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8ª CONFERÊNCIA ESTADUAL DE SAÚDE
CONTRIBUIÇÕES PARA O EIXO TEMÁTICO : “ACESSO E ACOLHIMENTO NO SUS –
DESAFIOS NA CONSTRUÇAO DE UMA POLÍTICA SAUDÁVEL E SUSTENTÁVEL”.
1ª VERSÃO
SALVADOR – BA
2011
GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA Secretaria da Saúde do Estado da Bahia – SESAB Conselho Estadual de Saúde 8ª Conferência Estadual de Saúde
APRESENTAÇÃO
As grandes discussões que vêm sendo realizadas em torno da determinação social da saúde, no
contexto mundial e nacional, trazem uma concepção ampliada da saúde, em que os determinantes
relacionados aos comportamentos individuais e/ou às condições de vida e trabalho encontram-se
estreitamente associados aos da macroestrutura econômica, social e cultural.
O Governo do Estado identifica como macroproblema estadual a “baixa qualidade de vida da sua
população, com alto nível de desigualdade social, elevado desequilíbrio territorial, baixa
integração econômica e reduzido padrão de utilização sustentável dos recursos produtivos efetivos
e potenciais” (BAHIA, 2010a).
No contexto deste macroproblema, a Saúde, parte das políticas sociais é compreendida para além da
prevenção, cura e reabilitação, incorporando a Promoção da Saúde, em sua dimensão ampliada, que
coloca em destaque os determinantes sociais na condução da Política de Saúde do Estado,
avançando nas concepções estratégicas de planejamento para além dos limites de cada uma das
instâncias formais de atuação do Governo, institucionalizadas por suas secretarias e órgãos
correlatos (BAHIA, 2010b). Nesta perspectiva o grande desafio é garantir a articulação com as
demais políticas públicas, revisitando estratégias ultrapassadas de controle de doenças
transmissíveis e investindo em práticas humanizadas de gestão e de cuidado na saúde, para garantir
acesso universal, integral, e equânime ao sistema e serviços de saúde.
Esta constatação reforça o movimento da Conferência Nacional de Saúde, que em sua 14ª versão
reafirma a importância do Sistema Único de Saúde como política capaz de enfrentar este desafio,
quando traz como tema central: “TODOS USAM O SUS! SUS NA SEGURIDADE SOCIAL,
POLÍTICA PÚBLICA E PATRIMÔNIO DO POVO BRASILEIRO”.
A 8ª Conferência Estadual de Saúde, apoiando-se na temática nacional, amplia o olhar sobre o papel
do SUS, amparando-se na Promoção da Saúde como matriz orientadora da construção de uma Bahia
Mais Saudável, tendo a questão da construção de políticas públicas saudáveis e sustentáveis; do
fomento a ambientes favoráveis à saúde e qualidade de vida; do fortalecimento da participação,
controle social e ação comunitária; do desenvolvimento de habilidades pessoais e do autocuidado; e
a reorientação do sistema de saúde para o cuidado integral ao ser humano nas diversas fases da vida
como determinantes na garantia do acesso e do acolhimento com qualidade no SUS.
GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA Secretaria da Saúde do Estado da Bahia – SESAB Conselho Estadual de Saúde 8ª Conferência Estadual de Saúde
PANORAMA DA SAÚDE NA BAHIA
Quarto Estado na classificação da população do País e sexto em distribuição percentual do PIB, a
Bahia vem apresentando mudanças positivas importantes nos seus indicadores econômicos e
sociais, especialmente a partir da segunda metade do século XX, com repercussões profundas no
seu perfil demográfico neste período.
A distribuição da renda no Estado indica como os seus habitantes estão se beneficiando do
montante produzido e pode ser avaliada pelo PIB per capita, cujos valores passaram de R$2.112,00
em 1995, para R$ 8.430,00 por pessoa, em 2008, perfazendo um aumento de quase 300% no
período (Gráfico 1), o que aponta para uma melhoria global nas condições de vida da população,
mesmo considerando as extremas desigualdades na distribuição de renda, tanto internamente,
quanto em relação a regiões mais desenvolvidas do País (Ripsa, 2008 In: BAHIA, 2010c).
Gráfico 1 Evolução do Produto Interno Bruto per capita. Estado da Bahia, 1995 – 2008*
2.112
8.430
0
1.000
2.000
3.000
4.000
5.000
6.000
7.000
8.000
9.000
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 (*)
Fonte: SEI-Coordenação de contas regionais
Valo
res
corr
ente
s (
R$ 1
,00)
* Dados sujeitos a retificação, depois de consolidados os resultados das UF(s)
Fonte: Bahia. SESAB. SUVISA. DIS. 2010.
Como o País, a Bahia vem vivenciando um quadro clássico de transição demográfica, caracterizado
por uma acentuada queda das taxas de mortalidade - efeitos da redução da mortalidade infantil -
refletindo diretamente sobre o aumento da expectativa de vida da população e uma posterior e
contínua queda das taxas brutas de natalidade. Com isso observam-se mudanças importantes no seu
perfil etário e transformações no mundo do trabalho e na economia, com alterações no estilo de
vida, no ambiente e na dinâmica social (IBGE, 2009; BAHIA, 2010b).
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A dinâmica demográfica do Estado caracterizou-se por modificações significativas na sua pirâmide
etária, acompanhando a dinâmica nacional, com o estreitamento da sua base inferior (redução
gradativa de crianças na estrutura etária) e alargamento do seu topo, em função do aumento dos
segmentos populacionais em idade mais avançada (SABÓIA, 2009; BAHIA, 2010b). Este quadro,
associado à aceleração da urbanização e aos níveis de desigualdades sociais, trazem como
consequências as alterações no perfil da saúde da população baiana, com mudanças nos seus
padrões de morbimortalidade.
Há também uma sobreposição de padrões que mantêm a morbimortalidade elevada para doenças
transmissíveis emergentes e reermegentes (AIDS, Dengue, Hantavírus etc.) e crônico-degenerativas,
com novos problemas de saúde se sobrepondo a antigos que ainda persistem. A convivência das
doenças crônico-degenerativas, dos acidentes e das diversas formas de violência, ao lado das
doenças infecciosas, como principais causas de óbito e internações, para ambos, evidencia ainda um
grande desnível sócio-econômico.
A transição epidemiológica no Estado da Bahia é caracterizada pela redução na ocorrência das
doenças imunopreveníveis, porém com agravos persistentes na população tais como, as hepatites
virais (com queda nas notificações, porém com tendência crescente dos casos confirmados para as
hepatites B e C, nos últimos dois anos e com redução do percentual de casos de etiologia ignorada),
leishmaniose e tuberculose, que apresenta taxas superiores às encontradas no País, apesar da
redução do risco de adoecimento por todas as formas (BAHIA, 2010c).
Apresenta também elevação da incidência das meningites (com tendência ao aumento desde 2007 –
um incremento de 110,28%, comparando ao ano anterior - salvo Doença Meningocócica, cujo
incremento foi de 44,44% entre 2007 e 20091) e ocorrência de novas doenças, como a gripe H1N1
(BAHIA, 2010c).
Destaque para a AIDS, cujo coeficiente de incidência tem se mantido elevado e, apesar da redução
no número de casos entre os homens, existe uma tendência crescente entre as mulheres. Seguindo o
mesmo padrão do País, a maior proporção está na faixa etária dos 20 a 44 anos, preocupando, no
entanto, a elevação da proporção de casos de indivíduos de 50 a 59 anos e em crianças de 5 a 9
1 Com um aumento acima do esperado na Capital, com o maior risco de adoecer entre os menores de 1 ano (16,1/100 mil habitantes) (BAHIA, 2010a)
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anos. Chama a atenção na evolução do HIV/AIDS durante os anos 90, a interiorização, a
feminilização e a pauperização da epidemia2 (BAHIA, 2010c).
Outro agravo que exige atenção é a Dengue - enquadrada entre as doenças infecciosas que são
emergentes e reemergentes - devido à crescente expansão do Aedes aegypti nas áreas urbanas. Após
10 anos da sua reintrodução no Estado e com a circulação simultânea de três sorotipos – com o
quarto sorogrupo entrando em circulação no Estado a partir de março deste ano - vem apresentando
uma tendência ao crescimento, com seu pico máximo atingido em 2009 (incremento de
1.630,12%). Naquele ano foi registrado o maior número de casos e a maior incidência de Dengue
na Bahia, desde a introdução do primeiro sorotipo no Estado (BAHIA, 2010c).
A transição epidemiológica é marcada também pela diminuição acentuada das mortes por Doenças
infecciosas e parasitárias, aumento das mortes por doenças crônico- degenerativas, como as
neoplasias e diabetes, aumento das mortes por causas externas, especialmente, devido à violência,
como as agressões e decréscimo das taxas da mortalidade infantil, principalmente à custa do
componente pós-neonatal.
Ainda que considerando-se a redução das mortes por doenças infecciosas um importante avanço, as
mesmas ainda permanecem vitimando muitos indivíduos, associadas às condições de vida
inadequadas, especialmente em decorrência das doenças crônicas como a tuberculose, doença de
Chagas, dentre outras, além do (re) surgimento e permanência de novos agravos, como Aids e
Dengue (BAHIA, 2010c).
Assim, a elevação da expectativa de vida da população, o aumento das mortes por doenças crônico-
degenerativas (câncer; doenças cardiovasculares) e por violência e acidentes - principalmente dos
jovens - a redução da morbi-mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias, o ressurgimento de
velhos “males”, o aparecimento de doenças infecciosas emergentes (como a Influenza A - H1N1) e
reemergentes (a exemplo da dengue e do cólera) têm contribuído para a mudança do perfil de
adoecimento e morte no Estado (BAHIA, 2010c).
A mortalidade infantil mantém a tendência decrescente, com maior intensidade no componente pós-
neonatal (50,7% de 1993 a 2009), atribuindo-se a redução às melhorias socioeconômicas e
ambientais ocorridas ao longo do tempo e aos programas específicos de promoção e prevenção
implementadas pelo setor Saúde junto às crianças menores de um ano. O contrário pode ser
2 A epidemia vem crescendo entre as mulheres e, embora Salvador concentre mais de 60% dos casos, verifica-se que 4,5% dos municípios baianos têm registrado um ou mais casos de AIDS (BAHIA, 2010c).
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observado no componente neonatal, (crianças com menos de 28 dias), que apresentou um
crescimento de 128% no percentual de óbitos, no mesmo período (BAHIA, 2010c).
A mortalidade proporcional por faixa etária, que indica as melhorias ocorridas no nível de saúde de
uma população, consistindo na projeção gráfica dos valores da mortalidade proporcional nos grupos
etários de menores de 1 ano, de 1 a 4 anos, de 5 a 19 anos, de 20 a 49 anos e de 50 anos e mais, é
evidenciada no Estado, entre 1980 e 2009, através de uma transição da Curva de Nelson de Moraes3
(BAHIA, 2010c), conforme gráfico abaixo:
Gráfico 2 Mortalidade proporcional por faixa etária (Curva de Nelson de Moraes).
Bahia, 1980/2009*
<1 ano 1 - 4 5 - 19 20 - 49 50 e +
1980 30,2 8,0 4,8 16,1 40,9
1991 14,1 3,1 4,5 19,3 59,0
2009 5,6 0,9 3,9 22,6 67,0
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
Fonte: Sesab/Suvisa/DIS - SIM
%
* Dados preliminares, sujeito a modificações
Fonte: Bahia. SESAB. SUVISA. DIS. 2010.
Esta curva evidencia a passagem do tipo III para o tipo IV (tipologia observada em países
desenvolvidos) na Bahia, no período, pela importante redução da proporção de óbitos de menores
de um ano (81,4%) e pela elevação, no total das mortes, desta proporção em indivíduos de 50 anos e
mais (63,8%), dados estes que refletem também o envelhecimento da população no Estado
(BAHIA, 2010c).
3 A Curva de Mortalidade Proporcional, ou de Nelson de Moraes é considerada uma variante do índice de Swaroop &
Uemura, que é um indicador que mede a proporção de óbitos de 50 anos e mais em relação ao total de óbitos. Nelson de Moraes classifica as curvas em 4 tipos: I - a proporção de mais de 50 anos é inferior a 50% e é alta a proporção de óbitos de menores de 1 ano e no grupo de 20 - 49 anos; II - a proporção de óbito de mais de 50 anos está abaixo de 20% e é altíssima a proporção (quase 50%) de óbitos de menores de 1 ano; III - a proporção de óbitos de menores de 1 ano é alta e a do grupo de mais de 50 anos é próxima de 50%; IV - a proporção de óbitos só é alta no grupo etário de mais de 50 anos (+ 70%).
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O indicador de Nelson de Moraes permite uma rápida visualização do nível de saúde de uma
determinada população, a partir da contribuição de cada grupo etário no total dos óbitos. A
proporção de mais de 50% dos óbitos no grupo de 50 anos e mais, significa um melhor nível de
saúde e vice-versa, quando apresenta uma proporção abaixo de 50%, numa variação que vai de
muito baixo, baixo, regular, até um nível de saúde elevado.
Embora as Doenças do Aparelho Circulatório (DAC) representem quase um quarto do total das
mortes, a taxa de crescimento de óbitos por esta causa vem mostrando decréscimo nos últimos anos.
Já o grupo com maior incremento no volume de óbitos, considerando a série de 2000 a 2009 (61%),
foi o das causas externas (80,5%) (BAHIA, 2010c).
Em 2009 os acidentes de transportes elevaram suas taxas em 38,9%, os suicídios, um incremento
de 65,3% e as mortes por homicídios foram as que mais contribuíram para o aumento global das
mortes no grupo das causas externas, elevando-se em 282% no período, conforme Gráfico abaixo
(BAHIA, 2010c).
Gráfico 3 Taxas de mortalidade por acidentes de transportes, homicídios e suicídios. Bahia,
2000 – 2009
9,2
12,8
9,5
36,4
1,52,6
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
40,0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008(1) 2009(1)
Acid. Transporte Homicídios Suicídios
TA
XA
/100.0
00 H
AB
ITA
NT
ES
Fonte:Sesab/Suvisa/DIS-SIM (1) Dados prelimimnares (Agosto de 2010)
Fonte: Bahia. SESAB. SUVISA. DIS. 2010.
Acompanhando uma tendência mundial (OPS, 2008 In: BAHIA, 2010a), a mortalidade por causas
externas ocorre com freqüência bem mais elevada no sexo masculino e na idade produtiva (15 a
29 anos – concentração de mais de 50% destes óbitos em 2009) (BAHIA, 2010c).
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Ainda que os jovens de 20 a 29 anos tenham apresentado as taxas mais elevadas, o risco das mortes
por homicídios se elevou em todos os grupos etários, inclusive entre os menores de 15 anos,
chamando atenção à variação de mais de 560% entre os adolescentes de 15 a 19 anos (BAHIA,
2010c).
Seguindo as causas externas, as neoplasias representaram o terceiro grupo de causas mais
freqüentes de morte no Estado (79,4%), em 2009, com um crescimento de 113,7% nos últimos
vinte anos, para todos os tipos de câncer, em ambos os sexos, destacando-se as relacionadas ao
fumo, álcool e estilo de vida4 (BAHIA, 2010c).
As doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas representaram a sexta causa mais freqüente de
óbitos em 2009 (63,0%), observando-se uma elevação de 56% em suas taxas, de 1996 a 2009, com
a diabetes mellitus como a causa mais freqüente das mortes (75%) (BAHIA, 2010c).
Do ponto de vista da Gestão, embora tenha havido uma ampliação da rede de hospitais públicos
estaduais, esta ainda é insuficiente frente à imensa demanda reprimida e à rede de serviços que,
apesar das reformas, ampliações e aquisição de equipamentos, demandam ainda novos
investimentos (BAHIA, 2010d).
Quanto à organização dos serviços, o fortalecimento do processo de interiorização dos serviços de
saúde obedecendo à lógica da organização de rede regionalizada de atenção especializada é um
aspecto que deve nortear a gestão do SUS no Estado (BAHIA, 2010d).
Ao lado disso, o panorama da gestão estadual do SUS se reveste de dificuldades históricas, como
resultado de uma carência de profissionais de saúde, especialmente de médicos, e de uma
precarização crescente da força de trabalho em saúde, vinda de gestões anteriores. Além de uma
grande insuficiência de leitos em hospitais de referência da rede pública, de hospitais estaduais
desabastecidos e sucateados, de baixa oferta especializada de serviços - com concentração na
Capital - e carência de leitos de UTI, muitos destes desativados por falta de equipamentos ou de
pessoal (BAHIA, 2010d).
Além disso, grande parte das unidades assistenciais com internação na Bahia presta serviços sem
apresentar, necessariamente, capacidade resolutiva condizente com um esperado perfil para uma
unidade hospitalar; e a grande maioria dos municípios baianos apresenta menos de 50.000
4 Como causas específicas mais incidentes em ambos os sexos, o câncer de brônquios e pulmões e o de estômago; e,
desagregadas as causas por sexo, as neoplasias de próstata e de mama (BAHIA, 2010c).
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habitantes, inferindo-se daí que o panorama estrutural no Estado é de grandes empecilhos em
desenvolver um sistema de saúde resolutivo, a começar pela atenção básica (BAHIA, 2009).
De fato, o sistema de saúde ainda necessita de uma gestão que construa mecanismos eficientes para
superar as carências estruturais e de pessoal, de estabelecimentos de metas e de utilização adequada
de toda a capacidade instalada, superando deficiências históricas de informação, informatização,
limitações de recursos humanos, dentre outras questões que somente os espaços de controle social
podem ajudar a construir caminhos mais seguros.
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O EIXO TEMÁTICO DA 8ª CONFERÊNCIA ESTADUAL DE SAÚDE DA BAHIA -
FUNDAMENTAÇÃO
Com um panorama de saúde que acompanha em larga escala o quadro mundial e o nacional, a
Bahia vem apresentando uma sobreposição de padrões, com convivência das doenças crônico-
degenerativas, dos acidentes e das diversas formas de violência, ao lado das doenças infecciosas,
como principais causas de óbito e internações, para ambos, que evidencia ainda um grande desnível
sócio-econômico.
Paralelamente a essa situação, o quadro clássico de transição demográfica que a Bahia vem
vivenciando, caracterizado por uma acentuada queda das taxas de mortalidade, refletindo
diretamente sobre o aumento da expectativa de vida da população e uma posterior e contínua queda
das taxas brutas de natalidade (IPEA, 2010), tem levado a mudanças importantes no seu perfil
etário, e transformações nas áreas do trabalho e da economia, com alterações no estilo de vida, no
ambiente e na dinâmica social (IBGE, 2009; BAHIA, 2010c).
Além disso, os grandes entraves encontrados na gestão se traduzem em resultados ainda longe de
alcançarem a satisfação das necessidades dos serviços de saúde para os cidadãos do Estado, em
especial quanto à oferta e ao acolhimento.
Em pleno século XXI já não cabe mais discutir dispositivos de saúde na direção de mudanças desse
quadro sem que se aborde o conceito ampliado de saúde, para o qual a promoção da saúde aparece
intrinsecamente associada a questões como a iniqüidade social e todos os determinantes sociais
relacionados à saúde.
A Organização Mundial da Saúde - OMS enfatiza que é mais do que necessário lidar com as
“causas atrás das causas” de má saúde, com a grande maioria dos problemas de saúde podendo ser
atribuídos a amplos fatores determinantes sociais: a pobreza, a desnutrição, o desemprego, a falta de
acesso à educação e aos serviços de saúde, a exclusão social de certos grupos da população, entre
outros (OPAS, 2007).
Dirigir-se a uma Bahia Mais Saudável é mergulhar conceitualmente em uma nova dimensão para a
saúde, em que aspectos como qualidade de vida e saúde se encontram intimamente ligados, onde
saúde é o resultado de um processo de produção social que expressa a qualidade de vida de uma
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população. E nesta concepção mais ampla, o conceito de saúde considera as suas determinantes e
condicionantes (alimentação, moradia, saneamento, meio ambiente, renda, trabalho, educação,
transporte etc.), e impõe aos órgãos que compõem o Sistema Único de Saúde o dever de identificar
esses fatos sociais e ambientais (SANTOS, 2005), propiciando aos indivíduos identificar e realizar
suas aspirações e satisfazer suas necessidades individuais e coletivas.
A concepção ampliada de saúde, para além da prevenção, assistência e recuperação dos enfermos,
impõe respostas intersetoriais5 na esfera das reformas institucionais, por um lado, e por outro requer
o envolvimento e responsabilização dos distintos atores, profissionais de saúde, população e
gestores nas políticas e ações de atenção à saúde.
A Promoção da Saúde tem introduzido muitos questionamentos nas formas limitadas de intervenção
sobre a saúde, quando orientadas somente pelo risco de doença nos indivíduos, e por padrões e
modelos sociais que moldam as chances das pessoas serem saudáveis - tirando do foco a atenção
médica como o principal fator de promoção à saúde das pessoas.
A Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS), criada em 20066, concebe a promoção da saúde
como uma estratégia de articulação transversal, na qual se confere visibilidade aos fatores que
colocam a saúde da população em risco e às diferenças entre necessidades, territórios e culturas
presentes no País. E que visa à criação de mecanismos que reduzam as situações de vulnerabilidade,
defendam radicalmente a eqüidade e incorporem a participação e o controle social na gestão das
políticas públicas (BRASIL, 2010).
Assim, esta Política contempla prioritariamente em sua agenda: “promoção da alimentação saudável
e de atividades físicas, prevenção e controle do tabagismo, redução da morbimortalidade em
decorrência do uso abusivo do álcool e outras drogas, prevenção da violência e estímulo à cultura de
paz, redução da morbimortalidade por acidentes de trânsito e a promoção do desenvolvimento
sustentável” (BRASIL, 2010).
5 De acordo com Zancan ([s/d], pg 46-47), a Intersetorialidade, compreendida como uma das estratégias para a
promoção da saúde implica: (1) na inversão da lógica do trabalho fragmentado e setorializado presente nas organizações públicas; (2) na valorização dos saberes técnicos com investimento em recursos humanos conduzindo-os a uma atuação articulada na formulação e implementação de políticas; (3) no incremento da participação e organização social dos diversos segmentos da sociedade e na construção de redes de articulações e parcerias, a exemplo da rede que se quer construir com o movimento de cidades/comunidades saudáveis. 6 Portaria n.687, de 30/03/2006 (BRASIL, 2010).
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Espelhando-se nos movimentos que seguem na direção da ampliação das políticas de combate às
desigualdades sociais e econômicas, e no esforço de criar cada vez mais políticas públicas de
integração dos seus diversos setores e da sociedade, para estimular hábitos de vida saudáveis que
contribuam para uma melhor qualidade de vida da população e promovam a redução do
adoecimento e morte por doenças mais freqüentes, o Governo do Estado encontra o referencial para
optar por uma Política de Saúde que tenha por visão de futuro, uma Bahia Mais Saudável (BAHIA,
2010a).
Voltada para a promoção da saúde, com ações articuladas de saúde pública, educação popular,
desenvolvimento social, justiça, esporte, emprego e renda, buscando construir uma sociedade mais
saudável, a Política por uma Bahia Mais Saudável (PBMS) tem como referência os princípios da
participação e corresponsabilização da população, da interdisciplinaridade, da gestão integrada e da
utilização de múltiplas estratégias de ação (BAHIA, 2010e).
Com a Promoção da Saúde como marco central na sua Política de Saúde, o Governo do Estado
assume como eixos estruturantes para nortear a sua Política, as cinco direções da Carta de Ottawa
assumidas na Oficina Bahia Saudável para subsidiar a construção de uma Política Estadual de
Promoção da Saúde, que para este documento se conformam em sub-eixos temáticos:
a) Promoção de políticas públicas saudáveis e sustentáveis;
b) Fomento a ambientes favoráveis à saúde e qualidade de vida;
c) Fortalecimento da participação social controle e incremento à ação comunitária;
d) Desenvolvimento de habilidades pessoais e do autocuidado;
e) Reorientação do sistema de saúde para o cuidado integral do ser humano nas diversas
fases da vida.
É, pois, com esse enfoque que o Estado da Bahia traz como pauta para a 8ª Conferência Estadual de
Saúde, uma discussão mais aprofundada sobre a forma como o Estado precisa atuar com suas
políticas públicas, não só de saúde, mas, em uma visão mais alargada das práticas dessas políticas,
saindo de suas áreas restritas de atuação para avançarem no compartilhamento, desde as propostas
dessas políticas até suas implementações, intencionando consolidar a prática da intersetorialidade.
E, especificamente na saúde, é necessário também aprofundar uma discussão que vá em direção ao
compartilhamento e à integração, com a articulação das áreas de atuação, a começar pela
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vigilância entre seus componentes e desta com a atenção básica; e, a partir daí, para com os outros
níveis de complexidade da atenção.
Ademais, é necessário que esta discussão caminhe também com relação à reorientação do sistema
de saúde do Estado, com a revisão dos processos organizativos, mediante rearranjos das práticas,
consolidando as linhas de cuidado por ciclos de vida e gênero, buscando a integralidade, a
universalidade e a equidade da atenção, bem como qualificando o atendimento com investimentos
substantivos na gestão do trabalho e da educação em saúde e nos mecanismos de gestão
descentralizada da saúde, para o que questões como o pacto pela saúde e o fortalecimento da
regionalização, devem estar em pauta.
Só assim se vislumbra uma possibilidade mais concreta para se alcançar um acesso aos serviços,
insumos e tecnologias de saúde mais próximo do que a população demande e necessite, bem como
um acolhimento mais qualificado, pautado na dignidade e no resgate da cidadania, incluindo-se aí
também o trabalhador em saúde, tudo isso fundamentado na participação e no controle social, com a
ação comunitária exercendo lugar de destaque.
É com este referencial e amparado no panorama atual de saúde do Estado que a 8ª CONFERES traz
como eixo temático:
“ACESSO E ACOLHIMENTO NO SUS – DESAFIOS NA CONSTRUÇAO DE UMA
POLÍTICA SAUDÁVEL E SUSTENTÁVEL”
a) POLÍTICAS PÚBLICAS, POLÍTICA DE SAÚDE E SEGURIDADE SOCIAL: OS DESAFIOS
DA IMPLEMENTAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA INTEGRALIDADE, U NIVERSALIDADE E
EQUIDADE;
b) PARTICIPAÇÃO, CONTROLE SOCIAL E INCREMENTO À AÇÃO COMUNITÁRIA;
c) OS DESAFIOS DA GESTÃO DO SUS PARA A REORIENTAÇÃO DO SISTEMA DE SAÚDE
– INTERSETORIALIDADE; FINANCIAMENTO; PACTO PELA SAÚ DE; RELAÇÃO
PÚBLICO X PRIVADO; GESTÃO DO SISTEMA; GESTÃO DO TRA BALHO E DA
EDUCAÇÃO EM SAÚDE.
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Α.Α.Α.Α. POLÍTICAS PÚBLICAS, POLÍTICA DE SAÚDE E SEGURIDADE SOCIAL: OS
DESAFIOS DA IMPLEMENTAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA UNIVERS ALIDADE,
EQUIDADE E INTEGRALIDADE
Trazer essa temática para discussão na 8ª CONFERES vem ao encontro da perspectiva da Promoção
da Saúde apontada na Oficina Bahia Saudável (BAHIA, 2010e), implicando na chamativa da saúde
como qualidade de vida e do direito da cidadania, em um esforço que se traduz aqui no Brasil, como
afirma Zancan ([sd] pg 46), “no chamado resgate da dívida social e, portanto, na implementação de
políticas de inclusão social, de combate à pobreza e de melhoria da qualidade dos serviços e
equipamentos sociais básicos”.
É o que aborda a 14ª Conferência Nacional de Saúde, que em seu Documento Orientador ressalta:
Uma política pública se legitima em razão do entendimento compartilhado de seu valor como inalienável direito
humano e social, de sua utilidade pública e garantia de justiça social. Do entendimento nasce o sentimento de
segurança, o sentido de pertencimento, de patrimônio do povo e a disposição de defesa do interesse público. O desafio
da constituição de legitimidade é permanente e, além da noção de direito humano e social, implica na garantia de
acesso, acolhimento e respostas apropriadas para as necessidades sociais de grupos historicamente excluídos
(alimentação, transporte, habitação e saneamento) e demandas de Saúde (BRASIL, 2011).
De acordo com o referido Documento, o SUS, dentro de um contexto mais amplo de necessidades e
demandas,
deve dispor integralmente de uma gama de procedimentos desde os mais simples aos mais especializados, bem como de ações e políticas intersetoriais de áreas fundamentais para a Saúde como a educação, trabalho e renda, meio ambiente e lazer, entre outros, com particular ênfase nas políticas referentes à Seguridade Social (BRASIL, 2011).
E conclama a todos os participantes da 14ª CNS, em todas as suas etapas (municipal, estadual e
nacional) para, além de reiterar a postura e a atitude em defesa dos princípios e diretrizes
constitucionais do SUS - como detentores também do compromisso e da responsabilidade de
promover discussões e realizar debates -, buscar melhores alternativas e escolher rumos de
superação, inovação e sustentabilidade para o crescimento, consolidação e legitimação das políticas
públicas de Seguridade Social (BRASIL, 2011).
A Promoção da Saúde encampa um complexo de teorias e práticas que na atualidade parece
açambarcar “a totalidade das proposições do campo da saúde coletiva que estiveram na base da
formulação do SUS: integralidade, equidade, descentralização e controle social” (ZANCAN ([sd] p.
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48).
Promover Políticas Públicas Saudáveis e Sustentáveis implica em grandes e abrangentes iniciativas
governamentais, levando em consideração a interação de ações intersetoriais - envolvendo saúde,
educação, cultura, habitação, meio ambiente, esporte, lazer, saneamento, segurança pública,
trabalho e emprego, infra-estrutura, transporte, justiça, cidadania e direitos humanos – com a
territorialidade (BRASIL,1990).
Destacam-se as inter-relações entre os modelos de desenvolvimento adotados pelo país, com suas
respectivas cadeias produtivas e matrizes tecnológicas, e os impactos ambientais e à saúde dos
trabalhadores deles advindos. Com freqüência, a degradação ambiental, a poluição do ar, da água e
do solo, e os danos à saúde dos trabalhadores e da população têm a mesma origem: os processos
produtivos ou de trabalho instalados no território (BRASIL, 2010b).
Considerando o pressuposto da indissociabilidade entre produção, trabalho, saúde e meio ambiente,
compreende-se que a saúde dos trabalhadores e da população geral está intimamente relacionada às
formas de produção e consumo e de exploração dos recursos naturais e seus impactos no meio
ambiente (RIGOTTO, 2005). Nesta perspectiva, o princípio da precaução deve ser incorporado
como norteador das ações de promoção da saúde e de ambientes e processos de trabalho saudáveis,
especialmente nas questões relativas à sustentabilidade socioambiental dos processos produtivos
(BRASIL, 2010b).
A melhoria da situação de saúde dos trabalhadores pressupõe a melhoria das condições de trabalho e
a manutenção de condições de trabalho adequadas, seguras e saudáveis; isto somente se consegue
mediante o adequado planejamento e intervenção nas políticas públicas e privadas que definem os
modelos e estratégias de desenvolvimento econômico e social. Considerando a transversalidade da
área de Saúde do Trabalhador e o papel do trabalho enquanto determinante do processo saúde-
doença, propõe-se que a proteção à Saúde do Trabalhador deve ser um valor fundamental a ser
incorporado, de forma transversal, pelas políticas públicas (NOBRE, 2010). Por conseguinte, a
política de Saúde do Trabalhador no SUS (BRASIL, 2010b), propõe como uma de suas diretrizes a
promoção da saúde e de ambientes e processos de trabalho saudáveis.
A adoção do conceito de Sustentabilidade Sócio Ambiental, como integrador de políticas públicas,
implica ainda incorporar, nas políticas de desenvolvimento social e econômico, o entendimento de
que a qualidade de vida e a saúde envolvem o direito de trabalhar e viver em ambientes saudáveis e
com dignidade, e ao mesmo tempo, evitando o aprofundamento das iniqüidades e das injustiças
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sociais (BRASIL, 2010b; PORTO et al., 2007).
É necessário fomentar uma concepção de Desenvolvimento Sustentável que se fundamente na
“justiça social, preservação do meio ambiente natural e crescimento econômico, no
desenvolvimento das políticas públicas transversais, que integrem órgãos governamentais e não-
governamentais, numa parceria com vistas a uma ação sustentável nos territórios” (BAHIA, 2010e).
Para essas práticas integradas intersetorialmente tão prementes, é importante que a 8ª CONFERES
indique a formalização de um grupo intersetorial para tratar as questões da saúde, com
representantes das secretarias afins7 e sob a responsabilidade do Conselho Estadual de Saúde e do
Conselho Estadual de Desenvolvimento Econômico e Social.
Este grupo terá a responsabilidade de articular a ação governamental para a implementação da
Política por uma Bahia Mais Saudável (PBMS), direcionando o Governo à prática da
intersetorialidade para construção de estratégias que fortaleçam a Promoção em Saúde8; fomentando
a qualificação dos profissionais de saúde para atuarem nesse campo e as pesquisas sobre
determinantes sociais de saúde, doença e desigualdades sociais no Estado da Bahia; criando atos
legislativos, linhas de financiamento, estratégias de articulação e comunicação com a sociedade, por
meio de suas representações, instâncias e organismos9; bem como a articulação interfederativa
necessária para garantir respostas apropriadas às necessidades de saúde das pessoas no seu
território, concebido como um espaço “vivo” de desenvolvimento social e econômico.
Como aborda o Documento Orientador para a 14ª Conferência Nacional de Saúde:
Na prática, o SUS, assim como a maioria dos sistemas de saúde no mundo, ainda está subordinado a um modelo de atenção hegemônico que se caracteriza pelo predomínio de práticas individualistas, curativas, centradas em doenças e atendimentos hospitalares. Em que medida essas práticas se contrapõem à efetivação do princípio da integralidade é uma questão polêmica que merece ser debatida (BRASIL, 2011).
...
7 Cultura, Saúde, Meio Ambiente, Justiça, Cidadania, Direitos Humanos, Segurança pública, Infraestrutura, Trabalho, Emprego, Renda, Esportes, Educação, Fazenda, Desenvolvimento Econômico e Social, Desenvolvimento Urbano, Promoção da Igualdade, entre outros (BAHIA, 2010e). 8 Citam-se aí como exemplos: PRONASCI, Minha Casa Minha Vida, Pontos de Cultura, Trabalho Decente, Bolsa Família, Água para Todos, etc. (BAHIA, 2010e).
9 Colegiados de participação social (Conselhos) e de gestão (CIB e CGMR) no âmbito do SUS; comunidade acadêmica/científica; CEBES-BA; COSEMS-BA; movimento popular; partidos políticos; representações políticas; órgãos e instituições públicas e não públicas de proteção e garantia dos direitos de cidadania; órgãos e instituições de controle das ações governamentais.
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Por outro lado, é evidente que os interesses econômicos de produtores e fornecedores de insumos são generosamente contemplados no atual modelo hegemônico, às vezes sem consideração ou mesmo em detrimento das necessidades de cuidados à Saúde das pessoas. Na sua atual configuração, o complexo econômico da saúde negligencia o investimento em tecnologias de promoção da saúde e prefere reproduzir e expandir a lógica de atendimento sintomático e curativo, baseado no consumo de procedimentos isolados (BRASIL, 2011).
Construir um sistema de saúde universal, equânime e que se paute na integralidade requer o
reconhecimento de que a saúde, enquanto direito humano deve ser abordada para além dos serviços
de saúde. É preciso reconhecer o SUS como política pública, que compõe o tripé da Seguridade
Social, inserido na pauta governamental com prioridade sobre as demais políticas sociais na medida
em que toma como matriz orientadora a Promoção da Saúde, cujo fim maior é garantir a qualidade
de vida das pessoas.
São proposições que integrariam este sub-eixo: a adoção do enfoque sobre riscos na formulação de
políticas públicas, priorizando a ação intersetorial em detrimento da ação setorializada; a articulação
interfederativa na construção de intervenções que priorizem a Promoção da Saúde [a exemplo do
Movimento Cidades Saudáveis]; o enfrentamento da fragmentação governamental no território, com
a proposição de instituírem-se estruturas de governança regional intersetoriais; adoção de políticas
de desenvolvimento socioambiental que privilegiem a qualidade de vida em detrimento dos ganhos
econômicos, tendo os mesmos como consequência da efetivação das políticas sociais, mobilizando
os estratos menos favorecidos da extrema pobreza à condição de cidadãos plenos, com acesso aos
direitos fundamentais garantidos na Constituição de 1988.
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Β.Β.Β.Β. PARTICIPAÇÃO, CONTROLE SOCIAL E INCREMENTO À AÇÃO
COMUNITÁRIA
O Documento Orientador para a 14ª Conferência Nacional de Saúde introduz assim este sub-eixo:
A participação da comunidade (movimentos sociais, instâncias de Controle Social) das políticas públicas de Saúde requer maior dinamismo e efetividade. O aperfeiçoamento das instâncias, processos e práticas de participação comunitária no SUS implicam numa melhor qualificação das formas e meios de representação e mediação de demandas, sob o amparo do interesse público e responsabilidade social no reforço de tecnologias e dispositivos de apoio para o monitoramento e a fiscalização das políticas governamentais, de modo a garantir sua maior transparência e publicidade (BRASIL, 2011).
E acrescenta que:
a finalidade desse tema é discutir a atuação das instâncias e atores do Controle Social como protagonistas políticos da Reforma Sanitária no país, ou seja, uma organização com capacidade de acumular forças, defender interesses públicos e necessidades sociais, além de atuar na transformação das condições de vida e saúde (BRASIL, 2011).
De acordo com o Relatório Final da Oficina Bahia Saudável (BAHIA, 2010e), o desenvolvimento
da cidadania, a multiplicação de oportunidades de expressão cultural, a defesa dos direitos
humanos, o empoderamento de sujeitos coletivos da sociedade civil, o uso positivo de contradições
e conflitos com a potencialização das ações de participação popular para além das representações
preestabelecidas, visam ao fortalecimento da gestão democrática e participativa no SUS.
A discussão sobre a Promoção da Saúde no contexto de uma Bahia Mais Saudável caminha na
direção de iniciativas que agreguem valores e mobilizem vontades e ações políticas que permitam a
redistribuição do poder na saúde, envolvendo outros setores governamentais para viabilizar
mudanças voltadas para promoção da saúde e qualidade de vida, permeada por vários saberes e com
o envolvimento de instituições, organizações e grupos diversos, lidando muitas vezes com o
‘inédito’, e ressignificando esta área com uma prática que considere os mecanismos para articulação
intra e intersetorial, dando, assim, direcionalidade a ações e iniciativas antes dispersas, com
resultados pouco impactantes.
Além disso, refletir, construir e por em prática toda e qualquer proposta desta natureza implica em
novos instrumentos de trabalho para gestão e execução das ações, mediante uma ação pedagógica,
tornando necessário o investimento em estratégias que favoreçam o processo de reorganização
interna dos serviços de saúde, na busca por articulação intra e intersetorial, diante da necessidade de
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novas práticas, novos instrumentos de trabalho e novos arranjos organizacionais e gerenciais para
um trabalho em rede, necessários à Promoção da Saúde (BAHIA, 2010e).
Entende-se que este se constitui no substrato da Política por uma Bahia Mais Saudável, com
iniciativas como: investimento na defesa dos direitos humanos e no empoderamento de sujeitos
coletivos da sociedade civil; ampliação dos canais e espaços de comunicação, diálogo e informação
sobre a saúde com a sociedade; e potencialização das ações de participação popular para além das
representações sindicais e de conselhos de classee de fortalecimento do controle social nos espaços
já constituídos no SUS (BAHIA, 2010e).
Para tanto, são consideradas importantes iniciativas como: a difusão de escolas promotoras de saúde
(escolas como espaços de formação de saúde) como estratégia para ONGs voltadas para a oferta de
cursos profissionalizantes, “com o objetivo de multiplicar oportunidades de expressão cultural, de
inserção produtiva e fortalecimento de redes sociais que valorizem a cidadania e o uso positivo de
contradições e conflitos, considerando estes elementos como produtores de saúde”. Além destas, o
investimento em estratégias de educação permanente e popular que permitam o diálogo com outros
saberes - incluindo-se aí saberes existentes na comunidade, na arte e cultura, que possam trazer
outras formas de atuar nas práticas de promoção da saúde – e o reconhecimento de espaços e ações
comunitárias já existentes para combater as iniqüidades em saúde (BAHIA, 2010e).
As iniciativas que encontram destaque neste eixo ainda incluem: projetos de educação e
comunicação para a promoção da saúde baseados em evidências científicas, que contribuam para o
controle de causas, a prevenção de doenças, agravos e riscos, bem como desenvolvimento da
cidadania e consciência sócio-sanitária e ecológica; iniciativas da integração ensino – serviço –
comunidade, com estágios de vivência no SUS; o incentivo à profissionalização dos jovens, com
oferta de atividades complementares à educação formal, visando à inserção produtiva desse grupo
(BAHIA, 2010e).
Ações de empoderamento dos sujeitos e co-responsabilidade no cuidado, pensando-se aí em
estratégias de redução de riscos e danos, assim como as que apóiem a implantação/implementação
de conselhos locais de saúde, incentivando o protagonismo do sujeito e o compartilhamento do
poder, na direção do fortalecimento da gestão democrática e participativa no SUS, são iniciativas
que vão ao encontro do desenvolvimento da cidadania (BAHIA, 2010e).
Ganham destaque também nessa temática, a ampliação e a qualificação das estratégias de
informação e comunicação em saúde, centradas na fundamentação da responsabilização mútua em
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lugar da culpabilização do indivíduo sobre as suas escolhas em saúde (a exemplo do uso de álcool e
outras drogas); o mapeamento e divulgação de experiências exitosas em promoção da saúde,
relacionadas ao desenvolvimento de habilidades pessoais; e a construção de parcerias para
incorporação da promoção à saúde nas instituições, visando à saúde dos trabalhadores (BAHIA,
2010e).
O controle social em Saúde do Trabalhador, além das instâncias de gestão participativa existentes
no âmbito de governo, requer a conquista da participação democrática do trabalhador na gestão de
seu trabalho, por meio das organizações a partir do local de trabalho.
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C. OS DESAFIOS DA GESTÃO DO SUS PARA A REORIENTAÇÃO DO SISTEMA
DE SAÚDE: INTERSETORIALIDADE; FINANCIAMENTO; PACTO PELA
SAÚDE; RELAÇÃO PÚBLICO X PRIVADO; GESTÃO DO SISTEMA ; GESTÃO
DO TRABALHO E DA EDUCAÇÃO EM SAÚDE .
Este sub-eixo temático da 8ª CONFERES se respalda na REORIENTAÇÃO DO SISTEMA DE
SAÚDE, que tem como pressupostos: a integração das áreas; a formação profissional e gestão do
trabalho; as práticas de gestão; as práticas de cuidado em saúde e o financiamento, nos quais se
inserem os aspectos destacados neste sub-eixo como os grandes desafios para a gestão do SUS: a
intersetorialidade; o financiamento; o pacto pela saúde; a relação entre o público e o privado; e a
gestão do sistema, do trabalho e da educação em saúde.
A reorientação do sistema de saúde no Estado deve ocorrer mediante uma rearticulação dos
componentes do sistema de saúde, do ponto de vista da rede de serviços de saúde, na direção da
humanização das práticas de gestão e de cuidado na saúde para garantir o acesso com acolhimento,
a atenção integral e equânime com responsabilização e vínculo; valorização dos trabalhadores e
usuários; significando um avanço na democratização da gestão e no controle social (BENEVIDES,
2005).
Enfrentar os problemas que dificultam essa organização significa redimensionar a oferta de
serviços, pensar a organização dessa oferta em rede, de forma integral à saúde e mediante uma
regionalização sustentável, sob um modelo de atenção integrador e articulador, fortalecendo e
ampliando conceitualmente a Atenção Primária à Saúde10.
Faz-se necessário também firmar parcerias com a iniciativa privada/filantrópica, desde que
submetidas aos princípios e diretrizes do SUS, mediante marcos regulatórios, para complementar a
oferta de serviços à população. A relação público X privado se insere nessa discussão, com as
preocupações trazidas para a 14ª CNS, em seu Documento Orientador:
Mesmo em se tratando de sistemas e serviços de Saúde não vinculados ao SUS, a prerrogativa de gestão e regulamentação é unicamente pública. O SUS, não segmentado ou fragmentado, deve exercer o controle, a regulamentação e a fiscalização de todos os serviços e ações de Saúde, inclusive os de natureza privada, de modo a estabelecer a
10 Ampliar conceitualmente a Atenção Primária à Saúde é conceituá-la como uma “abordagem dos problemas de saúde” que, segundo Tarimo & Webster (1997), se caracteriza pela incorporação de princípios explícitos e valores que lhe delegam como objetivo, uma mudança profunda em todo o serviço de saúde e uma interação ampla com o sistema econômico e mecanismos de desenvolvimento social, englobando quatro princípios básicos: a) Acesso universal e cobertura de acordo com as necessidades; b) Envolvimento individual e comunitário; c) Ações intersetoriais em prol da saúde e d) Uso de tecnologia apropriada e custo-efetiva. (Aguiar, 2003).
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preponderância do interesse público e a garantia dos direitos dos cidadãos. Essa prerrogativa implica em desafio para a instituição de modos e meios eficazes de controle e regulação do SUS em todos os âmbitos institucionais (BRASIL, 2011).
Por outro lado, não se pode pensar em avançar nas questões da saúde do Estado, em qualquer
aspecto, sem se pensar em investir em Ciência, Tecnologia e Produção de Insumos e, da mesma
forma, em formação de pessoal para a saúde.
O espaço de concretização dessa rede deve estar pautado na articulação das práticas de vigilância,
com a unificação das ações de vigilância com as da atenção à saúde, tendo como ponto de partida a
atenção básica, e estendendo esta unificação para a atenção de média e alta complexidade e de
urgência e emergência. Todos estes níveis de atenção apoiados nas linhas de cuidado orientada pelos
ciclos de vida e gênero e alicerçados na busca da equidade, com a inclusão no sistema de
populações historicamente excluídas, e no resgate da dignidade do cidadão, com a promoção de um
atendimento humanizado e acolhedor. E tendo como grande mecanismo viabilizador de todos estes
movimentos, a gestão do trabalho e a educação em saúde, bem como a participação social.
Como suporte a toda e qualquer iniciativa nesta direção, uma política de formação e educação em
saúde deve ser desenhada com base no quadro que se afigura para a oferta e necessidades de
serviços de saúde no Estado, devendo ser consideradas as necessidades profissionais, para o que
novos processos formativos, a exemplo das residências médicas e multiprofissionais devem ser
construídos, em conformidade com a organização dos serviços e as vocações existentes em cada
região. Ao lado disso, implica também na adoção de uma política pautada na integração intra e
interinstitucional, na corresponsabilidade e em uma ampla participação da sociedade.
Estas são questões que abrem também a discussão dos AVANÇOS E DESAFIOS PARA A
GARANTIA DO ACESSO E ACOLHIMENTO COM QUALIDADE E EQUIDADE, do
Documento Orientador para a 14ª Conferência Nacional de Saúde:
Temos a tarefa de avaliar com profundidade um sistema que originalmente está pensado e legalmente estabelecido para ser viabilizado por meio de um financiamento pactuado entre as três esferas de governo, que seja adequado e definido de acordo com as reais necessidades de cada região e população referenciadas. Propor alternativas que apontem para a superação de uma rede de serviços que equivocadamente trata somente as doenças, substituindo-a por uma rede efetivamente de Saúde, orientada não somente para ações de promoção, proteção e recuperação da Saúde, mas também com a sustentação de ações intersetoriais. Uma corresponsabilidade fundamental ao pleno êxito do modelo de atenção integral proposto, tendo equipes multiprofissionais em Saúde como força insubstituível para a sua viabilização plena (BRASIL, 2011).
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Integração das áreas:
Este é um aspecto que se constitui em um dos grandes desafios da organização do sistema de saúde,
nela cabendo uma ampla discussão que alcance o que uma atuação integrada em saúde requer: a
consolidação do processo de integração das vigilâncias11; a integração das áreas de atuação nas
práticas de cuidado, na direção da continuidade do cuidado; o fortalecimento de espaços colegiados
de debate, com a discussão e o planejamento em promoção da saúde, intra e intersetorialmente,
mediante a instituição de colegiados correspondentes a estes âmbitos de atuação, (secretarias e
órgãos de governo), incluindo a sociedade civil.
Formação Profissional e Gestão do Trabalho:
Tratando-se de dispositivos para inserir a promoção da saúde na formação e educação permanente
do profissional de saúde, e para a ampliação do investimento para a formação dos profissionais na
temática das práticas integrativas e complementares12, com inclusão destes no elenco de
profissionais do SUS.
Da mesma forma, o investimento na gestão do trabalho, na formação e qualificação dos
profissionais bem como fomento ao plano de carreira do servidor da rede SUS-BA, com ênfase na
valorização de profissionais e no fomento à produção do conhecimento e na formulação e
desenvolvimento de ações de Promoção da Saúde para os trabalhadores do SUS-BA com ênfase na
humanização.
O Documento Orientador da 14ª Conferência Nacional de Saúde se reporta à necessidade de
avançar na Política Nacional de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, associando a gestão
do SUS diferenciada com uma força de trabalho qualificada e valorizada, chamando a atenção para
os dispositivos legais garantidos na Constituição Federal e na lei orgânica do SUS, estratégicos para
o equacionamento correto da gestão do sistema em toda a sua complexidade:
O SUS necessita de gestão autônoma, profissionalizada, contratualizada e democrática dos serviços, bem como uma força de trabalho estável, qualificada, concursada e valorizada, com reais perspectivas de carreira. Para isso, é fundamental garantir e avançar no desenvolvimento e implementação da Política Nacional de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, dando visibilidade e ampliando as ações relacionadas ao planejamento
11 Vigilâncias: sanitária, epidemiológica, ambiental e saúde do trabalhador. 12 Para o Ministério da Saúde a homeopatia, plantas medicinais, fitoterápicos e a Medicina Tradicional Chinesa (MTC) - acupuntura, práticas corporais e mentais - são importantes instrumentos na prevenção de agravos e promoção e recuperação da saúde (BRASIL 2009).
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de profissionais de Saúde, em consonância com o preceito constitucional de que cabe ao SUS ordenar a formação dos recursos humanos em Saúde. São dispositivos legais garantidos na Constituição Federal e na lei orgânica do SUS, estratégicos para o equacionamento correto da gestão do sistema em toda a sua complexidade (BRASIL, 2011).
O Documento Orientador explicita ainda em que implicam as discussões, debates e proposições
acerca do tema da gestão do trabalho e da educação na Saúde e com os trabalhadores de Saúde:
na proeminência de sua natureza pública, seus deveres constitucionais e na necessidade de carreira única de Estado, integrada nas diversas esferas governamentais e instâncias organizacionais. Na observância das necessidades sociais para a definição de prioridades e perfis de formação e educação permanente (BRASIL, 2011).
...
que se estabeleça um compromisso interfederativo e intersetorial com toda a sociedade em relação à reorientação da formação profissional em Saúde. Além disso, garantir a incorporação da educação permanente em Saúde como estratégia de melhoria da atenção à Saúde e da gestão do SUS, em todas as instâncias, aprofundando e ampliando as mudanças já em andamento e as experiências bem-sucedidas de integração ensino-serviço (BRASIL, 2011).
Práticas de Gestão:
Essa discussão encontra reforço no aprofundamento da temática do acesso do Documento
Orientador da 14ª CNS, que se amplia para além da adequação quantitativa da distribuição e oferta
de serviços, tecnologias e insumos de Saúde, não só com a garantia de melhor equidade,
acolhimento, continuidade, integralidade, suporte, resolubilidade e satisfação dos usuários, como
também com a melhor adequação dos perfis de ofertas de tecnologias e serviços em razão das
necessidades sociais e sanitárias de populações, grupos específicos e indivíduos (BRASIL, 2011).
Discutir práticas de gestão neste contexto é discutir a inserção das ações de promoção da saúde em
todos os níveis de atenção a saúde e a criação de dispositivos institucionais que facilitem
deslocamentos de poder no setor saúde, viabilizando o exercício do diálogo e da pactuação das
diferenças; a inclusão de diferentes sujeitos no processo de análise e tomada de decisão, tendo em
vista a alteração dos modos tecnológicos de intervenção ou modelos de atenção; a adoção de novas
metodologias de rearranjo organizacional, retomando-se aqui a discussão do reforço à integração
dessas práticas, com a atenção básica como o lastro desta integração e, a partir desta, se alcance a
alta complexidade.
É também discutir o fomento a uma gestão mais participativa; uma gestão que reveja a atuação dos
profissionais das equipes de saúde da família voltada ao território, com a participação da
comunidade e a formulação da política estadual de práticas integrativas e complementares na Bahia.
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O fortalecimento da regionalização é outro importante aspecto nessa temática, trazendo a discussão
da estruturação da rede e o fluxo entre a atenção básica e os demais pontos de atenção à saúde e
criando mecanismos para difundir as ações de promoção da saúde e o fortalecimento da estratégia
de saúde da família nos espaços colegiados de gestão.
Assim se refere o Documento Orientador para a 14ª Conferência Nacional de Saúde com relação a
esse tema:
Excetuados os serviços e as redes de Atenção Básica à Saúde e Saúde da Família, a maior parte dos pequenos e médios municípios brasileiros não dispõe de estruturas, recursos, pessoal e condições logísticas para garantir, em seu próprio território, o acesso integral e resolutivo para os problemas de Saúde demandados em todos os níveis de Atenção à Saúde. O que implica na tarefa e desafio da organização de sistemas e redes regionais de Saúde, com a ordenação de fluxos e garantia de oferta e acesso aos serviços em todos os níveis de Atenção à Saúde (BRASIL, 2011).
E traz também à discussão a temática da territorialidade, ao salientar a necessidade da flexibilização
para as realidades locais e regionais:
Existem ainda particularidades regionais, necessidades populacionais ou condições específicas de cada território, que requerem modos próprios de recursos e organização para a garantia do acesso e acolhimento com melhor qualidade. É imprescindível que tais particularidades sejam evidenciadas, em termos de necessidades e propostas, de modo a subsidiar o esforço constitutivo de um sistema único com abertura e flexibilidade para as realidades locais e regionais (BRASIL, 2011).
Amparando este arranjo organizativo, a estruturação de uma rede de urgência e emergência que
viabilize uma proposta revisitada de atender com urgência e emergência no Estado.
Também o Pacto pela Saúde, como importante dispositivo de gestão do SUS, é tema a ser abordado
na 14ª CNS, conforme orienta o referido Documento:
Outra questão de grande relevância para a consolidação de todas as políticas públicas implica na inovação e institucionalização de preceitos normativos, pactos e dispositivos de gestão interfederativa e intergovernamental. No caso da Saúde, esta questão adquire uma grande importância, em razão da necessidade de conformação, organização e efetivação de sistemas regionais de Atenção Integral à Saúde, com o compartilhamento de responsabilidades entre as esferas de governo (BRASIL, 2011).
A promoção e apoio ao desenvolvimento da gestão regionalizada e descentralizada da saúde no
Estado tem como pressuposto a melhoria da gestão dos sistemas de saúde, potencializando o
processo de adesão ao Pacto pela Saúde.
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Práticas de cuidado em saúde:
O Documento Orientador para a 14ª Conferência Nacional de Saúde levanta a discussão da
necessidade de se discutir modelos de atenção e cuidado em saúde associados a um contexto maior,
em consonância com os de desenvolvimento social, com a observância das necessidades de saúde
individuais e coletivas, na direção de um desenvolvimento social inclusivo e, também aí,
estendendo a concepção do sistema de saúde para além da universalidade e da equidade,
direcionado à promoção da saúde e à qualidade de vida:
Considerados o contexto e perspectivas do Brasil, a discussão sobre modelos, tipos e modos de desenvolvimento social remete, na área específica da Saúde, à questão dos modelos de atenção e cuidado, entendidos como a forma de organização das práticas profissionais de saúde dirigidas ao atendimento às necessidades de saúde dos indivíduos e populações. Trata-se de uma estratégia importante para que o país constitua um desenvolvimento socialmente inclusivo, com a implantação de um sistema de Saúde, não apenas universal e igualitário, mas também organizado de forma a promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas (BRASIL, 2011). (Grifo nosso)
Financiamento:
A reorientação do sistema de saúde fica inviável sem ter um forte respaldo em projetos de
financiamento que dêem suporte a esse novo arranjo organizacional do sistema de saúde, incluindo-
se aí projetos de investimento para a promoção da saúde e ampliação do financiamento para a
infraestrutura da rede de atenção à saúde do SUS, para a qualificação da atenção e da gestão, e para
fomento a pesquisas.
O Documento Orientador para a 14ª CNS chama a atenção sobre a contribuição do chamado
complexo econômico da saúde para a conformação dos modelos de Atenção à Saúde. E ressalta que
os princípios da universalidade, da igualdade e da integralidade da saúde são também princípios da
Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde.
Enfatizando que “não há dúvidas de que, sem os insumos materiais produzidos pelas indústrias,
tanto do ramo químico e biotecnológico, quanto do ramo eletro-mecânico, seria impossível
assegurar o tipo de cuidado à saúde que a sociedade contemporânea exige e merece”, este
Documento mostra que é necessário modificar a configuração das relações entre a indústria da
saúde e os interesses da saúde pública expressos nas políticas públicas (BRASIL, 2011).
A experiência internacional vem mostrando que a “saúde configura um complexo de atividades
produtivas de bens e serviços que permite alavancar segmentos-chave da sociedade contemporânea,
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baseada no conhecimento e na inovação13”. De acordo com o Programa Mais Saúde – Direito de
Todos, a saúde possui duas dimensões que se associam a uma nova aposta para o desenvolvimento
do Brasil: como parte da política social e do sistema de proteção social e como fonte de geração de
riqueza para o País, onde o “direito à saúde articula-se com um conjunto altamente dinâmico de
atividades econômicas que podem se relacionar virtuosamente num padrão de desenvolvimento que
busque o crescimento econômico e a eqüidade como objetivos complementares” (BRASIL, 2008 p
6).
Diante da limitação da concepção das ações voltadas para a promoção, a prevenção e a assistência à
saúde como um ônus ou um fardo, que apenas onera o orçamento público, o Governo do Estado,
compartilha com o “Mais Saúde” para conceber a saúde “como parte constitutiva da estratégia de
desenvolvimento e como uma frente de expansão para um novo padrão de desenvolvimento
comprometido com o bem-estar social”, com a saúde contribuindo, “tanto para os direitos de
cidadania quanto para a geração de investimentos, inovações, renda, emprego e receitas para o
Estado brasileiro” (BRASIL, 2008 p 6).
A 8ª CONFERES deve fomentar a discussão do propósito do Governo do Estado de fortalecer e
consolidar esta participação da Bahia no Complexo Produtivo da Saúde do País, investindo para
que a saúde se firme também como setor que contribui consideravelmente, com impactos positivos,
no desenvolvimento e incorporação de tecnologias, para a geração de emprego e renda, e na
ampliação do acesso da população a produtos e serviços no campo da saúde.
13 De acordo com o Fórum Global para a Pesquisa em Saúde em 2006, a saúde responde por 20% da despesa mundial, pública e privada, com as atividades de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico (P&D), representando um valor atualizado de US$ 135 bilhões, sendo notadamente uma das áreas mais dinâmicas do mundo. (BRASIL, 2008).
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