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1 WILSON LUQUES COSTA

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WILSON LUQUES COSTA

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PEQUENOS REGISTROS E BROCARDOS

WILSON LUQUES COSTA

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PRIMEIRA EDIÇÃO

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Produção Independente

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LEITURAS

Hoje, finalmente, adquiri o livro Lavoura arcaica de

Raduan Nassar.

Comprei também uma adaptação de Guerra e Paz e

Írisz: as orquídeas de Noemi Jaffe, todos da Cia das

Letras.

Daqui a pouco vou namorá-los.

Se correr tudo bem, uma aliança de compromisso; se

tudo não se alterar, uma aliança de noivado e um

possível conúbio, e aí a imediata procura por outros

filhos do autor ou autora, embora conheça já

algumas coisas dos três arrolados, sobretudo Um

Copo de Cólera e daquele senhor êmulo de

Dostoiévski, Gógol e tantos outros daquele país da

Sibéria.

Sem falar nos que iniciei um ficar, mas que não sei se

dará noivado ou mesmo casamento.

É que eu sempre fui mesmo com a literatura meio

galinha.

Andei comprando alguns livros de literatura,

Desonra de Coetzee, Submissão de Michel

Houellebecq, eita nome difícil de pronunciar, um de

Kawabata, Caçando Carneiros de Murakami e Os

Emigrantes de Sebald.Comecei há algum tempo com

Kawabata, uma porque, por praticar, já há algum

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tempo, o Budismo de Nichiren Daishonin, tenho

muito me interessado pela cultura japonesa.

Depois, entre ensaios e estudos de filosofia e poesia,

encetei Desonra, uma porque cheguei a ler trechos

dele num Shopping em Santo André e me empolguei

deveras com o início da trama.

Em seguida, fui para Sebald em Os Imigrantes.

Antes já havia lido e gostado muito de Pamuk.

Há algum tempo, fui ter com Murakami, Caçando

Carneiros.

Estou com eles agora aqui comigo. A maioria iniciei

e interrompi.

Devo retornar com Sebald.

A leitura é mais entranhada, mas Sebald me encanta

deveras.

Lerei pela terceira ou quarta vez a ótima novela Paul

Bereyter.

Submissão encantou-me pelo começo, assim como

Desonra.

Mas os problemas dos livros são como alguns

homens, começam com uma grande ereção e depois

broxam.

Alguns estão precisando de viagra.

Ou serei eu...

Bora tomar ou retomar!

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Estive lendo uma entrevista de Gerd Bornheim.

E eu fico pensando: como tivemos e temos intelectuais bem preparados no Brasil, mas que ficam confinados entre os seus.

Bornheim estudou com Piaget, Merlau-Ponty, só não conheceu Heiddeger por injunção própria.

Sabia grego, latim, alemão.

E pelo que parece era bem bonachão.

O mesmo pode-se dizer de Fausto Castilho que traduziu do alemão, que tento a duras penas entender, Ser e Tempo.

E nada sobre as suas vidas.

Ninguém quase os conhece.

Quando digo quase ninguém, digo o povo. Atenas conhecia Sócrates.

Mas estamos longe, bem longe, da pólis ateniense.

Ao invés de Bornheim, Fausto Castilho, conhecemos mais outros faustos infaustamente.

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Missiva do Professor Mosh

Estamos vivenciando um mundo de polaridades.

De um lado, a erosão de paradigmas consagrados

por um tipo de ação moral engendrada por uma

razão natural ou por legiferações que, não obstante a

história procurar perquirir, muitas vezes não

sabemos.

Não é mais incomum vermos nas ruas, nas famílias,

nas escolas, no trabalho, a pluralidade de gêneros.

Já não é mais o maniqueísmo que impera, ou aquela

engessada e dicotômica estrutura masculino x

feminino.

Ao mesmo tempo, vemos surgir, do outro lado do

polo, um conservadorismo só comparado aos

tempos de terríveis pogroms ou escravidão.

Como os polos caminham por sendas distintas,

torna-nos possível avistar duas paisagens.

De um lado, a falência do fulcro falocentrista; do

outro, a sua ereção nos moldes arcaicos e primitivos,

tabulando toda uma moralidade embasada num

machismo sem qualquer precedente na história.

Os polos ainda não se tocaram, mas eu quero ver

quem será o bombeiro que apagará o incêndio,

quando a faísca se der.

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O duro vai ser contar o rescaldo e saber do fogo

enquanto estávamos distraídos.

O duro vai ser quando o bellum falo quiser a toda

força, mais uma vez, beijar-nos.

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SINAPSES

Assim como os nossos neurônios se articulam engendrando pensamentos, também cada pensamento (o meu, o seu, o dele, o nosso) precisa se conectar para outro pensamento gerar. Chamo de pensamento esquizofrênico a todo pensamento que pensa de per si e para si e que enjeita todo tipo de sinapse ou conexão. Todo pensamento pode ser livre, mas nem todo pensamento é liberto.

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Uma coisa que percebo hoje (talvez esteja errado, ou porque envelheci, e aí é coisa da idade) é que temos muitas pessoas não tão preparadas ou sem vocação no meio acadêmico. Há uma profusão de doutorados e pós-doutorados que nem sempre conferem com a capacidade das pessoas. E aí as tomamos como intelectuais e as pessoas ignaras acreditam nelas como formadoras de opinião. Ainda existe, infelizmente, e isso possivelmente perdurará por longos anos, a ideia do anel no dedo. Aquela coisa que Gilberto Freyre já dizia de nossa herança judaico-portuguesa do doutor.

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05/01/2012

Tenho passado os dias lendo jornais e lendo capítulos aleatórios de Istambul de Pamuk e retomando os estudos de algumas gramáticas greco-latinas. Hoje comprei um livro de crônicas de Otto Lara Resende e o último livro de Giannotti; devo lê-los daqui a pouco. Releio sempre também os meus dois livros; mas sempre me causa alguma insatisfação que não é a mesma. Livros editados jamais deveriam ser relidos pelo autor. Fiquei em dúvida em levar Hitchens, mas muito caro; preferi um all star que eu estava precisando; mas será o meu próximo livro de cabeceira. Aqui na zona leste há um sebo que não perde nada para os grandes sebos do centro; aliás eu julgo-o até muito

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melhor; mas por enquanto não conto, porque deverei buscar mais alguns livros. Tenho postado algumas brincadeiras com Hitchens que era um ateu vigoroso como Dawkins. Aliás deixei de comprar um Dawkins hoje também; a brincadeira não é contra Hitchens que me parece deveras sagaz e dos que gostarei com certeza; mas é porque não posso perder o efeito dos 140 caracteres do twitter. Às vezes brinco com os ateus não porque são ateus ou contra todo tipo de religião; mas é porque julgo-os um tipo de religiosos bastante dogmáticos; e isso para mim se torna até hilário. Como os que acreditam em Deus esforçam-se com denodo em provar Deus, também os ateístas tentam em vão provar a sua inexistência, sem conseguir, todavia, prová-la pela razão. Não falo de opiniões, mas argumentos que não são satisfatórios sob o ponto de vista estrito da razão.

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Ou seja, o ateu é um tipo de fundamentalista, que não deixa de ser um espírito religioso também. Eu, particularmente, não me identifico com muitos que se dizem poetas, filósofos, escritores, conservadores, liberais etc; por exemplo: quando eu era jovem, com os meus vinte e poucos anos eu era um simpatizante da esquerda e detestava a direita; mas quando conheci alguns esquerdistas também me afastei porque os identifiquei com muitos da direita pelo modus operandi; Ou seja, havia muito mais similaridade entre um esquerdista e um direitista do que um esquerdista com outro esquerdista; e aí eu perguntava: por que eles não estão juntos se pensam da mesma maneira e diferente de mim? Hoje em dia também penso que as coisas se dão assim; há pessoas que não são de esquerda e me agradam e pessoas de esquerda outras que me agradam da

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mesma maneira; entretanto há outros que para mim me são indiferentes. Por isso penso que a classificação é muito redutora; nunca na verdade gostei dessas classificações superficiais. Hoje, sou muito mais conservador que outrora, porque não bebo, não fumo, não uso drogas. A minha visão era de uma lente de binóculos diferentes; antes eu estava na proa do navio observando as vagas por outro ângulo; hoje já vejo as ondas que me passaram e que insistem em me passar; é evidente que podemos sempre reolhar, mas os olhos são outros. Mesmo quanto aos livros ou aos acontecimentos se dá o mesmo; não temo coisas que eu temia; como temo coisas que não temia; gosto de autores que me eram irrelevantes e nem conhecia; não gosto de autores que antes cultuava e que agora me são irrelevantes também. Esse é o processo da vida; e por isso a vida é bela com conservadorismo, liberalismo, anarquismo ou não.