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COMPANHEIRISMO EM VERSO E PROSA ANTOLOGIA COMPANHEIRISMO EM VERSO E PROSA 1ª EDIÇÃO 1

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COMPANHEIRISMO EMVERSO E PROSA

ANTOLOGIA

COMPANHEIRISMO EMVERSO E PROSA

1ª EDIÇÃO

POETAS E ESCRITORES DO ALTO TIETÊ

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Antologia

Ficha catalográfica

Copyright ©2015 – Todos os direitos reservados a:Lions Clube Mogi das Cruzes- Itapety

1ª Edição Junho 2015

Diversos autoresCompanheirismo em verso e prosa- Antologia/ Diversos autores. Mogi das Cruzes, SP

Bibliografia.1. Diversos autores,- 2, Antologia3. - Poesia 4. Contos 5,. Crônicas I. Título- Companheirismo em verso e prosa

Capa: Prado ViniciusRevisão:

Índices para catálogo sistemático:

1. Antologia 158.12. Poesia. Contos, Crônicas 158.1

Direitos exclusivos para Língua Portuguesa cedidos ao Lions Clube Mogi das Cruzes -ItapetyMogi das Cruzes 320- São PauloSão Paulo – SP – Brasil CEP 087-73-650 (11) 3259-4224 Vendas:

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte do conteúdo deste livro poderá ser utilizada ou reproduzida em qualquer meio ou forma, seja ele impresso, digital, áudio ou visual sem a expressa autorização por escrito da Biblioteca24x7sob penas criminais e ações civis.

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COMPANHEIRISMO EMVERSO E PROSA

SUMÁRIO

A Menina Que Ganhava LivrosAmizade, a essência da vida

Caminhos da AmizadeCasa

ExperiênciaAmizade

O Olho de VidroA Macieira

Reflexões da VidaEncrenqueira ao Cubo

Dois Conceitos de Uma Mesma RealidadeSuperação

Contos de AreiaDeus Existe

Verdadeira BandeiraPé de Cana

Súplicas InocentesAjudar Faz Bem

Uma História de AmorO Que é o Natal?

O EngraxateEspelho

O Vendedor de RedesMemórias de Um Aposentado

A Vida é Um JardimO Farol de GeremiasAmigos Para Sempre

CompanheirismoO Inevitável

HeróiLargo da Matriz

O Último dos MarcianosO Rato

A SombraCompadre

Adriana RochaAndreia GarciaAuro MalaquiasCarla PozoCícero BuarkCláudio MenezesCollodiDaniel MoraisDorgan S. Reis FilhoHenriette FraissatIvan MeloJoaquim MatosJoão AnatalinoJoão do Espírito SantoJobis da SilvaJosé Wagner.Ramos da SilvaJosé Geraldo da SilvaLuís MaritanMarcelo de Lima AraújoMaria Fernandes IglésiasMaria de Lourdes da SilvaMárcia SechMiriam Amélia N. KucinkisNelson AlbissuOlavo CâmaraPaulo César FilipaziPaulo PinhalPaulo Rogério de SouzaPrado ViníciusRaimundo Alves RodriguesRegina GlyciaRenato FauryRoberto CavenattiSidney LealSuami Paula Azevedo

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Antologia

Só mais um BocadinhoCompetição

Walkiria Digenova StoppaWalter Aguiar

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COMPANHEIRISMO EMVERSO E PROSA

APRESENTAÇÃO

Todos os movimentos medrados no seio da sociedade têm suas vidas pautadas pelas mesmas vicissitudes que atingem as pessoas que o sustentam. Por isso se diz que eles estão sujeitos aos dois tipos de morte que também atingem os seres humanos.

A primeira morte de um movimento é a morte ontológica, ou seja, aquela que vai solapando a sua vida, como se fosse uma doença degenerativa. Essa doença é causada pela perda do objetivo inicial que deu motivo ao nascimento do movimento.

Normalmente isso ocorre pela saída de seus líderes, ou pela morte física de seus membros e a falta de reposição de pessoas com o mesmo entusiasmo. É a morte da consciência, do espírito do movimento, que sempre ocorre antes da própria morte física dele. É o que também acontece com as pessoas. A rigor, morre-se antes, e mais depressa, quando não se tem mais uma causa a defender.

A segunda morte de um movimento é a física. E ela ocorre quando ninguém mais se dispõe a defender a causa que motivou o seu nascimento.

É por esse e por outros motivos que o Lions Clube Mogi das Cruzes ─ Itapety está lançando este trabalho. Ele é a semente que o Movimento Lions Clube Internacional, neste ato patrocinado pela Governadoria do Distrito LC-5, que tem á frente o Governador Paulo Rogério de Souza, está plantando com o objetivo de revigorar o nosso movimento, através de uma ferramenta extremamente eficiente, que é a Literatura.

Sabemos que escritores, poetas, artistas e professores, bem como todos aqueles cuja principal ferramenta de trabalho é o intelecto,

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Antologia

pertencem á uma classe especial de batalhadores pelas causas públicas; assim como os profissionais liberais e os empreendedores que já descobriram que a prática da responsabilidade social e ambiental é a única filosofia que poderá garantir o futuro das suas empresas e da nossa própria espécie. E esses comportamentos só podem ser alavancados praticando uma comunicação eficiente e responsável que distribua pelas consciências de todo o mundo essa cartilha.

Por isso o Governador do Distrito LC-5 adotou como lema da sua Governadoria a boa comunicação. E, nesse sentido, lançou a ideia de reunir os escritores do Alto Tietê para a produção de uma coletânea, que em textos de boa literatura pudesse exprimir a filosofia do Movimento Lions, colocando-o na boca do povo. Dessa forma mais pessoas poderiam tomar conhecimento de quanta amizade, companheirismo, serviço comunitário e amor pelas boas causas se pratica no âmbito de um Lions Clube.

Esta é a semente de uma árvore que se pretende tornar mais forte e produtiva. Essa árvore será a fundação de uma Academia Lions de Letras, que servirá de embrião para outras academias a serem fundadas no distrito com o objetivo de servir de voz para o Movimento.

A todos os escritores e poetas do Alto Tietê, que gentil e carinhosamente puseram á disposição desta coletânea o seu talento literário, os nossos mais efusivos agradecimentos.

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COMPANHEIRISMO EMVERSO E PROSA

PREFÁCIO

Caro leitor:

Você sabia que vinte anos atrás uma pessoa adulta tinha pelo 3.5 amigos de verdade com quem podia dividir suas alegrias e tristezas e que hoje essa média caiu para 2? E que pelo menos ¼ delas não têm ninguém a quem possa ser dado esse título? Esse foi o resultado de um levantamento realizado por um instituto americano de pesquisa de comportamento. A mesma pesquisa apurou que uma pessoa normal – e normal aqui é aquela que não rasga dinheiro nem sai atirando a esmo nas outras – tem, em média, pelo menos 750 conhecidos num universo de parentes, amigos íntimos e conhecidos de todo tipo (de vista, nome, etc). Mas não se encontrou ninguém que apontasse pelo menos 5 pessoas em quem realmente pudessem confiar suas intimidades ou revelar algo de pessoal.

Você se lembra quando isso era feito até com ocasionais companheiros que se encontravam em um bar e depois de meia hora de conversa já estavam trocando confidências?

Hoje, essa doce camaradagem já está sendo difícil de encontrar até mesmo entre parceiros da vida – como deveriam ser maridos e mulheres –, e inclusive sócios ou pessoas que comungam de mútuos interesses.

Mudou a amizade ou mudamos nós? A pesquisa mostra também que os mais solitários estão entre os jovens universitários que terminaram a faculdade e perderam contato com os colegas e entre os aposentados que trabalharam a maior parte das suas vidas profissionais em uma única empresa. Destes últimos, a grande

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Antologia

maioria não conseguiu fazer novos amigos e foram principalmente as pessoas de meia idade – 50 a 60 anos – que encontraram maior dificuldade para se relacionar com pessoas desconhecidas.

Essa queda no nível da amizade vai se agravando pelo declínio das atividades comunitárias, tais como a frequência às igrejas, clubes, atividades esportivas, etc. Você se ainda se lembra como era bom aquele futebolzinho dos domingos, os bailinhos de fim de semana, o flerte nas praças e nas quermesses, o velho papo descompromissado dos barzinhos?

Ah! Não diga que tudo isso acontecia por que você era jovem e tinha tempo e disposição para isso. Atividades comunitárias não são privilégios de quem tem vinte, quarenta ou sessenta anos. Podem ser praticadas por quem quiser e tiver vontade. Não precisa envolver necessariamente esforço físico.

Essa mesma pesquisa mostrou que a confiança entre colegas de trabalho declinou de 29% (dados de 1990) para 18%, em números de 2010. E que a competição é a principal responsável pelo alargamento na fenda da amizade e pelo declínio da confiança entre as pessoas.

Pense bem nisso e se você ainda não sentiu nenhum prazer em assistir o Big Brother, para ver como as pessoas conseguem exercer seu aprendizado de Maquiavel para derrubar os adversários, então talvez possa ajudar a nossa comunidade a recuperar a velha cultura da amizade. Cultive esse velho e bom hábito antes que ele desapareça por completo. E o melhor lugar para começar a fazer isso é um clube de serviços. Conheça um Lions Clube. Amizade e companheirismo ainda têm o bom costume de bater ponto por lá.

Esta antologia foi escrita com a finalidade de mostrar á você a beleza dos sentimentos que ainda se cultivam nos nossos Lions Clube. Aproveite-a bem.

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COMPANHEIRISMO EMVERSO E PROSA

A MENINA QUE GANHAVA LIVROS

Por Adriana Rocha

Coisa linda de ver e para muitos, “estranho”, era Laurinha. Enquanto as demais crianças da comunidade almejavam brinquedos - ainda que fossem usados - no Natal, Laurinha queria livros, no aniversário idem, assim como no dia das crianças.

Não que ela não brincasse de bonecas e de correr com a criançada, brincava sim e muito! Mas se quisesse ver parar o mundo pra ela, era só deixar cair um livro em sua mão.

Sua mãe era uma lavadeira, ganhava a vida assim e era muito boa nisso; já não era de se estranhar mais, as mulheres bonitonas dos bairros chiques chegarem em seus carrões para trazer roupas para Dona Nazaré lavar, ─ melhor que lavanderia – elas diziam.

Ela foi a primeira a observar a “estranheza” da filha e achou por bem alimentar. Comprava livros quando podia, quando não, pedia para as madames; onde ela ouvisse falar ou o menor vestígio de doação e troca de livros lá estava dona Nazaré, alimentando o “vício” da filha.

Se contar ninguém acredita que exista criança assim e se acrescentar que isso aconteceu na periferia então! Fica mais difícil ainda...

A verdade é que dona Nazaré já estava contaminada e adorava ver a filha de apenas 9 anos, lendo poesias e contos de Clarice Lispector, entre outros, como gente grande; Laurinha lia como ela sempre imaginou fazer um dia, mas não foi possível, teve que trabalhar cedo e logo casou-se teve filhos e por uma fatalidade ficou viúva e foi

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Antologia

morar na favela, o dinheiro que o finado lhe deixou, não dava para comprar mais que um barraco.

Vira e mexe seus olhos marejavam diante da mesma cena e Laurinha sabia que isso incendiava o coração da sua mãe e lia em alta voz, - Isso lhe rendia mais livros - e ela, simplesmente adorava ganhar livros...

Quantas vezes dona Nazaré levou consigo, orgulhosa, a filha que lia tão bem, a movimentos literários!

E assim cresceu Laurinha, sem roupa da moda, mas cheia de livros, perdendo-se entre eles nas bibliotecas públicas, livrarias e pedindo livros; meu Deus como pedia livro aquela moça, os amigos mesmo não conseguiam dizer não.

Com a fama corrida, até os donos das livrarias da região mandavam livros a ela, principalmente os que ficavam encalhados nas prateleiras, depois ela ia pessoalmente agradecer e comentar sobre os livros que recebera, lia todos e acabava ganhando outros.

Algumas escritoras então! Apaixonaram-se por Laurinha, a ela enviavam suas obras autografadas muitas vezes antes até mesmo da noite de autógrafos e do lançamento.

Hoje Laurinha faz faculdade de letras e tem uma loja de livros novos e usados, já publicou três livros falando sobre a realidade e sobre as dificuldades da comunidade carente.

Dona Nazaré? Ah Dona Nazaré hoje – interpreta poesia até melhor que a filha ─ e lidera com maestria um grupo de pessoas que por meio delas apaixonaram-se por livros e poesias, juntos iniciaram o primeiro ponto cultural da favela, com direito a sarau e tudo!! ________________Adriana Rocha, mulher, mãe, escritora, colunista, cronista, contista e metida à contadora de histórias, sobe no palco da vida para atuar conforme sua própria peça, tecendo sua própria teia, no ritmo das letras que saem do seu coração. Autora de vários títulos como: “Eu te acompanho até a cruz”, “V de vagina – sexo e romance”, “20 dias para encontrar um namorado rico”, “Feminina”, “30 dias para esquecer um grande amor” “Quase tudo bem”,

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COMPANHEIRISMO EMVERSO E PROSA

“O príncipe e a Bruxa”, “A bruxa, o vampiro, o pirata e a música”, “Contos e crônicas da vida alheia” e uma coletânea de livros infantis que serão lançados em 2015.E-mail: [email protected]

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AMIZADE... ESSÊNCIA DA VIDA

Por Andréia Garcia

Na noite, consegui buscar a essência da imensidão que era amar.Amar, no sentido genérico do fluxo da vida.Uma vida de encontros e despedidas; de chorar e de sorrir; mas

mesmo assim, uma vida a viver.Dúvidas num amanhecer; decisões a me preencher o ser ora

atormentado por fluir de asas da qual chamamos liberdade.Liberdade almejada num momento para alçar voo aonde antes só

se pensava caminhar preso ao fio do natural nascer.Consegui ousar, plantando uma semente que há tempos começa a

se desenvolver, e sendo regada por mãos que lisonjeio encontrar e ter ao meu lado.

Saudades fazem parte desse contexto evolutivo para lembrar-me que sozinha nunca estarei para amar.

Hoje, então, digo que amo os que me pertencem, pois nada tenho senão o amor que cultivei.________________

Andréia Garcia - Membro da Associação Cultural Literatura do Brasil. Articulista no Jornal DAT, às sextas-feiras e no Jornal Estação, às segundas-feiras. No DAT, quinzenalmente, escrevo crônicas humoradas de assuntos variados.Autora do livro: “A Viajante do Trem”.www.aviajantedotrem.com.br / Email: [email protected]

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CAMINHOS DA AMIZADE

Por Auro Malaquias

Se for dor o que sente, eu muito sinto.Se for alegria o que sinto, com você eu divido.Se partir, triste consinto.Se voltar, tem meu sorriso, comovido.Se adoecido. Constrito, meu coração clama tristonho.Se ausente. A liberdade nos conforta a toda hora.Se distante e mudo. Visita-me em sonho.Se presente. A alegria se apresenta sem demora.Mas se o tempo passa depressa.E em caminhos longínquos cada um segue,Trilhando caminhos opostos no afã da vivência.Um pacto em silêncio com sabor de inocênciaConsola-nos a vitória, que cada um consegue,E que entregamos, um ao outro, sem nada que em troca peça.____________________

Auro Malaquias dos Santos Nasceu em São Paulo, capital, em junho de 1968 e cresceu na região leste. Fez todos os seus estudos no ensino público, chegando a formar-se em Biblioteconomia. Trabalha como bibliotecário em uma biblioteca. E-mail: [email protected]

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Antologia

CASA

Por Carla Pozo

Construí a minha casa no terreno da esperança, com tijolos de respeito, porta de amor e janelas de amizade. E sempre fazia a manutenção com carinho e tolerância. O meu vizinho não entendia, por que em sua casa sempre apareciam rachaduras e mofo.

Mas nunca se preocupava com a manutenção, nem sabia como sua casa tinha sido construída, já estava na família há muitos anos. Precisava resolver o problema daquelas rachaduras. Ao pesquisar sobre a construção, descobriu que a casa fora construída no terreno da competição, com tijolos de inveja, porta de desconfiança e janelas de fofoca.

Triste com a descoberta meu vizinho pensou em demolir aquela casa, mas ia morar onde? Uma senhora muita sábia que morava na nossa rua teve uma ideia.

─ Não precisa demolir sua casa, bem ou mal ela traz uma história de vida, podemos reformar.

Desanimado meu vizinho disse: ─ Mas aqui não tem nada de bom! A senhora continuou.

─ O terreno da competição não é ruim, é só ter regras e ética, em uma competição todos nós aprendemos, aprimorando nossos dons durante os treinos.

Os tijolos da inveja, você pode pintar com a cor do trabalho, na porta da desconfiança coloca uma maçaneta de esperança, na janela da fofoca uma cortina de compreensão com bordado de respeito.

Meu vizinho adorou a ideia e aos poucos fez a sua reforma. Aprendeu que a manutenção é essencial. Sua casa nunca mais teve

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COMPANHEIRISMO EMVERSO E PROSA

mofo e rachaduras.______________Carla Pozo tem poesias escritora com participação em várias antologias, premiada no Mapa Cultural Paulista em 2010 e em outros concursos literários nacionais.  Em 2012, lançou seu primeiro livro infantil, a fábula “O Morcego e o Vaga-lume”, em 2014 participou da Antologia Prosa Rio Abaixo com o conto “Os Quatro Porquinhos”.  Professora de leitura e coordenadora do Entremeio Literário em sua cidade, Mogi das Cruzes/SP, onde desenvolve vários projetos de incentivo à leitura, formação de novos escritores, curadora da 1º Feira Literária Serra do Itapety. “FLISI” em 2014 e atualmente, dedica-se à escrita de novos contos infantis. E-mail [email protected]

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MATURIDADE, A IDADE DA EXPERIÊNCIA

Por Cícero Buark

A maturidade é atingida quando a pessoa amadurece, amadurecendo também tudo que está à sua volta. Eu mesmo pensei que já tinha aprendido tudo, pela idade que atingi, mas a vida nos surpreende com doenças, acidentes, casos amorosos e separação; e por mais que seja forte, entra em depressão e com isso cai a sua capacidade de trabalho e você começa a perder as pessoas. Muitas vezes, só nos restam os bares da vida. Se for forte, superará tudo e tornar-se-á um vencedor. Do contrário sucumbirá. Pesquisas revelam que somente 10% das pessoas conseguem sair dessa crise, o restante morre.

Estive lendo o texto sobre maturidade escrito em 1700 pelo ilustre poeta William Shakespeare. De uma preciosidade inigualável, abriu a minha mente e me possibilitou uma alegria maior de viver: “... Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que a companhia nem sempre significa segurança. E começa a aprender que beijos não são contratos, e presentes não são promessas. E começa a aceitar suas derrotas coma cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança. E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos. E o futuro tem o costume de cair em meio ao vão. Descobre que as pessoas com quem mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa, por isso devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pois pode ser a última vez que as vemos.

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COMPANHEIRISMO EMVERSO E PROSA

Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém. Algumas vezes você tem que aprender a perdoar a si mesmo. Aprende que com a mesma severidade com que julga, você será, em algum momento, condenado. Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não para que você o conserte. Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás, portanto, plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores. E você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida! Nossas dádiva são traidoras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar, se não fosse o medo de tentar”.__________________

Cícero Buark é escritor, jornalista e autor dos livros: Falando Sozinho, Ilhabela e Seus Mistérios, O Poeta da Natureza, O Rosto Cósmico de Cristo e é autor do Guia da Cidade de Mogi das Cruzes.E-mail: [email protected]

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AMIZADE

Por Claudio Menezes

─ Rapaz, faz muito tempo.─ Muito, mesmo, quase trinta anos.─ Mais, trinta e cinco. Foi em 1975, um grande ano.─ João, Roberto, Denílson, uma defesa respeitável. Hoje todos

em cidades diferentes...─ Eu fiquei por aqui mesmo. Nunca sai de casa. E o Denílson

também não. Só você foi embora. Eu até casei com a Vânia, filha do Seu Carlos, aquele PM que pegava no pé e não deixava a gente em paz. ─ Lembra deles?

─ Se lembro. A gente não podia fazer barulho, rádio alto nem pensar; namorar no muro da escola impossível, e estamos falando desse século...

─ Não, na verdade, foi mesmo no século passado.─ Isso mesmo, século passado... Mas o Denílson ainda mora por

aqui?─ Mora na mesma casa no final da rua.Vou abrir um parêntesis para apresentar o Denílson; Pense num

amigo daqueles 1000%, sempre presente e sempre prestativo com todos. Todas as senhoras da rua gostavam dele. Ajudava a todas carregando as compras e sempre solícito para tudo; levava recados. Naquele tempo nem todos tinham telefone e eram as crianças que faziam as comunicações, correndo de uma casa para outra. Como era grande e forte, protegia os amigos na Escola. E além de tudo era o primeiro aluno da turma. Os professores o apontavam como exemplo e era mesmo um bom aluno. Nos bailes, já na adolescência, fazia sucesso com as meninas. E como era respeitador, as mães pediam

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para ele tomar conta das filhas. E ele tomava mesmo, não deixando que nenhum menino mais abusado viesse tomar liberdades indevidas. Quando os amigos reclamavam da postura, ele dizia: ”tenho irmã também, seus tarados!”. “Falou tá falado, não tem discussão”, era a letra de uma música da época. ”Respeito é bom e eu gosto” era uma frase que a gente de fato levava a sério. O Denílson realmente era alguém cotado para ser um bom pai, bom marido e fadado ao sucesso... Mas fechemos o parêntesis aqui.

─ No final da rua, o Denílson mora? Então vamos lá. Vamos reunir a nossa famosa defesa ...

O Mário fechou a cara.─ Não, não vale a pena, ele não vai gostar. ─ Como não vale a pena? E aí começou a contar a história desse amigo nosso.─ Você já deve conhecer alguém com quem tudo deu errado.

Tudo mesmo. Alguém que você apostava que ia ter sucesso na vida e não deu em nada. É, mais ou menos, o que aconteceu com ele.

─ Me conte isso.─ A Lúcia, irmã dele, se casou com um traficante. Ninguém sabia

disso. A gente pensava que o cara era funcionário público. Uma noite a polícia chegou e entrou na casa deles sem avisar. Foi uma desgraça. Matou os dois na cama do casal. A filha de três anos estava no quarto com eles. Por pouco também não morreu. Infelizmente um dos tiros pegou na menina. Ela perdeu a fala e os movimentos. Com a morte do irmão e da cunhada ele e os avós tiveram que criar a criança. Você sabe como são essas coisas. As pessoas, os amigos, todos se afastaram deles...

─ Soube que a dona Hercília, a mãe dele, tinha morrido.. Ainda me lembro do toddy que ela fazia para nós, depois dos jogos, para

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comemorarmos as vitórias ─ comentei.─ Ele teve que desistir da faculdade para cuidar da sobrinha.

Começou a trabalhar em uma padaria e até hoje está lá. Parou no tempo não foi para a frente.

Meu amigo Mário falava como se um acontecimento desses fosse suficiente para justificar o fato de as pessoas se afastarem das outras, como se tais fatalidades as transformassem sempre para pior, mesmo não sendo culpa delas.

Levantamos para ir almoçar. Fomos andando pelas ruas da nossa infância e juventude, mas quando chegamos no restaurante, eu parei na porta e me afastei um pouco, como se para atender um telefonema. Quando voltei me despedi dele dizendo que eu estava sendo chamado para uma urgência.

─ Vida de médico─ eu disse. ─ Você sabe como é. Na verdade, eu queria mesmo é ir até a casa do Denílson.Eu me lembrava bem do caminho. Mas ao chegar lá realmente me

espantei. Estava tudo igual. Eram as mesmas janelas de madeira, o mesmo jardim de pedras brancas. Um sentimento de tristeza tomou conta de mim. Realmente eu não gostei de ver o meu amigo naquela situação de quase pobreza, e imaginei que ele também não gostaria de se mostrar assim. Mas eu já estava ali, e agora não dava para recuar. A saudade era maior do que o meu constrangimento. Toquei a campainha e ele abriu a porta. Imediatamente surgiu no rosto dele um grande sorriso de prazer.

─ Meu amigo João! (Ele me reconheceu imediatamente, depois de quarenta anos!). ─ Que satisfação você por aqui. Entra, entra, você já conhece o caminho.

O Denílson havia mudado muito. Não era mais aquele caboclo forte como antes. Parecia até que havia diminuído de tamanho.

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Demorei um pouco para reconhecer nele aquele outro, o amigo dos velhos tempos.

─ Que bom que você está aqui ─ disse ele. ─ Pensei que tivesse esquecido os amigos.

─ Não, não. Claro que não, respondi rápido. Ele olhou pra mim e perguntou diretamente:

─ Já esteve com o Mário e ele já lhe contou como tudo na minha vida deu errado? Ele adora contar essa história.

─ Já estive com ele sim. Estranhei, vocês morando tão perto, e agora quase não se veem. A amizade acabou?

─ Na verdade ─ respondeu Denílson ─ ele se afastou de mim depois do problema com o meu cunhado. Até o meu pai foi preso naquela noite. E se não fosse o “Seu” Carlos, sogro do Mário, que é policial, talvez não tivesse sobrado ninguém para contar a história. Aquilo acabou com as amizades. Ninguém quis falar mais com meu pai e com minha mãe. Nem comigo. Acho até que eles morreram mais rápido por causa disso.

Era uma coisa triste. Eu não sabia o que dizer. A gente nunca sabe o que dizer numa hora dessas, a não ser as velhas frases chavão.

─ Que é isso, meu amigo. ─ Eles estão melhores que nós. Eles merecem estar melhores que nós. Eram pessoas boas, como você.

Ele então abriu um sorriso.Ah! vamos tomar um toddy como aquele que a dona Hercília nos

fazia nos bons tempos. (Que bom que ele também se lembrava disso).

Fomos á cozinha. Tudo igual. A mesma mesa verde de fórmica, com suas cadeiras da mesma cor, de anos atrás. Tudo tão limpo como antes. Ladrilhos branquíssimos nas paredes e o chão de uma cor quase azul-escuro.

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Ficamos conversando horas e horas. E á medida que conversávamos, fui recuperando a visão que eu havia conservado do meu velho amigo. De repente ele era a mesma pessoa de antes: um gigante, de atos limpos e bom caráter. Uma alma boa, que cuidou da irmã deficiente por todos esses anos sem nunca pensar em si mesmo. Até que um dia ela se foi e ele ficou sozinho. Tinha passado a vida cuidando de seus entes queridos, e de repente viu que estava sozinho e não tinha mais tempo para mudar a situação. Ele foi um homem que não desistiu dos sonhos. Apenas não os teve, porque decidiu que a família era seu mundo, a sua missão na vida. Apesar de tudo, parecia feliz.

Pensando em tudo isso, rememorei a nossa velha turminha. Sugeri um brinde. Olhei para os lados e tive a sensação que todos estavam ali presentes. O sentimento de presença dos pais dele, da sobrinha e dos amigos, estava bem forte ali. Pensei em quanto eles deveriam estar felizes vendo seu querido filho e amigo, sorrindo novamente.

Era quase noite, mas o ambiente estava iluminado como se ainda fosse dia. Era uma luz que vinha da aurora dos tempos, acesa pela memória de uma grande amizade, que só de vez em quando a gente nota.

─ Á vida ─ disse eu, levantando a caneca de toddy.─ A vida não, à amizade ─ respondeu ele, com os olhos

marejados de saudade._______________

Cláudio Meneses, é médico, com especialidade em endocrinologia e pós graduação em dietética. Nasceu no Rio de Janeiro, é casado com Gilce Paixão, também médica. Mora em Mogi das Cruzes desce 1987, onde exerce sua profissão. A música, a literatura e a filatelia são seus hobbies favoritos. E-mail: [email protected]

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COMPANHEIRISMO EMVERSO E PROSA

O OLHO DE VIDRO

Por Collodi

Era um olho de vidro, movido por um músculo no fundo da órbita. Dir-se-ia inútil, no entanto sagaz, via perto, via longe, de frente, dos lados, bisbilhotava, como que impulsionado por algo eletrônico, mas era um músculo remanescente no fundo da órbita que o impulsionava.

Era capaz de ver através dos muros, dos sobretudos, das saias, mas não contava o que via, era discreto, alimentava o desejo secreto de libertar-se como todo escravo, tinha defeitos como todo olho, como o de só ver o que lhe interessava, o que lhe dava gosto ver : os pássaros, a natureza, as flores, o resto só olhava de relance, como as pessoas com seus olhares hipócritas, suas expressões de escárnio.

O olho tinha uma íris escura, pousada num fundo opalino e uma pupila profunda, inquisidora, negra como carvão, como se estivesse a perscrutar o futuro.

Não fazia questão de demonstrar bom caráter, nem fazia amizade com o olho do lado direito, que era autossuficiente, antipático. Fazia-se mordaz, irônico nas horas cruciais. Mas era também covarde, nos momentos de perigo, escondia-se sob as pálpebras que se serravam ao menor ataque, queria passar despercebido, certo de que o olho bom daria perfeitamente conta do recado.

Volta e meia o olho de vidro escapava com a intenção de fugir; era pego do chão, lambido e posto de volta na órbita com o músculo mandão que o obrigava a se mexer. Estava cansado, um pouco arranhado pelos tantos tombos que levava, e sempre retornava a sua cela viscosa e de vez em quando adormecia, descansava de tanto ver

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e guardar para si o quanto via, cenas íntimas de alcova, vilanias, e outras manifestações humanas.

Um dia presenciou um crime, guardou-se em copas, por puro desejo de manter-se fora das intrigas, teve vontade de revirar-se, de fugir, de estilhaçar-se.

Certa vez apaixonou-se por um olho azul de acrílico. Eram brilhantes e os olhos se encontraram, foi amor à primeira vista, sem palavras, mas o tempo suficiente de enamorar-se. Nunca mais foi o mesmo, bastava lembrar-se do olho de acrílico, que pedia uma lágrima para banhar-se.

Naquele dia estava disposto a ganhar o mundo, escafeder-se de vez. Aguardou uma piscadela a atravessada, saltou da órbita e rolou para um bueiro e não foi encontrado entre dejetos, ratos e baratas, até que uma chuva o levou ao mar, onde se fincou na areia, entre algas, conchas e peixes. Viveu livre e feliz para sempre. De vez em quando lembrava-se do olho azul de acrílico e suspirava de saudade.______________

Antonio Fernando de Souza, Natural de Mococa, SP,Tem poemas publicados no site "Recanto das Letras", presente em inúmeras antologias, publicou o livro "Rosa Guerrilheira"/Professor Universitário/ Fundador do Lions Clube de Mogi das Cruzes/ Comenda pelo CRO, Medalha Tiradentes(CRO)Collodi (Antônio Fernando de Souza). E-mail: [email protected]

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COMPANHEIRISMO EMVERSO E PROSA

A MACIEIRA

Por Daniel Morais

A chuva que caia sobre a rua ao anoitecer sobre as casas com portas e janelas fechadas. Vistas em perspectiva da janela do sótão do velho casarão transmitia ser um vilarejo esquecido pelo tempo.

Olhei para os dois lados da rua até onde minha visão alcançava e avistei um tronco envelhecido de uma macieira, sem maçãs e galhos ressecados que em tempos remotos, era a alegria da garotada que ao descer do velho ônibus escolar corria para pegar as frutas vermelhas.

Dentre os pentelhos que saltavam na rua de terra sujando os calções azul-marinho com listas brancas por causa da poeira que o velho ônibus fazia ao arrancar, ali acanhado e tristonho encontrava-se Teco.

De estatura franzina com olhos fundos e cansados, Teco sempre ficava por último para colher maçã, isso se o deixassem subir na árvore, pois como um jovem raquítico, não conseguia ter forças para escalar a árvore; sempre davam um jeito de zombar do pobre menino ou até mesmo chacoalhar a árvore quando este estava em escalada para colher uma maçã, fazendo-o se agarrar no tronco ou no galho, desesperado com medo da queda.

Tais atitudes nunca me agradaram, mas ria das traquinagens que os meninos ricos faziam com o Teco. Foi sentindo pena do menino que me aproximei dele e puxei conversa. Perguntei seu nome e onde morava. Ele com olhos tristes respondeu que morava na casa vermelha; para nós filhos de fazendeiros, sabíamos bem que se

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tratava de um casebre feito de pau a pique, material extraído da natureza.

Teco não conhecia a nossa casa por dentro, que por sorte do destino, era adornada com o maior requinte apropriado para a devida época. E convidando-o para vir a minha casa, ele recusou, pois o pai não autorizava que entrasse em casa de ninguém, mesmo sendo convidado. Exceto que seu pai o levasse. E nos despedindo, pois estava ouvindo a criada gritar por meu nome, e senti um tímido, porém significativo sorriso na face de Teco. Ali nossa amizade deu o pontapé inicial.

Nos dias seguintes àquele, nosso companheirismo aumentou e já não achava mais graça em ver os meninos dos casarões daquela larga rua zombarem dele e revidei tomando as dores como se fossem comigo. Arranjei inimigos por tentar defender o meu mais novo amigo, porém, aquilo não importava. O que importava naquele momento, era a amizade sincera que se transmitia de para um para o outro.

O tempo passou e crescemos juntos, brincando como dois meninos arteiros e como parceiros de batalha, travávamos brigas que adulto nenhum entenderia do que se tratava aquela arruaça para apenas dois pingos de gente. A minha casa, já se tornara lar de Teco que já era bem recebido por minha mãe, apesar de meu pai não gostar desta prática de trazer alguém para casa, sem saber a procedência, mesmo o pai de Teco, ser empregado na lavoura do meu pai; desconfiança era a palavra mestre na vida do meu velho. Por outro lado, Teco sentia receio em mostrar seu casebre: tinha medo que eu me afastasse dele, por ele ser de origem humilde.

Como uma criança, Teco brincava comigo ou apenas com seus gravetos quando estava sozinho. Mas quando estava dentro de seu humilde lar, tinha que cumprir com a obrigação que o pai impunha:

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deixar a casa em ordem, fazer os deveres da escola, cozinhar, lavar e colocar no sol as roupas que sujou. Crescido sem mãe, pois esta falecera no momento em que dava à luz, Teco não sentia falta de uma mulher em casa, pois não sabia o que era amor materno.

Crescemos e juntos nossa amizade se fortaleceu. Conheci a Rosa e uma semana depois, em uma roda de viola, enquanto os rapazes dançavam bailão, a prima da Rosa, Soraia, ficou toda tímida, acabrunhada em um canto perto da fogueira, até que vencendo a perseguida timidez, Teco aproximou-se dela e começaram a conversar como dois novos amigos; e dali nasceu um amor: lindo de se ver! Um ano depois, eu entrava na capela segurando a mão da Rosa já como minha noiva, enquanto Teco ao lado do seu pai subia as escadas da capela, vestido com calça boca de sino e um paletó que eu emprestei para ele usar no dia de seu casamento. Sete meses depois eu me uni em matrimônio com Rosinha e fomos felizes por longas datas.

O meu primeiro filho nasceu no dia em que o Teco me abraçou todo feliz por saber que Soraia estava grávida do segundo filho e como se dizia naquela época, a barriga dela demonstrava que seria uma menina. Coisa de parteira da roça.

Mas nem tudo em nossa vida era só motivo para comemorar. Em um dia de inverno rigoroso que devastou toda a lavoura do meu pai, administrada por mim, encontrei Teco sentado no degrau do velho hospital, cabisbaixo, chorando; e quando me aproximei, ele me abraçou e ali chorou copiosamente a perda da segunda filha, que não resistiu o impacto que Soraia levou ao cair estatelada de barriga nos paralelepípedos duas semanas antes de seu nascimento.

Aquela tragédia nos aproximou mais do que já éramos e como dois irmãos de pais diferentes, nossa amizade causava inveja nas

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pessoas que nos viam, e até de amantes fomos chamados. Eu não gostei, mas calejado de sofrer insultos quando criança, Teco nem deu ouvidos o que me fez refletir e logo esta história arranjada se desfez.

O tempo passou e a velhice chegou e embaixo daquele pé de maçã, um banco feito por Teco ali foi colocado, e sempre ao entardecer quando as esposas sentavam de saia rodada na grama apreciando a o fim da tarde e o despertar da noite. Somente quando o meu filho mais novo chegava em casa da faculdade com o carro que comprou para levar a namorada ao colégio e nos finais de semana ao cinema, então me despedia de Teco e de Soraia e já sentindo as dores reumáticas derivadas da velhice, eu entrava e adormecia feliz.

Uma batida na porta me despertou dos saudosos pensamentos de outrora e Getúlio, meu primeiro filho, acompanhado de sua filha mais nova, minha neta, Samantha, que completara dezoito anos uma semana antes veio me levar para me despedir de Teco.

Entrei no carro grande de Getúlio, em silêncio, e sua esposa, Raquel, acenou a cabeça sem dizer uma só palavra; e olhando para o lado, vi com tristeza a macieira já velha como eu, que acompanhara todos os meus passos de infância, adolescência e maturidade e até mesmo quando papai faleceu, eu me debrucei em seus galhos para chorar a perda. Quando Rosa deixou esta terra, sentei no banco que Teco construíra em frente ao pé de maçã e deixei- me levar pela saudade da minha Rosinha. Teco também esteve por lá, tentando me consolar.

O carro de Getúlio saiu lentamente e eu fui virando a cabeça olhando para a macieira, minha amiga de épocas remotas que ficava para trás. O grande veículo percorreu ruas asfaltadas onde um dia eu e Teco brincamos de pique-esconde, bicicleta e de mulher do padre, quando éramos crianças; naquela terra vermelha em dias quentes e em dias chuvosos, era um lameiro medonho. Hoje o que era terra, o

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asfalto cobriu; o que era lavoura, tornou-se casas e prédios. Somente as árvores foram preservadas como testemunhas do tempo que se alterou conforme sua época.

A rua íngreme fazia o carro ficar com o motor acelerado e a palheta do para-brisa em alta velocidade, pois a chuva castigava a pequena cidade. Quando a rua virou a esquerda lá no alto do morro, o carro entrou no lugar onde não queria estar novamente; principalmente naquele dia.

Com ajuda de Getúlio, fui ajudado a descer do carro e encontrei aqueles meninos, hoje já idosos, que tanto atormentaram Teco, e vieram me abraçar entristecidos. Retribui o abraço na mesma intensidade e sentimento.

Quando acompanhado de Getúlio, entrei no grande salão de mármore branco no piso, avistei Teco deitado, repousando em um belo esquife entalhado e digno para grandes senhores de terra e autoridades. Ao seu lado, senhora, Soraia, mesmo com lágrimas no rosto, abriu um triste sorriso para me receber ficamos olhando o meu melhor amigo que nos deixou para descansar sua triste e conturbada vida.

Ao ser levado à cova, fui incumbido de jogar o primeiro montinho de terra sobre o brasão talhado na tampa do esquife que trazia com dignidade, seu nome estampado e uma frase lapidada a meu pedido, que recitei em silêncio na esperança de que em breve eu encontraria meu amigo novamente:

“Um amigo, não é aquele que te abraça e te faz sorrir, mas sim, aquele que te consola quando o mundo se vira contra você.”______________

Daniel Moraes nascido em 1982 formou-se em Comunicação Institucional pela UBC – Universidade Braz Cubas e em Processos Gerenciais, pela UNIP – Universidade Paulista. Atualmente, reside em Mogi das Cruzes, cidade escolhido como palco para o seu primeiro livro, Bodas de Papel. Daniel considera-se um

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leitor bookaholic e também é administrador do blog Irmãos Livreiros, cujo principal conteúdo é o universo dos livros. [email protected]

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REFLEXÃO DA VIDA

Por Dorgan da Silva Reis Filho

VIDA que ao abrir os olhos contempla a VIDA,VIDA que se faz crescer na magnitude do mundo,VIDA que se faz apaixonar, amar incondicionalmente,VIDA esta sem destino ou rumo, coração pulsante,na flor da juventude eterna da alma.VIDA, o sentido da VIDA,VIDA por si só, pelos seus, pela humanidade, por todos sem

distinção.VIDA que se pergunta: qual o sentido da VIDA?VIDA que se responde: o amor vivido no auge da experiência,nas infinitas sabedorias.VIDA que pede o descanso, a paz infinita onde a VIDA foi e

sempre seráLINDA VIDA.

_______________________Dorgan da Silva Reis Filho, nascido aos 05/08/1974 em São Paulo, é filho de Maria da Glória Reis e Dorgan da Silva Reis.Aos catorze anos de idade iniciou sua vida profissional no ramo do comércio, sendo que aos vinte e oito anos fundou sua primeira empresa. Estudou na Escola Estadual Belchior de Pontes e mais tarde se formou em Administração de Empresas, tendo hoje sua própria empresa de Gestão de Negócios. Sua família traz na raiz o amor pela literatura, tendo duas tias professoras, uma poetisa e um escritor. Casado com Renata Travassos dos Santos. Atualmente é presidente do Lions Clube Peruíbe Praia e reside em Peruíbe há oito anos.E-mail: [email protected]

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ENCRENQUEIRA AO CUBO

Por Henriette Fraissat

Ah! quantas e tantas... Essa sou eu; um nome? Pra que?! Basta um conto e escritos que nunca editei. Uma desordem sem eira. Das beiras, só o passado. O presente tá dureza... E o epitáfio tá pronto, que é pra economizar. Poucos me conhecem verdadeiramente. Nem os de casa. Casa que não tenho mais. Foi invadida pela última amante do falecido. Aquele que com vinte anos casei e aos sessenta e um enviuvei. Bem tá na hora de contar a história sem vírgulas que as uso muito no cotidiano, ops...usava. Procrastinar era meu nome e o sobrenome adiar. Os projetos se acumulavam numa desordem sem par, e as frustrações multiplicavam mágoas. Bobeira sem senso. O futuro é hoje! Acorda menina! Menina onde áureos tempos permitiam tudo. Isso foi bom, pois observei malucos beleza, drogas e rock and roll e cá estou. Ilesa de cheiros, bebedeiras... Perseverar, superar, são palavras de ordem dos dias que amanhecem com chuva ou sol. Xô tristeza! E como nunca experimentei coma alcoólico me embriago sim, de musica: CANTANDO, fugindo das encrencas onde uma vírgula era lei e o ferro e fogo me induziam a tantas agruras e desencantos. Compus até uma canção; SONHOS E DESENCANTOS. Quanta bobeira. Quero mais é ser feliz. E você que está tendo a paciência de me conhecer um pouco? `Tenho em cada encontro cantante não o prazer do ego massageado mas, antes, o privilégio de ter fãs amigos ou amigos que se tornaram fãs. Isto é muito, muito, muito bom e ainda, filhos, filha, netos, netas e bisneto. Cada um com sua peculiaridade. Mas, sempre existe um mas. É um menino, paixonite aguda, que de deficiente só o adjetivo. É meu

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grande amigo do peito. O que entende, quando visto, raramente, a camiseta da preocupação. É aquele que com seu olhar tão profundo me diz frases intensas sem nem ao menos soltar uma silaba. É o enviado que faz a vida parecer bem leve. É o meu beaking vocal que solta, lá do fundo das pregas da voz, sonoros ruídos que parecem sons de anjos cantando. Ainda não vi anjos que cantem, mas, fechar os olhos e sentir a presença de Deus é igual ouvir esta cantoria. Ufa... the end.

Não simulem paz, sintam a paz. Não falem de amor, sintam sua magia. Não preconcebam as diferenças, olhem com o coração... E que as encrencas e os nós da vida se desfaçam pela presença de Nosso Pai que TUDO PODE. “Nessas voltas da vida o importante é que há VIDA nas voltas que esse mundo dá.”_________________

Henriette Fraissat: Cantora e compositora paulistana de origem e Mogiana de coração que guardou seus escritos por mais de 40 anos e agora resolveu mostrá-lo com alegria em seu coração.E-mail: [email protected]

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MORAL E ÉTICA: DOIS CONCEITOS DE UMAMESMA REALIDADE

Por Ivan Melo

Há algum tempo atrás a minha equipe de professores propôs discutirmos essa questão da Moral e da Ética.

A confusão que acontece entre as palavras Moral e Ética existe há muitos séculos. A própria etimologia destes termos gera confusão, sendo que Ética vem do grego “ethos” que significa modo de ser, e Moral tem sua origem no latim, que vem de “mores”, significando costumes.

Esta confusão pode ser resolvida com o esclarecimento dos dois temas, sendo que Moral é um conjunto de normas que regulam o comportamento do homem em sociedade, e estas normas são adquiridas pela educação, pela tradição e pelo cotidiano. Durkheim explicava Moral como a “ciência dos costumes”, sendo algo anterior à própria sociedade. A Moral tem caráter obrigatório.

Já a palavra Ética, Motta (1984) defini como um “conjunto de valores que orientam o comportamento do homem, em relação aos outros homens, na sociedade em que vive, garantindo, outrossim, o bem-estar social”, ou seja, Ética é a forma que o homem deve se comportar no seu meio social.

A Moral sempre existiu, pois todo ser humano possui a consciência Moral que o leva a distinguir o bem do mal no contexto em que vive. Surgindo realmente quando o homem passou a fazer parte de agrupamentos, isto é, surgiu nas sociedades primitivas, nas primeiras tribos. A Ética teria surgido com Sócrates, pois exige maior grau de cultura. Ela investiga e explica as normas morais, pois

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leva o homem a agir não só por tradição, educação ou hábito, mas principalmente por convicção e inteligência. Vásquez (1998) aponta que a Ética é teórica e reflexiva, enquanto a Moral é eminentemente prática. Uma completa a outra, havendo um inter-relacionamento entre ambas, pois na ação humana, o conhecer e o agir são indissociáveis.

Em nome da amizade, deve-se guardar silêncio diante do ato de um traidor? Em situações como esta, os indivíduos se deparam com a necessidade de organizar o seu comportamento, por normas que se julgam mais apropriadas ou mais dignas de serem cumpridas. Tais normas são aceitas como obrigatórias, e desta forma, as pessoas compreendem que têm o dever de agir desta ou daquela maneira. Porém o comportamento é o resultado de normas já estabelecidas, não sendo, então, uma decisão natural, pois todo comportamento sofrerá um julgamento. E a diferença prática entre Moral e Ética é que esta é o juiz das morais. Assim Ética é uma espécie de legislação do comportamento Moral das pessoas. Mas a função fundamental é a mesma de toda teoria: explorar, esclarecer ou investigar uma determinada realidade.

A Moral, afinal, não é somente um ato individual, pois as pessoas são, por natureza, seres sociais, assim percebe-se que a Moral também é um empreendimento social. E esses atos morais, quando realizados por livre participação da pessoa, são aceitos voluntariamente.

Pois assim determina Vasquez (1998), ao citar Moral como um “sistema de normas, princípios e valores, segundo o qual são regulamentadas as relações mútuas entre os indivíduos ou entre estes e a comunidade, de tal maneira que estas normas, dotadas de um caráter histórico e social, sejam acatadas livres e conscientemente,

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por uma convicção íntima, e não de uma maneira mecânica, externa ou impessoal”.

Enfim, Ética e Moral são os maiores valores do homem livre. Ambos significam "respeitar e venerar a vida". O homem, com seu livre arbítrio, vai formando seu meio ambiente ou o destruindo, ou ele apoia a natureza e suas criaturas, ou ele subjuga tudo que pode dominar, e assim ele mesmo se torna no bem ou no mal deste planeta. Deste modo, a Ética e a Moral se formam numa mesma realidade.

No final da discussão, os professores perceberam e sentiram a necessidade de cada vez mais se difundir esses dois conceitos dentro e fora da sala, pois de acordo com o grupo, são valores que estão sendo esquecidos por grande parte da sociedade.

____________________Ivan Mello é Mestre em Semiótica, Tecnologia da Informação. Autor do Livro: Empreendedorismo para a Sala de Aula. Membro da Academia Mogicruzense de Letras, Ciências e Artes Maçônicas.Graduado em Engenharia química, Licenciatura em química, Administração de Empresa. Pós-Graduado em Engenharia de Segurança do Trabalho e Gestão Estratégica de Negócios. Doutorando em Educação. E-mail: [email protected]

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SUPERAÇÃO

Por Joaquim Matos

Noites claras, dias escuros,ando p’ra frente, de costas.Estou em primeiro, mas sou sempre o último.Vejo de olhos fechados aquilo que olho e não vejo.Digo palavras caladas, a um surdo que ouve.Faço poesias que rima, rimando com o absurdo,Todo mundo.Imundo mas original, o que ganharei neste natal?O mar secou! Pra onde foi o sal?O sol queimou e o nordeste chorou.Quanta loucura, tô na tua, vamos sair?Qual é a sua? Coca-Cola já não dá, vamos rezá?Prefiro o campo, mas e a saúde? Tá no copo com meu cão, pise no chão,Encontrarás ação, mas não diga não.Anão!Tenho um metro e setenta, eu sei, hoje é dia 17, quantos anos?Dois mil e onze, tira 9...Gosto de português, mas, e a do papagaio?Não sei, desculpe, não tem importância também sou inglês...Tens razão, devo estar louco, mas garanto que sou mesmo! Ou não,Este é um mundo cão, sem razão, mas original, que aflição...Pra onde vai? Ali, além ou acolá?Sai de cima! Morrerei de pé. Puts! que confusão.Canto música com a boca fechada, pois não encontro espaço!

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Sou surdo, mas falo, saco...Noites claras, dias escuros...Superação.________________

Joaquim Mattos, natural de Guararema/SP. Formado em Contabilidade e Direito com especialização na área tributária, professor do CMC - Colégio Mogiano de Capacitação onde ministra aulas no curso de Técnico em Contabilidade e profissionalizantes nas áreas administrativas/tributárias em geral. Palestrante nas áreas motivacionais, onde demonstre, de forma dinâmica, com um astral elevado, as qualidades, virtudes, defeitos, diferenças, e principalmente os exemplos de uma vida resolvida e vitoriosa...E-mail: [email protected]

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CONTOS DE AREIA

Por João Anatalino

3M D14 D3 V3R40, 3574V4 N4 PR414, 0853RV4ND0 DU45 CR14NC45 8R1NC4ND0 N4 4R314. 3L45 7R484LH4V4M MU170 C0N57RU1ND0 UM C4573L0 D3 4R314, C0M 70RR35, P4554R3L45 3 P4554G3NS 1N73RN45. QU4ND0 3574V4M QU453 4C484ND0, V310 UM4 0ND4 3 D357RU1U 7UD0, R3DU21ND0 0 C4573L0 4 UM M0N73 D3 4R314 3 35PUM4. 4CH31 QU3, D3P015 D3 74N70 35F0RC0 3 CU1D4D0, 45 CR14NC45 C41R14M N0 CH0R0. M45 3L45 C0RR3R4M P3L4 PR414, FUG1ND0 D4 4GU4, R1ND0 D3 M405 D4D45 3 C0M3C4R4M 4 C0N57RU1R 0U7R0 C4573L0. C0MPR33ND1 QU3 H4V14 4PR3ND1D0 UM4 GR4ND3 L1C40; G4574M05 MU170 73MP0 D4 N0554 V1D4 C0N57RU1ND0 4LGUM4 C0154 3 M415 C3D0 0U M415 74RD3, UM4 0ND4 P0D3R4 V1R 3 D357RU1R 7UD0 0 QU3 L3V4M05 74N70 73MP0 P4R4 C0N57RU1R. M45 QU4ND0 1550 4C0N73C3R 50M3N73 4QU3L3 QU3 73M 45 M405 D3 4LGU3M P4R4 53GUR4R, 53R4 C4P42 D3 50RR1R! S0 0 QU3 P3RM4N3C3 3 4 4M124D3, 0 4M0R 3 C4R1NH0.

0 R3570 3 F3170 D3 4R314...(N40 S31 QU3M 3 0 4U70R)

Eu também não sei quem escreveu esse texto. Mas nele eu aprendi, de pronto, duas coisas: a primeira está na mensagem embutida na história. Que não vale a pena ficar nos apegando ás

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coisas que construímos, como se elas fossem parte de nós. Elas não são parte de nós. Nada nos pertence absolutamente. Nem

o nosso próprio corpo, que a natureza, ou Deus (seja quem for, ou o que for que controle esse processo) pode tomar a qualquer momento, sem que possamos fazer nada a respeito.

Tudo é eventual no universo. Como castelos de areia que a onda do mar leva. Enquanto estamos no cone de luz do tempo, como dizem os cientistas ─ e isso significa quase nada em termos de tempo na vida do universo ─ podemos construir e reconstruir muita coisa. E quando fazemos, fazemos para o mundo, não para nós mesmos.

Por isso, quando o mundo leva o que fazemos, não devemos acalentar a sensação de perda. Nada perdemos, porque nada é nosso de verdade. E as coisas, as pessoas, tudo no universo (como a teoria da relatividade tem mostrado e a lei da conservação das massas, de Lavoisier, confirma), são eventuais. No universo nada se perde, nada se cria, e também nada se destrói, mas apenas muda de forma.

Isso porque cada coisa (e cada pessoa também) ocupa um ponto relativo no espaço e no tempo, que nunca coincide com outro. Assim, as coisas e as pessoas não se perdem de nós e nós nunca as perdemos. Elas passam por nós e nós passamos por elas. Enquanto a posição delas no tempo e no espaço está no mesmo cumprimento de onda da nossa, estabelece-se uma relação. Mas como a inércia absoluta não existe, acontecerá um momento em que o universo em movimento levará as coisas e pessoas para outro ponto e a nossa relação com elas deixará de existir. O movimento do universo se encarregará de afastá-las de nós e nós delas. E nós só as veremos no passado, com os olhos da memória. Como uma estrela morta cuja luz só está chegando aos nossos olhos agora. Ela só morreu para os nossos olhos. Para o universo ela continua viva em algum lugar.

Há outro ensinamento que podemos tirar desse texto. Ele nos diz

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COMPANHEIRISMO EMVERSO E PROSA

que não é a língua que falamos que nos torna estrangeiros uns para os outros, mas a forma como nós lemos as palavras.  Aprendemos a ler em bloco (lemos a palavra inteira e não letra por letra).  A consequência disso é que o significado das palavras, muitas vezes, acaba sendo pervertido pelo que a gente tem dentro da cabeça, e o verdadeiro sentido da mensagem se perde.

Isso nos leva a pensar que a Bíblia talvez estivesse certa quando diz que houve um tempo em que a raça humana falava uma língua só. Talvez naquele tempo não houvesse tantos interesses em jogo, nem muita coisa para as pessoas chamarem de "meu". Depois que as visões se multiplicaram e os interesses se segmentaram, as palavras também passaram a ter múltiplos sentidos.

Talvez não seja difícil unificar a nossa visão de mundo novamente nos tempos que virão. Ou quem sabe seja possível criar, no futuro, uma língua única, com a qual a humanidade toda possa se comunicar. Posso imaginar que quando palavras como amizade, respeito, tolerância significarem a mesma coisa para árabes e judeus, por exemplo, eles talvez se entendam. E nós também estaremos mais próximos uns dos outros.

Já se tentou isso com o esperanto (uma língua artificial), mas até hoje o projeto não vingou. Há quem diga que isso poderia acontecer com o inglês, uma língua de caráter universal. Mas essa possibilidade está chumbada a fatores políticos e econômicos, pois a universalidade do inglês se vincula ao poder que hoje é exercido pelos países que tem essa língua como idioma, como no passado aconteceu com o latim e o grego. E tudo que é imposto, seja por que razão for, um dia acaba sendo contestado. Pois língua é elemento cultural e cultura também está sujeita á lei de Lavoisier.

Esse texto nos mostra também que o nosso cérebro foi construído

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com uma infinita capacidade de assimilação. Basta oferecer a ele uma pista que ele faz o resto.  E como diz o autor, quem sabe se nós nos déssemos as mãos, o nosso cérebro não assimilaria melhor a mensagem sinestésica que o toque das mãos nos traz do que aquelas que as palavras, muitas vezes, construídas ardilosamente, nos induzem a acreditar. Porque, quando os alicerces sobre os quais nossas crenças e valores forem derrubados, a sobrevivência ficará mais fácil se tivermos mãos amigas para segurar. As coisas que fazemos se descolam de nós e ficam para trás, como marcas da nossa passagem por aquele caminho. Agora, o amor, o carinho, a amizade, nós levamos junto conosco á medida que nos deslocamos no tempo e no espaço.________________

João Anatalino, nasceu em Cunha, estado de São Paulo, em 1944. É formado em economia e direito, com mestrado em direito tributário. É auditor aposentado da Receita Federal. Hoje dedica-se a proferir palestras e á literatura. Como escritor já publicou 10 livros, sendo o mais recente O Poder dos Arquétipos – PNL para a vida diária, pela Editora Madras, São Paulo. E-mail: [email protected]

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DEUS EXISTE

Por João do Espírito Santo (Pinguinho)

Deus existe? Pergunta-me um homemE eu respondo que simE onde está ele agora?Respondi: Ele está dentro de mim.

Deus existe? Pergunta-me uma mulher.Não viu, não pode afirmar.Ah! Mas foi Deus que fez tudo isso aquiO céu, a terra e o mar.

Deus existe? Pergunta-me um sonhador.Sonhos não realizadosE eu respondo que simEstá bem perto ao seu lado.

Deus existe? Pergunta-me um enfermoCom um sorriso de bondadeDeus sempre provou que existe!E vai curar a sua enfermidade.

Deus existe? Pergunta-me uma criançaCom sorriso inocente.Deus é super legalE te Deu a vida de presente.

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Deus existe? Pergunta-me um idoso,Com certo ar de tristezaSem dúvida que Deus existe,Falo com toda certeza.

Deus existe? Pergunta-me um poetaQue faz rimas com alegriaÉ claro que Deus existe!DEUS ESTÁ NESTA POESIA.

______________João do Espírito Santo (Pinguinho) é poeta, compositor, cantor, humorista e radialista. Em 2014 completou 50 anos de atividades artísticas. E-mail: [email protected]

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VERDADEIRA BANDEIRA

Por Jobis da Silva

E lá vou eu, por este verde varonile procurando nessa imensa mataum pedaço do Brasil.

Este verde de já não tão nossa terra,de um coração ainda tão brasileiroque vive na esperança de esperado país ser seu por inteiro.

Este verde palavra que enlaçacanções e poemas de nossa terraé agora a estampa do dinheiroque o leva e nos enterra.

E lá vou eu, por esse amarelo-ouro,contabilizando o Brasile procurando nosso tesouro.

Este amarelo de riqueza tão nobreque com o passar dos anos fardadosrepresenta agora cor tão pobre.

Este amarelo de sublime independênciade tão pura e real vivência,

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nos concede agora a cor da indecência.

E lá vou eu, por este azul brasileiropor este céu que tem cheiro,cheiro de poluição.

Este azul, azul cinzento, mas ainda brasileiro,brasileiro nato, brasileiro fato.Azul da brisa fraca e do vento forte,azul carregado de silêncio e morte.

Este azul, azul provincianoazul de estrelas bordadas,azul de estrelas caladas,azul do nosso oceano.

E lá vou eu, por este branco da paz,paz aparente, esta paz na nossa genteque procura ainda a paz.

Este branco, branco de calma,calma do povo, povo sem almaque procura na faixa com ansiedadea nossa verdade.

Este branco, que ostenta cansado o nosso regressocom um escudo blindadode “ORDEM E PROGRESSO”.

E mesmo assim lá vou eu,

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por esta bandeira bossapor esta bandeira vossalevando no coração essa Pátria Nossa.

__________________Jobis da Silva, nasceu em Guarulhos aos 18 de Junho de 1961, escreve há 38 anos desde textos, poesias contos e letras de músicas. É casado e tem 1 filho. Ganhou o 1º lugar no Concurso Letra Viva de Poesia em Guarulhos em 1987 e foi 3º lugar no concurso promovido por uma instituição em Brasília em 2009, onde participou representando o Vale do Paraíba. Foi publicado e homenageado em Montevidéu – Uruguai.

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PÉ DE CANA

Por José Wagner Ramos da Silva

“Abram alas que a saudade vai passar¨ou Pra não dizer que não falei de companheirismo”

Eh! Pé-de-cana, eh! Eh! Pé-de-cana!Eh! Pé-de-cana, eh! Eh! Pé-de-cana!Com estes versos pobres, o bloco seguia pelas ruas da pequena

cidade.Saía geralmente no sábado.A monótona cantilena era cadenciada apenas por um bumbo, que,

como um arauto, avisava à cidade que os três dias seriam de grande folia. Ainda me lembro da euforia de meu pai, convocando os membros efetivos do cordão, sim, efetivos e vitalícios, pois a efetivação só cessava com o passamento do sócio, cuja ¨causa mortis¨ geralmente se dava por complicação hepática.

Quem ficava extremamente amargurada era minha mãe. Mulher simples, protestante convicta, que via o nome de meu pai envolvido nos maledicentes comentários de nossa temida vizinha, dona Ana Bucho, a gazeta da cidade, que não saia da janela, e era a primeira a trazer as últimas do lugarejo, ou seja, quem pediu a mão de quem, quem pariu antes das nove luas, moça que não era mais moça, quem pediu emprestado e não devolveu e quem subtraiu do alheio.

Eu, com meus sete anos, tinha muito medo da famigerada vizinha, e só muitos anos mais tarde, entendi que seu nome, era uma corruptela do nome de seu finado marido alemão, Karl Bush, e não uma alusão ao tamanho de dona Ana, senhora obesa, de pernas

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opadas, tendo toda sua adiposidade acondicionada em um volumoso penhoar, seu traje oficial.

Os únicos que não temiam dona Ana e até a desafiavam, eram os componentes do famoso cordão.

Ah! Antes que me esqueça, o bloco não tinha nenhuma alegoria, nenhum destaque, mas condição ¨sine qua non” para o desfile, era o traje feminino.

Sim, iam todos vestidos de mulher, ou melhor, caricatos de mulher, trazendo como cetro, na mão esquerda um pé de cana, e na direita uma garrafa da branquinha.

A maquilagem era feita, sem pejo algum, no meio da rua, e a maior dificuldade eram os sapatos, geralmente emprestados das esposas, que calçavam 35, 36 e acomodavam pés 41,42.

Quem, porém, causou polêmica, foi o Germano, que querendo inovar, apareceu vestido de anjo.

Foram tamanhas gritarias e animosidade, que houve até ameaça de o bloco não sair, ao que o anjo assistiu, totalmente alheio, devido já chegar sob os efeitos etílicos.

O pobre Germano desfilou somente um quarteirão, caindo na sarjeta, abraçado e sorrindo a uma garrafa vazia.

O povo mais requintado do local fingia ignorar o bloco, mas muitas famílias, mesmo as de ¨bem¨, tinham quase sempre um representante no desfile.

Hoje esse bloco politicamente incorreto, teria pouca chance de desfilar. A espontaneidade daquele povo de outrora, não tem mais lugar diante da sofisticação e da tecnologia dos tempos de hoje.

Ao final dos anos sessentas, o bloco foi perdendo força, devido inúmeras baixas.

Mas, seu carnaval de glória, foi no ano em que uma ala da

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Mangueira compareceu à cidade a convite e às expensas da prefeitura local.

Foi o dia em que o bumbo bateu mais forte, e assumiu a batuta, seu membro fundador, o pardo, Zé da Águia, sujeito briguento, mulherengo e grande bebedor.

Apareceu vestido de francesa, à Josephine Baker, com uma peruca ruiva, sapatos de saltos altos e bolsa de cetim vermelho, boina de lado, e um vestido tomara que caia, rabo de peixe, recamado de canutilhos, emprestado da professora Marina, filha do João Pescoço, (usado por ocasião de seu baile de formatura).

Os demais componentes não entenderam o capricho do mulato, preocupados que estavam com a apoteose, que acontecia próxima ao jardim da praça, numa bebedeira fenomenal; não perceberam também que o mestre-sala da famosa escola, se embeveceu pela francesa, dizendo-lhe coisas irreproduzíveis, e foi correspondido com um tremendo bofetão do Zé, que era mestre em disputas de rua.

Foi um corre-corre geral, crianças gritando, mães desesperadas, tudo se transformou em grossa pancadaria, culminando com a detenção dos componentes do pé de cana, que só foram liberados na quarta-feira de cinzas, quando já era quaresma.

Desde então o bloco não mais saiu, restando dele somente saudades, e toda vez que ouço o bater de um bumbo anunciando o carnaval, lembro-me de minha infância, de meu pai e de sua admirável turma marginal e subversiva. _____________

José Wagner Ramos da Silva, natural de Cruzeiro- S. P. nasceu em 18/3/1947. Militou no Magistério por 42 anos, professor alfabetizador, professor de Língua e Literatura Portuguesa, Bacharel em Letras, escreveu durante algum tempo no Diário de Suzano, na coluna literária e no jornal Notícias do Alto Tietê. Lançou em setembro de 2014, o livro de crônicas intitulado ¨Crônicas do Coração

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SÚPLICAS INOCENTES.

Por José Geraldo da Silva

Era se não me falha a memória ano de 1982, Interior de Minas Gerais, Município de Iapú, distrito de São Sebastião da Barra. Já completavam 35 dias sem chuvas, o calor beirava aos 40°, nas estradas de terra a poeira se açulava, e as roupas inevitavelmente acabavam ficando amarelas de tanta poeira.

Os problemas respiratórios só aumentavam, e a única alternativa, onde as pessoas recorriam era na farmácia do senhor Antonio Militão, a única alternativa de cura na cidade, já que não havia postos de saúde muito menos hospitais. Os mais próximos ficavam a mais de 50 quilômetros de distância, a situação ficava cada dia mais difícil, a chuva precisava vir o mais breve possível, se não correríamos o riscos mais sérios ainda, pois as plantações não vingavam, o capim que o gado comia havia secado, logo faltariam alimentos, e muitas outras coisas necessárias à sobrevivência. Não havia sequer uma remota possibilidade de chuva, o serviço Meteorológico do senhor João Macário, só conseguia ver sol e mais sol e tempo seco, muito seco, João Macário era nosso vizinho, ele olhava pro céu todas as manhãs colocava uma mão na testa e falava como ficaria o tempo. Muitas vezes acertava, mas as últimas previsões dele não eram nada animadoras.

Certo dia ficamos sabendo que havia dado no noticiário da Radio Globo, que lá pelos lados de Governador Valadares, o gado já estava morrendo e as plantações de arroz e feijão estavam secando. A colheita certamente seria ínfima naquele ano. Perigo de faltar quase

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tudo. Só havia um lugar onde se encontrava água boa pra beber. Na bica próximo ao centro da cidade, todos os dias íamos buscar água nos baldes, e enchíamos os dois filtros de Barro que minha mãe ganhara da sua antiga patroa dona Lurdes.

A chuva não caía de jeito nenhum, a situação piorava a cada dia. Ouvi em uma ocasião minha mãe conversando com a vizinha dona Maria Antônia, a dona Antônia dizia à minha mãe que era sua comadre.

─ Há! Comadre; Tá feia a situação. A chuva não vem, tá tudo ficando difícil, tô pensando em fazer uma peregrinação com as crianças pra pedir a Deus que mande chuva, porque só ele mesmo para nos ajudar.

─ Sim, comadre, acho que você tem razão, precisamos rezar pedir a Deus, que mande chuva, quanto aos meus meninos, você tem minha aprovação, eles vão com certeza.

─ Tá bem, então, comadre, vou reunir as crianças, vamos sair depois de amanha no Sábado. A dona Maria Antônia era uma senhora religiosa, muito sábia, fazia benzeções, e remédios caseiros, era também parteira, e ajudava várias mulheres a dar à luz aos seus filhos, Quando as crianças sabiam que havia um chamado da Dona Maria Antônia, todas iam correndo porque sabiam que ela era muito brava quando precisava. Em poucos Minutos éramos mais de 20 crianças na porta da casa da dona Maria Antônia esperando as instruções.

É o seguinte meninos, vamos fazer uma peregrinação, vamos andar pelas estradas rezando e pedindo á Deus que mande chuvas, porque tá muito difícil a situação; vamos implorar a Deus por chuva e ela virá tenho certeza.

Perguntei então: ─ Como vamos fazer isto dona Antônia?─ Rezando, Juca, rezando muito, e amanhã quero todos aqui

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vestindo camisa branca, e trazendo cada um, uma garrafinha transparente. Chegamos no outro dia bem cedo como ordenado pela dona Maria Antônia. Primeiramente ela nos mandou encher as garrafinhas, com água. Ela também pegou uma garrafa encheu com água pegou um livro de orações católicas, fez ali junto conosco uma oração, saiu na frente e pediu que a seguíssemos. Ela então começou a rezar, e em seguida cantar várias músicas católicas e pediu que seguíssemos. Antes porém, ordenou que colocássemos as garrafinhas cheias de água na cabeça. Continuamos andando pelas estradas afora, rezando e cantando. Quando chegamos próximos a um cruzeiro, ela ordenou que parássemos, demos as mãos fizemos uma oração e cada um de nós teve que jogar um pouco da água da nossa garrafinha ali no cruzeiro.

Este ritual aconteceu muitas e muitas vezes no decorrer da estrada que caminhávamos, rezando e cantando e pedindo chuva. Já havia se passado quase 6 horas que estávamos caminhando, já estávamos voltando, fazendo o mesmo trajeto da ida e repetindo os mesmos gesto. Já eram quase 16 horas, quando de repente vimos o céu escurecer, nuvens carregadas e acinzentadas, e em seguida relâmpagos e trovões. Seguindo orientação da dona Maria Antônia jogamos as garrafinhas fora, na beira da estrada e saímos correndo. O objetivo era encontrar um abrigo para escondermos da chuva, a tão sonhada chuva que finalmente aparecia. Em pouco tempo avistamos a fazenda da dona Isabel Mendes. Havia um barracão próximo á estrada, onde entramos pra esconder da chuva, junto com o trator e ferramentas. Quando nos viu o capataz ficou meio nervoso e não nos recebeu muito bem. Mas quando a dona Maria Antônia falou o que estávamos fazendo ele nos agradeceu muito e falou:

─ Nossa que bom! Então vocês são responsáveis por esta chuva

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que não vinha há tempos. Agora minha plantação de feijão vai vingar, graças a Deus. Esperem aí. Vou buscar uma chaleira de café e uns bolinhos que minha mulher acabou de fazer. E assim ele fez. Tomamos um gostoso café e comemos bolinhos. Assim que a chuva passou voltamos pra casa. E depois daquele dia a chuva nuca mais faltou em nosso distrito, pode se dizer que a fé nos salvou._______________

Jose Geraldo da Silva, nascido á 08 de março de 1969, no distrito de são sebastiaõ da barra município de Iapu MG presidente em Biritiba Mirim SP, casado com Rodyneia Aparecida de Siqueira escreve desde os 16 anos, publicou texto na antologia de poetas contemporâneos n:43 da editora CBJE, e na antologia contos fantásticos da mesma editora. Em 2013 publicou seu primeiro livro de poesias, chamado Relíquias Do Amor pela editora Garcia Edizioni, e no mesmo ano publicou também o livro de contos chamado Bão Demais Da Conta pela editora Multifoco RJ, atualmente dedica-se a escrita de seu primeiro romance que pretende publicar em breve.

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AJUDAR FAZ BEM

Por Luis Maritan

A Vilma e o Adalberto eram pólos opostos da sociedade individualista da nossa época. De comum, apenas trabalharem na mesma agência de um destes bancos gigantes, em mesas praticamente frontais. No mais, eram vidas completamente diferentes.

A mulher encarnava o individualismo desde que chegara do interior, vários anos atrás. Primeiro, por timidez. Depois, por alguma crença em um mantra que não cansava de repetir quando alguém lhe perguntava o motivo de não ter namorados ou de não sair com amigos após o expediente: “Antes só que mal acompanhada”.

O rapaz era mais novo que a companheira de trabalho – pouco na idade, muito na aparência. Dedicava-se a uma organização que cuidava de pessoas menos privilegiadas pela sorte. Aos sábados, dava aulas de informática para crianças do bairro, no salão da igreja. “Ajudar os outros faz bem para a saúde”, gostava de repetir.

No dia a dia corrido da agência, o Adalberto tentava se aproximar da Vilma, mas ela não dava chance de o rapaz saber sobre sua vida fora do banco. Na verdade, ela achava que ele queria alguma coisa a mais que somente conversa e desdenhava.

– Esse cara é muito esquisito. Aposto que é comunista. Deus me livre e guarde – resmungava para si mesma, enquanto se afastava.

Adalberto seguia sua vida, mas não poder ajudar a Vilma o incomodava:

– De todas as pessoas que não tiveram sorte na vida, a solitária

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crônica é a que mais sofre. Primeiro, porque não se dá conta disso enquanto é tempo. Depois, quando entende, é tarde demais.

Em uma noite morna de primavera, enquanto o Adalberto participava de uma apresentação de palhaços na ala infantil de um hospital, a Vilma saía do banho, pensando no capítulo da novela que começaria dentro em pouco. Um escorregão no corredor interrompeu o caminho até o sofá da sala.

A dor de ossos quebrados turvou os olhos da Vilma, que sabia que seu braço direito não estava nas melhores condições.

Gemeu por um instante, mas entendeu que não poderia ficar ali por muito tempo. Também não conseguiria colocar-se de pé tão facilmente. O joelho esquerdo parecia ter algum problema mais sério também. Além da dor, não estava obedecendo à cabeça dela.

Deu um jeito de rastejar, entre gemidos e urros, até o celular, que estava em cima da mesa. Pegou o aparelho com a mão esquerda e o polegar parou em cima da primeira tecla. Ligar para quem? Não havia amigos para pedir ajuda naquele momento difícil. Desta vez, foi o coração que doeu, dando conta da própria solidão.

Ligou para o Adalberto. Ignorou o que pensava ser “esquisitice”, seria o companheiro a única pessoa que poderia ajudá-la. Mais do que isso, era quem já tentara ajudá-la anteriormente. A certeza amainou a dor do coração, dos ossos e músculos. Era a sensação de ter com quem contar.

Ele atendeu ao chamado. Em menos de dez minutos estava na casa da Vilma, em uma ambulância do hospital em que promovia a apresentação infantil. Os serviços prestados pelo rapaz justificavam a deferência. Os enfermeiros fizeram os primeiros socorros, imobilizaram a mulher e a levaram para atendimento. O Adalberto cuidou dos trâmites com o plano de saúde para a internação e a cirurgia ortopédica.

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O tempo de recuperação amoleceu um pouco a Vilma. Em uma visita do Adalberto, que trazia uma lata de biscoitos amanteigados enfeitada com uma paisagem campestre europeia para amenizar a comida hospitalar, ela baixou a guarda.

– Nunca ninguém fez tanto por mim. Não sei como te agradecer – os olhos dela, marejados.

– Não precisa agradecer, Vilma. Ajudar os outros faz bem para a saúde. Você também deveria tentar.

E ele abriu a lata e aproximou da cama para que a nova amiga pudesse se servir.

_____________________Luiz Maritan é jornalista e escritor. Nascido em Mogi das Cruzes, é autor do livro de crônicas "Gente como a Gente", publicado em 2007 pela editora Protexto, do romance policial "Bandeira Dois", lançado em 2013, pela editora Schoba. Como jornalista, trabalhou nos jornais Lance! e Agora São Paulo, no portal Terra e na Prefeitura de Mogi das Cruzes.

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UMA HISTÓRIA DE AMOR (*)Por Marcelo de Lima Araújo

Perdi meu animal de estimação. Faleceu numa segunda-feira. De nada adiantaram os três dias no CTI. Antes, seus últimos dias, se acontecessem, fossem comigo no aconchego do lar. Garanto que nada lhe faltaria que estivesse ao meu alcance. Shanna era o seu nome. Uma gata velha, de pelo rajado. Tudo começou quando a encontrei perdida num parque, ainda pequenina. A partir daí, foram 18 anos de convivência. Momentos de carinho. Momentos de zanga. Quando carinhoso, ficava toda entregue em meus braços. Dormia comigo, na cama, junto de meus pés. Era eu quem lhe dava a ração, renovava-lhe a água todas as manhãs. Era eu quem a levava para vacinar. Agora há um vazio na casa. Parece que daria tudo para tê-la de volta. Sinto sua falta, roçando minha perna, andando pela casa, em cima dos móveis, ...As vasilhas com ração e água ainda estão lá, no mesmo lugar. Olho-as e bate a saudade. Certa vez, um vizinho quis assustar-me, dizendo que contato com gatos fazia mal à saúde. Passei a vê-lo com desconfiança. Arrependo-me dos momentos de impaciência. Se pudesse começar tudo de novo, seria mais compreensivo com os seus miados. Mais cuidadoso para não pisá-la. Conversaria mais, ...É, realmente estou de luto. Seu enterro foi num cemitério de cães e gatos. Lá estive no meu enternecido adeus. Obrigado, Shanna, por você ter existido. Torço que, um dia, encontremo-nos numa dessas paragens da eternidade. Será aquele abraço. Descubro, com você, que meu amor, às vezes, vem de coisas tão simples, tão pequenas: uma gata vira-lata que, um dia, achei abandonada num parque.

(*) história verídica. _________________

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Marcelo de Lima Araújo, nascido em Niterói (RJ). É casado há 44 anos com Siomara de S. T. Araújo, com quem tem três filhos. É funcionário aposentado do Banco do Brasil. É autor de dois livros que abordam questões sociais do cotidiano. Participa de projetos sócio-educativos na condição de instrutor voluntário. E-mail: [email protected]

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O QUE É NATAL?

Por Maria Fernandez Iglesias

Numa vitrine colorida,repleta de luzes e cores,a pequena espiava (e sonhava...)

Por instantes, esquecia suas dores.No mundo, para onde ela se transportava,havia mais de um Papai Noel,havia igualdade, justiça...e a felicidade imperava.

E a pequena sorria...

O acender e apagar das luzesparecia acompanhar o ritmo do seu coração,Acende,Apaga,Acende,Apaga...E o seu pulsar aumentava. E ela seguia espiando (voando...)Ela era Alice, era fada, era Cinderela...E rodopiava, dançava, pulava...

A luz piscou outra vez,abriu os olhos (ansiava...)

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O pai, que acabara de revirar o lixo,tomou-a nos braços e dividiu com elaos restos que amealhara, naquela mansão ao lado da vitrine.

E a menina indagava:- Papai, o que é Natal???_________________

Maria Fernandes Iglesias, nascida na Espanha, veio para o Brasil com 5 anos. Formada em administração de empresas, sempre teve a escrita e, em especial a poesia, como um de seus grandes prazeres. Publicou trabalhos em diversas antologias da Câmara Brasileira de Jovens Escritores – RJ. É membro do grupo “Entremeio Literário” de Mogi das Cruzes.

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Antologia

O ENGRAXATE

Por Maria de Lourdes da Silva

─ Moço, me dá um cigarro?Eu estava lá, observando aquela paisagem suburbana, perdida

entre imensos prédios.E ao invés de se admirar o azul do céu e as estrelas fazendo a

aurora, via-se apenas os imensos arranha céus cobrindo toda a vaga da noite. O ar suburbano sufocado pela fumaça que esboçava das chaminés das pequenas e grandes empresas do centro da cidade.

Ignorei aquela voz, talvez fosse apenas a minha imaginação confusa pelos pensamentos que invadiam a minha cabeça naquele exato momento. E de novo aquela voz ecoou no ar : ─ Moço, oh Moço, me dá um cigarro?

Resolvi olhar para trás e mandar embora, quem quer que fosse, mas me deparei com uma figura minúscula: era um moleque negro, trajando uma camisa listrada e toda suja de graxa, o calção aos remendos. Nos pés absolutamente, nada e nas costas ele trazia o seu instrumento de trabalho, uma caixa de engraxate e com os olhos esbugalhados indagou mais uma vez :

─ O senhor tem um cigarro para me arrumá? Confuso respondi que ele não tinha a idade para fumar e que o cigarro também lhe fazia mal.

Ele me olhou perturbado e me perguntou: Se faz mal então porquê fuma ?

Não respondi nada apenas me virei novamente para frente do mar e continuei com os meus pensamentos, antes daquela interferência inocente.

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COMPANHEIRISMO EMVERSO E PROSA

─ Onde você mora? Perguntei a ele.─ Moro no morro, moço, desço aqui bem cedo, para engraxar os

“buti” dos gringos e arrumá um pouco de dinheiro para casa. ─ E o senhor? não tá com cara de gringo não, hein...

Ele conversava comigo como se já me conhecesse há muito tempo, era desembaraçado e alegre.

─ E não sou mesmo! – respondi com a voz tremendo.─ Acabei de perder o emprego, tenho filhos para criar, a situação

lá em casa está difícil, o custo de vida alto e fui despejado, não sei o que fazer... às vezes tenho vontade de morrer, sabe?

─ Vixi, Moço, credo, morrer que nada! Que desânimo! Não tem trabaio, vamu engraxá sapato, ué, o que quê tem? ─ Disse ele com um sorriso no rosto e dando de ombros.

Olhei para ele desanimado, como aquela figurinha poderia entender de vida? Mas ele não desistiu e insistiu: ─ vamos moço, você tem que ser forte e superar tudo.

Superação, superação! Que palavra mesmo é essa e está no dicionário? Pensei.

─ Lá em casa o arroz nunca fartô, moço. O senhor não pode se acovardá logo agora, tem que mostrá que é homi e ir á luta.

Olhei para ele de canto de olho e ele continuava firme me observando. Me virei de frente para os prédios como estava antes e fiquei pensando nas palavras daquela pequena criatura tão inocente e quando me voltei ele já não estava mais ali. Não havia sequer sombra ou rastro dele na areia. Por um instante achei que fosse coisa da minha imaginação e que estivesse sonhando, mas lá no fundo da minha alma eu sabia que era real.

Dei de ombros joguei a jaqueta às costas e comecei a caminhar de volta para casa e de repente ouvi de novo aquela voz:

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Antologia

─ Obrigado por não me dar o cigarro moço!Olhei para trás e não vi ninguém, apenas o sussurro das ondas na

praia e mais adiante os gigantescos prédios e os enormes arranha céus, a fumaça poluindo o ar, as buzinas dos automóveis e as plaquetas luminosas dos anúncios em gás neon da cidade.

Virei as costas e fui embora..._______________

Maria Lourdes da Silva é escritora e Poeta Nasceu em Suzano e começou a escrever aos 9 anos de idade. Participante ativa do grupo Entremeio Literário, com publicações de Poesias em coletâneas e exposições, tem vários artigos publicados em Jornais e participa como jurada há 12 anos de um Concurso Literário de Contos e Crônicas, coordenado pelo Jornal DS- Diário de Suzano. Publicou recentemente o primeiro Livro :A menina que queria roubar a Lua, e esta escrevendo outros dois livros : " O dono da Rua" e "Uma passagem para Dubai". E-mail: [email protected]

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COMPANHEIRISMO EMVERSO E PROSA

ESPELHO

Por Márcia Sech

Diante do espelho, reflito e analiso os momentos passados.As rugas tênues não demonstram preocupação, nem velhice, e sim

amadurecimento.Os momentos vividos, os amores amados, os erros cometidos e os

acertos compensados.Reflito sobre a minha liberdade e minhas permissões.Hoje eu permito que o vento balance os meus cabelos com fios

prateados,Permito-me ouvir o barulho do mar, sem pestanejar,O ruído da chuva, sem medo de me molhar,Acarinhar a criança e o idoso sem fazer distinção;Olhar a vida com olhos experientes, Permitir que o outro fale e ouvir com o coraçãoSentir medo e não fraquejar, sentir frio e não arrepiar,Ponderar, observar, avaliar e analisar,Mesmo com pensamentos longínquos, Dar um abraço apertado, sem medo de me doar,Permitir que o mundo a minha volta de próprias voltas, Olhar a noite enluarada, e viajar em pensamentos mágicos,Amanhecer o dia, agradecendo por mais um dia ensolarado,Reagir sem agredir, orientar sem reclamar.Tudo meu espelho mostra, ou melhor, sempre mostrou.Eu, é que hoje olho com outros olhos,Escuto de maneiras diferentes,

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Antologia

A mesma musica que sempre ouvi,Toco as coisas com mais acuidade, deve ser a idade,O sorriso, Ah! O sorriso, ele sempre esteve em mim, Mas agora me permito sorrir, mais confiante, Mais honestamente,Deve ser a idade.Através da vidraça, olho o jardim florido, O verde em abundância,O que me lembra a infância;Vejo a vida como ela é....Assim como minha imagem reflete no espelho,Clara, suave, diria até, macia,Contando os dias, as horas e os minutos, Que hoje são muito preciosos,O tempo urge, passa voando e eu continuo inovando;Sendo mais permissiva comigo mesma,Me tolerando mais, me amando mais, me gostando mais.Afinal o espelho reflete a vivência, o amadurecimento,A vontade de viver, deixando de lado a intolerância, Observando a nudez com olhar crítico,Não critico a vida, nem o tempo,Pois ambos me ensinaram a permitir, Perseverar, a me doar, amar. Ser o que eu sou:MULHER!!!

__________________Márcia Sech Falaschi é professora, jornalista, e reside em Suzano. É presidente do Lions Clube Mogi das Cruzes- Itapety e também é escritora. Já publicou os livros “ Os Pensamentos Mais Íntimos de Uma Mulher e Zé Mudinha.E-mail: [email protected]

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COMPANHEIRISMO EMVERSO E PROSA

O VENDEDOR DE REDES

Por Míriam Amélia de Novaes Kucinskis

A tarde se derretia em calor.Na rua o vendedor de redesenxugou de novo o suorque teimava em brotar de seu rosto.Já havia andadotoda uma eternidadeoferecendo o seu produto.Em casa, aguardavampelo ganha pãoa mulher e os filhos.Parece que mais ninguémse interessa por redesneste mundo de meu Deus!Uns não tinham dinheiro,outros não tinham tempopara desfrutá-la.E era só isso que elesabia fazer.Batia palmas,escutava um não.Parou em frentea uma casinha amarelanuma rua pacata,mais pela sombra

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Antologia

da pequena árvoreque oferecia seu frescor.Aproveitou para tentar de novo.Quem sabe a sorte lhe sorriria?- Tem dinheiro não, moço!Mas tem refresco de maracujá quer?E o vendedor virou alegria.Foi o único agradoque lhe demonstraramem todo seu extenso dia.

_________________Míriam Amélia de Novaes Kucinskis, nasceu em Seabra - BA, onde se formou professora. Mora em Mogi das Cruzes, cidade que vive e criou seus filhos, suas raízes. Participa ativamente do Grupo Entremeio Literário e incentiva por ele, lançou livros de poesia, conto, poesia infantil.E-mail: [email protected]

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COMPANHEIRISMO EMVERSO E PROSA

MEMÓRIAS DE UM APOSENTADO

Por Nelson Albissu

I- MÃE “Mãe, sinto muita falta da senhora. Das suas conversas, suas

coisas e, principalmente, da sua presença.Conheço um poema do Drummond que diz: Que de tudo fica um

pouco, mas da senhora ficou bastante.Aqui em casa, tudo lembra a senhora. Quando vou comer,

lembro-me de quanto gostávamos das suas sardinhas fritas e da sua salada de pimentões assados, que tão felizes comíamos, conversando tantas coisas.

Até das suas histórias, que eu estava cansado de ouvir, agora sinto falta. Também não sei por que a senhora partiu tão depressa. Podia esperar mais um pouco.

Sabe, mãe, meu passarinho partiu logo depois da senhora? E foi triste, porque ele também eu vi agonizar. Lembra de que uma das suas últimas distrações era vê-lo cantar e pular de poleiro em poleiro? Acho que eu o amava por causa da senhora.

Lembra-se daquelas plantas de frente à sua janela, que eu ia tratando enquanto conversava com a senhora? - Floriram. São vermelhas e bonitas.

As bananeiras que plantei no Mirante também já deram cachos.É, mãe... dá saudade mesmo! Por que a gente se amava tanto?Em minha formatura foi tão duro não ver senhora. Lembro-me da

senhora querendo ficar boa, para ir me ver. A senhora ia gostar de ver este seu filho recebendo diploma.

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Mãe... é tão dura a saudade que sinto, por que a gente se amava tanto?

Hoje, por acaso, se acaso existe, antes de escrever esta carta, fui rever aquela minha antiga palestra. Por vício, peguei um lápis e comecei a reescrever algumas passagens que o tempo deixou sem sentido. Mas foi tão difícil! Quase não consegui. Dizia tanto da senhora. Precisei cortar o trecho do crucifixo, pois não tinha mais a senhora para dar o testemunho. Outras coisas mantive. Coisas que dizem tanto de mim e da senhora. Com esses cortes, alguns momentos da sua grandeza ficaram inexpressivos. Mas tudo da senhora continua muito significativo na minha memória. Fazem parte de mim. Até hoje, nos momentos de indecisão, recordo da senhora dizendo:

- Vai, filho!E eu ia e vou, às vezes, até mesmo sem conhecer o caminho,

porque a senhora me deu a certeza de que, mesmo quando erro, não sou o pior dos homens.

Meus filhos, mãe, estão ficando grandes. Através deles, agora, percebo as dores que lhe causei. Mas do meu amor pela senhora ninguém pode duvidar.

Mãe, estava me esquecendo de contar que a casa ficou pronta. Pena a senhora não estar aqui para ver. Agora até tenho tempo. A gente poderia conversar tanto! A senhora gostava de conversar, mas eu só vivia correndo.

Lembra-se dos seus últimos meses? Eu chegava tarde da faculdade, devido ao projeto, e a senhora estava me esperando. Mesmo quando sua dor era grande, a gente ia conversando, conversando, até a senhora se distrair e dormir. Não foram poucas as madrugadas que passamos juntos.

A senhora me chamava, logo que eu chegava.

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COMPANHEIRISMO EMVERSO E PROSA

- Oi, mãe! - eu respondia, lá da cozinha, com pão atravessado na boca.

E senhora pedia:- Vem conversar comigo!Eu lhe falava do meu futuro, enquanto senhora me contava de

uma saudade, que sinto hoje sem nunca tê-la vivido.Hoje tenho mais tempo, para o passado, presente e futuro, mas

não tenho mais a senhora.Ah! Ia esquecendo: - nasceu minha filha caçula. É forte e bonita.

Chama-se Bruna. Pena a senhora não ter podido esperar, para ela conhecê-la. Com certeza, vocês também iam se gostar tanto.

Com um grande beijo, querida!

II- PAIVirou a última volta da chave. Apanhou o canivete, o fumo e o

cachimbo, apagou a luz da cozinha e respirou fundo e forte. Sentiu que o dia havia terminado e só lhe restava a noite de solidão.

A noite que não teria de esperar por ninguém. Não viriam atropelar seu sono leve. Seria a primeira noite, absolutamente sozinho, depois de quarenta anos de muitas obrigações no convívio da família. O filho caçula, o último ainda solteiro, que também se chamava Casemiro, abreviado para Miro, depois de ter sido Mirinho, havia casado nesse dia.

Um sentimento forte de vazio tomou conta dos seus sessenta e sete anos. Pensou em ir dormir, mas, a caminho do quarto, sentou-se no sofá vermelho da sala e entregou-se às recordações e às emoções passadas. Ia cortando o fumo e retrocedendo no tempo.

Lembrou-se da mãe bugre, humilde e de estrutura pequena, como toda mulher brasileira do século passado. A figura do pai se impôs: sujeito forte e valente, administrador de fazenda, descendente de

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Antologia

Mouros, gente das Astúrias, na Espanha.Rememorou imagens da infância, quase já esquecidas, de menino

pobre de Ribeirão das Almas, carpindo café, fazendo roçados, prendendo porcos, peraltices feitas e de quando saiu de casa, aos nove anos, para ir trabalhar e viver entre peões adultos.

Contemplou na parede lateral, pintada de rosa, a fotografia emoldurada do filho mais velho, aos 19 anos, vestido com a farda do exército nacional. Hoje, casado, pai de filhos, formado em Direito e morando a 60 km dali, em Mogi das Cruzes, cidade de muitos voluntários da revolução de 1932.

Encheu o cachimbo e mergulhou em reminiscências da adolescência e juventude entre Taubaté, São Manoel e São Paulo.

Mulheres dançaram na lembrança... caboclas, moças solteiras, malcasadas e até algumas de uma só vez. E sussurrou com saudade:

─ Bons tempos!Olhou para as mãos, que tanto trabalharam e notou pequenas

cicatrizes, impressões deixadas por muitas máquinas, instrumentos e ferramentas. Mas sentiu que as da alma eram mais profundas.

─ O senhor está despedido. Não precisa mais vir amanhã!─ Por quê?─ Acabou o algodão para enfardar.─ Pode passar no escritório!─ Por que, senhor?─ Não veio o pedido do vidro que esperávamos. E sabe como é...

com esta crise temos de despedir alguém. O setor metalúrgico é o mais atingido.

Mas, em tempo, lembrou-se da empresa inglesa. Os ingleses da fiação.

─ Deus do céu! Que loucura é a vida em um só minuto antecipado. As mulheres precipitaram tudo. Não era para distribuir o

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manifesto internamente. Com isso, perdera o emprego e passou a ser caçado pela polícia, por pertencer ao partidão.

O desterro para Santo André, em 1949, foi inevitável. A mulher com o filho nos braços, exilados entre as plantações de eucalipto, iniciando um novo bairro e vivendo da colchoaria empoeirada e escondida.

A lembrança da mulher, já falecida há três anos, explodiu na memória.

Sentiu vontade de chorar, mas se conteve. Nunca chorou na presença dos filhos. Seus retratos na parede denunciavam suas existências e testemunham esta firmeza. E só murmurou:

─ Ela não devia ter partido tão cedo! Podia ter esperado mais um pouco, para ver o casamento do menino e a minha velhice!

Com a garganta seca, baforou a fumaça do cachimbo e indagou-se:

─ Agora como vai ser? Pra que continuar aqui, se meu filho mais velho mora em Mogi das Cruzes, a filha com dois netos em São Bernardo e o caçula, âncora dos meus dias, casou e foi para São Paulo?

E concluiu com dor:─ Um após o outro, todos partiram! Todos levaram um pouco de

mim e deixaram este imenso vazio.Olhou o telefone, pensou em ligar para o filho, mas era tarde,

então renunciou, mais uma vez, em transmitir solidão. E assim continuou só e entregue, feito velho, nas mãos da saudade e do tempo.

Junto ao telefone, avistou o carnê da Previdência Social e um sorriso de amanhã surgiu em seus lábios, trazendo-o de volta ao presente.

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─ Amanhã é dia de luta com meus companheiros na Associação dos Aposentados.

Levantou-se, apagou o cachimbo, verificou se havia trancado a porta e foi deitar-se feliz, pois, corajosamente, decidia:

─ Fico em Santo André!(a um herói que conheci ─MEU PAI)

________________ Nelson Albissú, é paulistano é mestre em Artes Cênicas, formado pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. Entre outros, escreveu mais de cinco dezenas de livros infanto-juvenis, muitos deles presentes há 25 anos em catálogos de várias editoras. Foi dramaturgo de dezoito peças, que ascenderam ao palco. Também é cronista, professor universitário e diretor de teatro. Por 10 anos, foi diretor municipal de Cultura. Hoje é coordenador do idoso, em Mogi das Cruzes (SP). E-mail: [email protected]

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A VIDA É UM JARDIM

Por Olavo Câmara

A nossa vida é como um jardim com flores belíssimas e perfumadas. Já reparou que em um jardim se encontram flores de todos os tamanhos e com cores diferentes? Algumas têm raízes profundas e crescem muito e outras são rasteiras e crescem muito pouco.

Os seres humanos deveriam transformar as suas vidas como um jardim. Para que as flores não morram é preciso regá-las, excluir as pragas ao redor e todos os dias verificar se alguma está murchando pelo excesso de calor.

As flores são belas e quando uma pessoa falece, um dos primeiros atos é levar para o velório coroas de flores, além de outras que são depositadas sobre o corpo na urna funerária para enfeitá-la.

Temos ainda plantas que curam e outras que são venenosas e matam. Aprofunde as suas raízes e desenvolva sementes, ou seja, ou seus descendentes para que se tornem pessoas dignas como flores perfumadas.

Hoje, neste mundo de velocidade, as pessoas murcham com facilidades e outras apodrecem em presídios ou mesmo em lares destruídos pelos crimes que cometeram. Procure, diariamente, regar o seu jardim da vida, evitando friezas, fraquezas e ingenuidades que destroem as pessoas por não vislumbrarem uma vida decente ou não apontaram objetivos e metas.

Cuidado com as suas palavras! Há seres humanos que saberão perdoá-lo, mas outras jamais perdoarão e ficarão magoadas para

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Antologia

sempre se tornando inimigas.Fortaleça o caráter e siga em frente. Os pensamentos têm asas e

penetram até onde não queremos. Assim, não seja “fantoche do destino”, procure sempre se autodominar, e a cada dia procure eliminar erros e fraquezas.

Mas, cuidado com o seu jardim. Lembre-se sempre que em meio a tantas flores belíssimas, há aquelas que exalam perfumes, mas tem espinhos em seus caules. Em nossa convivência diária nos deparamos com pessoas espinhosas, quer em nossos lares, nos ambientes de trabalho e na sociedade como um todo.

Por isso, é preciso aprofundar as raízes e nada o derrubará. Fazer constantemente autocrítica e pensar: “que erros cometi”? Por quê fiquei nervoso e ofendi o meu semelhante? Foi falta de autodomínio?

Compare-se ás estações do ano. No outono as folhas e flores desaparecem das plantas e árvores, mas as raízes continuam firmes e fortes. Vem a primavera e surge a renovação com jardins floridos e novas folhas nas árvores.

Faça renovações constantemente em sua vida e não murche por nenhuma razão. A vida em sociedade a cada dia se torna mais difícil, dependendo do país em que se vive. O pensamento é egoísta e todos buscam sobrevivência ou fortunas, mas esquecem de distribuir os perfumes do seu coração e da sua alma aos seus semelhantes.

Às vezes exalamos venenos ao invés de perfumes. Procurem a cada dia exalar perfumes, ou seja, emitir fagulhas de amor aos jardins dos vizinhos. Ao acordar pense na paz crie e mentalmente pensamentos positivos para todos do seu convívio.__________________

Olavo Câmara é Professor da Universidade Brás Cubas em Mogi das Cruzes. Mestre e Doutor em Direito e Política. Advogado militante, escreve semanalmente para a imprensa mogiana e participa de programas radiofônicos, onde discorre sobre temas políticos e de interesse social. E-mail: [email protected] 

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O FAROL DE GEREMIAS

Por Paulo César Felipazzi

O Farol de Alexandria é uma das sete maravilhas do mundo antigo. É lendário. Mas o Farol de Geremias não. Não é lendário. Era e ainda é real em minha mente!

A casa era modesta, simples, pequena. Apenas um quarto e cozinha sem reboco, sem forro, com acomodação precária para uma família também pequena. A mobília da cozinha era constituída por uma mesa grande e forte, um fogão a carvão e um pequeno armário. No quarto, as camas, um guarda-roupa, uma cômoda e só. Não, havia também uma máquina de costura. O ano era 1952. Não tínhamos luz elétrica e as fumarentas lamparinas a querosene emprestavam sua luz amarela para alumiar o nosso jantar.

Mas, tínhamos Geremias. Certa tarde, este chegou em casa vindo do serviço, carregando dentro de um saco de estopa, uma bateria de automóvel usada, bem velha, que havia conseguido na empresa onde trabalhava. Conseguiu também um farol de carro, um "silibim" que mais tarde vim a saber que se chamava "sealed beam".

Geremias subiu na mesa e com grande esforço, colocou a bateria sobre a parede que separava a cozinha do quarto. Com dois pedaços de fio, pendurou o tal farol numa viga do telhado e ligou na bateria.

Nesse instante, fez-se a luz e todos viram que isso era bom! Jantamos sob aquele facho de luz improvisado que iluminava nosso semblante, nossa comida, nossas almas. Me lembro de ter olhado várias vezes para cima e nada comentado. Tínhamos luz, era só no que eu pensava! Foi só na hora da janta. O farol foi desligado e as lamparinas reinaram novamente. Sua luz amarela e trêmula encheu novamente o ambiente enquanto minha mãe lavava a louça numa bacia. A cena se repetiu por várias noites. A pesada e velha bateria já

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não aguentava muito tempo, e a nossa luz tornou-se intermitente. Às vezes a tínhamos numa noite, e depois ficávamos duas ou três sem ela. Entretanto, o orgulho era grande. Só nós tínhamos luz elétrica no bairro!

O tempo passou e a luz de Geremias se foi com o tempo, mas a luz no olhar de quem viu o sorriso nas faces iluminadas não se apagou. Persiste ainda que amarela, fraca, teimosa a iluminar o tempo e o espaço, gravada na alma, gravada nas mentes de quem viu a luz do Farol de Geremias._________________

Paulo César Felipazzi nasceu em Coroados, SP - 1946. Define-se como” Apenas alguém que olha o cenário e tenta ver algo além, uma quarta dimensão, talvez. Apenas um cidadão comum.” . E-mail: [email protected]

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AMIGOS PARA SEMPRE

Por Paulo Pinhal

A teoria do Caos mostra que o efeito borboleta é fato. Conta a história que por falta de um cravo,(prego), se deixou de ferrar um cavalo; Por falta de um cavalo ficou sem um cavaleiro; Por falta de um cavaleiro perdeu-se uma batalha; Por uma batalha perdeu-se uma guerra e por fim por causa de uma guerra perdeu-se a nação. O resultado é que por causa de um simples cravo perdeu-se uma nação.

Dentro desta teoria é que temos a história de Felipe, que conheceu Marcos, casualmente em um jogo de futebol, onde o jogador principal, Rodrigo, por pegar uma forte gripe acabou de última hora convidando Marcos, o filho da sua lavadeira que gostava de jogar bola. Naquele dia, Felipe e Marcos fizeram uma dobradinha importante para a vitória do time.

Felipe era filho de um médico importante na cidade e o Marcos vinha de uma família humilde e honesta. Seu pai era pedreiro e sua mãe lavava roupas para fora reforçando o orçamento do lar. Os dois rapazes, apesar de serem de classes sociais diferentes, consolidaram uma amizade forte entre si, e se o Rodrigo não tivesse contraído aquela gripe, talvez nunca eles tivessem se conhecidos e não teria sequência esta história.

Felipe e Marcos tinham a mesma idade de 18 anos e estavam naquele momento em que deveriam tomar decisão para qual profissão que exerceriam no futuro.

Felipe não tinha certeza se faria Engenharia Civil ou Arquitetura e Marcos, por sua vez, pensava em fazer algum curso do SENAI para

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que pudesse ser capacitado para o trabalho na indústria, uma vez que o Curso Superior estava distante dos recursos da família.

Felipe ficou sabendo que haveria um ciclo de palestras sobre profissões em São Paulo e no caminho encontrou-se com Marcos que o convidou para que lhe fizesse companhia, e este aceitou.

Entre as palestras, a que mais encantou os dois foi a de arquitetura. Parecia que era isto que eles estavam procurando e que tinham em comum, e como todos os jovens, já saíram fazendo mil planos futuros.

No retorno das palestras, Felipe que estava dirigindo seu automóvel perdeu a direção e acabou colidindo com um poste. Marcos, apesar do susto conseguiu sair do carro e pedir socorro para o amigo.

Felipe acabou quebrando a bacia, o que obrigou a ficar em cadeira de rodas para sua recuperação. Marcos, pela amizade e solidariedade, passou a visitar todos os dias o amigo ajudando no que era preciso. Foi um momento de muita dificuldade para o Felipe, que naquele ano desistiu dos estudos e focou em seu restabelecimento. A presença de Marcos diariamente consolidou mais a amizade.

Felipe, recuperado, tratou no ano seguinte de tentar entrar na FAUUSP-Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo, um curso público de arquitetura de elevada qualidade, mas com certo grau de dificuldade para entrar. Felipe, como teve a oportunidade de estudar no segundo grau em escolas de renomes, não teve dificuldade de ingressar no Curso. Já o Marcos que estudou em escola pública e que não tinha um bom aproveitamento por conta do futebol, não conseguiu entrar nas escolas públicas e nem obter bolsas ou financiamentos para escolas particulares.

Felipe, reconhecendo as dificuldades do Marcos, propõe financiar o seu curso em uma escola privada, uma vez que ele estava

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COMPANHEIRISMO EMVERSO E PROSA

estudando de graça em escola pública. Para não ferir os sentimentos do Marcos, se mostrando superior, ele combinou que assim que eles formassem iriam montar um escritório juntos, e daí o Marcos pagaria o que o amigo estava emprestando. E assim foi feito.

O contato entre eles foi aos poucos ficando raro por conta de estudarem em escolas geograficamente distantes e o Marcos conseguiu um estágio em um grande escritório de arquitetura, onde fez com que ele tivesse um progresso grande na profissão. Já o Felipe gostava de viajar e não estava preocupado com estágios. Ele queria é curtir o curso e aproveitar as festas. Independente desta separação física, Felipe continuava honrando com o combinado de pagar o curso para o Marcos.

Depois de cindo anos veio a formatura dos dois e Felipe resolveu fazer uma viagem para a Inglaterra e ficar por lá uns tempos. Já o Marcos conseguiu montar um escritório e ter uma equipe de mão de obra, onde começou a desenvolver projetos de todos os tipos. O seu escritório de arquitetura acabou virando uma pequena construtora.

Como este mundo da viravoltas, o pai de Felipe veio a falecer e descobriram que a família estava endividada e que ele deveria voltar para o Brasil. A situação financeira da família do Felipe entrou em declínio, fazendo com que sua mãe vendesse parte do patrimônio.

Marcos, que já estava com uma situação financeira consolidada, quando ficou sabendo da história, chamou o amigo para ser o seu sócio e também se propôs a devolver o dinheiro emprestado na época da faculdade. Felipe ficou feliz com a atitude do amigo, aceitou a sociedade e dispensou o pagamento que fizera durante os anos que estudou por entender que não era dele, pois afinal ele que tinha condições de pagar estudos e estudou em uma escola gratuita do governo.

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Antologia

A construtora progrediu e Marcos e Felipe decidiram sempre ajudar alguém que tem dificuldades para estudar, ofertando bolsas de estudos para pessoas carentes.

A lição que os dois aprenderam é que devemos investir no conhecimento e na educação, pois ela é a semente do nosso futuro.

________________Paulo Sérgio Pinhal é Arquiteto e Urbanista, Formado pela UMC – Universidade de Mogi das Cruzes, Mestrado pela Universidade Federal de Itajubá – Doutorando pela FAUUSP, Curador do CECAP – Centro Cultural Antonio do Pinhal e Presidente do Colégio de Arquitetos. Ex- Presidente da AEAMC e Ex- Presidente do IAB – Mogi das Cruzes. E-mail: [email protected]

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COMPANHEIRISMO EMVERSO E PROSA

COMPANHEIRISMO

Por Paulo Rogério de Souza

A lealdade entre duas pessoas que se dispõem a caminhar juntas em torno de um ideal é chamada de “companheirismo”.

Dessa convivência podem surgir grandes evoluções em nossa vida.

Os laços de relacionamento ficam mais fortes, a tolerância e a paciência se tornam mais flexíveis, a recíproca solidariedade passa a ser a tônica, o desejo do outro estar próximo - e bem - é mais constante, a certeza da parceria desinteressada nos deixa

mais confortáveis.Não é à toa que a origem da palavra companheirismo vem do

latim "cum panis" (aquele com quem dividimos o pão).Ao identificar alguém como “companheiro”, confiamos o

suficiente para abrir a porta de nossa casa, convidá-lo para nossa mesa e dividir nossas ideias, vitórias, derrotas ou um simples pedaço de pão.

Companheirismo é partilhar. Alegrias e tristezas, saúde e doença, riqueza e pobreza.

É solidariedade, transformando amizade em fraternidade. Mas o companheirismo não deve ser confundido com a amizade.

A amizade cria laços afetivos e pode se esgotar na convivência social.

O companheirismo cria laços de compromissos com uma causa e é elemento capaz de proporcionar a oportunidade de servir.

Companheirismo traduz uma ideia de comunhão tão grande entre

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duas ou mais pessoas a ponto de lhes permitir dividir o pão e seus segredos.

Merece investimento para aprimorar os relacionamentos e, consequentemente, nosso espírito.

A palavra “companheirismo” ganhou força na época das grandes navegações.

A tripulação das caravelas formava uma companhia e esses companheiros compartilhavam os riscos de navegar rumo ao desconhecido em busca de riqueza e glória. Dividiam o pão, os sucessos e os fracassos.

Não há companheirismo sem cumplicidade, palavra de origem igualmente latina, complice, que significa “unido”, “junto”.

Apoiar o outro em suas decisões, sem tentar interferir em suas ideias, ou crenças, aceitar os limites do outro, saber ouvir o que o outro tem a dizer, mesmo que você não concorde, para que o outro possa lhe ouvir também, dividir o espaço sem romper seus limites, trocar experiência e não competir entre si. Nos leva a tomar cuidado com o que você quer e o que o outro deseja.

Ser cumplice é ser parceiro. E relações parceiras podem ser positivas porque geram comprometimento e responsabilidade, potencializam a santificação do espírito.

O companheirismo une, entusiasma, motiva para novos projetos de vida. É um ato de amor, sem ser um dever.

Faz a gente pensar no outro e não focar só na gente, coloca o interesse coletivo acima do individual, favorece o processo social ao estabelecer como regra que é do coletivo o trabalho em favor da felicidade comum, proporciona satisfação mútua em ambiente de cordialidade e descontração

O verdadeiro companheirismo nasce do coração, e se enriquece na medida em que se pratica e se amplia o círculo de pessoas que

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COMPANHEIRISMO EMVERSO E PROSA

compactuam do mesmo ideal.E chega num ponto em que é preciso voar mais alto. É quando

nasce o desejo de servir a alguém.Qualquer atividade em prol de outro - ou de outros - exige a

maior parcela de companheirismo que seu coração possa oferecer.Isso desperta nosso orgulho. Não o pecado capital, mas o

sentimento de satisfação pela realização de um serviço.Um serviço só terá sucesso, só nos deixará orgulhosos, quando

for feito com parceria, cumplicidade e companheirismo.__________________

Paulo Rogério de Souza é natural de Mogi das Cruzes, SP, onde nasceu em 1º de abril de 1963. Profissionalmente, atua como empresário na área de Treinamento e Desenvolvimento de Pessoal, Comunicação institucional e Sistemas da Qualidade. É Governador do Lions Clube- Distrito LC-5 PIP Augustin Soliva- gestão 2014/2015. E-mail: [email protected](completar)

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O INEVITÁVELPor Prado Vinicius

Magro, inquieto, não mais que dois anos de idade. Abraçado à mãe, na calçada ignorados pelos passantes, mãe e filho têm um olhar distante, pedintes por amparo. O anonimato de suas figuras me traz muitas coisas à mente, em poucos segundos de lucidez em meio à multidão. Envelhecida, a jovem senhora, naquele sol do meio-dia, estaria ali há horas. Ignorada por todos, xingada por alguns e acompanhada por uma criança triste, imagino qual a história daquela pequena família. Aliás, que história? Sei que nessa vida deixamos apenas impostos pagos e histórias. Que história teria aquela pequena família? A dúvida me consome.

A distância mostra diversas vertentes de uma história. Em minha cabeça, não soube o que pensar. O choque com a cena se fez, e não desenrolou nada. É estranho ver uma cena daquelas e ter uma mente inerte, sem reação. O choque é tanto que a cena que vejo sempre, naquele momento se fez mais forte. O desamparo e o desprezo são um só. A distância entre as pessoas e aqueles dois era maior que qualquer calçada.

Na volta de meu compromisso, voltei e a ofereci uma refeição à moça, e a levei até um restaurante, e a deixei ali, com seu filho no colo, sentados à mesa, distraídos com a refeição e à televisão, diante de todos no salão. Fui embora, não quis me prolongar, ou saber de sua vida. Talvez devesse dar mais atenção, mas penso que o silêncio foi melhor, pois aquele momento, raro momento, deveria ser somente de ambos.

Minha satisfação durou até o dia seguinte, pois de volta à rotina, revi ambos na mesma calçada, como uma extensão de suas vidas, imersos na mesma paisagem. Infelizmente não pude ajudar

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COMPANHEIRISMO EMVERSO E PROSA

novamente. Inevitável seguir, mas e aí, como será? Olhando novamente, vi que silenciosamente a expressão de ambos não pediam ajuda. Pediam socorro._________________

Prado Vinicius, 25 anos, é empresário e formado em Marketing pela Uninove-SP. Apaixonado por literatura e fotografia, é autor do livro "Avião de papel e outras crônicas", publicado em 2013 pela editora Perse.E-mail: [email protected]

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HERÓI

Por Raimundo Alves Rodrigues

Acordar com o despertador impetuoso,Sair para o trabalho em um ônibus apertado,Encher as mãos de calos, suar a camisa...

Às vezes, o patrão é nervoso, O trabalho desumano e o salário curto-Não menor que o orgulho do trabalhador.

Ele aprendeu a viver do suor de seu rosto;-O que lhe foi posto depois da expulsão do Paraíso.Mas cumpre sua missão com pulso firme.E assim, ladeia o patrão no engrandecimento da nação.

O trabalho fundamenta o progresso,E o trabalhador traz impresso em siA peça essencial dessa engrenagem.Nessa incansável busca de dias melhores,A gratidão é pelo pão, pelo emprego,E pela força para resistir sempre.

Nesse dia, o mundo deveria dar mais valorAo que cedo se levanta, ou nem se deita,Em turnos e returnos que se confundem Em poentes, madrugadas, e noites.

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COMPANHEIRISMO EMVERSO E PROSA

Com dignidade, o trabalhador vence obstáculos, E revela a face de um vencedor.

_______________Raimundo Alves Rodrigues nasceu e reside em Mogi das Cruzes, região metropolitana de São Paulo. É licenciado em Letras, com especialização em Estudos da Linguagem, e trabalha como docente na SEESP. Publicou três livros de poesias, a saber: Poesiação em 2012; Humanidade e Sublime em 2014. E-mail: [email protected].

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LARGO DA MATRIZ

Por Regina Glýcia

Ás cinco horas, mais ou menos, a moçada do pedaço terminava o que estava fazendo, largava livro e cadernos e corria para o Largo da Matriz.

Lá se reunia, todas tardes, um grupo de jovens das adjacências para conversar, namorar, andar de bicicleta: era muito acolhedor e divertido esse entrosamento juvenil, ao som de um piano, de um lado do Ditinho Fernandes e do outro, na casa do Senhor Norival Tavares. Ou Carminha, ou Alaíde ou Lia tocavam; todos eram chegados á música.

Arthur largava um pouquinho a Brhama para seu pai cuidar. Elisabeth Saad dava uma folga para sua mãe no Bazar Mogi, Dona Gina, os irmãos Toninho e Cornélio, o amado Chicão, Cuco, Marino, Irene, Aninha,Yacy, Glicéria, Dodô, Cimar, Carmem, Brígida, Mara, Zalfa, Linda, Yara e outros, lá estavam, marcando ponto ao cair da tarde.

Inês e Fernando Prado andavam de bicicleta, Rosa Maria corria a namorar Nori.

Vinham de outras bandas da cidade, Marcos Pavan, Numa, Hideo Egoshi, Mary, Francesly; Belinha, Dalva e Lula, irmãs inseparáveis, mais o seu irmão Nino, e enquanto a noite não caía, lá ficávamos tagarelando, inventando coisas, marcando festas, matinês dançantes e outros movimentos da época.

Neide e Cid, em seu banco cativo, num namoro eterno, já escolhiam o nome dos filhos.

Muitas vezes, Dona Iracema Brasil, rastreando sua Mara

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incansavelmente, chegava até nós e era imediatamente rodeada pela turma que a adorava. Risonha, cabecinha branca, tinha conversa para todos; gostava mesmo de estar rodeada de jovens, como fez a vida inteira. Passava sua energia, ternura, esperança e conhecimentos.

Quando a noite derrubava seu manto, todos corriam para casa e o Largo da Matriz ficava completamente silencioso e solitário. Não adiantava nem a lua aparecer, chamar, implorar, inundar o chão com suas lágrimas prateadas, com a promessa de idílios, nem o vento morno, segredar encontros, prever romances, que ninguém atendia aos seus apelos; somente muito mais tarde é que os seresteiros apareciam para realizar seus intentos e atender aos seus chamados.

Quando o sino da Matriz, em suas seis badaladas, anunciava o fim do dia, subíamos correndo as escadas da nossa casa e encontrávamos minha avó, Maria Del Carmem Merchan, tocando castanholas, enquanto esperava a família se reunir, para servir o jantar, tarefa que executava com infinito amor.

Jamais meu pai sentou á mesa sem que estivessem todos presentes. “Todas”, porque éramos só mulheres e ele o único varão “bendito entre as mulheres”.

Enquanto saboreávamos a deliciosa comida caseira preparada artisticamente, apesar de simples, pela minha devotada avó, que fazia da cozinha uma arte, participávamos de um campeonato de adivinhação que meu pai inventava, para melhorar nosso conhecimento. Consistia em procurar, de um dia para o outro, alguma palavra no dicionário, estipulada por ele, bem fora de uso mesmo. Sempre a campeã era a minha irmã mais velha, que era sabichona.

O Largo da Matriz era espaço para quermesses, feiras, comícios. Era lá que as personagens do mundo político eram recebidas com

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discursos, geralmente proferidos por meu pai, que era orador oficial desses eventos.

Festa do Divino, Festa de Sant’Ana, palanques de desfiles, Feira das Nações, Festas Juninas, tinham seus dias de glória definidos, no amado Largo da Matriz. Era lugar para qualquer concentração.

E o obelisco, ponto primaz da cidade, olhando as gerações que se sucederam á sua volta, impassível ás intempéries, cortando o luar, o vento, a neblina ou a garoa, hoje está adulterado em sua base. Mas se pudesse falar, certamente contaria da saudade daquele grupo de jovens buliçosos, alegres, barulhentos, que como ele, tornou-se marco da cidade.__________________

Regina Glycia Costa nasceu em Mogi das Cruzes, onde reside até hoje. Tem quatro filhos: Nelson, Régis, Fábio e Guilherme. É professora de educação física, aposentada, e tem como hobbies a poesia, a música. Ama as crianças e a natureza. Adora ler e escrever. É autora do livro “Amor Perfeito”, de onde foi extraído este texto.

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O ÚLTIMO DOS MARCIANOS

Por Renato Lopes Faury

Marc viu o seu mundo ruir por conta de muita conversa e pouca ação para salvá-lo. Ações simples que poderiam ser feitas para a preservação do ambiente local não foram incentivadas pelos “vendilhões” (nome dado aos representantes da oligarquia que governava Marte), não foram feitas. Companheirismo, amizade, amor; civismo, eram sentimentos desconhecidos naquele planeta. Seus técnicos preferiam lucrar em tudo, vendendo projetos, enterrando os resíduos em imensos “lixões”, cuja manutenção só justificava o lucro que davam. No entanto, bastaria uma pequena mudança de comportamento da população, no sentido de reduzir as emissões de gases poluentes e substâncias responsáveis pelas mudanças climáticas no planeta; mas essa oportunidade foi perdida. Agora, pensava Marc, era tarde demais.

Essa fora a grande luta de Marc. Passara toda a sua vida batalhando pela implantação de um processo de desenvolvimento sustentável, baseado no princípio da redução do desperdício de água, energia e alimentos. Ele, que era engenheiro ambiental, sabia que o planeta não sobreviveria sem isso. Desenvolvera dezenas de planos para gerenciar adequadamente os resíduos, reduzi-los, reutilizá-los, reciclá-los Se esforçara tanto para ensinar a população a não consumir produtos que gerassem impactos socioambientais irrecuperáveis...

No entanto, para sua tristeza e decepção, nem a administração pública quis dar ouvidos às suas propostas. Descuidou da

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responsabilidade socioambiental nas contratações, nas compras e na prestação dos serviços. Não deu prioridade aos critérios ambientais, mas somente valorizou os econômicos, preferindo os projetos de custo mais baixo, sem se preocupar com as agressões ao meio ambiente. Principalmente nos projetos de engenharia, o descaso com o meio ambiente foi simplesmente criminoso.

E agora a natureza estava cobrando com fúria as agressões sofridas. Nos últimos anos, dezenas de catástrofes naturais ceifaram a vida de milhões de pessoas. Tsunamis, secas prolongadas, chuvas torrenciais, frio e calor desproporcionais, estavam transformando todo o ambiente do planeta. A poluição, as doenças consequentes do acúmulo de resíduos nas grandes cidades, a destruição da camada de ozônio, a diminuição das florestas, tudo isso fez com que a taxa de imunidade de todas as espécies vivas ─ e principalmente dos seres humanos ─, contra as pragas e as doenças, caísse a um nível insuportável. E assim, as epidemias começaram a dizimar a nossa população.

A poluição provocada pelos veículos causou milhões de mortes nas grandes cidades, em número muito maior até que os mortos em decorrência de acidentes de trânsito. As pessoas mais vulneráveis a contrair doenças relacionadas com a alta concentração de poluição como crianças, gestantes, pessoas com dietas inadequadas e os portadores de doenças crônicas como diabetes, asma, pressão alta, começaram a morrer em grande escala.

Logo o custo com o tratamento de doenças provocadas pela poluição ambiental aumentou tanto que passou a consumir praticamente todas as rendas da economia marciana. Em decorrência disso, toda a sociedade do planeta entrou em colapso.

Marc sempre disse que a agricultura era extremamente vulnerável às mudanças climáticas. Ao mesmo tempo, contribuía para essas

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mudanças, pois na medida em que não eram adotadas práticas agrícolas sustentáveis nas atividades de produção, distribuição e comercialização, ela passava a ser um fator de mudança climática importante. Pois quando se destruíam florestas inteiras, que hospedavam ecossistemas necessários á manutenção da qualidade ambiental, para se plantarem monoculturas cujo único propósito era a obtenção do lucro, o planeta estava praticando o próprio suicídio. Marc cansou de avisar que as formas de produção, planejadas somente para atender demandas de consumo, incentivadas por uma publicidade desatenta às adaptações a um novo ambiente, estavam indicando que os limites de utilização dos recursos naturais estavam no fim.

Então vieram as crises: econômica, política e social. Mas mesmo essas não foram suficientes para provocar a mudança de um sistema que não estava dando certo. Pois o consumo voraz, o desperdício e o egoísmo das pessoas não davam campo para novas atitudes. Na esteira desse desvario veio o aumento do estresse social, a violência, a corrupção, a fome, a sede, a miséria geral e todos os indicadores de qualidade da vida caíram a praticamente zero. Foi o início do fim.

Mas mesmo ás portas da morte, os marcianos nunca estiveram dispostos a sacrificar o luxo, e substituir suas mercadorias por outras de menor agressividade ao ambiente. Não procuraram racionalizar o uso da água, pensando que ela jamais acabaria; não desenvolveram formas de produção de energia mais barata, a partir de recursos renováveis; consumiram suas florestas nativas sem renová-las; usaram produtos que continham matérias primas tóxicas ou nocivas à saúde; jamais recolheram pilhas, baterias e lâmpadas para reciclagem; achavam que elas se diluiriam no ambiente

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naturalmente.As matérias primas foram ficando cada vez mais escassas, e

mesmo assim os marcianos não combateram o desperdício; nem desenvolveram um sistema de reciclagem eficiente.

Marc deu milhares de palestras, escreveu centenas de artigos e vários livros pedindo para as pessoas, apagar as luzes quando trocassem de ambiente; tirassem os aparelhos da tomada quando não estivessem sendo usados; utilizassem papel reciclado; usassem pilhas recarregáveis, em vez de unidades descartáveis. Deu centenas de conselhos a esse respeito, mas tudo foi em vão.

A seca que transformou Marte em um deserto poderia ter sido evitada, pensava Marc, se os responsáveis pela administração pública tivessem seguido seus conselhos. Quantas vezes ele não advertiu que a água potável estava acabando, que os lençóis freáticos estavam sendo contaminados, que a poluição ambiental estava comprometendo os ecossistemas, que o regime de chuvas estava diminuindo e que era preciso poupar água e aprender a usá-la de forma responsável.

Ah! mas tudo foi em vão. Agora, Marc, lá da sua cabana na montanha, único lugar do planeta onde a natureza ainda resistia, em seus últimos suspiros de vida, olhava para o céu e via a última onda de calor se aproximando do planeta. Dentro de poucos dias Marte seria uma imensa bola alaranjada, deserta e sem vida, a girar no espaço. Marte logo seria um planeta morto.

Mas essa não é a principal preocupação de Marc. Ele sabe que alguns homens desenvolveram tecnologia suficiente para escapar deste planeta. E neste justo momento eles estão voando em suas espaçonaves em direção ao terceiro planeta do sistema solar. Um lindo planeta azul, cheio de rios e florestas. Vão plantar lá suas colônias. E fazer lá o mesmo que fizeram com Marte. E depois,

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talvez, com os demais planetas do sistema solar. O último pensamento de Marc é um pedido a Deus para que Ele faça com que os homens aprendam com suas experiências. E que deixem de ser os vermes de si próprios._______________

Renato Lopes Faury é engenheiro civil pela UMC. Trabalhou na SABESP. Fez pós graduado em engenharia ecológica na FAAP e hoje faz palestras de dá cursos na área de preservação do meio ambiente. É autor do livro “ O Ambiente Humano”. E-mail: [email protected]

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O RATO

Por Roberto Cavenatti

O rato.solitário,arrumou casa de taipapara sua moradia.

Um ninho quente,um tanto úmido, é verdade,era o que bastavapara suas necessidades.

O que ele não sabiaé que a parede de barro e paus,era parte da igrejinha,Patrimônio nacional.

O que dizer ao rato,que nem religião tinha,que, naquele espaço sagrado,bebia da água benta, todo santo dia.

Fez-se notícia em manchete,na rádio dominical,nos jornais e nas candinhas:─ Há rato na igrejinha!!!

Correria, pânico, confusão,

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prefeitos, vereadores, padre,filhos e filhas de Maria,todos contra o roedor.

Que iria destruircom enorme maestria,ofícios e paramentosda sagrada sacristia.

Reuniões na Câmara,com a comunidade presente,guerra contra o intruso,foi a solução urgente.

Colocou-se enfim o veneno,nas trincas do assoalho,nos buracos das paredes,nos furos das madeiras.

Nos degraus desalinhados,nas janelas capengastravas e ripas arqueadas,nas telhas destrambelhadas.

O rato, ouvindo, vendotodo aquele alvoroço,perdeu o gosto, mudou-se,foi morar no pau-oco.

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A multidão em Graça,acendeu velas, soltou rojões,rezou novenas, em louvores,ao milagre, á unção.

O tempo foi derradeiro,não foi o rato, com siso,sim, o descuido havido,

_______________Roberto Cavenatti, em 29 de abril de 2014 lançou seu primeiro livro individual, CHÃO DE TEMPO, na Faculdade Brás Cubas e no Casarão do Carmo na cidade de Mogi das Cruzes, Sp. O livro que foi condecorado pela Câmara Municipal de S.Paulo e selecionado pela Biblioteca Nacional em prêmio anual, comemora os 60 anos do poeta. O professor, jornalista e bancário, hoje aposentado, escreve ainda em Blogs e sites de Literatura, RECANTO DAS LETRAS e LUSO POEMAS, participa de diversos grupos literários, entre eles o Entremeio Literário de Mogi das Cruzes. Palestrante, ao se apresentar declama seus versos, seus poemas, sua vida. E-mail: [email protected]

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“A SOMBRA”

Por Sidney Leal

No jantar só estavam os dois, o homem e sua sombra, num silêncio sepulcral no casebre humilde. Numa mesa de canto esquecida, uma vela solitária iluminava timidamente os dois, enquanto sua chama dançava enlouquecida pelo soar do vento da janela semiaberta. Sua luz precária iluminava o homem sentado e logo abaixo, refletida no chão frio, sua sombra.

A sombra o olhava às vezes temerosa, imaginando qual seria a reação em sua face indiferente. Pensava consigo, como aguentava viver perto de alguém, neste ritmo triste, silencioso, tanto tempo?

Ele por sua vez distante, pensava em outras banalidades que a vida suburbana lhe provia.

Ela olhava ao redor na casa humilde de poucos móveis, onde velas eram as opções para economia de energia, e, pensava nas conquistas e nas vitórias que sentia gritar em seu coração quando jovem, mas hoje ele...Voltava novamente seu olhar para a figura cansada à sua frente. Nem família foi capaz de formar, filhos não possuía, e amar!? Um grande amor nunca viveu, nunca sentiu o peito arder de paixão, ou por falta dele! Estava cansada de escutar suas amigas, outras sombras, que riam e chacoteavam fazendo-lhe pouco caso, pois a boa sorte do destino as abençoara, as ligara a seres que erravam, se aventuravam, amavam... Sem medo dos resultados, sem medo das desilusões, de peito aberto com uma longa história de experiências de vida.

Pobre sombra! Ela nada tinha, passava a vida sendo arrastada de lá pra cá sem atenção, sem ser notada, nem um bom dia ou boa noite sombra! Que bom que está aí sombra! Pensava no desperdício

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existencial que era sua vida, pois poderia oferecer mais, muito mais; poderia lhe oferecer o ombro para chorar as tristezas da vida, o sorriso para parabenizar suas vitórias, o coração de sombra para lhe fazer um carinho quando triste estivesse. Sentia-se negada, destratada, anulada a apenas seguir se arrastando no ritmo morto de seus passos, silenciosa. Aquela situação era por demasiado injusta! Não devia ele ter o direito de viver todas as aventuras da vida. Ele devia ser apenas “a sombra”, pois sim! Ele com certeza não se importaria em seguir moribundo, uma pessoa; ele com certeza não se questionaria de seu triste fim. Ah! Mas se fosse com ela, as coisas seriam diferentes.

Novamente veio o silêncio.Ele mastigava indiferente, os movimentos automáticos de sua

mandíbula geravam um barulho irritante, que a exasperava. Asco que emergia de sua tristeza e que lhe ouriçava os sentidos.

A sombra com a cabeça entre as mãos se derretia em lágrimas que lhe escorriam pela face sem forma, assim como o seu coração triste naquele momento. De repente ela levantou se erguendo com convicção, decidida, com as costas das mãos trêmulas enxugou o que lhe restara de tristeza da face negra, presa como estava esticou-se o mais que pôde até chegar ao interruptor, e num último suspiro lançou um olhar de despedida ao vazio daquele ser... E acendeu a luz.

______________Sidney Leal foi vencedor do 8º Concurso Literário de Suzano 2012 - edição Cora Coralina - 1º Lugar Categoria Conto Regional. Desenvolve como Presidente da Associação Cultural Literatura no Brasil, uma série de projetos de incentivo e fomento a leitura na cidade de Suzano-SP onde reside atualmente. É autor dos livros: “Minhas Histórias de Mistério Terror & Morte” (2011); Organizador e escritor da coletânea: “Esquecidos na Noite” (2012); “Sussurros da Noite – Loucuras & Sonhos” (2014). E-mail: [email protected]

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COMPANHEIRISMO EMVERSO E PROSA

COMPADRE

Por Suami Paula de Azevedo

Na realidade éramos confrades, mas nos tratávamos como “compadres”.

Éramos colegas de classe na escola. Lá no tempo do Colegial, o antigo Ensino Médio de então. Havíamos escolhido uma das opções. Afora as profissionalizantes, havia apenas o Curso Clássico, que preparava para o vestibular das áreas de Ciências Humanas, e o Curso Científico, que preparava para as Ciências Exatas ou Biológicas. Escolhemos as Ciências Humanas pois queríamos cursar Filosofia. Exatamente, queríamos ser filósofos. Nem pensávamos em ser professor, nem mesmo de Filosofia.

─ Filósofo!? gritou o pai dele ao ouvir a pretensão. Isso é coisa de mulher, de gente que não quer ou não procura trabalhar, completou seu pai.

Olhamos um para a cara do outro. E o pai continuou:─ Tem que ser doutor. Ou médico ou engenheiro ou advogado. Depois conversamos sobre o que ouvimos. Ambos sentimos

vontade de rir. Mas não fizemos nem menção disso na hora. Sabíamos do jeito do velho dele. Teria dado um bom tabefe na cabeça dele. E talvez até algo sobrasse para mim.

Aos dezessete anos somos capazes de tudo. Ou melhor, achamos que somos.

Queríamos mudar o mundo. Não só o nosso mundico, mas todo o mundo. Queríamos a revolução, transformar as coisas e as pessoas. Parecia tão realizável...

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Antologia

E décadas depois constatamos que o mundo mudou mesmo, demais. Bem mais do que pretendíamos.

Lembro bem, ele era um amigo, ou mais que isso. Senti muita tristeza com tudo o que aconteceu. Fiz o exame de sangue, mas os nossos sangues não eram compatíveis. A gente se dizia “irmão de sangue”, era como sentíamos na nossa cabeça, mas, na realidade, não éramos. Doei sangue, mas para alguém mais. Transplante? Nem pensar. Não pude ajudá-lo. Sem dúvida, teria doado até mesmo um rim. Mas eu também já não estava tão perfeito assim.

O que sei é que quando ele se foi, perdi algo em mim. E o buraco que me restou foi ocupado pela saudade. Uma saudade besta. Diferente da que senti por meu pai. Diferente daquela por minha mulher. Era como se resultasse de um inchaço, de uma inflamação. Sei lá se era a soma de todas as perdas adquiridas ao longo de tantos anos. A gente já conversava pouco, ou por outra, a gente se falava pouco. Mas era bom ficarmos juntos. Sabíamos que o outro estava ali do lado. Era reconfortante.

De fato, nem ele nem eu nos tornamos filósofos. Fizemos Direito. Advoguei por anos. Ficava lá nos arquivos, onde ninguém do escritório gostava de pesquisar. Não era como hoje, com tudo na Internet. Tínhamos de catar cada caso.

Ele fez concurso para Juiz. Depois de umas tantas tentativas, passou. Mas lá no fundo, sempre soube que ele queria ser mesmo um Escritor. Um Poeta, seria a definição mais precisa. Talvez, se tanto, um Professor de Literatura. Mas partiu, sem isso, uns tantos anos depois de se aposentar da Magistratura.

Tínhamos certeza de que o mundo podia ser plenamente fraterno, em nossa cabeça jovem. Éramos tão garotos. Tão crentes. Tão convictos de nossas ideias. Entendíamos que sem violência as pessoas iriam se aperceber da necessidade de se doarem, de se darem

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COMPANHEIRISMO EMVERSO E PROSA

as mãos, de conviverem juntas. Nem quando um parceiro e, tempos depois, outro, ou melhor,

outros, foram mortos, mudamos de posicionamento.Não nos convencemos jamais que a luta armada seria a solução

para alcançarmos um mundo fraterno. Acreditávamos que nossos exemplos de pacifistas convenceriam.

Mas não foi bem assim.Fui tendo a sensação, desconfortável, de que ele, de algum modo,

desistia, aos poucos, de nosso sonhado mundo fraternal, de companheiros. Depois chegou a doença. Até hoje não sei se esse desligamento teve a ver com a descoberta do seu mal. Ou se foram os tempos como Juiz de Vara Criminal. Agora, me parece que ele ia deixando de falar no nosso paraíso tão desejado por nós no mundo, tão além de simplesmente no nosso País.

De todo modo, eu também fui encontrando menos ouvidos receptivos aos meus projetos, que era como definia os meus sonhos.

Não desisti tão fácil. Ajudei a criar clubes de serviço, cooperativas, associações, creches. Ah, foram tantas as ações sociais em que me meti. Em que nos metemos.

Hoje, às vezes, ainda penso que deveria ter lutado mais pela implantação do Dia da Simpatia, em que cada um sorriria ao máximo durante o dia para as demais pessoas por quem passasse.

Vejo as pessoas andarem tão sérias, sisudas. E parecem nem se importarem com isso. Ou melhor, parecem nem ter consciência desse seu estado. Como se essa fosse a única forma de manifestação. E é coisa que começa nas escolas, como se formássemos “cidadãos” em esteiras rolantes de produção em série, padronizadas, estereotipadas. Uma forma de industrialização da formação das pessoas. Todos se comportando iguais, se vestindo iguais, pensando iguais, sentindo

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Antologia

iguais. Modeladas.─ Revolução. Na verdade mudamos o mundo, as coisas, as

pessoas. Porém, sem fraternidade.Seria possível ainda mudar isso?Pera lá! Pensando bem, o mundo é como o mar, se move em

ondas, hora em baixo, hora em cima. Então, um dia pode mesmo mudar essa revolução de agora por um mundo de gente melhor. Não tenho como deixar de achar possível. Precisaríamos nos dar as mãos, pensarmos juntos...

Um sono...─ Oi, compadre, senta aí. Vamos conversar... Tava pensando aqui

naquelas ideias antigas da gente, lembra?...─ Vô, tá me ouvindo? Não me chama de compadre, não. Então,

na verdade, a gente criou o grêmio na escola. Foi igual com o senhor, a diretora também não gostou muito. Mas deixou. Já começamos um trabalho de reciclagem e tá todo mundo apoiando. Vamos partir para a ajuda a colegas que precisam de material e... Vô! Tá me ouvindo?..._______________

Suami Paula de Azevedo – Poeta, Educador, Palestrante, estudou no Brasil e na França, para onde foi por razões políticas (1971/77). Graduado em Letras (Sorbonne/USP), Pedagogia (FCLRP) e Direito (PUC/UBC), Mestrado e Diploma de Doutorado (DEA) em Linguística (Sorbonne), e outro Mestrado em Semiótica (UBC). Várias publicações, em História Local (Suzano), Educação e Poesia (premiado com o Mapa Cultural/Poesia-1996- SP.e-mail: [email protected]

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COMPANHEIRISMO EMVERSO E PROSA

SÓ MAIS UM BOCADINHO

Por Walkiria Digenova Stoppa

Fica só mais um BocaDinho! Acostumei com tuas brincadeiras, com você sempre junto a mim,

com teu modo de ser, com tua gula por comida; Ah! Se pudesse, te pediria...Fica só mais um BocaDinho!Aquela gaveta que aprendeu a abrir continua recheada de

bolinhas, aquelas com as quais você gosta tanto de brincar. Sua coleira está pendurada, você sabe onde.

Venha, “Quer descer?” pegue-a como sempre fez...Brinque nem se for só mais um BocaDinho! Quem sabe conseguiremos brincar de esconde-esconde

novamente ou talvez reaja ao ouvir “Quer ir para o sítio? .Ah! Tente voltar e ficar só mais um BocaDinho ! Hoje, seu olhar está perdido, olha pro nada, perdeu seu brilho, não

mais transmite seus desejos. Casa silenciosa, não escuto o tamborilar dos seus passos, seu

cantinho está vazio, parece que tudo está à tua espera... Ocupe seu lugar, só mais um BocaDinho! Entenderei sua quietude, ficarei te vigiando, nada exigirei de

você, apenas forrarei sua caminha com meu amor. Não precisa se esconder, somos grandes amigos... Deixa-me cuidar de você só mais um BocaDinho! Mas, se estiver difícil de tudo continuar, saiba que deixará

saudades, e que deste coração levará um BocaDinho! Meu grande e fiel amigo, Dinho!

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Walkiria Digenova Stoppa nasceu em São Paulo em 10/7/1946. Filha de músicos, era professora primária e cursou Psicologia. Esposa do empresário Dante Stoppa Filho, tem dois filhos: Adriana e Alexandre Stoppa, e dois netos Vitor e Luca. Autora do livro "Asas de Walkiria", publicado em dezembro de 2014. Obra póstuma.

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COMPANHEIRISMO EMVERSO E PROSA

COMPETIÇÃO

Por Walter Aguiar

A praia é bela.Muito mais bela é a mulherpasseando por ela.

A lua é bela.Muito mais bela é a sua luzem noite de lua cheia.

O pássaro é belo.Muito mais belo é vê – lolivre, longe das gaiolas.

A floresta é bela.Muito mais bela é encontrá-lasem vestígio do homem.

A vida é bela.Muito mais bela é vive-la bem intensamente.________________

Walter Aguiar, nascido em 06 de fevereiro de 1941, já foi presidente do Centro Mello Freire de Cultura e da Corporação Musical Santa Cecília. É formado em Letras, com extensão em espanhol, pedagogia, direito e mais recentemente jornalismo. Lecionou por mais de 30 anos nas principais escolas de Mogi das Cruzes, inclusive na Escola Estadual Washington Luís. Tem 14 livros de poesias e participou de várias coletâneas. E-mail: [email protected]

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