zanotelli
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A saga de um imigrante trentinoTRANSCRIPT
2
Editora Cópias Santa Cruz Ltda
Rua Felix da Cunha, 412, Pelotas.
CEP 96010-000 Fone (53) 32225760
E-mail: [email protected]. Pelotas – 1ª. Edição -1997. 2ª. Edição revista 2011.
Edição e direitos reservados do autor
Capa: Luís Fernando Giusti
Impressão: Editora Cópias Santa Cruz
Z33z
Zanotelli, Jandir João
Zanotelli: a saga de um imigrante trentino
Jandir João Zanotelli - Pelotas
PelotasEditora Cópias Santa Cruz Ltda
2ª.Edição -2011.
318p.it.
ISBN:978-85-61629-51-9
1. Imigração 2.imigração italiana. 3. Biografia-
imigrantes 3.1. Título.
CDD 325.1
Catálogo sistemático
imigração: Itália
Trento: imigrantes
Biografia: imigrantes
3
Dedicatória
A nossos
filhos e a nossos pais que,
com raízes, memória e
imaginação nos incitam a
construir uma pátria solidária
e fraterna onde a migração
seja a festa da esperança, da
liberdade e do encontro.
5
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...................................................................... 7
I- CONTEXTO DA EMIGRAÇÃO ITALIANA E
TRENTINA ........................................................................... 13
1. O Contexto Geográfico.......................................... 13
2. O Contexto Histórico..............................................27
3. A Economia......................................................... ..51
4. A Qualidade de Vida...............................................59
5. Aspectos Religiosos, Culturais e Políticos............ 68
II - O BRASIL QUE OS AGUARDAVA............................. 78
III - A EMIGRAÇÃO - IMIGRAÇÃO................................ 119
1. Migração Temporária.......................................... 119
2. Migração Definitiva............................................. 120
3. A Expedição Tabacchi......................................... 121
4. A Diáspora........................................................... 128
IV - A IMIGRAÇÃO DA FAMÍLIA ZANOTELLI........... 139
1. De Livo para Cembra
–De Cembra para o Brasil ................................... 130
2. Do Rio de Janeiro para Porto Alegre....................167
3. De Porto Alegre a Conde d‟Eu (Garibaldi)..........173
4.De Garibaldi a Encantado.......................................187
6
V –TRADIÇÕES E LEMBRANÇAS...................................217
VI – SACERDOTES E RELIGIOSOS.................................230
VII- CONCLUSÃO...............................................................236
VIII- RELAÇÃO DE FAMILIAS IMIGRANTES...............242
IX – CANÇÕES....................................................................308
X – ENCONTROS DA FAMÍLIA ZANOTELLI.................319
1º.Encontro em Porto Alegre 1996........................................319
2º.Encontro em Jacarezinho 1997.........................................343
3º.Encontro em Vitória ES 1998...........................................347
4º.Encontro em Colatina ES 1999.........................................351
5º. Encontro em Cembra, Itália, 2000...................................353
6º. Encontro em Livo, 2004, Itália.........................................367
Meso Encontro em Canoas RS, 2010....................................373
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................. 375
7
INTRODUÇÃO
Aos 136 anos da Imigração Italiana para o Rio Grande
do Sul nada melhor do que narrar a saga de uma família
concreta, a família Zanotelli, que participou desde o início
deste processo.
Os primeiros imigrantes italianos (considerada a Itália
em seus limites geográficos atuais) que, de forma sistemática e
grupal, emigraram para o Brasil foram os trentinos, com a
Expedição Tabacchi que chegou ao Porto de Vitória, no
Espírito Santo, com o navio a vela La Sofia, no dia 27 de
fevereiro de 1874. Eram cerca de 400 pessoas que haviam
embarcado em Gênova às 3 horas da tarde de 3 de janeiro.1
A Experiência não teve sucesso. Dificuldades, conflitos,
sofrimentos, promessas não cumpridas, levaram o governo a
dissolvê-la. Em 14 de maio de 1874 a Colônia “Nova Trento”
de Tabacchi foi supressa. Em junho daquele mesmo ano os
imigrantes iniciaram a se dispersar, sendo transferidos para as
Colônias Leopoldina e Rio Novo no Espírito Santo e Nossa
Senhora da Soledade (Forromeco - Alto Feliz) no Rio Grande
1 GROSSELLI, Renzo. Viver ou Morrer, 1987, pg.79.
8
do Sul.2 Quando Pe. Bartholomeu Tiecker, chega a Na. Sra. da
Soledade, em dezembro de 1875, já os encontra aqui3.
A data comemorativa da imigração italiana para o Rio
Grande do Sul é 23 de maio de 1875. Neste mesmo ano, no dia
24 de dezembro, os Zanotelli chegam à Colônia Conde d‟Eu
no RS e em 26 de dezembro também de 1875, os Zanotelli
chegam a Vitória do Espírito Santo, e daí chegam à Colônia
Santa Leopoldina em 5 de janeiro de 1876.
O Trentino, Tirol Meridional, na época não pertencia à
Itália que se havia unificado em 1861. Pertencia ao Império
Austro-Húngaro. Essa região passou definitivamente à Itália
em 1919. Os imigrantes Zanotelli vieram portanto como
austríacos, tiroleses, trentinos e não como italianos, embora
sua língua, seus costumes, sua história fossem sempre
italianos.
As obras principais que falam da imigração italiana não
destacam suficientemente a imigração de italianos do Trentino
e Tirol. Renzo Rosselli é quem resgata a história da emigração
Trentina em 3 obras fundamentais com um sub-título comum:
“Contadini Trentini (Veneti e Lombardi) nelle foreste
brasiliane”. São elas: Vincere o Morire, Trento, 1986
(Traduzida pela UFSC em 1987 com o Título Vencer ou
2 Ibidem, pg. 84.
3 Ibidem, pg. 86.
9
Morrer); Colonie Imperiali Nella Terra del Caffè, Trento,
1987 (Colônias Imperiais na Terra do Café); Da Schiavi
Bianchi a Coloni. Un Progetto per le Fazendas, Trento, 1991
(De escravos Brancos a Colonos. Um projeto para as
Fazendas).
Aurélia Castiglioni no Espírito Santo com quem tivemos
excelentes contatos e um grande grupo de pesquisadores
liderados por Rovílio Costa, Luís de Boni e outros editam
abundante trabalho publicado pela EST (Escola Superior de
Teologia de Porto Alegre) e pela EDUCS (Editora da
Universidade de Caxias do Sul). Gino Ferri oferece boas
informações sobre Encantado. Nossas pesquisas completaram
dados que faltavam.
Este trabalho pretende, em apresentando a história da
imigração de uma família, oferecer o contexto, as causas, a
motivação que os tiroleses tiveram para emigrar, o contexto
brasileiro para a imigração, e os fatos concretos que
acompanharam a imigração trentina no último quartel do
Século XIX. Mapas, fotografias e outros dados visuais
procuram ajudar a compreensão. A própria árvore genealógica
não busca apenas o diletantismo de organizar os nomes de uma
família, mas oferecer um exemplo de como se estruturaram as
famílias (geralmente muito numerosas) dos imigrantes
italianos e trentinos. Suas festas guardam e traduzem os
10
valores trazidos e emoldurados no contexto brasileiro.
Traduzem sua contribuição à construção desse nosso polimorfo
Brasil.
Este ensaio é dividido em 5 partes: 1.O contexto europeu
e trentino da emigração; 2. O Brasil da imigração; 3. A
emigração-imigração; 4. A família Zanotelli; 5. A árvore
genealógica da família Zanotelli.
Quero deixar registrado o agradecimento ao grupo do
NPD da UCPel , liderado por Cristiano Otero Avila e auxiliado
por Wanessa T. Rassier que criou e acompanhou
pacientemente o Software da árvore genealógica que
utilizamos, à equipe da EDUCAT que incentivou o projeto e a
cada um dos Zanotelli ou vinculados a eles que ofereceram os
dados e fizeram nascer este trabalho que, por isso, é também
obra coletiva .
11
I. O CONTEXTO DA EMIGRAÇÃO ITALIANA
E TRENTINA
1. O Contexto Geográfico
A Europa, com uma superfície de 9.740.000 km2, que
representam 1/5 das terras emersas da terra, densamente
povoada (com mais de 650.000.000 de habitantes), é ainda um
dos maiores centros econômicos e o maior centro cultural do
globo. Sua superfície é um pouco maior que a do Brasil (que
tem 8.511.965 km2 e ¼ da população da Europa). Tem 38.000
km de costa dos mares Mediterrâneo, Báltico e do Norte e do
Oceano Atlântico. A cadeia montanhosa dos Alpes que têm, no
máximo 5.000 metros de altura oferece dificuldades para viver
e divide as planícies do norte das do Sul. Os principais rios:
Reno, Danúbio e Pó. Cidades mais populosas: Londres, Paris e
as demais capitais. A maioria delas não tem mais de 3 a 4
milhões da habitantes e nenhuma se aproxima de S. Paulo que
hoje tem 14 milhões.
12
A Itália é hoje dividida em vinte Províncias. A parte Norte a
que mais nos referiremos para a emigração compreende o
Trentino, o Alto Ádige, a Lombardia, o Vêneto, Friuli, Venecia
Júlia, o Piemonte e o Valle de Aosta.
O mapa físico-político da Itália mostra-a com os
acidentes de relevo e limites. A cadeia montanhosa dos Alpes
ao norte, além dos quais está a Áustria, a Suiça, a leste a
Iugoslávia e a oeste a França. A grande planície verde do rio
Pó tem cidades importantes como Turim, Milão (principais
13
centros industriais na época da emigração - 1875 - como o são
ainda hoje), Verona, Vicenza, Pádova e Veneza (cidades que
aliam à produção industrial a produção cultural e o turismo).
As planícies do Rio Pó são fertilíssimas e cultivadas palmo a
palmo. Propriedade de grandes senhores e com tecnologia
sempre atualizada, essa região era lugar de migração sazonal
da região norte, cujos habitantes procuravam, nas safras do
arroz, compor um pouco os parcos ganhos que lhes davam seus
minifúndios trentinos.
A família Zanotelli que migrou para o Brasil, África,
Argentina é originária do Trentino, especialmente de Livo (no
Val di Non ) e de Cembra (no vale de Cembra ao longo do rio
Avisio que desemboca no Ádige e este no rio Pó, passando por
Verona.
A parte mais setentrional da Itália, o Tirol pertencia ao
Império Austro-húngaro até 1919. O Tirol, com capital em
Insbruck, era dividido em duas partes: o Tirol setentrional (de
fala alemã e capital em Bolzano) e o Tirol meridional (de fala
italiana e com capital em Trento. Por isso, os Zanotelli que
migraram para o Brasil traziam no passaporte: “austríaco,
tirolês, trentino”. Hoje, essa região do Trentino e Alto Ádige
pertence à Itália, apesar da luta separatista da “República
Padana”.
14
A Itália é menor que o Rio Grande do Sul: tem 301.224
km2. Tem mais de 1.000 km de comprimento e sua maior
largura é 225 km. O Sul é mais pobre que o Norte. O Norte
luta para separar-se do Sul tido para ele como um peso e um
encargo.
O Trentino, até 1870 era uma região das mais pobres da
Europa, com “uma economia agrícola quase auto-suficiente e
...com uma sociedade camponesa praticamente impermeável às
influências externas”4. “Uma configuração geográfica única
que isolava os homens em vales estreitos e impérvios junto a
montanhas altas e cobertas de bosques, protegeu por séculos
senão a imutabilidade, pelo menos as características essenciais
e mestras de tal sociedade” 5. Situado ao longo da bacia do rio
Adige, cujos inúmeros afluentes banham estes estreitos vales o
Trentino foi também uma das poucas passagens para
ultrapassar os Alpes através de Bolzano e Brennero. Por aí
vinham os povos do norte em direção ao Império Romano e
por aí foi construída em 1850 a estrada de ferro Verona-
Trento-Bolzano-Insbruck-München.
O Trentino ou Alto-Ádige, pertencia ao Império
Austro-Húngaro até 1919. Chamava-se Tirol-Sul para aquele
4 GROSSELLI, Vencer ou Morrer, 1987, pg. 16.
5 Ibidem.
15
império. Os trentinos não achavam lisongeiro chamar-se
tiroleses.
A partir de 1870, e pela estrada de ferro entram as
idéias do capitalismo revolucionando a economia, os valores, a
família e até a religião.
Ao Norte a Suíça e a Alemanha (do Império Austro-
húngaro, porque a região pertencia à Áustria que formava um
só reino com a Hungria), ao Sul a Itália da planície do rio Pó.
A Província de Trento tem hoje, 6.217 km2, com
447.000 habitantes, organizados em 223 municípios (Comuni),
confinando ao norte com a Província de Bolzano, a leste com a
de Belluno, ao sul com as de Vicenza e Verona, a oeste e
sudeste com a Lombardia e suas províncias de Bréscia e
Sondrio.
A Província de Trento tem hoje, 6.217 km2, com
447.000 habitantes, organizados em 223 municípios (Comuni),
confinando ao norte com a Província de Bolzano, a leste com a
de Belluno, ao sul com as de Vicenza e Verona, a oeste e
sudeste com a Lombardia e suas províncias de Bréscia e
Sondrio.
16
A região do Tirol abrangendo Bolzano como capital do Tirol Norte com
fala predominantemente alemã e Trento como capital do Tirol Sul e de fala
predominantemente italiana
Os municípios da Província trentina agrupam-se em 11
sub-províncias (Compreensori) que quase coincidem som seus
vales: Di Sole, Non, Fiemme, o ladino de Fassa, Primiero-
Vanoi, Giudicarie, Alto Garda, Ledro, Alta Valsugana e Bassa
Valsugana e o do Ádige. As fotografias, em grande parte
retiradas da “Guida turistica” do Trentino e citadas como
Guida, mostram visualmente, um pouco desses vales,
17
montanhas, neves e lagos e que povoavam a cabeça saudosa
dos imigrantes.
Europa vista do alto- no centro está a Itália.
Os Alpes dividem as planícies européias do norte e as do
sul. Esse era o lugar e o horizonte que nossos antepassados
imigrantes deixaram para trás, definitivamente. Outro
horizonte se levantava.
21
O norte da Itália e o Trentino visto do alto- Ao centro o vale do Rio Pó
Trento – funde o medieval e o atual
22
Trento, seus castelos, o castelo do Concílio de Trento de 1545-1563, o da
Contra-Reforma contra a Reforma Protestante. Suas diretrizes regeram a
Igreja Católica até o Concílio Vaticano II de 1962
24
2. O Contexto Histórico
A região já era habitada no período neolítico há mais de
4.500 Ac. Descobertas pré-históricas como as de “Riparo
Gaban” e “Loc III”, “Vate di Zambana” ao longo do vale do
Adige e Fassa mostram que o Trentino foi, desde épocas
imemoriais, lugar de intercâmbio e passagem dos povos
europeus, especialmente espaço de relação dialética de poder e
influência entre os povos latinos e germânicos.
Por volta de 40 aC.. Roma tomou conta do Trentino. “
No ano 30 aC. Trento já se havia transformado no centro
militar-político-administrativo mais setentrional do mundo
romano”6. Em 23 aC. Era municipium. Em 46 d.C. ao conceder
cidadania romana aos habitantes trentinos que eram da X
região itálica (denominada de Venetia et Istria), da tribo
Papíria , denominava Trento como “Município explêndido”7.
Encruzilhada e porta de entrada no Império Romano tinha
importância capital para este.
Suas estradas deixaram de ser transitáveis quando, com
a invasão dos “bárbaros”, caiu o Império Romano em 476 d.C.
6 Guida turistica - Trentino, pg 19.
7 Guida, pg 20.
25
O cristianismo já estava estruturado no Trentino em
meados do século IV. Seu 3o.bispo foi S. Vigílio martirizado
no ano 400.8
Em 568 d.C., Albuino, rei dos Lombardos que
invadiram o Império Romano e o dividiram em 36 ducados,
com capital em Pavia, transforma a X região itálica (trentino)
em ducado, o Ducado de Trento.
Em 774 d.C. os Francos tomam o reino lombardo e
constituem a “marca Tridentina”. Em 843, na divisão do
Império Carolíngio entre os 3 netos de Carlos Magno, o reino
da Itália e, portanto, Trento, fica sob o domínio de Lotário.
Em 888 d.C. Berengário, duque do Friuli é eleito rei da
Itália e transfere a capital para Verona e cede a marca
Tridentina a Arnolfo, duque de Carinzia que o havia apoiado.
Depois de 900 d.C. Oto I da Alemanha concede aos
bispos trentinos vastos territórios (inclusive Livo e Cembra).E
pouco depois as marcas de Verona e Trento ficam propriedade
de Henrique, duque da Baviera e irmão de Oto I.
Em 1004 o “Comitato de Trento” é reconhecido pelo
imperador Henrique como feudo do Sacro Império. Em 1027
Conrado II doa este feudo, assim como Bolzano e o Val
Venosta ao bispo de Trento Udalrico II.
8 Os nomes Vigílio e Giovanni são os mais comuns na família
Zanotelli.
26
Assim, até 1800 o “Principado de Trento” é um
pequeno Estado dependente do Imperador. “O bispo tem o
direito de assento e voto nas dietas imperiais, tem o comando
militar e soberania absoluta sobre os vassalos”9.
Até 1777, quando a soberania é abolida, os 51 bispos
Príncipes de Trento que se sucedem estruturam firmemente o
Estado de Cristandade, dentro do regime feudal. O bispo era ao
mesmo tempo proprietário e chefe político da região 10
.
9 Guida, pg. 20.
10 Para entender a organização e a estrutura do poder no Trentino como
em toda a Europa, é preciso situá-las dentro do Estado de Cristandade
que nasceu pela fusão do Cristianismo primitivo com o Império
Romano.
O Cristianismo primitivo, comunitário, profético, dos pobres,
da periferia e por isso perseguido pelo Império Romano passou a usar,
para se defender, as categorias da Filosofia Greco-romana. E com
Constantino fez um pacto com o Império. Constantino deu liberdade à
religião cristã, (Edito de Milão de 313), Teodósio fez da Religião Cristã
a religião oficial do Império Romano (387), e o mesmo Teodósio
decretou a Religião Cristã como a única permitida no Império(391).
Assim, as estruturas econômicas, políticas e sociais do
Império foram adotadas pela Igreja. Fundiram-se o Império e a Igreja
num só Estado de Cristandade. E as funções de Igreja e Império se
confundiram: o Imperador se intrometia na religião e a Igreja assumia
funções econômico-político-sociais do Império. O Imperador passou a
convocar Concílios e a controlar a Igreja sob pretexto de protegê-la e a
Igreja passou a administrar o Império, as províncias e os municípios...
De 313 até 800 completou-se a fusão. De 800 (Com Carlos Magno) a
1648 (tratado de Westfalia) a Igreja mandava na política, nomeando e
desnomeando Imperadores, reis e príncipes. De 1648 a 1962 a política
de cada rei ou nação mandou na religião sendo que o chefe político de
cada Estado era ao mesmo tempo o dirigente da religião de seu povo.
Assim o cristianismo na Inglaterra se fez Anglicanismo, assim na
França, na Suécia etc. A partir de 1962, com o Concílio Vaticano II essa
confusão começou a ser desfeita e o cristianismo a retornar a suas raízes
primitivas: comunidades de base, Igreja como povo de Deus, serviço
27
Em 1870 “a sociedade trentina permanecia uma
sociedade camponesa e o centro da vida econômica continuava
sendo a terra. A família era a célula econômica e social mestra
de tal sociedade e a Igreja Católica, aqui entendida tanto como
estrutura enquanto conjunto de leis codificadas, fornecia para
tal sociedade opções éticas e morais, mitos e tensões o mesmo
que na Idade Média. Com o poder político que, vez por outra
se instalava na região (configurando-se a mesma Igreja, em
última instância, como poder político perante a classe
camponesa). O guia do camponês não era o Imperador, nem o
intelectual liberal: era o padre...”11
.
Assim de 1.100 até 1802 a região do Trentino foi um
Principado Episcopal, administrado exclusivamente pelo clero.
O bispo de Trento era o senhor, suserano, das terras e essas
eram concedidas aos senhores de menor importância (condes,
aos homens, fim do triunfalismo, retomada do papel do leigo,
profetismo crítico que anuncia a Boa Nova libertadora e denuncia as
injustiças, com independência frente às estruturas econômicas e
políticas.
No Estado de Cristandade as divisões políticas do Império
ficaram as divisões políticas da Igreja: assim as províncias em que era
dividido o Império, e administradas por um governador serão dioceses
administradas por um bispo, os municípios em que eram divididas as
províncias vão ser paróquias presididas por um presbítero (padre). As
insígnias, os poderes, as honrarias dos príncipes da Igreja e dos
governadores serão as mesmas, o mesmo se diga do papa e Imperador e
do pároco e do prefeito ou síndico municipal.
Este Estado de Cristandade vigorou em toda a Europa e em todas as
regiões colonizadas pela Europa, inclusive no Brasil e ainda vige em
muitas atitudes e manifestações políticas e religiosas. 11
GROSSELLI, 1987, pg. 16.
28
barões...) e esses as dividiam aos camponeses que as
trabalhavam como servos da gleba, dando ao senhor a maior
parte da produção.
As comunidades locais tinham certa autonomia
administrativa, tinham suas “carte di regola” isto é seus
estatutos e leis próprias que regulavam toda a vida econômica
e social. Essa autonomia cessará definitivamente quando, em
1802, o Império Austro-húngaro (Áustria) anexa a região. Em
1805 Napoleão Bonaparte vence a Áustria em Austerlitz e o
Trentino passa para o domínio da Baviera até 1810. “Foram 4
anos de excelente governo”. Foram promovidas reformas e
melhorias. O povo, porém, liderado pela nobreza e pelo clero,
rebelou-se contra as reformas.
Pelo tratado de 1810 o “Tirol Meridional” (assim os
mandantes denominavam o Trentino), passou ao controle do
Reino Itálico da França sob o comando do vice-rei francês
Eugênio de Beauharnais. Esse Reino Italiano, compreendendo
o vale do Pó e o território da antiga República de 12
Veneza,
seria não só uma extensão das fronteiras da França, mas um
domínio pessoal do próprio Napoleão. Os filhos dos
agricultores da região combatiam no exército de Napoleão
12
Veneza foi uma das Repúblicas que mais tempo viveu. Enquanto os
países Europeus eram reinos ou impérios, Veneza autonomamente era
República desde o início do ano 1.000 até incorporar-se à Itália
quando da Unificação Italiana em 1861.
29
contra a Áustria. As canções dos imigrantes lembram isto em
muitas delas.
Derrotado Napoleão, definitivamente na batalha de
Waterloo (1815), os países vencedores reúnem-se no
Congresso de Viena para restabelecer o antigo regime
desmontado por Napoleão, e este, em 7/4/1815, determina que
a região do Tirol abrangendo o Trentino retorne ao Império
Austro-húngaro (também o ducado de Milão e a república de
Veneza), ficando a casa de Sabóia com o Piemonte e Sardenha
e a casa dos Burbons com o Reino das duas Sicílias.
Em 1816 os Principados Episcopais de Bressanone e
Trento são secularizados (passam das mãos do clero para as
mãos dos políticos leigos) e são chamados respectivamente de
Tirol Setentrional ( de língua alemã ) e Tirol Meridional (de
língua italiana) dentro da província do Tirol, cuja capital
administrativa seria Insbruck. Por 100 anos o Trentino (Tirol
Meridional) lutará por sua anexação à Itália ou por sua
independência política frente a Áustria, muitas vezes ajudado
pelo Tirol de fala alemã. Esse autonomismo, porém, será mais
um fenômeno urbano conforme o ideal de Mazzini
(revolucionário socialista do Piemonte), a exemplo da
Comissão dos Carbonários do Tirol que, aliados aos
revolucionários do Piemonte, em 18/3/1821 declaram: “Avante
30
tiroleses! Vingai a tirania Imperial!... Avante, pois, às armas!
Recomenda-se também a moderação. Às armas!”
O movimento revolucionário “primavera dos povos”,
de 1848, que sacudiu toda a Europa e que assustou a oligarquia
rural e a burguesia , teve pequena repercussão em Trento, com
algumas batalhas campais juntando vênetos, lombardos,
bergamascos, brescianos e trentinos contra a Áustria,
inspirados no ideal liberal que era anti-clerical, anti-nobreza e
abstratamente nacionalista. Como resultado insignificante
houve, em 12 de agosto, a proclamação da República Italiana,
tendo como chefe Giuseppe Mazzini, feita por um “punhado de
homens que defendiam Stelvio e Tonale” 13
. Durou quatro
dias.
O movimento, porém, conseguiu do Império Austríaco
a abolição da servidão da gleba. O sistema capitalista de
produção, que há séculos vinha transformando a Europa e o
mundo exigia essa conquista: “a completa liberdade de todos
os fatores produtivos e a abolição de todos os direitos feudais
como prebendas, direitos de “corvée” e direitos de taxação que
ligavam com correntes o camponês a uma terra que de fato era
sempre do feudatário” e senhor.14
Livres da barbárie medieval,
os camponeses podiam ser, agora, livremente contratados para
13
GROSSELLI, 1987, pg 30. 14
GROSSELLI, 1987, pg 30.
31
a produção agrícola capitalista, e isto onde as terras eram
abundantes e férteis, como na planície do rio Pó.
No Trentino, porém, essa libertação do regime feudal
não levou a uma solução capitalista. Faltavam as condições. As
terras cultiváveis eram poucas e a população densa. Para os
camponeses trentinos a reforma “representou de imediato
somente a conquista do direito de vender a própria pouca terra
ou de continuar a viver de uma agricultura de pura subsistência
na sua própria terra.15
De 249.000 hectares cultiváveis,
representando menos de um hectare produtivo por pessoa,
sendo que metade eram de pastagens alpinas, restava uma
propriedade familiar média inferior a 2.000 m2: uma horta de
40m x 50m.
No final de 1848, 46.000 assinaturas, inclusive do Tirol
de fala alemã, (O Círculo Trentino, na estrutura administrativa
organizada pelo governo austríaco em 1854, dentro da
Província do Tirol tinha 323.186 habitantes), pediam a
independência administrativa do Trentino. A Áustria reagiu
com a propaganda: “Deus, imperador e família” e proibiu, em
1854, o uso da palavra “Trentino” e obrigou o uso de “Tirol
Meridional”.
O processo de unificação da Itália, guiado pela casa de
Sabóia, culmina na decisão da assembléia de deputados em
15
GROSSELLI, 1987, pg. 30.
32
1861, declarando unida a nação italiana. Os deputados foram
eleitos em 1860, por voto censitário de uma minoria (cerca de
2% ) da população.
Dois deputados do Trentino também foram eleitos para,
simbolicamente representar a região: Giuseppe Canestrini e
Antonio Gazzoletti. Nesse processo e com o esforço
revolucionário de Garibaldi, a região norte da atual Itália vai
aos poucos se independizando da Áustria.
Pela Paz de Villafranca, em 1859 a casa de Sabóia,
auxiliada por Napoleão III da França, contra a Áustria, anexa a
Lombardia. Em 1867 o Vêneto. Em 1866 o Trentino
“conheceu aquela esplêndida figura de aventureiro e libertador,
qual foi Giuseppe Garibaldi. Os seus exércitos de voluntários
quase conseguiram tomar de assédio Trento, mas a política das
grandes potências freou o seu avanço e o obrigou ao célebre:
“Obedisco” (obedeço)16
. Na verdade a política do gradualismo
e do pragmatismo diplomático de Cavour (primeiro ministro
do Piemonte), venceu. Os intelectuais e revolucionários do
Trentino tiveram que fugir para a Itália e outros países da
Europa, ante a perseguição política da Áustria.
Garibaldi, que hoje é considerado herói da América e
da Europa, e que lutou no Brasil, na Revolução Farroupilha da
República do Piratini (RS e SC), na libertação de Montevidéo
16
GROSSELLI, 1987, PG. 31.
33
contra Buenos Aires, e na unificação italiana com seus
métodos de guerrilha, tomando, por exemplo a Sicília com
apenas 1.000 combatentes e que foi temido e odiado por
Cavour, pelos latifundiários e detentores do poder,
(especialmente pela Igreja), era carinhosamente cultuado pelos
imigrantes italianos ( na época italianos e trentinos) que vieram
para o Brasil a partir de 1875. Ao saber da morte do herói em
1882 a colônia de Conde d‟Eu, o primeiro lugar de migração
dos trentinos, mudou de nome e se chama desde então:
Garibaldi. Na expedição dos 1.000 contra a Sicília 16 trentinos
acompanham Garibaldi
.O Trentino só se integrará à Itália em 1919. Terminada
a Primeira Guerra Mundial em 1918, pelo tratado de Saint
Germain, em consequência do tratado de Versalhes que fora
imposto à Alemanha, em setembro de 1919, a Áustria se
obrigou a entregar à Itália o Trieste, a península da Ístria e o
Tirol, tanto o Tirol norte de fala alemã, quanto o Tirol
Meridional, o Trentino, portanto.
Por isso os imigrantes Zanotelli que vieram do Trentino
para o Brasil, até 1918 vieram como cidadãos austríacos,
tiroleses, e não como italianos. Em 1926 houve um censo no
Tirol solicitando à população que declarasse se queria ou não a
cidadania italiana.
34
Como os emigrados não estavam para responder,
supuseram as autoridades italianas que eles não a quisessem.
Por isso a dificuldade de se conseguir cidadania italiana hoje
para os filhos dos emigrados do Tirol ou Trentino, por absurdo
que pareça, uma vez que o governo austríaco exigia dos
emigrados a renúncia à cidadania austríaca para conceder
passaporte.
O contexto mais global da migração européia, e aqui
olhamos especialmente a italiana e trentina, para a América,
nos é oferecido pela crise do sistema capitalista de produção. O
capitalismo, primeiro mercantil (1453 a 1648), depois
manufatureiro (1648 a 1767) e por fim industrial (1767 a
1980), hoje financeiro e virtual, foi desmontando o sistema
agrícola feudal europeu desde antes das “grandes descobertas”
de 1500 e da europeização do mundo: quando a Europa
invadiu a América, a África, a Ásia e a Oceania.
O sistema feudal da idade média, que inicia com o fim
do Império Romano (476 d.C.) e vai, no mínimo até 1453,
tinha como características: a ruralização da sociedade (as
cidades se esvaziaram, o comércio praticamente desapareceu,
as trocas eram feitas produto por produto, as estradas, as
pontes, os prédios públicos se arruinaram e a população da
cidade se refugiou no campo, ao redor de castelos para se
proteger da invasão dos „bárbaros‟); a clericalização da
35
Igreja (a Igreja passou a ser o clero, e a ela foram associadas
as congregações religiosas, ficando os cristãos não-clérigos
como estranhos, alienados, sem voz nem vez, apenas
subordinados e ouvintes, e obedientes); a hierarquização do
clero (que agora já não é apenas bispo, padre e diácono, mas
Papa, Cardeal, Arcebispo, Bispo, Monsenhor, Cônego, Padre,
Diácono, Subdiácono, Leitor, Acólito...); a pulverização do
Estado ( já não mais um Império, mas infindos pequenos
feudos que se dirigiam a si próprios, sendo que o Suserano
„conde‟ ou „barão‟ era o legislador, o juiz e o ordenador de
tudo. Já não havia mais moeda circulando nem polícias
imperiais garantindo a defesa...); a privatização da defesa e
das funções do Estado, (a de legislar, julgar, garantir a
segurança e executar as grandes obras e políticas públicas.
Agora cada castelo se defende e se organiza como pode); a
divisão da sociedade em 3 grupos ou estamentos (dizia-se
que Deus fez 3 tipos de pessoas: uns para trabalhar - e esses
são os camponeses que eram escravos ou livres e se
transformaram em servos da gleba; - outros para mandar e
guerrear - e esses eram os nobres que “garantiam a defesa aos
camponeses” e deles retiravam a maior parte da produção; - e
outros, enfim para rezar - e esses eram os clérigos que, como
os nobres, viviam das taxações sobre os feudos e produção dos
36
agricultores).E tudo isso dentro do Estado de Cristandade, a
que acima aludimos.
Dessa situação feudal que caracterizou toda a Europa e
a partir de relações comerciais, primeiro com os árabes e
depois com os judeus, surgiu a reunificação do Estado e seus
poderes: Portugal, por primeiro, a partir de 1383 se reunifica
com um rei, apoiado pela nobreza, pelo dinheiro e as armas
dos comerciantes, pelo clero buscando a evangelização, e
assim os portugueses descobrem novas rotas de comércio com
as índias para fugir do cerco dos árabes. O projeto de expansão
portuguesa obedece aos interesses desses quatro grupos, como
Império Mercantil Salvacionista, no dizer de Darcy Ribeiro.
Depois de Portugal, a Espanha que se reúne para
reconquistar seu território ocupado pelos árabes desde 711 e
consegue fazê-lo em março de 1492. Com o mesmo exército
que reconquistou Granada, Colombo chegará à América em
outubro de 1492.
Espanha e Portugal, com as descobertas e com o
comércio (especialmente de especiarias orientais e americanas,
de metais preciosos e açúcar) transformam-se nos países mais
modernos e importantes da Europa até 1648 quando perdem o
lugar para Holanda e Inglaterra que não só comercializam os
produtos alheios, mas manufaturam produtos próprios e se
fazem a „oficina do mundo‟, além de dominar os mares com
37
suas frotas navais, companhias mercantis e de piratas. Esse
capitalismo manufatureiro que substitui o mercantil dominará a
Europa e consequentemente o mundo até a industrialização.
Os países que primeiro se industrializaram foram:
Inglaterra (a partir de 1767), a França (1800), Os Estados
Unidos (1850), a Alemanha (especialmente Prússia e Baviera,
1850), a Itália (especialmente o Piemonte, Turim, Milão, e
também Nápoles, 1850), o Canadá e o Japão (por volta de
1890).
A Inglaterra dominará a economia industrial mundial
sozinha até a crise de 1873. As crises de mercado gerarão a
distribuição do mundo entre os países industrializados (o
imperialismo desde a conferência de Berlim de 1885). Gerarão
as duas guerras mundiais (de 1914 e 1939). A partir de 1945,
os Estados Unidos em guerra fria com a União Soviética, serão
o carro chefe da economia mundial até as crises de 1965.
Reúnem-se, então, os 7 grandes que primeiro se
industrializaram e planificaram a economia mundial na
comissão que se chama de „Trilateral‟(1965). Hoje, vivemos a
superação da sociedade industrial pela sociedade do
conhecimento e de capitalismo virtual.
A migração européia entre seus próprios países e a
emigração de europeus para a América (Estados Unidos,
Brasil, Argentina, Colômbia...), para a Austrália e Nova
38
Zelândia...na última metade do século XIX e início do século
XX tem como contexto a crise final do sistema feudal
provocada pelo capitalismo que, também, entra em grave crise,
portanto, em 1873.
O Trentino na década de 1870.
O Trentino tem um Território de 6.212,66 km2, sendo
70% acima de 1.000 m. do nível do mar e 40% do total está
acima de 1.500m. “Deve-se notar a ausência de extensos
planaltos cultiváveis e a conformação dos vales que freqüentes
vezes apresentam um fundo estreito e ladeiras abruptas, pouco
adequadas à agricultura. E isto reduz em muito o terreno
produtivo com relação à superfície. Em 1869 foi calculado
entre 553.000 e 496.000 ha.”17
. Neste total já estão incluídas
os prados na região mediana das montanhas e úteis
exclusivamente para pastagens (40%), e os bosques. De um
total de 635.653 ha., 96.640 ha (15,2%) eram cultiváveis
(lavradios, videiras, hortas, prados), 36.119 ha (5,7%) eram
pastagens, 117.134 ha (18,4%) eram estábulos com pastoreio
nos Alpes, 300.557 ha (47,3%) eram bosques, 85.179 ha
17
GROSSELLI, 1987, pg. 48.
39
(13,4%) eram lagos, paludes, improdutivos.18
Para cada
pessoa camponesa cabia, em média, menos de um hectare
produtivo e, deste, quase metade era composta de
pastagens alpinas. A maior parte dos estábulos alpinos e dos
bosques eram de propriedade do município e a comunidade
camponesa os explorava para retirar madeira e lenha e criar
alguns animais.
“O sistema de propriedade típico era a pequena
propriedade familiar em que a terra era trabalhada pelos
componentes da família. No fim do século contavam-se, na
região, 137.000 proprietários, dos quais 115.000 conduziam
diretamente sua propriedade, ocupando 155.000 hectares,
correspondentes a 25% do território”19
. Nesse minifúndio,
independente e individualista o camponês trentino tinha uma
ou até duas vacas, cultivava a videira, a amoreira para a
produção da seda, e algumas hortaliças.
Em 1869, 93% da população do Trentino vivia no
campo em pequenas comunidades e 7% vivia nos dois
aglomerados que poderiam se chamar de cidades: 17.073
habitantes em Trento e 9.063 em Rovereto. Os poucos
operários das indústrias de Veludo, seda, chapéus, pregos,
vidro, peles e fumo eram, em sua grande maioria, mulheres
18
GROSSELLI, 1987, pg. 49. 19
GROSSELLI, 1987, pg. 49.
40
(90%) e seus salários eram muito baixos (entre 33 e 80
centavos diários). Quem não trabalhava em sua propriedade
cultivava campos arrendados sendo que metade das colheitas
dos cereais, dois terços da colheita da uva e a totalidade das
folhas de amoreira eram do proprietário da terra.20
Livo e Cembra, de onde vieram os Zanotelli, ficam,
pois no Trentino, Tirol Sul, com capital em Trento.
No Trentino, ao longo da bacia do rio Adige, e
especialmente de seu afluente o Avísio está o Valle de
Cembra. Cembra é um vale ao longo da parte terminal da
Torrente (rio) Avísio que desemboca no Ádige perto de Trento.
Cembra também é a capital deste vale que tem 10.209
habitantes, 3.386 famílias, distribuídas em 11 comunidades ou
vilas (Comuni): Albiano, Cembra, Faver, Giovo, Grauno,
Grumes, Lisignago, Lona-Lases, Segonzano, Sover e Valda.
Giovanni Antonio Zanotelli, por volta de 1690, saiu de
Livo (Val Di Non) e foi para Cembra , a 24 km de Trento,
residir com um sacerdote que era seu tio.
Em Cembra, Giovanni Antonio casou, em 1705, com
Dorotea Concherle, nascida em Faver. Por isso, nos livros de
batismo em Garibaldi, consta que Narciso, filho de Francesco,
imigrante, é natural de Faver, comune da circunscrição de
Cembra e que dista pouco mais de um quilômetro desta.
20
GROSSELLI, 1987, pg. 52.
41
De Giovanni Antonio descendem a maioria absoluta
dos Zanotelli que emigraram para a América e Brasil. Outros
Zanotelli vieram diretamente de Livo.
Por volta do ano 1.000 d.C, Cembra já aparece como
feudo dos Senhores do Castelo de Salorno que, por sua vez são
feudatários do Principado Episcopal de Trento e mais tarde do
Conde de Trento21
. Política e administrativamente, Cembra foi
subordinada a Bozzano que era uma subdivisão de Trento até
por volta de 1330.22
De 1330 até 1803 Cembra era um dos
dois distritos da organização político-administrativa de
Königsberg, sempre dentro do Principado de Trento. Desde
1508 tinha seus estatutos rurais (Carta di Regole), pelos quais
as comunidades trentinas administravam com certa autonomia
a vida econômica, social e jurídica, como dissemos acima.
Com isso Cembra fica a capital de várias pequenas
comunidades ao redor, com alguma autonomia comunal e
jurisdição delegada, mas dependendo de Lavis (o 2º. distrito de
Königsberg) em matéria de administração política, financeira e
de justiça penal 23
.
Cembra já era freguesia (pieve) em 942, e em 1212 o
Pe. Odolrico aparece como vigário ou cura. Em 1586 Cembra é
paróquia decanal.
21
GHETTA, in Storia di Cembra, 1994, pg. 73. 22
BERTTOTTI, in Storia di Cembra, 1994, pg. 133. 23
Ibidem.
42
De 17 a 19 de janeiro de 1537 Bernardo Clesio, bispo
de Trento e grande incentivador e preparador do Concílio de
Trento, faz, através de delegados, a primeira visita pastoral a
Cembra. Viu que não havia escândalos a castigar e os fiéis
eram bons cristãos vivendo segundo as normas da Igreja
Católica24
. Em 1580, depois do grande Concílio da Igreja
Católica realizado em Trento de 1545 a 1563, o príncipe,
Ludovico Madruzzo, bispo de Trento faz uma segunda e
rigorosa visita pastoral a Cembra.
Desde 1710 a paróquia de Cembra realizou 20
capítulos para estabelecer normas e disciplina na vida litúrgica
e religiosa. De 1787 a 1789 o Imperador José II da Áustria
impões suas „leis josefinas‟, fechando algumas igrejas a
pretexto de que era o Império quem sustentava o culto.
Em 20 de março de 1797 os franceses de Napoleão,
combatendo os austríacos alojam-se em Cembra, fazem da
Igreja um quartel e consomem quase todos os víveres da
pequena cidade, causando por incêndio e destruição o
aniquilamento de muitas casas e bosques com sérios prejuízos
ecológicos cujas conseqüências mais tarde se manifestarão:
enchentes...Na visita pastoral que o bispo de Trento, Benedetto
Riccabona fez em 1870, louvava a Igreja de Santa Maria
Assunta de Cembra como uma das maiores da diocese.
24
BENVENUTTI, in Storia di Cembra, 1994, pg. 228.
43
As igrejas lembram o quanto os imigrantes trentinos e
italianos vieram marcados pelo Estado de Cristandade. Os
espaços , os tempos, as atividades são marcados pela religião.
A população de 1.800 pessoas tinha escolas
satisfatórias e o catecismo era ensinado regularmente.
Trabalhavam na paróquia de Cembra, com suas comunidades,
24 sacerdotes.
De 1907 a 1912 foi pároco decano de Cembra o P.
Domenico Zanotelli, natural de Livo (Val Di Non), recebendo
a visita pastoral do bispo Endrici em 1910. Em 1993 o
decanato de Cembra abrangendo 12 paróquias tinha um total
de 5.931 habitantes25
.
3. A Economia
Já dissemos que a região do Trentino era
eminentemente agrícola, em minifúndios que, em média não
alcançavam meio hectare. Cultivada pelos membros da família
( em média 5 pessoas) a agricultura, sem muita técnica,
produzia uva e vinho, milho, trigo, centeio, cevada, legumes,
hortaliças, folhas de amoreira para o bicho da seda, lenha para
vender à cidade...mel, ceras, queijos e lã.
25
BENVENUTTI, in Storia di Cembra, 1994, pg. 264.
44
A produção agrícola trentina era insuficiente para
cobrir as necessidades básicas da população. Por isso em 1875
o Trentino importou: arroz, café, frutos meridionais, pescado,
animais de corte e de tração, óleos gordurosos, trigo e milho.
“A região importou em 1875 (ano da emigração dos Zanotelli)
a quantidade de 43.564.758 kg de cereais, contra uma
exportação de apenas 324.048 kg” 26
. “A região dependia do
exterior para suas totais necessidades de cereais e... devia
sangrar-se em exportações de mercadorias e de valores para
suprir essas necessidades”27
.
Nesse contexto insere-se a crise trazida pela doença do
bicho da seda ( a pebrina) a partir de 1859, e o criptógamo
que atingiu a videira a partir de l850. A produção de vinho, de
cerca de 200.000 hectolitros baixou para 76.000 hectolitros em
1874.
É verdade que a falta de tecnologia e de organização
dos produtores contribuiu para isso : “Enquanto em todos os
países de progresso, o viticultor dividiu o trabalho com o
enólogo e o vinhedo se separou da cantina, aqui tudo procede à
moda antiga. Cada proprietário de parreiral um tanto extenso
tem cantina: cada agricultor se julga enólogo: e assim, tanto
um quanto outro trabalho é feito de modo imperfeito. Que
26
GROSSELLI, 1987, pg. 53. 27
Ibidem.
45
desperdício de forças, quanto consumo inútil de capital, quanta
desorganização para o comércio: quanta obstinada conservação
de preconceitos e quanto descrédito para a nossa produção
enológica! (...) Aqui a enologia não é uma arte, é uma antiga e
grosseira prática tradicional: a cantina não é um laboratório
subsidiado pelas descobertas da química, é um amontoado
confuso de velhos e mal conservados utensílios: o vinho não é
um objeto de comércio de tipo constante: é um produto que
varia de acordo com as safras e com a qualidade da colheita: e
o produtor não é um industrial empreendedor, que mantém
seus depósitos, oferece sua mercadoria, explora o campo de
consumo; abre seu próprio caminho em meio à concorrência,
como um pacífico proprietário que espera resignado os clientes
de casa que chegam para desinflar-lhe as pipas”28
.
O criptógamo que castigou violentamente os parreirais
reduzindo drasticamente a produção do vinho, foi combatido
com sulfato de cobre: o „verderame‟ que nossos colonos
trouxeram como o remédio que seria aplicado em todas as
vinhas.
Por outro lado, a pebrina que matava o bicho da seda:
“O precioso inseto que durante tantos anos tinha tecido seu
casulo dourado, entristecia e morria. Quanto maior era o
trabalho, mais bela a esperança, melhor alimentado o bicho, e
28
V. RICCABONA, in GROSSELLI, 1987, pg. 54-55.
46
já próxima a colheita, um outro demônio misterioso se
instalava nos salões do bicho da seda e, com um sopro
venenoso, lhe subtraía a vida”29
. Assim a produção de casulos
que na década de 1860 era de mais de 2.000.000 kg anuais
baixou para 762.000 kg em 1869. E nunca mais se recuperou,
apesar da importação de bichos da seda sadios do Japão.
Em síntese, “a agricultura trentina ( que dependia em
grande parte da produção do vinho e da seda) nos anos 70-80
ressentia-se de velhos males e sofria de novos males graves
que a década de 60 havia trazido consigo. A terra era pouca e
pouco fértil. Dividida em pequenas e pequeníssimas
propriedades voltadas ao auto-consumo e à tentativa de
satisfazer todas as necessidades alimentares das populações
camponesas (tentativa frustrada pela perene e antiga
impossibilidade de produzir grãos suficientes para a
necessidade). A pequena propriedade somente através do
super-trabalho de todo o núcleo familiar que , em torno dela
gravitava, podia fornecer o mínimo vital e, no mais das vezes,
não o fornecia em absoluto, obrigando os componentes das
famílias camponesas à emigração temporária ou ao emprego,
em determinados períodos do ano, no setor industrial. Na
planície, onde existiam propriedades de dimensões maiores e
com terrenos mais férteis (com base nos conhecimentos
29
Ibidem.
47
agronômicos da época), os contratos agrários usuais da época
limitavam-lhes a produtividade. Tudo isso numa época em que
faltavam na região, ou tinham surgido há pouco, estruturas
aptas a divulgar, no meio de uma classe camponesa
conservadora e tradicionalista, conhecimentos técnico-
científicos que teriam podido aumentar o retorno dos terrenos
e, portanto, a produção. Acrescentaram-se a isso os danos
causados pelo criptógamo e sobretudo pela pebrina que
oneraram ainda mais uma situação por si mesma já difícil.”30
A indústria de fiação e retorcedura da seda e que
representava mais de 60% dos estabelecimentos industriais do
Trentino, ressentiu-se profundamente com aquela crise. Em
1875, de um total de pouco mais de 11.000 operários,
temporários ou não, mais de 8.000 eram da indústria da seda,
e nesta, quase que exclusivamente mulheres.
O Trentino já não era uma região industrializada. A
maioria dos estabelecimentos industriais operava
artesanalmente. A falta de tecnologia, a pobreza do mercado
interno com uma agricultura extremamente pobre e sem
possibilidade de garantir o consumo ou capitais para a
indústria, a falta de crédito, a separação e independência da
Lombardia (1859) e do Vêneto (1867) frente ao Império
austro-húngaro, províncias essas que funcionavam como
30
GROSSELLI, 1987, pg. 56.
48
mercado natural de abastecimento e venda dos produtos
industriais do Trentino, a inexistência de uma classe
empresarial disposta a “arriscar seus capitais na modernização
do patrimônio industrial”31
, como acontecia no restante da
Europa, são fatores que explicam a pouca industrialização do
Trentino e o fracasso da indústria trentina na década de 1870 a
1880.
Em 1875, de um total de 338 estabelecimentos
industriais do Trentino: 162 eram de Fiação da seda ocupando
6.757 empregados; 33 eram de retorcedura da seda com 1.600
empregados; 12 de papel com 330 empregados; 45 de
curtimento de peles; um de fumo (Sacco) de propriedade do
Império com 1.706 empregados; 2 de vidro com 100
empregados; 30 olarias com 150 empregados; e mais 8 fábricas
de veludo, 30 de chapéus de lã, 3 de magnésia, 10 de cerveja, 2
de gás. Um total de 11.392 empregados, dos quais 6.982
temporários ou safristas.
Por outro lado, em 1870, eram 12.552 empregados, em
1880 serão apenas 8.337 e em 1890 serão por volta de 5.000.
Todas as indústrias, excetuadas as de prego e cerveja,
diminuirão os postos de trabalho. Mais de um terço dos postos
serão perdidos entre 70 e 80.
31
Idem, pg. 63.
49
A indústria da seda terá apenas 25 estabelecimentos em
1892 (contra 195 em 1875) e em 1900 todos estarão fechados.
Os baixos salários pagos na Itália (aí não vigoravam as leis
trabalhistas que existiam no Trentino), o incentivo fiscal dado
pelo governo francês, a expansão do mercado em nível
mundial possibilitando a entrada na Europa da seda chinesa e
japonesa, o trabalho quase todo artesanal da indústria trentina,
fizeram com que a indústria da seda sucumbisse no Trentino.
A agricultura continuará a produzir casulos de seda,
mas agora como matéria prima para a indústria estrangeira.
Apesar da estrada de ferro que, agora (1850), ligava a
região aos polos de maior desenvolvimento capitalista,
trazendo, portanto, inovações tecnológicas, no entanto, e por
causa também da estrada de ferro, a região virou periferia do
mundo capitalista industrializado. A modernização que o
capitalismo industrial trazia, vinculado a uma burguesia liberal
não ecoou como necessário nos vales e montanhas do Trentino.
E, sem postos de trabalho, com a precária situação
agrícola, e, tentando salvar os valores da comunidade familiar
que o capitalismo ameaçava, os camponeses viram na América
a salvação.
50
4. A Qualidade de Vida
Agostinho Perini dizia, em 1800, dos trentinos: “O
caráter médio ou temperamento do homem trentino é
sangüínio-bilioso. É de altura mediana (entre 4 e 5 pés), de cor
vivaz e forte, de cabelo escuro, de musculatura forte e
decidida. Oferece um amplo desenvolvimento do tórax, tem os
ombros bem quadrados, menos longo o pescoço. Cumpre as
funções orgânicas com ativa harmonia. A cabeça é assaz
grande, o olho vivo e penetrante, a expressão completa do
rosto grave e sagaz. As funções de ordem superior se
apresentam nobremente desenvolvidas. O trentino é
inteligente, como o são, de ordinário, os habitantes dos lugares
montanhosos; e supre com industrioso engenho às deficiências
de um solo diminuto e não poucas vezes avaro. É trabalhador,
pois que a necessidade e a educação lhe ensinaram que a
fadiga deve ser a companheira dos homens honestos, como
também é herança do passado. Ama, e encontra na religião e
na família os melhores, e assaz frequentemente, seus únicos
confortos. Ama com enlevo a sua nação; mais, na força das
paixões que o concitam, em sua maneira de ser e de sentir, na
língua, em tudo é italiano. Ama tenazmente seu vale, suas
montanhas, suas águas, suas casas; e se estiver longe agita-o o
51
desejo da volta e não vive e não morre tranqüilo a não ser na
modesta paz do seu povoado” 32
.
Outros porém, descrevem o camponês trentino também
como sujo, macilento, malsão...
O ambiente camponês era pobre e pouco sadio. Os
camponeses viviam em pequenas vilas. “As vilas eram
formadas de casas construídas umas ao lado das outras, com
falta de luz e sem arejamento suficiente. Os cuidados
higiênicos não eram um hábito em voga na época e as ruas
eram muitas vezes invadidas pelas imundícies. Um costume
que chegou, através dos tempos até nossos dias, era o de
amontoar o esterco dos bovinos que serviria como adubo ao
lado da casa e debaixo das janelas das mesmas.
As casas dos camponeses mais pobres dispunham de
uma ou duas peças e de uma estrebaria. O teto era muitas vezes
de palha e o pavimento de terra batida.
As melhores dispunham de um ou dois pisos. No andar
térreo estavam dispostas a estrebaria e a cozinha, na andar
superior os quartos. Cada um destes locais dispunha de janelas
muito pequenas e insuficientes para o arejamento e que, ainda
mais, davam para pátios e vielas escuras e sujas.
Era costume das famílias camponesas permanecer dias
inteiros, especialmente no inverno, quando o trabalho dos
32
In GROSSELLI, 1987, pg. 66.
52
campos o permitia, fechadas na estrebaria ao calor dos
animais”33
.
Pode-se imaginar o efeito sobre a saúde. O
aquecimento das casas era precário e o inverno era rigoroso
(chegava a 30 graus abaixo de zero).
Cembra, porém, tinha uma situação um pouco melhor,
como se pode ver na fotografia acima34
de 1903. Casas
grandes, de 4 pisos, onde se albergava uma grande família.
Cembra – 1903.
33
GROSSELLI, 1987, pg. 67. 34
Storia di Cembra, 1994, pg. 356.
53
Ainda Cembra na visão que trouxeram os imigrantes
O vestuário “limpo e decente”, era de lã (quase sempre
feito à mão) no inverno, e de cânhamo ou linho no verão.
A alimentação era de cereais e hortaliças, algum queijo
e pouco leite. “A polenta era, muitas vezes, a base do almoço
e fazia-se acompanhar de batatas, nabos, feijão e repolhos em
conserva. O peixe raramente entrava nesta dieta e a bebida
típica era a água a que se juntava frequentemente uma bebida
que era um misto de água e pouco vinho e que com o tempo
azedava. Não se abusava de vinho e aguardente”35
.
Depois de 1850, quando a taberna substituiu a cantina
domiciliar como lugar de permanência dos homens, os abusos
eram freqüentes.
Depois de 1870 com a crise da importação de cereais
do Vêneto e Lombardia, (haviam-se separado do império
austro-húngaro e os impostos de alfândega eram altos) e com a
35
GROSSELLI, 1987, pg. 67.
54
incrementação do plantio do milho, a polenta se fez o alimento
básico e quase único, originando a doença da pelagra; o pão só
comparecia à mesa aos domingos e a carne uma vez por mês.
A pilhéria que os migrantes contavam do dono de casa que saía
à rua com um osso de galinha acima da orelha para ostentar
que havia comido carne, não deixa de ter fundamento na
realidade.
Os jogos e diversões principais eram a bola, as bochas,
jogos de carta (como a bríscola, a escova, o „dobellon‟, o
quatrilho) e sobretudo a „mora‟, além do filó.
O lugar social fundamental era a igreja e mais tarde a
taberna. La Canta dei Mesi (que os Zanotelli de Cembra fazem
questão de encenar todos os anos até hoje), mostrando as
estações do ano com o significado existencial de cada mês é
ainda uma tradição muito honrada por toda a população que
participa como intérprete.
Nas Cidades (especialmente em Trento e Rovereto)
vivia-se melhor. Ruas mais espaçosas, cobertas de cascalho
fino, arroios organizados para conduzir o esgoto, em 1877 o
telefone, em 1883 a luz elétrica, as casas suficientemente
espaçosas e com estufas para o aquecimento. “A refeição
diária, de acordo com a riqueza das famílias, consiste em carne
de ótima qualidade, que vem da parte setentrional do Tirol, de
carne de castrado, de laticínios vários, frangos, salames, de
55
caça selvagem nas estações favoráveis, nos dias magros, de
ovos, massas e frequentissimamente de polenta, batatas,
saborosa variedade de peixes desta parte do Tirol, e no inverno
do mar, queijos nacionais e estrangeiros, frutas, legumes,
couves de muitíssimas espécies, aspargos, alcachofras, alface,
chicória e outras hortaliças”36
. Obviamente este era o cardápio
para a classe média e rica. Muitos se dedicam à caça, e os mais
abastados têm casa na montanha para o verão. Os mais pobres
jogam cartas e se embriagam.
As cidades de 1874 em diante, inundadas por ondas
humanas que migravam, sem lugar de trabalho para cada vez
maior número de pessoas, inclusive os migrantes do campo,
com comerciantes, hoteleiros, carregadores falindo com a
crise, tornam-se palco de maior criminalidade e o governo
deverá aportar cada vez mais recursos para a sobrevivência de
desempregados miseráveis e suas famílias.
A lei obrigava os municípios a garantir a sobrevivência
de seus cidadãos e, com a carga dessa beneficência pública, o
peso cada vez maior levava a muitos municípios a, até,
pagarem passagem para que os mais pobres migrassem e
forçavam o governo a exigir que, com a emigração, o
emigrante renunciasse à cidadania austríaca. Assim, pensavam,
se evitaria que, retornando, o emigrante continuasse a ser
36
LUPPI, G. in GROSSELLI, 1987, pg. 68.
56
protegido pelo município. O camponês expulso de sua terra
pelas condições econômico-sociais aludidas acima, era agora
também apátrida, pois o Brasil, por exemplo, receberá os
migrantes como estrangeiros e eles, em sua maioria, já não
eram austríacos, obrigados que foram a renunciar à
cidadania.37
A saúde do camponês trentino por volta de 1874 era
debilitada pela insuficiente alimentação especialmente carente
de proteínas, e pelas condições da habitação e do vestuário. As
doenças bronco-pulmonares no inverno, a varíola, o tifo, a
escarlatina e a coqueluche eram quase endêmicas. A
tuberculose, a malária, a meningite e a cólera eram freqüentes.
E a pelagra, após 1850, especialmente na década de 1870
ceifava vidas. A assistência sanitária realizada por um número
razoável de médicos e obstetras, não se fazia em hospitais.
Para o hospital ia o doente incurável, para morrer. A partir de
1850 as cirurgias e depois a assistência curativa iniciou a ser
realizada nos hospitais. O camponês trentino, auto-suficiente,
fugia dos médicos e hospitais e se auto-medicava com ervas,
ungüentos e chás que eram secularmente tidos como panacéia
de todos os males. O vinho, as sangrias, as sanguessugas, os
37
Isto acontecerá especificamente com os Zanotelli, como se pode ver
do passaporte de Francesco que vem com seu filho Narciso e esposa.
Este é o fulcro dos conflitos na Imigração-emigração Tabacchi, onde
os colonos, já sem cidadania austríaca, inconformados com a situação
no Brasil, forçam o governo brasileiro para uma solução.
57
purgantes eram usados para qualquer ocasião. A noção de que
o mal instalado no corpo devia ser expelido através de
purgantes e sangrias veio com os migrantes para o Brasil.
5. Aspectos Religiosos, Culturais e Políticos
A Revolução Francesa de 1789 e sua expansão através
dos exércitos de Napoleão define política e culturalmente, não
só para a Europa, o fim de uma época e o início de outra.
O velho Estado de Cristandade que juntava a nobreza e
o clero, com todos os poderes e direitos exercitados sobre o
povo, direito que era tido como de origem divina não mais se
mantém. A burguesia mercantil, manufatureira e já industrial (
liberal ), que detém o domínio econômico da sociedade
européia quer agora também participar da direção política e
cultural e por que não religiosa (?) da sociedade.
No Trentino o embate entre clericais (conservadores,
vinculados à velha nobreza) e liberais (sob a bandeira de
igualdade, fraternidade e liberdade) não acontece
revolucionariamente como em outras partes da Europa.
Enquanto no resto da Europa o liberalismo pregava o Estado
laico, independente da Igreja e da religião retirando, com isso,
o fundamento do poder da nobreza e do clero, substituindo a
58
religião por uma educação „científica‟, o casamento religioso
pelo civil, a escola pública, laica (sem religião), universal e
gratuita,... no Trentino a situação foi mais suave.
Os poucos liberais concentravam-se nas cidades onde
estava 7% da população. Os camponeses que tinham no clero o
seu intelectual orgânico e que era seguido à risca e por tantos
séculos, através dos intelectuais católicos que se expressavam
pelo jornal “Voce Cattolica” de Trento viam no liberalismo a
incarnação do anti-cristo. “O liberalismo, como vimos, outra
coisa não é substancialmente do que a rebelião sistematizada
contra Deus Criador e Redentor na ordem natural e
sobrenatural; outra coisa não quer do que a descristianização
do indivíduo, da família e da sociedade e a destruição da Igreja
Católica. (...) O liberalismo por liberdade outra coisa não
entende do que a libertação da humanidade da autoridade de
Deus; a isto ele tende essencialmente: ele vos tira o freio de
toda lei e quando, desenfreados vos vê doidejar como loucos
furibundos e descabrestear-se como potros indomáveis, então
vos chama livres. Mas esta não é liberdade; esta é licença,
concedida ao erro, à luxúria, à cobiça, à violência, à desordem;
e as torpezas dessas baixezas ele as recobre com o nome de
liberdade”38
.
38
Voce Cattolica, in GROSSELLI, 1987, pg. 36.
59
Vive-se dentro do Estado de Cristandade e com a visão
simplificada de que Deus é o dono do mundo ( e portanto todo
poder lhe pertence), Deus delega ao papa e ao clero como seus
procuradores na terra toda a propriedade e poder, o papa e o
clero delegam este poder ao rei, Imperador ou chefe civil para
que, em harmonia e em obediência ao Papa e ao clero exerça
vicariamente este poder.
Esta confusão de cristianismo com Igreja e com a
organização da Igreja Católica como existia no Estado de
Cristandade fazia do clero, da Igreja e seu pensamento o único
verdadeiro para o camponês trentino. A confusão de que
liberdade é licença à libertinagem, que os liberais queriam a
destruição dos valores que eram os mais sagrados para os
camponeses (família, religião, pátria confundida com Império
e status quo) era uma arma mortal manejada habilmente pelo
clero e pelos intelectuais católicos. Os migrantes trouxeram
essa mentalidade e viram no Brasil uma pátria em que esses
valores sagrados pudessem ser respeitados.39
A paisagem bucólica da agricultura é marcada pelos
símbolos da fé num Estado de Cristandade. A tradição articula
39
Em 1875, no Brasil, o Imperador era o chefe supremo da Igreja, o
tutor e pagador das despesas da Igreja com seus templos, seminários e
conventos. Para poupar o dinheiro que o Império cobrava como
imposto religioso, o Brasil, até a República, terá apenas 11 dioceses.
60
de tal forma a vida na fé e na religião que esta se torna como
que palpável, concreta, visível em tudo. São séculos de fé.
Os liberais que se expressavam pelo jornal trentino “Il
Raccoglitore”, respondiam aos clericais e aos da nobreza
zombando, chamando a Igreja de „Comadre‟, atrasada, e que
queria impedir o progresso e a ciência com superstições. O
liberalismo e a maçonaria em seu anti-clericalismo fizeram
com que a primitiva união de liberais e católicos para a
independência do Trentino ou para sua anexação à Italia fosse
aos poucos arrefecendo de tal forma que na Dieta de Insbruck,
os deputados católicos do Trentino se aliaram aos deputados
imperiais, pensando que o Império salvaria o Trentino do
Liberalismo.
Um traço interessante do controle que o clero exercia
sobre os camponeses é o tratamento dado à blasfêmia.
Se a “Voce Cattolica” publicava, em 1871 um caso
exemplar de um blasfemador que foi fulminado por Deus logo
após ter proferido as maiores blasfêmias contra os santos e
contra Deus, por outro lado é interessante observar como o
camponês utilizará a blasfêmia como ataque, revolta, protesto
contra a ordem estabelecida que lhe causa tantos problemas,
identificando o status quo com o clero e com tudo o que o
clero põe como valor e fundamento.
61
Assim, antes de ofender a Deus, a blasfêmia visava,
para o camponês, atacar a ordem estabelecida e representada
pelo clero. Antes de questão religiosa ou moral, a blasfêmia é
uma questão de manifestação política. Se a blasfêmia ataca o
que há de mais sagrado para o clero, ataca a ordem, o Estado
de Cristandade, representada pelo clero. A análise da blasfêmia
entre os imigrantes parece dar suporte a essa hipótese.
Os trentinos que emigraram para o Brasil a partir de
1875, vieram católicos, sabendo de cor os mandamentos da lei
de Deus e da Igreja (nem sempre os praticavam), freqüentando
os sacramentos no mínimo exigido ( confissão e comunhão
uma vez por ano, batisar os filhos, casamento religioso, ir à
missa aos domingos e festas de guarda), rezando o rosário ou o
terço à noite, edificando templos, os melhores que pudesse e
resignando-se, nos problemas e dificuldades, à „vontade de
Deus‟. A falta de sacerdotes fará com que , no Brasil, esses
imigrantes substituam a missa dominical pelo terço (terceira
parte do rosário que compreende a reza de 150 ave-Marias e 15
pai-nossos, meditando a cada 10 ave-Marias um dos 15
mistérios que sintetizam o cristianismo), rezado nas capelinhas
ou capitéis e, antes ainda nas casas de família.
Sempre cantado em coral, o terço era seguido pelas
ladainhas de todos os santos, também cantadas. As igrejas,
aqui como no Trentino, tinham sempre duas carreiras de
62
bancos (uma ocupada pelas mulheres e, no lado oposto, a outra
ocupada pelos homens). A maioria das orações (quase sempre
cantadas) eram recitadas em latim, italiano ou dialeto numa
confusão de onde podiam resultar entendimentos pitorescos: ao
cantar das ladainhas “Vas insigne devotionis” (Vaso, buquê
magnífico de predileção) todos faziam o sinal da cruz.
Perguntados por quê? Eis a resposta: então você não
compreende? O que quer dizer “Fa un signo di devozione”
senão “faça um sinal da cruz”? Ao ter os salmos traduzidos
em português (salmos que a família de minha mãe Ana Dalla
Vecchia recitava todas as noites), mamãe encantou-se pela
beleza deles e pediu uma cópia.
- “Mas, a senhora reza esses salmos todas as noites”!
- Mas eu nunca vi esses salmos...
Muitas orações eram rezadas, cantadas sem que os
devotos soubessem o que estavam dizendo. Tudo, porém , era
feito com o maior recolhimento, respeito e devoção.
O Trentino, dentro do Império austro-húngaro, tinha
uma situação privilegiada de alfabetização e educação,
comparada, por exemplo, com a do norte da Itália de então.
Mais de 80% da população era alfabetizada, contra menos de
50% na Itália. A Lombardia e o Vêneto, enquanto pertenciam
ao Império, também, tinham alto índice de escolaridade. Não
63
se tem notícia que entre os imigrantes da família Zanotelli,
alguém tenha vindo analfabeto.
Por outro lado, a cultura artística do Trentino, se não
era tão florescente como no Piemonte, expressava-se muito
bem na pintura, especialmente das Igrejas, nas festas
religiosas, (os cantos corais), as encenações teatrais como a
ainda vigente “La Canta dei Mesi”, as canções de amor e
celebrações da vida bucólica e alpina que enchiam as noites de
inverno. É muito vasto o repertório de canções que os
imigrantes trouxeram e que ainda hoje se ouvem nas „colônias‟
de Caxias, Garibaldi, Encantado, Guaporé, Nova Prata...
Em síntese, os fatores mais importantes que
influenciaram a migração dos trentinos ( e dentre eles os
Zanotelli) para o Brasil pode-se indicar, seguindo Grosselli:
o capitalismo industrial que fez crescer o norte da
Europa (através da ferrovia e da fábrica), aniquilou
as pequenas indústrias locais (vinho e seda) e
descobriu a América como mercado consumidor ;
a estrutura fundiária e de produção do Trentino
(terra insuficiente para a família);
a peste pebrina no bicho da seda;
o criptógamo na uva;
catástrofes naturais (especialmente enchentes
derivadas dos desmatamentos e que afetaram
64
profundamente os vales do rio Adige e do Avísio
que passa por Cembra, em 1882 e 1885);
o recrudescimento dos impostos do Império
Austríaco sobre o Tirol, sendo que os investimentos
priorizavam escandalosamente a parte norte (de fala
alemã);
a depreciação do valor dos campos: as dívidas já
não tinham suporte no valor dos minifúndios...
insolvência cada vez maior dos agricultores...as
meações e arrendamentos empobrecem cada vez
mais quem trabalha;
o espírito de rebeldia dos camponeses trentinos que,
incentivados também pelo “anarquismo” vêem nos
políticos a causa de todas as suas desgraças,
cansados de serem constantemente usados em
serviço militar, cansados de trabalhar para os
“siori”, e ainda os, cada vez mais freqüentes,
conflitos com a polícia;
as cartas dos parentes e amigos emigrados contando
o sucesso obtido nas terras do Brasil;
a propaganda (muitas vezes enganosa) das empresas
de imigração;
a ânsia por uma liberdade que não coincidia com a
dos liberais seguidores da Revolução Francesa:
65
“Liberté, égalité, fraternité, vocês a cavalo e nós a
pé” cantavam...
a América como a “cucagna” : terras em
abundância, de propriedade dos agricultores, onde
não há „siori‟ e ricos que mandam e colhem sem
trabalhar, onde a família camponesa possa estar
unida sem necessidade de o pai migrar em todos os
outonos à busca de complementação da renda
familiar, onde a guerra e o serviço militar não mais
atormentariam a todos; onde os impostos não
seriam escorchantes e injustos como no Trentino.
“E a América significava sobretudo terra, muita
terra para cultivar e ainda terra de propriedade do
camponês que se teria assim emancipado daqueles
dois fatores de sujeição que durante séculos o
tinham martirizado: o patrão e a pobreza”40
40
GROSSELLI, 1987, pg. 76.
67
II - O BRASIL QUE OS AGUARDAVA
O Brasil nasceu, nos planos dos conquistadores
portugueses, para ser estruturado como um conjunto de:
latifúndios, monocultores, exportadores, escravagistas e de
acordo com os interesses daqueles que dominavam e dirigiam
Portugal.
De 1500 a 1528, quando o comércio com a Ásia sorria
a Portugal trazendo-lhe os lucros esperados, novas terras e
novos fiéis cristãos, o Brasil não contava nos planos dos
„descobridores‟ senão como terra de especiarias (pau brasil
para pinturas...) . Esta nova terra necessitava ser defendida dos
países rivais e concorrentes, como a França, por exemplo, cujo
rei, ao ser notificado por Portugal para que respeitasse as terras
brasileiras que eram de sua propriedade, propriedade essa
decorrente da descoberta, respondeu que não aceitava a
divisão do mundo entre Portugal e Espanha patrocinada pelo
papa porque desconhecia que o testamento de Adão e Eva
assim tivesse dividido o mundo.
69
O Brasil e suas regiões
Com o declínio do comércio com a Índia, pelos
encargos cada vez maiores assumidos pela coroa portuguesa
para protegê-lo e ampará-lo, e com a expulsão dos judeus de
Portugal em 1517 que financiavam os empreendimentos da
coroa, e pelos perigos de ataques estrangeiros de que essa terra
descoberta era alvo, Portugal concentrou-se no Brasil. E
resolveu fazer dele uma colônia para produzir açúcar (1528).
O açúcar, cuja produção era especialidade dos árabes,
tinha sido produzido experimentalmente, por Portugal, nas
70
ilhas da Madeira, com escravos africanos. Vendido a altos
preços na Europa, o açúcar era o „ouro branco‟ que poderia
substituir os lucros que o comércio com a Índia deixou de dar.
Assim o Brasil foi planejado, organizado,
institucionalizado como a terra portuguesa para produzir
açúcar.
Para isso era necessário dividir o Brasil em latifúndios.
A pequena propriedade era impossível para o objetivo. O
Brasil não nasceu para que aqui as famílias, com seu trabalho,
produzissem o seu sustento. Nasceu para que a empresa (o
engenho) produzisse, em grandes latifúndios, apenas açúcar, e
apenas para a exportação. Um engenho de porte médio, para
produzir 500 quilos de açúcar mascavo por dia necessitava ter
10.000 hectares (para o plantio da cana, pastagem ao gado
necessário, e retirada de lenha), necessitava ter mais de 600
bovinos e mais de 50 escravos. O açúcar era refinado e
distribuído na Europa pelos holandeses.
Para isso, as condições necessárias eram: o latifúndio e
a escravidão. A divisão das terras do Brasil, inclusive para a
reforma agrária, até hoje, encontra dificuldade nesse projeto
originário e constitutivo do Brasil: produzir em grande escala
(latifúndio, engenho, com numerosos trabalhadores escravos),
um só produto, o açúcar (que interessava exclusivamente à
metrópole, proibindo-se cultivar qualquer outro produto,
71
mesmo que fosse para a alimentação), exclusivamente para a
exportação (não seria para ser consumido pela colônia senão
minimamente em forma de rapadura) e através do trabalho
escravo (inicialmente índio e depois negro, sendo que era
indigno o trabalho manual e produtivo para o branco e
„nobre‟). Assim o Brasil nasceu como um conjunto de
latifúndios, monocultores, exportadores e escravagistas.
Estas 4 características do Brasil, tão bem descritas por
Darcy Ribeiro e seguidas pela historiografia brasileira,
vigoraram durante os 500 anos da História do Brasil depois da
„descoberta‟. Assim, até quase 1700, o Brasil existiu apenas
para produzir açúcar para a Metrópole portuguesa.
O Brasil colonial vai concentrar sua monocultura no
açúcar até por volta de 1657. Os holandeses,41
que invadiram o
Brasil em 1620, aprenderam aqui a técnica da produção do
açúcar e, saindo em 1657, vão produzí-lo nas Antilhas.
Portugal já não tem, então, a quem vender o açúcar. E nem
quem o refine e comercialize na Europa. Lembremos que
sempre foi a Holanda quem refinava e comercializava o açúcar 41
É importante lembrar que Portugal desde 1580 estava sob o domínio
espanhol (O Brasil, portanto, como colônia portuguesa estava sob o
domínio da Espanha). Os Países Baixos (Bélgica e Holanda) que também
eram domínio espanhol lutavam por sua independência. Para atacar a
Espanha invadem o Brasil em 1620 e aqui ficam, especialmente em
Pernambuco, até 1657. Holanda e Bélgica se independizam pelo tratado de
Westfália (1648) que põe fim às guerras de religião. Os holandeses que
deveriam, portanto, ter deixado o Brasil em 1648, só saem daqui em 1657,
depois das lutas que Portugal lhes move.
72
português para a Europa e que , com o refino e a venda lucrava
mais do que Portugal com a produção e transporte até a
Holanda. Desde então Holanda e Inglaterra dominam o
comércio mundial42
e Holanda domina a produção e
comercialização também do açúcar.
Portugal lança-se, então, desde meados do século XVII,
a procurar, no Brasil, ouro e outros metais e pedras preciosas
para compensar o fracasso com a monocultura do açúcar. O
ouro seria a riqueza, uma vez que os metais preciosos estavam
escassos na Europa, considerando que a Espanha havia
esgotado suas minas do México e do Peru.
A primeira mina de ouro do Brasil é descoberta em
Cuiabá em 1693. Assim, até às vésperas de 1800, o Brasil
produzirá toneladas e toneladas de ouro e pedras preciosas para
Portugal e, para isso, concentrará todos os esforços e recursos.
Será o século do ouro. Assim crescerão as regiões de Minas
Gerais e São Paulo e o governo geral do Brasil deixará de
estar na Bahia (centro da produção açucareira) para localizar-
se no Rio de Janeiro. O gado que servia para a produção do
42
Em 1654 Portugal , por um tratado secreto, vai permitir à Inglaterra
vender todas as suas manufaturas (e a Inglaterra era a „oficina do mundo‟)
em Portugal e suas colônias e Portugal só poderá vender para a Inglaterra e
suas colônias vinho, azeite e bacalhau. O maior produto de Portugal ( o
açúcar ) não poderá ser vendido nos domínios ingleses. Este tratado será
ratificado pelo de Methuen em 1703.
73
açúcar agora será alimentação para os trabalhadores das minas.
O charque e a carne de sol será a base dessa alimentação.
É assim que nasce Pelotas no RS, como centro
charqueador do Brasil Meridional. O gado introduzido no sul
pelos jesuítas (1634), já não é levado vivo para São Paulo e
Minas, mas é conduzido para Pelotas, ali charqueado e
enviado para o centro do país bem como para Buenos Aires e
Europa.
A partir de 1800, esgotada a mineração do ouro, o
Brasil produzirá café e algodão para exportar.
Para substituir a mão de obra escrava que já não
corresponde aos interesses do sistema de produção são
pensados os imigrantes europeus, italianos e trentinos, no caso,
e atraídos pelo interesse do Império e da Províncias Brasileiras,
para substituir a mão de obra escrava (em crise) nas grandes
lavouras de café do Sul do Espírito Santo (região de Cachoeiro
do Itapemerim), para S. Paulo e Paraná. Bem como são
incentivados a produzir café em seus pequenos lotes coloniais.
Em 1808, quando a coroa portuguesa, com a elite da
nobreza (15.000 pessoas) foge de Lisboa para o Rio de Janeiro,
para escapar dos exércitos de Napoleão, o Brasil é
reorganizado em função da corte.
O Brasil que não existia para si, mas só para a
Metrópole deverá ser agora modernizado (na escultura, na
74
organização urbanística, nas artes, na cultura) em função da
corte que agora reside aqui. O ensino primário do Rio de
Janeiro é reestruturado43
, são abertas duas escolas de direito,
uma de medicina, e artistas são contratados para embelezar
estética e arquitetonicamente o Rio de Janeiro. É incentivada a
produção do café especialmente nos atuais estados do Rio de
Janeiro, Espírito Santo, sul da Bahia e São Paulo... mais tarde
também no Paraná.
A mão de obra era, na totalidade, escrava. A Europa,
porém, já vivia os ares do capitalismo que, por interesse
próprio, era contra a escravidão. A Inglaterra, centro do
capitalismo pressiona para acabar com a escravidão e
43
Depois da expulsão dos jesuítas ( mais de 500) do Brasil em 1767,
realizada pelo iluminismo liberal de Pombal, primeiro ministro português, o
ensino primário no Brasil, especialmente, ficou um caos. Eles eram os
melhores professores, eles tinham os melhores manuais e métodos.
D. João VI, rei de Portugal veio com a mãe D. Maria (a louca),
avisado que foi pelo exército inglês de que a França invadiria Portugal, veio
trazido por navios ingleses e com um ministro inglês encarregado das
relações comerciais com a Inglaterra. Portugal era praticamente uma
colônia inglesa. Ao chegar ao Rio de Janeiro inúmeras famílias foram
desalojadas de suas casas para dar lugar aos 15.000 nobres que chegavam.
O Rio só tinha 45.000 habitantes.
Assim, para ter reconhecida a Independência declarada em 7.9.1822,
o Brasil, além de assumir a dívida que Portugal tinha para a Inglaterra, o
Brasil declarava a intenção de abolir a escravatura. Em 1827 esse
compromisso é exigido pela Inglaterra para que o Brasil já não importe
negros escravos da África. Em 1849 pela lei Eusébio de Queirós o Brasil
aceita não mais importar escravos. Em 1861, tendo em vista a velhice dos
escravos, declara-se livre o sexagenário: o escravo com mais de 60 anos era
livre. Isto é, ficava livre o senhor daquele encargo. E livre o escravo para
morrer de fome e miséria.
75
consequentemente com o tráfico de escravos, substituindo-os
por mão de obra livre e assalariada. Com isso cresceria o
mercado consumidor dos produtos ingleses.
Inicia o incentivo à migração: D. João VI, através de
um decreto de 25 de novembro de 1808, assegura aos
estrangeiros, pela primeira vez na história do Brasil, o direito à
propriedade de terras em território brasileiro, e a distribuição
gratuita de terras sob a condição de que elas fossem
imediatamente medidas e cultivadas.
Em 1815 o Brasil (na mesma época e no mesmo rumo
da Conferência de Viena) é declarado Reino Unido a Portugal
e Algarves. E, para obedecer às necessidades de mercado
reclamadas pela produção inglesa, o Brasil deveria, além de
abrir os portos às nações amigas (leia-se Inglaterra) em 1808,
abolir gradativamente a escravidão conforme cláusula de
compromisso assinado com a Inglaterra.
Com efeito, o escravo não tem dinheiro para comprar, e
a Inglaterra precisa do maior número de pessoas que tenham
algum dinheiro para comprar seus produtos. A Inglaterra havia
suprimido o tráfico de escravos (1807) e abolido a escravidão
(1833) nas Antilhas (suas colônias). Assim a escravidão no
Brasil vai diminuindo em número por submissão aos interesses
ingleses e por exigência do capitalismo. Tudo isso porém,
76
envolto num discurso humanista e libertário ao estilo da
Revolução Francesa.
É interessante observar que a independência do Brasil
não modificará em nada a condição dos escravos bem como da
maioria da população brasileira. Apenas mudam os donos do
poder.
Em 1818, segundo Perdigão Malheiro44
, o Brasil tinha
1.887.900 habitantes livres, (neles compreendendo 259.400
indígenas, quase todos marginalizados da vida do país) e
1.930.000 escravos. Mais de metade da população brasileira,
portanto, era escrava.
Em 1826 o Brasil que, para ter reconhecida sua
independência declarada em 7.9.1822, pagara a dívida que
Portugal tinha para com a Inglaterra, se compromete a não
mais importar escravos da África (essa lei só foi promulgada
em 1831). A Inglaterra, pelo Bill Aberdeen de 1845 não só
proibia por motivo de „humanidade‟ a saída de escravos da
África, como também se autorizava a interceptar navios
negreiros, confiscá-los tanto no mar como na costa. A lei
Eusébio de Queirós de 1849, assim determina para o Brasil: o
fim do tráfico de escravos.
Continuará, porém, o contrabando.
44
citado por Maranhão et alii in Brasil História, vol 2 pg. 273
77
Em 1861, é declarado livre o sexagenário: livra-se o
senhor de sustentar o escravo após os 60 anos, e o escravo é
livre para passar miséria e morrer de fome. Em 1871, é
declarado livre todo nascido de escrava, mas seu senhor poderá
contar com seu trabalho até aos 18 anos para compensar o
custo de sua criação. Em 1888 é, finalmente, declarada extinta
a escravidão no Brasil.
A escravidão formal foi extinta, as condições de
escravidão e semi-escravidão perduram, para alguns, até os
dias de hoje.
Dentro da revolução industrial a escravidão se tornou
inútil, onerosa e prejudicial. Mais barato e eficiente seria
contratar um empregado ou fazer contrato de parceria com
imigrantes para as fazendas de café.
Para substituir os escravos, pensa-se em imigrantes
europeus dos países industrializados. Assim em 1819 chegam
1.666 colonos suíços ( outros 350 haviam morrido na viagem)
que se localizam na região de Nova Friburgo no Rio de
Janeiro45
. Em 1824, o já Imperador do Brasil D. Pedro I
solicita a vinda de 1.000 rapazes alemães para a guarda
imperial, no exército brasileiro. Alguns ficaram no exército
(guarda nacional) e outros (126) vieram para o Rio Grande do
45
De BONI e COSTA, 1979, pg 27.
78
Sul e iniciaram a primeira colônia de imigrantes em
S.Leopoldo.
Em 1826 é criada para os alemães a colônia de Três
Forquilhas e a de Torres no RS, em 1828 a de S.Pedro de
Alcântara em SC, em 1828 a do Rio Negro no PR, em 1829 a
de Santo Amaro em SP. Por outro lado os proprietários de
latifúndios ( obtidos, ou por doação do Governo ou por
estratagemas cartoriais), subdividem suas propriedades em
colônias e vendem-nas aos colonos. Ao longo do rio dos Sinos
nascem Mundo Novo em 1847 (Taquara), Padre Eterno
em1850, Sapiranga e Picada Verão. Em 1846 Bom Princípio,
em 1848 Caí, em 1857 Montenegro e, por fim Nova Petrópolis.
Ao longo do rio Taquari, em 1853 surgem Lageado e Estrela,
em 1868 Teotônia. A Província cria em 1849 Santa Cruz e, em
1855, Santo Ângelo (Agudo). Rheinghanz , em 1858, cria a
colônia de S. Lourenço, perto de Pelotas.
79
O Rio Grande do Sul e suas regiões
Quando, em 7/4/1831, o Imperador D. Pedro I renuncia,
entregando o Império ao filho ainda criança ( período da
Regência...), os latifundiários que eram contra a colonização
forçaram os parlamentares a cortar as verbas destinadas à
imigração. Pelo Ato Adicional à Constituição de 1834
“passou-se às Províncias, carentes de recursos, o encargo de
promover a vinda de estrangeiros, esquecendo-se, além do
As regiões do RS: a 1 e 2
ao longo do Rio Jacuí,
recebeu imigrantes nos
confins das fazendas. As
6 e 7 são da Campanha;
a 3 ao redor da capital; a
4 e 5 reberam muitos
imigrantes.
80
mais, de dar a elas no mínimo a condição fundamental para
tanto: terras (estas, enquanto devolutas, pertenciam ao governo
Imperial). Só em 1848, pela lei 514, é que as Províncias seriam
contempladas com algumas léguas quadradas, nas quais
poderiam assentar colonos”...46
O RS recebeu, como as demais províncias, 36 léguas
quadradas de terras devolutas, e com elas criou as colônias de
Santa Cruz, Santo Ângelo(Cachoeira), Nova Petrópolis e
Monte Alverne47
. Os lotes foram doados segundo a lei
provincial 229 de 1851 e de acordo com a lei Geral 601 de
1850.
Em 1847, Nicolau Vergueiro, um latifundiário
cafeicultor de mentalidade liberal e que lutava contra a
escravatura, introduziu em sua fazenda em S. Paulo imigrantes
europeus, especialmente alemães: 80 famílias com 400
pessoas, com um contrato de parceria. O contrato foi burlado
especialmente com a obrigação de os colonos se abastecerem
nos armazéns da fazenda, de tal forma que os altos preços ali
cobrados e o baixo preço pago pelo café produzido,
aprisionavam os colonos a uma dívida que sempre aumentava.
A condição desses colonos assemelhou-se a dos escravos. Em
46
De BONI e COSTA, 1979, pg 27. 47
De BONI e COSTA, R .1979: 28 e 63.
81
1857, em 26 fazendas brasileiras trabalhavam 1.031 alemães,
1180 suíços, 616 portugueses e 88 belgas48
.
A denúncia da condição de trabalho aqui, foi ouvida na
Europa e a Alemanha, Inglaterra, França e Suíça proibiram ou
dificultaram a emigração para o Brasil.
A lei de terras, n. 601 de 18/9/1850 e seu regulamento
de 1854 estabelecem que as terras já não seriam dadas mas
vendidas aos imigrantes. Aos brasileiros que não tivessem terra
e especialmente aos ex-escravos não era permitida a venda de
terra. Os ex-escravos sabem muito bem o que isto vai
representar impedindo sua emancipação mesmo depois da
abolição da escravatura.
Assim se mantinha o latifúndio e nas terras
montanhosas, de matas, difíceis para a criação do gado,
ficariam os imigrantes. Essa lei possibilitava a naturalização
voluntária dos imigrantes, após dois anos de permanência no
país e os dispensava das obrigações militares.
De 1850 a 1867 quando saiu o decreto 3.784
incentivando a imigração, arrefeceu muito o fluxo de europeus
para o Brasil.
Os parlamentares escravocratas reforçaram a idéia de
que às Províncias cabia incentivar e apoiar a colonização. As
Províncias, porém, não dispunham de recursos para isso.
48
FRANCESCHINI in GRTOSSELLI, 1987, pg 240.
82
Entregavam a incumbência a particulares. Mesmo após a lei
514 de 28/10/1848. Assim, o Estado brasileiro entregava terras
a particulares para serem loteadas e vendidas aos imigrantes ao
preço de 1.500 réis ao hectare. As companhias particulares
organizavam a imigração e vendiam as terras entre 36.000 a
40.000 réis ao hectare.
Algumas Províncias, como o Rio Grande do Sul
promoviam, elas próprias a imigração.
O interesse pela imigração de europeus “autores do
desenvolvimento industrial e agrícola” em seus respectivos
países não era, porém, só do Brasil. Argentina, Colômbia,
México, Austrália, Estados Unidos faziam propaganda
buscando atrair esses possíveis imigrantes. A guerra de
propaganda na Europa foi, às vezes, escandalosa, mentirosa e
sempre incisiva, com redes de informantes, aliciadores e
representantes em cada país, em cada pequena região de
emigração.
Se o Brasil oferecia as melhores condições legais e de
intenções, os Estados Unidos ofereciam as melhores condições
objetivas. Assim, dos 5 milhões de alemães que emigraram,
apenas 140 mil vieram para o Brasil (nem 5% ). De 1820 a
1926 entraram nas diversas províncias brasileiras 4 milhões de
imigrantes; nos EU , de 1820 a 1920 entraram 26 milhões de
83
europeus; na Argentina de 1857 a 1926 entraram mais de 3
milhões de europeus 49
. De 1819 a 1940 entraram no Brasil
253.846 alemães, 1.513.115 italianos e trentinos, 1.462.117
portugueses, 598.802 espanhóis50
.
A ganância dos particulares, o fracasso de colônias
anteriores, a má fama de que o Brasil gozava na Europa pelo
não cumprimento dos contratos, além da contra-propaganda de
que aqui o clima era terrível, as epidemias grassavam e o
Brasil vivia em estado absoluto de miséria e
subdesenvolvimento, limitavam a imigração.
Quatro são os fatores apontados por Grosselli para o
malogro da colonização até 1870: “a falta de seleção dos
imigrantes que muitas vezes eram artesãos, soldados ou com
outras profissões e que não se adaptavam absolutamente ao
cultivo da terra; a absoluta falta de vias de comunicação que
impedia a comercialização dos produtos agrícolas; a
localização de muitas colônias em territórios de clima tropical,
não adequados à colonização européia; a proximidade das
colônias aos latifúndios que desestimulava os colonos e
impedia o desenvolvimento da pequena propriedade”51
.
A economia brasileira precisava de mão de obra. Os
escravos já não entravam no Brasil no volume necessário,
49
GROSSELLI, 1987, pg. 241 50
CARNEIRO in GROSSELLI, 1987, pg. 238. 51
GROSSELLI, 1987, 238.
84
tendo em vista o ataque permanente da frota inglesa: em 1849
entraram 54.000 africanos e em 1852 somente 70052
. O
desenvolvimento capitalista era incompatível com a escravidão
porque ele exigia a liberação de todos os fatores da produção:
da mão de obra, do mercado de matérias primas, de consumo,
de comércio...
O desenvolvimento europeu e norte-americano era visto
como sendo fruto da raça branca, indo-européia. Por isso,
pensava-se, para alavancar o progresso no Brasil era necessário
o ingresso de imigrantes brancos, preferentemente alemães,
ingleses, suíços, franceses, belgas e do norte da Italia. Era
preciso branquear a raça.
O mesmo fez a Argentina quando trucidou os índios do
interior para dar lugar aos brancos que deveriam imigrar.
Imaginava-se que o branco que havia construído o progresso
europeu (apenas porque era branco), vindo para cá, construiria
aqui o mesmo progresso, sem levar em consideração as
condições em que se deu o desenvolvimento desses países
europeus. Como se o progresso deles não estivesse ligado
diretamente às condições de troca de nossa matéria prima
(paga a preços cada vez mais aviltantes e fixados por eles) com
os produtos industrializados por eles (e cujos preços cada vez
mais elevados eram também fixados por eles). Como se nosso
52
De BONI e COSTA, pg. 29
85
modelo colonial, latifundiário, exportador e escravagista fosse
o mesmo que o da Europa.
Por outro lado, deve-se salientar que os imigrantes
europeus vinham também com essa mentalidade que explodirá,
depois, nas motivações das duas guerras mundiais,
especialmente na segunda, onde o super-homem que levaria a
humanidade à perfeição seria o de raça indo-européia... Os
italianos, que vieram depois de 1900, traziam na lembrança as
fracassadas guerras da Etiópia e Líbia contra os negros que
nunca se deixaram vencer53
.
Por outro lado, o contato com os escravos, aqui,
reforçou o preconceito de que o negro é indolente, preguiçoso,
infiel, mentiroso... Como se, (e sem acatar a afirmação), para
sobreviver como escravo, houvesse outra possibilidade...E
como se a escravidão não fosse o mais vil e mentiroso,
desumano e brutal modo de viver e trabalhar.
O Brasil insistiu, na primeira metade do século XIX,
em trazer alemães para criar, entre a população portuguesa do
RS e a espanhola do Rio da Prata, um núcleo de
desenvolvimento que servisse também como um dique para as
pretensões rioplatenses.54
A guerra Cisplatina que o Brasil teve
53
MONTANELLI, Indro. L‟Italia di Giolitti, 1975, pg. 123 e ss. 54
Os colonos açorianos que foram trazidos por Portugal para Santa
Catarina e depois para o Rio Grande do Sul a partir de 1746, para povoar de
uma vez essa região reivindicada pelos castelhanos, localizaram-se na Barra
86
de 1818 a 1851, com a Argentina, o recomendava. Assim de
1824 a 1889 entraram no RS 25.000 colonos alemães.
Surgiram, porém, dificuldades com as colônias alemãs:
dificuldades em se integrar à vida nacional, em harmonizar sua
cultura com a brasileira, em falar a língua portuguesa. Os
contatos constantes com a pátria mãe, o fato de entre eles
terem vindo não apenas agricultores mas técnicos, intelectuais,
homens de ciência e de negócios facilitava sua auto-
organização. A tal ponto que a idéia surgida na Alemanha de
criar a Grande Alemanha com seus milhões de emigrados
espalhados pelo mundo, e acolhida aqui por apenas alguns
intelectuais, perturbou as autoridades do Império. As idéias
expostas num jornal de língua alemã dava oportunidade de
assim concluir.
A falta de comunicação, o exclusivismo da raça e a
conservação de suas tradições e religião protestante levantou
também a desconfiança especialmente da Igreja Católica. A
religião católica era a religião oficial do Império brasileiro
dentro do Estado de Cristandade e na institucionalização do
padroado. O Sul do Brasil poderia transformar-se numa zona
dominada pelos protestantes.
do Rio Grande e São José do Norte e, após o ataque de Ceballos de 1763
deslocaram-se para Viamão e Porto dos Casais (Porto Alegre), para Rio
Pardo, Triunfo e Taquari, alguns para Pelotas. Foram ao todo cerca de
5.000 colonos. Lembremos que a população do RS em 1800 era de cerca de
60.000 habitantes.
87
Os conflitos entre comunidades luso-brasileiras e
alemãs chegaram ao incêndio provocado na Exposição teuto-
brasileira de 188255
. Era preciso isolar o problema circundando
as colônias alemãs com colônias de imigrantes italianos e de
outras nacionalidades.
Para incentivar a imigração o decreto imperial n.3.784
de 19/1/1867 estabelecia: As novas colônias seriam criadas
pelo Estado, com a dimensão mínima de 15 hectares (até 60
hectares), podendo o imigrante escolher o lote, ao preço de 2 a
8 réis à braça quadrada (4.48m2) para os lotes rurais, e 40 a 80
réis para os lotes urbanos. O pagamento podia ser feito à
prestação ( em cinco anos) com o acréscimo de 20% e o título
então seria provisório. O colono tinha o prazo de dois anos
para residir e cultivar a terra, do contrário o lote iria a leilão. O
colono recebia com a terra, 20.000 réis como auxílio para os
gastos dos primeiros meses. Tinha a chance de trabalhar em
obras públicas, como abertura de estradas, ao salário diário de
1.500 réis sendo que o Diretor vigiaria para que no mínimo
cada adulto tivesse a chance de 15 dias de trabalho remunerado
por mês e 90 dias por semestre, dando preferência aos
chegados mais recentes.
O colono receberia ainda, ferramentas, sementes,
auxílio para a derrubada das árvores para ter um espaço a
55
Grosselli, 87 pg 243.
88
cultivar e erguer sua casa, sendo que esses valores eram
adiantamento para serem pagos junto com a terra e naquelas
condições. Se ele não tivesse como se sustentar nos primeiros
dias, o valor para isso também lhe seria adiantado. Nas
colônias não poderiam residir escravos nem pessoas que
tivessem escravos56
.
A colônia teria também um prédio para acolher os
colonos que chegassem e ainda não tivessem escolhido o lote.
Deveria ter um asilo para órfãos. E a colônia seria dirigida por
uma Junta Colonial composta de um Diretor, um médico e 6
colonos que já houvessem quitado suas obrigações
financeiras.
Era uma lei excelente para os colonos, considerando-se
que, embora comprados, os lotes rurais poderiam ser pagos
com, aproximadamente, 80 dias de salário por trabalhos nas
estradas.
Mesmo assim não aumentou muito a migração para o
Brasil senão a partir de dramatico 1875, quando o Império
contratou com Joaquim Caetano Pinto Júnior ( contrato
assinado em 30 de junho de 1874) a introdução no Brasil de
“100.000 imigrantes alemães, austríacos, suíços, italianos do
norte, bascos, belgas, suecos, dinamarqueses e franceses,
56
É irônico, se não fosse e até cínico que houvesse tanta facilidade para
estrangeiros adquirirem e cultivarem terras e aos brasileiros escravos e ex-
escravos não eram oferecidas tais oportunidades...
89
agricultores, sadios, trabalhadores de boa moral, nunca
menores de 2 anos, nem maiores de 45, salvo os chefe de
família. Destes imigrantes, 20% podem exercer outras
profissões”(Cláusula I)57
. E isto num período de 10 anos,
recebendo Caetano Pinto 120.000 réis para cada um dos
50.000 primeiros imigrados, 100.000 réis para os 25.000
imigrantes sucessivos e 60.000 réis pelos últimos 25.000.
Observe-se que os gastos totais de Caetano (incluindo
propaganda e pagamento de agenciadores, passagem e toda a
despesa de viagem ) não ultrapassava a 45.000 réis para cada
imigrante.
As despesas todas estavam cobertas, nada devendo ser
cobrado dos colonos imigrantes, nem mesmo a passagem e os
lotes deveriam ser vendidos aos preços estabelecidos no
decreto 3.784. Pelo contrato, o Império brasileiro se recusa a
assumir outra responsabilidade além das cláusulas do contrato.
E quando os colonos trentinos, tendo renunciado à cidadania
austríaca, quiserem repatriar-se porque não foram cumpridas
algumas cláusulas, não encontrarão resposta no Estado
brasileiro. Os custos, porém, desse empreendimento, levarão o
Império a suspender essas condições para a imigração ( e o
contrato) em 1877, tendo em vista também a difícil situação
econômica do Brasil.
57
GROSSELLI,1987, pg 250.
90
A Província do Rio Grande do Sul em 1870 vivia uma
situação bem diversa da encontrada pelos imigrantes alemães
em 1824: “A população provincial saltara de 110 para 440 mil
pessoas. Em vez de 5 municípios, eram agora 28, divididos em
73 paróquias. A cidade de Porto Alegre contava com 30.583
habitantes, pelos dados do recenseamento de 1872. O resto da
população dividia-se de modo muito desparelho pelo solo
gaúcho. Um sexto dos habitantes residiam na zona de
colonização alemã. Nos campos de Cima da Serra, a paróquia
de S. Francisco de Paula contava com 5.360 habitantes, a de
Vacaria com 5.755, e a de Lagoa Vermelha com 4.744. No
Planalto Médio, a de Passo Fundo tinha 8.368 habitantes, a de
Soledade 9.177 e a de Cruz Alta 8.402. Maior população
encontrava-se na Depressão Central, no Litoral e na
Campanha. Entrementes, cerca de 87 mil quilômetros
quadrados de serras, na Encosta Nordeste e no Alto-Uruguai,
principalmente, permaneciam como terras devolutas”58
.
A modernização do capitalismo industrial no Brasil,
muito embora ocorresse em função do capitalismo europeu e
norte-americano, tinha aqui algum reflexo: havia já estradas de
ferro, a rede telegráfica que a acompanhava, um incipiente
sistema bancário, navegação fluvial e lacustre com barcos a
58
De BONI e COSTA. pg. 62
91
vapor que ligava Rio Grande , Pelotas, Porto Alegre,
Cachoeira, Rio Pardo, Taquari, Lageado e Caí, Montenegro...
A produção pecuária era agora complementada com
produção agrícola das colônias alemãs. “A economia cresce, a
cultura toma lugar de destaque, há uma assistência social
organizada, o regime educacional é bom, aparecem as
bibliotecas públicas e a Escola Normal torna-se
estabelecimento modelo”59
.
As dissenções políticas haviam amainado: A guerra
dos Farrapos (1835-1845) terminava em paz e o governo
imperial voltava a investir em obras públicas na região da
Campanha. A Guerra do Paraguai (1865-1870) já fora
concluída. A revolta dos Muckers, na região alemã fora
apaziguada.
A lei Provincial 304 de 30/11/1854 já estabelecia que
os lotes não seriam mais doados aos colonos imigrantes e sim
vendidos, à vista ou a prazo de 5 anos sem juros; haveria
adiantamento para despesas de viagem e auxílio para os
primeiros meses. A hospedagem e o transporte desde Rio
Grande seriam gratuitos. O custo médio de um lote era de
120.000 réis equivalente a: 80 dias de trabalho em obras
59
LAYTANO, in De Boni e Costa 79: 75.
92
públicas, ou 40 sacas de milho, ou 850 litros de cachaça, ou
350 galinhas, ou 130 kg de manteiga.60
Em 1869 a Província requereu ao Império a concessão
de mais duas glebas para colonização. Em fevereiro de 1870 o
pedido foi atendido e concedidas 32 léguas quadradas ao preço
de 1 real à braça quadrada. Em 24 de maio de 1870 o
Presidente da Província criava as colônias Conde d’Eu e
Dona Isabel entre o rio Caí e os Campos de Vacaria
localizando uma à esquerda e outra à direita da estrada dos
tropeiros que ia de Maratá ao rio das Antas.
Enquanto se demarcavam os primeiros 500 lotes em
Conde d‟Eu a Província do Rio Grande do Sul contratava com
Caetano Pinto a entrada de 40.000 imigrantes no espaço de 10
anos ao preço de 60.000 réis para cada adulto e 25.000 réis
para cada menor de 10 anos. Estes valores eram a diferença do
preço da passagem Europa-EU e Europa-Brasil. Essa vantagem
visava compensar o atrativo que os EU ofereciam e assim
procurar captar imigrantes para o Brasil.
Em 1872 chegam ao Rio Grande do Sul os primeiros
imigrantes trazidos por Caetano Pinto. São 1.354. Serão 1.607
em 1873. E 580 em 1874, e 315 em 1875. A custos
elevadíssimos para a Província: 288 contos de réis,
60
GROSSELLI, 1987 pg 179.
93
equivalentes a 1/6 de seu orçamento. Em 27 de outubro de
1875 a Província pedia ao Império que assumisse as colônias
Conde d‟Eu e Dona Isabel e que a Província fosse reembolsada
dos valores já gastos. O governo imperial aceitou.
Em 1873 Conde d‟Eu tinha 80 lotes medidos e 20
cultivados. Em 1874 lá moravam 74 pessoas. Em 20 de maio
de 1875 chegam os primeiros imigrantes italianos ou
trentinos61
.
61
A data oficial da imigração italiana é 20 de maio de 1875. Antes , porém ,
devem ter chegado alguns trentinos (então austríacos). A Província do RS
registra de 1859 a 1875 o ingresso de 729 italianos provindos de
Montevideo e Buenos Aires. Por outro lado, em Pelotas, RS, registra-se a
entrada dos primeiros imigrantes italianos provindos de Montevideo em
1843-44, certamente por influência de Garibaldi que, nesta época havida
deixado a luta Farroupilha e com 1.000 cabeças de gado como pagamento
vai vendê-las em Montevideo. Em Montevideo é contratado para defender
Montevideo contra Buenos Aires, criando então seu exército de camisas
vermelhas (“camicie rosse”). Por informação dele os italianos de
Montevideo emigram para Pelotas. São cerca de 70, com ofícios urbanos
(conforme nossa pesquisa nos registros em Pelotas).
Por outro lado a presença de italianos no RS marcou a Revolução
Farroupilha (1835-1845). Fugindo da perseguição do Antigo Regime
reabilitado em 1815, e seguindo as idéias revolucionárias e socialistas de
Mazzini que defendia a “Jovem Itália” com um programa de: Unidade e
República e tendo como divisa: “Deus e Povo; Pensamento e Ação”
Giuseppe Garibaldi, marinheiro da Ligúria, vem para o Rio de Janeiro em
1835. Lá encontra um grupo de italianos: Rossetti, Giovanni Battista
Cuneo, Luigi Carniglia, Domingos Torrisano e Castellini que são
convencidos pelo Conde Tico Livio Zambeccari a participar da Revolução
Farroupilha no RS. Zambeccari era chefe do Estado-Maior de Bento
Gonçalves e havia sido preso na batalha do Fanfa com Bento Gonçalves da
Silva, Onofre Pires da Silveira Canto e Corte Real e, com eles, enviado para
o Rio de Janeiro. É assim que Garibaldi entra na Revolução. Cuneo,
residindo em Montevidéo intermediará a ida de Garibaldi para aquela
cidade em 1843 e provavelmente ambos endereçarão para Pelotas um bom
grupo de italianos que residiam em Montevideo. Em 1/10/1873 surge em
94
“A colonização no Espírito Santo, de modo geral, foi
patrocinada pelo Regime Imperial com a criação de quatro
importantes colônias: Colonia de Santa Izabel (1847), iniciada
com imigrantes alemães; Colônia de Rio Novo (1855)
encampada pelo governo em 1961; Santa Leopoldina (1857) e
Colônia Castelo (1880)”62
.
Além dessas colônias, em 1895 havia no Espírito Santo,
8 núcleos: Costa Pereira, Afonso Cláudio, Antonio Prado
(com as seções: São Jacinto, Santa Maria, Mutum, Estrada de
Baunilha, Baunilha Acima, Baunilha Abaixo e Vila Colatina
como centro comercial), Accioly Vasconcellos (com as seções:
Pau Gigante, Ubás, Triunfo, Esperança, Treviso, Café e Othelo
tendo Linhares como centro comercial) , Moniz Freire (com 6
seções na região do Rio Doce: Cavalinho,
Lagoa do Limão, Brasil, 7 de setembro,15 de agosto e Santo
Emílio e 6 seções na região do Riacho: Ribeirão, Retiro,
Taquaral, Santo Antonio, São Gabriel e Gabriel Emílio),
Demétrio Ribeiro ( com 7 seções: Curubixá, 13 de junho,
Pelotas a sociedade italiana “Unione e Philantropia”. Pouco depois surgem
a Sociedade de Socorros Mútuos “Circulo Garibaldi”, a Sociedade Choral
Italiana, a Sociedade Italiana 20 de Setembro e são unificadas em
18/10/1883 sob o nome de Sociedades Italianas Reunidas(nossa pesquisa).
Por outro lado é possível encaixar a probabilidade de os Zanotelli
(Francesco e sua família) terem vindo com Caetano Pinto na leva de 1875,
uma vez que chegam a Conde d‟Eu na noite de natal deste ano. 62
Relato do Cavalheiro Carlo Nagar, Cônsul Real em Vitória -= 1895 -
Introdução de Agostinho Lazzaro, pg 10.
95
Clotário, São Carlos, Alto Bérgamo, São Benedito e
Tranqüilo), Santa Leocádia e Nova Venécia.63
Rio Cachoeiro acima, até Santa Leopoldina (Porto do Cachoeiro)
De Santa Leopoldina, passar a ponte ou o rio e subir a serra, a pé, pelas
picadas, até Santa Tereza
63
Relato do Cavalheiro Carlo Nagar, pg 33 a 38.
96
Santa Leopoldina, armazéns para o café embarcado rio abaixo até Vitória.
Santa Tereza, no início do século XX
97
Atual Santa Teresa que nasceu em 1875 com os imigrantes trentinos que
vieram com a expedição Tabacchi para Santa Cruz ES (Wikipédia)
Relação das principais colônias criadas no RS após 187064
Colônias Criação Mudança
s
Emancip. Municípios
Atuais
Conde
d‟Eu
(Prov)
24-5-1870 1875 -
Imper.
1884 Garibaldi -
Carlos Barbosa
64
Nossa pesquisa nas prefeituras respectivas.
98
Dona
Izabel
(Prov)
24-5-1870 1875 -
Imper.
1884 Bento
Gonçalves
Fundos
Nova
Palmira -
( Imper)
1875 11-3-
1887
Colônia
Caxias
1884 Caxias do Sul -
Flores da
Cunha -
Farroupilha -
S. Marcos
Encantado
(partic)
1882 1915 Encantado -
Arroio do Meio
(1934) - Nova
Brescia
(1964)-
Guaporé
(1886) - Anta
Gorda (1964) -
Ilópolis (1964)
Capitão (1992)
- Arvorezinha
(1964) Relvado
(1992)
Silveira
Martins -
(Imperial)
1877 1882 Silveira
Martins
Alfredo
Chaves
(Imperial)
1884 Veranópolis -
Nova Prata -
Nova Bassano
- Cotiporã
Antonio
Prado -
Imperial
1885 Antonio Prado
Mariana
Pimentel
(Imperial)
1888 Mariana
Pimentel
Guaporé
(Partic)
1892 1886 Guaporé -
Muçum -
Serafina
Correa
Vila Nova
de Sto.
Antonio
(Imperial)
1888 Vila Nova
99
Barão do
Triunfo
(Imperial)
1888 Triunfo
Jaguari
(Imp)
1889 Jaguari
Ernesto
Alves
(Imperial)
1890
Marques
do Herval
(Repúbl)
1891 S. José do
Herval
Marau
(Partic)
1892 Marau Vila
Maria
Nova
Araçá
(Particular
)
1892 Nova Araçá
Ciríaco
(Partic.)
1892 Ciríaco
Paraí
(Partic.)
1892 Paraí
Davi
Canabarro
(Particular
)
1892 Davi Canabarro
Erechim
(Partic.)
1908 Erechim -
Aratiba -
Itatiba do Sul -
Três Arroios -
Jacutinga Vila
Áurea -
Viadutos -
Guarama
Severiano de
Almeida
Marcelino
Ramos
(Particular
)
1908 Marcelino
Ramos
100
Em síntese, o Brasil que aguardava os imigrantes
italianos e trentinos na década de 1870 era:
Um império
(o único na América; os outros países da América se
independizaram como repúblicas) que produz gado, café e
algodão, sendo que no passado tinha produzido açúcar e ouro
para Portugal; em latifúndios escravagistas e monocultores.
Independent
e politicamente de Portugal desde 1822, vive um neo-
colonialismo capitalista dependente especialmente da
Inglaterra. Uma oligarquia rural luta para manter a escravatura
e uma burguesia liberal pretende eliminá-la para adequar-se
aos parâmetros do capitalismo inglês e do liberalismo francês...
A religião
oficial do Império é o catolicismo compreendido no horizonte
do Estado de Cristandade e nas concordatas do padroado. O
liberalismo positivista e maçônico já levanta suas teses: ensino
público e não particular, separação de Estado e Igreja,
subordinação da Religião ao Estado (bispos são presos porque
acompanham o papa na condenação à maçonaria -1872), anti-
clericalismo, a religião tida como mentalidade obscurantista e
que não permite a „liberdade‟ preconizada pela Revolução
Francesa; as ciências „positivas‟ como única forma legítima de
103
IV - A EMIGRAÇÃO-IMIGRAÇÃO
1. Migração Temporária.
A emigração temporária ou sazonal (especialmente de
outubro a abril = outono- inverno) era comum para o Trentino
e norte da Itália. Em 1838 mais de 10% dos trabalhadores
masculinos do Trentino migravam para o Vêneto, Lombardia,
Áustria e outros países da Europa. Eram operários
especializados, camponeses-artesãos, biscateiros: “fabricantes
de cadeiras de Primiero e Canal San Bovo, vidreiros de Tione,
amoladores de Rendena, Bleggio e Tesino, fabricantes de
Salame de Rendena, caldeireiros de Val di Sole, pedreiros de
Fiemme e Fassa, limpa-chaminés de Valle di Non e de Banale,
caiadores e decoradores de Fiemme e Fassa, vendedores de
gravuras e pinturas de Tesino”65
, pastores, mulheres para as
fábricas de retorce e tecelagem de seda...
Quando, depois do inverno, retornavam para casa, com
algum dinheiro adquirido, traziam as idéias de progresso
65
GROSSELLI, 1987 pg 75.
104
observado nas outras regiões da Europa e aguçavam em todos
a vontade de emigrar.
2. Migração definitiva.
Em 1859 acontece a primeira transferência de colonos
italianos (juntamente com franceses e espanhóis ) para o norte
da África (Argélia). Os emigrantes são trentinos especialmente
do Val di Non e do Val di Cavedine. Localizaram-se em
Palestro à margem do rio Olsser na Cabília. Em 1871 o jornal
“Voce Cattolica” de Trento noticiava um massacre que os
Kabylas cometeram contra os colonos. É provável que algum
Zanotelli fizesse parte dessa primeira emigração, pois os
Zanotelli são originários de Val di Non, e que, hoje não conta
mais do que 600 habitantes.
Por volta de 1870, no Trentino, já existe alguma
propaganda (via Alemanha cujos agricultores iniciavam a
migrar para o Brasil desde 1824) para emigrar para a América
e para o Brasil. Alguns passaportes desse períodos já trazem
como destino solicitado: América. Não eram ainda
camponeses, mas operários especializados e comerciantes.
105
3. A Expedição Tabacchi
Pietro Tabacchi , natural de Trento, de onde fugira para
o Brasil em 1851, talvez por questões econômicas ( suas
empresas teriam ido à falência no Trentino), era um pequeno
comerciante em Santa Cruz (ES) e era tido pejorativamente
como “abatedor de jacarandá”. “Empreendedor por instinto,
Pietro Tabacchi, adquiriu uma fazenda no então território do
Município de Santa Cruz, a fazenda “Monte delle Palme”.
Certamente, com ótimo faro para os negócios, percebeu logo o
grande interesse do governo brasileiro pela imigração européia.
Pensou com argúcia em poder especular sobre isso,
desfrutando das ligações que ainda contava na Europa”66
.
Escreve ao
Governo Imperial propondo trazer da Europa 50 (mais tarde
70) famílias de agricultores e localizá-las numa colônia
previamente preparada com desmatamento, plantio de milho,
feijão, mandioca, batatas e outros cereais para sustentar os
colonos nos primeiros tempos, alojamento, 4 a 5 léguas de
estrada até o rio Piraque-Assu para interligar-se com o vilarejo
de Santa Cruz e, em troca, pede a licença para derrubar 3.500
jacarandás. O Governo aceita, apesar da oposição da câmara de
S. Cruz, oferecendo a Tabacchi 200.000 réis (ao invés dos
66
GROSSELLI, Colonie Imperiali, 1987 pg 150.
106
jacarandás) por imigrante nunca maior de 45 anos de idade.
Era um preço muito vantajoso para Tabacchi, uma vez que os
custos de passagem e propaganda não excederia a 60.000 réis
para cada imigrante. Em 17/10/1872 o Governo Imperial
autorizou o Governo da Província do Espírito Santo a assinar o
contrato que foi publicado no Decreto Governativo n.5.295 de
31/05/187367
.
Tabacchi
contratou Pedro Casagrande, de Trento (talvez já residente no
Brasil) para organizar a adesão dos agricultores trentinos.
Conseguiu 388 agricultores especialmente dos municípios de
Borgo Valsugana, Telve, Roncegno, Castelnuovo, Novalaedo,
Levico e Centa68
que embarcaram no navio a vela „La Sofia‟,
em Gênova no dia 3 de janeiro de 1874.
Com eles veio o Padre Domenico Martinelli, de Centa, o
médico Pio Limana, de Borgo Valsugana, Pedro Casagrande e
a mulher.
Em 17 de fevereiro chegaram ao porto de Vitória,
capital da Província, com 10.000 habitantes, e que nunca havia
recebido navio de tão grande calado. „La Sofia‟ encalhou e 10
dias depois conseguiram desembarcar.
67
GROSSELLI, 1987, pg. 154. 68
GROSSELLI, 1987, pg 80.
107
É interessante a impressão que lhes causou a
população: “Os habitantes são em sua maioria negros, poucos
os índios e verdadeiramente americanos do tempo de
Colombo, e estes são da cor do cobre com nigérrimos cabelos
longos, poucos os mulatos, e raríssimos os brancos; são gente
boníssima, irmanam-se facilmente com os nossos, e pagam
bebidas para ouvir os nossos cantar as canções patrióticas e os
hinos nacionais italianos”69
.
Oito dias depois são conduzidos por um barco a vapor
até Santa Cruz que distava 6 léguas da colônia Nova Trento na
fazendo de Tabacchi.
No dia 3 de março explodiu o descontentamento (
durante a viagem já tinha havido desencontros entre os
agricultores e Casagrande) quando se aperceberam que a terra
para trabalho distava 8 horas a cavalo de Santa Cruz , onde
iriam residir. Os dissabores foram crescendo. Em 10 de março
os colonos foram levados a ver as terras que lhes estavam
destinadas e viram que não eram as terras que se lhes havia
prometido. No desencontro, disse Tabacchi, sua casa foi
incendiada. Tabacchi pediu a intervenção de 40 ou 50 homens
da força do exército para protegê-lo das ameaças de morte que,
segundo ele, os colonos, armados e instigados por 3 ou 4
cabeças, lhe faziam. O juiz e o Delegado de polícia tentaram
69
GROSSELLI, Colonie...1987, pg 8.
108
apaziguar a situação. Em vão. No dia 16 de março 9 imigrantes
foram até a capital Vitória para narrar a situação. Tabacchi
queria que eles fossem obrigados a assumir as terras. As
autoridades julgaram que seria um ato arbitrário e ilegal, por
mais que Tabacchi argumentasse ter gasto uma fortuna no
empreendimento.
O presidente da Província enviou com os 9 colonos 15
militares e um oficial de justiça que interrogaram os chefes de
família e souberam que o grande descontentamento se dava
pelo fato do descumprimento da cláusula 4 do contrato que
haviam assinado com Tabacchi: as terras eram muito distantes
(6 léguas) e as estradas intransitáveis nas chuvas, e não
conseguiriam realizar imediatamente a plantação para
sobreviver. Foram-lhes retiradas as armas de caça que traziam
(mais tarde devolvidas).
No início de abril 60 colonos estavam acamados com
uma doença não bem definida. Doze ou 14 deles morreram.
Depois de muitas marchas e contra-marchas e mediados
pelo P. Martinelli, o governo determinou que aos imigrantes da
Expedição Tabacchi fossem aplicados os benefícios da lei de
1867. Determinava também que eles, se quisessem, fossem
aceitos nas colônias imperiais de Santa Leopoldina e Rio
Novo.
109
A maioria dirigiu-se para Santa Leopoldina e localizou-
se no Núcleo Thimbuy (hoje Santa Teresa ES) e nas regiões de
Valsugana Velha e Valsugana Nova. Em 18 de maio 32
adultos e 13 menores foram dirigidos a Rio Novo. Outros
fugiram para o Rio Grande do Sul conforme noticia o P.
Bartolomeu Tiecker que em julho de 1874 chegava com sua
família na colônia Conde d‟Eu (hoje Garibaldi): “Nesta
localidade há 15 famílias de italianos e mais adiante algumas
outras, quase todos fugidos da colônia Tabacchi de infeliz
memória”70
. Outros foram ao Paraná. Outros ainda foram pedir
socorro ao Governo Imperial no Rio de Janeiro. Outros, por
fim, tentaram e conseguiram retornar ao Trentino.
Em 21 de junho Pietro Tabacchi morreu. Sucedeu-lhe o
genro o Barão Alfredo de Leon. Em 26 de junho restavam na
colônia Nova Trento 23 famílias com 161 pessoas. Em
novembro de 1874 todos haviam abandonado a malfadada
experiência. Esta foi a primeira experiência de migração e
quase que exclusivamente composta por trentinos.
70
GROSSELLI, Colonie...1987, pg 171.
111
4. A Diáspora
A Expedição Tabacchi foi a primeira experiência de
migração em massa do Trentino para o Brasil. “A partir de
1874 as partidas se sucederam e, pelo menos por um
quinquênio, a meta privilegiada de nossos camponeses foi o
grande país americano”71
. A obsessão de emigrar se fez
torrente incontrolável e por toda parte “não se fala senão de
América, não se cantam canções que não se refiram à
América”72
.
Mas se ao Brasil interessava a vinda de imigrantes, se
aos agricultores do Trentino e norte da Itália a América era a
“cucagna” o que realmente possibilitou a migração em massa
foi o contrato que o Império brasileiro realizou com o
empresário Joaquim Caetano Pinto Júnior em 30/6/1874 à base
da lei de 1867. Pelo contrato, que abaixo transcrevemos,
Caetano Pinto se compromete a introduzir no Brasil 100.000
imigrantes em 10 anos conforme consta:
J. C. Pinto se obriga, por meio ou de uma companhia ou
sociedade que poderá organizar, a introduzir no Brasil (com
exceção da Província do Rio Grande do Sul), num período de
10 anos, 100.000 imigrantes alemães, austríacos, suiços,
71
GROSSELLI, 1987 pg. 87. 72
GROSSELLI, 1987 pg 92 citando “Voce Cattolica” de 1875 e 1877.
112
italianos do norte, bascos, belgas, suecos, dinamarqueses e
franceses, agricultores sadios, trabalhadores de boa moral,
nunca menores de 2 anos, nem maiores de 45, salvo os chefes-
de-família. Destes imigrantes, 20% podem exercer outras
profissões.
II
O período de 10 anos começará a correr depois de 12 meses,
calculados da data de elaboração do contrato; o empresário,
porém, poderá iniciar a introdução de imigrantes antes do fim
dos 12 meses, se o Governo permitir.
III
O número de imigrantes não superará os 5.000 no primeiro
ano, podendo ser elevado a 10.000 se o Governo assim
estabelecer: mas nos anos sucessivos o empresário será
obrigado a introduzir até 10.000, sendo qualquer excesso
dependente do prévio consentimento do mesmo Governo.
IV
O empresário receberá por adulto as seguintes subvenções:
120$000 réis para os primeiros 50.000 imigrados; 100$000 réis
para os 25.000 sucessivos; 60$000 réis para os últimos 25.000,
e a metade destas subvenções para os menores de 12 anos e
maiores de 2.
113
V
Estas subvenções serão pagas junto a Corte, assim que for
provado que os imigrados foram recebidos pelo funcionário
competente no porto de desembarque da província à qual eram
destinados.
VI
Nem o Governo, nem o empresário poderão receber dos
imigrantes, a nenhum título, as cifras gastas como subsídios,
ajudas, transportes e alojamentos dos mesmos.
VII
O Governo concederá gratuitamente aos imigrantes
hospitalidade e alimentação durante os primeiros l8 dias de sua
chegada, e transporte até as colônias de Estado às quais se
destinarem.
VIII
Igualmente garantirá aos imigrantes que quiserem se
estabelecer nas colônias do Estado a plena propriedade de um
lote de terra, com as condições e os preços estabelecidos pelo
Decreto n.3.784 de 19/01/1867; obriga-se, além disso, a não
elevar o preço das terras de suas colônias sem avisar o
empresário com 12 meses de antecedência.
114
IX
Os imigrantes terão plena e completa liberdade de se
estabelecer como agricultores nas colônias ou nas terras do
Estado, que escolherão para sua residência, em colônias ou
terras das Províncias, ou de particulares; assim como de
encontrar emprego nas cidades, vilas e aldeias.
X
Os imigrantes virão espontaneamente, sem compromisso nem
contrato algum. e por isso nenhuma reclamação poderá ser
feita ao Governo, tendo somente o direito aos favores
estabelecidos nas presentes cláusulas, e disso estarão
completamente conscientes.
XI
O Governo designará com precisa antecedência as províncias
onde já existem ou virão a se formar colônias, a fim de que os
emigrantes já conheçam da Europa os pontos onde poderão se
estabelecer.
XII
O Governo nomeará, nos pontos nos quais se efetuará o
desembarque dos imigrantes, agentes-intérpretes que ao
mesmo tempo fornecerão todas as informações de que
necessitarem.
115
XIII
Todas as expedições de imigrantes serão acompanhadas de
listas, as quais conterão o nome, a idade, nacionalidade,
profissão, estado civil e religião de cada indivíduo.
XIV
No transporte dos imigrantes o empresário é obrigado a fazer
respeitar as disposições do Decreto n. 2.168 de Primeiro de
maio de 1858.
XV
O Governo pagará ao empresário a diferença de preço da
passagem entre o Rio de Janeiro e as províncias para as quais
serão enviados imigrantes diretamente da Europa, quando tais
províncias não estejam em comunicação direta e regular por
meio de vapores com a Europa, e o empresário deva fazer
atracar nos respectivos portos vapores de outras linhas por ele
fretados.
XVI
As questões que surgirem entre o Governo e o empresário, a
respeito de seus direitos e obrigações, serão resolvidas por
árbitros. Se as partes contratantes não concordarem pelo
mesmo árbitro, nomearão cada um o seu e estes designarão um
terceiro, que decidirá definitivamente no caso de paridade. Se
não houver acordo sobre tal árbitro, será nomeado por sorteio
um Conselheiro de Estado que terá voto decisivo.
116
XVII
O empresário será obrigado a repatriar a suas custas os
imigrantes que tenha introduzido fora das condições da
cláusula I, e que o exijam, cabendo igualmente ao Estado
alojá-los e sustentá-los até sua repatriação, além de perder o
direito ao subsídio correspondente a tais imigrantes.
XVIII
Do mesmo modo não poderá transferir este contrato senão à
companhia ou sociedade organizada na forma da cláusula I.
Como se pode ver o contrato, afora a ambigüidade da
cláusula X é bom para os imigrantes. Nem todas as cláusulas,
porém, serão expostas aos colonos para a escolha desde a
Europa, especialmente sobre o local e as condições das
colônias disponíveis. E nem todas as cláusulas serão
cumpridas. Não haverá informações suficientes e a escolha dos
imigrantes nem sempre será respeitada como é o caso de 400
trentinos que em 26 de dezembro de 1875 serão desviados para
a colônia Santa Leopoldina,(Espírito Santo), quando seus
parentes vieram para o Rio Grande do Sul que, segundo as
informações do P. Bartolomeu Tiecker publicadas na Voce
Cattolica de Trento e conhecidas pelos que emigravam, tinha
melhores condições para os
117
migrantes73
. O grupo foi desviado sem poder transitar pelo
Rio, conforme noticiou o Consulado Austríaco de então74
.
De 1870 a 1885 mais de 15.000 trentinos, de uma
população de 404.225 habitantes, migraram para o Brasil;
3.500 para outros países da América do Sul; 5.068 para a
América do Norte. Especificamente do Vale de Cembra, de
onde provieram os Zanotelli em sua maioria, de uma
população de 17.529 habitantes, emigraram 851 pessoas sendo
759 para a América do Sul (quase todos para o Brasil).
Até 1914 cerca de 1.500.000 italianos e tiroleses (e
destes, especialmente trentinos) emigraram para o Brasil. De
73
”O Padre Bartolomeu Tiecker era natural de Caldonazzo e partiu com a
família para o Brasil em julho de 1875. Com ele vieram o pai, Giovanni
Battista ( de 1821), a mãe Domenica ( de 1819), os irmãos Angelo (1851),
Fortunata (1854), Epifania (1856), Lorenzo (1858) e Ilario (1860). Ele tinha
nascido em 1848.
Teve um atestado do Bispo como apresentação às autoridades eclesiásticas
brasileiras. Presume-se que tenha partido em 24 de outubro de Trento com
outros 700 trentinos. No dia 25 estavam em Verona, dia 26 em Modane, dia
27 em Paris, dia 29 em Le Havre de onde zarpou para a América no dia 30
de outubro de 1875. No dia primeiro de dezembro desembarcou no Rio de
Janeiro e foi nomeado Capelão da Colônia Santa Maria da Soledade no Rio
Grande do Sul . Sacerdote secular, tinha celebrado sua primeira missa em
Santa Maria Maggiore (Trento) em 23 de julho de 1871. Foi capelão de
Santa Maria da Soledade (hoje Forromeco) de 17/12/1875 a 1876. De 1887
a 1881 foi viário de Santo Inácio da Feliz. Em 19/03/1886 tornou-se vigário
de Conde d‟Eu (hoje, Garibaldi). Morreu em Roca Sales no dia 27 de
fevereiro de 1940”, (GROSSELLI, 1987, pg. 157) para onde foi transferido
como Cônego em 28/1/1934 como vigário. Suas cartas, desde julho de 1875
publicadas na Voce Cattolica de Trento e recomendando aos trentinos que
buscassem as colônias do RS, porque tinham as melhores condições de
clima, solo, organização etc. influenciou também os Zanotelli na decisão
sobre para qual colônia migrar. 74
GROSSELLI, 1987, pg 253.
118
1861 a 1970 mais de 28 milhões de italianos emigraram. Já,
para o ano de 1929 o decano de Cembra dizia: “Os emigrados,
habitualmente ausentes da cidade ( na Argentina, América do
Norte ou França) eram cerca de 120. Cerca de 30 famílias
estabeleceram-se na América ou na França. Cerca de 20
emigrados retornavam anualmente para Cembra. Não constava
que se houvessem formado grupos de emigrantes de
Cembra”.75
Assim como o Rio Grande do Sul havia contratado com
Joaquim Caetano Pinto Júnior a introdução de 40.000
imigrantes italianos do norte ou alemães... assim também o
Espírito Santo, quando em 1889, com o advento da República
se transformou em Estado, contratará com Domenico Gironi a
introdução 20.000 imigrantes europeus, de preferência
italianos, no prazo de 3 anos. Gironi oferece condições
vantajosas que nem sempre acontecerão depois (motivando até
um decreto do Reino Italiano proibindo em 20/07/1895, a
emigração de italianos para o Espírito Santo.
As dificuldades que italianos e trentinos encontraram
no Espírito Santo foram muito maiores do que no RS
(dificuldades: demora na demarcação dos lotes, o clima quente
e úmido dos rios Doce, Linhares...gerando febres; só no vale
do Rio Doce 300 trentinos morreram de febres antes de 1878;
75
Storia, pg 257.
119
dificuldades de comunicação - péssimas estradas, correio
precaríssimo, quase inexistente assistência médica: os
habitantes de Santa Teresa dependiam de um médico em Santa
Leopoldina, a 6 horas a cavalo; o alto custo de vida e o baixo
valor do café, na colheita, bem como dos salários no estrito
limite da sobrevivência; a morosidade da justiça e seu alto
custo era outra dificuldade; a arbitrariedade da polícia
especialmente do pessoal subalterno e no interior...também).
“Além disto tudo sobressaem, infelizmente, o clima e
as febres endêmicas. Ao norte, na região de São Mateus,
predominam as febres de toda espécie que golpeiam
especialmente os recém-chegados; mais abaixo, na região do
Rio Doce, predominam as febres de impaludismo; em Vitória,
a febre amarela e o beribéri; e no sul as febres perniciosas, e
nos meses quentes, também a febre amarela... Há uma outra
enfermidade a que estão sujeitos os imigrantes neste Estado. A
doença é provocada por um microscópico inseto chamado
bicho-de-pé, que penetra na pele, formando rapidamente o
próprio ninho, atacando as extremidades inferiores; neste caso
os operários e os agricultores são as maiores vítimas. Vi de
fato alguns que atacados por estes bichos estavam cheios de
feridas, e por alguns dias ficavam impedidos de manterem-se
em pé”76
76
Relato do Cavalheiro Carlo Nagar, pg 54-55.
120
Em 1878, de uma população de quase 100.000
habitantes o Espírito Santo contava com 45.000 estrangeiros,
dos quais 20.000 italianos, 10.000 tiroleses, 10.000 alemães e
5.000 de outras nacionalidades.77
77
NAGAR, Carlo. Relato do Cavalheiro Carlo Nagar, Cônsul Real em
Vitória - O Estado do Espírito e a Imigração Italiana - Fevereiro de
1895. Arquivo Público Estadual, Vitória, 1995, pg 31.
121
IV - A IMIGRAÇÃO DA FAMÍLIA ZANOTELLI
1. De Livo para Cembra – De Cembra para o Brasil
A família Zanotelli é originária de Livo (outras fontes
situam os Zanotelli em Monferrato, perto de Turim por volta
de 1.400), no Val di Non, no Trentino78
. O patronímico,
segundo pudemos colher remonta a tempos que apontam para
1.200 dC. “Zanotelli” vem de João = Giovanni, que nas
mudanças dialetais soava “Zan (do hebraico Johanan: dom de
Deus), Zoan, Zoani”, e dali Gionnotelli e, por fim Zanotelli (os
filhos de João).
“Entre outras famílias, residiam em Livo: a Família De
Stanchina dona do castelo e da região e as famílias Coser,
Filippi e Zanotelli” antes de 170079
.
78
Livo é uma comuna italiana da região do Trentino-Alto Ádige,
província de Trento, com cerca de 858 habitantes. Estende-se por uma
área de 15 km2, tendo uma densidade populacional de 57 hab/km2. Faz
fronteira com Rumo, Bresimo, Cagnò, Cis, Cles. 79
Informações colhidas de Alex Zanotelli, em Livo.
122
De Livo, que os ancestrais lembram como o lugar de
sua origem, os Zanotelli migraram para todo o Trentino,
notadamente para Cembra, para o norte da Itália, para alguns
países da Europa, para a África e para a América.
Casale di Monferato- onde, por volta de 1680, Zanotelli são enfeudados.
Casale Monferrato – na planície fecunda do Pó, Ruth à frente.
125
Os homens do fogo, os bombeiros de Livo e do vale tem vários
Zanotelli,(Arnaldo,Guido, Lino e Danilo) incluído o coordenador. Atrás a
casa símbolo de Livo, o castelo Liprando, onde os Zanotelli também
estiveram.
Franco A. Lancetti, em sua bela obra Livo –storia-vita-
arte editado em Trento em 1997 refere entre os nobres de Livo,
pelo menos desde o Concílio de Trento (1545-1963) as
famílias Aliprandini de la Rosa, Aliprandi, Stanchina, Arnoldi,
Anselmi, Filippi, Rodegher,os Giannotteli que depois de
chamaram Zanotelli, os Guarienti. Nomeia também a
ordenação sacerdotal e o trabalho pastoral de Stefano Zanotelli
(1686), Gisuseppe Antonio (1708) de Livo e para Livo. Em
1891 Domenico Zanotelli é cura de Caldes. Em 1844
Tommaso Zanotelli é eleito deputado pela região. Franco
126
Zanotelli é o presidente do clube dos caçadores de Livo
(1908). Dee 1953-1979 Lívio Zanotelli é o camandante militar
da região. Na fundação da Cassa Rurale Cattolica de Livo de
1889 estão Micla Serafino e Marchiri Zanotelli, e depois: D.
Domenico Zanotelli, Luigi, Bortolo, Giovanni, Pietro, Stefano,
Nicolò, Bernardo,Lucio. Pio em 1979 é o prefeito. Adelio
participa do Collegio sindacale (espécie de câmara de
vereadores, sem remuneração).
O encontro dos Zanotelli em Livo mostrou que ali estão
muitas de nossas raízes biológicas, sociais e culturais. Os
valores ancestrais, muito embora encobertos por algumas
cinzas mantem o calor que cozinha o pão e ilumina os olhos.
Ao ouvir Padre Alex, e seu alerta de que “abbiamo perso la
tramontana”, o calor vem à tona.
127
Livo – Área central atual.
De Livo, por volta de 1683, Giovanni Antonio
Zanotelli, deslocou-se para Cembra80
, também no Trentino,
para residir com um tio padre. Em Cembra casou com Dorotea
Concherle e com ela teve 4 filhos: Giovanni (casou com
Maddalena Valgoi), Vigílio (casou com Maria Maddalena
Nardin), Cristóforo (casou com Maddalena Nicolodi) e
80
Cembra (em alemão:: Zimmers ou Zimber) é a commune (município) no
Trentino, norte da Itália, na região do Trentino-Alto Ádige, no tempo do
Império Austro Úngaro era O Tirol Sul, há 15 quilômetros ao nordeste de
Trento. Ao redor de Cembra, no mesmo vale do rio Avisio estão os
municípios de Solorno, Giovo, Faver, Segonzano, Lona-Lases, Lisignago e
Albiano.
128
Giovanni Antonio (casou com Domenica Largher). Destes
descendem a maioria dos Zanotelli que migraram para o Brasil.
Dentre os emigrantes Zanotelli que vieram para o
Brasil, o maior grupo provém de Vigilio, (filho de Giovanni
Antônio),cujo filho é Giovanni Paolo e cujo neto é Giovanni
Gasparo. Dos filhos de Giovanni Gasparo: Paolo, Francesco e
Giovanni, vieram, com suas famílias para o Brasil. Mas há, no
Brasil, descendentes em bom número, como se pode constatar
pela árvore genealógica que faz parte deste trabalho, dos outros
filhos de Giovanni Antonio Zanotelli, de Livo.
129
Buscando raízes fomos a Cembra. A agradável companhia das
irmãs da Sagrada Família de Verona abriu nossos caminhos.
Cantando e brincando como é seu lema “servir com alegria”
visitamos alguns vales do Trentino incluindo o lago de Garda.
Diante do monte Baldo compreendi pela primeira vez o que
significava a canção que nossos pais ensinaram: “Se Il lago
fosse póccio, la ri le rá – E Baldo de polenta, la ri le rá – Oi
mamma che pocciade, polenta e baccalà....”
Ao entrar em Cembra, ao visitar o cemitério, ao
encontrar os Zanotelli, Guido, Túlio, Giorgio...parecia que
apenas ontem vieram de lá nossos bisavós, nossos avós....
130
Em casa de Padre Guido Zanotelli que reotrnava da África para uma
semana de férias, com sua mãe, irmãos e sobrinhos
Padre Guido, novamente com o pároco de S. Pietro fornecendo-nos dados
sobre a família Zanotelli.
131
A Macelaria (Fiambreria) Zanotelli
A Macelaria Zanotelli oferece carne e imbutivos
produzidos em sua própria Azienda. Giuseppe e Sara, Silvano
e Giuliana.
Para nós brasileiros, com as grandes extensões de terra
disponíveis para a agro-pecuária e onde se cria extensivamente
um boi por hectare, é maravilhoso ouvir os Zanotelli que, em
3,5 hectares de terra, conseguem carne para abastecer a região
toda. Confinamento total, 18 meses para o abate, e cerca de
11% de lucro.
132
Igreja de S. Pietro em Cembra
Cembra, igrejas que apontam definitivamente para o alto, de onde vem o
sentido de tudo, como a chuva que tudo fecunda.
133
O Estado de Cristandade vigoroso em toda a Europa e
mais ainda no Trentino, virá com os imigrantes para o Brasil
renovando o que aquele Estado Colonial de Cristandade havia
implantado por aqui. A romanização da Igreja no final do
século XIX, as crises entre catolicismo e liberalismo, que
levará à separação de Igreja e Estado com o advento da
República (1891) tem aqui a visibilidade.
A pia batismal Igr. S. Pietro. O primeiro banho de fé dos Zanotelli que
vieram para o Brasil.
Temos também notícia de um grupo de Zanotelli que,
em 1875 emigraram para a Argentina, localizando-se na
134
colônia Sampacho81
, Departamento de Rio Quarto, Província
de Córdoba, deslocando-se depois para Las Perdices que se
transformou em município em 1922. Seu primeiro prefeito
(desde 4 de agosto de 1922) foi Basílio Zanotelli. A estância
„São João‟ de João e Basílio Zanotelli, fundada em 1894, com
500 hectares e as técnicas mais modernas de pastagens e
seleção de plantel de gado especialmente das raças Durham e
“yeguariza”, era elolgiada como modelo.
Cembra - Igreja S. Pietro, irmãs Pia e Marisa com Ruth.
81
A colônia Sampacho foi fundada pela Província de Córdoba em 1875, na
circunscrição do Rio Quarto, no lugar denominado Punta del Agua ou
Payanquen, um ano depois denominada Sampacho, como o rio que a
atravessa sobre a linha ferroviária Andina, inaugurada pouco antes e que aí
estabeleceu uma estação a 47 km de Rio Quarto. As dificuldades que os
colonos enfrentaram desde o início fizeram com que o Governo Nacional
assumisse a colônia em 1878. Nessa data, havia na colônia Sampacho 684
pessoas, sendo 421 italianas ou trentinas. na Memoria de la Comissaría
General de Inmigración constam como residindo na colônia Sampacho
Nicola Zanotelli e Zanotelli. Uma avaliação feita em 1892 diz que os
colonos que chegaram até 1878 encontram-se em boa situação. Os que
chegaram depois não tem como manter-se. Cf. Archivo “Fuentes de
Estudios Historicos de Sampacho” pg 263.
135
Brenta e Pradelago – marcou a retina dos imigrantes.
Na diáspora que aconteceu desde o norte da Itália e
desde a periferia do sistema capitalista liberal, que iniciava a
revolução industrial naquelas paragens, os Zanotelli buscam
um lugar de alento que lhes permita manter uma família e os
valores tradicionais que se lhes entranhava nas vísceras e na
alma: a religião, a iniciativa no trabalho, e fugir do sistema
feudal que os esmagava e que recém (1848) havia sido extinto
na região.
136
Tulio e Giorgio Zanotelli em sua moderna cantina
A migração do norte da Itália e do Trentino, naquela época sob
o Império Austro-húngaro, inicia com a malfadada iniciativa
de Tabacchi, para Santa Cruz no Espírito Santo.
137
A migração em massa inicia em 1875.
Por coincidência, entre os 400 trentinos desviados para
o Espírito Santo em 26 de dezembro de 1875 estavam alguns
Zanotelli. Com efeito, pesquisa realizada por nós no Arquivo
Público do Espírito Santo revela que, chegados pelo navio
francês Fenelon em fins de dezembro de 1875 e tendo chegado
à colônia Santa Leopoldina em 5 de janeiro de 1876 constam:
Paolo Zanotelli (de 64 anos de idade, católico, casado,
lavrador, austríaco com o número da lista 387 e tendo como
número de família 86) e seus filhos Maria (28 anos, casada),
Francesco (25 anos, casado), Angelo (19, solteiro), Giustina
(11, solteira), Paulo (22, solteiro). Na mesma lista consta
Marianna Zanotelli (53, casada) e seus filhos Antonio (23
casado), Constantino (18, solteiro), Giovanni (14), Luigia (12).
Consta também Paola Zanotelli (27), casada com Giuseppe
Artivoli (42). E ainda: Agostino Zanotelli (48), casado com
Filomena (34), com os filhos: Fortunato (10), Batista (8),
Maria (9), Giovanni (2) e Emmanuele (12 meses).82
No Livro de Matrícula dos Colonos Estabelecidos no
Núcleo Thimbuy, colonia de Santa Leopoldina, ES, livro 172
que registra os imigrados de 1872 a 1876 constam à página
82
Listas de Imigrantes chegados à Colônia Santa Leopoldina 1875-
1876, Livro 181 A.
138
132 Paolo Zanotelli e seus filhos, à pg. 133 Marianna
Zanotelli e filhos, à pg. 165 Agostino Zanotelli e filhos.
No Livro de Processos de Terras n.1 constam: sob o n.
4380, Paulo Zanotelli que, em 1890 adquiriu o lote 427 de
Santa Leopoldina; Novamente Paulo Zanotelli (deve ser o
filho) que, em 1891 adquiriu um lote no Baixo Thimbuy,
município de Santa Leopoldina sob o n. 4387; Giacomo
Zanotelli 83
que, em 1892 adquiriu na Seção Virgínia do
município de Anchieta um lote sob o n. 4398; Baptista
Zanotelli (provavelmente é Battista, filho de Agostino Z.) que,
em 1893 adquiriu em Cinco de Novembro, município de Santa
Teresa um lote com o processo n. 4405.
Como se pode ver, é muito provável que as famílias
Zanotelli não se destinassem à colônia Santa Leopoldina no
Espírito Santo, uma vez que em 10 de dezembro de 1875
chegara ao Rio de Janeiro pelo navio francês Rivadávia,
Francesco Zanotelli, irmão de Paolo Zanotelli e de Giovanni
Baptista, este casado com Marianna, com destino ao Rio
Grande do Sul, colônia Conde d‟Eu, onde chegou às vésperas
do Natal de 1875.
83
Giacomo Zanotelli, casado com Maria Devilli, é filho de Giovanni Z.
e Teresa Calovi (ou Giulia Gilberti, 2a.esposa), neto de Giovanni Z. e
Catterina Keller, bisneto de Gregorio Z. e Lucia Bonfant, trineto de
Giovanni Z. e Maddalena Valgoi, tetraneto de Giovanni Antonio Z., de
Livo.
139
Confrontando as informações do Arquivo Público do
Espírito Santo, sabendo que no Arquivo Nacional do Rio de
Janeiro conforme pesquisa por nós efetuada não há listas de
imigrantes que tenham entrado por aquele porto entre julho de
1875 e fevereiro de 1876 (caso existissem estariam
extraviadas), e comparando ainda o Livro Anagrafe da
Paróquia de Cembra (Trento, Itália) que contém a árvore
genealógica dos Zanotelli descendentes de Giovanni Antonio,
de Livo (desde seu casamento com Dorotea Concherle em
17/2/1705 até aproximadamente 1850), e ainda as informações
das paróquias de Conde d‟Eu e de Encantado bem como do
Arquivo Histórico do RS, pode-se concluir:
Giovanni Gasparo Zanotelli84
e Margherita Savoi
tiveram 6 filhos: Giovanni (casado com Marianna Menegatti),
Antonio (casado com Maria Toniolli), Francesco (casado com
Domenica Eccli), Paolo (casado com Teresa Nicolodi),
Catterina (casada com Nicolodi), Maddalena (casada com
Ferrazza). Migraram para o Brasil, com certeza, as famílias de
Paolo, Francesco e Giovanni. Paolo e Giovanni85
foram para o
Espírito Santo e Francesco para o Rio Grande do Sul.
84
Giovanni Gasparo Zanotelli era filho de Giovanni Paolo Z. e Maria
Maddalena Cembran, neto de Vigilio Z. e Maria Maddalena Nardin, bisneto
de Giovanni Antonio Z., de Livo, Val di Non. 85
Não há registro da entrada de Giovanni no Brasil. Constam, isto sim, a
esposa dele Marianna e os filhos. Provavelmente Marianna veio viúva,
acompanhando os filhos e o cunhado Paolo.
140
Agostino Zanotelli86
, casado com Filomena Furlan
migrou para Sta. Leopoldina no Espírito Santo em janeiro de
1876, com os filhos Fortunato, Battista, Maria, Giovanni e
Emmanuele, como consta acima.
Giuseppe Zanotelli87
, com suas irmãs Maria (casada
com Brundel) e Rosa (casada com Fortunato Sandri), casado
com Rosa Nicolodi e com os filhos Giuseppe e Theresa migrou
para a colônia Conde d‟Eu (RS), provavelmente junto com
Francesco Z. em 1875. No Brasil, Giuseppe, filho, casou com
Rachelle Pressi. Rosa (sobrinha, nascida aqui), casou com
Manoel Fronchetti em Conde d‟Eu88
. Rosa e Fortunato Sandri,
em 10/10/1882, batisaram uma filha de nome Carolina em
Conde d‟Eu sendo padrinhos: Jacintho Ferreira e Maria
86
Agostino é filho de Girólamo Zanotelli e Maria Daldin, neto de Antonio
Z. e Maria Maddalena Nicolodi. bisneto de Cristóforo Z. e Maddalena
Nicolodi, trineto de Giovanni Antonio Zanotelli, de Livo. 87
Giuseppe Zanotelli é filho de Cristano Z. e Orsola Nardon, neto de Nicolò
Z. e Teresa Bazzanella, bisneto de Cristoforo Z. e Maddalena Nicolodi,
trineto de Giovanni Antonio Z., de Livo. No Livro 312, pg. 110 do
Arquivo Histórico de Porto Alegre, família de n.726 consta: n.3509
Zanotelli, Giuseppe, casado, italiano, Lote 6N, Conde d‟Eu, Linha Figueira
de Mello. 448.000 m2, 2 Réis à braça quadrada (4,84m2). Débito 200$000
réis. 20%= 40$000. Pelo adiantamento 1:081$380. Total: 1:321$380 réis.
Título provisório de 9/1/1884 Bom pg 37. N.3510: casado com Roza
(italiana) e filhos: n.3511 Roza (italiana), n.3512 Giuseppe (italiano),
n.3513 Theresa (brasileira). No Livro SA 086 consta Giuseppe Zanotelli,
com lote na Linha Figueira de Mello, ala norte. (A ala norte era vizinha à
Linha Costa Real). 88
Rosa e Manoel casaram em 18/9/1886 Cf Livro 1 Casamentos pg 42v. da
Freguesia de S.Pedro de Conde d‟Eu.
141
Zanotelli (provavelmente irmã de Rosa).89
Em 17/1/1889
faleceu Pia filha de Rosa e Manoel, de vermes, com um ano e
meio de idade90
Giacomo Zanotelli , casado com Maria Devilli, pai de
José Z. casado com Augusta Nogarol, migrou para o Espírito
Santo provavelmente em 1876. Em 1892 adquiria
definitivamente um lote na Seção Virgínia, município de
Anchieta. Como os lotes das colônias imperiais, como era o
caso da Santa Leopoldina, eram comprados com 5 ou 10 anos
ou mais de prazo, conclui-se que ele estaria no Espírito Santo
antes de 1877.
Gaetano Zanotelli91
, casado com Maria Santuari
migrou para o Brasil em 1876, constante da Lista de imigrantes
do navio Ville de Santos como Zanitelli, com 27 anos,
católico, lavrador. Depois do Rio de Janeiro não se tem notícia.
Vicenzo Zanotelli consta da lista de imigrantes no
navio Ville de Santos que atracou no Rio de Janeiro em
89
Giuseppe (José), nascido em 27/12/1837 obteve o lote n.6N da Linha
Figueira de Mello, Conde d‟Eu, com título provisório em 9/1/1884 com
484.000m2 cf. Livro 312 do Arquivo Histórico de Porto Alegre. O
casamento da filha Rosa com Manoel Fronchetti cf. Livro 1
Casamentos de Conde d‟Eu pg 42 v. Rosa e Fortunato são naturais de
Faedo, distrito de Lavis, Província de Trento cf Livro 2 Batismos
Conde d‟Eu pg 50v. 90
Livro 1 Óbitos, pg. 29 de Conde d‟Eu. 91
Gaetano Zanotelli, é filho de Nicolò Z. e Maria Bonfant, neto de
Nicolò Z. e Teresa Bazzanella, bisneto de Cristóforo Z. e Maddalena
Nicolodi, trineto de Giovanni Antonio Z., de Livo.
142
16/7/1875, (como Zanetelli), tendo 29 anos, casado com
Orsola (com 29 anos) e com uma filha Beniamina de 2 anos de
idade. Tirolês, agricultor, casado, católico. Não consta da
árvore genealógica de Cembra. É provável que provenha de
Livo, de onde são originários os Zanotelli.
Maria Zanotelli92
, casada com Giovanni Pelz, migrou
para Conde d‟Eu, provavelmente em 1875. Ambos constam
como padrinhos de casamento em Conde d‟Eu. Retornaram a
Cembra pois lá está seu túmulo, conforme pudemos constatar.
Michele Zanotelli casado com Giovanni Segat por
volta de 1850, migrou para a Colônia Conde d‟Eu em 1876,
com a filha Orsola Zanotelli casada com Pedro Groff (falecido
em 24/4/1888 de varíola cf Livro 1 de Óbitos de Conde d‟Eu
pg. 27).Viúva, Orsola casou com João Pedro Ghisleni em
25.6.1888 (cf.Livro 1 Casamentos de Conde d‟Eu pg 61).
Magdalena Zanotelli, filha de Giuseppe (José)
Zanotelli e Thereza Galio, casada com Antonio Scomazzon,
faleceu em Conde d‟Eu, de inflamação uterina, com 41 anos de
idade, em 23/6/189393
Fortunato Zanotelli, casado com Rosa Zanotelli,
natural de Faedo, Trento, batisam em 28/9/1885, na Linha
92
Maria Z. é filha de Giovanni Z. e Marianna Lorenzi, neta de Antonio
Z. e Domenica Marchiodi, bisneta de Giovanni Z. e Teresa Nardelli,
trineta de Giovanni Z. e Maddalena Valgoi, tetraneta de Giovanni
Antonio Z., de Livo. 93
Livro 1 Óbitos, Conde d‟Eu pg 38.Não há outras notícias.
143
Figueira de Mello, Conde d‟Eu, o filho Zavério Sandro
Zanotelli nascido em 16\8\188594
.
Uma conclusão que se impõe é a de que a quase
totalidade dos Zanotelli, hoje no Brasil, descende de Giovanni
Antonio Zanotelli e Dorotea Concherle, sendo que, destes, a
maioria absoluta descende de Giovanni Gasparo Zanotelli
casado com Margherita Savoi e seus filhos. Deles descendem
cerca de 10.000 pessoas esparramadas por todos os Estados do
Brasil. Em todas as capitais dos Estados brasileiros há
Zanotelli.
A árvore genealógica que segue procura ordenar o
enraizamento de cada Zanotelli no tronco comum ( até onde
nos foi possível) que vai até Giovanni Antonio Zanotelli, que,
por volta do ano de 1683, saiu de Livo, Val di Non, e foi para
Cembra residir com seu tio que era sacerdote. Em Cembra, aos
17 dias de fevereiro de 1705 casou com Dorotea Concherle, de
Faver.
Francesco Zanotelli95
, filho de Giovanni Gasparo e
irmão de Paolo e Giovanni (que migraram para o Espírito
94
Provavelmente Fortunato seja filho de Agostino Zanotelli, que, em
1875 migrou para o Espírito Santo. Cf. Livro 1 de Batisados de Conde
d‟Eu, pg. 70 v. Após não se tem notícia. 95
Às pgs. 33 e 33b do Livro de Batisados da Paróquia de Cembra
(Trento), consta: Francesco Vigilio Zanotelli natural de Fadana -
Cembra - nasc. 29.1.1826 às 8 horas, batisado em 29.1.1826 n. 227,
sendo sua ama Barbosa Macabran, religião católica, sendo filho de
Gasparo Zanotelli e neto de Paolo Zanotelli e Maddalena Cembran,
144
Santo como acima dissemos) era casado com Domenica Eccli,
em Cembra, em 31/05/1851. O casal teve 6 filhos: Catterina
(nascida em 12/05/1854 e casada com Angelo Zanol em
14/02/1874 e falecida em fins de 1874, sem filhos), Angela
(nascida em 27/12/1863 e falecida em 03/10/1865), Maria
(nascida em 05/07/1867 e falecida em abril de 1869),
Giovanna (nascida em 05/07/1869 e falecida menina em
Cembra), Giuseppe (nascido em 18/02/1870 e falecido em
11/02/1871) e Narciso (nascido em 07/09/1857. Em 1875,
tendo perdido 5 dos 6 filhos, Francisco resolve emigrar com o
único filho que lhe restava, Narciso. A causa mortis dos filhos
não a sabemos, mas é provável que se vincule à pelagra.
Obtido o passaporte azul de número 5.395, em Trento
(distrito do Tirol, do Império austrohúngaro), em 29 de
outubro de 1875, data em que consta a renúncia à cidadania
austríaca e nele constando Domenica Eccli como esposa e
Narciso(com 18 anos) como filho, Francisco(com 49 anos de
idade), que era proprietário de pequena fração de terra (como
seus irmãos), deixa seus poucos haveres e empreende a viagem
da emigração.
que era nascido e domiciliado em Fadana. A mãe é Margarita di
Pietro Savoj filha de Catterina Zanetin, nascida em Faver e
domiciliada em Fadana. O Pároco cooperador: P. Antonio Battista.
Padrinhos: Vigilio Zanotelli e Domenica Dicento Zanotelli.
Condições: “possidente”(proprietário).
145
Nos primeiros dias de novembro desce de Trento a
Verona de trem. Ali pernoita como faziam os emigrantes
trentinos. No dia seguinte segue de trem até Milão, dali passa a
fronteira da França, vai a Modene, dali a Paris e dali ao porto
de Le Havre. Como os embarques de passageiros que
migravam dentro do contrato de Caetano Pinto sempre
aconteciam nos dias primeiro e quinze de cada mês, é provável
que Francesco e sua família embarcaram no dia 15 de
novembro de 1875, no navio a vapor francês Rivadávia96
. No
dia 10 de dezembro já estão no Rio de Janeiro, como consta no
passaporte, pelo visto da polícia do Rio, assinado por Macedo.
2.Do Rio de Janeiro para Porto Alegre
No Rio de Janeiro, em 1875, infestado de febre
amarela, os imigrantes devem ter tido curta permanência na
Ilha das Flores, seguindo após para o Rio Grande do Sul. Do
Rio de Janeiro, os navios aportavam em Santos e depois em
96
Caetano Pinto preferia que os emigrantes do norte da Itália e Tirol fossem
embarcados em navios franceses porque a legislação da França exigia que
os navios fossem acompanhados por médico. Esta exigência não havia nos
portos italianos de Gênova, por exemplo. Por outro lado os navios franceses
eram a vapor, enquanto os italianos eram, em sua maioria, a vela. Por outro
lado o vice-cônsul do Brasil em Marselha, amigo de Caetano Pinto
favorecia o embarque pelos portos da França.
146
Rio Grande. Foi aí que os navios em que vinham Francesco e
seu irmão Paolo, foram separados por ordem das autoridades
brasileiras: Paolo foi para o Espírito Santo e Francesco para o
Rio Grande do Sul.
Rio de Janeiro 1905 – Bucelli p.4
Rio de Janeiro, 1905, Ilha Fiscal – Alfândega – Bucelli p.5
148
Panorama de Porto Alegre - 1905 - (Buccelli 65)
Porto Alegre – Intendência municipal - Bucelli, 1905, p 75
149
Porto Alegre – 1905 R. Mal. Floriano – Bucelli p. 125
Porto Alegre –Estação do trem – Bucelli – 1905, p 126
150
Porto Alegre - Praça da Sta. Casa - 1905 - (Buccelli 124)
Entrando por Rio Grande, permanecendo em Porto
Alegre menos de uma semana, dirigem-se logo em pequenas
embarcações a vapor até São Sebastião do Caí.
Francesco Zanotelli, com sua esposa Domenica e seu
filho Narciso, e certamente dois primos Giuseppe e Rosa,
devem ter chegado em Porto Alegre entre os dias 15 e 20 de
dezembro de 1875. Na véspera de Natal estavam chegando em
Conde d‟Eu.
151
3.De Porto Alegre a Conde d’Eu (Garibaldi)
O rio Caí (Buccelli, 207).
O Rio Caí, até o início do Século XX foi a principal
via de comunicação entre Porto Alegre e as Colônias Italianas,
bem como para toda a vasta colônia alemã.
Por ele os imigrantes iam até S. João do Montenegro,
daí até Maratá e daí, pela estrada geral que ia até o rio das
Antas, subiam para Conde d‟Eu. A estrada geral ia depois até o
rio das Antas e depois para Vacaria.
152
O porto de S. João de Montenegro
Vista geral de São Sebastião do Caí em 1905, Buccelli (214)
De vapor até S. Sebastião do Caí, daí a Montenegro
(paróquia que abrangerá todas as colônias de Garibaldi, Bento
e Caxias e,por isso, ai estarão inscritos os nascimentos,
casamentos, falecimentos dos imigrantes e que desapareceram
com um incêndio). Por isso a dificuldade de os filhos dos
imigrantes comprovarem nascimentos, casamentos, óbitos que,
na época eram todos registrados na secretaria da Paróquia.
153
Daí os colonos tomam a estrada (ou picada) que de
Maratá vai até o Rio das Antas, (a estrada dos tropeiros,) a pé,
sobem a Serra até a colônia Conde d‟Eu, onde chegam às
vésperas do Natal de 187597
.
Enquanto isso, Paolo, suas irmãs e primos chegarão ao
destino de San ta Teresa no Espírito Santo no dia 6 de janeiro
de 1876.
Maratá - (Buccelli, 1905, pg. 210)
Maratá era o início da estrada ou picada que os colonos
faziam a pé. Era a estrada dos tropeiros que passava por Conde
97
É tradição oral entre os mais antigos Zanotelli, filhos de Narciso,
que a data de chegada a Conde d‟Eu (hoje Garibaldi) foi a de 24 de
dezembro de 1875.
154
d‟Eu, Dona Isabela, ultrapassava o Rio das Antas e ia para
Lagoa Vermelha e Vacaria. Era conhecida como a Estrada
Geral.
Em Conde d‟Eu, no barracão coberto de palha, então
preparado para abrigar os recém chegados, permanecem
poucos . e são endereçados...para a Estrada Geral, Estrada
Geral,
Conde d‟Eu – Garibaldi – 1905 – Bucelli,
Conde d‟Eu – Garibaldi – 1905 – Bucelli
155
Linha Figueira de Mello, ao lote que escolheram ou lhes foi
destinado98
.
Garibaldi, 1905 – Bucelli – p 263
98
No Arquivo Histórico de Porto Alegre, Livro 312, pg. 13, sob o título
Estrada Geral Conde d‟Eu, Primeira Secção,consta: Família n. 79:
Zanottelli. Registro n. 407: Zanottelli Narcizo, casado, católico, austríaco,
lote 1/449, área 116.449m2, preço da braça quadrada (4,84m2)= 3 Réis.
Valor do lote 69$204. 20% do art. 6 do Regulamento de 19.1.1867 =
13$840. Pelos adiantamentos feitos = 125$525. Total: 208$569. Data da
entrega do título provisório 8.2.1884. ½ da dívida de Giuseppe Batistoni.
Bom pg 149. N. 408: Thereza (casada) austríaca Filhos: (409) Maria
(brasileira), (410) Amália, (411) Narciza, (412) Carolina, (413) Domenica
(austríaca).
156
Avenida Júlio de Castilhos, a principal de Garibaldi em 1878 (Koff, 77)
Com efeito, Narciso, em 1884 já casado com Theresa
Telk99
, com ela já tem 4 filhas: Maria, Amália, Narciza e
Carolina cf. Livro312 do Arquivo Histórico de Porto Alegre.
Com Narciso também aparece Domenica (sua mãe). Francesco
já não aparece. Depois disso não se tem notícia de Francesco.
Presume-se que tenha falecido entre 1876 e 1884.
99
Theresa Telk era filha de Bartholo Telk e de Magdalena Job, tiroleses, que
migraram para Conde d‟Eu em 1875 (provavelmente junto com Francesco
Zanotelli). Theresa casou com Narciso ao final de 1876. Bartholo faleceu
em Garibaldi cf. Livro de Óbitos de Conde d‟Eu pg. 23v: “No dia
30/8/1887 faleceu de plethora com 76 anos de idade Bartholomeu Telk,
casado com Magdalena Job, tirolês, lavrador, confessou e comungou há
pouco. Foi encomendado e enterrado por mim neste cemitério em 31 do
mesmo. E para constar fiz este que assino. P. B. Tiecker.”
157
O casamento de Narciso deveu ser justificada
judicialmente no juizado cível de Caxias do Sul em 2009, para
efeitos de reconhecimento da cidadania italiana.
- Troncos para a serraria - 1905 - (Buccelli 278).
Desmatar para abrir clareiras para a agricultura. O
pinheiro (araucária) em seus belos toros, são arrastados à
serraria: tábuas, tabuinhas para o telhado...
Derrubar o mato a machado, construir uma pequena
casa, e preparar a semeadura para a primeira colheita era a
tarefa primordial. A casa ficava longe do mato para evitar
158
visitas incômodas de animais ferozes e criar galinhas, porcos
que não fossem devorados.
Garibaldi Nos primeiros anos da colonização os troncos
eram serrados no mato. Levanta-se o tronco e dois puxavam a
serra: um em cima do tronco e o outro em baixo. O que serrava
em baixo recebia o pó e a serragem no rosto. Incômodo. Por
isso se diz “serrar de cima” para quem está bem.
As tradições de caça ao coelho e à raposa nas
montanhas da Itália vieram com os imigrantes como tradição,
como esporte e como necessidade. Os rios piscosos, as matas
com abundante caça (pombas, jacus, nhambus, e, depois
qualquer pássaro, veados, pacas, cotias, antas, porcos do
mato...) traziam para a mesa a carne indispensável à dieta. Os
imigrantes ficaram célebres por suas caçadas e pescarias.
Em criança, ouvíamos nossos pais e avós narrarem as
passarinhadas com polenta como a festa mais significativa da
glutoneria italiana. Não era apenas o paladar aguçado pelos
pássaros selvagens, parecia mais uma vingança contra séculos
de pelagra naqueles vales do norte italiano, por falta de
proteínas. Vingança, festa, aventura: um prato cheio.
159
Caçar o veado: aventura, diversão, alimento. Buccelli p 280 – 1905.
A colônia Conde d‟Eu criada em 1870, recebeu, em
julho daquele ano 36 prussianos (15 casados, 8 crianças, 12
solteiros, e um viúvo). Em 14 de março de 1871 “não havia A
colônia Conde d‟Eu criada em 1870, recebeu, em julho
daquele ano 36 prussianos (15 casados, 8 crianças, 12 solteiros,
e um viúvo). Em 14 de março de 1871 “não havia mais de
trinta e sete lotes ocupados em Conde d‟Eu e nenhum em D.
Isabel”i100
. mais de trinta e sete lotes ocupados em Conde
d‟Eu e nenhum em D. Isabel”101
.
100
KOFF, Elenita, Os Primórdios... pg . 43 101
KOFF, Elenita, Os Primórdios... pg . 43
160
Garibaldi. O colono e seu parreiral (Buccelli 282)
“No ano de 1872, Conde d‟Eu tinha medido 80 prazos
e já ocupados cinqüenta e quatro. O Governo provincial
mandou construir, com urgência, um barracão na freguesia de
S. João de Montenegro e outro no porto Guimarães, para
abrigar os colonos que se dirigem ao estabelecimento de Nova
Petrópolis e Conde d‟Eu”102
. Em 27.08.1875 chegam os
primeiros italianos junto com um grupo de franceses. Em 24
de dezembro de 1875 chega um grupo de italianos e trentinos,
como refere Elenita Koff, e entre eles está a família de
Francesco Zanotelli e outros.
102
KOFF, Elenita, Os Primórdios...pg 47.
161
Em 1875 a
Colônia Conde d‟Eu recebeu melhores cuidados do governo
provincial. Foi contratado o médico Dr. José Maria Pereira
Monteiro, foi construído um galpão mais amplo, e o governo
provincial contratou o armazém de José Luiz dos Santos para
fornecer “alimentos de boa qualidade ao preço de 690 réis cada
ração diária”103
. Lembremos que o salário pago por dia de
trabalho na construção de estradas era de 1.500 réis.
Em 1876 os colonos de Figueira de Melo (onde moram
os Zanotelli) “requerem a nomeação de uma parteira,
indicando para tal cargo sua compatrícia Gioconda
Manica”104
.Neste mesmo ano o Presidente da Província
anuncia a urgência de construir uma estrada na Linha Figueira
de Melo e um galpão para receber colonos. “A linha Figueira
de Melo foi o primeiro pique transversal da colônia Conde
d‟Eu onde se situavam os lotes destes italianos aqui
chegados”105
De Garibaldi, os Zanotelli, por volta de 1882 quando
foram abertas as colônias de Encantado, então distrito de
Estrela, desceram por Santa Teresa e Roca Sales, para as terras
novas. Para isso deviam atravessar o Rio das Antas e, mais
103
KOFF, Elenita, Os Primórdios...pg. 57. 104
KOFF, Elenita, Os Primórdios...pg. 57. 105
KOFF, Elenita, Os Primórdios...pg. 58.
162
abaixo, o Rio Taquari. O vale do Taquari é considerado até
hoje entre os cinco vales mais férteis do mundo.
A planície, a água, possibilidade de aquisição de glebas
mais amplas, atraem também os Zanotelli.
Garibaldi. Casa típica de madeira, coberta de madeira (scandole)(Buccelli
279)
4. De Garibaldi a Encantado.
Ir para a Colônia nova de Encantado, distrito de
Estrela, e conseguir uma gleba bem maior era uma nova
aventura desses aventureiros trentinos.
163
Balsa e canoa na travessia do Rio Taquari 1905
Rio Taquari - canoas e cachoeiras - 1905 - (Buccelli 290). Nas partes rasas,
no verão era possível atravessá-lo comodamente a cavalo.
164
Mapa dividindo a colônia Conde d‟Eu. Aí aparece a
linha Figueira de Mello, onde constava a gleba comprada por
Francesco e sua família em 1875.
Como se pode ver, a colônia não tem um centro ao
redor do qual as terras cultiváveis poderiam estar. O
quadriculado mostra que a vizinhança era essencial para a
sobrevivência. Quando nascerem a capela, a escola, o
cemitério e um pequeno comércio, estes deverão localizar-se
segundo o interesse de alguns.
Na Europa, especialmente ao norte, e mais ainda em
Cembra, Livo... as moradias ficam todas juntas na vila e as
terras de cada agricultor ao redor da vila. A vila, por isso
mesmo, pode ter médico, igreja, escola, hospital, comércio,
livraria, entretenimento. A perspectiva de colonização aqui foi
165
míope neste sentido. Apesar disso, os imigrantes lutarão para
manter um sistema de ajuda mútua e de solidariedade...
Mapas disponíveis no pequeno museu adjunto à Igreja de Garibaldi.
Pouco mais de 7 anos depois do início da imigração em
massa de italianos e trentinos para as colônias de Conde
d‟Eu(Garibaldi), D. Isabela (Bento Gonçalves) e Fundos de
Dona Palmira (depois Campo dos Bugres e depois Caxias do
Sul), ocupados os lotes, a colonização espraiou-se para além
do Rio das Antas e do Rio Taquari.
166
O Taquari – e suas canoas
Em 1882, nas terras que o governo imperial lhe doara,
José Francisco dos Santos Pinto ( e seus filhos Margarida,
Francisco, Anselmo e Francisca) abre as colônias particulares
do Taquari e nelas a de Encantado.
As terras daquele oficial do Exército Imperial
abrangiam os dois lados do Rio Taquari, desde Estrela e a
Colônia Teotônia até o Rio Guaporé ( Muçum) e a Cordilheira,
fazendo divisa com a Colônia Conde d‟Eu e o Rio Forqueta:
quase toda a extensão dos posteriores municípios de Roca
Sales, Arroio do Meio e de Encantado. Nessas terras foram
abertas as colônias das Palmas, do Jacaré ( já em 1878,
implantadas pela empresa Bastos e Cia. em 1882), esta última
167
abrangendo desde Lajeadinho, os arredores atuais da cidade de
Encantado, Linha Argola, Linha Garibaldi, Jacarezinho,
Jacaré, Linha N.Sra.Auxiliadora, Nova Bréscia, e a das Palmas
abrangendo Arroio do Meio, Marques de Souza e Capitão.
O Taquari e suas fertilíssimas varzeas
Várzeas férteis ao invés das terras poucas, pedregosas e montanhosas do
Trentino
168
As várzeas do rio Taquari são tidas, até hoje, como
entre as três mais férteis do mundo. O senso agrícola dos
Zanotelli apontava para aquelas novas terras.
O vale do Taquari (Tebicuari) foi povoado por tempos
imemoriais especialmente pelos índios Ibiaçaguaras (à margem
direita onde está Encantado) e Ibiaiaras (margem esquerda). Os
primeiros contatos foram feitos pelos Padres Jesuítas (Pe.
Francisco Ximenes e P. João Suarez) espanhóis que, em 1632
fundaram a redução de Santa Teresa, perto de Passo Fundo.
Os índios Ibiaiaras eram hostis aos jesuítas. Eram
amigos dos “pombeiros” (emissários paulistas que aliciavam e
aprisionavam índios para vender aos bandeirantes).
Confiramos as informações de Jorge E. Kafruni, in FERRI,
Gino. Encantado Sua Terra e Sua Gente, 1985 pg. 26 e
seguintes: “Os padres Francisco Ximenes e João Suarez,
acompanhados por 200 índios tapejaras (vaqueanos) e do
cacique Guaré, com 34 canoas, iniciaram a exploração da
IBIA, região dos hostis índios IBIAIARAS, muito amigos dos
pombeiros ou mamelucos paulistas, tendo partido da redução
de Santa Teresa a três de janeiro de 1635.
Atravessaram, a pé, durante nove dias a região do
Caapi (entre Casca e Nova Prata), embarcando, então em
canoas, por um riacho e assim andaram meio dia, chegando até
ao Tebicuari (Taquari), pelo qual navegaram três dias, até a
169
altura do atual distrito de Corvo, em Estrela, onde destruíram
um “Curral de Escravos”, ali existente, do índio Parapoti, o
qual os vendia aos paulistas. De regresso a Santa Teresa,
entraram pelo Mboapari (Antas), em cujas margens
abandonaram as canoas, perfazendo, a pé, o restante do
percurso, gastando mais cinco dias”...Sobre a terra dizia o Pe.
Ximenes : “La tierra es fragosíssima, sus campinos, infernales.
No ai campo onde tener cuatro vacas”.
Ao encontrar-se com Parapoti “um dos mais afamados
mercadores, em toda região de Ibia, amigo incondicional dos
bandeirantes, dos quais era preposto e maioral... e que entregou
toda a sua nação... este grandíssimo velhaco... diz Ximenes:
“Fiz-lhe queimar a casa, destruir quanto pude a comida, para
que se vá dali”.
Parapoti incita os índios para matarem os jesuítas. O
Pe. Cristóvão de Mendonza (que introduziu o gado no RS)
sabendo que Raposo Tavares ( o destruidor das reduções de
Guairá, no Paraná) se avizinhava com uma bandeira para
aprisionar índios, vai ao Caaguá (S. Francisco de Paula) para
impedir. É morto pelos índios Ibiaiaras em Piaí, perto de
Caxias do Sul, em 26 de abril de 1635.
Em 1636 Raposo Tavares chega às margens do
Taquari: “Tendo sob suas ordens 150 portugueses (mamelucos
sul-americanos) e 1500 índios tupis não bem mansos, entrou
170
no Estado através do rio Pearas, (Pelotas), seguindo por Caamo
(Vacaria), Caaguá (cima da serra). Deste ponto, na serra do
nordeste, tomou uma variante do caminho que deflexionava
para Oeste, atravessando o rio Ibia, entrando pela Taiaçuapé
(caminho do porco do mato - margem esquerda do rio
Taquari), local este onde se encontravam as paliçadas do índio
Parapoti, na altura do distrito de Corvo, no município de
Estrela.
A partir de Caamo (Vacaria), onde havia aldeias
povoadas de índios, começou a razia bandeirante e se verificou
a quase completa escravização da povoação indígena. Daí,
sujeitando as nações indígenas e aumentando a leva com
muitos outros que agregavam a si, pelo caminho, por vontade
ou por força, levando-os para as paliçadas de Corvo, onde
eram vigiados e aguardavam para serem recambiados para São
Paulo”106
via Laguna, deslocamento que até o mar demorava 5
dias apenas. Raposo Tavares ficou 11 meses na região,
inclusive em Encantado e, depois de atacar em 2 de dezembro
de 1636 as reduções de Jesus Maria e São Cristóbal perto de
Rio Pardo, retorna a S. Paulo com a presa humana de
aproximadamente 25.000 índios.
Em 1637 virá a Bandeira de Francisco Bueno. Ele morre nos
sertões do Taquari, como também morrem Gaspar Fernandes e
106
FERRI, Encantado pg. 29-30.
171
João e Manoel Preto. A Bandeira se divide entre Jerônimo
Bueno (que atacará as reduções do rio Ijuí) e André Fernandes
que atacará a redução de Santa Teresa em Passo Fundo.
Encantado, portanto, e o Alto Taquari, trazem, desde
cedo, as marcas do barbarismo estúpido da escravização
praticadas por esses fascínoras que algum livro de História
ainda pretende transformar em heróis.
Estas terras estavam subordinadas, a partir de
19/2/1737, à Comandância do Presídio do Rio Grande de São
Pedro (fundado nesta data); a partir de 27/4/1809, ao município
de Rio Pardo (um dos 4 municípios em que se dividia a
Capitania de São Pedro do RS); a partir de 25/10/1831 ao
então instalado município de Triunfo desmembrado de Rio
Pardo (da, desde 1824, Província de Rio Grande de São Pedro
do Sul); a partir de 4/8/1849 ao município de Taquari
desmembrado de Triunfo; a partir de 21/2/1882 ao município
de Estrela (desmembrado de Taquari) ficando então com
Lajeado e Guaporé como distrito de Estrela. Encantado se
emancipará de Lajeado em 1915 e se desmembrará em 8 novos
municípios como se pode ver na tabela das colônias acima
referida.
172
Estrela - Moenda para expremer cana de açúcar e fazer acúcar e melados.
Os imigrantes possuíam um por família. ( Il torcio).
As famílias italianas e trentinas organizaram aqui um
modo auto-suficiente de produção. Produzia tudo ou quase
tudo o que consumia e consumia quase tudo o que produzia.
Assim a carne bovina: o colono entregava uma rês de abate
para o açougueiro e retirava o peso da carne aos poucos. O
açougueiro não comprava, intermediava apenas.
Estrela - Igreja e Prefeitura - 1905 - Buccelli 296)
173
Em 14/2/1890 Encantado é constituído como um dos
Distritos Policiais de Santo Antônio de Estrela tendo como
divisas: “pela frente o Rio Taquari, por um dos lados os arroios
Forqueta e Fão, até a divisa de Soledade, e, pelo outro lado o
rio Guaporé, até encontrar a divisa do município de Passo
Fundo”107
; em 26/1/1891 Lageado se emancipa de Estrela e
pela lei n.1 de 2/12/1891 Encantado se constitui o segundo
distrito incluindo Guaporé que mais tarde se transformará em
3o. distrito; em 31 de março de 1915, pelo decreto n. 2133
Encantado é emancipado, abrangendo o 2o. e 4o. distritos de
Lajeado e o 9o. de Soledade. Abrangia, pois, o território do
antigo distrito de Encantado, o de Anta Gorda e o de
Itapuca108
, com 1.239 km2, e com uma população de 18.800
habitantes109
Para os imigrantes que, em Conde d‟Eu, haviam
recebido lotes de mais difícil acesso, montanhosos e de “muita
pedra”, a abertura de novas colônias para além do rio das
Antas e Taquari foi uma nova esperança. Os vales dos rios
Taquari, Antas, Guaporé, e dos arroios Jacaré, Jacarezinho,
Forqueta, Fão de uma fertilidade espantosa, montanhas menos
abruptas e maior tamanho dos lotes atraíam os imigrantes,
107
FERRI, 1985, pg 48-49. 108
FERRI, 1985, pg. 67. 109
FERRI, 1985, pg. 58.
174
muito embora o preço fosse de 8 Réis e não de 3 Réis a braça
quadrada como em Conde d‟Eu110
.
Os primeiros colonos chegam em Encantado em janeiro
de 1882. Entre eles as famílias de Giovanni Baptista Lucca e
de Antonio Bratti. “Nos meses seguintes chegavam outras
famílias de imigrantes, vindas diretamente da Itália ou dos
núcleos já colonizados da região italiana, especialmente de
Conde d‟Eu (Garibaldi), Dona Isabel (Bento Gonçalves),
Campo dos Bugres (Caxias do Sul), ou ainda de Farroupilha,
Nova Trento e outras”111
. Assim chegavam as famílias
Fontana, Secchi, Scartezini, Giordani, Pretto, Ferri, Peretti, De
Conto, Marini, Sana, Barzotto, De Marco, Rossetto, Lanner,
Lorenzi, Pasini, Fumagalli, Radaelli, Bonfanti, Castoldi,
Scarello, Dal Monte, Dal Pasquale, Berté, Bergamaschi,
Sangalli, Mottin, Zuchetti, Luzzi, Nardin, Dalla Vecchia,
Buffon, Bigliardi, Ecker, De Bórtoli, Daldon, Zanotelli e
outras.112
Descendo pela picada que levava para Conventos
Vermelhos (Roca Sales), a família de Narciso Zanotelli
atravessa o Taquari e se instala na colônia Jacaré, na linha
Jacarezinho, à beira da estrada que, de Encantado conduz a
Nova Bréscia, num lote de 120.000 braças quadradas ou 58
110
FERRI, 1985, pg. 35. 111
FERRI, 1985, pg 44. 112
Cf FERRI,1985, pg.44.
175
hectares, com 290 metros de largura por 2.000 metros de
comprimento, indo desde o arroio Jacarezinho até o travessão
limítrofe da linha Garibaldi, no valor de 960$000 réis. Eram
seus vizinhos para o Norte, em ordem, as famílias Bagatini,
Secchi, Possamai, Ant. Pretto, Pedarzini; para o Sul as famílias
Pezzini, Agostini, Facchini, Dalla Vecchia (Pedro e
sucessores), Pio de Conto, João Pretto. A leste, para além do
arroio Jacarezinho: Fontana, Conzatti, Pedarzini, Bianchini. A
Linha Jacarezinho ficava pois entre as Linhas Garibaldi (a
oeste) e Jacaré (a leste) com as famílias Sangalli... além da
qual estava o Rio Guaporé.
Se as famílias acima citadas chegaram em 1882, a
família de Narciso também poderia ter chegado nesse ano,
porque os lotes dessas famílias e o de Narciso eram vizinhos.
Muito embora Narciso continue a batisar os filhos em Conde
d‟Eu até 1893, era possível que residisse em Jacarezinho desde
1882. O atendimento à população de Encantado pelo pároco de
Estrela ou de Lageado era esporádico e difícil (considerando
que o acesso necessitava a travessia por barcas precárias ou
inexistentes) e os Zanotelli eram decididamente católicos para
descurar o dever de batisar os filhos logo após o nascimento.
Em 1888 é construída a primeira capela, mas só em 1896 é
176
instalado o curato de São Pedro de Encantado sendo seu
primeiro cura o Pe. Domenico Vicentini113
.
Por outro lado os descendentes Zanotelli de
Jacarezinho guardam na memória o relato dos antepassados de
que “seguidamente os familiares de Narciso iam de
Jacarezinho a Garibaldi e Figueira de Mello, atravessando o
Rio Taquari, num local, quase em frente a Encantado onde as
águas se tornavam rasas, especialmente em época de seca (“no
váu”). Iam a cavalo, seguindo pela estrada ou picada que
passava por Arroio Augusta, ou pela picada que vai
diretamente de Roca Sales à linha Figueira de Mello”114
. Os
mesmos informam que o deslocamento de Narciso para
Jacarezinho aconteceu cerca de 13 anos antes do nascimento
de João Zanotelli. Isto confirmaria a data da migração
113
Da ordem de S. Carlos, fundada por D. João Batista Scalabrini, bispo de
Piacenza, para acompanhar os imigrantes, impressionado que ficara pelo
descaso a que eram atirados aquelas famílias católicas que emigravam, o
Pe. Domenico Vicentini (1847-1927) é o primeiro padre carlista que vem
ao Brasil e Encantado será o primeiro curato (1896) e depois a primeira
paróquia afeta aos carlistas no Brasil. A paróquia de S. Pedro de Encantado
acaba de celebrar 100 anos de paróquia (28 de abril de 1996). Sobre isso,
dificuldades, peripécias e ação missionária cf. FERRI, Gino, 100 anos de
História. Paróquia de S. Pedro, publicado pela paróquia de Encantado.
1996. Da lista dos fabriqueiros, no lançamento da pedra fundamental da
Igreja, em 1898, e para superar o litígio entre as capelas de S. Pedro
(construída em 1888), Santo Antão e São José que pretendiam sediar a
paróquia, constam: Antonio Bratti, Giovanni Pretto Filho, Bortolo Secchi,
Angelo Dalla Vecchia, Andrea Belló, Giovanni Pretto, Agostinho Vanzetta,
Gioachino Lanzini, Francisco Echer, Giuseppe Pederiva e Vitorio
Emanuele. 114
Informação oral de Leonel Zanotelli e irmãos.
177
Garibaldi-Jacarezinho em 1882. Contra essa hipótese os
registros de casamento de José, Francisco, Amália, Maria,
Rosina e Narciza realizados na paróquia de São Pedro de
Encantado dizendo que são naturais da Linha Figueira de
Mello.
Não é necessária, pois, a hipótese de que Narciso
tivesse comprado a terra em Jacarezinho em 1882, mas
somente transferido residência de Conde d‟Eu para lá em 1893,
tendo em vista que as terras das colônias de Encantado eram
particulares e não tinham a necessidade de serem habitadas e
implementadas dentro do prazo de 2 anos como acontecia nas
colônias provinciais ou imperiais, sob pena de serem leiloadas
para outros colonos. Narciso, pois, residiu em Conde d‟Eu
até 1882, depois deslocou-se para Encantado.
Placa comemorativa do Gemelaggio de Encantado e Valdastico em 1993.
(FERRI, Gino, Gemellagio, Sagra Editores, Porto Alegre 1996, pg. 126.
179
Encantado, Tiro de Guerra, 1917. João Telk Zanotelli é o 5o.da esquerda
ajoelhado.
Encantado - Igreja S. Pedro - 1933 - FERRI, 100 anos pg. 61.
A comemoração de 100 anos da Paróquia de São Pedro
de Encantado, muito bem traduzida na obra de Gino Ferri,
reafirmou a vinculação dela à origem carlista e à cidade irmã
de S. Pietro in Valdástico situado entre Trento e Vicenza.
180
Encantado é até hoje, um dos lugares no Rio Grande do Sul em
que há mais filhos de imigrantes trentinos v vicentinos.
Igreja de Encantado atual- Sinal imponente da cristandade.e referência
religiosa e cultural dos Zanotelli
Cap. de S. Carlos - Jacarezinho - Encantado - FERRI. 100 anos, 134
181
O nome da capela é uma homenagem aos padres
carlistas que, pioneiramente acompanharam os imigrantes
italianos no Brasil. Localizada no centro da Linha Jacarezinho,
este foi o lugar da missa semanal ou, em sua falta, do terço,
sempre cantado também pela família Zanotelli.
Em Jacarezinho, nasceram de Narciso Zanotelli e
Theresa Telk (além de Maria115
de 1878, Amália116
de 1880,
Narciza117
de 1882, Carolina118
de 1883, Felice Giacomo119
de1885, Francisco120
de 1885, Rosina121
de 1889, Camilo
Domingos122
de 1890, Leopoldina123
de 1892, Clementina
124de 1893, que provavelmente nasceram em Conde d‟Eu )
115
Maria nasceu em 12/5/1878 em Conde d‟Eu. Casou com Antonio
Agostini e foi residir em Canudos, Lageado. 116
Amália nasceu em 1880 em Conde d‟Eu, casou com Stephen Pezzini e
residiu em Jacarezinho. 117
Narcisa nasceu em 1882 em Conde d‟Eu, casou com Bettini e residiu em
Canudos, Lageado. 118
Casou com Adolfo Martini e residiu em Progresso, Lageado. 119
Felice Giacomo, cf. Livro 1 de Batisados de Conde d‟Eu, pg. 85 n. 423,
nasceu em1/4/1885 e foi batisado no dia 24/2/1886. 120
Francisco, nascido em 8/12/1885 em Conde d‟Eu e falecido em
30/9/1944 casou com Carolina Bertol e residiu em São José do Herval. 121
Rosina nasceu em 23/2/1889, foi batisada em 25/3/1889 Cf. Livro 3 de
Batisados de Conde d‟Eu, pg 22, casou com Celeste Dal Moro e residiu em
Progresso, Lageado. 122
Camilo Domingos nascido em 23/7/1890, batisado em 16/8/1890 cf.
Livro 3 de Batisados de Conde d‟Eu pg 48. 123
Leopoldina casou com João de Conti e residiu em Linha Argola,
Encantado. 124
Clementina, nasc. em 22/6/1893, batisada em 16/8/1893 cf. Livro 3 de
Batisados de Conde d‟Eu pg 80 casou com Olímpio Secchi e foi residir em
Crissiumal, RS.
182
José em 1894 e João em 5/2/1895. Na mesma casa nasceram os
filhos de João, entre eles Leonel (1917) e os filhos de Leonel:
Geni, Gino, Irma, Itelvina e Jandir que escreve este trabalho.
Dos filhos
de Narciso, portanto: João permaneceu na residência em
Jacarezinho (onde Narciso faleceu em 1904), José localizou-se
em Capitão (depois município de Arroio do Meio e agora
emancipado), Francisco foi para Relvado, Putinga e depois
para São José do Herval (então município de Soledade e hoje
emancipado)e as filhas casaram e residiram nos municípios de
Lageado, Arroio do Meio ou Encantado.
A família de José Zanotelli, filho de Cristano e neto de
Nicolò e que também residia em Figueira de Mello deslocou-se
para Santa Teresa125
(às margens do rio das Antas) e depois
para Muçum.
Outras famílias Zanotelli, dentro das colônias de
Encantado, foram depois para Putinga, Relvado, Anta Gorda,
Guaporé.
Ao final de década de 1930 ou início da de 1940
famílias Zanotelli se deslocaram de Encantado, Muçum e
arredores para Erechim (Paiol Grande), Marcelino Ramos e
para Santa Catarina e Paraná.
125
Segundo informações da filha Inês (Agnese).
183
Itelvina filha de Leonel Zanotelli, no Pinhão, Aratiba, Erechim.
Hoje, em Xapecó, SC e arredores bem como em
Medianeira, PR e cidades vizinhas há dezenas de famílias
Zanotelli, especialmente descendentes de José Zanotelli filho
de Cristano bem como de Constante Zanotelli filho de
Domênico e Teresa Zanotelli.
Constante representa concretamente a angústia da
família trentina cujos filhos eram ceifados pelas intermináveis
guerras do Império Austro-Húngaro a que pertencia o
Trentino. Não bastassem as dificuldades da estrutura
econômica acima analisada, o serviço militar dos 18 aos 30
anos fazia com que os melhores braços de trabalho morressem
nas guerras ficando a família desamparada. Por isso o esforço
184
para migrar antes que os filhos completassem 18 anos.
Constante veio sozinho. Tinha 18 anos. Quase clandestino.
Instigado pela família que não o queria morto nas guerras.
Enquanto isso, no Espírito Santo dois núcleos fortes
de famílias Zanotelli foram crescendo: Um com o centro em
Santa Teresa ( e dali para o Baixo Guandu, Colatina, Linhares,
e Nova Venecia, São Gabriel da Palha) e o outro com o centro
nas colônias de Rio Novo, Cachoeiro do Itapemerim, Iconha.
Ambos os grupos foram aos poucos se deslocando para Vila
Velha e Vitória.
Debulhando feijão a cavalo. Sobre a lona o feijão que é pisoteado pelos
cavalos. (Buccelli, 293) Depois de bem pisoteado, o feijão era revolvido
para ser pisado no outro lado. Ao final sacudia-se a palha e o feijão com as
impuresas era limpo com uma concha de madeira lançando-se o feijão
contra o vento para outra lona.
185
Desses núcleos iniciais: Colônia de Conde d‟Eu
(Garibaldi), das Colônias Santa Leopoldina e Rio Novo no
Espírito Santo provem a maioria dos Zanotelli do Brasil. Em
Caxias do Sul (RS), outro tronco descendente de David
Zanotelli (de apelido Paroleto) mostra algumas dezenas de
descendentes também. Em São Paulo, especialmente nas
proximidades de Bauru há outro grupo de Zanotelli
(descendentes de Pedro Grava Zanotelli). Mas pode-se dizer
com certeza que todos os Zanotelli descendem de Livo, Val di
Non, Trento, Itália, e, portanto, são vinculados entre si.
187
V. TRADIÇÕES E LEMBRANÇAS
Dentre as tradições, valores e lembranças que, de certa
forma identificam as famílias Zanotelli podemos destacar:
Cantar - Os descendentes Zanotelli guardam na
memória a grata lembrança dos cantares em família. Famílias
grandes (com 10 ou mais filhos), em casas grandes, separadas
da cozinha por uma varanda ampla, onde, à noite, no verão,
todos se reuniam com um copo de vinho e/ou com o chimarrão
(no RS) e, como por encanto, nasciam as canções.
E todos cantavam: pai, mãe (às vezes o avô e a avó) os
rapazes, as moças, as crianças, num coral de 4 ou mais vozes
onde cada qual se localizava naturalmente. As harmonias,
feitas de contraltos, barítonos, tenores etc. etc. eram afinadas
ao pé do ouvido de cada um. E milagrosamente todos tinham
“voz”, todos tinham “ouvido”. E quando algum adolescente,
“trocando de voz” desafinasse, logo tinha ao lado um irmão
que, com sua própria voz lhe ensinava o retorno à harmonia.
Olhares vagos e embevecidos, como que perseguindo a voz
para que ela tivesse o caminho, a altura, o volume, o ritmo
188
perfeito. A canção era obra criativa de todos. Nela todos
tinham parte. Nela todos se soldavam, se identificavam e
cresciam.
Que canções? As canções guardadas na memória e tais
como foram guardadas na memória. Pedaços de montanhas e
vales da pátria distante trazidos pelo imigrante. Amores e
desilusões da juventude. Guerras, exércitos, napoleões,
saudades, vida bucólica, a vida e a morte...Canções religiosas,
canções galhofeiras, canções...Algumas canções mais
comumente cantadas estão em anexo.
A casa de Narciso e depois de João Zanotelli em
Jacarezinho, Encantado, tinha, em confronto no outro lado do
arroio a 800 metros de distância a casa da família Fontana.
Dispostas do mesmo modo, as casas ligadas por varandas
ofereciam, à noite um espetáculo belíssimo. A família de João
entoava a primeira estrofe de uma canção e a família Fontana
respondia com a segunda estrofe. Se a harmonia num dos lados
não fosse perfeita era objeto de brincadeiras e risos no próximo
encontro. Assim se consolidavam as amizades, as vizinhanças,
as relações.
Rezar. As famílias Zanotelli, como todos os imigrantes
do norte da Itália, rezavam muito. De manhã cedo, ao acordar,
cada qual, individualmente fazia suas orações: pai-nosso, ave-
189
Maria, orações ao anjo da guarda...e ao som do sino da capela
que marcava as 6 horas rezava-se “o anjo do Senhor anunciou
a Maria....”. O mesmo se fazia ao meio dia e às 18 horas,
sempre ao som do sino que anunciava para todo o vale as
horas, a agonia de alguém, o horário da missa ou do
“terço”...Por isso a capela e o sino eram o sinal de honra de
cada comunidade, de cada vale.
À noite, já escuro, o retorno da roça, sempre longe da
casa (1 km ou mais) era marcado pelo grupo familiar com as
orações da noite que, assim, já eram antecipadas. Uma
procissão estranha aquela: as crianças em cima da carroça
carregada de pasto e mantimentos, os adultos caminhando ao
lado da carroça e todos compenetrados, rezando. Rezando até
atingir a alameda de figueiras. Os figos maduros recendiam seu
perfume doce e todos, parando de rezar, colhiam e comiam
figos brancos, figos negros como a noite, figos doces como a
festa.
Em casa, ordenhadas as vacas, tratados os pintos, aves,
porcos, cavalos, após o banho (do arroio ou da água corrente
que, da montanha vinha até o tanque em canos improvisados
de bambus), após os canções da varanda, após a janta, vinha a
reza do terço. Se chegasse alguma visita, incorporava-se às
orações. Após as orações continuava o “filó”(serão). E o filó
190
era sempre regado com vinho no verão, e “brodo”( caldo de
galinha e muito queijo) no inverno.
Aos domingos e dias santos de guarda havia missa ou
terço na capela. Junto à capela o cemitério, a escola
comunitária, a cancha de bochas, um salão comunitário ou uma
bodega onde os homens, antes e depois do ofício religioso
jogavam “morra”, bochas, “quatrilho” em grande algazarra. As
mulheres com suas sombrinhas ou guarda-chuvas pretos
atualizavam o noticiário local à sombra das árvores.
Novenas para pedir chuva, para suplicar pelo fim da
praga dos gafanhotos, orações e salmos no velório e
sepultamento dos entes queridos, orações intensivas nos 3 dias
de missões a cada 4 ou 5 anos, tríduo ou novena pela festa do
santo padroeiro da capela...eram tantos outros momentos de
oração. Natal, Páscoa, Pentecostes e tantas outras divisões do
tempo que a pedagogia da Igreja ordenava.
Na igreja, mulheres de um lado e homens do outro,
faziam dois coros para cantar salmos, ladainhas e preces onde
o que mais interessava era o coral, a harmonia e a participação.
Nem sempre os participantes sabiam o que estavam dizendo e
cantando como dissemos acima.
Trabalhar. Como os italianos do norte, os trentinos e a
família Zanotelli, vêem no trabalho uma obrigação sagrada. O
191
trabalho dignifica o homem. O trabalho, porém que dignifica o
homem é o trabalho penoso, difícil, perigoso, o trabalho que
deixa cicatriz e calo, o trabalho manual e cansativo. O trabalho
intelectual, assim como o ócio, o descanso, o brinquedo não
são tão apreciados. O trabalho de sol a sol, ou melhor o
trabalho que inicia antes do sol nascer e termina depois que o
sol se pôs. Por isso madrugar, estar de pé, a postos para iniciar
o trabalho tão logo clareie o dia é um costume muito valorado.
Para isso é necessário dormir cedo. Ainda hoje (1996) nas
colônias italianas do RS como Caxias do Sul os bares e
restaurantes tendem a fechar as portas logo depois das 22
horas. Não há a quem atender. E antes das 6 horas da manhã a
vida recomeça fervilhante.
A melhor educação que se possa dar a um filho é
ensiná-lo a trabalhar desde a tenra idade e desde a madrugada
de cada dia. O ttrabalho não faz mal a ninguém, mas dignifica
e dá esperança.
“Bon Princípio”. Uma grata tradição que as crianças
Zanotelli lembram com saudade é a da passagem do ano.
Cuidando à porta do quarto dos pais, avós ou padrinhos que
chegue o primeiro segundo do ano novo, as crianças irrompem
quarto adentro aos gritos de “Bon Princípio” (Feliz ano novo).
Os pais, avós e padrinhos que haviam deitado mais cedo para
192
não perder o espetáculo, fingindo dormir e demonstrando
surpresa recebiam com agrado aquela manifestação dos filhos,
netos e afilhados e retribuíam com uma moeda e alguns doces.
O primeiro que chegasse (e esperava-se que fosse o afilhado)
recebia um prêmio maior.
Depois, os meninos reunidos em pequenos bandos,
percorriam todas as casas, sem distinção desejando felicidades
para o ano novo e recebendo moedinhas e doces. Ao final da
manhã, voltavam os meninos, cansados, olhos luzentes, a
contabilizar as moedas e os doces. As meninas ficavam em
casa. Percorriam algumas casas da vizinhança quando a manhã
já ia alta. Aquela era uma festa dos meninos e um trunfo para a
sua afirmação masculina.
Esse costume foi trazido do norte da Itália. Em Cembra,
os meninos, em pleno inverno percorriam as montanhas para
desejar o “Bon Princípio”.
Festa de São João. Zanotelli deriva de João,
Giovanni, Zoanni, Zoan. João (Giovanni) é o nome da grande
maioria dos primogênitos nas famílias Zanotelli. Por isso a
festa de São João Batista tem um significado especial para os
Zanotelli. Na véspera da festa (23 para 24 de junho) nas
famílias Zanotelli sempre havia muita fogueira, vinho, pinhão
(RS), canções e o momento mágico da passagem sobre as
193
brasas de pés descalços e sem se ferir. Para todos,
especialmente para as crianças era um momento quase
milagroso e que demonstrava a proteção de São João.
Liberdade acima de tudo. Os Zanotelli guardam
zelosamente o princípio da liberdade. Cansados, como todo o
imigrante do norte da Itália, de ser empregado ou meeiro dos
senhores feudais, dos barões e dos ricos, vieram para a
América buscar um espaço de liberdade. Ser dono do seu nariz,
não ter horário nem patrão para obedecer (muito embora
trabalhassem mais de 15 horas por dia), ser proprietário (muito
embora de uma pequena porção de chão) para poder dizer :
“qui comando io... qua son mi „l paron” (aqui mando eu... aqui
eu sou o patrão) eis um motivo de luta e de esperança que
marcou profundamente a família Zanotelli. Agricultores
autônomos, pequenos empresários da indústria e do comércio,
profissionais liberais (advogados, contadores, médicos,
sacerdotes e, em último lugar empregado e funcionário), eis
uma constante de um ideal. A grande maioria dos Zanotelli
trabalha para si, em sua propriedade ou, como ainda dizem os
Zanotelli de Cembra: “ I Zanotelli lavorano su „l suo”.
Quase garibaldinos. É notável como os ideais
encarnados por Garibaldi influenciaram os Zanotelli. As idéias
194
republicanas, quase socialistas de Mazzini, corporificadas no
movimento da Jovem Itália e da Unificação italiana, o
descontentamento dos tiroleses do sul contra o Império
Austríaco que levava os impostos e que pouco investia no
Trentino, que arrancava das famílias os jovens para as
constantes guerras imperiais, a vibração dos trentinos quando
Garibaldi quase arrancou Trento da Áustria, tudo isso veio no
sangue e na alma dos imigrantes Zanotelli. Destinados à
colônia Conde d‟Eu (mais tarde denominada Garibaldi) os
Zanotelli, embora em parte desviados para o Espírito Santo
como consta acima, sempre tiveram em Garibaldi um símbolo.
Algo de rebeldia, de insatisfação, de exigência de reformas, de
clamor por igualdade e liberdade está no fundo da história da
família Zanotelli. A participação em partidos de centro-
esquerda mostra essa tendência política nas famílias Zanotelli
esparramadas por todo o Brasil.
Palavra de Zanotelli é um documento. Uma das
tradições de que se orgulham os Zanotelli, especialmente os
mais idosos é, ainda hoje, a honorabilidade de sua palavra. Os
Zanotelli costumam cumprir o que acordam, são fiéis à palavra
empenhada. O maior e melhor documento é a palavra
empenhada. E cada qual, do Oiapoque ao Chuí, lembra fatos
195
que demonstram que os Zanotelli cumprem a palavra, mesmo
que nisso tenham prejuízo.
Nem sempre o carinho é afeto. Até bem pouco tempo
não era comum na família Zanotelli que os pais
demonstrassem afeto e carinho aos filhos, nem os cônjuges
entre si. Pareceria quase que o afeto diminuiria a autoridade
dos pais. Para amar e educar os filhos o essencial era a
severidade nas exigências, o trabalho, o castigo e poucas
palavras. O patriarcalismo familiar parecia que só se salvasse
se distante do beijo, do abraço, do afeto dos gestos e das
palavras. Hoje os netos e bisnetos recuperaram esse campo e
os mais renitentes cederam ao fato de que o carinho também é
afeto e demonstração de amor.
Reunião em família. Batisados, casamentos,
aniversários, Natal, Páscoa, São João...domingos eram também
outras tantas ocasiões para que a família, a grande família, se
reunisse. O gosto pela reunião familiar é visceral nos Zanotelli.
E a reunião é sempre pretexto para falar e rir em voz alta, para
jogar quatrilho e bochas (nos fundos do quintal de muitas casas
há uma cancha de bochas) e, especialmente, para cantar. Uma
reunião sem cantoria não parece reunião. E o que importa não
é a música executada mecanicamente. O que importa é cantar
196
juntos. E todos retornam para as suas casas com restos de
canções no ouvido e na garganta, no assobio que dura até o
próximo encontro.
Ao natural. De estatura média, ombros largos, testa
ampla, “sangüíneo” por temperamento, amante da natureza,
das matas, das flores, dos rios e também da caça e da pesca e
da liberdade (como eram descritos os trentinos em 1850) os
Zanotelli trazem na alma a preferência de tudo o que é
“natural” em confronto com o que é artificial. Ainda guardam
a lembrança de que hospital, médico e remédios só se os
procura em último caso, quando os chás “naturais” não
resolveram o problema. Inserir-se no eco-sistema, integrando a
vida vegetal, animal e humana para que a “sabedoria” da
natureza guie a saúde de todos é quase um programa de grande
número das famílias Zanotelli.
Os imigrantes adotam o vestuário, a alimentação e os
costumes gaúchos. Botas, esporas, bombachas, poncho ou pala,
chapéu. Ao mesmo tempo contribuem com uma nova culinária,
novos costumes, novos valores. Em pouco tempo (em menos
de um século) a integração se fez plena. E Caxias do Sul, com
massiva imigração italiana, tem hoje o maior número de CTGs
(Centros de Tradições Gaúchas) do Rio Grande do Sul.
199
VI- SACERDOTES E RELIGIOSOS
Entre os Zanotelli, tanto na Itália como no Brasil,
encontramos um bom número de sacerdotes, bispos e
religiosos. O ideal (que incluía também o de promoção na
escala social) de ter um sacerdote ou uma pessoa religiosa na
família sempre esteve presente entre os Zanotelli. Muitos
contam em seu currículo o fato de ter sido seminarista ou
aspirante a religioso. Dentre os sacerdotes podemos destacar:
Frei Modesto Antonio Zanotelli. Seu nome de
batismo era Antonio Gabriel Modesto Zanotelli. Filho de
Battista Zanotelli e Maria Micheli, nasceu em Cembra em
18.3.1831. Irmão leigo franciscano, vestiu o hábito em
28.3.1857 e professou em 1.6.1858. Morreu em Trento em
8.1.1905. É lembrado no número 972 do necrológio dos freis
Franciscanos. Cf. Cadernos de Apontamentos Paróquia
Cembra pg . 22.
Frei Benedetto Zanotelli. De batismo era Emanuele,
filho de Gregório e Maria Zanotelli, nasceu em Cembra em
200
17.6.1842. Abraçou a vida franciscana e morreu na idade de 66
anos em 18.1.1908. Necrológio n. 973. Cf. Cadernos de
Apontamentos Paróquia de Cembra pg. 28.
Mons. Giuseppe Zanotelli. D. Giuseppe Zanotelli,
filho Antonio Zanotelli e Marianna Toniolli, nasceu em
Cembra em 19.3.1842. Cumpridos os estudos em Trento, foi
ordenado sacerdote em 18.12.1864. Foi cura de Faver por 12
anos e reitor do Santuário de Caravágio em Montagnaga de
Piné por 21 anos. Por méritos especiais foi nomeado bispo e
capelão (confessor) secreto de Sua Santidade o Papa Leão
XIII. Em 1902 (falecido Leão XIII), abandonou o Santuário
retirando-se à Terra Santa onde, em 19.10.1902 foi acolhido
como Terciário e Filho da Custódia da Terra Santa, no
convento franciscano de Jerusalém, com o nome de Frei
Innocenzo. Ali morreu em 16.10.1917. Cf. Cadernos
Apontamentos Paróquia de Cembra pg 27.
Pe. Alessandro Zanotelli. Filho de Antonio Zanotelli e
Marianna Toniolli, irmão, portanto de Dom Giuseppe, nasceu
em Cembra em 3.5.1928. Estudou no colégio “vescoville” de
Trento. Ali se fez sacerdote em 1853. Foi capelão da catedral
de Trento, em Ala e Cles onde se distinguiu na assistência aos
doentes. Em 1855 foi cura de Aldano e em 1879 foi pároco de
201
Avio onde morreu em 4.1.1901 entre o pranto geral. Cf.
Cadernos Apontamentos da Paróquia de Cembra pg. 20.
Frei Emanuele Zanotelli. Frei Emanuele, filho de
Giovanni Zanotelli e de Teresa Bonzanin, nasceu em Cembra
em 25.5.1877. Aos 11 anos entrava para o Colégio dos Irmãos
Estigmatinos de Verona onde, completados os estudos, foi
ordenado sacerdote em 10.8.1900. Foi professor nas escolas de
seu Instituto em Gênova, Noline e Verona e dedicou-se muito
à pregação. Escreveu apontamentos de Pedagogia Ascética.
Internado na Casa de Saúde dos Fatobenefratelli de Milão,
faleceu serenamente em 27.11.1944. Cf. Cadernos
Apontamentos Paróquia Cembra pg. 43.
Pe. Carlo Zanotelli. (rochet), filho de Salvador
Zanotelli e Angela Zanei, nasceu em Cembra em 23.3.1873.
Ingressou no Instituto de S. João Bosco, estudou e ordenou-se
sacerdote salesiano em 15.1.1905. Quase toda sua atividade
foi de missionário no Brasil onde morreu em 1941.Cf.
Cadernos de Apontamentos Paróquia Cembra pg. 37.
Pe. Guido Zanotelli. Filho de Giacinto Angelo
Zanotelli e de Arrola Piffer, nasceu em Cembra em 5.10.1932.
Estudou com os padres Combonianos e se fez sacerdote em
202
Cincinati (EU) em 25.5.1958. Celebrou sua primeira missa na
pátria (Itália) em 22.6.1958. Retornou à missão na América e
hoje trabalha como missionário no Sudão (África). Faleceu na
África após nosso encontro em Cembra.
Pe. Alessandro Zanotelli (Alex). Nascido em Livo,
Val di Non o Pe. Alessandro é comboniano, diretor da revista
Nigrizia, combativa defensora dos povos colonizados da
África. Por causa de suas posições foi “enviado” para a África
onde exerce exemplarmente o sacerdócio junto aos pobres da
periferia de Nairobi.
Frei Biagio Zanotelli. De batismo era Nicoló, filho de
Nicoló Zanotelli e Maria Bonfant. Nasceu em Cembra em
6.12.1856. Em 2.8.1879 entrou para o convento dos
Franciscanos em Cavalese e vestiu o hábito de irmão leigo em
3.8.1880. Em 7.8.1884 fez a profissão religiosa. Em 29.3.1892
partiu como missionário para a Albânia e ali ficou até 1898.
Neste ano aos 19 de dezembro adoentado chegou em Trento
onde morreu em 25.12.1917. Necrológio n. 1028. Cf. Caderno
de Apontamentos Paróquia Cembra pg. 33.
Pe. Darly Zanotelli de Almeida. Filho de Florentino
de Almeida e de Maria Zanotelli, o Pe. Darly nasceu em
203
Capim Angola, Cachoeiro do Itapemerim, estudou com os
Jesuítas e, como sacerdote, trabalhou em vários colégios, como
os de Teresina (Piauí). Trabalha num colégio jesuíta em
Salvador da Bahia.
Pe. José Pressi Zanotelli. Filho de José Zanotelli e Rachelle
Pressi, em festa da família em Garibaldi. Nasceu em Marcelino
Ramos.- RS - Brasil Foi estudante e depois sacerdote
salesiano. Trabalhou em Bagé e faleceu em Ascurra, Santa
Catarina, onde está sepultado, em 30.4.1990.
205
VII– CONCLUSÃO
De um contexto europeu e especialmente trentino
marcado pela introdução do capitalismo industrial e a
desestruturação do sistema feudal de minifúndios e senhorios,
marcado pela desvalorização dos produtos agrícolas e
inexistência de lugares de trabalho na indústria e comércio,
marcado pela luta de liberais contra o Estado de Cristandade
que se consubstanciava na Unificação da Itália (ainda não
República como a queria Mazzini mas como a fez Garibaldi,
nos limites do ministro Cavour ) e com o “irredentismo”
palpitando no Tirol, emigraram os Zanotelli para o Brasil,
assim como para a Argentina, para os Estados Unidos e para o
norte da África.
As pestes na parreira de uvas e no casulo do bicho da
seda e a conseqüente pelagra por falta de proteínas na
alimentação foram a gota final de água que fez o copo
transbordar.
Informados pelos agentes de emigração de Caetano
Pinto das condições que a legislação brasileira e o contrato que
206
este estabelecera com o Império Brasileiro ofereciam,
venderam ou abandonaram o pouco que tinham e emigraram.
Renunciando à cidadania Austríaca (pois que aquela
região pertenceu ao Império Austro-Húngaro até 1919) como o
queriam as autoridades austríacas para não ter mais
compromisso e obrigação com os concidadãos que emigravam,
em geral pobres, e como um gesto decisivo de emigrar para
não voltar, queimando o último navio e a última ponte, vieram
os Zanotelli em 1875.
De trem, de Trento a Verona, de Verona a Milão, de
Milão a Modene (na França) dali para Paris e Le Havre ou para
Marselha vinham no bojo do contrato de Caetano Pinto, para o
Rio de Janeiro e dali para as colônias brasileiras.
Considerando as informações que o Pe. Bartholomeu
Tiecker, trentino emigrado com a família para o RS em julho
de 1875, oferecia nos jornais trentinos, os Zanotelli vinham
com destino ao RS, especialmente para as colônias de Conde
d‟Eu e Dona Isabela. O navio Fenelon, porém, em que vinha
um grupo de Zanotelli foi desviado para o Espírito Santo, sob
protesto do consulado austríaco do Rio de Janeiro e os que
vieram pelo navio Rivadávia chegaram a Garibaldi (Conde
d‟Eu) no dia 24/12/1875.
Ocupados os lotes da Linha Figueira de Mello e
crescendo a família, deslocaram-se os Zanotelli daquela
207
colônia para as de Estrela (Encantado) que haviam sido abertas
em 1882. Assim a maior parte da família Zanotelli localizou-se
em Muçum e Encantado. Mais tarde, na década de 1930,
migraram para Erechim, Marcelino Ramos e para o Brasil
todo. São hoje mais de dez mil os vinculados de qualquer
forma à família Zanotelli que imigrou para o Brasil.
Pequenos proprietários, agricultores, pequenos
empresários da indústria, comércio, profissionais liberais,
sacerdotes e religiosos, os Zanotelli guardam profundamente
marcado o espírito empreendedor, o gosto pela liberdade e pela
não subordinação de uma relação de empregado, o
“irredentismo” rebelde que sabe que acabou o feudalismo e
que a igualdade é a base da fraternidade. Dentre eles há
políticos (2 prefeitos no RS atualmente) uma dezena de
vereadores pelo Brasil.
Na verdade a imigração e a história da família Zanotelli
pode ser vista como um exemplo típico da emigração trentina,
do Alto Ádige para o Brasil. Em suas peripécias percebem-se
os traços comuns dos emigrantes daquela região que aportaram
para estas terras. As semelhanças são grandes com a emigração
do norte da Itália, são menores a medida em que a comparamos
com a do sul. Mesmo assim guardam traços peculiares como
foram ressaltados na primeira parte deste trabalho.
208
Pensamos que, iluminando assim uma história familiar,
resulta em contribuição para compreender não só a imigração
italiana e trentina mas também para que muitos imigrantes
localizem melhor suas raízes e façam do congraçamento
familiar um gesto histórico de construir um Brasil cada vez
melhor.
211
VII-RELAÇÀO DE FAMÍLIAS IMIGRANTES
Observações
As observações que seguem auxiliam a compreensão
dos dados pessoais e familiares específicos, no contexto
histórico da migração italiana para o Brasil. Caracterizam
melhor as situações concretas das pessoas e das famílias.
As pessoas ou grupos familiares estão antecedidos pelo
número em ordem ascendente como consta da árvore
genealógica bem como sua caracterização alfabética.
Quando a fonte de pesquisa não estiver especificada é
porque a investigação foi levada a cabo por nós mesmos.
1.Z. GIOVANNI ANTONIO ZANOTELLI.
Natural de Livo, Val di Non, Tirol, Áustria (hoje Itália),
nasceu por volta de 1678, Giovanni, na década de 1680,
deslocou-se para Cembra para residir com um tio que era
sacerdote.
“O Bispo de Trento havia chamado o frei Stefano
Zanotelli e lhe atribuíra a tarefa de receber as taxas no Vale de
212
Cembra. O sacerdote, para melhor exercer o papel, radica-se
em Cembra e, pouco depois faz com que venham também seus
irmãos (diz-se que eram 3). Diz-se também que estes irmãos
saem de Livo porque tinham muitas “diferenças” com a família
que era dona da Região”. Era a família De Stanchina, dona do
castelo e da região. Isto ocorre ao final de 1600. Nos primeiros
tempos de sua chegada a Cembra habitavam uma casa “do
castelo” em Fadana.
Um dos irmãos chamado Giovanni Antonio, nascido
em Livo ao redor de 1678 e falecido em Cembra em
13.09.1758, casou com Dorotea Concherle, filha de Vigilio
Concherle, nascida em Faver ao redor de 1684 e falecida em
Cembra em 01.03.1764.
Com um de seus 4 filhos inicia nossa Família”126
. Em
Cembra, Giovanni Antonio, em 17.02.1705, casou com
Dorotea Concherle, natural de Faver (também do Vale de
Cembra) e com ela teve 4 filhos masculinos: Giovanni, Vigílio,
Cristóforo e Giovanni Antonio. Destes 4 filhos descende a
maioria dos Zanotelli que emigraram para o Brasil e Argentina.
O vol. 1o. fls. 301 a 304 da Anágrafe da paróquia de Cembra
serve de base para a pesquisa.
Em plena Idade Média, pois o feudalismo só acabou
nessa região em 1848, o fato de Giovanni ter um tio sacerdote,
126
Comentários da família Zanotelli em Cembra: Alex, Túlio.
213
é indício de que os Zanotelli não eram servos da gleba.
Deveriam ser pequenos proprietários, ou pequenos senhores,
que mantinham desavenças com o senhor feudal de Livo.
Como se pode ver abaixo, os filhos de Giovanni Antonio
adotaram vários “sobrenomes” ou apelidos familiares como os
de: Rocheti (da família de frei Rocco) Paze, Pace, Mozzi,
Toffoli, Biasi, Slizega, Vigilioti, Forneri.
11.ZA. GIOVANNI CONCHERLE ZANOTELLI
Filho de Giovanni Antonio, de Livo, nasceu em
15.09.1707 e casou com Maddalena Valgoi. Teve dois filhos
masculinos: Giovanni Antonio Valgoi Zanotelli e Gregório
Valgoi Zanotelli. Giovanni Antonio teve 4 filhos: Antonio
(cujos descendentes se chamaram Forneri, isto é padeiros,
trabalhavam com fornos tendo vinculação com a família Dal
Forno também originária de Livo), Simone (de cujo Filho
Biagio vem o apelido Biasi), Francesco (que morreu sem
descendência) e Vigilio (cujos descendentes se chamaram
Pace ou Paze). Gregório teve um filho masculino: Giovanni
(cujos descendentes se chamaram Rochetti, porque seu filho
Giusepe Rocco foi frade famoso). De um irmão dele descende
Giacomo, pai de José Devilli Zanotelli, casado com Augusta
Nogarol dos quais descende um grande grupo de Zanotelli de
Rio Novo, Cachoeiro do Itapemerim e Iconha ES.
214
12.ZB. VIGILIO CONCHERLE ZANOTELLI
Segundo filho de Giovanni Antonio, de Livo, nasceu
em Cembra, em 28.02.1717, casou com Maria Maddalena
Nardin. Tiveram um filho masculino: Giovanni Antonio
Nardin Zanotelli casado com Maria Maddalena Cembran em
19.01.1748 que tiveram 3 filhos masculinos: Vigílio (cujos
descendentes se chamaram Vigiliotti), Paolo Arcangelo e
Giovanni Gasparo (cujos filhos emigraram massivamente para
o Brasil e por isso se chamaram Mericani). Dos filhos de
Giovanni Gasparo (casado com Margherita Savoi) Paolo e
Giovanni migraram para o Espírito Santo, Francesco para o
Rio Grande do Sul e Antonio Provavelmente ficou em
Cembra.
13.ZC. CRISTÓFORO CONCHERLE ZANOTELLI
Cristóforo, filho de Giovanni Antonio, de Livo, nasceu
em Cembra em 12.07.1720 e casou com Maddalena Nicolodi
(filha de Nicolò) em 15.02.1749 e teve 5 filhos masculinos:
Giovanni (cujos descendentes se chamaram Mortalet),
Cristóforo (cujos descendentes se chamaram Toffoli), Nicolò
(do qual descende Giuseppe Zanotelli que casou com Rachelle
Pressi e cujos filhos se localizaram em Marcelino Ramos RS) e
Antonio (do qual descende a família de Agostino que emigrou
215
para o Espírito Santo, chegando na Colônia Leopoldina em
05.01.1876).
14.ZD. GIOVANNI ANTONIO CONCHERLE ZANOTELLI
Giovanni Antonio, filho de Giovanni Antonio, de Livo,
nasceu em 14.04.1725, em Cembra, e casou com Domenica
Largher (viúva de Nicolodi) em 15.02.1749. Casou no mesmo
dia que seu irmão Cristóforo. Tiveram 3 filhas (Maria
Maddalena, Anna Maria e Maria Domenica) e um filho
masculino: Giuseppe Antonio Stefano ( que casou com
Maddalena Nicolodi filha de Paolo).
370.ZBAC. GIOVANNI GÁSPARO CEMBRAN
ZANOTELLI
Giovanni Gásparo, filho de Giovanni Paolo, neto de
Vigilio e bisneto de Giovanni Antonio, de Livo, nasceu em
Cembra em 14.07.1780, casou com Margherita Savoi e teve 6
filhos: Giovanni Savoi Zanotelli (casado com Marianna
Menegatti), Antonio (casado com Maria Toniolli), Catterina
(casada com Nicolodi em 14.02.1843), Francesco (casado com
Domenica Eccli), Maddalena (casada com Ferrazza em
22.12.1847) e Paolo (casado com Teresa Nicolodi). As
famílias de Giovanni e Paolo migraram para o Espírito
Santo. Francesco para o RS.
216
655.ZBACA. GIOVANNI SAVOI ZANOTELLI, filho de
Giovanni Gasparo, nascido em 27.6.1817 e falecido em
20.4.1874, casado com Marianna Menegatti em 1850 teve os
filhos: Giovanni (1861), Antonio (1852), Costantino (1857) e
Luigia (1864). No Livro Anagrafe da paróquia de Cembra, ao
lado dos nomes dos filhos de Giovanni consta em letra
vermelha "mericani" isto é emigrantes para a América. Em
pesquisa por nós realizada no Arquivo Público de Vitória, ES
encontramos Marianna e seus filhos como tendo migrado
para o Brasil, com o navio Fenelon, chegando em Santa Teresa
no dia 5.1.1876. É muito provável que toda a família de
Giovanni Gasparo Zanotelli tenha migrado para o Brasil, indo
parte para o RS e parte para o ES.
ZBAC. PAOLO SAVOI ZANOTELLI
Paolo, filho de Giovanni Gásparo, nasceu em
13.04.1811 em Cembra e faleceu em 1871 em Santa Teresa, no
Espírito Santo. Casado com Teresa Nicolodi (nascida em
Fadana, Vale de Cembra, em 1815) em 30.04.1842, teve 6
filhos: Francesco, Margherita, Maria, Paolo, Giustina e Angelo
que migraram para o Espírito Santo, Santa Leopoldina, seção
Thimbuy (Santa Teresa), lá chegando em 5 de janeiro de 1876.
O navio Fenelon em que vieram foi desviado à revelia dos
217
passageiros para o Espírito Santo, segundo protesto do
consulado austríaco no Rio de Janeiro. Eles se destinavam ao
Rio Grande do Sul. Na mesma época e com outro navio
(Rivadávia) vinha para o RS o irmão de Paolo, Francesco.
666.ZBAC. FRANCESCO VIGILIO SAVOI ZANOTELLI
Francesco, filho de Giovanni Gásparo, nasceu em
Cembra, em 29.01.1826 e casou com Domenica Eccli (que
nascera em 09.11.1827) em 31.05.1851. Teve 6 filhos:
Catterina (nascida em 12.05.1854, casada com Angelo Zanol
em 14.02.1874 em Cembra e falecida sem filhos em 1874),
Angela (nascida em 27.12.1863 e falecida em Cembra em
03.10.1865), Maria (nascida em 05.07.1867 e falecida em abril
de 1869), Giovanna (nascida em 05.07.1867 e falecida menina
em Cembra), Giuseppe nascido em 18.02.1870 e falecido em
11.02.1871) e Narciso nascido em 07.09.1857 e que, com os
pais emigrou para o Brasil (RS) em novembro de 1875,
chegando em Conde d‟Eu em 24.12.1875.
Após a chegada não se tem mais notícias de Francesco.
É provável que tenha falecido até 1882, em Garibaldi. Quando
Narciso em 08.02.1884 recebe o título provisório de seus 11,6
hectares na Estrada Geral de Conde d‟Eu, linha Figueira de
Mello (bem próximo à atual cidade de Garibaldi) não há
referência a Francesco.
218
No passaporte de Francesco erroneamente com
sobrenome “Zanotteli” consta: “condizione: giornaliere”,
domicílio: Cembra, no distrito e província ou círculo de
Trento, no domínio do Tirol, nascido 1826, estatura mediana
“ordinaria”, testa “oblunga”, cabelos negros, olhos castanhos,
boca e nariz regulares. Viaja da Áustria-Hungria para a Itália -
América. Este passaporte vale por dois meses. Trento, 29 de
outubro de 1875....Capitania distrital. Assinatura e carimbo.
No verso constam: Domenica Zanotteli (esposa),
nascida em 1827, e Narciso (filho) nascido em 1857. Segue
abaixo a desistência da cidadania austríaca127
com a mesma
data de 29.10.1875. E abaixo o carimbo da Polícia do Porto do
Rio de Janeiro, o visto de 10 de dezembro de 1875 -
Navegação francesa Rivadávia (sublinhado) e assinatura de
Macedo.(Cf foto II 3 e 4)
127
“Si conferma che l‟entro nominato dichiarò di svicularsi dal nesso della
cittadinaza Austriaca e di emigrare nel Brasile, percui da questo momento ha
cessato d‟essere cittadino Austriaco. Trento 29 ottobre 1875. Dall I.R. Capitanato
Distritale”. Tradução: confirma-se que o supra - nomeado declarou desvincular-se
do nexo da cidadania austríaca e de emigrar para o Brasil, em vista do que desde o
presente momento deixou de ser cidadão austríaco.
219
1111.ZBACFF. NARCISO ECCLI ZANOTELLI
Narciso, filho de Francesco Vigilio, neto de Giovanni
Gásparo, nasceu em Cembra em 07.09.1857, como único
sobrevivente de 6 irmãos, aos 18 anos, migra para o Brasil,
acompanhando os pais. No passaporte consta que vieram com
o navio Rivadávia, cuja vistoria consta como em 10.12.1875,
no Rio de Janeiro. Chegam, por Rio Grande, Porto Alegre, Caí,
Montenegro, Maratá de barco e daí a pé até A Colônia Conde
d‟Eu. Às vésperas do Natal de 1875 estão em Garibaldi (então
220
Conde d‟Eu). Localizam-se em lote à beira da Estrada Geral de
Conde d‟Eu, na linha Figueira de Mello128
.
Em Garibaldi Narciso casou com Theresa Job Telk em
2 de fevereiro de 1878129
(muito embora conste seu casamento
como ocorrido em 1880). Theresa era filha de Bartholo Telk
(que faleceu em Garibaldi no dia 30.08.1887130
) e Magdalena
Job (que faleceu em Garibaldi em 30.08.1887).
Em fevereiro de 1884 Narciso já tem 4 filhas: Maria,
Amália, Narciza e Carolina. Em 01.04.1885 nasceu Felice
Giacomo (que foi batizado em 24.02.1886 em Garibaldi131
) e
deve ter falecido criança. Em 8.12.1885 nasceu Francisco.
Rosina nasceu em 23.02.1889. Camilo Domingos nasceu em
23.07.1890 (deve ter falecido criança). José nasceu em 1891.
Clementina nasceu em 22.06.1893. Leopoldina nasceu em 128
No livro 312, pg. 13 do Arquivo Histórico de Porto Alegre sob o título
de Estrada Geral de Conde d‟Eu - 1a. secção - Família n. 79, n. de registro
407 consta: “Zanottelli, Narcizo, casado, católico, austríaco, lote 1/449,
área 116.649 m2., preço da braça quadrada (4,84m2)= 3 Réis - Valor do
lote 69.204. 20% do art. 6o. do Regulamento de 19.1.1867= 13.840. Pelos
adiantamentos feitos = 125.525. Total = 208.569. Data da Entrega do
Título provisório 8.2.1884. ½ da dívida de Giuseppe Batistoni Bom
pg.149.” e Logo abaixo: “No. 408: Thereza (casada ) austríaca. Filhos: 409
- Maria (brasileira), 410 - Amália, 411 - Narciza, 412 - Carolina, 413 -
Domenica (austríaca)” Esta última é a mãe de Narciso. 129
Conforme justificativa judicial exarada pelo juiz de Caxias do Sul em
2009 130
No livro de Óbitos de Conde d‟Eu, pg. 23v. consta: “No dia 30/8/1887
faleceu de plethora com 76 anos de idade Bartholomeu Telk, casado com
Magdalena Job, tirolês, lavrador, confessou e comungou há pouco. Foi
encomendado e enterrado por mim neste cemitério em 31 do mesmo. E para
constar fiz este que assino. P.B.Tiecker”. 131
Cf. Livro 1 de Batisados de Conde d‟Eu pg. 85.
221
1894. João nasceu em 01.02.1895. Narciso teve, portanto, 12
filhos, os últimos, desde 1882, em Jacarezinho, Encantado,
para onde se transferiu.
Por ocasião da assinatura do título provisório em 1884,
constam como residindo com Narciso a mãe e os filhos, não
aparece o pai Francesco.
Narciso faleceu em Jacarezinho em 14.12.1904 e lá se
encontra sepultado.132
132
No mesmo túmulo estão Narciso e Tereza bem como João Baptista Telk
Zanotelli filho de Narciso, a esposa de João, Maria e Geni irmão de Jandir,
bem como David Dalla Vecchia tio de Jandir.
224
Acima: o passaporte de Francesco Zanotelli, sua esposa e filho
Narciso
514.ZBACFFA. JOSÉ TELK ZANOTELLI
JOSÉ TELK ZANOTELLI, filho de Narciso, nascido em 1891
e casado com Margarida Secchi nascida em 1894 (irmã de José
Secchi, filha de Clemente Secchi e Angela Girardi) em
Jacarezinho e fixou residência em Capitão, então município de
Encantado.
José teve 12 filhos: Reinoldo, Alfredo, Danilo, Fausto,
Telmo, Leopoldo, Elias, duas filhas de nome Nilde, Noli,
Elvira e Ida.
Agricultor, criador de gado e pequeno comerciante, era
liderança forte de tal forma que o município atual de Capitão
tem uma Linha Zanotelli, lugar onde residia Fausto. O
casamento de José e Margherita está registrado à página 93, n.
4 do Livro de Casamentos da Paróquia de Encantado,
realizado que foi em 1.2.1913.
1516.ZBZCFFB. FRANCISCO TELK ZANOTELLI, filho de
Narciso e Theresa, nascido em Figueira de Mello, Garibaldi,
casou, aos 20 anos em 18.8.1906 com CAROLINA BERTOL,
filha de João Bertol e Maria Beber, nascida em 1889 cf Livro
de Casamentos da Paróquia de São Pedro de Encantado, n.304,
225
pg 60 onde está escrito "Zannutelli". Francisco residiu em
Jacarezinho, depois em Lageado Feio, Putinga e por fim em
São José do Herval, agora município, e então município de
Soledade.
Teve 11 filhos: Romilda casada com Etelvino Dartora,
Belvina casada com Dionísio Bigolin, Santo casado com
Maria Cecília Locatelli Vidaletti, Orestes casado com Gema
Weber, Francisco casado com Otília Conte, Narcizo casado
com Isolina Mayer e depois com Celestina Pretto, João casado
com Santa Sbaraini, Ana casada com Pretto e residente em
Putinga, Hortênsia casada com Dartora e residente em
Encantado.
2025 JOÃO PEDRO BERTOL ZANOTELLI, filho de
Francisco Telk Zanotelli e neto de Narciso, viveu em S. José
do Herval. Era comerciante. Casado com Santa Sbaraini teve 9
filhos: Valmor, Lauro, Beltriz, Anaide, Valdemar, Edgar,
Adiles e Cleci.
2027 FRANCISCO RAFAEL BERTOL ZANOTELLI, filho
de Francisco Telk Zanotelli e neto de Narciso, viveu em S.
José do Herval RS. Foi comerciante e liderança destacada.
Casou com Otília Conte e teve 9 filhos: Adaires, Jandir
226
Francisco, Mauro, Teresinha, Hugo, Alberto, Ana, Alice e
Ivone.
2031 SANTO BERTOL ZANOTELLI, filho de Francisco e
neto de Narciso Zanotelli residiu em S. José do Herval e agora
em Soledade RS, trabalhou com comércio e erva mate. Casado
com Maria Vidaletti.
2023 NARCIZO BERTOL ZANOTELLI, filho de Francisco
Telk Zanotelli, neto de Narciso Eccli Zanotelli, viveu em S.
José do Herval RS, trabalhou como comerciante. Casado com
Isolina Mayer teve 10 filhos: Arthur, Irma, Ivone Maria,
Clotilde Carolina, Valdomiro, Enio, Ivo, Raul, Lourdes
Terezinha e Altair Salete. Casou depois com Celestina Maria
Pretto.
227
ZBACFFC. JOÃO BAPTISTA TELK ZANOTELLI
João Telk Zanotelli e Maria Bridi Agostini com os 12 filhos. Da esquerda
para a direita sentados: Valdemar, Leonel, Maria, João, Agenor, Alcides.
De pé: Santina, Ida, Amália, Matilde, Angelina, Alice, Hortência, Ortenila.
João Baptista Telk Zanotelli, filho de Narciso e
Theresa, nasceu em Jacarezinho em 01.02.1895. Foi batisado
em 14 de março de 1895 em Encantado, freguesia de Santo
Ignacio de Lageado pelo Pe. João Fronchetti133
Casou com
Maria Bridi Agostini em 02.02.1916 em Encantado e teve 12
filhos como se vê acima.
Órfão de pai desde os 9 anos, viveu e morreu na mesma
terra, residindo sempre na casa paterna. Faleceu em 31.07.1972
em Jacarezinho onde está sepultado. “Homem é aquele que
tem palavra. O melhor documento é a palavra de um homem”:
era seu lema. Muitas vezes enganado, nunca perdeu a fé na
133
Cf. Livro 04 de Batismos da Igreja de Sto. Inácio de Lageado, fls. 41v. E
foram seus padrinhos João Job (Jopi) e Maria Zanotelli.
228
palavra do homem. Como que a dizer: fora da ética não há
humanidade. É a ética que faz um homem humano, que o
diferencia do desumano. Nisso repercutem os valores que os
Zanotelli trouxeram como raízes e guardaram como horizonte
de esperança.
Abaixo um excerto sobre a família de Maria Agostini.
MARIA BRIDI AGOSTINI cc João Zanotelli
Maria Bridi Agostini e João Telk Zanotelli (sentados), por ocasião das
bodas de ouro de casamento. De pé estão os 8 irmãos de Maria sendo que
o mais velho (Marcos à direita) contava 98 anos.
229
MARIA BRIDI AGOSTINI é filha de Baptista Ferrari Agostini
e de Angela Bridi Agostini, neta de Giovanni Baptista Agostini
e Angela Ferrari que emigraram de Mattarello, Trento para
Figueira de Mello, Garibaldi por volta de 1875. Giovanni
Baptista Agostini e Angela Ferrari Agostini tiveram 5 filhos:
Baptista (casado com Angela Bridi ), Angelo (Angelin)
(casado com Angelina Radaelli), Antonio (casado com Maria
Zanotelli), Catarina (casada com Aldrovandi) e Felice
(casado com Antonia Casagrande) Baptista e Angela Bridi
casaram em Garibaldi. No Liv.01 de Casamentos da Freguesia
de S. Pedro de Conde d'Eu, pg 54 v consta: "No dia 21 de
novembro de 1887, corridos os pregões de estylo e sem que
apparecesse impedimento algum, na presença das testemunhas
Jacob Zanatti e João Casotti, eu o P. Bartholomeu Tiecker,
recebi em matrimônio solemnemente, por palavras a
BAPTISTA AGOSTINI e ANGELA AGOSTINI, ele de vinte
anos de idade, filho legítimo de Baptista Agostini e Angela
Ferrari e ela de 23 annos de idade, filha legítima de
Bartholomeu Agostini e Lucia Bridi, ambos estrangeiros,
lavradores e residentes nesta freguesia. E para constar fiz este
termo que assignei. P. Barth. Tiecker - Vigário".
230
.Baptista Ferrari Agostini e Angela Bridi Agostini tiveram 9
filhos: Na foto acima, de pé: Maria, Rachele, Izabela,
Francisco, David, Cesar. Sentados: Fiore, Ana, os pais Angela
e Baptista, e Marcos.
Bodas de ouro de casamento de Baptista e Angela com todos
os filhos e alguns netos presentes.
231
Maria Bridi Agostini (sentada à esquerda) e suas irmãs:
Rachele, Angela e Ana.
MARCOS, casado com Joana Soler residiu na Linha Argola,
Jacarezinho e teve 6 filhos: Elvira (casada com Castoldi e res.
em Capitão), Maria, Anilde (casada com Bianchini e res. no
Paraná), João (casado com Pascoale e res. em Medianeira,
232
Pr), Silvino (casado com Daltoé e reside em Jacaré
Encantado), Jandir (casado com Lucci e res. em Roca Sales).
ANA , de apelido Nani, casada com Benjamim (Beniamino)
Fachini e resid. em Jacarezinho teve 6 filhos: Cândida (casada
com Santo Gonzatti ou Conzatti e res. em Jacarezinho), João
(casado com Salton), Balduino (casado com Gonzatti),
Dorvalino (casado com Daldon), Genuína e Juraci. Benjamim
é filho de Giovanni e Cândida. Nasceu em Figueira de Mello,
Garibaldi, casou com Ana em Encantado no dia 30.1.1910 cf
n.450 da pg. 79 do Livro de Casamentos da Paróquia de São
Pedro de Encantado.
FIORE, casada com Fr. Secchi e resid. em Jacarezinho teve 4
filhos: Guilherme, Vitorio (irmão jesuíta e falecido em Poa),
Gioenda, Alzira (casada com Gonzatti).
CESAR, casado com Gertrudes Ghisleni e resid. em
Jacarezinho teve 9 filhos: Remegilda (casada com José Lucca
e res. em Esteio, Altibano casado com Ana Lorenzon e
residente em Jacarezinho, Anacleto residente em S. Miguel do
Oeste SC, Getúlio assassinado em Barracão da Argentina SC,
Ari resid. em Barracão da Argentina, Ita casada com Sangalli
e resid. em Barracão da Argentina, Erci casada com
Magagnin e resid. em Sto. Augusto, Flávio resid. em S. Miguel
do Oeste SC, Maria resid. em S. Miguel do Oeste SC.
233
MARIA casada com João Baptista Telk Zanotelli (filho de
Narciso e Tereza e neto de Francisco) teve 12 filhos: Leonel
casado com Ana Dadalt Dalla Vecchia, Valdemar casado com
Vilma Giacomoli, Agenor casado com Lúcia Rossato, Alcides
casado com Gema Sartori, Amália casada com Constantino
João Daldon, Hortência casada com Guilherme Gobbi,
Ortenila casada com Hércules Angelo Dall'Oglio, Santina
casada com Emidio Piccinini, Alice casada com José Daldon,
Ida casada com Arlindo Bonfanti e Matilde casada com Luiz
Pretto, todos nascidos em Jacarezinho.
DAVID, casado com Carolina Gonzatti (apelido Perolin), e
resid. em Jacarezinho teve 10 filhos: Guido, Lídia (casada
com Fontana em Lageadinho, Encantado), Vilma (casada com
Tombini em Encantado), Adélia (casada com Vendramini em
Nova Bréscia), Elga, Itelvina, Leodina, Nilo, Aquilino (casado
com Vendramini), Nildo (casado com Vanceta).
RACHELE, casada com Joaquim Nardini e res. em Encantado
teve a filha Terezinha (casada com Domingos Sonaglio que
tem dois filhos: Marcos (casado com Denise Silva) e Márcia,
residindo em Niterói, Canoas.
IZABELA, casada com Orestes Bertozzi e reside em S. José,
Encantado.
FRANCISCO, casado com Olinda Dalla Croce e resid. em
Jacarezinho teve 6 filhos: Irene (casado com José Lucca, viúvo
234
de Remegilda Agostini e res. em Esteio), Gildo (res. B.
Argentina), Jandir (casado com Pretto em Encantado), Itelvina
(casada com Sartori em S. Miguel do Oeste, SC), Leodina
(casada com Vian em Encantado), Leo (casado com Barrili em
Descanso SC).
A longevidade da família de Maria é notória. Ao celebrar 50
anos de casamento, estando Maria com 72 anos de idade e
sendo ela das mais jovens entre os irmãos, estavam presentes
os 9 irmãos. Na ocasião, o mais velho, Marcos , tinha 98 anos
de idade. Os 9 irmãos, 4 dos quais ultrapassariam 100 anos,
brincaram e cantaram o dia inteiro, recordando aos netos e
bisnetos as canções trazidas da Itália pelos pais e avós. Maria,
faleceu, quase centenária, depois de dançar , e como dançava,
a noite toda com os netos e bisnetos por ocasião do casamento
de um dos netos. Na serenidade de quem sabe que vai morrer,
pediu um padre, confessou, comungou, aconselhou a cada
filho pedindo a união e dormiu na paz do Senhor no hospital
de Encantado.
Angelo (Angelin) casado com Angelina Radaelli, abriu a
primeira casa comercial de Nova Bréscia e teve 2 filhos (João
e Alfredo).
Antonio casado com Maria Telk Zanotelli (cujos filhos são:
Adolfo casado com Bohrer em Lageado e uma filha casada
com Casagrande em Relvado).
235
Catarina casada com Aldrovandi de Muçum.
Felice casado com Antonia Casagrande (cujos filhos são:
Eugênio, Tranqüilo e Plácido).
2033 ZBACFFCA. LEONEL AGOSTINI ZANOTELLI
Leonel nasceu em Jacarezinho aos 23 de dezembro de
1916 (seu registro civil consta 01.01.1917) na casa construída
por Narciso e residência de João e Maria. “Trabalho e alegria”,
sua dística.
Agricultor em Jacarezinho desde criança, foi depois
motorista de seu caminhão (um Ford 37) transportando
madeira da região de Passo Fundo até o porto de Mariante.
Mudou residência depois, (1947) para Erechim, Aratiba,
Pinhão e Bentevi, onde foi agricultor, pequeno comerciante e
açougueiro. De retorno para Jacarezinho e dali para Fontoura
Xavier (Guamirim e Campo Novo) onde agregou a função de
serrador , sempre atuando em sua pequena propriedade. Jamais
aceitou ser empregado, dependente, funcionário. Preza muito
sua liberdade e um espaço (quase semanal) para caçar e
pescar. Atualmente reside em Canoas onde também residem 5
filhos e outros parentes.
236
2034 ZBACFFCA D. ANA CATARINA DADALT DALLA
VECCHIA
ANA é filha de Antonio Vicenzi Dalla Vecchia e de Francisca
Vicenzi Dadalt, neta de Pietro (Pedro) Dalla Barba Dalla
Vecchia e bisneta de BENIAMINO DALLA VECCHIA. Pelo
lado materno é neta de Valentino Dadalt e Maria Desiderata
Manica que migraram para a Linha Jansen da Colônia
Isabela (Bento Gonçalves) e onde nasceu Francisca.
São irmãos de Francisca: Guilherme Dadalt (asado com Ana e
residente em Progresso),Pedro Dadalt (casado com Luiza de
Conto e residente na Linha Garibaldi Encantado), João
Dadalt ( casado com Alzira Pretto e residente em Ricarda),
Angelino Dadalt (casado com Olinda Pretto faleceu em
Ricarda eletrocutado, ao ir à missa a cavalo), Maria(casada
com Franzel Bagatini e residente na linha Sagrada Família
Encantado), Ana Dadalt (casada com Paulo Spezzatto e
residente em S. Luiz Encantado), Rosa Dadalt (casada com
Santo Demicchei e residente em Relvado), Inês Dadalt (casada
com Albino Secchi e residente em Pato Branco PR), Antonio
Dadalt (faleceu solteiro de apendicite), Luiz Dadalt (faleceu
solteiro na explosão da caldeira de cachaça).
237
Da Linha Jansen os Dadalt também desceram para
Encantado, na década de 1880. Ali casaram Antonio e
Francisca
.
Ana Catarina Dadalt Dalla Vecchia, casada com Leonel
Agostini Zanotelli, é filha de Antonio Vicenzi Dalla Vecchia e
Francisca Vicenzi Dadalt. Nascida em Jacarezinho aos 29 de
outubro de 1916, teve 11 filhos e marcou a todos por uma forte
espiritualidade e união. A agricultura, a falta de saúde, os
problemas nunca a abatiam. Lastimava-se sempre de não
poder participar da eucaristia todos os dias. Quando
finalmente foi morar em Canoas participou intensamente da
pastoral e da liturgia. Dela uma frase que marca. Não discuto
se Maria tem poder ou não. Só sei que se Cristo é Deus, Maria
é a mãe dele.
Ana Catarina Dadalt Dalla Vecchia
238
Os Dalla Vecchia em sua grande maioria imigrada para o
Brasil, RS, descendem fundamentalmente de dois irmãos:
Angelo e Pietro, como se pode ver na obra de nossa autoria A
FAMÍLIA DALLA VECCHIA a ser editada neste ano de
2011. Para suas relações com os Zanotelli aportamos abaixo
algumas informações:
BENIAMINO DALLA VECCHIA emigrou de Montemezzo,
Vicenza com os filhos Ângelo, Pedro e Catarina. Beniamino
faleceu na viagem e de tristeza a esposa Domenica Dalla
Barba que amamentava a filha Catarina, teve seu leite
estancado vindo a falecer também Catarina na mesma
viagem.
Pedro casou com Catarina Vicenzi e com ela teve 3 filhos
(Antonio (casado com Francisca Vicenzi Dadalt e resid. em
Jacarezinho e depois em Aratiba RS), Angelo (casado com
Leonora „„Nori” Dellazzari e resid. em Xapecozinho SC),
Catarina (casada com Pedro Dellazzari e resid. em Linha
Sagrada Família, Encantado).
Pedro casou depois com Pascoa Vigoli (Masiero) e com ela
teve 11 filhos: José (casado com Catarina “Catina” de Conto
e resid. na Linha N.Sra. Auxiliadora em Encantado), Luiz
(casado com Marta de Conto e resid. em S. Luiz, Encantado),
João (casado com Luiza Tiecker que era madrinha de Ana e
239
resid. em Marau RS), Augusto (casado com Elvira Turati e
resid. em Capoeirinha, Encantado), Vitório (casado com Inês
Dellazzari e resid. em Capoeirinha, Encantado), Batista
(casado com Rosa Bagatini e resid. em Aratiba e depois em
Pato Branco PR), Sílvio (casado com Rosa Mussio e resid. em
Encantado), Atílio (casado com Angelina Bagatini e resid. em
Aratiba), Lúcia (casada com João Buvié e resid. em S. Luiz,
Encantado), Maria (casada com Afonso de Conto e resid. em
Linha Anita, Encantado), Rosa (casada com de Conto e resid.
na Linha Anita, Encantado).
A família de Antonio e Francisca Dalla Vecchia - (Bodas de
Ouro) Pinhão - Aratiba RS. Aos fundos a casa de Albino
Dadalt Dalla Vecchia.
240
A família de Antonio Dalla Vecchia e Francisca Dadalt. Não
constam na fotografia João, José e Avelino Da esquerda para
a direita sentados: Ana, Maria, Francisca, Antonio, Albino,
Vitório. De pé: Inês (Agnese), Rosa, Ângelo, Augusto, Avelino
Antonio Vicenzi Dalla Vecchia e Francisca Dadalt tiveram 12
filhos: Albino (casado com Cesarina Bagatini e resid. em
Jacarezinho e depois em Pinhão, Aratiba, RS), João (casado
com Maria Bagatini e resid. em Pinhão, Aratiba), José
(casado com Amélia Cechin e resid. em Saltinho, Itatiba do Sul
RS), Maria (casada com Emílio Bagatini e resid. em Barra do
Rio Azul, Aratiba), Ana (casada com Leonel Telk Zanotelli e
resid. em Jacarezinho, depois Aratiba, depois Jacarezinho,
Soledade e Canoas RS), Angelo (casado com Leonilda
Albertoni e resid. em Aratiba), Vitório (casado com Élia
241
Ferranti e resid. em S. Miguel do Oeste SC), Augusto (casado
com Maria Pilati e resid. em Pinhão, Aratiba), Inês (casada
com José Muccelin e resid. em Aratiba), Rosa (casada com
José Frigeri e resid. em Jacarezinho), Avelino (casado com
Nair Dalla Rosa e resid. em Pinhão, Aratiba), David (faleceu
aos 6 anos em Jacarezinho, Encantado).
Ana casou com LEONEL AGOSTINI ZANOTELLI, em
Jacarezinho, Encantado e teve os seguintes filhos: Jandir,
Geni, Gino, Irma, Itelvina, Ilva, Castilo, Olir, Lírio, Clasi e
Dinasir .
Profundamente cristã e pacificadora tinha grande capacidade
para reunir e unir pessoas. Nasceu em Jacarezinho,
Encantado, em 29.10.1915 e faleceu em Pelotas em
25.11.1990. Foi sepultada em Canoas, RS.
30010.ANGELO DALLA BARBA DALLA VECCHIA, filho
de Beniamino Dalla Vechia e de Domenica Dalla Barba,
nasceu em Montemezzo , Vicenza em 6.2.1860 e chegou ao
Brasil com 18 anos, tendo seu pai e sua irmã Catarina falecido
na viagem sendo jogados ao mar, casou com ANGELA
DANDA SERAFINI , filha de Carlo Serafini e de Maria
Danda, natural de Chiampo, Vicenza, nascida em 2.8.1859,
casamento realizado em 7.6.1880 na paróquia de Santo
242
Antonio de Bento Gonçalves, sendo oficiante o P. Giovanni
Menegoto cf. n.34, pg 34 do Livro de Casamentos daquela
paróquia. Com Angela, Angelo teve 14 filhos: Benjamim
casado com Rosa Pretto(e residente em Xapecozinho SC), Luiz
casado com Fortuna Bagatini(e residente em S. Luiz -
Encantado), João casado com Maria Spezatto(e residente em
Ponte Serrada SC), Carlos casado com Augusta Dadalt (e
residente em Nonoai RS), Pedro casado com Vitória Buvié(e
residente em Jacarezinho), Maria (freira), Luiza (freira),
Rosina (freira em Jundiaí
30135. CARLOS (CARLO) SERAFINI DALLA VECCHIA,
filho de Angelo Dalla Barba Dalla Vecchia e Angela Serafini,
e neto de Beniamino D.V. e Domenica Dalla Barba, casado
com AUGUSTA DADALT, filha de Valentino Dadalt e Maria
Desiderata Manica, nascido na Linha Jansen da Colonia
Isabela (Bento Gonçalves), tem seu casamento registrado à pg
82 , n.482 do Livro de Casamentos da Paróquia de São Pedro
de Encantado, realizado que foi em 9.10.1910. SP), Pierina
casada com Luciano Dellazzari (e residente na linha da
Sagrada Família - Encantado), Ermínia casada com Eurico
Fontana(e residente em Lambari - Encantado), Ricardo
casado com Dellazzari(e residente em Marau RS), Antonieta
casada com Angelo Mazziero( e residente no Passo de Roca
243
Sales-Encantado), e duas gêmeas que morreram crianças de
escabiose.
Viúvo de Angela, Angelo que viera da Itália em julho
de 1878 para a colônia Izabela (Bento Gonçalves), linha
Jansen à beira da estrada dos tropeiros que conduzia de
Maratá e Montenegro até Lagoa Vermelha atravessando o Rio
das Antas, e por volta de 1895 deslocou-se para a linha
Auxiliadora, Jacarezinho, Encantado. Casou novamente com
FORTUNATA MARTINI GRAZIOLA, filha de Antonio
Graziola e Ermínia Martini, nascida em S. João de
Montenegro em 1874, casamento realizado na capela (hoje
paróquia) de S. Pedro de Encantado em 18.1.1900, sendo
oficiante o P. Joseph Pandolfi cf n. 97 pg 23 do livro de
Casamentos daquela paróquia. Com Fortunata, Angelo teve
10 filhos: Angela (faleceu solteira), Dosolina casada com
Albino Buvié(e residente no Passo de Roca Sales-Encantado),
Josefina casada com Martin de Conto(e residente na linha N.
Sra. Auxiliadora de Encantado), José (Bepi del Buso residente
em Auxiliadora Encantado) casado com Filomena Berti,
Maria Luiza (freira em Vale Vêneto), Inês casada com Luiz de
Conto(e residente em Jacarezinho - Encantado), Augusto
casado com Ana de Conto(e residente em S. Miguel do Oeste
SC), Jorge casado com Elvira ( e residente em S. José -
Encantado) e depois com Bertozzi, Gema casada com
244
Grazziola( e residente em Linha Anita - Encantado) e Romana
(solteira, enfermeira, em POA).
Leonel Agostini Zanotelli e Ana Dadalt Dalla Vecchia
foram agricultores, comerciantes e pequenos industriais.
Serraria de Leonel Zanotelli - Campo Novo - Fontoura Xavier -1960-70
Um grande número de Zanotelli no Brasil dedicou-se à
extração e industrialização da madeira especialmente de pinho
no Rio Grande do Sul e Santa Catarina e ainda hoje de madeira
de lei em Mato Grosso e Rondônia. Leonel tinha tecnologia
especial para que a madeira de pinho não apodrecesse, para
que mantivesse a consistência etc. que ia desde a época própria
para o abate até o modo de empilhá-la.
245
Serraria - Campo Novo - Fontoura Xavier - Soledade.
Jandir João Dalla Vecchhia Zanotelli e Ruth Avila Zanotelli,
ele nasceu em Encantado em 21 de julho de 1939, filho de
Leonel e Ana; ela nasceu em Bagé, em 26 de outubro de 1942,
filha de Octacílio Machado Ávila e Inah Judith Machado
Ávila. Professores em Pelotas, RS, são pais de Eloí (com filha
Camila), Vinícius cc Rosana Medina Zanotelli (filhas: Ana
246
Catarina e Juliana), Daniel cc com Rachel Zanotta Carneiro
(filho: Pedro Afonso), Luciana cc Paulo Henrique Zanotelli
(filhos: João e Michel)
Ruth é formada em Filosofia e especializada em Educação,
Ruth lecionou no Primeiro e Segundo Graus em Bagé,
Piratini, Canguçu e Pelotas e na Universidade Federal de
Pelotas. Ruth tem um irmão: Alfredo Antero Machado Avila.
Casado com Andradina Correa. Alfredo tem 6 filhos: Denise,
Paulo Ricardo, Simone, Luciano, Juliano e Cristiano.
A família de Jandir e Ruth no 1º.Encontro em Porto Alegre
247
2035.ZBACFFCB. VALDEMAR AGOSTINI ZANOTELLI
Valdemar Agostini Zanotelli, filho de João e neto de Narciso
Zanotelli, nasceu em Jacarezinho, Encantado. Casou com
Vilma Giacomoli e teve 4 filhos: Darci, Moacir, Adilar e
Marisa. Pequeno agricultor, pequeno industrial e
caminhoneiro. Faleceu em acidente de seu caminhão.
2041. ZBACFFCE. AMÁLIA AGOSTINI ZANOTELLI
Amália Agostini Zanotelli nasceu em Jacarezinho, casou com
João Daldon, também agricultor. Moraram nas colônias de
Palmas, depois deslocaram-se para Jacarezinho. Hoje estão em
terras que pertenceram a Narciso e João Zanotelli. Tiveram 6
filhos: Hilário, Lurdes, Iracema, Nilton, Nilze e Neuton cujos
filhos constam na árvore genealógica.
Valdemar Agostini
Zanotelli
248
2055. ZBACFFCL. MATILDE AGOSTINI ZANOTELLI
Matilde, casada e viúva de Luiz Pretto, foi agricultora em
Jacarezinho, funcionária pública em Porto Alegre onde reside e
tem 6 filhos: Ortenila, Lurdes, Leodocir, Leonildo, Aracy
(Gessi) e Paulo.
2053.ZBACFFCK. IDA AGOSTINI ZANOTELLI
Ida e Arlindo, agricultores, produtores de ótimas cachaças
residem na casa onde viveu e morreu o casal João Telk
Zanotelli e Maria Agostini, em Jacarezinho. Tem 11 filhos:
Otomar, Erci, Geni, Leodocir, José Antonio, Pedro Roque,
Geni Carmen, Inês Elisa, Luiz, Maristela e Maria Cristina.
ARLINDO BONFANTI, filho de José Bonfanti e de Elisa
Branchi, nascido em 13.8.1919 em Garibaldi e sendo seus
irmãos: Felix, Luiz, Carmen, Almiro, Sabina, Olga, Inês e
Carlos casado este com Feronato. Reside em Jacarezinho,
Encantado, na casa que Narciso comprou e construiu e na
qual nasceram João (filho), Leonel (neto), Jandir (bisneto)
Zanotelli. Arlindo é exímio produtor de cachaças. Em 1994
celebrou 50 anos de casamento com a presença de grande
número de parentes e amigos.
Otomar Zanotelli Bonfanti,
filho de Ida Agostini Zanotelli
249
2049.ZBACFFCI. ALICE AGOSTINI ZANOTELLI
Alice, casada e viúva de José Daldon, agricultora, residiu na
Colônia de Palmas, Aratiba (Bentevi), Jacarezinho e agora em
Porto Alegre. Tem 8 filhos: Mirtes, Moacir, Nestor, Hilário,
Ênio, Salete, Serjane, Eliane. Anima os encontros promovendo
a alegria. A festa que reúne.
Família de Alice Agostini Zanotelli no encontro de P. Alegre
250
2047.ZBACFFCH. SANTINA AGOSTINI ZANOTELLI
Santina, viúva de Emidio Piccinini, reside em Jacarezinho e
tem 9 filhos: Elaci, Erni, Eloá, Emília, Soeli, Solange, Senito,
Sônia, Elisa.
2037.ZBACFFCC. ALCIDES AGOSTINI ZANOTELLI
Alcides foi agricultor e depois do comércio transportador.
Reside atualmente em Carazinho e tem 2 filhos: Rejane e
Volmar.
251
2051.ZBACFFCJ. ANGELA AGOSTINI ZANOTELLI
Angela (Angelina), casada com Arlindo Daldon, foi agricultora
em Jacarezinho, depois nas colônias de Palmas, retornou
depois a Jacarezinho em terras que foram de Narciso e João
Zanotelli e agora reside em Canoas. Tem 4 filhas: Gesselda,
Gessilda, Ilva e Mairi. O acolhimento e a simpatia servindo e
beliscando a vida.
2043.ZBACFFCF. HORTÊNSIA AGOSTINI
ZANOTELLI
Hortênsia, nascida em Jacarezinho, foi, como seu marido
Guilherme Gobbi, agricultora. Transferiram-se depois para S.
José do Cedro, SC, e mais tarde para o Sorriso, MT onde
cultivam soja e criam suínos em escala. Dos filhos: Admar
casado com Lurdes Rigo tem três filhos (Everton, Ederson e
Cleyton), Gilmar, bancário, casado com Claudete Melo tem
dois filhos (Guilherme e Gustavo) e Marisa casada com Carlos
Boaro tem 3 filhos(Sidionara, Patrícia e Anderson).
252
2045.ZBACFFCG. ORTENILA AGOSTINI ZANOTELLI
Ortenila nasceu em Jacarezinho e casou com Hércules Ângelo
Dall‟Oglio, filho de Henrique Dall‟Oglio e Amália Terezinha
Sopel que é aposentado como motorista de caminhão de carga
de sua propriedade. Reside em Sarandi RS e tem 7 filhos:
Gilmar João, Nair, Nadir, Marilene Maria, Jaime Antonio,
Gilvani e Adriano residentes em Porto Alegre.
2039.ZBACFFCD. AGENOR AGOSTINI ZANOTELLI
Agenor, filho caçula de João Zanotelli, casado com Lúcia
Rossato, tem comércio de frutas e hortaliças. Reside em
254
Luana, filha de Agenor e Jandir, a mais jovem e o mais velho dos primos
descendentes de João Telk Zanotelli.
255
1520.ZBACFFD. MARIA TELK ZANOTELLI
Maria, filha de Narciso e Tereza, nascida em Figueira de Mello
em 12.5.1878, casou com ANTONIO FERRARI AGOSTINI,
filho de Giovanni Baptista Agostini e Angela Ferrari, nascido
em 6.10.1882 em Figueira de Mello, casamento realizado
17.2.1900 na Capela S. Pedro de Encantando, hoje paróquia,
sendo vigário o P. Joseph Pandolfi, cf n.102 da pg 25 do Livro
de Casamentos daquela paróquia. São padrinhos de João Telk
Zanotelli e Maria Bridi Agostini sendo por isso Antonio tio,
cunhado e padrinho de João por causa de Maria Agostini.
1522.ZBACFFG. AMÁLIA TELK ZANOTELLI
Amália nasceu em 1880 em Conde d‟Eu, casou com Stefen
Pezzini (nascido em 1876 em Conde d‟Eu) em Encantado aos
20.02.1897134
e residiu em Jacarezinho em terras vizinhas às
de seu pai Narciso. Em 1884 consta dos filhos de Narciso na
relação de terras do Arquivo Histórico de Porto Alegre, Livro
312, quando este recebia o título provisório de seu lote de
Conde d‟Eu.
134
No livro 7 de Casamentos da Paróquia de Encantado, pg. 5v. encontra-se
o registro do casamento de Amália, referindo que ela é natural do Brasil, de
Rio Pardo porque a região pertencia então ao município de Rio Pardo. O
nubente Stefano era filho de Antonio Pezzini e Teresa Marchette, tiroleses
de Trento.
256
1524.ZBACFFJ. NARCIZA TELK ZANOTELLI
Narciza, filha de Narciso e Theresa, neta de Francesco, nasceu
em 1885 em Figueira de Mello , Garibaldi. Casou com
FIORINDO VINCIGUERRA (Bettini), filho de Francesco e
Albina Vinciguerra, nascido em 1884 também em Figueira de
Mello. O casamento de 18.6.1909 encontra-se registrado sob o
n. 432 da pg 75 do Livro de Casamentos da Paróquia de São
Pedro de Encantado sendo testemunhas Antonio Agostini e
Antonio Giovanella. Residiram em Canudos, município de
Lageado.
1526.ZBACFFI. CAROLINA TELK ZANOTELLI
Carolina, filha de Narciso e Tereza, nascida em Figueira de
Mello, Garibaldi em 1883, casou com LUIZ MARTINI
(Adolfo), filho de João Martini e Catarina Zanata, nascido em
Figueira de Mello em 1881, casamento realizado na Paróquia
de São Pedro de Encantado em 24.2.1906 cf. n.283 pg 59 do
Livro de Casamentos daquela paróquia indo residir
inicialmente em Jacarezinho e depois em Progresso, município
de Lageado.
ZBACFFF. ROSINA TELK ZANOTELLI
Rosina, filha de Narciso e Tereza, nascida em 1889 em
Figueira de Mello, Garibaldi, casou com CELESTINO DAL
257
MORO filho de João Batista Dal Moro e de Angela Andreola,
nascido em 12.6.1888 em Nova Bréscia, em 15.2.1908 cf
consta sob o n. 352 , da pg 66 do Livro de Casamentos da
Paróquia de São Pedro de Encantado, tendo residido
inicialmente em Jacarezinho e depois em Vila Progresso,
município de Lajeado celebrante do casamento foi o P. Pedro
Negri.
722 DOMENICO ZANOTELLI
Domenico, casado com THERESA ZANOTELLI, nasceu e
morreu no Tirol, Cembra.. Seu filho Costante emigrou para o
Brasil, com a idade de 18 anos, em companhia de parentes e
para fugir ao serviço militar austríaco, segundo consta aos
descendentes. No Livro 01 de Registro de Nascimentos de
Muçum às fls. 116: Costante registra o nascimento de seu
filho Carlos, dizendo-se ele filho de Domingos e Teresa
falecidos na Austria, isto é no Tirol. No Livro 3 de Batisados
da Paróquia de Conde d'Eu, pg 16 consta o batisado de José
Narciso Zanotelli, filho legítimo de Constante Zanotelli e
Elizabetha (deve ser Elisa) Alberti, neto de Domingos
Zanotelli, sendo padrinho Narciso Zanotelli (Trata-se de
Narciso Eccli Zanotelli, filho de Francisco, neto de Giov.
Gasparo) e Maria Zanata, sendo o batismo realizado em
15.11.1888 pelo P. Bartholomeu Tiecker
258
1203 CONSTANTE ZANOTELLI
Constante, assinava Zanoteli, nascido no Tirol em 16.1.864 e
falecido em Muçum em 31.12.1942 (Cf Livro de Óbitos C 4 pg
27 de Muçum) casou com Elizabetha (Elisa) Alberti, nascido
no Tirol e falecida em Muçum em 1921.Bebia. (Cf liv.3 de
Bats. pg. 16 Conde d'Eu) São seus filhos: José Narciso,
Agostino(Augusto), Amabile, Carlos, Ema, Angelo, e João.
1586 JOSE NARCISO ALBERTI ZANOTELLI
José Narciso, nascido em Garibaldi em 4.11.1888 e batisado
também em Conde d'Eu (cf. Livro 3 de Batis. pg 16) em
15.11.1888 sendo seus padrinhos Narciso Zanotelli e Maria
Zanata, e sendo vigário o P. Barth. Tiecker, casou com Rosina
Badin em 1911 (cf. Livro de Casamentos B 1 fl 128 de
Muçum) foi residir em Putinga e teve como filhos: Pedro,
João, Francisco, Constante, Carlos, Luiz, Maximino, Angelina,
Carmelina, Iza, Gema e Pierina
1588 AGOSTINHO ALBERTI ZANOTELLI
Agostinho ou Agostino nasceu em Muçum em 1894 e morreu
em 7.7.1943 em Fontoura Xavier, Duduia, casou com Luiza
Manica, em Muçum aos 27.12.1915 (Cf Livro de Casamentos
B-2 fls. 22 e v) falecida em 12.3.1975 também em Fontoura
259
Xavier, Picada Castro e tiveram os seguintes filhos: Costante,
José, Santo, Maria, Anilo, Angelina, Francisco e Narciso.
2073 JOÃO BADIN ZANOTELLI
João, filho de José Narciso, neto de Constante e bisneto de
Domingos nasceu em Muçum em 28.9.1915 (Cf Livro A-4 fl.
164 v de Reg. Nasc. de Muçum), casou com Zelinda Rossi e
foi morar em Putinga
1598 JOÃO ALBERTI ZANOTELLI,
Filho de constante e neto de Domingos, nasceu em Muçum em
13.10.1908 e faleceu solteiro, em Muçum , Brancareu em
21.12.1980 (Cf. Livro C-1 de Óbitos fl. 226v). Boêmio, bebia
muito e deve ter deixado uma filha.
1599. EMA ALBERTI ZANOTELLI
Ema, filha de Constante é casada com Pessali, reside em S.
Valentim, município de Muçum.
1594 AMABILE ALBERTI ZANOTELLI
Amabile, filha de Constante, casada com Ignatio Antonio
Vianini foi residir em Guaporé. Seus filhos José e Iris residem
em Gravataí e Porto Alegre respectivamente.
260
1592 ANGELO ALBERTI ZANOTELLI
Angelo, filho de Constante nascido em Muçum 24.12.1901
(Cf. Livro A-4 fl. 163 v de Nasc. de Muçum) e casou com
Angelina Pessali em 1939 (Livro B-5 fl. 86 v de Casamentos
de Muçum) legitimando os seguintes filhos: Ricieri (Xapecó),
Eliza (Bento Gonçalves), Maria, Celestina, Arlindo (Muçum),
Cláudio (B.Gonçalves) e Gema. Residiu em Putinga RS.
1589 CARLOS ALBERTI ZANOTELLI
Carlos, nasceu em 19.2.1900 em Muçum, casou em 1918 com
Rosa Franceschina em Muçum. Em 1942 foi residir em Casca.
Ali ficou até 1946 quando foi para Erechim lá ficando até 1948
quando foi para Xapecó (Cf. Livro Nasc. pg 116 e o Livro de
Óbitos C-12 fl. 84 v de Muçum). Faleceu em Xapecó em
2.11.1987. Filhos: Inês, Angelo, Pedro, Paulina, Maria ,
Balduino, José, Luiz, Anita, Gema, Alderino, Odila e Suelci.
1450.ZABAFBA. JOSE DEVILLI ZANOTELLI
José, filho de Giacomo Calovi Zanotelli e neto de Giovanni
Keller Zanotelli Este era filho de Gregório, este de Giovanni e
este de Giov. Antonio di Livo que nasceu por volta de 1683 e
foi residir em Cembra, Trento, Tirol (Austria então) Segundo
os descendentes José é filho único de Giacomo. Nasceu em
261
1879 provavelmente em Iconha, ES, casou em 1908 com
AUGUSTA DALCOL NOGAROL (Nasc
25.3.91,Alfr.Chaves, ES) Foram morar em Iconha ES. Os
irmãos de Giacomo são: Giuseppe ( nascido em Cembra em
21.5.1838 e casado com Maria Miorandi em 12.11.1870 e dele
há notícia de ter migrado para o ES), Maria casada com Paolo
Nicolodi em Cembra, Emanuele e Giovanni nascido 25.7.1843
e casado com Domenica Zanot em 28.9.1861 em Cembra,
Itália. Os filhos de José são: Lino, Idília, José, Idílio, Carolina,
Antonio, Prascóvia, Pedro, Mário, Rita, Ana e Julieta. A
família fixou-se em Cachoeiro do Itapemerim, ES.
2153.ZBACEC. ANGELO NICOLODI ZANOTELLI
Angelo, que fixou residência em 25 de Julho, Santa Teresa ES
casou com CATARINA TONINI e, depois de viúvo, com
AGATA SPERANDIO. O túmulo de Angelo encontra-se em
Pé da Serra, Santa Teresa. Era filho de Paolo e neto de
Giovanni Gasparo e seus filhos são: Paolo, Luiz, Antonio,
Maria e Henriqueta. Angelo nasceu em Cembra em 6.7.1856.
1115.ZBACEB. PAOLO NICOLODI ZANOTELLI
Paolo, filho de Paolo Savoi Zanotelli e neto de Giovanni
Gasparo, casado com JOSEFINA ZOTOLI, nasceu em
Cembra em 24.5.1853.Residiu em Santa Teresa, indo depois
262
para Colatina como agricultor. Sabe-se que os seus
descendentes estão em S. Torquato, Nova Venecia, S. Gabriel
da Palha e Vila Velha...São seus filhos: João, José e Maria
(Marieta).
1109.ZBACEA. FRANCESCO NICOLODI ZANOTELLI
Francesco, filho de Paolo Savoi Zanotelli e neto de Giovanni
Gasparo, nascido em Cembra em 11.07.1850, fixou residência
em S. João da Barra Seca, Colatina, ES, casado em ELVIRA
ZENNI teve os filhos: Angelo, Fortunato, Terezinha, Paulina e
Francisco.
1131.ZBACED. MARGHERITA NICOLODI
ZANOTELLI
Margherita, filha de Paolo Savoi Zanotelli e neta de Giovanni
Gasparo, residiu em Vitória e era famosa como parteira., talvez
a primeira parteira do ES. Nasceu em Cembra em 12.7.1843
1113.ZBACEE. MARIA NICOLODI ZANOTELLI
Maria, filha de Paolo Savoi Zanotelli e neta de Giovanni
Gasparo, dela não se tem notícia. Não se sabe se teria
emigrado do Tirol com os pais ou não. Nasceu em Cembra em
1.4.1847
263
1117.ZBACEF. GIUSTINA NICOLODI ZANOTELLI
Giustina, filha de Paolo Savoi Zanotelli e neta de Giovanni
Gasparo. Não se tem notícia se teria ou não emigrado do Tirol
ao Brasil com os pais. Nasceu em Cembra em 30.81863
2681 OTTILIA GON
Otília, casada com FRANCISCO BENITO ZANOTELLI, é
filha de Américo Gon e de Carolina Bonisse, agricultores em
Colatina, ES. Tiveram 6 filhos: Renato Francisco, Geraldo
José, Regina Celi, Pedro Paulo, Francisco Américo, Rosa
Amélia.
1452 DAVID ZANOTELLI
David, casado com Eugênia Webber que era irmã de Ernesto
Webber emigrou do Tirol para Caxias na década de 1880.
David tinha duas irmãs, uma das quais era Cândida. Tinha por
apelido DAVID PAROLETO (ou PAROLIN), porque
fabricava tachos de cobre ao lado da fábrica de Abramo Eberle
em Caxias do Sul. Em dialeto vêneto "parol" significa panela,
tacho e especificamente a panela de fundo arredondado para
fazer polenta. Os filhos Mario e Júlio não seguiram a profissão
do pai e as filhas Alaide, Adelzia e Maria acompanharam os
respectivos maridos. A bela fortuna de David ficou assim
dividida. Júlio fixou residência em Erechim RS, Mário em
264
Fortaleza CE. Alaíde, casada com Emílio Costa, em Caxias,
não teve filhos. Adélzia casada com Higínio Piccoli tem 5
filhos (Bruno, Wilson, Raul, Branca e Onice), Maria casada
com Angelo Bergamaschi, em Caxias do Sul tem 3 filhas
(Helena, Geni e Dolores).
2137. AMERICO FAVORETTI ZANOTELLI
Américo, casado com Sabina Menegatti , era filho de
Paulo ou Paulino e neto de Angelo Nicolodi Zanotelli, bisneto
de Paolo Savoi Zanotelli...A mãe de Américo, Angelina
Favoretti era filha de Ferdinando Favoretti e de Clotildes
Luppi. Sabina Menegatti é filha de José Menegatti e Irida
Brunetti, ambos nascidos na Itália. Irida era filha de Gildaldo
Brunetti e de Serafina Rossi.
1144.ZCDACA. JOSÉ NICOLODI ZANOTELLI
Filho de José e Rosa Nicolodi, neto de Cristano Zanotelli e
Orsola Nardon, irmão de Theresa e Rosa, casou com Rachele
Pressi em Muçum (Igreja de Encantado) e transferiu-se para
Marcelino Ramos RS. Teve 11 filhos: Olivério Affonso casado
com Diolinda Lopes e residente em Muçum e depois em
Quaraí (teve 4 filhos: Darci, Dirceu, Salete e Mafalda), David
(faleceu solteiro), José (sacerdote), João (faleceu solteiro),
Vergínio Francisco (ou Vigilio, casado com Maria Madalena
265
Santin reside em Medianeira, PR e tem 7 filhos: Lídia,
Agostino, Aquiles, Atílio José, Carmen, Inete, João Cândido),
Vitório ( residente tem Passo Fundo é casado com Brandina e
tem 7 filhos: Teresa, Orlando, Rita, Helena, Dinorá, Cláudio e
Mércia), Inês (Agnese casada com Francisco Galego Carmona,
residente em Curitiba tem 3 filhos: Nilo, Geny e Leni), Narciza
(casada com Humberto Santin, residente em Curitiba, tem 9
filhos: Bruno, Amabile, Maria, Sílvio, Ricardo, Albina,
Querino, Lino e Olinda), Amábile (casada com Francisco
Scotini), Lúcia (casada com Gildo Maran e residente em Sto.
Antonio PR tem 7 filhos: Carlos, Quirino, Otávio, Pedro,
Natália, Severino e Agenor) e Rosália (casada com Amos
Tosati, reside em Xanxerê SC e tem 6 filhos: Lionel, Iris,
Lurdes, Eloí, Gelci e Hélio).
São muitos os Zanotelli no Brasil. Temos mais de 3.000
cadastrados para compor a árvore genealógica. Calcula-se que
as pessoas de sobrenome Zanotelli (com as variantes a cargo
especialmente de nossos cartórios: Zannutteli, Zaneteli,
Zanoteli, Zanatelli, Zanitelli) e as a eles vinculadas
ultrapassem a cifra de 10.000. Da raiz prolífica dos imigrantes
o encontro foi uma bela amostragem.
267
IX- CANÇÕES.
Dentre as canções mais lembradas pelos descendentes da
família Zanotelli e cantadas freqüentemente estão as abaixo:
I. CUCU
L'inverno l‟è passato L'aprile non c'è più
sole ritornato
Al canto de cucù
L'Inverno l'è passato
La neve non c‟è più
E maggio è ritornato
Al canto del cucù.
La su per le montagne La neve non c'è più Comincia
a far il nido Il povero cucù.
Sul monte c'era um bimbo Portava a pascolar un
píccolo agnellino Che sol parea belar
Un bioccolo di lana Lasciò per lui lassu E l‟uccelino
lieto vi pose il suo cucù.
268
II. DA L'ITALIA
l. Da I'Italia noi siamo partiti Siam partiti col nostro onore
Trenta sei giorni di macchina a vapore
E in America noi siamo arrivà.
Rit: Merica Merica Merica Cosa sarà la sta Merica Merica
Merica Merica È un mazzolin di fior
2.A l'America noi siamo arrivati Non abbiam trovato ne paglia
e ne feno Abbiam dormito sul nudo terreno come le bestie
abbiam riposà
3.L'America l'è lunga e l'è larga L‟è' formata de monti e di
piani E con l‟industria de noaltri italiani Abbiam fondato
paesi e città.
III. DAMMI O BELLO IL TUO FAZZOLETTINO
1. Dammi o bello il tuo fazzolettino (bis) Vado alla fonte, lo
voglio lavar
2. Te lo lavo con l'acqua e sapone (bis) Ogni macchietta un
bacino d'amor
3. Te lo stendo su un ramo di rose (bis) Il vento d'aprile lo fa
asciugar
4. Te lo stiro col ferro a vapore (bis) Ogni pieghina un sospiro
d'amor
269
5. Te lo porto di sabato sera (bis) Di nascosto di mamma e
papà
IV. LA BELLA VIOLETA
1.La bella violeta la và, la và La và sul campo e la se
rinsognava Che l‟era il suo gingin Che la rimirava.
2.Cosa rimiritu gingin d‟amor, gingin d‟amor Io ti rimiro
perchè tu sei bella Vuoi tu venir con me E com me alla
guerra.
3.No, no a la guerra non voglio andar Non voglio andare con
te alla guerra Perche se mangia mal E se dorme per terra.
4.No, no per terra non dormirai Tu dormirai su un letto di fiori
Com quattro bersaglier Che ti faran l‟onore.
V.IO HO GIRATO D‟ITALIA AL TIROL
1.Io ho girato d‟Italia al Tirol (bis) Sol per trovarmi una
verginella Ciombalarilarela E viva l‟amor.
2.La verginella non posso trovar(bis). Solo mi basta che la sia
bella Ciombalarilarela E viva l‟amor.
270
1. I tirolesi son
bravi soldà (bis) Tutta la note de sentinela Ciombalarilarela E
viva l‟amor.
VI. CIARETO SU QUEL MONTE
1. Ciareto su quel monte (3x) La dove spunta il sol
2. Ghe zera su tre bionde (3x) E tutte tre d‟amor
3. Giuglieta la più bella (3x) Si misse a navegar
4. A navegar sul mare (3x) L‟anel ghe zè cascà
5. La alsa gli occhi al cielo (3x) Non vede gnanca il sol
6. La sbassa gli occhi al mare (3x) La vede un pescator
7. Oi pescator dell‟onde (3x) Vegné pescar più in quà
8. Me zè cascà l‟anelo (3x) Me zè cascà più in quà.
9. Mi si te lo ritrovo (3x) Vui esser ben pagà.
10. Te dago cento scudi (3x) E „na borsa ricamà.
11. No voglio cento scudi (3x) Ne borsa ricamà
12. Solo un bacin d‟amor (3x) Se tu me lo vuoi dar.
271
VII. GERI SERA ANDANDO A SPASSO
1. Geri sera andando a spasso, dighe nò. Mi incontrai con
„na signora, dighe nò. E la me dice viendi sopra, viendi sopra a
far l‟amor.
2. Com son stà a metà la scala, dighe nò. Salta fora la sua
mamma, dighe nò. E la ghe dice marcia a casa Mariotina
Lascia andare il berechin, dighe nò.
3. Io non sono un berechino, dighe nò Ne di meno un
traditore, dighe nò. Io son figlio di un signore Son vegnuto,
son vegnuto a far l‟amor.
VIII. LA MIA MAMMA L‟È ANDATA AL MERCÀ
1. La mia mamma l‟è andata al mercà Quando gli altri
tornan(bis). La mia mamma l‟è andata al mercà Quando gli
altri tornan di quà e tornan di là Quando gli altri tornan.
2. La zè „ndata comprar un caval E i ghe para su una
mussa
3. L‟há menada nel prà a mangiar Non ghera mica l‟erba.
4. L‟há ligada sotto un perer Ghe casca zo una brugna
5. L‟è cascata su per „na reccia E la gha rot la coda.
272
IX. SUL CASTEL DE MIRABEL
1. Sul castel de mirabel (bis) Cè una giovane che canta
2. La cantava tanto ben (bis) Che fino in Francia la
sentivan
3. La sentita el fiol del rè (bis) E dimandò: chi l‟è che
canta
4. È la figlia del paisan. Tutti diz: l‟è la più bella
5. La faremo remirar Da do tre soldati armati
6. El più bel de questi tre L‟è stà quel che l‟há tradita.
7. L‟ha menada via lontan In una prigion profonda e scura
8. Là l‟è stata sete an Sensa veder ne sol ne luna
9. Alla fin dei sete an L‟ha scopri „na finestrela
10. La mirava verso il mar E la gha visto il suo bom padre.
11. Oh pupà caro pupà Cosa diz la gente in Francia?
12. Tutti parlan mal di te Che tu sei figlia rubata
13. Oh nò, nò caro pupà Io son figlia maridata
14. Questo anel che porto in dé L‟è de quel che m‟há
sposata
15. Dove zelo il tuo mari? L‟è „ndà a guerra a Napoleone.
273
X. QUEL MAZZOLIN DI FIORI
1. Quel mazzolin di fiori Che l‟vien dalla montagna (bis)
E guarda ben che „l non si bagna Che lo voglio regalar
2. Lo voglio regalare Perchè „l è un bel mazzetto. Lo
voglio dar al mio moretto Questa sera quando „l vien.
3. „Sta sera quando „l viene Gli fò „na brutta cera E perche
sabo di sera Ei non l‟è vegnù da me.
4. Non l‟è vegnù da me L‟è andat dalla Rosina E perché
mi son poverina Me fa pianger, sospirar.
5. Me fa pianger, sospirare Sul letto dei tormenti. Cosa
mai diran le genti Cosa mai diran di me.
6. Diran che son tradita Tradita nel amore E a me per
sempre piange il cuore E per sempre piangerà.
XI. LA VILLANELLA
1. Varda che passa la villanella Os-ce che bella, la và
innamorar.
Rit: Ma come bali bene bella bimba, bella bimba, bella
bimba. Ma come bali bene bella bimba, bella bimba, bali ben.
2. Varda quel veccio soto la scala Os-ce che bala che „l
gha ciapà.
274
3. Varda quel merlo rento la gabbia Os-ce che rabbia che
„l gha ciapà.
XII. EL CAPITAN DELLA COMPAGNIA
1. El capitan della Compagnia El è ferito e stà per morir
El manda dire ai suoi alpini Perché lo vengano a ritrovar
2. I suoi alpini i ghe manda dire Che non han scarpe per
caminar. O con le scarpe o senza scarpe I miei alpini li voglio
quà.
3. Cosa comanda, sior Capitano, Che noi adesso siamo
arrivà? Io comando che il mio corpo In cinque pezzi sai
taglià.
4. Il primo pezzo alla mia patria. Il secondo pezzo al
bataglion. Il terzo pezzo alla mia mamma Che si ricordi del suo
figliol.
5. Il quarto pezzo alla mia bella Che si ricordi del primo
amor. L‟ultimo pezzo alle montagne Che lo fioriscano di rose
e fior.
XIII. SE „L LAGO FUSSE POCIO
1. Se „l lago „l fusse pocio, larilera E Baldo de polenta,
larilera Oi mamma che pociade, Polenta e baccalà. Perché
non m‟ami più?
275
2. La mula de Parenzo. L‟há messo su bottega De tutto la
vendeva Fora che baccalà.
3. La me morosa vecia La tegno de riserva Ma quando
spunta l‟erba La mando a pascolar.
4. La mando a pascolare, Insieme alle cavrette L‟amor
con le servette, Non lo farò mai più.
5. Tutti mi dicon bionda, Ma bionda io non sono: Porto i
capelli neri, Neri come „l carbon.
XIV. SUL MARE LUCCICA
1. Sul mare luccica L‟astro d‟argento Placida è l‟onda
Prospero il vento. Venite all‟agile Barchetta mia Santa Lucia,
Santa Lucia.
2. Con questo zeffiro Cosi suave Oh come è bello Star su
la nave. Su passeggieri Venite via. Santa Lucia, Santa Lucia.
3. Oh dolce Napoli Oh suol beato Ove sorridere Volle il
creato. Tu sei l‟impero dell‟armonia. Santa Lucia, Santa Lucia.
277
X - ENCONTROS DA FAMÍLIA ZANOTELLI
1º.encontro – Porto Alegre – 1996.
No dia sete de janeiro de 1996 realizou-se o primeiro
encontro de Zanotelli do Brasil, na sede social do SESC em
Porto Alegre.
Um simples convite bastou para que 386 Zanotelli de
quase todo o Brasil acorressem. Os poucos que receberam uma
correspondência assumiram o convite de sua família mais
ampla. Assim estavam presentes baianos, capixabas (meia
centena), cariocas, paulistas, paranaenses, catarinenses e
278
gaúchos. Não conseguiram vir os Zanotelli dos outros Estados,
uma vez que em todos os Estados e, especificamente em todas
as capitais dos Estados brasileiros há Zanotelli. Estavam
também presentes 3 italianos Zanotelli que vieram entusiasmar
a reunião: Túlio e Bruno Zanotelli de Cembra e Pierangelo
Zanotelli Bonfanti, de Milão.
O Encontro feito de reflexão histórica sobre a
emigração italiana para o Brasil, caracterizadamente a
Trentina, e nela da família Zanotelli teve momentos marcantes
e inesquecíveis de reencontro de parentes que há muito não se
sabiam, descoberta de parentes com os quais nem se sonhava,
e, em todos e em tudo a criação e enraizamento de relações
amigas.
O lema foi: família Zanotelli criando laços. O
sobrenome acabou sendo apenas pretexto para, num contexto
tão individualista em que vivemos, voltassem à tona os valores
da família e da solidariedade que tanto marcou nossos
antepassados.
Impressionou ver crianças, jovens, adultos e anciãos
cantando canções do folklore italiano e brasileiro, canções
antigas e atuais, rezando (os Zanotelli guardam com zelo a
religiosidade cristã e católica) e dançando juntos. E crianças de
3 anos brincando de roda e cantando “Mérica, Mérica,
Mérica...”.
279
Centenas de Zanotelli acorreram a Porto Alegre em 07.01. 1996.
Abaixo estão alguns representantes das famílias
Zanotelli descendentes de Giovanni Gasparo, filho de Vigilio,
neto de Giovanni Antonio de Livo. Dos filhos de Giovanni
Gasparo: Francesco veio para o Rio Grande do Sul, Paulo foi
para o Espírito Santo com irmãs e primos.
Narciso foi o único filho que veio para o Brasil, com o
pai Francesco (outros cinco morreram em Cembra). Dos 14
filhos de Narciso casado com Teresa Job Telk, destacamos os
masculinos: José, Francisco e João.
281
Descendentes de Francisco Telk Zanotelli e Carolina Berftol, residentes
em S. José do Herval – RS
Desc. De Francisco Telk Zanotelli (filhos: Santo, Hortênsiae Santa viúva de
João estão presentes)
282
Família de João Bertol Zanotelli
Família de Francisco Bertol Zanotelli) Jandir, Mauro, Ivone e marido João
Buttini, Ana, Adaires, e Hugo, Terezinha...
283
Santo com a esposa Maria Vidaletti e família na festa 1996
Descendentes de Narcizo Bertol Zanotelli na festa 1996.
284
Os filhos de João Zanotelli na festa (96), por ordem da esquerda para a
direita: Leonel Zanotelli e Carmen, João Daldon e Amália A Zanotelli, Ida
A Zanotelli e Arlindo Bonfanti, Alice A Zanotelli ( viúva de José Daldon,)
e Santina A Zanotelli (viúva de Emídio Piccinini)
... em continuação: Gema Sartori e Alcides A Zanotelli, Arlindo Daldon
(irmão de José e João) e Angela (Angelina) A Zanotelli, Guilherme Gobbi
e Hortência A Zanotelli, Agenor A Zanotelli e Lúcia Rossato.
285
Leonel Agostini Zanotelli e Ana Catarina Dadalt Dalla Vecchia
LEONEL AGOSTINI ZANOTELLI é filho primogênito (de
12) de JoãoTelk Zanotelli. João era o filho caçula (de 12) de
Narciso Zanotelli que, com o pai Francisco Savoi Zanotelli
veio de Cembra, casou com ANA DADALT DALLA
VECCHIA e teve 11 filhos: Jandir , Geni, Gino, Irma, Itelvina,
Ilva, Castilo, Clasi, Olir, Lírio e Dinasir. Nas Bodas de Ouro
de seu casamento, em 27 de agosto de 1988, em Canoas tinha
24 netos. Leonel foi agricultor em Jacarezinho, Encantado. Foi
pequeno comerciante em Bentevi, Aratiba, Erechim, foi
açougueiro em Fontoura Xavier, teve serraria em Soledade, e
pequeno comerciante em Canoas onde faleceu.
286
Leonel e Ana nas Bodas de Ouro com os filho, da esquerda para a direita:
Jandir, Gino, Itelvina, Ilva, Castilo, Olir, Classi, Lírio e Dinasir
Família Leonel e Ana. Sentados: Gino, Leonel, Ana, Jandir. De pé: Castilo,
Irma, Olir, Itelvina, Lírio, Ilva, Dinasir e Classi.
287
Leonel e seus filhos na festa de Porto Alegre
Família de Leonel Agostini Zanotelli e filhos na festa 96.
288
Filhos de Leonel e Ana aos 50 anos de Lírio. Da esquerda para a direita:
Clasi, Castilo, Ilva, Itelvina, Irma, Gino, Jandir. À frente: Dinasir e Lírio
Família Jandir e Ruth Zanotelli com os filhos e Bruno e Túlio Zanotelli de
Cembra e Pierangelo Zanotelli Bonfanti de Milão.
289
Vinícius Avila Zanotelli cc Rosana Medina Zanotelli e suas filhas Ana
Catarina e Juliana
Aniversário de Pedro filho de Daniel Avila Zanotelli cc Rachel Z.Carneiro
290
Daniel Avila Zanotelli e sua esposa Rachel Zanotta Carneiro no
aniversário do filho Pedro Carneiro Zanotelli, em Pelotas, 2011.
Luciana Avila Zanotelli cc Paulo Henrique Zanotelli e os filhos João
Gabriel e Michel.
291
GINO DALLA VECCHIA ZANOTELLI e Helena Schmidt com as filhas
Ane e Gina que está festejando 15 anos.
Carla, Marcial, Gisele-Olir e Irma Zanotelli (estes, filhos de Leonel)e Jr
292
CLASI DALLA VECCHIA ZANOTELLI, com o marido Carlos Pagnussatt
e os filhos Fernando e Fábio. Nasceu em Aratiba e reside em Canoas, RS.
Família de ITELVINA DALLA VECCHIA ZANOTELLI cc Basílio
Gabriel Michelon com os filhos Dante e Diogo
293
Vista do alto da Linha Pinhão – Barra do Rio Azul – Erechim, para onde
migraram os Dalla Vecchia e Leonel Zanotelli.(foto: Itelvina Zanotelli e
Basílio Michelon)
Ilva Ilva DallIlv ILVA DALLA VECCHIA ZANOTELLI cc José Queirós e
seus filhos: José José Carlos, e Joselaine. Residem em Berto
Círio, RS
294
Olir Dalla Vecchia Zanotelli cc Gislaine Barbosa Entre os tios Agenor e
Lúcia
As famílias de Lírio e Olir Zanotelli residem em Salvador Bahia. Da esqu.:
Olir e sua filha Helin, Lírio e a esposa de Olir: Gisele, Michele e Everton
(filhos de Lírio), Gislaine, (esposa de Lírio),Franciele (filha de Olir) e Ruth
Zanotelli.
295
Alice Agostini Zanotelli, filha de João Telk Zanotelli, festa de 1996.
Na festa Zanotelli (96) Vilma que aparece acima, junto à parede (viúva de
Valdemar Agostini Zanotelli) com Bruno, Tulio e Bonfanti de Cembra, tem
à frente Moacir, Adilar e Marisa com os esposos e filhos.
296
Darci Zanotelli, filho de Valdemar Agostinho Zanotelli, entre Jandir e
Leonel.
Festa Zanotelli (96): Arlindo Bonfanti, Ida Agostini Zanotelli, Cláudio e
Maristela, Bruno Zanotelli (Cembra), Pierangelo Bonfanti (Milão), Túlio
Zanotelli (Cembra) José Antonio e Almira
297
Agenor Agostini Zanotelli,Lúcia e filhos João, Francisco e Luana.
Hortênsia Agostini Zanotelli com o esposo Guilherme Gobbi e seus três
filhos: Admar, Gilmar e Marisa. Residem no Mato Grosso - Sorriso e
Campo Grande.
298
Alcides casado com Gema na festa Zanotelli (96) ao lado de Bruno, Túlio e
Pierangelo (da Itália).
Descendentes de José Devili Zanotelli, do Espírito Santo
299
Descendentes de José Devilli Zanotelli e de Angelo Nicolodi Zanotelli Na
foto aparecem entre outros Prascóvia, Idílio, Anna Maria, Carolina, José
(filho) filhos de José e seus familiares. Vieram do Espírito Santo e deram
um significado diferente à festa Zanotelli 1996 :“Criando Laços”.
Descendentes de José Devili Zanotelli, do Espírito Santo.
300
Leonel Agostini Zanotelli e Mário Oselame (Paroloti) Zanotelli
Mario Oselame Zanotelli, filho de Mário Weber
Zanotelli e Iracy Oselame, neto de David, nasceu em Caxias do
Sul em 30.06.1938 e reside em Fortaleza CE. Formado em
Sociologia é auditor de Empresas. Casou com Hannelore
Rosenberg e tem 2 filhos:David e Karen. David casado com
Márcia Virgínia de Almeida tem 2 filhos: Paula e Pedro.Os
Zanotelli de Caxias do Sul trazem como apelido PAROLOTI,
tal como consta nos Cutumi em Livo, na Itália
2º. ENCONTRO – JACAREZINHO - ENCANTADO
Um novo encontro foi programado para 12 de janeiro de 1997.
Deverá acontecer em Jacarezinho, no município de Encantado
RS considerando que aquele lugar foi o destino final da
301
migração da família Zanotelli. Chegados os primeiros em
Conde d‟Eu às vésperas do Natal de 1875, deslocaram-se na
década de 1880 para Muçum e Jacarezinho.
Capela S. Carlos – Jacarezinho – Encantado – RS.
Esta capela foi o centro da atividade comunitária da
qual participaram os Zanotelli, filhos de Narciso. No cemitério
da capela estão sepultados Narciso e sua mulher, seu filho João
Telk Zanotelli, o neto deste, Geni Dalla Vecchia Zanotelli e
muitos parentes da família.
303
Bodas de ouro de Amália Agostini Zanotelli cc João Daldon em
Jacarezinho, Encantado.
Em Jacarezinho Vinícius, Rosana, Arlindo Bonfanti, Leonel com a esposa,
Jandir com Ruth e Fabiana, frente ao lugar onde nasceram João, filho de
Narciso Zanotelli, Leonel, filho de João e Jandir filho de Leonel.
304
3º. ENCONTRO – VITÓRIA – ESP. SANTO-1998
O terceiro encontro da família Zanotelli
aconteceu em 1998 em Vitória, no Espírito Santo com
a presença expressiva dos Zanotelli. Como se sabe, em
1875 os irmãos Francesco e Paolo Zanotelli a Trento,
de Trento a Verona, de Verona até a fronteira com a
França, a Paris, ao porto de Havre, e dali para o
Brasil. Os irmãos vieram em dois navios (Rivadávia e
Sofia). Ao chegar ao Rio de Janeiro, então infestado
da febre amarela, os navios foram imediatamente
destinados, um para o norte e outro para o sul.
Francesco veio para o RS e Paolo com suas irmãs
foram para o Espírito Santo. Nunca mais souberam
notícias um do outro. Só na década de 1990
conseguimos aproximar a família desses irmãos. Por
isso o 3º encontro em Vitória.
Vitória – (Wikipédia)
306
Vitória – 1998 passeio de barco – um brinde de acolhimento
Em Vitória, passeio de barco, alegria, medo e festa
308
4º. ENCONTRO – COLATINA – ESP. SANTO- 1999
Colatina ES – vista noturna sobre o Rio Doce (Wikipédia)
Colatina – 4º. Encontro – Entusiasmo ao lado do rio Doce
309
Centro comercial de importância no Espírito Santo com
dezenas de famílias Zanotelli. Calcula-se que no Espírito
Santo, cerca de 500 famílias são Zanotelli ou vinculados aos
Zanotelli.Estão em Cariacica, Santa Teresa, Vitória, Vila
Velha, Guarapari e tantas cidades. Do Espírito Santo migraram
muitos Zanotelli para Minas Gerais, Bahia, e Norte e Nordeste
do Brasil.
Colatina – 1999.- Encontro alegre e com missa para iniciar.
310
5º. ENCONTRO – CEMBRA – ITÁLIA - 2000.
Recepção: A banda marcial de Cembra dirigida por Sérgio ZanotelliEm
311
A festa em Cembra repercutiu na mídia. Os políticos que
estavam presentes perceberam o significado e importância da
cidadania italiana a todos os que são filhos de emigrantes do
Trentino. A lei que estava prestes a espirar foi prorrogada para
que outros pudessem requerer o reconhecimento de sua
italianidade.
312
Pelas alamedas em frente à casa dos Zanotelli, a banda conduz os visitantes
e a população até a Igreja de S. Pedro.
Centenas de pessoas participaram e a comunidade toda era
convidada.
Leonel, pilchado (vestido) a caráter com a indumentária do Rio
Grande do Sul, encantando a todos em Cembra
313
Os prefeitos (Sindaci) de Cembra e de Livo em belo discurso de recepção
em Cembra.
Ainda o acolhimento nos pavilhões armados para a festa
314
Jandir João Zanotelli agradecendo a recepção e narrando um pouco das
peripécias e sucessos dos Zanotelli que emigraram de Cembra para o Brasil
em 1875
O pároco de Cembra destacando o significado religioso do encontro que
procura raízes da esperança que alimenta a família Zanotelli.
315
Leonel, Basílio, itelvina e Gino Zanotelli em Cembra
Túlio entusiasmado e entusiasmando a festa com as canções tirolesas
316
Acima: o entusiasmo de Túlio Zanotelli puxando as canções tirolesas e que
os imigrantes Zanotelli trouxeram no ouvido e na alma, povoando a
imaginação nas noites de verão.
Leonel com os Zanotelli de provecta idade falando em dialeto que a família
não esqueceu.
317
A alegria contagiante de Bruno e Túlio conosco.
Festa Inesquecível, encontro que alimenta a vida
319
Cembra, ao longo do rio Avísio que ronca impetuoso em tempo de
enchente.
Na azienda Zanotelli com Giorgio explicando que Dante Aleghieri inspirou
a descida ao inferno nas pedras da encosta em frente. Mais abaixo: Bruno
conosco.
321
Jandir, Giorgio e Alice com a mãe Arrola e os filhos. A sala de estar e
jantar ampla com um quadro da última ceia e a fotografia dos pais recorda
as moradas que os imigrantes fizeram no Brasil
O encontro foi marcado pela participação, em primeiro lugar dos
familiares Zanotelli, todos, cada um em seu posto e numa entreajuda que
impressionou. Os amigos, parentes, e a comunidade toda de Cembra foi
convidada e se fez presente em toda a festa. As autoridades políticas e
religiosas estiveram apoiando e presentes a todo passo. Assim, as raízes de
solidariedade, de fraternidade fundaram a convivência.
323
6º. ENCONTRO – LIVO – ITÁLIA - 2004
Bela recepção das autoridades e Zanotelli com jantar à luz de vela.
Apelidos (sobrenomes) que os Zanotelli adotaram desde Livo
Assim como o “nome artístico” que muitos escritores
adotam, assim também os Zanotelli adotaram vários deles. Em
324
Livo alguns se destacam: Gianoi, Gianini, Perini, Paroloti,
Petroni, Franzi, Crislon, Cismon, Tripoli, Dichi, Cerli, Vati,
Marcori. Em Cembra serão os Vigilioti, Rocchetti, etc. No
encontro de Porto Alegre estavam presentes os Zanotelli
(Paroloti) de Caxias do Sul.
À frente de todo o desfile de recepção, a bandeira do Comune de Livo.
326
Centenas de pessoas participam
Padre Alessandro (Alex) Zanotelli natural de Livo vivendo na África
Padre Alex Zanotelli, incansável crítico da hipocrisia da
política italiana em relação à África, líder da revista Nigrizzia
327
e que trabalha em Korogosho junto aos mais pobres, dizendo
aos seus conterrâneos que agora vivem na riqueza: abbiamo
perso la tramontana (perdemos o horizonte que nos leva à
esperança)
Canções e festa junto à neve dos Alpes. A neve, cujo degelo irriga os
pomares de maçã, a de melhor qualidade da Europa, não dista senão 1.000
metros do local da festa.
328
Aos pés dos Alpes, neve à vista, em meio à plantação das maçãs de melhor
qualidade reconhecida não só na Europa, mas em todo o mundo, junto à
Cooperativa que expressa a pujança e riqueza daqueles agricultores, a festa
das raízes
Em Livo, os representantes Zanotelli de Cimone
assumiram organnizar o próximo encontro em sua cidade para
2006. Grande era o entusiasmo e a alegria.
Em Livo, junto à mãe e irmã de Padre Alex, honra e sinal para todos os
Zanotelli.
329
MESO ENCONTRO – PORTO ALEGRE – 2010
Os Zanotelli do Brasil, e mais especificamente do Rio Grande
do Sul e Santa Catarina reuniram-se para mais uma
confraternização e preparação ao próximo encontro. O
Encontro aconteceu em Canoas, em 2010.
Aniversário de Agenor em Carazinho e o convite para Canoas
Canoas - 2010
330
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