xxvi encontro nacional do conpedi brasÍlia –...

28
XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DF DIREITO URBANÍSTICO, CIDADE E ALTERIDADE FLAVIA PIVA ALMEIDA LEITE ROSÂNGELA LUNARDELLI CAVALLAZZI VALTER MOURA DO CARMO

Upload: others

Post on 01-Oct-2020

3 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DFconpedi.danilolr.info/publicacoes/roj0xn13/9k23038t/UgLI9M6p1aOVr6pR.pdfexcelente oportunidade para debater o grande número de instrumentos

XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DF

DIREITO URBANÍSTICO, CIDADE E ALTERIDADE

FLAVIA PIVA ALMEIDA LEITE

ROSÂNGELA LUNARDELLI CAVALLAZZI

VALTER MOURA DO CARMO

Page 2: XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DFconpedi.danilolr.info/publicacoes/roj0xn13/9k23038t/UgLI9M6p1aOVr6pR.pdfexcelente oportunidade para debater o grande número de instrumentos

Copyright © 2017 Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito

Todos os direitos reservados e protegidos. Nenhuma parte deste anal poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem osmeios empregados sem prévia autorização dos editores.

Diretoria – CONPEDI Presidente - Prof. Dr. Raymundo Juliano Feitosa – UNICAP Vice-presidente Sul - Prof. Dr. Ingo Wolfgang Sarlet – PUC - RS Vice-presidente Sudeste - Prof. Dr. João Marcelo de Lima Assafim – UCAM Vice-presidente Nordeste - Profa. Dra. Maria dos Remédios Fontes Silva – UFRN Vice-presidente Norte/Centro - Profa. Dra. Julia Maurmann Ximenes – IDP Secretário Executivo - Prof. Dr. Orides Mezzaroba – UFSC Secretário Adjunto - Prof. Dr. Felipe Chiarello de Souza Pinto – Mackenzie

Representante Discente – Doutoranda Vivian de Almeida Gregori Torres – USP

Conselho Fiscal:

Prof. Msc. Caio Augusto Souza Lara – ESDH Prof. Dr. José Querino Tavares Neto – UFG/PUC PR Profa. Dra. Samyra Haydêe Dal Farra Naspolini Sanches – UNINOVE

Prof. Dr. Lucas Gonçalves da Silva – UFS (suplente) Prof. Dr. Fernando Antonio de Carvalho Dantas – UFG (suplente)

Secretarias: Relações Institucionais – Ministro José Barroso Filho – IDP

Prof. Dr. Liton Lanes Pilau Sobrinho – UPF

Educação Jurídica – Prof. Dr. Horácio Wanderlei Rodrigues – IMED/ABEDi Eventos – Prof. Dr. Antônio Carlos Diniz Murta – FUMEC

Prof. Dr. Jose Luiz Quadros de Magalhaes – UFMGProfa. Dra. Monica Herman Salem Caggiano – USP

Prof. Dr. Valter Moura do Carmo – UNIMAR

Profa. Dra. Viviane Coêlho de Séllos Knoerr – UNICURITIBA

D597Direito urbanístico, cidade e alteridade [Recurso eletrônico on-line] organização CONPEDI

Coordenadores: Flavia Piva Almeida Leite; Rosângela Lunardelli Cavallazzi; Valter Moura do Carmo - Florianópolis: CONPEDI, 2017.

Inclui bibliografia

ISBN: 978-85-5505-439-6Modo de acesso: www.conpedi.org.br em publicações

Tema: Desigualdade e Desenvolvimento: O papel do Direito nas Políticas Públicas

CDU: 34

________________________________________________________________________________________________

Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito

Florianópolis – Santa Catarina – Brasilwww.conpedi.org.br

Comunicação – Prof. Dr. Matheus Felipe de Castro – UNOESC

1.Direito – Estudo e ensino (Pós-graduação) – Encontros Nacionais. 2. Cidade. 3. Propriedade Urbana.

4. Função social. XXVI EncontroNacional do CONPEDI (26. : 2017 : Brasília, DF).

Page 3: XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DFconpedi.danilolr.info/publicacoes/roj0xn13/9k23038t/UgLI9M6p1aOVr6pR.pdfexcelente oportunidade para debater o grande número de instrumentos

XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DF

DIREITO URBANÍSTICO, CIDADE E ALTERIDADE

Apresentação

Apraz-nos apresentar os vinte e um trabalhos selecionados para publicação que foram

apresentados no Grupo de Trabalho Direito Urbanístico, Cidade e Alteridade apresentado no

XXVI Encontro Nacional do CONPEDI - Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação

em Direito realizado em Brasília, entre os dias 19 a 21 de julho de 2017. O Grupo propiciou

excelente oportunidade para debater o grande número de instrumentos jurídico-urbanísticos

previstos no Estatuto da Cidade e a visão do tratamento da propriedade urbana e da função

social no ordenamento brasileiro. De forma resumida, os trabalhos apresentados por este

Grupo com a indicação de seus autores.

Esta obra inicia-se com o trabalho de Flavia Sousa Garcia Sanz, intitulado “A

APROPRIAÇÃO DO TERMO SUSTENTABILIDADE POR INTERESSES

CAPITALISTAS NAS CIDADES E O PAPEL DOS MOVIMENTOS SOCIAIS URBANOS

E DA CULTURA POPULAR NO SEU ENFRENTAMENTO”, em que a autora analisa a

influência de interesses econômicos sobre aspectos sociais e ambientais na construção da

cidade e o antagonismo destas duas forças: as do capital e as dos movimentos sociais urbanos

na construção das cidades sustentáveis.

No artigo “A FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE URBANA – DA EVOLUÇÃO

HISTÓRICA À APLICAÇÃO NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA”, Ana Carolina

Bueno Ferrer e Rafael Rodrigues de Andrade discutem o instituto da função social da

propriedade urbana e sua aplicação atual a partir da evolução do conceito de propriedade.

Na sequência, Thiago Ribeiro de Carvalho discute as questões relativas à demora na

prestação judicial e à busca pela agilidade na prestação jurisdicional no trabalho “A

IMPORTÂNCIA DA TUTELA PREVENTIVA NA PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO

HISTÓRICO E CULTURAL”.

A seguir, Luiza Gaspar Feio e Lise Tupiassu apresentam o trabalho “A IMPORTÂNCIA DO

PODER LOCAL PARA CONCRETIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS A PARTIR DA

ANÁLISE DO INSTRUMENTO ‘ICMS ECOLÓGICO’” em que ressaltam o papel do Poder

Local para efetivação dos Direitos Humanos com a finalidade de expor as transformações

que ocorreram no federalismo brasileiro.

Page 4: XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DFconpedi.danilolr.info/publicacoes/roj0xn13/9k23038t/UgLI9M6p1aOVr6pR.pdfexcelente oportunidade para debater o grande número de instrumentos

À Luz do advento do Estatuto da Metrópole, Jean Alves e José Carlos de Oliveira debatem

em “A NECESSIDADE DA GOVERNANÇA INTERFEDERATIVA DOS SERVIÇOS

PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO NAS REGIÕES METROPOLITANAS”. A

gestão associada no âmbito das regiões metropolitanas viabiliza a universalização e a

equidade, uma vez que os municípios menos favorecidos são compensados com os aportes

dos municípios maiores (subsídios cruzados).

No artigo “A OCUPAÇÃO DA ZONA RURAL COM FINS URBANOS, O

ORDENAMENTO TERRITORIAL PELO MUNICÍPIO E A CIDADE SUSTENTÁVEL”,

Marcos Prado de Albuquerque e Patrícia Cavalcanti Albuquerque debatem sobre a ocupação

da zona rural com fins urbanos e o ordenamento territorial pelo município a partir das

funções socioambientais da propriedade e da cidade, e do direito à cidade sustentável,

conforme diretrizes do Estatuto da Cidade.

Já em “A PARTICIPAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO NA PROTEÇÃO URBANÍSTICA”,

Ariel Augusto Pinheiro dos Santos e Júlio César de Souza abordam o Poder Judiciário como

um ator na proteção ambiental e urbanística, impedindo assim que o particular pratique

determinadas atividades lesivas. Da mesma forma, tratam do papel do Judiciário em evitar

que haja uma regressão normativa em suas dimensões.

A participação da sociedade civil no processo de elaboração e implementação do Plano

Diretor é apreciada no texto “ASPECTOS DA PARTICIPAÇÃO NO PROCESSO DE

ELABORAÇÃO DO PLANO DIRETOR MUNICIPAL”. A autora Ana Cláudia Milani e

Silva, para garantir a aplicação do princípio da Gestão Democrática, identifica as limitações

do modelo participativo e a relevância do Plano Diretor. Destaca a necessária gestão

democrática da cidade sem, contudo, deixar de afirmar que, a contrário senso, na prática, não

garante a democracia do processo, logo a importância do papel do Executivo municipal, da

Câmara de vereadores. Em conclusão, ressalta que o Plano Diretor municipal deve estar em

consonância com os ideais de uma cidade sustentável e igualitária.

O tema do direito à moradia é analisado por Elizabeth Maria Campbell Neto Machado

Peralta e Paulo Lage Barboza de Oliveira com o título “ACESSO à MORADIA EM CABO

FRIO: INSTRUMENTOS URBANÍSTICOS E SUA EFETIVIDADE”. Estudam a

implantação de programas de habitação de interesse social na cidade de Cabo Frio

privilegiando o Plano Diretor. A função social da propriedade pública e privada também é

objeto de estudo visando à efetividade dos instrumentos jurídico-urbanísticos. Ressaltam que

o Plano Diretor de Cabo Frio já conta com quase 11 anos de idade e propõem que a imediata

regulamentação dos instrumentos de política urbana oferecidos no Estatuto da Cidade pode

Page 5: XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DFconpedi.danilolr.info/publicacoes/roj0xn13/9k23038t/UgLI9M6p1aOVr6pR.pdfexcelente oportunidade para debater o grande número de instrumentos

permitir ao Poder Público uma maior capacidade de intervir no sentido do cumprimento da

função social da cidade e da propriedade.

“DIREITO À CIDADE E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A SEMART CITY”, da autoria

de Daniel Machado Gomes e Nicolas Arena Paliologo, constitui o tema que aborda o

conceito de cidade inteligente e a relevância da tecnologia. Propõe conceituar a cidade

inteligente e apontar os requisitos para a sua implementação prática em face do Direito à

Cidade. O estudo também considera a relevância do acesso amplo à tecnologia digital

mediante políticas públicas. Conclui que as cidades inteligentes não estão reduzidas a uma

tendência tecnológica e, finalmente, afirmam que a cidade inteligente é o resultado da

combinação entre a tendência tecnológica e as necessidades políticas, econômicas e sociais.

Émilien Vilas Boas Reis e Edson Roberto Siqueira Jr, no contexto histórico de migração e

formação de cidades, indagam sobre a viabilidade da sustentabilidade no caso das cidades

brasileiras. Assim, com o título “DIREITOS HUMANOS, MIGRAÇÃO E

SUTENTABILIDADE DAS CIDADES BRASILEIRAS” realizam a investigação, segundo

uma abordagem interdisciplinar, considerando o meio ambiente como direito fundamental.

Analisam também o conceito de ideologia para abordarem a questão da efetividade dos

Direitos Humanos. Consideram essencial a efetividade dos direitos fundamentais na

perspectiva da equidade social. Concluem no sentido da necessária ação do Estado Brasileiro,

por meio de políticas públicas para a promoção dos direitos humanos fundamentais.

“O ESTUDO DE CASO DE PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO CULTURAL NO

MUNICÍPIO DE CONTAGEM MG - PATRIMÔNIO INDUSTRIAL E EXPANSÃO

IMOBILIÁRIA” realizado por Jesmar César da Silva enfrenta o conflito inerente entre a

sociedade de mercado e proteção ao Patrimônio Cultural. Adota a concepção de Patrimônio

como essencial à vida, construído e vinculado à história dos grupos sociais. Denuncia o

equívoco de considerar a população regida pela lógica do mercado e, por consequência, o

Patrimônio Cultural como mero produto para de consumo.

Analisa o caso do Empreendimento Oasis localizado no município de Contagem MG e

constata, de forma coerente, a violação do texto constitucional.

Com o título “GOVERNANÇA INTERFEDERATIVA NAS ENTIDADES

METROPOLITANAS FEDERATIVAS”, Edson Ricardo Salene e Renata Soares Bonavides

analisam as possibilidades no campo do Direito Urbanístico com a criação de entidades

Page 6: XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DFconpedi.danilolr.info/publicacoes/roj0xn13/9k23038t/UgLI9M6p1aOVr6pR.pdfexcelente oportunidade para debater o grande número de instrumentos

supramunicipais, especialmente as regiões metropolitanas reconhecidas como governança

interfederativa. O estudo destaca Zoneamento Ecológico-Econômico e também inclui o caso

da AGEM – Baixada Santista à luz do Estatuto da Metrópole.

Ressalta, por fim, o grande desafio da aprovação do PDUI (Plano de Desenvolvimento

Integrado da Região) em lei estadual.

A aplicabilidade de instrumentos jurídico-urbanísticos prevista no Estatuto da Cidade é

analisada por Felipe Jardim da Silva e Luciana Grassano de Gouvêa Melo no ensaio IPTU

PROGRESSIVO NO TE: APLICABILIDADE NO NORDESTE DO BRASIL. Qualificado

como uma sanção prevista na Constituição Federal da República de 1988 e no Estatuto da

Cidade indutora do cumprimento da função social da propriedade. Os autores concentram o

estudo empírico nas capitais do Nordeste do Brasil e concluem que, apesar dos avanços

legislativos, o IPTU, o instrumento não é aplicado na prática nas cidades objeto de estudo,

resultando, portanto, urgente a revisão/regulamentação deste e dos seus códigos

complementares.

Na sequência, Nadja Karin Pellejero e José Ricardo Caetano Costano, no artigo intitulado

“MORADIA PARA QUEM? UMA REFLEXÃO SOBRE POLÍTICAS PÚBLICAS

DIRECIONADAS À QUESTÃO DA MORADIA DE RIO GRANDE/RS", fizeram uma

análise sobre os impactos das políticas públicas direcionadas à habitação implementadas nos

últimos anos no município de Rio Grande-RS.

No artigo "MULTIDIMENSIONALIDADE DO DIREITO À CIDADE NO ESTATUTO DA

CIDADE”, Jussara Romero Sanches e Miguel Etinger De Araújo Júnior analisam o

desenvolvimento urbano contemporâneo tendo como base, no âmbito internacional, bem

como no âmbito interno, o Direito à Cidade. Para tanto, apresentam uma reflexão sobre os

contornos que o Direito à Cidade possui, para compreender sua complexidade e sua

multidimensionalidade.

A seguir, Irene Celina Brandão Félix, por meio do trabalho “O ESTATUTO DA CIDADE E

A GARANTIA AO DIREITO À MORADIA ADEQUADA”, faz uma análise das normas

procedimentais e a possibilidade de criação de políticas públicas introduzidas pelo Estatuto

da Cidade, para efetivar o direito social à moradia adequada.

Page 7: XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DFconpedi.danilolr.info/publicacoes/roj0xn13/9k23038t/UgLI9M6p1aOVr6pR.pdfexcelente oportunidade para debater o grande número de instrumentos

Em sua apresentação do trabalho intitulado “O ESTATUTO DAS CIDADES, A

PARTICIPAÇÃO POPULAR E A GESTÃO URBANA DEMOCRÁTICA", Glauce Suely

Jácome da Silva aborda a participação como forma de controle social, sobretudo através dos

Conselhos, visando o desenvolvimento das cidades.

Por sua vez, André Luiz Costa e Rossana Marina De Seta Fisciletti apresentam no artigo “O

VALOR DA FUNÇÃO SOCIAL EM TEMPOS INCERTOS: PANACEIA OU UTOPIA”

uma análise sucinta da questão da especulação imobiliária e sua relação com o poder público,

observando a função social sob a perspectiva do proprietário, bem como a dos menos

favorecidos, que, em razão dos “avanços” das leis, os excluem da possibilidade de aquisição

da propriedade.

No artigo “OPERAÇÕES URBANAS CONSORCIADAS: UM INSTRUMENTO PARA

CONCRETIZAÇÃO DA GESTÃO DEMOCRÁTICA DAS CIDADES”, os autores Carolina

Souza Castro e Carlos Henrique Carvalho Amaral demonstram que as Operações Urbanas

Consorciadas constituem um importante instrumento no planejamento urbano, vez que

permitem a flexibilização da legislação urbanística vigente em prol de uma melhor

adequação com a realidade local.

Finalmente, com o intuito de finalizar as discussões acerca desse novel diploma normativo,

Ana Luiza Novais Cabral e Samuel Fernandes Dos Santos apresentam o trabalho intitulado

“PRIMAZIA DA PARTICIPAÇÃO POPULAR NA REALIZAÇÃO DE AUDIÊNCIAS

PÚBLICAS EM ALTERAÇÃO E REFORMA DO PLANO DIRETOR MUNICIPAL”, no

qual fazem uma análise da participação popular nas audiências públicas para alterações

legislativas e reformas do plano diretor municipal por meio da gestão democrática descrita

expressamente na Constituição Federal e no Estatuto da Cidade.

Por fim, os organizadores e coordenadores do Grupo de Trabalho DIREITO

URBANÍSTICO, CIDADE E ALTERIDADE parabenizam e agradecem aos autores dos

trabalhos que compõem esta obra pela valiosa contribuição científica de cada um, o que por

certo será uma leitura interessante e útil à comunidade acadêmica. Reiteramos a satisfação

em participar da apresentação desta obra e do CONPEDI, que se constitui, atualmente, no

mais importante fórum de discussão e socialização da pesquisa em Direito.

Profª. Drª. Flávia Piva Almeida Leite (FMU)

Profª. Drª. Rosângela Lunardelli Cavallazzi (UFRJ)

Page 8: XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DFconpedi.danilolr.info/publicacoes/roj0xn13/9k23038t/UgLI9M6p1aOVr6pR.pdfexcelente oportunidade para debater o grande número de instrumentos

Prof. Dr. Valter Moura do Carmo - Unimar

Page 9: XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DFconpedi.danilolr.info/publicacoes/roj0xn13/9k23038t/UgLI9M6p1aOVr6pR.pdfexcelente oportunidade para debater o grande número de instrumentos

1 Mestrando em Direito pela Universidade Veiga de Almeida. Procurador Geral do Município de Cabo Frio. Advogado.

1

ACESSO À MORADIA EM CABO FRIO: INSTRUMENTOS URBANÍSTICOS E SUA EFETIVIDADE

ACCESS TO HOUSING IN CABO FRIO: URBANISTIC INSTRUMENTS AND YOUR EFFECTIVENESS

Elizabeth Maria Campbell Neto Machado PeraltaPaulo Lage Barboza de Oliveira 1

Resumo

O trabalho analisa o acesso à terra na cidade de Cabo Frio e a implementação de programas

de habitação de interesse social. Em razão do gigantesco crescimento urbano e que este

crescimento contempla o assentamento residencial da população, por meio de uma pesquisa

bibliográfica e documental com métodos dedutivo e comparativo, necessário analisar o plano

diretor vigente, a ausência de normas urbanísticas contemporâneas e seus instrumentos, já

que tal lacuna impossibilita a criação de um estoque de terras para a execução de programas

habitacionais de interesse social, bem como o cumprimento da função social da cidade e da

propriedade.

Palavras-chave: Estatuto da cidade, Plano diretor, Área especial de interesse social, Programas habitacionais, Efetivação dos instrumentos urbanísticos, Revisão bibliográfica

Abstract/Resumen/Résumé

The work analyzes the access to land in the city of Cabo Frio and the implementation of

programmes of social interest housing. Due to the huge urban growth and that this growth

includes the residential settlement of the population, through a bibliographical and

documental search with deductive and comparative methods, it’s necessary to analyze the

current master plan, the lack of urban contemporary standards and their instruments, makes it

impossible to create a stock of land for the implementation of programmes of social interest

housing as well as the fulfilment of the social function of the city and the property.

Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: The city statute. master plan, Special area of social interest, Housing programs, Effectuation of the urbanistic instruments, Bibliographical review

1

145

Page 10: XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DFconpedi.danilolr.info/publicacoes/roj0xn13/9k23038t/UgLI9M6p1aOVr6pR.pdfexcelente oportunidade para debater o grande número de instrumentos

 

       

INTRODUÇÃO

A estruturação urbana de Cabo Frio é um problema que vem de longa data na cidade

e que impede a correta aplicação das políticas habitacionais e, com isso, o acesso à moradia.

Mesmo com a implementação do Plano Diretor, em 2006, diplomas acessórios do

Direito Urbanístico, dentre elas a importante Lei de Zoneamento Urbano não acompanharam

a novidade normativa, impedindo a execução de programas habitacionais de interesse social,

bem como o cumprimento da função social da cidade e da propriedade.

O artigo pretende abordar a problemática habitacional no município de Cabo Frio.

Para isto, num primeiro momento, discutiremos o problema da terra no país para, em seguida,

contextualizar a realidade do município, passando pelo processo de urbanização e finalmente

enfrentar os desafios que estão colocados para o plano de habitação de interesse social e o

acesso à terra e à moradia.

Em vista do enorme crescimento urbano e o fato de que este contempla o

assentamento residencial desta população, mesmo sem responder satisfatoriamente a todas as

necessidades de trabalho, abastecimento, transporte, saúde, energia elétrica, água etc.,

entende-se que a análise do plano diretor confeccionado, da ausência de normas urbanísticas

contemporâneas e dos possíveis instrumentos existentes, em contraposição à realidade

habitacional de Cabo Frio, é essencial para a implementação do acesso à moradia.

Ao se verificar a possibilidade de utilização da legislação hoje existente ou mesmo a

necessidade de sua atualização, quer-se com isso movimentar o Município para um novo

estágio evolutivo de sua urbanização, permitindo-se o melhor aproveitamento do solo e o

cumprimento da função social da propriedade.

Do ponto de vista das classes menos abastadas, a implementação de políticas urbanas

e habitacionais tende a evitar seu afastamento dos centros urbanos e possibilitar que obtenham

as tão sonhadas moradias dignas, daí a necessidade de se buscar soluções normativas e

factuais para o problema.

Os autores, enquanto servidores do Município de Cabo Frio, iniciaram, em conjunto

com diversos outros colegas e órgãos da Prefeitura, a discussão da implantação de um novo

Plano Diretor, embora ainda numa fase muito embrionária, o que impede, inclusive, a

apresentação de dados mais concretos para o presente estudo.

146

Page 11: XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DFconpedi.danilolr.info/publicacoes/roj0xn13/9k23038t/UgLI9M6p1aOVr6pR.pdfexcelente oportunidade para debater o grande número de instrumentos

 

       

A metodologia empregada, além da aplicação dos métodos dedutivo e comparativo,

utiliza a realização de pesquisa bibliográfica e documental. O trabalho foi desenvolvido à luz

do estudo do plano diretor confeccionado e a comparação das realidades e das dificuldades

apresentadas no município, procedendo-se, ainda, uma análise histórica da urbanização da

cidade.

Foi realizado detido exame do ordenamento jurídico vigente, com a finalidade de

focar nas omissões legislativas que emperram a evolução urbana da cidade, erros estes que,

espera-se, não sejam cometidos pela atual gestão do município, em especial com a confecção

do novo plano diretor.

1. O PROBLEMA DA TERRA NO BRASIL

A história da propriedade urbana no Brasil apresenta um marco importante com a

promulgação da Lei de Terras, em 1850. Até então a terra não era negociada como

mercadoria, mas sim concedida pela Coroa, as chamadas sesmarias.

Este ordenamento jurídico do território foi, antes de tudo, uma transposição da norma

reguladora do processo de distribuição de terras em Portugal para os solos coloniais. Sob este

ponto, é preciso ressaltar que o interesse primordial do processo de colonização portuguesa

estava aliado à extensiva exploração do território.

Os municípios tinham o rocio, terras sem custo onde se implantavam casas e áreas de

produção, mas embora sem custo apenas poucos tinham o privilégio de sua concessão. No

sistema de sesmarias a condição essencial para estabelecer o domínio era a ocupação efetiva.

Em 1822, com a Independência, foi extinto o regime de sesmarias, iniciando-se um sistema de

amplo apossamento de terras, ocupação que passou a ser regra até 1850 (ROLNIK, 1997, p.

22).

O surgimento dos grandes latifúndios brasileiros certamente se consolidou com a

promulgação da Lei de Terras. Os já privilegiados através da doação de sesmarias pela Coroa

Portuguesa, ou mesmo os que pudessem apresentar provas de ocupação pacífica e sem

contestação, puderam “legalizar” suas terras com o advento da lei, bem como a própria Coroa,

que na qualidade de proprietária de todo o território não ocupado, pode passar a promover

leilões para a venda de terras, momento a partir do qual nasceu a propriedade privada no país.

147

Page 12: XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DFconpedi.danilolr.info/publicacoes/roj0xn13/9k23038t/UgLI9M6p1aOVr6pR.pdfexcelente oportunidade para debater o grande número de instrumentos

 

       

A expulsão dos pequenos posseiros por grandes proprietários rurais já vinha

consolidando o latifúndio brasileiro e a demora na tramitação do projeto de lei que definiria as

regras para a comercialização e propriedade da terra se devia ao medo dos latifundiários em

não ver suas terras confirmadas.

Promoveu-se então uma demarcação da propriedade fundiária nas mãos dos grandes

latifundiários, que nesse processo conseguiram inclusive se apropriar de muitas terras do

Estado. E os imigrantes, em vez de colonos de pequenas plantações, serviram como mão-de-

obra nos latifúndios, substituindo a mão-de-obra escrava.

Se no primeiro momento era o rei que decidia a quem doar as propriedades, agora era

a junta do Imperador que decidia a quem conceder uma propriedade, a quem vender as outras

e a que preço.

Com a proibição do tráfico negreiro em 1831 e, consequentemente, tornando os

escravos mais caros para os produtores agrícolas, a imigração de mão-de-obra se apresentou

como a melhor solução.

Assim, foi estruturado um sistema de endividamento – as “parcerias” – pelo qual os

trabalhadores recém-chegados abriam crédito com seus patrões para a compra dos bens que

necessitavam, chegando a um ponto em que a quitação do crédito era impossível. Tal prática

instituiu um sistema de trabalho análogo à escravidão.

A Lei das Terras mudou o conceito de “riqueza” dos grandes proprietários

latifundiários, que antes era medida pelo número de escravos, talvez até mesmo em razão da

dificuldade encontrada para a ocupação das terras e a condição de torná-las produtivas

imposta para sua concessão.

A substituição do escravo negro pelo imigrante livre foi embasada em discurso que

defendia o fato de que os trabalhadores europeus trariam sua cultura para desenvolver a

nação. Defendia-se, ainda, o fato de o escravo, uma vez livre, não prestar serviço a ninguém e

por representar uma raça antropologicamente inferior.

Como conseqüência direta ocorreu a divisão da sociedade em duas classes bem

distintas: os proprietários fundiários de um lado, e do outro, sem nenhuma possibilidade de

comprar terras, os escravos e os imigrantes.

É importante ressaltar que a Lei de Terras influenciou em muito a apropriação das

terras urbanas, definindo o público e o privado, regulamentando o acesso à terra urbana,

148

Page 13: XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DFconpedi.danilolr.info/publicacoes/roj0xn13/9k23038t/UgLI9M6p1aOVr6pR.pdfexcelente oportunidade para debater o grande número de instrumentos

 

       

definindo o uso e ocupação do solo urbano, porém sempre visando garantir o privilégio das

classes dominantes.

Assim, é equivocada a idéia de que havia, na época, predominância do meio rural

sobre o urbano, uma vez que se a produção se dava no campo, era nas cidades onde acontecia

o controle da comercialização.

2. A REALIDADE URBANA DO MUNICÍPIO DE CABO FRIO

Cabo Frio localiza-se a sudeste da zona costeira do Estado do Rio de Janeiro, na

Mesorregião da Baixada Litorânea (Microrregião da Costa do Sol) sendo a sétima cidade mais

antiga do Brasil e a principal da Microregião dos Lagos.

Faz divisa, com o Oceano Atlântico, a Leste, com os municípios limítrofes de

Casimiro de Abreu, ao norte; Arraial do Cabo, ao sul; Araruama e São Pedro da Aldeia, a

oeste. Possui área territorial igual a 410.693 Km², sendo 27% da área total do município

(110,9 Km²) correspondente à área urbana do Distrito Sede e 73% da área total do município

correspondente a Tamoios, Segundo distrito (299,7 Km²).

O nome Cabo Frio se originou quando as primeiras expedições portuguesas

observaram o fenômeno causado pela ressurgência que aflora diante da Ilha de Cabo Frio e

provoca, em plena zona tropical, sensações térmicas de baixa temperatura.

A região apresenta diversidade climática, variando do regime tropical ao semi-árido,

seco, muito semelhante ao clima nordestino do semi-árido (Tropical Litorâneo). O clima da

baixada litorânea se deve ao vento nordeste-leste e, conseqüentemente, ao fenômeno da

ressurgência marítima que ocorre nas costas de Cabo Frio e Arraial do Cabo, gerando águas

geladas e baixo índice pluviométrico.

A Microregião dos Lagos apresenta um relevo bastante diversificado, e, embora

apresente montanhas cujas altitudes médias variam de 500 a mais 1.000 metros, seu relevo é

dominado por colinas, baixadas e restingas. Uma vegetação nativa de árvores e arbustos com

grande quantidade de cactos é marcante na região, cobrindo morros litorâneos e ilhas,

classificada oficialmente de “savana estépica”.

As principais bacias hidrográficas da região são as do Rio São João, do Rio Una e

Cabo de Búzios e a da Lagoa de Araruama.

149

Page 14: XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DFconpedi.danilolr.info/publicacoes/roj0xn13/9k23038t/UgLI9M6p1aOVr6pR.pdfexcelente oportunidade para debater o grande número de instrumentos

 

       

A região que engloba Cabo Frio e Armação de Búzios é considerada sui generis,

apresentando peculiaridades ecológicas, climatológicas e geológicas similares às de outras

regiões semi-áridas do Brasil, em especial às da estepe nordestina. A vegetação que recobre

os maciços costeiros próximos a Cabo Frio se comporta como um enclave regional de

caatinga, que se estende por grandes extensões de restingas e pontas de maciços costeiros.

Existem, na região, mais de 600 espécies de árvores e arbustos nativos e mais de

3.000 espécies de palmeiras, cipós, trepadeiras, bromélias, cactus, orquídeas, dentre outras,

além de uma infinidade de ervas e de espécies de algas, liquens musgos e samambaias, área

considerada como um dos centros de diversidade de plantas mais importantes da América do

Sul, de acordo com o Departamento de Botânica do Instituto Smithsonian, de Washington.

3. O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO

A cidade de Cabo Frio é uma das mais antigas do Brasil, datando de 1503 sua

descoberta pelos portugueses. Uma das naus de expedição naval portuguesa que se dirigia a

Porto Seguro se chocou contra um banco de recifes e naufragou, em Fernando de Noronha,

ocasionando a dispersão de dois navios, sob o comando de Américo Vespúcio, que vieram

costeando o litoral brasileiro, e chegaram a Cabo Frio. A expedição permaneceu em Cabo

Frio por cinco meses, implantando uma fortaleza feitoria com o objetivo de explorar pau-

brasil.

A exploração do pau-brasil atraiu não só os portugueses. Em Cabo Frio os franceses

chegaram a construir a chamada Casa de Pedra, situada no Morro do Arpoador, servindo de

depósito para o pau-brasil retirado.

A feitoria fundada por Américo Vespúcio foi arrendada a um “consórcio” privado

com o objetivo de explorar pau-brasil e escravizar índios, mantendo-se ativa até 1511, então

destruída pelos tupinambás. Posteriormente, em 1575, uma expedição chefiada por Antônio

Salema expulsou os franceses e praticamente exterminou a nação indígena tamoia, sendo essa

batalha conhecida como a “Guerra de Cabo Frio”.

Apesar do massacre de 1575 não houve por parte dos portugueses um processo

imediato de colonização de Cabo Frio, estabelecendo-se, contudo, um bloqueio naval

eficiente com base no Rio de Janeiro. Com a perda da independência de Portugal para

150

Page 15: XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DFconpedi.danilolr.info/publicacoes/roj0xn13/9k23038t/UgLI9M6p1aOVr6pR.pdfexcelente oportunidade para debater o grande número de instrumentos

 

       

Espanha porém, o porto voltou a ser visitado por embarcações francesas, holandesas e

inglesas em busca de pau-brasil.

Na tentativa de resolver o problema da pirataria, Felipe II ordenou a criação de uma

colônia portuguesa em Cabo Frio, sob o comando de Constantino Menelau. Uma expedição

de portugueses e índios aliados destruiu o forte holandês e a Casa de Pedra dos franceses,

levantando a Fortaleza de Santo Inácio e fundando a Cidade de Santa Helena do Cabo Frio, a

sétima mais antiga do Brasil (13/11/1615).

As primeiras ocupações urbanas, de acordo com pesquisas realizadas, localizavam-se

à margem direita do Canal do Itajuru, no porto e a partir de 1616, data da instalação do

município, a cidade passou a se chamar Nossa Senhora da Assunção de Cabo Frio, tendo sido

ponto importante para o desenvolvimento e conquista da parte norte do território fluminense.

Em 1797 as ruas não tinham alinhamento e a cidade era repartida em bairros

irregulares. Possuía 349 casas, sendo 3 de sobrado e 12 térreas, de pedra e cal, sendo as

demais de pau a pique (SAINT- HILAIRE., 1822, apud BERANGER, 2003, p. 46).

À entrada da cidade do lado do convento, há uma pequena praça que forma um triângulo cuja ponta fica em direção ao monastério e à base da qual começam três ruas mais ou menos paralelas ao rio Itajuru (Lagoa). Essas três ruas atravessadas por outras muito estreitas, vão dar a uma outra praça, triangular como a primeira, mas muito maior na qual fica a igreja paroquial e termina por uma rua única muito larga (Av. Assunção). Assemelha-se Cabo Frio a uma lançadeira, A rua da Praia formada por uma fila de casas à margem do lago.

Conforme se pode observar na “Planta da Barra e Cidade de Cabo Frio”, elaborada

em 1788, e arquivada em 1871, na Mapoteca do Serviço Geográfico do Exército, quase um

século após o deslocamento para o novo centro urbano, um grande número de edificações,

além das anteriormente construídas, surgiu indo desde o Morro da Guia, margeando o canal,

até o atual bairro de São Bento.

Por ocasião da independência do Brasil em 1822, chegou à cidade o Major

Engenheiro Bellegard, enviado pelo governo imperial, que dentre outras obras como a

construção de um farol na ilha do Cabo Frio, projetou e rasgou as primeiras ruas do

município, promovendo assim seu primeiro plano de urbanização.

O núcleo urbano prosperou lentamente até fins do século XIX, baseando-se a

economia na agricultura com mão-de-obra escrava, realizada em grandes latifúndios. A

abolição da escravatura ocasionou o colapso econômico de que Cabo Frio só se restabeleceria

151

Page 16: XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DFconpedi.danilolr.info/publicacoes/roj0xn13/9k23038t/UgLI9M6p1aOVr6pR.pdfexcelente oportunidade para debater o grande número de instrumentos

 

       

bem mais tarde, com o desenvolvimento da indústria do sal, da pesca e do turismo, e,

sobretudo a implantação da rodovia e da estrada de ferro. A ferrovia Niterói-Cabo Frio, as

melhorias no porto de Arraial do Cabo e a posterior inauguração da Rodovia Amaral Peixoto

contribuíram para o aumento da produção do sal e para o transporte eficiente até o Rio de

Janeiro e outros importantes centros consumidores.

Em 1943, foi instituído pelo governo do Estado do Rio de Janeiro o Plano de

Urbanização das Cidades Fluminenses, elaborado pelo escritório Coimbra Bueno. Cidades

com potencial turístico, como Cabo Frio, Petrópolis e Campos, foram contempladas no

programa. Essa importante safra de planos contou com a consultoria decisiva do urbanista

francês Alfred Agache, contratado pelo Coimbra Bueno.

Neste mesmo ano Getúlio Vargas fundou a Companhia Nacional de Álcalis, no

antigo Distrito de Arraial do Cabo, que abriu salinas e passou a extrair conchas na lagoa para

produção de barrilhas. Com isso a cidade recebeu novos trabalhadores, originando a criação

do bairro de São Cristóvão.

Porém, observa-se que até a década de 50 o ritmo de crescimento da cidade ainda

não representava preocupações com relação à desfiguração de seu patrimônio paisagístico e

arquitetônico, apesar de já existir uma procura de lazer nas praias da cidade por turistas

principalmente do Rio de Janeiro.

Datam desta época, anos 50 e 60, alguns dos loteamentos aprovados na cidade, que

se tornaram pontos turísticos, com a construção de residências de veraneios, hotéis, clubes

náuticos etc., tendo, na década de 60, o auge do desenvolvimento setorial, com a instalação de

grandes usinas de beneficiamento de sal.

Em 1965, por ocasião da instrução do processo de tombamento do conjunto

paisagístico de Cabo Frio, iniciado por solicitação de Aloysio de Paula e Coimbra Bueno, os

arquitetos que analisaram o pedido opinaram no sentido de que “o desenvolvimento urbano

de Cabo Frio foi feito com o sacrifício cênico paisagístico o que, a nosso ver, impede o

tombamento da cidade em conjunto.” Porém elementos topográficos, monumentos

arquitetônicos e seus entornos foram tombados.

Em 1974, com a inauguração da Ponte Rio-Niterói, houve expressivo incremento ao

turismo. Diferentemente do que até então ocorria, sendo Cabo Frio frequentada por turistas

ricos do Rio de Janeiro, artistas e intelectuais, a cidade passou a ser palco de um avassalador

turismo de massa e, consequentemente, a sofrer os problemas dele advindos.

152

Page 17: XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DFconpedi.danilolr.info/publicacoes/roj0xn13/9k23038t/UgLI9M6p1aOVr6pR.pdfexcelente oportunidade para debater o grande número de instrumentos

 

       

O lado positivo deste turismo é representado pelo desenvolvimento das atividades

terciárias e significativa oferta de empregos temporários e definitivos. O negativo é

exemplificado com a ocupação irregular do solo, depredação do patrimônio ambiental,

pressão imobiliária para ocupação de zonas de preservação, favelização das áreas de

preservação ambiental e de risco etc.

Muitos loteamentos no município são desta época, anos 70 e 80, e muitos sem contar

com abastecimento de água, em face das dificuldades encontradas pela CEDAE para prover o

atendimento e falta de investimentos do Estado no setor. Posteriormente, em 1998, quando da

privatização do serviço para a Prolagos, novos investimentos foram realizados e uma área

maior da cidade foi coberta.

A partir da década de 90, com os recursos provenientes do recebimento dos royalties

do petróleo, o Município teve seu desenvolvimento impulsionado, com a urbanização de

diversas áreas e requalificação de vários pontos de interesse turístico, o que gerou forte fluxo

migratório para a cidade, em especial do Rio de Janeiro e da Baixada Fluminense, como

também do Nordeste.

Apesar de todos os esforços despendidos pela Administração, torna-se quase

impossível controlar este problema, pois a vinda desse contingente de pessoas sem

acomodação definida na cidade, assim como a necessidade de casa própria de grande parte da

população da cidade, faz com que exista um enorme déficit de moradias, criando-se um

ambiente propício para o surgimento de loteamentos irregulares ou clandestinos e invasões,

quase sempre em áreas sem saneamento básico e muitas vezes em locais de fragilidade

ambiental.

Os investimentos em infraestrutura urbana não acompanharam o ritmo acelerado do

crescimento da população e o trânsito já representa um problema de difícil solução, visto que

o desenvolvimento urbano da cidade ficou comprimido entre o oceano e o canal, onde ruas

estreitas e sem previsão para futuros alargamentos, assim como o próprio adensamento

populacional, não conseguem proporcionar mobilidade urbana satisfatória. Em épocas de

temporada turística, em especial no Ano Novo e no Carnaval, a questão torna-se caótica, com

gigantescos engarrafamentos nas vias de acesso às praias e outros pontos turísticos.

4. PLANO DIRETOR MUNICIPAL PARTICIPATIVO

153

Page 18: XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DFconpedi.danilolr.info/publicacoes/roj0xn13/9k23038t/UgLI9M6p1aOVr6pR.pdfexcelente oportunidade para debater o grande número de instrumentos

 

       

O Município aprovou em 2006 seu Plano Diretor Participativo, em função,

principalmente, da obrigatoriedade de elaboração e revisão até 10 de outubro de 2006, o que,

se não fosse feito, levaria o Prefeito a responder por ação de improbidade administrativa.

Assim, após amplo processo participativo, com reuniões setoriais, oficinas temáticas

e audiências públicas, Cabo Frio teve, em dezembro de 2006, seu Plano Diretor aprovado pela

Câmara Municipal de Vereadores.

As leis complementares (zoneamento e uso do solo, parcelamento, código de obras e

perímetro urbano), porém, não foram até hoje aprovadas, o que representa um incômodo

descompasso entre o Plano Diretor e as leis complementares que estão vigorando: estas

últimas são de 1979, numa realidade urbana totalmente diversa da de 2006 e, obviamente, da

de hoje.

Impende ressaltar que a questão referente à habitação de interesse social não mereceu

muito destaque no Plano Diretor acima mencionado.

Do ponto de vista prático dos setores da Prefeitura, a precariedade de dados é grande.

Por ocasião da elaboração do Plano Diretor, porém, foram mapeadas as áreas de ocupação

irregular, caracterizando-as em: i) ocupações em áreas alagáveis; ii) cone aéreo de

aproximação (em razão da proximidade do aeroporto da cidade); iii) entorno imediato de

lixões e/ou depósitos de lixo; iv) áreas próximas às extrações minerais; v) entorno imediato de

patrimônio histórico; vi) ecossitemas ambientais vulneráveis; vii) unidades de conservação; e

viii) áreas pela possibilidade de deslizamentos de encostas e processos erosivos.

Ainda no aludido diploma foram localizadas em mapas as áreas já ocupadas pelas

populações de baixa renda, bem como levantada a evolução da ocupação desde o ano de

2000, fazendo-se projeção desta população para 2020. Infelizmente a Administração do

Município não continuou atualizando tais dados.

Além disso, os dados populacionais das comunidades de baixa renda foram

estimados, deixando um intervalo expressivo entre os números mínimos e máximos de

habitantes por comunidade (ex: de 500 a 2.500 hab.), não havendo dados sobre necessidades

habitacionais, irregularidades encontradas etc. Através de dados recentes de famílias inscritas

no CadÚnico1 foi apurado o alarmante número de 20.000 famílias inscritas.

Conforme dados constantes do estudo: “Capacidades Administrativas, Deficit e

Efetividade na Política Habitacional” elaborado pelo CEM/Cebrap/SNH/MCidades, 2007,                                                                                                                1 CadÚnico – cadastro do governo federal de famílias carentes, que desejam se habilitar a receber o Programa

154

Page 19: XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DFconpedi.danilolr.info/publicacoes/roj0xn13/9k23038t/UgLI9M6p1aOVr6pR.pdfexcelente oportunidade para debater o grande número de instrumentos

 

       

quanto a sua capacidade administrativa o Município insere-se no grupo 4, que é definido pela

existência de um órgão responsável pela política habitacional e por cadastro de famílias

interessadas em programas habitacionais, embora seja ressalvado que na maioria das vezes

esse cadastro seja utilizado para selecionar famílias beneficiárias de programas assistenciais,

podendo estar implícita a hipótese de também precisarem se beneficiar de programas

habitacionais. Ainda segundo o estudo citado, esses municípios provavelmente não dispõem

de instrumentos próprios para a política habitacional, situação em que se insere Cabo Frio.

O Plano Diretor Participativo de Cabo Frio, aprovado em dezembro de 2006, com

todas as vênias, deveria ter trazido para a área de habitação de interesse social novas

possibilidades para ações futuras mais eficazes. Com a inclusão em seu conteúdo de diversos

instrumentos jurídico-urbanísticos contidos no Estatuto das Cidades, o município estaria apto

a adquirir maiores possibilidades de formar um estoque de áreas para desenvolvimento de

programas sociais, especialmente na área de habitação de interesse social, desde que

estivessem devidamente regulamentados para permitir sua aplicação.

No Capítulo II da referida norma, que trata dos princípios do Plano, bastante ênfase

foi dada à questão social, estando explicitada em todos os seus oito incisos. Já no capítulo que

aborda “As Diretrizes Regionais de Desenvolvimento”, o seu art. 17, inciso VI, reza que para

a promoção do desenvolvimento regional deve ser observado que o município atue de forma

solidária com as cidades vizinhas, de forma a consolidar uma política regional de habitação.

Critica-se pontualmente o inciso I, porém, já que, embora mencione os instrumentos legais

regidos pelo Estatuto das Cidades, não faz qualquer alusão à aplicação de tais mecanismos

para programas de habitação de interesse social.

Referidas ferramentas urbanísticas, se implementadas, podem contribuir

efetivamente para que o governo municipal induza processos de ocupação e uso do solo de

forma a reduzir sobremaneira as desigualdades e a segregação social.

Assim, o instrumento parcelamento, edificação ou utilização compulsórios; bem

como o IPTU progressivo no tempo, devem ser aplicados em situações de terrenos vazios ou

subutilizados, que se localizam em áreas cuja urbanização e ocupação seja prioritária, e que

devem ser adequadamente ocupados.

Para induzir a ocupação desses terrenos, existe a possibilidade de urbanização ou

edificação compulsória – mecanismo criado pelo Estatuto para impedir que as áreas vazias da

cidade continuem ociosas. Por meio do parcelamento ou da edificação compulsória, pode-se

155

Page 20: XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DFconpedi.danilolr.info/publicacoes/roj0xn13/9k23038t/UgLI9M6p1aOVr6pR.pdfexcelente oportunidade para debater o grande número de instrumentos

 

       

estabelecer um prazo para o loteamento ou construção das áreas vazias ou subutilizadas. O

proprietário que não cumprir esse prazo será penalizado pela aplicação progressiva do IPTU,

que deverá ser aplicado por um período de 5 (cinco) anos que, se ultrapassado, permanecer a

área incompatível com os usos e densidades previstas, poderá ser desapropriada, com

pagamentos em títulos da dívida pública.

Até a presente data não houve qualquer movimentação no sentido de se aplicar o

instrumento, embora existam áreas ociosas importantes para a implantação de programas

habitacionais devidamente enquadradas nas situações acima descritas Cumpre assinalar,

ademais, que é necessária Lei complementar para definir os locais onde o instrumento deva

ser prioritariamente, aplicado, visando o cumprimento da função social da propriedade.

O mesmo ocorre com o IPTU progressivo no tempo – aplicado após o não

cumprimento do parcelamento ou edificação compulsórios – já que necessária lei específica

que estabeleça as áreas prioritárias (art. 44, do Plano Diretor).

Já o art. 71 considera como instrumentos de regularização fundiária aqueles

destinados a legalizar a permanência de ocupações populacionais em desconformidade com a

lei, sendo eles a designação e demarcação de Áreas Especiais de Interesse Social; o usucapião

especial, coletivo e individual; e a concessão de direito real de uso para fins de moradia.

Sobre a regularização fundiária, diz Alfonsin (1997, p. 268):

(...) o processo de intervenção pública, sob os aspectos jurídico, físico e social, que objetiva legalizar a permanência de populações moradoras de áreas urbanas ocupadas em desconformidade com a lei para fins de habitação, implicando melhorias no ambiente urbano do assentamento, no resgate da cidadania e da qualidade de vida da população beneficiária.

Com relação às Áreas Especiais de Interesse Social – AEIS, o Plano Diretor as

define como áreas urbanas onde é permitido, por meio da elaboração de um Plano Urbanístico

próprio, o estabelecimento de padrões de uso e ocupação diferenciados da legislação em

vigor.

Prossegue ainda estabelecendo que a instituição de AEIS dentro do Perímetro

Urbano de Cabo Frio será permitida apenas nos casos de cumprimento dos objetivos

dispostos nesta Lei e desde que obedecidos os critérios estabelecidos em lei municipal

específica.

156

Page 21: XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DFconpedi.danilolr.info/publicacoes/roj0xn13/9k23038t/UgLI9M6p1aOVr6pR.pdfexcelente oportunidade para debater o grande número de instrumentos

 

       

Finaliza definindo seis comunidades já consolidadas como AEIS, a saber: Rainha da

Sucata; Jacaré; Morubá; Copacabana; Manoel Correia e Cajueiro, considerando os polígonos

determinados na Lei de Zoneamento.

No entanto, algumas comunidades também já consolidadas curiosamente não foram

gravadas como AEIS na Lei, causando estranheza especialmente com relação às comunidades

do Lido e do Buraco do Boi.

Observa-se uma lacuna com relação à definição de possíveis AEIS em Tamoios,

embora existam diversas ocupações que poderiam assim ser estabelecidas, bem como áreas

vazias poderiam ser gravadas com a mesma finalidade, a despeito de não haver previsão para

a designação de AEIS vazias, visando à implantação de futuros projetos de habitação de

interesse social nos dois distritos de Cabo Frio.

Também como instrumentos de regularização fundiária, o Plano inclui a usucapião

especial, coletiva ou individual.

De acordo com o Estatuto da Cidade, como se sabe, o reconhecimento da Usucapião

Urbana é possível se a área ou a edificação de até 250m² for ocupada exclusivamente para

fins de moradia, pelo prazo ininterrupto, e sem oposição, de 5 anos. Como já estava

estabelecido na Constituição Federal, o direito será reconhecido ao homem ou mulher, ou a

ambos, independentemente de seu estado civil, para aquele(a) que não for proprietário de

outro imóvel urbano ou rural.

Quanto à usucapião urbana coletiva, o Estatuto da Cidade determina que as áreas

urbanas com mais de duzentos e cinqüenta metros quadrados, ocupadas por população de

baixa renda para sua moradia, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, onde não for

possível identificar os terrenos ocupados por cada possuidor, são susceptíveis de serem

usucapidas coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel

urbano ou rural.

Ainda sobre as ações de regularização que estão ou serão desenvolvidas no

Município, está em curso elaboração de projeto de regularização urbanístico- fundiária da

comunidade do Morubá. O estudo deste projeto teve como referencial dados e informações

processados no CadÚnico e nos processos de pedido de regularização fundiária junto à

Secretaria de Ordem Pública – Superintendência Municipal de Fiscalização Fundiária.

A comunidade, está localizada entre os bairros Braga e Vila Nova, ocupando uma

área de 11.000m² dividida em três ruelas e uma rua de intenso movimento, contendo 99

157

Page 22: XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DFconpedi.danilolr.info/publicacoes/roj0xn13/9k23038t/UgLI9M6p1aOVr6pR.pdfexcelente oportunidade para debater o grande número de instrumentos

 

       

(noventa e nove) domicílios construídos irregularmente em área pública, cercada de imóveis

de classe média e comércios de médio porte, ficando a menos de 1km da principal praia do

município que recebe em torno de 1 milhão de visitantes na alta temporada.

Aprovado pelo PAC 2, consta recurso para elaboração de projeto de urbanização no

distrito de Tamoios, na localidade do Gargoá, em 585.000 m2 de área, prevendo estudos e

projetos de execução de obras de infraestrutura integrada (abastecimento de água, iluminação,

esgoto, instalação de filtro/fossa, drenagem pluvial, terraplanagem, compactação, remoção de

famílias da área de proteção ambiental do Parque do Mico Leão Dourado, construção de uma

praça e da sede do Parque, e também regularização fundiária e projeto social), ainda não

iniciado.

O direito de preempção, outro instrumento do Estatuto da Cidade e presente no Plano

Diretor, possibilita ao Poder Público Municipal a preferência para a aquisição de imóvel

urbano objeto de alienação onerosa entre particulares, no caso da municipalidade necessitar

de áreas para realização de programas e projetos municipais, devendo ser exercido nos termos

das disposições contidas nos arts. 25, 26 e 27 da Lei Federal n.º 10.257/2001 – Estatuto da

Cidade.

Ainda determina que a Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Urbano,

ouvido o Conselho do Plano Diretor, proponha, através do Poder Executivo, a criação de lei

municipal específica, com base nas diretrizes do Plano Diretor, que delimitará as áreas em que

incidirá o direito de preempção, definindo procedimentos e fixando prazos de vigência.

Também não houve ainda lei que regulamente a matéria, o que impede a aplicação

do instrumento para a criação de um estoque de áreas para a implementação de

políticas públicas, especialmente na AEIS.

A transferência do direito de construir é definida no Plano como o instrumento de

política urbana por meio do qual se permite como forma de compensação, ao proprietário de

imóvel sobre o qual incide um interesse público de preservação de bens de interesse sócio-

ambiental, a transferência, para outro local, do potencial construtivo que foi impedido de

utilizar.

Conforme relatado nos instrumentos já citados, para que a aplicação da transferência

do direito de construir seja possível, carecerá de enquadramento dos imóveis aonde se poderá

utilizar o instrumento, a ser definido pela Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento

158

Page 23: XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DFconpedi.danilolr.info/publicacoes/roj0xn13/9k23038t/UgLI9M6p1aOVr6pR.pdfexcelente oportunidade para debater o grande número de instrumentos

 

       

Urbano, no prazo, já há muito expirado, de 90 (noventa) dias e aprovado ou referendado pelo

Conselho Municipal do Plano Diretor.

Concluindo, observa-se que boa parte dos instrumentos previstos no Estatuto da

Cidade e incluídos no Plano Diretor não está sendo implementada, à exceção da regularização

fundiária, que vem sendo realizada em algumas áreas do município.

Assim, pouca ajuda o Plano Diretor trouxe para o enfrentamento da questão

habitacional no município: a grande maioria dos instrumentos jurídico-urbanísticos não é

autoaplicável, não tendo sido tais ferramentas regulamentadas por leis complementares; não

foram criados novos parâmetros urbanísticos e edilícios para as AEIS; as AEIS criadas

designaram apenas as ocupações já consolidadas, não prevendo outras áreas onde se pudesse

desenvolver implantação de habitações de interesse social (HIS), dentre outras omissões.

Já foram iniciadas as discussões, inclusive com a designação de audiências públicas

para o estabelecimento de constantes encontros com a sociedade civil organizada e os mais

diversos órgãos da Prefeitura para redigir o novo plano diretor da cidade.

A intenção é, a todo custo, a de evitar que se repitam os mesmos erros ocorridos,

tanto na elaboração do Plano Diretor de 2006, como na década seguinte, onde não foi

complementado o ordenamento jurídico urbanístico com as normas auxiliares àquele primeiro

instrumento.

Os autores do estudo em apreço, na condição de servidores do município, têm todo o

interesse de que isso ocorra, vale dizer, que o novo Plano Diretor seja aprovado com ganho de

força dos instrumentos urbanísticos e habitacionais, bem como que sejam editadas, em

seguida, as normas acessórias do referido diploma, dentre elas, e especialmente, a Lei de

Zoneamento Urbano.

Com isso, o Poder Público poderia se valer de tais instrumentos, inclusive

implantando as habitações de interesse social, como antes se relatou, possibilitando o tão

sonhado acesso à moradia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O plano diretor é um importante instrumento urbanístico de implementação de

políticas habitacionais e, como se sabe, está sujeito a um regime jurídico próprio, haja vista

que cada município tem características únicas, inviabilizando a ordenação territorial –

159

Page 24: XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DFconpedi.danilolr.info/publicacoes/roj0xn13/9k23038t/UgLI9M6p1aOVr6pR.pdfexcelente oportunidade para debater o grande número de instrumentos

 

       

regulação do uso2, do parcelamento3 e da ocupação4 do solo urbano – de determinada

localidade com normas genéricas e abstratas.

Deste modo, o plano diretor não deve ser visto simplesmente como uma Lei, mas

como um projeto de cidade, entendendo alguns autores (PINTO, 2001, p. 420-422) que a

despeito de se tratar de uma lei em sentido formal, não é lei em sentido material, em vista da

inexistência de generalidade e abstração, atributos inerentes ao texto normativo.

Quanto a isso, outro ponto de interessante reflexão é que nos termos da Lei de

Introdução às normas do Direito Brasileiro5, a lei posterior revoga a anterior quando seja com

ela incompatível, sendo certo que uma lei urbanística posterior que estiver em sentido

contrário ao plano diretor não o revoga. Ao contrário, é nula naquilo que não estiver em

consonância com o plano diretor.

Forçoso destacar, inclusive, que o âmbito de atuação da Câmara de Vereadores se

restringe tão somente à aprovação ou rejeição do plano diretor, não podendo alterá-lo por

meio de emendas parlamentares, sob pena de violação ao disposto nos artigos 7º; 231, caput e

§ 1º; 234, caput e inciso III; 236 e 343, da Constituição do Estado do Rio de Janeiro e artigos

2º; e 182, caput e § 1º, da CRFB.

Como visto, a maioria dos instrumentos de indução do desenvolvimento urbano e

tributários aprovados no Estatuto da Cidade tenta estabelecer, no cenário brasileiro, uma

perspectiva de uma nova presença do Estado na regulamentação, indução e controle dos

processos de produção da cidade. Tais instrumentos visam, em essência, refrear o processo

especulativo e regular o preço da terra, ao forçar o exercício da função social da propriedade

urbana, punindo o “mau proprietário”. Buscam também permitir um maior controle do Estado

sobre usos e ocupações do solo urbano, em especial em áreas que demandem uma maior

democratização, tendo como exemplo a AEIS.

O relatório do Observatório das Metrópoles sobre Avaliação dos Planos Diretores

Participativos (OBSERVATÓRIO DAS METRÓPOLES, 2010), no capítulo referente a

“Aspectos gerais dos planos diretores fluminenses”, aponta que no que se refere à promoção

do acesso à terra urbanizada, da gestão democrática da cidade e da implementação do direito à

cidade, que os planos diretores não enfatizam a promoção do acesso à moradia.

                                                                                                               2 Lei 10.257/2001 (art. 2º, VI). 3 Lei 6.766/1979 (art. 1º). 4 Lei 10.257/2001 (art. 2º, XIV).  5 Decreto-Lei nº 4.657/1942 (art. 2º, § 1º).

160

Page 25: XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DFconpedi.danilolr.info/publicacoes/roj0xn13/9k23038t/UgLI9M6p1aOVr6pR.pdfexcelente oportunidade para debater o grande número de instrumentos

 

       

A partir do mesmo relatório, pode-se obseravar que não há vinculação entre os

instrumentos orçamentários municipais e o Plano Diretor e que os grandes investimentos

estão além da influência do Plano Diretor.

Em síntese, realmente a questão habitacional não foi uma prioridade no Plano

Diretor, e mesmo entre as questões ligadas à geração de emprego e renda, passados mais de

uma década da aprovação do Plano, muito poucas foram as implementadas, o que gera um

sentimento de descrédito na população que freqüentou as audiências públicas, oficinas e

reuniões do Plano.

Desnecessário enfatizar que a questão da terra tem que ser tratada como tema central

para a construção de uma política habitacional, o que vai representar uma quebra de

paradigma na tentativa de reverter a questão da valorização fundiária e imobiliária nos rumos

atualmente definidos pelo mercado imobiliário, quase sempre associado às Administrações

Públicas, determinando quem tem direito à cidade formal, ou como bem definido por

MARICATO (2008, p. 94), quem é relegado ao exílio urbano na “não-cidade”.

Não se trata, porém, de creditar à participação a solução dos problemas, mas sim de

entender que a participação possibilita a construção de uma nova política, através do exercício

coletivo da cidadania, com novos caminhos e alternativas.

O Plano Local de Habitação de Interesse Social pode se constituir em uma

oportunidade para se pensar a cidade a partir de um problema central para tantos cabofrienses:

a moradia digna. Construir o plano não é suficiente. Somente com pressão as ações e

programas resultantes poderão de fato ser implementados.

Assim, para reverter esse quadro de eterna exclusão das classes mais pobres, que não

lhes faculta o direito à cidade, necessário incentivar, por todos os meios, a participação da

sociedade civil durante o processo de elaboração do PLHIS, articulando o planejamento da

política habitacional com a política urbana.

A participação dos conselhos atuantes na cidade são de extrema importância para o

sucesso do processo, assim como é fundamental estabelecer fóruns de debate entre os

diferentes conselhos. Além destes, deverão ainda participar representantes da Câmara dos

Vereadores, do Ministério Público, do Judiciário, do mercado imobiliário, da construção civil,

além de entidades de classe, universidades locais, dentre outros, o que pode possibilitar a

mobilização de todos os segmentos da população no processo de elaboração do plano e de

discussão das políticas para o município de Cabo Frio.

161

Page 26: XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DFconpedi.danilolr.info/publicacoes/roj0xn13/9k23038t/UgLI9M6p1aOVr6pR.pdfexcelente oportunidade para debater o grande número de instrumentos

 

       

Muito se aprendeu com o processo de elaboração do Plano Diretor e não se pretende

repetir agora os erros antes verificados. Um dos momentos mais importantes da 1º audiência

pública do PLHIS foi a constituição de um fórum de acompanhamento do plano, com ampla

participação de movimentos populares, exatamente para a garantia de que permaneça como

um documento “vivo”, cujo cumprimento seja permanentemente monitorado e cobrado pela

população.

Caberá aos técnicos municipais criar condições para que a população participe

ativamente do processo de construção do PLHIS, pois um plano participativo constitui

oportunidade de democratizar a atividade de planejamento, nivelando informações a

funcionários públicos, políticos, profissionais e empresários, para a melhor compreensão da

cidade.

A regulamentação dos instrumentos de política urbana oferecidos no Estatuto da

Cidade pode permitir ao Poder Público uma maior capacidade de intervir, além de normatizar

e fiscalizar, o uso, a ocupação e a rentabilidade das terras urbanas, realizando o cumprimento

da função social da cidade e da propriedade.

Uma vez que o Plano Diretor de Cabo Frio já conta com quase 11 anos de idade, é

sempre importante destacar que o Estatuto da Cidade determinou em seu art. 40, § 3º, que “a

lei que instituir o plano diretor deverá ser revista, pelo menos, a cada dez anos”, o que

demonstra a necessidade de já ser atualizado aquele instrumento, sendo imprescindível, no

entanto, a observação do mesmo procedimento, com planejamento participativo de política

urbana, promovendo-se audiências públicas e debates com o chamamento da população e de

associações representativas dos mais variados segmentos da comunidade, o que já vem sendo

realizado desde o mês de abril de 2017 e que esperamos consiga abarcar as omissões

ocorridas anteriormente.

Impende asseverar, por fim, que de algumas décadas para cá, uma nova doutrina vem

sendo construída no urbanismo contemporâneo. Nesse particular, ela leva em consideração

três aspectos: a crescente conscientização sobre as vantagens da preservação e da defesa do

patrimônio natural ou cultural; o fortalecimento político da cidadania e o reconhecimento das

grandes dificuldades que resultam do alheamento dos cidadãos em relação à sua cidade; e o

fortalecimento do desejo coletivo de que a cidade seja socialmente integrada: “a cidade para

todos” (MAGALHÃES, 2007, p. 89).

162

Page 27: XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DFconpedi.danilolr.info/publicacoes/roj0xn13/9k23038t/UgLI9M6p1aOVr6pR.pdfexcelente oportunidade para debater o grande número de instrumentos

 

       

REFERÊNCIAS

ALFONSIN, Betânea de Moraes. Direito à Moradia: Instrumentos e Experiências de Regularização Fundiária nas Cidades Brasileiras. Rio de Janeiro: FASE/GTZ/IPPUR/UFRJ – Observatório de Políticas Urbanas e Gestão Municipal, 1997. BERANGER, Abel. Dados Históricos de Cabo Frio. Rio de Janeiro: Banco do Brasil, 2003. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 1988. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em 14 mar. 2017. BRASIL. Constituição do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 1989. Disponível em < http://www.amperj.org.br/store/legislacao/constituicao/cerj.pdf>. Acesso em 14 mar. 2017. BRASIL. Estatuto da Cidade – Lei 10.257, de 10 de julho de 2001. Brasília, 2001. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LEIS_2001/L10257.htm>. Acesso em 12 mar. 2017. BRASIL. Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro – Decreto-Lei 4.657, de 4 de setembro de 1942. Rio de Janeiro, 1942. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del4657compilado.htm. Acesso em 12 mar. 2017. BRASIL. Lei do parcelamento do solo urbano – Lei 6.766, de 19 de dezembro de 1979. Brasília, 1979. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6766.htm>. Acesso em 12 mar. 2017. BRASIL. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN. Conjunto Paisagístico da Cidade de Cabo Frio Rerratificação e Extensão de Tombamento. Rio de Janeiro: trabalho não publicado. BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Habitação. Guia de Adesão ao Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social-SNHIS. Brasília: Ministério das Cidades, 2008. BRASIL. Estatuto da Cidade: guia para implentação pelos municípios e cidadãos : 2. ed. – Brasília : Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 2002. BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Habitação. Ação Integrada de Urbanização de Assentamentos Precários. Brasília: Min. das Cidades, 2009. BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Habitação. Curso à Distância: Planos Locais de Habitação de Interesse Social. Brasília: Ministério das Cidades, 2008.

163

Page 28: XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DFconpedi.danilolr.info/publicacoes/roj0xn13/9k23038t/UgLI9M6p1aOVr6pR.pdfexcelente oportunidade para debater o grande número de instrumentos

 

       

BRASIL. Ministério das Cidades. Programa Nacional de Capacitação de Cidades. Financiamento das Cidades: instrumentos fiscais e de política urbana. Disponível em http://www.cidades.gov.br/capacitacao-1/publicacoes/Anais_FinanciamentodasCidades BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Programas Urbanos. O Estatuto da Cidade Comentado. São Paulo: Ministério das Cidades: Aliança das Cidades, 2010. MAGALHÃES, Sérgio. A Cidade na Incerteza: Ruptura e Contigüidade em Urbanismo. Rio de Janeiro:Viana & Mosley: Ed. Prourb, 2007 MARICATO, Ermínia. Brasil, cidades alternativas para a crise urbana. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. OBSERVATÓRIO DAS METRÓPOLES. Rede de Avaliação dos Planos Diretores Participativos. Disponível em http://web.observatoriodasmetropoles.net/ planosdiretores/ PINTO, Victor Carvalho. In FREITAS, José Carlos de (Coordenador). Regime jurídico do plano diretor. Temas de Direito Urbanístico 3. São Paulo: Ministério Público/Imprensa Oficial, 2001, p. 420-422. PREFEITURA MUNICIPAL DE CABO FRIO. Lei Orgânica. Cabo Frio, RJ, 1990. PREFEITURA MUNICIPAL DE CABO FRIO. Plano Diretor Sustentado. Cabo Frio, RJ, 2006. ROLNIK, Raquel. A Cidade e a Lei: Legislação, Política Urbana e Território na Cidade de São Paulo. São Paulo: Studio Nobel, 1997.

164