volume [ulule · volume 359 devagar se vai ao longe. essa era, semana passada, a expecta tiva de...

16
Volume 359 Devagar se vai ao longe. Essa era, semana passada, a expecta- tiva de quem acompanhava as vota- ções na Comissão de Sistematiza- ção da Assembléia Nacional Cons- tituinte. Até a quinta-feira, por exemplo, havia-se chegado ao ar- tigo 5° O projeto de Constituição tem 264 artigos, na sua parte per- manente, e 72, nas Disposições Transitórias. Imaginando-se que esse ritmo não fosse experimental, e que, após a Sistematização ainda teremos a votação maior e defini- tiva do Plenário, poder-se-ia supor que os calendános até aqui pre- vistos pelo Regimento Interno se- nam, todos, evidentemente defa- sados. Na verdade, provavelmente es- ses prazos serão dilatados. Mas a recuperação de uma prática demo- crática de confecção constitucio- nal que não é exercida desde 1946 leva a supor que o ritmo dos traba- lhos se acelerará a cada dia, com a eliminação de detalhismos e mi- núcias. No fim, o voto terá marcado o tempo dos trabalhos, não impor- tando o seu resultado. Natural- mente que a Nação anseia pelo fim formal da transição democrá- tica. Anseiam sobretudo o povo e a economia. Não se pode, entre- tanto, discutir a soberania do vo- to. Nessa altura ele é o dono do relógio. [UlUle , , ';'?,; Sistema de governo é, de novo, o tema principal em debate pelos entrevistados (Páginas 10 a 13) Brasília, de 5 a 11 de outubro de 1987 - Nq 19 Em discussão sistema que o povo prefere Quem marca O tempo é o voto! Batalhar pela melhoria da quali- dade do ensino brasileiro, reco- nhecidamente carente, foi o que motivou centenas de professores de todo o País a se reunirem diante do edifício do Congresso Nacional (foto) para repetir suas reivindi- cações à Assembléia Nacional Constituinte. Vindos principal- mente de São Paulo, os profes- sores pressionaram para que a fu- tura Constituição lhes assegure a aposentadoria aos 25 anos de ser- VIÇO e garanta as verbas públicas apenas para as escolas oficiais. Eles também querem que 18% do Orçamento da União e 25% dos orçamentos dos estados e municí- pios sejam, obrigatoriamente, destinados à educação. Professores ADIRPlRobcrto Stuckcrt pedem por eles e pela educação Chanceler russo visita Constituinte Órgão oficial de divulgação da Assembléia Nacional Constituinte Depois de mais de vinte anos a bandeira da União das Repú- blicas Socialistas Soviéticas foi hasteada no pavilhão do Minis- tério das Relações Exteriores. O chanceler russo Eduard She- vardnadze esteve em visita ofi- cial ao país, encontrando-se com os presidentes dos três po- deres e com o da Assembléia Constituinte, Ulysses Guima- rães. São relações entre nações adultas, que convivem e se res- peitam. Uma rápida leitura do atual projeto de Constituição mostra que o Brasil segue suas pró- prias tendências e reitera sua opção capitalista, embora vol- tada para o social. Mas sem fantasmas inúteis. ADIRPlWllham Prescot

Upload: others

Post on 26-Jun-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Volume [UlUle · Volume 359 Devagar se vai ao longe. Essa era, semana passada, a expecta tiva de quem acompanhava asvota ções na Comissão de Sistematiza ção da AssembléiaNacional

Volume359

Devagar se vai ao longe. Essaera, semana passada, a expecta­tiva de quem acompanhava as vota­ções na Comissão de Sistematiza­ção da Assembléia Nacional Cons­tituinte. Até a quinta-feira, porexemplo, havia-se chegado ao ar­tigo 5° O projeto de Constituiçãotem 264 artigos, na sua parte per­manente, e 72, nas DisposiçõesTransitórias. Imaginando-se queesse ritmo não fosse experimental,e que, após a Sistematização aindateremos a votação maior e defini­tiva do Plenário, poder-se-ia suporque os calendános até aqui pre­vistos pelo Regimento Interno se­nam, todos, evidentemente defa­sados.

Na verdade, provavelmente es­ses prazos serão dilatados. Mas arecuperação de uma prática demo­crática de confecção constitucio­nal que não é exercida desde 1946leva a supor que o ritmo dos traba­lhos se acelerará a cada dia, coma eliminação de detalhismos e mi­núcias.

No fim, o voto terá marcado otempo dos trabalhos, não impor­tando o seu resultado. Natural­mente que a Nação anseia pelofim formal da transição democrá­tica. Anseiam sobretudo o povoe a economia. Não se pode, entre­tanto, discutir a soberania do vo­to. Nessa altura ele é o dono dorelógio.

[UlUle~

,

, ';'?,;

Sistema de governoé, de novo, o tema

principal em debatepelos entrevistados(Páginas 10 a 13)

Brasília, de 5 a 11 de outubro de 1987 - Nq 19

Em discussãosistema que opovo prefere

Quem marcaO tempoé o voto!

Batalhar pela melhoria da quali­dade do ensino brasileiro, reco­nhecidamente carente, foi o quemotivou centenas de professoresde todo o País a se reunirem diantedo edifício do Congresso Nacional(foto) para repetir suas reivindi­cações à Assembléia NacionalConstituinte. Vindos principal­mente de São Paulo, os profes­sores pressionaram para que a fu­tura Constituição lhes assegure aaposentadoria aos 25 anos de ser­VIÇO e garanta as verbas públicasapenas para as escolas oficiais.Eles também querem que 18% doOrçamento da União e 25% dosorçamentos dos estados e municí­pios sejam, obrigatoriamente,destinados à educação.

Professores ADIRPlRobcrto Stuckcrt

pedem por elese pela educação

Chancelerrusso visitaConstituinte

Órgão oficial de divulgação da Assembléia Nacional Constituinte

Depois de mais de vinte anosa bandeira da União das Repú­blicas Socialistas Soviéticas foihasteada no pavilhão do Minis­tério das Relações Exteriores.O chanceler russo Eduard She­vardnadze esteve em visita ofi­cial ao país, encontrando-secom os presidentes dos três po­deres e com o da AssembléiaConstituinte, Ulysses Guima­rães. São relações entre naçõesadultas, que convivem e se res­peitam.

Uma rápida leitura do atualprojeto de Constituição mostraque o Brasil segue suas pró­prias tendências e reitera suaopção capitalista, embora vol­tada para o social. Mas semfantasmas inúteis.ADIRPlWllham Prescot

Page 2: Volume [UlUle · Volume 359 Devagar se vai ao longe. Essa era, semana passada, a expecta tiva de quem acompanhava asvota ções na Comissão de Sistematiza ção da AssembléiaNacional

Democracia só comderrota do racismo

Decisão pelo voto podeser a chave do consenso

Estamos prestes a completar100 anos da Abolição da Escra­vatura. Na verdade, o que temosa comemorar? Podemos hojeafirmar que foram banidas as de­sigualdades que impõem a maisde 70% da população brasileirauma tal situação de inferioridadeque os coloca como cidadãos desegunda classe? Respondemoscom um redondo e inquestioná­vel não.

É mais do que evidente queas desigualdades e discrimina­ções raciais marcam a sociedade,o Estado e as relações econômi­cas em nosso País. E por essarazão que, num meritório esfor­ço para resgatar a história do ne­gro em nosso País, os movimen­tos negros, as forças democrá­ticas elegeram, em lugar de 13de Maio, uma outra data máxi­ma de afirmação da vocação lite­rária do negro: o 20 de Novem­bro, aniversário da morte deZumbi dos Palmares, instituídopelo Congresso Nacional comoo Dia Nacional da ConsciênciaNegra.

Com o 13 de Maio, o ex-es­cravo, não conquistou a plena ci­dadania, posta em questão atéos nossos dias. Mas em 1888,sem dúvida, iniciou-se a constru­ção de um novo Estado, o Esta­do capitalista brasileiro. Trata-sedo marco inicial de uma revolu­ção política, parcial e incompletaaté hoje - a tal ponto que aexperiência democrática corres­ponde, em nosso País, a curtos

-intervalos diante da regular pre­dominância das diferentes for­mas de autoritarismo.

Da mesma forma que após aabolição os ex-escravos foramafastados e marginalizados dacena política de construção daRepública, da Assembléia Na­cional Constituinte de 1891, aparticipação popular na vida po­lítica permanece, ainda nos diasatuais, sob forte suspeição daselites políticas e dos grupos eco­nômicos dominantes.

Cumpre ressaltar que a ques­tão do negro não interessa so­mente aos negros. Supor o con­trário é ingênuo e perigoso. Osdiversos projetos da Nação quese sucederam desde a instalaçãoda República - formulados porintelectuais, políticos, governan­tes - excluíram o negro. E, paramanter a coerência, excluíram osíndios também. Pouco importa'agora indagar se a exclusão se ,deu de forma deliberada ou in-

conscientemente. O que valemsão os seus efeitos. E quais fo­ram? Nada mais nada menos queo empobrecimento da civilizaçãobrasileira.

Sabidamente, a civilização na­da mais é do que o encontro dediversas culturas, diversas ma­neiras, de estar no mundo. Tra­ta-se do encontro gerador algonovo, peculiar e complexo. Oque temos visto no Brasil? Umencontro às meias, quase clan­destino. Apreciamos as culturasnegras no folclore, no samba, naculinária. E no resto - nas ciên­cias, nas letras, na política, e nasatividades econômicas chamadassuperiores?

No Brasil, malgrado os avan­ços obtidos, ainda persiste aidéia de que os homens podemrepresentar mulheres. E negrose índios devem ser representadospor outros, principalmente noque se refere ao acesso aos meiosde I?oder. Às vésperas do cente­nário da Abolição, nós nos en­contramos diante de um dilemae um desafio: como inserir a pro­blemática negra na pauta dasgrandes questões nacionais? Se­guramente, essa problemáticasempre esteve à nossa vista, nopassado como no presente, en­quanto um dos principais capítu­los de nossa história social.

Cabe agora à Constituinte de1987 responder, com efetivida­de, a essa questão. Romper coma seqüência regular de desviosque têm afastado a sociedade,o Estado e a Nação da constru­ção de uma democracia política,de caráter multirracial. São com­plexos e diversificados os inte­resses gerais da sociedade brasi­leira. Mas não podemos maistergiversar diante da exigênciahistórica de conquista da CIdada­nia pela maioria da populaçãonegra. A nova Constituição de­ve, assim, oferecer a base nor­matíva para combater o racismoem nosso País. Considerá-lo umcrime inafiançável de forma ex­pressa é um avanço significativo.Esperamos 'lue alegações de na­tureza técnico-constitucionalnão retirem da nova Carta Mag­na essa formal e expressa conde­nação ao racismo.

Constituinte Carlos Alberto Caó(PDT- RI)

Nada é novoantes de feitoNão se sabe ainda por

quanto tempo os constituin­tes trabalharão o texto da fu­tura Carta, que irá definir osparâmetros da nova ordemJurídica, social e, principal­mente, democrática, do nos­so país. O Jornal da Consti­tuinte, uma iniciativa pensa­da mais cedo, mas que se efe­tivou em junho passado,completará, na próxima edi­ção, quatro meses de acom­panhamento permanentedesses trabalhos. Qualquerde nossos milhares de leitoresconstatará, comparando as 19edições já produzidas, quetentamos refletir, com fideli­dade o que é a Constituinte:uma discussão aparentemen­te exaustiva dos mesmos te­mas. Já tratamos, em ediçõesvariadas e sob aspectos dife­rentes, de: reforma agrária,capital estrangeiro, sistemade governo, reserva de mer­cado, papel das minorias eseus direitos, sistema finan­ceiro, sistema tributário, re­cursos minerais, a função damulher na sociedade etc. Oleitor um pouco mais atentonotará, entretanto, que osmesmos temas nunca são en­focados sob o mesmo prisma.Isso porque o Jornal da Cons­tituinte espelha, exatamente,as mudanças, às vezes drásti­cas, muitas vezes sutis, queocorrem no exercício de defi­nir esses e outros assuntos,como os direitos dos traba­lhadores, num texto de cará­ter maior, constitucional.Nesta edição, portanto, tudoo que pode parecer velho énovo: a análise do segundosubstitutivo, as opi~iões ex­pressas por constituintes ementrevistas e artigos, a repor­tagem sobre a juventude. Deinédito, temos as votações naSistematização. Mas mesmoessa novidade poderá fícarantiga no número 24, I?orexemplo. O plenário é a ms­tância final.

Ronaldo PaixãoSecretário de Redação

Estamos discutindo o Projetode Constituição e os pontos polê­micos do texto do substitutivo dorelator da Comissão de Sistema­tização.

Enfatiza-se o regimento dogoverno, a Reforma Institucio­nal do País, com dois pesos eduas medidas, estabelecendo-segrupos de pressão, blocos parla­mentares, comissões de negocia­ção - de dentro e de fora daAssembléia Nacional Consti­tuinte, tudo e todos com um úni­co objetivo: acertar.

A todos move o desejo de verconsagrado na nova Constitui­ção do Brasil o seu desejo, o seuponto de vista, a sua idéia.

De permeio, acusam o nobreconstituinte Bernardo Cabral,ilustre relator da Comissão deSistematização, de omissão, dedúbio, de inconsqüente, e algunsaté vaticinam que a nova cartanão vai consagrar o pensamentomédio na Nação brasileira, de­vendo ficar pior do que a queaí está, resultante que é do regi­me de excessão. Não creio quenenhum dos que aqui estão re­presentando o eleitorado que lheconfiou o voto, tenha sido eleitoou vindo para esta casa sem ne­nhum compromisso com a de­mocracia ou com a transição po­lítico-institucional do País.

Creio que todos nós, quandofalávamos ao nosso eleitorado,nos comprometíamos com a de­mocracia e a sua salutar práticaem todos os postulados.

Então, agora, creio, é chegadaa hora de provarmos a vocaçãodemocrática desta AssembléiaNacional Constituinte e praticar­mos, de fato, a democracia emtoda a sua plenitude.

De minha parte, todos sabem,sou presidencialista convicto eotimista. Mas se for vencedoraa proposta do parlamentarismopuro, para implantação imediataou gradualmente, aceitarei comdignidade democrática e me sub­meterei aos vencedores como ci­dadão brasileiro, sem constran­gimento.

Sinceramente, não vejo outramodalidade e nem outra formade chegarmos ao consenso e nemao bom senso, se não houver umcompromisso maior com a prá­tica da democracia, a partir destePlenário. Não vejo outro modode dirimir dúvidas e nem de es­clarecer pontos de vista, que nãoseja através do voto da maioria.

tes, é necessário que haja umcompromisso moral e uno, de to­dos os constituintes, em primeirolugar que compareçam à sessãoplenária na qual se for discutire votar o problema, e o segundoé aceitar como transitado e finalo resultado que se venha a teratravés da votação.

Para mim, o voto da maioriados membros da Assembléia Na­cional Constituinte acabará deuma vez por todas com essa jácansativa e repetida história deblocos, grupos de pressão, inter­nos e externos, grupos outrosque não levam a coisa algumae a nenhum resultado prático.Acabará também com essa inter­minável tetúlia de esquerda e dedireita e não fortalecerá os cen­tristas.

Quanto a idéia de fazer-se ple­biscito para conhecer-se a opi­nião do povo brasileiro sobre oregime de governo, ou qualqueroutros assuntos dos polêmicos,esta, ao meu ver, está totalmentedescartada, uma vez que, nós osconstituintes, fomos eleitos compoderes de decisão, total e irre­versível.

Gostaria que os companheirosconstituintes atentassem paraum fato curioso e muito impor­tante. Trata-se do fato de que,no bojo do projeto substitutivodo relator, há mais de 1.800 dis­positivos dos quais ninguém du­vida, ninguém comenta, nin­guém diverge. Todos aceitamou, se não aceitam, pela omis­são, consentem.

Todavia há, uns poucos outrosdispositivos, cerca de 47 e, semuito, 52, que são motivo dasmais exacerbadas polêmicas eaté mesmo fatos geradores de in­disposições políticas.

Como se vê, cerca de 97% dotexto apresentado pelo relatorfoi aceito ou aproveitado. Os 3%restantes, são alvo de toda sortede críticas e crises.

Porque, então não fazer comose deveria, em todos os casos,decidir-se no voto, pelo voto ouatravés do voto, democrático,soberano e inquestionável?

Aqui fica o meu ponto de vistae a minha contribuição.

Constituinte Inocêncio de Oliveira(PFL- PE)

Jornal da Constituinte - Veículo semanal editado sob aresponsabilidade da Mesa Diretora da Assembléia NacionalConstituinte.MESA DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE:

Presidente- UlyssesGuimarães;Primeiro-Vice-Presidente- Mauro Benevides;Segundo-Vice-Presidente - Jorge Arbage;Primeiro-Secretário - Marcelo Cordeiro; Segnndo-Secretãrío- Mário Maia; Terceiro-Secretário - Arnaldo Faria de Sá.Suplentes: Benedita da Silva,Luiz Soyer e Sotero Cunha.APOIO ADMINISTRATIVO:

Secretárío-Geral da Mesa- -PauloAffonsoM. de OliveiraSubsecretário-Geral da Mesa- Nerione Nunes CardosoDíreítor-Geral da Câmara - Adelmar SilveiraSabinoDiretor-GeraIdo Senado- José PassosPôrtoProduzido pelo Serviço de Divulgação da Assembléia Na-

cional Constituinte. ' .

2 Jôrnalda Constituinte

Diretor Responsável - Constituinte Marcelo CordeiroEditores - Alfredo Obliziner e Manoel V. de MagalhãesCoordenador- Daniel Machado da Costa e SilvaSecretáriode Redação- Ronaldo Paixão RibeiroSecretáriodeRedaçãoAdjunto- PauloDomingosR. NevesChefede Redação- Osvaldo Vaz MorgadoChefede Reportagem- Victor Eduardo Barrie KnappChefede Fotografia - Dalton Eduardo DaIla CostaDiagramação - Leônidas GonçalvesIlastraçãe - Gaetano RéSecretário Gráfico- Eduardo Augusto Lopes

EQUIPE DE REDAÇAoMaria Valdira Bezerra, Henry Binder, Carmem Vergara,

Regina Moreira Suzuki, Juarez Pires da Silva,Maria de FátimaJ. Leite, Ana Maria Moura da Silva, Vladimir Meireles de Al-

meida, Maria Aparecida C. Versiani, Marco Antônio Caetano,Maria Romilda Vieira Bomfim, Eurico Schwinden,Itelvina Al­ves da Costa, Luiz Carlos R. Linhares, Humberto Moreira daS. M. Pereira, Miguel Caldas Ferreira, Clovis Senna e PauloRoberto Cardoso Miranda.

EQUIPE FOTOGRÁFICAJoão José de Castro Júnior, Reinaldo L. Stavale, Benedita

Rodrigues dos Passos, Guilherme Rangel de Jesus Barros, Ro­berto Stuckert e WilliamPrescott.

Composto e impressopejoCentro GráficodoSenadoFederal- CEGRAF

Redação: CÂMARA DOS DEPUTADOS - ADlRP-70160 - Brasília - DF - Fone: 224-1569- Distribuição gratuita

Page 3: Volume [UlUle · Volume 359 Devagar se vai ao longe. Essa era, semana passada, a expecta tiva de quem acompanhava asvota ções na Comissão de Sistematiza ção da AssembléiaNacional

Aqui o texto que vai a plenário"Os representantes do povo

brasileiro, reunidos, sob a prote­ção de Deus, em Assembléia Na­cional Constituinte, afirmam o seupropósito de constituir uma gran­de Nação baseada na liberdade,na fraternidade, na igualdade,sem distinção de raça, cor, proce­dência, religião ou qualquer ou­tra, certos de que a grandeza daPátria está na saúde e felicidadedo povo, na sua cultura, e na ob­servância dos direitos fundamen­tais da pessoa humana, na prote­ção especial à criança e ao adoles­cente, na equitativa distribuiçãodos bens materiais e culturais.Afirmam também que esse propó­sito só pode ser obtido com o mo­do democrático de convivência ede organização estatal, com repul­sa a toda forma autoritária de go­verno e a toda exclusão do povodo processo político, econômico esocial. Os poderes inerentes à so­berania são exercidos por repre­sentantes eleitos, ou por mecanis­mos de participação popular dire­ta."

Este o preâmbulo do projetoconstitucional, já aprovado pelaComissão de Sistematização, soba presidência do senador AfonsoArinos, do PFL do Rio de Janeiro,e que tem como vice-presidenteo deputado Aluízio Campos, doPMDB da Paraíba, e relator o de­putado Bernardo Cabral, doPMDB do Amazonas.

A Comissão é composta de93constituintes, de todos os parti­dos com assento nas duas Casasdo Congresso. Diariamente horasa fio, a Comissão está votando pa­rágrafo por parágrafo, destaquepor destaque.

O TÍTULO I

A votação do Título I - quetrata dos princípios fundamentais- durou 3 horas e meia, e o textoaprovado tem o seguinte teor:

Art. 1° A República Fede­rativa do Brasil constitui-se em umEstado democrático de direito quevisa construir uma sociedade livre,justa, solidária, e tem como funda­mentos a.soberania, a cidadania,a dignidade das pessoas e o plura­lismo político.

Parágrafo único. Todo poderpertence ao povo, que o exercepor i.ntermédlO de representant~s

ou diretamente, nos casos previs­tos nesta Constituição.

Art. 2° São poderes do Esta­do o Legislativo, o Executivo eo Judiciário.

Art. 3° São objetivos fun­damentais do Estado: I - garantira independência e o desenvolvi­mento nacionais; II - erradicara pobreza e reduzir as desigual­dades sociais e regionais; 111 ­promover a superação dos precon­ceitos de raça, sexo, cor, Idade eoutras formas de discriminação.

Art. 4° O Brasil fundamen­ta suas relações internacionais noprincípio da independência nacio­nal, na prevalência dos direitoshumanos, no direito à autodeter­minação dos povos, na não-inter­venção, na igualdade dos Estados,na solução pacífica dos conflitosinternacionais, na defesa da paz,no repúdio ao terrorismo e ao ra­cismo e na cooperação com todosos povos para a emancipação e oprogresso da humanidade e pro-

pugnará pela formação de um tri­bunal internacional dos direitoshumanos e pela cooperação entreos povos, para a emancipação eo progresso da humanidade.

Art. 5° O Brasil buscará aintegração econômica, I?olítica,social e cultural da Aménca Lati­na, com vistas à formação de umacomunidade latino-americana denações.

LIBERDADES

No Título 11, que trata dos Di­reitos e Liberdades Fundamen­tais, o-capítulo I, dedicado aos Di­reitos Individuais e Coletivos, fi­cou assim:

Art. 6°- Todos são iguais pe­rante a lei, sem distinção de qual­quer natureza.

§ 1°- Ninguém é obrigado afazer ou deixar de fazer algumacoisa senão em virtude de lei.

§ 2°- A lei punirá, como cri­me inafiançável, qualquer discri­minação atentatóna aos direitos eliberdades fundamentais.

§ 3°- A lei não poderá excluirda apreciação do Poder Judiciárioqualquer lesão ou ameaça a direi­tos.

§ 4°- A lei não prejudicará odireito adquirido, o ato jurídicoperfeito e Sl coisa julgada, _

§ 5°- E livre a mamfestaçaodo pensamento, vedado o anoni­mato. É assegurado o direito deresposta, proporcional ao agravo,além de indenização por dano ma­terial, moral ou à imagem.

INVIOLABILIDADE

A inviolabilidade do domicíliosó poderá ser quebrada por deter­minação judicial ou para prestarsocorro. E fica garantido o sigiloda correspondência e das comuni-

cações telegráficas, telefônicas ede dados, conforme os dispositi­vos aprovados no plenário da Co­missão de Sistematizaçaõ, e quedizem:

§ 10 - A intimidade, a vidaprivada, a honra e a imagem daspessoas são invioláveis. A todosé assegurado o direito à indeni­zação pelo dano material ou moralcausado pela violação.

§ 11- A residência e o domi­cílio são invioláveis, salvo nos ca­sos de determinação judicial e fla­grante delito ou para prestar so­corro.

§ 12 - É inviolável o sigilo dacorrespondência e das comunica­ções telegráficas, telefônicas e dedados, salvo por ordem judicial,nos casos e na forma que a lei esta­belecer, para fins de instrução pro­cessual e investigação criminal.

TORTURA

A prática de tortura é crime ina­fiançável; e jornalista tem de terqualificação profissional.

É inviolável a liberdade de cons­ciência e de crença, assegurado olivre exercício dos cultos religio­sos, garantida aos locais de cultoe as suas liturgias particulares aproteção, na forma da lei.

Assim dizem os parágrafos 6°e8°do artigç 6°que dispõe mais:

§ 7°- E livre a locomoção noterritório nacional em tempo depaz e, respeitados os preceitos le­gais, qualquer pessoa poderá neleentrar, permanecer ou dele sarrcom seus bens.

§ 8°- Ninguém será submeti­do a tortura, a penas cruéis, oua tratamento desumano e degra­dante. A lei considerará a práticada tortura crime mafiançável, im­prescritível e insuscetível de graçaou anistia, por ele respondendo

os que, podendo evitá-lo ou de­nunciá-lo, se omitirem.

JORNALISMO

É garantida a liberdade para oexercício profissional de qualquertrabalho, ofício ou profissão, des­de que observadas as qualificaçõesque a lei exigir.

Neste sentido, a Comissão deSistematização, por 79 votos con­tra 7, resistiu às pressões de seto­res que visavam à não exigênciado diploma para o exercício dojornalismo.

Por extensão, fica mantida aexigência de diploma para o exer­cício também da Economia, So­ciologia, Assistência Social e ou­tros.

PENA DE MORTE

As tentativas de introdução, nalegislação brasileira, das penas depnsão perpétua, de trabalhos for­çados e de morte ou de banimentoforam rejeitadas, no plenário daSistematização, por 72 contra 11votos e três abstenções.

A pena de morte foi repudiadamesmo em situação de guerra ex­terna, neste caso defendida pelolíder do Governo, Carlos Sant'A­nna, do PMDB da Bahia. Esta úl­tima parte caiu por 63 a 26 votose uma abstenção.

Da questão em pauta, dos Di­reitos e Liberdades Fundamen­tais, ficou aprovado o seguinte:

§ 13 - Não há crime sem leianterior que o defina, nem penasem prévia cominação legal. A leipenal não retroagirá, salvo parabeneficiar o réu.

§'14-Não haverá Juízo ouTribunal de exceção. Ninguém seráprocessado nem sentencionado,senão pela autoridade competen-

te, e tampouco privado da liber­dade ou de seus bens, sem o devi­do processo legal.

§ 15 - O contraditório e a am­pla defesa, com os meios e os re­cursos a ela inerentes, são assegu­rados aos litigantes, em qualquerprocesso judicial ou administrati­vo, e aos acusados em geral.

§ 16 - São inadmissíveis, noprocesso, as provas obtidas pormeios ilícitos. A lei disporá sobrea punição dos responsaveis.

§ 17 - Ninguém será conside­rado culpado até o trânsito em jul­gado de sentença penal condena­tória.

§ 18- Será admitida ação pri­vada nos crimes de ação pública,se esta não for intentada no prazolegal.

§ 18a - A lei somente poderárestringir a publicidade dos atosprocessuais quando a defesa da in­timidade ou o interesse social oexigirem.

§ 19 - Nenhuma pena passaráda pessoa do condenado, mas aobngação de reparar o dano e adecretação do perdimento de benspoderão ser estendidas e execu­tadas contra os sucessores, até olimite do valor do patrimôniotransferido e de seus frutos, nostermos da lei.

§ 20 - A lei assegurará a indi­vidualização da pena e adotará,entre outras, as seguintes:

I -privação da liberdade;11 - perda de bens;I1I-multa;IV - prestação social alternati­

va'V- suspensão ou interdição de

direitos.§ 21-Não haverá pena de

morte, de caráter perpétuo, detrabalhos forçados ou de banimen­to.

§ 22 - Ninguém será preso se­não em flagrante delito, ou porordem escrita e fundamentada deautoridade judiciária competente.A prisão de qualquer pessoa e olocal onde se encontre serão co­municados imediatamente ao juizcompetente e à família 'ou pessoaindicada pelo preso. Este será in­formado de seus direitos, entre osquais o de permanecer clado, as­segurada a assistência da tamíhae de advogado. A prisão ilegal seráimediatamente relaxada pela au­toridade judiciária competente.

§ 23 - Ninguém será levado àprisão ou nela mantido, quandoa lei admitir a liberdade provisó­ria, com ou sem fiança.

§ 24 - Os presos têm direitoao respeito à sua integridade físicae moral; às presidiárias serão asse­guradas condições para que pos­sam permanecer com seus filhosdurante o período de amamenta­ção. A peita será cumprida em es­tabelecimentos distintos, de acor­do com a natureza do delito, suagravidade, condições em que foipraticado, idade e antecedentescriminais do apenado.

§ 25 - O Estado indenizará ocondenado por erro judiciário, ouo sentenciado gue ficar preso alémdo tempo indicado na sentença,cabendo ação civil e penal contraa autoridade responsável.

§ 26 - Não haverá prisão civilpor dívida, salvo a do depositárioinfiel e do responsável pelo ina­dimplemento voluntário e inescu­sáve1 de obrigação alimentícia, in­clusive de tributos recolhidos oudescontados de terceiros.

Jornal da Constituinte 3

Page 4: Volume [UlUle · Volume 359 Devagar se vai ao longe. Essa era, semana passada, a expecta tiva de quem acompanhava asvota ções na Comissão de Sistematiza ção da AssembléiaNacional

Relator acabacom mordomia

dos "marajás"

Art. 229- Os planos de previdên­cia social atenderão, nos termos da lei;a:1-cobertura dos eventos de doen­

ça, mvalidez, morte, inclusive os resul­tantes de acidentes de trabalho, velhi­ce e reclusão;

II - aposentadoria por tempo deserviço;

III - ajuda à manuntenção dos de­pendentes do segurado de renda bai­xa;

IV -proteção à maternidade, no­tadamente à gestante;

V - proteção ao trabalhador em si­tuação de desemprego involuntário;

VI-pensão por morte do segura­do, aos dependentes naforma da lei.

Parágrafo único - E garantido oreajustamento dos benefícios de modoa preservar os seus valores.

Art. 230- É assegurada aposenta­dória, garantido o reajustamento parapreservação de seu valor, calculando­se a concessão do benefício sobre amédia dos trinta e seis últimos saláriosdo trabalhador, corrigidos mês a mês,de acordo com a lei, obedecidas asseguintes condições:

a) - ap6s trinta e cinco anos de tra-

Trinta e cinco anos para o ho­mem e 30 para mulher foi o tempode aposentadoria do trabalhadorceletista mantido pelo relator Ber­nardo Cabral (PMDB - AM) doprimeiro para o segundo substitu­tivo. Mas no segundo foi retiradoa idade mínima para a aposenta­doria que, no pnmeiro era de 53anos para o homem e 48 para amulher.

No segundo substitutivo o rela­tor incluiu um dispositivo que as­segura o reajustamento dos bene­fícios, de modo a preservar seusvalores.

Eis o que diz a proposta de textoconstitucional:

SERVIDORES MILITARES

APOSENTADORIA

Parágrafo único -Invalidada porsentença a demissão, o servidor seráreintegrado e o eventual ocupante davaga reconduzido ao cargo de origem,sem direito à indenização, ou aprovei­tado em outro cargo ou, ainda, posto,em disponibihdade.

PREVIDÊNCIA SOCIAL

Art. 50 - As patentes, com asprerrogativas, os direitos e deveres aelas inerentes, são asseguradas em to­da a plenitude aos oficiais da ativa,da reserva ou reformados, das ForçasArmadas, das políciais militares e doscorpos de bombeiros dos Estados, dosTerrit6rios e do Distrito Federal, sen­do-lhes privativos, os títulos, postose uniformes militares.

§ I" - São servidores militares osintegrantes das Forças Armadas, daspolícias militares e dos corpos de bom­beiros militares dos Estados, Territó­rios e Distrito Federal.

§ 2' - O militar em atividade queaceitar cargo público civil permanenteserá transferido para a reserva.

§ 3' - O militar da ativa que acei­tar cargo, emprego ou função públicatemporária, não eletiva, inclusive daadministração indireta, ficará agrega­do ao respectivo quadro e somente po­derá ser promovido por antiguidade,enquanto permanecer nessa situação,contando-se-lhe o tempo de serviçoapenas para aquela promoção e trans­ferência para a reserva. Depois de doisanos de afastamento, contínuos ounão, será transferido para a inativi­dade.

§ 4' - Ao mihtar são proibidas asindicalização e a greve.

§ 5' - Os militares, enquanto emefetivo exercício, não poderão ser fi­liados a partidos políticos.

§ 6°- O oficial das Forças Arma­das s6 perderá o posto e a patentese for ju1gado indigno do oficialato oucom ele incompatível, por decisão deTribunal Militar de caráter permanen­te, em tempo de paz, ou de um Tribu­nal Especial em tempo de guerra.

§ l' - Não haverá aposentadoriaem cargos, funções ou empregos tem­porários.

§ 2' - Lei complementar poderáestabelecer exceções ao disposto no"caput" deste artigo, no caso de exer­cíCIO de atividades consideradas peno­sas, insalubres. ou perigosas.

Art. 46 - Os proventos da aposen­tadona serão:

I - integrais, quando o servidor:a) contar com o tempo de serviço

exigido, na forma do disposto no arti­go anterior;

b) sofrer invalidez permanente,por acidente em serviço, moléstia I?ro­fissional ou doença grave, contagiosaou incurável, especificadas em lei;

II - proporcionais ao tempo de ser­viço, nos demais casos.

Art. 47 - Os proventos da inativi­dade e as pensões serão reajustados,na mesma proporção e na mesma data,sempre que modificar a remuneraçãodos servidores em atividade.

Parágrafo único - O benefício depensão por morte equivalerá a 50%da remuneração ou dos proventos doservidor público falecido, acrescido de10% por dependente econômico, atéo lirmte da totalidade da remuneraçãoou dos proventos.

Art. 48 - Ao servidor público emexercício de mandato eletivo, aplicam­se .as disposições seguintes:1- tratando-se de mandato eletivo­

feder ai ou estadual, ficará afastado deseu cargo, emprego ou função, semdireito a optar pela sua remuneração;11-investido de mandato de pre­

feito ou de vereador, será afastado deseu cargo, emprego ou função, sendo­lhe facultado optar pela sua remune­ração.

Art. 49 - O servidor público está­vel só perderá o cargo em virtude desentença judicial, ou mediante proces­so administrativo no qual lhe seja asse­gurada ampla defesa.

quer regime, dependerá sempre deaprovação prévia em concurso públicode provas ou de provas e títulos.

§ 2' - A União, os Estados, o DIS­trito Federal e os Municípios institui­rão, no âmbito de sua competência,regime jurídico único para os servi­dores da administração pública diretae autarquias, bem como plano de car­reira.

§ 3°- São estáveis, ap6s dois anosde efetivo exercício, os servidores no­meados por concurso público. Extintoo cargo ou declarada a sua desneces­sidade, o funcionário estável ficará emdisponibilidade remunerada, até seuadequado aproveitamento em outrocargo.

§ 4°- Será convocado para assu­mir seu cargo ou emprego aquele quefoi aprovado em concurso público deprovas e títulos, com prioridade sobrenovos concursados, na carreira. Aconvocação será por edital e fixaráprazo improrrogável.

§ 5' - Os cargos em comissão efunções de confiança na administraçãopública serão exercidos, preferencral­mente, por servidores ocupantes decargo de carreira técnica ou profissio­nal, nos casos e condições previstosem lei.

§ 6' - São asse,gurados ao servidorpúblico civil o direito à livre associação

. sindical e o de greve, observado o dis­posto nos artigos 9' e 10 desta Consti­tuição.

§ 7°- Aplica-se, ainda, aos servi­dores da administração pública o dis­posto nos incisos IV, V, VI, VII, VIII,X, XI, XIII, XIV, XV, XVI, XVIIIe XIX do artigo 6' desta Constituição.

Art. 45 - O servidor será aposen­tado:

I - Por invalidez;II - compulsoriamente, aos 70 (se­

tenta) anos;nr - voluntariamente, ap6s 35

(trinta e cinco) anos de serviço parao homem e 30 (trinta) para a mulher.

dos direitos políticos, na perda da fun­ção pública, na indisponibilidade dosbens e no ressarcimento do erário, naforma e gradação previstas em lei, semprejuízo da ação penal corresponden­te.

§ 4' - A lei estabelecerá os I?razosde prescrição para ilícitos praticadospõr qualquer agente, servidor ou não,que causem prejuízos ao erário, ressal­vadas as respectivas ações de ressarci­mento, que serão imprescritíveis.

§ 5' - A revisão geral da remune­ração. dos servidores públicos civis edos militares -far-se-á sempre na mes­ma época.

§ 6' - A lei fixará a relação de valo­res entre a maior e a menor remune­ração da administração púb\íca, diretaou indireta, observados, como limitesmáximos e no âmbito dos respectivospoderes, os valores percebidos comoremuneração, em espécie, a qualquertítulo, por membros do CongressoNa­cional, ministros do Supremo TribunalFederal e ministros de Estado e seuscorrespondentes nos Estados e Muni­cípios.

§ 7' - É vedada qualquer diferençade vencimento entre cargos e empre­gos iguais ou assemelhados dos servi­dores dos Poderes Legislativo, Execu­tivo e Judiciário, ressalvadas as vanta­gens de caráter individual e as relativasà natureza ou ao local de trabalho.

§ 8' - Salvo em virtude de con­curso público, o cônjuge e o parenteaté segundo grau, em hnha direta oucolateral, consanguíneo ou afim, dequalquer autoridade, não poderãoocupar cargo ou função de confiança,inclusive sob contrato, em organismosa ela subordinados, na administraçãopública.

§ 9' - As pessoas jurídicas de direi­to público e as de direito privado pres­tadoras de serviços públicos respon­derão pelos danos que seus agentes,nesta qualidade, causarem a terceiros,assegurado o direito de regresso con­tra o responsável nos casos de doloou culpa.

§ lO' - É vedada a vinculação ouequiparação de qualquer natureza, pa­ra o efeito de remuneração de pessoaldo serviço público, ressalvado o dis­posto no § 9° deste artigo.

§ 11 - E vedada a acumulação re­munerada de cargos, empregos e fun­ções públicas, exceto nos casos previs­tos em lei complementar, obedecidosos critérios de compatibilidade de ho­rários e correlação de matérias.

§ 12 - A proibição de acumulara que se refere o § 11 se estende acargos, empregos e funções em autar­quias, empresas públicas, sociedadede economia mista e fundações públi­cas.

§ 13 - Os acréscimos pecuniáriospercebidos por servidor púbhco, nãoserão computados nem acumulados,para fins de concessão de acréscimosulteriores, sob o mesmo título ou idên­tico fundamento.

§ 14 - Aplica-se à administraçãopública em geral o dispositivo no §3° do art. 7', na condição de contra­tante ou contratada.

Art. 44 - Os cargos, empregos efunções públicas são acessíveis aosbrasileiros que preencham os requi­sitos estabelecidos em lei.

§ I' - A primeira investidura emcargo ou emprego público, sob qual- .

SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS

FIM DOS "MARAJÁS"

Art. 43 - A administração públi­ca, direta ou indireta, de qualquer dosPoderes, obedecerá aos princípios dalegalidade, impessoalidade, moralida­de e publicidade, exigindo-se, salvo nahipótese de rescisão do contrato detrabalho, como condição de validadedos atos administrativos, a motivaçãosuficiente e, como requisito de sua le­gitimidade, a razoabilidade.

§ I' - Nenhum ato da administra­ção pública imporá limitação, restri­ção ou constrangimento, salvo se in­dispensável para atender a finalidadeda lei.

§ 2" - A apreciação das reclama­ções relativas â prestação de serviçospúblicos será disciplinada em lei, quepreverá as medidas administrativas edisciplinares cabíveis.

§ 3' - Os atos de improbidade ad­ministrativa importarão na suspensão

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

No capítulo da "administraçãopública", o relator em seu segun­do substitutivo, fixa parâmetrospara o teto salarial dos servidorespúblicos. Nas disposições transitó­rias, atinge frontalmente a figuraconhecida como "marajá", reti­rando-lhes qualquer direito adqui­rido. A partir da data da promul­gação da Constituição os saláriosdesses servidores, que acumula­ram vantagens, mesmo baseadosna lei, terão seus vencimentosajustados ao que fixa o texto cons­titucional.

No caso, o relator fixa como pa­râmetro para o vencimento máxi­mo, incluindo todas as vantagens,a remuneração recebida pormem­bros do Congresso Nacional (de­putados e senadores), ministrosdo Supremo Tribunal Federal eministros de Estado e seus corres­pondentes nos Estados e Municí­pios. Significa dizer que um fun­cionário municipal não poderá ga­nhar, a qualquer título, mais doque um vereador.

Veja como ficou o substitutivodo relator Bernardo Cabral naconstituição da administração pú­blica, dispondo sobre atribuições,direitos e deveres dos funcionárioscivis e militares:

Em pleno processo de votaçãona Comissão de Sistematização, osegundo substitutivo do relatorBernardo Cabral (PMDB ­AM), já começa a sofrer altera­ções nos seus primeiros capítulos.Mas questões como a dos direitostrabalhistas, a constituição dos di­reitos e deveres dos servidores pú­blicos, ou ainda, um dispositivoque põe fim a instituição dos "ma­rajãs", ainda levarão alguns diaspara serem votadas.

Mas, como muitas dessas ques­tões foram fruto de consenso entregrupos partidários e o relator, de­verão sofrer pouca alteração nestafase da Constituinte.

4 Jornal da Constítuínte

Page 5: Volume [UlUle · Volume 359 Devagar se vai ao longe. Essa era, semana passada, a expecta tiva de quem acompanhava asvota ções na Comissão de Sistematiza ção da AssembléiaNacional

calho para o homem e trinta para amulher;

b-com tempo infenor, pelo exer­cício de traballio rural, noturno, derevezamento, penoso, insalubre ouperigoso, conforme defimdo em lei;

c) - aos sessenta e cinco anos deidade;

d) - por invalidez.§ I" - Para efeito de aposentado­

ria, é assegurada a contagem recíprocado tempo de serviço, na administraçãopública ou na atividade privada ruralou urbana.

§ 2' - Nenhum beneffcio de pres­tação continuada terá valor mental in­ferior ao salário mínimo.

§ 3' - Lei complementar assegura­rá aposentadoria às donas-de-casa,que deverão contribuir para a seguri­dade social,

§ 4' - E vedada a subvenção doPoder Público às entidades de previ­dência privada com fins lucrativos.

GREVE É LIVRE

A ampliação do direito de greve- extensiva ao funcionalismo pú­blico - e mais garantias contraa demissão imotivada foram as al­terações do primeiro para o segun­do substitutivo ao Projeto deConstituição, elaborado pelo rela­tor Bernardo Cabral (PMDB ­AM).

Quanto à jornada de trabalho,não há referência ao total sema­nal, apenas fixa o máximo em oitohoras diárias.

No caso da greve, o primeirosubstitutivo remetia à lei ordináriaa especificação dos casos em quea greve seria livre. No atual textoque está em votação IJa Comissãode Sistematização. "E livre a gre­ve, vedada a imciativa patronal,competindo aos trabalhadores de-

cidir sobre a oportunidade e o âm­bito de interesses que deverão pormeio dela defender".

A garantia de emprego ficou as­segurada no substitutivo, protegi­do contra a despedida imotivada,desde que não seja em contratoa termo, nas condições e prazosda lei; falta grave e justa causa;ou fundada em fato econômico in­transponível, tecnológico ou, ain­"da, em infortúnio na empresa.

Sindicatos livres - O segundosubstitutivo do relator da Comis­são de Sistematização garante alivre associação profissional ousindical, Vedando qualquer inter­venção ou interferência do PoderPúblico na organização sindical.

Quanto à contribuição sindicalfoi mantido o sistema atual, ca­bendo à assembléia do sindicatofixar a contribuição de cada cate­goria.

DIREITOS SOCIAIS

Art. 6' - Além de outros, são di­reitos dos trabalhadores:

I - garantia de emprego, protegidacontra despedida imotIvada, assim en­tendida a que não se fundar em.

a) - contrato a termo, nas condi­ções e prazos da lei;

b) - falta grave, assim conceituadaem lei; .

c) - justa causa, fundada em fatoeconômico intransponível, tecnológi­co ou em mfortünio na empresa, deacordo com critérios estabelecidos nalegislação do trabalho;

II - seguro-desemprego, em casode desemprego involuntário;

III - Fundo de Garantia do Tempode Serviço;

IV - saláno mímmo nacionalmen­te umficado capaz de satisfazer às suasnecessidades, vedada sua vinculação .

para qualquer fim;V -irredutibilidade de remunera-,

ção ou vencimento, salvo o dispostoem lei, em convenção ou em acordocoletivo;

VI - garantia de salário fIXO, nuncainferior ao mínimo, ainda que a remu­neração seja variável;

VII - décimo terceiro salário combase na remuneração Integral de de­zembro de cada ano;

VIII - salário do trabalho noturnosuperior ao do diurno;

IX - participação nos lucros, des­vinculada da remuneração, e na gestãoda empresa, conforme definido em leiou em negociação coletiva;

X - salário-família aos dependen­tes nos termos da lei;

XI - duração do trabalho não su­perior a oito horas diãrias;

XII - jornada máxima de seis ho­ras para o trabalho realizado em tur­nos ininterruptos de revezamento;

XIII - repouso semanal remunera­do, preferencialmente aos domingose feriados civis e religiosos de acordocom a tradição local;

XIV - serviço extraordinário comremuneração superior ao normal con­forme convenção;

XV - gozo de férias anuais, na for­ma da lei, com remuneração integral;

XVI -licen9a remunerada à ges­tante, sem prejuízo do emprego e dosalário, nos termos da lei;

XVII - aviso prévio e direito à in­denização, nos termos da lei;

XVIII - redução dos riscos ineren­tes ao trabalho, por meio de normasde saúde, higiene e segurança;

XIX - adicional de remuneraçãopara as atividades consideradas peno­sas, insalubres ou perigosas, na formada lei;

XX - aposentadoria, bem como ado trabalhador rural;

XXI - assistência gratuita aos seusfilhos e dependentes em creches e pré­escolas de zero a seis anos de idadecompletos;

XXII - reconhecimento das con­venções coletivas de trabalho;

XXIII - participação nas vanta­gens advindas da modernização tecno­lógica e da automação;

XXIV - seguro contra acidentesdo trabalho, a cargo do empregador,sem excluir a indenização a que esteestá obrigado, quando incorrer em do­lo ?_1!.l::1!lpa;

XXV - proibição de distinção en­tre trabalho manual, técnico ou Inte­lectual ou entre os profissionais res­pectivos.

§ í- - A lei protegerá o saláno edefinirá como críme a retenção dequalquer forma de remuneração dotrabalho j~ realizado.

§ 2' - E proibido o trabalho notur­no ou insalubre aos menores de dezoi­to anos e qualquer trabalho a menoresde quatorze anos, salvo na condiçãode aprendiz.

§ 3' - A lei regulamentará, no in­teresse dos trabalhadores, as ativida­des de intermediação remunerada damão-de-obra permanente, ainda quemediante locação.

§ 4' - Os princípos de garantia deemprego de que trata o inciso I nãose aphcam à pequena empresa comaté dez empregados.

Art. 7' - São assegurados à cate­goria dos trbalhadores domésticos osdireitos previstos nos incisos IV, V,VII, XIII, XV, XVII e XX do artigoanterior, bem como a integração àPrevidência Social.

Art. 8' - O produtor rural e o pes­cador artesanal, que exerçam suas ati­vidades em regime de economia fami­liar, sem empregados permanentes,serão, para os efeitos da PrevidênciaSocial, considerados segurados autô­nomos, na forma que a lei estabelecer,a eles equiparados o parceiro, o meei­ro e o arrendatário.

Art. 9' - É livre a associação pro­fissional ou sindical A lei definirá ascondições para seu registro perante oPoder Público e para sua representa-

ção nas convenções coletivas.§ l' - A entidade sindical cabe a

defesa dos direitos e interesses da cate­goria, individuais ou coletivos, inclu­sive como substitutivo processual emquestões judiciais ou administrativas.

§ 2' - A lei não poderá exigir auto­rização do Estado I?ara a fundação desindicato, salvo registro no órgão com­petente.

§ 3' - É vedada ao Poder Públicointervenção ou interferência na orga­nização sindical,

§ 4' - A assembléia geral fixarã acontribuição da categoria que, se pro­fissional, será descontada em folha,para custeio do sistema confederativode sua representação SIndical.

§ 5' - A lei não obrigará a filiaçãoaos sindicatos, e ninguém será obri­gado a mentê-la,

§ 6' - Se mais de uma entidadepretender representar a mesma cate­goria ou a mesma comunidade de inte­resses profissionais, somente uma terádireito à representação nas conven­ções coletivas, conforme a lei.

§ 7' - Aplicam-se à organizaçãodos sindicatos rurais e das colônias depescadores os princípios adotados pa­ra os sindicatos urbanos, nas condi­ções da lei,

§ 8' - E assegurada aos sindicatos,com obrigatoriedade, participação nasnegociações coletivas de trabalho.

§ 9' - Os aposentados terão direi­to a votar e ser votados nas organi­zações sindicais. _ _ _ .

Art. 10- E livre a greve, vedadaa iniciativa patronal, competindo aostrabalhadores decidir sobre a oportu­nidade e o âmbito de interesses quedeverão por meio dela defender.

§ l' - Na hipótese de greve, serãoadotadas providências pelas entidadessindicais que garantam a manutençãodos serviços indispensáveis ao atendi­mento das necessidades inadiáveis dacomunidade.

§ 2' - Os abusos cometidos sujei­tam seus responsáveis às penas da lei.

rurais, na forma que dispuser a lei,desde de que seus propnetários nãopossuam outro imóvel rural.

Art. 218 - A lei estabelecerá polí­tica habitacional para o trabalhadorrural com o objetivo de garantir-lhedignidade de vida e propiciar-lhe a fi­xação no meio onde Vive, preferen­cialmente com os assentamentos emnúcleos comunitários.

Art. 219 - Ao poder público cum­pre promover políticas adequ~das deestímulo, assistência técnica, desen­volvimento e financiamento para a ati­vidade agrícola, agroindustrual, pe­cuária e pesqueira.

Art. 220 - A concessão de incen­tivos fiscais, para projetos em novasfronteiras agrícolas, estará condicio­nada à transferência para lavradores,do domínio de, no mímmo, .10% daárea beneficiada, a fim de que sejautilizada para assentamento de peque­nos agncultores, como participaçãosupletiva da iniciativa privada no pro­jeto de reforma agrária.

1jjjjj1j11~~1~1~1~1~~1j1~j :.~:::~::,·:.~,::::t,::.t:::~:,::.~::::~:,::,~::::~:,::,f:::::,::.f:::::,::,f::::·.~,:::.~::.:·:~,:'="::~.·::.~,·::;.·.::.t:::t.::.t:::~·.::.t::..~:,::l:::t.::.~~1~j1111~~~~[j~~i1~1~1 .

111111

l!I!II!I!I!I!I!'ll!I!I!1

reforma agrária.Art. 214 - Os beneficiários da dis­

tnbuição de imóveis rurais pela refor­ma agrária receberão títulos de domí­nio ou de concessão de uso, mego­ciáveis pelo prazo de dez anos.

Parágrafo único - O título de do­mínio será confendo ao homem e àmulher, esposa ou companheira.

Art. 215 - O plano nacional de de­senvolvimento agrário, de execuçãoplurianual, englobará simultaneamen­te as ações da política agrícola, políticaagrária e reforma agrána.

Art. 216 - A lei limitará a aquisi­ção ou arrendamento de propriedaderural por pessoas físicas ou jurídicasestrangeiras, bem como os residentese dormcihados no exterior.

Parágrafo único - A aquisição deimóvel rural por pessoa jurídica es­trangeira ficará subordinada à préviaautonzação do Congresso Nacional.

Art. 217 - São insuscetíveis de de­sapropriação, para fins de reformaagrána, os pequenos e médios imóveis

lor da terra em títulos e o das benfei­torias em dinheiro, aiautora requererásejam ordenadas, a seu favor, a imis­são na posse do Imóvel e o registrodeste na matrícula competente.

§ 2' - O JUIZ deferirá de plano ainicial. Se não o fizer no prazo de 90dias, a imissão opera-se automatica­mente com as consequências previstasno parágrafo anterior.

§ 3' - Se decisão judicial reconhe­cer que a propriedade cumpria suafunção social, o preço será totalmentepago em moeda corrente corrigida atéa data do efetivo pagamento.

Art. 213 - A alienação ou conces­são, a qualquer título, de terras públi­cas com área superior a 500 hectaresa uma só pessoa ffsicaou jurídica, ain­da que por interposta pessoa, excetua­dos os casos de cooperativas de produ­ção, ori~inánas do processo de refor­ma agraria, dependerão de préviaaprovação do Congresso NaCIOnaL

Parágrafo úmco - A destinação dasterras públicas e devolutas será com­patibilizada com o plano nacional de

Art. 209 - É garantido o direito depropriedade de Imóvel rural, condicio­nado ao cumprimento de sua função

Propriedaderural está

asseguradaGarantido o direito de proprie- social, consoante os requisitos defini-

dade de imóvel rural condiciona- dos em lei.do ao cumprimento de sua função Art: 210 -:- Compete à ~nião de~a-social o capítulo da reforma agrá- propnar por Int~~esse.so~Ial para fI!1S.' b ' .. - de reforma agrana o imóvel que nao

na manteve ta~ em ~ ImIs~ao ~a esteja cumprindo a sua função social,posse em 90 ?Ia~ e a Indem~açao em áreas priontánas, fixadas em de-da desapropnaçao paga em tItulos ereto do Poder Executivo mediantepara a terra; e em dinheiro para indenização em títulos da dívida agrã-as benfeitorias, consideradas ria, com cláusula de preservação do"úteis e necessárias." valor real, resgatáveis no prazo de até

O capítulo II, da Ordem Econô- 20 ano~, ~ partir do. ~egu_ndo a?o d.emica que trata "da política agríco- s~a emISSa?, cuja utilização sera defí-I f , di . d f ,mda em lei.~'" un Ian~ e a re ?rma agra- § l'-As benfeitonas úteis e ne-na , por nao ter havido acordo cessánas serão indenizadas em dinhei-entre os vários grupos de nego- rociação dentro da Constituinte, foi § 2' - O Orçamento fixará anual-mantido praticamente intacto do mente o volume total de títulos da dívi-primeiro para o segundo substi- da agrária aSSIm como o montante detutivo do relator. recursos em moeda para, ~tender ao

Dois novos artigos foram incluí- p!C!grama de reforma agrana no exer-d f' d bilid d CICIO.os IXa? o responsa I! a e.ao § 3' _ O valor da indenização dapoder püblico quanto ao incentivo terra e das benfeitorras será deterrm-à assistência técnica e financia- nado conforme dispuser a lei.mentos para a atividade agrícola, Art. 211 - A desapropriação seráagroindustrial, pecuána e pes- precedida d~ processo administrativoqueira\ O segundo prevê a criação consubstanc!ad? em vIst?r!a do Imóvelde incentivos fiscais para estimular rural pelo orgao fundiãrío nal?IOI}~I,

íci - d ' '" , garantida a presença do propnetanoa part cIp~çao a iniciativa p~r~'a- ou de seu representante.da no projeto de reforma agrana. Art. 212-Adeclaraçãodoimóvel

REFORMA AGRÁRIA como de interesse social para fins dereforma agrária autoriza a União apropor a ação de desapropnação

§ l'-Na petição inicial, Instruídacom comprovantes do depósito do va-

Jornal da Constituinte 5

Page 6: Volume [UlUle · Volume 359 Devagar se vai ao longe. Essa era, semana passada, a expecta tiva de quem acompanhava asvota ções na Comissão de Sistematiza ção da AssembléiaNacional

Processo deelaboração·é criticado

Uldurico PintoAtualmente as atenções dos

parlamentares estão voltadas parao âmbito da Comissão de Sistema­tização, que vota o projeto deConstituição do relator BernardoCabral. A sessão plenária daConstituinte de quarta-feira, noentanto, demonstrou uma visãocrítica diante do processo de ela­boração da nova Carta, com osconstituintes preferindo fazer umaanálise dos resultados até agoraobtidos, após quase sete meses detrabalho. Os parlamentares se de­tiveram nas questões característi­cas que se inserem no processo decriação de uma nova ordem social.Enfocando as falhas ou apontandoe discutindo novos rumos que ain­da podem ser trilhados a partir davotação em plenário do projetoque será entregue pela Comissãode Sistematização, cada represen­tante trouxe a sua contribuição pa­ra o debate constitucional.

MOROSIDADE

O Constituinte Luiz Inácio Lulada Silva (PT - SP.) usou de umaimagem para definir a morosidadeque, a seu ver, cerca a votaçãoda Comissão de Sistematização.Pelo que disse, "do lado de lá opovo se encontra a 380por hora" .Depois de se mostrar admiradopor ter a comissão levado dez diaspara votar menos de seis artigosdo substitutivo de Bernardo Ca­bral, o parlamentar defendeu a ne­cessidade de se alterar o ritmo daapreciação da matéria.

Luiz Inácio Lula da Silva, poroutro lado, condenou a "incom­petência do governo" o qual eleacredita estar mentindo par a po­pulação, através de planos gover­namentais inviáveis. De acordocom o constituinte, a inércia doPalácio do Planalto é transferidapata a Constituinte na medida emque não sobra tempo para os par­lamentares discutirem a conjuntu­ra econômica e social, por seremobrigados a aplicar uma vigilânciaestreita ao Governo.

Para o-parlamentar do PT, osconstituintes começam a perce­ber, encarar a realidade de queos discursos feitos durante a cam­panha eleitoral de 1986, de pro­messas de melhorias para o povobrasileiro, eram mentrrosas. O po­vo começa a constatar que os pro­blemas da sociedade não serão re­solvidos pela nova Constituição,sustentou.

RIGOR

Crítica rigorosa também fez oconstituinte Uldurico Pinto(PMDB - BA), para quem aConstituinte, proposta para ser li­vre, soberana e popular; está en­clausurada pelos interesses de .uma minoria que detém o poder .polític;o, não sendo nem soberanae nem popular, na medida em que

se submete aos caprichos e vonta­de dos poderosos.

Pela avaliação do parlamentar,a Constituinte, apesar de aparen­temente democrática, vem apenashomologando os conchavos daselites, a única manifestação quesensibilizou os "cardeais da Cons­tituinte" foi a manifestação pro­movida pela União DemocrátifaRuralista - UDR. "Infelizmente,o que temos de concreto é o fatoda absoluta inutilidade de todasas iniciativas de participação po­pular", constatou, sustentando~ue depois de tantos meses de fun­cíonamento o que a Constituinteproduziu foi o descrédito populare a desesperança em toda a nação.

CULPA

Entretanto, opinião diversapossui o constituinte Victor Fac­cioni (PDS - RS). Na sua opi­nião, a Constituinte não pode serculpada de nada de errado que

, possa estar acontecendo na econo­mia ou na vida institucional brasi­leira. A culpa, o parlamentar atri­buiu ao que classificou de irres­ponsabilidade dos partidos forma­dores da aliança democrática quedeu sustentação ao governo desdea eleição de Tancredo Neves noColégio Eleitoral.

Victor Faccioni acrescentou quenão aceita o argumento de que osistema de governo, que talvezpossa ser mudado pela Constituin­te, venha a gerar uma crise de an­tagonismos entre o Palácio do Pla­nalto e o Legislativo e, como con­seqüência, uma ruptura institucio­nal, O PMDB e o PFL, afirmou,recusaram os encargos advindosdos compromissos que assumiramao apoiarem o governo. Os doispartidos, majoritários no Con­gresso, continuou o parlamentar,deram um "calote na Nação", coma edição do Plano Cruzado, geran­do o pânico social e o agravamentoda cnse política.

A solução mais viável apresen­tada pelo constituinte foi a de mu­dar o sistema de governo, com oBrasil passando a ser governadopelo parlamentarismo. Ao mesmotempo, concitou o PMDB e oPFL, ainda que este já tenha ho­mologado sua saída da aliança de­mocrática, a ajudarem o governoa se recompor politicamente, "sobpena de se assistir ao naufrágioda Constituinte e do regime demo­crático".

ENGODO

Mas ainda houve mais uma vozcrítica, que definiu todo o trabalhoda Constituinte, desde o início, co­mo um "engodo". Foi o consti­tuinte Paulo Paim (PT - RS) quedenunciou que somente agora,quando o relator Bernardo Cabralapresenta seu relatório e a Comis-

são de Sistematização inicia o pro­cesso de votação, é que a Consti­tuinte vem discutir a nova Consti­tuição.

O parlamentar ressaltou que denada adiantaram as mobilizaçõespopulares e as votações nas subco­missões, mais as audiências públi­cas e toda a discussão no âmbitodas comissões temáticas, já quenada foi aproveitado pelo relatorBernardo Cabral no seu trabalho.Pelo constituinte, tudo não passoude brincadeira, mentira de maugosto.

INDEPENDÊNCIA

Não obstante, o parlamentar

sustentou que ainda é tempo dea Constituinte provar à Nação bra­sileira se é ou não independente,deixando claro que não vai se sub­meter à pressão dos grandes gru­pos econômicos. Paulo Paim ga­rantiu que as centrais sindicais detrabalhadores vão denunciar a to­do o Brasil os políticos traidoresda classe, caso o novo texto consti­tucional não reflita o interesseconjunto dos trabalhadores brasi­leiros, que são 95% da população.

IDOSOS

Coube à constituinte Beneditada Silva (PT - RJ), um enfoquedetalhista de um assunto de gran­de relevância para uma grandeparcela da sociedade brasileira: osIdosos. Ao criticar a marginaliza­ção dos anciãos pelo processo so­cial, a parlamentar disse que a fu­tura Carta Magna deverá encarara questão dos mais velhos sob oângulo trabalhista, social, econô­mico e humanístico. E preciso-considerou - extirpar uma rea­lidade incômoda, injusta e incons­titucional, vedando discrimina­ções ou restrições e reintegrandoos idosos à sociedade como umde seus valores mais preciosos,através da criação dos mecanismosconstitucionais necessários e dareformulação de métodos, medi­cinais ou legais, preconceituosos.

No seu entendimento, não sedeveria falar em velhice com rela­ção às pessoas que têm entre 35e 60 anos, pois esta é, de acordocom os gerontólogos, a faixa deouro do ser humano, a de maiorcriatividade e sabedoria. Acen­tuou Benedita da Silvaser absurdoa incoerência e a falsidade da pre­missa que apóia a fixação da idadede 35 anos para vedar o ingressodos brasileiros na maioria das ati­vidades públicas ou privadas, sen­do poucas as exceções.

CRIANÇAS

A mesma parlamentar tambémanalisou um outro problema quetoma formas de grandes propor­ções, que é a respeito do menorabandonado. Benedita da Silvaconclamou a Constituinte e todoo povo brasileiro a se juntarempara tomar uma realidade a De­claração dos Direitos da Criança,aprovada pela ONU ror 87 Na­ções, inclusive o Brasil. Segundoa deputada, o menor deveria sera prioridade máxima nacional, aci­ma da economia, dos déficits, dadívida externa, das crises políticase de tudo o que vem preenchendoespaços na vida pública brasileira.

Não haverá futuro para o País,se grande parte das crianças estámorrendo ou sendo devastada pe­la miséria, pelo abandono e peladoença, enfatizou a representantedo Rio de Janeiro. Há um conjun­to de fatores - advertiu - quelevam à constatação dramática deque é preciso agir prontamente ede diversas formas. A abordagemdo problema tem que ser ampla,frisou, ao concluir afiançando queo assunto deve ser abordado portodos os poderes públicos e como engajamento total de todos ossegmentos da sociedade brasilei­ra.

PRESIDENCIALISMO

Mas houve espaço para discus­são de matérias polêmicas, comosistema de governo. Foi o caso doconstituinte Nelson Sabrá (PFL­RJ) que fez a defesa do presiden­cialismo, citando como exemplo

de presidente bem sucedido e au­tor de uma grande administraçãoJuscelino Kubitschek, que assu­miu com o Congresso em plenaposse de suas prerrogativas. JK­disse - enfrentou todas as adver­sidades que o destino impôs, noentanto, realizou um governo alta­mente democrático, numa de­monstração de que é possível bemadministrar um País através de umsistema presidencialista preser­vando as prerrogativas do Parla­mento.

A crise nacional, na sua opi­nião, não reside na forma de go­verno, pois o que ocorreu nos últi­mos vinte anos foi a falta de visãodos governantes, incapazes, con­forme acentuou, de implantaruma política agrícola que desserespaldo aos produtores e evitasseimplantar um inchamento dos cen­tros urbanos. O representante pe­felista preconizou a necessidadede os constituintes trabalharem nosentido da realização de uma re­forma agrária compatível com areforma agrícola, dando, também,condições aos estados e municí­pios de gerir as riquezas ali produ­zidas. E por isso que, concluiu,com uma idéia correta do que sejao presidencialismo, "chegaremos,a médio prazo, a resgatar as liber­dades individuais e a democra­cia."

TRANSPORTE

A constituinte Irma Passoni (PT- SP) também se manifestou pormatéria constitucional, lançandoum apelo ao relator da comissãode Sistematização. A parlamentarpropugnou que Bernardo Cabralacatasse em seu último e definitivosubstitutivo um dispositivo queconsidere o transporte público co­mo essencial.

A constituinte ressaltou que taldispositivo já estava previsto nosubstitutivo de número um, apre­sentado por Bernardo Cabral, masque foi retirado quando da elabo­ração do segundo relatório. Pelaargumentação de Irma Passoni,"sem transporte público, não háquem trabalhe", disse ela, acres­centando que ao trabalhador deveser garantido esse direito constitu­cionalmente.

MAGISTÉRIO

Aposentadoria especial para omagistério, aos 25 anos de serviço,garantida constitucionalmente, foia proposta do deputado SólonBorges dos Reis (PTB -SP). En­tende o parlamentar que tal direi­to já fOI conquistado há anos e,portanto, deve ser inserido no tex­to da Constituição.

Sólon Borges dos Reis conside­rou inexplicável que uma conquis­ta já consagrada não conste, se­quer, no relatório do deputadoBernardo Cabral. E anunciou quelutará para que o magistério sejabeneficiado com a garantia consti­tucional de aposentadoria aos 25anos. Pelo que afirmou, sua atitu­de será a de pedir destaque logoque a matéria venha ao plenáriocaso a Comissão de Sistematiza­ção não acate a concessão de apo­sentadoria especial para os profes­sores.

O constituinte mostrou seu âni­mo, e o de todos os professoresque estiveram no Congresso parauma manifestação a favor da apo­sentadoria especial para a classe,ao afirmar que, "se a Constituintenão puder melhorar o magistérioe a educação, pelo menos não osprejudique".

6 ·Jornal da Consqtii:F-'ui=nt~e _

Page 7: Volume [UlUle · Volume 359 Devagar se vai ao longe. Essa era, semana passada, a expecta tiva de quem acompanhava asvota ções na Comissão de Sistematiza ção da AssembléiaNacional

,;

Ant6"io"êârlos KoiíderReis"AmaralNettoAluizio Campos Pimenta da Veiga

Comissão rejeita pena de morteIbsenPinheiro

A implantação da pena de mor­te no Brasil e a garantia do sigiloinviolável da correspondência edas comunicações telefônicas e te­legráficas, como a transmissão dedados por via da mformática, fo­ram os temas que até o momentomais apaixonaram os debatesconstituintes durante a apreciaçãodo Substitutivo Bernardo Cabral.Apesar da defesa intransigentedos constituintes Amaral Netto(PDS - RJ) e Farabulini Jú­nior (PTB - SP), a implantaçãoda pena de morte fOI rejeitada.O sigilo da correspondência e co­municações fOI mantido, ressalva­dos, porém, os casos em que a vio­lação é autorizada judicialmente,nos casos e na forma gue a lei esta­belecer, para fins de mstrução pe­nal.

O constituinte Aluízio Campos(PMDB - PB) defendeu desta­que de sua autoria que propõe asupressão do § 16 do art. 5° dosubstitutivo, por considerar re­dundante a proibição de que o juizacate prova obtida por meio defraude ao julgar um acusado. Se­gundo ele, qualquer prova obtidapor meios ilícitos não pode hojeser aceita por um juís. A matériajá está regulamentada, na legisla­ção ordinária, pelo Código Pro­cessual Penal.

O constituinte Maurílio Ferrei­ra Lima (PMDB - PE) defendeua manutenção do § 16 do art. 5°por entender que essa matéria temque ser tratada a nível de legisla­ção constitucional, de forma a ga­rantir a completa nulidade dasprovas obtidas por meios fraudu­lentos. Apesar de já ser a matériaregulamentada pela legislação or­dinária - disse -, é preciso queesse princípio seja fixado tambémna Constituição.

TRABALHO FORÇADO

Ao defender destaque onde sepropunha a acrescentar entre aspenas previstas por lei o trabalhoobrigatório, o constituinte Vival­do Barbosa (PDT - RJ) chamoua atenção para as dificuldades en­frentadas pelo sistema penitenciá­rio brasileiro. Segundo ele, os juí­zes, ao invés de encaminhar à pri­são determinados detentos, pode­riam penalizá-los com o trabalhocom o objetivo, inclusive, de pos­sibilitar a sua recuperação. Elepretende acrescentar essa alterna­tiva de pena no item VI, § 20, doart. 50.

Contrário à aprovação da I?ro­posta manifestou-se o constituintePimenta da Veiga (PMDB ­MG), salientando que, embora se­ja evidente a boa intenção do au­tor, o trabalho obrigatório em na­da difere do trabalho forçado.Além do mais - acentuou - nãose pode obrigar um detento a tra­balhar, a não ser através de coação

física, o que é inadmissível.O constituinte Luiz Salomão

(pDT - RJ), por seu lado, consi­derou a medida prudente e opor­tuna, particularmente quandopermite que o juiz determine aocondenado a obrigatoriedade dotrabalho em entidades públicas,ensejando a diminuição da popu­lação carcerária.

O relator Bernardo Cabral diri­giu apelo a Vivaldo Barbosa nosentido de que retirasse o desta­que, por entender que o acréscimodaquele inciso se chocaria com oparágrafo seguinte, que proíbe otrabalho forçado. Apesar do ape­Io, o representante carioca insistiuna manutenção do destaque, porconsiderar válida a proposta desua autoria.

PENA DE MORTE

Através do destaque de número3.0510 constituinte Amaral Netto(PDS - RJ) propôs a introduçãoda pena de morte no País. Ele res­saltou que a sua proposta estabe­lece a pena capital apenas para oscrimes graves, como estupros, as­saltos, seqüestros e roubos, segui­dos de morte. Ela tem, basicamen­te, o objetivo de diminuir o altoíndice de criminalidade no Brasil- disse. Amaral Netto citou asp~sCl.ui~as de opinião pública.favo­raveis a pena de morte e registroucarta de um pai que perdeu a filhabrutalmente assassinada, exigindodos legisladores uma revisão doCódigo Penal e a implantação dapena capital para aqueles crimes,e finalizou afirmando que cumpriuo dever e voltará ao plenário coma sua emenda objetivando implan­tar a pena de morte.

Também defendeu a medida oconstituinte Farabulini Júnior(PTB -SP), apelando aos consti­tuintes para que a aprovassem. Noseu entender, a aprovação é a me­lhor forma de defender a socie­dade dos criminosos odientos,que, a seu ver, se sentem impunesem face da legislação em vigor.

Contra a adoção da pena demorte manifestaram-se os consti­tuintes José Serra (PMDB - SP)e Egídio Ferreira Lima (PMDB- PE). O parlamentar paulistaconsidera a proposta parte de umfalso dilema e de um pressupostotambém falso, na medida em queo enfrentamento da questão da se­gurança não passa pela pena demorte. A pena de morte não inibea criminahdade - afirmou -, co­mo está comprovado em váriospaíses do mundo onde é aplicada.Se a Constituinte aprovar a penade morte - acrescentou -, a na­ção esbarrará no futuro com umgrave problema, qual seja, a insti­tucionalização da vingança.

Egídio Ferreira Lima alertoupara o aspecto filosófico da ques­tão, quando se adota uma postura

o sigilo dacorrespondênciafoi mantido no

substitutivoBernardo

Cabral, com aressalva de

que ele poderáser violado

quando houverordem judicial.

maniqueísta entre o bem e o mal.Creio na recuperação do homem- disse -, na possibilidade deo bem prevalecer sobre o mal. Ca­da ser humano - segundo ele ­tem um instinto de morte, o desejode correr riscos, e não será a penacapital que irá impedir um crimi­noso de atuar em sua agressivi­dade.

Também o relator-adjunto, Jo­sé Fogaça (PMDB - RS), mani­festou-se contrariamente à apro­vação do destaque, ocasião emque lembrou ter o próprio relator,Bernardo Cabral, um irmão assas­sinado e nem por isto se valeudo sentimento de vingança. Aocontrário, propôs a proibição dapena de morte, da prisão perpé­tua, de trabalhos forçados e do ba­nimento.

SIGILO INVIOLÁVELO destaque apresentado pelo

constiuinte Brandão Monteiro(PDT - RJ) que impedia a possi­bilidade da violação de correspon­dência e comunicações telegráfi­cas e telefônicas "por ordem judi­cial, nos casos e na forma que alei estabelecer, para fins de instruo,ção processual", foi rejeitado. Odestaque alterava o § 12 do art.5°

De acordo com o representantefluminense, faz parte do direitoconstitucional brasileiro a garantiado sigilo da correspondência e deQ.utras formas de comunicação.Não se pode - afirmou - justa­mente agora que se quer elaboraruma Carta que vá ao encontro dasaspirações populares, partir para

um posicionamento restritivo da pondência e comunicações tele­liberdade e do pensamento do in- gráficas e telefônicas volte a acon­divíduo, argumentou o líder pede- tecer". Da forma como está postotista. - disse - o texto abre o suposto

Também defendendo a emenda direito de um delegado violar odo parlamentar fluminense que sigilo de uma mensagem.eliminava a referida autorização O constituinte Nelson Carneiropara que o sigilo da correspondên- (PMDB - RJ) afirmou que acia fosse quebrado quando ocor- emenda não podia ser aprovada,resse autorização judicial, o cons- em razão de o texto exigir que hajatituinte Roberto Freire (PCB - uma ordem judicial para a viola­PE) preconizou a necessidade de ção da correspondência e não es­se assegurar a inviolabilidade no pecificar qual autoridade de direi­texto constitucional, para só de- to pode fazê-lo. Para o constituin­pois discutir os casos em que o te, a inviolabilidade da correspon­sigilo poderia ser quebrado nas dência, nos fermos expostos, 1'0­correspondências e nas comunica- deria ser quebrada pela ordem deções telegráficas e telefônicas. um delegado.

Defendeu a permanência do' Em defesa do substitutivo do re-texto integral do substitutivo o lator veio então o constituinte An­constituinte Egídio Ferreira Lima tônio Carlos Konder Reis (PDS(PMDB - PE). Ele justificou a - SC). Ele entende que o sigilomanutenção do texto por ver nele da correspondência deve ser man­uma maneira de o Estado com- tido, "salvo por ordem judicial ebater ou mesmo prevenir seqües- para fins de instrução penal". Otros e tráfico de drogas. parlamentar enfatizou que o prin-

Também a favor do substitutivo cípio absoluto do sigilo da corres­pronunciou-se o constituinte Ger- pondência, das comunicações te-

. son Peres (PDS - PA), para lefônicas, telegráficas e de proces­quem o sigilo não pode deixar de sarnento de dados "é admirável",ficar sob controle jurisdicional, mas não se adapta ou não se com­em nome da defesa do Estado e padece com a realidade atual. Fri­do próprio indivíduo. A emenda sou que "recusar a inclusão doBrandão Monteiro não está de princípio no texto constitucionalacordo com a tradição democrá- seria mais que uma leviandade, se­tica de nossas instituições, disse o ria uma agressão aos direitos e ga­representante paraense. rantias dos direitos individuais dos

Com a rejeição do destaque de brasileiros". Ressaltou, contudo,Brandão Monteiro, o constItuinte que não recobri-Io com a salva­Israel Pinheiro (PMDB - MG) guarda da autorização judicial, eapresentou emenda visando reti- apenas para casos relativos à ins­rar do texto do substitutivo a ex- trução penal, seria fugir à reali­pressão "salvo por ordem judicial, dade.nos casos e na forma que a lei esta- Já o constituinte José Mendon­belecer, para fins de instrução pro- ça de Morais (PMD B - MG) de­cessual", substituindo-a por "res- fendeu que, ao invés de se fazersalvados os casos previstos em a ressalva para a violação de cor­lei". respondências "apenas para fins

Em relação a essa emenda, Ger- de instrução processual", seja res­son Peres pediu à presidência da salvada a expressão ",nos termosComissão de Sistematização para da lei". Ou seja, "é inviolável o'que a considerasse prejudicada, sigilo da correspondência e das co-Iem razão de não se verificar com municações telegráficas e telefô- I

ela nenhuma mudança substancial nicas nos casos e na forma que'em relação ao texto original, ocor- a lei estabelecer".rendo apenas uma mudança de re- O constituinte Ibsen Pinheirodação que em nada altera o propó- (PMDB - RS), por sua vez, dissesito da questão. concordar com o texto do relator

A favor da emenda, o consti- Bernardo Cabral, que "condicio­tuinte Ricardo Fiuza (PFL - PE) na uma eventual violação à indis­declarou que ela na realidade não pensável e prévia autorização ju­se encontrava prejudicada, por- dicial". Disse, no entanto, queque serviu para aprimorar o texto considera necessária a aprovaçãodo relator, além de ser convenien- da sua emenda, que busca aditarte para melhor esclarecer a quem uma expressão curta e simples: "ecabe a ação nos casos previstos em investigação criminal". O parla­lei, não deixando isso ficar a crité- mentar assevera que sua emendario de um juiz ou autoridade di- atinge o objetivo de fortalecer aversa. sociedade para a defesa na luta

Já o constituinte Haroldo Lima contra a criminalidade e também(PC do B - BA) lamentou que a idéia de que só a ordem judicial,o texto proposto introduzisse uma só a proteção do Estado de direito,ressalva num direito que deveria através do mandado judicial, 1'0­ser taxativo e absoluto em seus ter- derá permitir a violação do sigilomos, deixando uma "brecha para em casos,extremos, que, por issoque um costume herdado do regi- mesmo, dependerão sempre deme autoritário de violar corres- _ . autorização judicial.

Jornal da Constituinte 7

Page 8: Volume [UlUle · Volume 359 Devagar se vai ao longe. Essa era, semana passada, a expecta tiva de quem acompanhava asvota ções na Comissão de Sistematiza ção da AssembléiaNacional

Vamos gastarmais e melhorcom a saúde

"A novapolítica

nacionaldesaúde,

priorizandoas ações

preventivas,vai fazer com

que obrasileiro

seja lembradoantes deadoecer,

equivalendoa dizer que,de agora em

diante, oBrasil vai

investirnasaúde e nãona doença,comovem

acontecendoem todos os

tempos."

8

A instituição de um sistema uni­ficado de saúde em todo o país,descentralizado, com atendimen­to integral (médico, farmacêutico,odontológico, fisioterapêuticoetc.), universalizado - será dadoa todos indistintamente - e sobO controle da população, é o avan­ço mais significativo dentro do ca­pítulo da saúde, que recebeu oaval do relator da Comissão de Sis­tematização, deputado BernardoCabral. Apresentada e aprovadadesde a Subcomissão de Saúde,Seguridade e do Meio Ambiente,presidida pelo deputado José EliasMurad (PTB-MG), a matéria quevai alterar de forma substancial oatual quadro da saúde no Brasilpassou incólume pela comissão te­mática específica e, ao chegar àSistematização, sofreu algumas al­terações que, em sua maioria, nãoche~am a desfigurar o espírito dainiciativa.

"O setor de seguridade social- saúde, assistência e previdênciasocial- é um dos mais avançadosna nova Constituição. Modificaradicalmente todas as políticas atéentão postas em prática", diz oconstituinté Raimundo Bezerra(PMDB-CE). "A saúde como de­ver do Estado e direito de todospreconiza, por si s6, um avançoconsiderável; os demais avançosdecorrem desse fato", asseguraCarlos Mosconi (PMDB-MG), re­lator da Subcomissão de Saúde,Seguridade e do Meio Ambiente."O Substitutivo 2 de Cabral vaipropiciar, a médio prazo, as condi­ções para uma assistência mais ra­cional e eficaz no campo da saú­de", acredita José Elias Murad(PTB-MG), e com o qual concor­da ó constituinte Eduardo Jorge(PT-SP) quando analisa o texto doCabral 2: "É um texto modera­damente progressista que trarápossibilidades' de melhorias noatual sistema de saúde do Brasil".

O conceito de saúde como direi­to de todos e dever do Estado,a organização de um sistema unifi­cado de saúde, as novas regras derelacionamento entre o poder pú­blico e a iniciativa privada e a pos­sibilidade de o Estado deter o mo­nop6lio da importação de equipa­mentos médico-odontológicos ede matéria-prima para a indústriafarmacêutica são os quatro pontosmais importantes dentro da áreada saúde contidos no segundosubstitutivo de Bernardo Cabral,do ponto de vista do constituinteEduardo Jorge. Para ele, o deverdo Estado está bem colocado nonovo texto, porque contempla aadoção de uma política não s6 es­pecífica para as áreas médicas,mas também as mais gerais, comoas políticas econômicas e sociaisque visem à eliminação ou redu­ção do risco de doenças, e porqueo Estado é obrigado a garantir oacesso igualitário a todas as açõese serviços de promoção, proteçãoe recuperação da saúde a todasas pessoas. •

Eduardo Jorge aponta com6'

princípios louváveis do sistemaunificado de saúde quatro pontosque ele destaca: a unificação docomando, a níveis municipal, esta­dual e federal; a descentralização;o atendimento integral, tanto naparte de medicina preventivaquanto curativa; e o controle dapopulação sobre todas as fases dosistema e em todos os seus níveis."Sem, a fiscalização dos interes­sados é difícil funcionar a conten­to", alerta. Quanto ao relaciona­mento do poder público com osserviços pnvados houve uma mu­dança substancial. De agora emdiante, toda transação entre essasduas partes vai se gerir por contra­tos de direito público e não priva­do, como ocorre atualmente.Além disso, a demanda de servi­ços dará prioridade ao setor nãolucrativo, como santas casas e hos­pitais beneficentes, e não poderáhaver transferência de recursospúblicos para investimentos novosna área de serviços médicos priva­dos lucrativos, o que, segundo orepresentante do PT paulista, vaipropiciar a recuperação da redepública. Da mesma forma, a possi­bilidade de monopólio do poderpúblico nas importações do setorvai permitir ao país escolher ondee o que importar, trazendo grandeeconomia de divisas, lembraEduardo Jorge.

Os reparos que o parlamentarpaulista faria ao novo texto seriamquanto à questão do financiamen­to do SUS (Sistema Unico de Saú­de), que, a seu ver, deveria contar,além dos 30% da seguridade so­cial, com mais um percentual pre­viamente estipulado dos orçamen­tos dos estados e municípios, e queimagina deveria ser por volta dos13%. Outro ponto seria a explici­tação mais clara dos princípios ge­rais de uma política de recursoshumanos (como um plano de car­reira, estímulo à dedicação exclu­siva, política de formação de pes­soal) e a questão da saúde do tra­balhador. Para Eduardo Jorge, es­sa deve ficar integrada ao SUS,mas com controle dos órgãos sin­dicais e participação destes na ges­tão dos serviços oferecidos. Aqui,uma explicação: não existe incom­patibilidade do SUS com as atri­buições específicas de determina­dos órgãos, como é o caso do Mi­nistério do Trabalho com relaçãoà prevenção de acidentes. "Maisfundamental do que a preocupa­ção com a mudança da competên­cia, que não deverá ocorrer - ra­ciocina o petista -, é o controlesindical sobre a política sanitária,como de resto sobre os demais di­reitos do trabalhador. Hoje, porexemplo, o representante do sin­dicato não tem autorização paraacompanhar a fiscalização em suasinspeções pelas dependências deum local de trabalho. E por quea proibição?" - indagou ­Eduardo Jorge ao reclamar, ao fi­nal, da retirada da proibição dapropaganda de cigarros, bebidasalcoóhcas, agrotóxicos, remédios

e formas de tratamento que foramsubstituídas por uma f6rmula vagaque não garante nada, e mostrao mal que isso pode causar: "Essapropaganda induz à automedica­ção, ao uso de drogas, que termi­nam tendo um peso enorme sobreos gastos do sistema de saúde, comprejuízo para a saúde geral da po­pulação. "

MAIS E MELHOR

"O Brasil tem que gastar maise melhor com a saúde", conclamao constituinte Carlos Mosconi, pa­ra quem o fundamental nesse capí­tulo do texto constitucional fOI amanutenção do dispositivo quedetermina ser a saúde um deverdo Estado e um direito de todos.Aliás, Mosconi tem poucas quei­xas do Substitutivo Cabral Il, asquais se centralizam na queda daproibição de propaganda e cigar­ros e demais hábitos prejudiciaisà saúde e do artigo que dispunhasobre o problema da doação de6rgãos que, inexplicavelmente,sumiram do texto. "O relatório daSubcomissão da Saúde, Segurida­de e do Meio Ambiente foi par­cialmente mantido, pois as altera­ções introduzidas não são de natu­reza substancial. Mas, a grandeconquista, a da democratização dasaúde, acompanhada da descen­tralização das ações e serviços, es­ta foi acolhida e sacramentada pe­la compreensão da quase totali­dade da Constituinte, garante orepresentante do PMDB mineiro.A falta de definição com relaçãoaos recursos para a saúde tambémse inclui entre suas observaçõescríticas, embora reconheça as difi­culdades que o país deverá enfren­tar em face do peso de expressivonúmero de sua população que viveinteiramente marginalizada, semacesso ao mercado de trabalhoe, conseqüentemente sem podercontribuir para a manutenção dosserviços sanitários.

Carlos Mosconi enfatiza o as­pecto saudável que caracteriza oSUS se executado na plenitude desua filosofia: tem que ser demo­cratizado, tem que ser descentra­lizado. "E o relacionamento doEstado com o setor privado - fri­sa Mosconi - não é excludente.Será apenas um convívio com ins­trumentos legais duros, como, narealidade, deveria ter sido sem­pre."

MEDICAMENTOS

"Enquanto a OMS recomendapara os países em desenvolvimen­to o uso de uma média de 200 dro­gas como suficientes às suas neces­sidades básicas, o Brasil apresentaum cardápio de 28 mil remédiosque não atendem à maioria da po­pulação", aponta o constituinteJosé Elias Murad, para mostrarem seguida, com um exemplo ape­nas, a que grau de sofisticação edesorientação chegamos em pre­juízo do racional, do lógico e doeconômico. "Veja o caso da vita­mina B-12, que tem uma única in­dicação terapêutica e que, no en­tanto, se apresenta em 96 varieda­des!" Murad, que foi presidenteda Subcomissão de Saúde, Seguri­dade e do Meio Ambiente, e avida inteira um estudioso da ques­tão, vê na falta de uma políticade saúde bem definida como acausa mais séria talvez do desca­labro que se verifica no setor."85% da indústria farmacêuticaestá nas mãos das multinacionais.A Ceme, que foi criada para a pes­quisa, a produção, o controle ea distribuição de medicamentos,cumpre apenas uma pequena par-

cela da função de distribuir, por­que, por incrível que pareça, elase revelou como a maior freguesadas multinacionais. Se a Ceme pu­der realmente produzir as 360 dro­gas (é o dobro do que prescrevea OMS, mas tudo bem) constantesda Rename (relação de medica­mentos essenciais) teremos condi­ções de melhorar sensivelmente oatendimento farmacêutico. O mo­nopólio do Estado para a impor­tação dos insumos básicos surgeaí como um instrumento dos maisdecisivos e valiosos para a soluçãodo problema", observa o parla­mentar petebista. Com o SistemaUnico de Saúde, o Estado vai en­trar de rijo também nessas áreasde produção, controle e análise dequalidade, possibilitando, assim, areabilitação do setor e em conse­qüência um aumento de benefíciospara a população brasileira, nãosó sob o ponto de vista sanitário,como tam bém social e econômico.

Do que foi retirado do projeto.original da Subcomissão que presi­diu, José Elias Murad não está dis­posto a aceitar o caso da propa­ganda de cigarros, bebidas alcoó­licas e inebriantes, a respeito deque ele já apresentou emenda e,na atual fase dos trabalhos, já re­quereu destaque de sua iniciativa.Segundo ele, é muito importanteque a questão fique bem clara den­tro do setor saúde, e, Rara isso,ele decidiu lutar até os ultimas De­cursos de plenário. "É realmenteum problema de saúde pública",acentuou Murad.

Indagando sobre a exeqüibilida­de do Sistema Único de Saúde,tendo em vista a delicada situaç oeconômica do país, José Elias ­rad declarou: "no momerão, scondições talvez não sejam su i­cientes para atender de manei aglobal os objetivos do SUS. M 5,como estamos fazendo uma Co â­

tituição que vai ultrapassar o a o

Page 9: Volume [UlUle · Volume 359 Devagar se vai ao longe. Essa era, semana passada, a expecta tiva de quem acompanhava asvota ções na Comissão de Sistematiza ção da AssembléiaNacional

\

)

2000, temos que escrevê-la sobuma 6tica mais abrangente". Dequalquer maneira, mostra o repre­sentante do PTB, s6 os 30% daarrecadação da seguridade socialjá seriam suficientes para quadru­plicar os recursos na área da saú­de. José Elias Murad lembra quea sua proposta original era de 10%do PIB, mas foi levado a desistirde seu intento compelido por umacarga de tecno-economês que lhecaiu em cima. "Não sei porque­confessa Murad -, pois o Uru­guai destma 8% do PIB para asaúde, a Argentina 9% e Israel20%".

PREVENTIVA"A nova política nacional de

saúde, prionzando as ações pre­ventivas, consubstanciadas em sa­neamento básico, ações imunoló­gicas, moradia salubre e combateaos agentes transmissores dedoenças, vaifazer com que o brasi-

leiro, no setor saúde, seja lembra­do antes de-adoecer", diz o consti­tuinte Raimundo Bezerra, médi­co, e um dos redatores, tanto noprimeiro como no segundo substi­tutivo, do projeto saúde. Ele ga­rante que haverá prioridade paraa medicina preventiva e não paraa curativa, como ocorre hoje, nu­ma versão lógica de que é melhor,mas fácil e mais econômico inves­tir na saúde do que investir nadoença. "As razões que justifica,esse posicionamento - e.x~lica ­são perfeitamente íntelígíves: oBrasil é um país tropical e subtro­pical. Na época das chuvas as subs­tâncias orgânicas entram em de­composição, notadamente as queformam grande parte dos lixos edetritos. Isto facilitaa proliferaçãode insetos transmissores de doen­ças. Nos países-de temperatuplbaixa o gelo e a neve tudo esterili­zam, não permitindo a sobrevidadaqueles insetos. Com as ações

preventivas, com o combate aostansmissores, teríamos possibili­dade de erradicar a doença deChagas, que acomete 8 milhões debrasileiros; a esquistosomose, queatinge 6 milhões; a malária, que,a cada mês, aumenta em cerca de100 mil portadores; a verminose,que alcança 95% da população doNordeste."

Raimundo Bezerra destaca ou­tro setor que será alvo da açãopreventiva de acordo com o novotexto constitucional: o da alimen­tação. Com base em dados do IB­GE, de 1985, Bezerra mostra quedas 22 milhões de crianças brasi­leiras entre zero e cinco anos deidade, 10a 12 milhões, têm déficitnutricional, ou seja, déficit de oxi­genação cerebral, o que, em ou­tras palavras, equivale a dizer 'l.uesão deficientes mentais em maiorou menor grau. "Quando as crian­ças chegam à escola já são porta-

{ IEduardo Jorge

doras de deficiência mental irre­versível, razão pela qual poucoapreendem dos ensinamentos mi­nistrados. Provavelmente esta éa causa de termos uma das maio­res evasões escolares de todo omundo: para cada 100 criançasque ingressam no 10 grau, apenas12,7completam o 20 grau e somen­te 3 terminam o 3° grau". Parao representante cearense, "a saú­de há de ter os princípios maispragmáticos possíveis, em termosde Brasil. Não podemos nem de­vemos copiar o modelo de nin­guém". A pergunta sobre as pres­sões enfrentadas em vista da prio­ridade ao setor público, Raimun­do Bezerra vai fundo: "O projetonovo vai atingir cerca de 4.000do­nos de hospitais, conveniados como Inamps, mas vai beneficiar 135milhões de brasileiros."

Maria Valdira

José Elias Murad

__ Ali

Raimundo Bezerra

9

Page 10: Volume [UlUle · Volume 359 Devagar se vai ao longe. Essa era, semana passada, a expecta tiva de quem acompanhava asvota ções na Comissão de Sistematiza ção da AssembléiaNacional

JC - Os líderes dos partidosforam freqüentemente ouvidospelo relator e pelo grupo?

Wilsom Martins - O relatornão se cansou de buscar informa­ções, ouvindo-as diversas lideran­ç,as. O presidente do partido, oslíderes da Constituinte, os líderesda Câmara dos Deputados e doSenado Federal. O trabalho foi

Povo apóiaO sistema

parlamentar

JC - E mesmo fora?

Wilson Martins - Mesmo forado Congresso ele buscou profes­sores, buscou auxiliares e todo es­se acervo de informações foi extre­mamente útil. E também não esti­vemos reunidos somente aqui den­tr.o do prédio do Congresso. Reu­rumo-nos em anexos, como noProdasen, na primeira fase, depoisfomos para o Banco do Brasil nu­ma outra fase e, em seguida, p~ssa­mos a trabalhar no Instituto IsraelPinheiro, até que sobreveio a cha­mada invasão da esquerda radical,quando fomos acusados pelo líderdo PC do B de estarmos fazendoum trabalho às escondidas. Ima­gine, nós fazendo um trabalhoclandestino, quando o nosso tra­balho deveria ser um trabalho me­ridianamente claro, transparente.E foi informado esse grupo de queo relator tinha todo o direito defazer o seu relatório de ouvir asp~ssoas que achasse oportuno ou­VI-Ias. E aq~ela confusão que seestabeleceu instantaneamente foilogo desfeita, pela serenidade comque os nossos colegas foram infor­mados do trabalho que estavamr~alizando ali. Na verdade, depoisdISSO passamos a nos reunir emapartamentos dos colegas, ora noapartamento de um, ora de outro.Diversas casas foram utilizadaspara isso e chegamos assim a umremate final do texto que aí se en­contra.

rem ~ se.defrontarem aqui grupos,tendências, acabando sendo deci­didas pelo voto matérias polêmi­cas, acho que é salutar. Creio queé por aí que devemos caminhar.Há assuntos que nã? podem, real­mente, ser harmomzados.

Há aqui, por exemplo, umatendência reformista e uma outraque deseja manter o status quo.Então, não podemos levar isso auma solução de compromisso nãopo~emos ser pacifistas a ponto dedeixar o programa do partido dedeixar as reivindicações popul~:rese as mudanças de lado, para partir­mos para uma solução amistosa,mas que nada represente de avan­ço para o nosso povo.

JC - Mas não haveria o riscode, em conseqüência disso aConstituição durar pouco? '

Wilson Martins - Não creioque haja esse risco. Acho que asolução que aqui vamos encontrarconsultará os interesses nacionaise conduzirá a uma Constituiçãodurável. A solução parlamentaris­ta será uma solução durável por­que está sendo estudada c~m omaior cuidado e está sendo im­plantada, já nesta hora, não so­mente com o respaldo da maioriados constituintes, mas ela conta­embora sem propaganda, emborase~ trabalhos de praça pública ed.e Imprensa - com uma expres­siva margem de apoio da popu­lação brasileira, que está cansadado presidencialismo imperial quevem governando o país desde a Re­pública, e que é responsável pelascrises cíclicas que ocorrem dentrodo Brasil.

JC - Há um dispositivo desteúltimo substitutivo no sentido deque o parlamentarismo não possaser alterado dentro de cinco anos.

Wilson Martins - Creio que odispositivo é bem inspirado mas'não me parece que, se o I?arl~men­tarismo não consultar os interessesdopovo brasileiro, seja um dispo­SItIVO capaz de barrar o desejo damudança que acaso se instale nocoração do povo brasileiro.

JC - O senador acredita que oPresidente Sarney terá um man­dato de seis anos?

Wilson Martins - Sou favorá­vel a um mandato menor. Achoseis anos um prazo excessivo, mui­to longo. O próprio Presidente be­neficiado por esse prazo recusou­o, dizendo, .en;t entrevista, queapenas desejaria governar cincoanos. O Presidente já disse umavez que governaria quatro anos,repetindo, neste caso, o que haviad!to Tancredo Neves, que enten­dia .que nes.se lapso d~ tempo po­dena ser feita a transição na qualn?s encon~~mos. Sou, por princí­pIO, contrano a grandes períodosde mandato presidencial. Viu-sedurante o governo militar, o quan~to o povo se cansou dos presíden­tes e o quanto o último presidentetambém se confessava cansado degovernar o Brasil. Acho que qua­tro anos também é um período pe­q~eno, um lapso de tempo quenao atende a toda a conveniênciada administração. Quem atinge ~posto de prefeito, de governadorou ~e presidente vê que o seu pri­merro ano de governo é o períodoque ele tem para adaptar o orça­mento aos anos futuros, e tambémque o último é mais dedicado asua própria sucessão, às articula­ções para a eleição de seu substi­tuto. Nesse caso, os quatro anosse transformam em dois anos emeio de trabalho profícuo admi­nistrativo. O restante do te~po seexaure em atividades políticas.

ç?es, a grita que se formou, o ala­ndo, representa muito o pensa­mento daqueles que estão atingi­dos e os que estão atingidos sãoos.poderosos. Foi atingido o pró­pno p~eSI?enteda.República, por­que nao VIU atendido o seu pedido~a forma de go,:er~o presidencia­lista. Fora.m atingidos empresá­nos, que nao VIram atendidas suaspretensões de não se aprovar a re­forma agrána; proprietários urba­nos, quando viram aprovada a re­forma urbana; e assim por diante.

Então, feitas as devidas análisese_.também uma crítica tranqüila,serena, percebe-se que o texto re­presentou uma grande vitória dop~y? brasileiro que, afinal, a tran­quílidade será restabelecida e otex.to será harmonioso, cap~z desatisfazer a confiança depositadapelo eleitorado nos representantesque aqui se encontram decidindoesta grande fase de nossa vida na­cional, que é aquela em que temosque outorgar ao País suas transfor­mações e suas reformas.

JC - Senador, há uma tendên­cia muito forte no sentido de quece!to~ pontos polêmicos, que nãoatíngiram o consenso, irão neces­s~t!amente a vot0-.Is~o poderá sig­níficar uma Constituição de curtaduração, já que os descontentestentarão imediatamente tentaremendá-Ia?

Wils.on ~artins - Acho queu~a dISpOSIÇão na Constituiçãodizendo que ela não poderia serreformada dentro de um lapso detempo, como costumam fazer ostextos constitucionais recém-apro­vados nada representaria, porque,na verdade, a avalancha da opi­nião pú~lica, das reivindicações edas queixas, sempre vencerá. Nãohá nada que detenha o desejo in­contido da massa do povo brasi­leiro, mas o fato de se encontra-

ADIRPlBenedita Passos

"O textorepresentouuma grande

vitóriado povo

brasileiro,capaz desatisfazer

a confiançadepositada

peloeleitorado"

Martins: em qualquersistema, o mandatodeve ser de cincoanos.

realmente muito amplo, muitoprofundo, no sentido de pesqui­sar, de debater teses, idéiasemendas. Muitas vezes nos sentía~mos frustrados, imaginando quetínhamos sido, com a formalidadede uma reunião, derrotados numaemenda que achávamos que seriaa. melhor sol!lção para o texto, eeIS que, p'ubhcado o texto, víamosque aquilo que parecia uma der­rota transformou-se numa vitória,porque houve uma segunda medi­tação sobre os temas discutidos evíamos que o melhor acabou sen­do traduzido dentro desse projeto.

JC - Então, não procede a ale­gação de muitos de que o textoqu~ saiu desagradou a gregos etroianos?

Wilson Martins - Houve essaversão, essa notícia da imprensade que o texto não serve, de queo texto não presta e até os ataquesse aprofundaram mais a ponto deatingir a própria pessoa do relator.Mas a impressão que tenho é dequ~, uma vez assentada a poeira,vai se ver que temos um texto mo­derno, à altura das reivindicaçõesdas necessidades e da confianç~depositada em nós pela maioriada Nação brasileira. As reclama-

. Em entr.evista exclusivaao Jornal da Constituinte, o senadorWilson M.artms. (PMDB - MS) defendeu a adoção do parlamen­tansmo, inclusive .a nível estadual. Nesse caso, ele preconizaum mandato de cmco anos para o presidente da Repúblicapor achar "seis anos um período excessivamente longo també~no parlamentarismo".

'Yilson ~artins acredita que o sistema parlamentar é umaso~uçao duravel, que conta com o apoio da maioria dos consti­!Umte~ e da população, que "está cansada do presidencialismoimperial que vem governando o País desde a República".

. Corno e:c-governador de Mato Grosso do Sul, Martins ad­míte a cnaçao de novos estados e analisa ainda entre outrostemas, a reforma tributária, a presença do Govern~ na economiae o problema da educação.

JC - Como um dos relatores­adjuntos na Comissão de Sistema­tização, tendo participado do pro­cesso de elaboração dos dois subs­titutivos, como foi, senador essetrabalho junto ao relator? '

Wilson Martins - Efetivamen­te, desde o primeiro momento te­nho participado da elaboraçã~ dotexto constitucional. Fui escolhidopelo líder Mário Covas obtendoo "placet" também do re'lator Ber­nardo Cabral. Desde então tendodiscutido os vários trabalh~s ini­cialmente das subcomissões' de­pois das comissões temáticas' sur­giu o Frankstein, que foi, seg~ndonoticiário da imprensa, uma deso­lação, mas, a meu ver, era uma~a~ga impura, n;tas capaz pelasidéias de toda SOCIedade de, filtra­do, converter-se no texto que re­clamava a sociedade brasileira.Acho que agora, com esse segun­do substitutivo do relator Bernar­do Cabral, atingimos um grau deaperfeiçoamento bastante melhore podemos confirmar aquela cren­ça inicial de que, mesmo sem umtrabalho que pudesse servir demodelo, alcançaríamos a Consti­tu~ção esperada pelo povo brasi­I~Iro. No meu juízo, falta muitoa!nd~ par~ que esse segundo subs­titutivo seja uma Constituição mo­delar. Mas com os trabalhos e asemendas que temos de apreciaro~ trabalhos que temos de faze;ainda, com a participação de todosos constituintes, parcialmente naSistematização e totalmente noplenário, já podemos adiantar quea Constituição a ser promulgadaserá uma Constituição que em na­da, absolutamente nada, deslus­trará o trabalho do AssembléiaNacional Constituinte.

JC - Senador, e o clima emo­cional no interior da Comissão deSistematização?

Wilson Martins - Não tivemosassim um trabalho metódico nosentido de que tivéssemos uma sa­la, na qual obrigatoriamente deve­ríamos estar reunidos, nem horá­rios preestabelecidos. Sob este as­pecto poderíamos dizer que impe­rou certa anarquia, porque, naverdade, o relator não se valia so­mente do trabalho dos adjuntos.Ele buscava novas áreas dentro doCongresso para dialogar, buscava,chamava essas áreas para auscul­tá-Ias, para conhecer o pensamen­to das diversas correntes.

10 Jornal da Constituinte

Page 11: Volume [UlUle · Volume 359 Devagar se vai ao longe. Essa era, semana passada, a expecta tiva de quem acompanhava asvota ções na Comissão de Sistematiza ção da AssembléiaNacional

Preconizo, então, cinco anos;que acho ser um bom lapso detempo. Governei meu estado, oMato Grosso do Sul, e pude obser­var isso.

JC - Mesmo no regime parla­mentarista?

Wilson Martins - Não. No re­gime parlamentarista, teríamosque dar um maior período ao pre­sidente ou ao governador, porqueacho que num país não unitário,mas sim de estados federados, co­mo o nosso, temos que levar o par­lamentarismo aos estados. Achoque, adotado o parlamentarismo,temos que ter um período de cincoanos, mas também acho seis anosum período excessivamente longono parlamentarismo.

JC ~ Esse parlamentarismoiria até ao nível municipal desapa­recendo a figura do prefeito comoadministrador, passando o presi­dente da Câmara Municipal, oualguém indicado pela Câmara Mu­nicipal para a função de adminis­trador do município?

Wilson Martins - Analisamoso assunto a nível de União e deestados federados. Então, o parla­mentarismo teria que, dentro deum certo prazo - prazo que terãoos constituintés estaduais paraadaptarem sua Constituição à Fe­deral-, ser adotado também nosestados. Em relação aos municí­pios, creio que ainda temos quemeditar um pouco e que examinaro assunto com objetividade, verifi­cando da conveniência de levar osistema, na sua principal caracte­rística, até esse nível.

JC - Em matéria tributária, es­se atual substitutivo é melhor doque a Constituição em vigor?

Wilson Martins - Acho o me­lhor, pois ele repassa mais recur­sos da União. Os tributos estãoextremamente concentrados. Eeis um dos males que minaram aRepública que antecedeu a NovaRepública, o que havia também,antes, de 1930, na chamada VelhaRepública. Há concentração depoderes e em conseqüência o for­talecimento da União e o depalpe­ramento dos estados e municípios,o que trouxe conseqüências trági­cas para os estados e {'ara os muni­cípios. Antes de mars nada a su­bordinação dos governadores aopoder central. Sempre que preci­sávamos de recursos externos tí­nhamos que correr para Brasília,onde ocorria o repasse. Isso é exa­tamente nefasto, porque acaba aFederação e estabelece-se o servi­lismo político e administrativo.Aqui temos um regime mais equi­librado, os estados percebem maisrecursos do que percebiam pelaConstituição anterior e os municí­pios também. O servilismo encon­tra seu fim e portanto se restabe­lece a dignidade político-adminis­trativa.

JC - E a propósito disso trans­fere recursos para os estados e mu­nicípios. Logo, na participação dobolo, reduz a participação daUnião. isso não levaria a Uniãoa tentar buscar novos recursosatravés de outras formas, agravan­do o encargo do contribuinte?

Wilson Martins - Creio que aUnião tem que ter o seu momentode poupança, de estabilização, dedespesas, o seu momento de en­contrar um ponto de equilíbrio.Não creio que seja através de no­vos impostos que devamos cami­nhar. Acho que com o que restaà União, essa poderá atender àsdespesas com seu pessoal de cus­teio e as outras despesas que não

constam da folha. Também pode­rá fazer despesas de investimen­tos, mas ela tem que estabelecerprioridades e não pode apenasanunciar contenção de gastos, masefetivamente tem que realizar essacontenção como aprendemos a fa­zer nos estados e municípios aolongo desses vinte anos.

JC - Como o senador vê a pre­sença do governo na Economia?

Wilson Martins - Sou favorá­vel. Sou favorável à existência deempresas estatais, algumas são ab­solutamente indispensáveis, ou-,tras são dispensãveis, e até há em­presas inúteis, não a{'enas supér­fluas, mas prejudiciais. Essas de­veriam ser banidas, fechadas outransferidas para a iniciativa priva­da. Acho que há empresas que sãoabsolutamente indispensáveis.

JC - Ainda que não dêem lu­cro?

Wilson Martin~ - Ainda quenão dêem lucro, mas elas são as­sim, as empresas de ponta do Go­verno são as empresas que trazemsegurança em certas áreas, comoé o caso do petróleo, como é ocaso dos metais ffsseis, como é ocaso da distribuição de gás. Nessescasos estratégicos devemos man­ter essas empresas, e não somentenesses casos, também em casos emque o Estado deva participar, co­mo é o caso de ferrovias, nave­gação e outras tarefas que são in­dispensáveis ao público.

JC - O senador vem de um es­tado desmembrado. Como vê acriação de novos estados.

Wilson Martins - A experiên­cia feita em Mato Grosso foi extre­mamente válida, porque a divisãocom a criação de Mato Grosso doSul e a sobrevivência do velho Ma­to Grosso representou uma molapropulsora do desenvolvimentoda nossa economia e de ambos osestados. Mato Grosso está explen­dente com seus 350.000km2

, comseu território pontilhado de cida­des e já explorado em quase todosos extremos; aumentou sua produ­ção agrícola; melhorou o nível dassuas cidades, as áreas urbanas es­tão muito melhor atendidas.A Educação, a Saúde, todos ossetores básicos, inclusive do sa­neamento, apresentam-se commuito melhor condição. O estadoganhou rodovias. Nesses poucosanos que marcam a instalação deMato Grosso do Sul até aqui, ouseja, 1979 a 1987, temos cerca demais de 3.000km de asfalto; ogrande déficit escolar que existiaem Mato Grosso do Sul foi elimi­nado, tínhamos 100.000 criançasfora da sala de aula, mas foramconstruídas salas suficientes paraatender a esse número todo decrianças que não dispunham deum assento em salas de aula.

Tínhamos cem anos de Histó­ria, e durante todo esse períododo Mato Grosso do Sul se batiapela sua divisão e já constituía co­mo que um estado de fato. Acre­dito que hoje temos que examinara realidade dos estados que que­rem desmembrar-se e se houvera mesma realidade e as mesmaspotencialidades nas áreas que que­rem desmembrar-se creio que nãodevemos sopitar esse desejo dosemancipacionistas.

JC - Há alguns que são contrá­rios à divisão agora, e o acréscimode novos estados, e que essa cria­ção de um novo estado importarianum custo muito alto. Existiu nocaso de Mato Grosso esse custoalto para a criação do novo esta­do?

Wilson Martins - A Lei n° 31que dividiu Mato Grosso em doisestados, em uma das suas dispo­sições dizia que atenderiam a am­bos os estados com recursos atégenerosos. Na verdade MatoGrosso do Sul não recebeu senãouma parcela pequena dessas dota­ções e sem embargos disso apre­senta um crescimento e um desen­volvimento a olhos vistos. Então,não se pode medir o projeto dodesmembramento dos estados pe­las despesas e orçamentos que sefazem antes, aprioristicamente,mas sim pela potencialidade dosnovos estados e regiões em favordo que possam representar no fu­turo, em benefício do seu povo.

JC - Entre as mudanças, deum substitutivo para outro, gosta­ríamos que o senador falasse sobreduas: O papel das Forças Armadase a permissão para a propaganda,nos meios de comunicação, de re­médios, bebidas e cigarros. Hou­ve, ou não houve lobby, ou pres­são forte de grupos?

Wilson Martins - Bem, é ine­gãvel que, aqui nos corredores doCongresso, por toda a parte, ocor­reram todas as categorias, todas

"Sou a favordas empresas

estatais.Algumas são

indispensáveise outras não.

Há atéempresasinúteis e

prejudiciais.Estas devem

ser banidas."

as classes, procurando influir so­bre a decisão dos constituintes.Recebemos incontáveis vezes re­presentações classistas, desde asmais simples até as mais qualifi­cadas, todas procurando influir notexto constitucional. Mas, sabe­mos que isso é natural, que issotraduz um desejo de cada umadessas categorias - e todas essascategorias, afinal, é que consti­tuem a soma do nosso povo. En­tão, a nossa postura foi semprede receber todos os que tinhamo que discutir, o que conversar co-:nosco, mas nunca sentimos tam­bém umas pressão irresistível, in­delicada, descortês, ameaçadora,no sentido de impor o seu pontode visita e não simplesmente dediscutir, de convencer, de dialo­gar. A forma que sempre encon­tramos foi esta, de conversar, dediscutir, de dialogar, de aceitar,ou não, as ponderações que noseram feitas a respeito de todos ostemas que constituem esses duzen­tos e tantos artigos que estão aí,hoje, em forma de projeto consti­tucional.

JC - Mato Grosso tem o pro­blema da proteção do Pantanal.Acha que, em matéria de meioambiente, o texto constitucionalvai atender bem a essas reivindi­cações de proteção ecológica, deuma maneira geral?

Wilson Martins - Um dosgrandes avanços desta Constitui­ção se encontra justamente aí. Omeio ambiente, pela primeira vez,é tratado de forma constitucional.Não apenas os artigos que formameste capítulo constituem uma de­fesa do Pantanal; temos tambémoutras medidas que vêm benefi­ciar o Pantanal e que estão aquidentro da Constituição. É real­mente a desconcentração de pode­res. Nós tínhamos apenas a Uniãopara legislar em matéria de caça,em matéria de pesca, em matériade preservação de florestas e hojeessa competência está colocadanão de forma privativa da União.Havendo a competência da Uniãosubstancial há também uma com­petência concorrente dos estados.Eu mesmo fui autor dessa inicia­tiva, e isso representa uma grandemelhora para os estados, sobre­tudo para Mato Grosso do sul epara a região do Pantanal.

JC - A respeito de educação,fala-se na transferência não só derecursos para os estados e municí­pios, mas também de encargos. Osestados e municípios têm condi­ções de assumir esses encargos queSerão transferidos, sobretudo emmatéria de educação?

Wilson Martins - Os municí­pios, os estados e a União estãoobrigados a ministrar e a dar a to­dos os brasileiros o ensino gratuitonos estabelecimentos oficiais. Sem.dúvida, isto constitui uma graveobrigação, mas, ao mesmo tempo,uma santa obrigação em favor dosmeninos que necessitam de escolae também dos adultos que aindanão foram alfabetizados. Os re­cursos mais abundantes hoje, con­feridos pelo projeto em discussãoaos estados e aos municípios pode­rão melhorar a situação do ensino,da educação, nos estados e muni­cípios, mas sempre será necessárioque a União leve recursos adicio­nais, como levou até aqui, paracomplementar a rede de ensino,para complementar a execução darede oficial dos estados, para com­plementar a melhoria do serviçoda educação. Eu creio que a cir­cunstância de ter sido melhor dis­tribuída a carga tributária do pro­jeto não dispensa a União de ficarvigilante e de sempre atender aosestados quando eles necessitaremde rec~.lfSos outr?s I?ara po?ere!Ucumpnr essa pnmeira obngaçaoque nós, homens públicos, temoscom nosso povo, que é justamentea de alfabetizar as nossas crianças.

JC .z: A seu ver, quais as vanta­gens, no atual Substitutivo, paraa classe trabalhadora?

Wilson Martins - O capítulodos Direitos Sociais é um capítuloque me parece bastante bom. Elecondensa os direitos sociais queestavam em discussão dentro daárea trabalhista. As reivindicaçõesestão praticamente atendidas, senão todas, quase todas. As possí­veis de atender foram atendidasno projeto. Há ainda a obrigato­riedade de trabalho de quarentae oito horas semanais, com umatarefa não superior a oito horasdiárias. Eu creio que a reivindi­cação de quarenta horas virá aoseu tempo. Já se desencadeou­e de maneira eloqüente - a dis­cussão, a reivindicação e a luta em

favor das quarentas horas. Esta.meta chegaiã.Estariiós a caminhodela.

JC - Voltando ao tema políti­co, há críticas com relação à insti­tuição do colégio eleitoral, apre­sentando a forma que consta doSubstitutivo como sendo um retro­

.cesso, que criaria um colégio elei­toral. O que diz sobre isso?

--~~

Wilson Martins - O texto con­sagra a eleição universal direta epelo voto secreto para o primeiroturno.' O candidato a presidenteda República que não atingirmaioria absoluta, então, quandoa eleição do primeiro turno nãoalcançar esse resultado é que ha­veria esse segundo turno, de for­ma indireta. Na verdade, é umanovidade que foi introduzida pelorelator, sem audiência com os ad­juntos. Foi uma novidade trazidapor Bernardo Cabral, com inspi­ração até no modelo chileno, masque não sei se subsiste aqui, numreexame do texto, durante a vota­ção da Comissão de Sistematiza­ção e no Plenário da AssembléiaNacional Constituinte. Não se po­deria dizer que se trata de um re­trocesso, mas é um assunto quemerece melhor reflexão, primei­ro, para ver da conveniência dese realizar o segundo escrutínio,pela votação direta, com as suasvantagens e com os seus inconve­nientes. Eu, pessoalmente, me de­claro pela realização de eleiçõessempre diretas, universais e secre­tas. Acho que esse segundo turno,para dar uma situação mais técnicaatravés do Congresso, não seriavantajoso, preferiria que se fizessepor eleição direta entre os candi­datos melhor votados.

JC - Como vê o clima políticodo País e a nova Constituição?

Wilson Martins - Vejo o climapolítico deste País muito retalha­do, muito quebrado, muito atrita­do. Vejo com certa preocupaçãomas também com uma expectativaotimista. Não creio que possamoscaminhar para uma crise em quehaja um retrocesso, em que asForças Armadas novamente to­mem o poder. A experiência foidesastrosa e trouxe, na verdade,muito mais inconvenientes doque vantagens e foi repelida, afi­nal, pela grande massa do povobrasileiro, comofoi testemunhadonos comíciospelas diretas, no tem­po de Tancredo e de Ulysses Gui­marães. Não creio, portanto, numretrocesso. Acho que a eleiçãoque se fez para a Assembléia Na­cional Constituinte não se exauriuna confiança do povo. Esse traba­lho de horas e horas indormidas,aqui realizado, é um trabalho sérioque está dando ao povo um textomoderno que incorpora todas asreivindicações, ou quase todas,sentidas e pedidas pelo povo. Issodevolve ao povo brasileiro a con­fiança no Congresso e, também,confirma o valor do debate demo­crático. Acredito que é por aí quedevemos e que vamos caminhar.Não há tropeço capaz de, nestemomento da história e no futuro,apagar a chama vigilante do povoe da classe política que estão irma­nados hoje pelo desejo não so­mente de dar ao Brasil um regimeformalmente democrático, mas dedotar o país de um regime em queo povo participe, ei:i:f'gue' o povotenha melhores garantias, melho­res salários e maiores vantagenseconômicas. Tudo isso é que cons­titui a razão de ser da nossa lutae, mais do que isso, constitui omotivo maior da nossa confiança.

Jornal da Constituinte 11

Page 12: Volume [UlUle · Volume 359 Devagar se vai ao longe. Essa era, semana passada, a expecta tiva de quem acompanhava asvota ções na Comissão de Sistematiza ção da AssembléiaNacional

A últimapal{1vra é dasociedade

Na outra entrevista exclusiva do Jornal da Constituinte,o Deputado Vivaldo Barbosa (PDT-RJ) garante que o presiden­cialismo é o sistema de governo preferido pelo povo brasileiro,por ser "a única esperança que ele tem de exercer o poderno País". Segundo Vivaldo Barbosa, esta questão e outras mais,como, por exemplo, a reforma agrária e a estabilidade devemser decididas através de plebiscito.

Para que a sociedade seja ouvida, Barbosa defende a nãopromulgação da Carta elaborada pela Constituinte. Após o tér­mino do trabalho - acrescenta - "distribui-se cópias, faz-seuma campanha, os constituintes vão às bases e explicam o queconseguiram e o que não conseguiram". Em seguida, realiza-seo plebiscito, "e a Constituição é complementada, numa outrafase, pela redação final, em função das decisões que o povotomou".

Barbosa: o colégio eleitoral "é uma coisa estarrecedora"

JC - É favorável que o novotexto constitucional passe por umplebiscito na sua totalidade ou portemas?

Vivaldo Barbosa - Acho queas duas questões J?odem ser colo­cadas para plebiscito. Pode ser co­locada ao povo uma pergunta: seele está favorável àquela Consti­tuição e, através de outras pergun­tas, se o povo aprova o sistemade governo adotado na Constitui­ção, se foi presidencialismo ouparlamentarismo; se aprova a re­forma agrária e a estabilidade ado­tada. Todos esses temas que pude­rem ser selecionados como válidospoderiam ser submetidos a umaconsulta popular. Essa é a formade a Constituição ser respeitada.JC - Não mais um plebiscito so­bre a totalidade da Constituição?

Vivaldo Barbosa - Creio queisso poderá trazer muita confusão,pois, em função de algum item outópico, as pessoas podem não que­rer condenar a Constituição todaou, exatamente em função desseitem ou tópico, condenam a Cons­tituição toda. Acho que o traba­lhador mais aperfeiçoado, aguiloque melhor se poderia fazer, e for­mular a pergunta por tópicos e aía Constituinte, depois, em funçãodesse resultado, corrigir o que fezde equivocado, que não foi do me­lhor mteresse e da vontade do po­vo brasileiro.

JC - Nessa hipótese, então,haveria uma segunda etapa daConstituinte?

Vivaldo Barbosa - Poderia tera Constituinte, e a Constituiçãonão precisava ser promulgada ago­ra. Termina o trabalho, distri­buiem-se cópias, faz-se uma cam­panha, os constituintes vão às ba­ses e expli.cam o que .conseguirame o que nao conseguiram. Em se­guida, faz-se o plebiscito, semmaiores problemas, e a Constitui­ção, depois, é complementada,numa outra fase, pera redação fi­nal, em função das decisões queo povo tomou.

JC - Quanto ao sistema eleito­ral, com a criação do colégio elei­toral em segundo turno, como oDeputado vê isso?

Vivaldo Barbosa - Essa é umadas coisasmais estarrecedoras queo substitutivo nos contempla.Agora, a imprensa está registran­do que foi uma decisão oficial dadireção nacional do PMDB. Issoé estarrecedor, se vier a ser confir­mado, pois o próprio PMDB, umdos grandes responsáveis pelacampanha das eleições diretas,não aceitava o colégio eleitoral e,depois, até o Dr. Tancredo Nevesdizia que queria o colégio eleitoralpara destruí-lo, para acabar comele, para nunca mais ser ressus­citado.

JC - Como ex-secretário deJustiça do Estado do Rio deJaneiro, o que sugeriria para agili­zar a Justiça?

Vivaldo Barbosa - Primeiro, énecessário que ela se abra a umcontrole com vínculo popular,pois a Justiça se situa num planode poder. Aliás, essa questão depoder] par~ eles, é muito enfátic31'Eu ate havia proposto a supressaodas expressões Poder Judiciário,Poder Executivo, Poder Legisla­tivo. Há funções: funções judiciá­rias, funções legislativas e execu­tivas. O relator da Comissão doSistema de Governo, constituinteEgídio Ferreira Lima, acolheu esaiu da Comissão sem essa expres­são. Hoje, até juízes reclamamque foi criado um Conselho Nacío-

o projeto nãofoi feliz em

avançar, masem abrir

caminhos parao povo

brasileiroavançar. No

seu conjunto,o projetoanterior

era melhorpara ele votar e cobrar as respon­sabilidades para o seu voto, cobraras promessas, promessas que ge­ralmente os candidatos fazem naspraças públicas. E há uma circuns­tância no nosso Brasil, na socie­dade brasileira que nos convenceque o povo está muito certo emassim pensar, porque a únicachance que o povo brasileiro, es­pecialmente o povo mais desgar­rado, mais desorganizado, a únicachance que ele tem de se comu­nicar com o centro do poder é umacamJ?anha eleitoral, é o processopublico, ele vem olhar nos olhoso seu candidato, o candidato queele escolheu, sentir a sinceridadedos seus compromissos, analisar asua biografia, ver se ele é capazde nunca trair o povo brasileiro,ver a natureza dos seus cODlpro­missos, se é uma coisa realizável,se é uma coisamistificadora, enga­nosa, se ele escolher dar as mãosao centro do poder e depois podercobrar, com capacidade de cobrarpara que esses programas de go­verno sejam efetivamente reco­nhecidos e sejam cumpridos. Essaé a única esperança que o povobrasileiro tem em exercer o poderno País.

ADIRPlReynaldo Stavale

a Federação eram intocáveis, mas,agora, o que ficou também intocá­vel é o sistema de governo.

JC - Há uma tendência naConstituinte favorável ao parla­mentarismo?

Vivaldo Barbosa - Até agoranão senti. A imprensa, nesses últi­mos dias, está tentando revelar is­so. Acho que até agora a questãoestá muito dividida e, mais umavez, eu veria a dificuldade de semudar o sistema de governo como Parlamento dividido e, sensivel­mente, a Nação brasileira semacompanhar o Parlamento nisso,sem acompanhar a Constituintenisso. Não há dúvida que o quese recolhe de pesquisas feitas e deopinião de diversas pessoas, é queo povo brasileiro ou não sabe oque é o parlamentarismo, ou pre­fere eleger o presidente.

JC - É porque o povo brasilei­ro prefere o voto direto para presi­dente, ou porque prefere o siste­ma como o meio mais eficiente degoverno?

Vivaldo Barbosa - O sistemase manifesta, para o povo da ma­neira mais ostensiva, porque como voto é que o povo distingue oque é presidencialismo do parla­mentansmo. O que é a sua maiordistinção, mesmo porque com ovoto o povo retém em suas mãoso direito de eleger o presidente,de optar entre pessoas conserva­doras e progressistas, entre pro­gramas de governo das mais dife­rentes posições, e o povo brasi­leiro não gostaria de ver, comojá expressamente se manifestouque não quer ver esse seu podertransferido para os deputados. Opovo brasileiro não quer um go­verno dos deputados, ele não querum governo dos parlamentares,quer um governo nas suas mãos

grada pelas diversas subcomissõese comissões da Ordem Social foisuprimida. Evidentemente, temosuma postura crítica muito grandeao sistema de governo. Essa mu­dança do sistema de governo semuma consulta à população, emadoção do parlamentarismo, semque o povo brasileiro pudesse au­torizar o Parlamento, a Consti­tuinte, a fazer isso de maneira ex­pressa, e também sem que fosseautorizado dentro do regime par­lamentar que deverá ser adotadoque o Parlamento escolha, passea ser responsável e escolha em no­me do povo, se transforme numcolégioeleitoral. E também temosuma postura muito crítica a esserespeito. Na questão do Judiciá­rio, por exemplo, que não sofreuqualquer transformação, há umaaspiração geral da sociedade brasi­leira, uma reclamação contra anossa Justiça, contra o nosso Judi­ciário, o Judiciário não sofreuqualquer transformação significa­tíva, ao contrário, tememos quecom o fechamento da instituiçãocomo está, ainda mais fechada,sem um controle popular, ela pas­se a deteriorar o serviço públicoque vem prestando à população.Manter hoje os cartórios, comodar o regime cartorário, o regimeprivado, como uma questão me­dieval até isso, a esta altura, eraa coisa mais irreparável que pode­ríamos ter. Ficou, ainda, em rela­ção ao sistema de governo umanovidade na Constituição, que éinédita. Acho que raríssimas cons­tituições no mundo inteiro possaconsa~rar isso. É que não se podemodificar a Constituição sempre,nunca mais, em matéria de sistemade governo. Isso sempre foi adota­do com a Proclamação da Repú­blica para garantia da Repúblicae da Federação. A República e

JC - Deputado, o substitutivoreflete o trabalho de todos na Co­missão de Sistematização?

Vivaldo Barbosa - Ele refleteum trabalho muito mais amploaqui na Assembléia Constituinte,reflete muitas tendências. Ele nãoreflete as melhores aspirações dopovo brasileiro. Não há dúvida doque se tentou fazer, o que se espe­rava que pudesse ser feito seriaum texto que contemplasse e aco­lhesse as principais reivindicaçõese desse guarida aos principais di­reitos do povo brasileiro. O pro­jeto foi feliz em abrir mais cami­nhos para o povo brasileiro poderavançar. Acolhe alguns direitosfundamentais do povo, emboradeixe de atender a outros direitosfundamentais do povo brasileiro.O projeto anterior era, no seu con­junto, melhor do que o segundoSubstitutivo; tinha defeitos quepoderiam ser corrigidos, mas ha­via linhas mestras, que, sem dúvi­da alguma, poderiam dar a ele umperfil de um projeto mais pertodaquilo que o povo brasileiro estáaguardando.

JC - Quais seriam, por exem­plo, esses aspectos positivos quedeixaram de existir agora?

VivaldoBarbosa - Em diversostemas, em diversos aspectos, al­guns direitos foram subtraídos: acriminalização da discriminaçãoracial; o direito à ampla informa­ção - ampla informação sobre in­teresses pessoais, sobre a pessoa-, que ficou condicionado à exis­tência do interesse do Estado edo interesse geral da sociedade,que o Estado vai julgar. O defen­sor do povo, que era uma institui­ção necessária, já é uma práticasecular nos países nórdicos, umainstituição necessária que fique vi­gilante para que o direito do povobrasileiro não seja escamoteado eque seja assegurado para que opoder tenha um controle mais efe­tivo, para que a cidadania se ex­presse da maneira mais completa;o defensor poderia ser essa insti­tuição que ficou abolida. Os direi­tos dos trabalhadores, alguns, fi­caram subtraídos e outros segura­dos adequadamente, como a ques­tão da greve ficou bem o dir.eitoà estabilidade, garantia do empre­go, mas, por exemplo, a proibiçãoda contratação, da intermediaçãoda mão-de-obra que veio consa-

12 Jornal da Constituinte

Page 13: Volume [UlUle · Volume 359 Devagar se vai ao longe. Essa era, semana passada, a expecta tiva de quem acompanhava asvota ções na Comissão de Sistematiza ção da AssembléiaNacional

nal de Justiça para exercer umcontrole da Justiça, do Judiciário.Reclamam que isso afeta a sua po­sição de poder. Ora, o poderquem tem é o povo. Ele depositano Congresso Nacional o podermaior, que é o de fazer as leis e,com isso, organizar o serviço pú­blico, restringir direitos e impordeveres aos cidadãos, aos adminis­tradores públicos e aos homenspúblicos. O Poder Judiciário nãoé um poder em si. Ele tem as~arantias próprias para exercer aJudicatura de maneira indepen­dente e autônoma. Mas não podese constituir num poder por ci­ma do povo. Quem tem poder estápor cima do povo. O Judiciário,no nosso sistema, não é um Judi­ciário que tenha vinculação popu­lar, é um Judiciário concursado.As pessoas nele ingressam porconcurso e não por delegação dopovo. Então é preciso que esse po­der tenha um controle permanen­te pelo Legislativo e até mesmopelo Executivo, mas, acima de tu­do, pelo Legislativo e nisso,o pro­jeto foi infeliz. Ele manietou o Le­gislativo na capacidade de fazerleis que afetam a organização doLegislativo. Queríamos o Judiciá­rio sujeito a esse controle do Le­gislativo. Por exemplo: promo­ções para desembargadores ou mi­nistros dos tribunais superiorespassarem pelo Legislativo, porquetem condições de avaliar e subme­ter a um debate público as pessoasque viessem a ser nomeadas. Che­gamos a ter no texto que os minis­tros do Supremo e dos TribunaisSuperiores seriam indicados peloLegislativo, para adotar e sujei­tar-se a um debate público, e nãoconseguimos colocar isso da ma­neira como queríamos. Como jádisse, a existência dos cartórios,acima de tudo, há essa possibili­dade que ficou muito restrita dea Justiça se organizar de maneiramais popular, de incorporar o me­canismo judicial, questões comu­nitárias, conselhos comunitáriosque poderiam, na primeira instân­povo, melhor captar os sentimen­tos populares e fazer justiça maispróximo do povo. A nossa Justiçaé muito eletista, é um direito con­cebido pelas elites e os integran­tes, os magistrados são fruto dessaelite. Não compreendem muito ascircunstâncias que acontecem nodomínio popular e é preciso descerum pouco mais, captar um poucomais esse sentido. Quando eu eraSecretário de Justiça, no Rio deJaneiro, tentei, com todas as for­ças, com todo o empenho possível,para abrir juizados nas favelas eem bairros pobres. Nunca conse­guimos isso. Nunca o Judiciárioaquiesceu em se abrir e chegar atéa população pobre, com certo pru­rido de que ISSO feria a dignidadeda Justiça.

JC - É a favor da Corte Cons­titucional?

Vivaldo Barbosa - Sou favorá­vel, tenho, a emenda nesse senti­do. Fiz destaque para ela e vousustentá-la. E, para ela, tenho oapoio de diversos partidos. Fize­mos uma emenda interpartidária,tenho apoio da Ordem dos Advo­gados do Brasil e vou sustentá-laem plenário. Ainda alimento a ex­pectativa de que, em plenário, aConstituinte possa ser sensível eadotar o tribunal constitucional, oque era indispensável. Precisamoster um tribunal que seja o guar­dião da Constituição, guardião dasnovas liberdades públicas, que aConstituição possa acolher, dosdireitos e da cidadania que a Cons­tituição está reconhecendo e elaprecisa ser aquele instrumento

que a população sinta que lhe ser­ve de alguma coisa, e a melhorreferência para isso é um tribunalconstitucional, é a corte constitu­cional. É por isso que as naçõesmais modernas, que fizeram Cons­tituições mais recentes, especial­mente do pós-guerra, praticamen­te todas elas estão adotando o tri-bunal constitucional. .

JC - Houve algum avanço emrelação à reforma agrária?

Vivaldo Barbosa - Sim, houvealgum avanço, um pequeno avan­ço, mas houve. A ordem jurídicajá permite a realização da reformaagrária, a desapropriação pelaUnião e um sistema de imissão deposse ágil, com prazos bem curtos,bem rídigos, que, efetivamente,não são cumpridos. Hoje, a novaConstituição procurou superar is­so aí. Ela não cria um prazo termi­nal, findo o qual a imissão de possese dá automaticamente, o que per­mite, ajuda e facilita a agilizaçãodo processo de reforma agrária,porque a União não fica mais sub­jugada, sujeita às decisões judi­ciais locais. Feito o decreto de de­sapropriação, o juiz é obrigado aimitir a União na posse em 90 dias,e, se não imitir, essa posse se con­sagra de maneira imediata, auto­mática. A única conseqüência dadecisão judicial é que se a Uniãoerrou em avaliar que o imóvel nãocumpria a sua função social, istoé, desapropriou o imóvel de ma­neira equivocada, ela fica obriga­da a pagar em dinheiro ao propne­tário, porque a reforma agrária éfeita mediante pagamento de títu­los da dívida pública. Essa foi aúnica evolução que aconteceu,que é importante. A reforma agrã­na ficou condicionada ao preen­chimento da função social, e istoainda é impreciso, porque a fun­ção social é definida de maneiramuito elástica e abrangente no Es­tatuto da Terra. Permite-nos, evi­dentemente, mais na frente, rede­finir a função social, ajustá-la atermos mais adequados e maisconsentâneos com os projetos dereforma agrária em andamento noPaís.

JC - E a proteção ao trabalha­dor?

Vivaldo Barbosa - A proteçãoao trabalhador ficou boa, formu­lada de maneira até rígida. Havía­mos oferecido ao relator sete hipó­teses sobre as quais não precisavaincidir a estabilidade. Ele esco­lheu quatro, inclusive acreditandoque as outras três estariam embu­tidas nessa mesma formulação quefoi feita. Agradou-nos bastante aformulação feita no texto constitu­cional. Ela realmente proteje oempregado contra a demissão ar­bitrária, imotivada de qualquerempregador inescrupuloso. Isso éum avanço para o direito socialbrasileiro, essa foi uma conquistaimportante da nova Constituição.

JC - E quanto à jornada detrabalho?

Vivaldo Barbosa - Infelizmen­te, o relator não acolheu. Impôsapenas um limite à jornada de 8horas.

Esperamos que com a lei possa­mos, mais à frente, além do limitede 8 horas diárias, também limitaros dias da semana de trabalho para5 dias. Hoje, é difícil encontraruma legislação, no mundo inteiro,que contemple 40 horas de traba­lho, todas já contemplam menos.Há diversos setores da vida brasi­leira hoje que contemplam tam­bém menos de 40 horas ou até omáximo 40 horas, ou 5 dias da se-

mana, que é o caso dos trabalhosde escritórios e do serviço público.Mas o operário de fábrica, o co­merciário, esses estão sujeitos aotrabalho de 44 ou 48 horas, e, semdúvida alguma, a próxima con­quista que esperamos auferir, jácom a lei ordinária, será a coloca­ção das 40 horas. Vamos voltarainda, temos emendas neste senti­do, e vamos lutar para que essaConstituinte ainda venha a apro­var a jornada de trabalho de 40horas por semana.

JC - Quanto à parte de sindi­calização e de autonomia sindical?

Vivaldo Barbosa - Esta parteficou formulada de maneira inade­quada, consagrou-se a pluralidadesindical, e isso não é o que as orga­nizações sindicais desejam. Ape­nas uma corrente da CUT e, infe­lizmente, o PT têm essa postura,em que propugnam pelo pluralis­mo sindical. Mas a imensa maioriadas organizações sindicais e dospartidos políticos deste País consa­gram a unicidade sindical. Temosuma emenda para isso e espera­mos vê-la acolhida em plenário,porque já estamos verificando que

o PoderJudiciário,

no nossosistema, não

tem vinculaçãopopular, pois

as pessoasnele ingressampor concurso e

não pordelegaçãodo povo

as organizações sindicais estão-semexendo, os sindicatos de cada es­tado estão visitando as suas banca­das, no sentido de aprovar a nossaemenda pela unicidade sindical.Esta é uma questão importante,fundamental, e vamos lutar porela.

JC - O substitutivo voltouatrás no tocante ao papel das For­ças Armadas e à propaganda decigarros, bebidas, remédios. Issoé fruto de lobby; houve uma pres­são muito grande?

Vivaldo Barbosa - Foi outraquestão que nos causou muita sur­presa. Já estava consagrada noprojeto essa proibição, e o relatorprometeu, de viva voz e de públi­co, em diversas entrevistas, quejamais alteraria esses dispositivos.Com relação à propaganda de be­bidas alcoólicas, de cigarros e demedicamentos, que seria uma con­quista para a sociedade brasileira,o relator havia prometido não al­terar esse dispositivo, porque játinha até compromissos públicoscom relação a ISSO, e disse inclsiveque seria uma coisa para ele incô-

moda, porque ele foi muito pres­sionado por todos os setores des­ses lobbies das indústrias de cigar­ros e de agências publicitárias, queestavam tentando cercá-lo e en­volvê-lo na retirada dessa proibi­ção. Ele alegou que recebeu umacarta do autor da emenda, que ho­je desmente para o jornal que te­nha feito essa carta, que tenhaconcordado com essa substituição,que essa carta tenha o alcance deretirar essa proibição. Essa é umaquestão em que certamente temque ser verificado o grau de envol­vimento que todos tiveram nesseepisódio.

Sobre o papel das Forças Arma­das, com o qual o relator se haviacomprometido no texto anterior,foi modificado. Apesar de nãopreferir as modificações, entendoque já houve um avanço com otexto atual. As Forças Armadasestão subjugadas ao controle dospoderes constitucionais e somenteatuarão quando solicitadas por umdesses poderes, que são o Execu­tivo, o Sr. Presidente da Repú­blica seu Comandante-Chefe, oLe$islativo ou o Judiciário. Foradai, as Forças Armadas se desti­nam à defesa da Pátria em casode guerra externa. Isso já é umgrande controle. A redação ante­rior, que é a redação que vem doprojeto Afonso Arinos, já disseque, mesmo solicitadas pelos po­deres constitucionais, estas se des­tinam exclusivamente à defesa daordem constitucional. Agora ficoucom defesa da lei e da ordem. Issosignifica que, em caso de distúr­bios, de segurança pública internae de perturbação da ordem inter­na, ela poderá intervir. Mas so­mente o fará, se for solicitada porum dos poderes constitucionais.

o

JC - Outro tema de grandeatualidade é o da violência. O quea Constituição vai fazer no sentidode conter a violência?

Vivaldo Barbosa - Muito pou­co, quase nada. Poderia fazer, sedefinisse melhor as instituiçõespoliciais. As definições das insti­tuições policiais estão equivocadase incorretas, e não se alterou ouafetou a Justiça criminal no País,a grande responsável pela questãoda violência no País e que é inefi­caz, ineficiente, não dirige a polí­cia de investigação e não investiga.Os juízes dão sentença sem conhe­cer nada da realidade. Os promo­tores acusam ou defendem semconhecer nada da realidade, dacriminalidade e da violência, estãomuito distantes e não participamda investigação, não investigamnada. Poderíamos ter criado umajustiça de investigação, um juiza­do de instrução, proposta minhaque estou reiterando, para que aJustiça criminal seja organizada demaneira eficaz e, como acontecenos Estados Unidos e na Europaem geral, a Justiça participe dasinvestigações e, com ISSO, obtenhaum rendimento e mais eficiênciae presteza da polícia judiciária edesbarate os crimes organizados.

JC - Se a Constituição aprova­da e promulgada consagrar o par­lamentarismo, os presidencialistascontinuarão na luta para tentarrest~belecero presidencialismo?

Vivaldo Barbosa - Sem dúvidaalguma. Temos a convicção e atéo temor - não esperávamos queisso acontecesse - de que, consa­grando a eleição direta, como estáconsagrando, sabemos que vamospara a praça pública, as correntespolíticas de oposição vão conde­nar o sistema adotado, e a eleiçãopresidencial será praticamente umplebiscito. Com isso até se reforça

a idéia da votação, da eleição, dofavorecimento na votação de umcandidato de oposição. Se isso viera acontecer, que é o que se esperaque venha a acontecer, ainda maisnesse quadro que se criou, o candi­dato de oposição, sem dúvida al­guma, vai encarar o mandato quereceber como um plebiscito contraa Constituição, e aí o Congressobrasileiro terá que se curvar a essar~alidade, ~erá que. rever sua posi­çao, para nao cnar Impasses e umacrise, porque o que se está arman­do é um convite à crise, é tentarsubtrair o direito do povo brasi­leiro de votar, ou de votar de ma­neira enganada, de um presidentesem poderes, a quem apenas vairestar o poder de comandar asForças Armadas, mas, mesmo as­sim, não poderá nomear os minis­tros das Forças Armadas, visitaráos quartéis, dará condecorações eas fitas às pessoas gradas e estabe­lecerá relações. Será responsávelpela política externa, mas não no­meará o ministro das Relações Ex­teriores e percorrerá o mundo.Ora, o povo brasileiro não vai vo­tar num presidente com essa ex­pectativa. Vai votar num presi­dente que possa responder aosgrandes problemas que existem noPaís e que afetam a vida de nossapopulação. O povo vai descarre­gar seu descontentamento atravésda eleição de um candidato deoposição. Isso vai servir para essecandidato de oposição, uma vez'eleito, talvez não poder iniciar oprocesso de mudança, de reformado sistema de governo. Isso, espe­ramos que, pelo menos se vier aser aprovado o parlamentarismo,se abra a brecha para que isso ve­nha a acontecer. Hoje, isso estáamarrado. Hoje, o que se está pro­pondo é criar o impasse. Hoje, oprojeto vai levar a nação brasileiraa uma grave crise, porque essa hi­pótese da eleição de uma oposiçãoé uma coisa muito palpável e visí­vel, no caso de a oposição ganhar.Como está, a Constituição vai le­var o País a uma crise, e é precisoque nós, pelo menos se vier a seraprovado o parlamentarismo, dei­xemos brechas para que essa crisepossa ser superada.

JC - O deputado já disse quea futura Constituição visa manteras elites brasileiras no poder pormais de 50 anos. Continua pensan­do assim?

Vivaldo Barbosa - Não há dú­vida. Ainda mais nos esquemasmontados, que levam a que as eli­tes brasileiras não sejam afetadasna sua estrutura de poder. Ao con­trário. Elas vão perpetuar-se nopoder e vão consolidar-se com oarcabouço geral da Constituição.Cedeu-se em poucas coisas. Algu­mas migalhas o povo vai receber,mas a essência, a estrutura de po­der, a hierarquia social e de poder,será mantida. Essa massa imensade sofridos, injustiçados e miserá­veis deste País não se vai transfor­mar. Vai apenas ficar com algu­mas migalhas que a Constituiçãoestá dando a ela, e isso, o esquemapolítico montado, a forma desseparlamentarismo organizado, épara permitir, sem dúvida alguma,que as elites brasileiras, mais umavez, na hora em que se sentiremameaçadas, dêem a volta por cimae saiam vitoriosas para algumasdécadas. Espero que não seja pormais 50 anos, como sempre vatici­namos e tentamos expressar notempo, mas pelo menos por algu­mas décadas, pelo esquema cons­titucional vigente, as elites brasi­leiras ainda vão conseguir mantçrsua estrutura de poder e seus priv!,­légios. '.,

Jornal da Constituinte 13·)

Page 14: Volume [UlUle · Volume 359 Devagar se vai ao longe. Essa era, semana passada, a expecta tiva de quem acompanhava asvota ções na Comissão de Sistematiza ção da AssembléiaNacional

do a penetraçãod t varnente , obtend: d s represen­tituinte está, J5fa a I te junto a enn a eE

cada diaO Jornal da ~:;~so País, princlpalm:~ociaçóe' diver'a~e da Assem-de~ejada en;a~se, 6rgãos púbh:~~i~ d;riglda a? Pn:sld~~lmelro_Secre_

tativas de c da corresponde s Guimarães , ao idencia o cres­maior o V?'u~eConsntumte, 1f~b;~:do Jornal, o qde e~rto () trabalhobléia N",," Cordeiro e à e anhar, mais 'P nest: pãgma,tãno, .Marcel~da sociedade em.ac~~fas são publicadas stituinte comocente mlere~st Algumas dessas ão do Jornal.da_Con.blica. Escrevada Constituin e nhar a repercu;s,: com a opmiao punão 56 para. te~t~~~ aproximaçâo maiorpara mcent!vavocê lambem

são José de Mipibu_1l1f

Srs. COnstitUintes,

! coi :mUito P2'8zer que estou lhe esorevendo

p~ darlninha opinião sobre a nova OOnstitUi_ção: 12 que S OOnstitUinte ssseeure tOdOB 08 •

diretoB dos t2'8belhadorell rurais i€U81:mente cCIII

Os da Cidade; 211 que o Governo dê :mais verba Pl!

as eSColas Públicas; 311 Que a Re~o~ Agrárie •

seja Controlada Sob a proteção dos t2'8balhado_'

res ru2'llis, BS2'8ntindõ Us.ilR u:m pedeço de chão'Pare si e suas :familias; 411 que o Governo dê

:mais segurença aos :menores abandonados; 511 que'

o Governo eleVe o salário :míni:mo, bssee do

pelo'

DIE!S!; 611 Gostaria qUe to'os Os OOnstitUintes'

-...eitos pelo voto PoPUlar, sprovesse:m Ss e:mendes

que são a be:m do Povo bresileiro, nós vote:mos •

elll COnstitUintes, 1'oi para nos det'ltnder,

elebo_

l'ando Leis que nos de1'endllll deqUi .Pe2'8 ~ren'te.Fico bastante agradecido em receber o JOrnal

da COa s t i

tUinte, deSde o 111 nÚ;mero.

(Í ~ A. At!.nCiOse:mente,~8~~~o...

Londrina, 07 de A.gosto de 1987

A.o

S'"''o d, DiVUJ.sa,ão d••",.bUi. Naoiona1 Oonotituint,CÂ!TA.RA. DõS llBPUT.ADOSBRASILIA-DP

Vimos por meio desta, solicitar qUe nos seja'"O-nhado "'''''''Im,nt' •• PUblioa,õ" do .~':!!IN,,"", Poi., "oota",_. d, no. _ tor info""",,o "br, 00 ao./'unto. tratado. p'l. ""''""L< "OIO'A" COr.SOITUINTr.,

Informamos qUe fqzemos Parte integrante da /P"tor," da JUV'"tud" VinOU1ad, • ArqUí,"oo,., d, LO'IDnlNA ,por "t, .otivo "<amo. int,r""do. 'm 'OO""anh,r 'Oi. d, P'~to ,.t, magnífioo tr'balho, o d, '.or,.... NOVA óONSTITnrOÃO.

Certos de vosso pronto atendimento, enViamosnossos protestos ne ConSideração.

~,~,Av. RIO BP.A1rco,86070-LOlm~INA/PR

Jornal da Constituinte14

Page 15: Volume [UlUle · Volume 359 Devagar se vai ao longe. Essa era, semana passada, a expecta tiva de quem acompanhava asvota ções na Comissão de Sistematiza ção da AssembléiaNacional

Bases opinam em questionárioQuem imagina que todo o tra­

balho da Assembléia Nacional naatual etapa não conta com a parti­cipação popular está bem engana­do. Pelo menos é o que mostrao constituinte Nilso Sguarezi, doPMDB do Paraná. O parlamentarresolveu, por conta própria, criarum canal de sugestões, reivindi­cação e análise dos pontos maispolêmicos da nova Carta, com oeleitorado de seu Estado, atravésde questionários que foram distri­buídos em nada menos que 250dos 311 municíl?ios paranaenses.

O questionáno está dividido emduas partes e é de fácil resposta.Na primeira seção está o questio­nário propriamente dito, onde oeleitor responde a 21 perguntascom temas polêmicos diversos, co­mo a pena de morte, sistema deGoverno, aborto, liberação dojogo, reeleição e duração de man­dato de presidente da República,prefeitos e governadores, bem co­mo censura, controle da natalida­de, reforma agrária e legislaçãotrabalhista. E na segunda fase doformulário o eleitor pode fazer asua sugestão envolvendo temasque não foram tratados na etapaanterior.

O constituinte Nilso Sguareziiniciou a distribuição dos questio­nários no final do mês passado,num total de 50 mil. A respostados eleitores não tardou e hojeNilso Sguarezi recebe uma médiade questionános que varia entre40 e 50 diariamente. "A vontadede participar é tão grande, afirmao parlamentar, que chego a rece­ber questionários pelo Sedex oupelo sistema de carta registrada".Além disso, lembra o parlamen­tar, há questionários - principal­mente de universitários e de sindi­catos - cujas respostas são resul­tados de uma consulta que envolveuma classe ou participantes deuma reunião.

Mas por que esse questionário?Segundo Nilso Sguarezi, dois mo­tivos básicos o levaram a elaboraresse questionário. O primeiro, deacordo com o parlamentar, foi ofato de apenas os governadores te­rem tempo disponível nos progra­mas de televisão durante as últi­mas campanhas eleitorais, e osconstituintes foram, em sua opi­nião, colocados à margem. O se­gundo motivo apontado por NilsoSguarezi foi a edição do CruzadoII cinco dias após a divulgação davitória do PMDB. Ao afirmar queo Cruzado 11provocou uma enor­me frustração na população, NilsoSguarezi considerou que o seuquestionário surgiu em um mo­mento muito importante para to­dos que querem de um modo oude outro, participar dos trabalhosda nova Constituição, assim como"serviu também como um catarsepara muitos eleitores, que não en­contravam meios de se manifes­tarem".

Apesar de os questionários con­tinuarem a chegar todos os diasao gabinete 840 do Anexo IV daCâmara dos Deputados, NilsoSguarezi já fez uma primeira ava­liação em que tabulou 1.500 ques­tionários. "O momento decisivopara o novo texto estava chegandoe nós não podíamos adiar mais adivulgação de um primeiro resul­tado das consultas populares, lem­bra o constituinte. Assim, a partirdesta semana, cada um dos 559constituintes estará recebendo a

.ADlRPrCaslro Jümor

primeira prévia. "Isto não quer di­zer absolutamente que os demaisquestionários estejam sendo des­prezados. Continuamos guardan­do todas as respostas para, ao fi­nal, emitirmos uma análise amplada sociedade, uma vez que envia­mos questionários a todos os seto­res produtivos. Além disso, as su­gestões que não forem contempla­das pelo texto constitucional vãoconverter-se em farto material pa­ra trabalho de elaboração de legis­lação ordinária", disse Nilso Sgua­rezi.

As respostas da população aosquestionários, segundo sua avalia­ção, têm apresentado uma visãoobjetiva e coerente nos temasabordados. Um primeiro pontoque o parlame.ntar paranaense res­saltou foi a questão da reeleiçãopara prefeito, governadores e pre­sidente da República. No caso dosprefeitos, nas primeiras 1.500 res­postas, 55% foram favoráveis, en­quanto que no caso de reeleiçãode governadores, 52% dos consul­tados foram contrários, e, no casodo presidente da República, sãocontrários à reeleição nada menosque 61% dos interrogados.

Quanto ao sistema de governo,de acordo com Nilso Sguarezi, asrespostas mostraram coerência. Amaioria é contrária à reeleição dopresidente da República: 67% dosconsultados mamfestaram por ummandato máximo de quatro anospara presidente; e 59% querem oparlamentarismo.

A primeira pergunta do ques­tionário trata da pena de morte:67% são favoráveis à ela. Na opi­nião de Nilso Sguarezi, as respos­tas mostram a preocupação da so­ciedade com os atuais níveis deviolência e com a estrutura do sis­tema penitenciário nacional. Nocampo reservado às sugestões,muitos pediram a extensão da pe­na de morte não apenas para osculpados de crimes violentos oucom morte, mas igualmente paraos responsáveis por escândalos fi-

""'-""'­

/~~~",@f";;'»'~

A julgar por umapesquisa feita pelo de­putado Nilso Sguarezi(foto) 67% da popula­ção paranaense é favo­rável à pena de morte.O parlamentarismotambém teria a prefe­rência do eleitorado da­quele Estado, que tam­bém deseja um manda­to de quatro anos parao presidente da Repú­blica, sem direito à ree­leição.

Estes são apenas al­guns exemplos dos re­sultados obtidos peloparlamentar através dequestionário que distri­buiu na maior parte dosmunicípios paranaen­ses, a fim de estimulara participaçãodas basesna elaboração do textoconstitucional. NilsoSguareziassocia sua ini­ciativa àquelas formaistomadas, visando a umamaior participação po­pular na Constituição,como a audiência à so­ciedade civil nas subco­missões e a apresenta­ção das emendas popu­lares, que reuniramquase 15 milhões de as­sinaturas.

nanceiros e para os funcionáriospúblicos que praticarem o desviode verbas e recursos da União.

Nilso Sguarezi acredita quemais uma vez a população mos­trou a coerênica de suas reivindi­cações e propostas no caso da des­tinação de verbas públicas para oensino. Respondendo à questão:"as verbas de educação devem serdadas também para a rede de ensi­no particular?", 54% dos questio­nános analisados mostraram-secontrários à destinação de verbaspúblicas para as escolas particu­lares. "No meu entender, a popu­lação quer maior democratizaçãodo ensino, de modo a evitar queuma das causas da violência e mar­ginalização na sociedade seja ex­tirpada" .

Outra causa apontada nos ques­tionários por parte da pOl?ulaçãofoi a violência que é veiculadaatravés da televisão. "Os progra­ma de TV devem ser censura­dos?". O número de respostasafirmativas a essa pergunta che­gou a 65% do total, e muitos justi­ficaram a violência como causaprincipal de suas inquietações nocampo das sugestões.

Sobre a questão do controle danatalidade, a preferência ficou pormétodos contraceptivos. Pelo me­nos foi o que ficou sugerido, umavez que 58% das respostas mostra­ram-se favoráveis ao controle es­tatal do número de filhos por ca­sal, mas. 69% dos entrevistadosafirmaram ser contra o aborto.Quanto ao número ideal de filhospor casal, 28% acreditam que doisfilhos já seriam suficientes, 32%,três filhos, 17%, quatro, 5%, cin­co e 3% são favorável a uma famí­lia composta por mais de seis fi­lhos.

Já na questão da reforma agrá­ria, 68% dos entrevistados mos­traram-se favoráveis à iniciativa.Do mesmo modo, 74% querem afixação de uma propriedade quetenha como limite máximo ummódulo rural preestabelecido. O

módulo máximo fixado em alquei­res, na opinião destes mesmosquestionários, deveria ser de 50 al­queires (para 35%), seguida a pro­posta de 100 alqueiros tcom 21%),300 alqueires (16% ),500 alqueires(12%) e finalmente 1.000 alquei­res (defendida por 7% dos ques­tionários) .

Na área da legislação trabalhis­ta, alguns pontos foram incluídosno questionário distribuído peloconstituinte Nilso Sguarezi. O pri­meiro ponto foi o da establidadeno emprego. Este foi um pontoque dividiu opiniões: 50% foramfavoráveis à estabilidade imedia­ta, enquanto 48% manifestaramopinião contrária, contra 2% deresposta em branco. Sobre a inda­gação: "Após quantos anos se ad­quire a estabilidade?", 28% dosentrevistados querem dois anoscomo prazo mínimo, 22%, trêsanos, 14%, quatro anos, 10%, cin­co anos e 10% mostraram prefe­rência por seis ou mais anos comoprazo mínimo.

O outro ponto tratado peloquestionário na área de legislaçãotrabalhista é o da idade mínimapara a aposentadoria do indiví­duo. No caso da aposentadoria pa­ra os homens, 32% foram favorá­veis à idade de 50 anos, 38%, 60anos, 23%,65 anos e 1%,70 anos.No caso da aposentadoria para amulher, 41% apontaram a idademínima de 50 anos, enquanto 31%querem a idade de 55 anos, 18%,60 anos e 4%, 65 anos. As duasquestões finais do trabalho doconstituinte Nilso Sguarezi são: li­beração do jogo e anistia fiscal.Quanto à liberação, a pesquisamostrou 52% dos eleitores favorá­veis, 44% contrário e 4% não res­ponderam à pergunta. Com rela­ção à anistia fiscal, os entrevista­dos são contrários em sua maioria(51%),45% são favoráveis. NilsoSguarezi reconhece nesse ponto amesma rigidez da população quelevou muitos a pedirem a pena demorte para os chamados "crimesdo colarinho branco".

Por esses mecanismos de con­tato entre a Assembléia NacionalConstituinte e a população, NilsoSguarezi não acredita que o resul­tado do trabalho será um textoconservador. "Os substitutivoselaborados até o momento têmmostrado múitos avanços, entre­tanto forças poderosas que per­dem seus privilégios promovemuma verdadeira campanha contraa Constituinte. Nilso Sguarezilembrou o caso da eleição dos di­retores do Banco Central pelo Se­nado Federal, com base no currí­culo dos indivíduos. "Esta medidanão somente dará maior seguran­ça aos diretores, como tambémdará maior segurança à próprianação, uma vez que os nomes índi­cados não serão resultados depressões de banqueiros ou de mi­nistros. "

Da mesma forma, o fato de asnomeações dos juízes no Tribunalde Contas da União serem feitaspelo Congresso Nacional, segun­do o parlamentar paranaense, im­pedirá que os cargos "sejam nego­ciados como se fossem prêmios deconsolação". Além disso, se umadenúncia for apresentada por par­te da população, mas não for apu­rada pelo TCU, o órgão se tornaráem co-responsável. "O texto quera prevalência da lei e não das pes­soas".

Jornal da Constituinte 15

Page 16: Volume [UlUle · Volume 359 Devagar se vai ao longe. Essa era, semana passada, a expecta tiva de quem acompanhava asvota ções na Comissão de Sistematiza ção da AssembléiaNacional

TFR é contrac criação de Lonselho

ADIRPrCastro Júnior

g. presidente em exercício do Tribunal Federalde Re.c:J,y"sos, Washington Bolívar, acompanhado deoutros ministros daquela corte, foi recebido na se­mana passada pelo presidente da Assembléia Nacio­nal Constituinte, Ulysses Guimarães. Os magistra­dos vieram pedir a atenção da Constituinte paraas questões relacionadas ao sistema judiciário e àdistribuição de justiça. Fundamentalmente, eles dis­cordam da criação do Conselho Nacional de Justiça,previsto no atual substitutivo do relator BernardoCabral (PMDB - AM), com o objetivo de controlar

as atividades administrativas e o desempenho doPoder Judiciário e do Ministério Público. O atualsubstitutivo prevê a transformação do TFR em Su­perior Tribunal de Justiça, com os atuais ministrossendo automaticamente incorporados ao seu qua­dro. Ao Supremo Tribunal Federal seria retiradaa sua atribuição de corte de apelação, que possuihoje, ficando-lhe reservada, basicamente, a funçãode interpretar a Constituição, criando-se, assim, ascondições para que a nova Carta seja devidamentecompreendida e respeitada.

ADIRPlBcncdlla Passos e Castro Júnior

~~-::;Z1~

Uma festae um apelo

Dezenas de moças erapazes se uniram, nas

dependências da Câmara,para festejar os 3 anos da

União da JuventudeSocialista. E o bolo, além

de enorme, serviu parareiterar o apelo dos

jovens brasileiros, quedesejam votar

a partir dos16 anos de idade.

16 Jornal da Constituinte

, t

ADIRP Reynaldo Stavale

Aposentados cobram apoioO direito de viver com dignidade na velhice está sendo

cobrado pelos aposentados, numa movimentação sem prece­dentes no País. Tentando sensibilizar os constituintes parao drama em que vivem, centenas de aposentados se reuniramno auditório "Petrônio Portella", do Senado, com o apoiode várias entidades, e também procuraram o diálogo como relator Bernardo Cabral.