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1a edição:2006

Direitos reservados desta edição:Programa de Pós-Graduação em Agroecologia da Universidade Estadual do Maranhão – UEMA

Capa: [email protected]

Diagramação, fotolitos e impressão:Estação Produções Ltda ( 3236-9177

O desenvolvimento rural como forma de ampliação dos direitos no campo: princípios e tecnologias./ Organizado por Emanoel Gomes de Moura e Alana das Chagas Ferreira Aguiar. – São Luís: UEMA, 2006.

(Série Agroecologia UEMA – volume II)

268 p.

ISBN: 85 - 86036-16-1

1. Economia. 2. Agricultura - Trópicos. 3. Cultivos de cobertura. I. Moura, Emanoel Gomes de; Aguiar, Alana das Chagas Ferreira (orgs.). II. Título. III. Série.

CDU: 316.343.37

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SUMÁRIO

Apresentação................................................................................ 7

Economia.ecológica.e.ecologia.política:.Uma.introdução....... 9Clóvis Cavalcanti

Agroecologia..Cada.caso,.um.caso.......................................... 15Jorge Roberto Tavares de Lima

Importância.dos.mediadores.culturais.para.a.promoçãodo.desenvolvimento.social....................................................... 27Delma Pessanha Neves

Metodologia.da.Pesquisa.Participativa.em.Agroecologia...... 65João Carlos Canuto

Agroecologia:.principios.y.estrategias..para.una.agricultura.sustentable.en.la.América.Latina.del.siglo.XXI....................... 83Miguel Angel Altieri

O.ambiente.do.trópico.úmido.e.o.manejo.sustentáveldos.agrossistemas................................................................... 101Christoph Gehring

Sistema.agroecologico.rápido.de.evaluación.de.calidad.de.suelo.y.salud.de.cultivos.en.el.agroecosistema.de.café...... 141Miguel A. AltieriClara Ines Nicholls

Utilização.de.leguminosas.anuais.em.sistemasagroecológicos......................................................................... 161Edmilson J. Ambrosano • Nivaldo Guirado • Heitor CantarellaRoberto A. Arevalo • Elaine B. Wutke • Fabrício Rossi Paulo C. Doimo Mendes • Gláucia M. Bovi AmbrosanoEliana A. Schammass • Dulcinéia E.Foltran • Anselmo J. Spadotto

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Plantio.direto.na.palha.de.leguminosas.em.aléiasuma.alternativa.para.o.uso.sustentável.dos.solosdo.trópico.úmido...................................................................... 221Altamiro Souza de Lima Ferraz Junior • Emanoel Gomes de MouraAlana das Chagas Ferreira Aguiar

Importância.das.raças.naturalizadas.em.sistemasde.produção.familiar................................................................ 239Arthur da Silva Mariante

A influência da pós-graduação em agroecologia no ensino de ciências agrárias do Maranhão........................ 253José Augusto Silva Oliveira

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Apresentação

Na sociedade do conhecimento e da globalização a única vantagem de pertencer ao grupo dos emergentes é que ainda nos pode ser facultada a escolha do padrão de desenvolvimento a ser implementado. Muito embora possa parecer um desafio insuperável sustentar alternativas que favoreça a maioria e amplie os direitos de todos, não podem os responsáveis pela concepção e execução das políticas de desenvolvimento, aceitar passivamente a imposição de modelos que concentram entre poucos os benefícios e distribuem generosamente as mazelas resultantes do uso indiscriminado dos recursos.

Ocupando uma situação geográfica que lhe faculta o domí-nio de uma grande diversidade de agroambientes, o Maranhão pode ser considerado um exemplo emblemático, onde os índices de desenvolvimento humano são absolutamente não condizentes com suas disponibilidades de recursos naturais. Isto permite, entre outras graves observações, afirmar que o Estado tem ao mesmo tempo a oportunidade e a obrigação de definir e ofertar alternativas para superar um enorme passivo social representado por um ex-pressivo contingente de famílias que sobrevivem no limite da linha de pobreza, praticando uma agricultura itinerante em fase de deca-dência absoluta, porque não consegue mais dignificar as atividades agrícolas.

O Programa de Pós-Graduação em Agroecologia da Uni-versidade Estadual do Maranhão, que tem enfatizado a produção do conhecimento e a troca de informação sobre a utilização dos agrossistemas do trópico úmido, no contexto do desenvolvimen-to sustentável, materializa sua contribuição para o debate sobre o desenvolvimento do Maranhão por meio da publicação do segun-do Volume da Série Agroecologia UEMA, na expectativa de que o aprofundamento da discussão conduza às melhores escolhas do ponto de vista da maioria.

Os Organizadores

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ECONOMIA.ECOLÓGICA.E.ECOLOGIA.POLÍTICA:.UMA.INTRODUÇÃO

Clóvis Cavalcanti*

Toda atividade humana, qualquer que seja ela, incide irrecor-rivelmente no ecossistema quer pelo lado da extração de recursos (caso em que a natureza funciona como fonte, como despensa), quer pelo do lançamento de dejetos sob a forma de matéria ou energia degradada (caso em que atua como cesta de lixo, escoa-douro, fossa, ralo).

Percebido desse ângulo, é evidente que o processo econô-mico − que opera dentro de um subsistema aberto envolvido pelo ecossistema global − tem que respeitar limites (quer os do forneci-mento de recursos, quer os da absorção de dejetos, além dos da própria tecnologia). Daí, a noção de desenvolvimento sustentável: trata-se de promover a economia (e o bem-estar dos humanos) sem causar estresses que o sistema ecológico não possa absorver.

Na perspectiva da sustentabilidade ambiental, o tipo de pro-cesso econômico que importa é aquele que produz bens e serviços levando em conta simultaneamente todos os custos (ou males) que lhes são inevitavelmente associados.

Um olhar para as evidentes interconexões do sistema eco-nômico com o ecológico, sem isolar um do outro, permite perceber de que modo é possível chegar-se a um mundo sustentável onde a vida não se veja ameaçada de extinção nem considerada como uma externalidade. Esta é a tarefa para um modelo de desenvol-vimento novo, muita vezes considerado utópico, que estamos cha-mando − por cortesia dos ecólogos, de quem se tomou emprestada a noção − de sustentável. É a tarefa também para uma ciência da economia de fundamentos ecológicos.

* Economista ecológico e pesquisador social da Fundação Joaquim Nabuco (Recife, PE); professor da Universidade Federal de Pernambuco. [email protected]

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Economia Ecológica e Ecologia Política: Uma introdução

No âmbito da realidade dos processos naturais, que ofere-ce a moldura última que abriga a economia, só pode durar para sempre aquilo que se comporta de acordo com os princípios de funcionamento do sistema natural (dentre os quais desponta o da frugalidade) (Branco, 1999).

Dá-se ao tema da sustentabilidade, muitas vezes, porém, um significado que contradiz sua própria essência, transformando-o em autêntico oximoro (como, com mais razão, na infeliz expressão “crescimento sustentável”).

Ou seja, passivo ambiental crescente e sempre mais infelici-dade humana.

Crescer, na perspectiva da macroeconomia, é sempre pos-sível (além de desejável), embora a teoria microeconômica mostre que o ótimo da produção impõe limites ao crescimento de uma fir-ma – fixando a escala que satisfaz às regras da maximização do lucro. Por que o mesmo não deveria valer para economias nacio-nais? Será que, do ponto de vista da economia nacional ou global, qualquer escala serve?

Existe considerável evidência de que os padrões de vida bra-sileiros pioraram de 1965 a 2003, pelo menos quanto aos membros mais pobres da sociedade (ver Torras, 2003). Pior, a renda nacional verde (aquela que considera os impactos ambientais) foi invaria-velmente negativa para o quintil mais pobre – e, em determinados momentos, para o segundo e terceiro também – independentemen-te da taxa de desconto: o crescimento, em outras palavras, trou-xe miséria (“immiserizing growth”, na expressão de Jagdish Bha-gwati). Isso significa que uma avaliação do desenvolvimento à luz de noções de sustentabilidade ambiental lança dúvidas sobre se o desempenho da economia brasileira pode ser rotulado de bem sucedido.

A preocupação quanto aos problemas ambientais mundiais, na verdade, pede mais do que a economia do meio ambiente pode oferecer. Precisa-se, de fato, de indicadores econômicos – ou eco-lógico-econômicos – que incorporem estimativas de degradação ambiental (e também humana) e depleção de recursos: indicadores

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Clóvis Cavalcanti

de desenvolvimento sustentável, cujas grandezas sejam obtidas por dedução do PIB do valor estimado dos recursos naturais esgo-tados e degradados (área florestal em diminuição, erosão do solo, mangues cortados para a criação de camarões, jazidas minerais que se esgotam, etc.).

O sistema de contas nacionais contabiliza corretamente a depreciação do capital feito pelo homem (máquinas, fábricas), KH, como um item do balanço negativo na determinação da renda na-cional, mas deixa de considerar a depreciação ou depleção do capi-tal natural (árvores, minerais, solo, água, ar), KN. O consumo de tais ativos é contado como renda, o que faz com que a verdadeira ren-da nacional seja assim sobrestimada. Dessa forma, o desempenho econômico de um país ou região, em determinado período, pode aparecer, por exemplo, com uma robustez medida pelos critérios econômicos usuais que é totalmente falsa (caso da Arábia Saudi-ta). De fato, se isso foi conseguido com venda de KN, a despensa do país ou região ficou desfalcada. Quem é que se consideraria mais rico por ter renda obtida da venda de seu patrimônio?

O Brasil, com sua multiplicidade de projetos de carcinocultura, turismo, resorts, loteamentos, expansão urbana, estradas costeiras e muitos outros serve de triste ilustração de um desenvolvimento desordenado das zonas de praia que tem efeitos destrutivos sérios inteiramente ignorados – ao mesmo tempo que apenas as virtudes dos projetos são decantadas e louvadas de todas as maneiras, até mesmo em propaganda oficial. Quando se atribuem preços aos re-cursos naturais – o que acontece com aqueles que têm mercado como o petróleo1 –, tais valores constituem invariavelmente uma subestimação. Na contabilidade econômica nacional tradicional, um valor zero é implicitamente conferido a todos os recursos da natureza, dando-lhes a condição de “bens livres”. O que leva a seu � Tal preço reflete apenas trabalho e capital usados na perfuração, bombeamento, refinação, etc. do petróleo. Ele não significa o valor do petróleo in situ, ou seja, o de sua formação e guarda por milhões de anos, valor esse que se toma como zero. Não é o óleo que a Petro-bras extrai na Bacia de Campos, estado do Rio de Janeiro, que é remunerado, por exemplo. O pagamento que é feito a essa empresa corresponde ao custo de oportunidade do trabalho e capital por ela empregados na retirada do produto, cujo valor em si, in situ, na visão ou paradigma dominante, continua sendo zero.

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Economia Ecológica e Ecologia Política: Uma introdução

uso excessivo, como é o caso dos bancos de pesca dos mares da Terra, que estão acabando.

O perigo de atribuir-se valor monetário a bens e serviços eco-lógicos é tanto de levar, por um lado, a que se acredite que eles valem aquilo que os cálculos mostram, quanto de fazer, por ou-tro, pensar que ativos naturais possam ser assim somados a ativos construídos pelos humanos (ambos referidos à mesma base em di-nheiro), tornando-os substituíveis. Na essência do conceito, porém, a sustentabilidade ecológica deve ser vista como manutenção dos estoques físicos de capital natural (KN), não a de seus correspon-dentes valores monetários (Daly, 2002).

Encarando o processo econômico com tal ótica, a economia ecológica implica uma mudança fundamental na percepção dos problemas de alocação de recursos e de como eles devem ser tra-tados, do mesmo modo que uma revisão da dinâmica do cresci-mento econômico.

Quando se trata da situação em que novos recursos estão sendo mobilizados, tema que se localiza no âmbito da macrodinâ-mica econômica, o caminho abre-se para a unificação sobre bases biofísicas dos sistemas ecológicos e econômicos como formas in-terdependentes e coevolutivas. Essa é a principal tarefa e o desafio central da economia ecológica.

Para tentar enfrentá-lo, esse campo de trabalho não deve ser visto como uma nova ciência ou nova disciplina baseada em hipó-teses e teorias compartilhadas por um conjunto amplo de profissio-nais, e sim como uma empreitada (ou cometimento) entre cientistas naturais e sociais, junto com os atores envolvidos em ações con-cretas de promoção do desenvolvimento, para chegar-se a novo entendimento da realidade humana, tirando dele lições para fins de análise e de política.

O novo entendimento incorpora referências como a da moldu-ra sistêmica (systems approach) ou teoria geral de sistemas; como a das matemáticas não-lineares; como a da termodinâmica de não-equilíbrio (non-equilibrium thermodynamics); como a da economia como uma ciência da vida.

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Clóvis Cavalcanti

Requer-se, com efeito, uma compreensão profunda da forma como a atividade econômica depende de processos biogeofísicos, com os feedbacks que existem entre uma e outros (Rosnay, �975).

Tudo isso vai conduzir à discussão do problema central tra-tado pela economia ecológica, qual seja, a sustentabilidade das interações entre sistemas econômicos (humanos) e ecológicos, o que impõe a necessidade de uma visão integrada, holística – uma visão que vá além das fronteiras territoriais normais das disciplinas acadêmicas. É nisso em que consiste o que o físico austríaco Fritjof Capra vem chamando de “alfabetização ecológica”.

A necessidade de informação sobre interações entre a eco-nomia e o ecossistema tem como finalidade derradeira a identifica-ção de políticas capazes de mitigar os impactos destrutivos sobre o ambiente de medidas para a realização do bem-estar social. Ou seja, em última análise, o sentido da economia ecológica é o de uma economia política da ecologia.

Referências Bibliográficas

BRANCO, S.M. Ecossistêmica: Uma Abordagem Integrada dos.Problemas.do.Meio.Ambiente. São Paulo, Editora Edgar Blücher, 2a ed. 1999. DALY, H. Desenvolvimento Sustentável: Definições, Princípios, Políticas. Cadernos.de.Estudos.Sociais, v.18, n.2, jul./dez., p.171-184, 2002. ROSNAY, J.de. Le.Macroscope:.Vers.une.Vision.Globale. Paris, Éditions du Seuil. 1975. TORRAS, M. Welfare,.Inequality,.and.Resource.Depletion:.A.Reassessment of Brazilian Economic Growth. Aldershot, Ingla-terra: Ashgate Publ. Ltd. 2003.

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AGROECOLOGIA..CADA.CASO,.UM.CASO

Jorge Roberto Tavares de Lima*

Um processo inconcluso -----------------------------------------------------------------------15A crise chega para ficar? ----------------------------------------------------------------------17Educação a busca de uma base cientifica ------------------------------------------------19Reformas, em que direção? ------------------------------------------------------------------21E a educação agroecológica? ----------------------------------------------------------------23

Para discutir o ensino da agroecologia nas ciências agrá-rias, propõe-se analisar a educação enquanto processo construído socialmente. A analise considera que a estrutura do trabalho e da posse da terra se correlaciona com a oferta de ensino no país. Em seguida, constata-se a crise ambiental e mais que isto, civilizatória, uma vez que não se pode furtar de ligar o nosso processo de co-lonização, com as opções de desenvolvimento feitas ao longo do tempo e que resulta nesta crise. Para finalizar, busca-se oferecer alguns elementos de uma possível estratégia de transição para um ensino agroecológico.

Um.processo.inconcluso

Em 15351, quando a coroa portuguesa decide colonizar o Brasil, define duas estratégias: O latifúndio e a monocultura. Em 2006, 471 anos depois convivemos com esta mesma estrutura fun-diária. Por que então, se formar profissionais para o latifúndio? Que

* Professor da UFRPE – Departamento de Educação.1 CAPISTRANO DE ABREU, J. (1988:37) –Caminhos antigos e povoamento do Brasil.Edi-tora da Universidade de São Paulo. Capistrano de Abreu em artigo publicado em 1899, “na era de 1530 o território entre o Maranhão e Santa Catarina foi dividido em 12 capitanias hereditárias, desiguais em superfície, limitadas toda a este pelo atlântico, o oeste pela linha fantástica de Tordesilhas. Até então o Brasil estivera entregue a degredados, a desertores, a traficantes de madeira que lhe deram o nome. Com o ano de �535 se iniciou um movimento capital, que ainda hoje continua. “.

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Agroecologia, cada caso, um caso

necessidade há de especialista para a monocultura? A pesquisa é realizada nos paises centrais e a produção agrícola é a matéria prima para a indústria. Necessita de mais matéria prima se amplia a área de cultivo. É bem verdade que com a chamada “revolução verde” precisava de mais especialistas para assessorar os agricul-tores. Necessitava de profissionais para mudar padrões de vida e de consumo. Eram necessários bons vendedores. Buscava integrar a massa de agricultores ao mercado. Diga-se de passagem, este processo obteve êxito. Depois vem o desemprego. Esta é a lógi-ca hegemônica do processo de civilizatório brasileiro. Hegemônico mais não uniforme. Porque neste processo entra, principalmente, o campesinato.

Inicialmente com as lutas dos povos tradicionais e posterior-mente, com os negros. Lutas que permanecem até hoje. Depois se somam, aquelas dos agricultores pobres, os deserdados, os não reconhecidos. São mamelucos, caboclos, ribeirinhos, sararás, par-dos, mulatos. Nem pretos e nem índios. Uma outra categoria indis-tinta, sem identidade, trabalhando na periferia da periferia.

Neste cenário, para que uma educação massiva e de quali-dade? Os filhos do latifúndio rural e urbano têm uma educação par-ticular ou muitos estudam no estrangeiro. Quando se amplia busca por escolaridade a escola é criada para estes. Para formação de políticos e homens públicos. Para dirigir e controlar o estado. Desta forma, quando se tem à expansão é para o latifúndio. A importância oferecida pelos diversos governos quanto a oferta de escolas para a população pode ser exemplificada pelo caso de Recife. Nesta cidade, até 1960 não havia uma rede pública de escolas. Dois anos depois com o advento de uma certa ruptura com a oligarquia e o surgimento do movimento de cultura popular, da qual Paulo Freire foi um dos expoentes, criam-se 20� escolas que oferecem 656 tur-mas para 19.646 alunos.2

A partir da segunda guerra mundial, as descobertas são inú-meras. A economia cresce com a guerra e posteriormente com a re-2 TELES, José (2004) – Um movimento amado e odiado. Serie na trilha do golpe. Jornal do Commercio. Caderno C, fls 6. de 02/02/2004. Recife. Pernambuco.

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Jorge Roberto Tavares de Lima

cuperação da Europa. Porém há um grande parque industrial com tendência a ociosidade e aí se volta para produção de insumos quí-micos e equipamentos para a agricultura. Vem a revolução verde. Nossas escolas acompanham o processo. Os currículos buscam reproduzir e preparar os jovens, para a “modernidade”. O marketing de acabar com a fome, pelo aumento da produção, se mantém até hoje. A produção efetivamente aumentou, mais também a fome. Até porque fome não significa falta de comida, significa falta de opor-tunidade, falta de distribuição de riqueza. Resulta produto de um modelo que produz, apenas, mercadoria.3

A crise chega para ficar?

Porém o encanto acabou, embora persista o marketing. Ago-ra este transfigurado no que se chama o agronegócio. Embasado quase sempre em uma tecnologia de ponta. Da engenharia genéti-ca. Muitas vezes, com muito GEN e com pouca ÉTICA. Porém, não dá para ocultar e é crescente a crise ambiental. Crise, que atinge todos. Pobres e ricos como já bem alertava BECK(�998:��)4. Como é também crescente, a crise econômica do agronegócio. Na ver-dade, um grande negócio para os grandes grupos transnacionais de sementes e vendas de produtos químicos. Hoje, os principais envolvidos em pesquisas e no patenteamento de pretensas des-cobertas. Mesmo quando estas são partes da vida e em alguns casos os povos tradicionais já usavam e utilizavam há séculos. No capitalismo, a ética também é uma mercadoria?

Mais a crise é universal. É uma crise que ameaça a vida no 3 BOVE, J. y DUFOUR, F. (2001)– EL Mundo no es una mercancía. Los agricultores contra la comida basura. Conversaciones con Gilles Luneau – Edición Icaría & Antrazyt. Analisis Contemporâneo. Barcelona. Ë interessante os depoimentos e a militância destes campo-neses franceses contra o que denominam comida lixo. Investem contra lojas de Mcdonad’s como ponto simbólico de uma modernidade, que não levam em consideração a vida. Preva-lece somente a produção de mercadorias.4 BECK, U. (�998) – La sociedad del riesgo. Hacia una nueva modernidad. Paidós Básica. Barcelona. “Se puede dejar fuera la miseria, pero no los peligros da era atómica. Ahí reside la novedosa fuerza cultural y política de esta era. Su poder es el poder del peligro que suprime todas las zonas protegidas y todas las diferenciaciones de la modernidad.” Beck (�998:��)

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Agroecologia, cada caso, um caso

planeta. Ricos, pobres, todos estão contaminados e envolvidos com a ameaça de extinção. No período de �500 a �850 desaparecia uma espécie a cada dez anos, a partir de 2000 desaparece uma, a cada hora. É um processo violento de eliminar a vida. Muitas vezes sem nos dar conta. Até sem a intenção. Somente vivendo desta maneira atual. Portanto, pode-se concluir. É uma crise de nossa civilização.

Neste quadro, e ao mesmo tempo, ao longo dos anos, como anteriormente foi mencionado, pessoas, grupos vêm resistindo a este processo insano. Luta-se pela vida. Inclusive dos seres hu-manos. Luta-se pela manutenção da vida na terra. Luta-se para se garantir o direito de viver de nossos filhos, netos, bisnetos. Luta-se para se viver no cotidiano, porém mais que isto se luta pela possi-bilidade de se continuar a viver. Surge um sem número de estudos que revelam que os recursos são finitos e que há necessidade de mudanças.5 Surge a medicina alternativa. Surge uma arquitetura alternativa. Surge luta pela vida no planeta. Surge uma diversida-de de manifestações. Surge a agricultura alternativa. Surgem em alguns poucos estados, políticas públicas de apoio a uma nova agricultura. Em muitos crescem as dificuldades, capitaneados pelo latifúndio, agora transfigurado em outros discursos, outras estraté-gias, porém com os mesmos arautos. Porém, cresce a agri-cultura. Surge a luta pela terra.

Merecem destaque, os camponeses pela sua luta e pela va-riedade de estratégias que usam para defender a vida. Uma peque-na digressão. Ao adotar a expressão, camponês, estou assumindo a dimensão política e cultural que se encontra nesta expressão. Também destaco sua proibição de uso durante anos. Pequenos produtores, caboclos, caipiras, lavrador e até mesmo agricultor fa-miliar foram expressões usadas para dispolitizar e minimizar a im-

5 SEVILLA – GUZMAN, E. y WOODGATE, G. (2002. pp 77 – 96) – “Desarrollo Rural Sos-tenible”: de la agricultura industrial a la agroecología. In REDCLIFT, M. &WOODGATE, G. (Cord.) – Sociologia del medio ambiente. Una perspectiva internacional. Madrid. Mcgraw Hill. Fazem uma analise das origens e evolução do termo desenvolvimento sustentável, desta-cando na pg.81 uma relação de eventos de 1972 a 1992 que fundamentam um discurso oficial sobre desenvolvimento sustentável

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Jorge Roberto Tavares de Lima

portância política, econômica, cultural do campesino no processo civilizatório brasileiro. Também é importante destacar que a expres-são agricultura familiar surge como um processo de resgate e como uma opção política, em determinado momento, de reafirmação de uma expressão política do campesinato.

À medida que cresce a crise, necessariamente se buscam alternativas. Para esta nova agricultura, surge um desafio, a ne-cessidade de reconhecimento das culturas tradicionais e populares pela comunidade científica, pelos órgãos de ensino. Implica em se reconhecer e consolidar uma cultura da terra. Emerge a necessi-dade de uma construção de um processo educativo que prepare e fundamente o homem a trabalhar a terra como parte dela. Exige-se que a medicina, a arquitetura, a engenharia, a agronomia, o direito, enfim, as diversas áreas do conhecimento assumam uma nova for-ma expressão, uma nova cultura, um novo conhecimento, portanto, uma nova forma de vida. Um novo paradigma. Neste cenário, surge o desafio de uma educação agroecológica. Exige-se em realidade, uma epistemologia agroecológica.

Educação a busca de uma base cientifica

As palavras anteriores exprimem um entendimento de uma construção histórica e social no processo educativo. Portanto, re-afirmamos que a educação reflete um complexo movimento de construção/reconstrução, determinados por fatores de ordem eco-nômica, social, político, cultural e histórico. Por isso mesmo é uma expressão da sociedade. Por outro lado, a forma como se organiza, se concebe, se materializa o trabalho revela a sociedade em um determinado momento historicamente construído. Por exemplo, “a prática da medicina popular tem sido tradicionalmente uma prerro-gativa das mulheres, uma vez que a arte de curar, na família, está usualmente associada às tarefas e ao espírito da maternidade.” CAPRA6, 1982:116)

6 CAPRA, F. (1998) - O Ponto de Mutação. Editora Cultrix. São Paulo.

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Agroecologia, cada caso, um caso

Com a preocupação de tornar cientifica a medicina e com o processo de reestruturação do ensino médico nos EEUU, a partir do Relatório Flexner7, de �9�0, aproximando-o de uma base cien-tífica constatou-se que a “instituição médica opunha-se veemen-temente à admissão de mulheres, originando-se daí uma série de obstáculos contra o treinamento e a prática das médicas.”(CAPRA 1982:152). São dois tipos de sociedades.

Em uma sociedade escravocrata, trabalho para os escravos. Os patrões se dedicavam a arte, a política, ao ócio. Na sociedade de hoje, os patrões donos dos meios de produção estão de um lado e os trabalhadores do outro. Na agricultura familiar há uma diferen-ciação no trabalho onde se consideram questões sexuais, étnicas, de geração. As “coisas da casa” são de responsabilidade da mulher e as relações com o mundo, com os negócios, coisas do homem. (HEREDIA, 1979)8.

A categoria social do trabalho reflete-se na repartição de funções definidas pela produção, pela distribuição de poder e de riqueza, Portanto, também da propriedade. Se para os pobres, trabalho significa produzir, para os ricos significa, gestão, política, apropriação dos resultados do processo produtivo. Para estes as Faculdades. Para os outros, Liceus, Corporações de ofícios, For-mação profissional. E esta profissionalização necessariamente não passa pela escola. Está fora. Estão diretamente sob o controle do patrão, do empresário, como é o caso do sistema S (SESI, SENAI, SESC, SENAC, e agora mais recente SENAR e SESCOOP), com recursos definidos e geridos pelo empresariado. 7 O relatório Flexner, publicado em �9�0, encomendado pela American Mediacal Associa-tion, para estudar como dar uma sólida base cientifica ao ensino da medicina e ao mesmo tempo como canalizar recursos para as mesmas. O relatório apurou que apenas 20% esta-vam entre aquelas que poderiam denominar de padrões científicos, sendo as outras obriga-das a fechar. Recomendava que “a moderna escola de medicina tinha de fazer parte de uma universidade, com um corpo docente permanente, dedicado ao ensino e à pesquisa. Seu objetivo primordial era a formação dos estudantes e o estudo das doenças, não a assistência aos enfermos. Assim, o diploma de doutor em medicina que a escola conferia certificava o completo domínio da ciência médica, não a capacidade para cuidar de pacientes.” “Com o avanço cientifico. Se estabeleceu um vinculo entre a medicina e o big business que passou a dominar até hoje todo sistema de assistência a saúde.” (CAPRA �982:�5�)8 ALÁSIA DE HEREDIA, Beatriz M. (1979) – A morada da vida. Editora Paz e Terra. Rio de Janeiro.

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Portanto, nosso ensino, nossa escola é para formação na ló-gica do latifúndio. É aquela que especializa. Reproduz tecnologias. Produz e convive com uma concepção ideológica da neutralidade política. Nada mais político. O latifúndio, o capital financeiro e o in-dustrial agradecem. Porém a crise que não é do capital, este nunca esteve tão bem, mais é uma crise de um modelo civilizatório, exige mudanças, correções de rumo. A crise ambiental e a possibilidade de morte no planeta terra fazem, com que muitos, sem distinção de raças, de posições sociais e econômicas queiram mudanças. Sur-gem e crescem os negócios orgânicos. Estima-se que o mercado norte americano de produtos orgânicos movimentou em 2000, U$ 8.0 bilhões e estima-se que chegue em 2010, em U$ 21,9 bilhões (SLOAN, 2002).9 As grandes corporações já iniciaram fortemente sua inserção no mercado orgânico, fazendo com que estas estima-tivas sejam superadas em prazos menores que o previsto.

Reformas, em que direção?

Há um efetivo movimento em outras direções e por isso há novos comportamentos na sociedade, exigem-se novos rumos e desta forma, o MEC vem realizando um esforço no sentido de mu-danças no ensino. Foram definidos os parâmetros nacionais nas di-versas áreas. O CNE10 vem definindo políticas para o ensino infantil, fundamental, médio, técnico, profissional e é importante destacar a Resolução CEB nº 3 de �0/��/99 que fixa as diretrizes nacionais para o funcionamento das escolas indígenas e dá outras providên-cias. Ainda mais um destaque, o parecer 36/2001 de Edla de Araújo Lira Soares, que analisa e propõe as diretrizes operacionais para a educação no campo. Este documento que inicia com o poema de João Cabral de Melo Neto, Morte e vida de Severina, é um marco, que necessita ser mais bem conhecido. Agora mais recentemente o MEC vem tentando realizar a reforma universitária. Segundo o

9 Citado por Antonio Oswaldo Storel Junior em seu texto Políticas públicas e regulamentação de mercado orgânico.�0 CNE – Conselho Nacional de Educação. CEB –Câmara de educação básica.

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Agroecologia, cada caso, um caso

MEC a reforma tem o objetivo de fortalecer a universidade pública, impedir a mercantilização do ensino superior, democratizar o aces-so dos jovens e garantir a qualidade do ensino. Segundo o secre-tario do Ministério “a reforma é uma iniciativa do atual governo, que se comprometeu em revitalizar o ensino superior e vinculá-lo ao desenvolvimento do país.”11

Este é meu medo. O modelo de desenvolvimento delineado pelo governo tem um caráter distributivo e não de inclusão social. O modelo dos empresários é ampliar a base de lucros, com redução das taxas, impostos e tributos. Poucos falam da responsabilidade social destas empresas no desenvolvimento.Por outro lado, como vimos discutindo anteriormente, o ensino principalmente público e religioso sempre esteve vinculado às idéias desenvolvimentistas do país. Os resultados deste desenvolvimento, não se precisa ser muito severo para constatar sua insustentabilidade. Então de que desenvolvimento está se falando ou buscando? Por que não um ensino, que, como sugere Capra (2003:20)12, nos ajude a ter “a compreensão dos princípios da organização que os ecossitesmas desenvolveram para manter a teia da vida”?.

Para continuar com exemplos. Nas licenciaturas é obrigatório práticas de ensino de no mínimo 400 horas, estágio supervisionado de 400 horas e 200 horas de atividades complementares. Ou seja, exige-se uma prática com o mundo do trabalho a partir dos primei-ros semestres e que vai se ampliando até o último semestre do cur-so, onde se pretende que seja principalmente nas salas de aulas, com os alunos exercitando suas competências como licenciados. Mais que tipos de aulas estão sendo oferecidas por estes jovens? Que tipo de ensino está refletindo? Será aquela da transmissão do conhecimento, que reproduz, memoriza, repete ou aquele de pro-dução de conhecimento, onde o ensino é uma forma de inclusão social e fortalecimento da cidadania, porque neste processo esta-11 www.mec.gov.br/reforma�2 CAPRA, Fritjof (2003) – Alfabetização ecológica: O desafio para a educação do século XXI. InTRIGUEIRO, André(Org.) – Meio ambiente no século XXI. Editora Sextante. 3ª Edi-ção. Rio de Janeiro.

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mos preparando cidadãos com competência para criticar e recons-truir as relações sócias, políticas, e econômicas da sociedade.

Todos os demais cursos estão sendo reformulados. Sendo criada uma comissão de especialistas para definir um conjunto mí-nimo de pontos a serem atendidos para cada curso. Na agrono-mia a discussão sobre a adoção do receituário agronômico é forte, principalmente no sistema CONFEA e na região sul do país. Os órgãos de regulamentação profissional como OAB, CREA, CRM e outros estão discutindo esta reforma. A OAB, está realizando testes para habilitar seus profissionais. Porém a questão central é: Qual o rumo a adotar? Qual a concepção que irá nortear estas mudanças? Mantêm-se o paradigma Newtoniano? Ou busca-se fundamentar as mudanças a partir de outro paradigma?

E a educação agroecológica?

Creio que alguns podem estar se perguntando e a questão do ensino da agroecologia? Quando irá tratar? Afirmo que a discus-são é fundamentalmente filosófica. Epistemológica. Que envolve um projeto civilizatório de sociedade. Portanto, envolve um projeto de sociedade. Podemos até falar sobre um processo de transição para uma educação agroecológica. Nesta transição poder-se-ia in-dicar alguns princípios. Mais talvez o primeiro princípio, o ponto de partida fosse reintegrar o homem à natureza.

Altieri (2000)13 diz que agroecologia não se resume a uma matriz produtiva. É também uma metodologia. Onde se tem os agroecossistemas como unidades de referência. Amplia quando afirma que agroecologia é um novo campo de conhecimento que se articula e se constitui de diversas ciências. Nesta perspectiva os profissionais formados na lógica agroecológica passam a ter outras perspectivas, outras necessidades, outra formação. A exigência do diálogo entre o conhecimento cientifico e o popular e o tradicional, o trabalho inter e multidisciplinar são necessidades na construção de �3 Altieri, Miguel (2000) – Agroecologia. A dinâmica produtiva da agricultura sustentável. Editora Universidade. UFRGS. Porto Alegre.

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um novo saber e um novo desenvolvimento. De uma nova forma de vida, de um mundo, onde se radicaliza a promoção da vida. Onde se estabelece o desenvolvimento como liberdade como nos ensina Sen (2000)14.

Para uma educação do futuro, MORIM (2000)15, nos indica sete os saberes. Destaca a necessidade de um aprofundamento sobre as cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão, onde desta-ca a necessidade de fazer conhecer o que é conhecer; os princípios do conhecimento pertinente, onde defende a necessidade de ser capazes de apreender os conhecimentos globais e fundamentais para neles inserir os conhecimentos parciais e locais; Ensinar a dimensão humana onde busca retomar a dimensão complexa e a identidade comum a todos os outros seres humanos; ensinar a identidade terrena, sublinha a dimensão planetária do ser huma-no e, portanto, de uma identidade terrena; Enfrentar as incertezas e ensinar a compreensão são dois pontos interessantes, uma vez que nem sempre saber significa compreender, como também saber não significa ter certezas. Para finalizar com a ética do gênero hu-mano. São pontos que discute e aprofunda.

A contribuição de Leff16 (2001) vai na direção de uma cons-trução de uma racionalidade ambiental onde se tenha um saber atravessado por estratégias de poder em torno da re-apropriação (filosófica, epistemológica, econômica, tecnológica e cultural) da natureza. Desta forma, toma o ambiente como espaço onde se re-significa as concepções de progresso, de desenvolvimento e do conhecimento para configurar uma nova racionalidade que se re-flete no campo da produção e do conhecimento, da política e das práticas educativas. Porém destaca que ambiente não é ecologia mais a complexidade do mundo: é um saber sobre as formas de apropriação do mundo e da natureza através das relações de poder

14 SEN, Amartya (2000) – Desenvolvimento como liberdade. Editora Companhia das Letras. São Paulo.�5 MORIN, Edgar (2000) – Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro. Editora Cortez. 2ª Edição: São Paulo. Unesco: Brasília. DF.16 LEFF, E. (2001)- Saber Ambiental. Sustentabilidad, racionalidad, complejidad, poder. Si-glo XXI/PNUMA/UNAMA. 3ª Edición. México.

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que se inscreveram nas formas dominantes de conhecimento. Nesta perspectiva, Max-Neef (�998)17 advoga um desenvol-

vimento e uma racionalidade que se baseia na solidariedade e no compartir, como fundamento para novas relações entre as pesso-as e acrescenta que como seres que utilizam linguagens comple-xas somos capazes de descrever, explicar situações, porém nem sempre as compreendemos. Em outro momento LEFF (2002)18 nos orienta “O trabalho pedagógico está associado principalmente à busca de compreensão da diversidade de alternativas possíveis de ação e dos processos de ajustamento e negociação entre os atores envolvidos.”

Para reforçar esta dimensão da complexidade ambiental Shiva19 (2003:17), nos lembra “que as monoculturas ocupam pri-meiro as mentes e depois são transferidas para o solo”. Recomen-dando então que, preservar a diversidade corresponde sobretudo à produção de alternativas. Assim preservando a diversidade como uma forma de pensar, como um contexto de ação, permite o surgi-mento de opções.

Creio que é justo neste momento que estamos discutindo uma proposta de educação, de uma epistemologia agroecológica retomar a Paulo Freire20. Ele nos diz que ensinar não é transferir conhecimentos. Que não há docência sem discência e que ensinar é uma especificidade humana. E também, que primeiro se faz à leitura do mundo e depois é que se faz da palavra.

Finalizando, podemos pensar em estruturar o ensino na gra-duação a partir de dois eixos. O primeiro, com definição de linhas de conhecimento a serem trabalhadas e aí as diversas disciplinas poderiam se inserir nestas áreas. O segundo, ter professores para cada área de conhecimento. Pode-se fazer um paralelo com o en-

17 MAX-NEFF, M.A.(1998) – Desarrollo a escala humana. Conceptos, aplicaciones y algu-nas reflexiones. Icaria & Editorial Nordan-Comunidad. 2ª Edición. Barcelona.18 LEFF, E. (2002). - Epistemología ambiental. Cortez Editora. São Paulo.19 SHIVA, Vandana (2003)– Monoculturas da mente. Perspectivas da biodiversidade e da biotecnologia. Editora Gaia:SÃO Paulo. 20 FREIRE, Paulo (2003)– Pedagogia da Autonomia. Editora Paz e Terra. 26ª Edição. Rio de Janeiro.

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sino na pós graduação que obrigatoriamente, têm-se as linhas de pesquisas e os professores responsáveis por elas. Que estes eixos sejam conseqüências de uma inserção da Universidade ou mesmo dos cursos em seu ambiente, estabelecendo uma práxis na cons-trução de conhecimentos, que necessariamente não precisam ser reaplicados em outros locais, porque cada caso é um caso e o que estabelece uma linha demarcatória e coerente são os princípios da agroecologia, como área de conhecimento.

Na agroecologia não se têm verdades, não se estimulam dog-mas, simplificações, generalizações e sim as buscas, as alternati-vas, as compreensões enquanto seres do e no mundo. Fazendo uma analogia a Gliessman21, dizer que no primeiro momento deve-se diminuir a poluição, em seguida pode-se trabalhar por técnicas, ações alternativas e depois se pode chegar a redesenhar o mun-do. Redesenho, onde se tenha uma radicalidade na promoção da vida. Neste mundo podemos ter então um ensino da agroecologia como um fato natural e conseqüente. Estamos em um processo de transição, de analises de possibilidades, de buscas de alternativas. Porém, a crise do mundo nos impulsiona para não esperar pelo amanhã. Vamos começar agora, vamos nos juntar a aqueles que trabalham na transição. Vamos ampliar com nosso trabalho, com-petência e amor à construção de um novo mundo. Porque, outro mundo é possível. E a educação agroecológica deve ou pode ter um lugar neste processo de reconstrução.

2� GLIESSMAN, S.(200�) – Agroecología. Processos ecológicos em agricultura sustentá-vel. Editora Universitaria/UFRGS. 2ª Edição. Porto Alegre/RS/BRGliessman entende que a transição da agricultura convencional para a agricultura de base ecológica tem três fases. A primeira a diminuição do uso de insumos químicos e sua me-lhoria de eficiência. A segunda etapa seria a busca de substituir os insumos químicos por biológicos ou outros s produtos alternativos da própria unidade familiar e finalmente a última etapa seria o redesenho das unidades familiares. Esta perspectiva, como anteriormente está dito, não se aplica para os grupos de assentados e agricultores tradicionais.A existência na Amazônia de tipos e grupos de agricultores tradicionais que já praticam a agroecologia é um fato inconteste, pouco conhecido pelas nossas academias e de forma geral desqualificados pelo conhecimento convencional. Para estes, deveria ter políticas públicas voltadas para seu fortalecimento e fomento como uma estratégia fundamental para uma nova realidade no campo.

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IMPORTÂNCIA.DOS.MEDIADORES.CULTURAIS.PARA.A.PROMOÇÃO.DO.DESENVOLVIMENTO.SOCIAL

Delma Pessanha Neves*

Os universos de significação e as bases da interlocução ---------------------------- 35O papel da agroecologia ---------------------------------------------------------------------- 38O caminho na direção da sustentabilidade ---------------------------------------------- 41Aprendendo a partir de sistemas sustentáveis existentes --------------------------- 45Agroecossistemas tradicionais como exemplos de funcionamento sustentável 46A mediação como produção de novos universos de significação ------------------ 49Além da unidade de produção individual ------------------------------------------------- 50Os mediadores e a consagração de novas fronteiras: ------------------------------- 54o agroecossistema sustentável ------------------------------------------------------------- 54“Princípios orientadores: ---------------------------------------------------------------------- 56O mediado enquanto convertido: um agricultor projetado --------------------------- 57Considerações finais --------------------------------------------------------------------------- 62

O termo desenvolvimento social, quando associado ao mun-do rural, abarca um campo distintivo de intervenção política e de pesquisas referidas a significados específicos, conforme, por um lado, os contextos de projeção de mudanças na organização social e econômica, e, por outro, as virtudes prospectivas de promoção de segmentos populacionais, direta ou indiretamente articulados à ati-vidade agropecuária. Tais significados, tendo em vista o caráter de promoção política de uma outra ordem social, são em grande par-te coletivamente construídos por contraposição a insatisfações ou confrontações diante de outras tantas modalidades de intervenção, que configuram, nesses termos, organizações específicas de in-teresses condenáveis. Quando qualificado como desenvolvimento rural, geralmente se aplica preferencialmente a setores e segmen-tos considerados em posição secundária ou subalterna; e alude à equidade e a padrões mais justos de redistribuição e de acesso

* Professora do Curso de Pós-graduação em Antropologia da Universidade Federal Flumi-nense e do Curso de Pós-graduação em Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Susten-tável da Universidade Federal do Pará. Pesquisadora do CNPq.�?�*

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Importância dos mediadores culturais para a promoção do desenvolvimento social

a bens e recursos públicos, configurando, no atual contexto políti-co, alternativas de exercício de cidadania. Portanto, os meios para esta redistribuição são definidos com base a produzir melhorias nas condições de vida e de produção de segmentos populacionais rela-tivamente reconhecidos como mais pobres. Em consequência, pro-jetos intencionais ou planos e programas de desenvolvimento so-cial incidem geralmente sobre países reconhecidos por patamares relativamente inferiores de desenvolvimento econômico, razão pela qual fazem menção a ações estatais em conformidade às assim re-definidas formas de organização de interesses sociais. Convocam novos ou retomam antigos meios de minimização dos efeitos mais perversos das desigualdades sócio-econômicas.1

No atual contexto e no campo de ações correspondentes aos interesses propugnados no evento para o qual elaborei este texto, o termo desenvolvimento social reafirma os significados atribuídos ao rural (muito além do agrícola), pensado pela multiplicidade de do-mínios interconectados. E se contrapõe aos significados negativos atribuídos a processos convencionais de desenvolvimento agrícola estrito senso, mormente os orientados pelo aumento da produção e da produtividade como fins em si mesmos. O termo equivale então a mudanças intencionais no chamado meio rural, inclusive, para cer-tos porta-vozes, por correções dos padrões de estruturação agrária. Pelos significados assim advogados, fundamenta-se na referência a uma perspectiva sistêmica ou totalizante, definindo-se então pela intervenção articulada sobre vários domínios sociais. Por contra-posição, pressupõe ainda a polarização entre as unidades sociais de intervenção: não as unidades produtivas consagradas pela re-volução verde, mas a vida social ou comunitária, os modos de vida a serem alterados ou supostamente cristalizados, as expressões formais de cidadania, portanto, articulações que ultrapassam a as-sociação entre técnicas e recursos naturais, que definem sentidos para as unidades produtivas, posto que subordinadas e instrumen-tais à construção social de um novo homem, inclusive enquanto consumidor. � Para esta análise, vali-me de associações elaboradas a partir da leitura de Byres, �992; Corbridge, 1992; Harris, 1992; Johnstons, 1992 e Lipton, 1992.

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Em se tratando de expressão de investimentos políticos na construção de princípios reordenadores da sociedade, o termo de-senvolvimento social não é passível de definição geral. Seus con-teúdos são devedores do contexto político, do quadro de forças sociais e de lutas, bem como da estrutura de oportunidades para eleição ou emergência de questões e temas relevantes para rede-finição de interesses e redistribuição de recursos. A definição por-tanto deve ser da ordem da compreensão dos processos em jogo, dos atores em construção e reconhecimento e das alternativas e constrangimentos que nesta arena se exprimem ou se relevam. A construção de significados atribuídos à noção emerge do embate e do debate, das controvérsias valorizadas para permitir a emergên-cia de novas perspectivas. As virtudes prospectivas consideradas são produtos de negociação e de possíveis imposições de forças (cf van der Ploeg et al, 2000: 391-408).

Tendo em vista o caráter de concorrência no campo de cons-trução de padrões de desenvolvimento social (no rural), muitas das características de cada modelo só se tornam explícitas pela análise da inerente contraposição que as delimitam, e só se tornam com-preensíveis através da análise das formas de combate sob as quais se objetivam.

Um investimento político desta envergadura também se torna dependente da criação de novos atores para o exercício de media-ção entre os universos de significação que se contrapõem; dos que devem ser articulados ou condenados em nome da reafirmação de novos valores, metas e referências econômicas e morais. Justifi-ca-se assim a compreensão do papel dos mediadores, em grande parte militantes fundamentais no exercício de constituição, de con-sagração e de divulgação de novos ideais, metas e modos de or-ganização, em geral agregados em torno de alianças estabelecidas por redes de instituições ou movimentos associativos.

Neste artigo, tal como proposto pela equipe organizadora da Semana de Agroecologia, considero algumas questões fundamen-tais ao entendimento do papel de mediadores sociais na constitui-

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ção de novas formas de organização do mundo. E o faço tomando algumas questões explicitadas em textos considerados fundamen-tais à sistematização de um pensamento e de ações práticas cons-titutivas do saber reconhecido como atributo da agroecologia (cam-po disciplinar e projeto político).

O conhecimento produzido nesta disciplina também se orga-niza a partir de valores que se assentam sobre uma reordenação de princípios morais, de concepções de cidadania e de novas formas de solidariedade dos homens entre si e deles com a natureza. Con-sidero, a partir deste enfoque, os desdobramentos dos significados das representações e das práticas no campo de saber construídas para definição da agroecologia, tendo em vista a fundamentação de específico modelo de desenvolvimento social (rural).

A relativamente recente consagração deste campo de saber em grande parte deriva dos investimentos dos autores a ele afilia-dos no sentido de delimitar as diferenças frente à agronomia, con-forme versão de Gliessman, abaixo apresentada, bem como incutir um novo modo de vida e de organização social para agricultores e consumidores.

“Ao longo dos anos 60 e 70, o interesse em aplicar a ecologia à agricultura gradualmente ganhou ímpeto com a intensificação da pesquisa de ecologia de população e de comunidades, a influência crescente de abordagens em nível de sistemas e o aumento de consciência ambiental. Um si-nal importante deste interesse em nível internacional ocorreu em 1974, no primeiro Congresso Internacional de Ecologia, quando um grupo de trabalho desenvolveu um relatório inti-tulado “Analise de Agroecossistemas.

Na medida em que mais ecologistas, nos anos 70, passa-ram a ver sistemas agrícolas como áreas legítimas de estu-do, e mais agronômos viram o valor da perspectiva ecológi-ca, as bases da agroecologia cresceram rapidamente. Pelo início dos anos 80, a agroecologia tinha emergido como uma metodologia e uma estrutura básica conceitual distintas para

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o estudo de agroecossistemas. Uma influência importante durante este período veio dos sistemas tradicionais de cul-tivo, de países em desenvolvimento, que começaram a ser reconhecidos por muitos pesquisadores como exemplos im-portantes de manejo de agroecossistemas, ecologicamente fundamentadas (por exemplo, Gliessman, �978a; Gliessman, Garcia e Amador, 1981).

Com o crescimento de sua influência, a agroecologia contribuiu para o desenvolvimento do conceito de sustenta-bilidade na agricultura. Enquanto a sustentabilidade fornecia uma meta para focalizar a pesquisa agroecológica, a aborda-gem de sistema integral da agroecologia e o conhecimento de equilíbrio dinâmico proporcionavam uma base técnica e conceitual consistente para a sustentabilidade. Em 1984, di-versos autores estabeleceram a base ecológica da sustenta-bilidade nos anais de um simpósio (Douglass, 1984); esta pu-blicação teve um papel destacado na solidificação da relação entre a pesquisa agroecológica e a promoção da agricultura sustentável.

Hoje, a agroecologia continua a fazer conexão entre fron-teiras estabelecidas. Por um lado, a agroecologia é o estudo de processos econômicos e de agroecossistemas, por outro, é um agente para as mudanças sociais e ecológicas comple-xas que tenham necessidade de ocorrer no futuro a fim de levar a agricultura para uma base verdadeiramente sustentá-vel” (Gliessman, 2000: 57).

Não tenho qualquer pretensão de elaborar resenha so-bre a recente e exuberante bibliografia vinculada ao tema; tampouco etnografar modos de constituição de campo aca-dêmico de produção de conhecimento e intenções políticas, agregado pela categoria agroecologia. Adoto pretensões mais modestas, visando melhor objetivar a análise sobre as formas de constituição de mediações sociais e seus agentes, os mediadores sociais. Considero dois simultâneos eventos,

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ocorridos no mês de abril de 2005, em São Luís do Maranhão, que focalizavam o tema deste artigo. Pinço alguns excertos de textos redistribuídos entre os participantes, com o objetivo de fixar o consenso em torno dos objetivos para os encontros propugnados. Um deles foi o Curso de Agroecologia orga-nizado pelo MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário; e o outro, a Semana de Agroecologia do Maranhão, base científica para a agricultura e o desenvolvimento sustentável, organizada pelo Centro de Ciências Agrárias, Programa de Pós-Graduação em Agroecologia da Universidade Estadual do Maranhão, no qual proferi palestra, cujos conteúdos estão aqui retrabalhados.No folder que apresentava a Semana de Agroecologia do Ma-

ranhão, os organizadores convocavam o engajamento dos partici-pantes a partir da seguinte construtiva afirmação de sentido:

“Motivados pelo desejo de estimular o debate e a apren-dizagem coletiva acerca da construção de novos estilos de agricultura sustentável, os promotores da Semana de Agro-ecologia do Maranhão convidam seus participantes para re-fletir sobre os desafios e oportunidades que este novo cam-po de conhecimento, representado pela Agroecologia, pode oferecer como alternativa ao desenvolvimento dos territórios rurais do trópico úmido. Com suas especificidades, principal-mente ambientais, mas também econômicas e sociais, estes territórios estão a exigir estratégias de desenvolvimento in-compatíveis com o caráter social excludente da agricultura convencional. Além disso, é necessário ir além da substitui-ção pura e simples de produtos ou práticas não sustentáveis, mas ativar o potencial endógeno e os sinergismos entre os componentes dos agroecossistemas, para ampliar o leque de opções das comunidades. Foi o que motivou a concepção desta Semana, que esperamos, corresponda à expectativa de todos aqueles que se preocupam com o fortalecimento da

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cidadania das famílias rurais” (Semana de Agroecologia do Maranhão, 11 a 15 de abril de 2005).

Os participantes da Semana integraram-se assim para a cons-tituição e reprodução de um conhecimento coletivo, comprometido ou destinado ao combate aos princípios da agricultura convencio-nal, no que tange à ampliação de formas de exclusão social sob os mais diversos aspectos. Reivindicavam uma prática produtiva que permitisse ampliar o leque de opções entre recursos presentes em cada comunidade, cujos habitantes se encontravam cada vez mais empobrecidos pelos efeitos deletérios da especialização produtiva e, no caso, do desmatamento que lhe subjaz.

Quanto ao curso de agroecologia, entre outros textos redis-tribuídos, privilegiarei alguns dos capítulos do livro de Stephem R. Gliessman, sob título Agroecologia. Processos ecológicos em agri-cultura sustentável, publicado pela editora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 2000, dado o caráter didático de divulga-ção de conhecimentos básicos e de avaliação de experiências. Se-gundo os editores, o texto do livro é recomendado por adotar como objetivo o ensino da ecologia no contexto da agricultura e propug-nar reflexões fundamentais para a transição à sustentabilidade.

Os extratos por mim selecionados são fundamentais à de-monstração dos modos de exercício da mediação porque, cor-rentemente, o termo tem sido interpretado de forma essencialista, enquanto ponto de união do diverso, perdendo o seu caráter de processo social e dialético, para ressaltar aspectos sistêmicos ou mecanicistas. Por esta perspectiva, o termo se restringe à alusão à conciliação diante de divergências ou da intervenção de outrem com o objetivo de propor o acordo ou o compromisso. E assim sen-do, faz ressaltar a objetivação de sistemas de regulação instituídos para reduzir a dissonância entre visões de mundo e formas de com-portamento de distintos segmentos constitutivos das sociedades complexas. Equivale à institucionalização de um sistema de regras destinadas a assegurar a hegemonia de uma ordem consagrada

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ou em busca de consagração. Contempla fenômenos cuja objetivi-dade põe em jogo relações sociais estruturadas por interações ou interseções que agregam redes ou pontos que se intercruzam ou que se confundem.

Adoto perspectiva diversa, construída a partir da crítica meto-dológica aos termos das definições acima comentadas. Os modos de construção dos significados atribuídos ao termo agroecologia, sistematizados nos extratos selecionados, são demonstração cabal que a mediação não pode ser entendida de forma essencializada, como a acima qualificada. O que está em jogo é o confronto de pontos de vista para constituição de um outro campo de produção de significados e referências comportamentais.

Sob uma perspectiva analítica processualista, como a que adoto, o termo mediação pode se referir a engajamentos e a mobili-zação de segmentos selecionados para reordenação de modos de conduta e de visão de sua posição social. Contempla os modos de constituição e objetivação de um conjunto de princípios-guias para as interpretações que tornem possível a comunicação intencionada, interessada e negociada entre agentes vinculados a universos de significados diversos e divergentes. Instaura um patrimônio comum para esta comunicação, constituindo os laços que permitem relati-vizar as especificidades de cada agente que aí acede por contra-posição ou por identificação de interesses. Opera como espaço de institucionalização do que pode ser partilhado, de modo a permitir a interação a partir do debate e da comunicação em torno de temas comuns que propiciem a troca de experiências. Nesse sentido, os textos, o curso e a semana são recursos instrumentais à constru-ção de campos de mediação que venham a criar o convencimento de que o modelo de desenvolvimento agrícola, nesse debate qua-lificado como tecnicista, produtivista e predador, deva ser cada vez mais encantonado pelo desastre que promete para bem pouco e pelos tantos malefícios que já demonstrou sobre os homens e os recursos naturais.

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Os universos de significação e as bases da interlocução

Tanto na reordenação ou afirmação de determinados modos de integração, como nos contextos de questionamento da ordem instituída, tal qual o caso do combate ao hegemônico desenvolvi-mento agrícola convencional ou produtivista, para a produção da adesão aos princípios da agroecologia, os investimentos destina-dos a produzir a interseção de agentes - dotados de interesses divergentes e visões de mundo por vezes contraditórias - só al-cançam resultado pela negociação da concorrência ou da disputa. Portanto, nessas circunstâncias, campos de mediação, expressos inclusive na objetividade dos textos, dos encontros, dos eventos, dos experimentos, devem ser constituídos para permitir o trânsito entre fronteiras que explicitam a interseção; para anunciar e rea-lizar a desejada superação de práticas que explicitam malefícios, de modo a vir configurar novos sistemas de idéias e práticas sob hegemonização.

Nos textos abaixo, procuro demonstrar os investimentos acor-dados no sentido de comprovar o necessário combate à agricultura convencional.

“Em escala global, a agricultura tem sido muito bem-suce-dida, satisfazendo uma demanda crescente de alimentos du-rante a última metade do século XX. O rendimento de grãos básicos, como trigo e arroz, aumentou enormemente, os pre-ços dos alimentos caíram, a taxa de aumento da produção de alimentos excedeu, em geral, à taxa de crescimento popula-cional, e a fome crônica diminuiu. Esse impulso na produção de alimentos deveu-se, principalmente, a avanços científicos e inovações tecnológicas, incluindo o desenvolvimento de novas variedades de plantas, o uso de fertilizantes e agrotóxicos, e o crescimento de grandes infra-estruturas de irrigação.

A despeito de seus sucessos, contudo, nosso sistema de produção global de alimentos está no processo de minar a própria fundação sobre a qual foi construído. As técnicas, ino-

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vações, práticas e políticas que permitiram aumentos na pro-dutividade também minaram a sua base. Elas retiraram ex-cessivamente e degradaram os recursos naturais dos quais a agricultura depende: o solo, reservas de água e a diversidade genética natural. Também criaram dependência de combus-tíveis fósseis não renováveis e ajudaram a forjar um siste-ma que cada vez mais retira a responsabilidade de cultivar alimentos das mãos de produtores e assalariados agrícolas, que estão na melhor posição para serem os guardiões da terra agricultável. Em resumo, a agricultura moderna é insus-tentável - ela não pode continuar a produzir comida suficiente para a população global, a longo prazo, porque deteriora as condições que a tornam possíveis” (Gliessman, 2000: 33).

A agricultura convencional é condenada porque, prati-cando cultivo intensivo do solo, aumenta a taxa de erosão por água e vento; funda sua racionalidade na monocultura; baseia-se na aplicação de fertilizantes sintéticos. Através da irrigação, bombeia mais rapidamente a água subterrânea do que ela é renovada pela chuva; adota controle químico de pragas e de ervas adventícias; manipula genomas de plan-tas; polui o ambiente; ocasiona perda da diversidade gené-tica; imprime perda de controle local sobre a produção agrí-cola; cria incertezas aos produtores; e amplia a desigualdade sócio-econômica em plano mundial (cf Gliessman, 2000).

Para comprovação dos efeitos perversos aludidos, de-monstra Gliessman:

“Todas as práticas da agricultura convencional tendem a comprometer a produtividade futura em favor da alta produ-tividade no presente. Portanto, sinais de que as condições necessárias para sustentar a produção estão sendo erodidas devem ficar cada vez mais evidentes com o tempo. Hoje, na verdade, há um grande cabedal de evidências de que essa erosão está ocorrendo. Na última década, por exemplo, to-

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dos os países nos quais práticas da “revolução verde” foram adotadas em larga escala experimentaram declínios recen-tes na taxa de crescimento anual do setor agrícola. Ademais, em muitas áreas onde as práticas modernas foram instituídas para cultivar grãos na década de 1960 (sementes melhora-das, monocultura e aplicação de fertilizantes), os rendimen-tos começaram a se manter no mesmo nível e, até, decaíram após os espetaculares aumentos iniciais. Globalmente, au-mentos de rendimento têm-se mantido no mesmo nível para a maioria das culturas, as reservas de grãos estão encolhen-do e, na realidade, a produção de grãos por pessoa decli-nou desde meados dos anos 80” (Blown, �997)( Gliessman, 2000: 40).

Não se tratando de significado monolítico, a reflexão sobre

o termo desenvolvimento social, pensado a partir da proposta de adoção ampla dos pressupostos da agroecologia, deve considerar, questionadamente, a evidência que os significados atribuídos ao termo subentendem. Para tanto, a análise deve levar em conta as concorrências que os significados múltiplos expressam, articulados de forma a, praticamente, fazer reproduzir as intenções. Na análise, não se pode perder de vista que, recorrentemente, cada atribuição de significados associados ao termo desenvolvimento social é su-cessivamente defendida como mais moderna, mais correta, mais original ou inovadora, mais justa, mais equitativa etc. Cada suces-siva configuração de sentido para o desenvolvimento social fun-da-se na defesa de que é portadora de valores tão mais positivos, que nem sempre se submete ao mesmo exercício de avaliação de produção de efeitos indesejáveis e perversos, porque inesperados. O autor por mim considerado para este exercício demonstrativo da produção do campo de mediação (ou de recursos para superpor universos de significações), anuncia estes cuidados e convida a refletir sobre os limites da proposição, inclusive por investimentos que venham a minimizá-los.

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“O.papel.da.agroecologia

“A agricultura do futuro deve ser tanto sustentável quan-to altamente produtiva para poder alimentar a crescente população humana. Esse duplo desafio significa que não podemos simplesmente abandonar as práticas convencio-nais como um todo e retomar as práticas tradicionais ou indígenas. Embora a agricultura tradicional possa fornecer modelos e práticas valiosos para desenvolver uma agricul-tura sustentável, não pode produzir a quantidade de comida requerida para abastecer centros urbanos distantes e mer-cados globais, pelo seu enfoque de satisfazer necessidades locais e em pequena escala.

O que se requer, então, é uma nova abordagem da agri-cultura e do desenvolvimento agrícola, que construa sobre aspectos de conservação de recursos da agricultura tradicio-nal local, enquanto, ao mesmo tempo, se exploram conheci-mento e métodos ecológicos modernos. Esta abordagem é configurada na ciência da agroecologia, que é definida como a aplicação de conceitos e princípios ecológicos no desenho e manejo de agroecossistemas sustentáveis” (Gliessman, 2000: 40).

Outro aspecto fundamental à compreensão do processo de construção de universos de significação aglutinados em torno do termo desenvolvimento social, atualmente proclamado no contexto de definição de referências para políticas públicas, é que ele evoca proposições residuais ao processo de mundialização ou globaliza-ção. Os significados hoje valorizados para definição de desenvolvi-mento social não deixam de agregar instrumentos que tornem pos-síveis a ampliação de rendimento financeiro e dos serviços sociais básicos à vida familiar, tendo em vista certas constrições para a constituição de mercados de trabalho; a construção de patamares morais de justiça social, tendo em vista os efeitos excludentes des-

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te caráter seletivo da inserção produtiva; de equilíbrio ecológico, dada a evidência dos efeitos deletérios sobre a reprodução dos recursos naturais; e a constituição de aparatos institucionais que tornem possíveis a descentralização ou a desconcentração econô-mica e, assim, a criação de alternativas produtivas e sociais mais amplas e integrativas, complementares ou superativas dos vazios que o modelo de concentração da organização da produção ins-taura. Portanto, múltiplos significados explicitam os diversos uni-versos de interseção e os diferenciados agentes que se encontram em disputa na constituição de projeções para a organização da so-ciedade. Deste campo de disputas relevam-se os fatores a serem combatidos ou os recursos a serem realinhados sob diferenciadas perspectivas.

“Os princípios e métodos ecológicos formam a base da agroecologia. Eles são essenciais para determinar: a) se uma prática, insumo ou decisão de manejo agricola é susten-tável, e b) a base ecológica para o funcionamento, a longo prazo, da estratégia de manejo escolhida. Uma vez que es-ses estejam identificados, podem ser desenvolvidas práticas que reduzam os insumos externos comprados, diminuam os impactos de tais insumos quando usados e estabeleçam uma base para desenhar sistemas que ajudem os produtores a sustentar seus cultivos e suas comunidades produtoras.

Embora a abordagem ecológica comece focalizando com-ponentes particulares de um sistema de cultivo e a ecologia de estratégias alternativas de manejo, ela estabelece, no pro-cesso, a base para muito mais. Aplicada mais amplamente, pode nos ajudar a examinar o desenvolvimento histórico de atividades agrícolas em uma região e a determinar a base para selecionar práticas mais sustentáveis adaptadas àquela região. Também pode averiguar as causas de problemas que resultaram de práticas insustentáveis. De forma mais ampla ainda, ajuda-nos a explorar a base teórica para desenvolver

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modelos que podem facilitar o desenho, teste e avaliação de agroecossistemas sustentáveis. Em última instância, o co-nhecimento ecológico da sustentabilidade dos agroecossis-temas deve dar nova forma à perspectiva que a humanidade tem da produção vegetal e animal, a fim de que seja alcança-da, em nível mundial, a produção sustentável de alimentos” (Gliessman, 2000: 54).

Portanto, refletir sobre produção de competências para o desenvolvimento social pela adoção de métodos agroecológicos, implica o estudo de representações e práticas, não para ampliar julgamentos políticos e morais, mas para trazer a um público mais amplo, o exame da constituição de novos agentes e práticas sociais e de aparatos institucionais correspondentes. Pelo contrário, deve fazer aparecer o que está submerso nos discursos e nas práticas e os modos de consentimento que asseguram a adesão dos escolhi-dos ou auto-impositivos beneficiários.

Nos processos de desenvolvimento social, tanto a elaboração do projeto como sua colocação em prática advogam a interligação de mundos diferenciados por saberes especializados. Mundos que não se interligam imediatamente, dependendo então de múltiplas formas de mediação, isto é, da participação diferenciada de me-diadores. Portanto, esse projeto político se assenta na elaboração de certas equivalências fundamentais à produção de determinados consensos e códigos comuns, constituidores do espaço social da mediação. Este próprio espaço só se torna reconhecido se seus agentes forem zelosos das diferenças que devem administrar, com vistas à produção do diálogo e de uma outra ordem social. Enfim, sua objetivação implica a produção de crenças comuns que orien-tem os modos diferenciados de participação no projeto de mudança das relações de força que, desse modo, estão a merecer condena-ção e/ou superação.

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O.caminho.na.direção.da.sustentabilidade

A única opção que nos resta é preservar a produtividade, a longo prazo, da superfície mundial cultivável, enquanto mu-damos os padrões de consumo e de uso dela para beneficiar a todos, tanto produtores quanto consumidores, de forma mais eqüitativa. A primeira parte deste desafio futuro define o assunto do livro; a segunda, embora além do objetivo do livro, dependerá, em parte, das reconceptualizações da agri-cultura, aqui oferecidas.

A preservação da produtividade da terra agrícola, a longo prazo, requer a produção sustentável de alimentos. A sus-tentabilidade é alcançada através de práticas agrícolas alter-nativas, orientadas pelo conhecimento em profundidade dos processos ecológicos que ocorrem nas áreas produtivas e nos contextos mais amplos dos quais elas fazem parte. A par-tir desta base, podemos caminhar na direção das mudanças sócioeconômicas que promovam a sustentabilidade de todos os setores do sistema alimentar” (Gliessman, 2000: 52).

Os termos reconhecidos como específicos ao campo da me-diação: a crença na sustentabilidade como valor

Para a análise dos modos de constituição dos campos de mediação (e dos equivalentes mediadores e mediados), é preciso dar a devida atenção aos recursos instrumentais à construção de termos cujos significados devem assegurar a comunicação entre os portadores das diferentes posições sociais neste espaço de interli-gação. Para efeitos do exercício aqui por mim apresentado, quero destacar a importância central do termo sustentabilidade, erigido como valor e meta.

“A sustentabilidade significa coisas diferentes para distin-tas pessoas, mas há uma concordância geral de que ela tem uma base ecológica. No sentido mais amplo, a sustentabili-dade é uma versão do conceito de produção sustentável – a

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condição de ser capaz de perpetuamente colher biomassa de um sistema, porque sua capacidade de se renovar ou ser renovado não é comprometida.

Como a “perpetuidade” nunca pode ser demonstrada no presente, a prova da sustentabilidade permanece sempre no futuro, fora do alcance. Assim, é impossível se saber, com certeza, se uma determinada prática é, de fato, sustentável ou se um determinado conjunto de práticas constitui susten-tabilidade. Contudo, é possível demonstrar que uma prática está se afastando da sustentabilidade.

Com base no nosso conhecimento presente, podemos sugerir que uma agricultura sustentável, pelo menos:

- teria efeitos negativos mínimos no ambiente e não liberaria substâncias tóxicas ou nocivas na atmosfera, água superfi-cial ou subterrânea;

- preservaria e recomporia a fertilidade, preveniria a erosão e manteria a saúde ecológica do solo;

- usaria a água de maneira que permitisse a recarga dos de-pósitos aquíferos e satisfizesse as necessidades hídricas do ambiente e das pessoas;

- dependeria, principalmente, de recursos de dentro do agro-ecossistema, incluindo comunidades próximas, ao substituir insumos externos por ciclagem de nutrientes, melhor conser-vação e uma base ampliada do conhecimento ecológico;

- trabalharia para valorizar e conservar a diversidade biológica tanto em paisagens silvestres quanto em paisagens domes-ticadas; e

- garantiria igualdade de acesso a práticas, conhecimento e tecnologias agrícolas adequados e possibilitaria o controle local dos recursos agrícolas” (Gliessman, 2000: 52).

Apresentando-se a sustentabilidade com valor passível de ser internalizado sob padrões comportamentais, os agentes sociais que investem na produção de sistema de crenças e normas, no

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mesmo ato devem mobilizar adesões e recrutar outros tantos mili-tantes. Por isso, além das definições, todo um trabalho político de produção da adesão e de conversão deve permitir os engajamentos dos supostamente sempre mutáveis agricultores, agora privilegia-dos porque desde outrora tradicionais ou distanciados das referên-cias produtivistas. Enfim, da condição em que foram condenados, tornaram-se laureados como agentes básicos da reconstrução so-cial, e portadores de uma racionalidade social a ser preservada e redimensionada. E, nestes termos, ele não mais se integra como tradicional, mas como tradicional neste campo redefinido, tradicio-nal nos termos desejáveis ao projeto de implantação do modelo agroecológico, isto é, reordenado para participar deste campo de crenças e práticas.

“A agroecologia proporciona o conhecimento e a meto-dologia necessários para desenvolver uma agricultura que é ambientalmente consistente, altamente produtiva e economi-camente viável. Ela abre a porta para o desenvolvimento de novos paradigmas da agricultura, em parte porque corta pela raiz a distinção entre a produção de conhecimento e sua apli-cação. Valoriza o conhecimento local e empírico dos agricul-tores, a socialização desse conhecimento e sua aplicação ao objetivo comum da sustentabilidade” (Gliessman, 2000: 54).

Como exercício de mediação, quando destinado à alteração da ordem instituída, não pode ser assumido sem o questionamento de determinadas formas de dominação (econômica, política e ideo-lógica). Este conhecimento, por vezes elaborado pela desqualifica-ção de saberes e modos de participação vis-à-vis outros tantos, é contextualmente valorizado diante da proposição de outras formas de integração. Esta desnaturalização é operada pela intermediação de agentes deslocados de outros aparatos institucionais, apresen-tados e auto-definidos como experts em processos de mudança.

Os agentes de desenvolvimento e a construída adesão do mediado

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É importante no plano analítico a que me dedico, destacar a crença no pressuposto de que o mediado não pode se constituir em portador de um projeto político próprio, mesmo quando seu saber é valorizado. Depende assim de alianças com outros agentes que se apresentam como portadores de intenções de construção de comu-nhão de interesses; que se apresentam como capazes de formular sistematicamente as demandas e como porta-vozes da crença na eficácia e na legitimidade da proposição.

Ora, para que haja engajamentos, faz-se necessário cons-truir, difundir e internalizar sistemas de crenças, elaborados cole-tivamente, pois que destinados a deslocamento de posições; pois que defendidos como capazes de colocar sob reflexão, um modo de constituição e de representação das diferenças. Faz-se então mister, no quadro de minha proposta de análise, valorizar o reco-nhecimento das hierarquizadas posições ou das distâncias sociais entre os agentes partícipes do processo de mudança social.

Dentre essas distinções, destaca-se a dos próprios agentes de desenvolvimento, cuja prática é devedora do postulado de que toda mudança de posição social se objetiva por um trabalho edu-cativo. Mais que isto ainda, que se vêem como portadores da fun-ção (ou missão) pedagógica destinada a mudar comportamentos e visões de mundo. Em conseqüência, cabe ao mediador construir e objetivar os sistemas de crenças que tornem factível a agrega-ção de segmentos diversos na construção de um projeto de desen-volvimento ou de mudança de posições na sociedade. Ou apoiar aqueles segmentos dispostos a transitar e a incorporar referências de outros múltiplos domínios de vida social e a se comunicar com outros diferenciados discursos.

Os agentes de desenvolvimento, por esta propriedade de po-sição, ao reivindicarem para si a integração de segmentos sociais, assumem, sob dupla direção, o papel de tradutores. Contudo, a tradução não se apoia em princípios de reciprocidade. O agente de desenvolvimento, no papel de tradutor, não pode se esquecer que valoriza a transmissão de saber para tornar viável a instituição que

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representa; o sistema de crenças ao qual se afilia; ou até a defesa da posição que ocupa nesse campo.

Aprendendo.a.partir.de.sistemas.sustentáveis.existentes

O processo de identificação dos elementos de sustentabi-lidade começa com dois tipos de sistemas existentes: ecos-sistemas naturais e agroecossistemas tradicionais. Ambos resistiram ao teste do tempo em termos de manutenção da produtividade por longos períodos, e cada um oferece um tipo diferente de base epistemológica.

Os ecossistemas naturais oferecem um ponto do refe-rência importante para entender os fundamentos ecológicos da sustentabilidade; os agroecossistemas tradicionais dão exemplos abundantes de práticas agrícolas realmente sus-tentáveis, e de como os sistemas sociais - cultural, político e econômico - encaixam-se na equação da sustentabilidade. Com base no conhecimento ganho a partir desses sistemas, a pesquisa ecológica pode conceber princípios, práticas e desenhos aplicáveis na conversão de agroecossistemas convencionais insustentáveis em sustentáveis” (Gliessman, 2000: 566).

Aceitando o engajamento em processos de desenvolvimen-to, os reivindicados beneficiários não podem ser pensados sob a metáfora da reação da esponja na água. Eles tentam reordenar os objetivos, reconhecidos conforme seus interesses e saberes mais imediatos. Integram-se para tornar suas expectativas, valores e pontos de vista factíveis e objetiváveis, para além de tornar seus os objetivos apresentados no contexto dos processos de mudanças. Em conseqüência, nos termos da proposta de Gleissman (2000), deveria ser fundamental integrar o ponto de vista e as formas de saber dos agricultores, para evitar que a proposta de agroecologia padeça dos mesmos limites de tantas reafirmadas formas de popu-lismo ou de discurso laudatório de uma simples idealização política.

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Nos termos da apresentação do texto por ele elaborado, o saber valorizado do agricultor tradiconal é apresentado sob avaliação e parâmetros orientadores da prática do pesquisador. A superar tais limitações, os agentes de desenvolvimento que tomam a agroeco-logia como meta e método necessitam incorporar arcabouços te-óricos que lhes permitiam compreender os sistemas de saber dos agricultores segundo os parâmetros próprios aos contextos de pro-dução deste conhecimento.

Interligando partes que se tocam mas não perdem sua espe-cificidade, o exercício de mediação pelos agentes de desenvolvi-mento reivindica e reproduz, concomitantemente, a construção de identidades e de distanciamento sociais. A análise do papel dos agentes de desenvolvimento, por consequência, é corolária à dos processos de mudanças, que implicam lutas sociais, recrudesci-mento ou emergência de conflitos de interesses e idéias, fazendo assim expressar, entre aliados e compromissados, os modos de construção dos mesmos ou aproximados objetivos gerais.

Agroecossistemas.tradicionais.como.exemplos.de.funcionamento.sustentável

Numa boa proporção do mundo rural de hoje, práticas e conhecimentos agrícolas tradicionais continuam sendo a base para a maior parte da produção primária de alimentos. A distinção existente entre os sistemas de produção tradi-cionais e indígenas e os sistemas convencionais é que os primeiros desenvolveram-se em épocas e locais onde não havia disponibilidade de outros insumos além do trabalho humano e dos recursos locais, ou onde foram encontradas alternativas que reduziam, eliminavam ou substituíam insu-mos humanos intensivos no uso de energia e de tecnologias, comuns a grande parte da agricultura convencional de hoje. O conhecimento incorporado em sistemas tradicionais reflete a experiência adquirida por gerações passadas, continuan-do, no entanto, a se desenvolver no presente, à medida que o

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ambiente ecológico e cultural das pessoas envolvidas passa por um processo contínuo de adaptação e mudança (Wilken, 1988).

Muitos sistemas agrícolas tradicionais permitem satisfazer as necessidades locais, contribuindo, também, no sentido de atender demandas de alimento em nível regional ou nacional. A produção é feita de forma a enfocar não tanto a maximiza-ção do rendimento e do lucro, mas, sim, a sustentabilidade a longo prazo. Os agroccossistemas tradicionais vêm sendo manejados há muito tempo, tendo sofrido diversas mudan-ças e adaptações. O fato de ainda serem produtivos é uma forte evidência em prol de uma estabilidade ecológica e so-cial, a qual poderia ser invejada pelos sistemas mecanizados (Klee,�980).

Estudos de agroecossistemas tradicionais podem con-tribuir muito com o desenvolvimento de práticas de manejo ecologicamente consistentes. Na verdade, o que sabemos de sustentabilidade em termos ecológicos vem principalmen-te do conhecimento gerado por tais estudos (Altieri, 1990). Que características dos agroecossistemas tradicionais os tor-nam sustentáveis? Em que pese a diversidade desses agroe-cossistemas em nivel global, podemos começar a responder examinando o que a maioria dos sistemas tradicionais tem em comum. Os agroecossistemas tradicionais

- não dependem de insumos externos, adquiridos no mercado;- fazem uso intenso de recursos renováveis e disponíveis lo-

calmente; - enfatizam a reciclagem de nutrientes;- tem impactos negativos mínimos ou benéficos no ambiente

agrícola e fora dele;- são adaptados ou tolerantes às condições locais, em vez de

dependentes de alteração ou controle intensos do ambiente;- são capazes de tirar vantagem do espectro total de variação

microambiental que ocorre nos limites do sistema de cultivo,

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unidade produtiva e região;- maximizam o rendimento sem sacrificar a capacidade pro-

dutiva, a longo prazo, de todo o sistema e a habilidade dos seres humanos de utilizarem seus recursos de forma ótima;

- mantém diversidade espacial e temporal e continuidade;- conservam a biodiversidade biológica e cultural;- dependem de variedades locais de cultivo e freqüentemente

incorporam plantas e animais silvestres;- usam a produção para suprir inicialmente as necessidades locais;- são relativamente independentes de fatores econômicos ex-

ternos; e- são construídos com base no conhecimento e cultura dos

habitantes locais.As práticas tradicionais não podem ser transplantadas dire-

tamente para regiões onde a agricultura ja foi “modernizada”, nem pode a agricultura convencional ser convertida para se encaixar exatamente no molde tradicional. Não obstante, as práticas e agroecossistemas tradicionais contêm lições impor-tantes no sentido de como devem ser desenhados os agroe-cossistemas sustentáveis modernos. Um sistema sustentável não precisa ter todas as características delineadas, como ja foi visto, mas deve ser desenhado de maneira que todas as funções relacionadas a essas características sejam retidas.

Se devemos usar os agroecossistemas tradicionais como um modelo para desenhar sistemas sustentáveis modernos, devemos entendê-los em todos os níveis de sua organiza-ção, das plantas cultivadas ou animais, que existem individu-almente no campo, até a região produtora de alimentos, ou mais além. Os exemplos de práticas e métodos tradicionais apresentados ao longo deste livro fornecem um ponto de par-tida importante para que se possa avançar no sentido de en-tender como a sustentabilidade ecológica é alcançada.

Os agroecossistemas tradicionais também podem ofere-cer lições importantes sobre o papel que os sistemas sociais

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desempenham na sustentabilidade. Para que um agroecos-sistema seja sustentável, os sistemas culturais e econômi-cos nos quais seus participantes humanos estão integrados devem sustentar e encorajar práticas sustentáveis e não criar pressões que as minem. A importância. desta relação é revelada.quando sistemas tradicionais anteriormente sus-tentáveis sofrem mudanças que os tornam insustentáveis e ambientalmente destrutivos. Na maioria dos casos, a causa primária é algum tipo de pressão social, cultural ou econômi-ca. Por exemplo, é comum produtores tradicionais encurta-rem períodos de pousio ou aumentarem seus rebanhos de pastoreio em resposta a arrendamentos mais altos ou outras pressões econômicas, e essas mudanças causarem erosão ou redução da fertilidade do solo.

É essencial que os agroecossistemas tradicionais sejam reconhecidos como exemplos de aplicação do conhecimento ecológico sofisticado. Caso contrário, o assim chamado pro-cesso de modernização na agricultura continuará a destruir o conhecimento, já testado pelo tempo, que eles incorporam - conhecimento esse que deve servir como um ponto do par-tida para a conversão a agroecossistemas mais sustentáveis no futuro” (Gliessman, 2000: 568-57�).

Desta complexidade de objetivação dos processos de mu-danças decorre a importância do estudo das práticas dos agentes de desenvolvimento, ressaltando os sistemas de valores e idéias que eles pretendem mudar e inculcar, em função dos quais as con-dições materiais dos beneficiários são reelaboradas e adquirem ca-racterísticas especiais.

A.mediação.como.produção.de.novos.universos.de.significação

A proposta metodológica que aqui apresento para entender o papel dos mediadores culturais só oferece resultados mais satis-

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fatórios, comparativamente a tantas outras alternativas de enten-dimento, se também evitar reduções ou absolutizações sobre esta própria mediação. Para tanto, a ação dos mediadores não pode ser reduzida a uma interseção ou a uma interligação, como se enquan-to pontes, unissem ilhas, imagem metafórica bastante recorrente. A ação só se produz por novas construções e modos de gestão das contradições derivadas da posição de interseção, como Gleissman (2000) demonstrativamente investe. Ela só se produz redefinindo a articulação dos campos relevados para serem tangenciados ou transversalizados. Ela só se objetiva se houver o reconhecimento deste campo específico de interação em que ela se opera. Agentes como o autor devem, por conseguinte, disputar o reconhecimento das formas de intervenção que preconizam, anunciando os decor-rentes sistemas de pensamento e ação que desejam ser alcança-dos.

Além.da.unidade.de.produção.individual

As discussões atuais sobre agricultura sustentável vão bem além do que acontece dentro dos limites de qualquer unidade produtiva individual (Ikerd, �993; Schaller, �993; UNDP, �995). Um agricultor que passou a empregar práti-cas sustentáveis sabe que a agricultura é mais do que uma atividade de produção na qual o único objetivo é alcançar o elevado rendimento de um cultivo em uma única safra - é pre-ciso, além disso, manter as condições existentes na unidade de produção agrícola que permitem que estes rendimentos sejam obtidos de uma safra para a outra. Mas um produtor não pode mais estar atento somente às necessidades de sua unidade produtiva e acreditar que, a partir de uma interven-cão somente neste nível, poderá lidar adequadamente com as questões de sustentabilidade a longo prazo.

Em diversos aspectos, a agricultura é como um curso d’água, ao longo do qual as unidades produtivas individuais são como poços. Muitas coisas fluem para dentro de uma

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unidade produtiva trazidas pelo curso d’agua, e muitas coisas fluem para fora dela também. Os produtores trabalham duro para manter suas próprias explorações agrícolas bem produ-tivas, sendo cuidadosos com o solo e com o que adicionam ao ambiente agrícola e retiram como colheita; assim, cada poço no curso agrícola tem seu próprio zelador. Antigamente, cada produtor podia manter seu poço no curso d’água funcionando razoavelmente bem, e não tinha que se preocupar muito com o que estava acontecendo a montante ou a jusante.

Mas, hoje, essa abordagem de “cada um cuida daquilo que é seu” tem seus limites. Um motivo é que um produtor individual tem cada vez menos controle sobre o que flui para dentro de sua unidade produtiva. Muitas coisas indesejáveis vem de fora, incluindo agrotóxicos, sementes de ervas ad-ventícias, doenças e água poluída de outras áreas. Além dis-so, o produtor tem pouco controle sobre muitas das coisas que necessita. Essas necessidades incluem mão-de-obra, um mercado para os produtos agrícolas, água para irrigação e terra agricultável. Como resultado dessas influências - com-plicadas ainda mais por políticas agrícolas governamentais e caprichos do clima e do mercado -, o curso d’água fica bem turvo e o trabalho de manter seu próprio poço limpo torna-se muito difícil.

Cada vez mais, o produtor precisa também considerar um segundo problema: a maneira como cuida da unidade pro-dutiva pode ter muitos efeitos a jusante. A erosão do solo e o esgotamento da água subterrânea podem afetar negativa-mente unidades vizinhas. O uso inadequado ou ineficiente de agrotóxicos e fertilizantes pode contaminar a água e o ar, bem como deixar resíduos potencialmente perigosos nos ali-mentos. O grau de sucesso de cada produtor em sua própria unidade produtiva também influencia, de forma ampla, a via-bilidade econômica e cultural da agricultura como um todo. Fatores tanto a montante quanto a jusante têm relações com-

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plexas que, de distintas maneiras, afetam a sustentabilidade de cada unidade produtiva.

A necessidade de se olhar para todo o “curso” significa adotar uma abordagem sistêmica para alcançar a sustentabi-lidade. Não podemos contentar-nos em enfocar basicamen-te o desenvolvimento de práticas e tecnologias desenhadas para a unidade de produção agrícola individual. Quando no-vas tecnologias são avaliadas prioritariamente com base em sua capacidade de aumentar rendimentos e reduzir custos, e, apenas secundariamente, por reduzir impactos ambien-tais, elas têm uma baixa probabilidade de contribuir com a sustentabilidade a longo prazo. Seus complexos impactos so-bre todo o sistema agrícola têm que ser incluídos na avalia-cão” (Gliessman, 2000: 594-596).

Evidencia-se então que os agentes de desenvolvimento não atuam como o elo de união de mundos diferenciados e deles distan-ciados como tais. Eles próprios constróem as representações dos mundos sociais que pretendem interligar e o campo de relações que torna possível este modo específico de interligação. Múltiplos significados vão então se ordenando para tornar viável o exercício de mediação:

- O suposto beneficiário não se constitui sem passar pela re-classificação, através de definições e de enquadramentos como os explicitados: não basta ser tradicional, deve aderir aos anunciados significados da sustentabilidade.

- Os recursos materiais e culturais não são absorvidos sem exercícios específicos de tradução e de reconhecimento de sen-tido, tal como demonstram os investimentos na oferta de cursos, de seminários, de congressos e na preparação correspondente ao exercício de representação política em conselhos de desenvolvi-mento local ou de associação.

- E os pesquisadores e extensionistas não são incorporados

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ao processo sem a construção de si mesmos como responsáveis práticos por estes modos de intervenção. Este necessário exercício também se explicita pelos investimentos na constituição de apara-tos institucionais de profissionalização (cursos de pós-graduação e especialização, seminários de construção de consensos sobre mo-delos de agricultura, assistência técnica, reuniões reafirmadoras da secundarização de concorrentes perspectivas de intervenção, mas também de reconhecimentos de hegemonia, como é o caso do in-vestimento objetivado na Semana de Agroecologia do Maranhão).

Logo, o entendimento do papel do agente de desenvolvi-mento não pode estar reduzido às vinculações institucionais ime-diatas. As instituições que os acolhem não podem ser pensadas por intenções autônomas que se impõem. A análise deve incorporar as contribuições resultantes da socialização profissional dos agentes de desenvolvimento ou mediadores, posto que eles fazem intervir um conjunto outro de instituições e referências, todos assegurando suporte e legitimidade às suas práticas (instituições estatais, reli-giosas, corporativas, acadêmicas etc).

Os agentes de desenvolvimento que advogam o método agroecológico são assim portadores de um amplo trabalho institu-cional, objetivado em cursos universitários de graduação e pós-gra-duação, mas também em acordos e parcerias institucionais (muitas das vezes em plano internacional), em cooperativas, em organiza-ções não-governamentais, em sindicatos e em associações profis-sionais. Este amplo aparato institucional já indica o investimento em processos de sedimentação de engajamentos e adesões, mas também de gestão das contraposições e concorrências internas, especialmente entre os agentes de desenvolvimento que devem conviver imediatamente com visões contraditórias que subjazem às práticas da instituição estatal.

Por força desta complexidade imposta à prática dos agen-tes de desenvolvimento, a sua compreensão deve contemplar os efeitos e as estratégias de luta por contraposição e por adesão, construídas tanto por mediadores (agentes de desenvolvimento),

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como por mediados (segmentos escolhidos para alteração de es-tilos de vida e de representação do mundo). O estudo desta prá-tica deve então incorporar a compreensão das relações que são construídas a partir dos significados atribuídos aos recursos e aos temas que são dela expressivos. Deve enfatizar conflitos e tensões enquanto problemas estruturantes das práticas dos agentes, diante de relações cuja dinâmica é a priori indefinível, de desdobramentos inerentes e inesperados e de múltiplas formas de reapropriação de objetivos e intenções. Os.mediadores.e.a.consagração.de.novas.fronteiras:.o.agroecossistema.sustentável

Na produção de novos sistemas e valores, os agentes devem fixar novas definições e referências, compatíveis com as intenções propugnadas.

“O que é um agroecossistema sustentável? ... (respondida de forma abstrata) um agroecossistema sustentavel (é) o que mantém a base de recursos da qual depende, conta com um uso mínimo de insumos artificiais vindos de fora do sistema de produção agrícola, maneja pragas e doenças através de mecanismos reguladores internos e capaz de se recuperar de perturbações causadas pelo manejo e colheita.

Contudo, é bem diferente apontar um agroecossistema real, identificando-o como sustentável ou não, ou determinar por que, ou especificar exatamente como se pode construir um sistema sustentável em uma determinada biorregião. Ge-rar o conhecimento e as capacidades necessárias para isso é um dos principais desafios da ciência da agroecologia hoje.

A sustentabilidade é, em última instância, um teste do tempo: um agroecossistema que continua produtivo por um longo período de tempo sem degradar sua base de recursos - quer localmente, quer em outros lugares - pode ser dito sus-tentável. Mas o que exatamente constitui um “longo período

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de tempo”? Como se determina se houve degradação de re-cursos? E como pode ser desenhado um sistema sustentá-vel, quando a prova da sua sustentabilidade está sempre no futuro?

Apesar desses desafios, precisamos determinar o que se compreende por sustentabilidade. Em resumo, a tarefa é identificar os parâmetros da sustentabilidade - características específicas dos agroecossistemas que constituam peças-chaves em seu funcionamento - e determinar em que nível ou condição esses parâmetros devem ser mantidos para que um funcionamento sustentável possa ocorrer. Através deste processo, podemos identificar o que chamaremos de indica-dores de sustentabilidade - condições específicas do agroe-cossistema, necessárias para a sustentabilidade, e indicado-ras dela. Com tal conhecimento será possível prever se um determinado agroecossistema pode, ou não, ser sustentável a longo prazo, e desenhar agroecossistemas que tenham a melhor chance de se mostrar sustentáveis” (Gliessman, 2000: 565).

Exaltam-se então as intenções normativas do conhecimento científico e a subordinação de saberes dos quais ele se nutre, mas, neste próprio ato, redimensionado.

“Os produtores agrícolas têm fama de ser inovadores e experimentadores, desejosos de adotar novas práticas quan-do percebem que ganharão algum benefício. Nos últimos quarenta ou cinquenta anos, a inovação na agricultura tem sido impulsionada principalmente pela ênfase em altos ren-dimentos e no lucro da unidade produtiva, resultando em re-tornos notáveis mas, também, numa ampla gama de efeitos colaterais ambientalmente negativos. Apesar da continuida-de dessa forte pressão econômica sobre a agricultura, muitos produtores convencionais estão preferindo fazer a transição

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para práticas que são mais consistentes ambientalmente e tem o potencial do contribuir com a sustentabilidade da agri-cultura a longo prazo” (National Research Council, �989) (Gliessman, 2000: 571).

Reconhecida a tendência à adesão mediante eficácia legiti-mada e integração de novos valores, os mediadores da objetivação do saber agroecológico anunciam princípios orientadores de novas práticas:

“Princípios.orientadores:

O processo de conversão pode ser complexo, exigindo mudanças nas práticas de campo, na gestão da unidade de produção agrícola em seu dia-a-dia, no planejamento, no marketing e filosofia. Os seguintes princípios podem servir como linhas mestras orientadoras neste processo geral de transformação: - Mover-se de um manejo de nutrientes cujo fluxo passa atra-vés do sistema, para um manejo baseado na reciclagem de nutrientes, com uma crescente dependência em relação a processos naturais, tais como a fixação biológica do nitrogê-nio a as relações com micorrizas.- Usar fontes renováveis de energia, em vez das não reno-váveis.- Eliminar o uso de insumos sintéticos não renováveis oriun-dos de fora da unidade produtiva, que podem potencialmente causar danos ao ambiente ou a saúde dos produtores, assa-lariados agrícolas ou consumidores.- Quando for necessário, adicionar materiais ao sistema, usando aqueles que ocorrem naturalmente, em vez de insu-mos sintéticos manufaturados.- Manejar pragas, doenças e ervas adventícias, em vez de “controlá-las”.- Restabelecer as relações biológicas que podem ocorrer

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naturalmente na unidade produtiva, em vez de reduzi-las ou simplificá-las.- Estabelecer combinações mais apropriadas entre padrões de cultivo e o potencial produtivo e as limitações físicas da paisagem agrícola.- Usar uma estratégia de adaptação do potencial biológico e genético das espécies de plantas agrícolas e animais às con-dições ecológicas da unidade produtiva, em vez de modificá-la para satisfazer as necessidades das culturas e animais.- Valorizar na mais alta conta a saúde geral do ecossistema, em vez do resultado de um determinado sistema de cultivo ou safra.- Enfatizar a conservação do solo, água, energia e recursos biológicos.- Incorporar a idéia de sustentabilidade a longo prazo no de-senho e manejo geral do agroecossistema.

A integração entre esses princípios cria uma sinergia de interações e relações na unidade produtiva que conduz, pos-teriormente, ao desenvolvimento das propriedades emer-gentes dos agroecossistemas sustentáveis....... A ênfase em determinados princípios irá variar, mas todos eles po-dem contribuir grandemente para o processo de conversão” (Gliessman, 2000: 572).

O.mediado.enquanto.convertido:.um.agricultor.projetado

A idéia de que se trata de um processo de mudança para produzir um novo homem, um novo agricultor, fundamental ao aprendizado de novas possibilidades de articulação de recursos, é caracterizada pelo termo conversão. Este termo abarca o aban-dono de práticas construídas pela ordenação de fatores segundo o princípio do produtivismo, posto que referencia a absorção de recursos naturais como insumos renováveis. Esta prepotente pre-tensão subordina a atividade humana a objetivos contextualizada-

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mente valorizados e abandona a dimensão temporal da experiência da humanidade. O termo conversão, complementarmente, inclui a expressão pública da nova posição militante, que se orienta por uma temporalidade longa, ancorada em princípios de referência holística, onde o homem e a natureza não se contrapõem, mas se articulam sob reprodução recíproca.

“Níveis.de.conversão

Para muitos produtores, a conversão rápida a um desenho e manejo sustentáveis do agroecossistema não é possível nem prática. Como resultado, muitos esforços de conversão avançam em passos mais lentos na direção da meta derra-deira da sustentabilidade, ou, simplesmente, adotam como foco o desenvolvimento de sistemas de produção de alimen-tos um pouco mais consistentes do ponto do vista ambiental. Na diversidade de esforços de conversão observados, três níveis distintos podem ser identificados (Hill, �985). Esses níveis possibilitam a descrição dos passos dos produtores na conversão de agroecossistemas convencionais e podem servir como um mapa, delineando um processo do conversão evolutivo, passo a passo. Também são úteis no sentido de categorizar a pesquisa agrícola quando se relaciona à con-versão.Nível.1: Aumento da eficiência de práticas convencionais a fim de reduzir o uso e o consumo de insumos escassos, ca-ros ou ambientalmente danosos.

A meta desta abordagem é a utilização de insumos de forma mais eficiente, fazendo com que uma menor quanti-dade se torne necessária, e reduzindo, ao mesmo tempo, os impactos negativos de sua utilização. Esta abordagem tem sido a ênfase principal de boa parte da pesquisa agrícola convencional, resultando no desenvolvimento de numero-sas tecnologias e práticas agrícolas. Exemplos desse tipo de

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perspectiva incluem: a) espaçamento e densidade ótimos, maquinaria mais aperfeiçoada, monitoramento de pragas que torne mais eficiente a aplicação de agrotóxicos, melhor sincronia entre diferentes atividades e cultivo de precisão vi-sando à disponibilização ótima da água e fertilizantcs. Ainda que esforços desse tipo reduzam os impactos negativos da agricultura convencional, não ajudam a quebrar sua depen-dência em relação a insumos externos.Nível. 2: Substituição de insumos e práticas convencionais por práticas alternativas.

A meta, neste nível de conversão, é substituir os produtos e práticas baseados no uso intensivo de recursos e degra-dadores do ambiente por outros mais benignos. A pesquisa sobre produção orgânica e agricultura biológica enfatiza tal abordagem. Exemplos de práticas alternativas incluem o uso de cultivos de cobertura fixadores de nitrogênio, em substi-tuição aos fertilizantes nitrogenados sintéticos; b) o uso de agentes de controle biológico em vez de agrotóxicos; c) a mudança para cultivo mínimo. Neste nível, a estrutura básica do agroecossistema não é grandemente alterada e, conse-qüentemente, muitos dos mesmos problemas que ocorriam em sistemas convencionais também ocorrem nestes siste-mas baseados na substituição de insumos.Nível. 3: Redesenhar o agroecossistema de forma que ele funcione baseado em um novo conjunto de processos eco-lógicos.

Neste nível, o desenho geral do sistema elimina as cau-sas fundamentais de muitos problemas que ainda existem nos níveis 1 e 2. Portanto, em vez de se encontrar maneiras mais consistentes para resolver problemas, evita-se, em pri-meiro lugar, que eles apareçam. Estudos de conversão de sistemas em seu todo possibilitam um entendimento dos fa-tores que limitam o rendimento em nível da estrutura e fun-ção dos agroecossistemas. Os problemas são identificados

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e, portanto, prevenidos através de uma abordagem de dese-nho e manejo internos, adequados ao tempo e ao lugar, em vez da aplicação de insumos externos. Um exemplo disso é a diversificação da estrutura e manejo da unidade do produ-ção agrícola através do uso de rotações, cultivo múltiplo e agroflorestação.

Em termos de pesquisa, os agrônomos e outros pesqui-sadores agrícolas fizeram um bom trabalho de transição do nível 1 para o nivel 2, mas a transição para o nível 3 apenas começou. A agroecologia fornece a base para este tipo de pesquisa. E, no final das contas, ela nos ajudará a encontrar respostas para questões maiores, mais abstratas, tais como o que é a sustentabilidade e como saberemos quando a tiver-mos alcançado” (Gliessman, 2000: 572-575).

Tendo em vista as considerações apresentadas e à guisa de contribuição para constituição deste campo de saber e de ação polí-tica, proponho então as seguintes sugestivas questões: - Este agri-cultor tradicional (na pós-modernidade) deve se tornar um agente mais falante nos espaços de mediação, dado que, por essa forma de inserção no campo, valoradamente qualificado pela preserva-ção da tradição, poderia tornar mais público os modos de consti-tuição de seu saber e de sua visão de mundo englobante. Nesta posição, poderia assim ser reconhecido por todas essas virtudes e fundamentos que, como destaca Gliessman (2000), colaboram para o desenvolvimento do saber agroecológico. Assim qualificado socialmente, seria importante que ele, como interlocutor, viesse a comparecer nesses encontros e eventos que conformam o campo da mediação; viesse a diretamente demonstrar sua glorificada con-tribuição à redenção ambiental. Tendo reafirmada sua generosida-de para com a humanidade, virtude que poderia vir a ser por ele internalizada, estaria dotado de outros recursos instrumentais à sua redimensão política ou à sua inserção na sociedade pós-moder-na. Enfim, o registro de unidades de experimentação participativas deveria ser mais divulgado e incorporado, tal como indicado pelo

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autor, para fazer aparecer as reflexões mútuas (de mediadores e mediados) e explicitar nos novos campos de saberes e práticas que vão no processo se configurando.

O agricultor, na condição de tradicional mobilizado à reconsti-tuição sob outras bases sociais e à reordenação produtiva, depende desses processos de troca e negociação entre extensionistas, pes-quisadores e agricultores experimentadores, que interligam, nes-ta experiência, diferentes universos de significação. Mediadores, como estes apontados e os próprios agricultores que se integraram ao novo campo social, e mediados, como os beneficiários indiretos sob conquista, articulam diferenciados processos de socialização, intervenientes pela convivência contextual e pela inserção em es-truturas diversas de oportunidades e alternativas. A conjugação dos saberes, como demonstrou Gliessman (2000), equivale à constru-ção de um terceiro sistema de saber, mas também mediada pelos próprios agricultores. Convivendo frente a objetivos partilhados, esses agentes (mediadores e mediados) devem se equivaler en-quanto partes do mesmo campo, mas se diferenciar por modos de formação correspondentes à cada posição. Essa experiência par-tilhada traz à tona diferentes recursos institucionais, expressos de forma mais eloqüente, como assinala Gliessman (2000), em unida-des de experimentação participativa, redimensionadas como espa-ços públicos de trocas sistemáticas, como instituição local de sal-vaguarda de patrimônios culturais reafirmados mediante reflexões dinâmicas e coletivas. Tais unidades se apresentam assim como espaços sociais para o exercício da capacidade de comunicação e interseção de universos de significações diversas. Suas atividades devem guardar o tempo e a sistematicidade de encontros neces-sários ao longo processo de produção de novos saberes e novos homens. Se a prática adotada se pautar na incipiência desses es-paços sociais, ela só reafirmará o caráter tutelar de processos de mediação. Nesta modalidade, eles são quase sempre condenados, porque fundamentados na exclusão de espaços de participação di-reta dos mediados, que, nesta posição, restam tuteladados.

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Considerações finais

Aos professores dos cursos de graduação e pós-graduação em Agroecologia, como este da Universidade Estadual do Mara-nhão, cujos representantes me concederam a honra da interlocu-ção, sugiro que incorporem, no quadro curricular, disciplinas dota-das de conteúdo que possam assegurar aos profissionais que aí se constituem, os fundamentos básicos para a compreensão da diversidade de construção de saberes, especialmente daqueles qualificados como práticos ou próprios aos agricultores. Não basta reconhecer que eles sabem, porque este conhecimento é um dado de sua existência social. É preciso compreender como eles sabem, como eles articulam princípios, como eles coletivamente elaboram lógicas e racionalidades sociais.

Através do levantamento dessas temáticas e questões, orga-nizadas enquanto proposta de análise sociológica sobre o papel dos agentes de desenvolvimento ou de mediadores correspondentes às formas de objetivação de processos de mudança, suponho ter apresentado alguma contribuição à constituição de competências inerentes a esta prática social. A análise só se tornou possível por contemplar, concomitantemente e corolariamente, o entendimento do campo construído para a objetivação e a expressão da media-ção, isto é, para tornar possível a interligação de mundos que são designados ao questionamento pelo ideário do desenvolvimento.2 E demonstra, por fim, certa idealização e modelação do mediado sob condição de convertido ou agente de sua conversão, mesmo que na prática sua contribuição esteja mais exaltada. Sua participa-ção não se fundamenta em adesão mas em negociação, condição reivindicada exatamente pelos acúmulos de saber que soube pre-servar, a despeito da convivência relativa com tantos outros proces-sos hegemônicos de mudança social .

2 Para uma análise dotada de referências empíricas distintas, consultar outros textos de mi-nha autoria sobre esta temática : Neves, �985, �987, �993a, �993b, �995a, �995b, �997a , 1997b e 1998.

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Metodologia.da.Pesquisa.Participativa.em.Agroecologia

João Carlos Canuto*

Introdução -----------------------------------------------------------------------------------------65Atores sociais e sistemas de interesse ----------------------------------------------------66Valores, transdisciplinaridade e liderança circular --------------------------------------67Questão socioecológica e agroecologia ---------------------------------------------------69Agenda para a pesquisa participativa agroecológica -----------------------------------71Observação e construção do conhecimento agroecológico --------------------------72Diagnósticos participativos --------------------------------------------------------------------72Algumas ferramentas de diagnóstico participativo --------------------------------------73�. Diagnósticos Rápidos Participativos - DRP--------------------------------------------732. Diagnósticos de agroecossistemas por indicadores de sustentabilidade ------74Exemplo de ferramenta de diagnóstico ----------------------------------------------------76Desenhos experimentais em projetos de pesquisa participativa --------------------76Trabalho em unidades de experimentação participativa-------------------------------78

Considerações finais ----------------------------------------------------------------------------82

Introdução

É muito importante começar destacando que o foco nos mé-todos de pesquisa muitas vezes desvia nossa atenção de questões mais fundamentais, tais como, quem está envolvido, a quem vai beneficiar a pesquisa ou que problemas são mais importantes em determinado contexto. Os métodos devem ser desenhados para dar conta destas questões e não têm sentido em si mesmos. Cabe dizer também que os exemplos de aplicação de métodos apresenta-dos aqui nada mais são que referências, que podem indicar alguns caminhos dentro de um grande conjunto de possibilidades. São as condições locais que definem os métodos: características sociais, econômicas e ecológicas locais, sistemas de interesse envolvidos, objetivos da pesquisa, entre outras. Deste modo, a metodologia definida para um projeto pode traduzir-se em uma seqüência de operações já aplicada em outros contextos, mas o mais provável é * Pesquisador Embrapa/[email protected]

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Metodologia da pesquisa participativa em Agroecologia

que constitua uma composição específica de ferramentas, aplicável a uma situação local.

A concepção de métodos de pesquisa participativa em agroe-cologia impõe um duplo esforço: integrar tanto a complexidade so-cial como a complexidade ecológica, freqüentemente negligencia-das nos esquemas clássicos de pesquisa científica. Este desafio foi aceito por diversos pesquisadores e organizações, com resultados muito interessantes, e está inserido em um processo de qualifica-ção metodológica crescente. Tal construção converge hoje para um diálogo com a pesquisa clássica, buscando melhorar o rigor, seja na geração de dados como na forma de análise dos mesmos.

Embora, como foi dito, os métodos não tenham por si próprios uma autonomia ou importância maior que as questões ecológicas e sociais de fundo, trazem em sua estrutura o reflexo de delas, que freqüentemente se encontram na forma de perguntas “submersas” e não respondidas. A opção “natural” do pesquisador formado em nossas escolas e no trabalho dentro das instituições tem sido a de primar pelo método, já que as boas intenções da pesquisa seriam óbvias e indiscutíveis. O resgate de perguntas chave, colocadas antes da escolha dos métodos, sobre o quem e o para quê, tem colocado a todos os pesquisadores a necessidade de um processo que responda às necessidades das maiorias, que garanta um valor científico aceitável e que, além disso, promova o livre pensar e a criatividade humana.

Atores.sociais.e.sistemas.de.interesse

Um pesquisador ou uma instituição poderão dar muito ou pouco valor ao conhecimento do contexto que envolve sua inova-ção: as pessoas, as relações sociais e culturais, a rede econômica, as condições ecológicas. Do ponto de vista da eficiência, há uma grande probabilidade de que a pesquisa que considera o contexto acerte mais o alvo do que a que trabalha sob a orientação subjetiva do pesquisador, que se ancora mais na tradição científica do que na inovação filosófica e metodológica.

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João Carlos Canuto

Uma das peças para a leitura do contexto é a análise dos atores sociais e dos sistemas de interesse implicados no processo. Sem uma idéia sobre eles, é provável que cheguemos a respostas genéricas e de difícil aplicação em locais ou situações sociais e ecológicas específicas.

Há uma enorme diversidade de valores e visões de mundo entre diferentes grupos de atores. É importante que o pesquisador leve em conta esta diversidade e, em seguida, dedique-se a encon-trar as zonas de convergência de interesses. Com um mapa dos atores e das relações entre eles, o pesquisador tem um instrumento vigoroso para trabalhar centrado em necessidades reais.

O conhecimento dos sistemas de interesse em uma comu-nidade e a detecção dos temas convergentes ajudam na definição do problema de pesquisa. Mais que isso: geram a necessidade de diálogo entre saberes. Um desconforto metodológico inicial pode ocorrer mas é freqüentemente compensado pelo melhor ajuste e foco da pesquisa e pela maior aplicabilidade dos seus resultados.

O conhecimento dos atores não é tarefa fácil, não só pelo ain-da insuficiente exercício metodológico, mas também porque: i. há também contradições internas em uma comunidade ou grupo; ii. os sistemas de interesse não são imaculados, mas influenciados pela mídia e por várias formas de socialização; iii. sempre se verificam mudanças nos sistemas de interesse, conforme mudam as condi-ções externas. Ainda assim, um mapa de atores e relações sociais essenciais constitui uma providência simples para evitar uma visão demasiado subjetiva ou desfocada da realidade.

Valores,.transdisciplinaridade.e.liderança.circular

Estamos atualmente em uma encruzilhada civilizatória, ca-racterizada pela questão socioecológica (degradação ecológica e exclusão social simultâneas). Esta questão nos coloca a necessi-dade de uma opção ética pelas pessoas que sofrem os impactos negativos do modelo econômico e social vigente, que são as maio-rias populacionais. Visões de mundo estáticas perdem efeito em

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um mundo de mudanças. Processos derivados destas visões de mundo, como os métodos de pesquisa que ignoram o ambiente em que querem “depositar” seus achados, têm pouca possibilidade de serem socialmente apropriados.

A participação dos atores é condição de legitimidade da pes-quisa. Substituem-se as ações de intervenção unilateral por ações com os agricultores. A legitimidade é também fruto de um bom ajuste entre os sistemas de interesse dos técnicos (pesquisadores, exten-sionistas, assessores) e dos agricultores. A participação dos agri-cultores não só não substitui a necessidade dos técnicos, como a reforça e dá sentido. De parte dos agricultores, a possibilidade de participação é um exercício de expansão da cidadania e de geração de oportunidades. É interessante para tanto que os agricultores pos-sam, de preferência, participar de todas as fases da pesquisa, como diagnóstico, desenho, execução, acompanhamento e avaliação.

A convivência com idéias e experiências variadas é em si mes-mo um movimento transdisciplinar. A transdiciplinaridade perpassa as relações entre técnicos e agricultores e também as diferentes especialidades científicas. Especialistas têm uma responsabilida-de muito grande pois, articulados em convergências com outros especialistas, podem melhor dar conta da complexidade social e ecológica.

Para alcançar resultados sociais não basta apenas a inclusão formal de determinados especialistas nas equipes de pesquisa ou do contato entre técnicos e agricultores. É também fundamental in-vestir em formas mais democráticas de trabalho, na capacidade de conviver com certos conflitos e no exercício da liderança circular1. Ela é qualidade própria de qualquer pessoa e nela todos os pontos de vista contém verdades. Como cada situação posta necessita de habilidades específicas para sua solução, cada ator social se torna líder naquela situação. Assim, agentes que detêm a liderança em determinado assunto, tornam-se aprendizes em outros. A liderança circula e não é propriedade fixa de ninguém. A liderança circular 1 Conceito desenvolvido em cursos ministrados por May East (Coordenadora de Educação do Projeto de Ecovilas da Fundação Findhorn na Escócia www.findhorn.org).

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se orienta pelo espírito de diálogo e não de debate. No debate há uma tentativa de convencimento, alguém que sabe e outro que não sabe, um exercício de poder sobre. O diálogo, por sua vez, implica na revelação gradual de mais “camadas” de uma realidade, a partir de um questionamento apreciativo, onde diversos pontos de vista são importantes e onde se exerce um poder compartilhado, um po-der com.

Questão.socioecológica.e.agroecologia

Na agricultura a questão socioecológica é sentida claramen-te. A atividade econômica humana e a agricultura em particular es-tão inseridas em um modelo entrópico, em que o risco de ultrapas-sar a capacidade de regeneração natural dos recursos naturais é um dado real. A insustentabilidade da agricultura denominada de moderna aponta para a necessidade de criar alternativas sociais e ecológicas que a superem.

Neste contexto a alternativa da aplicação da agroecologia surge como resposta à questão socioecológica. Do ponto de vista da sustentabilidade social, a agroecologia tem base na utilização de recursos locais, reduzindo a dependência externa de insumos, além da freqüente redução dos custos de produção e a geração de novas alternativas de mercado, trabalho e renda. Do ponto de vista ecológico, as propostas agroecológicas mostram grande ca-pacidade de reciclagem de materiais, possibilitando um circuito quase fechado de produção. A utilização de recursos renováveis, especialmente as fontes de energia baseadas na fotossíntese (em lugar do petróleo) é igualmente uma das vantagens da aplicação da agroecologia. Isto tudo se relaciona com a proposta de substituir os insumos por processos e manejos, em que se aproveita o “efeito” da biodiversidade no equilíbrio dos agroecossistemas.

O debate conceitual sobre agroecologia é importante para os rumos da própria pesquisa. Embora o conceito de agroecologia deva ser amplo o bastante para reunir tendência diversas, estão em

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voga alguns conceitos que criam dificuldades de compreensão e de ação2. Estes conceitos são discutidos sucintamente a seguir:

•A agroecologia não pode ser conceituada como uma política pública, embora possa constituir a inspiração central para al-gumas políticas.

•O entendimento da agroecologia como movimento social lhe dá um status que não tem. A agroecologia efetivamente está cada dia mais influenciando os movimentos sociais, porque hoje eles compreendem que a reforma agrária não é comple-ta quando se reproduz uma base tecnológica social e ecolo-gicamente inadequada.

•A agroecologia não é um novo pacote tecnológico, embora considere a tecnologia como uma dimensão fundamental no desenvolvimento dos sistemas agrários.

•A perspectiva agroecológica compreende muitas expressões de agricultura ecológica (biológica, natural, orgânica, biodinâ-mica, permacultura, entre outras), não se identificando exclu-sivamente com nenhuma delas. Os diversos estilos de agri-cultura de base ecológica aplicam, sob formas particulares e com diferentes níveis de profundidade, os princípios agroeco-lógicos e de participação social.

Autores consagrados no tema3, bem como todo o acúmulo do debate atual, indicam que a agroecologia é um campo de co-nhecimento interdisciplinar que contém os princípios básicos para o desenho e o manejo de agroecossistemas sustentáveis. È uma ciência emergente que recebe as influências da Ecologia, da Agro-2 Ver uma discussão mais detalhada em Caporal, F. R. e Costabeber, J. A. Agro-ecologia: alguns conceitos e princípios. 24 p. Brasília : MDA/SAF/DATER-IICA, 2004.3 Por exemplo – entre outros: Altieri, M. A., Agroecologia: as bases científicas da agricultura alternativa. 240 p. Rio de Janeiro : PTA/FASE, 1989; Gliessman, S. R. Agroecologia: processos ecológicos em agricultura sustentável. 653 p. Porto Alegre : Editora da Universidade-UFRGS, 2000; Guzmán Casado, G.; Gonzáles de Molina, M. e Sevilla Guzmán, E (coord.) Introducción a la agroecología como desarrollo rural sostenible. 535 p. Madrid/Barcelona/México-DF : Ediciones Mundi-Prensa, 1999.

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nomia, das Ciências Humanas e de outras ciências. A agroecologia se institui na desconstrução das formas de produção que causam degradação ecológica e social e na sua construção ou reconstru-ção, dentro de um paradigma de inclusão e sustentabilidade. Des-te modo, identificar a agroecologia somente pela não utilização de agrotóxicos é reduzir em muito o seu alcance.

Agenda.para.a.pesquisa.participativa.agroecológica

Os instrumentos da pesquisa clássica respondem de forma parcial às necessidades da agricultura familiar e à complexidade dos agroecossistemas. Portanto, há a necessidade de aproxima-ção das agendas de pesquisa dos agricultores e dos pesquisado-res, promovendo uma inversão de foco para acolher as demandas dos agricultores, a partir do desenvolvimento de conhecimentos para aplicação a sistemas reais.

Fatores políticos, econômicos e sociais devem ser superados para o desenvolvimento da pesquisa participativa agroecológica. A expansão de linhas de pesquisa aplicada deve surgir na forma de soluções práticas urgentes, para o combate à degradação ecológi-ca e à exclusão social. Associada à pesquisa aplicada, deve estar a ciência básica, no sentido de alimentar o avanço do conhecimento, especialmente em temas estratégicos.

Nota-se hoje a emergência de uma significativa quantidade de resultados experimentais que, ajustados a condições locais, po-dem ser apropriados pelos agricultores. Em complemento, existe também uma grande quantidade de conhecimentos gerados pelos próprios agricultores e técnicos de organizações sociais, já testa-dos a campo e de adaptação relativamente fácil às condições dos agricultores de uma região.

Um esforço também fundamental é o que diz respeito à apli-cação local dos princípios ecológicos. A agroecologia, como conceito ou abstração, integra diversos preceitos gerais, mas a produção agrí-cola exige um conhecimento ecológico e técnico “de terreno”, que depende muito da qualificação científica em questões de Ecologia.

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A formação metodológica para o trabalho com a pesquisa precisa igualmente desenvolver-se, de modo a conceber métodos de pesquisa coerentes com a diversidade ecológica e social da re-alidade.

Observação.e.construção.do.conhecimento.agroecológico

Na chamada agricultura moderna o conhecimento chega aos agricultores em pacotes e receitas, apresentadas como aplicativos simplificados, numa caixa-preta de difícil decodificação pelo agri-cultor. Práticas simplificadas estão relacionadas com formas simpli-ficadas de pensamento, onde o papel da observação é acessório.

A agricultura com enfoque agroecológico se apresenta como conhecimento de “código aberto”, onde o acesso é livre (domínio público) e as modificações e ajustes podem ser feitos por qualquer ator social. Nestas condições surgem infinitas possibilidades de desenho e de gestão dos agroecossistemas. Aqui a observação é condição essencial.

O envolvimento dos agricultores em processos participativos de pesquisa favorece a recuperação da capacidade de observação, tanto por parte dos agricultores como dos técnicos. Em conseqüên-cia, melhora também a capacidade de interpretação dos problemas e de formulação própria de respostas. Com a pesquisa participativa fica reforçada a posição de protagonismo social e a auto-estima dos agricultores, fatores fundamentais para a transição agroecológica.

Diagnósticos.participativos

O que são e para que servem os diagnósticos? Diagnósticos são processos de levantamento de sistematização de informações sobre determinada realidade e formam as bases para o desenho de projetos de pesquisa. Os diagnósticos são sempre recortes da re-alidade e sua formatação depende dos objetivos das futuras ações ou projetos. Os recortes podem representar a demarcação de limi-tes geográficos, temáticos e de detalhamento, por exemplo:

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•Diagnósticos gerais e territoriais, como locação e quantifica-ção de infra-estruturas, mercados, cadeias produtivas, abran-gência e impacto de programas e políticas públicas, análises regionais, análises de paisagem ou estudos em microbacias hidrográficas.

•Diagnósticos de comunidades, como conhecimento dos ato-res, relações e estratégias de reprodução social, condições econômicas e ecológicas.

•Diagnósticos de agroecossistemas, incidindo mais pontual-mente nas dimensões ecológicas dos sistemas agrários.

•Diagnósticos de sistemas de cultivo ou criação, na esfera da produção agropecuária.

•Diagnósticos específicos sobre questões técnicas, como pro-blemas de doenças, deficiências minerais, propriedades dos solos, danos por insetos e outras.

Algumas.ferramentas.de.diagnóstico.participativo

Mencionamos anteriormente que a definição das ferramentas é decorrente das condições e dos objetivos de um trabalho. Não havendo fórmulas para a escolha dos instrumentos, podemos ape-nas nos orientar por referências metodológicas. Referências são entendidas como ferramentas utilizadas em outros contextos e que podem servir de inspiração para a formulação de uma proposta de diagnóstico. O que normalmente ocorre são composições livres, entre diversas ferramentas utilizadas em outros diagnósticos, para aplicação em cada caso particular. Apresentamos a seguir duas dessas referências, que julgamos tenham uma relação mais direta com a pesquisa agroecológica participativa.

1. Diagnósticos Rápidos Participativos - DRP

DRP são formas de diagnóstico que procuram obter o máxi-mo de informações relevantes sobre uma determinada realidade a

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partir de ferramentas de aplicação expedita. Alguns componentes dos DRP podem ser, por exemplo:

•Análise de atores e sistemas de interesse.•Análise das relações externas (mercados, informação, serviços).•Mapas geográficos e temáticos.•Caminhadas transversais de avaliação de recursos ou impactos.•Recuperação da memória coletiva pela técnica da linha do

tempo.•Seminários de constituição das árvores de problemas e soluções.•Inventários dos recursos naturais.•Fluxogramas de energia e materiais.•Mapas de ocupação dos solos e dos cursos d’água.•Oficinas de levantamento e priorização de demandas técnicas.•Reuniões de trabalho com base em visualização móvel.

2..Diagnósticos.de.agroecossistemas.por.indicadores.de.sustentabilidade

Os indicadores de sustentabilidade são formas objetivas de avaliar alguma característica importante para o entendimento de um agroecossistema. Devem ser de fácil compreensão e aplica-ção e dar respostas rápidas, integrando informações qualitativas e quantitativas. Os agricultores devem participar da construção dos indicadores e apropriarem-se dos métodos. Muitos indicadores re-lacionados com métodos da pesquisa clássica são de enorme im-portância. Nesse sentido podemos ver a relevância, por exemplo, de medir parâmetros de fertilidade de solos ou de avaliação de po-pulações de insetos.

As formas de análise de indicadores podem ser construídas coletivamente, apresentando-os na forma de matrizes, escalas de valoração, diagramas para registro e análise visual de indicadores4. 4 Por exemplo, desenhos de padrões de dano com graus crescentes de ataque de insetos, diagramas baseados em indicadores de sustentabilidade comparada entre agroecossistemas.

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Exemplos de indicadores podem ser:•Cor, textura e estrutura do solo.•Fauna presente na planta ou no solo, indicando potencial de

predação.•Níveis de dano econômico de ataque de doenças e insetos.•Cor e desenvolvimento de plantas, indicando deficiências mi-

nerais.•Índices de biodiversidade, indicando o grau de estabilidade

do sistema.

Dentro de um diagnóstico, podemos compor o quadro de fer-ramentas considerado pela equipe como o mais adequado para entender a estrutura e o funcionamento de um sistema agrícola ou comunidade. O exemplo destacado a seguir (linha do tempo) deve estar integrado a este conjunto de instrumentos, ainda que aqui apareça como isolado. Busca somente ressaltar a riqueza históri-ca, muitas vezes negligenciada nos diagnósticos, em favor de uma leitura linear dos parâmetros atuais e mais aparentes de determi-nadas variáveis. A compreensão mínima da história de uma comu-nidade ou da evolução de um problema técnico nos dá pistas de como superá-lo. No caso da crise do “sistema abacaxi” abordado, a conclusão dos agricultores é a de que, sem a derrubada da mata, não há futuro para a continuidade da economia do abacaxi na re-gião. A partir da formulação deste impasse, foram levantados pelos técnicos presentes alguns argumentos iniciais com potencial para desbloqueá-lo. Um deles propunha a inversão da lógica dos agricul-tores, no sentido de substituir a fertilidade do solo alimentada pela mata por técnicas agroecológicas de manejo do solo, como adu-bação orgânica, adubação verde, manejo de plantas de cobertura, caldas fertilizantes e outras. Embora com o cuidado de não intervir unilateralmente, este argumento abriu possibilidades de diálogo com os agricultores, pois eles não tinham em sua experiência, nenhuma informação técnica que apontasse para a recuperação do cultivo do abacaxi na região, fora do sistema de derrubada e queima.

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Exemplo.de.ferramenta.de.diagnóstico

Linha do tempo para diagnóstico do cultivo do abacaxi na Comunidade do Brilhante-SC.

Desenhos.experimentais.em.projetos.de.pesquisa.participativa

Desenhos são as formas de planejamento para solução de problemas levantados nos diagnósticos. Devem levar em conta pelo menos dois níveis. Em um sentido amplo, são formas de planeja-mento de ações de desenvolvimento de uma comunidade, o projeto social mais abrangente. Em um sentido mais específico, podem ser considerados como o planejamento das ações técnicas, a elabora-ção de um projeto de pesquisa. Vê-se que um nível não pode des-

• 1945: início do cultivo: sistema de derrubada, queima e implantação.• Nutrição suprida pela fertilidade natural.• Frutos de ótima quali-dade.• Venda a varejo em ca-minhões.• Renovação da lavoura a cada 12 anos.• Custo de produção muito baixo.• Rendimento de 100% (um fruto por planta).• Cultivos alimentares e de renda: feijão, milho, banana, amendoim.

• Menos mata disponí-vel.• Pousio e rotação de áreas (8 a 10 anos).• Manejo de capoeiras.• Renovação da lavoura a cada 5-8 anos.• Produtividade decres-ce mas que ainda com-pensa.• Aumento da demanda de mão-de-obra.• Falta completa de ATER.

Lei ambiental (IBA-MA) proíbe derruba-da da mata.• Redução drástica do plantio; áreas re-siduais com alguma fertilidade.• Aumento de mão-de-obra.•Produtividade muito baixa (20-30%).• Início da migração para a cidade.•Importação do abacaxi de zonas longínquas por ex-agricultores, hoje atravessadores.• Aparecimento da broca e doenças.

• Migração para a cidade, apenas 3 agricultores seguem cultivando abacaxi.• Não há capital para adubação química e agrotóxicos.• Agricultores não conhecem outros sistemas de culti-vo e de reposição da fertilidade• Solução apontada: liberação da derruba-da pelo IBAMA.

1945•.Oim

1960/80•.Oim

1990•.Oim

2005•.Oim

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conectar-se do outro, pois uma ação técnica não surte efeito social se desconhece esta dimensão. Os desenhos de projetos sociais e de pesquisa têm sempre dois eixos de origem: o diagnóstico da realidade e a visão de futuro que coletivamente comungamos.

Na falta de modelos mais consolidados, agricultores familia-res e organizações sociais têm desenvolvido experimentos com delineamentos experimentais relativamente simples e análises de dados qualitativas baseadas, por exemplo, em atributos visuais. A confiabilidade desta forma de experimentação vem se dando me-nos pelo rigor metodológico e mais por um ”acúmulo cultural”. Este conhecimento produz-se no balanço entre acertos e erros ao longo do tempo e na internalização das lições aprendidas na observação de diferentes situações, momentos e locais.

Hoje há falta de desenhos experimentais e formas de análi-se de dados inovadores inspirados conjuntamente nos métodos da pesquisa científica e na experiência acumulada pelos agricultores. Assim, um dos desafios é conjugar a participação com protocolos mínimos de experimentação, resguardando-se a confiabilidade.

A construção de métodos participativos ainda está em suas etapas iniciais e há uma tendência de simplesmente negar os mé-todos clássicos. Nesse contexto cabem muitas perguntas. Como chegar a definições sobre o desenho experimental em um projeto participativo? Devemos manter categorias como parcelas, repeti-ções, testemunhas ou há alternativas a elas para uma nova pro-posta de delineamento? Devemos combinar fases de pesquisa em estação experimental com fases de experimentação em unidades experimentação participativa com agricultores? Como vamos de-finir indicadores, instrumentos de registro e de análise de dados respeitando as formulações dos agricultores? Podemos optar por análises estatísticas consagradas? Podemos conjugar métodos quantitativos e qualitativos?

Acreditamos que há uma grande necessidade de integração entre métodos e visões de mundo. Ao nos debruçarmos sobre o problema da concepção de métodos de pesquisa adequados a um

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ambiente de participação, encontramos que grande parte dos pro-cedimentos consagrados não têm nenhuma característica intrín-seca que recomende sua exclusão. O que não está ainda claro é como estes métodos podem adequar-se a projetos de pesquisa complexos e relacionados com as necessidades do desenvolvi-mento local.

Trabalho.em.unidades.de.experimentação.participativa

Como dissemos, são muitas as perguntas ainda não respon-didas, especialmente na questão do rigor científico. Embora as res-postas sejam apenas embrionárias, nos arriscamos a apresentar as “boas qualidades” da pesquisa participativa, especificamente no âmbito das unidades de experimentação participativa.

As UEP são, para efeito prático, áreas físicas, conjuntos de parcelas experimentais em um cultivo ou propriedades rurais em rede. Estes sistemas agrícolas apresentam complexidades variáveis, como por exemplo: sistemas solo-planta, sistemas de cultivo ou cria-ção, sistemas de produção (conjunto de sistemas de cultivo ou cria-ção), agroecossistemas, sistemas agrários (propriedades), sistemas territoriais (comunidades, assentamentos, microbacias hidrográficas, recortes diversos de paisagem). Cada tipo de sistema, com sua com-plexidade característica, deve ter clara delimitação para que nossos projetos tenham o foco e as respostas adequadas.

O trabalho na perspectiva das UEP tem como vantagem a apropriação “natural” dos conhecimentos gerados no decorrer dos projetos, de diversos modos: pela geração de resultados novos e validados em condições reais; porque se constituem em unidades de observação, sensibilização e intercâmbio; porque são a base para eventos diversos de capacitação, como dias de campo, ofici-nas, cursos e seminários.

Trabalhos em unidades de experimentação participativa per-mitem o aprofundamento das relações entre os atores envolvidos

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e facilita o convívio com a diversidade socioeconômica e cultural, a articulação social, o fortalecimento das convergências de interes-ses e da auto-estima dos agricultores.

As UEP têm algumas desvantagens em relação à pesquisa científica, dado o seu estágio ainda incompleto de desenvolvimento, no que diz respeito à consolidação de métodos. O ajuste de instru-mentos clássicos aos propósitos da participação é uma das linhas de maior relevância hoje no contextos dos métodos participativos. Melhorar a compreensão destas ferramentas e exercitar sua inte-gração a projetos de pesquisa com objetivos de desenvolvimento social é um desafio já assumido por algumas experiências de cons-trução do conhecimento agroecológico5. Rigor lógico, qualidade do delineamento amostral e uso correto das técnicas de análise de dados são características que não conflitam obrigatoriamente com a abordagem participativa. Ao contrário, a integração metodológica só tem a agregar valor, tanto para a pesquisa participativa, como para a clássica.

O método é visto muitas vezes como domínio exclusivo dos cientistas, o qual deve ser conservado contra ataques de vulga-rização. Entretanto, não há porquê temer que isto aconteça: os cientistas sempre estarão na linha avançada das construções me-todológicas. O que ocorre é que muitas vezes, fechados em seus grupos e na sua nomenclatura, não podem ser compreendidos pelos demais atores sociais com interesse no avanço da Ciência. Despontam atualmente argumentos em favor de uma ruptura desta lógica. Pesquisadores, preocupados com os impactos do seu tra-balho, para além da elaboração de artigos científicos de consumo interno na comunidade científica, procuram vias de diálogo com seus “públicos”, onde possam mostrar a relevância dos problemas em que trabalham. Para isto, desenvolvem formas de coleta, apre-sentação e análise dos dados que possam, o mais possível, ser

5 Ver, por exemplo, Arning, I. Guía metodológica para investigaciones agrícolas. Introducción a la investigación participativa e investigación científica. RAAA – Red de Acción en Alternativas a los Agroquímicos. 152 p. Lima : RAAA, 2001

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assimiladas pelos estudantes e novos pesquisadores6. Esta linha pode ser explorada ainda junto com agricultores, sempre que se pretenda facilitar a compreensão dos dados e das técnicas utiliza-das. A abertura desta caixa-preta, ainda que não seja tarefa fácil, é a única maneira de permitir uma apropriação do conhecimento metodológico aos não cientistas. Não se trata da banalizazão dos métodos, mas tampouco de garantir “reserva de mercado” aos pes-quisadores. Aliás, estes só têm a ganhar, quando suas pesquisas, além do rigor científico, se revestem de sentido pela geração de respostas úteis para o mundo real. Por outro lado, pesquisadores clássicos envolvidos em pesquisa participativa têm notado que as respostas mais cruciais freqüentemente não exigem um sofisticado arcabouço metodológico e mesmo que, em certos casos, tal sofis-ticação somente serve para complexificar desnecessariamente os projetos, além de impedir sua apropriação e uso por agentes do mundo não científico (hipertrofia do método como justificação da qualidade do projeto).

As unidades de experimentação participativa, sempre que ultrapassados os entraves da integração e da compreensão dos métodos, podem ser o lugar da construção de conhecimentos que façam sentido para sistemas reais. Além da geração propriamente dita de conhecimento novo, as UEP são próprias para a valida-ção de conhecimentos elaborados em outros locais ou em outros momentos, propiciando o ajuste, adequação e redesenho de um sistema, de uma tecnologia, insumo ou processo. Nelas são cria-das conexões entre os saberes populares e científicos, que não são apenas tecnológicos, mas também conceituais e metodológi-cos. São fóruns de debates e lugares de aprendizado, onde há a oportunidade de exercitar a transdiciplinaridade. As unidades de experimentação participativa possibilitam o desencadeamento de

6 Dentro deste tema, uma obra interessante é a de Magnusson, W. E. e Mourão, G. Estatística sem matemática. A ligação entre as questões e a análise. 126 p. Londrina : Editora Planta, 2003, onde podemos ver uma abordagem que auxilia na aproximação dos pesquisadores aos métodos estatísticos por meio de visualiza-ções (fluxogramas, gráficos e outras formas de apresentação de dados), utilizando o mínimo o recurso da matemática.

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processos de transição agroecológica, a partir da construção gra-dual de um nova matriz de conhecimentos orientados à sustenta-bilidade. Podem tornar-se faróis para a irradiação local e regional do conhecimento.

As UEP são formas interessantes de potencializar o desen-volvimento social, porque aumentam a sintonia entre demandas e projetos, aproximando as pautas dos cientistas das necessidades dos agricultores. Por terem as demandas sido definidas sobre con-textos reais, os resultados normalmente têm mais possibilidades de ajustar-se àquele contexto.

Agricultores experimentadores têm um papel de grande rele-vância na pesquisa participativa. Contudo, devemos compreender que todo e qualquer agricultor ou técnico envolvido em processos participativos têm importância específica e que cada saber com-pleta o outro na construção do conhecimento. Por menos científico que seja, o agricultor detém, mais que qualquer outro ator, o co-nhecimento circunstanciado e histórico da sua região, propriedade, cultivo ou tecnologia. A decodificação desta visão muitas vezes é necessária e passa por conceitos científicos dominados pelos pes-quisadores. Mas o valor destas informações é fundamental para alimentar diagnósticos e hipóteses científicas. Os cientistas podem qualificar seus métodos aplicando-os à analise dos sistemas social e ecologicamente complexos, por meio dos ajustes que as situa-ções reais normalmente exigem.

Unidades de experimentação participativa ganham um forte impulso quando se relacionam entre si em redes. Criam-se solu-ções em diferentes situações e locais e elas circulam entre os nós da rede, provocando uma aceleração do aprendizado, pois abrem o leque de opções para os demais agricultores e técnicos. Estabe-lecem fluxos de comunicação e articulam capacidades e interesses comuns que estavam ainda isolados. Aprofundam as relações entre pessoas e organizações e propiciam a reflexão, entre os agriculto-res, sobre procedimentos e resultados obtidos em diversas realida-des. Em resumo, criam novas referências (no sentido de exemplos que podem inspirar outras iniciativas, e não de receitas prontas) na irradiação do conhecimento gerado, para dentro e para fora da

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rede e impulsionam soluções criativas que não seriam produzidas sem a contribuição de diversos pontos de vista. Vejamos abaixo alguns exemplos de referências que podem ser desenvolvidas e potencializadas em uma rede com interesse na construção do co-nhecimento agroecológico:

•Práticas de manejo (da planta, do solo, da água, da biodiver-sidade).

•Desenvolvimento de equipamentos ou insumos.•Desenhos de sistemas de cultivo ou de toda a propriedade.•Técnicas de acompanhamento econômico.•Modelos de diagnóstico de agroecosistemas.•Delineamento experimentais novos.•Métodos de análise de dados experimentais.•Publicações (manuais técnicos, cartilhas, textos para deba-

te).•Métodos de animação comunitária e de comunicação tecno-

lógica•Métodos de levantamento e priorização de demandas.

Considerações finais

As aproximações entre pesquisadores e agricultores, neces-sárias para gerar respostas socioecológica para as maiorias rurais, estão em debate. Agricultores e pesquisadores têm chegado por diferentes caminhos ao conhecimento novo mas a descoberta da conexão sinergética entre eles ainda está por ser traçada7.

Como foi dito, as técnicas são apenas meios de conhecer o mundo. Entretanto, por isso mesmo, podem contribuir grandemen-te para transformá-lo. Muito temos que aprender com os cientistas e com o saber popular para formularmos sínteses metodológicas que, ao mesmo tempo, sejam confiáveis, respondam a problemas concretos e, ainda, não criem obstáculos à criatividade necessária ao avanço da Ciência.7 Canuto, J. C. A pesquisa e os desafios da transição agroecológica. Ciência e Ambiente, (Especial: Agricultura Sustentável), v. �4, nº 27, p. �33-�40., 2004.

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Agroecologia:.principios.y.estrategias..para.una.agricultura.sustentable.en.la.América.Latina.del.siglo.XXI

Miguel Angel Altieri*

Introducción ---------------------------------------------------------------------------------------83Los ultimos 10 anos -----------------------------------------------------------------------------84El desafio para la region en la primera decada del siglo XXI -------------------------89Agroecologia y el diseno de agroecosistemas sostenibles ---------------------------91Agroecologia y agricultura campesina -----------------------------------------------------93Conclusiones--------------------------------------------------------------------------------------96Preguntas para la discusion ------------------------------------------------------------------99

Introducción Durante “ la década perdida” y los anos 90s, América Latina

paso por periodos de crisis económica caracterizada por extraordi-narios costos ambientales y sociales, en la mayoría de los casos no contabilizados por la economía neoliberal. A pesar de numerosos proyectos internacionales/nacionales de desarrollo rural, la pobre-za, la inseguridad alimentaria, el deterioro de la salud y la degra-dación ambiental fueron problemas que continuaba aquejando a la población rural. Cada vez se hacia mas evidente que los modelos convencionales de modernización de la agricultura, basados en monocultivo de- pendientes de un alto nivel de insumos agroquí-micos, eran un modelo no viable desde el punto de vista social y ecológico.

En la medida que los países Latinoamericanos se inserta-ban en el orden económico internacional, el modelo agro expor-tador se expandía en ausencia de una distribución efectiva de las tierras, beneficiando en primer lugar a los productores más ricos que controlaban los mejores terrenos. Estos cambios acentuaron

* Engenheiro Agrônomo, PhD em Entomologia e professor de Agroecologia do Departamen-to de Ciência, Política e Manejo Ambiental da Universidade da Califórnia, Berkeley, Estados Unidos. [email protected]

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la brecha entre campesinos y agricultores empresariales desenca-denando una serie de procesos y tendencias preocupantes que se reflejaban en el aumento de la pobreza rural, la inseguridad alimen-taria y la degradación de los recursos naturales. Este escenario no ha cambiado desde que el nuevo siglo empezó y aun constituye un desafió inmenso para científicos, políticos y agricultores para arti-cular una visión de una agricultura que sea económicamente viable y más competitiva pero que a la vez sea socialmente mas justa y ecológicamente mas sana. Hay que reconocer que a pesar de las deficiencias internas, fuerzas externas a la región como la globa-lización, la emergencia de la biotecnología y el creciente control corporativo del sistema alimentario han jugado un papel clave en determinar el paupérrimo estado del arte de la agricultura Latinoa-mericana a comienzos del siglo XXI.

Los.ultimos.10.anos

Desde la Cumbre de Rio hasta hoy, la situación de la agri-cultura en América Latina no ha cambiado, mas bien se ha empe-orado:

•73 millones de los 123 millones de personas que habitan las zonas rurales aun viven en la pobreza, cifras que tienden a agravarse, especialmente entre la población indígena. La po-blación campesina en las laderas representa el 40-50% de la población rural pobre.

•La agricultura campesina ocupa unas 60 millones de hectá-reas, caracterizándose por un tamaño medio de finca de �.8 hectáreas ( las cuales se continúan subdividiendo), sistemas en los cuales se genera el 41% de la producción agrícola para el consumo domestico, o sea el 51% del maíz, 77% de los frijoles y 61% de las papas. Esta producción campesina con-tinua subsidiando la demanda urbana por alimentos al recibir precios bajos por sus productos. La caída de precios de los productos campesinos, la falta de crédito y la distancia a mer-

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cados son todos factores que contribuyen al empobrecimien-to de los agricultores pequeños.

•Los campesinos además continúan siendo marginados por los avances tecnológicos; en México menos del �2 % adop-taron variedades mejoradas y solo el 25 % han incorporado fertilizantes. En los Andes, menos del 10% de los campesi-nos han tenido acceso a fertilizantes y variedades nuevas de papas. En otras palabras la mayoría del campesinado aun maneja sus sistemas con tecnologías de bajo insumo, en al-gunos casos por condiciones de pobreza, pero en muchos casos voluntariamente por tradición etnoecologica.

•La producción de alimentos básicos ha crecido muy por de-bajo de la producción de forrajes para el ganado y de cultivos comerciales (no tradicionales) para la exportación. Mientras que los ingresos por exportación han declinado para café, ca-cao y algodón, las exportaciones de soya, flores y hortalizas se han incrementado entre 4-ll%.

•La tenencia de la tierra se torna cada vez mas concentrada en manos de grandes empresarios y corporaciones que controlan las mejores tierras, suelos y recursos hídricos para la producción de cultivos de alto valor comercial. La falta de oportunidades económicas en el área rural forzan a la migra-ción de miles de personas, en especial jóvenes, contribuyen-do a la feminización y ancianizacion del agro.

•La agricultura comercial y de exportación ha conllevado al in-cremento en el uso de agroquímicos. La región consume el 9,3% de los pesticidas utilizados en el mundo. Solo en Améri-ca del Sur se invierten mas de 2.700 millones de dólares anu-ales en importación de pesticidas, muchos de ellos prohibidos en el norte por razones ambientales o de salud humana. Muy pocos estudios han medido el impacto ambiental y social de esta intensificación agroquímica, pero se sospecha que su-pera los �0 mil millones de dólares al ano, si se cuantificaran los costos ambientales de contaminación de aguas y suelos,

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danos a la vida silvestre y el envenenamiento de personas. Estos costos no incluyen los impactos ambientales asociados (contaminación de aguas con nitratos, eutrofización de ríos y lagos, etc.) con el incremento del uso de fertilizantes nitro-genados ni los problemas de salinizacion ligados al riego en zonas no apropiadas.

Hacia fines del siglo XX ya existían fuerzas que determina-ban no solo que se produce, cuanto y como, sino también que se investiga, como, por y para quien. Aunque hay muchas fuerzas en juego, se podría afirmar que las principales son:

•La emergencia del sector privado como actor predominan-te en la investigación, y la dominancia del Mercado agrícola y tecnológico por un conglomerado de corporaciones que, combinado a un monopolio de patentes, tienen un control sin precedente sobre la base biológica de la agricultura y del sis-tema alimentario en general. Los sistemas actuales de pro-tección de derechos de propiedad intelectual han tendido a aumentar el costo de control de transferencia tecnológica nor-te-sur, los cuales pueden dejar a los países latinoamericanos ( en especial el campesinado) literalmente fuera del ámbito del acceso al nuevo conocimiento. De hecho, los derechos corporativos sobre los genes obligan a cualquier institución publica a negociar licencias con varias compañías biotecno-lógicas antes de que estas puedan liberar al campo una va-riedad de cultivo genéticamente modificada, que pudiera ser de utilidad a agricultores pobres. Esta tendencia puede cons-tituir una oportunidad mas que un obstáculo para re-orientar la producción hacia una línea mas agroecologica basada en el bien común.

•Aunque se piensa que la apertura de la economía mundial conjuntamente con la liberación arancelaria trae consigo la posibilidad de que los agricultores de la región puedan vender

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en mercados hasta ahora inaccesibles; Como sabemos esto no es real ya que en la ausencia de subsidios, los precios agrícolas tienden a aumentar y los primeros en beneficiar-se son los agricultores del Norte cuya agricultura se subsidia cada vez más. La globalización obliga a los países latinoame-ricanos a reducir los niveles de protección para los productos domésticos y eliminar las barreras para la importación ilimita-da de productos europeos y norteamericanos. La experiencia de Haití uno de los países más pobres es ilustrativa. En l986 Haití importaba alrededor de 7000 toneladas de arroz, por-que la mayor parte se producía en la isla. Cuando abrió su economía, la isla fue inundada por arroz subsidiado de USA, llegando a importar en l996, 196 mil toneladas de arroz a un costo de US $ l00 millones anuales. No-solo Haití se hizo dependiente de importar arroz sino que el hambre se incre-mento.

•La difusión de la biotecnología como paradigma tecnológi-co prioritario, desplaza a otros enfoques mas integradores y holisticos en las universidades y centros de investigación y la siembra masiva de cultivos transgenicos ( en especial en Argentina, Chile y por contrabando en Paraguay y Brasil) comienza a desencadenar un proceso con efectos socioeco-nómicos y ambientales más dramáticos que los experimen-tados con la Revolución Verde. En Argentina la siembra de soya transgenica resistente al Round-up al facilitar el manejo de malezas, ha sido un instrumento efectivo para concentrar tierra, ya que la manera de sobrevivir en la agricultura de ese país es hacerse cada vez más grande, con el consiguien-te aumento en área de soya transgenica, uso de glifosato y un decremento en el numero de propiedades agrícolas. En México la contaminación de variedades criollas de maíz en Oaxaca es el primer signo de que la integridad genética del centro de origen mundial de maíz se puede ver comprome-tida. En Chile, las corporaciones usan el doble verano del

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sur para multiplicar sus semillas transgenicas, en ausencia de todo monitoreo sobre posibles impactos del flujo de ge-nes en el polen sobre poblaciones de insectos lepidópteros o plantas silvestres emparentadas, o de los cultivos BT sobre organismos benéficos en el suelo. Los efectos ecológicos de los cultivos obtenidos vía ingeniería genética no se limitan a la resistencia de plagas o a la creación de nuevas malezas o razas de virus. Los cultivos transgénicos pueden producir toxinas ambientales que se movilizan a través de la cadena alimentaria y que pueden llegar hasta el suelo y el agua afec-tando así a los invertebrados y probablemente alteren proce-sos ecológicos como el ciclo de los nutrientes. Aún más, la homogeneización en gran escala de los terrenos con cultivos transgénicos exacerbará la vulnerabilidad ecológica asociada con la agricultura en base a monocultivos . No es aconsejable la expansión de esta tecnología a los países de la región. Hay fortaleza en la diversidad agrícola de muchos de estos países, la cual no debiera ser inhibida o reducida por el mono-cultivo extensivo, especialmente si el hacerlo ocasiona serios problemas sociales y ambientales.

•La dominancia del Internet y otros medios modernos de infor-macion podrían abrir una avenida importante para el desar-rollo agrícola basado en el conocimiento, si es que estos me-dios no solo beneficiaran a aquellos con acceso a capital y la tecnología, dejando fuera del acceso al conocimiento a millo-nes de pobres en la región. No hay duda que el conocimiento científico de punta será cada vez más costoso, restringido y poderoso. Las instituciones publicas dedicadas a la investi-gación y extensión agrícolas están cada vez mas debilitadas sin posibilidades de resguardar de que el conocimiento llegue por otras vías accesibles a los miles de agricultores de meno-res recursos. Por otro lado han surgido varias iniciativas de base, como redes de agricultor a agricultor que han servido para la difusión masiva de conocimiento agroecologico.

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Es claro que ha comienzos del siglo XXI la modernización agrícola no ha ayudado a solucionar el problema generalizado de la pobreza rural, ni ha mejorado la distribución de la tierra agrícola. Las opciones que se han ofrecido para modernizar la agricultura han sido buenas en el corto plazo para los agricultores de mejores recursos, pero no han sido adecuadas a las necesidades ni con-diciones de los campesinos. Todo esto en presencia de políticas agrarias sesgadas contra la agricultura campesina, favoreciendo los cultivos de exportación no tradicionales que desplazan a los no tradicionales y a la producción de granos para consumo domestico. La integración de los países al mercado internacional ignora las necesidades de los mercados locales-regionales y socaba las opor-tunidades de mejorar la balanza de pagos regionales a través de un programa de seguridad alimentaria que podría establecer las bases para reducir la pobreza masiva y crear un modelo más equitativo y sustentable de desarrollo.

El desafio para la region en la primera decada del siglo XXI

Toda visión seria y realista de la agricultura Latino America-na, ineduliblemente debe considerar los siguientes objetivos para mejorar la situación agrícola de la región:

•Reducir la pobreza•Conservar y regenar la base de recursos naturales (suelo,

agua, biodiversidad,etc.)•Promover la seguridad alimentaria a nivel local y regional•Potenciar (empower) las comunidades rurales para que parti-

cipen en los procesos de desarrollo•Crear alianzas institucionales que faciliten un proceso partici-

pativo y autóctono de desarrollo •Fomentar políticas agrarias que favorezcan el desarrollo agrí-

cola sustentable y los mercados locales

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Es importante recalcar que en esta visión de desarrollo sus-tentable no se trata de encajar la cuestión ambiental dentro de re-gímenes agrícolas ya establecidos, sino de buscar una sinergia real entre ecología, economía y ciencias agrarias y de implementar estrategias que vayan a la raíz de la pobreza, la degradación am-biental y la inequidad. Concretar esta visión significara reorientar la investigación, enseñanza y extensión agrícolas para enfrentar los desafíos de la gran masa de campesinos pobres y sus ecosistemas frágiles, pero asegurando también la sustentabilidad de la agricul-tura comercial en zonas más favorables y en áreas intensivas de producción. Para esto será necesario introducir una racionalidad ecológica en la agricultura para minimizar el uso de insumos agro-químicos y transgenicos, complementar los programas de conser-vación de agua, suelo y biodiversidad, planificar el paisaje producti-vo en función de las potencialidades del suelo y clima de cada eco región, y potenciar el rol multifuncional de la agricultura como gene-radora de ingresos, alimentos y servicios ambientales y culturales.

Para promover los cambios necesarios, será importante que los profesionales agrícolas que determinan políticas económicas y de manejo de recursos entiendan que:

•la maximización de los rendimientos y de la rentabilidad no se puede lograr sin considerar los limites ecológicos de la producción, ni tampoco sin considerar la equidad de como los beneficios de la producción serán distribuidos entre los que participan en el proceso de producción y consumo

•los problemas de la sostenibilidad no se pueden considerar aisladamente, ya que los sistemas de producción están liga-dos no solo a condiciones e instituciones locales, sino que también responden a presiones económicas y de mercado a nivel nacional y global

•No será posible continuar realizando análisis económico que excluya el valor de cambios en productividad o de las exter-nalidades asociadas a la intensificación agrícola. Ignorar los

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costos ambientales “escondidos” solo sobre valora las prac-ticas agrícolas degradantes y subestima el valor de practicas agroecologicas que conservan recursos.

•Las políticas agrícolas que ignoran la productividad y calidad de los recursos naturales contribuyen a disminuir la sustenta-bilidad y a causar perdidas económicas significativas. Cuan-do se incluyen los costos de la degradación ambiental en el calculo de la rentabilidad agrícola, las practicas agroecologi-cas se perfilan competitivas con las de corte convencional.

Para realizar un cambio importante de la trayectoria agrícola en la región será fundamentar centrar acciones en las siguientes áreas:

•Desarrollo y difusión de practicas y tecnologías de base agro-ecologica

•Estimular organización social en comunidades rurales, facili-tar acceso a tierra y recursos productivos, así como a servi-cios sociales e infraestructura

•Reformar instituciones de investigación y de extensión, de manera que la agenda de investigación responda a las nece-sidades y problemas locales.

•Cambios curriculares en las Universidades agrícolas para preparar los profesionales del futuro con una sólida base agroecologica

•Creación de sistemas de precios justos y de mercados soli-darios y locales, así como incentivos (micro crédito, etc) para que los agricultores puedan adoptar practicas regeneradoras y comiencen la transición hacia una agricultura sustentable.

Agroecologia.y.el.diseno.de.agroecosistemas.sostenibles

Mucha gente involucrada en la promoción de la agricultura sus-tentable busca crear una forma de agricultura que mantenga la produc-

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tividad en el largo plazo a través de (Pretty 1997; Vandermeer, 1995):•Optimizar el uso de insumos localmente disponibles combi-

nando los diferentes componentes del sistema de finca, por ejemplo, plantas, animales, suelo, agua, clima y gente de ma-nera tal que se complementen los unos a los otros y tengan los mayores efectos sinérgicos posibles.

•Reducir el uso de insumos externos a la finca y los no reno-vables con gran potencial de daño al ambiente y a la salud de productores y consumidores, y un uso más restringido y loca-lizado de los insumos remanentes, con la visión de minimizar los costos variables;

•Basarse principalmente en los recursos del agroecosistema reemplazando los insumos externos por reciclaje de nutrien-tes, una mejor conservación y un uso eficiente de insumos locales.

•Mejorar la relación entre los diseños de cultivo, el potencial productivo y las limitantes ambientales de clima y el paisaje, para asegurar la sustentabilidad en el largo plazo de los nive-les actuales de producción.

•Trabajar para valorar y conservar la biodiversidad, tanto en regiones silvestres como domesticadas, haciendo un uso óptimo del potencial biológico y genético de las especies de plantas y animales presentes dentro y alrededor del agroeco-sistema.

•Aprovechar el conocimiento y las prácticas locales, incluidas las aproximaciones innovativas no siempre plenamente com-prendidas todavía por los científicos, aunque ampliamente adoptadas por los agricultores

La agroecología provee el conocimiento y la metodología necesaria para desarrollar una agricultura que sea, por un lado, ambientalmente adecuada y, por el otro lado, altamente producti-va, socialmente equitativa y económicamente viable. A través de la aplicación de los principios agroecológicos, el desafío básico de

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la agricultura sustentable de hacer un mejor uso de los recursos internos puede ser fácilmente alcanzado, minimizando el uso de insumos externos y preferentemente generando los recursos inter-nos más eficientemente, a través de las estrategias de diversificaci-ón que aumenten los sinergismos entre los componentes clave del agroecosistema.

El objetivo final del diseño agroecológico es integrar los com-ponentes de manera tal de aumentar la eficiencia biológica gene-ral, preservar la biodiversidad y mantener la capacidad productiva y autorregulatoria del agroecosistema. El objetivo es diseñar un agroecosistema que imite la estructura y función de los ecosiste-mas naturales locales; esto es, un sistema con una alta diversi-dad de especies y un suelo biológicamente activo; un sistema que promueva el control natural de plagas, el reciclaje de nutrientes y una alta cobertura del suelo que prevenga las pérdidas de recursos edáficos.

Agroecologia.y.agricultura.campesina

Se estima que a nivel global, aproximadamente �.9 a 2.2 mil millones de personas aún no han sido tocadas directa o indirecta-mente por la tecnología agrícola moderna. En América Latina la proyección es que la población rural permanecerá estable en �35 millones hasta el año 2005, pero 6� por ciento de esta población es pobre y la expectativa es que aumente. La mayor parte de la pobre-za rural (cerca de 370 millones) se centra en áreas de escasos re-cursos, muy heterogéneas y predispuestas a riesgos. Sus sistemas agrícolas son de pequeña escala, complejos y diversos. La mayor pobreza se encuentra con más frecuencia en las zonas áridas o semiáridas, y en las montañas y laderas que son vulnerables desde el punto de vista ecológico. Tales fincas y sus complejos sistemas agrícolas constituyen grandes retos para los investigadores.

Para que beneficie a los campesinos pobres, la investigaci-ón y el desarrollo agrícolas deberían operar sobre la base de un

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enfoque «de abajo hacia arriba», usando y construyendo sobre los recursos disponibles -la población local, sus conocimientos y sus recursos naturales nativos. Debe tomarse muy en serio las necesi-dades, aspiraciones y circunstancias particulares de los pequeños agricultores, por medio de métodos participativos. Esto significa que desde la perspectiva de los agricultores pobres, las innovacio-nes tecnológicas deben:

• Ahorrar insumos y reducir costos• Reducir riesgos• Expandirse hacia las tierras marginales frágiles• Ser congruentes con los sistemas agrícolas campesinos• Mejorar la nutrición, la salud y el medio ambiente

Precisamente es debido a estos requerimientos que la agroe-cología ofrece más ventajas que la Revolución Verde y los métodos biotecnológicos. Entre las características promisorias de las técni-cas agroecológicas esta el hecho que:

• Se basan en el conocimiento indígena y la racionalidad cam-pesina

• Son económicamente viables, accesibles y basadas en los recursos locales

• Son sanas para el medio ambiente, sensibles desde el punto de vista social y cultural

• Evitan el riesgo y se adaptan a las condiciones del agricultor• Mejoran la estabilidad y la productividad total de la finca y no

sólo de cultivos particulares.

Hay miles de casos de productores rurales que, en asociación con ONGs y otras organizaciones, promueven sistemas agrícolas y conservan los recursos, manteniendo altos rendimientos, y que cumplen con los criterios antes mencionados. Aumentos de 50 a 100 por ciento en la producción son bastante comunes con la mayo-

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ría de métodos agroecologicos. En ocasiones, los rendimientos de los cultivos que constituyen el sustento de los pobres- arroz, frijoles, maíz, yuca, papa, cebada- se han multiplicado gracias al trabajo y al conocimiento local más que a la compra de insumos costosos, y capitalizando sobre los procesos de intensificación y sinergia. Más importante tal vez que sólo los rendimientos, es posible aumentar la producción total en forma significativa diversificando los sistemas agrícolas, usando al máximo los recursos disponibles.

Muchos ejemplos sustentan la efectividad de la aplicación de la agroecología en el mundo en desarrollo. Se estima que alrede-dor de 1.45 millones de familias rurales pobres que viven en 3.25 millones de hectáreas han adoptado tecnologías regeneradoras de los recursos incluyendo en Brasil, 200,000 agricultores que usan abonos verdes y cultivos de cobertura duplicando el rendimiento del maíz y trigo, y en Guatemala-Honduras donde 45,000 agricultores usaron la leguminosa Mucuna como cobertura para conservación del suelo triplicando los rendimientos del maíz en las laderas. En México aproximadamente �00,000 pequeños productores de café orgánico aumentaron su producción en 50 por ciento. Es claro que existen muchos ejemplos de iniciativas para mejorar la seguridad alimentaria a nivel de comunidades, las cuales han emergido a pe-sar de la existencia del orden macro-económico imperante. Cada una de estas iniciativas representa un “espacio de esperanza” (o faro agroecologico) para la gente involucrada, que pese a su estado disperso actual comienzan a constituirse en una masa critica que desafía el orden imperante que perpetua el hambre y la inseguri-dad alimentaria. Muchas de estas iniciativas constituyen ejemplos exitosos de acción colectiva y representan lecciones valiosas de innovación local. La sistematización de principios agroecologicos y sociales que soslayan el éxito de tales iniciativas puede contribuir a la emergencia de guías metodológicas para promover acciones ha-cia la seguridad alimentaria en otras comunidades afectadas por el hambre. De hecho a pesar de la diversidad de iniciativas a lo largo

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de América Latina, las experiencias exitosas comparten una serie de comonalidades metodológicas:

•Incluyen participación social activa sobre todo de mujeres y jóvenes

•Se basan en conocimiento tradicional y recursos locales•Usan enfoques y principios agroecologicos•Usan metodologías participativas en la generación tecnológica•Las comunidades están organizadas •Se fomentan los mercados locales•Se utilizan sistemas de micro-crédito y financiamiento.

Aspectos comunes a todas estas iniciativas es el foco en la innovación local, tecnologías y la conservación y uso recursos na-turales autóctonos, el énfasis en evitar el riesgo y la dependencia, el empoderamineto de las comunidades y la construcción de capital humano, fomentando que la juventud se quede en las áreas rurales.

Conclusiones La Agroecología provee una guía para desarrollar agroeco-

sistemas que tomen ventaja de los efectos de la integración de la biodiversidad de plantas y animales. Tal integración aumenta las complejas interacciones y sinergismos y optimiza las funciones y procesos del agroecosistema tales como la regulación biótica de organismos perjudiciales, reciclado de nutrientes y la producción y acumulación de biomasa, permitiendo así al agroecosistema sol-ventar su propio funcionamiento. El resultado final del diseño agro-ecológico es mejorar la sustentabilidad económica y ecológica del agroecosistema, con un sistema de manejo propuesto a tono con la base local de recursos y con una estructura operacional acorde con las condiciones ambientales y socioeconómicas existentes. En una estrategia agroecológica los componentes de manejo son diri-gidos con el objetivo de resaltar la conservación y mejoramiento de

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los recursos locales (germoplasma, suelo, fauna benéfica, diversi-dad vegetal, etc.) enfatizando el desarrollo de una metodología que valore la participación de los agricultores, el uso del conocimiento tradicional y la adaptación de las explotaciones agrícolas a las ne-cesidades locales y las condiciones socioeconómicas y biofísicas.

No hay duda que aplicando los principios agroecologicos, una gran cantidad de pequeños agricultores que viven en los ambientes marginales de la región pueden producir mucho del alimento re-querido para la soberanía alimentaria. La evidencia es concluyente: nuevos enfoques y tecnologías lideradas por agricultores, gobier-nos locales y ONGs en todo el mundo ya están haciendo suficientes contribuciones a la seguridad alimentaria a nivel familiar, nacional y regional. Una gran variedad de métodos agroecológicos y partici-pativos en muchos países muestran resultados incluso ante condi-ciones adversas. El potencial incluye: aumento de los rendimientos de los cereales de 50 a 200 por ciento, aumento de la estabilidad de la producción por medio de la diversificación y la conservación del agua y del suelo, mejora de las dietas y los ingresos con apoyo apropiado y difusión de estos métodos, y contribución a la seguri-dad alimentaria nacional y a las exportaciones.

Los casos resumidos son sólo un pequeño ejemplo de las miles de experiencias exitosas de agricultura sostenible implemen-tada a nivel local. Los datos muestran que los sistemas agroeco-lógicos, a través del tiempo, exhiben niveles más estables de pro-ducción total por unidad de área que los sistemas de altos insumos; producen tasas de retorno económicamente favorables; proveen retornos a la mano de obra y otros insumos suficientes para una vida aceptable para los pequeños agricultores y sus familias; y ase-guran la protección y conservación del suelo, al tiempo que mejoran la biodiversidad. Lo que es más importante, estas experiencias que ponen énfasis en la investigación agricultor-a agricultor y adoptan métodos de extensión popular, representan incontables demostra-ciones de talento, creatividad y capacidad científica en las comuni-dades rurales. Ello demuestra el hecho de que el recurso humano

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es la piedra angular de cualquier estrategia dirigida a incrementar las opciones para la población rural y especialmente para los agri-cultores de escasos recursos.

El escalonamiento de las iniciativas exitosas es necesario para expandir los efectos positivos de estos “faros agroecologicos” para beneficiar a miles de familias y comunidades adicionales. Ele-mentos esenciales a considerarse en el escalonamiento incluyen:

•Programas de educación popular•Alianzas entre comunidades y agencias externas (ONGs, uni-

versidades, servicios de extensión, etc.)•Intercambios y redes agricultor-agricultor•Aplicación de principios agroecologicos•Políticas agrícolas conducentes y voluntad política local•Desarrollo de mercados justos locales-regionales•Fortalecimiento institucional, etc.

La difusión de estas miles de innovaciones ecológicas tam-bién dependerá de las inversiones, políticas y cambios de actitud de parte de investigadores y de quienes toman decisiones. Los mayores cambios deben darse en políticas e instituciones de in-vestigación y desarrollo para asegurar la difusión y adopción de las alternativas agroecológicas de manera equitativa, cosa que éstas sean multiplicadas y escalonadas a fin de que su beneficio total para la seguridad alimentaria sostenible pueda hacerse realidad. Deben desaparecer los subsidios y las políticas de incentivos que promueven los métodos químicos convencionales. Debe objetarse el control corporativo sobre el sistema alimentario. Los gobiernos y organizaciones públicas internacionales deben alentar y apoyar las asociaciones positivas entre las ONG, universidades locales y or-ganizaciones campesinas para ayudar a los agricultores a lograr la seguridad alimentaria, la generación de ingresos y la conservación de los recursos naturales.

Se deben desarrollar oportunidades de mercado equitativas,

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con énfasis en el comercio justo y otros mecanismos que enlacen más directamente a agricultores y consumidores a nivel local, y que generen un precio justo a los agricultores. El reto final es incremen-tar la inversión y la investigación en agroecología y poner en prácti-ca proyectos que hayan probado tener éxito para miles de agriculto-res. Sin embargo es critico que para que el escalonamiento alcance niveles significativos, las acciones comunitarias deberán ligarse a movimientos sociales que desafían las raíces de la pobreza, el hambre y la inseguridad alimentaria y que demandan derechos bá-sicos tales como acceso a la tierra, la soberanía alimentaria, servi-cios básicos de educación y salud, representación política, respeto a la diversidad cultural.

El escalonamiento masivo de las experiencias agroecologicas debería generar un impacto significativo en el ingreso, la seguridad alimentaria y bienestar medioambiental de la población en general, pero en especial de los millones de agricultores pobres a quienes todavía no ha llegado la tecnología agrícola moderna, y a los cuales la biotecnología no tiene nada que ofrecer. Preguntas.para.la.discusion

1.Podría resumir cual fue la trayectoria y cual fueron los efectos de los programas de desarrollo agrícola en América Latina desde �960 hasta el fin del siglo XX? Podría hacer este análisis para su país? Se diferencia de la situación general de América latina y como?

2.Cuales cree que serán los mayores impactos de la apertura eco-nómica, la biotecnología, los derechos intelectuales de propiedad y la nueva informática el desarrollo de la agricultura en su país?

3.Describa algunos proyectos de desarrollo rural con base agroe-cologica en su zona, y analice cuales han sido los beneficios que resultaron y las lecciones aprendidas de estas iniciativas?

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O AMBIENTE DO TRÓPICO ÚMIDO E O MANEJO SUSTENTÁVEL.DOS.AGROSSISTEMAS

Christoph Gehring*

Introdução ---------------------------------------------------------------------------------------101Os trópicos úmidos: riqueza biológica e miséria agrícola ---------------------------101Caracterização dos recursos naturais dos trópicos úmidos ------------------------102Ausência de restrições climáticos ---------------------------------------------------------102Baixa fertilidade do solo ----------------------------------------------------------------------105Agricultura itinerante: sistema tradicional em crise -----------------------------------106Soluções da crise ------------------------------------------------------------------------------110Revolução verde ------------------------------------------------------------------------------- 111Sistemas agroflorestais ----------------------------------------------------------------------113Roça melhorada -------------------------------------------------------------------------------115Assuntos específicos de manejo nos trópicos úmidos ------------------------------123Nitrogênio ----------------------------------------------------------------------------------------123Entradas de Nitrogênio -----------------------------------------------------------------------124Fósforo -------------------------------------------------------------------------------------------125O papel das árvores --------------------------------------------------------------------------127

Referências Bibliográficas -------------------------------------------------------------------129

Introdução.

Os.trópicos.úmidos:.riqueza.biológica.e.miséria.agrícola

As florestas primárias nos trópicos úmidos equatoriais des-tacam-se como o bioma terrestre com a maior biomassa e maior biodiversidade do mundo. Estimativas confirmam que a biomassa aérea total nestas florestas varia entre 250 e 450 t ha-1, de acordo com diferentes metodologias de avaliação (Fearnside, 1992). Me-nores valores são encontrados na periferia semi-úmida (estação seca expressiva) (Alves et al., �997; Gerwing & Farias, 2000), e em áreas oligotróficas como no sul da Venezuela (Saldarriaga et al., 1988; Jordan, 1989). Pode ser acrescentada nestes valores ainda * Prof. Dr. do Programa de Pós-Graduação em Agroecologia, [email protected]

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a biomassa radicular (Cairns et al., 1997). A biodiversidade chega a valores recordes nos ‘hotspots’ de diversidade como na Amazônia Peruana e Equatoriana com valores de até 250 espécies vascula-res por ha.

O grande paradoxo e ao mesmo tempo o grande desafio para a agroecologia dos trópicos úmidos é a grande disparidade entre esta luxúria biológica das matas equatoriais de um lado, e do ou-tro a baixa produtividade e a baixa sustentabilidade da agricultura familiar neste mesmo bioma. Em grande parte dos trópicos úmidos coincidem uma pobreza rural indigna com problemas severos de degradação ambiental. Em outras palavras, ainda não se conse-guiu tecnologias capazes de transformar a alta produtividade bio-lógica inerente a este bioma em uma produtividade agrícola satis-fatória. Pelo contrario, a substituição da floresta equatorial nativa por sistemas agrícolas com base na derruba-e-queima) ou pastoris (não tratado neste artigo) caracteriza-se pela baixa eficiência de utilização dos recursos naturais e suas conseqüências degradantes que colocam em questão a sustentabilidade ecológica e socioeco-nômica destas formas de uso da terra. É esta disparidade entre a riqueza biológica e a miséria socioeconômica que constitui a gran-de necessidade e o grande desafio da agroeologia tropical.

A seguir serão apresentados alguns dos fatores responsáveis por esta disparidade, seguidos por uma caracterização da forma dominante da agricultura familiar dos trópicos úmidos – a agricul-tura itinerante – que se encontra em crise, e por uma discussão de diferentes possíveis soluções para reverter este quadro.

Caracterização.dos.recursos.naturais.dos.trópicos.úmidosAusência de restrições climáticos

Uma das características mais fascinantes dos trópicos úmidos equatoriais é a ausência de qualquer tipo de restrição climática que possa limitar a atividade biológica, fato que diferencia esta zona do resto do mundo, notadamente dos trópicos semi-áridos e áridos, e das zonas temperadas ou boreais. São justamente estas condições

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climáticas altamente favoráveis que possibilitam a grande produti-vidade e biodiversidade das suas florestas nativas já mencionadas. Destacam-se (i) a umidade suficiente, (ii) temperaturas ideais, e (iii) a alta energia solar.

Umidade suficienteA zona de baixa latitude geográfica que forma os trópicos úmi-

dos equatoriais caracteriza-se pela combinação de altas taxas de precipitação (normalmente acima de 2000 mm por ano), e por uma distribuição bimodal destas chuvas, o que resulta em condições per-úmidas com mais de nove meses úmidos (precipitação � eva-potranspiração) e com pouca severidade da época seca (ausência de períodos longos sem chuva). Já pelas periferias norte e sul da zona equatorial, a duração e a intensidade da estação seca aumen-tam e viram fatores limitantes para a vegetação. Segundo Raich et al. (�99�) e Sombroek (200�), a duração da estação seca é mais decisivo do que as taxas absolutas de precipitação anual para a biomassa da floresta Amazônica. A menor biomassa nas periferias destas florestas deve-se à redução do período de crescimento, e às adaptações custosas que são necessárias para enfrentar a época seca, tais como a caída sazonal das folhas e a formação de raízes profundas.

Temperaturas.ideaisAs temperaturas mínimas dos trópicos úmidos equatoriais e

de baixa altitude nunca (sob condições normais) atingem valores menores do que 18°C, com médias tipicamente perto de 27°C, fai-xa de temperatura que pode ser considerada ideal para a maio-ria das plantas, animais e microorganismos. Isto contrasta com as menores temperaturas nas altitudes elevadas (florestas equatoriais das zonas montanhosas) e nas zonas temperadas e boreais, onde a falta de calor é um fator limitante para os organismos. Outra ca-racterística dos trópicos é que a variação sazonal de temperatura é menor do que a variação diária.

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Alta.energia.solarA zona tropical é a parte do mundo que recebe o máximo

de energia solar, e ela é a única região do mundo que desfruta de um excesso dessa energia (Figura �). No entanto, a radiação solar incidente na superfície da terra é menor do que nos desertos dos trópicos, por causa da cobertura atmosférica por nuvens.

Figura �. Balanço mundial da radiação solar, indicando o excesso nos trópicos úmidos(Lutgens & Tarbuck, 200�).

A utilização da energia solar pela mata primária atinge a qua-se totalidade, com a captura da luz ocorrendo em vários estratos do dossel, e somente uma fração muito pequena da radiação fotosin-teticamente ativa (PAR = photosynthetic active radiation, ondas de radiação entre 300 - 700 nm de cumprimento) chegando até o chão (Nicotra et al., 1999). As diversas estratégias da melhor captação e utilização da luz são um fator regulador decisivo para a seqüência taxonômica durante a regeneração secundária (capoeiras desen-volvendo após a perturbação da mata original, veja cap. III). Na fase inicial da sucessão secundária, as gramíneas do tipo C4 que requerem pleno acesso à luz alcançam altas taxas fotossintéticas, e nas fases posteriores da sucessão as árvores, cipós e palmeiras pioneiras maximizam a captura da luz através das suas folhas lar-

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gas e horizontais e do seu crescimento rápido até o dossel (Fine-gan, 1996; Denslow & Guzman, 2000).

Baixa fertilidade do soloCerca de 80% dos solos dos trópicos úmidos são conside-

rados de baixa fertilidade (Sanchez, �976). A grande maioria des-tes solos pertence às classes dos Oxisolos e Ultisolos (taxonomia dos EUA), respectivamente aos Ferralsolos (taxonomia da FAO) ou Latossolos (taxonomia Brasileira). Estes solos caracterizam-se pelo alto grau de intemperização, resultando na dominância de ca-olinita, hematita, goetita, e – em última conseqüência – de gibsita e de areia quartzosa. Do lado da química do solo são decisivos a baixa CTC, o baixo pH (tipicamente <5.5 na camada superficial do solo), problemas com toxicidade de Al (as vezes também toxicidade de Mn ou Fe), a fixação de fósforo nos sesqui-óxidos de ferro ou alumínio, e os baixos teores de matéria orgânica e dos nutrientes contidos nela (Chauvel et al., 1987; Richter & Babbar, 1991; Szott et al., 1991).

No entanto, a capacidade de retenção de água destes solos é relativamente baixa (Sombroek, 200�). Exceção destas condições físicas favoráveis são solos com camadas impeditivas que domi-nam entre outros uma grande parte do centro do estado de Mara-nhão (Moura, 2004).

Embora razoáveis sob condições naturais ou após um uso manual da terra, as propriedades físicas do solo estão sujeitas a severa degradação em decorrência de modos inadequados de pre-paro da terra como a compactação por máquinas pesadas ou a retirada da camada orgânica superficial do solo.

A baixa fertilidade química dos solos dos trópicos úmidos é conseqüência das condições climáticas acima descritas que cau-sam uma forte e profunda intemperização desses solos, além do longo tempo de atuação do intemperismo nos substratos desses solos com origem em sua maioria de rochas do pré-cambrio com �500 milhões anos de idade, como é o caso na bacia Amazônica

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e em grandes partes da África. As fortes chuvas trazem consigo sérios problemas de lixiviação de nutrientes móveis como NO3

-, K+, Ca2+ e Mg2+ (Hölscher et al., �997) e de denitrificação (veja cap. V.�). A constante umidade junto com as temperaturas favoráveis dão origem a taxas muito rápidas de decomposição da matéria or-gânica do solo, o que exige um manejo eficiente e uma constante reposição desta matéria orgânica (Lavelle et al., �993). Como já mencionado, a infertilidade dos solos equatoriais contrasta com a luxuriosa vegetação natural crescendo acima deles, constituindo um desafio chave para a disciplina da agroecologia dos trópicos úmidos.

Embora grandes partes dos solos equatoriais sejam inférteis, existem importantes exceções. (i) Regiões vulcânicas e geologi-camente mais novas como a região andina e as cordilheiras da América central dão origem a solos mais férteis classificados como Andisolos. (ii) Os solos da várzea (ecossistema semi-aquático à beira de rios barrentos) recebem uma ‘adubação’ anual pelos sedi-mentos oriundos dos Andes, porém sofrem de grandes perdas de Nitrogênio pela denitrificação (Kreiblich & Kern, 2003). (iii) A terra preta de índio forma pequenas e médias manchas dispersas pela Amazônia equatorial. Características deste solo são o alto teor e espessura da matéria orgânica e os altos teores de fósforo, o que permite uma agricultura intensiva e bastante produtiva nestes so-los (Smith, �980; Lehmann et al., 2003). Enquanto sua extensão geográfica não é muito expressiva, seu modo de origem antrópico é um assunto fascinante porém só parcialmente entendido, assun-to que possa servir como um modelo para um manejo sustentável dos solos equatoriais e que por isto entrou no foco de pesquisas (http://www.css.cornell.edu/faculty/lehmann/terra_preta/TerraPreta-network.htm).

Agricultura.itinerante:.sistema.tradicional.em.criseA agricultura itinerante de derruba-e-queima é a forma de uso

de terra mais importante nos trópicos em geral e mais ainda nos trópicos úmidos. A sua importância socioeconômica é central, pois

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ela sustenta uns 300-500 milhões de pessoas e representa cerca de 30% da área agrícola do mundo ou 40% da área agrícola dos trópicos (Brady 1996). Somente na Amazônia Brasileira, esta forma de uso da terra afeta mais de 10 milhões de hectares, sustenta meio milhão de famílias e providencia cerca de 80% da produção alimentar da região (Serrão 1995).

A agricultura itinerante representa uma forma de uso de terra bastante controversa, pois ela tem duas faces contrastantes:

Alta eficiência no âmbito da agricultura familiarA agricultura itinerante é uma forma sustentável e altamente

eficiente de agricultura sob condições de baixa pressão demográfi-ca. Evidência de sua sustentabilidade ecológica nessas condições é o fato que ela vem sido praticada pelos povos indígenas da Ama-zônia faz cerca de 12.000 anos (Meggers, 1984). Trata-se de uma eficiente adaptação agronômica aos predominantes solos inférteis dos trópicos úmidos, pois conta com o efeito fertilizante da queima pela entrada direta de nutrientes e pelos efeitos alcalinizantes da cinza, que aumentam temporariamente a disponibilidade de fósforo e eliminam a toxicidade de Al (Figura 2), além da acelerada minera-lização da matéria orgânica do solo por causa das altas temperatu-ras da queima (Palm et al., 1996; Giardina et al., 2000a).

Figura 2. Efeitos da queima: mudanças do pH em diferentes profundidades, e dinâmica do

alumínio e das bases trocáveis em Khade, Ghana (Nye & Greenland, �960).

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Este surto de fertilidade sustenta um a dois anos de culti-vação nos trópicos úmidos, nos trópicos semi-áridos este período geralmente é mais extenso. Após este tempo a área é abandonada e entra em pousio até o próximo ciclo produtivo. Em termos da uti-lização da mão-de-obra, a roça é uma maneira bastante eficiente de preparo de terra. O fogo elimina temporariamente as ervas ad-ventícias e a ocorrência de pragas. A combinação destes fatores produtivos possibilita colheitas razoáveis com baixas exigências de mão-de-obra e sem custos financeiros. Portanto, do ponto de vista do pequeno agricultor pode-se considerar esta forma de manejo como racional e adequada para suas necessidades, o que explica a dominância desta forma tradicional de uso da terra até hoje.

Efeitos.degradantes.da.queimaO lado negativo e degradante da agricultura itinerante é inti-

mamente associado aos efeitos deletérios da queima (Kleinman et al., �995). Benéfica no curto prazo como acima delineado, a quei-ma causa perdas pesadas de matéria orgânica e de nutrientes, no-tavelmente dos nutrientes mais voláteis como N e S (Mackensen et al., 1996; Hölscher et al., 1997). As emissões de CO2 e de N2O contribuem significantemente para o ‘efeito estufa’ (Houghton et al., 2000; Grace, 2004). O fogo também reduz a biodiversidade, elimina muitas espécies florestais não-adaptadas ao fogo, e causa a domi-nância e persistência de espécies ruderais agressivas e bem adap-tadas a estas condições como Imperata brasiliensis e Paspalum melanospermum (gramíneas), Pteridium aquilinum (samambaia) ou Orbygnia phalerata (palmeira babaçu).

O.papel.chave.das.capoeirasA capoeira (vegetação secundária espontânea) como vegeta-

ção de pousio joga um papel central no agroecossistema da agri-cultura itinerante, pois ela recupera a perda do potencial produtivo sofrida pela derruba, queima e breve fase de cultivação. As funções

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da capoeira são diversas, sendo as mais importantes (i) a reacumu-lação de biomassa e de nutrientes (Brown and Lugo, 1990; Palm et al., 1996; Szott et al., 1999), (ii) a supressão por assombramento contínuo de espécies ruderais agressivas e de seus bancos de se-mentes (de Rouw, 1995; Gallagher et al., 1999), e (iii) a diminuição da ocorrência de pragas e doenças. A regeneração da capoeira ocorre em várias etapas de sucessão com diferentes composições florísticas e estruturais (Saldarriaga et al., �988; Finegan, �996; Gehring et al., 2005a). A dinâmica e o estado de regeneração da capoeira constituem fatores determinantes para o sucesso do pró-ximo cíclo de cultivação e para a sustentabilidade deste agroecos-sistema. Por outro lado, a dinâmica de regeneração é relacionada negativamente com a intensidade do uso anterior da terra (Aide et al., 1995; Steininger, 2000; Gehring et al., 2005a) e da intensidade e duração da estação seca (Zarin et al., 2001) e positivamente re-lacionada com a fertilidade do solo (Gehring et al., 1999; Davidson et al., 2004).

A.crise.da.agricultura.itineranteEmbora sustentável sob baixa densidade demográfica e lon-

gos períodos de pousio, a agricultura itinerante entrou numa crise ambiental e socioeconômica em muitas regiões tropicais, particu-larmente no estado do Maranhão. Isto se deve em primeiro lugar ao encurtamento do tempo de pousio, causando uma regeneração incompleta da capoeira, o que torna a agricultura itinerante insus-tentável e resulta numa degradação deste agroecossistema. Esta regeneração incompleta dá início a um ‘círculo vicioso’ de degrada-ção, fato que se agrava pela enfraquecida dinâmica de regenera-ção das capoeiras após tempos insuficientes de regeneração (Fi-gura 3).

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Figura 3. O círculo vicioso de degradação na agricultura itinerante.

Além da degradação ambiental provocada pela regeneração incompleta das capoeiras, a crise da agricultura itinerante leva con-sigo sérias conseqüências socioeconômicas, sendo responsável pela diminuição ou estagnação da produtividade agrícola no âmbito da agricultura familiar, associada a uma severa pobreza rural nas regiões dominadas por esta forma tradicional de uso da terra.

Soluções.da.criseA procura por alternativas à agricultura itinerante tem sido um

foco de pesquisas envolvendo gerações de agrônomos e agroe-cólogos desde a época colonial. Em �957, a FAO condenou ofi-cialmente a agricultura itinerante como forma desgastante de uso da terra e dos recursos humanos, e como uma causa principal da degradação do solo. A crescente crise da agricultura itinerante deu fôlego a pesquisas e programas políticos direcionados a substituir este sistema tradicional da agricultura familiar. A lista das possí-veis alternativas é longa e ampla, fato compreensível em face da complexidade e das especificidades locais deste agrossistema. As soluções propostas podem ser classificadas nas seguintes três categorias: (�) Revolução verde, (2) Sistemas agroflorestais, e (3) Roça melhorada.

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Revolução.verdeO elemento chave da chamada ‘revolução verde’ que entrou

em vigor a partir dos anos 60 são as variedades de grãos de alta produtividade (HYV = high yielding varieties), notavelmente de ar-roz (desenvolvidos pelo IRRI, Filipinas) e de milho (desenvolvidos pelo CIMMYT, México). Ao contrário das variedades tradicionais, as características comuns destas HYV são a alocação prioritária dos carboidratos fixados pela fotossíntese nos grãos em contraposição a uma alocação reduzida nas caules e raízes, altas demandas por nutrientes facilmente disponíveis em combinação com respostas expressivas à adubação, e susceptibilidade a fatores de estresse proporcionados por pragas, doenças ou ervas adventícias.

Saltos de produtividade pela implantação da revolução verde foram atingidos especialmente nos trópicos semi-áridos e áridos sob irrigação como no Punjab na Índia, e em propriedades médias e gran-des com suficiente acesso a capital e tecnologia. A revolução verde enfrenta os seguintes obstáculos para constituir uma alternativa bem sucedida para a agricultura itinerante nos trópicos úmidos:

- Os solos ácidos e inférteis e a alta precipitação aumentam os riscos de perda de nutrientes por lixiviação, denitrificação ou fi-xação de fósforo (veja capítulos II.2 e V). Estes fatores foram decisivos pelo fracasso do famoso experimento demonstrativo da revolução verde iniciado pelo grupo de Sanchez em Yurima-guas, Amazônia Peruana (Sanchez et al., 1983).

- A baixa variabilidade genética das HYV junto com os altos teores de nutrientes e baixos teores de compostos secundários (espe-cialmente de lignina e de outros polifenóis) nas folhas aumentam a susceptibilidade por pragas e doenças. Avanços na procura e na introdução de genes de resistência na matriz genética conse-guiram amenizar somente parte destes problemas até agora.

- Os pulsos de nutrientes proporcionados pelas adubações agra-vam os problemas de infestação por ervas adventícias, e a baixa estatura típica pelos HYV tende a diminuir a sua tolerância pela concorrência imposta pelas ervas (Lodge et al., 1994).

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- As altas demandas por insumos (fertilizantes, agrotóxicos, semen-tes híbridas) é proibitivo no âmbito da agricultura familiar com seu componente forte de subsistência. Programas de crédito para pequenos agricultores freqüentemente obtiveram pouco sucesso (da Veiga, 1999).

- O ‘pacote’ revolução verde apresenta altos riscos produtivos e financeiros que são contrários à demanda principal por seguran-ça alimentar desta forma tradicional da agricultura familiar.

MecanizaçãoUm assunto especial da ‘agricultura convencional’ é a ques-

tão da mecanização, freqüentemente concebida como elemento da modernização e do progresso na agricultura. No entanto, as expe-riências que envolvem o preparo mecânico da terra (destocagem, aração e gradagem) têm obtidos na sua grande maioria resultados negativos ou até catastróficos nos trópicos úmidos, devido a proble-mas de compactação do solo pelas máquinas pesadas, pela inter-rupção dos canais naturais dentro do solo que são cruciais para a sua drenagem (Moura, 2004), e pela retirada da fina camada orgâ-nica superficial do solo (Figura 4).

Figura 4. Preparo mecanizado da terra: efeito degradante da retirada da camada orgânica superficial do solo na produtividade agrícola. No lado direito baixa produtividade do milho mesmo com adubação química, no lado esquerdo o milho crescendo encima da matéria

orgânica que foi removida pelo trator. Foto: PA ‘Tico Tico’ 2005.

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Ao contrário disso, semeadoras, colhedores e máquinas de processamento dos produtos (descascadores, despolpadores etc) de baixo custo e de tecnologia adaptada podem proporcionar gran-des avanços na eficiência e no rendimento por trabalho ou então na qualidade e na agregação de valor dos produtos da agricultura familiar.

Sistemas agroflorestaisSistemas agroflorestais representam o campo clássico de

atuação da agroecologia tropical. Eles se mostram como uma for-ma de uso da terra altamente sustentável e produtivo em todos os trópicos úmidos, comprovando assim seu grande potencial e sua viabilidade para a agricultura familiar. O grau de complexidade ga-rante a sustentabilidade dos sistemas agroflorestais, mas ao mes-mo tempo proporciona problemas na sua implantação e execução (Vandermeer et al., 1998).

Em termos socioeconômicos, a fase de instalação tem se mostrada a fase mais crítica nos sistemas agroflorestais, pois os investimentos financeiros e de mão de obra coincidem com uma fase de geração de renda ainda baixa e com benefícios ainda não visíveis, constituindo um sério obstáculo para a implementação e difusão destes sistemas. Por outro lado, os benefícios dos sistemas agroflorestais sobre a fertilidade do solo e na resistência a pragas e doenças tendem a aumentar ao decorrer dos anos, fato contrário aos sistemas ‘convencionais’ de uso da terra (Young, �997).

O grande potencial dos sistemas agroflorestais torna-se evi-dente também pelo grande número e pela ampla abrangência dos sistemas nos trópicos úmidos:

Sistemas.em.aléiasSistemas agroflorestais em aléias (‘alley cropping’) tem seu

origem tradicional em áreas montanhosas da Ásia, e foram propa-gados pelo IITA (Nigéria) a partir dos anos 70 (Yamoah et al., 1986; Kang et al., �990; Ong, �994). Eles constituem uma das formas

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mais simples dos sistemas agroflorestais compostos de linhas de leguminosas arbóreas regularmente podadas, e das culturas anu-ais nas ‘aléias’. Grande parte das abundantes experiências com esta tecnologia foi conduzida na África ocidental sob Alfisolos com fertilidade maior do que os Oxisolos e Ultisolos predominantes nos trópicos úmidos (Szott et al., �99�). Em áreas mais áridas, a alta demanda por água pelo componente arbóreo mostra-se freqüente-mente o fator limitante principal para plantios em aléias (Singh et al., 1989). Os sistemas em aléias são apresentados e discutidos com mais detalhe por Ferraz Junior em outra seção deste livro.

Sistemas agroflorestais tradicionaisSistemas agroflorestais tradicionais são um fenômeno pan-

tropical. Exemplos famosos são os sistemas com seringeira (‘jungle rubber’) na ilha de Sumatra, Indonésia (Van Noordwijk et al., �997), sistemas complexos sob solos vulcânicos em Java (Christanty et al., 1986), e os sistemas de café e de cacau sombreado na América central (Alpizar et al., �986). Sistemas agroflorestais indígenas na Amazônia ocorrem especialmente na margem ocidental no Peru e Equador (Coomes & Burt, �997). Um caso específico e quase oni-presente nos trópicos úmidos são os agroflorestas de quintal (‘ho-megardens’; Schroth et al., 200�).

Características comuns destes sistemas agroflorestais tradi-cionais são a grande complexidade, a alta diversidade taxonômica e funcional, a estratificação vertical aérea e radicular, a baixa sus-ceptibilidade a pragas, doenças e infestação por ervas adventícias, a ciclagem fechada de nutrientes dentro do agroecossistema, e em conclusão a sua sustentabilidade ecológica. Por outro lado, a sua grande complexidade exige um alto grau de sofisticação no mane-jo, um fator impeditivo para a implementação destes sistemas em outras regiões com produtores sem os necessários conhecimentos tradicionais. Além disto, a grande diversidade de produtos agrícolas e florestais geradas por sistemas de tal complexidade impõe um desafio muito grande e as vezes até intransponível para o escoa-mento e a venda de todos os produtos assim gerados.

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Sistemas (agro-)silvopastorisA integração do componente de produção animal nos siste-

mas agroflorestais, e a combinação dos componentes florestais e pastoris têm mostrado amplamente sua eficiência e sustentabilida-de. O componente arbóreo fornece uma fonte de ração, conforto (sombra) para os animais, e geralmente tende a melhorar a quali-dade do solo, a ciclagem dos nutrientes, a biodiversidade e a hete-rogeneidade do agroecossistema. Mais adequado para as necessi-dades da agricultura familiar do que o gado de corte são o gado de leite, e os pequenos animais como aves, cabras e ovinos.

Roça.melhoradaSubstituir a roça por sistemas agroflorestais para enfrentar

a crise da agricultura itinerante pode ser uma estratégia arrisca-da, pois isto representa a implantação de um sistema de produção completamente novo, com conseqüentes problemas operacionais e com uma adequação ambiental nem sempre ideal para as situa-ções locais. Sendo menos drástico, medidas direcionadas a melho-rar o sistema existente da roça oferecem uma boa alternativa para enfrentar a crise da agricultura itinerante. No entanto, esta linha de pesquisas não tem recebida suficiente respaldo até agora.

Otimizar a prática da derruba-e-queimaEm áreas de baixa ou média intensidade de uso de terra,

medidas relativamente simples de otimização podem ser eficientes para reduzir os problemas de degradação causada pela roça. Iden-tificar e implementar o tempo ideal de pousio é potencialmente uma estratégia para maximizar os ‘lucros ecológicos’ obtidos pela rege-neração da capoeira, sem desperdiçar tempo adicional de pousio (que equivale a roças em outras áreas).

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Figura 5. Pontos de ‘deflexão’ como critério de um tempo de pousio ideal, baseados em cro-noseqüências de capoeiras após a agricultura de derruba-e-queima em Zaire (África central; Bartholomew et al., 1953).

Segundo Bartholomew et al. (1953), o tempo ideal de pousio se caracteriza pelo ‘ponto de deflexão’ das curvas de recuperação (Figura 5). Porém, a maioria dos estudos posteriores não suporta esta tese de um ponto de deflexão comum para as propriedades mais importantes da capoeira. Em vez disto, a acumulação da bio-massa (Figura 6) e dos estoques de nutrientes aéreos parece to-mar a forma assintótica de uma curva de saturação, a importância da FBN parece ser constante no decorrer da sucessão secundária (Gehring, 2003; Gehring et al, 2005b), e a sucessão botânica tipica-mente toma uma dinâmica bastante irregular com as seqüências de dominância por diferentes espécies de pioneiras de variados esta-dos da sucessão (Finegan, 1996; Guariguata & Ostertag, 2001). Na prática, fatores socioeconômicos como a proximidade à casa e a facilidade de acesso, como também o custo da derruba manual são fatores decisivos para o agricultor determinar o tempo de pousio ideal e a localização adequada da próxima roça (Mertz, 2002).

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Christoph Gehring

Tempo de pousio (anos)

Biom

assa aérea total (t / ha)

0 5 10 15 20 2550

100

150

200

250

Derruba-e-queima no primeiro cícloCapoeira após uso mais intensoCapoeira sob terra morena de índio

Figura 6. Acumulação da biomassa aérea após a agricultura de derruba-e-queima no primeiro ciclo (roça de mata primária) na Amazônia central. A acumulação ocorre numa

curva de saturação com taxas iniciais extremamente rápidas (Biomassa aérea total = 44.4 + 131.94 * log10 (anos de pousio), R2=0.86, p�0.001) seguido por uma diminuição da velo-cidade em capoeiras velhas. Três áreas com uso de terra mais intensa (duas queimadas) e

uma área sob solo mais fértil (terra morena de índio) servem para comparações. Fonte: Gehring et al. (2005a).

Tamanhos da roça que não sejam muito grandes (p.ex. até �

ha) facilitam a recolonização proveniente das margens florestadas, a conservação de árvores isoladas dentro da roça pode exercer um efeito similar de ‘núcleos de regeneração’ pela atração de aves e morcegos dispersores de sementes de espécies florestais (Gue-vara et al., �992; Belsky & Canham, �994). A inclusão gradual das margens de floresta e a formação de núcleos de regeneração são estratégias importantes do manejo tradicional da roça desenvolvi-dos por povos indígenas da Amazônia (Posey, 1986; Denevan et al., 1987; Unruh, 1988; 1990).

De qualquer modo, devem ser evitados estragos causados por práticas abusivas de agricultura como o preparo mecanizado da terra ou um tempo de cultivação extenso demais.

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‘Slash-and-mulch’ para substituição do fogo: ‘Fresador florestal’ e ‘Feijão abafado’

A questão do uso de fogo é bastante ambivalente, com as vantagens agronômicas de curto prazo (efeito fertilizante, elimina-ção das ervas adventícias e das pragas, eficiência da mão-de-obra), contrastando com os efeitos devastadores e degradantes no agro-ecossistema (perdas graves de nutrientes e da matéria orgânica, redução da biodiversidade e dominância de pioneiras agressivas, emissão de CO2). Colocado de outra forma, o fogo é o principal fator degradante responsável pela crise da agricultura itinerante, e ao mesmo tempo o maior obstáculo para o desenvolvimento e a implantação de técnicas alternativas que sejam não somente eco-logicamente sustentáveis mas também socio-econômicamente vi-áveis.

A eliminação do fogo na agricultura itinerante requer a práti-ca do ‘slash-and-mulch’, utilizando a biomassa aérea da capoeira derrubada como adubação verde em vez de queima-la. Além de melhorar o sistema da roça, o slash-and-mulch também constitui o método preferível de preparo da terra para iniciar sistemas agroflo-restais.

Uma opção tecnológica para estes fins foi desenvolvida pelo projeto ‘SHIFT-Capoeira’ (hoje projeto ‘Tipitamba’, Embrapa-CPA-TU), para a derruba e trituração mecanizada de capoeiras da Zona Bragantina (ao leste de Belém, PA) com um trator puxando um ‘fre-sador florestal’.

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Figura 7. Efeitos da eliminação do fogo pelo slash-and-mulch: Balanço de nutrientes de um cíclo de 8½ anos (7 anos de pousio + 1½ anos de cultivação, biomassa aérea da capoeira:

46,5 t ha-1) na Zona Bragantina (Amazônia oriental). Fonte: Sommer (2000)

A substituição do fogo pelo slash-and-mulch diminui drastica-mente as perdas de nutrientes e resulta num balanço de nutrientes equilibrado (Figura 7). A ausência dos efeitos da queima implica a ausência do aumento do pH (Figura 2). Pelo contrário, a decom-posição do material vegetal tende a diminuir o pH. Conseqüen-temente, devem ser utilizados outras variedades de arroz, milho, feijão e mandioca que sejam melhor adaptadas à acidez do solo do que as variedades tradicionais da roça queimada (Kato, �998 a+b). Ocorre inicialmente uma imobilização de nutrientes, porque a madeira como o componente principal da capoeira triturada tem uma ampla razão de C:N e C:P. Portanto recomenda-se uma adu-bação química inicial. Devido à liberação lenta dos nutrientes do material triturado, recomenda-se também a inversão da seqüência

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de cultivos, iniciando com a mandioca (tradicionalmente o cultivo final), seguido pelos grãos. A manutenção da matéria orgânica e a conservação dos nutrientes do solo permite uma extensão da fase de cultivação (Kato et al., �999). Contrário à derruba-e-queima que depende de um período seco para conseguir uma boa queima, o preparo de terra com o fresador florestal pode ser feita em qualquer época do ano. O maior teor de matéria orgânica também significa uma melhor retenção de água no solo, o que possibilita a extensão do período de cultivação para dentro da estação seca. Isto traz a vantagem de poder produzir fora da época e deste modo conseguir preços melhores para os produtos (Freitas, 2004).

Uma grande desvantagem do fresador florestal são os altos custos envolvidos (média de R$ 645.- / ha), que tornam esta tec-nologia socioeconômicamente inferior ao uso tradicional da derru-ba-e-queima, além do fato que os altos investimentos de capital sejam inacessíveis para grandes partes da agricultura familiar dos trópicos úmidos como um todo (Freitas, 2004). Além disto, a produ-tividade agrícola obtida pelo preparo de terra com fresador florestal continua sendo inferior ao da roça queimada, mesmo com aduba-ção suplementar. Outra desvantagem é que o fresador florestal não permite a roça seletiva (veja abaixo).

Uma promissora alternativa ao preparo de terra com fresador florestal encontra-se no ‘feijão abafado’, uma técnica tradicional de slash-and-mulch praticada em várias regiões da Amazônia e tam-bém da América Central (conhecido lá como ‘frijol tapado’; Thurs-ton et al., 1994; Lopes & Celestino, 2003). Neste sistema, o feijão caupí é semeado à lanço dentro da capoeira que posteriormente é derrubada sobre os sementes. O feijão acelera a decomposição da biomassa, além de financiar a roça pela sua safra de grãos. A roça com feijão abafado é possível somente em capoeiras baixas e médias (até ~3 anos de idade) e no auge da estação chuvosa, ela pode ser combinada com a prática da roça seletiva (veja abai-xo). Em analogia ao fresador florestal, o preparo de terra com fei-jão abafado não traz consigo benefícios de aumento do pH pela

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queima. Por isto, uma calagem pode fazer sentido para tempos de cultivação mais extensos. Embora bastante promissor, a técnica do feijão abafado não foi suficientemente pesquisada até agora.

Enriquecimento.de.capoeiraA capoeira como vegetação espontânea de pousio na agri-

cultura itinerante representa um grande potencial de melhoramento deste agroecossistema. Enriquecimento da capoeira com espécies de valor econômico (fruteiras, madeira de lei, plantas medicinais) ou ecológico (especialmente leguminosas fixadoras de N2) podem (i) valorizar a capoeira e torná-la em um componente produtivo do agroecossistema, e/ou (ii) possibilitar um encurtamento da fase de pousio em uma maneira sustentável (Raintree & Warner, �986; Brienza, 1999; Denich et al., 2000). Uma possibilidade é o plantio de espécies de rápido crescimento e alta demanda por luz (p.ex. caju, pupunha, cedro, teca, Acacia mangium) junto com o cultivo final da roça (tipicamente a mandioca). Outra é o plantio de madeira de lei junto com a roça, primeiro propagado na época colonial em Birma (hoje Myanmar, sudeste da Ásia) como sistema ‘taungya’. Um problema do sistema taungya é a lentidão de crescimento de muitas espécies florestais de alto valor, implicando um prazo de tempo longo demais para as necessidades imediatas da agricultura familiar. Além do enriquecimento pelo plantio junto com e dentro da roça, o enriquecimento de capoeiras altas também é uma op-ção interessante. Isto envolve o plantio no sub-bosque de espécies tolerantes à sombra (p.ex. café, cacau, cupuaçu, andiroba) em ca-poeiras destinadas à preservação permanente, resultando na valo-rização econômica das reservas legais.

A opção de manejo de enriquecimento de capoeira não deve ser vista isoladamente, pois ela ganha em eficiência ou até somente faz sentido em combinação com outras formas de manejo melho-rado da roça, especialmente a substituição do fogo como maneira de preparo de terra.

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Roça.seletivaOnde possível, a roça seletiva constitui uma técnica mais efi-

ciente do que o plantio por sementes ou mudas para o enriqueci-mento de capoeiras. Na roça seletiva, o produtor poupa algumas ou todas as árvores ou palmeiras de valor ecológico ou econômico que ocorrem espontaneamente dentro da sua capoeira. A roça tem que ser feita sem o uso de fogo (feijão abafado, veja acima). Dependen-do das espécies, as copas devem ser parcialmente podadas para reduzir os problemas de sombreamento e de concorrência radicu-lar com os cultivos anuais da roça. A densidade ideal das plantas remanescentes é outro ponto crítico de manejo da roça seletiva. Este sistema faz sentido somente em capoeiras não severamente degradadas onde ainda ocorrem espécies de valor econômico ou ecológico. Destacam-se as seguintes vantagens da roça seletiva frente ao plantio de enriquecimento de capoeira: (i) não envolve custos financeiros para mudas ou sementes, (ii) alta eficiência em relação ao trabalho, e (iii) favorecimento das espécies nativas da região. Embora ocorra ocasionalmente na agricultura tradicional (Wilken, �977), a roça seletiva não foi suficientemente pesquisada até agora.

A roça de liberação ao redor de plantas benéficas é outra for-ma da roça seletiva. Esta medida é promissora especialmente em capoeiras degradadas como os ‘babaçuais’ (formação muito densa de palmeiras juvenis de babaçu, Orbygnia phalerata). Além disso, pode favorecer a leguminosa nativa ‘sabiá’ (Mimosa caesalpinii-folia), interessante por sua fixação biológica de N2, seu potencial como planta melífera e seu papel como fonte de renda (estacas de boa qualidade). Nas recuperação de capoeiras degradadas, a roça de liberação é um manejo complementar com os plantios de enriquecimento de capoeiras.

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Assuntos específicos de manejo nos trópicos úmidos Nitrogênio

O Nitrogênio do solo encontra-se quase inteiramente em for-mas orgânicas. O Nitrogênio ‘disponível’ para as plantas representa somente uma pequena fração do Nitrogênio do solo, tipicamente em torno de �-2% do N-total. A definição do N ‘disponível’ em cada momento equivale ao N-mineral (NH4

+ e NO3-) extraível por �M de

KCl. Porém, a quantidade de N-mineral é altamente variável no de-correr do tempo, com variações diurnas e sazonais em função da umidade e aeração do solo, além de uma série de outros fatores. Por isto, a mineralização potencial de N durante uma incubação aeróbica dá uma medida melhor sobre a capacidade do solo de fornecer NH4

+ e NO3- (Groot & Houba, 1995). Além deste N-mine-

ral, a aquisição de N-orgânico por micorizas e possívelmente pelos raízes representa uma fonte de Nitrogênio ainda largamente deco-nhecida porém possivelmente de grande importância (Chapin et al., 1993; Näsholm et al., 1998).

As estratégias de manejo de Nitrogênio devem 1) evitar per-das de N, e 2) maximizar as entradas de N:

Perdas de NitrogênioAs maiores perdas de Nitrogênio ocorrem devido à (i) quei-

ma, (ii) lixiviação de NO3-, e (iii) volatilização anaeróbica (denitrifi-

cação):(i) Queima: As perdas de nutrientes devido à queima são par-

ticularmente altas para o Nitrogênio, devido à sua volatilida-de. Hölscher et al. (1997) estimam as perdas dos estoques aéreos de N em 97% de uma capoeira de 7 anos de ida-de, tendo a queima como a causa principal de perda. Con-seqüentemente, a procura por alternativas ao uso de fogo (veja capítulos anteriores) é um pré-requisito para um ma-nejo sustentável do N.

(ii) Lixiviação: A roça com (e em menor escala sem) queima aumenta drasticamente a disponibilidade de NO3

- justamen-

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te na fase inicial do ciclo quando a demanda por N pelos cul-tivos ainda é pequeno. Junto com as fortes chuvas isto traz o perigo de perdas pesadas de NO3

- por lixiviação. Concentra-ções elevadas de NO3

- em 1,5 até 4 metros de profundidade indicam uma adsorção parcial deste NO3

- lixiviado no sub-solo (Schroth et al., 200�; Lehmann et al., 2004). As árvores podem obter acesso a este NO3

- e bombeá-lo de volta para o (agro-)ecossistema (veja cap. V.3).

(iii) Denitrificação: Além dos problemas de lixiviação de NO3-,

as fortes chuvas dos trópicos úmidos provocam o perigo de criar um ambiente anaeróbico no solo, com conseqüentes perdas de N2O (um gás com efeito estufa) e N2 pelo pro-cesso da denitrificação (Szott et al., �99�; Groffman, �995). Uma maneira de reduzir os problemas de denitrificação é a formação de um horizonte orgânico ‘A’ bem expressivo, que possa reduzir a ocorrência de condições anaeróbicas.

Entradas de NitrogênioA capoeira como vegetação de pousio recupera as perdas de

N provocadas pela roça. A Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) pela simbiose entre a maioria das espécies de leguminosas e bac-térias nodulíferas (Rhizobium, Bradyrhizobium, Sinorhizobium e outros) representa o mecanismo mais importante de entradas de N (Gehring et al., 2005b). Existem ainda indicações que as raízes profundas das capoeiras possam recuperar uma parte do NO3

- lixi-viado durante a roça e acumulado no sub-solo (Schroth et al., 2001; Lehmann, comm. pessoal).

A FBN pela simbiose entre leguminosas e bactérias nodulí-feras constitui o mecanismo principal de FBN. Conseqüentemente, as leguminosas formam um componente chave em quase todos os sistemas agroflorestais. No entanto, existem outros caminhos da FBN sendo a mais importante a FBN associativa com gramíneas do tipo C4 (Christiansen-Weniger, 1991; Baldani et al., 1997), pal-meiras e samambaias (Virginia and Delwiche, 1982; Baldani et al.,

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�997), além da FBN na filosféra por Cyanobactérias (Carpenter, �992; Freiberg, �998), e da FBN nos rumens de várias espécies de cupim (Tayasu, 1997).

As quantidades de Nitrogênio fixados pela FBN são regula-das pela complexa interação de uma série de fatores: (i) Existem grandes diferencias na susceptibilidade pela FBN simbiótica e nas quantidades de N2 fixados entre espécies, variedades ou estirpes de plantas hospedeiras e entre os microorganismos envolvidos (Sprent, 1995; de Souza et al., 1997). (ii) A disponibilidade de P é decisiva pela FBN, devida às altas exigências da FBN por energia (Israel, 1987; Giller & Wilson, 1991). Esta interação entre N e P obri-ga-nos a entender e manejar juntos esses dois nutrientes chaves. Segundo Cole & Heil (�98�), cada kg de P adubado pode acres-centar 7 kg de N adquiridos pela ação da FBN. (iii) Diretamente ou indiretamente a FBN depende da disponibilidade de outros nu-trientes como Ca, Mg, S e Mo (Giller & Wilson, �99�; Chalk, 2000). (iv) A disponibilidade de energia (luz) é decisiva para a FBN por causa das suas altas exigências energéticas (Izaguirre-Mayoral et al., �995); (v) A FBN requer a ausência de substâncias alelopáticas (Halsall et al., �995) e um ambiente físico favorável (nem alagado, nem seco, temperaturas do solo abaixo de 50°C). (vi) Devido aos altos custos de energia e de nutrientes, a FBN é rigidamente regu-lada pela disponibilidade ou falta de N-mineral (Chalk, 2000).

Diferente da situação do fósforo, o aumento da disponibi-lidade de Nitrogênio por adubação deve ser evitado ou utilizado somente como o último recurso, pois constitui um insumo extre-mamente custoso em termos financeiros (em torno de R$ �,50 / kg de N) e em energia fóssil requerida para sua produção. Além disto, grandes partes do Nitrogênio adubado podem ser logo perdidas pelos processos de perdas de Nitrogênio acima listados.

FósforoA baixa disponibilidade de fósforo para as plantas tem sido

identificada como o principal fator nutritivo limitante. Na maioria dos

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trópicos úmidos esta baixa disponibilidade de fósforo supera até os problemas de falta de Nitrogênio (Cochrane & Sanchez, 1982; Vitousek, �982; Gehring et al., �999). Como é o caso com o Nitro-gênio, somente uma pequena fração do P do solo está disponível para as plantas. Foram desenvolvidos uma série de diferentes mé-todos de extração para a determinação do P ‘disponível’ para os solos ácidos dos trópicos úmidos como Mehlich I e III, Bray I e II e a extração por resinas sintéticas. Além do P diretamente disponível para as plantas, é importante conhecer os pools menos lábeis que possam fornecer o P de médio a longo prazo. Para estes fins foi de-senvolvida a extração seqüencial de Hedley (Tiessen & Moir, �993; Johnson et al., 2003).

A baixa disponibilidade de P se deve à forte fixação do PO43-

pelos óxidos de ferro (hematita e goetita) e de alumínio (gibsita) nas condições ácidas (pH < 5,5) que prevalecem nos Oxisolos e Ultisolos (Latossolos) típicos para grandes partes da Amazônia, da África central e do sudeste da Ásia.

Em muitos casos, uma calagem e/ou uma adubação inicial de fósforo é um pré-requisito para iniciar um sistema agroflorestal com subseqüente ciclagem eficiente do fósforo e dos outros nu-trientes (McGrath et al., 2001). A adubação com fósforo de rocha (apatita) com sua lenta liberação do PO4

3- é mais aproveitável para a vegetação e por isto mais eficiente. Embora seja um produto mais barato na sua produção do que os adubos de P de alta solubilidade (‘super-fosfato simples’ e ‘super-fosfato triplo’), o fósforo de rocha é incomum nos mercados agrícolas do interior do Brasil e custos de transporte tem grande impacto nos seus custos. Um fator decisivo para reduzir a fixação de fósforo é a acumulação e a manutenção da camada orgânica do solo, pois o P-orgânico forma pools lábeis de P que são extremamente importantes para a vegetação (Sel-les et al., 1997; Giardina et al., 2000b; Lawrence & Schlesinger, 2001).

Embora uma adubação com P seja inevitável em muitos ca-sos, as várias adaptações de plantas a uma baixa disponibilidade

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de fósforo no solo oferece um importante instrumento de manejo. Sistemas agroecológicos devem priorizar espécies de alta eficiên-cia de aquisição de P, como uma alta alocação em raízes finas, exsudação de ácidos orgânicos complexadores de P, raízes pro-teoides, e – de importância fundamental nos trópicos úmidos – uma eficiente associação com micoriza do tipo vesicular-arbuscular como na mandioca e na maioria das árvores e palmeiras nativas da Amazônia (Chapin, 1980; St John & Coleman, 1983; Lajtha & Harrison, 1995; Vance et al., 2003).

O.papel.das.árvoresTanto nos sistemas agroflorestais, como também - de forma

diferente - na roça e na roça melhorada conta-se fortemente com as funções ecológicas favoráveis exercidas pelo componente das árvo-res e das palmeiras, que devem garantir a sustentabilidade ecoló-gica destes agroecossistemas. Os efeitos positivos do componente arbóreo são diversos, como a acumulação de biomassa, de matéria orgânica e de nutrientes contidos nela (Nair, 1989), a ciclagem (pela poda ou pela serapilheira) dos nutrientes, o melhoramento do micro-clima, a FBN pelas leguminosas arbóreas, e um sistema radicular profundo que serve como uma ‘rede de segurança’ e ‘bombeia’ os nutrientes lixiviados do sub-solo de volta ao agroecossistema (Palm, 1995; Buresh & Tian, 1998; Schroth et al. 2001).

Por outro lado, a alta competitividade das árvores representa um problema crucial de manejo nos sistemas agroflorestais, pois ela pode reduzir indevidamente a produtividade dos cultivos anuais (Sanchez et al., �996). Problemas de sombreamento exigem um manejo eficiente de podagem. As podas também reduzem tempo-rariamente a concorrência radicular pelas árvores (Schroth et al., 200�), embora podas repetidas possam provocar uma indesejável distribuição vertical mais superficial das suas raízes (Lehmann, 2003; mas veja Bayala et al., 2004). Pelo menos em teoria, uma ar-quitectura radicular complementar com uma dominância das raízes mais profundas pode reduzir o problema da concorrência radicular por água e nutrientes exercida pelas árvores (Rao et al., �993; Akin-nifesi et al., �999). Ao contrário dos trópicos úmidos, a concorrência

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por água freqüentemente inviabiliza tentativas de implementar sis-temas agroflorestais nos trópicos semi-áridos (Figura 8).

Figura 8. Produtividade de grãos e de madeira em sistemas agroflorestais hipotéticos sob regimes diferentes de precipitação, resultados de modelagem obtidos por van Noordwijk &

Lusiana (1999).

As árvores fornecem o Nitrogênio mas concorrem por água. (A) Uma maior precipitação é associada à transição gradual de água para Nitrogênio como fator limitante principal. Sob baixa pre-cipitação a concorrência por água pelas árvores é maior do que seus efeitos positivos como fornecedores de Nitrogênio. (B) O ren-dimento das árvores é menor em sistemas agroflorestais do que em monoculturas por causa da concorrência pelas culturas de grãos.

Embora as árvores muitas vezes tendam a reduzir a produti-vidade dos cultivos anuais, elas também fornecem produtos (frutas, madeira etc) e serviços ambientais (manutenção da fertilidade do solo, supressão das ervas adventícias). Existem diferentes modos de calcular a eficiência socioeconômica destes sistemas em com-paração com monocultivos. O mais importante é o ‘land equivalent ratio’ (LER) de Trenbath (�974), discutido ou reformado em Van-dermeer (1989), Blair (1998) e García-Barrios & Ong (2004). Uma vantagem do componente arbóreo produtivo a frente dos cultivos anuais é a menor variação sazonal e inter-anual, o que reduz os riscos de produção para o pequeno produtor.

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SISTEMA.AGROECOLOGICO.RÁPIDO.DE.EVALUACIÓN.DE.CALIDAD.DE.SUELO.Y.SALUD.DE.CULTIVOS.EN.EL.

AGROECOSISTEMA.DE.CAFÉ

Miguel A. Altieri*

Clara Ines Nicholls**

Introducción ------------------------------------------------------------------------------------- 141Los indicadores de sostenibilidad --------------------------------------------------------- 144Estudios de caso ------------------------------------------------------------------------------- 153Literatura citada -------------------------------------------------------------------------------- 159

Introducción Uno de los objetivos porque muchos agricultores realizan

una conversión desde un sistema de café convencional de mono-cultivo manejado con insumos agroquímicos, a un sistema mas di-versificado con arboles de sombra , es lograr una producción de ca-lidad y estable, poco dependiente de insumos extremos, de manera de bajar los costos de producción y a la vez conservar los recursos naturales de la finca, tales como suelo, agua y agrobiodiversidad1. El objetivo final de los investigadores que desarrollan y promueven técnicas de manejo orgánico, es llegar a diseñar agroecosistemas que posean una alta resistencia a plagas y enfermedades, una alta capacidad de reciclaje y de retención de nutrientes , así como altos niveles de biodiversidad (Gliessman l998). Un sistema más diversi-ficado , con un suelo rico en materia orgánica y biológicamente ac-tivo, se considera un sistema no degradado, robusto y productivo. En otras palabras, un agroecosistema de café, rico en biodiversidad la cual a partir de una serie de sinergismos subsidia la fertilidad edafica, la fitoprotección y la productividad del sistema, se dice ser sustentable o saludable (Fernández y Muschler l999).

* PhD en Entomología y profesor de Agroecología en el Departamento de Ciencia, Política y Manejo Ambiental de la Universidad de California, Berkeley, Estados Unidos.** PhD en Controle Biologico de Plagas y investigadora en el Departamento de Ciencia, Política y Manejo Ambiental de la Universidad de California, Berkeley, Estados [email protected]

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Sistema agroecologico rapido de evaluacion de calidad de suelo y salud de cultivos en el agroecossistema de café

Uno de los desafíos que enfrentan tanto agricultores, como extensionistas e investigadores es saber cuando un agroecosiste-ma es saludable, o mas bien en que estado de salud se encuentra después de iniciada la conversión a un manejo agroecologico?

Investigadores que trabajan en agricultura sostenible, han ideado una serie de indicadores de sostenibilidad para evaluar el estado de los agroecosistemas (Gómez et al. l996, Masera et al. 1999). Algunos indicadores desarrollados, consisten en observa-ciones o mediciones que se realizan a nivel de finca para ver si el suelo es fértil y conservado y si las plantas están sanas, vigorosas y productivas. En otras palabras, los indicadores sirven para tomarle el pulso al agroecosistema.

En este articulo presentamos una metodología para diag-nosticar en cafetales la calidad del suelo y la salud del cultivo usan-do indicadores sencillos. Se utilizan indicadores específicos para los cafetales de la zona de Turrialba, Costa Rica, aunque con pocas modificaciones la metodología es aplicable a una gama de agroe-cosistemas en varias regiones. Los indicadores aquí descritos se eligieron porque son relativamente fáciles y prácticos de utilizar por agricultores, además de:

• ser relativamente certeros y fácil de interpretar• ser suficientemente sensitivos para reflejar cambios ambien-

tales y el impacto de practicas de manejo sobre el suelo y el cultivo

• ser capaces de integrar propiedades físicas, químicas y bio-lógicas del suelo

• poder relacionarse con procesos del ecosistema, como por ejemplo capturar la relación entre diversidad vegetal y es-tabilidad de poblaciones de plagas y enfermedades (Altieri l994).

No hay duda que muchos agricultores cafetaleros poseen sus propios indicadores para estimar la calidad del suelo o el estado fitosanitario de su cultivo. Algunos reconocen ciertas malezas que

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indican por ejemplo un suelo ácido o infertil. Para otros la presencia de lombrices de tierra es un signo de un suelo vivo, y el color de las hojas refleja el estado nutricional de las plantas. En una zona como Turrialba, se podría compilar una larga lista de indicadores locales., el problema que muchos de estos indicadores son específicos de sitio y cambian de acuerdo al conocimiento de los agricultores o a las condiciones de cada finca. Por esto es difícil realizar compara-ciones entre fincas, usando resultados provenientes de indicadores diferentes.

Con el objetivo de superar esta limitante, hemos selecciona-do indicadores de calidad de suelo y de salud del cultivo, relevantes a los agricultores y a las condiciones biofísicas de los cafetales de la zona de Turrialba, Costa Rica. Con estos indicadores ya bien definidos, el procedimiento para medir la sostenibilidad es el mis-mo, independiente de la diversidad de situaciones que existen en las diferentes fincas de la región diagnosticada. La sostenibilidad se define entonces como un conjunto de requisitos agroecologicos que deben ser satisfechos por cualquier finca, independiente de las diferencias en manejo, nivel económico, posición en el paisaje, etc. Como todas las mediciones realizadas se basan en los mismos in-dicadores, los resultados son comparables de manera que se pue-de seguir la trayectoria de un mismo agroecosistema a través del tiempo, o realizar comparaciones entre fincas en varios estados de transición. Quizás los mas importante es que una vez aplicados los indicadores, cada agricultor puede visualizar el estado de su finca observando que atributos del suelo o de la planta andan bien o mal en relación a un umbral preestablecido. Cuando la metodología se aplica con varios agricultores, se puede visualizar las fincas que muestran valores tanto bajos como altos de sostenibilidad . Esto es útil para que los agricultores entiendan porque ciertas fincas se comportan ecológicamente mejor que otras, y que hacer para mejo-rar los valores observados en fincas con valores menores.

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Sistema agroecologico rapido de evaluacion de calidad de suelo y salud de cultivos en el agroecossistema de café

Los.indicadores.de.sostenibilidad Una vez definidos los requerimientos de sostenibilidad de

los cafetales (diversidad de cultivos, suelo cubierto y rico en materia orgánica, baja incidencia de enfermedades, etc.), se seleccionaron 10 indicadores de calidad de suelo y 10 de indicadores de salud del cultivo. Estos indicadores fueron discutidos con agricultores miembros de la Asociación de Productores Orgánicos de Turrialba (APOT) y validados con los agricultores en cinco fincas de miem-bros de APOT, por los autores de este trabajo y por 18 profesiona-les que atendieron un curso internacional de agroecologia realizado en CATIE, Turrialba del 20-25 de Agosto del 2001.

Cada indicador se estima en forma separada y se le asigna un valor de 1 a l0 (siendo 1 el valor menos deseable, 5 un valor moderado o medio y 10 el valor mas preferido) de acuerdo a las características que presenta el suelo o el cultivo según atributos a observar para cada indicador (Tabla 1). Por ejemplo en el caso del indicador estructura de suelo, se asigna un valor 1 a aquel suelo que es polvoso, sin gránulos (o agregados) visibles, un valor 5 a un suelo con algo de estructura granular, y cuyos granulos se rom-pen fácil bajo una suave presión con los dedos, y un valor �0 a un suelo fiable y granulosos. Com agregados que mantienen su forma aun después de humedecidos y sometidos a una presión leve. Por supuesto que se pueden asignar valores entre 1 y 5 o 5 y l0, según las características observadas. Cuando un indicador no es aplica-ble para la situación, simplemente no se mide, o se reemplaza si es necesario por otro que el investigador y el agricultor estimen mas relevante.

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Tabla 1. Indicadores.de.calidad.de.suelo.y.salud.de.cultivos.en.cafetales,.con.sus.características.y.valores.correspondientes.

Calidad.de.suelo1. EstructuraValor establecido Característica Valor en el campo

1 Suelo polvoso, sin granulos visibles

5Suelo suelto com pocos

granulos que se rompen al aplicar presión suave

10Suelo friable y granular,

agregados mantienen formas después de aplicar presión suave, aun humedecidos

2. Compactación e infiltraciónValor establecido Característica Valor en el campo

1 Compacto, se anega

5Presencia de capa compacta

delgada, agua infiltra lentamente

10 Suelo no compacto, agua infiltra fácilmente

3. Profundidad del sueloValor establecido Característica Valor en el campo

1 Subsuelo casi expuesto5 Suelo superficial delgado

(menos de 10cm)10 Suelo superficial más

profundo (mas de 10-cm)

4. Estado de residuosValor establecido Característica Valor en el campo

1Residuo orgánico presente que no se descompone o

muy lentamente

5Aun persiste residuo del ano pasado en vías de

descomposición

10Residuos en varios estados

de descomposición, pero residuos viejos bien

descompuestos

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5. Color, olor y materia orgánicaValor establecido Característica Valor en el campo

1Suelo de color pálido, con

olor malo o químico, y no se nota presencia de materia

orgánica o humus

5Suelo de color café claro o rojizo, sin mayor olor y

con algo pasado en vías de descomposición

10

Suelo de color negro o café oscuro, con olor a tierra

fresca, se nota presencia abundante de materia

orgánica y humu

6. Retención de humedadValor establecido Característica Valor en el campo

1 Suelo se seca rápido

5 Suelo permanece seco en época seca

10 Suelo mantiene algo de humedad en época seca

7. Desarrollo de raícesValor establecido Característica Valor en el campo

1 Raíces poco desarrolladas, enfermas y cortas

5Raíces de crescimiento algo

limitado, se vem algunas raíces finas

10Raíces com buen

crecimiento, saludables y profundas, com abundante presencia de raíces finas

8. Cobertura de sueloValor establecido Característica Valor en el campo

1 Suelo desnudo

5Menos de 50% del suelo

cubierto por residuos, horajasca o cubierta viva

10 Mas del 50% del suelo com cobertura viva o muerta

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9. ErosiónValor establecido Característica Valor en el campo

1Erosión severa, se nota

arrastre de suelo y presencia de cárcavas y canalillos

5 Erosión evidente pero baja

10 No hay mayores signos de erosión

10. Actividad biológicaValor establecido Característica Valor en el campo

1Sin signos de actividad

biológica, no se vem lombrices o invertebrados (insectos, arañas, centipides, etc.)

5 Se vem algunas lombrices y artrópodos

10Mucha actividad biológica,

abundantes lombrices y artrópodos

Promedio Calidad de suelo

Salud.del.cultivo1. AparienciaValor establecido Característica Valor en el campo

1Cultivo clorotico o

descolorido con signos severos de deficiencia de

nutrientes

5 Cultivo verde claro, con algunas decoloraciones

10 Follage color verde intenso, sin signos de deficiencia

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2. Crecimiento del cultivoValor establecido Característica Valor en el campo

1

Cultivo poco denso, de crecimento pobre. Tallos y

ramas cortas y quebradizas. Casi no hay crecimiento de

follaje nuevo

5Cultivo más denso pero no muy uniforme, con

crecimiento nuevo y con ramas y tallos aun delgados

10Cultivo denso, uniforme,

buen crecimiento com ramas y tallos gruesos y firmes

3. Resistencia o tolerancia a estrés (sequía, lluvias intensas, ataque de plagas, etc.)

Valor establecido Característica Valor en el campo

1Susceptibles, no se

recuperan bien después de un estrés

5Sufren en época seca o

muy lluviosa, se recuperan lentamente

10Soportan sequía y lluvias intensas, recuperación

rápida

4. Incidencia de enfermedadesValor establecido Característica Valor en el campo

1Suspeptibles a

enfermedades, mas del 50% de plantas com síntomas

5 Entre 20-45% de plantas com síntomas de leves a severos

10Resistentes, menos del 20%

de plantas com síntomas leves

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5. Competencia por malezasValor establecido Característica Valor en el campo

1 Cultivos estresados domina-dos por malezas

5Presencia media de male-zas, cultivo sufre algo de

competencia

10Cultivo vigoroso, se sobre-pone a malezas, o male-

zas chapeadas no causan problemas

6. Rendimiento actual o potencialValor establecido Característica Valor en el campo

1 Bajo com relación al promedio de la zona

5 Medio, aceptable10 Bueno o alto

7. Diversidad genéticaValor establecido Característica Valor en el campo

1 Pobre, domina una sola variedad de café

5 Media, dos variedades

10 Alta, mas de dos variedades

8. Diversidad vegetalValor establecido Característica Valor en el campo

1 Monocultivo sin sombra

5 Com solo una especie de sombra

10Com mas de 2 especies

de sombra, e incluso otros cultivos o malezas

dominantes

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9. Diversidad natural circundanteValor establecido Característica Valor en el campo

1 Rodeado por otros cultivos, campos baldíos o carretera

5 Rodeado al menos en un lado por vegetación natural

10Rodeado al menos en un 50% de sus bordes por

vegetación natural

10. Sistema de manejoValor establecido Característica Valor en el campo

1 Monocultivo convencional, manejado con agroquímicos

5 En transición a orgánico, con sustitución de insumos

10Orgánico diversificado,

con poco uso de insumos orgánicos o biológicos

Promedio Salud del Cultivo

También en la medida que el usuario se familiariza con la me-todología, las observaciones se pueden hacer mas agudas usando algunos instrumentos adicionales. Por ejemplo, en el caso del indica-dor �0 de calidad de suelo, además de observar directamente signos de actividad biológica (presencia de invertebrados y lombrices), es posible aplicar un poco de agua oxigenada a una muestra de suelo y ver el grado de efervescencia. Si hay poca o nada de efervescencia , esto indica que ese suelo tiene poca materia orgánica y poca acti-vidad microbiana. Cuando hay bastante efervescencia, entonces el suelo es rico en materia orgánica y en vida microbiana . También si después de la adición de unas 2-3 gotas de ácido hidroclorico no hay efervescencia, entonces lo mas probable es que no hay presencia de carbonatos en el suelo, un dato importante en la estimación del indicador 5 de calidad de suelo.

Los indicadores de salud del cultivo se refieren a la aparien-cia del cultivo, el nivel de incidencia de enfermedades, la tolerancia

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del cultivo a estrés (sequía u otro factor) y a malezas, crecimiento del cultivo y raíces, así como rendimiento potencial. Las observa-ciones sobre niveles de diversidad vegetal (numero de especies de arboles de sombra, e incluso malezas dominantes), diversidad ge-nética (numero de variedades de café), diversidad de la vegetación natural circundante, y tipo de manejo del sistema (ej. en transición a orgánico con mucho o poco insumos externos) se hacen para eva-luar el estado de la infraestructura ecológica del cafetal , asumiendo que un cafetal con mayor diversidad vegetal y genética , un manejo diversificado que aprovecha las sinergias de la biodiversidad y que esta rodeado por vegetación natural tiene condiciones de entorno mas favorables para la sostenibilidad (Guharay et al. 2001).

Una vez que se asignan los valores a cada indicador, se su-man los valores obtenidos y se divide por el numero de indicadores observados , y se saca un valor promedio de calidad de suelo y otro de salud del cultivo. Las fincas que den valores de calidad de suelo y o de salud del cultivo inferior a 5 se consideran que están por debajo del umbral de sostenibilidad, y que por lo tanto ameritan ma-nejos que corrijan aquellos indicadores que exhiben valores bajos. Los valores de los indicadores son mas fáciles de observar grafi-cando los valores observados en cada finca en una figura tipo ame-ba , en la que es posible visualizar el estado general de la calidad del suelo o la salud del cultivo, considerando que mientras mas se aproxime la ameba al diámetro del circulo (valor �0) mas sostenible es el sistema. La ameba permite también observar que indicadores están débiles (bajo 5) de manera de poder priorizar el tipo de inter-venciones agroecologicas necesarias para corregir ciertos atributos del suelo, el cultivo o el agroecosistema. A veces interviniendo para corregir un solo atributo (incrementando la diversidad de especies o el nivel de materia orgánica en el suelo) es suficiente para corre-gir una serie de otros atributos. La adición de materia orgánica por ejemplo, además de incrementar la capacidad de almacenamiento de agua, puede aumentar la actividad biológica del suelo, la que a su vez puede mejorar la estructura del suelo

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Los promedios de varias fincas se pueden graficar, permitien-do visualizar el estado de las fincas en relación al umbral 5 de ca-lidad de suelo y salud de cultivo (Figura �). Esto permite identificar además las fincas que presentan promedios altos, transformándo-se así en una especie de faros agroecologicos, en los cuales será importante entender cuales son las interacciones y sinergismos ecológicos que explican porque el sistema funciona bien. Lo clave aquí no es tanto que los agricultores copien las técnicas que usa el agricultor faro, sino mas bien que emulen los procesos e interaccio-nes promovidos por la infraestructura ecológica de esa finca, que conllevan al éxito del sistema desde el punto de vista de calidad de suelo y salud fitosanitaria. Puede ser que en la finca faro la cla-ve es la alta actividad biológica o la gran cobertura viva del suelo. Los agricultores circundantes no necesariamente tienen que usar el mismo tipo de compost o cobertura que el agricultor faro, mas bien deben usar técnicas a su alcance pero que conlleven a optimizar los mismos procesos.

Figura 1. Comparación de promedios de indices de calidad de suelo y salud de cultivos en varios cafetales en Turrialba, destacando las fincas faros.

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Estudios.de.casoFinca de Don Guillermo Campos, San Juan del Sur, Turrialba

Un grupo de 6 agrónomos visito la finca de Don Guillermo

el 23 de Agosto del 2001, por un periodo de 4 horas. Durante este tiempo los agrónomos junto al agricultor aplicaron la metodología para medir los indicadores de calidad de suelo y salud de cultivo en dos secciones de la finca: un cafetal con sombra (principalmente poro y plátanos) manejado orgánicamente por 4 anos y un cafetal convencional sin sombra con dos anos de transición a orgánico. La Tabla 2 presenta los valores asignados a cada indicador. El sistema convencional presenta un promedio de 5.7 para calidad de suelo y de 4.4 para salud del cultivo. El sistema orgánico presenta prome-dios positivos en cuanto a calidad de suelo, pero bajo en cuanto a salud del cultivo, aunque siempre algo superior al sistema conven-cional.

Tabla 2. Valores.asignados.a.los.indicadores.de.calidad.de.sue-lo.y.salud.de.cultivo.en.un.cafetal.orgánico.y.otro.en.transición.en la finca de Don Guillermo Campos, San Juan del Sur, Tur-rialba.

Indicadores Valor

Calidad del suelo

Orgánico Transición�. Estructura y textura 10 92. Compactación e infiltración 10 73. Profundidad del suelo 10 104. Estado de residuos 9 65. Color, olor y M.O. 8 66. Retención de humedad 10 57. Desarrollo de raíces 9 48. Cobertura del suelo 10 39. Erosión 10 510. Actividad biológica 9 3Promedio 9.5 5.8

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Salud del cultivo

1. Apariencia 10 42. Crecimiento del cultivo 9 13. Tolerancia al estrés 9 34. Incidencia de enfermedades 10 55. Competencia por malezas 9 56. Rendimiento actual/potencial 10 67. Diversidad genética 1 88. Diversidad vegetal 5 29. Diversidad natural circundante 4 410. Sistema de manejo 8 4Promedio 7.5 4.2

La ameba para calidad de suelo (Figura 2) permite compa-rar ambas fincas, en la que se nota claramente que la finca orgáni-ca tiene mejor calidad de suelo que la convencional en transición, la cual requiere mejoras en cuanto a cobertura de suelo, incremento de actividad biológica y condiciones edaficas para optimizar el de-sarrollo radicular.

En cuanto a salud del cultivo, los dos agroecosistemas re-quieren intervenciones claves para incrementar la diversidad gené-tica y de especies, así como diversificación de los linderos del ca-fetal, aunque el cafetal en transición requiere manejos adicionales para mejorar el vigor y apariencia del café y disminuir la incidencia de enfermedades como el ojo de gallo (Figura 3).

Después de este diagnostico los agrónomos discutieron jun-to al agricultor los problemas que el considerara como prioritarios de atención en el cafetal en transición y el tipo de intervenciones a realizar para superar tales limitantes. Entre las opciones discutidas se destacan: a) trazado de curvas de nivel y elevar la cobertura del suelo, b) usar otros tipos de abono orgánico tales como fermen-tados y lombricompost, c) diversificar las especies de sombra, d) rodear el cafetal con cercas vivas y e) creación de bancos de forraje de manera de lograr la integración animal para el reciclaje de bio-masa y producción in-situ de boñiga.

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Una Comparacion entre la finca de Don Edgar Rodríguez y Don.Germán.Mora,.en.Chitaria,.Turrialba

Otro equipo de agrónomos participantes del curso, realizo un diagnostico de dos fincas aledañas:

a. la finca de don Germán Mora que posee un cafetal en tran-sición a orgánico, con sombra de laurel, poro y plátano, e incluso secciones con maíz y frijol entre el café. En medio de la propiedad hay un establo con 5 vacas que producen boñi-ga la cual se usa directamente como abono o como insumo para preparados foliares fermentados. La finca esta rodeada casi en su totalidad por bosque secundario

b. La finca de Don Edgar Rodríguez, un cafetal en transición con sombra rala de poro, rodeada por un lado por bosque natural y por el otro por otros cafetales convencionales.

Como se observa en la Figura 4, ambos cafetales muestran valores de indicadores de calidad de suelo superiores al umbral, aunque la finca de Don Edgar exhibe valores mayores, debido prin-cipalmente a que el suelo es mas rico en materia orgánica y tiene mayor cobertura.

Los valores asignados a indicadores de salud del cultivo en ambas fincas están también en la mayoría de los casos sobre el um-bral 5, destacándose la finca de Don Germán por tener una mayor diversidad genética, de especies y un entorno mas diversificado, lo que posiblemente explica la menor incidencia de enfermedades observada (Figura 5).

En las reuniones con los agricultores se discutieron varias opciones de manejo para incrementar los valores de algunos in-dicadores observados. En el caso de la finca de Don Germán se planteo:

• establecer zanjas de infiltración• sembrar cultivos de cobertura (abono verde) en áreas ero-

sionadas

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• diversificar con arboles frutales y cultivos anuales donde sea posible

Para la finca de don Edgar se propuso:• iniciar la producción del lombricompost• introducir animales, quizás pollos para la producción de es-

tiércol• diversificar con arboles frutales y cultivos anuales que ten-

gan valor comercial

Figura.2..Ameba representativa del estado de calidad de suelo de los cafetales en la finca de Don Guillermo, San Juan del Sur, Turrialba.

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Figura.3..Ameba representativa del estado de salud de cultivo en dos cafetales en la finca de Don Guillermo Campos, San Juan del Sur, Turrialba.

Figura.4..Comparación de indicadores de calidad de suelo entre dos cafetales en transición en Chitaria, Turrialba.

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Figura.5..Comparación de indicadores de calidad de cultivo entre dos cafetales en transici-ón en Chitaria, Turrialba.

Conclusiones

Como estimar la sostenibilidad de agroecosistemas es hoy en día una preocupación prioritaria de muchos investigadores agrico-las. Se han ideado muchas listas de atributos a medir que permitan estimar la productividad, estabilidad resiliencia, y adaptabilidad de agroecosistemas (Masera et al. l999), pero existen pocas metodo-logías rápidas que usen unos pocos indicadores que puedan ser utilizadas por agricultores y que a la vez les permita observar el estado de sus agroecosistemas y tomar decisiones de manejo para superar limitantes detectadas.

La metodología aquí presentada es una herramienta prelimi-nar para evaluar la sostenibilidad de cafetales de acuerdo a valores asignados a calidad de suelo y salud del cultivo. La metodología in-volucra una actividad participativa y es aplicable a una amplia gama de agroecosistemas en una serie de contextos geográficos y socio-económicos, siempre y cuando se reemplacen algunos indicadores

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por otros que sean relevantes para la situación en cuestión.La metodología permite medir la sostenibilidad en forma com-

parativa o relativa, ya sea comparando la evolución de un mismo sistema a través del tiempo, o comparando dos o mas agroecosis-temas bajo diferentes manejos o estados de transición. La compa-ración de varios sistemas permite a un grupo de agricultores identi-ficar los sistemas mas saludables,tornándose estos en una especie de faros demostrativos donde los agricultores e investigadores in-tentan descifrar los procesos e interacciones ecológicas que po-siblemente explican el mejor comportamiento de estos sistemas faros. Esta información después se traduce a practicas especificas que optimizan los procesos deseados en los cafetales que exhiben valores promedios por debajo del umbral.

Literatura.citada

ALTIERI, M.A. Agroecology:.the.science.of.sustainable.agriculture. Westview Process, Boulder. l995.

FERNANDEZ, C.E.; MUSCHLER, R. Aspectos de sostenibilidad de los sistemas de cultivo de café en America Central. In: Bertrand, B. (Ed.). Desafios de la caficultura en CentroAmerica. San Jose, Costa Rica: IICA-PROMECAFE-CIRAD, l999.

GLIESSMAN, S.R. Agroecology:.ecological.processes.in.sustainable.agriculture. Ann Arbor Press, Michigan, l998.

GOMEZ, A.A.; SWEETE, D.E.; SYERS, J.K.; COUGLAN K.J. Measuring sustainability of agricultural systems at the farm level. In: Methods.for.assessing.soil.quality. Madison, Wisconsin: SSSA Special Pub. 49, l996.

GUHARAY, F.; MONTERROSO, D.; STAVER, C. El diseno y manejo de la sombra para la supresion de plagas en cafetales de

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Sistema agroecologico rapido de evaluacion de calidad de suelo y salud de cultivos en el agroecossistema de café

America central. Agroforesteria.en.las.Americas, v. 8, p.22-29, 2001.

MASERA, O.; ASTIER, M.; LOPEZ-RIDAURA, S. Sustentabilidad.y.manejo.de.recursos.naturales:.el.marco.de.evaluacion.MESMIS. Mundiprensa, GIRA, UNAM, Mexico D.F. �999.

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UTILIZAÇÃO.DE.LEGUMINOSAS.ANUAIS.EM.SISTEMAS.AGROECOLÓGICOS

Edmilson J. Ambrosano* Nivaldo Guirado**

Heitor Cantarella*** Roberto A. Arevalo**

Elaine B. Wutke*** Fabrício Rossi **

Paulo C. Doimo Mendes** Gláucia M. Bovi Ambrosano****

Eliana A. Schammass*****

Dulcinéia E.Foltran** Anselmo J. Spadotto**

Introdução --------------------------------------------------------------------------------------- 162Uso de leguminosas -------------------------------------------------------------------------- 164Benefícios da adubação verde ------------------------------------------------------------- 167Eficiência do uso do nitrogênio das leguminosasusadas na adubação verde ----------------------------------------------------------------- 169Resultados de pesquisa sobre leguminosas adubo verdenos agroecossistemas incluindo cana-de-açúcar, citros, arroz e jacarandá-mimoso ------------------------------------------------------------------- 171Pesquisas com leguminosas adubos verdes em cana-de-açúcar ---------------- 171Experiência de Piracicaba com cana-de-açúcar orgânica -------------------------- 187Pesquisas com leguminosas adubos verdes em citros ------------------------------ 190Uso adequado dos adubos verdes em citros ------------------------------------------- 190Ciclagem de nutrientes ----------------------------------------------------------------------- 191Efeitos químicos no solo --------------------------------------------------------------------- 192Efeitos físicos no solo ------------------------------------------------------------------------ 192Efeitos biológicos ------------------------------------------------------------------------------ 192Adubação verde em citros ------------------------------------------------------------------- 193

* APTA/Pólo Regional Centro Sul-Piracicaba, Diretor do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvi-mento C.P. 28 – 13400-970- Piracicaba, SP. [email protected]** APTA/Pólo Regional Centro Sul-Piracicaba/Tietê/Presidente Prudente, C.P. 28 – 13400-970- Piracicaba, SP.*** APTA/IAC- Centro de Solos e Recursos Agroambientais, C.P. 28 - 13001-970- Campinas, SP**** UNICAMP/FOP- Depto. de Odontologia Social, Bioestatistica, C.P. 52 -13414-903- Pi-racicaba, SP.***** Instituto de Zootecnia, Bioestatística, Rua Heitor Penteado, 56 -13460-000- Nova Odessa, SP.

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Manejo dos adubos verdes ----------------------------------------------------------------- 194Sistemas recomendados -------------------------------------------------------------------- 195Considerações finais -------------------------------------------------------------------------- 196Outras culturas --------------------------------------------------------------------------------- 196Pesquisas com leguminosas adubos verdes em arroz ------------------------------ 197Pesquisas com leguminosas adubos verdes em hortaliças ------------------------ 200Conclusões -------------------------------------------------------------------------------------- 200Pesquisas com essências florestais ----------------------------------------------------- 201Jacarandá-Mimoso ---------------------------------------------------------------------------- 201Conclusão --------------------------------------------------------------------------------------- 205Fatores limitantes à implantação e desenvolvimento de leguminosas ----------- 205Temperatura ------------------------------------------------------------------------------------- 205Solo------------------------------------------------------------------------------------------------ 205Disponibilidade hídrica ----------------------------------------------------------------------- 206Conclusão --------------------------------------------------------------------------------------- 206Referências Bibliográficas ------------------------------------------------------------------- 208

Introdução A conservação do solo sempre foi uma grande preocupação

da comunidade e está freqüentemente ligada ao sucesso ou fra-casso das civilizações e no decorrer da história da agricultura foram desenvolvidas muitas práticas conservacionista e de mínimo revol-vimento do solo atingindo sua plenitude com o plantio direto sobre a palha, o que tem garantido um excelente controle da erosão e para tanto foram realizados os estudos sobre rotação de cultivos e plantas de cobertura e adubação verde.

A evolução social da coletividade moderna está na depen-dência cada vez maior dos recursos naturais, contudo as praticas agrícolas muitas vezes arruínam, destroem, o bem mais precioso dos agroecossistemas que é o solo. Relatos bíblicos de mais de três mil anos descrevem solos férteis onde hoje estão localizados os desertos da Pérsia (Irã), Mesopotâmia e Norte da África.

A definição mais difundida sobre adubação verde é aquela que diz: “Denomina-se adubo verde a planta cultivada, ou não, com a finalidade precípua de enriquecer o solo com sua massa vege-

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tal, quer produzida no local ou importada” (Kiehl, �959). Embora considere-se como adubação verde o cultivo de varias espécies vegetais, naturais ou cultivadas, as leguminosas (Fabaceae) são as plantas mais utilizadas para essa finalidade.

No Brasil está prática já era recomendada por Dutra, �9�9 que publicou o trabalho “Adubos verdes: sua produção e modo de emprego”, destacando o efeito melhorador dessa prática, que era um fato universalmente aceito e que seu êxito dependia apenas a escolha das plantas a utilizar para esse fim.

A partir desse trabalho o assunto mereceu atenção dentro dos vários programas realizados no Instituto Agronômico, intensifi-cando-se com Neme que, no período de �934 a �958, conduziu vá-rios projetos visando a determinar quais as principais leguminosas para cobertura e produção de adubo verde, estudando, ao mesmo tempo, os efeitos da matéria orgânica sobre a produção do milho, em várias localidades do estado de São Paulo. Nestes trabalhos destacaram-se como produtoras de massa verde a mucuna-preta, a crotalária paulina e o feijão-de-porco, sendo que a mucuna se destacou também por ter proporcionado aumentos significativos na produção do milho que se seguiu ao adubo verde. Foi notado tam-bém o efeito da mucuna no controle do nematóide .

Com a prática da adubação verde, é possível recuperar a fertilidade do solo proporcionando aumento do teor de matéria or-gânica, da capacidade de troca de cátions e da disponibilidade de macro e micronutrientes; formação e estabilização de agregados; melhoria da infiltração de água e aeração; diminuição diuturna da amplitude de variação térmica; controle dos nematóides e, no caso das leguminosas, incorporação ao solo do nutriente nitrogênio (N), efetuada através da fixação biológica (Igue, �984).

Durante as últimas décadas, devido a intensificação dos cultivos e aumento da disponibilidade de fertilizantes químicos de baixo custo, houve um declínio no uso da adubação verde (Singh et al., 1991).

O manejo inadequado do solo pode trazer, com os cultivos, sérias conseqüências, exaurindo-o de suas reservas orgânicas e

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minerais, transformando-o em terras de baixa fertilidade. Nos so-los tropicais, susceptíveis a esse fenômeno, torna-se necessário o emprego constante de práticas que visam minimizar esse problema (Mello & Brasil Sobrinho, 1960).

Atualmente, observa-se a procura de um sistema de pro-dução agrícola que seja capaz de recuperar a fertilidade do solo, incluindo a utilização de leguminosas como cobertura no outono-inverno, que têm apresentado resultados satisfatórios, na obtenção de renda extra e quanto aos efeitos benéficos na cultura subse-qüente (Bulisani et al., 1987).

No Brasil, a prática da adubação verde vem sendo utilizada há mais de 30 anos com excelentes resultados sob as mais diver-sas condições de produção (Miyasaka, �984), sendo observados resultados positivos, quanto ao fornecimento de N para a cultura seguinte, nas culturas do milho, cultivada após a soja, (Mascare-nhas et al., 1986) algodão após a soja, cana-de-açúcar após a soja, em áreas de reforma, e milho após o tremoço, (Tanaka et al., �992; Kanthack et al., �99� ; Pereira et al., �988; Gallo et al., �983 e 1986).

Embora encontre-se dados de pesquisa obtidos nas mais diversas instituições do país, indicando o efeito favorável na produ-ção agrícola, a prática da adubação verde ainda continua restrita a um reduzido número de agricultores (Freitas et al., 1984).

Uso.de.leguminosas Na adubação verde, a razão da preferência pelas legumino-

sas é principalmente, pelo fato destas em simbiose com bactérias do gênero Rhizobium e Bradyrhizobium, fixarem N do ar em quan-tidade suficiente para satisfazer suas necessidades e gerar exce-dentes para a cultura que a sucede. Sua composição química e re-lação Carbono (C)/N são outras importantes características. Assim as leguminosas, em comparação com as gramíneas, são mais ricas em N, fósforo (P), potássio (K) e cálcio (Ca). Porém, a adubação verde não supre o solo em relação às suas deficiências minerais

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totais. Em solos deficientes em P, K, Ca, Mg, há necessidade de se aplicar os referidos elementos, de preferência nas culturas econô-micas usadas em sucessão ou rotação. Por outro lado, é preciso ter cuidado com o desequilíbrio na fertilidade, principalmente em função da disponibilidade de N, em determinada fase da decompo-sição da matéria orgânica.

A incorporação de restos vegetais pobres em N nem sem-pre proporciona os resultados esperados, isto porque a flora micro-biana não tem à sua disposição quantidade suficiente de N para seu desenvolvimento. A porção de N não utilizada pelas bactérias é que, transformada em nitratos, fica disponível para as plantas cultivadas ou para sofrer perdas por lixiviação. A leguminosa em decomposição apresenta proporção mais favorável à biologia do solo e conseqüente efeito positivo nas lavouras.

Segundo Franco & Souto (1984) as leguminosas comumen-te usadas em adubação verde, fixam em média, �88 kg de N/ha/ano, sendo estes adicionados ao solo, podendo assim racionalizar o uso de N. Com esta prática pode-se recuperar a fertilidade do solo, perdida devido ao manejo inadequado e à adoção de mono-cultivo, obter N para a cultura seguinte e evitar, assim, adubos alta-mente solúveis que podem poluir o ambiente (Kohl et al., �97�).

Além dessa associação é conhecida, também, a capacida-de das leguminosas em formarem relações simbióticas mutualisti-cas com fungos, dando origem às micorrizas. Essas são relações fundamentais na agricultura ecológica, que não dispõe de insumos solúveis e prontamente disponíveis para as plantas. Com isso as leguminosas tem uma grande vantagem: as micorrizas proporcio-nam aumento na área explorada pelas raízes, colaborando para o desenvolvimento de plantas mais tolerantes à seca, com maior ca-pacidade de nutrição, principalmente de fósforo, nitrogênio e outros elementos essenciais e a fixação biológica do nitrogênio é garanti-da pelas bactérias (rizóbio).

É de fundamental importância para a agricultura ecológica que se tenham plantas micorrizadas, e isso é muito fácil de se obter

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pois são raras as famílias de plantas em que não se observa esse tipo de associação. Sua presença é constatada em 80% das espé-cies vegetais estudadas até o momento, (Azcón et al., 1991).

Os fungos formadores de micorrizas são simbiontes obrigató-rios e não crescem fora das raízes. Devido a isso, até pouco tempo passavam desapercebidos pelos microbiologistas e, levando-se em conta que também não são produzidas mudanças morfológicas nas raízes, sua presença foi tampouco detectada pelos fisiologistas. Em contraste com a grande quantidade e diversidade de plantas que formam micorrizas, somente umas 150 espécies de fungo são responsáveis pela infecção dessas plantas.

Além dos benefícios citados acima as micorrizas são impor-tantes, também, no combate as doenças causadas pelo complexo de fungos de solo. A planta micorrizada adquire uma certa resistên-cia a infecção pelos fungos patogênicos. Se pensarmos um sistema conduzido ecológicamente onde os adubos verdes utilizados em rotação de cultivos propiciam um equilíbrio de elementos nutrientes no solo e juntamente com as plantas micorrizadas atuando na pro-teção contra os fungos patogênicos, teremos uma completa prote-ção dessas plantas.

Uma das razões para essa proteção contra os fungos patogê-nicos das plantas micorrizadas são listadas por Azcón, 1999 como sendo: a melhor nutrição da planta assegurada pelas micorrizas; uma grande competição por sitios de infecção que agora estão to-mados pelas micorrizas; a competição por fotossintetizados; mu-danças fisiológicas e anatômicas do sistema radicular e finalmente a presença das micorrizas desencadeia uma resposta do sistema de defesa da planta, que tenta se defender da própria infecção das micorrizas até que elas possam ser identificadas e aceitas pelo hospedeiro.

Outro fato importante a considerar é o sistema radicular das leguminosas que pode alcançar elevadas profundidades com capa-cidade de absorver água e extrair elementos minerais destas cama-das do solo, proporcionando assim, uma reciclagem e redistribui-

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ção de nutrientes. Contudo, o efeito das raízes na adubação verde é pouco estudado devido às dificuldades em se obter os dados.

Deve-se considerar também a proteção oferecida pela cobertura vegetal, as menores amplitudes diuturnas da variação térmica do solo, a proteção ao impacto das gotas da chuva e ao escorrimento superficial, proporcionando uma temperatura no solo mais estabilizada e protegendo o solo contra importantes perdas de nutrientes, de água e do solo.

Sendo assim, um sistema de rotação de culturas empregan-do leguminosas traz, além dos benefícios citados, incremento na produtividade e economia de adubo nitrogenado na cultura que a sucede no esquema de sucessão ou de rotação.

O fato de certas leguminosas serem más hospedeiras de nematóides formadores de galhas e a facilidade de produção de sementes contribuem para a difusão de seu uso em sistemas de produção. A ação das leguminosas sobre os nematóides segun-do Mascarenhas et al. (1984), pode ser caracterizada sob dois as-pectos: primeiro, pela ação direta na inadequada hospedagem de algumas espécies e segundo, pelo maior equilíbrio microbiológico que as leguminosas utilizadas conferem ao solo por ocasião da dis-tribuição da fitomassa. Veja a seguir outros benefícios da adubação verde.

Benefícios da adubação verdeCom a prática da adubação verde poderemos alcançar a sus-

tentabilidade agrícola na medida em que a fertilidade do solo pode ser preservada e até incrementada pelos seguintes benefícios:

i) Protege o do solo contra a erosão, com o terreno coberto com planta ou palha a energia das gotas da chuva é dissipa-da, impedindo a desagregação e evitando o encrostamento do solo;

ii) Aumenta a infiltração de água no corpo do solo, possibilitan-do maior armazenamento e evitando o escorrimento super-ficial;

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iii) Possibilita o aumento da matéria orgânica do solo, pelo uso continuo dessa prática;

iv) Diminui a amplitude de variação térmica do solo, mantendo uma temperatura mais amena no solo o que permite o cres-cimento dos microrganismo e o retorno da vida no solo;

v) Funciona como um arador biológico, uma vez que as raízes das leguminosas são profundas e a sua decomposição fu-tura cria galerias e macroporos que são interessantes para promover o crescimento de microrganismos em profundida-de e com isso romper barreiras físicas do solo;

vi) Promove a reciclagem de nutrientes pelo crescimento vi-goroso do sistema radicular das leguminosas ela tem ca-pacidade de explorar uma volume maior de solo e com isso promover uma eficiente reciclagem de nutrientes. Foram encontradas raízes de lablabe a até 3,4 metros de profundi-dade o que comprova essa exploração maior de volume do solo;

vii) Promove o aumento da CTC efetiva do solo e na disponibili-dade de macro e micronutrientes;

viii) Colabora para a diminuição da acidez potencial do solo com conseqüente aumento na soma de bases e no V%;

ix) Atua na redução da população de plantas daninhas pelos processos de supressão e alelopatia;

x) Melhora a eficiência no aproveitamento de adubos minerais pelas culturas seguintes e diminui a lixiviação, principalmen-te de nitrogênio;

xi) Promove a integração das atividades agrícolas, uma vez que as leguminosas podem ser utilizadas como forragem na ali-mentação de animais;

xii) Atua no controle de fitonematóides, principalmente aqueles formadores de galhas e cisto, e na redução de inóculos de doenças e pragas, atuando na quebra de seu ciclo;

xiii) Fornece nitrogênio para as culturas seguintes pelo processo de fixação biológica do nitrogênio e liberar cálcio e magnésio

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para a solução do solo. Veja a seguir como que eficiência o nitrogênio da leguminosa passa para as outras plantas, quanto fica no solo e quanto é perdido para fora do sistema solo planta.

Eficiência do uso do nitrogênio das leguminosas usadas.na.adubação.verde

Fala-se muito no benefício do fornecimento de nitrogênio com a prática da adubação verde, contudo são poucos os trabalhos que quantificam a transferência de nitrogênio para os diversos com-partimentos do sistema agrícola.

Com o uso de técnica nuclear, usando-se de marcador 15N, foi possível quantificar a passagem do nitrogênio da leguminosa para o solo, para planta e para fora do sistema (Ambrosano, 1995). O estudo foi feito em casa de vegetação usando o milho como plan-ta subseqüente a adubação verde, em dois tipos de solo, um argi-loso e outro arenoso, e os resultados foram os seguintes:

i) A eficiência da adubação verde chegou a 36 %, isso signi-fica que do total de nitrogênio adicionado pela leguminosa, 36% passa para a cultura seguinte;

ii) Em solo arenoso a mineralização do nitrogênio foi maior sendo maior, também, a transferência desse N para as plantas de milho;

iii) A decomposição foi muito rápida não havendo predominân-cia de imobilização de nitrogênio;

iv) A adubação verde contribui para economia da matéria orgâ-nica original do solo, economizando-se, assim, o N original do solo.

Em estudos desenvolvidos no IAC utilizando-se as legumino-sas mucuna-preta e crotalária júncea, incorporadas em dois solos sendo um de textura argilosa e outro arenosa, com posterior cultivo de milho pode-se observar que de 60 a 80% do nitrogênio da legu-minosa permanece na matéria orgânica do solo, de 15 a 30% vai para a planta do milho e de 5 a 10% se perde do sistema solo plan-

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ta. Nestes estudos utilizando-se de isótopo traçados (15N) pode-se determinar com precisão que o fornecimento de nitrogênio para o milho se da de forma constante no tempo.

Outras observações importantes foram que o nitrogênio mi-neraliza preferencialmente da nova fonte de N e preserva o nitro-gênio nativo do solo, que a mucuna preta teve maior participação do nitrogênio recuperado no milho e que o solo de textura arenosa facilitou a mineralização e liberação de N para o milho.

Confira os principais resultados na Figura �.

Figura.1. Balanço de nitrogênio proveniente de adubação verde em cultura de milho. A,B – Crotalaria juncea, Latossolo Roxo; C,D – Crotalaria juncea, Podzólico Vermelho Amarelo; E,F – Mucuna preta, Latossolo Roxo; G,H - Mucuna preta, Podzólico Vermelho Amarelo.

O fato da fonte de nitrogênio orgânica vinda do adubo verde ter uma liberação constante evita desequilíbrios nutricionais o que possibilita a obtenção de plantas mais equilibradas e menos ata-cadas por pragas e doenças. Veja a seguir alguns resultados de pesquisa com adubo verde.

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Resultados.de.pesquisa.sobre.leguminosas.adubo.verde.nos.agroecossistemas incluindo cana-de-açúcar, citros, arroz e

jacarandá-mimoso

Pesquisas.com.leguminosas.adubos.verdes.em cana-de-açúcar

O Brasil é um dois maiores produtores de cana-de-açúcar do mundo, atendendo aos mercados internos e externos de açúcar, o que representa importância como geração de divisas e, substitui-ção de alguns derivados de petróleo pelo etanol nacional (Muraoka et al., 1995).

Com a expansão da cultura canavieira e incorporação de novas áreas, geralmente de baixa fertilidade para a produção de açúcar e energia renovável, é de fundamental importância recu-perar e manter a fertilidade para alcançar produções econômicas. Nesta oportunidade, os adubos verdes poderão exercer um papel de destaque como condicionadores do solo, fornecedores de nu-trientes, N no caso de leguminosas, além de exercer controle con-tra nematóides e plantas daninhas.

No estado de São Paulo, o estudo do comportamento da cana-de-açúcar em sucessão a adubos verdes foi iniciada por Car-doso (�956), que verificou um maior rendimento nesta gramínea após o cultivo de Crotalaria juncea do que após mucuna-preta. Em outras regiões testadas, as duas espécies tiveram rendimentos se-melhantes, mas sempre superiores as espécies guandu, lablabe e testemunha.

Wutke & Alvarez (�968) observaram que o resíduo de Cro-talaria juncea proporcionou aumento da produtividade da cana-de-açúcar e, para o primeiro corte, o efeito da leguminosa foi superior ao N mineral. Em estudo semelhante Caceres (�994), afirma que a adubação verde teve efeito sobre a produtividade da cana-de-açú-car apenas no primeiro corte.

Mascarenhas et al. (1998), em estudos realizados em Sa-les Oliveira (SP), mostraram que a cana, após crotalária e mucuna foram os melhores tratamentos. Outra vantagem atribuída a aduba-

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ção verde, com as espécies Crotalaria juncea e mucuna-preta, é o fato de ambas atuarem no controle de nematóides M. incógnita e M. javanica (Sharma et al. 1984).

Campos (1977) instalou ensaios demonstrativos em solos do tabuleiro do norte do estado do Rio de Janeiro, e obteve resul-tados positivos utilizando Crotalaria juncea e lablabe. Apesar do uso de ambas as leguminosas terem proporcionado aumentos nas produções de cana, o autor recomenda a C. juncea como a mais rústica, resistente às condições climáticas adversas.

O aumento de produtividade da cana-de-açúcar com a incor-poração de leguminosas ao solo ocorrem devido aos diversos bene-fício que advêm desta prática (Myasaka, �984 E Myasaka & Okamo-to, 1993), e principalmente pelos teores de nutrientes essenciais que as leguminosas contêm. Estas apresentam elevados valores de N e K2O que poderão proporcionar a total substituição da fertilização mi-neral para a cana-de-açúcar, pelo menos até o primeiro corte (Glória et al., �980 e Albuquerque et al., �980), (Quadro �).

Mascarenhas et al. (1994) estudaram um sistema de suces-são de culturas envolvendo um único cultivo das leguminosas Cro-talaria juncea, mucuna-preta e soja, e tratamentos sem legumino-sas (pousio), com ou sem a aplicação de N mineral. Em seguida, a cana-de-açúcar foi implantada e efetuados três cortes. Nos últimos cultivos, a produtividade de cana-de-açúcar após a mucuna-preta e crotalária foram semelhantes e superiores aos demais tratamentos. Na média dos três cultivos de cana-de-açúcar, as sucessões com crotalária e mucuna proporcionaram acréscimos de produtividade respectivos de 27 e 25 t/ha de cana e 3,0 e 3,2 t/ha de açúcar, quando comparados com a testemunha, sem adubo verde. Por ou-tro lado, com a aplicação de N houve aumento de somente 9,0 t/ha de cana e 1,1 t/ha de açúcar, comprovando os benefícios físicos que o pré-cultivo das leguminosas traz à cana-de-açúcar.

Com a soja não foram proporcionadas as mesmas taxas de incremento, provavelmente devido à menor capacidade de produ-ção de matéria orgânica, do que por outros adubos verdes testados.

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O sistema radicular menos vigoroso e a ineficiência no controle de nematóides podem, também, ter contribuído.

Os acréscimos médios na produtividade de cana-de-açúcar em relação aos tratamentos sem adubo verde foram de 22%, 20%, 7% e 4%, após, respectivamente, crotalária, mucuna, pousio+N e soja.

Em outro estudo de rotação de culturas, Mascarenhas et al. (1994) efetuaram cultivo na cana-de-açúcar sucedendo a dois anos de leguminosas, crotalária, mucuna e soja consecutiva ou asso-ciativamente, e dois anos de pousio com ou sem a aplicação de N mineral, com o objetivo de avaliar o efeito de dois anos de legumi-nosas no controle de nematóides, principalmente M. javanica.

Nesse ensaio, o cultivo de cana-de-açúcar, sucedendo a dois anos de crotalária, dois anos de mucuna e soja-mucuna, foi o melhor tratamento, não diferindo entre si, quando se avaliaram os rendimentos médios bianuais da cana-de-açúcar. Quando o segun-do cultivo da leguminosa foi soja, independente da espécie anterior, a produtividade da cana-de-açúcar foi menor que a dos tratamen-tos testados. Isso pode significar que o efeito da matéria orgânica produzida pela mucuna no primeiro cultivo já havia desaparecido, mesmo com o posterior cultivo da soja.

Os tratamentos soja-soja e mucuna-soja proporcionaram respostas estatisticamente semelhantes entre si e ligeiramente su-periores ao pousio-pousio + N mineral, provavelmente pela mesma causa apontada anteriormente, ou seja, a baixa produção de ma-téria orgânica da soja. A testemunha pousio-pousio foi o pior trata-mento, e os demais tratamentos apresentaram acréscimos percen-tuais de 39% (crotalária-crotalária), 33% (mucuna-mucuna), 27% (mucuna-soja), 26% (soja-soja) e 20% (pousio-pousio).

Não obstante o pequeno retorno em produção de cana para os tratamento sucedendo a soja, economicamente este leva vanta-gem devido à possibilidade de venda dos grãos, uma vez que sua produtividade de massa é pequena (Figura 2). Trabalhos mais recentes realizados na APTA/Pólo Centro Sul reafirmam que a adu-bação verde exerce um importante papel na recuperação da fer-

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tilidade do solo proporcionando aumento da capacidade de troca de cátions, disponibilidade de macro e micronutrientes; formação e estabilização de agregados; melhoria da infiltração de água e aera-ção; diminuição diuturna da amplitude de variação térmica; controle de nematóides e, no caso de leguminosas, incorporação do nutrien-te nitrogênio ao solo através da fixação biológica.

Quadro. 1. Quantidades de nutrientes deixados no solo pelas leguminosas.

Espécies N P K Ca Mg S__________________ KG HA-1______________________

Mucuna-preta 215 37 102 133 142 31Crotalaria juncea 234 35 76 78 90 46Soja 38 13 33 61 23 9

Figura.2. Análise econômica da rotação de cultivo em cana-de-açúcar (Fonte: Mascarenhas, 1994)

Observa-se do Quadro 2 o efeito das mucunas nas caracterís-ticas químicas mais importantes que ajudam a melhorar a fertilidade do solo, além da conhecida habilidade de fornecimento de nitrogênio através da FBN.

Nota-se que a presença do adubo verde provocou algumas alterações no solo que puderam ser detectadas pela análise do

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solo, sendo elas: observa-se um incremento significativo na soma de bases, devido ao aumento de cálcio e magnésio e conseqüente-mente, os tratamentos com mucuna apresentaram maiores valores de CTC. A presença de ácidos orgânicos na massa vegetal pode ser a causa dessa mudança. Observou-se, também um acréscimo significativo na acidez potencial da testemunha, sem leguminosa como adubo verde.

Quadro.2. Resultado de análise de solo coletado na profundidade de 0-20 cm na época da colheita das mucunas.

Tratamento K Ca Mg H+Al CTC SB

----mmolcdm3----

Mucuna anã 0,43 b 41,8 ab 28,0 ab 19,50 ab 89,83 ab 70,27 abMucuna Preta 0,30 b 39,0 ab 27,0 ab 18,16 b 84,65 ab 66,30 abMucuna Cinza 0,43 b 34,0 b 23,3 b 20,67 ab 78,65 b 57,76 bMucuna Verde 0,26 b 45,6 a 33,3 a 18,50 ab 97,98 a 79,26 aTestemunha 0,8 a 34,0 b 22,8 b 21,33 a 79,37 b 57,63 bC.V.% 43,79 20,86 27,56 11,83 15,76 23,29

Médias seguidas de letras distintas na vertical diferem entre si pelo teste de Duncan (p�0,05)OBS: Esses dados são de experimentação em campo – APTA/Pólo Centro Sul -Piracicaba

Com o objetivo de quantificar a produtividade da cana-de-açúcar, cultivada em sistema de rotação com leguminosas, foi ins-talado um experimento em Piracicaba, SP, em área do Pólo Re-gional Centro-Sul (DDD/APTA), durante os anos de 2000 e 2001. A rotação da cana-de-açúcar foi realizada com sete culturas, das quais seis leguminosas: amendoim Tatu, amendoim IAC-Caiapó, Crotalária júncea, mucuna-preta, soja, girassol, feijão mungo e um tratamento testemunha. Cada parcela foi constituída por 5 linhas de 10 metros de comprimento, espaçadas 1,35 metros entre si. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados com cinco repetições.

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Utilização de leguminosas anuais em sistemas agroecológicos

O Quadro 3, contém as características do solo no qual o ex-perimento foi instalado.

As leguminosas foram incorporadas ao solo com o auxilio de um triturador em meados de abril de 2001 e em seguida planta-da a cana-de-açúcar (variedade IAC-87-3396). Porém devido a um veranico prolongado, houve a necessidade de replantio da cana-de-açúcar na primeira quinzena de outubro de 2001. Após o de-senvolvimento, durante 12 meses, a cana-de-açúcar foi colhida em setembro de 2002, sendo avaliado o peso em kg de uma amostra de cana-de-açúcar contendo 10 colmos de cana e sua produtivida-de em Mg ha-1.

Quadro.3..Características do solo de instalação do experimento. Pólo Regional Centro-Sul (DDD/APTA), Piracicaba – SP.2000 – 2001.(médias dos tratamentos)

Mo pH P K Ca Mg H+Al SB CTC Vg dm-3 CaCl2 Mg dm-3 ---- mmolc dm-3 ------- %

Solo sem adubo verde

1* 17 5 9 0,4 17 11 34 28,4 62,7 452 17 4,7 4 0,3 15 7 42 22,3 64,6 35

Solo com adubo verde

1 21 5,6 12 0,2 32 20 22 52,2 74,7 702 17 5,2 7 0,7 22 15 31 37,7 68,5 55

*Profundidade de amostragem 1= 0-20 cm e 2= 20-40 cm

A produtividade do material vegetal (verde e seco) e de grãos das culturas utilizadas em rotação com cana-de-açúcar também fo-ram avaliadas.

No Quadro 4 são apresentadas as produtividades do material vegetal (verde e seco) e de grãos e porcentagem de infecção por FMVA das culturas utilizadas em rotação com cana-de-açúcar.

Pode-se observar no Quadro 4 e Figura 3, em relação a pre-sença de micorrizas nas raízes, uma maior porcentagem (72%)

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Edmilson José Ambrosano et al.

encontradas nas raízes do tratamento 2 (amendoim IAC-Caiapó) seguido do tratamento 7 (girassol – IAC Uruguai).

Quanto a produção de massa seca, no total da soma da parte aérea com a raiz, observa-se a maior produção do girassol IAC -Uruguai (15.100 Mg ha-1), seguida da Crotalária juncea ( �0.542 Mg ha-1 ). Já a produção de grãos alimentícios foi maior no tratamento 6 (soja IAC-17), 1.805 Mg ha-1 .

Pelo Quadro 5, observa-se que os melhores resultados de pro-dutividade da cana-de-açúcar ocorreram após rotação com: girassol IAC-Uruguai (138,9 Mg ha-1), amendoim IAC- caiapó (135,1 Mg ha-1), soja IAC-17 (135 Mg ha-1) e Crotalária juncea (�3�,72 Mg ha-1).

Quadro. 4. Produtividade de material vegetal verde e seco bem como a produtividade de grãos de culturas utilizadas em sistema de rotação com cana-de-açucar. IAC/APTA. Piracicaba. 2002.

Trat. Micorrizas M verde (Mg ha-1) M seca M verde M seca Produção% PA PA RA RA Mg ha-1

1* 62 2.370 1.609 33 12 1.2872 72 7.165 1.905 51 21 1.1924 49 17.960 6.231 1.133 4.311 -5 62 20.160 5.247 321 69 -6 57 15.532 5.436 156 78 1.8057 70 21.090 14.404 1.924 696 -8 55 9.340 4.920 509 255 966

*�=amendoim Tatu, 2=amendoim IAC-Caiapó, 4=Crotalária júncea, 5=mucuna-preta, 6=soja, 7=girassol, 8=feijão mungo e um tratamento 3=testemunha

No Quadro 5 são apresentados o peso (kg), de amostras de cana-de-açúcar e sua produtividade em Mg ha-1.

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Utilização de leguminosas anuais em sistemas agroecológicos

Quadro.5. Dados referentes ao peso em kg de uma amostra de cana-de-açúcar contendo 15 colmos de cana e produtividade em Mg ha-1. IAC/APTA. Piracicaba. 2002.

Tratamentos kg/amostra ProduçãoMg ha-1

Amendoim Tatu 17,5 B 121,1 BAmendoim IAC-Caiapó 19,6 AB 135,1 ABTestemunha sem adubo verde 13,8 C 95,2 CCrotalária júncea 19,1 AB 131,7 ABMucuna-preta 17,7 B 122,5 BSoja IAC-17 19,6 AB 135,0 ABGirassol IAC- Uruguai 20,2 A 138,9 AFeijão Mungo ( M146) 17,8 B 123,1 BC.V (%) 8,63 8,68

Obs: Médias seguidas de mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste Duncan a 5% de probabilidade.

Figura.3. Percentagem de infecção natural das raízes por micorrizas das espécies utilizadas em rotação com cana-de-açúcar

Os resultados obtidos da cana planta indicam um incremento de produtividade na cana-de-açúcar quando se faz a rotação com girassol IAC-Uruguai, soja IAC-17, amendoim IAC-Caiapó e Crota-lária juncea. Há uma grande evidência de que as relações micro-biológicas possa estar afetando positivamente o desempenho da cana-de-açúcar nessa rotação.

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Edmilson José Ambrosano et al.

Isso também fica evidente com o comportamento dos insetos pragas e a Figura 4 apresenta os dados de colmos infestados com broca da cana-de-açúcar, onde o tratamento com crotalária júncea apresenta o menor índice de infestação.

Figura.4. Índice de infestação média de Diatraea saccharalis (broca da cana-de-açúcar) em colmos de cana submetidas a rotação com leguminosas em áreas de reforma

A prática da adubação verde com leguminosas na cultura da cana-de-açúcar é recomendada durante a reforma do canavial (Cardoso, 1956), proporcionando as seguintes vantagens: não im-plica na perda de um ano agrícola; não interfere na germinação da cana; apresenta custos relativamente baixos; promove aumentos significativos nas produções de cana e de açúcar em pelo menos dois cortes; protege o solo contra a erosão e evita a multiplicação de plantas daninhas.

Figura.5. Número de nematóides do gênero pratylenchus amostrados em 10g de raízes da cana-de-açúcar (variedade IAC-87-3396) nos diferentes tratamentos

de rotação com leguminosas.

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Utilização de leguminosas anuais em sistemas agroecológicos

Nota-se da Figura 5 a tamanha especificidade das interações microbiológicas que ocorrem nos agroecossistemas. Pode-se ob-servar que a Crotalária júncea apresentou comportamento seme-lhante a testemunha, sem a presença de adubo verde e isso se explica pelo fato dessa planta ser muito eficiente no controle de nematóides formadores de galhas e ter pouca ou nenhuma efici-ência no controle do pratylenchus. A mucuna-preta apresentou um controle intermediário contudo as espécies de amendoim, tanto o IAC Tatu, como o IAC Caiapó, apresentaram um controle muito efi-ciente que aliado ao fato de apresentarem muita interação com as micorrizas acarretou um bom incremento de produtividade da cana-de-açúcar (Quadro 5).

Diversas leguminosas podem ser usadas na adubação verde, sendo a definição da espécie condicionada a adaptação local, à produção de massa verde, ao preço e a facilidade da obtenção de sementes.

Na Região Centro-Sul do país, as leguminosas mais empre-gadas são: Crotalaria juncea, mucuna-preta, soja e amendoim. No Nordeste, a mucuna-preta tem merecido especial atenção.

Outro sistema de cultivo utilizado na cana-de-açúcar é o cul-tivo intercalar, segundo Romanini, citado por Lombardi & Carvalho, 1981. As culturas mais freqüentes são feijão, soja e amendoim, por aumentarem o excedente econômico do produtor sem alterarem significativamente a produtividade da cana-de-açúcar. Em geral, as não-leguminosas têm um efeito competitivo, o que pode diminuir a produtividade da cana-de-açúcar.

Esse sistema difere do uso de leguminosas para a adubação verde, pois, nesse caso, o retorno econômico aparece no aumento da produtividade da cana e açúcar, bem como na economia de N mineral.

Com a rotação cana-soja, nas áreas de reforma do canavial, a semeadura da soja é efetuada em outubro, permanecendo na área até fevereiro, mantendo uma cobertura num período crítico de muita chuva. A receita da soja cobre praticamente 60% dos custos

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Edmilson José Ambrosano et al.

de produção da cana, além de dispensar a adubação nitrogenada na cana-planta.

Antes de efetuar o plantio da leguminosa, devemos lembrar de verificar se o controle de ervas foi efetuado com herbicidas, pois muitos produtos usados recentemente podem ser prejudiciais às leguminosas.

Verificar, também, a necessidade de correção de alguns ele-mentos do solo através da análise química, pois as leguminosas são exigentes em P, Ca e Mg, além de serem pouco tolerantes à acidez do solo.

A leguminosa adubo verde deve ser incorporada quando 50% das plantas apresentarem florescimento, e recomenda-se o plantio da cana-de-açúcar 20 dias após esta operação.

Com relação a eficiência de utilização do nitrogênio deriva-do do adubo verde, Ambrosano et. al., 2003 e 2004, desenvolveram um estudo onde a Crotalária júncea foi marcada com 15N, em um ensaio conduzido diretamente no campo, e determinaram que o nitrogênio derivado do adubo verde é utilizado de forma constante e variando conforme a presença de umidade no solo e parte da planta observada.

As maiores porcentagens de Nitrogênio na Planta Provenien-te da Fonte marcada (NPPF %) foram encontradas após 8 meses de plantio da cana para os tratamentos com adubo verde sem N-mi-neral e adubo verde com N-mineral e foram respectivamente 15,31 e �8,36% (Figura 6 e Quadro 6)

A maior recuperação do nitrogênio foi encontrada na colheita, 18 meses após o plantio sendo que o tratamento N-mineral apre-sentou 34,8% e na soma N-mineral mais N-crotalária apresentou 39,9% (Quadro 6)

Os tratamentos alteraram significativamente atributos do solo promovendo aumento nos teores de Ca e Mg, Soma de Bases e Saturação de Bases com declínio na acidez potencial (Quadro 7). Na cana-de-açúcar parte aérea, aumentando teores de Ca e K (Quadro 8).

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Utilização de leguminosas anuais em sistemas agroecológicos

Quadro.6. Nitrogênio na planta proveniente da fonte marcada do fertilizante (NPPF%), quantidade de nitrogênio na planta provenien-te da fonte marcada (QNPPF em g kg-1e kg ha-1) e recuperação do nitrogênio (R em %) em função do nitrogênio aplicado nas diferen-tes amostragens.

Tratamentos NPPF QNPPF R% kg ha-1 %

---------------Amostragem 1 (29 de outubro de 2001)------------Sem adubo verde com N

mineral* 4.98 B 1.85 B 2.64 A

Com adubo verde* e com N mineral 18.36 A 11.21 A 5.72 A

Com adubo verde* e sem N mineral 15.31 A 6.91 AB 3.53 A

Com adubo verde e com N mineral* 7.24 AB 3.56 AB 5.09 A

C.V. % 25.55 48.00 54.03----------------Amostragem 2 (20 de fevereiro de 2002)---------------

Sem adubo verde com N mineral* 13.09 A 14.63 A 20.89 AB

Com adubo verde* e com N mineral 13.51 A 16.34 A 8.34 BC

Com adubo verde* e sem N mineral 10.70 A 12.24 A 6.25 C

Com adubo verde e com N mineral* 15.13 A 24.53 A 35.05 A

C.V. % 18.06 55.72 20.57------------------Amostragem 3 (28 de maio de 2002)-------------------

Sem adubo verde com N mineral* 12.03 A 16.11 A 23.01 A

Com adubo verde* e com N mineral 8.09 B 11.08 A 5.66 B

Com adubo verde* e sem N mineral 7.58 B 10.73 A 5.47 B

Com adubo verde e com N mineral* 13.20 A 21.65 A 30.93 A

C.V. % 33.97 35.44 21.06----------------Amostragem 3 colmos (28 de maio de 2002)------------------

Sem adubo verde com N mineral* 14.84 A 4.16 A 5.94 A

Com adubo verde* e com N mineral 4.02 B 0.94 B 0.48 B

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Tratamentos NPPF QNPPF R% kg ha-1 %

----------------Amostragem 3 colmos (28 de maio de 2002)------------------Com adubo verde* e sem N

mineral 3.24 B 0.79 B 0.41 B

Com adubo verde e com N mineral* 10.82 A 3.87 A 5.52 A

C.V. % 24.97 38.06 21.34-----------------Amostragem 4 colmos (24 de agosto de 2002)-----------------Sem adubo verde com N

mineral* 10.46 A 24.06 A 34.38 A

Com adubo verde* e com N mineral 6.99 A 19.29 A 9.85 B

Com adubo verde* e sem N mineral 8.17 A 17.27 A 8.82 B

Com adubo verde e com N mineral* 10.32 A 21.06 A 30.08 A

C.V. % 39.42 42.84 22,80

Médias seguidas de letras distintas na vertical em cada época de amostragem, diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05) *Fonte de N marcada com �5N

05

1015202530

amostra1 amostra 2 amostra 3 amostra 3C amostra 4C

Épocas.de.Amostragem

NPP

F.%

Sem AV + N* Com AV* + N

Com AV* - N Com AV + N*

Figura.6. NPPF% (Nitrogênio na Planta Proveniente da Fonte marcada*) nas diferentes amostragens. OBS: 3C e 4C se referem as observações feitas no colmo da cana-de-açúcar

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Utilização de leguminosas anuais em sistemas agroecológicos

No Quadro 6 são apresentados os resultados de nitrogênio na planta proveniente da fonte marcada do fertilizante (NPPF %), quantidade de nitrogênio na planta proveniente da fonte marcada (QNPPF em kg ha-�) e a recuperação do nitrogênio (R em %) em função do nitrogênio aplicado nas diferentes amostragens. Obser-va-se na primeira época de amostragem uma tendência clara de estar havendo um sinergismo para as fontes de nitrogênio quando aplicadas juntas (Figura 6).

Observa-se também que três meses antes da colheita (amos-tra 3, colmos) a percentagem de nitrogênio na planta proveniente da fonte orgânica nos colmos da cana-de-açúcar foram baixas, me-nores que 5% e na época da colheita ela aumentou para aproxima-damente 10%. Essa característica foi observada com menor inten-sidade nas épocas intermediárias de amostragem. Essa tendência porém não foi confirmada pela análise estatística, como pode-se observar na Quadro 6; entretanto, na primeira época de amostra-gem, (8 meses após plantio), essas diferenças foram detectadas pela análise estatística mostrando claramente maior porcentagem de nitrogênio na cana-de-açúcar proveniente da fonte orgânica de nitrogênio.

Resultados semelhantes foram obtidos por Muraoka et al. (2001) utilizando uma fonte orgânica aplicada ou não juntamente com fonte mineral. Foram utilizadas duas leguminosas, Mucuna-preta e Crotalária júncea e duas doses de N mineral, 40 e 80 kg de N/ha na forma de uréia e concluíram os autores que os adubos verdes proporcionaram melhor uso do N mineral, sobretudo nas aplicações em cobertura, resultando em eficiência de utilização do N-fonte de até 79%.

A maior percentagem de nitrogênio na cana-de-açúcar pro-veniente da Crotalária Júncea na primeira amostragem, pode in-dicar que na condição de baixa disponibilidade hídrica em que foi submetida a cultura, o nitrogênio foi garantido pela fonte orgânica, uma vez que esse valor foi cerca de cinco vezes maior ao da fonte mineral (Figura 6).

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Esse fato não refletiu na recuperação do nitrogênio, uma vez que na primeira amostragem não se observou diferença da fonte de nitrogênio na porcentagem de N recuperado pela cana-de-açúcar (Quadro 6). Nas amostragens posteriores a recuperação foi maior para os tratamentos com N-mineral. Na colheita a recuperação to-tal (N-Adubo verde + N-mineral) foi de 39,93 % (Quadro 6) .

Com relação ao nitrogênio recuperado pela cana-de-açúcar, apesar de os valores mostrarem-se um tanto baixo, em torno de 30% para o N-mineral e 9% para o N-orgânico, estes estão de acor-do com os resultados da literatura Trivelin et al. (1995) e (1996) encontraram valores semelhantes, entre 19 a 43% com fertilizan-tes minerais Aquamônia e Uréia em soqueira de inicio e de final de safra. Segundo os autores para a cana-de-açúcar, uma grande parcela do N acumulado pode ter origem na fixação biológica do nitrogênio e do N mineralizado no solo (N nativo).

Outro destaque importante que se pode dar aos resultados do Quadro 6 e Figura 6 é que nas épocas intermediárias de amos-tragem houve uma tendência de inversão dos resultados da pri-meira amostragem, devido à ocorrência de maior disponibilidade hídrica.

Na colheita final não se observou diferença entre as fontes de nitrogênio o que pode estar indicando, independente da forma de N aplicada, que a percentagem de N na cana-de-açúcar proveniente das duas fontes foram semelhantes, isto é, apresentaram a mesma utilização pela cultura. Em adição pode-se dizer que quando se efe-tua a adubação verde, em proporções semelhantes às do presente estudo, pode-se suprimir a fertilização mineral nitrogenada de co-bertura em cana-planta.

As diferenças entre as quantidades de nitrogênio na cana-de-açúcar provenientes das fontes marcadas (Quadro 6) foram mais pronunciadas e diferentes na primeira amostragem, onde a Crotalá-ria júncea forneceu maior quantidade de nitrogênio para a cultura. Não houve diferença entre o fornecimento de nitrogênio da Crotalá-ria júncea complementada ou não com N mineral. Verificou-se, ain-

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Utilização de leguminosas anuais em sistemas agroecológicos

da, queda na recuperação de nitrogênio mineral, em comparação ao nitrogênio da Crotalária.

Na última amostragem as diferenças entre tratamentos no NPPF desapareceram, e se observa nitidamente uma crescente diluição do N-fontes na planta de cana-de-açúcar que cresce ra-pidamente. Outro fator que deve estar contribuindo com esses re-sultados observados na primeira época de amostragem pode ser a conservação da umidade nos tratamentos com adubo verde e esta umidade estar favorecendo atividade microbiológica, o crescimento da cana-de-açúcar e o melhor aproveitamento do nitrogênio, con-tudo não foram feitas medidas da umidade a fim de dar suporte a estas inferências.

Quadro.7. Caracterização química do solo (profundidade de 0-20 cm) na época do plantio e da colheita da cana-de-açúcar

Amostragem de solo feita na época de plantio da cana-de-açúcarTratamento pH Ca Mg H+Al SB V

CaCl2 ------------------mmolc/dm3------------------- ----- % -----Testemunha 5,1 ab 20,5 ab 14,5 ab 37,8 a 35,4 ab 48,2 a

S.A.-15N 4,7 b 15,8 b 9,8 b 47,0 a 25,9 b 36,0 aC.J. -15N +

S.A. 5,3 a 24,8 a 17,8 a 32,0 a 42,8 a 55,8 a

C.J.-15N 5,0 ab 18,0 ab 13,0 ab 39,0 a 31,4 ab 44,5 aMédia 5,0 19,8 13,8 39,0 33,9 46,1C.V.% 5,12 7,55 10,76 20,77 6,81 22,52

Amostragem de solo feita na época de colheita da cana-de-açúcarTestemunha 5,0 ab 17,8 a 14,0 ab 39,8 ab 32,2 a 44,5 ab

S.A.-15N 4,7 b 15,3 a 9,8 b 46,5 a 25,4 a 35,8 bC.J. -15N +

S.A. 5,6 a 24,7 a 26,8 a 25,5 b 44,4 a 67,5 a

C.J.-15N 5,0 ab 19,0 a 15,3 ab 36,3 ab 34,5 a 48,5 abMédia 5,0 18,0 16,4 37,0 33,5 49,1C.V.% 8,00 30,88 15,18 25,87 32,45 29,57

Médias seguidas de letras distintas na vertical em cada época de amostragem, diferem pelo teste de Tukey (P�0,05)

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Edmilson José Ambrosano et al.

Quadro.8..Teores de N, K, P, Ca, Zn e B em colmos de cana-de-açúcar na época da colheita

Tratamento N K P Ca Zn BTeores determinados em colmos de cana-de-açúcar na colheita

---------------g kg-1---------------- --mg kg-1--Testemunha 7,2 a 3,3 b 0,8 a 1,6 b 10,9 a 12,1 a

S.A.-15N 8,1 a 6,7 a 0,9 a 1,7 b 15,3 a 14,9 aC.J.-15N 7,7 a 7,1 a 0,9 a 1,8 b 13,3 a 14,8 a

C.J. -15N + S.A. 8,8 a 8,5 a 1,0 a 2,4 a 13,7 a 15,4 aMédia 8,0 6,4 0,9 1,88 13,3 14,3C.V.% 11,52 27,89 15,61 8,14 19,80 18,00

Médias seguidas de letras distintas na vertical em cada época de amostragem, diferem pelo teste de Tukey (P�0,05)

Experiência de Piracicaba com cana-de-açúcar orgânicaO presente estudo visa encontrar alternativas que viabilizem

a obtenção de tecnologia para produção agroecológica de cana-de-açúcar, tornando possível a certificação ecológica do produto final.

Instalou-se o experimento em Piracicaba, SP, em área do Pólo Regional Centro-Sul (DDD/APTA), de junho de 2000 a outubro de 2001. constando de seis tratamentos: (1-Testemunha, 2-conven-cional, 3-composto orgânico, 4-composto biodinâmico, 5-torta de filtro e 6-adubo verde), com delineamento em blocos casualizados e seis repetições, totalizando 36 parcelas , tendo cada parcela 5 linhas de 10 metros de comprimento, com espaçamento de 1,35m entre si. Antes do plantio da cana-de-açúcar (variedade RB72-454), os tratamentos de 2 a 6 foram cultivados com adubo verde, tre-moço branco (Lupinus albus), roçado no momento do plantio da cana-de-açúcar. Nos tratamentos 3,4,5,6, foi plantado mucuna-anã (Mucuna deeringiana) nas entrelinhas do cultivo da cana-de-açú-car, cana-planta.

No Quadro 9 são apresentados os dados de rendimento do tremoço (ton/ha), nos tratamentos de 2 a 6 do presente estudo.

Observa-se pelos dados data que houve diferenças no rendi-

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Utilização de leguminosas anuais em sistemas agroecológicos

mento (ton/ha) do tremoço entre as parcelas, sendo que a parcela referente ao tratamento 2 apresentou o maior rendimento (5,6 ton/ha), apesar de não ter sido realizada qualquer tipo de adubação no plantio deste adubo verde. Quadro.9. Resultados dos pesos das parcelas experimentais (ton/ha) de tremoço branco. Pólo Regional Centro-Sul (DDD/APTA). Pi-racicaba – SP, junho de 2000 a outubro de 2001.

Tratamento Bloco I Bloco II Bloco III Bloco IV Bloco V Média--------- ton/ha -------

1(Testemunha)2(Convencional) 4,00 1,50 2,40 2,70 3,40 5,60

3(Orgânico) 2,00 4,20 2,70 3,50 2,70 3,004(Biodinâmico) 2,70 2,30 2,60 3,00 2,70 2,705(Torta de filtro) 2,60 4,20 3,10 3,60 2,80 2,886(Adubo verde) 5,30 3,10 3,10 3,60 2,80 3,58

Média 3,32 3,06 2,78 3,28 2,88

A soqueira da cana-de-açúcar foi colhida em setembro na safra 2001/2002 sendo que os dados de altura e diâmetro do colmo podem ser observadas no Quadro �0.

Pelos dados do Quadro �0 observa-se uma diferença signi-ficativa na altura da cana-de-açúcar soca sendo que o tratamento 3 apresentou a menor altura de plantas e os tratamentos convencio-nal e testemunha com as maiores alturas. Não se observou diferen-ças significativas entre o diâmetro dos colmos da cana-soca.

Os resultados de rendimento (ton/ha) da cana-de-açúcar, cana planta e soqueira nos diferentes tratamentos, podem ser ob-servados no Quadro ��.

Os melhores rendimentos na cana planta foram observados nos tratamentos convencional e testemunha, os quais apresentaram um rendimento de 93,8 e 70,4 toneladas/hectare respectivamente.Quadro.10. Dados de diâmetro do colmo em mm e altura de plantas em m nos diferentes tratamentos (Média de 15 colmos). Pólo Re-gional Centro-Sul (DDD/APTA). Piracicaba – SP, safras 2000/2001 e 2001/2002.

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Tratamentos Diâmetro (mm) Altura (m)Soqueira

1(Testemunha) 26,38 A 2,72 A2(Convencional) 26,75 A 2,74 A3( Composto Orgânico) 27,03 A 2,29 B4( Composto Biodinâmico) 27,53 A 2,55 AB5(Torta de Filtro) 27,23 A 3,39 AB6(Adubo verde) 27,02 A 2,58 ABC.V.(%) 4,00 9,90

Médias seguidas de letras distintas na vertical diferem entre si pelo teste de Duncan (p�0,05)

Os tratamentos utilizando compostos orgânicos alcançaram em média 65,6 toneladas/hectare. O desenvolvimento da mucuna-anã plantada nas entrelinhas dos tratamentos (3,4,5 e 6) logo após o plantio da cana-de-açúcar (cana-planta), ocasionou uma con-corrência dessa leguminosa com a cana-de-açúcar, provocando um lento desenvolvimento inicial e prejudicando o perfilhamento da cana-de-açúcar, não permitindo que esta se desenvolvesse com o seu máximo potencial, interferindo nos resultados finais de rendi-mento da cana planta. Contudo a cultura da cana-de-açúcar deve ser encarada como um cultivo perene e nesse caso a adubação verde feita pela mucuna-anã deve ter provocado o incremento de produtividade na soqueira fazendo com que as diferenças observa-das da cana-planta desaparecesse.

Quadro.11. Rendimento de cana-de-açúcar, cana planta e soquei-ra, em toneladas/hectare nos diferentes tratamentos. Pólo Regio-nal Centro-Sul (DDD/APTA). Piracicaba – SP, safras 2000/2001 e 2001/2002.

Tratamentos Rendimento (ton/ha)Cana planta Soqueira

1(Testemunha) 70,4 B 147,43 A2(Convencional) 93,8 A 146,41 A3( Composto Orgânico) 66,4 B 146,28 A4( Composto Biodinâmico) 62,7 B 154,22 A5(Torta de Filtro) 67,7 B 145,84 A6(Adubo verde) 52,4 C 165,83 AC.V.(%) 8,67 11,31

Médias seguidas de letras distintas na vertical diferem entre si pelo teste de Duncan (p�0,05)

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Utilização de leguminosas anuais em sistemas agroecológicos

Os resultados de rendimento de cana-de-açúcar (toneladas/hectare), referentes a cana-planta, demonstram que os tratamentos nos quais não se plantou a leguminosa (mucuna-anã) nas entreli-nhas, apresentaram os maiores rendimentos , devido ao melhor desenvolvimento da cana-de-açúcar que não sofreu concorrência da leguminosa em sua fase inicial de crescimento, porém o efeito benéfico dessa prática foi sentido com incremento de produtividade na soqueira. Aconselha-se a semeadura racional desta leguminosa nas entrelinhas de cana-de-açúcar, em sua fase inicial de desenvol-vimento para não causar concorrência com a cana-de-açúcar uma vez que essa pratica se mostrou altamente benéfica.

Pesquisas.com.leguminosas.adubos.verdes.em.citrosNo Estado de São Paulo, também chamado “Pomar do Mun-

do”, grandes áreas são ocupadas com laranja sendo plantados cerca de 670 mil hectares que produzem mais de 15 milhões de toneladas que são em grande parte exportados e ajudam no su-perávit da balança comercial Brasileira. Não obstante se observa uma retração na área plantada e a necessidade de melhorar cada vez mais a produtividade dos pomares com menor custo e foi pen-sando nessa redução de custo que a prática da adubação verde pode colaborar com o agricultor garantindo a redução dos insumos importados como fertilizantes e herbicidas.

Uso.adequado.dos.adubos.verdes.em.citrosNa atualidade ocorre uma tendência mundial da busca de ali-

mentos saudáveis, provenientes de uma agricultura feita com práti-cas agrícolas que produzam a mínima degradação ambiental.

Neste contexto e buscando reduzir os custos de produção, a utilização de adubação verde ou seus princípios devem ser incre-mentados no Brasil, da mesma forma que os trabalhos científicos mostram os efeitos benéficos desta prática milenar na agricultura.

Os efeitos benéficos da adubação verde são observados quando ocorre freqüência de sua aplicação e podem ser destacados:

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Ciclagem.de.nutrientes A prática da adubação verde permite uma maior ciclagem

de nutrientes para as camadas mais superficiais do solo o que é importante para a cultura de citros.

Na cultura de citros o emprego de adubos verdes intercalares contribui para a redução da aplicação de nitrogênio mineral, sendo a Crotalária juncea o mais indicado para pomares em formação.

Observa-se da Quadro �2 as quantidades médias de nutrien-tes que são incorporadas aos solos.

Apesar de não ter sido observado alteração significativa da produção de frutos pela diminuição da adubação nitrogenada, os tratamentos com crotalária e guandu apresentaram as maiores pro-duções, veja detalhes na Quadro �4.

A adubação verde também reduz a incidência de plantas da-ninhas e incrementa a reciclagem de nutrientes em pomares de citros.

Quadro.12. Quantidade média de nutrientes incorporados ao solo pelas leguminosas após quatro anos de semeadura intercalar ao citros.

Tratamentos Macronutrientes Micronutrientes N P2O5 K2O Ca Mg S B Cu Fe Mn Zn

----------------kg ha-1----------------- ---------------g ha-1---------------C. júncea 183,4 39,2 204,4 104,8 52,4 13,1 236 92 4.153 721 275C. spectabilis 44,3 10,2 56,1 38,4 9,8 3,4 74 30 561 170 64Guandu 143,6 29,9 131,3 54,7 20,5 9,6 157 82 3.119 506 144Mucuna preta 85,6 18,8 72,6 39,2 14,2 6,4 93 64 8.095 612 103Mucuna anã 91,0 15,3 54,6 31,5 14,0 7,0 91 74 5.768 714 105Labe labe 67,4 19,2 69,3 41,7 19,3 7,1 93 32 4.565 578 100Feijão de porco 169,4 30,6 137,9 108,9 30,3 10,9 169 42 4.005 780 133

Obs: Quantidade de nutrientes considerando plantio em área total, para área de citros utili-zada, considerar 50% dos valores..Silva, 1995.

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Efeitos.químicos.no.soloA fertilidade do solo é bastante influenciada pelos efeitos dos

adubos verdes, tais como: aumento do teor de matéria orgânica do solo ao longo dos cultivos, pela adição da fitomassa.

Atua na redução do alumínio e acidez potencial proporcio-nando um incremento da saturação por base do solo.

Observa-se da Quadro �3 o efeito da adubação verde sobre a redução do H+Al o que acarreta um significativo aumento do pH e na saturação por bases do solo na área de projeção da copa de citros. Os resultados são claros em mostrar o efeito benéfico na redução da acidez potencial nos tratamentos com utilização de adubos verdes.

Efeitos.físicos.no.solo A prática da adubação verde proporciona aumento na porosi-

dade total do solo, influenciando principalmente, na macroporosida-de e redução na densidade do solo. Como conseqüência observa-se um aumento da capacidade de armazenamento de água no solo.

Quadro.13. Resultado das análises químicas de solo na projeção da copa de citros, nos anos agrícolas de 90/91, 91/92 e 92/93.

ElementoAnalisado Tratamento

H+Almmolcdm-3

Ano NPK 2NPK Crotalária Júncea Guandú Mucuna

PretaMucuna

anãFeijão de

Porco90/91 42ab 49a 34b 37ab 40ab 38ab 43ab91/92 60ab 70a 40c 43c 42c 42c 47bc92/93 56ab 68a 40c 37c 42bc 40c 50bcC.V.% 19,09

Médias seguidas por letras distintas na horizontal, não diferem estatisticamente pelo teste de tukey (p<0,05) Silva, �995.

Efeitos.biológicos. A utilização da adubação verde, segundo Silva et al. 1999,

pode vir a constituir num dos métodos mais baratos no controle de nematóides, principalmente Meloidogyne, desde que se escolha as

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espécies adequadas de plantas no sistema. Algumas espécies con-tribuem para o incremento populacional enquanto outras como as crotalárias, mucunas e guandu, reduzem sua população no solo.

O manejo associado com vegetação espontânea roçadas por todo ano e com uso do feijão-de-porco plantado nas águas e roçado na seca, apresentaram os melhores graus de colonização radicular por fungos MAs, quando comparados aos métodos me-cânicos de controle do mato, por criar condições mais favoráveis, no solo, para a permanência e multiplicação desse fungos. Destes, o manejo da leguminosa nas ruas da cultura apresentou o maior grau de colonização radicular em relação à vegetação espontânea (Carvalho et al. 1995).

Adubação.verde.em.citros Trabalhos clássicos conduzidos por Rodrigues (�957 e

1969), citados por Neves (1998), mostram que o uso contínuo da adubação verde e cobertura morta propiciou aumentos significati-vos na produtividade de citros, quando comparados com práticas como gradagens, herbicidas e arações.

Quadro.14. Produção de Frutos de Laranja Pêra (MG ha-1) em Po-mar com Diferentes Cultivos Intercalares.

Tratamentos Produção de frutos, em Mg ha-1

90/91 91/92 92/93 MédiaNPK 2,34 15,11 18,80 12,08a2N, PK 3,19 14,60 19,99 12,59aCrotalaria juncea 3,85 19,09 21,81 14,92aCrotalaria spectabilis 1,60 13,68 16,66 10,65aGuandu 3,08 18,12 23,02 14,74aMucuna-preta 3,49 18,80 19,63 13,97aMucuna-anã 2,59 17,49 19,08 13,05aLablabe 2,14 14,82 17,57 11,51aFeijão-de-porco 1,68 13,84 18,18 11,22a

Médias seguidas por letras distintas não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey (p�0,05). Silva, 1995.

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Utilização de leguminosas anuais em sistemas agroecológicos

O Quadro �4, extraído de Silva et al �999, nos dão uma visão clara do potencial da adubação verde e da possibilidade de redução da adubação química sem prejuízo na produtividade de laranja Pêra.

Manejo.dos.adubos.verdes A semeadura dos adubos verdes em pomares novos pode ser

realizado com auxilio de grade leve, pois as raízes dos citros ainda não atingiram a área intercalar, mas em plantas adultas essa práti-ca poderá ser prejudicial. Sempre que possível adote técnicas como o escarificador para quebrar camadas mais compactadas e remover plantas daninhas ou plantio direto. O capricho na época de semeadura irá garantir o stand ideal e o melhor crescimento das plantas.

Geralmente não se deve adubar os adubos verdes a não ser para corrigir alguma deficiência ou se faz parte do manejo da adu-bação dos citros.

O Quadro �5 apresenta um guia para a implantação ideal das leguminosas adubos verdes no cultivo intercalar dos citros

Recomendações baseadas no peso de 1000 sementes e adaptados para citros.

Quadro.15. Densidade de sementes e espaçamentos das legumi-nosas mais utilizadas em sistemas de produção com citros.

Espécies Sementes Densidade Espaçamento Semear Cortar(kg/ha) (sem./m. linear) entre linhas (m) meses meses

Crotalaria júncea 30 25 0,5 9/12 3/4 Crotalaria spectabilis 15 38 0,5 9/12 3/4 Cajanus cajan – Guandu 50 17 0,5 9/12 4/5 Cajanus cajan – Guandu anão 25 20 0,5 9/12 3/4 Mucuna aterrima - M. preta 65 4 0,5 9/12 4/5Mucuna deeringiana – M.anã 80 8 0,5 9/12 3/4Dolichos labe-labe –Lablabe 60 13 0,5 9/12 3/4

Canavalia ensiformis – Feijão de Porco 100 5 0,5 9/12 3/4

Milheto Africano 15 70 0,3 9/12 3/4 Nabo forrageiro 15 30 0,3 3/5 7/8

Recomendações baseadas no peso de 1000 sementes e adaptados para citros. SILVA (1995)

A época ideal para o corte dos adubos verdes é quando es-tiverem em pleno florescimento, por apresentarem maiores teores de nutrientes na parte aérea e relação C/N baixa, devendo o mate-rial ficar sobre a superfície do solo protegendo-o.

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Sistemas.recomendados A semeadura dos adubos verdes nos pomares novos ou

áreas de renovação ou implantação admitem semeadura em área total, obtendo-se assim maior produção de biomassa e proteção do solo sendo que as mudas de citros podem ser plantadas em área manejada ou intercalar ao adubo verde. A sugestão para esse sis-tema é utilizar ou feijão guandu ou crotalária júncea semeadas en-tre setembro-dezembro (ideal outubro-novembro). O feijão guandu pode permanecer na área por mais de um ano e procedendo desta forma pode-se optar por semear rua sim, rua não, para facilitar os tratos culturais no citros.

Em caso de semeadura intercalar em pomares já instala-dos porém em fase de formação pode-se utilizar adubos verdes de verão, Crotalária júncea ou feijão guandu, no sistema rua sim, rua não até o quarto ano ou se optar por uma planta de porte menor (feijão guandu anão, Crotalária breviflora, feijão-de-porco ou labla-be pode-se semear em todas as ruas.

Para pomares em produção a melhor opção é feita por plan-tas de baixo porte e de preferência utilizando se de práticas de cul-tivo mínimo como plantio direto na palha para não provocar danos nas raízes de citros que nessa idade já invadiram a área central das ruas. Nesse caso pode-se semear em todas as ruas e os tratos culturais do citros sendo feito sem dificuldades com os implementos passando por sobre as leguminosas. Vale ressaltar que para poma-res mais velhos e mais fechados o feijão-de-porco tem se adaptado muito bem nessas condições. O manejo nesse caso deve ser feito com as plantas em pleno florescimento que pode ser feito entre abril e maio, liberando o pomar para os meses de déficit hídrico, lembrando que a filosofia desse manejo é máxima produção de bio-massa no verão e cobertura morta no inverno.

O manejo de plantas de cobertura no inverno também pode ser pensado para citros sendo que os melhores resultados foram obtidos com a utilização de nabo forrageiro plantado de março a maio com grandes benefícios para promover descompactação do

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solo e com intensa produção de flores que abrigam e alimentam inimigos naturais para o equilíbrio biológico de pragas e doenças nos pomares. Outra opção interessante é o uso de mistura de plan-tas de cobertura os chamados coquetéis que tem sido preferido principalmente pelos produtores orgânicos, observe a Figura 7 para melhor compreender esse sistema.

Ago. Set. Out Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. JulEspécies espontâneas

Leguminosas e ou coquetel de verão

Nabo forrageiro e ou coquetel de inverno

Figura 7. Esquema de manejo de sistemas de adubos verdes em Citros

Considerações finaisDiante das informações apresentadas pode-se recomendar a

prática da adubação verde em citros, principalmente nas áreas de menor fertilidade do solo ou depauperadas pelo uso continuado e muitas vezes submetidos a erosão. essa prática bem aplicada, po-derá contribuir para a recuperação da fertilidade do solo, melhoria da produtividade e conservação do solo e outros benefícios como o aumento da biodiversidade do sistema agrícola.

Outras.culturasMondardo & Lavina (1998), demonstraram em estudos reali-

zados com mandioca, que as leguminosas C. mucronata, C. ochro-leuca e o guandu não influenciaram positivamente a produção des-ta cultura nos quatro primeiros anos, sendo necessário a utilização da adubação química recomendada.

Segundo Miller (1998), a mandioca em cultivo intercalar com mucuna e crotalária proporcionou apenas um maior controle de plantas daninhas, mas não obtiveram melhoras no estado nutricio-nal da planta no mesmo ciclo.

Wutke (�998), estudando o feijoeiro em rotação com milho e adubação verde afirmou que a utilização da mucuna-preta e da Crotalária juncea no outono-inverno tem efeitos favoráveis para o

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feijoeiro em sucessão, relativamente aos teores foliares de potás-sio, cobertura vegetal do solo e índice de área foliar.

A rotação de feijão com milho e adubos verdes também fa-voreceu a redução da resistência do solo à penetração, a manuten-ção do teor normal de matéria orgânica do solo e a possibilidade de redução da acidez e o aumento da saturação por bases em profun-didade. Pesquisas.com.leguminosas.adubos.verdes.em.arroz

Experimentos foram realizados em Pindorama e Votuporanga nas Estações Experimentais do IAC com o objetivo de avaliar a efi-ciência das leguminosas Crotalária júncea e Mucuna-preta, usadas como adubos verdes para suprir de N a cultura do arroz, estudar a interação com outra fonte de N (uréia) e estudar o fracionamento diante da nova forma de cultivo com adubo verde.

Inicialmente se cultivaram as leguminosas nos tratamentos experimentais correspondentes e simultaneamente foram produzi-das leguminosas marcadas com 15N em área adjacente ao experi-mento. As leguminosas foram cortadas logo após o florescimento e sua massa vegetal foi incorporada superficialmente antes do plan-tio do arroz. O fertilizante nitrogenado foi aplicado fracionadamente (�5+25 ou 30+50 kg N ha-1). Tanto uréia-15N como leguminosas-15N, foram aplicadas em sub-parcelas dentro de cada parcela principal.

Pode-se observar que as leguminosas são excelentes fontes de N, sendo equivalente a 40 kg N ha-1 como uréia para produção de grãos de arroz. A produtividade obtida com a combinação mu-cuna preta e 40 kg N ha-1 superou o produzido com 80 kg N ha-1 . Ambas proporcionaram praticamente a mesma quantidade de N para o arroz sendo 26 e 25% do N do grão proveniente da Mucuna-preta e Crotalária Júncea, respectivamente em Pindorama e 38 a 37% em Votuporanga. Estas leguminosas podem suprir grandes quantidades de N ( �49 kg N ha-1 , Crotalária e 362 kg N ha-1 , mu-cuna-preta). Os adubos verdes proporcionaram melhor uso do N do fertilizante nas aplicações de cobertura, permitindo uma eficiência de até 79%.

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Veja mais detalhes das produtividades de arroz no Quadro �6 e Figura 8.

Recentes trabalhos de pesquisas tem demonstrado o ganho em produtividade com a rotação de cultivos utilizando–se de legu-minosas e os Quadros abaixo adaptados de Mascarenhas et al. (1998) e Tamiso et al. (2001) podem resumir esse efeito em cultu-ras de cereais e hortaliças respectivamente.

Quadro.16. Efeito dos Adubos Verdes Crotalária e Mucuna-Preta quan-do aplicados em conjunto com N-uréia ou separadamente na produtivi-dade de grãos de arroz cultivados em Pindorama e Votuporanga

Locais

Tratamentos Votuporanga PindoramaAnálise conjunta

--------------kg N ha-1----------- ----------------------grão, kg ha-1------------------------------T1 0 1830 1936 1883dT2 80 (30+50) 3183 (74%) 3900 (101%) 3542abT3 40(15+25) 2513 (37%) 2944 (52%) 2727cT4 adubo verde Mucuna (AVm) 2459 (34%) 3080 (59%) 2770cT5 adubo verde Crotalária (AVc) 2480 (35%) 3495 (80%) 2988bcT6 AVm + N (15+25) 3517 (92%) 4183 (116%) 3850aT7 AVc + N (15+25) 3034 (66%) 3314 (71%) 3174bcCV% 18,72 19,62 19,34

Médias seguidas por letras distintas diferem entre si pelo teste de Duncan (P � 0,05).OBS: Os valores entre parêntesis nas colunas de grãos, correspondem aos incrementos em relação a testemunha.

Figura.8. Efeito dos adubos verdes crotalária e mucuna-preta quando aplicados em conjunto com n-uréia ou separadamente na produtividade de grãos de arroz cultivados em

Pindorama e Votuporanga

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Edmilson José Ambrosano et al.

Mascarenhas et.al, (1998) trabalharam em Pindorama, SP em um solo Podzólico vermelho amarelo, fase arenosa, o mesmo utilizado no experimento acima com arroz, e avaliaram o efeito da rotação entre milho, soja e arroz, com e sem crotalária júncea de outono-inverno. A soja (leguminosa) não respondeu com aumentos de produtividade porém o arroz e milho (gramineas) tiveram suas produções acrescidas quando comparadas com o monocultivo des-sas culturas (Quadro �7).

Tamiso et al. (2001) trabalharam em Piracicaba, SP em uma associação de solo Latossolo vermelho escuro + Podzólico verme-lho escuro Latossólico e avaliaram o efeito da adubação verde com tremoço, crotalária júncea e chicharo nas culturas de pimentão, ce-noura, couve-flor e alface.

Quadro.17. Produção (kg ha-1) de milho, arroz e soja, no terceiro ano de experimentação, sob diferentes rotações das referidas culturas, intercaladas ou não com crotalária júncea em Pindorama, SP.

Tratamentos Milho Arroz SojaSeqüência de rotação/anos ------------------kg ha-1---------------------1 2 3

S/C A/C M 7470 aS A/C M 7045 aS A M 7595 aM M M 5384 bM S/C A/C 2996 aM S A/C 2746 aM S A 2735 aA A A 1901 b

A/C M S/C 4610 aA/C M S 4694 aA M S 4029 aS S S 4280 a

C.V. (%) 10,64 11,90 9,74

Médias seguidas por letras distintas, nas colunas, diferem entre si pelo teste de Duncan a 5%. C= Crotalária júncea, M= milho, A= arroz e S= soja

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Utilização de leguminosas anuais em sistemas agroecológicos

Pesquisas.com.leguminosas.adubos.verdes.em.hortaliçasO presente estudo foi desenvolvido na Estação Experimen-

tal de Agronomia de Piracicaba (IAC), atual Pólo Centro Sul/APTA, utilizando leguminosas adubos verdes para o cultivo orgânico de hortaliças.

O delineamento experimental adotado foi de blocos ao aca-so em esquema fatorial envolvendo dois fatores: tratamentos (testemunha, tremoço, chícharo e crotalária) e hortaliças (alface, pimentão, cenoura e couve-flor), com 3 repetições. Cada parce-la experimental tinha 9,0 m2.Os adubos verdes foram semeados a lanço, durante o segundo semestre de 2000, e após 100 dias incor-porados, uniformizando a produção de massa verde das parcelas, adotando para o tremoço 20 t/ha, o chícharo adotou metade desta dose e a crotalária 7,0 t/ha. Sobre a palhada desses adubos verdes foram semeadas as culturas hortícolas avaliando-se a produtivida-de de cada cultura em função da adubação verde anteriormente utilizada.

Nota-se do Quadro �8 que o tremoço e a crotalária foram os adubos verdes que apresentaram os melhores resultados para as culturas de alface, couve-flor e pimentão, porém na cultura do alface o tratamento com crotalária não diferiu da testemunha. In-teressante notar que a cultura de cenoura não se beneficiou da adubação verde.

Conclusões Verifica-se que para hortaliças de folhas, como é o caso da alface, o tremoço branco foi o adubo que apresentou melhores re-sultados, possuindo como limitação à ocorrência de doenças, mas que na grande maioria das vezes não se manifestam em folhosas.

Após o plantio de adubos verdes recomenda-se o plantio de culturas que não exigem muito preparo de solo ou que sejam cultivadas pelo sistema de mudas, como as folhosas e as hortaliças de frutos, excluindo-se deste grupo às hortaliças de raízes e as que exigem semeadura direta.

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Quadro.18. Produtividade das culturas de cenoura, pimentão, cou-ve-flor e alface em função da adubação verde.

Parte da planta Tratamentos Erro padrão C.V.Testemunha Crotalária Tremoço Chicharo %

Alface----------------------------------- g ------------------------------

CabeçaVerde 134,88 b 154,33 ab 210,13 a 157,19 ab 8,99 18,90Raízes verde 23,00 a 20,00 a 25,33 a 28,00 a 1,65 23,70Raízes seca 1,67 a 2,00 a 2,00 a 2,33 a 0,21 37,27

Pimentão----------------------------------- g -----------------------------------

Peso verde total 1602,20 c 3460,00 ab 4429,60 a 2171,80 bc 191,85 22,76Número de frutos 21,33 c 45,67 ab 59,00 a 30,33 bc 2,60 23,04Peso total por fruto 74,65 a 75,57 a 75,68 a 71,67 a 0,99 4,64

Cenoura----------------------------------- g ------------------------------

Peso verde total 4710,00 a 4516,70 a 4913,30 a 4963,30 a 112,71 8,17Peso verde parte aérea 2033,00 a 1890,00 a 2300,00 2270,00 a 109,49 17,84Peso verde de raízes 2676,70 a 2626,70 a 2613,30 a 2693,30 a 48,74 6,36

Couve-flor----------------------------------- g ------------------------------

Número de plantas 6,67 a 4,67 a 7,67 a 7,00 a 0,67 35,81Peso verde total 2505 a 1537 a 4483 a 2960 a 414,79 49,98Peso verde de cabeça 370,40 b 326,77 c 477,00 a 446,50 a 4,69 4,11

Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si, pelo teste de Duncan (P�0,05) Pesquisas com essências florestais Jacarandá-Mimoso

Avaliou-se o desenvolvimento da espécie florestal Jacarandá - Mimoso (Jacaranda mimosifolia) em consórcio com os adubos ver-des Crotalária Breviflora (Crotalaria breviflora DC), Crotalária juncea (Crotalaria juncea L.) e Calopogônio (Calopogonium muconoides) . O experimento foi instalado no Pólo Regional Centro Sul de Piraci-caba (APTA). O ensaio foi conduzido de forma inteiramente casuali-zado e as mudas uniformizadas quanto a altura e desenvolvimento inicial. Os requisitos utilizados para a avaliação do desenvolvimento do Jacarandá - Mimoso (Jacaranda mimosifolia) foram a altura da planta , diâmetro e amostras de folhas do terço médio superior da espécie com e sem a utilização dos adubos verdes.

Observou-se diferença altamente significativa para todas as va-riáveis avaliadas, indicando uma grande superioridade dos tratamen-tos submetidos ao sistema com adubação verde. Nota-se um aumento de 72 % na altura das plantas que cresceram sob os tratamentos com

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Utilização de leguminosas anuais em sistemas agroecológicos

adubo verde e o peso das folhas apresentou valores duas vezes maior que a testemunha sem adubo verde (Quadros �9 e 2�).

Observa-se também que nos tratamentos testemunhas so-mente 52,6% das plantas atingiram a altura de 1,20m indicando mais uma vez a superioridade das leguminosas.

Observa-se da Quadro 22 o bom desempenho das legumino-sas que produziram �455 e 2593 kg de material vegetal seco por hectare de parte aérea e 77 e 35 kg de material vegetal seco por hectare de raízes respectivamente nos anos de 2002 e 2003. Em 2003 não se observou diferença entre o peso verde e seco das fo-lhas amostradas contudo ainda se observa diferença na altura das plantas e diâmetro (Quadro 20).

Na Figura 9 é apresentado o gráfico da porcentagem de plan-tas que cresceram mais que 1,20 metros em função da aplicação ou não do adubo verde.

Figura.9. Gráfico das porcentagens de plantas com e sem adubo verde no ano de 2002.

Observa-se da Figura 9 que nos tratamentos testemunhas somente 52,6% das plantas atingiram a altura de 1,20m indicando mais uma vez a superioridade dos tratamentos com adubo verde.

Observa-se do Quadro 22 o bom desempenho das legumino-sas que produziram �455 e 2593 kg de material vegetal seco por hectare de parte aérea e 77 e 35 kg de material vegetal seco por hectare de raízes respectivamente nos anos de 2002 e 2003.

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No Quadro 23 são apresentadas análises de terra para ca-racterizar o solo do experimento. Nota-se contudo uma tendência de melhoria do solo nos tratamentos com adubo verde pois os in-dicativos de acidez potencial nos solos com adubo verde são bem menores que os sem adubo verde, o que indica uma transformação química no solo como observado por outros autores (Ambrosano, 2003; Sakai, 2004).

Quadro.19. Efeito dos adubos verdes na altura do Jacarandá mi-moso em dois anos de amostragem

Tratamento 2002 2003Altura Desvio Padrão Altura Desvio Padrão

---------------------------------m------------------------------Com adubo verde 2,23 a B 0,2975 3,83 a A 0,6826Sem adubo verde 1,30 b B 0,2569 1,99 b A 0,7568

C. V. % 11,2521

Médias seguidas de letras distintas (minúscula na vertical e maiúscula na horizontal) diferem entre si pela análise de variância (p<0,05).

Quadro.20. Efeito dos adubos verdes no diâmetro do Jacarandá mimoso, medido aos 1,20 m de altura do solo, em dois anos de amostragem

Tratamento 2002 2003Diâmetro Desvio Padrão Diâmetro Desvio Padrão

---------------------------------mm------------------------------Com adubo verde 7,19 a B 1,7107 20,73 a A 2,8011Sem adubo verde 4,01 b B 1,5184 11,99 b A 5,3665

C. V. % 14,8135

Médias seguidas de letras distintas (minúscula na vertical e maiúscula na horizontal) diferem entre si pela análise de variância (p<0,05).

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Utilização de leguminosas anuais em sistemas agroecológicos

Quadro.21. Efeito dos adubos verdes no peso verde, média de 4 folhas amostradas no terço médio da copa do Jacarandá mimoso, em dois anos de amostragem

Tratamento 2002 2003Peso verde Desvio Padrão Peso verde Desvio Padrão

---------------------------------g------------------------------Com adubo verde 96,23 a A 36,7228 51,00 a B 24,6872Sem adubo verde 23,45 b B 31,3741 45,79 a A 35,0348

C. V. % 31,3367

Médias seguidas de letras distintas (minúscula na vertical e maiúscula na horizontal) diferem entre si pela análise de variância (p<0,05).

Quadro.22. Produção de material vegetal dos adubos verdes por ciclo anual de plantio.

Ano Parte aérea RaízesMassas -� M. verde M. seca M. verde M.seca

Espécies (kg /ha) (kg /ha) (kg /ha) (kg /ha)Mistura de Crotalária, Breviflora e Calopogônio 2002 5896 1455 301 77

Crotalária júncea 2003 12880 2593 660 35

Quadro.23. Resultado de análise de solo nos diferentes tratamen-tos e profundidades de coleta

Solo sem adubo verde Solo com adubo verde Variáveis 0-20 cm 20-40 cm 0-20 cm 20-40 cm

PH 4,6 4,6 4,65 4,65M.O. (g dm –3) 21 23 21,5 22P (mg dm-3) 7 8,5 12 15,5K (mmolc dm-3) 1,15 1,2 1,05 1,05Ca (mmolc dm-3) 18,5 19,5 17,5 20,5Mg (mmolc dm-3) 11,5 11,5 9 12H + Al (mmolc dm-3) 52,5 52,5 47 44,5SB (mmolc dm-3) 31,15 32,2 27,5 33,5CTC (mmolc dm-3) 83,65 84,7 74,5 78,2V % 37 38 37 42,5

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ConclusãoO uso da adubação verde promoveu maior desenvolvimento

do Jacarandá mimoso podendo-se transformar em uma prática usu-almente para sistemas agroflorestais envolvendo plantas arbóreas.

Fatores.limitantes.à.implantação.e.desenvolvimento.de.leguminosas

Não se considerando os fatores sócio-econômicos e culturais à implantação dos sistemas agrícolas que incluam leguminosas como cobertura do solo, no período de outono-inverno, podem ser apontados como fatores limitantes ao pleno desenvolvimento das plantas:

TemperaturaAs diversas espécies vegetais estão divididas segundo adap-

tação térmica em leguminosas de verão e de inverno, incluindo, nas primeiras as mais conhecidas, cuja semeadura é efetuada na primavera-verão; e outras menos conhecidas de semeadura no ve-rão-outono.

SoloApesar das leguminosas apresentarem ampla adaptação

quanto ao tipo de solo, elas são exigentes a um mínimo de fertilida-de do solo, traduzido principalmente por uma disponibilidade ade-quada de cálcio (Ca), magnésio (Mg), fósforo (P) e potássio (K).

Dos poucos ensaios de adubação mineral executados com leguminosas adubos verdes, (Mascarenhas et al., �994), fica pa-tente que plantas dessa família respondem mais à fertilidade do solo do que à adubação direta. Por esse motivo, nos sistemas que envolvem rotação com aquelas plantas, a cultura econômica prin-cipal é a que deve ser racionalmente adubada, não se podendo prescindir do monitoramento de fertilidade do solo através de sua análise periódica, enquanto a leguminosa aproveitaria o efeito re-sidual daquela adubação. Ainda em relação à disponibilidade de

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nutrientes, deve-se considerar a presença em níveis tóxicos de alumínio e manganês. Segundo as pesquisas, as leguminosas são mais sensíveis relativamente às gramíneas, portanto exigem quan-tidades mais elevadas de corretivo para imobilizá-lo. Por outro lado, as gramíneas são mais sensíveis à toxicidade de alumínio do que as leguminosas.

Disponibilidade.hídricaA quantidade e a distribuição pluvial irão definir o maior ou

menor desenvolvimento da planta no outono-inverno. Consideran-do-se a implantação das culturas já no final da estação chuvosa, portanto em condição marginal de distribuição hídrica, é normal, principalmente para semeaduras mais tardias, a ocorrência de défi-cit acentuado, tanto mais freqüente e intenso quanto mais ao norte do paralelo 22oS. Assim, semeaduras mais antecipadas em senti-do inverso a essa tendência são garantia de menor risco.

A fase crítica na implantação das leguminosas é, sem dúvida, a da germinação e emergência das plântulas, ocasião em que a fal-ta de água restringe ou impede a obtenção de população adequa-da. Posteriormente, pela natureza do sistema radicular, pela menor demanda de água devido ao avançar do outono-invernno e pelo estádio de desenvolvimento das plantas, exceto a soja no floresci-mento e frutificação e a crotalária nas fases iniciais de crescimento, os prejuízos por deficiência hídrica são poucos aparentes.

ConclusãoO equilíbrio biológico e de nutrientes do solo pode ser obtido

com a adoção de varias práticas como por exemplo a utilização da adubação verde, a compostagem, a máxima reciclagem de matéria orgânica, utilização de húmus de minhoca e outras práticas como o plantio direto que, também, podem colaborar em muito. A integra-ção entre agricultura e pecuária de grandes e pequenos animais, a piscicultura e a recuperação de matas ciliares e de refugio que visam restabelecer o equilíbrio de insetos diminuindo a preocupa-

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ção com controles alternativos das pragas e doenças que atacam as principais culturas.

A utilização de leguminosas no sistema agroecológico promo-ve uma reciclagem de nutrientes devido a sua grande capacidade de exploração de solo promovendo um maior equilíbrio nutricional para as plantas contribuindo para uma maior resistência, do siste-ma, ao aparecimento de pragas e doenças.

Procurou-se demonstrar, através de resultados de pesquisa, que as leguminosas utilizadas em adubação verde, apesar da fixa-ção de enormes quantidades de nitrogênio, este é fornecido para as culturas em sucessão de maneira constante e equilibrada cola-borando para uma melhor nutrição deste elemento, tão importante e de difícil aplicação em sistemas agroecológicos.

A tríplice simbiose observada no sistema, planta-bactéria-fungo micorrizico, é de fundamental importância para o equilíbrio biológico e colabor, também, para que a utilização de leguminosas adubo verde garanta uma maior proteção às plantas contra pragas e doenças.

Devemos estar sempre atentos as novas oportunidades e al-ternativas que se apresentam, principalmente para agricultura fa-miliar como é o caso dos feijões, feijão-adzuki e feijão-mungo, que além de fácil produção pode ser comercializado na forma de broto de feijão, com maior valor agregado, e tudo isso realizado dentro da propriedade restabelecendo e mantendo a agricultura familiar, fazendo rotação de cultivos e introduzindo nitrogênio no sistema.

Agradecimentos:.Aos Técnicos de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica Ângela Maria C. da Silva, Gilberto Farias, Benedito Mota, e Maria Apareci-da C. de Godoy.

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PLANTIO.DIRETO.NA.PALHA.DE.LEGUMINOSAS.EM.ALÉIAS.UMA.ALTERNATIVA.PARA.O.USO.SUSTENTÁVEL.DOS.SOLOS.

DO TRÓPICO ÚMIDO

Altamiro Souza de Lima Ferraz Junior*

Emanoel Gomes de Moura**

Alana das Chagas Ferreira Aguiar***

Introdução --------------------------------------------------------------------------------------- 221Alternativas para a agricultura itinerante ------------------------------------------------ 222Considerações Finais ------------------------------------------------------------------------- 235Referências Bibliográficas ------------------------------------------------------------------- 236

IntroduçãoO Trópico Úmido é caracterizado pela presença de solos in-

temperizados, com baixa concentração de nutrientes disponíveis e acidez elevada, características que se traduzem em baixa fertilida-de natural. As condições climáticas prevalecentes são marcadas por altas temperaturas e precipitações pluviométricas elevadas e concentradas durante quatro meses (Figura 1). Esses processos favorecem a intemperização do material de origem, a lixiviação dos nutrientes e a decomposição da matéria orgânica do solo, que res-ponde pela maior fração da capacidade de retenção dos elementos necessários para o crescimento vegetal. Nestas condições, a ma-nutenção dos níveis de produtividade das lavouras em patamares econômicos aceitáveis depende muito da conservação e do aumen-to dos teores de matéria orgânica, para a construção da fertilidade do solo. Os agricultores familiares ao utilizarem a roça itinerante, com pousio prolongado, favorecem a recuperação da produtivida-de, que fora reduzida durante o cultivo feito após a deposição das cinzas resultante da queima da biomassa da capoeira. A presença

* Prof. Dr. em Solos e Nutrição de Plantas; Programa de Pós-Graduação em Agroecologia, Universidade Estadual do Maranhão. E-mail: [email protected]** Prof. Dr. em Agronomia; Programa de Pós-Graduação em Agroecologia, Universidade Estadual do Maranhão. E-mail: [email protected]*** Doutora em Agronomia/Agricultura. Programa de Pós-Graduação em Agroecologia, Uni-versidade Estadual do Maranhão. E-mail: [email protected]

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Plantio direto na palha de leguminosas aléias uma alternativa para o uso sustentável dos solos do trópico úmido

dos tocos, das raízes e dos drenos naturais melhora a drenagem das áreas da lavoura tradicional permitindo uma melhor aeração do solo e superando as condições de anaerobiose promovidas pelo excedente hídrico, muito comum durante o período chuvoso.

O sistema de agricultura itinerante foi responsável pela ma-nutenção do Estado do Maranhão entre os maiores produtores de arroz de sequeiro do Brasil, quando havia terra disponível e mui-tas áreas com vegetação exuberante. Nas últimas duas décadas, o sistema de agricultura de derrubada e queima entrou em colapso. A concentração fundiária, capitaneada pela pecuária bovina e pelo uso da terra como reserva de valor, contribuiu para o desequilíbrio do sistema de corte e queima. A redução do período de pousio em solos de baixa fertilidade natural, não permite uma restauração da produtividade das áreas destinadas ao cultivo do que resulta lavou-ras menos produtivas. Hoje as expressões “É roça!” e “Quer me levar para a roça!” associam a roça maranhense à pobreza e ao trabalho penoso. Pela mesma razão o Estado do Maranhão ostenta um dos piores indicadores de desenvolvimento humano do país.

O plano da FAO para reduzir a pobreza sugere quinze medi-das simples entre as quais se destacam: “o fornecimento de adubos para agricultores pobres” e o financiamento para plantar árvores “o reflorestamento ajuda a enriquecer o solo para a agricultura, pre-serva as fontes de água e fornece lenha para uso doméstico”.

Nesta mesma linha Sanchez (2002), defende o subsídio para o investimento em sistemas agroflorestais que promovam a ele-vação da fertilidade do solo como uma ação mais eficiente com-parados aos programas de ajuda internacional para o controle de endemias efetuados no continente africano que gastam bilhões de dólares sem combater efetivamente, a fome e as mazelas dela de-correntes.

Alternativas.para.a.agricultura.itineranteAs alternativas para a agricultura itinerante pressupõem o

cultivo de uma mesma área por períodos prolongados. Isso implica na substituição dos benefícios da queima por estratégias que resul-

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Altamiro Ferraz Jr. • Emanoel Moura • Alana Aguiar

tem em benefícios no mínimo equivalentes. Entre os benefícios do fogo podem ser citadas a limpeza da área, a correção e fertilização do solo, a redução do número de capinas para controle de ervas adventícias e o controle de pragas e doenças

A agricultura convencional não tem sido uma alternativa de sucesso à agricultura itinerante uma vez que preconiza a substi-tuição das sinergias proporcionadas pela biodiversidade dos ecos-sistemas naturais, presentes no trópico úmido, por ações pontuais altamente dependentes de insumos externos ao agroecossistema, tais como: o monocultivo, a ressaturação dos colóides do solo via uso maciço de corretivos e fertilizantes solúveis, os controles quími-cos de ervas daninhas, pragas e doenças e o estreitamento da base alimentar e genética. Esse modelo de agricultura tem, na verdade, contribuído para o desequilíbrio das dimensões da sustentabilida-de, uma vez que é concentrador de renda e fortemente excludente, porque sua viabilidade é extremamente dependente da escala de produção. Do ponto de vista ambiental é notório que esse modelo destrói as bases dos recursos naturais dos quais depende a ativida-de agrícola e acirra a pressão exercida sobre os recursos naturais pela parcela da população pobre excluída do processo produtivo.

Os sistemas de produção com bases agroecológicas surgem como alternativas promissoras à agricultura de corte e queima, uma vez que estes estão mais ao alcance da grande maioria dos agricul-tores familiares, pois têm por base pressupostos diferentes daque-les da agricultura convencional: policultivo, otimização de sinergias, otimização do uso dos recursos internos, diversificação da base genética, ciclagem de nutrientes e menor dependência de combus-tíveis fósseis.

Dentre os sistemas agroecológicos o sistema de cultivo em aléias que consiste em plantar culturas de interesse econômico nas entrelinhas de espécies arbóreas, principalmente leguminosas, vem sendo estudado pelo World Agroforestry Centre (ICRAF) e pelo International Institute of Tropical Agriculture (IITA) a partir dos

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Plantio direto na palha de leguminosas aléias uma alternativa para o uso sustentável dos solos do trópico úmido

trabalhos do Doutor Bit Kang e por vários centros de pesquisa em diferentes partes do mundo. Esse sistema apresenta as seguintes vantagens: i) fornecimento de biomassa para cobertura do solo na fase de plantio porque possibilita alta produção de biomassa, du-rante o período seco; ii) alta capacidade de ciclagem de nutrientes; iii) aumento da matéria orgânica do solo; iv) aumento da capacidade de aeração do solo v) controle de ervas adventícias; vi) e aumento da fertilidade do solo. Esse sistema foi adaptado para as condições do Norte do Maranhão e vem sendo testado pelo grupo de pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Agroecologia da Universidade Estadual, desde �996, em experimentos em estação de pesquisa e nas áreas de produtores. O maior desafio consiste em somar as vantagens do cultivo em aléias aos benefícios do plantio direto na palha e criar um novo sistema que atenda as especificidades de solo e clima da região Centro Norte do Maranhão.

Experimentos de longa duração com o plantio direto em regi-ões de clima mais ameno e na região de cerrado têm mostrado inú-meras vantagens como o aumento nos teores de matéria orgânica, redução da erosão e ganhos de produtividade. Os agricultores que decidem por este sistema já dispõem de pacotes desenvolvidos pela pesquisa de órgãos públicos e privados que contemplam equi-pamentos apropriados, técnicas de correção de solos, variedades específicas para plantio direto, o que tem facilitado a adoção dessa técnica em larga escala pelos produtores de grãos do Brasil.

A formação da palhada, o controle de ervas adventícias e o uso de herbicidas dessecantes e pré-emergentes são os principais gargalos desse sistema de cultivo. No Trópico Úmido, nas condi-ções do Estado do Maranhão, fatores como o regime de chuvas ca-racterizado por um período seco prolongado com alto déficit hídrico, implica em limitações ao crescimento das espécies de anuais que poderiam ser utilizadas para cobertura do solo no início do período chuvoso, quando do plantio da safra principal, isto dificulta a ado-ção do sistema de plantio direto pelos pequenos agricultores.

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Altamiro Ferraz Jr. • Emanoel Moura • Alana Aguiar

Levando em conta essas condições o primeiro experimento da UEMA com o sistema de cultivo em aléias associado ao plantio direto teve início no ano de �996, com o apoio financeiro do BNB-FUNDECI, para avaliação do comportamento de quatro espécies de leguminosas arbóreas: Inga edulis, Clitoria fairchildiana Howard, Leucaena leucocephala e Cajanus cajan, sob nossa coordenação. Os resultados deste experimento revelaram que a leguminosa Clito-ria fairchildiana Howard (Figura 1), de ocorrência espontânea na região Centro-Norte do Estado do Maranhão, permitiu elevadas produções de biomassa e altos aportes de nutrientes ao solo (Quadros � e 2), bem como produtividades relativamente altas de arroz nos três primeiros anos (Figura 2) e de milho no quarto ano (Figura 3).

Figura.1. Cultivo do milho em aléias de Clitoria fairchildiana Howard na UEMA,ano de 2005.

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Plantio direto na palha de leguminosas aléias uma alternativa para o uso sustentável dos solos do trópico úmido

Quadro.1. Produção de massa vegetal seca dos ramos de quatro leguminosas arbóreas utilizadas em sistema de cultivo em aléias, em ARGISSOLO VERMEHO-AMARELO Distrófico na UEMA.

Leguminosas1996 1997 1998 1999 2001 2002

Matéria seca Mg ha-1

Inga edulis 0,00b* 0,88c 3,21b 3,27c 4,95c 4,20c

Leucaena lecochephala 0,04b 3,50b 6,39a 8,21b 6,61b 6,80b

Cajanus cajan 0,97a 8,50a 3,55b 2,43c 0,00d 1,95c

Clitoria fairchildiana 0,22b 6,98a 7,64 a 12,40a 10,82 a 10,20a

* Letras diferentes na mesma coluna indicam diferença significativa ao nível de 5% pelo teste Tukey.

Quadro..2. Nutrientes adicionados através da poda dos ramos das leguminosas, total de quatro cortes por ano (Ferraz Jr, 2000)

Leguminosas

1996 1997 1998 1999

N P N P N P N P

Kg ha-1

I. edulis 0 b 0 b 20,71d 1,60 d 94,37 b 5,33a 115,69b 4,91b

L. leucocephala 1,19b 0,08b 98,18 c 6,44 c 247,67 a 12,59ab 402,29 a 17,32a

C. cajans 31,33a 3,10a 290,10a 20,4 a 136,28 b 8,09 bc 151,41b 8,62 b

C. fairchildiana 6,47b 0,46b 214,77 b 13,47 b 264,88 a 13,98a 471,35 a 21,45a

* Letras diferentes na mesma coluna indicam diferença significativa ao nível de 5% pelo teste Tukey.

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Altamiro Ferraz Jr. • Emanoel Moura • Alana Aguiar

Figura 2. Produção de arroz em casca (Mg ha-1), média de duas variedades, em cultivo solteiro (testemunha) e em aléias de leguminosas durante três anos (Ferraz Junior, 2000). *Letras iguais nas mesmas colunas não diferem significativamente entre si, pelo teste de Tukey a 5%.

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

I. edulis L. leucocephala C. cajan C. fairchidiana Testemunha

Tratamentos

Prod

ução

de gr

ãos (

kg ha

-1)

AG 405 BR 106

Aa

Ba

Aa

Bab

Aa Bbc

Aa

Ba

Ab Bc

Figura 3. Produção de grãos de grãos de dois genótipos de milho cultivados em aléias de quatro espécies de leguminosas e em cultivo solteiro, em ARGISSOLO VERMELHO AMA-RELO Distrófico na UEMA (Leite, 2002). *Letras maiúsculas se referem a diferença entre genótipos, letras minúsculas se referem a diferença entre tratamentos. Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si (P<0,05), segundo o teste de Tukey.

Os níveis de produtividade obtidos no primeiro ano de cultivo foram superiores àqueles reportados por Kato et al.(�999) em solos arenosos do Estado do Pará. A maior produção de grãos ocorreu com o plantio do arroz nas entrelinhas da Clitoria fairchildiana, não

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diferindo das parcelas com Cajanus cajan, Leucaena leucocephala e testemunha, porém superando as aléias de Inga edulis (Figura 1). Estes dados mostram que no primeiro ano de cultivo, utilizando-se adubação química a produtividade de arroz não responde à adição de resíduos orgânicos de leguminosas e ainda que a adição de resíduos com baixos teores de N como os de Inga edulis, tendem a reduzir a produtividade.

No segundo ano (1998) a produtividade do arroz manteve tendência semelhante àquela observada no ano anterior (1997). As maiores produções de grãos foram observadas nas parcelas com adições de Clitoria, Cajanus e Leucaena, e as parcelas com aléias de Inga edulis não diferiram da testemunha. Estes dados indicam que no segundo ano somente o tratamento com aléias de Clitoria fairchildiana alcançou níveis de produção de grãos significativa-mente superiores àqueles obtidos com o cultivo solteiro, apesar da adição significativa de matéria seca das demais leguminosas (Quadro �).

No terceiro ano o plantio de arroz em aléias de Clitoria fairchil-diana, Cajanus cajan e Leucaena leucocephala resultou em pro-duções de grãos significativamente superiores àquelas observadas na testemunha e nas parcelas com Inga edulis (Figura 2).

Observou-se uma queda dos níveis de produtividade nos anos de 1998 e de 1999, comparado ao primeiro ano, embora a poda das leguminosas tenha fornecido altas quantidades de ma-téria seca, N e P nesses dois anos, quantidades estas superiores àquelas adicionadas no ano de 1997. Entretanto, as leguminosas amenizaram a queda de produtividade do arroz, no terceiro ano de cultivo contínuo (Figura 2), comparado à testemunha que recebeu somente adubação química.

Considerando que a ausência de rotação de culturas nos três anos de plantio de arroz, pode ter influenciado nas reduções das produtividades, no ano de 2001 procedeu-se o cultivo de duas va-riedades de milho, AG 405 e BR 106, entre as aléias de legumi-nosas. Os dados obtidos mostraram que a adição de matéria seca

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pelas leguminosas Clitoria fairchildiana, Leucaena leucochephala e Inga edulis, contribuiu para elevação da produtividade de milho em relação ao cultivo solteiro (Figura 3), com maior resposta do milho híbrido comparado à variedade (Leite, 2002). Neste experimento avaliaram-se as produtividades e o peso de 1000 grãos dos dois genótipos nas duas linhas de plantio no centro da parcela, bem como nas duas linhas adjacentes às leguminosas, para aferir o efei-to da competição interespecífica entre as plantas de milho e as le-guminosas em aléias. As variáveis peso de �000 grãos e produção de grãos (Quadro 3) não diferiram entre as linhas, sugerindo que não houve competição interespecífica (milho x leguminosa).

Os resultados desse trabalho assemelham-se aqueles en-contrados por Jeanes et al. (�996) e Akinnifesi et al. (�999) es-tudando a competição entre a Leucaena leucocephala e o milho, esses autores concluíram que a eficiência de uso do N foi maior para as plantas de milho crescidas adjacentes às aléias de Leuca-ena leucocephala, na estação chuvosa e o contrário foi observado durante a estação seca. Provavelmente os altos índices pluviomé-tricos durante o ciclo da cultura do milho impediram a competição interespecífica.

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Quadro 3 - Efeito de quatro espécies de leguminosas na produção de grãos nas linhas da cultura do milho.

Tratamentos Produção de grãos (Mg.ha-1)L1 L2 L3 L4 XL

I. edulis 5,72 Aa 5,67 Aa 5,67 Aa 5,23 Aa 5,66 aL. leucocephala 5,26 Aa 5,78 Aa 5,67 Aa 5,71 Aa 5,60 aC. cajan 4,31 Aa 3,81 Aa 3,72 Aa 4,54 Ac 4,09 bC. fairchildiana 5, 84 Aa 6,11 Aa 5,80 Aa 5,50 Aa 5,81 aTestemunha 4,40 Aab 3,35 Bab 3,02 Ab 4,41 Ab 3,79 bXG 5,11 A 4,95 A 4,77 A 5,14 AI. edulis 323,80Aa 316,99Aa 319,62Aa 313,14Aa 318,39aL. leucocephala 312,87Aa 322,79Aa 318,77Aa 312,18Aa 316,65aC. cajan 288,48Aa 267,94 Ba 273,63Aa 287,08Aa 279,28bC. fairchildiana 332,57Aa 327,60Aa 332,50Aa 325,98Aa 329,66aTestemunha 284,61Aa 254,27Ca 258,82Ba 294,23Aa 272,99bXG 308,47A 297,92A 300,67A 306,52A

XL = média das leguminosas; XG = média dos genótipos; L1 e L4, distantes 0,5m das linhas das leguminosas; L2 e L3 distantes 1,5m das linhas das leguminosas*Letras maiúsculas se referem a diferença entre tratamentos (ler verticalmente), letras mi-núsculas se referem a diferença entre linhas de milho (ler horizontalmete). Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si (P<0,05), segundo o teste de Tukey.

Outro aspecto favorável do cultivo em aléias é a supressão das ervas adventícias que contribui fortemente para a redução da penosidade do trabalho na agricultura familiar. Isto foi evidencia-do pela contagem, pesagem e identificação das ervas adventícias, efetuadas ao final do ciclo do milho no ano de 200�, os resultados obtidos mostraram que a adição de biomassa da leguminosa Clito-ria fairchildiana suprimiu as ervas daninhas de forma muito eficaz, praticamente anulando a competição com a cultura do milho e a necessidade de controle (Figura 4) (Ferraz Jr et al. 2001)

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0

20

40

60

80

100

120

140

CLITORIA INGA LEUCAENA CAJANUS TESTEMUNHATRATAMENTOS

MATÉ

RIA.SE

CA.DA

S.ERV

AS.AD

VENT

ÍCIAS

.(g.m-2 )

B

A

AB

A

AB

Figura 4. Densidade de ervas adventícias em aléias de quatro leguminosas arbóreas, avaliada ao final do ciclo da cultura do milho na UEMA, Ferraz Jr. et al. (200�).

Observou-se também uma modificação nas proporções das espécies de ervas adventícias, com predominância da gramínea Eragrostis pilosa, nas parcelas sem adição de ramos de legumino-sas e Commelina sp naquelas que receberam adições de biomassa das leguminosas.

Os resultados obtidos nos levaram a propor um novo projeto, desta vez feito em áreas de assentamento no município de Miranda do Norte, distante �30 Km da Capital, São Luís, utilizando o siste-ma de cultivo em aléias com a leguminosa Clitoria fairchildiana Ho-ward. No campo, este sistema mostrou aos pesquisadores e agri-cultores sua viabilidade para o uso continuado do solo no trópico, com elevada produtividade, mesmo para culturas mais exigentes como o milho. Neste experimento, implantado em um PLINTOS-SOLO ARGILÚVICO Distrófico, após três anos de plantio das legu-minosas foram obtidas produtividades de milho em torno de 5.500 kg.ha-1, com baixo nível de insumo empregado.

Este trabalho em área de produtores foi alvo de vários dias de campo com assentados das áreas próximas e de outros municí-pios, onde os instrutores enfatizaram a importância da matéria or-gânica para a construção da fertilidade do solo. Atualmente, perce-bemos que vários agricultores estão plantando leguminosas como

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a Clitoria fairchildiana e outras autóctones em sistema de aléias, para melhoria da fertilidade do solo.

Além dos resultados positivos e da grande expectativa cria-da junto aos agricultores, a experiência permitiu retirar importantes observações a respeito do manejo sustentável de agroecossiste-mas nas condições específicas do trópico úmido, levando em conta os princípios da Agroecologia:

i) As mesmas características de clima que favorecem a produ-tividade das árvores leguminosas e aumenta a quantidade de material para cobertura, contribuem para o aumento da agressividade das ervas daninhas, principalmente quando se aumenta a fertilidade do solo. Isto dificulta a aceitação do plantio direto pelos agricultores porque aumenta os traba-lhos de capina.

ii) O uso da Clitoria fairchildiana apesar de sua perfeita adapta-bilidade e de sua grande capacidade de produção, aumenta a demanda provisória por Nitrogênio no sistema, por causa da menor qualidade de seus resíduos, daí sua maior durabi-lidade na superfície do solo.

iii) O plantio todo ano da mesma área contínua, oportuniza o aumento da incidência de algumas pragas, que se antes já eram importantes, agora sem a agricultura itinerante e sem o uso do fogo, se transformam em ameaça concreta, princi-palmente no caso da cangapara (Tibraca limbativentis Stal) no arroz, da mosca branca (Bemisia sp) na abóbora, da la-garta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) no milho e da va-quinha (Cerotoma arcuata) no feijão caupi.

No que tange aos itens (i) e (ii), uma estratégia promissora seria a inclusão junto ao cultivo da safrinha, normalmente implanta-da depois do pico das chuvas, de uma leguminosa anual que man-tenha o solo coberto entre o final e o início do período chuvoso se-guinte. Além disso, os resíduos dessa leguminosa deverão auxiliar

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em qualidade e quantidade as deficiências do material adicionado com o corte da leguminosa arbórea, bem como superar o balanço negativo de N causado pela colheita do feijão.

A possibilidade de controle das ervas espontâneas por supres-são ou por efeito alelopático como sugerido por Inderjit e Keating (�999) foi testada, na mesma área escolhida para este projeto, uti-lizando quatro leguminosas de cobertura no final do período chuvo-so. Das quatro leguminosas testadas o tratamento onde foi utiliza-do feijão-de-porco como cultura de cobertura apresentou a menor densidade o menor número de espécie e as menores diversidade e biomassa de ervas adventíceas, como se verifica na Quadro 4.

Quadro. 4. Efeitos das espécies usadas como cultura cobertura sobre a densidade, número de espécies, índice de diversidade de Shannon-Wiener e biomassa das ervas espontâneas. Os dados re-presentam média e os valores entre parênteses o erro padrão*.

Tratamento Densidade Nº de espécies Diversidade Biomassa

Plantas m-2 espécies m-2Índice de Shannon-

Wienerg m-2

Mucuna 59,0 (±12,2) 5,2 (±1,1) 1,0 (±0,2) 377,9 (±93,8)

Guandu 51,8 (±11,3) 5,2 (±1,7) 0,9 (±0,4) 392,9 (±58,4)

Feijão-de-porco 44,8 (±6,1) 3,8 (±0,8) 0,8 (±0,2) 158,6 (±49,8)

Calopogônio 53,4 (±9,5) 6,4 (±1,6) 1,0 (±0,2) 414,6 (±24,4)

Controle 73,8 (±16,5) 6,4 (±1,1) 1,0 (±0,2) 428,4 (±122,8)

*Adaptado de Araújo (2004)

Das quatro leguminosas anuais semeadas junto à cultura do feijão caupi, apenas o feijão de porco (Canavalia ensiformes) resis-tiu aos rigores do período seco apresentando melhor desempenho na supressão das ervas, que normalmente produzem neste período as sementes que irão infestar a lavoura seguinte. Mucuna preta, fei-jão guandu anão e calopogônio, não apresentaram nenhum efeito

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sobre o controle de ervas e foram pouco produtivos neste período. Também quanto ao aporte de nutrientes o feijão de porco se

mostrou muito superior às outras leguminosas como se pode verifi-car na figura 5, o que sugere ser esta espécie adequada para com-pensar o efeito imediato na fixação do N2 resultante da aplicação dos resíduos do sombreiro.

0

10

20

30

40

50

60

70

Mucuna preta Feijão guandu Feijão-de-porco Calopogônio

N P K Ca Mg

Figura.5. Capacidade potencial de aporte ou ciclagem de N, P, K, Ca e Mg da parte aérea de leguminosas cultivadas em um sistema de aléias com sombreiro,

Miranda do Norte - MA, 2003.

O uso da leguminosa feijão de porco, em consórcio com o feijão caupi cultivados ao final da estação chuvosa, em aléias de sombreiro, permite uma formação de palhada abundante, suficiente para suprimir as ervas adventícias, o que favoreceu o estabeleci-mento da lavoura por meio do semeio direto, sem aplicação de her-bicidas e com pouco esforço para controle de plantas adventícias.

O plantio de espécies leguminosas arbóreas em aléias, com diferentes qualidades de resíduos, pode favorecer o plantio dire-to com maior eficiência, porque permite a combinação de espécie de difícil decomposição, que funcionaria como supressora das er-vas adventícias, com uma segunda de alta qualidade de resíduo, que entraria no sistema como espécie adubadora. Esta hipótese

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foi testada em experimento na área da Universidade Estadual do Maranhão e constatou que a combinação Sombreiro+Leucena se mostrou mais promissora para as condições do experimento, com maior produtividade de grãos de milho (Quadro 5).

Quadro.5. Produtividade do milho ao longo de quatro anos (dados de Aguiar, 2006).

TratamentosAnos

2003 2004 2005 2006

Produtividade de grãos, Mg ha-1

Sombreiro + Guandu 1,08 1,77 2,88 3,00 a

Leucena + Guandu 1,28 1,72 2,71 3,75 a

Acácia + Guandu 1,39 2,20 2,69 3,50 a

Sombreiro + Leucena 1,37 2,00 3,33 3,80 a

Leucena + Acácia 0,94 2,58 2,66 3,20 a

Testemunha 1,72 1,54 1,84 1,50 b

F 2,55 ns 1,10 ns 2,25 ns *

CV (%) 30 24 20 33

ns, * = não significativo, significativo a 5% de probabilidade, respectivamente.Letras diferen-tes na mesma coluna indicam diferença significativa ao nível de 5% pelo teste Tukey.

Considerações.FinaisNo Estado do Maranhão, as condições adversas à atividade

agrícola praticada no modelo de monocultivo da Revolução Verde podem ser superadas caso os estilos de agricultura, respeitem as peculiaridades locais, e otimizem as vantagens que se traduzem por ausência de déficits hídricos acentuados no período de cultivo, energia solar abundante, alta biodiversidade e a existência de um grande número de variedades adaptadas a essas condições. A Agro-ecologia como abordagem sistêmica tem adotado o conhecimento da realidade, como ponto crucial para o redesenho de sistemas de

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produção que otimizem essas vantagens, aproveitando os saberes locais e os utilizando na estruturação de sistemas produtivos sus-tentáveis. Estes sistemas não podem excluir o uso de leguminosas adaptadas como a Clitoria fairchildiana Howard e outras que ainda não tiveram o seu potencial revelado. O sistema de plantio direto na palha de leguminosas em aléias por considerar as especificidades do trópico úmido pode se constituir em um ponto de partida para a busca da sustentabilidade dos sistemas produtivos familiares se for construído conjuntamente com os agricultores aproveitando os conhecimentos locais e respeitando suas preferências.

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IMPORTÂNCIA.DAS.RAÇAS.NATURALIZADAS.EM.SISTEMAS.DE.PRODUÇÃO.FAMILIAR

Arthur da Silva Mariante*

Resumo ------------------------------------------------------------------------------------------ 239Introdução --------------------------------------------------------------------------------------- 241Programa conservação e uso de recursos genéticos animais --------------------- 242Criopreservação-------------------------------------------------------------------------------- 244Caracterização genética --------------------------------------------------------------------- 245Papel das raças naturalizadas na pecuária brasileira -------------------------------- 248Conclusões -------------------------------------------------------------------------------------- 250Referências Bibliográficas ------------------------------------------------------------------- 251

Resumo O Brasil possui diversas raças de animais domésticos que

se desenvolveram a partir de raças trazidas pelos colonizadores portugueses logo após o descobrimento. Ao longo dos últimos cin-co séculos, estas raças foram submetidas à seleção natural em determinados ambientes, a ponto de apresentarem características específicas de adaptação a tais condições, sendo hoje conhecidas como “crioulas”, “locais” ou “naturalizadas”. A partir do final do sé-culo XIX e início do século XX, passaram a ser importadas algu-mas raças exóticas, selecionadas em regiões de clima temperado que, embora mais produtivas, não possuíam as características de adaptação, resistência a doenças e a parasitas encontradas nas raças consideradas “naturalizadas”. Pouco a pouco, através de cruzamentos absorventes, as raças exóticas foram substituindo as raças naturalizadas, fazendo com que estas últimas estejam hoje ameaçadas de extinção. Este fato fez com que alguns criadores e pesquisadores passassem a dar a merecida importância às ra-ças “naturalizadas”, pela sua adaptação ao ambiente, em grande parte, hostil da região tropical do país. Com a finalidade de evitar o

* Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia – Caixa Postal 02372. 70770-900 Brasília, DF. [email protected]

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Importância das raças naturalizadas em sistemas de produção familiar

desaparecimento dessas raças, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa criou um projeto de pesquisa denominado “Conservação e Uso de Recursos Genéticos Animais”, coordena-do pelo Centro Nacional de Pesquisa em Recursos Genéticos e Biotecnologia – Cenargen, localizado em Brasília. Conseguiu-se, desta forma, estabelecer uma verdadeira rede de Núcleos de Con-servação, espalhados por todo o país, nos quais são conservados animais de raças “naturalizadas” das seguintes espécies animais: bovinos, eqüinos, asininos, ovinos, caprinos, suínos e bubalinos. Foram criados, ainda, um Banco de Germoplasma Animal (BGA), responsável pelo armazenamento de sêmen e de embriões e um Laboratório de Genética Animal (LGA), responsável pela caracteri-zação genética do material genético recebido pelo BGA. Enquanto o Banco de DNA conta com aproximadamente 5.000 amostras das diversas espécies animais, o BGA contabiliza, hoje, cerca de 52.000 amostras de sêmen e 250 embriões. Conscientizar os diversos seg-mentos da sociedade sobre a importância da conservação animal é um dos principais objetivos deste trabalho. Neste sentido, o pro-grama de conservação, em conjunto com a Universidade de Bra-sília, criou a disciplina Conservação e Uso de Recursos Genéticos Animais, no mestrado em Produção Animal daquela Universidade, o que tem feito que um grande número de estudantes desenvolvam suas teses utilizando as raças “naturalizadas”. Com o excelente desempenho que a pecuária brasileira vem apresentando, que po-siciona o Brasil como o primeiro exportador de carne bovina e de aves, torna-se, cada vez mais importante, a conservação das raças naturalizadas que, uma vez geneticamente caracterizadas, serão de fundamental importância para a segurança alimentar, pelas im-portantes características de resistência a doenças e a ecto e endo-parasitas, que acumularam após cinco séculos de seleção natural. A inserção das raças naturalizadas nos sistemas de produção exis-tentes, além de ser de extrema importância para a inclusão social, é um fator determinante para o sucesso de sua manutenção. Cabe aos pesquisadores mostrar aos criadores que grande parte dessas

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raças poderá desempenhar um importante papel em determinados nichos de mercado. Exemplos europeus, como o valor diferenciado alcançado pela carne bovina e pelo presunto de raças ibéricas, pre-cisam ser seguidos no país para que este objetivo seja alcançado. Espera-se que estas raças, hoje ameaçadas de extinção, possam ser utilizadas como importante fonte de genes para os programas de melhoramento animal. Que características econômicas impor-tantes como rusticidade, adaptabilidade a determinadas condições ambientais, resistência à enfermidades e outras, possam ser con-firmadas, estudadas, salvaguardadas e, acima de tudo, utilizadas em benefício da sociedade. A utilização dos recursos genéticos ani-mais é fundamental para sua manutenção. Não existe conservação sem utilização!

Introdução A maioria das espécies de animais domésticos foi introdu-

zida no Brasil por sucessivas viagens dos colonizadores. Um nú-mero muito reduzido de espécies animais, então consideradas do-mésticas, existiam no período pré-colonial, embora os indígenas tivessem o hábito de domesticar algumas delas. Esta ausência de animais considerados domésticos pelos europeus do ano de 1500, foi indicada na Carta de Achamento do Brasil, enviada por Pero Vaz de Caminha, ao Rei Dom Manuel, em abril de 1500:

“O povo desta terra não lavra, nem cria, nem aqui há boi, nem vaca, nem cabra, nem ovelha, nem galinha, nem qual-quer outra alimária, que costumada seja ao viver dos homens; nem comem senão desse inhame que aqui há muito e des-sas sementes e frutos que a terra e as árvores de si lançam; e com isso andam tais e tão rijos e tão nédios, que o não somos nós tanto, com quanto trigo e legumes comemos.”

Passados cinco séculos, o Brasil possui hoje diversas raças de animais domésticos que se desenvolveram a partir das raças trazidas pelos colonizadores portugueses. Durante este período, estas raças foram submetidas à seleção natural em determinados

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Importância das raças naturalizadas em sistemas de produção familiar

ambientes, a ponto de apresentarem características específicas de adaptação a tais condições. Estas raças aqui desenvolvidas passa-ram a ser conhecidas como “crioulas”, “locais” ou “naturalizadas”.

A partir do final do século XIX e início do século XX, pas-saram a ser importadas raças exóticas, selecionadas em regiões de clima temperado. Embora mais produtivas, estas raças exóticas não possuíam as características de adaptação, resistência a do-enças e a parasitas encontradas nas raças consideradas “natura-lizadas”. Pouco a pouco, através de cruzamentos absorventes, as raças exóticas foram substituindo as raças naturalizadas, fazendo com que estas últimas estejam hoje ameaçadas de extinção.

Esta ameaça fez com que alguns criadores e pesquisadores passassem a dar a merecida importância às raças “naturalizadas”, pela sua adaptação ao ambiente, em grande parte, hostil da região tropical do país.

Programa.conservação.e.uso.de.recursos.genéticos.animais

Com a finalidade de evitar o desaparecimento dessas raças, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa criou um projeto de pesquisa denominado “Conservação e Uso de Re-cursos Genéticos Animais”, coordenado pelo Centro Nacional de Pesquisa em Recursos Genéticos e Biotecnologia – Cenargen, lo-calizado em Brasília. Conseguiu-se, desta forma, estabelecer uma verdadeira rede de Núcleos de Conservação, espalhados por todo o país. Esta Rede de Núcleos de Conservação engloba diversos Centros de Pesquisa da Embrapa, Universidades, Empresas Es-taduais de Pesquisa, assim como produtores privados, com uma coordenação, a nível nacional, por parte do Cenargen.

Os Núcleos de Conservação, organizados em forma de proje-tos de pesquisa, estão espalhados por todo o país. Atualmente estes projetos fazem parte da RENARGEN – Rede Nacional de Recursos Genéticos. Os projetos vêm sendo desenvolvidos, na sua maioria, em Centros de Pesquisa próximos aos habitats onde os animais

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foram naturalmente selecionados ao longo desses últimos séculos, foi a solução encontrada para tentar salvar os pequenos efetivos populacionais de cada uma dessas raças ameaçadas de extinção. A articulação com estes Núcleos de Conservação (Bancos de Ger-moplasma) é feita através de contatos entre os Curadores de Germo-plasma de produto sediados no Cenargen e os Curadores de Bancos de Germoplasma, que normalmente são os líderes dos projetos de pesquisa. Na atual estrutura do Sistema de Curadorias, existem dois Curadores da área animal: um para animais de grande porte (bovi-nos, bubalinos, eqüinos e asininos) e um para animais de pequeno porte (ovinos, caprinos e suínos).

Os objetivos do programa de conservação e uso de recur-sos genéticos animais tem os seguintes objetivos:

1.. Identificar e caracterizar fenotipicamente Núcleos de Con-servação, estabelecendo sua distribuição geográfica, di-versidade e variabilidade genética, para os grupos animais ameaçados de extinção;

2.. Monitorar os Núcleos de Conservação animal já existentes;3.. Implantar novos Núcleos de Conservação de raças que por-

ventura venham a ser identificadas como ameaçadas de extinção;

4.. Conservar ex situ o material genético por meio da criopre-servação de sêmen e de embriões;

5.. Caracterizar geneticamente as raças envolvidas no Progra-ma; e

6.. Aumentar a conscientização dos diversos segmentos da so-ciedade, sobre a importância da conservação de recursos genéticos animais.

Atualmente o Programa Conservação e Uso de Recursos Ge-néticos Animais contempla sete espécies, estando suas principais raças apresentadas na Tabela 1. É importante que se esclareça que os animais da espécie bubalina foram introduzidos mais recen-temente, e das cinco raças existentes no Brasil, duas estão amea-çadas, razão pela qual foram incluídas no programa.

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Importância das raças naturalizadas em sistemas de produção familiar

Tabela.1..Espécies e raças incluídas no Programa de Pesquisa “Con-servação e Uso de Recursos Genéticos Animais” do Brasil – 2005.

Espécie Raça Região do país

BovinosMocho Nacional SudestePantaneiro Centro-Oeste (Pantanal)Curraleiro ou Pé-duro NordesteCrioulo Lageano Sul

Bubalinos Baio NorteCarabao Norte

AsininosJumento Nordestino ou Jegue Nordeste

Jumento Brasileiro Sudeste

Eqüinos

Pantaneiro Centro-Oeste (Pantanal)Lavradeiro NorteCampeiro SulMarajoara NortePuruca NorteBaixadeiro NordesteNordestino Nordeste

Caprinos

Azul NordesteCanindé NordesteGurguéia NordesteMarota NordesteMoxotó NordesteRepartida Nordeste

OvinosCrioulo Lanado SulMorada Nova NordesteSanta Inês Nordeste

Suínos

Canastra BrasilCaruncho BrasilMonteiro Centro-Oeste (Pantanal)Moura BrasilNilo BrasilPiau BrasilPirapitinga BrasilTatu Brasil

CriopreservaçãoO Banco de Germoplasma Animal (BGA), localizado na Fa-

zenda Experimental do Cenargen foi criado em �983 e é o res-

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ponsável pelo armazenamento de sêmen e embriões das diversas raças de animais domésticos ameaçadas de extinção do Brasil. Para que se possa coletar sêmen, embriões e ovócitos das espé-cies e/ou raças de animais domésticos em perigo de extinção, é ne-cessário que se disponha de Núcleos de Conservação onde esse material será coletado, razão pela qual tanto a conservação in situ quanto a criopreservação são de extrema importância e se comple-mentam. Assim sendo, quando o local onde o Núcleo está sendo conservado dispõe de recursos humanos e físicos para a coleta e congelamento do material genético, esse trabalho é feito no próprio local, e quando isto não é possível, alguns animais são transferidos temporariamente para a Fazenda Experimental do Cenargen onde a coleta é processada.

Sabe-se que para algumas das raças, o número de touros doadores é menor do que o recomendado por SMITH (1984) que é de 25 doadores por raça, e de 100 doses/touro. Lamentavelmente, ao se iniciar o trabalho de conservação ex situ, algumas destas raças nem chegavam a contar com tal número de machos. Assim sendo, embora em muitos casos tenham sido coletadas muito mais do que as 100 doses/touro recomendadas, o foram de um reduzido número de touros. Atualmente estão armazenadas no BGA cerca de 52.000 doses de sêmen e 250 embriões de diversas raças de diferentes espécies animais.

A medida em que os Núcleos de Conservação vão sendo am-pliados ou que novos rebanhos vêm sendo identificados, a meta é coletar a maior quantidade possível de animais, a fim de a armaze-nar uma grande variabilidade genética.

Caracterização.genética

Nos últimos 10 ou 15 anos, foi constatado que o uso e a pre-servação dos recursos genéticos animais são inseparáveis. Houve uma conscientização da importância das raças domésticas na bio-diversidade mundial devido aos genes e combinações gênicas que estas possuem e que podem ser úteis na agricultura do futuro. O

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Importância das raças naturalizadas em sistemas de produção familiar

progresso e o desenvolvimento futuro da pecuária para as necessi-dades humanas é dependente da variabilidade genética existente entre e dentro das raças e populações. A presença e a freqüência das formas alélicas é a base para a variação genotípica (Danell, 1994). Assim sendo, a perda de um único tipo ou raça compromete o acesso a seus genes e combinações genéticas únicas, pois cada raça ou população representa, provavelmente, uma combinação única de genes (National Research Council, 1993). Deste modo, a visão que se tem atualmente é a de manter a diversidade máxima do pool genético de cada espécie prevenindo, assim, necessidades imprevistas para o desenvolvimento de sistemas de produção sus-tentáveis, uma vez que não é possível predizer com objetividade quais características poderiam ser necessárias no futuro (Barker, 1994; Hall & Bradley, 1995; National Research Council, 1993).

Como já mencionado, as características que as raças natura-lizadas desenvolveram a partir da seleção natural a que estiveram submetidas nos últimos quatro ou cinco séculos, lhes conferiram uma boa adaptação aos ambientes tropicais. Assume-se, portanto, que devem manter um pool gênico que lhes permitiu sobreviver em determinadas regiões tropicais. Desta forma, um estudo aprofunda-do, mediante a caracterização genética de suas populações, pode-rá auxiliar no desenvolvimento e acompanhamento racional de pro-gramas de melhoramento animal, bem como na sua preservação e conservação. Os ganhos na eficiência econômica, os quais podem ser resultado da utilização deste material genético, podem superar os custos requeridos na conservação destas raças/populações.

Por muito tempo, no Brasil, a caracterização das diferentes raças de animais domésticos existentes era baseada, quase que exclusivamente, em características morfológicas e produtivas, sendo que estas podem ser influenciadas pelo meio ambiente e muitas vezes são insuficientes para distinguir raças puras. No que se refere à caracterização genética, até o momento a maioria dos trabalhos tem sido feita com animais de raças comerciais, que con-

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tam com influentes Associações de Criadores. Até recentemente, os poucos trabalhos de caracterização genética envolvendo raças naturalizadas incluíam, fundamentalmente, estudos citogenéticos, grupamentos sangüíneos e polimorfismo protéico.

Tendo em vista esta lacuna existente na caracterização ge-nética das raças naturalizadas, no início de 1998 implantou-se, no Cenargen, o Laboratório de Genética Animal, com a missão de ca-racterizar e avaliar, a nível molecular, as espécies e/ou raças de animais em perigo de extinção, visando a manutenção, a conserva-ção e a disponibilidade da diversidade genética.

Sabe-se que embora algumas raças naturalizadas recebam diferentes denominações e habitem distintas regiões, apresentam fenótipos semelhantes que levantam dúvidas em relação a suas identidades como um grupo racial ou um tipo nativo distinto. Estas populações podem ser ou não geneticamente similares. Mesmo que pertençam à mesma raça, pelo isolamento geográfico e sua adapta-ção a nichos diferentes ecológicos, poderão ter acumulado diferen-tes alelos devido à deriva genética. Assim, a caracterização genética irá permitir a identificação destes grupamentos genéticos únicos que, por muito tempo, ficaram isolados em seu meio ambiente.

A decisão final da escolha das raças e indivíduos a serem conservados deve levar em conta quaisquer informações viáveis sobre: (a) características de interesse econômico; (b) característi-cas de adaptação; (c) presença de genes únicos; e (d) importância da raça nos sistemas de produção local ou regional.

Os resultados da caracterização genética poderão, então, dirimir dúvidas existentes, quanto à identificação de alguns grupa-mentos raciais. Como exemplo de dúvida, pode ser mencionado o caso das raças Crioulo Lageano, Franqueiro e Junqueira, todas portadoras de chifres de tamanho avantajado, e que alguns cria-dores insistem em afirmar tratar-se da mesma raça, ao passo que outros dizem tratar-se de raças distintas. A caracterização genética permitirá que sejam traçadas estratégias em cima de fatos e não de conjeturas.

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Importância das raças naturalizadas em sistemas de produção familiar

. Até o momento, quatro teses de mestrado envolvendo ca-racterização genética (RAPD) já foram desenvolvidas no LGA: duas sobre raças bovinas, uma sobre uma raça eqüina e uma sobre ra-ças caprinas, enquanto que quatro teses de doutorado envolvendo raças naturalizadas de diferentes espécies, mas utilizando micros-satélites estão em andamento.

Papel.das.raças.naturalizadas.na.pecuária.brasileiraDurante a elaboração do Informe Nacional sobre a Situação

dos Recursos Genéticos Animais do Brasil (Mariante et al., 2003), documento solicitado ao Brasil pela FAO, para compor o documen-to “Situação Mundial dos Recursos Genéticos Animais” a ser publi-cado por aquele Organismo Internacional, foi feito um levantamento sobre as raças utilizadas na pecuária brasileira, bem como a pro-porção entre as raças comerciais e naturalizadas.

Na Tabela 2 pode ser visto o número de raças criadas no Brasil, bem como a proporção entre as comerciais (aqui identifica-das como exóticas) e as consideradas naturalizadas.

Tabela.2..Número de raças das diferentes espécies criadas no Brasil

Espécie Número de RaçasRaças Exóticas Raças Naturalizadas

Bovinos de corte 46 6Bovinos de leite 12 1Bubalinos 3 2Eqüinos 16 7Asininos 0 3Caprinos 10 7Ovinos 13 10Suínos 20 12Aves � 30 5

Pela sua enorme população, cuja estimativa para o ano de 2003 ultrapassava as 180 milhões de cabeças (ANUALPEC 2003), pela diversidade de raças existentes e por ser criada em todos os estados da federação, a espécie bovina é, sem a menor dúvida,

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a espécie mais estudada dentre todos os animais domésticos no Brasil. Informações geradas pelos cerca de 20 programas de me-lhoramento animal existentes no país, têm sido exaustivamente analisados, e seus resultados levados aos criadores, auxiliando-os na seleção de seus rebanhos.

Todas as raças já foram caracterizadas fenotipicamente, no entanto a caracterização genética iniciou mais recentemente. A princípio, com trabalhos de caracterização bioquímica e mais tarde, com marcadores moleculares (PCR e microssatélites), sendo que atualmente o país já está engajado em estudos genômicos desta espécie. O alto valor alcançado por animais elite em leilões, reali-zados em geral por ocasião de grandes exposições agropecuárias, tem permitido que biotecnologias avançadas de reprodução sejam cada vez mais utilizadas, sendo que algumas propriedades priva-das contam com suas próprias equipes, trabalhando em laborató-rios com equipamentos de última geração.

A partir de 2003, o país passou a ocupar a primeira posição entre os maiores exportadores de carne. É, portanto, importante que se busque alternativas que permitam a manutenção do país neste patamar produtivo.

Segundo Euclides Filho et al. (2003) a busca por melhoria na eficiência de produção de carne, associada à necessidade de as-segurar a adaptabilidade e o atendimento a um mercado cada vez mais exigente em qualidade de produto final tem causado um au-mento na utilização de cruzamentos envolvendo raças naturaliza-das. Vários são os trabalhos demonstrando que a utilização destas raças contribui para um aumento na adaptabilidade dos rebanhos, devido a suas características de resistência ao calor e ecto e endo-parasitas (Wilkins, �993; Mariante et al., 1990).

Com o excelente desempenho da pecuária brasileira, torna-se cada vez mais importante a conservação das raças naturaliza-das que, uma vez geneticamente caracterizadas, serão de funda-mental importância para a segurança alimentar, pelas importantes características de resistência a doenças e a ecto e endoparasitas,

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Importância das raças naturalizadas em sistemas de produção familiar

que acumularam após cinco séculos de seleção natural. Para a ma-nutenção das raças naturalizadas, sua inserção nos sistemas de produção existentes é fundamental, e para que isto aconteça, cabe aos pesquisadores mostrar aos criadores que grande parte dessas raças poderá desempenhar um importante papel em determinados nichos de mercado. O exemplo europeu, em que se pratica um va-lor diferenciado para a carne de origem controlada, como é o caso das raças Retinta, na Espanha, e Barrosã, em Portugal, precisam ser seguidos no país. Para tanto, é necessário que se estude as características de carne de cada uma das raças naturalizadas.

É chegado o momento para a inserção de genes das raças naturalizadas brasileiras nas raças especializadas. Os resultados de diversas pesquisas estão comprovando o sucesso de sua utili-zação. É, portanto, necessário que se una esforços em termos da conservação e utilização dessas raças, o que certamente ocasiona-rá um aumento em seus efetivos populacionais.

Espera-se que estas raças, hoje ameaçadas de extinção, possam ser utilizadas como fonte de genes importantes para os programas de melhoramento animal. Que característica econômi-cas importantes como rusticidade, adaptabilidade a determinadas condições ambientais, resistência à enfermidades e outras, pos-sam ser descobertas, estudadas, salvaguardadas e, acima de tudo, utilizadas em benefício da sociedade. A utilização dos recursos ge-néticos animais é fundamental para sua manutenção. Não existe conservação sem utilização!

Conclusões

As raças naturalizadas além de permitirem a inclusão so-cial são repositórios de genes. Os pesquisadores envolvidos neste trabalho não têm a menor dúvida de que será nessas raças que se irá buscar os genes que irão atender demandas específicas, na for-mação de animais que aliarão a produtividade das raças exóticas a suas características de adaptação e resistência.

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A diminuição do risco de extinção das raças “naturalizadas” está intimamente ligada à sua inserção nos atuais Sistemas de Produção. Para que se tenha maior sucesso em sua inserção nos sistemas de produção, é preciso que se identifique a característica mais marcante de cada uma das raças naturalizadas, e um nicho econômico correspondente, que permita agregar valor ao produto, atraindo o interesse dos criadores.

Existe uma necessidade premente de se alimentar a popu-lação mundial, sempre crescente, ao mesmo tempo em que se dê condições para a conservação dos recursos naturais. Como a pro-dução animal está prestes a se tornar na mais importante atividade agrícola em termos de produção econômica, é imperioso que esse crescimento seja sustentável, pois do contrário, o meio ambiente irá sofrer, comprometendo o bem estar humano.

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A INFLUÊNCIA DA PÓS-GRADUAÇÃO EM AGROECOLOGIANO.ENSINO.DE.CIÊNCIAS.AGRÁRIAS.DO.MARANHÃO

José Augusto Silva Oliveira*

Graduação Versus Pós-Graduação no Contexto Educacional Brasileiro ------ 253Plano Nacional de Pós Graduação - 2005-2010 ------------------------------------- 254Vertentes e Objetivos Atuais da Pós-Graduação ------------------------------------ 255Contexto Atual da Pós-Graduação Nacional ------------------------------------------- 255A Expansão do Ensino de Graduação --------------------------------------------------- 257O Programa de Pós-Graduação em Agroecologia da UEMA --------------------- 259Um Pouco da História do Programa de Pós-Graduaçãoem Agroecologia da UEMA ------------------------------------------------------------------ 260Preocupação Atual do Curso: -------------------------------------------------------------- 260Estrutura do Curso: --------------------------------------------------------------------------- 261Integração com a Graduação -------------------------------------------------------------- 262A Visão de Futuro ------------------------------------------------------------------------------ 262Referências Bibliográficas ------------------------------------------------------------------- 266

Graduação Versus Pós-Graduação no Contexto Educacional Brasileiro

Uma recuperação histórica da política nacional de Pós-Graduação, por meio da análise das principais questões levanta-das pelos Planos Nacionais de Pós-Graduação (PNPGs), possi-bilita inferir que apenas com a construção do IV Plano Nacional de Pós Graduação de 1996, incorporou-se, mais enfaticamente, a preocupação com a integração entre Pós-Graduação e Gradua-ção.

Ao contrário do ensino de Graduação, que vinha passando por um acentuado processo de expansão desordenada, os Planos Nacionais de Pós Graduação.imprimiram uma direção macro-po-lítica para a condução da Pós-Graduação, através da realização

* Professor do Departamento de Economia Rural da UEMA. [email protected]

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A influência da pós-graduação em agroecologia no ensino de ciências agrarias no Maranhão

de diagnósticos e de estabelecimento de metas e de ações, quais sejam:

• Desenvolvimento da Pós-Graduação e do Sistema de Ensi-no Superior a partir de orientações dos PNPGs;

• Integração da Pós-Graduação no interior do sistema univer-sitário, institucionalizando a atividade de pesquisa em diver-sas instituições;

• Aumento da capacitação do corpo docente do ensino supe-rior, através de programas direcionados para essa finalidade.

• Construção de um amplo sistema de bolsas no país e no ex-terior, que tem contribuído para a qualificação e reprodução do corpo docente e de pesquisadores.

• Estruturação de uma política de apoio financeiro aos progra-mas de Pós-Graduação.

• Participação sistemática de representantes da comunidade acadêmica nos processos de formulação da política de Pós-Graduação.

• Implantação de um sistema nacional de avaliação dos pro-gramas realizado por meio de julgamento de pares.

• Integração do ensino à pesquisa, estabelecendo-se um nú-mero limitado de disciplinas articuladas com as respectivas linhas de pesquisa dos cursos.

• Criação de um eficiente sistema de orientação de disserta-ções e de teses.

• Articulação da comunidade acadêmica nacional com rele-vantes centros da produção científica internacional.

Plano Nacional de Pós Graduação - 2005-2010 Com o Plano Nacional de Pós Graduação - 2005-2010, foi

constatado que a Pós-Graduação nacional pôde expandir-se e con-solidar-se no espaço de poucas décadas, mas que, por outro lado, a Graduação foi exposta ao sabor das conjunturas, sem o suporte de uma política educacional mais sistemática e adequada. Outra

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Jose Augusto Silva Oliveira

constatação importante foi o reconhecimento de que, preservando a especificidade de cada nível de ensino, haverá uma maior integração da Pós-Graduação com a Graduação o que será altamente benéfico para ambos os níveis, mas essa integração será de responsabilidade das instituições que ministram os cursos nos dois níveis.

Vertentes e Objetivos Atuais da Pós-Graduação

• Capacitação do corpo docente para as instituições de Ensi-no Superior.

• Qualificação dos professores da educação básica. • Especialização de profissionais para o mercado de trabalho

público e privado.• Formação de técnicos e pesquisadores para empresas pú-

blicas e privadas. • Fortalecimento das bases científica, tecnológica e de inovação.• Formação de docentes para todos os níveis de ensino.• Formação de quadros para mercados não acadêmicos.

Contexto Atual da Pós-Graduação Nacional Evolução do Sistema Nacional de Pós-Graduação: I Cursos

O segmento público é responsável por 82% da oferta dos cur-sos de mestrado e por 90% dos cursos de doutorado. O número de alunos matriculados conheceu um aumento expressivo, uma vez que passou de 67.820 em 1996 para 112.214 em 2003, represen-tando um crescimento de 65% no período.

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A influência da pós-graduação em agroecologia no ensino de ciências agrarias no Maranhão

Evolução do Sistema Nacional de Pós-Graduação: II Alunos Titulados

Número de Cursos Segundo as Regiões, 1996-2004 - III MESTRADO

Número de Cursos Segundo as Regiões, 1996-2004 – IV DOUTORADO

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Jose Augusto Silva Oliveira

Número de Cursos Segundo a Grande Área do Conhecimento-V MESTRADO

Número de Cursos Segundo a Grande Área do Conhecimento-VI DOUTORADO

A.Expansão.do.Ensino.de.Graduação.A taxa bruta de matrícula no ensino superior se aproxima de

16% - 3,89 milhões de alunos matriculados - o que evidencia a ne-cessidade de sua expansão, considerando as metas do Plano Na-cional de Educação. Enquanto a população discente cresceu 220% no período �990-2002, na área privada o aumento foi de 250%. O Crescimento da população discente nas instituições estaduais no mesmo período foi de 440%. No mesmo período, se observou

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uma grande proliferação de instituições privadas de baixa qualida-de, enquanto ocorria uma deterioração qualitativa na área pública, afetada em suas finanças pela crise fiscal do Estado. Fonte: (INEP/MEC).

Na tentativa de corrigir estas distorções o Plano Nacional de Educação 200�-20�0 e a Reforma Universitária 2006 enunciam a necessidade de discussão das bases para um processo de integra-ção disciplinar que promova no futuro a possibilidade de mobilidade entre os programas de Graduação e Pós-Graduação e se pautam pela constatação de que é indispensável melhorar a qualidade do ensino, para o que constitui instrumento adequado à instituciona-lização de um amplo sistema de avaliação associada à ampliação dos programas de Pós-Graduação, cujo objetivo é qualificar os docentes que atuam na educação superior. Uma Pós-Graduação conseqüente com o princípio constitucional da igualdade de opor-tunidades supõe o fluxo de uma educação básica forte, qualificada, equânime e democrática, que atenda a necessidade de capaci-tação de docentes, tanto para a educação básica quanto para a superior, A Avaliação da Pós-Graduação, realizada sob o recorte das áreas/subáreas do conhecimento, deverá considerar também a dimensão institucional, considerando os contextos e a globalidade do perfil e do desenvolvimento da Pós-Graduação.

Determinar que o projeto pedagógico institucional evidencie a articulação da pesquisa com as demais atividades acadêmicas, con-tinua sendo uma das tarefas centrais da Pós-Graduação brasileira.

Qualificação do Corpo Docente do Ensino Superior - 2003

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O Programa de Pós-Graduação em Agroecologia da UEMA

A concepção do atual Programa de Pós-Graduação em Agro-ecologia não derivou de um processo espontâneo do aumento da pesquisa científica e do aperfeiçoamento da formação de quadros, mas foi produto de uma deliberada ação indutiva, como uma alter-nativa [novo.paradigma] ao desenvolvimento agrícola regional e do Maranhão, em particular. Motivaram a criação desse Programa o esgotamento do modelo de ciência predominante em função da crise de confiabilidade nas bases estruturantes de seu conhecimen-to e a insustentabilidade temporal do modelo de desenvolvimento rural e de agricultura convencional, em virtude de sua dependência de recursos não renováveis e limitados. A noção de paradigma é normalmente utilizada para estabelecer uma diferenciação entre dois momentos ou dois níveis do processo de conhecimento cien-tífico (Capra, �982).

A agroecologia é tecnológica, mas também é alternativa à produção agrícola em grande escala e ao paradigma científico “tradicional” e unidisciplinar. No paradigma agroecológico evolui-se para além da técnica, recorrendo a elementos sócio-histórico-cultu-rais que embasem suas argumentações científicas. O núcleo, por excelência, da produção tecnológica alternativa é a agricultura fa-miliar, porque a Agroecologia incorpora à produção a dimensão his-tórico-social, os valores culturais e o senso comum inerentes aos agricultores familiares.

Como enfoque científico e estratégico de caráter multidiscipli-nar, a agroecologia apresenta a potencialidade para fazer florescer novos estilos de agricultura e processos de desenvolvimento rural sustentáveis que garantam a máxima preservação ambiental, res-peitando princípios éticos de solidariedade sincrônica e diacrônica (Caporal e Costabeber, 2004).

O paradigma agroecológico representa a linha de um posicio-namento sócio-ambiental que contempla a necessidade de novos modos de desenvolvimento rural e de agricultura que assegurem

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maior sustentabilidade ecológica e eqüidade social, por isso exi-ge mudança de posicionamento para uma abordagem científica que leva em conta aspectos não apenas disciplinares. Um currí-culo acadêmico interdisciplinar deve englobar, portanto, áreas do conhecimento que remetam a questionamentos quanto à própria tecnificação científica do conhecimento, a partir do campo histórico-social. .Um Pouco da História do Programa de Pós-Graduação em.Agroecologia.da.UEMA

O Programa obteve aprovação pela UEMA, em 1994, pe-las resoluções n° 021/1994-CEPE/UEMA e n° 117/1994-CONSUN/UEMA e em 1996 foi instalado o Curso de Mestrado em Agroeco-logia, com funcionamento autorizado pelo Conselho Estadual de Educação, em 2000, por intermédio da Resolução n° 408/2000, de 7 de dezembro de 2000.

Foi recomendado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior em 2001 pela Resolução n° 283/2002-CEE, de 12 de novembro de 2002 e reconhecido pelo Conselho Nacional de Educação em 2002, conforme o Parecer CNE/CES n° 153/2002.

Obteve o reconhecimento do Ministério da Educação em 2002, conforme a Portaria n° 2530, de 4 de setembro de 2002. A Avaliação trienal realizada pela CAPES em dezembro de 2004 manteve o reconhecimento do Curso.

Preocupação.Atual.do.Curso: O Curso de Mestrado em Agroecologia busca a formação de

profissionais com uma compreensão aprofundada sobre a estrutu-ra, o funcionamento e o manejo dos agroecossistemas tropicais, in-tegrando os fundamentos conceituais, os critérios e parâmetros da Agroecologia, a partir de uma metodologia interdisciplinar. Define como seus objetivos, entre outros, o desenvolvimento de projetos e estudos que levem à compreensão dos problemas e minimizem os

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conflitos entre o produtivo e o ecológico, compatibilizando a econo-mia e a ecologia no contexto do desenvolvimento sustentável. Para o cumprimento destes objetivos o Curso pretende:

• ampliar, na região, o quadro de mediadores capazes de en-tender, investigar e promover o desenvolvimento territorial a partir da interação entre o conhecimento científico dos pro-cessos socioculturais, econômicos e ecológicos envolvidos no desenho e redesenho de sistemas agrícolas sustentá-veis;

• aumentar a base de conhecimento sobre a natureza, o fun-cionamento e os indicadores de qualidade e de sustenta-bilidade dos agrossistemas do trópico úmido, para melhor aproveitar suas interações biológicas, os sinergismos de seus componentes e os saberes locais vinculados aos siste-mas tradicionais;

• promover, em parceria com outros atores sociais locais e externos, um processo constante de análises e reflexões, gerando conceitos, conhecimentos, estratégias, metodolo-gias e técnicas agroecológicas localmente apropriadas para apoiar processos de desenvolvimento do espaço rural na re-gião de transição entre o trópico úmido e o semi-árido.

Estrutura.do.Curso: O Curso de Mestrado em Agroecologia, Área.de.Concen-

tração.Agroecologia, está estruturado em um currículo multi/inter-disciplinar integrando Disciplinas nas áreas de Ciências Agrárias, Sociais e Ambientais, que constituem as bases de sustentação de quatro Linhas.de.pesquisa:..........................................................

I) Ecossistemas e Agroecossistemas TropicaisII) Sistemas de Produção AgroecológicosIII) Desenvolvimento Sustentável dos Territórios RuraisIV) Ecologia de Insetos, Fitopatógenos e Ervas Espontâneas

em Agroecossistemas.

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A estrutura de capacitação discente é orientada para a forma-ção acadêmica de ensino e pesquisa, concentrando esforços nos ecossistemas da região de transição entre a Amazônia e o Nordes-te brasileiro. Para cumprimento de seus objetivos o Programa de-senvolve vários Projetos de pesquisa financiados pelo CNPq, BNB e FAPEMA.

Integração.com.a.Graduação.O programa de Pós-Graduação em Agroecologia se integra

às atividade de ensino e pesquisa da Graduação em Agronomia e Veterinária por meio de diversas atividades:

• Inserção da Agroecologia como disciplina nos cursos de Graduação em Agronomia e Medicina Veterinária (disciplina opta-tiva, CH 60h).

• Professores envolvidos diretamente no ensino nos cursos de Graduação em Agronomia e Medicina Veterinária, além do curso de Biologia.

• Professores dos cursos de Graduação titulados ou em titula-ção pelo Programa.

• Alunos dos cursos de Graduação envolvidos em projetos de pesquisa gerando monografias.

• Alunos de Graduação participando em projetos financiados por órgãos de fomento à pesquisa científica e tecnológica.

• Ex-alunos dos cursos de Graduação titulados ou em titula-ção pelo Programa.

• Fortalecimento e expansão da iniciação científica, participa-ção ativa dos professores/pesquisadores

• Prática de seminários e discussões em grupos envolvendo os alunos de Graduação e de Pós-Graduação.

A.Visão.de.FuturoA expectativa do Programa de Pós Graduação da UEMA pode

ser dividida em áreas distintas nas quais se aguarda seja atingida

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várias metas. Na área científica se espera um expressivo aumento do conhecimento sobre as alternativas para o uso sustentável dos agrossistemas no trópico úmido, em todas as dimensões, incluindo o indispensável aumento do capital social. Áreas como reciclagem de nutrientes e fluxos da matéria orgânica, controle biológico de pragas e doenças, uso de espécies nativas em sistemas agroflorestais, tam-bém terão ampliadas suas abordagens para as condições de preci-pitação e temperaturas altas. Para aumentar a produção científica, o Programa pretende utilizar estratégias que incluem a readequação da sua infra-estrutura de apoio à pesquisa, principalmente na área de fracionamento de matéria orgânica e análise de Carbono e Nitro-gênio, aproveitando a experiência do Grupo consolidado.

Na área científica , portanto, a principal meta será a formação de uma base a partir da qual a publicação de artigos de qualidade que conduzirão o Programa ao nível de publicação adequado para a criação do Doutorado, o que deverá resultar da conjunção de vários processos e situações:

a) Seleção de alunos com potencial para desenvolvimento dos projetos, a partir da projeção nacional do Programa;

b) Exigência de que cada aluno apresente artigo dentro das nor-mas de revista qualis A, quando da entrega da dissertação;

c) Garantia de bolsas de estudos (CAPES ou FAPEMA) para todos os candidatos;

d) Estrutura laboratorial e de revisão bibliográfica adequada;e) Integração de todos os alunos e professores aos projetos

em andamento e a serem aprovados, no sentido da focaliza-ção dos objetivos do programa;

f) Utilização de Co-orientadores de alto nível, para interagir com pesquisadores e alunos completando as lacunas exis-tentes nas áreas mais deficientes do Programa.

Todas essas metas devem se materializar por meio da publi-cação prevista de artigos em revistas nacionais e internacionais.

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Também se pretende continuar a publicação anual da “Série Agro-ecologia” como forma de dar continuidade à proposta de democra-tizar o conhecimento gerado por alunos e professores do Curso, principalmente na expectativa de contribuir para o redirecionamen-to do ensino da Agricultura da região, nos níveis médios e de gra-duação.

O principal resultado ambiental esperado com a maturação do Programa reside na possibilidade de substituição do sistema de corte-queima utilizado pela maioria dos agricultores da região para preparo da área de plantio, com impactos decisivos sobre a biodi-versidade, os níveis de gases na atmosfera, os teores de matéria orgânica do solo e sobre a vazão de nascentes, igarapés e até de rios importantes como o Itapecuru, responsável pelo abastecimento de 70 % da água consumida na capital São Luís.

A produção de alimentos nas regiões mais densamente povo-adas do trópico úmido se faz, em sua quase totalidade, às custas da degradação ambiental, porque combina a ausência de tecnolo-gias localmente apropriadas, com a falta de recursos financeiros dos agricultores, chegando a um ciclo vicioso onde quanto mais pobre a população maior a pressão sobre os recursos naturais e quanto mais degradado o ambiente mais pobre a população.

Historicamente, as alternativas que se tem oferecido a esses agricultores são as práticas convencionais representadas pela apli-cação de corretivos e adubos químicos após o preparo do solo com aração e gradagem. Em condições de alto índice pluviométrico, em solos de baixa fertilidade natural e com alta susceptibilidade à compactação, este modelo carrega inúmeras desvantagens locais como o aumento do alagamento, devido à quebra da continuidade dos poros do solo, à queima da matéria orgânica pela exposição do solo aos rigores do sol equatorial e a recompactação da camada revolvida pelo impacto das chuvas torrenciais típicas da região do trópico úmido. Do ponto de vista ambiental verifica-se que nenhum dos dois modelos compatibiliza o uso dos recursos naturais com a sustentabilidade ambiental, como comprova as imensas áreas

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degradadas que resultaram de antigos “campos agrícolas” aban-donados no segundo ano de cultivo, de processos de queimadas repetidas com tempos de pousios cada vez menores, ou de pasta-gens mal conduzidas.

No Maranhão mais da metade da população sobrevive da agricultura, portanto do ponto de vista econômico-social, as metas mais importantes será a ampliação da capacidade do Programa for-necer subsídios científicos às entidades responsáveis pela condu-ção das políticas públicas do Maranhão, destinadas à elevação do IDH da sua população agrícola, cuja importância política aumenta a cada publicação do PNUD. A ampliação das discussões a respeito das causas da triste posição que o Maranhão ocupa e das soluções para a sua ascensão na tabela nacional, abre cada vez mais impor-tantes espaços nas agendas da sociedade maranhense. Portanto, o estabelecimento de modelos alternativos de geração de rendas agrícola, e não agrícola, adequados às especificidades regionais dessa enorme e densamente povoada região do trópico úmido, é o maior desafio e objetivo do Programa de Pós-Graduação em Agro-ecologia da Universidade Estadual do Maranhão.

• Evoluir para a consolidação de uma base de conhecimentos e de alternativas para a instalação e manejo de agroecossistemas tro-picais sustentáveis, a partir de princípios agroecológicos (Referên-cia em Agroecologia).

• Enfatizar o engajamento e adesões das comunidades rurais a um conjunto de crenças comuns consensuadas, capazes de ofertar cidadania e dignidade às famílias que se dedicam à agricultura, a partir do uso sustentável dos agroecossistemas.

• Ampliar o quadro de mediadores capazes de entender, investigar e promover o desenvolvimento territorial, integrando o conheci-mento científico na construção de sistemas agrícolas sustentáveis e os saberes locais vinculados aos sistemas tradicionais.

• Aumentar o conhecimento sobre a natureza, o funcionamento e os indicadores de qualidade e de sustentabilidade dos agrossistemas

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A influência da pós-graduação em agroecologia no ensino de ciências agrarias no Maranhão

do trópico úmido.• Gerar conceitos, estratégias, metodologia e técnicas agroecológi-

cas apropriadas aos processos de desenvolvimento rural dos terri-tórios da região de transição entre o trópico úmido e o semi-árido.

• Intervir, via iniciação científica e atividades de ensino e extensão, para a melhoria da qualidade da Graduação em ciências agrárias praticada na UEMA.

Para cumprir esses objetivos o Programa instituiu o Curso de Mestrado em Agroecologia, Área.de.Concentração.Agroecolo-gia, estruturado em um currículo multi/interdisciplinar que abrange desde os ecossistemas naturais, passando pelo manejo agroecoló-gico de ecossistemas até o desenvolvimento rural. Formatado com disciplinas nas áreas de Ciências Agrárias, Sociais e Ambientais o Curso constituiu uma base que se sustenta em quatro Linhas.de.pesquisa:..........................................................

I) Ecossistemas e Agroecossistemas TropicaisII) Sistemas de Produção AgroecológicosV) Desenvolvimento Sustentável dos Territórios RuraisVI) Ecologia de Insetos, Fitopatógenos e Ervas Espontâneas

em Agroecossistemas..........................................................

Referências Bibliográficas

CAPRA, F. O ponto de mutação. A ciência, a sociedade e a cultura.emergente. São Paulo, Cultrix, �996.

CAPORAL, F.R.; COSTABEBER, J.A. Agroecologia:.alguns.conceitos.e.princípios. Brasília: MDA/SAF/DATER-IICA, 24p. 2004.

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