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20 Fevereiro 2005 Referendo Constituiçom Europeia @s comunistas galeg@s VOTAMOS NOM A serventia do novo talante Vozeiro de Primeira Linha www.primeiralinha.org Ano IX • Nº 34 • Segunda jeira • Outubro, Novembro e Dezembro de 2004 A serventia do novo talante Sumário Finalmente, já foi assinado polos governos dos 25 membros da UE a redacçom definitiva do tratado constitucional que ao longo de 2005 será submetido a ratificaçom em referendos e nas cámaras legisla- tivas dos respectivos estados. Num acto celebrado no passado dia 29 de Outubro em Roma, os amos da Europa encenárom a definitiva chegada ao consenso após as dificuldades surgidas com anteriori- dade arredor do reparto do poder, e dérom saída à massiva cam- panha de propaganda com que se quer garantir a conformidade popular. No Estado espanhol, estando convocado um referendo consultivo sobre a Constituiçom Europeia para 20 de Fevereiro do ano próximo, já começou o ruge-ruge mediático bombardeando-nos com mensa- gens favoráveis ao “grande passo dado na construçom europeia”, como no próprio dia 29 de Outubro, quando a prática totalidade das emissoras da TV acompanhárom o seu tradicional logótipo com umha bandeira europeia com o ánimo de exaltar a identificaçom europeísta entre as suas audiências. Contodo, é previsível que, logo que for achegando-se a data do referendo, os alto-falantes do sistema aumentem ainda mais o volume para animar à participaçom numha consulta que, se nom, correria o sério risco de passar despercibida para o comum dumha populaçom que percebe como alheio e extranho todo o que acontece nos gabinetes da UE. Afinal, a informaçom real sobre o que se vai submeter a refe- rendo é praticamente nula. A propaganda pró-UE insiste nos luga- res comuns dumha Europa unida, mais próspera, mais poderosa, mais livre, etc... mas a escassamente três meses do plebiscito, ainda nom fôrom distribuídas entre a populaçom cópias do texto, e é mais do que seguro que boa parte das pessoas que acudam a votar em Fevereiro desconheçam o que estám a aprovar ou rechaçar. Mas é precisamente o desconhecimento do que real- mente se quer aprovar a melhor arma nas maos dos agentes polí- ticos e económicos interessados na ratificaçom do tratado. O documento a que se está a chamar Constituiçom europeia nom é mais do que um novo tratado da UE que serve para unificar toda umha série de acordos prévios e aprofundar nas linhas já aplicadas neste mesmo momento, reforçando os chamados “três pilares” defi- nidos em Maastricht: política económica; justiça e interior; e segu- rança e política exterior. Ou o que é o mesmo: defesa do mercado europeu e dos interesses do grande capital; política repressiva interna; e coordenaçom das acçons de carácter imperialista. É pois um instrumento político em maos das oligarquias da UE para aperfeiçoar e optimizar a sua dominaçom sobre a classe tra- balhadora, povos e mulheres oprimidas. Liberdade e prosperidade numha Europa unida som as mentiras atras das quais ocultam a rea- lidade da desregulaçom das relaçons laborais, o supremo domínio do mercado, a opressom das naçons sem Estado, o sustento da UE como potência imperialista sob a hegemonia franco-alemá, ou a dis- criminaçom e opressom das mulheres no patriarcado. Isso sim, agora sancionada por um acordo internacional de nível constitucio- nal, o que institucionaliza e estabiliza o statu quo já vigorante. Porém, e apesar das muitas ilusons de tanto europeísta como existe na nossa realidade, a UE empenha-se em mostrar a sua face mais crua e agressiva contra os interesses operários e populares evi- denciado no recente rejeitamento da Comissom Europeia ao plano de viabilidade para IZAR. A esta UE “livre e social” parecêrom excessi- vas as raquíticas concessons aos sindicatos feitas polo Governo do PSOE, consistentes numha privatizaçom moderada do que resta da indústria naval de capital público, e insiste na sua destruiçom abso- luta. Acrescente-se esta à longa lista de agravos da UE contra o povo trabalhador galego e deduza-se qual é a resposta lógica que merece a Constituiçom europeia. Assim e todo, parece que no nosso país nom todo o mundo o tem tam claro. Dentro das três forças políticas parlamentares a postura de PSOE e PP fica clara. Ambas formaçons, que recentemente gerírom o governo estatal, nom só som favoráveis à Constituiçom europeia, senom que tenhem responsabilidades na sua elaboraçom. Mas na que resta, o BNG, a cousa está um pouco mais confusa. Ainda que finalmente parece que a frente nacional-autonomista optará polo “nom”, a decisom causou um certo debate, já que mesmo um dos partidos integrados e destacados dirigentes, como o ex-eurodeputado Camilo Nogueira, manifestárom publicamente a sua posiçom favorável a um “sim crítico” argumentando que o “nom” seria contraproducente para um BNG que aspira a governar a Junta. Poderia-se dizer mais alto, mas nom mais claro. A deriva reformista dum BNG, absolutamente centrado na actua- lidade na plena inserçom no sistema político emanado da reforma do franquismo, provoca que cada vez sejam mais as vozes que do seu interior insistem na plena homologaçom como “partido de ordem”. E se, neste caso ainda resultou maioritária a opçom do “nom”, foi por- que ainda é muito recente a época em que se berrava contra Maas- tricht, para além de existir outras forças políticas no Estado que tam- bém rejeitarám a Constituiçom, caso de ERC ou IU, o que amortece um efeito esteticamente negativo para os interesses eleitorais do BNG. E insistimos no de esteticamente negativo porque é aí que se acha a chave em que se baseia um sector importante do nacional-autono- mismo para querer votar favoravelmente. O grande argumento que manejam os que aspiram a governar as instituiçons autonómicas é que votar negativamente nom fica bem. Eis o grande pincha-carneiro político dalguns que se dim nacionalistas galegos, substituir a coerência pola estética. Possivelmente seja esta nova “linha estratégica” que levou a que o BNG aderisse à moda de apresentar projectos de reforma do Esta- tuto de Autonomia depois de que, há um ano, insistisem em que na Galiza nom fazia falta reforma do estatuto, senom plena transferên- cia de competências. É o que tem a política pret-a-porter, cada pouco tempo muda a tendência em boga e há que renovar o guarda-roupa. Agora temas como a autodeterminaçom e a defesa exclusiva dos Editorial 3-4 Sobre a prática leninista na Galiza de hoje Carlos Morais 5-6 Autonomismo ou soberanismo? As reformas estatutárias após 25 anos de café para todos Maurício Castro 7 Argentina… a terceira irrupçom social Roberto Perdía 8 O comunismo que aí vem e Socialismo e independência, duas novas propostas da Abrente Editora 20 Fevereiro 2005 Referendo Constituiçom Europeia @s comunistas galeg@s VOTAMOS NOM

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20 Fevereiro 2005Referendo Constituiçom Europeia

@s comunistas galeg@s

VOTAMOS NOM

A serventia do novo talanteVozeiro de Primeira Linha www.primeiralinha.org Ano IX • Nº 34 • Segunda jeira • Outubro, Novembro e Dezembro de 2004

A serventia do novo talante

SumárioFinalmente, já foi assinado polos governos dos 25 membros da UE

a redacçom definitiva do tratado constitucional que ao longo de 2005será submetido a ratificaçom em referendos e nas cámaras legisla-tivas dos respectivos estados. Num acto celebrado no passado dia 29de Outubro em Roma, os amos da Europa encenárom a definitivachegada ao consenso após as dificuldades surgidas com anteriori-dade arredor do reparto do poder, e dérom saída à massiva cam-panha de propaganda com que se quer garantir a conformidadepopular.

No Estado espanhol, estando convocado um referendo consultivosobre a Constituiçom Europeia para 20 de Fevereiro do ano próximo,já começou o ruge-ruge mediático bombardeando-nos com mensa-gens favoráveis ao “grande passo dado na construçom europeia”,como no próprio dia 29 de Outubro, quando a prática totalidade dasemissoras da TV acompanhárom o seu tradicional logótipo com umhabandeira europeia com o ánimo de exaltar a identificaçom europeístaentre as suas audiências. Contodo, é previsível que, logo que forachegando-se a data do referendo, os alto-falantes do sistemaaumentem ainda mais o volume para animar à participaçom numhaconsulta que, se nom, correria o sério risco de passar despercibidapara o comum dumha populaçom que percebe como alheio eextranho todo o que acontece nos gabinetes da UE.

Afinal, a informaçom real sobre o que se vai submeter a refe-rendo é praticamente nula. A propaganda pró-UE insiste nos luga-res comuns dumha Europa unida, mais próspera, mais poderosa,mais livre, etc... mas a escassamente três meses do plebiscito,ainda nom fôrom distribuídas entre a populaçom cópias do texto, eé mais do que seguro que boa parte das pessoas que acudam avotar em Fevereiro desconheçam o que estám a aprovar ourechaçar. Mas é precisamente o desconhecimento do que real-mente se quer aprovar a melhor arma nas maos dos agentes polí-ticos e económicos interessados na ratificaçom do tratado.

O documento a que se está a chamar Constituiçom europeia nomé mais do que um novo tratado da UE que serve para unificar todaumha série de acordos prévios e aprofundar nas linhas já aplicadasneste mesmo momento, reforçando os chamados “três pilares” defi-nidos em Maastricht: política económica; justiça e interior; e segu-rança e política exterior. Ou o que é o mesmo: defesa do mercadoeuropeu e dos interesses do grande capital; política repressivainterna; e coordenaçom das acçons de carácter imperialista.

É pois um instrumento político em maos das oligarquias da UEpara aperfeiçoar e optimizar a sua dominaçom sobre a classe tra-balhadora, povos e mulheres oprimidas. Liberdade e prosperidadenumha Europa unida som as mentiras atras das quais ocultam a rea-lidade da desregulaçom das relaçons laborais, o supremo domínio domercado, a opressom das naçons sem Estado, o sustento da UEcomo potência imperialista sob a hegemonia franco-alemá, ou a dis-criminaçom e opressom das mulheres no patriarcado. Isso sim,agora sancionada por um acordo internacional de nível constitucio-

nal, o que institucionaliza e estabiliza o statu quo já vigorante.Porém, e apesar das muitas ilusons de tanto europeísta como

existe na nossa realidade, a UE empenha-se em mostrar a sua facemais crua e agressiva contra os interesses operários e populares evi-denciado no recente rejeitamento da Comissom Europeia ao plano deviabilidade para IZAR. A esta UE “livre e social” parecêrom excessi-vas as raquíticas concessons aos sindicatos feitas polo Governo doPSOE, consistentes numha privatizaçom moderada do que resta daindústria naval de capital público, e insiste na sua destruiçom abso-luta. Acrescente-se esta à longa lista de agravos da UE contra o povotrabalhador galego e deduza-se qual é a resposta lógica que merecea Constituiçom europeia. Assim e todo, parece que no nosso país nomtodo o mundo o tem tam claro.

Dentro das três forças políticas parlamentares a postura de PSOEe PP fica clara. Ambas formaçons, que recentemente gerírom ogoverno estatal, nom só som favoráveis à Constituiçom europeia,senom que tenhem responsabilidades na sua elaboraçom. Mas naque resta, o BNG, a cousa está um pouco mais confusa.

Ainda que finalmente parece que a frente nacional-autonomistaoptará polo “nom”, a decisom causou um certo debate, já quemesmo um dos partidos integrados e destacados dirigentes, como oex-eurodeputado Camilo Nogueira, manifestárom publicamente asua posiçom favorável a um “sim crítico” argumentando que o“nom” seria contraproducente para um BNG que aspira a governara Junta. Poderia-se dizer mais alto, mas nom mais claro.

A deriva reformista dum BNG, absolutamente centrado na actua-lidade na plena inserçom no sistema político emanado da reforma dofranquismo, provoca que cada vez sejam mais as vozes que do seuinterior insistem na plena homologaçom como “partido de ordem”. Ese, neste caso ainda resultou maioritária a opçom do “nom”, foi por-que ainda é muito recente a época em que se berrava contra Maas-tricht, para além de existir outras forças políticas no Estado que tam-bém rejeitarám a Constituiçom, caso de ERC ou IU, o que amorteceum efeito esteticamente negativo para os interesses eleitorais doBNG.

E insistimos no de esteticamente negativo porque é aí que se achaa chave em que se baseia um sector importante do nacional-autono-mismo para querer votar favoravelmente. O grande argumento quemanejam os que aspiram a governar as instituiçons autonómicas éque votar negativamente nom fica bem. Eis o grande pincha-carneiropolítico dalguns que se dim nacionalistas galegos, substituir acoerência pola estética.

Possivelmente seja esta nova “linha estratégica” que levou a queo BNG aderisse à moda de apresentar projectos de reforma do Esta-tuto de Autonomia depois de que, há um ano, insistisem em que naGaliza nom fazia falta reforma do estatuto, senom plena transferên-cia de competências. É o que tem a política pret-a-porter, cada poucotempo muda a tendência em boga e há que renovar o guarda-roupa.Agora temas como a autodeterminaçom e a defesa exclusiva dos

Editorial

3-4 Sobre a prática leninista na Galiza dehoje

Carlos Morais

5-6 Autonomismo ou soberanismo? Asreformas estatutárias após 25 anos de

café para todosMaurício Castro

7 Argentina… a terceira irrupçomsocial

Roberto Perdía

8 O comunismo que aí vem eSocialismo e independência, duasnovas propostas da Abrente Editora

20 Fevereiro 2005Referendo Constituiçom Europeia

@s comunistas galeg@s

VOTAMOS NOM

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Nº 34. Outubro, Novembro e Dezembro de 2004EDITORIAL2

interesses da classe trabalhadora galegaestám absolutamente out, enquanto a defesada nossa singularidade no quadro estatal edumha política para toda a cidadania é o maiscool no caso de aspirar a governar sem ter detransformar a realidade dum jeito radical.

Ainda assim, continuamos a existir quemnom acreditamos nesse jeito de fazer política,e que de chaves nacionais, feministas e declasse, manifestamos tanto o nosso rechaço àConstituiçom europeia, como à Constituiçomespanhola ou ao Estatuto de Autonomia. Leiselaboradas contra os interesses do povo tra-balhador galego e das quais nom cabe reformapossível, apenas a sua derrogaçom e substi-tuiçom polas leis do futuro Estado galego aoserviço da classe operáriano caminho do socialismo.

Mudando de tema, nompodemos passar por altoneste editorial umhasucinta revisom do aconte-cido nas Eleiçons presiden-ciais nos EUA, acontecidasno passado 2 de Novembro,e nas quais resultou re-electo o candidato do Par-tido Republicano George W.Bush, derrotando o seuprincipal adversário, o can-didato do Partido Demo-crata, John Kerry.

Dando umha vista deolhos ao escrito e dito naimprensa burguesa, e emparte da que se consideraalternativa, parece quenestas eleiçons concorres-sem duas focagens radi-calmente diferentes. Umhaautoritária, reaccionária,especialmente imperialistae agressiva, face a outramais aberta, dialogante edemocrática. Apresentou-se umha relaçom mani-queia em que Bush era oengendro do mal e Kerrysupunha umha alternativaprogressista, havendo nompoucos editorialistas doEstado espanhol que qui-gérom fazer um parale-lismo com o acontecidonas eleiçons de Marçoentre Aznar e Zapatero. Como sempre, o papa-natismo e a estultícia própria de grande partedos jornalistas e opinadores profissionais com-binou-se com o mais absoluto desprezo da rea-lidade objectiva.

Se no caso espanhol as diferenças entreAznar e Zapatero som muito menores do queas suas semelhanças, no caso dos dous candi-datos norte-americanos a questom ainda seapresenta mais agravada, já que os programaspolíticos de republicanos e democratas apenasse distinguem porque estes últimos estám dis-postos a afrouxar um pouco as extremas con-diçons de precariedade da classe operárianorte-americana, num país em que existem 36milhons de pessoas que passam fame, e por-

Se para além de ter em conta estas ques-tons, os analistas da imprensa mundial, e emespecial da espanhola, valorizassem na suajusta medida o funcionamento do sistema elei-toral dos EUA, ainda mais propenso a favore-cer os grandes partidos do sistema do que osexistentes na Europa e no qual a participaçompopular está sujeita a mais entraves, paraalém de ter em conta o tremendo rearma-mento vivido pola extrema-direita naquelepaís, poderiam ter chegado facilmente às duasmesmas conclusons a que nós chegamos.

Em primeiro lugar, nom surpreende a vitóriade George W. Bush porquanto se sustenta nahegemonia ideológica do imperialismo e domais reaccionário integrismo religioso entre

Porém, quando menos em política exterior,a sua re-eleiçom nom supujo umha grandemudança nas acçons levadas avante por Bushe os seus sequazes. Poucos dias após terganho os comícios presidenciais, dava-seordem de iniciar umha nova escalada dasacçons repressivas no Iraque, começando oque até o momento foi a batalha com maiormovimento de tropas no século XXI. Em mea-dos do mês de Novembro, à roda de 15.000soldados ianques e sipaios iraquianos inicia-vam o assalto a Falluja, no que cinicamente sequalificava de acçom de carácter policial con-tra os supostamente de 1.000 a 2.000 “terro-ristas” que se escondiam nesta cidade.

Contraditoriamente para os interesses do

Iraque para finais do próximo mês de Janeiro.Eleiçons de que sairá um governo fantoche,semelhante ao recentemente eleito no Afega-nistám, do qual se espera sirva como muro decontençom da expansom dum movimento deresistência popular e armada que vai caminhode se tornar em insurreiçom generalizada,pondo em grave perigo os interesses económi-cos do imperialismo numha área em que existeoutro ponto quente de conflito, a Palestina.

A situaçom neste outro país do oriente pró-ximo também merece a nossa atençomenquanto à já de pôr si crítica situaçom em quevivem permanentemente os movimentos delibertaçom nacional dos países oprimidos,sujeitos aos constantes ataques da naçom ocu-

que consideram que no seu papel de potênciahegemónica devem fazer algumhas concessonsaos sub-imperialismos existentes no mundo(caso da Rússia ou a UE).

Mesmo surpreendem as semelhanças pesso-ais entre Bush e Kerry. Ambos tenhem umhaorigem social oligárquica, o vitorioso pertencea umha família petroleira texana, o segundo àgrande burguesia de Nova Inglaterra. Os dousestudárom na mesma Universidade, Yale, ondefigérom parte dumha rançosa sociedadesecreta, os Skull & Bones, que tem entre osseus ex-membros vários antigos presidentesianques. Em definitivo, tanto um como outrofam parte e representam os interesses de dife-rentes fracçons dum mesmo bloco oligárquico.

amplas camadas da populaçom ianque, paraalém de nom duvidarmos que aquele sectorsocial consciente e de esquerdas norte-ameri-cano, que todo o mundo conheceu após Seat-tle, ou nom votou ou o fixo por algumha dascandidaturas da esquerda real que se apre-sentou nalguns dos estados dos EUA, abs-tendo-se de apoiar em Kerry.

Em segundo, que pouco mais tem que gan-hasse um ou outro, já que nom ia supor umhamudança substancial do papel jogado poloimperialismo ianque em todo o mundo, nemtraria umha melhoria substancial para as con-diçons de vida das dezenas de milhons de mar-ginalizad@s e explorad@s polo big brotherianque dentro das suas fronteiras.

imperialismo, a capacidade de reacçom daresistência iraquiana demonstrou ser muitosuperior ao estimado polos estrategas do Pen-tágono, já que nom só nom dérom tomado atotalidade de Falluja, como vírom que se pro-duzia um recrudescimento generalizado dasacçons guerrilheiras em todo o território doIraque.

Mas a evidência dum massivo rechaçopopular à ocupaçom nom supom um obstáculopara que o imperialismo ianque continue aquerer tirar talhada da sua presença lá. OsEUA, que já começam a perceber o risco imi-nente de ficarem atolados num novo Vietname,ignorárom mais umha vez a realidade e ten-hem previsto a convocatória de eleiçons no

pante, somou-se a morte em Paris de YassirArafat, presidente da Autoridade NacionalPalestiniana (ANP) e líder carismático do movi-mento de libertaçom nacional.

Para além dos questonamentos que podamsurgir arredor do papel jogado por Arafat nosmais de 50 anos de luita contra o Estado deIsrael, o certo é que tanto polo reconhecimentodo seu liderato, quando menos moral, por partede todo o movimento palestiniano, como polascircunstáncias em que se produziu a sua morte,-auténtico símbolo do sofrimento de todo umpovo-, merece ser tida em consideraçom.

De umha parte, o mínimo consenso atingidopor todas as facçons palestinianas em torno doraïs fica em suspenso, já que nom existe outra

figura que recolha ascaracterísticas de Arafat.Além do mais, som notá-veis as pressons de Israele dos EUA para que sejaeleito como novo presi-dente da ANP um candidatomoderado favorável àsconcessons ao sionismo, oque suporá indubitavel-mente umha divisom maiorentre as diferentes organi-zaçons, tanto nacionalistascomo islámicas, actuantesna Palestina.

Nom podemos tampoucodeixar de valorizar as con-diçons em que morreu e foisepultado Arafat, já quesom um auténtico símboloda opressom sofrida portodo um povo. Encarceradona sede da ANP durantemeses, tivo que pedir per-missom ao seu inimigo parapoder abandonar a sua pri-som e poder ser tratadonum hospital militar emFrança. Morto no breve exí-lio francês, os seus fune-rais celebrárom-se nummais próximo Egipto e final-mente foi enterrado na suaúltima prisom em Ramala,negando-se-lhe a possibili-dade de poder ser sepul-tado na capital da Pales-tina, Jerusalém. Arafatsofreu nos seus últimos

dias, e mesmo depois de morto, as humilhaçonsque todo o seu povo tem de sofrer a diário comoexilad@s na própria terra, abafad@s pola rea-lidade da opressom nacional.

Porém, nom nos cabe dúvida que, apesar detodas as humilhaçons que sofrem @s palesti-nian@s, mas também das que sofremosgaleg@s e em geral o conjunto dos povos opri-midos, a classe operária e as mulheres domundo, a razom e a justiça estám do nossolado. E de que, se continuarmos a nos organi-zar e luitar contra o inimigo comum, o modo deproduçom capitalista nas suas diferentesfaces, finalmente atingiremos como resultadoa edificaçom dum mundo novo de mulheres ehomens livres, edificando a ordem socialista.

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As amizades da monarquia espanhola

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3ANÁLISENº 34. Outubro, Novembro e Dezembro de 2004

Nom queremos deixar passar o 80 aniver-sário do falecimento de Lenine sem realizarumha série de reflexons sobre como aplicarcorrectamente na nossa concreta luita declasses, na Galiza actual, alguns dos mais des-tacados contributos do revolucionário bolche-vique à acçom teórico-prática comunista.

1- AutodeterminaçomNa sua última etapa, Lenine emprestou

grande atençom à reflexom e desenvolvimentoda teoria marxista sobre a autodeterminaçomnacional, seguindo dous conceitos inicialmenteformulados por Marx: umha naçom que oprimeoutra nom pode ser livre, e a libertaçom danaçom oprimida é premissa para a revoluçomsocialista na naçom opressora. Embora a suaprematura morte impedisse que a plena madu-rez teórica atingida pudesse consumar a siste-matizaçom de umha teoria global do programacomunista a respeito da libertaçom nacional,sim esclareceu o imprescindível apoio e impli-caçom na luita pola autodeterminaçom comoparte de qualquer estratégia revolucionáriacomunista, assim como a relaçom interdialéc-tica entre a emancipaçom das naçons oprimi-das e o internacionalismo proletário.

Para Vladímir Ilich, a libertaçom nacionalera basicamente um direito político, afastadode abstracçons metafísicas, de essencialismosmilenaristas. Direito político emanado das con-diçons materiais e inserido na luita de classes.A libertaçom nacional, a luita pola independên-cia, nem é alheia à luita de classes, nem sepode arredar das tarefas prioritárias da actualfase imperialista de caos generalizado em quese acha o desenvolvimento capitalista. A teori-zaçom leninista sobre o imperialismo é essen-cial na hora de aplicarmos no presente odireito de autodeterminaçom.

Os parámetros teóricos elaborados por Pri-meira Linha nesta matéria, que formulam umnovo comunismo galego, constatam que é aclasse trabalhadora galega em particular, -eem sentido mais amplo o conjunto dos secto-res populares que definimos como Povo Tra-balhador-, que padece directamente nas suascondiçons materiais de existência a carênciade soberania, e portanto é quem está objecti-vamente interessada em dotar-se de umEstado, de carácter obreiro e galego, parapoder superar a exploraçom e dominaçom aque se vê submetida e poder assim construir oSocialismo. Frente à clássica abstracçom de“povo galego oprimido”, demarcamos e defini-mos os sectores sociais sustentadores do novoindependentismo. Pois nem a burguesiagalega, beneficiária e corresponsável directada opressom nacional, nem os sectores inter-médios representados politicamente poloautonomismo, ambos refractários à recupe-raçom da soberania, podem assumir, nem lhesinteressa aderir, às teses independentistas,porque estas questionam os alicerces damonarquia imposta por Franco e o capitalismoespanhol, sustentado na opressom imperia-lista sobre as naçons que oprime, e portantoos privilégios de que gozam no actual regime.Na Galiza de hoje, o independentismo real sópode ter umha componente de classe, e emconseqüência umha carga revolucionáriasocialista inassumível para quem defender aestabilidade social, ou meras reformas,temendo mais a Revoluçom proletária do queas nefastas conseqüências da opressom nacio-nal reduzida ao ámbito lingüístico-cultural ouidentitário.

É ineludível num programa marxista intro-duzir como tarefa prioritária a luita de liber-taçom nacional, nom considerá-la umha merareivindicaçom formal de carácter democráticoque há que respeitar mas nom promover acti-vamente, tal como fam a maioria das “esquer-das” da metrópe ou aquelas autodefinidascomo “internacionalistas”. Som @s comunis-tas que devem cumprir um papel destacado naluita de libertaçom nacional superando os limi-tes congénitos do “patriotismo” burguês, asderivas culturalistas, o autismo e outras diver-sas variantes do reformismo caracterizador doestreito exclusivismo nacionalista. Inde-pendência e Socialismo som cara e coroa damesma moeda. Som objectivos inseparáveis einegociáveis.

2- Orientaçom e direcçom obreiraA nítida e intransigente demarcaçom da

linha política proletária com a linha burguesa éoutra das achegas fundamentais do leninismo.A maioria social que conforma as classes tra-balhadoras deve dotar-se de organizaçons pró-prias, de carácter nacional, mas também comum programa nitidamente de classe, evitandoser massa de manobra da burguesia ou dapequena burguesia. É a classe operária quedeve dirigir a acçom política, evitando cair nacolaboraçom de classes, fugindo das práticasconciliadoras disfarçadas de pluralismo edemocracia. Estas duas premissas: pluralismoe democracia, fam parte das características doPovo Trabalhador e da natureza, métodos eobjectivos de um movimento revolucionário,mas nom se podem aplicar mecanicamente nacomposiçom das organizaçons e movimentosrevolucionários porque as condiçons materiaisdeterminam a consciência. Deixar-se submeter

aos interesses da pequena burguesia,seguindo palavras de ordem “radicalizadas” e“incendiárias”, mas esvaziadas de conteúdo,foi um dos mais habituais erros cometidos nou-tros processos e momentos históricos, masque a dilatada experiência revolucionária temdemascarado, e dos quais cumpre aprender-mos para nom voltar a repeti-los.

As organizaçons de classe tenhem de terumha direcçom maioritariamente conformadapor trabalhadoras e trabalhadores. Nom se

pode delegar, nem deixar tutelar por nen-gumha das diversas fracçons da pequena bur-guesia, e muito menos pola intelectual, apa-rentemente mais “preparada” e “formada”,mas objectivamente tendente a práticas conci-liadoras e claudicantes à medida que os pro-cessos revolucionários avançam, e portanto ochoque entre as classes adopta formas maiscruas e a luita de libertaçom nacional atinge oseu pleno desenvolvimento como guerra revo-lucionária de libertaçom nacional e emanci-

paçom social. Para evitar situaçons que a his-tória constatou como cíclicas, cumpre umalerta e fiscalizaçom permanente. Quando adirecçom de um movimento revolucionárioperde a sua imprescindível componente declasse, e portanto desaparece o irreconciliávelantagonismo material que sustenta o con-fronto entre Capital e Trabalho, o reformismoabandona os seus complexos, as suas ambi-güidades, fai-se visível, despreende-se da timi-dez, eclosiona, penetrando violentamente no

A libertaçom nacional fai parte da luita de classes

Os métodos de luita nom definem per se a linha política e os objectivos de quem os pratica

Sobre a prática leninistana Galiza de hoje

Carlo

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orai

s

passa à página 4

conjunto do Partido, e como umha metástasedestrói a natureza e os objectivos revolucio-nários do conjunto da organizaçom, após pro-cessos traumáticos de confronto interno,cisons, purgas e aniquilaçom, sempre sob ajustificaçom de “alargar a influência”, “avançarsocialmente”, “evitar a repressom e o isola-mento social”, “lograr reconhecimento”, etc. Épois essencial manter a toda a custa a inde-

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Nº 34. Outubro, Novembro e Dezembro de 2004ANÁLISE4

pendência ideológica e organizativa da classe obreira.

3- Luita de classesA esquerda independentista galega tem de centrar e orien-

tar a sua intervençom social no horizonte estratégico da eman-cipaçom do mundo do Trabalho. A luita de classes, que numhanaçom oprimida adopta a forma de luita de libertaçom nacional,é o fio condutor da política comunista, da accçom do conjuntoda esquerda anticapitalista. Todas as energias devem canali-zar-se face esse objectivo estratégico, desenvolvendo progra-mas tácticos e flexíveis para as mais variadas problemáticas ereivindicaçons. A regra da globalidade deve ser aplicada per-manentemente à hora de analisar e intervir nas luitas concre-tas, procurando agudizar as contradiçons, alargando a cons-ciência das massas, combatendo o reformismo, aproximandomediante o proselitismo o maior número de trabalhadoras/ese jovens. Um militante comunista nom só deve ser um/umhaagitadora e propagandista, também deve organizar, promover,fomentar e orientar as luitas. Ligá-las à situaçom de dependên-cia nacional e ao caótico modo de produçom capitalista é o quediferencia a linha revolucionária da reformista, a prática comu-nista da prática economicista e/ou oportunista. “Dixemos queos operários nom podiam ter consciência social-democrata.Esta só pode ser introduzida de fora. A história de todos os paí-ses testemunha que a classe obreira, exclusivamente com assuas próprias forças, só está em condiçons de elaborar umhaconsciência tradeunionista”.

Mas para acertar politicamente devemos aplicar umha dasliçons presentes ao longo da densa e dilatada obra teórica dofundador do primeiro Estado obreiro: o estudo e a reflexompermanente. Sem conhecermos polo miúdo a realidade na quequeremos incidir e transformar nom é factível o mais mínimosucesso político. Sem nos adequarmos à concreta luita de clas-ses em que agimos, nom é possível auto-organizar o proleta-riado, as mulheres e a juventude em estruturas amplas, flexí-veis com um programa de libertaçom nacional e social degénero.

4- Modelo organizativo e métodos de luitaO leninismo demonstrou como um movimento revolucionário

deve saber utilizar com habilidade e inteligência todas as for-mas de luita possíveis, sem excepçom, combinando-as dialecti-camente com o finalidade de ir acumulando forças e avançandotacticamente face o objectivo final que persegue um partidocomunista: dirigir e orientar o assalto ao poder da burguesiamediante umha estratégia insurrecional que destrua a sua dita-dura, levantando um Estado operário sobre as cinzas do velhoinstrumento de dominaçom, construindo o Socialismo.

Umha correcta linha política comunista é aquela que utilizaos métodos de luita adequados a cada etapa histórica emfunçom de critérios objectivos e subjectivos, da análise que nosfornece o materialismo histórico e dialéctico, das possibilida-des reais, -nom dos desejos e fantasias da militáncia-, da intro-duçom social e dos apoios acumulados, da particular históriado seu movimento. O partido comunista de inspiraçom leni-nista, -umha das formas mais elaboradas e aperfeiçoadas deorganizaçom revolucionária-, é umha ferramenta de combate,umha organizaçom militante de mulheres e homens que “nomconsagram à revoluçom as suas tardes livres, senom toda avida”, que nom pretende adequar-se ao nível de consciênciasocialmente compartilhada, nem as suas tarefas som luitar pormeras reformas.

O modelo organizativo baseado numha direcçom política uni-ficada, centralizada e selectiva, responsável pola manutençomda coesom e unidade de acçom e pensamento, estimuladora daliberdade, da participaçom e do pleno funcionamento democrá-tico está estreitamente vinculado, é inseparável dos objectivossubversivos que persegue um partido comunista. O modelodesenhado no Que fazer?, nom só mantém a sua plena vigên-cia, -com as lógicas adaptaçons à nossa concreta estrutura declasses-, como tem demonstrado a sua eficácia e utilidade àhora de dirigir luitas nas mais adversas condiçons, assim comonos momentos de plena intervençom legal ou semi-legal. Oespontaneísmo das massas pode gerar grandes luitas, masnunca atingirá objectivos profundamente transformadores polaincapacidade de avançar para além de uns límites definidospola carência de um programa político avançado, de umha ava-liaçom global e de umha direcçom experimentada. “A cons-ciência socialista é algo introduzido de fora (von Aussen Hinein-getragenes) na luita de classes do proletariado, e nom algo quetenha surgido espontaneamente (urwiichsig) dentro dela”.Alguns dos últimos movimentos de massas (LOU ou NuncaMais) que sacudírom a Galiza do último quinquénio exemplifi-cam perfeitamente as deficiências congénitas da luita espontá-nea sem direcçom política revolucionária.

Mas os métodos de luita nom definem per se a linha políticae os objectivos de quem os pratica. Participar num processoeleitoral pode ser mais útil que realizar acçons armadas nummomento determinado. Nom participar nos velhos sindicatosreformistas, impulsionando assembleias de trabalhadoras etrabalhadores, pode ser a táctica acaída frente a articularumha corrente revolucionária no seu interior. Dedicar anos aconstruir umha rede de quadros formad@s e curtid@s naintervençom teórico-prática de umha realidade adversa, evi-tando chamar a atençom, mas conscientes das tarefas imensase dos sacrifícios futuros sacrifícios consubstanciais ao desen-volvimento dumha estratégia político-militar, pode ser mais efi-caz e inteligente que iniciar o caminho inverso.

Nom existem receitas infalíveis, nom existem modelos pre-viamente definidos, existem objectivos, métodos de luita, expe-riência acumulada em décadas de luita de classes e dezenas derevoluçons; mas a classe operária deve aplicar, desenvolvercom a própria prática a sua particular via. Lenine demonstrouo imenso valor da flexibilidade táctica.

O que é evidente é que as organizaçons revolucionáriasdevem saber empregar e tirar máximo rendimento aos espaçospolíticos, -reduzidos ou alargados-, que os regimes burgueses,-democracias formais ou ditaduras-, permitirem. Um partidocomunista deve com a sua estratégia de pedagogia revolucio-nária de massas clarificar permanentemente a inviabilidade dea classe operária lograr os seus objectivos mediante a utili-zaçom exclusiva dos mecanismos de que a burguesia se dotoupara se perpetuar no poder, concretamente as actuais demo-cracias formais de Ocidente, -“A substituiçom do Estado bur-

16%. O proletariado galego está conformado por mais de tres-centos mil trabalhadoras e trabalhadores repartidos entre aindústria, a construçom e a pesca. Esta realidade vai acom-panha pola prática homologaçom com o conjunto do Estadoespanhol da populaçom dedicada às tarefas agrícolas e gadei-ras, com 7,4%. As previsons apontam para que nos vindourosanos seguirám perdendo-se postos de trabalho no sector pri-mário até situar-se em 55.000 pessoas em 2008, pouco mais dametade actual, com umha taxa de 5%.

Estes dados nom se podem analisar em abstracto, porqueprovocariam resultados desastrosos para a acçom políticarevolucionária, pois umha parte maioritária deste novo prole-tariado industrial continua a ser simbiótico e a residir em áreasrurais e semi-rurais, carente de cultura obreira, de tradiçomorganizativa, com elevadas taxas de precariedade, e total-mente vulnerável aos diversos mecanismos de alienaçom teci-dos ou desenvolvidos polo neoliberalismo.

Mas é umha indiscutível evidência que o sujeito hegemónicoda Revoluçom na Galiza é a classe obreira, e que nom som váli-dos para a nossa estrutura de classes importados modelosfrente-populistas, “nacional-populares”, de inspiraçom mao-ísta, que defendêrom e ainda continuam a defender certascorrentes nacionalistas e independentistas.

A esquerda independentista galega deve ter como priori-dade predominante a intervençom nos bairros populares dosnúcleos urbanos, nos centros fabris, entre a mocidade obreirae popular, continuar a introduzir-se entre as novas geraçons doproletariado.

6- Combate ideológicoLenine dedicou umha parte importante das suas energias e

inteligência a combater teórica e politicamente outras corren-tes do campo revolucionário e reformista que colidiam com aestratégia obreira revolucionária, e que portanto dificultavam oavanço da Revoluçom. O leninismo na actualidade nom deverenunciar à polémica azeda, ao intransigente combate contratodas aquelas propostas e iniciativas que emanando do camporevolucionário, e obviamente do reformista, introduzirem con-fusionismo, provocarem divisom, fomentarem derrotismo, vei-culizarem linhas de intervençom que nom favorecem a estrutu-raçom e o avanço do espaço revolucionário. As divergênciaspolíticas e teóricas com as outras correntes revolucionáriasnom se devem evitar, nem ocultar. Cumpre combater sem tré-gua pola posiçom correcta, sem temor a que as “diferenças”sejam utilizadas polo inimigo, porque é absurdo e contraprodu-cente silenciar os desacordos existentes no campo revolucio-nário.

Nom há que ter medo às habituais campanhas de calúnias einjúrias a que se vê submetido o partido comunista e @s maisdestacad@s dirigentes. A biografia de Lenine exemplifica quea sua posiçom política, a sua polémica figura nunca reuniuapoios unánimes. Na sua época, foi um dos mais odiados repre-sentantes do marxismo e objecto das mais abjectas e implacá-veis acusaçons por parte da reacçom, do reformismo, do revi-sionismo e do esquerdismo. Mas a perseverança, a tenacidade,a obstinaçom e a firmeza das suas posiçons e trajectória mili-tante, fôrom determinantes, -por muito minoritárias e mesmotestemunhais que fossem em certos momentos-, para o

guês polo Estado proletário é impossível sem umha revoluçomviolenta”-, mas também deve ser capaz de multiplicar as opor-tunidades que brindam as tímidas liberdades burgueses con-quistadas pola classe obreira. Nem podemos abraçar as ilu-sons do parlamentarismo, nem renunciar dogmaticamente àsua utilizaçom.

Umha correcta linha comunista deve combater a impaciên-cia e a precipitaçom, mas também a comodidade, a rotina, acarência de audácia, o conservadorismo, a burocratizaçom, ainércia, o seguidismo, a covardia. Um bom militante comunistadeve estar em permanente tensom, ter plena disposiçom pararealizar as tarefas que a realidade demandar. Nos centros detrabalho, nas fábricas, nas escolas e faculdades, nos bairros,nos movimentos sociais, a sua palavra, a sua prática, a suaintervençom devem traçar sempre o caminho da subversom ecombater o amorfismo, o marasmo, a posiçons oscilantes, mastambém o aventureirismo infantilista. Eis a posiçom equidis-tante da linha comunista revolucionária frente à reformista e àesquerdista.

Praticar todas as formas de luita é imprescindível enecessário num processo revolucionário. A utilizaçom daluita armada, da luita institucional, da agitaçom e mobili-zaçom de massas, da sua combinaçom parcial ou global,virám determinados pola conjuntura concreta, pola sua utili-dade, mas nunca pola aplicaçom mimética de outras expe-riências, nem das receitas dos manuais.

5- Revoluçom ou revoluçons?Lenine e o marxismo nom cansárom de repetir que as revo-

luçons, como qualquer parto violento, tenhem característicasespecíficas que as fam diferentes de outra qualquer. Cadarevoluçom nom é igual à anterior e à vindoura, deve adaptar-see é fruto das características próprias da sua concreta for-maçom social, da sua particular história e desenvolvimento. ARevoluçom Galega tem de apoiar-se na particular morfologiada formaçom social galega, que actualmente se acha numhatransformaçom de envergadura, que obriga as organizaçonsrevolucionárias a modificarem e abandonarem umha partesubstancial das teorias sobre as quais sustentavam as tácticase as estratégias da luita de libertaçom nacional e social. AGaliza de 2004 deixou definitivamente de ser umha economiaagrária conformada por um vasto campesinato, para passar aser umha sociedade que padece traumaticamente as conse-qüências mais agressivas de umha industrializaçom aceleradae exógena: elevadas taxas de contaminaçom e agressons aoambiente (dados recentes manifestam que o enxofre e carbonono ar galego ultrapassa a média estatal), desestruturaçomsocial (incremento da pobreza e exclusom social no rural, aban-dono de centenas de aldeias e de milhares de hectares de cam-pos de culturas que passam a ser devorados polo mato, pastodas chamas ou absorvidos na actual estratégia de turistifi-caçom), liquidaçom definitiva dos modos de vida tradicional.

A realidade é que hoje em dia, -após o afundamento provo-cado nos primeiros anos da década de noventa como conse-qüência da reconversom industrial da segunda metade deoitenta-, a percentagem de populaçom ocupada na indústriatem experimentado um crescimento espectacular, ficando porcima de 17%, superando assim a média estatal, que nom atinge

sucesso de Outubro de 1917. Renunciar ao combate ideológicotam só reforça as estruturas de dominaçom da burguesia e doimperialismo, pois como gostava de citar o extracto da carta deLassalle a Marx “a luita de partido dá ao partido força e vitali-dade; a maior prova da fraqueza de um partido é o seu amor-fismo e o esbatimento de fronteiras nitidamente delimitadas; opartido reforça-se depurando-se ...”. As unidades, de quesomos partidários, derivam de coincidências tácticas e estraté-gicas, nunca devem emanar da fraqueza revolucionária, nem dooportunismo, porque deste jeito estám condenadas ao maisestrepitoso fracasso.

O partido comunista revolucionário é a garantia para evitarderivas reformistas e aventureirismos infantis. O partido comu-nista é a garantia da democracia e do pluralismo interno, daadequada política de alianças, da correcta intervençom social.

7- InternacionalismoO comunismo só é possível a escala mundial, a revoluçom

proletária mundial é o objectivo das luitas concretas, parciais,locais, que a milhons desenvolvem diariamente comunistas emtodos os pontos do planeta. Umha das primeiras tarefas daRevoluçom Bolchevique, em plena guerra civil e agressom daspotências imperialistas, foi construir em 1919 a III Internacio-nal como direcçom mundial da luita contra o Capital e polaRevoluçom. As suas vicissitudes e posterior liquidaçom estámvinculadas à degeneraçom burocrática desses estados e à con-hecida capitulaçom com o imperialismo. As fracassadas expe-riências do capitalismo de Estado na URSS e na China demons-trárom a inviabilidade de construir o “Socialismo num só país”.

Na actualidade, a plena expansom e desenvolvimento domodo de produçom capitalista no conjunto do planeta tem apro-fundado as tendências de agressom global que caracterizam ocapitalismo na sua fase imperialista. Perante este fenómeno,prognosticado e estudado por Lenine, é imprescindível que oproletariado, os povos e as mulheres, que padecemos umhaagressom a escala mundial, mediante a auto-organizaçom emforças revolucionárias, avancemos face a construçom de novase adequadas formas de coordenaçom das luitas locais emestruturas de ámbito internacional. A luita de classes numhanaçom oprimida como a Galiza, ou naquelas com Estado, já nomse produz exclusivamente a escala nacional, as tendências quecaracterizam a globalizaçom provocam que nom só soframosas agressons do capital autóctono e do espanhol, também dotransnacional. A pertença à Uniom Europeia provoca a ineludí-vel necessidade de participarmos e fomentarmos a criaçom deforos internacionais de debate e coordenaçom de luitas contrao inimigo comum. É urgente construir ferramentas organizati-vas supranacionais de luita e combate. Se a agressom é aescla globlal, a resposta deve ser também global.

O internacionalismo só se pode praticar a partir de luitasconcretas, de realidades tangíveis e com organizaçons imbri-cadas nessa luita local. Independentismo e internacionalismonom som, tal como afirma o reformismo espanholista, con-cepçons antagónicas, som cara e coroa da luita anticapitalistae de libertaçom nacional que na Galiza desenvolve a esquerdaindependentista.

Carlos Morais é Secretário Geral de Primeira Linha

Sobre a prática leninista na Galiza de hoje...vem da página 5

Congresso Nacional Constituinte de BRIGA, Ferrol, 16 de Outubro

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5ACTUALIDADENº 34. Outubro, Novembro e Dezembro de 2004

É um facto conhecido e reconhecido que os últimos qua-tro anos de governo do Partido Popular no Estado espanholsupugérom umha ofensiva sem precedentes por parte depoderosos sectores da classe dominante espanhola paratentar resolver ou deixar definitivamente encarreirada asoluçom final do problema nacional que historicamenteenfrenta isso que chamam Espanha.

Partimos portanto dessa premissa à hora de revisar oque tenhem suposto os últimos anos de ofensiva da direitaespanhola mais reaccionária, em relaçom com a situaçomque o PP encontrou na altura em que atingiu o Governo, eo cenário que deixou com o abandono do mesmo há poucosmeses atrás. Um cenário marcado no Estado espanhol polodebate aberto em torno das reformas dos estatutos deautonomia.

O fim do ciclo protagonizado polo PP à frentedo Governo de Espanha…

O Partido Popular é um partido aglutinante de um amploespectro ideológico da direita espanhola, que abrange daextrema direita mais rançosa e pró-franquista aos sectores“liberais” autoproclamados de centro, passando pola tec-nocracia “laica” e essoutra ligada a sectores integristascatólicos como o representado pola Opus Dei ou os Legio-nários de Cristo.

A sua chegada ao poder, em 1996, supujo o recámbiopor via eleitoral após um período de treze anos de governodo PSOE, marcado pola aplicaçom de planos económicosestruturais de fundo calado para a “modernizaçom”,segundo a eufemística terminologia neoliberal, do mercadocapitalista espanhol. Umha tarefa que provavelmente sóum partido com tradiçom de esquerdas como o PSOE podiaaplicar na altura (lembremos as selvagens “reconversons”dos anos 80 em comarcas galegas como a de Trasancos ouVigo). O álibi das “obrigaçons” vindas da UE e da avançadaenvolvente europeia nom foi alheio na montagem ideoló-gica que permitiu o progressivo desmantelamento do cha-mado “Estado-Providência”. Também a enorme e evidentecorrupçom política e económica, juntamente com a conti-nuidade do recurso ao terrorismo de Estado para combatero independentismo basco, ajudárom a configurar os sinaisde identidade do período conhecido como felipista.

E quando já o desgaste desses governos “socialistas”exigia aquele “recámbio democrático”, quer dizer, permitiaa substituiçom da social-democracia-liberal no controlo doaparelho estatal, cedendo a gestom directamente àreacçom sem disfarces, foi a vez de José María Aznar e detodo o que representou.

Graças a umhas bases assentes durante a etapa entre1982 e 1996, o novo presidente espanhol pudo avançar pro-gressiva e sistematicamente na aplicaçom de reaccioná-rias reformas legislativas a nível laboral, de participaçompolítica e de direitos e liberdades fundamentais que, com aperspectiva que dam os anos decorridos desde a suaimplementaçom, estamos em condiçons de avaliar na suajusta significaçom.

Os dous objectivos fundamentais da oligarquia espanholadurante a etapa encetada em 1996 eram a imposiçom incon-testável do modelo neoliberal, já iniciada polo PSOE, e aneutralizaçom dos movimentos centrífugos das naçonsperiféricas do Estado, nomeadamente a esquerda abert-zale no País Basco, mas nom só. Se bem nos dous casossemelha claro que o PP deu importantes passos para asposiçons do capitalismo centralista mediante o incrementode medidas repressivas de todo o tipo, o certo é que conti-nuam a subsistir sinais esperançosos de permanência decerta cultura da resistência ou algumha capacidade dereacçom em significativos sectores do Estado, incluída anossa naçom. Falta é a existência de propostas político-organizativas à altura das necessidades de uns movimen-tos populares em maos de direcçons reformistas e caren-tes de objectivos para além da concorrência eleitoral ou agestom sindical do descontentamento obreiro para garan-tir a paz social.

O primeiro objectivo di respeito à capacidade de autoor-ganizaçom operária. Para além de causas estruturais dodesenvolvimento capitalista a nível internacional, incluída amíngua quantitativa dos sectores estritamente catalogá-veis como proletários, essa capacidade da classe obreiraviu-se mutilada por umha ofensiva patronal que contou coma colaboraçom das principais centrais sindicais do Estado,nomeadamente as CCOO. A dia de hoje, após a etapa degoverno do PP, as sucessivas contrarreformas laboraisimpostas polos seus governos continuam em pé, sem que onovo governo tenha mostrado qualquer disposiçom a resti-tuir direitos roubados pola direita aznarista. Além disso, aprópria fraqueza e falta de referentes políticos e sindicaiscombativos mantenhem a classe obreira no marasmo,também no nosso país, como as tímidas respostas àsagressons ao sector naval galego demonstrárom nos últi-mos tempos. Fica em evidência como as directrizes dosdiversos governos respondem à objectiva correlaçom deforças no palco social, e a burguesia nom está disposta aoferecer assim de graça os frutos que a fortaleza reaccio-nária durante o governo PP lhe outorgou, por muito quetenha acedido ao poder político a esquerda liberal refor-mista e o “bom talante” de Zapatero. A ofensiva final aque assistimos contra os nossos estaleiros, que pom oramo a um processo também iniciado polo PSOE nos anos80, é a melhor mostra.

Porém, as greves gerais de 2001 e 2002, as mobili-

Autonomismo ou soberanismo? As reformas estatutárias após 25 anos de café para todos

Mau

rício

Cas

tro

As reivindicaçons autodeterministas na rua da mao da esquerda independentista

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democrática espanhola que os diversos povos sem Estadopadecemos.

… e as reformas estatutárias após 25 anos defarsa constitucional

De forma que a saída precipitada do PP do Governo doEstado coincide nom só com a manutençom do PNB à frentedo Governo basco, incluída a sua proposta de reformu-laçom estatutária (Plano Ibarretxe), mas com as propostasreformistas da maioria das forças institucionais catalás emesmo as reformas dos estatutos previstas na Galiza e aAndaluzia. Coincide também com umha proposta substan-cialmente diferente das restantes, a apresentada emNovembro pola esquerda abertzale basca para superar oconflito entre Espanha e Euskal Herria em termos demo-cráticos.

Ao mesmo tempo, as esquerdas independentistas basca,catalá e galega promovêrom em Outubro um manifesto emque se desmarcam da feira das mentiras dos “reformado-res” de uns estatutos democraticamente invalidados desdea nascença (21% de participaçom por parte do povo galegono referendo de 1980). Tal como Batasuna, Endavant(OSAN) e NÓS-Unidade Popular afirmam no seu manifestoconjunto, -a que Primeira Linha aderiu-, pretender a suaactualizaçom sem passar por um debate social aberto atodos os sectores, ao tempo que se nega de raiz o direitode autodeterminaçom como parte do processo, representaumha fraude semelhante à do “café para todos” que nosconduziu ao beco sem saída actual. Mas com umha trágicadiferença no caso galego: se na altura a esquerda naciona-lista mantivo umha posiçom digna defendendo a rupturademocrática e o direito de autodeterminaçom reflectidosnas chamadas Bases Constitucionais, desta vez o BNGbaniu ambos princípios da sua descafeinada “Propostadum Novo Estatuto”. A consulta ao povo galego é substi-tuída por um fórum de “notáveis” representantes dadireita e o regionalismo, enquanto o exercício do direito deautodeterminaçom se transforma num mirrado “novo qua-dro de relaçons institucionais” da Galiza “dentro do Estadoespanhol”.

O debate superestrutural e mediático da reforma esta-tutária na Galiza deixa afinal ao léu como está esgotado oprojecto historicamente representado polo BNG, com umAnxo Quintana convertido em porta-voz da integraçom noconstitucionalismo espanhol. Isso sim, a participaçomordeira dos seus cargos públicos numhas instituiçons ditas“democráticas” dá um visto de legitimidade aparente aosistema, ao podermos ver também nos media as caras par-lantes dos representantes desse “nacionalismo responsá-vel”. Eis quanto pode oferecer o Bloque, para além da par-

educativas espanholizadoras e da socializaçom de um dis-curso ultra-espanholista e contra qualquer “veleidade”nacionalista periférica. Umha estratégia que obtivo resul-tados em forma de aglutinaçom e crescimento eleitoral doespanholismo mais cru no País Basco, na extensom dochauvinismo espanhol entre importantes camadas sociaisespanholas e mesmo na autocensura e acelerada inte-graçom de determinadas forças antigamente rupturistasde esquerda nacionalista, como o BNG no caso da Galiza.Porém, a ofensiva espanholista provocou também umhareacçom defensiva em sectores sociais dessas periferias,que mantivérom o apoio a opçons que arvorárom umharelativa coerência, nem que fosse só verbal, ante as provo-caçons e ataques dos aparelhos do Estado. É o caso dasdiversas expressons do nacionalismo basco, ou da mesmaERC nos Países Cataláns.

Mençom à parte merece o fenómeno social independen-tista no País Basco, assediado juridicamente, atacado per-manentemente polos media do sistema, duramente repri-mido polos diversos aparelhos do Estado, e no entantomantendo umhas percentagens de apoio que hoje, como há25 anos, representam umha negaçom radical da farsa

zaçons contra a LOU, as massivas manifestaçons contra osresponsáveis pola catástrofe sócio-ambiental do Prestigee, finalmente, as grandes mobilizaçons contra a Guerraimperialista no Iraque, demonstrárom que, apesar dadureza dos anos de aplicaçom de políticas agressivas anível ideológico, mediático e repressivo, um certo nível deresistência subsiste em importantes sectores sociais daGaliza. Mas, infelizmente, a falta de referentes políticosclaros quanto à necessidade de construir umha alternativaanticapitalista e soberanista fai com que alternem os perí-odos de espontáneas vagas mobilizadoras com a desmoti-vaçom subseqüente da falta de objectivos tácticos enqua-drados numha estratégia revolucionária, que acabacedendo a gestom dos refluxos e ressacas à direcçom deum nacionalismo autonomista e institucionalizado.

No segundo grande objectivo, a soluçom final ao pro-blema nacional no Estado espanhol, a ilegalizaçom damaior parte das organizaçons independentistas bascas, aclausura de meios de comunicaçom e reformas legais quechegárom a incluir cadeias perpétuas encobertas paracasos catalogados como “terrorismo” (um leque cada vezmais amplo e flexível), fôrom acompanhadas de reformas

Compostela, 6 de Dezembro de 2004

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Nº 34. Outubro, Novembro e Dezembro de 2004ACTUALIDADE6

ticipaçom na troca de cromos para umhareforma estatutária que permita falar demaior “descentralizaçom” e maior “reconhe-cimento à rica diversidade espanhola”. Aomesmo tempo, fica na mesma a gravesituaçom da Galiza, que enfrenta, nom oesqueçamos, um sério risco de definitivaassimilaçom por parte do agressivo projectonacional espanhol. Já tivemos ocasiom decomprovar os efeitos destes últimos 25 anosde Estatuto galego à medida de Espanha.Nom é difícil adivinhar o que podam suporoutras duas décadas de mais estatuto,remoçado e abençoado polas principaisforças do constitucionalismo espanhol, capi-talista e monárquico. Daí que o dilema seestabeleça nos mesmos termos que aquandoda aprovaçom do Estatuto de 1981: autono-mismo ou soberanismo?

ConclusomFrente ao acelerom da direita espanhola

para resolver de vez o problema nacionaldo Estado mediante a derrota em todas aslinhas dos nacionalismos periféricos nosúltimos oito anos, a queda imprevista doGoverno do PP deixa a situaçom actualcom sectores significativos das diversasnaçons sem Estado da Península a exigirum reconhecimento superior ao outorgadopolos actuais estatutos.

A resposta do PSOE, em coordenaçom como PP, vai ser umha reediçom da “Espanhaautonómica”, em que as burguesias periféri-cas basca, catalá e galega semelham estardispostas a embarcar-se, após um processode pechincha política que acabe por garantira soberania espanhola dos nossos territó-rios. Em troca, respeitarám-se os privilégiosámbitos de influência dos sectores autono-mistas que, com as suas diferenças, marcama linha política dos nacionalismos autonomis-tas.

Ante essa possibilidade de procurar umhanova saída em falso às demandas históricasdos nossos povos, alçam-se as forças que, 25anos depois, continuam a exigir umha rup-tura democrática que permita aos povosbasco, galego e catalám exercer uns direitosnacionais reconhecidos polos organismossupranacionais como fundamentais, e que seresumem numha palavra: autodeterminaçom.

Na Galiza, com um BNG que já baniu doseu programa político o estigmatizado con-ceito, corresponderá ao soberanismo socia-lista representado pola esquerda indepen-dentista manter aceso o facho dos direitosnacionais para além do baile de máscarasque se prepara em forma de reforma estatu-tária. O “Decálogo a respeito do debate auto-nómico” apresentado por NÓS-UP a finais deAgosto exprime esta inequívoca posiçom. Sea aliança com outras forças soberanistas dasnaçons irmás basca e catalá é importante eestá já a ser ensaiada, o realmente determi-nante será conseguirmos unir no interior do

País os diversos sectores, mesmo para alémdo próprio independentismo, que somos porumha saída democrática, autodeterminista,como única possibilidade de desenvolvimentoe construçom da nossa verdadeira identidadenacional: a galega.

Alguns passos estám a ser dados nessadirecçom: a proposta de Bases DemocráticasGalegas supujo a apresentaçom de umhatabela de reivindicaçons tácticas assumíveispor um amplo espectro social, e tem já dadoos primeiros frutos no caminho da necessáriaunidade. Se o Dia da Pátria foi a mostra deque tal unidade é nom só possível, mas tam-bém reclamada pola maioria da chamada“esquerda do Bloque”, a campanha poloNom à Constituiçom europeia no referendode Fevereiro deve servir para alicerçar essaaliança, engarçando o Nom à Europa dosmercadores com o Sim à Europa dos povos ea autodeterminaçom. No fundo, a campanhaeuropeia e a reformulaçom do Estadoespanhol fam parte do mesmo debate quedeve ter para nós na autodeterminaçomnacional o seu eixo principal.

Frente a umhas propostas de reformasestatutárias que em nada questionam a ilegí-tima Constituiçom de 1978 e evitam reconhe-cer a soberania nacional dos povos, deve-mos, tal como já fijo a esquerda nacionalistagalega há 25 anos, reivindicar o nosso direitoa decidir como povo maduro e soberano.Nada disso aparece recolhido na proposta deum “Novo Estatuto para Galiza” apresentadapolo BNG, que em diversos aspectos, entreeles um tam basilar como a territorialidadeda naçom, fica até por trás do que supugeraem 1936 a proposta aprovada polo povogalego em plebiscito, nom ousando ultrapas-sar o modelo quadriprovincial que Espanhanos impom. Com efeito, longe de supor anovidade que o título avança, o “Novo Esta-tuto” consagra parámetros estruturais dadominaçom sobre a nossa naçom, tais comoo bilingüismo ou o próprio reconhecimentoreverencial do constitucionalismo espanhol.Fica assim selada a adesom do que fora rup-turista movimento nacional-popular à fraudeque o Estado espanhol nos prepara.

É grande o repto que os sectores popula-res comprometidos com a liberdade nacionalda Galiza enfrentamos nos próximos meses.Para além de representar um novo capítulono enfrentamento histórico entre o projectoassimilador espanhol e os movimentos popu-lares pola soberania das naçons submetidasnessa prisom de povos, estes meses devemservir para unir na luita social concreta asdiversas expressons do soberanismo deesquerdas e antipatriarcal galego. E devefazê-lo sobre a base do direito de autodeter-minaçom, principal renúncia do autonomismoe principal razom de ser para a alternativademocrática e socialista que aspiramos arepresentar.

Maurício Castro é membro do Comité Central de

Primeira Linha

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Autonomismo ou soberanismo?...

O PNB pactuou com o rosto amável do espanholismo A verdadeira cara do PSOE

PSOE e BNG, cada vez menos diferenças

BRIGAwww.briga-galiza.org

Comentamos nesta ocasiom umhanovidade dentro do espaço ocupadopola esquerda independentista naInternet. Há já alguns anos que oMLNG encetou um trabalho a sério narede de redes como via de sociali-zaçom do projecto revolucionário eindependentista que representamos.Daí que valorizemos também comopositiva a iniciativa imediata da novaentidade juvenil independentista,BRIGA, que de maneira quase simultá-nea à sua constituiçom em Ferrol a 16de Outubro de 2004 apresentou o webnacional em que informa das suasactividades.O web é de recente criaçom, daí queos conteúdos nom sejam ainda muitonumerosos. Porém, oferecem-se jáos textos aprovados no CongressoNacional Constituinte, bem como asnovidades relativas a campanhas ecomunicados públicos de BRIGA, eum arquivo gráfico com numerosasimagens do citado Congresso, da par-ticipaçom de BRIGA em mobilizaçonse das campanhas que a entidadejuvenil da esquerda independentistaestá já a desenvolver nas ruas daGaliza.As actualizaçons tenhem umha perio-dicidade razoável, o que torna conve-niente visitar freqüentemente estenovo web da juventude mais comba-tiva.

Daniel BaggioniLinguas e nacións na EuropaEdicións Laiovento, Compostela,2004, 387 páginas

O volume número 187 de EdiciónsLaiovento apresenta-nos a tra-duçom da principal obra do sociolin-güista francês Daniel Baggioni, fale-cido em 1998. Linguas e nacións naEuropa é o título de um exaustivoestudo da relaçom histórica entrelíngua e naçom no contexto euro-peu, com umha inusual óptica socialpara além do puro filologismo tamhabitual neste tipo de obras de

divulgaçom. Conceitos como “língua nacional”, “padronizaçom”, “ecolingüismo”ou “monolingüismo territorial”, som analisados numha abordagem“sócio-histórica e sociopolítica”, segundo se reconhece no prefácio,revendo os diferentes modelos de oficializaçom das línguas nos esta-dos-naçom europeus, numha perspectiva temporária (nascimentodos estados-naçom) e espacial (processos nacionalitários em cursoactualmente).Especial interesse merece o estudo que Baggioni fai do surgimentonas últimas décadas de novos estados na Europa e da funçom outor-gada às respectivas línguas nesses processos de construçom nacio-nal, tais como o checo, o eslovaco, o moldavo, o croata, etc. Outroscontextos analisados enquadram-se na própria Europa ocidental, emcasos como o belga, o suíço, ou nos estados escandinavos.Reconhecendo a solidez e dimensons do ensaio de Baggioni, nompodemos deixar de detectar doses de paternalismo e conformismopróprios da perspectiva de um francês que exerce de tal. Assim, julgainevitável a perda das línguas que chama “minoritárias”, apostandopara o futuro por um modelo de plurilingüismo europeu só atinente àslínguas dos principais estados, e em nada contraditório com o teorimperialista que os sustentou e sustenta. Apesar de redigido consoante o padrom ortográfico isolacionista,salienta ainda na ediçom que comentamos a qualidade do galegoempregue na traduçom de Fernando Vasques Corredoira e Mário J.Herrero Valeiro, muito por cima do que é habitual no mercado edito-rial da Galiza. (Maurício Castro)

Ernesto Guevara Até a vitória sempre.Escolma de artigos doChe Guevara. AgitaEdiçons, Compostela,2004. 55 páginas.

Coincidindo com o tri-gésimo sétimo aniver-sário da queda em com-bate do Ché Guevara,no mês de Outubrosaiu, editado por AGIR,um caderno com seistextos do revolucioná-rio argentino-cubano.

Com um breve prólogo do Conselho Nacional da organi-zaçom estudantil da esquerda independentista, esta inte-ressante iniciativa, inédita no panorama editorial galego,reproduz dous textos vinculados com o ensino: “Reformauniversitária e Revoluçom” e o discurso realizado quandorecebeu o Doutoramento Honoris Causa da Universidadede Las Villas. Em “O socialismo e o homem em Cuba” e “O que deve serum jovem comunista” recolhem-se umha parte considerá-vel do pensamento e os valores do modelo de socialismoguevariano, antagónico ao economicismo reformista dostalinismo. O caderno também inclui o último capítulo de“Passagens da Guerra Revolucionária”, concretamente “Aofensiva final. A batalha de Santa Clara”, na que se teorizasobre a experiência concreta da luita guerrilheira realizadaem Cuba polo Exército Rebelde do Movimento 26 de Julhona sua guerra vitoriosa contra a ditadura de Batista. Final-mente, o caderno finaliza com a famosa carta de despedidado Ché dirigida a Fidel e ao povo Cubana datada em 1 deAbril de 1965.Umha boa iniciativa para difundir o rico e desconhecidolegado teórico deste grande dirigente comunista, que cum-pre manter e alargar. Porém, sugerimos que nas seguintesiniciativas de Agita Ediçons sejam introduzidas umha sériede melhorias na ediçom, concretamente na necessidade dedatar os textos e contar com créditos. (Inácia Fontefria)

FranciscoSampedroLouis AlthusserBaía Edicións,Corunha 2004, 103páginas

A colecçom Baía Pen-samento vem de edi-tar um livro de bolsosobre o marxistafrancês Louis Althus-ser, da autoria doprofessor FranciscoSampedro. A obra éconcebida como um

manual para difundir a figura e a obra de Althusser e por-tanto arrasta evidentes limitaçons de espaço compensa-das polo grande esforço de síntese realizado. Divididoem três partes, arranca com umha biografia de Althus-ser, para imediatamente dissecar e definir as suas ache-gas teóricas, enquadrando-as como fruto dos grandesdebates e polémicas ideológicas do marxismo do séculovinte, e definindo-o como um “crítico de esquerda ao sta-linismo”. Para Sampedro, é absurdo considerar Althus-ser como estruturalista, embora reconheça que compar-tilha um “certo ar de família, porquanto combate o huma-nismo e a falta de rigor das chamadas ciências humanas,à hora de construçom dos objectos teóricos”. O coraçomda obra está centrado em dar a conhecer e portanto ainterpretar os elementos medulares do pensamento alt-husseriano: o continente história, a filosofia como linhade demarcaçom, a ruptura epistemológica, o anti-huma-nismo teórico e a teoria da ideologia. Finalmente, o livroapresenta umha selecçom de textos de Althusser comoapoio à interpretaçom que Sampedro realiza da sua obra.Embora nom desenvolva as causas da dogmática e empo-brecedora leitura de Marx realizada por umha das alunasmais conhecidas de Althusser, a chilena afincada emCuba Marta Harnecker, este livro é um sopro de ar frescono lánguido panorama editorial galego centrado na lite-ratura e nos ensaios academicistas. (Carlos Morais)

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7INTERNACIONALNº 34. Outubro, Novembro e Dezembro de 2004

ARGENTINA…a terceira irrupçom social

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No extremo sul do continente americano,estende-se a República Argentina, num territó-rio em que entrariam mais das duas terçaspartes da Uniom Europeia, a totalidade dosseus habitantes tem umha populaçom menoraos diferentes povos que convivem só no terri-tório espanhol.

Juntamente com o Uruguai e o Chile, o povoargentino é o mais “europeu” da AméricaLatina toda. A imensa maioria da sua popu-laçom é filha da imigraçom europeia. As pri-meiras vagas de imigrantes, os conquistadorese colonizadores dos séculos XVI, XVII e XVIII,tivérom como emergente os gaúchos crioulosque surgírom da mestizagem entre os povosoriginários e os seus colonizadores.

O saque das suas riquezas minerais foi aprimeira forma de relacionamento que se esta-beleceu entre a metrópole e as suas colónias.Os portos passárom a se constituírem numaspecto vital dessa relaçom. Sobre eles, fôromsendo construídas as divisons territoriais queacabárom por fragmentar o espaço americanonumha vintena de repúblicas, muitas vezesenfrentadas entre elas.

Nas primeiras décadas do século XIX, ospovos americanos independizárom-se politica-mente dos reis de Espanha. O auge do desen-volvimento industrial europeu, que reconhecianas manufactureiras inglesas o seu ponto maisalto, passou a se constituir no referente de umoutro modelo económico e de ligaçom entre anova metrópole e as jovens repúblicas. A pro-cura de alimentos para os trabalhadoresindustriais europeus encontrou, na largura daspampas argentinas, umha importante fonte derecursos.

A velha troca de espelhinhos de cores pormetais preciosos, da época do saque, foi subs-tituída polas carnes que mandávamos e asmanufacturas, nomeadamente têxteis, querecebíamos. Estas contribuírom para destruiras incipientes e modestas tentativas de desen-volvimento autónomo do interior argentino. Aresistência dos caudilhos do interior foi que-brada, com a cumplicidade dos dirigentes doporto de Buenos Aires. Na vizinha, mediterrá-nica, República do Paraguai, o seu governoopujo umha forte resistência para defender odireito a um desenvolvimento autónomo. Aacçom conjunta dos governos do Brasil, Bue-nos Aires e a Faixa Oriental (Uruguai), e oapoio da Frota dos Estado Unidos, acabou comessa experiência através de umha guerra,quase ignorada. O heroísmo do povo paraguaiopagou com a vida de praticamente todos osseus varons maiores de doze anos o sacrilégiode tentar a independência económica.

Neste contexto é que nasce a ArgentinaModerna e se dita a sua Constituiçom de 1853que, com modificaçons nom muito significati-vas, continua a reger a vida institucional. Porela abrem-se as portas do país à imigraçomeuropeia, necessitavam-se braços para fazerproduzir a riqueza das nossas pradarias, emfunçom das necessidades do mercado inglês.

Nesta etapa imigratória, as duas correntesmais importantes som constituídas por italia-nos e os povos provenientes de diferenteslugares do Estado espanhol, particularmenteaqueles que vinhérom da Galiza, as Astúrias, oPaís Basco, a Catalunha e Castela. Seguem-lhes em importáncia os alemáns, franceses,arménios, russos, polacos, sírios, libaneses,suíços e galeses.

Umha interpretaçom sobre osprocessos de mudança produzidosna Argentina

Na nossa história, tal como na de todos ospovos, podemos encontrar fitos que assinalammudanças na situaçom. Para quem apenasolhar a superfície, essas modificaçons podemocorrer como súbitas ou espontáneas, maselas sempre tivérom um longo período de pre-paraçom. No nosso caso, os pontos de infle-xom estám estreitamente ligados a importan-tes factos de massas ou irrupçons sociais. Emtodos eles, os protagonistas fôrom aquelessectores sociais directamente interessadosem mudar o statu quo. A história prova-nosque tal foi possível.

A primeira irrupçom socialA Argentina moderna construiu-se sobre o

corpo lacerado da derrota dos povos do inte-rior. Fijo-se sobre as cinzas das montonerasfederais que nom pudérom dar entidade aosseus sonhos de organizar o País respeitandoas realidades regionais, económicas e institu-cionais, que eles representavam. O mesmoprojecto incluiu o extermínio do índio para per-mitir o alargamento das “fronteiras agrope-cuárias”, que permitissem incorporar novasterras destinadas à produçom de alimentos.

A partir dessas derrotas, construiu-se opaís agro-exportador apoiado nos interessesdo porto de Buenos Aires, os donos de grandesextensons de terra e o mercado inglês, ávidode comida para alimentar os assalariados doseu nascente industrialismo. Essa foi a chavede umha rica Argentina oligárquica, que orga-nizou o País consoante os seus interesses.

A política imigratória, umha das chaves doprojecto agro-exportador, é um dado vital parapercebermos a crise da hegemonia oligár-quica.

nico, que principiou logo a seguir do fim da pri-meira guerra mundial, o antigo projecto agro-exportador entrou num processo de deterio-raçom que rebentou, juntamente com a crisemundial do capitalismo, em 1930.

A impossibilidade de dar continuidade aovelho sonho argentino de ser o “celeiro domundo” abriu o caminho à nova política desubstituiçom de importaçons.

Com o início da Segunda Guerra Mundial,esta tendência alastrou rapidamente, anecessidade de operários apara as novasindústrias produziu o fenómeno de umha forteimigraçom interna. Ela foi mudando a caradas principais cidades do País, nomeada-mente Buenos Aires e Rosário.

Nas redondezas da geografia e da vidasocial destas cidades fôrom crescendo bairrosde trabalhadores. A começos da década dequarenta, o Grande Buenos Aires acolhia cercade um milhom de pessoas cuja antigüidade nolocal era de menos de 10 anos.

Também o movimento operário mudavarapidamente na sua composiçom; os velhosgrémios conduzidos por socialistas, comunis-tas e anarquistas nom podiam conter e inte-grar estes novos trabalhadores.

Mas umha vez, a partir das necessidades dosistema económica geravam-se as forçassociais que criariam as condiçons para umhanova irrupçom social.

Entretanto, nas Forças Armadas, que vin-ham de longos períodos de conspiraçons liga-das ao radicalismo, salientavam duas tendên-cias. As questons centrais que ocorriam nodebate eram a pressom dos EUA para instalar

bases militares na área e romper com a nossaatitude de neutralidade farce à Guerra. Os ofi-ciais superiores estavam mais identificadoscom a política dos Eua. Por seu turno, a oficia-lidade jovem nom aceitava essa pressomestado-unidense e era proclive a umha políticade neutralidade. Esta última orientaçom foipartilhada com a maior parte dos sectores daesquerda, enquanto mantivo a sua vigência opacto entre a URSS e a Alemanha.

Essas tendências da oficialidade jovem cris-talizárom na formaçom do GOU (Grupo de Ofi-ciais Unidos) que, sob a crescente influênciado Coronel Juan Domingo Perón, começou acobrar umha importáncia cada vez maior nasForças Armadas e no governo surgido dasacçons militares de 4 de Junho de 1943, quepugérom fim aos 13 anos de restauraçom oli-gárquica, conhecidos como a “DécadaInfame”.

O apoio de Perón, a partir da Secretaria deTrabalho e Previsom, às necessidades, recla-mos e organizaçom dos trabalhadores, o seuposterior afastamento e detençom na ilha Mar-tín García, fôrom os detonantes imediatos dagesta de 17 de Outubro de 1945.

Emergia, no palco político do nosso país, umnovo sectores social e sentava as bases domovimento mais importante do século XX.

Os sectores médios nom conseguírom com-preender o novo fenómeno social que estava agestar-se. As jornadas prévias a 17 de Outubrode 1945 e as eleiçons realizadas poucos mesesmais tarde, encontrariam a maioria do radica-lismo, socialistas e comunistas, faixas deoutros grupos da esquerda e sectores católi-

cos, da mao da Sociedade Rural e o embaixa-dor norte-americano, conformando a chamadaUniom Democrática, contra os interesses danova maioria social.

Este distanciamente entre sectores médiose os trabalhadores será umha constante dapolítica argentina das últimas décadas, sobreo mesmo pudo-se manter o poder das mino-rias sociais economicamente poderosas. Ostrabalhadores industriais, acompanhados poroutros sectores populare, chefiárom o movi-mento social que se constituiu no protagonistaprincipal da segunda irrupçom social daArgentina moderna, o peronismo seria a suaidentidade política.

A construçom da terceira irrupçomsocial

O Golpe de Estado de 1955, fijo ir por águaabaixo o governo peronista. Restabelecêrom-se as ligaçons com o FMI, desenhárom-se apartir de Washington os aspectos centrais dapolítica eonómica dos sucessivos governosargentinos. Umha permanente instabilidadeinstitucional foi a característica até 1973.entom, o retorno de um governo representa-tivo dos interesses das maiorias, precedidopor umha forte acumulaçom de poder dasorganizaçons populares, acompanhado pormovimentos semelhantes em boa parte dospaíses vizinhos, assustou o sistema do “poderestabelecido”. A resposta nom se fijo esperar.O Golpe de Estado de 24 de Março de 1976,significou a vontade de restaurar a “ordemimperial”. Os militares argentinos, replicandoo que aconteceu na nossa envolvente geográ-fica, instaurárom umha nova ordem, sob ahegemonia do capital financeiro internacional.A gigantesca tragédia vivida, com os seusmilhares de mortos, presos e desaparecidos,nom foi o produto de nengumha loucura deindivíduos, corporaçons ou seitas, nem tam-pouco umha obra do acaso; foi a necessidadede “disciplinar a sociedade” e integrar aregiom nessa nova hegemonia mundial.

O restabelecimento das instituiçons consti-tucionais, a partir de 1983, sucedendo-se osgovernos radicais de Raúl Alfonsín (1983/89),justicialista de Carlos Menem (1989/99) e aAliança do radicalismo com faixas do própriojusticialismo e sectores da esquerda, queentronizou o presidente Fernando de la Rúa(1999/2001), nom mudárom as condiçonsestruturais que sustentam o domínio do sectorfinanceiro.

O País endividou-se até limites inimaginá-veis; assistiu-se a umha substancial aberturada economia que completou a destruiçom dasua indústria, umha massiva desocupaçomserviu como antecedente para umha progres-siva fragmentaçom e desestruturaçom dasdiferentes organizaçons sociais. Milhons deargentinos passárom a ficar excluídos do sis-tema económico e social. O desapontamentoda sociedade manifestou-se como umha crisede representantividade, que foi delegitimandoas instituiçons.

A 19 e 20 de Dezembro de 2001, massivasmobilizaçons de sectores médios, trabalhado-res e desocupados, acabárom com o governoda Aliança e tornárom clara a inviabilidade domodelo que vigorava.

A partir daí, começou um processo de tran-siçom, que ainda andamos a transitar. Pri-meiro foi umha rajada que incluiu cinco presi-dentes numha semana. A seguir, a situaçom foificando estável e chegou-se ao actual governode Néstor Kirchner, umha variante desta tran-siçom cujo destino é indefinido. O seu discursode tom “progressista”, rememorando as ban-deiras da década de 70, motiva à reacçom dossectores pró-imperialistas. Se bem que nomtenha modificado a matriz da acumulaçom eco-nómica das décadas anteriores e careça dasuficiente decisom política e construçom socialcapaz de sustentar e aprofundar o seu dis-curso, constitui, por enquanto, o govenro maispróximo das expectativas populares, desde arestauraçom democrática de 1983. além domais, o resto do movimento popular, fragmen-tado e sem conduçom, também nom foi capazde construir umha alternativa social e políticasuperadora.

Já foi assinalado que a primeira irrupçomsocial tivo como protagonista o emergenteconstituído polas camadas médias e a segundapolos trabalhadores. A terceira irrupçom já semanifestou na sociedade argentina. Foi essapresença massiva na rua dos sectores médios,trabalhadores e excluídos, nas jornadas de 19a 20 de Dezembro de 2001.

Assim com o radicalismo exprimiu politi-camente a primeira irrupçom e o peronismoa segunda, resta é saber se esta novaexpressom protagónica das massas teráumha identidade política específica ou seráabsorvida polas já existentes. Tal estáestreitamente ligado às suas possibilidadesde ultrapassar o actual estagnamento acu-mulando a força suficiente para se constituirnumha alternativa capaz de construir umnovo tipo de poder popular, o poder do povosocialmente organizado.

Roberto Perdía é Coordenador Nacional da

Assembleia de Organizaçons Livres do Povo (OLP)

da Argentina

As formas institucionais do País oligárquiconom conseguiam deter as dissidências inter-nas, nem menos ainda o novo emergentesocial constituído polos filhos da recente imi-graçom, que ficárom instalados como peque-nos produtores agropecuários, profissionais ecomerciantes.

Nos últimos anos do século XIX, o nossopaís foi palco de umha série de rebeldiassociais e cívico-militares que culminárom, em1916, com o triunfo do radicalismo, um partidorepresentativo desse emergente social, pro-duto da imigraçom. Em 1918, um movimentoestudantil universitário, a Reforma Universitá-ria, mudaria a hegemonia e características daUniversidade, outorgando umha legitimidadecultural ao conjunto desse novo movimentosocial.

Os filhos da imigraçom, constituídos comoclasses médias urbanas e rurais, protagonizá-rom a primeira irrupçom social que tivo no par-tido radical a sua expressom política.

Desse jeito, o velho poder oligárquico foiquestionado política, social e culturalmentepor um novo sector emergente da própriasociedade que tinham desenhado à medida dosseus interesses. Mas as fraquezas do novoprojecto impediu avançar na desarticulaçomda rede de interesses económicos sobre a qualse tinha constituído a nossa sociedade. O radi-calismo governante acabou atrapado nessarede que, com o golpe de estado de 1930, vol-tou a tomar conta do governo.

A segunda irrupçom socialCom o esquartejamento do império britá-

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Duas novas propostas da Abrente Editora

O comunismo que aí vemSocialismo e independência

naçom. O prólogo incluído no volume quecomentamos é da responsabilidade do ComitéCentral de Primeira Linha.

Correspondência: Apartado dos Correios 760. Compostela. Galiza. Correios electrónicos: [email protected] / [email protected] Tiragem: 3.000 exemplares. Distribuiçom gratuíta.

Permite-se a reproduçom total ou parcial dos artigos sempre que se citar a fonte. Abrente nom partilha necessariamente a opiniom dos artigos assinados.Impresso em papel reciclado. Depósito Legal: C-901-1997

Edita: Primeira Linha. Redacçom: Rua do Home Santo 29, 4º A. 15703 Compostela. Galiza. Telefone: 616 868 589. www.primeiralinha.orgConselho de Redacçom: Comité Central de Primeira LinhaFotografia: Arquivo Abrente. Correcçom lingüística: Galizaemgalego. Maqueta: ocumodeseño. Imprime: Litonor S.A.L. Encerramento da ediçom: 6 de Dezembro de 2004

Duas novas propostas da Abrente Editora

O comunismo que aí vemSocialismo e independência

O último trimestre de 2004, ano em quecomemoramos o 80 aniversário da morte deVladímir Illich Ulíanov, Lenine, encerrou-secom a publicaçom de dous novos títulos porparte da Abrente Editora, com 17 obras publi-cadas em papel, além de mais de cinqüenta emformato digital na Biblioteca Marxista emGalego. Lembremos que também neste anoque conclui, em Janeiro, fora publicada já asegunda ediçom do Manifesto Comunista, decuja recensom nos ocupamos no número 31 doAbrente.

Em concreto, estamos a falar de O comu-nismo que aí vem, dado a lume em Novembro eda autoria do nosso camarada português Fran-cisco Martins Rodrigues, director da revistacomunista portuguesa Política Operária. Novolume, de 284 páginas, recolhem-se vinte edous artigos escritos entre os anos 1985 e2004. A maior parte foram já publicados emsuportes diversos, como som a própria revistaPolítica Operária ou esta mesma publicaçomque tés nas tuas maos, além do próprio web donosso partido na Internet, www.primeira-linha.org. Porém, esta ediçom que comenta-mos serviu para agrupar umha série de lúcidasanálises de fenómenos históricos como a cha-mada Revoluçom dos Cravos portuguesa, aprópria Revoluçom Bolchevique e, em geral, osignificado das experiências revolucionáriasdesenvolvidas ao longo do século XX no Pla-neta.

Esta obra, prologada polo nosso secretáriogeral, Carlos Morais, inclui também umhaextensa entrevista com o autor do livro, Fran-cisco Martins, incansável luitador contra aditadura salazarista, preso por 12 anos nasprisons do fascismo e um dos referentes histó-ricos e actuais do movimento comunista portu-guês. A leitura das páginas de O comunismoque aí vem permite-nos conhecer muita cousado último meio século de história de Portugalatravés de um dos seus mais destacados pro-tagonistas, mas sobretodo mostra-nos o valordo marxismo como método para a correctainterpretaçom e profunda transformaçom darealidade social.

Ainda como parte deste ano de comemo-raçom leninista, a Abrente nom quijo deixá-lofindar sem apresentarmos um volume dedi-cado ao próprio Lenine. Daí que fosse apre-sentada neste mês de Dezembro a obra Socia-lismo e independência. 17 textos de Leninesobre a questom nacional. Trata-se, como otítulo avança, de umha colectánea de trabalhosda autoria do próprio Lenine, dedicados à pro-blemática dos direitos nacionais e à autodeter-minaçom dos povos. A totalidade de textossom publicados em galego-português na Galizapola primeira vez, o que dá mais valor à inicia-tiva da Abrente Editora. Porém, para além docarácter inédito da iniciativa, a verdadeiraimportáncia da mesma situa-se na possibili-dade que oferece de acedermos de maneiradirecta a umha das principais e mais ricas fon-tes do marxismo em relaçom com a questomnacional. Com efeito, Lenine marcou umavanço qualitativo quanto às posiçons marxis-tas em relaçom com os processos de liber-taçom nacional dos povos sem Estado como aGaliza. Frente às posiçons chauvinistas de nompoucas organizaçons adscritas ao marxismo aolongo do século passado, incluídos os partidoscomunistas “oficiais” dos principais estadoseuropeus, Lenine diferenciou os nacionalismos

lucionários que luita pola liberdade nacional eo socialismo, numha nova Galiza alheia aopatriarcado e às restantes lacras ligadas aocapitalismo.

Com estas duas novas obras, de cuidadaapresentaçom, a Abrente Editora reafirma-secomo proposta editorial para a formaçom deumha nova geraçom de revolucionárias e revo-

das pequenas naçons face aos das grandes,situando no acesso à independência o exercí-cio real do que para muitos era apenas retó-rico reconhecimento do direito de autodetermi-

Recebe as publicaçons da Abrente Editora na tua morada preenchendo o formulárioe enviando-o co justificante de pagamento da publicaçom ou publicaçons escolhidasao Apartado dos Correios 760 de Compostela. Número de conta para o ingresso2091 0387 423000009169 de Caixa Galiza-Compostela.Ao preço da publicaçom há que acrescentar 3 € por gastos de envio.

Compostela: Livraria Couceiro, Livraria A Palavra Perduda, Tarasca, CS Henriqueta Outeiro.Corunha: Livraria Couceiro, Sisargas. Ferrol: Livraria Sargadelos, Fundaçom Artábria. Lugo:Livraria Sargadelos. Ourense: Livraria Torga. Ponferrada: Livraria Siena. Ponte Areas:Livraria Nova, Citánia. Ponte-Vedra: Livraria Michelena. Vigo: Livraria Andel do livro galegoe português.

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