zygmunt bauman: reflexões sobre a cultura do narcisismo · minha época, em que nossa sociedade...

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1 Zygmunt Bauman: Reflexões sobre a Cultura do Narcisismo Abram Eksterman “A propensão de tudo que é belo e perfeito á decadência, , como sabemos, dá margem a dois impulsos diferentes na mente. Um leva ao penoso desalento, ao passo que o outro conduz à rebelião contra o fato consumado”. Sigmund Freud- Sobre a Transitoriedade "Estou tão desgostoso que me sinto incapaz de pensar. Refugiar-me nos tempos antigos para não pensar no futuro. Acho que a nossa vida já deu o que tinha a dar; é coisa liquidada. - Nada disso, argumentou a mãe, sorrindo.-Não é não, pai. E isto é mais uma das coisas de que uma mulher tem a certeza. Já reparei nisso. O homem vive como se recebesse golpes... nasce uma criança e morre um homem, e é como se fosse um golpe; arranja uma terrinha; perde a terrinha, e é outro golpe. Para a mulher tudo corre sem parar, como um rio cheio de redemoinhos e de cascatas, mas correndo sem parar. É assim que a mulher encara a vida. A gente não morre, a gente continua... muda, talvez, um pouco, mas continua sempre firme." John Steinbeck- As Vinhas da Ira. I - Ouvir Filosofia? Sou de uma época em que a presente iniciativa da Sociedade não só seria muito criticada, mas provavelmente sequer seria cogitada para ser levada a cabo, uma vez que não se reconhecia valor em exposições filosóficas em nossas sessões científicas. Contudo, lembremos que muito cedo o próprio

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Zygmunt Bauman: Reflexões sobre a

Cultura do Narcisismo

Abram Eksterman

“A propensão de tudo que é belo e perfeito á decadência, , como sabemos, dá margem a dois impulsos diferentes na mente. Um leva

ao penoso desalento, ao passo que o outro conduz à rebelião contra o fato consumado”.

Sigmund Freud- Sobre a Transitoriedade

"Estou tão desgostoso que me sinto incapaz de pensar. Refugiar-me nos

tempos antigos para não pensar no futuro. Acho que a nossa vida já deu

o que tinha a dar; é coisa liquidada. - Nada disso, argumentou a mãe,

sorrindo.-Não é não, pai. E isto é mais uma das coisas de que uma

mulher tem a certeza. Já reparei nisso. O homem vive como se recebesse golpes...

nasce uma criança e morre um homem, e é como se fosse um golpe;

arranja uma terrinha; perde a terrinha, e é outro golpe. Para a mulher tudo

corre sem parar, como um rio cheio de redemoinhos e de cascatas,

mas correndo sem parar. É assim que a mulher encara a vida.

A gente não morre, a gente continua... muda, talvez, um pouco,

mas continua sempre firme." John Steinbeck- As Vinhas da Ira.

I - Ouvir Filosofia?

Sou de uma época em que a presente iniciativa da Sociedade não só seria

muito criticada, mas provavelmente sequer seria cogitada para ser levada a

cabo, uma vez que não se reconhecia valor em exposições filosóficas em

nossas sessões científicas. Contudo, lembremos que muito cedo o próprio

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Freud assistia cursos de Brentano e escrevia suas críticas a um amigo sobre

seus acordos ou desacordos. Psicanálise é uma arte empírica, assim como o

é a arte médica herdada de Hipócrates. Filosofar pode não contribuir muito

para o fazer Psicanálise, mas contribui muito para o "pensar" do

psicanalista, tanto quando esquadrinha seus achados clínicos, como quando

tenta construir um modelo teórico para entender o paciente. Também

frequentei os textos de filosofia muito cedo. Ajudou-me a arrumar meu

armário de pensamentos e viver lendo. Filosofar é abrir a torneira de

perguntas. Não acabam nunca e nos deixam perplexos e em dúvidas.

Entendi a maiêutica de Sócrates na adolescência e não fiquei infeliz porque

descobri quão pouco eu sabia. Afinal, tinha uma vida para obter respostas e

uma biblioteca para pesquisá-las. Minha época, em que nossa Sociedade

sofria de infecções políticas, foi-se. Com ela foram-se muitas convicções,

inumeráveis certezas, sociais, políticas, científicas, e até psicanalíticas,

Muitas regras morais tornaram-se obsoletas, assim como modismos e

vocábulos. Quem pronuncia hoje, em seu falar corriqueiro, a palavra

“outrossim”. Falei em uma conferência a palavra “reposteiro” e ninguém

entendeu. Tudo está mudando muito rápido e viajamos pelo tempo e pelos

costumes num trem bala mal dando para ver a paisagem, muito menos os

letreiros dos cartazes. Eis uma das expressões emblemáticos da exposição

de Zygmunt Bauman: as múltiplas realidades “líquidas”. Sete obras

traduzidas em várias línguas, elas já no original em inglês, ostentam essa

intrigante expressão metáfórica: “Modernidade líquida”(2000), “Amor

Líquido: Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos” (2003), “Vida Líquida”

(2005), “Medo Líquido” (2006), “Tempos Líquidos” (2006), “Arte,

Líquida?” (2007), “44 Cartas do Mundo Líquido Moderno” (2011),

Uma realidade que nos escapa entre os dedos: nossos valores, relações,

regras sociais, crenças, teorias, lideranças, políticas, vínculos humanos,

amores. Tudo parece não ter consistência. Se Bauman tivesse estado de

alguma forma vinculado ao famoso Instituto para Pesquisa Social (Institut

für Sozialforschung) fundado por Felix Weil em 1923 como um anexo da

Universidade de Frankfurt, talvez tivesse sido, dentro de sua vasta cultura

e espírito de observação, influenciado pela Psicanálise, como o foram os

eminentes pesquisadores que se associaram posteriormente a essa

instituição que ficou conhecida como Escola de Frankfurt. Bauman não era

exatamente um positivista, como se poderia esperar de alguém que fora

durante a segunda guerra mundial, orientador político no Primeiro Exército

Polonês fração do Exército Vermelho soviético e, durante o governo

comunista da Polônia, ter trabalhado para a inteligência militar. Portanto

impregnado pela ortodoxia marxista, embora posteriormente refez-se

influenciado por Antonio Gramsci e Georg Simmel. Sem dúvida Bauman

foi um arguto observador social e pode se livrar do peso de ortodoxias

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filosóficas. Mas poderia ter se servido mais amplamente do pensar

psicologico, sobretudo, psicanalitico para entender sua metáfora líquida.

Creio que se o tivesse feito poderia com vantagem adotar a nomenclatura

de Christopher Lasch, importante professor de Historia e crítico social da

Universidade de Rochester, N.Y., que em 1979 publicou “Cultura do

Narcisismo”, um dos mais contundentes textos críticos do consumismo

social e que devastava (e devasta) os valores tão laboriosamente herdados

do iluminismo, do positivismo, e sobretudo da revolução social e

psicológica que liderou a cultura nos inícios do século XX e avançou para

dentro da modernidade.

Que lições poderia a Psicanálise nos trazer para um mais amplo

entendimento da convulsão social que sucedeu, do fim da Segunda Guerra

Mundial até os dias atuais, e que promete um futuro de anos sombrios e

incertos com frequentes caretas apocalípticas.

II - Filosofando sobre a Psicanálise.

Vamos começar respondendo sobre a contribuição da Psicanálise. Antes

precisamos deixar claro o que é Psicanálise. Psicanálise é a Metafísica da

Psicologia, assim como a Ontologia é a Metafísica da Ôntica. A Ôntica

disserta sobre tudo o que podemos perceber em nosso mundo, inclusive

nosso corpo. A Ontologia trata de estudar de onde e como tudo o que

percebemos foi criado e tornou-se o que é. Psicologia descreve

pensamentos, emoções, memórias, vontades. Psicanálise tenta pensar

como tudo isso descrito pela Psicologia surgiu e veio a se tornar o que é.

Freud chamou a Metafísica da Psicologia de Metapsicologia, cujo conteúdo

tornou-se a base teórica para a prática terapêutica. Até hoje perdura a

discussão se esses fundamentos são suficientes para garantir um selo

científico e reconhecimento das entidades promotoras de saúde para esse

tipo de prática terapêutica. Não vamos aqui solucionar tais dúvidas, mas

aproveitar as reflexões metapsicológicas de Freud e de outros tantos que

contribuíram para que o drama humano fique mais iluminado e

compreensível e, com isso, mais accessível a intervenções terapêuticas.

Inclusive para o nosso drama social. Mas antes de aplicarmos nossas

especulações psicanalíticas sobre o drama social, vamos ver se podemos

concordar com o que, em síntese, a Psicanálise contribuiu para esclarecer o

drama psicológico.

Qual é o resultado prático da intervenção psicanalítica. Produzir

consciência. Consciência caracteriza a natureza humana. Lineu classificou

o homem, por essa característica, como "homo sapiens". E a religião cristã

como o único ser que possui alma. Descartes, como o ser por excelência

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que representa o "res cogitans". Freud foi além e percebeu que o ser

humano não era e agia apenas movido pela razão. Na verdade, age

sobretudo movido pela emoção (ou desejo) e, para ser mais racional, mais

humano, precisa se tornar mais consciente. Para realizar essa façanha -

tornar-se mais consciente - precisa, como na química, de um agente

chamado catalisador. A função do psicanalista é ser na interação com o seu

paciente um catalisador que acelera a produção de consciência. O resultado

final é um sistema psíquico mais adequado para superar os desafios do

desenvolvimento pessoal, suas crises, e dificuldades adaptativas

circunstânciais. Aumenta a capacidade do que Freud chamou de "Ego"

(das Ich), o que permite vencer ou superar o estresse natural ou excepcional

da vida. Ego foi o termo proposto por Freud para designar a vida mental, na

verdade a parte mais "operacional" da vida mental. Nunca ficou

estabelecido o "quanto" de vida mental podemos designar como Ego. Nem

sabemos até hoje o que é aquilo que costumamos chamar de "mente". Não

sabemos se é uma coisa; se está em algum lugar; se ocupa espaço; se faz

parte desse mundo para o qual nossos cinco sentidos absorvem senso-

percepções e com elas informações sobre nós mesmos e sobre o mundo que

nos cerca. Mas a mente é o que nos fornece pensamentos e reflexões e nos

permite não só recriar o mundo que nos cerca, mas recriar a nós mesmos e

viver em um grupo humano que chamamos sociedade. O que permitiu que

a Vida, sob a forma de ser humano, tornar-se senhora de nosso planeta e

dominar todas as demais formas de vida. Não está em pauta julgar se esse

domínio terá um desfecho benéfico ou maléfico. Já sabemos, como

acentuou Bertrand Russel logo após a Segunda Guerra Mundial, que nós,

humanos, somos "terríveis, terríveis, terríveis". De certa maneira temos

escrito a História recente de nosso planeta. Se de maneira correta ou não, a

História futura o dirá. Por enquanto conseguimos escrever um dos mais

tenebrosos e estúpidos capítulos de nosso planeta no último século. E ainda

não sabemos se conseguiremos aprender a lição. Se Bauman nos deixa uma

mensagem um tanto pessimista, corre, creio eu, por conta dessa

constatação. Mas, argumenta, por outro lado, que nossa realidade

despedaçada é consequência das transformações radicais que se estão

processando em nossa intimidade psicológica e em nossa estrutura social.

O caráter metafísico da exposição teórica da Psicanálise produziu

consequências bem semelhantes às consequências observadas em outras

metafísicas que foram expostas ao longo dos registros na história da

Humanidade. Aos esforços moralizadores e éticos originais resultaram

religiões, apropriadas pelo poder temporal a serviço da hierarquização da

sociedade, chegando em algumas a justificar a escravidão. A metafísica na

filosofia clássica deu origem a exposições teológicas as mais variadas nas

quais fomos apresentados à Eternidade. Todas as culturas criaram religiões

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e expuseram o poder onipresente e onisciente de um deus e justificaram a

esperança, aliviaram o temor à morte e mitigaram o sofrimento diante da

desgraça. Apresentaram o alívio da fé e o conforto de um futuro melhor,

bem melhor, que o presente. A metafísica na Psicanálise não ficou atrás.

Desdobrou-se em inumeráveis seitas, deificando fundadores e camuflando

seguidores abnegados em santos. Parece ser o destino das exposições

metafísicas, atendendo às aspirações mais primitivas que exigem

segurança, realização de desejos, satisfações e, sobretudo, vencer o maior

de todos os desafios qual seja a mortalidade. Todos esses componentes

ficaram claramente expostos por Freud em sua descrição de "processo

primário de pensar" no capítulo VII, diríamos metafísico, da

"Interpretação dos Sonhos", publicado em 1900. A importância desse

capítulo está patente em sua persistência em se manter como uma cunha em

qualquer exposição de Psicologia Geral Descritiva, e profundamente

perturbadora em toda tentativa de compreender o drama humano. Achamos

hoje, passados mais de um século, perfeitamente natural justificar certas

condutas irracionais e desejos estúpidos como consequência direta desse

caldeirão efervescente de desejos imperativos e primitivos que Freud

designou como nosso Inconsciente. Mas o modelo de explicar nossa

conduta através de uma simples trama causal esbarrou com os estudos

aprofundados da teoria de sistemas. As explicações originais das curas de

sintomas histéricos necessitaram revisões importantes diante das recidivas

de sintomas e da evidente complexidade dos fatores causais que deveriam

contribuir para explicar a patologia. Com muito pesar precisávamos

abandonar o aforismo hipocrático de "aitia" (causa) e adotar a perspectiva

recente de "sistema" para entender fenômenos humanos, onde a físico-

química de Helmholtz, Dubois-Raymond e Brücke eram insuficientes para

dar conta da complexidade do suceder humano, que se estende muito além

do mundo chamado natural.

Assim pois podemos afirmar que em Psicanálise prática não existe cura.

Existe transformação psíquica. A cura elimina a doença. A transformação

psíquica "cura" o doente e será o doente que vai se reorganizar física, social

e psíquica diante dos desafios circunstanciais da vida, desde suas ameaças

biológicas, físicas e químicas, até seus vínculos emocionais e suas

adaptações sociais. É na verdade uma "cura" (se é que podemos manter

essa designação) sóciopsicossomática, na feliz expressão do psicanalista e

professor de Psiquiatria da Rochester University, N.Y., George Liebman

Engel O corpo se cura; a mente se transforma. Reorganiza-se em um

sistema mais apto para lidar com os desafios adaptativos da vida. Eles

foram muito bem expostos nos trabalhos psicossociais de Freud e

exaustivamente estudados por seus colaboradores próximos e por

seguidores de extraordinária cultura, como Alfred Adler que seguiu

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caminhos heterodoxos, mas fundamentais para a sociologia e para a

pedagogia. Da Escola de Frankfurt basta citar os trabalhos de Erich From e

Herbert Marcuse. Uma notável plêiade de psicanalistas americanos

dedicou-se a entender a estrutura social através da Psicanálise. Uma

vertente que resolveu enveredar pelos caminhos do estudo social acabou se

transformando em uma "nova" Psicanálise: a Psicanálise Cultural.

Em 2006 a Sociedade Psicanalítica de Praga organizou um Congresso para

ter início em 5 de Maio, dia em que Freud foi comemorado em seu 150º

Aniversário. Como é sabido o país de nascimento de Freud foi o Império

Austro-Húngaro e sua cidade natal chamava-se na época Freiburg, na

Morávia. Hoje a mesma cidade, que visitei junto com grande grupo de

congressistas, chama-se P'ribor e fica na República Tcheca. Não poderia

faltar e escrevi um trabalho e que por conta da nossa Sociedade de

Psicanálise me tornar seu representante e o presidente da I.P.A., Cláudio

Eizerik, brasileiro, delegar-me a missão de representá-lo no evento, meu

trabalho tomou caráter importante. Chamei-o "Ten Psychoanalytical

Mistakes in Freud's Theory". Aparentemente estaria criticando Freud na

data de seu aniversário. Achei, no entanto, que esta seria a maior

homenagem ao gênio. Garantir a ele que ele conta com continuadores e não

apenas com seguidores. O trabalho foi muito bem recebido e, ficou

marcada a expressão que usei na época: "mind is not in; mind is between"

(a mente não está em; está entre). Assinalava então que para entendermos a

vida mental precisamos partir de relações humanas e não da Neurociência.

Neurociência é veículo; relação humana é a fonte da experiência mental.

Assim amplio a ideia da Metapsicologia. Metapsicologia é sobretudo a

teoria que expõe as vicissitudes dos vínculos humanos, principalmente os

inconscientes. E é claro que o ambiente propiciador do estudo das

manifestações metapsicológicas do paciente é o oferecido pelo

"laboratório" da complexa relação analista-analisando (ou terapeuta-

paciente), assim como dos recursos psicológicos para as adequadas

transformações dos sistemas psíquicos. Ampliando a “consciência” do Ego.

Vale aqui destacar um equívoco frequente de muitos psicanalistas, ou

mesmo psicoterapeutas, que afirmam não serem teóricos, mas clínicos

Devo dizer que essa afirmação é desprovida de sentido e não resiste a uma

crítica mais atenta. Toda aproximação a um sistema humano exige uma

prévia configuração teórica. Teoria em grego (theoria) significa

“contemplar”. É indispensável, antes de estabelecer convivência

terapêutica, saber como entrar no espaço assistencial e isso se faz através

de parâmetros teóricos, ou seja, capacidade de contemplar. Parâmetros

teóricos representam a porta de entrada a esse espaço, sem o que não se

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estabelece contato pessoal. O contato pode tornar-se invasivo e traumático

ou mesmo iatrogênico, em que ambos, terapeuta e paciente podem ser

prejudicados, além, como é óbvio, o próprio processo assistencial. Antes de

penetrar em qualquer espaço humano deve-se pedir licença em voz alta e

com educação. É um princípio ético que remonta aos textos bíblicos.

Algumas palavras sobre esse “laboratório” formado pelo terapeuta e

paciente e que gerou outro notável estudo realizado pioneiramente por um

psicanalista húngaro trabalhando e vivendo em Londres chamado Michael

Balint (Mihály Maurice Bergmann). Conhecer esse laboratório permite

saber como se recuperam e se produzem símbolos e como são

reorganizadas estruturas mentais, assim como é assegurada consistência a

essas estruturas através do tecido conjuntivos dos sentimentos. Que é o

objetivo específico da intervenção psicanalítica. Balint utilizou seus

estudos reunindo profissionais de saúde em um grupo de discussão da

tarefa assistencial para discutirem suas experiências terapêuticas,

sobremodo destacando a relação médico-paciente. Assim podia observar,

coordenando o grupo, como operavam forças inconscientes tanto dos

terapeutas quanto dos pacientes. E, desta forma, produzindo consciência

nesses vetores inconscientes, ficava aberta a correção de seu destino

irracional e iatrogênico Essa prática ficou conhecida como "grupos Balint"

e teve reconhecimento internacional. Tive o privilégio de organizar em

1963 o primeiro grupo dessa natureza em nosso país no Hospital Geral da

Santa Casa do Rio de Janeiro, o que me permitiu, à margem, criar o

primeiro currículo de educação médica de uma disciplina que designei

"Psicologia Médica", bem diferente do que já existia com esse título,

porque se baseava exclusivamente no estudo clínico e prático da relação

médico-paciente e cujo objetivo principal era a prevenção da

iatropatogenia, muito mais frequente do que se imaginava.

Inspirado em Balint e estudando grupos, assim como casos individuais,

pude observar essa reorganização, e mesmo criação, da sutil trama

psicológica que Freud chamou de Ego e que permitiu, por seu turno, a

Ernst Cassirer, o notável filósofo alemão neo-kantiano, autor do alentado

"A Filosofia das Formas Simbólicas", a tipificar o ser humano como

"animal simbólico". E assim posso justificar aqui porque percebo que a

"mente não está em, mas entre". A mente é um estado mais evoluído dos

mecanismos de adaptação do ser humano. É o recurso que evoluiu a partir

de seus mecanismo reativos cerebrais e que lhe permitiram, como em

outros seres vivos e mamíferos superiores, organizar-se dentro do ambiente

natural e grupal. Nesses vigoram. sobretudo, os caminhos desenhados por

algoritmos cromosomiais, herdados de seus antecessores, e específicos da

espécie. Diferentemente de todos os demais seres vivos, o ser humano criou

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algorítimos que aprende e assimila, já nascido e fenotípicamente, durante

sua convivência grupal, e que o torna capaz de gerar e se organizar,

portanto, a cada geração (e até em cada momento de desafio crítico), e com

características pessoais e individuais. Cada ser humano é uma "pessoa",

única entre seus sete ou mais bilhões de semelhantes do planeta,

individualizando desde sua íris, suas linhas em seus dedos, produzindo

impressões únicas, e tendo estruturas de identificação dos outros e de seu

ambiente natural, únicas, como nos ensinava o psicanalista, ex-presidente

e co-fundador desta Sociedade , o professor Danilo Perestrello. Essa

unicidade torna o ser humano um "existente" (e não apenas mais um entre

muitos), o que levou Ludwig Binswanger a criar uma "Psicanálise

Existencial", entendendo que o modelo de Freud servia apenas como base

de aproximação ao qual os recursos terapêuticos teriam que

necessariamente ser apreendidos no encontro entre pessoas e não apenas

derivados daqueles sinais e sintomas que poderiam ser compreendidos

imanentes no diagnóstico da "doença psíquica", como era preconizado há

dois mil e quinhentos anos por Hipócrates. Do geral, do tipo, do

diagnóstico, caminhou-se para o indivíduo, para a existência, para a pessoa.

Não se criou uma nova Psicanálise, tão somente desenhou-se um novo

destino mais justo e específico. Se Lineu revelou a espécie, a Psicanálise de

Freud e de seus seguidores descobriu a unicidade do ser humano e de um

novo humanismo. Certamente um catalisador poderoso que está desfazendo

as concepções expostas para se criar uma Sociedade Justa, evoluindo para

uma adequada Justiça ao ser humano individual, para a pessoa dentro da

Sociedade, empurrando a Sociedade criada para o coletivo para uma

concepção de um mundo social capaz de respeitar e acolher o ser único que

é cada pessoa no mundo social. Creio que é essa transformação que

Bauman percebeu e daí escrever sobre o estado líquido a que as

esperanças e os cânones sociais criados a partir do iluminismo e anunciados

com toda ênfase e pompa no século XIX em diante, estão sofrendo, e que

está se derretendo diante de nossos olhos na atualidade. E criando uma

crise social sem precedentes em todo planeta.

Daí decorrem as diferenças entre a prática psiquiátrica e a prática

psicanalítica, ou a derivada daqueles que compreenderam o paciente como

um ser único dentro de uma relação terapêutica única. O psiquiatra cuida e

organiza a terapêutica dentro dos horizontes diagnósticos de uma doença; o

psicanalista, ou por treinamento e aprendizagem ou por intuição (quando

tem a sorte de ser abençoado por ela), organiza a terapêutica dentro da

compreensão dos horizontes do ser, da pessoa que sofre, e não apenas

dentro dos limites de uma patologia. O psiquiatra trata do "o quê"; o

psicanalista trata do "em quem". Posso assegurar que é muito diferente o

modelo de tratamento.

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Alguns esclarecimentos sobre a "sutil trama psicológica que Freud chamou

de Ego". Heinz Hartmann, o notável psicanalista vienense radicado em

New York em 1941 e associado a Kris e Loewenstein fundou o que ficou

conhecido como os estudo de Psicologia do Ego. Foi, na verdade, a ponte

que faltava para a Psicanálise associar-se à Psicologia Geral e enriquecer os

instrumentos necessários para se compreender a vida mental. É

mencionado que o próprio Freud teria escrito um trabalho metapsicológico

dedicado ao Consciente, função básica do Ego. Creio que Hartmann

cumpriu brilhantemente esse objetivo, desde que não escorreguemos para a

vala sedutora do sectarismo. Deixou-nos uma sintética definição do Ego:

"O Ego é definido por suas funções". Continuamos sem saber o que é a

mente, mas podemos saber como ela funciona. Assim, podemos começar a

visualizar como se forma o símbolo, como ele se organiza, como ele se

transforma, como gera conflito e patologia e como se reorganiza a partir do

vínculo humano terapêutico, ou não. É necessário introduzir os ingredientes

fornecidos pelas observações do desenvolvimento primitivo da Escola

chamada Kleiniana, das teorias de conduta de apego estudadas por John

Bowlby e seguidores, assim como a importância do apoio primitivo, o

"holding" acentuado por Donald Winnicott, da mesma forma as exposições

complexas dos destinos dos elementos psicanalíticos expostos por Wilfred

Bion, esclarecendo as transformações pelas quais passam os elementos

simbólicos do processo primário de pensar ao processo secundário, este

responsável pela comunicação consciente, nas quais estão baseadas todas

as teorias de comunicação humana consciente. Tudo amalgamado nesse

catalisador fundamental preconizado por Balint, qual seja o vínculo

emocional estabelecido pelo par comprometido no diálogo. Interessante

essa palavra tão cara à filosofia grega clássica. Diálogo literalmente quer

dizer "por intermédio da palavra". É justamente por intermédio da palavra

que nos tornamos humanos. Palavra letra; palavra arte plástica; palavra

música; palavra forma literária; palavra que nos torna história e nos faz

atravessar o tempo e vencer a morte.

A questão aberta pela valorização da individualidade na sociedade atual

remete-nos a duas incógnitas e a dois impasses: um questiona o quanto o

indivíduo deve renunciar para organizar-se dentro do mundo: o segundo, o

quanto a sociedade deve conceder às particularidades e idiossincrasias de

cada indivíduo sem desintegrar-se no caos. Talvez esta seja a questão que

jamais poderá encontrar soluções. Talvez seja ela o azorrague permanente

que nos obrigará, enquanto indivíduos e entes sociais a manter aberto o

diálogo com a criatividade. Sabemos que quanto maior esse diálogo, mais

espicaçada fica a individualidade e mais reativa a estrutura social. Mas

parece-me que será, como já o tem sido, o desafio mais presente na

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polêmica dialética social. Em busca de um apaziguamento dessa polêmica e

dos riscos de maiores lesões à individualidade, nada melhor que a

esperança de uma frutífera e adequada aliança entre a Psicanálise e a

Ciência Social.

III - A Solidão de Narciso

"Zur Einfürung des Narzissmus" (Introdução ao Narcisismo) de Freud foi

publicado em 1914. Na sequência da"Standard Edition" segue "A História

da Movimento Psicanalítico" e fica logo antes dos artigos sobre

Metapsicologia, os quais são introduzidos com um importante lembrete

sobre o capítulo VII da "Interpretação dos Sonhos". que teria precedido

toda metafísica freudiana. Poderia ter incluído esse estudo montado em

cima do mito de Narciso nesse conjunto metapsicológico, mito que nos

adverte sobre os excessos (ou "Hybris" em grego) como passíveis de

punição pelos deuses. Assim também ocorre com o excesso de beleza.

Lucius Apuleius, no segundo século da Era de Cristo, conta, através de uma

velha, personagem do conto "O burro dourado", que esta ao consolar uma

pobre e chorosa noiva sequestrada por bandidos a história da desditada

Psyche e seu trágico casamento com o filho de Vênus, Cupido, segue o

mesmo roteiro de Narciso. Excesso de beleza é passível de severa punição

dos deuses. É a advertência dos estoicos em favor do comedimento. Já na

época a civilização se corrompia com facilidade e, pelo visto, ainda está

longe de ter se emendado.

Narciso é um jovem de rara beleza que, ao se contemplar, desdenha o amor

de todos e se dedica a si mesmo. Segundo Freud, retrai a libido para sua

própria imagem. Conta o mito que um soldado por ele se apaixona e se

mata com a própria espada ao se perceber ignorado. Tal é o destino da

ninfa Eco, cujo amor ignorado a torna repetidora das últimas palavras que

são pronunciadas a seu lado, numa clara alusão à morte de sua identidade,

desfeita pelo desprezo de seu amado. Michelangelo Merisi da Caravaggio.

criou o maravilhoso quadro "Narciso contemplando-se nas águas de um

lago" que nos expõe melhor a tragédia do infeliz. Seu rosto desenha mais o

horror que o prazer ao contemplar beleza. O horror do vazio. Creio que ele

não se viu e mergulhou para se achar e se afogou. Foi assim que entendi o

quadro e para mim essa percepção fez todo sentido. Talvez eu tenha sido

contaminado por um excesso hermenêutico, viciado há tantos anos, na arte

de interpretar a intimidade dos acontecimentos, sobretudo os sonhos, os

mitos e as fantasias. Vou lhes contar o que entendi e por onde andei nas

minhas divagações metapsicológicas.

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Minha experiência clínica como psicanalista ensinou-me ao longo dos anos

que para se adquirir consciência através do diálogo terapêutico (objetivo

maior da intervenção psicanalítica) é indispensável que o vínculo entre

psicanalista e paciente tenha consistência emocional, propiciada esta pelo

trânsito transferencial, o qual só ocorre numa plataforma vincular estável, o

que em técnica psicanalítica costumávamos chamar de transferência

positiva e que, sobretudo depois de Bowlby e seus estudos sobre conduta

de apego, entendemos que estávamos dissertando sobre o que em etologia

chamamos de "espaço de segurança". Ao que os estudos etológicos

indicam, toda matéria viva constrói a sua volta condições de sobrevivência

e conforto. Isso ocorre com os monocelulares assim como com os

complexos e sofisticados mamíferos metazoários. Nossos irmãos humanos

e pacientes não criam vínculos porque somos psicanalistas credenciados ou

até famosos, mitificados pela mídia. Mas porque criamos com eles,

pacientes, vínculos emocionais, falsos ou verdadeiros, míticos ou

consistentes, não importa. É fundamental que eles sejam criados para abrir

os poros da vida emocional e estabelecer o "milieu", no dizer de Paula

Heimann, indispensáveis ao trânsito de conteúdos psíquicos íntimos. Sem

o que não se realizam os processos transformadores da mente.

O primeiro processo transformador é a emergência da Consciência.

Consciência é o saber-se existente em contato com outra existência. O Eu e

o Tu tornam-se presenças vivas, aproveitando a feliz expressão de Martin

Buber. Sem o Outro o Eu não existe, o que nos faz concluir que extinta a

relação, deixamos de nos perceber, daí o vazio estampado na face de

Narciso que buscou em vão a si próprio e se afogou. Além da libido,

portanto, cujas vicissitudes Freud explorou prioritariamente, estava nos

aguardando entender a Identidade, o "Self", e acima de tudo, o vínculo que

dá sentido à Vida Humana. Afinal, continuamos falando no Amor. O amor

abre as defesas que permitem estabelecer vínculo emocional e, em

consequência, consciência. Sem amor, ao que tudo indica,o que temos de

nós e de nosso mundo circundante (o Umwelt de Jacob von Uexkühl), é

apenas uma precária consciência senso-perceptual, equivalente à

consciência biológica, remotamente simbólica, de nossos primos mais

chegados da família dos mamíferos. A meta da experiência humana é a

consciência de si próprio e a consciência da existência de outros,

indispensável para o desenvolvimento da experiência ética. E a Ética é

indispensável para manter a segurança do vínculo, este mesmo dependente

da estabilidade da relação, sem o que o organismo entra em alerta e gera

ameaça e estresse. O "ser" humano depende desse trânsito intersubjetivo e

do estabelecimento de um vínculo ético. O que podemos chamar de

"humanização" e entender que Psicanálise é um instrumento dessa

"humanização". Usando mais uma vez as expressões de Paula Heimann, o

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"setting" psicanalítico que designa o ambiente, e o "milieu" que se refere

ao vínculo terapêutico é um laboratório que facilita essa transformação de

um espécime biológico em um espécime humano. Em sua exposição

teórica, Freud parou no "homo"; faltou-lhe enveredar pelo "sapiens", o que

tentaram fazer algumas "escolas psicanalíticas" mais comprometidos com

o universo simbólico e social. Na verdade Freud só fez expor o "homo

sapiens", mas teve dificuldades, ao compor teorias, de se desligar de seus

mestres biólogos, sobretudo Brücke. Talvez não tenha conseguido

completar sua autoanálise.

Vamos exemplificar com alguns flagrantes psicobiográficos de um paciente

meu, que me permitiu, como nenhum outro, perscrutar a intimidade de

alguém que vivia entre o biológico e o simbólico, e, meio a angústias

representadas como dilacerantes, hesitava em como e onde repousar e, não

chegando a uma conclusão, deitava-se com ambas condições.

Trata-se de um jovem, com uma longa história de convivência terapêutica

com psicanalistas e mal pisava a terceira década de sua trajetória de vida.

Era filho de pais armênios, emigrados há muito tempo, e embora cristãos,

não praticavam qualquer culto, a não ser o de se adaptar à cultura brasileira,

e viviam, conforme seu nível econômico, sempre perseguindo uma

aparência social de burgueses de classe alta. Repeliam qualquer tipo de

divagação metafísica ou mesmo reles conversa abstrata de caráter

filosófico. Tinha uma irmã mais velha, casada e que vivia com o marido em

outro país da América Latina. O casal não tinha filhos e quase nenhum

contato com meu paciente. Educou-se em boas escolas, e formou-se em

engenharia de produção. Sua grande queixa sempre foi a mesma. Sentia

enorme dificuldade em estabelecer vínculo afetivo. Sentia-se anestesiado

para a convivência e, embora pudesse mimetizar comportamento

emocional, na verdade, pouco lhe importava a vida dos outros. Atitude que

se agravou com o seu desenvolvimento, inclusive na relação consigo

próprio. Dizia em mímica do nojo de não se sentir. Suas primeiras

palavras, ao se identificar: "Sou um bosta". E para enfatizar o dito tirou o

relógio do pulso e o atirou violentamente contra a parede. Era um relógio

de marca, presente do pai. Não destruiu o relógio e não se desfez em bosta.

Sua prática de vida era pobre, dentro dos padrões de sua convivência social

- que também era pobre. Uma namorada vegana, aérea, sem profissão

definida e com vida incerta e que lhe causava ligeiro interesse e pouco

apego. Foi-se pelo mundo e não foi substituída. Queixava-se que ninguém

o procurava, que vivia só, embora desejasse o corpo de uma mulher. Não

parecia desejar nada mais da mulher. Isso não quer dizer que a descrevesse

como um objeto. Suas descrições eram pejadas de paradoxos; Satisfazia-se

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com masturbações e fantasias. Jamais expos a natureza das fantasias,

mesmo perguntado. Não lia livros, aparentemente não se interessava por

cultura nem pelo exercício da profissão. Estava desempregado, vivia das

rendas da família, aparentemente não se interessava por itens cosméticos

do quotidiano, embora sempre comparecia bem posto e vestido de forma

apropriada. Nenhum desleixo; nem com os cabelos, nem com a roupa, nem

com os calçados. Falava mal de si mesmo e não raro batia no próprio rosto

e dava socos no corpo. Não parecia se machucar, mas mostrava um rosto

crispado e de ódio. Eu mesmo oscilava entre um diagnóstico de

comportamento histérico ou psicótico. Ou ambos, emergindo de uma área

indiferenciada da vida mental. Parecia alheio ao seu comportamento

violento e algumas vezes me surpreendi pensando que ele não estaria

tentando sentir o que vivia como uma vida anestesiada. Sua indiferença

aparente pela vida preocupou-me pelo risco de suicídio e durante algum

tempo mediquei-o com venlafaxina, em dose diária média. Teve alguma

influência em suas queixas de aniquilamento e de autodepreciação extrema.

Algumas vezes pensava nos sentimentos de ruína e de fim de mundo tão

bem descritos por Karl Jaspers como sintomas processuais. Prolongava o

tempo de sessões, alongando a despedida com perguntas de última hora e

comportamentos e gestos obsessivos. Telefonava muito; abominava

depender de mim e me enchia de queixas, além de mostrar, repetidamente

minha incompetência em cada início de sessão, acentuando mais a

incapacidade de suportar separações que lembravam a "tenacidade" do

vínculo transferencial tão bem acentuado por Wilfred Bion. Sem dúvida

estava diante de uma alma regredida, fundida em seus objetos primitivos,

esquizoides e persecutórios, criando-lhe angústias insuportáveis e

projetadas nas sessões sobre mim, o que se atenuava com o decorrer de

nosso diálogo e alguns minutos antes de terminar algumas sessões

prorrompia em lágrimas e com dificuldades em se despedir. Nitidamente,

revelava-se uma personalidade gravemente esquizoide, com angústias de

aniquilamento, muito regredido, com grandes áreas psíquicas

indiferenciadas reveladas em suas indefinições, embotamento na identidade

sexual, embotamento em fixar destinos de vida, e mesmo de tarefas

avulsas, quando se perdia em divagações. Mesmo assim, externamente,

apenas demonstrava inibições tomadas como timidez e falta de escolhas em

seus destinos sociais. Nada que não pudesse ser resolvido com um bom

trabalho, com uma namorada e frequência em grupo de jovens. Segundo a

opinião dos pais.

Ao longo dos meses, atravessando alguns anos, empregou-se dentro de suas

habilitações, com o ganho deixou de depender dos pais para o dispêndio

com a análise, interessou-se por leituras e por temas psicológicos, alguns

espirituais, um ou outro encontro com moças e algumas relações sexuais

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esparsas, viagens, outros empregos, algumas amizades, cursos,

aprendizagens, pós-graduação, alguns poucos apaixonamentos, e nenhum

reconhecimento ao trabalho psicanalítico. Tinha razão. Continuava

sofrendo de insensibilidade afetiva, a qual, a custa de muito trabalho

interpretativo e cognitivo, começou a clarear seu embotamento para a vida

afetiva. Mas cobrava os anos que passara incapacitado. Lembrei-me de

Júlio de Mello Filho com seu primeiro trabalho psicanalítico exposto na I

Jornada de Psicanálise em São Paulo: "A angústia do tempo perdido". Por

que não fizera antes o que conseguia agora? Por que os anos de sofrimento?

E me acusava de incompetente. (Certamente para não se acusar e desfazer

seu mito arrogante de grande poderio, que há muito tempo, já deveria ter

percebido suas deficiências e as curado, sobretudo com minha

extraordinária sabedoria, igual a dele.). E pudemos encetar um sofrido

período de redução à realidade, magnificada por suas fantasias onipotentes.

Talvez o período mais difícil da assimilação de seus próprios limites. E que

gera o maior sofrimento e impacto diante dos limites da vida e da

inevitabilidade da morte. Sobretudo da impermanência de tudo. Do fluir

líquido das posses, dos poderes, das fantasias, dos mitos, das esperanças,

das crenças, especialmente dos ambientes protetores infantis que se

desfazem diante dos desafios do quotidiano.

IV - Zygmunt Bauman: Reflexões sobre a Cultura do Narcisismo

Em 1979 Christopher Lasch, renomado professor de História e Sociologia da Rochester University do estado de Nova York, publica o livro "Cultura do Narcisismo", uma minuciosa análise da crise cultural pela qual passava a Humanidade, sobretudo a ocidental, em decorrência das profundas transformações pela quais nosso contexto social, econômico, político e psicológico estava passando. Em 1968, em plena ebulição dos protestos estudantis, pus-me a dar tratos a bola sobre o que estavam pleiteando os estudantes de Paris, de Berkeley, do Brasil, e de dezenas de outros núcleos civilizados. Não cheguei a nenhuma conclusão. Mas resolvi ficar atento. O desfecho desse grande protesto coletivo deu aparentemente em nada. O próprio Daniel Cohn-Bendit, líder na Alemanha e França desse protesto, tornou-se, conforme li na mídia, um próspero agente do mercado financeiro, além de continuar um político do partido verde e ser eleito para o parlamento europeu. Mas, a revolução de 1968 indicava algo maior, algo que iria devastar os pilares da estrutura social do mundo. Eis o que pensei e resolvi chamar, a meu jeito, de "O ocaso da civilização totêmica", ou mais modestamente, "a dissolução dos estratos

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hierárquicos". É interessante lembrar que entre 1969 e 1973, como educador, Cohn-Bendit trabalhou em uma creche "antiautoritária". Em 1966, Bauman publicava em polonês " Kultura i społeczeństwo. Preliminaria “( Preliminares sobre Cultura e Sociedade). Enquanto isso, em 1968, Bauman deixava de lecionar na Universidade de Varsóvia, para onde foi admitido em 1954 como professor assistente. Em 1953 foi excluído de maneira desonrosa de seu posto de major do “Corpo de Segurança Interna” da Polonia, uma unidade militar formada na época do regime stalinista, a KBW, sob a alegação que seu pai havia se aproximado da embaixada de Israel. Os comunistas poloneses que eu conheci pessoalmente adotaram a ideologia com esperanças humanistas. Acho que assim foi com Bauman, estimulado pelas decepções com as burocracias do Partido acrescidas da influência mais recente dos escritos de Antonio Gramcsi e Georg Simmel. Dentro de minhas fantasias psicanalíticas não descarto a influência de Janine Bauman, esposa que conheceu em um campo de refugiados. E assim se escoava entre os dedos de Bauman seu entusiasmo pela ortodoxia marxista, com suas promessas humanistas, com a prometida sociedade justa, tudo empurrado pela realidade de regimes tirânicos da época, mesmo marxistas, que mataram mais que a própria Segunda Guerra Mundial. Algumas palavras mais sobre o progressivo colapso da hierarquia e sua relação com a “Cultura do Narcisismo”. Sem dúvida, o mundo que eu conheci na infância é, hoje, outro. Mulheres ocuparam o espaço social ombreando com homens e disputando com eles os privilégios da independência econômica proporcionada pelo dinheiro. Hoje, casais, fazem contas de como dividir despesas domésticas e mulheres reivindicam aos companheiros ou maridos ajuda nos cuidados às crianças e na administração doméstica. Muitos homens são, hoje, melhores no fogão que a mulher (e não se envergonham disso e, não raro, ao invés de discutir qualidade de charutos nas rodinhas machistas, introduzem nelas discussões bem masculinas sobre suas habilidades culinárias. Crianças não são mais só aquelas adoráveis coisinhas fofas e bochechudas. São nos dias atuais cheias de direitos e prescrições psicológicas e as escolas elementares (hoje já é referido o "jardim de infância como "colégio") não valorizam tanto disciplina (sobretudo obediência) mas capacidade de se ligar ao concreto e aos objetivos do que é considerada a vida.

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Pobre, como ícone social, não é mais necessariamente o infeliz, desgraçado, desprovido de direitos e que deverá morrer um pária. O "Bontscha" anônimo de I.L.Peretz, assim como o "vagabundo" de Carlitos viraram personagens do folclore. É um cidadão que reivindica direitos. que resolveu, aqui e ali, lutar por seu lugar no mundo, assistir seus programas de televisão e que também quer sua casa, carro e economizar (ninguém sabe como), e por que não, fazer alguma viagem de recreio pelo exterior. O mundo mudou e a estrutura social tende a ser muito diferente. E estamos em crise de transformação, diz Bauman. E o mundo sólido do início do século derreteu e está se acabando. Estamos em um novo espaço social onde as hierarquias se amalgamam e formam um espaço social desconhecido. Crianças diferentes, mulheres mandando em homens, pobres dividindo espaço em aeronaves, graças a sistemas de crédito, cujas malhas creditícias acumulam bilhões de moedas que fazem a felicidade de banqueiros sorridentes com sua arte de abrir novas malhas e ouvir o tilintar dos novos altares de adoração. Os nossos padrões burgueses se liquefizeram e não sabemos mais qual é a ética vigente. Tudo muito misturado, com o ontem (e mesmo anteontem) se infiltrando no hoje e até no amanhã; o amanhã espantando o hoje e o futuro fazendo-nos sonhar e esquecer os desafios de hoje. Daniel Cohn-Bendit liderou uma revolução cujas entranhas revelaram um novo presente que está desfazendo a segurança tradicional e reduzindo a pó nossos ícones mais sagrados. E não temos a menor ideia de como será o amanhã. Talvez por isso queiramos tudo "agora", porque não sabemos sequer se teremos amanhã. E o psicanalista tem saudade dos "histéricos" (e histéricas) dos tempos clássicos, (que até já deixou seu lugar de honra na classificação dos distúrbios neuróticos), porque ainda não aprendeu o que fazer com os "narcisistas" atuais. E o que são os narcisistas atuais? É bastante comum citar-se Lasch ao examinarmos as inspiradas assertivas de Bauman. Não encontrei, no entanto, que Bauman citasse o historiador e crítico social americano. Não importa. O que interessa é que ambos examinaram a evolução da crise social do pós Segunda Guerra Mundial, que se continuou em guerras menores na Coréia, Ásia Menor, no Sudeste Asiático, nos Bálcãs, na Geórgia, na Chechena, na Ucrânia, em quase todo território africano, no Timor, que deflagrou regimes totalitários em praticamente toda América Latina dentro de um terror social inimaginável em países medianamente civilizados, além de criar um novo tipo de conflito ainda mais estúpido (porque sem objetivo) que é o terrorismo. Não sei se o número de mortos, nesses episódios estúpidos locais,

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ultrapassou os da Segunda Guerra, mas deixou lesões mais profundas na esperança de que a Humanidade pudesse gerar algum tipo de sociedade justa, ou, pelo menos, pudéssemos encontrar aquela paz a que foi incumbida de estabelecer a ONU, criada em 24 de outubro de 1945 e hoje com 193 estados membros. Lasch e Bauman, embora não se tenham conhecido, certamente estão muito próximos em suas denúncias e contribuições sociais. Ambos denunciam a condição de quase "zumbi" a que foi reduzida a massa de consumidores de inutilidades da sociedade moderna, desde informações até pseudo necessidades de consumo. Rendendo homenagens a Pluto (o deus do dinheiro) e aturdido por milhões de mensagens aparentemente informativas vazias de conhecimento. O assim aturdido não tem tempo para pensar. E sem pensar, não aprende a se relacionar. E sem se relacionar, perde poder consciente. E sem consciência perde-se na massa humana. É hoje membro anônimo de uma comunidade estatística. Contudo não é tão simples estabelecer como causa de nossa desgraça, nesse final de História, que o culpado é a Sociedade. Nós a criamos. Mas também não podemos nos atribuir culpa. Acabamos agentes tangidos por forças desconhecidas, mas, ao mesmo tempo, ainda com poderes sobre os acontecimentos. Nisso reside o valor desses dois notáveis estudiosos da natureza social do ser humano. A denúncia deles nos ajuda a resgatar nossa capacidade embotada de pensar, e confiar que a Esperança afinal ficou mesmo na caixa de Pandora. Os grandes pensadores sociais do século XIX incorreram nessa ilusão de que poderíamos corrigir os males sociais apenas modificando os pilares nos quais ela se sustenta. Bem positivista. Bem dentro do contexto científico da época, que também inspirou Freud em sua Metapsicologia. Assim também dissertou Bauman. Lasch já se havia inspirado na Escola de Frankfurt e tomado como referência a Psicanálise. Podia incluir a autoria humana, além da social. e aproveitou o conceito de Narcisismo. E o fez! Por isso amalgamar Lasch e Bauman pode nos ser útil. Vejamos: Costumamos confundir Narcisismo com o ato de se contemplar. Esse é apenas o primeiro degrau de nossa própria capacidade de contemplação (lembremos: fazer "Theoria (gr)" é contemplar). Ao contemplar estamos nos relacionando com o objeto da contemplação. Ficar absortos em si mesmo. A esse lugar nos refugiamos quando percebemos ameaças ao nosso espaço de segurança, esteja ele representado por seres vinculados a nós, por nossos símbolos identificatórios, por nossas posses, por nosso

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território, enfim, por tudo isso, ou o que nos define, parcial ou totalmente. Narcisista não é mais aquele que se ama, mas aquele que não consegue amar. Não é um vaidoso, porque o vaidoso deseja um parceiro ou parceira; é um que está divorciado dos sentimentos do mundo e se retrai para dentro de si mesmo. Armadilha que o destroe, porque não existe o "dentro de si mesmo" sem a concomitante relação com alguém, ou algo que tenha sido antropomorfizado. Bryce-Boyer, eminente psicanalista californiano, dedicou-se a estudar estados regressivos, e talvez tenha se tornado um dos maiores psicanalistas conhecedores desses estados, incluía o narcisista em um estado grave de regressão. Otto Kernberg dedicou-se à clínica desses estados e seus estudos tornaram-se paradigmáticos. Peter Giovachinni descreveu estados psíquicos de "blank self" - buracos assimbólicos na mente, dando conta da autofagia da consciência nesses estados limites de dissolução da consciência. Narcisismo é um estado grave de incapacidade mental de conectar-se com o próximo, resultante da retração dos interesses pelas coisas da vida diante dos desafios do trauma e do quotidiano insuportável. Continuando a escalada dessa sequência da relação com o próximo. Adquirimos consciência e começamos a conjecturar sobre o que estamos fazendo aí. E assim sobre o porque o objeto nos atraiu. E, assim, até o infinito. Diz o "Chandogya Upanishad", um dos mais inspirados textos filosóficos da Vedanta, que contém o diálogo entre o mestre Uddalaka Aruni e seu discípulo e filho Svetaketu (Chandogya, VI Prapâthaka, 1-16). Nesse infinito o mestre informa ao discípulo que tudo, no final, se resume em "Tat, tvam,asi", ou seja, além da vida, além da morte, tudo é o Ser. Por enquanto, contudo, estamos aqui. E aqui? Poderíamos dizer, aprendendo com esse seres que nos abrem os olhos para ver nossa intimidade e a intimidade das coisas humanas: Tudo é relação. Não somos apenas agentes de procriação como acentuou Arthur Schopenhauer em sua "Filosofia do Amor". Acho que teria sido melhor dizer: Agentes do Amor. Pode parecer piegas, mas no final, nosso primado é em direção ao Amor. À relação com o próximo, ao nosso objeto de desejo, ao nosso corpo, às nossas posses, à nossa família, ao nosso clube, ao nosso território, ao nosso país, à nossa Humanidade, à nossa Existência. Não exatamente como sublimação do "Lust", desejo sexual, mas como "Liebe", Amor. Não sei exatamente quando viveu Paulo de Tarso. Seu nome original em hebraico era Saul e tinha cidadania romana e vivia perseguindo cristãos para prendê-los. Teve uma visão e converteu-se ao cristianismo, e conviveu com os primeiros evangelistas, e se tornou o pai

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de uma nova Igreja. Suas cartas fazem parte do Novo Testamento. A primeira dirigida aos fiéis de Corinto termina de uma forma que comoveu a Humanidade. Foi convertido por uma dessas grandes Luzes que como marcos da História, mítica ou real, reacendem a Esperança. Paulo termina sua epístola aos coríntios anunciando: "Mas se não tiverdes Amor, não tendes nada". O narcisista perdeu o amor; resta-nos reencontrá-lo.

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ABRAM EKSTERMAN

Médico,Psicanalista

Professor de Psicologia Médica e Antropologia Médica

Fundador e ex-presidente da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática

Diretor do Centro de Medicina Psicossomática e de Psicologia Médica do

Hospital Geral da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro.

Membro Honorário Nacional da Academia Nacional de Medicina

medicinapsicossomatica.com.br

[email protected]

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