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Workshop sobre o Sistema Plantio Direto no Estado de São Paulo Workshop Campinas, 13 e 14 de dezembro de 2005

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Workshop sobre o

Sistema Plantio Direto no Estado de São Paulo

Workshop

Campinas, 13 e 14 de dezembro de 2005

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Governo do Estado de São Paulo

Governador do EstadoJosé Serra

Secretário de Agricultura e AbastecimentoJoão de Almeida Sampaio Filho

Secretário-AdjuntoAntonio Júlio Junqueira de Queiroz

Coordenador da Agência Paulista de Tecnologia dos AgronegóciosJoão Paulo Feijão Teixeira

Diretor-Geral do Instituto AgronômicoOrlando Melo de Castro

Diretora do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Solos e Recursos AmbientaisSonia Carmela Falci Dechen

Campinas, 27 de junho de 2007

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Prezados Colegas:

Pela segunda vez dirijo-me à classe dos engenheiros agrônomos e convido-os a refletir sobre o mesmo assunto: A Agricultura Conservacionista Baseada no Plantio Direto.

Em abril de 1993, há quase 15 anos, lancei um apelo veemente a todos os meus colegas da pesquisa, da divulgação e do assessoramento rural, dizendo: “Estudem esse assunto sem preconceitos, com in-teresse e com senso de responsabilidade para o problema. Os solos se formaram ao longo de milhares de anos pelo acúmulo superficial de resíduos. Sua estrutura e vida biológica se baseiam na deposição do material orgânico, camada sobre camada, por tempos imemoriais. Não há o que temer em retornar às regras da natureza”.

Em abril de 2001, organizamos a Fundação Agrisus-Agricultura Sustentável com a missão de “Estimular a capacitação e o aperfeiçoamento profissional, bem como incentivar a pesquisa agronômica e a exten-são rural, com a finalidade de gerar, desenvolver e difundir tecnologias destinadas a otimizar a fertilida-de da terra de forma sustentável e favorável ao meio ambiente”.

Por ocasião do Dia do Agrônomo, em outubro de 2006, ao comemorar na ESALQ meus 70 anos de for-matura rememorei de improviso minha longa carreira, destacando fatos notórios por mim testemunha-dos, dentre eles “o advento dos herbicidas que permitiram a instalação do sistema do plantio direto que é a maior garantia até hoje inventada de manter a fertilidade do solo”.

Estamos diante de fato recente, que é mais que uma tecnologia, pois se trata de um novo ambiente agrícola quando adotamos o sistema do “solo imperturbado recoberto de resíduos” sobre 22 milhões de hectares.

Urge aceitar e acreditar nesse novo ambiente agrícola que representa, na realidade, uma involução tec-nológica ao retornar às condições primitivas quando a serapilheira recobria a superfície do solo.

Agora, as operações mecanizadas não destroem mais a rede fasciculada de canalículos deixada tanto pelas raízes em cabeleira como pela variada fauna multiplicada em novo ambiente, mais propício por menores oscilações da temperatura e umidade.

Não mais destruímos por gradagens sucessivas a estrutura granulosa do solo, dissociando grumos e liberando argilas que, ao migrarem para o subsolo, formam camadas adensadas impermeáveis, os incô-modos “pés de grade”.

Grades e arados não misturam mais com a terra os adubos fosfatados, quimicamente imóveis no solo, deslocando-se apenas por efeitos biológicos ou quando arrastados pela água através das galerias dei-xadas pela bio-atividade. Formam-se sítios de alto P, assim alterando a dinâmica da assimilação pelas raízes, bem como atenuando o problema da fixação.

CARTA ABERTA AOS AGRÔNOMOS

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Ao facilitar sua penetração, não se perde mais água por escorrimento, evitando-se a erosão com suas danosas conseqüências. Infiltrando-se, as águas alimentam os lençóis freáticos e, em seqüência, os aqüíferos mais profundos. Aumenta a vazão dos olhos d’água, crescem os estoques subterrâneos e evitam-se os assoreamentos dos mananciais, dos córregos e dos rios.

A manta orgânica em decomposição renova continuamente o húmus e os ácidos húmicos que per-meiam pelos interstícios da porosidade, com seus efeitos benéficos sobre as propriedades físicas e químicas do solo.

As culturas comerciais, desde o estágio de plântulas, não mais são submetidas ao estresse causado pelas altas temperaturas do solo e pelas oscilações extremas da umidade.

Estamos frente a um novo e diverso ambiente agrícola com relação ao solo cultivado, o qual nem sem-pre vem sendo devidamente reconhecido. A tradição do preparo mecanizado da terra, com a percepção visual pictórica da terra lavrada colorida, ainda está gravada em nosso inconsciente.

Cumpre ter a coragem de mudar os conceitos, de renovar o inconsciente, de reformular as apostilas, de ousar eliminar a imagem da aração anual da terra. Estamos em uma nova fase da agricultura tropical, em um país privilegiado onde não há preocupação com o aquecimento rápido de um solo ainda gelado pelo inverno.

Estamos ainda aprendendo essa nova agricultura em ambiente de solo imperturbado recoberto de resí-duos. Há muito que pesquisar ainda para gerar tecnologias adequadas e para conhecer os fenômenos que regulam essas tecnologias.

Vamos definir regras para renovar satisfatoriamente a manta em contínua decomposição. Vamos inves-tigar as condições ótimas para as bactérias e fungos fixadores de N ainda que não simbióticos. Vamos determinar as plantas de cobertura que melhor reestruturam o solo. Vamos pesquisar espécies, como as Brachiarias, que deprimem fungos e nematóides prejudiciais às lavouras. Vamos inventar nova amos-tragem de terra que identifique os sítios de alto P.

Vamos difundir o novo ambiente de produção agrícola. Vamos praticar eficientemente uma agricultura tropical onde faz calor e chove, com estiagem para as colheitas. Vamos, enfim, tornar sustentável o mui-to que já se fez, como indicam os 130 milhões de toneladas de grãos estimados para este ano, ao lado de recordes da cana, dos citros, do café, das carnes, das demais frutas, das hortaliças e das flores.

No dia do 6o aniversário da Agrisus, proclamo estes convites a meus colegas, que tanto têm feito pela nossa agropecuária, congratulando-me com todos.

Grande abraço,

Fernando Penteado CardosoEngenheiro Agrônomo Sênior, ESALQ-USP,1936

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VisãoFazer da Fundação uma entidade reconhecida por promover a melhoria e a conserva-ção da fertilidade da terra e das condições ambientais envolvidas, visando a produção agropecuária econômica e sustentável, de interesse, tanto dos produtores como da so-ciedade consumidora.

MissãoEstimular a capacitação e o aperfeiçoamento profissional, bem como incentivar a pes-quisa agronômica e a extensão rural, com a finalidade de gerar, desenvolver e difundir tecnologias destinadas a otimizar a fertilidade da terra de forma sustentável e favorável ao meio ambiente.

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Ficha Catalográfica

W926 Workshop sobre o Sistema Plantio Direto no Estado de São Paulo (Campinas: 2005) Workshop sobre o sistema plantio direto no Estado de São Paulo. / (org) Sonia Carmela Falci Dechen. Piracicaba: Fundação Agrisus; FEALQ; Campinas: Instituto Agronômico, 2007. 206 p. ISSN: 0102-4477 1. Sistema plantio direto – São Paulo I. Dechen, Sonia Carmela Falci II. Título

CDD. 631.51

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ÍndiceAPRESENTAÇÃO 11

INTRODUÇÃO 15

Orlando Melo de Castro Fernando Penteado Cardoso

MESA REDONDA I 17

Alternativas para a formação de palha

Moderador

Denizart Bolonhezi

Apresentadores

Ivo MelloAntonio Luiz Fancelli

Debatedores

Marcos Palhares Rudimar Molin Ricardo de Castro Merola

MESA REDONDA II 51

Sanidade e plantas daninhas x palha

Moderadora

Elaine Bahia Wutke

Apresentadores

Álvaro Manoel Rodrigues de AlmeidaJamil Constantin

Debatedores

Domênico VituloCiro Antonio RosolemJoão Kluthcouski

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MESA REDONDA III 95

Qualidade química do solo

Moderador

Bernardo van Raij

Apresentadores

Heitor CantarellaCarlos Alexandre Costa Crusciol

Debatedores

Eduardo Fávero CairesJúlio Cezar FranchiniLeandro Zancanaro

MESA REDONDA IV 133

Qualidade física do solo e mecanização para o sistema plantio direto

Moderadora

Isabella Clerici De Maria

Apresentadores

Ricardo Ralisch Afonso Peche Filho

Debatedores

Paulo Sérgio Graziano MagalhãesJosé Eloir DenardinOrlando Pereira de Godoy Neto

MESA REDONDA V 181

Rumos da pesquisa em sistema plantio direto

Moderador

Fernando Penteado Cardoso

Participantes

Denizart BolonheziElaine Bahia WutkeBernardo van RaijIsabella Clerici De Maria

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APRESENTAÇÃO

O Instituto Agronômico (IAC), em parceria com a Fundação Agrisus e a Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq), realizou o primeiro “Workshop sobre Sistema Plantio Direto no Estado de São Paulo” nos dias 13 e 14 dezembro de 2005 em Campinas (SP).

OIACpossuiumgrupodepesquisadores–osSPDiretos,comcoordenaçãodeIsabellaClericiDeMaria–que,pormeiodereuniõesmensaiscompesquisadoresdosPólosdaAPTA,tem procurado definir linhas de atuação de suas pesquisas nessa área.

AFundaçãoAgrisustemcomomissãoestimularacapacitaçãoeoaperfeiçoamentopro-fissional, bem como incentivar a pesquisa agronômica e a extensão rural com a finalidade de gerar, desenvolver e difundir tecnologias destinadas a otimizar a fertilidade da terra de forma sustentável e favorável ao ambiente.

Convergindo os interesses da Agrisus e do IAC foi elaborado este workshop com o objetivo de diagnosticar os obstáculos à plena implantação do sistema plantio direto e definir prioridades de pesquisa no Estado de São Paulo, visando, dessa forma, a consolidar o sistema na agricultura paulista.

A organização do workshop procurou agregar representantes do agronegócio com reco-nhecida experiência no assunto. Por isso foi um evento fechado e restrito a convidados: produ-tores rurais, profissionais da área, professores e pesquisadores.

O evento contou com cinco mesas-redondas com apresentações na forma de palestras e debatesqueabordaramosproblemasenfrentadospelosagricultoresnaimplantaçãoeconsoli-dação do sistema plantio direto no Estado de São Paulo. Após cada abordagem os temas foram debatidos por todos os convidados participantes.

O evento foi gravado, transcrito e esta publicação é o resultado dos debates, que agora está à disposição dos interessados tanto neste formato (impresso) como nos sítios na Web da Fundação Agrisus (www.agrisus.org.br) e do Instituto Agronômico (www.iac.sp.gov.br)

Nas próximas páginas você tem o conteúdo do workshop reproduzido integralmente, se-gundo as mesas redondas do evento. Por problemas com a gravação, algumas palestras foram inseridas como artigos.

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Revisão do texto

Celso V. Pommer, Universidade Estadual do Norte Fluminense/LMGV/CCTA Professor TitularVisitante

Sonia Carmela Falci Dechen – IAC

Comissão Organizadora

CristianoAlbertodeAndrade

Estêvão Vicari Mellis

Fernando César Bachiega Zambrosi

FernandoPenteadoCardoso

IsabellaClericiDeMaria

Ondino Cleante Bataglia

Sandro Roberto Brancalião

Sonia Carmela Falci Dechen (coordenadora).

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Realização

• Instituto Agronômico Avenida Barão de Itapura, 1.481 – CEP 13020-902 – Campinas (SP) Fone/Fax: (19) 3241-5188 Ramal 302 – www.iac.sp.gov.br Diretor-Geral: OrlandoMelodeCastro Diretor do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Solos e Recursos Ambientais: SidneyRosaVieira

Promoção

• Fundação Agrisus – Agricultura Sustentável Rua da Consolação, 3.367 cj. 72 – CEP 01416-001 – São Paulo (SP) Fone: (11) 3064-8776 – Fax (11) 3064.7927 – www.agrisus.org.br Diretor-Presidente: FernandoPenteadoCardoso Diretores: Fernando Penteado Cardoso Filho José Roberto Pinheiro Franco

Antonio Roque Dechen Secretário-Executivo: Ondino Cleante Bataglia

• Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz – Fealq Avenida Centenário, 1.080 – CEP 13416-000 – Piracicaba (SP) Fone (19) 3417-6615 – Fax (19) 3434.7217 – www.fealq.org.br Diretor-Presidente: Antonio Roque Dechen

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INTRODUÇÃO

Orlando Melo de CastroDiretor-Geral do Instituto Agronômico – IAC

A promoção de um workshop é algo extremamente positivo na exposição de resultados e na geração de propostas sobre o tema. Acima de tudo, é uma ótima oportunidade para es-tarmos juntos e podermos nos comunicar dessa forma tão direta. Por mais que a Internet tenha facilitado a comunicação, o contato pessoal é insubstituível. Felizmente, o assunto objeto do evento encontrou o apoio da Fundação Agrisus que nos proporciona esta oportunidade, à qual o IAC, por meio de seu Centro de Solos, se junta com o entusiasmo de seus técnicos. Muito obri-gado pela presença! O momento não poderia ser mais oportuno: o IAC e toda a Apta acabam de receber novos pesquisadores e os dirigentes preocupam-se com mudanças na programação de pesquisas e de ações. É um time que se espalha agora por todo o Estado e é muito bom fazer propostas de trabalho na área de manejo e conservação do solo envolvendo as culturas anuais, a integração lavoura-pecuária, o complexo da produção de cana-de-açúcar, como, por exemplo, tem feito o Denizart Bolonhezi. Dessa forma, tenho a certeza de que podemos fazer com que o imenso canavial que cobre o Estado de São Paulo seja o mais sustentável possível em termos de atividade agrícola, já que a demanda pelos produtos originados a partir da cana, em especial o etanol, é crescente em termos do Brasil e do mundo. Muito obrigado a vocês, tenho a certeza de que serão dois dias muito proveitosos e passo a palavra para o Dr. Cardoso.

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Fernando Penteado Cardoso Diretor-Presidente da Fundação Agrisus

A Fundação Agrisus dedica-se à agricultura sustentável, naquilo que diz respeitoaosolo,apesardeoconceitodesustentabilidadesermuitomaisamplo

do que apenas o solo. Ela nasceu por uma iniciativa de minha família, que vendeu as ações da Manah e destinou parte dos fundos em benefício da agricultura, por esta ter-lhe proporcio-nado todo o sucesso da empresa. Este workshop visa a tentar enxergar o que já sabemos, e o que falta saber, principalmente nas condições paulistas, – um pouco mais difícil do que outras regiões porque as terras cansadas, com um banco de sementes de ervas daninhas, apresentam problemas diferentes de um cerrado, que tem todas as propriedades físicas intocadas e não está praguejado. Em São Paulo, as propriedades físicas estão, até certo ponto, deterioradas e o banco de ervas daninhas tem mais de cem anos de formação e de acúmulo.

Para sustentabilidade, não conhecemos nada melhor do que o sistema plantio direto (SPD): não só nas situações difíceis é um desafio, embora concentrado em São Paulo e em todo País onde existem questões semelhantes. O grande objetivo, portanto, é traçar planos futuros da pesquisa e, para o nosso caso, o financiamento de projetos.

Aproveito a oportunidade para anunciar que um dos nossos projetos mais recentes foi editar a tradução de um folheto publicado nos EUA sobre o IRI (International Research Institute), que em seu tempo no Brasil era financiado pela Fundação Rockefeller (pelos irmãos Rockefeller). Hoje, é uma instituição particular que continua fazendo estudos nos EUA.

Esses americanos estiveram no País de 1954 até a década de 70 e deixaram relevantes serviços que, muitas vezes, passam despercebidos porque nem sempre pesquisamos a história. Esse folheto retrata a trajetória, principalmente, em relação à recuperação da fertilidade dos soloscansadoseesgotadose,paralelamente,arecuperaçãodossolosoriginalmentepobres–osdos cerrados.

Trouxe dois volumes para a biblioteca do IAC que, logo, estarão disponíveis no site. O folheto demonstra que as pesquisas iniciais, na década de 50, faziam-se em colaboração íntima com o IAC e em conexão com a ESALQ. Aproveito a oportunidade, também, para presentear a biblioteca do IAC, por meio de seu Diretor, de um relatório precioso, porque há poucas cópias no Brasil, sobre o estudo do solo na região de Brasília (solos do cerrado), encomendado pelo colega Bernardo Saião, amigo do Presidente Juscelino Kubitschek, que estava interessado em conhecer o potencial daquele solo para produzir alimentos para a futura capital do Brasil. É um estudo feito por um estudante de Cornell, que estava lá a fim de fazer uma tese de doutoramento. Ele foi convidado para efetuar seus estudos no Brasil com a validade de trabalho de pesquisa para o doutoramento. Obtive na biblioteca de Cornell e quero presentear o IAC com um exemplar que reproduzimos aqui no Brasil.

Mantemos muitas esperanças de que este workshop possa fazer uma revisão do que sa-bemos e traçar caminhos para o futuro; não temos assistência de agricultores, não temos ne-nhuma objetividade de extensão rural, queremos conhecer o estado-da-arte. Os pontos ainda indefinidos, as pesquisas importantes para definir essa tecnologia, concentrando a atenção nas situações mais difíceis – os solos cansados, que foram terras boas, de mata alta, férteis para café – que, após 100-120 anos mudaram completamente e apresentam seus problemas típicos. Desejo a todos um trabalho produtivo.

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Mesa Redonda I

Alternativas para a formação de palhaModerador

Denizart Bolonhezi Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Centro-Leste, Ribeirão Preto (SP)

Apresentadores

Ivo MelloPresidente da Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha (FEBRAPDP)

Antonio Luiz FancelliEscola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – ESALQ (USP)

Debatedores

Marcos Palhares Monsanto

Rudimar Molin Fundação ABC

Ricardo de Castro MerolaFazenda Santa Fé

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APRESENTAÇÃO 1: Ivo Mello - Presidente da FEBRAPDP

Como presidente da Federação, acionei algumas de nossas parcerias: Leonardo Coda, de São Paulo, nosso conselheiro, que é da CATI, Rui Vaz, e a Associação de Plantio Irrigado na Palha (APIP), além de informações do companheiro John Landers. Segundo ele, o Estado de São Paulo tem certas coisas de cerrado. De alguma forma, colocaremos algumas provocações no sentido de desenvolver o Sistema Plantio Direto (SPD), de difundi-lo mais em São Paulo, que não teve a mesma evolução, nos últimos anos, da região Sul. Talvez tenha uma concepção muito diferente do que foi ou simplesmente olhar para evitar erosão, fazer conservação de solo, como foi no Rio Grande do Sul, onde a erosão foi sempre muito grande. Na média, na década de 70, um agricultor gaúcho gastava 10 toneladas por hectare de solo para produzir uma tonelada de alimento, e isso foi reduzido com associação do plantio direto, e com outras técnicas conserva-cionistas. Isso já mudou bastante, mas a realidade é que chegamos, na safra de 2004/05, com aproximadamente 22 milhões de hectares no SPD no cultivo de grãos, apesar de tais valores não serem muito exatos, em virtude da dificuldade de obtenção de informações.

A curva de ascensão de SPD foi na safra de 85/86 e, de lá para cá, com a crise dos planos econômicos e endividamento do setor agrícola, de certa forma, o SPD foi a melhor alternativa para o empresário rural no aspecto econômico. A partir da década de 90, a ascensão do SPD coincide com aumento da produtividade, com sua grande participação, aliado às outras tecno-logias. É missão da Federação: promover a rentabilidade sustentável do agricultor brasileiro por meio do SPD na palha. Nossos amigos argentinos e uruguaios não entendiam o porquê de se falar tanto em palha. A missão da CAPAS (Confederação Americana de Associações para uma Agricultura Sustentável), da qual fazemos parte junto com nossas co-irmãs argentinas, paraguaias e canadenses, é fortalecer organizações que promovam a agricultura sustentável – baseada na preservação da palha como componente-chave para a produção de alimento e conservação do solo e do meio ambiente e exatamente porque sem palha não há plantio direto.

Quais são os desafios do Estado de São Paulo para produzir palha?

Sócomoilustração,apresentoesseslidedo companheiro Rolf Rerpsch, em que coloca várias formas de se chamar o plantio direto no mundo.

AFAO,emtodasassuaspublicaçõesso-bre agricultura conservacionista, preconiza que o não revolvimento do solo e a manutenção dos resíduos de colheita sobre a sua superfície é a melhor forma de fazer agricultura conservacio-nista. Para quem não sabe disso, o caderno, que instrumentalizou a discussão em Johanesburgo no encontro global de desenvolvimento sus-tentável em 2002, elaborado pela FAO, trazia exemplos de estratégia de ocupação de solos agrícolas de forma sustentável – há menção da experiência da Epagri (SC), com as pequenas

propriedades familiares, muitas vezes com tração animal.

Também há menção de agricultura em maior escala, citando o Paraná e o Rio Grande do Sul como exemplos vencedores de agricultura sustentável, os quais serviram de modelo de estratégia para essa agricultura.

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A palha é o alimento do solo, é a base de uma cadeia trófica, que daí para a frente desen-volve vários benefícios, porém será sempre assim? Vamos colocar alguns pontos para refletir a respeito do desenvolvimento do SPD no Estado de São Paulo e o desafio de fazer palhada. No Rio Grande do Sul, onde atuamos, em uma área que tem SPD em arroz irrigado desde 1983, foram desenvolvidas estratégias com bastante sucesso. Todavia, nos últimos anos, constatamos que, quanto menos distúrbio de solo (preparo) e quanto mais palha é deixada sobre a superfície, há o favorecimento de uma espécie de nematóide que ataca a raiz do arroz, levando à queda de produção. Nem sempre, portanto, a palha é um bom negócio.

A questão de integração da lavoura com a pecuária: o ruminante é um consumidor de palha, competindo com o SPD, sendo assim o grande desafio: até que ponto a integração é possível, uma vez que, no Sul, a cobertura de inverno é aquela que forma a palhada para a cultura de verão?

Alfonso, presidente da ASPIPP, trouxe-nos essas idéias: culturas que trazem retorno econô-mico num ciclo mais curto, ideal até 100 dias, que possam ser colocadas no inverno. Culturas quedescompactamosolo,comoonabo-forra-geiro, mas está deixando alguns problemas, es-timulandooaparecimentodemofo-branconasculturas que vêm em seguida, e também não é uma cultura econômica.

Para produção exclusiva de palha, há op-ções de plantas para formação da palha até 60 dias, mas a aveia é muito lenta para tal e, com 50 dias, ainda não está pronta. É preciso estu-dar culturas com efeito alelopático em relação adoenças causadaspor fungosde solo comoRizoctonia e Fusarium.

Leonardo Coda e Ruiz Vaz sugerem a va-lidação do manejo de palhada desenvolvida por outros centros de excelência (Embrapa Trigo e UFSM) para validação em São Paulo, lembran-do que a compactação é um grande problema e a questão do terraceamento, além do manejo integrado de pragas.

Paracumprimentoda legislaçãoambien-tal, o código florestal prevê área de preservação permanente e a separação de uma reserva legal. Então, seria interessante que, no planejamento dapropriedade,fossecontempladaaformadeadequar a legislação aqui no Estado de SãoPaulo.

O cultivo da cana-de-açúcar, economica-mente muito importante, vem transformando muitas áreas do Estado de São Paulo em um

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imenso canavial. A cultura, é hoje, como em outras épocas, a bola-da-vez, em vista das crises energéticas que vêm por aí. Os pecuaristas do Sul estão contentes: dizem que São Paulo não terá mais pecuária de corte, virando tudo um canavial, melhorando para eles, porque lá não dá para plantar cana-de-açúcar nos campos.

Alguns comentários em relação ao que o Dr. Fernando (Agrisus) está colocando. Nossa idéia é fazer um levantamento do estado-da-arte, o que temos hoje, e direcionar para onde queremos investigar, onde desenvolveremos tecnologia e onde trabalharemos as melhores es-tratégias de desenvolvimento daqui para a frente.

Trouxe algumas idéias exatamente acerca dessa perspectiva: formação de palhada. Em relação aos desafios para o agronegócio mundial, o agronegócio brasileiro é importantíssimo. Precisamos, portanto, considerar essa conjuntura macroeconômica que nos tem influenciado, pen-sando, por exemplo, se vamos dedicar uma linha de pesquisa para desenvolver uma palhada em relação a qual preço de soja? Vamos dizer assim: há dois anos com a soja no Rio Grande do Sul a 60 reais a saca, favorecida por causa de uma conjuntura de dólar a quatro reais, e a soja alta em Chicago, simplesmente o agricultor jogou fora a rotação de culturas, e os agricultores no Rio Grande do Sul esqueceram o que era rotação de culturas porque, por menos que produzissem a soja, teriam resultado econômico. Hoje, na última safra, todos sabem da seca que assolou a lavoura de soja no RS; os poucos produtores que ainda tiveram resultados econômicos na sua lavoura foram aqueles que não abandonaram a rotação com milho, isso porque exatamente, a es-truturação do solo e todos aqueles conceitos de SPD básicos, que os pesquisadores publicaram e já tiveram várias instruções a respeito foram seguidas. Mas o produtor abandona a rotação, em vista da conjuntura macroeconômica, por isso ela acaba sendo mais importante do que um postulado científico aceito por toda a comunidade do agronegócio em determinadas regiões.

Pelo que sabemos, hoje, o Ministério da Agricultura, Abastecimento e Pecuária está queren-do transformar o Consagro – Conselho Nacional do Agronegócio, e ter uma agência reguladora do agronegócio, como existe a Agência Nacional de Água, a de Energia Elétrica, pensando em constituir uma Agência Nacional do Agronegócio com a idéia de fazer a regulamentação do se-tor. Entendemos que isso é para ter uma política na qual realmente possamos confiar e entender e que tenha cenário de produção, com 5, com 10, com 20 anos, para que possamos programar não só o empresário; o agricultor possa programar sua produção, mas, principalmente, o setor de investigação, de geração de tecnologia possa trabalhar com cenários que serão aplicáveis no futuro.

Aí entra a palavra sustentabilidade. O Dr. Fernando colocou muito bem; a Fundação Agrisus preocupa-se com a sustentabilidade do solo, e sustentabilidade é um conceito muito maior – é um sistema de produção e uma provocação que temos levado em alguns fóruns de discussão.

Se a humanidade resolver fazer sustentabilidade, se realmente todos que são signatários das agendas 21 de acordos mundiais de mudanças climáticas, de desertificação, de biodiversidade, e assim por diante, se resolvermos exercer o que está previsto no conceito de sustentabilidade, simplesmente não precisamos mais produzir a quantidade de alimentos que produzimos hoje, simplesmente trocando a matriz produtiva. Por exemplo, se europeus, japoneses e americanos resolvessem, de um dia para o outro, trocar uma parte da sua dieta alimentar, que é proteína animal, e proteína animal significa farelo de soja, de milho ou de outros grãos transformados em ovos, leite, carne, se trocassem isso de 70 para 30%, o que seria, inclusive, muito mais saudável para eles, consumir menos proteína animal desse tipo e transformar em soja, milho e

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outros grãos em proteína animal, simplesmente a sobra de alimento daria para alimentar uma quantidadeenormedeoutraspessoasquenãotêm acesso a alimentos.

Sabemos que tudo isso é problema de distribuição de alimentos, mas vamos levar em conta que a humanidade tenda a ir para esse lado, a realidade é que não precisamos ter níveis de produção tão altos por hectare como temos preconizado nos últimos anos para desenvol-ver o máximo de eficiência econômica e quase sempre procurando produzir o máximo de to-neladas por hectares e assim por diante. É uma reflexão. Dr. Otto Solbrig, biólogo argentino e catedrático da Universidade de Harvard, disse: “A humanidade é hipócrita e não vai cumprir o que está previsto no postulado de sustentabilidade.” Portanto, partindo desse ponto, será que temos, por meio de nossas instituições, condições de fazer com que o Governo brasileiro e os dos blocos econômicos e mundiais se preocupem, em pelo menos, nos dar caminhos onde que-remos chegar daqui a 5, 10 anos, se não iremos ficar fazendo coisas que, daqui a pouco, no meio do caminho não servem, não têm aplicabilidade no campo. Junto com isso, há toda a celeuma de cumprir a legislação ambiental e de recursos hídricos, o que é um desafio muito forte.

É uma grande preocupação para o empreendedor, sem dúvida, mas, ao mesmo tempo, para o brasileiro que faz plantio direto, que faz com qualidade é uma coisa muito interessante, porque pode transformar isso em marketing, em propaganda do produto, pois na realidade o brasileiro está fazendo 22 milhões de hectares de plantio direto, e o faz com qualidade, podemos agregar valor porque estamos fazendo serviço para a sociedade como um todo.

Um último lembrete: constatamos hoje, na Europa, que os subsídios estão se transfor-mando em ajudas agroambientais: um produtor de qualquer país da comunidade européia que deixar no mínimo 70% da cultura anterior sobre o solo, e dizer que faz plantio direto, tem 80 euros por hectare, simplesmente por fazer isso. No Brasil, o produtor, para ter 80 euros por hectare de lucro precisa fazer uma senhora de uma ginástica.

Temos uma parceria com a Itaipu (certificação da qualidade ambiental da produção de commodities em SPD na palha), apresentamos esse trabalho no Congresso de Rosário na Argentina, o qual é exatamente sobre a qualidade do plantio direto.

O fato é que se tem abandonado a rotação, e não se tem feito muita palha, a palhada não tem tido qualidade, além da falta de opções para fazê-la. A Itaipu, desde 1997, investindo em difusão de tecnologia em SPD, concluiu que o ganho com sua adoção na bacia de contribuição ao reservatório não foi o esperado; na realidade, o pessoal estava plantando soja em cima de soja, sem muita palhada, não tendo, assim, as virtudes do SPD.

Concluindo, gostaria de lembrar uma iniciativa dentro dessas perspectivas: se temos a melhor ferramenta de desenvolvimento sustentável de ocupação de recursos naturais (solos), que é reconhecida pela FAO, temos que fazer propaganda, divulgar e valorizar, isso é uma ação que fizemos com a Fundação Agrisus.

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Estamos considerando marketing do nosso SPD, com ajuda do amigo Bernardo van Raij, um texto preparado sobre SPD e sustentabilidade, onde resgata o que é sustentabilidade e coloca, inclusive, um relatório dos primeiros documentos dizendo o seu significado.

Denizart Bolonhezi - APTA/Ribeirão Preto

A sustentabilidade é um tema que, na verdade, envolve todos os outros, e é extremamente fitotécnico porque, para produzir palha, é preciso entender de muitas coisas, talvez seja o tema mais complexo de todos. Para São Paulo, fica muito complicado, na sua região oeste, conseguir viabilizar. Será que no plantio direto conseguiremos aqui, em São Paulo, aquele visual que te-mos do sul do Brasil? Será que teremos um SPD com visual de acúmulo de palha? Visitei Guaíra e observei áreas em que se fazia SPD há algum tempo, passando grande dificuldades porque, às vezes, o próprio extensionista diz que o produtor não faz plantio direto porque não tem visual. Mas, será que os benefícios estão só no visual? Por isso tem que passar a grade?

APRESENTAÇÃO 2: Antonio Luiz Fancelli – ESALQ/USP

A agricultura brasileira depende de um sistema mais sustentável e em função do que vem por aí em termos de conjuntura econômica, de problemas sociais e econômicos que estão se aventando, o SPD é extremamente importante e precisamos contribuir para sua viabilização da melhor maneira possível.

Já temos, hoje, tecnologia adequada para fazer o SPD. Até pouco tempo eram discutidos problemas de máquina, de cobertura, e assim por diante. É hora de ir além e discutir um pouco mais os problemas emergenciais que estariam relacionados a esse sistema.

Especificamente para o Estado de São Paulo, na minha opinião, os principais entraves do SPD estão relacionados com o seguinte:

a) temos agricultores tradicionalistas que se acostumaram a fazer agricultura de maneira mais ou menos tradicional, sendo extremamente refratários a qualquer tipo de mudança e, principalmente, porque, segundo o censo recente realizado no Estado, a média de idade dos agricultores paulistas é relativamente elevada, o que dificulta qualquer tipo de iniciativa de mu-dança;

b) outra coisa notória é o abandono da extensão rural por parte do Estado; infelizmente, isso interfere negativamente em algo extremamente importante. Além disso, há um despreparo dos agentes de transformação, principalmente depois da adoção do sistema de municipalização. Acredito que estejamos usando ação e métodos ultrapassados de difusão de tecnologia.

Ainda continuamos com modelos equivocados de SPD, inclusive forço aí um adendo de que ficamos muito usando o espelho “Paraná”, que não tem muito a ver com a nossa realidade. Assim, temos que tomar cuidado ao trazer modelos preestabelecidos para as nossas condições. Temos condição suficiente para definirmos sistemas de produção para nossa situação.

Também existe, hoje, uma tendência de agricultura, com padronização de tecnologia. São os famosos pacotes tecnológicos, que realmente vão totalmente contra os princípios agronômicos em termos de coisa fechada. São as famosas receitas de bolo que não contemplam as nuanças do sistema de produção das diferentes condições edafoclimáticas do Estado de São Paulo.

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A realização de pesquisa desconectada da realidade atual, a ausência de fórum específico de discussão de problemas emergenciais, pelo menos até hoje. Agora e aqui, podemos dizer que temos um fórum específico extremamente importante.

São esses tópicos que, acredito, sejam de extrema importância.

Gostaria de deixar claro que o SPD depende da reposição de resíduos, de palhada, então precisamos tomar um pouco de cuidado quando fazemos um sistema de rotação de culturas só extrativas, trabalhando apenas com seus resíduos, o que muitas vezes não é suficiente.

Se fizermos o balanço de energia e de nutrientes em uma lavoura de soja e feijão altamente produtivas, a contribuição desses resíduos realmente deixa a desejar. Portanto, de tempos em tempos, precisaríamos fazer uma cultura só para a necessidade de reposição de palha e fazer aí “o descanso do sistema”.

As épocas de produção para resíduos vegetais para São Paulo, no outono/inverno, que seria o mais comum, seria a implantação de uma cultura em pós-colheita de culturas comerciais. Muitas vezes, em função do início das chuvas, isso pode ser prejudicado porque a colheita ocor-re em abril, e aí podemos ter dificuldade com a implantação de algumas espécies.

Também existiria outra possibilidade, que seria na primavera - imediatamente antes da implantação de culturas comerciais, no início das águas. Poderíamos utilizar espécies altamente agressivas, de desenvolvimento rápido, por exemplo, o milheto, que, em 30-40 dias de desen-volvimento, já teria, em função de manejo da quantidade de semente utilizada, uma quantidade de palha suficiente para justificar sua adoção.

Também poderíamos trabalhar em termos de verão com espécies exclusivas para a recu-peração de área; numa área que esteja extremamente degradada poder-se-ia utilizar, na época de verão (outubro) para fazer uma cobertura e, posteriormente, entrar com milho safrinha, ou feijão já a partir de janeiro, então teria um período para fazer a palha, pelo menos para iniciar o processo de sustentabilidade do sistema.

Há também a possibilidade de usar o verão para fazer consórcio de determinadas espécies com culturas comerciais, como o sistema Santa Fé já consagrado por João Kluthclouski, pelo Merola, que seria uma alternativa para trabalhar nessa situação.

Existem outros sistemas com relação a guandu-anão com milho, feijão-de-porco com mi-lho, inclusive possibilitando colheita mecânica, sem problema nenhum.

Muito bem, as espécies consagradas para essa finalidade, citando-as rapidamente, e recordando seus problemas: a aveia preta seria uma alternativa, é uma espécie que se desenvolve bem em regiões mais baixas. Seu problema é que pode favorecer bastante a podridão de colmos de milho, então essa não seria uma espécie indicada para plantio de milho de maneira sistemática.

O trabalho do Professor Melo Reis mostra que aumentam extremamente as podridões radiculares quando se planta milho ou outro tipo de gramínea em cima de aveia. Seu uso contínuo também pode favorecer o aumento da lagarta-rosca, um problema bastante sério em vários sistemas.

Então, pode-se mencionar o caso da aveia plantada a lanço na fazenda Colorado (SP), que utiliza bastante esse sistema: aveia vem depois de roçada; sua primeira utilização será para a produção de feno e a rebrota será utilizada como palha em SPD.

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Outra alternativa seria a aveia-branca, que produz muito mais massa do que a aveia-preta, mas temos problemas com ela aqui em São Paulo em função de variedades. Hoje, o IAC já tem variedades bastante interessantes, possibilitando a produção de grãos, ou somente para fazer massa em determinadas situações. O problema do aumento da infestação de lagarta-rosca em função de emprego de aveia pode ser minimizado consorciando com Níger. Em lavouras de aveia-preta, o problema praticamente foi debelado: fazendo Níger (10 a 12%) em cima da aveia, o problema foi praticamente resolvido.

Outra opção seria centeio, para as regiões mais frias, região sul paulista. Em uma área da fazenda Cerrado de Cima, localizada em Itapeva, o centeio é muito melhor do que a aveia em termos de construção de perfil de solo, de melhoria de vida de solo em relação ao bombeamento de nutrientes e quantidade de raízes produzidas.

O problema é que ele exige temperaturas mais baixas, porém tem efeito alelopático para uma série de culturas, principalmente trigo, e tem uma ressemeadura, uma capacidade de re-brota bastante acentuada em regiões frias; o que pode ser um problema, além de ter um manejo relativamente difícil, haja visto os problemas no Rio Grande do Sul em relação a manejo.

Em São Paulo, o problema não é tão grave; também na fazenda Cerrado de Cima, a primeira rodada do centeio é para fazer feno para gado de leite, esse feno é então roçado, sendo deixado numa forma de pré-secagem, depois recolhido e transformado em alimentos.

Esse centeio apresenta uma capacidade de rebrota extremamente grande, depois funcio-nando como cobertura morta para a soja mas, evidentemente, estamos tirando massa. Então, temos que trabalhar depois com balanço de nutrientes no sistema porque as culturas seguintes podem ser comprometidas.

Outra espécie que está sendo muito utilizada no Estado de São Paulo é o nabo-forrageiro, pela sua capacidade de descompactar o solo, sobretudo a variedade Iapar PJ 4, que é um nabo-forrageiro pivotante, cujo sistema radicular é extremamente avantajado.

O problema do nabo-forrageiro é que tem uma relação C/N relativamente baixa; então, se for mal planejado dentro do sistema de produção e se for destruído muito tempo antes do plantio da cultura seguinte, pode-se perder em função dessa relação C/N bastante baixa. É um reciclador espetacular de nitrogênio, pois há trabalhos da Embrapa mostrando que muitas vezes pode ter mais nitrogênio do que as leguminosas em função da capacidade que tem de concentrar nitrato. Mas seu problema é o seguinte: pode favorecer tremendamente o aumento de percevejos, sobretudo o barriga-verde, que hoje é um dos principais problemas para milho em todo o Brasil, principalmente em São Paulo, onde muita gente não sabe que está tendo problema com essa praga, uma espécie secundária para soja, que se transformou em praga primária no milho.

O nabo-forrageiro também é um hospedeiro extremamente favorável ao nematóide do gênero Meloydogine. O principal problema, porém, é que ele é o principal hospedeiro de mofo-branco. Sempre nos lembramos de mofo-branco em feijão, mas esse ano (2004/2005) tivemos problema bastante sério com a soja. Na região de Jataí/Rio Verde, perderam-se aproximada-mente, seis mil hectares de soja por causa do mofo-branco. O girassol também é um hospedeiro espetacular de mofo-branco e o multiplica tremendamente.

Outra espécie com que tenho trabalhado mais, pela sua rusticidade e multiplicidade de uso, é o Dolichos lablabe, uma espécie antiga, mas extremamente interessante, cujas desvantagens são: é suscetível à vaquinha e é hospedeira de nematóide de galha. Mas era uma planta bas-

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tante utilizada em citros e deixou de ser utilizada por essa informação de que permitia aumento grande na população de nematóide. Tudo bem, pode multiplicar nematóide porque é excelente hospedeira, mas se não há nematóide na área, não há o porquê de não utilizá-la.

Na fazenda Colorado, utilizamos o labe-labe e trabalhamos com um sistema chamado de perenização de cobertura verde, para plantar uma vez só. É o terceiro ano em que a utilizamos e plantamos uma vez só.

Outra espécie interessante seria o milheto, de grande capacidade de produção de massa, mas rebrota extremamente fácil, então precisa da utilização de herbicida, não dá para manejar com roçadeira ou coisa desse tipo. Ele responde ao fotoperíodo e, assim, conforme a época do ano e região, é preciso utilizar material menos sensível, do contrário o potencial de produção cai significativamente, podendo também aumentar a ocorrência de lagartas de solo.

Outro problema sério para o milheto é sua baixa persistência de resíduo, desaparecendo com muita facilidade, exigindo algo com relação C/N pouco melhor. Hoje, temos cultivares de milheto no Brasil que já produzem até três mil quilogramas de grãos por hectare, e estão sendo estudados para alimentação animal.

Guandu é uma espécie bastante interessante; tem-se que tomar cuidado porque, em regi-ões em que deixamos o guandu por si só, é preciso fazer destoca, porque acaba engrossando o colmo.

Fizemos um sistema interessante nos tempos de projeto Rondon, quando fui coordena-dor, em 1982-86. Depois o Presidente Sarney acabou com o projeto. Fazíamos a utilização do guandu para reduzir o problema de agricultura itinerante no Pará, em Marabá, porque o agricultor usava três anos um lugar, esgotava o solo e, depois de certo tempo, a sua casa estava a uns 10 km de onde fazia agricultura.

Desenvolvemos um sistema para trabalhar com guandu e recompor a fertilidade do solo, porque tem uma capacidade muito grande de reciclagem de nutrientes e de renovação de folhas e, a partir de três anos, voltava-se ao mesmo lugar, com a mesma produtividade que, muitas vezes, o agricultor iria encontrar em locais bastante distantes. O problema é que ele tem um de-senvolvimento inicial muito lento para as nossas condições e permite o aumento da população de nematóide em algodão.

Crotalaria juncea: uma alternativa interessante. A dificuldade dela é que não suporta ge-ada e chuva de vento, tem um caule semilenhoso dificultando o manejo, arrebenta roçadeira porque é uma fibrosa, fazendo com que saia aquela fita que enrola nos mancais da roçadeira. Ela tem uma resposta marcante ao fotoperíodo, mas um dos problemas mais sérios seria o custo da semente. Hoje, é cada vez mais caro e difícil fazer semente de crotalária, porque ela depende da mamangava para polinização, e hoje estamos tendo dificuldade para termos matas fechadas onde se procria a mamangava. A Companhia Piraí, que fazia sementes de crotalária, em Piracicaba, só consegue fazê-las para frente de Andradina, o que deixa cada vez mais cara a semente.

ACrotalaria breviflora é possibilidade bastante atrativa: tem uma dificuldade para produzir sementes, mas tem um período de florescimento bastante longo e floresce cedo, como o próprio nome está dizendo. Essa espécie está sendo muito utilizada para cobertura em citros, fazendo um manejo com uma entrelinha com mato, outra com breviflora e a outra com guandu, permi-tindo que se tenha flor na lavoura por muito tempo, favorecendo o desenvolvimento dos estágios iniciais de inimigos naturais, que depois vão controlar ácaro, pulgão etc.

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Outra coisa importante seria a braquiária, uma espécie espetacular, com grande capaci-dade de reciclagem. Recorde-se o caso do sistema Santa Fé depois da colheita do milho, com o que sobrou de braquiária, que se destaca como uma cobertura espetacular para o plantio do feijão. Esta aí uma contribuição muito grande do João Kluthclouski, do Merola nesse sistema. Os trabalhos do João Kluthclouski, do Merola etc., mostraram que essa consorciação no sistema Santa Fé pode reduzir bastante a população de nematóides, é supressora de fusarium e rizocto-nia, e tem uma produção de fitomassa com relação C/N excelente para SPD, enriquecimento da rizosfera através da agregação de solo e assim por diante.

Trabalho recente do nosso orientado de mestrado, Guy Tsumanuma, mostrou que até pouco tempo se falava em plantar braquiária e depois entrar com nitrosulfuron para tentar se-gurar a braquiária. Hoje, sabemos que não é preciso nenhum tipo de manejo especial: pode-se plantar milho e braquiára concomitantemente, e sem efeito em termos de competição.

Trabalhamos com várias espécies e nenhuma delas apresentou efeito de competição. Uma coisa espetacular que tivemos foi um efeito de “bombeamento”, principalmente com a braquiá-ria decumbens: a quantidade de raiz de feijão em cima de uma área que foi braquiária, e aquela de raiz de feijão em uma área que foi milho é bem diferente.

Em trabalho nosso, em Piracicaba, com braquiária – ficou grande massa de braquiária e pudemos avaliar o que isso estaria trazendo de benefício para o solo e coisas mais. Também na fazenda Colorado fazemos o sistema de manejo na braquiária em cima do milho, há quatro anos, com produtividades sempre crescente.

Devemos começar a pensar em trabalhar com consorciação de espécies. Saiu de moda trabalhar com uma espécie só, porque queremos qualidade e quantidade de massa.

Então, podemos utilizar o lablabe com aveia, com semeadura a lanço. Quando a palhada não for muito densa, atrás do trator que está fazendo a semeadura, pode-se arrastar uma série de correntes para remexer a palha, fazendo a semente entrar em contato com o solo e germinar, sem problema nenhum.

É contra-indicado passar a grade, porque aí se acaba com o SPD nos primeiros 3 cm de solo, que são extremamente importantes e onde as coisas estão acontecendo, que é o “manjar dos deuses”. Nessa camada de cima que é gostoso para os microrganismos - não vamos atrapa-lhar a ação de jeito nenhum.

Lablabe com aveia, o mesmo sistema um pouco mais avançadoe milheto, tudo em plantio a lanço, mas, se necessário usar corrente. De outra parte, lablabe com milheto se desenvolvem bem e, depois, o lablabe, utilizando o milheto como tutor conseguindo-se produzir um pouco mais.

Um problema é a vaquinha. Se formos plantar milho em seguida, precisamos tomar muito cuidado com a larva-alfinete, já que temos uma população grande para fazer oviposição nas plantas de milho que vêm em seguida.

Soja e milheto. Mas, como soja? Soja-grão, soja que passou lá na pré-limpeza e sobrou um monte de grão. Então, se quisermos ser rigorosos é só fazer análise patológica para verificar se não serão jogados contaminantes na área.

Não existindo condição muito complicada em termos de patógenos, usamos isso no cam-po, logicamente quando não formos plantar soja em seguida.

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Também soja, milheto e nabo-forrageiro, tudo junto seria muito mais adequado, e aí tam-bém pode fazer lablabe e aveia. Temos exemplo na fazenda Colorado, lablabe plantado em linha, primeiro a aveia e depois o lablabe.

Espécies e iniciativas que acredito tenham sido frustradas e podemos deixar de lado: pé-de-galinha; já temos coisas muito melhores, a estabilidade é ruim e a quantidade de raiz produ-zida não é lá grande coisa, pensando em braquiária, pensando em outras coisas, semente difícil de produzir, semente cara e tal, virou mais um comércio do que qualquer outra coisa. Pode-se ver o pé-de-galinha em condição de área preservada, parcela de dia de campo e coisa desse tipo, mas no campo nunca vi coisa bastante interessante. Ervilhaca, também, acredito que não há muita razão de ser, tem coisas melhores para nossas condições. Resolveram trazer a moa, setária, amarantus. Precisamos tomar cuidado, isso pode criar um híbrido interessante com o caruru-nativo e depois fica difícil para controlar o “monstrinho” que criamos.

Necessidades de estudo

Temos que pensar em consorciação. É possível fazer massa em curto espaço de tempo e massa de qualidade. Em termos de necessidade de estudo, pensar um pouco mais em alelopa-tia; perenização de sistemas para plantar uma vez só; estudar um pouco mais microbiologia do solo, porque, infelizmente, sabemos muito pouco do que estaria ocorrendo.

Talvez seja muito mais importante a quantidade de massa que está sendo incorporada ao sistema abaixo do solo, do que em cima, assim, a quantidade de raiz e o seu funcionamento.

A espécie que tem aumentado bastante tanto em termos de utilização na entressafra, como também para a produção de palha, é o sorgo, com uma capacidade de rebrota espetacular. Porém, seu efeito alelopático é bastante sério.

Então, numa dada lavoura de soja, o que seria aquele aspecto? Que herbicida foi passado? Verificamos que não foi herbicida nenhum, é efeito alelopático de sorgo, que tem uma capacida-de muito grande de emitir compostos fenólicos via raiz.

O problema principal é quando fazemos o tal de aplique e plante. Não tem nada a ver com o herbicida em si, é que colocamos o produto em cima do sorgo, que, para se defender, aumenta a síntese de compostos fenólicos e, evidentemente, que leguminosas são extremamente sensíveis a esse produto, e demora para a soja se recuperar, e coisas parecidas encontramos em feijão.

Está aqui uma área com palhada de sorgo e outra em que a palhada de sorgo foi retirada. No sistema aplique e plante sobre a palhada de sorgo dá para ver bem a diferença no feijão plantado. Precisamos pensar mais a respeito desses efeitos alelopáticos.

Marcos Palhares – Monsanto

O sorgo tem baixa exigência nutricional e é bastante tolerante ao déficit hídrico em relação ao milheto. Na figura a seguir, vemos o milheto bastante sofrido com estresse de 50 dias sem chuva, e a Braquiaria ruziziensis ainda mantendo bastante cobertura verde - a capacidade de rebrota é muito interessante.

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Osorgo,quemencionei,eacoberturapro-porcionada por ele, é uma opção boa também em relação ao milheto. Mostrou-se superior, possui alta relação C/N, oferecendo a principal vantagem em relação ao milheto, cuja biodegra-dação é muito acelerada.

Esse sorgo da figura anterior foi semeado em abril após colheita da soja; em setembro, mês sem chuva, já estava nesse porte, foi pas-sado o correntão para que se promovesse a sua rebrota.

O milheto, na figura seguinte, à esquerda, mostrando baixa cobertura e produção de se-mentes, baixo rebrote após o início das chuvas, germinação das panículas na cultura da soja. E à direita, esse sorgo, como oferece muito mais massa, 8 a 12 toneladas por hectare.

Qual é o melhor método agora de plantar as coberturas? Como fazê-las?

O correntão foi uma das opções. A figura anteriormostraocorrentãoeumdestorcedor,colocado no rabicho do trator para que a cor-rente, à medida que vai sendo a arrastada, não ofereça nenhum impedimento mecânico e, as-sim, possa quebrar o sistema.

Na próxima figura, podemos observar melhor como o correntão trabalha: imaginem esses tratores trabalhando a 70% de compri-mento total do correntão. Ele vem vindo, o solo está dessecado, não há presença de plantas da-ninhas, não há revolvimento do solo, mas uma simples incorporação da semente da braquiária que foi feita a lanço.

Isso é um trabalho bastante eficiente ob-servado em relação à semeadura a lanço da braquiária. É claro que há um questionamento: São Paulo comporta um trabalho desse tama-nho?

Na figura anterior, vejam que há um des-torcedor na parte intermediária da corrente, se-não vai danificar o sistema em áreas ainda no-vas; é preciso que haja certa cobertura vegetal para que se faça o manejo da dessecação e se promova boa germinação da semente. Se o solo

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não tiver mínima cobertura de matéria orgâni-ca, a germinação da semente é falha, porque há áreas que não estarão bem protegidas.

Na figura seguinte, uma área ao lado, com incorporação da mesma braquiária com grade e, do outro, com correntão. Fica aí uma sugestãopara sepensarempropriedadesquepossam comportar esse sistema.

A seguir, o milheto, incorporado com correntão, e ao lado uma área com braquiária ruziziensis.

Outro sistema, mostrado na figura a se-guir, é a grade, que já está na propriedade, e não precisa ir atrás de um correntão. Todavia seus pontos negativos são vários: desagrega a estrutura do solo, com formação de camadascompactadas.

A figura a seguir nos dá um testemunho fortedequequantomenospuderlançarmãodagrade, melhor, porque ela expõe o solo, perde umidade, uma série de desvantagens em rela-ção aos pontos positivos, porque aqui ela vai controlar as plantas daninhas pequenas, vai terumagerminaçãodasplantasdecobertura,mas, enfim, pensando em conservação do solo, o correntão mostrou mais vantagens.

Mesmo usando a grade para fazer essa co-bertura, observa-se que a erosão laminar pode acontecer. Outro sistema de plantio de cobertu-ra com semeadura em linha, conforme mostra a figura seguinte: a braquiária, como fica semeada em linha, existe eficiência mais alta da germina-ção, e aproveita melhor fertilizantes, água etc.

Qual a necessidade de antecipação das coberturas em relação ao plantio da soja? Deve existir, logicamente, essa preocupação, e se evitar ao máximo o sistema aplique e plante. Nesse sentido, mostro também essa seqüência de slides para se ter uma idéia do que não se deve ou do que se deve fazer, pelo menos com resultados.

Isso aqui é a massa proporcionada pela braquiária semeada a lanço, com 600 PC, efetu-ando-se a semeadura logo após a dessecação.

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Isso também se conhece muito bem; o ambiente para deposição da semente não é fa-vorável, podendo ter algum efeito alelopático da braquiária sobre a soja que está nascendo. Uma série de coisas, hospedeiro de pragas, e doen-ças que podem estar acontecendo, mas enfim, é como fica uma área. Vejam a capacidade de produção de massa dessa braquiária, e com a dessecação feita 14 dias antes do plantio, é uma situação muito mais favorável, não existe receita de bolo, se houver necessidade de dessecar com 21 ou 28 dias, tudo bem. Essa foi a braquiária.

Observem na mesma figura, por exemplo, o sorgo de cobertura. Olhem a massa que ele proporciona no plante e aplique, uma quantidade muito grande, e as mesmas conseqüências existirão por fazer a semeadura muito próxima da dessecação. Eis o sorgo dessecado 14 dias antes do plantio - uma situação muito mais favorável, mas sem uma cobertura tão boa quanto a proporcionada pela ruziziensis.

Aqui estão os resíduos deixados pelo milheto. Observamos que existem grandes porções do solo descobertas, quer dizer, a emergência de plantas daninhas vai ser maior. Isso é uma área que fica em pousio, sem estabelecimento de nenhuma cultura de cobertura.

Assim a trapoeraba, o capim-amargoso,todas as plantas daninhas fecham seu ciclo de florescimento, introduzindo sementes no siste-ma, proporcionando maior dificuldade na des-secação.

O sistema prevê o benefício de instalar uma única espécie agressiva, com baixa exigên-cia nutricional e hídrica, que vai suprimir outras plantas daninhas. Isso é o manejo do banco de sementes que vai proporcionar uma palhada muito interessante para o sistema.

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O gráfico a seguir comprova a ruziziensis, a população final encontrada com a dessecação feita 21 dias antes da semeadura e como cai a população, por exemplo, quando se faz o plante e aplique. A gente perde, aqui, aproximadamente 100.000 plantas por hectare, variando em função de espécies.

No caso, são questões levantadas por produtores; como: Em São Paulo vai acontecer a mesma coisa? Ela pode ser utilizada em semeadura da soja? Qual a melhor época? Quantidade de semente?

Vários trabalhos que liderei em Mato Grosso comprovaram que o melhor momento para fazer a sobressemeadura é quando a soja está no R5 – quando se inicia aquele amarelecimento, mais ou menos nessa época, quando se faz a sobressemeadura, as sementes caem sobre o solo, favorecendo a germinação. Vejam na figura a seguir a situação que fica da cobertura proporcio-nada quando se faz a semeadura em R5 (ao centro).

À esquerda, quando se antecipou muito essa sobressemeadura ou, à direita, quando se demorou demais, observamos que não há o fechamento bom da área. A quantidade de semente – observem uma variação de 200 pontos de valor cultural para 400, 600 sendo a relação custo-benefício mais interessante.

Na figura seguinte, eis mais uma idéia de como fica a sobressemeadura em R5, em R7; a palhada proporcionada pela ruziziensis é bastante interessante; observem o fechamento do solo quando se obtém uma boa cobertura, e a baixa incidência de um fluxo novo de plantas daninhas quando se trabalha com ruziziensis.

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Ela pode ser trabalhada com milho? Sim pode. Pode ser consorciada? Sim, foi comprova-do pelo sistema Santa Fé.

Isto é mais uma foto, ilustrando como acontece. O ideal é fazer a semeadura da braquiária em linha, como constatado nesse trabalho da figura seguinte.

E aqui, só mais algumas idéias: fotos mostrando a quantidade de semente gasta. Aqui, a semeadura a lanço da braquiária em área de colheita de milho, e como fica uma área após essa colheita – vinte dias após a colheita do milho, vejam como ela fecha bem a área.

E, para a safrinha, também é muito interessante, logo após a colheita da safrinha, semear a braquiária, em setembro ou agosto, dá tempo até novembro de conseguir fazer o plantio sobre

uma palhada bastante interessante. Um traba-lho semelhante foi desenvolvido na fazenda de Leonardo Coda, onde constatamos que a janela de tempo entre a colheita da safrinha no vale do Paranapanema até o plantio da soja, é tempo suficiente para estabelecer uma boa massa e fazer o manejo de cobertura.

Todos esses trabalhos foram efetuados por uma equipe de nove pesquisadores, tudo está bem consolidado, com trabalhos estatísticos que serão publicados. Alguma coisa disso trazendo

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para São Paulo não é difícil fazer palhada, se não for por rotação de cultura, podemos introduzi-la no sistema.

Rudimar Molin – Fundação ABC

A Fundação ABC há alguns poucos anos está atuando mais intensamente na região sul do Estado de São Paulo – Itararé, Itaporanga e Itapeva, por influência das cooperativas.

A Castrolândia está trabalhando em Itaberá, e já havia uma atuação da Capau, de Arapoti, há mais tempo no município de Itararé.

Inicialmente, farei um relato do que se faz lá: basicamente, são cultivos de grãos – milho, soja e feijão; no inverno trabalha-se com trigo e triticale, que são as principais culturas econômicas, e aveia-preta, o modelo que se tem hoje. Temos, porém, algumas preocupações concernentes a esse modelo, como a erosão do solo, que ainda existe no plantio direto, relativos à mecanização, terraceamento, outras práticas complementares, então esse sistema até que resolve o problema de erosão com essas práticas complementares.

No entanto, o que chama a atenção é que há trabalhos de fertilidade, comparados com Arapoti, que tem um clima um pouco mais semelhante, onde se está estabelecendo a dose de máxima eficiência econômica para a cultura do milho: percebe-se que, essa região paulista necessita muito mais nitrogênio para produzir a mesma quantidade – o produtor precisa aplicar mais nitrogênio.

Isso nos leva a pensar que devemos caminhar um pouco mais para o estoque de carbono no solo, aumentar mais essa matéria orgânica. É um clima, em relação ao do Paraná, mais seco, maisquente,então,temosessapreocupaçãodeaumentarumpoucomaiscarbonopormeioda palhada. Temos um inverno bem mais seco, e a limitação é a falta de água. Mais ao sul é a questão de frio, a geada que limita, então imaginamos que o ideal é trabalhar com culturas com uma relação C/N alta para conseguir um estoque maior de carbono e aumentar a matéria orgânica e todos os outros atributos.

Uma das possibilidades do sistema atual seria aumentar um pouquinho mais a questão do milho, que tem uma limitação maior, é uma questão de noites mais quentes em relação às outras regiões em que atuamos. Teria essa possibilidade de participação como uma cultura econômica, e aumentar um pouco mais a palhada. Com relação a trigo e triticale, dentro das limitações da cultura, ela está bem estabelecida.

A questão, porém, é a aveia que, no inverno, tem aquela limitação de produzir menos massa em clima um pouco mais frio, aliás, mais quente e seco; então no inverno, também, buscaríamos algo tipo sorgo e milheto para substituir principalmente a aveia nesse modelo, somando um pouquinho mais a essa massa. Foi levantado pelo Professor Fancelli a questão da alelopatia, em relação ao sorgo e à cultura da soja. Talvez em intervalos de plantio isso possa ser solucionado, não sei a que ponto chega esse tipo de informação.

Com relação aos consórcios, a preocupação maior é o custo da cobertura em si e não a questão técnica. O produtor tem um pouco mais de dificuldade para adotar esse sistema e, dentro desse consórcio, talvez o que nos preocupou um pouquinho foi a colocação do Fancelli quando trabalhou a questão de soja consorciada. A questão de ferrugem, então não sei até que ponto a participação da soja nesse sistema seria viável com esse evento da ferrugem que está estabelecido. Talvez seja o entrave que gostaria de colocar aqui.

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Outra coisa que devemos considerar quando vamos trabalhar e propor um sistema para o agricultor é o seguinte: se não adotar, não adianta, isso não vai para a frente de jeito nenhum. Então, temos a questão econômica. Hoje, no Paraná, há um trabalho que acompanhamos desde 1988: são sete sistemas que chamamos subsistemas de plantio direto, são 7 modelos de propriedades: que faz soja-trigo, soja-trigo....até o sistema que integre a lavoura e a pecuária, onde fazemos um acompanhamento econômico, fluxo de caixa para fazer essa avaliação.

Como pesquisadores, também teríamos que ter a preocupação com a questão econômica quando desenvolvemos um modelo, porque nenhum produtor faz uma cobertura ou plantio di-reto simplesmente por amor à camisa ou para desembolsar dinheiro. Hoje, uma cobertura verde de aveia está em torno de 190 reais por hectare, que desembolsam em nossas condições.

As limitações são estas: tirando essa região de São Paulo e pegando o Paraná, as três cooperativas, temos em torno de 60% de área ociosa no inverno e, onde não se consegue fazer cultura econômica, aí vêm as coberturas – aveia, principalmente, hoje é feita, e é tudo desembolso. E se fosse possível, se tivesse uma solução, procuraríamos fazer 100% de uma cultura econômica em cima disso, e não simplesmente a cobertura verde; sei que há uma grande limitação em cima disso, mas, sempre que possível, deve-se buscar e desenvolver alguma coisa que pague esse custo.

Essa é a grande mensagem, uma dificuldade, inclusive, que temos para desenvolver: por um lado, a limitação da geada, mas se passamos para cá temos a questão do inverno seco, e todas essas limitações de qual é a cultura econômica? Qual é a cultura que se vai pagar? O trigo hoje se planta; ele forma palha e tem um equilíbrio econômico, é lógico, um ano que nem esse, economicamente, está pior do que uma cobertura econômica, mas ao longo dos tempos, ele consegue arcar um pouco com esse custo da conservação de solo.

Basicamente, essa é a minha mensagem, também estamos buscando esse tipo de solução.

Ricardo de Castro Merola – Fazenda Santa Fé

Sou agricultor em Goiás e a vida toda procurei resolver os problemas na fazenda com bastante apoio na pesquisa. Desde 1980 tenho uma área em parceria com a Embrapa, onde desenvolvemos diversas atividades que possam resolver o problema da Fazenda Santa Fé.

As dificuldades começaram com a tiririca, em 1980, que foi invadindo toda a fazenda. Entrei no plantio direto para resolver o problema, já que não havia outros; havia fertilidade alta e um sistema de conservação muito bem feito com terraço de base larga em gradiente com canais de drenagem gramados.

No Paraná, aprendi a técnica do plantio direto, mas, para implementá-la em toda a fazen-da, gastei seis anos, porque a dificuldade era a palhada.

A primeira palhada que descobri por acaso foi sorgo, e como produzia sementes, estava sempre presente no sistema de rotação, percebi que ele tinha alta persistência, rebrota vigorosa e não dava efeitos negativos na cultura posterior. Mesmo porque, naquela época, não se usava muito o aplique e plante, porque o Roundup custava 16 dólares o litro, não permitindo que se errasse e não havia herbicida pós-emergente como hoje; só tínhamos 2,4-D, Gramoxone e Atrazina.

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Trabalhei com sucessão de culturas e usei como palhada o sorgo. Na figura a seguir, al-gumas alternativas que considero boas para o Estado de São Paulo. O sistema Santa Fé no verão pode ser utilizado no plantio consorciado com milho, o resultado é excelente. E pode ser usado de diversas formas: eis uma área de sila-gem da Fazenda Santa Fé, onde usamos braqui-ária brizanta com 400 pontos de valor cultural.

Vejam a exuberância da braquiária num período curto, porque a silagem se corta com 100 a 110 dias após o plantio. É uma máquina cortando, e a palhada de braquiária. A foto a seguir mostra, de perto, depois de cortada abraquiária. A Fazenda Santa Fé usava muito a braquiária para fazer silagem. Não usa mais.

Depoisdemuitosanos,percebemosqueabraquiária tem um problema: quando é utilizada para silagem, exporta muito potássio, cuja repo-sição fica caríssima. No fim, gastava-se muito, porque a silagem tinha uma porcentagem de matéria seca baixa, 18-20%, e exportava muito potássio; no resto, era espetacular, pois é uma cultura perene; ficava aí, dava mais dois ou três cortes, e essa braquiária produzia 40 t de ma-téria original, sem riscos de vento e de pragas que o milho tem, quer dizer, sem uma séria de pragas que o milho tem, sem uma série de pro-blemas, como veranico.

Essa é uma palhada de braquiária usada em feijão irrigado, e como a fazenda Santa Fé tem 70% da área irrigada, costumamos fazer para ter até três cultivos por ano. O desafio para a produção de palhada é muito intenso.

Nesse caso, efetuou-se o sistema Santa Fé com milho: deixando a braquiária desenvolver, fez-se um corte para a silagem. A cobertura tem que dar lucro para o produtor também. Não se pode fazer cobertura bonita de cinema, que não dê retorno financeiro: é preciso que ela contri-bua para a renda do produtor.

Nesse caso, da braquiária foi feita uma silagem e depois rebrotou e plantou-se o feijão em maio; esse feijão só usou um inseticida, um acaricida, e nenhum fungicida. Será que a bra-quiária ocasionou isso? Com certeza foi, porque

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em outras áreas sem essa palhada tivemos que usar mais herbicida, mais inseticida e usar fungicida na mesma época, na mesma fazenda.

Olhem que palhada: é de braquiária; cos-tuma passar duas, três culturas para a frente, então se houver algum problema, pode-se plan-tá-la que ela fica perene.

Pensando em São Paulo, coloquei essequadro: plantio de milheto em áreas iniciando plantio direto. Trata-se de uma saída para quem está em solo degradado, com baixa fertilidade, alto teor de alumínio, e quer começar no pro-cesso. Minha sugestão é que prepare o solo, faça o terraço.

Outra coisa, já que São Paulo está come-çando agora o plantio direto, não deixem desmanchar os terraços base larga, preservem-nos. Esse negócio de plantar morro abaixo é muito bonito para pôr em foto, tem que aproveitar e plantar em nível, está certo: por que o terraço? Ele não incomoda se for bem feito, base larga, 12 m, pode até marcá-lo com espaçamento maior em vez de usar aquela tabela tradicional, mas não fiquem com seu solo só dependendo da palhada, se não houver palhada, a erosão leva tudo, porque pode haver situações em que o nível de palhada na sua área caia.

Tive esse problema quando entrei no processo de produzir alto volume de volumosos, porque tenho um confinamento que consome 40.000 t de silagem/ano. Imaginem isso, a pro-dução de palhada necessária para silagem era muito alta, então o resíduo que ficava era muito pequeno; com isso, nesse processo, se tivesse desmanchado todos os meus terraços teria, com certeza, problema grave de erosão.

Na figura a seguir, um milho recém-plan-tado. A palhada de sorgo, uma palhada pouco desejável. Essa área, no verão, foi sorgo que foi cortado para a silagem, depois foi usada suarebrota, não como valor comercial, para fazer palhada.

Usamos na fazenda o espaçamento de 50 cm, cujos ganhos de produtividade são bem maiores do que os anteriores (80-75 cm). Afacilidadedeimplantaracultura,parecendoque há um incremento de produtividade que compensaoaumentodoconsumodesemente,porque hoje a semente no Brasil está em um preço exorbitante.

Na figura a seguir, apresentamos uma área onde se tem, na cultura anterior, o milho de 50 cm com braquiária plantada em março/

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abril. No verão, essa soja está bonita, é precoce e nela foi usada apenas dessecação e um único pós-emergente para folha redonda, porque tí-nhamos muito picão, reduzindo o consumo de herbicida.

Essa é uma área recém-implantada, onde o plantio está começando agora. É pastagem, maspastagemdequalidadeenãodegradada,era capim-mombaça. Foi plantado ano anterior um semidireto, e esse ano fizemos o cultivo de milheto antes das chuvas.

Esperei o milheto ficar num porte de 1 m mais ou menos, dessequei e plantei. Fica muita área exposta na linha porque utilizei o sistema de facão, que revolve muito o solo. Prefiro isso porque, às vezes, ao usar o disco duplo posso terproblemadecolocaçãodasementeoumes-mo do fertilizante.

Esse é um projeto em desenvolvimento. É plantio direto de milho e soja em cima de pasto detifton,poreleserpereneenãoprecisarmaisreplantar, ou implantar qualquer cultura compalhada. É uma experiência que está sendo tes-tada numa área de 2 ha.

Esse é o tifton antes da aplicação do Roundup. Por recomendação, usamos 5 L de Roundup por hectare. Aí, uma foto dele todo debilitado.

A expectativa é que esse tifton rebrote e vire, de novo, um pasto verdejante. Com cer-teza, é mais uma alternativa de palhada e fica mais fácil fazer integração agricultura-pecuária, porque na hora se colhe, o pasto já está ali plan-tado, quase no ponto de pastejo. Como o tifton temumaproduçãomaislineardoqueopani-cum durante o ano, porque é uma planta que tolera dias curtos, um sistema radicular profundo agüenta mais o déficit hídrico, e nas regiões aqui de São Paulo, com problema de frio, ele é mais tolerante do que os outros capins. Acredito que seja uma grande alternativa. Mas, se alguém estiver questionando: o tifton custa caro para implantar. Na verdade, fica um mais caro do que a braquiária, mas se fizer só uma vez, fica mais barato. Hoje, pode ser plantado com máquina. Há empreiteiras em São Paulo que plantam, de maneira toda mecanizada.

A máquina mostrada a seguir é a que fez o plantio: John Deere. Ela tem um disco de corte de 18 polegadas mais um facão. Nesse plantio precisou de 25% a mais de potência para puxar a plantadeira, porque o sistema radicular e o rizoma são muito difíceis de romper.

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Na figura a seguir, mostramos o pasto de tifton usado na fazenda Santa Fé. Existem 12 piquetes numa área de 21 hectares, o que dá mais ou menos um retorno a cada 20-22 dias. Estou colocando aí mais de 10 UA por hectare no verão, com um ganho até agora de 880 g por indivíduo por dia. Como a densidade de ani-mais está em torno de 15, porque eles pesam mais ou menos 300 kg, mandei que a próxima rodada não se adubasse com nitrogênio para podernãoaumentaracargaanimal,poisnãoquero mais indivíduos nesse lugar - acho que está muito alto.

Em minha apresentação tentei mostrar que a integração pecuária-agricultura, aliada ao plantio direto, essa facilidade que a braquiária tem para fazer palhada, o sorgo e, se der certo, o tifton também, acredito que o Estado de São Paulo vai ter uma contribuição muito grande, e entrará no SPD com bastante segurança e sucesso.

Discussão da mesa redonda

Antonio Luis Fancelli – ESALQ/USP

Alguns pontos que não ficaram muito claros quando levantei o aspecto de alelopatia. Evidentemente que definimos alelopatia quanto à espécie que está sendo considerada. No caso do sorgo, quando no sistema aplique e plante, teremos o efeito de alelopatia.

Evidentemente, então, para evitar os problemas alelopáticos com o sorgo (não quis dizer que não é para utilizar sorgo em hipótese alguma), precisaríamos de determinado tempo para que esse sorgo fosse efetivamente controlado.

Hoje, há possibilidade de trabalhar com soja ou feijão em cima do sorgo, desde que tenha-mos certeza de que o sorgo realmente foi controlado (está seco), aí não haveria problema nenhum porque, da mesma maneira em termos de nabo-forrageiro, se plantarmos o milho, imediatamente, após manejo do nabo-forrageiro, também identificaremos o efeito alelopático e, inclusive, com o arroxeamento de folhas, que alguns acham que é deficiência de fósforo, não é, é problema de efeito alelopático.

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Igualmente para o azevém - milho em cima de azevém, milho em cima de centeio, os mesmos problemas. Então é essa colocação: de que uma vez determinado o tempo de controle para a cultura antecedente não teria problema nenhum de alelopatia.

Evidentemente, tudo que foi dito é objetivando uma cobertura econômica, só que temos que tomar cuidado, como avaliar o benefício dessa cobertura, porque hoje temos dados da Fazenda Alvorada na região de Uberlândia em que fizemos uma avaliação de custo de duas culturas subse-qüentes à cultura do trigo, e o trigo teve um retorno econômico. Não o trigo em si, mas o sistema trigo-soja menor do que se tivéssemos feito uma cobertura, como foi feito numa área de aveia e outra de lablabe.

Assim, essa cobertura, não necessariamente vai dar um dinheiro da cobertura, mas propor-cionar melhor desempenho da cultura seguinte, proporcionando conservação de solo, redução de adubação, de uso de herbicidas, do uso de inseticidas, e assim por diante.

Na Fazenda Colorado, em Araras, aplicamos, muitas vezes, em palhada de aveia ou em palhada de milheto. Quando se trabalha com uma densidade populacional relativamente gran-de, no milho não usamos herbicidas de pós-emergência, é só dessecação e nada mais, não há razão para isso, então é um beneficio bastante interessante, e a outra coisa também é lembrar que hoje a maior parte das espécies que trabalhamos – milheto, aveia etc., o produtor pode fazer essa semente na fazenda, não precisa comprá-la.

Crotalaria juncea talvez tenha certa dificuldade, mas aveia, milheto e lablabe, é tranqüilo para fazer na fazenda. Evidentemente, os aspectos econômicos têm que estar atrelados, e é realmente aquilo que estamos discutindo e propondo.

José Eloir Denardin – Embrapa Trigo

Um aspecto muito importante é a multidisciplinaridade. O melhorista também conhecer do que estamos tratando, é fundamental, porque quando se olha uma soja cultivada no Brasil central, que acho seria viável em São Paulo em outubro/novembro, com ciclo até fevereiro, permitindo uma segunda safra, chamada safrinha de milho, pode-se dizer assim, mas por que eu consigo isso? É por causa do plantio direto? Que eu não tenho que preparar o solo entre a colheita da soja e o plantio do milho? Ou porque tenho espécies melhoradas para serem plan-tadas nessas épocas? Na verdade, não sei se foi feito esse melhoramento orientado para isso ou foi uma casualidade. Na realidade, temos que, cada vez mais, levar esse tipo de conhecimento ao melhorista para criar plantas que possam cobrir o ano com maior facilidade.

Quanto mais multisazonal for uma planta, mais fácil a criação dos modelos de produção. Se não tivermos plantas adequadas, teremos grandes dificuldades para conduzir esses processos e, ainda, as próprias culturas de coberturas, além do aspecto econômico.

As espécies de cobertura deveriam ser melhoradas principalmente em termos de ci-clo. Quanto mais for esse ciclo, mais fácil conseguirmos encaixar nas janelas entressafras. Portanto, o melhorista precisaria saber desses problemas, essa interdiciplinaridade não está chegando até eles.

Um exemplo típico é a cevada no Brasil: hoje já está com 60 cm de altura; pergunto: Que produção de palha produz isso? Que produção de raiz? Há uma planta dessa para tentar melhorar uma estrutura de solo? Acho que o melhorista tem que saber que são as plantas que melhoram o solo, não são as máquinas, não é o homem, são as plantas que o melhoram, que

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o estruturam. Na verdade, esses conhecimentos que estamos discutindo enquadram-se em, praticamente, quatro grandes disciplinas: Física, Química, Fitotecnia e Plantas daninhas.

Acredito que o melhorista/geneticista daria uma contribuição para entendermos bem o que estamos tratando, de forma significativa. É uma preocupação que devemos levar a eles.

Ciro Antonio Rosolem – UNESP/Botucatu

Vou comentar dois assuntos que já foram tratados e adicionar alguma coisa. O primeiro ponto é o seguinte: vamos pensar no ponto de definição de pesquisa. Temos um defeito muito grande no Brasil, que talvez não seja culpa nossa, mas o problema é que ele está aí - estamos correndo atrás de agricultor, e de repente estamos fazendo uma pesquisa hoje que o agricultor já fez lá atrás. Então, estamos mais preocupados em repetir e tentar demonstrar algo que já está demonstrado. Precisamos parar com isso. E nessa linha vêm essas palavras ditas aqui: bombeamento, alelopatia e uma série de coisas que são conceitos bem definidos, só que eu não vi medidas disso.

Há publicações sérias falando que plantas bombeiam nutrientes. Meu Deus do céu, quan-to há de nutriente até 1,5 m de profundidade? Dá para imaginar uma planta bombeando alguma coisa lá de baixo para trazer para cima, quer dizer existem algumas coisas que precisamos parar de pensar da maneira fácil e pensar como cientistas. Temos que saber o que está acontecendo, porque, a partir do momento que começamos a trabalhar com causas, com explicações, com fisiologia, com bioquímica, paramos de enxugar gelo.

É importante não perder essas perspectivas, precisamos dar uma opção para o agricultor, sim, mas o conceito disso, a base disso para que não seja uma pesquisa extremamente efêmera, acho um ponto fundamental.

Entrando um pouco nessa história de questão econômica. Sou agricultor e minha família é deagricultores,mascomoprofessor,cientista,nãoestouminimamentepreocupadocomaques-tão econômica. A função como professor, como cientista, é dar uma opção para o agricultor, quem vai resolver se é econômica para ele naquela condição, naquele ano, é ele.

Temos um Instituto de Economia Agrícola, pesquisadores, gente da administração agrí-cola,eoagricultorquetemqueseroadministrador,entãoprecisamospararumpoucocomessa história de que vamos resolver tudo. Mais ou menos complementa aquilo que o Denardin levantou, não adianta querer fazer tudo, tem que ter melhorista, pessoal de plantas daninhas etc. São idéias que estou dando.

Especificamente, para fazer palha, acho que fazer palha já sabemos em São Paulo, fa-zemos até bem, o ponto é o seguinte: acho que foi o Fancelli que levantou, precisamos dar o próximo passo. Ele falou de consórcio. Acho que é o caminho. Gostaria de complementar: e aí vem um pouco da história econômica, é a tentativa de utilizar plantas que dêem algum retorno econômico, talvez consorciado com uma cobertura, são coisas desse tipo. Essa é uma linha que estamos desenvolvendo em Botucatu, já há alguma coisa em Mato Grosso, Goiás. É usar, por exemplo, um sorgo e uma braquiária. O girassol dá problema de mofo-branco? Dá, mas a braquiária suprime, tem, talvez, um efeito supressivo, por que não Braquiária ruziziensiscomgirassol ou com mamona?

Estamos tendo resultados espetaculares em termos de agregação de solo com triticale. Tenho um aluno fazendo doutorado, está no terceiro ano, e nas parcelas onde entra triticale, a

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agregação de solo é espetacular. Não sou físico de solo, estamos medindo isso, quer dizer, nunca esperaria isso do triticale, porque não dá muita massa, só que em termos de agregação de solo está sendo a melhor espécie.

Agora, em um sistema que se entre com uma cobertura no outono e, depois, seja preciso refazê-la na primavera, o triticale pode ser uma espécie muito interessante pelo seu valor eco-nômico, e com um “pingo de água” ela consegue produzir. Em São Paulo, o triticale produz relativamente bem em pelo menos quatro anos entre cinco. Temos conseguido fazer isso em Botucatu, então, quer dizer, são algumas alternativas que precisam mais atenção.

Jamil Constantin – Universidade Estadual de Maringá

Com relação à questão de queda de população de aplique e plante na cultura da soja, isso realmente pode acontecer, mas não seria o principal motivo de queda de produtividade. Outra questão é a seguinte: estamos falando aqui de plantio direto e dando uma importância muito grande, como deveria ser, a palha, mas quanto é bom? Porque a palha é uma barreira física e química.

Quanto mais palha melhor? Então há uma complicação nessa história, tudo que é demais passa, e palha também passa. Acho, talvez, a conduta que não desse tanto problema é a seguin-te: produzir palha o suficiente para repor a matéria orgânica e proteger o solo até o fechamento da cultura, não mais do que isso. Tenho motivos de sobra para pensar a esse respeito.

Ivo Mello – FEBRAPDP

Sobre a colocação do Ciro, é fundamental a pesquisa ter liberdade para criar. O pesquisa-dor, o investigador tem que ser livre para criar e poder fazer a geração de conhecimentos, mas tem que ter um norte. É aquilo que tentamos colocar dentro da idéia de que o nosso País, hoje em dia, é um ator do agronegócio mundial importantíssimo.

No ano passado, em uma visita à FAO, um especialista argentino em biodiversidade, tinha uma demanda (a FAO trabalha por demandas), do governo japonês que queria saber se o Brasil e a Argentina teriam condições de alimentar os chineses do jeito que estavam alimentando nos últimos anos. Quer dizer, a demanda de soja e outros produtos, que aumentou na China dada a industrialização e a substituição que eles estavam fazendo da água de irrigação.

Em vez de produzir a 200 dólares a tonelada, estão empregando isso em urbanização e industrialização, agregando 7 vezes mais o valor. Quer dizer, transformando a mesma quantida-de de água de 200 dólares em 14 mil dólares na urbanização e industrialização e fazendo essa substituição porque o Brasil e a Argentina têm proporcionado aumento de produção e atendido ao mercado de uma forma pelo menos econômica.

Assim, o governo japonês demandou da FAO se isso era sustentável, se a Argentina e o Brasil têm condição de conseguir atender à demanda chinesa nos próximos anos. Aí o argentino até brincou conosco de que a preocupação do governo japonês é porque se não conseguísse-mos isso, os chineses iam atravessar o mar e comer o Japão, iam comer os japoneses, era até a brincadeira que ele fez, mas a realidade é isso.

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O governo japonês quer saber se não estamos exaurindo nosso solo, se a biodiversidade do solo aqui da América do Sul, do Pampa e do Cerrado têm condições dessa forma, de como estamos fazendo a agricultura ir adiante. Então, qual é o norte? Onde queremos chegar? Que tipo de produção é sustentável?

Concordo plenamente, há muitos conceitos que sabemos que a ciência desenvolveu e não precisamos estar inventando novamente a roda, devemos levá-los em conta. A preocupação de palha é boa, mas que condições, que ecossistema, que tipo de regime pluviométrico, e assim por diante.

Cada condição terá uma situação que vai ser adequada, mas o fator econômico é funda-mental. Vou citar um exemplo: a maioria deve conhecer Dr. Dirceu Gassen, que faz palestras, hoje está na Coplantio, era da Embrapa Trigo, e hoje faz palestras por qualquer lugar do planeta sobre SPD, cobertura etc. Ele tem dito que tudo que o IAPAR, lá no Paraná desenvolveu de cobertura não se usa praticamente nada daquele trabalho todo do Calegari, se usa muito pouco daquilo, na realidade, o produtor, o agricultor economicamente tem usado soja, milho, aveia e essas que todos sabem, e até que ponto não estamos gastando uma energia legal, boa em desenvolver determinadas coberturas?

O doutor estava colocando todas essas lablabes que vemos naquelas palestras do Calegari muito entusiásticas e energéticas, mas na realidade aquilo não está sendo usado. Então, como é que queremos construir nosso futuro? Está claro que é um exercício muito mais de planejamento estratégico, onde há um norte para realmente desenvolvermos tecnologias e pacotes tecnológi-cos, não no sentido de uma receita de bolo, mas pacote tecnológico adaptado às diversas regiões e às características das regiões de produção do nosso País.

Carlos A. Costa Crusciol – UNESP/Botucatu

Emmuitassituações,oagricultoradotaosistemaapliqueeplanteporquenãotemumasemeadora com excelente desempenho, quando a planta está verde e o sistema radicular está amarrado nesse solo e a semeadora desenvolve muito melhor quando a palha já está seca, porque ele começa a embuchar.

Dependendo da tecnologia do agricultor, essa é a alternativa para um bom desempenho da sua semeadora. Às vezes, ele não tem uma com sistema de guilhotina que vai muito melhor quando se tem alta produção de massa.

Outra colocação que experimentamos em Botucatu é adotar a vegetação espontânea na área de pousio para o SPD. Quando não se tem uniformidade da espécie espontânea da área, há muito problema de efeito guarda-chuva e aí tem-se necessidade de reaplicação, ou ocorre uma infestação muito precoce de plantas daninhas na lavoura, às vezes está num momento que não dá para entrar com herbicida de pós-emergência, tendo problema de fitotoxicidade.

Questiono muito a utilização de vegetação espontânea, o custo acaba saindo maior em função da necessidade de uma aplicação pós-emergente.

É interessante pensar quando fazemos comparação com milheto e forrageira-tropical pere-ne, no caso as braquiárias. É bom guardar bem assim: pasto de primeiro ano não seca, qualquer pecuarista, agricultor que plantou pasto, pode vir a maior seca do Brasil que, tirando o Nordeste, seca normal de Centro-Oeste, esse pasto não seca, fica verde. Portanto, a braquiária bate no

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milheto porque este tem um ciclo definido, e aí, se o deixamos secar (estávamos conversando com o Ricardo Merola) cai a semente, infestando a área e vira planta daninha.

Mas a braquiária, não. Ela está sendo colocada numa época que não é favorável ao seu florescimento, porque se está entrando em consórcio em sobressemeadura, principalmente a ruziziensis não vai emitir inflorescência, e permanece vegetando. Essa é a vantagem, e o milheto não, ele encerra o ciclo. Se fizermos pastejo ou corte, ele dá um ou dois cortes e depois encerra o ciclo, e produz um pouco de semente e vai infestar a área, se deixarmos produzir semente.

A braquiária não, ela é de primeiro ano e não entouceira porque se não pastejar não que-bra a dominância apical, então não entouceira, ela forma uma cobertura uniforme. Além disso, permanece verde até o momento que se quiser e agüenta atravessar a seca do cerrado, agüenta a seca do oeste e noroeste do Estado de São Paulo (Prudente, Rio Preto, Araçatuba) e o milheto não, então essa seria assim a grande vantagem.

Na primavera, o milheto vai produzir mais, se considerarmos um tempo curto de produção de massa, 50 dias, ele vai produzir mais massa que a braquiária, só que os dados que temos desenvolvido em Botucatu revelam o seguinte: o milheto com 50 dias de desenvolvimento, sua palha desaparece, mas não é que seja ruim, o problema é que a época que estamos manejando não é favorável para maior persistência de palha, então o agricultor não vai ficar esperando o milheto produzir uma massa de qualidade para fazer a semeadura e atrasar a da soja.

Primeiro, gostaria de falar para o Ricardo Merola que ele terá sucesso nessa empreitada com o tifton, porque a Agropecuária Dama, da Fazenda Bonança, tem usado o tifton em áreas de plantio direto de milho, e tivemos a oportunidade de ver - eles aplicam herbicida, dá uma fitotoxicidade nele, parece que está morrendo, fica meio tonto, o milho sai, ele vegeta e forma uma boa massa de baixo, sem competir com o milho. Há um bom atraso na sua saída, mas depois dá um pasto e cobertura de excelente qualidade.

Agora, queria fazer uma pergunta: naquela última foto mostrada, onde há um corte da braquiária, você tem adotado esse sistema em função da exportação de potássio, se você adota só um corte e a partir de que você fazia três cortes. Você tem adotado um corte, deixa-a vegetar e entra com a semeadura do feijão ou não, você nem usa mais um corte?

Ricardo Merola – Fazenda Santa Fé

No caso da silagem, parei de fazer silagem de braquiarão, em função do seu custo. Ela é um falso barato porque como tem de 18 a 20% de MS, então para cada tonelada de silagem, estou levando 800 kg de água, e tenho problema de efluentes nesse silo também. Fora isso, esse consumo de luxo do potássio chega a 3,2% da MS. Então, se você pegar 40 t de matéria original e fizer as contas, a exportação de potássio fica da ordem de 600 a 700 kg de KCl só para repor o potássio exportado. Assim, a silagem sai por um custo semelhante à silagem de milho, está certo? Então, estou adotando agora silagem de milho.

Ondino Bataglia – IAC, Conplant e Fundação Agrisus

Em vista dos nossos convidados, a discussão aqui tem partido muito para fora de São Paulo, porque tivemos, em nosso estado, o ciclo do café, que provocou uma erosão danada dos solos, principalmente da região oeste. Depois, tivemos o ciclo da laranja, que ainda permanece,

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e agora temos o grande ciclo da cana-de-açúcar, invadindo solos não tão estruturados, não tão adaptados como eram os Latossolos.

Seria muito interessante pelo conhecimento que a mesa tem que nos dissessem sobre essa questão de plantio direto em cana-de-açúcar, e o uso de novos métodos de cultura de citros, por exemplo.

Ricardo Merola – Fazenda Santa Fé

Contribuindo com a minha experiência, tenho feito plantio direto de cana também. Iniciei porque a fazenda hoje está cercada por usinas de açúcar e estão entrando nas áreas de soja. Como faço plantio direto há muito anos, achei pela lógica e estrutura do meu solo, que poderia fazer plantio direto de cana. Fiz o plantio apenas sulcando a área, e uma adubação toda orgâni-ca, não usei adubação mineral - peguei o esterco do confinamento e joguei no fundo do sulco, só que usei uma quantidade elevada porque tinha disponibilidade desse adubo. A cana está muito boa, será seu primeiro corte, mas pela avaliação do pessoal da usina, que tem experiência com cana-de-açúcar, deve passar de 140 t/ha nesse primeiro corte. Outra experiência que tive é o plantio direto em cima de palhada de braquiária de tomate industrial. Isso funciona muito bem, o único detalhe é que tem que usar dois equipamentos, o primeiro é uma espécie de um subsolador, abrindo o sulco de mais ou menos 25 de largura por 15 cm de profundidade e, nessa abertura do sulco, já se faz a adubação de base. Depois, vem com a transplantadeira, plantando mudas de tomate nesse solo já semipreparado que é um pequeno espaço da área total utilizada. Ocorre que toda a irrigação, economiza-se, em torno de 20% de água, porque se diminui a per-da, tem-se os frutos todos alojados, quer dizer, colocados em cima da palha, com isso diminui também o uso de fungicidas. Essas duas culturas que eram uma polêmica se poderiam ou não plantar direto, já plantei, a cana agora pela primeira vez, e está indo muito bem lá na região.

Marcos Palhares – Monsanto

Um dos grandes objetivos do plantio direto é o manejo das plantas daninhas, para exata-mente evitar competição do mato como fator de decréscimo da produção. Quando se fala em manejo de plantas daninhas, não se pode deixar de pensar em bancos de sementes em primeiro lugar e, nesse ponto, quando imaginamos uma área sendo manejada para plantio direto sobre a área de pousio, temos que entender que durante esse período, nesse intervalo de tempo entre a colheita da safra e o plantio da próxima sem manejo nenhum, vai proporcionar o encurtamento do ciclo das plantas daninhas, e a reintrodução das sementes para o banco.

Enfim, temos visto no campo o efeito guarda-chuva sendo pronunciado, em situações de pousio muito mais do que quando se estabelece uma espécie só para ser manejada: encontra-mos colonião, trapoeraba e outras espécies de diferentes níveis, estratos e estágios vegetativos, dificultando muito o manejo de dessecação. Observamos que 80-90% do fluxo de emergên-cia de plantas daninhas em uma área manejada sobre plantio direto são oriundas do inverno, portanto, sementes mais vigorosas, com poder germinativo maior, o que acaba trazendo uma conseqüência de maior dificuldade de manejo das plantas daninhas em pós-emergência. Queria deixar claro e reforçar, o que foi colocado lá no início, de o Estado de São Paulo ter um dos bancos de semente mais bem alimentado hoje em dia, porque o nível de revolvimento e tudo mais é uma coisa grande.

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Ricardo Ralisch – UEL

O Estado de São Paulo tem algumas experiências bem interessantes com a cana-de-açúcar. Vale a pena estudá-las e conhecê-las. Temos também alguma experiência. A planta de cana-de-açúcar é extremamente regeneradora de solo, é fantástica para regenerá-lo, o problema é o sistema de produção, que é muito agressivo. Então, o que estamos conseguindo lá são algumas situações de diminuir um pouco a agressividade do sistema de produção da cana-de-açúcar para aumentar a vida útil da lavoura. Diminuindo essa degradação que acontece no solo, princi-palmente física, compactação etc., ele entra muito bem num sistema de rotação, só que de longa duração, e para isso, uma das coisas que têm sido feitas é regionalizar um pouco as lavouras de cana-de-açúcar para evitar ao máximo possível sua colheita em solos úmidos e em argilosos.

Então, é preciso alternativa para manter a indústria, porque, na verdade, o que determina e o que impõe a necessidade do corte é a indústria, não a lavoura. Temos que ter mecanismos alternativos para manter a alimentação da indústria sem prejudicar demais o campo.

Trata-se de uma equação difícil e bem interessante, exigindo um gerenciamento meticulo-so de todo o sistema.

Fernando Penteado Cardoso – Fundação Agrisus

Trouxeram o assunto de plantio direto em cana como uma novidade. Quero dar um pe-queno testemunho: estou no décimo primeiro corte de cana com plantio direto, com uma pro-dutividade de 80 t ha-1, colhendo 150 t ha-1no primeiro corte, e a média dos 10 cortes é superior a 100 t ha-1. É uma terra roxa legítima, que foi bem adubada, nunca viu ferro até hoje, toda adubação é feita em cobertura, salvo o fósforo que, no início, foi colocado no fundo do sulco. A cada cinco anos, também se faz uma aplicação localizada de fósforo no centro da rua.

Nas camadas superiores, há uma reciclagem de prazo curto, não saberia dizer o tempo, mas se a reciclagem se deu de camadas mais profundas é um benefício para a cana nova que vem vindo e tem, no início, um sistema radicular mais superficial. Esse é meu testemunho de cana em plantio direto no Estado de São Paulo em terra roxa legítima e somente posso dizer que funciona.

Heitor Cantarella – IAC

No Estado de São Paulo, o plantio direto funciona e o único problema em cana-de-açúcar é realmente manejo, como Ralisch mencionou. A usina tem a prioridade de colher a cana para alimentar a si própria (autogestão), então, em época de chuva, se precisar entrar com máquinas pesadas, eles vão entrar mesmo e, muitas vezes, em épocas de chuva, onde ocorre o pior pro-blema da cana que é o pisoteio da soqueira e a produtividade decai rapidamente.

A reforma tem que ser feita com mais freqüência e, às vezes, é um cuidado que numa propriedade como a do Dr. Cardoso certamente toma, não é, mas, operações de usina são de dezenas de milhares de hectares e não é possível ter sempre esse cuidado. O principal obstá-culo para cana-de-açúcar em plantio direto, normalmente, quando se faz o corte da cana sem queima, é o problema físico de solo, então onde as usinas fazem plantio direto, antes de fazê-lo, efetuam uma verificação, se há compactação, e em alguns casos, quando há, o risco de insu-

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cesso é grande, mas, como o Dr. Cardoso mencionou, há muitos exemplos aqui de sucesso de plantio direto em cana.

Isabella Clerici De Maria – IAC

Na realidade, quero fazer uma provocação para o moderador porque há duas semanas ele fez uma explanação sobre plantio direto em cana em São Paulo e, inclusive, tinha-nos colocado que o mais importante é que o nosso Estado tem condição muito boa para fazer palha, pois tem palha de cana e palha de pasto e, pelo que vimos das discussões, aqui se sabe fazer palha, ou seja, há condição de fazer palha. O que não se discutiu muito aqui é como se faz com aquelas culturas que não produzem palha. Quais são as alternativas para essas culturas? Então, você mesmo tem a experiência de amendoim numa área de pasto, mas depois que se retira o amen-doim como fica o plantio direto?

Então essa questão de como fica o plantio direto depois de determinadas culturas, que de alguma forma revolvem o solo. Temos experiência de plantio direto de mandioca, mas, como é que fica quando sai a mandioca? Então, é importante para nós hoje, pois nos sistemas de mane-jo, temos culturas que depois que saem, elas próprias revolvem o solo ou fazem uma alteração da palha ou deixam pouca palha.

Dessa forma, é uma questão importante também, porque soja, milho até algodão, plan-tando em cima de cana está meio fácil, pois o que está difícil é fazer com que essas culturas que estão no sistema de produção e no sistema tanto de irrigado como de sequeiro, sejam equacio-nadas e solucionadas, dentro do sistema de manejo adequado.

Denizart Bolonhezi - APTA/Ribeirão Preto

É empolgante tudo que se refere à adoção do SPD em área de renovação de cana e é um tema genuinamente paulista. Isso surgiu em São Paulo. Então, tivemos durante muito tempo a crítica de que São Paulo não tinha plantio direto. Hoje, São Paulo tem essa experiência já comprovada tanto em experimentação como em validação dessa cultura em área comercial, daí a observação do Dr. Penteado. No caso do amendoim-pastagem, é muito interessante a cultura do amendoim que se vem expandindo em São Paulo. Temos um ensaio que já vai para três anos, amendoim em área de pasto e o plantio direto hoje, você vai lá e verifica uma braquiária formada só com o banco de sementes na área. Então, espero e colho o amendoim, o banco de sementes forma novamente e em novembro, como permite o uso de cultivares de ciclo mais longo eu posso plantar, em dezembro, o amendoim, sem problemas, e esse banco é formado novamente. Se a colheita manual é utilizada, mas, antes se faz o arranquio utilizando o arran-cador, que é o processo preliminar a colheita, ele favorece a distribuição de qualquer espécie forrageira e isso os produtores da região de Tupã já estão visualizando: uma cultura que criava um mito em torno da viabilidade do plantio direto, pelo contrário, o processo de colheita ajuda a viabilização da implantação de uma forrageira depois.

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Fernando Penteado Cardoso – Fundação Agrisus

No caso a que me reportei, esqueci de informar que é cana de colheita manual e queimada todos os anos.

Denizart Bolonhezi - APTA/Ribeirão Preto

É aí que mora a questão da longevidade do canavial, pois os testemunhos que se têm visto em usina, a longevidade cai para quatro anos, justamente por esse aspecto é impossível fazer colheita, conciliar umidade do solo com colheita mecanizada, pois compromete o fluxo de matéria-prima na indústria.

Opinião dos participantes

• Planejamento de modelos de produção com enfoque no processo colher-semear;

nitrogênio é fundamental para gerar carbono, mas nitrogênio é passível de ser comprado, carbono não -> estudar espécie com elevada capacidade de produção de biomassa, mesmo que seja gramínea; estudo de consorciações; considerar, no melhoramento de plantas, aspectos relacionados a ciclo e multissazonalidade para permitir diversificação de épocas de semeadura e múltiplas safras por ano agrícola.

• Regionalização edafoclimática para buscar culturas de cobertura adequadas às diferen-tes condições; melhoramento das espécies visando atender aos interesses dessas regiões; desen-volver e difundir alternativas técnicas para manejo das coberturas vivas ou mortas; incentivar a produção de sementes por produtores.

• Limitações: falta de conhecimento sobre manejo de plantas de cobertura. Necessidades: desenvolvimento de estudos para seleção de plantas nas diferentes regiões do Estado; manejo de mato (gramíneas) x controle econômico.

• É imprescindível buscar um plano de rotação para otimizar o carbono do solo e enten-der o Intervalo Hídrico Ótimo (IHO), que relaciona: capacidade de aeração (CR), densidade do solo (monitorando a retenção de água), comprimento radicular e resistência à penetração. Embora sejam índices difíceis de trabalhar, é imprescindível para entendermos o porquê da ocorrência de safras positivas ou não no verão e sua interface com plantas de cobertura, associando a essa linha de pesquisa, o manejo do nitrogênio operações em sobressemeadura ao final do ciclo de verão.

• Pesquisa sobre o uso de sobressemeadura de milheto e braquiária sobre culturas de inverno com o intuito de preencher a janela de primavera, sem mobilização do solo; uso da cultura da cana-de-açúcar como rotação de cultura com cereais em ciclos de 3 a 4 anos e alta produtividade.

• Pesquisas sobre a alelopatia, como foi sugerido pelo Dr. Fancelli; plantas de cobertura parecem já estar bastante estudadas. É preciso também conhecer a diversidade microbiológica em diferentes situações de PD.

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• Milheto; sorgo; braquiária; desenvolver culturas econômicas para substituí-las com os mesmos benefícios, desenvolvimento de mercado; melhoramento genético voltado a coberturas quando não é possível o uso econômico.

• Espécies disponíveis para o plantio direto (palha e ou econômica); metodologias de implantação (semeadoras, correntão, santa fé) outras oportunidades/opções; influência da palha no sistema; contribuição para o solo (química e física); (alelopatia, marcha de decomposição, absorção de nutrientes).

• Consorciação de espécies de cobertura; avaliação microbiológica dos efeitos das espé-cies de cobertura no solo; efeitos alelopáticos de importância agrícola.

• Apesar dos resultados favoráveis com gramíneas, existe a possibilidade de problemas com a baixa diversidade de espécies a longo prazo. Desse modo, outras culturas como lablabe e nabo-forrageiro devem ser avaliadas como alternativas em futuro próximo.

• É um tema muito importante, principalmente para o ESP. Foram apresentadas experi-ências que mostraram bons resultados, mas é necessário estabelecer alguns parâmetros para avaliar melhor esse tema, pois, como comentado, assim como pouca palhada, palha em excesso pode ser problema.

• Braquiária. Usá-la como referência; além de palha, avaliar sua contribuição para aumen-to da matéria orgânica do solo, em várias profundidades.

• Procurar desenvolver culturas de coberturas ou sistemas de produção que gerem alguma receita para que o produtor seja estimulado a fazer cobertura do solo e não o plantio direto, em regiões de clima seco no inverno; além da braquiária e do milheto, que outras espécies sejam avaliadas quanto à taxa de decomposição e sistema radicular quanto à agregação do solo.

• Integração agricultura-pecuária na formação de palha; consócio de culturas para a for-mação de palha.

• Seleção de espécies de plantas de cobertura para diferentes regiões; pesquisas sobre so-bressemeadura/braquiária; pesquisas com misturas de espécies, taxa de degradação de espécies de cobertura, efeitos alelopáticos.

• Buscar alternativas de palha que possam, além de produzir massa seca, contribuir para a fertilidade e o desenvolvimento da cultura seguinte; pesquisar consorciação; interação agricul-tura x pecuária.

• Formar um plano de rotação de cultura no qual deve ser incluído adubação verde tanto no inverno quanto no verão; alternar os diversos cultivares de adubos verdes, tanto individual-mente quanto em misturas, utilizar consórcios; não deixar áreas em pousio.

• Estudar mais cultivos consorciados e coquetéis de plantas de cobertura e adubos verdes.

• Opções de culturas com formação rápida de massa para utilizar entre colheita de safri-nha e plantio de verão; precocidade e baixa necessidade de água.

• Para PD em São Paulo, qual é a quantidade e C/N ideais?

• Conhecer e entender melhor as culturas formadoras de palha (e de dinheiro para o agricultor).

• Espécies/variedades de plantas consórcios/sistemas de plantio para garantir cobertura de solos.

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• Estudar palhadas que sejam mais duradouras, não havendo necessidade de produção de grande volume.

• Quantidade e qualidade de palha; palha na superfície e no solo (raízes), consórcio de plantas de cobertura.

• Semear antes de plantar; braquiária até encontrar outra melhor.

• Estudo com rotações de cultura: procurar culturas com rentabilidade para produção de massa, usar, por exemplo, o sorgo para produção de grãos; pensar em um sistema para formação de palha.

• Rede paulista de avaliação de plantas-cobertura; avaliação rebrota de sorgo; consórcio crotalária com cana; sistemas conservacionistas de renovação de pastagens.

• Regionalizar o Estado de acordo com a quantidade de chuva e estabelecer as culturas que melhor produzam palha; associar estudos de alelopatia.

• Existe uma oferta razoável de opção, sendo necessário validá-las nos diversos ambien-tes. Mais importante que a produção de palhada é o seu manejo que ainda necessita ser mais bem administrada. A palha de cobertura deve ajudar na redução de agroquímicos.

• Conhecimento das plantas e de sua adaptação agroecológica para utilização em distintos (estudos complementares sobre mineralização da matéria orgânica,...); estudos sobre consórcios; maquinário mais adequado à semeadura de espécies com tamanhos distintos de semente; a im-plementar o melhoramento genético para maior adaptação agronômica e ecológica das plantas de cobertura; definir quantidades mínimas de palha para as diferentes espécies.

• Opções para “perenização” de espécies de cobertura; opções de semeadura de gramí-neas após cultivo de soja; identificação da importância da palha de leguminosas no aumento dos estoques de carbono no solo – esquema de rotação; adubação nitrogenada em gramíneas usadas para cobertura e qualidade da palha e da matéria orgânica do solo; épocas de semeadu-ra e espécies nas diferentes condições climáticas do Estado de São Paulo.

• Observar ou estudar dentro de cada região as demandas ou atividade dos agricultores. Tendo essa informação, fazer pesquisas com as espécies aqui discutidas para aplicar o manejo do PD visando obter palha, respeitando as particularidades regionais.

• Na base de critério (Santa Fé e outras variantes) e sobressemeadura (semeadura aérea sob a cultura em pé). Devem ser incentivados estudos de culturas conhecidas e outras por co-nhecer, utilizar a formação e permanência da palha. Ainda, incentivar os produtores a destinar pequenas áreas nos seus sítios para adaptar culturas a sua realidade.

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Mesa Redonda II

Sanidade e plantas daninhas x palhaModeradora

Elaine Bahia WutkeInstituto Agronômico – IAC

Apresentadores

Álvaro Manoel Rodrigues de AlmeidaEmbrapa Soja

Jamil ConstantinUniversidade Estadual de Maringá (PR)

Debatedores

Domênico VituloCooperativa Agrícola de Pedrinhas

Ciro Antonio RosolemUNESP/Botucatu

João KluthcouskiEmbrapa Arroz e Feijão

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APRESENTAÇÃO 1: Álvaro Manoel Rodrigues de Almeida – Embrapa Soja

PLANTIO DIRETO E DOENÇAS DA SOJA

1 - Introdução

O contínuo aumento da área com semeadura direta (SD) com soja, no Brasil, é uma reali-dade irreversível atingindo, na safra 2004/05, a área de 22 milhões de hectares (John Landers, informação pessoal).

Apesar das vantagens preconizadas com o sistema, como redução de erosão, aumento do teor de matéria orgânica do solo, economia de combustível etc. (Phillips et al., 1980) ainda continuam evidentes as premissas: 1) a SD, ao deixar restos de cultura sobre a superfície do solo contribui para aumentar a incidência de doenças e, 2) a semeadura convencional (SC), ao incorporar os restos de cultura, reduz o inóculo inicial dos patógenos e, conseqüentemente, a taxa de progresso das doenças.

Embora ambos os pontos mencionados sejam verdadeiros (Petrie, 1986), é necessário discutir como podem ser minimizados, favorecendo a prática conservacionista e permitindo uma agricultura sustentável e economicamente eficiente.

Diversas tecnologias têm sido desenvolvidas, permitindo ao produtor associá-las, de modo a reduzir o efeito das enfermidades no sistema de SD.

Na safra 1996/97, segundo Fernandes (1997), utilizando informação pessoal dos pesquisa-dores J. E. Denardin & I. Ambrosi (Embrapa Trigo), apenas no Rio Grande do Sul a economia de combustível devido ao uso da SD na lavoura de trigo foi de 22 milhões de dólares.

Diferentemente da cultura do trigo, no Brasil muito poucas pesquisas foram feitas com a soja visando o controle de enfermidades no sistema de SD. Provavelmente, os patossistemas do trigo fossem mais severos que aqueles da soja e porque na soja, até o advento da ferrugem asiática, as enfermidades fossem controladas eficientemente com resistência genética. Outro fato deve-se à extensão territorial da cultura da soja, a maior parte dela fora de regiões tradicionais de SD ou regiões onde a formação da palha de culturas em sucessão é reduzida.

Este trabalho procura mostrar resultados obtidos com três patossistemas da soja, além de comentar resultados parciais e indicar futuras linhas de pesquisas associadas à SD no Brasil.

2 - Parâmetros epidemiológicos e semeadura direta

A infecção das plantas por fitopatógenos requer três condições especiais: presença de pa-tógeno virulento, condições climáticas (ambiente) favoráveis ao patógeno e presença da planta suscetível. Esses parâmetros compõem o triângulo epidemiológico (Figura 1).

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Figura 1. Triângulo epidemiológico e parâmetros associados à infecção por patógenos de plantas.

A SD e a SC possuem características específicas, as quais estão associadas aos parâme-tros epidemiológicos (Tabela 1). A SD permite maior retenção de umidade no solo e, devido à formação de palha, reduz a temperatura do solo. Essas condições favorecem alguns patógenos cujo desenvolvimento requer menor temperatura. Outros, contudo, são afetados por baixas tem-peraturas e têm seu desenvolvimento reduzido.

A SD, ao deixar os restos de cultura sobre o solo, acaba favorecendo a sobrevivência de organismos necrotróficos. Na SC, ao contrário, devido à aração e gradagem, há incorporação dos restos de cultura ao solo, auxiliando sua decomposição e reduzindo a fonte de inóculo primário.

Além desses comentários, relacionados à fonte de inóculo dos patógenos, observa-se que, em geral, os solos cultivados sob sistema de SD possuem maior atividade microbiana e também maior diversidade genética de microrganismos. Essas características são extremamente impor-tantes no controle de patógenos radiculares e serão comentadas no item supressividade.

Um resumo comparativo dos dois sistemas em relação à epidemiologia pode ser visto na tabela 1. Aos três parâmetros epidemiológicos pode-se adicionar uma propriedade interessante que é a maior diversidade genética de microrganismos, podendo ser de grande importância no controle de patógenos radiculares. Esse fato será comentado, posteriormente, ao se mencionar o efeito supressivo dos solos.

Tabela 1. Comparação de parâmetros epidemiológicos entre os sistemas de semeadura direta e convencional.

Semeadura direta Semeadura convencional

Umidade do solo +++ +

Temperatura do solo + +++

Sobrevivência de organismos necrotróficos

+++ +

Diversidade genética de microrganismos

+++ +

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3. O Sistema de semeadura direta favorece a incidência de doen-ças de plantas?

A pergunta freqüente que os pesquisadores enfrentam é sempre essa. Conforme mencio-nado anteriormente, a SD tem características que podem realmente favorecer os patógenos. No entanto, é necessário esclarecer que a SD, devidamente implantada, seguindo a tecnologia disponível, pode facilmente superar os problemas fitossanitários. Começando com o solo, cuja movimentação inicial é necessária para evitar a compactação. Segue-se o controle da acidez eadubaçãodeacordocomasrecomendaçõeseposteriormente,asemeaduraeconduçãodalavoura.

Um exemplo de preparo mal conduzido pode ser visto na figura 2, onde as plantas se apresentam com inadequado sistema radicular.

Figura 2. Plantas desenvolvidas em solos compactados. Sistema radicular afetado, com pouca produção de raízes tornam as plantas definhadas e sensíveis a infecções por patógenos de parte aérea e radiculares.

Plantas vigorosas são normalmente resistentes às doenças

Além disso, e conforme será mencionado adiante, esses solos, por possuírem maior diver-sidade genética de microrganismos, também apresentam características biológicas desfavoráveis aos fitopatógenos, auxiliando o desenvolvimento de plantas sadias (Figura 3).

Figura 3. Desenvolvimento de Trichoderma sp., fungo na-turalmente encontrado no solo e parasita de fitopatógenos radiculares.

4. Estudo de patossistemas da soja em semeadura direta

Para avaliar o efeito da SD e SC na evolução de doenças foliares e radiculares da soja foram estudados três patossistemas cujos resultados serão apresentados e discutidos a seguir.

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4.1 Mancha parda (Septoria glycines)

Essa doença é, normalmente, a primeira doença foliar observada em plantas de soja (Almeida et al., 2005). Nas folhas primárias caracteriza-se por lesões escuras e circulares (Figura 4A), enquanto que, nas folhas trifolioladas (Figura 4B) apresenta inicialmente lesões necróticas, com halos amarelos, podendo coalescer e resultando em extensas áreas necróticas, causando desfolha precoce.

Figura 4. Folhas primárias (A) e trifolioladas (B) de soja, infectadas por mancha parda (Septoriaglycines).

Avaliações de campo, em parcelas com semeadura direta e convencional, permitiram de-tectar diferenças de severidade ao longo do tempo pós emergência. Esse fato foi acompanhado por seis safras e permitiu concluir que na SC a severidade nas plantas progrediu mais rapida-mente do que na SD (Figura 5). Isso se deveu ao fato de que na SD a palha formada pela cultura de inverno impediu que os restos de cultura da soja, do verão passado, fossem eficientes como fonte de inóculo, para a soja, do ano seguinte. Apenas em locais onde há formação de palha esse efeito é observado.

Embora ocorram diferenças quanto à intensidade da severidade e velocidade de evolução, ao longo dos anos, a severidade final foi semelhante entre os dois sistemas. Isso se deve ao efeito de inóculo externo.

Figura 5. Curvas de progresso de mancha parda (Septoriaglycines) em soja, nas safras de 1997 a 2003 nos sistemas de semeaduras convencio-nal e direta, com rotação (milho) no verão, a cada três anos e trigo no inverno, como suces-são, após soja. Conv-R= convencional com ro-tação; Conv –S= convencional com sucessão; Di-R= direto, com rotação; Di-S= direto com sucessão.

Esses resultados demonstram o efeito da palha na disseminação de propágulos de S. glycines. Solos arados e gradeados têm ausência de cobertura vegetal e permitem que os res-pingos de chuva disseminem facilmente a doença. Esse efeito pode ser visto na figura 6. Plantas expostas à SC mostram solo aderido ao caule, hastes e folhas. Na SD, as plantas estão limpas, demonstrando o efeito da palha.

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Figura 6. Disseminação de mancha parda (Septoriaglycines) em plantas de soja desen-volvidas em semeadura convencional (es-querda) e semeadura direta (direita).

Asconclusõesdestepatossistemasão:

a) A evolução da doença foi mais acentuada na semeadura convencional;b) A palha da cultura de inverno (trigo ou aveia ou milheto) pode ter impedido a liberação

de propágulos, reduzindo o progresso da doença;c) A severidade de mancha parda, no sistema de semeadura direta, também pode ser

reduzida com rotação de culturas;d) A rotação com milho, por um ano, foi suficiente para reduzir a curva de progresso de

mancha parda.

4.2 Podridão de carvão (Macrophomina phaseolina)

Raízes infectadas apresentam, inicialmente, descoloração da medula e posteriormente, quando a planta morre pode-se ver grande formação de microesclerócios abaixo da epiderme,

a qual se separa facilmente da raiz (Figura 7).

Figura 7. Deslocamento de epiderme e formação de microescle-rócios em raízes de soja com podridão de carvão, causada por Macrophomina phaseolina.

Ao se coletar amostras de raízes e de solo, das plantas de soja, cultivadas em semeadura direta e convencional, constatou-se que, no sistema convencional, havia mais microesclerócios formados nas raízes e também maior presença no solo (Tabela 2). Essas diferenças foram esta-tisticamente significativas e ocorreram em anos secos (Almeida et al., 2003).

Tabela 2. Área abaixo da curva de progresso de doença obtida em semeadura direta e semeadura convencio-nal de soja, infectada com podridão de carvão (Macrophomina phaseolina). (Almeida et al., 2003).

Ano Semeadura convencional Semeadura direta Chuva (mm)

1997/98 935 a 940 a 876,3

1998/99 1118 a 851 b 689,9

1999/00 2189 a 1764 b 474,3

2000/01 637 a 518 a 846,9

Médias seguidas pela mesma letra, nas linhas, não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.

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O efeito do déficit hídrico neste patossistema é conhecido. Plantas estressadas por seca são maisfacilmenteinfectadasporM. phaseolina (Olaya & Abawi., 1996). Ficou comprovado, neste trabalho que:

a) A incidência de raízes infectadas é maior em anos secos;

b) A incidência é significativamente maior em semeadura convencional devido à:

a.1 Distribuição de propágulos pela mecanização, e

a.2 Incorporação de restos de cultura e maior sobrevivência do patógeno;

c) A menor temperatura e a maior umidade dos solos com semeadura direta reduziram a incidência da doença nas raízes de soja.

4.3 Murcha de esclerócio (Sclerotium rolfsii)

Após a emergência, as plantas de soja podem ser infectadas por patógenos radiculares, comoFusarium oxysporum, Rhizoctonia solanieSclerotiumrolfsii (Almeida et al., 2005). Essas infecçóes ão normalmente causam sintomas de murcha, com posterior morte da planta. Nos últimos anos, na região norte do Paraná e em solo classificado como latossolo roxo, a murcha temsidoassociadaaS. rolfsii (Figura 8). Essa morte tem obrigado vários produtores a efetuar ressemeaduras. Embora existam associações entre clima e variedades de soja, o que se observa é maior incidência em campos onde foi cultivado milho safrinha. Essa observação está sendo investigada.

Figura 8. Morte de plântulas de soja causadas por Sclerotiumrolfsii.

Estudos efetuados em laboratório procuraram avaliar a formação de esclerócios em pa-lha esterilizada de milho, soja, tremoço, trigo e soja. Os resultados demonstraram significativa formação dessas estruturas em palha de milho, seguido de soja e tremoço. A menor incidência ocorreu em palha de trigo (Tabela 2).

a) A murcha de esclerócio tem aumentado em ambos os sistemas de semeadura: direta e convencional;

b) A maior incidência foi observada em solos com palha de milho e soja, com menor incidência em palha de trigo;

c) Questiona-se, até prova científica explicativa, se o aumento de área com milho safrinha pode ter aumentado a incidência de S. rolfsii;

d) A utilização de espécies de inverno utilizadas em sucessão podem reduzir a incidência deS. rolfsii no verão favorecendo organismos antagonistas?

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5. Estratégias para controle de doenças em semeadura direta

5.1 Manejo e preparo do solo (calagem, adubação etc.)

As recomendações do Sistema de Produção, editado pela da Embrapa Soja, para o cultivo da soja na região Central do Brasil (Embrapa Soja, 2005) são bem claras, procurando auxiliar o agricultor no adequado preparo do solo e implantação da cultura em semeadura direta. Plantas bem nutridas, com boa formação de raízes, são mais resistentes às doenças.

5.2 Rotação de culturas (RC)

RC é um método milenar de controle de enfermidades. Sua descrição na bíblia demonstra isso. Na Bíblia, no Êxodo (23:10 e 11) encontra-se o seguinte comentário: “Faça plantações em suas terras e colha o que nelas produzir. Mas de sete em sete anos, deixe a terra descansar. O sétimo ano é de descanso da terra. Não faça plantações e nem colheita nesse ano”. O pousio, como citado, é uma prática que visa impedir o desenvolvimento de um patógeno, privando-o de alimento.

Embora a RC seja uma prática adequada para controlar doenças, especialmente em seme-adura direta, é necessário que o agricultor entenda isso, de modo a aceitá-la.

O sucesso da RC depende de vários fatores: condições ambientais, natureza do patógeno e características da espécie vegetal.

Para que a RC seja eficiente é necessário que a doença seja originária do próprio campo. A RC não será eficiente quando o patógeno for transmitido eficientemente pelas sementes ou pelo vento, capaz de ser transportado a longas distâncias. Outro fator é que o patógeno necessita ter pequena gama de plantas hospedeiras (cultivadas ou plantas daninhas) (Morrall & Dueck, 1982, Steadman, 1983) ou ser incapaz de sobreviver na ausência de planta hospedeira adequada.

A RC não será eficiente quando o patógeno produzir estruturas de resistência, capazes de sobreviver por longos anos. Um exemplo típico é Sclerotiniasclerotiorum, que produz estruturas de resistência denominadas esclerócios, os quais se formam aderidos ao tecido vegetal infectado (Adams & Ayers, 1979; Cook et al., 1975; McGee, 1977; Petri, 1986).

Um exemplo de rotação não planejada, é a semeadura de girassol, antecedendo a soja. Sclerotiniasclerotiorum tem grande número de plantas hospedeiras. Plantas infectadas por esse patógeno irão produzir centenas de esclerócios, os quais no campo e em condições adequadas irão germinar e infectar a soja (Figura 8). Nesse caso, ambas as culturas são suscetíveis ao fungo.

Figura 8. Planta voluntária de gi-rassol, em campo cultivado com soja (esquerda) e desenvolvimento de esclerócios em hastes de soja in-fectadaporSclerotiniasclerotiorum(direita).

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O fundamento da RC é a eliminação da fonte de alimento do patógeno, dificultando sua sobrevivência. Além desse fundamento há outros dois tópicos cujos mecanismos são diferentes mas acabam afetando a sobrevivência dos patógenos: supressividade e alelopatia.

5.2.1 Supressividade. O conceito de supressividade do solo advém do fato de alguns solos impedirem ou redu-

zirem o desenvolvimento de certos patógenos radiculares, mesmo que a planta seja suscetível. Essa capacidade pode ocorrer devido a fatores bióticos ou abióticos (Mazzola, 2002). Condições físico-químicas do solo, como pH, teor de matéria orgânica e de argila podem contribuir para o não desenvolvimento da doença. No entanto, a maior parte da supressividade observada é devido à atividade de microrganismos antagônicos ou de seus metabólitos. A supressividade pode ser geral ou específica. A supressividade geral ocorre naturalmente em alguns solos e desaparece quando o mesmo é esterilizado. Por outro lado, a supressividade específica é aquela onde um organismo ou grupo de organismos impedem o desenvolvimento do patógeno (Cook & Baker, 1983).

Solos supressivos têm sido identificados e associados a inúmeras doenças radiculares (Hoitink & Boehm, 1999).

Na Austrália, pesquisas conduzidas por Reeves et al. (1984) demonstraram que tremoço após o trigo reduziu significativamente o mal do pé do trigo causado por Gaeumannomyces graminis var. tritici e aumentou o rendimento do trigo.Segundo Cook & Rovira (1976) a redução da severidade dessa doença em monocultura do trigo ocorreu devido ao aumento da população e atividade da bactéria Pseudomonas do grupo fluorescente, produtoras de antibiótico e ao parasitismodeTrichoderma spp., fato confirmado por McSpadden Gardener & Weller, 2001). Alguns outros exemplos descritos são o controle de Fusarium oxysporum (Scher & Baker, 1980) eRhizoctonia solani (Henis et al., 1978; 1979).

Nematóides de cisto também têm sido controlados pela ação supressiva de solos, como mencionado por Kerry (1988) e por Westphal & Becker (1999).

Um fato interessante e de enorme utilidade na agricultura, especialmente nos sistemas de semeadura direta, foi a associação entre a espécie/genótipo da planta na seleção de comu-nidades microbianas do solo, com capacidade de supressão de doenças (Larkin et al., 1993a; Mazzola & Gu, 2000a; Gu & Mazzola, 2001a,b).

5.2.2. Alelopatia. Outro fato associado à RC é a alelopatia. O termo foi criado por Molish (1937) significando

interações químicas favoráveis ou não, entre plantas e microrganismos. Em 1967, Latham & Watson investigaram a potencialidade de 27 resíduos de culturas no controle de doenças de cebola. Eles concluíram que certas espécies como trevo doce e cevada poderiam reduzir signi-ficativamente as raízes rosadas, uma doença de cebola causada por Pyrenochaeta terrestris.

Outro trabalho, desenvolvido por Smith et al. (1999) com raízes de canola em decomposi-ção, mostrou o efeito na redução de patógenos do solo. Essas informações foram utilizadas para a prospecção de efeito similar em espécies vegetais utilizadas em regiões tropicais, no sistema de rotação ou sucessão de culturas (Martins et al., 2004). Ao se deixar sobre o solo os restos de cultura (semeadura direta) ou ao incorporá-los (semeadura convencional), ocorrerá a minera-lização com liberação de compostos químicos e possível ação deletéria sobre microrganismos patogênicos ou não.

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Extratos obtidos a partir de fragmentos esterilizados de hastes e folhas de trigo, soja, milho, girassol, azevém e braquiária foram mantidos em água esterilizada por dez dias. Os extratos foram utilizados para testar a ação sobre a germinação de esporos de Fusarium spp. Os dados mostraram que, em dois testes, os extratos de palha de azevém e braquiária causaram redução significativa da germinação de esporos de Fusarium spp. (Tabela 3).

Tabela 3. Efeito de diferentes extratos de plantas na germinação de esporos de Fusariumspp. isolado de raízes de soja. A.M.R. Almeida. Embrapa Soja. 2004.

Extrato Teste 1 Teste 2 Média

Água 90,7 87,9 89,30 a

Milho 89,0 77,8 83,40 a

Soja 93,0 84,1 88,50 a

Trigo 98,0 89,0 93,50 a

Braquiária 0,28 0,00 0,14 c

Azevém 29,2 0,59 14,89 b

Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.

5.3. Resistência genética

De todas as medidas de controle a mais eficiente é, sem dúvida, a resistência genética. Infelizmente, nem sempre a mesma é obtida, por ausência de genes de resistência o que obriga o agricultor a utilizar diferentes estratégias, incluindo a utilização de fungicidas.

Na Embrapa Soja, o controle de doenças através de resistência genética foi sempre prioritário. Inúmeros casos de sucesso podem ser citados, como por exemplo, resistência à man-cha olho de rã, ao cancro da haste, ao oídio, ao vírus do mosaico comum da soja, entre outras (Almeida et al., 2005).

5. 4. Controle químico

Quando nenhuma das medidas de controle citadas anteriormente são eficientes no con-trole das doenças, resta a utilização de fungicidas. Atualmente, inúmeros princípios ativos estão disponíveis para os agricultores (Embrapa Soja, 2005).

6. Conclusões

6.1 Regularmente deveria haver um fórum NACIONAL para discussões de prioridades e apresentação de RESULTADOS DE PESQUISA relacionados à semeadura direta. Esteencontropode ser o início.

6.2 Agências de fomento deveriam considerar as prioridades e exigir que as pesquisas sejam complementares, pontuais, associando grupos de fitotecnia, microbiologia, entomologia,

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física e química do solo, fitopatologia etc. APENAS COM PESQUISA INTERATIVA os proble-mas FITOSSANITÁRIOS responsabilizados pela semeadura direta poderão ser solucionados;

6.3 As secretarias de agricultura devem avaliar as campanhas de treinamento de agricul-tores. Apesar das informações existentes, grande número de produtores AINDA não utilizam o conhecimento para o estabelecimento adequado de lavouras no sistema de semeadura direta;

6.4 A rotação de culturas é, muitas vezes, analisada apenas quanto à produtividade e eco-nomicidade. No entanto, as melhorias invisíveis do solo e supressividade não são considerados no aumento da produtividade;

6.5 No caso da soja, há grande carência de medidas de controle integrado de doenças, principalmente devido à rápida expansão da cultura para novas regiões edafo-climáticas;

6.6 Alelopatia (efeito de algumas espécies vegetais sobre propágulos) deve ser mais estu-dado, procurando avaliar possíveis benefícios no controle de patógenos de plantas;

6.7 Estudos microbiológicos, quanto à supressividade e a diversidade genética dos micror-ganismos associados às espécies vegetais devem ser incentivados pelas agências de financia-mento de pesquisa.

7. Participantes

Álvaro M. R. Almeida - Embrapa Soja

Eleno Torres - Embrapa Soja

Paulo C. Galerani - Embrapa Soja

Alexandre Cattelan - Embrapa Soja

Julio Franchini - Embrapa Soja

JoaquimMarianodaCosta–COAMO

AdemirSimionato–COAMO

Celso A. Gaudêncio - Autônomo

8. Referências

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APRESENTAÇÃO 2: Jamil Constantin – Universidade Estadual de Maringá (PR)

DESSECAÇÃO ANTECEDENDO A SEMEADURA DIRETA PODE AFE-TAR A PRODUTIVIDADE

JamilConstantin1

Rubem Silvério de Oliveira Jr.1

Mônica Cagnin Martins2

Pedro Venícius Lopes3

Alberto Leão de Lemos Barroso4

1. Aplicações seqüenciais

Segundo Almeida (1991), o êxito do plantio direto dependerá da disponibilidade de her-bicidas que sejam eficazes nas operações de “manejo” ou “dessecação” e após a instalação da cultura. O “manejo” ou “dessecação” antecedendo o plantio direto é fundamental para um bom desenvolvimento das lavouras. A eliminação das plantas daninhas antes da semeadura permite que a cultura tenha um desenvolvimento inicial rápido e vigoroso.

1 Engenheiro Agrônomo, Doutor, Professor da área de Ciência das Plantas Daninhas da Universidade Esta-dual de Maringá-UEM, Maringá, PR; e-mail: [email protected]; [email protected]

2 Engenheira Agrônoma, D.S., Pesquisadora da Fundação Bahia.3 Engenheiro Agrônomo, Pesquisador da Fundação Bahia.4 Engenheiro Agrônomo, D.S., Doutor, Professor do Departamento de Agronomia da Fundação do Ensino

Superior de Rio Verde (ESUCARV).

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Trabalhos têm demonstrado que aplicações seqüenciais, onde são aplicados antecipada-mente herbicidas sistêmicos, tais como glyphosate e 2,4-D, e após 15 a 20 dias, na véspera ou na data da semeadura são aplicados herbicidas de contato como paraquat, paraquat + diuron, diquat e flumioxazin, proporcionam maior eficiência no controle das plantas daninhas e permitem a semeadura no limpo. A segunda aplicação serve fundamentalmente para corrigir problemas de rebrotas e de novos fluxos de plantas daninhas já emergidos por ocasião da semeadura (Marochi, 1996; Pinto et al., 1997). De acordo com Pereira et al. (2000), o primeiro fluxo que emerge no verão é normalmente o de maior densidade e o que tem maior potencial de prejudicar o rendimento das culturas, uma vez que emerge antes ou junto com a cultura. Uma vantagem adicional das aplicações seqüenciais seria o fato de que espécies de mais difícil contro-lecomoIpomoeagrandifolia (corda-de-viola) e Comelina benghalensis (trapoeraba) poderiam ser adequadamente controladas. Segundo Melhorança et al. (1998), dessecações seqüenciais seriam recomendáveis, principalmente em condições de altas infestações ou para plantas dani-nhas consideradas de difícil controle.

O uso de dessecações seqüenciais, iniciadas 15 a 20 dias antes da semeadura, apresenta, portanto, inúmeras vantagens, que são tanto maiores quanto maior for a biomassa de cobertura do solo. O controle do primeiro fluxo de plantas daninhas que emerge é fundamental para reduzir a interferência das mesmas sobre a produtividade das culturas que se estabelecerão posteriormente.

2. Intervalo de tempo

Outro ponto importante a se observar é o intervalo de tempo entre a dessecação e a semeadura das culturas. Tem-se verificado que em áreas com grande cobertura vegetal (de 40% a 50% de cobertura do solo) as culturas que são plantadas em períodos muito curtos após a operação de dessecação apresentam clorose das folhas no período inicial, com redução no desenvolvimento vegetativo, podendo implicar em queda de produtividade.

Calegari et al. (1998) relataram que a semeadura de milho logo após a dessecação da aveia pode acarretar germinação desuniforme e desenvolvimento inicial inadequado (estiola-mento) das plântulas de milho, e recomendam um intervalo de pelo menos duas a três semanas entre o manejo da aveia e a semeadura do milho. Os mesmos autores também observaram que determinadas coberturas podem ter efeitos alelopáticos sobre culturas subseqüentes, sendo queumaformadediminuiressesefeitosseriaaguardarumtempomaiorparaimplantaçãodocultivo sobre a cobertura manejada. Melhorança et al. (1998) observaram que a semeadura de soja em áreas de pastagem, realizada em período inferior a 15 dias após a aplicação do desse-cante, resultou em clorose acentuada na parte aérea, especialmente na fase inicial da cultura. Peixoto & Souza (2002) verificaram que a produtividade da soja foi diminuída em até 13,9% quando esta foi semeada imediatamente após a dessecação de sorgo. Melhorança & Vieira (1999) verificaram que a época de dessecação de Brachiaria decumbensafetouorendimentoe o desenvolvimento vegetativo da soja, sendo que a dessecação realizada 18 dias antes da semeadura propiciou rendimentos 17% e 32% superiores às dessecações realizadas aos 7 e 1 dia antes da semeadura, respectivamente.

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3. Resultados recentes

Com relação às plantas daninhas, experimentos conduzidos pelo Departamento de Agronomia da Universidade Estadual de Maringá durante a safra 2003/2004, em conjunto com a COAMO e COPACOL (dados não publicados), demonstraram que a tendência é a mesma, ou seja, quanto menor o período entre a dessecação das plantas daninhas e a semeadura, maiores as reduções de produtividade nas culturas de soja e de milho. Nesses experimentos, compararam-se dessecações seqüenciais iniciadas 20 dias antes da semeadura com dessecações realizadas sete dias antes da semeadura e dessecações realizadas no dia da semeadura (sistema aplique-plante). Em todos os casos, a cobertura do solo pelas infestantes no momento das apli-cações situava-se entre 60% e 100%.

Para os trabalhos conduzidos dentro das estações experimentais das duas cooperativas verificou-se que a dessecação 20 dias antes da semeadura resultou num aumento da produtivi-dade da soja de 6,8 e 7,8 sacos ha-1, quando comparada, respectivamente, com as dessecações sete dias antes da semeadura e na data da semeadura (aplique-plante). No milho, estas diferen-ças foram de 10,9 sacos ha-1 e 18,5 sacos ha-1 a mais, a favor da dessecação realizada 20 dias antes da semeadura. Em experimentos conduzidos em seis áreas de cooperados da COAMO, na cultura da soja, as diferenças foram ainda maiores, resultando em queda média de 11,23 sacos ha-1 no sistema aplique-plante em comparação com a dessecação realizada 20 dias antes. Conclui-se, dessa forma, que a soja e o milho que emergiram e tiveram o seu desenvolvimento inicial em meio à cobertura vegetal (sistemas aplique-plante e sete dias antes da semeadura) não totalmente dessecada tiveram sua produtividade reduzida.

4. Efeito do grau de cobertura do solo

Todos os sistemas testados acabam atingindo bons níveis de controle das infestantes com o decorrer do tempo. A diferença básica entre eles está principalmente na velocidade de desseca-ção da biomassa das plantas daninhas, o que, por sua vez, implica no grau de cobertura do solo no momento da emergência da cultura e no seu desenvolvimento inicial (Figuras 1 e 2). Assim, paraos sistemasdedessecação setediasanteseaplique-plante,as culturasemergirame sedesenvolveram inicialmente sob intenso sombreamento, e mesmo com estes sistemas atingindo uma boa dessecação aos 14 dias após a semeadura as plantas daninhas ainda continuavam “em pé” e sombreando o milho e a soja. O primeiro resultado desse fato foi o aparecimento de clorose e estiolamento das culturas, retardando o desenvolvimento e culminando com me-nores produtividades. Para dessecação 20 dias antes, já no momento da semeadura o nível de controle era elevado e as plantas daninhas estavam tombadas rente ao solo, não interferindo no desenvolvimento da cultura. Ressalta-se que nos experimentos nas áreas de cooperados da COAMO, em duas propriedades, as perdas atingiram até 50% da produção de soja no sistema aplique-plante. Essas áreas passaram por um período de seca prolongado, sugerindo que a importância do manejo utilizado antes da semeadura é aumentada quando a lavoura passa por condições adversas durante o ciclo, possivelmente em função do estresse sofrido inicialmente, o que pode comprometer a resistência da cultura às condições adversas.

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Figura 1. Eficiência do manejo de dessecação aos 5 dias depois do plantio (AP = aplique-plante; 7 DAP = sete dias antes do plantio; SIC = sistema integrado de controle de plantas daninhas).

Figura 2. Desenvolvimento do milho em função dos di-ferentes manejos aos 20 dias após o plantio (SIC = sis-tema integrado de controle de plantas daninhas; 7 DAP = sete dias antes do plantio; AP = aplique-plante).

Deve-se considerar, é claro, que, além do sombreamento inicial das culturas, existem ou-tros fatores como a demanda de nitrogênio pelos microrganismos decompositores, efeitos alelo-páticos e outros aspectos que ainda deverão ser estudados e esclarecidos, para melhor explicar estas quedas de produtividade e, com isso, evitá-las. Mas, pode-se dizer que, quanto maior a cobertura do solo, implicando elevada massa verde, maior será o prejuízo se a semeadura for realizada pouco tempo após a dessecação. Já em áreas de baixa infestação, com pouca cober-tura do solo, a semeadura poderá ser feita logo após a operação de dessecação, sem prejuízo da produtividade.

5. Literatura Citada

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DESSECAÇÃO EM ÁREAS COM GRANDE COBERTURA VEGETAL: ALTERNATIVAS DE MANEJO

Jamil Constantin5

Rubem Silvério de Oliveira Jr.5

Mônica Cagnin Martins6

Pedro Venícius Lopes7

Alberto Leão de Lemos Barroso8

No Boletim Informações Agronômicas no 109, de março de 2005, fizemos considerações sobre o efeito da dessecação de manejo sobre o desenvolvimento e a produtividade das culturas semeadas posteriormente. Demonstramos que a modalidade aplique-plante (ou simplesmente AP) em áreas de alta infestação pode prejudicar o desenvolvimento inicial das culturas, redun-dando em queda de produtividade.

Em experimentos realizados na área de atuação das cooperativas COAMO e COPACOL, na safra 2003/2004, observou-se reduções de produtividade quando o sistema de manejo AP foi utilizado, ou seja, quando a semeadura foi realizada imediatamente ou até sete dias após a operação de manejo.

Nos trabalhos conduzidos dentro das estações experimentais das cooperativas, verificou-se que a dessecação 20 dias antes da semeadura resultou num incremento de produtividade

5 Engenheiro Agrônomo, D.S., Doutor, Professor da área de Ciência das Plantas Daninhas da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Maringá, PR; e-mail: [email protected]

6 Engenheira Agrônoma, D.S., Pesquisadora da Fundação Bahia.7 Engenheiro Agrônomo, Pesquisador da Fundação Bahia.8 Engenheiro Agrônomo, D.S., Doutor, Professor do Departamento de Agronomia da Fundação do Ensino

Superior de Rio Verde (ESUCARV).

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da soja de 6,8 sacos ha-1 e 7,8 sacos ha-1, respectivamente, quando comparada com as desse-cações realizadas sete dias antes da semeadura e na data da semeadura (AP). No milho, essas diferenças foram de 10,9 sacos ha-1 e 18,5 sacos ha-1 a mais a favor da dessecação realizada 20 dias antes da semeadura. Em experimentos conduzidos em seis áreas de cooperados da COAMO, na cultura da soja, as diferenças foram ainda maiores, resultando em queda média de 11,23 sacos ha-1 no sistema AP em comparação com a dessecação realizada 20 dias antes.

Conclui-se, dessa forma, que a soja e o milho que emergiram e tiveram o seu desenvol-vimento inicial em meio à cobertura vegetal não totalmente dessecada (sistemas AP e sete dias antes do plantio) mostraram sua produtividade reduzida. Esses trabalhos foram apresentados na 27a Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil (Constantin et al., 2005a, 2005b; Oliveira Jr. et al., 2005).

Todos os sistemas testados acabam atingindo bons níveis de controle das infestantes com o decorrer do tempo. A diferença básica entre eles está principalmente na velocidade de des-secação da biomassa das plantas daninhas, o que, por sua vez, implica o grau de cobertura do solo no momento da emergência da cultura e seu desenvolvimento inicial. Assim, para os siste-mas de dessecação sete dias antes do plantio e AP, as culturas emergiram e se desenvolveram inicialmente sob intenso sombreamento (Figura 1), e mesmo estes sistemas atingindo uma boa dessecação aos 14 dias após a semeadura, as plantas daninhas ainda continuavam “em pé” e sombreando o milho e a soja. O resultado desse fato foi o aparecimento de clorose e estiola-mento das culturas, retardando o desenvolvimento e culminando com menores produtividades (Figura 2).

Figura 1. Eficiência da dessecação dos diferentes manejos – aplique - plante (AP), dessecação sete dias antes

do plantio (7 DAP) e dessecação 20 dias antes do plantio (20 DAP) – aos sete dias após o plantio.

Figura 2. Estiolamento e clorose da soja no ma-nejo AP comparado ao manejo 20 DAP, ambos aos 14 dias após o plantio.

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São, portanto, evidentes os benefícios do manejo antecipado nas áreas de alta infestação e/ou elevada cobertura do solo por ocasião da operação de manejo. No entanto, em muitas oca-siões a efetivação desta operação pode implicar atraso da data da semeadura da cultura, o que pode resultar em efeitos indesejáveis para a lavoura. A primeira aplicação de manejo depende do início das chuvas que antecedem a semeadura de verão. Esse fato ocorre pela necessidade de haver disponibilidade de água no solo para que os herbicidas sistêmicos utilizados na primeira aplicação de manejo possam ser adequadamente absorvidos e translocados. Também é espe-rado que, entre a primeira e a segunda aplicação de manejo, haja a ocorrência de chuvas que estimulem a germinação do primeiro fluxo de plantas daninhas.

Haverá ocasiões nas quais não será possível realizar duas aplicações de manejo, seja por questões de logística da propriedade, seja pelo atraso do início das chuvas ou mesmo pela resistência do produtor em adotar o sistema de manejo antecipado. Partindo do pressuposto que a decisão tomada privilegiou uma única aplicação de manejo em áreas-problema, é necessário traçar novas estratégias eficazes para evitar a interferência negativa da biomassa sobre a emer-gência e o desenvolvimento inicial das culturas semeadas.

Devido à natureza sistêmica dos herbicidas tradicionalmente utilizados em manejo (glypho-sate e 2,4-D), o efeito sobre as plantas daninhas é lento e a cobertura demora alguns dias para morrer completamente. Uma das possibilidades interessantes para acelerar esse processo seria a associação destes princípios ativos com outros de ação mais rápida. Com esse objetivo, novos experimentos antecedendo a semeadura da soja foram conduzidos pela Universidade Estadual de Maringá, na safra 2004/2005, no intuito de estudar opções que viabilizassem tal possibilidade.

Nesses trabalhos, conduzidos em várias localidades do Brasil pela Universidade Estadual de Maringá em conjunto com instituições como a ESUCARV e a Fundação Bahia, ficou evidente que uma das alternativas viáveis seria a associação de glyphosate com flumioxazin. Dentre os aspectos favoráveis dessa associação, em comparação com a utilização de glyphosate iso-ladamente (Figura 3), destacam-se a maior velocidade de dessecação da biomassa presente, estabelecendo melhores condições de emergência para a cultura, a maximização de controle de espécies consideradas de difícil controle (corda-de-viola, erva-quente, apaga-fogo) e um efeito residual no controle do primeiro fluxo de infestação da cultura (Figura 4). A conjunção desses três fatores permite a emergência no limpo e impede o sombreamento inicial da cultura, além de retardar a instalação da infestação de plantas daninhas.

Figura 3. À esquerda, emergência da soja no tratamento glyphosate (AP) aos sete dias de-pois do plantio; à direita, emergência da soja no tratamento glyphosate + flumioxazin 50 g (AP)

aos sete dias depois do plantio.

Figura 4. Emergência da semen-teira de plantas daninhas em siste-ma AP aos 24 dias após o plantio (época de aplicação do pós-emer-gente).

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Como benefícios adicionais, em função da inibição do primeiro fluxo de emergência de plantas daninhas, pode-se conseguir postergar a época de aplicação do controle pós-emergente nas culturas, o que, no caso de culturas como a soja, por exemplo, implica aumento da tole-rância da cultura aos herbicidas utilizados. A médio e longo prazos tal manejo permite prever a redução da densidade dos bancos de sementes de plantas daninhas presentes no solo, o que permite supor maior facilidade de seu controle. Um outro aspecto interessante é que, dentro do panorama de intensificação do uso de glyphosate, em virtude das culturas transgênicas, a utilização de um outro herbicida com mecanismo de ação distinto pode prevenir ou retardar o aparecimento de biótipos resistentes de plantas daninhas.

Os experimentos demonstraram que, principalmente nos primeiros dez dias após a aplica-ção da associação glyphosate + flumioxazin, a velocidade de dessecação da biomassa vegetal foi aproximadamente o dobro daquela observada nas áreas com glyphosate isoladamente. Esse fato permitiu um melhor desenvolvimento inicial da soja, evitando quedas de produtividade mesmo em áreas onde se realizou o manejo na modalidade AP e que apresentavam grande cobertura vegetal .

Em experimento conduzido na região de Ponta Grossa (PR), cuja infestação predominante eradeBrachiaria plantaginea cobrindo totalmente o solo e com altura por volta de um metro, quando se realizou o AP com glyphosate isoladamente a perda em produtividade na soja foi de quase 12 sacas ha-1. Nessa mesma modalidade de manejo, quando se utilizou glyphosate + flumioxazin também foram observadas perdas, mas num montante de menos de 8 sacas ha-1. Por outro lado, quando a operação de manejo foi realizado três dias antes da semeadura, o glyphosate isolado acarretou uma perda de 8 sacas ha-1,aopassoqueaassociaçãodelecomflumioxazin eliminou as perdas de produtividade. Dessa forma, viabilizou-se uma alternativa para evitar a necessidade de duas operações de manejo em áreas de alta infestação, sem que haja prejuízos na produtividade.

Em experimento conduzido em Luís Eduardo Magalhães (BA), onde a cobertura do solo pelas plantas daninhas era da ordem de 40% a 50%, o AP com glyphosate isolado resultou em perda de 6,7 sacas ha-1. Com a associação com o flumioxazin, essas perdas não ocorreram.

Em área experimental estabelecida em Rio Verde (GO), cuja infestação era predominante-mentedeAlternanthera tenella (apaga-fogo), o AP com glyphosate resultou em perdas de 12,2 sacas ha-1 e quando o manejo foi realizado três dias antes da semeadura as perdas foram de 9,9 sacas ha-1. Já para a associação com flumioxazin, quer seja no AP ou três dias antes, não houve decréscimos de produtividade.

Em outra área que recebeu o mesmo experimento, com infestação de Parthenium hyste-rophorus (losna-branca), em Maringá (PR), os resultados obtidos foram semelhantes aos anterio-res. No manejo AP ou na dessecação três dias antes da semeadura, a utilização de glyphosate resultou em perdas de 6,6 sacas ha-1 e de 7,7 sacas ha-1, respectivamente, ao passo que a asso-ciação com flumioxazin, em ambos os casos, não afetou a produtividade. Na figura 5 é possível observar como o sistema de manejo afetou o desenvolvimento da soja, com desenvolvimento normal nas áreas onde a dessecação foi acelerada com o flumioxazin e com o estiolamento das

plantas nas áreas onde a dessecação foi mais lenta (glyphosate isoladamente).

Figura 5. Efeito de diferentes sistemas de manejo da soja, 24 dias após a semeadura: glyphosate isoladamente (à esquerda) e glyphosate + flu-mioxazin na dose de 50 g ha-1 (centro) e de 80 g ha-1 (à direita).

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Comprova-se, dessa forma, que o fato de se poder acelerar a morte da cobertura vegetal constitui um componente muito importante no desenvolvimento e, por conseqüência, na pro-dutividade das culturas semeadas posteriormente. A associação de glyphosate com flumioxazin demonstrou ser uma opção viável para a utilização desta proposta de manejo. Com base nos resultadosapresentados,conclui-seque,numacondiçãodeaceleraçãodamortedacoberturavegetal, torna-se possível a semeadura em um curto espaço de tempo após a dessecação, evi-tando-se grandes perdas na produtividade.

Literatura

CONSTANTIN, J.; OLIVEIRA JR., R. S.; PAGLIARI, P. H.; COSTA, J. M.; ARANTES, J. G. Z.; CAVALIERI, S. D.; ALONSO, D. G.; ROSO, A. C. Sistemas de manejo: efeitos sobre o desenvol-vimento da soja e sobre o controle de plantas daninhas. In: REUNIÃO DE PESQUISA DE SOJA DA REGIÃO CENTRAL DO BRASIL, 27., 2005, Cornélio Procópio, PR. Resumos... Londrina: Embrapa Soja, 2005a. p. 527-528.

CONSTANTIN, J.; OLIVEIRA JR., R. S.; PAGLIARI, P. H.; DALBOSCO, M.; ARANTES, J. G. Z.; CAVALIERI, S. D.; ALONSO, D. G. Influência de sistemas de manejo de plantas dani-nhas antecedendo o plantio sobre a cultura da soja. In: REUNIÃO DE PESQUISA DE SOJA DA REGIÃO CENTRAL DO BRASIL, 27., 2005, Cornélio Procópio, PR. Resumos... Londrina: Embrapa Soja, 2005b. p. 529-530.

OLIVEIRA JR., R. S.; CONSTANTIN, J.; PAGLIARI, P. H.; ARANTES, J. G. Z.; CAVALIERI, S. D.; ROSO, A. C.; SOARES, R.; HOMEM, L. M. Efeito de dois sistemas de manejo sobre o de-senvolvimento e a produtividade da soja. In: REUNIÃO DE PESQUISA DE SOJA DA REGIÃO CENTRAL DO BRASIL, 27., 2005, Cornélio Procópio, PR. Resumos... Londrina: Embrapa Soja, 2005. p. 525-526.

Debate Domênico Vitullo – Cooperativa Agrícola de Pedrinhas

O uso de uma única espécie (monocultura) provoca desequilíbrio ambiental. A idéia do coquetel surgiu, em 1994, por meio do Sr. Andrea Vicentini: consiste na mistura de várias espé-cies (aveia, girassol, milheto, moa e trigo) para obter a maior diversidade possível.

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A diversidade estimula a maior complexidade das relações existentes no cultivo criando uma estabilidade dinâmica. Trata-se do princípio de sustentação de uma floresta em clímax (é como se fosse uma floresta tropical criada em alguns meses).

O plantio foi feito em maio, com semeadora de plantio direto ou convencional com sistema de rotor.

• Quantidade de sementes:

Tremoço 33 a 42 kg ha-1

Aveia 33 a 42 kg ha-1

Nabo-forrageiro 6 a 8,5 kg ha-1

Girassol 4,5 a 6,5 kg ha-1

A dessecação foi feita 90 a 100 dias após o plantio (observar a granação da aveia e do nabo)

A pesquisa revelou os seguintes diferenciais e resultados:

• cobertura do solo;• reciclagem de nutrientes devida às diferentes necessidades nutricionais;• perfil do solo sendo explorado por sistemas radiculares diversos;• descompactação do solo;• equilíbrio do agroecossistema;• menor incidência de pragas e doenças;• aumento da produtividade dos cultivos após coquetel.

Cultivos subseqüentes ao coquetel:

• coquetel dessecado;• soja;• milho;• feijão.

Demanda de pesquisa: são necessários maiores estudos em:

• fertilidade do solo;• biologia e microbiologia do sistema;• física do solo;• viabilidade econômica da rotação de culturas.

Ciro Antonio Rosolem – UNESP/Botucatu

Pragas, doenças e matologia em Sistema Plantio Direto

Com a utilização do plantio direto, verifica-se a ocorrência de uma série de problemas fitossanitários:

Aumento da incidência da lagarta-do-cartucho e da lagarta-elasmo (a lagarta-dos-capin-zais), podridão de raízes novamente, nematóide novamente, curdobacterium - doença de des-

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coberta relativamente recente. No milho, a tal da larva-alfinete, lagarta-do-cartucho no solo e a barriga- verde.

Doenças no milho: Phaospheria, cercóspora: é uma encrenca esse tal de Plantio Direto. Soja, lagarta-do-cartucho; é diferente do que aprendemos na escola, que era controlado facil-mente por precipitação. Percevejo-castanho, coró: cochonilha, que dava em café e, agora, ataca a soja, quer dizer; esqueceram de avisar as pragas que esse negócio de plantio direto é bom, não é, ou melhor, foi bom para elas também.

Nematóide, ferrugem e assim por diante. Trigo também tem muitos problemas e penso que a aveia também: lagarta-do-cartucho, e até milheto podem ter pragas, podendo dar até lagartas que comem a resteva do milheto, contribuindo, em função dos restos culturais, para o aumento até de lagarta-elasmo, ou seja: vamos parar com esse negócio de semeadura direta, pois isso não é bom, devido a estarmos colocando altas doses de produto químico e vamos ter que aumentá-las.

Agora, será verdade? Será culpa do sistema ou será que esse agricultor é relaxado? Realmente, teoricamente, desconfia-se, pois quando se faz semeadura direta, ou seja, acúmulo de palha, tem-se mais umidade e isso pode, eventualmente, levar à maior população de pragas e maior potencial de inóculo e, em algumas situações, à diminuição. Por outro lado, para um bom programa de SD, temos a rotação de culturas - quase obrigatória. Quando se faz rotação de culturas, tem-se tigüeras de uma espécie no cultivo da outra espécie... Será? Sempre há, é um negócio meio assim, não era para ter, não é? Isso leva à universalização e cosmopolitização das pragas. O questionamento é o seguinte: será que o SSD, só porque tem mais palha, mais umidade, complica tanto assim?

Muito do que é colocado como problema de pragas e doenças em SSD, na realidade, reflete um sistema mal conduzido. O bom agricultor no convencional é um bom agricultor de SSD e também, aquele aventureiro no convencional não será um bom agricultor no sistema plantio direto.

É lógico que existem problemas que precisam ser resolvidos. O acúmulo de palha não é bom? Não penso assim, acho que quanto mais palha é melhor. É um ponto para ser discutido.

Há algumas coisas que são colocadas, mas quando olhamos os princípios são impossíveis de acontecer. Portanto, qual será a primeira aproximação? É aplicar fungicida com dessecante e, honestamente, é isso que está sendo feito. É colocar um Paraquat. Foi proibido e está sendo feito. Em foto publicada na revista Plantio Direto, percebe-se que estão aplicando parathion como dessecante. Então, a tendência do agricultor é essa; por imediatismo, acompanha, e isso talvez não esteja errado, pois tem filho para tratar, escola para pagar e supermercado no final da semana.

Agora, temos obrigação de oferecer soluções. Alternativas que sejam aplicar mais “ve-nenos” genericamente, que sejam, aplicar mais herbicida, mais inseticida, mais fungicida, então aí concordo plenamente com o que o Álvaro levantou, que é o seguinte: temos ramos novos da ciência crescendo e não estamos prestando atenção para isso. Temos essas intera-ções entre plantas e não há quase ninguém no Brasil estudando isso. Até há algumas pes-soas trabalhando com alelopatia, com nome equivocado ou não, mas está fazendo alguma coisa, ou não tem esse mérito?

Acho que o jeito de lidar com as relações entre organismos, será na bioquímica e talvez, muito provavelmente, na genômica. Vejo muito dinheiro colocado no Brasil para fazer genoma,

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ou seja, fazer mapeamento de genes. Não conheço nenhuma prática que envolva engenharia genética derivada de um genoma. Todas as variedades, todos os processos que envolvem genô-mica que estão no mercado hoje foram derivados de estudo de processos, derivados de ciclos bioquímicos e não do conhecimento do genoma. Então, precisamos pensar o que queremos. Temos que dar esse passo até certo ponto inócuo. Por exemplo, toda uma nova área de estudo sobre sinalizadores: acho que é por aí que vamos encontrar resposta, sendo que vai demorar um pouco, mas estamos fazendo agricultura há 500 anos neste País, há quatro mil anos no mundo; pois então não vamos resolver o problema de semeadura direta e das relações entre plantas em quinze dias. Agora, não vejo em nossas universidades nenhum trabalho envolvendo ácido jasmônico, que foi a vedete de um congresso que estive no ano passado na Austrália. Ácido salicílico, muitos fenóis, são as vedetes hoje, ou seja, sinalizadores, isto é compostos químicos que as plantas usam para sinalizar. Sinalizar o que? Tudo, se elas precisam de mais nitrogênio, se há uma praga atacando. Inclusive coisas assim, “meio extraterrestres”, sinalização entre plantas via aérea, pelo ar, o ácido jasmônico serve para isso. Uma planta atacada por determinada praga conta isso para a vizinha e esta desenvolve alguns fenóis para se defender. Lógico que, para desenvolvê-los, vai produzir carbono e produzir menos, mas se defende. Muito disso que vimos hoje, que um sintoma típico, um amarelecimento, que uma coisa indica outra, não sei, daí concordo com Jamil, pode ser alelopatia, pode. Que tipo de sinalização existe entre a planta que está nascendo e a que está morrendo? Fizemos alguns experimentos em Botucatu, que mostraram que sombreamento não é, pois colocamos algumas espumas e a soja sai bonita do mesmo jeito. O que fico triste é que quando mandamos projeto para o CNPq, para a Fapesp, que envolva cem mil dólares recebemos uma resposta assim: “Ah! O equipamento é muito caro.” Meu Deus do céu! Quanto custa a Agricultura neste País? Quem deu essa opinião foi um de nós, não foi o CNPq, nem as elites. Foi um colega meu que desconhece o que está acontecendo no mundo. Então, nós da academia, temos, sim, culpa nessa história.

Só para falar um pouco mais de controle de mato. Ah! Alelopatia é um negócio que temos muito para aprender e para usar. Temos o binômio quantidade e qualidade de palha. Quando estava na escola, formei-me em 1973, o princípio era preparar o solo e fazer um colchão para que a semente germinasse e a planta se desenvolvesse bem. Será que bastante palha é uma barreira, Jamil? Ou será que é cama? Vai depender, lógico, da qualidade desse binômio. Então, a palha pode ser um obstáculo, mas também é um aspecto que, se bem usado, faz a planta crescer melhor. Quer dizer: quando vai ser uma coisa, quando vai ser outra, não sabemos. E vamos saber quando? Quando pararmos e fizermos como o professor Malavolta dizia, cansar de estudar bioquímica, temos que chegar lá, quer dizer uma agricultura que se passa de 1.000 para 2.000 kg ha-1 é muito fácil, agora, de quatro mil para cinco para seis para dez, como está chegando, temos que saber bioquímica, não há outra saída, não há jeito melhor.

O Jamil usou alguns quadros e colocou o DMS e tenho visto muitos colegas da univer-sidade que vão dar palestra para profissionais, para agricultores, e começam a desconsiderar resultados obtidos mediante uma análise estatística. Isso é a morte da ciência. Um agricultor fazer isso? O técnico que vai vender produto, sim. O pesquisador fazer isso, não, ele não pode. É necessário estabelecer uma relação de causa e efeito e explicar porque está acontecendo. Daí, tem-se, um resultado sólido, e isso está faltando para todos nós, inclusive uma autocrítica que faço,porque,apartirdomomentoque temoso resultadoeestabelecemosumarelaçãode causa e efeito, esse resultado é consistente e extrapolável. Agora, a partir do momento que falo, deu porque deu, então não deu. O problema é nosso, temos que resolver, temos gente de

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cooperativa, agricultores, setores importantes para nos ajudar e nos cobrar a fazer isso, pois sem cobrança não vamos chegar a lugar nenhum.

Elaine Bahia Wutke - IAC

Agradecemos ao Ciro a veemente explanação; espera-se que continue trabalhando um pouco com feijão. Agradeço a Sonia e, em seguida, prosseguiremos com a explanação do Dr. João Kluthcouski.

João Kluthcouski – Embrapa Arroz e Feijão

Nem sempre avaliamos o que está em nosso entorno. Rapidamente, mostrando que, se em 1980-2005 fôssemos adquirir um trator 296 ou 297, precisaríamos em termos de sacas de arroz 1.650% a mais. Tudo bem, essas análises estão sendo feitas para pecuária etc. e se desvalorizan-do ao longo do tempo. Isso está ocorrendo mundialmente.

Pensávamos até 2002 que o plantio direto era literalmente sustentável. É verdade, ou não? O agronegócio da soja era comentado no mundo todo! No nosso agronegócio, de repente, vie-ram a ferrugem, uma alta em dólar dos insumos e passamos a ser insustentáveis economicamen-te e continuamos sendo sustentáveis ecologicamente. Então o plantio direto tem que fazer uma retomada de ações. Qual retomada? Primeiramente, reduzir o custo de produção; acostumamos a usar tudo que é enlatado, que aparecia dentro do sistema de produção. Como vamos redu-zir o custo? Rotação, as coisas antigas, dentro do próprio plantio direto, o manejo integrado. Dentro do plantio direto há um aspecto que ninguém comentou aqui, que o principal fator de aumento de custo é o uso de semente, que chamo de “podres”. Não temos sementes sadias sendo produzidas no País, ou seja, mofo-bran-co, fusário, antracnose, todas essas doenças es-tão sendo trazidas via semente para o País, pois o controle passou a ser terciário dentro desse contexto. E o segundo desafio que temos é o uso intensivo da área o ano todo.

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Os investimentos são caros, principalmente nessas regiões de fronteira do cerrado e as vizinhas, e estamos usando essas áreas normalmente só por quatro meses ao longo do ano. Então, o desafio é usá-las durante todo o ano.

Gostei de ver o Professor Veline mostrando essa seqüência em uma de suas apresentações lá em São Pedro, pois até que enfim alguém se preocupa em ver controle de planta mesmo com cobertura, como cultura, como cobertura morta, não colocando mais o herbicida como cabeceira, está certo, pois temos meios de evoluir para reduzir custo de produção, e, novamente, o Veline conclui que para algumas espécies, a palhada tem eficiência comparada aos herbicidas, e que são necessários entre seis e dez toneladas, pois o intervalo está muito grande de matéria seca para proporcionar o controle de 60-85% das espécies mais sensíveis.

Também gostei do Kliewer que diz que a incidência de plantas daninhas tem relação direta com o comprimento do período do pousio. Por isso, temos que usar toda a área durante o ano todo e também está muito claro que o sistema plantio direto tem um controle efetivo na ques-tão de plantas daninhas. Já existe na literatura muita coisa que pode nos balizar. Repetindo que precisamos, segundo o Saraiva, o Torres ou o Lopes de, pelo menos sete toneladas por hec-tare de palha para ter uma cobertura satisfatória da superfície do solo, mas como a velocidade de decomposição dessa palha chega a ser cin-co vezes superior do que em clima temperado, esse número pode ser questionado, pois mesmo sete toneladas pode não perdurar por temposuficiente. E observa o Seguy que, em 90 dias, a palhada de soja, ela que cobria 86% da su-perfície do terreno passou a cobrir só 7%, quer dizer, é o efeito da espécie, enquanto a palhada do milho cobria 63% passou a cobrir 30%. Mais um destaque interessante, sobre infestação deplantas daninhas na cultura da soja do Kliver, após aveia, dizendo que sempre as gramíneas têm um efeito no controle das plantas dani-nhas superior ao das folhas largas, está certo, isso sempre ocorre. Também a importância da quantidade de palha, a biomassa no controle da planta daninha, sempre nós temos um controle de massa maior.

Resultados do Veline mostram que quinze toneladas são capazes de controlar a Brachiaria plantaginea (capim-marmelada) e que existe tanto o efeito da barreira física quanto o efeito alelopático. Quer dizer, mesmo tirando a palha, há um controle bastante grande das plantas

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daninhas e são efeitos físicos combinados com alelopáticos em relação às plantas daninhas.

Vamos começar, então, com o milheto, sem desprezar a aveia e o centeio - todas são fontes de cobertura e usadas em momentospontuais. O milheto, porém, é o carro-chefe em termosdecoberturamortanaregiãocentraldoBrasil. Gostaria de considerar aqueles “18-20 milhões de hectares de plantio direto”, em vista deboaparteestarsendofeitacomumagrada-gem, para incorporação do milheto. Aqueles 3 cm que o Fancelli mencionou, na miniindústria eles são destruídos nessa operação. Então, quanto há de plantio direto, efetivamente, não sabemos.

O milheto, além desse problema crônico, apresenta uma degradação muito rápida da palhada e talvez a razão esteja aqui: ele tem 348-350 kg ha-1 de massa verde aos 55 dias que dessecamos, então é uma palhada que não vai ter persistência praticamente nenhuma e é o queocorrenarealidade,porissoessafontenãopode ser desprezada, porém, é preciso procurar novas fontes.

Aseguir,mostramosafotodapropriedadedo Ricardo Merola, com uma braquiária esta-belecida que ele está fazendo silagem; essa é a fonte que estamos defendendo hoje, com “unhas e dentes”, mesmo que tenha um ciclo bastante longo - ocupa oitenta dias na área para poder formar uma massa satisfatória e ainda está sen-do a nossa vedete em termos de palhada.

O percentual de redução em um período de 107 dias de soja, milho, arroz, milho mais brizantha e milho mais ruziziensis, quer dizer, vamos observar que, no setor da soja, as demais têm muita semelhança. A velocidade de decom-posição dessas palhas são muito semelhantes, particularmente as leguminosas e as gramíneas. Temos que ter realmente é massa, é volume de palha para poder compensar essa velocidade de decomposição, e isso ocorre no inverno, que é o período de uma estação mais fria no Centro-Oeste.

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A figura a seguir mostra uma opção que temos no sistema Santa Fé, que é produzi-la consorciada, usar essa palhada, essa braquiária; já existem muitos produtores adotando esse sistema que é a melhor forma de fazer uma cobertura de segadeira nessa safra para a frente; a seguir, entraríamos com a cultura anual.

Não vamos quebrar a rotina do produtor e acrescentaremos mais uma utilidade para essa área, colocando que, em algumas regiões, esse processo pode ser feito na entressafra, como é o caso do MT, do médio e norte do Mato Grosso, em que as chuvas se alongam por um período maior. Na figura a seguir, o exemplo da colheita desse consórcio, sem problema nenhum em termos de queda de produtividade ou embaraço na colheita.

Só para enumerar, a biomassa de cobertura, já existe um trabalho feito em que ela biomassa foi superior a outras fontes. A biomassa radicular talvez seja a mais próspera, pois a indústria de raízes é muito grande pelas gramíneas forrageiras e, em particular, pela braquiária. A matéria orgânica do solo (MOS) é difícil de se recuperar em algumas situações, e temos con-seguido aumentá-la, mesmo que lentamente, em termos de propriedades físico-hídricas do solo. Esses estudos, sua maioria muito recentes, mostram que ela melhora os agregados maiores que 2 mm, melhora-lhes a estabilidade, aumenta a macroporosidade, diminui a massa específica, retém mais água e causa melhor permeabilidade do solo.

Cobertura morta temos bastante, mas devemos procurar espécies que permitam depurar o ambiente e reduzir os custos e os patógenos etc.

Em trabalho recente para recuperação de fósforo, Souza mostra que a recuperação desse elemento é o dobro quando se compara soja com braquiária e soja solteira. A dose de nitrogê-nio no caso do feijão são dados extremamente recentes, e já comentei com Ricardo que não estamos conseguindo resposta de nitrogênio em áreas de palhada de braquiária em plantio direto de longo prazo. Não posso falar de plantio direto recente, pois não testamos. No caso do Ricardo, há mais de vinte anos e no caso de Cristalina, cinco a seis anos, e o feijão não responde a mais de 30-45 kg de nitrogênio, uma economia fantástica de nitrogênio e pensamos até que a Dobereiner estava certa, que as gramíneas realmente fixam uma quantidade de nitrogênio. Na parte de biologia do solo, alguns estudos já foram feitos e temos maior atividade biológica comparada à maioria de outras fontes.

Temos uma redução de rizoctonia, de fusário, uma redução literal, ou seja, redução a zero no caso do Ricardo Merola, que tem uma área muito grande, altamente infestada e temos, de acordocomVilella,umareduçãodenematóides,culminandotudoisso,commenorusodefun-gicida e, nesse caso, não estamos usando o tratamento de sementes para fazer o plantio, nem de soja, nem de feijão. Plantas daninhas, menos plantas daninhas, são poucos os trabalhos dos quais tenho as referências e, em conseqüência disso, menos herbicida pós-emergente e menos banco de sementes, haja visto no trabalho do Vilella: ele apresenta isso, que o banco de sementes vem a reduzir, quando você tem dois, três anos de braquiária na sua área e foi uma forma de mostrar os resultados que temos obtido.

E, no tocante ao rendimento de grãos, exemplos de MS, de Brasília, do MT, aumento e ren-dimento de soja chegando a oito sacos por hectare, ou seja, em torno de oito sacos, pois a maioria dos resultados mostram isso e feijão também um aumento de 300-400 kg ha-1,pelosimplesfatoque temos a braquiária como cobertura morta e aumento também do sorgo sobre palhada de braquiária igual do milho, pois foram poucos os trabalhos executados e aumento também no arroz em terras altas em função da palhada de braquiária. Manejo no convencional tem que ser bem feito, conforme se vê na figura seguinte na fazenda Mandaguari (MG), dois anos de presença

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de braquiária na área, só que ali há um detalhe, vocês estão observando este verde.

Esse produtor, longe da pesquisa, nãomata braquiária, reduz o crescimento, faz uma subdose durante o crescimento da soja e do fei-jão, colhe o grão e ela volta normalmente e fecha totalmente a área. O produtor de Uberlândia é um descendente de holandeses, faz a cama ver-de. Vê-se na figura abaixo a semeadura de feijão em cima de palhada, o que cria uma barreira física extraordinária, tanto para doenças como para plantas daninhas.

Nas figuras abaixo, exemplo de plantas daninhas em uma área que tinha a braquiária e, na direita, só milho, meia dose de Flex que a braquiária, no primeiro ano, praticamente dizima a folha estreita; a folha larga, porém, reduz bastante, mas sempre volta, o leiteiro volta, a trapo-eraba desaparece em ambientes com braquiária.

Observam-se os efeitos de duas doses de flex seqüenciadas e meia dose de Flex. São aplicações experimentais e temos em cima do pivô, a testemunha, em baixo, a braquiária, a testemunha; a braquiária e a corda-de-viola e a testemunha; observa-se que trapoeraba prati-camente não existe.

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Na área vista na figura seguinte, usaram-se 4 L ha-1 de glyphosate na dessecação e nesta outra, 4 L de glyphosate mais um de 2,4 D–amina, mais os pós-emergentes que, com certeza vai precisar e, assim, será uma dose ou meia dose de folha larga ou estreita, dependendo da área.

Vemos, a seguir, exemplo de uma parcela com braquiária e uma sem: foi um trabalho de tese e observa-se inclusive, o desenvolvimento do feijão, o ciclo fica mais uniforme e sem braquiária, pois se situa naqueles níveis considerados ótimos sob pivô e a fertilidade não está nos níveis ótimos.

Comparem-se as parcelas com e sem palhada de braquiária, com herbicida pós-emer-gente e sem herbicida pós-emergente, a lavoura, às vezes, fica um pouco feia com palhada de braquiária, sem herbicida e com herbicida, com meia dose de Flex (nome comercial).

Com apenas meia dose de Flex, na colheita do feijão, observa-se a quantidade de resíduo que permanece na superfície.

A figura seguinte mostra soja no Mato Grosso, sem pós-emergente, porém em palhada de mombaça, em que foi feito dessecamento com glyphosato sistêmico, plantou-se a soja e, a se-guir, entrou-se com o Paraquat, para poder derrubar, pois esse Panicum estava mais alto que a soja, então com o Paraquat, normalmente, ela acama; eu evito um pouco esse comportamento, apesar de que essa soja acamou também um pouco.

Nas plantas daninhas da figura abaixo, por exemplo, o leiteiro, onde há palha, tem sua infestação reduzida de 52 para 14 %, o caruru de 30 para 6%, o colchão, de 7,5 para 2,2%,

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assim por diante, dependendo da fonte da palhada de que foi feito: soja com braquiária, milho com braquiária.

Elaine Bahia Wutke - IAC

Quem trabalha com leguminosas, especificamente com adubação verde, sabe que há mui-ta demanda na nossa seção de um segmento que não vemos ser muito discutido em Fórum de plantio direto: o de orgânicos. Temos, mesmo, uma demanda de produtores que querem aderir e fazer em plantio direto, o sistema orgânico; então é um desafio, pois muita coisa dentro de SPD, como é o caso de controle de infestantes, seria um ponto a ser bastante estudado, pois já se eliminaria a adição de herbicidas. Há algo mais também a ser considerado dentro dessas espécies, pois em São Paulo, embora tenhamos estudos para o zoneamento adequado, além de ter uma diversidade climática e uma predominância de leguminosas de verão, ainda temos pouca opção para o outono-inverno, e então há uma opção maior de gramíneas.

Assim, além do aspecto de sementes, de fitossanidade na parte de doenças ou pragas, é um fator a considerar e algo que eu coloco porque esse desafio dentro do sistema de produção orgânica é algo que eu acho que deva ser considerado.

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Discussão da Mesa Redonda

Denizart Bolonhezi – Apta/Ribeirão Preto

Senti falta aqui de informações no tocante à entomologia. Fizemos levantamento em en-saios de espécies de cobertura e a atração de inimigos naturais é bastante variada, conforme as espécies avaliadas e não de inimigos naturais, mas também de insetos-pragas que estarão convivendo com a cultura posterior. Então, penso que em um próximo evento vale a pena trazer alguém da área de entomologia para contribuir nesse sentido e aproveitar a oportunidade que a Elaine comentou de cana-de-açúcar, mas a cana crua colhida sem queimar quebrou muito pa-radigma da cana-de-açúcar em São Paulo e as usinas que estão adotando a produção orgânica de cana tiveram que conviver com essa questão da sanidade muito rapidamente e criaram-se até linhas de conceito do que se deveria fazer. O que a gente tem visto na prática, as usinas que fazem cana orgânica convivem com um volume estrondoso de palha, quase é uma monocul-tura, pois é interrompida por apenas 120 dias depois e fica com cinco anos de cana. E como eles controlam a cigarrinha? O maior problema no início é a cigarrinha, pois hoje convivem com o controle biológico. Existem ferramentas nas áreas básicas tanto de controle de praga como de doença que o Almeida comentou do trichoderma, já com produtos biológicos. Você pode lançar mão só que para o SPD. Hoje há usina fazendo o monitoramento de metharrizum para cigarrinha. Ele faz o monitoramento de dano e entra com o controle, não fazendo em momento algum sem necessidade. E aqueles que não querem esperar, logicamente os resultados não vêm num primeiro momento. Uma cana que ficou em sistema convencional todo o período não vai ter uma atividade biológica que favoreça o controle. Então o metharrizum não vai ser favorável no início; ao longo do tempo, os resultados são favoráveis e as usinas não querem mais adotar inseticidas. Eu acho que há variantes de acordo com o consultor que vai dar palpites ou que exerce influência lá, aí acabam as empresas funcionando e usando os inseticidas, os nicotinói-des para o controle da cigarrinha. Então a questão é aproximar mais o pessoal da agricultura orgânica e, principalmente, na área de hortaliças que o apelo é maior pois os produtores tiveram que conviver no controle fitossanitário com produtos alternativos mediante o protocolo a ser considerado dentro do sistema. Acho que está faltando mais comunicação entre as áreas. Existe um acervo de informações que poderia ser passível de aplicação em SPD.

Ricardo Ralisch – UEL

Com relação ao assunto dos orgânicos, gostaria de citar dois exemplos, a título de ilustra-ção. Minha parte é o que acontece no sudoeste do PR, que a Maria de Fátima Ribeiro coordenou ou coordena um projeto com plantio direto com atividade orgânica na região e tem a SPTA, União da Vitória no PR, que tem toda uma relação com Agroecologia da qual estamos parti-cipando num projeto e adoção do plantio direto em comunidade, muito interessante. Eu tive oportunidade de fazer duas visitas técnicas, e há um vasto campo para explorar os conceitos e bem pertinente.

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Ivo Mello – FEBRAPDP

Vou colocar uma experiência nossa. É “achologia”, pois eu sou produtor e ficaria cons-tatado só na nossa propriedade, já que estou fazendo vinte anos de safras de arroz irrigado e vamos fechar treze anos sem aplicar uma gota de inseticida numa área contínua de 600-800 ha de arroz irrigado sem rotação. Área contínua. E um pouco disso a gente credita ao fato de fazer, desde 1983, plantios diretos nessa propriedade e simplesmente foi a aplicação dos conceitos dos centros de excelência, que postularam o que se chama de manejo integrado de pragas; o pessoal faz isso há dezoito anos e não estava publicado, eu vi algo num congresso no início da década dos 90s, na Colômbia, em uma reunião de arroz e manejo integrado de pragas, dizendo que já fazia há alguns anos, e realmente com aperfeiçoamento e aprendendo mais, colocando mais energia nisso; o fundamental é o seguinte, quanto menos distúrbios fazemos no meio ambiente, a natureza ganha mais em biodiversidade e passa a ter mais inimigos naturais e a gente atribui isso também ao plantio direto, porque no solo deixando mais palha há mais alimento para que a cadeia trófica possa desenvolver, pelo menos essa é a idéia que a gente traz.

Eu queria comentar também em relação a uma coisa: seria interessante que nós não fique-mos só nesta reunião, pois a federação é parceira para isso e me coloco à disposição para que continuemos parceiros juntamente com o IAC e a Fundação Agrisus; que continuemos fazendo essa reunião para que possamos informar-nos mutuamente e integrar o conhecimento do que é SPD e tecnologia em SPD na palha; sugiro que, no próximo encontro, discutamos o conceito de sustentabilidade, porque acho que é fundamental, quando estamos trabalhando os desafios de atenderaoqueasociedadedemanda,poisnarealidade,foiumurbanoquedissequeagentetem que ser sustentável e vocês são até um pouco mais urbanos que eu, mas trabalham com desenvolvimento de tecnologia para quem povoa áreas rurais, para quem gerencia recursos naturais, como eu, que sou gerente de recursos naturais: deixei de ser agrônomo, e já me clas-sifico como gerente de recursos naturais. E as pessoas que nos desafiaram a ser sustentáveis, grande parte delas são urbanas e a internalização dos conceitos para que a gente possa ter uma interlocuçãodeigualparaigualeagentecumpraleis,legislaçõesambientais,sãorealmenteasociedade urbana, eu diria que isso fosse internalizado pelo grupo que fosse foco de discussão em um workshop sob a forma de painel só sobre isso, para que se pudesse trabalhar mais nessa área de conceito e trazer todos esses conceitos, pois vocês são especialistas, já que a maioria dos centros de excelência tem alelopatia, como já foi lembrado. Você sabe que existe, mas pratica pouco, vamos dizer assim de uma forma mais integrada, associando na nossa atividade e tam-bém colocar assim que o Dr. Ricardo Ralisch tem uma conceituação, é uma provocação pública para nós que somos protagonistas do SPD na palha, que o Bartz foi lá no EUA aprender como é que o americano fazia, trouxe para cá e acabou realizando essa revolução na América do Sul, e depois expandiu para o resto do mundo, hoje reconhecido pelo Banco Mundial e pela FAO para qualquer plano de fomento. Que o grupo aproveitasse para fazer uma conceituação do que é o SPD nas regiões do Brasil, mas também com suas características regionais. Obrigado.

Antônio Luís Fancelli – Esalq/USP

Eu queria levantar alguns pontos que foram debatidos e discutidos pelos colegas e lem-brando alguns aspectos. A alelopatia, do jeito que está sendo colocada, eu não entendi bem, mas o pessoal está considerando como uma coisa específica. Então o termo alelopatia é gené-rico, pois qualquer interferência de um organismo sobre o outro, de uma forma ou de outra,

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química, é conhecida como alelopatia e temos várias formas e determinações específicas dentro desse enfoque alelopatia. Tanto assim que, hoje, o pessoal da área de plantas daninhas, sabe melhor que a gente que não se fala mais mato-competição, separando entre uma coisa da outra. Da mesma maneira em termos de organismos e plantas, microrganismos, assim por diante,esse efeito alelopático é extremamente importante e é a base da territorialidade; então, todos os seres vivos e todos os organismos vivos trabalham em função disso, para se estabelecer, para se multiplicar, como efeito de colonização; é básico e, durante muito tempo, negligenciamos aspectos desse tipo e estudávamos de forma isolada os fenômenos. Outra coisa que temos que tomar um pouco de cuidado: somos levados a resultados interessantes, partindo então, para generalizações, isso é uma “coisinha” que temos que nos policiar bastante, em termos de generalização, porque trabalhamos com vida; assim a coisa pode ser um pouquinho diferente e tem-se que tomar mais cuidado. Também concordo plenamente com o Ciro que devemos estudar um pouco mais de bioquímica, em termos de princípios básicos, de fisiologia de plantas etc. e tal, esquecendo, muitas vezes, de ir ao detalhe. Lembraria, também, que a gente precisa ir um pouco mais para o campo, fazer um pouco mais de observação do que a natureza está nos mostrando para tentarmos entender o processo de maneira holística, de maneira global, e é exatamente isso que, acatando o que o Álvaro nos disse, vamos ter que trabalhar de maneira mais integrada.

O plantio direto, por exemplo, para entendê-lo bem, só vai ser possível se trabalharmos com visão de sistema de produção, uma visão sistêmica, uma visão holística, pois, de forma pontual, vai ficar difícil de prossegir, continuaria numa colcha de retalhos, onde uma estampa é completamente diferente da outra e não se combinam, então precisaríamos ter um pouco mais de estudos integrados.

O último aspecto que gostaria de lembrar: foi falado de pragas, de doenças etc.; dessa forma, o SPD ou o SSD, a base da estabilidade do sistema é diversidade, com condição tropical ou subtropical; os fatores que regem a vida são interações bióticas, então é preciso diversidade, não adianta nada trabalhar com SPD e termos só uma cobertura, pois vamos cair na mesma coisa, tal é o exemplo do MS que ficou muito tempo só em cima de milheto, aumentando, assim, problemas de percevejo, de lagartas; então, a biodiversidade é extremamente importante, é preciso trabalhar em cima disso, diminuindo o problema de pragas, doenças e tal, porque se deve lembrar os princípios básicos de ecologia, identificando organismos que são os estrategistas R e os estrategistas potássio. Fica impossível imaginar que, em determinada lavoura de milho, não há nenhuma lagarta-do-cartucho, ela precisa estar aí, da mesma maneira determinados microrganismos, fusário e rizoctônia. Porquanto, em determinadas vezes, esses organismos os estrategistas R, precisam preparar o ambiente para quem vem depois, o estrategista potássio, e aí toda vez que perturbamos o ambiente, de forma significativa, predomina o estrategista R, pois, no ambiente perturbado, só há condição de tê-lo e, dentro dessa linha de estrategista R e estrategista potássio, teríamos que lembrar também do equilíbrio nutricional: quando uma plan-ta está em desequilíbrio nutricional, logicamente, há possibilidade de ocorrer mais patógenos, mais microrganismos e assim por diante. Então, ocorre lembrar um pouquinho da famosa teoria da trofobiose.

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Elaine Bahia Wutke - IAC

Obrigada, Fancelli, só aproveitando uma carona no que ele disse sobre a biodiversidade, que a gente não caia na monotonia dentro do plantio direto, assim como já teve o ciclo do café, do algodão, da cana que já foi e está voltando, do trigo, do milheto e, mais recentemente, da braquiária. Então, fica-se em cima só de uma cobertura e o necessário seria maior diversidade de culturas. Passo, então, a palavra para o João Kluthcouski.

João Kluthcouski – Embrapa Arroz e Feijão

Eu acabei me esquecendo de que no ano passado foi lançado o livro integração L & P, que, na verdade, deveria chamar-se Plantio Direto e Integração L & P, porque tudo aqui que diz respeito às culturas relaciona o plantio direto, então a parte de pecuária, relativa ao desempenho animal, é menor e se entende mal dentro dessas possibilidades de integração que já existe e eu nem sei se ainda tem, porque parece que a Elaine não encontrou, mas esse livro já existe, ele foi reforçado. Elaine, a sua preocupação com pragas aqui não existe nenhuma linha e apesar de, no sistema plantio direto, existir muita informação prática, eu recordo que, lá no nosso Centro, temos a Eliane que trabalha com manejo integrado e tem uma série de trabalhos publicados e uma série de fazendas que ela monitorou; das fazendas que ela monitorou, uma foi do Ricardo e até houve uma pequena aposta, pois o Ricardo falou: você me paga o prejuízo e usava quatro a cinco aplicações e passou a usar uma aplicação e um ácaro que ocorreu porque era ilhado pelo algodão precisou de um acaricida.

A produção de grãos está muito baseada no uso energético e não por pressão da pesquisa, mito mais por pressão dos “vendedores” e é claro que interessa a eles isso aí, então nós temos que dar uma resposta contrária em termos de doses e tecnologia de aplicação. Temos visto, hoje, também o uso do Nim no controle de pragas, e ele é efetivo, por exemplo, nos mastigadores, na grande maioria com 90% de controle ou mais, havia vaquinha, mosca-branca, lagarta, estava dentro do quadro dos orgânicos, recomendados por esses produtores, sendo isso um aspecto que não se explora e o Nim é uma planta que tem uns cinco a dez milhões de plantas em estado de produção de sementes aqui no Brasil e eu gostaria não sei se é o momento, como eu conheço um pouco Marília, de saber do projeto que é desenvolvido pela CATI e pelo IAC, com parceria bastante participativa, abrindo áreas com plantio direto. Eu considero que o plantio direto, no meu pequeno conhecimento nesses três anos, do que é um plano de difusão de sistema, é juntar essas peças que estão na Unesp, na Esalq, em Botucatu, criar um sistema e validá-lo. Queria lembrar ainda, que no momento que estivermos difundindo, isto é, criando e difundindo, tudo melhora.

O que fizemos para melhorar o desempenho de arroz e feijão dentro do cerrado foi can-sativo, trabalho de fazer, pelo menos, duzentas unidades demonstrativas, diversos solos, foram dez ou mais dias de campo. O produtor, quando se trata de sistema, só acredita vendo; setenta por cento usa o sistema desde que veja um dia de campo, ele não confia em papel nem em palavra, pois quando é uma nova variedade é mais fácil usar, então eu não acho, não sei se isso seria um princípio e eu vejo a Alta Paulista com seis milhões de hectares precisando de alguma coisa porque lá o pasto está bastante degradado e talvez essa fosse uma tentativa que tenhamos dentro do programa uma validação para fazermos transferência para o produtor.

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José Eloir Denardin – Embrapa Trigo

Eu só queria fazer um comentário pelo sistema Santa Fé, plataforma asiática, mediterrânea e América latina. O projeto da União Européia visa à tecnologia da América Latina, nós fizemos um banco de dados que será liberado a partir de março do ano que vem. E quando escrevemos sobre o Santa Fé, embora o plantio direto tenha nascido numa região de clima temperado, acho que já passou a perna no de clima temperado. Esse esquema de entressafra foi de passar a per-na no mundo inteiro e porque na realidade você não tem um período de plantas exclusivamente mortas, com três cultivos no ano inteiro. Então, a repercussão disso aí foi sensacional e vai ser espetacularquandosurgiremmaisresultados,poisaindaestamosnumgruporestritodepesqui-sadores. Então, realmente, é algo relevante do ponto de vista de agricultura no mundo, quando se observa o que está acontecendo aqui no cerrado brasileiro e a gente não sabe o potencial disso, parece que há uma barreira aí do rio Paraná. E a maioria dos países da Europa também têm seis meses sem chuva, quer dizer, a mesma situação. A Austrália também tem seis meses, então eu posso colocar o porquê das coisas, que nós estamos correndo atrás, mas de qualquer forma o processo está aí e está dando exemplo para o mundo inteiro. Eu gostaria de chamar a atenção em um aspecto que percebi aqui: foi o que o Álvaro colocou que, no plantio direto, dá para controlar doença. Até pouco tempo, a fitopatologia colocava que o plantio direto era um problema e não era solução; havia gente que trabalhava contra isso, poderia achar defeito para ponderar os processos, pois fazia tempo que eu não via uma palestra deste jeito, onde se procu-rou soluções e não problemas e o terceiro aspecto foi em relação ao que falou sobre máquina. Jamil falou sobre palha. No plantio direto, a semeadura na linha, essa cama para semente tem que existir, sendo preciso depositar semente no local adequado; sendo muito sensível, pode ficar no meio da palha entre um poro e outro muito grande, e então as máquinas têm que estar preparadas para isso, fazendo uma cama muito grande, mobilizando o solo na linha, pois é uma questão especial, como os discos de cortes que deixam duas paredes espelhadas, pelo teor de argila especialmente, pois não aparecem nos solos mais arenosos e a gente tem certeza: isso acontece porque aquele local não é favorável para a semente germinar. Então, a boa máquina tem que retirar a palha do lugar, preparar a linha de semeadura, depositar a semente e depois cobrir o local. No momento em que essa semente ficar no meio da palha misturada com terra, não terá uma germinação eficiente e nem padrão de lavoura que vocês querem, sendo isso uma questão que tem que ser observada. Comentamos que a indústria de máquinas agrícolas é muito relutantenesseponto,poisparecemmuitodonasdesieresistemmuitoaessasmudanças,nãoquerem mexer, relutam, falando sempre que isso custa caro, mexer com material de mecânica, teoricamente para cada condição você teria um tipo de máquina diferenciada; isso é possível porque, para cada condição, você tem um tipo de situação, então o genérico não vai funcionar; vamos dizer que máquina ou semeadora não se compra na vitrina, compra-se na lavoura, tem que fazer que o empresário leve até você, para testar qual é o melhor kit. Ainda mesmo assim, temos problema, pois para plantar milho é uma coisa, para plantar soja, braquiária, é outra, e para milheto é outra diferente, então há muito conhecimento agronômico nesse processo para se fazer um belo trabalho.

Esses aspectos de palha-máquina, eu acho que é a essência, então essa preocupação que o Jamil colocou: o que posso perder se tiver muita palha? Eu gostaria de colocar que é assim, eu acho que a palha na superfície é importante para conservação do solo e redutora da erosão, então eu não preocuparia se vai reduzir 2 ou 3% de sacas de soja por hectare e até não ganhar nada ou ganhar dez sacos, eu me preocuparia mais com a redução da degradação física e com a

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melhoria de aspectos biológicos e a redução de custos. Tenho que saber quanto estou perdendo, quanto estou deixando de perder e deixando de ganhar e isso significa ter um plano-base, e isso será um modelo destinado ao agricultor. Então eu vejo essas preocupações como coisas de reflexão com o que devemos fazer no SPD. Obrigado.

Elaine Bahia Wutke - IAC

Obrigado, Denardin. A seguir passo para o Marcos Palhares que estava inscrito e, depois, a seguir, o Ricardo.

Marcos Palhares – Monsanto

Eu gostaria de perguntar ao Almeida, com relação a fungos necrotróficos de solo, se existe alguma coisa em andamento para a cultura do milho. Esses fungos necrotróficos, diplódia, cercóspora, na mesma linha de trabalho.

Álvaro M. R. Almeida – Embrapa Soja

Pois é, eu vou ter que lhe pedir desculpas, pois talvez esse seja um defeito da instituição em que trabalho. Eu entendo um pouco de soja. Mas eu vou pegar o seu e-mail que está aqui na citação e pedir para o colega da Embrapa milho e sorgo entrar diretamente em contato com você e ele entra em contato com você, que exporá seu problema. Está certo?

Ricardo Merola – Fazenda Santa Fé

Bom, eu fiquei pensando bastante sobre o que o pessoal falou no período da tarde: aquele questionamento de que o plantio direto traz doenças, pragas, em número maior que o conven-cional. Será que isso é verdade? Raciocinando, pensando que talvez fossemos culpados por tudo isso, cheguei à conclusão de que o maior problema que estamos enfrentando no País é a falta de calendário agrícola para fazer agricultura regional, para todo o mundo plantar em determinada época. O que está acontecendo é que no plantio direto o produtor alargou a faixa de plantio, pois, assim que chove 20 mm, ele conserva a umidade do solo por um período muito longo e de-pois chove novamente; pode-se observar, no mesmo município, milho germinando e milho flo-rescendo; isso, portanto, tem ocasionado essa proliferação intensa de pragas, de doenças, além do problema sério da safrinha, pois nós estamos colhendo milho e já está o vizinho plantando milho de novo. Penso que o Governo, os técnicos deveriam fazer um calendário para o agricul-tor poder respeitar isso aí, como se faz com o algodão, com o problema do bicudo. Conversando com amigos, verifica-se que a maneira mais fácil de se introduzir esse calendário agrícola é a pressão econômica em cima do Governo, pois a agricultura brasileira está literalmente quebrada de norte a sul, então o governo vai ter que entrar com seguro agrícola total, não só o que é feito no banco, vai ter que fazer o seguro da lavoura. Se o produtor perder a lavoura, tem que ser ressarcido. Se ele vai ter que ressarcir, a Embrapa já tem zoneado cada município, ele vai ter que plantar no período ideal de cada cultura que possa ser assegurada. Então é o primeiro passo para que o seguro agrícola permita a menor proliferação dessas pragas. Essa é minha idéia da

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questão e eu acho que é o único caminho. E outra coisa que nós temos que alertar os nossos dirigentes é que com a globalização da economia, temos a política de preço mínimo como era no Governo militar. A política de preço mínimo tem que existir, pois a agricultura brasileira, sem essa característica e o seguro agrícola, está fadada ao insucesso, a desaparecer, e estou dizendo isso porque onde eu moro, no Centro-Oeste, a situação está muito pior do que vocês pensam. O produtor está devendo na média duas safras. Muito obrigado.

Elaine Bahia Wutke - IAC

Obrigado, Ricardo, antes de passar a palavra para o João, o Álvaro quer fazer um comentário.

Álvaro M. R. Almeida – Embrapa Soja

Eu quero comentar com o Ricardo: nós temos grosseiramente falando aqueles organismos que se conservam, naqueles que conseguem sobreviver como aquele que já morreu e aqueles que necessitam de tecido vivo para viver. O que você comentou, e a maior parte do que você comentou,osplantiosescalonadosnemnasmicrorregiõesfuncionam,principalmenteporcausada ferrugem da soja, que é fungo que necessita do tecido vivo, com sua ausência morre rapi-damente. Sobra para nós naquele triângulo que eu mostrei de relação patógeno-hospedeiro, o único que não podemos mexer é o ambiente. Por isso, jamais será possível fazer um escalona-mento de plantio bem curto de modo que evite esse problema com um na pré-colheita, outro na colheita, outro já semeando, não há jeito. Com relação ao plantio direto, realmente é verdade, a grande maioria de fungos preservados em restos de culturas, isso é natural, nós temos esse estudo também. Sobrevivem mais quando os restos de cultura são deixados na superfície. Só o enterrio é capaz de diminuir bastante todos eles por causa da mineralização normal e a com-petição que existe no próprio solo. Por isso é que o plantio direto, na maioria dos patógenos, favorece a infecção. O exemplo mais típico, Ricardo, é com a cultura do trigo, tanto é que a mais bem estudada com relação a esse aspecto. Então eu queria resumidamente falar sobre o que você levantou aí.

Elaine Bahia Wutke - IAC

EugostariadepassarparaJoãoposteriormente,ouparaoJamil,Jamil!

Jamil Constantim – UEM

Eu gostaria de deixar bem claro para vocês a parte da palhada. O que eu coloquei que ela é necessária, mas o dilema é o seguinte: se você formar uma palhada boa, tudo bem, mas o problema é o manejo dessa cobertura, se manejar vinte dias, antes, você perde o tempo que essa cultura vai ficar protegendo o solo; se você errar o manejo, vai cair a produtividade, então temos que ver qual o melhor manejo para chegarmos a esse meio termo. A palhada é essencial, mas seu manejo para a cultura posterior é essencial ao agricultor.

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João Kluthcouski – Embrapa Arroz e Feijão

O Professor Denardin me chamou a atenção para a integração, pela qual eu tenho uma paixão muito forte, pelos resultados no Centro-Oeste, e pelo que vemos em outros locais. Já vi muitos trabalhos realizados na região de Paranavaí (PR), cuja integração com um molde diferen-te está sendo feito com um sucesso muito grande, nas cooperativas principalmente (Cocamar). No manejo dessas plantas, porém, é que se tem que pensar de modo diferente. Por exemplo: osPanicum, de forma geral, são de difícil manejo para plantio direto, exigem uma dose quase que dobrada dos dessecantes e nem sempre têm um controle efetivo. Quem for entrar por exemplo no sistema Santa Fé, onde entram as forrageiras todo o ano e entra o grão, Panicum e Andropogon, devem ser duas espécies que merecem cuidado. No tocante à decumbens, nunca trabalhamos. Trabalhamos um ano só lá no Ricardo, porque ela tem o problema da alta susceti-bilidade à cigarrinha, e inclusive na apresentação do Jamil, fiquei preocupado, porque nunca vi resultado negativo com braquiária, e nós temos apresentado um quadro do Bloch com decum-bens que mostra que é menor com relação à cobertura realmente. Então há um diferencial como cobertura, com relação às espécies.

Com a ruziziensjs, a mais fácil de trabalhar, o pessoal tem conseguido os melhores resul-tados de grãos e o melhor desempenho na dessecação, doses normais sem problema nenhum e melhor cobertura do solo. Só que ela é um pouquinho inferior, ou um pouco inferior à brizantha em termos de uso para a sustentação animal: essa, se mal dessecada, se a planta estiver em estresse normalmente temos que aumentar a dose para 4 L ha-1,comonósnormalmenteusamose até acima da dose do glyphosate original. Então a preferência do agricultor e do pecuarista é por brizantha: mas a opção que eu diria que as duas melhores brizantha ou ruziziensis, uma mais ao lado da cobertura, outra mais utilizada pela pecuária no período seco, com grande vantagem, quando a braquiária é de primeiro ano, ela permanece doze meses do ano verde, então podemos pôr fim à questão de confinamento que está ficando cada vez mais caro, “boi-sanfona”, e nós temos ganhos de 500-600 gramas na seca de animal/dia com lotação de 2,5 UA e áreas agrícolas. O Ricardo mostrou braquiária que já teve lotação 4-5 UA. Que são áreas realmente, e eu gostaria de usar uma expressão antiga.

A braquiária, em 1960, veio salvar a pecuária brasileira, a partir dessa década agora ela vai ajudar muito nas culturas de grãos em função dos inúmeros benefícios e quanto mais se dá condição para ela crescer bem adubada, numa área fértil, melhor produz. Obrigado.

Ricardo Ralisch – UEL

Eu gostaria de me manifestar sobre o que Ricardo Merola comentou, sobre o contex-to agropecuário brasileiro e acho pertinente, pois no momento em que estamos discutindo a complexidade do plantio direto e com a abrangência que tem no País, é inevitável vincularmos atividade da Pecuária e da Agricultura, etc. Então, nós temos que discutir técnicas práticas, aspectos pontuais do plantio direto e evidentemente, temos que discutir conceito da atividade agropecuária brasileira. Acredito que não seja este o momento, mas acredito que cada um de nós pode refletir um pouco sobre isso. O que está acontecendo, quais são as tendências brasi-leiras diante do panorama mundial, estamos dando uma migalha, a promessa de uma migalha nos países em desenvolvimento. Acho que é bastante pertinente que levemos em consideração, porque isso acontece da posição confortável, de não ser agricultor, não é, manifesto-me dessa

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forma, particularmente acho que a agropecuária brasileira vem se desenvolvendo bem porque tem muita independência do setor político, então, apesar disso ser bastante difícil e sacrificante, o agricultor também cria competências interessantes, e não é só competência do agricultor que tem, é só uma competência do agricultor, é dele do sistema que está muito bem representado nesta sala. O agricultor, com suas instituições de ensino, com suas instituições de pesquisa, com a extensão oficial ou não oficial etc., penso que é um enorme potencial da agropecuária brasi-leira, no contexto mundial apesar de termos dificuldades do cenário não muito animador pela frente, tenho a impressão que talvez até o próprio plantio direto seja o exemplo disso, como essa capacidade das pessoas e do sistema todo de achar as soluções e resolver os problemas, acho que a organização dos agricultores e dos produtores propriamente ditos, não só agricultores, mais pecuaristas. E há muita gente no mundo com medo disso. O plantio direto já deu mostras do potencial de exploração de uma região que era considerada de pouco potencial produtivo, que é o Cerrado, o próprio PD deu exemplos de soluções duráveis para intensificar a produção no contexto mundial, existe um temor muito forte no cenário agropecuário mundial sobre o sistema produtivo brasileiro que pode ser um diferencial no contexto mundial.

Elaine Bahia Wutke - IAC

Obrigada, Ralisch, antes de finalizar e passar a palavra para Sonia, só para pegar uma observação do Ricardo, é que realmente, em termos de calendário, particularmente a gente que vivenciou alguma coisa durante seis ou oito anos na cultura do feijão, tentando fazer um zoneamento climático mais adequado, não só com base em produtividade, mas também em epidemiologia,quepudessedarumembasamentomaioremrelaçãoaessasorientaçõesemre-lação à fitossanidade da cultura, seja em plantio direto, seja em convencional. Às vezes, a gente é convocada a participar das comissões técnicas da Secretaria e vê a recomendação técnica ser barrada por algum interesse político regional e aquela informação não passa, então eu acho que é um Fórum como este, para que uma decisão técnica dê um respaldo para orientação e não simplesmente achar que pode, deve, não é isso, então às vezes acontece isso, a gente se sente frustrada muitas vezes. Quero passar a palavra para Sonia agradecer a sessão. Muito obrigada!

Comentários nessa Mesa Redonda II:

Elaine Bahia Wutke/IAC: como os sistemas de produção orgânicos podem ser adequada-mente adaptados em PD, quando não foram contemplados nas apresentações nem nos debates? Como proceder, já que não se pode utilizar herbicidas e outros defensivos químicos, como fungicidas, inseticidas, acaricidas e nematicidas químicos?

Denizart Bolonhezi/Apta Ribeirão Preto: na cana-de-açúcar orgânica, por exemplo, utiliza-se o Metarhizium ao longo do tempo, para controle de pragas, com efeitos favoráveis e redução da sua incidência. Em hortaliças, onde o sistema orgânico é mais conhecido, faltam informações a respeito.

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Ricardo Ralisch, UEL: o IAPAR tem um projeto interessante em produção orgânica e a AS-PTA tem estudos a respeito.

Ivo Mello, presidente da FEBRAPDP:

- na Mesa Redonda faltaram comentários sobre pragas: falou-se mais de doenças e de plan-tas daninhas;

- por ser produtor: filosofia do “achismo”:- quanto menos distúrbio, mais biodiversidade na natureza, mais palha e mais condições de

cadeia trófica;- programação de mais reuniões em parceria, como esta, com a FEBRAPDP;-Sugestão: discussão sobre o conceitodesustentabilidade,já internalizado no grupo, com a

criação de um painel exclusivo sobre o assunto.

Antonio Luiz Fancelli, ESALQ/USP:

-alelopatia: não entende como específica e sim como genérica;

- base da territorialidade que foi negligenciada → estudo isolado;

- não se fala em alelopatia como mato-competição;

- cuidados com generalizações a partir de poucos resultados;

- concorda com os estudos bioquímicos mencionados pelo Prof. Ciro Rosolém, mas insiste em que se deve ir mais ao campo para observações na natureza e conseqüente entendimento do processo;

- deve-se trabalhar integradamente;

- PD ou PC → a base da estabilidade é a diversidade que, em regiões tropicais, rege-se pela biodi-versidade;

- necessários mais estudos conclusivos sobre desequilíbrio nutricional.

João Kluthcouski, Embrapa Arroz e Feijão: aumentodousodoNimparacontroledosmastigadores: “unidades demonstrativas”.

José Eloir Denardin, Embrapa Trigo:

-comentários sobre o sistema “Santa Fé”;

- menção sobre condições da região Oeste de São Paulo; sem chuva, a partir de final de março; países europeus, Austrália e Ásia também têm 6 meses sem chuva;

- PD = PC na linha → semente “na cama” → adaptação das máquinas → mobilização na linha →indústria de máquinas para semeadura na palha.

Marcos Palhares, Monsanto: fungos necrotróficos! Há algo para milho ???

Ricardo de Castro Merola, Fazenda Santa Fé:

- PD traz mais doenças, pragas etc.?

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-O maior problema é a falta de calendário agrícola regional, porque aumenta o prazo parasemeadu-ra (tem milho novo, milho mais velho etc. uma confusão!)

-Governo → incentivar e incrementar o seguro agrícola e zoneamento para evitar proliferaçãodefitopatógenos; estabelecer política de preços mínimos.

Álvaro M. R. Almeida, EMBRAPA Soja: o ambiente é o único fator que não pode ser alterado; a grande maioria dos fungos nos restos de culturas sobrevive mais quando deixada na superfície (enterrio: maior mineralização); na cultura do trigo, tem-se aumento das doenças no PD.

Jamil Constantin, UE Maringá: o manejo da cobertura ainda é um dilema!

João Kluthcouski, Embrapa Arroz e Feijão:

- a integração “lavoura-pecuária” é uma solução → o manejo das plantas deve ser bem pensado antes: Panicum, por exemplo; Brachiaria ruziziensis é a mais fácil de trabalhar, mas é pouco inferior à B. brizantha (está em 80% da área com braquiária) para sustentabilidade animal!

RicardoRalisch, UEL: temos que discutir práticas pontuais e o contexto da agropecuária brasileira.

Opinião dos participantes

•Rotação de culturas; diversificação e escalonamento de épocas de semeadura; amplia-ção do conhecimento relativo à supressividade (competitividade, quebra de ciclo devida, corte de substrato...), alelopatia (física e química) antagonismo... de espécies “casm” e de cobertura; qualiosor de semente; controle biológico; manejo integrado.

•Intensificar os estudos das relações entre as diferentes biomassas e ocorrências de pragas, doenças e mato; monitorar as ocorrências para formação de um banco de dados s/ incidências depragasdoençasematonossistemas

•Limitações: falta de conhecimento em técnicas de manejo de mato; falta de conhe-cimento em técnicas de prevenção de doenças. Necessidades: pesquisa focada na “teoria da trofobiose”; pesquisa com coquetéis de plantas.

•A rotatividade de moléculas herbicidas pós-emergentes, principalmente na cultura de ve-rão é de extrema necessidade para diminuição do banco de sementes; tratamento de sementes, estudar nodulação, se é necessário o fungicida em regimes hídricos s/ veranico.

•Problemas com resistência de plantas daninhas à herbicida; pesquisa mais intensa com mistura de princípios ativos.

•É necessário conhecer um pouco mais sobre a quantidade e qualidade da palha e as interações com a microbiota do solo, principalmente sobre as interações simbioticas.

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•Novos métodos de controle de doenças de solo antagonistas.....; reforço no entendimento e controle de pragas de forma integrada.

•Controle de plantas daninhas pela palha e suas conseqüências para as culturas subse-qüentes.

•Manutenção e aumento de população de antagonistas; efeito do manejo de espécies consideradas daninhas na produção de massa verde; controle biológico de doenças; desenvol-vimento de sistemas de alerta em função do ambiente de produção (SPD, tipo de palha, clima, etc.).

•A resistencia a herbicidas já tem sida observada mesmo em áreas com rotacoes mais complexas e em nenhum momento foi mencionada nas discussoes.

•Infelizmente não participei desta mesa e desconheço os avanços nesta área.

•Utilizar maneiras de ampliar a biodiversidade nas culturas e avaliar o efeito em incidên-cia de pragas e doenças.

•Consorciações de espécies como planta de cobertura que possam apresentar efeitos de diminuição ou supressão de doenças x pragas.

•Estudos de influencia da cobertura vegetal no desenvolvimento de doenças; interação entre doenças e nutrição de plantas; herbicidas e quantidade de palha = época e modo de dissecação da cobertura vegetal.

•Limitações de combinações de espécies de plantas (cultura de cobertura/econômica) com relação a aspectos fitossanitários; supressão de doenças com culturas de cobertura; alter-nativas de manejo para reduçao do banco de sementes de plantas daninhas.

•Estabelecer um sistema de rotação capaz de estabelecer uma supressão de pragas e doenças no sistema.

•Pesquisa com cultivares resistentes; controle de plantas daninhas hospedeiras de pató-genos; qualidade de sementes.

•Estudos sobre fitotoxidade de dessecantes na cultura produtora de grãos; verificar se o problema é sombreamento ou imobilização de nutrientes (*nitrogênio).

•Trabalhos sobre os benefícios (e malefícios) que os diferentes tipos de palha deixam no sistema; reistencia de plantas daninhas e doses de herbicidas.

•Opções de culturas que podem inibir doenças não ficou muito claro.

•Controle alternativo de pragas com menor uso de agrotóxicos melhoramento de plantas visando tolerância a doenças em SPD.

•Atenção especial ao manejo das coberturas evitando interferências nas culturas implan-tadas posteriormente.

•Controle/convivência com nematóides; interferências entre organismos.

•Alelopatia da palha pré-existente; correlação entre palha e incidência da moléstia/praga danosa economicamente.

•Estudar um pouco mais sobre a interferência da cobertura sobre a flora de ervas; manejo de resistência de plantas a herbicidas.

•Desenvolvimento de herbicidas alternativos (óleo fúsel); uso de fungos antagonistas no controle de doenças.

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• Juntar esmpre fitopatologia, entomologia e microbiologia incluindo um fórum extra (mesa redonda) para plantas daninhas. A ausência de entomologista e microbiologista deve ser sanada no próximo evento.

•As pesquisas são ainda muito incipientes. É necessário muita pesquisa sobre o efeito ds diferentes palhadas nas plantas daninhas efeito físico ou alelopático. Também, é necessário obter mais conhecimento na relação plantas daninhas x arranjo espacial das plantas – espaçamento e densidade.

•Utilização de sementes com qualidade fisiológica e sanitária; estudos para constatação efetiva ou não do controle de infestantes, patógenos e nematóides tanto em plantas de cobertu-ra quanto naquelas economicamente estabelecidas para definição dos sistemas de produção e culturas inseridas; estudos de interações bioquímicas no controle; estudos epidemiológicos para subsídio ao zoneamento e sanidade da lavoura.

•Diversidade microbiana em solos sob SPD e relação com o controle de microrganismos fitopatogênicos; efeito alelopáticos entre algumas culturas de cobertura e plantas daninhas;efeito físico da palha ( quantidade) na redução da infestação por daninhas.

•Pelo que vimos através das palestras necessitaria de estudos por região. Verificando quais são as doenças ou pragas que ocorrem devido a palha que esta sendo usada e qual plantio que sucederá a essa palha.

•Relações entre equilíbrio nutricional, rotação de culturas e monitoramento dessas es-pécies; conferir sistemas de rotações incluído a ILP e seus efeitos na composição das plantas daninhas no monitoramento.

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Mesa Redonda III

Qualidade química do soloModerador

Bernardo van RaijInstituto Agronômico – IAC

Apresentadores

Heitor CantarellaInstituto Agronômico – IAC

Carlos Alexandre Costa CrusciolUNESP Botucatu

Debatedores

Eduardo Fávero CairesUniversidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG)

Júlio Cezar FranchiniEmbrapa Soja

Leandro ZancanaroFundação Mato Grosso de Rondonópolis

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APRESENTAÇÃO 1: Heitor Cantarella – IAC

O sistema de plantio direto tem algumas premissas: primeiro, o não-revolvimento do solo, cuja importância já foi bastante enfatizada, e a rotação de culturas. Enfocando a parte de solos e sua química, vamos examinar alterações que sucedem no sistema plantio direto.

Temos a deposição de restos vegetais no solo e o não-revolvimento, ou seja, o acúmulo de restos vegetais na superfície. Não sei se podemos chamá-los de matéria orgânica.

As culturas de cobertura acabam fazendo uma reciclagem de nutrientes ou os depositam na superfície, tiram-nos de dentro do solo e deixam-nos na superfície como palha. Temos o acúmulo de nutrientes na superfície, um gradiente de fertilidade, e também a formação da acidez, que fica maior na superfície, local onde se aplicam os fertilizantes, principalmente, os nitrogenados. A alteração em vista do sistema plantio direto advém das alterações provocadas nesse sistema.

O acúmulo de matéria orgânica na camada superficial tem várias funções: acarreta al-terações, fornece nutrientes, tampona reações químicas, tem efeitos sobre a acidez e sobre as propriedades físicas e microbianas do solo.

Todavia, a questão que levantamos aqui no Estado de São Paulo, especialmente, é o quanto de matéria orgânica tais solos estão realmente acumulando em função do plantio direto. É importante, porque as alterações no solo são basicamente atribuídas a essa matéria orgânica. Temos que ver em nossa região, portanto, qual a sua relevância e em que partes do Estado de São Paulo e até do Brasil, esse acúmulo de matéria orgânica pode estar ocorrendo. Já debate-mos a baixa produção de palha e a rápida degradação e precisamos ter isso em mente quando falamos em alterações químicas do solo.

Normalmente, quando praticamos agricultura, essa é uma curva típica de degradação da matéria orgânica, do carbono orgânico. Pode ser deste com o tempo. Se pegamos um solo sob floresta ou mesmo sob cerrado em equilíbrio e passamos a cultivá-lo, temos um decréscimo do estoque de matéria orgânica ao longo do tempo. Essa curva de decaimento será mais intensa, dependendo do tipo de solo, do tipo de manejo, mais intensivo ou não.

O que está fornecendo nitrogênio para as culturas, especialmente quando fornecemos pouco nitrogênio pela adubação? Com o tempo, essa curva de decaimento vai atingir outro equilíbrio. Quando falamos em plantio direto, o objetivo é mudar esse manejo de forma que se

altere a tendência de curva e estabilize, ou até aumente o estoque de nitrogênio.

Gostaria de chamar a atenção e colocar alguns números que talvez ilustrem porque seja tão difícil aumentar a matéria orgânica no solo.

Suponha-se que queremos aumentar 1% a matéria orgânica na camada de 0 - 10 cm de solo, ou seja, aumentar 10 g dm-3 de matéria orgânica nesse solo. Isso representa, por hecta-re, 10.000 kg de matéria orgânica por hectare, 5.800 kg de carbono e 480 kg de nitrogênio.

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Supondo a matéria orgânica com 58% de carbono e uma relação C/N de 12:1, um dos limitantes para o aumento de matéria orgânica é que temos que, de alguma maneira, aportar nitrogênio no sistema. Observando os sistemas que temos, hoje, é até fácil encaminhar grande quantidade de carbono. Mas o nitrogênio é raro e caro: vem ou de fertilizantes, ou de legumino-sas, ou de fixação livre, porém não temos muita noção de quanto é, embora estime-se que tenha fixação não ligada a leguminosas. Não sabemos, porém, quantificar muito bem isso ainda.

O ponto é que, para aumentar a matéria orgânica do solo, precisamos aumentar o nitro-gênio, com cana crua, por exemplo, cujo cultivo é uma espécie de plantio direto. A cana colhida crua deixa uma quantidade de resíduos no solo bastante apreciável: são depositados 10 a 20 t de matéria seca e esse material tem uma relação C/N de 100:1, sendo de difícil decomposição. Seria, talvez, o sonho do ponto de vista da conservação de solo em que nós fazemos no plantio direto.

Há uns dados interessantes na literatura sobre cana. Graham et al. (1999) compararam 59 anos de cana crua e queimada na África do Sul. Infelizmente, eles usaram Vertissolo, que era um solo que já tinha um teor de carbono muito alto para começar.

Mas, comparando queima sem resíduo e com resíduo, esses autores, após 59 anos de observação, chegaram à conclusão de que o aumento do carbono no solo ocorria signifi-cativamente apenas até 10 cm de profundida-de. Abaixo disso não era significativo. É uma quantidade apreciável de palha que vai nesse sistema, e são 59 anos.

Maselesobservaram - e eu quero chamar aatenção-queoefeitosobreabiomassami-crobiana se dá numa quantidade muito maior, até 30 cm de profundidade, a mesma coisa para nitrogênio. As alterações provocadas no solo restringiram-se apenas à camada superficial, o que é até decepcionante após 59 anos. Mas eles mediram outros parâmetros ligados a nitrogênio, como nitrogênio mineralizável e, para esses atri-butos do solo, os efeitos da palhada se manifes-taram até 30 cm pelo menos. Essas alterações, provocadas depois de 59 anos de palha, para os teores totais, estão restritas a camadas até 10 cm. Mas para outros atributos do solo, carbono e nitrogênio na biomassa microbiana facilmente mineralizáveis, carbono na fração leve, enfim, vários outros atributos de qualidade do solo que podemos colocarentreaspas, foramalterados

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no solo muito mais rápida e efetivamente, até em profundidade.

No Estado de São Paulo, temos algunsdados também com cana após quatro anos, comparando a cana queimada e crua em vá-rios solos como o Latossolo Vermelho argiloso e até um Neossolo Quartzarênico. Após quatro anos, apenas no arenoso houve diferença na profundidade até 5 cm. Em outro solo Latossolo Vermelho, após 12 anos, as alterações ficaram também restritas à superfície. É muito difícil mudar os teores de matéria orgânica, mesmo nessas condições. Dá um grande contraste pela quantidade de matéria orgânica e de resíduos colocados no solo.

É importante que, em vista desses resul-tados e de uma série de outros que vimos, que mostram que é difícil aumentar a matéria orgâ-nica do solo, que passemos a dar mais ênfase nesses estudosdeplantiodireto,na fasemaisativa dessa matéria orgânica e não em teores totais. Temos que procurar focar nossa pesquisa nessa matéria orgânica, fazendo fracionamentos eindicadoresdequalidadedosolo,emenosnamatéria orgânica total, porque já percebemos que vai haver uma dificuldade muito grande em alterar esses teores totais. Na verdade, o que altera as propriedades do solo e traz os benefí-cios das suas propriedades químicas e físicas é a matéria orgânica ativa; muitas vezes, perdemos o foco ao ficar tentando medir carbono total e matéria orgânica total.

Outro aspecto que diz respeito à parte química do solo é a amostragem. No plantio convencional, ela é feita ao acaso. As operações de uniformização que utilizamos nos permitem que a amostragem seja feita de forma aleatória. No plantio direto existem gradientes verticais e horizontais mais pronunciados em vista do acúmulo de palha, da aplicação localizada e da falta de movimentação desse solo.

No Rio Grande do Sul, Ibanor Anghinoni propôs a amostragem em faixas, e uma pro-fundidade de 10 cm. Isso é outra questão que temosquediscutirparanossascondiçõesaqui,

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porque não estamos tendo um acúmulo de matéria orgânica no solo. Muitos dos nossos plantios diretos estão misturados com gradagens leves. Estamos também aplicando fertilizantes a lanço e muitas adubações estão sendo feitas com sulcadores acoplados à adubadeira para enterrar esse adubo. Com isso, é possível que não tenhamos nem o gradiente horizontal nem vertical, que são previstos para aquele tipo de amostragem. Esse é outro assunto que temos que voltar a estudar.

Outro ponto que eu acho relevante para pesquisasemplantiodireto,especialmenteemnossa região, é a questão de profundidade de amostragem. Existem recomendações no Brasil para amostragens de 0-10 cm e 0-20 cm. A maior parte das tabelas de adubação é feita para a amostragem a 20 cm. Se nós amostrar-mos o solo a 10 cm, pegarmos a camada mais ricaecalcularmosasrecomendaçõescombasenas tabelas feitas para 20 cm, podemos subesti-mar a adubação e, a médio prazo, empobrecer o solo. Por isso, essa é outra preocupação que devemos ter. Justifica trabalharmos nesse tema para evitar o uso incorreto das tabelas de adu-bação devido à amostragem.

Não está muito bem claro ainda, inclusive, se em nossas regiões, com baixo acúmulo de matéria orgânica na superfície, pelo pequeno aporte e pela rápida degradação, isso vai acon-tecer. Fizemos uma simulação pegando uma análise de solo 0-20 cm e 20-40 cm com as re-comendações de adubação. Se usássemos esse tipo de amostragem nas tabelas atuais, numciclo de soja e milho safrinha, típico de uma se-qüência de rotação de culturas aqui no Estado de São Paulo, diminuiríamos a adubação com fósforo 57% e, potássio, 30%, porque haveria um ligeiro acúmulo de nutrientes na superfície. Esse também é um outro assunto que temos que estudar.

Outro tópico relevante é a gente ver res-postasdeadubaçãodiferenciadasparaplantioconvencional e plantio direto. Temos visto muita coisa para nitrogênio e alguns dados também para acúmulo de fósforo nesses solos, relaciona-do à matéria orgânica e talvez à matéria orgânica ativa, já que a matéria orgânica total não está mudando muito. Essa maior ciclagem de carbono na superfície do solo pode trazer algumas alte-rações, inclusive para fósforo, mas existem muitas dúvidas. Alguns dados de pesquisa mostram que pode haver mais fósforo ligado à matéria orgânica, especialmente nas camadas superficiais,

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e que, talvez, esse fósforo não esteja sendo detectado nas análises de solo. Por isso, esse é uma questão que temos que pesquisar, porque esse fósforo orgânico é um nutriente extremamente importante.

O fósforo orgânico e também o enxofre e todos os nutrientes que tenham sua disponibi-lidade afetada pela matéria orgânica merecem atenção quando pensamos no sistema plantiodireto. O enxofre e os micronutrientes, sem falar do nitrogênio, não é?

Vou passar muito rapidamente pela ca-lagem, porque há dois especialistas aqui que têm trabalhado bastante nisso e que vão falar depois de mim. Mas a recomendação de cala-gem no plantio direto é corrigir antes de iniciar e, posteriormente, aplicar calcário na superfície. Algumas pesquisas sugerem que o nível de sa-

turação por bases em plantio direto pode ser menor. Outras pesquisas indicam que a movimen-tação de calcário e de bases aceleradas pela presença de palha e resíduos orgânicos têm levado muitos agricultores a diminuir a aplicação de calcário no plantio direto. Eu gostaria de levantar a questão aqui, mas não vou me alongar nela. Existem resultados contraditórios em função da meia-vida curta de ácidos orgânicos, do aumento da movimentação dessa frente alcalina em solos argilosos e também uma preocupação com a diminuição do uso de calcário em plantio direto. Em nossas condições, com pouca palha e que se decompõem rapidamente, precisamos rever as premissas do plantio direto para que possamos ter um nível menor de saturação. Em muitos solos, em que não estamos vendo muitas modificações na parte orgânica, é prematuro diminuir a recomendação de calagem. Nós temos dúvidas em relação a isso, especialmente em nossa região de inverno seco. Espero, porém, que os outros palestrantes toquem nesse assunto com um pouco mais de propriedade.

O nitrogênio é uma preocupação que nós temos em plantio direto também. Existe uma in-certeza maior quanto às quantidades recomen-dadas, devida à contribuição maior da matéria orgânica e ainda entendemos relativamente pouco desse assunto. Normalmente, existe uma recomendaçãoparaoaumentodedosesno início do plantio direto, mas existem muitas evidências a respeito da diminuição da dose, ou de maior eficiência do fertilizante em áreas com plantio direto há muitos anos, especial-mente aquelas com grandes aportes de matéria orgânica. Provavelmente, a ciclagem rápida do

nitrogênio por essa fração ativa da matéria orgânica, especialmente a biomassa microbiana, esteja relacionada a isso. A contribuição da biomassa é muito interessante, merecendo estudos multidisciplinares. A gente esqueceu aqui nesse painel de falar sobre microbiologia. Quando

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a gente fala em nitrogênio, fósforo, enxofre em plantio direto, a parte microbiológica é muito importante e, talvez, a menos estudada.

A época de aplicação de nitrogênio é ou-trotópicoimportantequandofalamosemsiste-ma plantio direto. Existem recomendações para antecipar o nitrogênio nesse plantio. O argu-mento é que a biomassa microbiana imobiliza, inicialmente, o nitrogênio e o libera à medida que as plantas vão crescendo. O que favorece o desenvolvimento das plantas, temperatura e umidade, é o mesmo que favorece o crescimento desses microrganismos. O benefício seria evitar custos de fornecimento de nitrogênio e facilitar as operações do campo. Essa é uma tecnologia que foi desenvolvida no Paraná. Existem dados bastante específicos que mostram que isso fun-ciona muito bem lá e já se espalhou pelo Brasil, sendo adotado inclusive em algumas regiões paulistas. Fizemos alguns trabalhos de pesquisa sobre isso. Um deles, em Ribeirão Preto, utili-zando fertilizantes com nitrogênio marcado.

Em um dos anos, o aproveitamento do nitrogênio quando nós antecipamos, foi signifi-cativamente menor do que a aplicação conven-cional de plantio e cobertura.

No ano seguinte, porém, não houve di-ferença nenhuma. Agora, isso aconteceu em um Latossolo Vermelho distrófico, em um ano bastante seco. Para se ter uma idéia, em janeiro desse ano, choveu apenas 80 mm.

Nessacondiçãofoiumanobastantesecoe a antecipação não trouxe nenhum risco. Mas, em um ano anterior, de chuva normal, houve esse problema. Depois, fizemos dois ensaios paralelos também em Palmital, em solos argilo-sos. Quando aplicamos antecipado, a resposta foi muito menor, comparando com o nitrogênio em cobertura, mostrando que existem muitas ocasiõesemqueessaaplicaçãoantecipadanãoé conveniente.

EmumsolomaisarenosoemVotuporanga,confirmam-se aqueles dados do solo arenoso. Quando nós aplicamos antecipado, o rendimen-todegrãosfoimuitoinferiordoquequandoo

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fizemos da maneira convencional. Nós medimos o teor de nitrato no solo em que o nitrogênio foi aplicado 28 dias antes e notamos, nesse ensaio, que na época da semeadura os teores de nitrogênio já eram bastante baixos. Nesse caso, nós estávamos semeando o milho que não tinha raízes. Havia chovido nesse período, no caso 150 mm (o que pode acontecer no verão) e entre o período da semeadura e da cobertura mais 379 mm. Então, um ano bastante chuvoso explica o efeito negativo dessa aplicação antecipada.

Outro dado do Rio Grande do Sul, de vá-rioslocais,mostraqueemanossecos,comdosecomo de 90 kg, aplicada em várias situações, não houve diferença. Mas em um ano mais chu-voso resultou em redução mais significativa da produtividade.

Na nossa ótica existem vários dados ex-perimentaisqueapontamoriscodessaanteci-pação da aplicação de nitrogênio. Por isso, a recomendação dessa prática é questionável nas regiõesemquenão temosgrandequantidadede matéria orgânica.

Outro problema que conhecemos é o uso de uréia em superfície. Principalmente quan-do temos muita palha, sabemos que tem que incorporar. Existe no mercado um inibidor de urease, NBPT, que já foi testado por nós aqui recentemente. Quando comparamos a uréia à uréia+inibidor e nitrato de amônio, as perdas com a utilização do inibidor foram reduzidas à metade. Temos dez ensaios de campo em várias culturas e esse inibidor, em nenhuma situação, controlou totalmente as perdas, mas reduziu-as 40% a 60%, refletindo na eficiência do uso de nitrogênio na produtividade.

Paraencerrar,fareiumresumodeassun-tos que considero relevantes para pesquisas. Precisamos trabalhar mais nas reais alterações dosoloqueestãosucedendoemnossascondi-ções, em que há uma rápida decomposição da palha. Temos que focalizar bastante os nossos estudos em pesquisas com fracionamento denitrogênio e qualidade do solo, entrando aí na parte de indicadores de qualidade, especial-mente microbiologia e biomassa microbiana. Aí,

provavelmente, vamos achar as diferenças que talvez expliquem a melhoria do solo com sistema plantio direto. Para as nossas regiões temos que definir a amostragem com relação à profundi-dade, porque existem diferentes recomendações no Brasil. Esse é um assunto que merece estu-do. Temos que definir a saturação por bases para calagem em sistema de plantio direto, porque

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também existem evidências de que podemos diminuir essa saturação. O sistema produtivo teme que isso pos-saocasionardiminuiçãodeproduti-vidade, alteração na disponibilidade de alguns nutrientes afetados pelamatéria orgânica, fósforo, enxofre e micronutrientes.

No manejo do nitrogênio temos que refinar os critérios de recomendação, entender um pouco mais a parte microbiológica e, por fim, atualizar as tabelas de recomendação, porque se formosalteraraprofundidadedeamostragem,certamenteteremosquealterarnossastabelasde adubação.

Bernardo van Raij - IAC

Chamo a atenção para a importância da experimentação agrícola, para a questão de nitrogênio antes do plantio. Tem sido dito que não teria importância se esse nutriente fosse colo-cado antes ou depois. Isso tem sido feito sem nenhuma base e os agricultores e técnicos ouvem. Mas o Heitor mostrou que não é bem assim.

APRESENTAÇÃO 2: Carlos Alexandre Costa Crusciol – UNESP/Botucatu

Começamos um projeto grande, conseguimos um bom recurso em 1998, pelo CNPq. Um PRONEX, para desenvolvimento de técnicas para a implantação do sistema plantio direto no Estado de São Paulo, com enfoque, principalmente, para regiões de inverno seco. Todo o mundo fala que Botucatu tem um clima diferente do resto do Estado de São Paulo, mas lá, nós também não conseguimos manter palha no sistema, temos dificuldade. A persistência de palhada lá é muito curta. Então tudo aquilo que ouvimos falar de uma região mais fria, de grande produção de palha e acúmulo, não conseguimos e estamos tendo dificuldade. Parece que agora consegui-mos a renovação desse projeto, o Ciro é o nosso coordenador. Não fazendo da braquiária uma monocultura, mas parece que ela está começando a nos salvar lá no plantio direto.

O que vou mostrar aqui são as pesquisas. Fiquei perdido para montar essa palestra, porque o tema era muito amplo. Daí, conversando com o Ciro, combinamos de mostrar os resultados que estamos obtendo em Botucatu, porque estaria dentro do Estado de São Paulo e é o que a gente acha que deve estudar aqui.

O Heitor já mostrou isso: a dinâmica de nutrientes no sistema, absorção. Se for soja fixa-ção e mineralização desse nitrogênio, modo de utilização, exportação, eu posso ter problema de lixiviação. Vou mostrar um dado para vocês, quando a braquiária entra no sistema, o que acontece.

Percebe-se a importância da rotação de cultura, sistema radicular explorando diferentes profundidades. Isso é importante se a gente for pensar em reciclagem e aproveitamento de adubação residual, ou em elementos que nós estamos perdendo. Integração, tentar otimizar o sistema. Mostrar o enfoque principal, porque o que nós queremos é esse acúmulo de matéria

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orgânica no solo e conseguir todos os benefícios dela. É um trabalho do Bernardo van Raij, em que ele mostra a contribuição da matéria orgâ-nica na CTC do solo.

Vários solos chegando a 82% da CTC com a contribuição da matéria orgânica. Está difícil conseguirissoaquiemSãoPaulo,emsituaçãode inverno seco, aumentar a matéria orgânica e conseguir o benefício mostrado na figura.

Agora algo de uma área pessoal. Eu co-loquei aqui pousio. Isso é um experimento feito em Botucatu em dois anos. E está presente a braquiária. Neste aumento de matéria orgâni-ca, estamos pensando agora, está entrando um projeto de seu fracionamento.

Nessa área, a rotação era milho, aveia, soja, triticale. A colheita da aveia e do triticale em Botucatu, desde que semeada corretamen-te, ocorre em agosto. Essa área fica em pousio, porquenóssóconseguimossemearasafradeverão. Naquela região todo mundo fala que chove muito, mas chove cedo, só em novembro. Essa área fica em pousio. Aqui seria um plan-tio direto com rotação de culturas graníferas e em seguida, estou colocando a braquiária. O objetivo nosso foi fazer a integração e produzir forragem.

Dois anos depois da braquiária em con-sórcio, ela aumentou matéria orgânica total, é amostragem de 20-40 cm. Então eu coloquei um ponto aos 30 cm e verifiquei que ela au-mentou a matéria orgânica total em todo o perfil do solo.

Fizemos uma simulação de pastejo, ten-tando retirar uma quantidade de matéria seca, porque se a gente retirá-la para silagem como o Ricardo, acontece aquilo que ele falou, teremos uma grande exportação de nutrientes, principal-mente de potássio, depauperando o solo.

Num segundo experimento, conseguimos colocar gado. Foi numa área lá da Zootecnia onde eles têm novilho superprecoce. Conseguimos colocar gado, mas era difícil trabalhar com a Zootecnia e tivemos que voltar para a nossa área.

A CTC não foi a determinada, foi a calculada. A contribuição da matéria orgânica não acompanhou bem isso. Na verdade, o solo tem condição para ser feita uma análise para deter-minar a CTC.

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Na figura a seguir, um trabalho do Ciro, uma situação sem calcário, calcário incorpora-do, e calcário em superfície. Uma coisa que nós temos observado em Botucatu é que a aplicação de nitrogênio tem proporcionado incremento de cálcio e magnésio no perfil do solo. Em alguns anos, você analisa, determina pH e ocorre sua correção. Em alguns anos não, só aumenta o teor de cálcio e magnésio no solo e não há cor-reção de pH.

Entãofoiumsolocomcalagemeaplicaçãode nitrogênio. À medida em que foi aplicando nitrogênio, o Salvador e o Ciro determinaram amônio e nitrato. Vê-se que houve um incre-mento de nitrato no solo.

A figura a seguir mostra que a absorção de magnésio sofre uma interferência do alu-mínio inorgânico. À medida em que aumenta o alumínio, ocorre redução na absorção do magnésio. Quando esse alumínio está ligado ao citrato,esseaumentonãointerferenaabsorçãodo magnésio.

Oqueeuqueriamostrarsãoasdosesdenitrogênio, utilizando a cultura do milho, teor de cálcio no solo e concentração de cálcio.

A linha azul mostra, no caso, zero de ni-trogênio. À medida em que foram aumentando as doses de nitrogênio, elevou-se o teor de cál-cio no solo. Então o nitrato pode estar funcio-nando como íon acompanhante do cálcio e do magnésio, e pode estar incrementando isso no perfil. Houve um experimento de quatro anos, até hoje eu não tabulei esses dados, que foi o primeiro que nós montamos com nitrogênio no campo. Nos dois primeiros anos, percebemos redução e elevação do pH. Estamos atribuin-do isso à autocalagem, à absorção de nitrato e à liberação de hidroxila. Então a lixiviação de nitratopodeincrementarasaturaçãoporbases,ao longo do perfil do solo, minimizando a acidez em profundidade, ou seus efeitos. Nem sempre temos constatado redução de pH. É algo ainda para estudar melhor.

As figuras seguintes mostram os resulta-dos da aplicação de gesso em uma área com

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calagem superficial. Houve aumento do sulfato, tanto sem calagem, quanto com a aplicação de calcário. O efeito do gesso foi um incremento de cálcio no perfil do solo, com um incremento menor de magnésio, 0 e 2.100. Seguimos a recomendação do IAC pelo teor de argila. A gente acha que a aplicação de gesso é uma boa alternativa para tentar corrigir a acidez em subsur-pefície. A lixiviação de sulfato pode incrementar a saturação por bases. É o mesmo efeito aí da lixiviação do nitrato.

Uma coisa que o Heitor estava falando, de ciclagem de nutrientes, podemos ver neste milho plantado lá na Bonanza, na agropecuária Dama. Milho plantado sobre braquiária.

Mas o que eu quero mostrar para vocês é que todo aquele beneficio da matéria orgânica, nósnãoestamosconseguindo,porqueestamosmanejando plantas de cobertura, às vezes em momento errado.

O trabalho do qual tiramos os resultados dessa figura foi feito por nós em Botucatu, em que trabalhamos com milheto, brizanta (linha verde) e mombaça (linha preta), é um Panicum. O milheto chegou quase a 15 toneladas de ma-téria seca por hectare, o Panicum e a braquiária em torno de 6, 7 toneladas, porque o desenvol-vimento inicial das forrageiras tropicais perenes é muito lento, depois de 70 dias. É uma área que foi plantio direto de amendoim. Comparado com uma testemunha com preparo convencio-nal, o amendoim vai superbem em plantio dire-to. Esse foi o comportamento da matéria secana superfície do solo. Olha só o que aconteceu com o milheto.

Estou entrando um pouco em palha para depois falar em reciclagem do milheto. Da palha inicial do milheto, em 51 dias, só restavam 42%, 43%; da braquiária mais de 68% e, do Panicum mais de 80%, principalmente a mombaça

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que entala muito. A mombaça lignifica mais do que o Tanzânia. A degradação é bem lenta e ela tem uma persistência de palhada boa.

Aí a gente fica perguntando o seguinte: por que eu não conseguia aumentar, e agoracom Panicum e braquiária nós estamos conse-guindo elevar o teor de matéria orgânica total? Agora, quando estávamos usando milheto, por que não estávamos conseguindo aumentar essa matéria orgânica?

Eu peguei nesse mesmo período, com di-ferentes datas de semeadura de milheto, para manejá-lo em estágio diferente. Minha surpresa foi isso: se o agricultor do cerrado, ou em nossas condições, esperasse o milheto chegar em enchimento de grão, quando o grão está leitoso, esse é o comportamento da dinâmica de palha, 70 dias depois ele teria quase 100% da palhada do milheto na área. Aquele milheto que eu falei para vocês, na fase de emborrachamento, tinha acabado de diferenciar a gema vegetativa e reprodutiva. Ele estava viçoso, todo enfolhado, 40% só de palha aos 51 dias. Então, na verdade, o que faz no cerrado, principalmente em áreas de algodão, ele colhe o algodão, faz destruição de soqueira, coloca o milheto, deixa por 30, 40, 50 dias. Às vezes, ele cresce bastante, forma uma massa e você acha que formou uma boa massa. Mas, na verdade, daí 30 dias, você vai lá e não tem mais nada. O agricultor não vai esperar for-mar uma boa massa, que tenha persistência, e atrasar seu plantio comercial.

Então, vamos ver se isso está interferindo na liberação de nutrientes. Libera uma quan-tidade considerável de nutrientes e já não vai ter tanta imobilização. Acho que a alternativa vai ser a seguinte, fazemos um consórcio. Na época, fazemos um mix de forrageira tropical com o milheto. Este estará produzindo bastante palha no início e a braquiária, as forrageiras, te-rão maior persistência de palha. Acho que essa será a melhor alternativa, porque é a dinâmica de nutrientes. Aqui estão os resultados com o nitrogênio.

O milheto chegou a acumular quase 150 kg de nitrogênio, a braquiária e o Panicum em torno de 90 kg. Essa é a dinâmica. Com o mi-lheto, depois de 51 dias, existia só 20% de nitrogênio acumulado. A braquiária libera mais rápido que o Panicum, e o Panicum tem esse comportamento. Mas ainda restou na planta 40%. Tratamos aqui de nitrogênio que faz parte da celulose. É um processo. Está lignificado, está na estrutura lignificada.

O fósforo sai totalmente com 51 dias.

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Em termos de porcentagem, todo o fósforo já saiu dessa palhada, zerou, já foi liberado.

Potássio, a mesma coisa. Todo potássio sai da palha tendo chuva. Aqui eu acho que come-ça a explicar um pouco, porque persiste mais a palhada das forrageiras tropicais perenes

Vejam o cálcio.

Ainda resta na planta 50% do cálcio, tanto do Panicum como da brizantha.

São estruturas de difícil degradação e isso aumenta a persistência da palhada. O magnésio tem comportamento muito semelhante.

O enxofre, com 51 dias, está praticamente liberado nas três espécies.

Outra linha que se deve estudar é essa parte de ciclagem de nutrientes, de dinâmica de nutrientes provenientes da palha.

O pH onde foi braquiária e onde não foi. A figura seguinte mostra a variação do pH no que era uma rotação de milho com triticale, no caso desse ano. Depois vieram soja e aveia, mostrando o efeito da braquiária. Aí entra o sistema Santa Fé na correção do pH.

Outra com o manejo do nitrogênio. Vejam no lablabe com aplicação de amônio liberado do lablabe, sorgo e sem palhada e tempo de incubação. Caiu o amônio, que no caso do lablabe, está virando no nitrato. Onde era sem palha, praticamente, não alterou. Onde havia sorgo, acreditamos que esteja ocorrendo imo-bilização e depois de 100 dias, há liberação de nitrogênio.

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O pessoal fala muito em aveia na rotação com milho, aplicação de nitrogênio na aveia, sem aplicação, na ervilhaca e no nabo. Na aveia sem aplicação de nitrogênio, a produção cai. A aveia imobiliza muito nitrogênio e demora às vezes para liberá-lo.

Esses são resultados de um trabalho feito pelo Ciro de manejo de nitrogênio.

No primeiro grupo: o de nitrogênio, 60 kg de nitrogênio e 120 kg de nitrogênio. A gente queria ver a contribuição do nitrogênio aplicado na semeadura, na palhada, 30 dias, 60 dias e 90 dias depois.

Numa área de pousio, o que a gente tem observado é o seguinte: a baixa, normalmente começa a cair o teor de nitrogênio na palhada. Quando a planta, no caso o milho, começa a absorver, a maior parte do nitrogênio que ele utiliza vem do solo. Esse comportamento au-menta o teor no solo. Quando aumentamos, a adubaçãotemaumentado,masesseincrementodo nitrogênio vem da palha. Nesse caso, vem caindo e vai aumentando e o nitrogênio utiliza-do pelo milho sempre é proveniente do solo.

Em outra situação, com a aveia-preta, também cai o nitrogênio da palhada, aumenta o do solo. Começa a cair o do solo, que está em vermelho, em função da absorção pelo milho. Quando aplico o nitrogênio, cresce a absorção de nitrogênio pelo milho e também o teor de nitrogênio no solo.

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Vejam com a aplicação de nitrogênio na aveia; seu incremento sempre está acompanha-dopelasuareduçãonosoloemfunçãodesseincremento de nitrogênio no milho. O nitrogênio aumentou, principalmente na palhada, depois caiu e seguiu essa seqüência. No final, o milheto teve o mesmo comportamento.

Fez-se um balanço desse nitrogênio até 60 cm de profundidade, observando-se o seguinte: o nitrogênio da palha vai para o solo e a planta pega, principalmente, o nitrogênio do solo, e não o proveniente da palha. Então, o nitrogênio aplicado na cultura de cobertura é acumulado na palha e isso beneficia a próxima cultura, no caso, o milho e o milheto.

No balanço do nitrogênio isso foi obser-vado. O Ciro verificou que, na área de pousio, o balanço foi zero na dose zero. Na de 60 kg, houve maior absorção de nitrogênio favorável para o milho; em 120, a mesma coisa.

Quando se usou o lupino, tanto na dose zero como nas demais, ocorreu maior absorção de nitrogênio pelo milho.

Quando se utilizou a aveia, tanto com a aplicação de nitrogênio como sem, ocorreu um excesso de nitrogênio. O milho não conseguiu pegar o nitrogênio proveniente da palhada da aveia sem aplicação de nitrogênio. Então, o que a gente tem observado, e também em outros expe-rimentos, é que a aveia pode estar imobilizando o nitrogênio e não o disponibilizando para o mi-lho, quando não se faz a aplicação de nitrogênio. Quando se faz, o milho acaba absorvendo-o.

E com o milheto + nitrogênio, essa absor-ção é maior. Então, o que ele constatou lá, é que com a aveia diminui a eficiência de nitrogênio e ela está tendo algum efeito sobre sua dispo-nibilização. Quando se trabalha com milheto, aumenta a eficiência do uso de nitrogênio pela cultura do milho.

Então essa é uma linha que o Heitor levan-tou, o manejo do nitrogênio, sua antecipação pelaplantadecobertura,quetemquesermaisbem estudada e verificar a sua eficiência.

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Outra coisa em relação ao nitrogênio é o que temos observado em Botucatu. Toda vez que entramos com o sistema Santa Fé, no primeiro ano de rotação sempre produz mais. Todo mundo pensa que a braquiária vai compe-tir com o milho. Eu estou mostrando o resultado de um experimento.

Eu estava falando ontem para o João K que, em três anos de experimento, quando se entra a primeira vez com o consorciado, a pro-dução é sempre maior e não sabemos o porquê. Levantamos uma hipótese e estamos estudando com o Márcio Lambais, lá na Esalq. Será que essa braquiária está fixando nitrogênio para o milho? Então, o Márcio está tentando identificar azospirilo, a eficiência, os grupos.

Essa é uma coisa que requer também aprofundar mais os estudos. Para vocês terem uma idéia, foram três experimentos: três anos com sorgo, três anos com milho. Todas as vezes que a braquiária entrou consorciada, a produtividade foi maior. Desde que se coloque a semente da forrageira a 6 cm, se se atrasar o máximo para ela sair, o milho se estabelece pri-meiro, fecha, e ela não vai brigar com o milho. A braquiária só vai começar a competir com o milho na hora que este começar a carregar carboidrato para seu pleno desenvolvimento. Começa a secar a folha e aí as plantas de bra-quiária vêm. Você também não pode atrasar para colher, senão ela toma conta da lavoura. Mas em todos os experimentos o do primeiro ano, a produção foi maior.

Temosquepensarna integração,porqueontem a Elaine falou: “deve-se tomar cuidado com a braquiária para não virar uma monocul-tura, também porque parece que ela é a salva-ção da lavoura”.

Ela não é bem a salvação, porque se você entrar com o sistema Santa Fé seguido na mes-ma área veja o que acontece: doses de nitro-gênio aplicado no milho. Esse experimento já tem dois anos, entrando em área que já foi uma sucessão de Santa Fé, uma monocultura de Santa Fé, vamos dizer assim. Olhem a resposta

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ao nitrogênio. No sorgo, a mesma coisa. E vejam o tanto que interferiu, na dose 0 de nitrogênio. A produção foi bem abaixo com a braquiária, de quando o milho foi solteiro. A linha azul repre-sentaoPanicum. Mas, com sorgo, a produção diminui, quando plantado em seqüência.

O nitrogênio foi aplicado, só para vocês terem uma idéia, em dezembro. A figura anterior mostra uma avaliação de forragem em outubro do outro ano. Vejam como a braquiária (linha verde) aproveita o nitrogênio que foi aplicado 10 meses antes, ainda no pastejo de outubro. Então ela está pegando o nitrogênio que a gen-te falou que o milho não pegou. O Panicum, uma forrageira mais exigente, mais responsiva, tem aproveitamento maior. Vejam com o sorgo. Apliquei nitrogênio em dezembro e a forrageira está respondendo em outubro. A eficiência de absorção disso daí, ou a redução de lixiviação

de nitrogênio para as camadas mais profundas do solo, é significativa. Nós não fizemos o ba-lanço de nitrogênio nesse caso, mas ela pegou o nitrogênio que foi aplicado lá atrás. A gente acompanhou as curvas de resposta.

Esse é um aspecto no qual a gente acredita muito no plantio direto, com o sistema Santa Fé. Concordo com a Elaine. A gente não pode fazer uma monocultura de Santa Fé, tem que entrar em rotação.

Euqueriamostraroutro resultadoqueagente tem observado lá. Vejam uma compa-ração de fósforo no plantio direto. Ocorre um acúmulo de fósforo nas camadas superficiais, em função da não-mobilização e revolvimento desse solo. Mas o resultado que eu queria mos-trar é que, quando nós entramos essa é uma área de rotação normal que eu falei para vocês, milho-trigo-soja-aveia, e a braquiária entrando. Depois ficava em pousio. Colhia o trigo em agosto, ali em Botucatu, o qual ficava dois, três meses em pousio.

Vejam o que a braquiária fez com o fós-foro: aumentou-lhe o teor em todo perfil. Nós não sabemos o que está envolvido. Estamos co-meçando com um orientado que está entrando nesse experimento aí, para fazer fracionamento de fósforo e ver o que está realmente acontecen-do. Esse solo dá em média 9 toneladas de milho por hectare.

A figura seguinte foi tirada de trabalho do Silva que fez doutorado em Lavras e mostra o

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seguinte: ele usou várias plantas de cobertura, solo descoberto, crotalária, guandu, mucuna, braquiária e cerrado nativo.

As plantas de cerrado têm uma capacida-de menor de fixação, elas solubilizam fósforo e diminuem a fixação de fósforo no solo. A mais próxima das plantas de cerrado foi a braquiá-ria, que proporcionou, entre todas as plantasde cobertura, a menor fixação de fósforo, e au-mentou a solubilização. Será que, para diminuir ocustodaadubaçãofosfatada,nãosepoderiautilizar fontes de fósforo de baixa reatividade e tentar usar a braquiária como solubilizador de fósforo?

Não sei. Estou dando uma idéia aqui tam-bém. Acho que é uma linha que poderíamos pesquisar.

Para finalizar quero mostrar-lhes o efeito da água na lixiviação de potássio, é outra linha que acho interessante.

Vejam o potássio na planta de cobertura. Quando se coloca potássio na planta e na pa-lhada, a produção cai pela ação competitiva de cálcio e maguinésio e muito potássio na área.

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Adubação potássica: vimos que, quando se faz a antecipação de fósforo e potássio num solo com teor médio a baixo de fósforo, a produção vai cair. Só dá para antecipar a adubação fosfatada se tivermos um bom teor de fósforo.

Eu queria agradecer ao Zancanaro, que está aqui, vai ser um dos debatedores e mostrar que esta é mais uma linha que deve ser estudada.

Nas figuras seguintes, o algodão da esquerda está muito maior que o da direita. O que aconteceu?

Foi feita a adubação convencional nossa. A adubadeira só solta uma linha abaixo da semente, como é a adubação do algodão dos dois lados, em Sorriso. Vejam o desenvolvimento da planta. Então essa é uma linha de adubação, isto é, a localização de adubo, que deve ser explorada no plantio direto e deve ser mais bem estudada.

Bernardo van Raij - IAC

Acho que o que ficou de intrigante foi o aumento de matéria orgânica em profundidade com a braquiária, porque se a gente pensa em seqüestro de carbono em plantio direto, tem que pensar dentro do solo e não em cima, e isso é muito importante.

Carlos A. Costa Crusciol – UNESP/Botucatu

Pelo que estamos avaliando, é muita raiz que a braquiária faz. A gente se assusta e pensa que é a mesma quantidade de raiz e de massa seca que ela faz. Mas nós não vamos transformá-la em monocultura, não.

Bernardo van Raij - IAC

Outra coisa é a dinâmica de nitrogênio junto com o gesso para controlar a reação do subsolo. Mas, agora, vamos passar a palavra ao Eduardo Caires, da Universidade Estadual de Ponta Grossa, região onde o plantio direto começou, praticamente, junto com Londrina.

Debate

Eduardo Fávero Caires – UEPG

Os dois palestrantes que me antecederam fizeram uma brilhante explanação. Concordamos com muitas de suas colocações e vamos procurar abordar mais, talvez algumas coisas relaciona-das com calagem e adição de gesso, parte que foi explorada de forma um pouco mais rápida.

Bem, a gente vai falar sobre a correção da acidez em plantio direto. Tem sido um tema bastante intrigante. Então nós o trazemos para discussão. Em resultados de dez anos de acom-

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panhamento no sistema plantio direto na região de Ponta Grossa, vimos os efeitos de doses de 0, 2, 4 e 6 toneladas por hectare, aplicadas em superfície e o acompanhamento ao longo desses dez anos, nas camadas de 0-5, 5-10, e 10-20 cm. Percebe-se que, independentemente da dosagem, a velocidade de reação do calcário foi a mesma. Tanto na dose 2, 4 ou 6, o comporta-mento da dinâmica de correção foi o mesmo e nas camadas de 0-5, e 5-10 cm, foi semelhante. Na camada de 10-20 cm, basicamente, é que a gente começa a ter a reação desse calcário na superfície, depois que ocorre a reação nas camadas mais superficiais, o que pode ser visto claramente. Percebe-se, nesses casos, a movimentação de bicarbonato, lenta e gradual ao longo do perfil, até alcançar a profundidade de 10-20 cm. Só ocorre a reação nessa camada depois que começa a queda da reação nas mais superficiais. Só que nós temos observado também, em alguns estudos, que efeitos em profundidades maiores que 10 cm, provavelmente, tenham sido associados a outros fatores. Até 20 cm parece-me bastante claro que a movimentação é por bicarbonato de cálcio e magnésio ao longo do perfil. Abaixo de 20 cm, há muitos estudos mostrando que o calcário, aplicado superficialmente, pode também alcançar camadas mais profundas. E esses efeitos têm sido atribuídos a uma série de fatores, entre eles, a movimentação por ácidos orgânicos e a movimentação física. Só que nós não conseguimos observar.

Em outro estudo que fizemos recentemente, avaliamos a influência da cobertura da aveia preta. A influência no pH, e nos teores de cálcio, magnésio e potássio ao longo do perfil. Nós não conseguimos observar nenhum efeito da aveia na alteração do pH, nos teores de cálcio e de magnésio. A única influência que nós observamos foi no teor de potássio. Percebe-se que, 30 meses após a calagem, obtivemos dois ciclos de aveia com a produção em torno de 4 toneladas de matéria seca de aveia preta. Depois de dois ciclos de aveia, 30 meses após a calagem, nós realmente não conseguimos identificar nenhum efeito desse material, do resíduo da aveia preta na incorporação do calcário. Nós colocamos uma interrogação muito grande do efeito dos ácidos orgânicos solúveis na movimentação do calcário aplicado em superfície. Eu, particularmente, acredito mais no efeito de solvatos de cálcio, do que propriamente de ácidos orgânicos de pequena cadeia.

Acho que isso aqui precisa ser mais bem estudado. A formação e migração de carbonato de cálcio e magnésio. Parece-me muito claro ocorrer até a profundidade de 20 cm, o desloca-mento mecânico através dos canais surgidos a partir de raízes mortas. Alguns estudos recentes de vegetação mostram que é possível esse caminhamento do calcário por esses canais. A adição de calcário em fertilizantes nitrogenados: já foi mostrado aqui pelo Crusciol, que existe a possi-bilidade de efeitos, e esse manejo de resíduos orgânicos. Eu acredito mais em efeitos de longo prazo. A gente tem observado maiores efeitos do calcário aplicado na superfície, em camadas subsuperficiais, em áreas de longo período de plantio direto. Então é possível que essa movi-mentação não seja por complexos orgânicos de baixo peso molecular e, sim, por complexos orgânicos de alto peso molecular, como é o caso dos solvatos de cálcio.

Existe outro paradigma do plantio direto, de que a calagem superficial concentra o sistema radicular nas camadas superficiais. Uma grande dúvida que existiu, sobre a qual eu trouxe aqui só um resultado, faz com que a gente venha trabalhando muito com crescimento de raiz. No caso de raiz de milho em função de doses crescente de calcário aplicado em 93 e as raízes do milho, avaliadas em 2000. Em uma reaplicação de calcário um pouco antes desse milho tam-bém, a gente observa claramente, a profundidade de 0 a 10 cm. A calagem superficial diminui o comprimento relativo da raiz. Com o aumento das doses de calcário, o comprimento relativo de raiz diminuiu e aumentou na camada de 20 a 60 cm. Houve uma distribuição melhor das

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raízes quando a calagem foi feita na superfície e não houve maior concentração nas camadas superficiais, como se tem dito muito por aí. A camada de 10-20 não apresentou alteração alguma e nós observamos uma ligeira compactação nessa camada. Acreditamos que esse tenha sido o principal motivo da calagem. O aumento do cálcio e a diminuição do alumínio contribuem para maior passagem de mais raízes para as camadas mais profundas. Então, não é verdadeira essa afirmativa de que a calagem superficial concentra o sistema radicular na camada superficial do solo.

Outros resultados interessantes, no que diz respeito à calagem: temos observado produti-vidades muito alta na ausência, de calcário, em solos em longo período no sistema de plantio direto. Solos com altos teores de matéria orgânica, e de alumínio, produzindo 3.000 kg por hectare de soja. Num solo com mais de 10 milimol de alumínio, 2.400, 2.600. Solos com altos teores de matéria orgânica, com pH baixo e produzindo relativamente bem. O milho também: 8.000, 9.000 kg por hectare em solos com alta acidez em plantio direto. Esses dados é que têm gerado muita dúvida e que o Heitor aqui levantou, a respeito da redução da saturação por bases, porque se produz muito bem em condições muito ácidas. Isso aqui tem sido ressaltado nos últimos anos na literatura.

Nós temos hoje dados do Mato Grosso mostrando resultados semelhantes, ou seja, em situações diferentes, obtendo-se altíssima produtividade em condições ácidas. Esses tipos de resultado geram muita confusão porque, primeiro, eu falo que posso reduzir a dose de calcário em plantio direto. Só que a maioria dos estudos é muito pontual e, normalmente, de curta dura-ção. Quando a gente faz um levantamento, por exemplo, em cada trabalho desse, a gente não sabe exatamente como foi a distribuição de água, não sabe quanto choveu durante o período de desenvolvimento da cultura, para que se possa ter uma produtividade desse porte aqui em condições ácidas. Eu só quero apresentar os resultados bem recentes que observamos com trigo. Em uma das áreas mais antigas de plantio direto no Brasil, quando houve uma longa estiagem durante o período vegetativo do trigo, a resposta à calagem foi de que o trigo subiu de 1.200 kg e chegou próximo de 4.000 kg por hectare com a aplicação de calcário. Choveu bem na seme-adura e no florescimento, mas parou de chover, praticamente, durante todo o ciclo vegetativo da cultura. Então, os teores da mesma ordem de grandeza daquele anterior. O alumínio e a saturação por alumínio em níveis tóxicos, mostrando que a análise pelo KCl indica, sim, uma re-presentatividade boa das condições de acidez, e com uma altíssima resposta do trigo à aplicação de calcário em ano seco. Onde não havia calagem e onde havia calcário, dá para observar de longe a diferença visual da calagem e o efeito da toxicidade do alumínio. O caso é na fazenda do Nonô Pereira, em Palmeira. Também foi seco no inverno com sintoma extremamente idêntico ao que observamos um ano antes. A lavoura produziu um pouco mais de 1.000 kg de trigo em função de aplicações de baixíssimas doses de calcário. Fazia mais de dez anos que o Nonô Pereira não aplicava calcário em sua propriedade. Acho que agora ele esteja aplicando.

Eu trago dados de produção acumulada. Acho que quem trabalha com calagem tem que trabalhar por muito tempo. Isso, às vezes, desestimula alguns pesquisadores. Numa análise de cinco anos, produção acumulada com aplicação de calcário, a gente observou, durante cinco anos, esse tipo de resposta, com a dose econômica em torno de 3,3 toneladas de calcário. Corresponde à elevação da saturação por bases em torno de 65%, com base na amostragem de 0-20 cm. Evidente é a resposta acumulada em dez anos, indicando o maior retorno econômico, de quatro toneladas por hectare, mostrando o cálculo da elevação do V a 70% pelo critério da

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elevação de saturação por bases na profundidade de 20 cm. Então o cálculo na base de 70% é muito seguro para preconizar necessidade de calagem.

Em outro trabalho que fizemos, envolvendo calcário na superfície e calcário incorporado, observamos, também, na implantação do sistema, que em áreas onde não se há uma acidez ele-vada no início, que o maior retorno econômico que houve ao longo de cinco anos, foi quando se aplicou calcário na superfície em dose total. A dose calculada para elevar a saturação por bases a 70% também, aplicada uma única vez, ou aplicada parcelada durante três anos na superfície. O retorno econômico foi da ordem de 35 a 39 dólares por hectare por ano, com a aplicação do calcário. Ocorreu o prejuízo maior com o incorporado, pois o custo da incorporação não pagou o aumento da produção. Esses dados dão segurança hoje para preconizar o critério da elevação da saturação por bases.

Júlio Cezar Franchini – Embrapa Soja

Ainda bem que eu não concentrei meu trabalho em cima da questão da calagem, porque o Caires praticamente esgotou o assunto. Hoje, ele é a pessoa que tem os melhores resultados com calagem em longo prazo. Concordo com ele em, praticamente, tudo que disse.

Fala-se muito em plantio direto, em palha, em matéria orgânica, mas uma coisa que a gente deve ter em mente é que, no plantio direto, a qualidade só aparece com o tempo, um componente muito importante nesse sistema.

Muitas vezes queremos entrar no plantio direto e já obter todos os benefícios do sistema no primeiro ano, e isso não acontece. Vou tentar mostrar um pouco dos dados em relação à dinâmica do carbono. Que a qualidade no plantio direto está relacionada com o carbono, todo mundo sabe disso.

Só para relembrar, o que está associado com o aumento de carbono no solo, a questão de água, erosão. Existem benefícios do plantio direto que aparecem no primeiro ano, a questão de proteção do solo e redução de erosão. Outros benefícios, porém, só aparecem com o tempo. A questão de água, biologia do solo, diversidade. Infelizmente o workshop não contemplou a parte de biologia do solo, muito importante e que precisa ser trabalhada também dentro do conceito de interdisciplinaridade.

O solo foi comentado bastante aqui e também a questão dos gases do efeito estufa. A premissa básica do nosso trabalho nessa área, que é uma conceituação simples, de que o ma-nejo do solo e a rotação de culturas modificam a dinâmica da matéria orgânica, alterando a sustentabilidade do sistema.

Quero falar sobre o primeiro trabalho feito no Brasil fazendo essa comparação dos esto-ques de carbono na região dos cerrados. Eu trouxe exatamente para fazer esse paralelo com o Estado de São Paulo, que tem regiões que se encaixam no bioma de cerrado. Aqui estes dados têm sido muito discutidos, são valores bastante altos. Esta é a taxa de acúmulo de carbono em quilograma por hectare por ano.

Vejam o caso do sistema plantio direto, comparado com quando se faz o revolvimento, pastagens cultivada, que é a pastagem bem conduzida com manejo de adubação. E comparem também com um sistema de reflorestamento. Mas vamos ficar com esse diferencial entre o sistema com revolvimento e o plantio direto.

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As taxas ali mostradas estão muito ele-vadas para as condições de cerrado. Isso tem sidobastantediscutido,masprecisamosdemaisdados para ir aferindo essas taxas. Portanto, é questão do plantio direto. O conceito que se tem é que plantio direto sempre aumenta a matéria orgânica do solo. Só que não é sempre assim. O objetivo é mostrar e nós temos a comparação do plantio direto com o plantio convencional. Nós temos três sistemas de rotação de culturas.

Se observarmos na figura acima, temos rotações que têm praticamente as mesmas es-pécies. Temos uma pequena variação na sua distribuição. A linha de cor verde representa um sistemaquetemumaquantidademaiordelegu-minosas, incluindo a soja e o tremoço. A linha vermelha, o que também tem a soja e o tremo-ço. Mas o que chama atenção nesse sistema é que, nos últimos dois anos, ele só teve gramíne-as. Em relação ao estoque de carbono aqui em quilograma por hectare por metro quadrado, o estoque na camada de 0-10, 0-20 e 0-40 cm de profundidade. Valores positivos indicam o acúmulo de carbono no plantio direto. O valor

negativo, maior quantidade de carbono no plantio convencional. Nessa situação, nos últimos anos, onde havia uma presença maior de gramíneas, o que aconteceu no plantio direto? Foi observada uma boa cobertura de solo e um grande acúmulo de palha na superfície. E como foi colocado aqui várias vezes, palha com alta relação C/N, de difícil decomposição no solo.

Nós temos uma relação entre 10, 11 e 12. Nesse caso, se temos na superfície uma palha com re-lação C/N 40/100, então é mais fácil decompor matéria orgânica do solo do que a palha que está na superfície.

Com a incorporação no plantio conven-cional, conseguimos decompor melhor a palha e ela se converte em matéria orgânica do solo. Nós temos mais matéria orgânica no plantio convencional com gramíneas, do que em um sistema com leguminosa. Nesse caso, a rotação é muito importante para regular este processo, se vai haver acúmulo ou não.

Na figura acima vemos o sistema plantio direto, em experimento onde a avaliação foi feita após treze anos em Londrina. Percebe-se a sucessão trigo-soja, uma rotação considerada a ideal, porque no sistema ela tenta maximizar as culturas de grãos. Uma leguminosa antes do milho-aveia, antes da soja, e trigo-soja. Os sistemas vão se alternando, como se vê na figura, e

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entra novamente a rotação trigo-soja. O problema maior do trigo é o das doenças foliares. Não pode haver trigo por mais de dois anos na mesma área. Há rotação com o tremoço e a aveia no inverno e há rotação no verão.

É uma rotação que busca o beneficio de todo o sistema. Percebe-se, no destaque circun-dado, os plantios direto e convencional com a taxa de acúmulo de carbono nos sistemas. A referência e o estoque de carbono no solo, antes do início dos estudos é mostrada na figura. Plantio convencional com trigo e soja, perda de carbono, após treze anos com a rotação. Mesmo no plantio convencional ocorre um pequeno acréscimo. É importante sempre fazer uma ressalva nesses estudos de experimento de campo. Apesar de serem parcelas de 15 x 30 m, são parcelas grandes, mas o plantio convencional em condições experimentais sempre está protegido, não está exposto à erosão. As parcelas acabam protegendo umas às outras. Assim, não há aquele efeito de rampa de escorrimento. Sempre em condições experimentais, o plantio convencional está acima do que realmente é na realidade. No plantio direto com trigo-soja, as taxas em torno de 600 kg por ano, um pouco mais. No histograma seguinte, a rotação em plantio direto.

Quero chamar a atenção da rotação com a presença da leguminosa. Existe um estímulo à mineralização no plantio direto, com taxas menores do que as mostradas, que só se tem em cul-turas comerciais que formam aquela palha de final de ciclo de difícil decomposição. Lembrando que há o tremoço e a aveia, culturas de adubação verde, que são manejadas no estado de pleno florescimento, um resíduo de fácil decomposição.

É muito importante a relação de se ter resíduos de baixa decomposição, com outros de alta decomposição, porque também a atividade bio-lógica é muito importante. Existe a necessidade de haver esse equilíbrio.

Na discussão da questão do Paraná, o plantio direto é muito importante naquele Estado porque as condições de PD são ideais. Nas outras regiões temos que buscar soluções.

A avaliação, após 22 anos no sistema tri-go-soja, de como é a distribuição de carbono no solo pode ser vista na figura a seguir.

Percebe-se que a variação maior está na superfície, sendo os ganhos em profundida-de muito pequenos. Temos o plantio direto e o estoque total nessa camada de até 40 cm,plantio convencional. Uma diferença de 10 t em 22 anos, o que dá uma taxa média para as condições do Paraná, região Norte do Estado, Latossolo Vermelho distroférrico, de 500 kg/ha/ ano.

Uma coisa que é preciso chamar a aten-ção também é quando ocorre o acúmulo de carbono no plantio direto. Vimos anteriormen-te diferenças de estoque naquele período divi-dido pelo ciclo de tempo. Há uma taxa média

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para aquele período, só que não é constante. Observe na figura a seguir, plantio direto após doze anos.

Efetuaram-se avaliações ao longo do tempo. Temos que a taxa média durante o período foi de 500 kg/ha/ano, mas essa taxa variou ao longo do tempo. Quando se sai do plantio con-vencional, uma situação de solo degradado, e passa para o plantio direto, existe um potencial muito grande de acúmulo de carbono no inicio. A taxa chegou até 800 kg/ha/ano. Com oito anos, ela foi reduzida em torno de 300 kg e, após doze anos, já está em 200 kg por ano. A taxa vai variando ao longo do tempo e, com o isso, o sistema vai reduzindo o potencial de acúmulo. Existe aumento de biomassa microbiana, existe aumento de demanda de carbono. A taxa não é constante e o sistema também vai atingir seu equilíbrio. Isso aí está muito relacionado com as características do solo e o teor de argila. Precisamos evoluir muito no tema.

Fizemos a avaliação seguinte em 2003, na região paulista de Taciba, variação das per-dasdecarbonoemsoloarenoso,pastagemdegrama-matogrosso. Isso foi no auge da febre da soja, que avançou em áreas de pastagem de-gradada, e nós fizemos o acompanhamento do que aconteceu com o carbono após o manejo da pastagem.

Esse é resultado de um manejo preconi-zado para a renovação da pastagem. Perdas muito grandes no solo, na pastagem, com orevolvimento e, após o segundo ano, a recupe-ração. Já no primeiro ano a pastagem foi arada e utilizaram o plantio direto, mas aí a perda é associada com a gradagem. No segundo já há recuperação. Mas há uma perda. Observe-se as perdas relativas do total, aproximadamente, 10% do carbono no solo e o resultado chama a atenção! As perdas estão associadas às frações menores. A fração associada ao silte e à argila é a fração 200 a 53 micra.

A questão do fósforo já foi levantada. Num experimento de longo prazo, após quinze anos, a taxa de aumento do fósforo, principalmente na camada de 0-10 cm em torno de 1,5 ppm por ano de acréscimo. Aí é importante a questão do tempo. A produção da soja no plantio direto, com base na produtividade da soja, a diferença entre o plantio direto e o convencional. A pro-dutividade é maior no plantio direto, conforme se vê no histograma em verde e em vermelho, no convencional.

Para a época, na década dos 80s, com a tecnologia disponível, foram necessários cinco

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anos para que a produção no plantio diretopassasse a ser maior que no convencional. Identificamos essa fase critica inicial do sistema, depois passamos por uma estabilização e, após dez anos, o sistema atinge a maturidade e há sempre produções maiores no plantio direto.

Pode-se ver a evolução da tecnologia na figura seguinte. O experimento começa em 89, aquela fase crítica é reduzida e, praticamente, não ocorre quando existe a rotação de culturas. E a questão da rotação também não aparece to-dososanos,sóemanosruins,osquaisocorremalternadamente.

Na figura acima, estão destacados os anos em que houve o efeito da rotação de culturas.

A produtividade acumulada de soja no plantio direto e no convencional com rotação e com sucessão de culturas é vista na figura seguinte.

Adiferençadoplantiodiretoem relaçãoao convencional é mostrada na figura a seguir.

A diferença é de 7.600 kg durante o perío-do. Se dividirmos esse valor pela produtividade média, observaremos que, no plantio direto, ob-tiveram-se três safras a mais de soja em relação ao convencional, com rotação de culturas, o que equivale a uma safra a mais no plantio direto. No mesmo exercício de sucessão, é necessário um ano a mais para obter o mesmo resultado.

Na questão do calcário, o Caires pratica-mente esgotou o assunto. Mas é interessante a gente observar. Nós tínhamos nessa situação no ano passado, aveia e ervilhaca e pousio e o efeito sobre o pH numa área sem calcário.

Percebe-se a redução do alumínio, princi-palmente em profundidade. Há redução à meta-de dos teores de alumínio com aveia e ervilhaca. Na presença de calcário, intensificou-se o efeito de redução em profundidade. Também se vê o efeito de calcário. Está assinalado. Não aparece o efeito em profundidade, devido ao solo muito ácido, com teor de argila elevado. Os maiores efeitos aparecem nas camadas superficiais de 0-10, 10-20 cm. O solo já está no processo de

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acidificação. Os maiores efeitos foram observados doze meses após a aplicação do calcário. Então, cada situação tem que ser analisada em detalhes.

Em Mauá da Serra, vêem-se os altos teores de matéria orgânica na instalação do experi-mento há mais de dez anos, o efeito sobre o alumínio, o cálcio e a produtividade, as culturas em altos níveis de acidez. Observamos, antes alumínio, sendo a produtividade máxima observada com 2,5 toneladas de trigo, e milho respondendo mais que a soja.

Leandro Zancanaro – Fundação Mato Grosso de Rondonópolis

Quando vimos aquele tema qualidade química do solo, confesso a vocês que fiquei um pouco preocupado, porque nós estamos lá na frente dos produtores e, muitas vezes, nos atemos muito à questão das análises de solo. O Heitor Cantarella comentou bem a própria questão da matéria orgânica. Por exemplo, matéria orgânica total, que muitas vezes não nos dá uma informação tão confiável. Nós deveríamos, talvez, pensar em matéria orgânica ativa, falar em termos de qualidade química do solo para quem esta lá na frente do produtor. Fundado só em análise do solo, tenho certa dificuldade de falar, porque é uma ferramenta fantástica, mas talvez não explique muito as coisas. Essa é a dificuldade que temos diante do produtor.

Outra questão: o Dr. Fernando Cardoso falou ontem que, na verdade, aqui no Estado de São Paulo, vocês têm muitas áreas que foram cultivadas há vários anos e que estão em condições já degradadas. De certo modo, no Mato Grosso, temos uma situação mais ou menos parecida, não com cem anos de cultivo, mas com dez, quinze anos de pastagem, abertura de solos de cerrado, em que a pastagem foi implantada sem investimento nenhum. Hoje temos solos que não têm mais capacidade de produzir forragem.

Nesse processo, é inevitável, do meu ponto de vista, entrar com agricultura nessa área. Será, porém, que essa agricultura feita com soja, infelizmente monocultura de soja, deve ser o sistema preconizado?

Creio que não. Na verdade, nesse sistema, a agricultura entraria como a maneira de viabi-lizar a correção de solo e, futuramente, voltar com pastagem, com uma capacidade de pastejo maior, depois de dois, três anos. Voltar de novo com lavouras comerciais, nesse ano difícil, nessas áreas com muitos solos de textura arenosa.

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Em função da crise econômica, está-se começando a pensar em utilizar essas áreas para reflorestamento. A crise ninguém deseja, porém nesse momento de dificuldade, o pessoal começou a pensar em alternativas que, creio, sejam mais sustentáveis nesses solos que são de alto risco.

Foi comentada aqui a questão de análise de solo. Uma questão que ocorre muito no Estado do Mato Grosso para quem trabalha direto com o produtor é a diferença entre laboratórios e que fazem o produtor falar muito em análise de solo. Nós notamos que há uma diferença muito grande entre laboratórios. Além daquelas informações de pH, fósforo, potássio, cálcio, magné-sio, matéria orgânica e argila, é difícil falar em qualidade do solo só com base naquilo lá.

Outra questão no Estado do Mato Grosso é que temos poucas áreas com sistema de plantio direto propriamente dito. Alguém ontem apresentou um dado de 22 milhões de hectares com áreas de plantio direto. O Mato Grosso, hoje, tem próximo de seis milhões de hectares de soja. Se vocês fizerem uma pesquisa, vão ouvir que cerca de cinco milhões estão sob plantio direto. Mas, na verdade, é plantio direto sobre a palhada do milheto, porque antes da palhada do milheto houve uma operação de niveladora. Na essência da palavra, nós temos poucas áreas de plantio direto.

Foi comentada pelo Heitor e pelo Júlio alguma coisa sobre os pré-requisitos do plantio direto, que são: não-revolvimento, rotação de culturas e cobertura de solo. Lá fazemos o revol-vimento, embora mínimo, muitas vezes com niveladora, mas fazemos. A rotação de cultura: na verdade, fazemos o uso de monocultura de soja. Quem cultiva algodão também faz a monocul-tura do algodão. Nós também, assim como vocês aqui, ainda temos muito o que melhorar.

O que eu chamo a atenção é sobre a questão da análise de solo desse sistema e cobertura de solo. Temos uma cobertura de solo com monocultura também de milheto produzindo muito pouco. Considerando aquilo que o Heitor comentou, da questão da matéria orgânica ativa, se vocês pegarem os dados de alguns laboratórios que estão no mercado lá no Mato Grosso, há quinze, vinte anos, percebe-se, realmente, que pelos teores de matéria orgânica das análises de rotina, mesmo nesse sistema, temos uma monocultura, que tem outro revolvimento de solo, os teores totais de matéria orgânica do solo estão subindo.

É comum, nós que estamos diante do produtor de algodão, o agrônomo que cuida de uma área de algodão falar assim: “eu faço monocultura de algodão e minhas análises de solos estão acusando aumento de matéria orgânica do solo”. O que significa a qualidade dessa informação? Na verdade, há muita coisa que é material orgânico ainda, que está sendo interpretada como sendo matéria orgânica nas análises de rotina. Nós, muitas vezes, estamos diante desse agrôno-mo,desseprodutor,eelesusamissocomoargumento,sóquenóstemosumanecessidadedemudar o nosso manejo.

Sobre a parte química, eu vou passar. A acidez foi muito comentada aqui, mas eu vou comentar algumas dúvidas, alguns questionamentos, que, geralmente, um produtor, ou um agrônomo, que está diante de uma propriedade nos faz.

É sobre a adoção de plantio direto. Nós temos lá na parte química, a acidez como um dos principais fatores em que, volta e meia, o pessoal justifica o revolvimento maior dos solos em função da calagem. Por exemplo, acho que o Heitor e também o Caires comentaram sobre a questão dos critérios. Será que os critérios são os mesmos para os sistemas com textura? Aqui os níveis de acidez adequados para alto potencial produtivo são os mesmos para o plantio direto e o convencional?

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Essa é uma dúvida que o pessoal nos traz e, acompanhando lavouras comerciais para manter nossos programas de pesquisa, verificamos que há muitas áreas com pH baixo, com saturação por bases até então consideradas baixas, com potencial produtivo muito alto. Aí o produtor questiona: faço ou não faço calagem? E entra outra questão. Nós, no Estado do Mato Grosso, temos uma boa área tomada pelo nematóide de cisto. Daí entra aquele medo: se eu fizer calagem em excesso, como fica o meu nematóide de cisto? Essas são perguntas que eu acho que o Heitor levantou, que merecem ser estudadas.

Outra questão. Nós temos lá solos com textura arenosa e solos com textura argilosa. Creio que, nos argilosos, temos menos problemas. Na questão dos solos arenosos lá, como eu lhes falei, temos muitas áreas de pastagem que não têm mais capacidade de suporte. Há necessidade de recuperar esses solos. Mas nós temos que ter em mente também que esses solos de textura arenosa, que estão sendo cultivados no Mato Grosso não têm aptidão agrícola. Ao entrar nesses sistemas com culturas anuais, nós devemos ter em mente que não são recomendadas para esses solos. Mas será que os critérios de recomendação são os mesmos?

Vou dar um exemplo bem rápido de nos-sos dados. A figura a seguir mostra a condição inicial de um solo com 10% de argila, CTC 3,2; V % 12.

Na figura a seguir temos a produtividade de dez variedades de soja em combinações de calcário dolomítico, calcítico, a dose total consi-derando o PRNT 100.

Observamos que, de modo geral, mesmo na área de abertura de cerrado, ou de recupe-raçãodepastagemdegradada,aquantidadedecalcário utilizada é bem maior do que a reco-mendada por qualquer critério.

Nós estamos falando de plantio direto,mas por que tocar nesse assunto aqui? Por que nossa intenção na Fundação, na idéia de tentar recuperar esse solo, nós temos que fazer sua correção da maneira mais rápida possível, para evitar a necessidade futura de fazer seu revolvi-mento de novo. Nós temos o cerrado. Lavouras comerciais têm demonstrado que, realmente, para se entrar num solo de textura arenosa em plantio direto é preciso fazer uma correção ini-cial, que é a premissa básica do plantio direto. Essa correção inicial, porém, é com quantida-

des bem maiores do que as recomendadas por qualquer critério. Por que isso? Não sabemos. Inclusive, uma estudante de doutorado de Viçosa, que trabalha na Embrapa, passou uma se-mana conversando com várias pessoas e isso vai ser assunto da sua tese de doutorado. Por que razão, não sabemos.

Há um trabalho do Roque e Prado na Revista Brasileira de Ciência do Solo, onde citam o Quaggio, do IAC.

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O parágrafo em destaque é da discussão desse trabalho e tem vários fatores. O Quaggio deu suas explicações, que são uma revisão do que o Prado e o Roque utilizaram para explicar seus dados. E também repetiram os dados do Mato Grosso. Ou seja, essa subestimativa não ocorre só no Mato Grosso.

Outro ponto que o pessoal do Mato Grosso questiona é quando está com plantio direto. A princípio, esse cultivo mínimo estabelecido, o que fazer quando há uma acidez acentuada nas camadas de 10 a 20 cm de profundidade, já que não houve, inicialmente, correção adequada para a implantação do sistema plantio direto?

Em Mato Grosso, as extensões de áreas são muito grandes e o pessoal acaba fazendo a incorporação de calcário com grades de 28 polegadas. Olhando, a profundidade de corte dessa grade chega a 20 cm, mas a profundidade de incorporação é menor. Hoje, temos muitas áreas com essa condição de acidez 10 a 20, uma correção muito superficial. Ou seja, já se partiu de uma situação inadequada. O que fazer? Parte-se para a calagem superficial ou volta-se para o convencional? Incorporo isso em profundidade, para depois começar novamente o plantio direto? Quais as condições, porém, para que a calagem superficial seja adotada?

Do meu ponto de vista, não sei se estou errado, mas para a calagem superficial ter uma resposta temos que ter cobertura de solo, e é onde temos pecado até o momento. Muitas vezes, optamos pela calagem superficial pela facilidade, mas não temos a condição necessária para que ela funcione.

Então, a importância da cobertura em solos com uma textura arenosa, a manutenção e o acréscimo da matéria orgânica e a reciclagem de nutrientes, ajudam.

Eis uma questão desses solos mais críticos que o Estado do Mato Grosso tem, e que talvez São Paulo também tenha. Eu vejo o seguinte estabelecimento das culturas anuais. A figura a seguirsãofotosquetireinasemanapassada,deum solo arenoso, que, na minha opinião, nem deveria ser cultivado.

Eu fico pensando: o que essas plantas, nesse solo, estão sentindo agora? Eram umas três horas da tarde. Eu tenho que pensar num sistemaquegarantacondiçõesde,pelomenos,estabelecer e ter o desenvolvimento inicial da lavoura. A cobertura do solo, além da manuten-ção de matéria orgânica e reciclagem de nutriente deve ser usada também nesses solos, para a agricultura com restrições: só para viabilizarmos a recuperação da fertilidade, para depois voltar com pastagem ou reflorestamento.

O milheto implantado na semente Mariana, que é uma referência na utilização de solos arenosos é muito bem produzido, mas na linha de plantio ainda temos o solo muito exposto, e aí,

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é muito fácil ocorrer a morte da planta. Cabe uma questão sobre Brachiaria ruziziensis,implan-tada no final das chuvas passadas em solo arenoso. Eu prefiro uma cobertura como mostrada a seguir, porque cobre mais uniformemente a superfície, protege das alterações de temperatura

e já tem um pouco mais de umidade, para o estabelecimento da cultura na fase inicial.

Para terminar, minha pergunta é a se-guinte: nós temos na Fundação Mato Grosso uma preocupação: será que nesses solos ex-tremamente sensíveis nós devemos, dentro do manejo da química do solo, da fertilidade do solo,daadubaçãodosolo,embocaraculturanecessariamente? Ou o sistema para eu plantar e conseguir colher tenho que estabelecer bem a primeira cultura? Será que eu não devo mudar osistemadeadubaçãoparapensarnaculturade cobertura? Dar-lhe a mesma prioridade que dou para a cultura comercial?

É claro que isso vai representar em custo, maseunãoposso sópensarem lançara tec-nologia para aumentar o custo. Na verdade, tenho que aumentar minha eficiência e diminuir meu risco. Nós temos dados que mostram que, muitas vezes, é possível investir nessa cultura de cobertura, porque a soja recupera bem o que se fez na cultura anterior.

Então, uma linha de pesquisa futura, não sei se vocês concordam, é pensar como favore-cer a cultura de cobertura. Seja ela braquiária

ou milheto, sem comprometer o potencial produtivo, garantir uma facilidade e o menor risco em implantar a cultura anual, que deve ser usada com restrição.

Não há como investir em culturas de cobertura, que na visão dos cientistas e produtores não tem valor comercial. Mas até a safra 2005/2006, era fácil convencer utilizar quantidade de fertilizantes em áreas com a fertilidade já corrigida. Lá existe uma troca de valores. Dá-se muito valor a fertilizantes e pouco a manejo. Achamos que há necessidade de mostrar trabalhos que, nesses solos extremamente sensíveis, talvez tenhamos que pensar muito mais em manejo da palhada e matéria orgânica como um todo.

Conhecimentos hoje existem em nossa opinião, não de forma pronta a responder às dúvidas. As informações existentes, associadas aos fundamentos e às observações que resultam em soluções. Muitas vezes, o produtor e o agrônomo querem as soluções prontas. Acho que a pesquisa, incluindo vocês que estão na Embrapa, no IAC, têm que, realmente, como diz o Ciro, preocupar-se muito mais com os processos. Depois, nós da assistência técnica, que estamos mais próximos do produtor, temos a capacidade de associar as informações com as observações do dia-a-dia, para chegar às soluções.

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Todavia, o Merola está aí e é produtor. Nada adianta todo o conhecimento gerado se ele não fizer tudo direito. Eu tenho a tecnologia perfeita, porém o produtor na sua execução falha, queima a tecnologia. Hoje, informação é importante, mas também a qualidade na implantação de qualquer tecnologia.

Discussão da Mesa Redonda

Antonio Luiz Fancelli – Esalq/USP

A gente tem que tomar cuidado com o trabalho em termos de utilizar estatística e coisas desse tipo. Não é porque está publicado que determinada coisa seria adequada, porque há mui-to lixo publicado também. Só para ter uma idéia: hoje, eu estou analisando um trabalho para publicação e, em função da quantidade de nitrogênio que esse autor encontrou nos nódulos, fazendo uma continha rápida, tem aqui 428 kg de nitrogênio fixado pelo feijão nesses nódulos. Isso está completamente errado. Não pode ser publicada uma coisa desse tipo. Em termos de es-tatística, a gente pode utilizar estatística não paramétrica e outras coisas. No caso de braquiária, que foi aqui uma indagação do Cruciol. Será que ela está fixando nitrogênio? Já existem, pelo menos, uns três trabalhos na literatura que mostram que braquiária fixa nitrogênio através de fixadores livres. Há um trabalho que mostra que a braquiária pode fixar até 45 kg de nitrogênio por hectare. Isso aí é importante. Milheto também, até 30 kg por hectare, já existe trabalho na literatura. O guandu também favorece bastante a solubilização de fósforo, já há trabalho, uma dissertação do Renato Amable que foi meu orientado. Só queria levantar uma questão. Eu não entendi bem o que o Crusciol colocou aqui, de que a aplicação de nitrogênio aumenta cálcio e magnésio. Eu queria entender o que significa isso. Aumenta cálcio e magnésio?

Carlos A. Costa Crusciol – UNESP/Botucatu– UNESP/Botucatu

O que se tem observado é que com a adição de nitrogênio, tem ocorrido aumento de nitrato no perfil do solo e, conseqüentemente, cálcio e magnésio. A gente acredita que o nitrato está funcionando como par iônico do cálcio e do magnésio e arrastando no perfil.

Antonio Luiz Fancelli – Esalq/USP

Então está melhorando a distribuição e não aumentando o cálcio e o magnésio.

Carlos A. Costa Crusciol – UNESP/Botucatu– UNESP/Botucatu

Desculpe-me. Acho que foi uma colocação errada. É que o cálcio e o magnésio colocados em superfície estão melhorando essa distribuição.

Ciro Rosolem – UNESP/Botucatu

Bom, tentando resumir. Eu era debatedor ontem, mas quero propor uma coisa aqui. Queria ouvir, na verdade, porque é uma confusão que eu tenho na cabeça e tem a ver com a dúvida

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que você levantou agora, que eu acho que existe com relação a esse fenômeno assim chamado de auto-calagem. Há algumas coisas que estão acontecendo, que a gente está vendo e na verda-de não sabe bem. O Pavan e o Franchini começaram a trabalhar com ácidos orgânicos. É difícil a gente falar que o processo não existe. Ele existe. A minha dúvida é o tamanho do significado desse processo no campo. Nós temos trabalhado com algumas coisas e os nossos resultados têm apontado mais para um efeito da decomposição vegetal, gerando nitrato, e a própria adubação nitrogenada, lixiviando potássio, cálcio e magnésio. Nós temos trabalhos lá com milheto, com aveia, com nabo, sem alteração nenhuma nos teores de cálcio e magnésio no perfil.

São trabalhos conduzidos de maneira diferente. Mais clássicos são os trabalhos com pe-quena movimentação de carbonato e de sulfato. Gostaria de ouvir o que a audiência sentiu. O que eu senti de hoje e que parece pela apresentação do Eduardo, do Crusciol e do Franchini, é que, realmente, devem existir os processos dos ácidos orgânicos, mas eles não são tão essen-ciais. Parece que estão sendo mais importantes os íons minerais. Eu gostaria de ouvir se existe um consenso nisso, ou ainda temos que gastar muito tempo nisso?

Bernardo van Raij - IAC

Eu só complementaria uma coisa. Um dos principais carreadores de cálcio e magnésio é nitrato, que quando é absorvido embaixo, eleva o pH. É um mecanismo de correção, mas como você diz, o importante é a magnitude. No plantio convencional ocorre muito essa lixiviação de nitrato, porque você ara todo ano e quebra matéria orgânica. No plantio direto você não quebra a matéria orgânica e não tem tanta decida de nitrato. Acho que esse vai ser o ponto.

Ondino Bataglia - IAC, Conplant e Fundação Agrisus

Minha questão é a seguinte: a Fundação Agrisus tem o objetivo neste Workshop de levan-tar questões que precisam ser resolvidas para financiamento de projetos. Será que vale a pena ficar financiando projetos para estudar amostragem ainda? Não bastam os dados que nós temos e já fixar em 0-20, que é a zona do sistema radicular para amostragem? Porque, à medida que você estimula estudos, aparecem resultados dos mais variados e aí, o sistema de recomendação fica muito complicado.

Heitor Cantarella – IAC

Eu levantei a questão porque existem recomendações, especialmente do Rio Grande do Sul, para mudança de profundidade de amostragem. E o Rio Grande do Sul tem uma tradição maior que a nossa, em plantio direto, com mais áreas. O Paraná também tem adotado uma amostragem mais superficial de 0-10 cm e isso traz para nós uma incerteza, já que aqui em São Paulo ainda mantemos a recomendação de amostrar 0-20 cm. Eu fico contente de saber que amostrando de 0-20 não estamos errando. Mas é uma questão que temos que debater. Temos que saber se nós precisaremos gastar tempo com isso novamente, mas é o que está em pauta.

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Júlio Cezar Franchini – Embrapa Soja

Eu não ia falar sobre amostragem, ia falar sobre a questão da calagem. O efeito da cala-gem superficial ali não foi colocado no momento, mas os trabalhos do Caires são em áreas de plantio direto há muito tempo. Esses efeitos a gente tem observado. Eu mostrei Mauá da Serra, que é o estudo em que temos os dados mais recentes, mas são regiões que têm uma condição climática favorável para a formação do resíduo. Nós, do IAPAR, o Mário e o Pavan, nunca co-locamos em nenhuma recomendação. Através dos trabalhos, mostramos que era possível haver esse mecanismo e contribuir para o processo. Nunca colocamos em nenhum lugar que era para fazer dessa forma, não demos receita. Mostramos o mecanismo e que ele era possível.

Então ali, no caso de Mauá da Serra, a gente observou numa região de plantio direto e também uma das mais antigas do Brasil, teores elevados de matéria orgânica. No plantio direto, temos observado que também há o aumento de carbono solúvel. O processo é favorecido. Agora se é composto de baixo peso molecular, ou se é de alto peso molecular, eles têm uma partici-pação no processo. No início, geramos essa discussão. Realmente, o processo é importante ou não? Depende da quantidade do material produzido. É uma conta simples, quanto mais massa produzida. Aqui também nós falamos muito em massa e palha, resíduos diferentes. Quando a gente fala de milheto, de braquiária, de aveia e de nabo são coisas diferentes. A composição é diferente. Nós não podemos esperar o mesmo resultado usando qualquer tipo de resíduo, a palha. O Heitor colocou aqui a palha de cana. É um material praticamente inerte, tanto que se mantém muito tempo na superfície. A gente tem que saber o que esperar do material que está usando.

Eduardo Fávero Caires – UEPG

Só respondendo ao que o Ciro questionou. Confesso que acho que é um conjunto de efei-tos muito difícil de isolar no campo. Eu não tenho o convencimento de que a lixiviação de nitrato seja o principal mecanismo. A gente tem feito alguns estudos e sabe que há uma contribuição. Agora, que é o principal mecanismo envolvido na correção do subsolo, eu não tenho esse convencimento ainda. Em áreas mais antigas em plantio direto, os efeitos são bem maiores. Em áreas mais recentes em plantio direto, a movimentação do calcário é bem menor. Então, lógico. Em áreas mais antigas eu vou ter mais carbono e nitrogênio, mas também existem dados bem concretos de movimentações por compostos orgânicos de alta massa molecular, que é o caso de solvato de cálcio. Em áreas de plantio direto mais antigas, acredito que as concentrações sejam mais altas. É difícil isolar mecanismos. Existe um conjunto todo. Há também aqueles canalículos de movimentação física, que eu não sei até que ponto possam contribuir. Mas acho que é um assunto ainda interessante, para ser mais estudado e mais investigado, para entendermos me-lhor os mecanismos.

Denizart Bolonhezi – Apta/Ribeirão Preto

Só para aproveitar o momento. Eu não ouvi ninguém mencionando sobre o uso de silicato no plantio direto e eu sei que o público aqui tem muita capacidade para tecer algum comentário para deixar isso registrado. Na prática, a gente tem visto em São Paulo aplicação de silicato em superfície. Daqui a pouco, até na papinha da criança vai poder usar silicato, de tantos benefícios que a ele têm

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sido apregoado, sem talvez um respaldo científico. Se puder alguém fazer algum comentário para não deixar passar em branco, porque tem tudo a ver com qualidade química de solo.

Ricardo Ralisch – UEL

Com relação à dinâmica de nutrientes, parece-me que é um dos assuntos que o plantio direto exige que tenha primeiro uma mudança de conceitos, que precisam ser estudados, apro-fundados. Não é o único, são diversos. Esse é um deles. E com relação à amostragem, o que nós estamos fazendo, pelo menos nas áreas em que temos atuado, não é 0-10 ou 10-20 cm, são ambas. É estratificar a amostragem, porque ela dá uma interpretação muito melhor de como está acontecendo essa concentração e a distribuição.

Ricardo Merola – Fazenda Santa Fé

Comoagricultorqueestouemumaregiãoquetemumaofertamuitograndedecamadefrango, através da Perdigão, dejetos de suíno e do próprio esterco de curral, do meu próprio confinamento. Todos os trabalhos que a gente tem lido falam de você incorporar esse material orgânico ao solo. Eu quero saber se já existem estudos da sua aplicação em solo sem incorpora-ção. Se os resultados são iguais, qual a liberação e o tempo de liberação da matéria orgânica?

Participante não identificado

Eu já li alguma coisa. Existem alguns trabalhos muito antigos que dão conta de que se pode colocar na superfície, sim. É lógico que estamos falando de 5 a 6 toneladas. Nessas quan-tidades não há problema nenhum.

Ricardo Merola – Fazenda Santa Fé

E a liberação desse?

Bernardo van Raij - IAC

Normalmente, esses produtos orgânicos todos não teriam problema, porque muita coisa já penetra no solo. Por sinal é muito bom, porque é uma adubação. Quando você põe na forma líquida é uma adubação que penetra no solo, como a vinhaça.

Ricardo Merola – Fazenda Santa Fé

No caso é um produto que não penetra, esterco de gado e cama de frango.

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Bernardo van Raij - IAC

Ele perde um pouco por volatilização. O silicato de cálcio funciona como calcário, vai ter o mesmo problema de granulometria, mas a sílica fica lá. Então para gramíneas, às vezes, favorece um pouco.

Opinião dos participantes

• Uso criterioso de fertilizantes contemplando, preferencialmente, o sistema agrícola pro-dutivo e não a cultura; culturas (espécies vegetais) como contribuidoras para liberação, mobi-lização, disponibilização de nutrientes; taxas de mineralização de material orgânico; quebrar o paradigma de que adubo verde está orientado à produção de nitrogênio, quando deve estar orientada à produção de carbono, entrando na dinâmica de nutrientes.

• Limitações: agricultores e técnicos pouco conhecem sobre física, química e biologia do solo; pesquisa focada em ensaios de laboratório; necessidades: pesquisa em qualidade de apli-cação de corretivos e fertilizantes; desenvolver novas formas de adubação; melhorar a qualidade de fertilizantes.

• Aprofundar os estudos da dinâmica de nutrientes, associados aos diferentes resíduos; analisar os ácidos orgânicos.

• Qual a real contribuição e estudos de taxa de mineralização da matéria orgânica do solo. O SO4

2- e a evolução dos atributos físicos. Reciclagem de potássio e enxofre pelo milheto.

• Necessidade de aprofundamento da pesquisa nos processos e reações químicas que es-tão surgindo no SPD, com quebra de paradigmas e revisão dos antigos conceitos agronômicos.

• Investigar um pouco mais a respeito da dinâmica do nitrogênio no sistema e as relações com cálcio e magnésio. Conhecer a qualidade da matéria orgânica e o comportamento do carbono. Além de estudar as simbioses relacionadas com a química do solo.

• Calagem x gessagem = índices de decisão.

• Amostragem de solo adequada à realidade do Estado; condições mínimas necessárias para aplicação da calagem em superfície.

• Adubação de sistemas de produção; dinâmica de nutrientes em SPD; desenvolvimento e estudo de fertilizantes com solubilidade gradual; estudo do aumento de eficiência do uso do fósforo em PD; avaliação da importância de distribuição do fósforo ao longo do perfil do solo; estudos da relação solo-planta em nível de rizosfera.

• O potencial diferenciado das espécies em alterar o comportamento químico do solo em relação à disponibilidade de fósforo, mobilidade de cátions e imobilização de alumínio, ainda permanece em aberto nas condições de São Paulo. • Pouco se sabe sobre esse item. Ainda temos que aprender. São muitas as experiências, mas o assunto é complexo e requer investimentos em recursos humanos. • Registrar acúmulo de carbono e nitrogênio em diversas situações ao longo do tempo; pesquisar se há necessidade de melhorar a fertilidade do subsolo, ou se a palha e a colocação superficial de insumos resolvem tudo. • O manejo da calagem em solo nos sistema plantio direto, quanto a parâmetros para interpretação e recomendação da calagem superficial. Em que condições ela é recomendada?

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• Estudos de antecipação da adubação nitrogenada na semeadura; estudos de fontes e doses de fósforo x eficiência de aplicação; movimentação de calcário aplicado na superfície por compostos orgânicos e inorgânicos; gesso agrícola = critérios para a sua recomendação; níveis críticos de enxofre no solo para o desenvolvimento de plantas gramíneas e leguminosas; micronutrientes = disponibilidade e níveis críticos. • Qualidade (fracionamento) da matéria orgânica; matéria orgânica ativa; calagem em SPD; ciclagem do nitrogênio/matéria orgânica (aspectos microbiológicos/bioquímicos); indica-dores de qualidade do solo. • Pesquisas necessárias: calagem e gessagem no plantio direto; fertilidade do substrato para aprofundamento do sistema radicular; micronutrientes: modos de aplicação, doses etc. • Recomendação para análise de solo para plantio direto; estudo aprofundado dos mi-crorganismos do solo no plantio direto. • Qualidade da matéria orgânica em função do sistema de rotação; antecipação da adu-bação nitrogênio (adubação das plantas de cobertura); aumento da disponibilidade de fósforo, após cultivo com brachiárias (fracionamento de fósforo). • Maior treinamento e instrução de agentes da extensão para, efetivamente, pôr em prá-tica toda pesquisa e desenvolvimento das técnicas do plantio direto. Existem estudos, mas eles não chegam ao agricultor. • Gesso aplicado em PD. Precisa de números para PD em SP; amostragem não está convincente. Que sabemos sobre o quê fazer? • Ciclagem de nutrientes; manejo de cobertura morta em plantas perenes – café/citros. • Estudo da ação das coberturas na disponibilização dos nutrientes. • Ciclagem de nutriente; critérios para calagem/correção do solo; dinâmica do fósforo; micronutrientes em ambientes com + matéria orgânica. • Sítios de fósforo; levar cálcio ao subsolo com gesso; reatividade dos calcários a utilizar. • Faltam parâmetros de qualidade para plantio direto (químico, físico, biológico) quando o solo está doente. • Estudar o modo de aplicação de nutrientes, relação entre matéria orgânica x dispo-nibilidade de nutrientes e desenvolvimento do sistema radicular. Definição de metodologia de amostragem de solo sob plantio direto. • Determinação de níveis críticos de silício no solo para recomendação do uso de silicatos. • Os conhecimentos são abundantes, porém existe a necessidade de se conhecer melhor o aporte de nutrientes que as palhadas podem suprir às culturas comerciais. • Estudos de freqüência de adubação e quantidade necessária no sistema no ano agríco-la; inter-relações entre sanidade de plantas e estado nutricional, também com vistas ao controle fitossanitário; reciclagem por distintas espécies de cobertura; necessidade ou obrigatoriedade de adubações parceladas. • Manejo de fósforo e potássio na cultura de cobertura e disponibilidade desses nutrien-tes para as culturas em sucessão; efeito da gessagem na eficiência da fertilização nitrogenada, considerando a melhoria da fertilidade do subsolo e o maior aprofundamento do sistema radi-cular; velocidade de reação do calcário aplicado superficialmente e relação com a umidade, em função do acúmulo de palha. • Os dados abordados ou mostrados, vimos que V% baixo não se mostrou não limitante em certas condições de plantio direto. O que está ocorrendo? Necessitando um detalhamento da química do solo sob essa condição, o manejo do solo sob plantio direto. • Em nitrogênio: incentivar estudos em que a microbiologia e enxofre participem nos trabalhos de manejo de nitrogênio; estudos da rizosfera nos sistemas de rotação.

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Mesa Redonda IV

Qualidade física do solo e mecaniza-ção para o sistema de plantio diretoModeradora

Isabella Clerici De MariaInstituto Agronômico – IAC

Apresentadores

Ricardo Ralisch UEL

Afonso Peche FilhoInstituto Agronômico – IAC

Debatedores

Paulo Sérgio Graziano MagalhãesUnicamp

José Eloir DenardinEmbrapa Trigo

Orlando Pereira de Godoy Neto CAT Pirassununga

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APRESENTAÇÃO 1: Ricardo Ralisch – UEL

Na minha apresentação, vou falar um pouco sobre plantio direto-sistemas de produção, física do solo e mecanização, entrando mais especificamente, no assunto degradação física do solo. E, finalmente, gostaria de falar sobre o uso de máquinas agrícolas como solucionadoras de problemas, como um recurso para nos dar um resultado, ou solucionar determinadosproblemas.

O que tem acontecido, algumas vezes, é que temos invertido isso, usando a máquina para nos criar problemas. O sistema convencional foi muito nítido nisso; então, pretendo dar uma rápida abordagem.

Entrarei, rapidamente, no primeiro assunto: plantio direto-sistemas de produção. Tivemos uma experiência na região de Londrina, mais especificamente na microbacia do Ribeirão Jaú, município de Rolândia. Fizemos um levantamento sobre sistemas de produção em determinada bacia, bastante detalhado, com efeitos, classificação e reconhecimento do solo, e uma avalia-ção de como tais sistemas de produção estão afetando algumas das características do solo. Logicamente, o objetivo do trabalho sempre foi o plantio direto em culturas anuais. Mas, eu gos-taria de abrir outro horizonte para todos os sistemas de produção, trabalhar no conceito plantio direto, seja para culturas anuais, semiperenes e perenes, seja para horticultura. Há outras áreas em que o plantio direto pode ser empregado, além das culturas anuais. Mas, aqui, nós temos o foco em culturas anuais e, por isso, identificamos diversos sistemas de produção e de cultura e tentamos analisar seus efeitos no solo.

Por que menciono esse trabalho? Porque ele foi o prólogo para uma linha de trabalho que temos hoje em Londrina, que é a sustentabilidade dos sistemas de produção. Nele pudemos ver que, na verdade, plantio direto, que nós chamamos de integral, são somente parte das áreas trabalhadas, que adotaram integralmente todas as recomendações do plantio direto.

Temos que superar as condições inadequadas, seja plantio, colheita, semeadura, seja apli-cação de defensivos. Nós precisamos acompanhar. Isso precisa ser monitorado e controlado. Quem nos pode ajudar nisso? Um bom sistema, uma boa rotação, plantas com o sistema radi-cular mais agressivo.

Do ponto de vista ainda da compactação, só citando um pouco da nossa experiência, temos constatado basicamente dois problemas muito comuns quando somos solicitados a fazer uma análise de área com compactação. O primeiro problema, e o mais recorrente, é este: o que se considera como compactação não é. Na verdade, é uma recuperação das características naturais do solo depois da adoção do sistema. É um solo naturalmente denso, no qual ocorre a recuperação das suas características naturais, quando não há o revolvimento contínuo. Não é uma compactação, ele está voltando às suas características. É muito freqüente encontrar perfis de solos nos quais o horizonte A já foi perdido por erosões antigas. Estamos trabalhando prati-camente no B, no B estrutural, no B latossólico. Se é um B estrutural, é lógico que ali é muito denso e temos que conviver com isso. Não é com operações agrícolas e com rompimentos su-cessivos que vamos conseguir reconstruir essa estrutura. É justamente com rotação e densidade de raízes, com matéria orgânica e com um sistema bem conduzido.

Outro problema que temos visto com alguma freqüência é que há uma compactação resi-dual,causadapelosistemaanterior,quenãofoiadequadamentecontrolada,ouqueaindanãotem sido bem controlada. Como vamos lidar com essa compactação? Depende da sua intensi-

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dade, profundidade e da espessura em que está. Temos tido bastante sucesso em minimizar o efeitodessacompactaçãocomumbomsistemaderotaçãodeculturasederotaçãodesistemasradiculares. Eles nos ajudam a romper essas camadas e, paulatinamente, elas se vão recuperan-do. É muito mais fácil recuperarmos as camadas compactadas da superfície, do que um pouco mais embaixo, porque na superfície o clima nos ajuda muito. As sucessivas mudanças do estado úmido para seco nos ajudam bastante na ruptura dessas estruturas. Quando fica um pouco mais embaixo, a 20-25 cm, são as raízes que vão ter que nos ajudar. Numa eventualidade, a máquina pode ser empregada, desde que seja a adequada, na condição adequada. Mas isso é, volto a dizer, interrupção do sistema.

Existe uma prática também na região de Londrina que é a da escarificação; A cada dois anos, a cada quatro ou cinco safras, automaticamente, o agricultor, o produtor, faz isso siste-maticamente. Não é conveniente nem necessário. É um dispêndio desnecessário de recursos, cujos efeitos não são tão interessantes quanto se imagina. Isso precisa sempre ser levado em consideração.

Do ponto de vista de outras regiões, o que nos preocupa muito é a compactação que chamo de arranjamento, de organização das estruturas, que sucede com solos mistos, tendendo a arenosos. A compactação nos argilosos, que nos parece mais nítida que nos arenosos, pa-rece muito mais fácil para conviver com ela. Temos tido muita dificuldade de conviver com as compactações de rearranjamento de partículas que se dão no perfil do solo, em função de sua degradação física, que é a desagregação.

A compactação é muito importante, só que a desagregação também é uma degradação física muito importante. Principalmente em solos mistos, com teores de areia acentuados, mas que tenham ainda um teor de argila importante. Nós, através de algumas operações agrícolas - e a semeadora é uma delas - provocamos uma desagregação. Essa compactação de organização dos diferentes tamanhos de partícula no solo tem sido muito difícil de controlar. Esse é um efeito que temos que evitar antecipadamente.

Para dar um exemplo do que seria a compactação por desagregação, o selamento su-perficial, por exemplo, é um efeito de desagregação. A gente desagrega a superfície. Há vários exemplos de operações recomendadas para uma determinada região as quais são totalmente inadequadas. Promoveram a desagregação, até a ruptura de todas as estruturas do solo. Elas causam o selamento superficial do solo de uma região, praticamente impedindo e inviabilizando sistemas de produção. A desagregação, além da compactação, parece-me uma coisa à qual devemos estar atentos.

Máquinas para solucionar os problemas. Bem, eu estava dizendo que do ponto de vista de sistemas de produção, e a ligação disso com o sistema plantio direto, é lógico que existe uma tendência de nos atermos às culturas anuais, mas os conceitos podem ser aplicados em qualquer circunstância. Todavia, eu vou discutir com base nas culturas anuais, porque, pelo que observei das discussões de ontem, surgiram algumas questões. Vou mencionar um trabalho que ainda não tem resultados tabulados. Nós o estamos executando agora, que é justamente comparando semeadoras e sistemas de rompimento de solos e sulcadores. O que me chamou a atenção foi a preocupação do Jamil com a palha.

Temos, por exemplo, quando avaliamos uma semeadora, seu efeito na redução de co-bertura. Ela rompe o solo e ficamos preocupados com isso, e é sempre uma avaliação que fazemos.

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Em sistemas diferentes, usaram-se sulcadores desiguais. Há casos daqueles sempre com hastes, mas sulcadores diferentes e que promovem a redução de cobertura muito mais acentu-ada, diferente de outros, com uma redução bem menor. Há efeito também na emergência e na germinação,oquepodesermuitobempercebidocomossemeadosnomesmodia,comparadoscom aqueles 21 dias após a semeadura, com um bom regime de chuvas após a semeadura.

Sãopreocupaçõesquenóstemoscomsistemasderompimentodesoloecomoissofun-ciona. Por que estou usando esse exemplo?

Porque, se nós voltarmos para a circunstância mencionada inicialmente, em que a pre-ocupação é com a redução do índice de cobertura, nós encontraremos o efeito, notadamente com 35% de redução da cobertura. Pode se comparar com uma região com cerca de 95% de cobertura. Um dos equipamentos reduziu 35% e, o outro, 44% da cobertura. É importante isso do ponto de vista da sua manutenção, um aspecto importante que nos tem preocupado.

Temos tentado induzir, principalmente o Denardin com seus trabalhos, o IAPAR com a equipe do Ruy Casão aliados aos fabricantes. Há, porém, um efeito com a emergência das plan-tas. É nítida a diferença. Qual é o aspecto curioso? É que a máquina que teve redução menor da cobertura tem uma pequena diferença da configuração da haste. Ela teve, no entanto, um efeito muito grande na emergência. A outra máquina, apesar de ter tido um efeito na cobertura mais maléfico, pior, teve 143,1 plantas a cada 10 metros, que emergiram após 21 dias. Outra teve 92,6, praticamente 93 plantas emergidas a cada 10 metros, após o período de 21 dias.

Há também esse aspecto importante. Existem diversas suposições para isso, mas a princi-pal é o contato solo-semente, o efeito como esta haste está promovendo a linha de semeadura. É até perceptível a exposição de torrões.

O mecanismo de ruptura do solo, o mecanismo de abertura, de mobilização são importan-tes de reconhecer. Cada sistema deve ser utilizado para cada tipo de solo, para cada circunstân-cia que está nele. Isso significa que o mesmo conceito que tínhamos de alternância de sistemas de ruptura, de abertura de sulco, com o preparo do solo, temos que ter com a semeadura. A associação dos discos duplos da haste, quando usar isso ou aquilo, tudo depende do tipo, das características e das condições em que o solo se encontra. Se está propenso à exposição de torrões, à formação de torrões; se está propenso à ruptura, ao cisalhamento, tudo isso deve ser considerado. São informações a levar em conta até na escolha desses equipamentos.

Ainda do ponto de vista da mecanização para o plantio direto, existem alternativas pas-sando além das semeadoras. Há outras máquinas e outros equipamentos importantes, como as colhedoras e seus distribuidores de palha, os pulverizadores, tecnologia de aplicação, funda-mental no ponto de vista de qualidade do sistema. Temos também os controladores mecânicos de cobertura.

A Isabella perguntou-me ontem sobre associação de plantio direto e produção de orgânico. Por exemplo, uma alternativa que está sendo muito boa é o controle mecânico das coberturas. Através de diversos mecanismos, diversas horas, há várias formas para conduzir esse controle das coberturas.

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APRESENTAÇÃO 2: Afonso Peche Filho – IAC

AsquestõesligadasaoplantiodiretoemSãoPaulonãopassamsomentepelasquestõesde física do solo ou de química; passam, também, por outros problemas.

A imagem de fundo é da Fazenda Malabar, em Itatiba, onde começamos a fazer plantio direto há mais de 20 anos. Vou tentar trabalhar a questão de diagnóstico de obstáculos.

Quais são os obstáculos para a plena im-plantaçãodosistemadeplantiodiretonoEstadode São Paulo? Vou tentar propor algumas prio-ridades de pesquisa e o que acho sobre isso.

Primeiro, os obstáculos: o Estado de São Paulo é um reduto de caciques, nós temos um número de caciques, uma cacicaiada lascada. Há 40 caciques aqui na DIRA, mais um monte de caciques nas bacias hidrográficas, e agora está vindo um monte de caciques ligados à APTA, que são os dos Pólos. Acho que esse novo mapa doEstadodeSãoPaulo,formadopelosPólos,vai resolver esse problema de chilique entre pes-quisadores, extensionistas. Isso é um problema crônico do Estado de São Paulo.

Em São Paulo, é fundamental entender as grandes regiões e o cenário das bacias hidro-gráficas. Os grandes comitês de bacias. Acho que hoje é um cenário muito interessante para a gente trabalhar sistemas de produção no Estado. A Fundação Agrisus poderia promover uma in-teração entre os diversos caciques, para a gente poder discutir projetos, financiamentos, otimiza-ção de recursos para as bacias. Principalmente pelo fato de o sistema plantio direto ser umaferramenta poderosa na contenção de erosãonos mananciais.

O Estado de São Paulo é dividido em algumas grandes regiões. Temos o Cristalino paulista,umacondiçãocompletamentediferen-te do Planalto. Temos um planalto que é areia, um planalto superior e inferior. Temos uma Depressão Periférica, que é uma verdadeira torredebabelemtermosdesoloetiposdeagri-cultura. Como o Dr. Fernando disse, São Paulo tem que se orgulhar ou chorar por ser o Estado com o solo mais erodido do Brasil, o mais “da-nado” do Brasil.

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Quando se fala em Latossolo, fala-se em Latossolo, quando se fala em Podzolizados, fala-se em Podzolizados, e há as novas classificações também que dão um chilique em todo o mundo, que ninguém entende nada e depois fica todo o mundo chorando.

A gente vem desenvolvendo alguns conceitos ligados com a física do solo e à mecanização, fundados em dois pontos: a fragilização das terras ligadas com o uso e a questão da vulnerabi-lidade das terras, diante do que queremos colocar. Isso é importante e nós desenvolvemos al-gumas tecnologias para identificar a fragilidade ante diversos tipos de preparo, inclusive plantio direto.

Na bacia do Corumbataí, fizemos um estudo onde se vê, mesmo com a adoção de plantio direto, uma expectativa de fragilidade muito severa em algumas áreas.

Isso significa o quê? Significa que precisa-mos, necessariamente, prescrever plantio direto adequadamente. E o que está mostrando nessa figura não significa que a gente tem soluções, como a questão da classe e a capacidade deuso. “Afonso, essa área aí possivelmente é 7, 8”? Eu respondo: “vá ao Vale do Paraíba ver se aturmanãoplanta,mesmoemsituaçãopareci-da”. Como é que eu vou discutir? Vou dizer ao agricultor largar mão de plantar lá?

Isso é o que mostra muito bem o que sig-nifica o potencial dos sistemas agrícolas para poder fragilizar.

Outros pontos importantes em relação à mecanização e, principalmente, à questão de máquinas em si, é que temos que entender as questões de mecanização no plantio direto como um conjunto de variáveis. Quando se pensa em fertilização, por exemplo. Na minha cabeça, há umgrandegrupodegentequeestudanutriçãodeplantas,temumgrandegrupoqueestudaadubação e pouca gente estudando fertilização. O que significa a recomendação que o Doutor Heitor me fez? Terei que ser fiel a ele, e seguir sua recomendação que manda jogar lá? Porque há hora que eu não lhe sou fiel. Ele recomenda e eu jogo de qualquer jeito. O Ricardo mostrou uma última foto, não sei se vocês se lembram. Há uma variedade grande de altura de plantas e eu tenho estudado muito essas questões, a produção de plantas espetaculares. Por que plantas espetaculares? Porque temos alguns pés de soja e de milho extremamente produtivos. E devem pautar para quê? Para estudar uma planta ruim ou uma muito boa? Eu acho que temos que estudar os extremos. Por que nós, dentro de uma área de alta produtividade, temos plantas muito ruins e plantas muito boas?

A partir de agora, a minha palestra vai-se pautar só por áreas de alta produtividade. Todo meu estudo aqui foi feito em áreas de alta produtividade. Tudo o que vou falar aqui foi em fazen-da que produz 140 sacos de milho por hectare, 130 sacos. São 60, 70 sacos de soja. Onde havia área de alta produtividade, lá foi esse Afonsão xeretar para ver qual o segredo do sucesso.

Nós temos alguns problemas ligados com insumos de máquinas. Você imagina a parte de lubrificação. Nós precisamos de incentivo de estudos para entender os processos de lubrificação de máquinas agrícolas, porque elas são complexas e não é só um tipo de graxa que vai resolver os problemas. Você imagina uma semeadora. Na verdade ela é um conjunto de carrinhos, e se

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você for plantar mil hectares com uma semeadora de 10 carrinhos, cada carrinho faz 100 ha andando. Você imagina o que significa lubrificar isso, imagina o que significa a graxa que está na mão dos agricultores?

Que significa fertilizante? Nós temos um problema crônico com fertilizantes no Brasil, principalmente nas suas questões físicas. Temos discutidomuito isso com a ANDA. Estamos lá com um processo incentivando o pessoal para trabalhar a questão de qualidade e tecnolo-gia de aplicação de fertilizantes. Fizemos um diagnóstico junto aos fornecedores e o maior problema, realmente, é qualidade. Mas na hora que você traz isso para discussão, também dá chilique. E a turma de máquina do mesmo jeito. Essesdoisprecisamsentarparadiscutir,porqueum “tucha” uma máquina no agricultor, o outro “tucha” adubo. Conjugam o verbo “tuchar”. É verdade, ele “tucha”, “tucha”, “tucha” e quebra o agricultor.

Ensaios com semeadoras para alta produtividade são complexos. Ensaios de fertilização. Imagine você o que significa uma semeadora destas mostrada na figura a seguir.

Isso aqui é no laboratório de seme-adoras e fertilização do IAC, no Centro de Mecanização. Estamos mostrando um ensaio com uma semeadora, cuja capacidade de quase três toneladas de fertilizantes cada vez que abastece. Sabe como se faz isso? Com um “big-bag”. Ele armazena o fertilizante em colu-nas com três bags.

Alguns elementos receberam o bag decima; outros, o do meio e, finalmente outros dois, o debaixo. Imagine a escoabilidade em cada uma delas, o que significa. Já começa as-sim. Da mesma forma, os nossos pequenos agri-cultores aqui. Quando há uma pilha de sacos e ele começa a levar para botar na carreta, tira a pilha de dentro do barracão, tira sacos com dureza, com escoabilidade muito diferente um do outro para passar no mecanismo dosador.

Olhe! Lá se estudam máquinas também imitando um solo inclinado. Nós temos diversos problemas para trabalhar. Esses tipos de ensaio são problemáticos. As indústrias de máquinas, simplesmente no governo Collor, tiraram a obri-gatoriedade de ensaios. Ou seja, o que vocês

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estão usando, principalmente nas suas pesquisas? Não sei, não, se elas funcionam bem, ainda mais com componente chinês, componente não sei de onde. Aqueles rolamentos que funcionam bem para “caramba”! E assim vai embora, não é?

Outra coisa importante que nós temos que trabalhar são as relações da semente com tra-tamento químico e também com a grafite, além dos acessórios, os discos.

As empresas entregam os discos junto, mas há empresas que entregam discos da forma que se vê na figura a seguir:

Que significa? Significa que o furo ali (e olhe o rasgo!), isso sempre cai um furo e meio. E o agricultor, todo pomposo, acha isso bonito e esquece também que com o tempo isso dá fa-diga no plástico. Eu chego lá, abro a semeadora e digo: está ralando? “Não, só uma raladinha”. Só uma raladinha significa o quê? Que a seme-adora está sendo puxada num sentido e a gente

fazendo força em sentido contrário. Ocorre uma falha e isso é uma constante. Assim, temos que incentivar pesquisas de material plástico ou outro tipo de material. Também é muito importante

a gente trabalhar.

Lembrar sempre: vou pegar uma semea-dora. Como o Ricardo bem colocou, todas as máquinas promovem a compactação do solo. No plantio direto, isso é fato. Então, pulverizan-do ocorre compactação, colhe, produz. Temos que discutir os produtos da mecanização. Uma semeadora para mim é, no mínimo, dez má-quinas: uma que corta, uma que rompe o solo, uma que dosa o fertilizante, uma que o posicio-na,umaquedosaeposicionaasemente,umaque controla a profundidade, uma que fecha o sulco, uma que marca a linha e um sistema de lubrificação etc.

Se a gente juntar todos esses pontos começa a entender o que significa eficiência da máquina. E o que significa confiabilidade da máquina? Hoje eu fiz uma sugestão para a federação e no congresso vamos ver se nós discutimos essas questões de confiabilidade e, principalmente, de eficiência dos sistemas me-canizados em plantio direto. Porque não dá para entender produtividade e competitividade errando tanto.

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Quero agradecer ao pessoal do Sul, que leva para cooplantio. Vou usar várias fotos, não por serem do Rio Grande do Sul, mas pela qualidade das fotos que eles disponibilizam no site. Vejam bem na figura a seguir essas loucuras que nós temos em termos de velocidade.

Que significa? É sair de 5 para 10 km de solo em função do rendimento. Também mos-tra, muito bem, a eficiência dos carrinhos, a diferençadeumparaoutroemfunçãodeumaregulagem adequada. Algum pode estar pos-sivelmente com o rompedor de solo muito pro-fundo. Essa prática já estava há muito tempo no meu conceito. O Ricardo colocou aí isso. Mas hoje eu venho estudando muito rompimento de soloeaprimeiracoisaqueprecisamosestudaré se juntar nisso, rompedor de semeadora. E romper solo com semeadora não significa subsolar.

Pare com essa loucura! Ponha lá um rompedor de solo. A 30 cm uma banalidade. Ancora a máquina pra caramba! Levanta, faz uma superfície rugosa justamente onde a roda estabi-lizadora de profundidade vai trabalhar. E aí, você vai, em Mato Grosso, aqui, no interior de São Paulo, aquela caboclada, agrônomo companheiro nosso recomendando: “ Não! Tem que enterrar até o talo!”

Boa parte dos nossos estudos não é para divulgar, porque nós muitas vezes prestamos serviço para as empresas e temos um contrato danoso, que não nos deixa divulgar. Isso, muitas vezes, fica com o pesquisador e é uma dificuldade. Mas, enfim, temos alguns beneméritos que deixam a gente disponibilizar tais dados.

Na figura a seguir, estão os resultados com uma semeadora John Deere. Cada coluna do histograma representa um carrinho.

A cor verde significa o ideal e o branco, a competitividade. Significa o quê? Duas plantas juntas. Quando uma planta está competindo com a outra está fora do espaçamento. E o azul são falhas.

Nós vamos imaginar sempre que estamos plantando 1.000 hectares, o que é pouco. O que significa esse 11 aqui? 11 é sempre a média: 10 linhas-100 hectares.

Então o que sucede numa semeadora como essa. Estou usando os nomes aqui, porque achei que era pertinente usá-los. Eu não ia ficar falando aqui semeadora 1, 2, 3, e não estou fazendo apologia ao uso da máquina. Faço apologia de soluções. Veja que um dos carrinhos está com mais ou menos 20% de plantas, uma competindo com a outra. Possivelmente, não vai fazer nada. Outro mostra quase 40% de falha, ou seja, de 100 hectares, 40% não existem. Então, é o que hoje a gente está chamando assim: subdesempenho satisfatório. O agricultor produz 140 sacos e se acha “bonitão pra caramba”. Só que de 1.000 hectares, 400 não existem

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e 600 produzem. Na hora que dá chilique no mercado, não agüenta. Quebra, não é? Por quê? Isso é uma constante nos estudos, No subdesempenho satisfatório ganha dinheiro, porque o mercado tampa. E na hora do “pega-pra-capá”, ou seja, que precisa passar momentos difíceis, ele tem uma eficiência muito baixa. E aí, que acontece? Quebra.

Em média, no Vale do Paranapanema, analisamos 120 propriedades e em Mato Grosso, 40 propriedades. Veja bem, em média. Eu lhes garanto, entre 60% e 70% em propriedades de 110 a 140 sacos de milho por hectare, propriedades entre 50 e 60 sacos em média de soja por hectare e algodão também. Ou seja, a eficiência operacional, hoje, está em torno de 60% a 70% em grandes lavouras. Agora, imagine os outros que não fazem isso.

Falamos da plantabilidade de milho, agora olhem a de soja.

Veja na figura o caso da fazenda São Marcos, um grande erro isso. Ela está em média com 10% de falha. Mas veja o que acontece com alguns carrinhos. Veja se é possível se sustentar com 20%. Paga, mas não usa, porque a esca-la, lembro-lhes que a escala de mecanização é métrica, não é uma escala de hectare, alqueire. Então, recomendando 500 kg, recomendam-se 5 toneladas de calcário, ou seja 500 gramas por m2 bem distribuídos.

Às vezes, alguns chiliques que se vêem por aí, com planta, com problema de calcário, é com problema de aplicação. Muitas vezes, a questão com fertilizantes, com adubação está ligada à fertilização, ou seja, à não-resposta.

Algodão: a mesma coisa.

Veja bem a plantadeira John Deere dan-do chilique também. Algodão é uma cultura caríssima, não se dá. Nesse caso, está levando chumbo aqui também. Veja um dos carrinhos. Se você fosse sorteado para ganhá-lo de pre-sente, você estava perdido, não?

Você imagina um agricultor que planta 1.000 hectares. Na cabeça dele “Ivo, você ga-nhou dinheiro para caramba plantando 1.000 hectares”, O que vai fazer? - Vou plantar dois mil. É isso ou não é? E com o mesmo sistema.

Ele não muda, ele soca o pau. Eu até brinco, que ele põe o Afonsão para dirigir e fala: “Soca o pau”. Com essa barriga aqui.

Outro conceito importante, fora máquina, é a questão dos ambientes de produção e vai servir um pouco para trabalhar outras máquinas. Como o Ricardo colocou também a importân-cia das diferenças das máquinas.

Veja esse nível de cobertura de solo para essas colhedoras da figura a seguir.

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Imagine uma semeadora gorda, feia ebarbuda, passando ali em cima. Alguma par-teandaaqui,umapernaandaali,outrapernaanda acolá. Faça-me o favor, não é?

Agora veja a foto acima, linda, maravilho-sa! Veja bem essas máquinas trabalhando. Veja a condição de cobertura. Veja a eficiência e o que ela significa para a gente poder evoluir nessas questões.

Na figura a seguir, veja a semeadora tra-balhando. A gente precisa investir muito nessas questões ligadas a estudos de eficiência e, principalmente, de confiabilidade das máquinas, dian-te da demanda que elas têm para trabalhar.

Nós temos alguns problemas ligados a isso. A eficiência é um fator dividido por um nume-rador e a confiabilidade é uma multiplicação. É uma questão que precisa ser discutida.

Outro caso lá, que dá para ver muito bem a questão de cobertura, de tecnologia de cobrir.

Essas questões são importantes, a gente olhando da mesma forma.

Eu estou batendo muito nisso, porque é de extrema importância. Nós estamos fazendo apologia ao transgênico, adubo, essas coisas. Ficam neuróticos. Isso realmente vai vir? Agora eu quero ver. O produtor está sendo eficiente? Realmente, está agüentando? Uma boa parte dos agricultores nossos vai continuar sendo agricultor?

Esse é realmente o principal problema. Nós não podemos deixar agricultor quebrar, porque toda vez que um quebra, vem um novo para aprender e temos que atendê-lo. É verda-de. Aí vem conversar sobre a mesma coisa. Isso é um problema para nós.

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Nós não podemos fazer isso mostrado na figura a seguir.

Germinar e perder. Provavelmente, isso foi um problema de doença. O Ricardo mos-trou. Olhe, há planta em condições de produzir bem. Muito melhor do que outras. Nas suas 200 mil plantas, quantas vocês tem com x vagem? Quantos pés de milho você tem que pesam mais do que 200 gramas? 200 gramas é fácil produ-zir. 60 mil plantas vezes 200 gramas é igual a seis mil quilos.

Veja na figura ao lado, como é que a gente pode terumacoberturaespetacularcomumacondição de planta assim (linha da esquerda) e outra assim (linha da direita)?

Então, eu acho que a gente tem que discutir bem essas questões. Os entraves são esses. Nós temos os problemas muito graves de chilique político. A Secretaria nossa é uma secretaria do vento. Ela não lidera. E isso acontece então. A cacicada no reduto lidera. É preciso juntar essa cacicada para discutir sobre isso.

E as prioridades que eu acho de pesquisa: - Primeiro, os modelos regionais focados nos solos produtivos. Já falamos bastante sobre isso. E eu trabalho em solo produtivo por quê? Primeiro, não podemos ter um produtor que produz soja, produz milho, produz arroz. O que você produz, Ivo? Eu produzo solo produtivo!

Então, a nova ordem é essa, ou seja, para a gente poder realmente ter um enfoque sistêmi-co no todo, para compor sistemas mais eficientes de produção. Porque hoje nós estamos muito colocados e pontuais. Nós não podemos mais ser tão especialistas como somos. Especialista é pesquisador. Agricultor não pode, ele é eclético, ele precisa trabalhar mais.

Popularizar só a análise química do solo não pode. E a análise física, a biológica, e ou-tras coisas mais?

Outro ponto fundamental é um fato que a geração participativa de tecnologias dá certo. O Rio Grande do Sul faz isso, o Paraná também. Precisamos incentivar essas questões, trabalhar numa rede agrícola os parceiros. Porque como disse o Ricardo, eu não tenho particularmente condições de trabalhar meus ensaios dentro de uma estação experimental. Esta é engessada numa condição muito forte da pesquisa comadubação, na pesquisa com genética. E real-

mente, se eu colocar e empreender um volume de trabalho lá, crio um monte de problemas para

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trabalhar. Muitas vezes, o agricultor ajuda a gente e a gente, interpretando, ele aprende ali com a teoria nossa. Essas trocas de informação entre o saber criado pelo agricultor dão um blend muito bom. É muito importante e eu sonho com isso. A Agrisus vir a financiar um trabalho para a gente montar uma rede de agricultores?

Novas técnicas para transferência de tecnologia. É outro tópico importante que venho estudando. Hoje, estamos estudando uma técnica chamada giro no campo, não é mais dia de campo, é giro. Poucos agricultores e muito assunto. Eu vou antes e faço as estações. É bate-papo com máquina, bate-papo com soja. Isso é muito importante, informações para buscar. Você busca com a Dra. Isabella. Giro é uma coisa importante. Nós precisamos colocar outras pessoas para nos auxiliar, como sociólogos. Outras formações para poder trabalhar melhor a gente.

Essa questão de extensão rural é problemática e não pode ficar só com a forma que está, só com pequenos produtores. Entender os impactos ambientais com plantio direto. Plantio direto não é só coisa boa, ele modifica o meio. Nós não podemos cometer o erro que cometemos com a convencional. O barco do plantio direto está aí. Se entrar, vamos entrar trabalhando essa questão. Precisa entender soluções mitigadoras. Que significa um solo coberto com palha? Que significa ter uma rotação econômica?

A natureza não é assim. É importante trabalharmos essas questões.

Os indicadores de qualidade operacional. Esse é outro ponto. Nós não temos nada para prescrever. É preciso trabalhar o indicador para o agricultor entender o que significa eficiência, o que significa confiabilidade de máquina. Essas questões precisam ser trabalhadas.

Modelos para avaliação de eficiência e confiabilidade nos diferentes sistemas de produção. Plantio direto e qualidade, não são direitos só de rico nem de pobre, dá para todo mundo fazer, o agricultor mais humilde e o mais sofisticado.

E trabalhar mais essa questão de relação de insumos e projetos de máquinas, em ambiente operacional. Acho que esses, no meu ponto de vista, são pontos prioritários para poder finan-ciar e desenvolver a pesquisa.

DEBATES

Paulo Sérgio Graziano Magalhães – Unicamp

Acho que os dois palestrantes anteriores levantaram muito bem os problemas da me-canização. O Ricardo começou com uma apresentação e uma transparência muito boas. Foi aquela da máquina virando. Uma máquina que a gente está pressupondo que é para apresentar soluções e, na verdade, traz problemas. A gente tem visto muito isso nas máquinas que estão saindo no mercado.

O plantio direto viabilizou que se plantassem grandes áreas, cada vez áreas cultivadas maiores. Com isso o que aconteceu? Viabilizou que o fabricante fizesse máquinas maiores. Ao invés de 10, Afonso, já temos máquinas com 20, 25 linhas, e isso significa aumento de peso, de demanda de potência. Significa um trator maior na frente puxando a máquina e maiores problemas de compactação. Cada vez mais problemas e não mais soluções. Isso porque ele quer fazer tudo rápido. Possui grandes áreas e precisa produzir, precisa plantar. Ele acha que basta

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aumentar o número de linhas, aumentar a capacidade do trator, que resolveu o seu problema. A gente enfrenta esse tipo de problema.

Outra coisa que foi colocada por eles, bastante interessante também, foi a parte referen-te aos sulcadores. Como são esses sulcadores? Como estão esses rompedores de sulco aí? O Afonso comentou que estão colocando a 30 cm de profundidade. É isso aí, não é, Afonso?

Quer dizer. Como é possível você querer apenas romper a camada superficial para poder colocar fertilizante, para poder colocar sua semente? Ao mesmo tempo que você quer usar a máquina para fazer plantio direto, quer fazer, simultaneamente, uma escarificação.

Nós precisamos, e o Ricardo colocou isso muito bem, fazer a parte de melhorar a estrutura física do solo. A máquina está para melhorar essa estrutura física. É claro que para plantar e co-lher, você precisa da interferência da máquina. Esta vai compactar, de alguma maneira, alterar a estrutura física. A gente precisa trabalhar e evoluir com este tipo de máquina, com soluções de engenharia. Infelizmente, não é, acho que o Afonso também colocou, tem bastante gente preocupada com a parte física e química do solo, com os fertilizantes. Mas muito pouca gente preocupada com a parte de desenvolvimento de máquinas.

O que a gente vê nas indústrias de máquinas agrícolas é um experimento do “faz para ver como é que fica”, sem usar nenhuma base de engenharia. São poucas empresas que trabalham com desenvolvimento de máquinas agrícolas, que utilizam engenharia para criar novos produ-tos. A maioria vai ao campo, escuta a idéia de agricultor aqui, escuta a idéia de outro ali, e volta uma semana depois, com um novo produto. Cada ano que a gente vai à Agrishow, observa mais máquinas, muito parecidas e, realmente, com poucas tecnologias colocadas dentro dela. Vão apenas seguindo as idéias que foram postas dentro dela ao longo do tempo.

O que foi comentado aqui também é que a gente precisa reduzir as fontes de compacta-ção. Eu sempre digo a meus alunos. Mecanização agrícola e compactação são duas coisas que andam juntas. Nós precisamos saber quando e como gerenciar isso.

Acho que foi comentado, ontem, a respeito de cana-de-açúcar. Não dá para ter uma mecanização que não compacte. Discordo um pouco disso. Acho que dá para se ter uma ge-rência um pouco melhor. Quem trabalha na cultura da cana vê que a gerência é um problema muito sério.

O Afonso levantou aqui vários problemas desse método dos ensaios das máquinas que estão mal reguladas. Por que estão mal reguladas? Porque apresentam aquela característica que ele mostrou lá. Eu tenho 10 carrinhos e desses, 10%, 20%, estão trabalhando de forma ruim. Está-se deixando de plantar 20%. Para mim, isso é péssimo.

Não adianta, depois, o “cara” vir com programas de fertilizantes, aplicando agricultura de precisão, para descobrir porque, naquele pedaço, a planta não nasceu direito, porque aprodutividade foi menor. Adianta alguma coisa aplicar milhões de reais para fazer agricultura de precisão se você não tem uma semeadora que faca uma aplicação decente? E isso é problema que dá para resolver. Existe tecnologia para isso, custa caro e precisa de investimento. Tudo isso faz com que essas coisas estejam aí no mercado, causando problemas.

Só trazendo um pouquinho a brasa para o lado da minha sardinha. Vou falar do cultivo de solo em cana-de-açúcar. O que a gente tem lá é uma palhada muito grande. Foi comentado que temos de 10 a 20 toneladas de matéria seca por hectare. Isso é uma quantidade de palha muito grande. Também foi comentado aqui a dificuldade dessa palha em se decompor. A gente precisa fazer a manutenção dessa palhada, fazer o cultivo e fazer o plantio direto.

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Há várias usinas que, quando começou esse incentivo do Governo, pela não-queima da palha, pela colheita da cana verde, da cana crua, levantaram vários problemas. Que a cana talvez não germinasse decentemente e reduziria a produtividade. Veio o problema das cigarri-nhas. Com o passar do tempo, porém, come-çaram a surgir soluções para esses problemastambém.

A gente hoje sabe que há muita usina que, há bastante tempo, trabalha com a colheita crua em sua área integral. Temos a Usina São Domingos, que faz açúcar orgânico e tem uma produ-ção de 7 a 8 anos, de áreas com cana crua, e uma produtividade de 100 toneladas por hectare de cana. E como é que eles fazem isso?

Eles fazem sem os tratos culturais que antes faziam, com aplicação de vinhaça apenas. Não há nenhuma aplicação de fertilizantes entre os vários cortes da cana, apenas uma aplicação no plantio. Mas nem todo o mundo consegue fazer isso. O pessoal, às vezes, necessita fazer a aplicação de fertilizantes e de cobertura. Acima de uma camada, que tem a espessura de 6 a 8 mm, você tem uma camada espessa de palha e aplicação de fertilizantes de cobertura. Precisava aplicar fertilizante junto com o cultivo, abrir o sulco e colocar o fertilizante dentro e, muitas vezes, fazer subsolagem por problemas de compactação. Mas eu não tenho máquinas para fazer isso. Há algumas tentativas de fazer o cultivo da cana tradicional em cima da palhada.

Os problemas que tinham aparecido anteriormente. Na figura seguinte, apresentamos dois equipamentos, cultivadores de cana, que foram desenvolvidos pelo pessoal do antigo CTC da Coopersucar.

O primeiro é um sistema que vai trabalhando na entrelinha. Estão aplicando duas linhas simultaneamente.

O seguinte vai aplicando ao lado da soqueira, tentando segurar a palhada. É só aplicação de escarificação.

O problema no plantio direto para a cana é a quantidade de matéria seca. O pessoal está falando que, para as outras culturas, a matéria seca desaparece. A gente vê que a matéria seca continua por bastante tempo, havendo grandes problemas no seu manejo.

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A figura a seguir representa a tentativa de se construir um subsolador comercial, umCanavieiro.

Vejam o tamanho dos discos e, lá no fi-nalzinho, um rolo tentando colocar a palha no lugar. São algumas alternativas.

Nós fizemos um trabalho de doutorado, com um aluno do Estado de Mato Grosso, que foi o desenvolvimento do disco de corte.

Na figura anterior é o que está do lado esquerdo. É um disco alternativo para ver se consegue cortar a palhada de maneira mais efi-ciente. Não só para cana, mas para a de plantio direto de maneira geral. O experimento foi feito emnossolaboratório,masagentepercebequehá diferença entre os dois sistemas. No centro da figura, usado no sistema convencional, está o disco liso, e à direita, o disco dentado para o plantio direto. Dá para ver esse disco traba-lhando, uma mesma semeadora, na mesma regulagem.

A melhora na eficiência do corte da palha, dá para ver bem nitidamente.

Observem, na figura, o efeito no campo, do disco convencional, ondulado e do dentado. Este corta melhor a palha e revolve muito me-nos o solo.

Acho que foi o Afonso que mencionou. Vejam na figura que, ao você mobilizar demais o solo, retirando a palhada, acaba trazendo ter-ra para cima da palha, à direita, torrão. E, do lado esquerdo, não tenho nada. É um perfil de solo muito mais adequado.

Bom, na figura seguinte temos o que o Ricardo comentou, o problema da com-pactação.

Olhe possíveis causas de compactação em cana-de-açúcar. Tenho uma máquina que pesa 15 toneladas. Cada transbordo como o da figu-ra, quando cheio, pesa 12 toneladas. São dois e tenho um trator de 5 toneladas lá na frente. Em cada entrelinha passo duas vezes com esse con-junto de máquinas pesando 20, 30 toneladas. Passo uma vez para cá, depois eu vou lá, volto e

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passo de novo. Isso é um problema de compac-tação, por isso foi comentado. Se eu fizer isso aqui numa época um pouco mais úmida, e o pessoal colhe numa época mais úmida, tenho problemas de compactação. Para resolver isso vou ter que fazer uma escarificação, obrigato-riamente, senão a cana não se vai desenvolver, ou não vai produzir aquelas 100 toneladas esperadas. É por isso que cai a produtividade. Não consigo fazer o que o Dr. Fernando falou. Vou conseguir reduzir para 4, 5 ou 6 cortes, quando muito. Na verdade, preciso aumentar a longevi-

dade desse canavial e, para isso, são necessárias soluções alternativas.

Mesmo na Fazenda São Domingos, o que ele faz? Faz 6, 7 anos de colheita com cana ver-de, depois planta crotalária e aí vem com plan-tio convencional no solo. O plantio direto dele acaba quando tem que reformar o canavial. Ele tem que fazer uma escarificação e veja na figura seguinte o trator que ele usa.

O Afonso é o pesquisador mais pesado do IAC e esse é o trator mais pesado que eu conhe-ço. É um Challenger. Um trator dessa potência aqui, escarificando a 30, 40 cm de profundida-de. Depois vai arar ou gradear para tentar ter condições de fazer o plantio de cana em segui-da. Isso é um problema muito grande.

Em plantio direto, a gente acha que não pode ser uma coisa exclusiva para os grandes. Temqueserparaosgrandeseparaospeque-nos. A gente está tentando uma alternativa, que é o auxilio mecânico para a colheita de cana-de-açúcar. Ele vai viabilizar ao pequeno produtor, ouaofornecedordecanamanter-senomerca-

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do, colhendo cana crua e reduzindo os problemas de que falamos, reduzindo compactação e o problema do desemprego também.

A máquina mostrada vai colhendo, no caso, cinco linhas simultâneas. Eu tenho ali 10 operadores que vão fazendo a parte mais difícil, que é separar a cana e alimentar a máquina. Computando o espalhador e uma carreta, a máquina inteira pesa 10 toneladas quando carrega-da, incluindo o peso do pessoal que está aqui. São cinco linhas e vou passar uma vez só nelas. Reduzi o problema de compactação. Quando trabalhava com 30 linhas eram 30 toneladas, duas vezes em um lugar só.

A figura acima mostra a planta geral da máquina. Para passar uma vez só e nenhuma em todas, há um conjunto de rodados. Há um conjunto de linhas que nem vai ser compactada. Essa é uma solução que a gente acredita que vá viabilizar o plantio direto para a cana-de-açú-car, para o agricultor, que é fornecedor, que não tem capacidadede estruturaparaum sistemade colheita convencional. Vai permitir avançar um pouquinho nessa área para o sistema para todos.

O aspecto lateral da máquina é visto na figura acima. Ficar com palhiço demais também é prejudicial. Todo o mundo já comentou isso aqui. Talvez, 15 toneladas por hectare seja muito palhiço e a gente precise reduzir um pouquinho essa quantidade de matéria seca. Uma das alternativas é usar isso aí também como fonte de energia. Isso é possível, é viável. A gente espera encontrar soluções de tecnologia para retirar o palhiço do campo, antes de ele ir para o chão e se contaminar com a terra. Aí fica mais difícil, fica mais caro o molho que o peixe. Na tabela a seguir, vê-se o que pode representar isso em ganho de energia.

Recuperaçãodapalha %

t palha (matéria seca)/ t cana t bagaço/ t cana

Totaldebio-massa disponí-

vel t/ t cana

Equiv. em óleo, kg/t cana

100 0,075 0,14 0,215 77

50 0,0375 0,14 0,177 61

Acho que essas transformações que têm ocorrido, o sistema de plantio direto é muito importante e conseguiu se consolidar no Brasil. São 20 e tantos milhões de hectares sendo plantados com plantio direto. Acho que se a gente tiver que fazer uma análise dos últimos cem anos, houve grande revolução na parte de plantio. Acho que o plantio direto tem um grande peso nisso, se não for o de maior peso. Foi uma grande revolução em nossa época. Se você pegar um livro de máquinas agrícolas de 40 anos passados, as máquinas são as mesmas. O que varia são as que surgiram, especificamente, com o plantio direto. Caso contrário, a gente não tem grandes revoluções na questão máquinas agrícolas. O plantio direto tem-se mostrado, como todo o mundo sabe, uma grande vantagem.

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Eu acho que a cana também deve entrar nesse sistema de maneira mais enfática. Conhecendo, hoje, a quantidade de gente que faz cultivo de cana crua, ou colheita de cana crua vê-se que ainda é muito pequena. Muitos fazem por imposição legal e não por vontade, não por acreditar no sistema. Nós precisamos divulgar um pouquinho mais, trazer esses benefícios do plantio direto também para a cana-de-açúcar, para conseguir mais adeptos. Que a vontade de fazer isso, seja por acreditar realmente no sistema e não por imposição legal.

José Eloir Denardin – Embrapa Trigo

Estou abordando este tema dentro da idéia de física e mecanização, contextualizando tudo dentro da visão de sistema agrícola e dentro da idéia de fertilidade integral.

Nessa abordagem vocês vão perceber que vou falar muito mais sobre o que o Ralich colo-cou, do que sobre o Afonso e o Magalhães. Mas é uma idéia de tentar enxergar esse todo como uma visão mais holística, mais abrangente e muito mais sistêmica sobre esse aspecto.

Quero começar com uma coisa bem simples, e vai ser muito simples a minha exposição. Não vou falar nada sobre resultado de pesquisa. Simplesmente, tentar fazer ver o sistema de plantiodiretocomoumsistemarealmente,enãocomoumprocessodedeposiçãodesementeno solo, sem o preparo deste.

Para isso, eu quero diferenciar ecossistema de agroecossistema, de uma maneira bemsimples para entendermos o que eu vou colocar.

Ecossistema natural: inter-relações entre fauna, flora e microrganismos, associados a fatores como geológicos, atmosféricos, meteorológicos, que estão dentro de um equilíbrio dinâmico.

Agroecossistema é a mesma coisa. Simplesmente, tem o antrópico e, aí, vem o desequi-líbrio. Essa é a nossa preocupação. Acredito que em um sistema conservacionista, temos que tentar a busca desse equilíbrio. É isso que eu chamaria de caráter de sustentabilidade, tentar buscar esse reequilíbrio.

O agroecossistema pode ser apresentado como o estabelecimento rural, porque é onde o homem tem o poder de decisão. E constitui um sistema termodinamicamente aberto, com uma permanente entrada e saída de matéria e de energia e uma permanente relação com os sistemas como um todo. Por isso, temos que olhar para o equilíbrio com o sistema como um todo. Esse desequilíbrio que é provocado pela ação antrópica, dá-se pelo uso de: mão-de-obra, combustível, agroquímicos, espécies vegetais e animais estranhos a aquele ambiente anterior, máquinas agrícolas, material orgânico que vem de fora, mobilizações de solos, retiradas etc. Esse desequilíbrio é de praxe quando olharmos para essas ações do homem: mobilização do solo, quantidade e qualidade de agroquímicos empregada, diversidade de espécies, arranjo de espécies no tempo e no espaço. Altera a taxa de mineralização, a quantidade e a qualidade da matéria orgânica original. E o que acontece com isso?Mexe ou altera totalmente a atividade biológica. Se alterou a atividade biológica, o principio, o ciclo da natureza que vai ser afetado é o do carbono. É o reflexo que tem, mas a gente pouco percebe. Mexendo nesse ciclo do carbono, vai haver uma mudança na relação partícula–poro e, para a agricultura, é essa relação que nos interessa, porque tudo ocorre no poro ou na interface das partículas. Se há uma mudança no ciclo do carbono, vai haver uma repercussão nessa relação aqui. Automaticamente, vamos inter-ferir no que chamamos de fertilidade integral do solo, física, química e microbiologia do solo.

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Isso tudo se vai refletir, mas com um impacto muito grande no ciclo hidrológico. Esse, sim, é fácil a gente perceber. E é por isso que a gente trata da conservação do solo em escala de microbacia. Desde a transferência do homem para dentro do ecossistema, transformando-o em agroecossistema.

Essa é uma introdução para a gente perceber que tem que ter a visão global. Não dá para ver as coisas apenas por um ângulo e, sim, dentro de um sistema produtivo e um modelo de produção.

A base do plantio direto está aqui. Essas duas expressões definem a nossa organização. Sistema agrícola produtivo pode ser composto por três fatores: o ambiente, a planta e o solo. O ambiente colabora com a energia, luz, calor, precipitação. Pouco podemos fazer sobre isso, mas podemos. As épocas de plantio podem in-terferir ou nos ajudar a utilizar esses fatores. A genética e as plantas. As plantas melhoradas e adaptadas.

A fertilidade do solo tem um problemasério para quebrarmos nessa visão holística. Fertilidade do solo compreende, água, calor,

oxigênio, permeabilidade, pH e nutrientes. Basicamente, ela se concentra aí, porque é aí que talvez estejam os maiores limitantes, quando nós saímos do ecossistema para um agroecossiste-ma. Aqui ocorrem os maiores estudos. Podem perceber que a permeabilidade ao ar, as raízes, a troca de oxigênio com a atmosfera e a disponibilidade de água são fundamentais.

Quem rege e é o grande comandante dessa fertilidade? Vocês vão ver que se chama estrutura do solo. Modificando-se a estrutura do solo, modificam-se todas essas relações nessa figura, alterando a fertilidade global do solo. Temos que olhar para a fertilidade sob o aspecto da estrutura.

Mas eu tenho a pergunta: Quem é que comanda a estrutura do solo? É o carbono. Ninguém pode fazer estrutura do solo, não há máquina nem homem que a faça. A estrutura do solo só pode ser construída se houver carbono no sistema. É ele que mantém a estabilização ou a construção de agregados.

Bem, eu falei sobre sistema produtivo. O modelo de produção compreende o arranjo temporal e espacial das espécies vegetais e animais que compõem o sistema agrícola produtivo. Ou seja, o modelo de produção determina a qualidade, a quantidade do material orgânico aportado do sistema agrícola produtivo. Então, dependendo de como nós combinarmos as es-pécies, podemos ter um sistema agrícola mais produtivo ou menos, com o solo mais fértil ou menos fértil. Essa é a visão que nós temos que procurar ter para tentar buscar o equilíbrio do agroecossistema.

Sistema agrícola produtivo então deve ser definido da seguinte forma: É a busca do equi-líbrio dinâmico do agroecossistema, mas sem deixar de lado a competitividade, as necessidades socioeconômicas, a segurança e qualidade alimentar e o respeito ao ambiente. Aqui está o ver-dadeiro papel de um agrônomo. Como ele vai poder fazer assistência técnica, se não consegue compreender que temos que pensar assim, com uma visão global e não seccionada?

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O solo pode ser conceituado de várias maneiras. Pode até ser assim: um complexo quími-co, físico e biológico. Mas dentro de um sistema produtivo, o enfoque funcional para solo é isso; ele é um componente determinante da produtividade do sistema, em função de limitações da fertilidade. A fertilidade tem de ser vista como um todo.

O que seria a estrutura do solo que eucoloco como o regente da fertilidade? É o ar-ranjo das suas partículas e dos seus agregados. Quando olharmos um agregado do solo, vamos ter umas coisas bem fundamentais e bem bási-cas. Não sei se o pessoal da extensão conhece isso. Acho muito difícil alguém conhecer isso com profundidade. Na representação a seguir, vemos as partículas individualizadas, o casca-lho, a areia, o silte, a argila e os colóides.

A gente pergunta: como essas partículas se unem para formar um microagregado? Através de reações químicas, principalmente nos óxidos de solos. São os sesquióxidos de ferro e alumínio os grandes estabilizadores da microestrutura do solo. Quando os micros se unem para criar os macros, quem vai estabilizá-los é a matéria orgânica fresca.

Nós temos uma questão bastante resolvida em termos de degradação do solo ou recupe-ração da sua estrutura. Se o microagregado tem uma estabilidade alta devida à química, como podemos explicar que um solo dispersa por uma ação mecânica? A gente pode concluir que não é a mecânica, não é a grade de disco, não é a mobilização intensiva de solo que degrada o microagregado. É preciso haver uma reação química nesse processo. Então a gente olha alguns fertilizantes ou alguns corretivos que mexem nessa parte do sistema. Como uma grade com distância de 10 cm entre um disco e outro pode destruir um agregado de um milímetro ou de dois milímetros? Ela não tem esse poder, tem que haver uma reação lá dentro. Eu diria que nós temos calcário, por exemplo, que pode precipitar alumínio, e assim promover uma dispersão. Como o pH não passa de 7 nos nossos solos agrícolas, não há agregação pelo cálcio, apenas dispersão no processo.

Os microagregados podem ser dispersos desta maneira. Agora, raízes, hifas, exsudatos e matéria orgânica fresca que estão nos sistemas vão dar estrutura de outro microagregado, formando um macro.

Veja se isso não é uma coisa permanente, se há paradas nesse sistema. Isso deixa de ocor-rer, ou seu efeito é efêmero, dura alguns dias ou meses. No momento que desaparece essa matéria orgânica fresca, não existe mais macro-agregados.

Nossamaneiradetratarosolonoprepa-ro convencional é de desestruturá-lo, ou de até dispersá-lo. É uma solução que percebemos que ocorre.

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A fração orgânica. Não quero entrar em detalhe também, mas falar somente do que ela é composta. De matéria orgânica e de material orgânico. De restos animais e vegetais em diferentes estágios de decomposição, componentes transitórios que têm como ação estruturar o solo.

Se olharmos uma foto como a figura seguinte, numa camada de 0 a 10 cm, a gente per-gunta: precisaria fazer análise química para ver se o solo é fértil?

Aqui faço um comentário: se você pegar um tijolo cozido e embebê-lo com uma solução nutritiva completa, bem balanceada, moê-lo e mandá-lo para um laboratório de química, po-

derá sair um laudo dizendo que essa amostra representa um solo fértil. Mas não é. Por esta visão de um todo percebe-se que há atividade biológica, macroagregados, microagregados. Dá para perceber raízes vivendo nisso aqui.

Agora, como se constrói isso? Nós temos tratado desde ontem de manhã, insistindo em palha. Eu falo palha como se fosse fitomassa ou biomassa e, não, simplesmente palha. Deve haver raiz no sistema. No subsolo, na camada abaixo da superfície, deve haver uma atividade orgânica muito alta. E ela é promovida muito mais por raízes do que por palha na superfície.

Essa palha cria uma interface talvez muito pequena entre si e o solo. Mas milheto, por exemplo, braquiária que você falou, qualquer planta que tenha um sistema radicular abundante, pode

promover esse tipo de estruturação de solo.

Observe o torrão na figura a seguir. Aqui eu entro um pouco na física e pergunto: como amostrar um solo que tem esse núcleo organi-zado aqui dentro, diante de um torrão comple-tamente agregado? Como amostrar isso física e quimicamente para fazer uma análise?

São situações completamente diferentesem termos de fertilidade integral. Essas frações têm fertilidades completamente diferentes. Eu aprendi que trabalho que coleta amostra 0 a 5, 5 a 10, 10 a 20, esqueça. Não se lê mais isso. Ou você abre uma trincheira, observa as camadas morfologicamente e tenta amostrá-las para per-ceber o que está acontecendo lá dentro, ou não temmaissentidomisturarumanelnumtorrãodesse, coletando isso aqui. Eu lhe pergunto: o que você está amostrando aqui? Não tem es-tatística que explique o que está acontecendo nesse processo.

Ou então, como o Ralish mostrou, aque-lessolosquesãocompactadospordispersãoe

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depois com uma reacomodação das partículas. Como transformar isso num solo poroso nova-mente? Quem pode fazer isso? Não há máquina que o faça. A máquina pode vir a ser um auxi-lio, mas quem pode construir isso são raízes. Eu vou insistir.

Portanto, mobilização do solo, aporte de matéria orgânica menor do que a demanda mi-crobiológica e adição de corretivos e fertilizantes de forma indiscriminada promovem uma inten-sificação da mineralização da matéria orgânica fresca, inclusive da estável. Isso vai desestrutu-rar o solo. A foto a seguir deve ser de vocês, do Centro de Arroz e Feijão.

Observe que temos uma camada de solo e outra, completamente diferente. Afinal de con-tas, nós estamos depositando fertilizante onde? Dá para considerar isso como um solo realmente fértil? Perceba que temos que tentar destruir ou melhorar isso. Máquina pode ser um auxilio. Agora, só as raízes poderão reestruturar essa camada.

Modelo de produção dentro do conceito de solo, de clima e de ambiente que nós temos. Esse modelo de produção deverá promover um aporte de fitomassa maior que o potencial de mineralização. Temos que ganhar da microbiologia do solo. Se perdermos, estamos degradando o solo. Se ganharmos e conseguirmos um aporte superior, vamos ter um aumento de matéria orgânica e, com isso, reestruturaremos o solo.

Essa visão que eu coloquei aqui tem como enfoque preocuparmo-nos com morfologia desolo. Não podemos mais ignorar a abertura de pequenas trincheiras e observá-las para coletar amostra de solo. Temos que nos conscientizar que o modelo de produção é a nossa grande chave.

Mas podem perguntar: Mas quanto pro-duzir? Não sei. Essa é uma grande pesquisa para executarmos. E o que produzir? Também não sei.

Na figura seguinte estão dispostas as raízes de plantas conduzidas em tubos de PVC com 1 m de comprimento e 30 mm de diâmetro, com areia e solução nutritiva.

Imagine o agricultor que está somente com um tipo de raiz em seu sistema. Um agricultor que de vez em quando coloca um milho, um sorgo em seu sistema. Veja o quanto ele pode melhorar.

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Tenho a impressão de que quem está em situação parecida é o sul do Brasil onde a degra-dação é iminente. Não tenho dúvida nenhuma disso.

Para ilustrar, ainda, nós temos na próxima figura uma raiz de gramínea, a aveia.

Veja a limitação da aveia comparada com um milheto ou outro do tipo, que coloca uma raiz onde há um orifício feito por algum inseto e em relação ao resto não consegue cruzar os sistemas compactados. A raiz de nabo, eu acho que ao invés de descompactar solo, ela o comprime. Ela pode descompactar por onde passa, mas teve que empurrar o solo ao lado para poder crescer. Acho que dessa forma não temos um fator de descompactação. Descompactação com 250 mil plantas de nabo no solo, são 250 mil raízes. 60 mil plantas de braquiária por hectare quantos milhões de raízes são?

SISTEMA AGRÍCOLA PRODUTIVO: FATOR DE PROMOÇÃO DAFERTILIDADE INTEGRAL DO SOLO 9

José Eloir Denardin9

Rainoldo Alberto Kochhann10

Norimar D’Ávila Denardin11

Introdução

A desenfreada busca por aumentos de produtividade, alicerçada no conceito de fertilidade do solo, notabilizado por parâmetros químicos e pelo uso intensivo de fertilizantes minerais, con-duzida como estandarte desde a “revolução verde” e responsável pela deflagração de políticas de subsídios a esses insumos como alternativa-solução para a manutenção da competitividade da agricultura, nitidamente perdeu força e está sendo substituída pela implementação das di-retrizes da agricultura conservacionista, cenário em que a ampliação do conceito de fertilida-de do solo e a ambiência assumem relevância. A otimização de sistemas agrícolas produtivos, embasada em gestão incompatível com a promoção da fertilidade física, química e biológica do solo e descomprometida com o equilíbrio dinâmico do agroecossistema e de seu entorno, indubitavelmente, mostra-se dessincronizada ante a permanente expectativa de alcance de uma agricultura tendente à sustentabilidade.

Nesse contexto, a ampliação da base conceitual de fertilidade do solo, em que a estrutura deste desempenha papel determinante da expressão do potencial do fator solo, a quantidade e a qualidade de carbono orgânico gerado, parâmetros de essencial e incontestável ação na estru-9 Trabalho apresentado na Reunião Técnica Internacional “Relação semeadora/solo em sistema plantio di-

reto – problemas e soluções”, promovida pelo PROCISUR e organizada pela Embrapa Trigo em Passo Fundo, RS, nos dias 6 e 7 de dezembro de 2005.

10 Eng.-Agr., Pesquisador em Manejo de Solo na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Centro Na-cional de Pesquisa de Trigo (Embrapa Trigo). Rodovia BR 285, Km 294, Caixa Postal 451, 99001-970 Passo Fundo, RS, Brasil. Fone (054) 3311 3444, Fax (054) 3311 3617. E-mail: [email protected] e [email protected]

11 Bióloga, Professora da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, Universidade de Passo Fundo, Campus I, Caixa Postal 611 e 631, 99001-970 Passo Fundo, RS, Brasil. Fone/Fax (54) 3316 8151. E-mail: [email protected]

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turação do solo, juntamente com o seqüestro de carbono orgânico, processo de proclamados e esperados benefícios à atmosfera, vem se constituindo em referencial para a gestão de sistemas agrícolas produtivos. Sob esse enfoque, é evidente que às características estruturais das plantas (qualidade e quantidade de fitomassa) está reservada a qualidade e a quantidade de carbono orgânico produzido, parâmetros estes responsáveis pela qualidade estrutural do solo e definição do padrão de fertilidade física, química e biológica do solo. A integração desse trinômio, para a promoção da fertilidade integral do solo, está, indissociavelmente, vinculada ao modelo de produção estabelecido, que, por sua vez, é dependente das características comportamentais das plantas cultivadas.

Objetiva-se com essa dissertação promover, no âmbito da implementação de um programa de desenvolvimento de sistema plantio direto no Estado de São Paulo, preocupações atinentes ao moderno enfoque da gestão conservacionista e ambiental de sistemas agrícolas produtivos, em que a técnica de pousio das terras, cuja premissa é de que a recuperação da fertilidade integral do solo é promovida pela vegetação espontânea, possa ser reproduzida e otimizada em modelos de produção que viabilizem o processo concatenado e ininterrupto de colher-semear.

Sistema agrícola produtivo

Com o intuito de destacar a relevância do papel reservado às plantas na produção de carbono orgânico e, conseqüentemente, na estruturação do solo e na construção da fertilidade integral do solo, no contexto de uma agricultura tendente à sustentabilidade, é imprescindível conceituar sistema agrícola produtivo e diferenciá-lo de modelo de produção.

Sistema agrícola produtivo é entendido como a interação dos fatores ambiente, planta e solo, em que o fator ambiente participa com o potencial energético, o fator planta com o potencial genético e o fator solo com o potencial fertilidade (Figura 1). Assim, a produtividade agrícola, isto é, a quantidade de produto gerada por unidade de área, é o resultado integrado do sistema agrícola produtivo, de modo que não tem sentido referir-se de forma isolada à pro-dutividade do ambiente, à produtividade da planta ou à produtividade do solo, visto que não há geração de produto na ausência de qualquer um desses fatores ou sem a interação deles. A interação desses fatores determina que a produtividade do sistema agrícola não pode ser maior do que aquela potencializada pelo fator mais limitante, sendo essa afirmativa denominada “lei dos fatores limitantes”. Exemplificando: nenhuma interferência no fator ambiente ou no fator planta, com vistas a aumentar a produtividade do sistema agrícola produtivo surtirá efeito se o

FATOR AMBIENTE è ENERGIA

FATOR PLANA è GENÉTICA

FATOR SOLO è FERTILIDADE

SISTEMAAGRÍCOLA

PRODUTIVO

CALORLUZ PRECIPITAÇÃO

TIPO AGRÔNOMICO ADAPTABILIDADE

ÁGUA

CALOR

OXIGÊNIO

PERMEABILIDADE

pH

NUTRIENTE

ESTRUTURADO SOLO

CARBONOORGÂNICO

Figura 1. Estrutura conceitual de sistema agrícola produtivo.

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fator solo encontrar-se no limite de suas potencialidades. Desse modo, é possível deduzir que o manejo de um sistema agrícola produtivo nada mais é do que a exploração das potencialidades dos fatores de produção que o compõem.

Modelo de produção compreende o arranjo temporal e espacial de espécies vegetais e/ou animais que compõem os sistemas agrícolas produtivos.

Agroecossistema – sustentabilidade agrícola

Ecossistemas naturais, interpretados como o conjunto de relações mútuas entre fauna, flora e microrganismos, em decorrência da interação de fatores geológicos, atmosféricos e mete-orológicos, constituem, do ponto de vista da termodinâmica, um sistema aberto, com fluxos de energia e de matéria dinamicamente equilibrados. Interferências antrópicas, com fins agrícolas, alteram a dinâmica desses fluxos de energia e de matéria, transformando ecossistemas em agro-ecossistemas. Assim, os agroecossistemas, convencionalmente representados pelas propriedades rurais, são ecossistemas sob interferência antrópica, em permanente e estreita relação com os sistemas das interfaces.

O caráter de sustentabilidade que se pretende imprimir aos agroecossistemas, fundamen-tado na competitividade do agronegócio, no atendimento de necessidades socioeconômicas, na segurança alimentar da humanidade e na preservação dos recursos naturais, está na dependên-cia da obtenção de um novo equilíbrio dinâmico dos fluxos de entrada e de saída de energia e de matéria do sistema e da conseqüente qualidade das relações estabelecidas com os sistemas do entorno. Em decorrência, elementos indicadores de sustentabilidade de um agroecossistema podem ser representados por parâmetros que expressam o grau de organização e de disciplina dosprocessos implicadosnosistemaedaqualidaderesultantedas relaçõescomossistemasvizinhos. Nesse contexto, os fluxos de energia e de matéria associados ao ciclo hidrológico destacam-se como os mais evidentes indicadores de sustentabilidade de um agroecossistema, em conseqüência da elevada sensibilidade que apresentam à interação dos fatores geológicos, atmosféricos, meteorológicos e antrópicos. Indubitavelmente, esse comportamento, termodina-micamente aberto dos agroecossistemas, envolvendo complexos e integrados fluxos de energia e de matéria, essencialmente emanados do ciclo hidrológico, justifica a contextualização da agricultura conservacionista, com caráter de sustentabilidade, no âmbito da bacia hidrográfica.

Do ponto de vista da fertilidade integral do solo, um relevante indicador do caráter de sustentabilidade de agroecossistemas está associado à dinâmica dos fluxos de adição e de mine-ralização do carbono orgânico, em decorrência do manejo estabelecido pelo homem e aplicado ao sistema agrícola produtivo.

Nesse cenário de tomada de decisão em relação à gestão de um sistema agrícola pro-dutivo, destacam-se os aspectos relativos à intensidade de mobilização do solo, à diversidade e ao arranjo de espécies que compõem o modelo de produção e à quantidade e à qualidade de agroquímicos empregados. Enquanto a intensidade de mobilização do solo e a quantidade e a qualidade de agroquímicos estão associadas à taxa de aceleração da mineralização do material orgânico aportado ao solo, a diversidade e o arranjo de espécies, determinados pelo modelo de produção adotado, estão associados à quantidade e à qualidade da matéria orgâ-nica resultante no solo.

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A taxa de perda de matéria orgânica do solo é altamente influenciada pela mobilização do solo, por homogeneizar resíduos culturais e nutrientes na camada revolvida, oxigenar o solo e, conseqüentemente, estimular a ação de microrganismos decompositores. Em um mesmo solo, o preparo convencional pode duplicar a taxa de mineralização da matéria orgânica em relação ao sistema plantio direto. Sistemas agrícolas produtivos, em que a gestão contempla mobilização intensa de solo, remoção ou queima de resíduos culturais, modelo de produção que envolve espécies de baixa produtividade de resíduos culturais e/ou pousio sazonal, e, conseqüentemente, resulta em baixa produtividade de fitomassa, normalmente, geram taxa anual de aporte de material orgânico ao solo inferior a taxa anual potencial de mineralização. Essa condição deter-mina mineralização da matéria orgânica estável do solo, implicando em redução do conteúdo de carbono do solo, desestabilização estrutural do solo e, por conseqüência, degradação da fertilidade integral do solo. Em síntese, os processos de melhoria da fertilidade integral do solo, indubitavelmente, estão associados à gestão de sistemas agrícolas produtivos que promovam maximização do aporte de material orgânico ao solo e minimização das perdas. Nesse sentido, é relevante considerar que, além dos resíduos culturais produzidos pela parte aérea das plantas, há o material orgânico aportado pelas raízes, que, incontestavelmente, assume papel preponde-rante na construção da fertilidade física, química e biológica do solo. Modelos de produção que contemplem espécies de abundante e agressivo sistema radicular, como gramíneas forrageiras perenes, que alocam maior fração de carbono fotossintetizado para as raízes do que espécies anuais, são mais eficientes em elevar o estoque de matéria orgânica no solo e em imprimir caráter de sustentabilidade aos agroecossistemas.

Fertilidade integral do solo

O solo, sob enfoque elementar, é conceituado como um corpo componente da paisagem natural, representado por um elemento volumétrico e constituído por uma matriz de sólidos que abriga líquidos, gases e organismos vivos, compondo um complexo sistema físico-químico-biológico dotado de características e de propriedades resultantes dos efeitos do relevo, do clima, do tempo e da atividade biológica atuantes sobre o material de origem (processos pedogenéti-cos), bem como da ação antrópica. Sob enfoque funcional e do ponto de vista agrícola, o solo constitui o ambiente natural em que as plantas se desenvolvem, atuando como elemento de suporte e de disponibilização de água, ar e nutrientes. Entretanto, sob enfoque funcional e do ponto de vista de sistema agrícola produtivo, o solo é apenas um componente determinante da produtividade desse sistema, em razão de limitações de sua fertilidade integral.

O grau de fertilidade integral do solo, ao envolver aspectos físicos, químicos e biológicos, é determinado, fundamentalmente, pela estrutura do solo. A estrutura do solo rege os parâmetros determinantes da capacidade de armazenamento e de disponibilidade de água, da capacidade de armazenamento e de difusão de calor, da permeabilidade ao ar, à água e às raízes, do nível de acidez e da disponibilidade de nutrientes (Figura 1).

A estrutura do solo pode ser conceituada como a relação entre o volume realmente ocu-pado pelas partículas do solo e o volume aparente desse solo, variando com as dimensões dos poros existentes entre as partículas. De outra forma, estrutura do solo é o arranjo das partículas

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que o compõem, decorrente de processos pedogenéticos e/ou de ações antrópicas relativas ao manejo. Sob o enfoque de sistema agrícola produtivo, a estrutura do solo amplia o conceito de fertilidade do solo, não o limitando, exclusivamente, a aspectos químicos, genericamente consi-derados como reação do solo (pH), teor de nutrientes e nível de matéria orgânica.

Aagregaçãoeaestabilidadedosagregadosdosolo,quedeterminamotipoeaqualidadeda estrutura do solo, são diretamente dependentes da quantidade e da qualidade da matéria orgânica do solo. A matéria orgânica interage com minerais do solo, formando complexos orga-nominerais que resultam na formação de partículas secundárias de diversos tamanhos e formas. Em decorrência de a quantidade e a qualidade da matéria orgânica do solo ser resultante da quantidade e da qualidade do material orgânico aportado ao solo, infere-se que as espécies vegetais integrantes dos sistemas agrícolas produtivos constituem fator primordial responsável pelo desenvolvimento da fertilidade integral do solo. Portanto, o carbono orgânico aportado ao solo, oriundo da fitomassa da parte aérea e das raízes das plantas, de mucilagens e de exsudatos radiculares e da biomassa microbiana do solo, potencializa essa interação, formando e estabi-lizando agregados. A formação de agregados, por sua vez, diminui a ação dos microrganismos decompositores, contribuindo para o acúmulo de compostos orgânicos no solo, seqüestro de carbono, principalmente em solos não mobilizados.

A magnitude do fluxo de material orgânico aportado pelo modelo de produção aplicado ao sistema agrícola produtivo, bem como a qualidade da fonte de carbono adicionado, determinam a intensidade da atividade biológica no solo, a quantidade e a qualidade de compostos orgânicos secundários derivados e, conseqüentemente, influem nas propriedades do solo emergentes do ciclo do carbono, como conteúdo de matéria orgânica, agregação, porosidade, aeração, infiltra-ção de água, retenção de água, capacidade de troca de cátions, balanço de nitrogênio etc. Em síntese, o modelo de produção aplicado ao sistema agrícola produtivo, que confere qualidade, quantidade e periodicidade ao aporte de carbono ao solo, associado ao modo de manejo dos resíduos culturais, que interfere na taxa de mineralização do material orgânico adicionado, é que, em essência, promove ou degrada a fertilidade integral do solo.

Degradação estrutural do solo – adensamento e/ou compactação

É postulado que o arado e a grade de discos, operando de modo intensivo e continuamente na mesma profundidade de trabalho, são responsáveis pela degradação estrutural do solo e pelo conseqüente aumento de suscetibilidade à erosão, ao transformarem o horizonte superficial do solo em duas camadas com características e propriedades completamente distintas: uma superfi-cial dispersa, com estrutura de grãos simples, aproximadamente de 0 a 6 cm de profundidade, e outra subsuperficial adensada/compactada, com estrutura maciça, aproximadamente de 6 a 20 cm de profundidade (Tabela 1). É compreensível que as operações de preparo de solo, efetuadas com esses implementos agrícolas, não tenham o efeito de uma coqueteleira, para promover, de forma exclusivamente mecânica, esse grau de transformação estrutural na matriz sólida do solo. Pode-se afirmar que a ação mecânica de mobilização do solo atua apenas como agente desencadeadordesseprocessodetransformaçãoestruturalenãocomoagentecausaldiretodofenômeno. A partir das mobilizações intensas de solo, que se processam, sistematicamente, ao longo das safras agrícolas, sucedem-se, em série no solo, complexas ações e reações biológicas, químicas e físicas, determinando que as alterações da matriz sólida não são resultantes de uma relação única entre uma causa e um efeito.

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Biologicamente, esse processo de transformação estrutural do solo é condicionado pela mineralização da matéria orgânica fresca (fitomassa da parte aérea e das raízes das plantas, mucilagens, exsudatos radiculares e biomassa microbiana do solo) e da matéria orgânica estável (compostos orgânicos de cadeias estruturais longas). A ação mecânica de mobilização do solo, ao incorporar corretivos, fertilizantes e resíduos vegetais à camada arável, oxigena o solo e dis-ponibiliza nutrientes aos microorganismos, incrementando, conseqüentemente, de forma intensi-va, a atividade biológica, que passa a acelerar a mineralização do material orgânico incorporado e, em seqüência, a própria matéria orgânica estável do solo.

Os compostos orgânicos, reconhecidamente como agentes cimentantes ativos de macroa-gregados, quando mineralizados, promovem a desestabilização dos macroagregados, os quais, associados a contínuas operações de mobilização de solo, passam a ser fracionados, culminando com a dispersão do solo em microagregados e/ou em partículas unitárias.

Tabela 1. Densidade do solo e agregados estáveis em água, em frações da camada de 0 a 30 cm de profun-didade, de um Latossolo Vermelho, submetido, por três e sete anos consecutivos, a preparo exclusivo com grade de discos.

* Ausência de agregado ou solo com estrutura de grãos simples.

Quimicamente, o processo de transformação estrutural do solo é condicionado pela adição de corretivos e de fertilizantes, demandados pelo sistema agrícola produtivo, mas que possuem potencialidades para desencadear reações promotoras de alteração no estado de agregaçãoe de estruturação do solo. Em parte, esse fenômeno pode ser desencadeado pelo calcário, corretivo normalmente aplicado em doses elevadas na camada arável do solo. Efeitos diretos dos carbonatos de cálcio e de magnésio na dispersão do solo são resultantes do aumento de cargas elétricas negativas e da conseqüente redução da atração entre as partículas coloidais, especialmente dos óxidos de ferro e de alumínio. A calagem propicia a substituição dos cátions H+ e Al+++, que têm ação estabilizante da estrutura do solo, pelos cátions Ca++ e/ou Mg++, que, na faixa de pH abaixo de 7,0, têm ação dispersante, culminando, à semelhança da reação biológica,comadesestruturaçãodemacroemicroagregados,bemcomocomadispersãodosolo em partículas unitárias.

A ação positiva da calagem na agregação de solos ácidos, relatada por numerosos autores, certamente é atribuída a efeitos indiretos, como favorecimento ao aumento de produção de fitomassa, primordialmente, em decorrência da elevação do pH, resultando em acúmulo de substâncias húmicas agregadoras do solo. Com base em tal assertiva, essa ação positiva da cala-gem pode ser esperada em sistemas agrícolas que produzem elevadas quantidades de biomassa, desde que associadas a condições climáticas e a técnicas de manejo de solo desfavoráveis à mineralização intensiva dos resíduos vegetais.

Camada(cm)

Gleba sob 3 anos de uso Gleba sob 7 anos de uso

Densidadedo solo(g cm-3)

Agregado> 4,76 mm

(%)

Densidadedo solo(g cm-3)

Agregado> 4,76 mm

(%)0 - 6

* * * *6 - 14 1,20 78 1,43 4814 - 23 1,20 79 1,40 5823 - 30 1,18 78 1,25 56

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De modo genérico, portanto, é possível afirmar que os principais modelos de produção implementados nos sistemas agrícolas produtores de grãos, no âmbito dos latossolos brasileiros, não reúnem as condições necessárias para a calagem promover melhorias estruturais no solo. As condições climáticas, tropicais e subtropicais do Brasil, aliadas ao preparo intensivo do solo, determinam intensidade de mineralização de tal ordem que, além da decomposição da matéria vegetal fresca aportada pelo modelo de produção, a própria matéria orgânica estável do solo passa a ser decomposta, não permitindo acúmulo de húmus. Conseqüentemente, em detrimen-to da estabilidade de agregados, a dispersão do solo é favorecida.

Finalmente, as reações físicas, complementares do processo de transformação estrutural do solo, resumem-se à ação da água de percolação, que promove a eluviação dos minerais de argila dispersos na camada superficial do solo, e ao rearranjo “errático” dessas partículas na zona de deposição, alterando drasticamente a matriz sólida original do solo. A porosidade na-tural do solo na camada subsuperficial passa a ser obstruída pelos minerais de argila iluviados, elevando a densidade do solo pela concentração de massa de solo por unidade de volume. Esse fenômeno de migração e de sedimentação de minerais de argila é que desenvolve na subsuperfície do solo a camada adensada/compactada, com estrutura maciça e estabilizada por ligações eletrostáticas originadas dos minerais de argila iluviados, à semelhança do processo de desenvolvimento do horizonte B argílico. Em contrapartida, a perda de estabilidade dos macro-agregados e seu fracionamento em microagregados e/ou em partículas unitárias e a conseqüente eluviação de parte dos minerais de argila é que desenvolve a camada superficial dispersa, com estrutura de grãos simples.

De modo paralelo e concomitantemente a esses processos, ocorre também o fenômeno típico e exclusivo de compactação do solo. Esse é resultante de forças mecânicas, oriundas do tráfego de máquinas agrícolas e do pisoteio de animais sobre o solo, que aproximam os micro-agregados e/ou as partículas unitárias dispersas, mediante expulsão do ar e/ou da água que os mantêm afastados, elevando a densidade do solo pela redução do volume total do solo às custas da redução da porosidade.

Não obstante os inegáveis benefícios creditados ao sistema plantio direto, é perceptível que expressiva parcela dos atuais modelos de produção implementados nos sistemas agrícolas anuais produtores de grãos no Brasil têm aportado fitomassa, tanto pela parte aérea da planta como pelas raízes, em quantidade inferior ao potencial de mineralização determinado pelas con-dições climáticas. Sistemas de rotação de culturas em que a produção de fitomassa apresenta-se quantitativa e qualitativamente insuficiente, associados à calagem concentrada na superfície do solo, certamente desencadeiam o processo de mineralização intensiva da matéria orgânica fresca aportada e, conseqüentemente, restringem a formação de matéria orgânica estável, res-ponsável pela organização e estabilização da estrutura do solo. Nesse contexto, possivelmente a recuperação e/ou a manutenção da estrutura dos latossolos ácidos do Brasil requererá a imple-mentação de ajustes nos modelos de produção, com a finalidade de propiciar taxas permanentes de aportes de resíduos vegetais e de raízes em quantidade e qualidade que permitam superar a taxa de mineralização.

Com base neste exercício de construção de hipóteses no entorno do complexo de causas eefeitosdatransformaçãodospadrõesdequalidadedafertilidadeintegraldosolo,conclui-seque o sistema plantio direto, à luz do atual estado do conhecimento, é o sistema de manejo mais eficaz para expressar o potencial genético das espécies cultivadas, ao minimizar a degradação dos recursos naturais e ao maximizar o potencial do fator clima e, principalmente, do fator

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solo, atuando como um mecanismo de transformação, de reorganização e de sustentação do agronegócio.

Agricultura conservacionista

A agricultura conservacionista, por muito tempo, restringiu-se a um enfoque reducionista, estando associada, única e exclusivamente, ao grau de redução da intensidade de mobiliza-ção do solo em relação ao preparo convencional. Em decorrência, surgiram expressões para caracterizar sistemas de manejo conservacionista de solo, tais como preparo mínimo ou pre-paro reduzido (minimum-tillage), sem preparo, plantio direto, semeadura direta (zero-tillage, no-tillage) etc., que passaram a receber diversificadas interpretações/conceituações, em razão de particularidades regionais relativas ao tipo e à intensidade de uso de equipamentos agrícolas para mobilização de solo.

Na atualidade, agricultura conservacionista, no âmbito de sistemas agrícolas produtivos, é conceituada como um complexo de processos tecnológicos de enfoque holístico, que objetiva preservar, melhorar e otimizar os recursos naturais, mediante o manejo integrado do solo, da água e da biodiversidade, compatibilizado com o uso de insumos externos. Esse complexo de processos tecnológicos é considerado um dos mais notáveis fatores responsáveis por avanços no desenvolvimento agrícola da última década, fundamentalmente, por envolver, concomitante-mente com a disponibilização de tecnologias para diferentes estratos fundiários:

- redução ou eliminação de mobilizações de solo;- preservação de resíduos culturais na superfície do solo;- manutenção de cobertura permanente do solo;- ampliação da biodiversidade, mediante cultivo de múltiplas espécies, em rotação de culturas

ou em consórcio de culturas, e uso de adubos verdes ou de culturas de cobertura de solo;- diversificação e complexação de sistemas agrícolas produtivos, como sistemas agropastoris,

agroflorestais e agrossilvipastoris;- manejo integrado de pragas, de doenças e de plantas daninhas;- controle de tráfego de máquinas e de equipamentos;- uso preciso de insumos agrícolas;- emprego de práticas complementares para controle integral da erosão;- abreviação do interstício entre colheita e semeadura, pela implementação do processo co-

lher-semear etc.Diante dessa ampliação conceitual, a agricultura conservacionista, por preconizar imple-

mentação holística desse complexo de processos tecnológicos, apresenta estrutura sistêmica. A adoção parcial desses processos, indubitavelmente, remete a agricultura conservacionista ao cenário passado, em que a visão reducionista era predominante.

A agricultura conservacionista, sob essa abrangência conceitual, constitui sustentação de sistemas agrícolas produtivos, conservando o solo, a água, o ar e a biota, bem como, prevenindo a poluição e a degradação dos sistemas do entorno. Em outras palavras, agricultura conser-vacionista passa a ser interpretada como agricultura eficiente ou efetiva no uso dos recursos disponíveis.

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No Brasil, a atual abordagem da agricultura conservacionista vem sendo amplamente contextualizada no âmbito do sistema plantio direto, o qual é interpretado como ferramenta da agricultura conservacionista para imprimir caráter de sustentabilidade ao desenvolvimento agrícola. Nesse sentido, sistema plantio direto é conceituado como um complexo de processos tecnológicos destinado à exploração de sistemas agrícolas produtivos, contemplando diversifi-cação de espécies, via rotação e/ou consorciação de culturas, mobilização de solo apenas na linha/cova de semeadura, manutenção permanente da cobertura do solo e minimização do interstício entre colheita e semeadura, pela implementação do processo colher-semear. Sob esse enfoque,portanto,oconceitodesistemaplantiodiretonãopodeserconfundidocomosimplesato de semear/plantar sem prévio preparo de solo, mas ser interpretado como um complexo tecnológico capaz de viabilizar a perenização desse processo.

À semelhança da atual base conceitual de agricultura conservacionista, o sistema plantio direto, ao contemplar integralmente esse complexo de processos tecnológicos, submete o siste-ma agrícola produtivo a um menor grau de perturbação ou de desordem, quando comparado a outras formas de manejo, por requerer menor infra-estrutura de máquinas e de equipamen-tos, demandar menor força de trabalho e menos energia fóssil, favorecer o controle biológico de pragas, de doenças e de plantas daninhas, minimizar a erosão, aumentar os processos de floculação e de agregação do solo, desenvolver a estrutura do solo, diminuir a taxa de mine-ralização da matéria orgânica e desacelerar as taxas de ciclagem e reciclagem de nutrientes, estabelecendo sincronismo com a taxa de crescimento das formas de vida presentes. Portanto, o sistema plantio direto, comparativamente a outras formas de manejo, potencializa a obtenção do equilíbrio dinâmico do agroecossistema, disciplinando os fluxos de entrada e de saída de energia e de matéria do sistema, e conserva o respectivo potencial biológico, reservando-lhe maior capacidade de auto-reorganização. Ao refletir esse conceito, a adoção do sistema plantio direto objetiva expressar o potencial genético das espécies cultivadas, pela maximização do fator ambiente e do fator solo, sem degradar os recursos naturais, permitindo-lhes atuar como mecanismos de transformação, de reorganização e de sustentação de agroecossistemas. O res-peito à vida, mediante a incessante expectativa de alcance de uma agricultura irrepreensível, credencia a agricultura conservacionista e o sistema plantio direto como reais possibilidades de atendimento a esse paradigma.

Nesse cenário de transformação, de reorganização e de sustentação de agroecossistemas, catalisadopelosfundamentosquenorteiamosistemaplantiodireto,destaca-seaproposiçãodeminimização do intervalo entre colheita e semeadura – processo colher-semear –, que demanda inovações tecnológicas para expressar o potencial de benefícios que reserva. É esse processo que melhor reproduz, no sistema agrícola produtivo, os fluxos de aporte e de mineralização de material orgânico observados em ecossistemas naturais, ou seja, o comportamento dos ci-clos que representam vida em ecossistemas naturais – ciclo do carbono, ciclo do nitrogênio etc. Em ecossistemas naturais, os fluxos de adição e de mineralização de material orgânico, embora variem sazonalmente em intensidade, podem ser considerados permanentes e simul-tâneos, mantendo as entradas e as saídas de matéria e de energia em equilíbrio dinâmico. Em contraste, observa-se que, em agroecossistemas estruturados em sistemas agrícolas produtivos, constituídos por modelos de produção que contemplem espécies anuais, os fluxos de adição e de mineralização de material orgânico nem sempre são contínuos e simultâneos. No período do ciclo vegetativo das espécies cultivadas, ambos os fluxos, adição e mineralização, ocorrem simultaneamente. Nessa situação, os elementos mineralizados podem ser repostos e absorvidos pelas plantas vivas, evitando perdas no sistema. Entretanto, no período de entressafra, em de-corrência da ausência de plantas vivas, a mineralização, que passa a ser o fluxo predominante

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ou exclusivo, libera carbono e nutrientes para o sistema, sem as respectivas reposição e absor-ção. Nessa situação, o sistema torna-se vulnerável a perdas pela quebra do equilíbrio dinâmico preconizado para a sustentabilidade agrícola.

Otimização de sistemas agrícolas produtivos

Do exposto, é possível inferir que a sustentabilidade de agroecossistemas é totalmente dependente da qualidade de gestão dedicada aos sistemas agrícolas produtivos, fundamental-mente, aos aspectos relativos ao quanto os modelos de produção são eficazes em reproduzir o equilíbrio dinâmico dos fluxos de aporte e de mineralização de material orgânico observados nos ecossistemas naturais. Em decorrência, está reservado à estruturação dos modelos de produção o grau de relacionamento entre a atividade agrícola e a ambiência, parâmetro que vem sendo submetido gradativamente a avaliações cada vez mais rigorosas por exigência de forças sociais. Portanto, a viabilização técnica do complexo tecnológico contemplado pela agricultura conser-vacionista está, essencialmente, associada às características estruturais e comportamentais das espécies cultivadas. O processo colher-semear, que objetiva reduzir ou suprimir o período de entressafra dos sistemas agrícolas produtivos, depende do melhoramento genético de plantas orientado à ampliação da sazonalidade das espécies cultivadas, isto é, da criação de cultivares adaptadas para cultivo em diferentes épocas do ano agrícola e com variados ciclos. Essa di-versidade de características comportamentais, tanto em espécies comerciais como em espécies destinadas à promoção da fertilidade integral do solo, propicia flexibilidade ao planejamento de modelos de produção, minimização ou supressão dos períodos de entressafra e otimização do uso da terra, por viabilizar maior número de safras por ano agrícola.

Um dos exemplos mais expressivos de sucesso alcançado pelo melhoramento genético na introdução desse comportamento sazonal em espécies cultivadas é observado na cultura de mi-lho. Atualmente, na região de clima subtropical do Brasil, essa espécie pode ser considerada uma cultura, com híbridos e/ou cultivares, de natureza multissazonal, pois é cultivada, com sucesso, no período de julho a março, ou seja, em todas as estações do ano e com ciclos que variam de superprecoce a tardio. Outro exemplo dessa natureza, de elevada repercussão econômica e ambiental, proporcionado pelo melhoramento genético vegetal pode ser observado na região do Cerrado brasileiro. A redução do ciclo da cultura de soja, em mais de 30 dias, associada a similar abreviamento de ciclo das culturas de milho e de trigo, propiciou mudanças radicais nos modelos de produção estruturados em sistemas agrícolas produtivos conduzidos sob sistema plantio direto, que eram alicerçados na monocultura de soja ou na sucessão de culturas soja comercial/milheto (Pennisetum americanum) para cobertura de solo. Essa característica com-portamental, geneticamente introduzida nessas espécies, induziu a implementação do binômio safra-safrinha nessa região do país, ou seja, duplicação de safras com espécies comerciais por ano agrícola, viabilização da diversificação de espécies cultivadas e complexação de sistemas agrícolas produtivos, como a integração agricultura/pecuária. A imagem expressa na Figura 2, amplamente difundida via Internet, no último ano, que retrata um sistema agrícola produtivo de grãos na região do Cerrado brasileiro, embora encerre múltiplas interpretações relativas ao agronegócio brasileiro – exuberância, potencialidade, pujança... –, nenhuma é mais explícita que o processo colher-semear. Nesse processo, é relevante enfatizar a interação observada entre o sistema plantio direto e as espécies e as cultivares portadoras de características específicas, ao atuarem como fatores de otimização do modelo de produção e de conferência de caráter de sustentabilidade ao agroecossistema.

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Figura 2. Colheita de soja, safra principal, e semeadura de soja, safrinha, conduzidas sob sistema plantio direto, na região dos Cerrados brasileiro.

Nas regiões de clima temperado e subtropical do país, em que a distribuição anual de chuvas permite o uso agrícola da terra em todos os meses do ano, há períodos de entressafra muito longos com potencial para aumentar o número de safras agrícolas comerciais ou inten-sificar o cultivo de espécies promotoras da fertilidade integral do solo, na tentativa de reduzir perdas promovidas pela mineralização dos resíduos culturais e de reproduzir no agroecossiste-ma o equilíbrio dinâmico observado no ecossistema. A viabilização dessas opções está gerando demandas para a pesquisa pertinente ao melhoramento genético vegetal, fundamentalmente orientada à criação de cultivares de espécies destinadas à promoção da fertilidade integral do solo com características de cultura de inserção, ou seja, diversidade de cultivares para variadas épocas de semeadura e ciclo, com potencial para integrar modelos de produção nos períodos de entressafra das espécies comerciais. Um cenário para essa demanda é a carência de espécies/cultivares adaptadas para ocupar os períodos entre a colheita de milho, em fevereiro-março, e a semeadura de trigo, em maio-julho, e a colheita de soja, em março, e a semeadura de trigo, em junho-julho. Atualmente, há indicações técnicas para a semeadura da cultura de nabo forrageiro (Raphunus sativus) nesse período, praticamente suprimindo o tempo de entressafra, mas sem a disponibilidade de cultivares melhoradas para especificidades que permitam otimizar o modelo de produção. Sementes dessa espécie, ofertadas no mercado sem nenhuma distinção varietal, são, indiscriminadamente, indicadas tanto para ser semeadas nesse período de 60 a 90 dias – março a junho –, como para ser semeadas como cultura opcional de inverno – abril a julho; abril a agosto; abril a setembro; e abril a outubro. Indubitavelmente, tanto os cereais de inverno como a soja, o milho, o sorgo etc., poderão ser altamente beneficiados por espécies melhoradas, para especificidades desejadas, e cultivadas nas entressafras como culturas precursoras, sem prejudicar o calendário agrícola das espécies comerciais. Nesse sentido, a cultura de nabo for-rageiro, mesmo sem melhoramento genético, tem assumido certa relevância no sistema agrícola produtivo pela ponte de nitrogênio que forma entre a safra de verão e a safra de inverno ou mesmo entre duas safras de verão em seqüência. Resumidamente, essa ponte de nitrogênio corresponde ao processo de a cultura de nabo forrageiro incorporar na fitomassa o nitrogênio mineralizado dos restos culturais das culturas de verão e disponibilizá-lo, em taxa adequada, aos cereais de inverno cultivados em seqüência ou mesmo à subseqüente cultura de verão.

Mais uma demanda para o melhoramento genético de plantas é ilustrada pelas tradicio-nais espécies utilizadas como adubos verdes: mucuna preta (Mucuna aterrina), crotalária jun-cea (Crotalaria juncea), guandu (Cajanus cajan), lab-lab (Dolichos lab lab) entre outras. Essas espécies, de indiscutível potencial para a promoção da fertilidade integral do solo, são culturas típicas de verão, com época de semeadura restrita aos meses de setembro a janeiro. Esse com-portamento relativo à época de semeadura, indubitavelmente, tem limitado a utilização dessas

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espécies como adubo verde ou como plantas de cobertura, pois esse período ideal de cultivo é preferencialmente destinado às espécies comerciais. A indução de comportamento multissazo-nal a essas espécies, transformando-as em culturas de inserção mediante a criação de cultivares adaptadasparasemeaduranasentressafrasdasculturascomerciais,representariaumatecnolo-gia de potencial inestimável para a otimização de sistemas agrícolas produtivos.

A cultura do milheto, por suas características de rusticidade e de elevada produção de fitomassa, tanto da parte aérea como de raízes, mesmo sem melhoramento genético orientado, viabilizou a adoção e a expansão do sistema plantio direto na região do Cerrado brasileiro. Na atualidade, cultivares de Brachiaria, implantadas em semeadura simultânea ou em sobres-semeadura à cultura de soja e de milho, estão substituindo o milheto, nessa região do país. A vantagem substitutiva está reservada à característica da Brachiaria em sobreviver ao período sem chuvas – maio a setembro –, dispensando nova semeadura, como requerida pela cultura do milheto e, fundamentalmente, suprimindo os períodos de entressafra.

É inquestionável que a flexibilização de modelos de produção, a otimização de sistemas agrícolas produtivos e a sustentabilidade de agroecossistemas são diretrizes, fundamentalmente, dependentes de tecnologia de produto gerada pelo melhoramento genético vegetal com enfo-que de abrangência holística e sistêmica, muito além da tradicional individualização de espécie trabalhada. As crescentes demandas pelos produtos gerados pela agricultura não permitem os longos períodos de pousio das terras praticado no passado, com o objetivo de a vegetação espontânea recuperar a fertilidade integral do solo. O melhoramento genético vegetal, além de criar cultivares de espécies comerciais com maior flexibilidade à época de cultivo, apresenta po-tencial para criar cultivares de espécies de inserção, possivelmente, mais ativas que a vegetação espontânea, ocorrente nos pousios de longa duração, na promoção da fertilidade integral do solo. Esse direcionamento da pesquisa em melhoramento genético de plantas, de forma similar ao novo enfoque abordado pela agricultura conservacionista, poderá se constituir, no âmbito da relação agricultura/ambiência, como mais um notável progresso do desenvolvimento e da modernização da agricultura. Embora os exemplos explicitados demonstrem resultados revo-lucionários ao agronegócio e à ambiência, e, em parte, expliquem os incrementos de produção de grãos experimentados pelo Brasil nos últimos anos, indubitavelmente, quantificar o potencial de novas contribuições reservadas ao melhoramento genético vegetal, como ferramenta para a otimização de sistemas agrícolas produtivos e o desenvolvimento da sustentabilidade de agro-ecossistemas, é inimaginável.

Orlando Pereira de Godoy Neto – CAT Pirassununga

Aí entra outro detalhe que o Fancelli também falou aqui inicialmente. Acho que é a ques-tão da agricultura paulista ter muitos produtores refratários à tecnologia. Essa foi a palavra que ele usou.

Noprimeiroplanodafoto,campodoagricultorqueadotatecnologia,nosegundoplano,terreno dos que não adotam. Por quê? Porque não querem. A experiência está ali do lado. Há um rio de divisa. Conseguimos observar o lado de lá. Será que ele não consegue observar o lado de cá? A distância é de cerca de 500 m de um lado para o outro e ali é um caminho de diferença.

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Vou entrar em outro detalhe que o Fancelli disse, que é de suma importância e o Estado de São Paulo está pecando muito nisso. Vou citar até o Denizart, que teve uma conversa com o Mário Bretãs, em Foz do Iguaçu. Ele cobrou na-quele evento a existência de plantio direto em São Paulo, e vocês, como pesquisadores, disse-ram que existe em São Paulo. A gente sabe que existe, mas hoje, o que acontece é que existe uma lacuna, que o Fancelli também citou, que é a extensão rural.

Essa é uma opinião particular minha, quem leva a tecnologia gerada pelos pesquisadores paraocampo,normalmente,sãoosconsultoresou então são eventos como a Federação faz, como o Encontro Nacional de Plantio Direto,como a APDC faz no Centro-Oeste, em seus encontros, divulgando a tecnologia; são os pro-dutores que vão atrás desses encontros e, mes-mo assim, a possibilidade de conhecimento que eles têm naqueles momentos é pequena. Em eventos como esses, quanto de assunto vai ficar sem ser debatido? Quanto tempo teríamos para ficar aqui? Quantos dias poderíamos sentar e debater sobre física de solos, qualidade química

de solos, sobre máquina? Quanto o Afonso poderia falar para a gente sobre máquinas agrícolas? Só para pensar nisso também.

Eu tirei a foto a seguir quando eu tive a minha parte de formação acadêmica na ESALQ, com o Fancelli. Naquela época, falávamos de regulagem de máquinas nesse sistema ainda. Pensava-se em adequação de população através de furo de disco naquela época.

Isso faz quanto tempo? Mais ou menos 10 anos talvez. Acho que era uma J2, se não me engano.

Quando me formei, fui para casa e tinha uma 20/40, que era uma J2S adaptada para fazer plantio direto, ou uma coisa assim.

Depois, eles inventaram outra máquina que era para semiplantio direto. Quer dizer, ou é plantio direto ou não é!

Na época, a gente batia muito nisso. Depois, tivemos uma evolução. Já tínhamos uma opção de mudar apenas a engrenagemparamudartantoadosagemdesementecomoa de adubo. Daquele sistema evoluiu para o da figura seguinte.

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Você não precisa mais ficar selecionando. Hoje, temos os câmbios que são mais práticos ainda, por facilidade de movimentação. O que é que eu quis mostrar com essas três últimas fotos?

Como o Fancelli também disse num pri-meiro momento aqui, tecnologia de máquina existe! O problema é como adequar isso e o produtor ter acesso a tudo isso.

O Afonso falou sobre máquinas aqui e o que ele mais enfatizou foram semeadoras. Outro dia, conversando lá no CAT em Pirassununga fui falar sobre máquinas com eles e também fiquei pensando. Qual é a grande diferença entre máquinas de PD e convencional?

O diferencial é semeadora. E o pior é que, muitas vezes, a diferença é o disco de corte ou o facão. Quer dizer, a máquina é isso.

Hoje, no Estado de São Paulo, a gente tem incentivado para que as pessoas façam aqui-sição de semeadora. Mas o que acontece? O produtor faz a aquisição de uma semeadora para o plantio direto, faz um projeto para o plantio direto, e depois tira a parte da frente e vai fazer convencional. Por quê? Porque, muitas vezes, ele não tem alguém no campo fazendo extensão e dizendo-lhe o que utilizar, como utilizar.

Eu acredito que em máquinas a gente tem bastante coisa a desenvolver, mas existe tec-nologia bem desenvolvida. O que precisa, talvez, como o Afonso falou, é validar muita coisa e levá-la para o campo.

Conversando com o Denardin, ele falou do programa de poder fazer um grande treina-mento para o pessoal que faz extensão. Uma tristeza da minha parte é que aqui nós temos pelo menos três grandes centros de grande excelência de ensino no Estado de São Paulo. Temos aqui o Fancelli, da ESALQ, dois da UNESP, temos o Magalhães da UNICAMP e temos todo o pes-soal do IAC, aqui juntos. Mas, e a extensão? Nós não temos ninguém da extensão aqui. Salvo eu, que faço o meio de campo e acabo sendo, por trabalhar num CAT e trabalhar também na coordenadoria, mas sou conveniado (um assunto bem complexo). Efetivamente, da diretoria da CATI a gente não tem ninguém aqui. Quer dizer, a extensão não está participando desse evento. Está certo que aqui nós estamos discutindo a tecnologia e a pesquisa, mas se ninguém estiver participando disso, não vamos conseguir levar isso para a frente, o que é muito importante.

O Denardin falou do treinamento de extensionistas para que essas pessoas que vão até o campo levem a informação que possa ser absorvida na pesquisa. E que depois, tragam, num outro momento, o que de fato foi implantado.

O Denardin falou agora do sistema radicular da planta. Já foi bastante falado; o Fancelli falou de material para cultivo, o Carlos disse bastante da braquiária e a Elaine alertou para tomar cuidado a fim de não virar um monocultivo. Mas eu acho que, infelizmente, o produtor não tem muito acesso a material que possui, efetivamente, potencial para o campo, ou não tem conhecimento para isso. Ele pode até ter a tecnologia, mas não tem conhecimento. Se não tivermos estudos ou trabalhos falando disso, vamos cair com certeza na braquiária e ficar na braquiária como um monocultivo.

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É sabido, também, que a parte mais sensível do produtor, com certeza, é o bolso. Isso estamos cansados de escutar em palestras. Se o produtor não tiver tecnologia e material viável para que possa desenvolver, ele não vai adotar o plantio direto e o deixará de lado.

Há outra coisa: a adubação. Eu vou me atrever a falar alguma coisa.

Outro dia, apareceu alguém lá em nossa propriedade querendo falar sobre adubação de sistema. Uma empresa foi falar de adubação de sistema e aqui isso foi bastante comentado.

Quando vamos fazer o plantio, a implantação, existe na verdade esse grande revolvi-mento das hastes. O pessoal do IAPAR fez um trabalho com vários tipos de hastes e chegou à conclusão de uma haste que foi a melhor. Mas isso não veio para o produtor. Na hora que vem alguém falando em adubação de sistema a gente passa a querer acreditar, porque no momento do plantio o mais importante é colocar a semente no solo. A adubação acaba até sendo certo entrave, porque o volume é maior e o movimento de solo é maior, com certeza. Depois da haste sempre vem a semente e ela pega sempre o solo movimentado. Muitas vezes, você pega diferençadeprofundidade,diferençadedeposiçãodasemente,sementecomadubo,tudoemfunção daquela adubação que teve que carregar lá na frente.

Então, se chega alguém falando de adubação de sistema e não temos informação sobre isso, estamos muito suscetíveis a aceitar. Por quê? Porque é uma tecnologia que uma empresa está mostrando.

Se o produtor não tiver contato com informações que vocês tenham do sistema, de como adubá-los, o produtor pode acabar cedendo a esse lado que é o mais fácil da história, ou que, pelo menos para ele, é o mais viável.

Já escutei umas duas outras palestras do Afonso. Tive essa grata satisfação e ele fala bastante de qualidade de plantio, qualidade da implantação. Eu acho que isso é fundamental; acho que o ponto é fazer o plantio direto com qualidade. Mas se o produtor não tiver quem o ajude a fazê-lo, ele não o fará.

Os CATs (Clubes Amigos da Terra) hoje, assim como nós temos no Sul os “Clubes da Minhoca”, na verdade tentam fazer um pouquinho desse trabalho de extensão. Não é nossa função e nem queremos tomar a posição de fazer a extensão, mas o CAT acaba entrando nesse campo para tentar levar um pouco de tecnologia.

Volto a falar que não é uma função do CAT. É uma função da CATI no Estado de São Paulo, mais especificamente.

Acho que uma das propostas que, eventualmente, poderia ter esse grupo é esse trabalho de extensão, de pegar essas tecnologias que nós temos e levar para o campo. Isto é, treinar pessoas para levá-las ao campo. Acho que isso para o plantio direto é fundamental. O nosso CAT trabalha em cima disso.

É numa frase do Nonô, que nessa revista do “O Agronômico” está citada também, que o nosso CAT acredita hoje. Temos a satisfação de acreditar que o plantio direto já deixou de ser uma aventura. Que hoje fazer o plantio direto é ser coerente e estar consciente com a agricultu-ra. A gente sempre está finalizando com isso, porque acredita no bom plantio direto. O correto plantio direto para a agricultura paulista é viável e o mais interessante. Senão, a gente vai acabar de certa forma virando um mar de cana, porque os agricultores na situação em que se acham, estão cada dia mais desestimulados a trabalhar com cereais. Se não houver tecnologia e gente

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no campo mostrando-lhes viabilidade, com certeza, vão novamente pender ao lado mais fácil, que é arrendar e vir para a cidade.

Discussão da Mesa Redonda

Ciro Antonio Rosolem – UNESP/Botucatu

Ouvimos algumas coisas sobre raízes. Queria levantar algumas coisas que percebi e que para mim ficaram um pouco mancas, mas que reputo como assuntos que estão muito pouco explorados na literatura que a gente tem.

Um deles é o estudo das raízes e me chamou muito a atenção e concordo com o que o Denardin colocou. Essas raízes de nabo são maravilhosas, inclusive chego até a imaginá-las picadinhas com azeite em cima e com sal. Mas é o tal negócio, o que elas significam em termos de agricultura? Eu acredito que muito pouco.

Temos desenvolvido algumas coisas com raízes em Botucatu e o que me motivou a tra-balhar com raízes foram dois trabalhos: um de 1979, se não me engano; e outro bem antigo também. O primeiro é justamente a evidência de que uma raiz poder atuar como subsolador biológico. Isso é de um trabalho feito com Lupinus. Bastante interessante, um trabalho feito na Austrália, já há quase 30 anos. E outro trabalho, não sei a citação agora, mas posso até achar para quem tiver interesse, que diz o seguinte: você precisa ter pelo menos 600 poros por metro quadrado para que haja algum efeito significativo. Eu não sei quem mediu isso e nem como mediu. Deve ser um trabalho de presidiário você medir número de poros causado por raízes no subsolo! Foi semeado um trigo e depois disso, só havia resposta do trigo a partir desse número mágico: 600 furos por metro quadrado.

O nabo nunca vai dar isso. Aliás, nenhuma dicotiledônea vai dar isso.

Então, nós temos aqui algumas coisas interessantes e esses trabalhos estão na literatura brasileira. Se você pegar o próprio nabo, pegar o guandu, as crotalárias. O quebra-pedra é o melhor deles e “quebra-pedra” mesmo. Um trabalho feito em Viçosa mostra uma capacidade incrível de penetração em camadas compactadas.

E a população de raízes? Normalmente, é muito baixa, considerando a concentração de raízes por centímetro cúbico ou metro quadrado de solo. Acho que acabam sendo muito mais importantes, mesmo do ponto de vista da compactação, as gramíneas. Por quê? Porque, mesmo sendo mais sensíveis à compactação, elas conseguem colocar lá um número muito maior de raízes. Inclusive, a última fotografia do Denardin mostrou isso com sorgo, com milheto etc.

Acho que a gente deveria conhecer melhor o efeito dessas raízes na agregação. Já comentei a respeito dos resultados que a gente está tendo com triticale. Penso que deveríamos ir embora com isso na cabeça.

Outra coisa que está ligada a raízes também, uma linha que a gente está começando a explorar, difícil de trabalhar, são as relações de limite hídrico ótimo. É um conceito que já vem sendo trabalhado há algum tempo no exterior. No Brasil, conheço dois grupos que estão

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trabalhando com isso, o do Álvaro, em Piracicaba, e o do Tormena, em Maringá. Nós estamos começando a fazer alguma coisa.

Estou levantando esse assunto porque tivemos aqui uma seção de física do solo e ninguém falou do tal do limite hídrico ótimo, que, na verdade, integra conhecimentos que têm a ver com carbono, com retenção de água e com compactação. Acho que é um assunto que temos que explorar melhor.

Gostaria de deixar um recado, mais com o Peche. Gente! Isso nós conhecemos desde 1939. Foi o primeiro trabalho que eu vi a respeito, dizendo que você não deve colocar adubo embaixo da semente. Aí, vem o Peche, o Ralich e outros e dizem: Olhe! Tem que mobilizar o menos possível. Eu já ouvi do agricultor: “prefiro colocar o adubo embaixo do que mobilizar muito a terra”.

Eu tenho essa dúvida. O que é que compensa, botar o adubo lá embaixo e ter uma plan-ta detonada como aquela? Lógico que não é todo o ano, mas é um processo que acontece. Ou é melhor mobilizar um pouquinho mais e ter uma planta com vigor maior? Essa dúvida eu tenho. Acho que é uma coisa que a gente precisa responder. Se souber responder agora, melhor, maravilha!

Afonso Peche Filho – IAC

A questão ligada com posicionamento do fertilizante e rompimento de solo é muito fácil de resolver, se tiver fidelidade com essa diretriz de anos atrás. Ou seja, abaixo e ao lado.

Não há necessidade de aprofundar o rompedor de solo a 15-20 cm, para colocar abaixo e ao lado. A semente é normalmente colocada a 3 e a 5 cm. Fugir da zona de evaporação do solo, isso é a coisa importante. Depois, o fertilizante é colocado 5 cm abaixo e ao lado. Nós podemos colocar o fertilizante numa camada humificada de solo e que é na faixa de 6 cm, no máximo 10 cm. Está muito bom para a planta.

O que acontece é que mesmo o pessoal de máquina e o agricultor insistem em fazer uma banalidade, que é romper solo e não colocar o adubo abaixo e ao lado. E há colegas nossos que acham que isso não é importante.

Eu até brinco com o pessoal: “não precisa acreditar em mim”.

Um carrinho você regula do jeito que o “Afonsão” fala. É raso, pondo a 8-10 cm, e o resto você faz do seu jeito. Aí nasce, e a diferença é incrível de uma planta para a outra. Mas, essa dificuldade é ainda imensa.

Denizart Bolonhezi – Apta/Ribeirão Preto

O Palhares apresentou ontem aquele sistema de correntão e durante o café eu perguntei quanto custava aquele correntão. É em torno de R$25.000,00 a R$30.000,00, 80 metros daque-le equipamento. Quer dizer, é uma prática simples, só é questão de custo de semeadora.

As semeadoras que a gente tem visto aqui em São Paulo foram desenhadas para uma condição de palha de pouca densidade. Para viabilizar a semeadura em palha de cana, que é umasituaçãosuigeneris, o produtor é que tem que fazer os ajustes, porque as empresas não

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estão dando suporte de pós-venda. Por mais que se consiga regular, talvez tenha que ter design de máquina mais ajustado para essa condição de grande volume de palha.

O Afonso pode me ajudar nessa questão. Você regula a pressão para afundar mais e o que acontece? Se tiver pouca resistência de palha, a semente fica muito funda, vai emergir com falha na linha. Se colocar pouca pressão, o adubo fica muito próximo da semente e você tem queima da semente por efeito salino, ou fica “envelopada”.

Quem trabalha com mecanização tem que sugerir para as empresas se preocuparem mais. Elas estão meio que deitadas em berço esplêndido e o produtor é que tem que correr atrás dos ajustes. E custa muito! Uma máquina semeadora de sete linhas, em média, para fazer em condi-ção de palha, é em torno de 80 mil reais para cima. Então, eu acho que para médio e pequeno produtor está fora.

Carlos A. Costa Crusciol – UNESP/Botucatu– UNESP/Botucatu

Queria perguntar para o Afonso. Qual o respaldo que você tem das empresas nesses ensaios e qual a receptividade delas com relação aos seus resultados? Porque dá a entender isso que o Denizart falou. Cada um está para um lado. Não existe retorno para lado nenhum.

Afonso Peche Filho – IAC

Vou responder à primeira pergunta, depois eu respondo a do Denizart. Eu vejo assim essa questão das empresas, como eu brinquei com vocês. Tanto o setor de fertilidade, quanto o de máquinas conjugam o verbo “tuchar”. Isso é demais. Ele não consegue preparar o agricultor para usar a tecnologia adequadamente. Nós temos máquinas como aquela que o Orlando mos-trou. Podemos fazer grandes áreas de plantio direto com uma máquina extremamente simples. Não precisa ter máquina de última geração para fazer áreas boas. Precisa, sim, entender de utilizar adequadamente as máquinas.

Da mesma forma é a questão do solo. Hoje, não acredito que exista terra ruim, existe terra mal manejada. São pontos importantes que a gente precisa trabalhar e quando a gente vai deba-ter com o pessoal de máquinas e com o pessoal de fertilizantes, principalmente. O de sementes evoluiu um pouco no meu conceito. Ele não quer saber se existe fadiga. Mas, a questão é crucial. Alguém aqui fez teste de mola? Sabe o que é teste de mola? Fadiga de mola? Ninguém sabe! O agricultor também não. Mas uma semeadora é um conjunto de molas. Fadiga de rolamento? São pontos importantes que não são colocados para o agricultor.

Depois de uma lavoura altamente produtiva de milho e de soja, se produz também uma máquina com “X horas” de uso. Então, um hectare de milho plantado produz 150 sacas de milho, mas produz uma máquina com uma hora de uso. Não é?

O setor está meio folgado. Esse é o problema. Não é que eu seja contra o setor. Não! Nós trabalhamos juntos, com uma dificuldade muito grande nessas questões: discutir com as empresas, as revendas, com os fornecedores de máquinas. Só que no Brasil, hoje, a questão financeira dá poder. Eu tenho dinheiro e ele compra. Você pode ver, o setor de máquinas vive de modernização da frota, de máquina nova. Uma revenda só vive de máquina nova. Ela não vive de soluções para o agricultor, de peças e serviços. Ela só quer saber de vender máquina nova. Mas a realidade não é essa. São pontos importantes.

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Com relação ao correntão, acho que isso é uma tecnologia adaptada no Centro-Oeste. Estive lá com o Márcio Scalea e fui ver essas questões. Realmente, é interessante pegar uma cultura como o milheto, que é espetacular e tratar com correntão é amenizar a dor do parto de fazer uma semeadura melhor do que faz. Acho que falta tecnologia para a gente semear sementes extremamente miúdas, como, por exemplo, as do gergelim. O caso que para nós tem problemas, como o milheto, que é pequenininho. Acho que não é a solução para São Paulo. É muito melhor a gente trabalhar com semeadoras múltiplas. Eu sei que é caro, mas é uma solução tecnológica para quem tem poder aquisitivo para adquiri-las. Para quem não tem, podemos fazer alguns sistemas de arraste, é até melhor.

Não é só pensar na máquina para semear bem, porque podemos ter alguma estratégia de manejo, na qual a semente pode ser coberta pelas próprias folhas, como é o caso da soja. Como é o de palhada. Associar isso com colheita.

Antonio Luiz Fancelli – Esalq/USP

A primeira coisa que eu queria lembrar é aquilo que o Denardin levantou aqui, que é fun-damental em termos da matéria orgânica em decomposição contínua, promovendo a agregação de solo e evitando essa desagregação e dispersão. Isso é extremamente importante, principal-mente quando aliado à rotação de culturas. Nós podemos acelerar demasiadamente a taxa de decomposição quando não fazemos rotação de culturas. E a gente vê muito isso no Cerrado, principalmente em áreas de soja em que não se faz rotação, em que a taxa de decomposição é muito acentuada. Por quê? Porque nós selecionamos microrganismos especializados em de-compor palha de soja. Então, quando não se faz uma rotação de culturas, a coisa fica bastante séria.

Outra coisa que aqui foi sempre lembrada em termos de plantio direto em São Paulo, é que a gente não consegue verificar aquele plantio direto bonito, didático, como o do Paraná. Em termos da palhada estar o tempo todo no solo, como no Rio Grande do Sul. Na minha opinião, não há razão para se ter isso. O que nós precisamos é, continuamente, promover a deposição de resíduos no solo, porque as estratégias que a natureza utiliza para manter um ambiente e um sistema produtivo, são cobertura morta e cobertura viva. Quando o solo estivesse na fase inicial de desenvolvimento das plantas, aí nós deveríamos ter a cobertura morta. Mas depois que a planta protegeu o solo, muda completamente. Aí nós vamos ter uma condição de microclima. Não vejo muita preocupação de ficar estressando-se com coisas do tipo: tem que ter cobertura morta permanente. Em algumas situações isso pode até atrapalhar, porque vai dificultar o traba-lho do Afonso, com relação à máquina para ficar cortando aquela palhada o tempo todo.

Outro fato também que o Ciro levantou, com relação à colocação do adubo próximo das sementes, já está bastante batido. Uma alternativa para amenizar esse efeito, como o Neto le-vantou, é exatamente a adubação de sistemas. É preciso começar a pôr uma quantidade menor de nutrientes para aquela cultura específica e trabalhar com adubação de sistemas de maneira geral. Acho que aumenta a eficiência de utilização do nutriente, além de amenizar todos esse problemas do efeito salino, de sulco de semeadura.

Com relação a esse treinamento da extensão rural, acho que isso é fundamental. Principalmente aqui no Estado de São Paulo, onde a extensão rural deixa muito a desejar. Inclusive vou transcrever uma conversa que ouvi em uma das Casas de Agricultura do Estado de São Paulo. Eu estava lá para ver uma coisa em relação a gado, vacinação, uma outra coisa par-

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ticular. Conversando com o veterinário, chegou um produtor para conversar com o engenheiro agrônomo da Casa da Agricultura, dizendo-lhe: “Estou querendo começar o plantio direto. Você pode me dar uma mão?”. O agrônomo falou: “não entra nessa que é bucha”.

Quer dizer, aí fica complicado. Eu tenho certeza que ele sabe que aquilo não é uma coisa ruim, mas ele não conhece. E quando a gente não conhece uma coisa, a primeira coisa que tem que ter é distância dela.

Isabella Clerici De Maria – IAC

Convidamos para estar aqui, hoje, só que não deu certo a agenda, o pessoal que trabalha no programa de microbacias da CATI, que tem incentivado e feito bastante treinamento de agrônomos da CATI na questão do plantio direto. Pelo menos, o programa de microbacias está prevendo uma série de treinamentos e o pessoal está fazendo esses treinamentos.

José Eloir Denardin – Embrapa Trigo

Eu falei ontem que o Brasil Central já passou a perna no Sul (clima temperado do Brasil). É com esse processo que eu vou chamar de “colher/semear”. No plantio direto já em evolução de qualidade podemos pensar em não mais ter entressafras. A idéia é, sempre que possível, já ter semeado antes de colher. Aí você não teria essa interrupção no processo de mineralização e adição de carbono ao solo. Temos que pensar nisso de forma bastante intensa e aí, vem a genética nos ajudar nesse processo: criar plantas que permitam você mudar épocas de plantio, para poder ter esse tipo de ação.

O verbo “tuchar”, para mim, é uma conseqüência da falta de demanda ou da falta de visão. Quer dizer, se não há cobrança, ninguém vai melhorar nada. O Peche tem uma demanda. Ele sabe, é claro, ele mede e avalia esse tipo de coisa. Mas, o agricultor?

Para o professor Graziano, minha pergunta é a seguinte: tenho uma convicção de um aspecto de roda larga e roda estreita, mas a gente não faz esse tipo de pesquisa, porque não tem nem equipamento para fazer esse tipo de avaliação. Em Latossolos, o impacto que uma roda larga provoca em termos de mudança estrutural no solo, e veja que é um pequeno peso. Mas uma roda dessas pode provocar um dano que já prejudica a cultura, está certo?

Será que realmente temos que trabalhar com rodas largas, ou com roda muito estreita, que provoca um grande dano, mas apenas num determinado ponto do solo? Você imagina aquelas rodas somando ali quando você passa. É quase 80-70% da área que é passada com as rodas por cima. Imagine se tivéssemos rodas mais estreitas, provocando um grande dano, mas recu-perável, porque é muito estreito. Essa é uma questão que coloco, porque já vi essa discussão e a deixo no ar. Talvez valha até um tema de pesquisa. Qual é o maior dano que poderia ocorrer?

Paulo Sérgio Graziano Magalhães – Feagri/UNICAMP

Bom, essa é uma discussão longa e que poderia se estender por bastante tempo aqui. Acho que o que a gente precisa fazer é mudar um pouco os paradigmas. Por que é desse jeito há 40-50 anos, 100 anos? Talvez, se a gente tivesse máquinas que compactassem menos, ou que compactassem mais em apenas um lugar e passasse menos vezes sobre aquelas linhas, o sistema fosse mais eficiente. Aquilo que você mesmo falou. Eu compacto mais num lugarzinho, mas é

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um lugar específico. À medida que compacto mais, melhoro outro aspecto da máquina, que é a eficiência de tração, o rendimento da máquina. Mas prejudico pouca porcentagem da área total com uma máquina mais pesada. Nós precisamos mudar esse sistema.

Quando falei agora que há 50 anos as máquinas são as mesmas, o Orlando mostrou algumas fotografias de alguma evolução. Mas olhando aquelas fotos, é a mesma máquina que foi mudando. Possui mais engrenagem, mas é o mesmo sistema. Não há evolução, não há tecno-logia aplicada nas nossas máquinas agrícolas e a gente precisa disso. Acho que é preciso quebrar paradigmas e inventar soluções diferentes. E tecnologia passa pela pesquisa, para conseguir chegar nesse lugar.

Ricardo Ralisch – UEL

Eu gostaria de abordar alguns temas que foram colocados. Começando pelo sulcador e adubador que o Ciro tocou no assunto. Na minha visão, as semeadoras, de forma geral, evoluíram recentemente em alguns aspectos e muito disso aconteceu por mobilização e por motivação dos produtores. Não foi por motivação da indústria. O Denardin tocou nisso agora. Há um trabalho muito interessante que o IAPAR conduziu no Paraná, do qual participei, que foi fazer “Dias de Campo” para orientar os produtores sobre como escolher uma máquina. Aí os fabricantes começaram a se sensibilizar para alguns aspectos e evoluíram algumas coisas. Por exemplo, toda essa discussão de sulcador. O que está acontecendo aí dentro é uma preocupa-ção que tem sido muito freqüente, a da demanda de potência e mobilização de solo. Só que da deposição de adubo ninguém fala nada. Se nós olharmos isso, a maioria das máquinas nem deposita no lugar. Elas jogam no sulco inteiro, no perfil todo do sulco e há muito pouca gente preocupando-se com isso, com mecanismos de deposição específica. Onde é que o sulcador vai aplicar o adubo propriamente dito? Isso é um aspecto interessante.

Eu queria acrescentar também uma sugestão de linhas de pesquisa, que acabei não abor-dando na apresentação, por esquecimento. Dentro da área que apresentei, que me foi solicitada, um aspecto interessante para o Estado do Paraná, seria alguma coisa com mapas de risco de compactação, desse efeito do sistema de produção. É importante um reconhecimento do solo, mas não só pedológico, mas do comportamento e da reação do solo. Como é que ele reage às diferentes circunstâncias? Justamente para poder prever e auxiliar na tomada de decisão dos efeitos que serão causados. Como controlar os efeitos causados por determinadas operações realizadas em condições pouco adequadas?

Rudimar Molin – Fundação ABC

Só quero registrar aqui uma manifestação de preocupação. O Paulo Magalhães tocou nes-se assunto. Mais linhas foram incluídas nas semeadoras e as plataformas aumentaram de largura nos últimos anos. Isso, naqueles solos de topografia ondulada que trabalhamos, principalmente, temos notado que o produtor está adequando o solo à máquina e não a máquina ao tipo de solo, ao tipo de necessidade. Em boa parte, ele simplesmente tirou terraço para mecanizar e isso trouxe um prejuízo. Coisa que tinha sido conquistada em controle de erosão, em parte, perdeu-se essa conquista. Só para deixar registrada essa preocupação dentro da questão de mecanização principalmente.

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Afonso Peche Filho – IAC

As revendas, principalmente de fertilizantes, máquinas, venenos e outras, têm o poder na mão, o da assistência técnica. Isso é uma coisa importante. No momento, o que existe hoje não dá para atender à demanda do plantio direto. Não é o técnico nosso que é ruim, ele é mal preparado e há a dificuldade do Estado, com esse modelo que nós temos, para poder fazer uma extensão adequada. Acho que a gente tem que discutir essas questões. Mas é muito importante que as revendas assumam seu papel, com a assistência técnica. Isso é outro ponto, porque hoje o agricultor é visto como alvo. Esse é o grande problema. Muitas vezes é o comprometimento dele com os custos, a imobilização de capital é muito alta e não justifica a tecnologia que ele paga. São pontos importantes que a gente tem que discutir. Amanhã, temos que ter um modelo de revendas diferente do que é hoje. Se hoje a gente enxerga o agricultor como alvo para “tuchar” uma máquina, amanhã, necessariamente, tem que enxergá-lo como um parceiro, o agricultor como um gestor de negócios agrícolas, do qual a revenda faz parte. É um negócio lucrativo porque uma parte daquele dinheiro, necessariamente, vai para comprar veneno, semente e máquina. Há que se fazer algo mais nisso. Eu volto naquela história. Nós não podemos fazer apologia à tecnologia que o revendedor está vendendo, mas apologia às soluções. A revenda tem que ser boa. Isso é muito importante, porque a tecnologia que ele vende tem muito retorno se o agricultor usar adequadamente, mas o problema é que não usa. Esses pontos são importantes. Neste fórum a gente pôde discutir algumas diretrizes de fomento, pôde evoluir e buscar algum caminho no entorno de revendas e também das questões das microbacias e das grandes bacias do Estado de São Paulo. Os modelos de sistema de produção podem estar muito ajustados àqueles grandes ambientes, como o Denardin colocou. Fechar com a questão do solo produtivo, que é fundamental a gente trabalhar. Ficou claro aqui, que o agricultor produz solo produtivo. Não podemos fechá-lo como um agricultor que produz soja, milho, ou pasto necessariamente. Temos que trabalhar, porque hoje isso pode ser romântico e idealista, mas amanhã não vai ser! São Paulo está mostrando isso pelo uso intenso dos solos. Ande na Rodovia Castelo Branco para ver a dificuldade que tem de solos degradados. Essas questões vão chegar no Cerrado e em outros ambientes.

Fernando Penteado Cardoso – Fundação AGRISUS

Ouvi uma frase do Denardin que pode ter um significado capital no desenvolvimento do plantio direto, principalmente nos climas de inverno seco. Nos climas de inverno úmido as soluções são mais simples.

Disse o Denardin: “semear antes de colher”. Peço a todos os pesquisadores que plantem essa frase. Ela se completa com exposições que tivemos aqui do “Sistema Santa Fé”, de plantar a soja junto com o milho.

Tenho um testemunho particular, de uma conversa de plantar a braquiária junto com a soja, dentro desse princípio que o Denardin fixou. Eu acho que deve merecer a atenção de todos nós: “semear antes de colher”. Gravem bem isso e façam pesquisa nesse sentido. Eu ofereço a Fundação para poder financiar pesquisas de “semear antes de colher”.

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José Eloir Denardin – Embrapa Trigo

Associando o que o Dr. Cardoso comentou com o negócio de mecanização. Peche e Magalhães, vejam bem que a agricultura de semear antes de colher sempre existiu. Foi a meca-nização que retirou isso do processo. Os consórcios, os cultivos múltiplos que vêm na história do homem sempre existiram. O problema é que com a mecanização nós simplificamos e tiramos a complexidade do sistema. É somente esse fato. A mecanização é uma das responsáveis por isso, principalmente a das colheitas. Não das semeaduras, mas das colheitas.

Ricardo Ralisch – UEL

Dando ênfase também ao que o Molin falou: adaptar a máquina ao sistema e não o sis-tema à máquina. Esse advento da retirada das curvas de nível é simbólico, mas é um negócio grave que está acontecendo no Paraná e no Rio Grande do Sul. Precisamos interromper esse processo.

Opinião dos participantes

• Compactação do solo (gênese, danos, prevenção e remediação); condições de super-fície (palha, umidade, pedregosidade, textura, declividade); qualidade de equipamentos (corte de palha, rompimento do solo, deposição de fertilizante e de semente, cobertura de semente); qualidade de material orgânico e taxa de decomposição (mineralização) versus estruturação ou reestruturação do solo; qualidade de colhedora (distribuição de palha); amostragem de solo, considerando camadas ou zonas com morfologia semelhante ou homogênea; qualidade de pulverizadores (herbicidas fundamentalmente). • Estimular a organização dos produtores em associações para concentrar as demandas; capacitar produtores e técnicos ao emprego adequado dos equipamentos agrícolas; desenvolver estudos para compreender as reações dos diversos solos à mecanização, mapa de riscos; difun-dirosconceitosdecompactação,desagregação,sistemasdeproduçãoadequadosemonitorartais aspectos da região. • Limitações: falta da visão de sistema na recomendação e adoção de sistemas de pro-dução; pouca difusão no uso adequado da tecnologia de mecanização; setor privado (revendas) não tem cumprido sua missão na assistência técnica. • Necessidades: fomentar pesquisas participativas; fomentar formação de rede de agri-cultores experimentadores; fomentar pesquisa nas áreas de eficiência e confiabilidade. • As frações da MOS contribuem realmente no incremento da agregação; a utilização de mulchings verticais pode também ser aplicável no Estado de São Paulo; interação maior entre a área de mecanização e a segregação física e química de fertilizantes e corretivos. • Física: estudo do carbono por tamanho de agregado separado em peneiras e também interagregados, verificando a contribuição do carbono lábil para a estrutura. Verificar relações de agregação entre a fase mais recalcitrante (C-HU) e a agregação. • Fazer uso da biologia do solo para solucionar problemas de compactação, utilizando práticas de rotação de culturas. Necessidade de olhar o solo como um ser vivo, e não apenas como um substrato. • Dar maior ênfase à mecanização no sistema PD, pois pode-se observar que esse item é

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fundamental. Em relação à qualidade física, estudar agregação de partículas do solo no SPD. • Qualidade das máquinas; dinâmica de “compactação de solo” e racionalização dos equipamentos e do rendimento das máquinas. • Redimensionamento de terraços em SPD e difusão. Capacitação de operadores. • Qualidade do plantio e das semeadoras; disposição do adubo no plantio; manejo do sistema PD para evitar a compactação e/ou minimizar seus efeitos. • Avaliação e homologação de máquinas para PD; métodos ou práticas de prevenção de compactação de solo; estudos de diferentes tipos de raízes na contribuição de fertilidade, distribuição, reciclagem de nutrientes e na estabilidade de agregados. • O conceito de compactação do solo precisa ser mais bem definido, uma vez que esse argumento tem sido utilizado para a descontinuidade do SPD. A maior resistência do solo no SPD pode ser recuperada através da rotação sem prejuízo do sistema. • Introdução de tecnologia nas máquinas e implementos agrícolas de modo a atender às necessidades das culturas, quebra de paradigmas. Gerenciamento melhor da área. • Faltam informações sobre dinâmica de água e sua absorção pelas plantas. • Influência da “compactação” do solo devida ao manejo adotado pelo produtor e, se necessário, formas de manejar o solo sem revolvê-lo. • Influência do cálcio na estruturação do solo; tecnologia de aplicação de calcário e fer-tilizantes. Recomenda-se a realização de estudos de longo prazo em SPD. • Matéria orgânica ativa e propriedades físicas; espécies de plantas eficientes para me-lhorar as propriedades físicas do solo; desenvolvimento (aprimoramento de equipamentos para semeadura/adubação em sistemas com palha); qualidade das operações mecanizadas, desen-volvimento de indicadores. • Eficiência de implementos. Geral: gostaria de sugerir à Agrisus a formação a partir deste workshop, de um grupo de estudos em SPD, pois fica evidente que é preciso conhecer o sistema como um todo. Nada caminha sozinho, palha, ervas daninhas, pragas, química e fertili-dade, física e mecanização são áreas totalmente dependentes. Precisamos estudar o sistema em mutidisciplinaridade. • Adequação de plantadeiras para o plantio direto; adequação do terreno para início do plantio direto. • Estudo de plantas melhoradoras/estruturadoras do solo e o reflexo no intervalo hídrico ótimo. • Principalmente trabalhos na área de mecanização e testes de máquinas e implementos; pesquisas, soluções para diferentes condições encontradas em campo e repassá-las ao agricultor. • Amostragem para propriedades físicas sem possibilidade de amostras compostas: pre-cisa ser mais bem estudada. Por que não uma plantadeira que use “agulhas” para introduzir sementes e adubos? • Acredito que o desenvolvimento de indicadores de qualidade física do solo será tão importante quanto saber que são gastas 10 t de terra para proteger 1 t de soja; indicadores que não fiquem onerosos ainda mais para os produtores. • Máquinas para aplicação de fertilizantes em área com muita palha. Matéria orgânica e estruturação do solo. • Pesquisar coberturas que sejam resistentes à seca e com sistema radicular volumoso e profundo. • Armazenamento de água no solo; qualidade das máquinas; agregação/compactação/raízes/palha; o papel da matéria orgânica.

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• Efeito das raízes sobre camada adensada. Minimizar a perturbação do solo pelo facão. • As máquinas, muitas vezes, não estão adaptadas às condições locais. Estão sendo re-solvidas suas limitações, alterando o manejo de culturas e não as máquinas. • Indicadores de compactação no sistema plantio direto; contribuição das raízes para reestruturação do solo. • Também nesse quesito, os conhecimentos são relativamente abundantes. No caso dos plantios diretos com deficiência de cobertura morta ou para a produção de silagem, existe a necessidade de pesquisa sobre a descompactação mecânica do posto com equipamentos dife-renciados. Particularmente, para o Estado de São Paulo, com características diferenciadas na cultura dos produtos e sistemas fundiários. É fundamental rever o modelo de transferência da tecnologia. Os conhecimentos existem. • Implementar estudos de distribuição radicular (raízes finas), sobretudo de plantas de cobertura em condições ambiente, em solos de texturas diferentes e em épocas distintas de se-meadura de plantas de cobertura, em condições agroecológicas distintas; distribuição espacial da fitomassa (verde ou seca); estudos de agregação e infiltração de água; máquinas com eficiên-cia no corte ou tombamento de plantas de cobertura (verde ou seca) em condições distintas. •Identificação de compartimentos de carbono do solo que podem ser indicadores de benefícios físicos e químicos do solo no SPD. Estudos envolvendo parâmetros morfológicos de raiz, bem como fisiológicos (exsudação) e relação com a estruturação do solo. • Em relação à qualidade física, a necessidade de quantificar ou avaliar a importância das gramíneas na descompactação do solo. • Fomentar rede de validação de rotações culturais nos diversos agro-ecossistemas bra-sileiros. Baseado nessas validações que são obrigatoriamente multidisciplinares, todos os gar-galos para desenvolvimento do SPD podem ser estudados e comparados, gerando um banco de dados que pode ser gerenciado pela Fundação Agrisus e seus parceiros. Em nossa opinião, o fundamental para o desenvolvimento de vários sistemas de plantio direto, de acordo com cada região, é a integração e relação dos vários tipos de manejo de palhada que já existem, de forma a validar a melhor estratégia que atenda às expectativas dos produtores rurais. Entendo que o conhecimento para coberturas geradoras do aspecto chave para o sistema que é a palha, já existe. Apenas precisamos consolidar um sistema de rotação de culturas que proporcione o incremento gradual e a manutenção da qualidade da matéria orgânica dos solos. O mercado tem sido o maior vilão, fazendo com que o produtor, com visão de curto prazo, não valorize a rotação de culturas. Plantio direto tornou-se uma excelente ferramenta para, com poucos recur-sos materiais e humanos, desenvolver o plantio da soja. E ante o monocultivo dessa oleaginosa em todas as regiões produtoras, as rotações de culturas já conhecidas nas diversas instituições que se dedicaram a testá-las nos últimos anos, não tiveram a oportunidade de agregar valor aos solos pela mentalidade imediatista. Entendo que as demandas pragmáticas de pesquisa vão acontecernaturalmentenamedidaemquenospropusermosadifundirosresultadosdessaredede informações. •Estudosqueaperfeiçoemodiscodecorteparaefetuar-seumafendadecorteenãosulcamento. Em geral, os estudos deveriam ser integrados em áreas pilotos, que acompanhem longo tempo estudos, que possam ser correlacionados entre as diversas disciplinas. É um desa-fio que teremos que enfrentar, mais cedo ou mais tarde.

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Mesa Redonda V

Rumos da pesquisa em Sistema de Plantio Direto

Moderador

Fernando Penteado CardosoFundação Agrisus

Participantes

Denizart BolonheziAPTA – Ribeirão Preto (SP)

Elaine Bahia WutkeInstituto Agronômico – IAC

Bernardo van RaijInstituto Agronômico – IAC

Isabella Clerici De MariaInstituto Agronômico – IAC

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Fernando Penteado Cardoso (Fundação AGRISUS):

Esta fase final de nosso workshop destina-se a ouvir, dos moderadores, comentários sobre os temas tratados nas sessões que tiveram a oportunidade de conduzir. Ao final, haverá discus-sãoabertadaquelesquequiserem,nãosósobrealgumassuntoquefoiomitido,massobreaeficiência, as finalidades e o resultado do workshop, além de sugestões a respeito de futuros.

O primeiro tema foi a mesa redonda sobre alternativas para a formação de palha e quem a coordenou foi o Denizart Bolonhezi.

Denizart Bolonhezi – Apta/Ribeirão Preto

Eu vou dividir os 15 minutos em três partes: na primeira, uma tentativa de sintetizar e não ficar repetindo o já comentado; na segunda apresentarei uma análise pessoal como pesquisador, o que eu vejo quanto ao tema e, na terceira, listarei algumas propostas que vislumbrei a partir da discussão e que podem ser discutidas e submetidas à plenária.

Síntese das apresentações: Acho que ninguém discorda de que a palha é imprescindí-vel. Vou lembrar o tema do Congresso de Solos que os colegas de Botucatu coordenaram em Ribeirão Preto, em 2001: “O alicerce do sistema de produção”. A palha é o alicerce do sistema plantio direto. Essa é uma condição que todos os apresentadores mencionaram.

Há muitas opções de espécies, muitas viáveis e muitos modismos. Isso foi apresentado também com muita propriedade pelo Fancelli e destacado por outros colegas.

Ouvi de muitos que produzir palha em São Paulo é fácil e o nosso foco principal aqui é o Estado de São Paulo, num primeiro momento, não é? Eu não sei se é fácil. Depois, na segunda etapa, vou apresentar o meu argumento do porquê não é fácil produzir palha.

Misturar espécies no sentido de coquetel foi mencionado também. Mais adiante, acho que essa é uma das propostas a serem estudadas.

O sorgo foi apresentado com mais aspectos negativos, relativos à alelopatia, do que a viabilidade da sua rebrota. Acho que é uma vantagem que ficou pouco destacada.

Durabilidade e quantidade de palha: Esses são aspectos importantes, não só a quantidade, mas a sua recalcitrância. Quanto tempo demorará para a palha decompor-se? Qual é sua resis-tência? Está diretamente relacionada com a relação C/N?

A gente sempre escutou falar do uso de braquiárias. Para mim, foi um aprendizado ter a oportunidade de aprender melhor como é que funciona. Foi muito salutar e temos que avaliar isso para São Paulo.

O emprego do Tifton foi uma das observações feitas pelo Ricardo Merola. É uma tentativa de uso de forrageira permanente que vai conviver com a cultura de cereais.

O uso de resíduo de planta daninha foi apresentado também por um dos colegas. Quer dizer, aproveitar a vegetação espontânea da área como produtora de resíduo, de palhada, de cobertura de solo.

OcustodeadoçãodeplantasdecoberturafoimuitobemabordadopelocolegaMolin,que mostrou quanto custa um hectare de aveia. Isso, às vezes, pode ser considerado como um entrave na adoção em muitas regiões em que se quer viabilizar o plantio direto.

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Falou-se de aspectos econômicos em algumas apresentações, e até com destaque, que não é essa a missão do experimentador num primeiro momento. Uma análise de custo não pode ser derivada de um experimento de parcela. Temos que ter toda uma ciência por trás, e essa é uma atribuição de outros colegas. Nós não devemos perder o foco da questão. Devemos levar em conta, mas não extrapolar a partir dos experimentos.

Falta de extensão rural e, conseqüentemente, falta convencimento para o produtor de São Paulo. A gente está mais na linha de frente, em contato com algumas regiões produtoras. Veja! Guaíra é exemplo da falta de convencimento. Fez-se um trabalho antigo lá. Hoje, o produtor que tinha construído o plantio direto, por não visualizar aquela palhada que vê nas revistas do tema e nos eventos, acha que não está fazendo plantio direto. Aí, acha melhor meter grade. Falta convencimento! Falta extensão rural!

Plantio direto no sistema de produção da cana foi um dos temas também abordados e que eu vou tentar depois dar uma contribuição nesse sentido.

Nesta segunda etapa, vou dar uma opinião, tentar elucidar um pouco esses temas que foram apresentados, dizendo um pouco do que penso.

Há um trabalho da década de 80, publicado na revista “Soil and Tillage Research” que lis-tou 14 itens importantes para estudar no plantio direto. Deve ter sido derivado de um workshop. Não me lembro da íntegra do trabalho. O primeiro item, uma prioridade, é manejo de resíduo. Vamos interpretar isso como palhada, manejo de palha. Esse é um aspecto importante também fora do País, em regiões onde a manutenção de resíduo na superfície é muito mais fácil, em vista do clima temperado. E depois, outros: rotação de culturas, máquinas... Muitos deles foram abordados dentro deste workshop, para mostrar que já há discussões na literatura mencionando essa importância.

Pouco comentado com relação aos solos paulistas. Não vamos conseguir chegar a ne-nhuma conclusão, nem quanto à alternativa mais viável, se não considerarmos que existe uma variabilidade de solo. Grosso modo, se traçarmos uma linha imaginária no mapa do Estado de São Paulo, teremos grande concentração dos Latossolos na região Nordeste do Estado e, a partir de uma linha divisória passando por Monte Alto em diante, uma concentração grande de material oriundo do arenito. Mais para o Oeste do Estado tem-se uma grande concentração de solos suscetíveis à erosão, com B textural, cujo manejo, inclusive para a produção de palha, deve ser diferenciado. Até alguns resultados que eu vi e que eu escutei aqui nessa manhã, são muito pontuais. Tem-se que levar em consideração que esse resultado foi obtido em um Latossolo Vermelho eutroférrico ou distroférrico; outro foi em Areias Quartzozas; outro ainda foi num solo que tem B textural. Quer dizer, a gente não pode desconsiderar a unidade de classificação do solo para poder interpretar os resultados.

Relacionemos agora o que foi falado com o clima. Por que eu acho que é difícil fazer palha no Estado de São Paulo? A resposta pode ser vista no balanço hídrico de Ribeirão Preto, de 40 anos da nossa Estação Experimental. Há uma grande incidência de períodos de deficiência hídrica. Lá nós temos um outono-inverno muito seco, com raras exceções, como neste ano, quando choveu em julho. A deficiência hídrica em números chega a 32 mm em setembro. Então, fica difícil ter cultura de inverno e sem ser irrigada. Mas, mesmo assim, em Guaíra, com deficiência hídrica em janeiro. O Heitor mencionou, hoje, que num daqueles resultados chegou a ter deficiência hídrica em janeiro. Então, não é fácil! É muito fácil para algumas condições como

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em área irrigada, mas a grande maioria dos produtores é de áreas de sequeiro, e há dificuldade de produzir, justamente, por essa razão climática. Não existe água no inverno.

As plantas de cobertura foram também muito mencionadas, às vezes, usando a termino-logia de adubação verde. Hoje, no conceito de plantio direto, “planta de cobertura” é bem di-ferente do conceito de adubação verde. Preconizava-se a incorporação para obter os resultados benéficos do adubo verde.

A planta de cobertura vai ser mantida em superfície com critérios importantes para a escolha, os quais listo aqui. Nós não vamos ter uma espécie com todos esses benefícios: alta relação C/N, que fixa nitrogênio, boa durabilidade, resistência a nematóide. Para cada região, vamos ter que, lembrando o Fancelli (não vamos ter receita de bolo), ajustar a espécie de planta de cobertura mais interessante para aquele sistema.

Vou destacar algo que ocorre com semeadura mecanizada. Não adianta dizer ao agricultor que ele vai ter que fazer a lanço e depois passar a grade. Estaremos começando errado. É pre-ciso viabilizar a semeadura mecanizada dessas espécies, ou usar o subterfúgio dos correntões e outras técnicas, que não seriam muito interessantes para São Paulo.

Vou entrar um pouquinho na parte de fitossanidade também. E que é bem o seguinte: o plantio direto é solução? Só se tiver rotação.

Temos como certo que a monocultura é um ambiente pouco complexo. O que nós vamos ter é número grande de espécies e pragas e potencial de inóculo alto. Só vamos conseguir viabilidade ao longo do tempo numa área em plantio direto, se houver diversidade no sistema. Aí a rotação de culturas strictosensu tem que ser aplicada.

Eu vou citar um exemplo para a gente entender como é difícil fazer palha. Em Ribeirão Preto, num ensaio de um orientado do Heitor, semeamos a aveia-preta em 1999, fizemos quatro irrigações. Em abril, chegamos a produzir quase 6.000 kg de matéria seca. Rolamos a aveia com rolo-faca e entramos semeando milho, que seria depois objeto de estudo de aplicação de N15. Havia todo um projeto em cima disso. Quando semeamos o milho, em início de novembro, a matéria seca, que era de 6 t, já estava com 4,5. Essa mesma matéria seca da aveia, na maturi-dade fisiológica do milho, tinha 2,6t. E nesse período, a relação C/N diminuiu de 56 para 22. A produção de matéria seca do milho, com a adubação antecipada e cobertura do nitrogênio, e a matéria seca do sistema radicular do milho. É mais para ilustrar que a aveia está descartada. Não vamos importar modelos para condições onde não se adaptam. Não adianta, a aveia não dá certo para região muito quente.

As outras opções: o sorgo. Comentou-se muito do sorgo como apresentando efeito alelo-pático. Existe o sorgo-de-guiné, com o qual o Crusciol teve um orientado que trabalhou bastante e nós temos uma vivência prática com ele em campos de produção de semente básica. É um material com semeadura em setembro/outubro (início das águas). No final (novembro/dezem-bro), manejou-se o volume de massa com roçadora de arrasto. Fundimos o motor de um trator nesse dia, com aquele pólen do sorgo-de-guiné. Mas é muito interessante, uma palhada que vai ter durabilidade grande na área.

Vejamos o caso do sorgo-granífero em março de 2000. Semeamos o sorgo com uma quantidade de chuvas que não passou de 180 mm no período. Produção média de 14 híbridos de sorgo, 3.000 kg por hectare. Qual é a produção de milho safrinha, em São Paulo, Fancelli? Sua média passa de 1.200 kg por hectare. O sorgo tem potencial muito grande de ser usado no

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nordeste do Estado de São Paulo e é realidade. É feito, mas poderia ser estimulado a se produzir mais desse cereal.

Após a colheita do sorgo em outubro, o pasto começou a rebrotar. E ficamos com o pasto seco em julho. Começou a chover: temos o pasto e o sorgo rebrotando. O milho não dá rebrota! A quanto chegou essa rebrota? Mais de 4t de matéria seca por hectare, viabilizando a semeadura do algodão em cima da palhada do sorgo. Em campo de sementes do IAC 23 mostramos que o sorgo tem potencial, com o dobro de raízes finas em relação ao milho. Possui todos os me-canismos fisiológicos para conseguir tolerar o período de seca. É uma cultura que dá lucro na safrinha e palha para o plantio direto. Acho que deve ser estimulado em São Paulo. Há alguns outros materiais que avaliamos inclusive com resultados de análise estatística. Alguns materiais passam de 10.000 kg por hectare, se somar a produção de resíduos deixada após a colheita mais a rebrota. Dez toneladas por hectare de matéria seca do sorgo.

Em área de Ribeirão Preto, fizemos onze anos de plantio direto contínuo, dos quais, nos últimos três, temos um ensaio de rotação. Entra uma proposta: o produtor que não conseguiu semear o milho no início das águas, para não semeá-lo em dezembro, que é o pior desastre, faz uma crotalária em novembro, e vai semear uma safrinha, favorecida em cima da crotalária rolada. Vimos exemplo de palha de crotalária de três anos seguidos. Estamos tendo acúmulo da crotalária, rolada em novembro do ano passado e, com o milho, um estande excelente.

É um dos tratamentos que a gente estava avaliando numa área que está há onze anos em plantio direto.

Essas são, talvez, algumas opções, só com comentários gerais.

Ou vamos tentar fazer palha em condição de sequeiro, ou vamos nos deparar com as duas fronteiras agrícolas de São Paulo: palha de cana-de-açúcar, que é uma realidade e pastagem no Oeste do Estado.

Consórcio. Temos o caso de amendoim convivendo com a cana. Nos primeiros 60 dias, aumenta 30% a matéria seca da cana. Por que não pensar em fazer Crotalaria junceaemcon-sórcio, semeando a crotalária antes do plantio da cana?

Pastagem. Pasto em rebrota, para ver o quanto há numa área em que se faz renovação de pasto com o convencional. No início do ano seguinte, só há guanxuma saindo na área e, no direto, o banco de sementes superficiais dá 4 t de matéria seca no início das águas.

Falandoumpoucodeplantiodiretoemcimadecana,bomresultadocomoamendoimem cima de palhada de cana, vinte dias sem chuva, amendoim superficial. Lembro aqui o problema de ajuste de semeadora. Aplicou-se o plantio convencional, porque o direto não tinha nem saído. Noventa dias depois, temos o resíduo da palha da cana, no meio do amendoim em pleno desenvolvimento. Dessa forma, pode ser arrancado mecanicamente com arrancador. Vai revolver solo? Vai, um pouco. Mas eu acho que é um sistema conservacionista, que a gente tem que investigar e aprender mais para estimular o produtor. Bom resultado com o amendoim no meio da palhada da cana.

Demandas de pesquisas: Ensaios de longa duração são imprescindíveis. Comecei a fazer minha lição de casa em Ribeirão Preto nos últimos dez anos. Acho que todas as Unidades de Pesquisa da Secretaria deveriam ter essas áreas para ajudar no convencimento regional do produtor. Ensaios permanentes, de longa duração. Rede paulista de avaliação de plantas de cobertura, de avaliação de ensaios, com variação no tempo e no espaço, que seja mecanizado, multidisciplinar e padronizado.

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Sistemas radiculares. Avaliar a contribuição, quantificar e avaliar a distribuição no campo. Ensaio em vasos ajuda muito, mas não traduz a realidade.

Avaliação de rebrota de sorgo. Acho que é uma demanda ajustar o modelo Santa Fé às condições paulistas.

Suscetibilidade de espécies de plantas de cobertura aos herbicidas dessecantes. Eu falo isso por experiência. Já tentamos oito litros de glifosato e não matamos feijão-de-porco. Crotalária, depois que floresceu, não morre com glifosato. Vamos fazer um ensaio, uma coisa simples, mas que ajude a viabilizar algumas dessas espécies. Manejo da fitomassa, usando herbicidas naturais.

A gente está testando o óleo fúsel, que é um derivado da destilação/fabricação do álcool, um subproduto da usina e que tem efeito herbicida não sistêmico, mas de contato.

Práticas mecânicas: Falou-se muito pouco sobre o rolo-faca, um instrumento imprescindí-vel para viabilizar plantio direto.

DestruiçãodesoqueiradecanacomousodeCrotalaria juncea. Não vai dar tempo para falar, mas há gente tentando semear em alta densidade e matar a soqueira da cana abafando. Isso pode viabilizar o plantio direto na cana orgânica.

Plantio direto de cana utilizando sulco raso para não ter aquele estrago que se vê com sulco de 40-50 cm de largura, que revolve o solo. Há, hoje, equipamento que viabiliza sulco que a gente nem vê onde plantou a cana. Precisa ser avaliado.

Consorciação da crotalária com a cana.

Semeadura da forrageira é difícil para fazer no plantio direto, em linha. Por isso, que muita gente opta pelo correntão e suas grades da vida.

Nós estamos atrás de muitos papéis e trocando pouca informação. Esse evento ajuda a tirar os papéis de cima da mesa para a gente conversar mais.

Havia uns slides da parte de cana que o colega, professor da Unicamp, fez alguns questio-namentos. Tenho os argumentos do porquê é difícil não ter compactação em área de cana. Não há jeito de não conviver com isso. Agora, pneu de alta flutuação é a saída?

Por outro lado, evitar fazer a colheita com solo úmido é impossível.

Muito obrigado.

Fernando Penteado Cardoso – Fundação AGRISUS

Minha impressão é que, além de se preocupar com a diferenciação do solo, devemos pre-ocupar-nos com as diferenciações de clima no Estado de São Paulo, em cujo território ocorrem sensíveis diferenças.

O segundo resumo dos trabalhos está a cargo da Elaine e refere-se às plantas daninhas e sua correlação e relações com a palha.

Elaine Bahia Wutke – IAC

Vou fazer uma apresentação contínua e integrada, pois, na realidade, não só os nossos apresentadoresedebatedores,comotodosaquelesqueparticiparamdadiscussão,sãoautores

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desse resumo que procurei fazer dos pontos apresentados, inserindo alguma coisa. Fui muita citada por causa da braquiária, então coloco alguma coisa exatamente para fomentar essa dis-cussão. Todos nós somos colaboradores do tema.

Alguns pontos que fui destacando com relação à fitossanidade e plantas daninhas daquilo que foi comentado. Não vamos poder colocar todos os exemplos mostrados, mas vocês vão se reconhecer em muitas das colocações.

A premissa de aumento da incidência de doenças ou não, que o Álvaro citou, tem ainda muitas dúvidas. Acho que se conhece bem a parte de fitossanidade. Mas no sistema plantio dire-to é preciso estudar bem para poder definir aquelas culturas que podemos colocar no sistema de produção em condições distintas. Tanto no tema solo e clima, como é que essas relações se dão em termos de controle, quais doenças ou quais plantas daninhas que aquela cultura propicia, fa-vorece ou não? Algumas condições no plantio direto, como maior umidade, para ver patógenos, maior severidade de microrganismos etc. Algumas coisas que já são resultados efetivos, como é que a gente pode traduzir na validação?

Alguns aspectos também da menor severidade de sucessões em plantio direto. Dos vários exemplos citados, tanto pelo Álvaro, como por outros colegas, a gente vê diferenças entre es-pécies, inclusive de patógenos controlados ou não. A preocupação de haver uma repetibilidade dessa tendência foi colocada pelo Fancelli. Às vezes, a gente recebe alguns trabalhos de resulta-dos conclusivos sobre plantio direto de um ano, de dois anos. Imagina a gente lidando com fa-tores bióticos, um ou dois anos. É muito difícil ter uma conclusão com apenas uma observação. Será que há repetibilidade? Conhecer melhor essas interações.

A severidade. Eu reforço a parte de clima, porque a gente avaliou durante oito anos alguns estudos de epidemiologia, além de rendimento para feijão, e vimos que isso é um fator muito grande. Às vezes, as coisas não se repetem todo o ano e a gente tem resultados surpreendentes.

Cito apenas algumas condições arroladas pelos colegas. Em algumas condições parti-culares, onde há menos doença no sistema plantio direto, ou em condição de seca, de menor precipitação, ou com menor distribuição espacial de estruturas. Explorar também a presença de antagônicos para determinados fungos, para aproveitar essa informação em nosso sistema de produção. A gente deve lembrar que, em cada região do Estado de São Paulo, vamos ter condições de clima e chuvas bem diferenciadas.

Qual a condição boa ou ideal de palha? Embora se fale ainda naquele número mágico de 7 t, há muita dúvida nos diversos sistemas. Vamos fixar em 7 t, ou temos que estudar mais isso?

Discutiu-se bastante que, em condições de muita palha, tanto podemos ter dificuldade no controle de infestantes, com mais prejuízos, quanto ter menor porcentagem de plantas infestan-tes. A semeadura da cultura subseqüente, como é que ela fica? Favorece ou é dificultada? O controle efetivo de infestantes pelas diferentes coberturas ou por diferentes quantidades?

A manutenção da biodiversidade foi algo que apareceu em várias das opiniões. Isso é um consenso em termos dessa manutenção no local e a sustentabilidade no plantio direto. Todavia, com uma preocupação para que se mantenha a redução de custos, ocupação da área o ano todo, com controle fitossanitário, visando à lucratividade. Porque, se eu sou produtora, o que me interessa também é dinheiro no bolso. Eu não vou plantar só para apreciar a natureza, preciso viver daquilo. Essa sustentabilidade tem que permitir que haja lucratividade. O aspecto

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de preservação ambiental também é algo que tem que ser levado em consideração, para que a gente não destrua os próprios recursos de produção.

Como estratégias, o Álvaro vai reconhecer-se aí porque é uma coisa interessante. Rotação de Culturas em maiúsculo, porque é consenso para a manutenção de biodiversidade. E para que isso ocorra, o Denizart já mencionou, é preciso a escolha acertada de espécies.

A gente tem muitas dúvidas e é para isso que estamos aqui reunidos, para definir coisas. Milho, milheto, braquiária. Eu coloquei braquiária lá, porque foi citada. Não é que eu seja inimiga de braquiária. Foi uma coisa para chamar a atenção. Para evitar que fique só um mo-delo proposto, ou algo como a única saída. Acho que a gente tem que explorar e aproveitar os benefícios do Sistema Santa Fé, mas há muitas opções também a se estudar.

O Denizart mostrou aquela área do Estado de São Paulo, onde temos uma fronteira com cana e uma com pastagem. Para não deixar o Afonso bravo, a gente tem que lembrar do Cristalino, que é uma região produtora de grãos. Há a área de fruticultura e a de hortaliças. Existem muitas outras situações de sistemas de produção. Por isso, estou fazendo essa ressalva da braquiária, para trazer essa discussão também.

Uma coisa muito interessante é a época adequada de semeadura. No Estado de São Paulo, em determinadas regiões, particularmente onde o Denizart está trabalhando, a gente tem condições de deficiência hídrica e de temperatura que, às vezes, limitam a escolha de al-gumas espécies, no caso, de leguminosas de verão. Mas há várias outras coisas que a gente pode adequar, entrando não só no aspecto de zoneamento, mas puxando também o pessoal do melhoramento. Está faltando muita coisa de melhoramento de espécies de cobertura para aproveitar o sistema radicular. Há coisa muito interessante para a gente estudar.

A questão de sementes sadias também foi lembrada. Não adianta a gente falar tudo no papel, e começar, em termos de fitossanidade, usando sementes não sadias.

Aspectos de supressividade de patógenos, principalmente radiculares.

Os aspectos de alelopatia, não como alguma coisa muito específica, mas de um modo genérico.

A eliminação de substâncias e a sobrevivência do patógeno, para controle também de pragas e nematóides.

O manejo e o preparo do solo. Várias das situações que foram novamente mencionadas em outras seções.

A resistência genética também acho que falta. Precisa de gente trabalhando em melhora-mento. Muitas das leguminosas, adubos verdes, não têm problemas de pragas e doenças, por-que não são culturas comercialmente estabelecidas. A partir do momento que a gente começa a usá-las, começam a aparecer também os problemas.

O controle químico ou biológico como estratégias dentro dessa área de fitossanidade e infestantes.

Como muitas coisas são linhas de pesquisa e são demandas, não separei. Fui colocando na medida em que os assuntos se aproximavam.

Além de avaliar na rotação de culturas, não só a produtividade, mas sua economicidade. Avaliar os efeitos positivos, principalmente no solo, que a gente não visualiza prontamente, como supressividade, relação de antagonismo, explorando aspectos de coquetel. Conhecer melhor a sobrevivência diferenciada nos coquetéis, porque há muita dificuldade de ter uma manutenção

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de uma ou outra espécie em determinados coquetéis numa quantidade necessária. Nessa área, os estudos vão ser distribuição e qualidade da palha e seu manejo.

Eu cobro muito do Afonso a adaptação de máquinas, principalmente no caso de legumi-nosas, no manejo da fitomassa verde. É algo que a gente tem muito que trabalhar.

Redução de doenças por espécies de inverno. Ainda falta muita informação, principalmen-te aqui em nossas condições.

Avaliar essa repetibilidade de tendência no controle de doenças. Ver se isso se comprova ao longo do tempo. Concordo com o Denizart, que é preciso fazer ensaios de longa duração. Os ensaios em rede são muito bons porque a gente pode explorar uma região maior.

Medidas de controle integrado. Conhecer melhor o que a gente tem de novo para doenças e pragas. Hoje em dia, um pessoal de Jaboticabal está desenvolvendo uma linha de aproveita-mentodepólendealgumasleguminosasparaocontrolebiológico,paraalimentaçãodeinsetospredadores. Conhecer essas possibilidades de controle, das quais, talvez, a gente não saiba muita coisa. Há muito campo para estudar!

Entendimento da alelopatia, como diz o Fancelli, de uma forma genérica. Temos uma visão muito simplista ou reduzida.

Das limitações fitossanitárias. Um maior entendimento desses processos e das observações no campo. Precisamos ir ao campo verificar o que está acontecendo. Às vezes a gente pode até prever o que vai acontecer, mas indo lá a gente sente muito mais de perto.

Os estudos da dessecação antecipada. Não temos muita certeza sobre determinadas cultu-ras, por isso a gente deveria estudar um pouco mais.

Os estudos microbiológicos e bioquímicos não são fáceis. Sabemos que há uma carência muito grande, até de pessoal, nessa área de microbiologia, mas são coisas muito interessantes. É preciso estabelecer relações, particularmente no caso de leguminosas, de rizóbios e de gramí-neas, para que a gente possa entender cada vez mais os processos.

O estudo dos compostos químicos sinalizadores. Uma contribuição do professor Ciro. Isso aqui na literatura é uma coisa a ser bastante explorada, existe um campo bastante amplo para isso no controle de sanidade e de plantas daninhas.

As ações para manejo de restos de culturas e daquela grande quantidade. Houve o exemplo da cana. Como é que a gente vai conseguir manejar uma grande quantidade? Estudos sobre causas de redução da produtividade, particularmente alguns itens que já foram falados. De maneira integrada, aproveitar nossos experimentos para conseguir tirar uma ou várias informações?

Produção de palha em determinadas condições. Nós temos essa condição do Norte-Noroeste do Estado de São Paulo, com um problema de produção de palha. Um fator às vezes limitante. Chegar num estudo que defina qual é a quantidade de palha que se consegue fazer.

A parte de produção orgânica em plantio direto. Há uma demanda nesse setor aqui de hortaliças, de grãos e também de fruticultura, ou perenes, com um campo grande de trabalho de como manejar mais adequadamente na área de fruticultura, para não haver problemas.

Mais algumas demandas faladas por uma ou mais pessoas. Como a reunião de hoje é um fórum nacional, é interessante que a gente se encontre e que seja discutida a definição de prio-ridades das linhas de pesquisa, com correção de rumos. A discussão de práticas e resultados,

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aproveitando experiências diferentes, reavaliando conceitos dentro do contexto da agropecuária nacional.

Trabalhos integrados: acho que isso é muito eficiente e positivo. Parceria para mim nun-ca foi algo muito novo. A gente sempre trabalhou com o agricultor, com colegas da Casa da Agricultura, com cooperativas. Acho isso muito salutar e muito gostoso.

Uma demanda para as agências de fomento de considerar as prioridades, as pesquisas complementares e interativas. Dependendo da época em que a gente está, existe uma linha de pesquisa que vira modismo. Ou é genoma, ou é sistema de produção. Se você não está ali encaixado, você dá um jeitinho no projeto, porque não sai financiamento se não está dentro da palavra da moda.

Treinamento de agricultores. Treinamento nosso e de colegas da extensão, no nosso caso em São Paulo, Secretaria de Agricultura.

As unidades demonstrativas, os dias de campo, são muito interessantes. Acho que a gente aprende mais do que ficar com o agricultor apresentando alguma coisa na sala, mostrando uma foto. No campo é algo que dá muito retorno. Eles gostam de ver, pegar e sentir que dá resultado.

Temos um problema sério e que a gente acompanhou o início, o meio e não sei se já está no fim: o da municipalização das Casas de Agricultura em São Paulo. Foi muito ruim, porque os colegas tinham dificuldade de ser liberados para acompanhar em campo, tal como vinham fazendo.

Estabelecer o calendário agrícola regional. Hoje, a gente vê muito no Estado de São Paulo, de repente, há soja o ano inteiro. A soja plantada o ano inteiro traz o problema da manutenção da mosca-branca, que pode trazer outros problemas, como a virose, ou necrose da haste, que está aparecendo em feijão e era uma doença em soja. Você começa a ter a ferrugem-asiática que, além da parte de clima, você mantém o hospedeiro.

Estabelecendo um calendário, a gente consegue, inclusive visando à fitossanidade, fazer com que a época não coincida com aquela que favorece o desenvolvimento dos microrganismos.

Política de preços. A não-extrapolação de algum parecer para outra região. Se você tem uma região fronteiriça de São Paulo com o Paraná, às vezes, até consegue extrapolar. Não generalizar.

Essa é a última.

Algumas coisas coloquei lá, mas a maior parte foi contribuição de todo o grupo. Visando ao aspecto de fitossanidade, ainda bem que há muita coisa para estudar, porque senão não estaríamos aqui.

Fernando Penteado Cardoso – Fundação AGRISUS

Chamou minha atenção, e acredito que a de outros companheiros, o foco que você deu à sustentabilidade do plantio direto. É preciso que as medidas desse plantio visem sempre que ele seja permanente e sustentável.

Você mencionou a palavra da moda. Acho que a menção de biodiversidade ligada ao plantio direto é mais uma palavra da moda do que outra coisa.

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Vamos ouvir, agora, o resumo daquilo que foi dito na Mesa Redonda Qualidade Química do Solo, que foi coordenada pelo Bernardo van Raij.

Bernardo van Raij – IAC

Eu tentei pinçar alguma coisa, não na ordem da apresentação, mas por assunto. Vários apresentadores trataram do mesmo assunto, mas não repetiram, porque é tão complexo, que sempre há maneiras diferentes de apresentar.

O primeiro ponto em que se fala muito em plantio direto: acúmulo de matéria orgânica no solo. Eu gostaria de frisar a qualidade de solo. Nós estamos pensando no solo para abaixo da palha. Palha para a gente não é solo.

A turma da fitotecnia que trate de providenciar as plantinhas bem adequadas, que nós vamos ver o que aconteceu. Sob esse aspecto, acho que é extremamente importante a gente ter curvas como aquela que o Júlio apresentou para a soja. São informações fantásticas, que em pouquíssimos lugares há. Aquela curva de 22 anos, mostrando o acúmulo de carbono: subiu até 800 kg por hectare, por ano e, depois, eu acho que não estabilizou, mas chegou até 200 kg por hectare. Acho extremamente importante a gente obter esse tipo de curva, mesmo que seja nas áreas de produtores. Fixar uma área e ir todo ano tirar uma amostra. Em várias áreas do Brasil, talvez, sem fazer experimento. Ter a área convencional do lado também e a gente colecionar essas curvas. Acho que isso seria extremamente importante.

E aí eu chamaria a atenção! Na hora em que vocês forem fazer esse tipo de estudo não usar matéria orgânica de laboratório de rotina. Façam matéria orgânica bem feitinha, métodos da pedologia. Tirem a densidade do solo para poder calcular em quilogramas por hectare (kg/ha) e façam o nitrogênio total. Podem usar o velho método de determinação de Kjeldahl, o que também é extremamente importante.

Fala-se só em seqüestro de carbono. O pessoal do seqüestro de carbono está-se aproxi-mando do plantio direto. Logo, vamos precisar de informação de como se tira amostra, como se mede e as perspectivas. Vamos ter que preparar isso.

Para cada 10 kg de carbono, é preciso 1 kg de nitrogênio. Isso é pouco falado. Fala-se em seqüestro de carbono, como se o carbono para entrar na planta não dependesse de mais nada. E depende de elementos que custam dinheiro, custam caro. Acho que esse é um ponto crítico de a gente obter informações.

Experimentos seriam ótimos, como aqueles do Centro da Soja, mas se não houver expe-rimentos em áreas bem georeferrenciadas de produtores. Nós podemos fazer esse acompanha-mento com o passar dos anos, inclusive, para subsidiar, se alguém quiser ganhar um dinheirinho vendendo cotas de seqüestro de carbono.

Outra coisa extremamente importante é avaliar acúmulo de matéria orgânica no solo por essas diferentes coberturas. Temos que saber o que elas estão colocando lá dentro do solo. O Dr. Cardoso adora braquiária e eu fiquei fascinado com a quantidade, o aumento de carbono que a braquiária proporcionou. É extremamente interessante aquele resultado. A matéria orgânica existe no solo em profundidade. Como é que ela entrou lá? Provavelmente, a maior parte foi raiz mesmo, pensar que há milhares de anos acumulando.

Então, é isso aí com relação à matéria orgânica.

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Com relação ao nitrogênio, acho extremamente valiosos os resultados apresentados pelo Heitor, que mostram que a época de aplicação é importante. A gente precisa de muito cuidado com isso, porque tem sido divulgado que se pode aplicar antes ou depois. Isso vai depender de clima.

Outra coisa importante. Plantio direto perde mais nitrato do que plantio convencional, pelo simples fato que percola mais água, pelo menos a literatura fala isso. Nos primeiros anos de plantio direto, tem-se que pôr mais nitrogênio do que no convencional e depois, com o tempo, equilibra. Com soja tudo muda. Mas no começo tem muito mais chance de perder nitrato e herbicida também. É o conceito da gente: a água lá é para escorrer, então, leva mais coisa. Não tem jeito!

É extremamente importante separar hipótese de realidade, e separar dúvidas que nós tenhamos para não misturar com hipóteses. Muitas hipóteses são tão repetidas nas reuniões de plantio direto, que viram fatos. Precisamos de um cuidado grande nisso.

O nitrogênio é elemento chave de produção agrícola, o que mais usa e o que mais movimenta.

Perdas por lixiviação. Acho que precisamos entender isso melhor.

Já falei que, no plantio direto, percola mais; se não houver, porém, raízes no subsolo, o nitra-to vai embora e aí nós temos o problema de contaminação de água subterrânea. Principalmente em região de pecuária intensiva junto com plantio direto.

Perdas com uréia na palha. O Heitor mostrou que é problema crítico do nitrogênio. Uréia, sem dúvida, é o adubo preferido hoje da indústria, o mais econômico de fabricar. É, porém, ex-tremamente complicada sua colocação no plantio direto. Esse é um negócio que requer estudo. Precisamos reduzir e minimizar perdas.

O nitrato de amônio não sei se vai continuar. O presidente americano queria eliminá-lo, porque dá para fazer bomba. E é um adubo interessante. Imagine, a gente quase nem consegue comprar! Aliás, consegue comprar saco de adubo e não consegue comprar vidro de laboratório.

Com relação ao nitrogênio, uma outra coisa que acho que não foi mencionada, mas que precisaria cuidar, é a perda por desnitrificação. Na literatura, é uma grande causa de perda de nitrogênio no solo e, havendo palha no solo e energia para os microrganismos, ela ocorre mais depressa. Em qualquer período de chuva intensa que o nitrato fique lá, com redução, pode haver perdas. Precisava dimensionar essa questão.

A fixação de nitrogênio por gramíneas é um campo fascinante e o pessoal da microbio-logia tem um trabalho muito confiável. Não dá para justificar a cana que é colhida hoje com todo o nitrogênio que se coloca. Está faltando nitrogênio. Só que o pesquisador Segundo, do Rio de Janeiro, garantiu que é muito mais difícil do que Rhizobium. O mecanismo é muito mais complexo. Não são aquelas batatinhas que ficam do lado de fora da raiz jogando nitrogênio para dentro. O microrganismo está mais integrado com a planta.

Agora, quando você não tem controle, é difícil saber quanto e onde vai ocorrer. Talvez a gente tenha que estudar isso também.

Aí vem a questão de amostragem de solos. Acho que é preciso muito cuidado e também, manter a nossa referência. Em qualquer laboratório do Brasil a referência é 0 a 20 cm. Se a gente quiser, pode ter simpatia por 0 a 10 cm, 0 a 5 cm, mas é 0 a 20 cm. Quem fizer pesquisa

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de profundidades, pelo menos, mantenha essa referência, senão a gente perde totalmente a comparação de resultados. E o que acontece? Você amostra uma camada mais rica, porque a parte de 10 a 20 centímetros é mais pobre. Eu já vi trabalhos em que colocam teste do calcário e reduzem a adubação. Acho que isso não dá para fazer assim, sem melhor estudo, principal-mente com calcário.

Uma vez um pesquisador da África do Sul disse que lá, eles preconizam muito a calagem pelo alumínio. Um pesquisador estava fazendo a apresentação, mostrando as vantagens do cri-tério do alumínio. Outro, do meu lado, falou um palavrão e disse: “é por isso que os nossos solos estão com uma acidificação de subsolo que nós não estamos conseguindo corrigir”. Colocar pouco calcário vai acidificar embaixo e vai ser muito difícil corrigir. Precisamos ter muito cui-dado com isso e acho que é um estudo que requer pesquisas urgentes para conceituarmos. Por que calagem para plantio direto? Honestamente, estou confuso e há mais gente confusa por aí. Precisamos conceituar e definir porque, se cada um parte para um lado, fazendo de um jeito, vamos ficar perdidos.

Falar de confiabilidade de laboratórios é um problema com o qual estamos sempre lutan-do. Existem dois sistemas, praticamente, de métodos diferentes. Se me perguntarem direi que o nosso é melhor. Não pergunte, então! Mas existe um pequeno problema do plantio direto que é muito curioso: a camada dos insolúveis. Põe-se calcário no solo e aquele calcário, principalmen-te aquele que não presta (não reativo), vai ficar deitado lá. Mesmo o calcário bom vai depender da acidez que entra com o nitrogênio amoniacal, através de folha de soja ou de adubo, para dissolver. Sempre haverá uma camada de calcário deitada e de fosfatos reativos ou até não-re-ativos que se colocam de vez em quando. Conforme a análise que vocês fizerem, medirá coisas a mais, principalmente fósforo.

Acho que a gente devia desenvolver métodos de laboratório para medi-las. Por exemplo, esse calcário residual, não é difícil fazer um método para medir. O cidadão recebe o seu resul-tado de análise e vê uma informação: tem tanto mais de calcário que não dissolveu ainda e que está lá. Isso é fácil de fazer e devíamos colocar isso na praça.

O que mais?

Correção de acidez. Bom, as apresentações deixam dúvidas de uma coisa: para que a gente faz calagem?

Sempre se entendeu que com a calagem se corrige o solo para que as raízes possam se de-senvolver. O que atrapalha as raízes é, principalmente, o alumínio e, dependendo de variedade, atrapalha mais ou menos, e também a falta de cálcio, mas que não é o problema principal.

A gente fica em dúvida. O plantio direto pode sobreviver só com aquela camada de solo de 0 a 5 cm, 0 a 10 cm ou 0 a 20 cm? Ou será que a parte debaixo também interessa para a planta se desenvolver bem? Essa é uma coisa realmente polêmica. Pelos dados que vimos aqui, a coisa não desce muito quando o calcário é aplicado na superfície. Afeta muito pouco a camada de 10 - 20 cm. Cria uma dúvida muito grande aí.

No plantio direto, a gente tem dúvida de quanto aplicar, mas não de onde aplicar, porque o pessoal só aplica na superfície. Eu propus um experimento em Campinas, sendo um dos tratamentos a incorporação do calcário. O pessoal não gosta, quer bater na gente. É um tabu, não pode mexer na coisa! E há uma diferença! Qual é?

Quando você tem o calcário deitado na superfície, ele depende da acidez entrando para dissolver. Quando você o incorpora, ele dissolve. Ele vai dissolver, mesmo que demore tempo,

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mas ele está lá em contato com o solo. E aí vem uma explicação. Por que grande parte dos nossos experimentos de agricultura convencional dava um desenvolvimento radicular muito grande? Porque todo o ano você vai lá e ara, passa a grade, arrebenta com a matéria orgânica e solta o nitrogênio. O que está descendo é nitrato de cálcio, que é excelente para a raiz descer. Muito melhor que gesso, porque, além de estar o cálcio, está o nitrato. A planta gosta muito mais de nitrato do que de sulfato. Não há nem dúvida.

Essa é uma explicação. Na hora que você entra com o plantio direto, se parar com esses processos, não desce mais nitrato.

Uma dúvida. Pelos trabalhos que vimos do Mato Grosso, a gente fica pensando naquela calagem de formação do plantio direto. Não havendo restrição financeira, a conclusão a que se chega, com os dados que o Leandro apresentou, é que se deve botar duas vezes mais a quanti-dade recomendada. Se a parte econômica não for importante, parece uma recomendação muito boa, e daí incorporar o melhor possível.

O que nós precisamos estudar um pouco mais é o papel do nitrato na correção do subsolo. A literatura mostra muito bem que o nitrato, descendo e sendo absorvido, deixa o resíduo alcali-no. É fácil. Você pega a tabela de grau de acidificação do adubo e vê que o nitrato de cálcio é um adubo que alcaliniza. Então, o que está descendo com o nitrato? Cálcio, magnésio, potássio. Isso preocupa. Se não está havendo correção da acidez de subsolo, ou é porque não está lixiviando nitrato nenhum, ou é porque a raiz não está pegando.

Em todos esses casos que tem anos de plantio de milho, ou nada de nitrato foi lá para baixo, o que é difícil de imaginar, ou o nitrato foi e passou direto, porque a planta não absorveu. Porque se a planta absorve, ela aumenta o pH. Acho que é outro campo fascinante de estudar. Não deu tempo de o Caires falar do gesso, mas é outro aspecto que precisamos estudar no contexto do plantio direto.

Alguns temas que a gente deixou aqui:

Toxicidade de alumínio para diferentes variedades.

Deficiência de cálcio.

Absorção de nitrato.

Fertilidade do subsolo é uma área em que a gente deveria pensar, para estudar toxicidade de alumínio, deficiência de cálcio, absorção de nitrato, desenvolvimento radicular, absorção de água em profundidade, perdas de nitrato, potássio e magnésio.

Fernando Penteado Cardoso – Fundação AGRISUS

Essa matéria orgânica ou seqüestro de carbono em função do plantio direto ou de pas-tagem foi muito bem estudada pelo CIRAD, em Lucas do Rio Verde. Vale a pena lembrar que existem dados muito interessantes a esse respeito. Dados mensurados.

A respeito da dificuldade de uréia, ela tem que ser resolvida pela parte de mecanização. A uréia é imperativa, não haverá outro adubo nitrogenado em quantidades no mundo. Então, é engolir a uréia mesmo e achar um jeito de utilizá-la.

E, finalmente, esse assunto fascinante de fixação de nitrogênio por gramíneas. É preciso concentrar para ver a maneira de incentivar, porque dá uma economia muito grande se nós

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pudermos ter nitrogênio, como ocorre na cana. Nada explica o nitrogênio que a cana está retirando, o que deve haver é uma fixação.

Para terminar a exposição dos moderadores das várias mesas redondas, a Isabella Clerici De Maria vai analisar aquilo que se falou sobre a parte física e de mecanização.

Isabella Clerici De Maria – IAC

Como o Denardin definiu bem, a qualidade física do solo é a fertilidade deste, talvez, o seu componente principal.

Segundo Ralisch, a compactação sempre existe no sistema plantio direto e também é preciso considerar o problema de desagregação do solo. Não é a compactação, é a desagre-gação do solo e precisamos aprender a conviver com essa compactação, porque ela existe e vai estar lá.

Em relação à qualidade física, o que foi discutido é que romper o solo não resolve, princi-palmente com o sulcador de adubo. E qualquer movimentação, de acordo com o Ralisch, não é mais plantio direto. Qualquer operação que se faça de movimentação, não há mais o sistema plantio direto.

Na verdade, não tenho certeza se concordo com isso, uma vez que o próprio Ralisch tinha dito na sua apresentação, o plantio direto nada mais é do que revolver o solo o menos possível, preparando aquela cama para a semente.

Ainda existem, porém, muitas dúvidas a respeito de níveis de compactação e produtivida-de. O que a gente mede como compactação do solo e que mostra valores elevados de densidade ou de resistência, não se traduz em diferenças de produtividade. Essa é uma questão que ainda existe na física do solo em relação à compactação.

No tocante às máquinas e, obviamente, da semeadora, o destaque é que é preciso que a máquina faça um bom contato semente-solo, que é a coisa mais importante, até mais importante que a cobertura. Mais importante do que ter todo o solo coberto ou voltar a pôr palha em cima do sulco, é fazer esse sulco bem feito, para garantir contato com a semente.

Colocar a semente e o fertilizante no lugar certo. O facão não é escarificador nem deve ser.

Destacou-se, também, como problema na questão de máquinas. As próprias empresas fabricantes precisariam ter mais engenharia mecânica na concepção da máquina para o plantio direto e mais atenção ao agricultor que a está comprando.

O Afonso destacou-nos a eficiência operacional bastante baixa. Nesses trabalhos que ele faz, sempre verifica isso. E levantou dois problemas: a falta de indicadores de qualidade opera-cional, que precisam ser trabalhados, e o problema de extensão, de o agricultor entender que essa eficiência operacional é muito importante para conseguir produtividade.

Como chaves para o sistema, como destacou o Denardin: Carbono, raiz e rotação de culturas, naquela apresentação bem clara que ele nos fez.

Precisamos de mais fitomassa do que aquilo que mineraliza. Esse talvez seja o limite de quanto de palha a gente precisa. E, principalmente, conhecer o processo. O papel da pesquisa, pelo que a gente conversou, é conhecer o processo. E no fim, quem faz as adaptações e o dia-a-dia é a assistência técnica com o produtor. O papel da pesquisa está mais em entender e

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conhecer o processo, principalmente em relação à rotação de culturas, o que casa um pouco com o que a Elaine tinha resumido da parte do problema de doenças e pragas.

Ficou ainda a questão levantada rapidamente pelo Denardin, da amostragem para a qualidade física. Ele levantou o problema de como avaliar a qualidade física do solo. Falou rapidamente, acho que como uma crítica para muitos de nós, sobre trabalhos que já foram feitos há muito tempo com o sistema plantio direto, comparando sistema plantio direto com o conven-cional. São trabalhos que continuam sendo feitos e a que gente também recebe para publicação, amostrando densidade a 0-10, 10-20, 20-30, 30-40 cm. São resultados que a gente já conhece e sabe, de aumento de densidade. Essa é uma questão que precisa evoluir ainda.

Resumos para área de pesquisa:

Na questão de máquinas: discos e mecanismos. O Afonso destacou o problema da con-cepção do disco, da maneira como é feito, da distância entre furos, o material, dos mecanismos das máquinas; da relação solo-máquina, de como é que se faz para reduzir compactação do solo, já que o solo vai compactar mesmo.

Questão de pesquisa em raízes de plantas que conseguem descompactar. Uma questão importante, que foi bem levantada aqui, e a gente já tinha comentado no café. A gente vê o nabo e fala: “esse negócio faz um buraco no solo, então, vai descompactar”. Só que a gente está vendo que não é bem assim. Acho que precisa ser mais estudada a importância de outras raízes na descompactação.

Os indicadores de qualidade do solo. Voltando à questão que o Denardin falara, de ficar medindo densidade de 0 a 10 cm 10 a 20 cm. Estudar a morfologia do solo e evoluir a pesquisa ou os indicadores nessa área de física do solo. O que vamos medir? Precisamos evoluir um pouco mais.

Indicadores de qualidade operacional, como tinha destacado o Afonso.

Mapas de risco. Acho que o Ralisch comentou a importância de mapas de risco. Mas, na verdade, o que a gente precisa é conhecer o processo, para estabelecer tais mapas.

O Afonso destacou a geração participativa de tecnologia como um ponto bastante impor-tante. A gente entender e conhecer o problema para poder resolvê-lo.

Procedimentos estatísticos na física do solo, que talvez precisem ser mais difundidos e que podem ser usados, além da estatística normalmente utilizada.

O progresso do sistema plantio direto na física do solo e nas máquinas, pelo que a gente discutiu aqui, passa principalmente por extensão e treinamento. Pareceu-nos que o problema maior até o momento não é a pesquisa, mas, principalmente, extensão e treinamento.

Existem problemas com o modelo de assistência técnica atual. Nós temos dias de campo etreinamento,masdamaneiracomoestãosendofeitos,parece-mequenãoestãofuncionandoadequadamente. Precisaria mudar isso de alguma forma. Surgiram até algumas propostas para essa extensão e treinamento na física do solo e nas máquinas e que são extensivas a todo o sistema plantio direto.

O Denardin comentou conosco uma experiência sua no Rio Grande do Sul, de formação de grupos de assistência técnica para fazer treinamento, com tarefas e tal. O Afonso sempre vem destacando a importância de agricultores-parceiros, que estão relacionados com a geração participativa de tecnologia. Eles ajudam tanto na questão de uma pesquisa necessária quanto para difundir mais o progresso do sistema plantio direto.

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O sistema plantio direto precisa muito da visão multidisciplinar. Nós vimos alguns pontos que foram levantados quando se falou da questão de máquinas e física do solo, que envolvem as outras coisas que discutimos aqui.

Adubação do sistema e não da cultura. Isso tem a ver com máquina e com adubação. Essa pesquisa multidisciplinar é muito importante. É preciso entender o problema do agricultor, para saber porque é vantagem para ele fazer adubação do sistema e não da cultura. Entender todo esse processo é muito importante.

Semear antes de colher. Temos que conhecer as dificuldades que o agricultor vai ter de colocar a semente quando a outra cultura já está lá. O que a máquina tem de fazer? Se é a lanço, como é que isso vai ser feito?

O terraceamento. Foi levantado porque o agricultor tirou o terraço. Porque tinha uma dificuldade de mecanização dentro de uma nova realidade. A gente tem que entender isso para poder achar uma solução.

Para terminar, vou explicar o que é SP Direto.

O Afonso criou o SP Direto, porque queríamos fazer um Simpósio Paulista do Plantio Direto. Hoje chamamos nosso grupo de pesquisa da Secretaria de Agricultura como SP Direto, que é o Sistema Plantio Direto em São Paulo. Esse grupo de pesquisa tem-se reunido com regu-laridade. Uma das coisas importantes que temos feito é tirar os papéis da nossa frente e sentar para conversar, entender o que o outro está fazendo. Fomos a Votuporanga, o Waldo mostrou seu ensaio e discutimos. Pessoas de diferentes áreas, com diferentes culturas, com diferentes formações vão lá e discutem, em cima do ensaio, o que pode ser feito e o que não pode ser feito. Isso tem sido muito enriquecedor.

Fernando Penteado Cardoso – Fundação AGRISUS

No resumo feito pela Isabella, chamou-me a atenção o assunto das raízes das plantas para vencer a camada adensada encontrada no subsolo a 15-20 cm. Confesso que não vi nenhuma fotografia de raízes atravessando essa camada e eu acho que gostaria de receber; ou é um desejo meu, ou existe de fato.

Também me chamou a atenção a necessidade de estabelecer parâmetros de densidade que se relacionam com a fertilidade e produtividade. Quais são os parâmetros que indicam quando a densidade é prejudicial?

Não vi nenhuma menção nesse nosso workshop, da maneira de fazer medição da parte física. Temos o penetrômetro e o permeâmetro, que não foram mencionados, e acredito que temos que criar a rotina de medir algumas características físicas. Uma preocupação é tirar uma amostrinha e mandar para o laboratório e depois ter a sensação de que é um farmacêutico a indicar o melhor remédio. A física ficou mais ou menos renegada, o que é uma pena.

A assistência técnica é da maior importância, mas não era objetivo deste workshop quando o concebemos. Temos que chegar a pontos comuns sobre o que dizer ao lavrador, porque se complicarmos muito a explicação, ele fica tímido. Estamos tentando resolver a parte agronômi-ca, de dizer ao agricultor o que dá certo.

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Está aberta a palavra para quem quiser fazer comentários gerais, sejam técnicos, dos pontos que chamaram mais a atenção, ou sobre a maneira como conduzimos esse workshop e como poderemos aproveitá-lo numa rede no futuro, discutindo a parte técnica.

Evidentemente, poderemos ter eventos para discutir como levar os conhecimentos e as melhores práticas ao lavrador. Mas seriam outros tipos de trabalhos.

Discussão da Mesa Redonda

Ivo Mello – Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha (FEBRAPDP)

Como não sou pesquisador minhas sugestões são mais de ordem de organização institu-cional, daquilo que estamos fazendo aqui hoje. A minha sugestão é que essa iniciativa tenha continuidade. A gente oferece a Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha (FBPDP), que é uma instituição guarda-chuva, com outras instituições interessadas no sistema, associações de produtores, instituições de ensino e pesquisa, empresas do agronegócio, para que a FBPDP possa ser a catalisadora de toda a iniciativa. Essa é a proposta da Federação e nos colocamos à disposição para, em parceria com a Fundação AGRISUS, sermos catalisadores de energias. A gente entende que, por tudo que foi falado aqui hoje e mostrado nas várias experiências dos que foram convidados, que, de alguma maneira, estamos desconectados. Há outros tantos pesqui-sadores que não estão aqui hoje e que têm experiências tão boas quanto, ou até um pouco mais detalhadas do que as desse time que está aqui dentro, mas estamos desconectados.

A gente sabe, e não poderia ser outro o resultado, que a cobertura de solo e resíduos é o fator chave/fundamental. Nós não vamos inventar a roda. Quem inventou e defende o plantio direto, defende-o há bastante tempo. A forma como isso vai se tornar a melhor estratégia de ocupação dos espaços rurais será mostrada pelo desenvolvimento e aprimoramento dos siste-mas em uso e aqui mostrados.

Ciro Antonio Rosolem – UNESP/Botucatu

Então, vamos fazer de fato o SP Direto.

A brincadeira vem ao encontro de uma coisa que eu estava pensando. Acho que pensaria mais no nome da Sonia para isso. Por que não sonhar com um grande projeto paulista de plantio direto? Acho que isso aqui é um embrião fantástico e que a Sonia seria uma pessoa espetacular para organizar essas coisas. Dei o troco da fitopatologia.

E, rapidamente, uma sugestão. Não sei se há no IAC alguém com facilidade para mexer com isso. Poderia começar com um site e a gente disponibilizaria todas as teses que temos, trabalhos publicados etc., que pudessem começar essa rede de informação.

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Isabella Clerici De Maria – IAC

Deixe-me só responder para o Ciro. A gente está começando com algo pequeno, mas a idéia é ter todo o mundo. A idéia de um site de informações também já tinha sido levantada pelo grupo. Apesar de que eu ainda tenho dúvida se o pessoal vai abrir e ler só pelo fato de as teses estarem lá. Parece-me que tem sido mais eficiente a gente se encontrar e conversar. De qualquer forma, acho que essa idéia de um site de informações já obtidas seria bastante útil.

Jamil Constantin – Universidade Estadual de Maringá

Todos nós chegamos à conclusão de que tem que produzir palhada, mas não chegamos à conclusão de sua quantidade. O Ciro fala que quanto mais, melhor. Eu discordo e acho que isso precisa ser muito bem medido, porque se a gente fizer um raciocínio simples e trocar quantidade por durabilidade fica mais fácil. O compromisso de eu ter que produzir uma quantidade muito grande de palhada é muito pesado. Se eu tiver uma palhada com durabilidade, posso produzir menos, com efeito muito bom. A gente podia trabalhar no sistema de uma cultura passando o bastão para outra: “essa cultura vai até aqui e daqui para frente, a outra pega”. Acho que ficaria muito mais leve para o sistema.

Eduardo Fávero Caires – Universidade Estadual de Ponta Grossa

Eu concordo com o Bernardo quando ele fala da camada de 0-20 cm para o plantio direto. Até esse momento, eu, particularmente, não estou convicto de que a amostragem devesse ser mais superficial, tanto para a calagem como para a adubação. Quem preconiza uma amostra-gem de 0 a 10 cm, por exemplo, acho que não tem dados de pesquisa que comprovem que isso deva ser feito. Eu concordo que deveria, pelo menos nesse momento, manter a profundidade de 0 a 20 cm.

O Bernardo comentou que a questão da correção da acidez e calagem está bastante con-fusa no plantio direto. Eu não sei se é tão confusa assim. Talvez a gente precise analisar melhor os dados que estão publicados e fazer uma interpretação de forma mais adequada. Há diversas formas de pesquisar o assunto.

O que a gente tem observado de forma clara é o seguinte: no plantio direto a toxicidade do alumínio parece ser menor mesmo, e isso ocorre porque o alumínio forma complexos com os compostos orgânicos. Só que o alumínio tem menor fitotoxicidade no plantio direto quando há boa cobertura e boas condições de umidade e precipitação pluvial. Acho que isso precisaria ser mais estudado. Estão generalizando ao dizer que, no plantio direto, o alumínio tem menor toxicidade. Agora, em condições de seca, isso não é verdadeiro. A formação de complexos do alumínio com a matéria orgânica ocorre em boas condições de umidade. Depois, parte-se de dois ou três anos de ensaio de calagem, onde houve boa precipitação e o alumínio foi menos tóxico, aí se conclui que não precisa aplicar calcário, porque se tem altíssima produtividade quando ocorrem tais condições. Agora, quando começam a ocorrer períodos de seca no desen-volvimento das culturas, as respostas aparecem, porque o alumínio expressa maior toxicidade. Acredito que valeria a pena investir e estudar mais esse assunto com relação ao plantio direto.

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A gente não mostrou dados nesse sentido, mas o Oliveira e o Pavan observaram efeitos de calagem superficial na correção de subsolos, assim como nós também. Correções, às vezes, abaixo de 20 a 40 cm.

E só para aproveitar, a gente tem dados bastante interessantes com relação ao uso de gesso em plantio direto, com especificidade das respostas das culturas ao uso do produto. Nós temos, em várias áreas experimentais, fatos semelhantes, em que a soja não tem apresentado resposta alguma interessante ao uso do gesso. Mas, praticamente, todas as gramíneas têm respondido muito bem a seu uso, como é o caso de milho, trigo, cevada e, em várias áreas experimentais, arroz.

Em várias áreas experimentais onde a gente cultivou soja e milho por exemplo, a soja não respondeu, mas o milho, sim. Em outras áreas onde a gente cultivou soja vários anos e junto plantou milho e trigo, as gramíneas de modo geral, responderam bem à aplicação do gesso, mas a soja não apresentou nenhuma resposta. O maior problema que eu vejo da aplicação de gesso é a movimentação de magnésio, mas, desde que casado com a aplicação de calcário dolomítico, ele não tem provado problema algum. Acho que valeria a pena estudar também essa resposta diferenciada da soja e das gramíneas ao uso de gesso, porque nós temos tido calibrações muito boas com cálcio e com enxofre, em vista do emprego do gesso.

O milho, por exemplo, chegou a responder ao aumento da saturação por cálcio na camada de 0 a 5 cm, até 60% e linearmente, enquanto isso não ocorreu para a soja.

A gente conseguiu estabelecer nível crítico de enxofre, por exemplo, para trigo, de 25 mg por decímetro cúbico para uma alta produtividade. E quem está estudando enxofre hoje? E quem está estudando seu nível crítico no solo? Eu desconheço trabalhos nessa linha. Hoje, por exemplo, acima de 10 mg por decímetro cúbico de enxofre está bom. Mas, para que teto de produtividade foi estabelecido esse nível crítico? A gente tem observado que a soja demanda um teor de sulfato no solo muito menor do que as gramíneas. E o que tem sido feito nas adubações? Tem-se adubado muito mais a soja com enxofre do que as gramíneas, por ela ser uma cultura mais exigente em enxofre. Mas, ao mesmo tempo que é mais exigente, ela tem maior habilidade de absorção do elemento.

Leandro Zancanaro – Fundação Mato Grosso

A gente está mais perto dos produtores e acho que dentro do plantio direto em Mato Grosso, a rotação de culturas é uma coisa que temos que melhorar. Acho que em São Paulo, que eu conheço pouco, a questão é cobertura do solo também.

Gostei muito da apresentação e discussão da parte física do solo, porque, em termos de não-revolvimento do solo, lá geralmente se justifica essa interrupção do plantio direto pela ne-cessidade de calagem e também pela suposta compactação. Acho que esta linha que o Ralisch, o Afonso e o Denardin demonstraram, revela que não podemos tentar resolver um problema para criar outro. Acho que, à semelhança do que ocorre em Mato Grosso, de usar dois fatores para justificar a interrupção do plantio direto, isso pode acontecer aqui também. Creio que a difusão de tecnologia e a parte da assistência técnica têm que trabalhar, porque lá o pessoal tenta corrigir um problema criando outro.

Essa parte de física é muito importante e até mais do que a parte química, talvez, em alguns momentos.

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Bernardo van Raij – IAC

O Eduardo comentou tanta coisa a respeito da calagem que a minha conclusão é que o assunto está confuso mesmo. Realmente, para recomendar é difícil. A gente entende que há uma porção de fatores, mas eu queria comentar uma coisa. As raízes no subsolo têm duas coisas importantes para buscar: água e nitrato.

Se a soja não está respondendo em Ponta Grossa, é possível que não haja problema de água. Mas se todas as gramíneas estão respondendo, é porque, provavelmente, elas estão indo buscar nitrato. E se o gesso está dando efeito, é sinal de que há barreira química no solo. Quer dizer, sem o gesso, parte desse nitrato é perdido. Por que as gramíneas estão respondendo? Acho que essa observação é muito interessante.

Ricardo Ralisch – UEL

Bernardo, eu gostaria de acrescentar mais uma função da raiz, que é a fixação do carbono no solo. Porque quem faz de fato o seqüestro de carbono é a raiz, não é a palha, nem a cober-tura. Quem leva para o solo é a raiz e quanto mais raiz e mais distribuída, melhor esse efeito.

Eu gostaria de apresentar, para a apreciação de todos, a adoção do termo palha. De fato, parece-me que a palha leva a uma indução de que precisa ser necessariamente a cobertura morta. Acho que poderíamos começar a pensar em ampliar isso para qualquer tipo de cober-tura, principalmente para as condições que foram sugeridas, as climáticas de um inverno seco etc. E, pensando na proposta que o Dr. Fernando Cardoso colocou, de semear antes de colher, dar ênfase em uma alternativa à cobertura morta. Talvez, se adotarmos uma nomenclatura mais genérica, de cobertura em vez de exclusivamente “palha”. Ponho isso como sugestão.

Tenho a impressão de que balanço econômico é uma coisa importante sempre a ser con-siderada. E acrescento, além do balanço econômico, o energético, porque o econômico tem uma aplicação restrita e, o energético, é muito mais global, e tudo indica que vai ser a moeda do futuro.

Foi manifestado algo sobre semeadura a lanço ser problemática. Eu sempre levaria em consideração a alternativa de tal semeadura, principalmente no inverno. Em algumas circuns-tâncias, parece-me a melhor alternativa. É evidente que uma multissemeadora é interessante. Mas, em algumas circunstâncias, a semeadura a lanço é importante e, a incorporação dessa semente precisa ser analisada. O correntão é possível ou não é? Lógico que precisa ser analisa-do. Mas há alternativas para fazer essa movimentação da palha para incorporação da semente. Acho que precisa ser considerada sempre essa alternativa de semeadura.

Outro aspecto é a produção de sementes das culturas de cobertura. Não é raro que haja problemas de qualidade de tais sementes. O custo é muito alto. Acho importante motivar os produtores para que comecem a produzi-las. É importante organizar essa capacidade e disponi-bilidade de sementes das espécies que forem interessantes para cada região.

O último comentário técnico é com relação às análises de compactação. Eu não comentei propositadamente, porque nós temos visto que nenhum dos métodos de análise de compactação é suficientemente esclarecedor. Não existe, infelizmente, um método de avaliação da compacta-ção. Nós conseguimos avaliar densidade, porosidade e resistência à penetração, mas nenhuma

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delas esclarece quanto à compactação. Se é ou não compactação? Quanto é? Qual é o índice de compactação?

Temos resolvido isso com uma avaliação qualitativa, que é o perfil cultural com uma avaliação das estruturas, assemelhado ao que o Denardin falou de uma análise morfológica. Sem dúvida, é um pouco mais trabalhosa e mais complexa, mas é muito esclarecedora para compreender essas estruturas. Temos utilizado as avaliações como indicadoras e avaliadoras da uniformidade das áreas, se isso se repete nas áreas ou não, por exemplo, a penetrometria.

Paulo Sérgio Graziano Magalhães – Feagri/UNICAMP

Só um comentário sobre o que o Denizart falou.

Eu não disse que não há compactação em cana-de-açúcar. Acho que há e muita, mas acho que é possível trabalhar o gerenciamento para reduzi-la. Para isso, precisamos de tecnologia para alterar o sistema hoje utilizado na colheita de cana. Esse sistema foi importado da Austrália e talvez se adapte muito bem lá. Hoje, estamos usando-o aqui por falta de alternativa. Acho que é possível conseguir novas soluções que não sejam dependentes disso. Soluções que passam obrigatoria-mente por um desenvolvimento, que envolvam não só a pesquisa, mas a indústria, os produtores e os usineiros, que trabalham com o plantio e com a colheita de cana.

Júlio Cezar Franchini – Embrapa Soja

Acho que sobrou muita pergunta na área de fertilidade. Acho que o painel foi curto para os problemas que existem na área hoje.

A questão da calagem. Apesar de ser uma técnica simples, hoje, no plantio direto, ela está complicada, dada a variedade dos efeitos observados em função das culturas presentes no sistema. Está complicado chegar a uma recomendação que sirva para qualquer situação, que era o que acontecia antes com o plantio convencional. Talvez tenhamos que nos acostumar com a idéia de que vamos ter que chegar a uma resposta diferenciada para cada condição, em cima do sistema de rotação executado em cada região do País.

A questão do alumínio. A interpretação da produtividade que tem sido observada em condições ácidas e na presença de alumínio. Há muito tempo a gente ressalta o problema da análise que é feita hoje para identificar o alumínio tóxico. É um método que, a nosso ver, não consegue diferenciar o alumínio livre do alumínio associado com material orgânico. Então, a análise determina uma quantidade de alumínio que, na verdade, não tem a toxicidade. Temos lá frações livres e frações orgânicas dentro daquela fração determinada em extratos de cloreto de potássio. É uma limitação metódica que eu acho que deveria ser objetivo de pesquisa: obter uma análise que consiga determinar o alumínio livre, que é o efetivamente tóxico.

Essas questões de durabilidade de resíduo, qualidade de palha, os efeitos alelopáticos, a questão das doenças, todas passam pela composição orgânica dos resíduos vegetais e essa é uma área em que existe pouco trabalho, porque há relações diversas. Conhecendo a composi-ção orgânica, nós vamos poder antecipar o efeito dos resíduos, tanto na área química, quanto na física e na fitopatológica. Como proposta de pesquisa, acho que temos que avançar nessa área de caracterização orgânica do material vegetal e da própria matéria orgânica do solo, como

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salientou o Heitor. Precisamos evoluir, e muito, nos indicadores de qualidade e nos indicadores de alterações, em função da composição dos materiais.

Também concordo com o que o Ralisch falou. Para quem trabalha com rotação de cul-turas, dói um pouco ficar ouvindo falar de “palha”. Acho que palha é um negócio que iguala tudo, não é? Porque toda palha teve uma origem, e vai de encontro a essa composição orgânica que é diferenciada. Os materiais têm composições orgânicas diferentes. A gente tem que pensar um pouco na planta que deu origem àquela palha, no que ela contribuiu antes com o sistema radicular e todos os exsudatos de raiz. Acho que ela tem uma origem. E essa palha e essa origem são importantes.

José Eloir Denardin – Embrapa Trigo

Esperoque,apartirdacriaçãodesseSP-Direto,possasurgirumfórum,paraagentepo-der discutir isso, porque os eventos de plantio direto neste País têm sido sempre com agricultores junto. Nós não temos essa oportunidade e esse momento de poder discutir coisas científicas, porque o ambiente não permite isso. Eu já coordenei duas ações dessas, lá em Passo Fundo e, em função dos patrocinadores do evento, sempre tivemos agricultores convidados. Porque o público deles é o agricultor, é de onde eles tiram a renda vendendo insumos. Tomara que agora, com esse tipo de organização, Sonia, a gente consiga criar um fórum para debater, cientifica-mente, esse tema que é fundamental para o País.

E pensando nisso, uma coisa importante é a questão conceitual. Do que é que nós estamos tratando? O que é esse tal de “sistema plantio direto” que estamos tratando aqui? Isso é muito importante, porque se você olhar a bibliografia nacional, hoje, vai ter muitos trabalhos com título de plantio direto e que não são. Tratam apenas de uma semeadura sem preparo. Na verdade, te-mos que diferenciar esse tipo de coisa. Então, seria muito importante que esse arranque tivesse uma base conceitual forte. Eu me arrisquei a escrever aqui o que nós tratamos. O sistema plantio direto compreende um complexo de tecnologias capaz de viabilizar a perenização do processo de semear sem preparo. Vejam só, o “sem preparo” é apenas um dos atos dentro do plantio direto. Mas o que nós queremos aqui é perenizar esse processo, porque plantar sem preparo uma vez, duas vezes, a gente faz. Quero ver isso continuar de forma perene. Acho que a visão desse processo é fundamental para que todo mundo saia nesse mesmo nível de conhecimento.

Até 1985, meados da década dos 80s, vamos dizer assim, semeadura direta, plantio direto, plantiosempreparoesemeadurasempreparo,eratudoamesmacoisa,porqueoconceitonãoexistia. O negócio era não preparar a terra e se plantava trigo-soja, ou soja-pousio. Tudo isso era viável. Hoje, sabemos que não é mais assim. Precisamos de um processo tecnológico para poder viabilizá-lo. Acho que é fundamental considerarmos isso.

Outra coisa importante que estamos observando e que a Isabella se referiu: “terracea-mento”. Se no plantio direto ocorrer erosão, ela é mais severa do que no convencional. Não em termos de quantidade, mas de qualidade do que se perde. O van Raij salientou que é preciso ter calcário em superfície, que estamos deitando fertilizantes, colocando agroquímico na superfície do solo. A enxurrada, no plantio direto, ou a solução que sai nele, é riquíssima em nutrientes. Por exemplo, nós temos coletado dados de sedimentos ao final de um sulco e ocorre que, numa pendente dessas, pode ter de 200 ppm de potássio na faixa de cultura a 600 ppm de potássio lá embaixo; de 20 mg dm-3 de fósforo, para chegar a 70 mg dm-3 de fósforo lá embaixo; matéria

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orgânica de 2,3%, para chegar lá embaixo com mais de 7,0%. Alguém falou hoje que nem tudo no plantio direto são as mil maravilhas. Acho que foi Peche. Porque um sedimento desses de plantio direto, se chegar até um manancial de superfície é um grande poluidor. Temos que tomar muito cuidado com o que estamos tratando. Então, alguém falou: “não tirem terraço”; pensem nesse tipo de coisa. O Rio Grande do Sul tirou, Santa Catarina tirou, o Paraná tirou, e é uma preocupação. Isso aí é uma dor de cabeça. Fazer esse pessoal voltar a seguir isso não está nada fácil. Eu coloco essa preocupação para o grupo que vai se criar, para começar a tratar disso no início, nesse arranque inicial, porque depois vai ser muito difícil corrigir esse processo.

Ficam essas sugestões da continuidade do evento, da base conceitual para trabalhar. E também essas preocupações maiores que foram relegadas, achando que palha ou cobertura morta seria suficiente para controlar a erosão.

Ricardo Ralisch – UEL

Só para acrescentar. Na verdade, o controle da erosão já está relativamente resolvido. Nós temos é que segurar a água lá onde ela cai, lá onde chove. Não se pode é deixar a água escorrer.

João Kluthcouski – Embrapa Arroz e Feijão

Vou usar, aqui, o princípio do colega Denardin e dizer que o sistema plantio direto pode ser definido em produzir sob condições cada vez mais favoráveis. Porque a gente nunca soma aquilo que vem de benefícios para a próxima safra. O mesmo acontece com a integração lavou-ra-pecuária.

Para iniciar, aquela questão que o Denardin também esqueceu. Acho que o “trincheirôme-tro” é o melhor equipamento para visualizar a física do solo. A raiz é o melhor indicador, não é? Não podia deixar de falar isso.

Fiquei muito feliz hoje de manhã, quando os colegas se apresentaram, o Afonso e os demais debatedores, porque eu acho que nossa agricultura é formada por duas tecnologias: uma é a “insumos e máquinas (modelos e tipos)” e, a outra, de igual importância, é a tecnologia “capricho”. Lá no campo, o capricho é jogado no lixo.

Outro dia enumerei vinte pontos de capricho. Por exemplo, uso de semente é um capricho. Semente sadia. O rearranjo espacial de plantas, a eqüidistância de plantas é um capricho. Isso pode aumentar demais o rendimento: a densidade, o espaçamento. A velocidade de semeadura é um capricho. A época correta de aplicação de nutrientes é um capricho.

Recentemente, estão descobrindo que o potássio causa lesões às raízes, por onde estão entrando todos os tipos de Fusarium em soja e feijão. É o capricho de nós colocarmos o adubo naquela posição que é tão velha quanto se queira imaginar. Mas isso em campo pouco se verifica.

Outra coisa é que, antes de entrar nesse sistema de plantio direto, eu também tinha uns paradigmas e nós criamos o Barreirão. O Barreirão se baseava na aivecagem. Há dez anos que não falo isso com medo de ser preso. Mas jamais vi um perfil de solo que é promovido por causa da calagem mais profunda, matéria orgânica, do que o feito pela aivecagem.

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Um sistema plantio direto começa bem feito, preparando um perfil para não ter que voltar e desmanchar depois. Deve-se fazer manutenção em superfície. Essa é a minha opinião.

No ano passado, fizemos cinco avaliações de compactação em sistema plantio direto. Nos cinco, ganhamos em rendimento e em três dos casos, significativamente, com as culturas de soja, milho e feijão. Isso foi lá com o Ricardo, onde ele faz silagem. Porque a gente tinha certeza que o processo de silagem era altamente compactador. Típico da colheita de cana.

Uma coisa também que eu não vou guardar na garganta é que nós estamos publicando agora um trabalho com 50 páginas sobre antecipação do nitrogênio. Nós tivemos um problema crônico nas várzeas, porque lá tem 5% de matéria orgânica, e descobrimos, finalmente, que a adaptação do feijoeiro era a questão do nitrogênio. Resolvemos o problema da várzea e trouxe-mos para terras altas. Infelizmente, não conseguimos nenhum resultado negativo (isso é bom?), de uns 30 experimentos, em cinco pontos diferentes, cinco condições edafoclimáticas diferentes. Nosso nitrogênio foi todo incorporado, via uréia. Essa antecipação tem que ser revista, porque o nitrogênio aplicado a lanço é um desperdício. É um nutriente de custo energético muito alto.

No tocante a máquinas, acho que uma grande idéia é reunir as indústrias que têm interesse nisso e avaliar todas em um determinado momento. Porque, aí, elas começam a pensar mais seriamente em adaptar máquinas. Que máquina é o nosso grande pepino ainda no estabeleci-mento do plantio direto?

Hoje cedo se discutiu um pouco da agricultura de precisão. Acho que se está investindo e se falando muito, mas estamos precisando é de precisão na agricultura.

Antonio Luiz Fancelli – Esalq/USP

Algumas observações aqui. Primeiro, agradecer o privilégio que a Sonia me concedeu, de participar desta reunião, que foi, pelo menos para mim, extremamente proveitosa e gratificante.

Cada vez mais a gente verifica que, pesquisa, informações, competência, capacidade, boas cabeças e talento, aqui no Brasil, há de sobra. Então, precisamos unir esforços e transformar essa situação por que a agricultura passa.

Parabenizo, então, a Sonia por esse evento e também enalteço sua capacidade de conse-guir reunir todo mundo aqui. Não faltou ninguém! Isso é, exatamente, carisma e prestígio! Sem falar em autoridade também, não é?

A única coisa que me frustrou um pouquinho foi na hora dos debates. A gente comportou-se muito bem, respeitou-se demais. Eu gostaria de alguma coisa mais acalorada. Talvez porque foi um primeiro momento, a primeira reunião, mas precisaríamos discutir um pouco mais, para valer, porque assim sairia muita coisa. É que muitas vezes pensei: “Será que o Ciro é muito bravo? E se o Afonso sair para o braço.”

Numa segunda oportunidade, acredito que a gente vá se soltar um pouco mais e discutir com um pouco mais de calor.

Outro aspecto que o Denizart levantou aqui. Eu queria deixar claro o seguinte, levantei o problema da alelopatia do sorgo, mas não tenho nada contra o sorgo. Pelo contrário, acho que é uma das alternativas extremamente importantes para o Estado de São Paulo, inclusive como

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opção de safrinha. A gente planta milho e força demais a época de sua semeadura, colocando em risco a estabilidade econômica do produtor, o sistema e uma série de coisas.

O problema da alelopatia do sorgo é somente quando ele está morrendo. Depois que o sorgo foi manejado, efetivamente, acabou a brincadeira e não há mais problema relacionado com isso.

Mais duas coisinhas. Gostaria também de me juntar ao que foi falado pelo Ralisch e pelo Franchini a respeito de palha. Também não concordo com esse termo. Para mim, “plantio direto na palha” é pleonasmo. Acho que a palha, cobertura morta, faz parte do sistema de plantio direto.

Outra coisa. Acho que nós trabalhamos no sentido de reduzir/simplificar muito a termino-logia. A gente fala “plantio direto”, mas deveria falar “Sistema Plantio Direto”. Essa palavrinha é chave para a gente realmente entender qual é o processo que está envolvido na coisa. Plantio direto vira técnica e, sistema, não. Aí é uma tecnologia, que é uma reunião de técnicas.

Gostaria de propor o seguinte: esse nosso contato não pode parar por aqui, em hipótese alguma. Tenho certeza que é difícil nos reunirmos novamente, por uma série de afazeres, custo etc. O site também é meio complicado para trabalhar, pois exige uma equipe muito grande, tem que ser dinâmico, senão perde o interesse.

Uma coisa interessante e que é muito mais fácil para trabalhar é desenvolver um fórum permanentedediscussãodeplantiodireto,entrenósaqui,ospesquisadores,naformadeumaIntranet. Podemos utilizar o provedor do IAC ou o provedor da ESALQ, e sempre que tiver alguma informação nova, teria esse local para a gente acessar, com uma senha e sempre um perguntando para o outro, conversando. Teríamos que nos comprometer a, pelo menos uma vez por semana, entrar nesse fórum para sugerir algum assunto novo, ou para discutir, ou para questionar uma informação apresentada. Seria uma proposta e já me coloco à disposição para ajudar a desenvolver algo nesse sentido.

Álvaro M. R. Almeida – Embrapa Soja

Gostaria de fazer uma sugestão com a criação de uma mesa redonda, que envolvesse fitopatologia, entomologia e microbiologia. Penso que esses três grupos podem compor, muito bem, uma próxima mesa redonda. Inclusive, ontem, a Sonia já me deu a informação de que os colegas foram convidados a estimular mais a participação dos microbiologistas. Eu, embora não o seja, acho que é extremamente importante ter a participação desses colegas nesse evento. Faço até uma pergunta: quanto do aumento do rendimento do plantio direto é devido à ação dos microrganismos?

Com relação ao nabo-forrageiro, fiquei até meio entristecido, porque meu colega Denardin deu uma pancada tão forte e depois foi acompanhado por outros. “Tanto faz com sal ou sem sal, com pimentinha etc.”. Mas tenho visto que lá no Paraná existem produtores que estão fazendo associação de nabo com aveia e estão tendo bons resultados. Então, a partir do que eles falam, temos uma dica para tentar ver alguma coisa.

Só para terminar. Dois colegas, o Bernardo e o Ralisch, falaram sobre raiz, levando, cada um, o efeito da raiz para o seu ponto de vista. Eu só diria a todos que estão pensando na raiz, que vocês não teriam raízes se não fosse a fitopatologia.

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José Eloir Denardin – Embrapa Trigo

Almeida, eu não sou contra o nabo. Sou contra dizerem que nabo descompacta solo. Só isso.

Fernando Penteado Cardoso – Fundação Agrisus

Terminada aqui a prioridade dos apresentadores dos painéis, gostaria de ouvir agora, da nossa distinta assistência, se tem alguma manifestação. Não dá para fazer perguntas. Prefiro que sejam manifestações bastante sucintas, porque está marcado para finalizar às 17 horas e nós estamos chegando lá.

Peço ao Ondino para fazer o microfone correr pela assistência da maneira como quiserem, identificando-se, por favor.

Leonardo Coda – Agricultor, presidente da Associação de Plantio Direto do Vale do Para-napanema e vice-presidente da Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha:

Estou trabalhando com o plantio direto, estou na segunda gestão na Federação e com umas três gestões na Associação. A gente trabalha no plantio direto com uma filosofia, com conceitos. Achei muito feliz o parecer do Afonso Peche, dizendo que teríamos, como agricultor, que produzir um solo produtivo. E solo produtivo, no meu entendimento, é tudo aquilo que a gente produz em cima do solo.

Dentro do conceito de plantio direto, em que seguimos o tripé - tem que ser economica-mente viável, socialmente justo e ambientalmente correto - tudo que produzirmos em cima do solo, seguindo esse tripé, é válido. É cana, amendoim, feijão, laranja, banana, abacaxi. Acho que dentro desse conceito, tudo cabe dentro de plantio direto. Tudo é linha de pesquisa e vem ao encontro do que o produtor precisa. Hoje, estamos passando por uma situação, onde qualquer alternativa que vier e que estiver dentro desse conceito, para o agricultor vai ser bem vindo.

Sidney Rosa Vieira – IAC

Tenho duas coisas para falar, uma delas sobre amostragem, que para mim ficou bastante confusa. Deixei escrito no papel da provinha que nós fizemos, porque percebi que houve uma disputa: 0 a 10 cm e 0 a 20 cm entre o pessoal que trata de fertilidade do solo. Mas na parte física, não foi definido exatamente o que fazer. O Denardin chegou a falar que variava e mostrou uma fotografia de um pedaço de solo que tem bastante variação de estrutura. De qualquer ma-neira, acho que temos que fixar um lugar onde vamos amostrar, e conviver com a variabilidade, porque ela existe. Só não vamos encontrá-la se não medirmos.

O segundo ponto é sobre o que o Dr. Fernando já falou. Sobre o permeâmetro. Acho que é uma ferramenta que pode ser bastante útil para nós. Todo o mundo recebeu, junto com o material, um fôlder do permeâmetro. Acho, inclusive, que pode ser uma ferramenta para avaliar a retirada ou não de terraço e o impacto dessa retirada, porque ele permite medir a infiltração em várias posições no perfil. Uma ferramenta fácil de ser usada para esse fim.

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Waldo Lara-Cabezas – Apta/Votuporanga

Eu só queria pontuar uma coisa muito importante. O tempo é muito curto e é fundamental entender que, se queremos fazer um sistema plantio direto sério também como pesquisadores, isso significa uma nova filosofia de vida profissional.

Devemos guardar todas as nossas vaidades e algum dia entender, de uma vez por todas, que não é fertilidade do solo, que não é máquina, que não é fitopatologia. Nós temos que ter um sistemaintegradodepesquisa,porquesenãoformoscoerentescomumsistemaquefuncionaintegrado, é desperdício, perda de tempo. Entender que temos que fazer um grupo compacto, coeso, de trabalho interdisciplinar e guardar nossas vaidades, porque pesquisador foi ensinado a competir desde a primeira prova de Mestrado. É competição, individualismo e por aí vai. Issotemqueacabareesperoquemaiscedooumaistarde,osistemadegradecurriculardeagronomia vá pelo chão, porque já está muito obsoleto. Por isso, está aparecendo a disciplina de plantio direto dentro das universidades. No dia que entendermos que o sistema plantio direto é a agronomia integrada, porque envolve maquinaria, fitopatologia, fertilidade de solo, rizosfera e microbiologia, aí vamos progredir a passos agigantados na pesquisa.

Fernando Penteado Cardoso – Fundação Agrisus

Queria manifestar meu ponto de vista pela Fundação Agrisis.

Sentimos-nos recompensados pelo patrocínio deste evento, porque estamos discutindo as bases técnicas e científicas de uma prática agrícola que tem como finalidade não só a lucrativi-dadedaagricultura,massuasustentabilidadeparaofuturo,protegendo,aomesmotempo,oambiente que seja favorável para o homem.

Com essas palavras de satisfação pelo desenrolar dos trabalhos, satisfação essa de nos-sa Fundação, pediria a Sonia, por obséquio, assumir a palavra e fazer o encerramento deste workshop.

Sonia Carmela Falci Dechen – IAC

Gostaria de agradecer a qualidade e o cuidado da apresentação que cada um de vocês fez. Isso significa, para mim, que não é apenas uma apresentação bonita, é uma apresentação de conteúdo.

Da minha parte, gostaria de agradecer a condescendência e a simpatia de vocês para com minha preocupação com o que vai acontecer depois deste workshop, que é a transcrição. Não se irritaram com as minhas chamadas de “o nome, por favor”, à presença dos ouvintes, que, apesar de sabermos dos seus interesses pelo tema, vieram aqui por causa disso e, de bom grado, concordaram em participar com o modelo que foi proposto para o workshop. Na parte deles, foram “ouvintes”.

Gostaria de agradecer, também, a comissão organizadora: o Bernardo, o Cristiano, o Estevão, o Fernando, o Dr. Cardoso, a Isabella, o Sandro, e ao mentor intelectual deste workshop, que é o secretário executivo da Fundação Agrisus, o Ondino, que está ali quieto, não falou nada, mas trabalhou muito. Gostaria de agradecer ao IAC o suporte dado, à Agrisus e à Fealq.

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Ondino Cleante Bataglia – pesquisador voluntário do IAC e secretário-executivo da Fun-dação Agrisus

Fui convidado pelo Dr. Cardoso, pela Agrisus, para trabalhar na secretaria executiva na gestão dos projetos. Vindo da área de nutrição de plantas, não conhecia o público que participa desse trabalho mais ligado à conservação de solo. Esse workshop foi uma demanda minha perante o Dr. Cardoso e à Agrisis. Parafraseando aqui o prefeito de Campinas (Hélio de Oliveira Santos), resolvemos começar pelos que mais precisam, que é o Estado de São Paulo. Mas esperamos discutir com o Dr. Cardoso a possibilidade de fazer este trabalho em outras regiões, desde que tenha uma Sonia lá para carregar o piano, como ela carregou.

Acho que o resultado desse workshop não vai se limitar à Fundação Agrisus,quefoiafinanciadora. O resultado certamente terá um efeito sinergístico, porque nós já combinamos de levar a publicação do resultado desse evento à FAPESP, ao CNPq. Nós aproveitamos a oportu-nidade aqui, com a presença de dois representantes da FAPESP na mesa, para que nos ajudem a conseguir que a FAPESP se empenhe em financiar os projetos que virão dessas demandas.

Antonio Roque Dechen – Esalq/Fealq

Gostaria de deixar um agradecimento, porque a Fealq paga a conta, mas o dinheiro vem daAgrisis, que é a financiadora real do evento. Ela é conveniada com a Fealq e, mais uma vez, aproveitamos publicamente para agradecer a especial deferência desse convênio que temos com aAgrisis. E, principalmente, cumprimentar o Dr. Cardoso pela iniciativa, pela sua disponibilida-de e de sua família, na alocação de recursos na Fundação Agrisis, para atender exatamente aos aspectos da agricultura sustentável.

Sidney Rosa Vieira – IAC

Também tenho que dar os parabéns para a organização, por todo o esforço do pessoal que esteve envolvido, que trabalhou muito para que isso acontecesse. Esse evento foi essencial para o assunto a que se destinou e concordo com o que foi dito aqui. Que a gente possa usar os resultados que foram discutidos. Sugiro uma coisa que não sei se pode ser concretizada ou não. Se puder sair deste workshop uma publicação para que a gente tenha as coisas que foram faladas aqui, creio que poderíamos mais facilmente nivelar os conhecimentos. Ficaria como se fosse o nosso guia a ser seguido.

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Endereços dos participantes

Afonso Peche FilhoInstituto AgronômicoCentro APTA de Engenharia e AutomaçãoRod. D. Gabriel P. B. Couto, km 65, Caixa postal 26 – CEP 13201-970 Jundiaí, SP( 11 4582-8155 | 11 4582-8589 * [email protected]

Álvaro Manoel Rodrigues AlmeidaEMBRAPA - Centro Nacional de Pesquisa de Soja. Caixa postal 231 – CEP 86001-970 Londrina, PR( 43 3371-6000 R.6258 | 43 3371-6100* [email protected]

Antonio Luiz FancelliEscola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” - Departamento de Produção Vegetal, Caixa postal 9 – CEP 13418-900 Piracicaba, SP( 19 3429-4185 | 19 3429-4115 | 19 3429-4375* [email protected]

Antonio Roque DechenFEALQ - Fundação de Estudos Agrários Luiz de QueirozAv. Centenário, 1.080 – CEP 13416-000 Piracicaba, SP( 19 3417-6615 | 19 3434-7217* [email protected]

Bernardo van RaijInstituto Agronômico - Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Solos e Recursos AmbientaisAvenida Barão de Itapura, 1.481 – CEP 13020-902 Campinas, SP( 19 3231-5422 | 19 3236-9119* [email protected]

Carlos Alexandre Costa CrusciolUNESP - Faculdade de Ciências Agronômicas de BotucatuDepartamento de Agricultura e Melhoramento Vegetal (Fazenda Lageado), Caixa postal 237 – CEP 18603-970 Botucatu, SP( 14 3811-7161 | 19 3811-7211 | 14 6802-7102* [email protected]

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CiroAntonioRosolemUNESP - Faculdade de Ciências Agronômicas de BotucatuDepartamento de Produção Vegetal (Fazenda Lageado) Caixa postal 237 CEP 18603-970 Botucatu, SP( 14 3811-7161 | 14 9775-1083 | 14 3811-7102* [email protected]

CristianoAlbertodeAndradeInstituto Agronômico – Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Solos e Recursos AmbientaisAvenida Barão de Itapura, 1.482 – CEP 13020-902 Campinas, SP( 19 3231-5422 R. 188 | 19 3236-9119* [email protected]

Denizart BolonheziAPTA - Departamento de Descentralização do DesenvolvimentoPólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Centro-LesteAvenida Bandeirantes, 2.419 – CEP 14030-670 Ribeirão Preto, SP( 16 3637-1091 | 16 9722-2402* [email protected]

Domênico VituloCAP - Cooperativa Agrícola de PedrinhasAvenida Brasil, s/nº, Caixa postal 11 – CEP 19865-000 Pedrinhas Paulista, SP( 18 3375-9000 | 18 3375-9006* [email protected]

Eduardo Fávero CairesUniversidade Estadual de Ponta Grossa – Setor de Ciências Agrárias e de Tecnologia, Departamento de Ciência do Solo e Engenharia Agrícola – Laboratório de Fertilidade do SoloAvenida General Carlos Cavalcanti, 4.748 – CEP 84013-090 Ponta Grossa, PR( 42 3220-3091 | 42 3220-3072* [email protected]

Elaine Bahia WutkeInstituto Agronômico – Centro de Análise e Pesquisa do Agronegócio dos Grãos e FibrasAvenida Barão de Itapura, 1.481 – CEP 13020-902 Campinas, SP( 3241-5188 R. 316 * [email protected]

Estêvão Vicari MellisInstituto Agronômico – Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Solos e Recursos AmbientaisAvenida Barão de Itapura, 1.481 – CEP 13020-902 Campinas, SP( 19 3231-5422 R. 188 | 19 3236-9119* [email protected]

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Fernando César Bachiega ZambrosiInstituto Agronômico – Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Solos e Recursos AmbientaisAvenida Barão de Itapura, 1.481 – CEP 13020-902 Campinas, SP( 19 3231-5422 R. 188 | 19 3236-9119* [email protected]

FernandoPenteadoCardosoFundação Agrisus - Agricultura SustentávelRua da Consolação, 3.367, cj 63 – CEP 01416-001 São Paulo, SP( 11 3064-8776 * [email protected]

HeitorCantarellaInstituto Agronômico – Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Solos e Recursos AmbientaisAvenida Barão de Itapura, 1.481 – CEP 13020-902 Campinas, SP( 19 3231-5422 R. 188 | 19 3236-9119* [email protected]

IsabellaClericiDeMariaInstituto Agronômico – Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Solos e Recursos AmbientaisAvenida Barão de Itapura, 1.481 – CEP 13020-902 Campinas, SP( 19 3241-5188 R. 302 | 3241-5188 R. 302* [email protected]

Ivo MelloFEBRAPDP - Federação Brasileira de Plantio Direto na PalhaRua Venâncio Aires, 359 – CEP 97541-501 Alegrete, RS( 55 3505-4856 | 55 9145-1366* [email protected]

JamilConstantinUniversidade Estadual de Maringá – Centro de Ciências Agrárias, Departamento de AgronomiaAvenida Colombo, 5.790 – CEP 87020-900 Maringá, PR( 44 3261-4040* [email protected]

João KluthcousksiEmbrapa Arroz e FeijãoRodovia Goiânia-Nova Veneza, km 12 Fazenda Capivara, Zona Rural, Caixa postal 179 – CEP 75375-000 Santo Antônio de Goiás, GO( 62 3533-2183 | 62 3533-2110 | 62 3533-2100* [email protected]

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José Eloir DenardinEmbrapaTrigoRodovia BR 285, km 294 antigo km174, Caixa postal 451 – CEP 99001-970 Passo Fundo, RS( 54 311-3444 | 54 311-3617* [email protected]

Julio Cezar FranchiniEMBRAPA SojaRodovia Carlos João Strass/Acesso Orlando Amaral - Distrito da WartaCaixa postal 231 – CEP 86001-970 Londrina, PR( 43 3371-6233 | 43 3371-6100* [email protected]

Leandro ZancanaroFundação Mato Grosso de RondonópolisRua Pernambuco, 1.267, Caixa postal 79 – CEP 78705-040 Rondonópolis, MT( 66 3423-2041* [email protected]

Marcos PalharesMonsanto do Brasil Ltda.Caixa postal 09 – CEP 13650-000 Santa Cruz das Palmeiras, SP( 19 3672-2054 | 19 9777-3821* [email protected]

Ondino Cleante BatagliaFundação Agrisus – Agricultura Sustentável, Conplant e Instituto AgronômicoRua Francisco Andreu Aledo, 22 – CEP 13084-200 Campinas (Barão Geraldo), SP( 19 3249-2067 | 19 9751-2743* [email protected]

OrlandoMelodeCastroInstituto Agronômico – Diretor-GeralAvenida Barão de Itapura, 1.481 – CEP 13020-902 Campinas, SP( 19 3231-5422 R. 123 | 19 3231-4943* [email protected]

Orlando Pereira de Godoy NetoCATPirassunungaRua Sílvio Tirone, 374 (Jardim Petrópolis) – CEP 13634-317 Pirassununga, SP( 19 3561-2915 | 19 9784-2692 | 19 9227-3780* [email protected] | [email protected]

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Paulo Sérgio Graziano MagalhãesUnicamp - Universidade Estadual de Campinas – FEAGRI - Faculdade de Engenharia AgrícolaCaixa postal 6011 – CEP 13083-970 Barão Geraldo (Campinas), SP( 19 3788-1085 | 19 3788-1010* [email protected]

RicardodeCastroMerolaFazenda Santa FéAvenida Floriano Peixoto, 615 sala 803 – CEP 38400-106 Uberlândia, MG( 64 3641-1391 | 34 3255-3366* [email protected]

Ricardo RalischUEL - Universidade Estadual de Londrina – Centro de Ciências Agrárias, Departamento de Agronomia.Caixa postal 6001 – CEP 86051970 Londrina, PR ( 43 3371-4555 | 43 3371-4463 (Pro-Grad) | 43 3371-4081 (escritório) | 43 9911-823143 3371-4079* [email protected]

RudimarMolinFundação ABCRodovia PR 151 km 288, Caixa postal 1003 – CEP 84165-980 Castro, PR( 42 3232-2662 | 42 3232-2662* [email protected]

Sandro Roberto BrancaliãoInstituto Agronômico – Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Solos e Recursos AmbientaisAvenida Barão de Itapura, 1.481 – CEP 13020-902 Campinas, SP( 23 3241-5188 R. 302 | 23 3241-5188 R. 302* [email protected]

SidneyRosaVieiraInstituto Agronômico – Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Solos e Recursos Ambientais Avenida Barão de Itapura, 1.481 – CEP 13020-902 Campinas, SP( 19 3241-5188 R. 409 | 19 3241-5188 R. 302* [email protected]

Sonia Carmela Falci DechenInstituto Agronômico – Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Solos e Recursos AmbientaisAvenida Barão de Itapura, 1.481 – CEP 13020-902 Campinas, SP( 19 3241-5188 R. 409 | 19 3241-5188 R. 302* [email protected]

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Editoração e arte final eletrônicaIntermídia Serviços de Propaganda Ltda.

[email protected]

ImpressãoGráfica Editora Modelo Ltda.

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