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XV COBREAP – CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA DE AVALIAÇÕES E PERÍCIAS. IBAPE/SP - 2009 NATUREZA DO TRABALHO: TRABALHO DE PERÍCIA SISTEMA DE IDENTIFICAÇÃO DO DANO AMBIENTAL DECORRENTE DE VAZAMENTO DE PETRÓLEO: UMA PROPOSTA DE MODELO DE AVALIAÇÃO Resumo Este trabalho tem por objetivo propor uma metodologia de avaliação para identificação do dano ambiental decorrente de incidentes de poluição marítima por derramamento de petróleo e derivados, visando à classificação e a determinação da categoria dos danos existentes. Tal metodologia foi elaborada com base nos conceitos de Análise de Risco de Empreendimentos, e aplicada em dois eventos distintos de derramamento de óleo ocorridos em regiões de alta sensibilidade ambiental. Palavras-chave: Dano ambiental, Vazamento de óleo, Análise de risco.

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XV COBREAP – CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA DE

AVALIAÇÕES E PERÍCIAS. IBAPE/SP - 2009

NATUREZA DO TRABALHO: TRABALHO DE PERÍCIA

SISTEMA DE IDENTIFICAÇÃO DO DANO AMBIENTAL DECORRENTE

DE VAZAMENTO DE PETRÓLEO: UMA PROPOSTA DE MODELO DE

AVALIAÇÃO

Resumo

Este trabalho tem por objetivo propor uma metodologia de avaliação para

identificação do dano ambiental decorrente de incidentes de poluição marítima por

derramamento de petróleo e derivados, visando à classificação e a determinação da categoria

dos danos existentes. Tal metodologia foi elaborada com base nos conceitos de Análise de

Risco de Empreendimentos, e aplicada em dois eventos distintos de derramamento de óleo

ocorridos em regiões de alta sensibilidade ambiental.

Palavras-chave: Dano ambiental, Vazamento de óleo, Análise de risco.

II

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................1

2. REVISÃO DA LITERATURA ...........................................................................................3

2.1. PETRÓLEO E O MEIO AMBIENTE...........................................................................3

2.2 ASPECTOS FÍSICOS, QUÍMICOS E TOXICOLÓGICOS DO PETRÓLEO ..........................5

2.3 IMPACTOS CAUSADOS PELO DERRAME DE ÓLEO ...................................................7

2.4. AÇÕES DE RESPOSTA AO ACIDENTE.....................................................................8

2.5. DETERMINAÇÃO DO DANO AMBIENTAL ...........................................................11

3.6. ANÁLISE DE RISCO ............................................................................................12

3. ESTUDOS DE CASO.........................................................................................................18

3.1. EVENTO “A”.....................................................................................................18

3.1.1. Descrição do evento “A” .........................................................................18

3.1.2. Descrição das praias atingidas................................................................23

3.1.3. Enquadramento do acidente ...................................................................25

3.2. EVENTO “B” .....................................................................................................25

3.2.1. Descrição do evento “B ...........................................................................26

3.2.2. Ações de Contingência ............................................................................29

3.2.3. Características da região atingida pelo vazamento................................31

3.2.4. Enquadramento do acidente ...................................................................33

4. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ........................................................................35

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................38

1

1. INTRODUÇÃO

A crescente industrialização tem causado um aumento na poluição,

principalmente nos ambientes aquáticos, que recebem diretamente substâncias

químicas de despejos industriais e domésticos, sendo as regiões costeiras as mais

sujeitas aos impactos das atividades antropogênicas.

Ao transporte marítimo pode-se atribuir uma série de ações que resultam em

impactos ambientais provenientes, principalmente, do lançamento de efluentes, das

emissões atmosféricas, da geração de resíduos, e da transferência de espécies

exóticas através da água de lastro. Além disso, há o risco do impacto resultante do

derramamento da carga no mar, seja durante as operações rotineiras de

manutenção dos navios e constantes descargas nos portos e terminais, ou de forma

aguda, como resultado de eventuais incidentes.

Os acidentes têm chamado a atenção pública pelas conseqüências

envolvidas. Normalmente, os derramamentos de óleo ocorrem em regiões habitadas,

ou locais que apresentam elevada sensibilidade ambiental, tais como manguezais,

fontes de abastecimento de água potável, mananciais, etc.

Em duas ocasiões distintas, a signatária foi nomeada como perita do Juízo,

para classificar e determinar os danos causados por derramamento de petróleo na

região litorânea do estado de São Paulo.

Tendo em vista a importância de se determinar com fundamento e

embasados em critérios técnicos, a classificação dos danos ambientais ocorridos em

vazamentos de óleo no mar, a proposta do presente trabalho é:

2

“Identificar e propor uma metodologia de avaliação para identificação do

dano ambiental decorrente de vazamento de petróleo, visando a classificação e a

determinação da categoria dos danos existentes”.

Para a obtenção do objetivo pretendido foram elaboradas tabelas para o

enquadramento do dano ambiental, com base nos conceitos de Análise de Risco de

Empreendimentos, e na experiência dos profissionais envolvidos em sistemas de

gestão de risco e acidentes ambientais.

3

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1. Petróleo e o meio ambiente

O petróleo é considerado um produto perigoso e seu transporte e manuseio

oferecem riscos ao meio ambiente e à segurança humana, isto é, no caso da

liberação deste produto há possibilidade de danos materiais e humanos,

enfermidades ou até morte, resultante da exposição de pessoas, animais ou

vegetais a agentes ou condições ambientais potencialmente perigosas

O comércio internacional de petróleo baseia-se essencialmente no

transporte marítimo, que vem se expandindo bastante pelo aumento tanto da frota

de petroleiros como do tamanho destes: de 3.500 navios com 37 milhões de

toneladas em 1954 para 7.000 navios, totalizando 340 milhões de toneladas em

1978. Isto significa que tanto a probabilidade como as conseqüências de um

acidente também aumentaram enormemente. A experiência dos grandes acidentes

de derramamento de óleo mostrou a importância dos danos causados ao meio

ambiente, prejudicando a vida marinha, a pesca e o turismo (La Rovere, 1990).

De acordo com a Agenda 21, a degradação do meio ambiente marinho pode

resultar de várias fontes, tais como as de origem terrestre, que contribuem com 70%

da poluição marinha, as atividades de transporte marítimo e descarga no mar com

10% cada uma. Entretanto, a magnitude dessas interações, é variável de acordo

com a maior ou menor extensão das bacias hidrográficas, coletoras de sedimentos e

de resíduos poluentes de vastas áreas.

Os mares e os oceanos são uma fonte abundante de recursos biológicos e

naturais, comparáveis ou até mesmo superiores às florestas tropicais, essenciais

para determinar o clima da Terra. São responsáveis pela constante reciclagem de

4

produtos químicos, nutrientes e água. São ainda uma fonte importantíssima de

alimentos e emprego, além de constituírem vias naturais de comunicação, transporte

e comércio.

A maior parte do óleo que chega aos oceanos é proveniente de eventos

menos agudos, como descargas rotineiras de navios, poluição atmosférica e óleo

lubrificante descartado em águas pluviais, entretanto são os derramamentos

provenientes de dutos e navios que recebem maior apelo para seu combate, dada a

grande visibilidade e pelas conseqüências trágicas que a poluição aguda pode

provocar sobre os ecossistemas atingidos (Souza Filho, 2006).

Uma série de impactos ambientais pode ser atribuída ao transporte

marítimo, tais como emissões atmosféricas, geração de resíduos, utilização de tintas

tóxicas e transferência de espécies exóticas através da água de lastro (IMO, 2004).

Entretanto, existe principalmente o risco de impacto ambiental resultante do

derramamento da carga no mar, proveniente de um acidente, ou durante operações

rotineiras como carga e descarga (ITOPF, 2005 e Silva, 2004).

Esta atividade consiste em uma das principais causas da poluição acidental

por óleo, principalmente no Brasil, onde a maior parte do petróleo e derivados é

transportada por petroleiros (Silva, 2004).

A poluição pode atingir drástica e rapidamente o ambiente marinho, com

morte instantânea do plâncton, ou ainda pela bioacumulação, que é o fenômeno

através do qual os organismos vivos acabam retendo dentro de si algumas

substâncias tóxicas que vão se acumulando também nos demais seres da cadeia

alimentar até chegar ao homem, sendo um processo lento de intoxicação e muitas

vezes letal (GEO BRASIL, 2002).

Quando derramado no mar, o petróleo sofre alterações na sua composição

original devido ao processo de intemperismo do óleo, conforme detalhado a seguir.

5

2.2 Aspectos físicos, químicos e toxicológicos do petróleo

O óleo é uma mistura complexa envolvendo uma grande quantidade de

substâncias químicas. De acordo com sua constituição, podem ter diferentes

características físicas, químicas e toxicológicas as quais se alteram do longo do

tempo, se presentes no ambiente marinho. O conjunto dessas alterações faz parte

de um processo denominado intemperismo do óleo.

As transformações sofridas pelo petróleo e seus refinados no ambiente

afetam primeiramente as características físicas do produto (densidade, viscosidade,

ponto de escoamento, solubilidade) sem alterações na natureza química dos

componentes. Ocorrem, principalmente, os processos de espalhamento do produto

derramado e evaporação dos componentes leves, seguidos da dissolução das

frações solúveis, emulsificação decorrente do hidrodinamismo e sedimentação por

aderência de partículas suspensas na coluna d’água.

Ocorrem também processos mais lentos, que alteram a natureza química

dos componentes, como a oxidação química ou fotoquímica microbiana, que podem

se estender de meses a anos atuando sobre o produto já envelhecido

Os óleos em geral são classificados como:

• não persistentes: tendem a desaparecer rapidamente da superfície do

mar como a gasolina, nafta, querozene e óleos leves;

• persistentes: dissipam mais vagarosamente e são os óleos crus.

A persistência depende de sua gravidade específica que é a sua densidade

em relação à água pura. Com base na densidade específica e o grau API (American

Petroleum Institute) os óleos podem ser classificados em quatro grupos:

Grupo I – Óleos leves, que pouco se misturam com a água do mar,

apresentando alta taxa de evaporação;

Grupo II – Óleos leves nos quais a emulsão água-óleo é maior do que no

grupo anterior, degradando-se naturalmente entre três e quatro dias;

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Grupo III – Óleos pesados, que se misturam com a água do mar, a qual

começa a se degradar nos dois primeiros dias mas, persiste ainda em pequenas

quantidades até seis ou sete dias.

Grupo IV – Óleos pesados, onde ocorre pouca mistura do óleo com a água e

o tempo de permanência no meio ambiente é o maior de todos, com tendência de

formar placas densas, principalmente no sedimento.

O óleo pode ter diferentes características físicas, químicas e toxicológicas

as quais se alteram ao longo do tempo, se presentes no ambiente marinho. O

conjunto destas alterações faz parte de um processo denominado intemperismo do

óleo.

Assim, os óleos pesados tendem a permanecer mais tempo no meio

ambiente, dissipando-se lentamente e atuam nos organismos principalmente por

efeitos físicos, ao contrário dos óleos leves, os quais apresentam maior

concentração de compostos aromáticos, mais tóxicos aos organismos aquáticos.

Os óleos de um determinado grupo podem se comportar como se fosse de

outro dependendo das condições oceanográficas e climáticas por ocasião do

derramamento.

O petróleo bruto, tal como é extraído, é composto de um grande número de

hidrocarbonetos saturados e insaturados, usados industrialmente para a obtenção

do óleo combustível, gasolinas, parafinas, etc.

O petróleo é composto também por substâncias solúveis, como os fenóis,

piridina, que representam outro perigo, visto serem na maioria muito tóxicos, apesar

de teores mínimos com que aparecem na composição. De uma forma geral, estudos

demonstram que os hidrocarbonetos aromáticos são os mais tóxicos ao ambiente,

entre eles estão o benzeno, tolueno e xileno.

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2.3 Impactos causados pelo derrame de óleo

Os derrames de óleo causam sérios impactos nas atividades litorâneas e

àqueles que utilizam ou beneficiam-se dos recursos do mar. Na maioria dos casos,

tal dano é temporário e causado primariamente pelas propriedades físicas do óleo,

criando incômodos e condições de risco. Entretanto em algumas situações, muitos

anos podem ser necessários para que haja recuperação e, em raras ocasiões, o

dano pode ser irreparável.

O óleo derramado pode também estar em mar aberto ou entrar em águas

costeiras e atingir a costa. O tempo de permanência do óleo em ambientes de alta

energia de ondas e marés tende a ser menor do que em ambiente abrigados. Níveis

mais elevados de energia de ondas causam a limpeza natural e a reconfiguração da

linha costeira intermarés, e as correntes marítimas criadas junto à costa, pela

refração/reflexão das ondas, podem também, afastar o óleo da costa e minimizar os

seus efeitos.

As conseqüências mais sérias e de longo prazo de um derrame de óleo são

encontradas nas situações em que o óleo se acumula nos sedimentos de zonas

costeiras rasas com pouca renovação de água, especialmente nos ecossistemas de

mangues costeiros, pântanos salgados e recifes de corais. Em tais casos, tanto o

impacto agudo (letal) na flora e na fauna local, quanto o stress crônico nos

organismos que sobrevivem inevitavelmente ocorrem.

O óleo provoca uma série de efeitos nocivos aos organismos marinhos,

sendo seu impacto determinado pela toxidade e efeitos da mancha resultantes da

composição química do óleo, bem como pela diversidade e variabilidade dos

sistemas biológicos e sua sensibilidade à poluição por óleo. Sob o ponto de vista

biológico, os derrames de óleo podem, em geral, afetar as espécies sejam marinhas,

costeiras ou residentes em habitats submarinos das seguintes maneiras:

8

Impactos Diretos

Sufocamento: animais com coberturas, pêlos ou penas, e mesmo vegetais,

podem ficar cobertos por óleo impedindo que façam as trocas necessárias com o

meio ambiente, como respiração, fotossíntese, transpiração, etc.

Exposição tóxica: os efeitos tóxicos diretos podem afetar os animais através

da ingestão, absorção e inalação direta dos hidrocarbonetos. A mortalidade das

plantas pode ocorrer pelo contato ou exposição direta com o óleo ou pela absorção

do óleo presente nos sedimentos contaminados, através das raízes.

A toxicidade aguda (exposição em curto período de tempo, mas em

elevadas concentrações) e a toxicidade crônica (exposição longa, e com baixas

concentrações) geram respostas diferentes nos organismos e na comunidade como

um todo.

Impactos Indiretos

Perda do habitat ou fonte de alimentação: a mortalidade das plantas ou

animais de níveis inferiores da cadeia alimentar afetará indiretamente animais e

plantas que dependem dos anteriores (direta ou indiretamente) como fonte de

alimentação ou para o seu habitat.

Também devem ser considerados os aspectos socioeconômicos do

derramamento de óleo uma vez que as regiões costeiras e ribeirinhas são muito

utilizadas para assentamento populacional, turismo, extração de recursos como

atividade pesqueira e comércio, os quais dependem não só da boa qualidade das

águas do mar e das praias, cimo também da aparência estética do litoral.

2.4. Ações de resposta ao acidente

Para que as ações de resposta visando à minimização dos danos

provocados pelos derrames de óleo ao meio ambiente sejam adequadamente

escolhidas e aplicadas, são necessárias ações iniciais no sentido de se conhecer o

cenário envolvido no acidente, a fim de definir as estratégias de combate e

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dimensionar os recursos necessários para uma resposta efetiva. As ações

propriamente de combate incluem a contenção e remoção do produto do mar e a

limpeza dos ambientes costeiros atingidos por meio de técnicas apropriadas.

Durante o incidente, a avaliação preliminar do vazamento deverá ser

adotada como primeira medida, orientando o desenvolvimento das ações iniciais de

combate. Essas ações serão periodicamente reavaliadas em função de mudanças

no deslocamento da mancha e das alterações no comportamento do óleo no mar,

provocadas pelo processo de intemperismo do óleo.

A eficiência da resposta está associada à seleção do equipamento e seu uso

adequado e baseada no grau de contaminação pelo óleo, tipo de óleo, os tipos de

substrato, além da sensibilidade das comunidades biológicas encontradas na área

afetada e as condições das correntes, ondas e ventos. Os estragos provocados na

costa e as ameaças a outras áreas podem ser reduzidos pelo uso de equipamentos

de contenção e recuperação

Em casos de vazamentos de óleo, a CETESB determina que alguns pontos

devem ser observados na avaliação inicial de uma ocorrência, os quais estão

sucintamente descritos na tabela a seguir:

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Tabela 1: Quadro das medidas de contenção e remoção em caso de

derramamento de óleo (adaptado de CETESB).

Ação de resposta Descrição

Comunicação da ocorrência Identificação da fonte geradora, data e horário, descrição

do acidente.

Recursos necessários Utilização de cartas topográficas, náuticas e tabuas de

marés para orientar as vistorias.

Aspectos de segurança Preparo e capacitação das pessoas envolvidas na situação

de risco.

Monitoramento Vistorias aéreas, marítmas e terrestres.

Contenção Deve ser rápida e com utilização de barreiras de

contenção

Remoção Deve recolher o óleo derramado e evitar danos maiores ao

meio ambiente

Tratamento e destinação Gerenciamento dos resíduos oleosos como areia

contaminada e óleo retirado do mar

No caso de acidente de vazamento de óleo é importante analisar

detalhadamente as ações de contingências adotadas durante o derrame, para que

se possam mensurar os impactos causados ao meio ambiente também em função

das referidas ações.

As ações emergenciais não se encerram com o final das atividades de

contenção e recolhimento de óleo. As ações envolvem inclusive o gerenciamento

dos resíduos oleosos constituídos por substâncias sólidas (areia ou terra) como

também por misturas oleosas recolhidas nas operações de mar.

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2.5. Determinação do Dano Ambiental

A estimativa dos danos ambientais provenientes das atividades humanas é

uma tarefa complexa sob diversos aspectos. Não se conhecem as relações entre

dose e efeito de todas as substâncias tóxicas, não se conhecem estas relações

sequer de uma única substância para todas as espécies, e não se conhecem todos

os efeitos de perda ou diminuição de uma população qualquer sobre os

ecossistemas e, portanto, estamos muito longe de quantificar sequer

aproximadamente todos os danos da poluição.

Poluir significar sujar, macular, manchar. O ato ou efeito de poluir é

designado de poluição. Entretanto, há uma grande dificuldade para se estabelecer

uma classificação ambiental baseada em grau de sujidade, devido à impossibilidade

de se fixar uma unidade padrão deste fator que poder ser originado por diferentes

causas, de várias naturezas.

A poluição é considerada, juridicamente, como a inclusão de qualquer fator

ao ambiente que provoque alteração de suas qualidades naturais, impondo ao

vizinho condições modificadas do meio.

A Lei Federal nº 6.938/81, Política Nacional do Meio Ambiente, em seu

artigo 3o define poluição como “a degradação da qualidade ambiental resultante de

atividades que direta ou indiretamente prejudiquem a saúde, a segurança, e o bem-

estar da população; criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;

afetem desfavoravelmente a biota; afetem as condições estéticas ou sanitárias do

meio ambiente; lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões

ambientais estabelecidos.”

A indicação de poluição, sob o aspecto biológico, se dá quando compostos

ou microorganismos indesejáveis penetram em um ambiente, alterando suas

propriedades químicas e físicas, colocando em perigo o equilíbrio da composição e

distribuição das populações.

A área será classificada como Área Contaminada sob Investigação quando

houver constatação da presença de contaminantes no solo ou na água subterrânea

12

em concentrações acima dos Valores de Intervenção, indicando a necessidade de

ações para resguardar os receptores de risco, devendo seguir os procedimentos de

gerenciamento de áreas contaminadas (CETESB).

O Valor de Intervenção - VI é a concentração de determinada substância no

solo ou na água subterrânea acima da qual existem riscos potenciais, diretos ou

indiretos, à saúde humana, considerado um cenário de exposição genérico.

As concentrações de poluentes bem como o impacto sobre a fauna e flora

no local do vazamento de óleo, deverão ser obtidos através de ensaios

ecotoxicológicos, análises químicas em amostras de água e sedimentos, ou ainda

nas investigações hidrogeológicas da região afetada.

3.6. Análise de risco

A avaliação dos impactos ambientais que um empreendimento pode causar,

como conseqüência de eventos inesperados, não-planejados ou indesejados, ou

seja, os acidentes, existem diversas técnicas, entre elas e uma das mais utilizadas é

a Análise de Risco.

Acidentes são aqueles eventos que não estão programados para ocorrer

dentro do processo normal de produção, e que caracterizam-se por uma seqüência

de eventos inicialmente descontrolados, provocados por uma falha qualquer, de

equipamento, humana ou externa, e que podem ocasionar danos tanto financeiros

(perda de produção, destruição de equipamentos, etc) como danos ambientais.

A Análise de Risco consiste em um conjunto de técnicas ou métodos

aplicados a uma atividade proposta ou existente com o objetivo de se identificar e

avaliar o risco à própria empresa, à população vizinha ou ao meio ambiente, gerado

pela atividade em questão, em termos de freqüência e conseqüências, e propor

medidas de redução da vulnerabilidade com critérios de aceitação previamente

estabelecidos.

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O risco é constituído por dois fatores, a Probabilidade de Ocorrência e a

Amplitude da Conseqüência, que devem ser estimados para que se avalie o Nível de

Risco.

• Estimativa da Probabilidade de Ocorrência por ano (PO)

Para a estimativa da Probabilidade de Ocorrência, o critério adotado tem

como base a experiência prática dos profissionais envolvidos, para tanto deverá ser

utilizada a tabela a seguir para a determinação da Probabilidade de Ocorrência.

Tabela 2 – Classificação das Probabilidades de Ocorrência

CLASSE DENOMINAÇÃO DESCRIÇÃO

A Extremamente

remota

Teoricamente possível, mas de ocorrência

improvável ao longo da vida útil da instalação

B Remota Ocorrência não esperada ao longo da vida

útil da instalação

C Improvável Baixa probabilidade de ocorrência ao longo

da vida útil da instalação

D Provável Ocorrência provável de ocorrer uma ou outra

vez ao longo da vida útil da instalação

E Freqüente Ocorrência esperada de ocorrer uma ou outra

vez a cada 10 anos

F Muito freqüente Ocorrência esperada de ocorrer uma ou outra

vez em cada ano

G Rotineira Ocorrência esperada de ocorrer uma ou outra

vez em cada mês

14

• Estimativa da Amplitude da Conseqüência (AC)

Deve-se avaliar, em seguida, a Amplitude da Conseqüência, que é o

segundo parâmetro para a determinação do Nível de Risco.

Existem métodos quantitativos para a avaliação da amplitude dessas

conseqüências, os quais optou-se por não utilizar no presente caso, usando para

tanto a tabela abaixo, na qual a estimativa é baseada em fatores como experiência,

registros históricos, localização do empreendimento, grau de periculosidade do

processo envolvido, quantidades envolvidas, etc.

Tabela 3 – Classificação da Amplitude das Conseqüências

CLASSE DESCRIÇÃO

I

DESPREZÍVEL

Não provoca lesões e nem danos à saúde em funcionários e

terceiros (não funcionários e público externo).

Não provoca nenhum impacto ambiental ao meio ambiente.

Não provoca danos ou provoca danos de pequena monta aos

equipamentos, materiais e instalações.

Não provoca parada de produção ou provoca atrasos

insignificantes.

Não provoca nenhuma alteração na qualidade do produto.

Pode provocar insignificante repercussão entre os funcionários

e terceiros dentro da propriedade e nenhuma na comunidade.

II

MARGINAL

Provoca lesões leves ou perturbações leves à saúde de

funcionários ou terceiros quando dentro da propriedade.

Nenhum dano à comunidade é notado.

Provoca impacto leve e reversível ao meio ambiente,

internamente à propriedade.

15

Provoca danos de pequena monta aos equipamentos, materiais

e instalações.

Provoca parada de produção de curta duração.

Provoca pequena alteração na qualidade do produto detectável

ainda no processo ou pelo cliente, porém, sem danos maiores.

Pode provocar uma repercussão significativa entre

funcionários/terceiros dentro da propriedade e repercussão

pequena/pouco significativa dentro da comunidade.

III

CRÍTICA

Provoca lesões e nem danos à saúde com certa gravidade em

funcionários e terceiros quando dentro da propriedade, e lesões

ou danos à saúde de gravidade leve em membros da

comunidade. Não ocorrem mortes, porém, lesões incapacitantes

podem ocorrer para pessoas dentro da propriedade.

Provoca danos severos ao meio ambiente interno à

propriedade, às vezes irreversíveis, e danos de gravidade leve

fora da propriedade, às vezes irreversíveis.

Provoca danos de grande monta aos equipamentos, materiais e

instalações da propriedade, e danos de razoável monta na

comunidade. Exige ações corretivas imediatas para evitar seu

desdobramento catastrófico.

Provoca para de produção de longa duração.

Provoca grandes alterações na qualidade do produto, passível

de não ser detectada quando em processo.

Pode provocar repercussão de grande monta entre os

funcionários e terceiros dentro da propriedade e repercussão

significativa da comunidade.

16

IV

CATASTRÓFICA

Podem provocar mortes, lesões graves, danos irreversíveis à

saúde dos funcionários, terceiros e membros da comunidade

em geral.

Podem provocar danos de grande monta e irreversíveis ao meio

ambiente interno ou externo à propriedade.

Podem provocar destruição total de equipamentos, materiais e

instalações, internamente ou externamente à propriedade.

Pode provocar parada permanente de produção com destruição

da planta ou parte significativa dela.

Provoca graves alterações na qualidade do produto, com

grande repercussão na opinião pública. Ações indenizatórias

coletivas podem ocorrer.

Pode provocar repercussão de grande monta e duradoura entre

os funcionários e terceiros dentro da propriedade e repercussão

de grande monta com razoável duração na comunidade.

• Estimativa do Nível de Risco (NR)

A avaliação do Nível de Risco a que estão sujeitas as pessoas, o meio

ambiente, clientes, enfim, todas as partes interessadas, é uma conjugação dos

resultados da Amplitude das Conseqüências com a Probabilidade.

Com o objetivo de se estabelecer a que nível de risco o meio ambiente foi

exposto, nos casos de vazamento de óleo, foi desenvolvida uma matriz de risco

dada pelo gráfico da figura X abaixo. Trata-se de uma estimativa e dependendo do

caso estudado, o gráfico poderá ser alterado já que o mesmo depende de muitos

fatores e parâmetros.

17

2 3 4 4 5 5 5

1 2 3 3 4 4 5

1 1 2 2 3 3 4

1 1 1 1 2 2 3

Figura 1: Nível de Risco

Uma vez estimado o Nível de Risco, é preciso classificá-lo para saber se é

um risco aceitável ou não-aceitável. A tabela 4 abaixo é um dos critérios que podem

ser utilizados para definir o grau de aceitação do risco, e que será utilizada para o

presente trabalho.

Tabela 4: Critério de Aceitabilidade do Risco

ID DENOMINAÇÃO DESCRIÇÃO

1 DESPREZÍVEL Aceitável

2 MENOR Aceitável, sujeito à melhoria

3 MODERADO Aceitável, esporadicamente

4 SÉRIO Não aceitável

5 CRÍTICO Absolutamente, não aceitável

A B C D E F G

IV

III

II

I

AC

PO

18

3. ESTUDOS DE CASO

Neste item serão apresentados dois estudos de caso onde é aplicado parte

do arcabouço teórico apresentado no capítulo anterior.

3.1. Evento “A”

No dia 03 de junho de 2003 por volta das 11:00h, houve um derramamento

de petróleo nas águas do Canal de São Sebastião, decorrente do vazamento de

óleo Marlim 33, devido à desconexão dos braços de carregamento – BC 3122, BC

3123 e BC 3124, do Berço 2 do Píer Sul do TEBAR.– Terminal Marítimo Almirante

Barroso, pertencente à Petrobrás/Transpetro.

3.1.1. Descrição do evento “A”

-O Porto Dersa – São Sebastião está localizado no litoral norte do Estado de

São Paulo, na cidade de São Sebastião, na margem oeste do canal de São

Sebastião, a cerca de 200 km da cidade de São Paulo/SP. Ao norte do porto, ainda

na cidade de São Sebastião, está localizado o Terminal Marítimo Almirante Barroso -

TEBAR, especializado na carga e descarga de granéis líquidos - petróleo e

derivados - de propriedade da PETROBRÁS e por ela operado. Na margem oposta

ao canal de São Sebastião, na Ilha de São Sebastião, localiza-se a cidade de

Ilhabela, importante centro turístico da região.

O TEBAR recebe petróleo ou óleo cru diretamente dos navios petroleiros e

posteriormente são bombeados para as refinarias da PETROBRÁS, localizadas em

Cubatão, Paulínea e São José dos Campos.

19

O navio envolvido no referido acidente era o NT Nordic Marita proveniente

da Bacia de Campos, cujo volume transportado era de 110.000 m3 de petróleo,

tendo o derramamento ocorrido no convés e deste derivou para o mar.

As manchas de óleo percorreram cerca de 120 km da costa entre

Caraguatatuba e o sul de Ubatuba, como pode ser verificado na figura 02, tendo sido

atingidas as praias de Ponta Aguda, Mansa, da Lagoa e uma lagoa costeira (figura

03), todas localizadas na Ponta Grossa, região preservada de difícil acesso. Os

costões rochosos foram parcialmente afetados, mas por estarem expostos à forte

ação das ondas, não foi necessária intervenção humana para limpá-los.

Com relação ao volume de óleo vazado, a CETESB e a Petrobrás não

chegaram a um consenso, e estima-se que o volume seja algo em torno de 15 e 25

m3, tendo sido recolhidos 15,90 m3 do mar.

Com base nos Relatórios de Inspeção de nº 937681, nº 953849, nº 953850,

nº 937704, nº 953848 e Relatório Técnico da CETESB de fls. 354/384, passamos a

resumir o ocorrido:

• Na manhã do dia do acidente foi realizado sobrevôo onde foi visualizada a

extensão da mancha de óleo, a qual se encontrava fora do Canal de São

Sebastião, em frente à Caraguatatuba, em alto mar. As manchas de forma

irregular eram caracterizadas pela presença de óleo escuro em sua região

central, com grandes manchas iridescentes em seu entorno. No interior das

manchas eram observadas também, áreas de coloração mais tênues;

• No dia seguinte ao ocorrido, em 04/06/2003, constatou-se que nenhuma

praia havia sido atingida, havia um filme de óleo prateado em uma faixa de

aproximadamente 7 km de comprimento por 800 metros de largura,

aproximando-se do costão, a sudeste do saco da banana, sendo que

mangues e criadouros de mexilhões encontravam-se protegidos;

• No dia 05/06/2003, foi constatado filme de óleo com filete e manchas

esparsas, que se estendeu da Ilha do Tamanduá em Caraguatatuba até a

Ilha Anchieta, em Ubatuba. Pelotas e manchas de óleo intemperizado

20

atingiram as Praias da Figueira, Lagoa, Ponta Aguda e Bananas, tendo sido

afetada também a lagoa da Praia da Lagoa, onde toda a área da lagoa

costeira foi contaminada com óleo;

• Em 07/06/2003, houve aparecimento de novos filetes de óleo na lagoa

devido à entrada de um frente fria que provocou a agitação marítima na

região;

• No dia 08/06/2003, foi registrado o aparecimento de um filhote de toninha

(mamífero marinho) morto.

Medidas de contenção: a fase emergencial de contenção e recolhimento das

manchas de óleo no mar durou quatro dias (03 a 06 de junho) e a fase emergencial

de limpeza das áreas afetadas durou até o dia 17 de junho, totalizando 15 dias de

operação. Foram mobilizados oito técnicos da CETESB além de 260 homens para

os trabalhos marítimos com 128 embarcações e 1.100 pessoas aproximadamente,

disponibilizadas pela TRANSPETRO, para realizar os trabalhos de contenção e

remediação, que assim passamos a resumir:

• colocação de barreiras absorventes para proteção de áreas sensíveis na

Barra do Rio Juqueriquê para prevenir contaminação dos manguezais e

balsas com cultura de mexilhões situadas no lado leste da ilha do

Tamanduá;

• amostragem de coletas para análises químicas e toxicológicas a fim de

avaliar os danos ambientais;

• container equipado para tratamento de aves petrolizadas;

• contenção e remoção de manchas entre a Ponta Grossa e Ilha do Mar

Virado, e remoção de pelotas na Praia da Ponta Grossa

• operação de limpeza durante o dia e a noite na Praia da Lagoa com limpeza

das margens, corte controlado da vegetação contaminada, aplicação de

21

turfa vegetal e recolhimento manual, vistoria e manutenção das barreiras

absorventes instaladas e limpeza da área operacional, colocação preventiva

de barreira na entrada da lagoa na Praia da Ponta Aguda.

A seguir, fotografias aéreas da região onde ocorreram os derramamentos

em questão:

Figura 02: Área ao norte do Canal de São Sebastião atingida pelos dois

vazamentos. A seta indica a posição do Terminal Marítimo de São Sebastião, onde

ocorreram os vazamentos, e os círculos indicam os locais afetados na ocasião: em

branco o derramamento ocorrido em 10/08/02 e em amarelo, o ocorrido em

03/06/2003.

22

Figura 03: Área próxima ao litoral do Município de Ubatuba, em frente a Ilha do

Tamanduá, onde estão situadas as praias da Figueira, Ponta Aguda, Mansa e da

Lagoa, atingidas pelo vazamento ocorrido em junho de 2003.

Ilha do

23

Figura 04: Detalhe da lagoa atingida pelo vazamento de óleo.

3.1.2. Descrição das praias atingidas

Neste item serão descritas as praias atingidas pelo vazamento, com o

objetivo de se caracterizar a região em questão.

As praias da Figueira, Ponta Aguda, da Lagoa e Mansa, atingidas pelas

manchas de óleo, se encontram no extremo sul do município de Ubatuba, em frente

à Ilha do Tamanduá e tem acesso na primeira entrada para Tabatinga,

aproximadamente 1,5 Km por estrada de cascalho e terra, ou por trilha de nível

médio, pelo morro da Caçandoca, sendo outro meio de acesso por via marítimas.

Estão localizadas em frente à Ilha do Tamanduá cuja localização é muito

apreciada para náutica e mergulho, sendo quase desertas com areias grossas e mar

pouco agitado.

24

A praia da Lagoa, onde ocorreu a maior parte da contaminação pelo óleo

derramado, tem areias grossas e muitas conchas, seu nome deve-se à existência de

uma lagoa no lado esquerdo da praia sendo esta uma área preservada.

A seguir, ilustrações fotográficas das praias em questão.

Próximo ao local do vazamento, encontrava-se a maior Fazenda de

Mexilhões (popularmente conhecido como marisco) do estado de São Paulo

localizada na Praia da Cocanha no município de Caraguatatuba/SP, que por

apresentar uma costa bastante recortada, de pequenas baías abrigadas, é

considerado um excelente local para a implantação da maricultura. As atividades são

desenvolvidas por pescadores locais, que produzem em torno de oito mil toneladas

por ano.

Foto 03: praia da Lagoa.

Foto 01: praia da Figueira. Foto 02: praia da Ponta

Aguda.

25

O principal objetivo da mitilicultura é proporcionar uma alternativa de renda

visando conter o empobrecimento das comunidades de pescadores artesanais, que

sofrem com o declínio dos estoques pesqueiros, principalmente em decorrência da

poluição e da pesca predatória.

3.1.3. Enquadramento do acidente

Neste item, o vazamento de óleo ocorrido no TEBAR será classificado

quanto a Probabilidade de Ocorrência (tabela 2) e quanto a Amplitude das

Conseqüências (tabela 3). A combinação das duas classificações irá determinar o

nível de risco a que foi exposta a região em questão, as pessoas e equipamentos

envolvidos, e mais especificamente o dano ao meio ambiente.

Assim, levando-se em conta os fatores acima expostos, classificou-se o

evento em:

• Quanto à Classificação das Ocorrências: CLASSE D – PROVÁVEL

• Quanto à Classificação da Amplitude das Conseqüências: CLASSE III

- CRÍTICA

Analisando-se o gráfico da tabela 4, tem-se que a aceitabilidade do risco é

de nível MODERADO.

3.2. Evento “B”

No dia 18 de fevereiro de 2004 foi constatada a presença de óleo na foz do

rio Guaecá, em São Sebastião/SP. O oleoduto OSBAT da

PETROBRAS/TRANSPETRO estava bombeando uma mistura de petróleos

nacionais, dos tipos Espírito Santo, Roncador Albacora e Marlim, do Terminal

Aquaviário de São Sebastião (TASS) para a Refinaria Presidente Bernardes em

Cubatão.O bombeamento de petróleo do Sistema OSBAT 24” foi paralisado e

acionou-se o Plano de Contingência Local.

26

3.2.1. Descrição do evento “B

Apesar da TRANSPETRO possuir um sistema de detecção de vazamento

denominado pig instrumentado, que é uma ferramenta básica de avaliação da

integridade de dutos, o aludido vazamento não foi detectado por este sistema, tendo

sido a Defesa Civil acionada por denúncia de um morador.

O vazamento foi identificado em uma trinca de aproximadamente 170 mm no

duto, localizada no km 3 + 143 m da faixa de dutos, quota 219 metros em área da

Serra do Mar, local denominado “Ponto Zero”. O petróleo aflorou a partir do sub-solo,

cerca de 70 metros a jusante do duto,

Na noite do dia 21 de fevereiro, quando o vazamento já estava controlado e

restrito à calha do rio Guaecá, um forte temporal ocasionou a destruição de todos os

sistemas de contenção, entre eles as barragens fixas, barreiras e diques. Com isso,

quantidade significativa de óleo saiu pela foz do rio Guaecá, atingindo praticamente

toda a extensão da praia de Guaecá.

A estimativa de volume vazado foi de 266,80 m3, considerando-se aí o óleo

recuperado, a fração contida nos resíduos e a estimativa inicial presente no solo.

A seguir, fotografias aéreas da região onde ocorreram os derramamentos

em questão:

27

Figura 05: Foto aérea de toda a extensão da Praia de Guaecá.

28

Figura 06: Praia de Guaecá, com destaque para o local onde ocorreu o vazamento

e ponto de captação de água da Sabesp.

Praia de Guaecá

Pont

o do Capt

ação da

29

Figura 07: Detalhe da foz do Rio Guaecá por onde vazou petróleo até atingir a

praia.

3.2.2. Ações de Contingência

A TRANSPETRO implantou ações de emergência para contenção e limpeza

do petróleo. Essas ações envolveram construção de barreiras com caixas

separadoras, instalação de barreiras absorventes, aplicação de peat sorb no leito do

ribeirão, recolhimento do produto recuperado e seu acondicionamento. Foram

utilizadas 2000 metros de barreiras de contenção, 5000 metros de barreiras

absorventes, 20 recolhedores portáteis, 8 tanques portáteis para armazenamento de

produto recolhido e um sistema Pipe Line.

30

Foram ainda utilizados recursos materiais como caminhões a vácuo,

caminhões Munck, retro-escavadeira, caminhão tanque e basculante, gerador diesel

elétrico, 2 helicópteros, ambulância, veículos de apoio e banheiros químicos, além

de 3 embarcações para monitoramento da praia.

Apenas a título ilustrativo, seguem algumas ilustrações fotográficas das

ações de contingência realizadas pela TRANSPETRO:

Fotos 04, 05 e 06: ações de contingência. Fonte: CETESB

Após dois anos da ocorrência do vazamento, foi realizada um investigação

hidrogeológica no local do acidente, a qual constatou basicamente o seguinte:

- as análises químicas da água e do solo, após 2 anos da ocorrência do

vazamento, não detectaram contaminantes acima dos valores de intervenção

adotados pela CETESB;

31

- Com relação a pluma de fase livre, não houve significativa modificação de

sua configuração, porém houve redução na espessura do produto, sendo

encontrada na maioria dos poços apenas película;

- Na margem esquerda do Ribeirão Guaecá, aproximadamente na cota

200m, observou-se pequena e intermitente surgência de óleo, apresentando pontos

de iridescência e presença de óleo nas paredes dos tubos;

3.2.3. Características da região atingida pelo vazamento

A Praia de Guaecá está localizada no Município de São Sebastião, litoral

norte do Estado de São Paulo, a cerca de 150 km da cidade de São Paulo/SP. Ao

longo de sua extensão, possui casas e condomínios estritamente residenciais,

sendo a praia constituída por areias claras e finas e mar agitado, cercada por Mata

Atlântica.

O vazamento de óleo ocorreu na nascente do rio Guaecá inserido dentro do

Parque Estadual da Serra do Mar (Unidade de Conservação), aflorando pelo solo e

aquífero freático, com vários pontos de afloramento a montante do rio Guaecá, A

contaminação afetou toda a extensão do corpo d’água, na serra e na planície

costeira, até a praia de Guaecá.

De acordo com o Art. 1.º da Resolução CONAMA N° 20, de 18 de junho de

1986, as águas são classificadas segundo seus usos preponderantes, sendo no

presente caso, o Rio Guaecá de classe 1:

Classe I - águas destinadas:

a) ao abastecimento doméstico após tratamento simplificado;

b) à proteção das comunidades aquáticas;

c) à recreação de contato primário ( natação, esqui aquático e mergulho).

d) à irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se

desenvolvam rentes ao solo e que sejam ingeridas cruas sem remoção de películas.

32

e) à criação natural e/ou intensiva (aquicultura) de espécie destinadas à

alimentação humana.

O Parque Estadual da Serra do Mar tem cerca de 315 mil hectares, vai da

divisa de São Paulo com o Rio de Janeiro até Itariri, no sul do estado paulista, e

contém a maior área contínua de Mata Atlântica preservada do Brasil.

A Mata Atlântica é uma formação vegetal brasileira caracterizada pela

vegetação exuberante, com grande diversidade de fauna e flora, apresentando

árvores com folhas largas perenes e grande diversidade de epífitas, como bromélias

e orquídeas. A fauna endêmica (ocorre apenas na Mata Atlântica) é formada

principalmente por anfíbios (grande variedade de anuros), mamíferos, como o mico-

leão-dourado, e aves das mais diversas espécies. É uma das áreas mais sujeitas a

precipitação no Brasil, com declividade alta, acima de 30%, e relevo acidentado.

A seguir, ilustrações fotográficas da região em questão.

Foto 07: Vista geral da Praia de Guaecá e Parque Estadual da Serra do Mar

no entorno.

33

Foto 08: Vista da Foz do Rio Guaecá atingido pelo vazamento.

3.2.4. Enquadramento do acidente

Neste item, o vazamento de óleo ocorrido no TEBAR será classificado

quanto a Probabilidade de Ocorrência (tabela 2) e quanto a Amplitude das

Conseqüências (tabela 3). A combinação das duas classificações irá determinar o

nível de risco a que foi exposta a região em questão, as pessoas e equipamentos

envolvidos, e mais especificamente o dano ao meio ambiente.

Os dutos são projetados para atender as exigências de projeto previamente

estabelecidas. Porém, em serviço, os dutos são expostos a condições operacionais

e ambientais mais severas, como aumento na pressão e/ou temperatura de

operação, condições ambientais não condizentes com o projeto; fatores como estes

comprometem a estrutura aumentando consideravelmente o nível de risco

As conseqüências do vazamento estão diretamente relacionadas à

quantidade de fluido que poderá vazar na ocorrência de um possível vazamento. Por

sua vez, a quantidade de produto vazado depende da vazão e da resposta do

sistema supervisório à detecção de vazamentos.

34

Assim, levando-se em conta os fatores acima expostos, principalmente com

relação ao grande volume derramado (cerca de 260 m3), época do ano de alta

temporada (véspera de carnaval) e a sensibilidade ambiental do meio em que

ocorreu o acidente, além da persistência da pluma de fase livre após 2 anos de

ocorrido o vazamento, classificou-se o evento em:

• Quanto à Classificação das Ocorrências: CLASSE D – PROVÁVEL

• Quanto à Classificação da Amplitude das Conseqüências: CLASSE IV

- CATASTRÓFICA

Analisando-se o gráfico da tabela 4 tem-se que a aceitabilidade do risco é de

nível SÉRIO.

35

4. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Os efeitos de uma situação de derrame de óleo dependem de muitos

fatores, que incluem o volume de óleo derramado, suas características físicas,

químicas e toxicológicas (particularmente aquelas que determinam a habilidade do

óleo em persistir no meio ambiente) e condição (como uma mancha flutuante ou

dispersa na coluna de água), condições locais no momento do derrame

(temperatura, vento, etc.), época do ano, presença de estruturas ou recursos no

caminho do derrame, localização do derrame em relação à natureza e mistura de

sedimentos, topografia do fundo do mar e geomorfologia da costa, e medidas de

contenção de remoção. A variabilidade destes e de outros fatores e sua interação

podem levar a uma ampla gama de efeitos ecológicos, econômicos e físicos.

O que se procurou mostrar ao longo do trabalho é que apesar de difícil, a

classificação e determinação dos danos ao meio ambiente decorrentes de acidentes

ambientais deve ser embasado em critérios técnicos e deve-se levar em conta todo

o contexto em que ocorreu o acidente, no caso em questão, vazamento de óleo.

A Metodologia apresentada teve por objetivo auxiliar nesta complexa tarefa

de avaliação dos danos ambientais, que lida sempre com falta de dados e

informações insuficientes.

Cabe ressaltar que, cada impacto ambiental tem um efeito específico, e

diferentes efeitos eventualmente poderão ser avaliados por diferentes modelos de

valoração.

Com relação aos resultados obtidos para o estudo de caso do Evento “A”,

utilizando-se a metodologia apresentada, tem-se que a aceitabilidade do risco é de

nível MODERADO, ou seja, aceitável esporadicamente, o nível de risco a que foi

36

exposta a região em questão, as pessoas e equipamentos envolvidos, e mais

especificamente o dano ao meio ambiente.

Tal resultado pode ser corroborado pelas conclusões de que o o dano foi

temporário e causado primariamente pelas propriedades físicas do óleo, criando

incômodos e condições de risco, ou seja, a poluição não foi permanente sendo

apenas aguda.

Os relatórios de análises químicas e ecotoxicológicas demonstram que,

apesar das amostras de água do mar e da lagoa terem apresentado índices de

contaminação considerados normais para o Canal de São Sebastião (com base na

literatura disponível), a área mais atingida pelo derramamento foi uma foi lagoa que

se trata de um ecossistema preservado, e para se afirmar que não houve

contaminação, o índice de concentração dos componentes tóxico do óleo deveria

ser nulo, o que não foi o caso em questão.

Assim, pode-se dizer que o óleo mesmo tendo atingido áreas de

preservação, não houve nenhuma evidência de alteração significativa do meio

ambiente que não seja a mancha de óleo em si, uma vez não ocorreu mortandade

durante o acidente que possa ter sido atribuída a ele e nem nenhum efeito

persistente. Por outro lado, ela só atingiu estas áreas devido às condições

metereológicas, uma vez que o plano de contingência foi acionado e executado.

Com relação aos resultados obtidos para o estudo de caso do Evento “B”,

utilizando-se a metodologia apresentada, tem-se que a aceitabilidade do risco é de

nível SÉRIO, ou seja, não aceitável.

Houve derramamento de óleo ao longo do Ribeirão Guaecá (corpo d’água

classe I inserido no Parque Estadual da Serra do Mar – área de preservação

ambiental), causando contaminação da vegetação de margem ao longo do rio,

associada à mata ciliar que é área de preservação permanente. Houve impacto em

diversos componentes da fauna do ecossistema como aracnídeos e insetos

aquáticos, anfíbios, entre outros, tendo causado intensa mortandade de camarões

pitus de água doce.

37

Devido às fortes chuvas por ocasião do derramamento, o óleo atingiu a

Praia de Guaecá que foi interditada por um dia, porém não houve dano ao ambiente

marítimo uma vez que o óleo não atingiu a zona de marés.

Com base na investigação hidrogeológica, pode-se afirmar que o dano foi

causado primariamente pelas propriedades físicas do óleo, criando incômodos e

condições de risco. No entanto, mesmo após 24 meses de ocorrido o vazamento,

ainda encontra-se indícios de óleo principalmente nas margem do Ribeirão Guaecá,

na cota 200m, podendo-se afirmar tratar-se de um evento com impacto agudo e

intenso.

O aludido relatório demonstra que, apesar das amostras de água e solo

terem apresentado índices de contaminação abaixo dos valores de intervenção

adotados pela CETESB, não é possível afirmar que não houve contaminação, já

que, por se tratar de área de preservação permanente onde o ecossistema se

encontra preservado, o índice de concentração dos componentes tóxico do óleo

deveria ser nulo, o que não foi o caso em questão.

Assim, pode-se dizer que o óleo mesmo tendo atingido áreas de

preservação, não há nenhuma evidência de alteração significativa do meio ambiente

que não seja a presença, ainda que pequena, do óleo em si. Por outro lado, o

vazamento só atingiu estas áreas devido às condições metereológicas e

topográficas da região, uma vez que o plano de contingência foi acionado e

executado.

38

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Josimar Ribeiro, Simone Garcia Gomes e Márcia Panno. Perícia

Ambiental. Rio de Janeiro: Thex Ed., 2000.

CARDOSO, Anelise Menezes. Sistema de informações para planejamento e

resposta a incidentes de poluição marítima por derramamento de petróleo e

derivados. Dissertação (Mestrado em Ciências em Planejamento Energético). Rio

de Janeiro: Universidade Federal, 2007.

CETESB – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental. Emergências

químicas, tipos de acidente, vazamento de óleo. Disponível no endereço

eletrônico www.cetesb.sp.gov.br.

CUNHA, Sandra Baptista e Antonio José Teixeira Guerra (organizadores).

Avaliação e perícia ambiental. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.

HOLOS GESTÃO. Sistema de Gestão de Riscos/Estratégico. São Paulo: 2008.

LOPES, Carlos Ferreira, João Carlos Carvalho Milanelli, Iris Regina e Fernandes

Poffo. Ambientes costeiros contaminados por óleo: procedimentos de limpeza

– manual de orientação. São Paulo: Secretaria de Estado do Meio Ambiente, 2007.

MISHINA, Koje Daniel Vasconcelos, José Felício da Silva e João Bosco de Aquino

Silva. Modelo para Avaliação Qualitativa do Risco em Oleodutos através da

Lógica Fuzzi segundo a metodologia da IBR. Trabalho apresentado no 17º

CBECIMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais. Paraná,

2006.

PINTO, Renato Spindola de Miranda. Exercícios de resposta a incidentes de

poluição por óleo: uma proposta de modelo de avaliação. Dissertação (Mestrado

39

em Sistema de Gestão). Rio de Janeiro: Universidade Federal Fluminense, 2005.