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WP5 – Tendências espaciais de desinvestimento Mário Vale Rui Dias DIVEST DESINVESTIMENTO E IMPACTOS ECONÓMICOS, SOCIAIS E TERRITORIAIS Projecto POCTI/GEO/34037/2000 LISBOA - 2004 FEDER

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WP5 – Tendências espaciais de desinvestimento

Mário Vale Rui Dias

DIVEST – DESINVESTIMENTO E IMPACTOS ECONÓMICOS, SOCIAIS E TERRITORIAIS

Projecto POCTI/GEO/34037/2000

LISBOA - 2004

FEDER

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DIVEST – DESINVESTIMENTO E IMPACTOS ECONÓMICOS, SOCIAIS E TERRITORIAIS

Projecto POCTI/GEO/34037/2000

Investigador Responsável: Mário Vale

Ficha Técnica: Título: Tendências espaciais de desinvestimento. WP5, Projecto DivesT. Autores: Mário Vale, Rui Dias. Composição / Revisão Texto: Rui Dias, Clara Guedes e Mário Vale

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DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP5

ÍNDICE

Pág. 1. Introdução 4 2. Variação do emprego, produto e produtividade industriais 6

2.1 Evolução e estrutura do emprego na indústria 2.2 Estrutura do produto industrial 2.3 Emprego vs produto: a questão da produtividade 2.4 O investimento tangível nos ramos industriais – uma análise agregada

6 8

10 14

3. Dinâmicas industriais regressivas e espaço 20 3.1 Notas metodológicas 20 3.2 Tipologia espacial de regressão industrial 23

4. Fluxos de criação e destruição de emprego industrial 32 4.1 Introdução 4.2 Fluxos de criação e destruição de emprego industrial 4.3 Padrões regionais de criação e destruição de emprego industrial 4.4 Evolução recente do número de falências

32 33 40 49

5. Casos ilustrativos de encerramento

6. Síntese conclusiva

54

57 Referências bibliográficas Anexo 1 – Compatibilização da CAE Rev. 1 e CAE Rev. 2

60

63 Anexo 2 – Produtividade por Ramo Industrial em Portugal (1990-2000) 65 Anexo 3 – Rácio ACI/VAB por Ramo Industrial em Portugal (1990-2000) 67

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1. INTRODUÇÃO

A integração económica, a liberalização das trocas comerciais e a relevância

das empresas multinacionais são importantes factores da reconfiguração da

geografia económica contemporânea. As grandes empresas definem, cada vez mais,

estruturas organizativas globais e expandem as suas actividades em diversos pontos do

globo, procurando consolidar e ampliar as suas cadeias de valor. Neste processo,

determinadas actividades e regiões são mais afectadas que outras, experienciando a

outra face da globalização da economia: o desinvestimento.

Os ciclos de expansão/recessão económica têm marcado a evolução do

sistema capitalista, condicionando a vida dos trabalhadores, famílias e, num sentido

mais amplo, das comunidades. Com a evolução dos meios de transporte e de

comunicação e a progressiva integração das economias ao nível mundial, os agentes

económicos necessitam de responder de uma forma mais rápida aos estímulos do

mercado e às estratégias da concorrência. No entanto, a mudança nem sempre

decorre no sentido de valorização dos activos da empresa ou da criação de novas

competências.

Em Portugal, têm surgido notícias nos media de encerramentos de

estabelecimentos industriais, deslocalização da produção, despedimentos em massa,

salários em atraso, etc., relatando casos de empresas de origem estrangeira e de

pequenas e médias empresas nacionais, ainda que os primeiros suscitem

compreensivelmente maior interesse na opinião pública. Verificam-se, no entanto,

importantes assimetrias espaciais em relação às dinâmicas de investimento e de

emprego. As regiões são confrontadas com uma mobilidade crescente do capital

num quadro de integração económica e de drástica redução dos custos de

transporte e de comunicação. A dotação dos factores de produção revela

especificidades historicamente construídas que parecem condicionar o destino dos

territórios. Enquanto algumas regiões aproveitam com sucesso as novas oportunidades

- as regiões "ganhadoras" (BENKO e LIPIETZ, 1992) - outras atravessam períodos de

recessão económica, pelo que necessitam de assistência pública para a sua

regeneração.

Na verdade, a redução ou encerramento da actividade é uma das

possibilidades de gestão estratégica e não é necessariamente negativa para a região.

A lógica schumpeteriana da inovação tecnológica origina o desenvolvimento de

novas actividades e também a destruição de outras, conduzindo, no entanto, a uma

melhoria da situação económica e social dos territórios. O desinvestimento é, deste

modo, um processo tão natural como o investimento. Todavia, a falta de sincronismo

temporal entre a destruição e a criação de novas actividades origina, na maior parte

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das vezes, problemas económicos e sociais nos territórios. E mais preocupante é

quando o encerramento de um estabelecimento resulta de uma estratégia

empresarial de transferência de capital para outras regiões, na busca de condições

mais vantajosas, mormente custos de trabalho mais reduzidos. A transferência espacial

de capital é, deste modo, o resultado de estratégias das multinacionais num tempo de

liberalização e de internacionalização da economia. No caso dos EUA, este processo

atingiu uma escala ímpar logo a partir dos anos 1970, tendo BLUESTONE e HARRISON

(1982) argumentado que a América estava a entrar numa fase de desindustrialização,

que definiam como um desinvestimento generalizado e sistemático na capacidade

produtiva de base da nação.

Neste relatório estuda-se o declínio da actividade industrial em Portugal,

procurando discutir-se em que medida esta tendência configura um caso de

desinvestimento sistemático e generalizado na capacidade produtiva. É uma questão

complexa porque envolve dimensões tão distintas como a cultura empresarial,

dinâmica sectorial e inovação tecnológica, contexto territorial, políticas económicas e

de desenvolvimento regional, bem como comportamento de mercados, integração

do espaço económico e divisão internacional do trabalho, entre outros aspectos. A

análise que se segue pretende dar um contributo para a compreensão deste processo

de regressão industrial em Portugal. São especialmente estudados os fluxos de criação

e de destruição de emprego na actividade industrial e os seus reflexos espaciais,

discutindo-se as causas e consequências deste processo. Em seguida, procura

discutir-se o reposicionamento de Portugal na divisão internacional do trabalho

através de uma breve análise dos principais casos de desinvestimento estrangeiro

neste sector desde o início dos anos 1990. Finalmente, as principais conclusões são

enunciadas no último capítulo deste trabalho.

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2. VARIAÇÃO DO EMPREGO, PRODUTO E PRODUTIVIDADE INDUSTRIAIS

A partir dos dados constantes das Estatísticas das Empresas, publicadas pelo

Instituto Nacional de Estatística (INE), pretende-se avaliar a variação do emprego,

produto e produtividade industriais, com o objectivo de efectuar uma análise da

evolução recente dos diversos ramos industriais, que contextualize a análise posterior

dos fluxos de criação e destruição de emprego. A série diz respeito ao período 1990-

2000 e a utilização desta fonte justifica-se pela necessidade de relacionarmos o

emprego e o produto industriais. Entendemos aqui emprego industrial como o

somatório do emprego da indústria extractiva e o da indústria transformadora. Houve

necessidade de compatibilizar os dados, já que em 1993 se procedeu a uma revisão

da Classificação das Actividades Económicas (CAE). O método de agrupamento das

actividades industriais utilizado encontra-se no anexo 1, tendo seguido, em grande

parte, a proposta de trabalho de COSTA e COSTA (1996) para a compatibilização das

duas revisões da CAE.

2.1 Evolução e estrutura do emprego na indústria

Considerando o volume total de emprego na indústria verificamos que a

tendência geral no período é de uma ligeira diminuição do emprego (-8%, entre 1990

e 2000), apesar de algumas flutuações de sinal contrário (figura 2.1). Esta evolução

global é o resultado de variações díspares ao nível dos vários ramos que compõem a

actividade industrial, não obstante verificar-se uma descida do emprego nos anos de

menor crescimento económico, como os do período 1991-93 e, mais recentemente,

1999-2000.

Considerando a estrutura do emprego industrial observa-se que, em 1990, os

têxteis e o vestuário se assumiam como os maiores empregadores industriais (15,3% e

14%, respectivamente). As indústrias alimentares, das bebidas e do tabaco

empregavam 11,5% do total, seguindo-se a indústria da madeira e mobiliário (9%), a

fabricação de máquinas e equipamentos (7,9%) e de produtos metálicos (7,7%)

(Quadro 2.1). Cumulativamente, estes ramos representavam 65,4% do emprego

industrial.

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Figura 2.1 – Evolução do número de pessoas ao serviço na indústria em Portugal, 1990-

2000

900.000

920.000

940.000

960.000

980.000

1.000.000

1.020.000

1.040.000

1.060.000

1.080.000

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Anos

N.º p

esso

as a

o se

rviç

o

Fonte: INE, Estatísticas das Empresas, com tratamento próprio.

Quadro 2.1 – Evolução da estrutura do emprego industrial em Portugal, 1990-2000

(%)

Actividade Industrial 1990 2000 var. 1990-2000Indústria Extractiva 1,8 1,5 -20,7 Ind. Alimentares, das Bebidas e Tabaco 11,5 11,2 -10,6 Ind. Têxteis 15,3 10,4 -37,3 Ind. do Vestuário 14,0 14,3 -6,2 Ind. do Calçado e Couro 6,7 7,0 -3,1 Ind. da Madeira e Mobiliário 9,0 11,2 15,0 Ind. do Papel e Artes Gráficas 5,0 5,4 -1,7 Indústria Química 6,3 5,2 -24,5 Ind. Dos Produtos Minerais não Metálicos 7,1 7,5 -3,0 Ind. Metalúrgica de Base 2,0 1,5 -30,2 Fabricação de Produtos Metálicos (excep. maq. e equip.) 7,7 8,5 1,3 Fabricação de Máquinas e Equipamentos 7,9 10,2 19,0 Fabricação de Material de Transporte 3,8 4,2 0,8 Fabricação de Instrumentos Profissionais 0,4 0,7 50,9 Outras Indústrias Transformadoras 1,4 1,1 -28,0 Total indústria 100,0 100,0 -8,0

Fonte: INE, Estatísticas das Empresas, com tratamento próprio.

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No final do período considerado (2000), o vestuário revela-se o maior

empregador relativamente ao total da indústria (14,3%), seguido da madeira e

mobiliário, das indústrias alimentares, das bebidas e do tabaco (ambos com 11,2%), e

dos têxteis (10,4%). A fabricação de máquinas e equipamentos empregava 10,2% do

total e a fabricação de produtos metálicos atinge os 8,5%. Tomados em conjunto estes

ramos representam 65,8% do emprego industrial.

Uma primeira constatação é a de que, ao nível de agregação que estamos a

considerar, não existem em 2000 alterações profundas no que se refere aos maiores

empregadores, mudando apenas a ordem entre eles. O vestuário passa a ser o maior

empregador, enquanto se observa uma importante descida da contribuição do têxtil,

dada a quebra de 37,3% no volume absoluto de emprego deste ramo. Destaca-se

também o maior peso da indústria da madeira e mobiliário cujo emprego cresceu 15%

no período considerado e o da fabricação de máquinas e equipamentos no emprego

industrial, consequência do seu crescimento em termos absolutos (+19%).

Segundo a análise realizada por BAIRRADA (2000), não se observaram

alterações significativas ao nível dos ramos mais importantes ao longo de 40 anos

(1953-1993), em termos do emprego industrial, existindo, contudo, alterações no

posicionamento de cada um deles. O têxtil, vestuário e calçado, madeira e cortiça,

indústrias alimentares, das bebidas e tabaco e ainda a fabricação de produtos

metálicos, máquinas e material de transporte assumem-se como os ramos de maior

importância (BAIRRADA, 2000). É de notar que o agrupamento deste autor é mais

agregado do que estamos aqui a considerar. No entanto, reforça-se a ideia de que a

estrutura do emprego industrial em Portugal assenta ainda em ramos que podemos

designar como tradicionais, no sentido do grau de input tecnológico que os

caracteriza. Contudo, deram-se nos últimos anos significativas alterações. Estas

alterações dizem respeito, por um lado, à consolidação em termos de pessoas ao

serviço dos ramos da madeira e mobiliário e da fabricação de máquinas e

equipamentos. Por outro lado, o declínio dos têxteis é evidente dada a evolução

negativa do número de pessoas empregadas neste ramo industrial.

2.2 Estrutura do produto industrial

De modo a avaliar a evolução do produto industrial resolveu-se utilizar a

variável Valor Acrescentado Bruto (VAB) também presente no Inquérito às Empresas, a

preços de mercado (pm). Dado que existe inflação no período considerado, embora

bastante menor do que na década de 80, ela irá introduzir sempre erros na evolução

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precisa do produto industrial e dos diversos ramos. Encontrar um deflator específico e

preciso para cada ramo e para todo o período considerado é uma tarefa quase

impossível, dado que cada ramo assistiu a diferentes evoluções nos preços de compra

e venda dentro da sua actividade. Para não introduzir erros na análise entre ramos, e

dada a análise necessariamente agregada que nos propusemos fazer, torna-se mais

adequado, e correcto em termos metodológicos, utilizar os valores a preços de

mercado, comparando a contribuição de cada ramo para o VAB industrial.

Quadro 2.2 – Evolução da estrutura do VAB industrial em Portugal, 1990-2000

Actividade Industrial 1990 2000 Indústria Extractiva 2,8 2,2 Ind. Alimentares, das Bebidas e Tabaco 13,9 12,0 Ind. Têxteis 10,8 7,3 Ind. do Vestuário 6,4 6,6 Ind. do Calçado e Couro 3,8 3,6 Ind. da Madeira e Mobiliário 5,0 7,4 Ind. do Papel e Artes Gráficas 7,2 10,2 Indústria Química 20,8 11,2 Ind. Dos Produtos Minerais não Metálicos 7,8 10,1 Ind. Metalúrgica de Base 2,3 2,2 Fabricação de Produtos Metálicos (excep. maq. e equip.) 5,4 6,6 Fabricação de Máquinas e Equipamentos 8,9 12,1 Fabricação de Material de Transporte 3,8 6,9 Fabricação de Instrumentos Profissionais 0,2 0,7 Outras Indústrias Transformadoras 0,9 0,8 Total indústria 100,0 100,0

Fonte: INE, Estatísticas das Empresas, com tratamento próprio.

Podemos verificar que os ramos mais importantes em termos de VAB em 1990

eram a indústria química (20,8%), o ramo da alimentação, bebidas e tabaco (13,9%),

os têxteis (10,8%), a fabricação de máquinas e equipamentos (8,9%), a indústria de

produtos minerais não metálicos (7,8%) e a do papel e artes gráficas (7,2%). Estes

ramos representavam no seu conjunto 69,4% do produto industrial (Quadro 2.2).

Em 2000, a fabricação de máquinas e equipamentos e as indústrias

alimentares, bebidas e tabaco eram os maiores contribuintes para o VAB industrial

(12,1% e 12% respectivamente). A indústria química (11,2%), do papel e artes gráficas

(10,2%), dos produtos minerais não metálicos (10,1%), e a indústria da madeira e do

mobiliário (7,4%) constituíam-se como os outros principais ramos dentro da indústria. No

seu conjunto, os primeiros seis ramos somavam 63% do total de VAB industrial.

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Uma constatação similar à observada para o emprego pode ser feita, embora

se destaque o novo posicionamento da indústria da madeira e mobiliário, cujo

produto cresceu a um ritmo duas vezes superior ao da média da indústria. A indústria

química regista a maior queda, o que se verificou até em termos de valores a preços

de mercado (-8,7%), embora esta se tenha registado apenas nos dois últimos anos em

análise e se prenda fundamentalmente com a descida abrupta na refinação de

petróleo. Também é significativa a quebra continuada dos têxteis relativamente à sua

contribuição para o produto industrial, ligeiramente inferior em 2000 à da indústria da

madeira e mobiliário. Por outro lado, a fabricação de máquinas e equipamentos e a

indústria do papel e artes gráficas viram crescer a sua importância relativamente ao

total da indústria, registando o dobro do crescimento observado para o produto

industrial.

2.3 Emprego vs produto: a questão da produtividade

Pelo que podemos ver, existem diferenças entre quem mais contribui para o

emprego e quem mais contribui para o VAB. Essas diferenças residem em primeiro

lugar nas características específicas de cada actividade, nomeadamente as

diferentes intensidades tecnológicas. Estas diferenças espelham-se naturalmente em

diferentes produtividades do trabalho entre os vários ramos de actividade. Por outro

lado, coloca-se também aqui a questão já referida acerca do VAB, no que se refere

aos deflatores. Desta forma, interessa-nos, sobretudo, saber quais as evoluções

específicas de cada ramo face à evolução geral da produtividade industrial no

período considerado.

Desde logo, assume-se que estamos a considerar uma medida de

produtividade que se refere à produtividade aparente do trabalho, já que utilizámos a

razão entre o VAB e o emprego. Esta razão dá-nos uma ideia da maior ou menor

produtividade na indústria e sua evolução no período considerado (1990-2000). É

também uma medida que, reconhecidamente, se adequa melhor à actividade

industrial do que, por exemplo, às actividades de serviços. É importante ter em

consideração que, como referem GODINHO e MAMEDE (2001), conhecer as fontes do

crescimento da produtividade é das questões mais complexas a que os economistas

tentam dar resposta, dado que o aumento do VAB por trabalhador pode estar

associado a factores do lado da oferta e da procura, de alteração de preços

relativos, modificações na envolvente, enquadramento institucional e mesmo a

fenómenos de mudança de critérios estatísticos.

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Deste modo, foi considerada a produtividade de cada ramo relativamente à

produtividade média da indústria em cada ano, pelo que os valores estão

relativizados e referidos a essa média, de forma a se compreender melhor se o ritmo

de evolução foi superior ou inferior ao da indústria no seu conjunto (Quadro 2.3). Os

valores da produtividade utilizados para este cálculo encontram-se no anexo 2.

Quadro 2.3 – Evolução da produtividade nos diversos ramos industriais em Portugal,

1990-2000

(total ind. =100)

(total ind. =100)

Actividade Industrial 1990 2000 Indústria Extractiva 157 143 Ind. Alimentares, das Bebidas e Tabaco 121 107 Ind. Têxteis 71 70 Ind. do Vestuário 46 46 Ind. do Calçado e Couro 56 51 Ind. da Madeira e Mobiliário 56 65 Ind. do Papel e Artes Gráficas 142 189 Indústria Química 331 217 Ind. Dos Produtos Minerais não Metálicos 109 134 Ind. Metalúrgica de Base 118 151 Fabricação de Produtos Metálicos (excep. maq. e equip.) 70 78 Fabricação de Máquinas e Equipamentos 113 119 Fabricação de Material de Transporte 100 165 Fabricação de Instrumentos Profissionais 57 110 Outras Indústrias Transformadoras 64 68 Total indústria 100 100

Fonte: INE, Estatísticas das Empresas, com tratamento próprio.

É importante ter em atenção que, como se pode observar no anexo 2, a

produtividade na indústria portuguesa tem crescido, embora os ritmos de evolução

não se comparem com outras décadas anteriores, nomeadamente a de 60. Tal

situação, contudo, já não é nova e é um resultado da deficiente evolução da

produtividade da mão-de-obra e dos investimentos realizados após 1973 (LOPES, 1996).

Convém ainda referir que a baixa produtividade da indústria portuguesa

relativamente a outros países da Europa Ocidental se deve muito à própria estrutura

do emprego, em que as indústrias de baixa ou média intensidade tecnológica

concentram o maior número de postos de trabalho. Ou seja, há que ter em conta que

estas indústrias apresentam por si limitações intrínsecas a um aumento da

produtividade. Porém, convém referir que Portugal foi o único entre os países da

coesão (Portugal, Espanha, Irlanda e Grécia) que diminui nos últimos anos o atraso

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produtivo nas indústrias de baixa intensidade tecnológica (GODINHO e MAMEDE,

2001).

Da observação do Quadro 2.3, os ramos da fabricação de instrumentos

profissionais, da fabricação de material de transporte, da indústria do papel e artes

gráficas e metalurgia de base registaram um ritmo de crescimento da produtividade

nitidamente superior ao global. Por outro lado, nas indústrias química, alimentares,

bebidas e tabaco, no calçado e couro e ainda na indústria extractiva observou-se um

crescimento da produtividade claramente inferior ao global.

Figura 2.2 – Variação do emprego e produtividade nos diversos ramos industriais em

Portugal, 1990-2000

-50,0

-40,0

-30,0

-20,0

-10,0

0,0

10,0

20,0

30,0

0,0 50,0 100,0 150,0 200,0 250,0

M

GI

J

L

F

K

D

E

H

B

A

O

C

Produtividade (% var. 1990 -2000)

Empr

ego

(% v

ar. 1

990

-200

0)

----- Valor médio da indústria

Fonte: INE, Estatísticas das Empresas; com tratamento próprio (vide anexo 1).

É interessante cruzar a variação por ramos da produtividade e do emprego no

período considerado (Figura 2.2). É de referir que se retirou desta análise o ramo da

fabricação de instrumentos profissionais, dado a especificidade deste ramo, o que se

reflectiu num aumento brutal da produtividade do mesmo. Torna-se claro que, existe

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um conjunto de ramos onde a evolução foi mais favorável no conjunto da indústria,

em que o crescimento da produtividade foi correlativo com uma variação positiva do

emprego, designadamente na fabricação de máquinas e equipamentos e no ramo

da madeira e mobiliário. Por outro lado, na indústria dos produtos minerais não

metálicos, do papel e artes gráficas e ainda mais claramente no ramo da fabricação

de material de transporte, apesar de a evolução da produtividade ter acontecido a

um ritmo superior ao da indústria, isso não se reflectiu em termos de emprego. São

indústrias em que a extensão da série de produção se assume como uma factor

chave da competitividade e se observam fortes economias de escala (OCDE, 1987).

Em todos os casos em que a evolução da produtividade foi mais desfavorável,

a variação do emprego nesses ramos foi sempre negativa (calçado e couro, indústrias

alimentares, das bebidas e tabaco, indústria extractiva e química). A diferença reside

na intensidade do declínio do emprego, que é maior nas indústrias extractivas e na

indústria química. Por outro lado, não considerando o caso particular do ramo das

“outras indústrias transformadoras”, a indústria metalúrgica de base apresenta-se

como uma excepção na relação entre produtividade e emprego, tendo atravessado

um processo de reestruturação com fortes impactos negativos ao nível dos postos de

trabalho (SOARES, 2002), mas que se reflectiu num aumento considerável da

produtividade, apesar de o seu contributo para o VAB industrial se ter mantido ao

mesmo nível.

Considerando a posição dos ramos em cada um dos quadrantes, podemos

identificar indústrias claramente em crise na década de 90, como a indústria química

(H) ou a indústria extractiva (A), as indústrias alimentares, de bebidas e tabaco (B) e os

têxteis (C), já que a par da quebra ao nível do emprego (absoluta e relativa) a

produtividade evolui a um ritmo inferior à média da indústria. Por outro lado, na

metalurgia de base (J), a redução clara ao nível do emprego, foi correlativa com

ganhos de produtividade superiores à média das actividades industriais, reflectindo o

processo de reestruturação deste ramo. Se considerarmos uma evolução no sentido

da extensividade, quando existe uma evolução de emprego mais favorável,

combinada com menor dinamismo ao nível da produtividade, apenas o ramo do

calçado e couro se encontra nesta situação, embora de forma pouco pronunciada.

O ramo que apresenta uma evolução mais favorável, tanto ao nível do emprego

como da produtividade, e que se destaca claramente dos restantes ramos, é a

fabricação de material de transporte (M) que se encontra claramente em expansão

na década de 90, em resultado do investimento directo estrangeiro realizado nesta

actividade em Portugal.

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As indústrias têxteis e do vestuário apresentam uma evolução curiosa, se

tivermos em atenção a forte interligação entre estes dois ramos industriais. Por um

lado, os têxteis registam um forte declínio do emprego e uma evolução da

produtividade média. Quanto à indústria do vestuário, o crescimento do emprego

neste ramo é próximo da média da indústria, o mesmo de passando relativamente à

produtividade. Sabendo que são ramos onde existe uma forte intensidade em mão-

de-obra e em que o factor chave de competitividade tem sido o custo do factor

trabalho (OCDE, 1987), podemos admitir a hipótese do processo de reestruturação dos

têxteis, iniciado em meados dos anos 80 em Portugal (PIRES, 1994), estar bastante mais

avançado do que se passa a jusante, na indústria do vestuário e confecções, que

pode assim ter suportado parte do emprego destruído nos têxteis (BESSA e VAZ, 2002).

2.4 O investimento tangível nos ramos industriais – uma análise agregada

Na dificuldade de quantificar em termos de valor os fluxos totais de

investimento e desinvestimento nas empresas por ramos industriais, optou-se pela

análise do aumento de imobilizado corpóreo (AIC) que «corresponde aos

investimentos em bens corpóreos efectuados, no período de referência, adquiridos ou

produzidos pela própria empresa, cuja duração seja superior a um ano, deduzido das

transferências, abates e alienações» (INE, 1999). Ou seja, refere-se à variação (dado

que o valor pode ser negativo) do activo imobilizado corpóreo na empresa, que se

refere a bens tangíveis, utilizados pela empresa na sua actividade operacional. De

acordo com o Plano Oficial de Contabilidade (POC), as imobilizações corpóreas

compreendem os terrenos e recursos naturais (minas, por exemplo), os edifícios e

outras construções, o equipamento básico (instrumentos, máquinas,...), equipamento

de transporte, ferramentas e utensílios, equipamento administrativo e outras

imobilizações corpóreas. Pretende-se, assim, ao utilizar esta variável, avaliar o saldo,

em termos dos diversos ramos industriais, de parte importante do investimento (em

capital fixo), e a sua evolução recente (1990-2000).

A evolução da variação do imobilizado corpóreo (i.c.) no período 1990-2000

está representada na figura 2.3. Como se observa, o saldo de i.c. tem mostrado em

termos absolutos uma tendência ligeiramente crescente desde o início dos anos 90

com uma quebra acentuada em 1996, que se deve, sobretudo, ao sub-ramo da

fabricação de cimento1, constituindo este ano um valor extremo na série.

1 Foi precisamente neste ano que se procedeu à segunda fase de privatização da então empresa (maioritariamente) pública Cimpor, em que se alienou 45% do capital da empresa, definindo-se também

14

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Figura 2.3 – Evolução do aumento de imobilizado corpóreo na indústria em Portugal,

1990-2000

0

100.000

200.000

300.000

400.000

500.000

600.000

700.000

800.000

900.000

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Anos

milh

ões

esc.

Fonte: INE, Estatísticas das Empresas; com tratamento próprio.

Cruzando esta evolução com a do VABpm, podemos inferir se existiu ou não

alguma intensificação nos níveis deste tipo de investimento (figura 2.4). Deste modo,

percebe-se que o nível de esforço em termos de investimentos corpóreos para o

global da indústria evidencia um sentido descendente até 1996, podendo ser um

reflexo da crise económica de 1991-93 que se prolongou no tempo, com reflexos nas

decisões de investimento corpóreo. Nos últimos anos da década de 90, o esforço de

investimento tem aumentado, se bem que de forma gradual.

uma reestruturação em termos de organização interna, nomeadamente com a criação de uma sociedade gestora de participações sociais (SGPS). Ou seja, a alienação de parte desta empresa ultrapassou em muito o valor dos investimentos realizados.

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Figura 2.4 – Evolução do rácio ACI/VABpm na indústria em Portugal, 1990-2000

0,00

5,00

10,00

15,00

20,00

25,00

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Anos

AC

I / V

AB

pm

Fonte: INE, Estatísticas das Empresas; com tratamento próprio.

De qualquer modo, em 2000, este esforço encontra-se praticamente ao

mesmo nível de 1990, face à riqueza criada, o que pode indiciar, nomeadamente,

alguma estabilidade ao nível do investimento que tem vindo a ser realizado nos últimos

anos, nomeadamente em maquinaria e equipamento. Verifica-se que o ritmo de

crescimento do VABpm desacelera nos últimos anos do período em análise ao mesmo

tempo que aumenta o esforço de investimento corpóreo. Para além desta evolução

global da indústria, torna-se interessante proceder a uma análise da evolução do

esforço de investimentos levado a cabo pelos diferentes ramos industriais.

Em termos médios, no período 1990-2000, foi a indústria extractiva que,

relativamente ao seu VABpm, mais investiu em bens corpóreos (Quadro 2.4). A

indústria do papel a artes gráficas, metalurgia de base, madeira e mobiliário,

apresentam também um esforço significativamente superior à média da indústria. A

primeira evolução pode estar ligada ao facto de o valor das minas/pedreiras

constituírem parte significativa dos activos corpóreos e de, segundo o POC, poderem

ser incluídas no i.c. despesas relativas a desbravamento, movimentação de terras e

drenagem que respeitem a esses terrenos, o que leva, obviamente, a um quantitativo

proporcionalmente maior do que nos ramos da indústria transformadora.

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Quadro 2.4 – Total de ACI, VABpm e rácio ACI/VABpm no período 1990-2000, Portugal

Actividade Industrial AIC VABpm AIC/VABpm Indústria Extractiva 267.839 780261 34,33 Ind. Alimentares, das Bebidas e Tabaco 803.592 4755868 16,90 Ind. Têxteis 584.087 2865386 20,38 Ind. do Vestuário 297.386 2299576 12,93 Ind. do Calçado e Couro 208.805 1332147 15,67 Ind. da Madeira e Mobiliário 488.981 2088987 23,41 Ind. do Papel e Artes Gráficas 744.386 2706726 27,50 Indústria Química 823.708 6121353 13,46 Ind. Dos Produtos Minerais não Metálicos 245.849 2963537 8,30 Ind. Metalúrgica de Base 148.617 593447 25,04 Fabricação de Produtos Metálicos (excep. maq. e equip.) 394.484 2080653 18,96 Fabricação de Máquinas e Equipamentos 514.971 3412385 15,09 Fabricação de material de transporte 347.645 1728919 20,11 Fabricação de instrumentos profissionais 25.712 192736 13,34 Outras indústrias transformadoras 53.556 344390 15,55 Total indústria 5.949.618 34266370 17,36

Fonte: INE, Estatísticas das Empresas; com tratamento próprio.

Por outro lado, a indústria dos minerais não metálicos foi aparentemente a que

menos investiu relativamente ao VAB. No entanto, tal evolução foi determinada, como

já se referiu, por um processo de privatização específico da fabricação de cimentos.

Não considerando este ramo, foi a indústria do vestuário a que apresentou um menor

esforço de investimento face ao VAB gerado. A menor intensidade em capital,

característica desta indústria, pode, numa primeira abordagem, explicar esta posição.

Outros ramos, como a fabricação de instrumentos profissionais e a indústria química,

apresentaram também valores significativamente inferiores à média, o que dada a

maior intensidade em capital que caracteriza ambos os ramos, pode ser indicativo de

processos de reestruturação.

Esta média ponderada embora possa ser indicativa de trajectória gerais de

algumas indústrias (caso do vestuário), esconde, no entanto, evoluções inter-anuais

relativas a cada um dos ramos, que se tornam interessantes para uma análise mais

completa (caso da metalurgia de base)2.

A indústria extractiva (A) apresenta um nível de investimento claramente

descendente ao longo do período em análise, estabilizando nos finais da década de

90. A crise do início dos anos 90 terá contribuído para esta evolução, dada a

dependência de parte do ramo (extracção de minerais metálicos) face às cotações

internacionais dos produtos. Já nas indústrias alimentares, bebidas e tabaco (B), o nível

2 Para maior facilidade de leitura, são apresentados no anexo 3, para cada um dos agrupamentos já definidos, os gráficos correspondentes às variações do imobilizado corpóreo.

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de investimento em bens corpóreos apresentou uma tendência globalmente

descendente na década em questão, sendo que esta evolução tem sido

particularmente determinada pelo sub-ramo do tabaco, que apresentou,

inclusivamente, variações negativas de 1995 a 1998, o que significa que as alienações

ultrapassaram o investimento realizado. Dado tratar-se de um ramo dominado pelo

Estado até meados da década de 90, mais uma vez a evolução dos investimentos

corpóreos foi determinada pelos processos de privatização em curso (neste caso, da

Tabaqueira – Empresa Industrial de Tabacos, S.A., que se processou a partir de 1996,

em três fases; Decreto-Lei n.º 63/96, de 28 de Maio).

Por seu turno, as indústrias têxteis (C) investiram, quando comparado com a

criação de VAB, mais em bens corpóreos do que a generalidade da indústria ao

longo da década. Os programas de investimento dedicados à modernização desta

indústria, que recebeu, já na década anterior, parte significativa deste tipo de

projectos (COSTA e COSTA, 1996b), e que teve programas específicos (como a

Iniciativa para a Modernização da Indústria Têxtil – IMIT), incentivaram sem dúvida esta

evolução. Relativamente à indústria do vestuário (D) ela é, potencialmente, menos

intensiva em capital, o que pode explicar o rácio encontrado para esta indústria. Por

outro lado, o nível de investimento em bens corpóreos é dos mais constantes entre os

vários ramos da indústria, o que pode indicar uma permanência no tipo de estratégia

adoptada, mais intensiva no factor trabalho, e que procura reduzir/optimizar os seus

custos aquele nível. Quanto ao ramo dos curtumes, couros e calçado (E), outro ramo

considerado tradicional, é o ramo com menor amplitude de variação no período em

questão, podendo dizer-se o mesmo que se disse relativamente ao vestuário,

ressalvando-se talvez o facto de estes investimentos terem tido um maior retorno em

termos globais, se tivermos em conta a análise realizada nos pontos anteriores.

O ramo da madeira e mobiliário (F), apresenta uma tendência ligeiramente

ascendente no que concerne aos investimentos em bens corpóreos, que se

relacionado com a evolução do VAB e emprego, dá conta do dinamismo já

identificado para este ramo. Um ramo também globalmente dinâmico, especialmente

nos últimos anos, e que reflecte o esforço de investimento realizado, foi o do papel e

artes gráficas (G).

No que se refere à indústria química (H), ela apresenta valores baixos para um

ramo capital-intensivo. Só pode ser explicado pela reestruturação que ocorreu na

química de base, petroquímica e indústria da borracha (nomeadamente, o processo

relativo à privatização e alienação da Quimigal). No caso dos produtos minerais não

metálicos (I), a evolução é determinada fundamentalmente pelo sub-ramo da

fabricação do cimento. Retirando este da análise, observamos que a evolução, tanto

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no caso da indústria vidreira como na da cerâmica, foi muito mais favorável. Na

indústria metalúrgica de base (J), mais uma vez se observa o papel determinante dos

processos de privatização e alienação por parte do Estado, das empresas industriais

públicas, neste caso a Siderurgia Nacional.

Na fabricação de produtos metálicos (K), observa-se uma certa estabilidade

no investimento realizado, acompanhado por um ligeiro aumento nos últimos anos. No

que se refere à fabricação de máquinas e equipamentos (L) existem oscilações

cíclicas no período em questão, sendo mais difícil a sua interpretação. No entanto, o

valor do investimento face ao VAB, para ambos os ramos, é baixo quando

comparado com outros ramos mais tradicionais e assumidamente em reestruturação,

como sejam os têxteis e a sua persistência pode indicar que a indústria de maquinaria

portuguesa tem apostado sobretudo em produtos de menor valor acrescentado.

Quanto à fabricação de material de transporte (M), é o que apresenta maior

amplitude, a seguir ao ramo dos minerais não metálicos, o que se deve ao aumento

extraordinário observado em 1994, que se compreende se tivermos em conta a

instalação da Autoeuropa na Península de Setúbal e os consequentes impactos na

indústria de componentes para automóveis (VALE, 1999). Por último, a fabricação de

instrumentos profissionais (N) tem apresentado oscilações significativas no que se refere

aos investimentos corpóreos, mas o facto de este ramo integrar actividades muito

específicas, de elevado valor acrescentado, requerendo profissionais altamente

especializados e qualificados, em que uma componente mais intangível é

determinante, ajuda a perceber melhor esta evolução.

A análise da variação de imobilizado corpóreo por parte dos diversos ramos

industriais permite confirmar as diferentes dinâmicas de evolução, já detectadas na

análise da evolução recente do emprego e do VAB industriais. Por outro lado, torna-se

evidente que o Estado, enquanto agente económico, tinha e teve neste período um

peso determinante na evolução de alguns ramos, nomeadamente na indústria

química, na siderurgia e na fabricação de cimentos. Tratou-se de casos de

desinvestimento público/estatal, que não podem deixar de se relacionar com a

evolução política do país e com a sua integração num quadro europeu, que assenta

no principio da livre concorrência, dentro do Mercado Único. Por último, podemos

ainda inferir o papel de grandes projectos de investimento directo estrangeiro, e a sua

forte influência em termos da estrutura industrial do país e na sua dinâmica, como se

torna evidente no caso da Autoeuropa.

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3. DINÂMICAS INDUSTRIAIS REGRESSIVAS E ESPAÇO

3.1 Notas metodológicas

A análise das dinâmicas espaciais da indústria foi realizada com base numa

análise shift-share ao stock de emprego industrial (trabalhadores por conta de outrém,

constantes dos Quadros de Pessoal3) com o objectivo inicial de encontrar diferentes

tipologias de regressão industrial à escala municipal. Convém deste modo, explicitar

previamente, e de modo sucinto, este tipo de análise e que tipo de informação nos

pode fornecer. Definiram-se também certos critérios de selecção para os concelhos

(isto é, nem todos os concelhos portugueses entraram na análise) e foi efectuada uma

divisão temporal, definindo-se períodos de acordo com os ciclos económicos.

Ressalve-se ainda que, neste ponto, quando falamos de emprego industrial estamos a

referir-nos apenas à indústria transformadora, já que não foi integrada na análise a

indústria extractiva.

A análise shift-share, também conhecida como método de alteração

proporcional, compara a amplitude da alteração ocorrida em cada região

relativamente ao país (conjunto das regiões espacialmente definidas). O modelo

assume que, em determinada região, a evolução da variável (sendo a mais utilizada o

emprego, como ocorre neste caso) tem uma parte regional (PR; regional share na

terminologia anglo-saxónica), que corresponde à evolução hipotética do emprego se

os sectores/ramos de actividade aí existentes tivessem registado uma evolução

(proporcionalmente) igual à verificada para esses sectores a nível nacional (Mérenne-

Schoumaker 1991). Neste caso, teríamos:

PR = ER t0 × (EN t1-EN t0) / EN t0

em que:

ER t0 - emprego industrial regional em t0

EN t1 - emprego industrial nacional em t1

EN t0 - emprego industrial nacional em t0.

3 DETEFP (1999) – Demografia dos Estabelecimentos em Portugal 1982-1998, Lisboa.

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A diferença entre esta variação hipotética e a realmente ocorrida é designada

por net employment shift (NES, também conhecida por alteração relativa líquida) e

pode tomar um valor positivo ou negativo. Analiticamente temos:

NES = ER t1 – ER t0 × (EN t1 / EN t0)

Do exposto acima, concluímos que:

∆ ER = PR + NES,

em que ∆ ER é a variação regional do emprego.

A alteração relativa líquida (NES) apresenta duas componentes, a estrutural

(CE) e a diferencial (CD):

NES = CE + CD

onde:

CE = ∑ ((ENi t1 / ENi t0) – (EN t1 / EN t0)× ERi t0)

CD = ∑ (ERi t1 - ERi t0× ENi t1 / ENi t0)

sendo que:

i = ramo industrial

A componente estrutural (CE), como o nome indica, reflecte os efeitos da

estrutura industrial regional sobre a taxa de variação global aí observada. Se esta

componente for positiva, indica que, na região em causa, se encontram ramos com

taxas de crescimento globalmente elevadas. Ou seja, a região apresenta uma base

industrial favorável no contexto. Caso a CE seja negativa, significa que a indústria

regional é composta por ramos globalmente pouco dinâmicos.

A componente diferencial (CD) traduz a diferença entre as taxas de variação

observadas em determinada região para cada um dos ramos relativamente ao

observado para essas actividades ao nível do país. Nesta linha de raciocínio, as

diferenças indicam vantagens /desvantagens próprias de cada região, pelo que é

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frequente esta componente ser designada como componente locativa (FERRÃO E

JENSEN-BUTLER, 1986).

Este tipo de análise apresenta algumas limitações que se prendem

fundamentalmente com o facto dos resultados obtidos dependeram em grande

medida dos níveis de desagregação espacial e sectorial utilizados. No entanto, tendo

em conta o objectivo com que este método é utilizado (tipologia de concelhos em

regressão industrial), pensamos que estas limitações são pouco relevantes.

Portanto, neste estudo, r corresponde a cada um dos concelhos seleccionados

segundo as seguintes condições:

a) ER t1986 > 750, correspondendo ao vector dimensional (isto é, o emprego

industrial no concelho é superior a 750 pessoas);

ou

b) ER t1986 >= 0,5ERT t1986 e ER t1986 > 200 (ou seja, o emprego industrial no concelho

constitui metade ou mais do emprego total concelhio (ERT), desde que

corresponda a mais de 200 pessoas ao serviço na indústria. Deste modo,

consegue-se avaliar a relevância industrial ao nível local).

O intervalo temporal de análise vai de 1986 a 1998, estando dividido em três

períodos, correspondendo, grosso modo, a três ciclos económicos, de acordo com a

evolução dos principais indicadores macroeconómicos. O primeiro corresponde ao

período de 1986, após a adesão à CEE, até 1991, onde se registou um forte

crescimento económico, verificando-se uma convergência real com a EU. O segundo

corresponde à crise do início da década de 90, de 1991 a 1994, registando-se um

crescimento económico fraco ou mesmo negativo, resultando numa divergência com

a UE. O último período, de 1995 a 1998, corresponde a uma conjuntura favorável de

retoma económica. Neste período, a classificação das actividades económicas (CAE)

foi revista, existindo algumas limitações ao nível da compatibilização entre o período

de 1986 a 1994 e o período de 1995 a 1998, resultando também do facto de após 1995

a base de dados utilizada apenas apresentar a CAE desagregada a 2 dígitos no que

se refere à informação ao nível do concelho.

Os concelhos seleccionados mediante os critérios apresentados acima estão

representados na figura 3.1. Verifica-se que a mancha de industrialização no país

configura uma faixa litoral com muito poucas descontinuidades entre a Península de

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Setúbal e o Minho-Lima. Observam-se igualmente concentrações industriais no Vale

do Tejo e no Centro Interior. Ao contrário, Alto Trás-os-Montes, Douro, Pinhal Interior

Norte, Alto Alentejo, Alentejo Central, uma parte muito significativa do Algarve e os

Açores e a Madeira são regiões sem uma base industrial consolidada.

Figura 3.1 – Concelhos seleccionados segundo os critérios adoptados para a análise

shift-share

Angra do Heroísmo

Ponta Delgada

Funchal

100 km500

3.2 Tipologia espacial de regressão industrial4

A análise shift-share pode indicar-nos que as alterações são mais ou menos

proporcionais face ao que se esperaria, identificando se a evolução se encontra

dependente (ou não) da composição sectorial sendo, contudo, mais difícil uma

4 Os autores agradecem a colaboração de Paulo Feio no tratamento e análise da informação.

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interpretação da componente diferencial (FERRÃO e JENSEN-BUTLER, 1986). Uma

conclusão importante é que a componente diferencial, ou locativa é um factor

extremamente relevante a considerar na análise de declínio do emprego industrial e,

portanto, nos processos de desinvestimento associados.

A análise shift-share do emprego industrial foi realizada para cada um dos

períodos já mencionados. Dado o objectivo da análise, interessa analisar apenas os

concelhos onde o emprego industrial diminuiu nos períodos considerados e avaliar

qual a importância das componentes estrutural e diferencial nessa evolução.

Quadro 3.1 – Evolução do emprego nos ramos da indústria transformadora (CAE Rev. ), 1986-1991 e 1991-1994

CAE Rev.

1 Ramo Industrial 1986 1991 ∆ 91-86

(%) 1994 ∆ 94-91

(%) 311 75428 83188 10,3 78750 -5,3 312

Alimentares 6567 8376 27,5 7385 -11,8

313 Bebidas 11735 12676 8,0 11786 -7,0 314 Tabaco 2182 1796 -17,7 1423 -20,8 321 Têxteis 161096 163492 1,5 123261 -24,6 322 Vestuário 90052 155011 72,1 133122 -14,1 323 Curtumes 7974 9139 14,6 8482 -7,2 324 Calçado 41366 64189 55,2 63278 -1,4 331 Madeira 53498 53076 -0,8 46662 -12,1 332 Mobiliário 28763 35934 24,9 38501 7,1 341 Papel 18804 19115 1,7 14238 -25,5 342 Artes Gráficas 27381 33812 23,5 32524 -3,8 351 16210 11233 -30,7 7613 -32,2 352

Químicas 19611 21716 10,7 17683 -18,6

353 Refinação de Petróleo 3580 2115 -40,9 3701 75,0 354 Fab. Derivados Petróleo 1708 1002 -41,3 729 -27,2 355 Borracha 6929 6780 -2,2 5976 -11,9 356 Plásticos 14266 17222 20,7 15510 -9,9 361 Porcelana, Faiança e Grés 16830 24651 46,5 23544 -4,5 362 Vidro 11170 10719 -4,0 9619 -10,3 369 Outros Min. Não Metálicos 33921 38664 14,0 33891 -12,3 371 Ind. Básicas Ferro e Aço 18132 12878 -29,0 8236 -36,0 372 Ind. Bás. Metais Não Ferrosos 5476 6295 15,0 4733 -24,8 381 Prod. Metálicos 68143 82106 20,5 77704 -5,4 382 Máq. Não Eléctricas 31761 36248 14,1 31499 -13,1 383 Máq. Eléctricas 32381 43272 33,6 46580 7,6 384 Mat. Transporte 38855 35255 -9,3 30197 -14,3 385 Aparelhos de Medida 5379 4822 -10,4 4473 -7,2 390 Outras Indústrias 10345 12374 19,6 10096 -18,4

Total Ind. Transformadora 859543 1007156 17,2 891195 -11,5 Fonte: DETEFP (1999).

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O período de 1986 de 1991 corresponde a um ciclo expansivo da economia, o

que incluiu também a indústria transformadora, tendo o emprego industrial a nível

nacional crescido 17,2% (quadro 3.1).

Já nos primeiros anos da década de 90 (1991-94), a quebra foi generalizada (-

11,5% no total), já que apenas os ramos da refinação de petróleo e das máquinas

eléctricas apresentaram um crescimento do emprego. Entre 1995 e 1998, não sendo a

situação directamente comparável com os períodos anteriores, dada a revisão feita

na CAE, constata-se que o declínio do emprego industrial foi menor, existindo uma

maior variação no comportamento dos vários ramos, tendo o emprego crescido de

forma significativa na indústria automóvel (16,6%) e registnado forte declínio na

construção naval (-17,8%), nas indústrias alimentares e das bebidas, nos têxteis e na

fabricação de produtos refinados, esta última actividade fortemente concentrado em

alguns concelhos do país (Matosinhos, Lisboa, Sines) (quadro 3.2).

Quadro 3.2 – Evolução do emprego nos ramos da indústria transformadora

(CAE Rev. 2), 1995-1998

CAE Rev. 2 Ramo Industrial 1995 1998 ∆ 98-95

(%) 15 Ind. Alimentares e das Bebidas 99394 88694 -10,8 16 Tabaco 1074 1143 6,4 17 Têxteis 115540 103985 -10,0 18 Vestuário 136941 130021 -5,1 19 Curtumes e Calçado 70643 65830 -6,8 20 Madeira e Cortiça 46925 44807 -4,5 21 Papel 14550 12966 -10,9 22 Artes Gráficas 32758 32796 0,1 23 Fab. Produtos Pet. Refinados 2580 1383 -46,4 24 Fab. Produtos Químicos 24641 22690 -7,9 25 Borracha 20832 20901 0,3 26 Outros Min. Não Metálicos 67413 66099 -1,9 27 Ind. Metalúrgicas de Base 10452 9980 -4,5 28 Prod. Metálicos 69614 72199 3,7 29 Máquinas e Equipamentos, n.e. 41270 38976 -5,6 30 Máq. Esc. e Trat. Inform. 99 0 -100,0 31 Máq. Eléctricas 28878 28244 -2,2 32 Fab. Equip. e Ap. Com. 14709 15529 5,6 33 Fab. Inst. Profissionais 5331 5197 -2,5 34 Ind. Automóvel 19527 22770 16,6 35 Construção Naval 14062 11564 -17,8 36 Outras Indústrias 50571 49544 -2,0 37 Reciclagem 425 811 90,8 Total Ind. Transformadora 888229 846129 -4,7

Fonte: DETEFP (1999).

25

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DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP5

No contexto expansivo identificado para o primeiro período, apenas alguns

concelhos registaram um decréscimo do pessoal ao serviço (figura 3.2).

Figura 3.2 – Shift-share do emprego industrial, 1986-1991 (concelhos com ∆ ER < 0).

0 50 km100

CE

CD

>0

<0

>0<0

Funchal

Ponta Delgada

Angra do Heroísmo

Em alguns destes concelhos, a estrutura industrial não era favorável, assente

em sectores “maduros”, como a química de base (Barreiro), a construção naval

(Setúbal), ou a refinação e fabricação de derivados de petróleo (Lisboa e

Matosinhos), e onde o contexto local teve um comportamento menos dinâmico do

que o nacional, identificado pela componente diferencial negativa. É visível a

continuação do processo de reestruturação industrial nos concelhos da AML,

sobretudo naqueles em que a industrialização se baseou numa lógica de intensidade

em capital e em trabalho. A região mais avançada no processo de industrialização e

com características típicas do modelo fordista foi também a primeira a entrar num

processo de desindustrialização. Registe-se, no entanto, que a reestruturação industrial

26

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DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP5

contribuiu para a obtenção de ganhos de produtividade e, deste modo, não é linear

a aplicação do conceito de desindustrialização na AML (Baptista 1989). Num trabalho

recente, (Vale e Dias 2002) sustentam, no entanto, que há uma tendência clara para

a desindustrialização da base económica em certas áreas da AML. Paralelamente, a

indústria expande-se em áreas adjacentes ou em novos segmentos territoriais da área

metropolitana em resultado da deslocalização de estabelecimentos (Gomes, 2001)

No centro do país, verificou-se uma dinâmica regressiva, embora ligada ao

ramo das indústrias alimentares e aos têxteis, no caso específico de Seia, combinando-

se a influência dos padrões gerais identificados com dificuldades locais, em áreas

marginais aos grandes eixos de comunicação e transporte.

Nos concelhos do Porto, Évora, Álcacer e Arruda dos Vinhos, a regressão

industrial foi explicada pela evolução local, já que a sua estrutura industrial não era

tão desfavorável no contexto do período. No Porto, a expansão da sua área

metropolitana, e pressões associadas ao nível dos usos de solo, explicará a diferença

entre a variação hipotética da cidade e a que realmente ocorreu. Nos outros

concelhos, embora com presença de ramos com dinâmicas de crescimento do

emprego industrial (alimentares, em Alcácer e máquinas eléctricas, no caso de Évora

e Arruda dos Vinhos), a sua evolução a nível local foi negativa.

Sines é o único concelho que combina um contexto desfavorável à indústria

dominante no concelho, a refinação de petróleo, com uma evolução local de sinal

contrário, expresso pelo valor da sua componente diferencial. Os investimentos

realizados no complexo petroquímico localizado no concelho estão na base deste

posicionamento.

No período de 1991 a 1994, a indústria transformadora apresenta uma

regressão mais acentuada e generalizada a todo o território (figura 3.3). Apenas a

indústria do mobiliário, a refinação de petróleo e a fabricação de máquinas eléctricas

observaram um crescimento do pessoal ao serviço neste período (quadro 3.1).

Nos concelhos onde a componente estrutural é positiva, vemos os efeitos de

algumas destas indústrias, que mesmo assim não foi suficiente para contrariar a

diminuição de emprego em concelhos no Alentejo Litoral, Grande Lisboa, Oeste e

Lezíria do Tejo. Dado que a evolução foi desfavorável para certas indústrias, como a

química, indústrias básicas do ferro e aço e material de transporte, os espaços que

concentram estas actividades registaram uma CE negativa (caso de concelhos da

Península de Setúbal e mesmo da AMP). Finalmente, as áreas de mono-especialização

industrial (sobretudo têxtil e vestuário) evidenciaram, neste período, uma destruição

27

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DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP5

liquída de emprego que resultou exclusivamente da crise destas actividades, pois a

componente diferencial foi positiva (Vale do Ave e Cova da Beira/Serra da Estrela).

Figura 3.3 – Shift-share do emprego industrial, 1991-1994 (concelhos com ∆ ER < 0).

<0 >0

<0

>0

CD

CE

100 km500

Funchal

Ponta Delgada

Angra do Heroísmo

No último período em análise, a quebra de emprego industrial foi menor e a

estrutura industrial de alguns concelhos era já significativamente diferente da que

tinham em meados dos anos 80. Por exemplo, alguns concelhos fortemente mono-

especializadas no têxtil viram crescer o peso da indústria de vestuário e confecções

(Covilhã), e noutros ela alterou-se radicalmente, em particular nas cidades de Lisboa e

Porto, e nas respectivas áreas metropolitanas. Por outro lado, a revisão da CAE torna

ainda mais complexa a análise evolutiva.

28

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DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP5

Em geral, os concelhos que registaram um comportamento negativo rmarcado

pela evolução desfavorável da componente estrutural encontram-se na Península de

Setúbal e em Sines/Santiago de Cacém e ainda no Vale do Ave e na Cova da Beira,

Serra da Estrela e Beira Baixa, porém, nestas três últimas NUTS a componente

diferencial também foi negativa em alguns municípios, indiciando a perda de

relevância de factores de localização industrial até aí importantes para a dinâmica de

industrialização. As áreas com uma componente estrutural positiva neste período

concentram-se sobretudo entre a Grande Lisboa e o Baixo Vouga, que não foi

suficiente, no entanto, para evitar a destruição de emprego industrial.

Figura 3.4 – Shift-share do emprego industrial, 1995-1998 (concelhos com ∆ ER < 0).

<0 >0

<0

>0

CD

CE

100 km500

Funchal

Ponta Delgada

Angra do Heroísmo

A análise comprova que os territórios apresentam especificidades próprias,

especialmente quando se verifica um maior declínio do emprego industrial, como se

pode ver pelos coeficientes de correlação entre cada umas das componentes e a

29

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DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP5

evolução do emprego nos períodos considerados (quadro 3.3). Os factores de

localização industrial revelam-se mais importantes que o tipo de especialização

industrial na explicação da dinâmica de emprego no sector, sobretudo a partir de

1995, já que no primeiro perído em análise (1986-1995) as componentes diferencial e

estrutural tinham pesos explicativos mais aproximados. Em alguns casos, a falta de

investimento em infra-estruturas tecnológicas justifica o declínio do emprego industrial,

todavia, a falta de qualificação da mão-de-obra e a evolução demográfica

desfavorável parecem contribuir mais incisivamente para uma regressão da

actividade em áreas do interior do país. Entre as áreas com uma componente

diferencial negativa destaca-se a AML, no entanto, por razões distintas das áreas do

interior do país. Com efeito, a queda do emprego na actividade industrial configura

sobretudo uma mudança da base económica orientada para actividades de maior

valor acrescentado (sobretudo na área das indústrias e serviços intensivos em

conhecimento) com menor intensidade de emprego industrial, verificando-se que a

principal área metropolitana do país, sobretudo na Grande Lisboa, tem cada vez

menos vocação para a localização de actividades industriais de grande dimensão,

por motivos de competição pelo uso do solo com outras actividades económicas e

mesmo pelas características do mercado de trabalho da região.

Quadro 3.3 – Coeficientes de correlação (Pearson) entre as componentes da análise

shift-share (diferencial e estrutural) com a evolução regional do emprego, por período

em análise

∆ t r (CD, ∆ ER) r (CE, ∆ ER)

1986-1991 0,643842 0,526983 1991-1994 0,812209 0,125044 1995-1998 0,938773 0,021945

Com base na análise shift-share ao emprego industrial entre 1986 e 1998 é

possível elaborar uma tipologia do comportamento de regressão industrial dos

territórios em estudo. Os espaços em processo de desindustrialização caracterizam-se

por uma perda continuada e sistemática do emprego, de um modo geral em

diferentes ramos da indústria transformadora, podendo registar as seguintes situações

relativas ao desempenho das componentes estrutural e diferencial:

◊ Espaços com componentes estrutural e geográfica (diferencial)

negativas, resultando a diminuição do emprego do perfil industrial

desfavorável, bem como das condições territoriais pouco propícias ao

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DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP5

crescimento de sectores relevantes na base económica local/regional.

Nesta categoria identificamos os principais concelhos industrializados

da Península de Setúbal e Serra da Estrela, bem como o Grande Porto

até meados dos anos 1990 e o pólo de Sines (embora com

comportamento irregular ao longo do período em análise);

◊ Espaços com componentes estrutural positiva e geográfica negativa

resumem-se aos concelhos da Grande Lisboa, que apresentam uma

estrutura industrial muito dinâmica à escala nacional mas que têm

vindo a registar uma evolução do emprego inferior às respectivas

médias nacionais sectoriais;

◊ Espaços com componentes estrutural negativa e geográfica positiva

compreendem essencialmente concelhos com especializações de tipo

mono-industrial com comportamento pouco dinâmico no quadro

nacional, mas cujo desempenho local foi superior ao registado ao nível

nacional em concelhos do Vale do Ave, Cova da Beira e mesmo do

Médio Tejo. As externalidades geradas em economias tipo distrito

industrial contribuíram, nestes casos, para uma atenuação da queda

do emprego industrial em sectores pouco dinâmicos, que seria

certamente mais elevada noutros contextos territoriais. Classifica-se

nesta categoria o sector norte do Grande Porto (neste caso, entre 1995

e 1998).

A registar-se uma continuação da destruição de emprego industrial nestas

áreas, pode afirmar-se que o mapa da indústria em Portugal se encontra em

mudança, com a afirmação de novas centralidades e com o reforço de áreas

tradicionalmente industrializadas entre o norte da AML e o sul da AMP. Por outro lado,

o Noroeste, de Minho-Lima até ao Tâmega, excluindo o Vale do Ave, assim como

Dão-Lafões parecem têm vindo a ganhar protagonismo assente em vantagens locais

favoráveis à instalação de novas indústrias em sectores pouco ou medianamente

avançados do ponto de vista tecnológico.

31

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DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP5

4. FLUXOS DE CRIAÇÃO E DESTRUIÇÃO DE EMPREGO INDUSTRIAL

4.1 Introdução

Relativamente à criação e destruição de emprego industrial em Portugal, ela

apenas se pode avaliar pela informação recolhida pelo Departamento de Estatística

do Trabalho, Emprego e Formação Profissional (DETEFP), através dos Quadros de

Pessoal, organizada numa base de dados específica5. Por outro lado, a importância

desta variável numa análise de impactos de desinvestimento é clara, pois é a que

acarreta maiores problemas a nível social. O nosso período de análise estende-se de

1986 a 1998, e refere-se à criação de emprego em novos estabelecimentos (criados

de novo mais os declarados pela primeira vez) e à destruição de emprego em

estabelecimentos encerrados. Como referem BLUESTONE e HARRISON (1982, p. 28), as

perdas e ganhos associados com a abertura e encerramento ou relocalização de um

estabelecimento são claramente o resultado de investimento e desinvestimento. O

mesmo não acontece com a expansão/contracção de emprego em

estabelecimentos existentes, sendo impossível destrinçar o que se deve a fenómenos

de investimento ou desinvestimento e o que se deve a um acréscimo ou decréscimo

da capacidade produtiva instalada (SIMÕES, 2001). Em particular, relativamente à

contracção de emprego em estabelecimentos existentes podemos apenas inferir que

poderá ter existido algum desinvestimento, mas não podemos quantificar o seu

impacto em termos de emprego. Deste modo, em relação à informação utilizada,

apenas os fluxos de criação de emprego em estabelecimentos declarados pela

primeira vez e em estabelecimentos criados de novo se associam sem dúvida a

operações de investimento. Por outro lado, apenas a destruição de emprego por

encerramento de estabelecimentos pode ser considerada sem ambiguidade como

resultado de desinvestimento.

A escolha desta fonte estatística permite uma desagregação espacial ao nível

da NUTE III. Desta forma, apurou-se a informação relativa às variáveis referidas por

ramo dentro da indústria e por NUTE III relativamente ao total da indústria. Deste modo,

foi possível elaborar um balanço do emprego a nível sectorial e regional, no se refere

ao emprego industrial. Convém advertir desde já que as diferenças residuais

observadas entre os totais para a indústria, entre os dois tipos de balanço, se devem a

alguns registos que não estão referenciados a qualquer concelho na base de dados

5 DETEFP (1999) – Demografia dos Estabelecimentos em Portugal 1982-1998, Lisboa.

32

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DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP5

utilizada (DETEFP, 1999). Considerou-se mais uma vez todo o país como realidade

geográfica a estudar.

4.2 Fluxos de criação e destruição de emprego industrial

Como se pode observar na figura 4.1, o nível da destruição de emprego em

Portugal apresenta um ritmo de crescimento acentuado a partir de meados da

década de 1980. A partir da década de 1990 assiste-se a uma inversão desta

tendência, registando-se uma estagnação nos últimos anos do período em análise, à

excepção do último ano. O valor registado em 1998 é passível de estar

sobrevalorizado, como refere o próprio DETEFP (1999), situação que pensava corrigir

mais tarde através dos Quadros de Pessoal do ano seguinte. Esta sobrevalorização

decorre da própria definição adoptada pelo DETEFP, já que uma empresa é

considerada encerrada aquando da sua saída definitiva da base de dados.

Figura 4.1 – Fluxos de criação e destruição de emprego industrial em Portugal, 1986-

1998

0

10000

20000

30000

40000

50000

60000

70000

80000

90000

1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998

Anos

N.º

de

pos

tos

de

trab

alh

o

Emprego destruído em estabelecimentos encerradosEmprego criado em novos estabelecimentos

Fonte: DETEFP (1999); com tratamento próprio.

33

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DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP5

Se avaliarmos a evolução conjunta dos fluxos de destruição face aos de

criação (figura 4.1), observa-se que, até 1990, o saldo era positivo, situação que só

volta a acontecer excepcionalmente no biénio 1993-94, estabelecendo-se a partir daí

uma situação em que o fluxo de destruição de emprego supera sempre o de criação.

É importante perceber também as diferenças entre os diversos ramos da

indústria no que diz respeito aos fluxos de criação e destruição de emprego. Para tal

fim, apurou-se, a partir da base de dados do DETEFP, o emprego criado e o emprego

destruído para o período de 1986 a 1998 para os agrupamentos já definidos no

capítulo anterior e o respectivo saldo líquido (quadro 4.1).

Quadro 4.1 – Fluxos absolutos de criação e destruição de emprego nos diversos ramos

industriais, Portugal, 1986-1998

Actividade Industrial

Volume de

emprego (1986)

Emprego destruído 1986-1998

(estabelecimentos encerrados)

Emprego criado 1986-1998 (novos

estabelecimentos)

Saldo líquido

Indústria Extractiva 14974 12166 12141 -25 Alimentação, Bebidas e Tabaco 95912 69696 63829 -5867 Têxteis 161096 81762 60892 -20870 Vestuário 90052 121106 124973 3867 Calçado e Couro 49340 49666 48786 -880 Madeira e Mobiliário 82261 64621 65261 640 Papel e Artes Gráficas 46185 32916 29591 -3325 Indústria Química 62304 35024 28986 -6038 Produtos Minerais não Metálicos 61921 40172 41073 901 Metalurgia de Base 23608 9541 6919 -2622 Fabricação de Produtos Metálicos 68143 45343 52034 6691 Fabricação de Máquinas e Equipam. 64142 48068 47229 -839 Fabricação de Material de Transp. 38855 20677 17184 -3493 Fabricação de Instrumentos Prof. 5379 1750 2185 435 Outras Indústrias Transformadoras 10345 7402 7774 372 Indústria Transformadora 859543 627744 596716 -31028 Total Indústria 874517 639910 608857 -31053

Fonte: DETEFP (1999); com tratamento próprio.

Da observação do quadro, podemos identificar aqueles ramos que mais

perderam emprego e aqueles em que essa perda foi menor. Os têxteis foram o ramo

em que o saldo foi mais negativo, seguindo-se a indústria química e as indústrias

alimentares, das bebidas e do tabaco. As indústrias de fabricação de produtos

metálicos foram, por outro lado, o ramo com o maior saldo positivo, seguido da

indústria do vestuário e dos produtos minerais não metálicos.

34

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DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP5

Calculando taxas de destruição e criação de emprego para o período em

análise, tanto para o conjunto da indústria como para os vários ramos, face ao volume

global de emprego de cada um deles (quadro 4.2), pode apreender-se a importância

relativa destes fluxos. Deste modo, o vestuário surge claramente como aquele ramo

em que a destruição de emprego foi maior relativamente ao volume de emprego

gerado; as indústrias extractivas, o ramo da madeira e mobiliário e ainda a indústria do

calçado do couro apresentam valores algo superiores ao verificado para a média da

indústria.

Quadro 4.2 – Taxas globais de destruição de emprego nos diversos ramos industriais,

Portugal, 1986-1998

Actividade Industrial

Total de emprego destruído (86-98)

[A]

Volume total de emprego (86-98)

[B]

[A]/[B]*100

Indústria Extractiva 12166 201145 6,05 Alimentação, Bebidas e Tabaco 69696 1294045 5,39 Têxteis 81762 1859876 4,40 Vestuário 121106 1703355 7,11 Calçado e Couro 49666 874509 5,68 Madeira e Mobiliário 64621 1117886 5,78 Papel e Artes Gráficas 32916 630513 5,22 Indústria Química 35024 725054 4,83 Produtos Minerais não Metálicos 40172 886591 4,53 Metalurgia de Base 9541 217849 4,38 Fabricação de Produtos Metálicos 45343 981786 4,62 Fabricação de Máquinas e Equipam. 48068 1001295 4,80 Fabricação de Material de Transp. 20677 465618 4,44 Fabricação de Instrumentos Prof. 1750 63699 2,75 Outras Indústrias Transformadoras 7402 139374 5,31 Indústria Transformadora 627744 11961449 5,25 Total Indústria 639910 12162594 5,26

Fonte: DETEFP (1999); com tratamento próprio.

Como ramos em que a taxa de destruição foi indiscutivelmente menor,

identifica-se a fabricação de instrumentos profissionais, a metalurgia de base e os

têxteis. Para melhor analisar o peso e importância ao nível da dinâmica por ramos

deste emprego destruído temos de analisar a outra face da moeda, ou seja, a criação

de emprego (quadro 4.3).

Como se pode observar, a taxa de destruição de emprego provocada pelo

encerramento de estabelecimentos supera ligeiramente a de criação de emprego

dos novos estabelecimentos para a globalidade do período em análise.

35

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DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP5

Por outro lado, o vestuário é igualmente o ramo onde a taxa de criação deste

tipo de emprego foi substancialmente superior à média do sector secundário. As

indústrias extractivas, da madeira e mobiliário e também as de calçado e couro

apresentam um comportamento análogo a este.

Como ramos que apresentam uma taxa de criação menor que a média, temos

precisamente a metalurgia de base, os têxteis e a fabricação de instrumentos

profissionais.

Quadro 4.3 – Taxas globais de criação de emprego nos diversos ramos industriais,

Portugal, 1986-1998

Actividade Industrial

Total de emprego criado de novo (86-98)

[A]

Volume total de emprego (86-98)

[B] [A]/[B]*100

Indústria Extractiva 12141 201145 6,04 Alimentação, Bebidas e Tabaco 63829 1294045 4,93 Têxteis 60892 1859876 3,27 Vestuário 124973 1703355 7,34 Calçado e Couro 48786 874509 5,58 Madeira e Mobiliário 65261 1117886 5,84 Papel e Artes Gráficas 29591 630513 4,69 Indústria Química 28986 725054 4,00 Produtos Minerais não Metálicos 41073 886591 4,63 Metalurgia de Base 6919 217849 3,18 Fabricação de Produtos Metálicos 52034 981786 5,30 Fabricação de Máquinas e Equipam. 47229 1001295 4,72 Fabricação de Material de Transp. 17184 465618 3,69 Fabricação de Instrumentos Prof. 2185 63699 3,43 Outras Indústrias Transformadoras 7774 139374 5,58 Indústria Transformadora 596716 11961449 4,99 Total Indústria 608857 12162594 5,01

Fonte: DETEFP (1999); com tratamento próprio.

Em síntese, se temos ramos em que tanto a taxa de destruição de emprego

como a de criação foi claramente superior à média existem, por outro lado, outros em

que se observam taxas de destruição, bem como de criação, significativamente mais

baixas do que o verificado para o total da indústria. Torna-se deste modo interessante

confrontar estas taxas (quadro 4.4).

A metalurgia de base e os têxteis, assim como a química e a fabricação de

material de transporte, surgem como aqueles em que o saldo foi mais negativo,

36

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DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP5

enquanto a fabricação de instrumentos profissionais e de produtos metálicos foram os

ramos em que o saldo foi mais positivo.

Quadro 4.4 – Taxas globais de criação e destruição de emprego nos diversos ramos

industriais, Portugal, 1986-1998

Actividade Industrial

Taxa global de criação de

emprego (%) (86-98)

[C]

Taxa global de destruição de emprego (%)

(86-98) [D]

[C]-[D]

Indústria Extractiva 6,04 6,05 -0,01 Alimentação, Bebidas e Tabaco 4,93 5,39 -0,46 Têxteis 3,27 4,40 -1,13 Vestuário 7,34 7,11 0,23 Calçado e Couro 5,58 5,68 -0,1 Madeira e Mobiliário 5,84 5,78 0,06 Papel e Artes Gráficas 4,69 5,22 -0,53 Indústria Química 4,00 4,83 -0,83 Produtos Minerais não Metálicos 4,63 4,53 0,1 Metalurgia de Base 3,18 4,38 -1,2 Fabricação de Produtos Metálicos 5,30 4,62 0,68 Fabricação de Máquinas e Equipam. 4,72 4,80 -0,08 Fabricação de Material de Transp. 3,69 4,44 -0,75 Fabricação de Instrumentos Prof. 3,43 2,75 0,68 Outras Indústrias Transformadoras 5,58 5,31 0,27 Indústria Transformadora 4,99 5,25 -0,26 Total Indústria 5,01 5,26 -0,25

Fonte: DETEFP (1999); com tratamento próprio.

Na figura 4.2 podemos sintetizar as observações realizadas neste ponto. Deste

modo, podemos observar que nenhum dos ramos industriais em análise apresenta

uma situação em que o emprego criado por novas empresas é simultaneamente

elevado e muito superior ao destruído. Os ramos do vestuário e o da madeira e

mobiliário apresentam um fluxo relativamente elevado de criação de emprego, mas

que acaba por ser de intensidade semelhante ao da destruição. Por outro lado, o

ramo da fabricação de instrumentos profissionais é o único que se destaca por um

baixo nível de criação de emprego mas que compensa mesmo assim o da destruição.

No conjunto dos agrupamentos considerados, apenas o calçado e couro e as

indústrias alimentares, bebidas e tabaco apresentam uma situação onde o emprego

destruído pelo encerramento de empresas é elevado mas apenas ligeiramente

superior ao emprego criado. Contudo, noutros ramos onde a destruição de emprego

apresenta valores menos elevados, o emprego criado por novas empresas não é

37

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DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP5

suficiente para restabelecer um equilíbrio a este nível, o que ocorre claramente com a

metalurgia de base e com os têxteis.

Figura 4.2 – Taxas globais de criação e destruição de emprego nos diversos ramos

industriais, Portugal, 1986-1998 (vide anexo 1)

0,00

1,00

2,00

3,00

4,00

5,00

6,00

7,00

8,00

0,00 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00 7,00 8,00

Taxa de destruição de emprego

Taxa

de

cria

ção

de e

mpr

ego

D

F A O K

E

L

Fonte: DETEFP (1999); com tratamento próprio.

Realizando uma análise ao nível dos fluxos de destruição ano a ano, vemos

que existe uma variabilidade interanual significativa para a generalidade dos ramos, à

excepção das indústrias extractivas (figura 4.3). Para além do pico observado em

1998, possivelmente sobrevalorizado, vemos que é no período de 1989 a 1992 que se

detecta a maior intensidade de destruição de emprego para a maioria dos ramos em

questão. Por outro lado, a indústria do vestuário parece decalcar anos mais tarde a

evolução verificada nos têxteis, sendo estes ramos os mais importantes relativamente

ao volume de emprego destruído.

N

J C

M I B G

H

38

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Figura 4.3 – Destruição de emprego por encerramento nos diversos ramos industriais,

Portugal, 1986-1998

0

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

12.000

14.000

16.000

18.000

1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998

Anos

Post

os d

e tra

balh

o

Siderurgia

Ind. Extractiv a

Ind. CnstMTransp

Ind. Química

Papel e Artes Gráficas

Ind.Fab.Prod. Met.

Ind. Fab. Maq.

Alim., Beb. e Tabaco

Ind. Têxteis

Ind. Vestuário

Madeira e Mob.

Curtumes e calçado

Fonte: DETEFP (1999); com tratamento próprio.

39

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4.3 Padrões regionais de criação e destruição de emprego industrial

Também regionalmente se detectam assimetrias ao nível da criação e

destruição de emprego industrial. Na continuação de uma tendência iniciada pelo

menos nos anos 70 (FERRÃO, 1987), a Área Metropolitana de Lisboa (AML,

correspondente às NUT III Grande Lisboa e Península de Setúbal), perde emprego

industrial em valor absoluto (menos 43,4% entre 1986 e 1998), reflexo do saldo negativo

entre criação de emprego em novos estabelecimentos e destruição de emprego por

encerramento, bem como na criação e destruição de emprego nos estabelecimentos

existentes (Quadro 4.5). Para esta dinâmica negativa em termos de emprego,

contribuíram de forma significativa o processo de reestruturação industrial e o

desmantelamento da indústria pesada na AML (BAPTISTA, 1989; FONSECA, 1998;

GOMES, 2001).

Na Área Metropolitana do Porto (AMP) detecta-se uma tendência semelhante

à de Lisboa, observando-se, em simultâneo a diminuição absoluta do emprego

industrial (menos 21,7%) e um saldo negativo entre a criação e destruição de

emprego, o que confirma o desinvestimento industrial nesta região.

As alterações de uso do solo nas áreas urbanas, ao impelir os estabelecimentos

industriais localizados em áreas mais centrais para áreas mais periféricas, constituem

um factor determinante neste processo. ALVES e MADRUGA (1996) concluíram existir

nas duas áreas metropolitanas, com maior intensidade na AML do que na AMP, uma

relocalização fundamentalmente de proximidade, entre municípios destas áreas e

uma coroa envolvente, derivada de factores de repulsão e/ou da própria

necessidade de expansão da actividade. Ao abandonaram as áreas mais centrais, as

empresas conseguem não só contornar os inconvenientes da aglomeração, como se

torna possível a valorização imobiliária dos terrenos devolutos (QUEIRÓS e HENRIQUES,

2002). Deste modo, o declínio da indústria nas áreas metropolitanas não está

exclusivamente relacionado com a crise na actividade, dado que a indústria tem de

competir com outros usos do solo urbano, tendo também ela própria modificado os

seus factores locativos tradicionais.

Mas não só nas duas áreas metropolitanas portuguesas se assistiu a um

desinvestimento industrial, com reflexos ao nível do emprego. O Alentejo Litoral e a

Serra da Estrela, associado, no primeiro caso, à reestruturação das indústrias

petroquímicas em Sines e, no segundo, à crise das actividades do têxtil, surgem com

saldo negativos elevados de destruição de emprego.

40

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DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP5

Quadro 4.5 – Balanço de emprego industrial em Portugal (1986-1998), por

componentes e por região (NUT II e NUT III).

Emp. Ind. 1986

Emp. Criado Novos Estab. (1986-1998)

Emp. Destruído

Estab. Enc.

(1986-1998)

Saldo Emprego Dest. e

Emprego Criado

Saldo Emprego Dest. e

Emprego Criado

em Estab.

Existentes

Emp. Ind. 1998

Var. Abs. Emp.

(1986-1998)

Portugal (Continente) 863249 598757 629073 -30316 14792 847725 -15524

Norte 428716 327131 326875 256 25271 454243 25527

Minho-Lima 10993 11553 9680 1873 4128 16994 6001

Cávado 33617 40879 31548 9331 9421 52369 18752

Ave 115335 73799 76397 -2598 679 113416 -1919

Grande Porto 164903 98555 117539 -18984 -16814 129105 -35798

Tâmega 41083 57702 47299 10403 19266 70752 29669

Entre Douro e Vouga 55744 37274 38049 -775 8541 63510 7766

Douro 3032 3491 3075 416 502 3950 918

Alto Trás-os-Montes 4009 3878 3288 590 -452 4147 138

Centro 145049 88715 88813 -98 18885 163836 18787

Baixo Vouga 47762 23357 21260 2097 8736 58595 10833

Baixo Mondego 21081 10627 12484 -1857 1354 20578 -503

Pinhal Litoral 26665 18351 18514 -163 4153 30655 3990

Pinhal Interior Norte 8665 7658 7156 502 1622 10789 2124

Dão-Lafões 11744 11320 11639 -319 5508 16933 5189

Pinhal Interior Sul 2031 1658 1425 233 13 2277 246

Serra da Estrela 5750 1886 3159 -1273 -1537 2940 -2810

Beira Interior Norte 4269 5102 4037 1065 310 5644 1375

Beira Interior Sul 4239 3727 3933 -206 505 4538 299

Cova da Beira 12843 5029 5206 -177 -1779 10887 -1956

Lisboa e Vale do Tejo 258774 156960 186738 -29778 -28277 200719 -58055

Oeste 25824 20981 21598 -617 5713 30920 5096

Grande Lisboa 148228 79905 98476 -18571 -36797 92860 -55368

Península de Setúbal 54032 34492 42464 -7972 -3817 42243 -11789

Médio Tejo 17275 10828 12177 -1349 2888 18814 1539

Lezíria do Tejo 13415 10754 12023 -1269 3736 15882 2467

Alentejo 22086 17943 19548 -1605 693 21174 -912

Alentejo Litoral 5258 4374 5266 -892 -678 3688 -1570

Alto Alentejo 5179 3391 3511 -120 152 5211 32

Alentejo Central 9167 8097 9053 -956 937 9148 -19

Baixo Alentejo 2482 2081 1718 363 282 3127 645

Algarve 8624 8008 7099 909 -1780 7753 -871

Fonte: DETEFP (1999); com tratamento próprio.

No Vale do Ave e na Cova da Beira, registou-se também uma perda

significativa em termos de emprego industrial, embora menos intensa do que nas duas

41

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DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP5

regiões anteriores, pois apesar da crise do têxtil ter também ocorrido nestas regiões, a

criação de emprego na indústria do vestuário e confecções na Cova da Beira e a

expansão deste sector no Ave, permitiu atenuar alguns dos efeitos da crise do têxtil ao

nível dos mercados de emprego.

Neste período, existiram mesmo assim regiões onde se observam ganhos de

emprego industrial, nomeadamente nas NUTS III Cávado, Tâmega e Entre Douro e

Vouga, a norte, e no Baixo Vouga, Dão-Lafões e Pinhal Litoral no centro do país, e

ainda na região Oeste. O ganho de emprego relaciona-se com a criação de

emprego em estabelecimentos existentes, tendo-se observado um saldo positivo face

à destruição. Contudo, entre o emprego criado em novos estabelecimentos e o

destruído por encerramentos, apenas o Cávado, Tâmega e Baixo Vouga observam

valores positivos, assumindo-se como áreas ganhadoras face ao investimento

industrial.

Interessa também proceder a uma análise espacial restrita apenas aos fluxos

de criação e destruição de emprego industrial, em novos estabelecimentos e em

estabelecimentos encerrados, respectivamente, por estarem claramente associados a

processos de investimento e desinvestimento. Para podermos comparar as diversas

regiões há que ponderar os valores absolutos registados pelo volume de emprego

industrial de cada região (quadros 4.6 e 4.7 e 4.8). Cartografou-se posteriormente essa

informação, de forma a se tornar mais perceptível o padrão espacial dos fluxos de

criação e destruição de emprego, bem como o saldo entre estes dois (figuras 4.4, 4.5 e

4.6).

Da análise dos fluxos de destruição de emprego, observa-se que o Alentejo

Litoral e Central surgem como as regiões em que o fluxo global de destruição de

emprego é mais intenso, seguido da Península de Setúbal e das regiões de Alto Trás-os-

Montes e do Douro, face ao volume de emprego industrial. Por outro lado, são as

regiões do Baixo Vouga e da Cova da Beira aquelas onde o fluxo de destruição foi

menos intenso entre 1986 e 1998. Também as regiões do Baixo Mondego e do Baixo

Alentejo apresentam valores significativamente inferiores à média do País.

Relativamente às dinâmicas regionais relativas aos fluxos de criação de

emprego, o Alentejo Litoral e o Algarve, como se pode ver, apresentam as taxas de

criação de emprego mais elevadas para o período em análise.

42

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Quadro 4.6 – Taxas globais de destruição de emprego por NUTE III, 1986-1998.

NUTE

Total de emprego destruído (86-98)

[A]

Volume total de emprego (86-98)

[B]

[A]/[B]*100

Portugal 638851 12162244 5,25 Continente 629073 11997005 5,24 Norte 326875 6279416 5,21 Minho-Lima 9680 188557 5,13 Cavado 31548 638120 4,94 Ave 76397 1606451 4,76 Grande Porto 117539 2103309 5,59 Tâmega 47299 819366 5,77 Entre Douro e Vouga 38049 825598 4,61 Douro 3075 47658 6,45 Alto Trás-os-Montes 3288 50357 6,53 Centro 88813 2143298 4,14 Baixo Vouga 21260 723805 2,94 Baixo Mondego 12484 287347 4,34 Pinhal Litoral 18514 409247 4,52 Pinhal Interior Norte 7156 134842 5,31 Dão-Lafões 11639 192377 6,05 Pinhal Interior Sul 1425 27094 5,26 Serra da Estrela 3159 66779 4,73 Beira Interior Norte 4037 69444 5,81 Beira Interior Sul 3933 71788 5,48 Cova da Beira 5206 160575 3,24 Lisboa e Vale do Tejo 186738 3174095 5,88 Oeste 21598 405589 5,33 Grande Lisboa 98476 1682545 5,85 Península de Setúbal 42464 642103 6,61 Médio Tejo 12177 240666 5,06 Lezíria do Tejo 12023 203192 5,92 Alentejo 19548 289687 6,75 Alentejo Litoral 5266 53675 9,81 Alto Alentejo 3511 71286 4,93 Alentejo Central 9053 125112 7,24 Baixo Alentejo 1718 39614 4,34 Algarve 7099 110509 6,42 Açores 5504 85714 6,42 Madeira 4274 79525 5,37

Fonte: DETEFP (1999); com tratamento próprio.

43

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DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP5

Quadro 4.7 - Taxas globais de criação de emprego por NUTE III, 1986-1998.

NUTE

Total de emprego criado (86-98)

[A]

Volume total de emprego (86-98)

[B]

[A]/[B]*100

Portugal 608732 12162244 5,01 Continente 598757 11997005 4,99 Norte 327131 6279416 5,21 Minho-Lima 11553 188557 6,13 Cavado 40879 638120 6,41 Ave 73799 1606451 4,59 Grande Porto 98555 2103309 4,69 Tâmega 57702 819366 7,04 Entre Douro e Vouga 37274 825598 4,51 Douro 3491 47658 7,33 Alto Trás-os-Montes 3878 50357 7,70 Centro 88715 2143298 4,14 Baixo Vouga 23357 723805 3,23 Baixo Mondego 10627 287347 3,70 Pinhal Litoral 18351 409247 4,48 Pinhal Interior Norte 7658 134842 5,68 Dão-Lafões 11320 192377 5,88 Pinhal Interior Sul 1658 27094 6,12 Serra da Estrela 1886 66779 2,82 Beira Interior Norte 5102 69444 7,35 Beira Interior Sul 3727 71788 5,19 Cova da Beira 5029 160575 3,13 Lisboa e Vale do Tejo 156960 3174095 4,95 Oeste 20981 405589 5,17 Grande Lisboa 79905 1682545 4,75 Península de Setúbal 34492 642103 5,37 Médio Tejo 10828 240666 4,50 Lezíria do Tejo 10754 203192 5,29 Alentejo 17943 289687 6,19 Alentejo Litoral 4374 53675 8,15 Alto Alentejo 3391 71286 4,76 Alentejo Central 8097 125112 6,47 Baixo Alentejo 2081 39614 5,25 Algarve 8008 110509 7,25 Açores 5245 85714 6,12 Madeira 4730 79525 5,95

Fonte: DETEFP (1999); com tratamento próprio.

44

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DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP5

Figura 4.4 - Taxas globais de destruição de emprego por NUTE III (Continente), 1986-

1998

3.25 - 5.485.49 - 7.237.24 - 9.81

2.94 - 3.24

Taxa global de destruição de emprego (%)

0 50 km100

Face ao volume de emprego industrial dessas regiões, também o Nordeste de

Portugal apresenta um fluxo relativo de criação de emprego mais intenso. Por outro

lado, regiões litorais, como o Baixo Vouga e o Baixo Mondego, apresentam fluxos de

intensidade significativamente menores que a média do país. Porém são as regiões

contíguas da Serra da Estrela e da Cova da Beira as que apresentam os fluxos menos

intensos.

Realizando a análise contrastada dos dois tipos de fluxo conseguimos uma

indicação da resposta das regiões ao fenómeno do desinvestimento (quadro 4.8 e

figura 4.6). Calculando o coeficiente de correlação de Pearson para as taxas de

criação e destruição de emprego por NUT III (r = 0,76), confirma-se que na maior parte

das regiões, uma maior intensidade dos fluxos de destruição é acompanhada por uma

maior intensidade dos fluxos de criação de emprego industrial, o que também pode

ser constatado pela observação dos mapas correspondentes. As excepções mais

evidentes a esta associação são as duas áreas metropolitanas.

45

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DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP5

Figura 4.5 – Taxas globais de criação de emprego por NUTE III (Continente), 1986-1998

0 50 km100

3.25 - 5.375.38 - 6.476.48 - 8.15

2.82 - 3.70

Taxa global de criação de emprego (%)

Fonte: DETEFP (1999); com tratamento próprio.

As regiões polarizadas pelas duas maiores cidades portuguesas registaram

assim uma tendência clara e persistente de destruição de emprego na indústria, não

compensada pela criação de emprego no sector em novos estabelecimentos, o que

resultou numa desindustrialização clara da base económica das duas áreas

metropolitanas. Este processo acabou por beneficiar a expansão do sector secundário

nas áreas envolventes, pelo movimento centrífugo da actividade industrial das áreas

metropolitanas (GOMES, 2001).

É no norte do país que se concentram as regiões onde o saldo global entre os

dois fluxos é mais positivo. Em algumas destas regiões a indústria tem um peso

relativamente elevado na base económica, sobretudo na fachada mais litoral, apesar

de no caso do Ave não se registarem ganhos absolutos de emprego na indústria.

46

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Quadro 4.8 – Balanço entre as taxas globais de criação e destruição de emprego nas

diversas regiões (NUTE III), 1986-1998

NUTE

Taxa global de criação de emprego

(%) (86-98) [C]

Taxa global de destruição de

emprego (%) (86-98) [D]

[C]-[D]

Portugal 5,01 5,25 -0,24 Continente 4,99 5,24 -0,25 Norte 5,21 5,21 0,00 Minho-Lima 6,13 5,13 1,00 Cavado 6,41 4,94 1,47 Ave 4,59 4,76 -0,17 Grande Porto 4,69 5,59 -0,90 Tâmega 7,04 5,77 1,27 Entre Douro e Vouga 4,51 4,61 -0,10 Douro 7,33 6,45 0,88 Alto Trás-os-Montes 7,70 6,53 1,17 Centro 4,14 4,14 0,00 Baixo Vouga 3,23 2,94 0,29 Baixo Mondego 3,70 4,34 -0,64 Pinhal Litoral 4,48 4,52 -0,04 Pinhal Interior Norte 5,68 5,31 0,37 Dão-Lafões 5,88 6,05 -0,17 Pinhal Interior Sul 6,12 5,26 0,86 Serra da Estrela 2,82 4,73 -1,91 Beira Interior Norte 7,35 5,81 1,54 Beira Interior Sul 5,19 5,48 -0,29 Cova da Beira 3,13 3,24 -0,11 Lisboa e Vale do Tejo 4,95 5,88 -0,93 Oeste 5,17 5,33 -0,16 Grande Lisboa 4,75 5,85 -1,10 Península de Setúbal 5,37 6,61 -1,24 Médio Tejo 4,50 5,06 -0,56 Lezíria do Tejo 5,29 5,92 -0,63 Alentejo 6,19 6,75 -0,56 Alentejo Litoral 8,15 9,81 -1,66 Alto Alentejo 4,76 4,93 -0,17 Alentejo Central 6,47 7,24 -0,77 Baixo Alentejo 5,25 4,34 0,91 Algarve 7,25 6,42 0,83 Açores 6,12 6,42 -0,30 Madeira 5,95 5,37 0,58

Fonte: DETEFP (1999); com tratamento próprio.

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DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP5

Noutros espaços onde o emprego industrial é menos relevante face ao volume

total de emprego (ou seja, temos baixos valores de partida), como no Interior Norte de

Portugal, no Algarve e no Baixo Alentejo, registaram-se ganhos líquidos significativos. É

uma situação que expressa uma expansão das actividades industriais mais tradicionais

onde existem baixos salários e disponibilidade de mão-de-obra, nomeadamente rural,

revelando também a importância do aumento do consumo local e regional.

Figura 4.6 – Balanço entre as taxas globais de criação e destruição de emprego nas

diversas regiões (NUTE III), Continente, 1986-1998

0 50 km100

-0.91 a 00 - 0.370.38 a 1.54

-1.91 a -0.90

Saldo global dos fluxos de emprego (%)

Fonte: DETEFP (1999); com tratamento próprio.

Existindo mudanças no mapa do emprego da indústria em Portugal, com

redução da concentração, ela não foi tão ampla que alterasse as diferenças

espaciais litoral-interior. As implicações na geografia do emprego industrial induzidas

pelo desinvestimento, dizem essencialmente respeito à expressiva redução do

emprego neste sector nas duas áreas metropolitanas e em áreas especializadas nas

indústrias têxteis e do vestuário, no litoral norte (Vale do Ave) e no interior do país (Serra

da Estrela). Nestas regiões, as dificuldades de penetração em mercados externos por

48

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DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP5

parte das empresas e a competição de países de mão-de-obra mais barata nas redes

de subcontratação internacionais, têm afectado o desenvolvimento da indústria têxtil

e do vestuário (PIRES, 1994). De qualquer forma, o facto de os acordos multi-fibras

penalizarem ainda alguns produtos de países fora da CEE/UE, no período em casa,

permitiu a expansão destas actividades em áreas rurais do Norte Litoral, dado que

neste contexto se tornou atractivo e compensador o baixo custo da mão-de-obra.

Mais recentemente, o recurso a trabalhadores imigrantes, indicia não só uma procura

de reservas de mão-de-obra com custos ainda mais baixos, como o prosseguimento

de estratégias dificilmente competitivas no contexto de desmantelamento dos

referidos acordos e da competição de países terceiros nos segmentos de produtos de

pouco valor acrescentado.

Em síntese, identificam-se claros processos de desinvestimento industrial da

base económica das duas áreas metropolitanas, o que já vem ocorrendo desde finais

dos anos 70. Por outro lado, as regiões mono-especializadas no têxtil, vestuário e

calçado, atravessaram uma fase de desinvestimento, num contexto de perda de

competitividade do factor principal que permitiu uma expansão dessas mesmas

actividades (isto é, o baixo custo da mão-de-obra, que constitui parte importante dos

custos de produção no têxtil, vestuário e calçado), mais visível a partir de meados dos

anos 90. Noutras áreas limítrofes às áreas mais industrializadas do Noroeste do país

(Tâmega, Cávado), a expansão do vestuário e confecções mostra um prolongamento

de um modelo, que começou a dar sinais de insustentabilidade no mesmo período em

áreas de industrialização mais antiga.

A fragilidade do posicionamento geral da indústria portuguesa nas cadeias de

valor global torna dificilmente sustentáveis, no médio e longo prazo, actividades

intensivas em trabalho mal remunerado, com reduzido valor acrescentado, o que

pode levar a uma generalização dos fenómenos de desinvestimento em regiões fora

das áreas de industrialização mais antiga num futuro próximo.

4.4 Evolução recente do número de falências

De forma a avaliar num período mais recente (1996-2002) o desinvestimento e

suas tendências, recorreu-se a uma fonte estatística complementar (Instituto

Informador Comercial), que contempla o número de empresas falidas ou em processo

de falência/recuperação. Este levantamento estatístico é efectuado com base na

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DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP5

publicação em Diário da República, da publicação da decisão judicial relativa à

entrada das empresas num processo de falência ou de recuperação6.

Figura 4.7 – Evolução do número de empresas em processo de falência ou de

recuperação, 1996-2002, em Portugal

0

500

1000

1500

2000

2500

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

N.º

emp

resa

s

Fonte: Instituto Informador Comercial, com tratamento próprio.

LAIA (1999) refere que o sistema relativo aos processos de recuperação e

falência de empresas fica colocado em causa, pelos fracos resultados da sua

aplicação. Ou seja, poucas empresas são realmente recuperadas (o autor estima essa

percentagem em 5%), donde podemos inferir que os dados da fonte estatísticos

utilizados podem considerar-se como um indicador de falência nos vários ramos

industriais. Convém ainda referir o papel que a pouca flexibilidade e burocracia

associado ao próprio CPEREF pode implicar a nível regional e local, ao provocar

distorções quanto à competitividade, pela isenção, durante o prosseguimento do

processo, de encargos sociais com os trabalhadores (até um máximo de 2 anos)7.

Na figura 4.7 observa-se que o número de empresas em falência/em processo

de recuperação tem vindo a aumentar nos últimos anos. Se considerarmos apenas as

6 Segundo o Código dos Processos Especiais de Recuperação da Empresa e de Falência - CPEREF (Decreto-Lei n.º 132/93, de 23 de Abril, revisto pelo Decreto-Lei n.º 315/98, de 20 de Outubro). Em 2001/ 2002 apenas 2,5% dos processos dizem respeito a recuperação, enquanto a maioria engloba autos de falência (pedidos por parte de um ou mais credores) e falências. 7 Segundo dados do Ministério da Justiça, os processos no âmbito do CPEREF tinham uma duração média de 23 meses em 1998, diminuindo para 16 meses em 2001.

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empresas industriais (figura 4.8), verificamos que para estas o crescimento foi ainda

mais acentuado.

Figura 4.8 – Evolução do número de empresas industriais em processo de falência ou

de recuperação, 1996-2002, em Portugal

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

N.º

emp

resa

s

Fonte: Instituto Informador Comercial, com tratamento próprio.

Tendo em conta a diminuição do peso do sector secundário, em termos de

emprego e de contribuição para o PIB, a evolução registada pelas empresas

industriais que se observa na figura 4.8 confirma que essa tendência se prolonga no

tempo.

Se realizarmos ainda uma análise mais fina dentro da própria indústria (figura

4.9), vemos que são os ramos mais intensivos no factor trabalho – têxteis (C), vestuário

(D) e calçado e couro (D) - aqueles em que o número de falências tem sido maior,

sendo estes os ramos com maior peso na estrutura do VAB industrial.

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DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP5

Figura 4.9 – Evolução do número de empresas industriais em processo de falência ou

de recuperação, 1996-2002, por ramo de actividade industrial (ver anexo 1), em

Portugal

0

50

100

150

200

250

300

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

N.º

emp

resa

s

C, D, E

K, L

J F

H

A

Legenda:

A – Ind. Extractiva; C – Ind. Têxtil; D – Ind. Vestuário; E – Ind. Calçado e Couro; F – Ind. Madeira e Mobiliário; H

– Ind. Química; K – Fab. Produtos Metálicos; L – Fab. Máquinas e Equipamentos

Fonte: Instituto Informador Comercial, com tratamento próprio.

Por um lado, se há que ter em conta o maior número de empresas nestes

ramos o que explica em parte a disparidade de valores face aos restantes, por outro

lado, existe uma tendência clara no sentido de um cada vez maior número de

empresas a entrar em falência/recuperação. Esta tendência coaduna-se com a

evolução registada, tanto em termos de emprego como de VAB para o conjunto

destes ramos. A indústria têxtil e do vestuário, para as quais a desagregação só esta

disponível após 1998, contribuiu nos últimos anos para 77,6% dos processos de

falência/recuperação registados. Isto coaduna-se também com o melhor

desempenho económico por parte do calçado, visível também ao nível do emprego

e do produto.

Quanto aos restantes ramos (figura 4.9), as suas evoluções prendem-se com a

própria dimensão da actividade no país (caso da indústria extractiva – A) e o maior ou

menor grau de concentração empresarial (como no caso da indústria química – H).

Porém, a evolução tem sido, em ambos os casos, mais ou menos constante, tal como

no ramo da madeira e mobiliário (F). Já no caso das indústrias metalúrgicas, registou-

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se um pico no número de falências entre 1997 e 1999, facto que poderá estar ligado

ao encerramento de pequenas empresas metalúrgicas, dado que o volume de

emprego destruído por encerramento de estabelecimentos em 1997 e 1998 é

reduzido, se tivermos em conta os dados do DETEFP8. Um ramo em que nos últimos

anos assume algum significado o número de empresas em falência/recuperação tem

sido o da indústria dos produtos metálicos (K), incluindo também as máquinas e

equipamentos (L), em que poderá estar a ocorrer algo semelhante ao ramo

metalúrgico.

Deste modo, confirma-se uma tendência para o aumento do número de

processos de falência/recuperação de empresas, especialmente das industriais, e

nestes, o maior número de processos de falência/recuperação diz respeito aos ramos

mais tradicionais e intensivos em trabalho, como o têxtil, vestuário e calçado,

confirmando que os processos de desinvestimento continuam a ocorrer de forma mais

significativa naquelas actividades.

8 Tendo em atenção, claro, a diferença entre “empresa” e “estabelecimento”.

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DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP5

5. CASOS ILUSTRATIVOS DE DESINVESTIMENTO ESTRANGEIRO EM PORTUGAL

A integração de Portugal no espaço económico europeu e a realização do

Mercado Único contribuíram para que o investimento directo estrangeiro (IDE)

atingisse níveis muito elevados no país, tendo crescido de 0,6% do PIB para 3,7% em

1990. Este ciclo expansivo foi interrompido em 1992 como consequência da recessão

económica europeia e da apreciação real da moeda nacional, assim como da

abertura das economias do Leste da Europa. Sem uma tendência de evolução

estabilizada, o IDE volta a crescer em 2000 para valores semelhantes aos de 1990,

porém, detecta-se uma mudança estrutural na sua composição. Segundo LEITE et al.

(2001), a entrada de capital estrangeiro tem-se dirigido para sectores como o

imobiliário, serviços prestados às empresas, transportes e comunicações e comércio,

verificando-se um declínio do IDE na indústria transformadora e mesmo nas

actividades financeiras.

O saldo do IDE na indústria tem vindo a diminuir em Portugal, tendo-lhe cabido

uma fatia de 46% do saldo do IDE em Portugal em 1994 contra apenas 2% em 2000.

Consequentemente, o stock de investimento estrangeiro na indústria transformadora

decaiu de 34,3% para 19,7% entre 1993 e 2000. LEITE et al. (2001) destacam também a

elevada turbulência do IDE nesta actividade, expressa pela manutenção elevada de

fluxos de investimento e de desinvestimento. A redução da duração do investimento

na indústria transformadora revela-se negativa para a economia nacional, sobretudo

porque acarreta uma diminuição dos spillovers e atenua a mudança estrutural. Na

verdade, os casos de desinvestimento estrangeiro na indústria são cada vez mais

numerosos e, desde os investimentos da Autoeuropa e da Siemens, ainda não se

concretizou nenhum outro projecto de IDE neste sector em Portugal (VALE, 2002).

Num estudo acerca do desinvestimento estrangeiro em Portugal entre 1983 e

1989, MATA e PORTUGAL (2000) analisam duas formas de saída das multinacionais:

encerramento da unidade e venda da participação (os autores designam este

processo de “desinvestimento”). Concluem que há uma maior probabilidade de

encerramento da filial quando o modo de entrada foi pela via da criação de um novo

estabelecimento, verificando-se uma tendência para a venda da participação nos

casos de entrada por via de aquisição de estabelecimentos existentes.

Os principais casos de desinvestimento estrangeiro na indústria em Portugal

ocorreram após a abertura das economias do Leste da Europa, verificando-se uma

deslocalização de actividades industriais para estes países com mão-de-obra

qualificada e de menor remuneração, ainda que a dimensão do mercado enquanto

factor de localização industrial não é despicienda. Entre os 20 principais casos de

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DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP5

desinvestimento, 12 ocorreram desde o ano 2000 até ao presente, dos quais 11

exerciam actividade nas indústrias do vestuário ou do calçado, tendo sido destruídos

mais de 3200 postos de trabalho (quadro 4.9). Este padrão contrasta fortemente com

o tipo de encerramento de filiais estrangeiras antes do ano 2000, marcado por um

desinvestimento moderado e sectorialmente diversificado, que nem sempre teve na

sua origem motivações relacionadas com os custos de trabalho, casos da Renault,

Valmet, Firestone, Tisep e Nokia (VALE, 2002).

Quadro 4.9 – Principais encerramentos de estabelecimentos industriais de empresas

estrangeiras em Portugal, 1992-2003

Empresa Estabelecimento Localização Actividade N.º postos de trabalho(a)

Data de encerramento

Seagate Seagate Palmela Fabrico de Cabeças de

Memória Magnéticas para Computadores

870 1992

Firestone Firestone Portuguesa Alcochete Fab Pneus 450 1992

Nokia Nokia Cascais Fab Electrónica de Consumo 282 1992

Valmet Valmet Montijo Produção Tractores 35 1997 Renault Renault Setúbal Montagem Automóveis 590 1998

Nestlé Longa Vida Matosinhos Fab Produtos Alimentares ±100 1998*

Texas Instruments /

Samsung Tisep Maia Semicondutores 750 1999

Grundig Grundig Electrónica e OEM Braga Fab Aparelhos hi-fi e de

telecomunicações 107 1999

Samsung Samsung Portugal Sintra Fab Componentes Electrónicos 290 2000

Clarks Clarks Arouca Calçado 368 2001 Goela Fashion Goela Fashion Santo Tirso Vestuário 137 2001

Camilla Confecções Camilla Castelo Branco Vestuário 167 2001

ERES ERES Fundão Vestuário 470 2002 Scottwool Scottwool Figueira da Foz Têxtil ±100 2002

Polgat Bagir Coimbra Vestuário ±300 2002

Vestus Vestus Corroios, Setúbal Vestuário 414 2002

Melka Melka Palmela Vestuário 170 2002 Schuh Union Schuh Union Maia Calçado 440 2003

Clarks Clarks Castelo de Paiva Calçado 588 2003

Gerry Weber International

AG Gerry Weber Figueiró dos

Vinhos Vestuário 140 2003

(a) Referente à data de encerramento * Transformada em centro logistico de distribuição da Nestlé para a região Norte.

Fontes: Expresso, Público, Diário de Notícias, Lusa, Freitas (1998), EIRO (European Industrial Relations Observatory)

A abertura das economias do Leste Europeu e mesmo a integração das

economias asiáticas nas redes de fluxos de comércio internacional permitiram uma

reconfiguração das cadeias de valor globais, especialmente nos sectores de maior

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DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP5

especialização industrial em Portugal, casos do vestuário e o calçado (GEREFFI, 1999).

Pela relevância e actualidade do problema do desinvestimento estrangeiro nas

indústrias intensivas em trabalho, que afecta diversas regiões do país, pode identificar-

se uma tendência clara de perda de competitividade dos factores de localização

tradicionais9. Concretamente, o custo do factor trabalho para este tipo de actividades

é muito elevado em comparação com alguns países emergentes. Nestes casos, a

deslocalização da actividade industrial não é um meio de ampliar a

internacionalização da produção, mas antes uma consequência da competitividade-

preço associado aos custos de mão-de-obra (DUARTE, 2001). Note-se que as

dificuldades registadas pelas empresas nacionais têm a mesma origem, não obstante

poder-se-á argumentar que a indústria não conseguiu expandir as suas cadeias de

valor, mormente ao nível do design, distribuição, marca,..., tendo-se limitado a

aproveitar as encomendas internacionais, que foram progressivamente diminuindo.

9 Um dos casos de estudo deste projecto incidirá sobre o desinvestimento recente de subsidiárias de empresas estrangeiras em Portugal e será desenvolvido por Vítor Corado Simões (equipa CEDE/ISEG-UTL).

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DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP5

6. SÍNTESE CONCLUSIVA

A tendência geral de diminuição do emprego industrial, na última década, é

um resultado das novas dinâmicas de internacionalização das economias, reflectindo

as dificuldades de ajustamento do tecido industrial português às novas realidades

sócio-produtivas.

No geral, a estrutura do emprego industrial assenta ainda em ramos

tradicionais – os têxteis e vestuário, a madeira e mobiliário, as indústrias alimentares

representam cerca de 2/3 do emprego industrial –, que passaram por fases de maior

ou menor dificuldade, sem que tenham emergido novas especializações capazes de

compensar as perdas registadas. Não obstante, os produtos minerais não metálicos, o

papel e artes gráficas, a fabricação de máquinas e equipamentos e de produtos

metálicos apresentaram, no contexto industrial português, evoluções favoráveis ao

nível do emprego e produtividade, merecendo destaque a fabricação de material de

transporte em resultado da expansão na década de 1990 da indústria automóvel,

fortemente ancorada no investimento estrangeiro realizado pela Autoeuropa e rede

de fornecedores.

O vestuário surge como o ramo industrial em que a destruição de emprego

associada a processos de desinvestimento foi maior, tanto em termos absolutos, como

proporcionalmente ao seu volume de emprego. Em segundo plano, evidenciam-se,

de forma clara, outros ramos que observaram dinâmicas de destruição de emprego

mais intensas do que a média do sector industrial, como sejam as indústrias extractivas,

a madeira e mobiliário e o calçado e couro. Se os têxteis apresentam um valor

significativo em termos absolutos, ele é menor do que a média, considerando o

volume de emprego gerado pelo sector no período em análise.

A destruição de emprego induzida por processos de desinvestimento na

indústria têxtil e no vestuário correspondeu a cerca de 32% do total de emprego

industrial destruído entre a adesão de Portugal à CEE (1986) e os finais da década de

1990 (1998). Contudo, contribuíram também para quase 31% do total de emprego

criado em novos estabelecimentos, fundamentalmente o segmento do vestuário (21%

do total). Mas, mesmo se assistimos a uma perda relativa das indústrias têxtil e do

vestuário em termos da estrutura produtiva na última década, esta continua ainda a

ser, no seu conjunto, a mais importante indústria transformadora em termos de

emprego e de valor, e também ao nível das exportações do sector industrial (18,6% do

total em 2001).

As consequências negativas do incremento da competitividade à escala

internacional revelaram-se através do encerramento de diversos estabelecimentos

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DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP5

industriais de empresas de capital estrangeiro localizados em Portugal. A abertura das

economias do Leste Europeu e mesmo a integração das economias asiáticas nas

redes de fluxos de comércio internacional permitiram uma reconfiguração das

cadeias de valor globais, especialmente nos sectores de maior especialização

industrial em Portugal, isto é, o vestuário e o calçado. Estas mudanças na envolvente

internacional afectaram, de igual modo, as empresas nacionais, especialmente as

que privilegiaram estratégias competitivas ancoradas na subcontratação

internacional sem garantirem ganhos crescentes nas respectivas cadeias de valor.

As assimetrias espaciais dos fluxos de criação e de destruição de emprego

podem estabelecer-se, a um primeiro nível, entre as duas áreas metropolitanas e o

resto do país. De facto, observa-se a continuação de uma tendência, iniciada pelo

menos nos finais da década de 1970 na AML, de desindustrialização da base

económica. Para além dos efeitos da reestruturação industrial e do desmantelamento

de estabelecimentos de indústria pesada, as pressões ao nível do uso de solo

(competição, repulsão e necessidade das próprias actividades), estiveram na base da

perda de emprego industrial das duas áreas metropolitanas. Num segundo nível,

destacam-se a reestruturação do complexo petroquímico de Sines, no Alentejo Litoral,

e a crise da indústria têxtil no final da década de 80 na Serra da Estrela e processos de

desinvestimento associados, que contribuíram para a perda de emprego ao nível do

sector industrial. No Vale do Ave e Cova da Beira, o saldo global não foi tão negativo

pois assistiu-se à expansão de emprego em estabelecimentos existentes da indústria

do vestuário e à abertura de novos estabelecimentos desta mesma indústria na Cova

da Beira. Num registo contrastante, as regiões como o Cavado, o Tâmega e o Baixo

Vouga ganham em termos de emprego industrial, o que contribui para que o Norte se

assuma ainda como a região onde a indústria continua a representar um peso

importante ao nível nacional. Fora dos espaços “tradicionais” da indústria, onde esta

assume valores relativamente baixos na estrutura de emprego, como no Interior Norte,

no Baixo Alentejo e no Algarve, a expansão moderada teve por base o crescimento

de actividades mais tradicionais (agro-alimentares, nomeadamente).

O resultado das mudanças de emprego não atenuou, ainda assim, as fortes

clivagens litoral-interior, embora se possa afirmar que emergiram novos espaços da

indústria na faixa mais desenvolvida do país, bem como em algumas áreas no Interior,

que beneficiam das vantagens decorrentes do esforço de infra-estruturação e do

crescimento dos respectivos aglomerados urbanos.

Em síntese, os fluxos de emprego industrial apontam para uma crise das

actividades industriais, no entanto não se pode identificar um único factor para

explicar esta dinâmica. Se, por um lado, a criação e destruição de empresas e de

emprego são inerentes à mudança tecnológica, por outro, o encerramento e a

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DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP5

reestruturação industrial também podem ser um resultado de processos de

ajustamento estrutural. E, no período em análise, pode concluir-se que a regressão da

actividade industrial tem sido induzida pelas mudanças no espaço económico

internacional e pelo incremento da liberalização do comércio mundial de produtos

industriais em que Portugal se especializou, encontrando-se, consequentemente,

exposto à forte concorrência dos países do Leste europeu e do SE asiático. Acresce

que as novas actividades emergentes na base económica tardam a afirmar-se, bem

como a extensão das cadeias de valor das actividades mais tradicionais – que detêm

ainda um peso substancial no produto, emprego e exportações da economia

portuguesa – não tem ocorrido ao ritmo necessário, pelo que a economia portuguesa

atravessa um período de difícil transição.

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60

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ANEXOS

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ANEXO 1

COMPATIBILIZAÇÃO CAE Rev. 1 e CAE Rev. 2

63

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Agrupamento utilizado segundo a CAE Rev. 1 e a CAE Rev. 2

Código Ramo CAE Rev. 1 CAE Rev. 2 A Indústria Extractiva 2 10 a 14B Ind. Alimentares, das Bebidas e Tabaco 311 a 314 15 e 16C Ind. Têxteis 321 17D Ind. do Vestuário 322 18E Ind. do Calçado e Couro 323 e 324 19F Ind. da Madeira e Mobiliário 33 20 e 361G Ind. do Papel e Artes Gráficas 34 21 e 22H Indústria Química 35 23 a 25I Ind. dos Produtos Minerais não Metálicos 36 26 e 372J Ind. Metalúrgica de Base 37 27 e 371K Fabricação de Produtos Metálicos (excep. maq. e equip.) 381 28L Fabricação de Máquinas e Equipamentos 382 e 383 29 a 32M Fabricação de Material de Transporte 384 34 e 35N Fabricação de Instrumentos Profissionais 385 33O Outras Indústrias Transformadoras 390 362 a 366

Fonte: Baseado em COSTA e COSTA (1996), com algumas adaptações.

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ANEXO 2

PRODUTIVIDADE POR RAMO INDUSTRIAL EM PORTUGAL

(1990-2000)

65

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Evolução da produtividade nos diversos ramos industriais em Portugal, a preços de

mercado (1990-2000)

[103Esc/Trabalhador]

[103Esc/Trabalhador] (%)

Actividade Industrial 1990 2000 var. 1990-

2000 Indústria Extractiva 3310 5567 68,2 Ind. Alimentares, das Bebidas e Tabaco 2550 4186 64,2 Ind. Têxteis 1490 2736 83,6 Ind. do Vestuário 966 1805 86,9 Ind. do Calçado e Couro 1190 2001 68,08 Ind. da Madeira e Mobiliário 1172 2550 117,5 Ind. do Papel e Artes Gráficas 3006 7359 144,8 Indústria Química 6984 8453 21,0 Ind. dos Produtos Minerais não Metálicos 2290 5207 127,4 Ind. Metalúrgica de Base 2485 5888 136,9 Fabricação de Produtos Metálicos (excep. maq. e equip.) 1477 3049 106,5 Fabricação de Máquinas e Equipamentos 2378 4618 94,2 Fabricação de Material de Transporte 2106 6432 205,5 Fabricação de Instrumentos Profissionais 1198 4287 257,9 Outras Indústrias Transformadoras 1342 2644 97,0 Total Indústria 2110 3895 84,60

Fonte: INE, Estatísticas das Empresas; com tratamento próprio.

66

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ANEXO 3

RÁCIO ACI/VAB POR RAMO INDUSTRIAL EM PORTUGAL

(1990-2000)

67

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Evolução do rácio ACI/VAB pelos diversos agrupamentos utilizados (1990-2000; ver anexo 1.)

A

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

80,00

90,00

100,00

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Anos

ACI /

VA

B pm

B

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

80,00

90,00

100,00

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Anos

ACI /

VA

B pm

68

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DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP5

C

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

80,00

90,00

100,00

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Anos

ACI /

VA

B pm

D

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

80,00

90,00

100,00

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Anos

ACI /

VA

B pm

69

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DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP5

E

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

80,00

90,00

100,00

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Anos

ACI /

VA

B pm

F

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

80,00

90,00

100,00

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Anos

ACI /

VA

B pm

70

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DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP5

G

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

80,00

90,00

100,00

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Anos

ACI /

VA

B pm

H

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

80,00

90,00

100,00

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Anos

ACI /

VA

B pm

71

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DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP5

I

-150,00

-100,00

-50,00

0,00

50,00

100,00

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Anos

ACI

/ VA

B pm

J

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

80,00

90,00

100,00

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Anos

ACI /

VA

B pm

72

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DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP5

K

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

80,00

90,00

100,00

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Anos

ACI /

VA

B pm

L

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

80,00

90,00

100,00

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Anos

ACI /

VA

B pm

73

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DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP5

M

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

80,00

90,00

100,00

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Anos

ACI /

VA

B pm

N

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

80,00

90,00

100,00

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Anos

ACI /

VA

B pm

74