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Gaspar/SC - 19 de Outubro de 2011 Policiais lutam contra baixos salários Polícia Civil de SC tem um dos piores salários do Brasil D esmotivados e sem estímulo para trabalhar. É assim que estão se sentindo os delegados e policiais civis de Santa Catarina, que recebem o 23º pior salário de todo o Brasil, de um total de 27 uni- dades da federação. A classe está há 13 anos sem receber reposição nos vencimentos e desde 1984 conta com o mesmo número de policiais. Cansada de esperar por uma ação do governo e para ten- tar mudar esta realidade, a Associação dos Delegados de Polícia Civil do Estado, junta- mente com a representação das demais carreiras de poli- ciais civis, iniciou na semana passada um movimento de reivindicação de melhorias. Além do reajuste no venci- mento - que está com mais de 100% de defasagem, os dele- gados querem voltar a ter o status de carreira jurídica. Apoiador da campanha, o delegado de polícia da Comarca de Gaspar, Paulo Norberto Koerich, também presidente da seccional 03, composta pelos municípios das regiões de Ituporanga, Rio do Sul, Blumenau, Brus- que, Itajaí e Balneário Cam- boriú, explica que a intenção é demonstrar à sociedade a realidade pela qual está pas- sando a Polícia Civil de San- ta Catarina, além de chamar a atenção do governo para Faltam condições de trabalho para os agentes O agente de polícia civil, Eduardo Pacheco Schramm, está há três anos na Polícia Civil e atualmente trabalha no setor de investigação e capturas da delegacia de Gaspar. Por vocação, ele escolheu, após tra- balhar nos mais variados seguimentos, seguir a profissão de policial civil. “A polícia é um trabalho pessoalmente dignifican- te, transforma o homem, a sensação de poder aju- dar alguém é ótima e é diferente de tudo o que pude experimentar até hoje”, diz. Mas, a precária situa- ção de trabalho aliada à baixa remuneração - hoje o salário base de um agente nível 1, que preci- sa ter o ensino superior, o problema. “Somente neste ano, mais de 200 policiais ci- vis pediram a exoneração do cargo, entre eles mais de 20 delegados”, afirma Koerich. O descaso com a segurança pública, segundo o delegado, é um problema antigo. “Há anos, o governo não dá a aten- ção que deveria dar para a po- lícia e agora chegamos a um ponto em que não estamos mais suportando”, desabafa. O delegado afirma que a Polícia Civil de SC está insastifeita e exige reconhecimento. “Que- remos que o governo nos ofe- reça a qualidade de vida con- dizente com os riscos da nossa profisão para que, assim, o cidadão possa ser bem atendi- do”. O delegado lembra que o policial enfrenta, diariamente, é de apenas R$781,82 - fizeram com que Eduardo pensasse, várias vezes, em se afastar das atividades policiais. “O que o governo nos oferece é muito pouco em relação ao que o crime moderno está exigindo da polícia. O abandono chega a tal ponto que, por exem- plo, não possuo colete ba- lístico em condições de uso, não sendo esse fato isolado na Polícia Civil do estado”, afirma. O agente, hoje com 26 anos, apóia o movimen- to e ressalta que a intenção é resgatar a digninade da Polícia Civil. “A instituição quer crescer, melhorar sua atuação e mostrar os resul- tados que são esperados pela sociedade. Mas, para isso, precisamos de quali- ficação, mais policiais e de estrutura, o que somente vai se concretizar se existir a valorização do trabalho”, afirma. Hoje, para ingressar na Polícia Civil é neces- sário ter o nível supe- rior completo. Mas a precária realidade da Polícia Civil acaba afas- tando os candidatos da profissão. Em 2008, o núme- ro de candidatos por vaga no concurso era de 146, em 2010 o número não alcançou 20. “Apesar de todas as dificuldades ainda acredito na Polícia Ci- vil. Hoje, o que ainda nos move é o respeito com o cidadão, muito diferente de algumas realidades políticas que frequentemente presenciamos”, finaliza. várias situações de risco, que pode afetar diretamente sua integridade física e emocional. A comarca - que compre- ende os municípios de Gas- par e Ilhota - possui hoje 17 policiais civis, sendo que três deles estão afastados. Para o número de ocorrências regis- tradas atualmente e pelo alto índice de criminalidade nos dois municípios, o efetivo de- veria ser, no mínimo, o dobro. Apesar de preocupante, a falta de policiais, segundo Koeri- ch, não é tão grave quanto às condições de trabalho enfren- tadas hoje pela Polícia Civil. “Nós só não paramos ainda de trabalhar em respeito aos ci- dadãos, que não tem culpa se o governo não cumpre o seu papel”, finaliza. O papel da Polícia Civil A Polícia Civil é a insti- tuição policial, amparada pela Constituição Federal, encarregada de apurar crimes, contravenções e toda e qualquer atitude que coloque em risco a segurança e a paz social. As ações são iniciadas a partir da denúncia por uma noticia crime, do conhecimento de uma in- fração penal, do flagrante delito ou fato difuso que melindre a sociedade e as instituições legalmente estabelecidas. Para ser policial civil, a pessoa precisa se submeter a um concurso público de provas e de provas e títulos, sendo que para a ingressar na corporação é preciso ter curso superior, no caso de Santa Catarina. O trabalho No momento em que uma ocorrência é entregue numa delegacia, todo um aparato especializado é disparado, de cunho técnico, especialis- ta, para tratar aquele fato. O caminho é longo e penoso. O policial militar ao entre- gar uma ocorrência, tem seu trabalho finalizado, começa aí o da Civil. O policial tem que tomar conhecimento de seu conteúdo, e ao analisá- -lo precisa perceber o grau de prioridade do caso. O documento é devidamente registrado, sendo encami- nhado ao Delegado para conhecimento e despacho, se for o caso, a perícia téc- nica, o serviço de remoção no caso de crime contra a vida e a parte médico legal são acionados, antes mesmo de a ocorrência ter sido re- gistrada. Com a ocorrência em mãos, o policial faz sua analise e toma as decisões. Tendo recebido o despacho para apuração, inicia- -se propriamente dito o trabalho de polícia judi- ciária Os agentes saem a campo para apurar as cir- cunstâncias do fato: vida pregressa é pesquisada, amigos, inimigos, pessoas que por qualquer motivo tenham interesse naque- le fato, testemunhas são buscadas, identificadas e intimadas no prazo legal, provas, envolvidos, recep- tadores, bens recupera- dos, periciados, avaliados e por fim autores identi- ficados e responsabiliza- dos, inquérito relatado e remetido ao judiciário. . Koerich: “não paramos ainda de trabalhar em respeito aos cidadãos” Em suas diligências, policiais civis estão diariamente expostos a riscos JORNAL METAS ARQUIVO JORNAL METAS

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Gaspar/SC - 19 de Outubro de 2011

Policiais lutam contra baixos saláriosPolícia Civil de SC tem um dos piores salários do Brasil

Desmotivados e sem estímulo para trabalhar. É assim que estão se sentindo os

delegados e policiais civis de Santa Catarina, que recebem o 23º pior salário de todo o Brasil, de um total de 27 uni-dades da federação. A classe está há 13 anos sem receber reposição nos vencimentos e desde 1984 conta com o mesmo número de policiais. Cansada de esperar por uma ação do governo e para ten-tar mudar esta realidade, a Associação dos Delegados de Polícia Civil do Estado, junta-mente com a representação das demais carreiras de poli-ciais civis, iniciou na semana passada um movimento de reivindicação de melhorias. Além do reajuste no venci-mento - que está com mais de 100% de defasagem, os dele-gados querem voltar a ter o status de carreira jurídica.

Apoiador da campanha, o delegado de polícia da Comarca de Gaspar, Paulo Norberto Koerich, também presidente da seccional 03, composta pelos municípios das regiões de Ituporanga, Rio do Sul, Blumenau, Brus-que, Itajaí e Balneário Cam-boriú, explica que a intenção é demonstrar à sociedade a realidade pela qual está pas-sando a Polícia Civil de San-ta Catarina, além de chamar a atenção do governo para

Faltam condições de trabalho para os agentes

O agente de polícia civil, Eduardo Pacheco Schramm, está há três anos na Polícia Civil e atualmente trabalha no setor de investigação e capturas da delegacia de Gaspar. Por vocação, ele escolheu, após tra-balhar nos mais variados seguimentos, seguir a profissão de policial civil. “A polícia é um trabalho pessoalmente dignifican-te, transforma o homem, a sensação de poder aju-dar alguém é ótima e é diferente de tudo o que pude experimentar até hoje”, diz.

Mas, a precária situa-ção de trabalho aliada à baixa remuneração - hoje o salário base de um agente nível 1, que preci-sa ter o ensino superior,

o problema. “Somente neste ano, mais de 200 policiais ci-vis pediram a exoneração do cargo, entre eles mais de 20 delegados”, afirma Koerich. O descaso com a segurança pública, segundo o delegado, é um problema antigo. “Há anos, o governo não dá a aten-ção que deveria dar para a po-lícia e agora chegamos a um ponto em que não estamos mais suportando”, desabafa. O delegado afirma que a Polícia Civil de SC está insastifeita e exige reconhecimento. “Que-remos que o governo nos ofe-reça a qualidade de vida con-dizente com os riscos da nossa profisão para que, assim, o cidadão possa ser bem atendi-do”. O delegado lembra que o policial enfrenta, diariamente,

é de apenas R$781,82 - já fizeram com que Eduardo pensasse, várias vezes, em se afastar das atividades policiais. “O que o governo nos oferece é muito pouco em relação ao que o crime moderno está exigindo da polícia. O abandono chega a tal ponto que, por exem-plo, não possuo colete ba-lístico em condições de uso, não sendo esse fato isolado na Polícia Civil do estado”, afirma. O agente, hoje com 26 anos, apóia o movimen-to e ressalta que a intenção é resgatar a digninade da Polícia Civil. “A instituição quer crescer, melhorar sua atuação e mostrar os resul-tados que são esperados pela sociedade. Mas, para isso, precisamos de quali-ficação, mais policiais e de estrutura, o que somente

vai se concretizar se existir a valorização do trabalho”, afirma.

Hoje, para ingressar na Polícia Civil é neces-sário ter o nível supe-rior completo. Mas a precária realidade da Polícia Civil acaba afas-tando os candidatos da profissão.

Em 2008, o núme-ro de candidatos por vaga no concurso era de 146, em 2010 o número não alcançou 20. “Apesar de todas as dificuldades ainda acredito na Polícia Ci-vil. Hoje, o que ainda nos move é o respeito com o cidadão, muito diferente de algumas realidades políticas que frequentemente presenciamos”, finaliza.

várias situações de risco, que pode afetar diretamente sua integridade física e emocional.

A comarca - que compre-ende os municípios de Gas-par e Ilhota - possui hoje 17 policiais civis, sendo que três deles estão afastados. Para o número de ocorrências regis-tradas atualmente e pelo alto índice de criminalidade nos dois municípios, o efetivo de-veria ser, no mínimo, o dobro. Apesar de preocupante, a falta de policiais, segundo Koeri-ch, não é tão grave quanto às condições de trabalho enfren-tadas hoje pela Polícia Civil. “Nós só não paramos ainda de trabalhar em respeito aos ci-dadãos, que não tem culpa se o governo não cumpre o seu papel”, finaliza.

O papel da Polícia Civil

A Polícia Civil é a insti-tuição policial, amparada pela Constituição Federal, encarregada de apurar crimes, contravenções e toda e qualquer atitude que coloque em risco a segurança e a paz social. As ações são iniciadas a partir da denúncia por uma noticia crime, do conhecimento de uma in-fração penal, do flagrante delito ou fato difuso que melindre a sociedade e as instituições legalmente estabelecidas.

Para ser policial civil, a

pessoa precisa se submeter a um concurso público de provas e de provas e títulos, sendo que para a ingressar na corporação é preciso ter curso superior, no caso de Santa Catarina.

O trabalhoNo momento em que uma

ocorrência é entregue numa delegacia, todo um aparato especializado é disparado, de cunho técnico, especialis-ta, para tratar aquele fato. O caminho é longo e penoso. O policial militar ao entre-gar uma ocorrência, tem seu

trabalho finalizado, começa aí o da Civil. O policial tem que tomar conhecimento de seu conteúdo, e ao analisá--lo precisa perceber o grau de prioridade do caso. O documento é devidamente registrado, sendo encami-nhado ao Delegado para conhecimento e despacho, se for o caso, a perícia téc-nica, o serviço de remoção no caso de crime contra a vida e a parte médico legal são acionados, antes mesmo de a ocorrência ter sido re-gistrada. Com a ocorrência em mãos, o policial faz sua analise e toma as decisões. Tendo recebido o despacho

para apuração, inicia--se propriamente dito o trabalho de polícia judi-ciária Os agentes saem a campo para apurar as cir-cunstâncias do fato: vida pregressa é pesquisada, amigos, inimigos, pessoas que por qualquer motivo tenham interesse naque-le fato, testemunhas são buscadas, identificadas e intimadas no prazo legal, provas, envolvidos, recep-tadores, bens recupera-dos, periciados, avaliados e por fim autores identi-ficados e responsabiliza-dos, inquérito relatado e remetido ao judiciário.

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Koerich: “não paramos ainda de trabalhar em respeito aos cidadãos”

Em suas diligências, policiais civis estão diariamente expostos a riscos

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