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A nova EaD brasileira: mais autonomia ou mais fiscalização? Por Enilton Ferreira Rocha, jun.2018 Passados alguns meses da publicação dos decretos 9057 e 9235/2017, ambos da regulação do ensino superior, alguns reflexos já são visíveis com resultados negativos e positivos, dependendo do olhar de seus usuários, dos seus fornecedores e dos movimentos que se articulam a partir dessa nova realidade na educação mediada e a distância brasileira. Aspectos considerados por muitos especialistas como positivos Apesar de aparecer por aqui, oficialmente, em 1904, só em 1996 ela foi reconhecida, parcialmente, pelo governo federal na assinatura da LDB. Nas duas últimas décadas, a necessidade de autonomia nos processos de credenciamento, autorização e reconhecimento na EaD deixou de ser uma demanda, mas uma necessidade tendo em vista a sua forte ligação com o avanço tecnológico de mediação

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A nova EaD brasileira: mais autonomia ou mais fiscalização? Por Enilton Ferreira Rocha, jun.2018

Passados alguns meses da publicação dos decretos 9057 e 9235/2017, ambos da regulação do ensino superior, alguns reflexos já são visíveis com resultados negativos e positivos, dependendo do olhar de seus usuários, dos seus fornecedores e dos movimentos que se articulam a partir dessa nova realidade na educação mediada e a distância brasileira. Aspectos considerados por muitos especialistas como positivos Apesar de aparecer por aqui, oficialmente, em 1904, só em 1996 ela foi reconhecida, parcialmente, pelo governo federal na assinatura da LDB. Nas duas últimas décadas, a necessidade de autonomia nos processos de credenciamento, autorização e reconhecimento na EaD deixou de ser uma demanda, mas uma necessidade tendo em vista a sua forte ligação com o avanço tecnológico de mediação dominado pela sociedade digital, bem como pela imensurável contribuição para a democratização da educação, pela criação de novos espaços e tempos de aprendizagem e seus legados socioeconômicos e políticos. Nesse contexto, as novas portarias que regulam o processo operacional desses decretos criaram meios de incentivo à expansão da EaD e à autonomia no âmbito das universidade, de centros universitários e faculdades, privilegiando as IES que dão atenção especial à qualidade do ensino e da aprendizagem mediados e que fortaleçam as relações entre estudantes, professores e a

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sociedade brasileira. Que garantam acesso irrestrito, infraestrutura adequada de polos de apoio educacional e principalmente que ofereçam educação para a vida em sociedade e n 2 8. Drástica redução de custos na implantação de novos polos e na produção de material didático (antes a IES precisava terceirizar o alto custo da produção de material, muitas vezes descontextualizada da realidade/identidade institucional ou bancava os altos custos da produção instrucional interna e em decadência); 9. Monitoramento da qualidade da oferta, no conjunto da obra: atualização curricular; infraestrutura tecnológica de mediação; organização, identidade institucional e atendimento nos polos; captação, seleção e manutenção de estudantes; projeto educacional e gestão de pessoas envolvidas; sustentabilidade operacional-financeira e capacidade de expansão etc. Negativos: 1. Fiscalização na contramão da orientação preventiva? A confirmar a intenção do MEC de fazer o monitoramento da qualidade da oferta utilizando o modelo que apelidei de fiscal da educação, tipo apaga incêndio, isso poderá fomentar um retrocesso aos processos de expansão e autonomia, tendo em vista as punições previstas para as IES que não estiverem em conformidade com as novas regras (suspensão de novos ingressantes, descredenciamento e suspensão da autonomia universitária). Recentemente, o INEP publicou um edital para seleção de 11.493 avaliadores a R$ 1.200,00 cada, com um orçamento estimado em R$ 13.791.600, 00. Fora o custo de seleção e preparação dos avaliadores para a utilização dos novos instrumentos e para as visitas in loco em processos de avaliação e monitoramento. Essa alternativa vai na contramão da condição oferecida pelos decretos 9057 e 9235, para uma avaliação preventiva com a mediação da gestão de sistemas de informação e inteligência analytics de dados, em tempo real, que

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certamente reforçará a continuidade da autonomia universitária e oferecerá confiabilidade, eficiência e rapidez no monitoramento da oferta no ensino superior. Permitindo ações gerenciais e governamentais com base em indicadores de resultados isentos, considerando o alto grau de confiabilidade da informação colhida diretamente na fonte (estudantes, integração direta com sistemas internos das IES, professore, gestores etc.) por meio, por exemplo, de sistemas embarcados. 2. Alto risco da formação interrompida. Ver para crer ou punir pelo resultado? Historicamente, na comunidade acadêmica, a gestão de pessoas não é reconhecida como uma ação estratégica e desse modo não recebe o tratamento que merece abrindo brechas para riscos irreparáveis no campo da formação de pessoas, incluindo dos seus estudantes. Nesse sentido, a Hiperlinks A partir daqui, o leitor encontrará hiperlinks no texto - em azul grifados. Para acesso aos seus conteúdos passe o mouse ou clique sobre eles. 3 considerar o modelo fiscal apaga incêndio previsto para a partir de 2018, segundo reportagem indexada a este texto, milhares de estudantes estarão sujeitos à interrupção do processo formativo no meio da sua formação. Isso levando em conta que somente a partir da metade do curso é que o MEC receberá, da instituição de ensino, o relatório de desempenho para o processo de reconhecimento ou não desse curso. Por que não fazer uma avaliação preventiva e diária utilizando os vários recursos da tecnologia de banco de dados e de sistemas de informação e comunicação? Por que não utilizar a tecnologia da inteligência artificial ou dos sistemas embarcados, a inteligência da computação em nuvem e dos smartphones para rastreamento automático do desempenho institucional e dos estudantes em processo contínuo de aprendizagem? Isso a um custo de implantação provavelmente menor ou igual ao previsto

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pelo MEC, com as visitas dos avaliadores, estimado em R$ 13.791.600, 00, fora o custo de seleção e preparação dos avaliadores para a utilização dos novos instrumentos. Considerações finais Esse cenário, apresentado pelo INEP/MEC, para os processos de avaliação externa direcionados para autorizações, reconhecimentos e recredenciamentos poderá entrar em choque com o propósito dos instrumentos e portarias regulatórias publicadas em 2017 que trouxeram para os sistemas federais de amparo ao desenvolvimento educacional brasileiro novas esperanças, redução da burocracia e mais autonomia e confiança nas IES. Permitindo, inclusive, às IES que oferecem ou oferecerão cursos mediados e a distância, um grande potencial de crescimento da oferta e da expansão fora dos seus estados de origem, incluindo outros países. Depois de várias leituras desses instrumentos, de participação em reuniões de marco da nova regulação, participação em várias mesas redondas e reuniões com representantes de IES; a expectativa, considerando as intenções do governo apresentadas no teor dos decretos e portarias aqui referenciados, era de garantia de liberdade em troca de qualidade na educação. De expansão da EaD com sustentabilidade. Era de divisão de responsabilidade em relação aos preceitos da educação e de seus processos, incluindo a gestão de pessoas na EaD. Mas o que se vê em conversa com especialistas e mais recentemente na interpretação da intenção embutida no projeto apelidado aqui de fiscal da educação, a nova EaD 2017 pode se transformar em um retrocesso, abrindo espaço para punições fruto da velha desconfiança, com prejuízos irreparáveis para as IES e seus estudantes, punidos por tabela, contribuindo fortemente para a redução da expansão naquelas IES que independente de decretos e portarias fazem educação de qualidade, utilizando os seus instrumentos de autoavaliação,

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vencendo barreiras advindas de aspectos econômicos e da luta para vencer as concorrências muitas vezes desleais, em se tratando de educação. 4 Enfim, o cenário é favorável à expansão da EaD com flexibilidade e autonomia, mas há controvérsias dependendo do modo como o MEC e o mercado fornecedor comportarão como responsáveis por essa expansão. Referencias: MEC, MINISTÉRIO DE EDUCAÇÃO E CULTURA. Decretos 9057/2017. Disponível em: https://abmes.org.br/arquivos/legislacoes/Decreto-9057-2017-05-25.pdf Acesso em: 01 jun. 2018. MEC, MINISTÉRIO DE EDUCAÇÃO E CULTURA. Decretos 9235/2017. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=78741- d9235-pdf&category_slug=dezembro-2017-pdf&Itemid=30192 Acesso em: 02 jun. 2018. ROCHA, Enilton Ferreira. Seleção de Avaliadores pelo INEP: um custo desnecessário para os cofres públicos? Disponível em https://wr3ead.com.br/wpcontent/uploads/2018/artigos/BANCO-DE-AVALIADORES-SELE%C3%87%C3%83O-1.pdf Acesso em: 02 jun. 2018. O Globo. Em 2023, instituições privadas terão mais alunos no ensino à distância que no presencial. Disponível em: https://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/em-2023-instituicoes-privadas-teraomais-alunos-no-ensino-distancia-que-no-presencial22702702#ixzz5HK7pOLpY Acesso em: 01 jun.2018.

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Professor-Aluno: uma difícil convivência na aprendizagem?

Considerações a partir de vivências no ensino superior. Enilton Ferreira Rocha, mai. 2018. Resumo Este texto apresenta considerações extraídas de vivências na formação de professores para a docência na educação a distância, bem como em cursos de qualificação para o uso de metodologias ativas no ensino superior. Palavras-chave: Metodologias Ativas. Teorias da Aprendizagem. Convivência Professor-Aluno. Consultando algumas revisões bibliográficas no campo da educação no ensino superior brasileiro, a relação professor-aluno caminha para mudanças e desafios imensuráveis e urgentes, tendo em vista a sua cronologia ou timeline construída, na maioria dos casos, no autoritarismo epistemológico acadêmico e as influências externas trazidas com o avanço acelerado das novas tecnologias de informação e comunicação. Nesse caminhar, o professor, com as devidas proporções, assumiu o papel de centralizador da aprendizagem como a melhor referência para uma aprendizagem “dita” de qualidade, ignorando, por força cultural e de intervenções (socioeconômicas e psicológicas), o verdadeiro significado da sua ação docente no aprender com dignidade, com dedicação, com atenção especial aos contextos e realidades dos seus alunos, como por exemplo a valorização da relação humana na sala de aula. Observando e avaliando atitudes, comportamentos e depoimentos de professores durante a realização de cursos de formação para a EaD e qualificação em metodologias ativas, a relação professor-aluno sempre aparece como um dos itens de maior impacto no sucesso ou insucesso desses cursos e suas práticas. Questões como: 1. Quem sou no processo de aprendizagem? Muitas vezes o professor ainda não

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se deu conta da sua identidade nesse processo e seus contextos. Por vezes, quando são convidados a responder uma pesquisa simples sobre eles, suas convicções, anseios, desilusões e posicionamentos pessoais sobre o papel e a importância deles no ensinar e aprender, os resultados são assustadores... Nos debates sobre esses resultados, via de regra, surgem alguns professores que apresentam sintomas de depressão ou alarmados com a grandiosidade do impacto da educação na sua vida pessoal e profissional e vice-versa. Há depoimentos de fragilidades, de angustias, mas outros de altruísmo, de acreditar na inovação para vencer os desafios da educação do Século XXI. Outros de consciência sobre a urgência em reformular o currículo oficial da docência no ensino superior, face aos novos ingredientes de efeitos radicais na química e no itinerário do aprender no ensino superior associados à proposta 2 de educação infantil e média embutida na BNCC e na proposta da OCDE1 para o futuro da educação. Isso sem contar as resistências naturais geradas por conflitos institucionais de origem histórica na educação brasileira. 2. O ritmo das mudanças e o apego acadêmico Não bastassem os conflitos de natureza subjetiva, de identidade docente, observa-se nessa trajetória que os professores sofrem da síndrome “sanduiche do apego acadêmico”. De um lado a força aceleradora da inovação tecnológico-digital na educação, das novas conexões pedagógico-andragógicas na sala de aula (desconstruindo séculos do aprender centralizador). Do mesmo modo, os efeitos mais recentes de conflitos da inteligência analytics de ados e de informações na educação, que, sorrateiramente, infiltram no dia a dia do estudante, do professor e da gestão acadêmica como inevitáveis alternativas para a mediação do aprender além dos parâmetros convencionais de qualidade. Do aprender

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compartilhado, horizontal, mediado e a distância. Do outro, o velho e tradicional ensinar-aprender baseado em conteúdo para a “prova”, para o concurso. Do ensinar e do aprender verticais, centralizadores, atrelados a uma lógica dogmática de consenso ou de verdade, instrucionais... Enquanto as mudanças na educação caminham a passos longos e inevitáveis, a relação professor-aluno, no Brasil, caminha ao sabor do ver para crer... da burocracia acadêmica e ao fiel escudo do apego acadêmico, muitas vezes exteriorizado em um equivocado slogan do marketing educacional: “...oferecemos educação de qualidade há 50 anos e somo fiéis à tradição e à cultura da IES”. 3. Nem 8 nem 80, mas um equilíbrio em processo de aprendizagem? Embora as metodologias ativas evidenciem em suas origens resultados positivos, do ponto de vista da autonomia, da criatividade, da busca e descoberta, defendidos por Ausubel (1960), ao vivenciarmos o cotidiano docente, em seus contextos e realidades brasileiras, há de creditar à aprendizagem por meio de metodologias expositivas e de recepção a necessidade de equilíbrio entre teorias e metodologias da aprendizagem, de modo a evitar o descumprimento de metas nesses modelos sob a égide dos currículos institucionais. Nesse sentido, Marques (2010) nos faz refletir, em suas considerações sobre “A Pedagogia de Jerome Bruner”, acerca da prudência em manter o equilíbrio no uso teórico-metodológico de aprendizagem, de modo a fortalecer a relação professor-aluno em situações complexas, socioeconômicas, de humanidades, diversas e naturais exigidas pela educação de qualidade, no ensino superior, guardadas as proporções entre o ideal, o necessário e o possível. Nessa perspectiva, considera-se fundamental que haja balanceamento entre os métodos ativos e a exposição e recepção, com o propósito de oferecer aos estudantes

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oportunidades de 1 (O relatório Science, Technology and Innovation Outlook, divulgado no final de 2016 pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), analisa as implicações de várias megatendências para os sistemas de Ciência, Tecnologia e Inovação (C,T&I) e apresenta projeções para os desenvolvimentos nos próximos 10 a 15 anos.). 3 aprender em ambientes e espaços que lhes deem motivação, segurança, confiança, liberdade de expressão e a oportunidade de promover intervenções e abstrações sobre o objeto da aprendizagem em estudo. 4. O aluno insatisfeito mas obediente? Recentemente, durante cursos que ministrei, no itinerário formativo para o uso de metodologias ativas no ensino superior, observou-se que durante as apresentações de uma atividade externa mediada pelo uso de celulares (whatsapp e vídeo educativo), a análise feita pelos professores presentes trouxe considerações interessantes sobre o estado de insatisfação dos alunos entrevistados acerca do modelo educacional vigente na maioria das IES brasileiras, mas, também, o estado de conformismo apresentado por esses mesmos alunos de romperem com a inércia acadêmica no ensino superior, romper com o estado de conservadorismo acadêmico que ainda vigora nessas IES. Nesse contexto, as reflexões da produção científica deixadas por pesquisadores após a 1ª Guerra mundial: Lindman (1926), Bruner (1960), Ausubel (1963) seguidos por Knowles (1970 e Kolb (1980), deixaram relatos de preocupações com o "statu quo ante bellum" na educação daquele século, cujas inquietações apontavam para a necessidade de investigar e compreender as causas e efeitos da passividade discente em processo de aprendizagem, bem como reduzi-las com o uso da aprendizagem ativo-significativa. A partir dessas reflexões, seria prudente uma atenção especial para o cotidiano do professor e

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do aluno do Século XXI, de modo a investigar quais seriam as prováveis alternativas para responder interrogações do tipo: ✓ A quem interessaria o perfil do aluno insatisfeito mas obediente? ✓ O que pode ser feito pelo professor para reduzir ou eliminar essa omissão? ✓ Se estamos insatisfeitos como principais agentes de mudanças na educação, por que mantermos esse status quo? ✓ A causa principal de resistência seria a ausência das metodologias ativas? ✓ De que modo as IES contribuem para esse conformismo? 5. O segredo ou o óbvio? Do ponto vista prático, há quem diga que as distâncias entre o fazer pelas metodologias ativas, na perspectiva de aproximar o professor de seus alunos, de desenvolver habilidades e competências necessárias para intervenções na teoria a partir de uma prática, do aprender pela problematização em contrapartida ao aprender por meio de metodologias expositivas e de recepção, são a cada dia maiores. Mas há controvérsias, pois no sentido contrário há teorias que reforçam o uso do aprender pela exposição e recepção, em contextos e cenários com fortes apelos do cognitivismo, da assimilação pela observação cujos currículos e suas metas de aprendizagem favoreçam a adoção. A considerar as diversas correntes das teorias de aprendizagem (comportamentalismo, andragogia, socioconstrutivismo, conectivismo e cognitivismo), diria que o segredo seriam as habilidades do professor em estabelecer o equilíbrio entre os dois modelos de aprendizagem, destacados aqui, que, em suas particularidades, podem interferir mais ou menos na relação professor-aluno. Nesse sentido, acredita-se que por meio de diagnósticos e avaliações individuais e coletivas, pela observação e análise de estilos de aprendizagem, sem perder de vista o objetivo 4 formativo, seja factível a escolha alternada ou híbrida de métodos adequados para determinadas turmas, privilegiando

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o aluno/estudante/aprendiz como o centro das atenções e o professor como orientador/curador da aprendizagem. Enfim, em se tratando do aprender, na convivência professor-aluno, cujos personagens principais estão representados pelo humano, em suas singularidades, creio que ainda teremos muito que investigar, estudar, debater e aprender... Referências: AUSUBEL, DAVID PAUL; JOSEPH, D. NOVAK; HELEN , HANESIAN. Psicologia Educacional. Editora: Editora Interamericana, RJ; 1980. AUSUBEL, D. PAUL; NOVAK, J. E HANESIAN, H. (1978). Educational psychology: a cognitive view. Nova Iorque: Holt, Rinehart and Winston. KNOWLES, M. S.; HOLTON, E. F.; SWANSON, R. A. The adult learner. Houston: Gulf, 1998. KNOWLES. M. S.; HOLTON III, E. F.; SWANSON. R. A. Aprendizagem de resultados: uma abordagem prática para aumentar a efetividade da educação corporativa. Rio de Janeiro: Campus, 2011. LINDEMAN, E. C. The meaning of adult education. New Oork: 1926. NOVA ESCOLA (Por Elisângela Fernandes). David Ausubel e a aprendizagem significativa. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/262/david-ausubel-e-a-aprendizagemsignificativa Acesso em: 18 mai. 2018. MARQUES, Ramiro. A Pedagogia de Jerome Bruner. Disponível em: http://coral.ufsm.br/righi/EPE/RamiroMarques.pdf Acesso em 15 mai. 2018. MORAN, José Manuel. Metodologias ativas e modelos híbridos na educação. Disponível em: http://www2.eca.usp.br/moran/wp-content/uploads/2018/03/Metodologias_Ativas.pdf acesso em: 15 dez. 2017. ROCHA, Enilton F. Os dez pressupostos andragógicos da aprendizagem do adulto: um olhar diferenciado na educação do adulto. disponível em: http://www.abed.org.br/arquivos/os_10_pressupostos_andragogicos_ENILTON.pdf Acesso em: 19 mai. 2018. ROCHA, Enilton F.

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Metodologias Ativas: um desafio além das quatro paredes da sala de aula. http://www.abed.org.br/arquivos/Metodologias_Ativas_alem_da_sala_de_aula_Enilton_Roch a.pdf Acesso em: 16 abr.2018.

Alerta! O futuro do EAD no Brasil está em risco

Na semana que passou me deparei com um anúncio publicitário que oferecia um curso completo de bacharelado em Administração por 48 parcelas de R$ 43,00. Não era promoção de matrícula, nem do primeiro semestre, nada disto - era o curso inteiro por dois mil reais. Quatro anos de curso em EAD desta universidade custa menos do que uma só mensalidade da FGV, do Insper, do IBMEC ou de algumas PUCs. Este não é um caso isolado. Fui pesquisar e encontrei ofertas promocionais de Administração e outros cursos por valores que vão desde R$ 39,00 até R$ 99,00 mensais. As ofertas mais agressivas não vêm de médias ou pequenas IES isoladas, mas sim de alguns grupos consolidadores. A estratégia destes grupos é clara: bloquear a entrada de novas IES no mercado, principalmente as pequenas e médias instituições que acabaram de autorizar seus cursos em EAD e apostam na força regional de suas marcas para conquistarem um pequeno pedaço do mercado da sua região de abrangência. São IES que nunca irão competir nacionalmente, mas que podem conquistar um bom público em suas localidades (onde suas marcas alcançam). Como nos últimos 12 meses mais de uma centena de IES se credenciaram ou estão se credenciando para oferecer EAD, e agora já podem começar com uma grande quantidade de polos, faz sentido que os grandes

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grupos passem a jogar pesado para protegerem suas conquistas. Evidentemente que não é sustentável uma mensalidade de R$ 40,00 – independente da escala que o grupo possua. Se este valor fosse sustentável a mensalidade média do online não seria de R$ 265,00 (valor médio de todos os cursos EAD online no Brasil). Estudos recentes da ATMÃ Educar apontam para uma mensalidade média no EAD online por volta de R$ 150,00 daqui a três anos (valor este já deflacionado). Então, se R$ 150,00 mensais é o valor sustentável, qual a intencionalidade dos grupos que cobram menos do que isto? Como já expliquei, ganhar market share e impedir a entrada e/ou crescimento dos novos players em EAD. Eles estão apostando que lá na frente terão a possibilidade de recuperar o valor perdido, uma vez que poucos sobreviverão a este movimento. Mas será que esta estratégia agressiva destes grupos dará certo? Sem entrar no mérito da ética, ou melhor, da falta de ética por trás destas práticas, a conclusão óbvia disto é a seguinte: para o objetivo a que se propõe, esta estratégia será muito bem sucedida. Sim, a conclusão mais evidente é esta mesma: os grandes grupos conseguirão impedir o nascimento e/ou crescimento do EAD da maioria dos novos players que estão entrando no mercado ou que já entraram nos últimos 12 meses. No entanto, o que estes grupos ainda não enxergaram é o efeito colateral desta prática. A primeira vista parece algo muito bom, pois oferecer cursos muito baratos permite uma maior inclusão social das classes de menor poder aquisitivo no ensino superior, o que é louvável. Por outro lado, pelo menos dois efeitos “colaterais” resultarão desta prática: a) O aumento do descrédito da sociedade quanto à seriedade da modalidade EAD. O setor privado vem lutando há anos para mostrar para a sociedade e para os conselhos profissionais que o EAD é sério, pode ter qualidade e representa

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o futuro da educação no Brasil e no mundo. Este movimento predatório de alguns grupos tende a minar esta crescente percepção de qualidade e respeitabilidade do EAD, dando munição para que alguns conselhos profissionais ganhem força na luta contra esta modalidade em seus cursos. b) Certamente a qualidade da formação final destes estudantes ficará comprometida. Talvez no futuro seja possível, mas atualmente ainda não é possível dar uma boa formação profissional oferecendo um ensino meramente instrucional, cujo custo cabe em uma mensalidade de R$ 40,00. E não é porque a qualidade do material didático é ruim nestes cursos. Ao contrário, na maioria deles o material é de boa qualidade. A questão é que uma formação profissional não se faz apenas com bons textos e bons vídeos, mas é preciso também muita interatividade (seja ela presencial ou virtual), e isto custa dinheiro. É preciso também elaboração e aplicabilidade por parte do estudante referente ao que estão estudando, sempre com orientação de um profissional da educação, e isto também custa dinheiro. Estes elementos raramente são contemplados nos cursos de “R$ 1,99”, donde conclui-se que eles estão “enganando” estes estudantes. Quando muito, instruem bem, mas não formam ninguém. Este segundo efeito colateral já começa a tomar corpo. Nos dois últimos ciclos avaliativos do ENADE, a nota dos cursos na modalidade em EAD, quando comparada aos cursos presenciais, já se mostra significativamente menor e segue em declínio. O MEC está atento a isto e se esforçando para evitar um desfecho ruim para o setor, sendo rigoroso nas avaliações e nas punições. No entanto, a ação do MEC não conseguirá corrigir sozinha esta distorção, pois os estudantes demoram para separar “o joio do trigo” em termos de IES e quem será prejudicada, efetivamente, não será uma ou outra IES, mas sim a modalidade EAD como um

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todo. No Brasil predomina o modelo de EAD 100% online de baixa ou nenhuma interatividade, diferente do que é praticado em países onde a educação é mais valorizada. O modelo híbrido ou semipresencial seria uma alternativa melhor para a realidade brasileira, mas também tem sido mal trabalhado por muitos players. O fato é que para se ter qualidade no EAD é preciso ter interatividade, seja ela presencial ou virtual (telepresencial), e isto custa dinheiro e aumenta o custo do EAD. O mercado de trabalho vai cobrar o seu preço ao receber profissionais pouco qualificados oriundos dos cursos de “R$ 1,99”, mas até que isto aconteça, muitos grupos privados seguirão sua expansão pouco preocupados com esta questão. Ryon Braga Diretor Técnico da ABMES Presidente da ATMÃ Educar

Educação Aberta e Flexível, um caminho sem volta13/12/2017

Por: Luciano Sathler*

A Educação a Distância (EaD) é um fenômeno alinhado à luta por uma sociedade mais justa e menos desigual, onde o maior número possível de pessoas possa estudar e ampliar o leque de oportunidades para avançar na vida.

A EaD leva a novas práticas que vão ao encontro da aprendizagem em um mundo saturado de informação. O que é criado, replicado, alterado e

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divulgado hoje nos meios de comunicação massivos e na internet chegou a níveis inéditos em termos de quantidade, velocidade e variedade.

Essa realidade afeta a percepção humana, que não lida bem com a linearidade estabelecida por currículos que não valorizam a personalização das relações de ensino-aprendizagem e não incorporam as possibilidades trazidas pelas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC).

Em sua atual fase, a EaD também pode colaborar com o desenvolvimento das chamadas competências digitais, essenciais para promover a capacidade de utilizar as TIC de maneira crítica, criativa, autônoma e sem se enredar nas mentiras ou cair na manipulação.

Apesar de a EaD ser praticada há séculos em várias parte do mundo, salta aos olhos o seu crescimento no Brasil em anos recentes. O número de matrículas em cursos de graduação a distância aproximou-se de 1,5 milhão, em 2016, o que correspondia a 18,6% dos oito milhões de universitários no país.De acordo com a pesquisa TIC Domicílios 2016, realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), mais de dezesseis milhões de pessoas participaram de cursos a distância naquele ano. Os resultados demonstram também que cerca de 80 milhões de brasileiros realizou atividades ou pesquisas escolares e 72 milhões estudaram por

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conta própria utilizando a internet.

A Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED) verificou, em seu censo de 2016, o montante de 2,9 milhões de alunos que participaram de cursos livres corporativos e não corporativos. Trata-se de uma análise qualitativa mais aprofundada sobre a EaD, que se encontra disponível gratuitamente online.Há uma nítida convergência entre o crescimento da EaD e a disseminação TIC. Temos mais computadores, tablets, celulares, usuários, maior acesso à banda larga e volume exponencialmente crescente de informação disponível no universo digital. Redução nos preços de hardwares e softwares, aumento na capacidade de processamento e memória, nas nuvens ou em máquinas domésticas e no trabalho.

Aproxima-se a “digitalização de tudo”, que aumenta o potencial de indivíduos e organizações que saibam se inserir nesse universo. Ao mesmo tempo, há uma série de impactos negativos e riscos de desigualdades ainda maiores que levem à concentração de poder militar, econômico, político e simbólico.

Há novas profissões surgindo e previsões alarmistas sobre o desaparecimento de muitas outras ocupações, a serem eliminadas ou substituídas pela automação. Também cresce a quantidade de empregos e trabalhos que exigem mais

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competências e habilidades digitais, especialmente devido a grandes mudanças nas profissões existentes, que incorporam as TIC em seu cotidiano.

Nos países empobrecidos – eufemisticamente chamados ‘em desenvolvimento’ – aumenta a demanda por Educação Superior de boa qualidade e mais acessível. As salas de aula são cada vez mais frequentadas por estudantes com um novo perfil, ou seja: idade maior que 25 anos, primeiro da família a frequentar uma universidade, trabalhador de tempo integral, que sustenta dependentes econômicos e não completou o Ensino Médio na idade considerada normal.

Pelas próprias condições de vida, esses estudantes tendem a preferir mais possibilidades de aprendizagem a distância, especialmente mediadas online. Também as novas gerações, que cresceram em contato com tablets e celulares, não suportam mais as aulas exclusivamente no modelo tradicional. Observa-se que os cursos presenciais passam a incluir metodologias EaD em suas práticas didático-pedagógicas, numa tendência chamada ‘educação híbrida’.

Em breve, será difícil identificar a modalidade de uma oferta educacional, pois em todo caso as TIC permitirão maior flexibilidade de tempo e espaço nos quais os alunos vão estudar e interagir.

A tendência é a educação aberta e flexível, com

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uma presença permanente na vida das pessoas, pois ninguém mais pode deixar de estudar.

A EaD ainda faz levantar a sobrancelha dos mais céticos. Porém, ao longo de seus 24 anos de existência, a ABED constata que a qualidade dos cursos está diretamente relacionada à qualidade da instituição ofertante. Isso vale para o ensino presencial e a distância.

Esse alinhamento se confirma pelos resultados do Enade, exame que é aplicado igualmente para alunos de cursos de Graduação a distância e presenciais.Apresentamos, a seguir, uma figura que ilustra, de forma sintética, o que é ser bem-sucedido na EaD e quais os fatores que influenciam o maior ou menor sucesso em um curso a distância.

A educação de qualidade é a tarefa principal e primordial para qualquer governante ou, simplesmente, cidadão. A EaD permite alcançar novos patamares educacionais com escalabilidade e maior agilidade.

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MEC muda regras da Educação a Distância e provoca queda nas mensalidades O Ministério da Educação alterou as regras de atuação das Instituições de Ensino Superior no mercado de Educação a Distância.

A publicação da Portaria Normativa 11/2017, que saiu no Diário Oficial da União na quarta-feira, 21 de junho de 2017, deixou o mercado mais aberto para a competição entre as instituições de ensino. Esta portaria complementa o Decreto 9057, publicado

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em 26 de maio deste ano. O novo marco regulatório quebra uma hegemonia que vem desde o ano de 2006, desde quando era praticamente impossível que novos players entrassem na disputa do mercado nacional. As dificuldades impostas pelo MEC para credenciar Instituições de Ensino Superior (IES) e autorizar a expansão de redes de polos de apoio presencial eram exageradas, e com muita demora na tramitação. As novas regras permitem às instituições autorizadas pelo MEC para oferecer Educação a Distância a livre abertura de até 250 novos Polos de Apoio Presencial por ano, numa escala que combina o indicador de avaliação aferido pelo ministério em relação à instituição e o número de novos polos a serem abertos. Ganha a sociedade com a maior competição, que pode derrubar os preços e ainda trazer inovações tecnológicas para atender os alunos mais jovens, já habituados com o mundo virtual. Este fator de maior facilidade para a expansão das instituições muda de maneira radical a competição entre as universidades que buscam a liderança do mercado. Pois, até então, até então era preciso esperar até dois ou três anos para ter um pedido limitado de abertura de polos com a tramitação concluída pelo Ministério da Educação. Pela nova regra, IES que tenham Conceito Institucional 3 (três) - que é a nota mínima de aprovação de operação de uma Universidade, Centro Universitário ou Faculdade, podem abrir livremente até 50 (cinquenta) polos por ano. Para o Conceito 4 (quatro), até 150 polos por ano. E, para o Conceito 5 (cinco), até 250 polos por ano em cada IES. Os polos são as unidades avançadas das instituições para atender aos alunos da educação a distância em etapas de tutoria, aulas práticas ou realização de exames. Por decorrência própria dos modelos de educação a distância adotados no Brasil, os alunos costumam ter atividades nos polos em intervalos semanais, quinzenais ou mensais na maioria das instituições. A

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nova realidade propiciada pelo Decreto 9075/2017 e pela Portaria Normativa 11/2017 tem potencial para desequilibrar o jogo entre os 30 (trinta) maiores players de educação a distância do setor privado. Eles travam uma luta de mercado para m Hoper Educação www.hoper.com.br Avenida República Argentina, 3370, sala 3 Foz do Iguaçu – PR – 88856-578 2 Os números do último Censo da Educação Superior divulgado pelo Ministério da Educação (com dados apurados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas – o INPE) mostram que, quanto maior a rede de polos de uma instituição, mais alunos ela tem potencial de ter no somatório de todas as unidades. A tabela a seguir mostra a importância do polo para a ocupação do mercado. Dentre as cinco maiores instituições em numero de alunos, pelos dados do Censo da Educação Superior de 2015, o mais recente disponível, as quatro primeiras têm pelo menos 380 polos cada uma, enquanto entre as colocadas entre o 5º e o 10º lugar têm apenas entre 34 e 51 polos ativos naquele ano. Exceção apenas para a UNISEB, em oitavo lugar, que tinha 130 unidades cadastradas. Ranking de IES Alunos Polos 1 UNOPAR 336.315 450 2 ANHANGUERA 133.785 380 3 UNIP 123.822 516 4 UNINTER 120.890 716 5 UNIASSELVI 93.110 51 6 ESTÁCIO 77.717 51 7 UNICESUMAR 46.008 55 8 UNISEB 30.969 130 9 UNIMES 26.061 38 10 CEUCLAR 21.177 34 A criação de novos polos será livre para todas as instituições. Porém, na avaliação da Consultoria Hoper, o maior impacto positivo será para Instituições de menor porte e que já têm pelo menos cinco anos de experiência na modalidade. Estas instituições já cumpriram um ciclo de aprendizagem em marketing e vendas, em atendimento aos polos e na avaliação de alunos, mas estavam fora do jogo nacional porque ainda têm redes pequenas, na faixa de 20 a 100. Maior potencial de crescimento para IES menores

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Para estas ‘pequenas’ instituições, somar em um ano mais 150 ou 250 polos significa uma revolução no potencial de captação de novos alunos. Enquanto que, para as IES que são líderes e estão na faixa de 400 polos ativos, colocar mais 250 unidades não muda na mesma proporção a realidade de captação, uma vez que as líderes já estão posicionadas nas duzentas ou trezentas maiores cidades do país. Em outras palavras, as líderes vão tentar crescer, mas avançando para a periferia das grandes cidades e para cidades pequenas, enquanto as IES menores vão tentar crescer em direção às duzentas maiores cidades e para cidades médias com bom potencial de mercado, onde a competitividade ainda não esteja muito acirrada. Hoper Educação www.hoper.com.br Avenida República Argentina, 3370, sala 3 Foz do Iguaçu – PR – 88856-578 3 Outro impacto potencial que a nova regulamentação traz é sobre a perspectiva de evolução em matrículas na educação superior a distância entre as Instituições de Ensino que pertencem a grupos consolidadores de capital fechado ou de capital aberto. Muitas delas ainda não estão no ranking das 10 maiores do país em número de alunos porque tiveram credenciamento para EaD em data posterior a 2006, quando o Ministério da Educação ‘congelou’ o mercado com uma fotografia do passado. Quem tinha redes com centenas de polos pôde manter esta posição, e quem entrou depois na disputa de mercado ficou até agora confinado a redes muito pequenas. Podem se beneficiar diretamente com esta nova fase de expansão grupos consolidadores como a Estácio, que poderá ampliar a cobertura nacional para a rede de polos, e grupos como Anima e Ser, que ainda têm redes de polos insuficientes para enfrentar as lideres Unopar, Anhanguera, Unip e Uninter. Outro grupo de IES que podem se beneficiar são as instituições que estão no ranking das

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vinte ou trinta maiores, que já dominaram o ciclo de aprendizagem para operar cursos de graduação e de pós-graduação por EaD, e que não conseguiam se firmar como líderes regionais ou tentar o mercado nacional pela pouca abrangência de polos. Mais polos não significa garantia de crescimento É uma ilusão imaginar que ‘ter mais polos é garantia de crescimento’. O mercado de Ensino Superior ainda vivendo a retração da crise econômica, e nas principais cidades já estão em operação as IES líderes nacional e regionalmente. Não é tarefa simples ‘furar o bloqueio’ das líderes. O maior número de polos representa, de fato, um potencial de crescimento. Mas, a realização deste potencial em matrículas envolve a disputa direta com os grandes grupos em estratégias de marketing e vendas, posicionamento de preços, promoções de descontos para transferência, e mesmo a modalidade de oferta, com maior ou menor carga de presencialidade nos cursos. Queda de preços ao consumidor O consumidor final vai ganhar com a provável queda de preços que a disputa vai colocar em cena. As mensalidades na EaD vêm caindo ano após ano. O relatório Análise Setorial, que a Hoper publica anualmente, mostra que o valor médio da mensalidade da EaD em 2016 era de R$ 290, e que já caiu para R$ 279,00 em 2017. O novo marco regulatório pode acelerar a curva de queda nos preços finais aos estudantes. Flexibilidade para atividades presenciais obrigatórias Outras mudanças importantes que surgem com a nova legislação são a possibilidade das instituições se associarem a organizações públicas ou empresas privadas para estabelecer parcerias e realizar nestas entidades atividades presenciais especializadas. Por exemplo, uma usina de açúcar e álcool pode sediar as aulas práticas para alunos de um curso superior de Tecnologia Sucroalcooleira. Um hospital pode sediar os estágios de alunos

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de Enfermagem, e assim por diante. Criação de IES exclusivas para a EaD Hoper Educação www.hoper.com.br Avenida República Argentina, 3370, sala 3 Foz do Iguaçu – PR – 88856-578 4 A nova regulamentação revoga também a disposição criada em 2006 que proibia a criação de instituições de ensino focadas exclusivamente na oferta de cursos superiores a distância. Esta proibição deixava o Brasil isolado da comunidade acadêmica global, que está justamente na fronteira da pesquisa sobre novas formas de ensinar e aprender para as novas gerações que habitam como ‘nativos digitais’ o espaço virtual. Este foi outro Entulho Autoritário colocado por terra pela nova regulamentação do Ministério da Educação. Faltam critérios para o controle da qualidade na EaD Um aspecto que a nova regulamentação da EaD não trata é o controle da qualidade dos cursos ofertados e da aprendizagem efetivamente demonstrada pelos alunos. Os instrumentos legais que tratam da Avaliação Institucional estão defasados em relação ao mercado. Tanto a Lei do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES, Lei 10.861/2004), quanto o Decreto de regulamentação 5773/2006 e as práticas adotadas pelo Ministério da Educação e pelo INEP com o ciclo trienal de aferição do desempenho dos alunos no ENADE (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes) estão ultrapassados como elementos de aferição. Para a Educação a Distância a situação de falta de controle na qualidade dos egressos é alarmante, pois mais de 30% das matrículas estão em cursos superiores de tecnologia com dois anos de duração. Ou seja, a cada três turmas completas de oferta apenas os alunos que estiverem na condição de concluintes no sexto ano da oferta do curso é que serão avaliados na condição de concluintes. E, se estes forem ‘mal’ no ENADE, ficando, por exemplo, com o Conceito insuficiente 2

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(dois), a IES ainda poderá seguir com a oferta regular mediante a promessa de cumprimento de ações saneadoras. Na prática instituições que não têm foco na qualidade podem ofertar cursos muito ruins durante seis a dez anos sem uma punição efetiva pelo MEC, pois as fórmulas de cálculo de Conceitos Preliminares de Curso, e mesmo do Índice Geral de Cursos da IES permite ‘salvar’ instituições que tomam nota vermelha no quesito de aprendizagem dos alunos. E, mesmo quando estas instituições recebem alertas e exigências de melhorias pelo Ministério, se não as fizerem de maneira eficaz, ainda podem permanecer longos anos em atividade até que uma punição efetiva se concretize. Esta condição deixa o SINAES como um mecanismo absolutamente incapaz no combate a fraudes acadêmicas, tanto na modalidade do ensino presencial quanto na modalidade a distância. Uma alternativa que se recomenda ao Ministério da Educação é a regulamentação de um ciclo anual de avaliação obrigatória para os alunos concluintes de todos os cursos. O país já foi capaz de se organizar assim na década de 1990, com o antigo Provão. Não há justificativa técnica ou de procedimentos que evidencie o MEC de hoje ser mais incapaz que o MEC de antigamente para avaliar com maior rigor a qualidade de entrega ao mercado dos alunos que as IES diplomam ano a ano. Em outras palavras, o MEC cumpriu um ciclo de depuração positiva ao desregulamentar a EaD e devolver ao mercado as condições de competitividade. Mas, está devendo uma proposta de Hoper Educação www.hoper.com.br Avenida República Argentina, 3370, sala 3 Foz do Iguaçu – PR – 88856-578 5 controle da qualidade mais efetiva, até como mecanismo de proteção dos interesses dos consumidores (alunos) e de toda a sociedade. (*) João Vianney Valle dos Santos, doutor em Ciências Humanas, é sócio consultor na Hoper Educação, e Diretor do Blog do Enem.

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Ex-diretor de EaD da Universidade do Sul de Santa Catarina, e ex-coordenador do Laboratório de Ensino a Distância da Universidade Federal de Santa Catarina. A Hoper Educação membro da Associação Brasileira de Educação a Distância – ABED.

Publicado originalmente em: http://educacao.estadao.com.br/blogs/rolando-na-rede/educacao-aberta-e-flexivel-um-caminho-sem-volta/