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WP1 – Desinvestimento e território: quadro conceptual de análise* Mário Vale
DIVEST – DESINVESTIMENTO E IMPACTOS ECONÓMICOS, SOCIAIS E TERRITORIAIS
Projecto POCTI/ GEO /34037/2000
LISBOA - 2002 FEDER
* Versão preliminar. Não citar sem a permissão do autor.
DIVEST – DESINVESTIMENTO E IMPACTOS ECONÓMICOS, SOCIAIS E TERRITORIAIS
Projecto POCTI/GEO/34037/2000
Investigador Responsável: Mário Vale
Ficha Técnica: Título: Desinvestimento e território: quadro conceptual de análise. WP1, Projecto DivesT. Autor: Mário Vale. Composição / Revisão Texto: Rui Dias.
DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP1
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ÍNDICE
Pág. 1. Introdução 4 2. Desinvestimento: significado e tipos 7 3. Síntese das perspectivas teóricas no estudo do desinvestimento 9
3.1 A Perspectiva da Organização Industrial 9 3.2 Perspectiva da Gestão Estratégica 10 3.3 Perspectiva dos Estudos Financeiros 11 3.4 Perspectiva da Economia Política 11
4. Perspectivas teóricas no estudo do desinvestimento em Geografia Económica 13
4.1 A influência da escola da economia neo-clássica 14 4.2 A influência da escola da economia política 19 4.3 Limitações das Perspectivas Teóricas no Estudo do Desinvestimento e Território 22
5. Um quadro conceptual para o estudo do desinvestimento e território 24
5.1 Tipologia do Desinvestimento e Impactos Territoriais 24 5.2 Proposta de um Quadro Conceptual de Análise das Inter-Relações entre o Desinvestimento e o Território 29
6. Nota final 35
Bibliografia 36
DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP1
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1. INTRODUÇÃO
A evolução histórica do capitalismo encontra-se marcada por ciclos de
expansão/recessão económica que afectam a vida das empresas, trabalhadores e,
num sentido mais amplo, das comunidades. Com a convergência espacio-temporal e
a progressiva integração das economias ao nível mundial, os agentes económicos
necessitam de responder de uma forma mais rápida aos novos desafios competitivos
(SIMÕES, 2001). Mas nem sempre a mudança decorre no sentido de valorização dos
activos da empresa ou da criação de novas competências. Na verdade, a redução
ou encerramento da actividade é também uma das possibilidades de gestão
estratégica, pelo que o investimento e o desinvestimento são faces da mesma moeda
(FREITAS, 1998).
Frequentemente, vão surgindo notícias de encerramentos de unidades
industriais, de despedimentos em massa, de salários em atraso, de deslocalizações da
produção… Tanto dizem respeito à indústria transformadora como aos serviços, a
empresas nacionais como a transnacionais, a grandes como a pequenas e médias
empresas, ainda que as reestruturações dos grandes grupos económicos despertem
maior interesse nos media, como se constata nos casos da AT&T, IBM, GM, Boeing,
Delta Airlines…(Newsweek, 1996) ou mais recentemente da Philips, Motorola,
Ericsson,…(The Economist, 2000).
Desde meados dos anos setenta, observou-se em algumas das regiões
industriais mais dinâmicas da Europa e da América do Norte uma forte crise
económica, decorrente principalmente da especialização em indústrias "maduras",
como a siderurgia, construção e reparação naval e alguns segmentos da química,
que iniciaram um longo processo de reestruturação. Subsequentemente, emerge uma
nova categoria espacial: a "área de industrialização antiga" (STEINER, 1985). O
Nordeste de Inglaterra, a bacia do Ruhr, a área industrializada do Nordeste de França,
o Nordeste dos EUA são algumas das regiões que atravessaram uma forte recessão
económica derivada da desindustrialização da base económica (BLACKABY, 1981;
BLUESTONE e HARRISON, 1982), enquanto "novos espaços industriais" iniciaram um ciclo
de forte crescimento económico baseado principalmente na dinâmica das
actividades de novas tecnologias (SCOTT, 1988). Acentua-se a divisão inter-regional da
produção, estereotipada pelo Frostbelt ou Snowbelt vs. Sunbelt, ou mais
prosaicamente "Norte" vs. "Sul" (COOKE, 1995).
Com a competição à escala global, a mobilidade crescente do capital, os
avanços tecnológicos nas telecomunicações, que permitem um aprofundamento da
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divisão internacional do trabalho, as regiões vêem-se confrontadas com novos
desafios. Enquanto algumas regiões aproveitam com sucesso as novas oportunidades -
as regiões "ganhadoras" (BENKO e LIPIETZ, 1992) - outras atravessam períodos de
recessão económica, pelo que necessitam de assistência pública para a sua
regeneração. A lógica dominante do capital financeiro justifica uma procura
incessante da remuneração do capital. Não se trata de um processo de
reestruturação industrial, como o que se observou nas áreas de industrialização antiga;
traduz, cada vez mais, uma resposta às pressões dos accionistas. Não admira que os
casos de desinvestimento, nas suas vertentes de downsizing ou de simples
encerramento de unidades industriais, tenham aumentado drasticamente ao longo
dos últimos anos (PADMANABHAN, 1993). Esta tendência contribui para um aumento
do valor das acções das empresas nas praças financeiras mas fragiliza as regiões e
vulnerabiliza as comunidades.
O desinvestimento, tal como o investimento, tem marcado inexoravelmente a
evolução histórica e geográfica da economia e sociedade do sistema capitalista. Os
territórios experienciam desinvestimentos e os seus efeitos - desemprego, queda do
produto, retracção da prestação de serviços e diminuição do rendimento - coíbem o
bem-estar e a prosperidade das comunidades (PIKE, 1999). Na base do
desinvestimento há um conflito fundamental entre o capital e o território (BLUESTONE e
HARRISON, 1982). As comunidades são espaços de vida circunscritos no território e
constituem unidades sociais e políticas, por oposição ao espaço económico, mais
fragmentado, descontínuo e em permanente expansão. As lógicas discordantes da
valorização do capital e do território são preocupantes para o desenvolvimento
regional e para a vida das comunidades e, deste modo, constituem um tema de
investigação científica, uma preocupação social e um assunto central para a agenda
política. Com o projecto de investigação DivesT - Desinvestimento e Impactos
Económicos, Sociais e Territoriais, de que este trabalho faz parte, procura-se, por um
lado, aprofundar o conhecimento das motivações do desinvestimento e os seus
impactos económicos e sociais nas regiões e, por outro, contribuir para a formulação
de políticas de prevenção e/ou de minimização dos seus efeitos.
Este relatório tem por objectivo a construção de um quadro conceptual para a
análise do desinvestimento - conceito que importa discutir - segundo uma perspectiva
territorial, partindo de uma análise crítica à bibliografia de referência acerca do tema.
O estudo do desinvestimento em geografia económica revela a influência de duas
escolas dominantes - a da economia neo-clássica e a da economia política - a par
das influências mais recentes dos estudos da gestão estratégica e das suas variantes
eclécticas e da economia institucionalista (PIKE, 2001). A geografia do desinvestimento
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baseia-se, segundo cada uma das perspectivas, em construções teóricas e
conceptuais distintas, que frequentemente dão origem a leituras reducionistas e
economicistas ou estruturalistas fáceis mas incapazes de captar a complexidade das
relações entre o desinvestimento e o território. Por outro lado, o território é
considerado, na maior parte das vezes, como um elemento passivo, onde se reflectem
as consequências do desinvestimento. Algumas análises destacam o papel do
território como causa do desinvestimento, atribuindo invariavelmente ao factor
trabalho (conflitos laborais) um peso determinante na tomada de decisão ao nível
empresarial, sem aprofundarem convenientemente o papel de outros factores de
base territorial.
As fragilidades dos trabalhos geográficos acerca do desinvestimento levam-nos
a desenvolver um quadro conceptual de análise para o estudo do tema. A
argumentação que se segue fundamenta-se em princípios da economia institucional,
sócio-economia e sociologia económica, que têm influenciado alguns trabalhos
recentes no domínio da geografia económica (AMIN e THRIFT, 1997; CRANG, 1997; PIKE
et al., 2000). Tal como outros aspectos da vida económica, o desinvestimento faz parte
de um processo social de base territorial, que não pode ser entendido exclusivamente
a partir dos condicionalismos económicos/sectoriais e das estratégias empresariais,
facto que é também reconhecido por alguns autores da área da economia e gestão
(SIMÕES, 2001). Na verdade, as características do mercado de trabalho e a
"espessura" institucional das regiões influenciam fortemente as decisões de
(des)investimento e as modalidades de imbricação territorial.
Este relatório organiza-se em quatro secções. Primeiro, procura-se clarificar e
tipificar o desinvestimento. Em segundo lugar, analisam-se criticamente as
perspectivas da economia neo–clássica e da economia política e, na secção
seguinte, discute-se a sua influência nos estudos geográficos acerca do
desinvestimento. Finalmente, apresenta-se uma nova perspectiva para o estudo do
desinvestimento e as suas relações territoriais (causas e consequências) e propõe-se
um quadro conceptual de análise para a geografia do desinvestimento.
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2. DESINVESTIMENTO: SIGNIFICADO E TIPOS
A maior parte dos trabalhos de geografia económica sobre o desinvestimento
reporta-se unicamente a algumas das suas modalidades, principalmente ao
encerramento de empresas e à reestruturação industrial. Não se observa, todavia, a
mesma situação em outros estudos do domínio da economia e da gestão, embora
não exista uma única definição de desinvestimento. No âmbito do projecto DivesT,
dois trabalhos de carácter preliminar, a que agora recorremos, procuraram clarificar o
conceito e tipificar o desinvestimento (VALE, 2001; SIMÕES, 2001).
Em termos gerais, o desinvestimento é um fenómeno tão natural como o
investimento (FREITAS, 1988). MARIOTTI e PISCITELLO (1997) admitem que o
desinvestimento é uma das medidas possíveis de gestão empresarial, contudo
salientam a dificuldade em adoptá-la devido ao seu carácter negativo,
frequentemente associado a um fracasso. Esta é uma das razões que justifica o
tratamento reservado da informação relativa ao desinvestimento pelas empresas
(HAMILTON e CHOW, 1993), circunstância que limita a elaboração de estudos
empíricos acerca do tema.
Antes de apresentar uma definição para o conceito de desinvestimento, deve
salientar-se que, segundo WATTS e STAFFORD (1986), este pode ser involuntário ou ter
origem numa decisão estratégica deliberada por um agente económico, sendo este
mais comum no caso das empresas multi-estabelecimento. BENITO (1997) e LARIMO
(1997) identificam ainda o desinvestimento forçado, que corresponde aos casos de
nacionalizações, expropriações, confiscações,… Neste trabalho não se considera esta
última situação, porque traz claramente menos implicações para o desenvolvimento
das regiões.
Alguns autores da área da economia e da gestão procuraram definir o
conceito de desinvestimento, observando-se uma convergência em relação ao seu
significado. Assim, por desinvestimento pode entender-se a liquidação voluntária ou
venda da totalidade ou parte substancial de uma operação activa de uma empresa,
cuja decisão é baseada em considerações estratégicas (BODDEWYN, 1979) ou, como
afirmam WATTS e STAFFORD (1986), tem um carácter involuntário que configura um
caso de fracasso. O desinvestimento refere-se, assim, à alienação de uma parcela
significativa ou da totalidade dos activos (DUHAIME e GRANT, 1984), pelo que diz
respeito ao desmantelamento de uma relação de propriedade.
Na óptica da geografia, a definição de desinvestimento centrada nas relações
de propriedade apresenta algumas limitações. Primeiro, a alienação total ou parcial
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de activos da empresa não implica necessariamente uma alteração no volume de
produção ou de emprego, pelos que os seus efeitos espaciais serão nulos ou
negligenciáveis. Na verdade, não se trata de um desinvestimento sob o ponto de vista
territorial. Segundo, e em oposição ao primeiro argumento, as regiões podem sentir o
desinvestimento sem decorrer uma alienação da propriedade. Alguns exemplos
ajudam a clarificar o significado destes comentários. A saída recente da Ford da joint
venture AutoEuropa ilustra um caso de alteração da propriedade sem quaisquer
efeitos negativos na economia da região, enquanto a redução sistemática do ritmo
da produção na Siderurgia Nacional até ao seu encerramento decorreu sem
alterações significativas, pelo menos mais recentemente, das relações de
propriedade. No entanto, a dimensão da propriedade não pode ser descurada numa
análise do desinvestimento, pelo facto da decisão se reportar à empresa e não ao
estabelecimento.
A distinção entre empresa e estabelecimento parece essencial para a
compreensão do significado do desinvestimento. Se, por um lado, a decisão depende
da empresa, repercutindo-se no estabelecimento, por outro lado, é ao nível do
estabelecimento que a implementação de eventuais decisões de alteração do
produto, produtividade e emprego se reflectem no território que, em retroacção,
influencia o desempenho do estabelecimento e, assim, indirectamente o próprio
processo de tomada de decisão da empresa.
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3. SÍNTESE DAS PERSPECTIVAS TEÓRICAS NO ESTUDO DO DESINVESTIMENTO
Esta secção debruça-se sobre as principais perspectivas teóricas no estudo das
determinantes do desinvestimento, tendo por objectivo a identificação e crítica do
quadro conceptual, princípios explicativos e objecto de estudo. Inicia-se este ponto
com uma revisão crítica da bibliografia, adoptando-se a proposta de CHOW e
HAMILTON (1993). Estes autores identificaram três perspectivas centrais no estudo do
desinvestimento: organização industrial, gestão estratégica e estudos financeiros. Deve
ainda acrescentar-se uma outra perspectiva com larga influência nos estudos de
desinvestimento: a economia política (PIKE, 2001). Aquelas privilegiam uma análise ao
nível da empresa, enquanto esta destaca as forças estruturais do sistema económico.
3.1 A Perspectiva da Organização Industrial
Na bibliografia sobre desinvestimento oriunda do campo da organização
industrial destaca-se uma preocupação principal: as barreiras e os incentivos à saída
(SIEGFRIED e EVANS, 1994). O principal incentivo à saída (exit) é o baixo lucro, que
pode resultar de um dos seguintes factores: custos de produção elevados, diminuição
permanente da procura e entrada de concorrentes mais eficientes na actividade
(BENITO, 1997). Ao invés, a existência de activos específicos sem uso alternativo
impedem a saída (WILLIAMSON, 1985).
Os activos específicos da empresa dividem-se em duas categorias: tangíveis e
intangíveis. Os activos específicos tangíveis sem uso alternativo, como os elevados
custos irreversíveis (sunk costs) em maquinaria, funcionam como uma barreira à saída
do mercado (SIEGFRIED e EVANS, 1994). O trabalho de CLARK e WRIGLEY (1997)
evidencia o papel de dissuasor dos custos irreversíveis em capital fixo em sectores em
declínio na transferência de activos para outros espaços. No caso dos sectores em
declínio, os custos irreversíveis levam a uma obsolescência do capital fixo, devido à
especificidade e vinculação geográfica dos activos específicos, que dificulta a
mobilidade do capital em tempo oportuno. A existência de activos específicos
intangíveis, tais como, singularidade do capital humano, actividades de I&D e
marketing e até o envolvimento da administração da empresa com o território,
actuam como barreiras à saída. Nestes estudos, os custos previsíveis de abandono de
uma unidade industrial são amplificados pela forma como os responsáveis valorizam
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determinados activos, designadamente os específicos intangíveis, que acabam por ter
um efeito de barreira à saída do mercado.
Na perspectiva da organização industrial, a diversificação das actividades é
outra das determinantes do desinvestimento. Da revisão da literatura efectuada por
BENITO (1997), conclui-se que as empresas independentes têm, em geral, menores
custos de oportunidade e, consequentemente, aceitam mais facilmente menores
taxas de lucro do que as empresas multi-estabelecimento/ multi-indústria. Além do
mais, o desinvestimento ocorre com mais facilidade nos grupos económicos mais
diversificados porque o processo de tomada de decisão é centralizado num gestor do
grupo, frequentemente afastado emocional e geograficamente da unidade
desinvestida.
3.2 Perspectiva da Gestão Estratégica
A maior parte dos estudos da gestão estratégica abordam o desinvestimento a
partir da teoria do ciclo de vida do produto e da carteira de negócios da empresa
(LARIMO, 1997). O desinvestimento é considerado uma das diversas opções
estratégicas para as indústrias em declínio e, como tal, consiste numa solução
apropriada para os casos de fim de ciclo de vida do produto, caracterizados pela
elevada incerteza e volatilidade em relação aos rendimentos futuros (HARRIGAN,
1980). Por outro lado, os trabalhos da gestão estratégica salientam a tendência para a
observância de um processo de avaliação contínua do desempenho das unidades
industriais numa óptica financeira e estratégia. As diversas unidades industriais de uma
empresa ou grupo económico defrontam-se com uma estratégia de permanente
avaliação, que resulta de uma lógica de gestão de carteira de negócios (uma
empresa considera-se como um conjunto de activos, produtos e actividades). Diversos
estudos concluem que as unidades com menor desempenho são as principais
candidatas à opção de desinvestimento de uma empresa.
Tal como nos estudos de organização industrial, a diversificação da actividade
de uma empresa constitui um factor potencial de desinvestimento nesta perspectiva.
Na verdade, a expansão em actividades relacionadas conduz a níveis de
desempenho superiores, que se traduz, certamente, em taxas de sobrevivência mais
elevadas. MATA e PORTUGAL (2000) demonstram que a probabilidade de
desinvestimento (na modalidade de encerramento) é maior nas operações de
aquisição e de diversificação das empresas internacionais. Seguindo um raciocínio
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análogo, níveis de interdependência reduzidos entre unidades da empresa motivam o
desinvestimento (DUHAIME e GRANT, 1984), que pode ser entendido como uma
necessidade de concentração no negócio primacial da empresa (HAMILTON e
CHOW, 1993). Embora existam casos de empresas que evoluíram para grandes
conglomerados, os estudos de gestão estratégica sobre o desinvestimento expressam,
em geral, a tendência para a expansão da actividade em áreas de competência das
empresas (LARIMO, 1997).
3.3 Perspectiva dos Estudos Financeiros
A perspectiva dos estudos financeiros salienta o efeito das decisões de
desinvestimento na evolução do preço das acções nos mercados financeiros (BENITO,
1997, LARIMO, 1997). Segundo PADMANABHAN (1993), o desinvestimento
frequentemente conduz a uma valorização das acções da empresa. A explicação
óbvia resume-se ao facto das unidades desinvestidas serem, em termos genéricos, as
que apresentam um pior desempenho. Outra, mais elaborada, prende-se com os
elevados custos de monitorização de unidades instaladas no estrangeiro e, deste
modo, o abandono de algumas operações internacionais pode afectar positivamente
o valor das acções da empresa.
Mas o desinvestimento na perspectiva dos estudos financeiros ocorre também
por outros motivos distintos do mau desempenho da unidade. Nas análises
bibliográficas idênticas de BENITO (1997) e de LARIMO (1997), a motivação para o
desinvestimento também aumenta à medida que a empresa define novas estratégias
e algumas das unidades deixam progressivamente de se integrar na estratégia
competitiva. Também nestes casos, o impacto no mercado de valores pode
beneficiar a empresa.
3.4 Perspectiva da Economia Política
Os estudos da economia política filiam-se numa perspectiva estruturalista
relativa ao funcionamento do sistema económico, minimizando as motivações ao
nível da empresa em favor da análise crítica do funcionamento da economia
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capitalista. Neste sentido, o desinvestimento nas suas múltiplas vertentes explica-se
pela desvalorização contínua associada ao processo de acumulação de capital, que
é necessariamente específico ao nível do lugar (HARVEY, 1982). O trabalho de
BLUESTONE e HARRISON (1982) ilustra paradigmaticamente esta perspectiva de estudo
do desinvestimento, particularmente do encerramento e deslocalização de unidades
produtivas. As unidades desinvestidas não dizem respeito apenas às operações pouco
rentáveis, pois observa-se recorrentemente o encerramento de unidades lucrativas em
favor de novos investimentos com retorno mais favorável. Os estudos colocam, assim,
a tónica na mobilidade (fuga) do capital (capital shift).
A desindustrialização, a reestruturação industrial e o encerramento de unidades
industriais destacam-se como os temas mais influentes na economia política e
geografia económica (BLUESTONE e HARRISON, 1982; MASSEY e MEEGAN, 1982;
MASSEY 1995; MARTIN e ROWTHORN, 1986). Assumem particular relevância as questões
relacionadas com o trabalho (desemprego, formação, re-inserção, políticas de
emprego e formação,…) (MASSEY e MEEGAN, 1982; TOMANEY et al., 1999).
Em contraste com as perspectivas da economia neo-clássica, os estudos
desenvolvidos segundo a perspectiva da economia política procuram definir algumas
linhas de intervenção pública orientadas por princípios de solidariedade inter-territorial
de classe e defesa das comunidades em relação ao desinvestimento, tipicamente
dirigidas para o apoio às comunidades em crise (BLUESTONE e HARRISON, 1982;
HUDSON e SADLER, 1986).
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4. PERSPECTIVAS TEÓRICAS NO ESTUDO DO DESINVESTIMENTO EM GEOGRAFIA
ECONÓMICA
Os estudos sobre o desinvestimento na área da geografia económica
privilegiaram algumas das suas manifestações, como a desindustrialização,
reestruturação industrial e o encerramento de unidades industriais. Os trabalhos mais
significativos da geografia económica sobre algumas daquelas manifestações
desenvolvem-se a partir dos finais dos anos setenta. O declínio das actividades
industriais nos países mais desenvolvidos motivou os geógrafos para um
aprofundamento das suas causas e consequências. Desde o início dos anos oitenta, o
termo desindustrialização foi utilizado, nem sempre convenientemente, para explicar
as mudanças da base económica. As dificuldades de definição deste conceito
constatam-se nos múltiplos significados atribuídos por diversos autores. Assim,
desindustrialização pode significar diminuição do emprego nas actividades industriais,
deterioração da balança comercial da actividade industrial, diminuição absoluta e
relativa do valor do produto industrial (medido através do indicador Valor
Acrescentado Bruto) e declínio do investimento (MARTIN e ROWTHORN, 1986).
Mais do que uma tendência evolutiva da base económica, o conceito de
desindustrialização ganha mais significado enquanto explicação da própria tendência
evolutiva (CAIRNCROSS, 1978). As causas do desinvestimento também são explicadas
de forma diferenciada, identificando-se três tipos principais de argumentos
(BLACKABY, 1981). O primeiro reporta-se às políticas monetárias como fonte de
contracção do produto industrial. O segundo explica o declínio industrial pela
diminuição da competitividade de algumas actividades nos países mais
desenvolvidos. O último salienta a incapacidade de mudança tecnológica e de
inovação de determinadas indústrias (algumas em fase de maturidade).
O interesse explícito dos geógrafos pelo desinvestimento ou pelas suas
manifestações coincide com uma vaga de alterações no mapa da geografia
industrial. Pode afirmar-se que os geógrafos procuraram, e ainda procuram,
conceptualizar processos económicos e espaciais da reestruturação empresarial e a
saída do mercado. Como seria de esperar, não há uma concordância nas
abordagens teóricas adoptadas nem um mesmo quadro metodológico de análise nos
trabalhos em geografia económica. Reconhecem-se, no entanto, duas perspectivas
dominantes - neo–clássica e economia política - tendo vindo a emergir recentemente
uma abordagem mais integradora ao estudo do desinvestimento como forma de
ultrapassar algumas limitações daquelas perspectivas. Em seguida, apresenta-se uma
DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP1
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revisão crítica dos trabalhos na área da geografia referentes ao desinvestimento ou
suas manifestações.
4.1 A influência da escola da economia neo-clássica
Os trabalhos que adoptam uma perspectiva centrada no estabelecimento ou
na empresa denotam, para utilizar a mesma expressão recorrente nos trabalhos da
economia política, uma forte influência da economia neo–clássica. As causas do
desinvestimento são interpretadas de uma forma similar aos estudos da economia
industrial. Em relação aos impactos espaciais do desinvestimento, a maior parte dos
trabalhos incide nos efeitos negativos dos multiplicadores e diminuição da procura
local e do rendimento (PIKE, 2001). Os estudos sobre o mercado de trabalho salientam
os desequilíbrios momentâneos gerados pelo aumento da oferta de trabalho,
admitindo-se um reequilíbrio no mercado de trabalho local através da redução dos
salários e de movimentos migratórios, bem como pelo aumento da procura de
trabalho em outras actividades económicas emergentes (ARMSTRONG e TAYLOR,
2000). Alguns estudos reflectem, no entanto, as dificuldades observadas no
restabelecimento do equilíbrio no mercado de trabalho após a ocorrência de
encerramentos de unidades produtivas (GRIPAIOS e GRIPAIOS, 1994). Em seguida,
salienta-se apenas o conjunto de estudos que visam tipificar o desinvestimento na
perspectiva da empresa, devido a incidirem especificamente na questão do
encerramento da actividade.
Os contributos iniciais de GUDGIN (1978), ERICKSON (1980), CROSS (1981) e
HEALEY (1982), para citar apenas os mais significativos, são retomados no trabalho de
WATTS e STAFFORD (1986), que virá a influenciar estudos posteriores acerca do
encerramento de unidades industriais. WATTS e STAFFORD (1986) salientam a
necessidade de distinguir a motivação da selecção num processo de encerramento
em contextos de empresas multi-estabelecimentos. Deste modo, importa identificar as
causas do desinvestimento (a questão da motivação) e subsequentemente perceber
por que determinadas unidades em particular são candidatas ao desinvestimento (a
questão da selecção). Enquanto a primeira questão decorre sobretudo de
considerações de âmbito económico, a segunda relaciona-se mais intensamente com
o estabelecimento e a sua envolvente. A tipologia de encerramento em empresas
multi-estabelecimentos apresentada pelos autores compreende três categorias:
encerramento por cessação, encerramento por omissão e encerramento selectivo
(figura 1).
DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP1
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Figura 1 – Tipologia de Encerramento de Estabelecimentos em Empresas
Multi-Estabelecimentos
Xa
XdXc
XXb
X
Produto A
Produto B
Expansão
Encerramento
cessação
selecção
omissão (default)
selecção
Fonte: Extraído de WATTS e STAFFORD (1986), p. 212.
O encerramento por cessação corresponde ao abandono de um
estabelecimento por descontinuidade de um determinado tipo de produto, ainda que
possa ocorrer uma venda dos activos a outra empresa, sem qualquer influência do
território, no sentido da envolvente ao estabelecimento, no processo de tomada de
decisão. No caso do encerramento por omissão, a decisão de aumentar a produção
num determinado estabelecimento pode levar ao encerramento, por omissão, de
outros da mesma empresa. Nestas situações, o encerramento de unidades industriais
resulta de decisões estratégicas relativas à expansão da capacidade industrial de
uma fábrica (brownfield plant) ou pela abertura de um novo estabelecimento
industrial (greenfield plant) que substitui a capacidade industrial das fábricas mais
antigas. O encerramento selectivo é semelhante ao anterior, porém, a empresa pode
optar por manter alguns estabelecimentos em detrimento de outros.
A tipologia apresentada tem o mérito de separar a motivação da selecção
num processo de encerramento de unidades industriais. Centra-se principalmente na
distinção entre os desinvestimentos relacionados com novos investimentos (redução
de custos de trabalho, inovação tecnológica, novos produtos,…) e os relacionados
com excesso de capacidade (diminuição da procura derivada da menor
competitividade da unidade industrial ou mesmo devido a problemas relacionados
com o ramo de actividade, por exemplo, no caso da concorrência de novos produtos
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substitutos). As questões locativas referentes ao encerramento de estabelecimentos
por omissão ou selecção são tratadas segundo duas perspectivas dominantes nas
teorias de localização tradicionais. A perspectiva neo-weberiana recorre a uma
comparação dos custos de produção dos diferentes locais, pelo que a explicação
locativa para o encerramento de uma unidade industrial não é mais do que a
aplicação destes princípios mas numa lógica inversa de prioridades, ou seja, trata-se
de escolher a localização menos vantajosa por oposição à localização ideal. A outra
perspectiva deriva da aplicação dos pressupostos teóricos do modelo de uso do solo
de Von Thünen. Consideram-se os usos de solo alternativos num quadro de
concorrência entre as diversas actividades da empresa e entre usos industriais e não
industriais. Note-se, no entanto, que a perspectiva neo-weberiana tem sido
claramente dominante no estudo do encerramento de unidades industriais.
Figura 2 – Tipologia de Encerramento de Estabelecimentos em Empresas
Multi-Estabelecimentos
Contextos de Decisão
Empresa uni-estabelecimento
Empresa multi-estabelecimento
Sem estabelecimentos similares
Com estabelecimentos similares
Tipos de Encerramento
Fim da actividade
Fim da linha de produto
Outsourcing
Redução da produção(manutenção de outros
estabelecimentos)
Manutenção ou expansãoda produção mas em outros
estabelecimentos
Cessação I Cessação II Cessação III Selecção I Selecção II
Fonte: Extraído de STAFFORD (1991), p. 54.
A partir desta tipologia, STAFFORD (1991) elaborou uma outra proposta de
tipologia de encerramento de unidades industriais. No essencial, o autor pormenoriza
as formas de encerramento, identificando três tipos de cessação e dois de
encerramento selectivo (figura 2). O autor assinala que o encerramento por cessação
da actividade de um estabelecimento pode ocorrer num contexto de empresa mono
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ou multi-estabelecimento, a que se segue ou não o fim de toda a actividade da
empresa. No caso do encerramento selectivo de estabelecimentos, o tipo I
corresponde à redução da produção de um determinado produto e ao
encerramento de determinadas unidades industriais da empresa, enquanto o tipo II
refere-se ao encerramento de determinadas unidades, mas opera-se uma
transferência da linha de produto para outras unidades da empresa.
As propostas de WATTS e STAFFORD (1986) e de STAFFORD (1991) pretendem
captar os tipos de saída do mercado das unidades industriais, estabelecendo uma
categorização exaustiva e mutuamente exclusiva para o encerramento dos
estabelecimentos. As limitações inerentes a qualquer tipologia estão, como tal,
presentes nas suas propostas, pois é manifestamente difícil, senão mesmo impossível,
identificar todas as formas de encerramento por mais exaustiva que seja a sua
classificação. Segundo CLARK e WRIGLEY (1997), o carácter estático destas propostas
também merece alguns reparos críticos. Com efeito, não é de todo impossível que
alguns tipos de desinvestimento não sejam uma antecâmara para a cessação
completa de toda a actividade. Ainda de acordo com CLARK e WRIGLEY (1997),
sucede que as opções de gestão de uma empresa são fruto de decisões passadas e,
deste modo, as empresas em situações idênticas não adoptam necessariamente as
mesmas soluções, pelo que "in unpacking the concept of exit, there is a clear need to
deal explicitly with the incremental and sequential nature of corporate decision-
making" (p. 343).
Aqueles autores desenvolvem uma argumentação em torno da ausência de
espontaneidade das empresas em relação às decisões de entrada ou saída do
mercado. CLARK e WRIGHT (1997) identificam duas razões objectivas para que tal
suceda: em primeiro lugar, uma queda da procura não conduz à saída do mercado
sem que se avalie primeiro se essa adversidade apresenta um carácter temporário ou
permanente; em segundo lugar, os custos irreversíveis de uma operação de saída do
mercado - que se traduzem pela impossibilidade de recuperar parte do capital
previamente investido decorrente, por exemplo, da dificuldade de venda de
equipamentos usados e da incapacidade da sua reutilização noutras actividades -
actuam, em geral, como uma barreira à saída. Denotando influências da escola da
economia industrial e da gestão estratégica, os autores concebem a empresa como
um portfolio acumulado de activos tangíveis e intangíveis, diferenciados quanto à sua
especificidade e ritmo de depreciação, que oferecem diversas opções em termos de
estratégia competitiva. Neste sentido, a natureza da empresa (tipo de gestão, história,
inserção territorial,…) e os custos irreversíveis condicionam as decisões de saída do
mercado.
DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP1
18
Apesar da natureza redutora própria de uma tipologia, CLARK e WRIGLEY
(1997) avançam com uma proposta de categorização da saída do mercado,
admitindo os seguintes pressupostos: existência de uma empresa com diversos
estabelecimentos industriais que coexistem entre si e apresentam tecnologias
diferenciadas decorrentes do "estado da arte" no domínio tecnológico à altura em
que foram construídos ou adquiridos; declínio imprevisível da procura ou inovação
tecnológica e organizacional inesperada resultando num excesso de capacidade
industrial que se vai agravando ao longo do tempo sem que a empresa consiga
prever a duração da recessão. A figura 3 ilustra as diferentes opções estratégicas da
empresa à medida que decai a procura.
Figura 3 – Campos de saída, opções de saída e caminhos de saída: uma tipologia
Fonte: Extraído de CLARK e WRIGLEY, 1997, pp. 347.
A tipologia compreende três contextos de saída do mercado - relocalização
estratégica (saída tipo 1), reestruturação (saída tipo 2) e forma e estrutura empresarial
(saída tipo 3) - que resumem a resposta da empresa a situações de progressiva
diminuição da procura. Assim, do encerramento selectivo de um determinado
DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP1
19
estabelecimento até à liquidação da empresa, identifica-se um conjunto de tipos de
resposta empresarial à diminuição da procura, que podem reconduzir a empresa à
bancarrota ou levá-la ao sucesso. Previsivelmente, esta tipologia tem alguns pontos
comuns com outras desenvolvidas anteriormente, nomeadamente a de Watts e
STAFFORD (1986) e a de STAFFORD (1991). Em resumo, a tipologia de CLARK e WRIGLEY
(1997) comporta dois aspectos inovadores: a introdução de um vector temporal
relacionado com a dinâmica do mercado (procura) e a inclusão de um leque de
respostas possíveis das empresas à crise.
4.2 A influência da escola da economia política
A perspectiva da economia política prevalece na maior parte dos trabalhos
acerca do desinvestimento. Pela relevância do seu impacto territorial, o tema do
encerramento das unidades industriais deu origem a um conjunto significativo de
estudos em geografia económica. Segundo esta perspectiva, as consequências
espaciais do encerramento de fábricas expressam-se no abandono das comunidades,
sub-aproveitamento de recursos e declínio económico, inerente ao processo de
reestruturação industrial num sistema capitalista tendencialmente em crise (PIKE, 2001).
Como resultado de um estudo elaborado a partir de 1979 para um conjunto de
sindicatos e organizações não governamentais, BLUESTONE e HARRISON (1982)
publicaram The Desindustrialization of America, que se tornou numa obra influente
para o estudo do desinvestimento na área da geografia económica segundo a
perspectiva da economia política. Os autores colocam a tónica na análise do
movimento de desindustrialização, entendido como "… widespread, systematic
disinvestment in the nation's basic productive capacity" (p. 6). Na verdade, o
movimento de capital (capital shift) está na base da desindustrialização, podendo
assumir diferentes formas. Privilegia-se a análise ao nível das empresas multi-
-estabelecimentos (corporate America). A forma mais subtil de desinvestimento
consiste no re-direccionamento dos lucros gerados pelas operações de uma unidade
industrial sem interferência da administração da filial (milking operation). A médio ou
longo prazo, a filial atravessará situações problemáticas que poderão conduzir ao
encerramento da unidade. Como um passo à frente desta estratégia, os autores
identificam a decisão consciente de realocar capital através da incapacidade para
substituir equipamento obsoleto (depreciação). Também a prazo, a unidade industrial
desinvestida ver-se-á impossibilitada de realizar qualquer operação lucrativa. Outra
DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP1
20
forma de deslocalizar capital reside na mudança de equipamentos entre filiais do
grupo ou mesmo da venda de parte do stock de capital dos estabelecimentos a
intermediários, que podem conduzir à implementação de estratégias de outsourcing,
frequentemente prejudiciais para o estabelecimento. Finalmente, os autores
denunciam a deslocalização completa do estabelecimento industrial para regiões ou
países de salários baixos, opção que ganhou o epíteto de runaway shop nas décadas
de 30 e de 50.
Enquanto os estudos influenciados pelos princípios neo-clássicos colocam a
tónica no processo de decisão no contexto de evolução do mercado para explicar as
opções de desinvestimento, o estudo seminal de BLUESTONE e HARRISON (1982)
explica-as pelo funcionamento do sistema económico capitalista internacional e pela
lógica do lucro e especulação dominantes nas grandes empresas transnacionais. Se,
em teoria, o desinvestimento é essencial para alocar novos recursos em novas
actividades, a verdade é que, segundo BLUESTONE e HARRISON (1982), este raciocínio
schumpeteriano mesmo se levado à prática, e as evidências apresentadas pelos
autores comprovam as suas limitações, deixa marca indeléveis nas pessoas, famílias e
comunidades (capital vs. community). Deste modo, a crise de valores do capitalismo
americano, o perfil do trabalhador, os impostos elevados do governo federal e a
concorrência japonesa foram os bodes expiatórios para justificar a crise pelos neo-
-liberais, que, na verdade, se deve muito mais à incapacidade dos gestores, baixo
nível de despesa em capital e fracos programas de formação de mão-de-obra
(BLUESTONE e HARRISON, 1982).
Ainda no ano de 1982, foi publicada outra obra de grande relevância para os
estudos do desinvestimento segundo esta perspectiva. Referimo-nos ao trabalho de
MASSEY e MEEGAN (1982), cujo contributo principal decorre do estudo aprofundado
das formas de reestruturação, recorrendo a informação agregada relativa ao
produto, emprego e produtividade em 31 ramos industriais em declínio, ainda que o
critério de selecção das actividades se tenha centrado na evolução do emprego.
Para os autores, a variação do emprego industrial decorre das alterações ao nível do
produto e da produtividade. São identificados três formas principais de reorganização
da produção: intensificação, investimento / mudança técnica e racionalização
(quadro 1).
DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP1
21
Quadro 1 - Formas de Reorganização da Produção
Formas de Reorganização da Produção
Investimento Desinvestimento Locus da Reorganização
Intensificação Negligenciável Não Intra-estabelecimento Investimento/Mudança técnica
Sim Sim Inter-estabelecimento
Racionalização Não Sim Inter-estabelecimento/Nenhum
Fonte: Adaptado de MACLACHLAN (1992), a partir de MASSEY e MEEGAN (1982).
A "intensificação" baseia-se num aumento do produto através de pequenas
melhorias técnicas ou de alterações na estrutura organizativa ao nível do
estabelecimento, não implicando necessariamente desinvestimento. Só ocorre
desemprego no caso do crescimento da produtividade ser superior ao do produto. O
"investimento/mudança técnica" traduz os processos de capital deepening e de
capital widening, cujos objectivos são o aumento em simultâneo do produto e da
produtividade. Implica novos investimentos, tal como existe a possibilidade real de
encerrar unidades industriais com forte obsolescência do capital. Finalmente, a
"racionalização" traduz a estratégia de redução da capacidade industrial através
principalmente do encerramento de estabelecimentos industriais, num processo
idêntico ao capital shift de BLUESTONE e HARRISON (1982).
Profundamente influenciado pelos significados do conceito da
desindustrialização, os geógrafos desenvolveram diversos trabalhos sob o tema da
reestruturação industrial, privilegiando o estudo de actividades industriais "maduras" e
os processos de reorganização da produção (química, siderurgia, construção e
reparação naval,…), de estratégias de empresas multinacionais (plataformas
exportadoras), de problemas de ajustamento do mercado de trabalho local, assim
como de regiões profundamente afectadas pelo declínio industrial (Nordeste de
Inglaterra, Bacia do Ruhr, Nordeste de França, …).
DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP1
22
4.3 Limitações das Perspectivas Teóricas no Estudo do Desinvestimento e
Território
O quadro conceptual para as análises do desinvestimento proposto pelas
perspectivas referidas anteriormente revela-se limitado para o estudo do
desinvestimento e as suas relações territoriais.
Os estudos influenciados pela economia neo-clássica podem considerar-se
reducionistas, devido a dois tipos de razões: papel passivo do território e tónica de
análise na empresa e em particular no processo de decisão. Em relação ao primeiro
aspecto, a crítica assenta na interpretação redutora do papel do território, pois é
tratado como mais uma variável nas motivações do desinvestimento. Há uma
aparente redução do território a um conjunto de condições locais que exercem um
maior ou menor papel na tomada de decisão de desinvestimento (HARRISON, 1989).
Na verdade, estas condições locais reúnem superficial e vagamente factores de
desinvestimento associados principalmente às características do trabalho (greves,
poder de reivindicação da mão-de-obra, movimento sindical, baixo nível de
produtividade,…) (PIKE, 2001). Em segundo lugar, este tipo de estudos foca
preferencialmente o processo de decisão de desinvestimento ao nível da empresa,
profundamente influenciado pela dinâmica do mercado, em particular das alterações
da procura. Denota-se uma ausência de ligação entre o comportamento das
empresas e as tendências de evolução dos ramos industriais e não se consideram as
características gerais de funcionamento do sistema económico.
Acrescente-se que, nesta perspectiva, se assiste à separação dos estudos
acerca das causas do desinvestimento e das suas consequências (sobretudo no
mercado de trabalho). Na verdade, são raros os estudos que integram ambas as
questões. As metodologias de trabalho privilegiam métodos positivistas, aplicados a
partir de dados de fontes oficiais ou de amostras construídas pelos autores. Por outro
lado, são menos comuns os estudos que recorrem a informação qualitativa ou
analisam em profundidade casos de desinvestimento.
Nesta perspectiva, o desinvestimento não é entendido como um aspecto
forçosamente negativo para o desenvolvimento regional, pois a alocação mais
eficiente de recursos gera, a médio prazo, mais benefícios. Os desequilíbrios no
mercado local de trabalho serão compensados num quadro de mobilidade de
capital e de trabalho, princípio essencial da economia neo-clássica. Neste contexto,
as políticas devem orientar-se para a correcção dos desequilíbrios
DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP1
23
momentaneamente gerados e para a melhoria das condições de atracção de
capital.
Esta crítica genérica não pode ignorar dois aspectos positivos. Primeiro, aos
estudos sob influência da economia neo-clássica, tem de ser reconhecida a tentativa
de desenvolvimento de análises alternativas aos estudos de caso e o esforço de
quantificação do peso dos factores de desinvestimento. Segundo, estes estudos
reflectem, recentemente, algumas preocupações com as relações entre o
desinvestimento e o território que devem, na nossa opinião, ser exploradas em
profundidade nos trabalhos de geografia do desinvestimento.
Os trabalhos iniciais da economia política caracterizam-se pela sua visão
holística do sistema capitalista. As determinantes do desinvestimento assentam em
explicações centradas no funcionamento da economia capitalista. A necessidade de
manutenção de um processo de acumulação de capital justifica transferências
periódicas de capital, típicas em períodos de reestruturação económica.
As críticas mais relevantes aos trabalhos da economia política podem resumir-
se nos seguintes pontos: (i) a explicação do desinvestimento é reduzida à lógica do
capital e do funcionamento estrutural do sistema capitalista, depreciando-se o papel
do processo de tomada de decisão ao nível da empresa; (ii) o conceito de
mobilidade do capital ignora que uma larga parte do capital industrial é obsoleto,
originando custos irreversíveis que actuam como barreira à saída do mercado; (iii) os
conflitos entre o capital e o trabalho ignoram outras divisões da sociedade, tais como,
género, etnia e outras dimensões sociais; (iv) falta de integração entre o estudo do
desinvestimento e das suas consequências; (v) a análise centrada no conflito entre
capital e trabalho nem sempre é coerente com o conflito entre o capital e as
comunidades; (vi) denota-se a ausência de ligação entre os níveis micro e macro do
sistema económico, (PIKE, 2001).
Algumas das limitações referidas têm, no entanto, vindo a ser ultrapassadas.
Com os contributos de MASSEY (1995), detecta-se uma aproximação da teoria
abstracta ao mundo real, materializada pela divisão espacial do trabalho. Por outro
lado, os trabalhos recentes prestam maior atenção a questões relevantes, tais como, a
"espessura" institucional, as estratégias individuais e a agência nos processos de
desinvestimento, admitindo que estes processos são complexos e heterogéneos. A
metodologia de trabalho tem privilegiado os casos de estudo, observando-se a
tentativa de análise da inter-ligação entre as decisões das empresas e as respostas da
força de trabalho e das comunidades (CLARK, 1990; FOTHERGILL e GUY, 1990).
DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP1
24
5. UM QUADRO CONCEPTUAL PARA O ESTUDO DO DESINVESTIMENTO E
TERRITÓRIO
Neste ponto procura desenvolver-se um quadro conceptual preliminar para a
análise das inter-relações entre o desinvestimento e o território. Em primeiro lugar,
elabora-se uma proposta de tipologia do desinvestimento directamente relacionada
com os impactos ao nível espacial e, posteriormente, propõe-se um quadro
conceptual de análise das relações entre o desinvestimento e o território.
5.1 Tipologia do Desinvestimento e Impactos Territoriais
O trabalho de SIMÕES (2001), desenvolvido no âmbito do projecto DivesT, é um
contributo válido para a identificação dos principais tipos e manifestações do
desinvestimento. Cruzando a dimensão propriedade, que traduz a perspectiva
tradicional do desinvestimento, e a dimensão actividade, que expressa a dinâmica da
actividade ao nível do estabelecimento, o autor identifica os principais tipos de
operações de desinvestimento (figura 4).
• O primeiro tipo não configura uma operação de desinvestimento,
mantendo-se a propriedade e a actividade do estabelecimento.
• O segundo tipo traduz uma situação de manutenção da actividade e
de alienação total ou parcial da participação em favor de outro agente económico.
Neste caso, também não se observa necessariamente um desinvestimento na óptica
territorial mas apenas na perspectiva da empresa. As formas que ilustram este tipo de
operação compreendem a venda do estabelecimento a terceiros, venda da posição
em joint venture, MBO e alienação parcial da participação.
• O terceiro tipo de operação de desinvestimento configura tipicamente
o encerramento de unidades, traduzido pela ausência de actividade económica e
pela liquidação do estabelecimento. É sem dúvida o caso extremo de
desinvestimento quer na óptica empresarial quer na territorial.
• Finalmente, o último tipo de desinvestimento diz respeito à redução da
actividade, no entanto mantém-se a relação de propriedade. Traduz as situações de
downgrading tecnológico, recessão ou até abandono da actividade produtiva em
favor de outras actividades de menor valor acrescentado, como a armazenagem. Os
DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP1
25
impactos espaciais desta operação de desinvestimento podem ter significado para a
economia da região e para o mercado local de trabalho.
Figura 4 - Tipologia das Operações de Desinvestimento
Manutenção ACTIVIDADE
Business as Usual
1
Desinvestimento "forçado" Venda da filial Venda da posição em joint venture MBO Alienação parcial da participação
2 Redução
Recessão em situ Downgrading tecnológico Diluição da relevância económica
4
Liquidação da filial Venda da posição com redução ou downgrading da actividade
3
Manutenção PROPRIEDADE Redução
Fonte: Extraído de SIMÕES (2001), p. 6.
A proposta de tipologia que se segue parte das situações de desinvestimento
com impacto espacial, identificadas, na tipologia de SIMÕES (2001), como os tipos três
e quatro. Acrescentaram-se outras duas dimensões de análise: a motivação e a
intensidade do impacto espacial. A inclusão da dimensão motivação justifica-se pelo
facto do desinvestimento poder assumir diferentes significados para a empresa.
Segundo LARIMO (1997), o desinvestimento ocorre numa das seguintes situações: o
estabelecimento não consegue atingir os objectivos definidos pela empresa, por
exemplo rentabilidade, lucro e crescimento da produção; as mudanças sectoriais e
espaciais deixam de ser favoráveis para o desenvolvimento da actividade e a
empresa opta por alocar os recursos disponíveis a outros sectores e/ou regiões. O
primeiro caso associa-se a um significado próximo do fracasso (involuntário), enquanto
o último é entendido como uma decisão estratégica voluntária.
A gradação do impacto espacial do desinvestimento revela-se mais
adequada para a geografia do desinvestimento, por oposição a uma situação
dicotómica (ausência ou não de impacto territorial). Com efeito, observa-se
DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP1
26
frequentemente um abrandamento da actividade antes de se registar um eventual
encerramento da unidade industrial, situação que tem obviamente efeitos, ainda que
diluídos no tempo, na economia regional e no mercado de trabalho. Por outro lado, a
transferência da actividade para outras regiões pode compreender a totalidade das
operações da empresa ou englobar apenas uma parte, com resultados distintos ao
nível dos impactos territoriais.
Do cruzamento das dimensões actividade, propriedade, motivação e impacto
territorial, chega-se a uma tipologia do desinvestimento segundo uma lógica territorial
(quadro 2). Os quatro tipos identificados não pretendem classificar todas situações de
impacto territorial do desinvestimento, objectivo que se afiguraria muito difícil de
atingir em virtude da complexidade das operações de desinvestimento e da
diversidade dos efeitos resultantes. Aliás, uma mesma operação de desinvestimento
tem impactos territoriais diferenciados, devido à desigual capacidade de resposta de
cada região, que decorre das suas características específicas (base económica,
dinâmica empresarial, mercado de trabalho, infra-estruturas de apoio à actividade
económica, políticas industrial e regional, envolvimento das instituições,…). Apesar das
limitações de qualquer tipologia, continua a justificar-se pelo esforço de
categorização e de generalização de um determinado fenómeno, com vantagens
para o aprofundamento do conhecimento da realidade. Não é, todavia, definitiva
nem um lugar de chegada de uma investigação, pelo que deve ser revista e testada
em situações concretas.
As primeiras duas categorias dizem respeito ao desinvestimento derivado da
transferência da capacidade produtiva, devendo-se as principais diferenças à
intensidade do impacto na região. A deslocalização de tipo I expressa as situações de
cessação da actividade e cedência ou abandono das instalações, ou seja, observa-
se uma transferência de todo o processo produtivo para outro local. A deslocalização
de tipo II traduz a transferência de uma parte da capacidade instalada para outro
local, mantendo-se, assim, uma parte da actividade produtiva na região. Estes dois
tipos de operações de desinvestimento diferem, portanto, na intensidade do impacto
espacial, necessariamente mais forte na deslocalização de tipo I. Registe-se ainda
uma situação distinta em relação à dimensão propriedade; no primeiro caso, ocorre
sempre a alienação, por venda ou abandono, das instalações pela empresa,
enquanto, no segundo tipo de deslocalização, se mantém o vínculo de posse. Nesta
situação, trata-se de uma empresa multi-estabelecimentos que decide alargar a
capacidade produtiva num outro estabelecimento. A escala espacial da
deslocalização compreende os níveis intra-regional, inter-regional e internacional em
ambos os tipos de deslocalização. Os movimentos de capital para o estrangeiro ou
DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP1
27
para outras regiões com menores níveis salariais revelam-se mais preocupantes para a
economia local/regional, apesar do maior número de casos de movimentos de
capital registados ao nível intra-regional (ALVES e MADRUGA, 1996).
Quadro 2 - Tipologia do Desinvestimento numa Lógica Espacial
ACTIVIDADE PROPRIEDADE MOTIVAÇÃO IMPACTE ESPACIAL TIPO
Cessação de actividade
Abandono do estabelecimento e manutenção da empresa
Decisão estratégica voluntária
Transferência da capacidade produtiva (operações)
Total Deslocalização I
Redução da actividade / especialização/ reestruturação
Manutenção do estabelecimento e da empresa
Decisão estratégica voluntária
Parcial (segmentação da produção /produto)
Deslocalização II
Cessação da actividade
Abandono do estabelecimento e dissolução da empresa
Decisão involuntária / Fracasso
Diminuição da actividade produtiva s/ transferência
Total Encerramento DESI
NVE
STIM
ENTO
Recessão / reestruturação
Manutenção do estabelecimento e da empresa
Decisão estratégica voluntária / Fracasso
Parcial Regressão in situ
O encerramento e a regressão in situ ilustram as categorias de desinvestimento
com um impacto geralmente negativo para a empresa e para a região. Também
nestes dois tipos se verifica uma desigual intensidade do impacto espacial, claramente
mais profundo no caso do encerramento. A regressão in situ pode configurar uma
situação de pré-encerramento, embora também possa traduzir uma reestruturação do
estabelecimento, ainda que tal seja menos frequente (veja-se o caso da Siderurgia
Nacional). É por esta razão que estes dois tipos de desinvestimento representam
situações de fracasso quer na óptica da empresa quer na do território.
As motivações para a deslocalização resultam sempre de uma decisão
estratégica voluntária da empresa, enquanto as situações de encerramento ou de
regressão in situ são entendidas como um fracasso de gestão. Descortinam-se,
contudo, dois tipos de factores distintos nestes tipos de desinvestimento (WATTS e
STAFFORD, 1986; WATTS, 1991; BENITO, 1997; CLARK e WRIGLEY, 1997; SIMÕES, 2001). Os
factores internos de maior ponderação são, tipicamente, a obsolescência
tecnológica, o fim do ciclo de vida do produto e as dificuldades de gestão da força
de trabalho. A perda de quota de mercado, o aumento dos salários e a falta de
qualificações no mercado local de trabalho, o congestionamento das infra-estruturas,
DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP1
28
concorrência entre os diversos estabelecimentos da empresa, as mais valias derivadas
de reutilização do espaço e a competitividade inter-regional pela atracção de novos
investimentos são, no conjunto mas de forma desigual, os principais factores externos
ao estabelecimento para uma operação de deslocalização da actividade produtiva.
Parece-nos que o caso de transferência da produção da unidade industrial da
Renault em Setúbal para a Eslovénia se explica pela importância de ambos os tipos de
factores, como o fim do ciclo de vida do produto e a oportunidade de construção de
uma nova unidade numa região com factores locacionais mais interessantes para a
empresa (custo da mão-de-obra, proximidade aos mercados principais da UE, …)
(VALE, 1999).
Podendo ter na sua base factores internos e externos similares, a
deslocalização de tipo I tem sempre um impacto mais forte na região do que a de
tipo II, sendo quase sempre negativo (caso da Control Data/Seagate), embora FREITAS
(1998) considere que um desinvestimento não é necessariamente prejudicial à
economia regional. Mas os seus efeitos serão sempre negativos em termos sociais. A
deslocalização de tipo II gera impactos regionais mais difíceis de tipificar, por
compreender mudanças de sinal positivo ou negativo. Em alguns casos, os efeitos são
similares à deslocalização de tipo I mas menos intensos; noutros, a redução da
actividade na região associa-se à reestruturação da unidade industrial e
especialização em actividades geradoras de maior valor acrescentado, com ganhos
de produtividade (caso de diversas unidades industriais instaladas no corredor
industrial Lisboa-Vila Franca de Xira).
Tal como nas situações de deslocalização, o encerramento e a regressão in situ
originam impactos espaciais dissemelhantes. No caso do encerramento, as perdas
para a região e para a empresa são tendencialmente mais elevadas do que no
segundo caso. Parte substancial dos trabalhos em geografia económica debruçam-se
sobre este tipo de desinvestimento. A regressão in situ afigura-se geralmente como um
desinvestimento com impactos espaciais diluídos no tempo. Trata-se quase sempre de
um phasing-out da produção (produção até ao final do ciclo de vida do produto ou
cumprimento das encomendas) ou downgrading da actividade (concentração em
actividades de baixo valor acrescentado ou abandono de actividade industrial em
favor da distribuição ou armazenagem). Os casos de algumas empresas de
montagem de veículos japoneses em Portugal ilustram um caso de encerramento em
resultado da abertura do mercado europeu aos construtores daquele país (VALE,
1999). Parece-nos um exemplo paradigmático de regressão in situ a situação da
indústria químico-farmacêutica com a formação do Mercado Único, tendo passado
muitos estabelecimentos a unidades de distribuição.
DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP1
29
São patentes algumas limitações nesta proposta de tipologia. Em primeiro
lugar, as motivações para qualquer uma das operações de desinvestimento podem
ser similares, porém, resultam frequentemente de uma combinação específica de
causas internas e externas à empresa. Em segundo lugar, não é facilmente qualificável
o tipo de impacto espacial de um certo desinvestimento sem uma análise
aprofundada caso a caso; alguns desinvestimentos trazem impactos económicos
positivos para a região (mas são raros os efeitos positivos de cariz social, pois o
desemprego revela-se um problema crítico para muitas regiões), enquanto outros são
inequivocamente negativos. Por último, a deslocalização da actividade produtiva de
ambos os tipos (I e II) opera-se a diferentes escalas espaciais, cujas manifestações
abrangem os níveis internacional, inter-regional e intra-regional. Esta sobreposição de
escalas espaciais dificulta a operacionalização de uma tipologia de desinvestimento.
Sendo a mais frequente (ALVES e MADRUGA, 1996), a deslocalização intra-regional é
também a que gera menores impactos negativos. Ao contrário, a transferência de
unidades produtivas para países estrangeiros com custos de trabalho mais baixos está
conotada com uma imagem de ameaça permanente para a manutenção do
emprego e do produto nas regiões desinvestidas (LAHILLE, 1995).
Em todo o caso, é possível avançar com duas conclusões genéricas da
proposta de tipologia do desinvestimento numa lógica espacial: (i) as formas de
deslocalização (tipos I e II) não podem ser consideradas negativas do ponto de vista
empresarial por oposição ao encerramento e regressão in situ (fracasso); (ii) a
deslocalização de tipo II e a regressão in situ geram potencialmente menos efeitos
negativos nas regiões por comparação com a deslocalização de tipo I e o
encerramento.
5.2 Proposta de um Quadro Conceptual de Análise das Inter-Relações entre o
Desinvestimento e o Território
Mais recentemente, as preocupações da geografia económica com o
desinvestimento estão a dar origem a uma nova geração de trabalhos. A competição
inter-territorial para a captação de investimentos e o aumento dos fluxos de capital
têm se traduzido num aumento dos casos de desinvestimento em diversos países
desenvolvidos. Alguns dos estudos mais recentes sobre o tema adoptam uma postura
mais ecléctica, recorrendo a princípios da economia neo-clássica e da economia
política e privilegiando outras dimensões no entendimento das relações de
DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP1
30
interdependência entre o desinvestimento e o território. Neste ponto, procura-se
justamente introduzir alguns destes contributos na construção de um quadro
conceptual de análise.
As inter-relações entre o desinvestimento e o território são complexas e
configuram um processo simultaneamente económico, social e político, num
determinado contexto espacio-temporal. Neste sentido, o estudo das manifestações
de desinvestimento deve afastar-se de uma lógica estritamente economicista, ainda
que os agentes económicos privilegiam aspectos económicos no processo de tomada
de decisão. Por outro lado, uma excessiva leitura sobre-socializada do processo de
desinvestimento, uma das características da economia política, determina um
comportamento similar dos agentes económicos, sociais e políticos às mudanças
estruturais e conjunturais da economia (GRABHER, 1993). Na verdade, as relações
entre a economia e a sociedade são contingentes e incertas e decorrem sempre num
determinado contexto territorial (VALE, 1999).
O desinvestimento deverá ser conceptualizado como uma relação social
territorializada, ao invés de um acontecimento discreto e estritamente económico.
Defende-se, deste modo, a adopção de uma perspectiva holística ao estudo das
inter-relações entre o desinvestimento e o território. Todavia, a posição estruturalista
típica da economia política revela-se limitada (GRANOVETTER, 1985), sobretudo por
não prever as relações contingentes entre a estrutura (forças operativas do sistema
económico) e os agentes (gestores, trabalhadores, representantes políticos,
instituições,…), pelo que o estudo do desinvestimento deverá privilegiar uma visão
multi-causal. A generalização das determinantes do desinvestimento torna-se difícil
num quadro de análise holístico, tal como uma tipologia das suas consequências não
deixa de ser redutora. Todavia, a complexidade e a especificidade do processo não
deve significar que "cada caso é um caso", ou seja, a indeterminação de cada caso
de desinvestimento deve ser posta em causa. Segundo MASSEY (1995), o facto de a
incerteza prevalecer quanto aos resultados de qualquer processo social, não significa
que há uma indeterminação inerente à mudança social. PIKE (2001) sustenta que
cada caso de desinvestimento resulta da combinação de relações generalizáveis
causais que são, no entanto, concretizadas contingencialmente e, neste sentido,
constituem uma matéria para investigação empírica.
As relações sociais não decorrem num quadro a-espacial e a-temporal. A
concepção do desinvestimento como um processo social implica, em termos
analíticos, a atribuição de um papel activo ao território. Assim, o território deve ser
entendido simultaneamente como causa e consequência do desinvestimento. A
especificidade económica, social, política e cultural de cada território inviabiliza
DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP1
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leituras generalistas sobre as operações de desinvestimento, até porque este é
entendido como fracasso ou sucesso de acordo com os interesses particulares da
empresa, como bem demonstra a narrativa de muitos empresários e gestores (PIKE,
2001). A concepção da dimensão espacial como uma simples variável adicional para
a compreensão do processo de desinvestimento não parece ser o caminho
adequado. Cada região é um produto de muitas determinações ao longo de uma
evolução histórica de relações entre o capital e o trabalho e de alianças e conflitos
sociais (MASSEY, 1995). É, portanto, aconselhável que o estudo do desinvestimento e
das suas causas e consequências ao nível regional evite análises sub-socializadas e
sobre-socializadas. Neste sentido, o estudo do desinvestimento em geografia
económica deverá assentar numa metodologia composta por três escalas de análise
inter-ligadas: o sistema económico (nível macro), os agentes económicos (nível micro)
e o espaço (nível meso). Esta proposta de metodologia, inspirada em SCOTT e
STORPER (1986), valoriza o espaço pela sua função de mediação entre os níveis macro
e micro. Deste modo, as forças estruturais da economia condicionam a acção dos
agentes económicos (e, assim, influenciam o processo de tomada de decisão das
empresas), que é, no entanto, moldada pelo quadro de relações sócio-produtivas
estabelecidas num determinado território.
A geografia do desinvestimento necessita igualmente de identificar conjunturas
apropriadas que ajudem a descortinar os princípios causais e a construir explicações
numa perspectiva dinâmica do processo de desinvestimento. Com efeito, torna-se
imprescindível a introdução de um vector temporal na metodologia de trabalho dado
que as decisões de uma empresa não são independentes de decisões passadas. Uma
eventual saída do mercado não tem um carácter espontâneo, pois, de acordo com
CLARK e WRIGLEY (1997), esta decisão não é tomada logo a partir dos primeiros sinais
de queda dos preços no mercado, tal como os custos irreversíveis actuam como
barreira à saída. No primeiro caso, a empresa tende a aguardar pela evolução do
mercado e, no segundo caso, a dificuldade de recuperação do capital investido
sugere alguma precaução em relação à opção de saída. Nos casos de tomada de
decisão de desinvestimento detectam-se também “momentos” espacio-temporais
diferenciados, que compreendem as respostas dos agentes, situações de cooperação
e de conflito até ao encerramento propriamente dito. Assim, os "momentos" espacio-
-temporais de um processo de desinvestimento podem compreender, segundo PIKE
(2001), a origem do declínio, decisão de desinvestimento, resposta dos agentes,
competição/conflito, cooperação/colaboração e dissolução.
A operacionalização de um quadro conceptual para análise do
desinvestimento, enquanto processo social espacializado, não é, contudo, fácil. A
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proposta que se segue não pode, como tal, ser considerada definitiva e destina-se
apenas a promover a discussão entre investigadores interessados no tema.
O quadro conceptual de análise adopta os "momentos" do desinvestimento
propostos por PIKE (2001) e diferencia as atitudes dos agentes ao nível da
empresa/estabelecimento e do território. Os trabalhos pertinentes de WATTS e
STAFFORD (1986) e de SIMÕES (2001) estão também na base da proposta
apresentada. Note-se que a sequência dos momentos de desinvestimento não é
forçosamente linear nem significa que ocorram em todos os processos. Também se
deve referir que as atitudes dos agentes económicos e sociais expressas no quadro
conceptual configuram um conjunto de eventuais reacções/soluções ao
desinvestimento em cada "momento".
A proposta de quadro conceptual para o estudo do desinvestimento numa
óptica territorial estrutura-se em três dimensões inter-relacionadas: espaço económico,
território (espaço local/regional) e tempo (figura 5).
O espaço económico compreende os níveis macro e micro, que se relacionam
entre si através da unidade empresarial. Se, por um lado, as tendências do mercado,
da dinâmica de investimento, das condições de inovação tecnológica, das
tendências evolutivas do sector/ramo de actividade e da estrutura de
competitividade influenciam as decisões da empresa, por outro lado, as opções de
saída de mercado são condicionadas pelas estratégias que as empresas definiram e
implementaram no passado, nomeadamente em relação ao modelo de cultura
empresarial, estrutura organizativa, dimensão (crescimento) e produto. As formas de
regulação do sistema económico aos níveis internacional e nacional, pelo seu
contributo para o funcionamento, por exemplo, dos mercados, e para a definição da
estrutura de competitividade no sector/ramo de actividade, condicionam as opções
estratégicas das empresas relativas à saída do mercado. É, no entanto, ao nível do
estabelecimento que elas se repercutem. Com efeito, as principais variáveis que
influenciam a motivação e a selecção, incidentes ao nível do estabelecimento, são o
nível de produtividade, nível organizativo-tecnológico, competências, grau de
autonomia da decisão e origem dos gestores. Estabelece-se, deste modo, uma
relação entre os níveis macro e micro, que se considera indispensável para o estudo
do desinvestimento na óptica da empresa (motivação) e da selecção
(estabelecimento).
DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP1
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Figura 5 – Quadro Conceptual para o Estudo do Desinvestimento numa Lógica
Territorial
O nível meso diz respeito ao quadro territorial de referência do
estabelecimento, vulgarmente designado por “envolvente” ou “ambiente”, onde
decorre a acção económica da unidade industrial. Também parece evidente que o
espaço local/regional (comunidade) influencia as opções de desinvestimento, pelo
que se refuta, assim, a natureza inerte do território presente em muitas análises
tradicionais da economia neo clássica. O espaço desempenha um papel activo nas
opções de desinvestimento em duas vertentes. Em primeiro lugar, a dotação de
recursos naturais, as características do mercado de trabalho local, as infra-estruturas
produtivas e a densidade e complementaridade do tecido empresarial constituem
uma dimensão crítica para o desempenho da actividade económica. Em segundo
lugar, parece cada vez mais evidente que a dimensão soft de base territorial se revela
igualmente decisiva para o (in)sucesso económico, compreendendo a “espessura”
institucional, as formas de “governância” territorial, a produção e disseminação de
conhecimento localizado e, em síntese, a “atmosfera” industrial. Estas inter-relações
complexas podem ser alteradas por formas de competição inter-regional pela
atracção de investimentos e por respostas de política pública sectorial e de base
territorial.
DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP1
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Finalmente, a dimensão temporal é incluída nesta proposta de quadro
conceptual para o estudo do desinvestimento, cruzando-se com as dimensões
económica (níveis macro e micro) e territorial (nível meso). Pretende-se, assim, evitar
análises estáticas através da introdução de “momentos” críticos inerentes a um
processo de desinvestimento. Com efeito, a motivação para desinvestir decorre de
alterações no espaço económico e/ou no espaço geográfico. De acordo com a
evolução das dimensões consideradas, ocorrem “momentos” de resposta dos
agentes, que podem ser pautados por situações de competição / conflito e/ou de
cooperação / colaboração. Por exemplo, ao nível da empresa podem surgir
propostas de aquisição, planos de racionalização e de viabilização da unidade ou
emergir situações de conflito, como greves, ocupação das instalações,...; ao nível
territorial, as situações de conflito traduzem-se, por exemplo, em respostas legislativas,
enquanto as situações de cooperação / colaboração manifestam-se pela concessão
de apoios financeiros para a realização de novos investimentos e de acções de
formação profissional, ... Do desenrolar do processo, poder-se-á observar um leque de
resultados, que vão do desinvestimento segundo os seus diversos tipos até à
manutenção da actividade. Em quaisquer dos casos, continuará a verificar-se uma
resposta/acção dos agentes no sentido da definição de políticas que visam a
expansão da economia, a melhoria das infra-estruturas, a protecção social e
ambiental,...Nos casos de encerramento, para além destas medidas, podem surgir
planos de venda/cedência das instalações abandonadas ou mesmo planos de
reconversão / reutilização de áreas abandonadas.
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6. NOTA FINAL
Com esta proposta de trabalho espera-se contribuir para um estudo do
desinvestimento enquanto processo social territorializado, ultrapassando as limitações
das perspectivas de análise sub e sobre-socializadas. Numa fase posterior, procurar-se-
á corrigir possíveis erros e ultrapassar determinadas limitações deste quadro
conceptual de análise. De igual modo, desenvolver-se-á, para cada um dos
“momentos”, os aspectos causais de tipo económico e sócio-territorial e,
seguidamente, realizar-se-á um caso de estudo piloto para confrontar empiricamente
esta proposta de quadro conceptual de análise do desinvestimento. Eventuais lacunas
nesta proposta serão revistas para uma posterior aplicação a diferentes contextos
territoriais de desinvestimento.
Agradecimentos
Este relatório beneficiou dos comentários dos colegas da equipa do projecto
DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais e, em particular,
das sugestões de Vítor Corado Simões. Eventuais erros ou lacunas são, naturalmente,
da responsabilidade do autor.
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