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XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DF DIREITO AGRÁRIO E AGROAMBIENTAL NIVALDO DOS SANTOS VALMIR CÉSAR POZZETTI

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XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DF

DIREITO AGRÁRIO E AGROAMBIENTAL

NIVALDO DOS SANTOS

VALMIR CÉSAR POZZETTI

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Copyright © 2017 Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito

Todos os direitos reservados e protegidos. Nenhuma parte deste anal poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem osmeios empregados sem prévia autorização dos editores.

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Profa. Dra. Viviane Coêlho de Séllos Knoerr – UNICURITIBA

D597Direito agrário e agroambiental [Recurso eletrônico on-line] organização CONPEDI

Coordenadores: Nivaldo Dos Santos; Valmir César Pozzetti -Florianópolis: CONPEDI, 2017.

Inclui bibliografia

ISBN: 978-85-5505-405-1Modo de acesso: www.conpedi.org.br em publicações

Tema: Desigualdade e Desenvolvimento: O papel do Direito nas Políticas Públicas

CDU: 34

________________________________________________________________________________________________

Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito

Florianópolis – Santa Catarina – Brasilwww.conpedi.org.br

Comunicação – Prof. Dr. Matheus Felipe de Castro – UNOESC

1.Direito – Estudo e ensino (Pós-graduação) – Encontros Nacionais. 2. Meio Ambiente. 3. Dignidade. 4. Campo. XXVI

Encontro Nacional do CONPEDI (26. : 2017 : Brasília, DF).

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XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DF

DIREITO AGRÁRIO E AGROAMBIENTAL

Apresentação

A edição do XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI, ocorrida em Brasília/DF, em

julho de 2017 consolida o Direito Agrário e Agroambiental como áreas de ampla produção

acadêmica em programas os mais diversos, em todos os quadrantes do país.

O grande interesse demonstrado pelos pesquisadores em estudar temas dessas áreas

encontrou, nas sessões do Grupo de Trabalho realizadas no evento, uma enorme

receptividade e oportunidade de discussão.

A obra que ora apresentamos reúne os artigos selecionados, pelo sistema de dupla revisão

cega, por avaliadores ad hoc, para apresentação no evento.

Diversamente do ocorrido em edições anteriores, na atual obra constatamos uma diversidade

temática tal, incapaz de propiciar um bloco de interesse específico dos pesquisadores, senão

que estamos ampliando, cada vez mais, o alcance do Direito Agrário nos temas discutidos.

Apresentamos, assim, os trabalhos desta edição.

O trabalho intitulado “A (IN) CONSTITUCIONALIDADE DO FUNRURAL E SUAS

CONSEQUENCIAS PARA OS PRODUTORES RURAIS: UMA ANÁLISE POLITICA E

JURIDICA DA DECISÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL”, de autoria de Thiago

Henrique Costa Silva e Maria Izabel de Melo Oliveira dos Santos, aborda dados historiais e a

partir daí, procura oferecer suporte teórico apto a demonstrar a necessidade de um olhar mais

cuidadoso ao crescente número de idosos no país e a necessidade de se identificar um custeio

previdenciário ao homem do campo, que lhe assegure existência digna, concluindo, dessa

forma, que a contribuição ao FUNRURAL é constitucional.

Os autores Fernanda Martins Albuquerque Soares e Lilian Pereira da Cunha trabalham nova

discussão sobre a luta pela terra e sua atualidade, no artigo intitulado “REPÚBLICA DE

TROMBAS E FORMOSO – GOIÁS (1950 – 1964): ORIGEM, APOGEU E

CRIMINALIZAÇÃO DE UM MOVIMENTO SOCIAL CAMPONÊS”, que analisa o

complexo de informações sobre a temática dos movimentos sociais ligados ao campo e uma

história de esfacelamento, destacando-se, no estado de Goiás, a luta dos posseiros em

Trombas e Formoso, pelo acesso à terra, e questiona o processo de criminalização do

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movimento social camponês de Trombas e Formoso, indagando se o mesmo representou uma

violência institucionalizada ou apenas uma prática de defesa social para a manutenção da

ordem. Apresenta, portanto, um contexto histórico da gênese e desenvolvimento desta

Republica Campesina.

O papel das unidades de conservação fica evidenciado no trabalho intitulado “AS

RESERVAS PARTICULARES DO PATRIMÔNIO NATURAL E A NECESSIDADE DA

INSTITUIÇÃO DE ÁREAS PRIVADAS AMBIENTALMENTE PROTEGIDAS NOS

IMÓVEIS RURAIS DO SUL DO ESTADO DE GOIÁS”, de André Luiz Duarte Pimentel,

que analisa a necessidade da instituição voluntária da Reserva Particular do Patrimônio

Natural nas propriedades agrárias situadas no Sul do Estado de Goiás, onde tais reservas

inexistem. Destacada a importância da criação volitiva dessas reservas como mecanismo para

o cumprimento e efetividade da função socioambiental da terra e também para a preservação

do bioma Cerrado.

Romulo Cesar Barbosa Marques e Luciana Ramos Jordão brindam seus leitores com um

trabalho intitulado “ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL NO ESTADO DE

GOIÁS: DESENVOLVIMENTO AGROAMBIENTAL COMO FORMA DE SUPERAÇÃO

DA QUESTÃO AGRÁRI” no qual analisam a assistência técnica e extensão rural no estado

de Goiás, sob o prisma do desenvolvimento agroambiental e a superação da questão agrária;

para isso fazem um escorço histórico da criação de órgãos de assistência e fomento,

discutindo as novas políticas de fomento rural e as necessidades do pequeno produtor

contemporâneo.

Já o trabalho “CORUMBÁ DE GOIÁS: UMA HISTÓRIA DE LUTA NO CAMPO”, de

Natasha Gomes Moreira Abreu e Nivaldo Dos Santos, discute, sob a ótica dos conflitos

coletivos agrários, o direito de posse e proteção jurídica da propriedade da terra e a condição

de atendimento da função social. O estudo é desenvolvido a partir de revisão sobre as teorias

da posse, e a sua repersonalização e, ao final, é debatida a função social nas ações de

reintegrações de posse através do estudo de caso do processo de Reintegração de Posse da

Fazenda Santa Mônica em Corumbá de Goiás, e no final, analisa de forma crítica, a decisão

judicial exarada.

O trabalho intitulado “DIREITO À TERRA E A AQUISIÇÃO DE TERRAS POR

ESTRANGEIROS” é explorado por Isabella Andrade Ferreira Xavier e Vilma de Fátima

Machado, em um estudo que demonstra o quanto as restrições impostas pela lei nº 5.709/71

na aquisição de terras por estrangeiros são importantes para a soberania e segurança nacional

e que, o afrouxamento dessas restrições podem ocasionar a perda da identidade na relação

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entre homem, terra e território, gerando riscos na proteção do patrimônio cultural e nas

reivindicações de terra, por nacionais.

Já o trabalho intitulado “DIREITO HUMANO À ALIMENTAÇÃO ADEQUADA COMO

VERTENTE DO DIREITO AGRÁRIO: A (IN) EFICÁCIA DO SISTEMA NACIONAL DE

SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL NA CONCRETIZAÇÃO DO DIREITO À

ALIMENTAÇÃO DAS PESSOAS CUSTODIADAS”, de José Augusto Magni Dunck,

discute a importância do direito agrário e a eficácia do Sistema Nacional de Segurança

Alimentar e Nutricional (SISAN) em formular políticas públicas de desenvolvimento para

concretizar o direito humano, à alimentação adequada, às pessoas privadas de liberdade e

redução da desigualdade social. Com apoio em relatório oficial e realiza diagnóstico sobre a

alimentação dos presos e a eficácia do SISAN. A partir de categorias de Foucault faz debate

sobre a influência do racismo institucional como variável que legitima a ausência de

concretização do direito humano à alimentação adequada a essa parte da sociedade.

Já o estudo jurisprudencial intitulado “EXTERNALIDADES NEGATIVAS

DECORRENTES DO USO DE AGROTÓXICOS E A INSEGURANÇA ALIMENTAR:

UMA ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL”, de Camila

Santiago Ribeiro e Eduardo Gonçalves Rocha, analisa a atuação do Supremo Tribunal

Federal frente aos efeitos negativos gerados pela ampla utilização de agrotóxicos na

produção agrícola, que vem distribuindo ônus para toda a sociedade e contribuindo para o

aumento da insegurança alimentar. As externalidades negativas que têm origem no

agronegócio vão além dos limites econômicos e demográficos da atividade e fazem toda a

sociedade suportar os custos sanitários, ambientais e sociais desse modelo de produção

agrícola. Uma análise das decisões da corte constitucional demonstra como essa questão vem

sendo enfrentada judicialmente.

Os autores Ricardo Araujo Dib Taxi e Liandro Moreira Da Cunha Faro, trazem reflexões

sobre o tema “JUDICIALIZAÇÃO DA QUESTÃO AGRÁRIA E COMUNIDADES

TRADICIONAIS QUILOMBOLAS: O JUDICIÁRIO QUANDO DA ANÁLISE DOS

CONFLITOS TERRITORIAIS”, onde destacam o papel do judiciário nos conflitos que

envolvem direitos territoriais das comunidades tradicionais, observando a tendência do poder

judiciário brasileiro em julgar demandas desta natureza, através de uma estrutura

institucional que provoca violência aos grupos étnicos e seus direitos territoriais.

O trabalho intitulado “O CANCELAMENTO DE REGISTRO DE IMÓVEIS E SUAS

CONSEQUÊNCIAS NO COMBATE À GRILAGEM DE TERRAS NO ESTADO DO

PARÁ“, de autoria de Dauana Santos Ferreira e Rita De Cassia Ferreira De Vasconcelos,

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explora os conflitos agrários no Estado do Pará, cuja politica governamental é tendenciosa,

privilegiando a classe economicamente mais forte em detrimento dos pequenos proprietários,

populações tradicionais e propriedade coletiva, destacando que, não obstante a CPI da

Grilagem instituída no âmbito do congresso Nacional, o cancelamento de matrícula de

registro de imóveis no estado do Pará não ocorreu de forma efetiva, prejudicando as

populações fragilizadas, originários proprietários da terra.

Já o trabalho de autoria de Ramon De Souza Oliveira, intitulado “O CIRCUITO ESPACIAL

DA PRODUÇÃO DO CAFÉ A PARTIR DO MUNICÍPIO DE PATROCÍNIO/MINAS

GERAIS” traz contribuições sobre a evolução da cafeicultura em Patrocínio, no estado de

Minas Gerais (MG), discutindo a produção de “cafés finos”, modernização da agricultura, a

agricultura científica globalizada.

O trabalho intitulado “CONFLITO COLOMBIANO NO SÉCULO XX: A PERSPECTIVA

DAS LUTAS POR TERRAS E TERRITÓRIOS COMO DIREITO À TERRA E PAZ”, de

autoria de Luís Felipe Perdigão De Castro e Miquelly Barbosa da Silva, aborda a luta pela

terra, o conflito colombiano no século XX, em especial a dinâmica da legislação rural dentro

dos processos de concentração e exclusão no campo. Parte-se, inicialmente, de um breve

panorama histórico para, na sequência, debater as significações das lutas por terras e

territórios, como busca por direitos e identidades sociais. O pano de fundo é a luta por terra

como elemento transversal das violências contra comunidades camponesas, indígenas e afro-

colombianas. O objetivo é discutir as contradições e rupturas que permeiam as disputas e

legislações agrárias da Colômbia.

Na produção intitulada “CONFLITO DE NORMAS NO ART. 4º DA LEI nº 12.651/2012,

CRITÉRIO HIERÁRQUICO E A TEORIA DO MAL MENOR”, de autoria de João Da Cruz

Gonçalves Neto e Lais Machado Papalardo de Moraes Carneiro, os autores analisam o art. 4º

da Lei nº 12.651/2012 e o consideram carecedor de precisão legislativa, o que pode causar

problemas na interpretação normativa e, com isso, graves conflitos agroambientais. A partir

do conceito de Área de Preservação Permanente e da importância de sua manutenção,

entendeu-se que a discricionariedade relativa à extensão da área a ser preservada pode

significar perda do direito pleno de propriedade ou ataque ao meio ambiente preservado.

Estuda-se o caso de antinomia aparente de normas ambientais, a qual pode ser solucionada

pelo critério hierárquico e pela aplicação da Teoria do Mal Menor.

A análise do trabalho intitulado “PERSPECTIVAS PARA O DIREITO

AGROAMBIENTAL A PARTIR DA NOÇÃO DE DESENVOLVIMENTO RURAL”, o

autor João Daniel Macedo Sá, discute as perspectivas do desenvolvimento rural no Brasil;

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identifica como se constrói a noção de desenvolvimento rural e se existe uma questão

estrutural que interliga a pobreza e a concentração de terras no meio rural. Apresenta uma

crítica às políticas públicas com enfoque setorial, por não darem a devida atenção à obtenção,

pelos indivíduos, do conjunto de capacidades e funcionamentos ligados às condições

mínimas para uma vida digna. Por isso, argumenta que as políticas públicas devem ser

pensadas e planejadas de maneira integrada, de modo a buscar essa ampliação das

capacidades humanas.

Os autores Ana Luisa Santos Rocha e José Heder Benatti, no trabalho intitulado “POLÍTICA

NACIONAL DE REFORMA AGRÁRIA E SEUS DIFERENTES INSTRUMENTOS

FUNDIÁRIOS”, discutem os diferentes instrumentos que compõem o rol de projetos da

Reforma Agrária no Brasil, tendo como base a Norma de Execução INCRA nº 69/2008 e os

projetos estaduais no Estado do Pará, demonstrando um aumento gradativo nas categorias

fundiárias e os sujeitos abrangidos nessa política pública.

No trabalho intitulado “PRINCÍPIOS E CLÁUSULAS GERAIS: A QUESTÃO DA

FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE” a autora Bárbara Tuanni Veloso da Silva faz uma

análise teórica sobre a função social da terra, e conclui que o direito a ela deve ser aplicado e

interpretado de forma plural, evidenciando o papel do juiz, e de diferentes teorias sobre a

hermenêutica, deixando claro a importância da “terra” para as comunidades indígenas,

demonstrando que para eles há um valor muito maior que o cultural e econômico: um valor

vital.

Finalizando, o autor Olímpio de Moraes Rocha, no trabalho “PROJETOS DE REFORMA

AGRÁRIA VIA DESAPROPRIAÇÃO SOCIAL E EXPLORAÇÃO MINERAL:

DIÁLOGOS JURÍDICOS POSSÍVEIS” faz uma análise sobre o desenvolvimento

econômico, à luz da atividade minerária, destacando os riscos e perigos que a atividade

acarreta, demonstrando o perigo da dicotomia entre os objetivos fundamentais da República:

o desenvolvimento nacional e a redução das desigualdades sociais, destacando o importante

papel da atividade agrária para a manutenção do meio ambiente saudável e com qualidade de

vida.

Assim, a presente obra é um verdadeiro repositório de reflexões sobre Direito Agrário e

Agroambiental, o que nos leva a concluir que as reflexões jurídicas, nessa obra, são

contribuições valiosas no tocante a oferta de proposições que assegurem a melhoria de vida

no campo, o acesso à terra e a dignidade de trabalhadores e produtores rurais, em harmonia

com o meio ambiente e com os demais seres que habitam esse espaço, sendo imprescindível

discutir e assegurar direitos, não só do homem, mas dos biomas.

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Desejamos, pois, excelente leitura a todos.

Prof. Dr. Nivaldo dos Santos

Prof. Dr. Valmir César Pozzetti

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JUDICIALIZAÇÃO DA QUESTÃO AGRÁRIA E COMUNIDADES TRADICIONAIS QUILOMBOLAS: O JUDICIÁRIO QUANDO DA ANÁLISE DOS CONFLITOS

TERRITORIAIS

TRADITIONAL INDIGENOUS COMMUNITIES BEFORE THE LAW : THE JUDICIAL SYSTEM ANALYSING TERRITORIAL CONFLICTS

Ricardo Araujo Dib TaxiLiandro Moreira Da Cunha Faro

Resumo

O presente trabalho visa analisar o papel do judiciário quando do julgamento dos conflitos

envolvendo direitos territoriais das comunidades tradicionais. Faz-se uma panorama sobre

direitos territoriais e a tendência do poder judiciário brasileiro em julgar demandas desta

natureza, considerando que o Estado não tem política pública efetiva para o reconhecimento

de direitos culturais, mantendo estrutura institucional capaz de provocar violência aos grupos

étnicos e seus direitos territoriais.

Palavras-chave: Judiciário, Conflito territorial, Comunidade tradicional

Abstract/Resumen/Résumé

This paper aims to analyze the role of Brazilian legal system when judging conflicts

involving the territorial rights of traditional communities. An overview of territorial rights

and the tendency of the Brazilian courts to judge demands of this nature, considering that the

State has no effective public policy for the recognition of cultural rights, maintaining an

institutional structure capable of provoking violence to ethnic groups and their rights

Territories.

Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: Legal system, Land conflits, Traditional comunities

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I. INTRODUÇÃO:

O ano de 2013 foi marcado por aumento do conflito fundiário na Amazônia em

comparação ao ano de 2012, justamente em virtude da expansão agrícola crescente neste

território, de acordo com a Comissão Pastoral da Terra. Nesta conjectura, as populações

tradicionais são importantes atores na análise deste imbricado problema sócio-econômico-

político-cultural, uma vez que das populações tradicionais que, em 2013, foram vítimas de

algum tipo de violência, 55% se localizavam na Amazônia e, sendo que, 60% dos conflitos

fundiários envolvem populações tradicionais (CANUTO, et al, 2013).

Dentro deste universo de conflitos, deve-se observar que, entre os estados brasileiros,

o Estado do Pará ostenta o 2º lugar no ranking nacional de conflito no campo, envolvendo,

também, comunidades tradicionais (CANUTO, et al, 2013). “A problemática que envolve os

conflitos e a violência no Estado do Pará está diretamente associada à concentração da

propriedade da terra” (SAUER, 2005, p.14).

Ganha destaque, ainda, o Estado do Pará, quando se trata de comunidades

remanescentes de quilombos. De acordo com a Comissão Pró-índio de São Paulo (CPI, 2011),

existem 117 títulos concedidos à comunidade quilombolas, abrigando em torno de 193

comunidades, com destaque para o Pará que concedeu 38% das titulações1.

O Pará é o ente da federação que mais tem comunidades quilombolas2 tituladas, seja

pelo órgão estadual (47)3, seja pelo órgão federal (9)4, sendo que a estimativa, de acordo com

Trecanni (2006), é a existência de 410 comunidades quilombolas no Pará. Deve-se, frisar ainda,

que este Estado foi o primeiro da Federação a ter uma comunidade quilombola titulada no ano

1995 (Comunidade Boa Vista, Município de Oriximiná)5.

Em virtude da quantidade de comunidades quilombolas no Estado do Pará, é factível

a existência de conflitos fundiários constantes, decorrentes da expansão da fronteira agrícola,

promovida ora pelo Estado, ora pela iniciativa privada.

1 Todavia, todas as comunidades devidamente tituladas não representam 6% do total existente, uma vez que se

estima a existência de mais de 3.500 comunidades (TRECANNI, 2006). 2 De acordo com Trecanni (2006) tem-se a estimativa de que permaneceram no Estado do Pará (antigo Grão Pará)

aproximadamente 48.155 escravos. Para melhor compreender a existência de escravos no Pará vide Trecanni

(2006); Edna Castro e Rosa Acevedo (1998); Salles (2005) 3 Retirado da base de dados do Instituto de Terras do Pará (ITERPA). Disponível em

http://www.iterpa.pa.gov.br/SiteIterpa/QuilombolaConsulta3.jsf 4 O INCRA não possui base de dados atualizados. Por isso, a informação foi retirada da Comissão Pró-índio de

São Paulo. Disponível em http://www.cpisp.org.br/terras/asp/terras_tabela.aspx 5 Trecanni (2006; p.127) afirma que “O governo do Estado Pará não só foi o primeiro governo estadual a expedir

títulos de reconhecimento de domínio, mas é aquele que titulou mais que todos os outros”.

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Em decorrência dos conflitos agrários no Pará, criaram-se 10 varas agrárias no Estado

do Pará, contudo, atualmente, esta dividido em apenas 5 regiões agrárias: Castanhal, Santarém,

Marabá, Altamira e Redenção6.

Dois problemas graves são apontados: a) fundiário, provocado pela aquisição de terras

públicas/particulares, que incidem ou confluam sob território quilombola; b) ambiental, já que

estes arrozeiros estão ocupando campos alagados do município, e há grande receio de que essas

áreas sejam contaminadas com o uso intensivo de agrotóxicos e fertilizantes (PEABIRU, 2011).

Portanto, a judicialização do conflito fundiário tem sido quase que inevitável e

constante no Estado do Pará, pelos complexos problemas apresentados, ações estas manejadas,

muitas vezes, pelos que estão à frente da expansão agrícola.

Em levantamento feito, a Comissão Pró-Índio de São7 aponta a existência de 97 ações

atualmente em curso contra os quilombolas, das quais 49 são ações possessórias contrárias aos

quilombolas, envolvendo 26 territórios. Na maioria das ações possessórias houve a concessão

de liminar de reintegração ou manutenção de posses desfavoráveis aos quilombolas, isto é,

existem liminares concedidas em 27 ações envolvendo 13 diferentes terras quilombolas.

A demanda agrária tem se transformado em demanda jurídica, em virtude da crescente

disputa pela terra (MITIDIERO, 2008). Contudo, esta situação decorre do fato da Amazônia

ser marcada por processos de frente de expansão agrícola, extrativa, pecuária e minerária, às

mais das vezes financiada pelo Poder Público, ocasionando intenso conflito agrário com os

diversos atores que vivem no campo/floresta.

II. RECONHECIMENTO DA IDENTIDADE COMO SOLUÇÃO PARA A

REESTRUTURAÇÃO DO DIREITO CULTURAIS

O Judiciário, quando acionado para resolver problemas fundiários, tem sido algo de

“reconhecimento” dos direitos étnicos?

Fraser (2012) compreende dois tipos de injustiças: a) injustiça social, o que

compreende como resultado da estrutura econômica da sociedade e se concretizaria na forma

de exploração ou miséria; b) injustiça cultural ou simbólica, a qual se entende como sendo o

6 A Assembléia Legislativa do Estado do Pará, regulamentando o dispositivo da Constituição Estadual, promulgou

a Lei Complementar nº 14, de 17.11.93, que alterou o Código de Organização Judiciária paraense, criando Varas

privativas na área do Direito Agrário, Minerário e Ambiental. 7 Disponível em http://www.cpisp.org.br/acoes/html/resultados.aspx?LinkID=15

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resultado de modelos sociais que impõem seus códigos de interpretação e seus valores,

provocando o não reconhecimento “do outro”.

A solução para o primeiro tipo de injustiça, seria a o que se chama de “redistribuição”,

isto é, deveria priorizar distribuição de renda, reorganização da divisão do trabalho, submissão

das decisões de investimentos ao controle democrático, transformação fundamental do

funcionamento da economia. Enquanto que para dirimir a questão da injustiça cultural, seria

necessário o reconhecimento, isto é, reavaliação de identidades desprezadas, reconhecimento e

valorização da diversidade cultural, alteração geral dos modelos sociais de representação

(FRASER, 2012).

“As soluções coletivas para a injustiça cultural dependem do chamado

multiculturalismo: trata-se de acabar com o desrespeito de identidades

coletivas injustamente desvalorizadas, ao mesmo tempo deixando

intactos o conteúdo dessas identidades e o sistema de diferenciação

identitária sobre o qual repousam. As soluções transformadoras, por

outro lado, são habitualmente associadas à desconstrução. Buscam

acabar com o desrespeito transformando a estrutura de avaliação

cultural subjacente. Ao desestabilizarem as identidades e a

diferenciação existentes, essas soluções não se limitam a favorecer o

respeito a alguém: mudam as percepções que temos de nós mesmos

(FRASER, 2012, p. 03)

“O não reconhecimento consiste na depreciação de tal identidade pela cultura

dominante e o conseqüente dano à subjetividade dos membros do grupo. Reparar esse dano

significa reivindicar “reconhecimento” (FRASER, 2007, p. 106).

“No modelo de status, então, o não reconhecimento aparece quando as

instituições estruturam a interação de acordo com normas culturais que

impedem a paridade de participação (...)Em todos esses casos, a

interação é regulada por um padrão institucionalizado de valoração

cultural que constitui algumas categorias de atores sociais como

normativos e outros como deficientes ou inferiores” (FRASER, 2007,

p.108)

“O não-reconhecimento, ou o reconhecimento distorcido, não apenas afeta

negativamente a formação da identidade (...) mas constituiu uma forma de opressão e um

bloqueio ao processo de emancipação social” (FIGUEIREDO, 2011, p. 32)

Oportunizar um alargamento no reconhecimento é proporcionar uma nova política e

um novo entendimento de justiça social, ultrapassando uma visão restrita de justiça e de

emancipação fixada em torno do eixo da classe, passando a compreender outros grupos culturais

diferenciados (CRUZ, 2013)

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Estas lutas estão abalizadas no reconhecimento do pluralismo, que tem por fundamento

a valorização das práticas, organizações e estruturas culturalmente diferenciadas, abrindo,

igualmente, espaço para o exercício de uma cidadania étnica, sem limitar as opções de

participação democrática em uma única forma imposta pela sociedade dominante

(WOLKMER, 1994).

Manter o discurso dominante é tomar a parte pelo todo, ou seja, acreditar que a

sociedade ocidental e toda a sua estrutura de conceitos deva ser aceita por todas as outras

culturas, como se fosse ela o todo, e não a parte8 (SANTOS, 2006).

Portanto, para que seja possível a viabilidade do diálogo, a existência de uma

comunidade de comunicação de natureza interétnica é condição de exequibilidade, o que se

pressupõe a existência de uma comunidade de argumentação composta por sujeitos portadores

de cultura distinta (OLIVEIRA, 2000).

Nesse sentido, o pressuposto ético fundamental é que essa negociação

só pode ter lugar no âmbito de relações simétricas, o que significa dizer:

livres e democráticas, capazes de estabelecer, numa primeira etapa,

regras claras, acordadas por consenso explícito entre os interlocutores

de ambos os lados. O não ferir a ética começaria por não romper as

regras preliminares de entendimento (OLIVEIRA, 2000, p.219).

Therbon (apud SANTOS, 2006, p.314) assevera que esta política de identidade está

baseada em três premissas: diferenciação, auto-referência e reconhecimento.

O processo de diferenciação é a luta que cada grupo social mobiliza para manter as

suas diferenças, sem ser envolvido pela “virulência dos processos hegemônicos” (SANTOS,

2006, p.314).

A auto-referência é um conjunto de valores agregados ao longo de um processo de

construção cultural9, que possibilita referenciar/identificar algum grupo, dando um sentido de

pertença étnica, por exemplo: os mitos de origem, os rituais, os símbolos.

8 Barth (2000, p.28) analisando a questão dos grupos étnicos elucida que “somos levados a imaginar cada grupo

desenvolvendo sua forma cultural e social em isolamento relativo, essencialmente, reagindo a fatores locais, ao

longo de uma história de adaptação por intervenção e empréstimos seletivos. Esta história produziu um mundo

de povos separados, cada um com sua cultura própria e organizado numa sociedade que podemos legitimamente

isolar para descrevê-la como se fosse uma ilha”. 9 “Cada sistema cultural está em mudança. Entender esta dinâmica é importante para atenuar o choque entre

gerações e evitar comportamentos preconceituosos. Da mesma forma que é fundamental para a humanidade a

compreensão das diferenças entre povos de culturas diferentes, é necessário saber entender as diferenças que

ocorrem dentro do mesmo sistema. Este é o único procedimento que prepara o homem para enfrentar serenamente

este constante e admirável mundo novo do porvir” (LARAIA, 2003, p.101).

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Por fim, o reconhecimento baseia-se na alteridade interpessoal, isto é, todo indivíduo

precisa, para se desenvolver plenamente, do reconhecimento do outro, onde este outro irá

valorizar e aceitar as divergências.

O conhecimento e o reconhecimento das diferenças pressupõe a

prevalência do conhecimento-emancipação10 e da ecologia dos

saberes11. De facto, só na trajetória do colonialismo para a

solidariedade será possível reconhecer as diferenças e distinguir, entre

elas, as que inferiorizam e as que não inferiorizam, na específica

constelação social das desigualdades e de exclusões em que elas

existem. (SANTOS, 2006, p.314)

Um Estado que não consiga realizar este diálogo intercultural dos direitos

fundamentais recai no discurso hegemônico, e não atende aos princípios constitucionais do

pluralismo jurídico e político.

Em sendo assim, os modelos institucionais criados pela sociedade dominante são o

reflexão da necessidade de se manter a estrutura vigente, sem provocar rupturas sociais capazes

de reverter à lógica hegemônica, abrindo espaço para um diálogo intercultural. E o Poder

Judiciário, através de suas decisões, como elemento desta estrutura sócio-política, é o

reprodutor, através das assertivas jurídicas, desta lógica dominante, para manter a estrutura

vigente, sem abrir espaço para o diálogo intercultural.

A cultura jurídica nacional foi formulada pela ampla supremacia do oficialismo estatal

em detrimento das diversas formas de pluralidade de fontes sociais, culturais e normativas

(WOLKMER, 1994).

Repensar esta estrutura normativa e social do Brasil, permite desmistificar, em nome

do pluralismo, a tradição hegemônica de uma cultura marcada por uma visão formalista e una

do direito, cuja intenção é manter um sistema de dominação (WOLKMER, 1994).

As condições as quais foram embasadas a estrutura normativa brasileira levam a

perceber a cultura jurídica como materialização das condições histórico-políticas e das

contradições sócio-econômicas, traduzidas pelos interesses hegemônicos das classes

dominantes (WOLKMER, 1994).

10 Santos (2000, p.78) define o que seja conhecimento-emancipação: “O conhecimento-emancipação é uma

trajectória entre um estado de ignorância que designo por colonialismo e um estado de saber que designo por

solidariedade. O conhecimento-regulação é uma trajectória entre um estado de ignorância que designo por caos e

um estado a saber que designo por ordem. Se o primeiro modelo de conhecimento progride do colonialismo para

a solidariedade, o segundo progride do caos para a ordem” 11 “Ecologia de saberes. A primeira lógica, a lógica da monocultura do saber e do rigor científico, tem de ser

questionada pela identificação de outros saberes e de outros critérios de rigor que operam credivelmente em

contextos e práticas sociais declarados não-existentes pela razão metonímica” (SANTOS, 2004, p.790).

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Esta hermenêutica está baseada no próprio sentido do pluralismo que permeia

sociedades como a brasileira.

Ao contrário da concepção unitária, homogênea e centralizadora denominada de

“monismo”, a formulação teórica e doutrinária do “pluralismo” designa a existência de mais de

uma realidade, de múltiplas formas de ação prática e da diversidade de campos sociais com

particularidade própria, ou seja, fenômenos autônomos e elementos heterogêneos que não se

reduzem entre si (WOLKMER, 1994, p.158).

III. O PAPEL DO JUDICIÁRIO E O RECONHECIMENTO SOCIAL

O sistema jurídico tem por tendência “apagar” a possibilidade de considerar a

existência de direitos de grupos étnicos, uma vez que o formalismo excessivo não é capaz de

compreender os fenômenos sociais, bem como aceitação de práticas jurídicas diferenciadas.

(NETO, et al, 2011).

Até a década de 80, os conflitos estavam muito restritos por disputa por terra, referindo

a posse e propriedade, acabando por desembocar no judiciário. Contudo, ao longo do tempo, os

conflitos começaram a ter outra natureza: conflito com as comunidades e povos tradicionais

que já ocupavam a área, na qual, pugnava-se, não somente pelo reconhecimento territorial, mas

também pelo reconhecimento à diversidade.

“Foi da oligarquia rural brasileira, um grupo extremamente coeso, que conseguiu

sobrepor seus interesses àqueles de toda a sociedade brasileira que, a partir de 1930, nasceu a

burguesia industrial” (TRECANNI, 2001, p.115).

A ocorrência de conflitos socioterritoriais se reitera no tempo e no espaço, dentro do

contexto de concentração fundiária, uma vez que está marcada pelo crescimento do modelo do

agronegócio, de mobilizações populares de luta por direitos socioterritoriais, bem como a

ausência de eficazes políticas públicas estruturantes de democratização do acesso à terra

(MARÉS, 2003).

Conforme se depreende, é com frequência que o Estado-juiz, para legitimar o fluxo da

expansão agrícola mantem um discurso hegemônico sem considerar os diversos interlocutores

envolvidos em uma demanda sobre território quilombola. Impõem-se modus operandi na forma

de utilização da terra, nos modelos desenvolvimentista de exploração intensiva, baseada apenas

no crescimento econômico, no alto índice mercadológico, sem considerar a existência de

grupos, culturalmente diferenciados, que utilizam a terra de acordo com o uso e costume

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tradicional, e não pela lógica do mercado. Daí surgem os conflitos que se desenrolam no

Judiciário.

Em países como Brasil, onde as instituições não sofreram mudanças substancias em

relação à cultura jurídica, é frequente perceber que a justiça, ao analisar problemas de teor

econômico, político e social, tomam como base de solução os aspectos patrimoniais e

contratuais entre indivíduos, sem inferir sobre as demandas coletivas e culturais (SANTOS,

2009).

Mitidiero (2008, p.389) afirma que:

A judicialização da questão agrária é entendida por Chemeris (2002,

p.89) como o resultado da ausência de políticas públicas para a

resolução de tal questão. Para ele, a questão social que envolve os sem

terra deveria ser enfrentada pelos poderes legislativo e executivo como

fato político, a quem caberia, por meio de políticas públicas, solucionar,

mas, como não é resolvido por esses dois poderes, surgem as

organizações de luta pela terra, e os conflitos decorrentes do embate

entre sem terra e proprietários recaem sobre o Judiciário, que passa a

ter poder de decisão.

Chemires (apud MITIDIERO, 2008, p.389) entende que “o Poder Judiciário passou a

entrar na esfera da economia e da política, colocando-se dentro da realidade social e

participando da transformação ou manutenção dessa mesma realidade”.

Importante observar que existe uma hipótese de reprodução de certos padrões judicias

entre categorias de litigantes que frequentemente se enfrentam na justiça, o que possibilita a

pensar que certos atores talvez possuam maior confiança no sistema de justiça para a defesa dos

seus interesses (SANTOS, 2009).

Marés et al (2009; p.88) afirma que:

Neste sentido, apresenta-se para o debate o problema, de um lado, de

uma cultura jurídica essencialmente legalista e formalista, aliada e

coordenada, de outro lado, com uma estrutura e cultura institucional

autoengessada na via judicial em uma compreensão estritamente

adversativa, não acostumada ou sequer ciente da possibilidade de

utilização de novos e diversos instrumentais mais aptos para a

compreensão e o diálogo com os elementos constitutivos do conflito

fundiário rural.

Geralmente as ações do poder judiciário pendem a manutenção da “ordem” e não

resolvem algo que, a princípio, não é da sua função (...) e acirram a tragédia social causada pela

concentração de terra” (MITIDIERO, 2008, p.389).

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“Em todo campo a distribuição de capital é desigual, o que implica a existência de um

permanente conflito, com os agentes e grupos dominantes procurando defender seus privilégios

em face da contestação dos demais” (AZEVEDO, 2011, p.29-30).

Por isso, “o Judiciário tem sido largamente utilizado pelos donos de terras para

bloquear situações ou para encaminhá-las de acordo com suas conveniências” (BENATTI,

2006, p.41)12.

Acevedo e Castro (1999, p.142), na análise sobre o conflito judicial envolvendo a

comunidade quilombola de Abacatal (Ananindeua/PA), afirmam que “autoridade jurídica,

detentora de uma violência simbólica, legítima, no dizer de Bourdieu (1989, p.211), fazia uso

das leis para dizer quem estava certo – o proprietário possuidor das escrituras e certidões de

registro de imóveis – e errado - os ‘invasores’ (...)”.

A partir da década de 7013, esta posse tradicional começou a consolidar politicamente

e estes grupos “iniciam a reivindicação de seus direitos em defesa do apossamento. Isso ocorre

quando se vêem ameaçados por outros grupos sociais que tem relação diferente com a terra”

(BENATTI, 2003, p.110).

“O convívio dessas duas concepções é incompatível no mesmo espaço físico, pois uma

terá que desaparecer para que a outra se consolide. Nessa situação, o conflito se torna intenso e

violento, já que o objeto da disputa é o mesmo, porém com destinações bem distintas”

(BENATTI, 2003, p.110).

Loureiro (2001) entende, também, que o fato de a região amazônica ter sido tomada

como sistema natural único trouxe enorme impacto ambiental e fundiário aos seus diversos

ecossistemas e aos grupos étnicos. As populações tradicionais tornaram-se imperceptíveis no

conjunto das políticas públicas, por não serem tratadas como atores sociais importantes nesse

processo de desenvolvimento e mudança.

Com a expansão da fronteira acentuou-se a disputa pela terra. Os novos

ocupantes entraram em conflito com a forma de ocupação preexistente

que era ampla, apesar de imprecisa quanto aos seus limites e titulação.

A questão da terra passou a ser o eixo central do processo de ocupação

da Amazônia. Nesta disputa pelo controle do espaço o governo federal

interveio com a pretensão de ordenar o processo; na realidade, porém,

12 “O governo e o Poder Judiciário paraense têm agido com muita celeridade quando se trata de penalizar

trabalhadores e lideranças populares. Exemplo dessa situação foi a concessão de mais de 40 liminares de despejo,

muitas cumpridas em junho de 2005, de fazendas ocupadas na região sul e sudeste do Estado, atingindo quase

cinco mil famílias” (SAUER, 2005, p.15). 13 “Na realidade os governos militares manifestaram ser extremamente reacionários e centralizadores, fortaleceram

o aparelho burocrático e intervieram em todas as esferas da vida econômica, social e política. Para isso, muniram-

se de inúmeros órgãos ligados diretamente ao governo federal e cujas decisões eram centralizadas em Brasília

com pouca ou nenhuma autonomia a nível local. Os governos estaduais e municipais tiveram suas atribuições

reduzidas ou esvaziadas”. (TRECANNI, 2001, p.121)

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sua ação criou as condições para a apropriação privada das terras, até

então prevalentemente devolutas, pelos detentores do capital

(TRECANNI, 2001, p.172).

Benatti (2003, p.110) afirma que:

A finalidade da terra para seringueiros, ribeirinhos, remanescentes de

quilombolas é inconciliável com a destinação dada pelas grandes

empresas mineradoras, empresas agropecuárias, e na maioria das vezes,

pelos grandes projetos governamentais. Nesses momentos de conflito,

a definição da faixa da terra para (...) que desenvolvam suas atividades

agroextrativistas torna-se essencial para estruturar vínculos de

solidariedade e forjar uma coesão social capaz de enfrentar seus

adversários de solidariedade, como também para garantir o controle

sobre sua área.

A expansão de um grupo econômico entra em choque com as territorialidades dos

grupos que residem aí, sendo que esta expansão significa a instalação da hegemonia do Estado

e suas formas de territorialidade em detrimento dos diversos grupos tradicionais que já

ocupavam secularmente a área (LITTLE, 2002).

Em se tratando de conflito entre propriedade privada e território de comunidade

tradicionais, vê-se que os princípios que norteiam os direitos sócio-culturais-territoriais não são

levados em consideração, em sua maioria, tendo em vista que o judiciário, além da visão

dogmática, ainda é a expressão de um determinada classe minoritária.

O Brasil assumiu uma herança do direito de propriedade do regime de exclusão: a

exclusão da sociedade, na qual a propriedade era tida como direito natural e universal e o

domínio exclusivo do proprietário (BENATTI, 2003a)14, sendo que esta realidade confrontou-

se com as ocupações pré-existentes.

“A diversidade fundiária do Brasil é pouco conhecida no país e, mais ainda, pouco

reconhecida oficialmente pelo Estado brasileiro. A inclusão dos diversos grupos não-

camponeses na temática, a questão fundiária no Brasil vai além do tema de redistribuição”

(LITTLE, 2002, p.2).

O Estado, em geral, demonstra resistência em reconhecer a existência de minorias e,

por isso, os direitos são formulados não como pertencentes às minorias como grupos, mas sim

14 “Desde as primeiras atividades econômicas – a exploração do pau-brasil, depois o ciclo do açúcar no Nordeste,

a mineração no Centro-Oeste, e posteriormente as plantações de café no Sudeste e de algodão no Sudeste e

Nordeste – até as culturas modernas como a soja no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, os citros e a cana-de-açúcar no

Sudeste – a grande propriedade sempre priorizou a produção para o mercado externo” (BENATTI, 2003a, p.207).

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aos seus membros individuais, não consagrando um status legal ou coletivo às minorias (GHAI,

2003).

A proteção dos interesses das comunidades tradicionais, dentro do processo judicial,

não será válida se for baseada em “canibalização ou mimetismo cultural”, pois esta deve ter

suas bases no processo de “identificação profunda dos postulados culturais inscritos na

personalidade e nas formas básicas de socialização” (SANTOS, 2003, p.444).

O território quilombola não reflete apenas a diversidade de atividades de relações

econômicas, mas também uma rede de sociabilidade, conteúdos e rituais simbólicos. Neste

espaço produz-se meio de vida, imprimir conteúdos históricos (ACEVEDO, 2004).

Com o advento da Constituição Federal de 1988, o termo quilombo assume uma

significação atualizada, ao ser inscrito no art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais

Transitórios (ADCT15) para conferir direitos territoriais aos remanescentes de quilombolas

(O’DWYER, 2002).

Segundo Trecanni (2006, p.14) a expressão “’quilombo’ deixa de ser considerado

unicamente como uma categoria histórica ou definição jurídico-formal, para se transformar, nas

mãos de centenas de comunidades rurais e urbanas, em instrumento de luta pelo reconhecimento

de direitos territoriais”.

O texto constitucional não invoca apenas uma “identidade histórica”. Segundo o texto

é preciso que esses indivíduos históricos presumíveis existam no presente e tenham como

condição básica o fato de ocupar uma terra. Desta forma, qualquer invocação do passado deve

corresponder a uma forma atual de existência (O’DWYER, 2002).

Para O’Dwyer (2002, p.14), a partir da leitura do texto constitucional é possível

“conceituá-los, numa perspectiva antropológica, mais recente, como grupos étnicos que existem

ou persistem ao longo da história como um ‘tipo organizacional, segundo processos de exclusão

e inclusão que possibilitam definir limites” .

Partindo deste pressuposto, as comunidades remanescentes de quilombos é grupo

étnico atributivo, que devem ser definidos a partir de sinais considerados socialmente

significativos pelo grupo, e não por um olhar classificador de um observador externo

(O’DWYER, 2002), direito este amplamente garantido na Carta Magna (art. 214 e 215) e na

Convenção 169 da OIT (organização internacional do trabalho)16.

15 Conforme Trecanni (2006) o fato do direito ter sido posto no ADCT não deve ser encarado como uma norma de

valor secundário, pois é fruto do mesmo Podes Constituinte originário, tendo, portanto, força constitucional de

direito fundamental.

16 “A Convenção 169 define, principalmente, três critérios fundamentais para determinar os grupos aos quais ela

se aplica: a existência de condições sociais, culturais e econômicas diferentes de outros setores da sociedade

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Ademais, o art. 68 da ADCT “introduz no plano político e jurídico nacional algumas

realidades novas, pois o direito à propriedade é reconhecido a uma categoria coletiva: os

remanescentes das comunidades de quilombo” (TRECANNI, 2006, p.84).

Acevedo e Castro (1998, p.157) afirmam que:

Ao conceber a terra como bem comunal, seguem regras definidas nos

cânones do direito consuetudinário, historicamente fundador de sua

territorialidade. A discussão sobre as bases dessa territorialidade,

portanto, não poderia jamais caber no âmbito limitado do direito

privado. Ela não pode ser iluminada pelos padrões jurídicos que

regulam o estatuto da propriedade privada e suas formas de aquisição.

Desta forma, “não pode ser subordinada portanto a lógica da propriedade privada que

preside o direito brasileiro (...) Os negros mantêm, na concepção e na prática, terra comuns,

pois institucionalizam um sistema de regras (...)” (ACEVEDO e CASTRO,1998, p.158).

Segundo Trecanni (2006, p.91):

A Constituição reconhece o caráter pluriétnico de formação histórico-

cultural e atribui às comunidades tradicionais remanescentes de

quilombo papel de um grupo étnico, que foi fundamental na formulação

de nossa identidade nacional.

IV. CONCLUSÃO

Conforme visto acima, a tendência do judiciário brasileiro, em relação a propriedade,

é não proceder com a ponderação dos direitos envolvidos numa demanda desta natureza, ainda

mais quando envolve comunidade tradicionais, as quais, as mais das vezes, são colocadas em

estado de invisibilidade social, política, econômica e jurídica.

O judiciário tem sido a ferramenta para manter uma estrutura fundiária engessada no

“mito” da propriedade privada, que, por mais que esteja devidamente protegida pela

Constituição Federal, não é o único direito também resguardado.

nacional; a presença de uma organização social regida total ou parcialmente por regras e tradições próprias, e a

auto-identificação, entendida como a consciência que tem o grupo social de sua identidade tribal. Este último

critério é fundamental na identificação e reconhecimento dos grupos tribais que fazem parte de um país (...)Sobre

os sujeitos de direito a que se aplica a Convenção no Brasil, em princípio sua abrangência é definida para os povos

indígenas e quilombolas, ambos reconhecidos como minorias étnicas do Estado brasileiro na mesma Constituição

Federal de 1988. Estes aparentemente são os principais sujeitos de direito aos quais o Estado brasileiro reconhece

a aplicação da Convenção OIT 169” (O’DWYER, 2012, p.9)

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Há necessidade de proceder com uma análise hermenêutica sobre o assunto, utilizando

da ponderação de valores existentes na sociedade, que não se circunscrevem ao interesse da

minoria.

González Casanova (2007) compreende que, mesmo após a formação do Estado-Nação,

dos países que perpassaram por um domínio colonial europeu, mantém ou renovam estruturas

mantidas desde o período colonial, formando um verdadeiro colonialismo interno, isto é,

fenômeno de conquista, em que as populações nativas não são exterminadas e formam parte do

Estado colonizador, e prosseguem no Estado independente.

Contudo, os povos ou minorias, submetidos a esta situação do colonialismo interno

sofrem com as seguintes situações, nos termos de González Casanova (2007, p. 432)

a) habitam em território sem governo próprio; b) encontram-se em

situação de desigualdade frente às elites das etnias dominantes e das

classes que as integram; 3) sua administração e responsabilidade

jurídico-política concernem às etnias dominantes, às burguesias e

oligarquias do governo central ou aos aliados e subordinados do

mesmo; 4) seus habitantes não participam dos mais altos cargos

políticos e militares do governo central, salvo em condição de

“assimilados”; 5) os direitos de seus habitantes, sua situação

econômica, política social e cultural são regulados e impostos pelo

governo central; 6) em geral os colonizados no interior de um Estado-

nação pertencem a uma “raça” distinta da que domina o governo

nacional e que é considerada “inferior”, ou ao cabo convertida em um

símbolo “libertador” que forma parte da demagogia estatal; 7) a maioria

dos colonizados pertence a uma cultura distinta e não fala a língua

“nacional”. (grifo nosso)

Ante estas agruras provocados por este modelo de desenvolvimento, os “povos da

floresta17” mobilizaram-se e reivindicaram, através da mobilização política, que seus direitos

fossem garantidos e reconhecidos na Constituição Federal de 1988, uma vez que “a imensa

diversidade sociocultural do Brasil é acompanhada de uma extraordinária diversidade

fundiária. (...) Essa diversidade fundiária inclui também as chamadas “terras de preto”,

“terras de santo” e as “terras de índio” (LITTLE, 2002, p. 02).

A Carta Magna trouxe novo regramento sobre a temática, garantindo reconhecimento

à diversidade cultural existente no Brasil, compreendo a necessidade de se buscar uma proteção

diferenciada para garantir, não apenas a sobrevivência física, mas também dos usos, costumes

17 Povos das floresta são os habitantes tradicionais da Floresta Amazônica (índios, seringueiros, castanheiros,

quilombolas, ribeirinhos). Para maior compreensão conferir Carneiro da Cunha, Manuela & Almeida, Mauro

Barbosa de. Enciclopédia da Floresta – o Alto Juruá: práticas e conhecimentos da população. São Paulo, Cia.

das Letras:2002.

281

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e tradições. Entretanto, como se pôde perceber ao longo da pesquisa, existem obstáculos não

apenas materiais, mas um abismo entre a linguagem do Judiciário, hermética e autocentrada em

conceitos muito pouco alargáveis, e a linguagem dos povos tradicionais, os quais, para serem

ouvidos pela lei, precisam traduzir seu mundo para o local de fala do direito, com uma perda

imensurável.

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