processo visa que se atinja uma decisatildeo conforme a Justiccedila

prestigiando a eacutetica da legalidade ressaltando-se que ele possui um duplo

significado de processo necessaacuterio e processo adequado para tanto COMOGLIO

afirma Que as garantias decorrentes do devido processo legal querem dizer natildeo apenas direito a um processo mas a um justo processo compreendendo a correccedilatildeo e efetividade dos instrumentos disponiacuteveis em juiacutezo e a efetividade e adequaccedilatildeo da proacutepria tutela finalrdquo 14

A Constituiccedilatildeo brasileira de 1988 traz a garantia exarada no seu artigo 5ordm

Art 5ordm - () LIV ndash ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal LV ndash aos litigantes em processo judicial e administrativo e aos acusados em geral seratildeo assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa com os meios de recurso a ela inerentes

Sobre o segundo ponto controverso mateacuteria deste trabalho tem o conflito tem

o conflito entre a Lei Complementar nordm 13510 contra uma garantia constitucional

denominado princiacutepio da natildeo-culpabilidade que eacute inseparaacutevel do conceito de

13 Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011 14 Luigi Paolo COMOGLIO Giuridizione e processo nel quadro delle garanzie constituzionali Rivista Trimestrale di Diritto e Procedura Civile 4 p 1070

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democracia A Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5ordm inciso LVII estabelece uma das

maiores garantias dos indiviacuteduos contra o autoritarismo do Estado afirmando que

ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

condenatoacuteriardquo fixando explicitamente o princiacutepio da natildeo-culpabilidade entre os

direitos fundamentais

42 AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EM JULGADO

A Lei Complementar nordm 1352010 em sua aliacutenea ldquoerdquo do inciso I do artigo 2ordm

possui a seguinte redaccedilatildeo e) os que forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial colegiado desde a condenaccedilatildeo ateacute o transcurso do prazo de 8 (oito) anos apoacutes o cumprimento da pena pelos crimes (Redaccedilatildeo dada pela Lei Complementar nordm 135 de 2010)

Esta aliacutenea visa impedir a candidatura de poliacuteticos condenados a partir da

segunda instacircncia e mesmo que natildeo tenha transitado em julgado Ela defende que

haja uma condenaccedilatildeo criminal no entanto deixa de exigir a configuraccedilatildeo do tracircnsito

em julgado do ato decisoacuterio para que ocorra a inelegibilidade A antiga lei previa que

o candidato soacute seria inelegiacutevel se tivesse condenaccedilatildeo definitiva

As alteraccedilotildees da Lei Complementar nordm 1352010 objetiva atender a um senso

comum do eleitorado afirmando que uma pessoa condenada natildeo deve poder ser

votada isto eacute natildeo deve ter mandato Em seus dizeres trata que a inelegibilidade

natildeo pressupotildee culpa formada natildeo deve haver discussatildeo sobre presunccedilatildeo da

inocecircncia Pode haver inelegibilidade por parentesco por ocupar cargo puacuteblico falta

de domiciacutelio eleitoral ou filiaccedilatildeo partidaacuteria causas que natildeo tecircm nada a ver com

condenaccedilatildeo criminal

A contradiccedilatildeo do argumento da Lei Complementar eacute se a Constituiccedilatildeo em

face do princiacutepio da natildeo-culpabilidade admite a cominaccedilatildeo de inelegibilidade para

quem ainda tem recursos pendentes de julgamento

Caso esta hipoacutetese seja admitida temos que um indiviacuteduo que tenha sido

condenado criminalmente em segunda instacircncia e interponha recurso especial ou

extraordinaacuterio para anular o processo caso natildeo consiga uma medida liminar

suspendendo os efeitos ficaria impedido de concorrer na eleiccedilatildeo

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Imagine-se que ao final da accedilatildeo o cidadatildeo que ficou impedido de concorrer

nas eleiccedilotildees obtivesse vitoacuteria em seu recurso obtendo assim a nulidade da accedilatildeo

bem como da decisatildeo que o condenou com ficaria a situaccedilatildeo deste cidadatildeo

O que se quer com a Lei Complementar nordm 1352010 eacute instituir um moralismo

eleitoral que se sobrepotildee a Constituiccedilatildeo Federal e seu principio constitucional da

natildeo-culpabilidade que eacute a garantia individual contra o Estado

Outro argumento utilizado pelos defensores da constitucionalidade da Lei

Complementar nordm 1352010 satildeo as prisotildees cautelares e que no final o sujeito

acaba sebdo absolvido Ora cabe lembrar-lhes que a prisatildeo cautelar natildeo eacute

antecipaccedilatildeo de pena cumpre ela uma funccedilatildeo processual clara e limitada agrave garantia

da ordem puacuteblica da ordem econocircmica por conveniecircncia da instruccedilatildeo criminal ou

para assegurar a aplicaccedilatildeo da lei penal quando houver prova da existecircncia do crime

e indiacutecio suficiente de autoria

Portanto temos que o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees enquanto natildeo

sobrevier decisatildeo judicial transitada em julgado

O proacuteprio Supremo na Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental

144 jaacute decidiu natildeo barrar candidaturas sem condenaccedilatildeo transitada em julgado

A Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental 144 15 foi votada

em agosto de 2008 antes das eleiccedilotildees municipais Na ocasiatildeo o Supremo Tribunal

Federal decidiu que natildeo poderiam ser barradas candidaturas de poliacuteticos

condenados na primeira instacircncia por conta da presunccedilatildeo de inocecircncia

Em 6 de agosto de 2008 haacute menos de trecircs anos o Supremo Tribunal Federal

julgou improcedente a Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental nordm

144 ajuizada pela Associaccedilatildeo dos Magistrados Brasileiros em voto do ministro

Celso de Mello vencidos os ministros Carlos Ayres e Joaquim Barbosa exatamente

porque O postulado consagrador da garantia de inocecircncia irradia os seus efeitos para aleacutem dos limites dos processos penais de natureza condenatoacuteria impedindo desse modo que situaccedilotildees processuais anda natildeo definidas por sentenccedilas transitadas em julgado provoquem em decorrecircncia das exigecircncias de probidade administrativa e demoralidade a que se refere o sect 9ordm do artigo 14 da Coinstituiccedilatildeo Federal a inelegibilidade dos cidadatildeos ou obstem candidaturas para mandatos eletivos

15Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011

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Portanto ficou definido que Lei Complementar sendo editada para casos de

inelegibilidades esta deveraacute respeitar o princiacutepio da natildeo-culpabilidade Ocorre que

foi editada a Lei Complementar nordm 1352010 que atendeu aos reclamos populares

mas preferiu a um soacute tempo violar a Constituiccedilatildeo Federal e desrespeitar a recente

decisatildeo do Supremo Tribunal Federal mesmo que na eacutepoacuteca desta decisatildeo natildeo

havia lei formal para tal situaccedilatildeo

43 PRINCIacutePIO CONSTITUCIONAL DA NAtildeO-CULPABILIDADE

O princiacutepio da natildeo-culpabilidade eacute direito fundamental previsto na

Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5deg inciso LVII ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute

o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

Isto eacute enquanto natildeo sobrevier uma decisatildeo judicial condenatoacuteria transitada

em julgado o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees em seu patrimocircnio ou em sua

liberdade Caso sobrevenha duacutevida quanto a culpabilidade esta resolveraacute sempre

em favor do reacuteu ou seja aplicando-se o princiacutepio in duacutebio pro reo

Assim disciplina Nelson Nery Juacutenior sobre o princiacutepio da natildeo-culpabilidade ldquoO inteacuterprete deve buscar a aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre tendo como pressuposto o exame da Constituiccedilatildeo Federal Depois sim deve consultar a legislaccedilatildeo infraconstitucional a respeito do temardquo 16

Sendo assim a Constituiccedilatildeo Federal no capiacutetulo sobre os Direitos e Deveres

Individuais e Coletivos em seu artigo 5ordm inciso LVII afirma que ldquoningueacutem seraacute

considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute considerar o

indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila A doutrina e a

jurisprudecircncia aclamam este princiacutepio como vaacuterios nomes como princiacutepio da

presunccedilatildeo de inocecircncia princiacutepio da natildeo-culpabilidade ou simplesmente princiacutepio da

inocecircncia

Joseacute Afonso da Silva em seu livro Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo

disciplina assim esta garantia A norma constitucional do inciso LVII agora sob nosso exame garante a presunccedilatildeo de inocecircncia por meio de um enunciado negativo universal lsquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria Usa-se de uma forma

16 NERY JUacuteNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20

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negativa para outorgar uma garantia positiva Na verdade o texto brasileiro natildeo significa outra coisa senatildeo que fica assegurada a todos a presunccedilatildeo de inocecircncia ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria O tracircnsito em julgado se daacute quando a decisatildeo natildeo comporta mais recurso ordinaacuterio especial ou extraordinaacuterio 17

Nesse sentido o indiviacuteduo acusado natildeo pode ser presumidamente culpado

mas sim inocente Tal princiacutepio visa a tutelar a liberdade pessoal de modo que o

Estado nos mais diferentes segmentos deve abster-se de considerar culpado

aquele que ainda natildeo foi submetido agrave definitividade da atuaccedilatildeo jurisdicional Em se tratando de suspensatildeo dos direitos poliacuteticos a Constituiccedilatildeo Federal

garante que a suspensatildeo somente se daraacute por ldquocondenaccedilatildeo criminal transitada em

julgado enquanto durarem seus efeitosrdquo

Julgamento neste sentido REPRESENTACcedilAtildeO SUSPENSAtildeO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS EM VIRTUDE DE SENTENCcedilA PENAL CONDENATOacuteRIA TRANSITADA EM JULGADO AUTO-APLICABILIDADE DOS ARTIGOS 14 sect 3ordm II E 15 III DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL PROCEDEcircNCIA A suspensatildeo dos direitos poliacuteticos do condenado independe de lei regulamentadora bem como de processo especial de cogniccedilatildeo e de anaacutelise de meacuterito para a execuccedilatildeo da medida no juiacutezo eleitoral posto natildeo se tratar de sanccedilatildeo penal mas de efeito natildeo-penal de condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado e decorrente de mandamento constitucional Comprovado o tracircnsito em julgado da sentenccedila penal condenatoacuteria decreta-se automaticamente a suspensatildeo dos direitos poliacuteticos ativo e passivo do representado ou seja o direito de votar e ser votado com a consequumlente exclusatildeo de seu nome da folha de votaccedilatildeo e declaraccedilatildeo de sua inelegibilidade 18

Logo infere-se que a condenaccedilatildeo criminal sem o tracircnsito em julgado natildeo

desqualifica o condenado a votar e a eventualmente concorrer a qualquer cargo

eletivo

O Colendo Tribunal Superior Eleitoral enfrentou esta questatildeo ao apreciar

pedido de registro de candidatura valendo registrar os seguintes julgados RECURSO ESPECIAL RECEBIDO COMO ORDINAacuteRIO REGISTRO DE CANDIDATURA DEFERIMENTO INELEGIBILIDADE NAtildeO-OCORREcircNCIA Condenaccedilatildeo criminal sem tracircnsito em julgado natildeo eacute apta a ensejar inelegibilidade (precedente do TSE acoacuterdatildeo 536 rel Min Fernando Neves publicado em sessatildeo de 882002) Recurso natildeo provido 19

17 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006 p 155 18 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbrgt TRESCndashAcoacuterdatildeo nordm 13324 de 071094 rel Juiz Nilson B Filho Acesso em 16 set 2011 19 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbr gt TSE- REspEl nordm 20247 de 19902 rel Min Sepuacutelveda Pertence Acesso em 16 set 2011

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INELEGIBILIDADE CONDENACcedilAtildeO CRIMINAL NAtildeO TRANSITADA EM JULGADO CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA ART 14 sect 9deg SUacuteMULA Ndeg 13 DO TSE 1 A existecircncia de sentenccedila criminal condenatoacuteria sem o tracircnsito em julgado natildeo eacute suficiente para ocasionar inelegibilidade 2 O art 14 sect 9deg da Constituiccedilatildeo natildeo eacute auto-aplicaacutevel 3 Necessidade de lei complementar estabelecendo os casos em que a vida pregressa do candidato poderaacute levar agrave sua inelegibilidade bem como os prazos de sua cessaccedilatildeo 4 Recurso provido para julgar improcedente a impugnaccedilatildeo e deferir o registro da candidatura 20

Insculpido na Constituiccedilatildeo Federal o principio da natildeo-culpabilidade deve ser

respeitado por toda lei infraconstitucional alguns doutrinadores como Aristides

Junqueira e Antocircnio Bandeira de Mello em carta publica no sitio do Movimento de

Combate agrave Corrupccedilatildeo Eleitoral21 entendem que neste presente caso natildeo deve ser

aplicado o princiacutepio da natildeo-culpabilidade a inelegibilidade pois esta natildeo eacute pena

mas medida preventiva

Estes juristas se acham alicerccedilados pelo que expressamente estatui o sect 9deg do

artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal em que Lei complementar estabeleceraacute outros

casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim de proteger a probidade

administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato considerada a vida

pregressa do candidato afirmam que uma vez que a proacutepria Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica expressamente permite que o legislador estipule quais elementos da vida

pregressa dos candidatos podem afastaacute-los dos pleitos

Independente desta posiccedilatildeo minoritaacuteria encontra-se que o princiacutepio da natildeo-

culpabilidade eacute prevista em diversos ordenamentos juriacutedicos e tratados como se

veraacute a seguir

Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo da Franccedila de 1789 o art

9da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) de 1948 dispotildee ldquoTodo acusado eacute

considerado inocente ateacute ser declarado culpado e se julgar indispensaacutevel prendecirc-lo

todo o rigor desnecessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deveraacute ser severamente

reprimido pela leirdquo22

20 Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrgt TSE-REspEl nordm 18047 de 2992000 rel Min Fernando Neves da Silva Acesso em 16 set 2011 21 Disponiacutevel em lthttpwwwmcceorgbrsitesdefaultfilescartajuristaspdfgt Acesso em 3 jul 2011 22 Disponiacutevel em lthttppfdcpgrmpfgovbratuacao-e-conteudos-de-apoiolegislacaodireitoshuma nosdeclar_dir_ homem_cidadaopdfgt Acesso em 13 set 2011

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Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos de 1948 diz ldquoToda pessoa

acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocecircncia enquanto natildeo se

comprove legalmente sua culpardquo23

A origem histoacuterica que foi referida teve uma grande importacircncia para se

chegar a um status constitucional conforme eacute citado por Mirabete Existe apenas uma tendecircncia agrave presunccedilatildeo de inocecircncia ou mais precisamente um estado de inocecircncia um estado juriacutedico no qual o acusado eacute inocente ateacute que seja declarado culpado por uma sentenccedila transitada em julgado Por isso a nossa Constituiccedilatildeo Federal natildeo presume a inocecircncia mas declara que ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria (art 5deg LVII) ou seja que o acusado eacute inocente durante o desenvolvimento do processo e seu estado soacute se modifica por uma sentenccedila final que o declare culpado 24

Por fim o princiacutepio da natildeo-culpabilidade visa a proteccedilatildeo do reacuteu para que

este tenha um julgamento justo devendo ser provada sua verdadeira culpa antes

que seja considerado culpado

23 Disponiacutevel em lthttpwwwagugovbrsistemassiteTemplateImagemTextoThumbaspxidConteu do=113927ampordenacao=1ampid_site=4922gt Acesso em 12 set 2011 24 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252

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5 CONCLUSAtildeO Apoacutes as anaacutelises da doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncias pertinentes a este

trabalho verifica-se que a Lei Complementar nordm 1352010 ao instituir nova hipoacutetese

de inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado esta em pleno conflito com o princiacutepio da natildeo-culpabilidade insculpido no

artigo 5ordm inciso LVII da Constituiccedilatildeo Federal o que torna esta nova hipoacutetese

absolutamente inconstitucional

O objetivo da Lei Complementar nordm 1352010 eacute o de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos para que os criteacuterios de inelegibilidades sejam mais

rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos Inicialmente eacute compreensiacutevel a

preocupaccedilatildeo de qualificar o perfil dos candidatos a cargos eletivos atraveacutes da vida

pregressa isto significa querer se representar por candidatos idocircneos

Ocorre que eacute necessaacuterio impor tantas restriccedilotildees para que o cidadatildeo possa

concorrer a determinado pleito natildeo eacute mais correto permitir que o proacuteprio povo

detentor soberano do poder para escolher seus representantes defina seus criteacuterios

de escolha

Quanto ao aspecto juriacutedico vejamos que o legislativo ao criar novas hipoacuteteses

de inelegibilidade deve-se atentar para as garantias jaacute consagradas em nosso

ordenamento principalmente quando esta garantia esta insculpida na Constituiccedilatildeo

Federal garantia esta referente ao principio da natildeo-culpabilidade que reza que

ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

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condenatoacuteria trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute

considerar o indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila

Ocorre que a criaccedilatildeo da Lei Complementar nordm 1352010 nasceu conflitante

com a Constituiccedilatildeo Federal em 2 aspectos primordiais primeiro a natildeo observacircncia

do princiacutepio da anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo

Federal pacificado pela Accedilatildeo Declaratoacuteria de Inconstitucionalidade nordm 3685

afirmando que deve-se respeitar ao principio da anualidade e segundo a

inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado

O segundo conflito origina-se diante da garantia constitucional do princiacutepio da

presunccedilatildeo da natildeo-culpabilidade o qual disciplina que somente poderaacute ser

considerado culpado o acusado de determinado crime quando ocorrer o tracircnsito em

julgado da decisatildeo

Portanto temos que uma decisatildeo de um oacutergatildeo colegiado quando recorriacutevel

ainda natildeo eacute o momento que se consumativo da culpabilidade do acusado pois natildeo

podemos antecipar a puniccedilatildeo de um cidadatildeo com a perda de algum direito pelo

simples fato de estar respondendo a algum processo

A aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre teraacute como pressuposto o

exame da Constituiccedilatildeo Federal que estabelece o princiacutepio da natildeo-culpabilidade

tambeacutem chamado de princiacutepio da presunccedilatildeo de inocecircncia que eacute uma verdadeira

garantia constitucional do indiviacuteduo contra o Estado Portanto deve-se respeitar este

princiacutepio basilar do Estado Democraacutetico de Direito nos mais diferentes segmentos

devendo qualquer Lei abster-se de considerar culpado aquele que ainda natildeo teve

sua decisatildeo transitada em julgado

Assim a Lei Complementar nordm 1352010 eacute contraacuterio ao disposto no texto

constitucional pois de forma antecipada retira do cidadatildeo o direito de disputar ao

pleito de forma igualitaacuteria bem como retira do povo um de seus maiores direitos o

de poder escolher seus representantes

Portanto para fortalecimento do Estado Democraacutetico de Direito se faz

necessaacuterio que as garantias constitucionais prevaleccedilam com isto deve-se

preponderar a presunccedilatildeo de natildeo culpabilidade ateacute o tracircnsito em julgado de da

sentenccedila condenatoacuteria

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REFEREcircNCIAS BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicao_ConstituiccedilaoCompiladohtmgt Acesso em 2 jun 2011 BRASIL Tribunal Superior Eleitoral Coacutedigo eleitoral Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrinternetjurisprudenciacodigo_eleitoralcodigo_eleitoralhtmlgt Acesso em 5 mai 2011 BRASIL Supremo Tribunal Federal Jurisprudecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudenciapesquisarJurisprudenciaaspgt Acesso em 15 mai 2011 BRASIL Projeto de Lei Complementar nordm 518 de 17 de setembro de 2009 Altera a Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 que estabelece de acordo com o sect 9ordm do art 14 da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias para incluir hipoacuteteses de inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no exerciacutecio do mandato Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbrsfatividademateriadetalhesaspp_cod_mate=96850gt Acesso em 19 mai 2011

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BRASIL Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 Estabelece de acordo com o art 14 sect 9ordm da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03LeisLCPLcp64htmgt Acesso em 15 mai 2011 COSTA Adriano Soares Instituiccedilotildees de Direito Eleitoral Ed Del Rey 2006 DI PIETRO Maria Sylvia Zanella Direito Administrativo 9 Ed Satildeo Paulo Atlas 1998 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131 LEAL Saul Tourinho Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt MELLO Celso Antonio Bandeira Curso de Direito Administrativo 24 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2007 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 ed Satildeo Paulo Atlas 2006 Movimento de Combate agrave Corrupccedilatildeo Disponiacutevel em ltwwwmcceorgbrgt Acesso em 3 jul 2011 NERY JUacuteBNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20 PEREIRA Erick Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt Acesso em 30 jun 2011 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2008

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3 DA INELEGIBILIDADE 31 CONCEITO DE INELEGIBILIDADE

Joseacute Afonso da Silva em sua ilustre obra Curso de Direito Constitucional

Positivo doutrinariamente leciona que ldquoa inelegibilidade obsta a elegibilidade

revelando um impedimento ao direito de ser votado que eacute a capacidade eleitoral

passivardquo 11

A inelegibilidade resulta no impedimento parcial ou seja temporaacuterio da

capacidade eleitoral passiva restringindo o cidadatildeo de ser votado nas hipoacuteteses

previstas na Lei Complementar nordm 641990 Lei Complementar nordm 1352010 e na

Constituiccedilatildeo Federal

Sua finalidade tem por objetivo a probidade administrativa a normalidade

para o exerciacutecio do mandato considerada a vida pregressa do candidato e a

normalidade e a legitimidade das eleiccedilotildees contra a influecircncia do poder econocircmico ou

o abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo cargo ou emprego na administraccedilatildeo direta ou

indireta

A inelegibilidade pode ser absoluta proibindo a candidatura agraves eleiccedilotildees em

geral ou relativa impossibilitando a postulaccedilatildeo a determinado mandato eletivo

Sendo assim o cidadatildeo que almeja se candidatar a cargo eletivo deve

atender as condiccedilotildees de elegibilidade e natildeo incorrer em nenhuma causa de

inelegibilidade

32 ESPEacuteCIES DE INELEGIBILIDADE

As espeacutecies de inelegibilidade podem ser constitucionais e

infraconstitucionais as constitucionais dividem-se em absoluta e relativa

A inelegibilidade constitucional absoluta consiste no impedimento eleitoral

que restringe o cidadatildeo de concorrer a qualquer cargo eletivo refere-se a

determinada caracteriacutestica do indiviacuteduo ou seja eacute de caraacuteter pessoal sendo

11 SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 Ed Satildeo Paulo Malheiros 012004 p 387

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taxativamente prevista pela Constituiccedilatildeo Federal e a inelegibilidade constitucional

relativa compreende o impedimento eleitoral que restringe o cidadatildeo de concorrer a

determinados cargos em determinada eleiccedilatildeo refere-se a situaccedilotildees especiais e

momentacircneas tais como motivos funcionais de casamento de parentescos

A inelegibilidade infraconstitucional eacute disciplinada na Lei Complementar ndeg

641990 alterada pela Lei Complementar ndeg 1352010

Eacute relevante a distinccedilatildeo entre as inelegibilidades constitucionais e

infraconstitucionais como bem ressaltado por Joseacute Jairo Gomes A distinccedilatildeo que se faz entre inelegibilidades constitucionais e legais natildeo eacute cerebrina apresentando inegaacutevel relevacircncia praacutetica Basta dizer que natildeo haacute preclusatildeo quanto agraves primeiras as quais podem ser arguumlidas na fase do registro de candidatura ou posteriormente antes ou depois das eleiccedilotildees A arguumliccedilatildeo posterior pode ser feita no RCED (CE art 262 I) Jaacute as inelegibilidades legais sujeitam-se agrave preclusatildeo se natildeo forem levantadas na fase de registro de candidatura Ultrapassado esse momento natildeo mais poderatildeo ser discutidas salvo se supervenientes 12

33 INELEGIBILIDADE CONSTITUCIONAL

A inelegibilidade constitucional dividi-se em absoluta e relativa

A inelegibilidade constitucional absoluta estabelecida no sect 4deg do artigo 14 da

Constituiccedilatildeo Federal prevecirc que satildeo inelegiacuteveis os inalistaacuteveis e os analfabetos

A inelegibilidade decorrente da inalistabilidade abrange todos que natildeo se

encontram na situaccedilatildeo de alistabilidade tambeacutem aqueles que se encontram em

estado definitivo ou temporariamente privados de seus direitos poliacuteticos por fim

atinge aqueles que natildeo sabem exprimir-se na liacutengua nacional e os estrangeiros

A inelegibilidade decorrente do analfabetismo natildeo permite que o analfabeto

seja elegiacutevel mas permite que ele seja alistaacutevel exercendo assim a sua capacidade

de votar mas nunca a de ser votado

Estas hipoacuteteses restringem ao cidadatildeo se candidatarem a qualquer cargo

eletivo em qualquer eleiccedilatildeo enquanto perdurar esta situaccedilatildeo restritiva

As hipoacuteteses de inelegibilidades constitucionais relativas referem-se a

situaccedilotildees especiais separando-as por motivos funcionais motivos parentais motivos

militares e encontram-se dispostas no artigo 14 sectsect 5deg ao 9deg da Constituiccedilatildeo Federal

12 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131

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A inelegibilidade por motivo funcional eacute decorrente de o cidadatildeo estar em

exerciacutecio de alguma funccedilatildeo puacuteblica Satildeo previstas duas situaccedilotildees

A primeira declara ser inelegiacutevel para o mesmo cargo em terceiro periacuteodo

subsequumlente o Presidente da Repuacuteblica os Governadores de Estado e do DF os

Prefeitos e quem os houver sucedido ou substituiacutedo nos seis meses antes das

eleiccedilotildees Eacute o que dispotildee o sect 5deg do artigo 14 na redaccedilatildeo da Emenda Constitucional

161997

Portanto soacute eacute permitida uma reconduccedilatildeo ou seja eacute permitida a reeleiccedilatildeo de

Chefes do Executivo ou seus substitutos para apenas um periacuteodo subsequumlente

A segunda situaccedilatildeo considera que satildeo inelegiacuteveis para concorrer a outros

cargos o Presidente da Repuacuteblica os Governadores de Estado e do DF e os

Prefeitos salvo se tiverem se desincompatibilizado com a renuacutencia do cargo ateacute

seis meses antes do pleito Eacute o que prevecirc o sect 6deg do artigo 14 da Constituiccedilatildeo

Federal

Os servidores puacuteblicos que ocuparem algum cargo de livre nomeaccedilatildeo

demissiacuteveis ad nutum seratildeo exonerados para que possam concorrer a cargo

eletivo ou seja natildeo poderatildeo manter qualquer viacutenculo com a entidade na qual

desempenhava suas funccedilotildees

Os servidores puacuteblicos concursados ao contraacuterio dos servidores ocupantes

de cargos de livre nomeaccedilatildeo natildeo seratildeo exonerados ou demitidos apenas se

afastaratildeo de suas funccedilotildees para se candidatar a cargo puacuteblico

A inelegibilidade por motivo de parentesco tambeacutem denominada de

inelegibilidade reflexa estaacute relacionada a condiccedilotildees inerentes ao parentesco

sanguumliacuteneo soacutecio-afetivo ou condiccedilatildeo matrimonial

Assim conforme previsto no sect 7ordm do artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal estas

mesmas pessoas impedidas para determinados cargos podem concorrer para outros

cargos que se processem em territoacuterio de outra circunscriccedilatildeo

A inelegibilidade reflexa aproxima-se da inelegibilidade absoluta a diferenccedila

ocorre que na reflexa pode cessar por vontade das pessoas envolvidas um exemplo

claro eacute a renuacutencia seis meses antes do pleito do Presidente da Repuacuteblica

Assim temos que a inelegibilidade por motivo de parentesco ou reflexa visa a

impedir a formaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do poder poliacutetico em matildeos de uma determinada

famiacutelia

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A inelegibilidade por motivos militares visa que o militar enquanto em serviccedilo

ativo natildeo pode estar filiado a partidos poliacuteticos entretanto a Constituiccedilatildeo Federal

em seu artigo 14 relata que atendidas certas condiccedilotildees o militar alistaacutevel se torna

elegiacutevel sendo estas as condiccedilotildees se contar com menos de dez anos de serviccedilo

deveraacute afastar-se da atividade e se contar com mais de dez ano de serviccedilo seraacute

agregado pela autoridade superior e se eleito passaraacute automaticamente no ato da

diplomaccedilatildeo para a inatividade

34 INELEGIBILIDADE INFRACONSTITUCIONAL

Por se tratar de inuacutemeras hipoacuteteses de inelegibilidades infraconstitucionais

natildeo seraacute possiacutevel tratar todos os casos previstos em lei para tanto adentraremos a

anaacutelise de algumas hipoacuteteses dispostas na Lei Complementar nordm 641990

As inelegibilidades infraconstitucionais satildeo instituiacutedas por Lei Complementar

que estabeleceraacute outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim

de proteger a probidade administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato

considerado vida pregressa do candidato e a normalidade e legitimidade das

eleiccedilotildees contra a influecircncia do poder econocircmico ou o abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo

cargo ou emprego na administraccedilatildeo direta ou indireta

As causas de inelegibilidade infraconstitucionais estatildeo previstas no artigo 1ordm

da Lei Complementar nordm 641990 alterado dentre outras atraveacutes da recente Lei

Complementar ndeg 1352010 conhecida como a Lei da Ficha Limpa

Dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquobrdquo da Lei Complementar nordm 641990 que os

membros do Congresso Nacional das Assembleacuteias Legislativas da Cacircmara

Legislativa e das Cacircmaras Municipais que hajam perdido os respectivos mandatos

por infringecircncia do disposto nos incisos I e II do art 55 da Constituiccedilatildeo Federal dos

dispositivos equivalentes sobre perda de mandato das Constituiccedilotildees Estaduais e

Leis Orgacircnicas dos Municiacutepios e do Distrito Federal para as eleiccedilotildees que se

realizarem durante o periacuteodo remanescente do mandato para o qual foram eleitos e

nos oito anos subsequumlentes ao teacutermino da legislatura

Sendo assim satildeo inelegiacuteveis os parlamentares cujo procedimento for

declarado incompatiacutevel com o decoro parlamentar e desde a expediccedilatildeo do diploma

firmar ou manter contrato com pessoa juriacutedica de direito puacuteblico autarquia empresa

puacuteblica sociedade de economia mista ou empresa concessionaacuteria de serviccedilo

puacuteblico salvo quando o contrato obedecer a claacuteusulas uniformes aceitar ou exercer

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cargo funccedilatildeo ou emprego remunerado inclusive os de que sejam demissiacuteveis ad

nutum nas entidades constantes da aliacutenea anterior e desde a posse ser

proprietaacuterios controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente

de contrato com pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou nela exercer funccedilatildeo

remunerada ocupar cargo ou funccedilatildeo de que sejam demissiacuteveis ad nutum nas

entidades referidas no inciso I a patrocinar causa em que seja interessada

qualquer das entidades a que se refere o inciso I a ser titulares de mais de um

cargo ou mandato puacuteblico eletivo

Portando o parlamentar que infringir o disposto no artigo 54 teraacute seu mandato

cassado Jaacute no inciso II do artigo 55 o Deputado ou Senador perderaacute o mandato

quando o procedimento for declarado incompatiacutevel com o decoro parlamentar A

Constituiccedilatildeo Federal prevecirc como falta de decoro o disciplinado no artigo 55 sect 1ordm

Por fim eacute incompatiacutevel com o decoro parlamentar os casos definidos no regimento

interno

Assim dispotildee o artigo 1ordm Inciso I aliacutenea ldquocrdquo da Lei Complementar nordm 641990

Governador e o Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal e o Prefeito e o

Vice-Prefeito que perderem seus cargos eletivos por infringecircncia a dispositivo da

Constituiccedilatildeo Estadual da Lei Orgacircnica do Distrito Federal ou da Lei Orgacircnica do

Municiacutepio para as eleiccedilotildees que se realizarem durante o periacuteodo remanescente e

nos 8 (oito) anos subsequentes ao teacutermino do mandato para o qual tenham sido

eleitos

Tal dispositivo busca evitar que os chefes do poder executivos retornem a

vida puacuteblica no mandato seguinte e nas eleiccedilotildees para as demais esferas Este

dispositivo preserva a moralidade puacuteblica O prazo de 8 anos de inabilitaccedilatildeo seraacute

contado a partir da data que tiver sido proferida a decisatildeo por crime de

responsabilidade

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquodrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tenham contra sua pessoa representaccedilatildeo julgada procedente pela Justiccedila

Eleitoral em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo colegiado em

processo de apuraccedilatildeo de abuso do poder econocircmico ou poliacutetico para a eleiccedilatildeo na

qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como para as que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes

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Primeiramente eacute necessaacuterio conceituar o que eacute abuso de poder econocircmico de

abuso de poder poliacutetico

Abuso de poder econocircmico consiste na utilizaccedilatildeo de bens ou serviccedilos de

empresas particulares ou recursos proacuteprios do candidato gerando assim uma

desproporccedilatildeo entre os candidatos exemplo Se um candidato eacute proprietaacuterio de uma

grande empresa e faz uso dela para custear sua campanha sem realizar doaccedilatildeo de

campanha prevista na Lei 950497

Abuso do poder poliacutetico consiste no emprego de serviccedilos ou bens

pertencentes a administraccedilatildeo puacuteblica com o objetivo de propiciar a eleiccedilatildeo de

determinado candidato

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquofrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que forem declarados indignos do oficialato ou com ele incompatiacuteveis pelo prazo

de 8 (oito) anos

Oficialato eacute o cargo ou dignidade de oficial seja das forccedilas armadas poliacutecia

militar ou corpo de bombeiros A competecircncia para apreciar e declarar a indignidade

do oficialato seraacute do Superior Tribunal Militar

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquogrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tiverem suas contas relativas ao exerciacutecio de cargos ou funccedilotildees puacuteblicas

rejeitadas por irregularidade insanaacutevel que configure ato doloso de improbidade

administrativa e por decisatildeo irrecorriacutevel do oacutergatildeo competente salvo se esta houver

sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciaacuterio para as eleiccedilotildees que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes contados a partir da data da decisatildeo aplicando-se o

disposto no inciso II do art 71 da Constituiccedilatildeo Federal a todos os ordenadores de

despesa sem exclusatildeo de mandataacuterios que houverem agido nessa condiccedilatildeo

Esta decisatildeo eacute administrativa e traraacute a consequumlecircncia de inelegibilidade para

isso a irregularidade tem de ser insanaacutevel

A competecircncia para julgar estas irregularidades compete ao Poder

Legislativo seja no acircmbito federal estadual ou municipal

A analise desta insanabilidade poderaacute caber a Justiccedila Eleitoral como por

exemplo no pedido de registro de candidatura por algueacutem que teve suas contas

rejeitadas

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquohrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os detentores de cargo na administraccedilatildeo puacuteblica direta indireta ou fundacional que

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beneficiarem a si ou a terceiros pelo abuso do poder econocircmico ou poliacutetico que

forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial

colegiado para a eleiccedilatildeo na qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como

para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes

Aqui natildeo se trata de cargo eletivo mas sim de cargos por concurso puacuteblico ou

por provimento em comissatildeo

A finalidade eacute por fim a reeleiccedilatildeo para aqueles que estatildeo em cargos de chefia

do poder executivo que tenham cometido abuso do poder econocircmico ou poliacutetico

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquoirdquo da Lei Complementar nordm 641990)

os que em estabelecimentos de creacutedito financiamento ou seguro que tenham sido

ou estejam sendo objeto de processo de liquidaccedilatildeo judicial ou extrajudicial hajam

exercido nos 12 (doze) meses anteriores agrave respectiva decretaccedilatildeo cargo ou funccedilatildeo

de direccedilatildeo administraccedilatildeo ou representaccedilatildeo enquanto natildeo forem exonerados de

qualquer responsabilidade

O que a lei busca nesta situaccedilatildeo eacute deixar aquele que administrou os referidos

estabelecimentos fora de qualquer participaccedilatildeo poliacutetica enquanto natildeo forem

apurados todos os fatos que levaram a insolvecircncia

Portanto o maior objetivo desta causa de inelegibilidade eacute assegurar que o

ex-administrado de estabelecimento de creacutedito financiamento ou seguro natildeo venha

a eleger-se a cargo eletivo sem antes ter sido apurada sua participaccedilatildeo para

insolvecircncia

Outras causas de inelegibilidades incluiacutedas pela Lei Complementar nordm

1352010 estatildeo previstas nos incisos j a q da referida Lei

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4 DA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE 41 ORIGEM DA LEI COMPLEMENTAR Nordm 1352010

Com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o Brasil passa a ser um

Estado Democraacutetico de Direito inaugurando uma democracia participativa

Esta democracia participativa permite ao cidadatildeo desde que preenchidos

determinados requisitos dar iniacutecio a um projeto de Lei atraveacutes da chamada Iniciativa

Popular A origem da Lei Complementar nordm 1352010 decorreu do Projeto de Lei nordm

5182009 sob a coordenaccedilatildeo do Movimento de Combate a Corrupccedilatildeo Eleitoral ndash

MCCE que teve iniacutecio em abril de 2008 com o objetivo de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos a finalidade eacute que os criteacuterios de inelegibilidades sejam

mais rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos

Esta Lei Complementar dita que pessoas condenadas por um colegiado

independente do tracircnsito em julgado satildeo inelegiacuteveis portanto podem ter seus

registros de candidaturas negados alem de incluir parlamentares que renunciaram

ao cargo para assim evitar uma possiacutevel abertura de processo por quebra de decoro

ou por desrespeito agrave Constituiccedilatildeo com a finalidade uacutenica de evitar possiacuteveis

puniccedilotildees

A Lei Complementar 1352010 traacutes inuacutemeros confrontos com a Constituiccedilatildeo

Federal sendo dois os mais relevantes primeiro a natildeo observacircncia do princiacutepio da

anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal e segundo

o desrespeito ao princiacutepio da natildeo-culpabilidade tambeacutem estabelecido na

Constituiccedilatildeo federal no artigo 5ordm inciso LVII

Sobre o primeiro ponto que trata da aplicabilidade da Lei Complementar nordm

1352010 para as eleiccedilotildees de 2010 restou soberana a decisatildeo do Supremo

Tribunal Federal ao resolver o conflito afirmando que o artigo 16 da Constituiccedilatildeo

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Federal ao submeter a alteraccedilatildeo legal do processo eleitoral agrave regra da anualidade

constitui uma garantia fundamental para o pleno exerciacutecio de direitos poliacuteticos

Esta pacificaccedilatildeo se deu no julgamento da Accedilatildeo Declaratoacuteria de

Inconstitucionalidade nordm 3685 13 onde atuou como Relatora a Ministra Ellen Gracie

que identificou como uma garantia fundamental do cidadatildeo-eleitor do cidadatildeo-

candidato e dos partidos poliacuteticos o artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal

A Ministra Ellen Gracie utilizou-se de uma analogia com o julgamento da

Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade 939 que teve como relator Ministro Sydnei

Sanches com a garantia da anterioridade tributaacuteria fixada no artigo 150 III b no

sentido de que se o princiacutepio da anterioridade tributaacuteria constitui uma garantia do

cidadatildeo-contribuinte o princiacutepio da anterioridade eleitoral tambeacutem eacute uma garantia do

cidadatildeo do eleitor do candidato e dos partidos poliacuteticos

Desta forma restou consolidado a garantia prevista no artigo 16 da

Constituiccedilatildeo Federal como forma de um devido processo legal eleitoral

O devido processo visa que se atinja uma decisatildeo conforme a Justiccedila

prestigiando a eacutetica da legalidade ressaltando-se que ele possui um duplo

significado de processo necessaacuterio e processo adequado para tanto COMOGLIO

afirma Que as garantias decorrentes do devido processo legal querem dizer natildeo apenas direito a um processo mas a um justo processo compreendendo a correccedilatildeo e efetividade dos instrumentos disponiacuteveis em juiacutezo e a efetividade e adequaccedilatildeo da proacutepria tutela finalrdquo 14

A Constituiccedilatildeo brasileira de 1988 traz a garantia exarada no seu artigo 5ordm

Art 5ordm - () LIV ndash ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal LV ndash aos litigantes em processo judicial e administrativo e aos acusados em geral seratildeo assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa com os meios de recurso a ela inerentes

Sobre o segundo ponto controverso mateacuteria deste trabalho tem o conflito tem

o conflito entre a Lei Complementar nordm 13510 contra uma garantia constitucional

denominado princiacutepio da natildeo-culpabilidade que eacute inseparaacutevel do conceito de

13 Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011 14 Luigi Paolo COMOGLIO Giuridizione e processo nel quadro delle garanzie constituzionali Rivista Trimestrale di Diritto e Procedura Civile 4 p 1070

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democracia A Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5ordm inciso LVII estabelece uma das

maiores garantias dos indiviacuteduos contra o autoritarismo do Estado afirmando que

ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

condenatoacuteriardquo fixando explicitamente o princiacutepio da natildeo-culpabilidade entre os

direitos fundamentais

42 AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EM JULGADO

A Lei Complementar nordm 1352010 em sua aliacutenea ldquoerdquo do inciso I do artigo 2ordm

possui a seguinte redaccedilatildeo e) os que forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial colegiado desde a condenaccedilatildeo ateacute o transcurso do prazo de 8 (oito) anos apoacutes o cumprimento da pena pelos crimes (Redaccedilatildeo dada pela Lei Complementar nordm 135 de 2010)

Esta aliacutenea visa impedir a candidatura de poliacuteticos condenados a partir da

segunda instacircncia e mesmo que natildeo tenha transitado em julgado Ela defende que

haja uma condenaccedilatildeo criminal no entanto deixa de exigir a configuraccedilatildeo do tracircnsito

em julgado do ato decisoacuterio para que ocorra a inelegibilidade A antiga lei previa que

o candidato soacute seria inelegiacutevel se tivesse condenaccedilatildeo definitiva

As alteraccedilotildees da Lei Complementar nordm 1352010 objetiva atender a um senso

comum do eleitorado afirmando que uma pessoa condenada natildeo deve poder ser

votada isto eacute natildeo deve ter mandato Em seus dizeres trata que a inelegibilidade

natildeo pressupotildee culpa formada natildeo deve haver discussatildeo sobre presunccedilatildeo da

inocecircncia Pode haver inelegibilidade por parentesco por ocupar cargo puacuteblico falta

de domiciacutelio eleitoral ou filiaccedilatildeo partidaacuteria causas que natildeo tecircm nada a ver com

condenaccedilatildeo criminal

A contradiccedilatildeo do argumento da Lei Complementar eacute se a Constituiccedilatildeo em

face do princiacutepio da natildeo-culpabilidade admite a cominaccedilatildeo de inelegibilidade para

quem ainda tem recursos pendentes de julgamento

Caso esta hipoacutetese seja admitida temos que um indiviacuteduo que tenha sido

condenado criminalmente em segunda instacircncia e interponha recurso especial ou

extraordinaacuterio para anular o processo caso natildeo consiga uma medida liminar

suspendendo os efeitos ficaria impedido de concorrer na eleiccedilatildeo

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Imagine-se que ao final da accedilatildeo o cidadatildeo que ficou impedido de concorrer

nas eleiccedilotildees obtivesse vitoacuteria em seu recurso obtendo assim a nulidade da accedilatildeo

bem como da decisatildeo que o condenou com ficaria a situaccedilatildeo deste cidadatildeo

O que se quer com a Lei Complementar nordm 1352010 eacute instituir um moralismo

eleitoral que se sobrepotildee a Constituiccedilatildeo Federal e seu principio constitucional da

natildeo-culpabilidade que eacute a garantia individual contra o Estado

Outro argumento utilizado pelos defensores da constitucionalidade da Lei

Complementar nordm 1352010 satildeo as prisotildees cautelares e que no final o sujeito

acaba sebdo absolvido Ora cabe lembrar-lhes que a prisatildeo cautelar natildeo eacute

antecipaccedilatildeo de pena cumpre ela uma funccedilatildeo processual clara e limitada agrave garantia

da ordem puacuteblica da ordem econocircmica por conveniecircncia da instruccedilatildeo criminal ou

para assegurar a aplicaccedilatildeo da lei penal quando houver prova da existecircncia do crime

e indiacutecio suficiente de autoria

Portanto temos que o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees enquanto natildeo

sobrevier decisatildeo judicial transitada em julgado

O proacuteprio Supremo na Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental

144 jaacute decidiu natildeo barrar candidaturas sem condenaccedilatildeo transitada em julgado

A Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental 144 15 foi votada

em agosto de 2008 antes das eleiccedilotildees municipais Na ocasiatildeo o Supremo Tribunal

Federal decidiu que natildeo poderiam ser barradas candidaturas de poliacuteticos

condenados na primeira instacircncia por conta da presunccedilatildeo de inocecircncia

Em 6 de agosto de 2008 haacute menos de trecircs anos o Supremo Tribunal Federal

julgou improcedente a Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental nordm

144 ajuizada pela Associaccedilatildeo dos Magistrados Brasileiros em voto do ministro

Celso de Mello vencidos os ministros Carlos Ayres e Joaquim Barbosa exatamente

porque O postulado consagrador da garantia de inocecircncia irradia os seus efeitos para aleacutem dos limites dos processos penais de natureza condenatoacuteria impedindo desse modo que situaccedilotildees processuais anda natildeo definidas por sentenccedilas transitadas em julgado provoquem em decorrecircncia das exigecircncias de probidade administrativa e demoralidade a que se refere o sect 9ordm do artigo 14 da Coinstituiccedilatildeo Federal a inelegibilidade dos cidadatildeos ou obstem candidaturas para mandatos eletivos

15Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011

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Portanto ficou definido que Lei Complementar sendo editada para casos de

inelegibilidades esta deveraacute respeitar o princiacutepio da natildeo-culpabilidade Ocorre que

foi editada a Lei Complementar nordm 1352010 que atendeu aos reclamos populares

mas preferiu a um soacute tempo violar a Constituiccedilatildeo Federal e desrespeitar a recente

decisatildeo do Supremo Tribunal Federal mesmo que na eacutepoacuteca desta decisatildeo natildeo

havia lei formal para tal situaccedilatildeo

43 PRINCIacutePIO CONSTITUCIONAL DA NAtildeO-CULPABILIDADE

O princiacutepio da natildeo-culpabilidade eacute direito fundamental previsto na

Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5deg inciso LVII ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute

o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

Isto eacute enquanto natildeo sobrevier uma decisatildeo judicial condenatoacuteria transitada

em julgado o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees em seu patrimocircnio ou em sua

liberdade Caso sobrevenha duacutevida quanto a culpabilidade esta resolveraacute sempre

em favor do reacuteu ou seja aplicando-se o princiacutepio in duacutebio pro reo

Assim disciplina Nelson Nery Juacutenior sobre o princiacutepio da natildeo-culpabilidade ldquoO inteacuterprete deve buscar a aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre tendo como pressuposto o exame da Constituiccedilatildeo Federal Depois sim deve consultar a legislaccedilatildeo infraconstitucional a respeito do temardquo 16

Sendo assim a Constituiccedilatildeo Federal no capiacutetulo sobre os Direitos e Deveres

Individuais e Coletivos em seu artigo 5ordm inciso LVII afirma que ldquoningueacutem seraacute

considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute considerar o

indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila A doutrina e a

jurisprudecircncia aclamam este princiacutepio como vaacuterios nomes como princiacutepio da

presunccedilatildeo de inocecircncia princiacutepio da natildeo-culpabilidade ou simplesmente princiacutepio da

inocecircncia

Joseacute Afonso da Silva em seu livro Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo

disciplina assim esta garantia A norma constitucional do inciso LVII agora sob nosso exame garante a presunccedilatildeo de inocecircncia por meio de um enunciado negativo universal lsquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria Usa-se de uma forma

16 NERY JUacuteNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20

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negativa para outorgar uma garantia positiva Na verdade o texto brasileiro natildeo significa outra coisa senatildeo que fica assegurada a todos a presunccedilatildeo de inocecircncia ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria O tracircnsito em julgado se daacute quando a decisatildeo natildeo comporta mais recurso ordinaacuterio especial ou extraordinaacuterio 17

Nesse sentido o indiviacuteduo acusado natildeo pode ser presumidamente culpado

mas sim inocente Tal princiacutepio visa a tutelar a liberdade pessoal de modo que o

Estado nos mais diferentes segmentos deve abster-se de considerar culpado

aquele que ainda natildeo foi submetido agrave definitividade da atuaccedilatildeo jurisdicional Em se tratando de suspensatildeo dos direitos poliacuteticos a Constituiccedilatildeo Federal

garante que a suspensatildeo somente se daraacute por ldquocondenaccedilatildeo criminal transitada em

julgado enquanto durarem seus efeitosrdquo

Julgamento neste sentido REPRESENTACcedilAtildeO SUSPENSAtildeO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS EM VIRTUDE DE SENTENCcedilA PENAL CONDENATOacuteRIA TRANSITADA EM JULGADO AUTO-APLICABILIDADE DOS ARTIGOS 14 sect 3ordm II E 15 III DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL PROCEDEcircNCIA A suspensatildeo dos direitos poliacuteticos do condenado independe de lei regulamentadora bem como de processo especial de cogniccedilatildeo e de anaacutelise de meacuterito para a execuccedilatildeo da medida no juiacutezo eleitoral posto natildeo se tratar de sanccedilatildeo penal mas de efeito natildeo-penal de condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado e decorrente de mandamento constitucional Comprovado o tracircnsito em julgado da sentenccedila penal condenatoacuteria decreta-se automaticamente a suspensatildeo dos direitos poliacuteticos ativo e passivo do representado ou seja o direito de votar e ser votado com a consequumlente exclusatildeo de seu nome da folha de votaccedilatildeo e declaraccedilatildeo de sua inelegibilidade 18

Logo infere-se que a condenaccedilatildeo criminal sem o tracircnsito em julgado natildeo

desqualifica o condenado a votar e a eventualmente concorrer a qualquer cargo

eletivo

O Colendo Tribunal Superior Eleitoral enfrentou esta questatildeo ao apreciar

pedido de registro de candidatura valendo registrar os seguintes julgados RECURSO ESPECIAL RECEBIDO COMO ORDINAacuteRIO REGISTRO DE CANDIDATURA DEFERIMENTO INELEGIBILIDADE NAtildeO-OCORREcircNCIA Condenaccedilatildeo criminal sem tracircnsito em julgado natildeo eacute apta a ensejar inelegibilidade (precedente do TSE acoacuterdatildeo 536 rel Min Fernando Neves publicado em sessatildeo de 882002) Recurso natildeo provido 19

17 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006 p 155 18 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbrgt TRESCndashAcoacuterdatildeo nordm 13324 de 071094 rel Juiz Nilson B Filho Acesso em 16 set 2011 19 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbr gt TSE- REspEl nordm 20247 de 19902 rel Min Sepuacutelveda Pertence Acesso em 16 set 2011

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INELEGIBILIDADE CONDENACcedilAtildeO CRIMINAL NAtildeO TRANSITADA EM JULGADO CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA ART 14 sect 9deg SUacuteMULA Ndeg 13 DO TSE 1 A existecircncia de sentenccedila criminal condenatoacuteria sem o tracircnsito em julgado natildeo eacute suficiente para ocasionar inelegibilidade 2 O art 14 sect 9deg da Constituiccedilatildeo natildeo eacute auto-aplicaacutevel 3 Necessidade de lei complementar estabelecendo os casos em que a vida pregressa do candidato poderaacute levar agrave sua inelegibilidade bem como os prazos de sua cessaccedilatildeo 4 Recurso provido para julgar improcedente a impugnaccedilatildeo e deferir o registro da candidatura 20

Insculpido na Constituiccedilatildeo Federal o principio da natildeo-culpabilidade deve ser

respeitado por toda lei infraconstitucional alguns doutrinadores como Aristides

Junqueira e Antocircnio Bandeira de Mello em carta publica no sitio do Movimento de

Combate agrave Corrupccedilatildeo Eleitoral21 entendem que neste presente caso natildeo deve ser

aplicado o princiacutepio da natildeo-culpabilidade a inelegibilidade pois esta natildeo eacute pena

mas medida preventiva

Estes juristas se acham alicerccedilados pelo que expressamente estatui o sect 9deg do

artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal em que Lei complementar estabeleceraacute outros

casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim de proteger a probidade

administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato considerada a vida

pregressa do candidato afirmam que uma vez que a proacutepria Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica expressamente permite que o legislador estipule quais elementos da vida

pregressa dos candidatos podem afastaacute-los dos pleitos

Independente desta posiccedilatildeo minoritaacuteria encontra-se que o princiacutepio da natildeo-

culpabilidade eacute prevista em diversos ordenamentos juriacutedicos e tratados como se

veraacute a seguir

Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo da Franccedila de 1789 o art

9da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) de 1948 dispotildee ldquoTodo acusado eacute

considerado inocente ateacute ser declarado culpado e se julgar indispensaacutevel prendecirc-lo

todo o rigor desnecessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deveraacute ser severamente

reprimido pela leirdquo22

20 Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrgt TSE-REspEl nordm 18047 de 2992000 rel Min Fernando Neves da Silva Acesso em 16 set 2011 21 Disponiacutevel em lthttpwwwmcceorgbrsitesdefaultfilescartajuristaspdfgt Acesso em 3 jul 2011 22 Disponiacutevel em lthttppfdcpgrmpfgovbratuacao-e-conteudos-de-apoiolegislacaodireitoshuma nosdeclar_dir_ homem_cidadaopdfgt Acesso em 13 set 2011

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Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos de 1948 diz ldquoToda pessoa

acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocecircncia enquanto natildeo se

comprove legalmente sua culpardquo23

A origem histoacuterica que foi referida teve uma grande importacircncia para se

chegar a um status constitucional conforme eacute citado por Mirabete Existe apenas uma tendecircncia agrave presunccedilatildeo de inocecircncia ou mais precisamente um estado de inocecircncia um estado juriacutedico no qual o acusado eacute inocente ateacute que seja declarado culpado por uma sentenccedila transitada em julgado Por isso a nossa Constituiccedilatildeo Federal natildeo presume a inocecircncia mas declara que ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria (art 5deg LVII) ou seja que o acusado eacute inocente durante o desenvolvimento do processo e seu estado soacute se modifica por uma sentenccedila final que o declare culpado 24

Por fim o princiacutepio da natildeo-culpabilidade visa a proteccedilatildeo do reacuteu para que

este tenha um julgamento justo devendo ser provada sua verdadeira culpa antes

que seja considerado culpado

23 Disponiacutevel em lthttpwwwagugovbrsistemassiteTemplateImagemTextoThumbaspxidConteu do=113927ampordenacao=1ampid_site=4922gt Acesso em 12 set 2011 24 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252

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5 CONCLUSAtildeO Apoacutes as anaacutelises da doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncias pertinentes a este

trabalho verifica-se que a Lei Complementar nordm 1352010 ao instituir nova hipoacutetese

de inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado esta em pleno conflito com o princiacutepio da natildeo-culpabilidade insculpido no

artigo 5ordm inciso LVII da Constituiccedilatildeo Federal o que torna esta nova hipoacutetese

absolutamente inconstitucional

O objetivo da Lei Complementar nordm 1352010 eacute o de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos para que os criteacuterios de inelegibilidades sejam mais

rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos Inicialmente eacute compreensiacutevel a

preocupaccedilatildeo de qualificar o perfil dos candidatos a cargos eletivos atraveacutes da vida

pregressa isto significa querer se representar por candidatos idocircneos

Ocorre que eacute necessaacuterio impor tantas restriccedilotildees para que o cidadatildeo possa

concorrer a determinado pleito natildeo eacute mais correto permitir que o proacuteprio povo

detentor soberano do poder para escolher seus representantes defina seus criteacuterios

de escolha

Quanto ao aspecto juriacutedico vejamos que o legislativo ao criar novas hipoacuteteses

de inelegibilidade deve-se atentar para as garantias jaacute consagradas em nosso

ordenamento principalmente quando esta garantia esta insculpida na Constituiccedilatildeo

Federal garantia esta referente ao principio da natildeo-culpabilidade que reza que

ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

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condenatoacuteria trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute

considerar o indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila

Ocorre que a criaccedilatildeo da Lei Complementar nordm 1352010 nasceu conflitante

com a Constituiccedilatildeo Federal em 2 aspectos primordiais primeiro a natildeo observacircncia

do princiacutepio da anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo

Federal pacificado pela Accedilatildeo Declaratoacuteria de Inconstitucionalidade nordm 3685

afirmando que deve-se respeitar ao principio da anualidade e segundo a

inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado

O segundo conflito origina-se diante da garantia constitucional do princiacutepio da

presunccedilatildeo da natildeo-culpabilidade o qual disciplina que somente poderaacute ser

considerado culpado o acusado de determinado crime quando ocorrer o tracircnsito em

julgado da decisatildeo

Portanto temos que uma decisatildeo de um oacutergatildeo colegiado quando recorriacutevel

ainda natildeo eacute o momento que se consumativo da culpabilidade do acusado pois natildeo

podemos antecipar a puniccedilatildeo de um cidadatildeo com a perda de algum direito pelo

simples fato de estar respondendo a algum processo

A aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre teraacute como pressuposto o

exame da Constituiccedilatildeo Federal que estabelece o princiacutepio da natildeo-culpabilidade

tambeacutem chamado de princiacutepio da presunccedilatildeo de inocecircncia que eacute uma verdadeira

garantia constitucional do indiviacuteduo contra o Estado Portanto deve-se respeitar este

princiacutepio basilar do Estado Democraacutetico de Direito nos mais diferentes segmentos

devendo qualquer Lei abster-se de considerar culpado aquele que ainda natildeo teve

sua decisatildeo transitada em julgado

Assim a Lei Complementar nordm 1352010 eacute contraacuterio ao disposto no texto

constitucional pois de forma antecipada retira do cidadatildeo o direito de disputar ao

pleito de forma igualitaacuteria bem como retira do povo um de seus maiores direitos o

de poder escolher seus representantes

Portanto para fortalecimento do Estado Democraacutetico de Direito se faz

necessaacuterio que as garantias constitucionais prevaleccedilam com isto deve-se

preponderar a presunccedilatildeo de natildeo culpabilidade ateacute o tracircnsito em julgado de da

sentenccedila condenatoacuteria

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REFEREcircNCIAS BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicao_ConstituiccedilaoCompiladohtmgt Acesso em 2 jun 2011 BRASIL Tribunal Superior Eleitoral Coacutedigo eleitoral Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrinternetjurisprudenciacodigo_eleitoralcodigo_eleitoralhtmlgt Acesso em 5 mai 2011 BRASIL Supremo Tribunal Federal Jurisprudecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudenciapesquisarJurisprudenciaaspgt Acesso em 15 mai 2011 BRASIL Projeto de Lei Complementar nordm 518 de 17 de setembro de 2009 Altera a Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 que estabelece de acordo com o sect 9ordm do art 14 da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias para incluir hipoacuteteses de inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no exerciacutecio do mandato Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbrsfatividademateriadetalhesaspp_cod_mate=96850gt Acesso em 19 mai 2011

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BRASIL Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 Estabelece de acordo com o art 14 sect 9ordm da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03LeisLCPLcp64htmgt Acesso em 15 mai 2011 COSTA Adriano Soares Instituiccedilotildees de Direito Eleitoral Ed Del Rey 2006 DI PIETRO Maria Sylvia Zanella Direito Administrativo 9 Ed Satildeo Paulo Atlas 1998 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131 LEAL Saul Tourinho Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt MELLO Celso Antonio Bandeira Curso de Direito Administrativo 24 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2007 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 ed Satildeo Paulo Atlas 2006 Movimento de Combate agrave Corrupccedilatildeo Disponiacutevel em ltwwwmcceorgbrgt Acesso em 3 jul 2011 NERY JUacuteBNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20 PEREIRA Erick Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt Acesso em 30 jun 2011 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2008

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taxativamente prevista pela Constituiccedilatildeo Federal e a inelegibilidade constitucional

relativa compreende o impedimento eleitoral que restringe o cidadatildeo de concorrer a

determinados cargos em determinada eleiccedilatildeo refere-se a situaccedilotildees especiais e

momentacircneas tais como motivos funcionais de casamento de parentescos

A inelegibilidade infraconstitucional eacute disciplinada na Lei Complementar ndeg

641990 alterada pela Lei Complementar ndeg 1352010

Eacute relevante a distinccedilatildeo entre as inelegibilidades constitucionais e

infraconstitucionais como bem ressaltado por Joseacute Jairo Gomes A distinccedilatildeo que se faz entre inelegibilidades constitucionais e legais natildeo eacute cerebrina apresentando inegaacutevel relevacircncia praacutetica Basta dizer que natildeo haacute preclusatildeo quanto agraves primeiras as quais podem ser arguumlidas na fase do registro de candidatura ou posteriormente antes ou depois das eleiccedilotildees A arguumliccedilatildeo posterior pode ser feita no RCED (CE art 262 I) Jaacute as inelegibilidades legais sujeitam-se agrave preclusatildeo se natildeo forem levantadas na fase de registro de candidatura Ultrapassado esse momento natildeo mais poderatildeo ser discutidas salvo se supervenientes 12

33 INELEGIBILIDADE CONSTITUCIONAL

A inelegibilidade constitucional dividi-se em absoluta e relativa

A inelegibilidade constitucional absoluta estabelecida no sect 4deg do artigo 14 da

Constituiccedilatildeo Federal prevecirc que satildeo inelegiacuteveis os inalistaacuteveis e os analfabetos

A inelegibilidade decorrente da inalistabilidade abrange todos que natildeo se

encontram na situaccedilatildeo de alistabilidade tambeacutem aqueles que se encontram em

estado definitivo ou temporariamente privados de seus direitos poliacuteticos por fim

atinge aqueles que natildeo sabem exprimir-se na liacutengua nacional e os estrangeiros

A inelegibilidade decorrente do analfabetismo natildeo permite que o analfabeto

seja elegiacutevel mas permite que ele seja alistaacutevel exercendo assim a sua capacidade

de votar mas nunca a de ser votado

Estas hipoacuteteses restringem ao cidadatildeo se candidatarem a qualquer cargo

eletivo em qualquer eleiccedilatildeo enquanto perdurar esta situaccedilatildeo restritiva

As hipoacuteteses de inelegibilidades constitucionais relativas referem-se a

situaccedilotildees especiais separando-as por motivos funcionais motivos parentais motivos

militares e encontram-se dispostas no artigo 14 sectsect 5deg ao 9deg da Constituiccedilatildeo Federal

12 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131

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A inelegibilidade por motivo funcional eacute decorrente de o cidadatildeo estar em

exerciacutecio de alguma funccedilatildeo puacuteblica Satildeo previstas duas situaccedilotildees

A primeira declara ser inelegiacutevel para o mesmo cargo em terceiro periacuteodo

subsequumlente o Presidente da Repuacuteblica os Governadores de Estado e do DF os

Prefeitos e quem os houver sucedido ou substituiacutedo nos seis meses antes das

eleiccedilotildees Eacute o que dispotildee o sect 5deg do artigo 14 na redaccedilatildeo da Emenda Constitucional

161997

Portanto soacute eacute permitida uma reconduccedilatildeo ou seja eacute permitida a reeleiccedilatildeo de

Chefes do Executivo ou seus substitutos para apenas um periacuteodo subsequumlente

A segunda situaccedilatildeo considera que satildeo inelegiacuteveis para concorrer a outros

cargos o Presidente da Repuacuteblica os Governadores de Estado e do DF e os

Prefeitos salvo se tiverem se desincompatibilizado com a renuacutencia do cargo ateacute

seis meses antes do pleito Eacute o que prevecirc o sect 6deg do artigo 14 da Constituiccedilatildeo

Federal

Os servidores puacuteblicos que ocuparem algum cargo de livre nomeaccedilatildeo

demissiacuteveis ad nutum seratildeo exonerados para que possam concorrer a cargo

eletivo ou seja natildeo poderatildeo manter qualquer viacutenculo com a entidade na qual

desempenhava suas funccedilotildees

Os servidores puacuteblicos concursados ao contraacuterio dos servidores ocupantes

de cargos de livre nomeaccedilatildeo natildeo seratildeo exonerados ou demitidos apenas se

afastaratildeo de suas funccedilotildees para se candidatar a cargo puacuteblico

A inelegibilidade por motivo de parentesco tambeacutem denominada de

inelegibilidade reflexa estaacute relacionada a condiccedilotildees inerentes ao parentesco

sanguumliacuteneo soacutecio-afetivo ou condiccedilatildeo matrimonial

Assim conforme previsto no sect 7ordm do artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal estas

mesmas pessoas impedidas para determinados cargos podem concorrer para outros

cargos que se processem em territoacuterio de outra circunscriccedilatildeo

A inelegibilidade reflexa aproxima-se da inelegibilidade absoluta a diferenccedila

ocorre que na reflexa pode cessar por vontade das pessoas envolvidas um exemplo

claro eacute a renuacutencia seis meses antes do pleito do Presidente da Repuacuteblica

Assim temos que a inelegibilidade por motivo de parentesco ou reflexa visa a

impedir a formaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do poder poliacutetico em matildeos de uma determinada

famiacutelia

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A inelegibilidade por motivos militares visa que o militar enquanto em serviccedilo

ativo natildeo pode estar filiado a partidos poliacuteticos entretanto a Constituiccedilatildeo Federal

em seu artigo 14 relata que atendidas certas condiccedilotildees o militar alistaacutevel se torna

elegiacutevel sendo estas as condiccedilotildees se contar com menos de dez anos de serviccedilo

deveraacute afastar-se da atividade e se contar com mais de dez ano de serviccedilo seraacute

agregado pela autoridade superior e se eleito passaraacute automaticamente no ato da

diplomaccedilatildeo para a inatividade

34 INELEGIBILIDADE INFRACONSTITUCIONAL

Por se tratar de inuacutemeras hipoacuteteses de inelegibilidades infraconstitucionais

natildeo seraacute possiacutevel tratar todos os casos previstos em lei para tanto adentraremos a

anaacutelise de algumas hipoacuteteses dispostas na Lei Complementar nordm 641990

As inelegibilidades infraconstitucionais satildeo instituiacutedas por Lei Complementar

que estabeleceraacute outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim

de proteger a probidade administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato

considerado vida pregressa do candidato e a normalidade e legitimidade das

eleiccedilotildees contra a influecircncia do poder econocircmico ou o abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo

cargo ou emprego na administraccedilatildeo direta ou indireta

As causas de inelegibilidade infraconstitucionais estatildeo previstas no artigo 1ordm

da Lei Complementar nordm 641990 alterado dentre outras atraveacutes da recente Lei

Complementar ndeg 1352010 conhecida como a Lei da Ficha Limpa

Dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquobrdquo da Lei Complementar nordm 641990 que os

membros do Congresso Nacional das Assembleacuteias Legislativas da Cacircmara

Legislativa e das Cacircmaras Municipais que hajam perdido os respectivos mandatos

por infringecircncia do disposto nos incisos I e II do art 55 da Constituiccedilatildeo Federal dos

dispositivos equivalentes sobre perda de mandato das Constituiccedilotildees Estaduais e

Leis Orgacircnicas dos Municiacutepios e do Distrito Federal para as eleiccedilotildees que se

realizarem durante o periacuteodo remanescente do mandato para o qual foram eleitos e

nos oito anos subsequumlentes ao teacutermino da legislatura

Sendo assim satildeo inelegiacuteveis os parlamentares cujo procedimento for

declarado incompatiacutevel com o decoro parlamentar e desde a expediccedilatildeo do diploma

firmar ou manter contrato com pessoa juriacutedica de direito puacuteblico autarquia empresa

puacuteblica sociedade de economia mista ou empresa concessionaacuteria de serviccedilo

puacuteblico salvo quando o contrato obedecer a claacuteusulas uniformes aceitar ou exercer

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cargo funccedilatildeo ou emprego remunerado inclusive os de que sejam demissiacuteveis ad

nutum nas entidades constantes da aliacutenea anterior e desde a posse ser

proprietaacuterios controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente

de contrato com pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou nela exercer funccedilatildeo

remunerada ocupar cargo ou funccedilatildeo de que sejam demissiacuteveis ad nutum nas

entidades referidas no inciso I a patrocinar causa em que seja interessada

qualquer das entidades a que se refere o inciso I a ser titulares de mais de um

cargo ou mandato puacuteblico eletivo

Portando o parlamentar que infringir o disposto no artigo 54 teraacute seu mandato

cassado Jaacute no inciso II do artigo 55 o Deputado ou Senador perderaacute o mandato

quando o procedimento for declarado incompatiacutevel com o decoro parlamentar A

Constituiccedilatildeo Federal prevecirc como falta de decoro o disciplinado no artigo 55 sect 1ordm

Por fim eacute incompatiacutevel com o decoro parlamentar os casos definidos no regimento

interno

Assim dispotildee o artigo 1ordm Inciso I aliacutenea ldquocrdquo da Lei Complementar nordm 641990

Governador e o Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal e o Prefeito e o

Vice-Prefeito que perderem seus cargos eletivos por infringecircncia a dispositivo da

Constituiccedilatildeo Estadual da Lei Orgacircnica do Distrito Federal ou da Lei Orgacircnica do

Municiacutepio para as eleiccedilotildees que se realizarem durante o periacuteodo remanescente e

nos 8 (oito) anos subsequentes ao teacutermino do mandato para o qual tenham sido

eleitos

Tal dispositivo busca evitar que os chefes do poder executivos retornem a

vida puacuteblica no mandato seguinte e nas eleiccedilotildees para as demais esferas Este

dispositivo preserva a moralidade puacuteblica O prazo de 8 anos de inabilitaccedilatildeo seraacute

contado a partir da data que tiver sido proferida a decisatildeo por crime de

responsabilidade

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquodrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tenham contra sua pessoa representaccedilatildeo julgada procedente pela Justiccedila

Eleitoral em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo colegiado em

processo de apuraccedilatildeo de abuso do poder econocircmico ou poliacutetico para a eleiccedilatildeo na

qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como para as que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes

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Primeiramente eacute necessaacuterio conceituar o que eacute abuso de poder econocircmico de

abuso de poder poliacutetico

Abuso de poder econocircmico consiste na utilizaccedilatildeo de bens ou serviccedilos de

empresas particulares ou recursos proacuteprios do candidato gerando assim uma

desproporccedilatildeo entre os candidatos exemplo Se um candidato eacute proprietaacuterio de uma

grande empresa e faz uso dela para custear sua campanha sem realizar doaccedilatildeo de

campanha prevista na Lei 950497

Abuso do poder poliacutetico consiste no emprego de serviccedilos ou bens

pertencentes a administraccedilatildeo puacuteblica com o objetivo de propiciar a eleiccedilatildeo de

determinado candidato

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquofrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que forem declarados indignos do oficialato ou com ele incompatiacuteveis pelo prazo

de 8 (oito) anos

Oficialato eacute o cargo ou dignidade de oficial seja das forccedilas armadas poliacutecia

militar ou corpo de bombeiros A competecircncia para apreciar e declarar a indignidade

do oficialato seraacute do Superior Tribunal Militar

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquogrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tiverem suas contas relativas ao exerciacutecio de cargos ou funccedilotildees puacuteblicas

rejeitadas por irregularidade insanaacutevel que configure ato doloso de improbidade

administrativa e por decisatildeo irrecorriacutevel do oacutergatildeo competente salvo se esta houver

sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciaacuterio para as eleiccedilotildees que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes contados a partir da data da decisatildeo aplicando-se o

disposto no inciso II do art 71 da Constituiccedilatildeo Federal a todos os ordenadores de

despesa sem exclusatildeo de mandataacuterios que houverem agido nessa condiccedilatildeo

Esta decisatildeo eacute administrativa e traraacute a consequumlecircncia de inelegibilidade para

isso a irregularidade tem de ser insanaacutevel

A competecircncia para julgar estas irregularidades compete ao Poder

Legislativo seja no acircmbito federal estadual ou municipal

A analise desta insanabilidade poderaacute caber a Justiccedila Eleitoral como por

exemplo no pedido de registro de candidatura por algueacutem que teve suas contas

rejeitadas

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquohrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os detentores de cargo na administraccedilatildeo puacuteblica direta indireta ou fundacional que

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beneficiarem a si ou a terceiros pelo abuso do poder econocircmico ou poliacutetico que

forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial

colegiado para a eleiccedilatildeo na qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como

para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes

Aqui natildeo se trata de cargo eletivo mas sim de cargos por concurso puacuteblico ou

por provimento em comissatildeo

A finalidade eacute por fim a reeleiccedilatildeo para aqueles que estatildeo em cargos de chefia

do poder executivo que tenham cometido abuso do poder econocircmico ou poliacutetico

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquoirdquo da Lei Complementar nordm 641990)

os que em estabelecimentos de creacutedito financiamento ou seguro que tenham sido

ou estejam sendo objeto de processo de liquidaccedilatildeo judicial ou extrajudicial hajam

exercido nos 12 (doze) meses anteriores agrave respectiva decretaccedilatildeo cargo ou funccedilatildeo

de direccedilatildeo administraccedilatildeo ou representaccedilatildeo enquanto natildeo forem exonerados de

qualquer responsabilidade

O que a lei busca nesta situaccedilatildeo eacute deixar aquele que administrou os referidos

estabelecimentos fora de qualquer participaccedilatildeo poliacutetica enquanto natildeo forem

apurados todos os fatos que levaram a insolvecircncia

Portanto o maior objetivo desta causa de inelegibilidade eacute assegurar que o

ex-administrado de estabelecimento de creacutedito financiamento ou seguro natildeo venha

a eleger-se a cargo eletivo sem antes ter sido apurada sua participaccedilatildeo para

insolvecircncia

Outras causas de inelegibilidades incluiacutedas pela Lei Complementar nordm

1352010 estatildeo previstas nos incisos j a q da referida Lei

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4 DA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE 41 ORIGEM DA LEI COMPLEMENTAR Nordm 1352010

Com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o Brasil passa a ser um

Estado Democraacutetico de Direito inaugurando uma democracia participativa

Esta democracia participativa permite ao cidadatildeo desde que preenchidos

determinados requisitos dar iniacutecio a um projeto de Lei atraveacutes da chamada Iniciativa

Popular A origem da Lei Complementar nordm 1352010 decorreu do Projeto de Lei nordm

5182009 sob a coordenaccedilatildeo do Movimento de Combate a Corrupccedilatildeo Eleitoral ndash

MCCE que teve iniacutecio em abril de 2008 com o objetivo de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos a finalidade eacute que os criteacuterios de inelegibilidades sejam

mais rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos

Esta Lei Complementar dita que pessoas condenadas por um colegiado

independente do tracircnsito em julgado satildeo inelegiacuteveis portanto podem ter seus

registros de candidaturas negados alem de incluir parlamentares que renunciaram

ao cargo para assim evitar uma possiacutevel abertura de processo por quebra de decoro

ou por desrespeito agrave Constituiccedilatildeo com a finalidade uacutenica de evitar possiacuteveis

puniccedilotildees

A Lei Complementar 1352010 traacutes inuacutemeros confrontos com a Constituiccedilatildeo

Federal sendo dois os mais relevantes primeiro a natildeo observacircncia do princiacutepio da

anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal e segundo

o desrespeito ao princiacutepio da natildeo-culpabilidade tambeacutem estabelecido na

Constituiccedilatildeo federal no artigo 5ordm inciso LVII

Sobre o primeiro ponto que trata da aplicabilidade da Lei Complementar nordm

1352010 para as eleiccedilotildees de 2010 restou soberana a decisatildeo do Supremo

Tribunal Federal ao resolver o conflito afirmando que o artigo 16 da Constituiccedilatildeo

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Federal ao submeter a alteraccedilatildeo legal do processo eleitoral agrave regra da anualidade

constitui uma garantia fundamental para o pleno exerciacutecio de direitos poliacuteticos

Esta pacificaccedilatildeo se deu no julgamento da Accedilatildeo Declaratoacuteria de

Inconstitucionalidade nordm 3685 13 onde atuou como Relatora a Ministra Ellen Gracie

que identificou como uma garantia fundamental do cidadatildeo-eleitor do cidadatildeo-

candidato e dos partidos poliacuteticos o artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal

A Ministra Ellen Gracie utilizou-se de uma analogia com o julgamento da

Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade 939 que teve como relator Ministro Sydnei

Sanches com a garantia da anterioridade tributaacuteria fixada no artigo 150 III b no

sentido de que se o princiacutepio da anterioridade tributaacuteria constitui uma garantia do

cidadatildeo-contribuinte o princiacutepio da anterioridade eleitoral tambeacutem eacute uma garantia do

cidadatildeo do eleitor do candidato e dos partidos poliacuteticos

Desta forma restou consolidado a garantia prevista no artigo 16 da

Constituiccedilatildeo Federal como forma de um devido processo legal eleitoral

O devido processo visa que se atinja uma decisatildeo conforme a Justiccedila

prestigiando a eacutetica da legalidade ressaltando-se que ele possui um duplo

significado de processo necessaacuterio e processo adequado para tanto COMOGLIO

afirma Que as garantias decorrentes do devido processo legal querem dizer natildeo apenas direito a um processo mas a um justo processo compreendendo a correccedilatildeo e efetividade dos instrumentos disponiacuteveis em juiacutezo e a efetividade e adequaccedilatildeo da proacutepria tutela finalrdquo 14

A Constituiccedilatildeo brasileira de 1988 traz a garantia exarada no seu artigo 5ordm

Art 5ordm - () LIV ndash ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal LV ndash aos litigantes em processo judicial e administrativo e aos acusados em geral seratildeo assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa com os meios de recurso a ela inerentes

Sobre o segundo ponto controverso mateacuteria deste trabalho tem o conflito tem

o conflito entre a Lei Complementar nordm 13510 contra uma garantia constitucional

denominado princiacutepio da natildeo-culpabilidade que eacute inseparaacutevel do conceito de

13 Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011 14 Luigi Paolo COMOGLIO Giuridizione e processo nel quadro delle garanzie constituzionali Rivista Trimestrale di Diritto e Procedura Civile 4 p 1070

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democracia A Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5ordm inciso LVII estabelece uma das

maiores garantias dos indiviacuteduos contra o autoritarismo do Estado afirmando que

ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

condenatoacuteriardquo fixando explicitamente o princiacutepio da natildeo-culpabilidade entre os

direitos fundamentais

42 AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EM JULGADO

A Lei Complementar nordm 1352010 em sua aliacutenea ldquoerdquo do inciso I do artigo 2ordm

possui a seguinte redaccedilatildeo e) os que forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial colegiado desde a condenaccedilatildeo ateacute o transcurso do prazo de 8 (oito) anos apoacutes o cumprimento da pena pelos crimes (Redaccedilatildeo dada pela Lei Complementar nordm 135 de 2010)

Esta aliacutenea visa impedir a candidatura de poliacuteticos condenados a partir da

segunda instacircncia e mesmo que natildeo tenha transitado em julgado Ela defende que

haja uma condenaccedilatildeo criminal no entanto deixa de exigir a configuraccedilatildeo do tracircnsito

em julgado do ato decisoacuterio para que ocorra a inelegibilidade A antiga lei previa que

o candidato soacute seria inelegiacutevel se tivesse condenaccedilatildeo definitiva

As alteraccedilotildees da Lei Complementar nordm 1352010 objetiva atender a um senso

comum do eleitorado afirmando que uma pessoa condenada natildeo deve poder ser

votada isto eacute natildeo deve ter mandato Em seus dizeres trata que a inelegibilidade

natildeo pressupotildee culpa formada natildeo deve haver discussatildeo sobre presunccedilatildeo da

inocecircncia Pode haver inelegibilidade por parentesco por ocupar cargo puacuteblico falta

de domiciacutelio eleitoral ou filiaccedilatildeo partidaacuteria causas que natildeo tecircm nada a ver com

condenaccedilatildeo criminal

A contradiccedilatildeo do argumento da Lei Complementar eacute se a Constituiccedilatildeo em

face do princiacutepio da natildeo-culpabilidade admite a cominaccedilatildeo de inelegibilidade para

quem ainda tem recursos pendentes de julgamento

Caso esta hipoacutetese seja admitida temos que um indiviacuteduo que tenha sido

condenado criminalmente em segunda instacircncia e interponha recurso especial ou

extraordinaacuterio para anular o processo caso natildeo consiga uma medida liminar

suspendendo os efeitos ficaria impedido de concorrer na eleiccedilatildeo

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Imagine-se que ao final da accedilatildeo o cidadatildeo que ficou impedido de concorrer

nas eleiccedilotildees obtivesse vitoacuteria em seu recurso obtendo assim a nulidade da accedilatildeo

bem como da decisatildeo que o condenou com ficaria a situaccedilatildeo deste cidadatildeo

O que se quer com a Lei Complementar nordm 1352010 eacute instituir um moralismo

eleitoral que se sobrepotildee a Constituiccedilatildeo Federal e seu principio constitucional da

natildeo-culpabilidade que eacute a garantia individual contra o Estado

Outro argumento utilizado pelos defensores da constitucionalidade da Lei

Complementar nordm 1352010 satildeo as prisotildees cautelares e que no final o sujeito

acaba sebdo absolvido Ora cabe lembrar-lhes que a prisatildeo cautelar natildeo eacute

antecipaccedilatildeo de pena cumpre ela uma funccedilatildeo processual clara e limitada agrave garantia

da ordem puacuteblica da ordem econocircmica por conveniecircncia da instruccedilatildeo criminal ou

para assegurar a aplicaccedilatildeo da lei penal quando houver prova da existecircncia do crime

e indiacutecio suficiente de autoria

Portanto temos que o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees enquanto natildeo

sobrevier decisatildeo judicial transitada em julgado

O proacuteprio Supremo na Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental

144 jaacute decidiu natildeo barrar candidaturas sem condenaccedilatildeo transitada em julgado

A Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental 144 15 foi votada

em agosto de 2008 antes das eleiccedilotildees municipais Na ocasiatildeo o Supremo Tribunal

Federal decidiu que natildeo poderiam ser barradas candidaturas de poliacuteticos

condenados na primeira instacircncia por conta da presunccedilatildeo de inocecircncia

Em 6 de agosto de 2008 haacute menos de trecircs anos o Supremo Tribunal Federal

julgou improcedente a Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental nordm

144 ajuizada pela Associaccedilatildeo dos Magistrados Brasileiros em voto do ministro

Celso de Mello vencidos os ministros Carlos Ayres e Joaquim Barbosa exatamente

porque O postulado consagrador da garantia de inocecircncia irradia os seus efeitos para aleacutem dos limites dos processos penais de natureza condenatoacuteria impedindo desse modo que situaccedilotildees processuais anda natildeo definidas por sentenccedilas transitadas em julgado provoquem em decorrecircncia das exigecircncias de probidade administrativa e demoralidade a que se refere o sect 9ordm do artigo 14 da Coinstituiccedilatildeo Federal a inelegibilidade dos cidadatildeos ou obstem candidaturas para mandatos eletivos

15Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011

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Portanto ficou definido que Lei Complementar sendo editada para casos de

inelegibilidades esta deveraacute respeitar o princiacutepio da natildeo-culpabilidade Ocorre que

foi editada a Lei Complementar nordm 1352010 que atendeu aos reclamos populares

mas preferiu a um soacute tempo violar a Constituiccedilatildeo Federal e desrespeitar a recente

decisatildeo do Supremo Tribunal Federal mesmo que na eacutepoacuteca desta decisatildeo natildeo

havia lei formal para tal situaccedilatildeo

43 PRINCIacutePIO CONSTITUCIONAL DA NAtildeO-CULPABILIDADE

O princiacutepio da natildeo-culpabilidade eacute direito fundamental previsto na

Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5deg inciso LVII ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute

o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

Isto eacute enquanto natildeo sobrevier uma decisatildeo judicial condenatoacuteria transitada

em julgado o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees em seu patrimocircnio ou em sua

liberdade Caso sobrevenha duacutevida quanto a culpabilidade esta resolveraacute sempre

em favor do reacuteu ou seja aplicando-se o princiacutepio in duacutebio pro reo

Assim disciplina Nelson Nery Juacutenior sobre o princiacutepio da natildeo-culpabilidade ldquoO inteacuterprete deve buscar a aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre tendo como pressuposto o exame da Constituiccedilatildeo Federal Depois sim deve consultar a legislaccedilatildeo infraconstitucional a respeito do temardquo 16

Sendo assim a Constituiccedilatildeo Federal no capiacutetulo sobre os Direitos e Deveres

Individuais e Coletivos em seu artigo 5ordm inciso LVII afirma que ldquoningueacutem seraacute

considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute considerar o

indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila A doutrina e a

jurisprudecircncia aclamam este princiacutepio como vaacuterios nomes como princiacutepio da

presunccedilatildeo de inocecircncia princiacutepio da natildeo-culpabilidade ou simplesmente princiacutepio da

inocecircncia

Joseacute Afonso da Silva em seu livro Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo

disciplina assim esta garantia A norma constitucional do inciso LVII agora sob nosso exame garante a presunccedilatildeo de inocecircncia por meio de um enunciado negativo universal lsquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria Usa-se de uma forma

16 NERY JUacuteNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20

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negativa para outorgar uma garantia positiva Na verdade o texto brasileiro natildeo significa outra coisa senatildeo que fica assegurada a todos a presunccedilatildeo de inocecircncia ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria O tracircnsito em julgado se daacute quando a decisatildeo natildeo comporta mais recurso ordinaacuterio especial ou extraordinaacuterio 17

Nesse sentido o indiviacuteduo acusado natildeo pode ser presumidamente culpado

mas sim inocente Tal princiacutepio visa a tutelar a liberdade pessoal de modo que o

Estado nos mais diferentes segmentos deve abster-se de considerar culpado

aquele que ainda natildeo foi submetido agrave definitividade da atuaccedilatildeo jurisdicional Em se tratando de suspensatildeo dos direitos poliacuteticos a Constituiccedilatildeo Federal

garante que a suspensatildeo somente se daraacute por ldquocondenaccedilatildeo criminal transitada em

julgado enquanto durarem seus efeitosrdquo

Julgamento neste sentido REPRESENTACcedilAtildeO SUSPENSAtildeO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS EM VIRTUDE DE SENTENCcedilA PENAL CONDENATOacuteRIA TRANSITADA EM JULGADO AUTO-APLICABILIDADE DOS ARTIGOS 14 sect 3ordm II E 15 III DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL PROCEDEcircNCIA A suspensatildeo dos direitos poliacuteticos do condenado independe de lei regulamentadora bem como de processo especial de cogniccedilatildeo e de anaacutelise de meacuterito para a execuccedilatildeo da medida no juiacutezo eleitoral posto natildeo se tratar de sanccedilatildeo penal mas de efeito natildeo-penal de condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado e decorrente de mandamento constitucional Comprovado o tracircnsito em julgado da sentenccedila penal condenatoacuteria decreta-se automaticamente a suspensatildeo dos direitos poliacuteticos ativo e passivo do representado ou seja o direito de votar e ser votado com a consequumlente exclusatildeo de seu nome da folha de votaccedilatildeo e declaraccedilatildeo de sua inelegibilidade 18

Logo infere-se que a condenaccedilatildeo criminal sem o tracircnsito em julgado natildeo

desqualifica o condenado a votar e a eventualmente concorrer a qualquer cargo

eletivo

O Colendo Tribunal Superior Eleitoral enfrentou esta questatildeo ao apreciar

pedido de registro de candidatura valendo registrar os seguintes julgados RECURSO ESPECIAL RECEBIDO COMO ORDINAacuteRIO REGISTRO DE CANDIDATURA DEFERIMENTO INELEGIBILIDADE NAtildeO-OCORREcircNCIA Condenaccedilatildeo criminal sem tracircnsito em julgado natildeo eacute apta a ensejar inelegibilidade (precedente do TSE acoacuterdatildeo 536 rel Min Fernando Neves publicado em sessatildeo de 882002) Recurso natildeo provido 19

17 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006 p 155 18 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbrgt TRESCndashAcoacuterdatildeo nordm 13324 de 071094 rel Juiz Nilson B Filho Acesso em 16 set 2011 19 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbr gt TSE- REspEl nordm 20247 de 19902 rel Min Sepuacutelveda Pertence Acesso em 16 set 2011

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INELEGIBILIDADE CONDENACcedilAtildeO CRIMINAL NAtildeO TRANSITADA EM JULGADO CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA ART 14 sect 9deg SUacuteMULA Ndeg 13 DO TSE 1 A existecircncia de sentenccedila criminal condenatoacuteria sem o tracircnsito em julgado natildeo eacute suficiente para ocasionar inelegibilidade 2 O art 14 sect 9deg da Constituiccedilatildeo natildeo eacute auto-aplicaacutevel 3 Necessidade de lei complementar estabelecendo os casos em que a vida pregressa do candidato poderaacute levar agrave sua inelegibilidade bem como os prazos de sua cessaccedilatildeo 4 Recurso provido para julgar improcedente a impugnaccedilatildeo e deferir o registro da candidatura 20

Insculpido na Constituiccedilatildeo Federal o principio da natildeo-culpabilidade deve ser

respeitado por toda lei infraconstitucional alguns doutrinadores como Aristides

Junqueira e Antocircnio Bandeira de Mello em carta publica no sitio do Movimento de

Combate agrave Corrupccedilatildeo Eleitoral21 entendem que neste presente caso natildeo deve ser

aplicado o princiacutepio da natildeo-culpabilidade a inelegibilidade pois esta natildeo eacute pena

mas medida preventiva

Estes juristas se acham alicerccedilados pelo que expressamente estatui o sect 9deg do

artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal em que Lei complementar estabeleceraacute outros

casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim de proteger a probidade

administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato considerada a vida

pregressa do candidato afirmam que uma vez que a proacutepria Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica expressamente permite que o legislador estipule quais elementos da vida

pregressa dos candidatos podem afastaacute-los dos pleitos

Independente desta posiccedilatildeo minoritaacuteria encontra-se que o princiacutepio da natildeo-

culpabilidade eacute prevista em diversos ordenamentos juriacutedicos e tratados como se

veraacute a seguir

Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo da Franccedila de 1789 o art

9da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) de 1948 dispotildee ldquoTodo acusado eacute

considerado inocente ateacute ser declarado culpado e se julgar indispensaacutevel prendecirc-lo

todo o rigor desnecessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deveraacute ser severamente

reprimido pela leirdquo22

20 Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrgt TSE-REspEl nordm 18047 de 2992000 rel Min Fernando Neves da Silva Acesso em 16 set 2011 21 Disponiacutevel em lthttpwwwmcceorgbrsitesdefaultfilescartajuristaspdfgt Acesso em 3 jul 2011 22 Disponiacutevel em lthttppfdcpgrmpfgovbratuacao-e-conteudos-de-apoiolegislacaodireitoshuma nosdeclar_dir_ homem_cidadaopdfgt Acesso em 13 set 2011

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Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos de 1948 diz ldquoToda pessoa

acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocecircncia enquanto natildeo se

comprove legalmente sua culpardquo23

A origem histoacuterica que foi referida teve uma grande importacircncia para se

chegar a um status constitucional conforme eacute citado por Mirabete Existe apenas uma tendecircncia agrave presunccedilatildeo de inocecircncia ou mais precisamente um estado de inocecircncia um estado juriacutedico no qual o acusado eacute inocente ateacute que seja declarado culpado por uma sentenccedila transitada em julgado Por isso a nossa Constituiccedilatildeo Federal natildeo presume a inocecircncia mas declara que ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria (art 5deg LVII) ou seja que o acusado eacute inocente durante o desenvolvimento do processo e seu estado soacute se modifica por uma sentenccedila final que o declare culpado 24

Por fim o princiacutepio da natildeo-culpabilidade visa a proteccedilatildeo do reacuteu para que

este tenha um julgamento justo devendo ser provada sua verdadeira culpa antes

que seja considerado culpado

23 Disponiacutevel em lthttpwwwagugovbrsistemassiteTemplateImagemTextoThumbaspxidConteu do=113927ampordenacao=1ampid_site=4922gt Acesso em 12 set 2011 24 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252

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5 CONCLUSAtildeO Apoacutes as anaacutelises da doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncias pertinentes a este

trabalho verifica-se que a Lei Complementar nordm 1352010 ao instituir nova hipoacutetese

de inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado esta em pleno conflito com o princiacutepio da natildeo-culpabilidade insculpido no

artigo 5ordm inciso LVII da Constituiccedilatildeo Federal o que torna esta nova hipoacutetese

absolutamente inconstitucional

O objetivo da Lei Complementar nordm 1352010 eacute o de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos para que os criteacuterios de inelegibilidades sejam mais

rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos Inicialmente eacute compreensiacutevel a

preocupaccedilatildeo de qualificar o perfil dos candidatos a cargos eletivos atraveacutes da vida

pregressa isto significa querer se representar por candidatos idocircneos

Ocorre que eacute necessaacuterio impor tantas restriccedilotildees para que o cidadatildeo possa

concorrer a determinado pleito natildeo eacute mais correto permitir que o proacuteprio povo

detentor soberano do poder para escolher seus representantes defina seus criteacuterios

de escolha

Quanto ao aspecto juriacutedico vejamos que o legislativo ao criar novas hipoacuteteses

de inelegibilidade deve-se atentar para as garantias jaacute consagradas em nosso

ordenamento principalmente quando esta garantia esta insculpida na Constituiccedilatildeo

Federal garantia esta referente ao principio da natildeo-culpabilidade que reza que

ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

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condenatoacuteria trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute

considerar o indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila

Ocorre que a criaccedilatildeo da Lei Complementar nordm 1352010 nasceu conflitante

com a Constituiccedilatildeo Federal em 2 aspectos primordiais primeiro a natildeo observacircncia

do princiacutepio da anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo

Federal pacificado pela Accedilatildeo Declaratoacuteria de Inconstitucionalidade nordm 3685

afirmando que deve-se respeitar ao principio da anualidade e segundo a

inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado

O segundo conflito origina-se diante da garantia constitucional do princiacutepio da

presunccedilatildeo da natildeo-culpabilidade o qual disciplina que somente poderaacute ser

considerado culpado o acusado de determinado crime quando ocorrer o tracircnsito em

julgado da decisatildeo

Portanto temos que uma decisatildeo de um oacutergatildeo colegiado quando recorriacutevel

ainda natildeo eacute o momento que se consumativo da culpabilidade do acusado pois natildeo

podemos antecipar a puniccedilatildeo de um cidadatildeo com a perda de algum direito pelo

simples fato de estar respondendo a algum processo

A aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre teraacute como pressuposto o

exame da Constituiccedilatildeo Federal que estabelece o princiacutepio da natildeo-culpabilidade

tambeacutem chamado de princiacutepio da presunccedilatildeo de inocecircncia que eacute uma verdadeira

garantia constitucional do indiviacuteduo contra o Estado Portanto deve-se respeitar este

princiacutepio basilar do Estado Democraacutetico de Direito nos mais diferentes segmentos

devendo qualquer Lei abster-se de considerar culpado aquele que ainda natildeo teve

sua decisatildeo transitada em julgado

Assim a Lei Complementar nordm 1352010 eacute contraacuterio ao disposto no texto

constitucional pois de forma antecipada retira do cidadatildeo o direito de disputar ao

pleito de forma igualitaacuteria bem como retira do povo um de seus maiores direitos o

de poder escolher seus representantes

Portanto para fortalecimento do Estado Democraacutetico de Direito se faz

necessaacuterio que as garantias constitucionais prevaleccedilam com isto deve-se

preponderar a presunccedilatildeo de natildeo culpabilidade ateacute o tracircnsito em julgado de da

sentenccedila condenatoacuteria

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REFEREcircNCIAS BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicao_ConstituiccedilaoCompiladohtmgt Acesso em 2 jun 2011 BRASIL Tribunal Superior Eleitoral Coacutedigo eleitoral Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrinternetjurisprudenciacodigo_eleitoralcodigo_eleitoralhtmlgt Acesso em 5 mai 2011 BRASIL Supremo Tribunal Federal Jurisprudecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudenciapesquisarJurisprudenciaaspgt Acesso em 15 mai 2011 BRASIL Projeto de Lei Complementar nordm 518 de 17 de setembro de 2009 Altera a Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 que estabelece de acordo com o sect 9ordm do art 14 da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias para incluir hipoacuteteses de inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no exerciacutecio do mandato Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbrsfatividademateriadetalhesaspp_cod_mate=96850gt Acesso em 19 mai 2011

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BRASIL Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 Estabelece de acordo com o art 14 sect 9ordm da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03LeisLCPLcp64htmgt Acesso em 15 mai 2011 COSTA Adriano Soares Instituiccedilotildees de Direito Eleitoral Ed Del Rey 2006 DI PIETRO Maria Sylvia Zanella Direito Administrativo 9 Ed Satildeo Paulo Atlas 1998 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131 LEAL Saul Tourinho Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt MELLO Celso Antonio Bandeira Curso de Direito Administrativo 24 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2007 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 ed Satildeo Paulo Atlas 2006 Movimento de Combate agrave Corrupccedilatildeo Disponiacutevel em ltwwwmcceorgbrgt Acesso em 3 jul 2011 NERY JUacuteBNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20 PEREIRA Erick Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt Acesso em 30 jun 2011 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2008

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PIRES Maacutercio Rodrigo Kaio Carvalho Abuso do poder poliacutetico nas eleiccedilotildees Jus Navigandi Teresina ano 15 n 2677 30 out 2010 Disponiacutevel em lthttpjusuolcombrrevistatexto17741gt Acesso em 27 jun 2011 RAMAYANA Marcos Direito Eleitoral Impetus Niteroacutei 2006 RESENHA ELEITORAL - Nova Seacuterie v9 n1 (janjun 2002) Disponiacutevel em lt httpwwwtre-scgovbrsiteinstitucionalpublicacoesartigos-doutrinariospublicados- na-resenha-eleitoralresenhasv9-n1-janjun-2002abuso-do-podereconomico- ou-de-autoridadeindexhtmlgt SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006

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A inelegibilidade por motivo funcional eacute decorrente de o cidadatildeo estar em

exerciacutecio de alguma funccedilatildeo puacuteblica Satildeo previstas duas situaccedilotildees

A primeira declara ser inelegiacutevel para o mesmo cargo em terceiro periacuteodo

subsequumlente o Presidente da Repuacuteblica os Governadores de Estado e do DF os

Prefeitos e quem os houver sucedido ou substituiacutedo nos seis meses antes das

eleiccedilotildees Eacute o que dispotildee o sect 5deg do artigo 14 na redaccedilatildeo da Emenda Constitucional

161997

Portanto soacute eacute permitida uma reconduccedilatildeo ou seja eacute permitida a reeleiccedilatildeo de

Chefes do Executivo ou seus substitutos para apenas um periacuteodo subsequumlente

A segunda situaccedilatildeo considera que satildeo inelegiacuteveis para concorrer a outros

cargos o Presidente da Repuacuteblica os Governadores de Estado e do DF e os

Prefeitos salvo se tiverem se desincompatibilizado com a renuacutencia do cargo ateacute

seis meses antes do pleito Eacute o que prevecirc o sect 6deg do artigo 14 da Constituiccedilatildeo

Federal

Os servidores puacuteblicos que ocuparem algum cargo de livre nomeaccedilatildeo

demissiacuteveis ad nutum seratildeo exonerados para que possam concorrer a cargo

eletivo ou seja natildeo poderatildeo manter qualquer viacutenculo com a entidade na qual

desempenhava suas funccedilotildees

Os servidores puacuteblicos concursados ao contraacuterio dos servidores ocupantes

de cargos de livre nomeaccedilatildeo natildeo seratildeo exonerados ou demitidos apenas se

afastaratildeo de suas funccedilotildees para se candidatar a cargo puacuteblico

A inelegibilidade por motivo de parentesco tambeacutem denominada de

inelegibilidade reflexa estaacute relacionada a condiccedilotildees inerentes ao parentesco

sanguumliacuteneo soacutecio-afetivo ou condiccedilatildeo matrimonial

Assim conforme previsto no sect 7ordm do artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal estas

mesmas pessoas impedidas para determinados cargos podem concorrer para outros

cargos que se processem em territoacuterio de outra circunscriccedilatildeo

A inelegibilidade reflexa aproxima-se da inelegibilidade absoluta a diferenccedila

ocorre que na reflexa pode cessar por vontade das pessoas envolvidas um exemplo

claro eacute a renuacutencia seis meses antes do pleito do Presidente da Repuacuteblica

Assim temos que a inelegibilidade por motivo de parentesco ou reflexa visa a

impedir a formaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do poder poliacutetico em matildeos de uma determinada

famiacutelia

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A inelegibilidade por motivos militares visa que o militar enquanto em serviccedilo

ativo natildeo pode estar filiado a partidos poliacuteticos entretanto a Constituiccedilatildeo Federal

em seu artigo 14 relata que atendidas certas condiccedilotildees o militar alistaacutevel se torna

elegiacutevel sendo estas as condiccedilotildees se contar com menos de dez anos de serviccedilo

deveraacute afastar-se da atividade e se contar com mais de dez ano de serviccedilo seraacute

agregado pela autoridade superior e se eleito passaraacute automaticamente no ato da

diplomaccedilatildeo para a inatividade

34 INELEGIBILIDADE INFRACONSTITUCIONAL

Por se tratar de inuacutemeras hipoacuteteses de inelegibilidades infraconstitucionais

natildeo seraacute possiacutevel tratar todos os casos previstos em lei para tanto adentraremos a

anaacutelise de algumas hipoacuteteses dispostas na Lei Complementar nordm 641990

As inelegibilidades infraconstitucionais satildeo instituiacutedas por Lei Complementar

que estabeleceraacute outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim

de proteger a probidade administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato

considerado vida pregressa do candidato e a normalidade e legitimidade das

eleiccedilotildees contra a influecircncia do poder econocircmico ou o abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo

cargo ou emprego na administraccedilatildeo direta ou indireta

As causas de inelegibilidade infraconstitucionais estatildeo previstas no artigo 1ordm

da Lei Complementar nordm 641990 alterado dentre outras atraveacutes da recente Lei

Complementar ndeg 1352010 conhecida como a Lei da Ficha Limpa

Dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquobrdquo da Lei Complementar nordm 641990 que os

membros do Congresso Nacional das Assembleacuteias Legislativas da Cacircmara

Legislativa e das Cacircmaras Municipais que hajam perdido os respectivos mandatos

por infringecircncia do disposto nos incisos I e II do art 55 da Constituiccedilatildeo Federal dos

dispositivos equivalentes sobre perda de mandato das Constituiccedilotildees Estaduais e

Leis Orgacircnicas dos Municiacutepios e do Distrito Federal para as eleiccedilotildees que se

realizarem durante o periacuteodo remanescente do mandato para o qual foram eleitos e

nos oito anos subsequumlentes ao teacutermino da legislatura

Sendo assim satildeo inelegiacuteveis os parlamentares cujo procedimento for

declarado incompatiacutevel com o decoro parlamentar e desde a expediccedilatildeo do diploma

firmar ou manter contrato com pessoa juriacutedica de direito puacuteblico autarquia empresa

puacuteblica sociedade de economia mista ou empresa concessionaacuteria de serviccedilo

puacuteblico salvo quando o contrato obedecer a claacuteusulas uniformes aceitar ou exercer

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cargo funccedilatildeo ou emprego remunerado inclusive os de que sejam demissiacuteveis ad

nutum nas entidades constantes da aliacutenea anterior e desde a posse ser

proprietaacuterios controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente

de contrato com pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou nela exercer funccedilatildeo

remunerada ocupar cargo ou funccedilatildeo de que sejam demissiacuteveis ad nutum nas

entidades referidas no inciso I a patrocinar causa em que seja interessada

qualquer das entidades a que se refere o inciso I a ser titulares de mais de um

cargo ou mandato puacuteblico eletivo

Portando o parlamentar que infringir o disposto no artigo 54 teraacute seu mandato

cassado Jaacute no inciso II do artigo 55 o Deputado ou Senador perderaacute o mandato

quando o procedimento for declarado incompatiacutevel com o decoro parlamentar A

Constituiccedilatildeo Federal prevecirc como falta de decoro o disciplinado no artigo 55 sect 1ordm

Por fim eacute incompatiacutevel com o decoro parlamentar os casos definidos no regimento

interno

Assim dispotildee o artigo 1ordm Inciso I aliacutenea ldquocrdquo da Lei Complementar nordm 641990

Governador e o Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal e o Prefeito e o

Vice-Prefeito que perderem seus cargos eletivos por infringecircncia a dispositivo da

Constituiccedilatildeo Estadual da Lei Orgacircnica do Distrito Federal ou da Lei Orgacircnica do

Municiacutepio para as eleiccedilotildees que se realizarem durante o periacuteodo remanescente e

nos 8 (oito) anos subsequentes ao teacutermino do mandato para o qual tenham sido

eleitos

Tal dispositivo busca evitar que os chefes do poder executivos retornem a

vida puacuteblica no mandato seguinte e nas eleiccedilotildees para as demais esferas Este

dispositivo preserva a moralidade puacuteblica O prazo de 8 anos de inabilitaccedilatildeo seraacute

contado a partir da data que tiver sido proferida a decisatildeo por crime de

responsabilidade

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquodrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tenham contra sua pessoa representaccedilatildeo julgada procedente pela Justiccedila

Eleitoral em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo colegiado em

processo de apuraccedilatildeo de abuso do poder econocircmico ou poliacutetico para a eleiccedilatildeo na

qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como para as que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes

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Primeiramente eacute necessaacuterio conceituar o que eacute abuso de poder econocircmico de

abuso de poder poliacutetico

Abuso de poder econocircmico consiste na utilizaccedilatildeo de bens ou serviccedilos de

empresas particulares ou recursos proacuteprios do candidato gerando assim uma

desproporccedilatildeo entre os candidatos exemplo Se um candidato eacute proprietaacuterio de uma

grande empresa e faz uso dela para custear sua campanha sem realizar doaccedilatildeo de

campanha prevista na Lei 950497

Abuso do poder poliacutetico consiste no emprego de serviccedilos ou bens

pertencentes a administraccedilatildeo puacuteblica com o objetivo de propiciar a eleiccedilatildeo de

determinado candidato

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquofrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que forem declarados indignos do oficialato ou com ele incompatiacuteveis pelo prazo

de 8 (oito) anos

Oficialato eacute o cargo ou dignidade de oficial seja das forccedilas armadas poliacutecia

militar ou corpo de bombeiros A competecircncia para apreciar e declarar a indignidade

do oficialato seraacute do Superior Tribunal Militar

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquogrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tiverem suas contas relativas ao exerciacutecio de cargos ou funccedilotildees puacuteblicas

rejeitadas por irregularidade insanaacutevel que configure ato doloso de improbidade

administrativa e por decisatildeo irrecorriacutevel do oacutergatildeo competente salvo se esta houver

sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciaacuterio para as eleiccedilotildees que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes contados a partir da data da decisatildeo aplicando-se o

disposto no inciso II do art 71 da Constituiccedilatildeo Federal a todos os ordenadores de

despesa sem exclusatildeo de mandataacuterios que houverem agido nessa condiccedilatildeo

Esta decisatildeo eacute administrativa e traraacute a consequumlecircncia de inelegibilidade para

isso a irregularidade tem de ser insanaacutevel

A competecircncia para julgar estas irregularidades compete ao Poder

Legislativo seja no acircmbito federal estadual ou municipal

A analise desta insanabilidade poderaacute caber a Justiccedila Eleitoral como por

exemplo no pedido de registro de candidatura por algueacutem que teve suas contas

rejeitadas

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquohrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os detentores de cargo na administraccedilatildeo puacuteblica direta indireta ou fundacional que

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beneficiarem a si ou a terceiros pelo abuso do poder econocircmico ou poliacutetico que

forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial

colegiado para a eleiccedilatildeo na qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como

para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes

Aqui natildeo se trata de cargo eletivo mas sim de cargos por concurso puacuteblico ou

por provimento em comissatildeo

A finalidade eacute por fim a reeleiccedilatildeo para aqueles que estatildeo em cargos de chefia

do poder executivo que tenham cometido abuso do poder econocircmico ou poliacutetico

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquoirdquo da Lei Complementar nordm 641990)

os que em estabelecimentos de creacutedito financiamento ou seguro que tenham sido

ou estejam sendo objeto de processo de liquidaccedilatildeo judicial ou extrajudicial hajam

exercido nos 12 (doze) meses anteriores agrave respectiva decretaccedilatildeo cargo ou funccedilatildeo

de direccedilatildeo administraccedilatildeo ou representaccedilatildeo enquanto natildeo forem exonerados de

qualquer responsabilidade

O que a lei busca nesta situaccedilatildeo eacute deixar aquele que administrou os referidos

estabelecimentos fora de qualquer participaccedilatildeo poliacutetica enquanto natildeo forem

apurados todos os fatos que levaram a insolvecircncia

Portanto o maior objetivo desta causa de inelegibilidade eacute assegurar que o

ex-administrado de estabelecimento de creacutedito financiamento ou seguro natildeo venha

a eleger-se a cargo eletivo sem antes ter sido apurada sua participaccedilatildeo para

insolvecircncia

Outras causas de inelegibilidades incluiacutedas pela Lei Complementar nordm

1352010 estatildeo previstas nos incisos j a q da referida Lei

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4 DA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE 41 ORIGEM DA LEI COMPLEMENTAR Nordm 1352010

Com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o Brasil passa a ser um

Estado Democraacutetico de Direito inaugurando uma democracia participativa

Esta democracia participativa permite ao cidadatildeo desde que preenchidos

determinados requisitos dar iniacutecio a um projeto de Lei atraveacutes da chamada Iniciativa

Popular A origem da Lei Complementar nordm 1352010 decorreu do Projeto de Lei nordm

5182009 sob a coordenaccedilatildeo do Movimento de Combate a Corrupccedilatildeo Eleitoral ndash

MCCE que teve iniacutecio em abril de 2008 com o objetivo de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos a finalidade eacute que os criteacuterios de inelegibilidades sejam

mais rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos

Esta Lei Complementar dita que pessoas condenadas por um colegiado

independente do tracircnsito em julgado satildeo inelegiacuteveis portanto podem ter seus

registros de candidaturas negados alem de incluir parlamentares que renunciaram

ao cargo para assim evitar uma possiacutevel abertura de processo por quebra de decoro

ou por desrespeito agrave Constituiccedilatildeo com a finalidade uacutenica de evitar possiacuteveis

puniccedilotildees

A Lei Complementar 1352010 traacutes inuacutemeros confrontos com a Constituiccedilatildeo

Federal sendo dois os mais relevantes primeiro a natildeo observacircncia do princiacutepio da

anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal e segundo

o desrespeito ao princiacutepio da natildeo-culpabilidade tambeacutem estabelecido na

Constituiccedilatildeo federal no artigo 5ordm inciso LVII

Sobre o primeiro ponto que trata da aplicabilidade da Lei Complementar nordm

1352010 para as eleiccedilotildees de 2010 restou soberana a decisatildeo do Supremo

Tribunal Federal ao resolver o conflito afirmando que o artigo 16 da Constituiccedilatildeo

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Federal ao submeter a alteraccedilatildeo legal do processo eleitoral agrave regra da anualidade

constitui uma garantia fundamental para o pleno exerciacutecio de direitos poliacuteticos

Esta pacificaccedilatildeo se deu no julgamento da Accedilatildeo Declaratoacuteria de

Inconstitucionalidade nordm 3685 13 onde atuou como Relatora a Ministra Ellen Gracie

que identificou como uma garantia fundamental do cidadatildeo-eleitor do cidadatildeo-

candidato e dos partidos poliacuteticos o artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal

A Ministra Ellen Gracie utilizou-se de uma analogia com o julgamento da

Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade 939 que teve como relator Ministro Sydnei

Sanches com a garantia da anterioridade tributaacuteria fixada no artigo 150 III b no

sentido de que se o princiacutepio da anterioridade tributaacuteria constitui uma garantia do

cidadatildeo-contribuinte o princiacutepio da anterioridade eleitoral tambeacutem eacute uma garantia do

cidadatildeo do eleitor do candidato e dos partidos poliacuteticos

Desta forma restou consolidado a garantia prevista no artigo 16 da

Constituiccedilatildeo Federal como forma de um devido processo legal eleitoral

O devido processo visa que se atinja uma decisatildeo conforme a Justiccedila

prestigiando a eacutetica da legalidade ressaltando-se que ele possui um duplo

significado de processo necessaacuterio e processo adequado para tanto COMOGLIO

afirma Que as garantias decorrentes do devido processo legal querem dizer natildeo apenas direito a um processo mas a um justo processo compreendendo a correccedilatildeo e efetividade dos instrumentos disponiacuteveis em juiacutezo e a efetividade e adequaccedilatildeo da proacutepria tutela finalrdquo 14

A Constituiccedilatildeo brasileira de 1988 traz a garantia exarada no seu artigo 5ordm

Art 5ordm - () LIV ndash ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal LV ndash aos litigantes em processo judicial e administrativo e aos acusados em geral seratildeo assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa com os meios de recurso a ela inerentes

Sobre o segundo ponto controverso mateacuteria deste trabalho tem o conflito tem

o conflito entre a Lei Complementar nordm 13510 contra uma garantia constitucional

denominado princiacutepio da natildeo-culpabilidade que eacute inseparaacutevel do conceito de

13 Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011 14 Luigi Paolo COMOGLIO Giuridizione e processo nel quadro delle garanzie constituzionali Rivista Trimestrale di Diritto e Procedura Civile 4 p 1070

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democracia A Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5ordm inciso LVII estabelece uma das

maiores garantias dos indiviacuteduos contra o autoritarismo do Estado afirmando que

ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

condenatoacuteriardquo fixando explicitamente o princiacutepio da natildeo-culpabilidade entre os

direitos fundamentais

42 AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EM JULGADO

A Lei Complementar nordm 1352010 em sua aliacutenea ldquoerdquo do inciso I do artigo 2ordm

possui a seguinte redaccedilatildeo e) os que forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial colegiado desde a condenaccedilatildeo ateacute o transcurso do prazo de 8 (oito) anos apoacutes o cumprimento da pena pelos crimes (Redaccedilatildeo dada pela Lei Complementar nordm 135 de 2010)

Esta aliacutenea visa impedir a candidatura de poliacuteticos condenados a partir da

segunda instacircncia e mesmo que natildeo tenha transitado em julgado Ela defende que

haja uma condenaccedilatildeo criminal no entanto deixa de exigir a configuraccedilatildeo do tracircnsito

em julgado do ato decisoacuterio para que ocorra a inelegibilidade A antiga lei previa que

o candidato soacute seria inelegiacutevel se tivesse condenaccedilatildeo definitiva

As alteraccedilotildees da Lei Complementar nordm 1352010 objetiva atender a um senso

comum do eleitorado afirmando que uma pessoa condenada natildeo deve poder ser

votada isto eacute natildeo deve ter mandato Em seus dizeres trata que a inelegibilidade

natildeo pressupotildee culpa formada natildeo deve haver discussatildeo sobre presunccedilatildeo da

inocecircncia Pode haver inelegibilidade por parentesco por ocupar cargo puacuteblico falta

de domiciacutelio eleitoral ou filiaccedilatildeo partidaacuteria causas que natildeo tecircm nada a ver com

condenaccedilatildeo criminal

A contradiccedilatildeo do argumento da Lei Complementar eacute se a Constituiccedilatildeo em

face do princiacutepio da natildeo-culpabilidade admite a cominaccedilatildeo de inelegibilidade para

quem ainda tem recursos pendentes de julgamento

Caso esta hipoacutetese seja admitida temos que um indiviacuteduo que tenha sido

condenado criminalmente em segunda instacircncia e interponha recurso especial ou

extraordinaacuterio para anular o processo caso natildeo consiga uma medida liminar

suspendendo os efeitos ficaria impedido de concorrer na eleiccedilatildeo

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Imagine-se que ao final da accedilatildeo o cidadatildeo que ficou impedido de concorrer

nas eleiccedilotildees obtivesse vitoacuteria em seu recurso obtendo assim a nulidade da accedilatildeo

bem como da decisatildeo que o condenou com ficaria a situaccedilatildeo deste cidadatildeo

O que se quer com a Lei Complementar nordm 1352010 eacute instituir um moralismo

eleitoral que se sobrepotildee a Constituiccedilatildeo Federal e seu principio constitucional da

natildeo-culpabilidade que eacute a garantia individual contra o Estado

Outro argumento utilizado pelos defensores da constitucionalidade da Lei

Complementar nordm 1352010 satildeo as prisotildees cautelares e que no final o sujeito

acaba sebdo absolvido Ora cabe lembrar-lhes que a prisatildeo cautelar natildeo eacute

antecipaccedilatildeo de pena cumpre ela uma funccedilatildeo processual clara e limitada agrave garantia

da ordem puacuteblica da ordem econocircmica por conveniecircncia da instruccedilatildeo criminal ou

para assegurar a aplicaccedilatildeo da lei penal quando houver prova da existecircncia do crime

e indiacutecio suficiente de autoria

Portanto temos que o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees enquanto natildeo

sobrevier decisatildeo judicial transitada em julgado

O proacuteprio Supremo na Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental

144 jaacute decidiu natildeo barrar candidaturas sem condenaccedilatildeo transitada em julgado

A Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental 144 15 foi votada

em agosto de 2008 antes das eleiccedilotildees municipais Na ocasiatildeo o Supremo Tribunal

Federal decidiu que natildeo poderiam ser barradas candidaturas de poliacuteticos

condenados na primeira instacircncia por conta da presunccedilatildeo de inocecircncia

Em 6 de agosto de 2008 haacute menos de trecircs anos o Supremo Tribunal Federal

julgou improcedente a Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental nordm

144 ajuizada pela Associaccedilatildeo dos Magistrados Brasileiros em voto do ministro

Celso de Mello vencidos os ministros Carlos Ayres e Joaquim Barbosa exatamente

porque O postulado consagrador da garantia de inocecircncia irradia os seus efeitos para aleacutem dos limites dos processos penais de natureza condenatoacuteria impedindo desse modo que situaccedilotildees processuais anda natildeo definidas por sentenccedilas transitadas em julgado provoquem em decorrecircncia das exigecircncias de probidade administrativa e demoralidade a que se refere o sect 9ordm do artigo 14 da Coinstituiccedilatildeo Federal a inelegibilidade dos cidadatildeos ou obstem candidaturas para mandatos eletivos

15Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011

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Portanto ficou definido que Lei Complementar sendo editada para casos de

inelegibilidades esta deveraacute respeitar o princiacutepio da natildeo-culpabilidade Ocorre que

foi editada a Lei Complementar nordm 1352010 que atendeu aos reclamos populares

mas preferiu a um soacute tempo violar a Constituiccedilatildeo Federal e desrespeitar a recente

decisatildeo do Supremo Tribunal Federal mesmo que na eacutepoacuteca desta decisatildeo natildeo

havia lei formal para tal situaccedilatildeo

43 PRINCIacutePIO CONSTITUCIONAL DA NAtildeO-CULPABILIDADE

O princiacutepio da natildeo-culpabilidade eacute direito fundamental previsto na

Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5deg inciso LVII ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute

o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

Isto eacute enquanto natildeo sobrevier uma decisatildeo judicial condenatoacuteria transitada

em julgado o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees em seu patrimocircnio ou em sua

liberdade Caso sobrevenha duacutevida quanto a culpabilidade esta resolveraacute sempre

em favor do reacuteu ou seja aplicando-se o princiacutepio in duacutebio pro reo

Assim disciplina Nelson Nery Juacutenior sobre o princiacutepio da natildeo-culpabilidade ldquoO inteacuterprete deve buscar a aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre tendo como pressuposto o exame da Constituiccedilatildeo Federal Depois sim deve consultar a legislaccedilatildeo infraconstitucional a respeito do temardquo 16

Sendo assim a Constituiccedilatildeo Federal no capiacutetulo sobre os Direitos e Deveres

Individuais e Coletivos em seu artigo 5ordm inciso LVII afirma que ldquoningueacutem seraacute

considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute considerar o

indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila A doutrina e a

jurisprudecircncia aclamam este princiacutepio como vaacuterios nomes como princiacutepio da

presunccedilatildeo de inocecircncia princiacutepio da natildeo-culpabilidade ou simplesmente princiacutepio da

inocecircncia

Joseacute Afonso da Silva em seu livro Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo

disciplina assim esta garantia A norma constitucional do inciso LVII agora sob nosso exame garante a presunccedilatildeo de inocecircncia por meio de um enunciado negativo universal lsquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria Usa-se de uma forma

16 NERY JUacuteNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20

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negativa para outorgar uma garantia positiva Na verdade o texto brasileiro natildeo significa outra coisa senatildeo que fica assegurada a todos a presunccedilatildeo de inocecircncia ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria O tracircnsito em julgado se daacute quando a decisatildeo natildeo comporta mais recurso ordinaacuterio especial ou extraordinaacuterio 17

Nesse sentido o indiviacuteduo acusado natildeo pode ser presumidamente culpado

mas sim inocente Tal princiacutepio visa a tutelar a liberdade pessoal de modo que o

Estado nos mais diferentes segmentos deve abster-se de considerar culpado

aquele que ainda natildeo foi submetido agrave definitividade da atuaccedilatildeo jurisdicional Em se tratando de suspensatildeo dos direitos poliacuteticos a Constituiccedilatildeo Federal

garante que a suspensatildeo somente se daraacute por ldquocondenaccedilatildeo criminal transitada em

julgado enquanto durarem seus efeitosrdquo

Julgamento neste sentido REPRESENTACcedilAtildeO SUSPENSAtildeO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS EM VIRTUDE DE SENTENCcedilA PENAL CONDENATOacuteRIA TRANSITADA EM JULGADO AUTO-APLICABILIDADE DOS ARTIGOS 14 sect 3ordm II E 15 III DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL PROCEDEcircNCIA A suspensatildeo dos direitos poliacuteticos do condenado independe de lei regulamentadora bem como de processo especial de cogniccedilatildeo e de anaacutelise de meacuterito para a execuccedilatildeo da medida no juiacutezo eleitoral posto natildeo se tratar de sanccedilatildeo penal mas de efeito natildeo-penal de condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado e decorrente de mandamento constitucional Comprovado o tracircnsito em julgado da sentenccedila penal condenatoacuteria decreta-se automaticamente a suspensatildeo dos direitos poliacuteticos ativo e passivo do representado ou seja o direito de votar e ser votado com a consequumlente exclusatildeo de seu nome da folha de votaccedilatildeo e declaraccedilatildeo de sua inelegibilidade 18

Logo infere-se que a condenaccedilatildeo criminal sem o tracircnsito em julgado natildeo

desqualifica o condenado a votar e a eventualmente concorrer a qualquer cargo

eletivo

O Colendo Tribunal Superior Eleitoral enfrentou esta questatildeo ao apreciar

pedido de registro de candidatura valendo registrar os seguintes julgados RECURSO ESPECIAL RECEBIDO COMO ORDINAacuteRIO REGISTRO DE CANDIDATURA DEFERIMENTO INELEGIBILIDADE NAtildeO-OCORREcircNCIA Condenaccedilatildeo criminal sem tracircnsito em julgado natildeo eacute apta a ensejar inelegibilidade (precedente do TSE acoacuterdatildeo 536 rel Min Fernando Neves publicado em sessatildeo de 882002) Recurso natildeo provido 19

17 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006 p 155 18 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbrgt TRESCndashAcoacuterdatildeo nordm 13324 de 071094 rel Juiz Nilson B Filho Acesso em 16 set 2011 19 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbr gt TSE- REspEl nordm 20247 de 19902 rel Min Sepuacutelveda Pertence Acesso em 16 set 2011

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INELEGIBILIDADE CONDENACcedilAtildeO CRIMINAL NAtildeO TRANSITADA EM JULGADO CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA ART 14 sect 9deg SUacuteMULA Ndeg 13 DO TSE 1 A existecircncia de sentenccedila criminal condenatoacuteria sem o tracircnsito em julgado natildeo eacute suficiente para ocasionar inelegibilidade 2 O art 14 sect 9deg da Constituiccedilatildeo natildeo eacute auto-aplicaacutevel 3 Necessidade de lei complementar estabelecendo os casos em que a vida pregressa do candidato poderaacute levar agrave sua inelegibilidade bem como os prazos de sua cessaccedilatildeo 4 Recurso provido para julgar improcedente a impugnaccedilatildeo e deferir o registro da candidatura 20

Insculpido na Constituiccedilatildeo Federal o principio da natildeo-culpabilidade deve ser

respeitado por toda lei infraconstitucional alguns doutrinadores como Aristides

Junqueira e Antocircnio Bandeira de Mello em carta publica no sitio do Movimento de

Combate agrave Corrupccedilatildeo Eleitoral21 entendem que neste presente caso natildeo deve ser

aplicado o princiacutepio da natildeo-culpabilidade a inelegibilidade pois esta natildeo eacute pena

mas medida preventiva

Estes juristas se acham alicerccedilados pelo que expressamente estatui o sect 9deg do

artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal em que Lei complementar estabeleceraacute outros

casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim de proteger a probidade

administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato considerada a vida

pregressa do candidato afirmam que uma vez que a proacutepria Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica expressamente permite que o legislador estipule quais elementos da vida

pregressa dos candidatos podem afastaacute-los dos pleitos

Independente desta posiccedilatildeo minoritaacuteria encontra-se que o princiacutepio da natildeo-

culpabilidade eacute prevista em diversos ordenamentos juriacutedicos e tratados como se

veraacute a seguir

Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo da Franccedila de 1789 o art

9da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) de 1948 dispotildee ldquoTodo acusado eacute

considerado inocente ateacute ser declarado culpado e se julgar indispensaacutevel prendecirc-lo

todo o rigor desnecessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deveraacute ser severamente

reprimido pela leirdquo22

20 Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrgt TSE-REspEl nordm 18047 de 2992000 rel Min Fernando Neves da Silva Acesso em 16 set 2011 21 Disponiacutevel em lthttpwwwmcceorgbrsitesdefaultfilescartajuristaspdfgt Acesso em 3 jul 2011 22 Disponiacutevel em lthttppfdcpgrmpfgovbratuacao-e-conteudos-de-apoiolegislacaodireitoshuma nosdeclar_dir_ homem_cidadaopdfgt Acesso em 13 set 2011

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Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos de 1948 diz ldquoToda pessoa

acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocecircncia enquanto natildeo se

comprove legalmente sua culpardquo23

A origem histoacuterica que foi referida teve uma grande importacircncia para se

chegar a um status constitucional conforme eacute citado por Mirabete Existe apenas uma tendecircncia agrave presunccedilatildeo de inocecircncia ou mais precisamente um estado de inocecircncia um estado juriacutedico no qual o acusado eacute inocente ateacute que seja declarado culpado por uma sentenccedila transitada em julgado Por isso a nossa Constituiccedilatildeo Federal natildeo presume a inocecircncia mas declara que ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria (art 5deg LVII) ou seja que o acusado eacute inocente durante o desenvolvimento do processo e seu estado soacute se modifica por uma sentenccedila final que o declare culpado 24

Por fim o princiacutepio da natildeo-culpabilidade visa a proteccedilatildeo do reacuteu para que

este tenha um julgamento justo devendo ser provada sua verdadeira culpa antes

que seja considerado culpado

23 Disponiacutevel em lthttpwwwagugovbrsistemassiteTemplateImagemTextoThumbaspxidConteu do=113927ampordenacao=1ampid_site=4922gt Acesso em 12 set 2011 24 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252

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5 CONCLUSAtildeO Apoacutes as anaacutelises da doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncias pertinentes a este

trabalho verifica-se que a Lei Complementar nordm 1352010 ao instituir nova hipoacutetese

de inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado esta em pleno conflito com o princiacutepio da natildeo-culpabilidade insculpido no

artigo 5ordm inciso LVII da Constituiccedilatildeo Federal o que torna esta nova hipoacutetese

absolutamente inconstitucional

O objetivo da Lei Complementar nordm 1352010 eacute o de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos para que os criteacuterios de inelegibilidades sejam mais

rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos Inicialmente eacute compreensiacutevel a

preocupaccedilatildeo de qualificar o perfil dos candidatos a cargos eletivos atraveacutes da vida

pregressa isto significa querer se representar por candidatos idocircneos

Ocorre que eacute necessaacuterio impor tantas restriccedilotildees para que o cidadatildeo possa

concorrer a determinado pleito natildeo eacute mais correto permitir que o proacuteprio povo

detentor soberano do poder para escolher seus representantes defina seus criteacuterios

de escolha

Quanto ao aspecto juriacutedico vejamos que o legislativo ao criar novas hipoacuteteses

de inelegibilidade deve-se atentar para as garantias jaacute consagradas em nosso

ordenamento principalmente quando esta garantia esta insculpida na Constituiccedilatildeo

Federal garantia esta referente ao principio da natildeo-culpabilidade que reza que

ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

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condenatoacuteria trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute

considerar o indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila

Ocorre que a criaccedilatildeo da Lei Complementar nordm 1352010 nasceu conflitante

com a Constituiccedilatildeo Federal em 2 aspectos primordiais primeiro a natildeo observacircncia

do princiacutepio da anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo

Federal pacificado pela Accedilatildeo Declaratoacuteria de Inconstitucionalidade nordm 3685

afirmando que deve-se respeitar ao principio da anualidade e segundo a

inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado

O segundo conflito origina-se diante da garantia constitucional do princiacutepio da

presunccedilatildeo da natildeo-culpabilidade o qual disciplina que somente poderaacute ser

considerado culpado o acusado de determinado crime quando ocorrer o tracircnsito em

julgado da decisatildeo

Portanto temos que uma decisatildeo de um oacutergatildeo colegiado quando recorriacutevel

ainda natildeo eacute o momento que se consumativo da culpabilidade do acusado pois natildeo

podemos antecipar a puniccedilatildeo de um cidadatildeo com a perda de algum direito pelo

simples fato de estar respondendo a algum processo

A aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre teraacute como pressuposto o

exame da Constituiccedilatildeo Federal que estabelece o princiacutepio da natildeo-culpabilidade

tambeacutem chamado de princiacutepio da presunccedilatildeo de inocecircncia que eacute uma verdadeira

garantia constitucional do indiviacuteduo contra o Estado Portanto deve-se respeitar este

princiacutepio basilar do Estado Democraacutetico de Direito nos mais diferentes segmentos

devendo qualquer Lei abster-se de considerar culpado aquele que ainda natildeo teve

sua decisatildeo transitada em julgado

Assim a Lei Complementar nordm 1352010 eacute contraacuterio ao disposto no texto

constitucional pois de forma antecipada retira do cidadatildeo o direito de disputar ao

pleito de forma igualitaacuteria bem como retira do povo um de seus maiores direitos o

de poder escolher seus representantes

Portanto para fortalecimento do Estado Democraacutetico de Direito se faz

necessaacuterio que as garantias constitucionais prevaleccedilam com isto deve-se

preponderar a presunccedilatildeo de natildeo culpabilidade ateacute o tracircnsito em julgado de da

sentenccedila condenatoacuteria

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REFEREcircNCIAS BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicao_ConstituiccedilaoCompiladohtmgt Acesso em 2 jun 2011 BRASIL Tribunal Superior Eleitoral Coacutedigo eleitoral Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrinternetjurisprudenciacodigo_eleitoralcodigo_eleitoralhtmlgt Acesso em 5 mai 2011 BRASIL Supremo Tribunal Federal Jurisprudecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudenciapesquisarJurisprudenciaaspgt Acesso em 15 mai 2011 BRASIL Projeto de Lei Complementar nordm 518 de 17 de setembro de 2009 Altera a Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 que estabelece de acordo com o sect 9ordm do art 14 da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias para incluir hipoacuteteses de inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no exerciacutecio do mandato Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbrsfatividademateriadetalhesaspp_cod_mate=96850gt Acesso em 19 mai 2011

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BRASIL Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 Estabelece de acordo com o art 14 sect 9ordm da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03LeisLCPLcp64htmgt Acesso em 15 mai 2011 COSTA Adriano Soares Instituiccedilotildees de Direito Eleitoral Ed Del Rey 2006 DI PIETRO Maria Sylvia Zanella Direito Administrativo 9 Ed Satildeo Paulo Atlas 1998 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131 LEAL Saul Tourinho Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt MELLO Celso Antonio Bandeira Curso de Direito Administrativo 24 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2007 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 ed Satildeo Paulo Atlas 2006 Movimento de Combate agrave Corrupccedilatildeo Disponiacutevel em ltwwwmcceorgbrgt Acesso em 3 jul 2011 NERY JUacuteBNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20 PEREIRA Erick Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt Acesso em 30 jun 2011 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2008

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PIRES Maacutercio Rodrigo Kaio Carvalho Abuso do poder poliacutetico nas eleiccedilotildees Jus Navigandi Teresina ano 15 n 2677 30 out 2010 Disponiacutevel em lthttpjusuolcombrrevistatexto17741gt Acesso em 27 jun 2011 RAMAYANA Marcos Direito Eleitoral Impetus Niteroacutei 2006 RESENHA ELEITORAL - Nova Seacuterie v9 n1 (janjun 2002) Disponiacutevel em lt httpwwwtre-scgovbrsiteinstitucionalpublicacoesartigos-doutrinariospublicados- na-resenha-eleitoralresenhasv9-n1-janjun-2002abuso-do-podereconomico- ou-de-autoridadeindexhtmlgt SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006

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A inelegibilidade por motivos militares visa que o militar enquanto em serviccedilo

ativo natildeo pode estar filiado a partidos poliacuteticos entretanto a Constituiccedilatildeo Federal

em seu artigo 14 relata que atendidas certas condiccedilotildees o militar alistaacutevel se torna

elegiacutevel sendo estas as condiccedilotildees se contar com menos de dez anos de serviccedilo

deveraacute afastar-se da atividade e se contar com mais de dez ano de serviccedilo seraacute

agregado pela autoridade superior e se eleito passaraacute automaticamente no ato da

diplomaccedilatildeo para a inatividade

34 INELEGIBILIDADE INFRACONSTITUCIONAL

Por se tratar de inuacutemeras hipoacuteteses de inelegibilidades infraconstitucionais

natildeo seraacute possiacutevel tratar todos os casos previstos em lei para tanto adentraremos a

anaacutelise de algumas hipoacuteteses dispostas na Lei Complementar nordm 641990

As inelegibilidades infraconstitucionais satildeo instituiacutedas por Lei Complementar

que estabeleceraacute outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim

de proteger a probidade administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato

considerado vida pregressa do candidato e a normalidade e legitimidade das

eleiccedilotildees contra a influecircncia do poder econocircmico ou o abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo

cargo ou emprego na administraccedilatildeo direta ou indireta

As causas de inelegibilidade infraconstitucionais estatildeo previstas no artigo 1ordm

da Lei Complementar nordm 641990 alterado dentre outras atraveacutes da recente Lei

Complementar ndeg 1352010 conhecida como a Lei da Ficha Limpa

Dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquobrdquo da Lei Complementar nordm 641990 que os

membros do Congresso Nacional das Assembleacuteias Legislativas da Cacircmara

Legislativa e das Cacircmaras Municipais que hajam perdido os respectivos mandatos

por infringecircncia do disposto nos incisos I e II do art 55 da Constituiccedilatildeo Federal dos

dispositivos equivalentes sobre perda de mandato das Constituiccedilotildees Estaduais e

Leis Orgacircnicas dos Municiacutepios e do Distrito Federal para as eleiccedilotildees que se

realizarem durante o periacuteodo remanescente do mandato para o qual foram eleitos e

nos oito anos subsequumlentes ao teacutermino da legislatura

Sendo assim satildeo inelegiacuteveis os parlamentares cujo procedimento for

declarado incompatiacutevel com o decoro parlamentar e desde a expediccedilatildeo do diploma

firmar ou manter contrato com pessoa juriacutedica de direito puacuteblico autarquia empresa

puacuteblica sociedade de economia mista ou empresa concessionaacuteria de serviccedilo

puacuteblico salvo quando o contrato obedecer a claacuteusulas uniformes aceitar ou exercer

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cargo funccedilatildeo ou emprego remunerado inclusive os de que sejam demissiacuteveis ad

nutum nas entidades constantes da aliacutenea anterior e desde a posse ser

proprietaacuterios controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente

de contrato com pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou nela exercer funccedilatildeo

remunerada ocupar cargo ou funccedilatildeo de que sejam demissiacuteveis ad nutum nas

entidades referidas no inciso I a patrocinar causa em que seja interessada

qualquer das entidades a que se refere o inciso I a ser titulares de mais de um

cargo ou mandato puacuteblico eletivo

Portando o parlamentar que infringir o disposto no artigo 54 teraacute seu mandato

cassado Jaacute no inciso II do artigo 55 o Deputado ou Senador perderaacute o mandato

quando o procedimento for declarado incompatiacutevel com o decoro parlamentar A

Constituiccedilatildeo Federal prevecirc como falta de decoro o disciplinado no artigo 55 sect 1ordm

Por fim eacute incompatiacutevel com o decoro parlamentar os casos definidos no regimento

interno

Assim dispotildee o artigo 1ordm Inciso I aliacutenea ldquocrdquo da Lei Complementar nordm 641990

Governador e o Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal e o Prefeito e o

Vice-Prefeito que perderem seus cargos eletivos por infringecircncia a dispositivo da

Constituiccedilatildeo Estadual da Lei Orgacircnica do Distrito Federal ou da Lei Orgacircnica do

Municiacutepio para as eleiccedilotildees que se realizarem durante o periacuteodo remanescente e

nos 8 (oito) anos subsequentes ao teacutermino do mandato para o qual tenham sido

eleitos

Tal dispositivo busca evitar que os chefes do poder executivos retornem a

vida puacuteblica no mandato seguinte e nas eleiccedilotildees para as demais esferas Este

dispositivo preserva a moralidade puacuteblica O prazo de 8 anos de inabilitaccedilatildeo seraacute

contado a partir da data que tiver sido proferida a decisatildeo por crime de

responsabilidade

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquodrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tenham contra sua pessoa representaccedilatildeo julgada procedente pela Justiccedila

Eleitoral em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo colegiado em

processo de apuraccedilatildeo de abuso do poder econocircmico ou poliacutetico para a eleiccedilatildeo na

qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como para as que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes

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Primeiramente eacute necessaacuterio conceituar o que eacute abuso de poder econocircmico de

abuso de poder poliacutetico

Abuso de poder econocircmico consiste na utilizaccedilatildeo de bens ou serviccedilos de

empresas particulares ou recursos proacuteprios do candidato gerando assim uma

desproporccedilatildeo entre os candidatos exemplo Se um candidato eacute proprietaacuterio de uma

grande empresa e faz uso dela para custear sua campanha sem realizar doaccedilatildeo de

campanha prevista na Lei 950497

Abuso do poder poliacutetico consiste no emprego de serviccedilos ou bens

pertencentes a administraccedilatildeo puacuteblica com o objetivo de propiciar a eleiccedilatildeo de

determinado candidato

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquofrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que forem declarados indignos do oficialato ou com ele incompatiacuteveis pelo prazo

de 8 (oito) anos

Oficialato eacute o cargo ou dignidade de oficial seja das forccedilas armadas poliacutecia

militar ou corpo de bombeiros A competecircncia para apreciar e declarar a indignidade

do oficialato seraacute do Superior Tribunal Militar

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquogrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tiverem suas contas relativas ao exerciacutecio de cargos ou funccedilotildees puacuteblicas

rejeitadas por irregularidade insanaacutevel que configure ato doloso de improbidade

administrativa e por decisatildeo irrecorriacutevel do oacutergatildeo competente salvo se esta houver

sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciaacuterio para as eleiccedilotildees que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes contados a partir da data da decisatildeo aplicando-se o

disposto no inciso II do art 71 da Constituiccedilatildeo Federal a todos os ordenadores de

despesa sem exclusatildeo de mandataacuterios que houverem agido nessa condiccedilatildeo

Esta decisatildeo eacute administrativa e traraacute a consequumlecircncia de inelegibilidade para

isso a irregularidade tem de ser insanaacutevel

A competecircncia para julgar estas irregularidades compete ao Poder

Legislativo seja no acircmbito federal estadual ou municipal

A analise desta insanabilidade poderaacute caber a Justiccedila Eleitoral como por

exemplo no pedido de registro de candidatura por algueacutem que teve suas contas

rejeitadas

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquohrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os detentores de cargo na administraccedilatildeo puacuteblica direta indireta ou fundacional que

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beneficiarem a si ou a terceiros pelo abuso do poder econocircmico ou poliacutetico que

forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial

colegiado para a eleiccedilatildeo na qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como

para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes

Aqui natildeo se trata de cargo eletivo mas sim de cargos por concurso puacuteblico ou

por provimento em comissatildeo

A finalidade eacute por fim a reeleiccedilatildeo para aqueles que estatildeo em cargos de chefia

do poder executivo que tenham cometido abuso do poder econocircmico ou poliacutetico

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquoirdquo da Lei Complementar nordm 641990)

os que em estabelecimentos de creacutedito financiamento ou seguro que tenham sido

ou estejam sendo objeto de processo de liquidaccedilatildeo judicial ou extrajudicial hajam

exercido nos 12 (doze) meses anteriores agrave respectiva decretaccedilatildeo cargo ou funccedilatildeo

de direccedilatildeo administraccedilatildeo ou representaccedilatildeo enquanto natildeo forem exonerados de

qualquer responsabilidade

O que a lei busca nesta situaccedilatildeo eacute deixar aquele que administrou os referidos

estabelecimentos fora de qualquer participaccedilatildeo poliacutetica enquanto natildeo forem

apurados todos os fatos que levaram a insolvecircncia

Portanto o maior objetivo desta causa de inelegibilidade eacute assegurar que o

ex-administrado de estabelecimento de creacutedito financiamento ou seguro natildeo venha

a eleger-se a cargo eletivo sem antes ter sido apurada sua participaccedilatildeo para

insolvecircncia

Outras causas de inelegibilidades incluiacutedas pela Lei Complementar nordm

1352010 estatildeo previstas nos incisos j a q da referida Lei

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4 DA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE 41 ORIGEM DA LEI COMPLEMENTAR Nordm 1352010

Com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o Brasil passa a ser um

Estado Democraacutetico de Direito inaugurando uma democracia participativa

Esta democracia participativa permite ao cidadatildeo desde que preenchidos

determinados requisitos dar iniacutecio a um projeto de Lei atraveacutes da chamada Iniciativa

Popular A origem da Lei Complementar nordm 1352010 decorreu do Projeto de Lei nordm

5182009 sob a coordenaccedilatildeo do Movimento de Combate a Corrupccedilatildeo Eleitoral ndash

MCCE que teve iniacutecio em abril de 2008 com o objetivo de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos a finalidade eacute que os criteacuterios de inelegibilidades sejam

mais rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos

Esta Lei Complementar dita que pessoas condenadas por um colegiado

independente do tracircnsito em julgado satildeo inelegiacuteveis portanto podem ter seus

registros de candidaturas negados alem de incluir parlamentares que renunciaram

ao cargo para assim evitar uma possiacutevel abertura de processo por quebra de decoro

ou por desrespeito agrave Constituiccedilatildeo com a finalidade uacutenica de evitar possiacuteveis

puniccedilotildees

A Lei Complementar 1352010 traacutes inuacutemeros confrontos com a Constituiccedilatildeo

Federal sendo dois os mais relevantes primeiro a natildeo observacircncia do princiacutepio da

anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal e segundo

o desrespeito ao princiacutepio da natildeo-culpabilidade tambeacutem estabelecido na

Constituiccedilatildeo federal no artigo 5ordm inciso LVII

Sobre o primeiro ponto que trata da aplicabilidade da Lei Complementar nordm

1352010 para as eleiccedilotildees de 2010 restou soberana a decisatildeo do Supremo

Tribunal Federal ao resolver o conflito afirmando que o artigo 16 da Constituiccedilatildeo

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Federal ao submeter a alteraccedilatildeo legal do processo eleitoral agrave regra da anualidade

constitui uma garantia fundamental para o pleno exerciacutecio de direitos poliacuteticos

Esta pacificaccedilatildeo se deu no julgamento da Accedilatildeo Declaratoacuteria de

Inconstitucionalidade nordm 3685 13 onde atuou como Relatora a Ministra Ellen Gracie

que identificou como uma garantia fundamental do cidadatildeo-eleitor do cidadatildeo-

candidato e dos partidos poliacuteticos o artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal

A Ministra Ellen Gracie utilizou-se de uma analogia com o julgamento da

Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade 939 que teve como relator Ministro Sydnei

Sanches com a garantia da anterioridade tributaacuteria fixada no artigo 150 III b no

sentido de que se o princiacutepio da anterioridade tributaacuteria constitui uma garantia do

cidadatildeo-contribuinte o princiacutepio da anterioridade eleitoral tambeacutem eacute uma garantia do

cidadatildeo do eleitor do candidato e dos partidos poliacuteticos

Desta forma restou consolidado a garantia prevista no artigo 16 da

Constituiccedilatildeo Federal como forma de um devido processo legal eleitoral

O devido processo visa que se atinja uma decisatildeo conforme a Justiccedila

prestigiando a eacutetica da legalidade ressaltando-se que ele possui um duplo

significado de processo necessaacuterio e processo adequado para tanto COMOGLIO

afirma Que as garantias decorrentes do devido processo legal querem dizer natildeo apenas direito a um processo mas a um justo processo compreendendo a correccedilatildeo e efetividade dos instrumentos disponiacuteveis em juiacutezo e a efetividade e adequaccedilatildeo da proacutepria tutela finalrdquo 14

A Constituiccedilatildeo brasileira de 1988 traz a garantia exarada no seu artigo 5ordm

Art 5ordm - () LIV ndash ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal LV ndash aos litigantes em processo judicial e administrativo e aos acusados em geral seratildeo assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa com os meios de recurso a ela inerentes

Sobre o segundo ponto controverso mateacuteria deste trabalho tem o conflito tem

o conflito entre a Lei Complementar nordm 13510 contra uma garantia constitucional

denominado princiacutepio da natildeo-culpabilidade que eacute inseparaacutevel do conceito de

13 Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011 14 Luigi Paolo COMOGLIO Giuridizione e processo nel quadro delle garanzie constituzionali Rivista Trimestrale di Diritto e Procedura Civile 4 p 1070

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democracia A Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5ordm inciso LVII estabelece uma das

maiores garantias dos indiviacuteduos contra o autoritarismo do Estado afirmando que

ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

condenatoacuteriardquo fixando explicitamente o princiacutepio da natildeo-culpabilidade entre os

direitos fundamentais

42 AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EM JULGADO

A Lei Complementar nordm 1352010 em sua aliacutenea ldquoerdquo do inciso I do artigo 2ordm

possui a seguinte redaccedilatildeo e) os que forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial colegiado desde a condenaccedilatildeo ateacute o transcurso do prazo de 8 (oito) anos apoacutes o cumprimento da pena pelos crimes (Redaccedilatildeo dada pela Lei Complementar nordm 135 de 2010)

Esta aliacutenea visa impedir a candidatura de poliacuteticos condenados a partir da

segunda instacircncia e mesmo que natildeo tenha transitado em julgado Ela defende que

haja uma condenaccedilatildeo criminal no entanto deixa de exigir a configuraccedilatildeo do tracircnsito

em julgado do ato decisoacuterio para que ocorra a inelegibilidade A antiga lei previa que

o candidato soacute seria inelegiacutevel se tivesse condenaccedilatildeo definitiva

As alteraccedilotildees da Lei Complementar nordm 1352010 objetiva atender a um senso

comum do eleitorado afirmando que uma pessoa condenada natildeo deve poder ser

votada isto eacute natildeo deve ter mandato Em seus dizeres trata que a inelegibilidade

natildeo pressupotildee culpa formada natildeo deve haver discussatildeo sobre presunccedilatildeo da

inocecircncia Pode haver inelegibilidade por parentesco por ocupar cargo puacuteblico falta

de domiciacutelio eleitoral ou filiaccedilatildeo partidaacuteria causas que natildeo tecircm nada a ver com

condenaccedilatildeo criminal

A contradiccedilatildeo do argumento da Lei Complementar eacute se a Constituiccedilatildeo em

face do princiacutepio da natildeo-culpabilidade admite a cominaccedilatildeo de inelegibilidade para

quem ainda tem recursos pendentes de julgamento

Caso esta hipoacutetese seja admitida temos que um indiviacuteduo que tenha sido

condenado criminalmente em segunda instacircncia e interponha recurso especial ou

extraordinaacuterio para anular o processo caso natildeo consiga uma medida liminar

suspendendo os efeitos ficaria impedido de concorrer na eleiccedilatildeo

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Imagine-se que ao final da accedilatildeo o cidadatildeo que ficou impedido de concorrer

nas eleiccedilotildees obtivesse vitoacuteria em seu recurso obtendo assim a nulidade da accedilatildeo

bem como da decisatildeo que o condenou com ficaria a situaccedilatildeo deste cidadatildeo

O que se quer com a Lei Complementar nordm 1352010 eacute instituir um moralismo

eleitoral que se sobrepotildee a Constituiccedilatildeo Federal e seu principio constitucional da

natildeo-culpabilidade que eacute a garantia individual contra o Estado

Outro argumento utilizado pelos defensores da constitucionalidade da Lei

Complementar nordm 1352010 satildeo as prisotildees cautelares e que no final o sujeito

acaba sebdo absolvido Ora cabe lembrar-lhes que a prisatildeo cautelar natildeo eacute

antecipaccedilatildeo de pena cumpre ela uma funccedilatildeo processual clara e limitada agrave garantia

da ordem puacuteblica da ordem econocircmica por conveniecircncia da instruccedilatildeo criminal ou

para assegurar a aplicaccedilatildeo da lei penal quando houver prova da existecircncia do crime

e indiacutecio suficiente de autoria

Portanto temos que o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees enquanto natildeo

sobrevier decisatildeo judicial transitada em julgado

O proacuteprio Supremo na Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental

144 jaacute decidiu natildeo barrar candidaturas sem condenaccedilatildeo transitada em julgado

A Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental 144 15 foi votada

em agosto de 2008 antes das eleiccedilotildees municipais Na ocasiatildeo o Supremo Tribunal

Federal decidiu que natildeo poderiam ser barradas candidaturas de poliacuteticos

condenados na primeira instacircncia por conta da presunccedilatildeo de inocecircncia

Em 6 de agosto de 2008 haacute menos de trecircs anos o Supremo Tribunal Federal

julgou improcedente a Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental nordm

144 ajuizada pela Associaccedilatildeo dos Magistrados Brasileiros em voto do ministro

Celso de Mello vencidos os ministros Carlos Ayres e Joaquim Barbosa exatamente

porque O postulado consagrador da garantia de inocecircncia irradia os seus efeitos para aleacutem dos limites dos processos penais de natureza condenatoacuteria impedindo desse modo que situaccedilotildees processuais anda natildeo definidas por sentenccedilas transitadas em julgado provoquem em decorrecircncia das exigecircncias de probidade administrativa e demoralidade a que se refere o sect 9ordm do artigo 14 da Coinstituiccedilatildeo Federal a inelegibilidade dos cidadatildeos ou obstem candidaturas para mandatos eletivos

15Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011

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Portanto ficou definido que Lei Complementar sendo editada para casos de

inelegibilidades esta deveraacute respeitar o princiacutepio da natildeo-culpabilidade Ocorre que

foi editada a Lei Complementar nordm 1352010 que atendeu aos reclamos populares

mas preferiu a um soacute tempo violar a Constituiccedilatildeo Federal e desrespeitar a recente

decisatildeo do Supremo Tribunal Federal mesmo que na eacutepoacuteca desta decisatildeo natildeo

havia lei formal para tal situaccedilatildeo

43 PRINCIacutePIO CONSTITUCIONAL DA NAtildeO-CULPABILIDADE

O princiacutepio da natildeo-culpabilidade eacute direito fundamental previsto na

Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5deg inciso LVII ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute

o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

Isto eacute enquanto natildeo sobrevier uma decisatildeo judicial condenatoacuteria transitada

em julgado o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees em seu patrimocircnio ou em sua

liberdade Caso sobrevenha duacutevida quanto a culpabilidade esta resolveraacute sempre

em favor do reacuteu ou seja aplicando-se o princiacutepio in duacutebio pro reo

Assim disciplina Nelson Nery Juacutenior sobre o princiacutepio da natildeo-culpabilidade ldquoO inteacuterprete deve buscar a aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre tendo como pressuposto o exame da Constituiccedilatildeo Federal Depois sim deve consultar a legislaccedilatildeo infraconstitucional a respeito do temardquo 16

Sendo assim a Constituiccedilatildeo Federal no capiacutetulo sobre os Direitos e Deveres

Individuais e Coletivos em seu artigo 5ordm inciso LVII afirma que ldquoningueacutem seraacute

considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute considerar o

indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila A doutrina e a

jurisprudecircncia aclamam este princiacutepio como vaacuterios nomes como princiacutepio da

presunccedilatildeo de inocecircncia princiacutepio da natildeo-culpabilidade ou simplesmente princiacutepio da

inocecircncia

Joseacute Afonso da Silva em seu livro Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo

disciplina assim esta garantia A norma constitucional do inciso LVII agora sob nosso exame garante a presunccedilatildeo de inocecircncia por meio de um enunciado negativo universal lsquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria Usa-se de uma forma

16 NERY JUacuteNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20

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negativa para outorgar uma garantia positiva Na verdade o texto brasileiro natildeo significa outra coisa senatildeo que fica assegurada a todos a presunccedilatildeo de inocecircncia ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria O tracircnsito em julgado se daacute quando a decisatildeo natildeo comporta mais recurso ordinaacuterio especial ou extraordinaacuterio 17

Nesse sentido o indiviacuteduo acusado natildeo pode ser presumidamente culpado

mas sim inocente Tal princiacutepio visa a tutelar a liberdade pessoal de modo que o

Estado nos mais diferentes segmentos deve abster-se de considerar culpado

aquele que ainda natildeo foi submetido agrave definitividade da atuaccedilatildeo jurisdicional Em se tratando de suspensatildeo dos direitos poliacuteticos a Constituiccedilatildeo Federal

garante que a suspensatildeo somente se daraacute por ldquocondenaccedilatildeo criminal transitada em

julgado enquanto durarem seus efeitosrdquo

Julgamento neste sentido REPRESENTACcedilAtildeO SUSPENSAtildeO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS EM VIRTUDE DE SENTENCcedilA PENAL CONDENATOacuteRIA TRANSITADA EM JULGADO AUTO-APLICABILIDADE DOS ARTIGOS 14 sect 3ordm II E 15 III DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL PROCEDEcircNCIA A suspensatildeo dos direitos poliacuteticos do condenado independe de lei regulamentadora bem como de processo especial de cogniccedilatildeo e de anaacutelise de meacuterito para a execuccedilatildeo da medida no juiacutezo eleitoral posto natildeo se tratar de sanccedilatildeo penal mas de efeito natildeo-penal de condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado e decorrente de mandamento constitucional Comprovado o tracircnsito em julgado da sentenccedila penal condenatoacuteria decreta-se automaticamente a suspensatildeo dos direitos poliacuteticos ativo e passivo do representado ou seja o direito de votar e ser votado com a consequumlente exclusatildeo de seu nome da folha de votaccedilatildeo e declaraccedilatildeo de sua inelegibilidade 18

Logo infere-se que a condenaccedilatildeo criminal sem o tracircnsito em julgado natildeo

desqualifica o condenado a votar e a eventualmente concorrer a qualquer cargo

eletivo

O Colendo Tribunal Superior Eleitoral enfrentou esta questatildeo ao apreciar

pedido de registro de candidatura valendo registrar os seguintes julgados RECURSO ESPECIAL RECEBIDO COMO ORDINAacuteRIO REGISTRO DE CANDIDATURA DEFERIMENTO INELEGIBILIDADE NAtildeO-OCORREcircNCIA Condenaccedilatildeo criminal sem tracircnsito em julgado natildeo eacute apta a ensejar inelegibilidade (precedente do TSE acoacuterdatildeo 536 rel Min Fernando Neves publicado em sessatildeo de 882002) Recurso natildeo provido 19

17 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006 p 155 18 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbrgt TRESCndashAcoacuterdatildeo nordm 13324 de 071094 rel Juiz Nilson B Filho Acesso em 16 set 2011 19 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbr gt TSE- REspEl nordm 20247 de 19902 rel Min Sepuacutelveda Pertence Acesso em 16 set 2011

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INELEGIBILIDADE CONDENACcedilAtildeO CRIMINAL NAtildeO TRANSITADA EM JULGADO CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA ART 14 sect 9deg SUacuteMULA Ndeg 13 DO TSE 1 A existecircncia de sentenccedila criminal condenatoacuteria sem o tracircnsito em julgado natildeo eacute suficiente para ocasionar inelegibilidade 2 O art 14 sect 9deg da Constituiccedilatildeo natildeo eacute auto-aplicaacutevel 3 Necessidade de lei complementar estabelecendo os casos em que a vida pregressa do candidato poderaacute levar agrave sua inelegibilidade bem como os prazos de sua cessaccedilatildeo 4 Recurso provido para julgar improcedente a impugnaccedilatildeo e deferir o registro da candidatura 20

Insculpido na Constituiccedilatildeo Federal o principio da natildeo-culpabilidade deve ser

respeitado por toda lei infraconstitucional alguns doutrinadores como Aristides

Junqueira e Antocircnio Bandeira de Mello em carta publica no sitio do Movimento de

Combate agrave Corrupccedilatildeo Eleitoral21 entendem que neste presente caso natildeo deve ser

aplicado o princiacutepio da natildeo-culpabilidade a inelegibilidade pois esta natildeo eacute pena

mas medida preventiva

Estes juristas se acham alicerccedilados pelo que expressamente estatui o sect 9deg do

artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal em que Lei complementar estabeleceraacute outros

casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim de proteger a probidade

administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato considerada a vida

pregressa do candidato afirmam que uma vez que a proacutepria Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica expressamente permite que o legislador estipule quais elementos da vida

pregressa dos candidatos podem afastaacute-los dos pleitos

Independente desta posiccedilatildeo minoritaacuteria encontra-se que o princiacutepio da natildeo-

culpabilidade eacute prevista em diversos ordenamentos juriacutedicos e tratados como se

veraacute a seguir

Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo da Franccedila de 1789 o art

9da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) de 1948 dispotildee ldquoTodo acusado eacute

considerado inocente ateacute ser declarado culpado e se julgar indispensaacutevel prendecirc-lo

todo o rigor desnecessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deveraacute ser severamente

reprimido pela leirdquo22

20 Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrgt TSE-REspEl nordm 18047 de 2992000 rel Min Fernando Neves da Silva Acesso em 16 set 2011 21 Disponiacutevel em lthttpwwwmcceorgbrsitesdefaultfilescartajuristaspdfgt Acesso em 3 jul 2011 22 Disponiacutevel em lthttppfdcpgrmpfgovbratuacao-e-conteudos-de-apoiolegislacaodireitoshuma nosdeclar_dir_ homem_cidadaopdfgt Acesso em 13 set 2011

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Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos de 1948 diz ldquoToda pessoa

acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocecircncia enquanto natildeo se

comprove legalmente sua culpardquo23

A origem histoacuterica que foi referida teve uma grande importacircncia para se

chegar a um status constitucional conforme eacute citado por Mirabete Existe apenas uma tendecircncia agrave presunccedilatildeo de inocecircncia ou mais precisamente um estado de inocecircncia um estado juriacutedico no qual o acusado eacute inocente ateacute que seja declarado culpado por uma sentenccedila transitada em julgado Por isso a nossa Constituiccedilatildeo Federal natildeo presume a inocecircncia mas declara que ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria (art 5deg LVII) ou seja que o acusado eacute inocente durante o desenvolvimento do processo e seu estado soacute se modifica por uma sentenccedila final que o declare culpado 24

Por fim o princiacutepio da natildeo-culpabilidade visa a proteccedilatildeo do reacuteu para que

este tenha um julgamento justo devendo ser provada sua verdadeira culpa antes

que seja considerado culpado

23 Disponiacutevel em lthttpwwwagugovbrsistemassiteTemplateImagemTextoThumbaspxidConteu do=113927ampordenacao=1ampid_site=4922gt Acesso em 12 set 2011 24 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252

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5 CONCLUSAtildeO Apoacutes as anaacutelises da doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncias pertinentes a este

trabalho verifica-se que a Lei Complementar nordm 1352010 ao instituir nova hipoacutetese

de inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado esta em pleno conflito com o princiacutepio da natildeo-culpabilidade insculpido no

artigo 5ordm inciso LVII da Constituiccedilatildeo Federal o que torna esta nova hipoacutetese

absolutamente inconstitucional

O objetivo da Lei Complementar nordm 1352010 eacute o de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos para que os criteacuterios de inelegibilidades sejam mais

rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos Inicialmente eacute compreensiacutevel a

preocupaccedilatildeo de qualificar o perfil dos candidatos a cargos eletivos atraveacutes da vida

pregressa isto significa querer se representar por candidatos idocircneos

Ocorre que eacute necessaacuterio impor tantas restriccedilotildees para que o cidadatildeo possa

concorrer a determinado pleito natildeo eacute mais correto permitir que o proacuteprio povo

detentor soberano do poder para escolher seus representantes defina seus criteacuterios

de escolha

Quanto ao aspecto juriacutedico vejamos que o legislativo ao criar novas hipoacuteteses

de inelegibilidade deve-se atentar para as garantias jaacute consagradas em nosso

ordenamento principalmente quando esta garantia esta insculpida na Constituiccedilatildeo

Federal garantia esta referente ao principio da natildeo-culpabilidade que reza que

ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

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condenatoacuteria trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute

considerar o indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila

Ocorre que a criaccedilatildeo da Lei Complementar nordm 1352010 nasceu conflitante

com a Constituiccedilatildeo Federal em 2 aspectos primordiais primeiro a natildeo observacircncia

do princiacutepio da anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo

Federal pacificado pela Accedilatildeo Declaratoacuteria de Inconstitucionalidade nordm 3685

afirmando que deve-se respeitar ao principio da anualidade e segundo a

inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado

O segundo conflito origina-se diante da garantia constitucional do princiacutepio da

presunccedilatildeo da natildeo-culpabilidade o qual disciplina que somente poderaacute ser

considerado culpado o acusado de determinado crime quando ocorrer o tracircnsito em

julgado da decisatildeo

Portanto temos que uma decisatildeo de um oacutergatildeo colegiado quando recorriacutevel

ainda natildeo eacute o momento que se consumativo da culpabilidade do acusado pois natildeo

podemos antecipar a puniccedilatildeo de um cidadatildeo com a perda de algum direito pelo

simples fato de estar respondendo a algum processo

A aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre teraacute como pressuposto o

exame da Constituiccedilatildeo Federal que estabelece o princiacutepio da natildeo-culpabilidade

tambeacutem chamado de princiacutepio da presunccedilatildeo de inocecircncia que eacute uma verdadeira

garantia constitucional do indiviacuteduo contra o Estado Portanto deve-se respeitar este

princiacutepio basilar do Estado Democraacutetico de Direito nos mais diferentes segmentos

devendo qualquer Lei abster-se de considerar culpado aquele que ainda natildeo teve

sua decisatildeo transitada em julgado

Assim a Lei Complementar nordm 1352010 eacute contraacuterio ao disposto no texto

constitucional pois de forma antecipada retira do cidadatildeo o direito de disputar ao

pleito de forma igualitaacuteria bem como retira do povo um de seus maiores direitos o

de poder escolher seus representantes

Portanto para fortalecimento do Estado Democraacutetico de Direito se faz

necessaacuterio que as garantias constitucionais prevaleccedilam com isto deve-se

preponderar a presunccedilatildeo de natildeo culpabilidade ateacute o tracircnsito em julgado de da

sentenccedila condenatoacuteria

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REFEREcircNCIAS BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicao_ConstituiccedilaoCompiladohtmgt Acesso em 2 jun 2011 BRASIL Tribunal Superior Eleitoral Coacutedigo eleitoral Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrinternetjurisprudenciacodigo_eleitoralcodigo_eleitoralhtmlgt Acesso em 5 mai 2011 BRASIL Supremo Tribunal Federal Jurisprudecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudenciapesquisarJurisprudenciaaspgt Acesso em 15 mai 2011 BRASIL Projeto de Lei Complementar nordm 518 de 17 de setembro de 2009 Altera a Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 que estabelece de acordo com o sect 9ordm do art 14 da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias para incluir hipoacuteteses de inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no exerciacutecio do mandato Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbrsfatividademateriadetalhesaspp_cod_mate=96850gt Acesso em 19 mai 2011

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BRASIL Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 Estabelece de acordo com o art 14 sect 9ordm da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03LeisLCPLcp64htmgt Acesso em 15 mai 2011 COSTA Adriano Soares Instituiccedilotildees de Direito Eleitoral Ed Del Rey 2006 DI PIETRO Maria Sylvia Zanella Direito Administrativo 9 Ed Satildeo Paulo Atlas 1998 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131 LEAL Saul Tourinho Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt MELLO Celso Antonio Bandeira Curso de Direito Administrativo 24 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2007 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 ed Satildeo Paulo Atlas 2006 Movimento de Combate agrave Corrupccedilatildeo Disponiacutevel em ltwwwmcceorgbrgt Acesso em 3 jul 2011 NERY JUacuteBNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20 PEREIRA Erick Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt Acesso em 30 jun 2011 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2008

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PIRES Maacutercio Rodrigo Kaio Carvalho Abuso do poder poliacutetico nas eleiccedilotildees Jus Navigandi Teresina ano 15 n 2677 30 out 2010 Disponiacutevel em lthttpjusuolcombrrevistatexto17741gt Acesso em 27 jun 2011 RAMAYANA Marcos Direito Eleitoral Impetus Niteroacutei 2006 RESENHA ELEITORAL - Nova Seacuterie v9 n1 (janjun 2002) Disponiacutevel em lt httpwwwtre-scgovbrsiteinstitucionalpublicacoesartigos-doutrinariospublicados- na-resenha-eleitoralresenhasv9-n1-janjun-2002abuso-do-podereconomico- ou-de-autoridadeindexhtmlgt SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006

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cargo funccedilatildeo ou emprego remunerado inclusive os de que sejam demissiacuteveis ad

nutum nas entidades constantes da aliacutenea anterior e desde a posse ser

proprietaacuterios controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente

de contrato com pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou nela exercer funccedilatildeo

remunerada ocupar cargo ou funccedilatildeo de que sejam demissiacuteveis ad nutum nas

entidades referidas no inciso I a patrocinar causa em que seja interessada

qualquer das entidades a que se refere o inciso I a ser titulares de mais de um

cargo ou mandato puacuteblico eletivo

Portando o parlamentar que infringir o disposto no artigo 54 teraacute seu mandato

cassado Jaacute no inciso II do artigo 55 o Deputado ou Senador perderaacute o mandato

quando o procedimento for declarado incompatiacutevel com o decoro parlamentar A

Constituiccedilatildeo Federal prevecirc como falta de decoro o disciplinado no artigo 55 sect 1ordm

Por fim eacute incompatiacutevel com o decoro parlamentar os casos definidos no regimento

interno

Assim dispotildee o artigo 1ordm Inciso I aliacutenea ldquocrdquo da Lei Complementar nordm 641990

Governador e o Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal e o Prefeito e o

Vice-Prefeito que perderem seus cargos eletivos por infringecircncia a dispositivo da

Constituiccedilatildeo Estadual da Lei Orgacircnica do Distrito Federal ou da Lei Orgacircnica do

Municiacutepio para as eleiccedilotildees que se realizarem durante o periacuteodo remanescente e

nos 8 (oito) anos subsequentes ao teacutermino do mandato para o qual tenham sido

eleitos

Tal dispositivo busca evitar que os chefes do poder executivos retornem a

vida puacuteblica no mandato seguinte e nas eleiccedilotildees para as demais esferas Este

dispositivo preserva a moralidade puacuteblica O prazo de 8 anos de inabilitaccedilatildeo seraacute

contado a partir da data que tiver sido proferida a decisatildeo por crime de

responsabilidade

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquodrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tenham contra sua pessoa representaccedilatildeo julgada procedente pela Justiccedila

Eleitoral em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo colegiado em

processo de apuraccedilatildeo de abuso do poder econocircmico ou poliacutetico para a eleiccedilatildeo na

qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como para as que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes

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Primeiramente eacute necessaacuterio conceituar o que eacute abuso de poder econocircmico de

abuso de poder poliacutetico

Abuso de poder econocircmico consiste na utilizaccedilatildeo de bens ou serviccedilos de

empresas particulares ou recursos proacuteprios do candidato gerando assim uma

desproporccedilatildeo entre os candidatos exemplo Se um candidato eacute proprietaacuterio de uma

grande empresa e faz uso dela para custear sua campanha sem realizar doaccedilatildeo de

campanha prevista na Lei 950497

Abuso do poder poliacutetico consiste no emprego de serviccedilos ou bens

pertencentes a administraccedilatildeo puacuteblica com o objetivo de propiciar a eleiccedilatildeo de

determinado candidato

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquofrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que forem declarados indignos do oficialato ou com ele incompatiacuteveis pelo prazo

de 8 (oito) anos

Oficialato eacute o cargo ou dignidade de oficial seja das forccedilas armadas poliacutecia

militar ou corpo de bombeiros A competecircncia para apreciar e declarar a indignidade

do oficialato seraacute do Superior Tribunal Militar

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquogrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tiverem suas contas relativas ao exerciacutecio de cargos ou funccedilotildees puacuteblicas

rejeitadas por irregularidade insanaacutevel que configure ato doloso de improbidade

administrativa e por decisatildeo irrecorriacutevel do oacutergatildeo competente salvo se esta houver

sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciaacuterio para as eleiccedilotildees que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes contados a partir da data da decisatildeo aplicando-se o

disposto no inciso II do art 71 da Constituiccedilatildeo Federal a todos os ordenadores de

despesa sem exclusatildeo de mandataacuterios que houverem agido nessa condiccedilatildeo

Esta decisatildeo eacute administrativa e traraacute a consequumlecircncia de inelegibilidade para

isso a irregularidade tem de ser insanaacutevel

A competecircncia para julgar estas irregularidades compete ao Poder

Legislativo seja no acircmbito federal estadual ou municipal

A analise desta insanabilidade poderaacute caber a Justiccedila Eleitoral como por

exemplo no pedido de registro de candidatura por algueacutem que teve suas contas

rejeitadas

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquohrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os detentores de cargo na administraccedilatildeo puacuteblica direta indireta ou fundacional que

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beneficiarem a si ou a terceiros pelo abuso do poder econocircmico ou poliacutetico que

forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial

colegiado para a eleiccedilatildeo na qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como

para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes

Aqui natildeo se trata de cargo eletivo mas sim de cargos por concurso puacuteblico ou

por provimento em comissatildeo

A finalidade eacute por fim a reeleiccedilatildeo para aqueles que estatildeo em cargos de chefia

do poder executivo que tenham cometido abuso do poder econocircmico ou poliacutetico

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquoirdquo da Lei Complementar nordm 641990)

os que em estabelecimentos de creacutedito financiamento ou seguro que tenham sido

ou estejam sendo objeto de processo de liquidaccedilatildeo judicial ou extrajudicial hajam

exercido nos 12 (doze) meses anteriores agrave respectiva decretaccedilatildeo cargo ou funccedilatildeo

de direccedilatildeo administraccedilatildeo ou representaccedilatildeo enquanto natildeo forem exonerados de

qualquer responsabilidade

O que a lei busca nesta situaccedilatildeo eacute deixar aquele que administrou os referidos

estabelecimentos fora de qualquer participaccedilatildeo poliacutetica enquanto natildeo forem

apurados todos os fatos que levaram a insolvecircncia

Portanto o maior objetivo desta causa de inelegibilidade eacute assegurar que o

ex-administrado de estabelecimento de creacutedito financiamento ou seguro natildeo venha

a eleger-se a cargo eletivo sem antes ter sido apurada sua participaccedilatildeo para

insolvecircncia

Outras causas de inelegibilidades incluiacutedas pela Lei Complementar nordm

1352010 estatildeo previstas nos incisos j a q da referida Lei

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4 DA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE 41 ORIGEM DA LEI COMPLEMENTAR Nordm 1352010

Com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o Brasil passa a ser um

Estado Democraacutetico de Direito inaugurando uma democracia participativa

Esta democracia participativa permite ao cidadatildeo desde que preenchidos

determinados requisitos dar iniacutecio a um projeto de Lei atraveacutes da chamada Iniciativa

Popular A origem da Lei Complementar nordm 1352010 decorreu do Projeto de Lei nordm

5182009 sob a coordenaccedilatildeo do Movimento de Combate a Corrupccedilatildeo Eleitoral ndash

MCCE que teve iniacutecio em abril de 2008 com o objetivo de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos a finalidade eacute que os criteacuterios de inelegibilidades sejam

mais rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos

Esta Lei Complementar dita que pessoas condenadas por um colegiado

independente do tracircnsito em julgado satildeo inelegiacuteveis portanto podem ter seus

registros de candidaturas negados alem de incluir parlamentares que renunciaram

ao cargo para assim evitar uma possiacutevel abertura de processo por quebra de decoro

ou por desrespeito agrave Constituiccedilatildeo com a finalidade uacutenica de evitar possiacuteveis

puniccedilotildees

A Lei Complementar 1352010 traacutes inuacutemeros confrontos com a Constituiccedilatildeo

Federal sendo dois os mais relevantes primeiro a natildeo observacircncia do princiacutepio da

anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal e segundo

o desrespeito ao princiacutepio da natildeo-culpabilidade tambeacutem estabelecido na

Constituiccedilatildeo federal no artigo 5ordm inciso LVII

Sobre o primeiro ponto que trata da aplicabilidade da Lei Complementar nordm

1352010 para as eleiccedilotildees de 2010 restou soberana a decisatildeo do Supremo

Tribunal Federal ao resolver o conflito afirmando que o artigo 16 da Constituiccedilatildeo

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Federal ao submeter a alteraccedilatildeo legal do processo eleitoral agrave regra da anualidade

constitui uma garantia fundamental para o pleno exerciacutecio de direitos poliacuteticos

Esta pacificaccedilatildeo se deu no julgamento da Accedilatildeo Declaratoacuteria de

Inconstitucionalidade nordm 3685 13 onde atuou como Relatora a Ministra Ellen Gracie

que identificou como uma garantia fundamental do cidadatildeo-eleitor do cidadatildeo-

candidato e dos partidos poliacuteticos o artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal

A Ministra Ellen Gracie utilizou-se de uma analogia com o julgamento da

Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade 939 que teve como relator Ministro Sydnei

Sanches com a garantia da anterioridade tributaacuteria fixada no artigo 150 III b no

sentido de que se o princiacutepio da anterioridade tributaacuteria constitui uma garantia do

cidadatildeo-contribuinte o princiacutepio da anterioridade eleitoral tambeacutem eacute uma garantia do

cidadatildeo do eleitor do candidato e dos partidos poliacuteticos

Desta forma restou consolidado a garantia prevista no artigo 16 da

Constituiccedilatildeo Federal como forma de um devido processo legal eleitoral

O devido processo visa que se atinja uma decisatildeo conforme a Justiccedila

prestigiando a eacutetica da legalidade ressaltando-se que ele possui um duplo

significado de processo necessaacuterio e processo adequado para tanto COMOGLIO

afirma Que as garantias decorrentes do devido processo legal querem dizer natildeo apenas direito a um processo mas a um justo processo compreendendo a correccedilatildeo e efetividade dos instrumentos disponiacuteveis em juiacutezo e a efetividade e adequaccedilatildeo da proacutepria tutela finalrdquo 14

A Constituiccedilatildeo brasileira de 1988 traz a garantia exarada no seu artigo 5ordm

Art 5ordm - () LIV ndash ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal LV ndash aos litigantes em processo judicial e administrativo e aos acusados em geral seratildeo assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa com os meios de recurso a ela inerentes

Sobre o segundo ponto controverso mateacuteria deste trabalho tem o conflito tem

o conflito entre a Lei Complementar nordm 13510 contra uma garantia constitucional

denominado princiacutepio da natildeo-culpabilidade que eacute inseparaacutevel do conceito de

13 Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011 14 Luigi Paolo COMOGLIO Giuridizione e processo nel quadro delle garanzie constituzionali Rivista Trimestrale di Diritto e Procedura Civile 4 p 1070

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democracia A Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5ordm inciso LVII estabelece uma das

maiores garantias dos indiviacuteduos contra o autoritarismo do Estado afirmando que

ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

condenatoacuteriardquo fixando explicitamente o princiacutepio da natildeo-culpabilidade entre os

direitos fundamentais

42 AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EM JULGADO

A Lei Complementar nordm 1352010 em sua aliacutenea ldquoerdquo do inciso I do artigo 2ordm

possui a seguinte redaccedilatildeo e) os que forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial colegiado desde a condenaccedilatildeo ateacute o transcurso do prazo de 8 (oito) anos apoacutes o cumprimento da pena pelos crimes (Redaccedilatildeo dada pela Lei Complementar nordm 135 de 2010)

Esta aliacutenea visa impedir a candidatura de poliacuteticos condenados a partir da

segunda instacircncia e mesmo que natildeo tenha transitado em julgado Ela defende que

haja uma condenaccedilatildeo criminal no entanto deixa de exigir a configuraccedilatildeo do tracircnsito

em julgado do ato decisoacuterio para que ocorra a inelegibilidade A antiga lei previa que

o candidato soacute seria inelegiacutevel se tivesse condenaccedilatildeo definitiva

As alteraccedilotildees da Lei Complementar nordm 1352010 objetiva atender a um senso

comum do eleitorado afirmando que uma pessoa condenada natildeo deve poder ser

votada isto eacute natildeo deve ter mandato Em seus dizeres trata que a inelegibilidade

natildeo pressupotildee culpa formada natildeo deve haver discussatildeo sobre presunccedilatildeo da

inocecircncia Pode haver inelegibilidade por parentesco por ocupar cargo puacuteblico falta

de domiciacutelio eleitoral ou filiaccedilatildeo partidaacuteria causas que natildeo tecircm nada a ver com

condenaccedilatildeo criminal

A contradiccedilatildeo do argumento da Lei Complementar eacute se a Constituiccedilatildeo em

face do princiacutepio da natildeo-culpabilidade admite a cominaccedilatildeo de inelegibilidade para

quem ainda tem recursos pendentes de julgamento

Caso esta hipoacutetese seja admitida temos que um indiviacuteduo que tenha sido

condenado criminalmente em segunda instacircncia e interponha recurso especial ou

extraordinaacuterio para anular o processo caso natildeo consiga uma medida liminar

suspendendo os efeitos ficaria impedido de concorrer na eleiccedilatildeo

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Imagine-se que ao final da accedilatildeo o cidadatildeo que ficou impedido de concorrer

nas eleiccedilotildees obtivesse vitoacuteria em seu recurso obtendo assim a nulidade da accedilatildeo

bem como da decisatildeo que o condenou com ficaria a situaccedilatildeo deste cidadatildeo

O que se quer com a Lei Complementar nordm 1352010 eacute instituir um moralismo

eleitoral que se sobrepotildee a Constituiccedilatildeo Federal e seu principio constitucional da

natildeo-culpabilidade que eacute a garantia individual contra o Estado

Outro argumento utilizado pelos defensores da constitucionalidade da Lei

Complementar nordm 1352010 satildeo as prisotildees cautelares e que no final o sujeito

acaba sebdo absolvido Ora cabe lembrar-lhes que a prisatildeo cautelar natildeo eacute

antecipaccedilatildeo de pena cumpre ela uma funccedilatildeo processual clara e limitada agrave garantia

da ordem puacuteblica da ordem econocircmica por conveniecircncia da instruccedilatildeo criminal ou

para assegurar a aplicaccedilatildeo da lei penal quando houver prova da existecircncia do crime

e indiacutecio suficiente de autoria

Portanto temos que o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees enquanto natildeo

sobrevier decisatildeo judicial transitada em julgado

O proacuteprio Supremo na Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental

144 jaacute decidiu natildeo barrar candidaturas sem condenaccedilatildeo transitada em julgado

A Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental 144 15 foi votada

em agosto de 2008 antes das eleiccedilotildees municipais Na ocasiatildeo o Supremo Tribunal

Federal decidiu que natildeo poderiam ser barradas candidaturas de poliacuteticos

condenados na primeira instacircncia por conta da presunccedilatildeo de inocecircncia

Em 6 de agosto de 2008 haacute menos de trecircs anos o Supremo Tribunal Federal

julgou improcedente a Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental nordm

144 ajuizada pela Associaccedilatildeo dos Magistrados Brasileiros em voto do ministro

Celso de Mello vencidos os ministros Carlos Ayres e Joaquim Barbosa exatamente

porque O postulado consagrador da garantia de inocecircncia irradia os seus efeitos para aleacutem dos limites dos processos penais de natureza condenatoacuteria impedindo desse modo que situaccedilotildees processuais anda natildeo definidas por sentenccedilas transitadas em julgado provoquem em decorrecircncia das exigecircncias de probidade administrativa e demoralidade a que se refere o sect 9ordm do artigo 14 da Coinstituiccedilatildeo Federal a inelegibilidade dos cidadatildeos ou obstem candidaturas para mandatos eletivos

15Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011

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Portanto ficou definido que Lei Complementar sendo editada para casos de

inelegibilidades esta deveraacute respeitar o princiacutepio da natildeo-culpabilidade Ocorre que

foi editada a Lei Complementar nordm 1352010 que atendeu aos reclamos populares

mas preferiu a um soacute tempo violar a Constituiccedilatildeo Federal e desrespeitar a recente

decisatildeo do Supremo Tribunal Federal mesmo que na eacutepoacuteca desta decisatildeo natildeo

havia lei formal para tal situaccedilatildeo

43 PRINCIacutePIO CONSTITUCIONAL DA NAtildeO-CULPABILIDADE

O princiacutepio da natildeo-culpabilidade eacute direito fundamental previsto na

Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5deg inciso LVII ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute

o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

Isto eacute enquanto natildeo sobrevier uma decisatildeo judicial condenatoacuteria transitada

em julgado o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees em seu patrimocircnio ou em sua

liberdade Caso sobrevenha duacutevida quanto a culpabilidade esta resolveraacute sempre

em favor do reacuteu ou seja aplicando-se o princiacutepio in duacutebio pro reo

Assim disciplina Nelson Nery Juacutenior sobre o princiacutepio da natildeo-culpabilidade ldquoO inteacuterprete deve buscar a aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre tendo como pressuposto o exame da Constituiccedilatildeo Federal Depois sim deve consultar a legislaccedilatildeo infraconstitucional a respeito do temardquo 16

Sendo assim a Constituiccedilatildeo Federal no capiacutetulo sobre os Direitos e Deveres

Individuais e Coletivos em seu artigo 5ordm inciso LVII afirma que ldquoningueacutem seraacute

considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute considerar o

indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila A doutrina e a

jurisprudecircncia aclamam este princiacutepio como vaacuterios nomes como princiacutepio da

presunccedilatildeo de inocecircncia princiacutepio da natildeo-culpabilidade ou simplesmente princiacutepio da

inocecircncia

Joseacute Afonso da Silva em seu livro Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo

disciplina assim esta garantia A norma constitucional do inciso LVII agora sob nosso exame garante a presunccedilatildeo de inocecircncia por meio de um enunciado negativo universal lsquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria Usa-se de uma forma

16 NERY JUacuteNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20

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negativa para outorgar uma garantia positiva Na verdade o texto brasileiro natildeo significa outra coisa senatildeo que fica assegurada a todos a presunccedilatildeo de inocecircncia ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria O tracircnsito em julgado se daacute quando a decisatildeo natildeo comporta mais recurso ordinaacuterio especial ou extraordinaacuterio 17

Nesse sentido o indiviacuteduo acusado natildeo pode ser presumidamente culpado

mas sim inocente Tal princiacutepio visa a tutelar a liberdade pessoal de modo que o

Estado nos mais diferentes segmentos deve abster-se de considerar culpado

aquele que ainda natildeo foi submetido agrave definitividade da atuaccedilatildeo jurisdicional Em se tratando de suspensatildeo dos direitos poliacuteticos a Constituiccedilatildeo Federal

garante que a suspensatildeo somente se daraacute por ldquocondenaccedilatildeo criminal transitada em

julgado enquanto durarem seus efeitosrdquo

Julgamento neste sentido REPRESENTACcedilAtildeO SUSPENSAtildeO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS EM VIRTUDE DE SENTENCcedilA PENAL CONDENATOacuteRIA TRANSITADA EM JULGADO AUTO-APLICABILIDADE DOS ARTIGOS 14 sect 3ordm II E 15 III DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL PROCEDEcircNCIA A suspensatildeo dos direitos poliacuteticos do condenado independe de lei regulamentadora bem como de processo especial de cogniccedilatildeo e de anaacutelise de meacuterito para a execuccedilatildeo da medida no juiacutezo eleitoral posto natildeo se tratar de sanccedilatildeo penal mas de efeito natildeo-penal de condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado e decorrente de mandamento constitucional Comprovado o tracircnsito em julgado da sentenccedila penal condenatoacuteria decreta-se automaticamente a suspensatildeo dos direitos poliacuteticos ativo e passivo do representado ou seja o direito de votar e ser votado com a consequumlente exclusatildeo de seu nome da folha de votaccedilatildeo e declaraccedilatildeo de sua inelegibilidade 18

Logo infere-se que a condenaccedilatildeo criminal sem o tracircnsito em julgado natildeo

desqualifica o condenado a votar e a eventualmente concorrer a qualquer cargo

eletivo

O Colendo Tribunal Superior Eleitoral enfrentou esta questatildeo ao apreciar

pedido de registro de candidatura valendo registrar os seguintes julgados RECURSO ESPECIAL RECEBIDO COMO ORDINAacuteRIO REGISTRO DE CANDIDATURA DEFERIMENTO INELEGIBILIDADE NAtildeO-OCORREcircNCIA Condenaccedilatildeo criminal sem tracircnsito em julgado natildeo eacute apta a ensejar inelegibilidade (precedente do TSE acoacuterdatildeo 536 rel Min Fernando Neves publicado em sessatildeo de 882002) Recurso natildeo provido 19

17 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006 p 155 18 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbrgt TRESCndashAcoacuterdatildeo nordm 13324 de 071094 rel Juiz Nilson B Filho Acesso em 16 set 2011 19 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbr gt TSE- REspEl nordm 20247 de 19902 rel Min Sepuacutelveda Pertence Acesso em 16 set 2011

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INELEGIBILIDADE CONDENACcedilAtildeO CRIMINAL NAtildeO TRANSITADA EM JULGADO CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA ART 14 sect 9deg SUacuteMULA Ndeg 13 DO TSE 1 A existecircncia de sentenccedila criminal condenatoacuteria sem o tracircnsito em julgado natildeo eacute suficiente para ocasionar inelegibilidade 2 O art 14 sect 9deg da Constituiccedilatildeo natildeo eacute auto-aplicaacutevel 3 Necessidade de lei complementar estabelecendo os casos em que a vida pregressa do candidato poderaacute levar agrave sua inelegibilidade bem como os prazos de sua cessaccedilatildeo 4 Recurso provido para julgar improcedente a impugnaccedilatildeo e deferir o registro da candidatura 20

Insculpido na Constituiccedilatildeo Federal o principio da natildeo-culpabilidade deve ser

respeitado por toda lei infraconstitucional alguns doutrinadores como Aristides

Junqueira e Antocircnio Bandeira de Mello em carta publica no sitio do Movimento de

Combate agrave Corrupccedilatildeo Eleitoral21 entendem que neste presente caso natildeo deve ser

aplicado o princiacutepio da natildeo-culpabilidade a inelegibilidade pois esta natildeo eacute pena

mas medida preventiva

Estes juristas se acham alicerccedilados pelo que expressamente estatui o sect 9deg do

artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal em que Lei complementar estabeleceraacute outros

casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim de proteger a probidade

administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato considerada a vida

pregressa do candidato afirmam que uma vez que a proacutepria Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica expressamente permite que o legislador estipule quais elementos da vida

pregressa dos candidatos podem afastaacute-los dos pleitos

Independente desta posiccedilatildeo minoritaacuteria encontra-se que o princiacutepio da natildeo-

culpabilidade eacute prevista em diversos ordenamentos juriacutedicos e tratados como se

veraacute a seguir

Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo da Franccedila de 1789 o art

9da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) de 1948 dispotildee ldquoTodo acusado eacute

considerado inocente ateacute ser declarado culpado e se julgar indispensaacutevel prendecirc-lo

todo o rigor desnecessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deveraacute ser severamente

reprimido pela leirdquo22

20 Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrgt TSE-REspEl nordm 18047 de 2992000 rel Min Fernando Neves da Silva Acesso em 16 set 2011 21 Disponiacutevel em lthttpwwwmcceorgbrsitesdefaultfilescartajuristaspdfgt Acesso em 3 jul 2011 22 Disponiacutevel em lthttppfdcpgrmpfgovbratuacao-e-conteudos-de-apoiolegislacaodireitoshuma nosdeclar_dir_ homem_cidadaopdfgt Acesso em 13 set 2011

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Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos de 1948 diz ldquoToda pessoa

acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocecircncia enquanto natildeo se

comprove legalmente sua culpardquo23

A origem histoacuterica que foi referida teve uma grande importacircncia para se

chegar a um status constitucional conforme eacute citado por Mirabete Existe apenas uma tendecircncia agrave presunccedilatildeo de inocecircncia ou mais precisamente um estado de inocecircncia um estado juriacutedico no qual o acusado eacute inocente ateacute que seja declarado culpado por uma sentenccedila transitada em julgado Por isso a nossa Constituiccedilatildeo Federal natildeo presume a inocecircncia mas declara que ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria (art 5deg LVII) ou seja que o acusado eacute inocente durante o desenvolvimento do processo e seu estado soacute se modifica por uma sentenccedila final que o declare culpado 24

Por fim o princiacutepio da natildeo-culpabilidade visa a proteccedilatildeo do reacuteu para que

este tenha um julgamento justo devendo ser provada sua verdadeira culpa antes

que seja considerado culpado

23 Disponiacutevel em lthttpwwwagugovbrsistemassiteTemplateImagemTextoThumbaspxidConteu do=113927ampordenacao=1ampid_site=4922gt Acesso em 12 set 2011 24 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252

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5 CONCLUSAtildeO Apoacutes as anaacutelises da doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncias pertinentes a este

trabalho verifica-se que a Lei Complementar nordm 1352010 ao instituir nova hipoacutetese

de inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado esta em pleno conflito com o princiacutepio da natildeo-culpabilidade insculpido no

artigo 5ordm inciso LVII da Constituiccedilatildeo Federal o que torna esta nova hipoacutetese

absolutamente inconstitucional

O objetivo da Lei Complementar nordm 1352010 eacute o de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos para que os criteacuterios de inelegibilidades sejam mais

rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos Inicialmente eacute compreensiacutevel a

preocupaccedilatildeo de qualificar o perfil dos candidatos a cargos eletivos atraveacutes da vida

pregressa isto significa querer se representar por candidatos idocircneos

Ocorre que eacute necessaacuterio impor tantas restriccedilotildees para que o cidadatildeo possa

concorrer a determinado pleito natildeo eacute mais correto permitir que o proacuteprio povo

detentor soberano do poder para escolher seus representantes defina seus criteacuterios

de escolha

Quanto ao aspecto juriacutedico vejamos que o legislativo ao criar novas hipoacuteteses

de inelegibilidade deve-se atentar para as garantias jaacute consagradas em nosso

ordenamento principalmente quando esta garantia esta insculpida na Constituiccedilatildeo

Federal garantia esta referente ao principio da natildeo-culpabilidade que reza que

ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

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condenatoacuteria trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute

considerar o indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila

Ocorre que a criaccedilatildeo da Lei Complementar nordm 1352010 nasceu conflitante

com a Constituiccedilatildeo Federal em 2 aspectos primordiais primeiro a natildeo observacircncia

do princiacutepio da anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo

Federal pacificado pela Accedilatildeo Declaratoacuteria de Inconstitucionalidade nordm 3685

afirmando que deve-se respeitar ao principio da anualidade e segundo a

inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado

O segundo conflito origina-se diante da garantia constitucional do princiacutepio da

presunccedilatildeo da natildeo-culpabilidade o qual disciplina que somente poderaacute ser

considerado culpado o acusado de determinado crime quando ocorrer o tracircnsito em

julgado da decisatildeo

Portanto temos que uma decisatildeo de um oacutergatildeo colegiado quando recorriacutevel

ainda natildeo eacute o momento que se consumativo da culpabilidade do acusado pois natildeo

podemos antecipar a puniccedilatildeo de um cidadatildeo com a perda de algum direito pelo

simples fato de estar respondendo a algum processo

A aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre teraacute como pressuposto o

exame da Constituiccedilatildeo Federal que estabelece o princiacutepio da natildeo-culpabilidade

tambeacutem chamado de princiacutepio da presunccedilatildeo de inocecircncia que eacute uma verdadeira

garantia constitucional do indiviacuteduo contra o Estado Portanto deve-se respeitar este

princiacutepio basilar do Estado Democraacutetico de Direito nos mais diferentes segmentos

devendo qualquer Lei abster-se de considerar culpado aquele que ainda natildeo teve

sua decisatildeo transitada em julgado

Assim a Lei Complementar nordm 1352010 eacute contraacuterio ao disposto no texto

constitucional pois de forma antecipada retira do cidadatildeo o direito de disputar ao

pleito de forma igualitaacuteria bem como retira do povo um de seus maiores direitos o

de poder escolher seus representantes

Portanto para fortalecimento do Estado Democraacutetico de Direito se faz

necessaacuterio que as garantias constitucionais prevaleccedilam com isto deve-se

preponderar a presunccedilatildeo de natildeo culpabilidade ateacute o tracircnsito em julgado de da

sentenccedila condenatoacuteria

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REFEREcircNCIAS BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicao_ConstituiccedilaoCompiladohtmgt Acesso em 2 jun 2011 BRASIL Tribunal Superior Eleitoral Coacutedigo eleitoral Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrinternetjurisprudenciacodigo_eleitoralcodigo_eleitoralhtmlgt Acesso em 5 mai 2011 BRASIL Supremo Tribunal Federal Jurisprudecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudenciapesquisarJurisprudenciaaspgt Acesso em 15 mai 2011 BRASIL Projeto de Lei Complementar nordm 518 de 17 de setembro de 2009 Altera a Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 que estabelece de acordo com o sect 9ordm do art 14 da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias para incluir hipoacuteteses de inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no exerciacutecio do mandato Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbrsfatividademateriadetalhesaspp_cod_mate=96850gt Acesso em 19 mai 2011

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BRASIL Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 Estabelece de acordo com o art 14 sect 9ordm da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03LeisLCPLcp64htmgt Acesso em 15 mai 2011 COSTA Adriano Soares Instituiccedilotildees de Direito Eleitoral Ed Del Rey 2006 DI PIETRO Maria Sylvia Zanella Direito Administrativo 9 Ed Satildeo Paulo Atlas 1998 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131 LEAL Saul Tourinho Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt MELLO Celso Antonio Bandeira Curso de Direito Administrativo 24 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2007 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 ed Satildeo Paulo Atlas 2006 Movimento de Combate agrave Corrupccedilatildeo Disponiacutevel em ltwwwmcceorgbrgt Acesso em 3 jul 2011 NERY JUacuteBNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20 PEREIRA Erick Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt Acesso em 30 jun 2011 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2008

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PIRES Maacutercio Rodrigo Kaio Carvalho Abuso do poder poliacutetico nas eleiccedilotildees Jus Navigandi Teresina ano 15 n 2677 30 out 2010 Disponiacutevel em lthttpjusuolcombrrevistatexto17741gt Acesso em 27 jun 2011 RAMAYANA Marcos Direito Eleitoral Impetus Niteroacutei 2006 RESENHA ELEITORAL - Nova Seacuterie v9 n1 (janjun 2002) Disponiacutevel em lt httpwwwtre-scgovbrsiteinstitucionalpublicacoesartigos-doutrinariospublicados- na-resenha-eleitoralresenhasv9-n1-janjun-2002abuso-do-podereconomico- ou-de-autoridadeindexhtmlgt SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006

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Primeiramente eacute necessaacuterio conceituar o que eacute abuso de poder econocircmico de

abuso de poder poliacutetico

Abuso de poder econocircmico consiste na utilizaccedilatildeo de bens ou serviccedilos de

empresas particulares ou recursos proacuteprios do candidato gerando assim uma

desproporccedilatildeo entre os candidatos exemplo Se um candidato eacute proprietaacuterio de uma

grande empresa e faz uso dela para custear sua campanha sem realizar doaccedilatildeo de

campanha prevista na Lei 950497

Abuso do poder poliacutetico consiste no emprego de serviccedilos ou bens

pertencentes a administraccedilatildeo puacuteblica com o objetivo de propiciar a eleiccedilatildeo de

determinado candidato

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquofrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que forem declarados indignos do oficialato ou com ele incompatiacuteveis pelo prazo

de 8 (oito) anos

Oficialato eacute o cargo ou dignidade de oficial seja das forccedilas armadas poliacutecia

militar ou corpo de bombeiros A competecircncia para apreciar e declarar a indignidade

do oficialato seraacute do Superior Tribunal Militar

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquogrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os que tiverem suas contas relativas ao exerciacutecio de cargos ou funccedilotildees puacuteblicas

rejeitadas por irregularidade insanaacutevel que configure ato doloso de improbidade

administrativa e por decisatildeo irrecorriacutevel do oacutergatildeo competente salvo se esta houver

sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciaacuterio para as eleiccedilotildees que se realizarem

nos 8 (oito) anos seguintes contados a partir da data da decisatildeo aplicando-se o

disposto no inciso II do art 71 da Constituiccedilatildeo Federal a todos os ordenadores de

despesa sem exclusatildeo de mandataacuterios que houverem agido nessa condiccedilatildeo

Esta decisatildeo eacute administrativa e traraacute a consequumlecircncia de inelegibilidade para

isso a irregularidade tem de ser insanaacutevel

A competecircncia para julgar estas irregularidades compete ao Poder

Legislativo seja no acircmbito federal estadual ou municipal

A analise desta insanabilidade poderaacute caber a Justiccedila Eleitoral como por

exemplo no pedido de registro de candidatura por algueacutem que teve suas contas

rejeitadas

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquohrdquo da Lei Complementar nordm 641990

os detentores de cargo na administraccedilatildeo puacuteblica direta indireta ou fundacional que

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beneficiarem a si ou a terceiros pelo abuso do poder econocircmico ou poliacutetico que

forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial

colegiado para a eleiccedilatildeo na qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como

para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes

Aqui natildeo se trata de cargo eletivo mas sim de cargos por concurso puacuteblico ou

por provimento em comissatildeo

A finalidade eacute por fim a reeleiccedilatildeo para aqueles que estatildeo em cargos de chefia

do poder executivo que tenham cometido abuso do poder econocircmico ou poliacutetico

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquoirdquo da Lei Complementar nordm 641990)

os que em estabelecimentos de creacutedito financiamento ou seguro que tenham sido

ou estejam sendo objeto de processo de liquidaccedilatildeo judicial ou extrajudicial hajam

exercido nos 12 (doze) meses anteriores agrave respectiva decretaccedilatildeo cargo ou funccedilatildeo

de direccedilatildeo administraccedilatildeo ou representaccedilatildeo enquanto natildeo forem exonerados de

qualquer responsabilidade

O que a lei busca nesta situaccedilatildeo eacute deixar aquele que administrou os referidos

estabelecimentos fora de qualquer participaccedilatildeo poliacutetica enquanto natildeo forem

apurados todos os fatos que levaram a insolvecircncia

Portanto o maior objetivo desta causa de inelegibilidade eacute assegurar que o

ex-administrado de estabelecimento de creacutedito financiamento ou seguro natildeo venha

a eleger-se a cargo eletivo sem antes ter sido apurada sua participaccedilatildeo para

insolvecircncia

Outras causas de inelegibilidades incluiacutedas pela Lei Complementar nordm

1352010 estatildeo previstas nos incisos j a q da referida Lei

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4 DA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE 41 ORIGEM DA LEI COMPLEMENTAR Nordm 1352010

Com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o Brasil passa a ser um

Estado Democraacutetico de Direito inaugurando uma democracia participativa

Esta democracia participativa permite ao cidadatildeo desde que preenchidos

determinados requisitos dar iniacutecio a um projeto de Lei atraveacutes da chamada Iniciativa

Popular A origem da Lei Complementar nordm 1352010 decorreu do Projeto de Lei nordm

5182009 sob a coordenaccedilatildeo do Movimento de Combate a Corrupccedilatildeo Eleitoral ndash

MCCE que teve iniacutecio em abril de 2008 com o objetivo de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos a finalidade eacute que os criteacuterios de inelegibilidades sejam

mais rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos

Esta Lei Complementar dita que pessoas condenadas por um colegiado

independente do tracircnsito em julgado satildeo inelegiacuteveis portanto podem ter seus

registros de candidaturas negados alem de incluir parlamentares que renunciaram

ao cargo para assim evitar uma possiacutevel abertura de processo por quebra de decoro

ou por desrespeito agrave Constituiccedilatildeo com a finalidade uacutenica de evitar possiacuteveis

puniccedilotildees

A Lei Complementar 1352010 traacutes inuacutemeros confrontos com a Constituiccedilatildeo

Federal sendo dois os mais relevantes primeiro a natildeo observacircncia do princiacutepio da

anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal e segundo

o desrespeito ao princiacutepio da natildeo-culpabilidade tambeacutem estabelecido na

Constituiccedilatildeo federal no artigo 5ordm inciso LVII

Sobre o primeiro ponto que trata da aplicabilidade da Lei Complementar nordm

1352010 para as eleiccedilotildees de 2010 restou soberana a decisatildeo do Supremo

Tribunal Federal ao resolver o conflito afirmando que o artigo 16 da Constituiccedilatildeo

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Federal ao submeter a alteraccedilatildeo legal do processo eleitoral agrave regra da anualidade

constitui uma garantia fundamental para o pleno exerciacutecio de direitos poliacuteticos

Esta pacificaccedilatildeo se deu no julgamento da Accedilatildeo Declaratoacuteria de

Inconstitucionalidade nordm 3685 13 onde atuou como Relatora a Ministra Ellen Gracie

que identificou como uma garantia fundamental do cidadatildeo-eleitor do cidadatildeo-

candidato e dos partidos poliacuteticos o artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal

A Ministra Ellen Gracie utilizou-se de uma analogia com o julgamento da

Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade 939 que teve como relator Ministro Sydnei

Sanches com a garantia da anterioridade tributaacuteria fixada no artigo 150 III b no

sentido de que se o princiacutepio da anterioridade tributaacuteria constitui uma garantia do

cidadatildeo-contribuinte o princiacutepio da anterioridade eleitoral tambeacutem eacute uma garantia do

cidadatildeo do eleitor do candidato e dos partidos poliacuteticos

Desta forma restou consolidado a garantia prevista no artigo 16 da

Constituiccedilatildeo Federal como forma de um devido processo legal eleitoral

O devido processo visa que se atinja uma decisatildeo conforme a Justiccedila

prestigiando a eacutetica da legalidade ressaltando-se que ele possui um duplo

significado de processo necessaacuterio e processo adequado para tanto COMOGLIO

afirma Que as garantias decorrentes do devido processo legal querem dizer natildeo apenas direito a um processo mas a um justo processo compreendendo a correccedilatildeo e efetividade dos instrumentos disponiacuteveis em juiacutezo e a efetividade e adequaccedilatildeo da proacutepria tutela finalrdquo 14

A Constituiccedilatildeo brasileira de 1988 traz a garantia exarada no seu artigo 5ordm

Art 5ordm - () LIV ndash ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal LV ndash aos litigantes em processo judicial e administrativo e aos acusados em geral seratildeo assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa com os meios de recurso a ela inerentes

Sobre o segundo ponto controverso mateacuteria deste trabalho tem o conflito tem

o conflito entre a Lei Complementar nordm 13510 contra uma garantia constitucional

denominado princiacutepio da natildeo-culpabilidade que eacute inseparaacutevel do conceito de

13 Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011 14 Luigi Paolo COMOGLIO Giuridizione e processo nel quadro delle garanzie constituzionali Rivista Trimestrale di Diritto e Procedura Civile 4 p 1070

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democracia A Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5ordm inciso LVII estabelece uma das

maiores garantias dos indiviacuteduos contra o autoritarismo do Estado afirmando que

ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

condenatoacuteriardquo fixando explicitamente o princiacutepio da natildeo-culpabilidade entre os

direitos fundamentais

42 AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EM JULGADO

A Lei Complementar nordm 1352010 em sua aliacutenea ldquoerdquo do inciso I do artigo 2ordm

possui a seguinte redaccedilatildeo e) os que forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial colegiado desde a condenaccedilatildeo ateacute o transcurso do prazo de 8 (oito) anos apoacutes o cumprimento da pena pelos crimes (Redaccedilatildeo dada pela Lei Complementar nordm 135 de 2010)

Esta aliacutenea visa impedir a candidatura de poliacuteticos condenados a partir da

segunda instacircncia e mesmo que natildeo tenha transitado em julgado Ela defende que

haja uma condenaccedilatildeo criminal no entanto deixa de exigir a configuraccedilatildeo do tracircnsito

em julgado do ato decisoacuterio para que ocorra a inelegibilidade A antiga lei previa que

o candidato soacute seria inelegiacutevel se tivesse condenaccedilatildeo definitiva

As alteraccedilotildees da Lei Complementar nordm 1352010 objetiva atender a um senso

comum do eleitorado afirmando que uma pessoa condenada natildeo deve poder ser

votada isto eacute natildeo deve ter mandato Em seus dizeres trata que a inelegibilidade

natildeo pressupotildee culpa formada natildeo deve haver discussatildeo sobre presunccedilatildeo da

inocecircncia Pode haver inelegibilidade por parentesco por ocupar cargo puacuteblico falta

de domiciacutelio eleitoral ou filiaccedilatildeo partidaacuteria causas que natildeo tecircm nada a ver com

condenaccedilatildeo criminal

A contradiccedilatildeo do argumento da Lei Complementar eacute se a Constituiccedilatildeo em

face do princiacutepio da natildeo-culpabilidade admite a cominaccedilatildeo de inelegibilidade para

quem ainda tem recursos pendentes de julgamento

Caso esta hipoacutetese seja admitida temos que um indiviacuteduo que tenha sido

condenado criminalmente em segunda instacircncia e interponha recurso especial ou

extraordinaacuterio para anular o processo caso natildeo consiga uma medida liminar

suspendendo os efeitos ficaria impedido de concorrer na eleiccedilatildeo

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Imagine-se que ao final da accedilatildeo o cidadatildeo que ficou impedido de concorrer

nas eleiccedilotildees obtivesse vitoacuteria em seu recurso obtendo assim a nulidade da accedilatildeo

bem como da decisatildeo que o condenou com ficaria a situaccedilatildeo deste cidadatildeo

O que se quer com a Lei Complementar nordm 1352010 eacute instituir um moralismo

eleitoral que se sobrepotildee a Constituiccedilatildeo Federal e seu principio constitucional da

natildeo-culpabilidade que eacute a garantia individual contra o Estado

Outro argumento utilizado pelos defensores da constitucionalidade da Lei

Complementar nordm 1352010 satildeo as prisotildees cautelares e que no final o sujeito

acaba sebdo absolvido Ora cabe lembrar-lhes que a prisatildeo cautelar natildeo eacute

antecipaccedilatildeo de pena cumpre ela uma funccedilatildeo processual clara e limitada agrave garantia

da ordem puacuteblica da ordem econocircmica por conveniecircncia da instruccedilatildeo criminal ou

para assegurar a aplicaccedilatildeo da lei penal quando houver prova da existecircncia do crime

e indiacutecio suficiente de autoria

Portanto temos que o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees enquanto natildeo

sobrevier decisatildeo judicial transitada em julgado

O proacuteprio Supremo na Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental

144 jaacute decidiu natildeo barrar candidaturas sem condenaccedilatildeo transitada em julgado

A Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental 144 15 foi votada

em agosto de 2008 antes das eleiccedilotildees municipais Na ocasiatildeo o Supremo Tribunal

Federal decidiu que natildeo poderiam ser barradas candidaturas de poliacuteticos

condenados na primeira instacircncia por conta da presunccedilatildeo de inocecircncia

Em 6 de agosto de 2008 haacute menos de trecircs anos o Supremo Tribunal Federal

julgou improcedente a Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental nordm

144 ajuizada pela Associaccedilatildeo dos Magistrados Brasileiros em voto do ministro

Celso de Mello vencidos os ministros Carlos Ayres e Joaquim Barbosa exatamente

porque O postulado consagrador da garantia de inocecircncia irradia os seus efeitos para aleacutem dos limites dos processos penais de natureza condenatoacuteria impedindo desse modo que situaccedilotildees processuais anda natildeo definidas por sentenccedilas transitadas em julgado provoquem em decorrecircncia das exigecircncias de probidade administrativa e demoralidade a que se refere o sect 9ordm do artigo 14 da Coinstituiccedilatildeo Federal a inelegibilidade dos cidadatildeos ou obstem candidaturas para mandatos eletivos

15Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011

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Portanto ficou definido que Lei Complementar sendo editada para casos de

inelegibilidades esta deveraacute respeitar o princiacutepio da natildeo-culpabilidade Ocorre que

foi editada a Lei Complementar nordm 1352010 que atendeu aos reclamos populares

mas preferiu a um soacute tempo violar a Constituiccedilatildeo Federal e desrespeitar a recente

decisatildeo do Supremo Tribunal Federal mesmo que na eacutepoacuteca desta decisatildeo natildeo

havia lei formal para tal situaccedilatildeo

43 PRINCIacutePIO CONSTITUCIONAL DA NAtildeO-CULPABILIDADE

O princiacutepio da natildeo-culpabilidade eacute direito fundamental previsto na

Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5deg inciso LVII ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute

o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

Isto eacute enquanto natildeo sobrevier uma decisatildeo judicial condenatoacuteria transitada

em julgado o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees em seu patrimocircnio ou em sua

liberdade Caso sobrevenha duacutevida quanto a culpabilidade esta resolveraacute sempre

em favor do reacuteu ou seja aplicando-se o princiacutepio in duacutebio pro reo

Assim disciplina Nelson Nery Juacutenior sobre o princiacutepio da natildeo-culpabilidade ldquoO inteacuterprete deve buscar a aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre tendo como pressuposto o exame da Constituiccedilatildeo Federal Depois sim deve consultar a legislaccedilatildeo infraconstitucional a respeito do temardquo 16

Sendo assim a Constituiccedilatildeo Federal no capiacutetulo sobre os Direitos e Deveres

Individuais e Coletivos em seu artigo 5ordm inciso LVII afirma que ldquoningueacutem seraacute

considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute considerar o

indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila A doutrina e a

jurisprudecircncia aclamam este princiacutepio como vaacuterios nomes como princiacutepio da

presunccedilatildeo de inocecircncia princiacutepio da natildeo-culpabilidade ou simplesmente princiacutepio da

inocecircncia

Joseacute Afonso da Silva em seu livro Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo

disciplina assim esta garantia A norma constitucional do inciso LVII agora sob nosso exame garante a presunccedilatildeo de inocecircncia por meio de um enunciado negativo universal lsquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria Usa-se de uma forma

16 NERY JUacuteNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20

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negativa para outorgar uma garantia positiva Na verdade o texto brasileiro natildeo significa outra coisa senatildeo que fica assegurada a todos a presunccedilatildeo de inocecircncia ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria O tracircnsito em julgado se daacute quando a decisatildeo natildeo comporta mais recurso ordinaacuterio especial ou extraordinaacuterio 17

Nesse sentido o indiviacuteduo acusado natildeo pode ser presumidamente culpado

mas sim inocente Tal princiacutepio visa a tutelar a liberdade pessoal de modo que o

Estado nos mais diferentes segmentos deve abster-se de considerar culpado

aquele que ainda natildeo foi submetido agrave definitividade da atuaccedilatildeo jurisdicional Em se tratando de suspensatildeo dos direitos poliacuteticos a Constituiccedilatildeo Federal

garante que a suspensatildeo somente se daraacute por ldquocondenaccedilatildeo criminal transitada em

julgado enquanto durarem seus efeitosrdquo

Julgamento neste sentido REPRESENTACcedilAtildeO SUSPENSAtildeO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS EM VIRTUDE DE SENTENCcedilA PENAL CONDENATOacuteRIA TRANSITADA EM JULGADO AUTO-APLICABILIDADE DOS ARTIGOS 14 sect 3ordm II E 15 III DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL PROCEDEcircNCIA A suspensatildeo dos direitos poliacuteticos do condenado independe de lei regulamentadora bem como de processo especial de cogniccedilatildeo e de anaacutelise de meacuterito para a execuccedilatildeo da medida no juiacutezo eleitoral posto natildeo se tratar de sanccedilatildeo penal mas de efeito natildeo-penal de condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado e decorrente de mandamento constitucional Comprovado o tracircnsito em julgado da sentenccedila penal condenatoacuteria decreta-se automaticamente a suspensatildeo dos direitos poliacuteticos ativo e passivo do representado ou seja o direito de votar e ser votado com a consequumlente exclusatildeo de seu nome da folha de votaccedilatildeo e declaraccedilatildeo de sua inelegibilidade 18

Logo infere-se que a condenaccedilatildeo criminal sem o tracircnsito em julgado natildeo

desqualifica o condenado a votar e a eventualmente concorrer a qualquer cargo

eletivo

O Colendo Tribunal Superior Eleitoral enfrentou esta questatildeo ao apreciar

pedido de registro de candidatura valendo registrar os seguintes julgados RECURSO ESPECIAL RECEBIDO COMO ORDINAacuteRIO REGISTRO DE CANDIDATURA DEFERIMENTO INELEGIBILIDADE NAtildeO-OCORREcircNCIA Condenaccedilatildeo criminal sem tracircnsito em julgado natildeo eacute apta a ensejar inelegibilidade (precedente do TSE acoacuterdatildeo 536 rel Min Fernando Neves publicado em sessatildeo de 882002) Recurso natildeo provido 19

17 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006 p 155 18 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbrgt TRESCndashAcoacuterdatildeo nordm 13324 de 071094 rel Juiz Nilson B Filho Acesso em 16 set 2011 19 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbr gt TSE- REspEl nordm 20247 de 19902 rel Min Sepuacutelveda Pertence Acesso em 16 set 2011

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INELEGIBILIDADE CONDENACcedilAtildeO CRIMINAL NAtildeO TRANSITADA EM JULGADO CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA ART 14 sect 9deg SUacuteMULA Ndeg 13 DO TSE 1 A existecircncia de sentenccedila criminal condenatoacuteria sem o tracircnsito em julgado natildeo eacute suficiente para ocasionar inelegibilidade 2 O art 14 sect 9deg da Constituiccedilatildeo natildeo eacute auto-aplicaacutevel 3 Necessidade de lei complementar estabelecendo os casos em que a vida pregressa do candidato poderaacute levar agrave sua inelegibilidade bem como os prazos de sua cessaccedilatildeo 4 Recurso provido para julgar improcedente a impugnaccedilatildeo e deferir o registro da candidatura 20

Insculpido na Constituiccedilatildeo Federal o principio da natildeo-culpabilidade deve ser

respeitado por toda lei infraconstitucional alguns doutrinadores como Aristides

Junqueira e Antocircnio Bandeira de Mello em carta publica no sitio do Movimento de

Combate agrave Corrupccedilatildeo Eleitoral21 entendem que neste presente caso natildeo deve ser

aplicado o princiacutepio da natildeo-culpabilidade a inelegibilidade pois esta natildeo eacute pena

mas medida preventiva

Estes juristas se acham alicerccedilados pelo que expressamente estatui o sect 9deg do

artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal em que Lei complementar estabeleceraacute outros

casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim de proteger a probidade

administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato considerada a vida

pregressa do candidato afirmam que uma vez que a proacutepria Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica expressamente permite que o legislador estipule quais elementos da vida

pregressa dos candidatos podem afastaacute-los dos pleitos

Independente desta posiccedilatildeo minoritaacuteria encontra-se que o princiacutepio da natildeo-

culpabilidade eacute prevista em diversos ordenamentos juriacutedicos e tratados como se

veraacute a seguir

Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo da Franccedila de 1789 o art

9da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) de 1948 dispotildee ldquoTodo acusado eacute

considerado inocente ateacute ser declarado culpado e se julgar indispensaacutevel prendecirc-lo

todo o rigor desnecessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deveraacute ser severamente

reprimido pela leirdquo22

20 Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrgt TSE-REspEl nordm 18047 de 2992000 rel Min Fernando Neves da Silva Acesso em 16 set 2011 21 Disponiacutevel em lthttpwwwmcceorgbrsitesdefaultfilescartajuristaspdfgt Acesso em 3 jul 2011 22 Disponiacutevel em lthttppfdcpgrmpfgovbratuacao-e-conteudos-de-apoiolegislacaodireitoshuma nosdeclar_dir_ homem_cidadaopdfgt Acesso em 13 set 2011

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Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos de 1948 diz ldquoToda pessoa

acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocecircncia enquanto natildeo se

comprove legalmente sua culpardquo23

A origem histoacuterica que foi referida teve uma grande importacircncia para se

chegar a um status constitucional conforme eacute citado por Mirabete Existe apenas uma tendecircncia agrave presunccedilatildeo de inocecircncia ou mais precisamente um estado de inocecircncia um estado juriacutedico no qual o acusado eacute inocente ateacute que seja declarado culpado por uma sentenccedila transitada em julgado Por isso a nossa Constituiccedilatildeo Federal natildeo presume a inocecircncia mas declara que ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria (art 5deg LVII) ou seja que o acusado eacute inocente durante o desenvolvimento do processo e seu estado soacute se modifica por uma sentenccedila final que o declare culpado 24

Por fim o princiacutepio da natildeo-culpabilidade visa a proteccedilatildeo do reacuteu para que

este tenha um julgamento justo devendo ser provada sua verdadeira culpa antes

que seja considerado culpado

23 Disponiacutevel em lthttpwwwagugovbrsistemassiteTemplateImagemTextoThumbaspxidConteu do=113927ampordenacao=1ampid_site=4922gt Acesso em 12 set 2011 24 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252

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5 CONCLUSAtildeO Apoacutes as anaacutelises da doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncias pertinentes a este

trabalho verifica-se que a Lei Complementar nordm 1352010 ao instituir nova hipoacutetese

de inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado esta em pleno conflito com o princiacutepio da natildeo-culpabilidade insculpido no

artigo 5ordm inciso LVII da Constituiccedilatildeo Federal o que torna esta nova hipoacutetese

absolutamente inconstitucional

O objetivo da Lei Complementar nordm 1352010 eacute o de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos para que os criteacuterios de inelegibilidades sejam mais

rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos Inicialmente eacute compreensiacutevel a

preocupaccedilatildeo de qualificar o perfil dos candidatos a cargos eletivos atraveacutes da vida

pregressa isto significa querer se representar por candidatos idocircneos

Ocorre que eacute necessaacuterio impor tantas restriccedilotildees para que o cidadatildeo possa

concorrer a determinado pleito natildeo eacute mais correto permitir que o proacuteprio povo

detentor soberano do poder para escolher seus representantes defina seus criteacuterios

de escolha

Quanto ao aspecto juriacutedico vejamos que o legislativo ao criar novas hipoacuteteses

de inelegibilidade deve-se atentar para as garantias jaacute consagradas em nosso

ordenamento principalmente quando esta garantia esta insculpida na Constituiccedilatildeo

Federal garantia esta referente ao principio da natildeo-culpabilidade que reza que

ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

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condenatoacuteria trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute

considerar o indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila

Ocorre que a criaccedilatildeo da Lei Complementar nordm 1352010 nasceu conflitante

com a Constituiccedilatildeo Federal em 2 aspectos primordiais primeiro a natildeo observacircncia

do princiacutepio da anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo

Federal pacificado pela Accedilatildeo Declaratoacuteria de Inconstitucionalidade nordm 3685

afirmando que deve-se respeitar ao principio da anualidade e segundo a

inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado

O segundo conflito origina-se diante da garantia constitucional do princiacutepio da

presunccedilatildeo da natildeo-culpabilidade o qual disciplina que somente poderaacute ser

considerado culpado o acusado de determinado crime quando ocorrer o tracircnsito em

julgado da decisatildeo

Portanto temos que uma decisatildeo de um oacutergatildeo colegiado quando recorriacutevel

ainda natildeo eacute o momento que se consumativo da culpabilidade do acusado pois natildeo

podemos antecipar a puniccedilatildeo de um cidadatildeo com a perda de algum direito pelo

simples fato de estar respondendo a algum processo

A aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre teraacute como pressuposto o

exame da Constituiccedilatildeo Federal que estabelece o princiacutepio da natildeo-culpabilidade

tambeacutem chamado de princiacutepio da presunccedilatildeo de inocecircncia que eacute uma verdadeira

garantia constitucional do indiviacuteduo contra o Estado Portanto deve-se respeitar este

princiacutepio basilar do Estado Democraacutetico de Direito nos mais diferentes segmentos

devendo qualquer Lei abster-se de considerar culpado aquele que ainda natildeo teve

sua decisatildeo transitada em julgado

Assim a Lei Complementar nordm 1352010 eacute contraacuterio ao disposto no texto

constitucional pois de forma antecipada retira do cidadatildeo o direito de disputar ao

pleito de forma igualitaacuteria bem como retira do povo um de seus maiores direitos o

de poder escolher seus representantes

Portanto para fortalecimento do Estado Democraacutetico de Direito se faz

necessaacuterio que as garantias constitucionais prevaleccedilam com isto deve-se

preponderar a presunccedilatildeo de natildeo culpabilidade ateacute o tracircnsito em julgado de da

sentenccedila condenatoacuteria

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REFEREcircNCIAS BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicao_ConstituiccedilaoCompiladohtmgt Acesso em 2 jun 2011 BRASIL Tribunal Superior Eleitoral Coacutedigo eleitoral Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrinternetjurisprudenciacodigo_eleitoralcodigo_eleitoralhtmlgt Acesso em 5 mai 2011 BRASIL Supremo Tribunal Federal Jurisprudecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudenciapesquisarJurisprudenciaaspgt Acesso em 15 mai 2011 BRASIL Projeto de Lei Complementar nordm 518 de 17 de setembro de 2009 Altera a Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 que estabelece de acordo com o sect 9ordm do art 14 da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias para incluir hipoacuteteses de inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no exerciacutecio do mandato Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbrsfatividademateriadetalhesaspp_cod_mate=96850gt Acesso em 19 mai 2011

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BRASIL Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 Estabelece de acordo com o art 14 sect 9ordm da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03LeisLCPLcp64htmgt Acesso em 15 mai 2011 COSTA Adriano Soares Instituiccedilotildees de Direito Eleitoral Ed Del Rey 2006 DI PIETRO Maria Sylvia Zanella Direito Administrativo 9 Ed Satildeo Paulo Atlas 1998 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131 LEAL Saul Tourinho Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt MELLO Celso Antonio Bandeira Curso de Direito Administrativo 24 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2007 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 ed Satildeo Paulo Atlas 2006 Movimento de Combate agrave Corrupccedilatildeo Disponiacutevel em ltwwwmcceorgbrgt Acesso em 3 jul 2011 NERY JUacuteBNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20 PEREIRA Erick Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt Acesso em 30 jun 2011 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2008

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PIRES Maacutercio Rodrigo Kaio Carvalho Abuso do poder poliacutetico nas eleiccedilotildees Jus Navigandi Teresina ano 15 n 2677 30 out 2010 Disponiacutevel em lthttpjusuolcombrrevistatexto17741gt Acesso em 27 jun 2011 RAMAYANA Marcos Direito Eleitoral Impetus Niteroacutei 2006 RESENHA ELEITORAL - Nova Seacuterie v9 n1 (janjun 2002) Disponiacutevel em lt httpwwwtre-scgovbrsiteinstitucionalpublicacoesartigos-doutrinariospublicados- na-resenha-eleitoralresenhasv9-n1-janjun-2002abuso-do-podereconomico- ou-de-autoridadeindexhtmlgt SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006

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beneficiarem a si ou a terceiros pelo abuso do poder econocircmico ou poliacutetico que

forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial

colegiado para a eleiccedilatildeo na qual concorrem ou tenham sido diplomados bem como

para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes

Aqui natildeo se trata de cargo eletivo mas sim de cargos por concurso puacuteblico ou

por provimento em comissatildeo

A finalidade eacute por fim a reeleiccedilatildeo para aqueles que estatildeo em cargos de chefia

do poder executivo que tenham cometido abuso do poder econocircmico ou poliacutetico

Assim dispotildee o artigo 1ordm inciso I aliacutenea ldquoirdquo da Lei Complementar nordm 641990)

os que em estabelecimentos de creacutedito financiamento ou seguro que tenham sido

ou estejam sendo objeto de processo de liquidaccedilatildeo judicial ou extrajudicial hajam

exercido nos 12 (doze) meses anteriores agrave respectiva decretaccedilatildeo cargo ou funccedilatildeo

de direccedilatildeo administraccedilatildeo ou representaccedilatildeo enquanto natildeo forem exonerados de

qualquer responsabilidade

O que a lei busca nesta situaccedilatildeo eacute deixar aquele que administrou os referidos

estabelecimentos fora de qualquer participaccedilatildeo poliacutetica enquanto natildeo forem

apurados todos os fatos que levaram a insolvecircncia

Portanto o maior objetivo desta causa de inelegibilidade eacute assegurar que o

ex-administrado de estabelecimento de creacutedito financiamento ou seguro natildeo venha

a eleger-se a cargo eletivo sem antes ter sido apurada sua participaccedilatildeo para

insolvecircncia

Outras causas de inelegibilidades incluiacutedas pela Lei Complementar nordm

1352010 estatildeo previstas nos incisos j a q da referida Lei

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4 DA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE 41 ORIGEM DA LEI COMPLEMENTAR Nordm 1352010

Com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o Brasil passa a ser um

Estado Democraacutetico de Direito inaugurando uma democracia participativa

Esta democracia participativa permite ao cidadatildeo desde que preenchidos

determinados requisitos dar iniacutecio a um projeto de Lei atraveacutes da chamada Iniciativa

Popular A origem da Lei Complementar nordm 1352010 decorreu do Projeto de Lei nordm

5182009 sob a coordenaccedilatildeo do Movimento de Combate a Corrupccedilatildeo Eleitoral ndash

MCCE que teve iniacutecio em abril de 2008 com o objetivo de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos a finalidade eacute que os criteacuterios de inelegibilidades sejam

mais rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos

Esta Lei Complementar dita que pessoas condenadas por um colegiado

independente do tracircnsito em julgado satildeo inelegiacuteveis portanto podem ter seus

registros de candidaturas negados alem de incluir parlamentares que renunciaram

ao cargo para assim evitar uma possiacutevel abertura de processo por quebra de decoro

ou por desrespeito agrave Constituiccedilatildeo com a finalidade uacutenica de evitar possiacuteveis

puniccedilotildees

A Lei Complementar 1352010 traacutes inuacutemeros confrontos com a Constituiccedilatildeo

Federal sendo dois os mais relevantes primeiro a natildeo observacircncia do princiacutepio da

anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal e segundo

o desrespeito ao princiacutepio da natildeo-culpabilidade tambeacutem estabelecido na

Constituiccedilatildeo federal no artigo 5ordm inciso LVII

Sobre o primeiro ponto que trata da aplicabilidade da Lei Complementar nordm

1352010 para as eleiccedilotildees de 2010 restou soberana a decisatildeo do Supremo

Tribunal Federal ao resolver o conflito afirmando que o artigo 16 da Constituiccedilatildeo

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Federal ao submeter a alteraccedilatildeo legal do processo eleitoral agrave regra da anualidade

constitui uma garantia fundamental para o pleno exerciacutecio de direitos poliacuteticos

Esta pacificaccedilatildeo se deu no julgamento da Accedilatildeo Declaratoacuteria de

Inconstitucionalidade nordm 3685 13 onde atuou como Relatora a Ministra Ellen Gracie

que identificou como uma garantia fundamental do cidadatildeo-eleitor do cidadatildeo-

candidato e dos partidos poliacuteticos o artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal

A Ministra Ellen Gracie utilizou-se de uma analogia com o julgamento da

Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade 939 que teve como relator Ministro Sydnei

Sanches com a garantia da anterioridade tributaacuteria fixada no artigo 150 III b no

sentido de que se o princiacutepio da anterioridade tributaacuteria constitui uma garantia do

cidadatildeo-contribuinte o princiacutepio da anterioridade eleitoral tambeacutem eacute uma garantia do

cidadatildeo do eleitor do candidato e dos partidos poliacuteticos

Desta forma restou consolidado a garantia prevista no artigo 16 da

Constituiccedilatildeo Federal como forma de um devido processo legal eleitoral

O devido processo visa que se atinja uma decisatildeo conforme a Justiccedila

prestigiando a eacutetica da legalidade ressaltando-se que ele possui um duplo

significado de processo necessaacuterio e processo adequado para tanto COMOGLIO

afirma Que as garantias decorrentes do devido processo legal querem dizer natildeo apenas direito a um processo mas a um justo processo compreendendo a correccedilatildeo e efetividade dos instrumentos disponiacuteveis em juiacutezo e a efetividade e adequaccedilatildeo da proacutepria tutela finalrdquo 14

A Constituiccedilatildeo brasileira de 1988 traz a garantia exarada no seu artigo 5ordm

Art 5ordm - () LIV ndash ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal LV ndash aos litigantes em processo judicial e administrativo e aos acusados em geral seratildeo assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa com os meios de recurso a ela inerentes

Sobre o segundo ponto controverso mateacuteria deste trabalho tem o conflito tem

o conflito entre a Lei Complementar nordm 13510 contra uma garantia constitucional

denominado princiacutepio da natildeo-culpabilidade que eacute inseparaacutevel do conceito de

13 Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011 14 Luigi Paolo COMOGLIO Giuridizione e processo nel quadro delle garanzie constituzionali Rivista Trimestrale di Diritto e Procedura Civile 4 p 1070

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democracia A Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5ordm inciso LVII estabelece uma das

maiores garantias dos indiviacuteduos contra o autoritarismo do Estado afirmando que

ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

condenatoacuteriardquo fixando explicitamente o princiacutepio da natildeo-culpabilidade entre os

direitos fundamentais

42 AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EM JULGADO

A Lei Complementar nordm 1352010 em sua aliacutenea ldquoerdquo do inciso I do artigo 2ordm

possui a seguinte redaccedilatildeo e) os que forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial colegiado desde a condenaccedilatildeo ateacute o transcurso do prazo de 8 (oito) anos apoacutes o cumprimento da pena pelos crimes (Redaccedilatildeo dada pela Lei Complementar nordm 135 de 2010)

Esta aliacutenea visa impedir a candidatura de poliacuteticos condenados a partir da

segunda instacircncia e mesmo que natildeo tenha transitado em julgado Ela defende que

haja uma condenaccedilatildeo criminal no entanto deixa de exigir a configuraccedilatildeo do tracircnsito

em julgado do ato decisoacuterio para que ocorra a inelegibilidade A antiga lei previa que

o candidato soacute seria inelegiacutevel se tivesse condenaccedilatildeo definitiva

As alteraccedilotildees da Lei Complementar nordm 1352010 objetiva atender a um senso

comum do eleitorado afirmando que uma pessoa condenada natildeo deve poder ser

votada isto eacute natildeo deve ter mandato Em seus dizeres trata que a inelegibilidade

natildeo pressupotildee culpa formada natildeo deve haver discussatildeo sobre presunccedilatildeo da

inocecircncia Pode haver inelegibilidade por parentesco por ocupar cargo puacuteblico falta

de domiciacutelio eleitoral ou filiaccedilatildeo partidaacuteria causas que natildeo tecircm nada a ver com

condenaccedilatildeo criminal

A contradiccedilatildeo do argumento da Lei Complementar eacute se a Constituiccedilatildeo em

face do princiacutepio da natildeo-culpabilidade admite a cominaccedilatildeo de inelegibilidade para

quem ainda tem recursos pendentes de julgamento

Caso esta hipoacutetese seja admitida temos que um indiviacuteduo que tenha sido

condenado criminalmente em segunda instacircncia e interponha recurso especial ou

extraordinaacuterio para anular o processo caso natildeo consiga uma medida liminar

suspendendo os efeitos ficaria impedido de concorrer na eleiccedilatildeo

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Imagine-se que ao final da accedilatildeo o cidadatildeo que ficou impedido de concorrer

nas eleiccedilotildees obtivesse vitoacuteria em seu recurso obtendo assim a nulidade da accedilatildeo

bem como da decisatildeo que o condenou com ficaria a situaccedilatildeo deste cidadatildeo

O que se quer com a Lei Complementar nordm 1352010 eacute instituir um moralismo

eleitoral que se sobrepotildee a Constituiccedilatildeo Federal e seu principio constitucional da

natildeo-culpabilidade que eacute a garantia individual contra o Estado

Outro argumento utilizado pelos defensores da constitucionalidade da Lei

Complementar nordm 1352010 satildeo as prisotildees cautelares e que no final o sujeito

acaba sebdo absolvido Ora cabe lembrar-lhes que a prisatildeo cautelar natildeo eacute

antecipaccedilatildeo de pena cumpre ela uma funccedilatildeo processual clara e limitada agrave garantia

da ordem puacuteblica da ordem econocircmica por conveniecircncia da instruccedilatildeo criminal ou

para assegurar a aplicaccedilatildeo da lei penal quando houver prova da existecircncia do crime

e indiacutecio suficiente de autoria

Portanto temos que o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees enquanto natildeo

sobrevier decisatildeo judicial transitada em julgado

O proacuteprio Supremo na Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental

144 jaacute decidiu natildeo barrar candidaturas sem condenaccedilatildeo transitada em julgado

A Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental 144 15 foi votada

em agosto de 2008 antes das eleiccedilotildees municipais Na ocasiatildeo o Supremo Tribunal

Federal decidiu que natildeo poderiam ser barradas candidaturas de poliacuteticos

condenados na primeira instacircncia por conta da presunccedilatildeo de inocecircncia

Em 6 de agosto de 2008 haacute menos de trecircs anos o Supremo Tribunal Federal

julgou improcedente a Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental nordm

144 ajuizada pela Associaccedilatildeo dos Magistrados Brasileiros em voto do ministro

Celso de Mello vencidos os ministros Carlos Ayres e Joaquim Barbosa exatamente

porque O postulado consagrador da garantia de inocecircncia irradia os seus efeitos para aleacutem dos limites dos processos penais de natureza condenatoacuteria impedindo desse modo que situaccedilotildees processuais anda natildeo definidas por sentenccedilas transitadas em julgado provoquem em decorrecircncia das exigecircncias de probidade administrativa e demoralidade a que se refere o sect 9ordm do artigo 14 da Coinstituiccedilatildeo Federal a inelegibilidade dos cidadatildeos ou obstem candidaturas para mandatos eletivos

15Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011

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Portanto ficou definido que Lei Complementar sendo editada para casos de

inelegibilidades esta deveraacute respeitar o princiacutepio da natildeo-culpabilidade Ocorre que

foi editada a Lei Complementar nordm 1352010 que atendeu aos reclamos populares

mas preferiu a um soacute tempo violar a Constituiccedilatildeo Federal e desrespeitar a recente

decisatildeo do Supremo Tribunal Federal mesmo que na eacutepoacuteca desta decisatildeo natildeo

havia lei formal para tal situaccedilatildeo

43 PRINCIacutePIO CONSTITUCIONAL DA NAtildeO-CULPABILIDADE

O princiacutepio da natildeo-culpabilidade eacute direito fundamental previsto na

Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5deg inciso LVII ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute

o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

Isto eacute enquanto natildeo sobrevier uma decisatildeo judicial condenatoacuteria transitada

em julgado o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees em seu patrimocircnio ou em sua

liberdade Caso sobrevenha duacutevida quanto a culpabilidade esta resolveraacute sempre

em favor do reacuteu ou seja aplicando-se o princiacutepio in duacutebio pro reo

Assim disciplina Nelson Nery Juacutenior sobre o princiacutepio da natildeo-culpabilidade ldquoO inteacuterprete deve buscar a aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre tendo como pressuposto o exame da Constituiccedilatildeo Federal Depois sim deve consultar a legislaccedilatildeo infraconstitucional a respeito do temardquo 16

Sendo assim a Constituiccedilatildeo Federal no capiacutetulo sobre os Direitos e Deveres

Individuais e Coletivos em seu artigo 5ordm inciso LVII afirma que ldquoningueacutem seraacute

considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute considerar o

indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila A doutrina e a

jurisprudecircncia aclamam este princiacutepio como vaacuterios nomes como princiacutepio da

presunccedilatildeo de inocecircncia princiacutepio da natildeo-culpabilidade ou simplesmente princiacutepio da

inocecircncia

Joseacute Afonso da Silva em seu livro Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo

disciplina assim esta garantia A norma constitucional do inciso LVII agora sob nosso exame garante a presunccedilatildeo de inocecircncia por meio de um enunciado negativo universal lsquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria Usa-se de uma forma

16 NERY JUacuteNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20

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negativa para outorgar uma garantia positiva Na verdade o texto brasileiro natildeo significa outra coisa senatildeo que fica assegurada a todos a presunccedilatildeo de inocecircncia ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria O tracircnsito em julgado se daacute quando a decisatildeo natildeo comporta mais recurso ordinaacuterio especial ou extraordinaacuterio 17

Nesse sentido o indiviacuteduo acusado natildeo pode ser presumidamente culpado

mas sim inocente Tal princiacutepio visa a tutelar a liberdade pessoal de modo que o

Estado nos mais diferentes segmentos deve abster-se de considerar culpado

aquele que ainda natildeo foi submetido agrave definitividade da atuaccedilatildeo jurisdicional Em se tratando de suspensatildeo dos direitos poliacuteticos a Constituiccedilatildeo Federal

garante que a suspensatildeo somente se daraacute por ldquocondenaccedilatildeo criminal transitada em

julgado enquanto durarem seus efeitosrdquo

Julgamento neste sentido REPRESENTACcedilAtildeO SUSPENSAtildeO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS EM VIRTUDE DE SENTENCcedilA PENAL CONDENATOacuteRIA TRANSITADA EM JULGADO AUTO-APLICABILIDADE DOS ARTIGOS 14 sect 3ordm II E 15 III DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL PROCEDEcircNCIA A suspensatildeo dos direitos poliacuteticos do condenado independe de lei regulamentadora bem como de processo especial de cogniccedilatildeo e de anaacutelise de meacuterito para a execuccedilatildeo da medida no juiacutezo eleitoral posto natildeo se tratar de sanccedilatildeo penal mas de efeito natildeo-penal de condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado e decorrente de mandamento constitucional Comprovado o tracircnsito em julgado da sentenccedila penal condenatoacuteria decreta-se automaticamente a suspensatildeo dos direitos poliacuteticos ativo e passivo do representado ou seja o direito de votar e ser votado com a consequumlente exclusatildeo de seu nome da folha de votaccedilatildeo e declaraccedilatildeo de sua inelegibilidade 18

Logo infere-se que a condenaccedilatildeo criminal sem o tracircnsito em julgado natildeo

desqualifica o condenado a votar e a eventualmente concorrer a qualquer cargo

eletivo

O Colendo Tribunal Superior Eleitoral enfrentou esta questatildeo ao apreciar

pedido de registro de candidatura valendo registrar os seguintes julgados RECURSO ESPECIAL RECEBIDO COMO ORDINAacuteRIO REGISTRO DE CANDIDATURA DEFERIMENTO INELEGIBILIDADE NAtildeO-OCORREcircNCIA Condenaccedilatildeo criminal sem tracircnsito em julgado natildeo eacute apta a ensejar inelegibilidade (precedente do TSE acoacuterdatildeo 536 rel Min Fernando Neves publicado em sessatildeo de 882002) Recurso natildeo provido 19

17 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006 p 155 18 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbrgt TRESCndashAcoacuterdatildeo nordm 13324 de 071094 rel Juiz Nilson B Filho Acesso em 16 set 2011 19 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbr gt TSE- REspEl nordm 20247 de 19902 rel Min Sepuacutelveda Pertence Acesso em 16 set 2011

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INELEGIBILIDADE CONDENACcedilAtildeO CRIMINAL NAtildeO TRANSITADA EM JULGADO CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA ART 14 sect 9deg SUacuteMULA Ndeg 13 DO TSE 1 A existecircncia de sentenccedila criminal condenatoacuteria sem o tracircnsito em julgado natildeo eacute suficiente para ocasionar inelegibilidade 2 O art 14 sect 9deg da Constituiccedilatildeo natildeo eacute auto-aplicaacutevel 3 Necessidade de lei complementar estabelecendo os casos em que a vida pregressa do candidato poderaacute levar agrave sua inelegibilidade bem como os prazos de sua cessaccedilatildeo 4 Recurso provido para julgar improcedente a impugnaccedilatildeo e deferir o registro da candidatura 20

Insculpido na Constituiccedilatildeo Federal o principio da natildeo-culpabilidade deve ser

respeitado por toda lei infraconstitucional alguns doutrinadores como Aristides

Junqueira e Antocircnio Bandeira de Mello em carta publica no sitio do Movimento de

Combate agrave Corrupccedilatildeo Eleitoral21 entendem que neste presente caso natildeo deve ser

aplicado o princiacutepio da natildeo-culpabilidade a inelegibilidade pois esta natildeo eacute pena

mas medida preventiva

Estes juristas se acham alicerccedilados pelo que expressamente estatui o sect 9deg do

artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal em que Lei complementar estabeleceraacute outros

casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim de proteger a probidade

administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato considerada a vida

pregressa do candidato afirmam que uma vez que a proacutepria Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica expressamente permite que o legislador estipule quais elementos da vida

pregressa dos candidatos podem afastaacute-los dos pleitos

Independente desta posiccedilatildeo minoritaacuteria encontra-se que o princiacutepio da natildeo-

culpabilidade eacute prevista em diversos ordenamentos juriacutedicos e tratados como se

veraacute a seguir

Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo da Franccedila de 1789 o art

9da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) de 1948 dispotildee ldquoTodo acusado eacute

considerado inocente ateacute ser declarado culpado e se julgar indispensaacutevel prendecirc-lo

todo o rigor desnecessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deveraacute ser severamente

reprimido pela leirdquo22

20 Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrgt TSE-REspEl nordm 18047 de 2992000 rel Min Fernando Neves da Silva Acesso em 16 set 2011 21 Disponiacutevel em lthttpwwwmcceorgbrsitesdefaultfilescartajuristaspdfgt Acesso em 3 jul 2011 22 Disponiacutevel em lthttppfdcpgrmpfgovbratuacao-e-conteudos-de-apoiolegislacaodireitoshuma nosdeclar_dir_ homem_cidadaopdfgt Acesso em 13 set 2011

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Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos de 1948 diz ldquoToda pessoa

acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocecircncia enquanto natildeo se

comprove legalmente sua culpardquo23

A origem histoacuterica que foi referida teve uma grande importacircncia para se

chegar a um status constitucional conforme eacute citado por Mirabete Existe apenas uma tendecircncia agrave presunccedilatildeo de inocecircncia ou mais precisamente um estado de inocecircncia um estado juriacutedico no qual o acusado eacute inocente ateacute que seja declarado culpado por uma sentenccedila transitada em julgado Por isso a nossa Constituiccedilatildeo Federal natildeo presume a inocecircncia mas declara que ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria (art 5deg LVII) ou seja que o acusado eacute inocente durante o desenvolvimento do processo e seu estado soacute se modifica por uma sentenccedila final que o declare culpado 24

Por fim o princiacutepio da natildeo-culpabilidade visa a proteccedilatildeo do reacuteu para que

este tenha um julgamento justo devendo ser provada sua verdadeira culpa antes

que seja considerado culpado

23 Disponiacutevel em lthttpwwwagugovbrsistemassiteTemplateImagemTextoThumbaspxidConteu do=113927ampordenacao=1ampid_site=4922gt Acesso em 12 set 2011 24 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252

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5 CONCLUSAtildeO Apoacutes as anaacutelises da doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncias pertinentes a este

trabalho verifica-se que a Lei Complementar nordm 1352010 ao instituir nova hipoacutetese

de inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado esta em pleno conflito com o princiacutepio da natildeo-culpabilidade insculpido no

artigo 5ordm inciso LVII da Constituiccedilatildeo Federal o que torna esta nova hipoacutetese

absolutamente inconstitucional

O objetivo da Lei Complementar nordm 1352010 eacute o de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos para que os criteacuterios de inelegibilidades sejam mais

rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos Inicialmente eacute compreensiacutevel a

preocupaccedilatildeo de qualificar o perfil dos candidatos a cargos eletivos atraveacutes da vida

pregressa isto significa querer se representar por candidatos idocircneos

Ocorre que eacute necessaacuterio impor tantas restriccedilotildees para que o cidadatildeo possa

concorrer a determinado pleito natildeo eacute mais correto permitir que o proacuteprio povo

detentor soberano do poder para escolher seus representantes defina seus criteacuterios

de escolha

Quanto ao aspecto juriacutedico vejamos que o legislativo ao criar novas hipoacuteteses

de inelegibilidade deve-se atentar para as garantias jaacute consagradas em nosso

ordenamento principalmente quando esta garantia esta insculpida na Constituiccedilatildeo

Federal garantia esta referente ao principio da natildeo-culpabilidade que reza que

ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

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condenatoacuteria trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute

considerar o indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila

Ocorre que a criaccedilatildeo da Lei Complementar nordm 1352010 nasceu conflitante

com a Constituiccedilatildeo Federal em 2 aspectos primordiais primeiro a natildeo observacircncia

do princiacutepio da anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo

Federal pacificado pela Accedilatildeo Declaratoacuteria de Inconstitucionalidade nordm 3685

afirmando que deve-se respeitar ao principio da anualidade e segundo a

inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado

O segundo conflito origina-se diante da garantia constitucional do princiacutepio da

presunccedilatildeo da natildeo-culpabilidade o qual disciplina que somente poderaacute ser

considerado culpado o acusado de determinado crime quando ocorrer o tracircnsito em

julgado da decisatildeo

Portanto temos que uma decisatildeo de um oacutergatildeo colegiado quando recorriacutevel

ainda natildeo eacute o momento que se consumativo da culpabilidade do acusado pois natildeo

podemos antecipar a puniccedilatildeo de um cidadatildeo com a perda de algum direito pelo

simples fato de estar respondendo a algum processo

A aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre teraacute como pressuposto o

exame da Constituiccedilatildeo Federal que estabelece o princiacutepio da natildeo-culpabilidade

tambeacutem chamado de princiacutepio da presunccedilatildeo de inocecircncia que eacute uma verdadeira

garantia constitucional do indiviacuteduo contra o Estado Portanto deve-se respeitar este

princiacutepio basilar do Estado Democraacutetico de Direito nos mais diferentes segmentos

devendo qualquer Lei abster-se de considerar culpado aquele que ainda natildeo teve

sua decisatildeo transitada em julgado

Assim a Lei Complementar nordm 1352010 eacute contraacuterio ao disposto no texto

constitucional pois de forma antecipada retira do cidadatildeo o direito de disputar ao

pleito de forma igualitaacuteria bem como retira do povo um de seus maiores direitos o

de poder escolher seus representantes

Portanto para fortalecimento do Estado Democraacutetico de Direito se faz

necessaacuterio que as garantias constitucionais prevaleccedilam com isto deve-se

preponderar a presunccedilatildeo de natildeo culpabilidade ateacute o tracircnsito em julgado de da

sentenccedila condenatoacuteria

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REFEREcircNCIAS BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicao_ConstituiccedilaoCompiladohtmgt Acesso em 2 jun 2011 BRASIL Tribunal Superior Eleitoral Coacutedigo eleitoral Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrinternetjurisprudenciacodigo_eleitoralcodigo_eleitoralhtmlgt Acesso em 5 mai 2011 BRASIL Supremo Tribunal Federal Jurisprudecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudenciapesquisarJurisprudenciaaspgt Acesso em 15 mai 2011 BRASIL Projeto de Lei Complementar nordm 518 de 17 de setembro de 2009 Altera a Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 que estabelece de acordo com o sect 9ordm do art 14 da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias para incluir hipoacuteteses de inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no exerciacutecio do mandato Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbrsfatividademateriadetalhesaspp_cod_mate=96850gt Acesso em 19 mai 2011

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BRASIL Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 Estabelece de acordo com o art 14 sect 9ordm da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03LeisLCPLcp64htmgt Acesso em 15 mai 2011 COSTA Adriano Soares Instituiccedilotildees de Direito Eleitoral Ed Del Rey 2006 DI PIETRO Maria Sylvia Zanella Direito Administrativo 9 Ed Satildeo Paulo Atlas 1998 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131 LEAL Saul Tourinho Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt MELLO Celso Antonio Bandeira Curso de Direito Administrativo 24 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2007 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 ed Satildeo Paulo Atlas 2006 Movimento de Combate agrave Corrupccedilatildeo Disponiacutevel em ltwwwmcceorgbrgt Acesso em 3 jul 2011 NERY JUacuteBNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20 PEREIRA Erick Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt Acesso em 30 jun 2011 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2008

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PIRES Maacutercio Rodrigo Kaio Carvalho Abuso do poder poliacutetico nas eleiccedilotildees Jus Navigandi Teresina ano 15 n 2677 30 out 2010 Disponiacutevel em lthttpjusuolcombrrevistatexto17741gt Acesso em 27 jun 2011 RAMAYANA Marcos Direito Eleitoral Impetus Niteroacutei 2006 RESENHA ELEITORAL - Nova Seacuterie v9 n1 (janjun 2002) Disponiacutevel em lt httpwwwtre-scgovbrsiteinstitucionalpublicacoesartigos-doutrinariospublicados- na-resenha-eleitoralresenhasv9-n1-janjun-2002abuso-do-podereconomico- ou-de-autoridadeindexhtmlgt SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006

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4 DA NOVA HIPOacuteTESE DE INELEGIBILIDADE 41 ORIGEM DA LEI COMPLEMENTAR Nordm 1352010

Com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o Brasil passa a ser um

Estado Democraacutetico de Direito inaugurando uma democracia participativa

Esta democracia participativa permite ao cidadatildeo desde que preenchidos

determinados requisitos dar iniacutecio a um projeto de Lei atraveacutes da chamada Iniciativa

Popular A origem da Lei Complementar nordm 1352010 decorreu do Projeto de Lei nordm

5182009 sob a coordenaccedilatildeo do Movimento de Combate a Corrupccedilatildeo Eleitoral ndash

MCCE que teve iniacutecio em abril de 2008 com o objetivo de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos a finalidade eacute que os criteacuterios de inelegibilidades sejam

mais rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos

Esta Lei Complementar dita que pessoas condenadas por um colegiado

independente do tracircnsito em julgado satildeo inelegiacuteveis portanto podem ter seus

registros de candidaturas negados alem de incluir parlamentares que renunciaram

ao cargo para assim evitar uma possiacutevel abertura de processo por quebra de decoro

ou por desrespeito agrave Constituiccedilatildeo com a finalidade uacutenica de evitar possiacuteveis

puniccedilotildees

A Lei Complementar 1352010 traacutes inuacutemeros confrontos com a Constituiccedilatildeo

Federal sendo dois os mais relevantes primeiro a natildeo observacircncia do princiacutepio da

anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal e segundo

o desrespeito ao princiacutepio da natildeo-culpabilidade tambeacutem estabelecido na

Constituiccedilatildeo federal no artigo 5ordm inciso LVII

Sobre o primeiro ponto que trata da aplicabilidade da Lei Complementar nordm

1352010 para as eleiccedilotildees de 2010 restou soberana a decisatildeo do Supremo

Tribunal Federal ao resolver o conflito afirmando que o artigo 16 da Constituiccedilatildeo

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Federal ao submeter a alteraccedilatildeo legal do processo eleitoral agrave regra da anualidade

constitui uma garantia fundamental para o pleno exerciacutecio de direitos poliacuteticos

Esta pacificaccedilatildeo se deu no julgamento da Accedilatildeo Declaratoacuteria de

Inconstitucionalidade nordm 3685 13 onde atuou como Relatora a Ministra Ellen Gracie

que identificou como uma garantia fundamental do cidadatildeo-eleitor do cidadatildeo-

candidato e dos partidos poliacuteticos o artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal

A Ministra Ellen Gracie utilizou-se de uma analogia com o julgamento da

Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade 939 que teve como relator Ministro Sydnei

Sanches com a garantia da anterioridade tributaacuteria fixada no artigo 150 III b no

sentido de que se o princiacutepio da anterioridade tributaacuteria constitui uma garantia do

cidadatildeo-contribuinte o princiacutepio da anterioridade eleitoral tambeacutem eacute uma garantia do

cidadatildeo do eleitor do candidato e dos partidos poliacuteticos

Desta forma restou consolidado a garantia prevista no artigo 16 da

Constituiccedilatildeo Federal como forma de um devido processo legal eleitoral

O devido processo visa que se atinja uma decisatildeo conforme a Justiccedila

prestigiando a eacutetica da legalidade ressaltando-se que ele possui um duplo

significado de processo necessaacuterio e processo adequado para tanto COMOGLIO

afirma Que as garantias decorrentes do devido processo legal querem dizer natildeo apenas direito a um processo mas a um justo processo compreendendo a correccedilatildeo e efetividade dos instrumentos disponiacuteveis em juiacutezo e a efetividade e adequaccedilatildeo da proacutepria tutela finalrdquo 14

A Constituiccedilatildeo brasileira de 1988 traz a garantia exarada no seu artigo 5ordm

Art 5ordm - () LIV ndash ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal LV ndash aos litigantes em processo judicial e administrativo e aos acusados em geral seratildeo assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa com os meios de recurso a ela inerentes

Sobre o segundo ponto controverso mateacuteria deste trabalho tem o conflito tem

o conflito entre a Lei Complementar nordm 13510 contra uma garantia constitucional

denominado princiacutepio da natildeo-culpabilidade que eacute inseparaacutevel do conceito de

13 Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011 14 Luigi Paolo COMOGLIO Giuridizione e processo nel quadro delle garanzie constituzionali Rivista Trimestrale di Diritto e Procedura Civile 4 p 1070

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democracia A Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5ordm inciso LVII estabelece uma das

maiores garantias dos indiviacuteduos contra o autoritarismo do Estado afirmando que

ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

condenatoacuteriardquo fixando explicitamente o princiacutepio da natildeo-culpabilidade entre os

direitos fundamentais

42 AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EM JULGADO

A Lei Complementar nordm 1352010 em sua aliacutenea ldquoerdquo do inciso I do artigo 2ordm

possui a seguinte redaccedilatildeo e) os que forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial colegiado desde a condenaccedilatildeo ateacute o transcurso do prazo de 8 (oito) anos apoacutes o cumprimento da pena pelos crimes (Redaccedilatildeo dada pela Lei Complementar nordm 135 de 2010)

Esta aliacutenea visa impedir a candidatura de poliacuteticos condenados a partir da

segunda instacircncia e mesmo que natildeo tenha transitado em julgado Ela defende que

haja uma condenaccedilatildeo criminal no entanto deixa de exigir a configuraccedilatildeo do tracircnsito

em julgado do ato decisoacuterio para que ocorra a inelegibilidade A antiga lei previa que

o candidato soacute seria inelegiacutevel se tivesse condenaccedilatildeo definitiva

As alteraccedilotildees da Lei Complementar nordm 1352010 objetiva atender a um senso

comum do eleitorado afirmando que uma pessoa condenada natildeo deve poder ser

votada isto eacute natildeo deve ter mandato Em seus dizeres trata que a inelegibilidade

natildeo pressupotildee culpa formada natildeo deve haver discussatildeo sobre presunccedilatildeo da

inocecircncia Pode haver inelegibilidade por parentesco por ocupar cargo puacuteblico falta

de domiciacutelio eleitoral ou filiaccedilatildeo partidaacuteria causas que natildeo tecircm nada a ver com

condenaccedilatildeo criminal

A contradiccedilatildeo do argumento da Lei Complementar eacute se a Constituiccedilatildeo em

face do princiacutepio da natildeo-culpabilidade admite a cominaccedilatildeo de inelegibilidade para

quem ainda tem recursos pendentes de julgamento

Caso esta hipoacutetese seja admitida temos que um indiviacuteduo que tenha sido

condenado criminalmente em segunda instacircncia e interponha recurso especial ou

extraordinaacuterio para anular o processo caso natildeo consiga uma medida liminar

suspendendo os efeitos ficaria impedido de concorrer na eleiccedilatildeo

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Imagine-se que ao final da accedilatildeo o cidadatildeo que ficou impedido de concorrer

nas eleiccedilotildees obtivesse vitoacuteria em seu recurso obtendo assim a nulidade da accedilatildeo

bem como da decisatildeo que o condenou com ficaria a situaccedilatildeo deste cidadatildeo

O que se quer com a Lei Complementar nordm 1352010 eacute instituir um moralismo

eleitoral que se sobrepotildee a Constituiccedilatildeo Federal e seu principio constitucional da

natildeo-culpabilidade que eacute a garantia individual contra o Estado

Outro argumento utilizado pelos defensores da constitucionalidade da Lei

Complementar nordm 1352010 satildeo as prisotildees cautelares e que no final o sujeito

acaba sebdo absolvido Ora cabe lembrar-lhes que a prisatildeo cautelar natildeo eacute

antecipaccedilatildeo de pena cumpre ela uma funccedilatildeo processual clara e limitada agrave garantia

da ordem puacuteblica da ordem econocircmica por conveniecircncia da instruccedilatildeo criminal ou

para assegurar a aplicaccedilatildeo da lei penal quando houver prova da existecircncia do crime

e indiacutecio suficiente de autoria

Portanto temos que o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees enquanto natildeo

sobrevier decisatildeo judicial transitada em julgado

O proacuteprio Supremo na Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental

144 jaacute decidiu natildeo barrar candidaturas sem condenaccedilatildeo transitada em julgado

A Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental 144 15 foi votada

em agosto de 2008 antes das eleiccedilotildees municipais Na ocasiatildeo o Supremo Tribunal

Federal decidiu que natildeo poderiam ser barradas candidaturas de poliacuteticos

condenados na primeira instacircncia por conta da presunccedilatildeo de inocecircncia

Em 6 de agosto de 2008 haacute menos de trecircs anos o Supremo Tribunal Federal

julgou improcedente a Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental nordm

144 ajuizada pela Associaccedilatildeo dos Magistrados Brasileiros em voto do ministro

Celso de Mello vencidos os ministros Carlos Ayres e Joaquim Barbosa exatamente

porque O postulado consagrador da garantia de inocecircncia irradia os seus efeitos para aleacutem dos limites dos processos penais de natureza condenatoacuteria impedindo desse modo que situaccedilotildees processuais anda natildeo definidas por sentenccedilas transitadas em julgado provoquem em decorrecircncia das exigecircncias de probidade administrativa e demoralidade a que se refere o sect 9ordm do artigo 14 da Coinstituiccedilatildeo Federal a inelegibilidade dos cidadatildeos ou obstem candidaturas para mandatos eletivos

15Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011

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Portanto ficou definido que Lei Complementar sendo editada para casos de

inelegibilidades esta deveraacute respeitar o princiacutepio da natildeo-culpabilidade Ocorre que

foi editada a Lei Complementar nordm 1352010 que atendeu aos reclamos populares

mas preferiu a um soacute tempo violar a Constituiccedilatildeo Federal e desrespeitar a recente

decisatildeo do Supremo Tribunal Federal mesmo que na eacutepoacuteca desta decisatildeo natildeo

havia lei formal para tal situaccedilatildeo

43 PRINCIacutePIO CONSTITUCIONAL DA NAtildeO-CULPABILIDADE

O princiacutepio da natildeo-culpabilidade eacute direito fundamental previsto na

Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5deg inciso LVII ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute

o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

Isto eacute enquanto natildeo sobrevier uma decisatildeo judicial condenatoacuteria transitada

em julgado o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees em seu patrimocircnio ou em sua

liberdade Caso sobrevenha duacutevida quanto a culpabilidade esta resolveraacute sempre

em favor do reacuteu ou seja aplicando-se o princiacutepio in duacutebio pro reo

Assim disciplina Nelson Nery Juacutenior sobre o princiacutepio da natildeo-culpabilidade ldquoO inteacuterprete deve buscar a aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre tendo como pressuposto o exame da Constituiccedilatildeo Federal Depois sim deve consultar a legislaccedilatildeo infraconstitucional a respeito do temardquo 16

Sendo assim a Constituiccedilatildeo Federal no capiacutetulo sobre os Direitos e Deveres

Individuais e Coletivos em seu artigo 5ordm inciso LVII afirma que ldquoningueacutem seraacute

considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute considerar o

indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila A doutrina e a

jurisprudecircncia aclamam este princiacutepio como vaacuterios nomes como princiacutepio da

presunccedilatildeo de inocecircncia princiacutepio da natildeo-culpabilidade ou simplesmente princiacutepio da

inocecircncia

Joseacute Afonso da Silva em seu livro Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo

disciplina assim esta garantia A norma constitucional do inciso LVII agora sob nosso exame garante a presunccedilatildeo de inocecircncia por meio de um enunciado negativo universal lsquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria Usa-se de uma forma

16 NERY JUacuteNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20

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negativa para outorgar uma garantia positiva Na verdade o texto brasileiro natildeo significa outra coisa senatildeo que fica assegurada a todos a presunccedilatildeo de inocecircncia ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria O tracircnsito em julgado se daacute quando a decisatildeo natildeo comporta mais recurso ordinaacuterio especial ou extraordinaacuterio 17

Nesse sentido o indiviacuteduo acusado natildeo pode ser presumidamente culpado

mas sim inocente Tal princiacutepio visa a tutelar a liberdade pessoal de modo que o

Estado nos mais diferentes segmentos deve abster-se de considerar culpado

aquele que ainda natildeo foi submetido agrave definitividade da atuaccedilatildeo jurisdicional Em se tratando de suspensatildeo dos direitos poliacuteticos a Constituiccedilatildeo Federal

garante que a suspensatildeo somente se daraacute por ldquocondenaccedilatildeo criminal transitada em

julgado enquanto durarem seus efeitosrdquo

Julgamento neste sentido REPRESENTACcedilAtildeO SUSPENSAtildeO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS EM VIRTUDE DE SENTENCcedilA PENAL CONDENATOacuteRIA TRANSITADA EM JULGADO AUTO-APLICABILIDADE DOS ARTIGOS 14 sect 3ordm II E 15 III DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL PROCEDEcircNCIA A suspensatildeo dos direitos poliacuteticos do condenado independe de lei regulamentadora bem como de processo especial de cogniccedilatildeo e de anaacutelise de meacuterito para a execuccedilatildeo da medida no juiacutezo eleitoral posto natildeo se tratar de sanccedilatildeo penal mas de efeito natildeo-penal de condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado e decorrente de mandamento constitucional Comprovado o tracircnsito em julgado da sentenccedila penal condenatoacuteria decreta-se automaticamente a suspensatildeo dos direitos poliacuteticos ativo e passivo do representado ou seja o direito de votar e ser votado com a consequumlente exclusatildeo de seu nome da folha de votaccedilatildeo e declaraccedilatildeo de sua inelegibilidade 18

Logo infere-se que a condenaccedilatildeo criminal sem o tracircnsito em julgado natildeo

desqualifica o condenado a votar e a eventualmente concorrer a qualquer cargo

eletivo

O Colendo Tribunal Superior Eleitoral enfrentou esta questatildeo ao apreciar

pedido de registro de candidatura valendo registrar os seguintes julgados RECURSO ESPECIAL RECEBIDO COMO ORDINAacuteRIO REGISTRO DE CANDIDATURA DEFERIMENTO INELEGIBILIDADE NAtildeO-OCORREcircNCIA Condenaccedilatildeo criminal sem tracircnsito em julgado natildeo eacute apta a ensejar inelegibilidade (precedente do TSE acoacuterdatildeo 536 rel Min Fernando Neves publicado em sessatildeo de 882002) Recurso natildeo provido 19

17 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006 p 155 18 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbrgt TRESCndashAcoacuterdatildeo nordm 13324 de 071094 rel Juiz Nilson B Filho Acesso em 16 set 2011 19 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbr gt TSE- REspEl nordm 20247 de 19902 rel Min Sepuacutelveda Pertence Acesso em 16 set 2011

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INELEGIBILIDADE CONDENACcedilAtildeO CRIMINAL NAtildeO TRANSITADA EM JULGADO CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA ART 14 sect 9deg SUacuteMULA Ndeg 13 DO TSE 1 A existecircncia de sentenccedila criminal condenatoacuteria sem o tracircnsito em julgado natildeo eacute suficiente para ocasionar inelegibilidade 2 O art 14 sect 9deg da Constituiccedilatildeo natildeo eacute auto-aplicaacutevel 3 Necessidade de lei complementar estabelecendo os casos em que a vida pregressa do candidato poderaacute levar agrave sua inelegibilidade bem como os prazos de sua cessaccedilatildeo 4 Recurso provido para julgar improcedente a impugnaccedilatildeo e deferir o registro da candidatura 20

Insculpido na Constituiccedilatildeo Federal o principio da natildeo-culpabilidade deve ser

respeitado por toda lei infraconstitucional alguns doutrinadores como Aristides

Junqueira e Antocircnio Bandeira de Mello em carta publica no sitio do Movimento de

Combate agrave Corrupccedilatildeo Eleitoral21 entendem que neste presente caso natildeo deve ser

aplicado o princiacutepio da natildeo-culpabilidade a inelegibilidade pois esta natildeo eacute pena

mas medida preventiva

Estes juristas se acham alicerccedilados pelo que expressamente estatui o sect 9deg do

artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal em que Lei complementar estabeleceraacute outros

casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim de proteger a probidade

administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato considerada a vida

pregressa do candidato afirmam que uma vez que a proacutepria Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica expressamente permite que o legislador estipule quais elementos da vida

pregressa dos candidatos podem afastaacute-los dos pleitos

Independente desta posiccedilatildeo minoritaacuteria encontra-se que o princiacutepio da natildeo-

culpabilidade eacute prevista em diversos ordenamentos juriacutedicos e tratados como se

veraacute a seguir

Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo da Franccedila de 1789 o art

9da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) de 1948 dispotildee ldquoTodo acusado eacute

considerado inocente ateacute ser declarado culpado e se julgar indispensaacutevel prendecirc-lo

todo o rigor desnecessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deveraacute ser severamente

reprimido pela leirdquo22

20 Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrgt TSE-REspEl nordm 18047 de 2992000 rel Min Fernando Neves da Silva Acesso em 16 set 2011 21 Disponiacutevel em lthttpwwwmcceorgbrsitesdefaultfilescartajuristaspdfgt Acesso em 3 jul 2011 22 Disponiacutevel em lthttppfdcpgrmpfgovbratuacao-e-conteudos-de-apoiolegislacaodireitoshuma nosdeclar_dir_ homem_cidadaopdfgt Acesso em 13 set 2011

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Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos de 1948 diz ldquoToda pessoa

acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocecircncia enquanto natildeo se

comprove legalmente sua culpardquo23

A origem histoacuterica que foi referida teve uma grande importacircncia para se

chegar a um status constitucional conforme eacute citado por Mirabete Existe apenas uma tendecircncia agrave presunccedilatildeo de inocecircncia ou mais precisamente um estado de inocecircncia um estado juriacutedico no qual o acusado eacute inocente ateacute que seja declarado culpado por uma sentenccedila transitada em julgado Por isso a nossa Constituiccedilatildeo Federal natildeo presume a inocecircncia mas declara que ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria (art 5deg LVII) ou seja que o acusado eacute inocente durante o desenvolvimento do processo e seu estado soacute se modifica por uma sentenccedila final que o declare culpado 24

Por fim o princiacutepio da natildeo-culpabilidade visa a proteccedilatildeo do reacuteu para que

este tenha um julgamento justo devendo ser provada sua verdadeira culpa antes

que seja considerado culpado

23 Disponiacutevel em lthttpwwwagugovbrsistemassiteTemplateImagemTextoThumbaspxidConteu do=113927ampordenacao=1ampid_site=4922gt Acesso em 12 set 2011 24 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252

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5 CONCLUSAtildeO Apoacutes as anaacutelises da doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncias pertinentes a este

trabalho verifica-se que a Lei Complementar nordm 1352010 ao instituir nova hipoacutetese

de inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado esta em pleno conflito com o princiacutepio da natildeo-culpabilidade insculpido no

artigo 5ordm inciso LVII da Constituiccedilatildeo Federal o que torna esta nova hipoacutetese

absolutamente inconstitucional

O objetivo da Lei Complementar nordm 1352010 eacute o de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos para que os criteacuterios de inelegibilidades sejam mais

rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos Inicialmente eacute compreensiacutevel a

preocupaccedilatildeo de qualificar o perfil dos candidatos a cargos eletivos atraveacutes da vida

pregressa isto significa querer se representar por candidatos idocircneos

Ocorre que eacute necessaacuterio impor tantas restriccedilotildees para que o cidadatildeo possa

concorrer a determinado pleito natildeo eacute mais correto permitir que o proacuteprio povo

detentor soberano do poder para escolher seus representantes defina seus criteacuterios

de escolha

Quanto ao aspecto juriacutedico vejamos que o legislativo ao criar novas hipoacuteteses

de inelegibilidade deve-se atentar para as garantias jaacute consagradas em nosso

ordenamento principalmente quando esta garantia esta insculpida na Constituiccedilatildeo

Federal garantia esta referente ao principio da natildeo-culpabilidade que reza que

ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

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condenatoacuteria trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute

considerar o indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila

Ocorre que a criaccedilatildeo da Lei Complementar nordm 1352010 nasceu conflitante

com a Constituiccedilatildeo Federal em 2 aspectos primordiais primeiro a natildeo observacircncia

do princiacutepio da anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo

Federal pacificado pela Accedilatildeo Declaratoacuteria de Inconstitucionalidade nordm 3685

afirmando que deve-se respeitar ao principio da anualidade e segundo a

inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado

O segundo conflito origina-se diante da garantia constitucional do princiacutepio da

presunccedilatildeo da natildeo-culpabilidade o qual disciplina que somente poderaacute ser

considerado culpado o acusado de determinado crime quando ocorrer o tracircnsito em

julgado da decisatildeo

Portanto temos que uma decisatildeo de um oacutergatildeo colegiado quando recorriacutevel

ainda natildeo eacute o momento que se consumativo da culpabilidade do acusado pois natildeo

podemos antecipar a puniccedilatildeo de um cidadatildeo com a perda de algum direito pelo

simples fato de estar respondendo a algum processo

A aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre teraacute como pressuposto o

exame da Constituiccedilatildeo Federal que estabelece o princiacutepio da natildeo-culpabilidade

tambeacutem chamado de princiacutepio da presunccedilatildeo de inocecircncia que eacute uma verdadeira

garantia constitucional do indiviacuteduo contra o Estado Portanto deve-se respeitar este

princiacutepio basilar do Estado Democraacutetico de Direito nos mais diferentes segmentos

devendo qualquer Lei abster-se de considerar culpado aquele que ainda natildeo teve

sua decisatildeo transitada em julgado

Assim a Lei Complementar nordm 1352010 eacute contraacuterio ao disposto no texto

constitucional pois de forma antecipada retira do cidadatildeo o direito de disputar ao

pleito de forma igualitaacuteria bem como retira do povo um de seus maiores direitos o

de poder escolher seus representantes

Portanto para fortalecimento do Estado Democraacutetico de Direito se faz

necessaacuterio que as garantias constitucionais prevaleccedilam com isto deve-se

preponderar a presunccedilatildeo de natildeo culpabilidade ateacute o tracircnsito em julgado de da

sentenccedila condenatoacuteria

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REFEREcircNCIAS BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicao_ConstituiccedilaoCompiladohtmgt Acesso em 2 jun 2011 BRASIL Tribunal Superior Eleitoral Coacutedigo eleitoral Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrinternetjurisprudenciacodigo_eleitoralcodigo_eleitoralhtmlgt Acesso em 5 mai 2011 BRASIL Supremo Tribunal Federal Jurisprudecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudenciapesquisarJurisprudenciaaspgt Acesso em 15 mai 2011 BRASIL Projeto de Lei Complementar nordm 518 de 17 de setembro de 2009 Altera a Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 que estabelece de acordo com o sect 9ordm do art 14 da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias para incluir hipoacuteteses de inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no exerciacutecio do mandato Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbrsfatividademateriadetalhesaspp_cod_mate=96850gt Acesso em 19 mai 2011

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BRASIL Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 Estabelece de acordo com o art 14 sect 9ordm da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03LeisLCPLcp64htmgt Acesso em 15 mai 2011 COSTA Adriano Soares Instituiccedilotildees de Direito Eleitoral Ed Del Rey 2006 DI PIETRO Maria Sylvia Zanella Direito Administrativo 9 Ed Satildeo Paulo Atlas 1998 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131 LEAL Saul Tourinho Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt MELLO Celso Antonio Bandeira Curso de Direito Administrativo 24 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2007 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 ed Satildeo Paulo Atlas 2006 Movimento de Combate agrave Corrupccedilatildeo Disponiacutevel em ltwwwmcceorgbrgt Acesso em 3 jul 2011 NERY JUacuteBNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20 PEREIRA Erick Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt Acesso em 30 jun 2011 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2008

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PIRES Maacutercio Rodrigo Kaio Carvalho Abuso do poder poliacutetico nas eleiccedilotildees Jus Navigandi Teresina ano 15 n 2677 30 out 2010 Disponiacutevel em lthttpjusuolcombrrevistatexto17741gt Acesso em 27 jun 2011 RAMAYANA Marcos Direito Eleitoral Impetus Niteroacutei 2006 RESENHA ELEITORAL - Nova Seacuterie v9 n1 (janjun 2002) Disponiacutevel em lt httpwwwtre-scgovbrsiteinstitucionalpublicacoesartigos-doutrinariospublicados- na-resenha-eleitoralresenhasv9-n1-janjun-2002abuso-do-podereconomico- ou-de-autoridadeindexhtmlgt SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006

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Federal ao submeter a alteraccedilatildeo legal do processo eleitoral agrave regra da anualidade

constitui uma garantia fundamental para o pleno exerciacutecio de direitos poliacuteticos

Esta pacificaccedilatildeo se deu no julgamento da Accedilatildeo Declaratoacuteria de

Inconstitucionalidade nordm 3685 13 onde atuou como Relatora a Ministra Ellen Gracie

que identificou como uma garantia fundamental do cidadatildeo-eleitor do cidadatildeo-

candidato e dos partidos poliacuteticos o artigo 16 da Constituiccedilatildeo Federal

A Ministra Ellen Gracie utilizou-se de uma analogia com o julgamento da

Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade 939 que teve como relator Ministro Sydnei

Sanches com a garantia da anterioridade tributaacuteria fixada no artigo 150 III b no

sentido de que se o princiacutepio da anterioridade tributaacuteria constitui uma garantia do

cidadatildeo-contribuinte o princiacutepio da anterioridade eleitoral tambeacutem eacute uma garantia do

cidadatildeo do eleitor do candidato e dos partidos poliacuteticos

Desta forma restou consolidado a garantia prevista no artigo 16 da

Constituiccedilatildeo Federal como forma de um devido processo legal eleitoral

O devido processo visa que se atinja uma decisatildeo conforme a Justiccedila

prestigiando a eacutetica da legalidade ressaltando-se que ele possui um duplo

significado de processo necessaacuterio e processo adequado para tanto COMOGLIO

afirma Que as garantias decorrentes do devido processo legal querem dizer natildeo apenas direito a um processo mas a um justo processo compreendendo a correccedilatildeo e efetividade dos instrumentos disponiacuteveis em juiacutezo e a efetividade e adequaccedilatildeo da proacutepria tutela finalrdquo 14

A Constituiccedilatildeo brasileira de 1988 traz a garantia exarada no seu artigo 5ordm

Art 5ordm - () LIV ndash ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal LV ndash aos litigantes em processo judicial e administrativo e aos acusados em geral seratildeo assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa com os meios de recurso a ela inerentes

Sobre o segundo ponto controverso mateacuteria deste trabalho tem o conflito tem

o conflito entre a Lei Complementar nordm 13510 contra uma garantia constitucional

denominado princiacutepio da natildeo-culpabilidade que eacute inseparaacutevel do conceito de

13 Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011 14 Luigi Paolo COMOGLIO Giuridizione e processo nel quadro delle garanzie constituzionali Rivista Trimestrale di Diritto e Procedura Civile 4 p 1070

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democracia A Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5ordm inciso LVII estabelece uma das

maiores garantias dos indiviacuteduos contra o autoritarismo do Estado afirmando que

ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

condenatoacuteriardquo fixando explicitamente o princiacutepio da natildeo-culpabilidade entre os

direitos fundamentais

42 AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EM JULGADO

A Lei Complementar nordm 1352010 em sua aliacutenea ldquoerdquo do inciso I do artigo 2ordm

possui a seguinte redaccedilatildeo e) os que forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial colegiado desde a condenaccedilatildeo ateacute o transcurso do prazo de 8 (oito) anos apoacutes o cumprimento da pena pelos crimes (Redaccedilatildeo dada pela Lei Complementar nordm 135 de 2010)

Esta aliacutenea visa impedir a candidatura de poliacuteticos condenados a partir da

segunda instacircncia e mesmo que natildeo tenha transitado em julgado Ela defende que

haja uma condenaccedilatildeo criminal no entanto deixa de exigir a configuraccedilatildeo do tracircnsito

em julgado do ato decisoacuterio para que ocorra a inelegibilidade A antiga lei previa que

o candidato soacute seria inelegiacutevel se tivesse condenaccedilatildeo definitiva

As alteraccedilotildees da Lei Complementar nordm 1352010 objetiva atender a um senso

comum do eleitorado afirmando que uma pessoa condenada natildeo deve poder ser

votada isto eacute natildeo deve ter mandato Em seus dizeres trata que a inelegibilidade

natildeo pressupotildee culpa formada natildeo deve haver discussatildeo sobre presunccedilatildeo da

inocecircncia Pode haver inelegibilidade por parentesco por ocupar cargo puacuteblico falta

de domiciacutelio eleitoral ou filiaccedilatildeo partidaacuteria causas que natildeo tecircm nada a ver com

condenaccedilatildeo criminal

A contradiccedilatildeo do argumento da Lei Complementar eacute se a Constituiccedilatildeo em

face do princiacutepio da natildeo-culpabilidade admite a cominaccedilatildeo de inelegibilidade para

quem ainda tem recursos pendentes de julgamento

Caso esta hipoacutetese seja admitida temos que um indiviacuteduo que tenha sido

condenado criminalmente em segunda instacircncia e interponha recurso especial ou

extraordinaacuterio para anular o processo caso natildeo consiga uma medida liminar

suspendendo os efeitos ficaria impedido de concorrer na eleiccedilatildeo

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Imagine-se que ao final da accedilatildeo o cidadatildeo que ficou impedido de concorrer

nas eleiccedilotildees obtivesse vitoacuteria em seu recurso obtendo assim a nulidade da accedilatildeo

bem como da decisatildeo que o condenou com ficaria a situaccedilatildeo deste cidadatildeo

O que se quer com a Lei Complementar nordm 1352010 eacute instituir um moralismo

eleitoral que se sobrepotildee a Constituiccedilatildeo Federal e seu principio constitucional da

natildeo-culpabilidade que eacute a garantia individual contra o Estado

Outro argumento utilizado pelos defensores da constitucionalidade da Lei

Complementar nordm 1352010 satildeo as prisotildees cautelares e que no final o sujeito

acaba sebdo absolvido Ora cabe lembrar-lhes que a prisatildeo cautelar natildeo eacute

antecipaccedilatildeo de pena cumpre ela uma funccedilatildeo processual clara e limitada agrave garantia

da ordem puacuteblica da ordem econocircmica por conveniecircncia da instruccedilatildeo criminal ou

para assegurar a aplicaccedilatildeo da lei penal quando houver prova da existecircncia do crime

e indiacutecio suficiente de autoria

Portanto temos que o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees enquanto natildeo

sobrevier decisatildeo judicial transitada em julgado

O proacuteprio Supremo na Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental

144 jaacute decidiu natildeo barrar candidaturas sem condenaccedilatildeo transitada em julgado

A Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental 144 15 foi votada

em agosto de 2008 antes das eleiccedilotildees municipais Na ocasiatildeo o Supremo Tribunal

Federal decidiu que natildeo poderiam ser barradas candidaturas de poliacuteticos

condenados na primeira instacircncia por conta da presunccedilatildeo de inocecircncia

Em 6 de agosto de 2008 haacute menos de trecircs anos o Supremo Tribunal Federal

julgou improcedente a Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental nordm

144 ajuizada pela Associaccedilatildeo dos Magistrados Brasileiros em voto do ministro

Celso de Mello vencidos os ministros Carlos Ayres e Joaquim Barbosa exatamente

porque O postulado consagrador da garantia de inocecircncia irradia os seus efeitos para aleacutem dos limites dos processos penais de natureza condenatoacuteria impedindo desse modo que situaccedilotildees processuais anda natildeo definidas por sentenccedilas transitadas em julgado provoquem em decorrecircncia das exigecircncias de probidade administrativa e demoralidade a que se refere o sect 9ordm do artigo 14 da Coinstituiccedilatildeo Federal a inelegibilidade dos cidadatildeos ou obstem candidaturas para mandatos eletivos

15Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011

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Portanto ficou definido que Lei Complementar sendo editada para casos de

inelegibilidades esta deveraacute respeitar o princiacutepio da natildeo-culpabilidade Ocorre que

foi editada a Lei Complementar nordm 1352010 que atendeu aos reclamos populares

mas preferiu a um soacute tempo violar a Constituiccedilatildeo Federal e desrespeitar a recente

decisatildeo do Supremo Tribunal Federal mesmo que na eacutepoacuteca desta decisatildeo natildeo

havia lei formal para tal situaccedilatildeo

43 PRINCIacutePIO CONSTITUCIONAL DA NAtildeO-CULPABILIDADE

O princiacutepio da natildeo-culpabilidade eacute direito fundamental previsto na

Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5deg inciso LVII ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute

o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

Isto eacute enquanto natildeo sobrevier uma decisatildeo judicial condenatoacuteria transitada

em julgado o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees em seu patrimocircnio ou em sua

liberdade Caso sobrevenha duacutevida quanto a culpabilidade esta resolveraacute sempre

em favor do reacuteu ou seja aplicando-se o princiacutepio in duacutebio pro reo

Assim disciplina Nelson Nery Juacutenior sobre o princiacutepio da natildeo-culpabilidade ldquoO inteacuterprete deve buscar a aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre tendo como pressuposto o exame da Constituiccedilatildeo Federal Depois sim deve consultar a legislaccedilatildeo infraconstitucional a respeito do temardquo 16

Sendo assim a Constituiccedilatildeo Federal no capiacutetulo sobre os Direitos e Deveres

Individuais e Coletivos em seu artigo 5ordm inciso LVII afirma que ldquoningueacutem seraacute

considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute considerar o

indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila A doutrina e a

jurisprudecircncia aclamam este princiacutepio como vaacuterios nomes como princiacutepio da

presunccedilatildeo de inocecircncia princiacutepio da natildeo-culpabilidade ou simplesmente princiacutepio da

inocecircncia

Joseacute Afonso da Silva em seu livro Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo

disciplina assim esta garantia A norma constitucional do inciso LVII agora sob nosso exame garante a presunccedilatildeo de inocecircncia por meio de um enunciado negativo universal lsquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria Usa-se de uma forma

16 NERY JUacuteNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20

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negativa para outorgar uma garantia positiva Na verdade o texto brasileiro natildeo significa outra coisa senatildeo que fica assegurada a todos a presunccedilatildeo de inocecircncia ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria O tracircnsito em julgado se daacute quando a decisatildeo natildeo comporta mais recurso ordinaacuterio especial ou extraordinaacuterio 17

Nesse sentido o indiviacuteduo acusado natildeo pode ser presumidamente culpado

mas sim inocente Tal princiacutepio visa a tutelar a liberdade pessoal de modo que o

Estado nos mais diferentes segmentos deve abster-se de considerar culpado

aquele que ainda natildeo foi submetido agrave definitividade da atuaccedilatildeo jurisdicional Em se tratando de suspensatildeo dos direitos poliacuteticos a Constituiccedilatildeo Federal

garante que a suspensatildeo somente se daraacute por ldquocondenaccedilatildeo criminal transitada em

julgado enquanto durarem seus efeitosrdquo

Julgamento neste sentido REPRESENTACcedilAtildeO SUSPENSAtildeO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS EM VIRTUDE DE SENTENCcedilA PENAL CONDENATOacuteRIA TRANSITADA EM JULGADO AUTO-APLICABILIDADE DOS ARTIGOS 14 sect 3ordm II E 15 III DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL PROCEDEcircNCIA A suspensatildeo dos direitos poliacuteticos do condenado independe de lei regulamentadora bem como de processo especial de cogniccedilatildeo e de anaacutelise de meacuterito para a execuccedilatildeo da medida no juiacutezo eleitoral posto natildeo se tratar de sanccedilatildeo penal mas de efeito natildeo-penal de condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado e decorrente de mandamento constitucional Comprovado o tracircnsito em julgado da sentenccedila penal condenatoacuteria decreta-se automaticamente a suspensatildeo dos direitos poliacuteticos ativo e passivo do representado ou seja o direito de votar e ser votado com a consequumlente exclusatildeo de seu nome da folha de votaccedilatildeo e declaraccedilatildeo de sua inelegibilidade 18

Logo infere-se que a condenaccedilatildeo criminal sem o tracircnsito em julgado natildeo

desqualifica o condenado a votar e a eventualmente concorrer a qualquer cargo

eletivo

O Colendo Tribunal Superior Eleitoral enfrentou esta questatildeo ao apreciar

pedido de registro de candidatura valendo registrar os seguintes julgados RECURSO ESPECIAL RECEBIDO COMO ORDINAacuteRIO REGISTRO DE CANDIDATURA DEFERIMENTO INELEGIBILIDADE NAtildeO-OCORREcircNCIA Condenaccedilatildeo criminal sem tracircnsito em julgado natildeo eacute apta a ensejar inelegibilidade (precedente do TSE acoacuterdatildeo 536 rel Min Fernando Neves publicado em sessatildeo de 882002) Recurso natildeo provido 19

17 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006 p 155 18 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbrgt TRESCndashAcoacuterdatildeo nordm 13324 de 071094 rel Juiz Nilson B Filho Acesso em 16 set 2011 19 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbr gt TSE- REspEl nordm 20247 de 19902 rel Min Sepuacutelveda Pertence Acesso em 16 set 2011

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INELEGIBILIDADE CONDENACcedilAtildeO CRIMINAL NAtildeO TRANSITADA EM JULGADO CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA ART 14 sect 9deg SUacuteMULA Ndeg 13 DO TSE 1 A existecircncia de sentenccedila criminal condenatoacuteria sem o tracircnsito em julgado natildeo eacute suficiente para ocasionar inelegibilidade 2 O art 14 sect 9deg da Constituiccedilatildeo natildeo eacute auto-aplicaacutevel 3 Necessidade de lei complementar estabelecendo os casos em que a vida pregressa do candidato poderaacute levar agrave sua inelegibilidade bem como os prazos de sua cessaccedilatildeo 4 Recurso provido para julgar improcedente a impugnaccedilatildeo e deferir o registro da candidatura 20

Insculpido na Constituiccedilatildeo Federal o principio da natildeo-culpabilidade deve ser

respeitado por toda lei infraconstitucional alguns doutrinadores como Aristides

Junqueira e Antocircnio Bandeira de Mello em carta publica no sitio do Movimento de

Combate agrave Corrupccedilatildeo Eleitoral21 entendem que neste presente caso natildeo deve ser

aplicado o princiacutepio da natildeo-culpabilidade a inelegibilidade pois esta natildeo eacute pena

mas medida preventiva

Estes juristas se acham alicerccedilados pelo que expressamente estatui o sect 9deg do

artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal em que Lei complementar estabeleceraacute outros

casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim de proteger a probidade

administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato considerada a vida

pregressa do candidato afirmam que uma vez que a proacutepria Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica expressamente permite que o legislador estipule quais elementos da vida

pregressa dos candidatos podem afastaacute-los dos pleitos

Independente desta posiccedilatildeo minoritaacuteria encontra-se que o princiacutepio da natildeo-

culpabilidade eacute prevista em diversos ordenamentos juriacutedicos e tratados como se

veraacute a seguir

Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo da Franccedila de 1789 o art

9da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) de 1948 dispotildee ldquoTodo acusado eacute

considerado inocente ateacute ser declarado culpado e se julgar indispensaacutevel prendecirc-lo

todo o rigor desnecessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deveraacute ser severamente

reprimido pela leirdquo22

20 Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrgt TSE-REspEl nordm 18047 de 2992000 rel Min Fernando Neves da Silva Acesso em 16 set 2011 21 Disponiacutevel em lthttpwwwmcceorgbrsitesdefaultfilescartajuristaspdfgt Acesso em 3 jul 2011 22 Disponiacutevel em lthttppfdcpgrmpfgovbratuacao-e-conteudos-de-apoiolegislacaodireitoshuma nosdeclar_dir_ homem_cidadaopdfgt Acesso em 13 set 2011

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Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos de 1948 diz ldquoToda pessoa

acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocecircncia enquanto natildeo se

comprove legalmente sua culpardquo23

A origem histoacuterica que foi referida teve uma grande importacircncia para se

chegar a um status constitucional conforme eacute citado por Mirabete Existe apenas uma tendecircncia agrave presunccedilatildeo de inocecircncia ou mais precisamente um estado de inocecircncia um estado juriacutedico no qual o acusado eacute inocente ateacute que seja declarado culpado por uma sentenccedila transitada em julgado Por isso a nossa Constituiccedilatildeo Federal natildeo presume a inocecircncia mas declara que ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria (art 5deg LVII) ou seja que o acusado eacute inocente durante o desenvolvimento do processo e seu estado soacute se modifica por uma sentenccedila final que o declare culpado 24

Por fim o princiacutepio da natildeo-culpabilidade visa a proteccedilatildeo do reacuteu para que

este tenha um julgamento justo devendo ser provada sua verdadeira culpa antes

que seja considerado culpado

23 Disponiacutevel em lthttpwwwagugovbrsistemassiteTemplateImagemTextoThumbaspxidConteu do=113927ampordenacao=1ampid_site=4922gt Acesso em 12 set 2011 24 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252

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5 CONCLUSAtildeO Apoacutes as anaacutelises da doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncias pertinentes a este

trabalho verifica-se que a Lei Complementar nordm 1352010 ao instituir nova hipoacutetese

de inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado esta em pleno conflito com o princiacutepio da natildeo-culpabilidade insculpido no

artigo 5ordm inciso LVII da Constituiccedilatildeo Federal o que torna esta nova hipoacutetese

absolutamente inconstitucional

O objetivo da Lei Complementar nordm 1352010 eacute o de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos para que os criteacuterios de inelegibilidades sejam mais

rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos Inicialmente eacute compreensiacutevel a

preocupaccedilatildeo de qualificar o perfil dos candidatos a cargos eletivos atraveacutes da vida

pregressa isto significa querer se representar por candidatos idocircneos

Ocorre que eacute necessaacuterio impor tantas restriccedilotildees para que o cidadatildeo possa

concorrer a determinado pleito natildeo eacute mais correto permitir que o proacuteprio povo

detentor soberano do poder para escolher seus representantes defina seus criteacuterios

de escolha

Quanto ao aspecto juriacutedico vejamos que o legislativo ao criar novas hipoacuteteses

de inelegibilidade deve-se atentar para as garantias jaacute consagradas em nosso

ordenamento principalmente quando esta garantia esta insculpida na Constituiccedilatildeo

Federal garantia esta referente ao principio da natildeo-culpabilidade que reza que

ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

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condenatoacuteria trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute

considerar o indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila

Ocorre que a criaccedilatildeo da Lei Complementar nordm 1352010 nasceu conflitante

com a Constituiccedilatildeo Federal em 2 aspectos primordiais primeiro a natildeo observacircncia

do princiacutepio da anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo

Federal pacificado pela Accedilatildeo Declaratoacuteria de Inconstitucionalidade nordm 3685

afirmando que deve-se respeitar ao principio da anualidade e segundo a

inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado

O segundo conflito origina-se diante da garantia constitucional do princiacutepio da

presunccedilatildeo da natildeo-culpabilidade o qual disciplina que somente poderaacute ser

considerado culpado o acusado de determinado crime quando ocorrer o tracircnsito em

julgado da decisatildeo

Portanto temos que uma decisatildeo de um oacutergatildeo colegiado quando recorriacutevel

ainda natildeo eacute o momento que se consumativo da culpabilidade do acusado pois natildeo

podemos antecipar a puniccedilatildeo de um cidadatildeo com a perda de algum direito pelo

simples fato de estar respondendo a algum processo

A aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre teraacute como pressuposto o

exame da Constituiccedilatildeo Federal que estabelece o princiacutepio da natildeo-culpabilidade

tambeacutem chamado de princiacutepio da presunccedilatildeo de inocecircncia que eacute uma verdadeira

garantia constitucional do indiviacuteduo contra o Estado Portanto deve-se respeitar este

princiacutepio basilar do Estado Democraacutetico de Direito nos mais diferentes segmentos

devendo qualquer Lei abster-se de considerar culpado aquele que ainda natildeo teve

sua decisatildeo transitada em julgado

Assim a Lei Complementar nordm 1352010 eacute contraacuterio ao disposto no texto

constitucional pois de forma antecipada retira do cidadatildeo o direito de disputar ao

pleito de forma igualitaacuteria bem como retira do povo um de seus maiores direitos o

de poder escolher seus representantes

Portanto para fortalecimento do Estado Democraacutetico de Direito se faz

necessaacuterio que as garantias constitucionais prevaleccedilam com isto deve-se

preponderar a presunccedilatildeo de natildeo culpabilidade ateacute o tracircnsito em julgado de da

sentenccedila condenatoacuteria

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REFEREcircNCIAS BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicao_ConstituiccedilaoCompiladohtmgt Acesso em 2 jun 2011 BRASIL Tribunal Superior Eleitoral Coacutedigo eleitoral Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrinternetjurisprudenciacodigo_eleitoralcodigo_eleitoralhtmlgt Acesso em 5 mai 2011 BRASIL Supremo Tribunal Federal Jurisprudecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudenciapesquisarJurisprudenciaaspgt Acesso em 15 mai 2011 BRASIL Projeto de Lei Complementar nordm 518 de 17 de setembro de 2009 Altera a Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 que estabelece de acordo com o sect 9ordm do art 14 da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias para incluir hipoacuteteses de inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no exerciacutecio do mandato Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbrsfatividademateriadetalhesaspp_cod_mate=96850gt Acesso em 19 mai 2011

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BRASIL Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 Estabelece de acordo com o art 14 sect 9ordm da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03LeisLCPLcp64htmgt Acesso em 15 mai 2011 COSTA Adriano Soares Instituiccedilotildees de Direito Eleitoral Ed Del Rey 2006 DI PIETRO Maria Sylvia Zanella Direito Administrativo 9 Ed Satildeo Paulo Atlas 1998 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131 LEAL Saul Tourinho Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt MELLO Celso Antonio Bandeira Curso de Direito Administrativo 24 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2007 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 ed Satildeo Paulo Atlas 2006 Movimento de Combate agrave Corrupccedilatildeo Disponiacutevel em ltwwwmcceorgbrgt Acesso em 3 jul 2011 NERY JUacuteBNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20 PEREIRA Erick Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt Acesso em 30 jun 2011 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2008

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PIRES Maacutercio Rodrigo Kaio Carvalho Abuso do poder poliacutetico nas eleiccedilotildees Jus Navigandi Teresina ano 15 n 2677 30 out 2010 Disponiacutevel em lthttpjusuolcombrrevistatexto17741gt Acesso em 27 jun 2011 RAMAYANA Marcos Direito Eleitoral Impetus Niteroacutei 2006 RESENHA ELEITORAL - Nova Seacuterie v9 n1 (janjun 2002) Disponiacutevel em lt httpwwwtre-scgovbrsiteinstitucionalpublicacoesartigos-doutrinariospublicados- na-resenha-eleitoralresenhasv9-n1-janjun-2002abuso-do-podereconomico- ou-de-autoridadeindexhtmlgt SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006

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democracia A Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5ordm inciso LVII estabelece uma das

maiores garantias dos indiviacuteduos contra o autoritarismo do Estado afirmando que

ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

condenatoacuteriardquo fixando explicitamente o princiacutepio da natildeo-culpabilidade entre os

direitos fundamentais

42 AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EM JULGADO

A Lei Complementar nordm 1352010 em sua aliacutenea ldquoerdquo do inciso I do artigo 2ordm

possui a seguinte redaccedilatildeo e) os que forem condenados em decisatildeo transitada em julgado ou proferida por oacutergatildeo judicial colegiado desde a condenaccedilatildeo ateacute o transcurso do prazo de 8 (oito) anos apoacutes o cumprimento da pena pelos crimes (Redaccedilatildeo dada pela Lei Complementar nordm 135 de 2010)

Esta aliacutenea visa impedir a candidatura de poliacuteticos condenados a partir da

segunda instacircncia e mesmo que natildeo tenha transitado em julgado Ela defende que

haja uma condenaccedilatildeo criminal no entanto deixa de exigir a configuraccedilatildeo do tracircnsito

em julgado do ato decisoacuterio para que ocorra a inelegibilidade A antiga lei previa que

o candidato soacute seria inelegiacutevel se tivesse condenaccedilatildeo definitiva

As alteraccedilotildees da Lei Complementar nordm 1352010 objetiva atender a um senso

comum do eleitorado afirmando que uma pessoa condenada natildeo deve poder ser

votada isto eacute natildeo deve ter mandato Em seus dizeres trata que a inelegibilidade

natildeo pressupotildee culpa formada natildeo deve haver discussatildeo sobre presunccedilatildeo da

inocecircncia Pode haver inelegibilidade por parentesco por ocupar cargo puacuteblico falta

de domiciacutelio eleitoral ou filiaccedilatildeo partidaacuteria causas que natildeo tecircm nada a ver com

condenaccedilatildeo criminal

A contradiccedilatildeo do argumento da Lei Complementar eacute se a Constituiccedilatildeo em

face do princiacutepio da natildeo-culpabilidade admite a cominaccedilatildeo de inelegibilidade para

quem ainda tem recursos pendentes de julgamento

Caso esta hipoacutetese seja admitida temos que um indiviacuteduo que tenha sido

condenado criminalmente em segunda instacircncia e interponha recurso especial ou

extraordinaacuterio para anular o processo caso natildeo consiga uma medida liminar

suspendendo os efeitos ficaria impedido de concorrer na eleiccedilatildeo

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Imagine-se que ao final da accedilatildeo o cidadatildeo que ficou impedido de concorrer

nas eleiccedilotildees obtivesse vitoacuteria em seu recurso obtendo assim a nulidade da accedilatildeo

bem como da decisatildeo que o condenou com ficaria a situaccedilatildeo deste cidadatildeo

O que se quer com a Lei Complementar nordm 1352010 eacute instituir um moralismo

eleitoral que se sobrepotildee a Constituiccedilatildeo Federal e seu principio constitucional da

natildeo-culpabilidade que eacute a garantia individual contra o Estado

Outro argumento utilizado pelos defensores da constitucionalidade da Lei

Complementar nordm 1352010 satildeo as prisotildees cautelares e que no final o sujeito

acaba sebdo absolvido Ora cabe lembrar-lhes que a prisatildeo cautelar natildeo eacute

antecipaccedilatildeo de pena cumpre ela uma funccedilatildeo processual clara e limitada agrave garantia

da ordem puacuteblica da ordem econocircmica por conveniecircncia da instruccedilatildeo criminal ou

para assegurar a aplicaccedilatildeo da lei penal quando houver prova da existecircncia do crime

e indiacutecio suficiente de autoria

Portanto temos que o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees enquanto natildeo

sobrevier decisatildeo judicial transitada em julgado

O proacuteprio Supremo na Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental

144 jaacute decidiu natildeo barrar candidaturas sem condenaccedilatildeo transitada em julgado

A Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental 144 15 foi votada

em agosto de 2008 antes das eleiccedilotildees municipais Na ocasiatildeo o Supremo Tribunal

Federal decidiu que natildeo poderiam ser barradas candidaturas de poliacuteticos

condenados na primeira instacircncia por conta da presunccedilatildeo de inocecircncia

Em 6 de agosto de 2008 haacute menos de trecircs anos o Supremo Tribunal Federal

julgou improcedente a Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental nordm

144 ajuizada pela Associaccedilatildeo dos Magistrados Brasileiros em voto do ministro

Celso de Mello vencidos os ministros Carlos Ayres e Joaquim Barbosa exatamente

porque O postulado consagrador da garantia de inocecircncia irradia os seus efeitos para aleacutem dos limites dos processos penais de natureza condenatoacuteria impedindo desse modo que situaccedilotildees processuais anda natildeo definidas por sentenccedilas transitadas em julgado provoquem em decorrecircncia das exigecircncias de probidade administrativa e demoralidade a que se refere o sect 9ordm do artigo 14 da Coinstituiccedilatildeo Federal a inelegibilidade dos cidadatildeos ou obstem candidaturas para mandatos eletivos

15Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011

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Portanto ficou definido que Lei Complementar sendo editada para casos de

inelegibilidades esta deveraacute respeitar o princiacutepio da natildeo-culpabilidade Ocorre que

foi editada a Lei Complementar nordm 1352010 que atendeu aos reclamos populares

mas preferiu a um soacute tempo violar a Constituiccedilatildeo Federal e desrespeitar a recente

decisatildeo do Supremo Tribunal Federal mesmo que na eacutepoacuteca desta decisatildeo natildeo

havia lei formal para tal situaccedilatildeo

43 PRINCIacutePIO CONSTITUCIONAL DA NAtildeO-CULPABILIDADE

O princiacutepio da natildeo-culpabilidade eacute direito fundamental previsto na

Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5deg inciso LVII ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute

o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

Isto eacute enquanto natildeo sobrevier uma decisatildeo judicial condenatoacuteria transitada

em julgado o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees em seu patrimocircnio ou em sua

liberdade Caso sobrevenha duacutevida quanto a culpabilidade esta resolveraacute sempre

em favor do reacuteu ou seja aplicando-se o princiacutepio in duacutebio pro reo

Assim disciplina Nelson Nery Juacutenior sobre o princiacutepio da natildeo-culpabilidade ldquoO inteacuterprete deve buscar a aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre tendo como pressuposto o exame da Constituiccedilatildeo Federal Depois sim deve consultar a legislaccedilatildeo infraconstitucional a respeito do temardquo 16

Sendo assim a Constituiccedilatildeo Federal no capiacutetulo sobre os Direitos e Deveres

Individuais e Coletivos em seu artigo 5ordm inciso LVII afirma que ldquoningueacutem seraacute

considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute considerar o

indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila A doutrina e a

jurisprudecircncia aclamam este princiacutepio como vaacuterios nomes como princiacutepio da

presunccedilatildeo de inocecircncia princiacutepio da natildeo-culpabilidade ou simplesmente princiacutepio da

inocecircncia

Joseacute Afonso da Silva em seu livro Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo

disciplina assim esta garantia A norma constitucional do inciso LVII agora sob nosso exame garante a presunccedilatildeo de inocecircncia por meio de um enunciado negativo universal lsquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria Usa-se de uma forma

16 NERY JUacuteNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20

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negativa para outorgar uma garantia positiva Na verdade o texto brasileiro natildeo significa outra coisa senatildeo que fica assegurada a todos a presunccedilatildeo de inocecircncia ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria O tracircnsito em julgado se daacute quando a decisatildeo natildeo comporta mais recurso ordinaacuterio especial ou extraordinaacuterio 17

Nesse sentido o indiviacuteduo acusado natildeo pode ser presumidamente culpado

mas sim inocente Tal princiacutepio visa a tutelar a liberdade pessoal de modo que o

Estado nos mais diferentes segmentos deve abster-se de considerar culpado

aquele que ainda natildeo foi submetido agrave definitividade da atuaccedilatildeo jurisdicional Em se tratando de suspensatildeo dos direitos poliacuteticos a Constituiccedilatildeo Federal

garante que a suspensatildeo somente se daraacute por ldquocondenaccedilatildeo criminal transitada em

julgado enquanto durarem seus efeitosrdquo

Julgamento neste sentido REPRESENTACcedilAtildeO SUSPENSAtildeO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS EM VIRTUDE DE SENTENCcedilA PENAL CONDENATOacuteRIA TRANSITADA EM JULGADO AUTO-APLICABILIDADE DOS ARTIGOS 14 sect 3ordm II E 15 III DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL PROCEDEcircNCIA A suspensatildeo dos direitos poliacuteticos do condenado independe de lei regulamentadora bem como de processo especial de cogniccedilatildeo e de anaacutelise de meacuterito para a execuccedilatildeo da medida no juiacutezo eleitoral posto natildeo se tratar de sanccedilatildeo penal mas de efeito natildeo-penal de condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado e decorrente de mandamento constitucional Comprovado o tracircnsito em julgado da sentenccedila penal condenatoacuteria decreta-se automaticamente a suspensatildeo dos direitos poliacuteticos ativo e passivo do representado ou seja o direito de votar e ser votado com a consequumlente exclusatildeo de seu nome da folha de votaccedilatildeo e declaraccedilatildeo de sua inelegibilidade 18

Logo infere-se que a condenaccedilatildeo criminal sem o tracircnsito em julgado natildeo

desqualifica o condenado a votar e a eventualmente concorrer a qualquer cargo

eletivo

O Colendo Tribunal Superior Eleitoral enfrentou esta questatildeo ao apreciar

pedido de registro de candidatura valendo registrar os seguintes julgados RECURSO ESPECIAL RECEBIDO COMO ORDINAacuteRIO REGISTRO DE CANDIDATURA DEFERIMENTO INELEGIBILIDADE NAtildeO-OCORREcircNCIA Condenaccedilatildeo criminal sem tracircnsito em julgado natildeo eacute apta a ensejar inelegibilidade (precedente do TSE acoacuterdatildeo 536 rel Min Fernando Neves publicado em sessatildeo de 882002) Recurso natildeo provido 19

17 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006 p 155 18 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbrgt TRESCndashAcoacuterdatildeo nordm 13324 de 071094 rel Juiz Nilson B Filho Acesso em 16 set 2011 19 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbr gt TSE- REspEl nordm 20247 de 19902 rel Min Sepuacutelveda Pertence Acesso em 16 set 2011

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INELEGIBILIDADE CONDENACcedilAtildeO CRIMINAL NAtildeO TRANSITADA EM JULGADO CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA ART 14 sect 9deg SUacuteMULA Ndeg 13 DO TSE 1 A existecircncia de sentenccedila criminal condenatoacuteria sem o tracircnsito em julgado natildeo eacute suficiente para ocasionar inelegibilidade 2 O art 14 sect 9deg da Constituiccedilatildeo natildeo eacute auto-aplicaacutevel 3 Necessidade de lei complementar estabelecendo os casos em que a vida pregressa do candidato poderaacute levar agrave sua inelegibilidade bem como os prazos de sua cessaccedilatildeo 4 Recurso provido para julgar improcedente a impugnaccedilatildeo e deferir o registro da candidatura 20

Insculpido na Constituiccedilatildeo Federal o principio da natildeo-culpabilidade deve ser

respeitado por toda lei infraconstitucional alguns doutrinadores como Aristides

Junqueira e Antocircnio Bandeira de Mello em carta publica no sitio do Movimento de

Combate agrave Corrupccedilatildeo Eleitoral21 entendem que neste presente caso natildeo deve ser

aplicado o princiacutepio da natildeo-culpabilidade a inelegibilidade pois esta natildeo eacute pena

mas medida preventiva

Estes juristas se acham alicerccedilados pelo que expressamente estatui o sect 9deg do

artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal em que Lei complementar estabeleceraacute outros

casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim de proteger a probidade

administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato considerada a vida

pregressa do candidato afirmam que uma vez que a proacutepria Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica expressamente permite que o legislador estipule quais elementos da vida

pregressa dos candidatos podem afastaacute-los dos pleitos

Independente desta posiccedilatildeo minoritaacuteria encontra-se que o princiacutepio da natildeo-

culpabilidade eacute prevista em diversos ordenamentos juriacutedicos e tratados como se

veraacute a seguir

Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo da Franccedila de 1789 o art

9da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) de 1948 dispotildee ldquoTodo acusado eacute

considerado inocente ateacute ser declarado culpado e se julgar indispensaacutevel prendecirc-lo

todo o rigor desnecessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deveraacute ser severamente

reprimido pela leirdquo22

20 Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrgt TSE-REspEl nordm 18047 de 2992000 rel Min Fernando Neves da Silva Acesso em 16 set 2011 21 Disponiacutevel em lthttpwwwmcceorgbrsitesdefaultfilescartajuristaspdfgt Acesso em 3 jul 2011 22 Disponiacutevel em lthttppfdcpgrmpfgovbratuacao-e-conteudos-de-apoiolegislacaodireitoshuma nosdeclar_dir_ homem_cidadaopdfgt Acesso em 13 set 2011

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Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos de 1948 diz ldquoToda pessoa

acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocecircncia enquanto natildeo se

comprove legalmente sua culpardquo23

A origem histoacuterica que foi referida teve uma grande importacircncia para se

chegar a um status constitucional conforme eacute citado por Mirabete Existe apenas uma tendecircncia agrave presunccedilatildeo de inocecircncia ou mais precisamente um estado de inocecircncia um estado juriacutedico no qual o acusado eacute inocente ateacute que seja declarado culpado por uma sentenccedila transitada em julgado Por isso a nossa Constituiccedilatildeo Federal natildeo presume a inocecircncia mas declara que ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria (art 5deg LVII) ou seja que o acusado eacute inocente durante o desenvolvimento do processo e seu estado soacute se modifica por uma sentenccedila final que o declare culpado 24

Por fim o princiacutepio da natildeo-culpabilidade visa a proteccedilatildeo do reacuteu para que

este tenha um julgamento justo devendo ser provada sua verdadeira culpa antes

que seja considerado culpado

23 Disponiacutevel em lthttpwwwagugovbrsistemassiteTemplateImagemTextoThumbaspxidConteu do=113927ampordenacao=1ampid_site=4922gt Acesso em 12 set 2011 24 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252

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5 CONCLUSAtildeO Apoacutes as anaacutelises da doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncias pertinentes a este

trabalho verifica-se que a Lei Complementar nordm 1352010 ao instituir nova hipoacutetese

de inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado esta em pleno conflito com o princiacutepio da natildeo-culpabilidade insculpido no

artigo 5ordm inciso LVII da Constituiccedilatildeo Federal o que torna esta nova hipoacutetese

absolutamente inconstitucional

O objetivo da Lei Complementar nordm 1352010 eacute o de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos para que os criteacuterios de inelegibilidades sejam mais

rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos Inicialmente eacute compreensiacutevel a

preocupaccedilatildeo de qualificar o perfil dos candidatos a cargos eletivos atraveacutes da vida

pregressa isto significa querer se representar por candidatos idocircneos

Ocorre que eacute necessaacuterio impor tantas restriccedilotildees para que o cidadatildeo possa

concorrer a determinado pleito natildeo eacute mais correto permitir que o proacuteprio povo

detentor soberano do poder para escolher seus representantes defina seus criteacuterios

de escolha

Quanto ao aspecto juriacutedico vejamos que o legislativo ao criar novas hipoacuteteses

de inelegibilidade deve-se atentar para as garantias jaacute consagradas em nosso

ordenamento principalmente quando esta garantia esta insculpida na Constituiccedilatildeo

Federal garantia esta referente ao principio da natildeo-culpabilidade que reza que

ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

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condenatoacuteria trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute

considerar o indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila

Ocorre que a criaccedilatildeo da Lei Complementar nordm 1352010 nasceu conflitante

com a Constituiccedilatildeo Federal em 2 aspectos primordiais primeiro a natildeo observacircncia

do princiacutepio da anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo

Federal pacificado pela Accedilatildeo Declaratoacuteria de Inconstitucionalidade nordm 3685

afirmando que deve-se respeitar ao principio da anualidade e segundo a

inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado

O segundo conflito origina-se diante da garantia constitucional do princiacutepio da

presunccedilatildeo da natildeo-culpabilidade o qual disciplina que somente poderaacute ser

considerado culpado o acusado de determinado crime quando ocorrer o tracircnsito em

julgado da decisatildeo

Portanto temos que uma decisatildeo de um oacutergatildeo colegiado quando recorriacutevel

ainda natildeo eacute o momento que se consumativo da culpabilidade do acusado pois natildeo

podemos antecipar a puniccedilatildeo de um cidadatildeo com a perda de algum direito pelo

simples fato de estar respondendo a algum processo

A aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre teraacute como pressuposto o

exame da Constituiccedilatildeo Federal que estabelece o princiacutepio da natildeo-culpabilidade

tambeacutem chamado de princiacutepio da presunccedilatildeo de inocecircncia que eacute uma verdadeira

garantia constitucional do indiviacuteduo contra o Estado Portanto deve-se respeitar este

princiacutepio basilar do Estado Democraacutetico de Direito nos mais diferentes segmentos

devendo qualquer Lei abster-se de considerar culpado aquele que ainda natildeo teve

sua decisatildeo transitada em julgado

Assim a Lei Complementar nordm 1352010 eacute contraacuterio ao disposto no texto

constitucional pois de forma antecipada retira do cidadatildeo o direito de disputar ao

pleito de forma igualitaacuteria bem como retira do povo um de seus maiores direitos o

de poder escolher seus representantes

Portanto para fortalecimento do Estado Democraacutetico de Direito se faz

necessaacuterio que as garantias constitucionais prevaleccedilam com isto deve-se

preponderar a presunccedilatildeo de natildeo culpabilidade ateacute o tracircnsito em julgado de da

sentenccedila condenatoacuteria

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REFEREcircNCIAS BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicao_ConstituiccedilaoCompiladohtmgt Acesso em 2 jun 2011 BRASIL Tribunal Superior Eleitoral Coacutedigo eleitoral Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrinternetjurisprudenciacodigo_eleitoralcodigo_eleitoralhtmlgt Acesso em 5 mai 2011 BRASIL Supremo Tribunal Federal Jurisprudecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudenciapesquisarJurisprudenciaaspgt Acesso em 15 mai 2011 BRASIL Projeto de Lei Complementar nordm 518 de 17 de setembro de 2009 Altera a Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 que estabelece de acordo com o sect 9ordm do art 14 da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias para incluir hipoacuteteses de inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no exerciacutecio do mandato Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbrsfatividademateriadetalhesaspp_cod_mate=96850gt Acesso em 19 mai 2011

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BRASIL Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 Estabelece de acordo com o art 14 sect 9ordm da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03LeisLCPLcp64htmgt Acesso em 15 mai 2011 COSTA Adriano Soares Instituiccedilotildees de Direito Eleitoral Ed Del Rey 2006 DI PIETRO Maria Sylvia Zanella Direito Administrativo 9 Ed Satildeo Paulo Atlas 1998 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131 LEAL Saul Tourinho Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt MELLO Celso Antonio Bandeira Curso de Direito Administrativo 24 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2007 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 ed Satildeo Paulo Atlas 2006 Movimento de Combate agrave Corrupccedilatildeo Disponiacutevel em ltwwwmcceorgbrgt Acesso em 3 jul 2011 NERY JUacuteBNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20 PEREIRA Erick Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt Acesso em 30 jun 2011 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2008

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PIRES Maacutercio Rodrigo Kaio Carvalho Abuso do poder poliacutetico nas eleiccedilotildees Jus Navigandi Teresina ano 15 n 2677 30 out 2010 Disponiacutevel em lthttpjusuolcombrrevistatexto17741gt Acesso em 27 jun 2011 RAMAYANA Marcos Direito Eleitoral Impetus Niteroacutei 2006 RESENHA ELEITORAL - Nova Seacuterie v9 n1 (janjun 2002) Disponiacutevel em lt httpwwwtre-scgovbrsiteinstitucionalpublicacoesartigos-doutrinariospublicados- na-resenha-eleitoralresenhasv9-n1-janjun-2002abuso-do-podereconomico- ou-de-autoridadeindexhtmlgt SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006

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Imagine-se que ao final da accedilatildeo o cidadatildeo que ficou impedido de concorrer

nas eleiccedilotildees obtivesse vitoacuteria em seu recurso obtendo assim a nulidade da accedilatildeo

bem como da decisatildeo que o condenou com ficaria a situaccedilatildeo deste cidadatildeo

O que se quer com a Lei Complementar nordm 1352010 eacute instituir um moralismo

eleitoral que se sobrepotildee a Constituiccedilatildeo Federal e seu principio constitucional da

natildeo-culpabilidade que eacute a garantia individual contra o Estado

Outro argumento utilizado pelos defensores da constitucionalidade da Lei

Complementar nordm 1352010 satildeo as prisotildees cautelares e que no final o sujeito

acaba sebdo absolvido Ora cabe lembrar-lhes que a prisatildeo cautelar natildeo eacute

antecipaccedilatildeo de pena cumpre ela uma funccedilatildeo processual clara e limitada agrave garantia

da ordem puacuteblica da ordem econocircmica por conveniecircncia da instruccedilatildeo criminal ou

para assegurar a aplicaccedilatildeo da lei penal quando houver prova da existecircncia do crime

e indiacutecio suficiente de autoria

Portanto temos que o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees enquanto natildeo

sobrevier decisatildeo judicial transitada em julgado

O proacuteprio Supremo na Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental

144 jaacute decidiu natildeo barrar candidaturas sem condenaccedilatildeo transitada em julgado

A Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental 144 15 foi votada

em agosto de 2008 antes das eleiccedilotildees municipais Na ocasiatildeo o Supremo Tribunal

Federal decidiu que natildeo poderiam ser barradas candidaturas de poliacuteticos

condenados na primeira instacircncia por conta da presunccedilatildeo de inocecircncia

Em 6 de agosto de 2008 haacute menos de trecircs anos o Supremo Tribunal Federal

julgou improcedente a Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental nordm

144 ajuizada pela Associaccedilatildeo dos Magistrados Brasileiros em voto do ministro

Celso de Mello vencidos os ministros Carlos Ayres e Joaquim Barbosa exatamente

porque O postulado consagrador da garantia de inocecircncia irradia os seus efeitos para aleacutem dos limites dos processos penais de natureza condenatoacuteria impedindo desse modo que situaccedilotildees processuais anda natildeo definidas por sentenccedilas transitadas em julgado provoquem em decorrecircncia das exigecircncias de probidade administrativa e demoralidade a que se refere o sect 9ordm do artigo 14 da Coinstituiccedilatildeo Federal a inelegibilidade dos cidadatildeos ou obstem candidaturas para mandatos eletivos

15Disponiacutevel em lthttpstfjusbrportaljurisprudencialistarasps1=ADI+3685ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 16 set 2011

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Portanto ficou definido que Lei Complementar sendo editada para casos de

inelegibilidades esta deveraacute respeitar o princiacutepio da natildeo-culpabilidade Ocorre que

foi editada a Lei Complementar nordm 1352010 que atendeu aos reclamos populares

mas preferiu a um soacute tempo violar a Constituiccedilatildeo Federal e desrespeitar a recente

decisatildeo do Supremo Tribunal Federal mesmo que na eacutepoacuteca desta decisatildeo natildeo

havia lei formal para tal situaccedilatildeo

43 PRINCIacutePIO CONSTITUCIONAL DA NAtildeO-CULPABILIDADE

O princiacutepio da natildeo-culpabilidade eacute direito fundamental previsto na

Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5deg inciso LVII ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute

o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

Isto eacute enquanto natildeo sobrevier uma decisatildeo judicial condenatoacuteria transitada

em julgado o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees em seu patrimocircnio ou em sua

liberdade Caso sobrevenha duacutevida quanto a culpabilidade esta resolveraacute sempre

em favor do reacuteu ou seja aplicando-se o princiacutepio in duacutebio pro reo

Assim disciplina Nelson Nery Juacutenior sobre o princiacutepio da natildeo-culpabilidade ldquoO inteacuterprete deve buscar a aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre tendo como pressuposto o exame da Constituiccedilatildeo Federal Depois sim deve consultar a legislaccedilatildeo infraconstitucional a respeito do temardquo 16

Sendo assim a Constituiccedilatildeo Federal no capiacutetulo sobre os Direitos e Deveres

Individuais e Coletivos em seu artigo 5ordm inciso LVII afirma que ldquoningueacutem seraacute

considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute considerar o

indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila A doutrina e a

jurisprudecircncia aclamam este princiacutepio como vaacuterios nomes como princiacutepio da

presunccedilatildeo de inocecircncia princiacutepio da natildeo-culpabilidade ou simplesmente princiacutepio da

inocecircncia

Joseacute Afonso da Silva em seu livro Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo

disciplina assim esta garantia A norma constitucional do inciso LVII agora sob nosso exame garante a presunccedilatildeo de inocecircncia por meio de um enunciado negativo universal lsquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria Usa-se de uma forma

16 NERY JUacuteNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20

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negativa para outorgar uma garantia positiva Na verdade o texto brasileiro natildeo significa outra coisa senatildeo que fica assegurada a todos a presunccedilatildeo de inocecircncia ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria O tracircnsito em julgado se daacute quando a decisatildeo natildeo comporta mais recurso ordinaacuterio especial ou extraordinaacuterio 17

Nesse sentido o indiviacuteduo acusado natildeo pode ser presumidamente culpado

mas sim inocente Tal princiacutepio visa a tutelar a liberdade pessoal de modo que o

Estado nos mais diferentes segmentos deve abster-se de considerar culpado

aquele que ainda natildeo foi submetido agrave definitividade da atuaccedilatildeo jurisdicional Em se tratando de suspensatildeo dos direitos poliacuteticos a Constituiccedilatildeo Federal

garante que a suspensatildeo somente se daraacute por ldquocondenaccedilatildeo criminal transitada em

julgado enquanto durarem seus efeitosrdquo

Julgamento neste sentido REPRESENTACcedilAtildeO SUSPENSAtildeO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS EM VIRTUDE DE SENTENCcedilA PENAL CONDENATOacuteRIA TRANSITADA EM JULGADO AUTO-APLICABILIDADE DOS ARTIGOS 14 sect 3ordm II E 15 III DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL PROCEDEcircNCIA A suspensatildeo dos direitos poliacuteticos do condenado independe de lei regulamentadora bem como de processo especial de cogniccedilatildeo e de anaacutelise de meacuterito para a execuccedilatildeo da medida no juiacutezo eleitoral posto natildeo se tratar de sanccedilatildeo penal mas de efeito natildeo-penal de condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado e decorrente de mandamento constitucional Comprovado o tracircnsito em julgado da sentenccedila penal condenatoacuteria decreta-se automaticamente a suspensatildeo dos direitos poliacuteticos ativo e passivo do representado ou seja o direito de votar e ser votado com a consequumlente exclusatildeo de seu nome da folha de votaccedilatildeo e declaraccedilatildeo de sua inelegibilidade 18

Logo infere-se que a condenaccedilatildeo criminal sem o tracircnsito em julgado natildeo

desqualifica o condenado a votar e a eventualmente concorrer a qualquer cargo

eletivo

O Colendo Tribunal Superior Eleitoral enfrentou esta questatildeo ao apreciar

pedido de registro de candidatura valendo registrar os seguintes julgados RECURSO ESPECIAL RECEBIDO COMO ORDINAacuteRIO REGISTRO DE CANDIDATURA DEFERIMENTO INELEGIBILIDADE NAtildeO-OCORREcircNCIA Condenaccedilatildeo criminal sem tracircnsito em julgado natildeo eacute apta a ensejar inelegibilidade (precedente do TSE acoacuterdatildeo 536 rel Min Fernando Neves publicado em sessatildeo de 882002) Recurso natildeo provido 19

17 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006 p 155 18 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbrgt TRESCndashAcoacuterdatildeo nordm 13324 de 071094 rel Juiz Nilson B Filho Acesso em 16 set 2011 19 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbr gt TSE- REspEl nordm 20247 de 19902 rel Min Sepuacutelveda Pertence Acesso em 16 set 2011

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INELEGIBILIDADE CONDENACcedilAtildeO CRIMINAL NAtildeO TRANSITADA EM JULGADO CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA ART 14 sect 9deg SUacuteMULA Ndeg 13 DO TSE 1 A existecircncia de sentenccedila criminal condenatoacuteria sem o tracircnsito em julgado natildeo eacute suficiente para ocasionar inelegibilidade 2 O art 14 sect 9deg da Constituiccedilatildeo natildeo eacute auto-aplicaacutevel 3 Necessidade de lei complementar estabelecendo os casos em que a vida pregressa do candidato poderaacute levar agrave sua inelegibilidade bem como os prazos de sua cessaccedilatildeo 4 Recurso provido para julgar improcedente a impugnaccedilatildeo e deferir o registro da candidatura 20

Insculpido na Constituiccedilatildeo Federal o principio da natildeo-culpabilidade deve ser

respeitado por toda lei infraconstitucional alguns doutrinadores como Aristides

Junqueira e Antocircnio Bandeira de Mello em carta publica no sitio do Movimento de

Combate agrave Corrupccedilatildeo Eleitoral21 entendem que neste presente caso natildeo deve ser

aplicado o princiacutepio da natildeo-culpabilidade a inelegibilidade pois esta natildeo eacute pena

mas medida preventiva

Estes juristas se acham alicerccedilados pelo que expressamente estatui o sect 9deg do

artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal em que Lei complementar estabeleceraacute outros

casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim de proteger a probidade

administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato considerada a vida

pregressa do candidato afirmam que uma vez que a proacutepria Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica expressamente permite que o legislador estipule quais elementos da vida

pregressa dos candidatos podem afastaacute-los dos pleitos

Independente desta posiccedilatildeo minoritaacuteria encontra-se que o princiacutepio da natildeo-

culpabilidade eacute prevista em diversos ordenamentos juriacutedicos e tratados como se

veraacute a seguir

Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo da Franccedila de 1789 o art

9da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) de 1948 dispotildee ldquoTodo acusado eacute

considerado inocente ateacute ser declarado culpado e se julgar indispensaacutevel prendecirc-lo

todo o rigor desnecessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deveraacute ser severamente

reprimido pela leirdquo22

20 Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrgt TSE-REspEl nordm 18047 de 2992000 rel Min Fernando Neves da Silva Acesso em 16 set 2011 21 Disponiacutevel em lthttpwwwmcceorgbrsitesdefaultfilescartajuristaspdfgt Acesso em 3 jul 2011 22 Disponiacutevel em lthttppfdcpgrmpfgovbratuacao-e-conteudos-de-apoiolegislacaodireitoshuma nosdeclar_dir_ homem_cidadaopdfgt Acesso em 13 set 2011

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Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos de 1948 diz ldquoToda pessoa

acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocecircncia enquanto natildeo se

comprove legalmente sua culpardquo23

A origem histoacuterica que foi referida teve uma grande importacircncia para se

chegar a um status constitucional conforme eacute citado por Mirabete Existe apenas uma tendecircncia agrave presunccedilatildeo de inocecircncia ou mais precisamente um estado de inocecircncia um estado juriacutedico no qual o acusado eacute inocente ateacute que seja declarado culpado por uma sentenccedila transitada em julgado Por isso a nossa Constituiccedilatildeo Federal natildeo presume a inocecircncia mas declara que ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria (art 5deg LVII) ou seja que o acusado eacute inocente durante o desenvolvimento do processo e seu estado soacute se modifica por uma sentenccedila final que o declare culpado 24

Por fim o princiacutepio da natildeo-culpabilidade visa a proteccedilatildeo do reacuteu para que

este tenha um julgamento justo devendo ser provada sua verdadeira culpa antes

que seja considerado culpado

23 Disponiacutevel em lthttpwwwagugovbrsistemassiteTemplateImagemTextoThumbaspxidConteu do=113927ampordenacao=1ampid_site=4922gt Acesso em 12 set 2011 24 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252

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5 CONCLUSAtildeO Apoacutes as anaacutelises da doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncias pertinentes a este

trabalho verifica-se que a Lei Complementar nordm 1352010 ao instituir nova hipoacutetese

de inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado esta em pleno conflito com o princiacutepio da natildeo-culpabilidade insculpido no

artigo 5ordm inciso LVII da Constituiccedilatildeo Federal o que torna esta nova hipoacutetese

absolutamente inconstitucional

O objetivo da Lei Complementar nordm 1352010 eacute o de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos para que os criteacuterios de inelegibilidades sejam mais

rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos Inicialmente eacute compreensiacutevel a

preocupaccedilatildeo de qualificar o perfil dos candidatos a cargos eletivos atraveacutes da vida

pregressa isto significa querer se representar por candidatos idocircneos

Ocorre que eacute necessaacuterio impor tantas restriccedilotildees para que o cidadatildeo possa

concorrer a determinado pleito natildeo eacute mais correto permitir que o proacuteprio povo

detentor soberano do poder para escolher seus representantes defina seus criteacuterios

de escolha

Quanto ao aspecto juriacutedico vejamos que o legislativo ao criar novas hipoacuteteses

de inelegibilidade deve-se atentar para as garantias jaacute consagradas em nosso

ordenamento principalmente quando esta garantia esta insculpida na Constituiccedilatildeo

Federal garantia esta referente ao principio da natildeo-culpabilidade que reza que

ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

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condenatoacuteria trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute

considerar o indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila

Ocorre que a criaccedilatildeo da Lei Complementar nordm 1352010 nasceu conflitante

com a Constituiccedilatildeo Federal em 2 aspectos primordiais primeiro a natildeo observacircncia

do princiacutepio da anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo

Federal pacificado pela Accedilatildeo Declaratoacuteria de Inconstitucionalidade nordm 3685

afirmando que deve-se respeitar ao principio da anualidade e segundo a

inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado

O segundo conflito origina-se diante da garantia constitucional do princiacutepio da

presunccedilatildeo da natildeo-culpabilidade o qual disciplina que somente poderaacute ser

considerado culpado o acusado de determinado crime quando ocorrer o tracircnsito em

julgado da decisatildeo

Portanto temos que uma decisatildeo de um oacutergatildeo colegiado quando recorriacutevel

ainda natildeo eacute o momento que se consumativo da culpabilidade do acusado pois natildeo

podemos antecipar a puniccedilatildeo de um cidadatildeo com a perda de algum direito pelo

simples fato de estar respondendo a algum processo

A aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre teraacute como pressuposto o

exame da Constituiccedilatildeo Federal que estabelece o princiacutepio da natildeo-culpabilidade

tambeacutem chamado de princiacutepio da presunccedilatildeo de inocecircncia que eacute uma verdadeira

garantia constitucional do indiviacuteduo contra o Estado Portanto deve-se respeitar este

princiacutepio basilar do Estado Democraacutetico de Direito nos mais diferentes segmentos

devendo qualquer Lei abster-se de considerar culpado aquele que ainda natildeo teve

sua decisatildeo transitada em julgado

Assim a Lei Complementar nordm 1352010 eacute contraacuterio ao disposto no texto

constitucional pois de forma antecipada retira do cidadatildeo o direito de disputar ao

pleito de forma igualitaacuteria bem como retira do povo um de seus maiores direitos o

de poder escolher seus representantes

Portanto para fortalecimento do Estado Democraacutetico de Direito se faz

necessaacuterio que as garantias constitucionais prevaleccedilam com isto deve-se

preponderar a presunccedilatildeo de natildeo culpabilidade ateacute o tracircnsito em julgado de da

sentenccedila condenatoacuteria

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REFEREcircNCIAS BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicao_ConstituiccedilaoCompiladohtmgt Acesso em 2 jun 2011 BRASIL Tribunal Superior Eleitoral Coacutedigo eleitoral Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrinternetjurisprudenciacodigo_eleitoralcodigo_eleitoralhtmlgt Acesso em 5 mai 2011 BRASIL Supremo Tribunal Federal Jurisprudecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudenciapesquisarJurisprudenciaaspgt Acesso em 15 mai 2011 BRASIL Projeto de Lei Complementar nordm 518 de 17 de setembro de 2009 Altera a Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 que estabelece de acordo com o sect 9ordm do art 14 da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias para incluir hipoacuteteses de inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no exerciacutecio do mandato Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbrsfatividademateriadetalhesaspp_cod_mate=96850gt Acesso em 19 mai 2011

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BRASIL Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 Estabelece de acordo com o art 14 sect 9ordm da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03LeisLCPLcp64htmgt Acesso em 15 mai 2011 COSTA Adriano Soares Instituiccedilotildees de Direito Eleitoral Ed Del Rey 2006 DI PIETRO Maria Sylvia Zanella Direito Administrativo 9 Ed Satildeo Paulo Atlas 1998 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131 LEAL Saul Tourinho Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt MELLO Celso Antonio Bandeira Curso de Direito Administrativo 24 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2007 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 ed Satildeo Paulo Atlas 2006 Movimento de Combate agrave Corrupccedilatildeo Disponiacutevel em ltwwwmcceorgbrgt Acesso em 3 jul 2011 NERY JUacuteBNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20 PEREIRA Erick Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt Acesso em 30 jun 2011 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2008

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PIRES Maacutercio Rodrigo Kaio Carvalho Abuso do poder poliacutetico nas eleiccedilotildees Jus Navigandi Teresina ano 15 n 2677 30 out 2010 Disponiacutevel em lthttpjusuolcombrrevistatexto17741gt Acesso em 27 jun 2011 RAMAYANA Marcos Direito Eleitoral Impetus Niteroacutei 2006 RESENHA ELEITORAL - Nova Seacuterie v9 n1 (janjun 2002) Disponiacutevel em lt httpwwwtre-scgovbrsiteinstitucionalpublicacoesartigos-doutrinariospublicados- na-resenha-eleitoralresenhasv9-n1-janjun-2002abuso-do-podereconomico- ou-de-autoridadeindexhtmlgt SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006

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Portanto ficou definido que Lei Complementar sendo editada para casos de

inelegibilidades esta deveraacute respeitar o princiacutepio da natildeo-culpabilidade Ocorre que

foi editada a Lei Complementar nordm 1352010 que atendeu aos reclamos populares

mas preferiu a um soacute tempo violar a Constituiccedilatildeo Federal e desrespeitar a recente

decisatildeo do Supremo Tribunal Federal mesmo que na eacutepoacuteca desta decisatildeo natildeo

havia lei formal para tal situaccedilatildeo

43 PRINCIacutePIO CONSTITUCIONAL DA NAtildeO-CULPABILIDADE

O princiacutepio da natildeo-culpabilidade eacute direito fundamental previsto na

Constituiccedilatildeo Federal no artigo 5deg inciso LVII ldquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute

o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

Isto eacute enquanto natildeo sobrevier uma decisatildeo judicial condenatoacuteria transitada

em julgado o indiviacuteduo natildeo poderaacute sofrer sanccedilotildees em seu patrimocircnio ou em sua

liberdade Caso sobrevenha duacutevida quanto a culpabilidade esta resolveraacute sempre

em favor do reacuteu ou seja aplicando-se o princiacutepio in duacutebio pro reo

Assim disciplina Nelson Nery Juacutenior sobre o princiacutepio da natildeo-culpabilidade ldquoO inteacuterprete deve buscar a aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre tendo como pressuposto o exame da Constituiccedilatildeo Federal Depois sim deve consultar a legislaccedilatildeo infraconstitucional a respeito do temardquo 16

Sendo assim a Constituiccedilatildeo Federal no capiacutetulo sobre os Direitos e Deveres

Individuais e Coletivos em seu artigo 5ordm inciso LVII afirma que ldquoningueacutem seraacute

considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute considerar o

indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila A doutrina e a

jurisprudecircncia aclamam este princiacutepio como vaacuterios nomes como princiacutepio da

presunccedilatildeo de inocecircncia princiacutepio da natildeo-culpabilidade ou simplesmente princiacutepio da

inocecircncia

Joseacute Afonso da Silva em seu livro Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo

disciplina assim esta garantia A norma constitucional do inciso LVII agora sob nosso exame garante a presunccedilatildeo de inocecircncia por meio de um enunciado negativo universal lsquoningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria Usa-se de uma forma

16 NERY JUacuteNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20

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negativa para outorgar uma garantia positiva Na verdade o texto brasileiro natildeo significa outra coisa senatildeo que fica assegurada a todos a presunccedilatildeo de inocecircncia ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria O tracircnsito em julgado se daacute quando a decisatildeo natildeo comporta mais recurso ordinaacuterio especial ou extraordinaacuterio 17

Nesse sentido o indiviacuteduo acusado natildeo pode ser presumidamente culpado

mas sim inocente Tal princiacutepio visa a tutelar a liberdade pessoal de modo que o

Estado nos mais diferentes segmentos deve abster-se de considerar culpado

aquele que ainda natildeo foi submetido agrave definitividade da atuaccedilatildeo jurisdicional Em se tratando de suspensatildeo dos direitos poliacuteticos a Constituiccedilatildeo Federal

garante que a suspensatildeo somente se daraacute por ldquocondenaccedilatildeo criminal transitada em

julgado enquanto durarem seus efeitosrdquo

Julgamento neste sentido REPRESENTACcedilAtildeO SUSPENSAtildeO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS EM VIRTUDE DE SENTENCcedilA PENAL CONDENATOacuteRIA TRANSITADA EM JULGADO AUTO-APLICABILIDADE DOS ARTIGOS 14 sect 3ordm II E 15 III DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL PROCEDEcircNCIA A suspensatildeo dos direitos poliacuteticos do condenado independe de lei regulamentadora bem como de processo especial de cogniccedilatildeo e de anaacutelise de meacuterito para a execuccedilatildeo da medida no juiacutezo eleitoral posto natildeo se tratar de sanccedilatildeo penal mas de efeito natildeo-penal de condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado e decorrente de mandamento constitucional Comprovado o tracircnsito em julgado da sentenccedila penal condenatoacuteria decreta-se automaticamente a suspensatildeo dos direitos poliacuteticos ativo e passivo do representado ou seja o direito de votar e ser votado com a consequumlente exclusatildeo de seu nome da folha de votaccedilatildeo e declaraccedilatildeo de sua inelegibilidade 18

Logo infere-se que a condenaccedilatildeo criminal sem o tracircnsito em julgado natildeo

desqualifica o condenado a votar e a eventualmente concorrer a qualquer cargo

eletivo

O Colendo Tribunal Superior Eleitoral enfrentou esta questatildeo ao apreciar

pedido de registro de candidatura valendo registrar os seguintes julgados RECURSO ESPECIAL RECEBIDO COMO ORDINAacuteRIO REGISTRO DE CANDIDATURA DEFERIMENTO INELEGIBILIDADE NAtildeO-OCORREcircNCIA Condenaccedilatildeo criminal sem tracircnsito em julgado natildeo eacute apta a ensejar inelegibilidade (precedente do TSE acoacuterdatildeo 536 rel Min Fernando Neves publicado em sessatildeo de 882002) Recurso natildeo provido 19

17 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006 p 155 18 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbrgt TRESCndashAcoacuterdatildeo nordm 13324 de 071094 rel Juiz Nilson B Filho Acesso em 16 set 2011 19 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbr gt TSE- REspEl nordm 20247 de 19902 rel Min Sepuacutelveda Pertence Acesso em 16 set 2011

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INELEGIBILIDADE CONDENACcedilAtildeO CRIMINAL NAtildeO TRANSITADA EM JULGADO CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA ART 14 sect 9deg SUacuteMULA Ndeg 13 DO TSE 1 A existecircncia de sentenccedila criminal condenatoacuteria sem o tracircnsito em julgado natildeo eacute suficiente para ocasionar inelegibilidade 2 O art 14 sect 9deg da Constituiccedilatildeo natildeo eacute auto-aplicaacutevel 3 Necessidade de lei complementar estabelecendo os casos em que a vida pregressa do candidato poderaacute levar agrave sua inelegibilidade bem como os prazos de sua cessaccedilatildeo 4 Recurso provido para julgar improcedente a impugnaccedilatildeo e deferir o registro da candidatura 20

Insculpido na Constituiccedilatildeo Federal o principio da natildeo-culpabilidade deve ser

respeitado por toda lei infraconstitucional alguns doutrinadores como Aristides

Junqueira e Antocircnio Bandeira de Mello em carta publica no sitio do Movimento de

Combate agrave Corrupccedilatildeo Eleitoral21 entendem que neste presente caso natildeo deve ser

aplicado o princiacutepio da natildeo-culpabilidade a inelegibilidade pois esta natildeo eacute pena

mas medida preventiva

Estes juristas se acham alicerccedilados pelo que expressamente estatui o sect 9deg do

artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal em que Lei complementar estabeleceraacute outros

casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim de proteger a probidade

administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato considerada a vida

pregressa do candidato afirmam que uma vez que a proacutepria Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica expressamente permite que o legislador estipule quais elementos da vida

pregressa dos candidatos podem afastaacute-los dos pleitos

Independente desta posiccedilatildeo minoritaacuteria encontra-se que o princiacutepio da natildeo-

culpabilidade eacute prevista em diversos ordenamentos juriacutedicos e tratados como se

veraacute a seguir

Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo da Franccedila de 1789 o art

9da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) de 1948 dispotildee ldquoTodo acusado eacute

considerado inocente ateacute ser declarado culpado e se julgar indispensaacutevel prendecirc-lo

todo o rigor desnecessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deveraacute ser severamente

reprimido pela leirdquo22

20 Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrgt TSE-REspEl nordm 18047 de 2992000 rel Min Fernando Neves da Silva Acesso em 16 set 2011 21 Disponiacutevel em lthttpwwwmcceorgbrsitesdefaultfilescartajuristaspdfgt Acesso em 3 jul 2011 22 Disponiacutevel em lthttppfdcpgrmpfgovbratuacao-e-conteudos-de-apoiolegislacaodireitoshuma nosdeclar_dir_ homem_cidadaopdfgt Acesso em 13 set 2011

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Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos de 1948 diz ldquoToda pessoa

acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocecircncia enquanto natildeo se

comprove legalmente sua culpardquo23

A origem histoacuterica que foi referida teve uma grande importacircncia para se

chegar a um status constitucional conforme eacute citado por Mirabete Existe apenas uma tendecircncia agrave presunccedilatildeo de inocecircncia ou mais precisamente um estado de inocecircncia um estado juriacutedico no qual o acusado eacute inocente ateacute que seja declarado culpado por uma sentenccedila transitada em julgado Por isso a nossa Constituiccedilatildeo Federal natildeo presume a inocecircncia mas declara que ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria (art 5deg LVII) ou seja que o acusado eacute inocente durante o desenvolvimento do processo e seu estado soacute se modifica por uma sentenccedila final que o declare culpado 24

Por fim o princiacutepio da natildeo-culpabilidade visa a proteccedilatildeo do reacuteu para que

este tenha um julgamento justo devendo ser provada sua verdadeira culpa antes

que seja considerado culpado

23 Disponiacutevel em lthttpwwwagugovbrsistemassiteTemplateImagemTextoThumbaspxidConteu do=113927ampordenacao=1ampid_site=4922gt Acesso em 12 set 2011 24 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252

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5 CONCLUSAtildeO Apoacutes as anaacutelises da doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncias pertinentes a este

trabalho verifica-se que a Lei Complementar nordm 1352010 ao instituir nova hipoacutetese

de inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado esta em pleno conflito com o princiacutepio da natildeo-culpabilidade insculpido no

artigo 5ordm inciso LVII da Constituiccedilatildeo Federal o que torna esta nova hipoacutetese

absolutamente inconstitucional

O objetivo da Lei Complementar nordm 1352010 eacute o de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos para que os criteacuterios de inelegibilidades sejam mais

rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos Inicialmente eacute compreensiacutevel a

preocupaccedilatildeo de qualificar o perfil dos candidatos a cargos eletivos atraveacutes da vida

pregressa isto significa querer se representar por candidatos idocircneos

Ocorre que eacute necessaacuterio impor tantas restriccedilotildees para que o cidadatildeo possa

concorrer a determinado pleito natildeo eacute mais correto permitir que o proacuteprio povo

detentor soberano do poder para escolher seus representantes defina seus criteacuterios

de escolha

Quanto ao aspecto juriacutedico vejamos que o legislativo ao criar novas hipoacuteteses

de inelegibilidade deve-se atentar para as garantias jaacute consagradas em nosso

ordenamento principalmente quando esta garantia esta insculpida na Constituiccedilatildeo

Federal garantia esta referente ao principio da natildeo-culpabilidade que reza que

ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

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condenatoacuteria trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute

considerar o indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila

Ocorre que a criaccedilatildeo da Lei Complementar nordm 1352010 nasceu conflitante

com a Constituiccedilatildeo Federal em 2 aspectos primordiais primeiro a natildeo observacircncia

do princiacutepio da anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo

Federal pacificado pela Accedilatildeo Declaratoacuteria de Inconstitucionalidade nordm 3685

afirmando que deve-se respeitar ao principio da anualidade e segundo a

inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado

O segundo conflito origina-se diante da garantia constitucional do princiacutepio da

presunccedilatildeo da natildeo-culpabilidade o qual disciplina que somente poderaacute ser

considerado culpado o acusado de determinado crime quando ocorrer o tracircnsito em

julgado da decisatildeo

Portanto temos que uma decisatildeo de um oacutergatildeo colegiado quando recorriacutevel

ainda natildeo eacute o momento que se consumativo da culpabilidade do acusado pois natildeo

podemos antecipar a puniccedilatildeo de um cidadatildeo com a perda de algum direito pelo

simples fato de estar respondendo a algum processo

A aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre teraacute como pressuposto o

exame da Constituiccedilatildeo Federal que estabelece o princiacutepio da natildeo-culpabilidade

tambeacutem chamado de princiacutepio da presunccedilatildeo de inocecircncia que eacute uma verdadeira

garantia constitucional do indiviacuteduo contra o Estado Portanto deve-se respeitar este

princiacutepio basilar do Estado Democraacutetico de Direito nos mais diferentes segmentos

devendo qualquer Lei abster-se de considerar culpado aquele que ainda natildeo teve

sua decisatildeo transitada em julgado

Assim a Lei Complementar nordm 1352010 eacute contraacuterio ao disposto no texto

constitucional pois de forma antecipada retira do cidadatildeo o direito de disputar ao

pleito de forma igualitaacuteria bem como retira do povo um de seus maiores direitos o

de poder escolher seus representantes

Portanto para fortalecimento do Estado Democraacutetico de Direito se faz

necessaacuterio que as garantias constitucionais prevaleccedilam com isto deve-se

preponderar a presunccedilatildeo de natildeo culpabilidade ateacute o tracircnsito em julgado de da

sentenccedila condenatoacuteria

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REFEREcircNCIAS BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicao_ConstituiccedilaoCompiladohtmgt Acesso em 2 jun 2011 BRASIL Tribunal Superior Eleitoral Coacutedigo eleitoral Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrinternetjurisprudenciacodigo_eleitoralcodigo_eleitoralhtmlgt Acesso em 5 mai 2011 BRASIL Supremo Tribunal Federal Jurisprudecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudenciapesquisarJurisprudenciaaspgt Acesso em 15 mai 2011 BRASIL Projeto de Lei Complementar nordm 518 de 17 de setembro de 2009 Altera a Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 que estabelece de acordo com o sect 9ordm do art 14 da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias para incluir hipoacuteteses de inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no exerciacutecio do mandato Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbrsfatividademateriadetalhesaspp_cod_mate=96850gt Acesso em 19 mai 2011

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BRASIL Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 Estabelece de acordo com o art 14 sect 9ordm da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03LeisLCPLcp64htmgt Acesso em 15 mai 2011 COSTA Adriano Soares Instituiccedilotildees de Direito Eleitoral Ed Del Rey 2006 DI PIETRO Maria Sylvia Zanella Direito Administrativo 9 Ed Satildeo Paulo Atlas 1998 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131 LEAL Saul Tourinho Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt MELLO Celso Antonio Bandeira Curso de Direito Administrativo 24 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2007 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 ed Satildeo Paulo Atlas 2006 Movimento de Combate agrave Corrupccedilatildeo Disponiacutevel em ltwwwmcceorgbrgt Acesso em 3 jul 2011 NERY JUacuteBNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20 PEREIRA Erick Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt Acesso em 30 jun 2011 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2008

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PIRES Maacutercio Rodrigo Kaio Carvalho Abuso do poder poliacutetico nas eleiccedilotildees Jus Navigandi Teresina ano 15 n 2677 30 out 2010 Disponiacutevel em lthttpjusuolcombrrevistatexto17741gt Acesso em 27 jun 2011 RAMAYANA Marcos Direito Eleitoral Impetus Niteroacutei 2006 RESENHA ELEITORAL - Nova Seacuterie v9 n1 (janjun 2002) Disponiacutevel em lt httpwwwtre-scgovbrsiteinstitucionalpublicacoesartigos-doutrinariospublicados- na-resenha-eleitoralresenhasv9-n1-janjun-2002abuso-do-podereconomico- ou-de-autoridadeindexhtmlgt SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006

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negativa para outorgar uma garantia positiva Na verdade o texto brasileiro natildeo significa outra coisa senatildeo que fica assegurada a todos a presunccedilatildeo de inocecircncia ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria O tracircnsito em julgado se daacute quando a decisatildeo natildeo comporta mais recurso ordinaacuterio especial ou extraordinaacuterio 17

Nesse sentido o indiviacuteduo acusado natildeo pode ser presumidamente culpado

mas sim inocente Tal princiacutepio visa a tutelar a liberdade pessoal de modo que o

Estado nos mais diferentes segmentos deve abster-se de considerar culpado

aquele que ainda natildeo foi submetido agrave definitividade da atuaccedilatildeo jurisdicional Em se tratando de suspensatildeo dos direitos poliacuteticos a Constituiccedilatildeo Federal

garante que a suspensatildeo somente se daraacute por ldquocondenaccedilatildeo criminal transitada em

julgado enquanto durarem seus efeitosrdquo

Julgamento neste sentido REPRESENTACcedilAtildeO SUSPENSAtildeO DOS DIREITOS POLIacuteTICOS EM VIRTUDE DE SENTENCcedilA PENAL CONDENATOacuteRIA TRANSITADA EM JULGADO AUTO-APLICABILIDADE DOS ARTIGOS 14 sect 3ordm II E 15 III DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL PROCEDEcircNCIA A suspensatildeo dos direitos poliacuteticos do condenado independe de lei regulamentadora bem como de processo especial de cogniccedilatildeo e de anaacutelise de meacuterito para a execuccedilatildeo da medida no juiacutezo eleitoral posto natildeo se tratar de sanccedilatildeo penal mas de efeito natildeo-penal de condenaccedilatildeo criminal transitada em julgado e decorrente de mandamento constitucional Comprovado o tracircnsito em julgado da sentenccedila penal condenatoacuteria decreta-se automaticamente a suspensatildeo dos direitos poliacuteticos ativo e passivo do representado ou seja o direito de votar e ser votado com a consequumlente exclusatildeo de seu nome da folha de votaccedilatildeo e declaraccedilatildeo de sua inelegibilidade 18

Logo infere-se que a condenaccedilatildeo criminal sem o tracircnsito em julgado natildeo

desqualifica o condenado a votar e a eventualmente concorrer a qualquer cargo

eletivo

O Colendo Tribunal Superior Eleitoral enfrentou esta questatildeo ao apreciar

pedido de registro de candidatura valendo registrar os seguintes julgados RECURSO ESPECIAL RECEBIDO COMO ORDINAacuteRIO REGISTRO DE CANDIDATURA DEFERIMENTO INELEGIBILIDADE NAtildeO-OCORREcircNCIA Condenaccedilatildeo criminal sem tracircnsito em julgado natildeo eacute apta a ensejar inelegibilidade (precedente do TSE acoacuterdatildeo 536 rel Min Fernando Neves publicado em sessatildeo de 882002) Recurso natildeo provido 19

17 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006 p 155 18 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbrgt TRESCndashAcoacuterdatildeo nordm 13324 de 071094 rel Juiz Nilson B Filho Acesso em 16 set 2011 19 Disponiacutevel em lt httpwwwtsegovbr gt TSE- REspEl nordm 20247 de 19902 rel Min Sepuacutelveda Pertence Acesso em 16 set 2011

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INELEGIBILIDADE CONDENACcedilAtildeO CRIMINAL NAtildeO TRANSITADA EM JULGADO CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA ART 14 sect 9deg SUacuteMULA Ndeg 13 DO TSE 1 A existecircncia de sentenccedila criminal condenatoacuteria sem o tracircnsito em julgado natildeo eacute suficiente para ocasionar inelegibilidade 2 O art 14 sect 9deg da Constituiccedilatildeo natildeo eacute auto-aplicaacutevel 3 Necessidade de lei complementar estabelecendo os casos em que a vida pregressa do candidato poderaacute levar agrave sua inelegibilidade bem como os prazos de sua cessaccedilatildeo 4 Recurso provido para julgar improcedente a impugnaccedilatildeo e deferir o registro da candidatura 20

Insculpido na Constituiccedilatildeo Federal o principio da natildeo-culpabilidade deve ser

respeitado por toda lei infraconstitucional alguns doutrinadores como Aristides

Junqueira e Antocircnio Bandeira de Mello em carta publica no sitio do Movimento de

Combate agrave Corrupccedilatildeo Eleitoral21 entendem que neste presente caso natildeo deve ser

aplicado o princiacutepio da natildeo-culpabilidade a inelegibilidade pois esta natildeo eacute pena

mas medida preventiva

Estes juristas se acham alicerccedilados pelo que expressamente estatui o sect 9deg do

artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal em que Lei complementar estabeleceraacute outros

casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim de proteger a probidade

administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato considerada a vida

pregressa do candidato afirmam que uma vez que a proacutepria Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica expressamente permite que o legislador estipule quais elementos da vida

pregressa dos candidatos podem afastaacute-los dos pleitos

Independente desta posiccedilatildeo minoritaacuteria encontra-se que o princiacutepio da natildeo-

culpabilidade eacute prevista em diversos ordenamentos juriacutedicos e tratados como se

veraacute a seguir

Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo da Franccedila de 1789 o art

9da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) de 1948 dispotildee ldquoTodo acusado eacute

considerado inocente ateacute ser declarado culpado e se julgar indispensaacutevel prendecirc-lo

todo o rigor desnecessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deveraacute ser severamente

reprimido pela leirdquo22

20 Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrgt TSE-REspEl nordm 18047 de 2992000 rel Min Fernando Neves da Silva Acesso em 16 set 2011 21 Disponiacutevel em lthttpwwwmcceorgbrsitesdefaultfilescartajuristaspdfgt Acesso em 3 jul 2011 22 Disponiacutevel em lthttppfdcpgrmpfgovbratuacao-e-conteudos-de-apoiolegislacaodireitoshuma nosdeclar_dir_ homem_cidadaopdfgt Acesso em 13 set 2011

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Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos de 1948 diz ldquoToda pessoa

acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocecircncia enquanto natildeo se

comprove legalmente sua culpardquo23

A origem histoacuterica que foi referida teve uma grande importacircncia para se

chegar a um status constitucional conforme eacute citado por Mirabete Existe apenas uma tendecircncia agrave presunccedilatildeo de inocecircncia ou mais precisamente um estado de inocecircncia um estado juriacutedico no qual o acusado eacute inocente ateacute que seja declarado culpado por uma sentenccedila transitada em julgado Por isso a nossa Constituiccedilatildeo Federal natildeo presume a inocecircncia mas declara que ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria (art 5deg LVII) ou seja que o acusado eacute inocente durante o desenvolvimento do processo e seu estado soacute se modifica por uma sentenccedila final que o declare culpado 24

Por fim o princiacutepio da natildeo-culpabilidade visa a proteccedilatildeo do reacuteu para que

este tenha um julgamento justo devendo ser provada sua verdadeira culpa antes

que seja considerado culpado

23 Disponiacutevel em lthttpwwwagugovbrsistemassiteTemplateImagemTextoThumbaspxidConteu do=113927ampordenacao=1ampid_site=4922gt Acesso em 12 set 2011 24 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252

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5 CONCLUSAtildeO Apoacutes as anaacutelises da doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncias pertinentes a este

trabalho verifica-se que a Lei Complementar nordm 1352010 ao instituir nova hipoacutetese

de inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado esta em pleno conflito com o princiacutepio da natildeo-culpabilidade insculpido no

artigo 5ordm inciso LVII da Constituiccedilatildeo Federal o que torna esta nova hipoacutetese

absolutamente inconstitucional

O objetivo da Lei Complementar nordm 1352010 eacute o de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos para que os criteacuterios de inelegibilidades sejam mais

rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos Inicialmente eacute compreensiacutevel a

preocupaccedilatildeo de qualificar o perfil dos candidatos a cargos eletivos atraveacutes da vida

pregressa isto significa querer se representar por candidatos idocircneos

Ocorre que eacute necessaacuterio impor tantas restriccedilotildees para que o cidadatildeo possa

concorrer a determinado pleito natildeo eacute mais correto permitir que o proacuteprio povo

detentor soberano do poder para escolher seus representantes defina seus criteacuterios

de escolha

Quanto ao aspecto juriacutedico vejamos que o legislativo ao criar novas hipoacuteteses

de inelegibilidade deve-se atentar para as garantias jaacute consagradas em nosso

ordenamento principalmente quando esta garantia esta insculpida na Constituiccedilatildeo

Federal garantia esta referente ao principio da natildeo-culpabilidade que reza que

ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

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condenatoacuteria trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute

considerar o indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila

Ocorre que a criaccedilatildeo da Lei Complementar nordm 1352010 nasceu conflitante

com a Constituiccedilatildeo Federal em 2 aspectos primordiais primeiro a natildeo observacircncia

do princiacutepio da anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo

Federal pacificado pela Accedilatildeo Declaratoacuteria de Inconstitucionalidade nordm 3685

afirmando que deve-se respeitar ao principio da anualidade e segundo a

inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado

O segundo conflito origina-se diante da garantia constitucional do princiacutepio da

presunccedilatildeo da natildeo-culpabilidade o qual disciplina que somente poderaacute ser

considerado culpado o acusado de determinado crime quando ocorrer o tracircnsito em

julgado da decisatildeo

Portanto temos que uma decisatildeo de um oacutergatildeo colegiado quando recorriacutevel

ainda natildeo eacute o momento que se consumativo da culpabilidade do acusado pois natildeo

podemos antecipar a puniccedilatildeo de um cidadatildeo com a perda de algum direito pelo

simples fato de estar respondendo a algum processo

A aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre teraacute como pressuposto o

exame da Constituiccedilatildeo Federal que estabelece o princiacutepio da natildeo-culpabilidade

tambeacutem chamado de princiacutepio da presunccedilatildeo de inocecircncia que eacute uma verdadeira

garantia constitucional do indiviacuteduo contra o Estado Portanto deve-se respeitar este

princiacutepio basilar do Estado Democraacutetico de Direito nos mais diferentes segmentos

devendo qualquer Lei abster-se de considerar culpado aquele que ainda natildeo teve

sua decisatildeo transitada em julgado

Assim a Lei Complementar nordm 1352010 eacute contraacuterio ao disposto no texto

constitucional pois de forma antecipada retira do cidadatildeo o direito de disputar ao

pleito de forma igualitaacuteria bem como retira do povo um de seus maiores direitos o

de poder escolher seus representantes

Portanto para fortalecimento do Estado Democraacutetico de Direito se faz

necessaacuterio que as garantias constitucionais prevaleccedilam com isto deve-se

preponderar a presunccedilatildeo de natildeo culpabilidade ateacute o tracircnsito em julgado de da

sentenccedila condenatoacuteria

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REFEREcircNCIAS BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicao_ConstituiccedilaoCompiladohtmgt Acesso em 2 jun 2011 BRASIL Tribunal Superior Eleitoral Coacutedigo eleitoral Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrinternetjurisprudenciacodigo_eleitoralcodigo_eleitoralhtmlgt Acesso em 5 mai 2011 BRASIL Supremo Tribunal Federal Jurisprudecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudenciapesquisarJurisprudenciaaspgt Acesso em 15 mai 2011 BRASIL Projeto de Lei Complementar nordm 518 de 17 de setembro de 2009 Altera a Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 que estabelece de acordo com o sect 9ordm do art 14 da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias para incluir hipoacuteteses de inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no exerciacutecio do mandato Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbrsfatividademateriadetalhesaspp_cod_mate=96850gt Acesso em 19 mai 2011

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BRASIL Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 Estabelece de acordo com o art 14 sect 9ordm da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03LeisLCPLcp64htmgt Acesso em 15 mai 2011 COSTA Adriano Soares Instituiccedilotildees de Direito Eleitoral Ed Del Rey 2006 DI PIETRO Maria Sylvia Zanella Direito Administrativo 9 Ed Satildeo Paulo Atlas 1998 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131 LEAL Saul Tourinho Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt MELLO Celso Antonio Bandeira Curso de Direito Administrativo 24 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2007 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 ed Satildeo Paulo Atlas 2006 Movimento de Combate agrave Corrupccedilatildeo Disponiacutevel em ltwwwmcceorgbrgt Acesso em 3 jul 2011 NERY JUacuteBNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20 PEREIRA Erick Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt Acesso em 30 jun 2011 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2008

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PIRES Maacutercio Rodrigo Kaio Carvalho Abuso do poder poliacutetico nas eleiccedilotildees Jus Navigandi Teresina ano 15 n 2677 30 out 2010 Disponiacutevel em lthttpjusuolcombrrevistatexto17741gt Acesso em 27 jun 2011 RAMAYANA Marcos Direito Eleitoral Impetus Niteroacutei 2006 RESENHA ELEITORAL - Nova Seacuterie v9 n1 (janjun 2002) Disponiacutevel em lt httpwwwtre-scgovbrsiteinstitucionalpublicacoesartigos-doutrinariospublicados- na-resenha-eleitoralresenhasv9-n1-janjun-2002abuso-do-podereconomico- ou-de-autoridadeindexhtmlgt SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006

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INELEGIBILIDADE CONDENACcedilAtildeO CRIMINAL NAtildeO TRANSITADA EM JULGADO CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA ART 14 sect 9deg SUacuteMULA Ndeg 13 DO TSE 1 A existecircncia de sentenccedila criminal condenatoacuteria sem o tracircnsito em julgado natildeo eacute suficiente para ocasionar inelegibilidade 2 O art 14 sect 9deg da Constituiccedilatildeo natildeo eacute auto-aplicaacutevel 3 Necessidade de lei complementar estabelecendo os casos em que a vida pregressa do candidato poderaacute levar agrave sua inelegibilidade bem como os prazos de sua cessaccedilatildeo 4 Recurso provido para julgar improcedente a impugnaccedilatildeo e deferir o registro da candidatura 20

Insculpido na Constituiccedilatildeo Federal o principio da natildeo-culpabilidade deve ser

respeitado por toda lei infraconstitucional alguns doutrinadores como Aristides

Junqueira e Antocircnio Bandeira de Mello em carta publica no sitio do Movimento de

Combate agrave Corrupccedilatildeo Eleitoral21 entendem que neste presente caso natildeo deve ser

aplicado o princiacutepio da natildeo-culpabilidade a inelegibilidade pois esta natildeo eacute pena

mas medida preventiva

Estes juristas se acham alicerccedilados pelo que expressamente estatui o sect 9deg do

artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal em que Lei complementar estabeleceraacute outros

casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessaccedilatildeo a fim de proteger a probidade

administrativa a moralidade para exerciacutecio de mandato considerada a vida

pregressa do candidato afirmam que uma vez que a proacutepria Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica expressamente permite que o legislador estipule quais elementos da vida

pregressa dos candidatos podem afastaacute-los dos pleitos

Independente desta posiccedilatildeo minoritaacuteria encontra-se que o princiacutepio da natildeo-

culpabilidade eacute prevista em diversos ordenamentos juriacutedicos e tratados como se

veraacute a seguir

Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo da Franccedila de 1789 o art

9da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) de 1948 dispotildee ldquoTodo acusado eacute

considerado inocente ateacute ser declarado culpado e se julgar indispensaacutevel prendecirc-lo

todo o rigor desnecessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deveraacute ser severamente

reprimido pela leirdquo22

20 Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrgt TSE-REspEl nordm 18047 de 2992000 rel Min Fernando Neves da Silva Acesso em 16 set 2011 21 Disponiacutevel em lthttpwwwmcceorgbrsitesdefaultfilescartajuristaspdfgt Acesso em 3 jul 2011 22 Disponiacutevel em lthttppfdcpgrmpfgovbratuacao-e-conteudos-de-apoiolegislacaodireitoshuma nosdeclar_dir_ homem_cidadaopdfgt Acesso em 13 set 2011

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Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos de 1948 diz ldquoToda pessoa

acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocecircncia enquanto natildeo se

comprove legalmente sua culpardquo23

A origem histoacuterica que foi referida teve uma grande importacircncia para se

chegar a um status constitucional conforme eacute citado por Mirabete Existe apenas uma tendecircncia agrave presunccedilatildeo de inocecircncia ou mais precisamente um estado de inocecircncia um estado juriacutedico no qual o acusado eacute inocente ateacute que seja declarado culpado por uma sentenccedila transitada em julgado Por isso a nossa Constituiccedilatildeo Federal natildeo presume a inocecircncia mas declara que ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria (art 5deg LVII) ou seja que o acusado eacute inocente durante o desenvolvimento do processo e seu estado soacute se modifica por uma sentenccedila final que o declare culpado 24

Por fim o princiacutepio da natildeo-culpabilidade visa a proteccedilatildeo do reacuteu para que

este tenha um julgamento justo devendo ser provada sua verdadeira culpa antes

que seja considerado culpado

23 Disponiacutevel em lthttpwwwagugovbrsistemassiteTemplateImagemTextoThumbaspxidConteu do=113927ampordenacao=1ampid_site=4922gt Acesso em 12 set 2011 24 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252

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5 CONCLUSAtildeO Apoacutes as anaacutelises da doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncias pertinentes a este

trabalho verifica-se que a Lei Complementar nordm 1352010 ao instituir nova hipoacutetese

de inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado esta em pleno conflito com o princiacutepio da natildeo-culpabilidade insculpido no

artigo 5ordm inciso LVII da Constituiccedilatildeo Federal o que torna esta nova hipoacutetese

absolutamente inconstitucional

O objetivo da Lei Complementar nordm 1352010 eacute o de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos para que os criteacuterios de inelegibilidades sejam mais

rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos Inicialmente eacute compreensiacutevel a

preocupaccedilatildeo de qualificar o perfil dos candidatos a cargos eletivos atraveacutes da vida

pregressa isto significa querer se representar por candidatos idocircneos

Ocorre que eacute necessaacuterio impor tantas restriccedilotildees para que o cidadatildeo possa

concorrer a determinado pleito natildeo eacute mais correto permitir que o proacuteprio povo

detentor soberano do poder para escolher seus representantes defina seus criteacuterios

de escolha

Quanto ao aspecto juriacutedico vejamos que o legislativo ao criar novas hipoacuteteses

de inelegibilidade deve-se atentar para as garantias jaacute consagradas em nosso

ordenamento principalmente quando esta garantia esta insculpida na Constituiccedilatildeo

Federal garantia esta referente ao principio da natildeo-culpabilidade que reza que

ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

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condenatoacuteria trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute

considerar o indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila

Ocorre que a criaccedilatildeo da Lei Complementar nordm 1352010 nasceu conflitante

com a Constituiccedilatildeo Federal em 2 aspectos primordiais primeiro a natildeo observacircncia

do princiacutepio da anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo

Federal pacificado pela Accedilatildeo Declaratoacuteria de Inconstitucionalidade nordm 3685

afirmando que deve-se respeitar ao principio da anualidade e segundo a

inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado

O segundo conflito origina-se diante da garantia constitucional do princiacutepio da

presunccedilatildeo da natildeo-culpabilidade o qual disciplina que somente poderaacute ser

considerado culpado o acusado de determinado crime quando ocorrer o tracircnsito em

julgado da decisatildeo

Portanto temos que uma decisatildeo de um oacutergatildeo colegiado quando recorriacutevel

ainda natildeo eacute o momento que se consumativo da culpabilidade do acusado pois natildeo

podemos antecipar a puniccedilatildeo de um cidadatildeo com a perda de algum direito pelo

simples fato de estar respondendo a algum processo

A aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre teraacute como pressuposto o

exame da Constituiccedilatildeo Federal que estabelece o princiacutepio da natildeo-culpabilidade

tambeacutem chamado de princiacutepio da presunccedilatildeo de inocecircncia que eacute uma verdadeira

garantia constitucional do indiviacuteduo contra o Estado Portanto deve-se respeitar este

princiacutepio basilar do Estado Democraacutetico de Direito nos mais diferentes segmentos

devendo qualquer Lei abster-se de considerar culpado aquele que ainda natildeo teve

sua decisatildeo transitada em julgado

Assim a Lei Complementar nordm 1352010 eacute contraacuterio ao disposto no texto

constitucional pois de forma antecipada retira do cidadatildeo o direito de disputar ao

pleito de forma igualitaacuteria bem como retira do povo um de seus maiores direitos o

de poder escolher seus representantes

Portanto para fortalecimento do Estado Democraacutetico de Direito se faz

necessaacuterio que as garantias constitucionais prevaleccedilam com isto deve-se

preponderar a presunccedilatildeo de natildeo culpabilidade ateacute o tracircnsito em julgado de da

sentenccedila condenatoacuteria

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REFEREcircNCIAS BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicao_ConstituiccedilaoCompiladohtmgt Acesso em 2 jun 2011 BRASIL Tribunal Superior Eleitoral Coacutedigo eleitoral Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrinternetjurisprudenciacodigo_eleitoralcodigo_eleitoralhtmlgt Acesso em 5 mai 2011 BRASIL Supremo Tribunal Federal Jurisprudecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudenciapesquisarJurisprudenciaaspgt Acesso em 15 mai 2011 BRASIL Projeto de Lei Complementar nordm 518 de 17 de setembro de 2009 Altera a Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 que estabelece de acordo com o sect 9ordm do art 14 da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias para incluir hipoacuteteses de inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no exerciacutecio do mandato Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbrsfatividademateriadetalhesaspp_cod_mate=96850gt Acesso em 19 mai 2011

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BRASIL Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 Estabelece de acordo com o art 14 sect 9ordm da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03LeisLCPLcp64htmgt Acesso em 15 mai 2011 COSTA Adriano Soares Instituiccedilotildees de Direito Eleitoral Ed Del Rey 2006 DI PIETRO Maria Sylvia Zanella Direito Administrativo 9 Ed Satildeo Paulo Atlas 1998 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131 LEAL Saul Tourinho Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt MELLO Celso Antonio Bandeira Curso de Direito Administrativo 24 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2007 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 ed Satildeo Paulo Atlas 2006 Movimento de Combate agrave Corrupccedilatildeo Disponiacutevel em ltwwwmcceorgbrgt Acesso em 3 jul 2011 NERY JUacuteBNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20 PEREIRA Erick Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt Acesso em 30 jun 2011 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2008

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PIRES Maacutercio Rodrigo Kaio Carvalho Abuso do poder poliacutetico nas eleiccedilotildees Jus Navigandi Teresina ano 15 n 2677 30 out 2010 Disponiacutevel em lthttpjusuolcombrrevistatexto17741gt Acesso em 27 jun 2011 RAMAYANA Marcos Direito Eleitoral Impetus Niteroacutei 2006 RESENHA ELEITORAL - Nova Seacuterie v9 n1 (janjun 2002) Disponiacutevel em lt httpwwwtre-scgovbrsiteinstitucionalpublicacoesartigos-doutrinariospublicados- na-resenha-eleitoralresenhasv9-n1-janjun-2002abuso-do-podereconomico- ou-de-autoridadeindexhtmlgt SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006

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Convenccedilatildeo Americana sobre Direitos Humanos de 1948 diz ldquoToda pessoa

acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocecircncia enquanto natildeo se

comprove legalmente sua culpardquo23

A origem histoacuterica que foi referida teve uma grande importacircncia para se

chegar a um status constitucional conforme eacute citado por Mirabete Existe apenas uma tendecircncia agrave presunccedilatildeo de inocecircncia ou mais precisamente um estado de inocecircncia um estado juriacutedico no qual o acusado eacute inocente ateacute que seja declarado culpado por uma sentenccedila transitada em julgado Por isso a nossa Constituiccedilatildeo Federal natildeo presume a inocecircncia mas declara que ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteria (art 5deg LVII) ou seja que o acusado eacute inocente durante o desenvolvimento do processo e seu estado soacute se modifica por uma sentenccedila final que o declare culpado 24

Por fim o princiacutepio da natildeo-culpabilidade visa a proteccedilatildeo do reacuteu para que

este tenha um julgamento justo devendo ser provada sua verdadeira culpa antes

que seja considerado culpado

23 Disponiacutevel em lthttpwwwagugovbrsistemassiteTemplateImagemTextoThumbaspxidConteu do=113927ampordenacao=1ampid_site=4922gt Acesso em 12 set 2011 24 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252

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5 CONCLUSAtildeO Apoacutes as anaacutelises da doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncias pertinentes a este

trabalho verifica-se que a Lei Complementar nordm 1352010 ao instituir nova hipoacutetese

de inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado esta em pleno conflito com o princiacutepio da natildeo-culpabilidade insculpido no

artigo 5ordm inciso LVII da Constituiccedilatildeo Federal o que torna esta nova hipoacutetese

absolutamente inconstitucional

O objetivo da Lei Complementar nordm 1352010 eacute o de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos para que os criteacuterios de inelegibilidades sejam mais

rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos Inicialmente eacute compreensiacutevel a

preocupaccedilatildeo de qualificar o perfil dos candidatos a cargos eletivos atraveacutes da vida

pregressa isto significa querer se representar por candidatos idocircneos

Ocorre que eacute necessaacuterio impor tantas restriccedilotildees para que o cidadatildeo possa

concorrer a determinado pleito natildeo eacute mais correto permitir que o proacuteprio povo

detentor soberano do poder para escolher seus representantes defina seus criteacuterios

de escolha

Quanto ao aspecto juriacutedico vejamos que o legislativo ao criar novas hipoacuteteses

de inelegibilidade deve-se atentar para as garantias jaacute consagradas em nosso

ordenamento principalmente quando esta garantia esta insculpida na Constituiccedilatildeo

Federal garantia esta referente ao principio da natildeo-culpabilidade que reza que

ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

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condenatoacuteria trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute

considerar o indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila

Ocorre que a criaccedilatildeo da Lei Complementar nordm 1352010 nasceu conflitante

com a Constituiccedilatildeo Federal em 2 aspectos primordiais primeiro a natildeo observacircncia

do princiacutepio da anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo

Federal pacificado pela Accedilatildeo Declaratoacuteria de Inconstitucionalidade nordm 3685

afirmando que deve-se respeitar ao principio da anualidade e segundo a

inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado

O segundo conflito origina-se diante da garantia constitucional do princiacutepio da

presunccedilatildeo da natildeo-culpabilidade o qual disciplina que somente poderaacute ser

considerado culpado o acusado de determinado crime quando ocorrer o tracircnsito em

julgado da decisatildeo

Portanto temos que uma decisatildeo de um oacutergatildeo colegiado quando recorriacutevel

ainda natildeo eacute o momento que se consumativo da culpabilidade do acusado pois natildeo

podemos antecipar a puniccedilatildeo de um cidadatildeo com a perda de algum direito pelo

simples fato de estar respondendo a algum processo

A aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre teraacute como pressuposto o

exame da Constituiccedilatildeo Federal que estabelece o princiacutepio da natildeo-culpabilidade

tambeacutem chamado de princiacutepio da presunccedilatildeo de inocecircncia que eacute uma verdadeira

garantia constitucional do indiviacuteduo contra o Estado Portanto deve-se respeitar este

princiacutepio basilar do Estado Democraacutetico de Direito nos mais diferentes segmentos

devendo qualquer Lei abster-se de considerar culpado aquele que ainda natildeo teve

sua decisatildeo transitada em julgado

Assim a Lei Complementar nordm 1352010 eacute contraacuterio ao disposto no texto

constitucional pois de forma antecipada retira do cidadatildeo o direito de disputar ao

pleito de forma igualitaacuteria bem como retira do povo um de seus maiores direitos o

de poder escolher seus representantes

Portanto para fortalecimento do Estado Democraacutetico de Direito se faz

necessaacuterio que as garantias constitucionais prevaleccedilam com isto deve-se

preponderar a presunccedilatildeo de natildeo culpabilidade ateacute o tracircnsito em julgado de da

sentenccedila condenatoacuteria

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REFEREcircNCIAS BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicao_ConstituiccedilaoCompiladohtmgt Acesso em 2 jun 2011 BRASIL Tribunal Superior Eleitoral Coacutedigo eleitoral Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrinternetjurisprudenciacodigo_eleitoralcodigo_eleitoralhtmlgt Acesso em 5 mai 2011 BRASIL Supremo Tribunal Federal Jurisprudecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudenciapesquisarJurisprudenciaaspgt Acesso em 15 mai 2011 BRASIL Projeto de Lei Complementar nordm 518 de 17 de setembro de 2009 Altera a Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 que estabelece de acordo com o sect 9ordm do art 14 da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias para incluir hipoacuteteses de inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no exerciacutecio do mandato Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbrsfatividademateriadetalhesaspp_cod_mate=96850gt Acesso em 19 mai 2011

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BRASIL Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 Estabelece de acordo com o art 14 sect 9ordm da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03LeisLCPLcp64htmgt Acesso em 15 mai 2011 COSTA Adriano Soares Instituiccedilotildees de Direito Eleitoral Ed Del Rey 2006 DI PIETRO Maria Sylvia Zanella Direito Administrativo 9 Ed Satildeo Paulo Atlas 1998 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131 LEAL Saul Tourinho Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt MELLO Celso Antonio Bandeira Curso de Direito Administrativo 24 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2007 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 ed Satildeo Paulo Atlas 2006 Movimento de Combate agrave Corrupccedilatildeo Disponiacutevel em ltwwwmcceorgbrgt Acesso em 3 jul 2011 NERY JUacuteBNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20 PEREIRA Erick Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt Acesso em 30 jun 2011 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2008

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PIRES Maacutercio Rodrigo Kaio Carvalho Abuso do poder poliacutetico nas eleiccedilotildees Jus Navigandi Teresina ano 15 n 2677 30 out 2010 Disponiacutevel em lthttpjusuolcombrrevistatexto17741gt Acesso em 27 jun 2011 RAMAYANA Marcos Direito Eleitoral Impetus Niteroacutei 2006 RESENHA ELEITORAL - Nova Seacuterie v9 n1 (janjun 2002) Disponiacutevel em lt httpwwwtre-scgovbrsiteinstitucionalpublicacoesartigos-doutrinariospublicados- na-resenha-eleitoralresenhasv9-n1-janjun-2002abuso-do-podereconomico- ou-de-autoridadeindexhtmlgt SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006

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5 CONCLUSAtildeO Apoacutes as anaacutelises da doutrina legislaccedilatildeo e jurisprudecircncias pertinentes a este

trabalho verifica-se que a Lei Complementar nordm 1352010 ao instituir nova hipoacutetese

de inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado esta em pleno conflito com o princiacutepio da natildeo-culpabilidade insculpido no

artigo 5ordm inciso LVII da Constituiccedilatildeo Federal o que torna esta nova hipoacutetese

absolutamente inconstitucional

O objetivo da Lei Complementar nordm 1352010 eacute o de qualificar o perfil dos

candidatos a cargos eletivos para que os criteacuterios de inelegibilidades sejam mais

rigorosos atraveacutes da vida pregressa dos mesmos Inicialmente eacute compreensiacutevel a

preocupaccedilatildeo de qualificar o perfil dos candidatos a cargos eletivos atraveacutes da vida

pregressa isto significa querer se representar por candidatos idocircneos

Ocorre que eacute necessaacuterio impor tantas restriccedilotildees para que o cidadatildeo possa

concorrer a determinado pleito natildeo eacute mais correto permitir que o proacuteprio povo

detentor soberano do poder para escolher seus representantes defina seus criteacuterios

de escolha

Quanto ao aspecto juriacutedico vejamos que o legislativo ao criar novas hipoacuteteses

de inelegibilidade deve-se atentar para as garantias jaacute consagradas em nosso

ordenamento principalmente quando esta garantia esta insculpida na Constituiccedilatildeo

Federal garantia esta referente ao principio da natildeo-culpabilidade que reza que

ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal

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condenatoacuteria trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute

considerar o indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila

Ocorre que a criaccedilatildeo da Lei Complementar nordm 1352010 nasceu conflitante

com a Constituiccedilatildeo Federal em 2 aspectos primordiais primeiro a natildeo observacircncia

do princiacutepio da anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo

Federal pacificado pela Accedilatildeo Declaratoacuteria de Inconstitucionalidade nordm 3685

afirmando que deve-se respeitar ao principio da anualidade e segundo a

inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado

O segundo conflito origina-se diante da garantia constitucional do princiacutepio da

presunccedilatildeo da natildeo-culpabilidade o qual disciplina que somente poderaacute ser

considerado culpado o acusado de determinado crime quando ocorrer o tracircnsito em

julgado da decisatildeo

Portanto temos que uma decisatildeo de um oacutergatildeo colegiado quando recorriacutevel

ainda natildeo eacute o momento que se consumativo da culpabilidade do acusado pois natildeo

podemos antecipar a puniccedilatildeo de um cidadatildeo com a perda de algum direito pelo

simples fato de estar respondendo a algum processo

A aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre teraacute como pressuposto o

exame da Constituiccedilatildeo Federal que estabelece o princiacutepio da natildeo-culpabilidade

tambeacutem chamado de princiacutepio da presunccedilatildeo de inocecircncia que eacute uma verdadeira

garantia constitucional do indiviacuteduo contra o Estado Portanto deve-se respeitar este

princiacutepio basilar do Estado Democraacutetico de Direito nos mais diferentes segmentos

devendo qualquer Lei abster-se de considerar culpado aquele que ainda natildeo teve

sua decisatildeo transitada em julgado

Assim a Lei Complementar nordm 1352010 eacute contraacuterio ao disposto no texto

constitucional pois de forma antecipada retira do cidadatildeo o direito de disputar ao

pleito de forma igualitaacuteria bem como retira do povo um de seus maiores direitos o

de poder escolher seus representantes

Portanto para fortalecimento do Estado Democraacutetico de Direito se faz

necessaacuterio que as garantias constitucionais prevaleccedilam com isto deve-se

preponderar a presunccedilatildeo de natildeo culpabilidade ateacute o tracircnsito em julgado de da

sentenccedila condenatoacuteria

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REFEREcircNCIAS BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicao_ConstituiccedilaoCompiladohtmgt Acesso em 2 jun 2011 BRASIL Tribunal Superior Eleitoral Coacutedigo eleitoral Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrinternetjurisprudenciacodigo_eleitoralcodigo_eleitoralhtmlgt Acesso em 5 mai 2011 BRASIL Supremo Tribunal Federal Jurisprudecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudenciapesquisarJurisprudenciaaspgt Acesso em 15 mai 2011 BRASIL Projeto de Lei Complementar nordm 518 de 17 de setembro de 2009 Altera a Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 que estabelece de acordo com o sect 9ordm do art 14 da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias para incluir hipoacuteteses de inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no exerciacutecio do mandato Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbrsfatividademateriadetalhesaspp_cod_mate=96850gt Acesso em 19 mai 2011

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BRASIL Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 Estabelece de acordo com o art 14 sect 9ordm da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03LeisLCPLcp64htmgt Acesso em 15 mai 2011 COSTA Adriano Soares Instituiccedilotildees de Direito Eleitoral Ed Del Rey 2006 DI PIETRO Maria Sylvia Zanella Direito Administrativo 9 Ed Satildeo Paulo Atlas 1998 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131 LEAL Saul Tourinho Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt MELLO Celso Antonio Bandeira Curso de Direito Administrativo 24 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2007 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 ed Satildeo Paulo Atlas 2006 Movimento de Combate agrave Corrupccedilatildeo Disponiacutevel em ltwwwmcceorgbrgt Acesso em 3 jul 2011 NERY JUacuteBNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20 PEREIRA Erick Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt Acesso em 30 jun 2011 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2008

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PIRES Maacutercio Rodrigo Kaio Carvalho Abuso do poder poliacutetico nas eleiccedilotildees Jus Navigandi Teresina ano 15 n 2677 30 out 2010 Disponiacutevel em lthttpjusuolcombrrevistatexto17741gt Acesso em 27 jun 2011 RAMAYANA Marcos Direito Eleitoral Impetus Niteroacutei 2006 RESENHA ELEITORAL - Nova Seacuterie v9 n1 (janjun 2002) Disponiacutevel em lt httpwwwtre-scgovbrsiteinstitucionalpublicacoesartigos-doutrinariospublicados- na-resenha-eleitoralresenhasv9-n1-janjun-2002abuso-do-podereconomico- ou-de-autoridadeindexhtmlgt SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006

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condenatoacuteria trata-se de uma garantia individual contra o Estado e este natildeo poderaacute

considerar o indiviacuteduo culpado se natildeo apoacutes o tracircnsito em julgado da sentenccedila

Ocorre que a criaccedilatildeo da Lei Complementar nordm 1352010 nasceu conflitante

com a Constituiccedilatildeo Federal em 2 aspectos primordiais primeiro a natildeo observacircncia

do princiacutepio da anualidade eleitoral estabelecido no artigo 16 da Constituiccedilatildeo

Federal pacificado pela Accedilatildeo Declaratoacuteria de Inconstitucionalidade nordm 3685

afirmando que deve-se respeitar ao principio da anualidade e segundo a

inelegibilidade decorrente de condenaccedilotildees colegiadas antes de seu tracircnsito em

julgado

O segundo conflito origina-se diante da garantia constitucional do princiacutepio da

presunccedilatildeo da natildeo-culpabilidade o qual disciplina que somente poderaacute ser

considerado culpado o acusado de determinado crime quando ocorrer o tracircnsito em

julgado da decisatildeo

Portanto temos que uma decisatildeo de um oacutergatildeo colegiado quando recorriacutevel

ainda natildeo eacute o momento que se consumativo da culpabilidade do acusado pois natildeo

podemos antecipar a puniccedilatildeo de um cidadatildeo com a perda de algum direito pelo

simples fato de estar respondendo a algum processo

A aplicaccedilatildeo do direito ao caso concreto sempre teraacute como pressuposto o

exame da Constituiccedilatildeo Federal que estabelece o princiacutepio da natildeo-culpabilidade

tambeacutem chamado de princiacutepio da presunccedilatildeo de inocecircncia que eacute uma verdadeira

garantia constitucional do indiviacuteduo contra o Estado Portanto deve-se respeitar este

princiacutepio basilar do Estado Democraacutetico de Direito nos mais diferentes segmentos

devendo qualquer Lei abster-se de considerar culpado aquele que ainda natildeo teve

sua decisatildeo transitada em julgado

Assim a Lei Complementar nordm 1352010 eacute contraacuterio ao disposto no texto

constitucional pois de forma antecipada retira do cidadatildeo o direito de disputar ao

pleito de forma igualitaacuteria bem como retira do povo um de seus maiores direitos o

de poder escolher seus representantes

Portanto para fortalecimento do Estado Democraacutetico de Direito se faz

necessaacuterio que as garantias constitucionais prevaleccedilam com isto deve-se

preponderar a presunccedilatildeo de natildeo culpabilidade ateacute o tracircnsito em julgado de da

sentenccedila condenatoacuteria

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REFEREcircNCIAS BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicao_ConstituiccedilaoCompiladohtmgt Acesso em 2 jun 2011 BRASIL Tribunal Superior Eleitoral Coacutedigo eleitoral Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrinternetjurisprudenciacodigo_eleitoralcodigo_eleitoralhtmlgt Acesso em 5 mai 2011 BRASIL Supremo Tribunal Federal Jurisprudecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudenciapesquisarJurisprudenciaaspgt Acesso em 15 mai 2011 BRASIL Projeto de Lei Complementar nordm 518 de 17 de setembro de 2009 Altera a Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 que estabelece de acordo com o sect 9ordm do art 14 da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias para incluir hipoacuteteses de inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no exerciacutecio do mandato Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbrsfatividademateriadetalhesaspp_cod_mate=96850gt Acesso em 19 mai 2011

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BRASIL Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 Estabelece de acordo com o art 14 sect 9ordm da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03LeisLCPLcp64htmgt Acesso em 15 mai 2011 COSTA Adriano Soares Instituiccedilotildees de Direito Eleitoral Ed Del Rey 2006 DI PIETRO Maria Sylvia Zanella Direito Administrativo 9 Ed Satildeo Paulo Atlas 1998 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131 LEAL Saul Tourinho Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt MELLO Celso Antonio Bandeira Curso de Direito Administrativo 24 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2007 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 ed Satildeo Paulo Atlas 2006 Movimento de Combate agrave Corrupccedilatildeo Disponiacutevel em ltwwwmcceorgbrgt Acesso em 3 jul 2011 NERY JUacuteBNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20 PEREIRA Erick Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt Acesso em 30 jun 2011 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2008

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PIRES Maacutercio Rodrigo Kaio Carvalho Abuso do poder poliacutetico nas eleiccedilotildees Jus Navigandi Teresina ano 15 n 2677 30 out 2010 Disponiacutevel em lthttpjusuolcombrrevistatexto17741gt Acesso em 27 jun 2011 RAMAYANA Marcos Direito Eleitoral Impetus Niteroacutei 2006 RESENHA ELEITORAL - Nova Seacuterie v9 n1 (janjun 2002) Disponiacutevel em lt httpwwwtre-scgovbrsiteinstitucionalpublicacoesartigos-doutrinariospublicados- na-resenha-eleitoralresenhasv9-n1-janjun-2002abuso-do-podereconomico- ou-de-autoridadeindexhtmlgt SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006

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REFEREcircNCIAS BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicao_ConstituiccedilaoCompiladohtmgt Acesso em 2 jun 2011 BRASIL Tribunal Superior Eleitoral Coacutedigo eleitoral Disponiacutevel em lthttpwwwtsegovbrinternetjurisprudenciacodigo_eleitoralcodigo_eleitoralhtmlgt Acesso em 5 mai 2011 BRASIL Supremo Tribunal Federal Jurisprudecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudenciapesquisarJurisprudenciaaspgt Acesso em 15 mai 2011 BRASIL Projeto de Lei Complementar nordm 518 de 17 de setembro de 2009 Altera a Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 que estabelece de acordo com o sect 9ordm do art 14 da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias para incluir hipoacuteteses de inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no exerciacutecio do mandato Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbrsfatividademateriadetalhesaspp_cod_mate=96850gt Acesso em 19 mai 2011

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BRASIL Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 Estabelece de acordo com o art 14 sect 9ordm da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03LeisLCPLcp64htmgt Acesso em 15 mai 2011 COSTA Adriano Soares Instituiccedilotildees de Direito Eleitoral Ed Del Rey 2006 DI PIETRO Maria Sylvia Zanella Direito Administrativo 9 Ed Satildeo Paulo Atlas 1998 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131 LEAL Saul Tourinho Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt MELLO Celso Antonio Bandeira Curso de Direito Administrativo 24 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2007 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 ed Satildeo Paulo Atlas 2006 Movimento de Combate agrave Corrupccedilatildeo Disponiacutevel em ltwwwmcceorgbrgt Acesso em 3 jul 2011 NERY JUacuteBNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20 PEREIRA Erick Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt Acesso em 30 jun 2011 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2008

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PIRES Maacutercio Rodrigo Kaio Carvalho Abuso do poder poliacutetico nas eleiccedilotildees Jus Navigandi Teresina ano 15 n 2677 30 out 2010 Disponiacutevel em lthttpjusuolcombrrevistatexto17741gt Acesso em 27 jun 2011 RAMAYANA Marcos Direito Eleitoral Impetus Niteroacutei 2006 RESENHA ELEITORAL - Nova Seacuterie v9 n1 (janjun 2002) Disponiacutevel em lt httpwwwtre-scgovbrsiteinstitucionalpublicacoesartigos-doutrinariospublicados- na-resenha-eleitoralresenhasv9-n1-janjun-2002abuso-do-podereconomico- ou-de-autoridadeindexhtmlgt SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006

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BRASIL Lei Complementar nordm 64 de 18 de maio de 1990 Estabelece de acordo com o art 14 sect 9ordm da Constituiccedilatildeo Federal casos de inelegibilidade prazos de cessaccedilatildeo e determina outras providecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03LeisLCPLcp64htmgt Acesso em 15 mai 2011 COSTA Adriano Soares Instituiccedilotildees de Direito Eleitoral Ed Del Rey 2006 DI PIETRO Maria Sylvia Zanella Direito Administrativo 9 Ed Satildeo Paulo Atlas 1998 GOMES Joseacute Jairo Direito Eleitoral Belo Horizonte Del Rey 2008 p 131 LEAL Saul Tourinho Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt MELLO Celso Antonio Bandeira Curso de Direito Administrativo 24 Ed Satildeo Paulo Malheiros 2007 MENDES Gilmar Ferreira COELHO Inocecircncio Maacutertires BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 4 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 MIRABETE Juacutelio Fabbrine Curso de Processo Penal Satildeo Paulo Ed Atlas 2003 p 252 MORAES Alexandre de Direito Constitucional 20 ed Satildeo Paulo Atlas 2006 Movimento de Combate agrave Corrupccedilatildeo Disponiacutevel em ltwwwmcceorgbrgt Acesso em 3 jul 2011 NERY JUacuteBNIOR Nelson Princiacutepios do Processo Civil na Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo RT 2000 p 20 PEREIRA Erick Lei Ficha Limpa eacute inconstitucional Entrevistador Eurico Batista CONJUR Disponiacutevel em lthttpwwwconjurcombr2010-mai-19lei-ficha-limpa-aprovadacongresso- inconstitucional-dizem-juristasgt Acesso em 30 jun 2011 PINTO Djalma Direito Eleitoral 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2008

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PIRES Maacutercio Rodrigo Kaio Carvalho Abuso do poder poliacutetico nas eleiccedilotildees Jus Navigandi Teresina ano 15 n 2677 30 out 2010 Disponiacutevel em lthttpjusuolcombrrevistatexto17741gt Acesso em 27 jun 2011 RAMAYANA Marcos Direito Eleitoral Impetus Niteroacutei 2006 RESENHA ELEITORAL - Nova Seacuterie v9 n1 (janjun 2002) Disponiacutevel em lt httpwwwtre-scgovbrsiteinstitucionalpublicacoesartigos-doutrinariospublicados- na-resenha-eleitoralresenhasv9-n1-janjun-2002abuso-do-podereconomico- ou-de-autoridadeindexhtmlgt SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006

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PIRES Maacutercio Rodrigo Kaio Carvalho Abuso do poder poliacutetico nas eleiccedilotildees Jus Navigandi Teresina ano 15 n 2677 30 out 2010 Disponiacutevel em lthttpjusuolcombrrevistatexto17741gt Acesso em 27 jun 2011 RAMAYANA Marcos Direito Eleitoral Impetus Niteroacutei 2006 RESENHA ELEITORAL - Nova Seacuterie v9 n1 (janjun 2002) Disponiacutevel em lt httpwwwtre-scgovbrsiteinstitucionalpublicacoesartigos-doutrinariospublicados- na-resenha-eleitoralresenhasv9-n1-janjun-2002abuso-do-podereconomico- ou-de-autoridadeindexhtmlgt SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 23 ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 SILVA Joseacute Afonso da Comentaacuterio Contextual agrave Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2006