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Volume359
Devagar se vai ao longe. Essaera, semana passada, a expectativa de quem acompanhava as votações na Comissão de Sistematização da Assembléia Nacional Constituinte. Até a quinta-feira, porexemplo, havia-se chegado ao artigo 5° O projeto de Constituiçãotem 264 artigos, na sua parte permanente, e 72, nas DisposiçõesTransitórias. Imaginando-se queesse ritmo não fosse experimental,e que, após a Sistematização aindateremos a votação maior e definitiva do Plenário, poder-se-ia suporque os calendános até aqui previstos pelo Regimento Interno senam, todos, evidentemente defasados.
Na verdade, provavelmente esses prazos serão dilatados. Mas arecuperação de uma prática democrática de confecção constitucional que não é exercida desde 1946leva a supor que o ritmo dos trabalhos se acelerará a cada dia, coma eliminação de detalhismos e minúcias.
No fim, o voto terá marcado otempo dos trabalhos, não importando o seu resultado. Naturalmente que a Nação anseia pelofim formal da transição democrática. Anseiam sobretudo o povoe a economia. Não se pode, entretanto, discutir a soberania do voto. Nessa altura ele é o dono dorelógio.
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Sistema de governoé, de novo, o tema
principal em debatepelos entrevistados(Páginas 10 a 13)
Brasília, de 5 a 11 de outubro de 1987 - Nq 19
Em discussãosistema que opovo prefere
Quem marcaO tempoé o voto!
Batalhar pela melhoria da qualidade do ensino brasileiro, reconhecidamente carente, foi o quemotivou centenas de professoresde todo o País a se reunirem diantedo edifício do Congresso Nacional(foto) para repetir suas reivindicações à Assembléia NacionalConstituinte. Vindos principalmente de São Paulo, os professores pressionaram para que a futura Constituição lhes assegure aaposentadoria aos 25 anos de serVIÇO e garanta as verbas públicasapenas para as escolas oficiais.Eles também querem que 18% doOrçamento da União e 25% dosorçamentos dos estados e municípios sejam, obrigatoriamente,destinados à educação.
Professores ADIRPlRobcrto Stuckcrt
pedem por elese pela educação
Chancelerrusso visitaConstituinte
Órgão oficial de divulgação da Assembléia Nacional Constituinte
Depois de mais de vinte anosa bandeira da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas foihasteada no pavilhão do Ministério das Relações Exteriores.O chanceler russo Eduard Shevardnadze esteve em visita oficial ao país, encontrando-secom os presidentes dos três poderes e com o da AssembléiaConstituinte, Ulysses Guimarães. São relações entre naçõesadultas, que convivem e se respeitam.
Uma rápida leitura do atualprojeto de Constituição mostraque o Brasil segue suas próprias tendências e reitera suaopção capitalista, embora voltada para o social. Mas semfantasmas inúteis.ADIRPlWllham Prescot
Democracia só comderrota do racismo
Decisão pelo voto podeser a chave do consenso
Estamos prestes a completar100 anos da Abolição da Escravatura. Na verdade, o que temosa comemorar? Podemos hojeafirmar que foram banidas as desigualdades que impõem a maisde 70% da população brasileirauma tal situação de inferioridadeque os coloca como cidadãos desegunda classe? Respondemoscom um redondo e inquestionável não.
É mais do que evidente queas desigualdades e discriminações raciais marcam a sociedade,o Estado e as relações econômicas em nosso País. E por essarazão que, num meritório esforço para resgatar a história do negro em nosso País, os movimentos negros, as forças democráticas elegeram, em lugar de 13de Maio, uma outra data máxima de afirmação da vocação literária do negro: o 20 de Novembro, aniversário da morte deZumbi dos Palmares, instituídopelo Congresso Nacional comoo Dia Nacional da ConsciênciaNegra.
Com o 13 de Maio, o ex-escravo, não conquistou a plena cidadania, posta em questão atéos nossos dias. Mas em 1888,sem dúvida, iniciou-se a construção de um novo Estado, o Estado capitalista brasileiro. Trata-sedo marco inicial de uma revolução política, parcial e incompletaaté hoje - a tal ponto que aexperiência democrática corresponde, em nosso País, a curtos
-intervalos diante da regular predominância das diferentes formas de autoritarismo.
Da mesma forma que após aabolição os ex-escravos foramafastados e marginalizados dacena política de construção daRepública, da Assembléia Nacional Constituinte de 1891, aparticipação popular na vida política permanece, ainda nos diasatuais, sob forte suspeição daselites políticas e dos grupos econômicos dominantes.
Cumpre ressaltar que a questão do negro não interessa somente aos negros. Supor o contrário é ingênuo e perigoso. Osdiversos projetos da Nação quese sucederam desde a instalaçãoda República - formulados porintelectuais, políticos, governantes - excluíram o negro. E, paramanter a coerência, excluíram osíndios também. Pouco importa'agora indagar se a exclusão se ,deu de forma deliberada ou in-
conscientemente. O que valemsão os seus efeitos. E quais foram? Nada mais nada menos queo empobrecimento da civilizaçãobrasileira.
Sabidamente, a civilização nada mais é do que o encontro dediversas culturas, diversas maneiras, de estar no mundo. Trata-se do encontro gerador algonovo, peculiar e complexo. Oque temos visto no Brasil? Umencontro às meias, quase clandestino. Apreciamos as culturasnegras no folclore, no samba, naculinária. E no resto - nas ciências, nas letras, na política, e nasatividades econômicas chamadassuperiores?
No Brasil, malgrado os avanços obtidos, ainda persiste aidéia de que os homens podemrepresentar mulheres. E negrose índios devem ser representadospor outros, principalmente noque se refere ao acesso aos meiosde I?oder. Às vésperas do centenário da Abolição, nós nos encontramos diante de um dilemae um desafio: como inserir a problemática negra na pauta dasgrandes questões nacionais? Seguramente, essa problemáticasempre esteve à nossa vista, nopassado como no presente, enquanto um dos principais capítulos de nossa história social.
Cabe agora à Constituinte de1987 responder, com efetividade, a essa questão. Romper coma seqüência regular de desviosque têm afastado a sociedade,o Estado e a Nação da construção de uma democracia política,de caráter multirracial. São complexos e diversificados os interesses gerais da sociedade brasileira. Mas não podemos maistergiversar diante da exigênciahistórica de conquista da CIdadania pela maioria da populaçãonegra. A nova Constituição deve, assim, oferecer a base normatíva para combater o racismoem nosso País. Considerá-lo umcrime inafiançável de forma expressa é um avanço significativo.Esperamos 'lue alegações de natureza técnico-constitucionalnão retirem da nova Carta Magna essa formal e expressa condenação ao racismo.
Constituinte Carlos Alberto Caó(PDT- RI)
Nada é novoantes de feitoNão se sabe ainda por
quanto tempo os constituintes trabalharão o texto da futura Carta, que irá definir osparâmetros da nova ordemJurídica, social e, principalmente, democrática, do nosso país. O Jornal da Constituinte, uma iniciativa pensada mais cedo, mas que se efetivou em junho passado,completará, na próxima edição, quatro meses de acompanhamento permanentedesses trabalhos. Qualquerde nossos milhares de leitoresconstatará, comparando as 19edições já produzidas, quetentamos refletir, com fidelidade o que é a Constituinte:uma discussão aparentemente exaustiva dos mesmos temas. Já tratamos, em ediçõesvariadas e sob aspectos diferentes, de: reforma agrária,capital estrangeiro, sistemade governo, reserva de mercado, papel das minorias eseus direitos, sistema financeiro, sistema tributário, recursos minerais, a função damulher na sociedade etc. Oleitor um pouco mais atentonotará, entretanto, que osmesmos temas nunca são enfocados sob o mesmo prisma.Isso porque o Jornal da Constituinte espelha, exatamente,as mudanças, às vezes drásticas, muitas vezes sutis, queocorrem no exercício de definir esses e outros assuntos,como os direitos dos trabalhadores, num texto de caráter maior, constitucional.Nesta edição, portanto, tudoo que pode parecer velho énovo: a análise do segundosubstitutivo, as opi~iões expressas por constituintes ementrevistas e artigos, a reportagem sobre a juventude. Deinédito, temos as votações naSistematização. Mas mesmoessa novidade poderá fícarantiga no número 24, I?orexemplo. O plenário é a mstância final.
Ronaldo PaixãoSecretário de Redação
Estamos discutindo o Projetode Constituição e os pontos polêmicos do texto do substitutivo dorelator da Comissão de Sistematização.
Enfatiza-se o regimento dogoverno, a Reforma Institucional do País, com dois pesos eduas medidas, estabelecendo-segrupos de pressão, blocos parlamentares, comissões de negociação - de dentro e de fora daAssembléia Nacional Constituinte, tudo e todos com um único objetivo: acertar.
A todos move o desejo de verconsagrado na nova Constituição do Brasil o seu desejo, o seuponto de vista, a sua idéia.
De permeio, acusam o nobreconstituinte Bernardo Cabral,ilustre relator da Comissão deSistematização, de omissão, dedúbio, de inconsqüente, e algunsaté vaticinam que a nova cartanão vai consagrar o pensamentomédio na Nação brasileira, devendo ficar pior do que a queaí está, resultante que é do regime de excessão. Não creio quenenhum dos que aqui estão representando o eleitorado que lheconfiou o voto, tenha sido eleitoou vindo para esta casa sem nenhum compromisso com a democracia ou com a transição político-institucional do País.
Creio que todos nós, quandofalávamos ao nosso eleitorado,nos comprometíamos com a democracia e a sua salutar práticaem todos os postulados.
Então, agora, creio, é chegadaa hora de provarmos a vocaçãodemocrática desta AssembléiaNacional Constituinte e praticarmos, de fato, a democracia emtoda a sua plenitude.
De minha parte, todos sabem,sou presidencialista convicto eotimista. Mas se for vencedoraa proposta do parlamentarismopuro, para implantação imediataou gradualmente, aceitarei comdignidade democrática e me submeterei aos vencedores como cidadão brasileiro, sem constrangimento.
Sinceramente, não vejo outramodalidade e nem outra formade chegarmos ao consenso e nemao bom senso, se não houver umcompromisso maior com a prática da democracia, a partir destePlenário. Não vejo outro modode dirimir dúvidas e nem de esclarecer pontos de vista, que nãoseja através do voto da maioria.
tes, é necessário que haja umcompromisso moral e uno, de todos os constituintes, em primeirolugar que compareçam à sessãoplenária na qual se for discutire votar o problema, e o segundoé aceitar como transitado e finalo resultado que se venha a teratravés da votação.
Para mim, o voto da maioriados membros da Assembléia Nacional Constituinte acabará deuma vez por todas com essa jácansativa e repetida história deblocos, grupos de pressão, internos e externos, grupos outrosque não levam a coisa algumae a nenhum resultado prático.Acabará também com essa interminável tetúlia de esquerda e dedireita e não fortalecerá os centristas.
Quanto a idéia de fazer-se plebiscito para conhecer-se a opinião do povo brasileiro sobre oregime de governo, ou qualqueroutros assuntos dos polêmicos,esta, ao meu ver, está totalmentedescartada, uma vez que, nós osconstituintes, fomos eleitos compoderes de decisão, total e irreversível.
Gostaria que os companheirosconstituintes atentassem paraum fato curioso e muito importante. Trata-se do fato de que,no bojo do projeto substitutivodo relator, há mais de 1.800 dispositivos dos quais ninguém duvida, ninguém comenta, ninguém diverge. Todos aceitamou, se não aceitam, pela omissão, consentem.
Todavia há, uns poucos outrosdispositivos, cerca de 47 e, semuito, 52, que são motivo dasmais exacerbadas polêmicas eaté mesmo fatos geradores de indisposições políticas.
Como se vê, cerca de 97% dotexto apresentado pelo relatorfoi aceito ou aproveitado. Os 3%restantes, são alvo de toda sortede críticas e crises.
Porque, então não fazer comose deveria, em todos os casos,decidir-se no voto, pelo voto ouatravés do voto, democrático,soberano e inquestionável?
Aqui fica o meu ponto de vistae a minha contribuição.
Constituinte Inocêncio de Oliveira(PFL- PE)
Jornal da Constituinte - Veículo semanal editado sob aresponsabilidade da Mesa Diretora da Assembléia NacionalConstituinte.MESA DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE:
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cional Constituinte. ' .
2 Jôrnalda Constituinte
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Aqui o texto que vai a plenário"Os representantes do povo
brasileiro, reunidos, sob a proteção de Deus, em Assembléia Nacional Constituinte, afirmam o seupropósito de constituir uma grande Nação baseada na liberdade,na fraternidade, na igualdade,sem distinção de raça, cor, procedência, religião ou qualquer outra, certos de que a grandeza daPátria está na saúde e felicidadedo povo, na sua cultura, e na observância dos direitos fundamentais da pessoa humana, na proteção especial à criança e ao adolescente, na equitativa distribuiçãodos bens materiais e culturais.Afirmam também que esse propósito só pode ser obtido com o modo democrático de convivência ede organização estatal, com repulsa a toda forma autoritária de governo e a toda exclusão do povodo processo político, econômico esocial. Os poderes inerentes à soberania são exercidos por representantes eleitos, ou por mecanismos de participação popular direta."
Este o preâmbulo do projetoconstitucional, já aprovado pelaComissão de Sistematização, soba presidência do senador AfonsoArinos, do PFL do Rio de Janeiro,e que tem como vice-presidenteo deputado Aluízio Campos, doPMDB da Paraíba, e relator o deputado Bernardo Cabral, doPMDB do Amazonas.
A Comissão é composta de93constituintes, de todos os partidos com assento nas duas Casasdo Congresso. Diariamente horasa fio, a Comissão está votando parágrafo por parágrafo, destaquepor destaque.
O TÍTULO I
A votação do Título I - quetrata dos princípios fundamentais- durou 3 horas e meia, e o textoaprovado tem o seguinte teor:
Art. 1° A República Federativa do Brasil constitui-se em umEstado democrático de direito quevisa construir uma sociedade livre,justa, solidária, e tem como fundamentos a.soberania, a cidadania,a dignidade das pessoas e o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo poderpertence ao povo, que o exercepor i.ntermédlO de representant~s
ou diretamente, nos casos previstos nesta Constituição.
Art. 2° São poderes do Estado o Legislativo, o Executivo eo Judiciário.
Art. 3° São objetivos fundamentais do Estado: I - garantira independência e o desenvolvimento nacionais; II - erradicara pobreza e reduzir as desigualdades sociais e regionais; 111 promover a superação dos preconceitos de raça, sexo, cor, Idade eoutras formas de discriminação.
Art. 4° O Brasil fundamenta suas relações internacionais noprincípio da independência nacional, na prevalência dos direitoshumanos, no direito à autodeterminação dos povos, na não-intervenção, na igualdade dos Estados,na solução pacífica dos conflitosinternacionais, na defesa da paz,no repúdio ao terrorismo e ao racismo e na cooperação com todosos povos para a emancipação e oprogresso da humanidade e pro-
pugnará pela formação de um tribunal internacional dos direitoshumanos e pela cooperação entreos povos, para a emancipação eo progresso da humanidade.
Art. 5° O Brasil buscará aintegração econômica, I?olítica,social e cultural da Aménca Latina, com vistas à formação de umacomunidade latino-americana denações.
LIBERDADES
No Título 11, que trata dos Direitos e Liberdades Fundamentais, o-capítulo I, dedicado aos Direitos Individuais e Coletivos, ficou assim:
Art. 6°- Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza.
§ 1°- Ninguém é obrigado afazer ou deixar de fazer algumacoisa senão em virtude de lei.
§ 2°- A lei punirá, como crime inafiançável, qualquer discriminação atentatóna aos direitos eliberdades fundamentais.
§ 3°- A lei não poderá excluirda apreciação do Poder Judiciárioqualquer lesão ou ameaça a direitos.
§ 4°- A lei não prejudicará odireito adquirido, o ato jurídicoperfeito e Sl coisa julgada, _
§ 5°- E livre a mamfestaçaodo pensamento, vedado o anonimato. É assegurado o direito deresposta, proporcional ao agravo,além de indenização por dano material, moral ou à imagem.
INVIOLABILIDADE
A inviolabilidade do domicíliosó poderá ser quebrada por determinação judicial ou para prestarsocorro. E fica garantido o sigiloda correspondência e das comuni-
cações telegráficas, telefônicas ede dados, conforme os dispositivos aprovados no plenário da Comissão de Sistematizaçaõ, e quedizem:
§ 10 - A intimidade, a vidaprivada, a honra e a imagem daspessoas são invioláveis. A todosé assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moralcausado pela violação.
§ 11- A residência e o domicílio são invioláveis, salvo nos casos de determinação judicial e flagrante delito ou para prestar socorro.
§ 12 - É inviolável o sigilo dacorrespondência e das comunicações telegráficas, telefônicas e dedados, salvo por ordem judicial,nos casos e na forma que a lei estabelecer, para fins de instrução processual e investigação criminal.
TORTURA
A prática de tortura é crime inafiançável; e jornalista tem de terqualificação profissional.
É inviolável a liberdade de consciência e de crença, assegurado olivre exercício dos cultos religiosos, garantida aos locais de cultoe as suas liturgias particulares aproteção, na forma da lei.
Assim dizem os parágrafos 6°e8°do artigç 6°que dispõe mais:
§ 7°- E livre a locomoção noterritório nacional em tempo depaz e, respeitados os preceitos legais, qualquer pessoa poderá neleentrar, permanecer ou dele sarrcom seus bens.
§ 8°- Ninguém será submetido a tortura, a penas cruéis, oua tratamento desumano e degradante. A lei considerará a práticada tortura crime mafiançável, imprescritível e insuscetível de graçaou anistia, por ele respondendo
os que, podendo evitá-lo ou denunciá-lo, se omitirem.
JORNALISMO
É garantida a liberdade para oexercício profissional de qualquertrabalho, ofício ou profissão, desde que observadas as qualificaçõesque a lei exigir.
Neste sentido, a Comissão deSistematização, por 79 votos contra 7, resistiu às pressões de setores que visavam à não exigênciado diploma para o exercício dojornalismo.
Por extensão, fica mantida aexigência de diploma para o exercício também da Economia, Sociologia, Assistência Social e outros.
PENA DE MORTE
As tentativas de introdução, nalegislação brasileira, das penas depnsão perpétua, de trabalhos forçados e de morte ou de banimentoforam rejeitadas, no plenário daSistematização, por 72 contra 11votos e três abstenções.
A pena de morte foi repudiadamesmo em situação de guerra externa, neste caso defendida pelolíder do Governo, Carlos Sant'Anna, do PMDB da Bahia. Esta última parte caiu por 63 a 26 votose uma abstenção.
Da questão em pauta, dos Direitos e Liberdades Fundamentais, ficou aprovado o seguinte:
§ 13 - Não há crime sem leianterior que o defina, nem penasem prévia cominação legal. A leipenal não retroagirá, salvo parabeneficiar o réu.
§'14-Não haverá Juízo ouTribunal de exceção. Ninguém seráprocessado nem sentencionado,senão pela autoridade competen-
te, e tampouco privado da liberdade ou de seus bens, sem o devido processo legal.
§ 15 - O contraditório e a ampla defesa, com os meios e os recursos a ela inerentes, são assegurados aos litigantes, em qualquerprocesso judicial ou administrativo, e aos acusados em geral.
§ 16 - São inadmissíveis, noprocesso, as provas obtidas pormeios ilícitos. A lei disporá sobrea punição dos responsaveis.
§ 17 - Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.
§ 18- Será admitida ação privada nos crimes de ação pública,se esta não for intentada no prazolegal.
§ 18a - A lei somente poderárestringir a publicidade dos atosprocessuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social oexigirem.
§ 19 - Nenhuma pena passaráda pessoa do condenado, mas aobngação de reparar o dano e adecretação do perdimento de benspoderão ser estendidas e executadas contra os sucessores, até olimite do valor do patrimôniotransferido e de seus frutos, nostermos da lei.
§ 20 - A lei assegurará a individualização da pena e adotará,entre outras, as seguintes:
I -privação da liberdade;11 - perda de bens;I1I-multa;IV - prestação social alternati
va'V- suspensão ou interdição de
direitos.§ 21-Não haverá pena de
morte, de caráter perpétuo, detrabalhos forçados ou de banimento.
§ 22 - Ninguém será preso senão em flagrante delito, ou porordem escrita e fundamentada deautoridade judiciária competente.A prisão de qualquer pessoa e olocal onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juizcompetente e à família 'ou pessoaindicada pelo preso. Este será informado de seus direitos, entre osquais o de permanecer clado, assegurada a assistência da tamíhae de advogado. A prisão ilegal seráimediatamente relaxada pela autoridade judiciária competente.
§ 23 - Ninguém será levado àprisão ou nela mantido, quandoa lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança.
§ 24 - Os presos têm direitoao respeito à sua integridade físicae moral; às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhosdurante o período de amamentação. A peita será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, suagravidade, condições em que foipraticado, idade e antecedentescriminais do apenado.
§ 25 - O Estado indenizará ocondenado por erro judiciário, ouo sentenciado gue ficar preso alémdo tempo indicado na sentença,cabendo ação civil e penal contraa autoridade responsável.
§ 26 - Não haverá prisão civilpor dívida, salvo a do depositárioinfiel e do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusáve1 de obrigação alimentícia, inclusive de tributos recolhidos oudescontados de terceiros.
Jornal da Constituinte 3
Relator acabacom mordomia
dos "marajás"
Art. 229- Os planos de previdência social atenderão, nos termos da lei;a:1-cobertura dos eventos de doen
ça, mvalidez, morte, inclusive os resultantes de acidentes de trabalho, velhice e reclusão;
II - aposentadoria por tempo deserviço;
III - ajuda à manuntenção dos dependentes do segurado de renda baixa;
IV -proteção à maternidade, notadamente à gestante;
V - proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário;
VI-pensão por morte do segurado, aos dependentes naforma da lei.
Parágrafo único - E garantido oreajustamento dos benefícios de modoa preservar os seus valores.
Art. 230- É assegurada aposentadória, garantido o reajustamento parapreservação de seu valor, calculandose a concessão do benefício sobre amédia dos trinta e seis últimos saláriosdo trabalhador, corrigidos mês a mês,de acordo com a lei, obedecidas asseguintes condições:
a) - ap6s trinta e cinco anos de tra-
Trinta e cinco anos para o homem e 30 para mulher foi o tempode aposentadoria do trabalhadorceletista mantido pelo relator Bernardo Cabral (PMDB - AM) doprimeiro para o segundo substitutivo. Mas no segundo foi retiradoa idade mínima para a aposentadoria que, no pnmeiro era de 53anos para o homem e 48 para amulher.
No segundo substitutivo o relator incluiu um dispositivo que assegura o reajustamento dos benefícios, de modo a preservar seusvalores.
Eis o que diz a proposta de textoconstitucional:
SERVIDORES MILITARES
APOSENTADORIA
Parágrafo único -Invalidada porsentença a demissão, o servidor seráreintegrado e o eventual ocupante davaga reconduzido ao cargo de origem,sem direito à indenização, ou aproveitado em outro cargo ou, ainda, posto,em disponibihdade.
PREVIDÊNCIA SOCIAL
Art. 50 - As patentes, com asprerrogativas, os direitos e deveres aelas inerentes, são asseguradas em toda a plenitude aos oficiais da ativa,da reserva ou reformados, das ForçasArmadas, das políciais militares e doscorpos de bombeiros dos Estados, dosTerrit6rios e do Distrito Federal, sendo-lhes privativos, os títulos, postose uniformes militares.
§ I" - São servidores militares osintegrantes das Forças Armadas, daspolícias militares e dos corpos de bombeiros militares dos Estados, Territórios e Distrito Federal.
§ 2' - O militar em atividade queaceitar cargo público civil permanenteserá transferido para a reserva.
§ 3' - O militar da ativa que aceitar cargo, emprego ou função públicatemporária, não eletiva, inclusive daadministração indireta, ficará agregado ao respectivo quadro e somente poderá ser promovido por antiguidade,enquanto permanecer nessa situação,contando-se-lhe o tempo de serviçoapenas para aquela promoção e transferência para a reserva. Depois de doisanos de afastamento, contínuos ounão, será transferido para a inatividade.
§ 4' - Ao mihtar são proibidas asindicalização e a greve.
§ 5' - Os militares, enquanto emefetivo exercício, não poderão ser filiados a partidos políticos.
§ 6°- O oficial das Forças Armadas s6 perderá o posto e a patentese for ju1gado indigno do oficialato oucom ele incompatível, por decisão deTribunal Militar de caráter permanente, em tempo de paz, ou de um Tribunal Especial em tempo de guerra.
§ l' - Não haverá aposentadoriaem cargos, funções ou empregos temporários.
§ 2' - Lei complementar poderáestabelecer exceções ao disposto no"caput" deste artigo, no caso de exercíCIO de atividades consideradas penosas, insalubres. ou perigosas.
Art. 46 - Os proventos da aposentadona serão:
I - integrais, quando o servidor:a) contar com o tempo de serviço
exigido, na forma do disposto no artigo anterior;
b) sofrer invalidez permanente,por acidente em serviço, moléstia I?rofissional ou doença grave, contagiosaou incurável, especificadas em lei;
II - proporcionais ao tempo de serviço, nos demais casos.
Art. 47 - Os proventos da inatividade e as pensões serão reajustados,na mesma proporção e na mesma data,sempre que modificar a remuneraçãodos servidores em atividade.
Parágrafo único - O benefício depensão por morte equivalerá a 50%da remuneração ou dos proventos doservidor público falecido, acrescido de10% por dependente econômico, atéo lirmte da totalidade da remuneraçãoou dos proventos.
Art. 48 - Ao servidor público emexercício de mandato eletivo, aplicamse .as disposições seguintes:1- tratando-se de mandato eletivo
feder ai ou estadual, ficará afastado deseu cargo, emprego ou função, semdireito a optar pela sua remuneração;11-investido de mandato de pre
feito ou de vereador, será afastado deseu cargo, emprego ou função, sendolhe facultado optar pela sua remuneração.
Art. 49 - O servidor público estável só perderá o cargo em virtude desentença judicial, ou mediante processo administrativo no qual lhe seja assegurada ampla defesa.
quer regime, dependerá sempre deaprovação prévia em concurso públicode provas ou de provas e títulos.
§ 2' - A União, os Estados, o DIStrito Federal e os Municípios instituirão, no âmbito de sua competência,regime jurídico único para os servidores da administração pública diretae autarquias, bem como plano de carreira.
§ 3°- São estáveis, ap6s dois anosde efetivo exercício, os servidores nomeados por concurso público. Extintoo cargo ou declarada a sua desnecessidade, o funcionário estável ficará emdisponibilidade remunerada, até seuadequado aproveitamento em outrocargo.
§ 4°- Será convocado para assumir seu cargo ou emprego aquele quefoi aprovado em concurso público deprovas e títulos, com prioridade sobrenovos concursados, na carreira. Aconvocação será por edital e fixaráprazo improrrogável.
§ 5' - Os cargos em comissão efunções de confiança na administraçãopública serão exercidos, preferencralmente, por servidores ocupantes decargo de carreira técnica ou profissional, nos casos e condições previstosem lei.
§ 6' - São asse,gurados ao servidorpúblico civil o direito à livre associação
. sindical e o de greve, observado o disposto nos artigos 9' e 10 desta Constituição.
§ 7°- Aplica-se, ainda, aos servidores da administração pública o disposto nos incisos IV, V, VI, VII, VIII,X, XI, XIII, XIV, XV, XVI, XVIIIe XIX do artigo 6' desta Constituição.
Art. 45 - O servidor será aposentado:
I - Por invalidez;II - compulsoriamente, aos 70 (se
tenta) anos;nr - voluntariamente, ap6s 35
(trinta e cinco) anos de serviço parao homem e 30 (trinta) para a mulher.
dos direitos políticos, na perda da função pública, na indisponibilidade dosbens e no ressarcimento do erário, naforma e gradação previstas em lei, semprejuízo da ação penal correspondente.
§ 4' - A lei estabelecerá os I?razosde prescrição para ilícitos praticadospõr qualquer agente, servidor ou não,que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento, que serão imprescritíveis.
§ 5' - A revisão geral da remuneração. dos servidores públicos civis edos militares -far-se-á sempre na mesma época.
§ 6' - A lei fixará a relação de valores entre a maior e a menor remuneração da administração púb\íca, diretaou indireta, observados, como limitesmáximos e no âmbito dos respectivospoderes, os valores percebidos comoremuneração, em espécie, a qualquertítulo, por membros do CongressoNacional, ministros do Supremo TribunalFederal e ministros de Estado e seuscorrespondentes nos Estados e Municípios.
§ 7' - É vedada qualquer diferençade vencimento entre cargos e empregos iguais ou assemelhados dos servidores dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, ressalvadas as vantagens de caráter individual e as relativasà natureza ou ao local de trabalho.
§ 8' - Salvo em virtude de concurso público, o cônjuge e o parenteaté segundo grau, em hnha direta oucolateral, consanguíneo ou afim, dequalquer autoridade, não poderãoocupar cargo ou função de confiança,inclusive sob contrato, em organismosa ela subordinados, na administraçãopública.
§ 9' - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes,nesta qualidade, causarem a terceiros,assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de doloou culpa.
§ lO' - É vedada a vinculação ouequiparação de qualquer natureza, para o efeito de remuneração de pessoaldo serviço público, ressalvado o disposto no § 9° deste artigo.
§ 11 - E vedada a acumulação remunerada de cargos, empregos e funções públicas, exceto nos casos previstos em lei complementar, obedecidosos critérios de compatibilidade de horários e correlação de matérias.
§ 12 - A proibição de acumulara que se refere o § 11 se estende acargos, empregos e funções em autarquias, empresas públicas, sociedadede economia mista e fundações públicas.
§ 13 - Os acréscimos pecuniáriospercebidos por servidor púbhco, nãoserão computados nem acumulados,para fins de concessão de acréscimosulteriores, sob o mesmo título ou idêntico fundamento.
§ 14 - Aplica-se à administraçãopública em geral o dispositivo no §3° do art. 7', na condição de contratante ou contratada.
Art. 44 - Os cargos, empregos efunções públicas são acessíveis aosbrasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei.
§ I' - A primeira investidura emcargo ou emprego público, sob qual- .
SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS
FIM DOS "MARAJÁS"
Art. 43 - A administração pública, direta ou indireta, de qualquer dosPoderes, obedecerá aos princípios dalegalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade, exigindo-se, salvo nahipótese de rescisão do contrato detrabalho, como condição de validadedos atos administrativos, a motivaçãosuficiente e, como requisito de sua legitimidade, a razoabilidade.
§ I' - Nenhum ato da administração pública imporá limitação, restrição ou constrangimento, salvo se indispensável para atender a finalidadeda lei.
§ 2" - A apreciação das reclamações relativas â prestação de serviçospúblicos será disciplinada em lei, quepreverá as medidas administrativas edisciplinares cabíveis.
§ 3' - Os atos de improbidade administrativa importarão na suspensão
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
No capítulo da "administraçãopública", o relator em seu segundo substitutivo, fixa parâmetrospara o teto salarial dos servidorespúblicos. Nas disposições transitórias, atinge frontalmente a figuraconhecida como "marajá", retirando-lhes qualquer direito adquirido. A partir da data da promulgação da Constituição os saláriosdesses servidores, que acumularam vantagens, mesmo baseadosna lei, terão seus vencimentosajustados ao que fixa o texto constitucional.
No caso, o relator fixa como parâmetro para o vencimento máximo, incluindo todas as vantagens,a remuneração recebida pormembros do Congresso Nacional (deputados e senadores), ministrosdo Supremo Tribunal Federal eministros de Estado e seus correspondentes nos Estados e Municípios. Significa dizer que um funcionário municipal não poderá ganhar, a qualquer título, mais doque um vereador.
Veja como ficou o substitutivodo relator Bernardo Cabral naconstituição da administração pública, dispondo sobre atribuições,direitos e deveres dos funcionárioscivis e militares:
Em pleno processo de votaçãona Comissão de Sistematização, osegundo substitutivo do relatorBernardo Cabral (PMDB AM), já começa a sofrer alterações nos seus primeiros capítulos.Mas questões como a dos direitostrabalhistas, a constituição dos direitos e deveres dos servidores públicos, ou ainda, um dispositivoque põe fim a instituição dos "marajãs", ainda levarão alguns diaspara serem votadas.
Mas, como muitas dessas questões foram fruto de consenso entregrupos partidários e o relator, deverão sofrer pouca alteração nestafase da Constituinte.
4 Jornal da Constítuínte
calho para o homem e trinta para amulher;
b-com tempo infenor, pelo exercício de traballio rural, noturno, derevezamento, penoso, insalubre ouperigoso, conforme defimdo em lei;
c) - aos sessenta e cinco anos deidade;
d) - por invalidez.§ I" - Para efeito de aposentado
ria, é assegurada a contagem recíprocado tempo de serviço, na administraçãopública ou na atividade privada ruralou urbana.
§ 2' - Nenhum beneffcio de prestação continuada terá valor mental inferior ao salário mínimo.
§ 3' - Lei complementar assegurará aposentadoria às donas-de-casa,que deverão contribuir para a seguridade social,
§ 4' - E vedada a subvenção doPoder Público às entidades de previdência privada com fins lucrativos.
GREVE É LIVRE
A ampliação do direito de greve- extensiva ao funcionalismo público - e mais garantias contraa demissão imotivada foram as alterações do primeiro para o segundo substitutivo ao Projeto deConstituição, elaborado pelo relator Bernardo Cabral (PMDB AM).
Quanto à jornada de trabalho,não há referência ao total semanal, apenas fixa o máximo em oitohoras diárias.
No caso da greve, o primeirosubstitutivo remetia à lei ordináriaa especificação dos casos em quea greve seria livre. No atual textoque está em votação IJa Comissãode Sistematização. "E livre a greve, vedada a imciativa patronal,competindo aos trabalhadores de-
cidir sobre a oportunidade e o âmbito de interesses que deverão pormeio dela defender".
A garantia de emprego ficou assegurada no substitutivo, protegido contra a despedida imotivada,desde que não seja em contratoa termo, nas condições e prazosda lei; falta grave e justa causa;ou fundada em fato econômico intransponível, tecnológico ou, ain"da, em infortúnio na empresa.
Sindicatos livres - O segundosubstitutivo do relator da Comissão de Sistematização garante alivre associação profissional ousindical, Vedando qualquer intervenção ou interferência do PoderPúblico na organização sindical.
Quanto à contribuição sindicalfoi mantido o sistema atual, cabendo à assembléia do sindicatofixar a contribuição de cada categoria.
DIREITOS SOCIAIS
Art. 6' - Além de outros, são direitos dos trabalhadores:
I - garantia de emprego, protegidacontra despedida imotIvada, assim entendida a que não se fundar em.
a) - contrato a termo, nas condições e prazos da lei;
b) - falta grave, assim conceituadaem lei; .
c) - justa causa, fundada em fatoeconômico intransponível, tecnológico ou em mfortünio na empresa, deacordo com critérios estabelecidos nalegislação do trabalho;
II - seguro-desemprego, em casode desemprego involuntário;
III - Fundo de Garantia do Tempode Serviço;
IV - saláno mímmo nacionalmente umficado capaz de satisfazer às suasnecessidades, vedada sua vinculação .
para qualquer fim;V -irredutibilidade de remunera-,
ção ou vencimento, salvo o dispostoem lei, em convenção ou em acordocoletivo;
VI - garantia de salário fIXO, nuncainferior ao mínimo, ainda que a remuneração seja variável;
VII - décimo terceiro salário combase na remuneração Integral de dezembro de cada ano;
VIII - salário do trabalho noturnosuperior ao do diurno;
IX - participação nos lucros, desvinculada da remuneração, e na gestãoda empresa, conforme definido em leiou em negociação coletiva;
X - salário-família aos dependentes nos termos da lei;
XI - duração do trabalho não superior a oito horas diãrias;
XII - jornada máxima de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento;
XIII - repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingose feriados civis e religiosos de acordocom a tradição local;
XIV - serviço extraordinário comremuneração superior ao normal conforme convenção;
XV - gozo de férias anuais, na forma da lei, com remuneração integral;
XVI -licen9a remunerada à gestante, sem prejuízo do emprego e dosalário, nos termos da lei;
XVII - aviso prévio e direito à indenização, nos termos da lei;
XVIII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normasde saúde, higiene e segurança;
XIX - adicional de remuneraçãopara as atividades consideradas penosas, insalubres ou perigosas, na formada lei;
XX - aposentadoria, bem como ado trabalhador rural;
XXI - assistência gratuita aos seusfilhos e dependentes em creches e préescolas de zero a seis anos de idadecompletos;
XXII - reconhecimento das convenções coletivas de trabalho;
XXIII - participação nas vantagens advindas da modernização tecnológica e da automação;
XXIV - seguro contra acidentesdo trabalho, a cargo do empregador,sem excluir a indenização a que esteestá obrigado, quando incorrer em dolo ?_1!.l::1!lpa;
XXV - proibição de distinção entre trabalho manual, técnico ou Intelectual ou entre os profissionais respectivos.
§ í- - A lei protegerá o saláno edefinirá como críme a retenção dequalquer forma de remuneração dotrabalho j~ realizado.
§ 2' - E proibido o trabalho noturno ou insalubre aos menores de dezoito anos e qualquer trabalho a menoresde quatorze anos, salvo na condiçãode aprendiz.
§ 3' - A lei regulamentará, no interesse dos trabalhadores, as atividades de intermediação remunerada damão-de-obra permanente, ainda quemediante locação.
§ 4' - Os princípos de garantia deemprego de que trata o inciso I nãose aphcam à pequena empresa comaté dez empregados.
Art. 7' - São assegurados à categoria dos trbalhadores domésticos osdireitos previstos nos incisos IV, V,VII, XIII, XV, XVII e XX do artigoanterior, bem como a integração àPrevidência Social.
Art. 8' - O produtor rural e o pescador artesanal, que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, sem empregados permanentes,serão, para os efeitos da PrevidênciaSocial, considerados segurados autônomos, na forma que a lei estabelecer,a eles equiparados o parceiro, o meeiro e o arrendatário.
Art. 9' - É livre a associação profissional ou sindical A lei definirá ascondições para seu registro perante oPoder Público e para sua representa-
ção nas convenções coletivas.§ l' - A entidade sindical cabe a
defesa dos direitos e interesses da categoria, individuais ou coletivos, inclusive como substitutivo processual emquestões judiciais ou administrativas.
§ 2' - A lei não poderá exigir autorização do Estado I?ara a fundação desindicato, salvo registro no órgão competente.
§ 3' - É vedada ao Poder Públicointervenção ou interferência na organização sindical,
§ 4' - A assembléia geral fixarã acontribuição da categoria que, se profissional, será descontada em folha,para custeio do sistema confederativode sua representação SIndical.
§ 5' - A lei não obrigará a filiaçãoaos sindicatos, e ninguém será obrigado a mentê-la,
§ 6' - Se mais de uma entidadepretender representar a mesma categoria ou a mesma comunidade de interesses profissionais, somente uma terádireito à representação nas convenções coletivas, conforme a lei.
§ 7' - Aplicam-se à organizaçãodos sindicatos rurais e das colônias depescadores os princípios adotados para os sindicatos urbanos, nas condições da lei,
§ 8' - E assegurada aos sindicatos,com obrigatoriedade, participação nasnegociações coletivas de trabalho.
§ 9' - Os aposentados terão direito a votar e ser votados nas organizações sindicais. _ _ _ .
Art. 10- E livre a greve, vedadaa iniciativa patronal, competindo aostrabalhadores decidir sobre a oportunidade e o âmbito de interesses quedeverão por meio dela defender.
§ l' - Na hipótese de greve, serãoadotadas providências pelas entidadessindicais que garantam a manutençãodos serviços indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis dacomunidade.
§ 2' - Os abusos cometidos sujeitam seus responsáveis às penas da lei.
rurais, na forma que dispuser a lei,desde de que seus propnetários nãopossuam outro imóvel rural.
Art. 218 - A lei estabelecerá política habitacional para o trabalhadorrural com o objetivo de garantir-lhedignidade de vida e propiciar-lhe a fixação no meio onde Vive, preferencialmente com os assentamentos emnúcleos comunitários.
Art. 219 - Ao poder público cumpre promover políticas adequ~das deestímulo, assistência técnica, desenvolvimento e financiamento para a atividade agrícola, agroindustrual, pecuária e pesqueira.
Art. 220 - A concessão de incentivos fiscais, para projetos em novasfronteiras agrícolas, estará condicionada à transferência para lavradores,do domínio de, no mímmo, .10% daárea beneficiada, a fim de que sejautilizada para assentamento de pequenos agncultores, como participaçãosupletiva da iniciativa privada no projeto de reforma agrária.
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reforma agrária.Art. 214 - Os beneficiários da dis
tnbuição de imóveis rurais pela reforma agrária receberão títulos de domínio ou de concessão de uso, megociáveis pelo prazo de dez anos.
Parágrafo único - O título de domínio será confendo ao homem e àmulher, esposa ou companheira.
Art. 215 - O plano nacional de desenvolvimento agrário, de execuçãoplurianual, englobará simultaneamente as ações da política agrícola, políticaagrária e reforma agrána.
Art. 216 - A lei limitará a aquisição ou arrendamento de propriedaderural por pessoas físicas ou jurídicasestrangeiras, bem como os residentese dormcihados no exterior.
Parágrafo único - A aquisição deimóvel rural por pessoa jurídica estrangeira ficará subordinada à préviaautonzação do Congresso Nacional.
Art. 217 - São insuscetíveis de desapropriação, para fins de reformaagrána, os pequenos e médios imóveis
lor da terra em títulos e o das benfeitorias em dinheiro, aiautora requererásejam ordenadas, a seu favor, a imissão na posse do Imóvel e o registrodeste na matrícula competente.
§ 2' - O JUIZ deferirá de plano ainicial. Se não o fizer no prazo de 90dias, a imissão opera-se automaticamente com as consequências previstasno parágrafo anterior.
§ 3' - Se decisão judicial reconhecer que a propriedade cumpria suafunção social, o preço será totalmentepago em moeda corrente corrigida atéa data do efetivo pagamento.
Art. 213 - A alienação ou concessão, a qualquer título, de terras públicas com área superior a 500 hectaresa uma só pessoa ffsicaou jurídica, ainda que por interposta pessoa, excetuados os casos de cooperativas de produção, ori~inánas do processo de reforma agraria, dependerão de préviaaprovação do Congresso NaCIOnaL
Parágrafo úmco - A destinação dasterras públicas e devolutas será compatibilizada com o plano nacional de
Art. 209 - É garantido o direito depropriedade de Imóvel rural, condicionado ao cumprimento de sua função
Propriedaderural está
asseguradaGarantido o direito de proprie- social, consoante os requisitos defini-
dade de imóvel rural condiciona- dos em lei.do ao cumprimento de sua função Art: 210 -:- Compete à ~nião de~a-social o capítulo da reforma agrá- propnar por Int~~esse.so~Ial para fI!1S.' b ' .. - de reforma agrana o imóvel que nao
na manteve ta~ em ~ ImIs~ao ~a esteja cumprindo a sua função social,posse em 90 ?Ia~ e a Indem~açao em áreas priontánas, fixadas em de-da desapropnaçao paga em tItulos ereto do Poder Executivo mediantepara a terra; e em dinheiro para indenização em títulos da dívida agrã-as benfeitorias, consideradas ria, com cláusula de preservação do"úteis e necessárias." valor real, resgatáveis no prazo de até
O capítulo II, da Ordem Econô- 20 ano~, ~ partir do. ~egu_ndo a?o d.emica que trata "da política agríco- s~a emISSa?, cuja utilização sera defí-I f , di . d f ,mda em lei.~'" un Ian~ e a re ?rma agra- § l'-As benfeitonas úteis e ne-na , por nao ter havido acordo cessánas serão indenizadas em dinhei-entre os vários grupos de nego- rociação dentro da Constituinte, foi § 2' - O Orçamento fixará anual-mantido praticamente intacto do mente o volume total de títulos da dívi-primeiro para o segundo substi- da agrária aSSIm como o montante detutivo do relator. recursos em moeda para, ~tender ao
Dois novos artigos foram incluí- p!C!grama de reforma agrana no exer-d f' d bilid d CICIO.os IXa? o responsa I! a e.ao § 3' _ O valor da indenização dapoder püblico quanto ao incentivo terra e das benfeitorras será deterrm-à assistência técnica e financia- nado conforme dispuser a lei.mentos para a atividade agrícola, Art. 211 - A desapropriação seráagroindustrial, pecuána e pes- precedida d~ processo administrativoqueira\ O segundo prevê a criação consubstanc!ad? em vIst?r!a do Imóvelde incentivos fiscais para estimular rural pelo orgao fundiãrío nal?IOI}~I,
íci - d ' '" , garantida a presença do propnetanoa part cIp~çao a iniciativa p~r~'a- ou de seu representante.da no projeto de reforma agrana. Art. 212-Adeclaraçãodoimóvel
REFORMA AGRÁRIA como de interesse social para fins dereforma agrária autoriza a União apropor a ação de desapropnação
§ l'-Na petição inicial, Instruídacom comprovantes do depósito do va-
Jornal da Constituinte 5
Processo deelaboração·é criticado
Uldurico PintoAtualmente as atenções dos
parlamentares estão voltadas parao âmbito da Comissão de Sistematização, que vota o projeto deConstituição do relator BernardoCabral. A sessão plenária daConstituinte de quarta-feira, noentanto, demonstrou uma visãocrítica diante do processo de elaboração da nova Carta, com osconstituintes preferindo fazer umaanálise dos resultados até agoraobtidos, após quase sete meses detrabalho. Os parlamentares se detiveram nas questões características que se inserem no processo decriação de uma nova ordem social.Enfocando as falhas ou apontandoe discutindo novos rumos que ainda podem ser trilhados a partir davotação em plenário do projetoque será entregue pela Comissãode Sistematização, cada representante trouxe a sua contribuição para o debate constitucional.
MOROSIDADE
O Constituinte Luiz Inácio Lulada Silva (PT - SP.) usou de umaimagem para definir a morosidadeque, a seu ver, cerca a votaçãoda Comissão de Sistematização.Pelo que disse, "do lado de lá opovo se encontra a 380por hora" .Depois de se mostrar admiradopor ter a comissão levado dez diaspara votar menos de seis artigosdo substitutivo de Bernardo Cabral, o parlamentar defendeu a necessidade de se alterar o ritmo daapreciação da matéria.
Luiz Inácio Lula da Silva, poroutro lado, condenou a "incompetência do governo" o qual eleacredita estar mentindo par a população, através de planos governamentais inviáveis. De acordocom o constituinte, a inércia doPalácio do Planalto é transferidapata a Constituinte na medida emque não sobra tempo para os parlamentares discutirem a conjuntura econômica e social, por seremobrigados a aplicar uma vigilânciaestreita ao Governo.
Para o-parlamentar do PT, osconstituintes começam a perceber, encarar a realidade de queos discursos feitos durante a campanha eleitoral de 1986, de promessas de melhorias para o povobrasileiro, eram mentrrosas. O povo começa a constatar que os problemas da sociedade não serão resolvidos pela nova Constituição,sustentou.
RIGOR
Crítica rigorosa também fez oconstituinte Uldurico Pinto(PMDB - BA), para quem aConstituinte, proposta para ser livre, soberana e popular; está enclausurada pelos interesses de .uma minoria que detém o poder .polític;o, não sendo nem soberanae nem popular, na medida em que
se submete aos caprichos e vontade dos poderosos.
Pela avaliação do parlamentar,a Constituinte, apesar de aparentemente democrática, vem apenashomologando os conchavos daselites, a única manifestação quesensibilizou os "cardeais da Constituinte" foi a manifestação promovida pela União DemocrátifaRuralista - UDR. "Infelizmente,o que temos de concreto é o fatoda absoluta inutilidade de todasas iniciativas de participação popular", constatou, sustentando~ue depois de tantos meses de funcíonamento o que a Constituinteproduziu foi o descrédito populare a desesperança em toda a nação.
CULPA
Entretanto, opinião diversapossui o constituinte Victor Faccioni (PDS - RS). Na sua opinião, a Constituinte não pode serculpada de nada de errado que
, possa estar acontecendo na economia ou na vida institucional brasileira. A culpa, o parlamentar atribuiu ao que classificou de irresponsabilidade dos partidos formadores da aliança democrática quedeu sustentação ao governo desdea eleição de Tancredo Neves noColégio Eleitoral.
Victor Faccioni acrescentou quenão aceita o argumento de que osistema de governo, que talvezpossa ser mudado pela Constituinte, venha a gerar uma crise de antagonismos entre o Palácio do Planalto e o Legislativo e, como conseqüência, uma ruptura institucional, O PMDB e o PFL, afirmou,recusaram os encargos advindosdos compromissos que assumiramao apoiarem o governo. Os doispartidos, majoritários no Congresso, continuou o parlamentar,deram um "calote na Nação", coma edição do Plano Cruzado, gerando o pânico social e o agravamentoda cnse política.
A solução mais viável apresentada pelo constituinte foi a de mudar o sistema de governo, com oBrasil passando a ser governadopelo parlamentarismo. Ao mesmotempo, concitou o PMDB e oPFL, ainda que este já tenha homologado sua saída da aliança democrática, a ajudarem o governoa se recompor politicamente, "sobpena de se assistir ao naufrágioda Constituinte e do regime democrático".
ENGODO
Mas ainda houve mais uma vozcrítica, que definiu todo o trabalhoda Constituinte, desde o início, como um "engodo". Foi o constituinte Paulo Paim (PT - RS) quedenunciou que somente agora,quando o relator Bernardo Cabralapresenta seu relatório e a Comis-
são de Sistematização inicia o processo de votação, é que a Constituinte vem discutir a nova Constituição.
O parlamentar ressaltou que denada adiantaram as mobilizaçõespopulares e as votações nas subcomissões, mais as audiências públicas e toda a discussão no âmbitodas comissões temáticas, já quenada foi aproveitado pelo relatorBernardo Cabral no seu trabalho.Pelo constituinte, tudo não passoude brincadeira, mentira de maugosto.
INDEPENDÊNCIA
Não obstante, o parlamentar
sustentou que ainda é tempo dea Constituinte provar à Nação brasileira se é ou não independente,deixando claro que não vai se submeter à pressão dos grandes grupos econômicos. Paulo Paim garantiu que as centrais sindicais detrabalhadores vão denunciar a todo o Brasil os políticos traidoresda classe, caso o novo texto constitucional não reflita o interesseconjunto dos trabalhadores brasileiros, que são 95% da população.
IDOSOS
Coube à constituinte Beneditada Silva (PT - RJ), um enfoquedetalhista de um assunto de grande relevância para uma grandeparcela da sociedade brasileira: osIdosos. Ao criticar a marginalização dos anciãos pelo processo social, a parlamentar disse que a futura Carta Magna deverá encarara questão dos mais velhos sob oângulo trabalhista, social, econômico e humanístico. E preciso-considerou - extirpar uma realidade incômoda, injusta e inconstitucional, vedando discriminações ou restrições e reintegrandoos idosos à sociedade como umde seus valores mais preciosos,através da criação dos mecanismosconstitucionais necessários e dareformulação de métodos, medicinais ou legais, preconceituosos.
No seu entendimento, não sedeveria falar em velhice com relação às pessoas que têm entre 35e 60 anos, pois esta é, de acordocom os gerontólogos, a faixa deouro do ser humano, a de maiorcriatividade e sabedoria. Acentuou Benedita da Silvaser absurdoa incoerência e a falsidade da premissa que apóia a fixação da idadede 35 anos para vedar o ingressodos brasileiros na maioria das atividades públicas ou privadas, sendo poucas as exceções.
CRIANÇAS
A mesma parlamentar tambémanalisou um outro problema quetoma formas de grandes proporções, que é a respeito do menorabandonado. Benedita da Silvaconclamou a Constituinte e todoo povo brasileiro a se juntarempara tomar uma realidade a Declaração dos Direitos da Criança,aprovada pela ONU ror 87 Nações, inclusive o Brasil. Segundoa deputada, o menor deveria sera prioridade máxima nacional, acima da economia, dos déficits, dadívida externa, das crises políticase de tudo o que vem preenchendoespaços na vida pública brasileira.
Não haverá futuro para o País,se grande parte das crianças estámorrendo ou sendo devastada pela miséria, pelo abandono e peladoença, enfatizou a representantedo Rio de Janeiro. Há um conjunto de fatores - advertiu - quelevam à constatação dramática deque é preciso agir prontamente ede diversas formas. A abordagemdo problema tem que ser ampla,frisou, ao concluir afiançando queo assunto deve ser abordado portodos os poderes públicos e como engajamento total de todos ossegmentos da sociedade brasileira.
PRESIDENCIALISMO
Mas houve espaço para discussão de matérias polêmicas, comosistema de governo. Foi o caso doconstituinte Nelson Sabrá (PFLRJ) que fez a defesa do presidencialismo, citando como exemplo
de presidente bem sucedido e autor de uma grande administraçãoJuscelino Kubitschek, que assumiu com o Congresso em plenaposse de suas prerrogativas. JKdisse - enfrentou todas as adversidades que o destino impôs, noentanto, realizou um governo altamente democrático, numa demonstração de que é possível bemadministrar um País através de umsistema presidencialista preservando as prerrogativas do Parlamento.
A crise nacional, na sua opinião, não reside na forma de governo, pois o que ocorreu nos últimos vinte anos foi a falta de visãodos governantes, incapazes, conforme acentuou, de implantaruma política agrícola que desserespaldo aos produtores e evitasseimplantar um inchamento dos centros urbanos. O representante pefelista preconizou a necessidadede os constituintes trabalharem nosentido da realização de uma reforma agrária compatível com areforma agrícola, dando, também,condições aos estados e municípios de gerir as riquezas ali produzidas. E por isso que, concluiu,com uma idéia correta do que sejao presidencialismo, "chegaremos,a médio prazo, a resgatar as liberdades individuais e a democracia."
TRANSPORTE
A constituinte Irma Passoni (PT- SP) também se manifestou pormatéria constitucional, lançandoum apelo ao relator da comissãode Sistematização. A parlamentarpropugnou que Bernardo Cabralacatasse em seu último e definitivosubstitutivo um dispositivo queconsidere o transporte público como essencial.
A constituinte ressaltou que taldispositivo já estava previsto nosubstitutivo de número um, apresentado por Bernardo Cabral, masque foi retirado quando da elaboração do segundo relatório. Pelaargumentação de Irma Passoni,"sem transporte público, não háquem trabalhe", disse ela, acrescentando que ao trabalhador deveser garantido esse direito constitucionalmente.
MAGISTÉRIO
Aposentadoria especial para omagistério, aos 25 anos de serviço,garantida constitucionalmente, foia proposta do deputado SólonBorges dos Reis (PTB -SP). Entende o parlamentar que tal direito já fOI conquistado há anos e,portanto, deve ser inserido no texto da Constituição.
Sólon Borges dos Reis considerou inexplicável que uma conquista já consagrada não conste, sequer, no relatório do deputadoBernardo Cabral. E anunciou quelutará para que o magistério sejabeneficiado com a garantia constitucional de aposentadoria aos 25anos. Pelo que afirmou, sua atitude será a de pedir destaque logoque a matéria venha ao plenáriocaso a Comissão de Sistematização não acate a concessão de aposentadoria especial para os professores.
O constituinte mostrou seu ânimo, e o de todos os professoresque estiveram no Congresso parauma manifestação a favor da aposentadoria especial para a classe,ao afirmar que, "se a Constituintenão puder melhorar o magistérioe a educação, pelo menos não osprejudique".
6 ·Jornal da Consqtii:F-'ui=nt~e _
,;
Ant6"io"êârlos KoiíderReis"AmaralNettoAluizio Campos Pimenta da Veiga
Comissão rejeita pena de morteIbsenPinheiro
A implantação da pena de morte no Brasil e a garantia do sigiloinviolável da correspondência edas comunicações telefônicas e telegráficas, como a transmissão dedados por via da mformática, foram os temas que até o momentomais apaixonaram os debatesconstituintes durante a apreciaçãodo Substitutivo Bernardo Cabral.Apesar da defesa intransigentedos constituintes Amaral Netto(PDS - RJ) e Farabulini Júnior (PTB - SP), a implantaçãoda pena de morte fOI rejeitada.O sigilo da correspondência e comunicações fOI mantido, ressalvados, porém, os casos em que a violação é autorizada judicialmente,nos casos e na forma gue a lei estabelecer, para fins de mstrução penal.
O constituinte Aluízio Campos(PMDB - PB) defendeu destaque de sua autoria que propõe asupressão do § 16 do art. 5° dosubstitutivo, por considerar redundante a proibição de que o juizacate prova obtida por meio defraude ao julgar um acusado. Segundo ele, qualquer prova obtidapor meios ilícitos não pode hojeser aceita por um juís. A matériajá está regulamentada, na legislação ordinária, pelo Código Processual Penal.
O constituinte Maurílio Ferreira Lima (PMDB - PE) defendeua manutenção do § 16 do art. 5°por entender que essa matéria temque ser tratada a nível de legislação constitucional, de forma a garantir a completa nulidade dasprovas obtidas por meios fraudulentos. Apesar de já ser a matériaregulamentada pela legislação ordinária - disse -, é preciso queesse princípio seja fixado tambémna Constituição.
TRABALHO FORÇADO
Ao defender destaque onde sepropunha a acrescentar entre aspenas previstas por lei o trabalhoobrigatório, o constituinte Vivaldo Barbosa (PDT - RJ) chamoua atenção para as dificuldades enfrentadas pelo sistema penitenciário brasileiro. Segundo ele, os juízes, ao invés de encaminhar à prisão determinados detentos, poderiam penalizá-los com o trabalhocom o objetivo, inclusive, de possibilitar a sua recuperação. Elepretende acrescentar essa alternativa de pena no item VI, § 20, doart. 50.
Contrário à aprovação da I?roposta manifestou-se o constituintePimenta da Veiga (PMDB MG), salientando que, embora seja evidente a boa intenção do autor, o trabalho obrigatório em nada difere do trabalho forçado.Além do mais - acentuou - nãose pode obrigar um detento a trabalhar, a não ser através de coação
física, o que é inadmissível.O constituinte Luiz Salomão
(pDT - RJ), por seu lado, considerou a medida prudente e oportuna, particularmente quandopermite que o juiz determine aocondenado a obrigatoriedade dotrabalho em entidades públicas,ensejando a diminuição da população carcerária.
O relator Bernardo Cabral dirigiu apelo a Vivaldo Barbosa nosentido de que retirasse o destaque, por entender que o acréscimodaquele inciso se chocaria com oparágrafo seguinte, que proíbe otrabalho forçado. Apesar do apeIo, o representante carioca insistiuna manutenção do destaque, porconsiderar válida a proposta desua autoria.
PENA DE MORTE
Através do destaque de número3.0510 constituinte Amaral Netto(PDS - RJ) propôs a introduçãoda pena de morte no País. Ele ressaltou que a sua proposta estabelece a pena capital apenas para oscrimes graves, como estupros, assaltos, seqüestros e roubos, seguidos de morte. Ela tem, basicamente, o objetivo de diminuir o altoíndice de criminalidade no Brasil- disse. Amaral Netto citou asp~sCl.ui~as de opinião pública.favoraveis a pena de morte e registroucarta de um pai que perdeu a filhabrutalmente assassinada, exigindodos legisladores uma revisão doCódigo Penal e a implantação dapena capital para aqueles crimes,e finalizou afirmando que cumpriuo dever e voltará ao plenário coma sua emenda objetivando implantar a pena de morte.
Também defendeu a medida oconstituinte Farabulini Júnior(PTB -SP), apelando aos constituintes para que a aprovassem. Noseu entender, a aprovação é a melhor forma de defender a sociedade dos criminosos odientos,que, a seu ver, se sentem impunesem face da legislação em vigor.
Contra a adoção da pena demorte manifestaram-se os constituintes José Serra (PMDB - SP)e Egídio Ferreira Lima (PMDB- PE). O parlamentar paulistaconsidera a proposta parte de umfalso dilema e de um pressupostotambém falso, na medida em queo enfrentamento da questão da segurança não passa pela pena demorte. A pena de morte não inibea criminahdade - afirmou -, como está comprovado em váriospaíses do mundo onde é aplicada.Se a Constituinte aprovar a penade morte - acrescentou -, a nação esbarrará no futuro com umgrave problema, qual seja, a institucionalização da vingança.
Egídio Ferreira Lima alertoupara o aspecto filosófico da questão, quando se adota uma postura
o sigilo dacorrespondênciafoi mantido no
substitutivoBernardo
Cabral, com aressalva de
que ele poderáser violado
quando houverordem judicial.
maniqueísta entre o bem e o mal.Creio na recuperação do homem- disse -, na possibilidade deo bem prevalecer sobre o mal. Cada ser humano - segundo ele tem um instinto de morte, o desejode correr riscos, e não será a penacapital que irá impedir um criminoso de atuar em sua agressividade.
Também o relator-adjunto, José Fogaça (PMDB - RS), manifestou-se contrariamente à aprovação do destaque, ocasião emque lembrou ter o próprio relator,Bernardo Cabral, um irmão assassinado e nem por isto se valeudo sentimento de vingança. Aocontrário, propôs a proibição dapena de morte, da prisão perpétua, de trabalhos forçados e do banimento.
SIGILO INVIOLÁVELO destaque apresentado pelo
constiuinte Brandão Monteiro(PDT - RJ) que impedia a possibilidade da violação de correspondência e comunicações telegráficas e telefônicas "por ordem judicial, nos casos e na forma que alei estabelecer, para fins de instruo,ção processual", foi rejeitado. Odestaque alterava o § 12 do art.5°
De acordo com o representantefluminense, faz parte do direitoconstitucional brasileiro a garantiado sigilo da correspondência e deQ.utras formas de comunicação.Não se pode - afirmou - justamente agora que se quer elaboraruma Carta que vá ao encontro dasaspirações populares, partir para
um posicionamento restritivo da pondência e comunicações teleliberdade e do pensamento do in- gráficas e telefônicas volte a acondivíduo, argumentou o líder pede- tecer". Da forma como está postotista. - disse - o texto abre o suposto
Também defendendo a emenda direito de um delegado violar odo parlamentar fluminense que sigilo de uma mensagem.eliminava a referida autorização O constituinte Nelson Carneiropara que o sigilo da correspondên- (PMDB - RJ) afirmou que acia fosse quebrado quando ocor- emenda não podia ser aprovada,resse autorização judicial, o cons- em razão de o texto exigir que hajatituinte Roberto Freire (PCB - uma ordem judicial para a violaPE) preconizou a necessidade de ção da correspondência e não esse assegurar a inviolabilidade no pecificar qual autoridade de direitexto constitucional, para só de- to pode fazê-lo. Para o constituinpois discutir os casos em que o te, a inviolabilidade da corresponsigilo poderia ser quebrado nas dência, nos fermos expostos, 1'0correspondências e nas comunica- deria ser quebrada pela ordem deções telegráficas e telefônicas. um delegado.
Defendeu a permanência do' Em defesa do substitutivo do re-texto integral do substitutivo o lator veio então o constituinte Anconstituinte Egídio Ferreira Lima tônio Carlos Konder Reis (PDS(PMDB - PE). Ele justificou a - SC). Ele entende que o sigilomanutenção do texto por ver nele da correspondência deve ser manuma maneira de o Estado com- tido, "salvo por ordem judicial ebater ou mesmo prevenir seqües- para fins de instrução penal". Otros e tráfico de drogas. parlamentar enfatizou que o prin-
Também a favor do substitutivo cípio absoluto do sigilo da correspronunciou-se o constituinte Ger- pondência, das comunicações te-
. son Peres (PDS - PA), para lefônicas, telegráficas e de procesquem o sigilo não pode deixar de sarnento de dados "é admirável",ficar sob controle jurisdicional, mas não se adapta ou não se comem nome da defesa do Estado e padece com a realidade atual. Frido próprio indivíduo. A emenda sou que "recusar a inclusão doBrandão Monteiro não está de princípio no texto constitucionalacordo com a tradição democrá- seria mais que uma leviandade, setica de nossas instituições, disse o ria uma agressão aos direitos e garepresentante paraense. rantias dos direitos individuais dos
Com a rejeição do destaque de brasileiros". Ressaltou, contudo,Brandão Monteiro, o constItuinte que não recobri-Io com a salvaIsrael Pinheiro (PMDB - MG) guarda da autorização judicial, eapresentou emenda visando reti- apenas para casos relativos à insrar do texto do substitutivo a ex- trução penal, seria fugir à realipressão "salvo por ordem judicial, dade.nos casos e na forma que a lei esta- Já o constituinte José Mendonbelecer, para fins de instrução pro- ça de Morais (PMD B - MG) decessual", substituindo-a por "res- fendeu que, ao invés de se fazersalvados os casos previstos em a ressalva para a violação de corlei". respondências "apenas para fins
Em relação a essa emenda, Ger- de instrução processual", seja resson Peres pediu à presidência da salvada a expressão ",nos termosComissão de Sistematização para da lei". Ou seja, "é inviolável o'que a considerasse prejudicada, sigilo da correspondência e das co-Iem razão de não se verificar com municações telegráficas e telefô- I
ela nenhuma mudança substancial nicas nos casos e na forma que'em relação ao texto original, ocor- a lei estabelecer".rendo apenas uma mudança de re- O constituinte Ibsen Pinheirodação que em nada altera o propó- (PMDB - RS), por sua vez, dissesito da questão. concordar com o texto do relator
A favor da emenda, o consti- Bernardo Cabral, que "condiciotuinte Ricardo Fiuza (PFL - PE) na uma eventual violação à indisdeclarou que ela na realidade não pensável e prévia autorização juse encontrava prejudicada, por- dicial". Disse, no entanto, queque serviu para aprimorar o texto considera necessária a aprovaçãodo relator, além de ser convenien- da sua emenda, que busca aditarte para melhor esclarecer a quem uma expressão curta e simples: "ecabe a ação nos casos previstos em investigação criminal". O parlalei, não deixando isso ficar a crité- mentar assevera que sua emendario de um juiz ou autoridade di- atinge o objetivo de fortalecer aversa. sociedade para a defesa na luta
Já o constituinte Haroldo Lima contra a criminalidade e também(PC do B - BA) lamentou que a idéia de que só a ordem judicial,o texto proposto introduzisse uma só a proteção do Estado de direito,ressalva num direito que deveria através do mandado judicial, 1'0ser taxativo e absoluto em seus ter- derá permitir a violação do sigilomos, deixando uma "brecha para em casos,extremos, que, por issoque um costume herdado do regi- mesmo, dependerão sempre deme autoritário de violar corres- _ . autorização judicial.
Jornal da Constituinte 7
Vamos gastarmais e melhorcom a saúde
"A novapolítica
nacionaldesaúde,
priorizandoas ações
preventivas,vai fazer com
que obrasileiro
seja lembradoantes deadoecer,
equivalendoa dizer que,de agora em
diante, oBrasil vai
investirnasaúde e nãona doença,comovem
acontecendoem todos os
tempos."
8
A instituição de um sistema unificado de saúde em todo o país,descentralizado, com atendimento integral (médico, farmacêutico,odontológico, fisioterapêuticoetc.), universalizado - será dadoa todos indistintamente - e sobO controle da população, é o avanço mais significativo dentro do capítulo da saúde, que recebeu oaval do relator da Comissão de Sistematização, deputado BernardoCabral. Apresentada e aprovadadesde a Subcomissão de Saúde,Seguridade e do Meio Ambiente,presidida pelo deputado José EliasMurad (PTB-MG), a matéria quevai alterar de forma substancial oatual quadro da saúde no Brasilpassou incólume pela comissão temática específica e, ao chegar àSistematização, sofreu algumas alterações que, em sua maioria, nãoche~am a desfigurar o espírito dainiciativa.
"O setor de seguridade social- saúde, assistência e previdênciasocial- é um dos mais avançadosna nova Constituição. Modificaradicalmente todas as políticas atéentão postas em prática", diz oconstituinté Raimundo Bezerra(PMDB-CE). "A saúde como dever do Estado e direito de todospreconiza, por si s6, um avançoconsiderável; os demais avançosdecorrem desse fato", asseguraCarlos Mosconi (PMDB-MG), relator da Subcomissão de Saúde,Seguridade e do Meio Ambiente."O Substitutivo 2 de Cabral vaipropiciar, a médio prazo, as condições para uma assistência mais racional e eficaz no campo da saúde", acredita José Elias Murad(PTB-MG), e com o qual concorda ó constituinte Eduardo Jorge(PT-SP) quando analisa o texto doCabral 2: "É um texto moderadamente progressista que trarápossibilidades' de melhorias noatual sistema de saúde do Brasil".
O conceito de saúde como direito de todos e dever do Estado,a organização de um sistema unificado de saúde, as novas regras derelacionamento entre o poder público e a iniciativa privada e a possibilidade de o Estado deter o monop6lio da importação de equipamentos médico-odontológicos ede matéria-prima para a indústriafarmacêutica são os quatro pontosmais importantes dentro da áreada saúde contidos no segundosubstitutivo de Bernardo Cabral,do ponto de vista do constituinteEduardo Jorge. Para ele, o deverdo Estado está bem colocado nonovo texto, porque contempla aadoção de uma política não s6 específica para as áreas médicas,mas também as mais gerais, comoas políticas econômicas e sociaisque visem à eliminação ou redução do risco de doenças, e porqueo Estado é obrigado a garantir oacesso igualitário a todas as açõese serviços de promoção, proteçãoe recuperação da saúde a todasas pessoas. •
Eduardo Jorge aponta com6'
princípios louváveis do sistemaunificado de saúde quatro pontosque ele destaca: a unificação docomando, a níveis municipal, estadual e federal; a descentralização;o atendimento integral, tanto naparte de medicina preventivaquanto curativa; e o controle dapopulação sobre todas as fases dosistema e em todos os seus níveis."Sem, a fiscalização dos interessados é difícil funcionar a contento", alerta. Quanto ao relacionamento do poder público com osserviços pnvados houve uma mudança substancial. De agora emdiante, toda transação entre essasduas partes vai se gerir por contratos de direito público e não privado, como ocorre atualmente.Além disso, a demanda de serviços dará prioridade ao setor nãolucrativo, como santas casas e hospitais beneficentes, e não poderáhaver transferência de recursospúblicos para investimentos novosna área de serviços médicos privados lucrativos, o que, segundo orepresentante do PT paulista, vaipropiciar a recuperação da redepública. Da mesma forma, a possibilidade de monopólio do poderpúblico nas importações do setorvai permitir ao país escolher ondee o que importar, trazendo grandeeconomia de divisas, lembraEduardo Jorge.
Os reparos que o parlamentarpaulista faria ao novo texto seriamquanto à questão do financiamento do SUS (Sistema Unico de Saúde), que, a seu ver, deveria contar,além dos 30% da seguridade social, com mais um percentual previamente estipulado dos orçamentos dos estados e municípios, e queimagina deveria ser por volta dos13%. Outro ponto seria a explicitação mais clara dos princípios gerais de uma política de recursoshumanos (como um plano de carreira, estímulo à dedicação exclusiva, política de formação de pessoal) e a questão da saúde do trabalhador. Para Eduardo Jorge, essa deve ficar integrada ao SUS,mas com controle dos órgãos sindicais e participação destes na gestão dos serviços oferecidos. Aqui,uma explicação: não existe incompatibilidade do SUS com as atribuições específicas de determinados órgãos, como é o caso do Ministério do Trabalho com relaçãoà prevenção de acidentes. "Maisfundamental do que a preocupação com a mudança da competência, que não deverá ocorrer - raciocina o petista -, é o controlesindical sobre a política sanitária,como de resto sobre os demais direitos do trabalhador. Hoje, porexemplo, o representante do sindicato não tem autorização paraacompanhar a fiscalização em suasinspeções pelas dependências deum local de trabalho. E por quea proibição?" - indagou Eduardo Jorge ao reclamar, ao final, da retirada da proibição dapropaganda de cigarros, bebidasalcoóhcas, agrotóxicos, remédios
e formas de tratamento que foramsubstituídas por uma f6rmula vagaque não garante nada, e mostrao mal que isso pode causar: "Essapropaganda induz à automedicação, ao uso de drogas, que terminam tendo um peso enorme sobreos gastos do sistema de saúde, comprejuízo para a saúde geral da população. "
MAIS E MELHOR
"O Brasil tem que gastar maise melhor com a saúde", conclamao constituinte Carlos Mosconi, para quem o fundamental nesse capítulo do texto constitucional fOI amanutenção do dispositivo quedetermina ser a saúde um deverdo Estado e um direito de todos.Aliás, Mosconi tem poucas queixas do Substitutivo Cabral Il, asquais se centralizam na queda daproibição de propaganda e cigarros e demais hábitos prejudiciaisà saúde e do artigo que dispunhasobre o problema da doação de6rgãos que, inexplicavelmente,sumiram do texto. "O relatório daSubcomissão da Saúde, Seguridade e do Meio Ambiente foi parcialmente mantido, pois as alterações introduzidas não são de natureza substancial. Mas, a grandeconquista, a da democratização dasaúde, acompanhada da descentralização das ações e serviços, esta foi acolhida e sacramentada pela compreensão da quase totalidade da Constituinte, garante orepresentante do PMDB mineiro.A falta de definição com relaçãoaos recursos para a saúde tambémse inclui entre suas observaçõescríticas, embora reconheça as dificuldades que o país deverá enfrentar em face do peso de expressivonúmero de sua população que viveinteiramente marginalizada, semacesso ao mercado de trabalhoe, conseqüentemente sem podercontribuir para a manutenção dosserviços sanitários.
Carlos Mosconi enfatiza o aspecto saudável que caracteriza oSUS se executado na plenitude desua filosofia: tem que ser democratizado, tem que ser descentralizado. "E o relacionamento doEstado com o setor privado - frisa Mosconi - não é excludente.Será apenas um convívio com instrumentos legais duros, como, narealidade, deveria ter sido sempre."
MEDICAMENTOS
"Enquanto a OMS recomendapara os países em desenvolvimento o uso de uma média de 200 drogas como suficientes às suas necessidades básicas, o Brasil apresentaum cardápio de 28 mil remédiosque não atendem à maioria da população", aponta o constituinteJosé Elias Murad, para mostrarem seguida, com um exemplo apenas, a que grau de sofisticação edesorientação chegamos em prejuízo do racional, do lógico e doeconômico. "Veja o caso da vitamina B-12, que tem uma única indicação terapêutica e que, no entanto, se apresenta em 96 variedades!" Murad, que foi presidenteda Subcomissão de Saúde, Seguridade e do Meio Ambiente, e avida inteira um estudioso da questão, vê na falta de uma políticade saúde bem definida como acausa mais séria talvez do descalabro que se verifica no setor."85% da indústria farmacêuticaestá nas mãos das multinacionais.A Ceme, que foi criada para a pesquisa, a produção, o controle ea distribuição de medicamentos,cumpre apenas uma pequena par-
cela da função de distribuir, porque, por incrível que pareça, elase revelou como a maior freguesadas multinacionais. Se a Ceme puder realmente produzir as 360 drogas (é o dobro do que prescrevea OMS, mas tudo bem) constantesda Rename (relação de medicamentos essenciais) teremos condições de melhorar sensivelmente oatendimento farmacêutico. O monopólio do Estado para a importação dos insumos básicos surgeaí como um instrumento dos maisdecisivos e valiosos para a soluçãodo problema", observa o parlamentar petebista. Com o SistemaUnico de Saúde, o Estado vai entrar de rijo também nessas áreasde produção, controle e análise dequalidade, possibilitando, assim, areabilitação do setor e em conseqüência um aumento de benefíciospara a população brasileira, nãosó sob o ponto de vista sanitário,como tam bém social e econômico.
Do que foi retirado do projeto.original da Subcomissão que presidiu, José Elias Murad não está disposto a aceitar o caso da propaganda de cigarros, bebidas alcoólicas e inebriantes, a respeito deque ele já apresentou emenda e,na atual fase dos trabalhos, já requereu destaque de sua iniciativa.Segundo ele, é muito importanteque a questão fique bem clara dentro do setor saúde, e, Rara isso,ele decidiu lutar até os ultimas Decursos de plenário. "É realmenteum problema de saúde pública",acentuou Murad.
Indagando sobre a exeqüibilidade do Sistema Único de Saúde,tendo em vista a delicada situaç oeconômica do país, José Elias rad declarou: "no momerão, scondições talvez não sejam su icientes para atender de manei aglobal os objetivos do SUS. M 5,como estamos fazendo uma Co â
tituição que vai ultrapassar o a o
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2000, temos que escrevê-la sobuma 6tica mais abrangente". Dequalquer maneira, mostra o representante do PTB, s6 os 30% daarrecadação da seguridade socialjá seriam suficientes para quadruplicar os recursos na área da saúde. José Elias Murad lembra quea sua proposta original era de 10%do PIB, mas foi levado a desistirde seu intento compelido por umacarga de tecno-economês que lhecaiu em cima. "Não sei porqueconfessa Murad -, pois o Uruguai destma 8% do PIB para asaúde, a Argentina 9% e Israel20%".
PREVENTIVA"A nova política nacional de
saúde, prionzando as ações preventivas, consubstanciadas em saneamento básico, ações imunológicas, moradia salubre e combateaos agentes transmissores dedoenças, vaifazer com que o brasi-
leiro, no setor saúde, seja lembrado antes de-adoecer", diz o constituinte Raimundo Bezerra, médico, e um dos redatores, tanto noprimeiro como no segundo substitutivo, do projeto saúde. Ele garante que haverá prioridade paraa medicina preventiva e não paraa curativa, como ocorre hoje, numa versão lógica de que é melhor,mas fácil e mais econômico investir na saúde do que investir nadoença. "As razões que justifica,esse posicionamento - e.x~lica são perfeitamente íntelígíves: oBrasil é um país tropical e subtropical. Na época das chuvas as substâncias orgânicas entram em decomposição, notadamente as queformam grande parte dos lixos edetritos. Isto facilitaa proliferaçãode insetos transmissores de doenças. Nos países-de temperatuplbaixa o gelo e a neve tudo esterilizam, não permitindo a sobrevidadaqueles insetos. Com as ações
preventivas, com o combate aostansmissores, teríamos possibilidade de erradicar a doença deChagas, que acomete 8 milhões debrasileiros; a esquistosomose, queatinge 6 milhões; a malária, que,a cada mês, aumenta em cerca de100 mil portadores; a verminose,que alcança 95% da população doNordeste."
Raimundo Bezerra destaca outro setor que será alvo da açãopreventiva de acordo com o novotexto constitucional: o da alimentação. Com base em dados do IBGE, de 1985, Bezerra mostra quedas 22 milhões de crianças brasileiras entre zero e cinco anos deidade, 10a 12 milhões, têm déficitnutricional, ou seja, déficit de oxigenação cerebral, o que, em outras palavras, equivale a dizer 'l.uesão deficientes mentais em maiorou menor grau. "Quando as crianças chegam à escola já são porta-
{ IEduardo Jorge
doras de deficiência mental irreversível, razão pela qual poucoapreendem dos ensinamentos ministrados. Provavelmente esta éa causa de termos uma das maiores evasões escolares de todo omundo: para cada 100 criançasque ingressam no 10 grau, apenas12,7completam o 20 grau e somente 3 terminam o 3° grau". Parao representante cearense, "a saúde há de ter os princípios maispragmáticos possíveis, em termosde Brasil. Não podemos nem devemos copiar o modelo de ninguém". A pergunta sobre as pressões enfrentadas em vista da prioridade ao setor público, Raimundo Bezerra vai fundo: "O projetonovo vai atingir cerca de 4.000donos de hospitais, conveniados como Inamps, mas vai beneficiar 135milhões de brasileiros."
Maria Valdira
José Elias Murad
__ Ali
Raimundo Bezerra
9
JC - Os líderes dos partidosforam freqüentemente ouvidospelo relator e pelo grupo?
Wilsom Martins - O relatornão se cansou de buscar informações, ouvindo-as diversas lideranç,as. O presidente do partido, oslíderes da Constituinte, os líderesda Câmara dos Deputados e doSenado Federal. O trabalho foi
Povo apóiaO sistema
parlamentar
JC - E mesmo fora?
Wilson Martins - Mesmo forado Congresso ele buscou professores, buscou auxiliares e todo esse acervo de informações foi extremamente útil. E também não estivemos reunidos somente aqui dentr.o do prédio do Congresso. Reurumo-nos em anexos, como noProdasen, na primeira fase, depoisfomos para o Banco do Brasil numa outra fase e, em seguida, p~ssamos a trabalhar no Instituto IsraelPinheiro, até que sobreveio a chamada invasão da esquerda radical,quando fomos acusados pelo líderdo PC do B de estarmos fazendoum trabalho às escondidas. Imagine, nós fazendo um trabalhoclandestino, quando o nosso trabalho deveria ser um trabalho meridianamente claro, transparente.E foi informado esse grupo de queo relator tinha todo o direito defazer o seu relatório de ouvir asp~ssoas que achasse oportuno ouVI-Ias. E aq~ela confusão que seestabeleceu instantaneamente foilogo desfeita, pela serenidade comque os nossos colegas foram informados do trabalho que estavamr~alizando ali. Na verdade, depoisdISSO passamos a nos reunir emapartamentos dos colegas, ora noapartamento de um, ora de outro.Diversas casas foram utilizadaspara isso e chegamos assim a umremate final do texto que aí se encontra.
rem ~ se.defrontarem aqui grupos,tendências, acabando sendo decididas pelo voto matérias polêmicas, acho que é salutar. Creio queé por aí que devemos caminhar.Há assuntos que nã? podem, realmente, ser harmomzados.
Há aqui, por exemplo, umatendência reformista e uma outraque deseja manter o status quo.Então, não podemos levar isso auma solução de compromisso nãopo~emos ser pacifistas a ponto dedeixar o programa do partido dedeixar as reivindicações popul~:rese as mudanças de lado, para partirmos para uma solução amistosa,mas que nada represente de avanço para o nosso povo.
JC - Mas não haveria o riscode, em conseqüência disso aConstituição durar pouco? '
Wilson Martins - Não creioque haja esse risco. Acho que asolução que aqui vamos encontrarconsultará os interesses nacionaise conduzirá a uma Constituiçãodurável. A solução parlamentarista será uma solução durável porque está sendo estudada c~m omaior cuidado e está sendo implantada, já nesta hora, não somente com o respaldo da maioriados constituintes, mas ela contaembora sem propaganda, emborase~ trabalhos de praça pública ed.e Imprensa - com uma expressiva margem de apoio da população brasileira, que está cansadado presidencialismo imperial quevem governando o país desde a República, e que é responsável pelascrises cíclicas que ocorrem dentrodo Brasil.
JC - Há um dispositivo desteúltimo substitutivo no sentido deque o parlamentarismo não possaser alterado dentro de cinco anos.
Wilson Martins - Creio que odispositivo é bem inspirado mas'não me parece que, se o I?arl~mentarismo não consultar os interessesdopovo brasileiro, seja um dispoSItIVO capaz de barrar o desejo damudança que acaso se instale nocoração do povo brasileiro.
JC - O senador acredita que oPresidente Sarney terá um mandato de seis anos?
Wilson Martins - Sou favorável a um mandato menor. Achoseis anos um prazo excessivo, muito longo. O próprio Presidente beneficiado por esse prazo recusouo, dizendo, .en;t entrevista, queapenas desejaria governar cincoanos. O Presidente já disse umavez que governaria quatro anos,repetindo, neste caso, o que haviad!to Tancredo Neves, que entendia .que nes.se lapso d~ tempo podena ser feita a transição na qualn?s encon~~mos. Sou, por princípIO, contrano a grandes períodosde mandato presidencial. Viu-sedurante o governo militar, o quan~to o povo se cansou dos presídentes e o quanto o último presidentetambém se confessava cansado degovernar o Brasil. Acho que quatro anos também é um período peq~eno, um lapso de tempo quenao atende a toda a conveniênciada administração. Quem atinge ~posto de prefeito, de governadorou ~e presidente vê que o seu primerro ano de governo é o períodoque ele tem para adaptar o orçamento aos anos futuros, e tambémque o último é mais dedicado asua própria sucessão, às articulações para a eleição de seu substituto. Nesse caso, os quatro anosse transformam em dois anos emeio de trabalho profícuo administrativo. O restante do te~po seexaure em atividades políticas.
ç?es, a grita que se formou, o alando, representa muito o pensamento daqueles que estão atingidos e os que estão atingidos sãoos.poderosos. Foi atingido o própno p~eSI?enteda.República, porque nao VIU atendido o seu pedido~a forma de go,:er~o presidencialista. Fora.m atingidos empresános, que nao VIram atendidas suaspretensões de não se aprovar a reforma agrána; proprietários urbanos, quando viram aprovada a reforma urbana; e assim por diante.
Então, feitas as devidas análisese_.também uma crítica tranqüila,serena, percebe-se que o texto representou uma grande vitória dop~y? brasileiro que, afinal, a tranquílidade será restabelecida e otex.to será harmonioso, cap~z desatisfazer a confiança depositadapelo eleitorado nos representantesque aqui se encontram decidindoesta grande fase de nossa vida nacional, que é aquela em que temosque outorgar ao País suas transformações e suas reformas.
JC - Senador, há uma tendência muito forte no sentido de quece!to~ pontos polêmicos, que nãoatíngiram o consenso, irão necess~t!amente a vot0-.Is~o poderá signíficar uma Constituição de curtaduração, já que os descontentestentarão imediatamente tentaremendá-Ia?
Wils.on ~artins - Acho queu~a dISpOSIÇão na Constituiçãodizendo que ela não poderia serreformada dentro de um lapso detempo, como costumam fazer ostextos constitucionais recém-aprovados nada representaria, porque,na verdade, a avalancha da opinião pú~lica, das reivindicações edas queixas, sempre vencerá. Nãohá nada que detenha o desejo incontido da massa do povo brasileiro, mas o fato de se encontra-
ADIRPlBenedita Passos
"O textorepresentouuma grande
vitóriado povo
brasileiro,capaz desatisfazer
a confiançadepositada
peloeleitorado"
Martins: em qualquersistema, o mandatodeve ser de cincoanos.
realmente muito amplo, muitoprofundo, no sentido de pesquisar, de debater teses, idéiasemendas. Muitas vezes nos sentía~mos frustrados, imaginando quetínhamos sido, com a formalidadede uma reunião, derrotados numaemenda que achávamos que seriaa. melhor sol!lção para o texto, eeIS que, p'ubhcado o texto, víamosque aquilo que parecia uma derrota transformou-se numa vitória,porque houve uma segunda meditação sobre os temas discutidos evíamos que o melhor acabou sendo traduzido dentro desse projeto.
JC - Então, não procede a alegação de muitos de que o textoqu~ saiu desagradou a gregos etroianos?
Wilson Martins - Houve essaversão, essa notícia da imprensade que o texto não serve, de queo texto não presta e até os ataquesse aprofundaram mais a ponto deatingir a própria pessoa do relator.Mas a impressão que tenho é dequ~, uma vez assentada a poeira,vai se ver que temos um texto moderno, à altura das reivindicaçõesdas necessidades e da confianç~depositada em nós pela maioriada Nação brasileira. As reclama-
. Em entr.evista exclusivaao Jornal da Constituinte, o senadorWilson M.artms. (PMDB - MS) defendeu a adoção do parlamentansmo, inclusive .a nível estadual. Nesse caso, ele preconizaum mandato de cmco anos para o presidente da Repúblicapor achar "seis anos um período excessivamente longo també~no parlamentarismo".
'Yilson ~artins acredita que o sistema parlamentar é umaso~uçao duravel, que conta com o apoio da maioria dos consti!Umte~ e da população, que "está cansada do presidencialismoimperial que vem governando o País desde a República".
. Corno e:c-governador de Mato Grosso do Sul, Martins admíte a cnaçao de novos estados e analisa ainda entre outrostemas, a reforma tributária, a presença do Govern~ na economiae o problema da educação.
JC - Como um dos relatoresadjuntos na Comissão de Sistematização, tendo participado do processo de elaboração dos dois substitutivos, como foi, senador essetrabalho junto ao relator? '
Wilson Martins - Efetivamente, desde o primeiro momento tenho participado da elaboraçã~ dotexto constitucional. Fui escolhidopelo líder Mário Covas obtendoo "placet" também do re'lator Bernardo Cabral. Desde então tendodiscutido os vários trabalh~s inicialmente das subcomissões' depois das comissões temáticas' surgiu o Frankstein, que foi, seg~ndonoticiário da imprensa, uma desolação, mas, a meu ver, era uma~a~ga impura, n;tas capaz pelasidéias de toda SOCIedade de, filtrado, converter-se no texto que reclamava a sociedade brasileira.Acho que agora, com esse segundo substitutivo do relator Bernardo Cabral, atingimos um grau deaperfeiçoamento bastante melhore podemos confirmar aquela crença inicial de que, mesmo sem umtrabalho que pudesse servir demodelo, alcançaríamos a Constitu~ção esperada pelo povo brasiI~Iro. No meu juízo, falta muitoa!nd~ par~ que esse segundo substitutivo seja uma Constituição modelar. Mas com os trabalhos e asemendas que temos de apreciaro~ trabalhos que temos de faze;ainda, com a participação de todosos constituintes, parcialmente naSistematização e totalmente noplenário, já podemos adiantar quea Constituição a ser promulgadaserá uma Constituição que em nada, absolutamente nada, deslustrará o trabalho do AssembléiaNacional Constituinte.
JC - Senador, e o clima emocional no interior da Comissão deSistematização?
Wilson Martins - Não tivemosassim um trabalho metódico nosentido de que tivéssemos uma sala, na qual obrigatoriamente deveríamos estar reunidos, nem horários preestabelecidos. Sob este aspecto poderíamos dizer que imperou certa anarquia, porque, naverdade, o relator não se valia somente do trabalho dos adjuntos.Ele buscava novas áreas dentro doCongresso para dialogar, buscava,chamava essas áreas para auscultá-Ias, para conhecer o pensamento das diversas correntes.
10 Jornal da Constituinte
Preconizo, então, cinco anos;que acho ser um bom lapso detempo. Governei meu estado, oMato Grosso do Sul, e pude observar isso.
JC - Mesmo no regime parlamentarista?
Wilson Martins - Não. No regime parlamentarista, teríamosque dar um maior período ao presidente ou ao governador, porqueacho que num país não unitário,mas sim de estados federados, como o nosso, temos que levar o parlamentarismo aos estados. Achoque, adotado o parlamentarismo,temos que ter um período de cincoanos, mas também acho seis anosum período excessivamente longono parlamentarismo.
JC ~ Esse parlamentarismoiria até ao nível municipal desaparecendo a figura do prefeito comoadministrador, passando o presidente da Câmara Municipal, oualguém indicado pela Câmara Municipal para a função de administrador do município?
Wilson Martins - Analisamoso assunto a nível de União e deestados federados. Então, o parlamentarismo teria que, dentro deum certo prazo - prazo que terãoos constituintés estaduais paraadaptarem sua Constituição à Federal-, ser adotado também nosestados. Em relação aos municípios, creio que ainda temos quemeditar um pouco e que examinaro assunto com objetividade, verificando da conveniência de levar osistema, na sua principal característica, até esse nível.
JC - Em matéria tributária, esse atual substitutivo é melhor doque a Constituição em vigor?
Wilson Martins - Acho o melhor, pois ele repassa mais recursos da União. Os tributos estãoextremamente concentrados. Eeis um dos males que minaram aRepública que antecedeu a NovaRepública, o que havia também,antes, de 1930, na chamada VelhaRepública. Há concentração depoderes e em conseqüência o fortalecimento da União e o depalperamento dos estados e municípios,o que trouxe conseqüências trágicas para os estados e {'ara os municípios. Antes de mars nada a subordinação dos governadores aopoder central. Sempre que precisávamos de recursos externos tínhamos que correr para Brasília,onde ocorria o repasse. Isso é exatamente nefasto, porque acaba aFederação e estabelece-se o servilismo político e administrativo.Aqui temos um regime mais equilibrado, os estados percebem maisrecursos do que percebiam pelaConstituição anterior e os municípios também. O servilismo encontra seu fim e portanto se restabelece a dignidade político-administrativa.
JC - E a propósito disso transfere recursos para os estados e municípios. Logo, na participação dobolo, reduz a participação daUnião. isso não levaria a Uniãoa tentar buscar novos recursosatravés de outras formas, agravando o encargo do contribuinte?
Wilson Martins - Creio que aUnião tem que ter o seu momentode poupança, de estabilização, dedespesas, o seu momento de encontrar um ponto de equilíbrio.Não creio que seja através de novos impostos que devamos caminhar. Acho que com o que restaà União, essa poderá atender àsdespesas com seu pessoal de custeio e as outras despesas que não
constam da folha. Também poderá fazer despesas de investimentos, mas ela tem que estabelecerprioridades e não pode apenasanunciar contenção de gastos, masefetivamente tem que realizar essacontenção como aprendemos a fazer nos estados e municípios aolongo desses vinte anos.
JC - Como o senador vê a presença do governo na Economia?
Wilson Martins - Sou favorável. Sou favorável à existência deempresas estatais, algumas são absolutamente indispensáveis, ou-,tras são dispensãveis, e até há empresas inúteis, não a{'enas supérfluas, mas prejudiciais. Essas deveriam ser banidas, fechadas outransferidas para a iniciativa privada. Acho que há empresas que sãoabsolutamente indispensáveis.
JC - Ainda que não dêem lucro?
Wilson Martin~ - Ainda quenão dêem lucro, mas elas são assim, as empresas de ponta do Governo são as empresas que trazemsegurança em certas áreas, comoé o caso do petróleo, como é ocaso dos metais ffsseis, como é ocaso da distribuição de gás. Nessescasos estratégicos devemos manter essas empresas, e não somentenesses casos, também em casos emque o Estado deva participar, como é o caso de ferrovias, navegação e outras tarefas que são indispensáveis ao público.
JC - O senador vem de um estado desmembrado. Como vê acriação de novos estados.
Wilson Martins - A experiência feita em Mato Grosso foi extremamente válida, porque a divisãocom a criação de Mato Grosso doSul e a sobrevivência do velho Mato Grosso representou uma molapropulsora do desenvolvimentoda nossa economia e de ambos osestados. Mato Grosso está explendente com seus 350.000km2
, comseu território pontilhado de cidades e já explorado em quase todosos extremos; aumentou sua produção agrícola; melhorou o nível dassuas cidades, as áreas urbanas estão muito melhor atendidas.A Educação, a Saúde, todos ossetores básicos, inclusive do saneamento, apresentam-se commuito melhor condição. O estadoganhou rodovias. Nesses poucosanos que marcam a instalação deMato Grosso do Sul até aqui, ouseja, 1979 a 1987, temos cerca demais de 3.000km de asfalto; ogrande déficit escolar que existiaem Mato Grosso do Sul foi eliminado, tínhamos 100.000 criançasfora da sala de aula, mas foramconstruídas salas suficientes paraatender a esse número todo decrianças que não dispunham deum assento em salas de aula.
Tínhamos cem anos de História, e durante todo esse períododo Mato Grosso do Sul se batiapela sua divisão e já constituía como que um estado de fato. Acredito que hoje temos que examinara realidade dos estados que querem desmembrar-se e se houvera mesma realidade e as mesmaspotencialidades nas áreas que querem desmembrar-se creio que nãodevemos sopitar esse desejo dosemancipacionistas.
JC - Há alguns que são contrários à divisão agora, e o acréscimode novos estados, e que essa criação de um novo estado importarianum custo muito alto. Existiu nocaso de Mato Grosso esse custoalto para a criação do novo estado?
Wilson Martins - A Lei n° 31que dividiu Mato Grosso em doisestados, em uma das suas disposições dizia que atenderiam a ambos os estados com recursos atégenerosos. Na verdade MatoGrosso do Sul não recebeu senãouma parcela pequena dessas dotações e sem embargos disso apresenta um crescimento e um desenvolvimento a olhos vistos. Então,não se pode medir o projeto dodesmembramento dos estados pelas despesas e orçamentos que sefazem antes, aprioristicamente,mas sim pela potencialidade dosnovos estados e regiões em favordo que possam representar no futuro, em benefício do seu povo.
JC - Entre as mudanças, deum substitutivo para outro, gostaríamos que o senador falasse sobreduas: O papel das Forças Armadase a permissão para a propaganda,nos meios de comunicação, de remédios, bebidas e cigarros. Houve, ou não houve lobby, ou pressão forte de grupos?
Wilson Martins - Bem, é inegãvel que, aqui nos corredores doCongresso, por toda a parte, ocorreram todas as categorias, todas
"Sou a favordas empresas
estatais.Algumas são
indispensáveise outras não.
Há atéempresasinúteis e
prejudiciais.Estas devem
ser banidas."
as classes, procurando influir sobre a decisão dos constituintes.Recebemos incontáveis vezes representações classistas, desde asmais simples até as mais qualificadas, todas procurando influir notexto constitucional. Mas, sabemos que isso é natural, que issotraduz um desejo de cada umadessas categorias - e todas essascategorias, afinal, é que constituem a soma do nosso povo. Então, a nossa postura foi semprede receber todos os que tinhamo que discutir, o que conversar co-:nosco, mas nunca sentimos também umas pressão irresistível, indelicada, descortês, ameaçadora,no sentido de impor o seu pontode visita e não simplesmente dediscutir, de convencer, de dialogar. A forma que sempre encontramos foi esta, de conversar, dediscutir, de dialogar, de aceitar,ou não, as ponderações que noseram feitas a respeito de todos ostemas que constituem esses duzentos e tantos artigos que estão aí,hoje, em forma de projeto constitucional.
JC - Mato Grosso tem o problema da proteção do Pantanal.Acha que, em matéria de meioambiente, o texto constitucionalvai atender bem a essas reivindicações de proteção ecológica, deuma maneira geral?
Wilson Martins - Um dosgrandes avanços desta Constituição se encontra justamente aí. Omeio ambiente, pela primeira vez,é tratado de forma constitucional.Não apenas os artigos que formameste capítulo constituem uma defesa do Pantanal; temos tambémoutras medidas que vêm beneficiar o Pantanal e que estão aquidentro da Constituição. É realmente a desconcentração de poderes. Nós tínhamos apenas a Uniãopara legislar em matéria de caça,em matéria de pesca, em matériade preservação de florestas e hojeessa competência está colocadanão de forma privativa da União.Havendo a competência da Uniãosubstancial há também uma competência concorrente dos estados.Eu mesmo fui autor dessa iniciativa, e isso representa uma grandemelhora para os estados, sobretudo para Mato Grosso do sul epara a região do Pantanal.
JC - A respeito de educação,fala-se na transferência não só derecursos para os estados e municípios, mas também de encargos. Osestados e municípios têm condições de assumir esses encargos queSerão transferidos, sobretudo emmatéria de educação?
Wilson Martins - Os municípios, os estados e a União estãoobrigados a ministrar e a dar a todos os brasileiros o ensino gratuitonos estabelecimentos oficiais. Sem.dúvida, isto constitui uma graveobrigação, mas, ao mesmo tempo,uma santa obrigação em favor dosmeninos que necessitam de escolae também dos adultos que aindanão foram alfabetizados. Os recursos mais abundantes hoje, conferidos pelo projeto em discussãoaos estados e aos municípios poderão melhorar a situação do ensino,da educação, nos estados e municípios, mas sempre será necessárioque a União leve recursos adicionais, como levou até aqui, paracomplementar a rede de ensino,para complementar a execução darede oficial dos estados, para complementar a melhoria do serviçoda educação. Eu creio que a circunstância de ter sido melhor distribuída a carga tributária do projeto não dispensa a União de ficarvigilante e de sempre atender aosestados quando eles necessitaremde rec~.lfSos outr?s I?ara po?ere!Ucumpnr essa pnmeira obngaçaoque nós, homens públicos, temoscom nosso povo, que é justamentea de alfabetizar as nossas crianças.
JC .z: A seu ver, quais as vantagens, no atual Substitutivo, paraa classe trabalhadora?
Wilson Martins - O capítulodos Direitos Sociais é um capítuloque me parece bastante bom. Elecondensa os direitos sociais queestavam em discussão dentro daárea trabalhista. As reivindicaçõesestão praticamente atendidas, senão todas, quase todas. As possíveis de atender foram atendidasno projeto. Há ainda a obrigatoriedade de trabalho de quarentae oito horas semanais, com umatarefa não superior a oito horasdiárias. Eu creio que a reivindicação de quarenta horas virá aoseu tempo. Já se desencadeoue de maneira eloqüente - a discussão, a reivindicação e a luta em
favor das quarentas horas. Esta.meta chegaiã.Estariiós a caminhodela.
JC - Voltando ao tema político, há críticas com relação à instituição do colégio eleitoral, apresentando a forma que consta doSubstitutivo como sendo um retro
.cesso, que criaria um colégio eleitoral. O que diz sobre isso?
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Wilson Martins - O texto consagra a eleição universal direta epelo voto secreto para o primeiroturno.' O candidato a presidenteda República que não atingirmaioria absoluta, então, quandoa eleição do primeiro turno nãoalcançar esse resultado é que haveria esse segundo turno, de forma indireta. Na verdade, é umanovidade que foi introduzida pelorelator, sem audiência com os adjuntos. Foi uma novidade trazidapor Bernardo Cabral, com inspiração até no modelo chileno, masque não sei se subsiste aqui, numreexame do texto, durante a votação da Comissão de Sistematização e no Plenário da AssembléiaNacional Constituinte. Não se poderia dizer que se trata de um retrocesso, mas é um assunto quemerece melhor reflexão, primeiro, para ver da conveniência dese realizar o segundo escrutínio,pela votação direta, com as suasvantagens e com os seus inconvenientes. Eu, pessoalmente, me declaro pela realização de eleiçõessempre diretas, universais e secretas. Acho que esse segundo turno,para dar uma situação mais técnicaatravés do Congresso, não seriavantajoso, preferiria que se fizessepor eleição direta entre os candidatos melhor votados.
JC - Como vê o clima políticodo País e a nova Constituição?
Wilson Martins - Vejo o climapolítico deste País muito retalhado, muito quebrado, muito atritado. Vejo com certa preocupaçãomas também com uma expectativaotimista. Não creio que possamoscaminhar para uma crise em quehaja um retrocesso, em que asForças Armadas novamente tomem o poder. A experiência foidesastrosa e trouxe, na verdade,muito mais inconvenientes doque vantagens e foi repelida, afinal, pela grande massa do povobrasileiro, comofoi testemunhadonos comíciospelas diretas, no tempo de Tancredo e de Ulysses Guimarães. Não creio, portanto, numretrocesso. Acho que a eleiçãoque se fez para a Assembléia Nacional Constituinte não se exauriuna confiança do povo. Esse trabalho de horas e horas indormidas,aqui realizado, é um trabalho sérioque está dando ao povo um textomoderno que incorpora todas asreivindicações, ou quase todas,sentidas e pedidas pelo povo. Issodevolve ao povo brasileiro a confiança no Congresso e, também,confirma o valor do debate democrático. Acredito que é por aí quedevemos e que vamos caminhar.Não há tropeço capaz de, nestemomento da história e no futuro,apagar a chama vigilante do povoe da classe política que estão irmanados hoje pelo desejo não somente de dar ao Brasil um regimeformalmente democrático, mas dedotar o país de um regime em queo povo participe, ei:i:f'gue' o povotenha melhores garantias, melhores salários e maiores vantagenseconômicas. Tudo isso é que constitui a razão de ser da nossa lutae, mais do que isso, constitui omotivo maior da nossa confiança.
Jornal da Constituinte 11
A últimapal{1vra é dasociedade
Na outra entrevista exclusiva do Jornal da Constituinte,o Deputado Vivaldo Barbosa (PDT-RJ) garante que o presidencialismo é o sistema de governo preferido pelo povo brasileiro,por ser "a única esperança que ele tem de exercer o poderno País". Segundo Vivaldo Barbosa, esta questão e outras mais,como, por exemplo, a reforma agrária e a estabilidade devemser decididas através de plebiscito.
Para que a sociedade seja ouvida, Barbosa defende a nãopromulgação da Carta elaborada pela Constituinte. Após o término do trabalho - acrescenta - "distribui-se cópias, faz-seuma campanha, os constituintes vão às bases e explicam o queconseguiram e o que não conseguiram". Em seguida, realiza-seo plebiscito, "e a Constituição é complementada, numa outrafase, pela redação final, em função das decisões que o povotomou".
Barbosa: o colégio eleitoral "é uma coisa estarrecedora"
JC - É favorável que o novotexto constitucional passe por umplebiscito na sua totalidade ou portemas?
Vivaldo Barbosa - Acho queas duas questões J?odem ser colocadas para plebiscito. Pode ser colocada ao povo uma pergunta: seele está favorável àquela Constituição e, através de outras perguntas, se o povo aprova o sistemade governo adotado na Constituição, se foi presidencialismo ouparlamentarismo; se aprova a reforma agrária e a estabilidade adotada. Todos esses temas que puderem ser selecionados como válidospoderiam ser submetidos a umaconsulta popular. Essa é a formade a Constituição ser respeitada.JC - Não mais um plebiscito sobre a totalidade da Constituição?
Vivaldo Barbosa - Creio queisso poderá trazer muita confusão,pois, em função de algum item outópico, as pessoas podem não querer condenar a Constituição todaou, exatamente em função desseitem ou tópico, condenam a Constituição toda. Acho que o trabalhador mais aperfeiçoado, aguiloque melhor se poderia fazer, e formular a pergunta por tópicos e aía Constituinte, depois, em funçãodesse resultado, corrigir o que fezde equivocado, que não foi do melhor mteresse e da vontade do povo brasileiro.
JC - Nessa hipótese, então,haveria uma segunda etapa daConstituinte?
Vivaldo Barbosa - Poderia tera Constituinte, e a Constituiçãonão precisava ser promulgada agora. Termina o trabalho, distribuiem-se cópias, faz-se uma campanha, os constituintes vão às bases e expli.cam o que .conseguirame o que nao conseguiram. Em seguida, faz-se o plebiscito, semmaiores problemas, e a Constituição, depois, é complementada,numa outra fase, pera redação final, em função das decisões queo povo tomou.
JC - Quanto ao sistema eleitoral, com a criação do colégio eleitoral em segundo turno, como oDeputado vê isso?
Vivaldo Barbosa - Essa é umadas coisasmais estarrecedoras queo substitutivo nos contempla.Agora, a imprensa está registrando que foi uma decisão oficial dadireção nacional do PMDB. Issoé estarrecedor, se vier a ser confirmado, pois o próprio PMDB, umdos grandes responsáveis pelacampanha das eleições diretas,não aceitava o colégio eleitoral e,depois, até o Dr. Tancredo Nevesdizia que queria o colégio eleitoralpara destruí-lo, para acabar comele, para nunca mais ser ressuscitado.
JC - Como ex-secretário deJustiça do Estado do Rio deJaneiro, o que sugeriria para agilizar a Justiça?
Vivaldo Barbosa - Primeiro, énecessário que ela se abra a umcontrole com vínculo popular,pois a Justiça se situa num planode poder. Aliás, essa questão depoder] par~ eles, é muito enfátic31'Eu ate havia proposto a supressaodas expressões Poder Judiciário,Poder Executivo, Poder Legislativo. Há funções: funções judiciárias, funções legislativas e executivas. O relator da Comissão doSistema de Governo, constituinteEgídio Ferreira Lima, acolheu esaiu da Comissão sem essa expressão. Hoje, até juízes reclamamque foi criado um Conselho Nacío-
o projeto nãofoi feliz em
avançar, masem abrir
caminhos parao povo
brasileiroavançar. No
seu conjunto,o projetoanterior
era melhorpara ele votar e cobrar as responsabilidades para o seu voto, cobraras promessas, promessas que geralmente os candidatos fazem naspraças públicas. E há uma circunstância no nosso Brasil, na sociedade brasileira que nos convenceque o povo está muito certo emassim pensar, porque a únicachance que o povo brasileiro, especialmente o povo mais desgarrado, mais desorganizado, a únicachance que ele tem de se comunicar com o centro do poder é umacamJ?anha eleitoral, é o processopublico, ele vem olhar nos olhoso seu candidato, o candidato queele escolheu, sentir a sinceridadedos seus compromissos, analisar asua biografia, ver se ele é capazde nunca trair o povo brasileiro,ver a natureza dos seus cODlpromissos, se é uma coisa realizável,se é uma coisamistificadora, enganosa, se ele escolher dar as mãosao centro do poder e depois podercobrar, com capacidade de cobrarpara que esses programas de governo sejam efetivamente reconhecidos e sejam cumpridos. Essaé a única esperança que o povobrasileiro tem em exercer o poderno País.
ADIRPlReynaldo Stavale
a Federação eram intocáveis, mas,agora, o que ficou também intocável é o sistema de governo.
JC - Há uma tendência naConstituinte favorável ao parlamentarismo?
Vivaldo Barbosa - Até agoranão senti. A imprensa, nesses últimos dias, está tentando revelar isso. Acho que até agora a questãoestá muito dividida e, mais umavez, eu veria a dificuldade de semudar o sistema de governo como Parlamento dividido e, sensivelmente, a Nação brasileira semacompanhar o Parlamento nisso,sem acompanhar a Constituintenisso. Não há dúvida que o quese recolhe de pesquisas feitas e deopinião de diversas pessoas, é queo povo brasileiro ou não sabe oque é o parlamentarismo, ou prefere eleger o presidente.
JC - É porque o povo brasileiro prefere o voto direto para presidente, ou porque prefere o sistema como o meio mais eficiente degoverno?
Vivaldo Barbosa - O sistemase manifesta, para o povo da maneira mais ostensiva, porque como voto é que o povo distingue oque é presidencialismo do parlamentansmo. O que é a sua maiordistinção, mesmo porque com ovoto o povo retém em suas mãoso direito de eleger o presidente,de optar entre pessoas conservadoras e progressistas, entre programas de governo das mais diferentes posições, e o povo brasileiro não gostaria de ver, comojá expressamente se manifestouque não quer ver esse seu podertransferido para os deputados. Opovo brasileiro não quer um governo dos deputados, ele não querum governo dos parlamentares,quer um governo nas suas mãos
grada pelas diversas subcomissõese comissões da Ordem Social foisuprimida. Evidentemente, temosuma postura crítica muito grandeao sistema de governo. Essa mudança do sistema de governo semuma consulta à população, emadoção do parlamentarismo, semque o povo brasileiro pudesse autorizar o Parlamento, a Constituinte, a fazer isso de maneira expressa, e também sem que fosseautorizado dentro do regime parlamentar que deverá ser adotadoque o Parlamento escolha, passea ser responsável e escolha em nome do povo, se transforme numcolégioeleitoral. E também temosuma postura muito crítica a esserespeito. Na questão do Judiciário, por exemplo, que não sofreuqualquer transformação, há umaaspiração geral da sociedade brasileira, uma reclamação contra anossa Justiça, contra o nosso Judiciário, o Judiciário não sofreuqualquer transformação significatíva, ao contrário, tememos quecom o fechamento da instituiçãocomo está, ainda mais fechada,sem um controle popular, ela passe a deteriorar o serviço públicoque vem prestando à população.Manter hoje os cartórios, comodar o regime cartorário, o regimeprivado, como uma questão medieval até isso, a esta altura, eraa coisa mais irreparável que poderíamos ter. Ficou, ainda, em relação ao sistema de governo umanovidade na Constituição, que éinédita. Acho que raríssimas constituições no mundo inteiro possaconsa~rar isso. É que não se podemodificar a Constituição sempre,nunca mais, em matéria de sistemade governo. Isso sempre foi adotado com a Proclamação da República para garantia da Repúblicae da Federação. A República e
JC - Deputado, o substitutivoreflete o trabalho de todos na Comissão de Sistematização?
Vivaldo Barbosa - Ele refleteum trabalho muito mais amploaqui na Assembléia Constituinte,reflete muitas tendências. Ele nãoreflete as melhores aspirações dopovo brasileiro. Não há dúvida doque se tentou fazer, o que se esperava que pudesse ser feito seriaum texto que contemplasse e acolhesse as principais reivindicaçõese desse guarida aos principais direitos do povo brasileiro. O projeto foi feliz em abrir mais caminhos para o povo brasileiro poderavançar. Acolhe alguns direitosfundamentais do povo, emboradeixe de atender a outros direitosfundamentais do povo brasileiro.O projeto anterior era, no seu conjunto, melhor do que o segundoSubstitutivo; tinha defeitos quepoderiam ser corrigidos, mas havia linhas mestras, que, sem dúvida alguma, poderiam dar a ele umperfil de um projeto mais pertodaquilo que o povo brasileiro estáaguardando.
JC - Quais seriam, por exemplo, esses aspectos positivos quedeixaram de existir agora?
VivaldoBarbosa - Em diversostemas, em diversos aspectos, alguns direitos foram subtraídos: acriminalização da discriminaçãoracial; o direito à ampla informação - ampla informação sobre interesses pessoais, sobre a pessoa-, que ficou condicionado à existência do interesse do Estado edo interesse geral da sociedade,que o Estado vai julgar. O defensor do povo, que era uma instituição necessária, já é uma práticasecular nos países nórdicos, umainstituição necessária que fique vigilante para que o direito do povobrasileiro não seja escamoteado eque seja assegurado para que opoder tenha um controle mais efetivo, para que a cidadania se expresse da maneira mais completa;o defensor poderia ser essa instituição que ficou abolida. Os direitos dos trabalhadores, alguns, ficaram subtraídos e outros segurados adequadamente, como a questão da greve ficou bem o dir.eitoà estabilidade, garantia do emprego, mas, por exemplo, a proibiçãoda contratação, da intermediaçãoda mão-de-obra que veio consa-
12 Jornal da Constituinte
nal de Justiça para exercer umcontrole da Justiça, do Judiciário.Reclamam que isso afeta a sua posição de poder. Ora, o poderquem tem é o povo. Ele depositano Congresso Nacional o podermaior, que é o de fazer as leis e,com isso, organizar o serviço público, restringir direitos e impordeveres aos cidadãos, aos administradores públicos e aos homenspúblicos. O Poder Judiciário nãoé um poder em si. Ele tem as~arantias próprias para exercer aJudicatura de maneira independente e autônoma. Mas não podese constituir num poder por cima do povo. Quem tem poder estápor cima do povo. O Judiciário,no nosso sistema, não é um Judiciário que tenha vinculação popular, é um Judiciário concursado.As pessoas nele ingressam porconcurso e não por delegação dopovo. Então é preciso que esse poder tenha um controle permanente pelo Legislativo e até mesmopelo Executivo, mas, acima de tudo, pelo Legislativo e nisso,o projeto foi infeliz. Ele manietou o Legislativo na capacidade de fazerleis que afetam a organização doLegislativo. Queríamos o Judiciário sujeito a esse controle do Legislativo. Por exemplo: promoções para desembargadores ou ministros dos tribunais superiorespassarem pelo Legislativo, porquetem condições de avaliar e submeter a um debate público as pessoasque viessem a ser nomeadas. Chegamos a ter no texto que os ministros do Supremo e dos TribunaisSuperiores seriam indicados peloLegislativo, para adotar e sujeitar-se a um debate público, e nãoconseguimos colocar isso da maneira como queríamos. Como jádisse, a existência dos cartórios,acima de tudo, há essa possibilidade que ficou muito restrita dea Justiça se organizar de maneiramais popular, de incorporar o mecanismo judicial, questões comunitárias, conselhos comunitáriosque poderiam, na primeira instânpovo, melhor captar os sentimentos populares e fazer justiça maispróximo do povo. A nossa Justiçaé muito eletista, é um direito concebido pelas elites e os integrantes, os magistrados são fruto dessaelite. Não compreendem muito ascircunstâncias que acontecem nodomínio popular e é preciso descerum pouco mais, captar um poucomais esse sentido. Quando eu eraSecretário de Justiça, no Rio deJaneiro, tentei, com todas as forças, com todo o empenho possível,para abrir juizados nas favelas eem bairros pobres. Nunca conseguimos isso. Nunca o Judiciárioaquiesceu em se abrir e chegar atéa população pobre, com certo prurido de que ISSO feria a dignidadeda Justiça.
JC - É a favor da Corte Constitucional?
Vivaldo Barbosa - Sou favorável, tenho, a emenda nesse sentido. Fiz destaque para ela e vousustentá-la. E, para ela, tenho oapoio de diversos partidos. Fizemos uma emenda interpartidária,tenho apoio da Ordem dos Advogados do Brasil e vou sustentá-laem plenário. Ainda alimento a expectativa de que, em plenário, aConstituinte possa ser sensível eadotar o tribunal constitucional, oque era indispensável. Precisamoster um tribunal que seja o guardião da Constituição, guardião dasnovas liberdades públicas, que aConstituição possa acolher, dosdireitos e da cidadania que a Constituição está reconhecendo e elaprecisa ser aquele instrumento
que a população sinta que lhe serve de alguma coisa, e a melhorreferência para isso é um tribunalconstitucional, é a corte constitucional. É por isso que as naçõesmais modernas, que fizeram Constituições mais recentes, especialmente do pós-guerra, praticamente todas elas estão adotando o tri-bunal constitucional. .
JC - Houve algum avanço emrelação à reforma agrária?
Vivaldo Barbosa - Sim, houvealgum avanço, um pequeno avanço, mas houve. A ordem jurídicajá permite a realização da reformaagrária, a desapropriação pelaUnião e um sistema de imissão deposse ágil, com prazos bem curtos,bem rídigos, que, efetivamente,não são cumpridos. Hoje, a novaConstituição procurou superar isso aí. Ela não cria um prazo terminal, findo o qual a imissão de possese dá automaticamente, o que permite, ajuda e facilita a agilizaçãodo processo de reforma agrária,porque a União não fica mais subjugada, sujeita às decisões judiciais locais. Feito o decreto de desapropriação, o juiz é obrigado aimitir a União na posse em 90 dias,e, se não imitir, essa posse se consagra de maneira imediata, automática. A única conseqüência dadecisão judicial é que se a Uniãoerrou em avaliar que o imóvel nãocumpria a sua função social, istoé, desapropriou o imóvel de maneira equivocada, ela fica obrigada a pagar em dinheiro ao propnetário, porque a reforma agrária éfeita mediante pagamento de títulos da dívida pública. Essa foi aúnica evolução que aconteceu,que é importante. A reforma agrãna ficou condicionada ao preenchimento da função social, e istoainda é impreciso, porque a função social é definida de maneiramuito elástica e abrangente no Estatuto da Terra. Permite-nos, evidentemente, mais na frente, redefinir a função social, ajustá-la atermos mais adequados e maisconsentâneos com os projetos dereforma agrária em andamento noPaís.
JC - E a proteção ao trabalhador?
Vivaldo Barbosa - A proteçãoao trabalhador ficou boa, formulada de maneira até rígida. Havíamos oferecido ao relator sete hipóteses sobre as quais não precisavaincidir a estabilidade. Ele escolheu quatro, inclusive acreditandoque as outras três estariam embutidas nessa mesma formulação quefoi feita. Agradou-nos bastante aformulação feita no texto constitucional. Ela realmente proteje oempregado contra a demissão arbitrária, imotivada de qualquerempregador inescrupuloso. Isso éum avanço para o direito socialbrasileiro, essa foi uma conquistaimportante da nova Constituição.
JC - E quanto à jornada detrabalho?
Vivaldo Barbosa - Infelizmente, o relator não acolheu. Impôsapenas um limite à jornada de 8horas.
Esperamos que com a lei possamos, mais à frente, além do limitede 8 horas diárias, também limitaros dias da semana de trabalho para5 dias. Hoje, é difícil encontraruma legislação, no mundo inteiro,que contemple 40 horas de trabalho, todas já contemplam menos.Há diversos setores da vida brasileira hoje que contemplam também menos de 40 horas ou até omáximo 40 horas, ou 5 dias da se-
mana, que é o caso dos trabalhosde escritórios e do serviço público.Mas o operário de fábrica, o comerciário, esses estão sujeitos aotrabalho de 44 ou 48 horas, e, semdúvida alguma, a próxima conquista que esperamos auferir, jácom a lei ordinária, será a colocação das 40 horas. Vamos voltarainda, temos emendas neste sentido, e vamos lutar para que essaConstituinte ainda venha a aprovar a jornada de trabalho de 40horas por semana.
JC - Quanto à parte de sindicalização e de autonomia sindical?
Vivaldo Barbosa - Esta parteficou formulada de maneira inadequada, consagrou-se a pluralidadesindical, e isso não é o que as organizações sindicais desejam. Apenas uma corrente da CUT e, infelizmente, o PT têm essa postura,em que propugnam pelo pluralismo sindical. Mas a imensa maioriadas organizações sindicais e dospartidos políticos deste País consagram a unicidade sindical. Temosuma emenda para isso e esperamos vê-la acolhida em plenário,porque já estamos verificando que
o PoderJudiciário,
no nossosistema, não
tem vinculaçãopopular, pois
as pessoasnele ingressampor concurso e
não pordelegaçãodo povo
as organizações sindicais estão-semexendo, os sindicatos de cada estado estão visitando as suas bancadas, no sentido de aprovar a nossaemenda pela unicidade sindical.Esta é uma questão importante,fundamental, e vamos lutar porela.
JC - O substitutivo voltouatrás no tocante ao papel das Forças Armadas e à propaganda decigarros, bebidas, remédios. Issoé fruto de lobby; houve uma pressão muito grande?
Vivaldo Barbosa - Foi outraquestão que nos causou muita surpresa. Já estava consagrada noprojeto essa proibição, e o relatorprometeu, de viva voz e de público, em diversas entrevistas, quejamais alteraria esses dispositivos.Com relação à propaganda de bebidas alcoólicas, de cigarros e demedicamentos, que seria uma conquista para a sociedade brasileira,o relator havia prometido não alterar esse dispositivo, porque játinha até compromissos públicoscom relação a ISSO, e disse inclsiveque seria uma coisa para ele incô-
moda, porque ele foi muito pressionado por todos os setores desses lobbies das indústrias de cigarros e de agências publicitárias, queestavam tentando cercá-lo e envolvê-lo na retirada dessa proibição. Ele alegou que recebeu umacarta do autor da emenda, que hoje desmente para o jornal que tenha feito essa carta, que tenhaconcordado com essa substituição,que essa carta tenha o alcance deretirar essa proibição. Essa é umaquestão em que certamente temque ser verificado o grau de envolvimento que todos tiveram nesseepisódio.
Sobre o papel das Forças Armadas, com o qual o relator se haviacomprometido no texto anterior,foi modificado. Apesar de nãopreferir as modificações, entendoque já houve um avanço com otexto atual. As Forças Armadasestão subjugadas ao controle dospoderes constitucionais e somenteatuarão quando solicitadas por umdesses poderes, que são o Executivo, o Sr. Presidente da República seu Comandante-Chefe, oLe$islativo ou o Judiciário. Foradai, as Forças Armadas se destinam à defesa da Pátria em casode guerra externa. Isso já é umgrande controle. A redação anterior, que é a redação que vem doprojeto Afonso Arinos, já disseque, mesmo solicitadas pelos poderes constitucionais, estas se destinam exclusivamente à defesa daordem constitucional. Agora ficoucom defesa da lei e da ordem. Issosignifica que, em caso de distúrbios, de segurança pública internae de perturbação da ordem interna, ela poderá intervir. Mas somente o fará, se for solicitada porum dos poderes constitucionais.
o
JC - Outro tema de grandeatualidade é o da violência. O quea Constituição vai fazer no sentidode conter a violência?
Vivaldo Barbosa - Muito pouco, quase nada. Poderia fazer, sedefinisse melhor as instituiçõespoliciais. As definições das instituições policiais estão equivocadase incorretas, e não se alterou ouafetou a Justiça criminal no País,a grande responsável pela questãoda violência no País e que é ineficaz, ineficiente, não dirige a polícia de investigação e não investiga.Os juízes dão sentença sem conhecer nada da realidade. Os promotores acusam ou defendem semconhecer nada da realidade, dacriminalidade e da violência, estãomuito distantes e não participamda investigação, não investigamnada. Poderíamos ter criado umajustiça de investigação, um juizado de instrução, proposta minhaque estou reiterando, para que aJustiça criminal seja organizada demaneira eficaz e, como acontecenos Estados Unidos e na Europaem geral, a Justiça participe dasinvestigações e, com ISSO, obtenhaum rendimento e mais eficiênciae presteza da polícia judiciária edesbarate os crimes organizados.
JC - Se a Constituição aprovada e promulgada consagrar o parlamentarismo, os presidencialistascontinuarão na luta para tentarrest~belecero presidencialismo?
Vivaldo Barbosa - Sem dúvidaalguma. Temos a convicção e atéo temor - não esperávamos queisso acontecesse - de que, consagrando a eleição direta, como estáconsagrando, sabemos que vamospara a praça pública, as correntespolíticas de oposição vão condenar o sistema adotado, e a eleiçãopresidencial será praticamente umplebiscito. Com isso até se reforça
a idéia da votação, da eleição, dofavorecimento na votação de umcandidato de oposição. Se isso viera acontecer, que é o que se esperaque venha a acontecer, ainda maisnesse quadro que se criou, o candidato de oposição, sem dúvida alguma, vai encarar o mandato quereceber como um plebiscito contraa Constituição, e aí o Congressobrasileiro terá que se curvar a essar~alidade, ~erá que. rever sua posiçao, para nao cnar Impasses e umacrise, porque o que se está armando é um convite à crise, é tentarsubtrair o direito do povo brasileiro de votar, ou de votar de maneira enganada, de um presidentesem poderes, a quem apenas vairestar o poder de comandar asForças Armadas, mas, mesmo assim, não poderá nomear os ministros das Forças Armadas, visitaráos quartéis, dará condecorações eas fitas às pessoas gradas e estabelecerá relações. Será responsávelpela política externa, mas não nomeará o ministro das Relações Exteriores e percorrerá o mundo.Ora, o povo brasileiro não vai votar num presidente com essa expectativa. Vai votar num presidente que possa responder aosgrandes problemas que existem noPaís e que afetam a vida de nossapopulação. O povo vai descarregar seu descontentamento atravésda eleição de um candidato deoposição. Isso vai servir para essecandidato de oposição, uma vez'eleito, talvez não poder iniciar oprocesso de mudança, de reformado sistema de governo. Isso, esperamos que, pelo menos se vier aser aprovado o parlamentarismo,se abra a brecha para que isso venha a acontecer. Hoje, isso estáamarrado. Hoje, o que se está propondo é criar o impasse. Hoje, oprojeto vai levar a nação brasileiraa uma grave crise, porque essa hipótese da eleição de uma oposiçãoé uma coisa muito palpável e visível, no caso de a oposição ganhar.Como está, a Constituição vai levar o País a uma crise, e é precisoque nós, pelo menos se vier a seraprovado o parlamentarismo, deixemos brechas para que essa crisepossa ser superada.
JC - O deputado já disse quea futura Constituição visa manteras elites brasileiras no poder pormais de 50 anos. Continua pensando assim?
Vivaldo Barbosa - Não há dúvida. Ainda mais nos esquemasmontados, que levam a que as elites brasileiras não sejam afetadasna sua estrutura de poder. Ao contrário. Elas vão perpetuar-se nopoder e vão consolidar-se com oarcabouço geral da Constituição.Cedeu-se em poucas coisas. Algumas migalhas o povo vai receber,mas a essência, a estrutura de poder, a hierarquia social e de poder,será mantida. Essa massa imensade sofridos, injustiçados e miseráveis deste País não se vai transformar. Vai apenas ficar com algumas migalhas que a Constituiçãoestá dando a ela, e isso, o esquemapolítico montado, a forma desseparlamentarismo organizado, épara permitir, sem dúvida alguma,que as elites brasileiras, mais umavez, na hora em que se sentiremameaçadas, dêem a volta por cimae saiam vitoriosas para algumasdécadas. Espero que não seja pormais 50 anos, como sempre vaticinamos e tentamos expressar notempo, mas pelo menos por algumas décadas, pelo esquema constitucional vigente, as elites brasileiras ainda vão conseguir mantçrsua estrutura de poder e seus priv!,légios. '.,
Jornal da Constituinte 13·)
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tativas de c da corresponde s Guimarães , ao idencia o cresmaior o V?'u~eConsntumte, 1f~b;~:do Jornal, o qde e~rto () trabalhobléia N",," Cordeiro e à e anhar, mais 'P nest: pãgma,tãno, .Marcel~da sociedade em.ac~~fas são publicadas stituinte comocente mlere~st Algumas dessas ão do Jornal.da_Con.blica. Escrevada Constituin e nhar a repercu;s,: com a opmiao punão 56 para. te~t~~~ aproximaçâo maiorpara mcent!vavocê lambem
são José de Mipibu_1l1f
Srs. COnstitUintes,
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p~ darlninha opinião sobre a nova OOnstitUi_ção: 12 que S OOnstitUinte ssseeure tOdOB 08 •
diretoB dos t2'8belhadorell rurais i€U81:mente cCIII
Os da Cidade; 211 que o Governo dê :mais verba Pl!
as eSColas Públicas; 311 Que a Re~o~ Agrárie •
seja Controlada Sob a proteção dos t2'8balhado_'
res ru2'llis, BS2'8ntindõ Us.ilR u:m pedeço de chão'Pare si e suas :familias; 411 que o Governo dê
:mais segurença aos :menores abandonados; 511 que'
o Governo eleVe o salário :míni:mo, bssee do
pelo'
DIE!S!; 611 Gostaria qUe to'os Os OOnstitUintes'
-...eitos pelo voto PoPUlar, sprovesse:m Ss e:mendes
que são a be:m do Povo bresileiro, nós vote:mos •
elll COnstitUintes, 1'oi para nos det'ltnder,
elebo_
l'ando Leis que nos de1'endllll deqUi .Pe2'8 ~ren'te.Fico bastante agradecido em receber o JOrnal
da COa s t i
tUinte, deSde o 111 nÚ;mero.
(Í ~ A. At!.nCiOse:mente,~8~~~o...
Londrina, 07 de A.gosto de 1987
A.o
S'"''o d, DiVUJ.sa,ão d••",.bUi. Naoiona1 Oonotituint,CÂ!TA.RA. DõS llBPUT.ADOSBRASILIA-DP
Vimos por meio desta, solicitar qUe nos seja'"O-nhado "'''''''Im,nt' •• PUblioa,õ" do .~':!!IN,,"", Poi., "oota",_. d, no. _ tor info""",,o "br, 00 ao./'unto. tratado. p'l. ""''""L< "OIO'A" COr.SOITUINTr.,
Informamos qUe fqzemos Parte integrante da /P"tor," da JUV'"tud" VinOU1ad, • ArqUí,"oo,., d, LO'IDnlNA ,por "t, .otivo "<amo. int,r""do. 'm 'OO""anh,r 'Oi. d, P'~to ,.t, magnífioo tr'balho, o d, '.or,.... NOVA óONSTITnrOÃO.
Certos de vosso pronto atendimento, enViamosnossos protestos ne ConSideração.
~,~,Av. RIO BP.A1rco,86070-LOlm~INA/PR
Jornal da Constituinte14
Bases opinam em questionárioQuem imagina que todo o tra
balho da Assembléia Nacional naatual etapa não conta com a participação popular está bem enganado. Pelo menos é o que mostrao constituinte Nilso Sguarezi, doPMDB do Paraná. O parlamentarresolveu, por conta própria, criarum canal de sugestões, reivindicação e análise dos pontos maispolêmicos da nova Carta, com oeleitorado de seu Estado, atravésde questionários que foram distribuídos em nada menos que 250dos 311 municíl?ios paranaenses.
O questionáno está dividido emduas partes e é de fácil resposta.Na primeira seção está o questionário propriamente dito, onde oeleitor responde a 21 perguntascom temas polêmicos diversos, como a pena de morte, sistema deGoverno, aborto, liberação dojogo, reeleição e duração de mandato de presidente da República,prefeitos e governadores, bem como censura, controle da natalidade, reforma agrária e legislaçãotrabalhista. E na segunda fase doformulário o eleitor pode fazer asua sugestão envolvendo temasque não foram tratados na etapaanterior.
O constituinte Nilso Sguareziiniciou a distribuição dos questionários no final do mês passado,num total de 50 mil. A respostados eleitores não tardou e hojeNilso Sguarezi recebe uma médiade questionános que varia entre40 e 50 diariamente. "A vontadede participar é tão grande, afirmao parlamentar, que chego a receber questionários pelo Sedex oupelo sistema de carta registrada".Além disso, lembra o parlamentar, há questionários - principalmente de universitários e de sindicatos - cujas respostas são resultados de uma consulta que envolveuma classe ou participantes deuma reunião.
Mas por que esse questionário?Segundo Nilso Sguarezi, dois motivos básicos o levaram a elaboraresse questionário. O primeiro, deacordo com o parlamentar, foi ofato de apenas os governadores terem tempo disponível nos programas de televisão durante as últimas campanhas eleitorais, e osconstituintes foram, em sua opinião, colocados à margem. O segundo motivo apontado por NilsoSguarezi foi a edição do CruzadoII cinco dias após a divulgação davitória do PMDB. Ao afirmar queo Cruzado 11provocou uma enorme frustração na população, NilsoSguarezi considerou que o seuquestionário surgiu em um momento muito importante para todos que querem de um modo oude outro, participar dos trabalhosda nova Constituição, assim como"serviu também como um catarsepara muitos eleitores, que não encontravam meios de se manifestarem".
Apesar de os questionários continuarem a chegar todos os diasao gabinete 840 do Anexo IV daCâmara dos Deputados, NilsoSguarezi já fez uma primeira avaliação em que tabulou 1.500 questionários. "O momento decisivopara o novo texto estava chegandoe nós não podíamos adiar mais adivulgação de um primeiro resultado das consultas populares, lembra o constituinte. Assim, a partirdesta semana, cada um dos 559constituintes estará recebendo a
.ADlRPrCaslro Jümor
primeira prévia. "Isto não quer dizer absolutamente que os demaisquestionários estejam sendo desprezados. Continuamos guardando todas as respostas para, ao final, emitirmos uma análise amplada sociedade, uma vez que enviamos questionários a todos os setores produtivos. Além disso, as sugestões que não forem contempladas pelo texto constitucional vãoconverter-se em farto material para trabalho de elaboração de legislação ordinária", disse Nilso Sguarezi.
As respostas da população aosquestionários, segundo sua avaliação, têm apresentado uma visãoobjetiva e coerente nos temasabordados. Um primeiro pontoque o parlame.ntar paranaense ressaltou foi a questão da reeleiçãopara prefeito, governadores e presidente da República. No caso dosprefeitos, nas primeiras 1.500 respostas, 55% foram favoráveis, enquanto que no caso de reeleiçãode governadores, 52% dos consultados foram contrários, e, no casodo presidente da República, sãocontrários à reeleição nada menosque 61% dos interrogados.
Quanto ao sistema de governo,de acordo com Nilso Sguarezi, asrespostas mostraram coerência. Amaioria é contrária à reeleição dopresidente da República: 67% dosconsultados mamfestaram por ummandato máximo de quatro anospara presidente; e 59% querem oparlamentarismo.
A primeira pergunta do questionário trata da pena de morte:67% são favoráveis à ela. Na opinião de Nilso Sguarezi, as respostas mostram a preocupação da sociedade com os atuais níveis deviolência e com a estrutura do sistema penitenciário nacional. Nocampo reservado às sugestões,muitos pediram a extensão da pena de morte não apenas para osculpados de crimes violentos oucom morte, mas igualmente paraos responsáveis por escândalos fi-
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A julgar por umapesquisa feita pelo deputado Nilso Sguarezi(foto) 67% da população paranaense é favorável à pena de morte.O parlamentarismotambém teria a preferência do eleitorado daquele Estado, que também deseja um mandato de quatro anos parao presidente da República, sem direito à reeleição.
Estes são apenas alguns exemplos dos resultados obtidos peloparlamentar através dequestionário que distribuiu na maior parte dosmunicípios paranaenses, a fim de estimulara participaçãodas basesna elaboração do textoconstitucional. NilsoSguareziassocia sua iniciativa àquelas formaistomadas, visando a umamaior participação popular na Constituição,como a audiência à sociedade civil nas subcomissões e a apresentação das emendas populares, que reuniramquase 15 milhões de assinaturas.
nanceiros e para os funcionáriospúblicos que praticarem o desviode verbas e recursos da União.
Nilso Sguarezi acredita quemais uma vez a população mostrou a coerênica de suas reivindicações e propostas no caso da destinação de verbas públicas para oensino. Respondendo à questão:"as verbas de educação devem serdadas também para a rede de ensino particular?", 54% dos questionános analisados mostraram-secontrários à destinação de verbaspúblicas para as escolas particulares. "No meu entender, a população quer maior democratizaçãodo ensino, de modo a evitar queuma das causas da violência e marginalização na sociedade seja extirpada" .
Outra causa apontada nos questionários por parte da pOl?ulaçãofoi a violência que é veiculadaatravés da televisão. "Os programa de TV devem ser censurados?". O número de respostasafirmativas a essa pergunta chegou a 65% do total, e muitos justificaram a violência como causaprincipal de suas inquietações nocampo das sugestões.
Sobre a questão do controle danatalidade, a preferência ficou pormétodos contraceptivos. Pelo menos foi o que ficou sugerido, umavez que 58% das respostas mostraram-se favoráveis ao controle estatal do número de filhos por casal, mas. 69% dos entrevistadosafirmaram ser contra o aborto.Quanto ao número ideal de filhospor casal, 28% acreditam que doisfilhos já seriam suficientes, 32%,três filhos, 17%, quatro, 5%, cinco e 3% são favorável a uma família composta por mais de seis filhos.
Já na questão da reforma agrária, 68% dos entrevistados mostraram-se favoráveis à iniciativa.Do mesmo modo, 74% querem afixação de uma propriedade quetenha como limite máximo ummódulo rural preestabelecido. O
módulo máximo fixado em alqueires, na opinião destes mesmosquestionários, deveria ser de 50 alqueires (para 35%), seguida a proposta de 100 alqueiros tcom 21%),300 alqueires (16% ),500 alqueires(12%) e finalmente 1.000 alqueires (defendida por 7% dos questionários) .
Na área da legislação trabalhista, alguns pontos foram incluídosno questionário distribuído peloconstituinte Nilso Sguarezi. O primeiro ponto foi o da establidadeno emprego. Este foi um pontoque dividiu opiniões: 50% foramfavoráveis à estabilidade imediata, enquanto 48% manifestaramopinião contrária, contra 2% deresposta em branco. Sobre a indagação: "Após quantos anos se adquire a estabilidade?", 28% dosentrevistados querem dois anoscomo prazo mínimo, 22%, trêsanos, 14%, quatro anos, 10%, cinco anos e 10% mostraram preferência por seis ou mais anos comoprazo mínimo.
O outro ponto tratado peloquestionário na área de legislaçãotrabalhista é o da idade mínimapara a aposentadoria do indivíduo. No caso da aposentadoria para os homens, 32% foram favoráveis à idade de 50 anos, 38%, 60anos, 23%,65 anos e 1%,70 anos.No caso da aposentadoria para amulher, 41% apontaram a idademínima de 50 anos, enquanto 31%querem a idade de 55 anos, 18%,60 anos e 4%, 65 anos. As duasquestões finais do trabalho doconstituinte Nilso Sguarezi são: liberação do jogo e anistia fiscal.Quanto à liberação, a pesquisamostrou 52% dos eleitores favoráveis, 44% contrário e 4% não responderam à pergunta. Com relação à anistia fiscal, os entrevistados são contrários em sua maioria(51%),45% são favoráveis. NilsoSguarezi reconhece nesse ponto amesma rigidez da população quelevou muitos a pedirem a pena demorte para os chamados "crimesdo colarinho branco".
Por esses mecanismos de contato entre a Assembléia NacionalConstituinte e a população, NilsoSguarezi não acredita que o resultado do trabalho será um textoconservador. "Os substitutivoselaborados até o momento têmmostrado múitos avanços, entretanto forças poderosas que perdem seus privilégios promovemuma verdadeira campanha contraa Constituinte. Nilso Sguarezilembrou o caso da eleição dos diretores do Banco Central pelo Senado Federal, com base no currículo dos indivíduos. "Esta medidanão somente dará maior segurança aos diretores, como tambémdará maior segurança à próprianação, uma vez que os nomes índicados não serão resultados depressões de banqueiros ou de ministros. "
Da mesma forma, o fato de asnomeações dos juízes no Tribunalde Contas da União serem feitaspelo Congresso Nacional, segundo o parlamentar paranaense, impedirá que os cargos "sejam negociados como se fossem prêmios deconsolação". Além disso, se umadenúncia for apresentada por parte da população, mas não for apurada pelo TCU, o órgão se tornaráem co-responsável. "O texto quera prevalência da lei e não das pessoas".
Jornal da Constituinte 15
TFR é contrac criação de Lonselho
ADIRPrCastro Júnior
g. presidente em exercício do Tribunal Federalde Re.c:J,y"sos, Washington Bolívar, acompanhado deoutros ministros daquela corte, foi recebido na semana passada pelo presidente da Assembléia Nacional Constituinte, Ulysses Guimarães. Os magistrados vieram pedir a atenção da Constituinte paraas questões relacionadas ao sistema judiciário e àdistribuição de justiça. Fundamentalmente, eles discordam da criação do Conselho Nacional de Justiça,previsto no atual substitutivo do relator BernardoCabral (PMDB - AM), com o objetivo de controlar
as atividades administrativas e o desempenho doPoder Judiciário e do Ministério Público. O atualsubstitutivo prevê a transformação do TFR em Superior Tribunal de Justiça, com os atuais ministrossendo automaticamente incorporados ao seu quadro. Ao Supremo Tribunal Federal seria retiradaa sua atribuição de corte de apelação, que possuihoje, ficando-lhe reservada, basicamente, a funçãode interpretar a Constituição, criando-se, assim, ascondições para que a nova Carta seja devidamentecompreendida e respeitada.
ADIRPlBcncdlla Passos e Castro Júnior
~~-::;Z1~
Uma festae um apelo
Dezenas de moças erapazes se uniram, nas
dependências da Câmara,para festejar os 3 anos da
União da JuventudeSocialista. E o bolo, além
de enorme, serviu parareiterar o apelo dos
jovens brasileiros, quedesejam votar
a partir dos16 anos de idade.
16 Jornal da Constituinte
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ADIRP Reynaldo Stavale
Aposentados cobram apoioO direito de viver com dignidade na velhice está sendo
cobrado pelos aposentados, numa movimentação sem precedentes no País. Tentando sensibilizar os constituintes parao drama em que vivem, centenas de aposentados se reuniramno auditório "Petrônio Portella", do Senado, com o apoiode várias entidades, e também procuraram o diálogo como relator Bernardo Cabral.