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  • 7/25/2019 x - Artigo - DPS - Direito Processual Social - VERSO 2014

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    DIREITO PROCESSUALDE GRUPOSSOCIAIS NOBRASIL:uma verso revista e atualizada das primeiras

    linhas

    JEFFERSON CARS GUEDESProfessor do Doutorado, Mestrado Especializao e Graduao no UniCEUB BrasliaDoutor e Mestre em Direito Processual Civil (PUC-SP). Advogado da Unio (AGU).

    SUMRIO: 1Observao sobre a atualizao e Introduo - 2 Estgios evolutivosrecentes no direito processual brasileiro - 2.1 Evoluo do direito processual nasltimas dcadas - 2.2 Processo civil e respostas s demandas sociais: a viso dadoutrina - 3 Teoria do processo eteoria dos procedimentos - 4 Critrios de

    classificao dos processos na jurisdio no-penal - 4.1Processo para defesa dosInteresses Pblicos ou do Patrimnio Pblico - 4.1.1 Direito ProcessualConstitucional - 4.1.2 Direito Processual Administrativo (Direito ProcessualPblico) - 4.1.3 Direito Processual Tributrio - 4.1.4 Direito Processual Eleitoral -4.1.5 Direito Processual Ambiental - 4.2Processo para defesa de interessesindividuais privados - 4.2.1 Direito Processual Civil - 4.2.1 Direito ProcessualEmpresarial- 4.3 Processo para defesa interesses individuais especiais (DireitoProcessual Social) - 4.3.1 Direito Processual do Trabalho - 4.3.2 Direito ProcessualPrevidencirio e Assistencial Social - 4.3.3 Direito ProcessualImobilirioAgrrioeUrbano - 4.3.4 Direito Processual do Consumidor - 4.3.5 Direito Processualdo Nascituro, da Criana e Adolescente e dos Jovens 4.3.6 Direito Processual dosIdosos - 4.3.7 Direito Processual dos Acidentados e dePessoas com Deficincia 4.3.8 Direito Processual da Famlia; 4.3.9 Direito Processual dos Negros, Pardos,

    Indgenas e outros grupos tnicos;5 Do acesso Justia ao Direito Processual Social- 5.1 Socializao do processo, acesso Justia e processo justo - 5.2 Direito Sociale Direito Processualde Grupos Sociais - 5.3 Ativismo processual e DireitoProcessual de Grupos Sociais - 6 Juizados especiais como microssistema legal deDireito Processual Social -7 Direito Processual Coletivo (Constitucional, Trabalho,Consumidor, Ambiental, Tributrio) como tcnica de acesso ao Direito Processualde Grupos Sociais - 8 O novo CPC e o Direito Processual de Grupos Sociais

    PALAVRAS CHAVE: Socializao do processo. Direito Processual Social. Defesa interesses individuaisespeciais. Acesso Justia. Processo justo. Juizados especiais.RESUMO: Com carter especulativo, o texto identifica a ampliao da tendncia socializante do processo e seualcance a outras reas do direito material e do direito processual, para alm do processual trabalhista e daseguridade social. Prope nova forma de classificao dos ramos processuais no-penais, em trs reas: os Processos para defesa dos Interesses Pblicos ou do Patrimnio Pblico, os Processo para defesa de interessesindividuais privados e o Processo para defesa interesses individuais especiais, sob a denominao de DireitoProcessual Social. Tal proposio decorre do exame da construo de leis especiais, principalmente a partir dadcada de 80, permitindo a formao de reas especiais tal como o Direito Processual Previdencirio eAssistencial Social; Direito Processual do Consumidor; Direito Processual da Infncia e Adolescncia; DireitoProcessual dos Idosos; Direito Processual Acidentrio e de Portadores de Deficincia.

    1 Observao sobre a atualizao e IntroduoPassados oito anos da divulgao da verso original deste artigo, publicado em 2006

    na Revista Latinoamericana de Derecho Social , n. 2, (Mxico: UNAM) e na Revista de Processo, n. 142, (So Paulo: Revista dos Tribunais) surge a necessidade de atualizar algunsdados.

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    A motivao para a atualizao e reviso se amplia pelo extenso debate atual sobre oativismo e o garantismo, sintetizado, no Brasil, no livroAtivismo Judicial e oGarantismo Processual , coordenado pelos professores Fredie Didier, Jos Renato Nalini,Glauco Gumerato Ramos e Wilson Levy.1 Nessa obra coletiva foi includo um outro artigo de

    nossa autoria que remete a este Direito Processual Social que a nosso ver se situa em posiointercalar, entre as duasalternativas oferecidas no ttulo do referido livro. O ttulo do artigo publicado nessa obra coletiva em 2013 Direito Processual Social atual: entre oativismo judicial e o garantismo processual .2

    Deve-se destacar como introduo queno h desde algumas dcadasno Brasilreferncia, em extenso e profundidade, a um ditoSistemaou Direito Processual Social , pelomenos do modo que se tentar identificar e apresentar aqui, aproveitando principalmente as proposies dos processualistas mexicanos, dentre os quais o professor JOSOVALLEFAVELA,que arrola dentro dessa rea do processo o Direito Processual do Trabalho, o DireitoProcessual Agrrio e o Direito Processual da Seguridade Social.3 O que se faz, desde ento,

    ao propor a denominao desse ramo processual, tomar por emprstimo parte da expressomexicana, sabendo que aimportao de ideias e classificaes tcnico-processuais possuiinmeros riscos de equvocos e de incongruncias. Mais ainda quando estas idias soconstrudas a partir de interpretaes de leis originadas em outros sistemas, no contrastadascom o sistema jurdico nacional. Essa advertncia inicial poderia impedir o prosseguimentonessa curta especulao sobre a existncia ou para a identificao de um Direito ProcessualSocial(2008)ou agora Direito Processual de Grupos Sociais (2014).

    As refernciasantes existentes eramesparsas e remotas,e estavam relacionadasespecialmente ao Direito Processual do Trabalho, como direito instrumental ao Direito doTrabalho, tambm denominado Direito Social. Essas referncias especficas ao Direito Socialso encontrveis no perodo histrico de positivao dos direitos trabalhistas. Uma talconcepo inicial sofria visvel restrio contextual, e pelas mesmas razes, se diferenciavado que se pretende expor neste estudo. O professor CESARINOJUNIOR , desde a dcada de1940, com seu magistrio e as sucessivas edies da obra Direito Social brasileiro,estabeleceu conceito de Direito Social,4 definindo-o como a rea na qual estavam inseridos o Direito Coletivo Social , o Direito Previdencial e o Direito Social Individual , este subdivididoem Direito do Trabalhoe Direito Assistencial . Por conseguinte, poder-se-ia extrair dessaclassificao as correspondentes reas processuais, na medida em que se fossem formando.

    No se trata neste momentode afirmaro carter social ou socializado do direito processual do trabalho e da seguridade social, mas apontar, ainda que de modo incipiente, aampliao dessa tendncia socializante do processo e seu alcance a outras reas do direito

    1 Ativismo Judicial e o Garantismo Processual . Salvador: JusPodivm, 2013. Coord. Fredie Didier, Jos Renato Nalini, Glauco Gumerato Ramos e Wilson Levy. O mesmo artigo est tambm publicado na RevistaBrasileira de Direito Processual, n. 82, abr./jun. 2013.

    2 A suposta posio espacial daquele Direito Processual Social (ou de certos grupos sociais) de estarentre ume outromodo de atuao judicialou emuma posio nitidamente intercalar, interlocutria, intermediria ,traz inmeras desvantagens tericas para a sua definio.

    3 Teoria General del Proceso, item n. 2.6, p. 62-70; ver tambm SANTOS AZUELA, Hector, La teoria generaldel proceso en el sistema del Derecho Procesal Social , publicado do Boletin Mexicano de DerechoComparado, disponvel na internet em .

    4 CESARINO JUNIOR e Marly CARDONE conceituavam o Direito Social como a cincia dos princpios e leisgeralmente imperativas, cujo objetivo imediato , tendo em vista o bem comum, auxiliar as pessoas fsicas,dependentes do produto do seu trabalho para a subsistncia prpria e de suas famlias, a satisfazerem asnecessidades vitais e a ter acesso propriedade privada, Direito Social , v. I, item n. 1.16, p. 36-37.

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    material e do direito processual. Pelas observaes iniciais, este trabalhosegue por umcaminho de risco, e ainda que no contenha em si grandes novidades, pode propor, ao fim,uma nova forma de classificar os ramos processuais. A proposio originale central outra eest voltada ao exame da construo dessas leis e da legislao hoje vigente, para nela

    identificar, segundo critrios prprios daTeoria do Processo e de outras reas congneres aoDireito, critrios novos de classificao, bem como a validade e utilidades dessas novascategorias de direitos processuais.

    Essa nova classificao posiciona o Direito Processual de Grupos Sociais (DPGS)entre dois grandes pilares ou foras, entre o pblico e o privado, entre a rua e a casa, entre oindisponvel e o disponvel, entre o Estado e a sociedade.

    2 Estgios evolutivos recentes no direito processual brasileiroSabe-se quo rpida tem sido a evoluo da sociedade brasileira, sejam considerados

    os indicadores demogrficos, os dados econmicos, os aspectos sociais, assim como asmudanas polticas acontecidas nas ltimas cinco dcadas do sc. XX e nas dcadas iniciaisdo sculo XXI.

    O direito material e o direito processual no esto imunes a essas mudanas e asalteraes da vida social sofrem os mais diversos e numerosos reflexos, ora sob impacto que pode ser considerado de cunho ideolgico pelas elites e por sua representaosocial, ora sob aforma de presso direta da sociedade, com contedo ideolgico s vezes inverso. Figuramcomo exemplos de um e de outroconjunto de foras certas normas especiais do sistemafinanceiro e a dos juizados especiais de pequenas causas, sucessivamente.5 Vlido ento quese descrevam cronologicamente essas mudanas, para que se note a expresso e a profundidade delas.

    2.1 Evoluo do direito processual nas ltimas dcadasComo dito, ainda que pesem as opinies contrrias, foi rpida a evoluo do direito

    processual que incorporou nas ltimas dcadas inovaes significativas, desmistificadoras dealguns dogmas construdos ou incorporados pelo direito processual civil no Brasil.

    Ainda na vigncia do CPC de 1939, observou-se a incorporao de leis que podem serapontadas como inversoras da viso individualista e liberal do processo, tal comoConsolidao das Leis do Trabalho (CLT), introdutora de inmeras modificaessimplificadoras, que viriam sucessivamente a ser estendidas para outras reas do processo.6

    Em sentido paralelo, surgiu o Dec. 7.661/1945, que regrava o processo falimentar, aLei de Assistncia Judiciria Gratuita (Lei n. 1.060/1950), a qual ampliou o acesso aoJudicirio - sem o pagamento de custas, permitindo que os comprovadamente pobres pudessem ser desonerados dosriscos eencargos econmicos do processo -, seguida pela Leido Mandado de Segurana (Lei n. 1.533/1951), com procedimento especial, sumrio e

    5 Decreto 911/1969 e Lei n. 7.244/1984. A constatao da natureza ideolgica da primeira norma foi apontada por Carlos Alberto lvaro de OLIVEIRA no texto Procedimento e ideologia no direito brasileiro atual, Livrode Estudos Jurdicos, vol. 4, p. 181-187.

    6 Essa observao no se ope quela que aponta as fragilidades tcnico-doutrinrias da legislao processualtrabalhista, especialmente aquelas relacionadas linguagem e necessidade da aplicao subsidiria do CPC,diante das omisses da CLT. Ver sobre o ponto Alcides de Mendona LIMA, Processo civil no processotrabalhista, cap. I.II e I.III, p. 17-27.

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    documental para defesa de direito lquido e certo no amparado porhabeas corpus. J emoutro plano, como forma de proteo aos interesses pblicos, surge e a Lei da Ao Popular(Lei n. 4.717/1965); no plano privado, no mbito do direito de famlia, a Lei de Alimentos(Lei n. 5.478/1968) e, no plano da defesa de interesses patrimoniais de instituies

    financeiras, o Decreto-lei com procedimento para reaver bens alienados fiduciariamente (Dec-lei n. 911/1969).7 Depois, j sob a vigncia do CPC de 1973 (o Anteprojeto Buzaid foi publicado em

    1964), houve sucessivas e significativas mudanas em leis especiais: Lei do Divrcio (Lei n.6.515/1977), Lei de Execuo Fiscal (Lei n. 6.830/1980), Lei dos Juizados de PequenasCausas (Lei n. 7.244/1984); com a edio da Lei n. 8.884/1994, criam-senovas formas detutela e instrumentos processuais dirigidos defesa da ordem econmica, e a Lei da AoCivil Pblica (Lei n. 7.347/1985), voltada tutela do meio ambiente, interesses difusos ecoletivos,tambm estendida tutela da ordem econmica pela Lei n. 8.884/1994 (art. 88).

    A Constituio Federal de 1988 introduziu institutos como ohabeas data, o mandadode injuno e o mandado de segurana coletivo, destinados tutela constitucional dasliberdades, mas tambm assegurou extensa lista de direitos constitucionais processuais, como:o contraditrio; a ampla defesa; o devido processo; o duplo grau de jurisdio; a igualdade;o dever de motivar decises; a proibio da prova ilcita; a inafastabilidade do controle judicial ; o juiz natural ; a publicidade. Maisque isso, constitucionalizou a tutela jurisdicionalcoletiva (legitimidade dos sindicatos e das entidades associativas em geral: art. 5, inc. XXI, eart. 8, inc. III); os juizados especiais (art. 24, inc. X, e art. 98, inc. I) e a ao civil pblica(art. 129, inc. III).

    A seguir, acresceram-se o Estatuto da Criana e do Adolescente (Lei n. 8.069/1990) eo Cdigo de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/1990). Seguiu-se a dcada de 1990, com a

    Lei de Improbidade Administrativa (Lei n. 8.429/1992), Lei dos Juizados Especiais Cveis eCriminais (Lei n. 9.099/1995), Lei da Arbitragem (Lei n. 9.307/1996), Lei do Habeas Data (Lei n. 9.507/1997), Lei da ADI e ADC (Lei n. 9.868/1999), Lei da Argio dedescumprimento de preceito fundamental (Lei n. 9.882/1999), Estatuto da Cidade (Lei n.10.257/2001), Lei dos Juizados Especiais Federais (Lei n. 10.259/2001),o novo Cdigo Civil(Lei n. 10.406/2002), o Estatuto do Idoso (Lei no. 10.741/2003), normas que, em maior oumenor extenso, introduzem ou alteram conceitos de direito processual, criando reasespecficas de proteo especial.

    Mais recentemente a Lei dos Juizados da Fazenda Pblica (Lei n. 12.153/2009), anova Lei do CADE (Lei n. 11.529/2011), o Estatuto da Igualdade Racial (Lei n. 12.228/2010),o Estatuto da Juventude (Lei n. 12.852/2013) que criam, recriam e expandem instrumentos processuais diferenciados que podem em certos casos - se encaixar nessa categoria de Direito Processual de Grupos Sociais.

    No se podetambmdeixar de apontar que esse processo evolutivo tem suas razes polticas, sociais e ideolgicas, alm de uma conexo estreita com o estgio dedesenvolvimento cultural da nao.

    Para a avaliao das razes desse progresso legal, ter-se-ia de penetrar no exame dequestes no-jurdicas e propriamente ideolgicas, como j notou a CARLOS ALBERTOALVARO DE OLIVEIRA quando tratasobre: esse rpido bosquejo da legislao processual

    7 Essa expanso dos procedimentos especiais, criados paralelamente ao CPC de 1939 (1939-1973) notadatambm na vigncia do CPC de 1973 (1974-2014), como forma de fuga de um procedimento padronizadoque no atende a especificidades relacionadas a pessoas e bens envolvidos nos litgios. Ver: MARINONI,Luiz Guilherme.Teoria Geral do Processo, 4. ed., Parte IV, item 2.11, p.430-434.

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    especial que se formou em nosso pas aps 1964, de modo bastante significativo em sua grande parte baixada por decretos-lei, em confronto com as normas comuns do processo civilbrasileiro, impe meditao aprofundada. O seu exame evidencia de que forma os gruposque empolgam o Poder se apropriam de instrumentos mais eficientes satisfao de suas

    pretenses, relegando para segundo plano as aspiraes da maior parte da populao.8

    Esse no um fenmeno exclusivamente brasileiro. Na Argentina foi observadodesenvolvimento equivalente, sempre associando s alteraes nas regras processuais com asmudanas na sociedade; notou-se tendncia de publicizao do processo, valorizao daoralidade, tendncia de socializao do processo e a livre valorizao da prova.9 Tambm nadoutrina portuguesa se observou o mesmo: no actual contexto e produo legislativa, surgem-nos quase diariamente novos processos suscitando uma ampliao diversificada detoda a realidade processual que urge conhecer a quem queira compreender, dentro dela, o prprio processo civil. Deve, alis, notar-se que esta expanso da realidade que privilegia oaparecimento de novos processos ou a prpria reforma de processos conservados, uns e

    outros diferentes dos civis, , de algum modo, explicada no s por razes ideolgicas prprias de uma produo legislativa tendente consolidao do Poder institudo, como suscitada pelo amadurecimento social de novas relaes conflituais.10 Na Espanha foiobservado a mesma expanso associada a amplitude do direito privado, s modificaessociais, desconfiana em relao ao procedimento ordinrio, motivos considerados variadose heterogneos, mas dissociados de componentes ideolgicos.11

    Todos esses autores, examinando realidades diferentes como a brasileira, a argentina ea portuguesa e espanhola, identificam fenmenos com conseqncias assemelhadas, nascidasda ampliao e especicificao daconflituosidade social, presente em sociedades maiscomplexas, que influenciam o processo, enquanto produto cultural que resulta da vida social.

    2.2 Processo civil e respostas s demandas sociais: a visohistrica da doutrinaPara a compreenso do fenmeno evolutivodo processo civil, importante que se

    perpasse pela posio dos expoentes doutrinrios que associaram o desenvolvimento histricodas regras processuais a fatores ou demandas sociais e tambm a fatores ideolgicos.

    GALENO LACERDA, processualista que se dedicou principalmente ao estudo do processo cautelar, no deixou de observar em mais de uma ocasio a vinculao do processoao estgio cultural do pas12 e indicar que uma das marcas mais caractersticas do Direitobrasileiro, na atualidade, consiste na abertura para o social a partir da Constituio de1988. Esse autor aponta como razes da mudana as exigncias da vida moderna, momentono qual os homens passaram a viver numa sociedade de massas que exigiram o rompimento

    8 OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro, de Procedimento e ideologia no direito brasileiro atual, Livro de Estudos Jurdicos, vol. 4, p. 186, associa essas mudanas ao perodo da ditadura militar no Brasil. Em obras maisextensas Rui Portanova, Motivaes ideolgicas da sentena (1992) e Ovdio A. Baptista da Silva, Processoe ideologia(2004).

    9 NOGUEIRA,Carlos Alberto, Las transformaciones del proceso civil y la politica procesal, La justicia entre dospocas, p. 15-56.

    10 MARTINS,Soveral, Processo e Direito Processual , 1O. vol., cap. 1, n. 1, p. 11.11 GONZALEZ GARCIA, Jess Mara. La proliferacin de processos civiles, item n. 3.4, p. 88-93.12 Galeno LACERDA, Processo e cultura, Revista de Direito Processual Civil , vol. 3, p.74-86.

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    das barreiras do conservadorismo jurdico representado pelo processo individualista.13 Distingue como exemplos os dissdios coletivos e suas sentenas normativas no processotrabalhista desde a dcada de 1940; os efeitoserga omnesda sentena na ao popular e naao civil pblica; as aes coletivas do Cdigo de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/1990),

    para defesa de interesses difusos, coletivos e individuais homogneos; as aes coletivas previstas no Estatuto da Criana e do Adolescente (Lei 8.069/1990) e a extenso dalegitimao para a proposio das aes de entes coletivos em defesa de seus associados oufiliados.

    ADA PELLEGRINIGRINOVER , professora da USP dedicada tanto ao estudo do processocivil como penal, identificou entre os esforos dos processualistas a transformao do processo, de instrumento meramente tcnico, em instrumento tico de atuao da Justia e de garantia da liberdade; a partir desta viso externa, a percepo da necessidade da plena etotal aderncia do sistema processual realidade scio-jurdica a que se destina, cumprindo sua primordial vocao, que de servir de instrumento a efetiva realizao dos direitos.14

    Aponta ainda como iniciativa pioneira nessa tendncia a adaptao do processo individual dotrabalho, que rompeu o esquema tradicional do processo civil, abrindo caminho para a socializao do processo, por fora da atribuio de poderes de direo e controle maisamplos ao juiz, da adoo de uma concreta igualdade de partes (desde o acesso Justia ata paridade de armas dos litigantes, implementada pelo juiz) e do esforo em busca daconciliao, num exemplo marcante de transformao do processo, rumo a um grau maiselevado de deformalizao, democratizao e publicizao.15

    Destaca a autora, ainda, as caractersticas do CPC de 1973 que se coadunam com essatendncia e especialmente os Juizados Especiais de Pequenas Causas, criados pela Lei n.7.244/1984, caracterizados pelos critrios da oralidade, gratuidade, simplicidade e economia;com participao de juzes leigos, rbitros e conciliadores e o incentivo conciliao.

    OVDIO BAPTISTA DA SILVA, processualista gacho, elogiado pela sua ousadia eoriginalidade, orientou toda a sua obra para uma crtica constante s estruturas do processocivil, influenciadas pelo racionalismo e incapazes de atender s demandas sociais,incompatveis com o desenvolvimento da cultura e da histria. Ao comentar a Lei dosJuizados Especiais de Pequenas Causas (Lei n. 7.284/1984),o autorenfrentou a maioria dasobjees que contra ela se opunham, destacando o acesso justia dos litigantes,evidentemente no apenas aqueles que o sentido da palavra carente costuma significar,indicando simplesmente os economicamente dbeis, mas abrangendo todas as verdadeirascarncias, enquanto efetiva e concreta desproporo de armas perante a pugna jurdica.

    E acrescenta:So notrias e antigas, alis, as cr ticas que se fazem s formastradicionais de positivismos legalistas, prprias da civilizao burguesa liberal, produtorasde sistemas jurdicos que proclamam a defesa de liberdades e igualdades apenas abstratas e formais, enquanto permitem e protegem, na triste realidade social de todos os dias, as maisinominveis desigualdades religiosas, econmicas, raciais e polticas, naturalmente refletidasnuma tutela processual apenas formal e retrica, na medida em que aceleradamente,

    13 LACERDA, Galeno. Eficcia da prestao jurisdicional no atendimento s demandas sociais,Uma vidadedicada ao Direito, n. 1, p. 229-230.

    14 GRINOVER,Ada Pellegrini. Deformalizao do processo e deformalizao das controvrsias, Novas

    tendncias do direito processual , n. 1.5, p. 178. Trabalho originalmente apresentado no VIII CongressoInternacional de Direito Processual, no ano de 1987.15 GRINOVER, Ada Pellegrini. Deformalizao do processo e deformalizao das controvrsias, Novas

    tendncias do direito processual , n. 2.1, p. 180.

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    distancia-se da vida socialreal, presa que est a um universo conceitual de muito superado(...) Ora, no segredo para ningum que nosso paradigmtico e exacerbadamente lerdo processo ordinrio uma tcnica eminentemente conservadora, na medida em que privilegia,em geral, a parte economicamente mais forte (Cappelletti, Proceso, ideologias, sociedad, pg.

    276), capaz de resistir anos a fio a uma discusso sbia sem dvida e instrutiva, mas de pouqussimos resultados sociais visveis.16 Criticava a incapacidade do processo em atenders demandas sociais, diante das deficincias tcnicas dos instrumentos processuais utilizados, pois construdos sob influncia ou hegemonia social de camadas liberais burguesas. Conclui,elogiando a lei das pequenas causas: Podemos, portanto, resumir os propsitos fundamentaisalmejados pelo novo instituto, que agora se busca inserir no ordenamento jurdico- processual brasileiro, unindo-os nesse exclusivo objetivo: ampliao da base efetiva da tutela jurisdicional prometida e jamais outorgada pelos sistemas processuais clssicos.17

    ARRUDAALVIM enfrentou o tema pioneiramente em artigo publicado na Revista deProcesso n. 64, sob o ttulo de Anotaes sobre as perplexidades e os caminhos do processo

    civil contemporneo, texto refundido e ampliado no Manual de Direito Processual Civil , itemn. 21-A, sob a denominao de As tendncias atuais do processo civil A socializao do processo civil A fase hodierna do processo civil brasileiro.18 O autor descreve as perplexidades a partir da identificao da convivncia simultnea de dois sistemas, sendo ummoderno e outro com estrutura do que designamos de processo clssico, as funesdesempenhadas, rigidamente separadas, de que se constitui um exemplo o vigente Cdigo de Processo Civil, na sua estrutura originria. H pontos ou setores de estrangulamento quetm demandado alterao nesse sistema, porque deixou de atender s expectativas sociais. 19 Os pontos de estrangulamento existentes no processo clssico foram destacados como: a) ascustas judiciais; b) a inexistncia das Cortes menores (Juizados Especiais) destinadas afacilitar o acesso Justia; c) a inabilitao ou incapacidade de uma das partes para defender-

    se; d) a definio de interesses difusos e coletivos capazes de serem utilmente defendidos; e)incentivo transao como forma de atender a conflituosidade excessiva existente emrelaes durveis e continuativas.

    Disso decorre a incapacidade (insuficincia) de o processo clssico, individualista ecom rgida diviso das funes (conhecimento, cautelar e executiva) atender satisfatoriamentes novas demandas e s alteraes sofridas pela sociedade no perodo posterior s duasGrandes Guerras.

    CNDIDO DINAMARCO, profcuo pesquisador do processo civil, desde as suas proposies iniciais na dcada de 1980, vem orientado para a mudana na interpretao dafuno do processo, visto por ele como instrumento tcnico objetivando o atendimento dos

    fins (escopos) sociais. Na obra A instrumentalidade do processo arrola os escopos da jurisdio e do processo, como sendo o jurdico, o poltico e o social, este voltado a eliminarconflitos com critrios justos, com adaptao das tcnicas processuais que se voagitandonos ltimos tempos, com vistas a adaptar-se s exigncias sociais e polticas que atuam sobre

    16 BAPTISTA DA SILVA, Ovdio A. Juizados de Pequenas Causas, p. 19-21.17 BAPTISTA DA SILVA, Ovdio A. Juizados de Pequenas Causas, p. 21.18

    ARRUDA ALVIM, Anotaes sobre as perplexidades e os caminhos do processo civil contemporneo, Revista de Processo, n. 64, p. 7-27, texto refundido e ampliado no Manual de Direito Processual Civil , vol.1, item n. 21-A, p.78-104.

    19 ARRUDA ALVIM, Manual de Direito Processual Civil,item n. 21-A, p.78.

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    o sistema processual e lhe cobram o cumprimento de seu compromisso com o Estado e com a prpria sociedade20

    E acrescenta: E assim que ao lado das disposies tradicionais do direito processual civil e mesmo na sua interpretao teleolgica, vo surgindo solues reveladorasde uma sensibilidade social antes inexistente. (...) So institutos simplificadores, para abrevidade dos juzos e maior participao dos juzes e das prprias partes, tudo visando a formar uma maior convico mais aderente realidade social dos conflitos e conduzir pronta pacificao indispensvel legitimao social do prprio sistema. (...) A aproximaoda justia populao, feita sem os intuitos demaggicos e corporativistas denunciadosquanto a uma conhecida tentativa europiarecente, um dos pontos cardeais de uma nova

    poltica judiciria compatvel com as exigncias do tempo e com a viso pluralista dosobjetivos do processo.21

    BARBOSAMOREIRA tem dedicado boa parte de sua obra para a reflexo comparatista,22 e o faz levando s outras naes a experincia que se tem produzido no Brasil, nas ltimasdcadas, mas tambm trazendo de outros a experincia para aqui confront-la nossa. Aoapontar Os novos rumos do processo civil brasileiro, no ano de 1994, descrevesinteticamente a evoluo do processo civil, que spouco a pouco, foi -se tomandoconscincia mais clara da ligao entre problemas processuais e as mil condicionantes polticas, sociais, econmicas, do contexto histrico em que a atividade judicial convocadaa exercer-se. 23

    Mas com acuidade identificava quenenhum observador isento deixar de reconhecera fina sensibilidade da moderna cincia do processual brasileira aos valores sociais. Atemtica da proteo jurisdicional dos interesses supra-individuais, v.g., produziu entre nsacervo qui to abundante se bem que de qualidade muito variada quanto em pases de

    mais ricas tradies culturais e jurdicas. Nessa e em outras reas, mostra-se a doutrina, em geral, consciente de utilizar os instrumentos do nosso ofcio para melhor ajustar srealidades e carncias da hora a maneira por que funciona a mquina judiciria.24

    TERESA ARRUDA ALVIM WAMBIER , em obra que sintetiza mais de dez anos de pesquisa sobre o controle das decises judiciais, manifesta j na introduo a tendnciaevolutiva do direito, que se reflete no processo e no modo de decidir dos juzes, no qualobserva que o Estado meramente espectador vem passando a ser Estado preocupado com asdemandas sociais. Nesse momento histrico ocorre uma dita revoluo de valores em quecamadas antes marginalizadas passam a ocupar os centros de deciso. 25 Essa afirmaocoincide com a expanso do direito processual de grupos sociais.

    LUIZ GUILHERMEMARINONI em suaTeoria Geral do Processo identifica uma novaconcepo do direito de ao surgidano apenas porque se percebeu que o exerccio da ao poderia ser comprometido por obstculos sociais e econmicos, mas tambm porque se tomou

    20 DINAMARCO,Cndido Rangel. Instrumentalidade do processo, item n. VIII-31, p. 226.21 DINAMARCO, Cndido Rangel. Instrumentalidade do processo, item n. VIII-31, p. 227.22, Sua obra extensa tem notoriedade desde o clssico Novo Processo Civil brasileiro (22a. ed., 2005) e,

    especialmente, nosComentrios doCPC, v. VIII (Recursos), alm dosTemas de direito processual , sries 1a.a 8a., obra que rene artigos avulsos, conferncias, comentrios etc.

    23 Temas de direito processual , 6a. Srie, p. 65-66.24 Os novos rumos do processo civil brasileiro,Temas de direito processual , 6a. Srie, p. 75.25 ALVIM WAMBIER,Teresa Arruda. Controle das decises judiciais por meio de recursos de estrito direito e

    de ao rescisria, item n. 1, p. 22-23.

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    conscincia de que os direitos voltados a garantir uma nova forma de sociedade, identificadosnas Constituies modernas, apenas poderiam ser concretizados se garantido um real e noilusrio acesso justia.26

    Em todos se nota a conscincia de que o direito processual, enquanto tcnica emtodo, modifica-se ao sabor das influncias culturais, polticas, econmicas eat ideolgicas para atender a demandas de grupos sociais por seus direitos e por justia.

    Uma nova gerao de processualistas vem identificando novas e mais profundasmudanas no processo civil, agora marcado mais profundamente pelas influnciasconstitucionais e pela aplicao mais ampla de princpios. Pode-se destacar dentre essesFREDIE DIDIER JUNIOR ,27 EDUARDO CAMBI,28 DANIEL MITIDIERO,29 A NTONIO DOPASSOCABRAL.

    3 Teoria do processo eteoria dos procedimentos

    A observao de EDUARDOJ. COUTUREtranscrita abaixo permite que se insista na possibilidade do estudo de uma cincia processual com ncleo comum, semcomprometimento com a existncia ou no de uma teoria geral, poisa cincia do processono tem como objeto de conhecimento somente os atos processuais: as peties, as provas, asapelaes, as execues, as formas e os prazos. Essa concepo errnea fez o filsofo pensarque sobre essa base no se pode construir uma cincia de conhecimento do real com validadeuniversal. A cincia do processo se assenta sobre substncias menos frgeis. provvel que,mediante um esforo de abstrao, seja possvel assinalar algumas proposies sobre a prpria essncia do processo, no sobre a sua exterioridade. Essas proposies devemestabelecer a ligao do processo com o direito .30

    A Teoria Geral do Processo, desde sua formulao original, sofreu crticas corrosivas,sendo mais contundente a que previa para cada ramo do processo uma prpria teoria, emrazo dos seus princpios individuais e de sua evoluo especfica. Ainda assim, no seimpediu o desenvolvimento de uma proposta de teoria geral, amparado na busca de identidadede princpios gerais do processo e na indivisibilidade da jurisdio.

    Como sintetiza CNDIDODINAMARCO: reconhece -se, em resumo, que existe muitoem comum entre os diversos ramos processuais e que as peculiaridades de cada um no so suficientes a impedir ou a tornar menos frutfero o exame global dos grandes princpios, dosinstitutos fundamentais e do mtodo comum tudo num plano de plena aplicao a todoseles.31

    26 MARINONI, Luiz Guilherme.Teoria Geral do Processo, 4. ed., Parte II, item 2.1, p. 188-189.27 DIDIER JR., Fredie. Os trs modelos de direito processual: inquisitivo, dispositivo e cooperativo, Direitos,

    deveres e garantias fundamentais. Coord. George Salomo Leite, Ingo Wolfgang Sarlet, Miguel Carbonell.(Cap. VII, p. 427-439).

    28 CAMBI, Eduardo. Neoconstitucionalismo e neoprocessualismo: direitos fundamentais, polticas pblicas e protagonismo judicirio.

    29 MITIDIERO, Daniel Francisco.Colaborao no processo civil : pressupostos sociais, lgicos e ticos. (ParteII, itens n. 1-4, p. 63-102).

    30 COUTURE, Eduardo J. Fundamentos de Derecho Procesal Civil , n. 317, p. 484.31 Instituies de Direito Processual Civil , v. I, n. 11, p. 51.

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    H processualistas civis e penais queadmitem32 e outros que no admitem33 aviabilidade dessa teoria geral do processo ou a preservao do processo em unidade, partindo principalmente da insustentabilidade do conceito de lide no processo penal. Excludo o direito processual penal, restringindo-se o olhar jurisdio civil, em toda a sua amplitude ou mais

    adequadamente jurisdio no-penal pode-se, ento, encontrar outros meios ou critrios declassificao dos processos, sem os percalos e vicissitudes inevitveis na construo de umateoria geral.

    No campo no-penal a identidade entre os ramos maior, mesmo quando novastcnicas, novos processos ou novos procedimentos especiais surgem ou quando se amplia atendncia diferenciao da tutela dos direitos em cada um desses ramos.34

    H fenmenos contemporneos que devem ser observados:o rompimento da noo deao abstrata nica,a multiplicao das variantes processuais, identificadas com asramificaes do direito material; a tutela adequada e diferenciadae, tambm, uma expansoda quantidade de procedimentos especiais no codificados. Observando-se essa tendncia, possvel constatar hoje no Brasil normas e doutrina em direito processual constitucional,direito processual tributrio, direito processual agrrio, direito processual ambiental etc.Rompe-se definitivamente a idia transitria de que um procedimento nico e geral poderiaatender a especificidade de toda e qualquer pretenso material; idia associada tentativa deuniversalizao do procedimento comum ordinrio, enquanto meio tcnico eficaz para aconduo (satisfao) detodo e qualquerinteresse em juzo.

    Em parte essa multiplicao procedimental decorre de uma generalizada insatisfaocom os procedimentos tradicionais (no Brasil o procedimento comum ordinrio do CPC) e, deoutro, pela necessidade de criao de procedimentos especiais dirigidos a causas cominteresse ou relevncia social, como apontaram MAUROCAPPELLETTIe BRIANGARTH na obra

    Acesso Justia.35

    Esses autores denominam essa ltima tendncia comodesvioespecializado que, ao lado dos novos tribunaisvoltados s causas especiais, so tcnicas paraescapar aos tribunais e juzos tradicionais. Apontam a notria outorga de direitos substantivosa grupos ou indivduos considerados fracos e inadequao inclusive dos sistemas delitigao coletiva, marcados pela complexidade e pelo estigma adversarial ou do contraditrio.E avanam para propor que a preocupao fundamental , cada vez mais, com a justia

    32 Admitem a existncia daTeoria Geral do Processo partindo de premissas de que una a jurisdio,

    expresso do poder estatal igualmente uno, uno tambm o direito processual, como sistema de princpios enormas para o exerccio da jurisdio. ( Teoria Geral do Processo, Antonio Carlos Arajo CINTRA; AdaPellegrini GRINOVER; DINAMARCO,Cndido Rangel,n. 16, p. 48) ou como um conjunto de conceitossistematizados (organizados) que serve aos juristas como instrumento de conhecer os diferentes ramos dodireito processual (Jos de Albuquerque ROCHA,Teoria Geral do Processo, p.18).

    33 Tal resistncia decorre, segundo autores como Ovdio A. BAPTISTA DA SILVA e Fbio GOMES,TeoriaGeral do Processo Civil, ponto II.3, p. 38: a) diferenciao na evoluo da cincia, com conseqenteautonomia das reas; b) a unidade indiscutvel, mas suas manifestaes e modos de desenvolvimentocorrespondem a mesma diversidade dos objetos a que se referem; c) os conceitos fundamentais exemplo a possibilidade jurdica do pedido para o processo civil e penal no so conceitos idnticos. Rogrio LauriaTUCCI,Teoria do Direito Processual Penal n. 1.4, p. 34: a) o processo penal no objetiva removerdesacordo entre acusador e acusado; b) objetivo da ao estatal (pena) no poderia ser alcanado pelocontrato; c) revogabilidade do ato decisrio; d) exigncia de contraditrio real; e) no processo penal no preexiste lide (lide material).

    34 MARINONI, Luiz Guilherme.Teoria Geral do Processo, 4. ed. (Parte IV, item 3, p. 459-475).35 CAPPELLETTI Mauro e GARTH, Brian. Acesso Justia, item n. IV-C, p. 90-94.

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    social, isto , com a busca de procedimentos que sejam conducentes proteo das pessoascomuns. 36

    E mais, cresce a exigncia de tutela jurisdicional dos direitos ou tutela diferenciada acada posio do direito material, considerada atutela jurisdicionalcomo o resultado final doexerccio da jurisdio em favor de quem tem razo (e assim exclusivamente), isto , em favorde quem est respaldado no plano do direito material. 37

    Pode-se ento identificar, dentro dessa extensa lista de novas reas ou ramos do direito processual (aplicado) na jurisdio no penal, grupos de processos com caractersticascomuns, identificveis nesses agrupamentos, como forma ou critrio metodolgico declassificao interna dessas variantes.

    Os autores brasileiros, a par de j identificarem a multiplicidade de reas especficasdo processo, relutam em formular ou reformular uma teoria (geral) que tenha cartertransversal, traspassando todas as novas reas do direito processual. Por outro lado, autores,como o uruguaio BARRIOS DEA NGELIS, prope a ampliao da teoria geral para nela incluir o processo administrativo, trabalhista, aduaneiro e OVALLE FAVELA, mexicano, que maisamplamente subdivide as reas em direito processual dispositivo (civil e mercantil), direito processual publicstico (penal, administrativo, familiar, constitucional e eleitoral) e direito processual social (trabalho, agrrio e da seguridade social).

    No Brasil FREDIEDIDIERJR . faz a mais expressiva proposio de criao de uma novaTGP em vista de mudanas como a fora normativa da Constituio, a expanso econsagrao dos Direitos Fundamentais e a expanso da jurisdio constitucional. Destacaoutras razes mais expressivas como a ampliao da Teoria das Fontes e a adoo de tcnicascomo precedentes e clusulas gerais que repercutem severamente sobre os ramos processuais.38

    4 Critrios de classificao dos processos na jurisdio no-penalCom a expanso da jurisdio civil ou, mais precisamente, com a expanso da

    jurisdio no-penal somaram-se novos ramos diviso clssica do direito processual, queinicialmente identificava, como ramos da teoria geral do processo, apenas o processo civil e o processo do trabalho. A excluso do direito processual penal do espectro de reflexo contidoneste estudo preliminar se deve s razes apontadas no item n. 3, que se interpem comoobstculos identidade das duas grandes reas originais do processo (civil e penal).39

    No Brasil o Direito Processual Civil serve de instrumento ao exerccio da jurisdiocivil, seja a exclusivamente privada (civil e comercial), como tambm a pblica(constitucional, administrativa, tributria etc.). Essa amplitude se deve opo do legislador,em no editarcdigos de processo em reas como, administrativa, tributria e outras.

    36 CAPPELLETTI, Mauro e GARTH, Brian. Acesso Justia, item n. IV-C, p. 93.37 Flvio Luiz YARSHELL,Tutela jurisdicional,n. 2.2, p. 28.Em sentido similar vejam-se tambm:

    MARINONI, Luiz Guilherme.Tcnica processual e tutela dos direitos. So Paulo. Revista dos Tribunais,2004.(Cap. 2, p. 51-64); BEDAQUE. Jos Roberto dos Santos. Efetividade do processo e tcnica processual .So Paulo: Malheiros 2006. (Cap. 2, itens n. 1-10, p. 72-102).

    38

    DIDIER JR., Fredie.Sobre a Teoria Geral do Processo, essa desconhecida, 2. ed., item n. 3, p. 126-133. 39 Visto o Direito Processual Penalcomo o complexo de princpios e normas que regulam o exerccio da jurisdio penal e a atividade de perseguio criminal exercidas pela Polcia Judiciria, no h inclu-lo namesma categoria da jurisdio no-penal.

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    Como forma classificatria dos demais ramos, optou-se por uma diviso que incluitrs categorias:a) Processo para defesa dos Interesses Pblicos ou do Patrimnio Pblico; b) Processo para defesa de interesses individuais privados e; c) Processos para defesa deinteresses individuais privados de gruposespeciais (Direito Processualde GruposSociais).

    A utilidade dessas classificaes pode ser didtica, e no raro que se duvide daautonomia de cada uma das possveis divises dos ramos do processo afeto jurisdio no- penal. Qualquer um desses obstculos no invalida essa classificao, na medida em que se possam conjugar os grupos, por possurem princpios prprios e comuns, mesmo quando nose encontre em tais disciplinas a autonomia legislativa ou ainda s exista uma incipienteconstruo doutrinria autnoma.

    A seguir far-se- uma descrio individuada de cada um desses agrupamentos.

    4.1 Processo para defesa dos interesses pblicos ou do patrimnio pblico

    Como dito, o Direito Processual Civil serve de instrumento ao exerccio da jurisdiocivil em toda a sua extenso, seja para defesa do patrimnio do Estado, seja para defesa deinteresses gerais, neles includos o ramo constitucional, o administrativo, o tributrio etc.Contudo, tem-se nesse ramo do direito processual uma postura diferenciada para aplicaodas regras processuais; orienta-se por princpios influenciados pelo direito pblico e a atuaodas partes e do juiz sofre influncia da natureza dos direitos litigados.

    Incluem-se nessa categoria o Direito Processual Constitucional , o Direito Processual Administrativo(Direito Processual Pblico), o Direito Processual Tributrio, o Direito Processual Eleitoral e o Direito Processual Ambiental .40

    O critrio ou os critrios que permitiram a reunio nessa rea de disciplinas que podemser consideradas to dspares o da proximidade delas ao interesse pblico, considerado emsuas duas vertentes, como interesse pblico primrio e interesse pblico secundrio: o primeiro, como os interesses gerais e prevalentes de uma sociedade e os segundos, como ointeresse especfico dos sujeitos administrativos. Segundo esse critrio, serviriam defesa deinteresses pblicos primrios o Direito Processual Constitucional , o Direito Processual Administrativo(Direito Processual Pblico) e o Direito Processual Tributrio, o Direito Processual Eleitoral o e Direito Processual Ambiental , enquanto defenderiam interesses pblicos secundrios.Caracteriza-se pela quase completa indisponibilidade do direito materiale processual, com pequenos espaos de transigibilidade regrada.41

    Nesta rea tm aplicao ampla os princpios constitucionais da inafastabilidade,igualdade formal, proibio das provas ilcitas, devido processo, dever de fundamentar, publicidade e duplo grau.Esses ramos podem produzir decises individuas, mas tambm dealcance geral (ultrapartes), como no Direito Processual Constitucional, visto tambm comoum processo coletivo especial.42

    40 Ainda, se possvel fosse a conformao autnoma, seria aqui includo o Direito Processual Concorrencial ou Econmico.

    41 Ver, neste sentido: GUEDES, Jefferson Cars. Transigibilidade de interesses pblicos: preveno e abreviao

    de demandas da Fazenda Pblica. Advocacia de Estado: questes institucionais para a construo de umEstado de Justia, p. 243-272.42 ALMEIDA, Gregrio Assagra de. Direito processual coletivo brasileiro: um novo ramo do direito processual,

    cap. 5, p. 157-262.

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    4.1.1 Direito Processual Constitucional NELSON NERY JR . afirma que Direito Processual Constitucionale Direito

    Constitucional Processualno so ramos novos do direito processual, sendo ambos parte da jurisdio constitucional . Contudo, adverte que no se pode confundir o Direito ProcessualConstitucional,visto como a reunio de princpios para o fim de regular a jurisdioconstitucional, com Direito Constitucional Processual , este ltimo como conjunto de normasde Direito Processual presentes na Constituio.43

    Se so efetivamente disciplinas distintas,fica claro que so dependentes entre si,e quese reportam no conjunto Justia Constitucional, mas afetas uma e outra, a procedimentosque podem ser absolutamente diversos; que podem ser privados em um e pblicos em outro;que podem ser de repercusso geral em um e estritamente individual em outro.

    Exemplos do Direito Processual Constitucional so os procedimentos especiaisreunidos em duas categorias: a) a primeira referente s aescomo o Mandado de Segurana,o Habeas Data, Mandado de Injuno, Ao Popular, Reclamao Constitucional e, b) a segunda, relacionada ao controle da constitucionalidade, tendo como instrumentos a AoDireta de Inconstitucionalidade por ao e por omisso e a Ao Declaratria deConstitucionalidade (Lei n. 9.868/1999), a Argio de Descumprimento de PreceitoFundamental (Lei n. 9.882/1999). Em sntese, a jurisdio constitucional.

    Guiam-se,de modo amplo, pelos princpios constitucionais gerais do processo: ocontraditrio; a ampla defesa; o devido processo; o duplo grau de jurisdio; a igualdade; odever de motivar decises; a proibio da prova ilcita; a inafastabilidade do controle judicial ; o juiz natural ; a publicidade. As aes relacionadas ao controle daconstitucionalidade possuem regras especiais que os atenuam ou diferenciam, assim como asespeciais de competncia, de legitimaoespecial, efeitos das decises,de recursos e de prazos etc.associadas necessidade de objetivao do processo e ao alcance que deve ter adeciso. Em muitos casos so procedimentos de legitimao especial e restrita a certossujeitos processuais muito prprios.

    4.1.2 Direito Processual Administrativo (Direito Processual Pblico)O Direito Processual Administrativoou Direito Processual Pblico44 a parte do

    Direito Processual, (...) em que o Direito Pblico o direito material envolvido, donde areduo do campo temtico pela aposio do termo Pblico, de modo a estabelecer umadistino em relao ao Direito Processual Civil. 45

    Para o efeito que se pretende com essa diviso, no est inserido nessa categoria todoo espectro de direitos considerados pblicos, notadamente aqueles que se insiram em uma dasdemais classificaes de direitos processuais de interesse pblico ou do patrimnio pblico.

    43 Nelson NERY JR., Princpios do processo civil na Constituio, n. 1, p. 15-16.Diversa a proposioclassificatria de EDUARDOFERRERMAC-GREGOR , amparada nos estudos de HCTORFIX-ZAMUDIO, postaem dois diferentes trabalhos: El derecho procesal constitucional como disciplina jurdica autnoma, Anuariode Derecho Constitucional Latinoamericano, Anuario 2006, Tomo I, p. 353 e Las garantias constitucionalesdel proceso y el Dedecho Constitucional Procesal, Panormica del derecho procesal constitucional yconvencional , item IV, p. 133-137.

    44

    A expresso poder se criticada porquanto se argumente que todo o direito processual pblico,embora aquise refira ao direito material em disputa.45 SUNDFELD, Carlos Ari. O direito processual e o direito administrativo, Direito Processual Pblico, n. 1, p.

    17.

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    Tambm est excludo o Processo Administrativoem sua concepo no jurisdicional, passvel de reviso pelo Poder Judicirio, como os demaisexemploscitados.

    O DPA orienta-se pelos princpios constitucionais do processo, com certa mitigao daigualdade e preservao de algumas prerrogativas em favor da Fazenda Pblica e guiado pela busca daverdade real, com concesso de poderes instrutriosmais amplosao juiz e aumentode seus poderes de direo do processo.H, contudo, algumas matrias que envolvemAdministrao que ficam excludas, por razes especiais, dessa fora hegemnica que pode possuir a Administrao em algumas situaes processuais.46

    Para o exerccio desse direito utiliza o instrumento geral da jurisdio civil, o CPC,mas se complementa de regras processuais especiais como: Decreto-lei n. 3.365/1941, queregula a desapropriao; a Lei da Ao Popular (Lei n. 4.717/1965); Lei da Ao CivilPblica (Lei n. 7.347/1985), leis sobre desapropriaes, como a Lei Complementar n.76/1993, lei sobre concesso e permisso da prestao de servios pblicos, Lei n.8.987/1995,nova Lei do Mandado de Segurana (Lei n.12.016/2009), dentre outras tantas.Entre os procedimentos mais poderosos de defesa estatal, integrantes do DPAD, est aSuspenso de Segurana (Lei n. 8.437/1992 e Medida Provisria n. 2.180-35/2001), quemitiga drasticamente os direitos processuais daqueles que litigam e obtm medidas urgentescontra a Administrao.47

    4.1.3 Direito Processual TributrioO Direito Processual Tributrio ou o processo judi cial tributrio constitui a soma de

    princpio que vivificam o sentido e a funo desempenhada pelos institutos jurdicos emnosso sistema jurdico, especificamente na relao fisco/contribuinte e contribuinte/fisco. 48

    Como regras especiais que do conformao a esse ramo do direito processual se podem arrolar aquelas relacionadas execuo fiscal (Lei n. 6.830/1980), de um lado, e poroutro, os procedimentos antiexacionais de defesa do contribuinte, defensivas, corretivas ereparadoras, como a ao anulatria de dbito fiscal (art. 151, inc. V, do CTN). A novaLei doMandado de Segurana (Lei n.12.016/2009), tambm utilizada para fins defensivos contraatos da administrao tributria.

    Guia-seo DPT pelos princpios constitucionais processuais e por princpios gerais processuais cogentes, alm de princpios especficos, como o princpio da proteo aoexecutado e da inexistncia da execuo sem o ttulo. So exemplos de procedimentosMandado de segurana individual e coletivo em matria tributria, Ao de repetio e

    indbito tributrio, Execuo fiscal e embargos do executado, cautelares fiscais etc.

    46 So exemplos as matrias Previdenciria, Assistencial ou Acidentria, quando tramitam em Juizados Especiaisou com competncia delegada (acidentria), situaes nas quais os privilgios processuais de entidades pblicas so minorados ou desaparecem, nas quais se admite a possibilidade de transao regrada, somitigados os meios recursais ou as aes impugnativas autnomas, entre outras alteraes compensatrias.

    47 Este instrumento de defesa estatal, capaz de desequilibrar as relaes processuais em que litigue o Estado(Entes federados e seus demais entes administrativos), permite que a defesa ultrapasse o planoexclusivamente jurdico, ingressando em questes econmicas, sociais e polticas, por meio incidental,

    interposto paralelamente a recursos, dirigido diretamente aos presidentes de tribunais (Tribunais de Justia,Tribunais Regionais Federais, Superior Tribunal de Justia e Supremo Tribunal Federal) e visando aobteno de liminares sispensivas das ordens judiciais de rgos inferiores.

    48 CAIS, Cleide Previtalli.O processo tributrio, item n. 8.1.1, p. 223.

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    4.1.4 Direito Processual EleitoralO Direito Processual Eleitoral o conjunto de normas processuais utilizadas em

    decorrncia das demandas eleitorais e para a efetivao do direito material eleitoral,relacionado, portanto, com a eleio e com a candidatura ou a um mandato eleitoral pblico.Enquanto campo especial do processo, tem extenso menor que os demais ramos arrolados,embora preserve peculiaridades que se acentuam pela especialidade da justia que o aplica,organizada desde o 1o. Grau de jurisdio, em paralelo justia comum, seguida de TribunaisRegionais Eleitorais edo Tribunal Superior Eleitoral.

    Configura-se o DPE por um conjunto de leis com regras materiais e processuais:Cdigo Eleitoral (Lei n. 4.737/1965), Lei Orgnica dos Partidos Polticos (Lei 5.682/1971),Lei Complementar n. 64/1990, leis sobre eleies (Lei n. 9.100/1995, Lei n. 9.504/1997),regras que se valem apenas subsidiariamente do Cdigo de Processo Civil.

    Podem ser indicadas como regras especiais as que determinam como legitimadosativos os Partidos Polticose Coligaes, o Ministrio Pblico Eleitoral e os prprioscandidatos; como princpios, identificam-se a celeridade resultante da exigidade de prazos, aampliao dos poderes instrutrios do juiz, os poderes de requisio de provas (art. 5o, 3o, 4o e 5o, LC 64/1990) e certo poder normativo regulamentar atribudo Justia Eleitoral.

    Dentre os procedimentos que do contornos especiais a essa rea do direito processualest Ao de Reclamao por Propaganda Irregular (Lei n. 9.054/1997) esto aAo deInvestigao Judicial Eleitoral (LC n. 64/1990), Ao de Reclamao por Captao Irregularde Sufrgio (Lei n. 9.054/1997), Ao de Reclamao por Arrecadao e Gastos Ilcitos (Lein. 9.054/1997, art. 30-A), Ao de Reclamao das Condutas Vedadas dos Agentes Pblicosem Campanhas (Lei n. 9.054/1997, art. 30-A), Ao de Reclamao s Doaes Irregularesaos Comits Eleitorais (Lei n. 9.054/1997, art. 30-A), Ao de Impugnao de MandatoEletivo (CF e LC n. 64/1990), Ao de Impugnao de Registro de Candidatura (LC n.64/1990), Ao de Impugnao de Diplomao.

    4.1.4 Direito Processual AmbientalA CF de 1988 estabelece, no art. 170, inc. VI, a defesa do meio ambiente como

    princpio da ordem econmica, nele compreendido, o meio ambiente natural, o artificial, ocultural, o do trabalho e o meio ambiente gentico.

    A proteo processual dos direitos ambientais, veiculada pelo Direito ProcessualAmbiental se orienta por regras especiais de legitimao ativa e passiva, regras especiaisrecursais, amplitude do poder geral de cautela e a viabilidade mais larga da tutela de urgnciae outras em face da ameaa ou leso ao direito protegido e, ainda, regras especiais decompetncia.49 No existe restrio aum instrumento processual para a defesa do meioambiente, mas a ao civil pblica se tem revelado dos meios mais adequados e eficazes paraa defesa dos interesses e direitos relacionados a essa rea.

    Orienta-se o direito processual ambiental por princpios prprios, influenciados pelodireito material ambiental, com regras prprias de legitimao especial, princpio de proteoda verossimilhana como meio de preveno da leso, distribuio compensatria ou inversodo nus da prova, princpio da preveno. exceo da ao civil pblica (ACP), inexistem

    49 Ver a respeito obras especficas de Celso Antonio Pacheco FIORILLO, Princpios do processo ambiental eTESSLER, Luciane Gonalves,Tutelas jurisdicionais do meio ambiente:tutela inibitria, tutela de remoo,tutela de ressarcimento na forma especfica.

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    procedimentos especiais novos ou especficos para a defesa ambiental, estimulando aconcesso de tutelas especiais na ACP ou em demandas que seguem o procedimento comum,considerado inadequado s peculiaridades do direito material.50 Dentre as tcnicas processuaisadequadas defesa ambiental so indicadas a antecipao da tutela, multa, execuo direta,

    execuo especfica, ressarcimentos, compensaes, indenizaes.

    4.2 Processo para defesa de interesses individuais privadosEssa a rea do direito processual que serviu de nascedouro das demais reas do

    processo e nela que se encontraro as razes, as marcas iniciaise os desdobramentos paraasdemaisreas processuais.

    Caracteriza-se esse grande ramo pela disponibilidade dos interesses materiais nelelitigados, que influenciam as leis de processo, trazendo a elas uma maior disponibilidade dasregras, desde a demanda, o impulso oficial, a iniciativa probatria, a amplitude do objeto de

    prova, as regras e a extenso dos recursos.Segue princpios constitucionais gerais do processo, tal como ocontraditrio; a ampla

    defesa; o devido processo; o duplo grau de jurisdio; a isonomia; o dever de motivardecises; a proibio da prova ilcita; a inafastabilidade do controle judicial ; o juiz natural ; a publicidade, mas tem regras prprias que atenuam esses princpios ao permitir, por exemplo,a arbitragem privada, mitigando a regra da inafastabilidade da jurisdio. So ramos o DireitoProcessual Civil e o Direito Processual Comercialou Empresarial.51

    4.2.1 Direito Processual Civil

    O Direito Processual Civilrestar ao fim deste estudo como o ramo do direito processual que rene os princpios e as normas reguladoras da jurisdio civil em seu sentidoestrito, dele excludos todos os demais ramos da jurisdio no-penal. Sua amplitude, seguidoeste raciocnio, residual, mas incorpora as reas que no adquiriram aindaautonomia comoo processo de sucesses, processode parte da propriedade e posse de bens privados, o processo relacionado a contratos e obrigaes e outros.

    O DPC segue princpios constitucionais gerais do processo, com atenuao de certos princpios publicsticos, ora prestigiando a arbitragem privada,atenuando a regra dainafastabilidade da jurisdio, mas, principalmente, limitando a atividade do juiz iniciativadas partes.

    No plano dos princpios no constitucionais ou especficos, impe-se maior rigor exigncia de inrcia da jurisdio (art. 2 do CPC) e ao princpio dispositivo, limitando ainiciativa probatria das partes (art. 132 do CPC), imposio de rigidez ao princpio da precluso e da eventualidade e ampla imposio de penas sucumbenciais. Esto includosnessa rea os procedimentos relacionadas posse e propriedade de bens, famlia, sucesses ea extensa rea de obrigaes e contratos privados no comerciais.

    50 Luciane Gonalves TESSLER, aps apontar a inidoneidade do processo civil clssico para a tutela ambiental,destaca as tcnicas efetivas e o processo coletivo como meios hbeis a essa espcie de direito material,indicados no prprio ttulo da obraTutelas jurisdicionais do meio ambiente:tutela inibitria, tutela de

    remoo, tutela de ressarcimento na forma especfica, Parte II, itens 1-3, p. 155-382. 51 possvel que se classifique parte dessas reas do processo como umdireito processual inquisitrio, emoposio ao direito processual dispositivo, considerando -se a cogncia ou o carter impositivo das regras processuais.

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    O novo CPC traz algumas mudanas importantes especialmente por mecanismos decoletivizao de demandas individuais,quando se deparar com diversas demandasindividuais repetitivas, oficiar aos legitimados a propor a ao civil pblica para, se for ocaso, promover a propositura da ao coletiva respectiva que podero servir a defesa desses

    interesses.

    4.2.2 Direito Processual EmpresarialPor tradio brasileira recente, o Direito Processual Comercial se insere ou

    absorvido por completo pelo Direito Processual Civil; contudo, na histria do processo brasileiro, houve perodo de autonomia, como aquele ocorrido no Imprio, quando se editou oCdigo Comercial brasileiro (1850) e a regra processual que se lhe seguiu, o Regulamento737/1850.52 No perodo republicano, quando se editaram cdigos estaduais de processo,algumas dessas legislaes locais eram dedicadas ao direito processual civil e ao direito processual comercial.53

    Com a unificao do processo civil, pela edio do CPC de 1939, os procedimentos do processo comercial passaram a ser por ele regulados, com excluso daqueles afetos a leisespeciais, como o procedimento de falncias, regulado desde 1945 pelo Dec. 7.661/1945,54 recentemente suplantado pela Lei n. 11.101/2005. Podem-se ainda arrolar como leis especiais, dentre outros, o Dec.-Lei 70/1966; Dec.-Lei 167/1967, sobre cobrana e execuo de cdularural; Dec. 911/1969; Lei 6.313/1975, sobre crditos exportao e a Lei 6.840/80, sobrecrditos comerciais.

    Orienta-se, como o direito processual civil, pelos princpios constitucionais processuais e, no plano dos princpios no-constitucionais, pelo rigor exigncia de inrcia da jurisdio (art. 2 do CPC) e do princpio dispositivo, limitando a iniciativa probatria s partes (art. 132 do CPC), imposio de rigidez ao princpio da precluso, da eventualidade eda sucumbncia.

    O processo falimentar se reveste de caractersticas especiais, tal como a unicidade do juzo, e a preservao de interesses protegidos, com a hierarquia do quadro geral de credores,significativamente alterado pela Lei n. 11.101/2005, em que se privilegiam interesses privados com garantia, em detrimento de tributos e de interesses de trabalhadores, porexemplo.

    52 O Regulamento 737, de 25.11.1850, era norma processual especfica do direito comercial, editada em seguidaao Cdigo Comercial, mas teve, a partir de 1890, por fora do Decreto 763, de 19.09.1890, do governorepublicano, aplicao s causas cveis.

    53 So exemplos: Codigo do Processo Civil e Commercial do Estado do Rio Grande do Sul, Codigo do ProcessoCivil e Commercial do Estado do Maranho, Codigo do Processo Civil e Commercial do Estado do EspritoSanto, Codigo do Processo Civil, Commercial, Penal e Orphanologico do Estado da Bahia, Codigo doProcesso Civil e Commercial do Estado do Paran, Codigo do Processo Civil e Commercial do Estado doPiau, Codigo de Processo Civil e Commercial do Estado de Sergipe, Codigo do Processo Civil eCommercial do Estado do Cear, Codigo do Processo Civil e Commercial do Estado do Rio Grande do Norte, Codigo do Processo Civil e Commercial do Estado do Pernambuco, Codigo do Processo Civil eCommercial do Distrito Federal, Codigo do Processo Civil e Commercial do Estado do So Paulo, Codigo doProcesso Civil e Commercial do Estado do Esprito Santo, Codigo do Processo Civil e Commercial do

    Estado da Paraba.54 Por tradio, desde o Imprio e na Repblica, as regras sobre quebras so autnomas com relao s demaisregras processuais, podendo ser indicados como exemplos o Dec. 2.691/1860, Dec. 3.308/1865, Dec. 917/1890, Lei 2.024/1908.

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    Pode-se dizer que no Direito ProcessualEmpresarialesto includos os procedimentosque servem de instrumento ao direito material societrio e da empresa, bancrio, dos ttulos decrdito etc.

    4.3 Processos para defesa de interesses individuais especiais (Direito Processualde Grupos Sociais)

    Como fruto da diviso que foi anteriormente proposta, na qual a jurisdio civil ouno-penal se divide em ramos de Processo para defesa dos Interesses Pblicos ou do Patrimnio Pblico, Processo para defesa de interesses individuais privados, Processos paradefesa de interesses individuais especiais (Direito Processualde Grupos Sociais), caracteriza-se este ltimo pela presena de interesses privados diferenciados, amparados por regrasmateriais e, tambm, protegidos pela regras processuais especiais.

    O estudo que aproveite as reflexes da sociologia e da cincia poltica poder apontar

    para critrios diferentes dos que aqui adotamos, principalmente se se considerar que certasreas do direito e do processo esto relacionadas afirmao de lutas sociais identificadascom o estado de bem-estar social, ao passo que outras (mais recentes) esto ligadas s lutas por legitimao de certos grupos sociais.

    Orientam-se essas reas do direito processual pelos princpios constitucionais processuais, pelos princpios processuais gerais e por princpios prprios, tal como o princpioda igualdade por compensao, o princpio do impulso oficial e o princpio distribuiocompensatria ou da inverso do nus da prova, s vezes presentes o princpio daflexibilidade da valorao das provas, os princpios da oralidade (imediatidade, concentrao)e o princpio da especializao da justia (juizados especiais e no de exceo).

    Esse critrio que segmenta os processos relacionados aos sujeitos especiais cominteresses hoje protegidos, tem suas prprias razes, que podem ser de ordem poltica ouideolgica. possvel que se aponte desconformidade entre as reas, consideradasheterogneas, pois nascidas e desenvolvidas em circunstncias histrica e socialmentediversas.

    4.3.1 Direito Processual do TrabalhoDas reas mais bem estruturadas do Direito Processual Social e de nascimento mais

    distante, o Direito Processual do Trabalho o ramo do direito processual destinado soluo dos conflitos trabalhistas, 55 fortalecido por uma legislao especial, a Consolidaodas Leis do Trabalho, e por outras normas especiais de implicao processual e, ainda, poruma justia especial prpria, a Justia do Trabalho.

    Marcado por princpios prprios, o Direito Processual do Trabalho norteia-se pela proteo do trabalhador, pela normatividade das decises coletivas, pela indisponibilidade dorito, pelo privilgio conciliao, pela concentrao de atos processuais e pelo incentivo oralidade, pela irrecorribilidade das decises interlocutrias, pela busca da verdade real etc.

    Tambm se nota mitigao do princpio da demanda, quando se concede ao juiz ainiciativa na execuo. e do princpio dispositivo, quando ampliada a iniciativa probatriado juiz.

    55 NASCIMENTO, Amauri Mascaro do.Curso de Direito Processual do Trabalho, cap. III, 1, n. 33, p. 53.

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    Como exemplo de procedimentos prprios, contm os dissdios individuais (aoindividual: simples ou plrimas), os dissdios coletivos de carter normativo e foraobrigatria (ao coletiva); o inqurito judicial para apurao de falta grave (ao declaratriade falta grave). Admitem-se tambm na Justia do Trabalho as cautelares e certos

    procedimentos especiais (consignao em pagamento etc.) e possui execuo que segue aCLT e subsidiariamente o CPC.

    4.3.2 Direito Processual Imobilirio Agrrioe UrbanoO Direito Processual Agrrio, que tem em outros pases ibero-americanos uma

    robusta conformao, no Brasil no teve o mesmo desenvolvimento, ainda que se identifique por suas peculiaridades e receba conceituao como aquele ramo que possui objetivo, predominantemente pblico, com princpios e normas prprias, capazes de propiciar a soluo rpida e sem excessos de formalismos, dos conflitos gerados no campo.56

    possvel afirmar que a trajetria da construo dos direitos sociais, no planolegislativo, se desenvolve segundo um processo de afirmao constitucional, seguido por um processo de elaborao legal infraconstitucional para, depois, se estabelecer na via processualo instrumento para a sua afirmao e eficcia real ou material.

    ALFREDO BUZAID, citando MAURO CAPPELLETTI, identificou a dificuldade deconstruo de um direito processual agrrio no Brasil ao afirmar que: na verdade o problema processual do direito agrrio nada mais do que uma manifestao de um problema maisvasto: o da autonomia jurdica deste ramo do direito .57 Pois a autonomia material precede especializao processual.

    A CF de 1988, art. 170, situa como princpio da ordem econmica a funo social da

    propriedade, esta considerada essencial para o desenvolvimento da atividade agrcola, decriao de animais ou mesmo para as atividades extrativistas. Marcou a evoluo dalegislao agrria a edio do Estatuto da Terra (Lei n. 4.504/1964), ao discriminatria (Lein. 6.383/1986), usucapio especial (Lei n. 6.969/1981), a regulamentao dos dispositivosconstitucionais relativos Reforma Agrria (Lei n. 8.629/1993). So tipicamente agrrias asdemandas de cumprimento, de despejo, consignao, resciso e indenizao em contratosagrrios, de preferncia, de diviso, demarcao e extino de condomnio agrrio, usucapioespecial e nunciao de obras rurais, alm da desapropriao para fins de reforma agrria. Nota-se, contudo, uma expanso dos conflitos imobilirios do meio rural para o meio urbano,decorrente da migrao de contingentes populacionais para as cidades. Com isso se pode hojeagrupar essas espcies de conflito em duas categorias imobilirias similares: um DireitoProcessual Imobilirio Agrrio, de luta pela terra, e outro Direito Processual ImobilirioUrbano de luta pela moradia.

    Esses ramosadotam, sem exceo, os princpios constitucionais processuais, tal comocontraditrio, ampla defesa, duplo grau, isonomia, publicidade etc. Quanto aos princpiosgerais do processo: princpio dispositivo e da demanda, lealdade processual e boa-f, e,tambm, princpios especiais ou prprios dentre os quais podem ser arrolados: princpios dasimplificao e da oralidade, com identidade fsica e concentrao de atos, princpio da

    56 Marcos Afonso BORGES, Princpios do direito processual: civil e agrrio, p. 25-26.

    57 BUZAID, Alfredo.Do processo agrrio, Estudos e pareceres de Direito Processual Civil , p. 17-30. Essaatrofia pode ser decorrncia, em parte, da inexistncia de uma justia especializada agrria, como em outrasnaes, mas tambm da desateno estatal para o conflito social agrrio e a fragilidade dos litigantes e desuas organizaes associativas.

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    gratuidade de justia, princpio da indisponibilidade das regras e fixao da competnciasegundo o local dos bens litigados.

    So exemplos de procedimentos dessa rea o Usucapio especial agrrio (Lei n.6.969/1981), a Ao Discriminatria de Terras Pblicas (Lei n. 6.383/1976) e as imisses possessrias agrrias,o usucapio especial urbano (Lei n. 10.257/2001), o usucapio especialcoletivo (Lei n. 10.257/2001) e os mecanismos de cesso de uso de terras pblicas ou mesmoos procedimentos de usucapio extrajudicial j criados ou projetados no novo CPC.

    4.3.3 Direito Processual Previdencirio e Assistencial SocialO Direito Processual Previdencirio e Assistencial Social pode ser descrito como o

    conjunto de princpios e regras processuais que regulam os procedimentos com vistas aquisio dos benefcios previdencirios e assistenciais58 ou parte do direito processual quetem como contedo material o litgio judicial pelos benefcios previdencirios e assistenciais.

    O benefcio assistencial de prestao continuada previsto na Constituio Federal, art. 203,59

    e regulamentado pela Lei Orgnica da Assistncia Social (Lei n. 8.742/1993)60 no temnatureza previdenciria, sendo entretanto legitimado passivo da demanda o INSS, que gere o benefcio para o Ministrio do Desenvolvimento Social, justificando o tratamento processualconjunto.

    De modo especial, aps a edio da Lei dos Juizados Especiais Federais (Lei n.10.259/2001), que se subsidia na Lei dos Juizados Especiais Cveis e Criminais (Lei n.9.099/1995) no que aquela no a contrariar, desse sistema que se extrai o novo DireitoProcessual Previdencirio. Esse novo modelo se baseia na ampliao do acesso justia, emum modelo consensual, econmico e simplificado, oral e concentrado, informal e clere.Submetido ao limite de 60 salrios mnimos, os pagamentos de condenao ou acordo nesses juizados no se vinculam ao pagamento por precatrio, mas a pagamento direito de RPV(Requisies de Pequeno Valor).

    Dificilmente se encontraria uma rea ou reas do direito processual que reunisse taladequao aos Juizados Especiais Federais, como as aes para obteno do benefcioassistencial (CF, art. 203) e as aes para a obteno dos benefcios previdencirios,decorrendo, neste caso, a identificao da subrea do processo com o prprio microssistemados Juizados Especiais.

    Mas se podem identificar critrios ou princpios prprios, tais como a celeridade, asimplicidade, a informalidade e a oralidade, alm daqueles que se relacionam especificamente

    aos juizados especiais federais, tais como a ampliao dos poderes do juiz para deferirmedidas urgentes (art. 4),equivalente ao ativismo processual, ausncia de prazosdiferenciados, isonomia com reduo das prerrogativas da Fazenda Pblica, fim do dogma da

    58 Para os efeitos restritos deste trabalho no foram includos os procedimentos ou aes fiscais ou anti-exacionais relacionadas ao custeio da Previdncia Social, sejam as originadas de contribuies sob gesto daSecretaria da Receita Previdenciria ou da Secretaria da Receita Federal, por se tratar puramente de Direito Processual Tributrio.

    59 Art. 203. A assistncia social ser prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuio seguridade social, e tem por objetivos: (...) V - a garantia de um salrio mnimo de benefcio mensal pessoa portadora de deficincia e ao idoso que comprovem no possuir meios de prover prpria

    manuteno ou de t-la provida por sua famlia, conforme dispuser a lei. 60 Art. 20. O benefcio de prestao continuada a garantia de 1 (um) salrio mnimo mensal pessoa portadora de deficincia e ao idoso com 70 (setenta) anos ou mais e que comprovem no possuir meios de prover a prpria manuteno e nem de t-la provida por sua famlia.

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    indisponibilidade do direito pblico, pagamento por ordem judicial, sem precatrio, fim doreexame necessrio e recurso somente sobre direito material, dirigido a turmas recursais etc.

    J somammuitasdezenas as obras sobre os Juizados Especiais Federais, massomenteh pouco surgiram obras dedicadas doutrina processual da matria previdenciria eassistencial social nesses juizados ou sobre a atuao da autarquia previdenciria (INSS). Nesse ramo especial, pretende a doutrina a realizao do ideal constitucional de um processo justo, isto , um processo conduzido por uma atuao jurisdicional que leve em conta os particularismos da lide que se apresenta como carente de composio (...).61 Assistemtico,esse ramo se vem formando a partir de regras especiais de competncia, s vezes delegada Justia Comum dos Estados, exigncia limitada de prvio requerimento administrativo propositura de aes, relativizao da indisponibilidade dos interesses pblicos litigados etransigibilidade limitada, expanso das regras probatrias e adotando outras regras flexveis,que admitem a fungibilidade entre alguns procedimentos para a obteno de benefcios,relativa instabilidade da coisa julgada em alguns benefcios etc.62

    A construo jurisprudencial feita com carter compensatrio material e processual,como pode se ver na Smula 47 TNU (Turma Nacional de Uniformizao) dos JuizadosEspeciais Federais, exemplo de valorao de elementos no previstos expressamente na lei para a concesso de benefcios.63

    4.3.4 Direito Processual do ConsumidorH autores que consideram possvel a existncia de um sistema processual de defesa

    do consumidor , donde no haveria dificuldades de se extrarem regras prprias ecaracterizadoras de um Direito Processual do Consumidor 64 que se origina na ConstituioFederal, art. 5o, inc. XXXII, onde se prev que o Estado promover, na forma da lei, a defesado consumidor e do art. 170, que estabelece como princpio da ordem econmica a defesa doconsumidor (inc. V).

    Conquanto a defesa processual do consumidor possa ser feita por todas as espcies deaes (art. 83 do CDC), essa lei especial, o Cdigo de Defesa do Consumidor (Lei n.8.078/1990), prev regras processuais especiais e estabelece princpios que autorizam a suaconformao autnoma. Essa conformao autnoma se d, em sua maior parte, pelo processocoletivo, pelas aes coletivas, cercado por todas as peculiaridades que esse sistema possui,mas no exclui o processo individual de consumo, que preserva singularidades, embora sejaregido pelas normas gerais de processo (CPC) e por leis extravagantes.

    Em qualquer das modalidades, haver no processo a facilitao da defesa doconsumidor e faculta-se ao juiz inverter do nus da prova (art. 6, inc. VIII), a tutelaespecfica das obrigaes (art. 84, 6, inc. VI), a responsabilizao objetiva do fornecedor(art. 12) ou a possibilidade da execuo individualin utilibus da condenao dada em aocoletiva e a ampliao dos poderes do juiz, que pode ser equiparado ao que se denominaativismo processual para a concesso de tutela de urgncia (art. 84, 3).

    61 SAVARIS, Jos Antnio. Direito Processual Previdencirio, 4. ed., item n. 1.9, p. 56.62 SAVARIS, Jos Antnio. Direito Processual Previdencirio, 4. ed., Caps. 2, 6, 7 e 10.63

    Smula 47 - TNUUma vez reconhecida a incapacidade parcial para o trabalho, o juiz deve analisar ascondies pessoais e sociais do segurado para a concesso de aposentadoria por invalidez. 64 Exemplo a obra recente de Adriano Percio de PAULA, Direito Processual do Consumidor , com exame dos

    principais intitutos processuais sob o enfoque dessa nova rea do direito processual.

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    4.3.5 Direito Processualdo Nascituro, da Criana e Adolescente e dos Jovens Desde a Constituio Federal de 1988, ganhou contornos mais definidos os deveres do

    Estado na defesa de crianas e de adolescentes65

    consolidados com a edio do Estatuto daCriana e do Adolescente, Lei no. 8.069/1990,66 composto de largo rol de regras materiais penais e no-penais. Novas leis, nos ltimos anos, tm ampliado esse rol de grupos etrios protegidos por leis especiais, como se v com a criao do Estatuto da Juventude, Lei. n.12.852/201367 e de outras normas.

    No campo processual as regrasdestinadas a esses grupos sociais se ampliam eseguema linha das leis especiais elaboradas nesse perodo, com incluso de previso de tutelaespecfica, processo coletivo, regras especiais sobre competncia eregras ampliadas delegitimidade,mudana dos efeitos dosrecursos etc.

    Rege-se por princpios constitucionais processuais, com destaque para a isonomia por

    compensao, que influencia os demais princpios processuais gerais e aqueles consideradosespeciais como a gratuidade de justia e assistncia jurdica, ausncia de pagamento dedespesas recursais (preparo), intimao pessoal do advogado e dos responsveis,simplificao e celeridade (prazo para recursos de 10 dias), preferncia no julgamento derecursos, recursos com efeito apenas devolutivo e possibilidade de leso (tutela de urgncia),alm das regras especiais de legitimao do Ministrio Pblico,da Defensoria Pblica, tanto para propor aes como para interpor recursos.

    De modo similar defesa processual do consumidor, a defesa de crianas eadolescentes pode ser feita por todas as espcies de aes (art. 212 do ECA),que tambm prev regras processuais especiais e estabelece princpios que permitem estudo autnomo. OCPC tem aplicao subsidiria ao ECA (art. 212, 1) e h previso especfica do cabimentoda ao mandamental contra autoridade pblica ou agente de pessoa jurdica, que lesemdireito lquido e certo dos sujeitos protegidos pela lei. Tambm so utilizveis quaisquer processos (comum ordinrio ou sumrio, executivo ou cautelar) ou procedimentos especiais(consignao, possessrias, alimentos etc.), com as influncias principiolgicas que o ECAintroduziu.

    Dentre as regras recursais se destaca a do inc. VII do art. 198 do ECA, que autoriza o juiz que rever sua deciso quando recorrida por apelao, proferindo nova, mantendo oureformando o que decidira, antes de remet-la instncia superior.O Estatuto da Juventude prev a adoo de medidas com vista proteo do direito de igualdade por meio de programas que permitam o estmulo cidadania e o acesso Justia (EJ, art. 18, inc. I).

    Outra inovao quantos aos direitos de grupos etrios a possibilidade de concessode alimentos ao nascituro, ditos alimentos gravdicos, previstos na Lei n. 11.804/2008, poisdestinados gestante. Com previso de concesso de medida urgente, aps cogniosumria, baseada em indcios, reduo de prazo para resposta para 5 dias e a possibilidade de

    65 Art. 227. dever da famlia, da sociedade e do Estado assegurar criana e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito vida, sade, alimentao, educao, ao lazer, profissionalizao, cultura, dignidade, ao respeito, liberdade e convivncia familiar e comunitria, alm de coloc-los a salvo detoda forma de negligncia, discriminao, explorao, violncia, crueldade e opresso.

    66

    Para os efeitos do Estatuto da Criana e do Adolescente, so considerados adolescentes com idade entre 15(quinze) e 18 (dezoito) anos, aplicando-se a estes inicialmente o ECA e, excepcionalmente o EJ.67 Para os efeitos do Estatuto da Juventude, so consideradas jovens as pessoas com idade entre 15 (quinze) e 29

    (vinte e nove) anos de idade (art. 1, 1).

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    converso desses alimentos em penso para o caso de nascimento com vida. Aplicam-setambm a essa ao de alimentos aquelas diferenciaes da Lei n. 5.478/1968 (Lei deAlimentos).

    No se pode deixar de mencionartambma possibilidade das aes ou do processocoletivo para a defesa de interesses no individuaisdesses grupos sociais, para o qual estolegitimados o Ministrio Pblico,a Defensoria Pblica, os entes federativos e as associaescriadas para a defesa de interesses de crianas e de adolescentes68 e de jovens.

    4.3.6 Direito Processual dos IdososA Constituio Federal de 198869 no foi com os idosos to minudente como na defesa

    de crianas e de adolescentes, contudo o Estatuto do Idoso (Lei no. 10.741/2003), a par decriar regras especiais de proteo, ratificar a garantia a direitos, medidas de proteo eatendimento aos idosos, preocupou-se especificamente com o acesso Justia (Ttulo V, arts.

    69 a 92).O Estatuto do Idoso principia a formao de um microssistema de Direito Processual

    dos Idosos, com regras e princpios prprios, tais como: a) a aplicao subsidiria do procedimento sumrio do CPC, arts. 275 a 281 (art. 69, EI); b) tratamento judicial prioritriono trmite de qualquer processo em qualquer instncia (art. 71 do EI e arts. 1211-A,1211-B e1211-C do CPC)70; c) a interveno para proteo de interesses ou direitos coletivos de idosos(art. 74 do EI); d) a participao do Ministrio Pblico comocustos legisou como substitutoem aes especiais (art. 74 do EI) e legitimidade para a execuo (art 87 do EI) ; e) cabimentode aes especiais (art. 82 do EI); f) cabimento da tutela especfica (art. 83 do EI); g) possibilidade de concesso de efeito suspensivo a recurso judicial (art. 85 do EI) dentreoutras.71

    Esse conjunto de regras, associado a outras contidas na legislao esparsa, podem sercompreendidos como o Direito Processual dos Idosos, com tendncia expanso, quandoassociado ao processo previdencirio e assistencial do qual, por certo, pode ser distinguido,conquanto o universo de idosos se defina pela idade; enquanto o previdencirio, pela naturezaretributiva da obrigao previdenciria e o assistencial, pela presena das condies decarncia e obrigao estatal de proteo social.

    68 Ver sobre o tema a obra A tutela jurisdicional dos direitos da criana e do adolescente, SILVA, Moacir Mottada e VERONESE, Josiane Rose Petry. So Paulo: LTr, 1998.

    69 Art. 230. A famlia, a sociedade e o Estado tm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participao na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito vida.

    70 " Art. 1.211-A. Os procedimentos judiciais em que figure como parte ou interessado pessoa com idade igualou superior a 60 (sessenta) anos, ou portadora de doena grave, tero prioridade de tramitao em todas asinstncias. Art. 1.211-B. A pessoa interessada na obteno do benefcio, juntando prova de sua condio,dever requer-lo autoridade judiciria competente para decidir o feito, que determinar ao cartrio do juzo as providncias a serem cumpridas. 1 Deferida a prioridade, os autos recebero identificao prpria que evidencie o regime de tramitao prioritria. Art. 1.211-C. Concedida a prioridade, essa nocessar com a morte do beneficiado, estendendo-se em favor do cnjuge suprstite, companheiro oucompanheira, em unio estvel ."

    71

    GODINHO, Robson Renault. A proteo processual dos Direitos dos Idosos: Ministrio Pblico, tutela dosdireitos individuais e coletivos e acesso Justia, 2. ed., item n. 3.4.1, p. 68, identifica esse conjunto deregras como microssistema sem, contudo, trat-lo como tutela diferenciada.

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    4.3.7 Direito Processualdos Acidentados e de Pessoas com DeficinciaImprovvel que se possa com segurana cientfica estabelecer uma rea do direito

    processual que rena o Direito Processual Acidentrio e aes para defesa de interesses de portadores de deficincias (Lei n. 7.853/1989), mas as peculiaridades de ambos impedem aincluso nas subreas anteriormente listadas.

    Direito Processual Acidentrio. De um lado est aao acidentria, prevista na Lei n.6.376/1976, com suas peculiaridades processuais,com a alterao de competnciaque sedesloca parao local do fato, na Justia Estadual, ainda que a legitimidade passiva seja doINSS, pela presena do Ministrio Pblico como fiscal da lei,com a concesso de jus postulandi parte ou ao representante no-advogado, princpio daverdade real, mitigaodos princpios dispositivo e da demanda, celeridade e simplificao pela adoo do procedimento sumrio, princpio da gratuidade de justia, valorizao da conciliao etransigibilidade dos interesses. Essa norma o marco para a definio de um direito processual acidentrio.

    Direito Processual dasPessoas com Deficincia. De outra parte, os processos regrados pela Lei n. 7.853/1989, relacionadas pessoas com deficincia objetiva o acesso justia paraa obteno de meios adequados de desenvolvimento da pessoacom deficincia, seja pelaeducao especial, pela adaptao arquitetnica, pela adaptao do ambiente de trabalho ouambiente urbano, de modo a permitir sua atuao social, profissional e seu lazer.

    Todos os meios processuais existentes so aptos s demandasdas pessoas comdeficincia, seja para a proteo de direitos no discriminao, educao, sade, aotrabalho, acessibilidade aos benefcios previdencirios e assistenciais ou outros. H peculiaridades processuais, como a necessidade de reexame necessrio, no produzindoefeitos a sentena, seno aps exame do 2 grau, nas aes civis pblicas, que se concluir pelacarncia ou improcedncia (art. 4, 1, Lei n. 7.853/1989) e a necessidade de participao doMinistrio Pblico nas aes onde se litiguem interesses de pessoas com deficincia.72 A jurisprudncia, de outra parte, tem ampliado a viso compensatria do processo e do direitoem relao s pessoas com deficincia.

    O Estatuto da Juventude prev polticas de segurana pblica voltadas para os jovens edentre essas a promoo do efetivo acesso dos jovens com deficincia justia em igualdadede condies com as demais pessoas, inclusive mediante a proviso de adaptaes processuaisadequadas a sua idade (art. 38, inc. VI), acesso Defensoria Pblica (art. 38, inc. V), entreoutros.

    72 Art. 3 As aes civis pblicas destinadas proteo de interesses coletivos ou difusos das pessoas portadoras de deficincia podero ser propostas pelo Ministrio Pblico, pela Unio, Estados, Municpios e Distrito Federal; por associao constituda h mais de 1 (um) ano, nos termos da lei civil, autarquia,empresa pblica, fundao ou sociedade de economia mista que inclua, entre suas finalidades institucionais,a proteo das pessoas portadoras de deficincia. 1 Para instruir a inicial, o interessado poder requerers autoridades competentes as certides e informaes que julgar necessrias. 2 As certides einformaes a que se refere o pargrafo anterior devero ser fornecidas dentro de 15 (quinze) dias daentrega, sob recibo, dos respectivos requerimentos, e s podero se utilizadas para a instruo da ao civil. 3 Somente nos casos em que o interesse pblico, devidamente justificado, impuser sigilo, poder sernegada certido ou informao. 4 Ocorrendo a hiptese do pargrafo anterior, a ao poder ser proposta desacompanhada das certides ou informaes negadas, cabendo ao juiz, aps apreciar os motivosdo indeferimento, e, salvo quando se tratar de razo de segurana nacional, requisitar umas e outras; feita arequisio, o processo correr em segredo de justia, que cessar com o trnsito em julgado da sentena. 5 Fica facultado aos demais legitimados ativos habilitarem-se como litisconsortes nas aes propostas porqualquer deles. 6 Em caso de desistncia ou abandono da ao, qualquer dos co-legitimados podeassumir a titularidade ativa.

  • 7/25/2019 x - Artigo - DPS - Direito Processual Social - VERSO 2014

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    Outro ponto que contribui ao estudo em tpico prprio a edio de um Estatuto doPortador de Deficincia, como regra legal matriz que reunir o direito material e proce