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Mídias Sociais, Saberes e Representações Salvador - 13 e 14 de outubro de 2011 WEBLOGS COMO FERRAMENTAS DE SOCIABILIDADE: A EXPERIÊNCIA DO WEBLOG JUVENTUDE CLICHÊ NA CONSTRUÇÃO COLETIVA DE CONTEÚDO Fábio Carvalho dos Santos 1 Julianna Nascimento Torezani 2 Resumo: Aborda características da Internet como uma rede fundamentada na coletividade e o desenvolvimento de aplicações que facilitam e organizam o processo de criação e publicação de conteúdo no ambiente on-line. Destacando os weblogs como importantes e democráticos veículos de comunicação da atualidade, evidencia a experiência do weblog Juventude Clichê como instrumento de sociabilidade que incentiva, de maneira coletiva, a construção de conteúdo e o compartilhamento de conhecimentos entre um determinado público na Internet. Palavras-chave: Internet, sociabilidade, weblogs. Abstract: Discusses features of the Internet as a network based on community and the development of applications that facilitate and organize the process of creating and publishing content in an online environment. Highlighting weblogs as important and democratic means of communication today, highlights the experience of Youth Cliché weblog as an instrument of socialization that encourages, collectively, the construction of content and knowledge sharing among a particular audience on the Internet. Keywords: Internet, sociability, weblogs. Introdução Desde o seu surgimento, a Internet vem provocando inúmeras mudanças no campo da comunicação. Criada inicialmente para fins bélicos, não se condicionou a limitada função de estabelecer contatos entre bases militares específicas (CASTELLS, 1999; PINHO 2003), colaboradores visionários enxergaram na nova tecnologia inúmeras potencialidades, transformando-a em uma das maiores e mais bem sucedidas infra-estruturas para a comunicação. Na última década, a Internet vem se firmando como uma tecnologia de 1 Graduado em Comunicação Social - Jornalismo pela União Metropolitana de Educação e Cultura. Graduando em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Santa Cruz. E-mail: [email protected]. 2 Coordenadora e docente do curso de Comunicação social Jornalismo da União Metropolitana de Educação e Cultura das disciplinas Fotografia e Fotojornalismo. Mestre em Cultura e Turismo, Bacharel em Comunicação Social Rádio e TV. E-mail: [email protected].

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Mídias Sociais, Saberes e Representações Salvador - 13 e 14 de outubro de 2011

WEBLOGS COMO FERRAMENTAS DE SOCIABILIDADE: A EXPERIÊNCIA DO

WEBLOG JUVENTUDE CLICHÊ NA CONSTRUÇÃO COLETIVA DE CONTEÚDO

Fábio Carvalho dos Santos1

Julianna Nascimento Torezani2

Resumo: Aborda características da Internet como uma rede fundamentada na coletividade e o

desenvolvimento de aplicações que facilitam e organizam o processo de criação e publicação

de conteúdo no ambiente on-line. Destacando os weblogs como importantes e democráticos

veículos de comunicação da atualidade, evidencia a experiência do weblog Juventude Clichê

como instrumento de sociabilidade que incentiva, de maneira coletiva, a construção de

conteúdo e o compartilhamento de conhecimentos entre um determinado público na Internet.

Palavras-chave: Internet, sociabilidade, weblogs.

Abstract: Discusses features of the Internet as a network based on community and the

development of applications that facilitate and organize the process of creating and publishing

content in an online environment. Highlighting weblogs as important and democratic means

of communication today, highlights the experience of Youth Cliché weblog as an instrument

of socialization that encourages, collectively, the construction of content and knowledge

sharing among a particular audience on the Internet.

Keywords: Internet, sociability, weblogs.

Introdução

Desde o seu surgimento, a Internet vem provocando inúmeras mudanças no campo da

comunicação. Criada inicialmente para fins bélicos, não se condicionou a limitada função de

estabelecer contatos entre bases militares específicas (CASTELLS, 1999; PINHO 2003),

colaboradores visionários enxergaram na nova tecnologia inúmeras potencialidades,

transformando-a em uma das maiores e mais bem sucedidas infra-estruturas para a

comunicação. Na última década, a Internet vem se firmando como uma tecnologia de

1 Graduado em Comunicação Social - Jornalismo pela União Metropolitana de Educação e Cultura.

Graduando em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Santa Cruz. E-mail:

[email protected]. 2 Coordenadora e docente do curso de Comunicação social – Jornalismo da União Metropolitana de

Educação e Cultura das disciplinas Fotografia e Fotojornalismo. Mestre em Cultura e Turismo,

Bacharel em Comunicação Social – Rádio e TV. E-mail: [email protected].

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informação que abre novas perspectivas à sociedade do futuro, propiciando o surgimento de

conceitos e estruturas comunicacionais que, constantemente, reorganizam a sociedade na

medida em que surgem novos recursos adaptados à rede (DIZARD JR, 2000; LEMOS 2004).

Reflexos do surgimento de novas ferramentas para Internet não se restringem apenas

às melhorias tecnológicas, como a rapidez na troca de informações, proporcionam também

reformulações em campos sociais e profissionais, permitindo a exploração de novos canais de

comunicação adaptados aos recursos hipermidiáticos. Os weblogs, ferramentas que facilitam a

publicação de conteúdo no meio on-line, vêm conquistando cada vez mais adeptos, ampliando

significativamente a participação na construção da informação e compondo veículos de mídia

mais democráticos para inserção de conteúdo dos mais variados na rede (ORDUÑA et al.

2007; AMARAL et al. 2009). O weblog Juventude Clichê, como exemplo de um ambiente

sócio virtual com as dinâmicas características da Internet, permite, através do recurso CMS

(Content Management System – Sistema de Gerenciamento de Conteúdo), a participação e

colaboração dos seus usuários para construção coletiva de conteúdo, incentivando a

sociabilidade para troca de conhecimentos e experiências, constituindo assim um potencial

comunicativo devido à sua capacidade interativa, hipertextual e hipermidiática.

Internet: a descentralizada rede da coletividade

Ao longo da década de 1960 surgem conceitos fundamentais do que hoje conhecemos

como Internet. No auge da Guerra Fria e de uma disputa tecnológica militar entre os Estados

Unidos e a União Soviética, os norte-americanos desenvolvem a ARPAnet, uma rede de

computadores com o objetivo de manter um sistema de comunicação descentralizado entre as

principais bases militares dos Estados Unidos (CASTELLS, 2003). Posteriormente, a

integração de universidades norte-americanas ao projeto ARPAnet acresceu fins acadêmicos

através da difusão e compartilhamento de informações e resultados (PINHO, 2003),

colaborações da comunidade científica e dos estudantes de ciência da computação permitiram

o desenvolvimento de aplicações que foram essenciais para expansão da rede que inicia seu

processo evolutivo tendo como base fundamentos da liberdade de pensamento e inovação.

A história da criação e do desenvolvimento da Internet é a história de uma aventura

humana extraordinária. Ela põe em relevo a capacidade que têm as pessoas de

transcender metas institucionais, superar barreiras burocráticas e subverter valores

estabelecidos no processo de inaugurar um mundo novo. Reforça também a idéia de

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que a cooperação e a liberdade de informação podem ser mais propicias à inovação

do que a competição e os direitos de propriedade (CASTELLS, 2003, p. 13).

Caracterizada por uma arquitetura aberta que proporcionou cooperação mútua, a

Internet ganha força a partir de um desenvolvimento autônomo. Hoje, de acordo com Dizard

Jr. (2000, p. 53-54), estamos vivendo a terceira transformação na mídia de massa e, nas

palavras do autor, “essa transformação envolve uma transição para a produção, armazenagem

e distribuição de informação e entretenimento estruturadas em computadores”, representando

uma das mais importantes ferramentas para a informação das últimas décadas. Para Lemos

(2004, p. 12), “a Internet encarna a presença da humanidade a ela própria, já que todas as

culturas, todas as disciplinas, todas as paixões aí se entrelaçam”, estabelecendo uma

conectividade não-hierárquica que proporciona uma variedade de conteúdo que se multiplica

na medida em que computadores podem se beneficiar uns dos outros, transformando-se em

uma gigante infra-estrutura denominada “ciberespaço”.

O modelo informatizado, cujo exemplo é ciberespaço, é aquele onde a forma do

rizoma (redes digitais) se constitui numa estrutura comunicativa de livre circulação

de mensagens, agora não mais editada por um centro, mas disseminada de forma

transversal e vertical, aleatória e associativa. A nova racionalidade dos sistemas

informatizados age sobre um homem que não mais recebe informações homogêneas

de um centro “editor-coletor-distribuidor”, mas de forma caótica, multidirecional,

entrópica, coletiva e, ao mesmo tempo, personalizada (LEMOS, 2004, p. 70).

A Internet é uma organização social mais democrática, fomentada pela elaboração,

processamento e transmissão de informações que circulam de forma livre no extenso mundo

do ciberespaço, como afirma Santaella (2007, p. 15), ao dizer que “através do ciberespaço o

homem tem a possibilidade de se relacionar com todos e incluir a todos, reunindo inúmeras

faces em um objetivo comum”, objetivo esse amparado por uma hipertextualidade que,

segundo Johnson (2001, p. 84), “sugere uma nova gramática de possibilidades, uma nova

maneira de escrever e narrar”, provocando mudanças até mesmo na forma como as pessoas se

comunicam umas com as outras. A comunicação mediada por computador (CMC) é um

fenômeno real que desempenha uma função cada vez mais definitiva na formação da futura

cultura, alcançando toda a esfera de atividades sociais (CASTELLS, 1999), proporcionando

interação em um processo dinâmico característico da Internet.

De acordo com Recuero (2009, p. 80), “os processos dinâmicos das redes são

consequência direta dos processos de interação entre os seus atores” e a possibilidade de

personalização no meio virtual propicia o surgimento de segmentos denominados redes

sociais, que Castells (1999, p. 385) define como “uma rede eletrônica de comunicação

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interativa autodefinida, organizada em torno de um interesse ou finalidade compartilhados”.

Compondo um ambientes em que o ponto forte é a troca de informações, as redes sociais

permitem a comunicação de “muitos para muitos” graças aos recursos de interatividade que se

interligam às funcionalidades do computador pessoal e da Internet, tornando possível a

elaboração dos mais variados tipos de ambientes interacionais.

Novos usos da tecnologia, bem como as modificações reais nela introduzidas, são

transmitidos de volta ao mundo inteiro, em tempo real. Assim, o intervalo entre o

processo de aprendizagem pelo uso, e de produção pelo uso, é extraordinariamente

abreviado, e o resultado é que nos envolvemos num processo de aprendizagem

através da produção, num feed-back intenso entre a difusão e o aperfeiçoamento da

tecnologia. Foi por isso que a Internet cresceu, e continua crescendo, numa

velocidade sem precedentes, não só em número de redes, mas no âmbito de

aplicações (CASTELLS, 2003, p. 28).

A característica descentralizada e flexível da Internet oferece a usuários e profissionais

da comunicação uma nova forma de interagir com a informação, consolidando-a não apenas

como um processo comunicativo, mas também como uma prática social. Moldando novos

produtos editoriais com baixo custo, grande abrangência, possibilidades de personalização e

interatividade, dentre as ferramentas que acoplam as características e funcionalidades da atual

Internet, estão os weblogs, ambientes virtuais para produção de conteúdo e socialização que

evoluíram na velocidade das inovações trazidas pela Internet.

Weblogs e o CMS: ferramentas para informação, integração e socialização virtual

Weblogs ou blogs são páginas pessoais da web que possibilitaram a todos publicar na

rede (ORDUÑA et al., 2007), facilitando a criação, manutenção e publicação de informações

através de um CMS (Content Managemente System - Sistema de Gerencialmente de

Conteúdo). Consolidando-se como uma eficaz e democrática forma de comunicação, os

weblogs estão entre os mais populares serviços disponibilizados na rede mundial de

computadores e vêm, inclusive, remodelando todo um conservadorismo jornalístico histórico

ao mudar significativamente o discurso em prol de um hipertexto cuja informação esteja

disponível a participaçãos dos leitores. Segundo Amaral et al. (2009, p. 29), “uma das

primeiras apropriações que rapidamente se seguiu à popularização dos weblogs foi o uso

como diários pessoais”, utilizados como espaços de expressão pessoal, publicação de relatos,

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experiências e pensamentos, compondo assim mecanismos para o desenvolvimento de

diversos gêneros do discurso.

Um Content Management System (Sistema de Gerencialmente de Conteúdo),

popularmente conhecido pela sigla CMS, é a ferramenta que permite ao usuário

gerar de maneira dinâmica os elementos que fazem parte de um site, desde a criação

de páginas, a redação, o design e os arquivos até as licenças (ORDUÑA et al., 2007,

p. 22).

O blog integrado ao CMS quebrou barreiras e obstáculos impostos por técnicas

avançadas de programação voltadas para web, facilitando e incentivando a criação de

conteúdo on-line. A rotina para elaboração e manutenção de um espaço na Internet passa a ser

automatizada e composta por uma interface com manuseio simplificado para o usuário,

organizando a estrutura das postagens em forma cronologicamente inversa e oferecendo uma

gama de utilidades para edição de conteúdo e incorporação de diversos formatos de mídia,

caracterizando-se como uma ferramenta hipermidiática e versátil que se adaptou às

funcionalidades da Internet e às necessidades dos seus usuários.

Pela rápida capacidade de distribuição e compartilhamento de informações,

principalmente através da troca de links, que os blogs formam uma comunidade chamada

“blogosfera”, que Orduña et al. (2007, p. 8) define como “universo e cultura dos blogs”. A

diversidade de temáticas e sujeitos sociais envolvidos na comunidade da blogosfera faz com

que ela se torne um importante sistema para medir o pulso da opinião dominante na Internet

sobre quase qualquer tema, manifestando-se como uma relevante oportunidade para expor

discursos e críticas que não encontram espaço nos tradicionais meios de comunicação

(ORDUÑAS et al., 2007). As ferramentas digitais de edição e distribuição de conteúdo

democratizam a comunicação ao permitir que um indivíduo com um computador possa

partilhar de um universo com uma audiência ciberespacial quase infinita e, por integrar

usuários pela conexão de ideias e conteúdos temáticos que os weblogs representam um

democrático meio de comunicação para sociabilidade.

Uma das características principais da tecnologia criada e distribuída em forma

digital, potencializada pela configuração informacional em rede, é permitir que os

meios de comunicação possam atingir os usuários e obter um feedback imediato. Por

isso mesmo, há algum tempo, um dos tópicos centrais da comunicação digital tem

sido o da interatividade (SANTAELLA, 2007, p. 151).

A interatividade nos weblogs ocorre entre autores e leitores e entre os próprios leitores.

A relação funcional em um weblog é pautada no pacto de leitura, ou seja, uma convenção

entre duas ou mais pessoas propiciada pela temática abordada e, por serem

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caracteristicamente temáticos, que os weblogs se destacam como grandes ambientes virtuais

de interação e troca de informações. Os visitantes de um weblog procuram no veículo o ponto

de vista e a temática de seu autor, a opinião expressa sem uma linha editorial prévia faz do

blogueiro o principal componente para que se possa contextualizar previamente os objetivos

do veículo. De acordo com Lemos (2004, p. 44), “os weblogs constituem-se, atualmente, em

um dos grandes elementos de modificação do jornalismo do ponto de vista tecnológico e da

produção notícia on-line”, apresentando-se como um meio de comunicação mais pessoal que

proporciona uma resposta mais rápida em relação à interação entre emissor e receptor. Diante

da realidade jornalística, os weblogs contribuem oferecendo funcionalidades que aumentam as

fronteiras da realidade midiática, estabelecendo agendas que antes eram regidas

exclusivamente pelos meios tradicionais.

A efetiva aproximação dos weblogs com o jornalismo tem como marco inicial o

ano de 2001. Embora ela já se rascunhasse alguns anos antes, com a criação dos

primeiros blogs em meados da década de 1990, é em 2001, principalmente com os

atentados terroristas às Torres Gêmeas do World Trade Center em 11 de setembro,

que os weblogs passam a ter visibilidade para o grande público e, como

consequência disso, passa a ser vislumbrada a função que eles poderiam ocupar no

jornalismo (AMARAL et al., 2009, p. 199).

Confirmado por Orduña et al. (2007), os atentados de 11 de setembro foram grandes

responsáveis pela popularização dos weblogs, a partir desse acontecimento a ferramenta passa

a ser vista como uma relevante fonte de informação, transformando-se em uma alternativa

complementar diante da mídia tradicional. O jornalismo praticado nos weblogs, seja ele de

qualquer segmento, funciona como uma conversação apurativa que desenvolveu o chamado

“jornalismo participativo ou jornalismo 3.0”, em que, segundo Orduña et al. (2007, p. 57), “a

centralização dos meios de sua agenda, sua concentração, seu mercado e seu monopólio

informativo, se transformam em um universo descentralizado, governado por pessoas que se

tornam guias umas para as outras”, ou seja, é o usuário comum manifestando sua opinião e

construindo uma conversação na qual a participação da audiência on-line torna-se

fundamental para que se possa concluir o discurso e a informação.

No novo cenário da comunicação, as funções da blogosfera são múltiplas: um filtro

social de controle e crítica dos meios de comunicação, um fator de mobilização

social, um novo canal para as fontes convertidas em mídia, um novo formato

aplicável às versões eletrônicas dos meios tradicionais para as coberturas extensas,

catástrofes e acidentes, um enorme arquivo que opera como memória na web, o

alinhamento privilegiado e sua alta densidade de links de entrada e saída e,

finalmente, a grande conversação de múltiplas comunidades cujo objetivo comum é

o conhecimento compartilhado (ORDUÑA et al., 2007, p. 9).

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Os weblogs, assim como a sua progenitora, a Internet, possuem características que os

diferenciam dos demais meios de comunicação por integrar, de forma funcional e através de

um único meio, a rapidez, a hipertextualidade, a multimidialidade e a possibilidade de

interatividade, constituindo assim importantes ferramentas de participação social. De acordo

com Amaral et al. (2009, p. 13), “dar voz a todos (liberação da emissão), permitir o

compartilhamento e a troca de informações (conexão) são poderosas ferramentas políticas de

transformação da vida social (reconfiguração)” e, após inúmeras conquistas da nossa

sociedade, percebemos a partir do surgimento da Internet e da ferramenta weblog o nascer de

uma nova era para a comunicação, com a reformulação de todo um histórico de regras e

padrões comunicacionais que precisaram se adaptar ao gigante e inovador mundo

descentralizado do ciberespaço.

O weblog Juventude Clichê: um espaço de interação social para construção coletiva de

informação e conhecimento

Disponível no endereço eletrônico “www.juventudecliche.com”, o weblog Juventude

Clichê demonstra as funcionalidades de utilização do veículo para as diversas funções da

comunicação, destacando-se como uma mídia social3 que possibilita a manutenção e a

preservação de um espaço identitário para interação, difusão de informações e a troca de

conhecimentos. Para Amaral et al. (2009, p. 8), “os blogs são criados para os mais diversos

fins, refletindo um desejo reprimido pela cultura de massa: o de ser ator na emissão, na

produção de conteúdo e na partilha de experiências”, com o advento da web 2.04 o internauta

passa a interagir e colaborar para construção desse ambiente dinâmico, não se limitando

apenas à visualização do material que é disponibilizado. De acordo com Orduña et al., (2007,

p. 6), “o blog é um meio a princípio pessoal, que funciona sem editores e sem prazos, sem

fins lucrativos, e que é escrito, em geral, pelo prazer de compartilhar informações ou como

veículo de expressão”, permitindo a reunião de temáticas de interesse do autor e a troca de

informações e conhecimentos entre seus visitantes.

3 Ferramentas online que são usadas para divulgar conteúdo ao mesmo tempo em que permitem

alguma relação com outras pessoas. Disponível em: < http://www.midiatismo.com.br/comunicacao-

digital/qual-a-diferenca-entre-redes-sociais-e-midias-sociais>. Acesso em: 7 ago. 2011. 4 O termo Web 2.0 é utilizado para descrever a segunda geração da World Wide Web - tendência que

reforça o conceito de troca de informações e colaboração dos internautas com sites e serviços virtuais.

Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u20173.shtml>. Acesso em: 7

ago. 2011.

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Figura 1 – Página inicial do weblog Juventude Clichê, disponível no endereço eletrônico

<http://www.juventudecliche.com>. Acesso em 8 ago. 2011.

Caracterizado como um espaço sócio virtual para construção coletiva de informação e

compartilhamento de conhecimentos e experiências, o weblog Juventude Clichê mostra as

facilidades que a ferramenta weblog, integrada a um sistema CMS para gerenciamento de

conteúdo, oferece para integração dos processos de criação e publicação na Internet. Como

diz Lemos (2004, p. 111), “a interação por interfaces gráficas é uma forma de empreender

ações” e, tendo como base esse fundamento, utilizando dos recursos da interatividade

colaborativa, que o veículo promove e incentiva a produção de conteúdo voltado para um

público-alvo que é composto em sua maioria por jovens.

O termo “clichê” tem como um dos sinônimos o termo “lugar-comum” (HOUAISS,

2001), que melhor fundamenta a utilização da palavra para compor o título e os objetivos do

weblog. Interligando à juventude contemporânea, o termo “clichê” é uma crítica a

homogeneidade de práticas e ideologias impulsionadas por modismos temporários, impostos

pela grande mídia e disseminadas de forma massificada na rede mundial de computadores,

compondo assim parte significativa dos mais populares conteúdos voltados para o público

jovem na Internet. O weblog não propõe um julgamento aos adeptos dos modismos

contemporâneos, mas uma reflexão através de um espaço com recursos que promovem

interação e participação, oferecendo oportunidades para a prática da escrita e expressão de

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arte nos mais variados formatos, reforçando a ideia do ciberespaço como uma realidade

virtual que integra meios de comunicação múltiplos (SANTAELLA, 2007) através da

convergência de mídias na hipermidiática Internet, demonstrando a versatilidade da

ferramenta weblog como uma mídia social que incentiva a produção intelectual na rede.

O weblog Juventude Clichê utiliza o sistema de gerenciamento de conteúdo CMS

Joomla5, que é desenvolvido em uma plataforma Open Source (Código Aberto), que permite a

colaboração de diversos usuários visando a sua melhoria funcional e técnica, reportando a

ideia do surgimento da Internet, na qual recebeu inúmeras colaborações que possibilitaram a

sua expansão. Apresentando-se ao usuário como um sistema facilitado de publicação, através

de um editor de textos repleto de ícones, é compatível com os mais populares navegadores

web e se integra-se ao weblog oferecendo uma interface intuitiva, prática, ágil e segura,

possibilitando aos visitantes todas as praticidades para interagir com o meio através das suas

publicações.

Figura 2 – Editor do CMS para publicação de conteúdo no weblog.

Como afirma Recuero (2009, p. 84), “weblogs coletivos dependem da cooperação

entre todos os envolvidos para que continuem a existir, já que é preciso atualizar, ler

5 O Joomla é um CMS grátis e muito popular, desenvolvido e enriquecido por milhares de pessoas

pelo mundo fora. O próprio termo Joomla origina da palavra "jumla" que em Arábico significa "todos

juntos", o que corresponde perfeitamente com a natureza do projeto. Disponível em:

<http://www.navegabem.pt/>. Acesso em: 10 ago. 2011.

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comentários e, sobretudo, dividir as informações”. A possibilidade de participação e

socialização através do weblog Juventude Clichê permite a construção da informação e a

interação entre seus usuários, proporcionando o compartilhamento de ideias que se moldam

aos objetivos do veículo e do seu público-alvo. As categorias para publicação de conteúdo

funcionam como mecanismos de personalização, integrando temáticas que abordam

segmentos como crônicas, cultura e arte, dicas de filmes e livros, juventude, opinião, poesias,

política, sociedade e uma parte destinada a indicação de vídeos hospedados na rede.

Fomentando a colaboração através dos diferentes tipos de abordagens que podem ser dadas

aos mais variados tipos de assuntos, o weblog mantém, ao mesmo tempo, a característica

pessoal (em que o autor encontra um espaço para encaixar as suas ideias) e social (por

interagir e compartilhar essas ideias com outros autores e visitantes).

De acordo com Santaella (2007, p. 162), “as interfaces homem-máquina,

especialmente nas configurações informacionais via rede, trouxeram profundas mudanças nas

visões tradicionais de interatividade”, através da convergência de recursos com múltiplas

possibilidades, a interatividade torna o espaço mais participativo e faz com que os usuários se

sintam parte do ambiente através da sua participação. No weblog Juventude Clichê a

interatividade está presente na possibilidade de colaborar para construção do conteúdo, no

recurso de comentários (que permite a participação de visitantes através de questionamentos e

contribuições ao que é publicado) e também através do sistema de avaliação (em que os

usuários determinam notas que variam de 0 a 5, representadas por estrelas), indicando

previamente aos visitantes a qualidade e aceitação do material que é publicado. A

interatividade também se faz presente na integração do produto com redes sociais como

Orkut, Twitter e Facebook, ambientes que servem como extensões para assuntos abordados

no weblog e como meios de divulgação.

Redes sociais como Orkut e Twitter foram fundamentais para captura e conquista do

público-alvo do weblog. Segundo Recuero (2009), o Orkut é um site de rede social que

alcançou grande popularidade entre os internautas brasileiros por permitir a criação de perfis

focados no interesse, com criação e participação em comunidades temáticas, agregando

grupos que funcionam como fóruns de discussão, já o Twitter, de acordo Amaral el al. (2009,

p. 15) “permite um contato mais direto com pessoas de interesses similares”, funcionando

como uma página de recados instantâneos. No Orkut, a divulgação feita em comunidades com

temáticas relacionadas à juventude atrai visitantes que se tornam membros do weblog e

passam a participar por se identificar com a ideia do veículo, compondo assim uma mídia

social na qual as redes sociais tem fundamental importância para composição do ambiente,

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criando conexões entre usuários que se moldam aos objetivos do weblog por possuírem

interesses em comum.

Figura 3 – Página inicial da comunidade Juventude Clichê no Orkut, disponível no endereço

eletrônico <http:// http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=9920472>. Acesso em

15 ago. 2011.

A funcionalidade do weblog Juventude Clichê como mídia social e meio de

comunicação capaz de unir pessoas com objetivos e ideias semelhantes é constatada pela sua

versatilidade de integrar, permitir a participação e socializar o que é compartilhado por seus

participantes. Interligando o termo “Sociedade da Informação”, do autor Manuel Castells

(1999), ao conceito de “Inteligência Coletiva”, cunhado pelo autor Pierre Lévy (1998), o

weblog alcança uma representatividade na rede mundial de computadores por conquistar

usuários e constituir um meio de comunicação mais democrático, possuindo uma determinada

audiência independente das tradicionais hierarquias comunicacionais. No tempo da Internet, o

tempo real, o weblog Juventude Clichê transmite a sua mensagem, mobilizando seu público-

alvo através de uma cooperação voluntária e incentivando a produção intelectual como forma

de expressão e compartilhamento de saberes, informando e construindo um conteúdo que se

converte em memória na rede disponível para um público que pode ser o mundo inteiro.

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Considerações finais

Em um período de intensas disputas militares, políticas, econômicas e ideológicas,

nasce o mais democrático meio de comunicação da história: a Internet. A cooperação

científica, os investimentos em pesquisa e o compartilhamento de informações e resultados

foram pontos fundamentais para o desenvolvimento de uma tecnologia que reconfigurou

modos de ação e interação, dando novos sentidos aos conceitos de “tempo” e “espaço”.

Interligando indivíduos em um ambiente próprio (o ciberespaço), através de uma cultura

característica (a cibercultura) e de uma forma inovadora (hipertextual, hipermidiática), a

Internet compõe uma gigante infra-estrutura fundamentada na construção coletiva do seu

conteúdo e na busca por informações e conhecimentos de forma simples e rápida.

Constituindo um novo modelo de comunicação, a Internet oferece uma gama de

serviços e oportunidades graças a sua capacidade de produção, armazenamento e transmissão

de informações. A sua multimidialidade permite a criação e integração de diversos recursos

que ampliam a participação dos seus usuários e, é nesse contexto, que entram os weblogs,

frutos das evoluções da Internet que atribuem funções ainda mais democráticas para

construção e compartilhamento de conteúdo na rede mundial de computadores, pois permite

que qualquer um possa disponibilizar e distribuir suas produções sem a necessidade de

conhecimentos técnicos de aplicações web e vínculos com hierárquicos veículos de

comunicação.

Oferecendo uma nova forma de se comunicar e informar, os weblogs não se encaixam

mais no simples conceito de “diários virtuais”, hoje, são poderosas ferramentas para transmitir

informação. Atrelados a um Sistema de Gerenciamento de Conteúdo (CMS), vem

reconfigurando a comunicação on-line por oferecer inúmeras funcionalidades através de um

espaço para construção e distribuição de informação que vem conquistando uma ampla

audiência, audiência composta por usuários que não se restringem à mera função de

espectadores: eles interagem, questionam informações incoerentes e ajudam na construção do

processo informacional no amplo e multifacetado mundo da web.

O weblog Juventude Clichê, além de demonstrar a questão estrutural da ferramenta

weblog e a versatilidade da utilização do CMS para gerenciamento do seu conteúdo,

possibilita a expressão através de uma socialização moldada numa estrutura virtual

fundamentada na comunicação e na interatividade para o compartilhamento de saberes,

ajudando na compreensão das rotinas que permitem deixar um weblog ativo na rede e em

destaque em meio à blogosfera. A ferramenta weblog resume funcionalmente a precursora

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Internet e evolui junto com ela, elaborando novos valores sociais com a aplicação de novas

rotinas e construção de novos fluxos de informação, por isso, entendê-la é essencial para

compreender o processo de apropriação da Internet como mecanismo de informação e

organização social na contemporaneidade.

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