professor.pucgoias.edu.brprofessor.pucgoias.edu.br/sitedocente/admin... · web viewna última...

63
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS ESCOLA DE DIREITO E RELAÇÕES INTERNACIONAIS CURSO DE DIREITO DIREITO PROCESSUAL CIVIL V TURMA B01 Profa. Ms. Carolina Chaves Soares

Upload: others

Post on 17-Jan-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

31

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS

ESCOLA DE DIREITO E RELAÇÕES INTERNACIONAIS

CURSO DE DIREITO

DIREITO PROCESSUAL CIVIL V

TURMA B01

Profa. Ms. Carolina Chaves Soares

Email: [email protected]

PLANO DE ENSINO 2019-1

UNIDADE

ESCOLA DE DIREITO E RELAÇÕES INTERNACIONAIS

COORDENAÇÃO

DIREITO

DISCIPLINA

DIREITO PROCESSUAL CIVIL V

CÓDIGO

JUR 3315

CRÉDITOS

04

TURMA

B01 3ª e 6ª, 17:00 – 18:30

PROFESSORA

CAROLINA CHAVES SOARES - [email protected]

EMENTA

Processo nos Tribunais: composição, competência, funcionamento. Homologação da sentença estrangeira. Ação Rescisória. Teoria Geral dos Recursos. Recursos em espécie: Apelação, Recurso Adesivo, Agravo, Embargos Infringentes e de Declaração. Recurso nos Juizados Especiais. Recurso Ordinário Constitucional. Recurso Especial para o Superior Tribunal de Justiça. Recurso Extraordinário para o Supremo Tribunal Federal. Embargos de Divergência. Ações Constitucionais. Reclamação. Uniformização de jurisprudência. Outros equivalentes recursais.

OBJETIVO GERAL

Complementar os estudos de direito processual civil, compreendendo o sistema brasileiro de impugnação de decisões judiciais, por meio de recursos e outros instrumentos capazes de produzir efeitos semelhantes.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Entender como funcionam os tribunais brasileiros de segundo grau, tomando como paradigma o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás e estendendo a compreensão para o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça.

Compreender a teoria geral dos recursos e os recursos em espécies previstos no Código de Processo Civil e sua base constitucional, inclusive com a interpretação dada pelos tribunais.

Analisar o procedimento recursal nos juizados especiais cíveis e o funcionamento das turmas julgadoras.

Estudar os principais equivalentes recursais, assim consideradas ações ou incidentes processuais que, sem serem recursos, produzem efeitos semelhantes ou até mais eficazes.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

PRIMEIRA PARTE: DOS RECURSOS

ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO DOS TRIBUNAIS.

DOS RECURSOS EM GERAL.

APELAÇÃO.

AGRAVO DE INSTRUMENTO.

AGRAVO INTERNO.

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.

DO RECURSO NOS JUIZADOS ESPECIAIS.

DOS RECURSOS PARA OS TRIBUNAIS SUPERIORES.

SEGUNDA PARTE: DOS EQUIVALENTES RECURSAIS

TEORIA GERAL DOS EQUIVALENTES.

INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS.

INCIDENTE DE ASSUNÇÃO DE COMPETÊNCIA.

INCIDENTE DE ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE.

CONFLITO DE COMPETÊNCIA.

AÇÃO RESCISÓRIA.

RECLAMAÇÃO.

OUTROS EQUIVALENTES.

ATIVIDADE EXTERNA DA DISCIPLINA (AED)

A AED tem como objetivo compor a carga horária e, simultaneamente, concorrer para o aprofundamento dos estudos por meio da pesquisa que estimule o rigor científico.

I – Descrição da AED:

- Trabalho em grupo de até 5 alunos, a respeito de um dos seguintes temas: Incidente de Assunção de Competência; Incidente de Arguição de Constitucionalidade; Conflito de Competência; Homologação de Decisão Estrangeira; Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas; Reclamação.

- O tema de cada grupo será definido em sala de aula, em conjunto com a docente e os discentes.

II - Objetivo da AED: compreender os diversos incidentes e procedimentos de competência originária dos tribunais.

III – Cronograma: o trabalho deve ser entregue até o dia 17 de maio de 2019.

IV – Forma de Registro:

- o grupo deverá elaborar um pôster científico, a ser entregue digitado em papel A4, até o dia 17 de maio de 2019;

- o pôster também será disponibilizado para os colegas.

V – Critério de Avaliação:

- serão atribuídas até 08 frequências e 1 ponto extra na 1ª N2, proporcionalmente ao conteúdo do trabalho,

- os integrantes do grupo que fizerem o melhor pôster, a ser escolhido pela turma, terão pontuação bônus (1,5).

MATERIAL DE APOIO

Direito em Cartaz (site e facebook).

NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo Código de Processo Civil Comentado. Salvador: Juspodium, 2016.

Roteiro de aulas da disciplina, elaborado pela professora.

Site Dizer o Direito – www.dizerodireito.com.br

Site Jota - https://www.jota.info/

METODOLOGIA

As atividades serão desenvolvidas mediante os seguintes procedimentos de ensino: aula expositiva e dialogada; perguntas/ problematizações; estudos escritos; atendimento a alunos; estudo de caso e pesquisa bibliográfica com resposta a questionário.

AVALIAÇÃO

N1:

- A 1ª N1 será aplicada em 08/03/19.

- A 2ª N1 será aplicada em 05/04/19.

- A N1 vale 10 pontos e tem peso 4.

N2:

- A 1ª N2 será aplicada em 07/05/19.

- A 2ª N2 será aplicada em 11/06/19.

- A N2 vale 10 pontos e tem peso 6.

- 1 ponto da 2ª N2 refere-se à atividade de estudos interdisciplinares; 1 ponto da média de N2 refere-se à nota da avaliação interdisciplinar. Consequentemente, a prova da 1ª N2 valerá 9,0 e a da 2ª N2 valerá 8,0.

Regras comuns às avaliações:

- A média para aprovação é 6,0 (seis).

- As avaliações serão feitas por múltiplos instrumentos, podendo conter questões objetivas, discursivas e estudos de caso.

- Tratando-se de prova sem consulta, será atribuída nota zero ao aluno que conversar, consultar material ou portar qualquer aparelho eletrônico durante a avaliação.

- Eventual reclamação quanto à correção da prova deverá ser feita no dia da devolução da atividade, que é sempre o 1º dia de aula após a sua realização.

- As datas acima previstas poderão ser alteradas em caso de imprevistos no calendário acadêmico.

- O profissional do Direito precisa entender a sociedade na qual está inserido, devendo estar informado sobre o que acontece em âmbito nacional e internacional. Assim, em todas as avaliações haverá uma questão extra sobre atualidades/ conhecimentos gerais.

- Essa professora somente aplica as avaliações descritas nesse plano de ensino (não há trabalhos extras, prova de repescagem, etc.), devendo o aluno alcançar a média mínima de 6,0 com essas atividades (a média não é 5,5 ou 5,8).

Prova substitutiva:

- Nos casos de deferimento de avaliação substitutiva, via processo administrativo, será aplicada uma única avaliação para a N1, no dia 09/04/19, e outra para a N2, no dia 14/06/19. A prova conterá apenas questões discursivas e abordará todo o conteúdo dado até o dia de sua realização.

Informes sobre a avaliação interdisciplinar:

- A prova será aplicada pela PUC-GO, em 09 de maio de 2019.

- A avaliação conterá 40 questões, sendo 10 de formação geral e 30 de formação específica.

- A avaliação interdisciplinar vale 1 ponto na média da N2.

Frequência:

- O aluno é reprovado se não obtiver 75% de presença na disciplina.

- Como já explicitado no tópico próprio, deverão ser desenvolvidas 8 horas-aula a título de AED. O aluno que não fizer as atividades terá acrescidas 8 faltas.

Estudos interdisciplinares:

- O tema dos estudos interdisciplinares em 2019-1 é “Políticas Públicas”.

- As datas das palestras serão determinadas e divulgadas pela Coordenação do Curso.

- O aluno deve participar de um dos debates e apresentar cópia do respectivo certificado.

- A atividade vale 1 ponto na 2ª N2 (não é ponto extra).

- O prazo máximo para apresentação do certificado é 07 de junho de 2019.

- Na impressão do certificado, deve-se ter o cuidado para que apareça o código de validação.

- A professora não é responsável pela organização do evento ou pela emissão do certificado, só atribuindo a nota a quem apresentá-lo.

BIBLIOGRAFIA BÁSICA

DIDIER JÚNIOR, Fredie et al. Curso de direito processual civil. Salvador: Juspodivm, 2017. vol. 3.

NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil. Salvador: Juspodium, 2017.

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. Rio de Janeiro: Forense, 2017. vol. III.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. São Paulo: Atlas, 2017.

SÁ, Renato Montans de. Manual de direito processual civil. São Paulo: Saraiva, 2016.

OBSERVAÇÕES

1) Todas as informações relativas às aulas e às avaliações são dadas em sala de aula. É responsabilidade do aluno se manter informado, principalmente se ele tiver faltado à aula.

2) Em hipótese alguma essa professora aceita atividades fora do prazo.

3) Atividades plagiadas (da internet ou entre alunos) não serão valoradas.

4) O aluno deve obter sua nota no decorrer do semestre, realizando as avaliações descritas acima. Não há outras atividades nem concessão de pontuação fora do estabelecido nesse plano de ensino.

5) Os únicos critérios de aprovação são presença e nota. O aluno que é bolsista, que depende de ajuda familiar para pagar o curso, que trabalha o dia todo, etc., deve ter plena consciência de sua situação do início ao fim do semestre.

6) Conforme previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, o aluno pode faltar a 25% das aulas. Os acontecimentos da vida estão abrangidos nesses 25% de falta, ou seja, não há abono em caso de aniversário, compromisso profissional, comparecimento a eventos, ida a dentista, mal estar, etc.

7) A professora não atribuirá presença ao aluno que não responder a chamada no momento em que ela for realizada.

8) A professora não atribui falta ao aluno que responde à chamada. Assim, alegações do tipo “mas eu não tive essas faltas” são inúteis, porque não haverá alteração do que foi registrado.

9) É obrigatório levar o Código de Processo Civil em todas as aulas.

10) O estudo do direito processo civil exige a compreensão de uma sequência: cada aula que o aluno falta ou chega atrasado interfere negativamente em sua aprendizagem.

11) Se o aluno tem compromissos no período de aula, deve se matricular em outro horário.

12) Os livros constantes da bibliografia são uma indicação, mas o bom livro é aquele que o aluno gosta de ler. Entretanto, resumos, sinopses e apostilas são obras destinadas a recordação, não constituindo em fonte de estudo para o aluno de graduação.

13) O processo de ensino aprendizagem exige um ambiente próprio: evite conversas paralelas, elas atrapalham os colegas e a professora. Da mesma forma, os aparelhos eletrônicos devem ser utilizados apenas para fins acadêmicos.

14) O atendimento ao aluno é feito em sala de aula ou por email ([email protected]).

15) Não há como aprender Direito sem ler! O aluno deve estudar o conteúdo da disciplina através de livro doutrinário.

16) É importante que o operador do direito conheça a jurisprudência do STF e do STJ. O site “www.dizerodireito.com.br” expõe o conteúdo dos informativos de jurisprudência desses tribunais de forma bastante didática.

ROTEIRO DE AULAS[footnoteRef:1] [1: Atenção: o estudo do direito deve ser feito por meio de livros e essa apostila não os substitui. Esses apontamentos servem apenas para que o aluno acompanhe as aulas.]

1) REVISÃO

1.1) Estrutura do Poder Judiciário brasileiro – art. 92 CF

Supremo Tribunal Federal (STF):

- é o guardião da Constituição Federal,

- tem sede na Capital Federal e jurisdição em todo o território nacional (art. 92, § 1º e 2º, CF),

- competência: originária (art. 102, I, CF) e recursal (art. 102, incs. II e III, CF).

Superior Tribuna de Justiça (STJ):

- uniformiza a interpretação da legislação federal,

- tem sede na Capital Federal e jurisdição em todo o território nacional (art. 92, § 1º e 2º, CF),

- competência: originária (art. 105, I, CF) e recursal (art. 105, incs. II e III, CF).

Justiça Federal:

- competência dos TRF´s: art. 108 CF;

- competência dos juízes federais: art. 109 CF,

- organização: tribunais regionais federais x seção judiciária x subseção judiciária x varas federais.

· TRF 1ª Região: Acre, Amapá, Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Piauí, Rondônia, Roraima e Tocantins.

· TRF 2ª Região: Espírito Santo e Rio de Janeiro.

· TRF 3ª Região: Mato Grosso do Sul e São Paulo.

· TRF 4ª Região: Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

· TRF 5ª Região: Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe.

Justiça Estadual:

- a competência dos TJ´s e dos juízes estaduais é residual,

- organização: tribunal de justiça x comarcas x varas (cíveis, criminais, de família, de sucessões, da fazenda pública).

1.2) Pronunciamentos do juiz – arts. 203 a 205 CPC

Despacho:

- impulsiona o processo,

- ex: designar data de audiência, determinar a intimação de testemunha, etc.,

- não cabe recurso de despacho – art. 1001 CPC.

Decisão interlocutória:

- há solução de uma questão incidente, sem encerramento do feito,

- ex.: concessão/ indeferimento de liminar; reconhecimento ou não de suspeição/ impedimento; concessão/ indeferimento dos benefícios da assistência, etc.

Sentença:

- conceito no CPC/1973: ato pelo qual o juiz põe termo ao processo, decidindo ou não o mérito da causa,

- conceito dado pela Lei 11.232/05: ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269 do CPC, 

- conceito no CPC/2015: pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos artigos 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum ou extingue a execução.

· Sentença definitiva/ de mérito: hipóteses do art. 487 CPC.

· Sentença terminativa/ sem resolução do mérito: hipóteses do art. 485 CPC.

No tribunal:

- o julgamento colegiado dos tribunais é chamado de acórdão (art. 204 CPC),

- os desembargadores e ministros também proferem decisões de forma individual, chamadas de decisões monocráticas.

Não esqueça: as decisões, sentenças e acórdãos devem ser fundamentados (art. 93, IX, CF, e 11 CPC).

2) PROCESSOS NOS TRIBUNAIS

2.1) Precedentes judiciais – arts. 926 a 928 CPC

Fonte primária do Direito: sistemas do Civil Law e do Common Law.

Terminologia:

- precedente: “é um pronunciamento judicial, proferido em um processo anterior, que é empregado como base da formação de outra decisão judicial, prolatada em processo posterior” (Alexandra Câmara),

- jurisprudência: conjunto de decisões judiciais, proferidas pelos tribunais, sobre uma determinada matéria, em um mesmo sentido,

- súmula: enunciado que retrata a jurisprudência dominante de um tribunal (art. 926, § 1º, CPC),

- ratio decidendi ou causa de decidir: é o fundamento jurídico que sustenta a decisão judicial (Fredie Didier Jr.), a “tese nuclear que conduziu à conclusão do decisório” (Humberto Theodoro Jr.),

- obiter dictum: argumentos acessórios, secundários, diversos do fundamento da decisão.

· DICA: acesse o site Dizer o Direito, no link: https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2019/01/principais-julgados-de-direito-do-consumidor-2018.pdf, e verifique que o autor selecionou, no STJ, sobre Direito do Consumidor, súmulas, recursos especiais repetitivos e recursos especiais não repetitivos.

Art. 926 CPC – a jurisprudência dos tribunais deve ser:

- coerente: “o tribunal deve coerência às suas próprias decisões anteriores e à linha evolutiva do desenvolvimento da jurisprudência” – dever de autorreferência (Fredie Didier Jr.),

- íntegra: “concretização do postulado da unidade do ordenamento jurídico” (Fredie Didier Jr.),

- estável: a mudança da jurisprudência do tribunal (overruling) deve ser fundamentada e pode importar em modulação de efeitos – art. 927, §§ 2º, 3º e 4º do CPC.

· Overruling x distinguishing.

A redação da Súmula 563-STJ determina que “O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às entidades abertas de previdência complementar, não incidindo nos contratos previdenciários celebrados com entidades fechadas.” Ainda, o novo conteúdo sumulado revoga a Súmula 321 do STJ.

O conteúdo da nova Súmula traz como novidade a diferenciação de aplicação do Código de Defesa do Consumidor nas entidades abertas e fechadas de previdência complementar, o que até então não era determinado pela redação anterior, visando, assim, sanar eventuais dúvidas quanto à incidência do CDC nos “fundos de pensão” (Empório do Direito, 2016).

2.2) Processo nos tribunais

A competência dos tribunais pode ser exercida em grau de recurso, em remessa necessária ou na forma originária.

Ações originárias:

- a causa se inicia diretamente no tribunal, por previsão constitucional,

- causas de competência originária:

· do STF: art. 102, I, CF,

· do STJ: art. 105, I, CF,

· dos TRF: art. 108, I, CF,

· dos Tribunais de Justiça dos Estados e DF: conforme a Constituição do Estado.

Recurso:

- um legitimado discordou de uma decisão judicial e a impugnou por meio de recurso, o qual usualmente será analisado por um outro órgão do Judiciário,

- o art. 994 traz o rol dos recursos previstos no CPC.

Remessa necessária ou duplo grau obrigatório ou reexame necessário:

- art. 496 do CPC,

- em alguns casos, quando a sentença é desfavorável à Fazenda Pública e ela não recorre, o juiz é obrigado a determinar a remessa dos autos ao tribunal, para que este a reexamine.

Na última sessão do ano do plenário do STF, o presidente Dias Toffoli apresentou balanço do judiciário no ano de 2018. De acordo com o ministro, até o dia 18 de dezembro de 2018, foram recebidos no distribuidor do Tribunal 100.437 processos, sendo 20.293 originários e 80.144 recursais. 

Toffoli também afirmou que 54.611 processos foram distribuídos aos ministros; 124.975 decisões foram proferidas no ano de 2018 - sendo 110.467 decisões monocráticas e 14.508 decisões colegiadas. 43 novos temas chegaram ao Plenário Virtual, sendo 32 deles com repercussão geral reconhecida.

(Fonte: https://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI293190,91041-Dias+Toffoli+apresenta+balanco+do+ano+judiciario+em+2018)

Na última sessão do semestre forense, o ministro Noronha apresentou os números de produtividade do Tribunal. O STJ superou pela primeira vez a marca de 500 mil julgados, elevando a produtividade em mais de 10% - foram quase 40 mil processos julgados a mais do que em 2017. A Corte Superior recebeu 4% de processos a mais do que no ano passado, mas conseguiu redução recorde do acervo processual, e agora o estoque caiu de 330 mil processos no início do ano para 293 mil processos. Conforme Noronha, o ano de 2019 será "desafiador do ponto de vista orçamentário", de modo que será mais necessário ainda "garantir a eficiência e a inovação".

(Fonte: https://mail.google.com/mail/u/0/#inbox/FMfcgxwBTjxhZVDXMwXTxzkgLnSmlDNx)

2.3) Organização dos tribunais (exemplo TJGO)

Nem sempre os tribunais decidem com a totalidade de seus membros (plenário), sendo comum a divisão de trabalho entre seus integrantes. A título exemplificativo, segue a divisão do TJGO, na área cível.

Plenário:

- é constituído pela totalidade dos integrantes do tribunal, ou seja, 42 desembargadores,

- decide questões administrativas (ex.: eleição e posse do Presidente e Vice, disponibilidade e aposentadoria de magistrados),

Órgão Especial:

- prevista no art. 93, XI, da CF, para os tribunais que tenham mais de 25 julgadores,

- o órgão especial do TJGO é composto pelos 17 desembargadores mais antigos,

- exerce funções atípicas e típicas (ex.: aprova o Regimento Interno e julga mandado de segurança contra ato do Governador e exceção de suspeição de desembargador).

Seção Cível:

- o TJGO possui 2 seções cíveis, cada uma composta por 15 desembargadores,

- exerce função típica (ex.: julga ação rescisória e mandado de segurança contra ato de juiz de direito).

Câmara Cível:

- o TJGO possui 6 câmaras cíveis,

- cada câmara é composta por 5 desembargadores, distribuídos em 5 turmas,

- cada turma é composta por 3 desembargadores, sendo um deles o relator,

- exerce função típica (ex.: julga exceção de suspeição de juiz de direito, mandado de segurança contra ato de secretário de Estado, apelação e agravos).

2.4) Ordem dos processos no tribunal – arts. 929 a 946 CPC

O CPC estabelece a seguinte ordem para os processos no tribunal:

- registro e distribuição da causa,

- conclusão ao relator,

- retorno dos autos para a secretaria,

- designação de dia para julgamento, quando for decisão colegiada,

- sessão de julgamento.

· O CPC extinguiu a figura do revisor, a quem competia revisar o relatório. Com o processo eletrônico, todos têm acesso aos autos.

Conforme art. 932 CPC, o relator é o integrante do tribunal (desembargador ou ministro) responsável por:

- dirigir e ordenar o processo no tribunal (elabora o relatório e o primeiro voto),

- determinar a realização de provas, quando necessário; decidir o incidente de desconsideração da personalidade jurídica, nos casos de competência originária do tribunal; e determinar a intimação do Ministério Público, nos casos legais;

- homologar autocomposição das partes,

- apreciar o pedido de tutela provisória,

- não conhecer do recurso, se faltar algum requisito de admissibilidade ou se ele estiver prejudicado,

- negar provimento ao recurso, quando a pretensão do recorrente contraria:

· súmula do STF, do STJ ou do próprio tribunal,

· acórdão do STF ou do STJ proferido em recurso repetitivo,

· entendimento firmado em incidente de resolução de demanda repetitiva ou em incidente de assunção de competência,

- dar provimento ao recurso, depois de oferecidas as contrarrazões, quando a decisão recorrida contrariar:

· súmula do STF, do STJ ou do próprio tribunal,

· acórdão do STF ou do STJ proferido em recurso repetitivo,

· entendimento firmado em incidente de resolução de demanda repetitiva ou em incidente de assunção de competência.

- cuidado com o parágrafo único do art. 932 CPC: se o vício do recurso for sanável, o relator deve conceder prazo de 5 dias para o recorrente corrigi-lo (princípio da primazia da decisão de mérito, previsto também no art. 4º CPC).

Publicação da pauta de julgamento:

- em regra, antes de o recurso ser julgado, há que se publicar a pauta de julgamento, que informa o dia e a hora de sua realização,

- a pauta de julgamento é publicada no Diário da Justiça,

- entre a publicação da pauta e realização da sessão de julgamento é necessário um prazo mínimo de 5 dias, sob pena de nulidade,

- não sendo o julgamento realizado na sessão designada, o processo pode ser adiado expressamente para a primeira sessão seguinte: nesse caso, não é necessário publicar nova pauta. Nos demais casos, os processos que não tenham sido julgados devem ser incluídos em nova pauta.

Sessão de julgamento:

- exposição da causa pelo relator (leitura do relatório),

- possibilidade de sustentação oral pelo recorrente, recorrido e membro do Ministério Público,

- possibilidade de pedido de vista, pelo membro do tribunal que não se considerar habilitado a proferir imediatamente seu voto (prazo máximo de 10 dias),

- votação,

- presidente anuncia o resultado do julgamento,

- o acórdão será redigido pelo relator ou, se ele ficar vencido, pelo julgador que proferiu o 1º voto vencedor,

- a ementa do acórdão é publicada no diário da justiça.

Sustentação oral:

- prazo de 15 minutos,

- pode ser feita pelo recorrente, pelo recorrido ou pelo MP (a sustentação oral não é obrigatória, o advogado que desejar fazê-la deve se inscrever na secretaria do tribunal antes do início do julgamento),

- processos em que é cabível: art. 937, incisos I a IX, CPC,

- o CPC prevê expressamente a sustentação oral por videoconferência ou outro recurso tecnológico, quando o advogado com domicílio profissional em cidade diversa da sede do tribunal a requer até o dia anterior da sessão.

Técnica de julgamento do art. 942 CPC:

- o CPC/1973 previa o cabimento de um recurso, chamado embargos infringentes, cabível para alguns processos em que o julgamento não era unânime,

- o CPC/2015 extinguiu os embargos infringentes e criou uma técnica de julgamento quando há divergência entre os membros do tribunal,

- o instituto do art. 942 do CPC não é recurso, é uma técnica de julgamento, que importa em ampliação do colegiado,

- aplicação da técnica:

· na apelação, quando não houver unanimidade,

· na ação rescisória, quando a maioria tiver votado pela rescisão da decisão,

· em agravo de instrumento, se a maioria tiver votado pela reforma da decisão agravada,

- se o órgão colegiado tem julgadores suficientes, o julgamento continua na mesma sessão (ex.: câmara com 5 desembargadores → a apelação é julgada por 3 desembargadores → resultado do julgamento foi por 2x1 → passa-se a novo julgamento, com a participação dos 5 desembargadores). Se não há julgadores suficientes, o julgamento continua em nova sessão, com a convocação de novos julgadores, em número suficiente para garantir a possibilidade de inversão do resultado inicial.

ATENÇÃO: pesquise, no site Dizer o Direito, o informativo 638 do STJ, em que se comenta o julgado abaixo.

Como ocorre a continuidade do julgamento na hipótese em que houve uma parte unânime e outra não unânime? Ex: no julgamento de uma apelação contra sentença que havia negado integralmente a indenização, a Câmara Cível entendeu de forma unânime (3x0) que houve danos materiais e por maioria (2x1) que não ocorreram danos morais. Foram então convocados dois Desembargadores para a continuidade do julgamento ampliado (art. 742). Esses dois novos Desembargadores que chegam poderão votar também sobre a parte unânime (danos materiais) ou ficarão restritos ao capítulo não unânime (danos morais)?O colegiado formado com a convocação dos novos julgadores (art. 942 do CPC/2015) poderá analisar de forma ampla todo o conteúdo das razões recursais, não se limitando à matéria sobre a qual houve originalmente divergência. Constatada a ausência de unanimidade no resultado da apelação, é obrigatória a aplicação do art. 942 do CPC/2015, sendo que o julgamento não se encerra até o pronunciamento pelo colegiado estendido, ou seja, inexiste a lavratura de acórdão parcial de mérito. Os novos julgadores convocados não ficam restritos aos capítulos ou pontos sobre os quais houve inicialmente divergência, cabendo-lhes a apreciação da integralidade do recurso. O prosseguimento do julgamento com quórum ampliado em caso de divergência tem por objetivo a qualificação do debate, assegurando-se a oportunidade para a análise aprofundada das teses jurídicas contrapostas e das questões fáticas controvertidas, com vistas a criar e manter uma jurisprudência uniforme, estável, íntegra e coerente. STJ. 3ª Turma. REsp 1.771.815-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 13/11/2018 (Info 638)

3) TEORIA GERAL DOS RECURSOS

3.1) Conceito de recurso

É um meio de impugnação voluntário, previsto em lei, para, no mesmo processo, reformar, invalidar, integrar ou esclarecer uma decisão.

· A remessa necessária (art. 496 CPC) não é recurso porque não é voluntária.

· O recurso não dá origem a um processo novo, ele prolonga a existência de um processo que já existe. Por isso, a ação rescisória (art. 966 CPC) também não é um recurso.

a) Reforma:

- o pedido recursal é a reforma do ato quando há error in iudicando;

- error in iudicando: é o erro de julgamento, de análise. A conclusão da decisão recorrida está errada,

- reconhecido o error in iudicando, o órgão competente para julgar o recurso profere uma nova decisão, com conclusão distinta da que havia sido adotada pela decisão recorrida.

b) Invalidação:

- o pedido recursal é a invalidação do ato quando há error in procedendo;

- error in procedendo: é o erro de atividade. Houve um erro na atividade de produção da decisão judicial, sendo irrelevante se a conclusão da decisão está certa ou errada;

- reconhecido o error in procedendo, o órgão competente para julgar o recurso invalida (anula, cassa) a decisão, para que outra venha a ser proferida, sem o erro de atividade.

O recorrente pode cumular o pedido de invalidação com o de reforma; também é possível pedir anulação de uma parte e reforma de outra.

c) Integração:

- o pedido recursal é a integração do ato quando há omissão;

- integrar é completar o ato judicial;

- o recurso adequado para se integrar o ato são os embargos de declaração.

d) Esclarecimento:

- o pedido recursal é o esclarecimento do ato quando há obscuridade, contradição ou erro material;

- o recurso adequado para se esclarecer o ato são os embargos de declaração.

3.2) Princípios recursais:

a) Princípio do duplo grau de jurisdição

Conceito: possibilidade de a decisão ser revista por órgão jurisdicional, normalmente de hierarquia superior àquele que proferiu a decisão.

A CF:

- não faz menção expressa ao princípio do duplo grau de jurisdição,

- apesar de fazer previsão expressa à existência de recursos, não estabelece ser possível interpor recurso para todas as decisões.

b) Princípio da taxatividade: só existem os recursos previstos em lei, seja no Código de Processo Civil ou em leis especiais. O art. 994 do CPC apresenta a grade recursal básica do processo civil brasileiro.

c) Princípio da unirrecorribilidade ou singularidade: para cada decisão judicial deve existir uma única espécie recursal a ela correlacionada, num mesmo momento processual.

· É possível que a parte interponha, ao mesmo tempo, recurso extraordinário e recurso especial contra o mesmo acórdão, porque cada recurso tem um propósito diverso, vai impugnar um fundamento do acórdão (mitigação da unirrecorribilidade).

d) Princípio da fungibilidade:

- possibilidade de que, em casos de dúvida objetiva, o tribunal receba um recurso por outro,

- não se aplica esse princípio se houver erro grosseiro: há necessidade de uma dúvida quanto ao cabimento do recurso, lastreada em divergência doutrinária ou jurisprudencial.

e) Princípio da proibição da reformatio in pejus

Proibição de reforma para pior: não se pode, no julgamento de um recurso, agravar a situação de quem recorreu, em benefício de quem não recorreu.

Em relação às matérias de ordem pública (que podem ser examinadas de ofício e não estão sujeitas a preclusão), pode o tribunal resolvê-las contrariamente aos interesses do recorrente, sem que isto implique em violação ao princípio da proibição da reformatio in pejus (atenção ao art. 10 CPC).

f) Princípio da voluntariedade: decorre do princípio dispositivo e indica que o recurso depende de iniciativa da parte interessada. Também se insere nesse princípio a liberdade do interessado para delimitar a órbita de abrangência de seu recurso.

3.3) Efeitos dos recursos

a) impeditivo:

- a interposição de um recurso admissível impede a preclusão da decisão recorrida ou o seu trânsito em julgado, ou seja, impede que a decisão se estabilize.

b) devolutivo:

- em regra, uma questão solucionada em juízo não pode ser novamente decidida (preclusão pro iudicato),

- o recurso reestabelece o poder de apreciação da mesma questão, pelo mesmo órgão que havia proferido a decisão ou por um outro, de hierarquia superior,

- o recurso devolve ao tribunal a matéria efetivamente nele impugnada, ou seja, o tribunal não pode conhecer de matéria que não foi objeto de pedido do recorrente.

c) suspensivo:

- é a qualidade do recurso que adia a produção dos efeitos da decisão impugnada assim que interposto o recurso,

- quando o recurso tem efeito suspensivo, a execução da decisão impugnada não pode ser efetivada até que ele seja julgado,

- a regra, no CPC, é que os recursos não têm efeito suspensivo automático (art. 995). Todavia, é possível que o relator atribua efeito suspensivo a um recurso (efeito suspensivo ope judicis),

- para a apelação há uma inversão: em regra, terá efeito suspensivo (art. 1012/ CPC - efeito suspensivo ope legis).

d) regressivo ou de retratação:

- alguns recursos permitem que o órgão que proferiu a decisão recorrida se retrate;

- a apelação tem efeito regressivo nos casos dos artigos 331, 332, § 3º, 485, § 7º, CPC;

- os agravos também têm esse efeito (arts. 1018, § 1º, 1021, § 2º, 1042, § 4º, CPC).

e) translativo:

- autoriza que o tribunal conheça das matérias de ordem pública, ainda que não tratadas no recurso,

- como visto, o art. 10 do CPC proíbe decisões surpresa: antes de pronunciar-se sobre a matéria de ordem pública, o tribunal deve previamente ouvir as partes.

f) substitutivo (art. 1008 CPC):

- a decisão do tribunal a respeito do mérito do recurso substitui a decisão recorrida,

- só haverá a substituição se o recurso for julgado no mérito (quando o recurso não é conhecido/ admitido não gera efeito substitutivo).

3.4) Juízo de admissibilidade e de mérito dos recursos

a) Conceito

Juízo de admissibilidade:

- verifica a presença dos requisitos de admissibilidade do recurso, que são os pressupostos necessários para que se possa examinar o mérito do recurso;

- expressões relacionadas: conhecer/ não conhecer.

· RE/ Resp: admitir/ não admitir; dar seguimento/ negar seguimento.

Juízo de mérito:

- juízo sobre o acolhimento ou não do pedido recursal,

- expressões relacionadas: prover/ não prover; dar provimento/ negar provimento.

b) Competência

No CPC/2015, em regra, tanto o juízo de admissibilidade quanto o juízo de mérito competem ao juízo ad quem, ainda que o recurso seja protocolado no juízo a quo.

A Lei 13.256/2016 alterou o texto do código, antes mesmo de ele entrar em vigor, quanto aos recursos especial e extraordinário:

- o juízo de admissibilidade desses recursos compete ao juízo a quo,

- o juízo de mérito do recurso especial compete ao STJ e do recurso extraordinário, ao STF.

c) Requisitos de admissibilidade

c.1) Cabimento

Análise se a decisão é recorrível e se o recurso interposto é o adequado/ correto.

c.2) Legitimidade recursal

Quem interpõe o recurso deve ter aptidão para, no caso concreto, impugnar a decisão judicial.

Podem recorrer (art. 996 CPC): as partes; o Ministério Público, como fiscal da lei; o terceiro prejudicado.

c.3) Interesse recursal

Há interesse recursal se o recurso é útil (pode melhorar a situação do recorrente) e necessário (o recorrente precisa recorrer para atingir seu objetivo).

c.4) Inexistência de fatos impeditivos ou extintivos do poder de recorrer

Requisito negativo: são fatos que não devem existir para que o recurso seja admissível.

Não pode haver desistência do recurso (art. 998 CPC), renúncia ao direito de recorrer (art. 999 CPC) ou aceitação da decisão (art. 1000 CPC).

· Desistência a qualquer tempo: o limite máximo é o início da votação no tribunal.

c.5) Tempestividade – arts. 1003 e 1004 CPC

O recurso deve ser interposto no prazo; se interposto fora do prazo, é inadmissível.

O CPC/2015 uniformizou os prazos recursais: 15 dias para interposição e resposta, exceto os embargos de declaração, cujo prazo é de 5 dias.

No caso de recurso remetido pelo correio, conta-se a data da postagem como data da interposição (cancelamento da sum. 216 STJ).

Comprovação de feriado local:

Informações do site Dizer o Direito, em 08/09/2018.

Imagine a seguinte situação hipotética:

José interpôs o recurso especial contra decisão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais.

No STJ, o Ministro Relator, monocraticamente, negou seguimento ao REsp, afirmando que este era intempestivo.

A questão foi a seguinte: o acórdão do TJMG foi publicado em 23.11.2016 (quarta-feira).

O prazo para a interposição do REsp começou a correr no dia 24.11.2016 (quinta-feira) e teria expirado em 14.12.2016, isto é, 15 dias úteis após.

O REsp somente foi protocolado no dia 15.12.2016.

Logo, o Ministro Relator considerou que foi intempestivo.

Ocorre que no dia 14.12.2016, data em que encerraria o prazo para o recurso, não houve expediente forense no TJMG, motivo pelo qual o recorrente somente apresentou o REsp no dia seguinte (15.12.2016).

Vale esclarecer que José não informou, na petição do recurso, esta situação, ou seja, que no dia 14.12.2016 não houve expediente forense, motivo pelo qual o REsp teve que ser interposto no primeiro dia útil subsequente (15.12.2016).

José, ao apresentar o REsp, já deveria ter explicado na petição que, na instância de origem, era feriado local ou dia sem expediente forense. No entanto, como José não esclareceu esta circunstância no momento do REsp, ele poderá aclarar este fato posteriormente?

Na égide do CPC/1973: SIM

Era admissível comprovação posterior da tempestividade de recurso no STJ ou no STF quando o recurso houver sido julgado intempestivo em virtude de feriados locais ou de suspensão de expediente forense no tribunal a quo.

STJ. Corte Especial. AgRg no AREsp 137.141-SE, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 19/9/2012.

Na égide do CPC/2015: NÃO

O CPC/2015 previu expressamente um dispositivo dizendo que a comprovação do feriado local deverá ser feita, obrigatoriamente, no ato de interposição do recurso. Veja:

Art. 1.003 (...)

§ 6º O recorrente comprovará a ocorrência de feriado local no ato de interposição do recurso.

Diante disso, a jurisprudência tem decidido que essa comprovação não poderá mais ser realizada depois de o recurso ser considerado intempestivo. Este vício passou a ser considerado, portanto, insanável.

Veja precedente do STJ:

O art. 1.003, § 6º, do CPC/2015, diferentemente do CPC/1973, é expresso no sentido de que “o recorrente comprovará a ocorrência de feriado local no ato de interposição do recurso”.

Assim, ou se comprova o feriado local no ato da interposição do respectivo recurso, ou se considera intempestivo o recurso, operando-se, em consequência, a coisa julgada.

A intempestividade é tida pelo CPC/2015 como vício grave e, portanto, insanável. Daí porque não se aplica à espécie o disposto no parágrafo único do art. 932 do CPC/2015, reservado às hipóteses de vícios sanáveis.

STJ. Corte Especial. AgInt no AREsp 957.821/MS, Rel. Min. Raul Araújo, Rel. p/ Acórdão Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/11/2017.

No mesmo sentido é o atual entendimento do STF:

A tempestividade do recurso em virtude de feriado local ou de suspensão dos prazos processuais pelo Tribunal a quo que não sejam de conhecimento obrigatório da instância ad quem deve ser comprovada no momento de sua interposição.

STF. 1ª Turma. ARE 1109500 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 20/04/2018.

Notícia do site Migalhas, em 08/11/2018.

STJ: Processo sobre feriado na segunda-feira de Carnaval é afetado para Corte Especial

A 4ª turma do STJ decidiu nesta quinta-feira, 8, afetar para julgamento da Corte Especial processo no qual se discute se a segunda-feira de Carnaval é ou não feriado forense.

A afetação foi uma proposta do ministro Raul Araújo, relator, para quem a questão, apesar de simples, tem sido tratada de "forma aligeirada" pelo Tribunal.

A ministra Isabel Gallotti lembrou que a mesma polêmica cerca a data de Corpus Christi.

"Nós temos aplicado tradicionalmente que o feriado de segunda-feira de Carnaval, por ser previsto em leis Federais, aplica-se restritivamente à Justiça Federal e ao TJ/DF", explicou Raul, para quem tal entendimento que tem sido reiteradamente aplicado não condiz com a realidade.

“Em todo o Brasil, entre o sábado e a terça-feira de Carnaval não há expediente normal em nenhuma repartição dos poderes públicos, seja do Executivo, seja do Legislativo, seja do Judiciário. Nem no âmbito Federal, estadual ou municipal.

Não podemos continuar aplicando esse entendimento, que torna esse Tribunal completamente míope para a uma realidade tão evidente que há décadas prevalece no país. Não há Tribunal algum que funcione normalmente na segunda-feira de Carnaval. Pode até haver algum plantão, mas não há expediente normal em nenhum Tribunal deste país, em nenhuma repartição deste país, salvo segurança e saúde.

O país fecha as portas, só retorna na quarta-feira de Cinzas após o meio-dia, é de conhecimento geral e o STJ não pode ter essa dúvida quanto a essa realidade inconteste.”

O ministro já havia externado tal indignação há pouco tempo, quando a turma decidiu que o simples link de página de Tribunal de Justiça não comprovaria a suspensão dos prazos processuais na segunda-feira de Carnaval.

Raul, vale dizer, ficou vencido no ano passado na Corte quando votou no sentido de ser possível a comprovação posterior do feriado local em atenção ao princípio da primazia do julgamento de mérito.

Para o ministro, antes de considerar inadmissível o recurso, o relator deveria dar prazo para que a parte sanasse o vício ou complementasse a documentação – mas tal entendimento restou vencido, prevalecendo a divergência da ministra Nancy Andrighi, de que a comprovação deve ocorrer na interposição do recurso.

Ao propor a afetação do tema hoje, o ministro Raul disse que “quem quiser mostrar que houve expediente normal, faça prova de que houve expediente normal naquela segunda-feira. Será uma coisa anormal, talvez até merecedora de aplauso”.

O ministro Luis Felipe Salomão, por sua vez, ponderou que a depender do resultado do julgamento na Corte Especial, pode ser o caso de estabelecer algum tipo de modulação, eventualmente até mesmo com inclusão no Regimento Interno do STJ.

A turma decidiu de forma unânime pela remessa do caso do ministro Raul para a Corte Especial, da qual participam o próprio relator e o ministro Salomão.

Processo: AgInt no AREsp 1.311.512

Prazo em dobro – arts. 180, 183 e 186 CPC:

- para o MP, entes públicos e defensoria pública,

- o prazo em dobro é para qualquer manifestação: para interpor e para responder os recursos,

- no caso de litisconsortes com advogados diferentes (art. 229 CPC), o prazo em dobro para recurso só se aplica se ambos sucumbem (sum. 641 STF).

Material do site Dizer o Direito, informativo 636 do STJ

É inaplicável a contagem do prazo recursal em dobro quando apenas um dos litisconsortes com procuradores distintos sucumbe.

Nesse sentido existe, inclusive, uma súmula do STF, cujo entendimento continua

válido com o CPC/2015:

Súmula 641-STF: Não se conta em dobro o prazo para recorrer, quando só um dos litisconsortes haja sucumbido.

Ex: ação de cobrança proposta contra Pedro e Tiago. Na sentença, o juiz julga procedente quanto a Pedro e improcedente no que tange a Tiago. Pedro, única parte sucumbente, não terá direito a prazo em dobro.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.709.562-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/10/2018 (Info 636)

BENEFÍCIO DO PRAZO EM DOBRO

Por que existe esse benefício?

Essa regra justifica-se pela dificuldade maior que os advogados dos litisconsortes encontram em cumprir os prazos processuais e, principalmente, em consultar os autos do processo (STJ AgRg no Ag 963.283/MG). Em outras palavras, havendo mais de uma parte e, sendo estas representadas por advogados diferentes, fica mais difícil para os advogados prepararem as peças processuais, já que eles não poderão, em tese, retirar os autos do cartório, considerando que a outra parte pode também querer vê-los.

Se os advogados dos litisconsortes forem diferentes, mas pertencerem ao mesmo escritório de advocacia, ainda assim eles terão direito ao prazo em dobro?

NÃO. O art. 229 do CPC exige, expressamente, para a concessão do prazo em dobro, que os advogados sejam de escritórios diferentes. Assim, se os litisconsortes tiverem advogados diferentes, mas estes fizerem parte do mesmo escritório, o prazo será simples (não em dobro). Trata-se de uma novidade do CPC/2015.

Persiste o prazo em dobro mesmo na hipótese de os litisconsortes serem marido e mulher?

SIM, considerando que a Lei não faz qualquer ressalva quanto a isso, exigindo apenas que tenham diferentes procuradores (STJ REsp 973.465-SP).

Esse prazo em dobro vale apenas na 1ª instância?

NÃO. O benefício abrange também as instâncias recursais.

Imagine que são dois réus em litisconsórcio (João e Pedro), representados por advogados diferentes, de escritórios distintos. Ocorre que apenas um deles (João) apresentou defesa, sendo Pedro revel. João continuará tendo prazo em dobro para as demais manifestações nos autos?

NÃO. Cessa a contagem do prazo em dobro se, havendo apenas 2 réus, é oferecida defesa por apenas um deles (art. 229, § 1º do CPC 2015).

O benefício do prazo em dobro para os litisconsortes vale para processos eletrônicos?

NÃO. O § 2º do art. 229 do CPC/2015 determina, expressamente, que não se aplica o prazo em dobro para litisconsortes diferentes se o processo for em autos eletrônicos. Trata-se de novidade do CPC/2015.

Atenção: no CPC/2015, na contagem de prazo em dias, computam-se somente os dias úteis (art. 219).

O art. 218, § 4º, CPC põe fim à polêmica do recurso prematuro: o recurso interposto antes do termo inicial do prazo é tempestivo.

c.6) Regularidade formal

É a observância dos requisitos formais exigidos para a interposição do recurso.

O recurso deve conter as razões recursais, onde o recorrente expõe a sua fundamentação (permite que o recorrido se contraponha ao recurso).

PROCESSUAL CIVIL. RAZÕES RECURSAIS DISSOCIADAS DA DECISÃO AGRAVADA. REGULARIDADE FORMAL. REEXAME DO CONTEXTO FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS. SÚMULA 7/STJ.

1. Em observância ao Princípio da Dialeticidade, as razões recursais devem guardar correlação lógica com a decisão contra a qual o recurso é interposto. Precedentes.

2. Hipótese em que o Tribunal a quo valeu-se das premissas fáticas dos autos (documentos que instruíram o recurso) para concluir pela ausência de correlação lógica entre a decisão agravada e as razões do agravo de instrumento.

3. A modificação do entendimento demandaria o reexame do acervo fático-probatório dos autos, inviável em sede de recurso especial, sob pena de violação da Súmula 7 do STJ.

Agravo regimental improvido.

(AgRg no Ag 1413832/PA, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 03/11/2011, DJe 11/11/2011)

O art. 932, p. único, CPC determina que o relator deve conceder prazo ao recorrente para sanar vício ou complementar a documentação exigível.

O prazo de 5 dias previsto no parágrafo único do art. 932 do CPC/2015 só se aplica aos casos em que seja necessário sanar vícios formais, como ausência de procuração ou de assinatura, e não à complementação da fundamentação.

Assim, esse dispositivo não incide nos casos em que o recorrente não ataca todos os fundamentos da decisão recorrida. Isso porque, nesta hipótese, seria necessária a complementação das razões do recurso, o que não é permitido.

(STF, ARE 953221, Rel. Min. Luiz Fux, Info 829).

c.7) Preparo – art. 1007 CPC

É o pagamento das despesas relacionadas ao processamento do recurso.

O preparo deve ser realizado antes da interposição do recurso, pois, no momento da interposição, já é necessário comprovar que o preparo foi feito.

· Recurso sem preparo: deserção.

· O CPC inova ao prever que, se o recorrente não fizer a comprovação no ato da interposição, deve ser intimado para recolher as despesas em dobro.

Entes dispensados de realizar preparo: entes públicos, MP e beneficiários da Justiça Gratuita.

O art. 99, § 7º, CPC prevê que o pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na petição do recurso.

3.5) Recurso adesivo (art. 997 CPC)

Vencidos autor e réu, a parte que não tiver recorrido pode aderir ao recurso interposto pela outra.

Não é uma espécie autônoma de recurso, mas sim forma de interposição.

O recurso adesivo é subordinado ao recurso principal, logo, se houver desistência deste, ou se ele for declarado inadmissível, o adesivo não será conhecido.

O prazo para sua interposição é o mesmo do prazo para responder o recurso principal.

É admissível na apelação, RE e Resp.

Atenção: o texto abaixo é cópia do site Dizer o Direito, em 03/07/15.

Ideia geral sobre o recurso adesivo

Imagine que em um processo, tanto o autor (João) como o réu (Pedro) foram sucumbentes, ou seja, as duas partes não conseguiram exatamente o que queriam.

Nesse caso, como houve sucumbência recíproca, ambas as partes poderiam recorrer contra a decisão. Tanto João quanto Pedro poderiam interpor apelação contra a sentença.

O ideal, para fins de pacificação social, seria que as duas partes se conformassem com a decisão e que o processo se encerrasse desde logo, ou seja, sem a interposição de recurso.

Na vigência do CPC 1939, no entanto, muitas vezes acontecia de uma das partes já estar conformada, mas, com receio de que a outra recorresse (e ela perdesse o que ganhou), interpor o recurso.

Voltando ao nosso exemplo, João já estava satisfeito com o resultado. Por ele, o processo poderia se encerrar logo. Entretanto, ele poderia ficar pensando: “E se Pedro recorrer? O processo não vai se encerrar, eu vou ter que continuar acompanhando isso e, no final, minha situação nem poderá melhorar porque eu não recorri. Então, vou recorrer também, só como garantia.”

Com o objetivo de evitar isso, o CPC de 1973 previu a interposição do recurso de forma adesiva, ou, como é mais conhecido, o “recurso adesivo”.

O CPC 2015 também repetiu a previsão.

Veja como funciona o recurso adesivo com base no exemplo:

Houve sucumbência recíproca, ou seja, João e Pedro não conseguiram exatamente o que queriam. João já havia decidido que não iria recorrer. Ocorre que Pedro, no último dia do prazo de 15 dias, interpôs apelação.

João foi, então, intimado para apresentar as contrarrazões à apelação. Já que Pedro interpôs recurso, João decide recorrer também. Logo, irá apresentar as contrarrazões ao recurso de Pedro e também uma apelação adesiva.

Nesse caso, diz-se que Pedro apresentou “recurso independente” e João “recurso adesivo”.

Qual é o prazo que a parte tem para interpor o recurso de forma adesiva?

A parte deverá interpor o recurso adesivo no mesmo prazo de que dispõe para apresentar as contrarrazões.

AUTOR QUE RECEBE MENOS DO QUE PEDIU A TÍTULO DE DANOS MORAIS É SUCUMBENTE?

Imagine a seguinte situação hipotética:

João propõe ação de indenização por danos morais contra Pedro pedindo o pagamento de R$ 30 mil.

O juiz julga o pedido procedente, condenando o réu a pagar a indenização por danos morais, mas fixando o valor em R$ 10 mil.

Desse modo, o réu perdeu a ação (foi sucumbente).

Indaga-se: além do réu, pode-se dizer que o autor também foi sucumbente porque o valor que ele pediu não foi acolhido? Pode-se afirmar que houve sucumbência (derrota) recíproca (de ambas as partes)?

Para fins de DESPESAS PROCESSUAIS:

NÃO

Para fins de RECURSO:

SIM

Segundo o CPC, o litigante que ficou vencido na demanda terá que pagar sozinho as despesas processuais.

Se houve sucumbência recíproca, ou seja, se cada litigante for, em parte, vencedor e vencido, as despesas serão proporcionalmente distribuídas entre eles.

O STJ entende que, se o autor pediu um determinado valor a título de danos morais e recebeu menos do que desejava, para fins de pagamento das despesas processuais, ele não é considerado como vencido (não perdeu a causa). Em outras palavras, se o autor pediu um valor como danos morais e recebeu menos, não houve sucumbência recíproca (só o réu perdeu e apenas ele terá que pagar as despesas processuais).

Súmula 326-STJ: Na ação de indenização por dano moral, a condenação em montante inferior ao postulado na inicial não implica sucumbência recíproca.

Segundo o CPC, o litigante só pode recorrer se ele tiver ficado vencido na demanda, ou seja, se ele perdeu.

Se houve sucumbência recíproca, ou seja, se cada litigante for, em parte, vencedor e vencido, as duas partes poderão recorrer.

O STJ entende que, se o autor pediu um determinado valor a título de danos morais e recebeu menos do que desejava, para fins de recurso, ele é sim considerado como vencido (perdeu a causa). Em outras palavras, se o autor pediu um valor como danos morais e recebeu menos, sob a ótica dos recursos, houve sucumbência recíproca. Neste caso, tanto o réu (que foi condenado), como o autor (que não recebeu tudo que queria) poderão recorrer.

A Súmula 326-STJ trata apenas de despesas processuais e honorários advocatícios. Tal enunciado não se aplica para fins de interesse ou legitimidade recursal.

AUTOR QUE RECEBE MENOS DO QUE PEDIU A TÍTULO DE DANOS MORAIS E RECURSO ADESIVO

Voltando ao exemplo que demos acima:

O juiz julga o pedido procedente, condenando o Pedro a pagar a indenização por danos morais, mas fixando o valor em R$ 10 mil.

João pensou consigo mesmo: “eu queria mais, no entanto prefiro acabar logo com esse processo e receber imediatamente esses R$ 10 mil do que ficar tentando R$ 30 mil por mais alguns anos; não vou recorrer”.

Ocorre que, no último dia do prazo, Pedro interpôs apelação.

João foi, então, intimado para apresentar contrarrazões à apelação. Neste momento, ele pensou: “ah, já que esse ‘desgraçado’ recorreu, então agora eu também quero recorrer para aumentar o valor da indenização; já que vou esperar mesmo, então quero tentar uma quantia maior”.

Diante disso, o advogado de João interpõe apelação na forma adesiva (na prática, chamada simplesmente de recurso adesivo) pedindo a majoração do valor da indenização por danos morais.

Pedro apresenta contrarrazões alegando que o recurso interposto por João é incabível, considerando que o recurso adesivo só cabe se existir sucumbência recíproca e, no caso, não houve, conforme preconiza a súmula 326 do STJ: “Na ação de indenização por dano moral, a condenação em montante inferior ao postulado na inicial não implica sucumbência recíproca.”

A tese de Pedro está correta?

NÃO. O recurso adesivo pode sim ser interposto pelo autor da ação de indenização julgada procedente, quando arbitrado, a título de danos morais, valor inferior ao que era almejado. Isso porque, neste caso, estará configurado o interesse recursal do demandante em ver majorada a condenação, hipótese caracterizadora de sucumbência material.

Sucumbência recíproca

Realmente, só cabe recurso adesivo se houve sucumbência recíproca, ou seja, se tanto o autor como o réu perderam na sentença.

Sucumbência formal e material

A doutrina faz uma distinção entre sucumbência formal e material (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. Vol. Único, 2ª ed., São Paulo: Ed. Método, 2011, p. 620-622):

a) Sucumbência FORMAL: ocorre quando a parte não consegue aquilo que poderia ter processualmente obtido em virtude do pedido formulado ao órgão jurisdicional.

b) Sucumbência MATERIAL: diz respeito aos aspectos materiais do processo. A análise aqui não é processual, mas sim sobre o bem ou os bens da vida que a parte poderia obter em virtude do processo judicial e que não obteve em razão da decisão judicial. Essa discrepância entre o desejado no mundo prático e o praticamente obtido no processo gera a sucumbência material da parte.

Todas as vezes que houver sucumbência formal, haverá também a material. Se a parte não conseguiu a providência processual requerida, isso significa que, no mundo real, também não obteve o bem da vida pretendido. Por outro lado, pode haver a sucumbência material sem que exista a sucumbência formal, ou seja, a parte obteve a providência processual, mas não conseguiu exatamente o bem da vida desejado.

Se o autor pediu a condenação do réu em R$ 30 mil a título de danos morais e conseguiu a condenação em R$ 10 mil, ele ganhou a demanda sob o ponto de vista formal (processual). Não se pode dizer que houve sucumbência formal já que a providência processual requerida foi atendida (o réu foi obrigado a pagar). No entanto, sob o ponto de vista material, o autor teve sim uma sucumbência parcial (derrota parcial). Isso porque ele não obteve exatamente o bem da vida que pretendia (queria 30 e só teve 10). Logo, neste caso, o autor terá interesse em ver majorada a condenação, hipótese caracterizadora, portanto, da sucumbência material viabilizadora da irresignação recursal.

Não se aplica a Súmula 326 do STJ porque esse enunciado é baseado na definição da responsabilidade pelo pagamento de despesas processuais e honorários advocatícios. Ele não está relacionado com interesse recursal. A correta leitura da súmula 326 é a seguinte:

Para fins de definição de quem irá pagar as despesas processuais e os honorários advocatícios, “na ação de indenização por dano moral, a condenação em montante inferior ao postulado na inicial não implica sucumbência recíproca”.

Logo, se o autor pediu uma quantia a título de danos morais e obteve valor inferior ao desejado, podemos concluir que:

• Sob o ponto de vista formal, ele foi o vencedor da demanda e não terá que pagar as despesas processuais e os honorários advocatícios do réu (Súmula 326-STJ);

• Sob o ponto de vista material, ele foi sucumbente e terá direito de interpor recurso (principal ou adesivo), já que não obteve o exato bem da vida pretendido.

Resumindo:

O recurso adesivo pode ser interposto pelo autor da ação de indenização julgada procedente, quando arbitrado, a título de danos morais, valor inferior ao que era almejado. Isso porque, neste caso, estará configurado o interesse recursal do demandante em ver majorada a condenação, hipótese caracterizadora de sucumbência material.

Realmente, só cabe recurso adesivo se houver sucumbência recíproca, ou seja, se tanto o autor como o réu perderem na sentença.

Se o autor pediu a condenação do réu em R$ 30 mil a título de danos morais e conseguiu a condenação em R$ 10 mil, ele ganhou a demanda sob o ponto de vista formal (processual). Não se pode dizer que houve sucumbência formal, já que a providência processual requerida foi atendida (o réu foi obrigado a pagar). No entanto, sob o ponto de vista material, o autor teve sim uma sucumbência parcial (derrota parcial). Isso porque ele não obteve exatamente o bem da vida que pretendia (queria 30 e só teve 10). Logo, neste caso, o autor terá interesse em ver majorada a condenação, hipótese caracterizadora, portanto, da sucumbência material viabilizadora da irresignação recursal.

Não se aplica a Súmula 326 do STJ porque esse enunciado é baseado na definição da responsabilidade pelo pagamento de despesas processuais e honorários advocatícios. Ele não está relacionado com interesse recursal.

Logo, se o autor pediu uma quantia a título de danos morais e obteve valor inferior ao desejado, podemos concluir que:

• Sob o ponto de vista formal, ele foi o vencedor da demanda e não terá que pagar as despesas processuais e os honorários advocatícios do réu (Súmula 326-STJ);

• Sob o ponto de vista material, ele foi sucumbente e terá direito de interpor recurso (principal ou adesivo), já que não obteve o exato bem da vida pretendido.

STJ. Corte Especial. REsp 1.102.479-RJ, Rel. Min. Marco Buzzi, Corte Especial, julgado em 4/3/2015 (recurso repetitivo) (Info 562).

4) APELAÇÃO – arts. 1009 a 1014 CPC

a) Cabimento

É o recurso cabível contra a sentença e contra as decisões interlocutórias não agraváveis.

· A possibilidade de se impugnar decisões interlocutórias na apelação é tratada no próximo item (agravo de instrumento).

A apelação é um recurso de cognição ampla, que possibilita a correção de erro de julgamento ou de atividade.

b) Procedimento

Estrutura da petição de apelação:

- folha de interposição, contendo os nomes e a qualificação das partes (se não tiverem sido qualificadas anteriormente);

- razões recursais, contendo:

· resumo da causa (exposição do fato e do direito),

· os motivos que justificam a inconformidade do apelante;

· o pedido de nova decisão: reforma (error in iudicando) ou anulação (error in procedendo).

A apelação é interposta perante o juízo que proferiu a sentença (1º grau), que intima o recorrido para apresentar contrarrazões e, após, determina a remessa dos autos ao tribunal.

· Se o juízo de 1º grau se retratar, os autos não serão enviados ao tribunal, por óbvio.

Apesar de ser interposta perante o juízo a quo, tanto o juízo de admissibilidade quanto o juízo de mérito competem ao juízo ad quem (Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal).

No tribunal, a apelação será decidida:

- monocraticamente, pelo relator, nos casos autorizados pelo CPC (artigo 932, incs. III a V),

- ou pelo órgão colegiado, após o relator elaborar seu voto e pedir dia para julgamento.

c) Efeitos

Em regra, a apelação tem efeitos devolutivo e suspensivo (efeito suspensivo ope legis).

Apelação sem efeito suspensivo:

- a apelação terá apenas efeito devolutivo nos casos dos incisos do art. 1012 CPC,

- nesses casos, o vencedor pode promover o cumprimento provisório da sentença assim que ela for publicada,

- é possível à parte pedir que o tribunal atribua efeito suspensivo à apelação, nos casos dos incisos 1012 CPC, demonstrando a probabilidade de provimento do recurso ou a relevância da fundamentação e o risco de dano grave ou de difícil reparação.

Como já visto, a apelação tem efeito regressivo nos casos dos artigos 331, 332, § 3º, 485, § 7º, CPC.

d) Teoria da causa madura (art. 1013, §§ 3º e 4º, CPC)

O CPC permite que o tribunal julgue o mérito da causa, quando o processo estiver em condições de imediato julgamento, nos seguintes casos:

· sentença de extinção do processo sem resolução do mérito,

· nulidade da sentença por incongruência,

· omissão no exame de um dos pedidos,

· nulidade da sentença por falta de fundamentação,

· sentença que reconhece decadência ou prescrição.

Admite-se a aplicação da teoria da causa madura (art. 515, § 3º, do CPC/1973) em julgamento de agravo de instrumento. De fato, há precedentes do STJ que pugnam pela não aplicação da teoria da causa madura em agravo de instrumento. Analisando-os, nota-se que a decisão monocrática proferida no REsp 1.150.812-ES (DJe 16/12/2009) tem amparo em outros dois julgados: o REsp 530.053-PR (Segunda Turma, DJ 16/11/2004) e o REsp 445.470-DF (Segunda Turma, DJ 1º/9/2003). De ambos, o último pode ser considerado como o paradigma a respeito da matéria e, após leitura atenta do voto condutor, extrai-se a seguinte fundamentação: "No que se refere à alegação de ofensa ao art. 515 do CPC, deixo de analisá-la porquanto o dispositivo somente é aplicável no julgamento da apelação e não de agravo de instrumento, como na hipótese dos autos." Propõem-se, entretanto, um debate mais aprofundado sobre o tema. Para tanto, parte-se da decisão proferida no AgRg no Ag 867.885-MG (Quarta Turma, DJ 22/10/2007), a qual examinou conceitualmente o art. 515, § 3º, do CPC/1973, com profundidade. Na ocasião, consignou-se: "A novidade representada pelo § 3º do art. 515 do Código de Processo Civil nada mais é do que um atalho, legitimado pela aptidão a acelerar os resultados do processo e desejável sempre que isso for feito sem prejuízo a qualquer das partes; ela constituiu mais um lance da luta do legislador contra os males do tempo e representa a ruptura com um velho dogma, o do duplo grau de jurisdição, que por sua vez só se legitima quando for capaz de trazer benefícios, não demoras desnecessárias. Por outro lado, se agora as regras são essas e são conhecidas de todo operador do direito, o autor que apelar contra a sentença terminativa fá-lo-á com a consciência do risco que corre; não há infração à garantia constitucional do due process porque as regras do jogo são claras e isso é fator de segurança das partes, capaz de evitar surpresas." Traçadas as premissas, não se pode descurar que, em sua concepção literal, a aplicação do art. 515, § 3º, do CPC/1973 pressuporia extinção de processo sem julgamento de mérito por sentença e existência de questão de direito em condições de imediato julgamento. Porém, doutrina processual relevante já superou o dogma da incidência do dispositivo apenas nas hipóteses de sentença/apelação e considera a disposição como relacionada à teoria geral dos recursos. Isso com base em algumas premissas: a) a norma propõe um atalho para acelerar julgamentos baseados na ruptura com o dogma do duplo grau de jurisdição, assumido como princípio, mas não como garantia; b) a disposição não pode acarretar prejuízo às partes, especialmente no que se refere ao contraditório e à ampla defesa; c) a teoria da causa madura não está adstrita ao recurso de apelação, porquanto inserida em dispositivo que contém regras gerais aplicáveis a todos os recursos; e d) admite-se o exame do mérito da causa com base em recursos tirados de interlocutórias sobre aspectos antecipatórios ou instrutórios. Dessa forma, parece razoável entender que: "quem pode o mais, pode o menos." Se a teoria da causa madura pode ser aplicada em casos de agravos de decisões interlocutórias que nem sequer tangenciaram o mérito, resultando no julgamento final da pretensão da parte, é possível supor que não há impedimento à aplicação da teoria para a solução de uma questão efetivamente interlocutória, desde que não configure efetivo prejuízo à parte. REsp 1.215.368-ES, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 1/6/2016, DJe 19/9/2016.

5 - AGRAVO DE INSTRUMENTO – arts. 1015 a 1020 CPC

O agravo de instrumento tem esse nome porque a sua petição deve ser instruída com documentos, que formam o instrumento.

a) Cabimento

É o recurso cabível contra as decisões interlocutórias relacionadas no artigo 1015 CPC.

Decisões não relacionadas no art. 1015 CPC: a parte deve impugná-la na apelação ou nas suas contrarrazões, como preliminar (art. 1009, § 1º, CPC.

Art. 1009, § 3º, CPC:

- o art. 1015 CPC traz uma lista de assuntos que possibilitam a interposição de agravo de instrumento quando eles são analisados em decisão interlocutória,

- obviamente, se o assunto tiver sido analisado na sentença, o recurso cabível será a apelação,

- ex.: o juiz, mediante decisão interlocutória, concede tutela de urgência, o recurso cabível será o agravo de instrumento. Todavia, se o juiz, na sentença, concede tutela de urgência, o recurso cabível será a apelação.

DIZER O DIREITO, INFORMATIVO 636 STJ

O rol do art. 1.015 do CPC/2015 é de taxatividade mitigada

O rol do art. 1.015 do CPC é de taxatividade mitigada, por isso admite a interposição de agravo de instrumento quando verificada a urgência decorrente da inutilidade do julgamento da questão no recurso de apelação.

STJ. Corte Especial. REsp 1704520/MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/12/2018(recurso repetitivo).

Obs: a tese jurídica fixada e acima explicada somente se aplica às decisões interlocutórias proferidas após a publicação do REsp 1704520/MT, o que ocorreu no DJe 19/12/2018.

Antes da decisão acima, o STJ chegou a admitir o cabimento de mandado de segurança.

Com a entrada em vigor do CPC/2015, e antes da decisão do STJ no REsp1704520/MT, havia dúvida razoável na doutrina e na jurisprudência sobre o cabimento ou não de agravo de instrumento contra a decisão interlocutória que examinava competência.

Diante disso, era possível a impetração de mandado de segurança contra decisão interlocutória que examinava competência.

Vale ressaltar, contudo, que essa possibilidade de impetração de MS deixou de existir com a publicação do REsp 1704520/MT (DJe 19/12/2018).

STJ. 4ª Turma.RMS 58.578-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 18/10/2018 (Info 636).

Imagine a seguinte situação hipotética:

A sociedade empresária “AquaModas”celebrou contrato com a empresa “TerraConfecções”.

No pacto, havia a previsão de uma cláusula de eleição de foro:

“8.1. Fica eleito o foro da cidade de São Paulo/SPem detrimento de qualquer outro, por mais privilegiado que seja, para dirimir quaisquer dúvidas ou controvérsias oriundas do presente instrumento.”

Houve uma divergência entre os contratantes e a empresa “Terra” ajuizou ação de rescisão contratual contra a “Aqua”na comarca de Porto Alegre (RS), sede da autora.

Arguição de incompetência

A empresa “Aqua” contestou a ação e arguiu a incompetência relativa do foro de Porto Alegre(incompetência territorial) argumentando que a referida cláusula de eleição de foro é válida e não tem nada de abusiva.

Vale lembrar que, com o art. 64 do CPC/2015, a incompetência relativa não é mais alegada por meio de “exceção de incompetência”, mas sim como um mero tópico da contestação.

Decisão interlocutória examinando a competência

O juiz deferiu o pedido da empresa “Aqua”, por entender que a cláusula de eleição de foro é válida.

Com isso, o magistrado determinou a remessa dos autos para o juízo de São Paulo(SP).

Contra esta decisão, a autora “Terra” interpôs agravo de instrumento.

O Tribunal de Justiça não conheceu do recurso afirmando que as hipóteses de cabimento do agravo de instrumento estão previstas taxativamente (exaustivamente) no art. 1.015 do CPC/2015 e que neste rol não existe a previsão de agravo de instrumento contra a decisão relacionada com definição de competência.

Cabe agravo de instrumento neste caso? Na vigência do CPC/2015 cabe agravo de instrumento contra a decisão que examina competência ou se trata de decisão irrecorrível de imediato?

Essa questão já foi pacificada, conforme veremos mais à frente.

No entanto, durante mais de dois anos houve um intenso debate na doutrina e jurisprudência sobre o tema, tendo surgido duas correntes principais:

1ª) Não cabe agravo de instrumento. Vários Tribunais de Justiça adotaram a tese de que o rol do art. 1.015 do CPC seria, realmente, exaustivo. Logo, a decisão interlocutória que examinasse competência seria irrecorrível de imediato porque esta hipótese não foi prevista expressamente no art. 1.015.

2ª) Cabe agravo de instrumento. Nomes de peso na doutrina e precedentes judiciais sustentaram que, apesar de o rol do art. 1.015 do CPC ser taxativo, seria cabível agravo de instrumento contra a decisão interlocutória que examinasse competência. A fundamentação para isso variava um pouco de acordo com o doutrinador ou julgado.

Enfim, havia uma dúvida razoável acerca da existência de recurso cabível.

Imagine agora a seguinte situação que decorreu desta dúvida:

O juiz reconheceu, por meio de decisão interlocutória, que era incompetente e remeteu o processo para outra comarca.

O autor da ação, que havia proposto a demanda naquele juízo, foi prejudicado pela decisão interlocutória do juiz que reconheceu a incompetência.

O advogado do autor, a fim de decidir como iria defender processualmente os interesses de seu cliente, estudou o que fazer pela doutrina, pesquisou a jurisprudência e verificou que havia a polêmica acima exposta. A partir das pesquisas que fez, ele entendeu que a 1ª corrente seria majoritária, ou seja, ele avaliou que a decisão seria realmente irrecorrível, já que não constava no art. 1.015 do CPC.

Diante disse cenário, ele pensou: ora, se não cabe agravo e nenhum outro recurso, ou seja, se a decisão é irrecorrível, o único instrumento que me resta para defender os interesses do meu cliente é impetrar um mandado de segurança, conforme autoriza o art. 5º, II, da Lei nº 12.016/2009.

Pergunta: é possível aceitar o mandado de segurança neste caso?

SIM. O mandado de segurança é uma ação constitucional voltada para a proteção de direito líquido e certo contra ato abusivo ou ilegal de autoridade pública ou de agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público (art. 5º, LXIX, da CF/88).

Assim, como regra, o mandado de segurança não pode ser utilizado como sucedâneo recursal (ou seja, como substituto de recurso).

Exceções. A doutrina e a jurisprudência admitem o manejo do mandado de segurança contra atos judiciais, excepcionalmente, nas seguintes hipóteses:

a) contra decisão judicial teratológica;

b) contra decisão judicial contra a qual não caiba recurso;

c) para imprimir efeito suspensivo a recurso desprovido de tal efeito; e

d) quando impetrado por terceiro prejudicado por decisão judicial.

No caso em tela, conforme já explicado, havia dúvida razoável acerca da existência de recurso cabível.

Assim, diante da existência de dúvida razoável sobre o cabimento de agravo de instrumento, o STJ entendeu que foi justificada a conduta da parte que impetrou mandado de segurança contra o ato judicial que afastou a competência.

Em suma:

Com a entrada em vigor do CPC/2015,e antes da decisão do STJ no REsp1704520/MT, havia dúvida razoável na doutrina e na jurisprudência sobre o cabimento ou não de agravo de instrumento contra a decisão interlocutória que examinava competência.

Diante disso, era possível a impetração de mandado de segurançacontra decisão interlocutória que examina competência.

Vale ressaltar, contudo, que essa possibilidade de impetração de MS deixou de existir com a publicação do REsp 1704520/MT (DJe 19/12/2018).

STJ. 4ª Turma. RMS 58.578-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 18/10/2018 (Info 636).

Essa dúvida não existe mais, considerando que o STJ pacificou o tema em recurso especial repetitivo. Diante disso, indaga-se: cabe ou não agravo de instrumento neste caso? Na vigência do CPC/2015, cabe agravo de instrumento contra a decisão que examina competência?

Cabe agravo de instrumento. Prevaleceu no STJ o seguinte entendimento:

É cabível a interposição de agravo de instrumento contra decisão relacionada à definição de competência, a despeito de não previsto expressamente no rol do art. 1.015 do CPC/2015.

Apesar de não previsto expressamente no rol do art. 1.015 do CPC/2015, a decisão interlocutória que acolhe ou rejeita a alegação de incompetência desafia recurso de agravo de instrumento.

Vamos entender com calma os motivos.

Correntes de interpretação

Surgiram três principais correntes de interpretação a respeito do rol previsto neste artigo:

CORRENTES DE INTERPRETAÇÃO SOBRE O ROL DO ART. 1.015/CPC

1) o rol é absolutamente taxativo (deve ser interpretado restritivamente)

2) o rol é taxativo, mas admite interpretação extensiva ou analogia

3) o rol é exemplificativo

Houve uma opção consciente do legislador pela enumeração taxativa das hipóteses. Não se pode ampliar o rol do art. 1.015, sob pena, inclusive de comprometer todo o sistema preclusivo eleito pelo CPC/2015.

Os incisos do art. 1.015 não podem ser interpretados de forma literal. Os incisos devem ser interpretados de forma extensiva para admitir situações parecidas.

O rol é exemplificativo, de modo que a recorribilidade da decisão interlocutória deve ser imediata, ainda que a situação não conste no art. 1.015 do CPC

Fernando Gajardoni, Luiz Dellore, André Roque, Zulmar Oliveira Jr.

Fredie Didier Jr., Leonardo da Cunha, Teresa Arruda Alvim, Cássio Scarpinella,

William Santos Ferreira e José Rogério Cruz e Tucci.

Critério adotado pelo legislador foi insuficiente

A maioria da doutrina se posicionou no sentido de que o legislador foi infeliz ao tentar criar um rol exaustivo das hipóteses de cabimento do agravo de instrumento na fase de conhecimento. Isso porque o rol do art. 1.015 do CPC, como aprovado e em vigor, é insuficiente, pois deixa de abarcar uma série de questões urgentes e que demandariam reexame imediato pelo Tribunal.

O sistema precisa que exista uma via processual sempre aberta para que tais questões urgentes sejam desde logo reexaminadas, considerando que se a sua apreciação for adiada (diferida),isso poderá causar prejuízo às partes e até mesmo a inutilidade de que o tema seja apreciado no futuro. Em outras palavras, existem questões que não podem esperar e que não estão no rol do art. 1.015 do CPC.

A experiência mostra que o mandado de segurança, que era muito utilizado na vigência do CPC/1939 como sucedâneo recursal e que foi paulatinamente reduzido pelo CPC/1973, não é o meio processual mais adequado para se rediscutir a decisão interlocutória.

Legislador não consegue prever, com rol fechado, todas as hipóteses possíveis

O objetivo do legislador ao criar o rol do art. 1.015 foi o de prever ali situações urgentes, ou seja, que não poderiam aguardar para que fossem decididas em eventual recurso de apelação.

Ocorre que o estudo da história do direito demonstra que um rol taxativo não consegue prever todas as hipóteses possíveis e, situações que têm a mesma razão de existir acabam ficando de fora, gerando inúmeros problemas.

O que se percebe em vários países do mundo é que se adota o critério da urgência para a recorribilidade das decisões interlocutórias. Assim, em países como EUA, França, Alemanha, Argentina, com algumas variações, em regra, não se admite recurso contra decisões interlocutórias, salvo quando a espera da decisão final puder causar dano irreparável às partes.

Se uma decisão interlocutória precisa ser enfrentada imediatamente, sob pena de a sua espera gerar dano irreparável às partes, deve-se permitir o recurso imediato contra esta decisão, considerando que isso atende o direito à tutela jurisdicional e de efetivo acesso à justiça (princípio da inafastabilidade da jurisdição).

Dois exemplos de situações urgentes não contempladas no art. 1.015 e que, se examinadas apenas no recurso de apelação, gerarão prejuízo irreparável às partes:

• decisão que decide sobre competência: não é razoável que o processo tramite perante um juízo incompetente por um longo período e, somente por ocasião do julgamento da apelação, seja reconhecida a incompetência e determinado o retorno ao juízo competente.

• decisão que indefere o pedido de segredo de justiça: se o juiz indefere o pedido de segredo de justiça e a parte prejudicada não pode recorrer de imediato, significa que não mais adiantará nada rediscutir o assunto na apelação, considerando que todos os detalhes da intimidade do jurisdicionado já foram expostos pela publicidade.

Diante dessa inadequação, qual das três correntes acima expostas foi adotada pelo STJ?

Nenhuma. O STJ entendeu que nenhuma das três correntes acima expostas soluciona adequadamente a situação, senão vejamos:

A 1ª corrente (taxatividade com interpretação restritiva) é incapaz de tutelar adequadamente todas as questões. Isso porque, como vimos, existem decisões interlocutórias que, se não forem reexaminadas imediatamente pelo Tribunal, poderão causar sérios prejuízos às partes.

A 2ª corrente (interpretação extensiva ou analógica) também deve ser afastada. Isso porque não há parâmetro minimamente seguro e isonômico quanto aos limites que deverão ser observados na interpretação de cada conceito, texto ou palavra. Além disso, o uso dessas técnicas hermenêuticas não será suficiente para abarcar todas as situações em que a questão deverá ser reexaminada de imediato. Um exemplo é a decisão que indefere o segredo de justiça. Não há nenhum outro inciso do art. 1.015 no qual se possa aplicar essa hipótese por analogia.

Por fim, a 3ª corrente (meramente exemplificativo) não pode ser adotada porque ignora absolutamente a vontade do legislador que tentou, de algum modo, limitar o cabimento do agravo de instrumento.

Qual foi, então, o critério adotado pelo STJ?

O STJ construiu a ideia de que o rol do art. 1.015 do CPC/2015 é de taxatividade mitigada.

O que significa isso?

Em regra, somente cabe agravo de instrumento nas hipóteses listadas no art. 1.015 do CPC/2015.

Excepcionalmente, é possível a interposição de agravo de instrumento fora da lista do art. 1.015,desde que preenchido um requisito objetivo: a urgência.

O que é urgência?

Urgência, para os fins de cabimento de agravo de instrumento, significa que a decisão interlocutória proferida trouxe, para a parte, uma situação na qual ela não pode aguardar para rediscutir futuramente no recurso de apelação.

Assim, a urgência decorre da inutilidade do julgamento da questão no recurso de apelação.

Em outras palavras, aquilo que foi definido na decisão interlocutória deverá ser examinado pelo Tribunal imediatamente porque se for esperar para rediscutir na apelação, o tempo de espera tornará a decisão inútil para a parte. Ela não terá mais nenhum (ou pouquíssimo) proveito.

Por que esse nome “taxatividade mitigada”?

Foi uma expressão cunhada pela Min. Nancy Andrighi.

O objetivo da Ministra foi o de dizer o seguinte: o objetivo do legislador foi o de prever um rol taxativo e isso deve ser, na medida do possível,respeitado. No entanto, trata-se de uma taxatividade mitigada (suavizada, abrandada, relativizada) por uma “cláusula adicional de cabimento”.

Que cláusula (norma, preceito) é essa? Deve-se também admitir o cabimento do recurso em caso de urgência.

E por que se deve colocar essa “cláusula adicional de cabimento”? Por que se deve adicionar essa regra extra de cabimento? Porque, se houvesse uma taxatividade absoluta, isso significaria um desrespeito às normas fundamentais do próprio CPC e geraria grave prejuízo às partes ou ao próprio processo.

Logo, tem-se uma taxatividade mitigada pelo requisito da urgência.

Tese fixada pelo STJ:

Como o tema foi apreciado pela Corte Especial em sede de recurso repetitivo, o STJ fixou a seguinte tese:

O rol do art. 1.015 do CPC é de taxatividade mitigada, por isso admite a interposição de agravo de instrumento quando verificada a urgência decorrente da inutilidade do julgamento da questão no recurso de apelação.

STJ. Corte Especial. REsp 1704520/MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/12/2018.

Vale ressaltar, mais uma vez, que não é necessário recorrer à analogia ou intepretação extensiva.

O agravo de instrumento será cabível:

1) nos casos previstos expressamente no art. 1.105 do CPC (aqui a urgência foi presumida pelo legislador);

2) mesmo que a situação esteja fora da lista do art. 1.015, desde que verificada a urgência decorrente da inutilidade do julgamento da questão no recurso de apelação (o Tribunal irá analisar se existe urgência ou não para admitir o conhecimento do agravo).

Como fica a questão da preclusão?

Se o juiz profere uma decisão interlocutória que se enquadra em um dos incisos do art. 1.015 do CPC, a parte prejudicada poderia interpor agravo de instrumento. Imagine que ela o faz. Isso significa que houve preclusão e ela não poderá mais rediscutir essa decisão em sede de apelação.

Por outro lado, se o juiz profere uma decisão interlocutória que não se amolda em um dos incisos do art. 1.015, o CPC afirma que, neste caso, como a parte não pode recorrer de imediato, ela deverá sofrer os efeitos da preclusão. Isso significa que aparte poderá impugnar essa decisão ao interpor apelação. É isso que estabelece o art. 1.009, § 1º do CPC.

Assim, pelo art. 1.009, § 1º, haverá preclusão para a parte se preenchidos dois requisitos cumulativos:

• a decisão interlocutória está expressamente prevista no art. 1.015 do CPC;e

• apesar disso, a parte não a impugnou por meio de agravo de instrumento.

Ex: juiz profere decisão interlocutória excluindo um litisconsorte passivo. Essa decisão se enquadra no inciso VII do art. 1.015. Imaginemos que o autor decida não interpor o agravo de instrumento. Significa dizer que houve preclusão e que ele não mais poderá questionar essa exclusão quando for interpor apelação.

Com essa decisão do STJ, existem decisões interlocutórias que poderão, em tese, ser impugnadas por agravo de instrumento mesmo sem estarem previstas no art. 1.015 do CPC. Como fica a preclusão em tais casos se a parte decidir não interpor agravo de instrumento? Ex: o réu suscita a incompetência do juízo; o magistrado rejeita; pelo critério da taxatividade mitigada, a parte poderia interpor agravo de instrumento mesmo em isso estar previsto no art. 1.015 do CPC; imaginemos, contudo, que a parte não ingressa com o agravo; ela poderá questionar essa decisão na apelação ou terá havido preclusão?

A parte poderá questionar essa decisão ao interpor apelação.

Não terá havido preclusão.

O cabimento do agravo de instrumento na hipótese excepcional de “urgência” está sujeito a um duplo juízo de conformidade:

• um, da parte, que interporá o recurso com a demonstração de seu cabimento excepcional;

• outro, do Tribunal, que analisará se existe ou não essa urgência para fins de admitir o agravo de instrumento fora das hipóteses do art. 1.015.

Se a parte não interpuser o agravo ou se ingressar, mas o Tribunal entender que não há urgência (e não conhecer do recurso), isso significa que não houve preclusão e a parte poderá questionar a decisão futuramente na apelação.

Modulação dos efeitos

Como havia muita polêmica sobre o tema, o STJ, para fins de garantir a segurança jurídica, decidiu modular os efeitos da decisão.

Desse modo, a tese jurídica fixada e ac