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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X VOZES DE LUTA: AS ESTRATÉGIAS FEMINISTAS EM PROL DA CONQUISTA DO VOTO FEMININO E OS VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO NO RECIFE (1927-1934) Mirella Tuanny Ferreira Lopes 1 Resumo: É inegável que ainda vivenciamos um quadro político no qual mulheres são sub-representadas, em que a figura masculina ainda se faz numericamente predominante e os espaços de poder são restritos. Partindo do anseio de compreender que mundo político é esse, que mesmo após duras e sucessivas conquistas, ainda exclui tanto a participação feminina do seu cerne, este trabalho tem por objetivo investigar as estratégias utilizadas pelos movimentos feministas pernambucanos no processo de conquista da cidadania política no Recife, entre os anos de 1927 a 1934, bem como a relação destas mulheres com os veículos de comunicação, visando propagar suas pautas e atividades e os argumentos proferidos pelos antifeministas através de charges e colunas de opinião. Tal artigo foi construído através do levantamento de fontes bibliográficas, de teórico(a)s e contou igualmente com uma pesquisa documental, executada nos principais acervos e bibliotecas do Recife e na Hemeroteca Digital Brasileira da Biblioteca Nacional. Assim sendo, tem por intuito não apenas averiguar e ressaltar a importância dos movimentos feministas na conquista do voto que teve êxito em 1932 mas almeja concomitantemente contribuir para a produção, fortalecimento e valorização dos estudos referentes à temática de gênero em nosso país. Palavras-chave: Feminismo Cidadania Política Antifeminismo. 1. Introdução Dos 57.691 vereadores eleitos no dia 2 de outubro deste ano, 7.790 são mulheres, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Isso significa que, a partir de 2017, elas representarão 13,5% das câmaras municipais brasileiras, percentual que se manteve praticamente o mesmo desde as eleições de 2012, quando chegaram a 13,3%. Embora representem 51% da população, as mulheres brasileiras enfrentam um dos piores cenários mundiais em termos de representação política. Estamos atrás de de países como Afeganistão e Arábia Saudita quando o assunto é presença feminina no Congresso, como mostra o ranking da União InterParlamentar (UIP): entre 193 nações, o Brasil aparece na 155º posição. Nas estatísticas da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), temos o menor índice de participação de mulheres nas Câmaras em toda a América do Sul. (REVISTA CULT, 2016, p. 22). Sub-representação. Esta ainda é a palavra que resume a realidade das mulheres na política brasileira e ao redor do mundo. Mesmo com inúmeras conquistas, somos minoria nos espaços de poder. A questão levantada no jornal pernambucano, A Província, data de julho de 1932, apesar disto, continua ecoando e se fazendo presente na atualidade: “Quem melhor que a mulher poderá cuidar de seus próprios interesses?” 2 De fato, como se tem registros, as mulheres passaram a questionar seus direitos ainda no século XIX, muito embora, apenas no início do século XX, este processo tenha se intensificado. 1 Pós-graduanda em História pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Campus Recife – Sede/PE. Esta pesquisa possui apoio financeiro da CAPES. Email: [email protected]. 2 Jornal A Província, jul. 1932, p.03.

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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13thWomen’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

VOZES DE LUTA: AS ESTRATÉGIAS FEMINISTAS EM PROL DA CONQUISTA DO

VOTO FEMININO E OS VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO NO RECIFE (1927-1934)

Mirella Tuanny Ferreira Lopes1

Resumo: É inegável que ainda vivenciamos um quadro político no qual mulheres são sub-representadas, em que a

figura masculina ainda se faz numericamente predominante e os espaços de poder são restritos. Partindo do anseio de

compreender que mundo político é esse, que mesmo após duras e sucessivas conquistas, ainda exclui tanto a

participação feminina do seu cerne, este trabalho tem por objetivo investigar as estratégias utilizadas pelos movimentos

feministas pernambucanos no processo de conquista da cidadania política no Recife, entre os anos de 1927 a 1934, bem

como a relação destas mulheres com os veículos de comunicação, visando propagar suas pautas e atividades e os

argumentos proferidos pelos antifeministas através de charges e colunas de opinião. Tal artigo foi construído através do

levantamento de fontes bibliográficas, de teórico(a)s e contou igualmente com uma pesquisa documental, executada nos

principais acervos e bibliotecas do Recife e na Hemeroteca Digital Brasileira da Biblioteca Nacional. Assim sendo, tem

por intuito não apenas averiguar e ressaltar a importância dos movimentos feministas na conquista do voto – que teve

êxito em 1932 – mas almeja concomitantemente contribuir para a produção, fortalecimento e valorização dos estudos

referentes à temática de gênero em nosso país.

Palavras-chave: Feminismo – Cidadania Política – Antifeminismo.

1. Introdução

Dos 57.691 vereadores eleitos no dia 2 de outubro deste ano, 7.790 são mulheres, segundo

o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Isso significa que, a partir de 2017, elas representarão

13,5% das câmaras municipais brasileiras, percentual que se manteve praticamente o

mesmo desde as eleições de 2012, quando chegaram a 13,3%. Embora representem 51% da

população, as mulheres brasileiras enfrentam um dos piores cenários mundiais em termos

de representação política. Estamos atrás de de países como Afeganistão e Arábia Saudita

quando o assunto é presença feminina no Congresso, como mostra o ranking da União

InterParlamentar (UIP): entre 193 nações, o Brasil aparece na 155º posição. Nas estatísticas

da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), temos o menor índice

de participação de mulheres nas Câmaras em toda a América do Sul. (REVISTA CULT,

2016, p. 22).

Sub-representação. Esta ainda é a palavra que resume a realidade das mulheres na política

brasileira e ao redor do mundo. Mesmo com inúmeras conquistas, somos minoria nos espaços de

poder. A questão levantada no jornal pernambucano, A Província, data de julho de 1932, apesar

disto, continua ecoando e se fazendo presente na atualidade: “Quem melhor que a mulher poderá

cuidar de seus próprios interesses?”2

De fato, como se tem registros, as mulheres passaram a questionar seus direitos ainda no

século XIX, muito embora, apenas no início do século XX, este processo tenha se intensificado.

1 Pós-graduanda em História pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Campus Recife – Sede/PE. Esta pesquisa possui apoio financeiro da CAPES. Email: [email protected]. 2 Jornal A Província, jul. 1932, p.03.

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2 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13thWomen’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

Neste contexto, o recorte temporal deste trabalho teve como ponto de partida o passo dado em 1927

– quando a primeira mulher brasileira votou –, até o ano de 1934, quando a lei que passou a prever

oficialmente o sufrágio feminino na Constituição do país. O debate então inflamou-se, sendo pauta

recorrente em muitos periódicos da época e dividindo opiniões. Estava traçado um caminho sem

volta.

Por este motivo, é imprescindível discutir acerca deste complexo e importantíssimo processo

da nossa história, para que esta conquista não seja esquecida ou negligenciada, nem muito menos

interpretada de maneira errônea, apenas como uma concessão. “É preciso desconstruir a ideia muito

difundida de que as mulheres puxam os fiozinhos dos bastidores, enquanto os pobres homens, como

marionetes, mexem-se na cena pública”. (PERROT, 1988, p. 173). Essas mulheres lutaram

exaustivamente para nos conferir os privilégios que temos hoje. Arriscaram-se. Fizeram da

resiliência seu lema. Avançaram.

2. Resistir para Existir!: organizando movimentos.

O prelúdio do século XX foi palco de grandes transformações. Mesmo com todo

enredamento da conjectura republicana, a modernidade pediu passagem e espalhou-se pelas ruas da

cidade do Recife e das grandes capitais brasileiras. Neste contexto, gradativamente as mulheres de

camadas médias passam a circular sozinhas, fazendo-se presentes em novos espaços de

sociabilidade e em ambientes antes não transitados. A demarcação existente entre atividades

femininas e masculinas, entre o privado e o público, paulatinamente é transformada. Anteriormente,

ouniverso feminino possuía um cunho doméstico, pois “mesmo as mulheres das classes

privilegiadas não podiam entrar no mundo 'masculino' da política. Apesar disto, algumas delas

exerciam por debaixo dos panos, influência sobre os homens que ocupavam cargos de relevo na

esfera pública” (Harner, 2013, p. 48), posto que “a política não se restringe à esfera do Estado e de

suas instituições. Ela atravessa os domínios da vida cotidiana e se encontra presente nas relações

variadas que se estabelecem entre os indivíduos, incluindo aquelas entre homens e mulheres”

(Prado; Franco, 2013, p.194).

Como consequência destas transformações, fundam-se as primeiras organizações feministas no

Brasil. Especificamente em Pernambuco, duas tiveram grande atuação, sendo ainda bastante

estudadas por pesquisadore(a)s: a Federação Pernambucana pelo Progresso Feminino (FPPF),

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3 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13thWomen’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

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criada em 1931, como uma filial3 da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino4 (FBPF), do Rio

de Janeiro e liderada por Edwiges de Sá; e a Cruzada Feminista Brasileira, igualmente criada no ano

de 1931 e dirigida por Martha de Hollanda.

As figuras femininas que davam dinamicidade aos movimentos feministas advinham de vários

setores e cargos: eram mulheres de classe média, educadas, algumas profissionais liberais, casadas,

solteiras (Nascimento, 2013a), professoras, comerciantes, poetistas, mulheres de políticos

influentes. Como elucida Harner:

As mulheres da elite faziam parte de um pequeno segmento da população brasileira (…)

diferenciado da grande maioria das pessoas por conta de sua condição econômica

privilegiada e por sua “raça” (a chamada “raça branca”, considerada superior às demais).

Como em qualquer outro lugar do mundo Ocidental à época, essas mulheres viviam em

estruturas culturais, sociais e econômicas majoritariamente criadas por homens e para

favorecê-los, já que baseadas em ideias de superioridade masculina e de subordinação

feminina (…) seu status era derivado de suas famílias e não de si mesmas (2013, p. 43).

Edwiges de Sá, Martha de Hollanda e algumas outras integrantes da alta sociedade

conseguiram transpor em parte a condição de subordinação que as acometiam, entretanto, esta não

era uma realidade palpável para a maioria das mulheres no referido contexto, posto que, as

diferenças de classe – que eram em grande parte também diferenças de 'cor' – continuavam a se

patentear também no campo profissional ou ocupacional das mulheres. “As mulheres pobres,

trabalhavam; da juventude à velhice, continuavam em seus serviços “na rua” ou “para a rua”,

duplicando o trabalho doméstico para atender à sua própria família” (Motta, 2013, p. 86).

Dessarte, antes mesmo de elencar suas pautas, as feministas precisaram se inserir dentro de

contextos, nos quais não eram bem-vindas, nem vistas com bons olhos. Fazia-se necessário, então,

traçar estratégias, para galgar espaços e conquistas. Mais quais caminhos percorrer?

3. Endossando a luta: a elaboração de estratégias e o acesso aos veículos de comunicação.

Assumir-se feminista não consistia em tarefa fácil. Isso devia-se principalmente ao fato de

que era essencial não apenas ter coragem para assim intitular-se, mas era preciso resiliência para

3 Em 1932, já existiam treze filiais da Federação espalhadas pelo país (SILVA, 2012, p. 30). 4 O Movimento Feminista Brasileiro teve como grande precursora Bertha Maria Júlia Lutz. Ela liderou e fundou a

Federação Brasileira para o Progresso Feminino (FBPF), sediada no Rio de Janeiro, no qual foi a mais importante

organização em defesa dos direitos da mulher do Brasil, da década de vinte, que tinha como luta central o direito ao

voto (SILVA, 2012, p. 20). A FBPF foi fundada em 1919 e possibilitou maior visibilidade e diálogo junto aos órgãos

políticos e consequentemente a implantação tática pensada pelas feministas.

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4 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13thWomen’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

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viver como uma e simultaneamente lidar com a gama de paradoxos, rótulos e esteriótipos que

circundavam tal postura. A forma de vestir-se, os discursos proferidos, o estabelecimento de

alianças políticas, caracterizavam alguns dos inúmeros elementos que compunham e configuravam

esse posicionamento.

Em meio a tanto fervor, organizações, requerimentos e estratégias marcaram os anos iniciais

da República no Brasil. Os anseios eram inúmeros. Os programas de reivindicações tanto da FPPF,

quanto da Cruzada apresentavam conteúdo de forte cunho político5. A instrução era colocada como

via estratégica para a conquista ampla da cidadania e dos direitos civis, sociais e políticos. Nesse

sentido, mostrava-se potencialmente politizante, sendo o caminho, o solo fértil para outras

conquistas. O primeiro passo foi a fundação de núcleos de discussão, posto que as mulheres se

organizaram em associações, faziam pronunciamentos públicos, escreviam artigos e concediam

entrevistas aos jornais. Por conseguinte, “buscavam o apoio de lideranças e da opinião pública e

procuravam pressionar parlamentares, autoridades políticas, educacionais e ligadas à imprensa”

(Soihet, 2013, p. 220).

Com a fundação dos movimentos e definição das pautas, tornava-se necessário a partir de

então, encontrar formas de se fazer ouvir. Os veículos de comunicação mais difundidos no início do

século XX, ainda eram os jornais e a rádio. Todavia, é imprescindível atentar para a intensa

utilização destes veículos6 como peças-chave no avanço e na disseminação dos objetivos destas

organizações. Assim sendo, eram usufruídos em prol da conscientização e mobilização de cada vez

mais pessoas que apoiassem a causa do sufrágio feminino.

5 Se tratando da FPPF, a Plataforma de Ações, divulgada em 1931, previa: “1. Promover a educação da mulher e

elevar o nível da instrução feminina; 2. Proteger as mães e a infância; 3. Obter as garantias legislativas e práticas para o

trabalho feminino; 4. Auxiliar as boas iniciativas da mulher e orientá-las na escolha de uma profissão; 5. Estimular o

espírito de solidariedade e da cooperação entre as mulheres e interessá-las pelas questões sociais e de alcance público;

6. Assegurar à mulher os direitos políticos e prepará-la para o exercício inteligente desses direitos; 7. Estreitar os laços

de amizade com os demais países americanos, a fim de garantir a manutenção perpétua da paz e da justiça no

Hemisfério Ocidental” (NASCIMENTO, 2013a, p. 54). Com relação à Cruzada Feminista, embora esta se

autodeclarasse uma organização nacional, revelava um programa cujo alcance geográfico era mesmo o Nordeste, ao

incluir e nomear a mulher nordestina como sujeito de direitos. Ao considerar a instrução como ação transversal do

programa, pensava-se como a via que possibilitaria a mulher conquistar “seu justo lugar nas sociedades civilizadas”

(NASCIMENTO, 2013b). 6 Em Pernambuco, as mulheres escrevem nas revistas A Pilhéria, Helios, A Pátria, O Bem-te-vi, além de conseguir

espaço nos principais jornais da capital, como A Província e o Diário de Pernambuco. (Luz ; Nascimento, 2014, p. 09).

No interior, pode-se destacar a participação e atuação de Martha de Hollanda no jornal O Lidador, de Vitória de Santo

Antão.

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As feministas também aproveitavam-se dos laços de amizade existentes entre seus familiares

e muitos dos grupos que ocupavam posições de poder para obter simpatias políticas, ter acesso à

tais meios e fazer avançar o debate em favor da causa sufragista. Como aponta Soihet:

As líderes feministas procuravam manter a questão do voto feminino na ordem do dia, e a

partir de então, o debate tomou grande impulso, tanto que juristas conhecidos chegaram a

se pronunciar favoravelmente à constitucionalidade do voto feminino. Jornais da época já

comentavam com frequência o assunto. Além disso, a pressão das feministas no Congresso

Nacional começou a dar frutos com a conquista de novos apoios nos meios políticos (2013,

p. 225).

Dentro das estratégias cabíveis ao período, merece destaque a campanha realizada pela

Cruzada Feminista em auxílio às mulheres viúvas, o que consequentemente acarretou a maior

proximidade destas mulheres e o fortalecimento do movimento. Inúmeras chamadas foram

publicadas no Jornal Pequeno, dentre estas Martha de Hollanda conclamava: “Acompanhe a

Cruzada Feminista Brasileira, pedindo, de porta em porta, luz para as choupanas das viúvas

deserdadas7”. No Brasil, tais hábitos ligados à filantropia caracterizaram um componente relevante

da cultura da elite, pois “assim como ocorria em relação à caridade, também representava um

patrimônio familiar que, nas primeiras décadas do século XX, foi acrescido de um caráter cívico

estratégico ao projeto republicano de construção de nacionalidade”. (Cosati; Freire, 2013, p. 31).

Embora não haja estudos aprofundados sobre o tema, muito se discute se a filantropia consistia em

uma prática conservadora ou emancipadora na realidade das referidas mulheres. De todo modo,

para compreender melhor tais práticas, torna-se extremamente relevante:

(…) repensar o papel que essas associações tiveram na transformação de consciência das

mulheres e na organização do movimento feminista brasileiro, por favorecer a circulação de

ideias e de questionamentos novos, o convívio com outras mulheres, a administração de

problemas fora do grupo e o estabelecimento de redes de interesses (Mott, 2001).

A pesar de todas as idealizações, o trajeto não foi simples. Foi preciso criar inúmeras

estratégias para conquistar apoio, reunir cada vez mais adepto(a)s, conseguir espaço nos meios de

comunicação influentes da época e instruir as mulheres acerca da importância do voto. No entanto,

havia um obstáculo ainda maior a ser transpassado: as implacáveis críticas antifeministas.

4. Abre-se a Caixa de Pandora: discursos e temores antifeministas.

7 Jornal Pequeno, jan. 1931, p. 01.

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6 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13thWomen’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

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Segundo a mitologia grega, a Caixa de Pandora conta o episódio em que a primeira mulher

– chamada Pandora – chega à Terra, com uma caixa, na qual estavam guardados todos os males do

mundo: um castigo de Zeus para os homens. Assim como várias histórias gregas, esta tem muitas

versões – em algumas delas, a tal caixa é, na verdade, uma ânfora. A participação de Pandora

também é controversa. Alguns textos indicam que essa personagem, curiosa, abriu o recipiente e

condenou a humanidade. Outras dizem que ela mesma estava lá dentro e, ao ser libertada, trouxe

consigo a desgraça. De qualquer maneira, a metáfora é clara: a chegada da mulher marca o fim de

um período glorioso para o homem. (Nadale, 2010, p. 01).

Se traçarmos uma analogia entre o referido acontecimento mitológico e o processo por meio

do qual as mulheres pleitearam a conquista do voto feminino e demais direitos, fica evidente certa

similaridade. Elas seriam responsáveis pelo advento de uma série de infortúnios. A partir da análise

da bibliografia e da documentação podemos reiterar: a incerteza gerou temor. Antes mesmo da

primeira mulher votar no Estado do Rio Grande do Norte8, alguns discursos já atestavam: “Pensem

bem os Srs. Sociólogos no perigo da Eva votante… A urna em que as mulheres deitarem os seus

votos pode transformar-se, muito bem, em uma funesta Caixa de Pandora9”. Assim sendo, ascender

ao âmbito público e político era sinônimo de desconfigurar a ordem preestabelecida. Mas, quais

eram realmente os receios que acometiam homens e mulheres antifeministas? Que argumentos

construíam para convencer a sociedade de que este passo não deveria ser dado? Quais

desdobramentos viriam a partir das novas configurações que se delineavam? Ninguém sabia. A

conquista da cidadania política representava um enigma. Apenas um fato era notório: uma vez

engajadas, as mulheres davam claros sinais de que não recuariam na luta.

Decerto, as críticas não eram tímidas, nem silenciosas. Publicações eram frequentes em

inúmeros periódicos de grande circulação no Recife e demais estados brasileiros. Geralmente eram

assinadas sob pseudônimos ou por colunistas de opinião fixos. No que diz respeito às mulheres,

procurava-se entrevistar senhoras da alta sociedade, que possuíam uma postura admirável e

respeitosa, para se pronunciarem publicamente contrárias ao voto feminino, influenciando

8 O Estado do Rio Grande do Norte teve a primeira eleitora brasileira, como atesta Rodrigues: “Com a inclusão, no dia

25 de novembro, do nome de D. Celina Guimarães Vianna na lista dos eleitores do Rio Grande do Norte, em virtude da

Lei nº 660, de 27 de outubro de 1927, sancionada pelo Exmo. Sr. Presidente do Estado, teve o Brasil a sua primeira

eleitora, e erigiu Mossoró mais um padrão memorável na sua vida de município paladino de altas e avançadas

iniciativas” (1982, p. 67). 9 Jornal A Reforma (AC), nov. 1925, p. 01.

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7 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13thWomen’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

leitore(a)s. Logo, enquanto alguns opositores optavam por proferir ataques diretos ao movimento,

outros pleiteavam pela invalidação de sua mensagem.

Neste contexto, a imprensa veio a desempenhar um papel fundamental, contribuindo de

modo expressivo para atacar e desvirtuar as pautas feministas, uma vez que, “ao popularizar a ideia

do feminismo, a imprensa banalizava sua seriedade e distorcia seu significado” (Besse, 1999, p.

214). Portanto, a mensagem transmitida era a de que ser feminista significava ser moderna e estar

na moda; não sendo necessária nenhuma transformação fundamental de consciência. Ademais, o

ridículo era usado em grande escala para intimidar as mulheres e, com isso, manter o feminismo

dentro dos limites aceitáveis, principalmente através das charges e colunas de opinião.

À vista disso, podemos observar que “tais movimentos eram considerados ondas perigosas

de desorganização social e investidas assustadoras contra a ordem divina e natural” (Besse, 1999, p.

214-215) por parte do antifeminismo. Seus discursos eram construídos não apenas objetivando a

apelação emocional do público, mas baseando-se em justificativas científicas e morais. Temos

como exemplo a publicação assinada por Argynno, para a coluna do jornal A Província, intitulada

“Chroniqueta: o 'avança' do feminismo”, na qual este afirma: “Isso de as mulheres quererem agora

ocupar quase todos os lugares dos homens (...), fazendo-lhes, enfim, a mais ativa concorrência na

luta pela vida, não me parece razoável, embora alguns pseudo-advogados do sexo fraco chamem

esse 'avança': reivindicações femininas. Cada macaco deve apossar-se do seu galho”10.

Nessa perspectiva, podemos averiguar que segundo a visão dos antifeministas, a entrada das

mulheres na esfera pública, independente de qual fosse o segmento, representava claramente uma

violação da verdadeira “essência feminina”, visto que, isto seria a principal causa da destruição da

harmonia entre os sexos. Os argumentos variavam, porém, eram majoritariamente pautados nas

questões jurídicas e biológicas. Uns denunciavam a incapacidade física; outros ressaltavam a

diversidade do organismo feminino e a menstruação como uma barreira para que as mulheres

assumissem as tarefas exercidas até então por homens, além daqueles que frisavam e alegavam sua

inconstância psicológica e inteligência inferior. O cérebro, por exemplo, era constantemente objeto

de análise da ciência da época, que confirmava: “Ademais, não é de hoje que se proclama a

inferioridade da mulher: ela é um fato provado. (…) As investigações antropológicas têm como

10 Jornal A Província, jul.1920, p. 01.

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8 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13thWomen’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

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certo que o cérebro da mulher é inferior ao do homem em volume e peso11". Talvez, dentro deste

contexto, o que mais temessem fosse que ao conquistar o voto, as mulheres se masculinizassem,

invertessem os papéis sociais ou abandonassem a esfera do lar, como aponta o seguinte trecho:

A mulher que por todos os tempos tem demonstrado mais doçura e amor, na contextura de

seu caráter que o homem, sofreu a nosso ver, com este “direito”, o golpe rude de mais essa

modalidade da maldade dos homens. (...) Ai perde ela a sua graça, a sua beleza, a sua

encantadora fragilidade. O seu coração perde o melhor dos sentimentos afetivos ligados ao

lar, lugar onde só a mulher está bem. Essa vitória do feminismo é o começo de uma derrota

eminente12.

A ironia e o temor em dividir ou perder espaços de poder configuravam marcas registradas

em tais discursos. Os ares tomavam forma de disputa e buscava-se difundir a ideia de que as

mulheres não lutavam por igualdade perante à figura masculina, mas sim intencionavam

sobreporem-se à ela, “vencê-la”. É possível averiguarmos esse tom irônico na charge que segue, na

qual uma mulher apresenta-se cabisbaixa na presença de três homens que a questionam: “- Porque

tão grande desconsolo?...” Nenhuma resposta é proferida por parte dela e estes prosseguem: “-

Qual! Anime-se! Pois se o século é das senhoras: nos ares, nos versos, no amor, na beleza, em

tudo!... enquanto que nós somos os vencidos...13”.

A presença de charges deste tipo nos principais jornais do período era bastante recorrente,

configurando assim, mais um valioso objeto de estudo para o(a) historiador(a) em suas análises e

pesquisas. Como esclarece LUCA:

11 Jornal do Recife, jun. 1920, p. 04. 12 A Pilhéria, ano IX, nº 356, 28 jul. 1928. 13 A Província, 23 out. 1927, p. 01.

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9 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13thWomen’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

O advento da ilustração foi essencial para o impulso e a diversificação do impresso

periódico, ainda mais em um país onde o rarefeito público leitor, que incluía um modesto

contingente feminino, avançava lentamente entre os anônimos leitores de folhetins e os

assíduos frequentadores de teatros, circulavam intelectuais, homens de letras, estudantes,

jornalistas, algumas sinhás-moças e até velhotas capazes de leitura (2011, p. 135).

Apesar dos ataques, é válido lembrar que tais críticas não eram toleradas passivamente.

Havia sim contra-argumentos, bem estruturados e concisos. Estes partiam não apenas das

feministas, mas também de colunistas, políticos e intelectuais que apoiavam a conquista do

sufrágio por parte das mulheres. De fato compunham uma pequena parcela da sociedade, mas ainda

assim não podemos deixar de mencioná-los. É o caso dos dois trechos a seguir, retirados de colunas

de opinião do periódico A Província:

O argumento usado pelos adversários da libertação feminina, é o mesmo que os

escravocratas usavam com relação à liberdade dos escravos. Então diziam: o escravo não

está preparado ainda para a liberdade. Hoje se diz: “A mulher ainda não está preparada. A

hora do feminismo não chegou. Mas o escravo se libertou e se viu que não há melhor escola

para a liberdade do que a própria liberdade14”.

(...)

E por que não gozar a mulher brasileira da liberdade do exercício político? Uma vez que

não seja obrigatório o voto, mas simplesmente facultativo, temos que a ela deve ser

garantido esse direito, certo como é que lhe não falta atributo algum para influir nos

destinos do país, ou se lhe falta é quando no mesmo caso do homem, isto é, quando este é

analfabeto ou tem perdido o seu direito à cidadania. Fora deste caso, só por um

anacronismo, que não deve substituir no Brasil civilizado e democrático, é que a mulher só

se vê inferiorizada e privada dos direitos cívicos, o que não é justo, e até clamoroso e só

exprime uma face do egoísmo masculino (...)15

Compreender tais embates tem contribuído significativamente para o enriquecimento da

análise acerca do processo de luta pela conquista do direito à emancipação política das mulheres,

além de impedir a unilateralidade do conhecimento e da pesquisa, posto que, “precisamos (...)

narrar a partir da multiplicidade do olhar e sentir, dos diferentes lugares, das diversas mulheres, esse

rico momento da história do feminismo no Brasil”16. Como proferiu o renomado político, Assis

Brasil: “Já houve um tempo em que se negou a legitimidade de outras funções que as mulheres

exercem hoje. Tempo virá em que hão de rir-se de certas desigualdades que o estado das ideias e da

civilização nos obriga a manter ainda entre os direitos dos dois sexos” (Rodrigues, 1982, p. 52).

Lamentavelmente, mesmo com sucessivos avanços, este tempo ainda não chegou por completo.

Apesar disto, a luta perdura e permanece viva.

14 Jornal A Província, ago. 1920, p. 01. 15 Jornal A Província, nov. de 1927, p. 01. 16 LUZ, Noemia M. Q. Pereira da. ; NASCIMENTO, Alcileide Cabral. O debate em torno da emancipação feminina no

Recife (1870-1920). Revista Pagu. 2014. p. 04.

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10 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13thWomen’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

5. Conclusões.

Desde meados do século XIX, as mulheres começaram a tentar romper o cerco que as

envolvia e a lutar por seus direitos políticos.Sem dúvida as circunstâncias e as mudanças trazidas

com a instauração da República, foram essenciais direta e indiretamente para conferir a estas um

maior espaço e liberdade no âmbito público, ainda que este fosse diminuto. Gradativamente

desbravaram espaços nitidamente masculinos, questionaram verdades em torno de seu sexo, de seu

corpo e de sua inteligência, por meio da palavra escrita, de entrevistas em rádios, com a publicação

de artigos polêmicos, e, na seara da Justiça, abrindo processos para terem direitos políticos como

cidadãs(Nascimento, 2013b).

Algo relevante e que também não se pode deixar de lado é a rede de contradições na qual

estas mesmas mulheres estavam inseridas, uma vez que “estavam imersas neste mesmo contexto

que as forjavam como cidadãs paradoxais, posto que “o feminismo não é produto das operações

benignas e progressistas do individualismo liberal, mas um sintoma de suas contradições” (Scott,

2002, p. 48). Logo, embora muitas destas representantes lutassem para alcançar a cidadania política,

acabavam por representar uma parcela pequena da população, que tinha o privilégio da instrução e

de transitar em ambientes tidos como masculinos. Além disto, algumas estavam presas aos valores

cristãos, como vimos o caso de Edwiges de Sá, o que direta e indiretamente influenciava a tomada

de decisões, condutas e pautas. No entanto, nenhuma das pontuações supracitadas invalida a

relevância dos movimentos feministas e sufragistas no Brasil e, especificamente em Recife, uma

vez que, estas mulheres lutaram em um contexto histórico limitador e atroz.

É válido reforçar, que só muito recentemente a história da resistência feminina começou a

ser descortinada pela historiografia. As mulheres envolveram-se em grandes causas que ajudaram a

construir a nação, como a campanha abolicionista, a proclamação da República, a batalha pelo

direito à Educação e pela emancipação. Analisar os diferentes feminismos que se confrontaram em

Pernambuco na luta pelos direitos igualitários entre os gêneros, nos fez percebê-los como elementos

cruciais para o rompimento da ideia de unidade, de onda. Suas existências e trajetos ainda

necessitam de muitas análises, sendo fundamental repensá-los, redescobri-los, ecoar seus ideais.

Finalmente, em 1932 as reivindicações têm êxito, sendo incluídas na Constituição, em 1934.

Muito embora o voto não tenha sido obrigatório para as mulheres inicialmente, sendo necessário o

convencimento de um eleitorado feminino, um grande passo foi dado, como reitera Soihet:

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11 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13thWomen’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

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Graças às pressões feministas, e coroando uma luta de décadas, o sufrágio feminino foi

finalmente garantido, com a inclusão do artigo 108 na Constituição de 1934. Assim,

embora a campanha sufragista de maior alcance não se tenha aqui tornado um movimento

de massas, esta se caracterizou pela sua excelente organização, o que fez do Brasil um dos

primeiros países a garantir o direito de voto às mulheres. Por outro lado, apesar de ter sido

um movimento articulado às elites, não se pode dizer que não tenha se empenhado também

em outras causas democráticas. De fato, várias das militantes desse movimento estavam

também preocupadas em garantir conquistas para os trabalhadores, particularmente, às

mulheres das classes trabalhadoras (2013, p. 226).

A História, portanto, constitui e torna concreta a possibilidade de que a trajetória dessas

mulheres, assim como a de outras, seja conhecida. É preciso lembrar e discutir as situações

degradantes a quais foram e ainda são submetidas no decorrer dos séculos, não esquecendo a

persistente luta que travaram para, finalmente, conseguirem se firmar como cidadãs. De fato,

avançamos, mas há muito por ser conquistado.

6. Referências.

6.1 Documental.

Jornal A Província, 1920.

Jornal A Província, 1927.

Jornal A Província, 1932.

Jornal do Recife, 1920.

Jornal A Reforma (AC), 1925.

Jornal Pequeno, 1931.

A Pilhéria, ano IX, nº 356, 28 jul. 1928.

6.2 Bibliográficas.

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SCOTT, Joan Walach. A Cidadã Paradoxal: as feministas francesas e os direitos do homem.

Florianópolis: Mulheres, 2002.

VOICES OF FIGHT: the feminist strategies for the conquest of the female vote and the

communication vehicles in Recife (1927-1934).

Abstract: It is undeniable that we are still experiencing a political framework in which women are

underrepresented, in which the male figure is still numerically predominant and the power spaces

are restricted. Based on the desire to understand what a political world this is, which, even after

hard and successive conquests, still excludes so much female participation from its scope, this work

has the objective to investigate the strategies used by the Pernambuco feminist movements in the

process of conquest of political citizenship in Recife, between 1927 and 1934, as well as the

relationship of these women with the media to propagate their patterns and activities and the

arguments of antifeminists through cartoons and columns of opinion. This article was constructed

through the collection of bibliographical sources, of theorists and also counted on a documentary

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13 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13thWomen’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

research, executed in the main collections and libraries of Recife and in the Brazilian Digital

Library of the National Library. Therefore, it aims not only to ascertain and emphasize the

importance of feminist movements in winning the vote - which was successful in 1932 - but also

aims to contribute to the production, strengthening and enhancement of gender studies in our

country.

Keywords: Feminism - Political Citizenship - Antifeminism.