xavier candido f luz acima

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  • 8/7/2019 Xavier Candido F Luz Acima

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    LUZ ACIMAFRANCISCO CNDIDO XAVIER

    Ditado pelo EspritoIrmo X

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    INDICE

    LUZ ACIMA

    A Atitude Do GuiaA Escritura Do EvangelhoA Indagao Do InspetorA MissoA Orientao CristA Perda IrreparvelA Proteo De Santo Antnio

    A Revoluo CristAlegao JustaAnte O Grande RenovadorApontamentos Do AncioAt MoisesBilhete A JesusCandidato ImpedidoCarta DespretensiosaDo Aprendizado De JudasEm RespostaEntre O Bem E O Mal

    EsclarecimentoEspritos DoentesCom Lealdade FraternaComo Tratar MdiunsMos Enferrujadas

    Na Esfera Dos Bichos

    Na Interpretao Rigorista Na Subida Crist Nas Hesitaes De Pedro No Reino Da Terra Nos Limites Do Cu Numa Cidade CelesteO Anjo Consertador

    O Anjo ServidorO Candidato ApressadoO Devoto IncorrigvelO Esprito Que FaltavaO Homem E O BoiO Orculo DiferenteOs Maiores InimigosPequena Histria Do DiscpuloRecordando O FilsofoRemdio Contra TentaesRogativa Reajustada

    RoteiroTentando ExplicarTudo RelativoUm Homem Do MundoVelho Aplogo

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    A ATITUDE DO GUIA

    Irmo X

    Sob nosso olhar atento, o Guia do grupo comeou a desempenhar suas

    funes de orientador, explicando: Enriqueamos nossa vida, de bno. A morte, meus irmos, simples

    modificaro de roteiros exteriores; preparai-vos, no entanto, a fim de atravessar-lhe osumbrais, com a precisa luz. A encarnao terrestre representa curso de esclarecimento eascenso. Alegria e dor, contentamento e insatisfao, fartura e escassez constituemoportunidades de engrandecimento para a alma. Nosso problema fundamental, portanto, no to somente crer ou descrer. imperioso aplicar os princpios da f s situaes difceis daexperincia humana, como quem espanca as sombras. De que nos serviria a confiana naProvidncia Divina sem aproveitarmos os dons da Previdncia Celeste que nos situou oesprito em aprendizado laborioso, tendo em vista nossa prpria felicidade? Tudo, pois, que

    fizerdes nos setores do bem, enquanto na transitria passagem pela Terra, essencial para aeternidade.

    Se o Supremo Pai apenas aguardasse de ns outros o incenso da adorao,que expressaria a grandiosa oficina do mundo? Brilhariam o Sol e a Lua, resplandeceriam asestrelas, correriam as fontes, frutificariam as rvores, trabalharia o vento simplesmente parasatisfazer um punhado de crentes ociosos? Contentar-se-ia Deus, o Criador Infatigvel, emerguer para os filhos da Terra apenas um templo suntuoso onde repousassem indefinidamente,sem qualquer finalidade progressiva? indispensvel, desse modo, renovarmos oentendimento, elevando-nos em esprito para a Imortalidade Vitoriosa. Junto de vs outros,alinham-se ferramentas preciosas na edificao sublime. Chamam-se obstculos, provas elutas. Utilizando-as para o bem, sereis, em breve, senhores de oportunidades mais altas, nos

    crculos de iluminao. Fadados ao glorioso destino de cooperadores do Eterno, urgecompreenderdes a importncia de viver na Crosta da Terra, como importante para oaprendiz a justa apreciao da escola que o prepara e edifica. O sofrimento, por isso mesmo,a no mundo apelo ascenso. Sem ele, seria difcil acordar a conscincia para a realidadesuperior. Aguilho benfico, o sofrimento evita-nos a precipitao nos despenhadeiros domal, auxilia-nos a prosseguir, entre as margens do caminho, mantendo-nos a correronecessria ao xito do plano redentor. Busquemos, assim, aproveitar-lhe as bnosrenovadoras, praticando a fraternidade em todos os ngulos da bendita peregrinao para afrente. No nos interessa o passado escuro. Recebamos a claridade compassiva do presente,construindo qualidades santificantes no santurio interior, convertendo-nos em tabernculosvivos da Vontade Augusta e Misericordiosa do Eterno. Para isso, meus amigos, auxiliemo-nosuns aos outros, procuremos a verdade e o bem, atendendo as exigncias do amor cristo. Semessa atitude pessoal de transformao para o entendimento e aplicao do Cristo, impossvelaguardar mundos melhores, paisagens felizes ou venturas sem fim...

    Nesse momento, o orientador interromper-se.

    Finalizara a preleo? no sabamos ao certo.

    Parecia disposto a retomar o fio das formosas definies, quando seadiantou um cavalheiro da pequena assemblia de companheiros encarnados.

    Julguei-o inclinado a exprimir amor, jbilo, gratido. Teria estendido apalavra do Guia que afinal de contas, em boa sinonmia, era, ali, o condutor, o que dirige, o

    que mostra a frente. Longe disso. O irmo mencionado assumiu atitude de consulente inquietoe interrogou, demonstrando absoluta despreocupao de quanto ouvira :

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    Meu mestre, que me diz dos bens que me surrupiaram? O furto de que fuivtima representa muitssimo para mim. No devo esquecer o futuro... Os advogados de meus

    parentes parecem ganhar a causa... Devo esperar algum socorro? Espantalho, reparei que obenfeitor espiritual no reagiu. Assumiu paternal expresso no semblante calmo e, no mesmodiapaso de voz, comentou:

    No assunto, meu amigo, creio mais oportuna sua invocao polcia.Procure a seo de perdas e danos...

    Logo aps, rogou a bno de Jesus para todos e, retirando-se daorganizao medinica, tornou ao nosso meio.

    Sob forte assombro, referi-me incompreenso do grupo que visitvamos.

    O generoso orientador, porm, distante de qualquer desapontamento,observou:

    No vos aflijamos. Conheo este irmo, desde muito. H dois mil eoitocentos anos, aproximadamente, era ele membro de uma associao de ensinos secretos,nas vizinhanas do Templo de Zeus, em Olmpia, enquanto eu, por minha vez, exercia asfunes de humilde instrutor espiritual. Na primeira vez em que me materializei, no crculo deestudos em que ele se encontrava, explanando a simbologia dos mistrios rficos, de maneiraa adapt-los Luz Divina, levantou-se na assemblia e pediu-me socorro para encontraralgumas jias perdidas.

    Oh! Oh! aduzi, sarcstico h quase trs milnios? e este homem ainda o mesmo caador de arranjos materiais?

    O Guia tocou-me os ombros, paternalmente, e acrescentou, compassivo:

    Nada de mais, meu caro. Continuemos trabalhando, em benefcio detodos. Vinte e oito sculos so a canta de meu nobre concurso. Trata-se de equao que ns

    mesmos podemos fazer... H quantos milnios, porm, Jesus nos auxilia e tudo faz em nossofavor, malgrado a nossa impermeabilidade e resistncia?!...

    Afagou-me a cabea e concluiu, interrogando:

    No acha?

    Fiz por minha vez um sorriso amarelo e calei-me.

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    A ESCRITURA DO EVANGELHO

    Irmo X

    Quando Jesus recomendou a pregao da Boa-Nova, em diversos rumos, reuniu-se o

    pequeno colgio apostlico, em torno dEle, na humilde residncia de Pedro, onde choveramas perguntas no inqurito afetuoso.

    Mestre disse Filipe, ponderado , se os maus nos impedirem os passos, quefaremos? caber-nos- recurso autoridade punitiva?

    Nossa misso replicou Jesus, pensativo destina-me a converter maldade embondade, sombra em luz. Ainda que semelhante transformao nos custe sacrifcio e tempo, oprograma no pode ser outro.

    Mas... obtemperou Tom , e se formos atacados por criminosos? Mesmo assim confirmou o Cristo , nosso ministrio de redeno, perdoando e

    amando sempre. Persistindo no bem, atingiremos a vitria final.

    Senhor objetou Tiago, filho de Alfeu , se interpelados pelos fariseus, amantesda Lei, que diretrizes tomaremos ? So eles depositrios de sagrados textos, com que

    justificam habilmente a orgulhosa conduta que adotam. So arguciosos e discutidores. Dizem-se herdeiros dos Profetas. Como agir, se o Novo Reino determina a fraternidade, isenta datirania?

    - Ainda a explicou o Messias Nazareno , cabe-nos testemunhar as idias novas.Consagraremos a Lei de Moiss com o nosso respeito. Contudo, renovar-lhe-emos o sentidosublime, tal qual a semente que se desdobra em frutos abenoados. A justia constituir a raizde nosso trabalho terrestre. Todavia, s o esprito de sacrifcio garantir-nos- a colheita.

    Verificando-se ligeira pausa, Tadeu, que se impressionara vivamente com a resposta,

    acrescentou: E se os casustas nos confundirem? Rogaremos a inspirao divina para a nossa expresso humana. Mas, que suceder se o nosso entendimento permanecer obscuro, a ponto de no

    conseguirmos registrar o socorro do Alto? insistiu o apstolo.Esclareceu Jesus, sorridente:

    Ser, ento necessrio purificar o vaso do corao, esperando a claridade de cima.Nesse ponto, Andr interferiu, perguntando: Mestre, em nossa pregao, chamaremos indistintamente as criaturas? Ajudaremos a todos, sem exigncias respondeu o Salvador, com significativa

    inflexo na voz. Senhor interrogou Simo, precavido , temos boa vontade, mas somos tambm

    fracos pecadores. E se cairmos na estrada? e se, muitas vezes, ouvirmos as sugestes do mal,despertando, depois, nas teias do remorso?

    Pedro retrucou o Divino Amigo -, levantar e prosseguir e o remdio,- No entanto teimou o pescador e se a nossa queda for to desastrosa que

    impossibilite o reerguimento imediato? Rearticularemos os braos desconjuntados, remendaremos o corao em

    frangalhos e louvaremos o Pai pelas proveitosas lies que houvermos recolhido, seguindoadiante...

    E se os demnios nos atacarem? Interrogou Joo, de olhos lmpidos. Atra-los-emos , gloria do trabalho pacfico.

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    Se nos odiarem e perseguirem? comentou Tiago, filho de Zebedeu.Sero amparados por ns, no asilo da orao.

    E se esses inimigos poderosos e inteligentes nos destrurem? inquiriu o filho deKerioth.

    O esprito imortal elucidou Jesus, calmamente e a justia enraza-se em todaparte.

    Foi ento que Levi, homem prtico e habituado estatstica, observou, prudente: Senhor, o fariseu l a Tora, baseando-se nas suas instrues; o saduceu possui

    rolos preciosos a que recorre na propaganda dos princpios que abraa; o gentio, sustentandoas suas escolas, conta com milhares de pergaminhos, arquivando pensamentos e convicesdos filsofos gregos e persas, egpcios e romanos... E ns? a que documentos recorreremos?que material mobilizaremos para ensinar em nome do Pai Sbio e Misericordioso?!...

    O Mestre meditou longamente e falou: Usaremos a palavra, quando for necessrio, sabendo porm que o verbo degradado

    estabelece o domnio das perturbaes e das trevas. Valer-nos-emos dos caracteres escritos na

    extenso do Reino do Cu. No entanto, no ignoraremos que as praas do mundo exibemnumerosos escribas de tnicas compridas, cujo pensamento escuro fortalece o imprio daincompreenso e da sombra. Utilizaremos, pois, todas os recursos humanos, no apostolado,entendendo, contudo, que o material precioso de exposio da Boa-Nova reside em nsmesmos. O prximo consultar a mensagem do Pai em nossa prpria vida, atravs de nossosatos e palavras, resolues e atitudes...

    Pousando a destra acentuou:- A escritura divina do Evangelho o prprio corao do discpulo.Os doze companheiros entreolharam-se, admirados, e o silncio caiu entre eles,

    enquanto as guas cristalinas, no longe, refletiam o cu imensamente azul, cortado de brisas

    vespertinas que anunciavam as primeiras vises da noite...

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    A INDAGAO DO INSPETOR

    Irmo XO agrupamento doutrinrio, naquela noite, apresentou aspecto festivo. Duas semanas

    antes, Abel, um dos orientadores espirituais da casa, anunciou a visita de um mensageiro deJesus, marcada para quela hora. Viria de muito alto, no s trazendo a bno do Senhor,mas tambm no propsito de inspecionar a humilde instituio.

    Deviam preparar-se os companheiros para a venervel presena e, em razo disso, apequena comunidade se desdobrou em servio e carinho.

    Nas paredes muito limpas viam-se tufos de flores odorantes. A luz derramava-se,profusa, de lmpadas bem cuidadas. Extenso tapete amortecia o rumor dos passos de quantos,cautelosamente, penetravam o recinto e a atmosfera recordava o sagrado silncio de umtemplo antigo.

    Quando os dez cooperadores encarnados se agregaram em torno da mesa simples e

    acolhedora, a rogativa do diretor se elevou, comovente e cristalina.Ns mesmos, ouvindo-a, registrvamos inefvel emoo.O grupo realmente, constitua-se de servidores da crena, sinceros e bem-

    intencionados. Talvez, por isso mesmo, merecia a elevada deferncia da noite.Terminada que foi a orao de abertura, fomos notificados de que o embaixador de

    cima no tardaria.Com efeito, em dois minutos, inundou-se o ambiente de suave luz.O emissrio, como que cercado por vasta aurola de estrelas evanescentes, ingressou

    no santurio, revelando expresso de sublime benevolncia.Cumprimentou-nos, afavelmente, incorporou-se ao mdium mais apto e,

    demonstrando avanada sabedoria e inexcedveis virtudes, saudou a turma em servio,comentando a magnanimidade de Jesus que nos permitia o jbilo daqueles momentosreconfortantes. Exaltou a expectativa da esfera superior, relativamente colaborao humana,e, em seguida, pediu que os amigos encarnados algo informassem, individualmente, comreferncia ao Espiritismo cristo na existncia de cada um deles.

    Tnhamos a idia de contemplar iluminado instrutor em delicada maratona, junto areduzida e estudiosa classe escolar.

    Constrangidos pela generosidade e pelo carinho da solicitao, os companheirospassaram a responder, comeando pelo condutor da assemblia.

    - Graas a Deus! informou o presidente do grupo tenho aqui minha luz

    confortadora. O Espiritismo renovou-me os caminhos... Sou outro homem. Meu desagradvelpassado desapareceu... Em tempo algum recebi tamanha claridade no corao! Sou feliz, meugrande benfeitor, e agradeo ao Supremo Pai a ddiva do conhecimento que tanta ventura metrouxe!...

    Logo aps, falou D. Castorina, devotada cooperadora da organizao:- Encontrei nesta f consoladora o meu refgio de paz. Bendito seja Jesus, o nosso

    Divino Mestre!...Depois dela, o Senhor Cmara, mdium em desenvolvimento, esclareceu,

    emocionado:- A Nova Revelao maravilhosa fonte de alegria para minha alma. No posso

    expressar a gratido que me vibra no ser.

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    Calando-se o companheiro, o Senhor Joo Costa, admirvel interprete das idiascrists, explicou:

    - Beneficiado que fui pelo Espiritismo, nunca mais sofri dvidas. O Evangelho d-me agora definitiva segurana, pois reconheo que a Justia Divina perfeita e que o Esprito imortal.

    A senhora dele, logo que o marido silenciou, tomou a palavra, assegurando:- A doutrina minha vida!...Finda aquela assertiva breve, o Senhor Freitas, atencioso leitor de teses cientficas e

    mais loquaz que ou outros, comentou em fraseologia brilhante as ponderaes richestas,referiu-se ao metapsiquismo europeu e terminou, afianando:

    - O Espiritismo o nico sistema que pacifica a inteligncia. Nele, temos a crena, arazo e a lgica perfeitamente atendidas.

    Depois disso, D. Emerenciana enunciou:- Nos princpios do Espiritismo cristo, achei a minha felicidade.E D. Nair, ao lado dela, ajuntou:- Eu tambm.Por ltimo, o Senhor Soares, fundamente concentrado na prece, exclamou:- O Espiritismo o meu farol definitivamente aceso... Sem ele, h muito tempo eu

    estaria nas trevas do crime...Retornando quietude anterior, o emissrio agradeceu a reverncia e o carinho que

    transpareciam das respostas ao pedido que formulara e acrescentou:- Meus amigos, que a Nova Revelao indiscutvel mensagem do cu para os

    caminhos humanos, estabelecendo o imprio do bem, provando a sobrevivncia da alma almda morte e oferecendo conforto positivo, no padece qualquer dvida! Todos vos sentisedificados, esclarecidos e felizes!... Mas o que Jesus deseja saber justamente o que vindes

    realizando com essa bno. Em verdade, o Espiritismo vossa lmpada... Que tendes feitodela? um ideal superior... Que proveito organizais com ele? uma ddiva celestial... Que

    benefcios produzis em vs outros ou em derredor de vossos passos, usando semelhantegraa?

    Interrompeu-se o inspetor divino e, em vista de se calarem os circunstantes,respeitosamente, a se entreolharem agora espantadios, o venerando amigo despediu-se, bem-humorado, e prometeu voltar breve.

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    A MISSO

    Irmo X

    Quando Pacheco foi reunio de intercmbio espiritual pela primeira vez, Ricardo,

    devotado benfeitor do Alm, anunciou-lhe preciosa misso que teria a cumprir. Haviarenascido entre os homens para atender a elevado ministrio. Cultivaria bnos de Jesus,seria uma claridade viva nas sombras do mundo.

    Pacheco regozijou-se. Chorou de jubilo. Viu-se, por antecipao, frente de grandesmassas de sofredores, dispensando graas do Altssimo. E, desde ento, passou a esperar aordem direta do Cu, para execuo do sublime mandato de que era portador.

    Afeioado Consoladora Doutrina dos Espritos, revelou, em breve, adiantadaspossibilidades medinicas, que mobilizou, um tanto constrangido, a servio do bem. No seachava muito disposto ao contato permanente com infortunados e indagadores, sempre frteisentre os vivos e os mortos. No entanto, tentaria. Aguardava a misso prometida, repleta dos

    galardes da evidncia. Receb-la-ia confiante.Dentro de alguns meses, contudo, o rapaz denunciava imensa fadiga e, ao termo deapenas dois anos, o soldado arriava mochila. Afastou-se do grupo que freqentava. Silenciou.Recolheu-se vida pacata, onde lhe no surgiam aborrecimentos. Para que outro mundo, almdo osis que a esposa querida e os filhos carinhosos lhe ofereciam? para que outra ambio,alm daquela de assegurar no p de meia o futuro da famlia? Lia notcias do movimentoque o interessara antes e amava a boa palestra de gabinete.

    De quando em quando, l surgia um amigo a pedir-lhe opinio, com referncia mediunidade e ao Espiritismo. Pacheco catequizava, solene, sobre a imortalidade da alma.Relacionava as prprias experincias e rematava sempre:

    Os Espritos Protetores, certa feita, chegaram a declarar que tenho grande misso acumprir.

    Oh! e porque se afastou assim?! era a pergunta invarivel que lhe desfechavam queima roupa.

    Cruzava os braos e informava em tom superior: As idias so respeitveis, mas as criaturas... Imaginem que minhas faculdades

    eram consultadas a propsito dos mais rasteiros problema da vida. Muitos desejavam saberpor meu intermdio em que zona comercial estariam situados os negcios mais lucrativos,outros buscavam informaes alusivas a tesouros enterrados. Inmeras pessoas procuravamcomigo recursos para ocultar delitos graves ou tentavam converter entidades espirituais emagentes comunas de polcia barata. Era eu assediado impiedosamente para esconder crimes ou

    desvend-los. Devia funcionar como medianeiro entre maridos e mulheres briguentos,consertar existncias fracassadas por desdia dos prprios interessados. De outras vezes,freqentadores de minha roda exigiam que eu desse conta de seus parentes desencarnados.Perdi o sossego em casa e na rua. Os amigos e familiares conspiravam amorosamente contraminha paz, a ttulo de praticarmos a caridade e, nas ruas, fileira crescente de necessitados ecuriosos se punha invarivelmente minha espera.

    Pacheco interrompia-se, pigarreava, e prosseguia: E na associao dos prprios companheiros? a vaidade acendia fogueiras difceis

    de tolerar.A discrdia lavrava entre todos. Ningum pretendia servir. Todos buscavam mandar

    e controlar. A obedincia a Jesus e aos Bons Espritos era mandamento para a boca. Ocorao andava longe. Os diretores indispunham-se recprocamente, por questes mnimas, os

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    A ORIENTAO CRIST

    Irmo X

    Na sesso de conforto educativo, o consulente percebeu que o benemrito orientador

    espiritual se incorporara mdium em transe, e, logo que o abnegado mentor terminou apreleo sobre tema evanglico, pediu licena para rogar-lhe conselhos.

    Pois no, meu filho! exclamou o esprito amigo, generosamente estou aqui paraouvi-lo; abra seu corao...

    O cavalheiro, que principiou tmido, inclinou-se para o benfeitor, exibindo gestofilial, e comeou:

    Meu santo protetor, estou exausto! Sinto-me to necessitado de orientao como osedento precisa de um gole dgua. Perdi os bens que me eram mais caros!... Trago a sadearruinada e, embalde, perambulo atravs de clnicas custosas. O fgado no funcionanormalmente, os rins ameaan-me a cada hora, o corao, como louco, bate desregulado... De

    organismo semimorto, minha famlia relegou-me ao abandono. Minha parentela desapareceu.Tenho irmos consangneos que poderiam, decerto, amparar-me; contudo, fogem de mim,qual se eu fora criminoso impenitente. Semelhante situao era, entretanto, suportvel.Acontece, porm, que minha esposa fugiu de mim, aps dezesseis anos de convivncia,deixando-me irremedivelmente desconsolado...

    Ai! meu benfeitor acentuou, lacrimoso , como atender a problema to aflitivo?Sou um fantasma errando, em vo, em busca de paz. O lar vazio meu tormento infernal decada minuto. Meu azar no parou a. Antipatizando-se comigo, meu chefe de trabalhoexpulsou-me sem caridade, faz duas semanas. Chamou-me, spero, despejou sobre ruim ummonto de palavras agressivas e cerrou-me as portas da casa que servi por mais de sete anosconsecutivos... Sou o mais infeliz dos homens... J intentei contra a vida. No entanto, pareceque ainda nisso me persegue a m sorte, porque todas as minhas tentativas falharam... Todasas oportunidades de melhoria so vedadas a mim... Que fiz, meu santo benfeitor, para merecertantas desgraas? Estarei, porventura, esquecendo de Deus?...

    Forte crise de soluos embargou-lhe a voz. O instrutor desencarnado afagou-lhe oscabelos prematuramente encanecidos e considerou:

    Tenha pacincia, filho! no h efeito sem causa.O pedinte cobrou novo nimo e implorou:

    Inspira-me, devotado protetor! orienta-me. No me abandones!... Que deseja que eu faa? indagou o mensageiro espiritual. Traa-me roteiro certo... meu destino um novelo embaraado... Aconselha-me,

    em nome de Jesus! Do Mestre que desceu das Alturas, a fim de nos servir e salvar? Sim gemeu o interpelado. Ento, meu filho, volte ao princpio e retifique a prpria senda. O Pai concedeu a

    voc uma sade harmoniosa. No entanto, porque asfixiou os rins com os drinques irritantes?Em que se baseou para consumir largas foras em noitadas de prazer sem significao? Ainda tempo de reconstruir. Esquea os venenos dirios que lhe desgastam as energias,lentamente, atravs de um copinho aparentemente sem importncia, e imprima ritmo regular sua experincia de homem na Terra.

    Procure, outrossim, as boas graas da famlia, assinando um armistcio de boa

    vontade. Voc alude ao abandono dos parentes, mas no se refere ao escrnio que votou atodos eles, quando a sua posio melhorou no banco em que trabalhava. Esqueceu fcilmente

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    os deveres de solidariedade fraternal e chega ao ponto de acusar os outros! Regresse, qualfilho prdigo, e revele sincera humildade diante de todos. Pea desculpas para as suas faltas;seja carinhoso e bom... Quanto esposa, que dizer? voc olvidou a tirania domstica de queseu corao voluntarioso abusou vastamente? A mulher, sentinela de seu lar e me de seusfilhos, no um animal que deva ser tratado a dinheiro e palavres. Decorridos mais de trs

    lustros de sacrifcio incessante, a pobrezinha no resistiu e afastou-se... Procure-a, nutrindoverdadeiro arrependimento pelos seus erros voluntrios e involuntrios! Penitencie-se. Peaperdo pelo passado de sombras e guarde suas lgrimas a fim de selar junto dela seus novoscompromissos de redeno. Quanto ao seu campo de servio, se voc deseja orientar-se emJesus, torne ao seu chefe e rogue-lhe desculpe o seu procedimento impensado. Busque agir na

    pauta dos homens corretos, sem trair as obrigaes de gentileza e reconhecimento para comquem se fez credor de seu respeito, carinho e gratido.

    O consulente sofredor enxugou o pranto, talvez ferido no amor prprio, e, depois dapalavra do orientador encerrando a reunio em sentida prece, dispersou-se o grupo, notandoeu, porm, que o cavalheiro, declaradamente to infeliz, no pronunciou nem mais umafrase...

    Jamais me esqueci da orientao nobre e bela, doce e franca, que lhe foi ministradapelo sbio da espiritualidade superior, mas no sei se foi aproveitada. Voltando, entretanto, aotemplo de orao em que vi cair semelhante bno, debalde procurei o irmo desditoso, queali no voltou, nunca mais...

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    A PERDA IRREPARVEL

    Irmo X

    A frente dos candidatos nova experincia na carne, o instrutor espiritual esclarecia,

    paternalmente : No percam a tranqilidade em momento algum, na reconstruo do destino. Em

    plena atividade terrestre, imprescindvel valorizar a corrigenda. O erro no pode constituirmotivo para o desnimo absoluto. O desengano vale por advertncia da vida e, com a certezado Infinito Bem, que neutraliza todo mal, aps aproveitar-lhe a cooperao em forma desofrimento, o esprito pode alcanar culminncias sublimes. O Pai somente concede aretificao aos filhos que j se apropriaram do entendimento. Usem, pois, a compreensolegtima, em face de qualquer provao mais difcil. A queda verdadeiramente perigosa aquela era que nos comprazemos, entorpecidos e estacionrios. Reerguer-se, por recuperar aestrada perdida, ser sempre ano meritria da alma, que o Tesouro Celeste premiar com o

    descortino de oportunidades santificantes. A serenidade deve presidir aos mnimos impulsosde vocs na tarefa prxima. Seria as fontes da ponderao individual, o rio da paz jamaisfertilizar os continentes da obra combativa. indispensvel, por isso, recordar o carter

    precrio de toda posse na ordem material. O tempo, que fixador da glria dos valoreseternos, corrosivo de todas as organizaes passageiras, na Terra e noutros mundos. Todasas formas, com base na substncia varivel, perecero no que se refere mscara transitria,dentro dos jogos da expresso.

    Conservando-se atentos aos imperativos de marcha pacfica, no se esqueam,sobretudo, de que todo o equipamento de recursos humanos substituvel. Todos os quadrosque vocs integraro se destinam ao processo educativo da alma. Em breve, estaro soterradosnos sculos, como todos os espetculos de que participamos nas paisagens que se foram...

    A lei de substituio funciona diriamente para ns todos.Cada testemunho incompleto, cada lio imperfeita, sero repetidos tantas vezes

    quantas forem necessrias.A prpria Natureza, na Crosta do Mundo, instru-los- diferentemente ao vaivm das

    situaes e das coisas.Primavera e inverno renovam-se para a comunidade dos seres terrestres, nos

    diversos reinos, h milhares de anos. As influncias lunares se rearticulam, de semana asemana, difundindo o magnetismo diferente da luz polarizada. Nos crculos planetrios,infncia, juventude e velhice dos corpos funcionam igualmente para todos.

    Qual ocorre na zona das formas temporrias, prepondera a substituio na ordem

    espiritual.Quem no dispe de parentes consangneos, com boa vontade encontrar famlia

    maior nos laos humanos, Se vocs no puderem suportar o clima de uma bigorna,encontraro acesso carpintaria e, em qualquer casa de ao edificante, desde que se inspiremno ideal de servir, sero aquinhoados com as possibilidades de realizar intensivamente, nasementeira e na seara do bem.

    Nas artes e nas cincias, recebero todos vocs a beno de aprender e reaprender,de experimentar e recapitular incessantemente.

    Nas circunstncias, aparentemente mais duras, ningum entregue o esprito aodesespero. Tal qual a alvorada que faz a luz resplandecer alm das trevas, a oportunidade de

    reajustamento, reabilitao e ascenso brilhar sempre sobre os abismos nos quais nosprecipitemos, desavisados e incautos... Guardem a paz inaltervel, porquanto, ao longo do

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    problema esclarecido e do caminho trilhado pelos seres mortais, tudo ser reformado esubstitudo...

    O orientador mostrou diferente brilho nos olhos e acrescentou: H, porm, no decurso de nossas atividades uma perda irreparvel. Com exceo

    dos valores prevalecentes na jornada evolutiva, esse prejuzo a medida que define a

    distncia entre o bom e o mau, entre o rico e o pobre, entre o ignorante e o sbio, entre odemnio e o santo. Semelhante lacuna impreenchvel. Deus disps a Lei de tal modo quenem mesmo a justia dEle consegue remedi-la, em benefcio dos homens ou dos anjos. Antea expectao dos ouvintes, o instrutor esclareceu:

    Trata-se da perda do dia de servio til, que representa nus definitivo, pordistanciar-nos de todos os companheiros que se eximem a essa falha.

    E enquanto os aprendizes se entreolhavam, admirados, o mentor paternal concluiu: Ajudando-nos na preservao da paz, Jesus: recomendou-nos: contemplai os

    lrios do campo!Entretanto, para que no zombemos do profundo valor das horas, foi Ele mesmo

    quem nos advertiu:caminhai enquanto tendes luz!

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    A PROTEO DE SANTO ANTNIO

    Irmo X

    Conta-nos venerando amigo que Antnio de Pdua, no luminoso domiclio do plano

    superior, onde trabalha na extenso da glria Divina, continuamente recebia preces depequena famlia dos montes italianos.

    Todos os dias era instado a prestar socorros e enlevava-se com as incessantesmanifestaes de tamanha f.

    O admirvel taumaturgo, por vezes, nas poucas horas de lazer, recreava-se anotando oregistro dos petitrios, procedentes daquele reduzido ncleo familiar.

    Sorria, encantado, relacionando-lhes as solicitaes. O grupinho devoto suplicava-lhe aconcesso das melhores coisas.

    Lembrava-lhe o nome, a propsito de tudo. Nas enxaquecas dos donos da casa. Nossonhos das filhas casadoiras. Nos desatinos do rapaz. Nos sapatos das crianas.

    O santo achava curiosa a repetio das rogativas.Variavam de trimestre a trimestre, repetindo-se, porm, cronologicamente.Assim que determinava aos colaboradores o fornecimento de recursos sempre iguais,

    de conformidade com as estaes. Dinheiro e utilidades, socorro e medicao, alegria ereconforto.

    Reproduziam-se os votos, na atividade rotineira, quando Santo Antnio reparando, maisdetidamente, as notas de que dispunha, verificou, surpreso, que aquele punhado de crentesconfiantes no apresentara, ainda, nem um s pedido de trabalho. O protetor generosomeditou, apreensivo, e como a devoo continuasse, fresca e ingnua por parte dos

    beneficirios, deliberou visit-los pessoalmente.Expediu aviso prvio e desceu, no dia marcado, para verificaes diretas. Desejava

    inteirar-se de quanto ocorria.De posse da notificao, celestino, inteligente cooperador espiritual dele, veio esper-lo,no longe da residncia humilde dos camponeses.

    O iluminado solicitou notcias e o companheiro de boas obras respondeu, respeitoso.Em breve, sabereis tudo.Com efeito, da a momentos penetravam em pequeno recinto rural, uma casa antiga, um

    jardim abandonado, um quintal escarpado entregue ao mato intil e um telheiro a ruir,fingindo estbulo, onde uma vaca remoia a ltima refeio.

    Entraram.Na sala, em trajes domingueiros de regresso da missa, um casal de velhos ouvia a

    conversao dos filhos, um jovem robusto, duas moas casadoiras e duas crianas. Santo

    Antnio abenoou o quadro domstico, observando que a sua efgie era guardadacarinhosamente por todos.As impresses verbais eram intercaladas de louvores ao seu nome.De instante a instante, assinalava-se o estribilho:Graas a Santo Antnio!Voltando-se para o cooperador atento, o prestigioso amigo celeste pediu esclarecimentos

    quanto aos servios do grupo.Foi informado, ento, de que nenhum dos membros daquela comunidade possua

    trabalho certo, convenientemente remunerado. Celestino, alis, terminou sem circunlquios:O pessoal gira em torno de uma vaca, que torno participante de vossas bnos.Como? Indagou o santo, admirado.

    O pai, que se diz doente, angaria capim, de modo a aliment-la.As Jovens ordenham-na duas vezes por dia. O rapaz conduz o leite vila para vender.

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    Bolinha, a vaca protetora, sai do quintal somente cinco dias por ano, quando passeiajunto a rebanho prximo, obrigada a fornecer seis a oito litros de leite, em mdia diria, eum bezerro anualmente.

    A dona da casa envolve-a em atmosfera de doce agasalho e os meninos escovam-nacuidadosamente.

    Apesar disso, porm, vive abatida, entre as cercas do escarpado curral.Sabendo ns quanto amor consagrais a esta granja, repartimos com a humilde vaquinhaas ddivas incessantes que vossa generosidade nos envia.

    Desse modo, garantimos-lhe a sade e o bem-estar, porquanto, se a produo dela cair,que suceder aos vossos despreocupados devotos?

    Bolinha tudo o que lhes garante o po e a vestimenta de hoje e de amanh.Antnio dirigiu-se ao estbulo, pensativo...Acariciou o animal herico e voltou ao interior.Na palestra intima, animada, ouvia-se, de momento a momento:Louvado seja Santo Antnio!Viva Santo Antnio!

    Santo Antnio rogar por ns!De permeio, sobravam queixas do mundo.O advogado celestial, algo triste, convidou o companheiro a retirar-se e acrescentou:Auxiliemos positivamente esta famlia to infeliz.Antnio acercou-se da vaca, levantou-a, e sem que bolinha percebesse guiou-a para alto,

    de onde se contemplava enorme precipcio. Do cimo, o santo ajudou-a a projetar-se rampaabaixo.

    Em breves segundos a vaca no mais pertencia ao rol dos animais vivos na Terra.Ante o colaborador assombrado, explicou-se o taumaturgo:Muitas vezes, para bem amparar, imprescindvel retirar as escoras.E voltou para o Cu.

    Do dia seguinte em diante, as oraes estavam modificadas.Os camponeses fizeram solicitao geral de servio e, com o trabalho digno e

    construtivo de cada um, a prosperidade legtima lhes renovou o lar, carreando-lhes paz,confiana e jbilos sem-fim...

    Quantos Benfeitores Espirituais so diariamente compelidos a imitar, no mundo doshomens encarnados, a proteo de Santo Antnio?

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    A REVOLUO CRIST

    Irmo X

    Ouvindo variadas referncias ao novo Reino, Tom impressionara-se, acreditando o

    povo judeu nas vsperas de formidvel renovao poltica. Indubitvelmente, Jesus seria oorientador supremo do movimento a esboar-se pacfico para terminar, com certeza, emchoques sanguinolentos. No se reportava o Mestre, constantemente, vontade do Todo-Poderoso? Era inegvel o advento da era nova. Legies de anjos desceriam provvelmentedos cus e pelejariam pela independncia do povo escolhido.

    Justificando-lhe a expectativa, toda gente se agrupava, em redor do Messias,registrando-lhe as promessas.

    Estariam no limiar da Terra diferente, sem dominadores e sem escravos.Submetendo, certa noite, ao Cristo as impresses de que se via possudo, dEle

    ouviu a confirmao esperada:

    Sem dvida explicou o Nazareno , o Evangelho portador de gigantescatransformao do mundo. Destina-se redeno das massas annimas e sofredoras.Reformar o caminho dos povos.

    Um movimento revolucionrio! acentuou Tom, procurando imprimir mais largosentido poltico a definio.

    Sim acrescentou o Profeta Divino , no deixa de ser...Entusiasmado, o discpulo recordou a belicosidade da raa, desde os padecimentos

    no deserto, a capacidade de resistncia que assinalava a marcha dos israelitas, a comear deMoiss, e indagou sem rebuos:

    Senhor, confiar-me-s, porventura, o plano central do empreendimento?

    Dirigiu-lhe Jesus significativo olhar e observou: Amanh, muito cedo, iremos ambos ao monte, marginando as guas. Teremos

    talvez mais tempo para explicaes necessrias.Intrigado, o apostolo aguardou o dia seguinte e, buscando ansioso a companhia do

    Senhor, muito antes do sol nascente, em casa de Simo Pedro, com surpresa encontrou-o espera dele, a fim de jornadearem sem detenha.

    No deram muitos passos e encontraram pobre pescador embriagado a estirar-se navia pblica. O Messias parou e acercou-se do msero, socorrendo-o.

    Que isto? clamou Tom, enfadado este velho diabo e Jonas, borrachorenitente. Para que ajud-lo? Amanh, estar deitado aqui s mesmas horas e nas mesmas

    condies.O Companheiro Celeste, todavia, no lhe aceitou o conselho e redargiu: No te sinto acertado nas alegaes. Ignoras o princpio dd experincia de Jonas.

    No sabes por que fraqueza se rendeu ele ao vicio. enfermo do esprito, em estado grave:seus sofrimentos se agravam medida que mergulha no lamaal. Realmente vive reincidindona falta. Entretanto, no consideras razovel que o servio de escorro exige tambm o ato decomear?

    O aprendiz no respondeu, limitando-se a cooperar na conduo do bbado paralugar seguro, onde caridoso amigo se disps a fornecer-lhe lume e po.

    Retomavam a caminhada, quando pobre mulher, a toda pressa, veio implorar ao

    Messias lhe visitasse a filhinha em febre alta.

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    Acompanhado pelo discpulo, o Salvador orou, ao lado da pequenina confiante,abenoou-a e restituiu-lhe a tranqilidade ao corpo.

    Iam saindo de Cafarnaum, mas foram abordados por trs senhoras de aspectohumilde que desejavam instrues da Boa-Nova para os filhinhos. O Cristo no se fez rogado.Prestou esclarecimentos simples e concisos.

    Ainda no havia concludo aquele curso rpido de Evangelho e Jaf, o cortador demadeira, veio resfolegante suplicar-lhe a presena no lar, porque um filho estava morto e amulher enlouquecera.

    O Emissrio de Deus seguiu-o sem pestanejar, frente de Tom silencioso.Reconfortou a mezinha desvairada, devolvendo-a ao equilbrio e ensinou casa perturbadaque a morte, no fundo, era a vitria da vida.

    O servio da manh absorvera-lhes o tempo e, assim que se puseram a caminho, emdefinitivo, eis que uma anci semi-paraltica pede o amparo do Amigo Celestial. Trazia a

    perna horrivelmente ulcerada e dispunha apenas de uma das mos.O messias acolhe-a, bondoso. Solicita o concurso do apstolo e condu-la a stio

    vizinho, onde lhe lava as feridas e deixa-a convenientemente asilada.Prosseguindo viagem para o monte, mestre e discpulo foram constrangidos a

    atender mais de cinqenta casos difceis, lenindo o sofrimento, semeando o bom nimo,suprimindo a ignorncia e espalhando lies de esperana e iluminao. Sempre rodeados decegos e loucos, leprosos e aleijados, doentes e aflitos, mal tiveram tempo de fazer ligeirorepasto de po e legumes.

    Quando atingiram o objetivo, anoitecera de todo. Estrelas brilhavam distantes.Achavam-se exaustos.

    Tom, que mostrava os ps sangrentos, enxugou o suor copioso e rendeu graas aDeus pela possibilidade de algum descanso. A fadiga, porm, no lhe subtrara, a curiosidade.Erguendo para o Cristo olhar indagador, inquiriu :

    Senhor, dar-me-s agora a chave da conspirao libertadora?O divino interpelado esclareceu, sem vacilaes :

    Tom, os homens deviam entediar-se de revoltas e guerras que comeam de fora,espalhando runa e dio, crueldade e desespero. Nossa iniciativa redentora verifica-se dedentro para fora. J nos achamos em plena revoluo evanglica e o dia de hoje, com osabenoados deveres que nos trouxe, representa segura resposta indagao que formulaste.Enquanto houver preponderncia do mal, a traduzir-se em aflies e trevas, no caminho doshomens, combateremos em favor do triunfo supremo do bem.

    E, ante o discpulo desapontado, concluiu : A ordem para ns no de matar para renovar, mas, sim, de servir para melhorar e

    elevar sempre.Tom passou a refletir maduramente e nada mais perguntou.

    Livro Luz Acima. Psicografia de Francisco Cndido Xavier.

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    ALEGAO JUSTA

    Irmo X

    O grande orientador espiritual, de palestra com alguns amigos, enunciava

    expressivas consideraes. Como vocs todos sabem alegou, justiceiro , os companheiros encarnados,

    desde tempos imemoriais, vm nossa esfera, procura de modelos para as atividades naCrosta do Mundo. A massa preguiosa, exclusivamente interessada no cmbio das emoesfsicas, jamais se moveu nesse sentido, porque recebe sem discutir as medidas que lhe soimpostas. Todavia, os homens ativos e inteligentes, sempre que podem, largam envoltrios

    pesados e reclamam-nos a colaborao. Estudam-nos os servios, quanto lhes possvel eexaminam-nos os institutos evolutivos. Alis, possumos instrues especiais para facilitar-lhes semelhante acesso, tanto quanto somos autorizados a subir, mais alm, buscando ainspirao de nossos Maiores.

    Revelando infinita benevolncia no olhar, fez longa pausa e prosseguiu : Ministros da f, administradores de bens pblicos, cientistas e artistas, condutoresdo pensamento e da cultura da Humanidade encarnada, sequiosos de renovao em benefciodos contemporneos, toda vez que se mostram altura dos ttulos de que so detentores,apressam-se em granjear-nos o concurso espiritual. Nem sempre sabem o que desejam esomos compelidos a agir com eles moda dos professores de primeiras letras nos jardins dainfncia. Suportamos-lhes os impulsos intempestivos, sem dar-lhes tabefes, e determinamoshoras adequadas para as lies. Logo que se afastam do corpo, em desligamento provisrio

    pela influncia do sono, congregamos os mais aptos ao progresso intelectual, no servio depreparao desejvel. Usualmente descobrem inmeras dificuldades para compreender-nos,apontando contnuos obstculos a fim de manobrarem convenientemente com a memria.

    Muitos recebem colaborao nossa durante vinte, trinta, cinqenta anos, e acabamsurpreendidos pela morte, sem cumprirem um s item das compridas promessas que noshipotecam. Alguns, contudo, bem intencionados e persistentes, atravessam bices,ultrapassam fronteiras, quebram cadeias e nos fixam os ensinamentos, convertendo-se emvanguardeiros do tempo em que se fazem visveis na Crosta Planetria. Tornam-se, via deregra, combatidos pelos irmos ociosos, porque os indolentes hostilizam os servidores leais,em todas as pocas. Muitos desses amigos perseverantes acabam martirizados, conformeaconteceu ao prprio Cristo, Nosso Senhor; todavia, chega a ocasio em que as idias deles sefazem louvadas e aproveitadas, Para companheiros dessa qualidade, nossas portas vivemabertas. Estudam conosco, desde o problema do alimento ao da mais alta distribuio de.justia. Carreiam daqui para a Terra todas as migalhas de luz que podem arquivar no campomental, medianamente evolvido, como ocorre s abelhas operosas que transportam para acolmia a quantidade de essncias, segundo a capacidade que lhes prpria, assim que,observando-nos os cdigos de direito, por l fizeram leis de acordo com as suas inclinaes

    pessoais, instituies casas que vo progredindo gradativamente na direo da JustiaUniversal. Esses bandeirantes do idealismo superior, em moldes idnticos, erguermos templosreligiosos, aprimoraram a cincia, iluminaram a filosofia, instalaram a indstria eaperfeioaram o comrcio. De quando em quando, as massas recordam a animalidade

    primitiva, regridem nos impulsos, abrem-se aos gnios satnicos da destruio e atiram-seumas contra as outras, atravs de embates sanguinolentos; mas, dominadas pelos homenssuperiores que nos visitam, acabam sempre por ensarilhar as armas, reconstruindo as cidades,

    recompondo a economia e reajustando raciocnios, atradas novamente para os nossos crculosde ao. Entrementes, os vanguardeiros do progresso se renem por intermdio de acordos e

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    conferncias, para novos juramentos a Deus, exaltando os mais elevados smbolos dadignidade humana e buscando-nos, incessantemente, os servios. Raros perguntam de ondelhes vm os valores da intuio e a maioria costuma classificar de fantasia a nossacolaborao.

    O elucidador fixou significativa expresso fisionmica e aduziu:

    Colocavam-nos, antigamente, na galeria dos deuses, e ramos conhecidos porMusas. A verdade que, desde os primrdios da vida planetria, trabalham na cpia geral dosnossos modelos. Jamais conseguem imitar-nos convenientemente. Admiram-nos as torresluminosas e constroem edifcios escuros a que chamam arranha-cus. Observam-nos oscaminhos floridos e brilhantes e traam duro leito de pedras no cho, a fim de cuidarem dafraternidade. Contemplam-nos as utilidades graciosas e leves e improvisam mquinas

    pesadas, a exsudarem combustvel malcheiroso e a lhes ameaarem a vida corporal a cadamomento. Semelhante situao, porm, justificvel. O escultor poder guardar maravilhosaideao, mas, para exterioriz-la, depender do material acessvel s suas mos econvenhamos que a condensao de fluidos na Crosta da Terra se caracteriza por aflitivadureza.

    O orientador parou, movimentou a cabea expressivamente e concluiu: At aqui, tudo lgico, tudo razovel...Acontece, porm, que nos ltimos tempos alguns de nossos companheiros deram

    noticias de nossas organizaes aos homens encarnados. E sabem o que se verificou? Hgrande barulho, em torno de nossos correios. Os prprios copistas de nosso esforo respiramimensa revolta. Dizem que no temos personalidade, que os mortos so plagiadores dosvivos, que nossas cidades, leis, instituies e equipamentos, que toda a nossa multimilenriaestrutura de ordem e trabalho no passa de reflexo da cultura deles. Se pudessem, moveriamao judicial contra ns, junto aos gabinetes da engenharia divina... No julgam tudo issoespantoso e incompreensvel?

    Ningum respondeu; mas, porque o nobre instrutor sorrisse francamente, a nossagargalhada geral se espalhou, envolvente e cristalina.

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    ANTE O GRANDE RENOVADOR

    Irmo X

    Senhor, lembrando a Tua crucificao entre malfeitores, sacrificado em Teu

    ministrio de amor universal, ouvimos apelos de vrios setores religiosos do mundo presente,invocando-Te o nome para incentivar os movimentos tumulturios da renovao poltica queconvulsiona o Planeta...

    Asseguram-Te a posio de maior revolucionrio de todos os tempos. Afirmam queabalaste os fundamentos sociais da ordem humana, que alteraste o curso da civilizao, quetransformaste os povos da Terra,

    Quem Te negar, Senhor, a condio de Embaixador Celeste? quem desconhecerTeu apostolado de redeno?

    Entretanto, divulgando a mensagem da Boa-Nova, jamais insultaste o governoestabelecido...

    Amigo de todos os sofredores,e necessitados, nunca congregaste os infelizes emsinistras aventuras de dio ou indisciplina. Aproximavas-Te dos desamparados, curando-lhesas enfermidades, ensinando-lhes o caminho do bem, estendendo-lhes mos benfeitoras ediligentes. Dirigindo-Te massa annima e desditosa, em nome do Eterno Pai, no

    preconizaste movimentos armados de desrespeito s autoridades legalmente constitudas. Aoinvs do incitamento revolta, recomendavas que a Lei de Moiss fosse respeitada, que ossacerdotes dignos fossem honrados, asseverando que o Reino de Deus no surgiria comaparncias exteriores e, sim, com a elevao espiritual do homem de qualquer raa ounacionalidade, sinceramente interessado em aproveitar os dons divinos.

    Expondo princpios superiores ao corao popular, no disputaste lugar saliente, junto ao romano dominador, a pretexto de patrocinar a liberdade e, sim, aconselhasteacatamento a Csar com a obrigao de resgatar-se o tributo que se lhe devia.

    Erguendo novas colunas no templo da f viva, conclamando mos limpas e coraespuros ao servio do Cu, no desprezaste a legio dos pecadores e criminosos, que seabeiravam de Ti, sedentos de transformao para a tarefa bendita... No falaste a eles de umatribuna dourada, acentuando fronteiras de separao. Comungaste com todos no caminho davida, a pleno cho, abraando leprosos e delinqentes, avarentos e rixosos, bonecas emulheres desventurados. No impunhas, no entanto, qualquer compromisso que envolvesse aadministraro dos interesses pblicos, nem traavas, com astutas palavras, qualquerinsinuaro ao desespero. Pedias to somente renovassem o corao para que a Luz do Reinolhes penetrasse as profundidades do ser.

    Sustentando o sublime ideal de obedincia a Deus, nunca ordenaste morte oupunio aos companheiros menos corajosos. Suportaste as fragilidades dos discpulos maisqueridos, confiando no futuro, certo de que se podiam faltar a Ti, nos instantes mais duros,no falhariam para com o Pai, nas grandes horas, desde que no te desanimasses nasemeadura da fraternidade e proteo, pelo esforo da palavra e do exemplo no crculoeducativo.

    Se confiavas num mundo vasto, onde reinaria a solidariedade nas relaes humanas, jamais tentaste apressar diretrizes absolutas pelo imprio da fora. Comeaste sempre apropaganda dos propsitos divinos em Ti mesmo, revelando o prprio corao, cultivando otrabalho e a esperana, com suprema fidelidade ao Poder Mais Alto que marcou estaoadequada semente e germinao, flor e ao fruto. Em momento algum mobilizaste aviolncia, alegando necessidades do servio superior e, em todo o Teu apostolado, jamaisdesdenhaste o menor ensejo de amparar o prximo, edificando-o.

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    Para isso, abraaste os velhos e os doentes, os deserdados e os tristes, os aleijados eas criancinhas...

    Nunca disseste, Senhor, que os discpulos deveriam dominar em Roma para seremteis na Judia, nem prometeste primeiros lugares, nas Estradas da Glria, aos companheirosdiletos, ainda mesmo em se tratando de Joo e Tiago que Te foram carinhosos amigos. Mas

    garantiste a vitria sublime a todos os homens que se fizessem devotados servos dossemelhantes por amor ao Pai Celestial.

    Invarivelmente, solicitaste socorro e proteo, desculpas e auxlios para os que Teperseguiam, gratuitamente, irnicos e ingratos...

    Tua ordem era de amor e paz para que todo esprito se converta ao Infinito Bem...Hoje, contudo, improvisam-se guerras sanguinolentas e sobram discrdias em Teu

    nome. H companheiros que disputam situaes de relevo, a fim de servirem Tua causa,como se o sacrifcio pessoal no constitusse a Tua senha na obra redentora. Outros Terecordam os ensinos para justificar a inconformao e a desordem.

    Sim, foste, em verdade, o Grande Renovador, Transformaste os sculos e as naes,

    trabalhando e perdoando, ajudando e servindo, esperando e amando sempre!...Um dia, na praa pblica, quando ficaste a ss com humilde e infortunada irm, que

    se vira fustigada pelo populacho ignorante, perguntaste -lhe, emocionadamente: Mulher, onde esto os perseguidores que te acusam?Hoje, Mestre, lamentando embora o tempo que tambm perdi na Terra, iludido e

    envenenado quanto os outros homens, lembrando-Te ainda na cruz afrontosa, sozinho em Tuaexemplificao de amar e renncia, abnegao e martrio, ouso interrogar-Te, com as lgrimasde meu profundo arrependimento :

    Senhor, onde esto os renovadores que Te acompanham?

  • 8/7/2019 Xavier Candido F Luz Acima

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    APONTAMENTOS DO ANCIO

    Irmo X

    Em face dos aborrecimentos que lhe fustigavam o esprito, ante a opinio pblica a

    desvairar-se em torno de sua memria, humilde jornalista morto ouviu sereno ancio, quelhe falou com sabedoria:

    Quando Jesus transformou a gua em vinho, nas bodas de Can, os maledicentescochicharam, em derredor:

    Que isto? um messias, incentivando a embriaguez?Mais tarde, em se reunindo aos pescadores da Galilia, a turba anotou, inconsciente:

    um vagabundo em busca de pessoas to desclassificadas quanto ele mesmo.Porque no procura os principais?

    Logo s primeiras pregaes, a chusma dos ignorantes, ao invs de reconhecer osbenefcios da Palavra Divina, comentou, irreverente:

    insubmisso. Vive sem horrios, sem disciplinas de servio. vista da multiplicao dos pes e dos peixes, a massa no se comoveu quanto seria

    de esperar, Muita gente perguntou, franzindo sobrancelhas: Como? um orientador sustentando ociosos?Limpando as feridas de alguns lzaros que o buscavam, afirmou-se, em surdina:

    Vale-se da insensatez dos tolos para impressionar!E quando o viram curar um paraltico, no sbado, consideraram os inimigos

    gratuitos:Agride publicamente a Lei.

    Por aceitar a considerao afetuosa de Maria de Magdala, murmuraram osmaledicentes: desordeiro comum. No consegue nem mesmo afivelar a mscara ao prprio

    rosto, dando-se companhia de vil criatura, portadora de sete demnios.Ao valer-se da contribuio de nobres senhoras, qual Joana de Cusa, no

    desdobramento do apostolado, soavam exclamaes como estas: um explorador de mulheres piedosas!Vive do dinheiro dos ricos, embora passe por virtuoso!

    Porque se demorasse alguns minutos, junto de publicanos pecadores, a fim deensinar-lhes a cincia de renovao ntima, acusavam-no, sem compaixo:

    um gozador da vida como os outros!Se buscava paisagens silenciosas para o reconforto na orao, gritava-se comdesrespeito:

    Este um salvador solitrio, orgulhoso demais para ombrear com o povo.Como se aproximasse da samaritana, com o propsito de socorrer-lhe a alma,

    indagou-se com malcia: Que faz ele em companhia de mulher que j pertenceu a vrios maridos?Atendendo s splicas de um centurio cheio de f, a leviandade intrigou: um adulador de romanos desbriados.Visitando Zaqueu, escutou apontamentos irnicos:

    um pregador do Cu que se garante com os poderosos senhores da Terra...

  • 8/7/2019 Xavier Candido F Luz Acima

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    Abraando o cego de Jeric, registrou a inquirio que se fazia ao redor de seuspassos:

    Que motivos o prendem a tanta gente imunda?Penetrando Jerusalm no dia, festivo, e impossibilitado de impedir o regozijo de

    quantos confiavam em seu ministrio, afrontou sentenas sarcsticas:

    Fora com o revolucionrio! Morte ao falso profeta!...Censurando o baixo comercialismo do grande Templo de Salomo, dele disseram

    abertamente: criminoso perseguidor de Moiss.Levantando Lzaro no sepulcro, gritavam no, longe:

    Satans em pessoa!...Reunindo os companheiros na ltima ceia, para as despedidas, e lavando-lhes os ps,

    observaram nas vizinhanas do cenculo: pobre demente.

    Ao se deixar prender sem resistncia, objetou a multido : covarde! comprometeu a muitos e foge sem reao!Recebendo o madeiro, berraram-lhe aos ouvidos:

    Desertor! pagars teus crimes!No martrio supremo, era apostrofado sem comiserao: Feiticeiro! de onde viro teus defensores?Torturado, em plena agonia, ouviu de bocas inmeras:

    Salva a ti mesmo e desce da cruz!E antes que o cadver viesse para os braos maternos, trmulos de angstia, muita

    gente regressou do Glgota, murmurando:

    Teve o fim que merecia, entre ladres.O velhinho fez intervalo expressivo e ajuntou:

    Como sabe, isto aconteceu com Jesus-Cristo, o Divino Governador Espiritual doPlaneta.

    Sorriu, afvel, e rematou: Endividados como somos, que devemos aguardar, por nossa vez, das multides da

    Terra?Foi, ento, que vi o pobre escritor desencarnado exibir uma careta de alegria, que se

    degenerou em cristalina e saborosa gargalhada...

  • 8/7/2019 Xavier Candido F Luz Acima

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    AT MOISES

    Irmo X

    Quando Euclides Brando desencarnou, aguardava imediato ingresso ao paraso.

    Vivera de Bblia na mo, consultando textos diversos.Declarava sempre que os dez mandamentos lhe controlavam a vida. Em pensamento,

    embora quisesse o mundo inteiro para si, reverenciava a Deus, no lhe prenunciava debalde osanto nome, observava o descanso dominical, honrava os pais, no matava, no adulterava,no furtava, no cobiava, de publico, os bens do prximo, no obstante enredar ascircunstncias em seu favor, quanto lhe era possvel, e no se entregava aos falsostestemunhos.

    Por tudo isso, sentia-se Brando com direitos lquidos no pas da Morte.Atingindo, porm, o limite, entre este mundo e o outro, em plena alfndega da

    espiritualidade, o vosso companheiro surpreendeu-se. Era atendido sem consideraes

    especiais. Naquele vasto recinto de trabalho seletivo, via-se tratado como consulente vulgarnuma agencia de informaes.

    Chamado a esclarecimentos, travou-se entre ele e o funcionrio da justia divinainteressante dialogo, depois das saudaes espontneas:

    No h ordem, determinando minha transferncia definitiva para o cu? perguntou, confiadamente.

    O interpelado, com jovial expresso, observou aps inteirar-se, com pormenores,quanto sua procedncia:

    No foi expedida qualquer resoluo superior nesse sentido. O amigo era cristo? Sem dvida replicou Euclides, mordido no amor prprio aceitei Jesus

    integralmente. Aceitou-o e seguiu-o? Perfeitamente. Lia-lhe o testamento dia e noite.Lia-o e praticava-o?

    Com a mxima exatido. Retirando, porm, os benefcios do Evangelho, aproveitava-se dele para renovar-se

    em Cristo, revelando-se melhor no aprendizado da sabedoria e da virtude?Euclides respondeu afirmativamente. E porque se mostrasse um tanto melindrado

    com as interrogaes, o fiscal da esfera superior recomendou-lhe enfileirar alguns dadosautobiogrficos, o mais sucintamente possvel. Pretendia decifrar o enigma.

    Encorajado, Brando foi claro e breve. Eu disse ele, demonstrando o gosto de exprimir-se invarivelmente na primeira

    pessoa fui um homem justo na Terra. Sempre guardei cuidado em preservar estacaracterstica de minha personalidade. Se recebia dos outros bondade e respeito, pagava commoedas iguais. Aos que me agradavam, aquinhoei com as vantagens suscetveis de seremarticuladas com a minha, influncia. Tanto assim que deixei meus haveres a quantos mesouberam conquistar simpatia. A todos, porem, que me fizeram mal, retribu conforme

    propunham. Nunca tive inclinao para ajudar malfeitores, porque para eles no h suficientesgrades no mundo. Quando molestado pelos maus, sabia conjugar o verbo corrigir e, se meincomodavam duramente, punia-os com aspereza. Corda e ferro no podem ser esquecidos na

    melhoria dos homens. Em sendo perseguido, jamais permiti que os amigos me tomassemdianteira na desforra. No me calava ante qualquer desafio; por isso, se era convidado a

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    contender, competia-me ganhar as demandas. Pisado pelos outros, dava o troco, deconformidade com as circunstncias em que recebia as ofensas. Nunca perdi tempo,ensinando a delinqentes e vagabundos o que no desejavam aprender, e, se s pessoas nobrestratei com generosidade, ofereci aos desonrados a repulsa que mereciam. Quando recebido aflores, improvisava um jardim aos que me favorecessem; mas, se era surpreendido com as

    pedradas, respondia com uma chuva de pedras.Fez longa pausa e acentuou:

    No suponha que exerci a justia com facilidade. Ao homem de minha estirpe, queprocura ser equilibrado e cristo, muito ingrata a experincia terrestre.

    Estampou engraada expresso fisionmica e ajuntou: Segundo v, minhas reclamaes so oportunas. Se o paraso no estiver aberto

    para mim, que andei de Bblia nas mos...O funcionrio celeste, bem humorado, interveio para esclarecer:

    O plano superior no lhe cerrar a passagem, conquanto, Brando, a sua justiano haja conhecido a misericrdia...

    Oh! mas nunca assumi compromissos sem consultar os sagrados textos!... Sim disse o sbio interlocutor , voc chegou at Moiss. Voltar naturalmente

    ao corpo de carne, a fim de prosseguir o aprendizado com Jesus - Cristo.E, sorridente, acrescentou:

    Seu curso est com um atraso de mil e novecentos anos...Foi ao ouvir este esclarecimento que Euclides baixou a cabea e calou-se, como

    quem se dispunha a refletir...

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    BILHETE A JESUS

    Irmo XSenhor Jesus, enquanto a alegria do Natal acende luzes novas nos lares festivos,

    torno velha Palestina, revendo, com os olhos da imaginao, a paisagem de tua vinda...Roma estendia fronteira no Nilo, no Eufrates, no Reno, no Tamisa, no Danbio, no

    Mar Morto, no Lago de Genezar, nas areias do Saara. Csar sossegava e protegia oshabitantes das zonas mais remotas, aliciando a simpatia dos prncipes regionais, Todos osdeuses indgenas cediam a Jpiter, o dono do Olimpo, de que as guias dominadoras sefaziam emissrias, tremulando no topo das galeras, cheias de senhores e de escravos.

    Lembras-te, Senhor, de que se fazia uma grande estatstica, por ordem de Augusto, oDivino?

    Otvio, cercado de assessores inteligentes, intensificava a centralizao no mundoromano, reorganizando a administrao na esfera dos servios pblicos. As circunscries

    censitrias na Judia enchiam-se de funcionrios exigentes. Cadastravam-se famlias, propriedades, indstrias. E Jos e Maria tambm se locomoveram, com os demais, paraatender as determinaes. A sensibilidade israelita poderia manter-se a distancia do culto deCsar, resistindo ao incenso com que se mareava a passagem dos triunfadores, em prpurasanguinolenta, mas a experincia judaica, estruturada em suor e lgrimas, no se esquivaria obedincia, perante os regulamentos polticos. As estalagens, no entanto, estavam repletas eno conseguiram lugar.

    Em razo disso, a estrela gloriosa, que te assinalou a chegada, no brilhou sobretemplos ou residncias de relevo. Apenas a manjedoura singela ofereceu-te conforto eguarida. Homens e mulheres faziam estatsticos minuciosos de haveres e interesses. Se ogoverno imperial decretava o recenseamento para reajustar observaes e tributos, osgovernados da provncia alinhavam medidas, imprimindo modificaes aos quadros da vidacomum, para se subtrarem, de alguma sorte, s exigncias. Permutavam-se cabras e camelos,terras e casas, reduzidos parques agrcolas e pequenas indstrias.

    Haveria espao mental para a meditao nas profecias? Para cumprir o deverreligioso, no bastava comparecer ao Templo de Jerusalm, nos dias solenes, oferecer ossacrifcios prescritos e prosternar-se ante a oferenda sagrada, ao ressoar das trombetas?Razovel, portanto, examinar os melhores recursos e burlar as requisies do romanodominador. A frao do povo eleito, que se aglomerava na cidade de David, lia os textossagrados, recitava salmos e tomava apressado conselho aos livros da sabedoria; entretanto,no considerava pecado matar o tempo em disputas e conversaes infindveis ou enganar o

    prximo com a elegncia possvel.Por essa razo, Senhor, quem gastaria alguns minutos para advogar proteo a Mariae Jos? Eles traziam a sinceridade dos que andam contigo, falavam de visitas de anjos, devozes do cu, e o mundo palestinense estava absorvido no apego fantico aos bens imediatos.Comentavam-se, apaixonadamente, as listas e informaes alusivas a rebanhos e fazendas. snarraes do sonho de Jos ou da experincia de Zacarias, prefeririam noticirio referente

    produo de farinha ou ao rendimento de pomares...Todavia, para entregar Humanidade a divina mensagem de que te fizeste o

    Depositrio Fiel, no te feriste ao choque da indiferena. Comeaste, assim mesmo namanjedoura humilde; o apostolado de bnos eternas. O Evangelho iniciou a primeira pginaviva da revelao nova na estrebaria singela. A Natureza foi o primeiro marco de tua batalhamultissecular da luz contra as trevas.

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    E enquanto prossegues, conquistando, palmo a palmo, o esprito do mundo, oshomens continuam fazendo estatsticas inumerveis...

    Aos censos de Otvio, seguiram-se os de Tibrio, aos de Tibrio sucederam-searrolamentos de outros dominadores. Depois do poderio romano fragmentado, outrasorganizaes autoritrias apareceram no menos tirnicas. Dilataram-se os servios

    censitrios, em toda parte.As naes modernas no fazem outra coisa alm da extenso do poder, melhorando

    a estatstica que lhes diz respeito.Inventariavam-se, na antiga Judia, ovelhas e jumentos, camelos e bois. Hoje,

    porm, Jesus, o arrolamento muito mais importante. Com o aperfeioamento da guerra, ocenso vital nas decises administrativas. Antes da carnificina, arregimentam-se estatsticasde canhes, tanques e navios, avies, metralhadoras e fuzis. Enumeram-se homens, porcabea, no servio preparatrio dos massacres e, em seguida, anotam-se feridos e mutilados.Isso, nas vanguardas de sangue, porque, na retaguarda, o inventrio dos grandes e pequenosnegcios talvez mais ativo.H, corridas de arma- mentos e bancos, valorizao e

    desvalorizao de bens mveis e imveis, cmbio claro e cmbio escuro, concorrncia leal edesleal, mercado honesto e clandestino, tudo de acordo com as estatsticas prvias queautorizam providncias administrativas e regem o mecanismo da troca.

    Ns sabemos que no condenas o ato de contar. Aconselhaste-nos nesse sentido,recomendando que ningum deve abalanar-se a qualquer construo, antes de contasrigorosas, a fim de que a obra no permanea inacabada. Entretanto, estamos entediados detanto recenseamento para a morte, porque, em verdade, nunca esteve a casa dos, homens torica e to pobre, to, faiscante de esplendores e to mergulhada nas trevas, to venturosa e toinfeliz, como agora.

    Desejvamos, Mestre, arrolar as edificaes da f, os servios da esperana, osvalores da caridade contudo, somos ainda muito poucos no setor de interesse pelos sonhos

    reveladores e pelas vozes do cu. Apesar disso, sabemos que os homens, fanatizados pelaestatstica das formas perecveis, examinam os grficos, de olhos preocupados, mas erguemcoraes ao alto, amargurados e tristes, movimentam-se entre tabelas e nmeros, mastorturados pela sede de infinito...

    Quem sabe, Senhor, poderia voltar, consolidando a tua glria, como fizeste h quasevinte sculos?! Entretanto, no nos atrevemos ao convite direto. As estalagens do mundoesto ainda repletas de gente negociando bens transitrios e melhorando o inventrio das

    posses exteriores. Os governos esto empenhados em oramentos e tributos. Os crentespousam olhos apressados em teu Evangelho de Redeno e repetem frmulas verbais, comoos judeus de outro tempo, que mastigavam a Lei sem diferi-la. Quase certo que noencontrarias lugar, entre as criaturas. E no desejamos que regresses, de novo, para nascernum estbulo, trabalhar beira das guas, ministrar a revelao em casas e barcas deemprstimo e morrer flagelado na cruz. Trabalharemos para que a tua glria brilhe entre oshomens, para que a tua luz se faa nas conscincias, porque, em verdade, Senhor, queadiantaria o teu retorno se a estatstica das coisas santas no oferece a menor garantia. Devitria prxima? Como insistir pela tua volta pessoal e direta se na esfera dos homens aindano existe lugar onde possas nascer, trabalhar e morrer?

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    CANDIDATO IMPEDIDO

    Irmo X

    Quando o Mestre iniciou os servios do Reino Celeste, em torno das guas do

    Genesar, assinalando-se por indiscutveis triunfos no socorro aos aflitos e comentando-se-lheas disposies de receber companheiros e aprendizes, muita gente apareceu vida denovidade, pretendendo o discipulado. No seria agradvel seguir aquele homem divino, querestaurava a sade dos paralticos e abria novos horizontes f? A palavra dEle, represada deamor, falava de um reino porvindouro, onde os aflitos seriam consolados. Suas mos, comoque tocadas de luz sublime, distribuam paz e bem-aventurana, bom nimo e alegria.Acompanh-lo seria servio tentador.

    Em razo disso, muito grande era o nmero de mulheres e homens que o buscavamdiariamente.

    Acreditava-se em nova ordem poltica na provncia. Sobrariam talvez posies

    importantes e remuneraes expressivas.Mes esperanadas procuravam confiar os filhos ao Messias Nazareno. Jovens evelhos entusiastas vinham, de longe, de modo a se colocarem na dependncia dEle. Paraquantos que se lhe apresentavam, voluntariamente, pronunciava uma frase amiga, mostravaum sorriso benvolo, fixava um gesto confortador.

    Foi assim que, em radiosa manh, quando o Senhor descansava na residncia deLevi, por alguns minutos, apeou de uma liteira adornada certo cavalheiro a caracterizar-se

    pelo extremo apuro.O recm-chegado tratou, clere, do objetivo que o trazia. Interpelou o Cristo,

    diretamente. Queria o discipulado. Ouvira comentrios ao novo reino e desejava candidatar-sea ele. Sobretudo esclareceu, fluente , honrar-se-ia acompanhando o Mestre, ao longo detodas as suas pregaes e ensinamentos.

    O Profeta contemplou-lhe a indumentria brilhante e perguntou: Em verdade, aceitas os testemunhos do apostolado? Perfeitamente replicou o moo, corts. Hoje disse o Mestre, aps longa, pausa , temos em Cafarnaum dois loucos

    agonizantes, num telheiro junto casa de Pedro, reclamandocooperao fraternal. Poders ajudar-nos a socorr-los?O rapaz franziu a testa e acentuou:

    No hesitaria. Entretanto, sou armeiro de Fassur, principal da casa de Herodes e

    guardo esse ttulo com venerao. A um pagem de minha, estirpe, no ficaria adequadosemelhante servio. Os nobres da raa poderiam identificar-me. A crtica no me perdoaria etalvez no pudesse satisfazer a incumbncia...

    Jesus no se irritou.Contemplando o interlocutor surpreendido, props, bondosamente:

    Duas rfs esto em casa de Joana, aguardando mo carinhosa que as amparequem sabe? Dispondo de tantas relaes prestigiosas, no conseguirias encaminh-las adestino edificante? So meninas necessitadas de proteo sadia.

    Oh! no posso! exclamou o novio, escandalizado sou explicador dos textos deEzequiel e nos trenos de Jeremias, fora de Jerusalm.

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    Documentao de sacerdotes ilustres aprova-me a cultura sagrada. A um intrpretedo Testamento, de minha condio, no quadraria a oferta de crianas desprezadas... Comovemos...

    Sem alterar-se, o Mestre lembrou: Um paraltico moribundo foi recolhido casa de Filipe. Veio transportado de

    grande distncia, pleiteando a cura impossvel. Est cansado; aflito, e Filipe permaneceausente em misso de socorro... Se lhe desses dois dias de assistncia piedosa, praticariasnobre ao...

    impraticvel! tornou o rapaz sou fiscal das disposies do Levtico e, nessafuno, provvelmente seria compelido a isolar o enfermo no vale dos imundo ... A medida imperiosa se ele houver ingerido carnes impuras.

    O Senhor esboou um sorriso e agradeceu.Insistindo, porm, o interlocutor, Jesus indagou:

    Que pretendes, enfim? Garantir futura representao do reino que se aproxima...

    O Nazareno fitou nele o olhar translcido e redargiu: Erraste o caminho. Naturalmente o teu carro deve seguir para Jerusalm, onde se

    concentram todos aqueles que distribuem cargos bem pagos. Mas, reitero a solicitao disse o armeiro de Fassur, quero colocar-me dentro

    da nova ordem!...Apesar do imperativo que transparecia daquela voz, o Mestre finalizou, muito

    calmo: Prossegue em teu caminho e no teimes.Realmente, reclamamos companheiros para o ministrio. J possuis, todavia, muitos

    ttulos de inibio e o Evangelho precisa justamente de coraes desembaraados que estejam

    prontos ao necessrio auxlio em nome de Nosso Pai.O explicador dos textos de Ezequiel deu uma gargalhada, olhou para o Messias

    evidenciando inexcedvel sarcasmo, qual se houvera defrontado um louco, e partiu semcompreender.

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    CARTA DESPRETENSIOSA

    Irmo X

    Meu caro. Recebi seus apontamentos.

    Sei que me no aceitar a resposta com o desejvel entendimento. Se ainda meguarda na lembrana, no me tolera a sobrevivncia.

    Ler-me- as palavras, longe daquele acolhimento afetivo da poca em que meafundava num escafandro igual ao seu, sob o denso mar do oxignio terrestre.

    Receber-me- o esforo de agora com extremo esprito crtico. Buscar saber, antesde mais nada, se empreguei os verbos acertadamente e se pontuei a missiva com a elegncianecessria.

    Provvelmente dir que meus recursos empobreceram, que minha argumentao noconvence.

    Vamos, contudo, s suas ponderaes.

    Afirma voc que os espritas desencarnados, pelo noticirio que fornecem ao mundo,se movimentam num plano absolutamente irreal. A seu ver, moramos em casas ilusrias,cuidamos de instituies que no existem, colhemos flores e frutos de mentira e pairamos,como sombras, num campo de fantasia. E acrescenta que, para ajuizar de nossa situao, toma

    por base o mundo em que pisa. Na apreciaro que lhe orienta os conceitos, a esfera em quevoc ainda respira a mais slida de toda a estruturao universal. Coisa alguma sofremodificao ao redor de seus passos, segundo a posio especialssirna em que se coloca.

    Se me demorasse por a, talvez experimentasse amnsia idntica. Basta dizer-lhe queenquanto carreguei o fardo benfico da carne era eu perfeito desmemoriado em relao aosmeus prprios defeitos. E, quanto s minhas necessidades essenciais, nunca atentei para o

    tempo que corria, clere, em torno de mim.Quando os amigos me atiraram terra e cal ao corpo inerme, foi que meditei natransitoriedade das situaes e das coisas. Reportei-me ento infncia distanciada e revinossa aldeia do Norte, perseguida pela areia invasora. Casario e arvoredo converteram-se,

    pouco a pouco, num monto de runas. Companheiros de jogas infantis desapareceram.Alguns haviam partido procura de cidades fascinantes, outros jaziam submersos na neblinada sepultura. Reajustou-se-me a memria, gradativamente, e tornei, pelos olhos daimaginao, casa que me viu nascer. A morte brandira, ali, sua foice enorme,, a torto e adireito. A doena lavrara por l, copiando o fogo em pastagem alcantilada. Transformaesno tinham conta. O padeiro falecera de uma noite para o dia, vencido por um insultocerebral. A lavadeira que residia em frente de ns, mulher robusta e desassombrada,

    repentinamente passou a usar muletas, em razo da perna quebrada. Nossos vizinhos, detempos a tempos, trajavam rigoroso luto, homenageando parentes mortos; e at o padre maisvelho, que despendia semanas, transmitindo-nos o catecismo, certa manh se deixoutransportar para o cemitrio, quando menos espervamos.

    Tudo se modificava, de hora a hora, at que nos separamos a fim de rever-nos, maistarde, na Capital da Repblica.

    Voc fazia o possvel por ocultar os males do estmago e eu dissimulava hbilmenteas perturbaes do sistema endcrino.

    Seu rosto no era o mesmo. Rugas surpreendentes marcavam-no todo. Seus cabelos,que conhece finos, sedosos e abundantes, estavam ralos e encanecidos. Seus olhos fitavam-me

    com firmeza, todavia, injetados de sangue. As mos bem cuidadas no mostravam a

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    despreocupao do princpio; entretanto, revelavam-se pesadas e grossas, exibindo veiassalientes.

    Certo, voc notou profunda mudana em mim, mas a gentileza lhe asfixiou asobservaes pessimistas que procurei calar igualmente por minha vez.

    E as moas que cortejramos noutra poca, enlevados na paisagem do bero?

    Algumas delas, no Rio, embalde tentavam recursos contra a jornada implacvel da Natureza.Eram quase irreconhecveis. Odontlogos exmios no lhes restauravam a boca quenamoramos, embevecidos, nos primeiros arroubos da juventude. Surgiam na avenida, assimcomo ns ambos, procurando farmcias para, o reumatismo iniciante.

    A morte, meu caro, teve o condo de acordar-me as reminiscncias. E considerandoa amizade que sempre nos ligou, no cenrio humano, rememoro, saudoso, sua prpriafelicidade longnqua... No ignoro que voc perdeu os pais, a esposa inesquecvel e o filhomais novo que lhe era particularmente querido pelas afinidades sentimentais. Em dez anos,voc mudou de residncia quinze vezes, procurando alvio para o corao angustiado,irremedivelmente enfermo...

    Seus olhos permanecem fixos no pretrito e, identificado com a sua dor deperegrino, cheio de ouro e vazio de paz, lembro-me, saudosamente, at mesmo de seu belopapagaio que nos divertia, faz quase trinta anos, gritando os nomes de polticos influentes dahora...

    Desejaria confort-lo, reviv-lo, mas... voc, apesar de batido pelam desiluses erenovaes incessantes, est convencido de que vive no plano mais slido e inamovvel doUniverso e acredita que eu seja um vagabundo invisvel a contar anedotas destinadas ingenuidade humana.

    Voc, homem de carne e osso, declara-se imutvel e assevera que no passo desombra a voltar do pas da morte.

    Como poder um fantasma consolar um homem seguro de ai, a ponto de julgar-seintangvel?

    Decididamente, voc tem toda a razo

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    DO APRENDIZADO DE JUDAS

    Irmo X

    No obstante amoroso, Judas era, muita vez, estouvado e inquieto. Apaixonara-se

    pelos ideais do Messias, e, embora esposasse os novos princpios, em muitas ocasiessurpreendia-se em choque contra eles. Sentia-se dono da Boa-Nova e, pelo desvairado apego aJesus, quase sempre lhe tornava a dianteira nas deliberaes importantes. Foi assim queorganizou a primeira bolsa de fundos da. comunho apostlica e, obediente aos mesmosimpulsos, julgou servir grande causa que abracara, aceitando a perigosa cilada. queredundou na priso do Mestre.

    Apesar dos estudos renovadores a que sinceramente se entregara, preso aos conflitosntimos que lhe caracterizavam o modo de ser, ignorava o processo de conquistar simpatias.

    Trazia constantemente nas lbios uma, referncia amarga, um conceito infeliz.Quando Levi se reportava a alguns funcionrios de Herodes, simpticos ao

    Evangelho, dizia, mordaz: So vboras disfaradas. Sugam o errio pblico, bajulam sacerdotes e deixam-se

    pisar pelo romano dominador... A meu parecer, no passam de espies..O companheiro ouvia tais afirmativas, com natural desencanto, e os novos

    colaboradores dele se distanciavam menos entusiasmados.Generosa amiga de Joana de Cusa ofereceu, certo dia, os recursos precisos para a

    caminhada do grupo, de Cafarnaum a Jerusalm. Porm, recebendo a importncia, o apstoloirrefletido alegou, ingratamente:

    Guardo a oferta; contudo, no me deixo escarnecer. A doadora pretende comprar oreino dos Cus, depois de haver gozado todos os prazeres do reino da Terra. Saiba.m todos

    que este um dinheiro impuro, nascido da iniqidade.Estas palavras, pronunciadas diante da benfeitora, trouxeram-lhe indefinvelamargura.

    Em Cesareia, herica mulher de um paraltico, sentindo-se banhada pelos clares doEvangelho, abriu as portas do reduto domstico aos desamparados da sorte. Orfos e doentes

    buscaram-lhe o acolhimento fraternal. O discpulo atrabilirio, no entanto, no se esquivou ,maledicncia:

    E o passado dela? clamou cruelmente o marido enfermou desgostoso pelosquadros tristes que foi constrangido a presenciar. Francamente, no lhe aceito a converso.Certo, desenvolve piedade fictcia para aliciar grandes lucros.

    A senhora, duramente atingida pelas descaridosas insinuaes, paralisou abenemerncia iniciante, com enorme prejuzo para os filhos do infortnio.Quando o prprio Messias abenoou Zaqueu e os servios dele, exclamou Judas,

    indignado, s ocultas: Este publicano pagar mais tarde. Escorcha, os semelhantes, rodeia-se de escravas,

    exerce avareza, srdida e ainda, pretende o raiz.o divino!...No ir longe... Enganara o Mestre, no a mim...Alimentando tais disposies, sofria a desconfiana de muitos. De quando em

    quando, via-se repelido delicadamente.Jesus, que em silncio lhe seguia as atitudes, aconselhava prudncia, amor e

    tolerncia. Mal no terminava,porm, as observaes carinhosas, chegava Simo Pedro, porexemplo, explicando que Jeroboo, fariseu simpatizante da. Boa-Nova, parecia inclinado aajudar o Evangelho renascente.

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    Jeroboo? advertia Judas, sarcstico aquilo e uma raposa de unhas afiadas.Mero fingimento! Conheo-o h vinte anos. No sabe seno explorar o prximo e amontoardinheiro. Houve tempo em que chegou a esbordoar o prprio pai, porque o infeliz lhe desvioumeia pipa de vinho!...

    A verdade, porm, que as circunstncias, pouco a pouco, obrigaram-no a insular-

    se. Os prprios companheiros andavam arredios, Ningum lhe aprovava as acusaesimpulsivas e as lamentaes sem propsito. Apenas o Cristo no perdia a pacincia. Gastavalongas horas, encorajando-o e esclarecendo-o afetuosamente...

    Numa tarde quente e seca, viajavam ambos, nos arredores de Nazar, cansados dejornada comprida, quando o filho de Kerioth indagou, compungido :

    Senhor, por que motivos sofro to pesadas humilhaes? Noto que os prprioscompanheiros se afastam cautelosos de mim... No consigo fazer relaes duradouras. Hcomo que forada separao entre meu esprito e os demais... Sou incompreendido evergastado pelo destino...

    E levantando os olhos tristes para o Divino Amigo, repetia :

    Por qu?!...Jesus ia responder, condodo, observando que a voz do discpulo tinha lgrimas que

    no chegavam a cair, quando se acercaram, subitamente, de poo humilde, onde costumavamaliviar a sede. Judas que esperava ansioso aquela bno, inclinou-se, impulsivo e,mergulhando as mos vidas no lquido cristalino, tocou inadvertidamente o fundo, trazendolargas placas de lodo tona.

    Oh! Oh! Que infelicidade! - gritou em desespero.O mestre bondoso sorriu calmamente e falou:

    _ neste poo singelo, Judas, tens a lio que desejas. Quando quiseres gua pura,retira-a com cuidado e reconhecimento. No h necessidade de alvoroar a lama do fundo e

    das margens. Quando tiveres sede de ternura e amor, faze o mesmo com teus amigos. Recebe-lhes a cooperao afetuosa sem cogitar do mal, a fim de que no percas o bem supremo.Pesado silncio caiu entre o benfeitor e o tutelado.O apstolo invigilante modificou a expresso do olhar, mas no respondeu.

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    EM RESPOSTA

    Irmo X

    Insurge-se voc, meu amigo, contra as informaes do plano espiritual, relacionando

    as formas de que nos utilizamos. Espanta-se ao saber que temos domiclio prprio, com todo oequipamento indispensvel vida organizada de quem prossegue evolvendo e aprendendosempre.

    Assegura que materializamos excessivamente as imagens e que nossas pginas nopassaro talvez de alucinaes da mente medinica.

    No estranho sua atitude. Tambm eu pensaria o mesmo a na Terra.Imagine que eu, homem versado na experincia de ganhar e perder, via no mundo o

    terrvel esforo do aluno de primeiras letras, gemendo na articulao do alfabeto, de modo apenetrar, passo a passo, na oficina da cincia; identificava os tremendos conflitos impostos aqualquer profissional digno, interessado em especializar-se, e, no entanto, quando se tratava

    da morte do corpo, acreditava piamente que a alma do defunto voaria a pleno cu, procurado Trono de Deus. Bastaria o passaporte de alguma religio respeitvel e, a meu parecer, omorto entraria nos gozos do paraso. Sabia que os tribunais humanos ministram a justiacom atenuantes e agravantes, segundo as circunstncias prevalecentes no doloroso drama dosrus e no ignorava que a escala da educao muito maior que as cinco linhas da pautamusical. Todavia, nunca me passou pela idia que o nosso aprimoramento continuariaintensivo nestas paragens. Admitia que os mortos seriam anjos ou demnios absolutos,exceo dos que fossem detidos no purgatrio pela polcia divina, na situao dos soldadosque se demoram na terra de ningum, porque, para os crentes em geral, o purgatrio, entreeste mundo e o outro, uma espcie de Territrio do Cerre, entre alemes e franceses dosltimos sculos.

    Como reconhece, sua concepo de hoje pertenceu-me igualmente, enquanto aestive.

    Nunca pude compreender , a experincia corporal na Terra como transitriofenmeno de exteriorizao do esprito imperecvel; no meu modo de entender, o esprito era

    projeo do corpo.Voce j viu engano maior?

    No entanto, era um equvoco que minha vaidade acalentava zelosamente. No desconhecia que sbios ilustres me haviam precedido na estrada do

    conhecimento, que a sandlia dos heris e dos santos havia mergulhado na poeira planetriamuito antes de meus ps doentes; contudo, jamais aceitei outros pontos de vista que no

    fossem os meus.O tmulo, porm, imps-me a arte do reajustamento.Contnuo aprendendo com a ingenuidade do grupo escolar. E rendo graas a Deus

    pela concepo do ensejo imprescindvel.No se julgue nas vizinhanas do paraso e nem nos queira mal por darmos notcias

    de cidades e instituies, templos e hospitais, rvores e fontes, alm do sepulcro...Quando nossos olhos imveis recebem o tradicional emplasto de cinzas, verificamos

    que o cu est mais alto e o horizonte mais longnquo.Voc no aplaudiria o nudismo e acredita que os desencarnados, para serem

    verdadeiros, no deviam usar vestimenta alguma; estima a bno do santurio domstico, na

    doce e amorosa comunho dos laos afetivos e admite que, para cultivarmos a realidadeuniversal, cabe-nos a obrigao de adotar regime separatista, vagabundeando de esfera em

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    esfera, sem objetivo e sem lar. Agrada-lhe a ordem o grmio doutrinrio a que dedica ateno,mas exige que, em nos comunicando com os vivos, estejamos na condio dos bandos devespas e passarinhos.

    No acredite que a sepultura o exonere da responsabilidade individual de prosseguiraprendendo com o bem. Deus amor; entretanto, a harmonia a base de suas manifestaes,

    e um pai, a fim de ser amoroso, no deixar de ser justo.Voc sabe que o peixe, para elevar-se das profundezas abismais a que se adaptou,

    necessita modificar a bexiga natatria. E que fazer com milhes de mentes humanas,estacionadas em processos inferiores da inteligncia, incapazes de respirar alm da atmosferadensa do vale, se no lhes forem proporcionadas aqui condies de vida anlogas ou

    profundamente anlogas as da Crosta Terrestre?No suponha que a morte lhe venha pregar asas nos ombros.Se, pelo metro evolutivo, ainda no possumos perfeita estatura humana, como

    aguardar promoo compulsria ao reino angelical?Assinalando-lhe os protestos, lembro-me de pequena fbula que o velho La Fontaine

    no escreveu.Dizem que uma borboleta brilhante, interessada em preparar a lagarta, diante do

    futuro, pousou na comunidade em que nascera, com grande escndalo para todo o ninho. Em verdade disse ela sou membro da famlia de vocs, guardo fisiologia

    semelhante e apesar de ir longe, atravs dos ares, vendo cidades e rios, seres e plantas quevocs no conhecem, continuo sendo um lepidptero aperfeioado... Em breve, vocs serotal qual sou e, por minha vez, no me distanciarei excessivamente de nossa furna, a fim decuidar dos interesses de nossos descendentes...

    Contudo, no pde prosseguir. As larvas, de ventre colado ao solo, debandaram sobforte susto.

    Todas recusaram a mensagem e negaram a mensageira. Isto, no entanto, noimpediu o trabalho da Natureza.A borboleta, em breve, deitava ovos. Dos ovos, nasciam lagartas. As lagartas

    dormiram em casulos. E dos casulos surgiam borboletas...

  • 8/7/2019 Xavier Candido F Luz Acima

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    ENTRE O BEM E O MAL

    Irmo X

    O Gnio do Bem e O Gnio do Mal aproximaram-se simultaneamente do Homem e

    ocuparam-lhe as antenas receptivas da mente, disputando-lhe a colaborao.Empenhado na construo do Reino de Deus, sobre a Terra, o Gnio do Bem, mais

    poderoso e mais forte, assoprou-lhe a fronte, desanuviando-a, e notificou-lhe, atravs do semfio do pensamento:

    Filho meu, venho abrir-te Caminho para a luz eterna. Arrebatar-te-ei a sublimesculminncias. Integrars o sqito de cooperadores do Altssimo. Com o teu concurso, o

    planeta libertar-se- da peste, da fome e da guerra e o paraso brilhar entre as criaturas...Fremia o Homem de gozo ntimo.O nume celeste, porm, passou a relacionar as condies:

    Para esse fim, iniciars os servios renunciando s facilidades humanas.

    Regozijar-te-s quando fores desprezado.Servirs sem descanso.

    Nunca reclamars recompensa.Ajudars ao necessitado que se perdeu no sofrimento e ao mpio que se precipitou

    nos despenhadeiros da ignorncia.Alegrar-te-s com a prosperidade de todos e preferirs o sacrifcio de ti mesmo.Rejubilar-te-s com o xito de teus amigos, tanto quanto lhes partilhars a dor.

    No te deters sobre as imperfeies de ningum; entretanto, vigiars, dia e noite, osteus prprios defeitos, de maneira a corrigi-los definitivamente.

    Confiars no Senhor de modo invarivel, ainda mesmo quando o desnimo teassedie por todos os lados.No pleitears o incenso bajulatrio.Fixar-te-s no dever, acima de todas as consideraes, convicto de que toda a glria

    pertence ao Criador.Estimars os que te no compreendam. Desculpars, centenas de vezes, diriamente.

    No perders tempo na curiosidade vazia. Consagrar-te-s prtica do bem, sem perguntasvs.

    No te prenders aos resultados da ao, para que os crceres floridos no tesurpreendam a alma.

    Colabora no bem de todos, aprendendo a servir.E, sobretudo, no te esqueas de que s o amor sacrificial te conferir energias erecursos para a obra imortal que proponho.

    Interrompeu-se o anjo, e o Homem, longe de entusiasmar-se com a oferta, entregou-se a profunda estranheza...

    Ne