zamboni. pesquisa em arte

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  • 7/21/2019 ZAMBONI. Pesquisa Em Arte

    1/64

    Vados Internatiooals de C'nta)ogm;"o n l l l u h l i c , , ~ a o (CIP)

    SUMARIO

    (Camara

    Brasileinl

    do Livro, SP, Brasil)

    Zambonl, Silvio

    A pesquisa

    em arte: um paralelo entre

    arte e

    ciencia I

    Silvio

    Zamboni. - 3 ed. rev. - Campi nas, SP: Autores Associados, 2006.

    (Cole,ao polemicas do nossu tempo, 59)

    Bibliografia.

    ISBN 85-85701-64-1

    L Arte - Pesquisa

    2.

    Arte e Ciencia 3. Pesquisa - Metodologia

    1

    Titulo

    II.

    Serie.

    98-0620

    CDD-700.105

    . . . .

    indice para c!lhllogo sistematico:

    1.

    Arte e ciencia

    700.105

    INTRODU

  • 7/21/2019 ZAMBONI. Pesquisa Em Arte

    2/64

    CONCLUSDES

    , , , , , . , ,

    .

    . . , ' , . . / / /

    BIBUOGRAFIA

    ESPECiFICA

    .

    . "

    . .

    ,

    7

    BIBLIOGRAFIA

    GERAl

    . .

    ,

    . .

    , , , , . ,

    . .

    . , , .

    /22

    .

    , ....

    /24

    SOBRE 0 AUTOR , Ecil:

    i iNIVERS;;

    ,t \\::;.a::::';';'--_

    BIBLIOTEC

    UNIVERSIT RI

    ~ / ~ / Q L

    825709-04

    -?(T . . . ....,...

    \e.-:;p

    Federal de

    \

    APRESENTAc::Ao

    -

    A

    s

    m o t i v a ~ e s

    que

    me

    levaram

    a

    conveniencia

    de

    elaborar este trabalho

    advem,

    em grande parte, das

    dificuldades

    que encontrei para

    caracterizar a

    pesquisa

    em

    arte, desde

    a

    epoca em que comecei

    a trabalhar

    na nas-

    cente area de artes no

    Conselho Nacional

    de Desenvolvi-

    mento Cientlfico e Tecnolagico (CNPq). em 1984.

    Naquela

    epoca,

    essa area ainda nao

    era

    oficializada na

    j n s t j t u i ~ a o . a havia

    processos

    tramitando, e

    verdade,

    mas

    nao

    existia reconhecimento oficial

    da

    area.

    As

    cotas

    de

    bolsas

    e de

    verbas

    para a

    pesquisa

    em arte nao tinham

    a l o c a ~ a o espedfica

    dentro

    de

    rubrica propria

    que garan-

    tisse, com s e g u r a n ~ a

    atendimento

    dos

    projetos

    apro-

    vados. Nao

    havia consultores espedficos eespecializados

    em artes

    plasticas:

    os processos eram

    julgados por

    asses-

    sores

    convocados de outras areas.

    Apesar de todas as dificuldades.

    era

    fundamental trans-

    formar

    uma

    area

    incipiente, e

    quase

    ci ndestin

    no

    CNPq,

    em area estruturada e oficial dentro do argao. 0 estatuto

    de

    area

    oficial

    Ihe

    daria

    a quota

    de recursos financeiros

  • 7/21/2019 ZAMBONI. Pesquisa Em Arte

    3/64

    2

    em

    rubrica propria.

    necessarios

    a seu desenvolvimento e

    c o n s o l i d a ~ a o no panorama

    cientffico brasileiro.

    Para

    tanto. iniciei

    uma

    serie

    de

    contatos

    com

    sadores de

    universidades do pais

    buscando

    incentivar 0

    aumento

    da demanda de recursos. Realizei tambem

    mui-

    tas

    viagens pelo

    pars

    para

    divulgar

    as

    vias

    de

    acesso

    da

    i n s t i t u i ~ a o para

    atendimento dos pleitos dos pesquisa

    dares em arte.

    A partir

    desse

    trabalho a

    demanda de so

    l i c i t a ~ 6 e s de bolsas

    e

    de verbas para

    a

    area de

    artes foi

    aumentando. tornando se cada vez

    mais

    significativa e

    passando

    a constituir se

    em

    fato real

    e.

    portanto. admi

    nistravel

    pelo CNPq.

    Paralelamente

    aos contatos com os pesquisadores

    de

    arte. inkiei

    um

    longo trabalho

    de

    convencimento inter-

    no.

    dentro

    da i n s t i t u i ~ a o .

    a

    fim

    de

    sensibilizar

    as

    instan-

    cias decisorias para a imporUlncia da pesquisa

    em

    arte.

    No CNPq. ficou cada vez mais

    clara a todos os diri-

    gentes

    a

    necessidade da o f i c i a l i z a ~ a o da area de arte.

    Mas

    isso

    ainda nao

    era

    0 bastante.

    Uma

    pro posta nesse

    senti-

    do deveria

    ser aprovada

    no

    orgao

    colegiado

    de delibera

    ~ a o maxima da i n s t i t u i ~ a o . no qual

    tin ham

    assento

    e voto

    varios membros representantes

    da

    comunidade

    cientifica.

    muitos

    dos quais

    eram contrarios a

    i m p l a n t a ~ a o da

    area.

    Alegavam que CNPq era um orgao que, por t r a d i ~ a o

    apoiava

    a

    ciencia baseando-se nos

    proprios criterios cien-

    tificos

    para

    definir os projetos a serem

    aprovados.

    e que

    nao deveria apoiar

    a

    arte, pois poderia

    ferir

    os

    objetivos

    primeiros

    da i n s t i t u i ~ a o . alem de f lt rem criterios cl ros

    objetivos para julgamento de projetos

    em arte.

    0 assunto

    entrou

    em pauta em reuniao desse conselho de delibera

    ~ a o e. depois

    de

    muitas

    vozes

    a

    favor

    e

    tambem

    muitas

    contrarias. a propria

    presidencia do CNPa

    interveio

    em

    3

    defesa

    da proposta.

    fazendo

    com que. final

    mente.

    a arte

    se

    tornasse

    area efetiva

    dentro

    da

    Uma vez reconhecida oficialmente.

    era

    fundamental

    que

    o orgao

    dispusesse de um

    conjunto

    de

    criterios.

    ainda que

    tentativos.

    capaz de organizar

    minimamente a

    area

    recem

    criada.

    Logo

    ficou

    evidente que enquadrar

    e ulgar

    os

    pro-

    jetos

    de pesquisa

    em arte.

    segundo

    os

    mesmos

    criterios

    de

    outros

    campos

    do conhecimento.

    poderia

    matar

    no

    nascedouro

    a

    area

    que. depois de

    tantas

    adversidades. es

    tava enfim criada.

    ra fundamental que

    fossem

    definidos

    alguns

    tros

    basicos com

    base

    nos

    quais

    seriam criadas as

    nor-

    mas que regeriam

    a atividade. Alguns criterios

    foram

    for-

    mulados: todavia.

    porque

    ainda

    eram

    pouco operacionaveis

    para 0 gerenciamento

    da area.

    tornaram muito diffcil a sua

    n o r m a t i z a ~ a o . Sabia-se que.

    pela propria historia e natu-

    reza

    da i n s t i t u i ~ a o

    0

    CNPq

    deveria

    apoiar somente as

    pro-

    p o s i ~ 6 e s

    que

    constiturssem

    pesquisa em arte, mas

    nao

    se

    conseguiu

    com eficacia

    definir 0 que

    era realmente pes

    quisa

    em arte. Surgiram

    alguns

    conceitos e regras

    nao su

    sistematizados. ainda pouco explfcitos

    e

    pou

    co

    Claros.

    mas

    que, nao

    obstante a precariedade.

    ate

    recentemente

    foram

    uttlizados para 0 gerenciamento

    da

    demanda.

    Essas

    duvidas

    quanto

    aquestao

    da pesquisa

    em

    arte

    nao ocorreram somente

    no

    CNPq.

    Por ocasiao

    da

    ra

    reuniao visando a

    f u n d a ~ a o

    da

    A s s o c i a ~ a o

    Nacional

    de

    Pesquisadores

    em Artes

    P I ~ s t i c a s (ANPAP).

    em dezembro

    de 1986.

    ocorreram nos

    tambem

    muitas duvidas

    sobre

    como definir e conceituar a

    pesquisa

    em c r i a ~ a o artisti-

    ca. Para amenizar as

    discordancias. dividiu se a entidade

    nascente em

    cinco comites

    nos

    estariam

    represen

  • 7/21/2019 ZAMBONI. Pesquisa Em Arte

    4/64

    4

    tadas todas as areas

    de

    pesquisa:

    historia e

    teoria da arte.

    a r t e e d u c a ~ a o . r e s t a u r a ~ a o . curadoria e linguagens

    visuais.

    Se

    as

    quatro primeiras nao tiveram dificuldades quanto a

    c a r a c t e r i z a ~ a o

    da

    atividade investigativa

    como

    pesquisa.

    de linguagens visuais.

    que congrega artistas-pes

    continuou

    com

    duvidas

    e

    n d e f i n i ~ 6 e s

    sobre

    como

    caracterizar a

    pesquisa em linguagens

    visuais.

    Nas

    universidades. pude

    constatar

    que tambem exis

    tem

    grandes dificuldades

    para gerenciamento

    e a

    norma

    t i z a ~ a o das pesquisas

    relacionadas

    a

    r i a ~ a o

    artistica.

    m

    varias

    palestras

    e

    mesas-redondas de que

    participei

    so

    bre 0

    assunto. constatei. principalmente

    pelo

    teor

    das

    perguntas

    e dos

    debates

    que a elas se sucederam. a

    exis

    tencia

    de

    duvidas e questionamentos

    entre

    artistas.

    pro

    fessores.

    alunos

    e principal

    mente

    da

    parte

    dos

    pro-reito

    res de pesquisa.

    Diante dessas duvidas

    e

    n d e f i n i ~ 6 e s

    e

    que

    optei

    por

    desenvolver como tema de minha

    tese

    de

    doutorado

    em

    artes.

    na Escola

    de

    C o m u n i c a ~ e s

    e Artes

    da

    Universida

    de de Sao Paulo.

    e

    que agora

    publico

    com

    pequenas mo

    envolvida na c a r a c t e r i z a ~ a o

    do

    que

    seja

    apesquisa

    em

    arte.

    Tenho

    consciencia

    de

    que

    meu

    trabalho nao

    resolvera

    a

    questao

    de

    modo

    definitivo.

    mas

    fica

    pelo menos

    a

    certeza de estar

    contribuindo

    para uma

    reflexao mais amadurecida

    ace

    rca

    da

    pesquisa

    em

    arte e

    de

    ter fornecido a

    agencias de

    fomento. universidades.

    mestrandos.

    doutorandos.

    equipes de a v a l i a ~ a o de

    pes

    quisa

    - e principalmente a artistas-pesquisadores -

    uma

    ferramenta

    uti I para

    alavancar os

    projetos e

    as

    iniciativas

    na

    area

    artistica.

    INTRODUC Ao

    ste trabalho tem como tema central. como foco de

    p r e o c u p a ~ a o

    e como ponto

    de

    convergencia

    das re

    flexoes desenvolvidas que se costuma denominar.

    de

    maneira

    abrangente.

    pesquisa em ar/e termo hoje j bas

    tante difundido

    nos meios academicos

    e artisticos.

    Para evitar equivocos de compreensao

    quanto

    ao

    em

    prego

    que

    f a ~ o

    dessa

    expressao

    neste trabalho.

    passe

    a

    es

    clarecer as

    l i m i t a ~ o e s

    operadas

    no conceito

    mais

    abrangente

    de

    pesquisa em

    ar/e para conform Ho

    aos

    limites do tra

    balho

    e

    aos

    propositos

    que

    busquei

    a l c a n ~ a r .

    Pode-se

    dizer. de uma maneira ampla. que pesquisa

    em arte

    e qualquer pesquisa

    que se desenvolva no cam

    po das artes. Ora.

    a

    arte.

    enquanto

    area do

    to

    humano. abarca

    um

    m a n i f e s t a ~ 6 e s .

    Este

    trabalho

    embora

    limitando-se ao uni

    verso das

    artes

    visua is.

    pode

    ter

    em

    muitas circunstanci

    as os seus conceitos

    estendidos

    as artes em geraL

    e

    mesmo

    dentro

    desses

    limites

    estao todas

    as

    suas

    diversas

    faces:

    c r i a ~ a o . r e c e p ~ a o .

    critica. ensino etc.

    Essas

    faces.

    por

    sua

    vez. podem ser estudadas em

    muitas disciplinas. como

  • 7/21/2019 ZAMBONI. Pesquisa Em Arte

    5/64

    6

    hist6ria da

    arte.

    a r t e e d u c a ~ a o . r e s t a u r a ~ a o . teoria da arte.

    curadoria.

    psicologia da arte.

    sociologia

    da

    arte

    e tantas

    outras. Em sentido abrangente.

    portanto. existe apesquisa

    do te6rico

    da

    arte. do investigador

    em

    a r t e e d u c a ~ a o . do

    restaurador. do historiador da

    arte.

    do investigador que

    trabalha com

    materiais

    artisticos.

    do

    muse610go.

    enfim.

    de

    qualquer pesquisador que se ocupe da arte.

    Usarei a expressao pes ulsa em arte para referir-me ao

    trabalho

    de pesquisa em

    c r i a ~ a o artistica. empreendido

    por

    artistas

    que objetivam obter como produto final a obra

    de

    arte.

    Portanto.

    s6

    tratarei

    neste

    trabalho

    da pesquisa

    reali

    zada pelos artistas. ou

    seja. quando

    artista

    tam bern se

    as

    sume como pesquisador e busca.

    com

    essa dupla face. ob

    ter trabalhos arHsticos como resultado

    de

    suas

    pesquisas.

    Epreciso ressaltar

    que as

    outras

    atividades de pesquisa

    ligadas a arte. as te6ricas.

    as interdisciplinares

    ou as

    circun

    dantes. que

    tambem

    poderiam ser rotuladas de

    pesquisa

    em arte. ja tern uma f u n d m e n t ~ o metodol6gica usual

    que

    orienta 0

    processo

    de

    i n v e s t i g a ~ a o .

    historiador

    da

    arte. por exemplo. conta com metodos solidificados para

    a e a l i z a ~ a o de seu trabalho.

    pois.

    embora 0 objeto de seu

    estudo

    seja

    a

    m a n i f e s t a ~ a o

    da

    arte

    ao

    longo

    do

    tempo.

    as

    metodologias

    de que se vale.

    normal

    mente. sao

    apro

    x i m a ~ 5 e s de

    outras/utilizadas

    em

    hist6ria ou

    outras ciencias

    humanas

    afins. mesmo

    se

    da com 0 arte-educador. que

    pode l a n ~ a r mao

    de

    metodos

    de

    pesquisa

    habitualmente

    utilizados em e d u c a ~ a o . em ciencias socia

    is.

    pSicologia

    etc.

    Em resumo. sao muitas as

    pesquisas que tern

    a iHte

    como objeto. mas que utilizam metodos e tecnicas

    de

    in-

    v e s t i g a ~ a o

    bastante diversos uns

    dos

    outros. Ate

    areas

    puramente tecnicas

    fazem

    pesquisa em arte/utilizando

    metodologias e conceitos te6ricos relativos a outros

    cam

    pos de conhecimento. Como exemplo. ~ m r u ~ a pes

    7

    de

    materiais

    artisticos. aqual exige conhecimentos

    e

    metodos

    de analise p ~ i n c i p a l m e n t e da

    quimica

    e da

    -

    sica e nao vistas

    pelo

    angulo

    da

    linguagem. Da mesma

    o

    bi610go. ao

    pesquisar fungos que atacam obras

    de arte. deve utilizar se de

    metodos

    e conhecimentos da

    biologia.

    especificamente de

    micologia. muito

    embora nao

    deixe de realizar

    pesquisa

    em arte. .

    Vou empregar 0

    termo

    pesquisa

    em rte para designar

    exclusivamente

    as pesqui'sas relacionadas

    a

    r i a ~ a o

    artis-

    tica. que se desenvolvem visando como resultante

    final.a

    p r o d u ~ o

    de uma obra de

    arte. e

    que

    sao empreendidas.

    em virtude desse fato. por urn artista.

    o

    objetivo principal deste trabalho e. em ultima

    ins

    tancia. a p r o p o s i ~ a o de urn modelo metodol6gico para a

    pesquisa

    de c r i a ~ a o artistica em artes visuais

    sem

    com

    isso negar 0

    car,lter sensivel

    e intuitivo

    inerente

    ao pro-

    cesso. Acredito que a r o p o s i ~ a o de urn modele metodo-

    16gico caracteriza uma fase de culminancia das reflex5es e

    norteamento

    do

    caminho percorrido. constituindo a con-

    d e n s ~ o e r i s t a l i z a ~ a o

    de

    muitas

    ideias

    que serao

    apre

    sentadas e desenvolvidas ao

    longo do

    trabalho. mode

    1

    devera

    ser

    a sfntese

    que

    dara

    resultados e respostas a

    quest6es eminentemente praticas. No capitulo Analises .

    esse modele metodol6gico sera

    testado com

    dados

    empi

    ricos. para a v a l i a ~ a o de sua

    d e q u ~ o

    apesquisa

    em

    c r i a ~ a o artfstica. no estado e nas c o n d i ~ 6 e s em que atual-

    mente edesenvolvida

    pelos artistas-pesquisadores.

    A ade

    q u ~ o tambem faz parte dos objetivos

    desta

    proposta

    metodol6gica. que. em resposta a uma demanda pragma

    tica.

    visa

    fornecer

    uma

    c o n t r i b u i ~ a o

    efetiva a todos

    que.

    de

    variadas formas.

    se

    ocupam

    com a pesquisa em arte.

    E importante que se diga que ainda persistem muitas

    duvidas em

    r e l a ~ a o

    a

    pesquisa

    em arte; questiona se

    ate

  • 7/21/2019 ZAMBONI. Pesquisa Em Arte

    6/64

    8

    mesmo a sua pr6pria existencia como tal. Muitos artistas

    e

    mesmo alguns

    te6ricos de grande respeitabilidade com

    quem

    tive a oportunidade

    de

    discutir a questao - e

    que

    prefiro nao citar nominalmente. para evitar qualquer ma

    i n t e r p r e t a ~ a o

    entendem

    que nao ha sentido em se

    falar

    de pesquisa em arte.

    pois.

    segundo eles.

    toda

    arte. pela

    sua

    pr6pria natureza. e pesquisa. dai

    nao caber

    d i s t i n ~ 6 e s .

    o pressuposto central

    deste trabalho e a

    existencia

    de

    formas

    distintas

    de processar-se

    0 trabalho

    em

    arte. ou

    seja.

    ha

    artistas

    que realizam

    de

    forma

    nitidamente cons

    ciente

    pesquisa

    em arte. e artistas que trabalham

    de uma

    preponderantemente

    intuitiva. e afastam-se. ipso

    facto

    de u m processo de labor com elevado grau de cons

    c i e n t i z a ~ a o . conduta requerida por

    qualquer

    pesquisa de

    procedimento racional.

    Tomando-se

    a

    forma

    de

    pensamento

    das principais

    cor

    rentes filos6ficas ocidentais.

    percebemos que as

    ativida

    des relacionadas ao conhecimento

    humane

    giram em torno

    de

    um componente logico.

    racional

    e inteligfvel. de um

    e de u m componente intuitivo e senslvel. de o u t r ~

    sendo assim

    tanto

    na p r o d u ~ a o do

    conhecimento cientf

    fico quanto

    na do

    conhecimento artistico. A

    d i f e r e n ~ a

    basica

    entre

    ambos

    e

    que

    resultado

    apresentado

    pela

    ciencia nao pressupoe

    e nao suscita

    maiores

    mentos quanto aos metodos

    sensiveis

    e intuitivos que in

    terferiram no

    processo

    de g e r a ~ a o do produto cientffico.

    Na

    arte.

    sensivel. embalado

    por

    impulsos

    intuitivos. vai

    alem do processo de c r i a ~ a o artfstica. pois faz parte

    do

    pr6prio

    carater

    multissignificativo

    da

    obra de arte. sem

    pre

    apresentado

    ao

    interlocutor como parte integrante

    de

    sua s i g n i f j c a ~ a o . A

    esse

    interlocutor e

    que

    cabe a

    recep

    ~ a o

    da

    obra

    de uma

    forma

    pr6pria e pessoal.

    9

    As p r e o c u p ~ o e s com carater racional da arte

    nao

    sao

    recentes. Seguramente.

    desde Platao e Arist6teles ja

    estavam presentes as e x p l i c a ~ 6 e s

    da racionalidade

    cita

    no fazer

    artistico.

    No

    Renascimento. Leonardo

    da Vinci trabalhou de uma

    forma

    altamente intelectualizada e com um metoda ins

    pirado

    na

    mais

    alta lucidez.

    Paul

    Valery

    1991)

    chegou a

    identificar

    esse

    metodo com 0 utilizado

    p ~ r Faraday

    em

    suas

    pesquisas

    cientificas.

    Apesar de haver

    evidencia

    da racionalidade na

    arte

    em

    varias epocas, sempre existiram e

    existem

    ate hoje muitos

    que

    nao

    aceitam

    a arte como uma forma de atividade ra

    riticos. artistas. intelectuais e

    mesmo

    0

    cidadao

    comum debatem

    Rroblema. Mas a

    maioria das

    pessoas.

    e

    ate mesmo

    alguns

    setores mais

    academicos.

    pensam

    que

    a r o d u ~ o e a e c e p ~ a o nao obedecem a uma

    norma

    raci

    onal.

    Para

    0 senso

    comum, arte

    e sinonimo de e m o ~ a o .

    Jayme Paviani 1991),

    em

    seu estudo intitu ade ra-

    cionalidade

    esUtica

    discorre

    longamente

    sobre

    as

    eviden

    cias da

    racionalidade

    na

    arte. deixando claro

    nao ser a

    obra

    de

    arte fruto somente

    do

    inconsciente. Para ele. existem

    pelo menos duas formas

    distintas de ordenamento: 16

    gico e sensivel. Essas

    formas nao

    sao autonomas. in

    dependentes e dissociadas. Na realidade. diferentes

    de racionalidade interagem. por Vezes confundem-se. au

    xiliam-se e

    complementam-se

    na p r o d u ~ a o e na r e c e p ~ a o

    das mensagens

    expressivas e ntrinsecas contidas

    nas

    obras

    de arte.

    A racionalidade

    [6gica

    funda-se em

    mecanismos

    pr6

    ximos da racionalidade cientffica. de carater

    inteligivel. distingufvel. definivel e

    passlvel

    de

    esquema

    t i z a ~ a o . Todas as m a n i f e s t a ~ 6 e s artisticas

    possuem cara

  • 7/21/2019 ZAMBONI. Pesquisa Em Arte

    7/64

    1

    ter

    16gico

    que.

    em

    bora nao

    exciusivo. constitui

    eviden

    tes formas

    de

    arranjamento e

    ordenaC;ao

    consciente e

    ra

    cional. 0 texto literario.

    por exemplo.

    muitas

    vezes

    traz

    consigo reflexoes

    de

    carater filos6fico. ideologico.

    co que. embora assentados no

    pensamento logico.

    nem

    por isso

    impedem

    que

    a

    obra

    seja

    de arte.

    Igualmente

    outras

    linguagens podem ter

    vertentes

    16gicas sem que

    o resultado final

    deixe

    de

    ser arte.

    A

    existencia do carater racional em arte revela-se inega

    vel quando se promove

    a

    nterposiC;ao

    e acomparac;ao

    entre

    a

    arte

    e a

    ciencia

    como

    formas

    de

    atividades do conhecimento

    humano. Oaf

    0 metoda de abordagem

    da

    pesquisa

    em

    arte

    ser

    feito

    sempre comparativamente

    ao

    da pesquisa em cien

    cias.

    e

    usa desse modelo comparativo ocorre

    mente.

    em

    razao da existencia de urn grande arsenal

    teorico

    destinado ao entendimento da pesquisa em ciencias.

    o

    presente

    trabalho

    nao se

    interpoe a

    paradigmas

    as

    sentados no

    racionalismo.

    mesmo porque

    seu

    objetivo

    prin

    cipal

    e a

    elaborac;ao

    de

    um metodo

    que. pela

    propria

    na

    tureza.

    envolve carater

    logico

    e. como

    tal

    s6

    poderia

    ser

    desenvolvido

    se assentado

    em aspectos

    racionais.

    A

    abordagem

    que

    farei

    neste

    trabalho

    esta

    portanto.

    relacionada mais ao carater

    logico e organizativo

    do

    pro

    cesso

    de trabalho

    na arte.

    tomando a

    pesquisa em arte

    como

    uma forma

    manifesta

    das

    mais apuradas da

    racio

    nalidade logica. Pesquisa

    e

    premeditac;ao.

    e

    esta. por

    sua

    vez.

    e racional.

    Entendo tambem que uma

    das

    caracte

    risticas fundamentais

    da pesquisa

    e

    0 grau de

    conscien

    cia

    e

    do

    pleno

    domlnio intelectual

    do

    autor

    sobre obje

    to

    de

    estudo edo processo

    de

    trabalho.

    mas com

    isso

    nao

    negar

    a

    existencia da

    forc;a

    intuitiva e

    sensrvel

    contida

    em

    qualquer

    processo

    de

    trabalho.

    seja em arte.

    seja em

    ciencia.

    CAPITULO

    UM

    RTE E CIENCIA

    1 Arte

    e ciencio como conhecimento

    P

    ode-se afirmar

    que a historia

    da

    funde com

    a

    propria

    historia

    do

    conhecimento hu

    mano.

    pois. dependendo dos valores vigentes em epocas

    diversas. ele

    pode

    ser concebido

    segundo

    as

    contingen

    cias

    e

    os jUlzos

    da epoca

    que gerou. Encarado

    e enten

    dido

    segundo

    tal

    ou qual

    optica. uma visada diacr6nica

    sobre conhecimento

    mostra

    diferentes rearranjos e

    com

    posic;oes

    produzindo-se

    ao

    longo

    da

    hist6ria.

    Assim.

    que

    e

    uno

    e distinto

    hoje nao 0 era em epocas

    passadas. e

    garante que 0 sera no

    A

    divisao do conhecimento

    no

    que

    diz respeito

    aos aspectos

    explicativos

    deu-se

    cipalmente a partir de

    Descartes 1596-1690). Suas

    idei-.

    as

    e

    seu metodo

    influenciaram

    sobremaneira

    todo

    0 modo

    de

    pensar

    ocidental.

    provocando uma

    ruptura

    com

    a

    ma

    neira

    anterior de

    conceber

    0 mundo.

    Descartes fez da razao 0

    ponto

    de apoio para

    desen

    volver

    sua

    teo

    ria. que

    e

    calcada

    na necessidade

    de um me-

  • 7/21/2019 ZAMBONI. Pesquisa Em Arte

    8/64

    12

    todo. Ele parte de quatro conceitos basicos: evidencia,

    divisao.

    ordem

    e

    n u m e r a ~ a o .

    justificando que e

    mais

    fun

    cional dispor de poucos preceitos do que de um grande

    numero

    deles. tal

    como

    se estrutura a 16gica: e os enun

    cia. no seu

    Discurso sobre 0

    metodo

    Esses

    quatro conceitos

    ria cartesiana. de forma clara. a sua f e i ~ a o . Primeiramen

    te s6 e

    verdadeiro

    aquilo

    que

    e

    evidente. que

    e

    claro

    e dis

    tinto. 0 claro deve ser dividido.

    segmentado.

    separado

    para

    poder ser analisado.

    As

    quest6es complexas devem ser

    divididas

    em quest6es

    mais simples:

    tem-se

    que partir das

    parcelas para se atingir 0 total. Tudo

    deve

    ser ordenado.

    A

    ordem como

    essencia

    do

    metoda inicia a transforma

    < ao

    radical

    sobre

    a natureza

    do

    pensamento:

    este

    ja

    nao

    pensa em coisas.

    e

    sim em r e l a ~ 6 e s . Depois da evidencia.

    I. Descartes. 1962, pp. 53-54:

    "0 primeiro era 0 de jamais acolher

    alguma

    coisa como

    ver

    dadeira que

    nao conhecesse

    evidentemente

    como tal: isto

    e. de evitar cuidadosamente a r e c i p i t a ~ a o e a r e v e n ~ a o e

    de nada incluir em meus juizos que

    nao

    se apresentasse tao

    clara

    e tao distintamente a

    meu

    espirito,

    que eu

    nao

    tives

    se

    nenhuma

    ocasiao

    de

    po-Io

    em

    duvida.

    o segundo. 0

    de dividir.

    cada uma

    das dificuldades

    que eu

    examinasse

    em

    tantas parcelas quantas possiveis

    equantas

    necessarias fossem

    para

    melhor resolve-las.

    o

    terceiro.

    0 de conduzir

    por ordem meus pensamentos. co

    m e ~ a n d o pelos

    objetos

    mais simples

    e

    mais faceis de

    co

    nhecer.

    para subir.

    pouco

    a pouco,

    como

    por

    degraus. ate

    o conhecimento

    dos rna is

    compostos. e

    supondo mesmo

    uma

    ordem entre

    os

    que

    nao se

    precedem

    naturalmente

    uns

    aos

    outros.

    Eo

    ultimo.

    0

    de

    fazer

    em

    toda

    parte

    e n u m e r a ~ e s tao com

    pletas

    e

    revis6es tao gerais. que eu

    tivesse a

    certeza

    de nada

    omitir".

    13

    da

    divisao e

    da o r d e n a ~ a o .

    0

    papel de e n u m e r a ~ a o tem

    a

    f u n ~ a o de restabelecer

    a continuidade

    do

    pensamento

    que

    foi fragmentado.

    o

    cartesianismo nao

    pretendeu explicar todas

    as

    coi

    sas: 0

    pr6prio

    Descartes

    declara que. em

    quest6es

    da

    alma

    e do corpo. nao tem ideia

    nenhuma.

    0 cartesianismo e a

    razao. e

    explica 0 que

    pode

    ser

    enquadrado dentro

    de

    seus

    preceitos. 0 que esta a em ou aquem

    da

    razao nao

    pode

    ser entendido

    porque

    foge

    da analise racional feita

    pela

    parte do

    cerebro destinada a tal

    fim.

    0

    que

    0

    cartesiano procura

    e

    entender todas as coisas sempre

    segundo

    0

    mesmo

    criterio. utilizando. para tanto. sem

    pre 0 mesmo metodo. Tudo 0 que e suscetivel de conhe

    cimento e

    passlvel

    de ser

    formulado

    em

    pensamento

    do

    tipo matematico.

    Esta

    e a f6rmula inflexfvel

    do

    racionalismo

    cartesiano. que e um racionalismo radical e

    es

    sencial pela univocidade absoluta

    de

    seus crite

    rios

    de

    evidencias. enao pelo seu ilimitado alcance.

    facilmente desmentido. 0 pensamento cartesiano

    e racionalista por conjugar. rigorosamente. a uni

    dade da razao com a unidade do saber e

    com

    a

    unidade do metodo [KUIAWSKI. 1969 p. 78].

    Obviamente nao foi Descartes 0 unico respons

    m u d a n ~ a de rumos

    hist6ricos

    do

    conhecimento univer

    sal. Ele talvez

    tenha

    sido 0 maior slmbolo.

    por

    ter

    expos

    to com maior

    detalhamento e

    clareza

    a

    proposta

    meto

    dol6gica

    do

    racionalismo.

    que permeia

    ate

    hoje

    de forma

    marcante a busca do conhecimento no mundo ocidental.

    Outros

    tambem

    contribuiram

    para

    engendrar a nova

    pers

    pectiva

    do moderno

    espirito cientffico.

  • 7/21/2019 ZAMBONI. Pesquisa Em Arte

    9/64

    4

    o empirismo

    de

    Bacon 1558-1627) tambem contribuiu

    para

    essa nova ordem de pensamento.

    le

    e tide como

    inventor

    do metodo experimental e uma

    das personal

    ida

    des que

    mais

    influiram na f o r m a ~ a o da

    ciencia

    moderna.

    Encontraremos ainda

    em

    Galileu

    1564-1642) fundamen

    tal contribuicao ao

    desenvolvimento

    do moderno

    metodo

    z ~ o matematica

    para

    expllcar os

    prlnCiplOS

    da lislca. 0

    que provocou

    divergencia na ciencia

    oficial

    da epoca.

    re

    presentada pelos seguidores de Arist6teles. que nao acei

    tavam

    tal

    postura.

    Isaac Newto n

    1642

    - 1

    72

    7) com bi nou

    metodo

    em

    pirico e indutivo de Bacon ao metoda racional e dedutivo

    de

    Descartes.

    mostrando

    que

    tanto a

    n t e r p r e t a ~ a o

    de

    feno

    menos

    sem s i s t e m a t i z a ~ a o quanto a e d u ~ o sem

    uma

    base experimental

    nao

    constituiam caminho a

    ser se

    guido para uma f o r m u l a ~ a o te6rica

    respeitavel.

    Combinan

    do os

    fatores.

    Newton deu realidade ao sonho iniciado

    por Descartes e completou de forma definitiva a revolu

    ~ a o

    cientffica

    antes

    iniciada.

    Newton nao foi um fil6sofo

    no

    sentido mais restrito

    da

    palavra.

    mas

    a

    sua

    c o n t r i b u i ~ a o

    para

    conhecimento

    humane deu-se em muitas areas. como: calculo infinite

    simal. g r a v i t a ~ a o

    universal. teoria da luz. movimento dos

    corpos e teoria at6mica. A visao mecanicista do mundo.

    ja de certa forma anteriormente pro posta por Descartes.

    e sustentada

    por

    Newton.

    Segundo

    ela. 0 mundo e visto

    como

    urn

    grande amontoado

    de

    coisas reunidas como peq s

    de uma maquina de grandes

    p r o p o r ~ 6 e s

    em

    que

    tudo e

    possivel

    de

    ser

    reduzido. tudo

    e

    divisivel e a uniao

    desse

    divisivel

    e

    que

    forma

    mundo.

    Sob esse sistema desenvolve-se a ciencia atual: tudo

    15

    preferencialmente e dividido.

    subdividido.

    enumerado. c1as

    sificado.

    passivel de ser

    contado. de ser

    medido.

    tudo

    deve

    ser enquadrado em linguagem matematica para poder

    ser

    manipulado

    com maior

    coerencia dentro do

    modelo.

    Essa matriz racionalista faz com que 0 conhecimento

    humano

    tenda

    a ser rotulado

    em areas

    e

    subareas. as

    di

    visoes e subdivisoes alastram-se. as e s p e c i a 1 i z a ~ 6 e s pros

    seguem

    em caminhos que

    parecem nao

    ter retorno.

    Per

    de-se em amplidao. ganha-se em profundidade.

    mas

    sempre

    dentro

    do

    mesmo modelo reducionista.

    Esse

    caminho

    que percorreu 0 desenvolvimento do

    co

    nhecimento ocidental

    acabou por

    sistematizar

    as

    em

    areas

    e subareas. e. a

    rnedida

    que mais d i f e r e n c i a ~ 6 e s

    sao engendradas. novas ciencias ganham

    razao

    de existencia

    independente. pois surgem novas divis6es no conhecimento

    para sustentar

    desenvolvimento

    das demais. Um

    exem

    plo tipico disso

    e0 caso

    da informatica:

    foram

    tantos os

    dados gerados. necessarios ao desenvolvimento das cien

    cias.

    em virtude do modelo adotado. que nao foi mais pos

    sivel ao cerebro humano organiza-Ios e trabalha-Ios

    sem

    a

    existencia

    de

    um

    poderoso instrumento como computa

    dor. Isso

    faz

    parte do modelo

    da

    ciencia

    racional-reducio

    que necessita

    desdobrar

    e

    criar

    novas areas para

    de

    de outras.

    Numa velocidade grande.

    abrem-se

    os leques

    das r a m i f i c a ~ 6 e s para a descoberta de s o l u ~ 6 e s

    via e s p e c i a l i z a ~ a o de

    forma tal que a

    ciencia

    continua a

    se

    desenvolver

    sem

    ter

    de

    sair do

    mesmo modelo.

    Mas

    se

    pelo lade ocidental 0 conhecimento

    se desen

    volveu

    dessa forma, no

    pensamento

    oriental

    existem

    meros

    aspectos muito diferentes.

    Richard Wilhelm.

    Jung

    e outros

    estudiosos que

    se ocu

    param com

    estudos sobre a filosofia chinesa apontam 0

  • 7/21/2019 ZAMBONI. Pesquisa Em Arte

    10/64

    16

    livro I hing como a obra mais importante da

    sabedoria

    oriental

    2

    Procurando-se

    os conceitos

    basicos

    que

    permelam

    0

    livro}.

    pode-se permanecer

    dentro

    dos

    limites de

    alguns

    pou

    conceitos. como 0 dos opostos

    que

    o prlnClplO que

    guia

    todos os movimentos do

    Tao,

    ou seja.

    a

    essencia

    primaria

    da

    realidade.

    E

    um processo

    con

    tinuo e dinamico.

    Os

    dois

    p610s fixam os limites para os

    ciclos de m u d a n ~ a ; quando 0 yang atinge seu climax. ele e

    substituido pelo yin. evice-versa, mantendo-se sempre um

    equilibrio que deve ser harmonico. Wio existe 0 conceito

    de que um

    seja

    bom

    o outro ruim: bom e 0 equilibrio en

    tre os dois. e ruim e

    0

    desequilibrio entre

    2. Richard

    Wilhelm. / Ching.

    Sao

    Paulo.

    1987. na

    i n t r a d u ~ a o

    dessa e d i ~ a o

    afirma

    na pagina 3:

    0

    Liuro da Mutar;6es / Ching. em chines.

    e.

    sem

    duvida.

    uma das mais importantes obras da literatura mundial. Sua

    origem remonta a

    uma antiguidade mitica. tendo atraido

    a

    a t e n ~ a o

    dos mais eminentes

    eruditos chineses ate

    os nos

    50S

    dias. Tudo

    0

    que existiu

    de grandioso

    e

    tres mil anos

    de

    hist6ria

    cultural

    da China ou

    nesse livro ou exerceu alguma influencia na

    exegese

    do seu

    texto.

    Assim pode-se afirmar

    com

    s e g u r a n ~ a

    que

    a

    sa

    be

    doria amadurecida ao longo

    de

    seculos

    com poe 0

    I

    Ching.

    Nao

    e pois, de estranhar

    que

    essas duas vertentes da

    filo

    sofia chinesil.

    0 Confucionismo

    e

    0 Taoismo,

    ten

    ham suas

    rafzes comuns aqui. [...J

    Na

    realidade. nao apenas a filosofia da

    China

    mas

    tambem

    sua

    ciencia e arte

    de

    governar sempre buscaram i n s p i r a ~ a o

    na fonte de

    sabedoria

    encontrada no

    I

    Ching

    [

    ..

    .]".

    3. Esse

    livra

    milenar tern

    como ponto

    de partida

    urn

    de

    64

    hexagram

    as.

    que

    se

    baseiam

    nos

    o I Ching e

    urn livro de

    a d i v i n h a ~ 6 e s

    em

    que

    sao

    interpre

    tadas

    as

    formas

    de

    urn conjunto

    de

    varetas que sao soltas

    sobre uma suoerffcie e dependendo da p o s i ~ a o que assumem.

    17

    o yin corresponde

    a tudo

    que

    e contrati . receptivo e

    conservador. enquanto 0 yang esta associado

    ao

    expansi

    vo.

    agressivo

    e

    exigente.

    Vadas outras

    a s s o c i a ~ 6 e s

    podem

    ser feitas em r e l a ~ a o

    a

    esses conceitos. como associar 0 yin

    a

    i n t u i ~ a o e

    0

    yang ao racional.

    Essas

    duas especies Yin e

    Yang)

    de

    atividade

    estao intimamente relacionadas com tipos de co

    ou

    tipos de consciencia.

    os

    ao longo

    dos

    tempos.

    como

    propriedades caracteristicas da mente

    humana.

    Sao

    usual mente denominados de metodo intuitivo e

    metodo racional. e

    tem side

    tradicionalmente

    as

    sociados

    a

    religiao

    ou

    ao misticismo e

    a

    ciencia.

    Embora

    a

    s s o c i a ~ a o do yin

    e

    do yang com esses

    dois tipos

    de

    consciencias nao f a ~ a

    parte da

    ter-

    minologia chinesa original. ela parece ser

    uma ex

    tensao natural

    das

    antigas

    o

    racional e 0 intuitivo sao

    tares de funcionamento da mente

    humana.

    0 pen

    samento racional e linear. concentrado. analiti-

    co.

    Pertence

    ao dominio do intelecto. cuja f u n ~ a o

    e

    discriminar. medir e classificar. Assim.

    0

    conhe

    cimento racional tende a ser fragmentado. 0 co

    nhecimento intuitivo. por o u t r ~ lado. baseia-se

    numa experiencia direta. nao intelectual. da

    rea

    lidade em decorrencia de um estado ampliado

    de

    p e r c e p ~ a o consciente [CAPRA.

    1982.

    p. 33].

    aos

    livro

    que

    contem

    os ca

    minhos para as

    i n t e r p r e t a ~ 6 e s

    Mas 0 /

    Ching tern

    uma im

    p o r t ~ n c i a

    muito

    maior

    do que

    urn livra de

    uso

    oracular:

    e

    seu

    usa como livro

    de

    sabedoria.

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    2

    rupturas.

    como

    tambem novas propostas filos6ficas. es

    teticas. ideol6gicas e politicas

    sao formuladas.

    e a

    arte

    passa a operar segundo um novo paradigrna: 0 Modernis

    mo. em detrimento

    dos

    principios do Classissismo.

    o Modernismo aparece

    como

    um

    movimento

    demarca

    t6rio

    de

    epocas.

    E

    a

    apoteose

    do

    novo. do

    revoluciona

    rio.

    a

    nega

  • 7/21/2019 ZAMBONI. Pesquisa Em Arte

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    22

    lativo

    aos

    feitos cientificos de Da Vinci (como a

    concep

    (,;ao

    do ar, aqual atribui ser 0 germe

    da

    teoria das ondu

    la(,;oes luminosas), quanto ao metodo da concep(,;ao da

    Mona/isa

    ou

    da Santa Ceia

    Bronoswski

    (1983, p. 81),

    renetindo

    sobre

    arte

    e

    diz:

    Ha urn fio que percorre continuamente todas

    as culturas humanas que conhecemos eque e feito

    de dois cordoes. Esse fio e 0 da ciencia e da arte.

    [ J

    Este emparelhamento indissoluvel

    por

    certo, uma unidade

    essencial

    da mente hu

    mana

    evolufda.

    Nao pode

    ser urn acidente

    0

    fato

    de nao haver

    culturas que

    se

    dediquem aciencia

    e

    nao ten ham arte

    e culturas que

    se dediquem

    a

    arte

    e nao ten ham ciencia. Enao

    ha, certamente,

    nenhuma cultura desprovida de am

    bas. Deve haver

    alguma coisa profundamente enterrada no

    rito h u m n ~ - rna is precisamente

    na

    imagina(,;ao

    humana - que

    se

    exprime naturalmente

    em

    qual

    quer

    cultura

    social

    tanto na

    ciencia

    quanto

    na

    arte.

    E

    comum

    se

    ter a ciencia como

    urn

    vefculo

    de

    conhe

    cimento; ja a arte e

    normalmente

    descrita de maneira di

    ferente, nao e

    tao

    habitual pensa-la como

    expressao

    ou

    transmissao do conhecimento humano. Nao obstante, e

    necessario

    en

    tender

    que aarte

    nao

    eapenas conhecimento

    por si 56 mas

    tambem pode

    constituir-se num importante

    vefculo para outros tipos de conhecimento humano, ja que

    extrafmos del a uma

    compreensao

    da experiencia

    humana

    e

    dos seus valores.

    Tanto a

    arte

    como a ciencia acabam sempre p ~ r assu

    mir

    urn

    certo carater didatico

    na

    nossa compreensao

    23

    mundo,

    embora 0 f a ~ a m de modo diverse: a arte nao

    con

    tradiz a ciencia, todavia

    nos

    faz

    entender certos

    aspec

    tos que a ciencia nao

    consegue

    fazer.

    Segundo

    Valery, "Uma

    obra de

    arte

    deveria

    ensinar

    nos

    sempre

    que nao havfamos

    visto 0 que

    vern

    os. A edu

    c a ~ a o profunda consiste em

    desfazer

    a

    d u c a ~ a o

    primiti

    va" 1991, p. 145). Essas

    palavras,

    em

    sua essencia, sao

    equivalentes adizer que a e d u c a ~ a o

    dos

    sentidos e

    da

    per

    c e p ~ o amplia 0 nosso conhecimento de

    mundo,

    0 que

    r e f o r ~ a a ideia de que a arte e uma forma de

    conhecimen

    to que nos capacita a urn entendimento mais complexo

    e, de certa forma, mais profundo das coisas. 0 tipo de

    ex

    p icQ ;tio dado pela arte e

    diverso

    do cientifico, j que 0

    conhecimento fornecido pela ciencia esempre de carater

    explicativo: e uma e x p l i c a ~ a o e sempre faz parte da na

    tureza da explica(,;ao 0 carater racional.

    Na

    realidade,

    0 que

    existe

    sao

    formas

    de

    pensamento

    que mais

    usualmente

    se

    relacionam ao tipo de atividade

    utilizado

    em arte eoutras mais

    cornu mente

    relacionadas com

    as atividades da ciencia.

    Uma

    das

    diferen(,;as

    entre

    essas for

    mas e

    que

    a

    exp ica

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    2 I n t u i ~ a o

    intelecto

    e

    criatividade

    em arte

    e ch ncia

    Sabe-se

    que 0 cerebro. morfologicamente. esta

    do

    em

    dois hemisferios: 0 direito e 0 esquerdo. cabendo a

    cada urn

    deles determinadas

    e s p e c j a l i z a ~ 6 e s Sabe-se tam

    bern

    que

    a

    u n ~ a o

    verbal

    (compreender e

    expressar-se por

    intermedio de

    uma

    linguagem) e

    uma

    e s p e c i a l i z a ~ a o

    pre

    ponderantemente do hemisferio esquerdo. enquanto a fun

    ~ a o

    visual-espacial (reconhecer formas complexas. domi

    nar a n o ~ a o

    espadal

    e

    geometrica)

    e e s p e c i a l i z a ~ a o do

    hemisferio direito. Entretanto.

    isso

    nao

    quer

    dizer que as

    de

    urn ou

    outro

    ligada aatividade racional.

    a

    expressao

    verbal

    e

    0

    principal

    meio

    de

    que

    dispomos

    para

    a

    expressao

    de ideias racionais. Falar

    da parte

    racional do

    cerebro humane por

    meio

    da expressao verbal ecomo usar

    uma

    m e t a e x p l i c a ~ a o .

    Os prindpios. termos. e x p l i c a ~ 6 e s

    e

    conclus6es fazem parte da

    mesma matriz.

    na

    qual tudo

    esta

    esquematizado segundo

    normas pr6prias. Dar ser muito

    mais facil

    explicar tudo 0 que e racional. ou seja. tudo 0

    que

    ocorre

    na parte esauerda

    do

    cerebro.

    Resumindo-se:

    0 hemisferio dominante e ca

    racterizado

    pelos

    detalhes imaginativos. em to

    das as d e s c r i ~ 6 e s e e a ~ 6 e s . isto e. ele e anaiftico

    e seqUencia!. Ele

    tambem pode

    somar. subtrair e

    6. Ver Eccles. 1979. p. 245. Nessa

    p u b l i c a ~ a o .

    Ecdes

    trata

    em

    detalhes varias experiencias

    a

    respeito

    das

    atividades

    dos

    dois

    hemisferios

    cerebrais.

    econclui

    que ambos

    sao

    da

    mais

    alta

    para 0

    ser humano. apesar de chamar

    0 hem

    is

    de

    "dominante"

    o

    direito

    de

    "secundario".

    de

    ope

    r a ~ a o

    computavel. Eclaro

    que

    esse dominio e de-

    de sua habilidade

    verbal

    e ideacional. e

    de

    sua

    l i g ~ o com

    a

    consciencia. E

    por sua deficiencia

    nesses setores que 0

    hemisferio

    secunda rio me

    rece esse titulo. porem

    em

    muitas caracterfsticas

    importantes

    ele

    se

    sobressai.

    especial

    mente

    no

    que

    se refere as habilidades espaciais.

    de

    sentido

    mo

    delar e pictorial fortemente desenvolvidos. Por

    exemplo:

    quando 0 hemisferio

    secundario progra

    rna a

    mao

    esquerda. ele e altamente superior em

    todas as especies de

    desenhos

    geometricos

    e

    de

    perspectiva [ECClES 1979. p. 230].

    Mario

    Schenberg

    (1990).

    ffsico

    e crftico

    de

    arte,

    apoia

    do em descobertas da

    biologia

    evolucionista.

    cita que

    temos

    lJarios cerebros

    e nao urn s6 Temos urn ce

    rebro

    de

    repti . temos 0 cerebro de mamifero e te

    mos

    0

    cerebro mais

    radonal [

    ..

    ].

    Os nervos do

    de

    reptil sao provavelmente mais antigos.

    Mas parece.

    por outro lado.

    que as ideias

    mais pro

    f u n d a s ~ e m

    do

    cerebro

    de

    repti\. que e

    onde.

    pro

    vavelmente. surgem os

    sonhos

    eas i n t u i ~ 6 e s . [...]

    Talvez urn artista viva rna is com 0 cerebro

    de

    repti\.

    que e onde, provavelmente,

    surgem os

    sonhos e

    as

    i n t u i ~ 6 e s [pp.

    96-97].

    Amedida

    que

    se conhece

    melhor 0

    cerebro

    humano. vao

    sendo

    explicados certos fatos

    que

    ate

    entao

    eram

    cobertos

    de

    misterio. A pr6pria atividade

    artistica sempre esteve

    envolta

    por

    uma

    aureola nebulo

    sa,

    devido principal mente a

    dificuldade

    de

    se

    traduzir

    para

  • 7/21/2019 ZAMBONI. Pesquisa Em Arte

    15/64

    6

    um c6digo verbal alguns processos de trabalho da parte

    menos

    racional dessa atividade.

    E

    inegavel que existe um

    lado racional no trabalho artistico.

    mas,

    de

    outro. existe

    um componente nao racional. e portanto diffcil de ser

    verbalizado

    no

    processo

    de p r o d u ~ a o de

    arte. Valery

    (1978b). na Notion generale de

    fart

    aborda com

    clareza

    a questao da i n t e r p o s i ~ a o do intelecto - e seus elemen

    tos utilizados. como a 16gica. 0 metodo e as classifica

    ~ e s - asensibilidade como experiencia sensorial.

    A

    ProF

    Betty

    Edwards

    (1984).

    baseada

    te

    nas pesquisas

    do

    grande pesquisador Sperry. criou

    um

    metodo

    para

    0 ensino

    do

    desenho intitulado

    Desenhan-

    do

    com 0 lado direito

    do

    cerebro que

    aciona

    0 conheci

    mento intuitivo

    para 0

    aprendizado

    7

    o

    racionalismo do

    hemisferio esquerdo

    e dominante em

    r e l a ~ a o

    a

    f u n ~ a o

    intuitiva do hemisferio direito.

    razao

    pel a

    qual 0 racional sempre interfere primeiro em qualquer ati

    vidade

    cerebral que se

    pratique. No caso do desenho, e

    ne

    cessario inidalmente

    se

    afastar

    0

    radonal para que

    0

    in

    tuitivo

    possa

    fluir.

    dado que as modalidades

    esquerdo sao

    muito

    mais

    desenvolvidas

    para essa

    7. Entre

    os varios

    exercfcios

    que eta

    utiliza

    em seu metodo.

    um deles

    eonsiste em

    reproduzir uma

    Figura

    tomando-a in

    vertida.

    ou seja.

    de

    eabec;a para baixo. 0

    fundamento

    des

    se exercfeio e exatamente fazer com que 0

    hemisferio

    es

    querdo nao compreenda a

    Figura

    (e portanto nao a interprete

    de

    forma racional). faeilitando.

    com

    isso. a passagem des

    sa modalidade para

    amodalidade

    do hemisferio direito. Esse

    treinamento visa

    ativar

    de uma forma

    premeditada a tran

    sic;ao

    de

    uma

    modalidade verbal

    e

    analftica

    para um

    estado

    espacial

    e nao-verbal.

    8. 0 pr6prio aprendizado do desenho.

    no fundo.

    eum treina

    mento

    da

    passagem

    do hemisferio esquerdo para 0 direito.

    27

    Quando se requer a a n u l a ~ a o do pensamento

    ra

    cional

    edas

    palavras para mergulhar na i n t u i ~ a o pura.

    uma

    tecnica aconselhada consiste em contemplar

    figuras geometricas regulares.

    c o n f i g u r a ~ e s

    espa

    dais

    que

    seriam. precisamente. apanagio do hemis

    Assim quando Don

    Juan.

    um feiticeiro

    instrui

    0

    escritor e

    antrop61ogo

    americano

    Carlos Castaneda. ele indica como uma nova tec

    nica. para conquistar

    uma nova

    consciencia de si.

    ver e nao falar [MENECACCI 1987. p. 7]

    Na realidade. embora seja indiscutivel a espedaliza

    ~ a o das f u n ~ e s

    dos

    hemisferios

    cerebrais.

    possivelmen

    te

    nenhuma atividade

    hurnana ern que se

    utilize

    0 cere

    bro tenha a a r t i c i p a ~ a o de somente um

    hernisferio.

    A parte

    criativa.

    que

    normalmente e f u n ~ a o

    do

    to. tornar-se-ia incognita no sentido de urna e x p l i c i t a ~ a o

    verbal. se nao passasse por uma

    c o d i f i c a ~ a o

    forrnal-racional

    esquerdo.

    A

    e

    esclarecedor desse proces

    pois. e fu n ~ a o

    do

    hemisfe

    ou

    sejiy.'''para

    se desenhar ede fundamental

    importancia

    con

    centrar

    a atenc;ao nas informac;6es puramente visuais.

    que

    o

    hemisferio

    esquerdo

    tem difieuldade

    de

    processar. Nao s6

    em

    relac;ao ao desenho

    isso

    acontece; existem inumeros

    outros

    casos

    que servem como exemplo: um

    bastante sig

    nificativo ea

    meditac;ao utilizada nas

    seitas orientais. A me

    ditac;ao consiste basicamente

    em

    desoeupar

    0 cerebra de

    pen

    samentos racionais. ou seja. algo parecido com 0

    sar".

    Existem

    muitos

    poemas

    orientais

    em

    que

    a

    de

    palavras nao

    tem um significado

    logieo-racional;

    tal

    ar

    ranjo

    ocorre

    exatamente

    para poder

    liberar

    a

    parte

    intuiti

    va

    do cerebra.

  • 7/21/2019 ZAMBONI. Pesquisa Em Arte

    16/64

    28

    rio

    direito. a

    linguagem.

    tanto

    verbal como

    musical. isto

    e.

    a

    capacidade de

    articular

    numa sequencia urn

    car,lcter

    ap6s

    0

    outro - letra

    ou

    nota

    . compete ao

    hemisferio

    esquerdo" idem. p. 55).

    Com

    a

    atividade cient/fica. 0 processo

    e

    analogo.

    0

    pr6

    prio Einstein.

    em preciosos

    depoimentos

    sobre

    a

    sua ma

    neira

    de

    trabalhar. dizia

    que

    raramente

    pensava com pa

    lavras. pois

    primeiro ele tinha uma forma de pens mento

    visu l

    (lcones). e

    s6 depois

    fazia

    a

    r a d u ~ a o de seus pro

    dutos em outros

    signos, como f6rmulas. e q u a ~ 6 e s ou

    guagem

    verbal:

    Para mim nao ha duvida de que nosso pensa

    mento funciona.

    geralmente. sem

    utilizar

    signos

    palavras):

    e muito

    comum.

    alias.

    que

    funcione

    de

    uma maneira

    consciente. Nao e

    absolutamente

    necessario

    que

    urn conceito

    seja ligado

    aurn

    signo

    reproduzivel

    ou reconhedvel pelos

    sentidos

    uma

    palavra).

    mas.

    quando

    isso

    acontece. 0 pensamen

    to torna-se comunicavel [idem. p. 100]

    A estereotipada c o n c e p ~ o

    de que

    0

    cerebro

    do cien

    tista e

    somente racional

    e

    linear

    e

    bastante

    difundida.

    mas

    para fazer

    ciencia

    e

    necessario

    utilizar

    as

    duas metades

    do cerebro. Da mesma maneira. nao existe

    urn

    cerebro pa

    drao

    do

    artista

    que

    funcione so

    mente

    pelo seu

    lade

    in

    tuitivo. Quanto a esse

    aspecto. deve-se

    lembrar

    que os

    grandes

    artistas. ou

    seja. aqueles que conseguiram mu

    d a n ~ a s de paradigmas

    e que

    moveram

    0

    cursa

    da

    arte.

    nem

    s6 de i n t u i ~ a o viveram e trabalharam:

    pelo

    contrario,

    usa

    ram

    0

    cerebra

    racionalmente

    e

    por

    meio

    da

    linguagem

    verbal

    emitiram seus manifestos eenunciaram suas teorias.

    Em

    9

    suma,

    0 funcionamento

    dos dois

    hemisferios

    cerebra is

    e

    necessario tanto para

    as

    atividades artisticas como

    para

    as

    cientificas.

    0

    que

    significa

    dizer que existe urn cerebra

    do

    artista e urn

    cerebro do

    cientista e enunciar

    somente

    meia verdade.

    Por

    mais que sejam

    exercitadas

    as I i g a ~ 6 e s

    neuronais

    de urn ou

    outro

    hemisferio.

    e

    sempre necessa

    ria

    a

    t i l i z a ~ a o

    das duas

    metades. quer

    s

    f a ~ a

    arte. quer

    s

    f a ~ a ciencia.

    Nao existe urn cerebro

    padrao.

    determinado pela ati

    vidade que

    s e x e r ~ a

    mas pode existir uma preponderancia

    de

    urn em r e l a ~ a o ao o u t r ~ . Os hemisferios cerebrais sao

    utilizados

    da mesma forma que usamos mais uma parte

    do corpo

    do

    que

    outra: por

    exemplo:

    urn tenista usa

    rna is

    os musculos do b r a ~ o

    do que

    urn

    jogador

    de

    futebol.

    con

    tudo

    nem

    por isso

    deixa

    de

    usar

    todos

    os

    musculos

    do

    corpo em

    c o m p e t i ~ 6 e s . 0

    mesmo se da com

    r e l a ~ a o

    a

    uti

    l i z a ~ a o do

    cerebro. dado que

    cada atividade intelectual

    aciona as partes cerebrais de maneira

    diferente.

    desenvol

    vendo-se

    mais.

    portanto.

    as mais exercitadas.

    A

    questao da

    i n t u i ~ a o e do intelecto esta.

    de certa for

    ma. ligada aquestao

    do

    consciente edo

    inconsciente.

    Po

    demos relacionar. ainda que de forma grosseira. 0 racional

    com

    0

    consciente.

    e a

    n t u i ~ a o

    com

    0

    inconsciente.

    Nor

    mal

    mente.

    agimos e

    pensamos de

    forma consciente. isto

    e.

    utilizando

    dados

    e

    n f o r m a ~ 6 e s armazenadas na mem6

    ria

    consciente. Mas.

    paralelamente

    aessa.

    existe outra

    me

    m6ria. que e a

    do

    inconsciente. a

    qual

    nao esta sempre

    ime

    diatamente disponivel

    para

    a

    t i l i z a ~ a o do consciente.

    A

    mente

    inconsciente e urn repositorio

    de i n f o r m a ~ 6 e s acu

    muladas no passado. ao qual nao temos

    acesso

    facil

    e

    me

    diato.

    Quando

    s

    pensa que

    algo

    foi

    esquecido.

    na

    reali

    dade

    esse algo passou para 0

    inconsciente. e

    muitas vezes

  • 7/21/2019 ZAMBONI. Pesquisa Em Arte

    17/64

    3

    repentinamentee embrado.

    mesmo

    que tenhaocorrido

    em

    vivencia

    remota

    9

    A linguagem

    verbal

    como

    forma

    racionalizada de pen

    samento encontra dificuldades em explicar0 processo in

    tuitivo do inconsciente.

    Etimologicamente falando. a

    n t u i ~ a o

    e

    um

    co

    nhecimento direto.

    uma

    especiede visao imedia

    ta

    dosobjetos e

    desuas

    r e l a ~ 6 e s com outros ob

    sem

    uso

    de

    raciocinio discursivo. E

    nesse

    sentido

    que

    se diz

    que

    a i n t u i ~ a o e uma

    percep-

    ~ 6 0 .

    visao

    ou c o n t e m p l a ~ a o [BAZARIAN 1986.p 41].

    Bergson (1975) ocupou-se com a questao da i n t u i ~ a o .

    particularmente

    em

    a

    pensamento

    0

    movente

    em

    que faz

    9. Carl jung (1987) propoe

    um

    modele

    da psique

    como

    uma

    sequencia

    de

    camadas. A

    maisperiferica seria

    a

    camada re

    ferente asensac;ao.

    ou

    seja. aquela destinada a receber as

    rmac;oesdomundo

    dosobjetos exteriores.Abaixo

    viria

    o

    pensamento. por

    onde entram

    as

    coisas

    recebidas

    pelos

    sentidos e onde

    Ihes

    eatribufdo

    um

    nome.

    "A

    seguir. sur

    em

    relac;ao

    a elas. urn sentimento. Eno

    final

    teremos

    umacerta conscienciado

    destinodascoisas

    percebidas. bem

    como a

    maneira

    pela

    qual

    elas

    se

    desenrolam no

    presente.

    E a intuic;ao.

    que

    nos faz ver 0

    queesta

    acontecendo nos

    cantinhos maisescondidos" (pp.

    38-40).

    A

    essasquatro

    fun

    ~ 6 e s jung

    chama

    de sistema

    ectopsiquico.

    Seguindo-se

    mais

    para 0

    interior. ainda segundo jung. existe uma

    outra ca

    mada denorninada

    esfera

    endopsfquica.

    onde

    s encontraa

    mem6ria que pode ser

    controlada

    pela

    vontade.

    Aprofun

    dando-se

    mais encontra-se 0 inconsciente pessoal e em

    ultimo

    nfvel 0

    inconsciente coletivo. Segundo jung.

    0

    in

    consciente

    pessoal

    e a

    parte

    da

    psiquequecontemelementos

    que tambem

    poderiam

    aflom

    a

    consciencia. e que se

    en

    contra. de

    certa

    forma.

    numa

    camada relativamente super

    ficial. situada logo abaixo

    do

    limiar

    da

    consciencia.

    31

    esse

    de complexo

    Atraves dela (a i n t u i ~ a o . problemas que

    gamos insoluveis vaG se resolver. ou antes. se

    dissolver.

    seja para desaparecer

    definitivamente.

    seja

    para

    se

    colocarem

    de

    outra maneira. E

    ela

    se

    beneficiaradoque liver reito

    p ~ r esses

    problemas.

    Cada um deles, intelectual. Ihe comunicara um

    desua

    intelectualidade.

    Assim

    intelectua

    ela

    podera ser apontada novamente

    para

    que

    a servirao. depois de se terem

    ainda mais. a obscurida

    de

    que

    os envolvia. e tornar-se-a

    por

    ela pr6pria

    maisclara.

    E

    preciso.pois.

    distinguir entre

    as

    que

    guardam para si a

    sua

    luz. fazendo-a pene

    trar imediatamente ateas

    partes

    mais

    eaquelas

    cuja luminosidade

    e exterior. iluminando

    toda uma

    regiao

    de

    pensamento.

    Estas

    podemco

    m e ~ r

    por

    ser

    interiormente

    obscuras; mas

    a luz

    que

    projetam

    ao

    redorvolta-Ihes por reflexao.

    pe

    netra-as

    cadavez

    maisprofundamente: eela

    pos

    sui entao

    0

    duplo poder

    de

    adarar

    em

    torno de-

    e aclarar-sea si mesmas rD 122].

    A i n t u i ~ a o

    ocorre

    sempreque

    faltarem

    meios

    cos

    e racionais

    para

    processar

    0

    contato com

    0

    mundo. E

    um

    saito, um pulo que racionalmente nao

    se

    sabe

    como

    se deu,

    ou

    no dizer deJung:

    Sempre

    que

    se

    tiver

    de

    lidar

    com

    c o n d i ~ 6 e s

    para

    asquais nao havera valores preestabelecidos

    ou

    conceitos ja firrnados

    est

    a

    u n ~ a o

    a n t u i ~ a o

  • 7/21/2019 ZAMBONI. Pesquisa Em Arte

    18/64

    3

    o que quero

    dizer e

    que

    a

    e urn tipo

    de

    p e r c e p ~ a o

    que nao passa

    exatamente pelos sentidos: registra-se ao

    nivel

    do

    inconsciente. e e

    on de abandono

    toda a tentati

    va

    de

    e x p l i c a ~ a o

    dizendo-Ihes:

    nao sei como se

    processa UUNG

    1987 p.1

    I].

    m arte

    a

    n t u i ~ a o

    e

    de

    importancia fundamental.

    pois

    ela traz

    em

    grau

    de

    intensidade

    maior

    a impossibilidade

    da r a c i o n a l i z a ~ a o precisa.

    A

    arte nao tern parametros

    10-

    gicos de precisao matematica. nao e mensuravel. sendo.

    por

    sua vez. grandemente produzida eassimilada

    par

    im

    pulsos

    intuitivos: a

    arte

    e

    sentida

    e

    receptada mas de

    difidl

    t r d u ~ o

    para formas

    integralmente

    verbalizadas.

    Essas c o l o c a ~ 6 e s

    entretanto.

    nao

    pretendem

    negar que

    a arte tenha

    tambem

    a

    sua

    parte radonal.

    Os

    alguns artistas e te6ricos

    da arte conseguem

    racionalizar

    e verbalizar

    uma

    parte

    do

    todo.

    mas

    a outra

    produzida. transmitida e

    receptada por

    outra

    que nao

    a verbal. m contrapartida.

    nao

    se

    a

    n t u i ~ a o

    exclusivamente a arte e

    aos

    artistas.

    porque

    dentista.

    por

    mais

    racional

    que

    seja

    a

    sua

    atividade. tam

    bern

    intui. principal mente quando Ihe faltarem

    dados

    16

    gicos e

    M. J

    Coracini 1987).

    em

    urn

    estudo

    sobre

    discurso

    faz

    uma

    serie

    de

    entrevistas

    com

    varios cien

    tistas. e

    os

    resultados revelam

    que

    a

    grande maioria ad

    mite

    0 usa da i n t u i ~ o para realizar pesquisas

    cientificas.

    f-

    A

    intui

  • 7/21/2019 ZAMBONI. Pesquisa Em Arte

    19/64

    4

    temente intuitiva. enquanto 0

    racional necessita

    de

    ele

    mentos enumeraveis. comparaveis. ordenaveis

    Q

    que ocorre

    frequentemente dentro

    de

    um processo

    trabalho criativo e a existencia de sequencias de mo

    mentos criativos intuitivos).

    seguidos

    de

    o r d e n a ~ 6 e s ra

    cionais,

    Ao

    longo

    de

    um processo

    de trabalho criativo

    existe

    uma dinamica intensa

    de

    trocas muito

    rapidas entre

    0 in-

    eo

    racional:

    procura-se algo e. por meio

    de

    um insight

    .

    vem

    a

    o l u ~ a o

    passa

    -se

    a ter

    elementos sob

    forma passivel de ser controlada pelo intelecto. os

    quais

    sao orden ados

    Na

    sequencia surge Dutro problema.

    no

    vamente um

    insight

    e assim por diante...

    Dessa

    maneira

    se

    da

    forma

    a u

    ma

    ideia

    A

    r i a ~ a o

    na

    realidade.

    e u m

    or

    denamento. e selecionar.

    relacionar

    e integrar elementos

    que

    em

    principio pareciam

    impossiveis. No

    inicio. parece

    que

    algo

    paira no ar de

    forma

    vaga. solta.

    sem

    se

    ter

    um

    dominio efetivo

    do evento:

    de

    repente algo aflora.

    e tor-

    na-se mais claro. e quanto mais 0 cientista

    ou

    0 artista

    aquestao. mais clara e elaborada

    ela

    se tornara,

    Nao

    s deve deixar

    de reconhecer

    tambem que tanto

    no

    trabalho art/stico

    como

    no

    cientffico existe

    um

    car.Her

    pessoal e subjetivo

    na

    forma

    de

    trabalhar e

    de

    encontrar

    s o l u ~ 6 e s criativas. Q

    fluxo

    ordenativo

    segue

    os

    comandos

    dados

    pelo cerebro do individuo que esta procedendo

    ao

    arranjamento. de

    uma

    forma

    individual.

    espelha.

    ipso

    facto

    o

    seu

    interior.

    A

    c r i a ~ a o

    artistica

    espelha

    a

    visao pessoal do

    artista.

    da mesma

    forma que a c r i a ~ a o cientffica

    refiete

    avisao pes

    soal

    do

    cientista. A

    d i f e r e n ~ a

    entre

    uma

    obra

    e outra

    nao

    esta no

    ato

    criativo.

    mas

    no

    processo de

    trabalho

    menta do num determinado

    paradigma

    e no conhecimento

    acumulado

    de

    quem realiza a

    obra

    .

    Muitas vezes se esquece que 0

    ate

    criativo excede

    em

    muito

    0

    universo

    da arte. pois 0

    cientista

    necessita

    tanto

    da

    criatividade quanto 0 artista. A ideja de que a criativi-

    dade s6 esta

    ligada

    as

    atividades

    intelectuais

    e tambem.

    totalmente wanea.

    Atividades simples. como

    a

    maio ria dos

    offcios.

    tambem

    podem

    ser

    atividades criativas

    Tanto em

    arte

    como em ciencia ou em qualquer

    ativi-

    dade.

    0 ate da

    c r i a ~ a o e

    0

    surgimento

    de

    algo original. uma

    o r d e n a ~ a o que assume

    um

    carater que

    remete ao

    novo. Po

    dem ocorrer

    divergencias

    quanto a n u n c i a ~ a o do que

    ve

    nha a

    ser

    criatividade. mas as d i f e r e n ~ a s

    sao sobretudo se

    manticas. De uma determinada perspectiva. pode-se

    ate

    negar

    a

    existencia

    da

    c r i a ~ a o : por essa

    6ptica nada

    ecria

    do.

    tudo 0 que

    esta

    no

    universo

    e

    que s

    chama

    de

    c r i a ~ a o

    nada

    mais eque um ordenatnento do ja existente. Uma

    outra

    postura assume

    que

    qualquer rearranjo

    de fatores

    existen

    tes

    e por si

    s6.

    uma

    forma

    de

    c r i a ~ a o pois

    um

    ordenamento.

    desde que

    seja

    original. passa a constituir algo inedito no

    qual houve c r i a ~ a o ja que sem esse

    0 inedito nao existiria.

    De uma forma ou

    de

    outra. a criatividade esta intima-

    mente ligada

    a s e n s a ~ a o

    de descoberta

    Ealgo

    novo.

    e um

    caminho encontrado para solucionar

    alguma

    coisa.

    e

    s6 de

    pois de encontrado se

    percebe

    qual foi esse

    caminho.

    E

    des

    cobrir

    algo que

    estava

    escondido. epressentir

    de

    forma

    in-

    s61ita

    a

    coerencia

    de

    elementos arranjados

    dentro

    de

    uma

    nova. Enquanto

    descoberta.

    enquanto s o l u ~ a o nao

    se

    pode

    fazer nenhuma

    d i s t i n ~ a o fundamental

    entre

    cria

    ~ a o

    artistica e cientifica.

    Qu. como

    no dizer

    de A. Moles:

    Q espirito

    humane

    e

    um s6

    e

    os processos

    c r i a ~ a o

    s

    aplicam

    indistintamente. n statu nascendi

    aos materia is do pensamento racional ou

    da

    for

    5

  • 7/21/2019 ZAMBONI. Pesquisa Em Arte

    20/64

    36

    rna

    estetica. As diferencia

  • 7/21/2019 ZAMBONI. Pesquisa Em Arte

    21/64

    a comunlaaae

    e a

    de nao se

    confrontar

    com

    seus

    pro

    colegas, e rever os resultados e a interoretacao

    dos

    de sua pesquisa.

    s paradigmas dentlficos sao resguardados pela co

    munidade

    cientlfica,

    possuidora de escudos criados

    por

    ela

    propria para

    suportar,

    enquanto

    for possivel. as pres

    s6es de

    novas ideias que poderao originar novos

    paradig

    mas.

    Esse processo

    nao econsciente:

    ou

    seja,

    0

    cientista

    que trabalha dentro

    de

    um paradigma nao consegue ver

    ou agir de maneira diferente,

    senao

    seguindo

    as

    guias

    dadas

    por esse

    paradigma.

    Mas os

    paradigmas

    nao se mantem

    eternamente. Ao

    do

    tempo, eles

    se esgotam pelo crescimento das ano

    malias e, antes

    de

    serem substituidos, existe

    normal

    men

    te

    um

    perfodo

    de

    crise.

    com

    duvidas,

    d e s c o n f i a n ~ a s

    e con

    t e s t a ~ 6 e s

    ao conjunto de principios ainda vigentes, que

    sao

    as p r e c o n d i ~ 6 e s

    necessarias

    para

    a emergencia

    de

    novas

    teorias ou, no dizer de Kuhn: Rejeitar um paradigma sem

    simultaneamente substitui-lo

    por

    outro e

    rejeitar

    a

    propria

    dencia (1989, p.

    110).

    as crises

    que antecipam

    as

    m u d n ~ s de

    para

    digmas sao

    marcadas

    pelo consequente relaxamento

    das

    regras

    que orientam a pesquisa

    normal.

    0 paradigma

    co

    m e ~ a ser contestado.

    Na epoca de crise,

    ja nao

    se

    am

    param total'mente as novas descobertas, contraprovas

    c o m e ~ m

    a surgir e, aos

    poucos,

    um

    paradigma

    vai sen

    do substitufdo total ou

    parcialmente por

    outro.

    Ao

    surgir

    um

    novo

    paradigma quando

    normalmen

    te se

    instala

    um perfodo de intensa

    atividade, aflorando

    novas descobertas

    de

    relevancia

    - a criatividade

    faz-se

    necessaria

    de

    forma

    intensa.

    pois

    novas

    teorias

    vao

    se

    for

    Tudo deve ser

    reDensado

    e reenauadrado

    em

    no

    vos

    A comunidade

    c o m e ~ a

    aos

    poucos,

    a

    aderir

    anova

    forma

    de pensar, com

    a

    conversao de novos adeptos. Aque

    les

    que persistirem em nao

    aceitar as novas

    leis

    correm 0

    risco de ficar marginalizados.

    A teoria

    elaborada por Kuhn

    (1989)

    toma como

    base

    as r e v o l u ~ 6 e s e u d n ~ s

    ocorridas

    na

    ciencia,

    mas,

    guar

    dadas

    as

    especificidades, ocorrem mecanismos

    em arte.

    A

    dinamica das rupturas no campo artfstico

    e muito

    pro

    xima do que Kuhn

    chamou de

    revoluq es cientificas para os

    caminhos

    da

    ciencia:

    os dclos paradigmaticos

    guardam.

    tanto

    em arte como em ciencia, muitas

    s e m e l h a n ~ a s

    na sua

    sis

    tematica

    de

    surgimento e ruptura.

    A

    arte, em

    todas as epocas. tambem se

    desenvolveu

    baseada

    em

    paradigm

    as. De

    maneira

    mais

    ou

    menos

    for

    mal. sempre um conjunto de iMias orientou a feitura das

    artes,

    desde

    as

    pinturas

    em cavernas, quando

    os temas

    assumiam

    0

    desejo

    da d o r n i n a ~ a o da

    c a ~ a e

    dos

    ate as

    releituras pos-modernistas

    dos dias

    atuais.

    Os

    mecanismos

    de sucessao de paradigmas na arte

    ocorrem

    de forma

    muito

    proxima aos da

    ciencia. inclusi

    ve com as

    influencias

    sociais externas

    acomunidade.

    A

    moderna sociologia do conhecimento

    nao

    aceita

    que

    a

    ciencia

    seja feita exclusivamente

    pela

    comunidade cien

    tffica. eo proprio ponto

    chave da teoria de Kuhn

    - a rup

    tura -

    da e s p a ~ o

    para influencias

    sociais

    externas aden

    cia.

    Mecanismo

    semelhante

    ocorre

    com

    rela< ;ao

    a

    arte,

    alem

    dos

    artistas que

    geram 0

    produto

    da arte, existem

    varios

    segmentos sociais

    cuja influenda interfere

    no

    pro

    cesso. como

    0

    publico

    receptor.

    a crftica. teoricos

    de

    toda

    especie. alem

    dos

    marchands e mecenas.

    A

    discussao.

    a aceita

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    22/64

    42

    4

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    reune-se

    rna

    is organizadamente para discutir novas ques

    toes

    e a

    aceitac;ao

    dos

    novos paradigmas.

    enquanto aco

    munidade

    art[stica nao

    possui

    foros

    tao

    formais e

    orga

    nizados de discussao. Acresc;a-se

    a

    isso fato de

    existir.

    alem dos a r t i s t ~ s criticos e te6ricos. urn publico tambem

    participante

    dessa transformac;ao

    na forma

    de receptor

    e

    interlocutor do produto artistico.

    A ruptura realizada pelos impressionistas. por

    exem

    plo. foi de certa

    forma traumatica. visto que movimen

    to

    levou

    muitos anos

    para ser

    aceito

    pelo

    co.

    e mesmo pela

    maioria

    dos

    cr[ticos e artistas. A

    maioria

    dos artistas

    pioneiros do

    movimento pagou alto prec;o pela

    adesao a

    nova estetica. enquanto

    os que

    prosseguiram

    nos

    caminhos

    da

    arte

    academica

    continuaram confortavelmente

    a

    viver de

    seus trabalhos sem traumas e sanc;6es.

    A

    medida

    que Impressionismo foi

    ganhando reco

    nhecimento do seu valor. com passar dos anos e mes

    mo decadas. a situac;ao foi aos

    poucos

    se invertendo; 0

    movimento tornou-se vitorioso e aceito. a ponto de os

    artistas que se

    opuseram

    a ele na epoca serem ate

    penalizados

    e discriminados

    pelos curadores

    e

    gos que escondem

    seus

    quadros nos poroes

    de

    museus.

    A sanc;ao pela nao

    adesao

    aos novos

    paradigmas

    vi

    toriosos

    nao

    ocorre

    somente em arte: em ciencia

    existem

    mecanismos semelhantes: os cientistas

    que

    nao aderirem

    as novas

    ideias Hcam

    amargem

    das

    suas comunidades.

    Enecessario frisar que

    urn

    paradigma. por ter side subs

    titufdo.

    nao perde

    a

    sua

    validade

    cientifica. ele apenas

    deixa

    de

    ser utilizado. cai em desuso. m

    arte tambem

    ai se

    encontram semelhanc;as;

    obviamente

    a

    obra

    nao

    deixa

    de

    ter valor por ter side executada em perspectivas

    passa

    das.

    A

    diferenc;a. que

    pode ate chocar pela obviedade. e

    que

    em ciencia pesquisador descarta

    mais

    rapidamente

    a sua hist6ria. os paradigmas sao substituidos e esque

    cidos mais raproamente. 0 referencial hist6rico tern. nesse

    sentido.

    urn valor

    menor. enquanto

    em

    arte esse valor

    his

    torico e de

    suma importancia.

    sendo fundamental para

    a

    formac;ao

    de

    qualquer artista.

    Para

    se

    fazer arte

    de

    forma consciente e

    necessario.

    ou pelo menos desejavel,

    que se

    tenha presente

    0 trans

    curso

    ja realizado

    por

    outros artistas e outras escolas

    em

    epocas

    diversas.

    Conforme ja vimos anteriormente. ao longo da hist6

    riapode-se notar a

    existencia de

    grandes e pequenos para

    digmas.

    a

    alguns

    que

    chegam

    adar

    rumos

    e orientar ou

    tros

    menores. como

    e caso

    do

    Modernismo.

    que

    serviu

    como

    uma especie de grande guarda chuva que

    inumeros movimentos artisticos distintos

    enquanto grande

    paradigma.

    tambem

    Abstracionismo.

    Dadaismo. urrealismo

    etc. .

    mas

    sem

    teve seu

    inieio.

    seu

    desenvolvimento e a sua crise.

    Na

    realidade.

    0

    que nos dias

    atuais

    chamamos

    de

    pos

    modernismo nada mais edo que 0 esgotamento e/ou tran

    sic;ao

    do

    paradigma

    modernista para urn outro. Para n6s

    e muito dificil. exatamente

    por

    estarmos vivenciando e

    par

    ticipando

    do processo.

    tentar identificar que

    realmente

    sucede quanto a

    questao

    do esgotamento e transic;ao

    do

    Modernismo.

    Quando se esgotou? Foi. como afirmam al

    guns autores.

    em

    torno dos anos

    de 192 ?

    0 movimen

    to

    p p

    dos anos

    de

    196

    ja

    era

    pos-Modernismo?

    E

    pos

    e

    crise

    e esgotamento

    do

    Modernismo. ou

    urn novo paradigma?

    44

    45

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    Sem

    pretender

    mapear

    e organizar classifica.:;6es de

    grandes e pequenos paradigmas. e muito

    menos

    car

    movimentos artisticos e cientfficos

    para deles fazer es

    tudo de caso. importante e

    dar

    uma

    ideia

    dos mecanis

    mos

    gerais

    de funcionamento que ocorrem nas revolu.:;6es

    e rupturas em

    ciencia

    e

    em arte.

    A teoria das

    revolu.:;6es

    cientificas de

    Kuhn.

    entre mui

    tas

    coisas. explica que a acumula.:;ao em ciencia. de certa

    foge aquele

    conceito tradicional de

    uma descoberta

    para outra.

    Ha mais

    sentido em

    se falar

    em

    acumUla.:;ao

    dentro de

    urn

    mesmo

    do ocorre

    a

    mudan.:;a

    de

    paradigma.

    e

    orientava e conduzia a

    acumula.:;ao.

    Nao se pode fazer urn

    raciocfnio linear e abrangente

    que

    sirva como

    regra basica para

    todas

    as

    areas do

    co

    nhecimento.

    Temos de

    considerar que

    as

    varias ciencias

    possuem suas particularidades.

    alem

    das suas diferentes

    escolas. cada qual com premissas

    pr6prias. A

    acumula

    .:;ao

    de conhecimento. ou 0 progresso das ideias. da-se

    dentro dos paradigmas das

    respectivas

    correntes de

    pen

    samento.

    Por

    exemplo. e

    possivel falar no progresso

    e

    na

    acu

    mula.:;ao de

    conhecimentos

    dentro

    do

    paradigma da econo

    mia neoclassica que

    e corrente

    do

    pensamento econo

    mico apoiado basicamente nos principios

    da

    racionalidade

    do consumidor e

    na

    perfei.:;ao do livre mercado . pois a

    sequencia

    de

    pesquisas

    produzidas por

    essa

    corrente con

    tribuiu para a

    acumula.:;ao

    de conhecimento. A

    cada

    tra-

    balho bem-sucedido publicado e divulgado. opera-se

    urn

    acrescimo

    nessa massa

    de

    saber

    economico.

    Mas.

    possi

    esses

    progressos em nada contribuirao

    para

    a

    corrente dos economistas marxistas. exatamente porque

    as

    escolas e as

    suas premissas sao

    muito diferentes.

    em

    bora tenham em comum )

    mesmo

    campo de estudo.

    J

    em qualquer

    analise que se fa.:;a

    a respeito

    do

    progresso

    se deve

    levar em

    considera.:;ao nao s6

    a

    area

    de conhecimento.

    como tambem

    os paradigmas a

    que estao

    submetidas

    as escolas

    e

    correntes de pensamento exis

    tentes.

    Ja

    a arte normalmente e tida como uma

    area

    que

    nao

    depende

    da

    acumula

  • 7/21/2019 ZAMBONI. Pesquisa Em Arte

    25/64

    Nao

    se

    pode

    dizer que a propria trajet6ria modernista

    n a ~

    conheceu

    progressos em

    r e l a ~ a o ao objetivo que vi

    sava a l c a n ~ a r As descobertas de Cezanne

    foram

    funda-

    mentais para

    Cubismo. e Cubismo

    por sua vez teve

    papel fundamental

    para

    a trajetoria de outros movimen

    tos que se

    sucederam

    dentro

    do

    paradigma modernista.

    o

    que

    pode

    ser

    considerado

    urn

    fator acumulativo.

    uma

    vez

    que

    os resultados de urn movimento

    tiveram

    influ

    encia

    e orientaram os rumos de outros que se seguiram.

    A forma como se desenvolve 0

    processo

    acumulativo

    e muito semelhante tanto em

    arte

    quanto

    em

    ciencia. nao

    s6

    na

    questao

    do

    desenvolvimento das tecnicas e

    do

    ins

    trumentos. mas principalmente

    no

    suporte intelectual e

    conceitual

    que dao os

    rumos e

    sequencias que percorrem

    o conjunto

    de ideias

    formadoras

    dos paradigmas.

    A

    i n o v ~ o

    tecnol6gica,

    que afeta

    tanto a arte como

    a

    ciencia.

    normalmente nao e suficiente

    para

    a

    mudan-

    de paradigma. mas pode tanto apontar novos rumos e

    provocar

    m u d n ~ s significativas como aiudar a resolver

    pequenos problemas.

    Nunca se

    pode preyer

    qual

    alcance

    eabrangencia de

    uma i n o v a ~ a o tecnol6gica.

    Normalmente existe

    uma

    ideia

    de

    determinado desenvolvimento.

    visando

    primordialmente

    certo

    objetivo.

    ou

    para

    resolver

    urn determinado tipo

    de

    . mas a partir do invento

    ou da

    i n o v ~ o e im-

    possivel imaginar

    ate onde se estendera seu

    uso.

    Qualquer

    i n o v a ~ a o

    independente

    da maneira como foi

    gerada. na maioria

    das

    vezes tern u t i l i z a ~ a o muito

    rna

    is

    abrangente

    do que

    se previa originalmente. 0 desenvol-

    vimento

    de

    novas tecnologias necessita normal mente

    de

    grandes

    investimentos. e

    sempre

    sao destinados a areas

    tidas como prioritarias. areas dinamicas

    em que

    existem

    grandes

    interesses economicos. poifticos ou estrategicos.

    Mas

    uma

    vez

    gerada

    certa tecnologia. ela

    c o m e ~

    a ser

    de imediato

    por

    outras areas.

    ou

    a sofrer pequenas

    m o d i f i c a ~ 6 e s

    visando

    a

    d a p t a ~ 6 e s para as outras

    cien-

    cia