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JANDIR JOÃO ZANOTELLI ZANOTELLI: A SAGA DE UM IMIGRANTE TRENTINO 2ª. EDIÇÃ0 Pelotas - 2011

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A saga de um imigrante trentino

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JANDIR JOÃO ZANOTELLI

ZANOTELLI:

A SAGA DE UM IMIGRANTE TRENTINO

2ª. EDIÇÃ0

Pelotas - 2011

2

Editora Cópias Santa Cruz Ltda

Rua Felix da Cunha, 412, Pelotas.

CEP 96010-000 Fone (53) 32225760

E-mail: [email protected]. Pelotas – 1ª. Edição -1997. 2ª. Edição revista 2011.

Edição e direitos reservados do autor

Capa: Luís Fernando Giusti

Impressão: Editora Cópias Santa Cruz

Z33z

Zanotelli, Jandir João

Zanotelli: a saga de um imigrante trentino

Jandir João Zanotelli - Pelotas

PelotasEditora Cópias Santa Cruz Ltda

2ª.Edição -2011.

318p.it.

ISBN:978-85-61629-51-9

1. Imigração 2.imigração italiana. 3. Biografia-

imigrantes 3.1. Título.

CDD 325.1

Catálogo sistemático

imigração: Itália

Trento: imigrantes

Biografia: imigrantes

3

Dedicatória

A nossos

filhos e a nossos pais que,

com raízes, memória e

imaginação nos incitam a

construir uma pátria solidária

e fraterna onde a migração

seja a festa da esperança, da

liberdade e do encontro.

4

5

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................... 7

I- CONTEXTO DA EMIGRAÇÃO ITALIANA E

TRENTINA ........................................................................... 13

1. O Contexto Geográfico.......................................... 13

2. O Contexto Histórico..............................................27

3. A Economia......................................................... ..51

4. A Qualidade de Vida...............................................59

5. Aspectos Religiosos, Culturais e Políticos............ 68

II - O BRASIL QUE OS AGUARDAVA............................. 78

III - A EMIGRAÇÃO - IMIGRAÇÃO................................ 119

1. Migração Temporária.......................................... 119

2. Migração Definitiva............................................. 120

3. A Expedição Tabacchi......................................... 121

4. A Diáspora........................................................... 128

IV - A IMIGRAÇÃO DA FAMÍLIA ZANOTELLI........... 139

1. De Livo para Cembra

–De Cembra para o Brasil ................................... 130

2. Do Rio de Janeiro para Porto Alegre....................167

3. De Porto Alegre a Conde d‟Eu (Garibaldi)..........173

4.De Garibaldi a Encantado.......................................187

6

V –TRADIÇÕES E LEMBRANÇAS...................................217

VI – SACERDOTES E RELIGIOSOS.................................230

VII- CONCLUSÃO...............................................................236

VIII- RELAÇÃO DE FAMILIAS IMIGRANTES...............242

IX – CANÇÕES....................................................................308

X – ENCONTROS DA FAMÍLIA ZANOTELLI.................319

1º.Encontro em Porto Alegre 1996........................................319

2º.Encontro em Jacarezinho 1997.........................................343

3º.Encontro em Vitória ES 1998...........................................347

4º.Encontro em Colatina ES 1999.........................................351

5º. Encontro em Cembra, Itália, 2000...................................353

6º. Encontro em Livo, 2004, Itália.........................................367

Meso Encontro em Canoas RS, 2010....................................373

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................. 375

7

INTRODUÇÃO

Aos 136 anos da Imigração Italiana para o Rio Grande

do Sul nada melhor do que narrar a saga de uma família

concreta, a família Zanotelli, que participou desde o início

deste processo.

Os primeiros imigrantes italianos (considerada a Itália

em seus limites geográficos atuais) que, de forma sistemática e

grupal, emigraram para o Brasil foram os trentinos, com a

Expedição Tabacchi que chegou ao Porto de Vitória, no

Espírito Santo, com o navio a vela La Sofia, no dia 27 de

fevereiro de 1874. Eram cerca de 400 pessoas que haviam

embarcado em Gênova às 3 horas da tarde de 3 de janeiro.1

A Experiência não teve sucesso. Dificuldades, conflitos,

sofrimentos, promessas não cumpridas, levaram o governo a

dissolvê-la. Em 14 de maio de 1874 a Colônia “Nova Trento”

de Tabacchi foi supressa. Em junho daquele mesmo ano os

imigrantes iniciaram a se dispersar, sendo transferidos para as

Colônias Leopoldina e Rio Novo no Espírito Santo e Nossa

Senhora da Soledade (Forromeco - Alto Feliz) no Rio Grande

1 GROSSELLI, Renzo. Viver ou Morrer, 1987, pg.79.

8

do Sul.2 Quando Pe. Bartholomeu Tiecker, chega a Na. Sra. da

Soledade, em dezembro de 1875, já os encontra aqui3.

A data comemorativa da imigração italiana para o Rio

Grande do Sul é 23 de maio de 1875. Neste mesmo ano, no dia

24 de dezembro, os Zanotelli chegam à Colônia Conde d‟Eu

no RS e em 26 de dezembro também de 1875, os Zanotelli

chegam a Vitória do Espírito Santo, e daí chegam à Colônia

Santa Leopoldina em 5 de janeiro de 1876.

O Trentino, Tirol Meridional, na época não pertencia à

Itália que se havia unificado em 1861. Pertencia ao Império

Austro-Húngaro. Essa região passou definitivamente à Itália

em 1919. Os imigrantes Zanotelli vieram portanto como

austríacos, tiroleses, trentinos e não como italianos, embora

sua língua, seus costumes, sua história fossem sempre

italianos.

As obras principais que falam da imigração italiana não

destacam suficientemente a imigração de italianos do Trentino

e Tirol. Renzo Rosselli é quem resgata a história da emigração

Trentina em 3 obras fundamentais com um sub-título comum:

“Contadini Trentini (Veneti e Lombardi) nelle foreste

brasiliane”. São elas: Vincere o Morire, Trento, 1986

(Traduzida pela UFSC em 1987 com o Título Vencer ou

2 Ibidem, pg. 84.

3 Ibidem, pg. 86.

9

Morrer); Colonie Imperiali Nella Terra del Caffè, Trento,

1987 (Colônias Imperiais na Terra do Café); Da Schiavi

Bianchi a Coloni. Un Progetto per le Fazendas, Trento, 1991

(De escravos Brancos a Colonos. Um projeto para as

Fazendas).

Aurélia Castiglioni no Espírito Santo com quem tivemos

excelentes contatos e um grande grupo de pesquisadores

liderados por Rovílio Costa, Luís de Boni e outros editam

abundante trabalho publicado pela EST (Escola Superior de

Teologia de Porto Alegre) e pela EDUCS (Editora da

Universidade de Caxias do Sul). Gino Ferri oferece boas

informações sobre Encantado. Nossas pesquisas completaram

dados que faltavam.

Este trabalho pretende, em apresentando a história da

imigração de uma família, oferecer o contexto, as causas, a

motivação que os tiroleses tiveram para emigrar, o contexto

brasileiro para a imigração, e os fatos concretos que

acompanharam a imigração trentina no último quartel do

Século XIX. Mapas, fotografias e outros dados visuais

procuram ajudar a compreensão. A própria árvore genealógica

não busca apenas o diletantismo de organizar os nomes de uma

família, mas oferecer um exemplo de como se estruturaram as

famílias (geralmente muito numerosas) dos imigrantes

italianos e trentinos. Suas festas guardam e traduzem os

10

valores trazidos e emoldurados no contexto brasileiro.

Traduzem sua contribuição à construção desse nosso polimorfo

Brasil.

Este ensaio é dividido em 5 partes: 1.O contexto europeu

e trentino da emigração; 2. O Brasil da imigração; 3. A

emigração-imigração; 4. A família Zanotelli; 5. A árvore

genealógica da família Zanotelli.

Quero deixar registrado o agradecimento ao grupo do

NPD da UCPel , liderado por Cristiano Otero Avila e auxiliado

por Wanessa T. Rassier que criou e acompanhou

pacientemente o Software da árvore genealógica que

utilizamos, à equipe da EDUCAT que incentivou o projeto e a

cada um dos Zanotelli ou vinculados a eles que ofereceram os

dados e fizeram nascer este trabalho que, por isso, é também

obra coletiva .

11

I. O CONTEXTO DA EMIGRAÇÃO ITALIANA

E TRENTINA

1. O Contexto Geográfico

A Europa, com uma superfície de 9.740.000 km2, que

representam 1/5 das terras emersas da terra, densamente

povoada (com mais de 650.000.000 de habitantes), é ainda um

dos maiores centros econômicos e o maior centro cultural do

globo. Sua superfície é um pouco maior que a do Brasil (que

tem 8.511.965 km2 e ¼ da população da Europa). Tem 38.000

km de costa dos mares Mediterrâneo, Báltico e do Norte e do

Oceano Atlântico. A cadeia montanhosa dos Alpes que têm, no

máximo 5.000 metros de altura oferece dificuldades para viver

e divide as planícies do norte das do Sul. Os principais rios:

Reno, Danúbio e Pó. Cidades mais populosas: Londres, Paris e

as demais capitais. A maioria delas não tem mais de 3 a 4

milhões da habitantes e nenhuma se aproxima de S. Paulo que

hoje tem 14 milhões.

12

A Itália é hoje dividida em vinte Províncias. A parte Norte a

que mais nos referiremos para a emigração compreende o

Trentino, o Alto Ádige, a Lombardia, o Vêneto, Friuli, Venecia

Júlia, o Piemonte e o Valle de Aosta.

O mapa físico-político da Itália mostra-a com os

acidentes de relevo e limites. A cadeia montanhosa dos Alpes

ao norte, além dos quais está a Áustria, a Suiça, a leste a

Iugoslávia e a oeste a França. A grande planície verde do rio

Pó tem cidades importantes como Turim, Milão (principais

13

centros industriais na época da emigração - 1875 - como o são

ainda hoje), Verona, Vicenza, Pádova e Veneza (cidades que

aliam à produção industrial a produção cultural e o turismo).

As planícies do Rio Pó são fertilíssimas e cultivadas palmo a

palmo. Propriedade de grandes senhores e com tecnologia

sempre atualizada, essa região era lugar de migração sazonal

da região norte, cujos habitantes procuravam, nas safras do

arroz, compor um pouco os parcos ganhos que lhes davam seus

minifúndios trentinos.

A família Zanotelli que migrou para o Brasil, África,

Argentina é originária do Trentino, especialmente de Livo (no

Val di Non ) e de Cembra (no vale de Cembra ao longo do rio

Avisio que desemboca no Ádige e este no rio Pó, passando por

Verona.

A parte mais setentrional da Itália, o Tirol pertencia ao

Império Austro-húngaro até 1919. O Tirol, com capital em

Insbruck, era dividido em duas partes: o Tirol setentrional (de

fala alemã e capital em Bolzano) e o Tirol meridional (de fala

italiana e com capital em Trento. Por isso, os Zanotelli que

migraram para o Brasil traziam no passaporte: “austríaco,

tirolês, trentino”. Hoje, essa região do Trentino e Alto Ádige

pertence à Itália, apesar da luta separatista da “República

Padana”.

14

A Itália é menor que o Rio Grande do Sul: tem 301.224

km2. Tem mais de 1.000 km de comprimento e sua maior

largura é 225 km. O Sul é mais pobre que o Norte. O Norte

luta para separar-se do Sul tido para ele como um peso e um

encargo.

O Trentino, até 1870 era uma região das mais pobres da

Europa, com “uma economia agrícola quase auto-suficiente e

...com uma sociedade camponesa praticamente impermeável às

influências externas”4. “Uma configuração geográfica única

que isolava os homens em vales estreitos e impérvios junto a

montanhas altas e cobertas de bosques, protegeu por séculos

senão a imutabilidade, pelo menos as características essenciais

e mestras de tal sociedade” 5. Situado ao longo da bacia do rio

Adige, cujos inúmeros afluentes banham estes estreitos vales o

Trentino foi também uma das poucas passagens para

ultrapassar os Alpes através de Bolzano e Brennero. Por aí

vinham os povos do norte em direção ao Império Romano e

por aí foi construída em 1850 a estrada de ferro Verona-

Trento-Bolzano-Insbruck-München.

O Trentino ou Alto-Ádige, pertencia ao Império

Austro-Húngaro até 1919. Chamava-se Tirol-Sul para aquele

4 GROSSELLI, Vencer ou Morrer, 1987, pg. 16.

5 Ibidem.

15

império. Os trentinos não achavam lisongeiro chamar-se

tiroleses.

A partir de 1870, e pela estrada de ferro entram as

idéias do capitalismo revolucionando a economia, os valores, a

família e até a religião.

Ao Norte a Suíça e a Alemanha (do Império Austro-

húngaro, porque a região pertencia à Áustria que formava um

só reino com a Hungria), ao Sul a Itália da planície do rio Pó.

A Província de Trento tem hoje, 6.217 km2, com

447.000 habitantes, organizados em 223 municípios (Comuni),

confinando ao norte com a Província de Bolzano, a leste com a

de Belluno, ao sul com as de Vicenza e Verona, a oeste e

sudeste com a Lombardia e suas províncias de Bréscia e

Sondrio.

A Província de Trento tem hoje, 6.217 km2, com

447.000 habitantes, organizados em 223 municípios (Comuni),

confinando ao norte com a Província de Bolzano, a leste com a

de Belluno, ao sul com as de Vicenza e Verona, a oeste e

sudeste com a Lombardia e suas províncias de Bréscia e

Sondrio.

16

A região do Tirol abrangendo Bolzano como capital do Tirol Norte com

fala predominantemente alemã e Trento como capital do Tirol Sul e de fala

predominantemente italiana

Os municípios da Província trentina agrupam-se em 11

sub-províncias (Compreensori) que quase coincidem som seus

vales: Di Sole, Non, Fiemme, o ladino de Fassa, Primiero-

Vanoi, Giudicarie, Alto Garda, Ledro, Alta Valsugana e Bassa

Valsugana e o do Ádige. As fotografias, em grande parte

retiradas da “Guida turistica” do Trentino e citadas como

Guida, mostram visualmente, um pouco desses vales,

17

montanhas, neves e lagos e que povoavam a cabeça saudosa

dos imigrantes.

Europa vista do alto- no centro está a Itália.

Os Alpes dividem as planícies européias do norte e as do

sul. Esse era o lugar e o horizonte que nossos antepassados

imigrantes deixaram para trás, definitivamente. Outro

horizonte se levantava.

18

A Europa em sua divisão política atual

19

A Itália vista do alto. Ao norte os Alpes. Ao sul a Sicilía.

20

Os Alpes eternamente cobertos de neve – horizonte dos antepassados

Zanotelli

21

O norte da Itália e o Trentino visto do alto- Ao centro o vale do Rio Pó

Trento – funde o medieval e o atual

22

Trento, seus castelos, o castelo do Concílio de Trento de 1545-1563, o da

Contra-Reforma contra a Reforma Protestante. Suas diretrizes regeram a

Igreja Católica até o Concílio Vaticano II de 1962

23

Cembra, ao longo do vale do rio Avísio e seus terraços de uva

24

2. O Contexto Histórico

A região já era habitada no período neolítico há mais de

4.500 Ac. Descobertas pré-históricas como as de “Riparo

Gaban” e “Loc III”, “Vate di Zambana” ao longo do vale do

Adige e Fassa mostram que o Trentino foi, desde épocas

imemoriais, lugar de intercâmbio e passagem dos povos

europeus, especialmente espaço de relação dialética de poder e

influência entre os povos latinos e germânicos.

Por volta de 40 aC.. Roma tomou conta do Trentino. “

No ano 30 aC. Trento já se havia transformado no centro

militar-político-administrativo mais setentrional do mundo

romano”6. Em 23 aC. Era municipium. Em 46 d.C. ao conceder

cidadania romana aos habitantes trentinos que eram da X

região itálica (denominada de Venetia et Istria), da tribo

Papíria , denominava Trento como “Município explêndido”7.

Encruzilhada e porta de entrada no Império Romano tinha

importância capital para este.

Suas estradas deixaram de ser transitáveis quando, com

a invasão dos “bárbaros”, caiu o Império Romano em 476 d.C.

6 Guida turistica - Trentino, pg 19.

7 Guida, pg 20.

25

O cristianismo já estava estruturado no Trentino em

meados do século IV. Seu 3o.bispo foi S. Vigílio martirizado

no ano 400.8

Em 568 d.C., Albuino, rei dos Lombardos que

invadiram o Império Romano e o dividiram em 36 ducados,

com capital em Pavia, transforma a X região itálica (trentino)

em ducado, o Ducado de Trento.

Em 774 d.C. os Francos tomam o reino lombardo e

constituem a “marca Tridentina”. Em 843, na divisão do

Império Carolíngio entre os 3 netos de Carlos Magno, o reino

da Itália e, portanto, Trento, fica sob o domínio de Lotário.

Em 888 d.C. Berengário, duque do Friuli é eleito rei da

Itália e transfere a capital para Verona e cede a marca

Tridentina a Arnolfo, duque de Carinzia que o havia apoiado.

Depois de 900 d.C. Oto I da Alemanha concede aos

bispos trentinos vastos territórios (inclusive Livo e Cembra).E

pouco depois as marcas de Verona e Trento ficam propriedade

de Henrique, duque da Baviera e irmão de Oto I.

Em 1004 o “Comitato de Trento” é reconhecido pelo

imperador Henrique como feudo do Sacro Império. Em 1027

Conrado II doa este feudo, assim como Bolzano e o Val

Venosta ao bispo de Trento Udalrico II.

8 Os nomes Vigílio e Giovanni são os mais comuns na família

Zanotelli.

26

Assim, até 1800 o “Principado de Trento” é um

pequeno Estado dependente do Imperador. “O bispo tem o

direito de assento e voto nas dietas imperiais, tem o comando

militar e soberania absoluta sobre os vassalos”9.

Até 1777, quando a soberania é abolida, os 51 bispos

Príncipes de Trento que se sucedem estruturam firmemente o

Estado de Cristandade, dentro do regime feudal. O bispo era ao

mesmo tempo proprietário e chefe político da região 10

.

9 Guida, pg. 20.

10 Para entender a organização e a estrutura do poder no Trentino como

em toda a Europa, é preciso situá-las dentro do Estado de Cristandade

que nasceu pela fusão do Cristianismo primitivo com o Império

Romano.

O Cristianismo primitivo, comunitário, profético, dos pobres,

da periferia e por isso perseguido pelo Império Romano passou a usar,

para se defender, as categorias da Filosofia Greco-romana. E com

Constantino fez um pacto com o Império. Constantino deu liberdade à

religião cristã, (Edito de Milão de 313), Teodósio fez da Religião Cristã

a religião oficial do Império Romano (387), e o mesmo Teodósio

decretou a Religião Cristã como a única permitida no Império(391).

Assim, as estruturas econômicas, políticas e sociais do

Império foram adotadas pela Igreja. Fundiram-se o Império e a Igreja

num só Estado de Cristandade. E as funções de Igreja e Império se

confundiram: o Imperador se intrometia na religião e a Igreja assumia

funções econômico-político-sociais do Império. O Imperador passou a

convocar Concílios e a controlar a Igreja sob pretexto de protegê-la e a

Igreja passou a administrar o Império, as províncias e os municípios...

De 313 até 800 completou-se a fusão. De 800 (Com Carlos Magno) a

1648 (tratado de Westfalia) a Igreja mandava na política, nomeando e

desnomeando Imperadores, reis e príncipes. De 1648 a 1962 a política

de cada rei ou nação mandou na religião sendo que o chefe político de

cada Estado era ao mesmo tempo o dirigente da religião de seu povo.

Assim o cristianismo na Inglaterra se fez Anglicanismo, assim na

França, na Suécia etc. A partir de 1962, com o Concílio Vaticano II essa

confusão começou a ser desfeita e o cristianismo a retornar a suas raízes

primitivas: comunidades de base, Igreja como povo de Deus, serviço

27

Em 1870 “a sociedade trentina permanecia uma

sociedade camponesa e o centro da vida econômica continuava

sendo a terra. A família era a célula econômica e social mestra

de tal sociedade e a Igreja Católica, aqui entendida tanto como

estrutura enquanto conjunto de leis codificadas, fornecia para

tal sociedade opções éticas e morais, mitos e tensões o mesmo

que na Idade Média. Com o poder político que, vez por outra

se instalava na região (configurando-se a mesma Igreja, em

última instância, como poder político perante a classe

camponesa). O guia do camponês não era o Imperador, nem o

intelectual liberal: era o padre...”11

.

Assim de 1.100 até 1802 a região do Trentino foi um

Principado Episcopal, administrado exclusivamente pelo clero.

O bispo de Trento era o senhor, suserano, das terras e essas

eram concedidas aos senhores de menor importância (condes,

aos homens, fim do triunfalismo, retomada do papel do leigo,

profetismo crítico que anuncia a Boa Nova libertadora e denuncia as

injustiças, com independência frente às estruturas econômicas e

políticas.

No Estado de Cristandade as divisões políticas do Império

ficaram as divisões políticas da Igreja: assim as províncias em que era

dividido o Império, e administradas por um governador serão dioceses

administradas por um bispo, os municípios em que eram divididas as

províncias vão ser paróquias presididas por um presbítero (padre). As

insígnias, os poderes, as honrarias dos príncipes da Igreja e dos

governadores serão as mesmas, o mesmo se diga do papa e Imperador e

do pároco e do prefeito ou síndico municipal.

Este Estado de Cristandade vigorou em toda a Europa e em todas as

regiões colonizadas pela Europa, inclusive no Brasil e ainda vige em

muitas atitudes e manifestações políticas e religiosas. 11

GROSSELLI, 1987, pg. 16.

28

barões...) e esses as dividiam aos camponeses que as

trabalhavam como servos da gleba, dando ao senhor a maior

parte da produção.

As comunidades locais tinham certa autonomia

administrativa, tinham suas “carte di regola” isto é seus

estatutos e leis próprias que regulavam toda a vida econômica

e social. Essa autonomia cessará definitivamente quando, em

1802, o Império Austro-húngaro (Áustria) anexa a região. Em

1805 Napoleão Bonaparte vence a Áustria em Austerlitz e o

Trentino passa para o domínio da Baviera até 1810. “Foram 4

anos de excelente governo”. Foram promovidas reformas e

melhorias. O povo, porém, liderado pela nobreza e pelo clero,

rebelou-se contra as reformas.

Pelo tratado de 1810 o “Tirol Meridional” (assim os

mandantes denominavam o Trentino), passou ao controle do

Reino Itálico da França sob o comando do vice-rei francês

Eugênio de Beauharnais. Esse Reino Italiano, compreendendo

o vale do Pó e o território da antiga República de 12

Veneza,

seria não só uma extensão das fronteiras da França, mas um

domínio pessoal do próprio Napoleão. Os filhos dos

agricultores da região combatiam no exército de Napoleão

12

Veneza foi uma das Repúblicas que mais tempo viveu. Enquanto os

países Europeus eram reinos ou impérios, Veneza autonomamente era

República desde o início do ano 1.000 até incorporar-se à Itália

quando da Unificação Italiana em 1861.

29

contra a Áustria. As canções dos imigrantes lembram isto em

muitas delas.

Derrotado Napoleão, definitivamente na batalha de

Waterloo (1815), os países vencedores reúnem-se no

Congresso de Viena para restabelecer o antigo regime

desmontado por Napoleão, e este, em 7/4/1815, determina que

a região do Tirol abrangendo o Trentino retorne ao Império

Austro-húngaro (também o ducado de Milão e a república de

Veneza), ficando a casa de Sabóia com o Piemonte e Sardenha

e a casa dos Burbons com o Reino das duas Sicílias.

Em 1816 os Principados Episcopais de Bressanone e

Trento são secularizados (passam das mãos do clero para as

mãos dos políticos leigos) e são chamados respectivamente de

Tirol Setentrional ( de língua alemã ) e Tirol Meridional (de

língua italiana) dentro da província do Tirol, cuja capital

administrativa seria Insbruck. Por 100 anos o Trentino (Tirol

Meridional) lutará por sua anexação à Itália ou por sua

independência política frente a Áustria, muitas vezes ajudado

pelo Tirol de fala alemã. Esse autonomismo, porém, será mais

um fenômeno urbano conforme o ideal de Mazzini

(revolucionário socialista do Piemonte), a exemplo da

Comissão dos Carbonários do Tirol que, aliados aos

revolucionários do Piemonte, em 18/3/1821 declaram: “Avante

30

tiroleses! Vingai a tirania Imperial!... Avante, pois, às armas!

Recomenda-se também a moderação. Às armas!”

O movimento revolucionário “primavera dos povos”,

de 1848, que sacudiu toda a Europa e que assustou a oligarquia

rural e a burguesia , teve pequena repercussão em Trento, com

algumas batalhas campais juntando vênetos, lombardos,

bergamascos, brescianos e trentinos contra a Áustria,

inspirados no ideal liberal que era anti-clerical, anti-nobreza e

abstratamente nacionalista. Como resultado insignificante

houve, em 12 de agosto, a proclamação da República Italiana,

tendo como chefe Giuseppe Mazzini, feita por um “punhado de

homens que defendiam Stelvio e Tonale” 13

. Durou quatro

dias.

O movimento, porém, conseguiu do Império Austríaco

a abolição da servidão da gleba. O sistema capitalista de

produção, que há séculos vinha transformando a Europa e o

mundo exigia essa conquista: “a completa liberdade de todos

os fatores produtivos e a abolição de todos os direitos feudais

como prebendas, direitos de “corvée” e direitos de taxação que

ligavam com correntes o camponês a uma terra que de fato era

sempre do feudatário” e senhor.14

Livres da barbárie medieval,

os camponeses podiam ser, agora, livremente contratados para

13

GROSSELLI, 1987, pg 30. 14

GROSSELLI, 1987, pg 30.

31

a produção agrícola capitalista, e isto onde as terras eram

abundantes e férteis, como na planície do rio Pó.

No Trentino, porém, essa libertação do regime feudal

não levou a uma solução capitalista. Faltavam as condições. As

terras cultiváveis eram poucas e a população densa. Para os

camponeses trentinos a reforma “representou de imediato

somente a conquista do direito de vender a própria pouca terra

ou de continuar a viver de uma agricultura de pura subsistência

na sua própria terra.15

De 249.000 hectares cultiváveis,

representando menos de um hectare produtivo por pessoa,

sendo que metade eram de pastagens alpinas, restava uma

propriedade familiar média inferior a 2.000 m2: uma horta de

40m x 50m.

No final de 1848, 46.000 assinaturas, inclusive do Tirol

de fala alemã, (O Círculo Trentino, na estrutura administrativa

organizada pelo governo austríaco em 1854, dentro da

Província do Tirol tinha 323.186 habitantes), pediam a

independência administrativa do Trentino. A Áustria reagiu

com a propaganda: “Deus, imperador e família” e proibiu, em

1854, o uso da palavra “Trentino” e obrigou o uso de “Tirol

Meridional”.

O processo de unificação da Itália, guiado pela casa de

Sabóia, culmina na decisão da assembléia de deputados em

15

GROSSELLI, 1987, pg. 30.

32

1861, declarando unida a nação italiana. Os deputados foram

eleitos em 1860, por voto censitário de uma minoria (cerca de

2% ) da população.

Dois deputados do Trentino também foram eleitos para,

simbolicamente representar a região: Giuseppe Canestrini e

Antonio Gazzoletti. Nesse processo e com o esforço

revolucionário de Garibaldi, a região norte da atual Itália vai

aos poucos se independizando da Áustria.

Pela Paz de Villafranca, em 1859 a casa de Sabóia,

auxiliada por Napoleão III da França, contra a Áustria, anexa a

Lombardia. Em 1867 o Vêneto. Em 1866 o Trentino

“conheceu aquela esplêndida figura de aventureiro e libertador,

qual foi Giuseppe Garibaldi. Os seus exércitos de voluntários

quase conseguiram tomar de assédio Trento, mas a política das

grandes potências freou o seu avanço e o obrigou ao célebre:

“Obedisco” (obedeço)16

. Na verdade a política do gradualismo

e do pragmatismo diplomático de Cavour (primeiro ministro

do Piemonte), venceu. Os intelectuais e revolucionários do

Trentino tiveram que fugir para a Itália e outros países da

Europa, ante a perseguição política da Áustria.

Garibaldi, que hoje é considerado herói da América e

da Europa, e que lutou no Brasil, na Revolução Farroupilha da

República do Piratini (RS e SC), na libertação de Montevidéo

16

GROSSELLI, 1987, PG. 31.

33

contra Buenos Aires, e na unificação italiana com seus

métodos de guerrilha, tomando, por exemplo a Sicília com

apenas 1.000 combatentes e que foi temido e odiado por

Cavour, pelos latifundiários e detentores do poder,

(especialmente pela Igreja), era carinhosamente cultuado pelos

imigrantes italianos ( na época italianos e trentinos) que vieram

para o Brasil a partir de 1875. Ao saber da morte do herói em

1882 a colônia de Conde d‟Eu, o primeiro lugar de migração

dos trentinos, mudou de nome e se chama desde então:

Garibaldi. Na expedição dos 1.000 contra a Sicília 16 trentinos

acompanham Garibaldi

.O Trentino só se integrará à Itália em 1919. Terminada

a Primeira Guerra Mundial em 1918, pelo tratado de Saint

Germain, em consequência do tratado de Versalhes que fora

imposto à Alemanha, em setembro de 1919, a Áustria se

obrigou a entregar à Itália o Trieste, a península da Ístria e o

Tirol, tanto o Tirol norte de fala alemã, quanto o Tirol

Meridional, o Trentino, portanto.

Por isso os imigrantes Zanotelli que vieram do Trentino

para o Brasil, até 1918 vieram como cidadãos austríacos,

tiroleses, e não como italianos. Em 1926 houve um censo no

Tirol solicitando à população que declarasse se queria ou não a

cidadania italiana.

34

Como os emigrados não estavam para responder,

supuseram as autoridades italianas que eles não a quisessem.

Por isso a dificuldade de se conseguir cidadania italiana hoje

para os filhos dos emigrados do Tirol ou Trentino, por absurdo

que pareça, uma vez que o governo austríaco exigia dos

emigrados a renúncia à cidadania austríaca para conceder

passaporte.

O contexto mais global da migração européia, e aqui

olhamos especialmente a italiana e trentina, para a América,

nos é oferecido pela crise do sistema capitalista de produção. O

capitalismo, primeiro mercantil (1453 a 1648), depois

manufatureiro (1648 a 1767) e por fim industrial (1767 a

1980), hoje financeiro e virtual, foi desmontando o sistema

agrícola feudal europeu desde antes das “grandes descobertas”

de 1500 e da europeização do mundo: quando a Europa

invadiu a América, a África, a Ásia e a Oceania.

O sistema feudal da idade média, que inicia com o fim

do Império Romano (476 d.C.) e vai, no mínimo até 1453,

tinha como características: a ruralização da sociedade (as

cidades se esvaziaram, o comércio praticamente desapareceu,

as trocas eram feitas produto por produto, as estradas, as

pontes, os prédios públicos se arruinaram e a população da

cidade se refugiou no campo, ao redor de castelos para se

proteger da invasão dos „bárbaros‟); a clericalização da

35

Igreja (a Igreja passou a ser o clero, e a ela foram associadas

as congregações religiosas, ficando os cristãos não-clérigos

como estranhos, alienados, sem voz nem vez, apenas

subordinados e ouvintes, e obedientes); a hierarquização do

clero (que agora já não é apenas bispo, padre e diácono, mas

Papa, Cardeal, Arcebispo, Bispo, Monsenhor, Cônego, Padre,

Diácono, Subdiácono, Leitor, Acólito...); a pulverização do

Estado ( já não mais um Império, mas infindos pequenos

feudos que se dirigiam a si próprios, sendo que o Suserano

„conde‟ ou „barão‟ era o legislador, o juiz e o ordenador de

tudo. Já não havia mais moeda circulando nem polícias

imperiais garantindo a defesa...); a privatização da defesa e

das funções do Estado, (a de legislar, julgar, garantir a

segurança e executar as grandes obras e políticas públicas.

Agora cada castelo se defende e se organiza como pode); a

divisão da sociedade em 3 grupos ou estamentos (dizia-se

que Deus fez 3 tipos de pessoas: uns para trabalhar - e esses

são os camponeses que eram escravos ou livres e se

transformaram em servos da gleba; - outros para mandar e

guerrear - e esses eram os nobres que “garantiam a defesa aos

camponeses” e deles retiravam a maior parte da produção; - e

outros, enfim para rezar - e esses eram os clérigos que, como

os nobres, viviam das taxações sobre os feudos e produção dos

36

agricultores).E tudo isso dentro do Estado de Cristandade, a

que acima aludimos.

Dessa situação feudal que caracterizou toda a Europa e

a partir de relações comerciais, primeiro com os árabes e

depois com os judeus, surgiu a reunificação do Estado e seus

poderes: Portugal, por primeiro, a partir de 1383 se reunifica

com um rei, apoiado pela nobreza, pelo dinheiro e as armas

dos comerciantes, pelo clero buscando a evangelização, e

assim os portugueses descobrem novas rotas de comércio com

as índias para fugir do cerco dos árabes. O projeto de expansão

portuguesa obedece aos interesses desses quatro grupos, como

Império Mercantil Salvacionista, no dizer de Darcy Ribeiro.

Depois de Portugal, a Espanha que se reúne para

reconquistar seu território ocupado pelos árabes desde 711 e

consegue fazê-lo em março de 1492. Com o mesmo exército

que reconquistou Granada, Colombo chegará à América em

outubro de 1492.

Espanha e Portugal, com as descobertas e com o

comércio (especialmente de especiarias orientais e americanas,

de metais preciosos e açúcar) transformam-se nos países mais

modernos e importantes da Europa até 1648 quando perdem o

lugar para Holanda e Inglaterra que não só comercializam os

produtos alheios, mas manufaturam produtos próprios e se

fazem a „oficina do mundo‟, além de dominar os mares com

37

suas frotas navais, companhias mercantis e de piratas. Esse

capitalismo manufatureiro que substitui o mercantil dominará a

Europa e consequentemente o mundo até a industrialização.

Os países que primeiro se industrializaram foram:

Inglaterra (a partir de 1767), a França (1800), Os Estados

Unidos (1850), a Alemanha (especialmente Prússia e Baviera,

1850), a Itália (especialmente o Piemonte, Turim, Milão, e

também Nápoles, 1850), o Canadá e o Japão (por volta de

1890).

A Inglaterra dominará a economia industrial mundial

sozinha até a crise de 1873. As crises de mercado gerarão a

distribuição do mundo entre os países industrializados (o

imperialismo desde a conferência de Berlim de 1885). Gerarão

as duas guerras mundiais (de 1914 e 1939). A partir de 1945,

os Estados Unidos em guerra fria com a União Soviética, serão

o carro chefe da economia mundial até as crises de 1965.

Reúnem-se, então, os 7 grandes que primeiro se

industrializaram e planificaram a economia mundial na

comissão que se chama de „Trilateral‟(1965). Hoje, vivemos a

superação da sociedade industrial pela sociedade do

conhecimento e de capitalismo virtual.

A migração européia entre seus próprios países e a

emigração de europeus para a América (Estados Unidos,

Brasil, Argentina, Colômbia...), para a Austrália e Nova

38

Zelândia...na última metade do século XIX e início do século

XX tem como contexto a crise final do sistema feudal

provocada pelo capitalismo que, também, entra em grave crise,

portanto, em 1873.

O Trentino na década de 1870.

O Trentino tem um Território de 6.212,66 km2, sendo

70% acima de 1.000 m. do nível do mar e 40% do total está

acima de 1.500m. “Deve-se notar a ausência de extensos

planaltos cultiváveis e a conformação dos vales que freqüentes

vezes apresentam um fundo estreito e ladeiras abruptas, pouco

adequadas à agricultura. E isto reduz em muito o terreno

produtivo com relação à superfície. Em 1869 foi calculado

entre 553.000 e 496.000 ha.”17

. Neste total já estão incluídas

os prados na região mediana das montanhas e úteis

exclusivamente para pastagens (40%), e os bosques. De um

total de 635.653 ha., 96.640 ha (15,2%) eram cultiváveis

(lavradios, videiras, hortas, prados), 36.119 ha (5,7%) eram

pastagens, 117.134 ha (18,4%) eram estábulos com pastoreio

nos Alpes, 300.557 ha (47,3%) eram bosques, 85.179 ha

17

GROSSELLI, 1987, pg. 48.

39

(13,4%) eram lagos, paludes, improdutivos.18

Para cada

pessoa camponesa cabia, em média, menos de um hectare

produtivo e, deste, quase metade era composta de

pastagens alpinas. A maior parte dos estábulos alpinos e dos

bosques eram de propriedade do município e a comunidade

camponesa os explorava para retirar madeira e lenha e criar

alguns animais.

“O sistema de propriedade típico era a pequena

propriedade familiar em que a terra era trabalhada pelos

componentes da família. No fim do século contavam-se, na

região, 137.000 proprietários, dos quais 115.000 conduziam

diretamente sua propriedade, ocupando 155.000 hectares,

correspondentes a 25% do território”19

. Nesse minifúndio,

independente e individualista o camponês trentino tinha uma

ou até duas vacas, cultivava a videira, a amoreira para a

produção da seda, e algumas hortaliças.

Em 1869, 93% da população do Trentino vivia no

campo em pequenas comunidades e 7% vivia nos dois

aglomerados que poderiam se chamar de cidades: 17.073

habitantes em Trento e 9.063 em Rovereto. Os poucos

operários das indústrias de Veludo, seda, chapéus, pregos,

vidro, peles e fumo eram, em sua grande maioria, mulheres

18

GROSSELLI, 1987, pg. 49. 19

GROSSELLI, 1987, pg. 49.

40

(90%) e seus salários eram muito baixos (entre 33 e 80

centavos diários). Quem não trabalhava em sua propriedade

cultivava campos arrendados sendo que metade das colheitas

dos cereais, dois terços da colheita da uva e a totalidade das

folhas de amoreira eram do proprietário da terra.20

Livo e Cembra, de onde vieram os Zanotelli, ficam,

pois no Trentino, Tirol Sul, com capital em Trento.

No Trentino, ao longo da bacia do rio Adige, e

especialmente de seu afluente o Avísio está o Valle de

Cembra. Cembra é um vale ao longo da parte terminal da

Torrente (rio) Avísio que desemboca no Ádige perto de Trento.

Cembra também é a capital deste vale que tem 10.209

habitantes, 3.386 famílias, distribuídas em 11 comunidades ou

vilas (Comuni): Albiano, Cembra, Faver, Giovo, Grauno,

Grumes, Lisignago, Lona-Lases, Segonzano, Sover e Valda.

Giovanni Antonio Zanotelli, por volta de 1690, saiu de

Livo (Val Di Non) e foi para Cembra , a 24 km de Trento,

residir com um sacerdote que era seu tio.

Em Cembra, Giovanni Antonio casou, em 1705, com

Dorotea Concherle, nascida em Faver. Por isso, nos livros de

batismo em Garibaldi, consta que Narciso, filho de Francesco,

imigrante, é natural de Faver, comune da circunscrição de

Cembra e que dista pouco mais de um quilômetro desta.

20

GROSSELLI, 1987, pg. 52.

41

De Giovanni Antonio descendem a maioria absoluta

dos Zanotelli que emigraram para a América e Brasil. Outros

Zanotelli vieram diretamente de Livo.

Por volta do ano 1.000 d.C, Cembra já aparece como

feudo dos Senhores do Castelo de Salorno que, por sua vez são

feudatários do Principado Episcopal de Trento e mais tarde do

Conde de Trento21

. Política e administrativamente, Cembra foi

subordinada a Bozzano que era uma subdivisão de Trento até

por volta de 1330.22

De 1330 até 1803 Cembra era um dos

dois distritos da organização político-administrativa de

Königsberg, sempre dentro do Principado de Trento. Desde

1508 tinha seus estatutos rurais (Carta di Regole), pelos quais

as comunidades trentinas administravam com certa autonomia

a vida econômica, social e jurídica, como dissemos acima.

Com isso Cembra fica a capital de várias pequenas

comunidades ao redor, com alguma autonomia comunal e

jurisdição delegada, mas dependendo de Lavis (o 2º. distrito de

Königsberg) em matéria de administração política, financeira e

de justiça penal 23

.

Cembra já era freguesia (pieve) em 942, e em 1212 o

Pe. Odolrico aparece como vigário ou cura. Em 1586 Cembra é

paróquia decanal.

21

GHETTA, in Storia di Cembra, 1994, pg. 73. 22

BERTTOTTI, in Storia di Cembra, 1994, pg. 133. 23

Ibidem.

42

De 17 a 19 de janeiro de 1537 Bernardo Clesio, bispo

de Trento e grande incentivador e preparador do Concílio de

Trento, faz, através de delegados, a primeira visita pastoral a

Cembra. Viu que não havia escândalos a castigar e os fiéis

eram bons cristãos vivendo segundo as normas da Igreja

Católica24

. Em 1580, depois do grande Concílio da Igreja

Católica realizado em Trento de 1545 a 1563, o príncipe,

Ludovico Madruzzo, bispo de Trento faz uma segunda e

rigorosa visita pastoral a Cembra.

Desde 1710 a paróquia de Cembra realizou 20

capítulos para estabelecer normas e disciplina na vida litúrgica

e religiosa. De 1787 a 1789 o Imperador José II da Áustria

impões suas „leis josefinas‟, fechando algumas igrejas a

pretexto de que era o Império quem sustentava o culto.

Em 20 de março de 1797 os franceses de Napoleão,

combatendo os austríacos alojam-se em Cembra, fazem da

Igreja um quartel e consomem quase todos os víveres da

pequena cidade, causando por incêndio e destruição o

aniquilamento de muitas casas e bosques com sérios prejuízos

ecológicos cujas conseqüências mais tarde se manifestarão:

enchentes...Na visita pastoral que o bispo de Trento, Benedetto

Riccabona fez em 1870, louvava a Igreja de Santa Maria

Assunta de Cembra como uma das maiores da diocese.

24

BENVENUTTI, in Storia di Cembra, 1994, pg. 228.

43

As igrejas lembram o quanto os imigrantes trentinos e

italianos vieram marcados pelo Estado de Cristandade. Os

espaços , os tempos, as atividades são marcados pela religião.

A população de 1.800 pessoas tinha escolas

satisfatórias e o catecismo era ensinado regularmente.

Trabalhavam na paróquia de Cembra, com suas comunidades,

24 sacerdotes.

De 1907 a 1912 foi pároco decano de Cembra o P.

Domenico Zanotelli, natural de Livo (Val Di Non), recebendo

a visita pastoral do bispo Endrici em 1910. Em 1993 o

decanato de Cembra abrangendo 12 paróquias tinha um total

de 5.931 habitantes25

.

3. A Economia

Já dissemos que a região do Trentino era

eminentemente agrícola, em minifúndios que, em média não

alcançavam meio hectare. Cultivada pelos membros da família

( em média 5 pessoas) a agricultura, sem muita técnica,

produzia uva e vinho, milho, trigo, centeio, cevada, legumes,

hortaliças, folhas de amoreira para o bicho da seda, lenha para

vender à cidade...mel, ceras, queijos e lã.

25

BENVENUTTI, in Storia di Cembra, 1994, pg. 264.

44

A produção agrícola trentina era insuficiente para

cobrir as necessidades básicas da população. Por isso em 1875

o Trentino importou: arroz, café, frutos meridionais, pescado,

animais de corte e de tração, óleos gordurosos, trigo e milho.

“A região importou em 1875 (ano da emigração dos Zanotelli)

a quantidade de 43.564.758 kg de cereais, contra uma

exportação de apenas 324.048 kg” 26

. “A região dependia do

exterior para suas totais necessidades de cereais e... devia

sangrar-se em exportações de mercadorias e de valores para

suprir essas necessidades”27

.

Nesse contexto insere-se a crise trazida pela doença do

bicho da seda ( a pebrina) a partir de 1859, e o criptógamo

que atingiu a videira a partir de l850. A produção de vinho, de

cerca de 200.000 hectolitros baixou para 76.000 hectolitros em

1874.

É verdade que a falta de tecnologia e de organização

dos produtores contribuiu para isso : “Enquanto em todos os

países de progresso, o viticultor dividiu o trabalho com o

enólogo e o vinhedo se separou da cantina, aqui tudo procede à

moda antiga. Cada proprietário de parreiral um tanto extenso

tem cantina: cada agricultor se julga enólogo: e assim, tanto

um quanto outro trabalho é feito de modo imperfeito. Que

26

GROSSELLI, 1987, pg. 53. 27

Ibidem.

45

desperdício de forças, quanto consumo inútil de capital, quanta

desorganização para o comércio: quanta obstinada conservação

de preconceitos e quanto descrédito para a nossa produção

enológica! (...) Aqui a enologia não é uma arte, é uma antiga e

grosseira prática tradicional: a cantina não é um laboratório

subsidiado pelas descobertas da química, é um amontoado

confuso de velhos e mal conservados utensílios: o vinho não é

um objeto de comércio de tipo constante: é um produto que

varia de acordo com as safras e com a qualidade da colheita: e

o produtor não é um industrial empreendedor, que mantém

seus depósitos, oferece sua mercadoria, explora o campo de

consumo; abre seu próprio caminho em meio à concorrência,

como um pacífico proprietário que espera resignado os clientes

de casa que chegam para desinflar-lhe as pipas”28

.

O criptógamo que castigou violentamente os parreirais

reduzindo drasticamente a produção do vinho, foi combatido

com sulfato de cobre: o „verderame‟ que nossos colonos

trouxeram como o remédio que seria aplicado em todas as

vinhas.

Por outro lado, a pebrina que matava o bicho da seda:

“O precioso inseto que durante tantos anos tinha tecido seu

casulo dourado, entristecia e morria. Quanto maior era o

trabalho, mais bela a esperança, melhor alimentado o bicho, e

28

V. RICCABONA, in GROSSELLI, 1987, pg. 54-55.

46

já próxima a colheita, um outro demônio misterioso se

instalava nos salões do bicho da seda e, com um sopro

venenoso, lhe subtraía a vida”29

. Assim a produção de casulos

que na década de 1860 era de mais de 2.000.000 kg anuais

baixou para 762.000 kg em 1869. E nunca mais se recuperou,

apesar da importação de bichos da seda sadios do Japão.

Em síntese, “a agricultura trentina ( que dependia em

grande parte da produção do vinho e da seda) nos anos 70-80

ressentia-se de velhos males e sofria de novos males graves

que a década de 60 havia trazido consigo. A terra era pouca e

pouco fértil. Dividida em pequenas e pequeníssimas

propriedades voltadas ao auto-consumo e à tentativa de

satisfazer todas as necessidades alimentares das populações

camponesas (tentativa frustrada pela perene e antiga

impossibilidade de produzir grãos suficientes para a

necessidade). A pequena propriedade somente através do

super-trabalho de todo o núcleo familiar que , em torno dela

gravitava, podia fornecer o mínimo vital e, no mais das vezes,

não o fornecia em absoluto, obrigando os componentes das

famílias camponesas à emigração temporária ou ao emprego,

em determinados períodos do ano, no setor industrial. Na

planície, onde existiam propriedades de dimensões maiores e

com terrenos mais férteis (com base nos conhecimentos

29

Ibidem.

47

agronômicos da época), os contratos agrários usuais da época

limitavam-lhes a produtividade. Tudo isso numa época em que

faltavam na região, ou tinham surgido há pouco, estruturas

aptas a divulgar, no meio de uma classe camponesa

conservadora e tradicionalista, conhecimentos técnico-

científicos que teriam podido aumentar o retorno dos terrenos

e, portanto, a produção. Acrescentaram-se a isso os danos

causados pelo criptógamo e sobretudo pela pebrina que

oneraram ainda mais uma situação por si mesma já difícil.”30

A indústria de fiação e retorcedura da seda e que

representava mais de 60% dos estabelecimentos industriais do

Trentino, ressentiu-se profundamente com aquela crise. Em

1875, de um total de pouco mais de 11.000 operários,

temporários ou não, mais de 8.000 eram da indústria da seda,

e nesta, quase que exclusivamente mulheres.

O Trentino já não era uma região industrializada. A

maioria dos estabelecimentos industriais operava

artesanalmente. A falta de tecnologia, a pobreza do mercado

interno com uma agricultura extremamente pobre e sem

possibilidade de garantir o consumo ou capitais para a

indústria, a falta de crédito, a separação e independência da

Lombardia (1859) e do Vêneto (1867) frente ao Império

austro-húngaro, províncias essas que funcionavam como

30

GROSSELLI, 1987, pg. 56.

48

mercado natural de abastecimento e venda dos produtos

industriais do Trentino, a inexistência de uma classe

empresarial disposta a “arriscar seus capitais na modernização

do patrimônio industrial”31

, como acontecia no restante da

Europa, são fatores que explicam a pouca industrialização do

Trentino e o fracasso da indústria trentina na década de 1870 a

1880.

Em 1875, de um total de 338 estabelecimentos

industriais do Trentino: 162 eram de Fiação da seda ocupando

6.757 empregados; 33 eram de retorcedura da seda com 1.600

empregados; 12 de papel com 330 empregados; 45 de

curtimento de peles; um de fumo (Sacco) de propriedade do

Império com 1.706 empregados; 2 de vidro com 100

empregados; 30 olarias com 150 empregados; e mais 8 fábricas

de veludo, 30 de chapéus de lã, 3 de magnésia, 10 de cerveja, 2

de gás. Um total de 11.392 empregados, dos quais 6.982

temporários ou safristas.

Por outro lado, em 1870, eram 12.552 empregados, em

1880 serão apenas 8.337 e em 1890 serão por volta de 5.000.

Todas as indústrias, excetuadas as de prego e cerveja,

diminuirão os postos de trabalho. Mais de um terço dos postos

serão perdidos entre 70 e 80.

31

Idem, pg. 63.

49

A indústria da seda terá apenas 25 estabelecimentos em

1892 (contra 195 em 1875) e em 1900 todos estarão fechados.

Os baixos salários pagos na Itália (aí não vigoravam as leis

trabalhistas que existiam no Trentino), o incentivo fiscal dado

pelo governo francês, a expansão do mercado em nível

mundial possibilitando a entrada na Europa da seda chinesa e

japonesa, o trabalho quase todo artesanal da indústria trentina,

fizeram com que a indústria da seda sucumbisse no Trentino.

A agricultura continuará a produzir casulos de seda,

mas agora como matéria prima para a indústria estrangeira.

Apesar da estrada de ferro que, agora (1850), ligava a

região aos polos de maior desenvolvimento capitalista,

trazendo, portanto, inovações tecnológicas, no entanto, e por

causa também da estrada de ferro, a região virou periferia do

mundo capitalista industrializado. A modernização que o

capitalismo industrial trazia, vinculado a uma burguesia liberal

não ecoou como necessário nos vales e montanhas do Trentino.

E, sem postos de trabalho, com a precária situação

agrícola, e, tentando salvar os valores da comunidade familiar

que o capitalismo ameaçava, os camponeses viram na América

a salvação.

50

4. A Qualidade de Vida

Agostinho Perini dizia, em 1800, dos trentinos: “O

caráter médio ou temperamento do homem trentino é

sangüínio-bilioso. É de altura mediana (entre 4 e 5 pés), de cor

vivaz e forte, de cabelo escuro, de musculatura forte e

decidida. Oferece um amplo desenvolvimento do tórax, tem os

ombros bem quadrados, menos longo o pescoço. Cumpre as

funções orgânicas com ativa harmonia. A cabeça é assaz

grande, o olho vivo e penetrante, a expressão completa do

rosto grave e sagaz. As funções de ordem superior se

apresentam nobremente desenvolvidas. O trentino é

inteligente, como o são, de ordinário, os habitantes dos lugares

montanhosos; e supre com industrioso engenho às deficiências

de um solo diminuto e não poucas vezes avaro. É trabalhador,

pois que a necessidade e a educação lhe ensinaram que a

fadiga deve ser a companheira dos homens honestos, como

também é herança do passado. Ama, e encontra na religião e

na família os melhores, e assaz frequentemente, seus únicos

confortos. Ama com enlevo a sua nação; mais, na força das

paixões que o concitam, em sua maneira de ser e de sentir, na

língua, em tudo é italiano. Ama tenazmente seu vale, suas

montanhas, suas águas, suas casas; e se estiver longe agita-o o

51

desejo da volta e não vive e não morre tranqüilo a não ser na

modesta paz do seu povoado” 32

.

Outros porém, descrevem o camponês trentino também

como sujo, macilento, malsão...

O ambiente camponês era pobre e pouco sadio. Os

camponeses viviam em pequenas vilas. “As vilas eram

formadas de casas construídas umas ao lado das outras, com

falta de luz e sem arejamento suficiente. Os cuidados

higiênicos não eram um hábito em voga na época e as ruas

eram muitas vezes invadidas pelas imundícies. Um costume

que chegou, através dos tempos até nossos dias, era o de

amontoar o esterco dos bovinos que serviria como adubo ao

lado da casa e debaixo das janelas das mesmas.

As casas dos camponeses mais pobres dispunham de

uma ou duas peças e de uma estrebaria. O teto era muitas vezes

de palha e o pavimento de terra batida.

As melhores dispunham de um ou dois pisos. No andar

térreo estavam dispostas a estrebaria e a cozinha, na andar

superior os quartos. Cada um destes locais dispunha de janelas

muito pequenas e insuficientes para o arejamento e que, ainda

mais, davam para pátios e vielas escuras e sujas.

Era costume das famílias camponesas permanecer dias

inteiros, especialmente no inverno, quando o trabalho dos

32

In GROSSELLI, 1987, pg. 66.

52

campos o permitia, fechadas na estrebaria ao calor dos

animais”33

.

Pode-se imaginar o efeito sobre a saúde. O

aquecimento das casas era precário e o inverno era rigoroso

(chegava a 30 graus abaixo de zero).

Cembra, porém, tinha uma situação um pouco melhor,

como se pode ver na fotografia acima34

de 1903. Casas

grandes, de 4 pisos, onde se albergava uma grande família.

Cembra – 1903.

33

GROSSELLI, 1987, pg. 67. 34

Storia di Cembra, 1994, pg. 356.

53

Ainda Cembra na visão que trouxeram os imigrantes

O vestuário “limpo e decente”, era de lã (quase sempre

feito à mão) no inverno, e de cânhamo ou linho no verão.

A alimentação era de cereais e hortaliças, algum queijo

e pouco leite. “A polenta era, muitas vezes, a base do almoço

e fazia-se acompanhar de batatas, nabos, feijão e repolhos em

conserva. O peixe raramente entrava nesta dieta e a bebida

típica era a água a que se juntava frequentemente uma bebida

que era um misto de água e pouco vinho e que com o tempo

azedava. Não se abusava de vinho e aguardente”35

.

Depois de 1850, quando a taberna substituiu a cantina

domiciliar como lugar de permanência dos homens, os abusos

eram freqüentes.

Depois de 1870 com a crise da importação de cereais

do Vêneto e Lombardia, (haviam-se separado do império

austro-húngaro e os impostos de alfândega eram altos) e com a

35

GROSSELLI, 1987, pg. 67.

54

incrementação do plantio do milho, a polenta se fez o alimento

básico e quase único, originando a doença da pelagra; o pão só

comparecia à mesa aos domingos e a carne uma vez por mês.

A pilhéria que os migrantes contavam do dono de casa que saía

à rua com um osso de galinha acima da orelha para ostentar

que havia comido carne, não deixa de ter fundamento na

realidade.

Os jogos e diversões principais eram a bola, as bochas,

jogos de carta (como a bríscola, a escova, o „dobellon‟, o

quatrilho) e sobretudo a „mora‟, além do filó.

O lugar social fundamental era a igreja e mais tarde a

taberna. La Canta dei Mesi (que os Zanotelli de Cembra fazem

questão de encenar todos os anos até hoje), mostrando as

estações do ano com o significado existencial de cada mês é

ainda uma tradição muito honrada por toda a população que

participa como intérprete.

Nas Cidades (especialmente em Trento e Rovereto)

vivia-se melhor. Ruas mais espaçosas, cobertas de cascalho

fino, arroios organizados para conduzir o esgoto, em 1877 o

telefone, em 1883 a luz elétrica, as casas suficientemente

espaçosas e com estufas para o aquecimento. “A refeição

diária, de acordo com a riqueza das famílias, consiste em carne

de ótima qualidade, que vem da parte setentrional do Tirol, de

carne de castrado, de laticínios vários, frangos, salames, de

55

caça selvagem nas estações favoráveis, nos dias magros, de

ovos, massas e frequentissimamente de polenta, batatas,

saborosa variedade de peixes desta parte do Tirol, e no inverno

do mar, queijos nacionais e estrangeiros, frutas, legumes,

couves de muitíssimas espécies, aspargos, alcachofras, alface,

chicória e outras hortaliças”36

. Obviamente este era o cardápio

para a classe média e rica. Muitos se dedicam à caça, e os mais

abastados têm casa na montanha para o verão. Os mais pobres

jogam cartas e se embriagam.

As cidades de 1874 em diante, inundadas por ondas

humanas que migravam, sem lugar de trabalho para cada vez

maior número de pessoas, inclusive os migrantes do campo,

com comerciantes, hoteleiros, carregadores falindo com a

crise, tornam-se palco de maior criminalidade e o governo

deverá aportar cada vez mais recursos para a sobrevivência de

desempregados miseráveis e suas famílias.

A lei obrigava os municípios a garantir a sobrevivência

de seus cidadãos e, com a carga dessa beneficência pública, o

peso cada vez maior levava a muitos municípios a, até,

pagarem passagem para que os mais pobres migrassem e

forçavam o governo a exigir que, com a emigração, o

emigrante renunciasse à cidadania austríaca. Assim, pensavam,

se evitaria que, retornando, o emigrante continuasse a ser

36

LUPPI, G. in GROSSELLI, 1987, pg. 68.

56

protegido pelo município. O camponês expulso de sua terra

pelas condições econômico-sociais aludidas acima, era agora

também apátrida, pois o Brasil, por exemplo, receberá os

migrantes como estrangeiros e eles, em sua maioria, já não

eram austríacos, obrigados que foram a renunciar à

cidadania.37

A saúde do camponês trentino por volta de 1874 era

debilitada pela insuficiente alimentação especialmente carente

de proteínas, e pelas condições da habitação e do vestuário. As

doenças bronco-pulmonares no inverno, a varíola, o tifo, a

escarlatina e a coqueluche eram quase endêmicas. A

tuberculose, a malária, a meningite e a cólera eram freqüentes.

E a pelagra, após 1850, especialmente na década de 1870

ceifava vidas. A assistência sanitária realizada por um número

razoável de médicos e obstetras, não se fazia em hospitais.

Para o hospital ia o doente incurável, para morrer. A partir de

1850 as cirurgias e depois a assistência curativa iniciou a ser

realizada nos hospitais. O camponês trentino, auto-suficiente,

fugia dos médicos e hospitais e se auto-medicava com ervas,

ungüentos e chás que eram secularmente tidos como panacéia

de todos os males. O vinho, as sangrias, as sanguessugas, os

37

Isto acontecerá especificamente com os Zanotelli, como se pode ver

do passaporte de Francesco que vem com seu filho Narciso e esposa.

Este é o fulcro dos conflitos na Imigração-emigração Tabacchi, onde

os colonos, já sem cidadania austríaca, inconformados com a situação

no Brasil, forçam o governo brasileiro para uma solução.

57

purgantes eram usados para qualquer ocasião. A noção de que

o mal instalado no corpo devia ser expelido através de

purgantes e sangrias veio com os migrantes para o Brasil.

5. Aspectos Religiosos, Culturais e Políticos

A Revolução Francesa de 1789 e sua expansão através

dos exércitos de Napoleão define política e culturalmente, não

só para a Europa, o fim de uma época e o início de outra.

O velho Estado de Cristandade que juntava a nobreza e

o clero, com todos os poderes e direitos exercitados sobre o

povo, direito que era tido como de origem divina não mais se

mantém. A burguesia mercantil, manufatureira e já industrial (

liberal ), que detém o domínio econômico da sociedade

européia quer agora também participar da direção política e

cultural e por que não religiosa (?) da sociedade.

No Trentino o embate entre clericais (conservadores,

vinculados à velha nobreza) e liberais (sob a bandeira de

igualdade, fraternidade e liberdade) não acontece

revolucionariamente como em outras partes da Europa.

Enquanto no resto da Europa o liberalismo pregava o Estado

laico, independente da Igreja e da religião retirando, com isso,

o fundamento do poder da nobreza e do clero, substituindo a

58

religião por uma educação „científica‟, o casamento religioso

pelo civil, a escola pública, laica (sem religião), universal e

gratuita,... no Trentino a situação foi mais suave.

Os poucos liberais concentravam-se nas cidades onde

estava 7% da população. Os camponeses que tinham no clero o

seu intelectual orgânico e que era seguido à risca e por tantos

séculos, através dos intelectuais católicos que se expressavam

pelo jornal “Voce Cattolica” de Trento viam no liberalismo a

incarnação do anti-cristo. “O liberalismo, como vimos, outra

coisa não é substancialmente do que a rebelião sistematizada

contra Deus Criador e Redentor na ordem natural e

sobrenatural; outra coisa não quer do que a descristianização

do indivíduo, da família e da sociedade e a destruição da Igreja

Católica. (...) O liberalismo por liberdade outra coisa não

entende do que a libertação da humanidade da autoridade de

Deus; a isto ele tende essencialmente: ele vos tira o freio de

toda lei e quando, desenfreados vos vê doidejar como loucos

furibundos e descabrestear-se como potros indomáveis, então

vos chama livres. Mas esta não é liberdade; esta é licença,

concedida ao erro, à luxúria, à cobiça, à violência, à desordem;

e as torpezas dessas baixezas ele as recobre com o nome de

liberdade”38

.

38

Voce Cattolica, in GROSSELLI, 1987, pg. 36.

59

Vive-se dentro do Estado de Cristandade e com a visão

simplificada de que Deus é o dono do mundo ( e portanto todo

poder lhe pertence), Deus delega ao papa e ao clero como seus

procuradores na terra toda a propriedade e poder, o papa e o

clero delegam este poder ao rei, Imperador ou chefe civil para

que, em harmonia e em obediência ao Papa e ao clero exerça

vicariamente este poder.

Esta confusão de cristianismo com Igreja e com a

organização da Igreja Católica como existia no Estado de

Cristandade fazia do clero, da Igreja e seu pensamento o único

verdadeiro para o camponês trentino. A confusão de que

liberdade é licença à libertinagem, que os liberais queriam a

destruição dos valores que eram os mais sagrados para os

camponeses (família, religião, pátria confundida com Império

e status quo) era uma arma mortal manejada habilmente pelo

clero e pelos intelectuais católicos. Os migrantes trouxeram

essa mentalidade e viram no Brasil uma pátria em que esses

valores sagrados pudessem ser respeitados.39

A paisagem bucólica da agricultura é marcada pelos

símbolos da fé num Estado de Cristandade. A tradição articula

39

Em 1875, no Brasil, o Imperador era o chefe supremo da Igreja, o

tutor e pagador das despesas da Igreja com seus templos, seminários e

conventos. Para poupar o dinheiro que o Império cobrava como

imposto religioso, o Brasil, até a República, terá apenas 11 dioceses.

60

de tal forma a vida na fé e na religião que esta se torna como

que palpável, concreta, visível em tudo. São séculos de fé.

Os liberais que se expressavam pelo jornal trentino “Il

Raccoglitore”, respondiam aos clericais e aos da nobreza

zombando, chamando a Igreja de „Comadre‟, atrasada, e que

queria impedir o progresso e a ciência com superstições. O

liberalismo e a maçonaria em seu anti-clericalismo fizeram

com que a primitiva união de liberais e católicos para a

independência do Trentino ou para sua anexação à Italia fosse

aos poucos arrefecendo de tal forma que na Dieta de Insbruck,

os deputados católicos do Trentino se aliaram aos deputados

imperiais, pensando que o Império salvaria o Trentino do

Liberalismo.

Um traço interessante do controle que o clero exercia

sobre os camponeses é o tratamento dado à blasfêmia.

Se a “Voce Cattolica” publicava, em 1871 um caso

exemplar de um blasfemador que foi fulminado por Deus logo

após ter proferido as maiores blasfêmias contra os santos e

contra Deus, por outro lado é interessante observar como o

camponês utilizará a blasfêmia como ataque, revolta, protesto

contra a ordem estabelecida que lhe causa tantos problemas,

identificando o status quo com o clero e com tudo o que o

clero põe como valor e fundamento.

61

Assim, antes de ofender a Deus, a blasfêmia visava,

para o camponês, atacar a ordem estabelecida e representada

pelo clero. Antes de questão religiosa ou moral, a blasfêmia é

uma questão de manifestação política. Se a blasfêmia ataca o

que há de mais sagrado para o clero, ataca a ordem, o Estado

de Cristandade, representada pelo clero. A análise da blasfêmia

entre os imigrantes parece dar suporte a essa hipótese.

Os trentinos que emigraram para o Brasil a partir de

1875, vieram católicos, sabendo de cor os mandamentos da lei

de Deus e da Igreja (nem sempre os praticavam), freqüentando

os sacramentos no mínimo exigido ( confissão e comunhão

uma vez por ano, batisar os filhos, casamento religioso, ir à

missa aos domingos e festas de guarda), rezando o rosário ou o

terço à noite, edificando templos, os melhores que pudesse e

resignando-se, nos problemas e dificuldades, à „vontade de

Deus‟. A falta de sacerdotes fará com que , no Brasil, esses

imigrantes substituam a missa dominical pelo terço (terceira

parte do rosário que compreende a reza de 150 ave-Marias e 15

pai-nossos, meditando a cada 10 ave-Marias um dos 15

mistérios que sintetizam o cristianismo), rezado nas capelinhas

ou capitéis e, antes ainda nas casas de família.

Sempre cantado em coral, o terço era seguido pelas

ladainhas de todos os santos, também cantadas. As igrejas,

aqui como no Trentino, tinham sempre duas carreiras de

62

bancos (uma ocupada pelas mulheres e, no lado oposto, a outra

ocupada pelos homens). A maioria das orações (quase sempre

cantadas) eram recitadas em latim, italiano ou dialeto numa

confusão de onde podiam resultar entendimentos pitorescos: ao

cantar das ladainhas “Vas insigne devotionis” (Vaso, buquê

magnífico de predileção) todos faziam o sinal da cruz.

Perguntados por quê? Eis a resposta: então você não

compreende? O que quer dizer “Fa un signo di devozione”

senão “faça um sinal da cruz”? Ao ter os salmos traduzidos

em português (salmos que a família de minha mãe Ana Dalla

Vecchia recitava todas as noites), mamãe encantou-se pela

beleza deles e pediu uma cópia.

- “Mas, a senhora reza esses salmos todas as noites”!

- Mas eu nunca vi esses salmos...

Muitas orações eram rezadas, cantadas sem que os

devotos soubessem o que estavam dizendo. Tudo, porém , era

feito com o maior recolhimento, respeito e devoção.

O Trentino, dentro do Império austro-húngaro, tinha

uma situação privilegiada de alfabetização e educação,

comparada, por exemplo, com a do norte da Itália de então.

Mais de 80% da população era alfabetizada, contra menos de

50% na Itália. A Lombardia e o Vêneto, enquanto pertenciam

ao Império, também, tinham alto índice de escolaridade. Não

63

se tem notícia que entre os imigrantes da família Zanotelli,

alguém tenha vindo analfabeto.

Por outro lado, a cultura artística do Trentino, se não

era tão florescente como no Piemonte, expressava-se muito

bem na pintura, especialmente das Igrejas, nas festas

religiosas, (os cantos corais), as encenações teatrais como a

ainda vigente “La Canta dei Mesi”, as canções de amor e

celebrações da vida bucólica e alpina que enchiam as noites de

inverno. É muito vasto o repertório de canções que os

imigrantes trouxeram e que ainda hoje se ouvem nas „colônias‟

de Caxias, Garibaldi, Encantado, Guaporé, Nova Prata...

Em síntese, os fatores mais importantes que

influenciaram a migração dos trentinos ( e dentre eles os

Zanotelli) para o Brasil pode-se indicar, seguindo Grosselli:

o capitalismo industrial que fez crescer o norte da

Europa (através da ferrovia e da fábrica), aniquilou

as pequenas indústrias locais (vinho e seda) e

descobriu a América como mercado consumidor ;

a estrutura fundiária e de produção do Trentino

(terra insuficiente para a família);

a peste pebrina no bicho da seda;

o criptógamo na uva;

catástrofes naturais (especialmente enchentes

derivadas dos desmatamentos e que afetaram

64

profundamente os vales do rio Adige e do Avísio

que passa por Cembra, em 1882 e 1885);

o recrudescimento dos impostos do Império

Austríaco sobre o Tirol, sendo que os investimentos

priorizavam escandalosamente a parte norte (de fala

alemã);

a depreciação do valor dos campos: as dívidas já

não tinham suporte no valor dos minifúndios...

insolvência cada vez maior dos agricultores...as

meações e arrendamentos empobrecem cada vez

mais quem trabalha;

o espírito de rebeldia dos camponeses trentinos que,

incentivados também pelo “anarquismo” vêem nos

políticos a causa de todas as suas desgraças,

cansados de serem constantemente usados em

serviço militar, cansados de trabalhar para os

“siori”, e ainda os, cada vez mais freqüentes,

conflitos com a polícia;

as cartas dos parentes e amigos emigrados contando

o sucesso obtido nas terras do Brasil;

a propaganda (muitas vezes enganosa) das empresas

de imigração;

a ânsia por uma liberdade que não coincidia com a

dos liberais seguidores da Revolução Francesa:

65

“Liberté, égalité, fraternité, vocês a cavalo e nós a

pé” cantavam...

a América como a “cucagna” : terras em

abundância, de propriedade dos agricultores, onde

não há „siori‟ e ricos que mandam e colhem sem

trabalhar, onde a família camponesa possa estar

unida sem necessidade de o pai migrar em todos os

outonos à busca de complementação da renda

familiar, onde a guerra e o serviço militar não mais

atormentariam a todos; onde os impostos não

seriam escorchantes e injustos como no Trentino.

“E a América significava sobretudo terra, muita

terra para cultivar e ainda terra de propriedade do

camponês que se teria assim emancipado daqueles

dois fatores de sujeição que durante séculos o

tinham martirizado: o patrão e a pobreza”40

40

GROSSELLI, 1987, pg. 76.

66

67

II - O BRASIL QUE OS AGUARDAVA

O Brasil nasceu, nos planos dos conquistadores

portugueses, para ser estruturado como um conjunto de:

latifúndios, monocultores, exportadores, escravagistas e de

acordo com os interesses daqueles que dominavam e dirigiam

Portugal.

De 1500 a 1528, quando o comércio com a Ásia sorria

a Portugal trazendo-lhe os lucros esperados, novas terras e

novos fiéis cristãos, o Brasil não contava nos planos dos

„descobridores‟ senão como terra de especiarias (pau brasil

para pinturas...) . Esta nova terra necessitava ser defendida dos

países rivais e concorrentes, como a França, por exemplo, cujo

rei, ao ser notificado por Portugal para que respeitasse as terras

brasileiras que eram de sua propriedade, propriedade essa

decorrente da descoberta, respondeu que não aceitava a

divisão do mundo entre Portugal e Espanha patrocinada pelo

papa porque desconhecia que o testamento de Adão e Eva

assim tivesse dividido o mundo.

68

O Brasil –

seus campos, seus montes, seus rios

69

O Brasil e suas regiões

Com o declínio do comércio com a Índia, pelos

encargos cada vez maiores assumidos pela coroa portuguesa

para protegê-lo e ampará-lo, e com a expulsão dos judeus de

Portugal em 1517 que financiavam os empreendimentos da

coroa, e pelos perigos de ataques estrangeiros de que essa terra

descoberta era alvo, Portugal concentrou-se no Brasil. E

resolveu fazer dele uma colônia para produzir açúcar (1528).

O açúcar, cuja produção era especialidade dos árabes,

tinha sido produzido experimentalmente, por Portugal, nas

70

ilhas da Madeira, com escravos africanos. Vendido a altos

preços na Europa, o açúcar era o „ouro branco‟ que poderia

substituir os lucros que o comércio com a Índia deixou de dar.

Assim o Brasil foi planejado, organizado,

institucionalizado como a terra portuguesa para produzir

açúcar.

Para isso era necessário dividir o Brasil em latifúndios.

A pequena propriedade era impossível para o objetivo. O

Brasil não nasceu para que aqui as famílias, com seu trabalho,

produzissem o seu sustento. Nasceu para que a empresa (o

engenho) produzisse, em grandes latifúndios, apenas açúcar, e

apenas para a exportação. Um engenho de porte médio, para

produzir 500 quilos de açúcar mascavo por dia necessitava ter

10.000 hectares (para o plantio da cana, pastagem ao gado

necessário, e retirada de lenha), necessitava ter mais de 600

bovinos e mais de 50 escravos. O açúcar era refinado e

distribuído na Europa pelos holandeses.

Para isso, as condições necessárias eram: o latifúndio e

a escravidão. A divisão das terras do Brasil, inclusive para a

reforma agrária, até hoje, encontra dificuldade nesse projeto

originário e constitutivo do Brasil: produzir em grande escala

(latifúndio, engenho, com numerosos trabalhadores escravos),

um só produto, o açúcar (que interessava exclusivamente à

metrópole, proibindo-se cultivar qualquer outro produto,

71

mesmo que fosse para a alimentação), exclusivamente para a

exportação (não seria para ser consumido pela colônia senão

minimamente em forma de rapadura) e através do trabalho

escravo (inicialmente índio e depois negro, sendo que era

indigno o trabalho manual e produtivo para o branco e

„nobre‟). Assim o Brasil nasceu como um conjunto de

latifúndios, monocultores, exportadores e escravagistas.

Estas 4 características do Brasil, tão bem descritas por

Darcy Ribeiro e seguidas pela historiografia brasileira,

vigoraram durante os 500 anos da História do Brasil depois da

„descoberta‟. Assim, até quase 1700, o Brasil existiu apenas

para produzir açúcar para a Metrópole portuguesa.

O Brasil colonial vai concentrar sua monocultura no

açúcar até por volta de 1657. Os holandeses,41

que invadiram o

Brasil em 1620, aprenderam aqui a técnica da produção do

açúcar e, saindo em 1657, vão produzí-lo nas Antilhas.

Portugal já não tem, então, a quem vender o açúcar. E nem

quem o refine e comercialize na Europa. Lembremos que

sempre foi a Holanda quem refinava e comercializava o açúcar 41

É importante lembrar que Portugal desde 1580 estava sob o domínio

espanhol (O Brasil, portanto, como colônia portuguesa estava sob o

domínio da Espanha). Os Países Baixos (Bélgica e Holanda) que também

eram domínio espanhol lutavam por sua independência. Para atacar a

Espanha invadem o Brasil em 1620 e aqui ficam, especialmente em

Pernambuco, até 1657. Holanda e Bélgica se independizam pelo tratado de

Westfália (1648) que põe fim às guerras de religião. Os holandeses que

deveriam, portanto, ter deixado o Brasil em 1648, só saem daqui em 1657,

depois das lutas que Portugal lhes move.

72

português para a Europa e que , com o refino e a venda lucrava

mais do que Portugal com a produção e transporte até a

Holanda. Desde então Holanda e Inglaterra dominam o

comércio mundial42

e Holanda domina a produção e

comercialização também do açúcar.

Portugal lança-se, então, desde meados do século XVII,

a procurar, no Brasil, ouro e outros metais e pedras preciosas

para compensar o fracasso com a monocultura do açúcar. O

ouro seria a riqueza, uma vez que os metais preciosos estavam

escassos na Europa, considerando que a Espanha havia

esgotado suas minas do México e do Peru.

A primeira mina de ouro do Brasil é descoberta em

Cuiabá em 1693. Assim, até às vésperas de 1800, o Brasil

produzirá toneladas e toneladas de ouro e pedras preciosas para

Portugal e, para isso, concentrará todos os esforços e recursos.

Será o século do ouro. Assim crescerão as regiões de Minas

Gerais e São Paulo e o governo geral do Brasil deixará de

estar na Bahia (centro da produção açucareira) para localizar-

se no Rio de Janeiro. O gado que servia para a produção do

42

Em 1654 Portugal , por um tratado secreto, vai permitir à Inglaterra

vender todas as suas manufaturas (e a Inglaterra era a „oficina do mundo‟)

em Portugal e suas colônias e Portugal só poderá vender para a Inglaterra e

suas colônias vinho, azeite e bacalhau. O maior produto de Portugal ( o

açúcar ) não poderá ser vendido nos domínios ingleses. Este tratado será

ratificado pelo de Methuen em 1703.

73

açúcar agora será alimentação para os trabalhadores das minas.

O charque e a carne de sol será a base dessa alimentação.

É assim que nasce Pelotas no RS, como centro

charqueador do Brasil Meridional. O gado introduzido no sul

pelos jesuítas (1634), já não é levado vivo para São Paulo e

Minas, mas é conduzido para Pelotas, ali charqueado e

enviado para o centro do país bem como para Buenos Aires e

Europa.

A partir de 1800, esgotada a mineração do ouro, o

Brasil produzirá café e algodão para exportar.

Para substituir a mão de obra escrava que já não

corresponde aos interesses do sistema de produção são

pensados os imigrantes europeus, italianos e trentinos, no caso,

e atraídos pelo interesse do Império e da Províncias Brasileiras,

para substituir a mão de obra escrava (em crise) nas grandes

lavouras de café do Sul do Espírito Santo (região de Cachoeiro

do Itapemerim), para S. Paulo e Paraná. Bem como são

incentivados a produzir café em seus pequenos lotes coloniais.

Em 1808, quando a coroa portuguesa, com a elite da

nobreza (15.000 pessoas) foge de Lisboa para o Rio de Janeiro,

para escapar dos exércitos de Napoleão, o Brasil é

reorganizado em função da corte.

O Brasil que não existia para si, mas só para a

Metrópole deverá ser agora modernizado (na escultura, na

74

organização urbanística, nas artes, na cultura) em função da

corte que agora reside aqui. O ensino primário do Rio de

Janeiro é reestruturado43

, são abertas duas escolas de direito,

uma de medicina, e artistas são contratados para embelezar

estética e arquitetonicamente o Rio de Janeiro. É incentivada a

produção do café especialmente nos atuais estados do Rio de

Janeiro, Espírito Santo, sul da Bahia e São Paulo... mais tarde

também no Paraná.

A mão de obra era, na totalidade, escrava. A Europa,

porém, já vivia os ares do capitalismo que, por interesse

próprio, era contra a escravidão. A Inglaterra, centro do

capitalismo pressiona para acabar com a escravidão e

43

Depois da expulsão dos jesuítas ( mais de 500) do Brasil em 1767,

realizada pelo iluminismo liberal de Pombal, primeiro ministro português, o

ensino primário no Brasil, especialmente, ficou um caos. Eles eram os

melhores professores, eles tinham os melhores manuais e métodos.

D. João VI, rei de Portugal veio com a mãe D. Maria (a louca),

avisado que foi pelo exército inglês de que a França invadiria Portugal, veio

trazido por navios ingleses e com um ministro inglês encarregado das

relações comerciais com a Inglaterra. Portugal era praticamente uma

colônia inglesa. Ao chegar ao Rio de Janeiro inúmeras famílias foram

desalojadas de suas casas para dar lugar aos 15.000 nobres que chegavam.

O Rio só tinha 45.000 habitantes.

Assim, para ter reconhecida a Independência declarada em 7.9.1822,

o Brasil, além de assumir a dívida que Portugal tinha para a Inglaterra, o

Brasil declarava a intenção de abolir a escravatura. Em 1827 esse

compromisso é exigido pela Inglaterra para que o Brasil já não importe

negros escravos da África. Em 1849 pela lei Eusébio de Queirós o Brasil

aceita não mais importar escravos. Em 1861, tendo em vista a velhice dos

escravos, declara-se livre o sexagenário: o escravo com mais de 60 anos era

livre. Isto é, ficava livre o senhor daquele encargo. E livre o escravo para

morrer de fome e miséria.

75

consequentemente com o tráfico de escravos, substituindo-os

por mão de obra livre e assalariada. Com isso cresceria o

mercado consumidor dos produtos ingleses.

Inicia o incentivo à migração: D. João VI, através de

um decreto de 25 de novembro de 1808, assegura aos

estrangeiros, pela primeira vez na história do Brasil, o direito à

propriedade de terras em território brasileiro, e a distribuição

gratuita de terras sob a condição de que elas fossem

imediatamente medidas e cultivadas.

Em 1815 o Brasil (na mesma época e no mesmo rumo

da Conferência de Viena) é declarado Reino Unido a Portugal

e Algarves. E, para obedecer às necessidades de mercado

reclamadas pela produção inglesa, o Brasil deveria, além de

abrir os portos às nações amigas (leia-se Inglaterra) em 1808,

abolir gradativamente a escravidão conforme cláusula de

compromisso assinado com a Inglaterra.

Com efeito, o escravo não tem dinheiro para comprar, e

a Inglaterra precisa do maior número de pessoas que tenham

algum dinheiro para comprar seus produtos. A Inglaterra havia

suprimido o tráfico de escravos (1807) e abolido a escravidão

(1833) nas Antilhas (suas colônias). Assim a escravidão no

Brasil vai diminuindo em número por submissão aos interesses

ingleses e por exigência do capitalismo. Tudo isso porém,

76

envolto num discurso humanista e libertário ao estilo da

Revolução Francesa.

É interessante observar que a independência do Brasil

não modificará em nada a condição dos escravos bem como da

maioria da população brasileira. Apenas mudam os donos do

poder.

Em 1818, segundo Perdigão Malheiro44

, o Brasil tinha

1.887.900 habitantes livres, (neles compreendendo 259.400

indígenas, quase todos marginalizados da vida do país) e

1.930.000 escravos. Mais de metade da população brasileira,

portanto, era escrava.

Em 1826 o Brasil que, para ter reconhecida sua

independência declarada em 7.9.1822, pagara a dívida que

Portugal tinha para com a Inglaterra, se compromete a não

mais importar escravos da África (essa lei só foi promulgada

em 1831). A Inglaterra, pelo Bill Aberdeen de 1845 não só

proibia por motivo de „humanidade‟ a saída de escravos da

África, como também se autorizava a interceptar navios

negreiros, confiscá-los tanto no mar como na costa. A lei

Eusébio de Queirós de 1849, assim determina para o Brasil: o

fim do tráfico de escravos.

Continuará, porém, o contrabando.

44

citado por Maranhão et alii in Brasil História, vol 2 pg. 273

77

Em 1861, é declarado livre o sexagenário: livra-se o

senhor de sustentar o escravo após os 60 anos, e o escravo é

livre para passar miséria e morrer de fome. Em 1871, é

declarado livre todo nascido de escrava, mas seu senhor poderá

contar com seu trabalho até aos 18 anos para compensar o

custo de sua criação. Em 1888 é, finalmente, declarada extinta

a escravidão no Brasil.

A escravidão formal foi extinta, as condições de

escravidão e semi-escravidão perduram, para alguns, até os

dias de hoje.

Dentro da revolução industrial a escravidão se tornou

inútil, onerosa e prejudicial. Mais barato e eficiente seria

contratar um empregado ou fazer contrato de parceria com

imigrantes para as fazendas de café.

Para substituir os escravos, pensa-se em imigrantes

europeus dos países industrializados. Assim em 1819 chegam

1.666 colonos suíços ( outros 350 haviam morrido na viagem)

que se localizam na região de Nova Friburgo no Rio de

Janeiro45

. Em 1824, o já Imperador do Brasil D. Pedro I

solicita a vinda de 1.000 rapazes alemães para a guarda

imperial, no exército brasileiro. Alguns ficaram no exército

(guarda nacional) e outros (126) vieram para o Rio Grande do

45

De BONI e COSTA, 1979, pg 27.

78

Sul e iniciaram a primeira colônia de imigrantes em

S.Leopoldo.

Em 1826 é criada para os alemães a colônia de Três

Forquilhas e a de Torres no RS, em 1828 a de S.Pedro de

Alcântara em SC, em 1828 a do Rio Negro no PR, em 1829 a

de Santo Amaro em SP. Por outro lado os proprietários de

latifúndios ( obtidos, ou por doação do Governo ou por

estratagemas cartoriais), subdividem suas propriedades em

colônias e vendem-nas aos colonos. Ao longo do rio dos Sinos

nascem Mundo Novo em 1847 (Taquara), Padre Eterno

em1850, Sapiranga e Picada Verão. Em 1846 Bom Princípio,

em 1848 Caí, em 1857 Montenegro e, por fim Nova Petrópolis.

Ao longo do rio Taquari, em 1853 surgem Lageado e Estrela,

em 1868 Teotônia. A Província cria em 1849 Santa Cruz e, em

1855, Santo Ângelo (Agudo). Rheinghanz , em 1858, cria a

colônia de S. Lourenço, perto de Pelotas.

79

O Rio Grande do Sul e suas regiões

Quando, em 7/4/1831, o Imperador D. Pedro I renuncia,

entregando o Império ao filho ainda criança ( período da

Regência...), os latifundiários que eram contra a colonização

forçaram os parlamentares a cortar as verbas destinadas à

imigração. Pelo Ato Adicional à Constituição de 1834

“passou-se às Províncias, carentes de recursos, o encargo de

promover a vinda de estrangeiros, esquecendo-se, além do

As regiões do RS: a 1 e 2

ao longo do Rio Jacuí,

recebeu imigrantes nos

confins das fazendas. As

6 e 7 são da Campanha;

a 3 ao redor da capital; a

4 e 5 reberam muitos

imigrantes.

80

mais, de dar a elas no mínimo a condição fundamental para

tanto: terras (estas, enquanto devolutas, pertenciam ao governo

Imperial). Só em 1848, pela lei 514, é que as Províncias seriam

contempladas com algumas léguas quadradas, nas quais

poderiam assentar colonos”...46

O RS recebeu, como as demais províncias, 36 léguas

quadradas de terras devolutas, e com elas criou as colônias de

Santa Cruz, Santo Ângelo(Cachoeira), Nova Petrópolis e

Monte Alverne47

. Os lotes foram doados segundo a lei

provincial 229 de 1851 e de acordo com a lei Geral 601 de

1850.

Em 1847, Nicolau Vergueiro, um latifundiário

cafeicultor de mentalidade liberal e que lutava contra a

escravatura, introduziu em sua fazenda em S. Paulo imigrantes

europeus, especialmente alemães: 80 famílias com 400

pessoas, com um contrato de parceria. O contrato foi burlado

especialmente com a obrigação de os colonos se abastecerem

nos armazéns da fazenda, de tal forma que os altos preços ali

cobrados e o baixo preço pago pelo café produzido,

aprisionavam os colonos a uma dívida que sempre aumentava.

A condição desses colonos assemelhou-se a dos escravos. Em

46

De BONI e COSTA, 1979, pg 27. 47

De BONI e COSTA, R .1979: 28 e 63.

81

1857, em 26 fazendas brasileiras trabalhavam 1.031 alemães,

1180 suíços, 616 portugueses e 88 belgas48

.

A denúncia da condição de trabalho aqui, foi ouvida na

Europa e a Alemanha, Inglaterra, França e Suíça proibiram ou

dificultaram a emigração para o Brasil.

A lei de terras, n. 601 de 18/9/1850 e seu regulamento

de 1854 estabelecem que as terras já não seriam dadas mas

vendidas aos imigrantes. Aos brasileiros que não tivessem terra

e especialmente aos ex-escravos não era permitida a venda de

terra. Os ex-escravos sabem muito bem o que isto vai

representar impedindo sua emancipação mesmo depois da

abolição da escravatura.

Assim se mantinha o latifúndio e nas terras

montanhosas, de matas, difíceis para a criação do gado,

ficariam os imigrantes. Essa lei possibilitava a naturalização

voluntária dos imigrantes, após dois anos de permanência no

país e os dispensava das obrigações militares.

De 1850 a 1867 quando saiu o decreto 3.784

incentivando a imigração, arrefeceu muito o fluxo de europeus

para o Brasil.

Os parlamentares escravocratas reforçaram a idéia de

que às Províncias cabia incentivar e apoiar a colonização. As

Províncias, porém, não dispunham de recursos para isso.

48

FRANCESCHINI in GRTOSSELLI, 1987, pg 240.

82

Entregavam a incumbência a particulares. Mesmo após a lei

514 de 28/10/1848. Assim, o Estado brasileiro entregava terras

a particulares para serem loteadas e vendidas aos imigrantes ao

preço de 1.500 réis ao hectare. As companhias particulares

organizavam a imigração e vendiam as terras entre 36.000 a

40.000 réis ao hectare.

Algumas Províncias, como o Rio Grande do Sul

promoviam, elas próprias a imigração.

O interesse pela imigração de europeus “autores do

desenvolvimento industrial e agrícola” em seus respectivos

países não era, porém, só do Brasil. Argentina, Colômbia,

México, Austrália, Estados Unidos faziam propaganda

buscando atrair esses possíveis imigrantes. A guerra de

propaganda na Europa foi, às vezes, escandalosa, mentirosa e

sempre incisiva, com redes de informantes, aliciadores e

representantes em cada país, em cada pequena região de

emigração.

Se o Brasil oferecia as melhores condições legais e de

intenções, os Estados Unidos ofereciam as melhores condições

objetivas. Assim, dos 5 milhões de alemães que emigraram,

apenas 140 mil vieram para o Brasil (nem 5% ). De 1820 a

1926 entraram nas diversas províncias brasileiras 4 milhões de

imigrantes; nos EU , de 1820 a 1920 entraram 26 milhões de

83

europeus; na Argentina de 1857 a 1926 entraram mais de 3

milhões de europeus 49

. De 1819 a 1940 entraram no Brasil

253.846 alemães, 1.513.115 italianos e trentinos, 1.462.117

portugueses, 598.802 espanhóis50

.

A ganância dos particulares, o fracasso de colônias

anteriores, a má fama de que o Brasil gozava na Europa pelo

não cumprimento dos contratos, além da contra-propaganda de

que aqui o clima era terrível, as epidemias grassavam e o

Brasil vivia em estado absoluto de miséria e

subdesenvolvimento, limitavam a imigração.

Quatro são os fatores apontados por Grosselli para o

malogro da colonização até 1870: “a falta de seleção dos

imigrantes que muitas vezes eram artesãos, soldados ou com

outras profissões e que não se adaptavam absolutamente ao

cultivo da terra; a absoluta falta de vias de comunicação que

impedia a comercialização dos produtos agrícolas; a

localização de muitas colônias em territórios de clima tropical,

não adequados à colonização européia; a proximidade das

colônias aos latifúndios que desestimulava os colonos e

impedia o desenvolvimento da pequena propriedade”51

.

A economia brasileira precisava de mão de obra. Os

escravos já não entravam no Brasil no volume necessário,

49

GROSSELLI, 1987, pg. 241 50

CARNEIRO in GROSSELLI, 1987, pg. 238. 51

GROSSELLI, 1987, 238.

84

tendo em vista o ataque permanente da frota inglesa: em 1849

entraram 54.000 africanos e em 1852 somente 70052

. O

desenvolvimento capitalista era incompatível com a escravidão

porque ele exigia a liberação de todos os fatores da produção:

da mão de obra, do mercado de matérias primas, de consumo,

de comércio...

O desenvolvimento europeu e norte-americano era visto

como sendo fruto da raça branca, indo-européia. Por isso,

pensava-se, para alavancar o progresso no Brasil era necessário

o ingresso de imigrantes brancos, preferentemente alemães,

ingleses, suíços, franceses, belgas e do norte da Italia. Era

preciso branquear a raça.

O mesmo fez a Argentina quando trucidou os índios do

interior para dar lugar aos brancos que deveriam imigrar.

Imaginava-se que o branco que havia construído o progresso

europeu (apenas porque era branco), vindo para cá, construiria

aqui o mesmo progresso, sem levar em consideração as

condições em que se deu o desenvolvimento desses países

europeus. Como se o progresso deles não estivesse ligado

diretamente às condições de troca de nossa matéria prima

(paga a preços cada vez mais aviltantes e fixados por eles) com

os produtos industrializados por eles (e cujos preços cada vez

mais elevados eram também fixados por eles). Como se nosso

52

De BONI e COSTA, pg. 29

85

modelo colonial, latifundiário, exportador e escravagista fosse

o mesmo que o da Europa.

Por outro lado, deve-se salientar que os imigrantes

europeus vinham também com essa mentalidade que explodirá,

depois, nas motivações das duas guerras mundiais,

especialmente na segunda, onde o super-homem que levaria a

humanidade à perfeição seria o de raça indo-européia... Os

italianos, que vieram depois de 1900, traziam na lembrança as

fracassadas guerras da Etiópia e Líbia contra os negros que

nunca se deixaram vencer53

.

Por outro lado, o contato com os escravos, aqui,

reforçou o preconceito de que o negro é indolente, preguiçoso,

infiel, mentiroso... Como se, (e sem acatar a afirmação), para

sobreviver como escravo, houvesse outra possibilidade...E

como se a escravidão não fosse o mais vil e mentiroso,

desumano e brutal modo de viver e trabalhar.

O Brasil insistiu, na primeira metade do século XIX,

em trazer alemães para criar, entre a população portuguesa do

RS e a espanhola do Rio da Prata, um núcleo de

desenvolvimento que servisse também como um dique para as

pretensões rioplatenses.54

A guerra Cisplatina que o Brasil teve

53

MONTANELLI, Indro. L‟Italia di Giolitti, 1975, pg. 123 e ss. 54

Os colonos açorianos que foram trazidos por Portugal para Santa

Catarina e depois para o Rio Grande do Sul a partir de 1746, para povoar de

uma vez essa região reivindicada pelos castelhanos, localizaram-se na Barra

86

de 1818 a 1851, com a Argentina, o recomendava. Assim de

1824 a 1889 entraram no RS 25.000 colonos alemães.

Surgiram, porém, dificuldades com as colônias alemãs:

dificuldades em se integrar à vida nacional, em harmonizar sua

cultura com a brasileira, em falar a língua portuguesa. Os

contatos constantes com a pátria mãe, o fato de entre eles

terem vindo não apenas agricultores mas técnicos, intelectuais,

homens de ciência e de negócios facilitava sua auto-

organização. A tal ponto que a idéia surgida na Alemanha de

criar a Grande Alemanha com seus milhões de emigrados

espalhados pelo mundo, e acolhida aqui por apenas alguns

intelectuais, perturbou as autoridades do Império. As idéias

expostas num jornal de língua alemã dava oportunidade de

assim concluir.

A falta de comunicação, o exclusivismo da raça e a

conservação de suas tradições e religião protestante levantou

também a desconfiança especialmente da Igreja Católica. A

religião católica era a religião oficial do Império brasileiro

dentro do Estado de Cristandade e na institucionalização do

padroado. O Sul do Brasil poderia transformar-se numa zona

dominada pelos protestantes.

do Rio Grande e São José do Norte e, após o ataque de Ceballos de 1763

deslocaram-se para Viamão e Porto dos Casais (Porto Alegre), para Rio

Pardo, Triunfo e Taquari, alguns para Pelotas. Foram ao todo cerca de

5.000 colonos. Lembremos que a população do RS em 1800 era de cerca de

60.000 habitantes.

87

Os conflitos entre comunidades luso-brasileiras e

alemãs chegaram ao incêndio provocado na Exposição teuto-

brasileira de 188255

. Era preciso isolar o problema circundando

as colônias alemãs com colônias de imigrantes italianos e de

outras nacionalidades.

Para incentivar a imigração o decreto imperial n.3.784

de 19/1/1867 estabelecia: As novas colônias seriam criadas

pelo Estado, com a dimensão mínima de 15 hectares (até 60

hectares), podendo o imigrante escolher o lote, ao preço de 2 a

8 réis à braça quadrada (4.48m2) para os lotes rurais, e 40 a 80

réis para os lotes urbanos. O pagamento podia ser feito à

prestação ( em cinco anos) com o acréscimo de 20% e o título

então seria provisório. O colono tinha o prazo de dois anos

para residir e cultivar a terra, do contrário o lote iria a leilão. O

colono recebia com a terra, 20.000 réis como auxílio para os

gastos dos primeiros meses. Tinha a chance de trabalhar em

obras públicas, como abertura de estradas, ao salário diário de

1.500 réis sendo que o Diretor vigiaria para que no mínimo

cada adulto tivesse a chance de 15 dias de trabalho remunerado

por mês e 90 dias por semestre, dando preferência aos

chegados mais recentes.

O colono receberia ainda, ferramentas, sementes,

auxílio para a derrubada das árvores para ter um espaço a

55

Grosselli, 87 pg 243.

88

cultivar e erguer sua casa, sendo que esses valores eram

adiantamento para serem pagos junto com a terra e naquelas

condições. Se ele não tivesse como se sustentar nos primeiros

dias, o valor para isso também lhe seria adiantado. Nas

colônias não poderiam residir escravos nem pessoas que

tivessem escravos56

.

A colônia teria também um prédio para acolher os

colonos que chegassem e ainda não tivessem escolhido o lote.

Deveria ter um asilo para órfãos. E a colônia seria dirigida por

uma Junta Colonial composta de um Diretor, um médico e 6

colonos que já houvessem quitado suas obrigações

financeiras.

Era uma lei excelente para os colonos, considerando-se

que, embora comprados, os lotes rurais poderiam ser pagos

com, aproximadamente, 80 dias de salário por trabalhos nas

estradas.

Mesmo assim não aumentou muito a migração para o

Brasil senão a partir de dramatico 1875, quando o Império

contratou com Joaquim Caetano Pinto Júnior ( contrato

assinado em 30 de junho de 1874) a introdução no Brasil de

“100.000 imigrantes alemães, austríacos, suíços, italianos do

norte, bascos, belgas, suecos, dinamarqueses e franceses,

56

É irônico, se não fosse e até cínico que houvesse tanta facilidade para

estrangeiros adquirirem e cultivarem terras e aos brasileiros escravos e ex-

escravos não eram oferecidas tais oportunidades...

89

agricultores, sadios, trabalhadores de boa moral, nunca

menores de 2 anos, nem maiores de 45, salvo os chefe de

família. Destes imigrantes, 20% podem exercer outras

profissões”(Cláusula I)57

. E isto num período de 10 anos,

recebendo Caetano Pinto 120.000 réis para cada um dos

50.000 primeiros imigrados, 100.000 réis para os 25.000

imigrantes sucessivos e 60.000 réis pelos últimos 25.000.

Observe-se que os gastos totais de Caetano (incluindo

propaganda e pagamento de agenciadores, passagem e toda a

despesa de viagem ) não ultrapassava a 45.000 réis para cada

imigrante.

As despesas todas estavam cobertas, nada devendo ser

cobrado dos colonos imigrantes, nem mesmo a passagem e os

lotes deveriam ser vendidos aos preços estabelecidos no

decreto 3.784. Pelo contrato, o Império brasileiro se recusa a

assumir outra responsabilidade além das cláusulas do contrato.

E quando os colonos trentinos, tendo renunciado à cidadania

austríaca, quiserem repatriar-se porque não foram cumpridas

algumas cláusulas, não encontrarão resposta no Estado

brasileiro. Os custos, porém, desse empreendimento, levarão o

Império a suspender essas condições para a imigração ( e o

contrato) em 1877, tendo em vista também a difícil situação

econômica do Brasil.

57

GROSSELLI,1987, pg 250.

90

A Província do Rio Grande do Sul em 1870 vivia uma

situação bem diversa da encontrada pelos imigrantes alemães

em 1824: “A população provincial saltara de 110 para 440 mil

pessoas. Em vez de 5 municípios, eram agora 28, divididos em

73 paróquias. A cidade de Porto Alegre contava com 30.583

habitantes, pelos dados do recenseamento de 1872. O resto da

população dividia-se de modo muito desparelho pelo solo

gaúcho. Um sexto dos habitantes residiam na zona de

colonização alemã. Nos campos de Cima da Serra, a paróquia

de S. Francisco de Paula contava com 5.360 habitantes, a de

Vacaria com 5.755, e a de Lagoa Vermelha com 4.744. No

Planalto Médio, a de Passo Fundo tinha 8.368 habitantes, a de

Soledade 9.177 e a de Cruz Alta 8.402. Maior população

encontrava-se na Depressão Central, no Litoral e na

Campanha. Entrementes, cerca de 87 mil quilômetros

quadrados de serras, na Encosta Nordeste e no Alto-Uruguai,

principalmente, permaneciam como terras devolutas”58

.

A modernização do capitalismo industrial no Brasil,

muito embora ocorresse em função do capitalismo europeu e

norte-americano, tinha aqui algum reflexo: havia já estradas de

ferro, a rede telegráfica que a acompanhava, um incipiente

sistema bancário, navegação fluvial e lacustre com barcos a

58

De BONI e COSTA. pg. 62

91

vapor que ligava Rio Grande , Pelotas, Porto Alegre,

Cachoeira, Rio Pardo, Taquari, Lageado e Caí, Montenegro...

A produção pecuária era agora complementada com

produção agrícola das colônias alemãs. “A economia cresce, a

cultura toma lugar de destaque, há uma assistência social

organizada, o regime educacional é bom, aparecem as

bibliotecas públicas e a Escola Normal torna-se

estabelecimento modelo”59

.

As dissenções políticas haviam amainado: A guerra

dos Farrapos (1835-1845) terminava em paz e o governo

imperial voltava a investir em obras públicas na região da

Campanha. A Guerra do Paraguai (1865-1870) já fora

concluída. A revolta dos Muckers, na região alemã fora

apaziguada.

A lei Provincial 304 de 30/11/1854 já estabelecia que

os lotes não seriam mais doados aos colonos imigrantes e sim

vendidos, à vista ou a prazo de 5 anos sem juros; haveria

adiantamento para despesas de viagem e auxílio para os

primeiros meses. A hospedagem e o transporte desde Rio

Grande seriam gratuitos. O custo médio de um lote era de

120.000 réis equivalente a: 80 dias de trabalho em obras

59

LAYTANO, in De Boni e Costa 79: 75.

92

públicas, ou 40 sacas de milho, ou 850 litros de cachaça, ou

350 galinhas, ou 130 kg de manteiga.60

Em 1869 a Província requereu ao Império a concessão

de mais duas glebas para colonização. Em fevereiro de 1870 o

pedido foi atendido e concedidas 32 léguas quadradas ao preço

de 1 real à braça quadrada. Em 24 de maio de 1870 o

Presidente da Província criava as colônias Conde d’Eu e

Dona Isabel entre o rio Caí e os Campos de Vacaria

localizando uma à esquerda e outra à direita da estrada dos

tropeiros que ia de Maratá ao rio das Antas.

Enquanto se demarcavam os primeiros 500 lotes em

Conde d‟Eu a Província do Rio Grande do Sul contratava com

Caetano Pinto a entrada de 40.000 imigrantes no espaço de 10

anos ao preço de 60.000 réis para cada adulto e 25.000 réis

para cada menor de 10 anos. Estes valores eram a diferença do

preço da passagem Europa-EU e Europa-Brasil. Essa vantagem

visava compensar o atrativo que os EU ofereciam e assim

procurar captar imigrantes para o Brasil.

Em 1872 chegam ao Rio Grande do Sul os primeiros

imigrantes trazidos por Caetano Pinto. São 1.354. Serão 1.607

em 1873. E 580 em 1874, e 315 em 1875. A custos

elevadíssimos para a Província: 288 contos de réis,

60

GROSSELLI, 1987 pg 179.

93

equivalentes a 1/6 de seu orçamento. Em 27 de outubro de

1875 a Província pedia ao Império que assumisse as colônias

Conde d‟Eu e Dona Isabel e que a Província fosse reembolsada

dos valores já gastos. O governo imperial aceitou.

Em 1873 Conde d‟Eu tinha 80 lotes medidos e 20

cultivados. Em 1874 lá moravam 74 pessoas. Em 20 de maio

de 1875 chegam os primeiros imigrantes italianos ou

trentinos61

.

61

A data oficial da imigração italiana é 20 de maio de 1875. Antes , porém ,

devem ter chegado alguns trentinos (então austríacos). A Província do RS

registra de 1859 a 1875 o ingresso de 729 italianos provindos de

Montevideo e Buenos Aires. Por outro lado, em Pelotas, RS, registra-se a

entrada dos primeiros imigrantes italianos provindos de Montevideo em

1843-44, certamente por influência de Garibaldi que, nesta época havida

deixado a luta Farroupilha e com 1.000 cabeças de gado como pagamento

vai vendê-las em Montevideo. Em Montevideo é contratado para defender

Montevideo contra Buenos Aires, criando então seu exército de camisas

vermelhas (“camicie rosse”). Por informação dele os italianos de

Montevideo emigram para Pelotas. São cerca de 70, com ofícios urbanos

(conforme nossa pesquisa nos registros em Pelotas).

Por outro lado a presença de italianos no RS marcou a Revolução

Farroupilha (1835-1845). Fugindo da perseguição do Antigo Regime

reabilitado em 1815, e seguindo as idéias revolucionárias e socialistas de

Mazzini que defendia a “Jovem Itália” com um programa de: Unidade e

República e tendo como divisa: “Deus e Povo; Pensamento e Ação”

Giuseppe Garibaldi, marinheiro da Ligúria, vem para o Rio de Janeiro em

1835. Lá encontra um grupo de italianos: Rossetti, Giovanni Battista

Cuneo, Luigi Carniglia, Domingos Torrisano e Castellini que são

convencidos pelo Conde Tico Livio Zambeccari a participar da Revolução

Farroupilha no RS. Zambeccari era chefe do Estado-Maior de Bento

Gonçalves e havia sido preso na batalha do Fanfa com Bento Gonçalves da

Silva, Onofre Pires da Silveira Canto e Corte Real e, com eles, enviado para

o Rio de Janeiro. É assim que Garibaldi entra na Revolução. Cuneo,

residindo em Montevidéo intermediará a ida de Garibaldi para aquela

cidade em 1843 e provavelmente ambos endereçarão para Pelotas um bom

grupo de italianos que residiam em Montevideo. Em 1/10/1873 surge em

94

“A colonização no Espírito Santo, de modo geral, foi

patrocinada pelo Regime Imperial com a criação de quatro

importantes colônias: Colonia de Santa Izabel (1847), iniciada

com imigrantes alemães; Colônia de Rio Novo (1855)

encampada pelo governo em 1961; Santa Leopoldina (1857) e

Colônia Castelo (1880)”62

.

Além dessas colônias, em 1895 havia no Espírito Santo,

8 núcleos: Costa Pereira, Afonso Cláudio, Antonio Prado

(com as seções: São Jacinto, Santa Maria, Mutum, Estrada de

Baunilha, Baunilha Acima, Baunilha Abaixo e Vila Colatina

como centro comercial), Accioly Vasconcellos (com as seções:

Pau Gigante, Ubás, Triunfo, Esperança, Treviso, Café e Othelo

tendo Linhares como centro comercial) , Moniz Freire (com 6

seções na região do Rio Doce: Cavalinho,

Lagoa do Limão, Brasil, 7 de setembro,15 de agosto e Santo

Emílio e 6 seções na região do Riacho: Ribeirão, Retiro,

Taquaral, Santo Antonio, São Gabriel e Gabriel Emílio),

Demétrio Ribeiro ( com 7 seções: Curubixá, 13 de junho,

Pelotas a sociedade italiana “Unione e Philantropia”. Pouco depois surgem

a Sociedade de Socorros Mútuos “Circulo Garibaldi”, a Sociedade Choral

Italiana, a Sociedade Italiana 20 de Setembro e são unificadas em

18/10/1883 sob o nome de Sociedades Italianas Reunidas(nossa pesquisa).

Por outro lado é possível encaixar a probabilidade de os Zanotelli

(Francesco e sua família) terem vindo com Caetano Pinto na leva de 1875,

uma vez que chegam a Conde d‟Eu na noite de natal deste ano. 62

Relato do Cavalheiro Carlo Nagar, Cônsul Real em Vitória -= 1895 -

Introdução de Agostinho Lazzaro, pg 10.

95

Clotário, São Carlos, Alto Bérgamo, São Benedito e

Tranqüilo), Santa Leocádia e Nova Venécia.63

Rio Cachoeiro acima, até Santa Leopoldina (Porto do Cachoeiro)

De Santa Leopoldina, passar a ponte ou o rio e subir a serra, a pé, pelas

picadas, até Santa Tereza

63

Relato do Cavalheiro Carlo Nagar, pg 33 a 38.

96

Santa Leopoldina, armazéns para o café embarcado rio abaixo até Vitória.

Santa Tereza, no início do século XX

97

Atual Santa Teresa que nasceu em 1875 com os imigrantes trentinos que

vieram com a expedição Tabacchi para Santa Cruz ES (Wikipédia)

Relação das principais colônias criadas no RS após 187064

Colônias Criação Mudança

s

Emancip. Municípios

Atuais

Conde

d‟Eu

(Prov)

24-5-1870 1875 -

Imper.

1884 Garibaldi -

Carlos Barbosa

64

Nossa pesquisa nas prefeituras respectivas.

98

Dona

Izabel

(Prov)

24-5-1870 1875 -

Imper.

1884 Bento

Gonçalves

Fundos

Nova

Palmira -

( Imper)

1875 11-3-

1887

Colônia

Caxias

1884 Caxias do Sul -

Flores da

Cunha -

Farroupilha -

S. Marcos

Encantado

(partic)

1882 1915 Encantado -

Arroio do Meio

(1934) - Nova

Brescia

(1964)-

Guaporé

(1886) - Anta

Gorda (1964) -

Ilópolis (1964)

Capitão (1992)

- Arvorezinha

(1964) Relvado

(1992)

Silveira

Martins -

(Imperial)

1877 1882 Silveira

Martins

Alfredo

Chaves

(Imperial)

1884 Veranópolis -

Nova Prata -

Nova Bassano

- Cotiporã

Antonio

Prado -

Imperial

1885 Antonio Prado

Mariana

Pimentel

(Imperial)

1888 Mariana

Pimentel

Guaporé

(Partic)

1892 1886 Guaporé -

Muçum -

Serafina

Correa

Vila Nova

de Sto.

Antonio

(Imperial)

1888 Vila Nova

99

Barão do

Triunfo

(Imperial)

1888 Triunfo

Jaguari

(Imp)

1889 Jaguari

Ernesto

Alves

(Imperial)

1890

Marques

do Herval

(Repúbl)

1891 S. José do

Herval

Marau

(Partic)

1892 Marau Vila

Maria

Nova

Araçá

(Particular

)

1892 Nova Araçá

Ciríaco

(Partic.)

1892 Ciríaco

Paraí

(Partic.)

1892 Paraí

Davi

Canabarro

(Particular

)

1892 Davi Canabarro

Erechim

(Partic.)

1908 Erechim -

Aratiba -

Itatiba do Sul -

Três Arroios -

Jacutinga Vila

Áurea -

Viadutos -

Guarama

Severiano de

Almeida

Marcelino

Ramos

(Particular

)

1908 Marcelino

Ramos

100

Em síntese, o Brasil que aguardava os imigrantes

italianos e trentinos na década de 1870 era:

Um império

(o único na América; os outros países da América se

independizaram como repúblicas) que produz gado, café e

algodão, sendo que no passado tinha produzido açúcar e ouro

para Portugal; em latifúndios escravagistas e monocultores.

Independent

e politicamente de Portugal desde 1822, vive um neo-

colonialismo capitalista dependente especialmente da

Inglaterra. Uma oligarquia rural luta para manter a escravatura

e uma burguesia liberal pretende eliminá-la para adequar-se

aos parâmetros do capitalismo inglês e do liberalismo francês...

A religião

oficial do Império é o catolicismo compreendido no horizonte

do Estado de Cristandade e nas concordatas do padroado. O

liberalismo positivista e maçônico já levanta suas teses: ensino

público e não particular, separação de Estado e Igreja,

subordinação da Religião ao Estado (bispos são presos porque

acompanham o papa na condenação à maçonaria -1872), anti-

clericalismo, a religião tida como mentalidade obscurantista e

que não permite a „liberdade‟ preconizada pela Revolução

Francesa; as ciências „positivas‟ como única forma legítima de

101

conhecimento, a República (e não a monarquia) como única

forma democrática de governo...

102

103

IV - A EMIGRAÇÃO-IMIGRAÇÃO

1. Migração Temporária.

A emigração temporária ou sazonal (especialmente de

outubro a abril = outono- inverno) era comum para o Trentino

e norte da Itália. Em 1838 mais de 10% dos trabalhadores

masculinos do Trentino migravam para o Vêneto, Lombardia,

Áustria e outros países da Europa. Eram operários

especializados, camponeses-artesãos, biscateiros: “fabricantes

de cadeiras de Primiero e Canal San Bovo, vidreiros de Tione,

amoladores de Rendena, Bleggio e Tesino, fabricantes de

Salame de Rendena, caldeireiros de Val di Sole, pedreiros de

Fiemme e Fassa, limpa-chaminés de Valle di Non e de Banale,

caiadores e decoradores de Fiemme e Fassa, vendedores de

gravuras e pinturas de Tesino”65

, pastores, mulheres para as

fábricas de retorce e tecelagem de seda...

Quando, depois do inverno, retornavam para casa, com

algum dinheiro adquirido, traziam as idéias de progresso

65

GROSSELLI, 1987 pg 75.

104

observado nas outras regiões da Europa e aguçavam em todos

a vontade de emigrar.

2. Migração definitiva.

Em 1859 acontece a primeira transferência de colonos

italianos (juntamente com franceses e espanhóis ) para o norte

da África (Argélia). Os emigrantes são trentinos especialmente

do Val di Non e do Val di Cavedine. Localizaram-se em

Palestro à margem do rio Olsser na Cabília. Em 1871 o jornal

“Voce Cattolica” de Trento noticiava um massacre que os

Kabylas cometeram contra os colonos. É provável que algum

Zanotelli fizesse parte dessa primeira emigração, pois os

Zanotelli são originários de Val di Non, e que, hoje não conta

mais do que 600 habitantes.

Por volta de 1870, no Trentino, já existe alguma

propaganda (via Alemanha cujos agricultores iniciavam a

migrar para o Brasil desde 1824) para emigrar para a América

e para o Brasil. Alguns passaportes desse períodos já trazem

como destino solicitado: América. Não eram ainda

camponeses, mas operários especializados e comerciantes.

105

3. A Expedição Tabacchi

Pietro Tabacchi , natural de Trento, de onde fugira para

o Brasil em 1851, talvez por questões econômicas ( suas

empresas teriam ido à falência no Trentino), era um pequeno

comerciante em Santa Cruz (ES) e era tido pejorativamente

como “abatedor de jacarandá”. “Empreendedor por instinto,

Pietro Tabacchi, adquiriu uma fazenda no então território do

Município de Santa Cruz, a fazenda “Monte delle Palme”.

Certamente, com ótimo faro para os negócios, percebeu logo o

grande interesse do governo brasileiro pela imigração européia.

Pensou com argúcia em poder especular sobre isso,

desfrutando das ligações que ainda contava na Europa”66

.

Escreve ao

Governo Imperial propondo trazer da Europa 50 (mais tarde

70) famílias de agricultores e localizá-las numa colônia

previamente preparada com desmatamento, plantio de milho,

feijão, mandioca, batatas e outros cereais para sustentar os

colonos nos primeiros tempos, alojamento, 4 a 5 léguas de

estrada até o rio Piraque-Assu para interligar-se com o vilarejo

de Santa Cruz e, em troca, pede a licença para derrubar 3.500

jacarandás. O Governo aceita, apesar da oposição da câmara de

S. Cruz, oferecendo a Tabacchi 200.000 réis (ao invés dos

66

GROSSELLI, Colonie Imperiali, 1987 pg 150.

106

jacarandás) por imigrante nunca maior de 45 anos de idade.

Era um preço muito vantajoso para Tabacchi, uma vez que os

custos de passagem e propaganda não excederia a 60.000 réis

para cada imigrante. Em 17/10/1872 o Governo Imperial

autorizou o Governo da Província do Espírito Santo a assinar o

contrato que foi publicado no Decreto Governativo n.5.295 de

31/05/187367

.

Tabacchi

contratou Pedro Casagrande, de Trento (talvez já residente no

Brasil) para organizar a adesão dos agricultores trentinos.

Conseguiu 388 agricultores especialmente dos municípios de

Borgo Valsugana, Telve, Roncegno, Castelnuovo, Novalaedo,

Levico e Centa68

que embarcaram no navio a vela „La Sofia‟,

em Gênova no dia 3 de janeiro de 1874.

Com eles veio o Padre Domenico Martinelli, de Centa, o

médico Pio Limana, de Borgo Valsugana, Pedro Casagrande e

a mulher.

Em 17 de fevereiro chegaram ao porto de Vitória,

capital da Província, com 10.000 habitantes, e que nunca havia

recebido navio de tão grande calado. „La Sofia‟ encalhou e 10

dias depois conseguiram desembarcar.

67

GROSSELLI, 1987, pg. 154. 68

GROSSELLI, 1987, pg 80.

107

É interessante a impressão que lhes causou a

população: “Os habitantes são em sua maioria negros, poucos

os índios e verdadeiramente americanos do tempo de

Colombo, e estes são da cor do cobre com nigérrimos cabelos

longos, poucos os mulatos, e raríssimos os brancos; são gente

boníssima, irmanam-se facilmente com os nossos, e pagam

bebidas para ouvir os nossos cantar as canções patrióticas e os

hinos nacionais italianos”69

.

Oito dias depois são conduzidos por um barco a vapor

até Santa Cruz que distava 6 léguas da colônia Nova Trento na

fazendo de Tabacchi.

No dia 3 de março explodiu o descontentamento (

durante a viagem já tinha havido desencontros entre os

agricultores e Casagrande) quando se aperceberam que a terra

para trabalho distava 8 horas a cavalo de Santa Cruz , onde

iriam residir. Os dissabores foram crescendo. Em 10 de março

os colonos foram levados a ver as terras que lhes estavam

destinadas e viram que não eram as terras que se lhes havia

prometido. No desencontro, disse Tabacchi, sua casa foi

incendiada. Tabacchi pediu a intervenção de 40 ou 50 homens

da força do exército para protegê-lo das ameaças de morte que,

segundo ele, os colonos, armados e instigados por 3 ou 4

cabeças, lhe faziam. O juiz e o Delegado de polícia tentaram

69

GROSSELLI, Colonie...1987, pg 8.

108

apaziguar a situação. Em vão. No dia 16 de março 9 imigrantes

foram até a capital Vitória para narrar a situação. Tabacchi

queria que eles fossem obrigados a assumir as terras. As

autoridades julgaram que seria um ato arbitrário e ilegal, por

mais que Tabacchi argumentasse ter gasto uma fortuna no

empreendimento.

O presidente da Província enviou com os 9 colonos 15

militares e um oficial de justiça que interrogaram os chefes de

família e souberam que o grande descontentamento se dava

pelo fato do descumprimento da cláusula 4 do contrato que

haviam assinado com Tabacchi: as terras eram muito distantes

(6 léguas) e as estradas intransitáveis nas chuvas, e não

conseguiriam realizar imediatamente a plantação para

sobreviver. Foram-lhes retiradas as armas de caça que traziam

(mais tarde devolvidas).

No início de abril 60 colonos estavam acamados com

uma doença não bem definida. Doze ou 14 deles morreram.

Depois de muitas marchas e contra-marchas e mediados

pelo P. Martinelli, o governo determinou que aos imigrantes da

Expedição Tabacchi fossem aplicados os benefícios da lei de

1867. Determinava também que eles, se quisessem, fossem

aceitos nas colônias imperiais de Santa Leopoldina e Rio

Novo.

109

A maioria dirigiu-se para Santa Leopoldina e localizou-

se no Núcleo Thimbuy (hoje Santa Teresa ES) e nas regiões de

Valsugana Velha e Valsugana Nova. Em 18 de maio 32

adultos e 13 menores foram dirigidos a Rio Novo. Outros

fugiram para o Rio Grande do Sul conforme noticia o P.

Bartolomeu Tiecker que em julho de 1874 chegava com sua

família na colônia Conde d‟Eu (hoje Garibaldi): “Nesta

localidade há 15 famílias de italianos e mais adiante algumas

outras, quase todos fugidos da colônia Tabacchi de infeliz

memória”70

. Outros foram ao Paraná. Outros ainda foram pedir

socorro ao Governo Imperial no Rio de Janeiro. Outros, por

fim, tentaram e conseguiram retornar ao Trentino.

Em 21 de junho Pietro Tabacchi morreu. Sucedeu-lhe o

genro o Barão Alfredo de Leon. Em 26 de junho restavam na

colônia Nova Trento 23 famílias com 161 pessoas. Em

novembro de 1874 todos haviam abandonado a malfadada

experiência. Esta foi a primeira experiência de migração e

quase que exclusivamente composta por trentinos.

70

GROSSELLI, Colonie...1987, pg 171.

110

O Estado do Espírito.

111

4. A Diáspora

A Expedição Tabacchi foi a primeira experiência de

migração em massa do Trentino para o Brasil. “A partir de

1874 as partidas se sucederam e, pelo menos por um

quinquênio, a meta privilegiada de nossos camponeses foi o

grande país americano”71

. A obsessão de emigrar se fez

torrente incontrolável e por toda parte “não se fala senão de

América, não se cantam canções que não se refiram à

América”72

.

Mas se ao Brasil interessava a vinda de imigrantes, se

aos agricultores do Trentino e norte da Itália a América era a

“cucagna” o que realmente possibilitou a migração em massa

foi o contrato que o Império brasileiro realizou com o

empresário Joaquim Caetano Pinto Júnior em 30/6/1874 à base

da lei de 1867. Pelo contrato, que abaixo transcrevemos,

Caetano Pinto se compromete a introduzir no Brasil 100.000

imigrantes em 10 anos conforme consta:

J. C. Pinto se obriga, por meio ou de uma companhia ou

sociedade que poderá organizar, a introduzir no Brasil (com

exceção da Província do Rio Grande do Sul), num período de

10 anos, 100.000 imigrantes alemães, austríacos, suiços,

71

GROSSELLI, 1987 pg. 87. 72

GROSSELLI, 1987 pg 92 citando “Voce Cattolica” de 1875 e 1877.

112

italianos do norte, bascos, belgas, suecos, dinamarqueses e

franceses, agricultores sadios, trabalhadores de boa moral,

nunca menores de 2 anos, nem maiores de 45, salvo os chefes-

de-família. Destes imigrantes, 20% podem exercer outras

profissões.

II

O período de 10 anos começará a correr depois de 12 meses,

calculados da data de elaboração do contrato; o empresário,

porém, poderá iniciar a introdução de imigrantes antes do fim

dos 12 meses, se o Governo permitir.

III

O número de imigrantes não superará os 5.000 no primeiro

ano, podendo ser elevado a 10.000 se o Governo assim

estabelecer: mas nos anos sucessivos o empresário será

obrigado a introduzir até 10.000, sendo qualquer excesso

dependente do prévio consentimento do mesmo Governo.

IV

O empresário receberá por adulto as seguintes subvenções:

120$000 réis para os primeiros 50.000 imigrados; 100$000 réis

para os 25.000 sucessivos; 60$000 réis para os últimos 25.000,

e a metade destas subvenções para os menores de 12 anos e

maiores de 2.

113

V

Estas subvenções serão pagas junto a Corte, assim que for

provado que os imigrados foram recebidos pelo funcionário

competente no porto de desembarque da província à qual eram

destinados.

VI

Nem o Governo, nem o empresário poderão receber dos

imigrantes, a nenhum título, as cifras gastas como subsídios,

ajudas, transportes e alojamentos dos mesmos.

VII

O Governo concederá gratuitamente aos imigrantes

hospitalidade e alimentação durante os primeiros l8 dias de sua

chegada, e transporte até as colônias de Estado às quais se

destinarem.

VIII

Igualmente garantirá aos imigrantes que quiserem se

estabelecer nas colônias do Estado a plena propriedade de um

lote de terra, com as condições e os preços estabelecidos pelo

Decreto n.3.784 de 19/01/1867; obriga-se, além disso, a não

elevar o preço das terras de suas colônias sem avisar o

empresário com 12 meses de antecedência.

114

IX

Os imigrantes terão plena e completa liberdade de se

estabelecer como agricultores nas colônias ou nas terras do

Estado, que escolherão para sua residência, em colônias ou

terras das Províncias, ou de particulares; assim como de

encontrar emprego nas cidades, vilas e aldeias.

X

Os imigrantes virão espontaneamente, sem compromisso nem

contrato algum. e por isso nenhuma reclamação poderá ser

feita ao Governo, tendo somente o direito aos favores

estabelecidos nas presentes cláusulas, e disso estarão

completamente conscientes.

XI

O Governo designará com precisa antecedência as províncias

onde já existem ou virão a se formar colônias, a fim de que os

emigrantes já conheçam da Europa os pontos onde poderão se

estabelecer.

XII

O Governo nomeará, nos pontos nos quais se efetuará o

desembarque dos imigrantes, agentes-intérpretes que ao

mesmo tempo fornecerão todas as informações de que

necessitarem.

115

XIII

Todas as expedições de imigrantes serão acompanhadas de

listas, as quais conterão o nome, a idade, nacionalidade,

profissão, estado civil e religião de cada indivíduo.

XIV

No transporte dos imigrantes o empresário é obrigado a fazer

respeitar as disposições do Decreto n. 2.168 de Primeiro de

maio de 1858.

XV

O Governo pagará ao empresário a diferença de preço da

passagem entre o Rio de Janeiro e as províncias para as quais

serão enviados imigrantes diretamente da Europa, quando tais

províncias não estejam em comunicação direta e regular por

meio de vapores com a Europa, e o empresário deva fazer

atracar nos respectivos portos vapores de outras linhas por ele

fretados.

XVI

As questões que surgirem entre o Governo e o empresário, a

respeito de seus direitos e obrigações, serão resolvidas por

árbitros. Se as partes contratantes não concordarem pelo

mesmo árbitro, nomearão cada um o seu e estes designarão um

terceiro, que decidirá definitivamente no caso de paridade. Se

não houver acordo sobre tal árbitro, será nomeado por sorteio

um Conselheiro de Estado que terá voto decisivo.

116

XVII

O empresário será obrigado a repatriar a suas custas os

imigrantes que tenha introduzido fora das condições da

cláusula I, e que o exijam, cabendo igualmente ao Estado

alojá-los e sustentá-los até sua repatriação, além de perder o

direito ao subsídio correspondente a tais imigrantes.

XVIII

Do mesmo modo não poderá transferir este contrato senão à

companhia ou sociedade organizada na forma da cláusula I.

Como se pode ver o contrato, afora a ambigüidade da

cláusula X é bom para os imigrantes. Nem todas as cláusulas,

porém, serão expostas aos colonos para a escolha desde a

Europa, especialmente sobre o local e as condições das

colônias disponíveis. E nem todas as cláusulas serão

cumpridas. Não haverá informações suficientes e a escolha dos

imigrantes nem sempre será respeitada como é o caso de 400

trentinos que em 26 de dezembro de 1875 serão desviados para

a colônia Santa Leopoldina,(Espírito Santo), quando seus

parentes vieram para o Rio Grande do Sul que, segundo as

informações do P. Bartolomeu Tiecker publicadas na Voce

Cattolica de Trento e conhecidas pelos que emigravam, tinha

melhores condições para os

117

migrantes73

. O grupo foi desviado sem poder transitar pelo

Rio, conforme noticiou o Consulado Austríaco de então74

.

De 1870 a 1885 mais de 15.000 trentinos, de uma

população de 404.225 habitantes, migraram para o Brasil;

3.500 para outros países da América do Sul; 5.068 para a

América do Norte. Especificamente do Vale de Cembra, de

onde provieram os Zanotelli em sua maioria, de uma

população de 17.529 habitantes, emigraram 851 pessoas sendo

759 para a América do Sul (quase todos para o Brasil).

Até 1914 cerca de 1.500.000 italianos e tiroleses (e

destes, especialmente trentinos) emigraram para o Brasil. De

73

”O Padre Bartolomeu Tiecker era natural de Caldonazzo e partiu com a

família para o Brasil em julho de 1875. Com ele vieram o pai, Giovanni

Battista ( de 1821), a mãe Domenica ( de 1819), os irmãos Angelo (1851),

Fortunata (1854), Epifania (1856), Lorenzo (1858) e Ilario (1860). Ele tinha

nascido em 1848.

Teve um atestado do Bispo como apresentação às autoridades eclesiásticas

brasileiras. Presume-se que tenha partido em 24 de outubro de Trento com

outros 700 trentinos. No dia 25 estavam em Verona, dia 26 em Modane, dia

27 em Paris, dia 29 em Le Havre de onde zarpou para a América no dia 30

de outubro de 1875. No dia primeiro de dezembro desembarcou no Rio de

Janeiro e foi nomeado Capelão da Colônia Santa Maria da Soledade no Rio

Grande do Sul . Sacerdote secular, tinha celebrado sua primeira missa em

Santa Maria Maggiore (Trento) em 23 de julho de 1871. Foi capelão de

Santa Maria da Soledade (hoje Forromeco) de 17/12/1875 a 1876. De 1887

a 1881 foi viário de Santo Inácio da Feliz. Em 19/03/1886 tornou-se vigário

de Conde d‟Eu (hoje, Garibaldi). Morreu em Roca Sales no dia 27 de

fevereiro de 1940”, (GROSSELLI, 1987, pg. 157) para onde foi transferido

como Cônego em 28/1/1934 como vigário. Suas cartas, desde julho de 1875

publicadas na Voce Cattolica de Trento e recomendando aos trentinos que

buscassem as colônias do RS, porque tinham as melhores condições de

clima, solo, organização etc. influenciou também os Zanotelli na decisão

sobre para qual colônia migrar. 74

GROSSELLI, 1987, pg 253.

118

1861 a 1970 mais de 28 milhões de italianos emigraram. Já,

para o ano de 1929 o decano de Cembra dizia: “Os emigrados,

habitualmente ausentes da cidade ( na Argentina, América do

Norte ou França) eram cerca de 120. Cerca de 30 famílias

estabeleceram-se na América ou na França. Cerca de 20

emigrados retornavam anualmente para Cembra. Não constava

que se houvessem formado grupos de emigrantes de

Cembra”.75

Assim como o Rio Grande do Sul havia contratado com

Joaquim Caetano Pinto Júnior a introdução de 40.000

imigrantes italianos do norte ou alemães... assim também o

Espírito Santo, quando em 1889, com o advento da República

se transformou em Estado, contratará com Domenico Gironi a

introdução 20.000 imigrantes europeus, de preferência

italianos, no prazo de 3 anos. Gironi oferece condições

vantajosas que nem sempre acontecerão depois (motivando até

um decreto do Reino Italiano proibindo em 20/07/1895, a

emigração de italianos para o Espírito Santo.

As dificuldades que italianos e trentinos encontraram

no Espírito Santo foram muito maiores do que no RS

(dificuldades: demora na demarcação dos lotes, o clima quente

e úmido dos rios Doce, Linhares...gerando febres; só no vale

do Rio Doce 300 trentinos morreram de febres antes de 1878;

75

Storia, pg 257.

119

dificuldades de comunicação - péssimas estradas, correio

precaríssimo, quase inexistente assistência médica: os

habitantes de Santa Teresa dependiam de um médico em Santa

Leopoldina, a 6 horas a cavalo; o alto custo de vida e o baixo

valor do café, na colheita, bem como dos salários no estrito

limite da sobrevivência; a morosidade da justiça e seu alto

custo era outra dificuldade; a arbitrariedade da polícia

especialmente do pessoal subalterno e no interior...também).

“Além disto tudo sobressaem, infelizmente, o clima e

as febres endêmicas. Ao norte, na região de São Mateus,

predominam as febres de toda espécie que golpeiam

especialmente os recém-chegados; mais abaixo, na região do

Rio Doce, predominam as febres de impaludismo; em Vitória,

a febre amarela e o beribéri; e no sul as febres perniciosas, e

nos meses quentes, também a febre amarela... Há uma outra

enfermidade a que estão sujeitos os imigrantes neste Estado. A

doença é provocada por um microscópico inseto chamado

bicho-de-pé, que penetra na pele, formando rapidamente o

próprio ninho, atacando as extremidades inferiores; neste caso

os operários e os agricultores são as maiores vítimas. Vi de

fato alguns que atacados por estes bichos estavam cheios de

feridas, e por alguns dias ficavam impedidos de manterem-se

em pé”76

76

Relato do Cavalheiro Carlo Nagar, pg 54-55.

120

Em 1878, de uma população de quase 100.000

habitantes o Espírito Santo contava com 45.000 estrangeiros,

dos quais 20.000 italianos, 10.000 tiroleses, 10.000 alemães e

5.000 de outras nacionalidades.77

77

NAGAR, Carlo. Relato do Cavalheiro Carlo Nagar, Cônsul Real em

Vitória - O Estado do Espírito e a Imigração Italiana - Fevereiro de

1895. Arquivo Público Estadual, Vitória, 1995, pg 31.

121

IV - A IMIGRAÇÃO DA FAMÍLIA ZANOTELLI

1. De Livo para Cembra – De Cembra para o Brasil

A família Zanotelli é originária de Livo (outras fontes

situam os Zanotelli em Monferrato, perto de Turim por volta

de 1.400), no Val di Non, no Trentino78

. O patronímico,

segundo pudemos colher remonta a tempos que apontam para

1.200 dC. “Zanotelli” vem de João = Giovanni, que nas

mudanças dialetais soava “Zan (do hebraico Johanan: dom de

Deus), Zoan, Zoani”, e dali Gionnotelli e, por fim Zanotelli (os

filhos de João).

“Entre outras famílias, residiam em Livo: a Família De

Stanchina dona do castelo e da região e as famílias Coser,

Filippi e Zanotelli” antes de 170079

.

78

Livo é uma comuna italiana da região do Trentino-Alto Ádige,

província de Trento, com cerca de 858 habitantes. Estende-se por uma

área de 15 km2, tendo uma densidade populacional de 57 hab/km2. Faz

fronteira com Rumo, Bresimo, Cagnò, Cis, Cles. 79

Informações colhidas de Alex Zanotelli, em Livo.

122

De Livo, que os ancestrais lembram como o lugar de

sua origem, os Zanotelli migraram para todo o Trentino,

notadamente para Cembra, para o norte da Itália, para alguns

países da Europa, para a África e para a América.

Casale di Monferato- onde, por volta de 1680, Zanotelli são enfeudados.

Casale Monferrato – na planície fecunda do Pó, Ruth à frente.

123

O lago Palu – beleza do Val di Non.

Livo – 1.870 habitantes

124

O Val di Non com a cidade de Livo,aos pés dos Alpes

125

Os homens do fogo, os bombeiros de Livo e do vale tem vários

Zanotelli,(Arnaldo,Guido, Lino e Danilo) incluído o coordenador. Atrás a

casa símbolo de Livo, o castelo Liprando, onde os Zanotelli também

estiveram.

Franco A. Lancetti, em sua bela obra Livo –storia-vita-

arte editado em Trento em 1997 refere entre os nobres de Livo,

pelo menos desde o Concílio de Trento (1545-1963) as

famílias Aliprandini de la Rosa, Aliprandi, Stanchina, Arnoldi,

Anselmi, Filippi, Rodegher,os Giannotteli que depois de

chamaram Zanotelli, os Guarienti. Nomeia também a

ordenação sacerdotal e o trabalho pastoral de Stefano Zanotelli

(1686), Gisuseppe Antonio (1708) de Livo e para Livo. Em

1891 Domenico Zanotelli é cura de Caldes. Em 1844

Tommaso Zanotelli é eleito deputado pela região. Franco

126

Zanotelli é o presidente do clube dos caçadores de Livo

(1908). Dee 1953-1979 Lívio Zanotelli é o camandante militar

da região. Na fundação da Cassa Rurale Cattolica de Livo de

1889 estão Micla Serafino e Marchiri Zanotelli, e depois: D.

Domenico Zanotelli, Luigi, Bortolo, Giovanni, Pietro, Stefano,

Nicolò, Bernardo,Lucio. Pio em 1979 é o prefeito. Adelio

participa do Collegio sindacale (espécie de câmara de

vereadores, sem remuneração).

O encontro dos Zanotelli em Livo mostrou que ali estão

muitas de nossas raízes biológicas, sociais e culturais. Os

valores ancestrais, muito embora encobertos por algumas

cinzas mantem o calor que cozinha o pão e ilumina os olhos.

Ao ouvir Padre Alex, e seu alerta de que “abbiamo perso la

tramontana”, o calor vem à tona.

127

Livo – Área central atual.

De Livo, por volta de 1683, Giovanni Antonio

Zanotelli, deslocou-se para Cembra80

, também no Trentino,

para residir com um tio padre. Em Cembra casou com Dorotea

Concherle e com ela teve 4 filhos: Giovanni (casou com

Maddalena Valgoi), Vigílio (casou com Maria Maddalena

Nardin), Cristóforo (casou com Maddalena Nicolodi) e

80

Cembra (em alemão:: Zimmers ou Zimber) é a commune (município) no

Trentino, norte da Itália, na região do Trentino-Alto Ádige, no tempo do

Império Austro Úngaro era O Tirol Sul, há 15 quilômetros ao nordeste de

Trento. Ao redor de Cembra, no mesmo vale do rio Avisio estão os

municípios de Solorno, Giovo, Faver, Segonzano, Lona-Lases, Lisignago e

Albiano.

128

Giovanni Antonio (casou com Domenica Largher). Destes

descendem a maioria dos Zanotelli que migraram para o Brasil.

Dentre os emigrantes Zanotelli que vieram para o

Brasil, o maior grupo provém de Vigilio, (filho de Giovanni

Antônio),cujo filho é Giovanni Paolo e cujo neto é Giovanni

Gasparo. Dos filhos de Giovanni Gasparo: Paolo, Francesco e

Giovanni, vieram, com suas famílias para o Brasil. Mas há, no

Brasil, descendentes em bom número, como se pode constatar

pela árvore genealógica que faz parte deste trabalho, dos outros

filhos de Giovanni Antonio Zanotelli, de Livo.

129

Buscando raízes fomos a Cembra. A agradável companhia das

irmãs da Sagrada Família de Verona abriu nossos caminhos.

Cantando e brincando como é seu lema “servir com alegria”

visitamos alguns vales do Trentino incluindo o lago de Garda.

Diante do monte Baldo compreendi pela primeira vez o que

significava a canção que nossos pais ensinaram: “Se Il lago

fosse póccio, la ri le rá – E Baldo de polenta, la ri le rá – Oi

mamma che pocciade, polenta e baccalà....”

Ao entrar em Cembra, ao visitar o cemitério, ao

encontrar os Zanotelli, Guido, Túlio, Giorgio...parecia que

apenas ontem vieram de lá nossos bisavós, nossos avós....

130

Em casa de Padre Guido Zanotelli que reotrnava da África para uma

semana de férias, com sua mãe, irmãos e sobrinhos

Padre Guido, novamente com o pároco de S. Pietro fornecendo-nos dados

sobre a família Zanotelli.

131

A Macelaria (Fiambreria) Zanotelli

A Macelaria Zanotelli oferece carne e imbutivos

produzidos em sua própria Azienda. Giuseppe e Sara, Silvano

e Giuliana.

Para nós brasileiros, com as grandes extensões de terra

disponíveis para a agro-pecuária e onde se cria extensivamente

um boi por hectare, é maravilhoso ouvir os Zanotelli que, em

3,5 hectares de terra, conseguem carne para abastecer a região

toda. Confinamento total, 18 meses para o abate, e cerca de

11% de lucro.

132

Igreja de S. Pietro em Cembra

Cembra, igrejas que apontam definitivamente para o alto, de onde vem o

sentido de tudo, como a chuva que tudo fecunda.

133

O Estado de Cristandade vigoroso em toda a Europa e

mais ainda no Trentino, virá com os imigrantes para o Brasil

renovando o que aquele Estado Colonial de Cristandade havia

implantado por aqui. A romanização da Igreja no final do

século XIX, as crises entre catolicismo e liberalismo, que

levará à separação de Igreja e Estado com o advento da

República (1891) tem aqui a visibilidade.

A pia batismal Igr. S. Pietro. O primeiro banho de fé dos Zanotelli que

vieram para o Brasil.

Temos também notícia de um grupo de Zanotelli que,

em 1875 emigraram para a Argentina, localizando-se na

134

colônia Sampacho81

, Departamento de Rio Quarto, Província

de Córdoba, deslocando-se depois para Las Perdices que se

transformou em município em 1922. Seu primeiro prefeito

(desde 4 de agosto de 1922) foi Basílio Zanotelli. A estância

„São João‟ de João e Basílio Zanotelli, fundada em 1894, com

500 hectares e as técnicas mais modernas de pastagens e

seleção de plantel de gado especialmente das raças Durham e

“yeguariza”, era elolgiada como modelo.

Cembra - Igreja S. Pietro, irmãs Pia e Marisa com Ruth.

81

A colônia Sampacho foi fundada pela Província de Córdoba em 1875, na

circunscrição do Rio Quarto, no lugar denominado Punta del Agua ou

Payanquen, um ano depois denominada Sampacho, como o rio que a

atravessa sobre a linha ferroviária Andina, inaugurada pouco antes e que aí

estabeleceu uma estação a 47 km de Rio Quarto. As dificuldades que os

colonos enfrentaram desde o início fizeram com que o Governo Nacional

assumisse a colônia em 1878. Nessa data, havia na colônia Sampacho 684

pessoas, sendo 421 italianas ou trentinas. na Memoria de la Comissaría

General de Inmigración constam como residindo na colônia Sampacho

Nicola Zanotelli e Zanotelli. Uma avaliação feita em 1892 diz que os

colonos que chegaram até 1878 encontram-se em boa situação. Os que

chegaram depois não tem como manter-se. Cf. Archivo “Fuentes de

Estudios Historicos de Sampacho” pg 263.

135

Brenta e Pradelago – marcou a retina dos imigrantes.

Na diáspora que aconteceu desde o norte da Itália e

desde a periferia do sistema capitalista liberal, que iniciava a

revolução industrial naquelas paragens, os Zanotelli buscam

um lugar de alento que lhes permita manter uma família e os

valores tradicionais que se lhes entranhava nas vísceras e na

alma: a religião, a iniciativa no trabalho, e fugir do sistema

feudal que os esmagava e que recém (1848) havia sido extinto

na região.

136

Tulio e Giorgio Zanotelli em sua moderna cantina

A migração do norte da Itália e do Trentino, naquela época sob

o Império Austro-húngaro, inicia com a malfadada iniciativa

de Tabacchi, para Santa Cruz no Espírito Santo.

137

A migração em massa inicia em 1875.

Por coincidência, entre os 400 trentinos desviados para

o Espírito Santo em 26 de dezembro de 1875 estavam alguns

Zanotelli. Com efeito, pesquisa realizada por nós no Arquivo

Público do Espírito Santo revela que, chegados pelo navio

francês Fenelon em fins de dezembro de 1875 e tendo chegado

à colônia Santa Leopoldina em 5 de janeiro de 1876 constam:

Paolo Zanotelli (de 64 anos de idade, católico, casado,

lavrador, austríaco com o número da lista 387 e tendo como

número de família 86) e seus filhos Maria (28 anos, casada),

Francesco (25 anos, casado), Angelo (19, solteiro), Giustina

(11, solteira), Paulo (22, solteiro). Na mesma lista consta

Marianna Zanotelli (53, casada) e seus filhos Antonio (23

casado), Constantino (18, solteiro), Giovanni (14), Luigia (12).

Consta também Paola Zanotelli (27), casada com Giuseppe

Artivoli (42). E ainda: Agostino Zanotelli (48), casado com

Filomena (34), com os filhos: Fortunato (10), Batista (8),

Maria (9), Giovanni (2) e Emmanuele (12 meses).82

No Livro de Matrícula dos Colonos Estabelecidos no

Núcleo Thimbuy, colonia de Santa Leopoldina, ES, livro 172

que registra os imigrados de 1872 a 1876 constam à página

82

Listas de Imigrantes chegados à Colônia Santa Leopoldina 1875-

1876, Livro 181 A.

138

132 Paolo Zanotelli e seus filhos, à pg. 133 Marianna

Zanotelli e filhos, à pg. 165 Agostino Zanotelli e filhos.

No Livro de Processos de Terras n.1 constam: sob o n.

4380, Paulo Zanotelli que, em 1890 adquiriu o lote 427 de

Santa Leopoldina; Novamente Paulo Zanotelli (deve ser o

filho) que, em 1891 adquiriu um lote no Baixo Thimbuy,

município de Santa Leopoldina sob o n. 4387; Giacomo

Zanotelli 83

que, em 1892 adquiriu na Seção Virgínia do

município de Anchieta um lote sob o n. 4398; Baptista

Zanotelli (provavelmente é Battista, filho de Agostino Z.) que,

em 1893 adquiriu em Cinco de Novembro, município de Santa

Teresa um lote com o processo n. 4405.

Como se pode ver, é muito provável que as famílias

Zanotelli não se destinassem à colônia Santa Leopoldina no

Espírito Santo, uma vez que em 10 de dezembro de 1875

chegara ao Rio de Janeiro pelo navio francês Rivadávia,

Francesco Zanotelli, irmão de Paolo Zanotelli e de Giovanni

Baptista, este casado com Marianna, com destino ao Rio

Grande do Sul, colônia Conde d‟Eu, onde chegou às vésperas

do Natal de 1875.

83

Giacomo Zanotelli, casado com Maria Devilli, é filho de Giovanni Z.

e Teresa Calovi (ou Giulia Gilberti, 2a.esposa), neto de Giovanni Z. e

Catterina Keller, bisneto de Gregorio Z. e Lucia Bonfant, trineto de

Giovanni Z. e Maddalena Valgoi, tetraneto de Giovanni Antonio Z., de

Livo.

139

Confrontando as informações do Arquivo Público do

Espírito Santo, sabendo que no Arquivo Nacional do Rio de

Janeiro conforme pesquisa por nós efetuada não há listas de

imigrantes que tenham entrado por aquele porto entre julho de

1875 e fevereiro de 1876 (caso existissem estariam

extraviadas), e comparando ainda o Livro Anagrafe da

Paróquia de Cembra (Trento, Itália) que contém a árvore

genealógica dos Zanotelli descendentes de Giovanni Antonio,

de Livo (desde seu casamento com Dorotea Concherle em

17/2/1705 até aproximadamente 1850), e ainda as informações

das paróquias de Conde d‟Eu e de Encantado bem como do

Arquivo Histórico do RS, pode-se concluir:

Giovanni Gasparo Zanotelli84

e Margherita Savoi

tiveram 6 filhos: Giovanni (casado com Marianna Menegatti),

Antonio (casado com Maria Toniolli), Francesco (casado com

Domenica Eccli), Paolo (casado com Teresa Nicolodi),

Catterina (casada com Nicolodi), Maddalena (casada com

Ferrazza). Migraram para o Brasil, com certeza, as famílias de

Paolo, Francesco e Giovanni. Paolo e Giovanni85

foram para o

Espírito Santo e Francesco para o Rio Grande do Sul.

84

Giovanni Gasparo Zanotelli era filho de Giovanni Paolo Z. e Maria

Maddalena Cembran, neto de Vigilio Z. e Maria Maddalena Nardin, bisneto

de Giovanni Antonio Z., de Livo, Val di Non. 85

Não há registro da entrada de Giovanni no Brasil. Constam, isto sim, a

esposa dele Marianna e os filhos. Provavelmente Marianna veio viúva,

acompanhando os filhos e o cunhado Paolo.

140

Agostino Zanotelli86

, casado com Filomena Furlan

migrou para Sta. Leopoldina no Espírito Santo em janeiro de

1876, com os filhos Fortunato, Battista, Maria, Giovanni e

Emmanuele, como consta acima.

Giuseppe Zanotelli87

, com suas irmãs Maria (casada

com Brundel) e Rosa (casada com Fortunato Sandri), casado

com Rosa Nicolodi e com os filhos Giuseppe e Theresa migrou

para a colônia Conde d‟Eu (RS), provavelmente junto com

Francesco Z. em 1875. No Brasil, Giuseppe, filho, casou com

Rachelle Pressi. Rosa (sobrinha, nascida aqui), casou com

Manoel Fronchetti em Conde d‟Eu88

. Rosa e Fortunato Sandri,

em 10/10/1882, batisaram uma filha de nome Carolina em

Conde d‟Eu sendo padrinhos: Jacintho Ferreira e Maria

86

Agostino é filho de Girólamo Zanotelli e Maria Daldin, neto de Antonio

Z. e Maria Maddalena Nicolodi. bisneto de Cristóforo Z. e Maddalena

Nicolodi, trineto de Giovanni Antonio Zanotelli, de Livo. 87

Giuseppe Zanotelli é filho de Cristano Z. e Orsola Nardon, neto de Nicolò

Z. e Teresa Bazzanella, bisneto de Cristoforo Z. e Maddalena Nicolodi,

trineto de Giovanni Antonio Z., de Livo. No Livro 312, pg. 110 do

Arquivo Histórico de Porto Alegre, família de n.726 consta: n.3509

Zanotelli, Giuseppe, casado, italiano, Lote 6N, Conde d‟Eu, Linha Figueira

de Mello. 448.000 m2, 2 Réis à braça quadrada (4,84m2). Débito 200$000

réis. 20%= 40$000. Pelo adiantamento 1:081$380. Total: 1:321$380 réis.

Título provisório de 9/1/1884 Bom pg 37. N.3510: casado com Roza

(italiana) e filhos: n.3511 Roza (italiana), n.3512 Giuseppe (italiano),

n.3513 Theresa (brasileira). No Livro SA 086 consta Giuseppe Zanotelli,

com lote na Linha Figueira de Mello, ala norte. (A ala norte era vizinha à

Linha Costa Real). 88

Rosa e Manoel casaram em 18/9/1886 Cf Livro 1 Casamentos pg 42v. da

Freguesia de S.Pedro de Conde d‟Eu.

141

Zanotelli (provavelmente irmã de Rosa).89

Em 17/1/1889

faleceu Pia filha de Rosa e Manoel, de vermes, com um ano e

meio de idade90

Giacomo Zanotelli , casado com Maria Devilli, pai de

José Z. casado com Augusta Nogarol, migrou para o Espírito

Santo provavelmente em 1876. Em 1892 adquiria

definitivamente um lote na Seção Virgínia, município de

Anchieta. Como os lotes das colônias imperiais, como era o

caso da Santa Leopoldina, eram comprados com 5 ou 10 anos

ou mais de prazo, conclui-se que ele estaria no Espírito Santo

antes de 1877.

Gaetano Zanotelli91

, casado com Maria Santuari

migrou para o Brasil em 1876, constante da Lista de imigrantes

do navio Ville de Santos como Zanitelli, com 27 anos,

católico, lavrador. Depois do Rio de Janeiro não se tem notícia.

Vicenzo Zanotelli consta da lista de imigrantes no

navio Ville de Santos que atracou no Rio de Janeiro em

89

Giuseppe (José), nascido em 27/12/1837 obteve o lote n.6N da Linha

Figueira de Mello, Conde d‟Eu, com título provisório em 9/1/1884 com

484.000m2 cf. Livro 312 do Arquivo Histórico de Porto Alegre. O

casamento da filha Rosa com Manoel Fronchetti cf. Livro 1

Casamentos de Conde d‟Eu pg 42 v. Rosa e Fortunato são naturais de

Faedo, distrito de Lavis, Província de Trento cf Livro 2 Batismos

Conde d‟Eu pg 50v. 90

Livro 1 Óbitos, pg. 29 de Conde d‟Eu. 91

Gaetano Zanotelli, é filho de Nicolò Z. e Maria Bonfant, neto de

Nicolò Z. e Teresa Bazzanella, bisneto de Cristóforo Z. e Maddalena

Nicolodi, trineto de Giovanni Antonio Z., de Livo.

142

16/7/1875, (como Zanetelli), tendo 29 anos, casado com

Orsola (com 29 anos) e com uma filha Beniamina de 2 anos de

idade. Tirolês, agricultor, casado, católico. Não consta da

árvore genealógica de Cembra. É provável que provenha de

Livo, de onde são originários os Zanotelli.

Maria Zanotelli92

, casada com Giovanni Pelz, migrou

para Conde d‟Eu, provavelmente em 1875. Ambos constam

como padrinhos de casamento em Conde d‟Eu. Retornaram a

Cembra pois lá está seu túmulo, conforme pudemos constatar.

Michele Zanotelli casado com Giovanni Segat por

volta de 1850, migrou para a Colônia Conde d‟Eu em 1876,

com a filha Orsola Zanotelli casada com Pedro Groff (falecido

em 24/4/1888 de varíola cf Livro 1 de Óbitos de Conde d‟Eu

pg. 27).Viúva, Orsola casou com João Pedro Ghisleni em

25.6.1888 (cf.Livro 1 Casamentos de Conde d‟Eu pg 61).

Magdalena Zanotelli, filha de Giuseppe (José)

Zanotelli e Thereza Galio, casada com Antonio Scomazzon,

faleceu em Conde d‟Eu, de inflamação uterina, com 41 anos de

idade, em 23/6/189393

Fortunato Zanotelli, casado com Rosa Zanotelli,

natural de Faedo, Trento, batisam em 28/9/1885, na Linha

92

Maria Z. é filha de Giovanni Z. e Marianna Lorenzi, neta de Antonio

Z. e Domenica Marchiodi, bisneta de Giovanni Z. e Teresa Nardelli,

trineta de Giovanni Z. e Maddalena Valgoi, tetraneta de Giovanni

Antonio Z., de Livo. 93

Livro 1 Óbitos, Conde d‟Eu pg 38.Não há outras notícias.

143

Figueira de Mello, Conde d‟Eu, o filho Zavério Sandro

Zanotelli nascido em 16\8\188594

.

Uma conclusão que se impõe é a de que a quase

totalidade dos Zanotelli, hoje no Brasil, descende de Giovanni

Antonio Zanotelli e Dorotea Concherle, sendo que, destes, a

maioria absoluta descende de Giovanni Gasparo Zanotelli

casado com Margherita Savoi e seus filhos. Deles descendem

cerca de 10.000 pessoas esparramadas por todos os Estados do

Brasil. Em todas as capitais dos Estados brasileiros há

Zanotelli.

A árvore genealógica que segue procura ordenar o

enraizamento de cada Zanotelli no tronco comum ( até onde

nos foi possível) que vai até Giovanni Antonio Zanotelli, que,

por volta do ano de 1683, saiu de Livo, Val di Non, e foi para

Cembra residir com seu tio que era sacerdote. Em Cembra, aos

17 dias de fevereiro de 1705 casou com Dorotea Concherle, de

Faver.

Francesco Zanotelli95

, filho de Giovanni Gasparo e

irmão de Paolo e Giovanni (que migraram para o Espírito

94

Provavelmente Fortunato seja filho de Agostino Zanotelli, que, em

1875 migrou para o Espírito Santo. Cf. Livro 1 de Batisados de Conde

d‟Eu, pg. 70 v. Após não se tem notícia. 95

Às pgs. 33 e 33b do Livro de Batisados da Paróquia de Cembra

(Trento), consta: Francesco Vigilio Zanotelli natural de Fadana -

Cembra - nasc. 29.1.1826 às 8 horas, batisado em 29.1.1826 n. 227,

sendo sua ama Barbosa Macabran, religião católica, sendo filho de

Gasparo Zanotelli e neto de Paolo Zanotelli e Maddalena Cembran,

144

Santo como acima dissemos) era casado com Domenica Eccli,

em Cembra, em 31/05/1851. O casal teve 6 filhos: Catterina

(nascida em 12/05/1854 e casada com Angelo Zanol em

14/02/1874 e falecida em fins de 1874, sem filhos), Angela

(nascida em 27/12/1863 e falecida em 03/10/1865), Maria

(nascida em 05/07/1867 e falecida em abril de 1869),

Giovanna (nascida em 05/07/1869 e falecida menina em

Cembra), Giuseppe (nascido em 18/02/1870 e falecido em

11/02/1871) e Narciso (nascido em 07/09/1857. Em 1875,

tendo perdido 5 dos 6 filhos, Francisco resolve emigrar com o

único filho que lhe restava, Narciso. A causa mortis dos filhos

não a sabemos, mas é provável que se vincule à pelagra.

Obtido o passaporte azul de número 5.395, em Trento

(distrito do Tirol, do Império austrohúngaro), em 29 de

outubro de 1875, data em que consta a renúncia à cidadania

austríaca e nele constando Domenica Eccli como esposa e

Narciso(com 18 anos) como filho, Francisco(com 49 anos de

idade), que era proprietário de pequena fração de terra (como

seus irmãos), deixa seus poucos haveres e empreende a viagem

da emigração.

que era nascido e domiciliado em Fadana. A mãe é Margarita di

Pietro Savoj filha de Catterina Zanetin, nascida em Faver e

domiciliada em Fadana. O Pároco cooperador: P. Antonio Battista.

Padrinhos: Vigilio Zanotelli e Domenica Dicento Zanotelli.

Condições: “possidente”(proprietário).

145

Nos primeiros dias de novembro desce de Trento a

Verona de trem. Ali pernoita como faziam os emigrantes

trentinos. No dia seguinte segue de trem até Milão, dali passa a

fronteira da França, vai a Modene, dali a Paris e dali ao porto

de Le Havre. Como os embarques de passageiros que

migravam dentro do contrato de Caetano Pinto sempre

aconteciam nos dias primeiro e quinze de cada mês, é provável

que Francesco e sua família embarcaram no dia 15 de

novembro de 1875, no navio a vapor francês Rivadávia96

. No

dia 10 de dezembro já estão no Rio de Janeiro, como consta no

passaporte, pelo visto da polícia do Rio, assinado por Macedo.

2.Do Rio de Janeiro para Porto Alegre

No Rio de Janeiro, em 1875, infestado de febre

amarela, os imigrantes devem ter tido curta permanência na

Ilha das Flores, seguindo após para o Rio Grande do Sul. Do

Rio de Janeiro, os navios aportavam em Santos e depois em

96

Caetano Pinto preferia que os emigrantes do norte da Itália e Tirol fossem

embarcados em navios franceses porque a legislação da França exigia que

os navios fossem acompanhados por médico. Esta exigência não havia nos

portos italianos de Gênova, por exemplo. Por outro lado os navios franceses

eram a vapor, enquanto os italianos eram, em sua maioria, a vela. Por outro

lado o vice-cônsul do Brasil em Marselha, amigo de Caetano Pinto

favorecia o embarque pelos portos da França.

146

Rio Grande. Foi aí que os navios em que vinham Francesco e

seu irmão Paolo, foram separados por ordem das autoridades

brasileiras: Paolo foi para o Espírito Santo e Francesco para o

Rio Grande do Sul.

Rio de Janeiro 1905 – Bucelli p.4

Rio de Janeiro, 1905, Ilha Fiscal – Alfândega – Bucelli p.5

147

Santos – 1905 – Bucelli p. 33

Pelo Porto de Rio Grande, foram até Porto Alegre

148

Panorama de Porto Alegre - 1905 - (Buccelli 65)

Porto Alegre – Intendência municipal - Bucelli, 1905, p 75

149

Porto Alegre – 1905 R. Mal. Floriano – Bucelli p. 125

Porto Alegre –Estação do trem – Bucelli – 1905, p 126

150

Porto Alegre - Praça da Sta. Casa - 1905 - (Buccelli 124)

Entrando por Rio Grande, permanecendo em Porto

Alegre menos de uma semana, dirigem-se logo em pequenas

embarcações a vapor até São Sebastião do Caí.

Francesco Zanotelli, com sua esposa Domenica e seu

filho Narciso, e certamente dois primos Giuseppe e Rosa,

devem ter chegado em Porto Alegre entre os dias 15 e 20 de

dezembro de 1875. Na véspera de Natal estavam chegando em

Conde d‟Eu.

151

3.De Porto Alegre a Conde d’Eu (Garibaldi)

O rio Caí (Buccelli, 207).

O Rio Caí, até o início do Século XX foi a principal

via de comunicação entre Porto Alegre e as Colônias Italianas,

bem como para toda a vasta colônia alemã.

Por ele os imigrantes iam até S. João do Montenegro,

daí até Maratá e daí, pela estrada geral que ia até o rio das

Antas, subiam para Conde d‟Eu. A estrada geral ia depois até o

rio das Antas e depois para Vacaria.

152

O porto de S. João de Montenegro

Vista geral de São Sebastião do Caí em 1905, Buccelli (214)

De vapor até S. Sebastião do Caí, daí a Montenegro

(paróquia que abrangerá todas as colônias de Garibaldi, Bento

e Caxias e,por isso, ai estarão inscritos os nascimentos,

casamentos, falecimentos dos imigrantes e que desapareceram

com um incêndio). Por isso a dificuldade de os filhos dos

imigrantes comprovarem nascimentos, casamentos, óbitos que,

na época eram todos registrados na secretaria da Paróquia.

153

Daí os colonos tomam a estrada (ou picada) que de

Maratá vai até o Rio das Antas, (a estrada dos tropeiros,) a pé,

sobem a Serra até a colônia Conde d‟Eu, onde chegam às

vésperas do Natal de 187597

.

Enquanto isso, Paolo, suas irmãs e primos chegarão ao

destino de San ta Teresa no Espírito Santo no dia 6 de janeiro

de 1876.

Maratá - (Buccelli, 1905, pg. 210)

Maratá era o início da estrada ou picada que os colonos

faziam a pé. Era a estrada dos tropeiros que passava por Conde

97

É tradição oral entre os mais antigos Zanotelli, filhos de Narciso,

que a data de chegada a Conde d‟Eu (hoje Garibaldi) foi a de 24 de

dezembro de 1875.

154

d‟Eu, Dona Isabela, ultrapassava o Rio das Antas e ia para

Lagoa Vermelha e Vacaria. Era conhecida como a Estrada

Geral.

Em Conde d‟Eu, no barracão coberto de palha, então

preparado para abrigar os recém chegados, permanecem

poucos . e são endereçados...para a Estrada Geral, Estrada

Geral,

Conde d‟Eu – Garibaldi – 1905 – Bucelli,

Conde d‟Eu – Garibaldi – 1905 – Bucelli

155

Linha Figueira de Mello, ao lote que escolheram ou lhes foi

destinado98

.

Garibaldi, 1905 – Bucelli – p 263

98

No Arquivo Histórico de Porto Alegre, Livro 312, pg. 13, sob o título

Estrada Geral Conde d‟Eu, Primeira Secção,consta: Família n. 79:

Zanottelli. Registro n. 407: Zanottelli Narcizo, casado, católico, austríaco,

lote 1/449, área 116.449m2, preço da braça quadrada (4,84m2)= 3 Réis.

Valor do lote 69$204. 20% do art. 6 do Regulamento de 19.1.1867 =

13$840. Pelos adiantamentos feitos = 125$525. Total: 208$569. Data da

entrega do título provisório 8.2.1884. ½ da dívida de Giuseppe Batistoni.

Bom pg 149. N. 408: Thereza (casada) austríaca Filhos: (409) Maria

(brasileira), (410) Amália, (411) Narciza, (412) Carolina, (413) Domenica

(austríaca).

156

Avenida Júlio de Castilhos, a principal de Garibaldi em 1878 (Koff, 77)

Com efeito, Narciso, em 1884 já casado com Theresa

Telk99

, com ela já tem 4 filhas: Maria, Amália, Narciza e

Carolina cf. Livro312 do Arquivo Histórico de Porto Alegre.

Com Narciso também aparece Domenica (sua mãe). Francesco

já não aparece. Depois disso não se tem notícia de Francesco.

Presume-se que tenha falecido entre 1876 e 1884.

99

Theresa Telk era filha de Bartholo Telk e de Magdalena Job, tiroleses, que

migraram para Conde d‟Eu em 1875 (provavelmente junto com Francesco

Zanotelli). Theresa casou com Narciso ao final de 1876. Bartholo faleceu

em Garibaldi cf. Livro de Óbitos de Conde d‟Eu pg. 23v: “No dia

30/8/1887 faleceu de plethora com 76 anos de idade Bartholomeu Telk,

casado com Magdalena Job, tirolês, lavrador, confessou e comungou há

pouco. Foi encomendado e enterrado por mim neste cemitério em 31 do

mesmo. E para constar fiz este que assino. P. B. Tiecker.”

157

O casamento de Narciso deveu ser justificada

judicialmente no juizado cível de Caxias do Sul em 2009, para

efeitos de reconhecimento da cidadania italiana.

- Troncos para a serraria - 1905 - (Buccelli 278).

Desmatar para abrir clareiras para a agricultura. O

pinheiro (araucária) em seus belos toros, são arrastados à

serraria: tábuas, tabuinhas para o telhado...

Derrubar o mato a machado, construir uma pequena

casa, e preparar a semeadura para a primeira colheita era a

tarefa primordial. A casa ficava longe do mato para evitar

158

visitas incômodas de animais ferozes e criar galinhas, porcos

que não fossem devorados.

Garibaldi Nos primeiros anos da colonização os troncos

eram serrados no mato. Levanta-se o tronco e dois puxavam a

serra: um em cima do tronco e o outro em baixo. O que serrava

em baixo recebia o pó e a serragem no rosto. Incômodo. Por

isso se diz “serrar de cima” para quem está bem.

As tradições de caça ao coelho e à raposa nas

montanhas da Itália vieram com os imigrantes como tradição,

como esporte e como necessidade. Os rios piscosos, as matas

com abundante caça (pombas, jacus, nhambus, e, depois

qualquer pássaro, veados, pacas, cotias, antas, porcos do

mato...) traziam para a mesa a carne indispensável à dieta. Os

imigrantes ficaram célebres por suas caçadas e pescarias.

Em criança, ouvíamos nossos pais e avós narrarem as

passarinhadas com polenta como a festa mais significativa da

glutoneria italiana. Não era apenas o paladar aguçado pelos

pássaros selvagens, parecia mais uma vingança contra séculos

de pelagra naqueles vales do norte italiano, por falta de

proteínas. Vingança, festa, aventura: um prato cheio.

159

Caçar o veado: aventura, diversão, alimento. Buccelli p 280 – 1905.

A colônia Conde d‟Eu criada em 1870, recebeu, em

julho daquele ano 36 prussianos (15 casados, 8 crianças, 12

solteiros, e um viúvo). Em 14 de março de 1871 “não havia A

colônia Conde d‟Eu criada em 1870, recebeu, em julho

daquele ano 36 prussianos (15 casados, 8 crianças, 12 solteiros,

e um viúvo). Em 14 de março de 1871 “não havia mais de

trinta e sete lotes ocupados em Conde d‟Eu e nenhum em D.

Isabel”i100

. mais de trinta e sete lotes ocupados em Conde

d‟Eu e nenhum em D. Isabel”101

.

100

KOFF, Elenita, Os Primórdios... pg . 43 101

KOFF, Elenita, Os Primórdios... pg . 43

160

Garibaldi. O colono e seu parreiral (Buccelli 282)

“No ano de 1872, Conde d‟Eu tinha medido 80 prazos

e já ocupados cinqüenta e quatro. O Governo provincial

mandou construir, com urgência, um barracão na freguesia de

S. João de Montenegro e outro no porto Guimarães, para

abrigar os colonos que se dirigem ao estabelecimento de Nova

Petrópolis e Conde d‟Eu”102

. Em 27.08.1875 chegam os

primeiros italianos junto com um grupo de franceses. Em 24

de dezembro de 1875 chega um grupo de italianos e trentinos,

como refere Elenita Koff, e entre eles está a família de

Francesco Zanotelli e outros.

102

KOFF, Elenita, Os Primórdios...pg 47.

161

Em 1875 a

Colônia Conde d‟Eu recebeu melhores cuidados do governo

provincial. Foi contratado o médico Dr. José Maria Pereira

Monteiro, foi construído um galpão mais amplo, e o governo

provincial contratou o armazém de José Luiz dos Santos para

fornecer “alimentos de boa qualidade ao preço de 690 réis cada

ração diária”103

. Lembremos que o salário pago por dia de

trabalho na construção de estradas era de 1.500 réis.

Em 1876 os colonos de Figueira de Melo (onde moram

os Zanotelli) “requerem a nomeação de uma parteira,

indicando para tal cargo sua compatrícia Gioconda

Manica”104

.Neste mesmo ano o Presidente da Província

anuncia a urgência de construir uma estrada na Linha Figueira

de Melo e um galpão para receber colonos. “A linha Figueira

de Melo foi o primeiro pique transversal da colônia Conde

d‟Eu onde se situavam os lotes destes italianos aqui

chegados”105

De Garibaldi, os Zanotelli, por volta de 1882 quando

foram abertas as colônias de Encantado, então distrito de

Estrela, desceram por Santa Teresa e Roca Sales, para as terras

novas. Para isso deviam atravessar o Rio das Antas e, mais

103

KOFF, Elenita, Os Primórdios...pg. 57. 104

KOFF, Elenita, Os Primórdios...pg. 57. 105

KOFF, Elenita, Os Primórdios...pg. 58.

162

abaixo, o Rio Taquari. O vale do Taquari é considerado até

hoje entre os cinco vales mais férteis do mundo.

A planície, a água, possibilidade de aquisição de glebas

mais amplas, atraem também os Zanotelli.

Garibaldi. Casa típica de madeira, coberta de madeira (scandole)(Buccelli

279)

4. De Garibaldi a Encantado.

Ir para a Colônia nova de Encantado, distrito de

Estrela, e conseguir uma gleba bem maior era uma nova

aventura desses aventureiros trentinos.

163

Balsa e canoa na travessia do Rio Taquari 1905

Rio Taquari - canoas e cachoeiras - 1905 - (Buccelli 290). Nas partes rasas,

no verão era possível atravessá-lo comodamente a cavalo.

164

Mapa dividindo a colônia Conde d‟Eu. Aí aparece a

linha Figueira de Mello, onde constava a gleba comprada por

Francesco e sua família em 1875.

Como se pode ver, a colônia não tem um centro ao

redor do qual as terras cultiváveis poderiam estar. O

quadriculado mostra que a vizinhança era essencial para a

sobrevivência. Quando nascerem a capela, a escola, o

cemitério e um pequeno comércio, estes deverão localizar-se

segundo o interesse de alguns.

Na Europa, especialmente ao norte, e mais ainda em

Cembra, Livo... as moradias ficam todas juntas na vila e as

terras de cada agricultor ao redor da vila. A vila, por isso

mesmo, pode ter médico, igreja, escola, hospital, comércio,

livraria, entretenimento. A perspectiva de colonização aqui foi

165

míope neste sentido. Apesar disso, os imigrantes lutarão para

manter um sistema de ajuda mútua e de solidariedade...

Mapas disponíveis no pequeno museu adjunto à Igreja de Garibaldi.

Pouco mais de 7 anos depois do início da imigração em

massa de italianos e trentinos para as colônias de Conde

d‟Eu(Garibaldi), D. Isabela (Bento Gonçalves) e Fundos de

Dona Palmira (depois Campo dos Bugres e depois Caxias do

Sul), ocupados os lotes, a colonização espraiou-se para além

do Rio das Antas e do Rio Taquari.

166

O Taquari – e suas canoas

Em 1882, nas terras que o governo imperial lhe doara,

José Francisco dos Santos Pinto ( e seus filhos Margarida,

Francisco, Anselmo e Francisca) abre as colônias particulares

do Taquari e nelas a de Encantado.

As terras daquele oficial do Exército Imperial

abrangiam os dois lados do Rio Taquari, desde Estrela e a

Colônia Teotônia até o Rio Guaporé ( Muçum) e a Cordilheira,

fazendo divisa com a Colônia Conde d‟Eu e o Rio Forqueta:

quase toda a extensão dos posteriores municípios de Roca

Sales, Arroio do Meio e de Encantado. Nessas terras foram

abertas as colônias das Palmas, do Jacaré ( já em 1878,

implantadas pela empresa Bastos e Cia. em 1882), esta última

167

abrangendo desde Lajeadinho, os arredores atuais da cidade de

Encantado, Linha Argola, Linha Garibaldi, Jacarezinho,

Jacaré, Linha N.Sra.Auxiliadora, Nova Bréscia, e a das Palmas

abrangendo Arroio do Meio, Marques de Souza e Capitão.

O Taquari e suas fertilíssimas varzeas

Várzeas férteis ao invés das terras poucas, pedregosas e montanhosas do

Trentino

168

As várzeas do rio Taquari são tidas, até hoje, como

entre as três mais férteis do mundo. O senso agrícola dos

Zanotelli apontava para aquelas novas terras.

O vale do Taquari (Tebicuari) foi povoado por tempos

imemoriais especialmente pelos índios Ibiaçaguaras (à margem

direita onde está Encantado) e Ibiaiaras (margem esquerda). Os

primeiros contatos foram feitos pelos Padres Jesuítas (Pe.

Francisco Ximenes e P. João Suarez) espanhóis que, em 1632

fundaram a redução de Santa Teresa, perto de Passo Fundo.

Os índios Ibiaiaras eram hostis aos jesuítas. Eram

amigos dos “pombeiros” (emissários paulistas que aliciavam e

aprisionavam índios para vender aos bandeirantes).

Confiramos as informações de Jorge E. Kafruni, in FERRI,

Gino. Encantado Sua Terra e Sua Gente, 1985 pg. 26 e

seguintes: “Os padres Francisco Ximenes e João Suarez,

acompanhados por 200 índios tapejaras (vaqueanos) e do

cacique Guaré, com 34 canoas, iniciaram a exploração da

IBIA, região dos hostis índios IBIAIARAS, muito amigos dos

pombeiros ou mamelucos paulistas, tendo partido da redução

de Santa Teresa a três de janeiro de 1635.

Atravessaram, a pé, durante nove dias a região do

Caapi (entre Casca e Nova Prata), embarcando, então em

canoas, por um riacho e assim andaram meio dia, chegando até

ao Tebicuari (Taquari), pelo qual navegaram três dias, até a

169

altura do atual distrito de Corvo, em Estrela, onde destruíram

um “Curral de Escravos”, ali existente, do índio Parapoti, o

qual os vendia aos paulistas. De regresso a Santa Teresa,

entraram pelo Mboapari (Antas), em cujas margens

abandonaram as canoas, perfazendo, a pé, o restante do

percurso, gastando mais cinco dias”...Sobre a terra dizia o Pe.

Ximenes : “La tierra es fragosíssima, sus campinos, infernales.

No ai campo onde tener cuatro vacas”.

Ao encontrar-se com Parapoti “um dos mais afamados

mercadores, em toda região de Ibia, amigo incondicional dos

bandeirantes, dos quais era preposto e maioral... e que entregou

toda a sua nação... este grandíssimo velhaco... diz Ximenes:

“Fiz-lhe queimar a casa, destruir quanto pude a comida, para

que se vá dali”.

Parapoti incita os índios para matarem os jesuítas. O

Pe. Cristóvão de Mendonza (que introduziu o gado no RS)

sabendo que Raposo Tavares ( o destruidor das reduções de

Guairá, no Paraná) se avizinhava com uma bandeira para

aprisionar índios, vai ao Caaguá (S. Francisco de Paula) para

impedir. É morto pelos índios Ibiaiaras em Piaí, perto de

Caxias do Sul, em 26 de abril de 1635.

Em 1636 Raposo Tavares chega às margens do

Taquari: “Tendo sob suas ordens 150 portugueses (mamelucos

sul-americanos) e 1500 índios tupis não bem mansos, entrou

170

no Estado através do rio Pearas, (Pelotas), seguindo por Caamo

(Vacaria), Caaguá (cima da serra). Deste ponto, na serra do

nordeste, tomou uma variante do caminho que deflexionava

para Oeste, atravessando o rio Ibia, entrando pela Taiaçuapé

(caminho do porco do mato - margem esquerda do rio

Taquari), local este onde se encontravam as paliçadas do índio

Parapoti, na altura do distrito de Corvo, no município de

Estrela.

A partir de Caamo (Vacaria), onde havia aldeias

povoadas de índios, começou a razia bandeirante e se verificou

a quase completa escravização da povoação indígena. Daí,

sujeitando as nações indígenas e aumentando a leva com

muitos outros que agregavam a si, pelo caminho, por vontade

ou por força, levando-os para as paliçadas de Corvo, onde

eram vigiados e aguardavam para serem recambiados para São

Paulo”106

via Laguna, deslocamento que até o mar demorava 5

dias apenas. Raposo Tavares ficou 11 meses na região,

inclusive em Encantado e, depois de atacar em 2 de dezembro

de 1636 as reduções de Jesus Maria e São Cristóbal perto de

Rio Pardo, retorna a S. Paulo com a presa humana de

aproximadamente 25.000 índios.

Em 1637 virá a Bandeira de Francisco Bueno. Ele morre nos

sertões do Taquari, como também morrem Gaspar Fernandes e

106

FERRI, Encantado pg. 29-30.

171

João e Manoel Preto. A Bandeira se divide entre Jerônimo

Bueno (que atacará as reduções do rio Ijuí) e André Fernandes

que atacará a redução de Santa Teresa em Passo Fundo.

Encantado, portanto, e o Alto Taquari, trazem, desde

cedo, as marcas do barbarismo estúpido da escravização

praticadas por esses fascínoras que algum livro de História

ainda pretende transformar em heróis.

Estas terras estavam subordinadas, a partir de

19/2/1737, à Comandância do Presídio do Rio Grande de São

Pedro (fundado nesta data); a partir de 27/4/1809, ao município

de Rio Pardo (um dos 4 municípios em que se dividia a

Capitania de São Pedro do RS); a partir de 25/10/1831 ao

então instalado município de Triunfo desmembrado de Rio

Pardo (da, desde 1824, Província de Rio Grande de São Pedro

do Sul); a partir de 4/8/1849 ao município de Taquari

desmembrado de Triunfo; a partir de 21/2/1882 ao município

de Estrela (desmembrado de Taquari) ficando então com

Lajeado e Guaporé como distrito de Estrela. Encantado se

emancipará de Lajeado em 1915 e se desmembrará em 8 novos

municípios como se pode ver na tabela das colônias acima

referida.

172

Estrela - Moenda para expremer cana de açúcar e fazer acúcar e melados.

Os imigrantes possuíam um por família. ( Il torcio).

As famílias italianas e trentinas organizaram aqui um

modo auto-suficiente de produção. Produzia tudo ou quase

tudo o que consumia e consumia quase tudo o que produzia.

Assim a carne bovina: o colono entregava uma rês de abate

para o açougueiro e retirava o peso da carne aos poucos. O

açougueiro não comprava, intermediava apenas.

Estrela - Igreja e Prefeitura - 1905 - Buccelli 296)

173

Em 14/2/1890 Encantado é constituído como um dos

Distritos Policiais de Santo Antônio de Estrela tendo como

divisas: “pela frente o Rio Taquari, por um dos lados os arroios

Forqueta e Fão, até a divisa de Soledade, e, pelo outro lado o

rio Guaporé, até encontrar a divisa do município de Passo

Fundo”107

; em 26/1/1891 Lageado se emancipa de Estrela e

pela lei n.1 de 2/12/1891 Encantado se constitui o segundo

distrito incluindo Guaporé que mais tarde se transformará em

3o. distrito; em 31 de março de 1915, pelo decreto n. 2133

Encantado é emancipado, abrangendo o 2o. e 4o. distritos de

Lajeado e o 9o. de Soledade. Abrangia, pois, o território do

antigo distrito de Encantado, o de Anta Gorda e o de

Itapuca108

, com 1.239 km2, e com uma população de 18.800

habitantes109

Para os imigrantes que, em Conde d‟Eu, haviam

recebido lotes de mais difícil acesso, montanhosos e de “muita

pedra”, a abertura de novas colônias para além do rio das

Antas e Taquari foi uma nova esperança. Os vales dos rios

Taquari, Antas, Guaporé, e dos arroios Jacaré, Jacarezinho,

Forqueta, Fão de uma fertilidade espantosa, montanhas menos

abruptas e maior tamanho dos lotes atraíam os imigrantes,

107

FERRI, 1985, pg 48-49. 108

FERRI, 1985, pg. 67. 109

FERRI, 1985, pg. 58.

174

muito embora o preço fosse de 8 Réis e não de 3 Réis a braça

quadrada como em Conde d‟Eu110

.

Os primeiros colonos chegam em Encantado em janeiro

de 1882. Entre eles as famílias de Giovanni Baptista Lucca e

de Antonio Bratti. “Nos meses seguintes chegavam outras

famílias de imigrantes, vindas diretamente da Itália ou dos

núcleos já colonizados da região italiana, especialmente de

Conde d‟Eu (Garibaldi), Dona Isabel (Bento Gonçalves),

Campo dos Bugres (Caxias do Sul), ou ainda de Farroupilha,

Nova Trento e outras”111

. Assim chegavam as famílias

Fontana, Secchi, Scartezini, Giordani, Pretto, Ferri, Peretti, De

Conto, Marini, Sana, Barzotto, De Marco, Rossetto, Lanner,

Lorenzi, Pasini, Fumagalli, Radaelli, Bonfanti, Castoldi,

Scarello, Dal Monte, Dal Pasquale, Berté, Bergamaschi,

Sangalli, Mottin, Zuchetti, Luzzi, Nardin, Dalla Vecchia,

Buffon, Bigliardi, Ecker, De Bórtoli, Daldon, Zanotelli e

outras.112

Descendo pela picada que levava para Conventos

Vermelhos (Roca Sales), a família de Narciso Zanotelli

atravessa o Taquari e se instala na colônia Jacaré, na linha

Jacarezinho, à beira da estrada que, de Encantado conduz a

Nova Bréscia, num lote de 120.000 braças quadradas ou 58

110

FERRI, 1985, pg. 35. 111

FERRI, 1985, pg 44. 112

Cf FERRI,1985, pg.44.

175

hectares, com 290 metros de largura por 2.000 metros de

comprimento, indo desde o arroio Jacarezinho até o travessão

limítrofe da linha Garibaldi, no valor de 960$000 réis. Eram

seus vizinhos para o Norte, em ordem, as famílias Bagatini,

Secchi, Possamai, Ant. Pretto, Pedarzini; para o Sul as famílias

Pezzini, Agostini, Facchini, Dalla Vecchia (Pedro e

sucessores), Pio de Conto, João Pretto. A leste, para além do

arroio Jacarezinho: Fontana, Conzatti, Pedarzini, Bianchini. A

Linha Jacarezinho ficava pois entre as Linhas Garibaldi (a

oeste) e Jacaré (a leste) com as famílias Sangalli... além da

qual estava o Rio Guaporé.

Se as famílias acima citadas chegaram em 1882, a

família de Narciso também poderia ter chegado nesse ano,

porque os lotes dessas famílias e o de Narciso eram vizinhos.

Muito embora Narciso continue a batisar os filhos em Conde

d‟Eu até 1893, era possível que residisse em Jacarezinho desde

1882. O atendimento à população de Encantado pelo pároco de

Estrela ou de Lageado era esporádico e difícil (considerando

que o acesso necessitava a travessia por barcas precárias ou

inexistentes) e os Zanotelli eram decididamente católicos para

descurar o dever de batisar os filhos logo após o nascimento.

Em 1888 é construída a primeira capela, mas só em 1896 é

176

instalado o curato de São Pedro de Encantado sendo seu

primeiro cura o Pe. Domenico Vicentini113

.

Por outro lado os descendentes Zanotelli de

Jacarezinho guardam na memória o relato dos antepassados de

que “seguidamente os familiares de Narciso iam de

Jacarezinho a Garibaldi e Figueira de Mello, atravessando o

Rio Taquari, num local, quase em frente a Encantado onde as

águas se tornavam rasas, especialmente em época de seca (“no

váu”). Iam a cavalo, seguindo pela estrada ou picada que

passava por Arroio Augusta, ou pela picada que vai

diretamente de Roca Sales à linha Figueira de Mello”114

. Os

mesmos informam que o deslocamento de Narciso para

Jacarezinho aconteceu cerca de 13 anos antes do nascimento

de João Zanotelli. Isto confirmaria a data da migração

113

Da ordem de S. Carlos, fundada por D. João Batista Scalabrini, bispo de

Piacenza, para acompanhar os imigrantes, impressionado que ficara pelo

descaso a que eram atirados aquelas famílias católicas que emigravam, o

Pe. Domenico Vicentini (1847-1927) é o primeiro padre carlista que vem

ao Brasil e Encantado será o primeiro curato (1896) e depois a primeira

paróquia afeta aos carlistas no Brasil. A paróquia de S. Pedro de Encantado

acaba de celebrar 100 anos de paróquia (28 de abril de 1996). Sobre isso,

dificuldades, peripécias e ação missionária cf. FERRI, Gino, 100 anos de

História. Paróquia de S. Pedro, publicado pela paróquia de Encantado.

1996. Da lista dos fabriqueiros, no lançamento da pedra fundamental da

Igreja, em 1898, e para superar o litígio entre as capelas de S. Pedro

(construída em 1888), Santo Antão e São José que pretendiam sediar a

paróquia, constam: Antonio Bratti, Giovanni Pretto Filho, Bortolo Secchi,

Angelo Dalla Vecchia, Andrea Belló, Giovanni Pretto, Agostinho Vanzetta,

Gioachino Lanzini, Francisco Echer, Giuseppe Pederiva e Vitorio

Emanuele. 114

Informação oral de Leonel Zanotelli e irmãos.

177

Garibaldi-Jacarezinho em 1882. Contra essa hipótese os

registros de casamento de José, Francisco, Amália, Maria,

Rosina e Narciza realizados na paróquia de São Pedro de

Encantado dizendo que são naturais da Linha Figueira de

Mello.

Não é necessária, pois, a hipótese de que Narciso

tivesse comprado a terra em Jacarezinho em 1882, mas

somente transferido residência de Conde d‟Eu para lá em 1893,

tendo em vista que as terras das colônias de Encantado eram

particulares e não tinham a necessidade de serem habitadas e

implementadas dentro do prazo de 2 anos como acontecia nas

colônias provinciais ou imperiais, sob pena de serem leiloadas

para outros colonos. Narciso, pois, residiu em Conde d‟Eu

até 1882, depois deslocou-se para Encantado.

Placa comemorativa do Gemelaggio de Encantado e Valdastico em 1993.

(FERRI, Gino, Gemellagio, Sagra Editores, Porto Alegre 1996, pg. 126.

178

Encantado em 1905 - FERRI, Encantado pg.53.

Encantado - Primeira capela 1888 - in FERRI, 17.

179

Encantado, Tiro de Guerra, 1917. João Telk Zanotelli é o 5o.da esquerda

ajoelhado.

Encantado - Igreja S. Pedro - 1933 - FERRI, 100 anos pg. 61.

A comemoração de 100 anos da Paróquia de São Pedro

de Encantado, muito bem traduzida na obra de Gino Ferri,

reafirmou a vinculação dela à origem carlista e à cidade irmã

de S. Pietro in Valdástico situado entre Trento e Vicenza.

180

Encantado é até hoje, um dos lugares no Rio Grande do Sul em

que há mais filhos de imigrantes trentinos v vicentinos.

Igreja de Encantado atual- Sinal imponente da cristandade.e referência

religiosa e cultural dos Zanotelli

Cap. de S. Carlos - Jacarezinho - Encantado - FERRI. 100 anos, 134

181

O nome da capela é uma homenagem aos padres

carlistas que, pioneiramente acompanharam os imigrantes

italianos no Brasil. Localizada no centro da Linha Jacarezinho,

este foi o lugar da missa semanal ou, em sua falta, do terço,

sempre cantado também pela família Zanotelli.

Em Jacarezinho, nasceram de Narciso Zanotelli e

Theresa Telk (além de Maria115

de 1878, Amália116

de 1880,

Narciza117

de 1882, Carolina118

de 1883, Felice Giacomo119

de1885, Francisco120

de 1885, Rosina121

de 1889, Camilo

Domingos122

de 1890, Leopoldina123

de 1892, Clementina

124de 1893, que provavelmente nasceram em Conde d‟Eu )

115

Maria nasceu em 12/5/1878 em Conde d‟Eu. Casou com Antonio

Agostini e foi residir em Canudos, Lageado. 116

Amália nasceu em 1880 em Conde d‟Eu, casou com Stephen Pezzini e

residiu em Jacarezinho. 117

Narcisa nasceu em 1882 em Conde d‟Eu, casou com Bettini e residiu em

Canudos, Lageado. 118

Casou com Adolfo Martini e residiu em Progresso, Lageado. 119

Felice Giacomo, cf. Livro 1 de Batisados de Conde d‟Eu, pg. 85 n. 423,

nasceu em1/4/1885 e foi batisado no dia 24/2/1886. 120

Francisco, nascido em 8/12/1885 em Conde d‟Eu e falecido em

30/9/1944 casou com Carolina Bertol e residiu em São José do Herval. 121

Rosina nasceu em 23/2/1889, foi batisada em 25/3/1889 Cf. Livro 3 de

Batisados de Conde d‟Eu, pg 22, casou com Celeste Dal Moro e residiu em

Progresso, Lageado. 122

Camilo Domingos nascido em 23/7/1890, batisado em 16/8/1890 cf.

Livro 3 de Batisados de Conde d‟Eu pg 48. 123

Leopoldina casou com João de Conti e residiu em Linha Argola,

Encantado. 124

Clementina, nasc. em 22/6/1893, batisada em 16/8/1893 cf. Livro 3 de

Batisados de Conde d‟Eu pg 80 casou com Olímpio Secchi e foi residir em

Crissiumal, RS.

182

José em 1894 e João em 5/2/1895. Na mesma casa nasceram os

filhos de João, entre eles Leonel (1917) e os filhos de Leonel:

Geni, Gino, Irma, Itelvina e Jandir que escreve este trabalho.

Dos filhos

de Narciso, portanto: João permaneceu na residência em

Jacarezinho (onde Narciso faleceu em 1904), José localizou-se

em Capitão (depois município de Arroio do Meio e agora

emancipado), Francisco foi para Relvado, Putinga e depois

para São José do Herval (então município de Soledade e hoje

emancipado)e as filhas casaram e residiram nos municípios de

Lageado, Arroio do Meio ou Encantado.

A família de José Zanotelli, filho de Cristano e neto de

Nicolò e que também residia em Figueira de Mello deslocou-se

para Santa Teresa125

(às margens do rio das Antas) e depois

para Muçum.

Outras famílias Zanotelli, dentro das colônias de

Encantado, foram depois para Putinga, Relvado, Anta Gorda,

Guaporé.

Ao final de década de 1930 ou início da de 1940

famílias Zanotelli se deslocaram de Encantado, Muçum e

arredores para Erechim (Paiol Grande), Marcelino Ramos e

para Santa Catarina e Paraná.

125

Segundo informações da filha Inês (Agnese).

183

Itelvina filha de Leonel Zanotelli, no Pinhão, Aratiba, Erechim.

Hoje, em Xapecó, SC e arredores bem como em

Medianeira, PR e cidades vizinhas há dezenas de famílias

Zanotelli, especialmente descendentes de José Zanotelli filho

de Cristano bem como de Constante Zanotelli filho de

Domênico e Teresa Zanotelli.

Constante representa concretamente a angústia da

família trentina cujos filhos eram ceifados pelas intermináveis

guerras do Império Austro-Húngaro a que pertencia o

Trentino. Não bastassem as dificuldades da estrutura

econômica acima analisada, o serviço militar dos 18 aos 30

anos fazia com que os melhores braços de trabalho morressem

nas guerras ficando a família desamparada. Por isso o esforço

184

para migrar antes que os filhos completassem 18 anos.

Constante veio sozinho. Tinha 18 anos. Quase clandestino.

Instigado pela família que não o queria morto nas guerras.

Enquanto isso, no Espírito Santo dois núcleos fortes

de famílias Zanotelli foram crescendo: Um com o centro em

Santa Teresa ( e dali para o Baixo Guandu, Colatina, Linhares,

e Nova Venecia, São Gabriel da Palha) e o outro com o centro

nas colônias de Rio Novo, Cachoeiro do Itapemerim, Iconha.

Ambos os grupos foram aos poucos se deslocando para Vila

Velha e Vitória.

Debulhando feijão a cavalo. Sobre a lona o feijão que é pisoteado pelos

cavalos. (Buccelli, 293) Depois de bem pisoteado, o feijão era revolvido

para ser pisado no outro lado. Ao final sacudia-se a palha e o feijão com as

impuresas era limpo com uma concha de madeira lançando-se o feijão

contra o vento para outra lona.

185

Desses núcleos iniciais: Colônia de Conde d‟Eu

(Garibaldi), das Colônias Santa Leopoldina e Rio Novo no

Espírito Santo provem a maioria dos Zanotelli do Brasil. Em

Caxias do Sul (RS), outro tronco descendente de David

Zanotelli (de apelido Paroleto) mostra algumas dezenas de

descendentes também. Em São Paulo, especialmente nas

proximidades de Bauru há outro grupo de Zanotelli

(descendentes de Pedro Grava Zanotelli). Mas pode-se dizer

com certeza que todos os Zanotelli descendem de Livo, Val di

Non, Trento, Itália, e, portanto, são vinculados entre si.

186

187

V. TRADIÇÕES E LEMBRANÇAS

Dentre as tradições, valores e lembranças que, de certa

forma identificam as famílias Zanotelli podemos destacar:

Cantar - Os descendentes Zanotelli guardam na

memória a grata lembrança dos cantares em família. Famílias

grandes (com 10 ou mais filhos), em casas grandes, separadas

da cozinha por uma varanda ampla, onde, à noite, no verão,

todos se reuniam com um copo de vinho e/ou com o chimarrão

(no RS) e, como por encanto, nasciam as canções.

E todos cantavam: pai, mãe (às vezes o avô e a avó) os

rapazes, as moças, as crianças, num coral de 4 ou mais vozes

onde cada qual se localizava naturalmente. As harmonias,

feitas de contraltos, barítonos, tenores etc. etc. eram afinadas

ao pé do ouvido de cada um. E milagrosamente todos tinham

“voz”, todos tinham “ouvido”. E quando algum adolescente,

“trocando de voz” desafinasse, logo tinha ao lado um irmão

que, com sua própria voz lhe ensinava o retorno à harmonia.

Olhares vagos e embevecidos, como que perseguindo a voz

para que ela tivesse o caminho, a altura, o volume, o ritmo

188

perfeito. A canção era obra criativa de todos. Nela todos

tinham parte. Nela todos se soldavam, se identificavam e

cresciam.

Que canções? As canções guardadas na memória e tais

como foram guardadas na memória. Pedaços de montanhas e

vales da pátria distante trazidos pelo imigrante. Amores e

desilusões da juventude. Guerras, exércitos, napoleões,

saudades, vida bucólica, a vida e a morte...Canções religiosas,

canções galhofeiras, canções...Algumas canções mais

comumente cantadas estão em anexo.

A casa de Narciso e depois de João Zanotelli em

Jacarezinho, Encantado, tinha, em confronto no outro lado do

arroio a 800 metros de distância a casa da família Fontana.

Dispostas do mesmo modo, as casas ligadas por varandas

ofereciam, à noite um espetáculo belíssimo. A família de João

entoava a primeira estrofe de uma canção e a família Fontana

respondia com a segunda estrofe. Se a harmonia num dos lados

não fosse perfeita era objeto de brincadeiras e risos no próximo

encontro. Assim se consolidavam as amizades, as vizinhanças,

as relações.

Rezar. As famílias Zanotelli, como todos os imigrantes

do norte da Itália, rezavam muito. De manhã cedo, ao acordar,

cada qual, individualmente fazia suas orações: pai-nosso, ave-

189

Maria, orações ao anjo da guarda...e ao som do sino da capela

que marcava as 6 horas rezava-se “o anjo do Senhor anunciou

a Maria....”. O mesmo se fazia ao meio dia e às 18 horas,

sempre ao som do sino que anunciava para todo o vale as

horas, a agonia de alguém, o horário da missa ou do

“terço”...Por isso a capela e o sino eram o sinal de honra de

cada comunidade, de cada vale.

À noite, já escuro, o retorno da roça, sempre longe da

casa (1 km ou mais) era marcado pelo grupo familiar com as

orações da noite que, assim, já eram antecipadas. Uma

procissão estranha aquela: as crianças em cima da carroça

carregada de pasto e mantimentos, os adultos caminhando ao

lado da carroça e todos compenetrados, rezando. Rezando até

atingir a alameda de figueiras. Os figos maduros recendiam seu

perfume doce e todos, parando de rezar, colhiam e comiam

figos brancos, figos negros como a noite, figos doces como a

festa.

Em casa, ordenhadas as vacas, tratados os pintos, aves,

porcos, cavalos, após o banho (do arroio ou da água corrente

que, da montanha vinha até o tanque em canos improvisados

de bambus), após os canções da varanda, após a janta, vinha a

reza do terço. Se chegasse alguma visita, incorporava-se às

orações. Após as orações continuava o “filó”(serão). E o filó

190

era sempre regado com vinho no verão, e “brodo”( caldo de

galinha e muito queijo) no inverno.

Aos domingos e dias santos de guarda havia missa ou

terço na capela. Junto à capela o cemitério, a escola

comunitária, a cancha de bochas, um salão comunitário ou uma

bodega onde os homens, antes e depois do ofício religioso

jogavam “morra”, bochas, “quatrilho” em grande algazarra. As

mulheres com suas sombrinhas ou guarda-chuvas pretos

atualizavam o noticiário local à sombra das árvores.

Novenas para pedir chuva, para suplicar pelo fim da

praga dos gafanhotos, orações e salmos no velório e

sepultamento dos entes queridos, orações intensivas nos 3 dias

de missões a cada 4 ou 5 anos, tríduo ou novena pela festa do

santo padroeiro da capela...eram tantos outros momentos de

oração. Natal, Páscoa, Pentecostes e tantas outras divisões do

tempo que a pedagogia da Igreja ordenava.

Na igreja, mulheres de um lado e homens do outro,

faziam dois coros para cantar salmos, ladainhas e preces onde

o que mais interessava era o coral, a harmonia e a participação.

Nem sempre os participantes sabiam o que estavam dizendo e

cantando como dissemos acima.

Trabalhar. Como os italianos do norte, os trentinos e a

família Zanotelli, vêem no trabalho uma obrigação sagrada. O

191

trabalho dignifica o homem. O trabalho, porém que dignifica o

homem é o trabalho penoso, difícil, perigoso, o trabalho que

deixa cicatriz e calo, o trabalho manual e cansativo. O trabalho

intelectual, assim como o ócio, o descanso, o brinquedo não

são tão apreciados. O trabalho de sol a sol, ou melhor o

trabalho que inicia antes do sol nascer e termina depois que o

sol se pôs. Por isso madrugar, estar de pé, a postos para iniciar

o trabalho tão logo clareie o dia é um costume muito valorado.

Para isso é necessário dormir cedo. Ainda hoje (1996) nas

colônias italianas do RS como Caxias do Sul os bares e

restaurantes tendem a fechar as portas logo depois das 22

horas. Não há a quem atender. E antes das 6 horas da manhã a

vida recomeça fervilhante.

A melhor educação que se possa dar a um filho é

ensiná-lo a trabalhar desde a tenra idade e desde a madrugada

de cada dia. O ttrabalho não faz mal a ninguém, mas dignifica

e dá esperança.

“Bon Princípio”. Uma grata tradição que as crianças

Zanotelli lembram com saudade é a da passagem do ano.

Cuidando à porta do quarto dos pais, avós ou padrinhos que

chegue o primeiro segundo do ano novo, as crianças irrompem

quarto adentro aos gritos de “Bon Princípio” (Feliz ano novo).

Os pais, avós e padrinhos que haviam deitado mais cedo para

192

não perder o espetáculo, fingindo dormir e demonstrando

surpresa recebiam com agrado aquela manifestação dos filhos,

netos e afilhados e retribuíam com uma moeda e alguns doces.

O primeiro que chegasse (e esperava-se que fosse o afilhado)

recebia um prêmio maior.

Depois, os meninos reunidos em pequenos bandos,

percorriam todas as casas, sem distinção desejando felicidades

para o ano novo e recebendo moedinhas e doces. Ao final da

manhã, voltavam os meninos, cansados, olhos luzentes, a

contabilizar as moedas e os doces. As meninas ficavam em

casa. Percorriam algumas casas da vizinhança quando a manhã

já ia alta. Aquela era uma festa dos meninos e um trunfo para a

sua afirmação masculina.

Esse costume foi trazido do norte da Itália. Em Cembra,

os meninos, em pleno inverno percorriam as montanhas para

desejar o “Bon Princípio”.

Festa de São João. Zanotelli deriva de João,

Giovanni, Zoanni, Zoan. João (Giovanni) é o nome da grande

maioria dos primogênitos nas famílias Zanotelli. Por isso a

festa de São João Batista tem um significado especial para os

Zanotelli. Na véspera da festa (23 para 24 de junho) nas

famílias Zanotelli sempre havia muita fogueira, vinho, pinhão

(RS), canções e o momento mágico da passagem sobre as

193

brasas de pés descalços e sem se ferir. Para todos,

especialmente para as crianças era um momento quase

milagroso e que demonstrava a proteção de São João.

Liberdade acima de tudo. Os Zanotelli guardam

zelosamente o princípio da liberdade. Cansados, como todo o

imigrante do norte da Itália, de ser empregado ou meeiro dos

senhores feudais, dos barões e dos ricos, vieram para a

América buscar um espaço de liberdade. Ser dono do seu nariz,

não ter horário nem patrão para obedecer (muito embora

trabalhassem mais de 15 horas por dia), ser proprietário (muito

embora de uma pequena porção de chão) para poder dizer :

“qui comando io... qua son mi „l paron” (aqui mando eu... aqui

eu sou o patrão) eis um motivo de luta e de esperança que

marcou profundamente a família Zanotelli. Agricultores

autônomos, pequenos empresários da indústria e do comércio,

profissionais liberais (advogados, contadores, médicos,

sacerdotes e, em último lugar empregado e funcionário), eis

uma constante de um ideal. A grande maioria dos Zanotelli

trabalha para si, em sua propriedade ou, como ainda dizem os

Zanotelli de Cembra: “ I Zanotelli lavorano su „l suo”.

Quase garibaldinos. É notável como os ideais

encarnados por Garibaldi influenciaram os Zanotelli. As idéias

194

republicanas, quase socialistas de Mazzini, corporificadas no

movimento da Jovem Itália e da Unificação italiana, o

descontentamento dos tiroleses do sul contra o Império

Austríaco que levava os impostos e que pouco investia no

Trentino, que arrancava das famílias os jovens para as

constantes guerras imperiais, a vibração dos trentinos quando

Garibaldi quase arrancou Trento da Áustria, tudo isso veio no

sangue e na alma dos imigrantes Zanotelli. Destinados à

colônia Conde d‟Eu (mais tarde denominada Garibaldi) os

Zanotelli, embora em parte desviados para o Espírito Santo

como consta acima, sempre tiveram em Garibaldi um símbolo.

Algo de rebeldia, de insatisfação, de exigência de reformas, de

clamor por igualdade e liberdade está no fundo da história da

família Zanotelli. A participação em partidos de centro-

esquerda mostra essa tendência política nas famílias Zanotelli

esparramadas por todo o Brasil.

Palavra de Zanotelli é um documento. Uma das

tradições de que se orgulham os Zanotelli, especialmente os

mais idosos é, ainda hoje, a honorabilidade de sua palavra. Os

Zanotelli costumam cumprir o que acordam, são fiéis à palavra

empenhada. O maior e melhor documento é a palavra

empenhada. E cada qual, do Oiapoque ao Chuí, lembra fatos

195

que demonstram que os Zanotelli cumprem a palavra, mesmo

que nisso tenham prejuízo.

Nem sempre o carinho é afeto. Até bem pouco tempo

não era comum na família Zanotelli que os pais

demonstrassem afeto e carinho aos filhos, nem os cônjuges

entre si. Pareceria quase que o afeto diminuiria a autoridade

dos pais. Para amar e educar os filhos o essencial era a

severidade nas exigências, o trabalho, o castigo e poucas

palavras. O patriarcalismo familiar parecia que só se salvasse

se distante do beijo, do abraço, do afeto dos gestos e das

palavras. Hoje os netos e bisnetos recuperaram esse campo e

os mais renitentes cederam ao fato de que o carinho também é

afeto e demonstração de amor.

Reunião em família. Batisados, casamentos,

aniversários, Natal, Páscoa, São João...domingos eram também

outras tantas ocasiões para que a família, a grande família, se

reunisse. O gosto pela reunião familiar é visceral nos Zanotelli.

E a reunião é sempre pretexto para falar e rir em voz alta, para

jogar quatrilho e bochas (nos fundos do quintal de muitas casas

há uma cancha de bochas) e, especialmente, para cantar. Uma

reunião sem cantoria não parece reunião. E o que importa não

é a música executada mecanicamente. O que importa é cantar

196

juntos. E todos retornam para as suas casas com restos de

canções no ouvido e na garganta, no assobio que dura até o

próximo encontro.

Ao natural. De estatura média, ombros largos, testa

ampla, “sangüíneo” por temperamento, amante da natureza,

das matas, das flores, dos rios e também da caça e da pesca e

da liberdade (como eram descritos os trentinos em 1850) os

Zanotelli trazem na alma a preferência de tudo o que é

“natural” em confronto com o que é artificial. Ainda guardam

a lembrança de que hospital, médico e remédios só se os

procura em último caso, quando os chás “naturais” não

resolveram o problema. Inserir-se no eco-sistema, integrando a

vida vegetal, animal e humana para que a “sabedoria” da

natureza guie a saúde de todos é quase um programa de grande

número das famílias Zanotelli.

Os imigrantes adotam o vestuário, a alimentação e os

costumes gaúchos. Botas, esporas, bombachas, poncho ou pala,

chapéu. Ao mesmo tempo contribuem com uma nova culinária,

novos costumes, novos valores. Em pouco tempo (em menos

de um século) a integração se fez plena. E Caxias do Sul, com

massiva imigração italiana, tem hoje o maior número de CTGs

(Centros de Tradições Gaúchas) do Rio Grande do Sul.

197

198

199

VI- SACERDOTES E RELIGIOSOS

Entre os Zanotelli, tanto na Itália como no Brasil,

encontramos um bom número de sacerdotes, bispos e

religiosos. O ideal (que incluía também o de promoção na

escala social) de ter um sacerdote ou uma pessoa religiosa na

família sempre esteve presente entre os Zanotelli. Muitos

contam em seu currículo o fato de ter sido seminarista ou

aspirante a religioso. Dentre os sacerdotes podemos destacar:

Frei Modesto Antonio Zanotelli. Seu nome de

batismo era Antonio Gabriel Modesto Zanotelli. Filho de

Battista Zanotelli e Maria Micheli, nasceu em Cembra em

18.3.1831. Irmão leigo franciscano, vestiu o hábito em

28.3.1857 e professou em 1.6.1858. Morreu em Trento em

8.1.1905. É lembrado no número 972 do necrológio dos freis

Franciscanos. Cf. Cadernos de Apontamentos Paróquia

Cembra pg . 22.

Frei Benedetto Zanotelli. De batismo era Emanuele,

filho de Gregório e Maria Zanotelli, nasceu em Cembra em

200

17.6.1842. Abraçou a vida franciscana e morreu na idade de 66

anos em 18.1.1908. Necrológio n. 973. Cf. Cadernos de

Apontamentos Paróquia de Cembra pg. 28.

Mons. Giuseppe Zanotelli. D. Giuseppe Zanotelli,

filho Antonio Zanotelli e Marianna Toniolli, nasceu em

Cembra em 19.3.1842. Cumpridos os estudos em Trento, foi

ordenado sacerdote em 18.12.1864. Foi cura de Faver por 12

anos e reitor do Santuário de Caravágio em Montagnaga de

Piné por 21 anos. Por méritos especiais foi nomeado bispo e

capelão (confessor) secreto de Sua Santidade o Papa Leão

XIII. Em 1902 (falecido Leão XIII), abandonou o Santuário

retirando-se à Terra Santa onde, em 19.10.1902 foi acolhido

como Terciário e Filho da Custódia da Terra Santa, no

convento franciscano de Jerusalém, com o nome de Frei

Innocenzo. Ali morreu em 16.10.1917. Cf. Cadernos

Apontamentos Paróquia de Cembra pg 27.

Pe. Alessandro Zanotelli. Filho de Antonio Zanotelli e

Marianna Toniolli, irmão, portanto de Dom Giuseppe, nasceu

em Cembra em 3.5.1928. Estudou no colégio “vescoville” de

Trento. Ali se fez sacerdote em 1853. Foi capelão da catedral

de Trento, em Ala e Cles onde se distinguiu na assistência aos

doentes. Em 1855 foi cura de Aldano e em 1879 foi pároco de

201

Avio onde morreu em 4.1.1901 entre o pranto geral. Cf.

Cadernos Apontamentos da Paróquia de Cembra pg. 20.

Frei Emanuele Zanotelli. Frei Emanuele, filho de

Giovanni Zanotelli e de Teresa Bonzanin, nasceu em Cembra

em 25.5.1877. Aos 11 anos entrava para o Colégio dos Irmãos

Estigmatinos de Verona onde, completados os estudos, foi

ordenado sacerdote em 10.8.1900. Foi professor nas escolas de

seu Instituto em Gênova, Noline e Verona e dedicou-se muito

à pregação. Escreveu apontamentos de Pedagogia Ascética.

Internado na Casa de Saúde dos Fatobenefratelli de Milão,

faleceu serenamente em 27.11.1944. Cf. Cadernos

Apontamentos Paróquia Cembra pg. 43.

Pe. Carlo Zanotelli. (rochet), filho de Salvador

Zanotelli e Angela Zanei, nasceu em Cembra em 23.3.1873.

Ingressou no Instituto de S. João Bosco, estudou e ordenou-se

sacerdote salesiano em 15.1.1905. Quase toda sua atividade

foi de missionário no Brasil onde morreu em 1941.Cf.

Cadernos de Apontamentos Paróquia Cembra pg. 37.

Pe. Guido Zanotelli. Filho de Giacinto Angelo

Zanotelli e de Arrola Piffer, nasceu em Cembra em 5.10.1932.

Estudou com os padres Combonianos e se fez sacerdote em

202

Cincinati (EU) em 25.5.1958. Celebrou sua primeira missa na

pátria (Itália) em 22.6.1958. Retornou à missão na América e

hoje trabalha como missionário no Sudão (África). Faleceu na

África após nosso encontro em Cembra.

Pe. Alessandro Zanotelli (Alex). Nascido em Livo,

Val di Non o Pe. Alessandro é comboniano, diretor da revista

Nigrizia, combativa defensora dos povos colonizados da

África. Por causa de suas posições foi “enviado” para a África

onde exerce exemplarmente o sacerdócio junto aos pobres da

periferia de Nairobi.

Frei Biagio Zanotelli. De batismo era Nicoló, filho de

Nicoló Zanotelli e Maria Bonfant. Nasceu em Cembra em

6.12.1856. Em 2.8.1879 entrou para o convento dos

Franciscanos em Cavalese e vestiu o hábito de irmão leigo em

3.8.1880. Em 7.8.1884 fez a profissão religiosa. Em 29.3.1892

partiu como missionário para a Albânia e ali ficou até 1898.

Neste ano aos 19 de dezembro adoentado chegou em Trento

onde morreu em 25.12.1917. Necrológio n. 1028. Cf. Caderno

de Apontamentos Paróquia Cembra pg. 33.

Pe. Darly Zanotelli de Almeida. Filho de Florentino

de Almeida e de Maria Zanotelli, o Pe. Darly nasceu em

203

Capim Angola, Cachoeiro do Itapemerim, estudou com os

Jesuítas e, como sacerdote, trabalhou em vários colégios, como

os de Teresina (Piauí). Trabalha num colégio jesuíta em

Salvador da Bahia.

Pe. José Pressi Zanotelli. Filho de José Zanotelli e Rachelle

Pressi, em festa da família em Garibaldi. Nasceu em Marcelino

Ramos.- RS - Brasil Foi estudante e depois sacerdote

salesiano. Trabalhou em Bagé e faleceu em Ascurra, Santa

Catarina, onde está sepultado, em 30.4.1990.

204

205

VII– CONCLUSÃO

De um contexto europeu e especialmente trentino

marcado pela introdução do capitalismo industrial e a

desestruturação do sistema feudal de minifúndios e senhorios,

marcado pela desvalorização dos produtos agrícolas e

inexistência de lugares de trabalho na indústria e comércio,

marcado pela luta de liberais contra o Estado de Cristandade

que se consubstanciava na Unificação da Itália (ainda não

República como a queria Mazzini mas como a fez Garibaldi,

nos limites do ministro Cavour ) e com o “irredentismo”

palpitando no Tirol, emigraram os Zanotelli para o Brasil,

assim como para a Argentina, para os Estados Unidos e para o

norte da África.

As pestes na parreira de uvas e no casulo do bicho da

seda e a conseqüente pelagra por falta de proteínas na

alimentação foram a gota final de água que fez o copo

transbordar.

Informados pelos agentes de emigração de Caetano

Pinto das condições que a legislação brasileira e o contrato que

206

este estabelecera com o Império Brasileiro ofereciam,

venderam ou abandonaram o pouco que tinham e emigraram.

Renunciando à cidadania Austríaca (pois que aquela

região pertenceu ao Império Austro-Húngaro até 1919) como o

queriam as autoridades austríacas para não ter mais

compromisso e obrigação com os concidadãos que emigravam,

em geral pobres, e como um gesto decisivo de emigrar para

não voltar, queimando o último navio e a última ponte, vieram

os Zanotelli em 1875.

De trem, de Trento a Verona, de Verona a Milão, de

Milão a Modene (na França) dali para Paris e Le Havre ou para

Marselha vinham no bojo do contrato de Caetano Pinto, para o

Rio de Janeiro e dali para as colônias brasileiras.

Considerando as informações que o Pe. Bartholomeu

Tiecker, trentino emigrado com a família para o RS em julho

de 1875, oferecia nos jornais trentinos, os Zanotelli vinham

com destino ao RS, especialmente para as colônias de Conde

d‟Eu e Dona Isabela. O navio Fenelon, porém, em que vinha

um grupo de Zanotelli foi desviado para o Espírito Santo, sob

protesto do consulado austríaco do Rio de Janeiro e os que

vieram pelo navio Rivadávia chegaram a Garibaldi (Conde

d‟Eu) no dia 24/12/1875.

Ocupados os lotes da Linha Figueira de Mello e

crescendo a família, deslocaram-se os Zanotelli daquela

207

colônia para as de Estrela (Encantado) que haviam sido abertas

em 1882. Assim a maior parte da família Zanotelli localizou-se

em Muçum e Encantado. Mais tarde, na década de 1930,

migraram para Erechim, Marcelino Ramos e para o Brasil

todo. São hoje mais de dez mil os vinculados de qualquer

forma à família Zanotelli que imigrou para o Brasil.

Pequenos proprietários, agricultores, pequenos

empresários da indústria, comércio, profissionais liberais,

sacerdotes e religiosos, os Zanotelli guardam profundamente

marcado o espírito empreendedor, o gosto pela liberdade e pela

não subordinação de uma relação de empregado, o

“irredentismo” rebelde que sabe que acabou o feudalismo e

que a igualdade é a base da fraternidade. Dentre eles há

políticos (2 prefeitos no RS atualmente) uma dezena de

vereadores pelo Brasil.

Na verdade a imigração e a história da família Zanotelli

pode ser vista como um exemplo típico da emigração trentina,

do Alto Ádige para o Brasil. Em suas peripécias percebem-se

os traços comuns dos emigrantes daquela região que aportaram

para estas terras. As semelhanças são grandes com a emigração

do norte da Itália, são menores a medida em que a comparamos

com a do sul. Mesmo assim guardam traços peculiares como

foram ressaltados na primeira parte deste trabalho.

208

Pensamos que, iluminando assim uma história familiar,

resulta em contribuição para compreender não só a imigração

italiana e trentina mas também para que muitos imigrantes

localizem melhor suas raízes e façam do congraçamento

familiar um gesto histórico de construir um Brasil cada vez

melhor.

209

210

Heráldica que parece autêntica – refere os Zanotelli como provenientes do

vale do Pó.

211

VII-RELAÇÀO DE FAMÍLIAS IMIGRANTES

Observações

As observações que seguem auxiliam a compreensão

dos dados pessoais e familiares específicos, no contexto

histórico da migração italiana para o Brasil. Caracterizam

melhor as situações concretas das pessoas e das famílias.

As pessoas ou grupos familiares estão antecedidos pelo

número em ordem ascendente como consta da árvore

genealógica bem como sua caracterização alfabética.

Quando a fonte de pesquisa não estiver especificada é

porque a investigação foi levada a cabo por nós mesmos.

1.Z. GIOVANNI ANTONIO ZANOTELLI.

Natural de Livo, Val di Non, Tirol, Áustria (hoje Itália),

nasceu por volta de 1678, Giovanni, na década de 1680,

deslocou-se para Cembra para residir com um tio que era

sacerdote.

“O Bispo de Trento havia chamado o frei Stefano

Zanotelli e lhe atribuíra a tarefa de receber as taxas no Vale de

212

Cembra. O sacerdote, para melhor exercer o papel, radica-se

em Cembra e, pouco depois faz com que venham também seus

irmãos (diz-se que eram 3). Diz-se também que estes irmãos

saem de Livo porque tinham muitas “diferenças” com a família

que era dona da Região”. Era a família De Stanchina, dona do

castelo e da região. Isto ocorre ao final de 1600. Nos primeiros

tempos de sua chegada a Cembra habitavam uma casa “do

castelo” em Fadana.

Um dos irmãos chamado Giovanni Antonio, nascido

em Livo ao redor de 1678 e falecido em Cembra em

13.09.1758, casou com Dorotea Concherle, filha de Vigilio

Concherle, nascida em Faver ao redor de 1684 e falecida em

Cembra em 01.03.1764.

Com um de seus 4 filhos inicia nossa Família”126

. Em

Cembra, Giovanni Antonio, em 17.02.1705, casou com

Dorotea Concherle, natural de Faver (também do Vale de

Cembra) e com ela teve 4 filhos masculinos: Giovanni, Vigílio,

Cristóforo e Giovanni Antonio. Destes 4 filhos descende a

maioria dos Zanotelli que emigraram para o Brasil e Argentina.

O vol. 1o. fls. 301 a 304 da Anágrafe da paróquia de Cembra

serve de base para a pesquisa.

Em plena Idade Média, pois o feudalismo só acabou

nessa região em 1848, o fato de Giovanni ter um tio sacerdote,

126

Comentários da família Zanotelli em Cembra: Alex, Túlio.

213

é indício de que os Zanotelli não eram servos da gleba.

Deveriam ser pequenos proprietários, ou pequenos senhores,

que mantinham desavenças com o senhor feudal de Livo.

Como se pode ver abaixo, os filhos de Giovanni Antonio

adotaram vários “sobrenomes” ou apelidos familiares como os

de: Rocheti (da família de frei Rocco) Paze, Pace, Mozzi,

Toffoli, Biasi, Slizega, Vigilioti, Forneri.

11.ZA. GIOVANNI CONCHERLE ZANOTELLI

Filho de Giovanni Antonio, de Livo, nasceu em

15.09.1707 e casou com Maddalena Valgoi. Teve dois filhos

masculinos: Giovanni Antonio Valgoi Zanotelli e Gregório

Valgoi Zanotelli. Giovanni Antonio teve 4 filhos: Antonio

(cujos descendentes se chamaram Forneri, isto é padeiros,

trabalhavam com fornos tendo vinculação com a família Dal

Forno também originária de Livo), Simone (de cujo Filho

Biagio vem o apelido Biasi), Francesco (que morreu sem

descendência) e Vigilio (cujos descendentes se chamaram

Pace ou Paze). Gregório teve um filho masculino: Giovanni

(cujos descendentes se chamaram Rochetti, porque seu filho

Giusepe Rocco foi frade famoso). De um irmão dele descende

Giacomo, pai de José Devilli Zanotelli, casado com Augusta

Nogarol dos quais descende um grande grupo de Zanotelli de

Rio Novo, Cachoeiro do Itapemerim e Iconha ES.

214

12.ZB. VIGILIO CONCHERLE ZANOTELLI

Segundo filho de Giovanni Antonio, de Livo, nasceu

em Cembra, em 28.02.1717, casou com Maria Maddalena

Nardin. Tiveram um filho masculino: Giovanni Antonio

Nardin Zanotelli casado com Maria Maddalena Cembran em

19.01.1748 que tiveram 3 filhos masculinos: Vigílio (cujos

descendentes se chamaram Vigiliotti), Paolo Arcangelo e

Giovanni Gasparo (cujos filhos emigraram massivamente para

o Brasil e por isso se chamaram Mericani). Dos filhos de

Giovanni Gasparo (casado com Margherita Savoi) Paolo e

Giovanni migraram para o Espírito Santo, Francesco para o

Rio Grande do Sul e Antonio Provavelmente ficou em

Cembra.

13.ZC. CRISTÓFORO CONCHERLE ZANOTELLI

Cristóforo, filho de Giovanni Antonio, de Livo, nasceu

em Cembra em 12.07.1720 e casou com Maddalena Nicolodi

(filha de Nicolò) em 15.02.1749 e teve 5 filhos masculinos:

Giovanni (cujos descendentes se chamaram Mortalet),

Cristóforo (cujos descendentes se chamaram Toffoli), Nicolò

(do qual descende Giuseppe Zanotelli que casou com Rachelle

Pressi e cujos filhos se localizaram em Marcelino Ramos RS) e

Antonio (do qual descende a família de Agostino que emigrou

215

para o Espírito Santo, chegando na Colônia Leopoldina em

05.01.1876).

14.ZD. GIOVANNI ANTONIO CONCHERLE ZANOTELLI

Giovanni Antonio, filho de Giovanni Antonio, de Livo,

nasceu em 14.04.1725, em Cembra, e casou com Domenica

Largher (viúva de Nicolodi) em 15.02.1749. Casou no mesmo

dia que seu irmão Cristóforo. Tiveram 3 filhas (Maria

Maddalena, Anna Maria e Maria Domenica) e um filho

masculino: Giuseppe Antonio Stefano ( que casou com

Maddalena Nicolodi filha de Paolo).

370.ZBAC. GIOVANNI GÁSPARO CEMBRAN

ZANOTELLI

Giovanni Gásparo, filho de Giovanni Paolo, neto de

Vigilio e bisneto de Giovanni Antonio, de Livo, nasceu em

Cembra em 14.07.1780, casou com Margherita Savoi e teve 6

filhos: Giovanni Savoi Zanotelli (casado com Marianna

Menegatti), Antonio (casado com Maria Toniolli), Catterina

(casada com Nicolodi em 14.02.1843), Francesco (casado com

Domenica Eccli), Maddalena (casada com Ferrazza em

22.12.1847) e Paolo (casado com Teresa Nicolodi). As

famílias de Giovanni e Paolo migraram para o Espírito

Santo. Francesco para o RS.

216

655.ZBACA. GIOVANNI SAVOI ZANOTELLI, filho de

Giovanni Gasparo, nascido em 27.6.1817 e falecido em

20.4.1874, casado com Marianna Menegatti em 1850 teve os

filhos: Giovanni (1861), Antonio (1852), Costantino (1857) e

Luigia (1864). No Livro Anagrafe da paróquia de Cembra, ao

lado dos nomes dos filhos de Giovanni consta em letra

vermelha "mericani" isto é emigrantes para a América. Em

pesquisa por nós realizada no Arquivo Público de Vitória, ES

encontramos Marianna e seus filhos como tendo migrado

para o Brasil, com o navio Fenelon, chegando em Santa Teresa

no dia 5.1.1876. É muito provável que toda a família de

Giovanni Gasparo Zanotelli tenha migrado para o Brasil, indo

parte para o RS e parte para o ES.

ZBAC. PAOLO SAVOI ZANOTELLI

Paolo, filho de Giovanni Gásparo, nasceu em

13.04.1811 em Cembra e faleceu em 1871 em Santa Teresa, no

Espírito Santo. Casado com Teresa Nicolodi (nascida em

Fadana, Vale de Cembra, em 1815) em 30.04.1842, teve 6

filhos: Francesco, Margherita, Maria, Paolo, Giustina e Angelo

que migraram para o Espírito Santo, Santa Leopoldina, seção

Thimbuy (Santa Teresa), lá chegando em 5 de janeiro de 1876.

O navio Fenelon em que vieram foi desviado à revelia dos

217

passageiros para o Espírito Santo, segundo protesto do

consulado austríaco no Rio de Janeiro. Eles se destinavam ao

Rio Grande do Sul. Na mesma época e com outro navio

(Rivadávia) vinha para o RS o irmão de Paolo, Francesco.

666.ZBAC. FRANCESCO VIGILIO SAVOI ZANOTELLI

Francesco, filho de Giovanni Gásparo, nasceu em

Cembra, em 29.01.1826 e casou com Domenica Eccli (que

nascera em 09.11.1827) em 31.05.1851. Teve 6 filhos:

Catterina (nascida em 12.05.1854, casada com Angelo Zanol

em 14.02.1874 em Cembra e falecida sem filhos em 1874),

Angela (nascida em 27.12.1863 e falecida em Cembra em

03.10.1865), Maria (nascida em 05.07.1867 e falecida em abril

de 1869), Giovanna (nascida em 05.07.1867 e falecida menina

em Cembra), Giuseppe nascido em 18.02.1870 e falecido em

11.02.1871) e Narciso nascido em 07.09.1857 e que, com os

pais emigrou para o Brasil (RS) em novembro de 1875,

chegando em Conde d‟Eu em 24.12.1875.

Após a chegada não se tem mais notícias de Francesco.

É provável que tenha falecido até 1882, em Garibaldi. Quando

Narciso em 08.02.1884 recebe o título provisório de seus 11,6

hectares na Estrada Geral de Conde d‟Eu, linha Figueira de

Mello (bem próximo à atual cidade de Garibaldi) não há

referência a Francesco.

218

No passaporte de Francesco erroneamente com

sobrenome “Zanotteli” consta: “condizione: giornaliere”,

domicílio: Cembra, no distrito e província ou círculo de

Trento, no domínio do Tirol, nascido 1826, estatura mediana

“ordinaria”, testa “oblunga”, cabelos negros, olhos castanhos,

boca e nariz regulares. Viaja da Áustria-Hungria para a Itália -

América. Este passaporte vale por dois meses. Trento, 29 de

outubro de 1875....Capitania distrital. Assinatura e carimbo.

No verso constam: Domenica Zanotteli (esposa),

nascida em 1827, e Narciso (filho) nascido em 1857. Segue

abaixo a desistência da cidadania austríaca127

com a mesma

data de 29.10.1875. E abaixo o carimbo da Polícia do Porto do

Rio de Janeiro, o visto de 10 de dezembro de 1875 -

Navegação francesa Rivadávia (sublinhado) e assinatura de

Macedo.(Cf foto II 3 e 4)

127

“Si conferma che l‟entro nominato dichiarò di svicularsi dal nesso della

cittadinaza Austriaca e di emigrare nel Brasile, percui da questo momento ha

cessato d‟essere cittadino Austriaco. Trento 29 ottobre 1875. Dall I.R. Capitanato

Distritale”. Tradução: confirma-se que o supra - nomeado declarou desvincular-se

do nexo da cidadania austríaca e de emigrar para o Brasil, em vista do que desde o

presente momento deixou de ser cidadão austríaco.

219

1111.ZBACFF. NARCISO ECCLI ZANOTELLI

Narciso, filho de Francesco Vigilio, neto de Giovanni

Gásparo, nasceu em Cembra em 07.09.1857, como único

sobrevivente de 6 irmãos, aos 18 anos, migra para o Brasil,

acompanhando os pais. No passaporte consta que vieram com

o navio Rivadávia, cuja vistoria consta como em 10.12.1875,

no Rio de Janeiro. Chegam, por Rio Grande, Porto Alegre, Caí,

Montenegro, Maratá de barco e daí a pé até A Colônia Conde

d‟Eu. Às vésperas do Natal de 1875 estão em Garibaldi (então

220

Conde d‟Eu). Localizam-se em lote à beira da Estrada Geral de

Conde d‟Eu, na linha Figueira de Mello128

.

Em Garibaldi Narciso casou com Theresa Job Telk em

2 de fevereiro de 1878129

(muito embora conste seu casamento

como ocorrido em 1880). Theresa era filha de Bartholo Telk

(que faleceu em Garibaldi no dia 30.08.1887130

) e Magdalena

Job (que faleceu em Garibaldi em 30.08.1887).

Em fevereiro de 1884 Narciso já tem 4 filhas: Maria,

Amália, Narciza e Carolina. Em 01.04.1885 nasceu Felice

Giacomo (que foi batizado em 24.02.1886 em Garibaldi131

) e

deve ter falecido criança. Em 8.12.1885 nasceu Francisco.

Rosina nasceu em 23.02.1889. Camilo Domingos nasceu em

23.07.1890 (deve ter falecido criança). José nasceu em 1891.

Clementina nasceu em 22.06.1893. Leopoldina nasceu em 128

No livro 312, pg. 13 do Arquivo Histórico de Porto Alegre sob o título

de Estrada Geral de Conde d‟Eu - 1a. secção - Família n. 79, n. de registro

407 consta: “Zanottelli, Narcizo, casado, católico, austríaco, lote 1/449,

área 116.649 m2., preço da braça quadrada (4,84m2)= 3 Réis - Valor do

lote 69.204. 20% do art. 6o. do Regulamento de 19.1.1867= 13.840. Pelos

adiantamentos feitos = 125.525. Total = 208.569. Data da Entrega do

Título provisório 8.2.1884. ½ da dívida de Giuseppe Batistoni Bom

pg.149.” e Logo abaixo: “No. 408: Thereza (casada ) austríaca. Filhos: 409

- Maria (brasileira), 410 - Amália, 411 - Narciza, 412 - Carolina, 413 -

Domenica (austríaca)” Esta última é a mãe de Narciso. 129

Conforme justificativa judicial exarada pelo juiz de Caxias do Sul em

2009 130

No livro de Óbitos de Conde d‟Eu, pg. 23v. consta: “No dia 30/8/1887

faleceu de plethora com 76 anos de idade Bartholomeu Telk, casado com

Magdalena Job, tirolês, lavrador, confessou e comungou há pouco. Foi

encomendado e enterrado por mim neste cemitério em 31 do mesmo. E para

constar fiz este que assino. P.B.Tiecker”. 131

Cf. Livro 1 de Batisados de Conde d‟Eu pg. 85.

221

1894. João nasceu em 01.02.1895. Narciso teve, portanto, 12

filhos, os últimos, desde 1882, em Jacarezinho, Encantado,

para onde se transferiu.

Por ocasião da assinatura do título provisório em 1884,

constam como residindo com Narciso a mãe e os filhos, não

aparece o pai Francesco.

Narciso faleceu em Jacarezinho em 14.12.1904 e lá se

encontra sepultado.132

132

No mesmo túmulo estão Narciso e Tereza bem como João Baptista Telk

Zanotelli filho de Narciso, a esposa de João, Maria e Geni irmão de Jandir,

bem como David Dalla Vecchia tio de Jandir.

222

223

224

Acima: o passaporte de Francesco Zanotelli, sua esposa e filho

Narciso

514.ZBACFFA. JOSÉ TELK ZANOTELLI

JOSÉ TELK ZANOTELLI, filho de Narciso, nascido em 1891

e casado com Margarida Secchi nascida em 1894 (irmã de José

Secchi, filha de Clemente Secchi e Angela Girardi) em

Jacarezinho e fixou residência em Capitão, então município de

Encantado.

José teve 12 filhos: Reinoldo, Alfredo, Danilo, Fausto,

Telmo, Leopoldo, Elias, duas filhas de nome Nilde, Noli,

Elvira e Ida.

Agricultor, criador de gado e pequeno comerciante, era

liderança forte de tal forma que o município atual de Capitão

tem uma Linha Zanotelli, lugar onde residia Fausto. O

casamento de José e Margherita está registrado à página 93, n.

4 do Livro de Casamentos da Paróquia de Encantado,

realizado que foi em 1.2.1913.

1516.ZBZCFFB. FRANCISCO TELK ZANOTELLI, filho de

Narciso e Theresa, nascido em Figueira de Mello, Garibaldi,

casou, aos 20 anos em 18.8.1906 com CAROLINA BERTOL,

filha de João Bertol e Maria Beber, nascida em 1889 cf Livro

de Casamentos da Paróquia de São Pedro de Encantado, n.304,

225

pg 60 onde está escrito "Zannutelli". Francisco residiu em

Jacarezinho, depois em Lageado Feio, Putinga e por fim em

São José do Herval, agora município, e então município de

Soledade.

Teve 11 filhos: Romilda casada com Etelvino Dartora,

Belvina casada com Dionísio Bigolin, Santo casado com

Maria Cecília Locatelli Vidaletti, Orestes casado com Gema

Weber, Francisco casado com Otília Conte, Narcizo casado

com Isolina Mayer e depois com Celestina Pretto, João casado

com Santa Sbaraini, Ana casada com Pretto e residente em

Putinga, Hortênsia casada com Dartora e residente em

Encantado.

2025 JOÃO PEDRO BERTOL ZANOTELLI, filho de

Francisco Telk Zanotelli e neto de Narciso, viveu em S. José

do Herval. Era comerciante. Casado com Santa Sbaraini teve 9

filhos: Valmor, Lauro, Beltriz, Anaide, Valdemar, Edgar,

Adiles e Cleci.

2027 FRANCISCO RAFAEL BERTOL ZANOTELLI, filho

de Francisco Telk Zanotelli e neto de Narciso, viveu em S.

José do Herval RS. Foi comerciante e liderança destacada.

Casou com Otília Conte e teve 9 filhos: Adaires, Jandir

226

Francisco, Mauro, Teresinha, Hugo, Alberto, Ana, Alice e

Ivone.

2031 SANTO BERTOL ZANOTELLI, filho de Francisco e

neto de Narciso Zanotelli residiu em S. José do Herval e agora

em Soledade RS, trabalhou com comércio e erva mate. Casado

com Maria Vidaletti.

2023 NARCIZO BERTOL ZANOTELLI, filho de Francisco

Telk Zanotelli, neto de Narciso Eccli Zanotelli, viveu em S.

José do Herval RS, trabalhou como comerciante. Casado com

Isolina Mayer teve 10 filhos: Arthur, Irma, Ivone Maria,

Clotilde Carolina, Valdomiro, Enio, Ivo, Raul, Lourdes

Terezinha e Altair Salete. Casou depois com Celestina Maria

Pretto.

227

ZBACFFC. JOÃO BAPTISTA TELK ZANOTELLI

João Telk Zanotelli e Maria Bridi Agostini com os 12 filhos. Da esquerda

para a direita sentados: Valdemar, Leonel, Maria, João, Agenor, Alcides.

De pé: Santina, Ida, Amália, Matilde, Angelina, Alice, Hortência, Ortenila.

João Baptista Telk Zanotelli, filho de Narciso e

Theresa, nasceu em Jacarezinho em 01.02.1895. Foi batisado

em 14 de março de 1895 em Encantado, freguesia de Santo

Ignacio de Lageado pelo Pe. João Fronchetti133

Casou com

Maria Bridi Agostini em 02.02.1916 em Encantado e teve 12

filhos como se vê acima.

Órfão de pai desde os 9 anos, viveu e morreu na mesma

terra, residindo sempre na casa paterna. Faleceu em 31.07.1972

em Jacarezinho onde está sepultado. “Homem é aquele que

tem palavra. O melhor documento é a palavra de um homem”:

era seu lema. Muitas vezes enganado, nunca perdeu a fé na

133

Cf. Livro 04 de Batismos da Igreja de Sto. Inácio de Lageado, fls. 41v. E

foram seus padrinhos João Job (Jopi) e Maria Zanotelli.

228

palavra do homem. Como que a dizer: fora da ética não há

humanidade. É a ética que faz um homem humano, que o

diferencia do desumano. Nisso repercutem os valores que os

Zanotelli trouxeram como raízes e guardaram como horizonte

de esperança.

Abaixo um excerto sobre a família de Maria Agostini.

MARIA BRIDI AGOSTINI cc João Zanotelli

Maria Bridi Agostini e João Telk Zanotelli (sentados), por ocasião das

bodas de ouro de casamento. De pé estão os 8 irmãos de Maria sendo que

o mais velho (Marcos à direita) contava 98 anos.

229

MARIA BRIDI AGOSTINI é filha de Baptista Ferrari Agostini

e de Angela Bridi Agostini, neta de Giovanni Baptista Agostini

e Angela Ferrari que emigraram de Mattarello, Trento para

Figueira de Mello, Garibaldi por volta de 1875. Giovanni

Baptista Agostini e Angela Ferrari Agostini tiveram 5 filhos:

Baptista (casado com Angela Bridi ), Angelo (Angelin)

(casado com Angelina Radaelli), Antonio (casado com Maria

Zanotelli), Catarina (casada com Aldrovandi) e Felice

(casado com Antonia Casagrande) Baptista e Angela Bridi

casaram em Garibaldi. No Liv.01 de Casamentos da Freguesia

de S. Pedro de Conde d'Eu, pg 54 v consta: "No dia 21 de

novembro de 1887, corridos os pregões de estylo e sem que

apparecesse impedimento algum, na presença das testemunhas

Jacob Zanatti e João Casotti, eu o P. Bartholomeu Tiecker,

recebi em matrimônio solemnemente, por palavras a

BAPTISTA AGOSTINI e ANGELA AGOSTINI, ele de vinte

anos de idade, filho legítimo de Baptista Agostini e Angela

Ferrari e ela de 23 annos de idade, filha legítima de

Bartholomeu Agostini e Lucia Bridi, ambos estrangeiros,

lavradores e residentes nesta freguesia. E para constar fiz este

termo que assignei. P. Barth. Tiecker - Vigário".

230

.Baptista Ferrari Agostini e Angela Bridi Agostini tiveram 9

filhos: Na foto acima, de pé: Maria, Rachele, Izabela,

Francisco, David, Cesar. Sentados: Fiore, Ana, os pais Angela

e Baptista, e Marcos.

Bodas de ouro de casamento de Baptista e Angela com todos

os filhos e alguns netos presentes.

231

Maria Bridi Agostini (sentada à esquerda) e suas irmãs:

Rachele, Angela e Ana.

MARCOS, casado com Joana Soler residiu na Linha Argola,

Jacarezinho e teve 6 filhos: Elvira (casada com Castoldi e res.

em Capitão), Maria, Anilde (casada com Bianchini e res. no

Paraná), João (casado com Pascoale e res. em Medianeira,

232

Pr), Silvino (casado com Daltoé e reside em Jacaré

Encantado), Jandir (casado com Lucci e res. em Roca Sales).

ANA , de apelido Nani, casada com Benjamim (Beniamino)

Fachini e resid. em Jacarezinho teve 6 filhos: Cândida (casada

com Santo Gonzatti ou Conzatti e res. em Jacarezinho), João

(casado com Salton), Balduino (casado com Gonzatti),

Dorvalino (casado com Daldon), Genuína e Juraci. Benjamim

é filho de Giovanni e Cândida. Nasceu em Figueira de Mello,

Garibaldi, casou com Ana em Encantado no dia 30.1.1910 cf

n.450 da pg. 79 do Livro de Casamentos da Paróquia de São

Pedro de Encantado.

FIORE, casada com Fr. Secchi e resid. em Jacarezinho teve 4

filhos: Guilherme, Vitorio (irmão jesuíta e falecido em Poa),

Gioenda, Alzira (casada com Gonzatti).

CESAR, casado com Gertrudes Ghisleni e resid. em

Jacarezinho teve 9 filhos: Remegilda (casada com José Lucca

e res. em Esteio, Altibano casado com Ana Lorenzon e

residente em Jacarezinho, Anacleto residente em S. Miguel do

Oeste SC, Getúlio assassinado em Barracão da Argentina SC,

Ari resid. em Barracão da Argentina, Ita casada com Sangalli

e resid. em Barracão da Argentina, Erci casada com

Magagnin e resid. em Sto. Augusto, Flávio resid. em S. Miguel

do Oeste SC, Maria resid. em S. Miguel do Oeste SC.

233

MARIA casada com João Baptista Telk Zanotelli (filho de

Narciso e Tereza e neto de Francisco) teve 12 filhos: Leonel

casado com Ana Dadalt Dalla Vecchia, Valdemar casado com

Vilma Giacomoli, Agenor casado com Lúcia Rossato, Alcides

casado com Gema Sartori, Amália casada com Constantino

João Daldon, Hortência casada com Guilherme Gobbi,

Ortenila casada com Hércules Angelo Dall'Oglio, Santina

casada com Emidio Piccinini, Alice casada com José Daldon,

Ida casada com Arlindo Bonfanti e Matilde casada com Luiz

Pretto, todos nascidos em Jacarezinho.

DAVID, casado com Carolina Gonzatti (apelido Perolin), e

resid. em Jacarezinho teve 10 filhos: Guido, Lídia (casada

com Fontana em Lageadinho, Encantado), Vilma (casada com

Tombini em Encantado), Adélia (casada com Vendramini em

Nova Bréscia), Elga, Itelvina, Leodina, Nilo, Aquilino (casado

com Vendramini), Nildo (casado com Vanceta).

RACHELE, casada com Joaquim Nardini e res. em Encantado

teve a filha Terezinha (casada com Domingos Sonaglio que

tem dois filhos: Marcos (casado com Denise Silva) e Márcia,

residindo em Niterói, Canoas.

IZABELA, casada com Orestes Bertozzi e reside em S. José,

Encantado.

FRANCISCO, casado com Olinda Dalla Croce e resid. em

Jacarezinho teve 6 filhos: Irene (casado com José Lucca, viúvo

234

de Remegilda Agostini e res. em Esteio), Gildo (res. B.

Argentina), Jandir (casado com Pretto em Encantado), Itelvina

(casada com Sartori em S. Miguel do Oeste, SC), Leodina

(casada com Vian em Encantado), Leo (casado com Barrili em

Descanso SC).

A longevidade da família de Maria é notória. Ao celebrar 50

anos de casamento, estando Maria com 72 anos de idade e

sendo ela das mais jovens entre os irmãos, estavam presentes

os 9 irmãos. Na ocasião, o mais velho, Marcos , tinha 98 anos

de idade. Os 9 irmãos, 4 dos quais ultrapassariam 100 anos,

brincaram e cantaram o dia inteiro, recordando aos netos e

bisnetos as canções trazidas da Itália pelos pais e avós. Maria,

faleceu, quase centenária, depois de dançar , e como dançava,

a noite toda com os netos e bisnetos por ocasião do casamento

de um dos netos. Na serenidade de quem sabe que vai morrer,

pediu um padre, confessou, comungou, aconselhou a cada

filho pedindo a união e dormiu na paz do Senhor no hospital

de Encantado.

Angelo (Angelin) casado com Angelina Radaelli, abriu a

primeira casa comercial de Nova Bréscia e teve 2 filhos (João

e Alfredo).

Antonio casado com Maria Telk Zanotelli (cujos filhos são:

Adolfo casado com Bohrer em Lageado e uma filha casada

com Casagrande em Relvado).

235

Catarina casada com Aldrovandi de Muçum.

Felice casado com Antonia Casagrande (cujos filhos são:

Eugênio, Tranqüilo e Plácido).

2033 ZBACFFCA. LEONEL AGOSTINI ZANOTELLI

Leonel nasceu em Jacarezinho aos 23 de dezembro de

1916 (seu registro civil consta 01.01.1917) na casa construída

por Narciso e residência de João e Maria. “Trabalho e alegria”,

sua dística.

Agricultor em Jacarezinho desde criança, foi depois

motorista de seu caminhão (um Ford 37) transportando

madeira da região de Passo Fundo até o porto de Mariante.

Mudou residência depois, (1947) para Erechim, Aratiba,

Pinhão e Bentevi, onde foi agricultor, pequeno comerciante e

açougueiro. De retorno para Jacarezinho e dali para Fontoura

Xavier (Guamirim e Campo Novo) onde agregou a função de

serrador , sempre atuando em sua pequena propriedade. Jamais

aceitou ser empregado, dependente, funcionário. Preza muito

sua liberdade e um espaço (quase semanal) para caçar e

pescar. Atualmente reside em Canoas onde também residem 5

filhos e outros parentes.

236

2034 ZBACFFCA D. ANA CATARINA DADALT DALLA

VECCHIA

ANA é filha de Antonio Vicenzi Dalla Vecchia e de Francisca

Vicenzi Dadalt, neta de Pietro (Pedro) Dalla Barba Dalla

Vecchia e bisneta de BENIAMINO DALLA VECCHIA. Pelo

lado materno é neta de Valentino Dadalt e Maria Desiderata

Manica que migraram para a Linha Jansen da Colônia

Isabela (Bento Gonçalves) e onde nasceu Francisca.

São irmãos de Francisca: Guilherme Dadalt (asado com Ana e

residente em Progresso),Pedro Dadalt (casado com Luiza de

Conto e residente na Linha Garibaldi Encantado), João

Dadalt ( casado com Alzira Pretto e residente em Ricarda),

Angelino Dadalt (casado com Olinda Pretto faleceu em

Ricarda eletrocutado, ao ir à missa a cavalo), Maria(casada

com Franzel Bagatini e residente na linha Sagrada Família

Encantado), Ana Dadalt (casada com Paulo Spezzatto e

residente em S. Luiz Encantado), Rosa Dadalt (casada com

Santo Demicchei e residente em Relvado), Inês Dadalt (casada

com Albino Secchi e residente em Pato Branco PR), Antonio

Dadalt (faleceu solteiro de apendicite), Luiz Dadalt (faleceu

solteiro na explosão da caldeira de cachaça).

237

Da Linha Jansen os Dadalt também desceram para

Encantado, na década de 1880. Ali casaram Antonio e

Francisca

.

Ana Catarina Dadalt Dalla Vecchia, casada com Leonel

Agostini Zanotelli, é filha de Antonio Vicenzi Dalla Vecchia e

Francisca Vicenzi Dadalt. Nascida em Jacarezinho aos 29 de

outubro de 1916, teve 11 filhos e marcou a todos por uma forte

espiritualidade e união. A agricultura, a falta de saúde, os

problemas nunca a abatiam. Lastimava-se sempre de não

poder participar da eucaristia todos os dias. Quando

finalmente foi morar em Canoas participou intensamente da

pastoral e da liturgia. Dela uma frase que marca. Não discuto

se Maria tem poder ou não. Só sei que se Cristo é Deus, Maria

é a mãe dele.

Ana Catarina Dadalt Dalla Vecchia

238

Os Dalla Vecchia em sua grande maioria imigrada para o

Brasil, RS, descendem fundamentalmente de dois irmãos:

Angelo e Pietro, como se pode ver na obra de nossa autoria A

FAMÍLIA DALLA VECCHIA a ser editada neste ano de

2011. Para suas relações com os Zanotelli aportamos abaixo

algumas informações:

BENIAMINO DALLA VECCHIA emigrou de Montemezzo,

Vicenza com os filhos Ângelo, Pedro e Catarina. Beniamino

faleceu na viagem e de tristeza a esposa Domenica Dalla

Barba que amamentava a filha Catarina, teve seu leite

estancado vindo a falecer também Catarina na mesma

viagem.

Pedro casou com Catarina Vicenzi e com ela teve 3 filhos

(Antonio (casado com Francisca Vicenzi Dadalt e resid. em

Jacarezinho e depois em Aratiba RS), Angelo (casado com

Leonora „„Nori” Dellazzari e resid. em Xapecozinho SC),

Catarina (casada com Pedro Dellazzari e resid. em Linha

Sagrada Família, Encantado).

Pedro casou depois com Pascoa Vigoli (Masiero) e com ela

teve 11 filhos: José (casado com Catarina “Catina” de Conto

e resid. na Linha N.Sra. Auxiliadora em Encantado), Luiz

(casado com Marta de Conto e resid. em S. Luiz, Encantado),

João (casado com Luiza Tiecker que era madrinha de Ana e

239

resid. em Marau RS), Augusto (casado com Elvira Turati e

resid. em Capoeirinha, Encantado), Vitório (casado com Inês

Dellazzari e resid. em Capoeirinha, Encantado), Batista

(casado com Rosa Bagatini e resid. em Aratiba e depois em

Pato Branco PR), Sílvio (casado com Rosa Mussio e resid. em

Encantado), Atílio (casado com Angelina Bagatini e resid. em

Aratiba), Lúcia (casada com João Buvié e resid. em S. Luiz,

Encantado), Maria (casada com Afonso de Conto e resid. em

Linha Anita, Encantado), Rosa (casada com de Conto e resid.

na Linha Anita, Encantado).

A família de Antonio e Francisca Dalla Vecchia - (Bodas de

Ouro) Pinhão - Aratiba RS. Aos fundos a casa de Albino

Dadalt Dalla Vecchia.

240

A família de Antonio Dalla Vecchia e Francisca Dadalt. Não

constam na fotografia João, José e Avelino Da esquerda para

a direita sentados: Ana, Maria, Francisca, Antonio, Albino,

Vitório. De pé: Inês (Agnese), Rosa, Ângelo, Augusto, Avelino

Antonio Vicenzi Dalla Vecchia e Francisca Dadalt tiveram 12

filhos: Albino (casado com Cesarina Bagatini e resid. em

Jacarezinho e depois em Pinhão, Aratiba, RS), João (casado

com Maria Bagatini e resid. em Pinhão, Aratiba), José

(casado com Amélia Cechin e resid. em Saltinho, Itatiba do Sul

RS), Maria (casada com Emílio Bagatini e resid. em Barra do

Rio Azul, Aratiba), Ana (casada com Leonel Telk Zanotelli e

resid. em Jacarezinho, depois Aratiba, depois Jacarezinho,

Soledade e Canoas RS), Angelo (casado com Leonilda

Albertoni e resid. em Aratiba), Vitório (casado com Élia

241

Ferranti e resid. em S. Miguel do Oeste SC), Augusto (casado

com Maria Pilati e resid. em Pinhão, Aratiba), Inês (casada

com José Muccelin e resid. em Aratiba), Rosa (casada com

José Frigeri e resid. em Jacarezinho), Avelino (casado com

Nair Dalla Rosa e resid. em Pinhão, Aratiba), David (faleceu

aos 6 anos em Jacarezinho, Encantado).

Ana casou com LEONEL AGOSTINI ZANOTELLI, em

Jacarezinho, Encantado e teve os seguintes filhos: Jandir,

Geni, Gino, Irma, Itelvina, Ilva, Castilo, Olir, Lírio, Clasi e

Dinasir .

Profundamente cristã e pacificadora tinha grande capacidade

para reunir e unir pessoas. Nasceu em Jacarezinho,

Encantado, em 29.10.1915 e faleceu em Pelotas em

25.11.1990. Foi sepultada em Canoas, RS.

30010.ANGELO DALLA BARBA DALLA VECCHIA, filho

de Beniamino Dalla Vechia e de Domenica Dalla Barba,

nasceu em Montemezzo , Vicenza em 6.2.1860 e chegou ao

Brasil com 18 anos, tendo seu pai e sua irmã Catarina falecido

na viagem sendo jogados ao mar, casou com ANGELA

DANDA SERAFINI , filha de Carlo Serafini e de Maria

Danda, natural de Chiampo, Vicenza, nascida em 2.8.1859,

casamento realizado em 7.6.1880 na paróquia de Santo

242

Antonio de Bento Gonçalves, sendo oficiante o P. Giovanni

Menegoto cf. n.34, pg 34 do Livro de Casamentos daquela

paróquia. Com Angela, Angelo teve 14 filhos: Benjamim

casado com Rosa Pretto(e residente em Xapecozinho SC), Luiz

casado com Fortuna Bagatini(e residente em S. Luiz -

Encantado), João casado com Maria Spezatto(e residente em

Ponte Serrada SC), Carlos casado com Augusta Dadalt (e

residente em Nonoai RS), Pedro casado com Vitória Buvié(e

residente em Jacarezinho), Maria (freira), Luiza (freira),

Rosina (freira em Jundiaí

30135. CARLOS (CARLO) SERAFINI DALLA VECCHIA,

filho de Angelo Dalla Barba Dalla Vecchia e Angela Serafini,

e neto de Beniamino D.V. e Domenica Dalla Barba, casado

com AUGUSTA DADALT, filha de Valentino Dadalt e Maria

Desiderata Manica, nascido na Linha Jansen da Colonia

Isabela (Bento Gonçalves), tem seu casamento registrado à pg

82 , n.482 do Livro de Casamentos da Paróquia de São Pedro

de Encantado, realizado que foi em 9.10.1910. SP), Pierina

casada com Luciano Dellazzari (e residente na linha da

Sagrada Família - Encantado), Ermínia casada com Eurico

Fontana(e residente em Lambari - Encantado), Ricardo

casado com Dellazzari(e residente em Marau RS), Antonieta

casada com Angelo Mazziero( e residente no Passo de Roca

243

Sales-Encantado), e duas gêmeas que morreram crianças de

escabiose.

Viúvo de Angela, Angelo que viera da Itália em julho

de 1878 para a colônia Izabela (Bento Gonçalves), linha

Jansen à beira da estrada dos tropeiros que conduzia de

Maratá e Montenegro até Lagoa Vermelha atravessando o Rio

das Antas, e por volta de 1895 deslocou-se para a linha

Auxiliadora, Jacarezinho, Encantado. Casou novamente com

FORTUNATA MARTINI GRAZIOLA, filha de Antonio

Graziola e Ermínia Martini, nascida em S. João de

Montenegro em 1874, casamento realizado na capela (hoje

paróquia) de S. Pedro de Encantado em 18.1.1900, sendo

oficiante o P. Joseph Pandolfi cf n. 97 pg 23 do livro de

Casamentos daquela paróquia. Com Fortunata, Angelo teve

10 filhos: Angela (faleceu solteira), Dosolina casada com

Albino Buvié(e residente no Passo de Roca Sales-Encantado),

Josefina casada com Martin de Conto(e residente na linha N.

Sra. Auxiliadora de Encantado), José (Bepi del Buso residente

em Auxiliadora Encantado) casado com Filomena Berti,

Maria Luiza (freira em Vale Vêneto), Inês casada com Luiz de

Conto(e residente em Jacarezinho - Encantado), Augusto

casado com Ana de Conto(e residente em S. Miguel do Oeste

SC), Jorge casado com Elvira ( e residente em S. José -

Encantado) e depois com Bertozzi, Gema casada com

244

Grazziola( e residente em Linha Anita - Encantado) e Romana

(solteira, enfermeira, em POA).

Leonel Agostini Zanotelli e Ana Dadalt Dalla Vecchia

foram agricultores, comerciantes e pequenos industriais.

Serraria de Leonel Zanotelli - Campo Novo - Fontoura Xavier -1960-70

Um grande número de Zanotelli no Brasil dedicou-se à

extração e industrialização da madeira especialmente de pinho

no Rio Grande do Sul e Santa Catarina e ainda hoje de madeira

de lei em Mato Grosso e Rondônia. Leonel tinha tecnologia

especial para que a madeira de pinho não apodrecesse, para

que mantivesse a consistência etc. que ia desde a época própria

para o abate até o modo de empilhá-la.

245

Serraria - Campo Novo - Fontoura Xavier - Soledade.

Jandir João Dalla Vecchhia Zanotelli e Ruth Avila Zanotelli,

ele nasceu em Encantado em 21 de julho de 1939, filho de

Leonel e Ana; ela nasceu em Bagé, em 26 de outubro de 1942,

filha de Octacílio Machado Ávila e Inah Judith Machado

Ávila. Professores em Pelotas, RS, são pais de Eloí (com filha

Camila), Vinícius cc Rosana Medina Zanotelli (filhas: Ana

246

Catarina e Juliana), Daniel cc com Rachel Zanotta Carneiro

(filho: Pedro Afonso), Luciana cc Paulo Henrique Zanotelli

(filhos: João e Michel)

Ruth é formada em Filosofia e especializada em Educação,

Ruth lecionou no Primeiro e Segundo Graus em Bagé,

Piratini, Canguçu e Pelotas e na Universidade Federal de

Pelotas. Ruth tem um irmão: Alfredo Antero Machado Avila.

Casado com Andradina Correa. Alfredo tem 6 filhos: Denise,

Paulo Ricardo, Simone, Luciano, Juliano e Cristiano.

A família de Jandir e Ruth no 1º.Encontro em Porto Alegre

247

2035.ZBACFFCB. VALDEMAR AGOSTINI ZANOTELLI

Valdemar Agostini Zanotelli, filho de João e neto de Narciso

Zanotelli, nasceu em Jacarezinho, Encantado. Casou com

Vilma Giacomoli e teve 4 filhos: Darci, Moacir, Adilar e

Marisa. Pequeno agricultor, pequeno industrial e

caminhoneiro. Faleceu em acidente de seu caminhão.

2041. ZBACFFCE. AMÁLIA AGOSTINI ZANOTELLI

Amália Agostini Zanotelli nasceu em Jacarezinho, casou com

João Daldon, também agricultor. Moraram nas colônias de

Palmas, depois deslocaram-se para Jacarezinho. Hoje estão em

terras que pertenceram a Narciso e João Zanotelli. Tiveram 6

filhos: Hilário, Lurdes, Iracema, Nilton, Nilze e Neuton cujos

filhos constam na árvore genealógica.

Valdemar Agostini

Zanotelli

248

2055. ZBACFFCL. MATILDE AGOSTINI ZANOTELLI

Matilde, casada e viúva de Luiz Pretto, foi agricultora em

Jacarezinho, funcionária pública em Porto Alegre onde reside e

tem 6 filhos: Ortenila, Lurdes, Leodocir, Leonildo, Aracy

(Gessi) e Paulo.

2053.ZBACFFCK. IDA AGOSTINI ZANOTELLI

Ida e Arlindo, agricultores, produtores de ótimas cachaças

residem na casa onde viveu e morreu o casal João Telk

Zanotelli e Maria Agostini, em Jacarezinho. Tem 11 filhos:

Otomar, Erci, Geni, Leodocir, José Antonio, Pedro Roque,

Geni Carmen, Inês Elisa, Luiz, Maristela e Maria Cristina.

ARLINDO BONFANTI, filho de José Bonfanti e de Elisa

Branchi, nascido em 13.8.1919 em Garibaldi e sendo seus

irmãos: Felix, Luiz, Carmen, Almiro, Sabina, Olga, Inês e

Carlos casado este com Feronato. Reside em Jacarezinho,

Encantado, na casa que Narciso comprou e construiu e na

qual nasceram João (filho), Leonel (neto), Jandir (bisneto)

Zanotelli. Arlindo é exímio produtor de cachaças. Em 1994

celebrou 50 anos de casamento com a presença de grande

número de parentes e amigos.

Otomar Zanotelli Bonfanti,

filho de Ida Agostini Zanotelli

249

2049.ZBACFFCI. ALICE AGOSTINI ZANOTELLI

Alice, casada e viúva de José Daldon, agricultora, residiu na

Colônia de Palmas, Aratiba (Bentevi), Jacarezinho e agora em

Porto Alegre. Tem 8 filhos: Mirtes, Moacir, Nestor, Hilário,

Ênio, Salete, Serjane, Eliane. Anima os encontros promovendo

a alegria. A festa que reúne.

Família de Alice Agostini Zanotelli no encontro de P. Alegre

250

2047.ZBACFFCH. SANTINA AGOSTINI ZANOTELLI

Santina, viúva de Emidio Piccinini, reside em Jacarezinho e

tem 9 filhos: Elaci, Erni, Eloá, Emília, Soeli, Solange, Senito,

Sônia, Elisa.

2037.ZBACFFCC. ALCIDES AGOSTINI ZANOTELLI

Alcides foi agricultor e depois do comércio transportador.

Reside atualmente em Carazinho e tem 2 filhos: Rejane e

Volmar.

251

2051.ZBACFFCJ. ANGELA AGOSTINI ZANOTELLI

Angela (Angelina), casada com Arlindo Daldon, foi agricultora

em Jacarezinho, depois nas colônias de Palmas, retornou

depois a Jacarezinho em terras que foram de Narciso e João

Zanotelli e agora reside em Canoas. Tem 4 filhas: Gesselda,

Gessilda, Ilva e Mairi. O acolhimento e a simpatia servindo e

beliscando a vida.

2043.ZBACFFCF. HORTÊNSIA AGOSTINI

ZANOTELLI

Hortênsia, nascida em Jacarezinho, foi, como seu marido

Guilherme Gobbi, agricultora. Transferiram-se depois para S.

José do Cedro, SC, e mais tarde para o Sorriso, MT onde

cultivam soja e criam suínos em escala. Dos filhos: Admar

casado com Lurdes Rigo tem três filhos (Everton, Ederson e

Cleyton), Gilmar, bancário, casado com Claudete Melo tem

dois filhos (Guilherme e Gustavo) e Marisa casada com Carlos

Boaro tem 3 filhos(Sidionara, Patrícia e Anderson).

252

2045.ZBACFFCG. ORTENILA AGOSTINI ZANOTELLI

Ortenila nasceu em Jacarezinho e casou com Hércules Ângelo

Dall‟Oglio, filho de Henrique Dall‟Oglio e Amália Terezinha

Sopel que é aposentado como motorista de caminhão de carga

de sua propriedade. Reside em Sarandi RS e tem 7 filhos:

Gilmar João, Nair, Nadir, Marilene Maria, Jaime Antonio,

Gilvani e Adriano residentes em Porto Alegre.

2039.ZBACFFCD. AGENOR AGOSTINI ZANOTELLI

Agenor, filho caçula de João Zanotelli, casado com Lúcia

Rossato, tem comércio de frutas e hortaliças. Reside em

253

Carazinho e tem 3 filhos: João Francisco, José Augusto e

Luana.

254

Luana, filha de Agenor e Jandir, a mais jovem e o mais velho dos primos

descendentes de João Telk Zanotelli.

255

1520.ZBACFFD. MARIA TELK ZANOTELLI

Maria, filha de Narciso e Tereza, nascida em Figueira de Mello

em 12.5.1878, casou com ANTONIO FERRARI AGOSTINI,

filho de Giovanni Baptista Agostini e Angela Ferrari, nascido

em 6.10.1882 em Figueira de Mello, casamento realizado

17.2.1900 na Capela S. Pedro de Encantando, hoje paróquia,

sendo vigário o P. Joseph Pandolfi, cf n.102 da pg 25 do Livro

de Casamentos daquela paróquia. São padrinhos de João Telk

Zanotelli e Maria Bridi Agostini sendo por isso Antonio tio,

cunhado e padrinho de João por causa de Maria Agostini.

1522.ZBACFFG. AMÁLIA TELK ZANOTELLI

Amália nasceu em 1880 em Conde d‟Eu, casou com Stefen

Pezzini (nascido em 1876 em Conde d‟Eu) em Encantado aos

20.02.1897134

e residiu em Jacarezinho em terras vizinhas às

de seu pai Narciso. Em 1884 consta dos filhos de Narciso na

relação de terras do Arquivo Histórico de Porto Alegre, Livro

312, quando este recebia o título provisório de seu lote de

Conde d‟Eu.

134

No livro 7 de Casamentos da Paróquia de Encantado, pg. 5v. encontra-se

o registro do casamento de Amália, referindo que ela é natural do Brasil, de

Rio Pardo porque a região pertencia então ao município de Rio Pardo. O

nubente Stefano era filho de Antonio Pezzini e Teresa Marchette, tiroleses

de Trento.

256

1524.ZBACFFJ. NARCIZA TELK ZANOTELLI

Narciza, filha de Narciso e Theresa, neta de Francesco, nasceu

em 1885 em Figueira de Mello , Garibaldi. Casou com

FIORINDO VINCIGUERRA (Bettini), filho de Francesco e

Albina Vinciguerra, nascido em 1884 também em Figueira de

Mello. O casamento de 18.6.1909 encontra-se registrado sob o

n. 432 da pg 75 do Livro de Casamentos da Paróquia de São

Pedro de Encantado sendo testemunhas Antonio Agostini e

Antonio Giovanella. Residiram em Canudos, município de

Lageado.

1526.ZBACFFI. CAROLINA TELK ZANOTELLI

Carolina, filha de Narciso e Tereza, nascida em Figueira de

Mello, Garibaldi em 1883, casou com LUIZ MARTINI

(Adolfo), filho de João Martini e Catarina Zanata, nascido em

Figueira de Mello em 1881, casamento realizado na Paróquia

de São Pedro de Encantado em 24.2.1906 cf. n.283 pg 59 do

Livro de Casamentos daquela paróquia indo residir

inicialmente em Jacarezinho e depois em Progresso, município

de Lageado.

ZBACFFF. ROSINA TELK ZANOTELLI

Rosina, filha de Narciso e Tereza, nascida em 1889 em

Figueira de Mello, Garibaldi, casou com CELESTINO DAL

257

MORO filho de João Batista Dal Moro e de Angela Andreola,

nascido em 12.6.1888 em Nova Bréscia, em 15.2.1908 cf

consta sob o n. 352 , da pg 66 do Livro de Casamentos da

Paróquia de São Pedro de Encantado, tendo residido

inicialmente em Jacarezinho e depois em Vila Progresso,

município de Lajeado celebrante do casamento foi o P. Pedro

Negri.

722 DOMENICO ZANOTELLI

Domenico, casado com THERESA ZANOTELLI, nasceu e

morreu no Tirol, Cembra.. Seu filho Costante emigrou para o

Brasil, com a idade de 18 anos, em companhia de parentes e

para fugir ao serviço militar austríaco, segundo consta aos

descendentes. No Livro 01 de Registro de Nascimentos de

Muçum às fls. 116: Costante registra o nascimento de seu

filho Carlos, dizendo-se ele filho de Domingos e Teresa

falecidos na Austria, isto é no Tirol. No Livro 3 de Batisados

da Paróquia de Conde d'Eu, pg 16 consta o batisado de José

Narciso Zanotelli, filho legítimo de Constante Zanotelli e

Elizabetha (deve ser Elisa) Alberti, neto de Domingos

Zanotelli, sendo padrinho Narciso Zanotelli (Trata-se de

Narciso Eccli Zanotelli, filho de Francisco, neto de Giov.

Gasparo) e Maria Zanata, sendo o batismo realizado em

15.11.1888 pelo P. Bartholomeu Tiecker

258

1203 CONSTANTE ZANOTELLI

Constante, assinava Zanoteli, nascido no Tirol em 16.1.864 e

falecido em Muçum em 31.12.1942 (Cf Livro de Óbitos C 4 pg

27 de Muçum) casou com Elizabetha (Elisa) Alberti, nascido

no Tirol e falecida em Muçum em 1921.Bebia. (Cf liv.3 de

Bats. pg. 16 Conde d'Eu) São seus filhos: José Narciso,

Agostino(Augusto), Amabile, Carlos, Ema, Angelo, e João.

1586 JOSE NARCISO ALBERTI ZANOTELLI

José Narciso, nascido em Garibaldi em 4.11.1888 e batisado

também em Conde d'Eu (cf. Livro 3 de Batis. pg 16) em

15.11.1888 sendo seus padrinhos Narciso Zanotelli e Maria

Zanata, e sendo vigário o P. Barth. Tiecker, casou com Rosina

Badin em 1911 (cf. Livro de Casamentos B 1 fl 128 de

Muçum) foi residir em Putinga e teve como filhos: Pedro,

João, Francisco, Constante, Carlos, Luiz, Maximino, Angelina,

Carmelina, Iza, Gema e Pierina

1588 AGOSTINHO ALBERTI ZANOTELLI

Agostinho ou Agostino nasceu em Muçum em 1894 e morreu

em 7.7.1943 em Fontoura Xavier, Duduia, casou com Luiza

Manica, em Muçum aos 27.12.1915 (Cf Livro de Casamentos

B-2 fls. 22 e v) falecida em 12.3.1975 também em Fontoura

259

Xavier, Picada Castro e tiveram os seguintes filhos: Costante,

José, Santo, Maria, Anilo, Angelina, Francisco e Narciso.

2073 JOÃO BADIN ZANOTELLI

João, filho de José Narciso, neto de Constante e bisneto de

Domingos nasceu em Muçum em 28.9.1915 (Cf Livro A-4 fl.

164 v de Reg. Nasc. de Muçum), casou com Zelinda Rossi e

foi morar em Putinga

1598 JOÃO ALBERTI ZANOTELLI,

Filho de constante e neto de Domingos, nasceu em Muçum em

13.10.1908 e faleceu solteiro, em Muçum , Brancareu em

21.12.1980 (Cf. Livro C-1 de Óbitos fl. 226v). Boêmio, bebia

muito e deve ter deixado uma filha.

1599. EMA ALBERTI ZANOTELLI

Ema, filha de Constante é casada com Pessali, reside em S.

Valentim, município de Muçum.

1594 AMABILE ALBERTI ZANOTELLI

Amabile, filha de Constante, casada com Ignatio Antonio

Vianini foi residir em Guaporé. Seus filhos José e Iris residem

em Gravataí e Porto Alegre respectivamente.

260

1592 ANGELO ALBERTI ZANOTELLI

Angelo, filho de Constante nascido em Muçum 24.12.1901

(Cf. Livro A-4 fl. 163 v de Nasc. de Muçum) e casou com

Angelina Pessali em 1939 (Livro B-5 fl. 86 v de Casamentos

de Muçum) legitimando os seguintes filhos: Ricieri (Xapecó),

Eliza (Bento Gonçalves), Maria, Celestina, Arlindo (Muçum),

Cláudio (B.Gonçalves) e Gema. Residiu em Putinga RS.

1589 CARLOS ALBERTI ZANOTELLI

Carlos, nasceu em 19.2.1900 em Muçum, casou em 1918 com

Rosa Franceschina em Muçum. Em 1942 foi residir em Casca.

Ali ficou até 1946 quando foi para Erechim lá ficando até 1948

quando foi para Xapecó (Cf. Livro Nasc. pg 116 e o Livro de

Óbitos C-12 fl. 84 v de Muçum). Faleceu em Xapecó em

2.11.1987. Filhos: Inês, Angelo, Pedro, Paulina, Maria ,

Balduino, José, Luiz, Anita, Gema, Alderino, Odila e Suelci.

1450.ZABAFBA. JOSE DEVILLI ZANOTELLI

José, filho de Giacomo Calovi Zanotelli e neto de Giovanni

Keller Zanotelli Este era filho de Gregório, este de Giovanni e

este de Giov. Antonio di Livo que nasceu por volta de 1683 e

foi residir em Cembra, Trento, Tirol (Austria então) Segundo

os descendentes José é filho único de Giacomo. Nasceu em

261

1879 provavelmente em Iconha, ES, casou em 1908 com

AUGUSTA DALCOL NOGAROL (Nasc

25.3.91,Alfr.Chaves, ES) Foram morar em Iconha ES. Os

irmãos de Giacomo são: Giuseppe ( nascido em Cembra em

21.5.1838 e casado com Maria Miorandi em 12.11.1870 e dele

há notícia de ter migrado para o ES), Maria casada com Paolo

Nicolodi em Cembra, Emanuele e Giovanni nascido 25.7.1843

e casado com Domenica Zanot em 28.9.1861 em Cembra,

Itália. Os filhos de José são: Lino, Idília, José, Idílio, Carolina,

Antonio, Prascóvia, Pedro, Mário, Rita, Ana e Julieta. A

família fixou-se em Cachoeiro do Itapemerim, ES.

2153.ZBACEC. ANGELO NICOLODI ZANOTELLI

Angelo, que fixou residência em 25 de Julho, Santa Teresa ES

casou com CATARINA TONINI e, depois de viúvo, com

AGATA SPERANDIO. O túmulo de Angelo encontra-se em

Pé da Serra, Santa Teresa. Era filho de Paolo e neto de

Giovanni Gasparo e seus filhos são: Paolo, Luiz, Antonio,

Maria e Henriqueta. Angelo nasceu em Cembra em 6.7.1856.

1115.ZBACEB. PAOLO NICOLODI ZANOTELLI

Paolo, filho de Paolo Savoi Zanotelli e neto de Giovanni

Gasparo, casado com JOSEFINA ZOTOLI, nasceu em

Cembra em 24.5.1853.Residiu em Santa Teresa, indo depois

262

para Colatina como agricultor. Sabe-se que os seus

descendentes estão em S. Torquato, Nova Venecia, S. Gabriel

da Palha e Vila Velha...São seus filhos: João, José e Maria

(Marieta).

1109.ZBACEA. FRANCESCO NICOLODI ZANOTELLI

Francesco, filho de Paolo Savoi Zanotelli e neto de Giovanni

Gasparo, nascido em Cembra em 11.07.1850, fixou residência

em S. João da Barra Seca, Colatina, ES, casado em ELVIRA

ZENNI teve os filhos: Angelo, Fortunato, Terezinha, Paulina e

Francisco.

1131.ZBACED. MARGHERITA NICOLODI

ZANOTELLI

Margherita, filha de Paolo Savoi Zanotelli e neta de Giovanni

Gasparo, residiu em Vitória e era famosa como parteira., talvez

a primeira parteira do ES. Nasceu em Cembra em 12.7.1843

1113.ZBACEE. MARIA NICOLODI ZANOTELLI

Maria, filha de Paolo Savoi Zanotelli e neta de Giovanni

Gasparo, dela não se tem notícia. Não se sabe se teria

emigrado do Tirol com os pais ou não. Nasceu em Cembra em

1.4.1847

263

1117.ZBACEF. GIUSTINA NICOLODI ZANOTELLI

Giustina, filha de Paolo Savoi Zanotelli e neta de Giovanni

Gasparo. Não se tem notícia se teria ou não emigrado do Tirol

ao Brasil com os pais. Nasceu em Cembra em 30.81863

2681 OTTILIA GON

Otília, casada com FRANCISCO BENITO ZANOTELLI, é

filha de Américo Gon e de Carolina Bonisse, agricultores em

Colatina, ES. Tiveram 6 filhos: Renato Francisco, Geraldo

José, Regina Celi, Pedro Paulo, Francisco Américo, Rosa

Amélia.

1452 DAVID ZANOTELLI

David, casado com Eugênia Webber que era irmã de Ernesto

Webber emigrou do Tirol para Caxias na década de 1880.

David tinha duas irmãs, uma das quais era Cândida. Tinha por

apelido DAVID PAROLETO (ou PAROLIN), porque

fabricava tachos de cobre ao lado da fábrica de Abramo Eberle

em Caxias do Sul. Em dialeto vêneto "parol" significa panela,

tacho e especificamente a panela de fundo arredondado para

fazer polenta. Os filhos Mario e Júlio não seguiram a profissão

do pai e as filhas Alaide, Adelzia e Maria acompanharam os

respectivos maridos. A bela fortuna de David ficou assim

dividida. Júlio fixou residência em Erechim RS, Mário em

264

Fortaleza CE. Alaíde, casada com Emílio Costa, em Caxias,

não teve filhos. Adélzia casada com Higínio Piccoli tem 5

filhos (Bruno, Wilson, Raul, Branca e Onice), Maria casada

com Angelo Bergamaschi, em Caxias do Sul tem 3 filhas

(Helena, Geni e Dolores).

2137. AMERICO FAVORETTI ZANOTELLI

Américo, casado com Sabina Menegatti , era filho de

Paulo ou Paulino e neto de Angelo Nicolodi Zanotelli, bisneto

de Paolo Savoi Zanotelli...A mãe de Américo, Angelina

Favoretti era filha de Ferdinando Favoretti e de Clotildes

Luppi. Sabina Menegatti é filha de José Menegatti e Irida

Brunetti, ambos nascidos na Itália. Irida era filha de Gildaldo

Brunetti e de Serafina Rossi.

1144.ZCDACA. JOSÉ NICOLODI ZANOTELLI

Filho de José e Rosa Nicolodi, neto de Cristano Zanotelli e

Orsola Nardon, irmão de Theresa e Rosa, casou com Rachele

Pressi em Muçum (Igreja de Encantado) e transferiu-se para

Marcelino Ramos RS. Teve 11 filhos: Olivério Affonso casado

com Diolinda Lopes e residente em Muçum e depois em

Quaraí (teve 4 filhos: Darci, Dirceu, Salete e Mafalda), David

(faleceu solteiro), José (sacerdote), João (faleceu solteiro),

Vergínio Francisco (ou Vigilio, casado com Maria Madalena

265

Santin reside em Medianeira, PR e tem 7 filhos: Lídia,

Agostino, Aquiles, Atílio José, Carmen, Inete, João Cândido),

Vitório ( residente tem Passo Fundo é casado com Brandina e

tem 7 filhos: Teresa, Orlando, Rita, Helena, Dinorá, Cláudio e

Mércia), Inês (Agnese casada com Francisco Galego Carmona,

residente em Curitiba tem 3 filhos: Nilo, Geny e Leni), Narciza

(casada com Humberto Santin, residente em Curitiba, tem 9

filhos: Bruno, Amabile, Maria, Sílvio, Ricardo, Albina,

Querino, Lino e Olinda), Amábile (casada com Francisco

Scotini), Lúcia (casada com Gildo Maran e residente em Sto.

Antonio PR tem 7 filhos: Carlos, Quirino, Otávio, Pedro,

Natália, Severino e Agenor) e Rosália (casada com Amos

Tosati, reside em Xanxerê SC e tem 6 filhos: Lionel, Iris,

Lurdes, Eloí, Gelci e Hélio).

São muitos os Zanotelli no Brasil. Temos mais de 3.000

cadastrados para compor a árvore genealógica. Calcula-se que

as pessoas de sobrenome Zanotelli (com as variantes a cargo

especialmente de nossos cartórios: Zannutteli, Zaneteli,

Zanoteli, Zanatelli, Zanitelli) e as a eles vinculadas

ultrapassem a cifra de 10.000. Da raiz prolífica dos imigrantes

o encontro foi uma bela amostragem.

266

267

IX- CANÇÕES.

Dentre as canções mais lembradas pelos descendentes da

família Zanotelli e cantadas freqüentemente estão as abaixo:

I. CUCU

L'inverno l‟è passato L'aprile non c'è più

sole ritornato

Al canto de cucù

L'Inverno l'è passato

La neve non c‟è più

E maggio è ritornato

Al canto del cucù.

La su per le montagne La neve non c'è più Comincia

a far il nido Il povero cucù.

Sul monte c'era um bimbo Portava a pascolar un

píccolo agnellino Che sol parea belar

Un bioccolo di lana Lasciò per lui lassu E l‟uccelino

lieto vi pose il suo cucù.

268

II. DA L'ITALIA

l. Da I'Italia noi siamo partiti Siam partiti col nostro onore

Trenta sei giorni di macchina a vapore

E in America noi siamo arrivà.

Rit: Merica Merica Merica Cosa sarà la sta Merica Merica

Merica Merica È un mazzolin di fior

2.A l'America noi siamo arrivati Non abbiam trovato ne paglia

e ne feno Abbiam dormito sul nudo terreno come le bestie

abbiam riposà

3.L'America l'è lunga e l'è larga L‟è' formata de monti e di

piani E con l‟industria de noaltri italiani Abbiam fondato

paesi e città.

III. DAMMI O BELLO IL TUO FAZZOLETTINO

1. Dammi o bello il tuo fazzolettino (bis) Vado alla fonte, lo

voglio lavar

2. Te lo lavo con l'acqua e sapone (bis) Ogni macchietta un

bacino d'amor

3. Te lo stendo su un ramo di rose (bis) Il vento d'aprile lo fa

asciugar

4. Te lo stiro col ferro a vapore (bis) Ogni pieghina un sospiro

d'amor

269

5. Te lo porto di sabato sera (bis) Di nascosto di mamma e

papà

IV. LA BELLA VIOLETA

1.La bella violeta la và, la và La và sul campo e la se

rinsognava Che l‟era il suo gingin Che la rimirava.

2.Cosa rimiritu gingin d‟amor, gingin d‟amor Io ti rimiro

perchè tu sei bella Vuoi tu venir con me E com me alla

guerra.

3.No, no a la guerra non voglio andar Non voglio andare con

te alla guerra Perche se mangia mal E se dorme per terra.

4.No, no per terra non dormirai Tu dormirai su un letto di fiori

Com quattro bersaglier Che ti faran l‟onore.

V.IO HO GIRATO D‟ITALIA AL TIROL

1.Io ho girato d‟Italia al Tirol (bis) Sol per trovarmi una

verginella Ciombalarilarela E viva l‟amor.

2.La verginella non posso trovar(bis). Solo mi basta che la sia

bella Ciombalarilarela E viva l‟amor.

270

1. I tirolesi son

bravi soldà (bis) Tutta la note de sentinela Ciombalarilarela E

viva l‟amor.

VI. CIARETO SU QUEL MONTE

1. Ciareto su quel monte (3x) La dove spunta il sol

2. Ghe zera su tre bionde (3x) E tutte tre d‟amor

3. Giuglieta la più bella (3x) Si misse a navegar

4. A navegar sul mare (3x) L‟anel ghe zè cascà

5. La alsa gli occhi al cielo (3x) Non vede gnanca il sol

6. La sbassa gli occhi al mare (3x) La vede un pescator

7. Oi pescator dell‟onde (3x) Vegné pescar più in quà

8. Me zè cascà l‟anelo (3x) Me zè cascà più in quà.

9. Mi si te lo ritrovo (3x) Vui esser ben pagà.

10. Te dago cento scudi (3x) E „na borsa ricamà.

11. No voglio cento scudi (3x) Ne borsa ricamà

12. Solo un bacin d‟amor (3x) Se tu me lo vuoi dar.

271

VII. GERI SERA ANDANDO A SPASSO

1. Geri sera andando a spasso, dighe nò. Mi incontrai con

„na signora, dighe nò. E la me dice viendi sopra, viendi sopra a

far l‟amor.

2. Com son stà a metà la scala, dighe nò. Salta fora la sua

mamma, dighe nò. E la ghe dice marcia a casa Mariotina

Lascia andare il berechin, dighe nò.

3. Io non sono un berechino, dighe nò Ne di meno un

traditore, dighe nò. Io son figlio di un signore Son vegnuto,

son vegnuto a far l‟amor.

VIII. LA MIA MAMMA L‟È ANDATA AL MERCÀ

1. La mia mamma l‟è andata al mercà Quando gli altri

tornan(bis). La mia mamma l‟è andata al mercà Quando gli

altri tornan di quà e tornan di là Quando gli altri tornan.

2. La zè „ndata comprar un caval E i ghe para su una

mussa

3. L‟há menada nel prà a mangiar Non ghera mica l‟erba.

4. L‟há ligada sotto un perer Ghe casca zo una brugna

5. L‟è cascata su per „na reccia E la gha rot la coda.

272

IX. SUL CASTEL DE MIRABEL

1. Sul castel de mirabel (bis) Cè una giovane che canta

2. La cantava tanto ben (bis) Che fino in Francia la

sentivan

3. La sentita el fiol del rè (bis) E dimandò: chi l‟è che

canta

4. È la figlia del paisan. Tutti diz: l‟è la più bella

5. La faremo remirar Da do tre soldati armati

6. El più bel de questi tre L‟è stà quel che l‟há tradita.

7. L‟ha menada via lontan In una prigion profonda e scura

8. Là l‟è stata sete an Sensa veder ne sol ne luna

9. Alla fin dei sete an L‟ha scopri „na finestrela

10. La mirava verso il mar E la gha visto il suo bom padre.

11. Oh pupà caro pupà Cosa diz la gente in Francia?

12. Tutti parlan mal di te Che tu sei figlia rubata

13. Oh nò, nò caro pupà Io son figlia maridata

14. Questo anel che porto in dé L‟è de quel che m‟há

sposata

15. Dove zelo il tuo mari? L‟è „ndà a guerra a Napoleone.

273

X. QUEL MAZZOLIN DI FIORI

1. Quel mazzolin di fiori Che l‟vien dalla montagna (bis)

E guarda ben che „l non si bagna Che lo voglio regalar

2. Lo voglio regalare Perchè „l è un bel mazzetto. Lo

voglio dar al mio moretto Questa sera quando „l vien.

3. „Sta sera quando „l viene Gli fò „na brutta cera E perche

sabo di sera Ei non l‟è vegnù da me.

4. Non l‟è vegnù da me L‟è andat dalla Rosina E perché

mi son poverina Me fa pianger, sospirar.

5. Me fa pianger, sospirare Sul letto dei tormenti. Cosa

mai diran le genti Cosa mai diran di me.

6. Diran che son tradita Tradita nel amore E a me per

sempre piange il cuore E per sempre piangerà.

XI. LA VILLANELLA

1. Varda che passa la villanella Os-ce che bella, la và

innamorar.

Rit: Ma come bali bene bella bimba, bella bimba, bella

bimba. Ma come bali bene bella bimba, bella bimba, bali ben.

2. Varda quel veccio soto la scala Os-ce che bala che „l

gha ciapà.

274

3. Varda quel merlo rento la gabbia Os-ce che rabbia che

„l gha ciapà.

XII. EL CAPITAN DELLA COMPAGNIA

1. El capitan della Compagnia El è ferito e stà per morir

El manda dire ai suoi alpini Perché lo vengano a ritrovar

2. I suoi alpini i ghe manda dire Che non han scarpe per

caminar. O con le scarpe o senza scarpe I miei alpini li voglio

quà.

3. Cosa comanda, sior Capitano, Che noi adesso siamo

arrivà? Io comando che il mio corpo In cinque pezzi sai

taglià.

4. Il primo pezzo alla mia patria. Il secondo pezzo al

bataglion. Il terzo pezzo alla mia mamma Che si ricordi del suo

figliol.

5. Il quarto pezzo alla mia bella Che si ricordi del primo

amor. L‟ultimo pezzo alle montagne Che lo fioriscano di rose

e fior.

XIII. SE „L LAGO FUSSE POCIO

1. Se „l lago „l fusse pocio, larilera E Baldo de polenta,

larilera Oi mamma che pociade, Polenta e baccalà. Perché

non m‟ami più?

275

2. La mula de Parenzo. L‟há messo su bottega De tutto la

vendeva Fora che baccalà.

3. La me morosa vecia La tegno de riserva Ma quando

spunta l‟erba La mando a pascolar.

4. La mando a pascolare, Insieme alle cavrette L‟amor

con le servette, Non lo farò mai più.

5. Tutti mi dicon bionda, Ma bionda io non sono: Porto i

capelli neri, Neri come „l carbon.

XIV. SUL MARE LUCCICA

1. Sul mare luccica L‟astro d‟argento Placida è l‟onda

Prospero il vento. Venite all‟agile Barchetta mia Santa Lucia,

Santa Lucia.

2. Con questo zeffiro Cosi suave Oh come è bello Star su

la nave. Su passeggieri Venite via. Santa Lucia, Santa Lucia.

3. Oh dolce Napoli Oh suol beato Ove sorridere Volle il

creato. Tu sei l‟impero dell‟armonia. Santa Lucia, Santa Lucia.

276

277

X - ENCONTROS DA FAMÍLIA ZANOTELLI

1º.encontro – Porto Alegre – 1996.

No dia sete de janeiro de 1996 realizou-se o primeiro

encontro de Zanotelli do Brasil, na sede social do SESC em

Porto Alegre.

Um simples convite bastou para que 386 Zanotelli de

quase todo o Brasil acorressem. Os poucos que receberam uma

correspondência assumiram o convite de sua família mais

ampla. Assim estavam presentes baianos, capixabas (meia

centena), cariocas, paulistas, paranaenses, catarinenses e

278

gaúchos. Não conseguiram vir os Zanotelli dos outros Estados,

uma vez que em todos os Estados e, especificamente em todas

as capitais dos Estados brasileiros há Zanotelli. Estavam

também presentes 3 italianos Zanotelli que vieram entusiasmar

a reunião: Túlio e Bruno Zanotelli de Cembra e Pierangelo

Zanotelli Bonfanti, de Milão.

O Encontro feito de reflexão histórica sobre a

emigração italiana para o Brasil, caracterizadamente a

Trentina, e nela da família Zanotelli teve momentos marcantes

e inesquecíveis de reencontro de parentes que há muito não se

sabiam, descoberta de parentes com os quais nem se sonhava,

e, em todos e em tudo a criação e enraizamento de relações

amigas.

O lema foi: família Zanotelli criando laços. O

sobrenome acabou sendo apenas pretexto para, num contexto

tão individualista em que vivemos, voltassem à tona os valores

da família e da solidariedade que tanto marcou nossos

antepassados.

Impressionou ver crianças, jovens, adultos e anciãos

cantando canções do folklore italiano e brasileiro, canções

antigas e atuais, rezando (os Zanotelli guardam com zelo a

religiosidade cristã e católica) e dançando juntos. E crianças de

3 anos brincando de roda e cantando “Mérica, Mérica,

Mérica...”.

279

Centenas de Zanotelli acorreram a Porto Alegre em 07.01. 1996.

Abaixo estão alguns representantes das famílias

Zanotelli descendentes de Giovanni Gasparo, filho de Vigilio,

neto de Giovanni Antonio de Livo. Dos filhos de Giovanni

Gasparo: Francesco veio para o Rio Grande do Sul, Paulo foi

para o Espírito Santo com irmãs e primos.

Narciso foi o único filho que veio para o Brasil, com o

pai Francesco (outros cinco morreram em Cembra). Dos 14

filhos de Narciso casado com Teresa Job Telk, destacamos os

masculinos: José, Francisco e João.

280

José Telk Zanotelli e Margarida Secchi

Descendentes de José Telk Zanotelli de Capitão RS.

281

Descendentes de Francisco Telk Zanotelli e Carolina Berftol, residentes

em S. José do Herval – RS

Desc. De Francisco Telk Zanotelli (filhos: Santo, Hortênsiae Santa viúva de

João estão presentes)

282

Família de João Bertol Zanotelli

Família de Francisco Bertol Zanotelli) Jandir, Mauro, Ivone e marido João

Buttini, Ana, Adaires, e Hugo, Terezinha...

283

Santo com a esposa Maria Vidaletti e família na festa 1996

Descendentes de Narcizo Bertol Zanotelli na festa 1996.

284

Os filhos de João Zanotelli na festa (96), por ordem da esquerda para a

direita: Leonel Zanotelli e Carmen, João Daldon e Amália A Zanotelli, Ida

A Zanotelli e Arlindo Bonfanti, Alice A Zanotelli ( viúva de José Daldon,)

e Santina A Zanotelli (viúva de Emídio Piccinini)

... em continuação: Gema Sartori e Alcides A Zanotelli, Arlindo Daldon

(irmão de José e João) e Angela (Angelina) A Zanotelli, Guilherme Gobbi

e Hortência A Zanotelli, Agenor A Zanotelli e Lúcia Rossato.

285

Leonel Agostini Zanotelli e Ana Catarina Dadalt Dalla Vecchia

LEONEL AGOSTINI ZANOTELLI é filho primogênito (de

12) de JoãoTelk Zanotelli. João era o filho caçula (de 12) de

Narciso Zanotelli que, com o pai Francisco Savoi Zanotelli

veio de Cembra, casou com ANA DADALT DALLA

VECCHIA e teve 11 filhos: Jandir , Geni, Gino, Irma, Itelvina,

Ilva, Castilo, Clasi, Olir, Lírio e Dinasir. Nas Bodas de Ouro

de seu casamento, em 27 de agosto de 1988, em Canoas tinha

24 netos. Leonel foi agricultor em Jacarezinho, Encantado. Foi

pequeno comerciante em Bentevi, Aratiba, Erechim, foi

açougueiro em Fontoura Xavier, teve serraria em Soledade, e

pequeno comerciante em Canoas onde faleceu.

286

Leonel e Ana nas Bodas de Ouro com os filho, da esquerda para a direita:

Jandir, Gino, Itelvina, Ilva, Castilo, Olir, Classi, Lírio e Dinasir

Família Leonel e Ana. Sentados: Gino, Leonel, Ana, Jandir. De pé: Castilo,

Irma, Olir, Itelvina, Lírio, Ilva, Dinasir e Classi.

287

Leonel e seus filhos na festa de Porto Alegre

Família de Leonel Agostini Zanotelli e filhos na festa 96.

288

Filhos de Leonel e Ana aos 50 anos de Lírio. Da esquerda para a direita:

Clasi, Castilo, Ilva, Itelvina, Irma, Gino, Jandir. À frente: Dinasir e Lírio

Família Jandir e Ruth Zanotelli com os filhos e Bruno e Túlio Zanotelli de

Cembra e Pierangelo Zanotelli Bonfanti de Milão.

289

Vinícius Avila Zanotelli cc Rosana Medina Zanotelli e suas filhas Ana

Catarina e Juliana

Aniversário de Pedro filho de Daniel Avila Zanotelli cc Rachel Z.Carneiro

290

Daniel Avila Zanotelli e sua esposa Rachel Zanotta Carneiro no

aniversário do filho Pedro Carneiro Zanotelli, em Pelotas, 2011.

Luciana Avila Zanotelli cc Paulo Henrique Zanotelli e os filhos João

Gabriel e Michel.

291

GINO DALLA VECCHIA ZANOTELLI e Helena Schmidt com as filhas

Ane e Gina que está festejando 15 anos.

Carla, Marcial, Gisele-Olir e Irma Zanotelli (estes, filhos de Leonel)e Jr

292

CLASI DALLA VECCHIA ZANOTELLI, com o marido Carlos Pagnussatt

e os filhos Fernando e Fábio. Nasceu em Aratiba e reside em Canoas, RS.

Família de ITELVINA DALLA VECCHIA ZANOTELLI cc Basílio

Gabriel Michelon com os filhos Dante e Diogo

293

Vista do alto da Linha Pinhão – Barra do Rio Azul – Erechim, para onde

migraram os Dalla Vecchia e Leonel Zanotelli.(foto: Itelvina Zanotelli e

Basílio Michelon)

Ilva Ilva DallIlv ILVA DALLA VECCHIA ZANOTELLI cc José Queirós e

seus filhos: José José Carlos, e Joselaine. Residem em Berto

Círio, RS

294

Olir Dalla Vecchia Zanotelli cc Gislaine Barbosa Entre os tios Agenor e

Lúcia

As famílias de Lírio e Olir Zanotelli residem em Salvador Bahia. Da esqu.:

Olir e sua filha Helin, Lírio e a esposa de Olir: Gisele, Michele e Everton

(filhos de Lírio), Gislaine, (esposa de Lírio),Franciele (filha de Olir) e Ruth

Zanotelli.

295

Alice Agostini Zanotelli, filha de João Telk Zanotelli, festa de 1996.

Na festa Zanotelli (96) Vilma que aparece acima, junto à parede (viúva de

Valdemar Agostini Zanotelli) com Bruno, Tulio e Bonfanti de Cembra, tem

à frente Moacir, Adilar e Marisa com os esposos e filhos.

296

Darci Zanotelli, filho de Valdemar Agostinho Zanotelli, entre Jandir e

Leonel.

Festa Zanotelli (96): Arlindo Bonfanti, Ida Agostini Zanotelli, Cláudio e

Maristela, Bruno Zanotelli (Cembra), Pierangelo Bonfanti (Milão), Túlio

Zanotelli (Cembra) José Antonio e Almira

297

Agenor Agostini Zanotelli,Lúcia e filhos João, Francisco e Luana.

Hortênsia Agostini Zanotelli com o esposo Guilherme Gobbi e seus três

filhos: Admar, Gilmar e Marisa. Residem no Mato Grosso - Sorriso e

Campo Grande.

298

Alcides casado com Gema na festa Zanotelli (96) ao lado de Bruno, Túlio e

Pierangelo (da Itália).

Descendentes de José Devili Zanotelli, do Espírito Santo

299

Descendentes de José Devilli Zanotelli e de Angelo Nicolodi Zanotelli Na

foto aparecem entre outros Prascóvia, Idílio, Anna Maria, Carolina, José

(filho) filhos de José e seus familiares. Vieram do Espírito Santo e deram

um significado diferente à festa Zanotelli 1996 :“Criando Laços”.

Descendentes de José Devili Zanotelli, do Espírito Santo.

300

Leonel Agostini Zanotelli e Mário Oselame (Paroloti) Zanotelli

Mario Oselame Zanotelli, filho de Mário Weber

Zanotelli e Iracy Oselame, neto de David, nasceu em Caxias do

Sul em 30.06.1938 e reside em Fortaleza CE. Formado em

Sociologia é auditor de Empresas. Casou com Hannelore

Rosenberg e tem 2 filhos:David e Karen. David casado com

Márcia Virgínia de Almeida tem 2 filhos: Paula e Pedro.Os

Zanotelli de Caxias do Sul trazem como apelido PAROLOTI,

tal como consta nos Cutumi em Livo, na Itália

2º. ENCONTRO – JACAREZINHO - ENCANTADO

Um novo encontro foi programado para 12 de janeiro de 1997.

Deverá acontecer em Jacarezinho, no município de Encantado

RS considerando que aquele lugar foi o destino final da

301

migração da família Zanotelli. Chegados os primeiros em

Conde d‟Eu às vésperas do Natal de 1875, deslocaram-se na

década de 1880 para Muçum e Jacarezinho.

Capela S. Carlos – Jacarezinho – Encantado – RS.

Esta capela foi o centro da atividade comunitária da

qual participaram os Zanotelli, filhos de Narciso. No cemitério

da capela estão sepultados Narciso e sua mulher, seu filho João

Telk Zanotelli, o neto deste, Geni Dalla Vecchia Zanotelli e

muitos parentes da família.

302

Acima: missa festiva na capela de Jacarezinho, no 2º. Encontro da família

Zanotelli

303

Bodas de ouro de Amália Agostini Zanotelli cc João Daldon em

Jacarezinho, Encantado.

Em Jacarezinho Vinícius, Rosana, Arlindo Bonfanti, Leonel com a esposa,

Jandir com Ruth e Fabiana, frente ao lugar onde nasceram João, filho de

Narciso Zanotelli, Leonel, filho de João e Jandir filho de Leonel.

304

3º. ENCONTRO – VITÓRIA – ESP. SANTO-1998

O terceiro encontro da família Zanotelli

aconteceu em 1998 em Vitória, no Espírito Santo com

a presença expressiva dos Zanotelli. Como se sabe, em

1875 os irmãos Francesco e Paolo Zanotelli a Trento,

de Trento a Verona, de Verona até a fronteira com a

França, a Paris, ao porto de Havre, e dali para o

Brasil. Os irmãos vieram em dois navios (Rivadávia e

Sofia). Ao chegar ao Rio de Janeiro, então infestado

da febre amarela, os navios foram imediatamente

destinados, um para o norte e outro para o sul.

Francesco veio para o RS e Paolo com suas irmãs

foram para o Espírito Santo. Nunca mais souberam

notícias um do outro. Só na década de 1990

conseguimos aproximar a família desses irmãos. Por

isso o 3º encontro em Vitória.

Vitória – (Wikipédia)

305

306

Vitória – 1998 passeio de barco – um brinde de acolhimento

Em Vitória, passeio de barco, alegria, medo e festa

307

Ainda passeio de Barco em Vitória

Vitória – a lindíssima praia de Vila Velha

308

4º. ENCONTRO – COLATINA – ESP. SANTO- 1999

Colatina ES – vista noturna sobre o Rio Doce (Wikipédia)

Colatina – 4º. Encontro – Entusiasmo ao lado do rio Doce

309

Centro comercial de importância no Espírito Santo com

dezenas de famílias Zanotelli. Calcula-se que no Espírito

Santo, cerca de 500 famílias são Zanotelli ou vinculados aos

Zanotelli.Estão em Cariacica, Santa Teresa, Vitória, Vila

Velha, Guarapari e tantas cidades. Do Espírito Santo migraram

muitos Zanotelli para Minas Gerais, Bahia, e Norte e Nordeste

do Brasil.

Colatina – 1999.- Encontro alegre e com missa para iniciar.

310

5º. ENCONTRO – CEMBRA – ITÁLIA - 2000.

Recepção: A banda marcial de Cembra dirigida por Sérgio ZanotelliEm

311

A festa em Cembra repercutiu na mídia. Os políticos que

estavam presentes perceberam o significado e importância da

cidadania italiana a todos os que são filhos de emigrantes do

Trentino. A lei que estava prestes a espirar foi prorrogada para

que outros pudessem requerer o reconhecimento de sua

italianidade.

312

Pelas alamedas em frente à casa dos Zanotelli, a banda conduz os visitantes

e a população até a Igreja de S. Pedro.

Centenas de pessoas participaram e a comunidade toda era

convidada.

Leonel, pilchado (vestido) a caráter com a indumentária do Rio

Grande do Sul, encantando a todos em Cembra

313

Os prefeitos (Sindaci) de Cembra e de Livo em belo discurso de recepção

em Cembra.

Ainda o acolhimento nos pavilhões armados para a festa

314

Jandir João Zanotelli agradecendo a recepção e narrando um pouco das

peripécias e sucessos dos Zanotelli que emigraram de Cembra para o Brasil

em 1875

O pároco de Cembra destacando o significado religioso do encontro que

procura raízes da esperança que alimenta a família Zanotelli.

315

Leonel, Basílio, itelvina e Gino Zanotelli em Cembra

Túlio entusiasmado e entusiasmando a festa com as canções tirolesas

316

Acima: o entusiasmo de Túlio Zanotelli puxando as canções tirolesas e que

os imigrantes Zanotelli trouxeram no ouvido e na alma, povoando a

imaginação nas noites de verão.

Leonel com os Zanotelli de provecta idade falando em dialeto que a família

não esqueceu.

317

A alegria contagiante de Bruno e Túlio conosco.

Festa Inesquecível, encontro que alimenta a vida

318

Congraçamento que faz bem

319

Cembra, ao longo do rio Avísio que ronca impetuoso em tempo de

enchente.

Na azienda Zanotelli com Giorgio explicando que Dante Aleghieri inspirou

a descida ao inferno nas pedras da encosta em frente. Mais abaixo: Bruno

conosco.

320

Frente à fiambreria Zanotelli em Cembra

Almoçando farta e alegremente em casa de Túlio.

321

Jandir, Giorgio e Alice com a mãe Arrola e os filhos. A sala de estar e

jantar ampla com um quadro da última ceia e a fotografia dos pais recorda

as moradas que os imigrantes fizeram no Brasil

O encontro foi marcado pela participação, em primeiro lugar dos

familiares Zanotelli, todos, cada um em seu posto e numa entreajuda que

impressionou. Os amigos, parentes, e a comunidade toda de Cembra foi

convidada e se fez presente em toda a festa. As autoridades políticas e

religiosas estiveram apoiando e presentes a todo passo. Assim, as raízes de

solidariedade, de fraternidade fundaram a convivência.

322

Belo e precioso bilhete dos muitos desse 5º. Encontro

323

6º. ENCONTRO – LIVO – ITÁLIA - 2004

Bela recepção das autoridades e Zanotelli com jantar à luz de vela.

Apelidos (sobrenomes) que os Zanotelli adotaram desde Livo

Assim como o “nome artístico” que muitos escritores

adotam, assim também os Zanotelli adotaram vários deles. Em

324

Livo alguns se destacam: Gianoi, Gianini, Perini, Paroloti,

Petroni, Franzi, Crislon, Cismon, Tripoli, Dichi, Cerli, Vati,

Marcori. Em Cembra serão os Vigilioti, Rocchetti, etc. No

encontro de Porto Alegre estavam presentes os Zanotelli

(Paroloti) de Caxias do Sul.

À frente de todo o desfile de recepção, a bandeira do Comune de Livo.

325

A banda puxa o desfile

Descontração e festa em Livo

326

Centenas de pessoas participam

Padre Alessandro (Alex) Zanotelli natural de Livo vivendo na África

Padre Alex Zanotelli, incansável crítico da hipocrisia da

política italiana em relação à África, líder da revista Nigrizzia

327

e que trabalha em Korogosho junto aos mais pobres, dizendo

aos seus conterrâneos que agora vivem na riqueza: abbiamo

perso la tramontana (perdemos o horizonte que nos leva à

esperança)

Canções e festa junto à neve dos Alpes. A neve, cujo degelo irriga os

pomares de maçã, a de melhor qualidade da Europa, não dista senão 1.000

metros do local da festa.

328

Aos pés dos Alpes, neve à vista, em meio à plantação das maçãs de melhor

qualidade reconhecida não só na Europa, mas em todo o mundo, junto à

Cooperativa que expressa a pujança e riqueza daqueles agricultores, a festa

das raízes

Em Livo, os representantes Zanotelli de Cimone

assumiram organnizar o próximo encontro em sua cidade para

2006. Grande era o entusiasmo e a alegria.

Em Livo, junto à mãe e irmã de Padre Alex, honra e sinal para todos os

Zanotelli.

329

MESO ENCONTRO – PORTO ALEGRE – 2010

Os Zanotelli do Brasil, e mais especificamente do Rio Grande

do Sul e Santa Catarina reuniram-se para mais uma

confraternização e preparação ao próximo encontro. O

Encontro aconteceu em Canoas, em 2010.

Aniversário de Agenor em Carazinho e o convite para Canoas

Canoas - 2010

330

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Pelotas na segunda metade do século XIX. Pelotas,

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