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ISSN 1
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F E D E R A Ç Ã O E S P Í R I T A B R A S I L E I R A
Ano 129 • Nº 2.192 • Novembro 2011D EUS , CR I S TO E CAR I D ADE
Fundada em 21 de janeiro de 1883
Fundador: AUGUSTO ELIAS DA SILVA
Revista de Espiritismo Cristão
Ano 129 / Novembro, 2011 / N o 2.192
ISSN 1413-1749Propriedade e orientação daFEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRADiretor: NESTOR JOÃO MASOTTI
Editor: ALTIVO FERREIRA
Redatores: AFFONSO BORGES GALLEGO SOARES, ANTONIO
CESAR PERRI DE CARVALHO, EVANDRO NOLETO
BEZERRA, GERALDO CAMPETTI SOBRINHO,MARTA ANTUNES DE OLIVEIRA DE MOURA E
SADY GUILHERME SCHMIDT
Secretário: PAULO DE TARSO DOS REIS LYRA
Gerente: ILCIO BIANCHI
Gerente de Produção: GILBERTO ANDRADE
Equipe de Diagramação: AGADYR TORRES PEREIRA E
SARAÍ AYRES TORRES
Equipe de Revisão: MÔNICA DOS SANTOS E WAGNA
CARVALHO
REFORMADOR: Registro de publicação no 121.P.209/73 (DCDP do Departamento de Polícia Federal do Ministério da Justiça)CNPJ 33.644.857/0002-84 • I. E. 81.600.503
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Projeto gráfico da revista: JULIO MOREIRA
Capa: AGADYR TORRES PEREIRA
SumárioExpediente
Editorial
O perdão das ofensas
Entrevista: André Trigueiro
Por um meio ambiente sadio e agradável
Presença de Chico Xavier
Renovemo-nos hoje – Cairbar Schutel
Esflorando o Evangelho
Cada qual – Emmanuel
A FEB e o Esperanto
Espiritismo e Esperanto – A propósito de um
cinquentenário – Zêus Wantuil
Trovas/Troboj – Casimiro Cunha
Seara Espírita
O Livro dos Médiuns – Reuniões espíritas
Passeterapia – Manoel Philomeno de Miranda
Repara a Natureza – Emmanuel
Uma boa ideia – Richard Simonetti
A religião do Espiritismo – Mário Frigéri
Escravidão – Christiano Torchi
Os efeitos morais do perdão (Capa) –
Clara Lila Gonzalez de Araújo
Em dia com o Espiritismo – Bullying – Diferentes
faces de um mesmo problema – Marta Antunes Moura
Parábola do Evangelizador – Adeilson Salles
Centenário de Inauguração da Sede Histórica da FEB
O Auto-de-fé em Barcelona e o desafio atual da
intolerância religiosa –
Mauro Nascimento de Oliveira Junior
Zêus Wantuil – Affonso Soares
Palavras fraternais – Natanael
O Livro dos Médiuns e o “Plano de Trabalho do
Movimento Espírita Brasileiro” – Esther Fregossi González
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PARA O BRASILAssinatura anual RR$$ 5522,,0000
Assinatura digital anual RR$$ 2244,,0000
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Editorial
O perdão das
ofensasoderemos utilmente pedir a Deus que perdoe as nossas faltas? perguntou
Allan Kardec aos Espíritos superiores. E eles responderam: “Deus sabe dis-
cernir o bem do mal; a prece não esconde as faltas. Aquele que a Deus pede
perdão de suas faltas só o obtém mudando de proceder. As boas ações são a melhor
prece, por isso que os atos valem mais que as palavras”.1
O maior exemplo de perdão que o ser humano conhece é o de Jesus no Calvário.
Humilhado, ferido, agredido injustamente, inaugurou uma Nova Era para a Huma-
nidade, pronunciando as sublimes palavras: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o
que fazem!” (Lucas, 23:34). Ensinou-nos, com este gesto, que quem perdoa de
forma autêntica se liberta, uma vez que quebra o círculo vicioso do ódio e da vio-
lência que se perpetua na reciprocidade. O perdoado, todavia, continuará carregando
consigo a responsabilidade de reparar os seus erros se quiser libertar-se, também.
Em um mundo que se pretende ser de Regeneração, a prática do perdão é de fun-
damental importância, pois é a maneira pela qual se lança um véu sobre o passado,
de forma definitiva, para que esses hábitos infelizes não venham a prejudicar o
ambiente de harmonia e de fraternidade que se pretende construir entre os seres
humanos, e que se faz necessário para concretizar a previsão de Jesus, exposta no
Sermão do Monte, de que “os mansos possuirão a Terra” (Mateus, 5:5).
Oportunas, portanto, as palavras de Simeão: “Espíritas, jamais vos esqueçais de
que, tanto por palavras, como por atos, o perdão das injúrias não deve ser um
termo vão. Pois que vos dizeis espíritas, sede-o. Olvidai o mal que vos hajam feito e
não penseis senão numa coisa: no bem que podeis fazer. [...] Cuidai, portanto, de
os expungir [os pensamentos] de todo sentimento de rancor. Deus sabe o que
demora no fundo do coração de cada um de seus filhos. Feliz, pois, daquele que pode
todas as noites adormecer, dizendo: Nada tenho contra o meu próximo”.2
P
4 Reformador • Novembro 2011440022
1KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 91. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010.Q. 661.
2______. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 130. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB,2011. Cap. 10, it. 14.
s reuniões espíritas são o campo favorável para oexercício e aprimoramen-
to da faculdade mediúnica. Étambém local de desenvolvimen-to da solidariedade e outros va-lores morais, pela oportunidaderecebida de auxiliar o próximo:
As reuniões espíritas podem
oferecer grandes vantagens, por
permitirem que as pessoas que
nelas tomam parte se esclare-
çam, mediante a troca de ideias,
pelas perguntas e observações
que façam entre si, das quais to-
dos aproveitam. [...]1
Por outro lado, pondera AllanKardec:
[...] Mas, para que produzam
todos os frutos desejados, re-
querem condições especiais
que vamos examinar, pois pro-
cederia mal quem as compa-
rasse às reuniões comuns.
Aliás, sendo as reuniões verda-
deiros todos coletivos, o que
lhes diz respeito decorre natu-
ralmente das instruções prece-
dentes. Como tal, elas devem
tomar as mesmas precauções e
se preservar das mesmas difi-
culdades que os indivíduos
isoladamente. Foi por essa ra-
zão que colocamos este capí-
tulo em um dos últimos luga-
res desta obra.
As reuniões espíritas apresen-
tam características muito dife-
rentes, conforme o fim com que
se realizam; por isso mesmo,
suas condições intrínsecas de-
vem diferir. [...]1
As reuniões espíritas são classi-ficadas pelo Codificador em frívo-las, experimentais e instrutivas,1
cujos significados são os que seseguem.
Reuniões espíritas frívolas
São reuniões compostas
[...] de pessoas que só veem o
lado divertido das manifesta-
ções, e que se divertem com os
gracejos dos Espíritos levianos.
Estes as apreciam bastante e a
elas não faltam, por aí gozarem
de inteira liberdade para se
exibirem. É nessas reuniões
que se perguntam banalidades
de toda sorte, que se pede aos
Espíritos a predição do futuro,
que se põe à prova a perspicá-
cia deles em adivinhar as ida-
des, ou aquilo que cada um
tem no bolso, em revelar pe-
quenos segredos e mil outras
coisas sem importância.2
As reuniões mediúnicas de ocor-rência usual nos centros espíritasda atualidade não apresentam, emgeral, tais características, aindaque Espíritos levianos e outros, osmal-intencionados, assediem osmédiuns na tentativa de se mani-festarem e ocuparem o espaçodestinado aos desencarnados quebuscam esclarecimento e consoloespirituais. Daí a necessidade de di-rigentes e demais integrantes dareunião mediúnica se prepararemadequadamente para a realizaçãoda tarefa, adquirindo conhecimentoespírita, em geral, e sobre a prática
A
O Livrodos Médiuns
Reuniões espíritas
5Novembro 2011 • Reformador 440033
mediúnica em particular. Até por-que, lembra Kardec:
[...] Diz o simples bom senso
que os Espíritos elevados não
comparecem às reuniões deste
gênero, em que os espectadores
não são mais sérios do que os
atores. [...] Porém, cometeria
uma profanação quem para ali
convidasse entidades veneran-
das, porque seria misturar o sa-
grado com o profano.2
Reuniões espíritasexperimentais
As manifestações mediúnicas deefeitos físicos predominam nessasreuniões.3 Elas ainda ocorrem nomeio espírita e são vulgarmentedenominadas “reuniões de cura”,“de tratamento físico-espiritual” outerminologia semelhante. O pro-pósito de tais reuniões é prestarassistência espiritual a pessoas por-
tadoras de enfermidades físicas,através de doação fluídico-magné-tica dos médiuns curadores. A me-diunidade curadora “[...] consisteprincipalmente no dom que pos-suem certas pessoas de curar pelosimples toque, pelo olhar, mesmopor um gesto, sem o concurso dequalquer medicação. [...] Evidente-mente, o fluido magnético desem-penha aí importante papel [...]”.4
A cura de doenças guarda, contudo,relação com as determinações dalei de causa e efeito. Mesmo que acura esperada não aconteça, o am-paro espiritual abranda as mani-festações da enfermidade e reforçaa fé do enfermo, fazendo-o com-preender que a cura definitiva dedoenças está relacionada ao rea-juste do Espírito às leis de Deus.
Outros tipos de reuniões deefeitos físicos – materializações deEspíritos, transporte de objetos,vozes e escritas diretas etc. –, sãomais incomuns. Nos dias atuais
predomina a mediunidade de efei-tos intelectuais, todavia, as reuniõesexperimentais foram de grande uti-lidade no passado, “já que foramelas que levaram à descoberta dasleis que regem o mundo invisívele, para muita gente, constituempoderoso meio de convicção”.3
Reuniões espíritasinstrutivas
São reuniões onde se pode co-lher o verdadeiro ensino dos Espí-ritos.5 Allan Kardec apresenta as se-guintes condições para a sua reali-zação: 1) Seriedade: “A primeira detodas é que sejam sérias, na com-pleta acepção da palavra. É impe-rioso que todos se convençam deque os Espíritos a quem desejam
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FEB.
6 Reformador • Novembro 2011440044
dirigir-se são de natureza especia-líssima; que, não podendo o subli-me aliar-se ao trivial, nem o bemcom o mal, quem quiser obter boascoisas precisa dirigir-se a Espíritosbons”.5 2) Conceito de reunião me-diúnica séria: “Uma reunião só éverdadeiramente séria quando seocupa de coisas úteis, com exclusãode todas as demais [...]”.5 3) Favo-recer a presença de bons Espíritos:“[...] Não basta, porém, que se evo-quem Espíritos bons [...]. Ora, Espí-ritos superiores não comparecem areuniões de homens levianos e su-perficiais, assim como jamais com-pareceriam quando encarnados”.5
Neste sentido, os integrantes dareunião mediúnica devem adqui-rir conhecimento sobre a teoria eprática do Espiritismo, não me-dindo esforços para se transforma-rem em pessoas melhores, uma vezque o estudo, aconselha o Codifi-cador, é de grande valia, ainda mais“para os médiuns de manifesta-ções inteligentes, sobretudo paraaqueles que desejam seriamenteaperfeiçoar-se”.6 Pelo conhecimen-to espírita, evita-se cair nas ma-lhas da obsessão, as armadilhascolocadas pelos Espíritos engana-dores.6 Assim, “todo médium quesinceramente não queira tornar-seinstrumento da mentira deve,portanto, procurar trabalhar nasreuniões sérias [...] aceitar agra-decido, mesmo solicitar, o examecrítico das comunicações que re-ceba. Se estiver às voltas com Espí-ritos enganadores, esse é o meiomais seguro de desembaraçar-sedeles, provando-lhes que não opodem enganar”.6
Um aspecto da reunião, que ja-mais deva ser desconsiderado, dizrespeito à sua homogeneidade:
Toda reunião espírita deve,
pois, buscar a maior homoge-
neidade possível. Estamos nos
referindo, naturalmente, àque-
las em que se deseja chegar a re-
sultados sérios e verdadeira-
mente úteis. [...]7
Além do mais, prossegue Kar-dec, há “outro ponto não menosimportante: o da regularidade dasreuniões. Em todas elas sempreestão presentes Espíritos a quempoderíamos chamar frequentado-res habituais [...]. Estamos nos re-ferindo aos Espíritos protetores[...]. Quando as reuniões se reali-zam em dias e horas certos, eles se
preparam antecipadamente e éraro faltarem”.8
Perante tais esclarecimentos,devemos envidar esforços paraque a reunião mediúnica sejanão só séria, mas também ins-trutiva, de acordo com estes esclarecimentos:
Uma reunião é um ser coletivo,
cujas qualidades e proprieda-
des são a resultante das de seus
membros, formando uma espé-
cie de feixe. Ora, quanto mais
homogêneo for esse feixe, tanto
mais força terá. [...] Já que o
Espírito [comunicante] é de
certo modo alcançado pelo
pensamento, como nós o so-
mos pela voz, vinte pessoas,
unindo-se com a mesma in-
tenção, terão necessariamente
mais força do que uma só;
mas, a fim de que esses pensa-
mentos concorram para o
mesmo fim, é preciso que vi-
brem em uníssono, que se
confundam, por assim dizer,
em um só, o que não pode se
dar sem o recolhimento.9
Referências:1KARDEC, Allan. O livro dos médiuns.
Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1. reimp.
Rio de Janeiro: FEB, 2009. P. 2, cap. 29,
it. 324, p. 539-540.2______. ______. It. 325.
3______. ______. It. 326.
4______. ______. Cap. 14, it. 175.
5______. ______. Cap. 29, it. 327.
6______. ______. It. 329, p. 523.
7______. ______. It. 331, p. 547-548.
8______. ______. It. 333, p. 548-549.
9______. ______. It. 331, p. 546-547.
Umareunião é
um sercoletivo
formandouma espécie
de feixe
7Novembro 2011 • Reformador 440055
8 Reformador • Novembro 2011440066
proposta de Jesus para queos seus discípulos se apli-cassem ao ministério da
cura das enfermidades, que afli-gem as criaturas humanas, encon-tra suporte abençoado na terapiaatravés dos passes.
A transmissão da energia cons-tituída por raios psíquico-magné-ticos está ao alcance de todas ascriaturas que se queiram devotarà ação do bem.
O dom de curar não constituiprivilégio de ninguém, embora al-gumas pessoas sejam mais bemaquinhoadas dos recursos energé-ticos destinados a esse fim.
Desejando contribuir em favorda saúde do seu próximo, cabe aointeressado equipar-se dos recur-sos hábeis para o desiderato.
Inicialmente, o desejo sincerode servir torna-se-lhe fundamen-tal para o empreendimento a quese propõe. Interessado em adqui-rir o conhecimento para lograr osresultados melhores, cabe-lhe co-nhecer a natureza humana, a cons-tituição orgânica e os fulcros deenergia no corpo físico bem comono perispiritual, assim como asleis dos fluidos, desse modo, equi-pando-se com os elementos valio-sos indispensáveis ao tentame.
Em seguida, torna-se necessáriaa consciência do contributo quedeve oferecer, trabalhando os sen-
timentos da simpatia, da amizadee da compaixão, a fim de envol-ver o enfermo em ondas de ener-gia favorável à sua recuperação.
Cuidados especiais são-lhe im-prescindíveis, tais como a higienefísica e mental, mediante os há-bitos superiores da oração e dosbons pensamentos, cultivando asideias edificantes, reflexionandoem páginas portadoras de conteú-dos morais relevantes, para servi-rem de sustentáculo emocional aoequilíbrio.
A mente é a fonte geradora daenergia que procede do Espíritoe se transforma em ação. Todo equalquer investimento inicia-sena sede da alma, transformando--se em ideia e corporificando-seem ato.
Pensar corretamente, cultivan-do os ideais do amor, da fraterni-dade e do bem, são a regra áureapara uma existência saudável e,portanto, para ser repartida emfavor daqueles que se encontramem situação menos favorável.
Adotando atitudes morigera-das e evitando qualquer tipo decomportamento esdrúxulo ou car-regado de misticismo, o passistadeve manter-se sempre sereno eem condição de sintonia com osabnegados mentores do Mais Além.
A iniciativa do bem nasce nosentimento da criatura humana e
encontra ressonância na Espiri-tualidade que, de imediato, se fazpresente através de nobres Ami-gos dedicados ao labor da miseri-córdia e do progresso.
Naturalmente, à medida queo passista se afeiçoa à atividade eadquire autoconfiança, mais fa-cilmente registrará as presençasdos nobres guias espirituais quepassarão a supervisionar-lhe atarefa, predispondo-se ao auxíliovalioso com segurança por seuintermédio.
O passista é alguém que optapelo edificante serviço de ajudaao próximo por ocasião da suaproblemática no campo da saúde.Mas, não somente pode ser útil noperíodo de enfermidade, quantotambém nos processos de revitali-zação de energia dos que estãomais debilitados, assim como narenovação de entusiasmo e de for-ças para o prosseguimento da jor-nada reencarnacionista.
De igual modo, favorece a soli-dariedade por meio da conversa-ção edificante, do aconselhamentofraternal, ensejando, a quem ne-cessite, diretrizes dignas para o fe-liz desiderato existencial.
Trabalhando-se emocionalmen-te e cada vez mais conscientizan-do-se da responsabilidade assu-mida, é imperioso esforçar-se pa-ra adquirir e multiplicar os bônus
A
Passeterapia“Restituí a saúde aos doentes...” (Mateus,10:8.)
de energia que possa doar. Talrecurso é conseguido como de-corrência natural do esforço queempreende e da dedicação ao ser-viço socorrista.
De bom alvitre também, terem mente que a investidura cura-tiva não o imuniza contra os agen-tes do mal, as contaminações, osdesgastes, os fenômenos pertur-badores, as possíveis obsessões,os transtornos do cansaço e domal-estar...
Todo indivíduo encontra-sesujeito às intecorrências da jor-nada empreendida, não havendoregime de exceção, e caso hou-vesse daria lugar a procedimen-tos de injustiça nos divinos códi-gos, privilegiando uns em detri-mento de outros.
O trabalho é o campo especialde desenvolvimento dos valoresadormecidos no ser, que se agigan-ta na razão direta em que empreen-de as atividades de enobrecimen-to moral e espiritual. Desse mo-do, a ginástica para o Espírito é ocontínuo labor em benefício daautoiluminação.
Para bem desincumbir-se, por-tanto, do mister aceito esponta-neamente, é necessário ao passistadesfrutar de saúde, especialmentemoral, tanto quanto psíquica, emo-cional e física, a fim de poder trans-miti-la com eficiência aos necessi-tados que o busquem.
Sempre que experimente, po-rém, algum mal-estar ou qual-quer outra sensação desagradá-vel durante a operação socorris-ta, é justo considerar que algo seencontra desajustado nele pró-
prio. Por certo, deve estar intoxi-cado pelos resíduos de vibraçõesnegativas, por tentativas de per-turbação provindas de fora, porobsessão instalando-se...
Cabe-lhe suspender de ime-diato o concurso fraternal e,mentalmente, em clima de calma,sem qualquer prática externa,concentrar-se, e, pelo pensamen-to, procurar eliminar as energiasdeletérias, expulsando-as das áreasem que se encontram localiza-das, fazendo-as sair pelas extre-midades inferiores...
Noutras circunstâncias, é debom alvitre, antes da aplicação dospasses nos enfermos, fazê-la em sipróprio através dos recursos men-tais de que é portador.
A irrestrita confiança em Deus,conectando-se às Fontes daVida, proporcionará acorreta captação de for-ças psíquicas e fluídi-cas que serão transmi-tidas aos sofredores,auxiliando-os na ne-cessária recuperação.
Em qualquer come-timento, portanto, denatureza espiritual, sãoindispensáveis o amore a caridade como re-cursos transcendentespara os bons resultadosdo labor em desenvolvi-mento.
Conscientizando-se deque sempre transitará nafaixa vibratória dos pró-prios pensamentos eatos, a manutençãodos valores otimis-
tas e edificantes torna-se de vitalsignificado.
Restituí a saúde aos enfermos –propôs Jesus – enfermos, que so-mos ainda quase todos, nele, osublime Psicoterapeuta, encontra-mos o apoio necessário a fim deservirmos com abnegação, certosde que ao largo do tempo conse-guiremos a saúde integral.
Manoel Philomeno de Miranda
(Página psicografada pelo médium Dival-
do Pereira Franco, na sessão mediúnica
da noite de 19 de janeiro de 2009, no
Centro Espírita Caminho da Redenção, em
Salvador, Bahia.)
9Novembro 2011 • Reformador 440077
Reformador: Como surgiu seu in-teresse em relacionar Espiritismo eEcologia?Trigueiro: Sou espírita, jornalistainteressado em sustentabilidadehá pelo menos 20 anos, e tenhouma pós-graduação em GestãoAmbiental pela COPPE/UFRJ. Acombinação desses fatores me pre-cipitou na direção dessa linha deinvestigação. O livro – já na ter-ceira edição – não esgota o as-sunto, mas deixa claro a razão pe-la qual nós espíritas devemos teratenção redobrada nesta encarna-ção para com os limites do planetaque generosamente nos acolhe. Asituação é difícil e a Humanidade éa responsável direta pela criseambiental sem preceden-tes que experimentamosno momento. A educa-ção para a sustentabi-lidade encerra prin-cípios éticos e mo-rais que são caros àDoutrina Espírita.Devo dizer que meincomodava muitouma certa distân-cia que várias casas
espíritas mantinham do tema “meioambiente”, como se a exaltaçãodos valores espirituais nos eximissede responsabilidade para com oque acontece aqui e agora em nos-sa casa planetária. Mas isso estámudando.
Reformador: Que destaque daria,em obras de Kardec, com relação aotema?Trigueiro: Bem entendida, a po-sição assumida pelo Espiritismoem favor da vida – condenando oaborto, a eutanásia e o suicídio –alcança também a dimensão pla-netária na condenação do ecocídio,ou seja, a capacidade de a Huma-nidade realizar escolhas que redu-zem nossas possibilidades de exis-tência nesse plano. Todo o capítu-lo de O Livro dos Espíritos que ver-sa sobre a Lei de Conservação éum tratado de sustentabilidade.Quando a Doutrina estabelece adiferença entre o que é necessárioe o que é supérfluo, e nos orien-
ta em relação ao uso inteligentedos recursos naturais (“A
Terra produziria sempre onecessário, se o homemsoubesse contentar-se como necessário”)1 há sinergiaabsoluta em relação aos mo-dernos relatórios da ONU
10 Reformador • Novembro 2011440088
AN D R É TR I G U E I ROEntrevista
André Trigueiro, autor do livro Espiritismo e Ecologia (FEB), considera que a Leide Conservação de O Livro dos Espíritos é um tratado de sustentabilidade
Por um meioambientesadio e agradável
1Op. cit., Trad. Evandro NoletoBezerra. 2. ed. 1. reimp. Rio deJaneiro: FEB, 2011. Q. 705.
que condenam os atuais meios deprodução e de consumo. Outrotema que me interessa muito é ainfluência de nossos sentimentose pensamentos na qualidade da psi-cosfera terrena. Temos o poder deinfluenciar coletivamente a Natu-reza, através da qualidade e da in-tensidade de nossas vibrações. ADoutrina Espírita também reco-nhece o trabalho dos elementais,seres encarregados de proteger aNatureza e sustentar seus proces-sos cíclicos. Outra informação va-liosa remete à identificação visce-ral que temos com a Terra: somosfeitos dos mesmos elementos queconstituem o planeta, e isso valepara o corpo material ou o peris-pírito. “Do pó viestes para o póvoltareis” [Gênesis, 3:19] não époesia bíblica, é Ciência. E o queacontece com a terra, o ar e a água,portanto, fora de nós, reverbe-ra dentro de nós. Estamos todosconectados.
Reformador: Você relaciona even-tuais desrespeitos ao meio ambien-te às alterações climáticas?Trigueiro: O livro de nossa autoriatraz informações atualizadas sobrea maior crise ambiental da Histó-ria da Humanidade e como somosresponsáveis por isso. Na verdade,somos parte do problema e deve-mos ser parte da solução. A criseclimática é a mais preocupante edemanda soluções urgentes. Masnossas atenções devem estar vol-tadas também para a destruiçãosistemática da biodiversidade, a pro-dução monumental de lixo, a es-cassez de recursos hídricos, a
transgenia irresponsável, o con-sumismo desvairado, o crescimen-to desordenado das cidades e ou-tros problemas que fazem parte donosso tempo e exigem respostasde nossa parte ainda nesta existên-cia. O espírita está sendo convoca-do à ação aqui e agora. A maiornação espírita do planeta está si-tuada no único país com nome deárvore, que concentra o maiorestoque de água doce (superficialde rio ou subterrânea), a maiorquantidade de solo fértil, o maiornúmero de espécies conhecidas ecatalogadas. Mera coincidência?
Reformador: Como os espíritastêm reagido ao seu livro e em even-tos que participa?Trigueiro: Percebo enorme recep-tividade e acolhimento aos assun-tos do livro. Tenho recebido mui-tas manifestações (especialmenteem mensagens endereçadas pelaInternet) de espíritas que usam olivro para palestras, trabalhos emmocidades, ou para orientar mu-danças estruturais nas rotinas daprópria instituição. É particular-mente interessante a reação daspessoas à forma como abordamosa questão do consumo de carne.Se é verdade que o consumo decarne na alimentação é condizen-te com o nível evolutivo em quemuitos de nós nos encontramos,também é verdade que isso nãodeve justificar o uso de métodoscruéis, dolorosos, que impõemsofrimento desnecessário aos nos-sos irmãos menos evoluídos daCriação. O Brasil é o maior produ-tor de proteína animal do mundo
e muitos espíritas se surpreendemcom o circo dos horrores que seesconde por detrás dessa indús-tria. Como eventuais consumi-dores de carne, devemos zelarpelo bem-estar animal e pelo quese convencionou chamar de “abatehumanitário” (o nome é esquisitomas é assim mesmo).
Reformador: Que ações recomen-daria aos espíritas?Trigueiro: Precisamos fazer agoratudo o que esteja ao nosso alcanceem favor do uso responsável e éti-co dos recursos naturais não re-nováveis do planeta. Muitos espí-ritas se acomodam pelo fato de omundo de regeneração estar a ca-minho. Supõem que não haja oque fazer em relação ao planeta,pois que o destino do orbe já estáselado. Convém recordar as expli-cações de Santo Agostinho, em OEvangelho segundo o Espiritismo,sobre as diferentes categorias demundos habitados. Ao explicar oque é o mundo de regeneração,Santo Agostinho confirma a con-dição de orbe mais evoluído éticae moralmente, entretanto, não háqualquer menção às qualidadesambientais deste mundo. Ou seja,podemos deduzir que os supri-mentos de água limpa, solo fértil,ar puro, biodiversidade e as con-dições climáticas serão definidos apartir das escolhas que realizar-mos agora, e que se persistirmosem não nos modificarmos nestaencarnação (hábitos, comporta-mentos, estilos de vida e padrõesde consumo), poderemos deter-minar uma situação curiosa num
11Novembro 2011 • Reformador 440099
futuro próximo: o planeta cuja vi-bração se eleva para hospedaruma humanidade mais evoluídaética e moralmente seria o mesmodestroçado ambientalmente. Nãomerecemos isso. Podemos reduzirdrasticamente este risco se fizer-mos o dever de casa já. Sabendousar, não vai faltar.
Reformador: A criança tambémpoderia ser precocemente educadanesse sentido?Trigueiro: A criança deve ser edu-cada para lidar com os desafios domundo em que vive. Uma escolapública ou privada que ignore osenso de urgência que deve regerum projeto pedagógico compro-metido com a sustentabilidade, éuma escola que não merece serchamada de “instituição de ensi-no”. O mundo mudou muito nasúltimas décadas. As escolas e uni-versidades que não estiverem mi-nimamente antenadas com essenovo tempo, não poderão formarcidadãos capacitados para enfren-tar o que vem por aí. Convém bus-car informação e entender o con-texto civilizatório em que estamosinexoravelmente imersos.
Reformador: Uma mensagem aoleitor de Reformador.Trigueiro: Que o mundo será umdia um lugar melhor e mais justo,não há dúvida alguma. A grandequestão ainda sem resposta é: ha-verá tempo para que esse mundomelhor e mais justo seja tambémum mundo ambientalmente sadioe agradável? Depende de nós.Qual a sua escolha?
12 Reformador • Novembro 2011441100
Fonte: TRIGUEIRO, André. Espiritismo e ecologia. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB,
2010. Mensagem inédita de Emmanuel, psicografia de Chico Xavier em Pedro
Leopoldo, MG, 1953(?). p. 110-113.
Repara a Naturezaepara a natureza que te cerca no mundo.
Tudo é riqueza e esforço laborioso por assegurá-la.
O solo ferido pelo arado é berço milagroso da produção.
A árvore mil vezes dilacerada orgulha-se de sofrer e ajudar
sempre mais.
A fonte, superando os montões dos seixos, pouco a pouco se
transforma em grande rio a caminho do mar.
Algumas sementes formam a base de preciosa floresta.
Pedras agressivas se convertem nas obras-primas da estatuária,
quando não vertem do seio a faiscante beleza do material de
ourivesaria.
Animais humildes, padecendo e ajudando, garantem o conforto
das criaturas contra a intempérie ou alimentam-lhes o corpo,
sustentando-lhes a existência.
A pobreza é simples apanágio do homem.
Do homem enquanto se refugia, desassisado na furna da
ignorância.
Somente a alma humana distanciada do conhecimento Superior,
assemelha-se a um fantasma de angústia, de miséria, de lamentação.
Se podes, assim, observar o patrimônio das bênçãos celestiais, no
caminho em que evoluis, procura o teu lugar de trabalho e serve
infatigavelmente ao Bem, para que o Bem te ensine a ver a fortuna
imperecível que o Pai te concedeu por sublime herança.
Serve aos semelhantes, ajuda a planta e socorre o animal. Seja a
tua viagem por onde passes um cântico de auxílio e bondade, de
harmonia e entendimento.
E, à medida que avançares na senda de elevação, encontrar-te-ás
cada vez mais rico de amor, encerrando no próprio peito o tesouro
intransferível da luz que te coroará de felicidade inextinguível nos
cimos da glória eterna.
R
Emmanuel
Meus amigos:
Que Nosso Senhor Jesus Cristo nos conserve oamor no coração e a luz no cérebro, para que nossasmãos permaneçam vigilantes e diligentes no bem.
uem assinala os dramas de aflição a emergi-rem da treva nas sessões mediúnicas, perce-be facilmente a importância da vida humana
como estação de refazimento e aprendizado.Principalmente para nós, os que procuramos no
Espiritismo uma porta iluminada de esperança parao acesso à verdade, a existência na Terra se reveste desubido valor, porque não desconhecemos os perigosda volta à retaguarda.
Sentimos de perto o martírio das criaturas desen-carnadas que se deixaram arrastar pelos furacões docrime e o tormento das almas, sem a concha física,que ainda se apegam desvairadamente à ilusão.
Somos testemunhas de culpas e remorsos que pas-saram impunes diante dos tribunais terrestres, e ano-tamos a Justiça Imanente, Universal e Indefectível,que confere a cada Espírito o galardão da vitória ouo estigma da derrota, segundo as realizações que edi-ficou para si mesmo.
Sabemos que não vale perguntar com a Ciência,menoscabando a consciência, e não ignoramos queas tragédias e as lágrimas que fazem o inferno, nasregiões sombrias, se originam, de maneira invariável,do sentimento desgovernado e vicioso.
Vede, pois, que, em nos conchegando ao Cristo deDeus, buscando-lhe a inspiração para os nossos ser-viços e ideais, nada mais fazemos que situar os nos-sos princípios no lugar que lhes é próprio, porque anossa Doutrina Renovadora é, sobretudo, um rotei-
ro de aperfeiçoamento do homem, com a sublima-ção do caráter.
Entre as realidades amargas que nos visitam ostemplos de intercâmbio e certas predicações de com-panheiros cultos e entusiastas, mas imperfeitamenteacordados para as responsabilidades que lhes com-petem, lembremo-nos de que quase vinte séculos deCristianismo verbal viram passar no mundo tronos e Estados, organizações e monumentos, guerras eacordos, casas de caridade e santuários de estudo emtodas as linhas da civilização do Ocidente, erguendo--se em nome de Jesus e tornando ao pó de que nas-ceram, tão somente com o benefício da experiênciadolorosa, haurida entre a sombra e a desilusão.
Levantemo-nos para a fé que nos redima por dentro.Deus é o Senhor do Universo e da Natureza, mas
determina sejamos artífices de nossos própriosdestinos.
Renovemo-nos hoje ao Sol do Evangelho!Cada qual de nós use a ferramenta das ideias su-
periores de que já dispõe e de conformidade com alição de nosso Divino Mestre, estudada por nós nestanoite. Trabalhemos, “enquanto é dia”, na preparaçãodo futuro de paz.
O Espiritismo não é um esporte da inteligência.É um caminho de purificação para a glória eterna.No cume da montanha que nos compete escalar,
aguarda-nos o Senhor como o Sol da Vida.Desentranhemos, assim, a gema de nossa alma do
escuro cascalho da ignorância, para refletir-lhe aDivina Luz!
Fonte: XAVIER, Francisco C. Vozes do grande além. Diversos
Espíritos. 5. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2003. Cap. 14.
13Novembro 2011 • Reformador 441111
Q
Presença de Chico Xavier
Renovemo-noshoje
Pelo Espírito Cairbar Schutel
14 Reformador • Novembro 2011441122
erta feita perguntaram aMahatma Gandhi o queele achava da civilização
ocidental:Resposta:– Acho que seria uma boa
ideia.Bem-humorado e perfeito o
pensamento do grande líder espi-ritual.
Para entender o alcance de suaspalavras, consideremos civiliza-ção, em sua expressão mais sim-ples, como sinônimo de uma co-letividade orientada por organi-zação social adequada, leis justase igualitárias que promovam obem-estar da população.
Oportuno lembrar, a propósito,que todos os homens têm direito àvida, à liberdade e à felicidade,como sugere a proclamação da in-dependência dos Estados Unidosda América.
A população, por sua vez, nu-ma civilização, exercita a cortesia,o respeito às normas e ao próxi-mo, guardando fidelidade à pró-pria consciência.
Dá para perceber por queGandhi fala de uma boa ideia,
dando a entender que não temosuma civilização em toda sua abran-gência, já que esses princípiosestão longe de serem observadosem qualquer país do Ocidente.
Na verdade, caro leitor, não sãoobservados em plenitude em ne-nhum país deste nosso Mundo deExpiação e Provas, orientado peloegoísmo.
Na questão 793, de O Livro dosEspíritos,1 interroga Kardec:
Por que sinais se pode reconheceruma civilização completa?
Reconhecê-la-eis pelo desenvol-vimento moral. Credes que estaismuito adiantados, porque fizestesgrandes descobertas e invençõesmaravilhosas; porque vos alojais evos vestis melhor do que os selva-gens. Contudo, não tereis verdadei-ramente o direito de dizer-vos civi-lizados, senão quando houverdesbanido de vossa sociedade os víciosque a desonram e quando viverdes
como irmãos, praticando a carida-de cristã. Até então, sereis apenaspovos esclarecidos, que só percorre-ram a primeira fase da civilização.
Perfeito!Temos os esclarecimentos ne-
cessários para compor uma civili-zação, mas entre o saber e o fazerinterpõe-se o velho egoísmo hu-mano, que usa o saber em provei-to próprio, comprometendo ofazer.
Entendo que o trânsito parauma verdadeira civilização impli-ca admitir o saber como indecli-nável convocação para o fazer.
O problema está em definirbem o saber, porquanto muitagente pensa saber tudo e não sabenada, enfeitando-se de cultura,aprendendo muito sobre os maisvariados assuntos, mas permane-cendo ignorante no assunto fun-damental – a Vida.
Enquanto não entendermos oque é a Vida, de onde viemos,por que estamos na Terra, paraonde vamos, patinaremos em ter-mos de saber. Estaremos apenas aincensar o egoísmo com a pretensão
CRI C H A R D SI M O N E T T I
Uma boa ideia
�
1Op. cit. Trad. Evandro Noleto Bezerra.2. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011.
de que somos melhores do que opróximo, sem noção sequer depor que existimos.
A propósito, vale lembrar o en-contro de Jesus com Hanã, um sa-cerdote judeu, no início de seuapostolado, descrito por Humber-to de Campos, no livro Boa Nova,2
um dos mais importantes psico-grafados por Chico Xavier:
– Galileu, que fazes na cidade?– Passo por Jerusalém, buscando
a fundação do Reino de Deus! –exclamou o Cristo, com modestanobreza.
– Reino de Deus? – tornou osacerdote com acentuada ironia. –E que pensas tu venha a ser isso?
– Esse Reino é a obra divina nocoração dos homens! – esclareceuJesus, com grande serenidade.
– Obra divina em tuas mãos? –
revidou Hanã, com uma gargalhadade desprezo.
E, continuando as suas observa-ções irônicas, perguntou:
– Com que contas para levaravante essa difícil empresa? Quaissão os teus seguidores e companhei-ros?... Acaso terás conquistado oapoio de algum príncipe desconhe-cido e ilustre, para auxiliar-te naexecução de teus planos?
– Meus companheiros hão dechegar de todos os lugares – respon-deu o Mestre com humildade.
– Sim – observou Hanã –, osignorantes e os tolos estão em todaparte na Terra. Certamente que es-se representará o material de tuaedificação. Entretanto, propões-terealizar uma obra divina e já vistealguma estátua perfeita modeladaem fragmentos de lama?
– Sacerdote – replicou-lhe Jesus,com energia serena –, nenhummármore existe mais puro e maisformoso do que o do sentimento, e
nenhum cinzel é superior ao da boavontade.
Impressionado com a respostafirme e inteligente, o famoso juizainda interrogou:
– Conheces Roma ou Atenas?– Conheço o Amor e a Verdade –
disse Jesus convictamente.– Tens ciência dos códigos da
Corte Provincial e das leis do Tem-plo? – inquiriu Hanã, inquieto.
– Sei qual é a vontade de meuPai que está nos céus. – respondeu oMestre, brandamente.
Beleza de diálogo, amigo leitor.Com a simplicidade da sabedo-
ria autêntica, Jesus nos ensina queo amor e a verdade são as bases deconstrução de uma verdadeira civili-zação, a partir do empenho em com-preender qual é a vontade de Deus.
Quando tais princípios foremassimilados, a civilização ociden-tal deixará de ser apenas uma boaideia.
15Novembro 2011 • Reformador 441133
2Op. cit. 3. ed. 5. reimp. Rio de Janeiro:FEB, 2010. Cap. 3, p. 26-27.
16 Reformador • Novembro 2011 441144
ontinuando meus estudosda Revista Espírita, de AllanKardec, cada vez mais me
surpreendo com o manancial deverdades cristalinas que emanamde seus filões aurifulgentes.
Desta vez fui encontrar umabelíssima reflexão do emérito Co-dificador, em cujo contexto se en-contram os fundamentos da reli-gião do Espiritismo, e que conden-sa, em postulados lapidares, o espec-tro preciosíssimo de ensinamentosque enfloram a Terceira Revelação.
Pincelei a página inesquecívelcom o luminoso conceito exaradopor Emmanuel na epígrafe, e delase evolou com naturalidade o poe-ma “Eu sei”, que apresento a se-guir ao amigo leitor em dez estro-fes lavradas em versos decassíla-bos, precedendo cada quadra pelosrespectivos tópicos da mensagemde Kardec que lhe deram causa.
Tomei também a liberdade deagrupar os temas por afinidade, afim de facilitar a composição dopoema, e de acrescentar no iní-cio de alguns a palavra “Crer”, jáque se encontra subentendida nooriginal.
Eis o que preleciona o mestrede Lyon:
I – Crer num Deus Todo-Pode-roso, soberanamente justo e bom.
Eu sei que Deus é Todo-Poderoso,Único, Eterno, Justiceiro e Bom,E como Pai criou, sempre
[amoroso,O ser humano e lhe imprimiu seu
[dom.
II – Crer na alma e em sua imor-talidade.Crer na preexistência da alma comoúnica justificação do presente.Crer na pluralidade das existên-cias como meio de expiação, dereparação e de adiantamento intelectual e moral.
Eu sei que a Alma é ser preexistenteE sobrevive à desencarnação;Para que o homem cresça e siga
[em frente,Eu sei da Lei da Reencarnação.
III – Crer na perfectibilidade dosseres mais imperfeitos.Crer na felicidade crescente coma perfeição.
Eu sei também que o ser mais[imperfeito
Pode atingir um dia a perfeição,E tão depressa quanto houver
[eleitoJesus por guia de seu coração.
IV – Crer na duração da expia-ção limitada à duração da imper-feição.
Eu sei que a dor e o sofrimento[humanos
São só processos de reeducação,E a expiação, mesmo que dure
[anos,Não durará além da imperfeição.
A religião do
Espiritismo
C
“Conseguir a fé é alcançar a possibilidade de não mais dizer: ‘eu creio’, masafirmar: ‘eu sei’, com todos os valores da razão tocados pela luz do
sentimento.”1 Emmanuel
MÁ R I O FR I G É R I
1XAVIER, Francisco C. O consolador. PeloEspírito Emmanuel. 28. ed. 3. reimp. Riode Janeiro: FEB, 2010. Q. 354.
V – Crer na equitativa remunera-ção do bem e do mal, segundo oprincípio: a cada um segundo assuas obras.Crer na igualdade da justiça pa-ra todos, sem exceções, favoresnem privilégios para nenhumacriatura.
Eu sei que a Lei Divina, sem favores,É igualitária em toda a Criação:A cada um segundo seus laboresÉ sua justa retribuição.
VI – Considerar a vida terrestrecomo transitória e uma das fasesda vida do Espírito, que é eterno.Crer no livre-arbítrio do homem,que lhe deixa sempre a escolhaentre o bem e o mal.
Eu sei que a vida humana é [transitória,
Uma das fases da Vida Real,E que o Homem conduz sua
[história,Livre na escolha entre o bem e o
[mal.
VII – Crer na continuidade dasrelações entre o mundo visível e omundo invisível.Aceitar corajosamente as prova-ções, em vista de um futuro maisinvejável que o presente.
Eu sei que o mundo humano é [interagente,
Unido ao mundo espiritual,E de um futuro gentil, florescente,Mais invejável que o tempo atual.
VIII – Crer na solidariedade quereliga todos os seres passados,
presentes e futuros, encarnados edesencarnados.Praticar a caridade em pensa-mentos, palavras e obras na maislarga acepção do termo.Esforçar-se cada dia para ser me-lhor que na véspera, extirpandotoda imperfeição de sua alma.
Eu sei que o Bem, se vivido e se [feito
Com a alma acesa em sagrado[ideal,
Transforma o homem num ser[mais perfeito,
E no futuro – num Ser Integral.
IX – Submeter todas as crençasao controle do livre-exame e darazão, e nada aceitar pela fécega.Respeitar todas as crenças since-ras, por mais irracionais que nospareçam, e não violentar a cons-ciência de ninguém.Ver, enfim, nas descobertas daCiência, a revelação das leis da Na-tureza, que são as leis de Deus.
Eu sei que toda crença é respeitável,Quando sincera, livre, racional,E que a Ciência, de forma louvável,Revela o mundo da Lei Natural.
X – Eis o Credo, a religião do Es-piritismo, religião que pode con-ciliar-se com todos os cultos, istoé, com todas as maneiras de ado-rar a Deus. É o laço que deve unirtodos os espíritas numa santacomunhão de pensamentos, espe-rando que ligue todos os homenssob a bandeira da fraternidadeuniversal.
Eu sei, por fim, à luz do[Espiritismo,
Que os corações, de igual para [igual,
Hão de se unir, um dia, em [sincronismo,
Sob o pendão do Amor[Universal.
Estes são alguns dos pilares desustentação desse templo de sabe-doria infinita, espiritual, univer-salista, assectária e de origem di-vina a que Allan Kardec deu o no-me de Espiritismo. Estudar essespostulados ou não estudá-los,conhecê-los ou não conhecê-los,assimilá-los ou não assimilá-los,sabê-los ou não sabê-los é opçãode cada um.
Entretanto, senhoreando-nosde uma das mais belas bênçãos doApocalipse – exatamente aquelacontida no verso terceiro de seuprimeiro capítulo –, deixamosregistrada aqui, com a devida erespeitosa adaptação, esta fraternaadvertência a todos os nossosirmãos em Humanidade:
– Bem-aventurados aquelesque estudam e vivenciam as pala-vras da Terceira Revelação e guar-dam as coisas nela escritas, por-que o tempo da Regeneração estápróximo.
Referência:
KARDEC, Allan. O Espiritismo é uma re-
ligião? In: Revista espírita: jornal de estu-
dos psicológicos, ano 11, n. 12, p. 494-
-495, dez. 1868. Trad. Evandro Noleto
Bezerra. 2. ed. 2. reimp. (atualizada). Rio
de Janeiro: FEB, 2010.
17Novembro 2011 • Reformador 441155
escravidão ou escravismo éum costume bárbaro, cujaorigem se encontra nos pri-
mórdios da Humanidade. A es-cravidão sempre esteve associadaà exploração do homem pelo ho-mem, que não raro se ilude comas posições transitórias da vida,paralisando os voos da alma. Semdúvida que tal prática conspiracontra as leis divinas:
Toda sujeição absoluta de um
homem a outro homem é con-
trária à Lei de Deus. A escravidão
é um abuso da força e desapare-
cerá com o progresso, como de-
saparecerão pouco a pouco to-
dos os abusos.1
Na escravidão, está implícita aideia de inferioridade e desigualdadede um ser humano em relação aooutro, seja pela condição social, pelacor, pela nacionalidade ou mesmopela capacidade intelectual ou qual-quer outro motivo, até mesmo reli-gioso e cultural, ideologia queafronta diretamente a lei moral deigualdade entre os homens.
Criado simples e ignorante, oEspírito encontra-se apto a desen-volver suas potencialidades, ne-cessitando, para tanto, de passarpor inúmeras experiências reen-carnatórias. Muitos Espíritos re-nascem como servos, uns para au-xiliar em tarefas missionárias, ou-tros em tarefas redentoras e expia-tórias, produto da lei de causa eefeito.
Felizmente, o vaticínio dosEspíritos superiores se con-cretizou. A escravidão legal foiextinta, não sem conflitos, dorese lágrimas:
A Declaração dos Direitos do
Homem das Nações Unidas
(1948) coloca a escravidão na
lista das violações fundamen-
tais. Hoje, em todos os Esta-
dos membros soberanos, está
abolida legalmente a escravidão
enquanto propriedade. O anties-
cravagismo permanece o mo-
delo de cruzada moral mais
bem-sucedido da história da
humanidade.2
A partir de 1869, a campanhaabolicionista se intensificou noBrasil, tendo à frente grandes vul-tos, dentre os quais se destacou oentão médico e político, Dr. Be-zerra de Menezes, que mais tardese tornaria um dos baluartes doEspiritismo:
[...] Bezerra, espírito prudente
e cheio de ponderação, lembran-
do-se da sanguinolenta “Guerra
de Secessão”, publica nesse mes-
mo ano [1869] um estudo inti-
tulado – “A Escravidão no Brasil
e as medidas que convém tomar
para extingui-la sem dano para
a Nação”.3
Todavia, não nos deixemos enga-nar: a extinção da escravatura nãoconstituiu episódio fortuito, ao sa-bor exclusivo da vontade humana:
O século XIX caracteriza-se por
suas numerosas conquistas. [...]
Um desses grandes aconteci-
mentos é a extinção do cativeiro.
Cumprindo as determinações
do Divino Mestre, seus mensa-
ACH R I S T I A N O TO RC H I
Escravidão
18 Reformador • Novembro 2011 441166
1KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1.reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Q. 829.
2CANTO-SPERBER, Monique (Org.).Dicionário de ética e filosofia moral. SãoLeopoldo, RS: Unisinos, 2007. V. 1, verbete“Escravidão”, p. 559.
3WANTUIL, Zêus. Grandes espíritas doBrasil. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002.Bezerra de Menezes, p. 229.
geiros do plano invisível labo-
ram junto aos gabinetes admi-
nistrativos, de modo a facilitar
a vitória da liberdade.4
Embora o trabalho escravo tenhasido formalmente extinto na maio-ria das nações, ele ainda persisteem muitas delas, apresentando-sede forma distinta da ocorrida atéo século XIX:
[...] mais de 36 mil pessoas foram
resgatadas dessa situação nos
últimos 15 anos no Brasil. [...]
Em pleno século 21, mais de 12
milhões de pessoas sofrem com
o trabalho escravo. De cada qua-
tro, três estão na Ásia.5
De má lembrança foi a tentati-va nazista de ressuscitá-lo, duran-te a Segunda Guerra Mundial,quando “os eslavos e outras mino-rias prisioneiras [foram] reco-nhecidos como raças servis”, fi-cando “à disposição do Estado pa-ra experimentos, brigadas de tra-balho ou bordéis”.6
Tais costumes originam-se doatraso moral em que ainda se encon-
tra grande parcela da Humanidadeque, se conseguiu extirpá-los daslegislações dos povos desenvolvi-dos, ainda não logrou êxito em eli-minar hábitos arraigados, masca-rados por convenções sociais, sobas quais muitos se consideram supe-riores aos seus semelhantes.
Ao nos oferecer o Evangelhocomo roteiro de libertação defini-tiva da escravidão interna, Jesus mos-trou-nos a porta de saída desseanacronismo alimentado pelo mauuso da inteligência e dos instintos:“Amai-vos uns aos outros”.
Ao tempo de Kardec, a escravi-dão, em sua forma tradicional, es-tava nos estertores, mas permane-cia longe de acabar nos coraçõeshumanos. Refletindo a importân-cia do tema para a época, o Codi-ficador publicou na Revista Espí-rita as meditações filosóficas ditadaspelo Espírito Lamennais ao mé-dium Didier, recebidas na Socie-dade Espírita de Paris:
Escravidão! Quando se pronun-
cia este nome, o coração sente
frio, porque vê à sua frente o
egoísmo e o orgulho. [...] Oh!
sim, esta escravidão da alma é
horrível e diariamente excita
a eloquência de mais de um
pregador. [...]7
Ao consultar os anais forenses, osjuristas contemporâneos, com justarazão, chocam-se ante uma decisãoproferida pela Suprema Corte dosEUA, em 1857, ano em que surgiana França O Livro dos Espíritos.O que ali viram realça a perecibi-lidade das leis humanas em con-traste com a imutabilidade das leisdivinas, eternas e perfeitas:
19Novembro 2011 • Reformador 441177
4XAVIER, Francisco C. A caminho da luz.Pelo Espírito Emmanuel. 37. ed. 3. reimp.Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 24, it. Aextinção do cativeiro, p. 245.
5Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/historia/praticapedagogica/escravidao-ainda-existe-historia-trabalho-escravo-cana-agronegocio546462.shtml>. Acesso em: 31/8/2011.
6CANTO-SPERBER, Monique. (Org.).Dicionário de ética e filosofia moral. SãoLeopoldo, RS: Unisinos, 2007. V. 1, verbete“Escravidão”, p. 559.
7KARDEC, Allan. A escravidão. In: Revistaespírita: jornal de estudos psicológicos,ano 5, p. 96, fev. 1862. Trad. EvandroNoleto Bezerra. 3. ed. 2. reimp. Rio deJaneiro: FEB, 2009.
[...] Sete dos nove magistrados
votaram a favor da tese de que o
negro não era humano e, como
tal, pertencia ao seu “dono”. “Mes-
mo que possua um coração e um
cérebro e seja tido biologicamente
como humano – decidiu o Tri-
bunal – um escravo não é pessoa
perante a lei”. Por conseguinte,
podia-se comprar, vender e matar
os escravos, como se fossem coi-
sas. Por volta do século V, a Igreja
Católica discutia se a mulher
tinha alma ou não.8
Aqueles que abusam de suas facul-dades, poder ou riqueza para sub-jugar o próximo, não passam deinsensatos ou tolos que nada en-xergam além da matéria. Ignoramou esquecem-se de que muitas pes-soas foram colocadas sob sua depen-dência para serem elevadas e nãoexploradas ou rebaixadas.
Nunca é demais lembrar que,além da mácula da Guerra do Para-guai, pesa sobre a coletividade bra-sileira, com seu cortejo de provase expiações, a escravidão dos abo-rígenes e dos negros, a demonstrarque “a política do racismo [...] [éum] erro grave”.9
O Espírito Humberto de Cam-pos, na magnífica obra Brasil, Cora-ção do Mundo, Pátria do Evangelhoelucida as circunstâncias em que,
por concessão da MisericórdiaDivina, os irmãos africanos foramentronizados em nossas terrasainda inexploradas:
[...] É que o Senhor lhes assi-
nalou o papel na formação da
terra do Evangelho e foi por esse
motivo que eles deram, desde
o princípio de sua localização
no país, os mais extraordi-
nários exemplos de sacrifício à
raça branca. [...]10
Foi assim que os negros se uni-ram aos magotes de Espíritos reen-carnantes em solo brasileiro, pro-
venientes das plagas europeias,antigos batalhadores das Cruzadas,senhores feudais da Idade Média,padres e inquisidores, Espíritos re-beldes e revoltados, os quais deve-riam se imunizar contra os excessosdo imperialismo e do orgulho injus-tificável, praticados em pretéritoreencarnatório:
[...] O culto à personalidade, a
sobre-estima, a fatuidade, a am-
bição desmedida, filhos diretos
do egocentrismo, são cânceres da
alma que o sofrimento faz drenar
até o desaparecimento total dos
seus tentáculos de longo alcance,
abrindo espaço para que se ins-
talem os sentimentos da frater-
nidade, do auxílio recíproco, do
perdão indiscriminado, decor-
rentes do amor que os vivifica.11
Por isso, há esperança para todos,visto que pairam sobre a Huma-nidade a compaixão e a miseri-córdia divinas, sempre a nos ofe-recer ensejo de reabilitação, umavez que o bem feito hoje neutrali-za o mal perpetrado ontem.
Ainda somos prisioneiros de nósmesmos, encarcerados em nossascelas mentais, em nossos precon-ceitos, medos, angústias, mágoas.À medida que formos abando-nando essas inferioridades, gra-dualmente iremos nos libertandoda escravidão moral que impede aascese do Espírito.
20 Reformador • Novembro 2011441188
10Idem. Brasil, coração do mundo, pátriado evangelho. Pelo Espírito Humberto deCampos. 33. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro:FEB, 2010. Cap. 7, p. 64.
11FRANCO, Divaldo P. Loucura e obsessão.Pelo Espírito Manoel Philomeno deMiranda. 12. ed. Rio de Janeiro: FEB,2011. Cap. 8, p. 81.
Aindasomos
prisioneirosde nós
mesmos,encarceradosem nossas
celas mentais
8TORCHI, Christiano. Espiritismo passo apasso com Kardec. 3. ed. 1. reimp. Rio deJaneiro: FEB, 2010, Cap. 7, it. 7.4, subit.7.4.3, p. 391.
9XAVIER, Francisco C. O consolador. PeloEspírito Emmanuel. 28. ed. 3. reimp. Riode Janeiro: FEB, 2010. Q. 61.
21Novembro 2011 • Reformador 441199
Esf lorando o EvangelhoPelo Espírito Emmanuel
“Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo.”– PAULO. (I CORÍNTIOS, 12:4.)
Cada qual
Fonte: XAVIER, Francisco C. Fonte viva. ed. esp. 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Cap. 4.
m todos os lugares e posições, cada qual pode revelar qualidades divinas
para a edificação de quantos com ele convivem.
Aprender e ensinar constituem tarefas de cada hora, para que colabore-
mos no engrandecimento do tesouro comum de sabedoria e de amor.
Quem administra, mais frequentemente pode expressar a justiça e a magna-
nimidade.
Quem obedece, dispõe de recursos mais amplos para demonstrar o dever bem
cumprido.
O rico, mais que os outros, pode multiplicar o trabalho e dividir as bênçãos.
O pobre, com mais largueza, pode amealhar a fortuna da esperança e da
dignidade.
O forte, mais facilmente, pode ser generoso, a todo instante.
O fraco, sem maiores embaraços, pode mostrar-se humilde, em quaisquer
ocasiões.
O sábio, com dilatados cabedais, pode ajudar a todos, renovando o pensamento
geral para o bem.
O aprendiz, com oportunidades multiplicadas, pode distribuir sempre a riqueza
da boa vontade.
O são, comumente, pode projetar a caridade em todas as direções.
O doente, com mais segurança, pode plasmar as lições da paciência no ânimo
geral.
Os dons diferem, a inteligência se caracteriza por diversos graus, o merecimento
apresenta valores múltiplos, a capacidade é fruto do esforço de cada um, mas o
Espírito Divino que sustenta as criaturas é substancialmente o mesmo.
Todos somos suscetíveis de realizar muito, na esfera de trabalho em que nos
encontramos.
Repara a posição em que te situas e atende aos imperativos do Infinito Bem.
Coloca a Vontade Divina acima de teus desejos, e a Vontade Divina te aproveitará.
E
22 Reformador • Novembro 2011442200
esus, na passagem registradapelo evangelista Mateus, acon-selha-nos a desvencilhar-nos
dos dolorosos grilhões do passadoobscuro, por meio da exemplifica-ção do ato sublime de perdoar osque nos feriram, e solicitar per-dão a algum de nossos irmãos que,pelos agravos que lhes tenhamosfeito, se transformam em desafe-tos, muitas vezes, por razões decontraditas estéreis e pueris.
Na prática do perdão, o temasugere ampla abordagem, masgostaríamos de centrar essa aná-lise nas dificuldades que surgemdos relacionamentos existentes en-tre os Espíritos que permanecemencarnados.
Determinadas pessoas, ao se-rem injuriadas, expressam indig-nação e revolta promovendo ma-nifestações pessoais de cólera esuperioridade na ânsia de agrediro ofensor e colocam-se na mesmaposição do oponente ao quereremrevidar as agressões recebidas.Nem sempre privilegiam a gene-rosidade e a complacência e tor-
na-se difícil esquecer o mal come-tido contra elas ao exigirem retra-tação das afrontas recebidas, semsaberem perdoar com verdadeirasimplicidade de coração. “O per-dão sincero é filho espontâneo doamor e, como tal, não exige reco-nhecimento de qualquer nature-za”.1 Esquecem que as ofensas sãoperdoadas por Deus, na mesmaproporção em que houverem per-doado os que as ofenderam.
Ao enunciar o Pai Nosso, oMestre nos ensina a pronunciar:“Perdoa-nos nossas dívidas, comotambém perdoamos nossos deve-dores” (Mateus, 6:12).2 Allan Kar-dec indaga: “Esse perdão é, po-rém, incondicional? É uma remis-são pura e simples da pena emque se incorre?”. Ele conclui quenão, pois:
[...] a medida desse perdão
subordina-se ao modo pelo
qual se haja perdoado, o que
equivale dizer que não sere-
mos perdoados desde que não
perdoemos.3
A caridade não consiste apenasem ajudarmos os que carecem denecessidades materiais ou que pre-cisam de consolo para suas difi-culdades morais, mas, principal-mente, em olvidarmos e perdoar-mos os insultos recebidos. Entre-tanto, como desculpar com verda-deira espontaneidade de coração,se na trajetória da existência sur-gem adversários que se tornamfrios e indiferentes, influindo-nospara que sejamos também assim?Dentro dessa realidade, devemosaceitar as investidas daqueles queamamos, em forma de ingratidãoe indiferença, após demonstraçõesde puro afeto que lhes outorga-mos? Infelizmente, pelas imperfei-ções morais que ainda nos carac-terizam a personalidade, cultiva-mos sentimentos de mágoa e ran-cor ao recordarmo-nos dos agravosque sofremos. Kardec, na análi-se que faz sobre a caridade, na suamais ampla acepção, alerta-nos:
Com efeito, se se observam os
resultados de todos os vícios e,
JCL A R A LI L A GO N Z A L E Z D E AR A Ú J O
Os efeitos morais
“Reconciliai-vos o mais depressa possível com o vosso adversário, enquantoestais com ele a caminho.” (Mateus, 5:25.)
Capa
do perdão
mesmo, dos simples defeitos
[...] todos têm seu princípio no
egoísmo e no orgulho [...] e is-
so porque tudo o que sobreex-
cita o sentimento da personali-
dade destrói, ou, pelo menos,
enfraquece os elementos da ver-
dadeira caridade, que são: a be-
nevolência, a indulgência, a ab-
negação e o devotamento. Não
podendo o amor do próximo,
levado até ao amor dos inimi-
gos, aliar-se a nenhum defeito
contrário à caridade, aquele
amor é sempre, portanto, indí-
cio de maior ou menor superio-
ridade moral, donde decorre que
o grau da perfeição está na ra-
zão direta da sua extensão. [...]4
O indivíduo que deseja perdoarsinceramente, consciente das con-sequências sublimes que esse atoacarreta, assume a atitude inspi-rada no Evangelho, valendo-se doadmirável ensinamento: “Não vos
digo que perdoeis até sete vezes,mas até setenta vezes sete vezes”(Mateus, 18:22). O perdão verda-deiro esquece, em definitivo, omal recebido; não se gaba da con-cessão a fazer, sem vangloriar-seda absolvição concedida aos ini-migos. Os que agem assim não seperturbam por “nenhuma raiz deamargura” (Paulo aos Hebreus,12:15) e exemplificam atitudes dedesprendimento e compreensãolegítima, ao acolher com brandu-ra o ofensor. Por esse motivo,Martins Peralva (1918-2007), es-critor espírita, em uma de suasobras sobre os valiosos estudosdo Espírito Emmanuel, observa:
O perdão que o Espiritismo e
os amigos espirituais preconi-
zam em verdade não é de fácil
execução.
Requer muita boa vontade.
Demanda esforço – esforço
continuado, persistente.
Reclama perseverança.
Pede tenacidade.
É bem diferente do perdão teo-
lógico, que deve ter tido, em
algum tempo, sua utilidade.
Não se veste de roupagem fanta-
siosa, não se emoldura de expres-
sões simplesmente verbais.5
Aquele, pois, que se sinta ofen-dido deve esforçar-se para domaras energias afetivas que, converti-das em paixões desequilibradas,lavram ódios intempestivos, de-monstrando que estamos longede alcançar a sublimidade dos sen-timentos, especialmente nos mo-mentos de crises morais da vida.Deveríamos compreender de ma-neira decisiva as leis que regem ascausas e os efeitos dos pensamen-tos e atos que conservamos, reco-nhecendo que ainda nos deleitamas situações de represália paracom as pessoas que nos comba-tem. A paz é patrimônio divino
23Novembro 2011 • Reformador 442211
Capa
que se torna imprescindível de-fender! O Espírito Angel Aguarod,em análise sobre a questão, afirmacategórico:
O desejo de paz, nos que ainda
não chegaram ao ponto médio
da evolução, permanece em
estado de aspiração, por não
terem sabido tirar dos descala-
bros sofridos as consequências
naturais que deles brotam e me-
diante as quais aprende o ser
racional a cimentar a paz na
própria paz, isto é, na paz da
alma, que exige, para tornar-se
efetiva, a eliminação de todo
sentimento antifraternal [...].6
Nesse contexto, proliferam sen-timentos contrários à caridade eque influenciam nocivamente a sociedade e os indivíduos que acompõem. Ora, se “o progresso ma-terial de um planeta acompanha oprogresso moral de seus habi-tantes”,7 inferimos que, ao atuardesse modo, não conseguimosaplicar o livre-arbítrio para disse-minar a Doutrina Espírita na Ter-ra, à luz do Evangelho. Querer lu-tar em objeção aos adversários,magoando-os, muitas vezes, emcondição humilhante, com o pro-pósito de desforra, afasta-nos dabondade e da indulgência sin-ceras, mormente ao desdenhar osesforços daqueles que porventurapretendem reconciliar-se conosco.
“Quem perdoa liberta o cora-ção para as mais sublimes mani-festações do amor que eleva e san-tifica”.8 Para tanto, é urgente bus-car o progresso individual; inter-
rogar mais assiduamente a cons-ciência e verificar quantas vezesfracassamos no trato com as pes-soas que nos cercam na esfera fa-miliar, no ambiente profissional,no grupo espírita e em outros cír-culos que vivenciamos em prol daevolução particular. Luminososconselhos são oferecidos por San-to Agostinho, em benefício doconhecimento de nós mesmos:
[...] Quando estiverdes indeci-
sos sobre o valor de uma de
vossas ações, inquiri como a qua-
lificaríeis, se praticada por ou-
tra pessoa. Se a censurais nou-
trem, não na podereis ter por
legítima quando fordes o seu
autor, pois que Deus não usa de
duas medidas na aplicação de
sua justiça. Procurai também
saber o que dela pensam os vos-
sos semelhantes e não despre-
zeis a opinião dos vossos inimi-
gos, porquanto esses nenhum
interesse têm em mascarar a
verdade e Deus muitas vezes os
coloca ao vosso lado como um
espelho, a fim de que sejais
advertidos com mais franqueza
do que o faria um amigo. [...]9
Paulo, o apóstolo, em mensa-gem inserida em O Evangelho se-gundo o Espiritismo,10 convida-nosa avaliar as próprias característi-cas comportamentais e mostra--nos que somos Espíritos exigen-tes, inflexíveis, duros e rigorosos,nem sempre atentos à possibili-dade de reconhecer que os rom-pimentos podem ter sido inicia-dos por nossa culpa ao conver-
termos em querela grave o quepoderia, facilmente, ter sido des-lembrado. O perdão não exclui anecessidade da vigilância, e o amorao próximo deve pautar as deci-sões que tomarmos para não ter-mos dúvidas quanto a reconci-liar-nos com os nossos oposito-res, conforme recomendação deJesus.
Referências:1XAVIER, Francisco C. O consolador. Pelo
Espírito Emmanuel. 28. ed. 3. reimp. Rio
de Janeiro: FEB, 2010. Q. 335.2DIAS, Haroldo Dutra. (Trad.) O novo tes-
tamento. Brasília: EDICEI, 2010. p. 55.3KARDEC, Allan. O céu e o inferno. Trad.
Manuel Quintão. 2. ed. bolso. 2. reimp. Rio
de Janeiro: FEB, 2011. P. 1, cap. 6, it. 6.4______. O evangelho segundo o espiri-
tismo. Trad. Guillon Ribeiro. 25. ed. bol-
so. 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010.
Cap. 17, it. 2.5PERALVA, Martins. O pensamento de
Emmanuel. 9. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro:
FEB, 2011. Cap. 24, p. 175.6AGUAROD, Angel. Grandes e pequenos
problemas. 7. ed. 1. reimp. Rio de Janei-
ro: FEB, 2010. Cap. 6, it. 3, p. 216-217.7KARDEC, Allan. A gênese. Trad. Guillon
Ribeiro. 2. ed. bolso. 1. reimp. Rio de Ja-
neiro: FEB, 2010. Cap. 11, it. 27.8PERALVA, Martins. O pensamento de Em-
manuel. 9. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro:
FEB, 2011. Cap. 24, p. 177.9KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad.
Guillon Ribeiro. 14. ed. bolso. 3. reimp.
Rio de Janeiro: FEB, 2011. Q. 919a, p. 451.10______. O evangelho segundo o espiri-
tismo. Trad. Guillon Ribeiro. 25. ed. 3.
reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 10,
it. 15.
24 Reformador • Novembro 2011442222
Capa
studiosos destacam a im-portância de aprender a di-ferenciar as manifestações
do bullying dos comportamentosdesrespeitosos e das disputas porliderança e poder, usuais nas rela-ções interpessoais. O desrespeitosistemático, contudo, tem raízesculturais (forma de agir de umpovo) e familiares (tipo educaçãodoméstica). Já as disputas, enten-didas como confrontos entre duaspartes, podem apresentar resulta-dos positivos ou negativos. O pri-meiro evidencia o comportamen-to das pessoas de bem, assinaladopor autoridade moral e/ou inte-lectual. Integra as lideranças be-néficas impulsionadoras do pro-gresso que ao ampliarem o seuraio de ação se revelam aptas paraconquistar o “poder soberano”,que é uma atribuição concedidapelo Criador aos que “conseguirãogovernar o reino dos corações, oterritório vivo do espírito, onde seexerce o poder verdadeiro”,1 relataIrmão X em singular história de-nominada A Lenda do Poder.
O bullying faz parte das açõesexacerbadas do outro grupo,pois “o poder almejado e esta-belecido pelos bullies [agressores]nunca tem propósitos altruís-tas. Eles visam ao poder sempreem benefício próprio, seja paradivertir ou simplesmente pa-ra maltratar outras pessoas que,de maneira covarde, são trans-formadas em ‘presas’”,2 analisa aconhecida psiquiatra e escritorabrasileira Ana Beatriz BarbosaSilva.
Em termos topográficos, o bul-lying pode ocorrer em qualquerambiente social: escola, trabalho,internet (cyberbullying), meio mi-litar, penitenciárias etc. São espa-ços que servem de palco para ademonstração, entre outros, doviolento preconceito homofóbico,religioso, racial e socioeconômicodos bullies. No âmbito deste arti-go, destacamos o bullying escolare o cyberbullying.
O jurista mineiro Lélio BragaCalhau apresenta, em livro de suaautoria, significativos resultados
de duas pesquisas relacionadas aobullying escolar. Em estudo reali-zado pela Universidade Federaldo Paraná, há indicações de queno ambiente escolar “33% das 245crianças entrevistadas declara-ram sentir-se inseguras”.3 A pesqui-sa conduzida pela organizaçãonão governamental PLAN (ONG--PLAN), em 2010 (disponível nosite www.plan.org.br), aponta que“70% da amostra de estudantesrespondem ter presenciado ce-nas de agressões entre colegas, en-quanto 30% deles declararam tervivenciado ao menos uma situaçãoviolenta no mesmo período”.3 Etem mais:
[...] o bullying é mais comum
nas regiões Sudeste e Centro-
-Oeste do País e que a incidên-
cia maior está entre os adoles-
centes na faixa de 11 a 15 anos
de idade, alocados na sexta
série do ensino fundamental.
[...] Já as vítimas são sempre
descritas pelos respondentes
como pessoas que apresentam
E
Em dia com o Espiritismo
MA RTA AN T U N E S MO U R A
Bullying
25Novembro 2011 • Reformador 442233
Diferentes faces de um mesmo problema
alguma diferença em relação
aos demais colegas, como al-
gum tipo de necessidade espe-
cial, o uso de vestimentas con-
sideradas diferentes, a posse de
objetos ou o consumo de bens
indicativos de status socioeco-
nômico superior aos demais
alunos.3
São evidências que não podemser ignoradas pelas pessoas cons-cientes. Neste contexto, o Espíri-to Amélia Rodrigues nos faz verque os violentos são doentes daalma que, mesmo após a desen-carnação, procedem da mesmada forma:
Nada obstante, os enfermos da
alma, logo recuperados dos des-
gastes físicos, retornam aos con-
flitos e comportamentos infelizes,
sem aproveitarem a oportuni-
dade de reconstruir a vida dito-
sa. Imantados à matéria, os indi-
víduos de então como os de ho-
je, apenas pensam nos resulta-
dos concretos, evitando assumir
o compromisso de realizarem uma
radical mudança de conduta
mental e moral, estabelecendo
parâmetros para a autorrealiza-
ção, aquele que conduz à paz.4
O bullying nas escolas atingeprofessores, alunos e funcioná-
rios, ainda que os estudantes se-jam o alvo mais visado. Há, a pro-pósito, relatos bem apurados de“trotes” violentos a que estu-dantes foram submetidos, resul-tando traumas profundos nasvítimas, mutilações irreversíveise até mesmo morte.5 Esse tipode violência é sintomático, indi-ca, sobretudo, que é preciso re-visar, urgentemente, as bases quesustentam a educação familial eescolar contemporânea, que ain-da prioriza o excesso de conhe-cimento em detrimento do apren-dizado moral, que faz “vista gros-sa” à necessidade da construçãoda cidadania, aliás determinadano artigo 22 da Lei de Diretri-zes e Bases da Educação Nacio-nal (LDBEN) (Lei no 9.394, de20 de dezembro de 1996). Ci-dadania que “constitui, igual-mente, processo construído nodia a dia, permeado de respei-to à diversidade, pelo senti-mento de pertencimento social epela decorrente responsabilidadeambiental”.6
Ante tal realidade, a educaçãoespírita surge no cenário comoprecioso instrumento de auxílio,pois o seu alcance é bem amplo, edirige-se ao Espírito imortal:
Mas a educação, com o cultivo
da inteligência e com o aper-
feiçoamento do campo íntimo,
em exaltação de conhecimento
e bondade, saber e virtude, não
será conseguida tão só à força
de instrução, que se imponha de
fora para dentro, mas sim com a
consciente adesão da vontade
26 Reformador • Novembro 2011442244
que, em se consagrando ao bem
por si própria, sem constrangi-
mento de qualquer natureza, po-
de libertar e polir o coração [...].7
Cyberbullying ou Ciberbul-lying é “uma prática que envolveo uso de tecnologias de informa-ção e comunicação para dar apoioa comportamentos deliberados,repetidos e hostis praticados porum indivíduo ou grupo com aintenção de prejudicar outrem”.8
Os bullies virtuais possuem eleva-do grau de domínio tecnológico.Enviam textos/imagens pela Inter-net e telefones celulares, via e-mailou redes sociais de comunicaçãoeletrônica, atingindo numerososindivíduos com o intuito de ri-dicularizar, difamar, humilhar ouassediar, sempre que postam boa-tos, mentiras e rumores:
Essa nova modalidade de bul-
lying vem preocupando espe-
cialistas em comportamento
humano, pais e professores em
todo o mundo. Isso se deve ao
fato de ser imensurável o efei-
to multiplicador do sofrimento
das vítimas. Os ataques per-
versos do ciberbullying extra-
polam, em muito, os muros
das escolas e de alguns pontos
de encontros reais, onde os
estudantes se reúnem em ter-
ritório extraclasse (festas, ba-
ladas, praças de alimentação em
shoppings, cinemas, lanchone-
tes etc.).9
Os bullies, independentementedas formas por eles utilizadas
para ferir o próximo, são men-tes muito desorientadas, incluí-das na categoria dos Espíritos im-puros, de acordo com a EscalaEspírita: “inclinados ao mal, deque fazem o objeto de suas preocupações”.10
[...] são perfeitamente classi-
ficáveis entre os psicopatas amo-
rais, segundo o conceito de “mo-
ral insanity” [insanidade mo-
ral], vulgarizado pelos ingleses,
demonstrando manifesta per-
versidade, na qual se revelam
constantemente brutalizados e
agressivos, petulantes e pérfidos,
indiferentes a qualquer noção da
dignidade e da honra, continua-
mente dispostos a mergulhar na
criminalidade e no vício.11
Contudo, cedo ou tarde, essesenfermos do espírito serão reedu-cados na forma da lei humana edos dolorosos processos reencar-natórios. Assim, o Espírito deve-dor de hoje será o venturoso deamanhã, por determinação da le-gislação divina:
Todos os Espíritos tendem
para a perfeição e Deus lhes
faculta os meios de alcançá-la
pelas provações da vida cor-
pórea. Mas, em sua justiça, Ele
lhes concede realizar, em no-
vas existências, o que não pu-
deram fazer ou concluir numa
primeira prova.12
Referências:1XAVIER, Francisco C. Estante da vida.
Pelo Espírito Irmão X. 10. ed. 1. reimp.
Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 9,
p. 54.2SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Bullying:
mentes perigosas nas escolas. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2010. Cap. 8, p. 145.3CALHAU, Lélio Braga. Bullying, o que vo-
cê precisa saber: identificação, prevenção
e repressão. 2. ed. Niterói, RJ: Impetus,
2010. Cap. 2, it. 2.1, p. 23.4FRANCO, Divaldo P. A mensagem de
amor imortal. Pelo Espírito Amélia Rodri-
gues. Salvador: LEAL, 2008. Cap. 3, p. 24.5SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Bullying:
mentes perigosas nas escolas. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2010. Cap. 8, p. 147-
-154.6MIRANDA, Simão; DUSI, Miriam. Previna
o bullying: jogos para uma cultura de
paz. Campinas, SP: Papirus, 2011. Intro-
dução, p. 15.7XAVIER, Francisco C. Pensamento e vi-
da. Pelo Espírito Emmanuel. 18. ed. 2.
reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 5,
p. 27.8CYBERBULLYING. Disponível em: <http://
pt.wikipedia.org/wiki/Cyberbullying> ou
em <www.cyberbullying.org> – concebido
e criado por Bill Belsey, criador e mode-
rador do site <www.bullying.org>.9SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Bullying:
mentes perigosas nas escolas. Rio
de Janeiro: Objetiva, 2010. Cap. 7, p. 126.10KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.
Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1.
reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Q. 102.11XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Waldo.
Mecanismos da mediunidade. Pelo Espí-
rito André Luiz. 26. ed. 4. reimp. Rio de
Janeiro: FEB, 2010. Cap. 24, it. Reencarna-
ção de enfermos, p. 189.12KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.
Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1.
reimp. Rio de Janeiro: FEB. 2011. Comen-
tário de Kardec à q. 171.
27Novembro 2011 • Reformador 442255
ma das mais belas parábo-las de Jesus é a que se refe-re ao “semeador”.
Lendo essa parábola, é possívelfazer uma singela analogia entre opersonagem que semeia, na nar-rativa do Cristo, e o dedicado evan-gelizador, semeador dos postula-dos espíritas para as nossas crian-ças e jovens.
Reflitamos...
Parábola do Semeador
Naquele mesmo dia, tendo saí-
do de casa, Jesus sentou-se à
borda do mar; – em torno dele
logo reuniu-se grande multi-
dão de gente; pelo que entrou
numa barca, onde sentou-se,
permanecendo na margem to-
do o povo. – Disse então mui-
tas coisas por parábolas, falan-
do-lhes assim:
– Aquele que semeia saiu a se-
mear; – e, semeando, uma parte
da semente caiu ao longo do ca-
minho e os pássaros do céu vie-
ram e a comeram. – Outra par-
te caiu em lugares pedregosos
onde não havia muita terra; as
sementes logo brotaram, por-
que carecia de profundidade a
terra onde haviam caído. – Mas,
levantanto-se, o Sol as queimou
e, como não tinham raízes, se-
caram. – Outra parte caiu entre
espinheiros e estes, crescendo,
as abafaram. – Outra, final-
mente, caiu em terra boa e pro-
duziu frutos, dando algumas
sementes cem por um outras
sessenta e outras trinta. – Ouça
quem tem ouvidos de ouvir.
(S. Mateus, 13:1 a 9.)
Escutai, pois, vós outros a pará-
bola do semeador.
– Quem quer que escuta a pala-
vra do reino e não lhe dá aten-
ção, vem o espírito maligno e ti-
ra o que lhe fora semeado no
coração. Esse é o que recebeu a
semente ao longo do caminho.
– Aquele que recebe a semente
em meio das pedras é o que es-
cuta a palavra e que a recebe
com alegria no primeiro mo-
mento. – Mas, não tendo nele
raízes, dura apenas algum tem-
po. Em sobrevindo reveses e per-
seguições por causa da palavra,
tira ele daí motivo de escândalo
e de queda. – Aquele que recebe
a semente entre espinheiros é o
que ouve a palavra; mas, em
quem, logo, os cuidados deste
século e a ilusão das riquezas
abafam aquela palavra e a tor-
nam infrutífera. – Aquele, po-
rém, que recebe a semente em
boa terra é o que escuta a pala-
vra, que lhe presta atenção e em
quem ela produz frutos, dando
cem ou sessenta, ou trinta por
um. (S. Mateus, 13:18 a 23.)
O caráter eminentemente edu-cativo do Espiritismo é, sem con-tradita, o maior legado do Conso-lador prometido à Humanidade.
Sendo uma Doutrina proposi-tiva, o Espiritismo oferece ao ho-mem a possibilidade da própriaalfabetização espiritual, ante ad-versidades que caracterizam umorbe como o nosso.
Incipiente nas descobertas es-pirituais, o homem segue contabi-lizando vultosos ônus advindosde suas escolhas equivocadas.
A grande maioria das criaturashumanas ainda permanece atrela-
UAD E I L S O N SA L L E S
Parábola doEvangelizador
28 Reformador • Novembro 2011442266
da a conceitos teológicos escravi-zantes.
Há pouco mais de 150 anos en-tre os homens, o Espiritismo ain-da não foi compreendido em todasua propositura.
Estamos ensaiando os primei-ros passos no seu entendimento.
De qualquer forma, o que res-salta aos olhos de qualquer obser-vador mais atento, é a revoluçãoeducativa que a Doutrina Espíritaoferta à Humanidade.
Observar a vida pela ótica reen-carnacionista, conforme ensina o Espiritismo, é dilatar a visão e acompreensão sobre velhos pro-blemas humanos.
Há quantos séculos viajamosentre as duas dimensões sob oguante da culpa?
Encarnamos e desencarnamosrecebendo uma educação pauta-da na culpabilidade.
Os efeitos da propostaeducativa do Espiri-tismo podem se fazer
sentir nas escolhas realizadas poraqueles que nasceram em laresespíritas.
A criança que recebe as semen-tes da educação espírita não esta-rá isenta dos sofrimentos destemundo, todavia, fará suas escolhas,certas ou erradas, com uma visãomais abrangente sobre a vida.
Não carregará em seu psiquis-mo a pecha da culpabilidade, es-parzida há séculos sobre as mentesinfantis, pelo contrário, será infor-mada de maneira pedagogica-mente eficaz, que ela é responsávelpor todas as escolhas que faça.
Seja no seio familiar, ou nas re-lações interpessoais, a criançaorientada pelos postulados espíri-tas logrará um caminhar maisamadurecido durante a sua exis-tência. Nesse sentido, de modo
complementar à ação evan-gelizadora dos pais e res-
ponsáveis, e com o in-tuito de levar às nossas
crianças e jovens os postulados li-bertadores da Doutrina Espíritade maneira pedagogicamente ade-quada, é imprescindível a figurado evangelizador espírita em nos-sas instituições.
O evangelizador é o semeadorda mensagem espírita cristã.
Cabe a ele o semear da esperançanos corações que viajam pelas di-mensões da vida, esfaimados de luz.
Fora da evangelização infanto-juvenil, torna-se mais difícil a re-generação do mundo.
As crianças e jovens, que apor-tam em nossos núcleos espíritas,recebem uma informação liberta-dora, que será confrontada, emseu psiquismo, com as velhas in-formações punitivas e atávicas deséculos atrás.
É fundamental que o dedicadoevangelizador espírita se mante-nha firme no roteiro traçado pe-los bons Espíritos.
O evangelizador irá se defron-tar com corações e mentes de va-riados matizes evolutivos.
29Novembro 2011 • Reformador 442277
Mesmo lhe parecendo que a se-mente não germine de maneirapromissora ante seus olhos, oevangelizador deve compreenderque não está evangelizando cor-pos, está semeando luz para Espí-ritos imortais.
Jesus não desistiu de nós e ain-da hoje segue esperando que asemente da Boa Nova germineem nosso coração, traduzindo-se emfrutos preciosos através das nos-sas ações.
O evangelizador espírita é par-ceiro de Jesus em sua faina deamor.
Por mais empecilhos que sur-jam nas tarefas da evangelização,o evangelizador deve se esforçarpor permanecer nessa senda.
Cada criança evangelizada é asemente de uma família felizamanhã.
Que em nossa próxima viagempela dimensão material possamosreencarnar em família na qual te-nhamos como pai ou mãe, avô ouavó, uma criança evangelizada nasnobres instituições espíritas dehoje.
Reflitamos, pois, na parábolado semeador, entendendo que oevangelizador espírita, hoje, é o se-meador do Consolador prometi-do por Jesus ontem.
Parábola do Evangelizador
Naquele mesmo dia, Jesus, ten-do saído de casa, sentou-se per-to do mar; e se reuniu ao seu re-dor uma grande multidão de gen-te; por isso Ele subiu num barco,onde sentou-se com todo o povo
estando na margem; e lhes dissemuitas coisas por parábolas, fa-lando-lhes desta maneira:
Aquele que evangeliza saiu aevangelizar e, enquanto evangeliza-va, uma parte do seu esforço per-deu-se pelo caminho, pois muitosobstáculos surgiram: incompreen-são, falta de apoio, pais desorien-tados, lares atormentados, crian-ças esfaimadas de carinho, sedentasde amor.
Outra parte do seu esforço per-deu-se em corações endurecidos,onde não havia muita ternura,mas logo surgiu uma esperança,veio o entusiasmo, a empolgação,mas o sol das dificuldades levan-tou-se a seguir e transformou emcinzas a breve esperança.
Outra parte dos esforços doevangelizador caiu entre os espi-nhos da materialidade, e assimque principiou a dar frutos, os cha-mados do prazer material cresce-ram e sufocaram os frutos.
Outra parte, enfim, caiu em co-raçõezinhos repletos de ternura, edeu frutos, alguns grãos rendendocento por um, outros sessenta eoutros trinta.
Que ouça aquele que tem ouvi-dos para ouvir.
Escutai vós a parábola do Evan-gelizador.
Todo evangelizador que conhe-ce a Doutrina Espírita e não se es-força por perseverar nessa afanosatarefa, os obstáculos e dificulda-des surgem e lhe tiram a alegria deevangelizar.
Esse se assemelha ao evangeli-zador que recebeu a tarefa de evan-gelizar e fica pelo caminho.
Aquele que semeia a DoutrinaEspírita se depara com alguns co-rações endurecidos; pode se entu-siasmar, se empolgar, mas se asraízes do sentimento espírita cris-tão e seus luminosos postulados,não estiverem ínsitos na própriaalma do evangelizador espírita, osol das dificuldades transformaráem cinzas a boa vontade e a em-polgação.
Em sobrevindo os revezes davida e a perseguição do orgulho eda vaidade do próprio evangeliza-dor, já que a evangelização espíri-ta não oferece papel de destaqueno mundo, tira ele daí motivo deescândalo e queda.
Aquele que evangeliza entre osespinheiros da materialidade, e semantém preso a esses mesmoscuidados de maneira excessiva,acaba por perder-se e sua palavraé abafada, tornando-se infrutífera.
Aquele, porém, que persevera,se esforça, se dedica, tem o cora-ção enternecido pela faina evan-gelizadora, esse irá encontrar co-raçõezinhos ávidos por sua ternu-ra e saberá reconhecê-los em meioàs urzes do caminho.
A semente da evangelização es-tará presente em suas palavras, emseus exemplos.
Sua prática evangelizadora irádar frutos suculentos para os Espí-ritos imortais, chegando a produzircem, ou sessenta e trinta por um.
Referência:
KARDEC, Allan. O evangelho segundo o
espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 129. ed.
1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 17,
it. 5.
30 Reformador • Novembro 2011 442288
31Novembro 2011 • Reformador 442299
Os próximos dias 10 e 11 dedezembro serão dedicados, na Se-de Seccional do Rio de Janeiro, naAv. Passos, 30, das 9h às 13h, àcomemoração do Centenário deInauguração da Sede Histórica daFederação Espírita Brasileira, ocor-rida em 11 de dezembro de 1911.
No programa constarão, alémda Exposição de material alusivo aoevento, palestras a cargo de Affon-so Soares, Antonio Cesar Perri deCarvalho, Geraldo Campetti So-brinho e Nestor João Masotti.
Em decorrência da limitaçãodo espaço, o ingresso só será pos-sível com a apresentação de con-vites que estarão à disposição dopúblico, a partir do dia 7 de no-vembro de 2011, no horário co-mercial, nos seguintes locais:
• Sede Seccional da FEB, Av.Passos, 30 – Centro – Rio deJaneiro (RJ), tel.: (21) 3078--4747;
• Conselho Espírita do Estadodo Rio de Janeiro (CEERJ),Rua dos Inválidos, 182 –Centro – Rio de Janeiro (RJ),tel.: (21) 2224-1244;
• Instituto Bezerra de Menezes,Rua Cel. Gomes Machado,140 – Niterói (RJ), tel.: (21)2620-3663.
Programa comemorativodo Centenário da SedeHistórica da FEB
Dia 10 – das 9h às 13h• Palestras
Affonso Soares – “Regis-tros Históricos da FEB eda sua Primeira Sede Pró-pria”.Antonio Cesar Perri deCarvalho – “A FEB e o seu
trabalho Federativo desdea sua Fundação”.
Dia 11 – das 9 às 13h• Palestras
Geraldo Campetti Sobrinho– “A FEB e a difusão do Li-vro Espírita”.Nestor João Masotti – “AFEB e os atuais desafiospara a difusão da DoutrinaEspírita”.
Centenário de Inauguraçãoda Sede Histórica da FEB
á meio século, em abril de 1911, foi editado, sobos auspícios de Federação Espírita Belga egraças aos cuidados do esperantista Augus-
to Stas, o opúsculo: Esperanta Psikistaro, a primeirapublicação espiritista na língua internacional.1
Esta brochura, conforme registou J. CamilleChaigneau na Revue Scientifique et Morale du Spi-ritisme, contém inúmeros trabalhos de espíritas emetapsiquistas ilustres, todos apoiando ou salien-tando o real valor do Esperanto, cuja utilidade parao Espiritismo alguns deles frisaram em particular.
Veem-se, assim, os nomes de Gabriel Delanne,Camilo Flammarion, William Stead, o célebre pu-blicista, Émile Boirac, Quintin Lopez, Le Clément deSt.-Marcq, Le Cornec, Dr. Th. Chazarain, ComandanteDarget Pierrard, presidente da Sociedade de EstudosMetapsíquicos de Bruxelas, Rud. Feilgenhauer, presi-dente da União Central dos Espíritas Alemães, JuanFigueredo, Cristian Lyngs, presidente da Sociedade
de EstudosM e t a p s í -quicos daDinamarca,além de ou-tros espíri-tas de váriasnacionalidades.
Uma carta muito simpática e aprobativa do Dr.Zamenhof, o criador do Esperanto, precede calorosoartigo do eminente psiquista Émile Boirac, reitor daUniversidade de Dijon, membro honorário da “So-ciedade Universal de Estudos Psíquicos” e presidente,naquela época, da Academia Esperantista, artigo quetermina com estas palavras:
Espiritismoe Esperanto
A propósito de um cinquentenário
H
1Não confundir esse opúsculo com a Revuo de Esperanta Psikistaro,revista esperantista trimestral para a propaganda do Espiritismoe o estudo de fenômenos correlatos, cujo primeiro número apare-ceu na cidade de Antuérpia (Bélgica), em janeiro de 1913. Publi-cada pela “União Internacional Esperanta Psikistaro”, essa revistarecebeu a colaboração de escritores espíritas de vários países, in-clusive do Brasil, onde encontrou em José Machado Tosta um dosseus mais fervorosos entusiastas, além de Alcindo Terra, IsmaelGomes Braga, Machado de Abreu, etc.
ZÊ U S WA N T U I L
32 Reformador • Novembro 2011 443300
A FEB e o Esperanto
À ciência dos tempos futuros, isto é, ao psiquismo,
é, pois, inteiramente útil a língua da Humanidade
futura: o Esperanto.
No magistral artigo de Gabriel Delanne: “Que é oEspiritismo?”, escrito especialmente para o opúsculo,o grande discípulo de Kardec declarava:
É de desejar-se que as obras em que o Espiritismo é
exposto sejam traduzidas nessa maravilhosa língua,
o Esperanto, a fim de que o mundo inteiro mais facil-
mente tome conhecimento das consolações que ele
oferece a quantos choram um ente caro, ou aos que
tenham ânsia de instruir-se sobre o destino que a todos
nos espera, inevitavelmente, além da sepultura.
O Sr. Quintin Lopez, diretor do jornal espírita Lu-men, de Tarrasa (Espanha), escreveu interessante ar-tigo intitulado: “Esperanto-Espiritismo”, concluin-do-o dessa maneira:
ESPERANTO. Língua mundial, o instrumento por
intermédio do qual todos podemos entrar em relações
uns com os outros. ESPIRITISMO. Ciência-religião
que, sem nos submeter à dominação do dogma,
satisfaz igualmente à razão e ao sentimento. – Que
se unam entre si e na Terra se levantará o reino da
verdadeira fraternidade.
O cavaleiro Le Clément de St.-Marcq, presidente daFederação Espírita Belga, a quem se deveu a ediçãoda brochura Esperanta Psikistaro, escreveu o notávelartigo “O papel do Esperanto com relação ao Espiritis-mo”, no qual fala da grande utilidade da língua inter-nacional e pede, afinal, que todos a aprendam.
Trinta e três anos após as palavras de Gabriel Delanne,concretizando-lhe as aspirações, a Federação Espíri-ta Brasileira iniciava, com o livro Vo/oj de Poetoj el laSpirita Mondo, a publicação, em Esperanto, de umasérie de obras doutrinárias espíritas, as quais, espalha-das no mundo inteiro, não só têm levado o conheci-mento da Doutrina, que também despertado o entu-siasmo e a admiração dos estudiosos dessa Língua,pela pureza do vernáculo dos seus tradutores.
Z.2
Fonte: Reformador, ano 79, n. 4, p. 7(75), abr. 1961.
2Abreviatura usada por Zêus Wantuil.
33Novembro 2011 • Reformador 443311
Trovas TrobojRimas
Confraternização Interfrati1o
RimojCabeça que não se nutre,Nas águas do coração,Mais cedo encontra o desertoDa secura e da aflição.
Quem luta e confraterniza,Entrega-se, com fervor,Cada dia, cada hora,À sementeira do amor.
Kiu luktas frati1eme,Sin dedi/as plej fervoreAl la semado de amo,Sen/ese, en /iuhore.
Kapo, kiu sin ne nutrasEl la sukoj de la koro,Iros balda9 en dezertonDe sekeco kaj angoro.
Fonte: Do livro Gotas de luz, ditado pelo Espírito Casimiro Cunha a Chico Xavier.3 (El la libro Lumgutoj, diktita dela Spirito Casimiro Cunha al Chico Xavier.)
3Legu: Kazimiro Kunja kaj 8iko 8avjer’.
Auto-de-fé em Barcelonainstituiu um duro golpe aopreceito básico da liberdade
de expressão de ideias. Utilizando--se de um método incompatível comos novos rumos que o século XIXjá demonstrava seguir, a DoutrinaEspírita, em seus primórdios, via adura face da intolerância religiosa.
O mundo do conhecimentonesta época já não encontravaobstáculos intransponíveis para asua evolução conceitual. A Dou-trina Espírita, filha de seu tempohistórico, não esteve alheia a todoesse contexto, o que a faz ter umcaráter ainda mais renovador. Emoutras palavras, Allan Kardec, umobservador lógico, de uma sensibili-dade filosófica incomum, conseguiu
sintetizar toda a gama de conhe-cimento existente na época, e foialém, tanto do pensamento cien-tífico e filosófico vigente, como tam-bém, e talvez principalmente, dosdogmas religiosos predominantes.
Considero que todo esse con-texto, ainda pouco explorado pelosestudiosos, criou uma atmosfera deincerteza dentre aqueles que se acha-vam estar a par das verdades abso-lutas, razão pela qual a Doutrinasofreu anátema dos dois polos di-vergentes: do conhecimento cien-tífico da época, pondo em descrédi-to as manifestações mediúnicas, e dareligião oficial, combatendo todosos princípios novos e/ou reinter-pretados pela Doutrina Espírita.2
Esta inicial abordagem históricapretende demonstrar que a into-lerância religiosa não é algo a ser revi-
sitado no passado – ainda hoje cons-titui um dos maiores desafios parao progresso moral da Humanidade.
Por que razão o radicalismo dafé é tão presente em nossos dias?
O progresso tecnológico cami-nha a passos largos dando-nos aoportunidade de vislumbrar reali-dades antes tidas como verdadeiraficção. Atualmente, com enormefacilidade, podemos estar em con-tato com pessoas do mundo inteirosem sair de nossas casas. Além disso,a informação não é mais um direitode poucos – temos a oportunidade,se assim o quisermos, de conhecermais sobre a nossa saúde, os pro-blemas da nossa cidade e a atuaçãodos representantes políticos.
Com este cenário, teoricamentetão animador, vemos ainda guer-ras sangrentas em nome da Reli-gião. Ouso dizer que a maioriados conflitos atuais tem, comoorigem, as diferenças religiosas.
34 Reformador • Novembro 2011443322
OMAU RO NA S C I M E N TO D E OL I V E I R A JU N I O R
O Auto-de-fé em Barcelonae o desafio atual da
“Neste dia, nove de outubro de mil oitocentos e sessenta e um, às dez horas emeia da manhã, na esplanada da cidade de Barcelona, no local onde são
executados os criminosos condenados ao derradeiro suplício e por ordem dobispo desta cidade, foram queimados trezentos volumes e brochuras sobre o
Espiritismo, a saber: O Livro dos Espíritos, por Allan Kardec, etc.”1
1KARDEC, Allan. Obras póstumas. Trad.Guillon Ribeiro. 40. ed. 3. reimp. Rio deJaneiro: FEB, 2010. P. 2, Auto-de-fé emBarcelona, 9 de outubro de 1861, p. 334.
2Ver em O livro dos médiuns, trad. GuillonRibeiro, Ed. FEB, capítulo 4, Dos Sistemas.
intolerância religiosa
O filósofo Karl Marx, criador doManifesto Comunista (1848) eautor da obra O Capital (1867),asseverou que a Religião era oópio do povo.
Essa ideia perde fundamentouma vez que a Religião, em todasas épocas da Humanidade, consoli-dou-se apenas em virtude da açãohumana, isto é, não é um fenômenoque pudesse existir por si só.
A Doutrina Espírita vai além,ensejando-nos a percepção dacausa e não apenas de seus efeitos,demonstrando que os maiores obs-táculos à evolução intelecto-mo-ral da Humanidade provêm doorgulho e do egoísmo.
Se analisarmos conflitos reli-giosos entre Estados ou verificar-mos a origem de uma atitude in-tolerante de uma pessoa perante aoutra, chegaremos à inequívocaconstatação de que o orgulho e oegoísmo preponderam.
Em O Evangelho segundoo Espiritismo, Allan Kar-dec assevera:
De todas as liber-
dades, a mais inviolá-
vel é a de pensar, que
abrange a de cons-
ciência. Lançar
alguém anáte-
ma sobre os
que não pen-
sam como ele
é reclamar pa-
ra si essa li-
berdade e
negá-la
aos ou-
tros, é
violar o primeiro mandamento
de Jesus: a caridade e o amor do
próximo. Perseguir os outros,
por motivo de suas crenças, é
atentar contra o mais sagrado
direito que tem todo homem, o
de crer no que lhe convém e ado-
rar a Deus como o entenda. [...]3
A Doutrina Espírita vem nosesclarecer que as criaturas estãoem níveis de consciência diferentes,de acordo com o grau de evoluçãoalcançado nas sucessivas existên-cias. Desse modo, a diversidadereligiosa é apenas uma decorrêncianatural das distintas categorias decompreensão da realidade.
Portanto, o verdadeiro espírita,antes de tudo, deve ter a consciên-cia de que as suas convicções nãolevarão necessariamente o seupróximo à adesão. Conhecedor darealidade essencial, nunca agirácom intolerância ante as con-vicções religiosas do seu próximo.
E diante da intolerância, nãoreagir, agir, principalmente con-solidando os nossos conhecimen-tos, pois apenas valorizamos defato aquilo que compreendemosprofundamente. Lembremos: overdadeiro espírita é aquele quetenta ser hoje melhor do que on-tem e amanhã melhor do que ho-je, sempre em busca da caridade,que tem na tolerância, uma desuas bases essenciais.4
35Novembro 2011 • Reformador 443333
3KARDEC, Allan. O evangelho segundo oespiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 130. ed.1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Cap.28, it. 51.
4Idem, ibidem. Cap. 17, it. 4.
a madrugada de 1o de se-tembro, desencarnou, aos86 anos, no Rio de Janeiro,
após longa e tenaz enfermidade,estoica e cristãmente suportada, onosso confrade Zêus Wantuil, ex--diretor da Federação Espírita Bra-sileira (FEB).
Seriam bastante escassos os da-dos biográficos do saudoso com-panheiro, sempre sinceramentemodesto, avesso a qualquer tipode projeção, se não fosse o afetuosocuidado de sua mãe, D. Zilfa, e desua sobrinha, Zilvete Wantuil, bemcomo a igualmente afetuosa me-mória de Rúbia da Costa Guima-
rães, a mais antiga funcio-nária da FEB, ainda em
atividade em seu Depar-tamento Editorial.
D. Zilfa anotava lan-ces significativos davida do filho, as par-ticularidades do seucaráter adamantino, já
manifestado em suainfância, e é desse
material valioso, ca-rinhosamente conser-
vado por Zilvete, quenos valemos para a reda-
ção desta biografia. Rúbia,que o conheceu em março
de 1956, ano em que ela come-çou a trabalhar na FEB, reti-
rou de sua memória asmais gratas lembrançase impressões desse con-vívio diário que muitoa edificou, grafando-asem sentido texto, igual-mente precioso, para bem
evocarmos a figura ímpar de nossohomenageado.
Zêus Wantuil nasceu no Riode Janeiro, às 14 horas do dia 6 deoutubro de 1924, na rua Marquesde Leão, 44, no bairro do EngenhoNovo. Era filho do ex-presidente daFEB, Antônio Wantuil de Freitas,e da professora Zilfa Fernandesde Freitas. Fez o curso primáriona Escola Brasileira, no bairro deSão Cristóvão, e aos 11 anos in-gressou no curso ginasial (hojedenominado curso fundamental),concluindo-o em 1940.
Seus primeiros contatos com aDoutrina Espírita se deram atravésde reuniões espíritas semanais, diri-gidas por seu pai na casa em queviviam, no mesmo bairro de SãoCristóvão. E é nesse ano de 1940que passa a frequentar a FEB emsua Sede na Av. Passos, 30.
Sempre muito aplicado aos estu-dos, metódico, cuidadoso, obtinhainvariavelmente os primeiros luga-res. Por sincera modéstia, não sesentia bem quando alguém via, emseus cadernos escolares, os elogiosquase diários dos mestres.
Seu interesse por pesquisas sobrea história do Espiritismo surge em1942, aos 18 anos, sendo muitoincentivado pelo pai e por confra-des estudiosos do assunto.
N
Zêus WantuilAF F O N S O SOA R E S
36 Reformador • Novembro 2011443344
Em 1945, conquista graduaçãona Faculdade de Farmácia da Uni-versidade do Brasil e é escolhido,por seu brilhante desempenho, parafazer parte de uma embaixada quevisitaria, em janeiro de 1946, ascidades de Buenos Aires e Monte-vidéu. Na capital argentina, visitapequena livraria e lá encontra umexemplar da 1a edição francesa daobra Imitação do Evangelho, segundoo Espiritismo, de Allan Kardec, obrade que a FEB se serviu para reversuas edições, a partir da 33a, de OEvangelho segundo o Espiritismo.
Em 31 de março de 1946, faz-sesócio da FEB e, em 20 de agostode 1947, apesar de sua pouca ida-de, é admitido no “Grupo Ismael”por aprovação unânime dos seusmembros e dos Espíritos AntônioLuís Saião e Luís Olímpio GuillonRibeiro. Ainda em 1947, o EspíritoAndré Luiz lhe dedica o capítuloVIII da obra No Mundo Maior, in-titulado “No santuário da alma”.1
Zêus acompanhou toda a obrade construção do DepartamentoEditorial, chegando ao sacrifíciode dormir no prédio para melhorconduzir o empreendimento, oque considerava um mero dever.
Segundo informações dadas porele próprio a Rúbia Guimarães,começou a frequentar esporadica-mente aquele Departamento porvolta de 1949/1950, com a finali-dade de ajudar o pai, então a bra-ços com problemas de saúde, nassuas funções de presidente da Casa
de Ismael. Zêus não se limitava ape-nas a assessorar o Dr. Wantuil, jáque não se negava ao desempenhode tarefas simples, bem materiais,como, por exemplo, consertos ereparos de toda natureza. Tambémtransportava livros destinados aosCorreios, e o fazia com tal humil-dade que foi tomado, durante longotempo, pelo gerente da agência,por um simples empregado da Fe-deração. Àquela agência iam fun-cionários das gráficas da IgrejaCatólica e da Assembleia de Deus.Zêus, vez por outra, os convidavapara o almoço, praticando a purafraternidade e ganhando de todosa mais sincera amizade.
Seguindo o exemplo do pai, quese preocupava com os estudos dosfuncionários jovens, fornecendo--lhes material escolar e facilitan-do-lhes o horário de trabalho, elelhes dava aulas de reforço, prati-cando um seu frisante atributo: apaciência.
Muito disciplinado, rigoroso nocumprimento dos deveres, exigiados empregados produtividade ededicação, mas também procediapara com eles qual um verdadeiropai ou irmão, principalmentequando adoeciam, tranportando--os por sua conta e até fornecendo--lhes medicamentos.
Embora houvesse renunciadoao casamento, para se dedicar in-teiramente à grande obra que em-preendeu, Zêus compreendia pro-fundamente o valor da formaçãode uma família, possuindo todosos predicados para tanto.
Nos seus fecundos serviços aoprograma da Casa de Ismael, Zêus
sempre se recusou a ocupar car-gos na Diretoria, abrindo, entre-tanto, uma exceção, quando, enfa-ticamente convocado pelo ex-pre-sidente Francisco Thiesen, desem-penhou as funções de 3o Secretário,de 1975 a 1979, e de Assessor da Pre-sidência, de 1980 a 1990, na ges-tão deste último, continuando nocargo, até 2005, já na gestão doatual presidente.
Seus artigos em Reformador,impecáveis sob todos os aspectos,versavam em sua quase totalidadesobre temas históricos do Espiri-tismo, e foi nesse campo que nossohomenageado mais se destacou,atuando como emérito pesquisa-dor. Três obras notáveis, editadaspela FEB, resultaram do seu talentoinato: As Mesas Girantes e o Espiri-tismo (1958), Grandes Espíritas doBrasil (1969) e Allan Kardec – Pes-quisa Biobibliográfica e Ensaiosde Interpretação, em parceria comFrancisco Thiesen (3 volumes,1973), tendo sido, esta última, em2004, compactada em 2 volumessob o título Allan Kardec: o Educa-dor e o Codificador.
Seus talentos de escritor e pes-quisador se revelavam de tal for-ma brilhantes que lhe granjearama simpatia, a admiração e o res-peito de Canuto Abreu, um dosmais renomados historiadores doEspiritismo no Brasil, como o atestaeste trecho de uma sua carta datadade 25 de abril de1952.
Venho acompanhando com cres-cente interesse os seus trabalhos decronista e biografista espírita, ramoliterário que tentei sem êxito nem
37Novembro 2011 • Reformador 443355
1Ver a obra Testemunhos de Chico Xavier,cap.“Caso Marcelo-Zêus – 7-4-47”, de SuelyCaldas Schubert, 4a edição, FEB, p. 122.
38 Reformador • Novembro 2011 443366
estímulo em minha mocidade. Eu ofelicito hoje pelo brilhante artigo“Dois Livros, Dois Rumos” insertono Reformador do mês fluente.Não só pelo conteúdo rico de histó-ria como por me haver trazido àmemória os momentos passados em1921 na Bibliothèque Nationale,revendo com carinho trabalhos deRIVAIL e de ALLAN KARDEC.[...] Faço-lhe sinceros votos paranão esmorecer na pesquisa, tão áridaao labor quanto silenciosa de aplau-sos no meio a que servimos.
Uma de suas últimas manifesta-ções no Movimento Espírita bra-sileiro foi a entrevista que concedeuà Redação de Reformador, publi-cada nas páginas 12(449)-13(450)de sua edição de dezembro/2006.Cremos ser útil aqui transcrever aúltima questão pelo valor do pen-samento que encerra:
P. – Perto das comemorações
do Sesquicentenário do Espiri-
tismo, tem algum fato a men-
cionar com base em suas pesqui-
sas e achados?
R. – Tenho a dizer que Allan Kar-
dec permanecerá no mundo co-
mo a dádiva maior do Cristo em
favor do bem da Humanidade.
Rogamos ao misericordiosocoração do Mestre Nazareno que
envolva o nosso muito queridoirmão e companheiro Zêus emsuas bênçãos, fortalecendo-o paraas novas etapas de trabalho e pro-gresso que se lhe abrirão nas re-giões espirituais em que agorahabita.
Palavras fraternaisMeus irmãos:
Paz e Amor.
Quem trabalha, se renova.Quem se renova, melhora.Quem melhora, se eleva.Quem se eleva, adquire visão.Quem vê, compreende.Quem compreende, serve.Quem serve, é humilde.Quem é humilde, se ilumina.Quem se ilumina, ajuda sempre.Quem ajuda sempre, perdoa.Quem perdoa, semeia a paz.Quem semeia a paz, ama.Quem ama, sabe esperar.Quem sabe esperar, atinge a fé.Quem atinge a fé, renuncia.Quem renuncia, alcança a Vida Eterna.
NatanaelFonte: XAVIER, Francisco C. Relicário de luz. Autores diversos. 6. ed. 1. reimp. Riode Janeiro: FEB, 2011. p. 184.
Livro dos Médiuns completa150 anos de publicação e,indubitavelmente, somos
avocados a acuradas reflexões a res-peito do impacto da obra ao longodeste período. O pioneirismo cien-tífico da obra esboça uma balizatemporal: revela o mecanismo dacomunicabilidade dos Espíritos esuas leis, convoca todos, indistin-tamente, a um inadiável processoautoeducativo, alavancando o pro-gresso moral do homem. Inauguraassim, a Era do Espírito.
Hoje nos encontramos em con-dição privilegiada: com base nosprodigiosos conhecimentos conti-dos em O Livro dos Médiuns e nassuas inegáveis implicações na Hu-manidade, abarcamos, numa vastavisão, o passado no seu contexto, opresente e as suas particularidades,assim como vislumbramos as pro-babilidades do futuro.
Com base nesta ampla percep-ção propomos uma reflexão: anali-sar o passado para avaliar o presentee idealizar o futuro, tendo O Livrodos Médiuns como bússola. Nossareflexão parte da fase inicial, logoapós a publicação dessa obra.Analisando o trabalho realizado
pelo Codificador, constatamos asua admirável eficiência, ratificadapor ele mesmo na “Introdução” deO Livro dos Médiuns:
[...] felizes nos sentimos por haver
podido comprovar que o nosso
trabalho, feito com o objetivo
de prevenir os adeptos contra
os perigos do aprendizado, pro-
duziu frutos e muitos consegui-
ram evitar os escolhos, graças à
leitura atenta desta obra.1
Importa destacar que Allan Kar-dec comprovara a eficiência alcan-çada, no breve lapso de tempo entreas publicações da primeira e da se-gunda edições da obra.Considerandoas limitações inerentes ao séculoXIX, os resultados por ele obtidosna difusão do Espiritismo Práticoforam assombrosos. Certamente, épossível contrapor a este destaquea qualidade do conteúdo de O Livrodos Médiuns que, em tese, garan-tia a sua propagação, porém, semdúvida, é a eficiência do métododo Codificador que se evidencia,num contexto de restrições e difi-culdades de toda ordem. Esta cons-tatação nos remete oportunamente,
a uma análise comparativa com opresente, quando contamos comexcelentes recursos técnicos e tec-nológicos: Estamos alcançandohoje, com todas estas vantagens, aeficiência de Allan Kardec na difu-são da Ciência Espírita? Contudo,convém advertir: aferir que apenasalcançamos o resultado do Codifi-cador aludiria a um trabalho ho-dierno no mínimo, mediano.
Sugerimos ainda considerar,além da eficiência do Codificador,outra característica que se destacado seu perfil: a objetividade. Obje-tividade na concretização da suamissão: a difusão da ciência espíri-ta para esclarecer e precaver os ho-mens quanto aos escolhos da inte-ração com os Espíritos. A esta fina-lidade consagrou o seu tempo, em-pregou todos os recursos, sem tergi-versar com detratores e contradito-res em discussões estéreis. Repetiuincansavelmente os princípios lógi-cos advindos da sua investigaçãocientífica, visando alcançar a razão,que leva à convicção.
Avaliando o panorama atual, po-deríamos afirmar que temos primadopela objetividade na propagação dosprincípios revelados na obra home-
O
ES T H E R FR E G O S S I GO N Z Á L E Z
O Livro dos MédiunsE o “Plano de Trabalho do Movimento Espírita Brasileiro”
“Todos os médiuns são, incontestavelmente, chamados a servir à causa doEspiritismo.”(O Livro dos Médiuns, cap. XXXI, it. XV.)
39Novembro 2011 • Reformador 443377
nageada? Estas reflexões iniciaisnos instigam a propor uma análisecomparativa ainda mais ousada:confrontar a metodologia de AllanKardec para a efetiva Difusão,Estudoe Prática Espírita constante em OLivro dos Médiuns, com o “Planode Trabalho para o MovimentoEspírita Brasileiro (2007-2012)”.2
Evidenciadas as virtudes da obrahomenageada, cabe-nos igual-mente destacar a excelência daestrutura do Plano de Trabalho,cuja consecução garantiria a fina-lidade dos centros espíritas e, porvia de consequência, do MovimentoEspírita: a Difusão, Estudo e Prá-tica do Espiritismo em elevadopadrão de qualidade.
Advertimos que um projeto, mes-mo que excelente, é mera probabi-lidade. Para que o Plano de Traba-lho alcance os seus objetivos, neces-sariamente deverá converter-seem ações. Por outro lado, somentea divulgação – mesmo que ampla eeficiente – da proposta primorosado CFN não alterará o panoramaatual dos centros espíritas. Somentehaverá expressiva mudança no cená-
rio contemporâneo quando aspropostas do Plano forem efetiva-mente implementadas. Reflitamos:Estaria o reconhecido êxito deAllan Kardec adstrito exclusiva-mente à divulgação da obra? Indu-bitavelmente, o seu êxito é frutode empenho pessoal, de trabalhoincessante, de objetividade nasações. É oportuno lembrar que,na Seara Espírita, os viabiliza-dores dos planos e projetos –produtos de esforços conjuntos –somos todos nós, os espíritas.
Analisando comparativamenteO Livro dos Médiuns com o Planode Trabalho aferimos – como nãopoderia deixar de ser – a direta equi-valência de ambos nos quesitosDifusão, Estudo e Prática do Espi-ritismo. Em O Livro dos Médiuns,a respeito de Difusão encontramos:
No Espiritismo, a questão dos Es-
píritos é secundária e consecutiva,
não constituindo o seu ponto de
partida. [...] o verdadeiro ponto
de partida é a existência da alma.3
E ainda: “[...] Como instruçãoprática, portanto, ele não se desti-na exclusivamente aos médiuns,mas a todos os que estejam emcondições de observar os fenôme-nos espíritas”.4
O Plano de Trabalho, por suavez, aponta na Diretriz 1:
• A Doutrina Espírita esclarece o
ser humano sobre quem é, de
onde vem, para onde vai e qual
o sentido da existência humana.
• Difundir a Doutrina Espírita [...]
colocando-a ao alcance e a servi-
ço de todas as pessoas, indistin-
tamente, independentemente, de
sua condição social, cultural,
econômica ou faixa etária.2
Oportuno refletirmos nas diretri-zes constantes em ambos os textos:
Temos efetivamente consideradoa questão dos Espíritos secundária econsecutiva, e destacado com ênfaseos princípios libertadores da Dou-trina Espírita? A difusão da obratem visado todos os interessados,ou quase que exclusivamente os mé-diuns? As palestras públicas têm di-fundido satisfatoriamente as ques-tões relativas à mediunidade, ou oassunto ainda é “tabu” nos centrosespíritas? O caráter preventivo daobra tem sido devidamente enfatiza-do,ou temos envidado mais esforçosnos recursos paliativos? Os princí-pios da nossa relação natural e cons-tante com os Espíritos, e da influên-cia espiritual, têm sido destacadosnas atividades espíritas públicas?
No que diz respeito ao Estudo,as assertivas de Allan Kardec foramplenamente atendidas pelo Planode Trabalho, conforme consta emO Livro dos Médiuns:
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Dissemos que o Espiritismo é
toda uma ciência, toda uma filo-
sofia. Portanto, quem quiser co-
nhecê-lo seriamente deve, como
primeira condição, dispor-se a
um estudo sério [...].5
A Diretriz 2 do Plano de Trabalho,ao seu turno enuncia: “Promoçãoe realização do estudo metódico,constante e sistematizado da Dou-trina Espírita”.2
Nossas meditações em relaçãoao Estudo nos levam aos seguintesquestionamentos: o estudo siste-matizado tem contemplado favora-velmente o conhecimento da me-diunidade, do fenômeno mediúnicoe da obsessão? A evangelização in-fantojuvenil tem abordado estesprincípios com a intensidade devi-da? Ou as crianças e jovens espíritasainda desconhecem as questõesrelativas à mediunidade? Os tare-feiros espíritas, que devem reali-zar as suas atividades em sintoniacom os dirigentes espirituais, estãodevidamente esclarecidos a respei-to deste mecanismo de interação?Temos priorizado, na formação equalificação de todos os tarefeirosespíritas, o estudo da mediunidadee do fenômeno mediúnico?
Finalmente, no que diz respeitoà Prática Espírita, destacamos deO Livro dos Médiuns:
[...] Não sendo os Espíritos senão
as almas dos homens, é claro que
há Espíritos desde quando há
homens; por conseguinte, des-
de todos os tempos eles exerce-
ram influência salutar ou perni-
ciosa sobre a Humanidade.[...]6
No Plano de Trabalho igualmenteconsta na Diretriz 1:
[O Espiritismo] é o antídoto na-
tural para os problemas do ho-
mem, esclarecendo-o e conso-
lando-o em suas necessidades.2
E na Diretriz 6:
Assegurar permanente capacita-
ção dos trabalhadores espíritas
para recepcionar, acolher e inte-
grar as pessoas que chegam ao
Centro Espírita, atendendo-as
em suas necessidades espirituais,
morais e materiais.2
Nossas reflexões neste quesito es-tão pautadas nos seguintes ques-tionamentos: Estamos difundindodevidamente os princípios das in-fluências espirituais, objetivandoa prevenção das obsessões? Temosfomentado o aspecto profilático doconteúdo de O Livro dos Médiunscom a mesma ênfase que preconi-zamos os recursos espíritas no aten-dimento às necessidades espirituais?Temos sido considerados eficientesno atendimento às pessoas quechegam com distúrbios de ordemespiritual? Temos empreendido osmesmos esforços para qualificaros tarefeiros nas atividades de Difu-são do Espiritismo como para asque visam oferecer recursos palia-tivos para as distonias espirituais?
Importa elucidar que, quandonos referimos à prática espírita,pretendemos aludir, em verdade,à vivência dos postulados espíritas,sobretudo, permeando todas as tare-fas espíritas. Nestes dias em que lem-
bramos o Sesquicentenário de publi-cação de O Livro dos Médiuns, reco-nhecendo os relevantes benefíciosdeste advento para a Humanidade,igualmente meditemos em torno danossa grave responsabilidade: possi-bilitar-lhe o prosseguimento ilumi-nativo. Neste cometimento, busque-mos sempre inspiração no traba-lho primoroso do Codificador, a fimde que os nossos planos de trabalho,imitando-lhe os predicados, alcan-cem hoje os resultados exitosos deontem. Que acima de tudo, nos dei-xemos impregnar pelos nobres senti-mentos que animaram Allan Kardecna execução do extraordinário labor.
Inspiramo-nos no apelo de AllanKardec e com ele “convidamos todasas Sociedades Espíritas a colabo-rarem nessa grande obra. Que deum extremo ao outro do mundoelas se estendam fraternalmente asmãos, aprisionando o mal em ma-lhas inextrincáveis”.7 Unamo-nos naconsecução deste Projeto Superior,tarefa que cumpre realizemos comzelo e alegria sob a égide de Jesus.
Referências:1KARDEC, Allan. O livro dos médiuns. Trad.
Evandro Noleto Bezerra. 1. reimp. Rio de
Janeiro: FEB, 2009. Introdução, p. 13.2PLANO DE TRABALHO PARA O MOVIMENTO
ESPÍRITA BRASILEIRO (2007-2012). Apro-
vado pelo CFN em 12/4/2007. In: Refor-
mador, ano 125, n. 2.140-A, jul. 2007.3KARDEC, Allan. O livro dos médiuns. Trad.
Evandro Noleto Bezerra. 1. reimp. Rio de
Janeiro: FEB, 2009. P. 1, cap. 3, it. 19.4______. ______. Introdução. p. 14.5______. ______. P. 1, cap. 3, it. 18.6______. ______. P. 2, cap. 23, it. 244.7______. ______. Cap. 29, it. 350.
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Seara Espírita
FEB: Manifestação em favor da vida no STFA Federação Espírita Brasileira deu entrada junto aoministro do Supremo Tribunal Federal, Marco Auré-lio Mendes de Farias Mello, relator do processo “Ar-guição de Descumprimento de Preceito Fundamen-tal no 54” – que trata da Anencefalia, Inviabilidade doFeto e Antecipação Terapêutica do Parto –, de umamanifestação em favor da vida e contra o aborto, ane-xando o artigo do ex-ministro do STF, Eros RobertoGrau, publicado em Reformador, edição de setem-bro, p. 14. Informações: <[email protected]>.
Espírito Santo: Congresso EstadualOcorreu nos dias 21, 22 e 23 de outubro, em Vitória,o 10o Congresso Espírita do Estado do EspíritoSanto. Com o tema “150 anos de O Livro dos Médiuns:Conexão Espiritual”, foi realizado no Centro de Con-venções de Vitória e promovido pela FEEES, comatuações de Alberto Almeida, José Raul Teixeira, SuelyCaldas Schubert, Haroldo Dutra Dias e André Hen-rique Siqueira. Informações: <www.feees.org.br>.
R. G. Sul: Desafios e soluçõesCom promoção da Federação Espírita do Rio Gran-de do Sul, ocorreu nos dias 7, 8 e 9 de outubro, o 6o
Congresso Espírita do Rio Grande do Sul, em Gra-mado. Houve palestras de Marta Antunes de Moura(substituindo e representando o presidente da FEB),Divaldo Franco, André Trigueiro, Vinícius Lousada,Sérgio Lopes, Claudio Sinoti, Alberto Almeida, HélioRibeiro Loureiro, José Raul Teixeira e Suely CaldasSchubert, abordando o tema central “Vida, Desafiose Soluções”. O evento comemorou os 90 anos de exis-tência da FERGS. Informações: <www.fergs.org.br>.
Portugal: Congresso Nacional deEspiritismo e Curso
A Federação Espírita Portuguesa promoveu o VIIICongresso Nacional de Espiritismo, nos dias 29 e 30de outubro, na cidade de Maia. Com o tema “A NovaEra. São chegados os tempos”, proferiram palestras:Divaldo Pereira Franco, José Raul Teixeira e dezenas
de expositores portugueses. O presidente da FEB esecretário-geral do CEI, Nestor João Masotti, com-pareceu ao evento e atuou na reunião concomitanteda Coordenadoria da Europa do CEI. Na semanaanterior, foi desenvolvido o II Curso de Capacitaçãopara Trabalhadores para a Região Sul, no Algarve,com atuação de Marta Antunes de Moura e RuteSalgado, ambas da Área da Mediunidade da FEB.Informações: <[email protected]>.
Aracaju (SE): Encontros das Casas EspíritasAbordando o tema “Educação dos Sentimentos”,ocorreu em Aracaju, nos dias 17 e 18 de setembro, o7o Encontro das Casas Espíritas. Realizado pelaAssociação Municipal Espírita (AME) e com apoioda Federação Espírita do Estado do Espírito Santo, oevento foi sediado no Grupo Espírita Irmão FEGO.Informações: <www.feees.org.br>.
Rio de Janeiro: A Mediunidade em NossasVidas
O 2o Congresso do Centro Espírita Joanna de Ângelis– Barra: “A Mediunidade em Nossas Vidas”, foi realiza-do no dia 2 de outubro, no Rio de Janeiro. Organizadopara a comemoração dos “150 anos de O Livro dosMédiuns”, o Encontro ocorreu no Clube Monte Lí-bano e contou com atuação de artistas e palestrantesentre eles: André Trigueiro, o diretor da FEB AntonioCesar Perri de Carvalho, Luiz Mário Duarte, Fran-cisco do Espírito Santo Neto, Marlene Nobre, Plíniode Oliveira e a representante do CEJA-Barra, CristianeCampos Niero. Informações: <www.cejabarra.org>.
Cruzada dos Militares: Encontro deMúsica
Ocorreu no dia 17 de setembro o Primeiro Encontrode Música Cristã Espírita, com promoção da Cruza-da dos Militares Espíritas. O evento cultural e musi-cal, com a presença de artistas do meio cristão espí-rita, fez parte da semana comemorativa da Cruzadados Militares, em homenagem a seu Patrono, CapitãoMaurício. Informações: <www.cme.org.br>.